I Simpósio Currículo e Cultura: Encontros Antifascistas
I Simpósio Currículo e Cultura: Encontros Antifascistas
I Simpósio Currículo e Cultura: Encontros Antifascistas
I SIMPÓSIO
CURRÍCULO
E CULTURA :
encontros antifascistas
de 15 a 19 de junho de 2020
Comissão Científica
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
Edição bilíngue
ISBN 978-65-86005-05-9
[2021]
LISTA DE AUTORES 12
CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO
INFANTIL FRENTE AO DESAFIO DE
RETORNO PÓS-PANDEMIA
Marcos de Souza Machado 17
AS INFÂNCIAS E AS POSSIBILIDADES DE
PENSAR: INVISÍVEIS E EXISTENTES
Danielle Ferreira Medeiro da Silva de Araújo, Maira
Prieto Bento Dourado 19
O ENFRENTAMENTO À CISNORMATIVIDADE
BRANCA ATRAVÉS DA PERFORMANCE
ARTE NO ENSINO MÉDIO
Rene Will Gonçalves Bernardes 273
FEMINISMOS E O ENFRENTAMENTO
AO PATRIARCADO, E O RACISMO.
Mariana Queen Cardoso da Silva 285
Lista de
Aline Bruna da Silva 109
Allison Gineth Galvis Rojas 227
Amanda Rotondo Piffer 209
Autores
Ana Carolina Gomes Coimbra 121
Ana Paula dos Santos Reinaldo Verde 140
Anderson da Silva Santos 167
Anderson José de Oliveira 169
Anderson Silva Santos 179
Andrea Silva Domingues 165
Angélica Maria Vieira Cruz 81
Antonio Carlos Figueiredo Costa 105
Ariberto de Farias Bauermann Filho 267
Aristóteles Berino 205
Autor: Tiago Fioravante 236
Bárbara Magalhães Tavares Rodrigues 263
Bianca Nogueira Mattos 109
Bianca Nogueira Mattos 209
Bruna Agliardi Verastegui 68
Bruna Maria de Oliveira 113
Camila Gabrielle dos Santos Mota 230
Camila Paula de Souza 188
Carla Georgia Travassos Teixeira Pinto 79
Carla Liane Nascimento dos Santos 133
Carla Liane Nascimento dos Santos 90
Carla Silva e Eduarda Rodrigues 64
Carlos Felipe dos Santos Eller 35
Carolina Luiza de Quadros 111
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Maria da Graça Reis Cardoso 123 Rita Cristine Basso Soares Severo 154
Maria Gabriela Pereira da Silva 47 Rita Cristine Basso Soares Severo 279
Maria Luíza Lucas dos Santos 283 Roberto Carlos O. Santos 87
Maria Vitória Ferreira Silva 135 Roger Moisés Ballesta Diaz 227
Mariana Queen Cardoso da Silva 285 Ronan Moura Franco 142
Mariana Veloso Passos. 83 Ronan Moura Franco 177
Marília Campos 163 Rene Will Gonçalves Bernardes 273
Marília Frade Martins 161 Ronne Clayton de Castro Gonçalves 35
Marlane Leite da Silva 249 Roseni Oliveira Ferreira 127
Marta Regina Furlan de Oliveira 57 Rosilene Lopes de Pinho 283
Marta Regina Furlan de Oliveira 59 Samuel de Oliveira Rodrigues 182
Marta Silene Ferreira Barros 25 Sandra Nazaré Dias Bastos 148
Marta Silene Ferreira Barros 29 Sandra Regina Mendes1 159
Martinho Gilson Cardoso Chingulo 181 Sara Souza da Silva 43
Maruza Gabrielle Martins Campelo 271 Saraí Patrícia Schmidt 245
Mayra da Silva Cutruneo Ceschini 142 Simone Rosiane Corrêa Araújo 253
Mayra da Silva Cutruneo Ceschini 177 Sophia Martinez Papaconstantinou 240
Miguel Angel Castillo Bermeo 77 Tiago Rodrigues da Costa 197
Ms. Samuel Moreira de Araújo 269 Thaise Pereira da Silva 47
Napoliana Pereira Santana 127 Thiago Francisco Magalhães Dantas 207
NASCIMENTO, Carlos Augusto C. do 33 Unochapecó 31
Natália Navarro Garcia 25 Vagner Moraes Farias 51
Natália Navarro Garcia 29 Valéria Campos Cavalcante 135
Natanael Vieira 289 Valéria Campos Cavalcante 137
Natanael Vieira 72 Valéria Campos Cavalcante 167
Nathalia Martins Beleze 186 Valéria Campos Cavalcante 179
Nathalia Martins Beleze 238 Vanessa Campos de Lara Jakimiu 221
Nathalia Martins Beleze 55 Vânia Kirchheim 39
Nathália Tiemy Yamaguchi 281 Vanusa Lopes 113
Nayanne Lima Alves 167 Vitor João Ramos Alves 73
Nayanne Lima Alves 179 Vitória Brito Santos 234
Neil Franco 269 Viviane Maciel Machado Maurante 21
Newdith Mendonça Dias 133 Wallace Matos da Silva 275
Newdith Mendonça Dias 90 Wallace Matos da Silva 257
Nicol Alejandra Arguello Calderon 242 Walquiria Lima da Costa 119
Otainan da Silva Matos 150 Walter Valdevino do Amaral 263
Pablo Silveira 21 Washington Santos dos Reis 95
Patrícia Goulart Pinheiro 70 Yonier Alexander Orozco Marín 227
Patrícia Grando 277 Yonier Alexander Orozco Marín 242
Patricia Thoma Eltz 259 Yonier Alexander Orozco Marín 77
Paula Andrea Rojas 77
Priscila Sandra Ramos de Lima 117
Rafaella Andrade Vivenzio 27
Raona Denise Pohren 37
Reginaldo Santos Pereira 144
Reginaldo Santos Pereira 184
Reinan Mota Costa 131
Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
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Nota-se uma profunda preocupação, justa e pro- 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.
blemática, com a garantia das atividades como forma gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.
de obter de volta parte do salário cortado dos profes- pdf. Acesso em: 07 de jun. 2020.
sores que deixaram de estar na escola, mesmo aqueles
CORSARO, W. A reprodução interpretativa do brincar
que tiveram propostas de aulas remotas. Compreen-
ao “faz de conta” das crianças. In: Revista Educação,
demos essa preocupação, visto que é necessária uma
Sociedade e Culturas, v. 17. p. 113-134. 2002
discussão acerca da valorização profissional docente,
mas, ao mesmo tempo, questionamos essas aulas re- OLIVEIRA, Z. M. R. de. Educação Infantil: fundamentos
motas, especialmente na Educação Infantil, uma vez e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
que tem peculiaridades e especificidades que outras
etapas não têm ou têm uma forma diferente de com-
preendê-las.
Além disso, sabendo das especificidades da eta-
pa e da necessidade de convívio dos pequenos, seja
criança com criança, criança com adultos, como con-
siderar o ensino remoto e mesmo buscando manter o
distanciamento social dentro da escola? Isso é impen-
sável, visto que uma das características desta etapa é
justamente o contato, o afeto, a necessidade de cuida-
dos que exigem o toque. Como então manter a distân-
cias das crianças sem infringir e romper com conquis-
tas históricas? Não sabemos. E precisamos encontrar
formas, coletivamente, para vencermos este desafio.
CONCLUSÕES PARCIAIS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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posta problematizadora. Por exemplo: brinquedos es- NOVOA, A. Os professores na virada do milênio:
truturados, brinquedos tradicionalmente relacionados do excesso dos discursos à pobreza das práticas.
ao gênero masculino, relacionados ao gênero femini- Revista Cuadernos de Pedagogia, nº 286, dezembro
no, etc. A partir da experienciação o formador pode de 1999. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/
observar ações, falas e interações dos professores. Es- bitstream/10451/690/1/21136_1517-9702_.pdf
tas, foram documentadas, dialogando com a proposta
POZO, J. I. e ECHEVERRÍA, M. D. P. P. Aprender a
da documentação pedagógica a partir das experiências
resolver problemas e resolver problemas para
existente nas escolas de Reggio Emilia, Itália (RINALDI,
aprender. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
2017).
RINALDI, C. Diálogos com Reggio Emilia: Escutar,
Em seguida, o formador pode dialogar com os
investigar e aprender. 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
professores sobre cenas que aconteceram durante a
Terra, 2017.
exploração dos materiais, utilizando exemplos das si-
tuações vividas por eles e o reflexo disso nas práticas. WINNICOTT, D. W. O Brincar & a Realidade. Rio de
Ressalta-se o fato de nenhuma das educadoras (100% Janeiro: Imago, 1975.
das participantes era do gênero feminino) havia inte-
ragido com a “ilha de brinquedos” que continha carri-
nhos, bonecos de super-heróis e caminhões. O quanto
esta percepção interfere nas estratégias pedagógicas
diárias? Será que são oferecidos todos os tipos de brin-
quedos para as crianças sem discriminação de gênero?
RESULTADOS ALCANÇADOS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS:
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
OBJETIVOS
ANÁLISE
Como objetivo geral da pesquisa, buscou-se
O questionário aplicado apresenta duas par-
conhecer a percepção de graduandos do último se-
tes, a primeira com dados pessoais e profissionais,
mestre de Pedagogia da UEL já atuantes na Educação
onde se verificou que o mesmo fora respondido por
Infantil sobre o desenvolvimento afetivo e emocional a
seis graduandas do último semestre da graduação em
fim de refletir sobre a prática educativa com crianças
Pedagogia da UEL, entre 23 e 51 anos, já atuantes na
pequenas a partir dos pressupostos da Teoria Históri-
Educação Infantil da rede pública e privada, sendo que
co-Cultural. Assim, o problema de pesquisa delimitado
o menor tempo de trabalho compreende oito meses e
foi: Qual a percepção dos professores acerca do desen-
o maior tempo dois anos e meio.
volvimento afetivo e emocional na Educação Infantil?
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
RESULTADOS ALCANÇADOS
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
ANÁLISE
INTRODUÇÃO
No processo de aprofundamento teórico, per-
A Psicologia compõe o conjunto de estudos que cebeu-se que o conceito de inteligência sofre trans-
busca compreender os processos de aprendizagem nos formações histórico-culturais, de acordo com os parâ-
diversos contextos educativos, sejam eles formais ou metros avaliativos utilizados. Nota-se uma valorização
informais, através de um vasto repertório de teorias. quantitativa da inteligência baseada no raciocínio ló-
Dentre as abordagens estudadas, encontra-se a Abor- gico-matemático, fazendo com que outras competên-
dagem Inatista, a qual acredita que o desenvolvimento cias não sejam consideradas em testes e avaliações.
do sujeito nada mais é que um processo autônomo e Concomitante a isso, as habilidades que são desvalori-
independente das influências sociais; a Abordagem zadas, também vão sendo desestimuladas, provocan-
Ambientalista, que se apoia na perspectiva de que o do uma perda qualitativa no desenvolvimento infantil.
indivíduo nasce sem características psicológicas pre- Diante disso, foi elaborado uma atividade de mímica
determinadas e o ambiente é quem irá “modelá-lo”; levada ao centro educacional, com o intuito de incen-
e a Abordagem Interacionista, a qual se refere a uma tivar diferentes formas de expressão.
experiência ativa, ou seja, ao mesmo tempo em que o
indivíduo modifica o meio, ele também é modificado
pelo ambiente, principalmente pela interação com ou- RESULTADOS ALCANÇADOS
tros indivíduos. Assim, a partir do que podemos cha-
mar de “Psicologia da Aprendizagem”, é possível anali- A primeira etapa da visita foi também uma apre-
sar criticamente as abordagens apresentadas a fim de sentação geral do espaço físico da escola, em que pu-
criar meios para desmistificar crenças que muitas ve- demos conhecer as salas, brinquedos e refeitórios. O
zes inviabilizam ou dificultam o processo de aprender. lugar conta com um amplo gramado, em que tivemos
a oportunidade de nos reunir com as crianças e desen-
volver as atividades planejadas. Após uma breve apre-
OBJETIVOS sentação, demos início à atividade da mímica, com o
objetivo de trabalhar principalmente as habilidades in-
Este estudo tem como objetivo apresentar um terpessoais e imaginativas daquelas crianças. O mate-
relato de experiência referente a visita em um centro rial utilizado foram figuras de animais e, a partir destes,
de educação infantil, em que graduandos do curso de as crianças puderam fazer as imitações. No primeiro
Psicologia puderam desenvolver atividades lúdicas momento, os participantes ficaram muito empolgados
com as crianças a fim de aproximar os estudos teóri- e tivemos dificuldades em estabelecer uma ordem de
cos com a prática. participação, porém, no decorrer da atividade todos
puderam participar e demonstraram entusiasmo em
imitar os sons e movimentos de animais. É importan-
REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA te ressaltar que o jogo não teve o objetivo de avaliar
as crianças, mas sim estimular diversas habilidades,
O presente estudo se apoia na Abordagem Inte- como também coordenação motora, comunicação
racionista e parte de uma análise tanto do ambiente e colaboração. Diante disso, a visita ao centro edu-
em que o indivíduo está inserido como também dos cacional foi essencial para que tivéssemos um ótimo
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REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
EDUCAÇÃO E SENSIBILIDADE: existências dos objetos e seres que compõe sua vida
cotidiana, à medida que esta consegue diferenciar-se,
AS POTÊNCIAS isto é separar-se do mundo material, num movimen-
to de auto percepção do eu, o qual faz surgir então
HUMANIZADORAS DA a formação da consciência, na apreensão dos objetos
ARTE E DO BRINCAR PARA e seus significados sociais. Essa passagem ocorre por
meio da cultura apropriada na relação que a criança
A EDUAÇÃO INFANTIL estabelece com o adulto experiente, o qual com seus
conhecimentos socializa com a criança que aprende a
Maíra Dellazeri Cortez fazendo-a desenvolver-se.
Natália Navarro Garcia Esta capacidade de distinção entre o eu e ou-
Marta Silene Ferreira Barros tro, o eu e o mundo, o eu e os objetos é provocada e
estabelecida sócio culturalmente. Isto é, nós adultos
temos a responsabilidade de provocar a produção da
consciência na criança, nós oferecemos a ponte, para
que ela desperte em si seu potencial humano de ma-
neira elabora. Este trabalho requer níveis aguçados de
sensibilidade e escuta, além de doses afetivas e todo
INTRODUÇÃO cuidado, o que implica o acesso fundamental as produ-
ções humanas mais sofisticadas para assim possibilitar
Reconhecendo o caráter humanizador da Arte a socialização e o acesso ao outro.
para a educação ontológica do ser social, a presente
pesquisa visa destacar esse potencial desenvolvente Tendo em vista a sensibilidade requerida para
para a Educação Infantil por meio do brincar. tal processo, observamos que a Arte tem seu papel es-
sencial em nossa cultura, justamente em sua capacida-
Enrizando-se nas concepções do Materialismo
de transformativa, criativa e mobilizadora dos afetos e
Histórico Dialético, da Psicologia Histórico Social e da
do sentir humano. A arte traz em si uma certa potên-
Pedagogia Histórico Crítica, este estudo visa analisar o
cia de transcender as aparências, jogando com formas
desenvolvimento psíquico infantil, na transição da vida
instituídas da vida social, refazendo e reorganizando o
material imediata para o pensamento abstrato elabo-
humano frente as suas criações, num devir profundo
rado, contribuindo deste modo, para o estabelecimen-
entre forma e conteúdo, em que se pode extrair a es-
to das funções psicológicas superiores.
sência escavando-a na vida material sua realidade es-
Explicitaremos a cultura artística e a brinca- sencial, perdida no cotidiano, na espontaneidade.
deira enquanto possíveis conteúdos e modos de edu-
car. Destacando os aspectos corporais, a percepção Para tornar-se humano, o ser deve superar o
consciente dos sentidos e a motricidade enquanto julgo das funções elementares dadas como sua pri-
elementos tangentes do processo educativo afetivo. meira natureza e galgar novos patamares, no desen-
Demonstraremos a relação entre o brincar e o desen- volvimento de habilidades que o mobilizarão profun-
volvimento da personalidade, da regulação da conduta damente na superação de suas condições iniciais e
e a constituição do caráter, nos jogos de papéis, para a imediatas, rumo a seu pertencimento à categoria hu-
elaboração da subjetividade dos sujeitos. mana. À medida que o homem se engaja em uma nova
atividade, é desafiado, a modificar-se com sua ação,
para que o produto desta seja capaz de corresponder
OBJETIVOS às suas necessidades, sempre renovadas a cada gera-
ção de maneira elaborada.
Tem se como objetivo geral, destacar a impor-
tância da arte e do brincar para humanização ontoló- É na atividade que a consciência se forma. O
gica do ser social na Educação Infantil, na passagem desenvolvimento humano é sempre direcionado por
do sólido ao pensamento abstrato, para evidenciar a uma atividade principal e esta varia ao longo da vida.
relevância da intencionalidade pedagógica na promo- Observa-se nitidamente a função desenvolvente do
ção do desenvolvimento psíquico. brincar que, segundo Leontiev (1978), é a principal
atividade da criança na fase pré-escolar, pois ela con-
tribui para as mudanças psíquicas muito importantes,
REFERENCIAL TEÓRICO por meio do estímulo rumo ao pensamento abstrato
que é dado pelo faz de conta. Mesmo o educando já
O mundo descortina-se frente a criança de for-
ma gradual, introduzindo-a passo a passo nas múltiplas
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em idade escolar pode beneficiar-se da brincadeira, damental para a mobilização e reflexão sobre essas
quando há intencionalidade pedagógica. vivências na Educação Infantil.
E é justamente no tocante do desenvolvimen-
to do pensamento abstrato que o brincar traz sua gran- REFERÊNCIAS
de contribuição, pois o faz de conta estimula a criança
a separar o significado dos objetos e das situações
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo.
presentes, provoca o uso das funções superiores, fun-
In: DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”:
ções estas responsáveis por nos distinguir dos animais.
crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas
Logo a “criação de uma situação imaginária não é algo
da teoria vigotskiana. 2. ed. rev. e ampl. — Campinas:
fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira
Autores Associados, 2001.
manifestação da emancipação da criança em relação
às restrições situacionais.” (VYGOTSKY, 1998, p.66). VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
Justificamos a relevância deste estudo justa-
mente por acreditarmos que tendo a arte e a brinca-
deira funções tão desenvolventes ao ser, deve-se pos-
sibilitar que sua presença na escola seja mais efetiva,
como um possível modo de trabalho dos conteúdos,
para além do brincar relegado ao intervalo e a arte
com mera presença ilustrativa.
METODOLOGIA
ANÁLISE
RESULTADOS ESPERADOS
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REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
Quando olhamos o mundo com olhar de adul- No tripé família, escola e sociedade, a relevân-
tos, vemos realidades a nos desapontar, a termos sá- cia se dá na capacidade da inter-relação constante
bias decisões, a solucionar as questões explícitas do de acompanhar a criança no ato livre de brincar e de
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REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: infâncias e educação infantil
CONHECER, EXPLORAR E
METODOLOGIA
INTERAGIR COM O MEIO
A metodologia é numa abordagem qualitativa,
Raona Denise Pohren através de análise documental.
ANÁLISE
OBJETIVO
RESULTADOS ALCANÇADOS
O presente artigo tem o objetivo de discutir,
brevemente, a importância das crianças explorarem Com o presente artigo se espera auxiliar os
os espaços externos, de modo que os conheçam, ex- professores da primeira infância a compreenderem
plorem, vivencie-os, desenvolvendo através dessas in- que atividades de interação e brincadeiras em espaços
terações o fortalecimento de vínculos imprescindíveis externos das instituições escolares, são de valia para
para o processo formativo pleno das mesmas. o desenvolvimento integral das crianças. Se faz cada
dia mais necessário planejar atividades nos pátios en-
volvendo elementos naturais pois eles enriquecem o
REFERENCIAL TEÓRICO fazer pedagógico e possibilitam as crianças a estarem
mais perto e em contato da natureza.
O referencial teórico utilizado é baseado nos
documentos normativos da Educação Infantil, como a
Base Nacional Comum Curricular (2017), as Diretrizes REFERÊNCIAS
Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2010), a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), os quais BARROS, M. I. A. de B.. Desemparedamento da
indicam como organizar as propostas pedagógicas da Infância- a escola como lugar de encontro com a
Educação Infantil e como devem ser os princípios que natureza. Rio de Janeiro: Alana, 2018.
conduzem o trabalho, bem como os eixos estruturan- ______. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº
tes.
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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
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REFERÊNCIAS:
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EDUCAÇÃO REMOTA PARA acordo com Meneghetti (2011) consiste uma análise
reflexiva, bem como interpretativa do que se propõe
CRIANÇAS PEQUENAS NA na pesquisa.
EDUCAÇÃO INFANTIL NA
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS RESULTADOS E DISCUSSÕES
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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necessários à prática educativa. 36ª edição. São Paulo:
Paz e Terra, 2007.
HARAWAY, D. Um manifesto para os ciborgs: ciência,
tecnologia e feminismo socialista na década de 80. In:
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cultura. Org: Heloísa Buarque de Hollanda. Rocco: Rio
de Janeiro. 1994.
MALAGUZZI, L. Histórias, idéias e filosofia básica.
In: EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem
linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia
na educação da primeira infância. Trad. Dayse Batista.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
REGGIO CHILDREN. Regimento – Escolas e creches para
a infância da comunidade Reggio Emilia. Nerocolore:
Corregio, 2012.
RINALDI, C. Reggio Emilia: a imagem da criança e o
ambiente em que ela vive como princípio fundamental.
In: GANDINI, Lella; EDWARDS, Carolyn (Org.). Bambini:
a abordagem italiana à educação infantil. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
RINALDI, C. Diálogos com Reggio Emilia: Escutar,
Investigar e Aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das
linhas globais a uma ecologia dos saberes. Revista
Novos Estudos, n. 79, novembro, 2007.
SANTOS, L. M. dos. As práticas pedagógicas de
Reggio Emilia: inspirações italianas para a educação
infantil. 2014. Monografia (Licenciatura Pedagogia) -
Universidade de Maringá, Maringá, 2014.
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delas conhecia os direitos e as que respondiam que princípios éticos, políticos e estéticos que, direta ou
conheciam, associavam-nos aos deveres e regras de indiretamente, incidem nas formas de perceber a
convivência, como Camila, de 4 anos, que afirma “não criança, a infância e o mundo. E assim a história vai
pode bater nem empurrar, só lembro desses”. se tecendo e sendo constituída e construída. E as
concepções e protagonismos também.
Todas as crianças responderam que tinham mui-
tos trabalhos para fazer na escola e a dificuldade na
realização dos mesmos apareceu relacionada à escrita, REFERÊNCIAS
cópia do quadro, colagens, recortes, enfim, atividades
mais direcionadas, algumas mais escolarizantes.
CORSARO, W. The sociology of childhood. California:
As falas das crianças apontam que o direito de Pine Forge, 1997.
participar está em consolidação na escola e reprodu-
zem a noção de que a aula ainda é mais centralizada
na escolha dos adultos. Na visão da maioria delas, as
professoras “mandam” e escolhem o que deve ser fei-
to na escola. Pergunto à Maria Eduarda, 6 anos, se ela
pode escolher o que fazer na escola, ela prontamente
reponde que “não, quem escolhe é sempre a profe, as
crianças não podem escolher porque não são grandes
e só podem escolher quando estão ‘nas casas’ delas”.
Nas falas das crianças o brincar é o que elas mais
esperam da escola e o que as deixa mais felizes e mo-
tivadas. João, de 6 anos afirma que “se fosse um ‘plo-
fessor’ e se os ‘aluno fosse quelido’ eu ia levar todo
dia no parquinho”. Já Ângelo, de 6 anos afirma que as
“crianças deveriam brincar um pouquinho mais e que
não dá para brincar um pouco mais por causa que tem
que fazer trabalho”.
Pelas falas das crianças e analisando o contexto
escolar é possível afirmar que as crianças brincam bas-
tante, em vários lugares e de diferentes formas. Mas
sentem necessidade de brincar ainda mais e preferem
o brincar não direcionado, aonde podem fazer esco-
lhas de espaços, brinquedos e parceiros, aproveitando
a liberdade para explorar e se relacionar, adentrando
pelo mundo da imaginação, da descoberta, dos confli-
tos, dos interesses, da corporeidade, da linguagem e
da emoção.
Mediante as discussões que circundam os desa-
fios éticos e metodológicos da pesquisa com crianças,
assim como de seus direitos e protagonismo, eviden-
ciou-se a importância do seu uso para criar e fortalecer
relações paritárias na escola.
Porém, não se pode negar o fato de que o pes-
quisador é um adulto e tem imbricado em suas com-
preensões e interpretações, a sua visão de mundo,
mesmo que ouça e respeite as falas das crianças. Daí
a importância do pesquisador observar com ética e
atenção o contexto das crianças e, desta forma, apro-
ximar-se do universo de significações e sentidos das
infâncias. E reforço: das infâncias.
É na temporalidade entre o adulto e a criança
que acontecem as relações, sejam elas paritárias
ou não. Estes encontros são marcados pelos
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REFERÊNCIAS
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relações étnico-raciais (BRASIL, 2006) que discutem a colonial y la opción decolonial. Barcelona: Gedisa,
educação antirracista na perspectiva dos docentes e 2007.
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MOTTA, F. M. N. O que revelam as pesquisas com/sobre
crianças na creche sobre o não-dito racista. Rodas de
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OLIVEIRA, L. F. Educação antirracista: tensões e
A análise das pesquisas sobre educação antir- desafios. Educação e Realidade. POA, v. 39, n. 1, p. 81-
racistas com bebês e crianças pequenas será feita a 98, jan./mar. 2014.
partir da proposta de Bardin (2011) sobre análise de
conteúdos. Esperamos catalogar todas em banco as OLIVEIRA, L. F.; CANDAU, V. M. F. Pedagoria decolonial
pesquisas em nível de mestrado e doutorado do Ban- e educação antirracista e intercultural no Brasil.
co de Teses da CAPES entre 2006 e 2020 que tenham Educação em Revista. BH, v. 26, n. 01, p. 15-40, abr.
como eixo a educação antirracista desde a Educação 2010.
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Estudos e Pesquisas sobre as Américas, v. 8, n. 2,
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reflexão. Para contribuir nesta análise, Prado (2012) PRADO, P. D. Os três porquinhos e as temporalidades
fala sobre a história “Os três porquinhos” e como ela da infância. Cad. Cedes, Campinas, v. 32, n. 86, jan.-
coloca questões sobre a infância, o capitalismo e o abr. 2012.
adultocentrismo.
Rael (2013, p. 170) também contribui ao mos-
trar que as narrativas de princesas, “[...] não apenas
veiculam determinadas representações de feminilida-
de e de masculinidade, mas também instauram, pro-
duzem, constroem tais representações.” Enfatizamos
que essas histórias produzem determinados saberes
e quando não trazemos outras, corremos o risco de
estarmos reproduzindo representações hegemonica-
mente machistas e adultocêntricas, desconsiderando
a própria infância. Felizmente, três das histórias cita-
das fogem dessa regra: Chapeuzinho Amarelo, A Casa
Sonolenta e o Gato Xadrez.
A primeira destaca o protagonismo feminino na
resolução dos problemas e as outras são trabalhadas
questões de rimas, cores e a imaginação. Enfatizamos,
assim, a importância do olhar crítico na utilização des-
sas narrativas, além da possibilidade de transitar por
outros contos e histórias infantis. Nessa fase, quanto
maior o repertório disponibilizado para a criança, me-
lhores serão as experiências e conhecimentos adqui-
ridos. Destarte, almejamos que com essa discussão
tenhamos gerado incômodos, perguntas e reflexões
sobre a utilização dessas histórias, principalmente re-
ferente aos estereótipos de gênero e a visão adulto-
cêntrica.
Propomos ainda uma práxis que rompa com o
sexismo, onde o gênero feminino deixe de ser repre-
sentado como inferior e dependente do masculino.
Ensejamos que possam ser utilizados outros repertó-
rios na contação de histórias, destacando o protago-
nismo feminino nas aventuras e a desconstrução da
visão adultocêntrica da resolução dos problemas, ou
seja, é preciso também dar espaço para a própria cul-
tura infantil.
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QUAL O LUGAR DAS mico global, capaz de produzir discursos que se capi-
larizam socialmente. A BNCC é concebida para suprir
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS o que falta à escola. E quanto mais se deseja afirmar
o valor da Base, mais se justifica a escola (e os docen-
NA BASE NACIONAL tes que nela trabalham) como carentes de algo, mais
COMUM CURRICULAR? se realiza uma homogeneização das escolas como lu-
gares onde não se ensina. Além de desconsiderar as
Karla de Oliveira Santos especificidades de cada escola brasileira, como alerta
Cury, Reis e Zanardi (2018), não sendo desprezível a
presença de uma pluralidade étnica e cultural. Sen-
do assim, há sérias críticas relacionadas à Base, com
sua perspectiva excludente, antidemocrática, técnica,
gerencialista, homogeneizante e meritocrática, que
As reformas educacionais ocorridas na déca- desempodera o que é produzido na escola e em seu
da de 1990 no Brasil, sob a ótica do neoliberalismo, entorno.
coloca o currículo como centro de materialização da
qualidade da educação, alicerçado por avaliações em É necessário citar também que a BNCC, tem se
larga escala que irão validar sua eficácia, de forma ho- constituído como política curricular nacional e que
mogeneizadora para todo o país. Nessa perspectiva, caminha na contramão dos Parâmentros Curriculares
temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que Nacionais (PCN`s) que surgiu na década de 1990, no
se constitui como um documento impositivo, sem a governo do então presidente da República Fernando
real participação dos que estão no “chão da escola”, Henrique Cardoso de Melo, influenciado por organis-
engessando o trabalho dos professores, estimulando mos internacionais, que mesmo com algumas críticas
um currículo nacional interligado às avaliações oficiais e limitações, possibilitava a temática no currículo ofi-
e produção de livros didáticos, que beneficiam dire- cial como tema transversal.
tamente o mercado de editoras. Para Cássio (2019, p. Em 2013, tivemos avanços com a Lei Nº
13): “A Base é uma política de centralização curricular. 10.639/2003, fruto da luta do Movimento Negro, que
Alicerçada nas avaliações em larga escala e balizado- altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
ra dos programas governamentais de distribuição de Nº 9.394/96, estabelecendo a obrigatoriedade do En-
livros didáticos”. Sendo assim, este trabalho propõe sino de História e Cultura Afro-Brasileira, contribuin-
realizar uma reflexão teórica a partir de estudos sobre do de forma positiva para o currículo nacional, assim
a BNCC, apontando alguns elementos problematizado- como, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
res sobre o lugar que as Relações Étnico-raciais ocupa cação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
neste currículo nacional. História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer
A versão final que se configurou com a atual Nº 03/2004), fortalecendo a discussão das questões
BNCC, foi resultado das articulações de fundações e étnico-raciais, buscando o respeito, o pertencimento
institutos privados, como: Fundação Bradesco, Funda- e a valorização da história, da cultura e da identidade
ção Lemann, Itaú Social, Instituto Natura, Instituto Uni- negra.
banco, Instituto Ayrton Senna, Instituto Inspirare, Ins- Com os avanços do arcabouço legal para as Re-
tituto Fernando Henrique Cardoso, Fundação Roberto lações Étnico-raciais, vivemos tempos de retrocessos
Marinho, Fundação Victor Civita, entre outros, além de e de silenciamento de tais questões no currículo ofi-
organismos internacionais como a Organização para a cial, a partir de um governo conservador e neofascista,
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apoiado por empresários e igrejas neopentecostais,
e Banco Mundial (BM), que ganharam maior espaço que tentam desqualificar os avanços que tivemos nes-
com o golpe político-econômico jurídico e midiático tas últimas décadas do século XXI. A atual BNCC para
em 2016, que culminou com o impeachment da pre- a Educação Básica, tem negligenciado este lugar das
sidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff, excluindo Relações Étnico-raciais no currículo oficial, reduzindo
as contribuições das universidades e movimentos so- e abordando de forma superficial ou ainda, limitada a
ciais, pautando-se em uma visão conservadora. uma perspectiva de multiculturalismo liberal, sem uma
Há um consenso dos defensores da Base Nacio- maior problematização sobre a diversidade e diferen-
nal, que a universalização de conhecimentos, habilida- ças, desprovido de indicativos para desconstrução do
des e competências, garantiriam um projeto curricular mito da democracia racial. É importante ressaltar o en-
que promovesse uma igualdade e qualidade da educa- fraquecimento do debate e de políticas públicas desde
ção nacional, pois como problematiza Ball (2001), um o governo de Michel Temer, com a extinção da Secre-
currículo nacional tem relação com um projeto econô- taria de Políticas de Promoção para a Igualdade Racial
(SEPPIR) e da Secretaria de Educação Continuada, Al-
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ros, favelas e espaços periferizados (territórios onde a Federal. A população negra no Distrito Federal:
cultura afro se fazia – e se faz – muito presente). Elas analisando as Regiões Administrativas. Brasília:
se fazem resistência espacial negra por valorizarem CODEPLAN, 2014. Disponível em: http://www.
os sujeitos, em sua maioria negros, periferizados; por codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/
valorizarem o samba de raiz e o samba autoral local; População-Negra-no-Distrito-Federal-Analisando-as-
além de ocuparem e (re)significarem espaços públicos Regiões-Administrativas.pdf
negligenciados pelo Estado, inspirando possíveis ca-
COSTA, E. B. Ativação popular do patrimônio-territorial
minhos alternativos em seus usos e sentidos coletivos
na América Latina: teoria e metodologia. Cuadernos
(ALVES, 2019).
de Geografia: Revista Colombiana de Geografia, v.
E o que nos cumpre fazer para que se anteci- 26, no. 2, pp. 53-75, jul.-dic. Bogotá, 2017. Disponível
pem a efetivação de mudanças? Ao se buscar alterna- em: http://www.scielo.org.co/pdf/rcdg/v26n2/0121-
tivas numa escala local, pode-se pensar em projetos 215X-rcdg-26-02-00053.pdf
de educação étnico-raciais para escolas públicas do
DOZENA, A. Os Movimentos de Samba na Cidade de
Distrito Federal brasileiro, que se pautem nos sujei-
São Paulo: Espaços de Resistência e de Esperança.
tos, ou seja, populações segregadas e excluídas social
Revista Lux Festa. Goiânia. IESA. 2008/2. v.1. Goiânia:
e espacialmente, “minorias”, que, quando emancipa-
Universidade Federal de Goiás, 2008. Disponível
das e mobilizadas, resistem e se contrapõem às vozes
em: https://festaspopulares.iesa.ufg.br/up/50/o/
hegemônicas apresentadas. Projetos que, necessaria-
FestasSambaSampa_Alessandro.pdf
mente, “envolvam as massas populares num esforço
de mobilização e de organização em que elas se apro- FREIRE, P. Ação Cultural para a liberdade. 5ª ed. Rio de
priam, como sujeitos, ao lado dos educadores, do pró- Janeiro: Paz e Terra, 1981.
prio processo” (FREIRE, 1981, p. 45). MIGNOLO, W. D. A colonialidade de cabo a rabo:
Portanto, a tese não pode se fazer restrita aos o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da
bancos de dados acadêmicos e às prateleiras de bi- modernidade. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do
bliotecas públicas. Cremos que os resultados obtidos saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas
devem, efetivamente, ser compartilhados e servir de latinoamericanas. Argentina: CLACSO, 2005.
fundamento para a transformação da realidade local Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/
(as Regiões Administrativas da Capital Federal), no ní- sur-sur/20100624090901/colonialidade.pdf
vel da práxis, ou seja, de abarcar bases e possibilida- QUIJANO, A. A Colonialidade do poder, eurocentrismo
des de valorização, preservação, emancipação e auto- e América Latina. In: LANDER, E. (org.). A Colonialidade
nomia dos sujeitos e dos próprios coletivos de rodas do saber: eurocentrismo e ciências sociais.
de samba envolvidos. O próximo passo, portanto, é o Perspectivas latinoamericanas. Argentina: CLACSO,
de fazer pensar, coletivamente, a prática do projeto de 2005. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/
educação étnico-racial, num vínculo entre teoria, prá- clacso/sur-sur/20100624090901/colonialidade.pdf
tica e criatividade, a fim de envolver escolas públicas
(dos ensinos fundamental e médio) com os coletivos SANTOS, M. Da Totalidade ao Lugar. 10ª ed. São Paulo:
sociais de rodas de samba democráticas do Distrito Fe- Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
deral brasileiro, no exercício da ação transformadora
da atual realidade.
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exclusão relacionado a uma das crianças que foi prete- da criança negra numa escola pública de São Carlos.
rida por todo o grupo da sala de aula. Os professores São Carlos: EDUFSCar, 1994.
também receberam questionários para que fossem
obtidas informações a respeito dos alunos, bem como
da noção acerca da cultura afro-brasileira ensinada na
instituição. Infelizmente, as respostas foram superfi-
ciais e, dos quatro questionários distribuídos, apenas
um foi devolvido e uma das profissionais relatou já ter
presenciado um caso de exclusão, mas não detalhou.
Fazendo jus à contradição pontuada por Lopes (1994),
afirmando que a instituição escolar procura demo-
cratizar o acesso à educação, mas não está disposta a
abranger a diversidade.
Apesar de apenas um caso ter sido percebido,
durante a visita várias situações de violência simbólica
foram presenciadas e algumas alunas compartilharam
relatos, incluindo um acerca da experiência constante
de alucinações e delírios. Dessa forma, faz-se neces-
sário um projeto interventivo na instituição, de cará-
ter informativo e terapêutico, a fim de que a partir da
tomada de cuidados e prevenções mediante as situa-
ções presenciadas e ouvidas, haja uma dissolução de
problemáticas como o racismo e o bullying, de certa
forma, atrelados.
REFERÊNCIAS
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TECNOLOGIA EDUCACIONAL tivo que traz uma história de um garoto que emerge
em uma viagem musical no interior de aparelhos de
LIVRO INTERATIVO “SEGUE O som como vitrola, CD playres, smartphones, e nesse
processo passa a valorizar mais sua negritude. O livro
SOM” COMO INSTRUMENTO conta com canções de cantores negros e uma ativida-
DIDÁTICO PARA UMA de em que os alunos deverão completar lacunas com
os verbos nos tempos corretos ao longo do livro.
EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA Sendo assim, o principal conteúdo contemplado
Jônatas Miranda Amaral pelo recurso são os tempos verbais, mas especifica-
mente o presente, o pretérito e o futuro. A disciplina
Irene Patrícia de Oliveira Magalhães principal é a Língua Portuguesa e as disciplinas auxilia-
res são: História, utilizando deslocamentos de popu-
lações africanas para a América e Condições de vida
dos afrodescendentes no Brasil em diferentes épocas
como conteúdos; Geografia, utilizando do conteúdo
Este trabalho tem por objetivo relatar uma ex- “Continente africano”.
periência vivenciada durante a participação na disci- O recurso, também, trabalha com os temas “Éti-
plina Educação Para as Relações Etnicorraciais, no 6º ca” ao tratar do respeito aos diferentes grupos étnicos,
semestre do Curso de Licenciatura em Pedagogia, do diálogo e Justiça, encontrados ao longo da narrativa
Instituto Federal do Pará - Campus Belém, na qual foi proposta, assim como “Pluralidade Cultural”, ao traba-
proposta a criação de uma tecnologia educacional com lhar os conceitos de raça, racismo e identidade negra,
base na transposição didática, tendo como tema trans- além dos pilares do afrofuturismo (Ancestralidade,
versal o Afrofuturismo. Deste modo, apresenta-se o Protagonistmo/Autonomia, Tecnologia e Futuro Possí-
processo de elaboração, construção e validação da vel) de forma transversal. É importante destacar que
tecnologia, além da sua importância para a formação os pilares do afrofuturismo foi um fator fundamental
de professores levando em consideração uma educa- para esta tecnologia que aponta para ancestralidade
ção antirracista. ao tratar dos cantores e seus discursos empoderado-
A Tecnologia Educacional é orientada na pers- res e reflexivos através do tempo; para o protagonis-
pectiva da Transposição Didática que é um processo mo negro ao trazer um personagem negro valorizando
de transformação de conteúdos e conhecimentos ad- sua identidade negra ao decorrer da história; para a
quiridos na formação, em formas de práticas pedagó- tecnologia ao trazer inúmeros recursos multimídias na
gicas, ou seja, para a sua aplicabilidade (ROCHA, 2014), sua estrutura, além de tratar do avanço tecnológico
de modo que o aluno possa aprender. Tal processo é, da música no decorrer da história; da mesma forma,
segundo Chevallard (1991 apud ROCHA, 2014), cons- aponta para um futuro possível ao trazer ao final da
tituído de três momentos: o saber sábio, a ensinar e história canções que mostram uma perspectiva de li-
ensinado. Pauta-se, também, na perspectiva interdis- berdade e empoderamento para pessoa negra.
ciplinar que se constitui em uma prática onde conheci- A tecnologia foi submetida a testes para validar
mentos de diferentes disciplinas são colocados a servi- três aspectos: as regras, o tempo e o tamanho. Sen-
ço de um único objetivo, ou seja, buscar conhecer um do verificados apenas ajustes no tamanho de algumas
objeto de ensino levando em consideração múltiplos peças para a versão final. A partir deste teste, todos
outros conhecimentos interligados. Esta perspectiva os aspectos foram validados. Deste modo, o recurso
visa “a formação integral dos alunos, a fim de que pos- mostrou-se adequado para uso em sala de aula seja de
sam exercer criticamente a cidadania, mediante uma forma individual ou coletiva, principalmente por meio
visão global” (LUCK, 2009. p.47). de contação de histórias, de modo que o professor crie
Por fim, pauta-se na transversalidade que “pres- um ambiente de aprendizagem lúdico capaz de faci-
supõe um tratamento integrado das áreas do conheci- litar a apreensão dos conhecimentos propostos pela
mento e um compromisso das relações interpessoais tecnologia.
e sociais escolares com as questões que estão envolvi- Durante a elaboração da ideia do projeto, pen-
das nos temas” (ROCHA, 2014, p. 18). Partindo disto, o sou-se constantemente em trabalhar uma narrativa
‘Livro Interativo - Segue o som’ é uma tecnologia didá- inserida em um livro interativo com alguns recursos
tica em formato de livro voltado para auxiliar o profes- multimídias que pudesse valorizar o ensino da língua
sor no trabalho com os tempos verbais, na disciplina portuguesa numa perspectiva mais interacionista. A
de língua portuguesa, em turmas a partir do 3º ano tecnologia traz uma história que é capaz de gerar bas-
do Ensino fundamental. Consiste em um livro intera- tante diálogo com os alunos acerca do preconceito, do
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[...] eu fui iniciado bem jovem e assim como O espaço institucional poderá proporcionar dis-
meus irmãos e a maioria das pessoas que, que cussões verticalizadas a respeito das diferenças pre-
já são do terreiro. Eu fui iniciado aos quatro
anos de idade, eu já fiz trinta anos iniciado. sentes, favorecendo o reconhecimento e a valorização
(SM3). da contribuição africana, dando maior visibilidade aos
[...] eu já fazia parte da família do axé porque seus conteúdos até então negados pela cultura domi-
minha mãe já é feita, já tinha sido iniciada e por nante. Esse tipo de ação promoverá um conhecimento
conviver no ambiente gostar se dá bem, e ai eu de si e do outro em prol da reconstrução das relações
decidir com oito anos a entrar. Não só, decidir raciais desgastadas pelas diferenças ou divergências
como tive com algumas precisões porque tem
coisas que os médicos não resolvem só os Ori- étnicas.
xás. (SF1).
Figura 1: Cartaz da Rede Baiana de Combate ao Racismo e into-
[...] as pessoas, das outras religiões se sentem lerância religiosa.
acima são superiores são os donos da verda-
de, e isso acaba prejudicando muito porque as
pessoas de terreiro de candomblé são pessoas
mais simples, pessoas mais humildes, o can-
domblé não tem aquela, a doutrina de reunir,
de tá conversando sempre, de tá fazendo aque-
la pregação que existe na igreja. (SM4).]
[...] todo de branco por ser sexta feira, onde as Dentre outros resultados, o estudo possibilitou
pessoas começam a falar, alí é de candomblé a compreensão de que o reconhecimento dos va-
(SF6). lores religiosos de matriz africana pode vir a ser um
importante instrumento de identidade e sentimento
Diante dessas observações feitas, podes- se afir- de pertencimento territorial contribuído para a re-
mar que combate à intolerância religiosa é uma ação sistência ao processo de intolerância religiosa. Ao
estratégica essencial no contexto educativo para que reconstruir diferentes narrativas, o estudo adentrou
as pessoas possam ter outra visão sobre as religiões de em temas relevantes para o conjunto da sociedade
matriz africana, em que muitas das vezes são impres- com desdobramentos na educação para relações ét-
sões formadas sem fundamentos a partir de noções nico-raciais, percebendo a necessidade de ações para
preconcebidas estruturantes do preconceito. afirmar a auto estima dos que professam ou simpati-
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Portanto, pensamos que os desdobramentos da concretas na política educacional e nas práticas esco-
lei nº 10.639/2003 seja a oportunidade para a gestão lares.” É, portanto, a oportunidade para que os sujei-
escolar ressignificar as práticas antirracistas em seu tos da comunidade escolar re/conheçam a sociedade
currículo, bem como reconhecer a pluralidade dos dis- pluriétnica, relações humanas: sentir, pensar, compor-
centes, a diversidade e diferença dos sujeitos. Afinal, tar-se e respeitar-se em relação ao outro.
pensamos “[...] essa lei deve ser encarada como desa-
fio fundamental do conjunto das políticas que visam
à melhoria da qualidade da educação brasileira para REFERÊNCIAS
todos e todas.” (BRASIL, 2008, p. 11). Compreende-
mos que a gestão escolar comprometida a garantia de BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 77,
igualdade ou sensíveis às questões étnico-raciais, tor- 2016.
na-se menos influenciado pelo currículo eurocêntrico
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº
que, infelizmente, embasa o currículo da educação
9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as
brasileira.
diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC,
Corroborando com as prerrogativas da LDB nº 1996.
9394/96, artigo 26, parágrafo § 2º, exige-se da gestão
______. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera
pedagógica o desafio de fomentar e concretizar a for-
a Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, que
mação continuada dos docentes para a educação das
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
relações étnico raciais.
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro
METODOLOGIA Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, 2003.
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O caminho metodológico foi na perspectiva LEIS/2003/L10.639.htm. Acesso em: 09 jun. 2020.
da revisão de literatura e análise exploratória de do- GOMES, N. L. Diversidade étnico-racial e Educação no
cumentos oficiais que discutem a Lei 10.639/2003. contexto brasileiro: algumas reflexões. In: GOMES,
Parte também de epistemologia qualitativa, uma ló- Nilma Lino (Org.). Um olhar além das fronteiras:
gica indutiva que permitiu a produção de uma análi- educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica,
se crítica acerca da gestão pedagógica à luz da Lei nº 2010.
10.639/2003.
LÜCK, H. Gestão Educacional: Uma questão
paradigmática. Petrópolis: Vozes, 2017.
ANÁLISES SEPPIR. Contribuições para Implementação da Lei
10.639/2003. Brasília, 2008.
Na análise das informações (análise de conteú-
do), aqui discutida, foi apropriada as concepções ana-
líticas de Bardin (2016) . Ela propõe que a análise do
conteúdo seja feita por fases e etapas. A primeira fase
é a pré-análise. A segunda é a exploração do material
e a terceira fase é o tratamento dos resultados e inter-
pretações. A análise do conteúdo, a partir dos corpus
(instrumentos para a coleta de dados), aqui seleciona-
dos, a Lei nº 10.639/2003 que altera a Lei nº 9394/96
e os desdobramentos à gestão pedagógica.
RESULTADOS ESPERADOS
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E QUEM DISSE QUE TODA perspectiva que o discurso nacionalista opera e cons-
titui significados. Tendo como recorte a literatura bra-
INDÍGENA É UMA IRACEMA? sileira, encontramos no Romantismo, por exemplo, o
indígena como um ser exótico, o diferente. A prática
VOZES INDÍGENAS FEMININAS discursiva romântica, amparada pela lógica eurocên-
– DOS ESTEREÓTIPOS trica, silencia a expressividade e autenticidade destes
povos, construindo, portanto, uma imagem distorcida.
À RESISTÊNCIA Porém, há algumas décadas, em contraposição
Jairo da Silva e Silva às práticas dominantes, várias/os indígenas brasilei-
ras/os adotaram estratégias de (re)construção das
identidades indígenas na contemporaneidade; entre
essas estratégias, o uso do discurso literário como ins-
trumento de luta, conscientização (e ressignificação da
identidade) das mais variadas etnias indígenas contra
Este trabalho trata dos desdobramentos de um as insígnias identitárias impostas pelo colonizador.
projeto de pesquisa executado no Instituto Federal do Portanto, no contexto da literatura brasileira contem-
Pará (IFPA/Campus Abaetetuba), intitulado “Discurso porânea, a escrita indígena está em constante movi-
e Redes de Memória Indígena na Região do Baixo To- mentação, buscando superar a fratura colonial e se
cantins”, cujo principal objetivo é investigar as redes insere como uma escrita que delineia à sua maneira
de memórias que significam a identidade indígena. As peculiar quanto à forma de representação da realida-
materialidades analisadas formam um arquivo dispo- de e de sua expressão artística, sem renunciar, contu-
nível para elaboração de oficinas pedagógicas sobre do, as marcas da ancestralidade e, principalmente de
variadas temáticas indígenas, dentre as quais, E quem enunciar as barbáries impostas pela colonização.
disse que toda indígena é uma Iracema?, apresentada
como possibilidade didática de expressão da voz femi- É a partir dessas condições de produção que
nina indígena, a partir da literatura em interface com propomos a oficina E quem disse que toda indígena é
outras áreas. uma Iracema? enquanto uma possibilidade didática de
expressão da voz feminina indígena, a partir da litera-
Descrevemos, portanto, alguns resultados par- tura em interface com outras áreas: Com o tempo de
ciais do referido projeto, o qual é fundamentado teo- duração de 2h, a oficina objetiva propor possibilidades
ricamente em postulados dos Estudos Culturais, os de expressão da voz feminina, a partir da literatura e
quais “não configuram uma ‘disciplina’, mas uma área da música; comparar distintas vozes indígenas femini-
onde diferentes disciplinas interatuam, visando o es- nas na literatura brasileira, a partir da obra Iracema de
tudo de aspectos culturais da sociedade” (HALL et al. José de Alencar e obras indígenas atuais; apresentan-
1980, p. 7). Em suma, os princípios que se constituem do mulheres indígenas que atuam em várias áreas de
em seus pilares são: “A identificação explícita das cul- saber e poder: literatura, artes visuais/plásticas, políti-
turas vividas como um projeto distinto de estudo, o ca, docência, jornalismo, cinema, música, etc.
reconhecimento da autonomia e complexidade das
formas simbólicas em si mesmas; a crença de que as Para realização da oficina, adotamos os seguin-
classes populares possuíam suas próprias formas cul- tes procedimentos metodológicos: apresentação da
turais, dignas de nome, recusando todas as denúncias, temática, realizado numa perspectiva dialógica; apre-
por parte da chamada alta cultura, do barbarismo das sentação dos objetivos; breve reflexão sobre as fun-
camadas sociais mais baixas; e a insistência em que o ções da literatura e demais formas de arte enquanto
estudo da cultura não poderia ser confinado a uma grande esperança contra a barbárie; diálogos sobre
disciplina única, mas era necessariamente inter, ou os estereótipos acerca da mulher indígena a partir de
mesmo anti, disciplinar” (SCHWARZ, 1994, p. 380). leitura de alguns trechos da obra Iracema, de José de
Alencar (1965/1991). Recorremos aos estudos de San-
Em se tratando das diversas sociedades indíge- tos (2009), que nos esclarece que mesmo heroicizado
nas, as dinâmicas que compreendem o colonialismo e romanticamente, com a marca impressa da valentia, o
posteriormente à globalização, procuram descaracte- indígena estava sempre sob a mira do olhar determi-
rizar as suas respectivas autenticidades, promovendo, nante do colonizador.
então práticas de dominação, de escravização, bem
como de alienação intelectual, impostas por forma- Não possuía a validade da natureza pura, pois
ções discursivas de práticas eurocêntricas, que sub- sua valentia fora herdada da influência medieval, que
metem a estes povos a violentas estratégias histórico- o colonizador inseriu no contexto e o escritor tomou
-socioculturais de apagamento, de marginalização e, para si como baliza. Não foi impresso, no entanto, a fi-
principalmente, de silenciamento; com efeito, é nessa gura humanizada, a exemplo das demais com as quais
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
dividiu enredo. Foi, antes de tudo, um emblema, cer- afastar os vícios impostos implícita ou subliminarmen-
zido com as cores locais e que escondia, sob seus pon- te pelo colonizador, percebendo nas manifestações
tos em relevo, o constante matiz de nativo selvagem a artísticas, culturais, simbólicas, históricas, discursivas
quem o não índio deveria civilizar, impondo sua cultu- indígenas, a fala de autênticos cidadãos brasileiros.
ra (SANTOS, 2009, p. 21).
Sequencialmente, apresentamos várias escri- REFERÊNCIAS
toras indígenas, iniciando por Márcia Wayna Kambe-
ba, depois, Graça Graúna, Lia Minapoty Aripunãguá e
ALENCAR, J. Iracema. [1965]. 24ª ed. São Paulo: Ática,
Eliane Potiguara. De Potiguara, realizamos a leitura de
1991.
alguns recortes do livro Metade cara, metade másca-
ra. Em continuidade, adentramos na seção “Nem toda GRAÚNA, G. Contrapontos da literatura indígena
indígena é Iracema”, com a apresentação de trabalhos contemporânea no Brasil. 2ª ed., Belo Horizonte:
da artista plástica Yacunã Ká Arfer Tuxá; a jornalista Mazza Edições, 2013.
Renata Aratykyra Tupinambá; a atriz Zahy Guajajara;
GRAÚNA, G. Mulheres indígenas nos espaços culturais.
Sônia Guajajara, primeira indígena a concorrer a um
Disponível em: https://bit.ly/2AQwLfl. Acesso em 08
pleito presidencial; Joênia Wapichana, primeira mu-
de junho de 2020.
lher indígena a se tornar deputada federal no país, e,
por fim, a rapper indígena Katú Mirim. HALL, S. et al. (Orgs.). Culture, Media, Language.
London/New York: Routledge/CCCS, 1980.
Em seguida, apresentamos técnicas simples de
rimas, motivando às/aos participantes a produzirem KAMBEBA, M. W. Ay kakyri Tama – Eu Moro na Cidade.
suas próprias rimas, tendo como foco as distintas vo- São Paulo: Pólen, 2013.
zes femininas indígenas. O público é dividido em gru- MIRIM, K. Nós. Disponível em: https://bit.ly/2BuGgBz.
pos, deixando-os à vontade para escolherem a quais Acesso em 08 de junho de 2020.
personalidades indígenas apresentadas serão retra-
tadas através de suas rimas. É importante o acompa- MUNDURUKU, D. Literatura indígenas e as novas
nhamento de cada pequeno grupo, com o intuito de tecnologias da memória. In.: MARTINS, M. S. C. (Org.).
orientá-los quanto à elaboração de suas rimas. Ensaios em interculturalidade literatura, cultura e
direitos de indígenas em épocas de globalização.
O próximo momento, talvez seja o mais praze- Campinas: Mercado de Letras, 2014.
roso de se ver: a apresentação das produções das/dos
participantes. Antes do encerramento da atividade, POTIGUARA, E. Metade cara, metade máscara. São
não podemos de deixar de realizar a avaliação da ofici- Paulo: Global, 2004.
na, pontuando conjuntamente o que aprendemos e o SANTOS, L. A. O. dos. O percurso da indianidade na
que ainda podemos aprender nas próximas oficinas, e, literatura brasileira: matizes da figuração. São Paulo:
principalmente, em nossas relações sociais. À guisa de Cultura Acadêmica, 2009.
conclusão, destacamos que, todo o percurso trilhado
é, por assim dizer, apenas uma parte no todo que for- SCHWARZ, B. Where is cultural studies? Cultural
mam as lutas dos indígenas na atualidade. Studies, 8 (3), 377-393, 1994.
A oficina proposta é uma gota d’água neste TUXÁ, Y. K. A.. @yacunatuxa. Disponível em: https://
imenso oceano de combate à visão estereotipada so- bit.ly/2C7ox33. Acesso em 08 de junho de 2020.
bre os indígenas. Portanto, adotamos o entendimento
de que o discurso contra-hegemônico deve ser enten-
dido como um instrumento de luta e conscientização
dos povos indígenas. A partir dos estudos discursivos,
culturais, defendemos que os próprios indígenas se-
jam interlocutores de suas culturas e tradições: “[aos
indígenas, a responsabilidade de] levar adiante essa
herança é sabedoria.
Quais rasteiras que devemos dar no neocoloni-
zador, no opressor político-cultural para despertarmos
a força interior e transformá-la em sabedoria e arma
para o crescimento da humanidade e melhor qualida-
de de vida?” (POTIGUARA, 2004, p. 81). A provocação
desta intelectual indígena é um convite à consciência,
no sentido de recuperar a essência de humanidade e
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ram dobradas, como um amigo oculto, os alunos en- ensino e da criação. In: CALAZANS, J.; CASTILHO, J.;
tão, divididos em grupos, trios, ou duplas, sorteavam e GOMES, S. (Coord.). Dança e educação em movimento.
após o sorteio, iniciávamos nosso processo de criação São Paulo: Cortez, 2003.
coreográfica. Sempre com músicas ao fundo, a turma
LUIZ, M. N. A dança da escola no calçadão:
ficava completamente à vontade para criar, o tempo
primeira experiência da escola municipal bom
variava de acordo com a inspiração deles. Eu presta-
pastor. In: Educação, Direitos Humanos e Questões
va auxílio a todos os grupos, provocando-os para que
Contemporâneas, VIII Semana da Educação XI
pudessem pensar além da literalidade das palavras,
Seminário Anual de pesquisa em Educação do PPGE.
buscando um significado mais amplo e criativo. Repe-
ANAIS da III Semana da FACED, 2016. Disponível
timos sempre o mesmo caminho para a inspiração em
em: <http://www.ufjf.br/anaisdasemanadafaced/
criação em Dança ao longo do ano.
files/2017/02/ANAIS-Semana-da-Faced-2016-18-09.
Observando que de fato a compreensão alcan- pdf>. Acesso em: 23 Abr. 2020.
çada por parte dos educandos, tanto de si, como do
RAMOS, L. Na minha pele. 1ª Edição – Rio de Janeiro:
mundo, era incontestável, imaginei encerrarmos a
Objetiva, 2017.
apresentação com algo autoral, que pudesse deixar
nossa marca na memória do público. A ideia de com- SILVA, Edna Christine. Conversando sobre dança: A
pormos uma letra, parodiando com uma melodia, foi formação continuada em dança na rede municipal de
aceita e mais uma vez em nossa roda, todos, sem ex- ensino de Juiz de Fora.
ceção, citaram algo que aprenderam, ou marcou ao STRAZZACAPPA, M. A educação e a fábrica de corpos:
longo de toda esta descoberta. a dança na escola. Cadernos CEDES, Cad. CEDES vol.21
Este foi o resultado final da letra composta: no.53 Campinas Apr. 2001. Disponível em: <https://
doi.org /10.1590/S0101-32622001000100005>.
Chegaram os pretinhos se sentindo em casa / Acesso em: 05 Abr. 2020.
Essa é minha turma sempre animada / Para o
racismo porque isso não tem graça, o meu ca-
belo não é motivo de piada / Então para! Não
fale essas parada / Só repara! Na autoestima
elevada / Nós somos lindos não importa o que
haja / Olho no espelho e tenho orgulho da mi-
nha raça / Os meus antepassados eram rainhas
e reis e vou te falando que nós vamos ser tam-
bém / Tipo Wakanda, Tipo Wakanda. (Compo-
sição realizada por estudantes da escola muni-
cipal professor oswaldo velloso, 2018). 4
REFERÊNCIAS
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METODOLOGIA
ANÁLISE
RESULTADOS ESPERADOS
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RESULTADO
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dos, como base de pesquisa, os artigos, dissertações e indígena para crianças: o desafio da interculturalidade.
teses publicadas nos últimos dez anos (2009 a 2019), In: Estudos de literatura contemporânea, n. 53, p. 199
nas plataformas eletrônicas CAPS – Coordenação de -217, jan/abr.2018.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Scielo
DANNER, L. F.; Dorrico, J.; Danner, F. Em busca da
- Scientific eletronic Library Online, BDTD - Biblioteca
terra sem males: violência, migração e resistência
Digital Brasileira de Teses e Dissertações, Google Aca-
em Kaká Werá Jecupé e Eliane Potiguara. Estudos de
dêmico e Repositórios de Universidades Estaduais, Fe-
Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 58,
derais e particulares do Brasil.
e587, 2019. Disponível em: file:///C:/Users/walli/
Desktop/MESTRADO/REFERÊNCIAS%20DISSERTAÇÃO/
ANÁLISE DISSERTAÇÕES/2316-4018-elbc-58-e587.pdf
DORNELLES, K. M. S. Representações indígenas no
Buscou-se nesses documentos verificar se a te- BNPE 2014. Dourados: UFGD, 2017.
mática apresentada tem relação com literatura indíge-
na e educação, ou ainda, se se relaciona com o uso e a
aplicabilidade da Lei nº 11.645/2008, que traz a obri-
gatoriedade de se estudar as culturas africana, afro-
-brasileira e indígena, nas escolas brasileiras.
RESULTADOS
REFERÊNCIAS
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Este trabalho é resultado de um Projeto Turísti- Dessa forma, essas medidas acarretam o não
co, que originou um evento científico em formato de acesso a educação, blindando os privilégios da socie-
Simpósio para Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, dade, limitando os direitos para alguns onde o conhe-
denominado “Simpósio Multicultural”. Que teve como cimento foi negado em função do seu fenótipo. Mes-
recorte a “Educação Étnica Racial no Curso Superior”: mo quando o acesso à educação é permitido, porém
Inclusão do Currículo Multicultural no Curso de Turis- as barreiras são postas pelos valores hegemônicos que
mo da UFMA, a metodologia utilizada para a constru- compõem o currículo.
ção do presente trabalho, inicialmente deu-se através Portanto, o currículo possui o poder de determi-
de pesquisa bibliográfica pautada em livros e sites de nar que sujeito quer formar, justamente por se consti-
Currículo, Cultura Afro brasileira e Afro maranhense tuir num grande instrumento de poder.
para dar sustentabilidade científica à elaboração do
projeto do evento. Seguindo o cronograma organizado Qual é o tipo de ser humano desejável para um
para as fases da execução do evento que se materiali- determinado tipo de sociedade? Será a pessoa
racional e ilustrada do ideal humanista de edu-
zou por conta das seguintes atividades: realização de cação? Será a pessoa ajustada e competitiva
palestra e mesa-redonda. dos atuais modelos liberais de educação? Será
a pessoa ajustada aos ideais de cidadania do
moderno estado nação? Será a pessoa descon-
fiada e crítica dos arranjos sociais existentes
INTRODUÇÃO preconizadas nas teorias educacionais críticas?
A cada um desses “modelos” de ser humano
A Identidade brasileira é pautada na diversidade corresponderá um tipo de conhecimento, um
dos povos, a exemplo de africanos, indígenas e euro- tipo de currículo. (SILVA, 2013, p. 15).
peus. Apesar das populações negras e indígenas sem-
pre terem ocupado a maioria quantitativa no Brasil, O trabalho teve como objetivo promover um
entretanto do ponto de vista de uma visibilidade po- evento sobre Educação Étnico-racial no Ensino Supe-
sitiva o mesmo não acontece. São classificadas como rior discutindo sobre a inclusão do currículo multicul-
minorias sociais, estas, representam os segmentos tural no curso de turismo UFMA, Realizar revisão de
mais excluídos da sociedade brasileira. Estudos apon- literatura acerca da Educação étnico-racial, discutir a
tam, que a exclusão não só apenas pela condição so- realidade curricular do curso de Turismo da UFMA,
cial, mas, sobretudo pela sua condição racial. apontar a necessidade de inclusão de conteúdos acer-
ca da cultura afro-brasileira no currículo do curso de
O Brasil segue um padrão cultural eurocêntrico turismo, incentivar o debate sobre temática da Edu-
que se sobrepõem sobre as outras culturas, colocan- cação para as Relações Étnicos Raciais a partir da lei
do-se na condição de minoria, estabelecendo uma 10.639/2003 e dar visibilidade à cultura afro- brasileira
relação hierárquica de superioridade e inferioridade. e afro- maranhense no contexto turístico.
Diante da grandiosidade da população negra no Bra-
sil, o censo 2010 aponta que, o Maranhão se destaca
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ANÁLISE DE RESULTADOS
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LEI 10.639/03 NOS PROJETOS (PPP) que possa narrar a cotidianidade das vivências
dos estudantes em suas comunidades, que possa con-
POLÍTICOS PEDAGÓGICOS temporizar as ações pedagógicas e uniformizar o pen-
samento dos vários atores que se destacam neste ce-
DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO nário, “Ao construirmos os projetos de nossas escolas,
MUNICÍPIO DE RIO LARGO: planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.
Lançamo-nos para diante, com base no que temos,
SILENCIAMENTO NA DISCUSSÃO buscamos o possível” (VEIGA, 2004, p.12).
ÉTNICO RACIAL – IDENTITÁRIA Seguindo essa concepção de educação democrá-
tica libertadora, há que se pensar que cada escola pú-
Lara Patrícia Martiniano Araújo blica possui uma identidade própria, uma história que
Maria Vitória Ferreira Silva possibilita definir quais as estratégias mais adequadas
para inovação das ações pedagógicas de seu contexto.
Valéria Campos Cavalcante Segundo Libâneo (2012), para viabilizar a construção
de um PPP democrático deve haver na escola o plane-
jamento coletivo, autonomia e compromisso dos ato-
res com o processo democrático da escola, bem como
o incentivo à participação da comunidade escolar.
Este texto é um recorte de uma pesquisa de Sobre este aspecto, Vasconcellos (2012) explici-
PIBIC/CEDU/UFAL - 2019/2020, direcionada para a ta o modo como deve ser elaborado o PPP, apontando
análise dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) das que um dos fatores que podem dificultar a elaboração
escolas públicas de Rio Largo, avaliamos se as escolas do PPP é a falta de exercício democrático na escola.
investigadas incluem a lei 10.639/03 em seus projetos, Compreende-se, portanto que a escola pública, en-
e consequentemente, sua aplicabilidade. A pesqui- quanto instituição educativa, tem um papel relevante
sa encontra-se em curso, neste percurso está sendo junto aos estudantes, interligando as relações entre:
realizado estudo de autores como: Celso Vasconcellos saberes e identidades dos sujeitos, que devem ser evi-
(2012), Carlos Libâneo (2012), Ilma Veiga (2007), sobre denciados nos planejamentos e nos PPPs das escolas
PPP e dos autores Abdias do Nascimento (1972), Mu- públicas, para que se consiga avançar na relação entre
nanga (2005), bem como as leis 10.639/03, 11.645/08 saberes escolares/realidade social/diversidade e cul-
e 9.394/96 acerca da temática afro-brasileira. turas.
Esta pesquisa recorre a uma abordagem qua- No tocante ao município de Rio Largo, a lei mu-
litativa, baseado em análise documental. Entende-se nicipal 1.549/09 normatiza a relevância de se incluir
a análise documental como um recurso que permite a realidade dos alunos nos documentos da escola, no
identificar informações em documentos a partir de art. 21º que afirma em seus incisos: IX- deve-se incluir
questões ou hipóteses anteriormente estabelecidas nos currículos e em todas as atividades e programas
(LUDWIG, 2012). A referida pesquisa objetiva identifi- desenvolvidos para as escolas, temas relacionados à
car até que ponto a lei 10.639/03 é silenciada ou visibi- realidade local e regional; XII - deve-se inserir no cur-
lizada nos PPPs das escolas do município de Rio Largo, rículo escolar o estudo da preservação e renovação
da mesma forma, busca-se conceituar o Projeto Políti- do patrimônio cultural, histórico e artístico de raízes
co Pedagógico como um documento com significado populares. Diante dessa legislação, implica dizer que o
participativo e democrático; evidenciando a relevância planejamento da escola deve ser voltado para a reali-
e obrigatoriedade da abordagem nos PPPs das ques- dade do aluno.
tões étnico-raciais, de acordo com a lei 10.639/03.
É notório que há regulamentação municipal que
Avaliando esse contexto e considerando ainda abrange o objetivo de incluir o contexto e a identidade
o processo de Gestão Escolar Democrática na escola do estudante no PPP das escolas, entretanto, há que
pública, é necessário que se garanta a participação da se ressaltar que mesmo estando em vigor essa legisla-
comunidade nas decisões da escola, a fim de que as- ção no município em questão, o que pode-se constatar
sumam o papel de corresponsáveis na construção de é que em muitas escolas de Rio Largo ainda não há
um PPP (LIBÂNEO, 2012), e que este documento vise inclusão da referida legislação nos PPPs, consequente-
garantir a resistência dos povos negros, diante das ex- mente, neste há uma invisibilidade das discussões ét-
clusões a que são expostos. Um projeto que seja cons- nico-raciais e identitárias nas escolas. Não há portan-
tituído de múltiplas narrativas, criando identidades e to o que nos indica Munanga (2005), quando afirma:
subjetividades contra-hegemônica. Necessita-se, por- “para que a escola consiga avançar na relação entre
tanto, construirmos um Projeto Político Pedagógico saberes escolares/realidade social/diversidade étnico-
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REREFÊNCIAS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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METODOLOGIA
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Grupo de trabalho: currículo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi investigar as con-
cepções que os professores e coordenadores pedagó-
gicos de duas escolas do município de São Gabriel/RS
apresentam sobre currículo, bem como se consideram
a BNCC um currículo. Analisando os dados apresen-
tados e discutidos neste manuscrito percebemos que
os sujeitos entrevistados apresentam concepções de
currículo tecnicistas, conteudistas e comportamenta-
listas e que a maioria não considera a BNCC um cur-
rículo por ela não apresentar uma listagem específica
de conteúdos. Contudo, ao assumirmos currículo
como algo inacabado, que pode e deve ser ressignifi-
cado na e para a realidade escolar, de forma coletiva
e ao consideramos que a BNCC apresenta um currí-
culo técnico com foco nas competências. Além disso,
aos profissionais da educação a BNCC foi oficialmente
aprovada para ser efetivada no fazer escolar. N e s -
se sentido, resta-nos as seguintes indagações: currícu-
lo para quê e para quem?, que resultam em possibili-
dades de investigações mais aprofundadas.
REFERÊNCIAS
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RESULTADOS ESPERADOS
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METODOLOGIA
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em territórios em que a contingência histórica se so- México. Rio de Janeiro: Eduerj, 2014
brepõe a uma suposta ordem definitiva inalcançável
MORAES, Antonio Carlos Robert. O Sertão: Um
(BURITY; MENDONÇA; LOPES, 2015). Atualmente, po-
“outro” geográfico. Terra Brasilis (Nova Série) Revista
líticas curriculares apoiadas nos princípios neoliberais
da Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia
enfraquecem a ação docente e discursos conservado-
Histórica 4 – 5, 2012.
res tentam dominar conteúdos disciplinares e saberes
socialmente organizados (MACEDO, 2014). OLIVEIRA, G; OLIVEIRA, A; MESQUITA, R. A teoria
do Discurso de Laclau e Mouffe e a pesquisa em
Educação. Educação e Realidade, Porto Alegre v. 38,
RESULTADOS ALCANÇADOS n. 4, 2013.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Grupo de trabalho: currículo
REFERÊNCIAS
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O LADO OCULTO DO CURRÍCULO que estabelece as linhas da cultura que a escola deve
transmitir, claramente explícito nas documentações
Otainan da Silva Matos oficiais da instituição; a partir daí surge o currículo
real, aquele que de fato é desenvolvido pelo professor
José Antonio Moraes Costa na sala de aula, em que a realidade do fazer pedagó-
gico articula o planejamento docente, a contribuição
dos alunos. Por fim, o currículo oculto, no qual se apre-
sentam as aprendizagens oferecidas pela escola, que
não constam nos planejamentos, mas que reforçam
valores e constroem uma visão de mundo, delineiam
comportamentos e atitudes, e acabam por moldar os
INTRODUÇÃO
alunos em áreas que passam despercebidas pela insti-
tuição. Por isso, mudar a forma de aprender dos alu-
O currículo é conceitualmente uma proposta
nos, visa também buscar novas formas de ensinar por
que abrange um universo de informações. Todavia,
parte do professor. Para tanto,
nos ateremos ao currículo escolar que em seu bojo
deve proporcionar uma sistematização eficiente do Não se trata de transformar essa nova cultura
conteúdo e da ação dos docentes frente às propostas num novo pacote de rotinas recicladas, como
levantadas. O currículo é algo que deve transpassar do quem atualiza um programa de processamento
conceito e deve ser vivido, não apenas lido. Contudo, de texto [...]. Uma forma mais sutil, enriqueci-
da, de interiorizar a cultura, neste caso a cultu-
não é simples de ser entendido. Há formas de ensino e ra de aprendizagem, é repensá-la em vez de re-
aprendizagem que acontecem de forma implícita, isto peti-la, desmontá-la peça por peça para depois
é, nas entrelinhas das relações que se concretizam no construí-la, algo mais fácil de conseguir desde a
ambiente escolar. Silva (2003) categoriza essas apren- distância da história (POZO, 2002, p. 26).
dizagens informais como currículo oculto. Segundo
ele, “[...] o currículo oculto é constituído por todos Em meados do século XIX, o currículo era me-
aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer ramente algo que se voltava às habilidades do de-
parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de for- senvolvimento profissional, basicamente trazido às
ma implícita, para aprendizagens sociais relevantes” atividades domiciliares. A educação, por sua vez, era
(p. 78). Essa sempre foi uma constante no seio escolar de responsabilidade da família e os conhecimentos
ou institucional. Tornar o currículo, algo real, é ainda transmitidos aos posteriores, eram frutos dos valores
um grande desafio aos que governam e principalmen- cristãos. Como precedente ao Iluminismo, no século
te aos que estão no chão da escola. Por esse motivo, XVI, uma grande reviravolta acontece em relação à
surge o chamado currículo oculto. Essa expressão se educação e seu ensino. O currículo também devia está
dá pelo silenciamento de docentes, de representantes centrado nas experiências de vida das pessoas e não
ativistas, pela boa ideia de aperfeiçoar o ensino, por nos textos e livros. Tudo passa a se reinventar, contra-
uma descoberta que pode desenvolver mais a educa- riando, é claro, os clássicos tradicionalistas. No final do
ção, entre tantos outros fatores. século XIX e início do século XX, inicia-se efetivamente,
nos EUA, o currículo como campo sistemático de tra-
balho na educação.
O CURRÍCULO ATRAVÉS DOS TEMPOS
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REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: currículo
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
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para a escola e para o professor. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/inter/v18n1/1518-7012-
inter-18-01-0179.pdf . Acesso em: 10/05/2020
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Grupo de trabalho: currículo
cará que a Base é muito tímida em relação a direitos SILVA, T. T. O currículo como fetiche: a poética e a
sociais, a ações de inclusão e a questões de gênero, política do texto curricular. São Paulo: Autêntica, 1999.
posição que está em consonância, por exemplo, com a
postura daqueles que defendem a Escola sem Partido.
A BNCC também expressa de forma mais enfáti-
ca os interesses mercadológicos, que podem ser cons-
tatados em diversos aspectos, como destacamos nos
excertos elencados acima. Um deles é a ideia da efi-
ciência relacionada à aprendizagem, o que permitiria
que os estudantes aprendessem mais rapidamente os
conteúdos, e da criatividade vinculada a inovação e ao
empreendedorismo.
Assim, nos parece que frente a esta forte investi-
da neoliberal sobre a escola e seus currículos torna-se
necessário estarmos atentos quanto aos interesses do
mercado na educação e discutir com profundidade a
formação de professores e os papéis da escola na for-
mação dos jovens estudantes.
REFERÊNCIAS
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inclusão permite a concretude das propostas fecunda- necessário analisar as formas de implantação da nova
das em ideias de fomentação de possibilidades reais proposta curricular.
de desenvolvimento das habilidades e competências,
Conforme Cury (2008), os direitos humanos es-
como afirma o autor Sahlberg, na íntegra:
tão baseados na pluralidade dos indivíduos que estão
As pessoas às vezes supõem incorretamente inseridos na sociedade, neste aspecto, educação é
que a equidade na educação significa que a compreendida como um direito universalizante, Cury
todos os alunos deve ser ensinado o mesmo (2002; 2008), enfatiza que a educação deve atender
currículo, ou que aqueles deveriam atingir os as diferenças, entendendo que os indivíduos são seres
mesmos resultados de aprendizagem na es-
cola. Esta foi também uma crença comum na multifacetados, o currículo deve atender a demanda
Finlândia por um longo tempo após a reforma desse público em constante efervescência e, por con-
da escola que teve por base a igualdade, que seguinte, abarcar a pluralidade de forma eficiente.
foi inicialmente lançada no início dos anos
1970. Em vez disso, a equidade na educação8 Embora a BNCC esteja no início de sua implanta-
significa que todos os alunos devem ter acesso ção é importante salientar já os impasses visualizados,
à educação de alta qualidade, independente-
mente do local onde vivam, de quem seus pais
por exemplo, ao analisar o Ensino Médio, dividido na
possam ser, ou do que a escola que eles fre- Finlândia em Ensino Técnico e Ensino Humanístico, no
quentaram. Neste sentido, a equidade garante Brasil foi adotado uma proposta análogo, no entanto,
que as diferenças em resultados educacionais mesmo que esse modelo esteja descrito pautado na
não são resultado de diferenças de riqueza,
renda, poder ou posses, em outras palavras, do
ampliação do direito a escolarização de qualidade, é
background familiar (SAHLBERG, 2015, p. 75). visível que se assemelha na padronização dos conhe-
cimentos como ocorre na China, onde o espaço para
Observa-se que o autor demarca um importante desenvolvimento das particularidades é negligenciado
paradigma presente no vislumbre sobre as metodolo- e o objetivo central é alcançar metas, onde indivíduos
gias que possibilitam acesso concreto à aprendizagem. são expostos ao não atenderem as demandas (IOCHI-
Sobretudo, necessita-se destacar que os professores PE, 2012).
finlandeses são iminentemente treinados para perce- Esse modelo punitivo está sendo adotado em al-
ber as individualidades presentes nos indivíduos que gumas escolas brasileiras, uma pesquisa realizada du-
compõe o sistema educacional, neste aspecto, não é rante um Laboratório De Pesquisa Em Ciências Sociais,
disponibilizar apenas a infraestrutura, mas deter as na Universidade Federal de Campina Grande, no cam-
ferramentas adequadas na condução da inclusão dos pus Sumé –PB, evidenciou a presença de tal prática na
discentes, isto é, a garantia que os indivíduos conce- rede estadual, na escola José Gonçalves de Queiroz,
bem o processo de aprendizagem de formas diferen- situada na cidade de Sumé – PB.
tes, entender tais entraves, fomentou nos altos índices
de prestigio mundial atribuídos aos métodos finlande-
ses de inclusão e potencialização das habilidades, no CONSIDERAÇÕES FINAIS
multiculturalismo e especificidades dos respectivos
alunos. Destarte, torna-se evidente que a análise com-
parativa entre o Sistema Educacional Brasileiro e o Sis-
tema Educacional detém nítidos pontos que devem ser
SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: AS averiguados, embora a BNCC (Base Nacional Comum
IMPLICAÇÕES DA BNCC (BASE NACIONAL Curricular), detenha competências e habilidades, sua
COMUM CURRICULAR) – EDUÇAÇÃO formação difere das proposituras da Educação Finlan-
EM PROL DO DESENVOLVIMENTO? desa no que consiste a autonomia dos agentes edu-
cativos inseridos no processo de ensino e aprendiza-
A partir da década de 1980 o Governo Federal gem e, por conseguinte, os currículos na Finlândia são
inicia o projeto de padronização do Ensino Brasileiro alicerçados em concomitância com as características
através Base Nacional Comum Curricular, no entanto, socioculturais dos discentes, levando em consideração
a concretude desse projeto iria ser efetuada de forma aspectos regionais.
consiste na medida em que houvesse formação inicial
docente de qualidade satisfatória e reformas nas in- Em contra partida, no Brasil caminhamos na
fraestruturas das escolas de todo Brasil (RODRIGUES contramão ao padronizar o currículo ofertando con-
et al, 2016). Observa-se que a BNCC (Base Nacional teúdos de forma análoga a todo território brasileiro,
Comum Curricular), está edificada nos pressupostos além disso, o Ensino de Sociologia no Brasil convive
educacionais similares aos Finlandeses, principalmen- com constantes “ameaças”, visto que as disciplinas de
te no quesito de habilidades e competências, porém é Sociologia e Filosofia são vistas como âmbitos doutri-
nários de ideologias de esquerda, que estão divorcia-
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RESULTADOS EM PROVISORIEDADE
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EDUCAÇÃO FÍSICA E BNCC: O Seguindo uma linha pós-crítica está Marcos Gar-
cia Neira. Tal autor propõe um trabalho que para além
QUE SABEM OS PROFESSORES da categoria classe social sejam considerados também
o gênero, a etnia, dentre outros marcadores sociais
Anderson José de Oliveira (NEIRA, 2016). O referido autor propõe um currículo
cultural da educação física.
Para além das teorias curriculares no trato do
conhecimento vinculado a educação física enxerga-se,
assim como apontado pelos PCN (1997) que nas esco-
O presente trabalho traz o resultado parcial de las ela ainda é tratada como marginal. Como exemplo,
uma pesquisa que objetiva saber o nível de conheci- pode-se citar: as aulas alocadas em horários extra tur-
mento de um grupo formado por sete professores no e a ausência do professor de educação física no pla-
de Educação Física a respeito da implementação da nejamento, discussão e avaliação do trabalho escolar.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para tal, foi
Em 2017, mesmo não havendo políticas públi-
pedido que esses docentes respondessem a seguinte
cas significativas para mudar essa realidade descrita
questão: que conhecimentos você possui em relação
nos PCN (1997) entra em cena mais um elemento na
à BNCC? Tais educadores foram selecionados dentro
construção da Educação Física nas escolas brasileiras:
de um grupo de estudos vinculado ao um curso supe-
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Tal docu-
rior de Educação Física. Eles foram separados em duas
mento de implementação obrigatória, servirá de base
categorias: “atuantes” (composto por três docentes)
para a construção de todos os currículos no território
e “não atuantes” (composto por quatro docentes). O
nacional. A BNCC (2017) propõe uma educação emba-
primeiro relacionado aos que trabalham como profes-
sada em competências e habilidades. Tal base divide
sores na área escolar e o segundo por outros que não
o conhecimento nas seguintes áreas: linguagens (for-
atuam nessa área ainda.
mada pelos conteúdos educação física, artes, língua
Para a realização da pesquisa foi utilizada uma portuguesa e língua inglesa), matemática, ciências da
abordagem de cunho qualitativo através de um olhar natureza, Ciências humanas (subdividida nos conteú-
pós-crítico. Foram correlacionadas fontes bibliográ- dos história e geografia) e ensino religioso
ficas com relatos de professores colhidos através de
Entendendo-se que a implementação dessa
aplicativos de mensagem1. No entanto convém desta-
base é obrigatória, objetivou-se saber qual o conhe-
car antes dos achados parciais dessa pesquisa, algu-
cimento de diferentes professores de educação física
mas reflexões relacionadas à Educação Física Escolar.
em relação à mesma. Devido aos limites da presente
Os PCN (1997), específicos da disciplina Educa- proposta, será abordado apenas a resposta desses
ção Física, já especificavam na época de sua publicação professores acima citados em relação ao conhecimen-
que coexistem diferentes abordagens para a Educação to geral que possuíam sobre a BNCC.
Física escolar brasileira que articulam conhecimentos
Inicialmente, foi percebido que mesmo sendo
advindos de diferentes áreas como psicologia, sociolo-
publicada em 2017, tal base não foi estudada pela
gia e filosofia. Estas correntes têm ampliado o campo
maioria da mostra de professores não atuantes no sis-
de ação e reflexão, além de aproximar a educação físi-
tema de ensino. Grande parte disse ter conhecimentos
ca das ciências humanas.
superficiais em relação à mesma e um professor disse
Dentre essas perspectivas existem aquelas em- não possuir conhecimento nenhum. Um número con-
basadas em uma linha de estudo crítica, embasada siderável de docentes abordou questões políticas em
no marxismo. Estas propõem uma reflexão e trabalho relação à base como sua vinculação com o movimento
nas escolas em que o principal marcador social seja a “escola sem partido”, no entanto aspectos estruturais
luta de classes. Como exemplo tem-se a Metodologia da BNCC não foram comentados. Foi percebido tam-
Crítico Superadora escrita por um coletivo de autores bém que o fato dessa base ser um documento obriga-
(COLETIVO DE AUTORES, 1992) e também a Histórico- tório que regula os currículos no Brasil era conhecido
-Crítica, idealizada por Dermeval Saviani e apropriada por todos. Tal característica foi semelhante no grupo
por um grupo de professores de Juiz de Fora/MG (REIS, dos professores que atuam no sistema educativo. En-
et. al, 2013). tre três docentes somente um falou sobre aspectos es-
truturais da BNCC.
Se tal base será o pilar da educação nacional,
1 Tal metodologia foi utilizada devido à dificuldade de um torna-se necessário maiores investimentos pelo setor
contato presencial com tais professores por conta do isolamento público e privado de ensino em sua divulgação. Apesar
social que é necessário em tempos de Pandemia do Covid 19. de se tratar de dados iniciais de uma pesquisa em an-
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONTEXTO DOS ANOS INICIAIS Tendo em vista nossa intenção, neste momento,
de contribuir com a problematização da complexidade
E A TEORIA HISTÓRICO que envolve o processo de alfabetização na perspec-
CULTURAL: DESAFIOS E tiva da teoria histórico cultural, elegemos o método
dialético, como base para este estudo. Acreditamos
POSSIBILIDADES DE AÇÕES que a própria realidade, em seus movimentos, auxilia
na compreensão do que está obscuro e confuso para
DOCENTE VOLTADO PARA chegar ao conceito do todo, com suas determinações
A TEORIA E PRATICA e relações.
O amparo da opção teórico-metodológica está
Daniella Caroline R.R. Ferreira em Kosik (1976) e compreende três graus, aqui apre-
Adriana Regina de Jesus sentados sinteticamente: minuciosa apropriação da
matéria; análise de cada forma de desenvolvimento do
próprio material e investigação da coerência interna,
ou seja, da unidade das várias formas de desenvolvi-
mento. O autor acrescenta que “sem o domínio de tal
método de investigação, qualquer dialética não passa
de especulação vazia” (Kosik, idem). Ressaltadas as exi-
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS gências da lógica da investigação, Kosik vai deter-se na
lógica da exposição porque só ela justifica realmente
O presente estudo tem como objetivos a) com- os esforços da ciência.
preender o processo de alfabetização ocorrido no con-
texto dos anos iniciais de três escolas municipais da O método da explicitação dialética funda-se
cidade de Londrina b) Proporcionar curso de formação sobre a concepção da realidade como totalidade con-
continuada com professores alfabetizadores das três creta. (Kosik, 1976, p.32). O caminho metodológico
escolas, objeto do nosso estudo, tendo como parâme- será pautado nos princípios da pesquisa qualitativa,
tro a teoria histórico cultural, a fim de contribuir no descritos por Bogdan e Biklen (1982) e citados por Lü-
processo de ensino e aprendizagem e também com o dke e André (1986), que abordam cinco características
currículo das escolas analisadas. básicas aqui sintetizadas: a pesquisa qualitativa tem o
ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
Este estudo apresenta como problema de pes- pesquisador como seu principal instrumento; os dados
quisa: Como ocorre o processo de alfabetização nos coletados são predominantemente descritivos; o sig-
anos iniciais e quais estratégias de ensino os professo- nificado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são
res utilizam por meio da Teoria Histórico Cultural para focos de atenção especial pelo pesquisador; e a análise
trabalhar a alfabetização com seus alunos? Para desva- dos dados tende a seguir um processo indutivo. (BOG-
necer essa problemática elegemos como metodologia DAN E BIKLEN, 1982).
a pesquisa bibliográfica a luz da Teoria Histórico Cul-
tural, bem como, a pesquisa de campo a ser realizada O conjunto de procedimentos de apoio a inves-
em três escolas municipais localizadas na cidade de tigação será formado por pesquisa bibliográfica, análi-
Londrina. se documental, e a pesquisa intervenção. A pesquisa
bibliográfica permite o aprofundamento e ampliação
A relevância dessa pesquisa para o campo da dos pressupostos teóricos de autores que discutem a
educação é que por meio desta é possível identificar temática, objeto de estudo (Lakatos; Marconi ,1987;
como ocorre os processos de alfabetização nos anos Cervo; Bervian,1976).
iniciais, bem como, analisar se o processo de formação
que ministrarei juntamente aos professores terá impli- A análise documental do currículo de cada es-
cações no processo de ensino e aprendizagem. cola, irá nos auxiliar na recuperação de olhares sobre
o contexto do currículo e da didática construído no es-
A alfabetização atualmente tem sido uma das paço escolar A análise documental permitirá situar a
principais metas da educação brasileira, intensifica-se, instituição de ensino no seu processo pedagógico e
pois, que a alfabetização tem fundamental importân- educativo, possibilitando, assim, entender a relação do
cia para a formação do aluno, pois ela é o início da vida currículo vivido com o currículo oficial, bem como suas
de uma criança onde entra em contato com a leitura e implicações no contexto escolar.
assim desenvolve-se para futuros conhecimentos que
o irá adquirir no decorrer da sua vida escolar.
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RESULTADOS ESPERADOS
REFERENCIAS
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Como forma de socializar com as demais crian- FAVILLI, E; CAVALLO, F. Histórias de Ninar para garotas
ças, profissionais e famílias da escola foi organizado rebeldes. São Paulo: VR Editora, 2017
um cartaz com todos os desenhos e solicitada autori- MEYER, D. E. Gênero e educação: teoria e política.
zação da equipe da escola para prender em uma pare- In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER,
de do saguão da escola como forma de estar presente Silvana Vilodre. (Org.) Corpo, Gênero e Sexualidade:
no momento de chegada das crianças e saída do turno um debate contemporâneo na educação. 9.ed.
de aula. Assim, as mesmas poderiam apresentar o tra- Petrópolis, RJ: Vozes, p.11-29, 2013.
balho aos familiares (Figura 1).
TFOUNI, L. V. Letramento e alfabetização. 9ed. São
Figura 1: Cartaz da atividade e turma em frente ao car-
Paulo: Cortez, 2010
taz confeccionado.
Fonte: https://www.facebook.com/leo.pedagogo/photos
/a.553400734780492/2752181394902404/?type=3&theater
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
metodologias e modo de avaliação a serem adotados LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma
pelos professores nas diferentes disciplinas do Ensino perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes.
Fundamental. Tendo em vista os tabus, as incertezas, 1997.
dúvidas e preconceitos que mapeiam o tema da sexua-
______. Educação e Gênero: a escola e a produção do
lidade torna-se difícil para o professor identificar o que
feminino e masculino. In SILVA, Luiz Heron; AZEVEDO,
seria de domínio do “coletivo” e do que seria de domí-
José Clovis. (orgs.) Reestruturação Curricular: teoria e
nio da vivência pessoal.
prática no cotidiano da escola. Petrópolis: Vozes, 1995.
A confusão se estabelece, em alguns momen-
______. Pedagogias da sexualidade. In LOURO,
tos, inclusive no que se refere à própria intimidade
Guacira Lopes (ORG.) O corpo educado: pedagogias
do professor. Compreender as relações de gênero no
da sexualidade. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Ensino Fundamental I implica aceitar que as crianças
vivenciam a sexualidade. O tema deve ser abordado ______. Corpos que Escapam. Labrys estudos
com mais frequência, ao explorar com os educadores feministas. Nº 4. Agosto/Dezembro 2003. Hyperlink:
a ordem do privado e a ordem do público no campo da http://www.labrys.br.
sexualidade e gênero com discussões mais explícitas ______. Um corpo estranho – ensaios sobre
para que estes profissionais se sentissem mais seguros sexualidade e teoria queer. Belo horizonte: Autêntica,
para abordarem o problema junto aos seus alunos. 2004.
Contudo, as diversidades em sala tornam-se ______. Conhecer, pesquisar, escrever... Comunicação
problemas ao invés de oportunidades para produzir apresentada na V Anped Sul – Curitiba, abril, 2004.
saberes. Isso devido a escola está inserida em relações Disponível em: Http://www.geerge.com/anpedinha_
de poder e apagar oportunidades que lhe são consti- gua.htm.
tutivas, visto que o modelo instituído não considera as
singularidades e as diversidades expressas na cultura ______. O currículo e as diferenças sexuais e de gênero.
local. In: COSTA, Marisa Vorraber. O currículo nos limiares
do contemporâneo. 4ª. Edição. Rio de Janeiro: DP&A,
Para tanto, no primeiro momento serão utiliza- 2005.
dos os conceitos de (SAYÃO, 2005; MONTEIRO E ALT-
MANN,2014) sobre a representação dos estereótipos MONTEIRO, M. K.; ALTMANN, H. Homens na educação
e opreconceitos sobre sexualidade, (LOURO,1997; NU- infantil: olhares de suspeita e tentativas de segregação.
NES, 2000; RIOS, 2009; VIANA,1997; SILVA, 2008) com Cadernos de Pesquisa, v .44, n.153, p .720-741 jul./
os conceitos de pluralidades de gêneros, para funda- set. 2014.
mentar os conceitos de preconceito e racismo utiliza-
remos (Chaui, (1996; MUNANGA,1999) e (ESTEBAN,
2001, BRASIL, 1998) com os conceitos de currículo.
Esperamos com este trabalho uma educação emanci-
patória e que visa à diversidade e inclusão, esperamos
que professores se atente para à inclusão no currícu-
lo da escola temas que que abordem as identidades
de gênero e orientação sexual como tema transver-
sal, realizando debates, palestras e outras atividades
que visem as diferenças no cotidiano escolar para isto,
cabe ao professor se qualificar para que possa sentir-
-se seguro durante explorações dos temas.
REFRÊNCIAS
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Grupo de trabalho: currículo
METODOLOGIA
INTRODUÇÃO Esse trabalho foi construído a partir de uma SD
segundo Zabala (1998) que destaca o caráter proces-
Este trabalho se caracteriza como um relato sual, considerando as fases de planejamento, aplica-
de experiência que possui o objetivo de analisar as ção e avaliação. Para o autor a avaliação de SD elabora-
potencialidades de utilização do Lapbook enquanto das pelo professor é um passo importante e intrínseco
um instrumento pedagógico de avaliação e síntese do no planejamento de ensino-aprendizagem, em que “o
processo de ensino-aprendizagem de Física no Ensino planejamento e a avaliação dos processos educacio-
Médio. Dadas as características que permeam a Física, nais são uma parte inseparável da atuação docente”
tais como equações e interpretações lógico-matemáti- (ZABALA, 1998, p.17). A SD compreendia as seguintes
cas que dificultam sua compreensão, estigmatizando e aulas: 1) Apresentação da Sequência Didática e confec-
distanciando o saber científico dos estudantes. A rea- ção dos Lapbook; 2) Debate sobre consumo de Energia
lização desse trabalho se justifica na possibilidade de Elétrica nos processos produtivos agrícolas; 3) Aula so-
inserção de um instrumento que flexibilize a avaliação bre potência elétrica; 4) Aula sobre análise de conta de
do processo de ensino-aprendizagem e possibilite a energia elétrica; 5) Cálculo do consumo de energia; 6)
realização de uma síntese desse processo, o Lapbook. Questões para avaliação; 7) Avaliação por área; 8) Si-
O Lapbook pode ser compreendido como um tuação problema e/ou experimento; 9) Apresentação
instrumento que auxilia no processo de ensino-apren- de Lapbooks;
dizagem, uma vez que é um recurso que reúne infor- Como sistematização do conhecimento cons-
mações sobre um determinado tema com o layout de truído as turmas, divididas em grupos, os estudantes
uma pasta, painel ou cartaz interativo confeccionado produziram Lapbook, expondo as concepções cons-
pelos próprios sujeitos, a partir de tópicos dos conteú- truídas sobre a temática. A culminância deste traba-
dos específicos abordados no decorrer do processo de lho resultou na apresentação coletiva de forma que a
ensino-aprendizagem. Esses tópicos são organizados professor avaliou os Lapbooks construídos e domínio
por abas, envelopes, gravuras, dobraduras e outros teórico-conceitual dos estudantes, a partir de critérios
elementos, facilitando a busca por um assunto especí- que se articularam com os objetivos de ensino-apren-
fico e possibilitando uma maior interação com o mate- dizagem.
rial no momento das apresentações.
Desta forma, foi planejada, desenvolvida e ava-
liada uma sequência didática (SD) com abordagem te- ANÁLISE E DISCUSSÃO
mática de “Consumo de energia elétrica e seus impac-
tos na produção agrícola” que culminou na construção Os Lapbook construídos são apresentados a se-
e apresentação coletiva de Lapbooks e que serão aqui guir (figura 01). Ao analisarmos os Lapbook, retoman-
relatadas e refletidas no sentido de apontar potenciali- do as atividades realizadas nos encontramos subsídios
dades de utilização desse instrumento no processo de para podermos avaliar, no sentido de se (re)pensar e/
ensino-aprendizagem na disciplina de Física em uma ou consolidar as práticas realizadas, (re)construindo o
turma de 3º ano do Ensino Médio de uma escola da nosso fazer-saber docente de Física e nas Ciências da
rede privada do município de Uruguaiana/RS. Natureza, a partir da utilização do Lapbook.
177
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
Figura 1: Lapbooks construídos pelos grupos de estudantes. Com isso, ao serem propostos e construídos os
Lapbook foi possível estimular a autonomia, criativi-
dade e criticidade dos estudantes durante e atrelado
ao processo de ensino-aprendizagem, nunca de forma
isolada.
Para além da natureza do tema, para melhorar a
compreensão das relações que se estabelecem entre a
temática central e os conceitos científicos, se torna ne-
cessário repensar as necessidades das aprendizagens
a serem construídas pelos estudantes em contraponto
os conceitos no processo de organização dos progra-
mas escolares que integram os currículos escolares.
A forma como compreendemos a construção da
Ciência, também forja nosso entendimento de educa-
ção, ensino e aprendizagem, legitimando que os cur-
rículos escolares sejam mantidos com uma estrutura
que não permite atravessamentos de ordem social ou
políticos e ideológicos. Partindo desse entendimento,
o que parece fundamental é levarmos em conta como
os “recortes” do conhecimento historicamente produ-
zido, contribuem para uma melhor compreensão dos
temas no currículo escolar? Nesse movimento deve-
mos considerar ainda, os problemas/situações contex-
tuais expressas nos Lapbook, bem como as limitações
e dimensões de alcance que os conceitos
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS.
178
Grupo de trabalho: currículo
METODOLOGIA
179
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
idosas, elas dançaram a dança da peneira, para sociais e humanas. Brasília: Líber Livro, 2005.
nós alunos. (GRUPO FOCAL ESCOLA DANDARA,
ENTREVISTADO 8). FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 9ª ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Ao analisarmos essas duas narrativas, pode-
______. Pedagogia do oprimido. 3ª ed. Rio de Janeiro:
mos perceber a atuação da escola, no processo de
Paz e Terra, 2002.
construção identitária desses jovens. A escola está tra-
balhando a partir da valorização da identidade negra, GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª
estando pautada no respeito aos costumes, as crenças ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. pág. 220.
e a cultura das comunidades, conforme afirma o entre- QUIRINO, D. R. Cotidiano e violência simbólica: a
vistado: “Tem projetos na escola sobre isso. [...] e mi- desconstrução do preconceito étnicorracial nas escolas
nha avó é um bom exemplo, ela dança com as idosas, / Daisy Rodrigues Quirino – (Coleção Étnico-racial).
foi até se apresentar lá escola, com as outras idosas, Recife: Ed. Universitária UFPE, 2014.
elas dançaram a dança da peneira para nós, alunos”.
SILVA, T. T. Documentos de Identidade: uma introdução
às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica,
CONSIDERAÇÕES 2005.
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: currículo
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Grupo de trabalho: currículo
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Grupo de trabalho: currículo
de amadurecimento sobre seus aspectos mais de- e políticas educacionais. Anais da 6 série dos XII
licados e problemáticos, a esperança quanto a isso Colóquio sobre Questões Curriculares, VIII Colóquio
fica evidenciado. Contudo, não seriam possíveis Luso-Brasileiro de Currículo e II Colóquio Luso-Afro-
grandes avanços na estrutura conceitual da BNCC Brasileiro de Questões Curriculares. Recife, 2017
do ensino médio, pois foi pensado para ser centrali-
WELLER, W. Grupos de discussão: aportes teóricos
zador, homogêneo “nesse sentido, não há como atri-
e metodológicos. In: PFAFF, N.; WELLER, W. (Orgs.).
buir significados fixos ao currículo como propõem os
Metodologias da pesquisa qualitativa em Educação:
estruturalistas e as determinações do mercado sob as
teoria e prática. Vozes: Petrópolis, 2010. p.54-66.
influências do capital internacional, os quais determi-
nam políticas sociais usando como estratégia as políti-
cas educacionais e consequentemente as políticas de
currículo, buscando estabelecer-lhes bases fixas atra-
vés de normativas como instrumento de legitimação”
(SILVA, CUNHA, COSTA, RAMOS, 2017, p.332) e além
disso, em todo tempo se mostra ambíguo quanto
as determinações dos documentos que antecedem
sua elaboração.
RESULTADOS
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: currículo
REFERÊNCIAS
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
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Grupo de trabalho: currículo
tus quo de determinados grupos detentores dos apa- Artmed, 2006, 288p.
ratos tecnológicos. A manutenção de um status quo é
HARLEY, J. Mapas, saber e poder. N. 5. Confins. Revista
acentuada pelo aperfeiçoamento tecnológico, assim
franco-brasileira de geografia, 2009.
como ressalta Harley (2009): “A Cartografia perma-
nece um discurso teleológico, confirmando o poder, SACRISTÁN, J. O currículo: uma reflexão sobre a prática.
reforçando o status quo, restringindo as interações so- J. Gimeno Sacristán: trad. Ermani F. da F. Rosa – 3.ed. –
ciais no interior de limites bem traçados” (p.20). É im- Porto Alegre: ArtMed, 1998.
portante ressaltar que não se resulta uma negação da
técnica para com a utilização da cartografia, mas traz a
tona a necessidade de questionar as bases epistémicas
dos saberes para o que e para quem são os seus usos.
METODOLOGIA
REFERÊNCIAS
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
190
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
191
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
descolonizadores - compõem as agulhas que escolhi me proponho a utilizar esta importante ferramenta
para tricotar o largo manto da dissertação, assim, des- etnográfica problematizando a lógica sujeito/deten-
de o momento que penetrei a campo - observei e fui tor do saber x objeto/informante primário - premissa
observada -, relacionei-me, troquei afetos e segredos que já vem sendo questionada nas próprias produções
em aliança com os alunos, mantive comigo as lentes antropológicas. Entendo que a possibilidade de de-
decoloniais, que proporcionaram processos de etno- sestabilizar a lógica sujeito/objeto é desafiadora, pois
grafar-me enquanto corpo-pesquisador. me situo enquanto engrenagem privilegiada do saber
universitário que tece estas linhas. Mas o fato de vi-
O primeiro (1) movimento teórico-político a ser
sibilizar, denunciar e trazer à tona a falácia coloniza-
destacado comporta as teorizações sobre escola, cul-
dora desta lógica, estabelece as dúvidas e problema-
tura escolar, pedagogias da sexualidade, heteronorma-
tizações necessárias para evidenciar e emergir outras
tividade, juventudes/sexualidades ciborgues e, funda-
epistemologias e ontologias sobre a escrita de nossas
mentalmente, o de situar o espaço-momento histórico
pesquisas. Compreendendo, desta forma, que expor
que está inserida a escola da pesquisa (democratiza-
quem escreve é desnaturalizar a lógica hetero-mascu-
ção da educação pública e ocupações das escolas de
linista universalizante do conhecimento, restabelecen-
2016). Localizar a instituição escolar enquanto territó-
do sentidos situados e localizados mais democráticos
rio em disputa, lugar de produção de pedagogias da
e plurais.
sexualidade, espaço duplo de controles e fugas, nor-
matizações e desvios, é imprescindível para entender Terceiro (3) movimento teórico-metodológico-
como funcionam as corporalidades que desobedecem -político fertiliza o terreno para a aplicabilidade das
a normas de gênero, raça, classe, sexualidade durante trocas e situações contidas no diário de campo, que
o recreio escolar - quebrando a lógica da sala de aula/ foram transformadas em cinco contos ficcionais sobre
professor como momento único de transmissão e con- a diversidade e complexidade da escola e o espaço-
solidação de conhecimentos e saberes. -tempo do recreio. Este movimento tende colocar em
diálogo a linha tênue entre antropologia e a produção
Compreender negociações, alianças, recombi-
da etnografia enquanto “verdades” sobre o outro; e
nações, reapropriações e desestabilizações transfor-
teorizações sobre ficcionalidade, construção de reali-
madas em processos ontológicos de resistência onde
dades, o ato de fabular.
se emergem desejos e práticas que estão em conso-
nância com aspectos das homossexualidades, lesbia- Compreendendo aspectos onde o real e o fic-
nidades, bissexualidades, heterossexualidades, femini- cional compõem a produção de verdades vividas, mo-
lidades, masculinidades, racializações, cisgeneridades, mentos onde o próprio ato da escrita corresponde,
transgeneridades desviantes, potentes e transgresso- concomitantemente, a aglutinação de ambos. Onde a
ras. Ou seja, dialogar com pessoas identificadas como vida que se viva e a vida que é escrita produzem efeitos
gays, bichas, lésbicas, sapatonas, caminhões, viados, sobre as subjetividades e corporalidades, destacan-
transexuais, travestis, transviados, não-binários, asse- do o frágil fio que separa a produção do real da sub-
xuades, bissexuais, heterossexuais enquanto corpora- jetivação a partir da ficção. Para costurar a separação
lidades potencializadoras de desordenações cotidianas inaugurada e mantida pela produção da ciência entre
das recitações da cis heteronormatividade branca co- práticas de realidade x ficção/literatura, introduzi - de
lonizadora. Desta parte também friso minha trajetória forma situacionalizada e cuidadosa - o uso do conceito
enquanto aluna de escola pública, cisgênera, branca e de Escrevivências, de Conceição Evaristo.
adepta das culturas juvenis e minha aliança identitária
Acredito na potencialidade deste conceito e na
enquanto corpo sapatão com as outras corporalidades
quebra epistemológica com a colonialidade de saber
de sexualidades desviantes da pesquisa.
que ele representa. Destaco que sua utilidade - na es-
O segundo (2) movimento teórico-metodológi- crita da dissertação é uma forma de exercício reflexivo
co versa sobre as produções antropológicas destacan- sobre práticas de descolonização, não uma verdade a
do o método etnográfico como base das observações ser seguida sobre “um descolonizar permanente”. Fri-
em campo e da construção do diário de campo. En- so que a partir das minhas vivências enquanto aluna de
tendendo que as teorizações aqui utilizadas também
passam pelo filtro da decolonialidade dos saberes, a
exemplo da etnografia da dominação4. Desta forma nacional baseada em privilégios; significa fazer uma etnografia das
lógicas de cooperação internacional as quais se está inserida, da
lógica de intervenção social que fazemos, de nossos próprios lu-
4 “Fazer antropologia da dominação significa fazer etno- gares de produção do conhecimento, das teorias que utilizamos
grafia do norte e do norte que existe no sul, fazer etnografia de e legitimamos e dos nossos lugares e posições de produção dos
nossas práticas acadêmicas, metodológicas e pedagógicas que privilégios” (CURIEL, 2013, p. 56).
contém a ideia de desenvolvimento, de uma solidariedade trans-
192
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
escola pública fui a campo, assim, baseada nos aspec- colonialidade, práticas - que não estão dentro
tos de ser aluna-pesquisadora, levando em considera- do circuito metodológico legítimo da academia
- que dialoguem - em certa medida conceitu-
ção meus olhos do passado para tecer os cincos con- al - com as premissas de uma etnografia que
tos que configuram a pesquisa: (1) “POLITIZADOS ELES se deixa tocar pelas ficcionalidades, ou vice e
NÃO SÃO”: Rodrigo e eu; (2) “BANHEIRO NÃO É LUGAR versa? Quando falamos de Escrevivências, po-
DE VIADO”: Tiago; (3) “EXU NÃO É DIABO NÃO!”: Ra- demos operacionalizar este conceito - de for-
ma cuidadosa - para nos auxiliar no exercício
quel e Larissa; (4) “FILHA MINHA NÃO É MACHORRA”: de fabular sobre sujeitos que materialmente
Clara; (5) “SOLTA OS BRANCO E PEGA AQUELE PRETO não somos, mas que compartilhamos, em cer-
ALI!”: Cleiton. ta medida, realidades parecidas ou que nos
atravessam em semelhança nos processos de
subjetivações?
“TU É ALUNA OU PROFESSORA?”: ETNOGRAFIA
Este emaranhado de dúvidas e conflitualidades
E FICÇÃO: EXERCITANDO ESCREVIVÊNCIAS
- sobre método etnográfico, ficcionalidades e aplicabi-
lidade do diário de campo - compõem uma possibilida-
No capítulo cinco da dissertação desenvolvo a
de, um exercício de costura entre teorizações, saberes,
produção de uma metodologia onde costuro teori-
conhecimentos que acredito fazerem sentido juntos.
zações da etnografia, antropologia e ficcionalidades
Assim, ponho em jogo o exercício de usar conceitual-
a partir de uma visão decolonial. Desafiada por uma
mente as Escrevivências de Conceição Evaristo. Este
série de questionamentos sobre o campo de análise,
conceito me ajudou a pensar um método descoloniza-
preceitos éticos, vivências e alinhamentos políticos,
dor - em certa medida - a partir dos contos ficcionais,
surgiram perguntas mobilizadoras que faço questão
utilizando-os como forma de narrativa acadêmica para
de apontá-las como indispensáveis na elaboração me-
contar o que vi, vivi e pensei sobre as corporalidades
todológica:
desobedientes de gênero, raça, classe, religiosidade,
Como penetrar a campo e etnografar a plu- entre outros, no espaço-tempo recreio.
ralidade do mundo escolarizado durante o
recreio? Que partes desse amontoado de cul- Para tecer o manto metodológico, em resposta
turas juvenis, sujeitos e dinâmicas meus olhos às perguntas acima, coloquei em diálogo algumas teo-
iriam ver, perceber, interessar-se? Será que rias e perspectivas sobre antropologia, etnografia e fic-
os métodos etnográficos já produzidos da- cionalidades, levando em consideração a visão política
vam conta de operacionalizar a complexidade
do sujeito aluna-pesquisadora que estava em e ética dos feminismos descolonizadores.
campo? Existe a possibilidade de etnografar As antropólogas Lila Abu-Lughod5 (Abu lugod),
o “outro” sem etnografar a si mesmo? Como
manter a lógica colonialista sujeito x objeto, Cláudia Fonseca6 e Ochy Curiel7 sinalizam para a pro-
clássico na etnografia, quando o pesquisador é dução historicamente imperialista, colonial e violenta
parte integrante, em certa medida, das cultu- da antropologia e da etnografia. Para elas a questão
ras juvenis de seus interlocutores? Partindo da está na cristalização do “outro” em relação ao “eu”
premissa que esta assertiva deve ser quebra-
da - sujeito x objeto - como tensionar as pro- ocidental, branco, homem, cisgênero e herto. Espe-
duções de poder do pesquisador em relação cificamente Abu-Lughod fala sobre os processos de
aos interlocutores (nova reconfiguração sobre outrificação e nos adverte: “partindo da premissa que
a mesma dominação)? Sobre que aspectos de os antropólogos escrevem sobre representações do
construções de verdades e realidades o sujeito
que pesquisa torna narrável as relações que viu “Outro”, essas representações são produzidas e enges-
em campo e que foram transformadas, seleti- sadas pela escrita etnográfica.” (ABU-LUGHOD, 2018,
vamente, em um diário de campo? De que ma- p. 206), questionando-nos: “Haveria formas de escre-
neiras a etnografia - enquanto duplo processo ver sobre vidas em que os outros figurassem como
de observação, de si e do outro - pode deslocar
a premissa de “escrever sobre a realidade con- menos outros?” (ABU-LUGHOD, 2018, p. 206). A res-
creta que o pesquisador colhe do outro crista- posta da autora para tal questão vai ao encontro do
lizando-o em uma coerência legítima” para “fa-
bular sobre possibilidades do real, que através
da percepção parcial e localizada do pesquisa- 5 ABU- LUGHOD. Escrita contra a cultura. Equatorial, Na-
dor, evidenciam contradições e disputas sobre tal, v. 5, n. 8, jan/jun 2018.
os sujeitos - tanto os da mesma cultura quanto
com a do pesquisador”? Que outras aplicabili-
6 FONSECA, Cláudia. Cada caso não é um caso. Pesquisa
dades analíticas, além das já estabelecidas pela
antropologia ocidental, podem ser exercita- etnográfica e educação. Universidade Federal do Rio Grande do
das com a conexão da etnografia e processos Sul, ANPEd, Caxambu, setembro de 1998.
de fabulação e ficção? Quais cuidados éticos
e críticos devemos tomar para não fabular de 7 CURIEL, Ochy. La nación heterosexual. Análisis del dis-
maneira incoerente, imatura e irresponsável
curso jurídico y el régimen. Bogotá, Colombia: en la frontera- Bre-
sobre a vida dos sujeitos? E por fim, existe, na
cha Lésbica, 2013.
193
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
que as outras antropólogas citadas acreditam: analisar pela diferença e não pela semelhança. (...) lidar com
o particular, pois assim encontramos as contradições multiplicidades garantindo sua consistência ao invés
dos sujeitos que integram uma mesma comunidade, de sua coerência: sua riqueza de articulações com nos-
suas disputas e conflitualidades, demonstrando que so mundo e não a ausência de contradição” (COSTA,
existem complexidades em todas as populações, e tra- 2014, p. 571).
balhar com elas facilita diluir as categorias estanques,
Pimental e Perdigão fazem a união da ficção e
naturalizadas e fixadas através da lógica da coerência,
da etnografia afirmando que a etnografia também é
a-temporalidade e imparcialidade da escrita antropo-
ficcionar ou fabular sobre uma ideia de representação
lógica. Porém importante destacar que mesmo nos
do outro, assim:
dando ferramentas para trabalhar a partir do particu-
lar - das contradições e disputas - não podemos deixar Admitir o componente ficcional de toda etno-
de pensar nas estruturas, nas responsabilidades histó- grafia significa questionar a pretensão de re-
ricas, sociais, políticas que temos com as populações e presentação do real garantida pelo relato dos
fatos
comunidades das nossas escritas. Analisar sem hege-
monizar, particularizar sem individualizar.
Para a autora, o autor cria sua própria realidade
A costura da antropologia e etnografia com a entre o mundo narrado e o mundo vivido, e assim, de
produção das ficcionalidades atravessam alguns ques- maneira falha, tenta continuamente encontrar a ver-
tionamentos: Quais são os laços - tênues - entre etno- dade que costuraria essas duas esferas. Para Perdigão
grafia e ficção? Processo etnográfico e produção de é imprescindível fundamentar que a realidade que o
realidades através da subjetivação do autor: ficção ou etnógrafo tenta capturar é uma dentre as tantas ma-
ciência? De que maneiras podemos dialogar ficcionali- neiras de experienciar a apreensão da realidade pela
dades e fabulações com uma produção ética, respon- escrita.
sável e crítica sobre a vida dos sujeitos que escreve-
A partir das discussões apresentadas acima con-
mos?.
juntamente com as observações, diários de campo,
Para tentar dialogar com essas dúvidas utilizei conversar por whatsapp, encontros na escola durante
as abordagens de Luiz Artur Costa8, Mariana Rodrigues o espaço-tempo recreio, minhas vivências como aluna
Pimentel9 e Eliane Rodrigues Perdigão10, os quais acre- de escola pública e corporalidade sapatão, a concep-
ditam que a escrita científica também é estabelecida ção de Escrevivências me auxiliou na produção dos
pela tentativa de representar o “outro” mesmo afir- cinco contos ficcionais, relembrando memórias, afe-
mando-se enquanto “neutra” ainda nas áreas mais tos, encontros que tomaram outros sentidos na cons-
exatas. trução dos personagens.
Para Costa, ficcionar e fabular nas nossas pes- Por isso, antes de qualquer coisa entendo: uti-
quisas nos direcionam a múltiplas possibilidades de lizar as Escrevivências é um processo delicado, com-
relações, fazendo emergir encontros, colocando em plexo e extremamente atento. Meu corpo de mulher
conflito corporalidades. Deixando compreensível que não-branca13 - mas institucionalmente lida enquanto
o ficcionar está mais no campo da criação, potência e branca e beneficiada pelas lógicas da branquitude -
possibilidade de conjugar ou conceitualizar sujeitos e sapatão, de fronteira, urubrasileira14, universitária, de
mundos, do que falsear, mentir algo em relação a uma classe popular, ex-estudante de escola pública do es-
verdade concreta ou o real absoluto, evidenciando que tado, pede - com respeito e admiração - licença inspi-
o processo de ficcionar é fundamental para repensar- rativa e conceitual - em uma tentativa de não reforçar
mos hegemonizações. Sendo assim é possível “pensar os epistemicídios reproduzidos constantemente - para
o uso localizado, situado e político. Compreendo sua
8 COSTA, Luiz Artur. O corpo das nuvens: o uso da ficção
aplicabilidade neste trabalho ao que tange minhas vi-
na Psicologia Social. Fractal, Rev. Psicol., v. 26 – n. esp., p. 551-576, vências enquanto ex-aluna de escola pública, tentando
2014. traçar paralelos, comparações, diferenças, semelhan-
ças com as práticas de existência que pude observar
9 PIMENTEL, Mariana Rodrigues. Fabulação: a memória durante minha inserção a campo. Costurar lacunas fic-
do futuro. Rio de Janeiro, 2010. 152p. Tese de Doutorado - Depar- cionais com lembranças, memórias, entre as histórias
tamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janei- que vou narrar a partir do diário de campo e das ob-
ro. servações, com aspectos das vivências, experiências e
realidades subjetivadas enquanto aluna-pesquisadora.
10 PERDIGÃO, Eliane Rodrigues. Estórias que contamos so-
Finalizo esta apresentação - frisando com luci-
bre os outros: etnografia e ficção em perspectiva. Rio de Janeiro,
dez - que na dissertação não consegui narrar e nem
2015. 174p. Tese de doutorado – Departamento de Ciências So-
descrever a imensidão, complexidade e diversidade
ciais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
194
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
do espaço escolar, em específico durante o recreio da feminismo decolonial: diferenciación, dominación co-
escola analisada. As multiplicidades de corporalidades constitutiva de la modernidad occidental y el fin de la
escolarizadas e as implicações do “estar na escola”, política de identidad. Solar, año 12, v. 12, n. 1, pp. 141-
atravessam os sujeitos que compõem a cultura esco- 171, Lima, 2016.
lar de múltiplas formas, sendo assim, capturar e tornar
______. El futuro ya fue: una crítica a la idea del
narrável esta vastidão de percepções, com certeza não
progreso en las narrativas de liberación sexo-genéricas
era possível e nem constituia-se enquanto um objetivo
y queer identitarias en Abya Yala. In: R. Moarquech
desta escrita.
Ferrera-Balanquet (comp.), Andar erótico decolonial
Penso que esta apresentação pode contribuir (pp. 21-39). Buenos Aires, Argentina: Ediciones el
para pensarmos alguns aspectos sobre feminismos Signo, 2015, colección El desprendimiento.
decoloniais e educação, evidenciando que práticas, sa-
______. Escritos de una lesbiana oscura, Buenos
beres e conhecimentos emergem das mais corriquei-
Aires-Lima, En la frontera, 2007,
ras relações, neste caso, apresentadas nos corredores,
banheiros, recreio. Além de vislumbrar que outras for- ______. Etnocentrismo y colonialidad em los
mas de escrita e narrativa são possíveis para pensar feminismos latinoamericanos: Complicidades y
o mundo escolar e suas subjetividades, destacando consolidación de las hegemonías feministas en el
gírias, gestos, sons, olhares, afetos como saberes pro- espacio transnacional. Revista Venezolana de la
duzidos por sujeitos que experienciam as juventudes Mujer, 2010, 14(33), 37-54.
desde lugares e pertencimentos diferentes, mas que ______. Feminismo em Abya Yala. Crítica de la
compartilham um mesmo lugar de circulação: o pátio colonización discursiva del Feminismo Occidental. In:
da escola. No meu coração a felicidade de poder con- Deportate, esuli, profugbe. Rivista Telematica di studi
tar e inventar trajetórias, que assim como a minha, são sulla memoria femminile, n. 30, Febbraio 2016. pp.
escritas de resistência sobre mim e sobre os outros a 189- 198.
partir de mim.
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
197
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
ao autor, já era vivenciado por todos aqueles que aqui A partir do contato com o olhar matrigestor da
chegaram pelo Maafa4 . Somos, nós, homens negros, Filosofia Africana, do contato com Filósofas como Ka-
instrumentos capturados para a justificativa de morte tiúscia Ribeiro e Aza Njeri (2018), pude começar este
ao nosso povo. Não podemos mais ser meninos para exercício do pensamento, com o objetivo de poder
sempre, queremos crescer! Queremos ter futuro! desenhar caminhos possíveis para concepções nossas,
Queremos ter filhos e filhas que escapem do tentáculo corpos africano-diaspóricos homens que se relacio-
mortífero do racismo e dessa política de morte. nam afetivo/sexualmente com outros homens6, sobre
como existimos e como fazemos nossa caminhada
A proposta que meu trabalho traz, é que possa-
aqui na Diáspora.
mos passar por um processo de reontologização, onde
consigamos corporificar o entendimento de Família Esta pesquisa vem com a intenção de discutir e
Global Africana. Para que possamos discutir nossas es- evidenciar a possibilidade de relações afetivo/sexuais
pecificidades em segurança, como fizemos nos peque- entre homens7 no contexto diaspórico africanista, en-
nos núcleos familiares que estamos inseridos aqui na tendendo como se apresentam as diferentes possibili-
diáspora, e o mais importante: que possamos ampliar dades de exercício da sexualidade masculina e a cons-
essa noção e des-ocidentalizá-la. Só assim, conseguire- trução de masculinidades na historiografia dos povos
mos quebrar com as correntes que ainda nos amarram africanos, trazendo assim, um lugar possível dentro de
os pés e as mãos, e para além, nos amarram a mente. uma perspectiva afrocêntrica de existir e situando essa
possibilidade para os corpos africanos homens que vi-
É necessário que passemos a pensar manei-
vem no Brasil.
ras de descolonizar o pensamento. É necessário que
a educação, como um aspecto amplo, passe a ser um Resgata-se assim a possibilidade de um existir
elemento chave nesse processo de reontologizazção. a partir de aspectos filosóficos Africanos, onde haja a
Desde a inserção de conteúdos no currículo e a efeti- construção de um espaço seguro e as demandas des-
vação da lei 10.639/2003, até a criação e potencializa- ses corpos que se encontram muitas vezes à margem
ção de espaços já existentes, como nossos terreiros e de qualquer lugar possam ter seu pertencimento re-
espaços culturais, no sentido de proporcionar ao cor- forçado dentro de um contexto de matriz civilizatória
po a experiência, de não mais passar apenas por uma Africana. Esse corpo, ora atravessado pelas questões
descendência de um povo que foi escravizado, mas de raciais que desviam do padrão branco eurocêntrico,
um povo com reinados e legados milenares, que exis- ora atravessado diretamente pelas performances do
te e resiste como os antigos Baobás nos ensinaram a ser homem e tendo sexualidades que não necessaria-
resistir. mente correspondem ao padrão heterossexual, vive
em uma disputa epistemológica, ontológica e ética o
Sankofar nossas existências é um ato de reafri-
tempo todo. Trabalhando com a filosofia Africana, em
canizar nossa subjetividade. Entender que, por exem-
uma perspectiva que respeite a ancestralidade do nos-
plo, nós: homens africanos diaspóricos que se rela-
so povo, busco a construção de um lugar de discussão
cionam afetivo/sexualmente com outros homens, já
sobre essa possibilidade de existir, não dependendo
existíamos antes de uma dada colonização, é poder
unicamente da forma como nos relacionamos afetivo/
existir hoje. É poder compartilhar o nosso viver com a
sexualmente, mas trazendo a sexualidade como um
comunidade Africana, diaspórica e continental, e para
aspecto que também constitui nossos sujeitos.
além, poder visibilizar a potência que há na totalidade
e na união do nosso povo! Assim, dou atenção para as formas ancestrais de
se relacionar, buscando em fontes como o livro O Es-
Apontando um caminho mais específico, me po-
pírito da Intimidade, da autora Sobonfu Somé (2003),
nho a pensar os corpos africanos5 em diáspora que não
uma positivação desse modo de se relacionar que ca-
têm uma sexualidade normativa. Acho importante, já
racteriza esse existir. Considerando que a definição de
de início demarcar que todas as palavras e potências
Espírito trazida neste trabalho difere da concepção
postas neste trabalho, partem de atravessamentos
Ocidental, partindo do que nos traz a autora Marimba
que compõem uma existência.
Ani (1994, p. 29): “A força criativa que une todos os
Durante algum tempo nessa caminhada, me pus fenômenos. É a fonte de toda a energia, movimento,
a pensar sobre os locais por onde meu corpo transi- causa e efeito. À medida que se torna mais denso, ele
tava. Me debrucei a tentar acompanhar os caminhos, se manifesta como matéria. Ele é o nível significativo
ora retilíneos, ora sinuosos, por onde meus passos iam da existência”.
na construção de um ser. Surgem questionamentos
A grande questão que move este trabalho é a de
daí: “Que corpo é este e como ele é concebido? De
o como criar espaço(s) de acolhimento e pertencimen-
que olhares e de que concepções nossas existências
to do corpo africano homem que se relaciona afetivo/
são inscritas nessa sociedade que nos cerca?”
sexualmente com outros homens, dentro da perspecti-
198
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
REFERÊNCIAS:
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
200
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
-sistema ao qual devemos exercer homem ou mulher, Nos quanto educadores/as somos responsáveis
legitimados e normatizados socialmente. Um cis-siste- por acolher e encontrar meios de disseminar tais co-
ma agressiva e violenta, nos aprisionando ao gênero nhecimentos, para juntos construir um futuro melhor
cis e a heterossexualidade como única possibilidade, para nossas crianças, criar uma realidade distinta das
definindo conceitos e padrões sobre concepção de que estamos vivendo hoje com tamanha violência e
família, desligitimando toda e qualquer possibilidade opressão partindo de nossos representantes políticos,
além da binariedade. que incita a violência antidemocratica, ao racismo, a
Transfobia, podemos fazer uma realidade completa-
Esse cis-sistema está engendrado em toda re-
mente diferente, atuando em diferentes espaços. A
presentação de sociedade, sendo estruturada a partir
educação é o que assegura nosso desenvolvimento
da concepção cisgênera, a representatividade e per-
tanto intelectual quanto moral, e se podemos defen-
formance do homem e mulher legitimados e normati-
der nossas crianças sem distinção de raça, classe ou
zados pela sua construção biológica, e tudo o que está
gênero a ter uma educação digna, ai teremos alcança-
além dessa binariedade é apagado pelo cis-sistema
do nossos objetivos.
oqual compreendemos como molde cultural e estru-
tural acerca das definições do gênero.
Entretanto essa estrutura binaria do gênero tem
sido questionada e reestruturada nos últimos anos por
diferentes nações, com estudos e comprovações que
a binariedade não é suficiente para atender a todas
construções de gênero, e que o gênero por ser uma
construção social construída a partir das experiências
do indivíduo não se define de acordo com sua estrutu-
ra biológica, podendo aqui agrupar homem de buceta
e mulher de pau, assim como a não binariedade que se
compreende ou não se compreende como homem e
mulher cis ou trans, estendendo a compreensão que o
ser em sua individualidade não se exprime a uma esco-
lha entre esses dois gêneros o quais fomos apresenta-
dos pelo cis-sistema que nos aprisionam e nos limitam.
Ao deparar com essas realidades e por experi-
mentar essas experiências quanto homem trans ne-
gro propondo situações, abordagens que permitem
a produção e o público contracenar juntos na criação
nos campos das afetividades, dos questionamentos,
estabelecendo uma relação próxima entre o locutor
e o ouvinte, quando proponho uma roda de conversa
sobre o filme “Meu corpo é político” e identificamos
nos personagens alguém próximo a nossa realidade,
com as mesmas dificuldades e anseios, que a música
“masculinidade toxica” de Jackie Chean nos provoca a
repensar sobre o patriarcado, o cis-sistema. A relação
entre público e a arte é única, onde cada uma expe-
riência a partir de sua própria concepção.
O que me impulsiona a trabalhar com esses mé-
todos é a forma como é inserida na sociedade, cons-
truída de forma coletiva os saberes, se multiplicando a
partir da criação artística valorizando as experiências e
criações da pretitude trans, e como a transgeneridade
branca e preta vem conduzindo a construção de seus
espaços, e de que forma a cisgeneridade pode agregar
e somar viabilizando essa reconstrução social de modo
a dizimar o etnociscentrismo hegemônico que nos cir-
cundam.
201
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
202
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
Essas narrativas atuam enquanto significados do Para além das percepções contidas nas relações
que é ser homem negro, assumindo um ponto de vista sociais na escola esses rapazes se percebem enquan-
critico, afastando-se das expectativas objetivas cons- to sujeitos pertencentes a um conjunto de represen-
truídas acerca do corpo negro, que os relacionam com tações que se constrói com base na classificação do
a marginalidade a virilidade e a malandragem, (PINHO, outro, onde a marca da diferença é construída como
2008 p. 269) ao destacar a forma como homens negros cisão que elabora sobre corpos negros categorias de
são representados socialmente destaca que: “[...] Ho- subalternidade.
mens negros são “objetos” ou “peças” tornados cor- Recorrendo a perspectiva Fanoniana e ao pon-
pos, capazes de sintetizar e representar as estruturas to de vista dos estudos afro pessimistas, é possível
de dominação hierárquica”. afirmar que a posicionalidade no tempo presente
Essas narrativas podem ser consideradas um de sujeitos negros tem como marcador ontológico a
elemento chave para compreender a pertinência de condição de sujeitos escravizados de acordo Frank B.
fenômenos estruturais como violência de gênero, Wilderson III, a posicionalidade negra constituiria uma
quando trata-se de pensar a posição de homens ne- condição de extensão a escravidão, ou “escravidão
gros, que de um ponto de vista da racialização não póstuma” (WILDERSON, 2005; 2010; 2011) Ou seja
seriam considerados “homens” para além do corpo e a não relação da existência negra com elementos da
da força de trabalho, fazendo com que homens negros escravização comprometeria a existência de sujeitos
recorram aos padrões de masculinidade como forma não negros responsáveis pela empreitada colonial e
de reinterar sua identidade masculina, reproduzindo a pela produção das narrativas políticas de controle que
violência de gênero como forma de legitimar sua posi- situam a corporeidade negra na condição de escravo,
ção de macho provedor como aponta as considerações desse modo a extensão a escravidão possibilita que
de (SILVA, 2000, p. 10), ao destacar o posicionamento a relação de negação e de diferença ontológica atue
de identificação legitimada como ações e práticas que como um estado de morte social (PATTERSON, 2008),
caracterizam o homem negro e seu padrão de masculi- condição onde o sujeito está passível de violência gra-
nidade, reproduzindo “formas de forjar sua identidade tuita, ao exemplo da experiência de vivida por sujeitos
e as identidades dos outros grupos sociais [...]. racializados no tempo presente.
203
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
Esse breve texto procura apontar para o que SOUZA, N. S. Tornar-se Negro: As vicitudes da
(VARGAS 2010; 2017; 2016) e Silva (SILVA, 2019), tem identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio
classificado como estados de subjugação racial, onde de Janeiro. Graal, 1983.
a experiência negra marcada por políticas de controle
VARGAS, J. C. Por uma Mudança de Paradigma:
que atuam nos diversos setores da vida social, o aces-
Antinegritude e Antagonismo Estrutural. Revista de
so educação e a ausência de equidade racial nos terri-
Ciências Sociais. Fortaleza, v.48, n. 2, p.83-105, jul./
tórios negros tem sido um dos mecanismos de subju-
dez., 2017.
gação racial, atuando como fator de preponderância
para defasagem e abandono escolar de sujeitos negras VARGAS, J. H. C. A diáspora negra como genocídio:
na sua maioria homens. Brasil, Estados Unidos ou uma Geografia Supranacional
da morte e suas alternativas. Rev. da ABPN, v.1, n.2,
Temos assistindo no tempo presente os altos
jul. Out. de 2010, p.31-65.
índices de violência gratuita e letal que atingem su-
jeitos negros, tais fatores estão correlacionados com VARGAS, J. H. C. Desidentificação: A lógica de exclusão
um conjunto de políticas de controle denominadas antinegra do Brasil. In: PINHO, O.; VARGAS, J. (Org.).
por (MBEMBE, 2016) como necropolitica estruturadas Antinegritude: o impossível sujeito Negro na formação
pela representação racializada pela, subjugação racial social brasileira. Cruz das Almas. Editora UFRB. 2016, p
e pelo controle dos corpos passiveis de violência gra- 13 – 30.
tuita, ao passo que (VARGAS, 2010; 2017; 2016) sina- WILDERSON, III, Frank B. The vegeance of vertigo:
liza que a ação dessa tríade posiciona as experiências Aphasia and abjection in the political trials of black
de sujeitos negros num cenário quase que impossível insurgentes. In Tensions Journal. Toronto. New York
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204
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
INTRODUÇÃO METODOLOGIA
Este trabalho emergiu no âmbito do Doutorado O estudo deve ser realizado em uma escola pú-
em Educação, na Universidade Federal Rural do Rio blica, em Volta Redonda/RJ, com estudantes matricu-
de Janeiro, a partir do desejo de construir um diálogo lados no Ensino Médio e seus educadores, sobretudo,
entre relações de gênero, Educação Freireana e a Pe- porque o currículo da Secretaria de Educação aborda
dagogia Decolonial. A pertinência do estudo apoia-se os temas reprodução, prevenção da gravidez na ado-
no caráter dialógico e ético da Pedagogia Freireana e lescência e o combate à violência de gênero. Além das
na necessidade de superação da hegemonia do pensa- contribuições de Paulo Freire e da Pedagogia Decolo-
mento monocultural. Assim, pretendemos investigar a nial, este estudo qualitativo também se fundamenta
tessitura de conhecimentos de relações de gênero no nos Estudos com o cotidiano e na noção de Currículo
cotidiano escolar e discutir a prevenção da violência praticado, visto que surge das ações tecidas no cotidia-
patriarcal e gravidez não planejada. no escolar (OLIVEIRA, 2012). Os instrumentos usados
serão o caderno de campo e as Fichas-roteiro de rodas
de conversas e de entrevistas, desenvolvidas para in-
REFERENCIAL TEÓRICO centivar a busca de Temas geradores e a produção de
Fichas de cultura.
A partir do discurso de Gabriel Gárcia Márquez, Neste trabalho, a rede de conversações é enten-
no recebimento do Prêmio Nobel de Literatura em dida como arte de conversar e oportunidade para o
1992, Berino (2018) enuncia o legado de Freire em fa- reconhecimento da narrativa dos sujeitos envolvidos
vor das “Epistemologias do Sul”, forma outra de fazer (CARVALHO, 2009). As rodas de conversas serão ins-
ciência, mais atenta e orientada às questões do nosso piradas nos Círculos de cultura promovidos por Freire,
hemisfério global. Em Pedagogia dos sonhos possíveis, na década de 1960. Todavia, as Fichas-roteiro elabora-
Freire (2018, p. 33), amorosamente nos incentiva a das previamente são subsídios, jamais uma prescrição
“sulear” a nossa leitura do mundo. Nesse sentido, a rígida (FREIRE, 1967).
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
quanto na professora. Eles são afetados pelos artefa- PEREIRA, M. V. Estética da Professoralidade: um
tos apresentados por mim em sala de aula na sua cons- estudo crítico sobre a formação do professor. Santa
trução de novos conhecimentos – ou outros conheci- Maria: Ed. da UFSM, 2013
mentos – assim como eu me transformo em contato
ROLNIK, S. Cartografia Sentimental: transformações
com eles. Seja no real, seja no digital, onde as frontei-
contemporâneas do desejo. 2ª ed. Porto Alegre:
ras misturam-se e diluem-se. Enquanto tento provocar
Sulina; Editora da UFRGS, 2014.
novos olhares sobre o mesmo assunto e assim produ-
zir novas subjetividades, tentando deixar-me afectar SIBILIA, P. O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade
pelas forças do lado de fora e provocar uma dobra no e tecnologias digitais. Rio de janeiro: Relume Dumará,
meu pensamento e quiçá de meus alunos, ao mesmo 2002.
tempo sou provocada por eles e pelo mundo: eles, em ______. Redes ou Paredes: a escola em tempos de
algum momento, compõem a linha de fora que pro- dispersão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
duzem relação comigo produzindo novos modos de
subjetivação.
Meus estratos, meus modos mais rígidos de ser,
sendo penetrados por outras forças, como a literatura
e a poesia, outros modos de vida, por outras realida-
des. As forças penetram em meu corpo, me transfor-
mam e isso me faz ser uma outra, afetando a pesquisa.
Conforme a cartografia foi se movimentando outras
forças foram ganhando vida, um processo onde a li-
teratura afectou minha escrita, tornando-a mais lírica.
Um lirismo toma conta de meus pensamentos e a es-
crita ganha um outro viés, com recursos estilísticos
que buscam dar sonoridade e cadência ao texto. Agora
vivo um it, um instante-já que me faz pensar em outras
práticas, em outros mundos. Um exercício de pensar
a prática pela própria prática, experimentando a vida,
numa coexistência entre teoria e vida: onde começa e
onde termina? Um rizoma!
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
MULHER NEGRA E CURRÍCULO res e sinhás utilizavam os serviços das crias da casa,
desde a infância já eram instruídas para fazer os servi-
Joelma Almeida dos Santos ços da casa e ser submissas. Para um serviço comple-
to era ensinado a costurar, a rendar e dentre outros.
As mulheres negras escravas que faziam todo serviço
doméstico eram chamadas de mucama, era um tipo
“burro de carga”, “a faz tudo”, elas tinham as funções
de cuidar da casa, ser a ama de leite (muitas vezes),-
Este trabalho é uma parte de uma pesquisa de cuidava dos filhos da sua senhoras e dos seus filhos,
mestrado (em andamento) que tem como objetivo satisfazer os desejos sexuais do seu senhor, sofriam
geral: analisar o currículo e suas representações so- castigos, acompanhar as sinhás e sinhazinhas , “a es-
bre a mulher negra por meio das práticas educativas crava de cor criou para a mulher branca das casas gran-
exitosas do Instituto Federal de Educação, Ciência e des e das menores, condições de vida amena, fácil e da
Tecnologia da Bahia, Campus Valença-BA. Para tanto maior parte das vezes ociosa”(GONZALES, 1983,p.229
falar sobre a mulher negra e o currículo é necessário apud HAHNER, 1978, p.120).
fazer uma abordagem sobre as suas representações e
lugares sociais. Esse recorte é justificado, pois as estru- Trazendo para os dias de hoje, a realidade da
turais sociais estabelecem o que deve ser aplicado no mulher não mudou muito, o legado da mucama trouxe
currículo, visto que o mesmo está associado a prática consequências sobre a imagem associada à mulher ne-
de poder. gra – da doméstica e da mulata – essas duas imagens
que define papeis e lugares sociais (Gonzales, 1983). A
A metodologia da pesquisa atualmente se en- imagem da mulata esta associada como a “mulher fo-
contra na fase de levantamento bibliográfico e análi- gosa”, “boa de cama”, “quente”, um símbolo sexual, e
se de documentos primários (leis, diretrizes, planos e muitos dos homens tem esse “fetiche” de transar com
Bncc) e para este trabalho foi utilizado a obra Mulher uma mulata, mas só transar, ok? Nada além disso, no
Negra na Bahia no século XIX, de Cecilia Conceição Mo- período colonial as mulheres negras eram vistas como
reira Soares (1994) e Lélia Gonzalez Racismo e sexismo provocativas, sensuais, moralmente depravada e irre-
na cultura brasileira (1983), são obras importantíssi- sistível destinadas para o prazer sexual, assim justifi-
mas que fundamentam a pesquisa em questão, visto cando o estupro e colocando a culpa nela.
que abordam sobre a mulher negra no período colo-
nial e pós colonial. Soares (1994) na sua dissertação Já a doméstica: a mucama permitida, a empre-
realizou um estudo sobre a mulher negra na sociedade gada doméstica é um trabalho ligado a submissão, ser-
escravista baiana, no contexto doméstico e no espaço vidão, a subalternidade, não requer capacidade inte-
da rua, na qual poderiam ser autônomas (ganhadei- lectual, trabalhos que não dão condições de ascensão
ras), nessa época muitas mulheres negras eram livres e social, de um destaque positivo, no contexto atual com
libertas, mas como não tinham muita alternativa, vol- tantas desigualdades a maioria das mulheres negras e
tavam para o mesmo trabalho desempenhado quando pobres continuam ocupando esse espaço (faxineira,
eram escravas. diarista, lavadeiras, babás e dentre outros) associados
de servidão. Essas imagens da mulher negra doméstica
No trabalho doméstico a mulher negra realizava e mulata está no imaginário social e também na rea-
várias funções: costureira, engomadeira, lavandeira, lidade, a hiperssexualização da mulher negra e asso-
arrumadeira e ama de leite. Percebe-se que essas fun- ciação da imagem dela a empregada doméstica é uma
ções designadas as mulheres negras não são trabalhos realidade no cotidiano, no currículo essas imagens são
produtivos, mas sim trabalhos que demanda subordi- reproduzidas e reafirmam o lugar de subordinação das
nação, servilidade, como eram vistas como seres infe- mulheres negras no contexto de uma sociedade ma-
riores esse tipo de trabalho era ideal para elas. Uma chista, sexista e racista.
prática comum para ter uma doméstica era a comer-
cialização elas poderiam ser alugadas ou compradas, O currículo não é neutro e implica em uma
alguns dos critérios do “cliente” para adquirir uma do- prática de poder, a mulher negra por fazer parte dos
méstica, ela tinha que fazer o serviço completo: lavar, grupos minoritários/subordinados (pertencer o gêne-
engomar, limpar, arrumar e cozinhar, apesar que exis- ro feminino e ser negra), a sua história é silenciada e/
tiam outros casos de contratação para trabalho espe- ou omitidas, assim reproduzindo as desigualdades so-
cifico como cozinhar. Além disso, existiam um processo ciais e a ideologia hegemônica. Desta forma, abordar
de seleção para escolher as domésticas, era necessário sobre a mulher negra envolve questões desafiadoras,
ter algumas atribuições, como por exemplo: tinha que pois é um grupo que sofreu e sofre constantemente
ser bonita, comportada, sem vícios, especializada nas opressões pelos aspectos racial, gênero, sexual e so-
tarefas do lar, sendo moça. Apesar que muitos senho- cial, apesar das desigualdades e das opressões essa
categoria vem conquistando o seu espaço na área so-
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REFERÊNCIAS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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relacionados ao cangaço e forte clamor por debates e notas para a genealogia de um pânico moral
ações que tratem de gênero de forma aberta e instru- contemporâneo. Revista Sociedade e Estado, v. 32, n.
tiva. 3, set./dez., 2017.
NEGREIROS, A. Maria Bonita: sexo, violência e
RESULTADOS ALCANÇADOS mulheres no cangaço. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.
PERICÁS, L. B. Os cangaceiros: ensaio de interpretação
No campo de disputas hegemônicas pelo cur- histórica. São Paulo: Boitempo, 2010.
rículo, o silenciamento governamental ensurdece e
permite que discursos contraditórios, fantasias e uma PERNAMBUCO. Secretaria de Educação. Parâmetros
“pedagogia dos gêneros hegemônicos” estabeleça um para a Educação Básica do Estado de Pernambuco:
padrão de normalidade e de naturalidade (BENTO, Parâmetros na sala de aula. 2013.
2011). Ao receber sujeitos com diferentes identida- ______. Secretaria de Educação. Parâmetros para
des em busca de reconhecimento e da promessa de a Educação Básica do Estado de Pernambuco:
elevação pelo conhecimento, a escola deveria patro- Parâmetros na sala de aula. História: Ensino
cinar uma pluralidade de formas de percepção de si fundamental e médio. 2013.
(RANNIERY, 2017). O que entrega, entretanto, a des-
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sores, é um saber padrão, com intuitos de formação
profissional, que opera em detrimento ao fortaleci- RANNIERY, T. Currículo, normatividade e políticas
mento do caráter cultural, identitário e de pertenci- de reconhecimento a partir de trajetórias escolares
mento dos estudantes. Narrativas de orgulho e pre- de ‘meninos gays’. Archivos Analíticos De Políticas
conceito por serem sertanejos se confundem, como Educativas / Education Policy Analysis Archives, v. 25,
também se mesclam à imagem de luta e resistência 2017.
das mulheres cangaceiras com os altos índices de vio- SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise.
lência de gênero da cidade. Educação & Realidade. n. 20, v. 2, p. 71-99, jul/dez,
1995.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
220
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
formulação de políticas educacionais voltadas para as PL 5487/2016 Institui a proibição de orientação e distribuição de li-
vros às escolas públicas pelo Ministério da Educação
questões de gênero e sexualidade no âmbito do Legis- (Victório Galli- e Cultura que verse sobre orientação de diversidade
lativo Federal. Metodologicamente o estudo adota os PSC/MT) sexual para crianças e adolescentes.
moldes da pesquisa documental estando a base em-
pírica da investigação demarcada pela análise de do- FONTE: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis no por-
cumentos de fontes escritas públicas contemporâneas tal institucional da Câmara dos Deputados, (2019).
constituídas de leis, mais especificamente das proposi-
ções parlamentares disponíveis na base de dados on- No entendimento do ministro do Supremo Tri-
line no portal institucional da Câmara dos Deputados. bunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, os projetos
de lei desta natureza são duplamente inconstitucio-
nais. Em primeiro lugar, porque somente a União pos-
REVISÃO TEÓRICA sui competência para legislar sobre diretrizes educa-
cionais e normas gerais de ensino. Em segundo lugar,
Por meio da busca na base de dados online no porque tais proposições impedem “[...] o acesso a
portal Institucional da Câmara dos Deputados é possí- conteúdos sobre uma dimensão fundamental da expe-
vel constatar iniciativas parlamentares que proíbem o riência humana e para a vida em sociedade [...]”. Neste
ensino de gênero e sexualidade: sentido, tais proposições violam o “[...] princípio cons-
titucional da proteção integral da criança e do adoles-
Quadro 1 – Proposições do Legislativo Federal que Proíbem o cente.” (BARROSO apud MARIZ e BRIGIDO, 2017, não
Ensino de Gênero e Sexualidade
paginado).
PL 7180/2014 Altera o art. 3º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro De acordo com a nota pública2 emitida pelo Nú-
de 1996. [...] “XIII – respeito às convicções do aluno, cleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal
(Erivelton Santa- de seus pais ou responsáveis, tendo os valores de or-
na - PSC/BA) dem familiar precedência sobre a educação escolar
do Paraná (UFPR) a tentativa de retirada da temática
nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e do gênero e sexualidade da educação representam ao
religiosa, vedada a transversalidade ou técnicas subli- mesmo tempo “um retrocesso na defesa dos direitos
minares no ensino desses temas.”
PL 867/2015 Inclui, entre as diretrizes e bases da educação nacio-
(Izalci - PSDB/ nal, o “Programa Escola sem Partido”. [...]Art. 2º. A 1 Alan Rick - PRB/AC , Antonio Carlos Mendes Thame -
educação nacional atenderá aos seguintes princípios: PSDB/SP , Antonio Imbassahy - PSDB/BA , Bonifácio de Andrada
DF)
I - neutralidade política, ideológica e religiosa do Es-
- PSDB/MG , Celso Russomanno - PRB/SP , Eduardo Cury - PSDB/
tado; [...]Art. 3º. São vedadas, em sala de aula, a prá-
tica de doutrinação política e ideológica bem como a SP e outros
veiculação de conteúdos ou a realização de ativida-
des que possam estar em conflito com as convicções 2 Versando sobre a retirada dos termos “diversidade de
religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos gênero” e “orientação sexual” dos planos municipais e estaduais
estudantes.
de educação
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RESULTADOS
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
relacionados ao cangaço e forte clamor por debates e MISKOLCI, R.; CAMPANA, M. “Ideologia de gênero”:
ações que tratem de gênero de forma aberta e instru- notas para a genealogia de um pânico moral
tiva. contemporâneo. Revista Sociedade e Estado, v. 32, n.
3, set./dez., 2017.
226
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
METODOLOGÍA
OBJETIVO
REFERENCIAL TEÓRICO
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
Figura 2. Ejemplo de representación de cuerpo intersexual. e) Conversación virtual con le doctore en Salud
Colectiva y persona trans no binarie, Ale Mujica
sobre identidad de género y biología.
RESULTADOS Y ANÁLISIS
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
REFERENCIAS
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
POR ONDE EU CAMINHO: perceber que sendo mulher negra, mesmo com a pele
clara, eu sofria as consequências do racismo.
DISCUSSÕES SOBRE PRÁTICAS Como as contribuições de Jurema Werneck
DE DESCOBERTAS. (2016) tive mais dimensão dos impactos do racismo na
saúde psicológica e física na vida das pessoas:
Camila Gabrielle dos Santos Mota
As três dimensões do racismo apontadas [pes-
soal/internalizado, interpessoal, institucional]
acima atuam de modo concomitante, produ-
zindo efeitos sobre os indivíduos e grupos (não
apenas de suas vítimas), gerando sentimentos,
pensamentos, condutas pessoais e interpesso-
ais, atuando também sobre processos e políti-
cas institucionais. Apesar da intensidade e pro-
INTRODUÇÃO fundidade de seus efeitos deletérios, o racismo
produz a naturalização das iniquidades pro-
Entre o final de 2018 e o começo de 2019 me duzidas, o que ajuda a explicar a forma como
propus a escrever um trabalho de conclusão de curso muitos o descrevem, como sutil ou invisível.
(Werneck, 2016, p.541)
– que, na ocasião, estava finalizando o Bacharelado In-
terdisciplinar em Humanidades – sobre estudo de gê- Quando parei para analisar quais eram as contri-
neros e sexualidades, mais especificamente mulheres buições da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
cis lésbicas e bissexuais no espaço universitário. Nessa para os debates sobre gêneros e sexualidades, conse-
pesquisa observei o meu próprio caminho de desco- gui perceber e aceitar que existiam conflitos internos
berta, questionei sobre o que é ser mulher e como a em relação a minha sexualidade. Entre 13 a 15 anos já
sociedade tenta determinar papéis sociais de acordo havia percebido que me sentia diferente em relação
com nossa anatomia genital. Questionei minha sexua- as mulheres, mas não entendia como desejo, preferi
lidade, parei para pensar nos meus afetos, nos atra- acreditar que gostava de me relacionar sexualmente e
vessamentos da violência no meu percurso. Também afetivamente apenas com homem, por ser considera-
analisei como a universidade me marcou, tanto insti- do normal. Ao cursar o ensino médio compreendi que
tucionalmente com os componentes, como no espaço existia a bissexualidade, pois até então só entendia a
de convivência com colegas e funcionários. existência da homossexualidade e heterossexualidade.
Ao questionar-me ‘O que é ser mulher?’ É ob- Nessa época haviam poucas pessoas que discu-
servar que essa resposta estava intrínseca, pois mui- tiam abertamente, alguns canais do Youtube, alguns
to antes de saber o que é feminismo, machismo ou trabalhos audiovisuais – filmes e documentários- a in-
qualquer outra coisa, de procurar o significado dessa ternet ainda não era minha aliada para essas temáti-
categoria de gênero, e conhecer sobre discussão de cas. Existe muito estigma sobre as identidades sexuais
gênero, eu já sabia que vivemos em uma sociedade e de gênero e foi justamente o preconceito que me fez
extremamente machista, patriarcal e sexista. Socie- querer conhecer mais sobre essa comunidade. A lite-
dade que menospreza e ao mesmo tempo sexualiza e ratura sempre foi um espaço onde eu me encontrava,
desumaniza nossos corpos a ponto de sentir vergonha um aplicativo, chamado Wattpad era o espaço que eu
do próprio corpo, bem como, nojo dos processos bio- podia ler e criar minhas linhas de fuga.
lógicos. Percebo que ser mulher é ter receio por nossa
integridade física e emocional, como também é estar Por mais que hoje eu me entenda como bisse-
em luta diária para ter aquilo que os homens têm des- xual, entender a bissexualidade foi e é difícil, a maioria
de que nascem: direitos. Sendo mulher negra de pele das leituras me encaminharam a bissexualidade como
clara as coisas tendem ficar mais complexas. um espaço de desconstrução, além de caminhos di-
versos. O medo do afeto ou não afeto me atravessou
a partir do momento em que eu me assumi. A partir
DISCUSSÃO das violências simbólicas que vão desde as negações
do imaginário das ficções ao do reconhecimento nas
Com questões enraizadas, não percebia o que políticas públicas, que Jota Mombaça (2017) traz a ne-
é ser mulher negra nem quando em todas as opor- cessidade da redistribuição da violência:
tunidades de emprego eram cerceadas por pessoas
brancas. Não percebia que ser chamada “morena” era Redistribuição da violência é uma demanda
prática quando estamos morrendo sozinhas e
invisibilizar a minha cor e meu pertencimento étnico- sem nenhum tipo de reparação seja do estado,
-racial, além disso, era ao ser hipersexualizada, privada seja da sociedade organizada. Redistribuição
de relações amorosa e afetiva. Na universidade pude da violência é um projeto de justiça social em
pleno estado de emergência e deve ser perfor-
230
Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
mada por aquelas para quem a paz nunca foi ciso gritar e teu sonho se realizar. – Não me
uma opção. (MOMBAÇA, 2017, p.10) defina, GAB31
As macro e micropolíticas trazem todo peso e Não se deixar definir pelos estereótipos e estig-
consequência para aqueles que não são permitidos mas propostos, pois nossas vivências não se resumem
existir: corpos e corpas dissidentes das normas hete- neles, meus enfrentamentos tem sido em combate-los
rossexuais, cisgêneras, brancas etc. “É tudo parte de e pensar numa universidade que seja capaz de alcan-
um projeto de mundo, de uma política de extermínio çar uma educação que seja de fato emancipatória e
e normalização, orientada por princípios de diferen- libertadora, que consiga proporcionar melhores condi-
ciação racistas, sexistas, classistas, cissupremacistas ções de vida para as mulheres.
e heteronormativos, para dizer o mínimo.” (MOMBA-
ÇA,2017, p.11)
REFERÊNCIAS
A partir do momento em que me propus estu-
dar esses caminhos de atravessamentos, eu percebo
BAQUERO, R. V. A. Empoderamento: Instrumento
como a UFSB me proporcionou e proporciona conheci-
de emancipação social? - Uma discussão conceitual.
mentos sobre minha sexualidade em diversos compo-
Revista Debates, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 173-181,
nentes que fiz, esses contribuem para minha formação
abr. 2012.
acadêmica e pessoal. Pensando em suas bibliografias
existem diversas obras que eu gostaria de ter tempo MOMBAÇA, J. Rumo à uma redistribuição
para absorver. desobediente de gênero e anticolonial da violência!
São Paulo: Fundação Bienal (32a. Bienal de São Paulo
Hoje eu conheço mais artistas em geral que fa-
– Incerteza Viva) e OIP – oficina imaginação política,
zem os debates, que fomentam a luta, que me estimu-
2017.
lam a refletir e me conhecer, esses autores contribuem
para o empoderamento através de suas obras e de suas WERNECK, J. Racismo institucional e saúde da
vidas. Segundo Baquero (2012) o empoderamento não população negra. Saúde Soc. São Paulo, v. 25, p.535-
refere-se só ao objetivo de dar poder ou autoridades 549, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/
aos outros, como também envolve tornar as pessoas sausoc/v25n3/1984-0470-sausoc-25-03-00535.pdf
capazes ou auxiliar a desenvolver habilidades para
que possam ganhar conhecimento e controle sobre si
e agir em melhoria da situação de sua vida, se sentir
capacitado para exercer influência nos processos que
determinam sua vida. A educação crítica é um desses
caminhos para o empoderamento.
Empoderar como verbo intransitivo configura
uma perspectiva emancipatória de empodera-
mento, processo pelo qual indivíduos, organi-
zações e comunidades angariam recursos que
lhes permitem ter voz, visibilidade, influência e
capacidade de ação e decisão (HOROCHOVSKI
e MEIRELLES, 2007), com o objetivo, conforme
destaca Friedmann (1996), de reequilibrar a
estrutura de poder na sociedade. (BANQUE-
RO,20).
CONSIDERAÇÕES
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
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I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
“FELIZES PARA SEMPRE”: 2006). Lógicas essas que auxiliam na forma como as
meninas passam a enxergar o casamento como um
UMA DISCUSSÃO SOBRE dispositivo de felicidade, o tão famoso Felizes para
Sempre.
INTERSECCIONALIDADE,
O Brasil ocupa a 4ª posição mundial no ranking
PEDAGOGIA DA MÍDIA de Casamento de Crianças. Dado que reflete a cultura
E CASAMENTO DE patriarcal e machista na qual nossa sociedade foi ali-
cerçada. No ranking estamos atrás apenas de Índia,
CRIANÇAS NO BRASIL Nigéria e Bangladesh. Os números estimam algo como
mais de 1,3 milhão de crianças casadas com menos de
Vitória Brito Santos 18 anos. Dados que são extremamente preocupantes
quando sabemos que esses casamentos estão relacio-
nados aos níveis de desigualdades existentes no Brasil,
assim como, com a lógica machista e patriarcal na qual
nossa cultura está imersa.
O presente texto tem como temática central Uma cultura machista que é expressa nos dados
as discussões desenvolvidas em pesquisa mais ampla de casamento de menores de 14 anos, cerca de 78 mil,
que versam sobre o Casamento de Crianças no Bra- na qual a proporção de casamento de meninas é 48%
sil e a importância de a escola debater sobre Direitos a mais que a de meninos. Dados que mostram a lógica
Humanos. Para esse artigo o objetivo é refletir sobre violenta da nossa sociedade e refletem a nossa cultura
educação midiática, tendo como base de reflexão a Pe- do estupro. Segundo o nosso Código Penal, qualquer
dagogia da Mídia e a Interseccionalidade e como isso ato sexual praticado com um menor de 14 anos, com
perpassa o Casamento de Crianças. ou sem o consentimento da vítima, é estupro de vul-
nerável.
Quando Fischer (1997) fala sobre as instâncias
que envolvem a Pedagogia da Mídia, ela lembra que Ao falarmos sobre a construção de uma identi-
mídia, produção dos sujeitos/as e subjetividade estão dade feminina infantil no Brasil, não podemos separar
diretamente ligadas a uma relação de poder, nas quais essas sujeitas das lógicas interseccionais, as quais as
os processos midiáticos têm ocupado um papel central meninas estão submetidas no Brasil. Raça, Gênero e
como operantes de uma lógica reguladora de formas Classe Social que estão intimamente imbricados às no-
de ser e estar, através de uma produção e significação ções de violência contra a infância, em específico na
de sentidos, pautando modos de viver e de conhecer construção da ideia de casamento como ideal de felici-
a vida. dade, isso é dado às meninas (gênero) de forma mais
particular do que aos meninos. Explicitamente o mar-
A forma como os conteúdos midiáticos têm au-
cador de gênero é mais acentuado na temática devido
xiliado na construção das identidades sociais está ex-
à nossa forma de encarar o matrimônio: “mulheres
plicitada na lógica do Circuito da Cultura, uma cultura
foram feitas para casar”.
que permeia toda a sociedade e na qual sentidos são
construídos (HALL, 2016, p. 21), bem como, está posto Falar de interseccionalidade, quando estamos
na noção de “Pedagogia da Mídia” que mostra que a falando de Casamento de Crianças como uma das vio-
forma como se produz conteúdo para o público infantil lências sofridas pela infância, é bastante complexo. As
é constituída de um ethos pedagógico, “[...] ao lado de diferenças sobre os corpos são múltiplas e se expres-
uma função objetiva de informar e divertir espectado- sam não somente em termos de gênero e sexualidade,
res, por exemplo, haveria na mídia uma função explí- mas também, por exemplo, pelo viés da raça, da clas-
cita e implícita de ‘formá-los’”. (FISCHER, 1997, p. 66). se social e de geração. (PISCITELLI, 2002; CRENSHAW,
2004). No caso do que concerne essa temática, os de-
Dentro desses processos de correnteza cultural,
bates de gênero se fazem muito mais presentes do que
temos então o “Mundo Disney”, a fabricação da fanta-
os outros dois marcadores principais no Brasil (classe
sia, da magia e de imaginários que se tornaram parte
social e raça), principalmente se paramos para pensar
da vida das pessoas de maneira natural. Estudos sobre
que eurocentricamente instituímos gênero como um
o “Mundo Disney” mostram que, em geral, as anima-
organizador da unidade familiar, e que ao analisarmos
ções da Disney contêm um recorte de classe social, de
metodologicamente um lar de família nuclear nos mo-
gênero e de raça, mostrando valores como o respeito,
delos ocidentais isso teoricamente reduz uma mulher
lógicas cidadãs e construção de identidade. Porém, de
a uma esposa. (OYĚWÙMÍ, 2004).
forma contundente, trabalha com a ideia da família
“tradicional” e com uma defesa do consumismo, bem Ademais, as meninas são ensinadas ao longo de
como, reforça as lógicas patriarcais. (DOMÍNGUEZ, suas vidas, nos discursos de gênero, que há um local
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REFERÊNCIAS
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OBJETIVO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
INTRODUÇÃO
OBJETIVO GERAL
A regulação sexual é composta por um conjunto
de ações entre atores sociais para normalizar e nor- Considerando que a colonização do conceito de
matizar as sexualidades e acontece, principalmente, sexo e gênero foi parte do processo de racionalização
através da instituição dos discursos construídos pelas empreendido ao longo da construção da modernida-
ciências médicas e biológicas, enquanto a normatiza- de, se mostra necessária uma análise crítica do empre-
ção se desenvolve, sobretudo, com o auxílio das ciên- go dos referidos conceitos advindos das concepções
cias jurídicas. Trata-se de um processo que tem como euro-americanas e fundamentadas na família mono-
efeito a criação de campos de abjeção e sujeitos com nuclear por serem eles os fundamentos utilizados pelo
potencial desestabilizador da ordem por serem perce- Estado brasileiro na construção dos discursos jurídicos
bidos como ambivalente face ao discurso hegemônico que vêm obstaculizando a implementação e efetivação
que dita a heteronormatividade como normal, lícita e dos direitos LGBTs no país. Assim sendo, a pesquisa
desejável. Como consequência do processo de multi- tem por objetivo geral estudar epistemologias deco-
plicação das identidades sexuais e de gêneros surgem loniais ou de fronteira e avaliar a contribuição de sua
as demandas advindas desses novos sujeitos. A luta utilização nos estudos sobre gênero e sexualidade na
pelos direitos LGBTs se destaca como um dos marcos graduação de Direito.
principais do processo. (VIANA, 2018)
Tendo em vista a luta pelos direitos LGBTs a si- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
tuação vivenciada no Brasil é paradoxal: o discurso
oficial não coaduna com a prática estatal. Há leis, mas 1) Descrever o processo histórico e discursivo
os direitos não são implementados através de políticas do qual resultou a heteronormatividade compulsória e
públicas, cuja criação e efetivação ficam dependendo as identidades sexuais dissidentes enquanto constru-
da discricionariedade das autoridades. Vivencia-se, ção colonial que segue sendo reproduzida pelo discur-
então, no país a judicialização das demandas que tem so jurídico dificultando o reconhecimento e efetivação
por objeto os direitos LGBTs. A despeito do reconheci- dos direitos LGBTs no Brasil.
mento do direito pretendido ao final da demanda, per-
cebem-se nas decisões judiciais visões essencialistas 2) Apresentar os conceitos de sexo e gênero
e biologizantes e um notório desconhecimento sobre como expressões do pensamento hegemônico euro-
questões de gênero e sexualidade. A inadequação dos cêntrico e avaliar a inadequação do seu uso univer-
posicionamentos e argumentos alertam para a insufi- salizado pelas instituições – sobretudo o Direito - nas
ciência de debates jurídicos nos estudos de gênero e relações do Estado com a sociedade civil.
sexualidade e, sobretudo, para a desinformação quan- 3) Investigar o acesso dos alunos de graduação
to às temáticas. (VIANA, 2018) aos estudos sobre gênero e sexualidade.
A herança colonial e seus princípios canônicos 4) Pesquisar epistemologias decoloniais latino-
perpetuaram a ordem hierárquica de sexo e gênero no -americanas.
Brasil, sendo possível identificá-la nas principais insti-
5) Avaliar o emprego das teorias sobre a descolo-
tuições sociais, dentre elas o Direito. Desde as Ordena-
nização dos saberes e desobediência epistêmica como
ções Portuguesas as legislações brasileiras reafirmam a
mecanismo a ser adotado nos estudos sobre gênero e
estrutura patriarcal e a heteronormatividade compul-
sexualidade visando a ressignificação discursiva.
sória. Tal constatação fez com que fossem levantados
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
UMA DRAG QUEEN EM Vale do Paranhana, interior do Rio Grande do Sul, du-
rante os meses de junho e julho de 2019, como evento
ESPAÇOS EDUCACIONAIS: fechado para famílias convidadas. Os três encontros
seguiram uma ordem de atividades bastante parecida,
TENSIONAMENTOS ENTRE iniciando com a organização do espaço e a montação
ARTE E SCRIPTS DE GÊNERO da drag, seguindo para a recepção das famílias.
Após isso, havia a apresentação da proposta das
Cristiano Eduardo da Rosa atividades e agradecimentos pela presença de todos,
coletando as assinaturas nos termos de concordância
de participação na pesquisa. Depois, a introdução da
mediadora de leitura ao grupo que realizava algumas
interações, questionando as primeiras impressões das
Nesta pesquisa investiguei como crianças com crianças sobre os livros que seriam lidos, então ocor-
idade entre quatro e seis anos, estudantes da Educa- rendo a leitura das duas obras. Logo, a realização da
ção Infantil, são capturadas e rompem com os scripts roda de conversa e, ao final, as atividades lúdicas. Fei-
de gênero – expectativas acerca do ser e se fazer ho- tas as despedidas, acontecia a reorganização do espa-
mem e mulher – a partir do contato com a arte por ço e a desmontação da drag.
meio da drag queen e da literatura. Para isso, operei Ter operado com a drag como mediadora de
com as teorizações dos Estudos de Gênero e dos Es- leitura literária me sugeriu como algumas crianças
tudos Culturais em uma perspectiva pós-estruturalista pequenas já compreenderiam a performatividade de
de análise, com autores/as como Guacira Lopes Louro, gênero, uma vez que perceberiam a montação da drag
Jane Felipe, Fernando Seffner, Tomaz Tadeu da Silva, e a interpretariam como uma fantasia, algo não natu-
Cristina Rosa, Regina Zilberman, Judith Butler, Debo- ral e com atos intencionais. Além disso, tal experiência
rah Britzman e Michel Foucault, entre outros/as. de contato com essa arte também despertou nelas a
A metodologia constituiu em três encontros de curiosidade do processo identitário, promovendo, de
mediação de leitura literária, realizados por uma drag certa forma, uma reflexão sobre suas próprias identi-
queen, e de rodas de conversa com perguntas dispara- dades que estão sendo constituídas.
doras sobre os livros apresentados e atividades lúdicas. Por meio das rodas de conversas, foi possível
Nesse sentido, a pessoa responsável pela mediação emergir cinco ensaios de análise: (i) “Ele não precisa-
de leitura foi um professor licenciado em Pedagogia va se fantasiar pra contar historinhas!”: a performati-
e docente da Educação Infantil há cinco anos. Além vidade ao olhar de meninos e meninas; (ii) “Menino
disso, na intenção de garantir uma atuação adequada também tem cílios!”: controle e reconhecimento dos
nas sessões, ele participou de três capacitações online corpos infantis; (iii) “Ninguém vai contar segredo pro
sobre literatura infanto-juvenil, contação de histórias, pai?”: a noção de paternidade na infância; (iv) “Dois
mediação de leitura e leitura em voz alta. homens não é um casal!”: as compreensões das crian-
As obras escolhidas para leitura foram de auto- ças sobre famílias; e (v) “Na minha escola as crianças
res/as nacionais e internacionais, com histórias para acham que a cor de menino é azul e cor de menina é
crianças que oportunizavam o debate sobre as ques- rosa!”: feminilidades e masculinidades nos primeiros
tões de gênero, assim como de classe, raça e sexualida- anos de vida. Por meio desta pesquisa, em que par-
de. Assim, para o primeiro encontro, a leitura contou ticiparam nove crianças, constatei movimentos que
com os livros “Flicts” (2012), do escritor e ilustrador indicam como acontece a captura (aprendizagem, per-
brasileiro Ziraldo, e “Tudo bem ser diferente” (2009), cepção e (re)produção) e a ruptura (negociação e sub-
do escritor ilustrador estadunidense Todd Parr; já para versão) dos scripts de gênero na infância, analisando
o segundo, os livros foram “Monstro Rosa” (2016) da os discursos infantis sobre performatividade, controle
escritora e ilustradora espanhola Olga de Dios, e “To- corpos, paternidade, famílias, feminilidades e mascu-
dos zoam todos” (2016) do escritor e ilustrador colom- linidades.
biano Dipacho, com a temática diferenças; e no tercei- A captura envolveria três movimentos: (i) a
ro, a leitura foi das obras “Uma história apaixonada” aprendizagem, em que a sociedade com suas institui-
(2009) da escritora brasileira Léia Cassol, e “Meu ami- ções (família, escola, igreja) ensina à criança os modos
go Jim” (2007) da escritora e ilustradora belga Kitty de ser homem ou mulher; (ii) a percepção, que envol-
Crowther, com a temática relacionamentos. ve quando o sujeito infantil se dá conta de como o gê-
Os encontros, inspirados no projeto estaduni- nero organiza a cultura e o meio social onde vive; e (iii)
dense Drag Queen Story Hour, que acontece desde a (re)produção, simbolizando os momentos em que a
2015, ocorreram em uma biblioteca de uma cidade do criança repete essas normas e também as aponta para
255
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
outros sujeitos, indicando como (in)adequados deter- Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019.
minados comportamentos ou preferências. Já a ruptu-
ROSA, C. M. Alfabetização literária: bebês, leitores e
ra, aconteceria a partir de dois movimentos: (i) a nego-
livro fascinantes. In: ALBUQUERQUE, S. S.; FELIPE,
ciação, quando a criança começa a criar outras formas
J.; CORSO, L. V. (Orgs.). Para Pensar a Docência na
de ser menino ou menina, tensionando ou mesmo
Educação Infantil. Porto Alegre: Evanfrag, 2019. p.
rompendo com alguns scripts de gênero rigidamente
120-142.
estabelecidos pela cultura, indo assim na contramão
das expectativas da sociedade; e (ii) a subversão, re- ZIRALDO. Flicts. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos,
presentando as atitudes e os discursos infantis que 2012.
questionam e se posicionam de maneira confiante e
segura perante as normas, confrontando as ideias de
que podem ou não podem realizar determinadas ati-
vidades exatamente por serem meninos ou meninas,
por exemplo.
Observei também que tais movimentos de
transgressão acontecem apenas em ambientes demo-
cráticos e laicos, quando as crianças se sentem moti-
vadas e seguras (fatores que podem ser trazidos pela
literatura e pela arte em geral) para se posicionarem
e questionarem as normas que as regulam – sempre
em uma matriz cisheteronormativa – seja na família,
na escola, na igreja ou em outros espaços educativos e
sociais dos quais elas participam e/ou transitam desde
a mais tenra idade.
REFERÊNCIAS
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universo dessa discussão, esclarecendo a conceitos re- subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. Rio
levantes para os estudos Queer como diferença dese- de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
jo/sexualidade, gênero e sexo, a concepção de perfor-
COLLING, L. Gênero e Sexualidade na atualidade.
matividade e heterossexualidade compulsória.
Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e
As diretrizes da Teoria Queer são favoráveis a Ciências, 2018, 69p.
uma estratégia descentralizadora ou desconstrutiva
FOUCAULT, M. História da Sexualidade 1: A vontade
que escapa das proposições sociais e políticas pragra-
de saber, tradução de Maria Thereza da Costa
máticas positivas; imaginando o social como um texto
Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 3ª ed. São
a ser interpretado e criticado com o propósito de con-
Paulo: Paz e Terra. 2015. 175p.
testar os conhecimentos e as hierarquias sociais domi-
nantes. As dissidências sexuais devem figurar num lu- GREEN, J. N. (org). História do Movimento LGBT no
gar estratégico de lutas, no movimento de resistência Brasil. 1 ed. São Paulo: Alameda, 2018, 536p.
contrário ao processo de uniformização. LOURO, G. L. Teoria Queer: uma política pós-identitária
Bento (2017) destaca que o cenário brasileiro para a educação. Rev. Estudos Feministas. [online].
para os LGBTQ+ não está desconectado de uma cultura 2001, vol.9, n.2, pp.541-553.
política nacional que se caracteriza por fazer o excluído PRECIADO, B. Manifesto contrassexual: práticas
“limpar” suas marcas de diferença para ser aceito. Os subversivas de identidade sexual; tradução de Maria
estudos Queer possibilitam o processo de politização Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: n-1 editora, 2014.
das sexualidades contra hegemônicas, defendendo
uma plataforma de identidades não essencializadas e
um produção de práticas contrassexuais (PRECIADO,
2015).
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
A FORMAÇÃO CULTURAL E são socialmente aceitas pelas instituições que são en-
carregadas pela normatização desses corpos. A força
SOCIAL NO PROCESSO DE cultural propagada por essas instituições repercute na
responsabilidade de reproduzir os significados cultu-
APRENDIZAGEM ENVOLVIDO rais fundamentais para a manutenção e difusão desses
NAS BRINCADEIRAS significados (DORNELLES, 2014).
METODOLOGIA
INTRODUÇÃO O presente estudo trata-se de uma revisão bi-
bliográfica e uma análise através das unidades de re-
Através da minha trajetória como acadêmica gistro e conteúdos dos estudos pesquisados sobre for-
do curso de Educação Física e com as vivências como mação cultural e social buscando estabelecer relação
docente no ambiente escolar percebi que a educação ou não ao aprendizado através das brincadeiras entre
física não proporcionava aprendizado a todos. Em suas os gêneros. Foram analisados artigos produzidos no
brincadeiras meninos e meninas constroem um apren- Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte em eventos
dizado motor, cognitivo e intelectual necessários para como o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte
o desenvolvimento de diversas capacidades. Nesse durante dos anos de 2013 a 2018. Os descritores utili-
sentido questiono o motivo em que as meninas têm zados foram gênero, brincadeiras, aprendizagem e for-
mais dificuldade nas aulas de educação física do que mação cultural e social. Foram analisadas edições da
os meninos? Percebe-se que das brincadeiras realiza- Revista Brasileira de Ciências do Esporte e os Cadernos
das nas aulas de Educação Física e nos recreios existe de formação da mesma instituição.
a necessidade de compreensão dos processos de for-
mação cultural e social e a sua possível interferência
no aprendizado desenvolvido através das brincadeiras ANÁLISE DOS RESULTADOS
entre os gêneros.
O objetivo geral desta pesquisa é compreender Através da leitura dos artigos selecionados na
como se dá a relação entre os gêneros através das brin- análise das revistas compreende-se no artigo de Ucho-
cadeiras. Os objetivos específicos são: analisar as brin- ga e Altmann (2015) que existe a discussão sobre a
cadeiras realizadas durante o recreio escolar, entender participação das meninas nas atividades esportivas,
os diferentes gêneros na formação cultural e social no elas geralmente se esquivam por achar que não são
processo de aprendizagem e discutir as aprendizagens capazes de realizar tal feito exercendo papéis coadju-
que ocorrem através das brincadeiras. vantes. A falta de habilidade se torna naturalizada e
reforçada na família e também das brincadeiras esco-
lares. As brincadeiras, para Wenetz e Stigger (2007),
REFERENCIAL TEÓRICO mesmo tendo um caráter prazeroso, possuem uma di-
mensão educativa que disciplinam para viver em um
Apresento os conceitos de formação cultural e contexto social e cultural aceitável que valoriza uma
social associado ao conceito de gênero a ideia de um forma de ser menino e menina.
conjunto de experiências vividas e sentidas com sig- Os trabalhos analisados citam as brincadeiras
nificados produzidos em uma cultura em determina- como processos importantes para a formação. Meni-
da sociedade. Exploro a historicidade do corpo como nas ocupam espaços pequenos nos recreios por pouca
Goellner (2003) descreve como produzido na e pela habilidade e para Wenetz e Stigger (2007) esta é uma
cultura e não como somente uma composição bioló- questão cultural e social excludente de determina-
gica. das vivências corporais o que para Uchoga e Altmann
O Gênero na sociedade significa compor uma (2015) o desenvolvimento de qualquer habilidade ne-
identidade com algumas características esperadas que cessita de prática e incentivo.
259
I SIMPOSIO CURRICULO E CULTURA : encontros antifascistas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FEMINISMOS E PORNOGRAFIA: mais amplo, tal qual aquele levado a cabo pelo mo-
vimento feminista. Tais pesquisas tendem a encontrar
PENSANDO A PARTIR seus nichos de produção nas áreas relacionadas a saú-
de1.
DA EDUCAÇÃO
Objetivamos com a presente proposta de pes-
Gabriela Bercht quisa e comunicação contribuirmos para o contínuo
desenvolvimento deste importante debate. Em espe-
cial, pretendemos avançar no entendimento de como
se dá a apropriação do discurso pornográfico por parte
de jovens; entendendo que tal discurso joga um pa-
pel importante na cultura contemporânea juvenil, que
pode ter reflexos nos modos de subjetivação da sexua-
lidade entre este público. Acreditamos que a signifi-
John Austin foi um dos filósofos que destacou a cação de cultura e a interdisciplinaridade dos Estudos
tendência que a filosofia possui em dar atenção para o Culturais favorecem a análise dos processos que envol-
conteúdo e para o efeito de uma locução nos ouvintes, vem comunicação e constituição de subjetividades.
mas em ignorar as ações constituídas pelo discurso.
Sendo fundamental a ideia de que as análises
Foi partindo, então, da teoria de Austin que duas im-
que envolvem cultura devem ser marcadas pela aná-
portantes autoras do feminismo norte-americano, Ca-
lise dos processos que levam a produção de significa-
tharine MacKinnon e Judith Butler se dedicaram a pen-
do e definições sobre o mundo social. Neste sentido,
sar o papel que a pornografia cumpre na instituição e
seguindo as recomendações dos Estudos Culturais, é
propagação de desigualdades e comportamentos ge-
necessário ampliar o foco para além da leitura dos tex-
nerificados, chegando a conclusões bastante distintas.
tos pornográficos. A forma como estes são recebidos
A maneira como o discurso pornográfico opera, então,
não pode ser derivada apenas da intenção da produ-
na construção social da realidade do sexo se tornou
ção. Recairíamos, desta forma, em uma perspectiva
tema, a partir dos anos 1970, de uma das discussões
produtivista, na qual se deriva todo o sentido de um
mais acaloradas do debate feminista.
produto cultural das condições de produção. É neces-
De maneira bastante resumida, Catharine Ma- sário historicizarmos e contextualizarmos o processo
cKinnon ao lado de outras feministas como Andrea de produção de significado a partir do uso.
Dworkin, acreditavam que deveria haver um esforço
Nossa proposta de pesquisa encontra-se atual-
por parte do Estado para regulamentar (na posição
mente em andamento, não tendo sido realizados, ain-
mais branda) ou para coibir (em uma posição mais
da, os processos que envolverão a coleta de informa-
radical) a produção e a divulgação de materiais por-
ções, via questionários e entrevistas, junto aos grupos
nográficos, na medida em que estes eram vistos não
de jovens que pretendemos acompanhar. De maneira
apenas como propagadores de um discurso discrimi-
que presente proposta de comunicação possui, dois
natório em relação as mulheres, mas como discursos
objetivos principais: primeiramente sistematizar algu-
que atuam a discriminação sexual.
mas das questões levantadas por diferentes vertentes
De outro lado, encontravam-se pensadoras, do pensamento feminista em torno da questão porno-
como Judith Butler e Gayle Rubin, que acreditavam gráfica; gostaríamos, ainda, por fim, de apresentarmos
que a pornografia opera como discurso, que pode ser dados iniciais da pesquisa bibliográfica já realizada de
discriminatório, e, no entanto, não compartilhavam da maneira a explicitar alguns pontos que nos parecem
descrição da pornografia enquanto conduta (ou ato) chaves sobre a inserção do discurso pornográfico no
discriminatório. Defendiam que, enquanto discurso meio on-line e sobre o acesso a materiais pornográfi-
discriminatório e não ato, a pornografia e seus possí-
veis efeitos deveriam ser combatidos através da res- 1 Ver: LOFGREN-MARTENSON, Lotta; MANSSON, Sven-
significação das performances que o pornô mobiliza. Axel. Lust, Love, and Life: A Qualitative Study of Swedish Adoles-
Tal debate esteve durante muito tempo foca- cents’Perceptions and Experiences with Pornography. In Journal of
do em questões teóricas fundamentais, tendo sido em sex reserch, V. 47, ed. 6. 2010. p. 568-579.; ROMITO, Patrizia; BEL-
raras ocasiões, no entanto, aprofundado através de TRAMINI, Lucia. Factors Associates With Exposure to Violent or De-
pesquisas empíricas com um enfoque cultural. Por ou- grading Pornography Among High School Students. In The Journal
tro lado, existe um número de pesquisas que buscam of School Nuersing, Vol. 31(4), p.280-290. 2015.; ROTHMAN, Emily
averiguar de que forma se dá o consumo de porno- F. et al. “Without Porn … I Wouldn’t Know Half the Things I Know
grafia entre os mais diversos grupos, sem, no entanto, Now”: A Qualitative Study of Pornography Use Among a Sample of
Urban, Low-Income, Black and Hispanic Youth, In:The Journal of
estender ou relacionar suas conclusões a um debate
Sex Research, 52:7, 736-746, 2014
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
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Grupo de trabalho: gênero, sexualidade e educação
NEM DE MENINA, NEM DE dentro e fora da sala de aula com crianças e também
utilizar com jovens e adultos. Tem como base estudos
MENINO: A POTÊNCIA DO que comprovam a importância da diversidade, e nos
direitos humanos é declarado que a toda pessoa tem
DESIGN COMO INCLUSÃO a garantia de ter acesso à escola e que tenham total
DA DIVERSIDADE segurança a respeito ao seu gênero.
Deste modo como o design pode promover
Ariberto de Farias Bauermann Filho a diversidade de gênero a partir de brinquedos com
crianças? Mediante a uma afinidade entre o design de
brinquedos e as relações de gênero, da mesma forma
gerar aprendizagem com o ensino lúdico, pelo diferen-
te apresenta a diversidade. A ligação tem como base
Essa pesquisa contextualizou a relação do design as construções de papéis de homens ou mulheres que
de brinquedos com a socialização de gênero, como os tratam as relações de gênero. A diversidade pode ser
brinquedos podem influenciar o processo de delimita- apresentada além das cores, e sim com a diferença
ção/exclusão de gênero no indivíduo e a partir de uma do uso de materiais, com a possibilidade de construir
nova construção como é capaz de ser uma ferramenta múltiplas formas.
de aprendizagem sobre a diversidade. Foi abordada a A partir da análise de produtos, crianças e cons-
inclusão da diferença com crianças dentro e fora das trução de gênero, pode-se afirmar que existe na so-
escolas. A escolha do tema foi com intenção de buscar ciedade uma cultura material, foram apresentadas nas
promover uma discussão de gênero com ajuda do de- diversas relações existentes entre as pessoas e os ob-
sign e possibilitar o conhecimento das diferenças. jetos, pois são colocados significados em produtos que
Diante disso, percebe-se uma falta de educação fazem parte da construção social. Nas lojas visitadas
sexual com jovens e crianças dentro e fora do ambien- na pesquisa, persistem signos pré-existentes em nossa
te escolar pertinente ao tema, pois em escolas quan- formação social dos quais brinquedos são destinados
do é informado está relacionado a biologia, qual diz a para meninas ou meninos. O brinquedo ultrapassa o
respeito de órgãos em relação de reprodução sexual. significado de apenas entretenimento para as crian-
Dentro da sala de aula é visível a diversidade de orien- ças, é dotado de símbolos contemporâneos com valo-
tações sexuais (SEFFNER, 2011) e o tema Relações de res e sentidos sociais.
Gênero está garantido dentro dos Temas Transversais, Por fim a projeção de design de brinquedos que
nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (1997), atendem todas as fases como: pesquisa, desenvolvi-
qual propõe (MEC, 1997) a discussão sobre gênero e mento, estudo de análises, prototipagem, testes e va-
propicia o questionamento de papéis rigidamente es- lidação, são etapas construtivas dos brinquedos que
tabelecidos a homens e mulheres na sociedade, a va- asseguram o desenvolvimento inclusivo e diverso do
lorização de cada um e a flexibilização desses papéis. aprendizado das crianças. Desenhar produtos que são
O Artigo 26 dos Direitos Humanos (ONU, 1948), pensados com os usuários, que são mostradas as suas
declara o direito à educação para todos e todas inde- infinitas possibilidades de elaboração do brinquedo,
pendente de cor, gênero, orientação sexual, religião ou faz com que os produtos acompanhem o crescimen-
origem. No Brasil, a educação como direito reza no art. to das demandas resultantes da inclusão e proporcio-
6° da constituição federal brasileira que são direitos nem pluralidade.
sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segu- Com isso o design como campo de estudo e
rança, a previdência social, a proteção à maternidade e questionamento pode avançar no desenvolvimento de
à infância, a assistência aos desamparados. produtos a partir das relações propostas anteriormen-
Entretanto, as medidas de inclusão de alunos te. Ao levantar dados a respeito do seu público por
deficientes ou de relações gêneros geram, algumas meio da análise de campo, as marcas podem dialogar
vezes, uma exclusão através da inclusão. A temática melhor com o consumidor, ou então caso as marcas
raramente é abordada, e quando comentada acaba tendem a globalização, é capaz de interpretar manei-
colocando o diferente como o excluído. Por meio des- ras diferentes da infância.
sa contextualização o tema foi escolhido por perceber Dado que a socialização do gênero a respeito
que existe uma grande falta de conhecimento de pais e da infância deve ser mais amplamente debatida, pois
alunos a respeito da diversidade de gênero. É necessá- como percebeu-se que muitas vezes as crianças estão
rio expor as relações de gêneros com ajuda do design repetindo padrões impostos pela sociedade, como
para um melhor entendimento e assim gerar aprendi- exemplo é de menino cisgênero não consegue ter uma
zagem pela diferença. Tornar a inclusão uma potência mini batedeira do seu personagem favorito, por que
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não existe esse tipo de produto, a não ser direcionado que manifestam diferenças em sexo e gênero? Corpos,
para o público feminino. O assunto é muito grave, gêneros, sexualidades e relações étnico-raciais na
pois acaba classificando os brinquedos e separando o educação [recurso eletrônico]. Uruguaiana, RS:
que é de menina ou de menino, entretanto brinquedo UNIPAMPA, 2011. Disponível em: <http://dspace.
não é pra um nem para outro, é para crianças, é para unipampa.edu.br/bitstream/riu/3404/1/Corpos-2011.
pessoas. Precisa descolonizar-se a cultura material e pdf> Acesso em: agosto de 2019.
é pela geração de brinquedos alternativos, aqueles
VIANNA, C.; FINCO, D. Meninas e meninos na Educação
que estimulam a criatividade, o trabalho em grupo e
Infantil: uma questão de gênero e poder. Cadernos
feitura de coisas não existentes.
Pagu. v. 33, p. 295-283. Disponível em <http://www.
A diversidade de gênero pode ser apresentada scielo.br/pdf/cpa/n33/10.pdf> Acesso em: novembro
pelos brinquedos, mas caberá a sociedade como trans- de 2019.
formará a socialização. A grande mudança que se pos-
sa fazer é começando pelo questionamento de que é
“certo” ou “errado”, pois nas brincadeiras existe certo
ou errado? Acredita-se que há aprendizagem, além
das classificações e é por meio desse viés do diferente
que consegue mudar o olhar relacionado ao gênero.
Usar rosa ou azul não está errado, o questionamento
está no modo como se interpreta a relação com as co-
res, os objetos. Tratar desse tema com crianças é ten-
tar prevenir a futuras frustrações, é dar liberdade ao
afeto, é ser benevolente com o diferente, deixar ser
todas as cores.
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RESULTADOS ESPERADOS
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Dessa forma, o método que Rita utiliza para PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à
disseminar o conhecimento pode ser classificado em afirmação do óbvio. Campinas: Unicamp, 1999.
partes como tal, uma reinterpretação das experiên- SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. 8 ed. São
cias empíricas, o que de fato representa um estilo ou Paulo: Cortez, 2018.
enfoque de análise metodológico-discursivo capaz de
TESSER, G. J. Principais linhas epistemológicas
tratar as narrativas existentes de modo a reinterpretar
contemporâneas. Educar, Curitiba, n. 10, p. 91-98,
seus campos e perceber como os conceitos são forma-
1995.
dos, entendidos e localizados por um determinado ni-
cho social (FOUCAULT, 2008 p. 155).
CONCLUSÃO
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METODOLOGIA
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mininas, dessa forma, é possível dizer que a categoria estudio; breve agenda para la discusión. In: FÁVERO, O.
de gênero está associada as relações de poder. et al.(org), Juventude e Contemporaneidade. Brasília:
UNESCO, MEC, ANPEd, p. 47-72, 2007.
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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“UM GAROTO ela nunca gostou e porque “sempre foi um lugar mui-
to ruim”. Além disso, a jovem afirma que dentro deste
AFEMINADINHO”: NARRATIVAS ambiente ela sofreu exclusão, solidão e preconceito
por ser um “garoto afeminadinho”, o que a fez sentir
DE UMA YOUTUBER TRANS como “a escória do mundo”. Essas narrativas vão ao
SOBRE A VIDA ESCOLAR encontro dos dizeres de Louro (2002, p. 125) ao apon-
tar que a “passagem pelos bancos escolares deixa mar-
Maria Luíza Lucas dos Santos cas, e permite que se estabeleçam ou se reforcem as
distinções entre os sujeitos.
Rosilene Lopes de Pinho
Ali se adquire todo um jeito de ser e de estar no
mundo”. Assim, propomos-nos a pensar neste traba-
lho “grandes coisas” (VEIGA-NETO, 2014) sobre acon-
tecimentos do cotidiano escolar, mas de modo a per-
ceber “coisas pequenas” que ainda não foram vistas.
O YouTube é uma das maiores plataformas de Perceber coisas pequenas não significa problematizar
compartilhamento de vídeos do mundo. Criada em o fácil, pois “não só é difícil como, ainda, é perigoso”
2005 a plataforma informa em seu site que sua mis- (VEIGA-NETO, 2014, p. 7). É difícil e perigoso falar so-
são é dar a todos uma voz e revelar o mundo, além bre coisas pequenas porque temos que pensar o que
de acreditar que todos têm o direito de expressar ainda não foi pensado no espaçotempo escolar. Isso
opiniões e que o mundo se torna melhor quando ou- significa colocar-se no lugar do outro; significa afastar-
vimos, compartilhamos e nos unimos por meio das -se da mesmice para perceber coisas que não estamos
nossas histórias (YOUTUBE, 2020). De acordo com o acostumados a ver, que nos constrangem e desacomo-
próprio YouTube, a plataforma conta hoje com mais de dam.
dois bilhões de usuários.
A narrativa de Bárbara nos faz pensar como os
Um dos pontos principais para o sucesso da pla- temas de sexualidade, gênero, identidade e diferença
taforma afirmam autores, é a possibilidade de cada são vistos ainda dentro do espaçotempo escolar como
usuário criar sua própria narrativa e compartilhá-la “coisas pequenas”, perante uma sociedade cishetero-
com outras pessoas. Dentro deste universo de possi- normativa que excluí o diferente. Suas falas nos levou
bilidades um vídeo nos afetou (DELEUZE, 2002), e é a pensar o conceito de identidade e diferença de Stuart
sobre ele que iremos falar neste trabalho. O título do Hall (2014). Para o autor, a identidade é tanto simbó-
vídeo é “Vou largar a escola por conta de preconceito” lica quanto social e a diferença é necessária na produ-
postado no dia 5 de abril de 2020. A autora do vídeo se ção de significados, para a criação do sentido subjetivo
chama Bárbara, uma jovem de 18 anos que se define de si mesmo e, ao mesmo tempo, pode ser uma amea-
em seu canal do Youtube “Barbit” que possui 354 mil ça, um lugar perigoso, de sentimentos negativos, de
pessoas inscritas, como uma jovem transexual, trans- hostilidade e agressividade para com o “Outro”.
gênero e travesti, além de estudante do 2º ano do En-
sino Médio. No contexto de uma sociedade sexista, machis-
ta, patriarcal e transfóbica a identidade do ser “afe-
O objetivo deste trabalho é analisar algumas minado” foi construída a partir do ponto de vista do
narrativas constantes nesse vídeo e as reverberações modelo cisheteronormativa, colocando desta forma
dentro do contexto da educação. Utilizo como méto- quem transgride a identidade de gênero à margem
do de análise o conceito de narrativa apresentado por da sociedade, ou seja excluído. Deste modo, indepen-
Walter Benjamin (1993) que afirma que a narrativa não dente das leis e das autoridades brasileiras negarem
está interessada em transmitir o ‘puro em si’ da coisa o debate sobre os temas de gênero e da sexualidade,
narrada como uma informação ou um relatório. Ela da identidade e da diferença através de movimentos
mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida como o Escola sem partido, estas são questões ima-
retirá-la dele, assim que, quanto maior a naturalidade nentes que percorrem o chão da escola e precisam ser
com que o narrador renuncia às sutilezas psicológicas, discutidas. Como resultado, este trabalho busca trazer
mais facilmente a história será gravada na memória do para o espaçotempo escolar narrativas que desistabi-
ouvinte. Bárbara começa o vídeo falando que não quer lizam o cotidiano e potencializam a vivências dos alu-
mais estudar, porém diz que não está feliz de ir no You- nos, nos fazendo pensar “grandes coisas”.
tube falar que vai largar a escola, porque ela queria ser
“uma pessoa que dá bons exemplos”.
A youtuber continua sua narrativa e afirma que REFERÊNCIAS
sempre teve uma relação muito ruim com a escola,
pois este é um lugar que nunca lhe “comportou”, que BENJAMIN, W. Obras escolhidas: magia e técnica, arte
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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SÉRIE SEX EDUCATION: UMA os diversos problemas sexuais que alguns jovens se
encontravam. Nela foi vista problemas de ejaculações,
REFLEXÃO PARA VIABILIZAR ereções precoces, abuso sexual, homossexualismo e
tudo isso estava em torno dos adolescentes e dentro
A DISCURSIVIDADE SOBRE da escola.
EDUCAÇÃO SEXUAL Neste sentido, as escolas do ensino médio de-
DENTRO DAS ESCOLAS veriam ver a questão da educação sexual como uma
de suas prioridades, ou, até mesmo uma reformulação
DO ENSINO MÉDIO. curricular, para assim ser integrado ao debate entre
professor e aluno. Considerando também alguns fato-
Natanael Vieira res de comunicação, assim como a mensagem, porque
se faz necessária a compreensão do receptor, para isso
os docentes responsáveis devem levar as orientações
dentro da escola, sendo considerável tomar cuidado
com a linguagem, pois deve ser acessível e de fácil en-
tendimento; também pode ser vinculado ao ensino,
uma vez que é uma área transdisciplinar, por fim, é
INTRODUÇÃO relevante dialogar sobre sexualidade de modo natural
sem que aja qualquer tipo de preconceito ou conside-
Desde o surgimento do homem notam-se gran- ração de tabu.
des problemáticas em torno do seu desenvolvimento
humano. Mediante a esta afirmativa, vale enfatizar
que até nos dias atuais é possível ver grandes tabus na OBJETIVO(S)
sociedade, apesar de toda modernidade e evolução.
Nisso, percebe-se ao redor da juventude problemas di- Objetivou- se esta pesquisa para refletir sobre a
versos, mas, nesta pesquisa foi focado para refletir na importância a da educação sexual nas escolas do ensi-
viabilização da discussão sobre a educação sexual nas no médio e possibilitar a conversação entre professor
escolas do ensino médio, pois é necessário o debate e aluno a respeito dessa área tão importante.
desse assunto de tanta importância ao meio social, e
principalmente aos jovens.
REFERENCIAL TEÓRICO
Analogamente, é necessário reiterar que a sé-
rie Sex Education, pilar de extrema importância a essa Segundo Freud (1949) o corpo é erotizado, ou
discussão, é de origem britânica, foi lançada em 2019 seja, as excitações sexuais estão presentes em certas
na Netflix e teve um sucesso estupendo de audiência. partes do corpo, e isso levou á postulação de fases
Nela é visto vários problemas que se acometem ao do desenvolvimento sexual do corpo. Nesse sentido,
mundo adolescente, mas há uma ênfase maior sobre ressalta-se que Freud é um grande influenciador ao
o que é o sexo e os seus problemas sexuais vividos por educador, e encontra-se nesse aspecto as suas gran-
muitos jovens na série e também pelo grupo jovem do des influencias e contribuições para o docente saber
século XXI. orientar e ajudar os seus alunos.
Além disso, falar de sexo nos dias atuais ainda Com isso, (VASCONCELOS, 1971, p. 111) diz:
é considerado um tabu, por isso o grande número de
jovens que faz relação sexual sem saber, e a maioria Educação sexual é abrir possibilidades, dar
entra nesse ciclo humano sem nenhuma orientação ou informações sobre os aspectos fisiológicos da
informação para fazer-lhe ciente a esse processo. Por sexualidade, mas, principalmente, informar so-
bre suas interpretações culturais e suas possi-
meio disso, é relevante o debate nas escolas do ensi- bilidades significativas, permitindo uma toma-
no médio em torno da educação sexual, pois somente da lúcida de consciência. É dar condições para
priorizando esse fator, mostrando as problemáticas, as o desenvolvimento contínuo de uma sensibili-
dificuldades particulares de cada um, o tempo de ama- dade criativa em seu relacionamento pessoal.
Uma aula de educação sexual deixaria de ser
durecimento dos seus órgãos, das suas fases e transi- apenas um aglomerado de noções estabele-
ções, que será viável ter uma juventude ciente a esse cidas de biologia, de psicologia e moral, que
aspecto da vida. não acompanham a sexualidade naquilo que
lhe pode dar significado e vivência autêntica: a
Assim como o que foi retratado na série Sex Edu- procura mesmo da beleza interpessoal, a cria-
cation que explanaram esse assunto dentro do âmbito ção de um erotismo significativo do amor (VAS-
CONCELOS, 1971, p. 111)
escolar, e só com essa iniciativa foi notório perceber
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METODOLOGIA
RESULTADO
REFERÊNCIAS
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