4 Forum Habitar ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HIS EM CIDADES PEQUENAS E MÉDIAS: UMA LEITURA A PARTIR DO TERRITÓRIO GOIANO

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Título do Trabalho

ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HIS EM CIDADES PEQUENAS E


MÉDIAS: UMA LEITURA A PARTIR DO TERRITÓRIO GOIANO
Autores

• João Paulo Oliveira Huguenin


• José Rodolfo Pacheco Thiesen
• Edinardo Rodrigues Lucas
• Ana Karla Passos Sarmento
• Thaís Araujo Machado
• Daniel Miranda da Silva

Modalidade
Artigo
Área Temática
A produção do habitar: políticas públicas • O Estatuto da Cidade e seus
instrumentos (operações urbanas, ...) • A assistência técnica • Fundos e
conselhos municipais de habitação • Regularização fundiária • Planos de
Habitação • Planejamento e habitação • Participação e controle social • A
cidade invisível / a cidade informal • A habitação no ensino, pesquisa e
extensão
Data de Publicação
16/01/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
www.even3.com.br/Anais/habitar/72889-ASSISTENCIA-TECNICA-PARA-
HIS-EM-CIDADES-PEQUENAS-E-MEDIAS--UMA-LEITURA-A-PARTIR-
DO-TERRITORIO-GOIANO
ISSN
2359-0734
Título do Evento
FÓRUM HABITAR 2017
Cidade do Evento
Belo Horizonte
Título dos Anais do Evento
Anais do Fórum Habitar
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
Como citar
HUGUENIN, João Paulo Oliveira et al.. ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HIS EM CIDADES PEQUENAS E
MÉDIAS: UMA LEITURA A PARTIR DO TERRITÓRIO GOIANO.. In: Anais do Fórum Habitar. Anais...Belo
Horizonte(MG) UFMG, 2018. Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/habitar/72889-
ASSISTENCIA-TECNICA-PARA-HIS-EM-CIDADES-PEQUENAS-E-MEDIAS--UMA-LEITURA-A-PARTIR-
DO-TERRITORIO-GOIANO>. Acesso em: 29/06/2018 01:25
ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HIS EM CIDADES PEQUENAS E
MÉDIAS: uma leitura a partir do território goiano

HUGUENIN, J.P.O. (1); THIESEN, J.R.P. (2); LUCAS, E.R. (3); SARMENTO, A.K.P.
(4); MACHADO, T.A. (5); SILVA, D.M. (6)
1. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás
Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail:[email protected]

2. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás


Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail:[email protected]

3. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás


Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail: [email protected]

4. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás


Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail: [email protected]

5. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás


Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail: [email protected]
6. Universidade Federal de Goiás. Curso de Arquitetura e Urbanismo- UAECSA-Regional Goiás
Av. Bom Pastor, s/nº, Areião, Goiás-GO
E-mail: [email protected]

RESUMO
O presente artigo busca discutir a assessoria técnica em habitação de interesse social para famílias
de baixa renda em cidades pequenas e médias. As cidades pequenas e médias em contextos não
metropolitanos contam com baixo número de profissionais arquitetos urbanistas, muitas prefeituras
não tem nem ao menos um profissional dessa área de atuação. Além disso, a formação desse
profissional muitas vezes não é voltada para atender as demandas sociais em questão, como a
política urbana e a habitação de interesse social. Nesse sentido, apontamos as dificuldades de
efetivação da lei 11.888/2008 em cidades pequenas e médias a partir da realidade do território
goiano. Por fim, trazemos a experiência desenvolvida na cidade de Goiás, a partir de uma parceria
com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, a Prefeitura Municipal de Goiás e o Governo
do Estado.

Palavras-chave: HIS; assessoria técnica; cidades pequenas; cidades médias; Goiás

FÓRUM HABITAR 2017


Belo Horizonte/MG - de 08 a 10/11/2017.
Introdução

O estado de Goiás possui 246 municípios, sendo que dois apresentam população com mais
de 500.000 habitantes (Goiânia e Aparecida de Goiânia) e 87% dos municípios do estado
possuem população inferior a 20.000 habitantes. Observando o território goiano e os dados
do Sistema de Informação e Comunicação Conselho de Arquitetura e Urbanismo para o ano
de 2015, percebemos que a distribuição dos arquitetos e urbanistas também apresenta
grandes distorções, com vários municípios que não possuem profissionais da área, outra
parte que não conta com número de profissionais suficientes para atender adequadamente
sua população, enquanto que Goiânia, capital do Estado, apresenta a maior concentração
de profissionais arquitetos e urbanistas.

Considerando que o município é o ente federado responsável pelas políticas de


ordenamento territorial urbano e o arquiteto e urbanista o profissional com atribuição para
elaborar e implementar essas políticas, verificamos que muitas cidades goianas não
apresentam condições objetivas e operacionais de cumprirem essa responsabilidade.
Dentre as políticas urbanas necessárias a essas cidades, uma que tem grande impacto na
qualidade de vida dos seus moradores é a Assistência Técnica para Habitação de Interesse
Social, que foi “garantida” pela Lei 11.888/2008 como um direito de famílias de até três
salários mínimos, necessária para efetivar o direito constitucional à moradia.

Inserido no contexto goiano, encontramos a realidade da Cidade de Goiás, que apresenta


aproximadamente 25.000 habitantes e possui um centro histórico expressivo, tendo sido
reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2001. Se por um lado a
realidade do município faz com que encontremos na cidade arquitetos e urbanistas, esses
mesmos são responsáveis pela política de proteção patrimonial, limitando-se a uma atuação
no centro histórico enquanto as periferias da cidade concentram a maior demanda por ações
para habitação de interesse social, resultado da segregação socioespacial.

No presente artigo, buscaremos mostrar uma tentativa de articulação entre a Universidade


Federal de Goiás (UFG) e a Prefeitura Municipal de Goiás na realização de um projeto piloto
para a realização de 15 projetos de melhorias habitacionais para famílias. A UFG através de
seu curso de Arquitetura e Urbanismo formou um Laboratório de Projetos, responsável pela

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elaboração dos projetos habitacionais de 15 famílias indicadas pela Prefeitura Municipal de
Goiás a partir de um cadastro habitacional prévio. A iniciativa se viabilizou a partir de um
edital do CAU-GO para ações de HIS. Além disso, Prefeitura e Universidade tem buscado
articulações com o Governo do Estado para que esses projetos sejam executados através
do “Cartão Reforma”, política estadual que fornece até R$3.000,00 para a compra de
materiais para reforma habitacional. A partir desse contexto específico buscamos trazer
reflexões que possam contribuir para a efetivação de assessoria técnica para HIS.

A política de Assistência Técnica para HIS

O direito à moradia foi reconhecido como um direito social em nossa constituição a partir da
Emenda Constitucional nº26, de 14 de fevereiro de 2000. No entanto, verificamos que essa
norma não é efetivamente aplicada, não possuindo assim a eficácia social que deveria
possuir.

Se política e juridicamente a habitação é reconhecida como um direito do cidadão,


socialmente ela é compreendida como uma vantagem. O hiato entre o ideário da habitação
como um direito cidadão e a realidade da habitação enquanto um privilégio de alguns se
constitui em um problema urbano que afeta todo o território nacional, desde nossas
metrópoles até as cidades com baixos índices populacionais.

Ainda na Constituição Federal de 1988, observamos em seu artigo 182 que o município é o
ente federado com atribuições e competências para desenvolver e efetivar a Política de
Desenvolvimento Urbano. Sendo a questão da habitação uma das questões urbanas a
serem tratadas nessa política, o município é quem deve se responsabilizar pela questão.

No entanto, somente em 2001, com a publicação do Estatuto das Cidades (Lei


nº10.257/2001) é que passamos a ter um arcabouço jurídico-legal necessário para que os
municípios conseguissem cumprir sua responsabilidade institucional de efetivar a política
urbana em seu território. No entanto, mesmo com a campanha dos planos diretores
realizada em 2004 pelo Ministério das Cidades, observamos que muitos municípios não
realizaram seus planos diretores, principalmente por falta de capacidade institucional e
financeira.

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Dentre as políticas setoriais da política urbana está a habitacional, que a exemplo do
ordenamento territorial urbano, não consegue ser efetivada em muitos municípios,
sobretudo pequenos e médios, que apresentam em seu quadro funcional poucos
profissionais habilitados a tratar da questão.

Além da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto das Cidades, ainda há mais duas leis
federais que incidem sobre as questões habitacionais: a Lei 11.124/2005, primeira lei de
iniciativa popular aprovada que instituiu o Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), e a Lei
11.888/2008, que assegura assistência às famílias de baixa renda técnica gratuita para o
projeto e a construção de habitação de interesse social.

A Lei de Assistência Técnica implica na criação de um sistema público para a remuneração


do trabalho de arquitetos urbanistas e engenheiros que atendam famílias de até 3 salários
mínimos para elaboração de projeto, acompanhamento e execução de obras necessárias
para edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação.

A assistência técnica, pela lei, poderia ser oferecida por: servidores públicos, organizações
não governamentais, por universidades através de programas de extensão de escritórios
modelos ou escritórios públicos, ou por profissionais autônomos e pessoas jurídicas
devidamente credenciados, selecionas e contratados por órgãos públicos.

Uma das questões que se coloca é que a Lei de Assistência Técnica seja integrada à
Política Nacional de Habitação, utilizando recursos do Fundo Nacional de Habitação, com
recursos previstos no orçamento público, o que de fato não aconteceu a contento desde a
criação do FNHIS em 2005. Além disso,

(...) muitas dúvidas ainda cercam a sua implantação, pois as prefeituras ainda não encontraram
uma forma viável de colocar a lei em prática. Além disso, a lei também não especifica questões de
responsabilidade técnica e critérios de aprovação dos projetos.

O fato é que cada vez mais a assistência técnica tem se mostrado importante e há grandes
esforços para que ela seja implantada em âmbito nacional, entretanto, por ser uma atividade pouco
desenvolvida até então, a assistência técnica para as habitações de baixa renda ainda não conta
com modelos de funcionamento adequados. (SILVESTRE; CARDOSO, 2013)

Déficit Habitacional e porte das cidades

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De acordo com a Fundação João Pinheiro, em 2010 o Brasil apresentava um déficit
habitacional de 6.940.691 moradias. A quantificação desse número é formada por quatro
categorias: domicílios precários, coabitação, ônus excessivo com aluguel e o adensamento
excessivo de domicílios alugados.

Nacionalmente, o déficit habitacional de domicílios precários é de 1.343.435 domicílios, o


que representa 19,4% do déficit. Se formos analisar os dados considerando as regiões
metropolitanas e demais áreas do país, veremos que para as primeiras os domicílios
precários representam menos de 10% do déficit habitacional, enquanto para as segundas
esse percentual chega a quase 30%.

Déficit Habitacional por componente


Precários Coabitação Ônus Adensamento
Total Relativo Total Relativo Total Relativo Total Relativo
ao ao ao ao
Déficit Déficit Déficit Déficit
Brasil 1.343.435 19,4% 2.991.313 43,1% 2.124.404 30,6% 481.539 6,9%
R.M. 335.999 9,8% 1.556.451 45,6% 1.222.685 35,8% 301.233 8,8%
Demais 1.007.435 28,6% 1.434.862 50,7% 901.719 25,6% 180.306 5,1%
Tabela 1: Déficit Habitacional por componente no Brasil, Regiões Metropolitanas e Demais áreas.
Fonte: Fundação João Pinheiro, 2013

Considerando as famílias que não possuem renda e as que tem renda entre 0 e 3 salários
mínimos, verificamos que o déficit habitacional referente aos domicílios precários é de
213.285 domicílios nas Regiões Metropolitanas e de 330.478 domicílios nas demais áreas,
ou seja, as áreas não metropolitanas apresentam um déficit habitacional relativo a
precariedade 1,5 maior do que as áreas metropolitanas.

Domicílios Precários Domicílios Precários Domicílios Precários


Famílias sem renda Famílias com renda de Famílias com renda
(A) 0 a 3 S.M. (B) até 3 S.M. (A+B)
Brasil 45.549 498.214 543.763
Regiões Metropolitanas 19.857 193.428 213.285
Demais áreas 25.692 304.786 330.478
Tabela 2: Domicílios precários pertencentes a famílias sem renda e com renda de 0 a 3 salários
mínimos (S.M.), Regiões Metropolitanas e Demais áreas. Fonte: Fundação João Pinheiro, 2013

Considerando que as cidades de porte pequeno e médio, em sua maioria, não se encontram
em regiões metropolitanas e que as precariedades habitacionais de famílias com renda até
3 salários mínimos podem ser resolvidas com ações de assessoria técnica, como dispõe a
Lei 11.888/2008, constatamos que há um vasto campo de trabalho para profissionais que
trabalham com esse tipo de serviço em cidades pequenas e médias.

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As cidades no território goiano e a atuação dos profissionais de arquitetura e
urbanismo

O estado de Goiás possui 246 municípios, sendo que dois apresentam população com mais
de 500.000 habitantes (Goiânia e Aparecida de Goiânia), 87% dos municípios do estado
possuem população inferior a 20.000 habitantes, sendo que 97 municípios não chegam a ter
5.000 habitantes. Na Tabela 3 podemos observar a quantidade de municípios que se
enquadram em diferentes portes, de acordo com o número de habitantes que apresenta.

Porte dos Municípios Número de Munícipios Concentração Populacional


Até 5.000 hab. 97 389402
De 5.001 a 10.000 hab. 58 513213
De 10.001 a 20.000 hab. 37 435467
De 20.001 a 50.000 hab. 32 1218487
De 50.001 a 100.000 hab. 10 728977
De 100.001 a 500.000 hab. 10 1645445
Mais de 500.000 hab. 02 1952607
Tabela 1: Porte dos Municípios de Goiás e Concentração Populacional
Fonte: Elaborado com base na Estimativa da
População para o ano de 2015 feita pelo IBGE, 2016.

A realidade dos municípios do estado de Goiás é similar à diversas realidades encontradas


sobretudo em outros estados das Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, que contam com
muitos municípios com baixa concentração populacional. Nos estudos sobre as cidades
usualmente temos o fator populacional como definidor de seu porte, ou seja, se uma cidade
é pequena, média ou grande. As cidades pequenas seriam as com até 20.000 habitantes e
as grandes teriam mais de 500.000, ficando as médias nessa grande faixa intermediária
(MAIA, 2010). Mas, seria o quantitativo populacional suficiente para definir o porte de uma
cidade? E mais, quais são os conceitos de cidade que estamos utilizando?

Ao utilizarmos os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


consideramos como cidade todo distrito sede de município. No entanto, essa determinação
se dá meramente por aspectos administrativos. Se utilizarmos o conceito de Lefebvre (2001)
da cidade enquanto a forma da simultaneidade, dificilmente um município como o de
Anhanguera (GO), que apresenta 1.104 habitantes, poderia ser considerado uma cidade.
Isso não quer dizer que em Anhanguera não tenha símbolos e signos do urbano, visto que a
humanidade como um todo passa por um intenso processo de urbanização. (LEFEBVRE,
2004)

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Também vale ressaltar que cidades com quantitativo populacional próximo, mas
localizações distintas, podem apresentar características totalmente diversas. Se
compararmos a cidade de Itatiba, no estado de São Paulo, que na estimativa do IBGE em
2015 apresentava 113.284 habitantes, com a cidade de Formosa, no estado de Goiás, que
na mesma estimativa apresentava 112.236 habitantes, veremos que a cidade paulista
apresenta uma maior diversificação de comércios e serviços, além de oferecer melhor
qualidade de vida à sua população.

Essa situação é resultado da concentração urbana do litoral brasileiro iniciada ainda no


período colonial, onde o centralismo da metrópole levou a uma ocupação do interior em
ritmo bastante lento, associado ao rígido estabelecimento de uma hierarquia entre vilas e
cidades, que, por sua vez, implicaram no grande controle de investimentos a serem
destinados à sua consolidação e expansão. Após séculos de urbanização mais intensa no
litoral, o interior do país ainda se insere neste processo de forma muito lenta. Com isso, boa
parte do território nacional conta com precárias condições de urbanização.

Nas cidades das periferias mais atrasadas, estagnadas ou remotas, o problema


consiste de relações sociais, estrutura fundiária e padrões técnicos atrasados,
relações rural-urbano pobres, carência por infraestrutura econômica e social, que no
conjunto produzem emigrações, baixa renda, dependência por transferências
governamentais, o que se traduz em baixa produção de riqueza e, portanto, baixa
capacidade de alteração espontânea do quadro de estagnação da pobreza. (BITOUN
e MIRANDA, 2009, p.5)

Os autores destacam que a política urbana para essas cidades deve articular diversos
setores governamentais como maneira de fomentar as relações rural-urbano, criando assim
uma nova dinâmica que permita criar possibilidades de crescimento, fortalecimento e
consolidação desses núcleos urbanos.

Esse quadro nos coloca a necessidade de pensarmos globalmente o exercício da


arquitetura e urbanismo a partir de características próprias que definem outras lógicas para
o espaço urbano e a cidade no território goiano.

Se observarmos os dados do Sistema de Informação e Comunicação Conselho de


Arquitetura e Urbanismo para o ano de 2015, veremos que os profissionais da área estão
concentrados na região Sudeste e Sul, enquanto as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste

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concentram, respectivamente, 3,69%, 12,56% e 8,04% dos Arquitetos e Urbanistas
atuantes.

Sobre a Região Centro-Oeste, o Distrito Federal é a Unidade Federativa com maior


quantitativo de profissionais, com 4.012 arquitetos e urbanistas, seguido por Goiás, com
2.706 profissionais, Mato Grosso do Sul, 2.106 profissionais e Mato Grosso, com 1.720.
Comparando a população dos estados com o número de arquitetos e urbanistas, conforme
Tabela 4, Goiás apresenta a pior relação arquitetos e urbanistas/habitante, com a marca de
4,09 arquitetos a cada 10 mil habitantes, enquanto Brasília apresenta quase 10 arquitetos e
urbanistas a cada 10 mil habitantes.

Distrito Goiás Mato Mato Grosso do


Federal Grosso Sul
Nº de Arquitetos e Urbanistas 4012 2706 1720 2106
População 2914830 6610681 3265486 2499341
(nº de habitantes)
Arquitetos e Urbanistas / 10 mil 13,76 4,09 5,27 8,43
habitantes
Tabela 4: Relação de arquitetos e urbanistas/10 mil habitantes nos estados do Centro-Oeste
Fonte: Elaborado pelos autores com base do Sistema de Informação e Comunicação do CAU
(SICCAU, 2015) e a Estimativa da População para o ano de 2015 feita pelo IBGE, 2016.

Observando o território goiano, percebemos que a distribuição dos arquitetos e urbanistas


também apresenta grandes distorções, com vários municípios que não possuem
profissionais da área, outra grande parte que não conta com número de profissionais
suficientes para atender adequadamente sua população, e muitos não contam com nenhum
profissional, enquanto que Goiânia, capital do Estado, apresenta a maior concentração de
profissionais arquitetos e urbanistas. A distribuição dos arquitetos e urbanistas no estado de
Goiás pode ser melhor compreendida na figura abaixo.

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Figura 1: Mapa com distribuição dos Arquitetos e Urbanistas no Estado de Goiás
Fonte: Editado pelos autores com base em dados do IGEO, CAU (2016).

Considerando o arquiteto urbanista como o profissional responsável pela política urbana e


um dos profissionais aptos a prestarem serviços de assistência técnica, verificamos que a
maior parte dos municípios goianos com suas cidades pequenas e médias, não apresentam
mão de obra suficiente para cumprirem esses desafios.

Universidade e ATHIS

Embora o texto da lei 11.888/08 preveja a atuação das universidades na prestação de


assistência técnica à população, sabemos que não seria razoável atribuir a elas a inteira
responsabilidade pelo cumprimento desta tarefa. O espaço universitário é um espaço de
prática pedagógica em primeiro lugar. A extensão, ou mesmo a residência universitária
(mencionada na lei de AT), são capazes de promover um trabalho de contato com a
população que é bastante rico e pleno de potencialidades, mas que não pode substituir a
atuação profissional em sentido estrito. Esta última é carregada de uma série de condições
− sobretudo se desenvolvida no âmbito do serviço público − as quais a universidade é
incapaz de reproduzir: profissionais experientes inteiramente dedicados à prática

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arquitetônica (sem necessidade de dividir o tempo com a prática de ensino, pesquisa, etc.),
calendário de trabalho não regido por uma lógica letiva ou acadêmica, etc.

Por outro lado, a universidade se mostra como um campo muito profícuo para o
desenvolvimento deste tipo de atividades, uma vez que os profissionais já formados (com
suas exceções) carregam consigo uma série de "vícios" advindos de uma prática
profissional que historicamente excluiu a maior parte da população de seu campo de
atuação, restringindo-se a atender as classes médias e altas. As universidades, por outro
lado, tem ou deveriam ter permanente contato com o exercício da crítica a este modelo e à
construção de referências alternativas, que podem ser experimentadas na tentativa de
cumprir com exigências previstas na lei 11.888 tais como a "busca de inovação tecnológica,
a formulação de metodologias de caráter participativo e a democratização do
conhecimento".

Podemos afirmar que, tal como prevê a lei 11.888, o mais adequado é que haja
complementaridade entre o trabalho profissional e a prática da extensão e da residência
universitária, de modo que as próprias universidades possam servir como difusoras das
melhores práticas, contribuindo para que elas possam ser conhecidas e desenvolvidas nos
municípios mais distantes dos grandes centros urbanos. Um bom exemplo desta tentativa é
a criação da residência em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), voltada especificamente para a questão da assistência técnica em habitação.

No caso da Cidade de Goiás, no entanto, as iniciativas têm sido restritas, por enquanto, ao
âmbito universitário, já que a prefeitura municipal conta com um corpo técnico
extremamente limitado (atualmente não há nenhum arquiteto em seu quadro) e nenhum
recurso destinado à habitação. A própria diretoria de habitação da prefeitura está vinculada
à secretaria de Assistência Social, o que revela o total descompasso no trato das políticas
urbanas a nível municipal. Esta é uma realidade que, certamente, se repete em milhares de
municípios brasileiros.

Uma experiência na cidade de Goiás

A experiência em desenvolvimento na cidade de Goiás surgiu da iniciativa de "disputa" de


edital específico para trabalhos com Habitação de Interesse Social do CAU-GO (Chamada
Pública de Apoio Institucional nº 04 de 2017). Um grupo de 5 docentes do curso de

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Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás - Regional Goiás se inscreveu a
partir de uma proposta de longo prazo articulada a uma outra de curto prazo: a proposta de
longo prazo era colocar em prática uma primeira experiência vinculada ao Laboratório de
Projetos (Labproj) da UFG-RG, laboratório este previsto no PPC do curso. A proposta de
curto prazo era esta experiência em si, em caráter de projeto piloto: desenvolvimento de 15
projetos de melhoria habitacional numa equipe de 5 docentes e 6 discentes bolsistas, na
perspectiva (esta não associada ao projeto submetido ao edital) de efetivar as obras com
recursos de programas habitacionais vigentes no âmbito dos governos municipal, estadual
ou federal.

Após contemplados pelo edital e selecionados os discentes bolsistas, iniciou-se um trabalho


de revisão bibliográfica e reuniões de formação a respeito do papel do arquiteto diante dos
problemas habitacionais das populações de baixa renda e de metodologias de processos
participativos de projeto. Paralelamente firmou-se um convênio com a Prefeitura Municipal
com o objetivo de buscar os recursos necessários à execução das obras, o que poderia
influenciar na escolha das famílias a serem contempladas (uma vez que cada programa
habitacional possui exigências específicas para seu beneficiários). Dadas as restrições de
quadro profissional da Prefeitura, este processo se estendeu bastante no tempo, tendo
acarretado importantes atrasos nos cronogramas de execução dos projetos. Somente
aproximadamente 3 meses após o início do projeto (previsto para um cronograma de 6
meses) é que foi possível um primeiro contato efetivo com as famílias indicadas pela
prefeitura. Durante estes três meses de atraso a equipe procurou experimentar
metodologias de processo participativo com famílias de conhecidos, deixando claro o caráter
experimental dessas ações, atitude que contribuiu significativamente para amenizar o
problema dos atrasos.

No presente momento as atividades de projeto se encontram em andamento. A metodologia


adotada consiste na articulação de diálogos e atividades com as famílias nas quais elas
exercitam a capacidade de olhar a casa de outras maneiras (envolvendo fotografia, por
exemplo) e ler representações mais técnicas (maquetes e desenhos). Este primeiro ciclo é
seguido por atividades de apresentação de propostas desenvolvidas na universidade, que
são apresentadas de maneira bastante aberta e com tempo suficiente para que possam ser
revistas a partir do retorno dados pelas famílias. Por fim, as intervenções sugeridas são
hierarquizadas e orçadas, com vistas a criar uma sequência que possa ser executada de

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acordo com o planejamento financeiro da família, contando com o crédito oriundo do
programa "Cartão Reforma", do governo do Estado de Goiás (crédito obtido a partir das
articulações da prefeitura municipal).

O trabalho, ainda em andamento, já demonstra que a diversidade de problemas


encontrados é grande mesmo em famílias que estão na mesma faixa de renda: problemas
estruturais na cobertura; rachaduras nas paredes; falta de ventilação adequada em alguns
ambientes; necessidade de ampliação; coabitação; falta de acessibilidade; problemas
sanitários e de higiene como a compulsão por acumular lixo dentro e fora de casa.

Figura 2: Fotos de moradias atendidas com problemas sanitários e de acessibilidade.


Fonte: Daniel Miranda e Juliana Lago (2016).
A diversidade e quantidade de problemas encontrados em cada uma das moradias e o
pouco recurso disponibilizado pelo Governo Estadual através do Cheque Moradia (3 mil
reais) pode transformar o sonho de um projeto de assistência técnica gratuita em uma
frustação de desejos que não saem do papel. É importante ressaltar então que, em casos
onde as famílias não têm a capacidade de poupar e planejar a reforma em etapas, é ainda
mais necessário que o Estado crie projetos e políticas para uma assistência continuada à
essas famílias.

Considerações Finais

As reflexões e a experiência apresentada revelam que a demanda por Assistência Técnica


para Habitação de Interesse Social no Brasil é enorme, com especial relevância para os
casos das cidades pequenas e médias. Mais uma vez constatamos que as possibilidades de
dar respostas aos problemas urbanos e habitacionais brasileiros estão bem servidas de
instrumentos no âmbito do aparato legal, mas carecem imensamente de efetivação prática,
recursos financeiros e vontade política. As desigualdades sócio-espaciais têm seus reflexos
na desigualdade da distribuição geográfica dos profissionais arquitetos-urbanistas, que se
concentram nos grandes centros urbanos e, dentro destes, atendem prioritariamente os

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bairros das elites, enquanto a maior parte da população acumula problemas de saúde,
segurança, mobilidade, etc., por carência de espaço urbano e arquitetônico de qualidade.

A mudança passa também pela formação do profissional arquiteto-urbanista, que precisa ter
enfoques mais voltados à solução dos problemas das populações de baixa renda. Isto pode
ser dinamizado pela realização de atividades de extensão, tais como a experimentada na
UFG-RG. É importante, contudo, ter ciência das limitações as quais estas experiências
estão sujeitas, uma vez que a dinâmica do trabalho na universidade muitas vezes se mostra
pouco compatível com a dinâmica demandada pelo universo das políticas públicas e da
realidade das famílias que necessitam de assistência técnica.

Referências Bibliográficas

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FÓRUM HABITAR 2017


Belo Horizonte/MG - de 08 a 10/11/2017.

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