EATWOT Pelos Muitos Caminhos de Deus V P
EATWOT Pelos Muitos Caminhos de Deus V P
EATWOT Pelos Muitos Caminhos de Deus V P
(organizador)
POR UMA
TEOLOGIA
PLANETÁRIA
POR UMA
TEOLOGIA
PLANETÁRIA
José Maria Vigil
(organizador)
POR UMA
TEOLOGIA
PLANETÁRIA
ASETT
EATWOT ãulinas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Por uma teologia planetária / José Maria Vigil, (organizador) ; [tradução Cacilda R.
Ferrante, Gilmar Saint’Clair Ribeiro e Vera Joscelyne]. - São Paulo: Paulinas, 2011.
Título original: Por los muchos caminos de Dios V : hacia una teologia planetaría.
Vários autores.
ISBN 978-85-356-2870-8
11-09066 CDD-261.2
Título original da obra: Por los muchos caminos de Dios V -H acia una teologia planetaría
© ASETT-LA (ASSOCIAÇÃO ECUMÊNICA DE TEÓLOGOS/AS
DO TERCEIRO MUNDO - REGIÃO AMÉRICA LATINA)
Ia edição-2 0 1 1
ASETT/EATWOT Paulinas
Associação Ecumênica de Teólogos/as do Rua Dona Inácia Uchoa, 62
Terceiro Mundo 04110-020 - São Paulo - SP (Brasil)
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© Pia Sociedade Filhas de São Paulo—São Paulo, 2011
Sumário
A presentação............................................................................................... 11
José Maria Vigil
A consulta ....................................................................................................17
As RESPOSTAS.................................................................................................45
S er um cristão- h in d u ............................................................................... 47
Michael Amaladoss
C onclusão aberta....................................................................................279
José Maria Vigil, Luiza E. Tomita e Marcelo Barros
Os c o a u to r e s ............................................................................................ 285
Convite:
Caminhando rumo a uma
teologia planetária,
aberta e livre
Este livro está escrito para todos aqueles que estão inquietos
sobre o futuro da teologia: Para onde vai? Para onde pode ir?
Para onde parece que irá?
O resultado da pesquisa que este livro apresenta, dirigida a
pessoas dedicadas à teologia em todo o mundo e nas diferentes
religiões mundiais, faz um balanço não só positivo, mas entu-
siasmante: em que pese o que muitos acreditam, a teologia se
move, está evoluindo, se arrisca, se autoquestiona, se pergunta
sobre as transformações que tem de realizar para ser teologia
de hoje, e teologia do futuro.
Como disciplina religiosa que é, sempre esteve tingida por
uma auréola de eternidade, de indiscutibilidade, de imutabili
dade. Parecia que a teologia - ciência sagrada! - não poderia
mudar de sua figura clássica como patrimônio das religiões e
das Igrejas. Mas isso acabou. Faz décadas que alguns pioneiros
fizeram a proposta de uma world theology, uma teologia mun
dial - hoje diríamos uma “teologia planetária”, para incluir não
apenas o mundo humano mas também o mundo cósmico, a Gaia.
Era a proposta de avançar rumo a uma teologia que saísse do
gueto de sua própria confissão religiosa, para ser capaz de falar
a toda a sociedade, esta sociedade atual que cada vez é mais
Convite: Caminhando rumo a uma teologia planetária. aberta e uvbe
1 ASETT. Por los muchos caminos de Dios. Desafios dei pluralismo religioso a la
teologia de la liberación. Quito: Verbo Divino, 2003.187p. (Colección “Tiempo
Axial”, n. 1.)
2 ASETT. Pelos muitos caminhos de Deus. Desafios do pluralismo religioso à
teologia da libertação. Goiás: Rede, 2003. 160p.
3 BARROS, M.; TOMITA, L. E.; VIGIL, J. M. (a cura). I volti dei Dio liberatore.
Le sfide dei pluralismo religioso. Bologna: Editrice Missionária Italiana, 2004.
160p. Veja: <http://www.emi.it/schede/1509-3.html>.
4 VIGIL, J. M.; TOMITA, L. E.; BARROS, M. (orgs.). Por los muchos caminos de
Dios. Hacia una teologia cristianay latinoamericana dei pluralismo religioso.
Quito: Abya Yala, 2004. 239p. (Coleccíon “Tiempo Axial”, n. 3.)
A presentação
m
Ponto de partida:
Rumo a uma teologia
pluralista, inter-religiosa,
laica, planetária...
O futuro da teologia
como ponto de
partida de nossa pesquisa
BI
Comissão Teológica Internacional ASETT/EATWOT
wa
P onto de partida
14 Os monges beneditinos Henri Le Saux e Bede Griffiths são talvez os nomes mais
reconhecidos neste campo.
(omissão Teoláqia Internacional ASETT/IATWOf
ls “Uma teologia não pode ser ao mesmo tempo cristã, muçulmana e hindu. Tem
de ser uma coisa ou outra. Com outras palavras, toda teologia é “confessional”,
no melhor sentido da palavra, ou não é absolutamente nada. Aqui, o atributo
‘confessional’ indica a adesão de fé da pessoa ou da comunidade que é o tema
do fazer teológico”: DUPUIS, J. Rumo a uma teologia cristã do pluralismo
religioso. São Paulo: Paulinas, 1999. p. 19. Gesii Cristo incontro alie réligioni.
Assisi: Citadella editrice, 1991. p. 345-347.
Não entramos aqui no tema da inevitabilidade atual de certa inter-religiosidade,
por uma espécie de “osmose sociorreligiosa” na sociedade plural atual. “Em
uma sociedade pluralista como a da índia, a religião autêntica implica necessa
riamente uma relação com as outras religiões [...]; em uma palavra: ser religioso
é ser inter-religioso”: cf. Declaración de la Asociación Teológica Indiana, n. 36,
citado por J. DUPUIS, Verso una teologia cristiana dei pluralismo religioso,
Brescia: Queriniana, 1997, p. 19-20. Cf. também: PHAN, P. Being Religious
Interreligiously. Asian Perspectives on Interfaith Dialogue. Maryknoll: Orbis,
2004.
17 Michael AMALADOSS expressa e matiza sua própria experiência pessoal logo
adiante, no artigo “Ser um cristão-hindu”.
18 Não é este o lugar para dirimir tal assunto.
P onto de partida
21 Embora falemos de “teologia” para nos entendermos, é claro que estamos nos
referindo a essa reflexão que tem esse nome no Cristianismo, mas que tem outros
nomes e outras características em outras religiões.
22 Não damos ao prefixo “trans” o sentido de superação e abandono da confissão
religiosa, mas só o de libertação das amarras que a vinculam em exclusiva.
23 Insistimos que não se trata de uma teologia que abandona a confessionalidade,
e sim que a transcende até assumi-la em pluralidade.
24 Por exemplo: a formulação teológica da visão de cada religião, a elaboração de
seus correspondentes “tratados teológicos” destinados, por exemplo, à formação
teológica dentro de cada religião... Essas formas teológicas, confessionais e
particularistas por natureza, sempre serão necessárias dentro de cada religião e
sempre terão cabimento. A teologia ampla, aberta, à altura da evolução religio
sa da sociedade, a teologia de vanguarda, cujas fronteiras estamos tratando de
discernir, não nega tais formas menores, com as quais se terá de conviver.
Pomo DE PARTIDA
mm
Comissão Teológica internacional ASETT/EATWOT
26 Para uma visão sintética da mesma recomendamos: CORBÍ, Marià. Religión sin
religión. Madrid: PPC, 1996 - disponível em: <servicioskoinonia.org/biblioteca>.
27 Utilizamos este neologismo para distingui-lo de pós-religioso e não dar lugar a
equívocos: pode-se estar para além das religiões que aqui chamamos “agrárias”,
sem deixar de ser muito religioso no sentido profundo.
P onto ot partida
28 Embora não seja uma palavra feliz, a utilizamos, por estar consagrada pelo uso.
29 Os analistas e fenomenólogos da religião insistem em que não é que a religio
sidade esteja evoluindo ou se transformando, mas que está em uma profunda
“metamorfose” (Cf. MARTÍN VELASCO, J. Metamorfosis de lo sagrado y
futuro dei cristianismoç. Santander: Sal Terrae, 1999). Ao contrário, as religiões
mostram sua história sempitema, de sua “indefectibilidade até o fim dos séculos”
e da fidelidade inquestionável que devem a suas origens.
30 Que foi o que provocou a transformação plural da sociedade.
31 Dizemos isso no sentido técnico com que emprega esta palavra a citada inter
pretação antropológico-cultural.
Comissão Teológica Internacional ASETT/EATWQT
32 Insistimos, como já dissemos em nota anterior, que esta nova forma maior da
teologia não elimina nem substitui as teologias menores, sempre necessárias, isto
é, a teologia interior a cada confissão, a teologia da educação teórica de cada
religião ou confissão, em cada um dos ramos daquilo que seria seu “universa
theologia”.
33 Cf. o programa de Teologia pública do Instituto Humanitas da Universidade
Jesuíta de São Leopoldo (Unisinos). Esta teologia pública, originada no mundo
P onto de partida
m
Comissão Teológica Internacional ASETT/EATWOT
39 Ibid.
40 Cf. supra.
B
Comissão Teológica Internacional ASETT/EATWOT
M ic h a el A m a l a d o ss
M a r c e l o B a rro s
LEBEAU, Paul. Etty Hillesum, un itinéraire spirituel. Namur: Ed. Racine, 1998.
p. 110.
m
Marcelo Barros
7 Cf. FABRI DOS SANTOS, Márcio (org.). Teologia e novos paradigmas. São
Paulo: Soter/Paulus, 1998. CORBI, Marià. Indagacions sobre elfutur. Barcelona:
Centre Català de Prospectiva, 1991. Religión sin religión. Madrid: PPC, 1996.
ROBLES, J. Amando. Repensar la religión. De la creencia al conocimiento,
San José de Costa Rica: EUNA, 2001. E outros: BINGEMER, Maria Clara L.
(org.). Violência e religião; três religiões em confronto e diálogo, Rio de Janeiro:
Ed. PUC-Rio/LoyoIa, 2002. KURTZ, Lester R. Gods in the Global Village. The
World's Religions in SociologicalPerspective. Thousand Oaks, Calif.: Pine Forge
Press, 1995. USA, London, New Delhi. Sobre a crise no Cristianismo: W . AA.
Cristianismo em crise? Revista Concilium 311 (2005/3).
8 Os Encontros Intereclesiais de Comunidades de Base no Brasil são encontros
nacionais de CEBs. Desde a década de 1970, tinham-se constituído como ecu-
Amtell TRANSPARÊNCIA DO A bSOLUTO.TeOIOGIA PARA UMA ESPIRITUALIDADETRANSREU6I0SA
Esboços fragmentados de
teologias transreligiosas
Mesmo se não podemos dizer que existe “uma” teologia
transreligiosa elaborada e comum a grupos ou entidades que
atuam nesta área, é possível, sim, afirmar que, nos eventos
macroecumênicos e em entidades consagradas a este assunto
existem elementos teológicos que podem ser reunidos no esbo
ço de uma teologia interespiritual (o termo é impróprio, mas
expressa uma relação entre tradições espirituais diversas) que
pode também ser transreligiosa (no sentido de unir elementos
de várias religiões). Tradicionalmente, a teologia aprofunda
a expressão de uma fé que é adesão a Deus em um caminho
concreto. Como é expressão de um engajamento que é sempre
pessoal e comunitário, a teologia comumente é cristã evangélica
ou católica, muçulmana sunita ou budista tibetana. Quanto mais
localizada e inserida, mais possível de se aprofundar. Por causa
A FRÁGIL TRANSPARÊNCIA DO ABSOLUTO.TEOLOGIA PARA UMA ESPIRITUALIDADE TRANSREUGIOSA
m
Marcelo Barros
budistas elas podem ser inter-religiosas, podem ser transreligiosas, além de serem
interculturais. Uma busca de convergência entre experiências espirituais Xavante
e Guarani não é em si inter-religiosa ou transreligiosa, já que elas têm por trás
uma tradição cultural e espiritual, mas não uma ou duas religiões organizadas e
estruturadas como religiões.
AFBÁ61Í TRANSPARÊNCIA DO ABSOLUTO.TEOLOGIA PARA UMA ESPIRITUALIDADE TRANSRELIGIOSA
m
A frágil transparência do A bsoluto.T eologia para uma espiritualidade transreligiosa
m
Martelo Barros
22 HESCHEL, A. O homem não está só. Sâo Paulo: Paulus, 1974. p. 16.
Teologia e pluralismo religioso.
Questões metodológicas
A genor B righenti
I. Pluralismo e teologia
Segundo Mircea Eliade, a maior descoberta do século XX
foi a existência das culturas1 e, com ela, a descoberta da reli
gião do outro, a alma de sua cultura. Em decorrência, pouco a
pouco foram adquirindo carta de cidadania a pluriculturalidade
e a plurirreligiosidade, com conseqüências irredutíveis para os
paradigmas da racionalidade moderna - para as ciências em
geral, incluída a teologia.
A conseqüência mediata para a ciência teológica é sua re-
fundação epistemológica e metodológica, certamente a mais
desafiante tarefa no futuro próximo da teologia, mas já em franca
atividade. Tarefa esta que começa pela reformulação do próprio
conceito de teologia. A refundação de sua sintaxe pressupõe a
refundação de sua semântica.
Durante muito tempo, o termo “teologia”, nos círculos
cristãos, foi considerado como propriedade exclusiva do
m
Agenor Briqhenti
m
Teologia e hjurausmo reugioso. Questões MEioooidacAS
6 Ibid., p. 124.
7 Ibid., p. 125. Numa perspectiva similar, alguns teólogos europeus e norte-ameri
canos, como H. Küng, J. Moltman, Tracy, Fox, assumindo o vazio de sujeito no
contexto de Pós-Modemidade, têm postulado a necessidade de uma refundação
da teologia numa teologia não confessional, mas ecumênica e macroecumênica,
ecológica e holística. Sobre o paradigma “crítico-ecumênico” de H. Küng, ver:
KÜNG, H. Teologia para Ia postmodernidad. Fundamentación ecumênica.
Madrid: Alianza Editorial, 1989. Ver também: A la búsqueda de un ethos básico
universal de las grandes religiones. Concilium 228 (1990) 289-309. Sobre a pos
tura de Tracy, ver: TRACY, D. Más allá dei relativismo y dei fundamentalismo?
La hermenêutica y el nuevo ecumenismo. Concilium 240 (1992) 143-153. Dar
nombre al presente. Concilium 227 (1990) 81-107.
IÜ9
Agenor Briqhenti
2. Confessionalidade e teologia
Em primeiro lugar, do lado da religião, um metarrelato trans-
confessional mundial tipo “teologia da religião comparada” ou
“teologia mundial”, construído por todos, esbarra no fato da
existência de “fés religiosas”,8 que se distinguem por seu con
teúdo próprio, o que faz com que a diversidade dos conteúdos
das várias expressões de fé dê origem, inevitavelmente, a uma
diversidade de teologias confessionais. Como discurso regrado
e normatizado da fé, a teologia não pode deixar de ser confes
sional, uma vez que o conteúdo próprio de cada experiência
religiosa se dá na adesão de fé da pessoa ou da comunidade,
e aqui se constitui, em última instância, o objeto da teologia.9
É evidente que o caráter confessional de toda teologia não
se esgota na própria confessionalidade. Ao contrário, a con
fessionalidade própria se explicitará melhor na medida em
que estiver aberta à totalidade da experiência religiosa da hu
manidade. O confessional, sem um horizonte autenticamente
universal, desemboca em um confessionalismo, caminho para
o fundamentalismo, incapaz de reconhecer e de se reconhecer
3. Culturalidade e teologia
Do lado da cultura, um metarrelato confessional transcultural
mundial esbarra na pluriculturalidade das experiências religio
sas das diversas confissões religiosas, até mesmo no interior de
uma mesma confessionalidade. Uma pretensa teologia confessio
nal transcultural não deixaria de ser uma teologia monocultural,
fruto da universalização de uma determinada particularidade,
Considerações finais
Tendo presente o que acabamos de expor, tudo parece indicar
que, do lado da religião, é problemática uma teologia transcon-
fessional, mas possível e necessária uma teologia pluriconfessio-
nal. Por isso, ainda que o termo “teologia” seja de origem cristã,
do ponto de vista religioso, quando hebreus, muçulmanos ou
hindus constroem a própria interpretação da fé, seja em relação
à própria confissão, seja em relação ao pluralismo das tradições
religiosas, também fazem teologia. E dado que, do ponto de
vista cultural, essas interpretações intraconfessionais, incluída a
cristã, são feitas desde matrizes culturais diversas, mergulhamos
na inevitabilidade de uma teologia, além de pluriconfessional,
também pluricultural.
E d m u n d K ee - F o o k C h ia
A te o lo g ia in te r c o n f e s s io n a l: um oximoro!
Comecemos, então, com a razão pela qual a teologia inter
confessional parece uma contradição em termos. A teologia,
se aceitarmos a definição tradicional anselmiana, é “a fé em
busca de compreensão”. Ela pressupõe fé. Essa fé é, de um
modo geral, paroquial, um produto de percepções confessionais
da vida e da Realidade Ultima. Cada comunidade religiosa tem
sHa fé específica. Essa fé é algo compartilhado apenas pelos
membros do grupo, a saber, pelos cosseguidores. Fora disso a
fé nãodaz sentido ou pode até parecer um absurdo. Acrescente
o prefixo “inter” à palavra religião e temos o equivalente a algo
entre religiões ou em meio a religiões. Assim, “inter-religioso”
implica o cruzamento de tradições religiosas para desenvolver
A TEOLOGIA INTERCONFESSIONAL É POSSÍVEL?
T eo lo g ia in te r c o n f e s s io n a l: boa ideia!
Não me interpretem mal. Apesar das dificuldades, não estou
de forma alguma sugerindo que a ideia de uma teologia intercon
fessional é ruim. Pelo contrário, acho que é uma ideia fabulosa
e laudável. É especialmente bem-vinda em uma época em que
as religiões continuam a ser lançadas umas contra as outras.
Além disso, com relação ao Cristianismo, isso parece muito uma
progressão lógica em sua teologia de outras religiões. Se em
um determinado momento o Cristianismo viu as outras religiões
como repositórios do mal esperando para serem conquistadas
e depois, mais tarde, como versões incompletas da verdade à
espera de complementação, agora estamos no estágio em que
parece que os cristãos aceitam outras religiões como sendo
basicamente verdadeiras mesmo que a questão de isso ser uma
questão de fato (de facto) ou de princípio (de iuré) ainda seja
tema para muitos debates.2 Visto nesse contexto, o próprio ato
de desenvolver uma teologia interconfessional sugere que não
só a verdade dessas outras religiões já não está em questão, mas
também que nós as vemos como locus theologicus para nossa
própria teologia cristã. De certa forma, é um passo adiante, na
2 Veja a Declaração do Vaticano Dominus Iesus; On the unicity and salvific univer-
sality of Jesus Christ and the Church. Veja também: DUPUIS, Jacques. Towards
a Christian Theology ofReligious Pluralism. Maryknoll: Orbis, 1997. p. 9-13.
KNITTER, Paul. Introducing Theologies ofReligions. Maryknoll: Orbis, 2002.
Edmund Kee-Fook Chia
T e o lo g ia in te r c o n f e s s io n a ll teoria e método
Uma vez mais, não me interpretem mal! Não estou de forma
alguma sugerindo que a teologia interconfessional esteja erra
da. Na verdade, acho até que ela é absolutamente necessária,
especialmente considerando a situação patética das relações
interconfessionais na sociedade atual.4 Mas, em vez de imagi
nar a teologia interconfessional como um produto da reflexão
teológica, eu gostaria de considerá-la também como um pro
cesso. Ela é tanto um método quanto uma teoria. A teologia
interconfessional, portanto, é ao mesmo tempo uma metodolo
gia para fazer teologia e uma teoria para captar a diversidade
nas várias religiões. Como teoria e método ao mesmo tempo, a
E9
EdmundKee-FookChia
A m ín E g ea
7 Ibid., 21:1.
8 Ibid., 94:3.
9 Oraciones e Meditaciones, p. 236.
10 Ibid., p. 276.
R!Ef
Contribuição Bakâ' í mm uma teologia "transreugiosa'
As “Manifestações de Deus”
Chegados a este ponto, será oportuno introduzir no esque
ma um elemento que é pedra angular na teologia bahá’í. Deus
intervém na história, mas não de forma direta:
RRR
Amln Eaea
As religiões
Por meio dessas teofanias, Deus se revela à humanidade para
oferecer o guia que aproxime o ser humano do cumprimento
de sua dupla finalidade ontológica: conhecer a Deus e fazer
avançar uma civilização em contínuo progresso.24 Com pala
vras de Bahá’u’lláh, os Enviados de Deus foram encomendados
com a missão de alimentar “as árvores da existência humana
com as águas vivas da retidão e compreensão, para que possa
surgir deles aquilo que Deus depositou em seu foro íntimo”,2S
para comunicar ao mundo “os mistérios do Ser imutável” e “as
22 Ibid.,p. 117.
23 Kitáb-i-Iqán, p. 118.
24 “Deus tem dois propósitos ao enviar Suas [Manifestações] aos homens. O
primeiro é livrar os Alhos dos homens da escuridão da ignorância e guiá-los à
luz do verdadeiro entendimento. O segundo é garantir a paz e a tranqüilidade
do gênero humano e providenciar todos os meios pelos quais estas possam ser
estabelecidas.” Pasajes de los Escritos de Bahá ’u ’lláh, 34:5.
25 Kitáb-i-Aqdas, p. 16.
Amln Eqea
* * *
São esses, pois, alguns dos elementos com que uma teologia
bahá’í pode contribuir com os esforços por entender a pluralida
de religiosa e para dar vigor ao diálogo inter-religioso. Assumi
dos não implica necessariamente “o abandono da fé no tocante
às verdades fundamentais de nenhum dos grandes sistemas de
crenças mundiais”,39mas sim entender que a verdade religiosa é
relativa, que a Verdade é uma, mas que suas manifestações são
múltiplas, e que, portanto, qualquer pretensão de exclusividade
ou finalidade atenta, na realidade, contra a própria definição de
religião e contra os princípios espirituais de camaradagem e pro
gresso que promulga: “Cuidado, não aconteça que a convertais
[a religião] em causa de dissensão entre vós. Estai firmemente
assentados, como uma montanha inabalável, na Causa de vosso
Senhor, o Forte, o Amoroso”.40
3S Ibid.
39 ibid.
40 Pasajes de los Escritos de Bahá 'u ’lláh, 70:3.
Bases para uma teologia
pluralista multiconfessional
P aul F. K n it t e r
3 TILLICH, Paul. The Significance of the History of Religions for the Systematic
Theologian. In: BRAUER, Jerald C. (org.) The Future o f Religions. New York:
Harper & Row, 1966. p. 86-87. Também: TILLICH, Paul. What is Religion?
Trad. de James Luther Adams. New York: Harper & Row, 1969. p. 88-92.
4 TILLICH, What is Religion?, p. 15.
Paul F.Knitter
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Bases para uma teologia pluralista multicokifessional
D avid R . L oy
BH9I
Reflexões budistas sobre a teologia interconfessional
RB
Reflexões budistas sobre a teologia interconfessional
L a u ren ti M a g esa
A inclusividade da abordagem
africana nativa
Essa percepção prevê uma abordagem mais inclusiva a Deus,
que respeita ao mesmo tempo a majestade de Deus e a limita
ção humana, especialmente com referência ao “conhecimento”
humano de Deus. Ela aceita maneiras diferentes, mas válidas,
da presença e da ação divinas no mundo como um dado e pode
permitir mais facilmente, como na verdade permite, sem uma
Laurenti Maqesa
tm
T em poa mebconf essional: a contribuição nativa africana para o debate
Conclusão
Embora haja muita verdade na afirmação de que a teologia é
sempre “confessional” em virtude da identidade do(a) teólogo(a)
e da necessidade de ser responsável pela fé que ele(ela) mantém,
isso não significa necessariamente que a teologia precisa ser um
processo ou sistema ideológico fechado. Se a percepção africa
na nativa da crença e do processo religioso tem qualquer valor
nessa questão, é demonstrar que o objetivo total da teologia,
especialmente em nosso mundo multirreligioso, não é apenas
falar sobre Deus e explicá-lo, mas também ouvir e aprender
com aquilo que outros dizem sobre essa Realidade última.
Um serviço importante que a teologia pode oferecer ao mundo
moderno é levar a sério sua natureza de “palavra” ou história
sobre Deus, uma história que deve ser compartilhada para
que enriqueça e seja enriquecida. Essa é a essência do diálogo
teológico inter-religioso, e a abordagem africana a Deus capta
essa essência muito bem.
“Religiões em geral?”
r
Ja c o b N e u sn e r
T e r e sa O k u r e
m
A TEOLOGIA INTERCONFESSIOMAL í POSSÍVEL? S e NÃO. ROR QÜÊ?
Características da teologia
interconfessional: Jesus com o
mestre e modelo
O propósito do precedente é que as próprias Escrituras, o
“Manual de Instruções de Deus”, incitam-nos a fazer uma teo
logia integrativa, uma que conduziria a raça humana a conhecer
Teresa Okure
e celebrar o fato de que Deus fez por nós na luta contra o pecado
e o mal aquilo que nós possivelmente não poderíamos fazer
sozinhos. Jesus veio para proclamar a bondade de Deus ou esta
libertação, para ser ele próprio as boas-novas (Rm 1,1-4). Tendo
terminado sua missão na terra, ele pediu a seus seguidores que
não começassem a agir sozinhos, mas que esperassem até que
fossem transformados e fortalecidos pelo Espírito Santo a fim
de irem proclamar suas boas-novas aos confins do planeta (At
1,4); e fazê-lo da mesma forma que ele o proclamou - totalmente
grátis (Jo 20,21-23). A teologia que se desenvolveu desse manda
to ao longo dos anos talvez não tenha permanecido sempre fiel
ao seu foco universalista e mandato. Talvez seja esse “desvio
do Evangelho”, para citar a frase de João Paulo II, que tornou
urgente para nós, no alvorecer do século XXI, buscar “fazer-
-se ao largo para a pesca” (“duc in altum”) para uma teologia
interconfessional integrativa. Começar a pegar o peixe em
plena luz do dia porque é Jesus, não os seres humanos, quem
está mandando os peixes, uma operação de proclamação dos
Evangelhos (ver Lc 5,1-113).
Se é verdade que Jesus é o Verbo-Deus encarnado em nos
so mundo, que veio por causa da humanidade como um todo,
não somente para os crentes, então precisamos vê-lo e a seu
exemplo pelo que significam no desenvolvimento da teologia
interconfessional. Uma teologia que ajudaria toda a humanida
de a se unir para trabalhar e fazer do mundo um lugar melhor
para se viver, onde nenhum de seus membros (da raça humana)
de Deus para com ele e para com eles também (Mc 5,1-20). Pois,
enquanto o homem foi possuído, a cidade toda esteve sitiada
por ele. Quando ele foi liberado, a cidade toda foi liberada, e
todos se tornaram recipientes e ouvintes das boas-novas. Esses
exemplos também poderiam ser multiplicados.
De modo geral, é intrigante que o critério para o julgamento
final que vai determinar se alguém é contado entre as ovelhas
que passarão para a vida eterna ou que irão para o fogo eterno
seja como ele satisfaz as necessidades, as necessidades básicas
de cada ser humano. É como ser humano (filho do homem, que
em meu idioma ibibio se diz “Eyen Owo”, literalmente: “o filho
de um ser humano”) que Jesus vai julgar: eu, um ser humano,
estava com fome e você me deu de comer; eu tinha sede e você
me deu de beber, eu estava nu e você me vestiu, doente e na
prisão e você me visitou”. Então, ele acrescentou: “Na medi
da em que você o fez [ou se recusou a fazer] a algum desses
pequeninos, você o fez [ou se recusou a fazer] a mim” (cf. Mt
25,31-46).4 Aqui temos uma teologia que torna a reunir e está
situada na própria atividade sem fim de Deus de sustentação
da vida, que Deus concedeu em primeiro lugar. É totalmente
oposta à teologia do fundamentalismo, que mata, destrói a vida
- que Deus deu livremente com tanto amor-, ironicamente em
nome de Deus e da religião. No entanto, a religião, pelo seu
próprio nome, é aquilo que reata as pessoas juntas ou que faz
as pessoas escolherem de novo pertencer e reivindicar umas às
outras como partes delas mesmas.5
4 Ver mais sobre isso em: OKURE, T. Bibel text 4: verpflichtet zur Gastfreundschaft
zu Gast in Nigéria. Bibel Heute 4 (2004) 20-21. Original em inglês: Hospitality:
a task exegesis o f Matthew 25,31-46).
5 Há pouco tempo eu examinei isso em “Challenges o f reconciliation for the reli-
gious in África”, USG/UISG Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação
[JPIC] como parte do processo de participação no Segundo Sínodo Africano,
“The Church in service to reconciliation, justice and peace: ‘Vós sois o sal da
ATKHOGIA INTHKOHfESSIOHAL ( POSSÍVEL? Se NÃO. POR QUÊ?
Caminho a seguir
Estas breves reflexões estabelecem uma razão fundamental
dada por Deus para uma teologia interconfessional. Mas como
tudo isso se conecta com a necessidade de tornar a Terra um
lugar mais habitável para os humanos e tratar do problema da
injustiça para com a própria Terra, os pobres e outros setores
da humanidade (aqueles do chamado dois terços do mundo,
as mulheres e inválidos da sociedade)? Se todos aqueles que
acreditam em Deus procurassem em suas diferentes tradições
de crença descobrir um Deus que se importe com os pobres e
os humildes, o qual fez e sustenta a Terra porque Deus a ama
e a mantém (Sb 11,24-12,2; também Juliana de Norwich, Re
velai ions o f Divine Love), então os povos de todas as crenças
fariam uma teologia que seria verdadeiramente integrada, não
K5
Teresa Okure
6 Sobre o tema, consultar a obra de Cletus WESSELS, The Holy Web; Church and
the New Universe Story (Maryknoll: Orbis, 2000), onde o autor ressalta a interco
nectividade de todas as coisas criadas como reveladas pela ciência contemporânea
e enfatiza a missão da Igreja para alimentar essa “rede de relacionamentos” em
que a humanidade pode se encontrar como parte de um todo surpreendente.
A TEOLOGIA INTERCONFESSIONAL ÉPOSSÍVEL? S e NÃO. POB QUÊ?
Irfa n A. O m a r
1 FREI, Hans. Types o f Christian Theology. New Haven: Yale University Press,
1992.
Teologia ihierconeessional mundial do plurausmo religioso: uma perspectiva muçulmana
m
Irfan A.Omar
4 A citação de Martin Luther King é a seguinte: “Cada nação precisa, agora, desen
volver uma lealdade dominante para com a humanidade como um todo a fim de
preservar o melhor em suas sociedades individuais”. Ver: LUTHER KING JR.,
Martin. The Trumpet o f Conscience. New York: Harper & Row, 1967. p. 190.
EB
Teologia da libertação e
libertação da teologia
R a im o n P a n ik k a r
IBI
Raimon Panikkar
Peter C. Phan
m
' CRISTOLOGIA INTERCONFESSIONAL: POSSIBILIDADE OU ASPIRAÇÃO?
Cristologia interconfessional:
possibilidade, limites, conveniência
A possibilidade de uma cristologia interconfessional como
necessidade apoia-se iio tipo de diálogo inter-religioso no qual
os participantes respeitam genuinamente as diferenças e tentam
compreender as religiões diferentes da própria como elas se
apresentam, em seus próprios termos, e evitam interpretá-las
através de sua própria visão de sistema de categorias e crenças. É
claro que essas diferenças não impedem a existência de atributos
comuns, ou ao menos análogos entre religiões, mas não devem
ser ocultadas ou minimizadas e muito menos homogeneizadas
como simplesmente várias maneiras de falar sobre Deus, ou o
Supremo, ou o Real.
Com relação à possibilidade de uma cristologia intercon
fessional, pode-se desde logo objetar que a “cristologia”, por
definição, é uma categoria cristã, portanto chamar a iniciativa
confessional proposta de “cristologia” já viola o princípio her
menêutico citado. A objeção é válida, mas pode ser removida
pelas seguintes considerações. Em primeiro lugar, “Cristo”,
como termo e conceito, per se não se restringe ao Cristianismo.
É encontrado no Judaísmo (o “messias”), e a figura de Jesus
também está presente no Alcorão. Por conseguinte, ao menos
com relação ao Judaísmo e ao Islamismo, uma cristologia in
terconfessional seria justificada e não constituiria, à primeira
vista, uma impossibilidade. Em segundo lugar, é possível falar
PeterC.Phan
1 Sobre a distinção feita por LONERGAN, ver sua obra Method in Theology (New
York: Herder and Herder, 1972. p. 132-133).
RS
CmSTOtOGIAihterconfessiohal: possibilidadeou aspiracao?
USB
Cristolociaihterconfessiowal: possibilidade ou aspiração?
m
PeterC.Phan
s Isto é particularmente verdadeiro com relação à Coréia. Ver: KIM, The Holy
Spirit in the World, p. 112-121.
PetetC.Phan
A lo y siu s P ieris
6 Ver: PIERIS, A. Asian reality and the Christian option: a plea for a paradigm
shift in Christian education in Asia. Dialogue, NS (Colombo), vol. xxxii-xxxiii,
2005-6, [158-196],171-177.
AloysiusPieris
2. Singularidade do Cristianismo:“Jesus
com o o pacto de defesa com os pobres”
Sempre que os clientes do Demônio-Dinheiro ameaçam
substituir a plenitude, o pluralismo e o prazer respectivamente
com a penúria, a plutocracia e a dor, através da exploração e
do entesouramento, Jeová não pode permanecer neutro, já que
é obrigado por um pacto a identificar-se com as vítimas dessa
opção pecadora: o pacto com os escravosfugitivos do Egito rati
ficado no Sinai e renovado por Cristo no Calvário. Não constitui
nenhuma surpresa que a justiça clamada pelos pobres em pelo
menos quarenta dos salmos, como explica Lyonnet, seja um
apelo ao amor efidelidade de Deus com os pobres (pactuai) em
F idelidade e imparcialidade na comunidade interconfessional: rumo a uma teologia de pluralismo religioso
9 KNITTER, Paul. “Is God’s covenant with victims a covenant against oppressors?
Aloysius Pieris and the uniqueness of Christ”. In: CRUSZ, R.; FERNANDO,
M.; TILAKARATNE, A. Encounters with the Word; Essays to Honour Aloysius
Pieris. Colombo: EISD, 2004. p. 195-208.
F idelidade e imparcialidade na comunidade interconfessional: rumo a uma teologia de pluralismo religioso
B8
Aloysius Pieris
11 PIERIS, G od’s Reigrtfor God’s Poor, p. 83-89. El Reino de Dios para los pobres
de Dios, p. 103-109.
12 Quando questionado por Ann Alden (Religion and Dialogue in Late Modemity;
A Constructive Contribution to a Christian Spirituality Informed by Buddhist-
christian Encounters. Lund: Sociologiska lnstitutionen, 2004. p. 123), Amaladoss,
em lugar de fornecer prova de contra-aigumentação, simplesmente rejeitou meu
desafio, dizendo que eu estava brincando com a palavra “pobre”, quando, na ver
dade, o termo “pobre” não é minha invenção, mas um termo geral recorrentemente
usado nas Escrituras hebraicas e cristãs (como os trabalhos escritos de George
Soares Prabhu, um estudioso delas, já demonstraram amplamente), o qual me
esforcei em explicar claramente em termos de todas as categorias concretas de
pobres mencionados nas Escrituras, e com tanta insistência e clareza em tantos
de meus escritos, que “brincar com a palavra” (que Alden também repete sem
justificar sua afirmação) é, no mínimo, uma resposta capenga ao meu desafio.
Ainda estou esperando pacientemente por uma tentativa verdadeira de uma
contrademonstraçâo!
A experiência religiosa como
fundamento para uma possível
teologia interconfessional
R ic h a r d R en sh a w
LONERGAN, Bemard. Method in theology. New York: Herder and Herder, 1972.
A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA COMO FUNDAMENTO PARA UMA POSSÍVELTEOLOGIA INTERCONFESSIONAL
outro lado, também está “além” dessa realidade atual, que é tão
esmagadora para a maioria da humanidade. O crente sempre
corre o risco de abandonar a abertura para a transcendência ao
abraçar uma expressão reduzida da religião. Assim fazendo, a
essência da experiência religiosa fica perdida.
Ao entender a experiência religiosa dessa forma, ou seja,
como uma busca pela transcendência final que repousa no cerne
de nosso questionamento, já que é seu objetivo, possui enormes
conseqüências. Em primeiro lugar, a experiência religiosa se vê
novamente no centro de nossas tarefas diárias. Ela enquadra
nosso caminho pela vida. O objeto da experiência religiosa
sempre escapará de nosso conhecimento total, mas o objetivo
nunca varia. Assim, a dimensão religiosa da experiência religio
sa é o caminho dinâmico na direção de um objetivo que nunca
seremos capazes de alcançar totalmente, mas que, não obstante,
permanece como condição de nosso “estar no mundo”.5
Diálogo
A abertura para questionar o passado, conforme já expliquei,
é uma estratégia para iniciar um diálogo sobre significado e res
ponsabilidade nos dias de hoje. Somente assim nós despertamos
a esperança, já que não podemos mudar o passado. De qualquer
maneira, nós não construímos um futuro deixando de lado o
passado porque nossa compreensão do passado orienta nossa
atividade para criar o futuro. Temos de encontrar alternativas.
São as brechas entre as muralhas que nos permitem seguir em
frente, experiências que facilmente escapam à nossa consciência,
mas que nos convidam para uma nova vida em busca daquele
“outro mundo que é possível” chamado pelos cristãos de Reino.
Como cristãos, somos convocados a cruzar fronteiras e descobrir
o que existe do outro lado das barreiras culturais e religiosas.8
Hoje em dia esse reposicionamento inclui a solidariedade com
a Terra, com os oprimidos e marginalizados. Exatamente neste
instante saímos de nossos guetos, ou seja, abandonamos um
estilo de vida que nos encerra em nós mesmos. Dessa forma,
começamos a construir uma nova narrativa.
Práxis
A religião deveria sustentar e estender a experiência reli
giosa de forma que possam surgir uma prática coerente e um
compartilhamento da experiência. Infelizmente, a religião
às vezes parece mais uma coleção de doutrinas e rituais que
tencionam tratar do mistério de Deus, mas que acabaram por
ser separadas de seus fundamentos na experiência religiosa e
de um compromisso com o mundo para o qual a irrupção do
Outro, do Um Transcendental, está chamando. É daí que deriva
a importância da prática. A aplicação da teoria é absolutamente
necessária para que a experiência não seja estéril, mas conduza
ao bem comum. Nossas religiões (rituais e crenças) são deveras
diferentes. No entanto, elas nos convocam para uma união de
forças na prática da solidariedade com os pobres, oprimidos e
marginalizados. Prestar atenção à experiência religiosa, que se
encontra na origem de nossas diversas tradições religiosas, nos
faz admitir sua beleza e praticar a compaixão, que é um fator
crítico para a construção daquela energia capaz de erguer um
mundo que seja compassivo e justo.
Se desejarmos uma teologia transreligiosa ou suprarreligiosa,
ela deveria se basear e enquadrar dentro de uma reflexão sobre
a experiência religiosa. Mais especificamente: precisamos reco
nhecer o “sujeito” da experiência religiosa que emerge de nosso
próprio ser como humanos que somos. A experiência religiosa,
como uma ação que se encontra enraizada na própria estrutura
do que é ser humano, ou seja, como um “sujeito que age”, trans
cende todas as religiões e tradições religiosas. No fim das contas,
a base ou fundamento de toda teologia não é uma coleção de
doutrinas, mas o “sujeito”9humano (o ser que age consciente de
Conclusão
Tentei indicar um caminho para a construção de uma base
para a teologia interconfessional. Para conseguirmos isso,
precisamos encontrar uma referência comum que nos permita
criar um relacionamento. Nesse sentido, proponho a experiência
religiosa com três significados: como uma busca de signifi
cado e amor, como uma irrupção do Transcendente em nossa
BIS
Richard Renshaw
J o sé A m ando R o bl e s
I. Experiência religiosa e
expressão simbólica
Faz várias décadas, cada vez é mais freqüente ver a teologia
referir-se ao seu objeto de estudo em termos de experiência,
experiência religiosa, e à natureza da linguagem religiosa como
uma linguagem simbólica. Tão freqüente, como ainda geral
e vago. A prova está em que, contrariamente ao que seria de
esperar, tal reconhecimento para nada mudou o fundo da teo
logia. Nós nos referimos à formalidade de seu objeto de estudo,
à sua maneira de entender-se como episteme, aos seus famosos
“lugares teológicos”, ao seu discurso. Em termos gerais, este
continua sendo o mesmo. Sinal tudo isso de que termos como
experiência religiosa e símbolo não estão sendo utilizados com
rigor, mas antes de uma maneira genérica. É, pois, necessário
corrigir tal uso.
Quando falamos com rigor de experiência religiosa, antes de
tudo e acima de tudo estamos nos referindo a uma experiência
real e específica do absoluto que somos e que é tudo, a expe
riência da realidade em sua unidade, plenitude e totalidade.
Algumas características ou, melhor ainda, dimensões, que só
podem ser conhecidas experiencialmente, nunca racional e
conceitualmente. Para este tipo de conhecimento, raciocínio e
conceito são recursos profundamente inadequados por insufi
cientes, só a experiência é adequada. Uma experiência, ademais.
I3SS1
José Amando Robles
BB
Rumo a um* temogia pús-confessional e pús- religiosa. Experiência mugiosa. sImboio e teologia pós- reikiosa
K. L. S e sh a g ir i R a o
Introdução
O Hinduísmo é uma tradição religiosa antiga, multifacetada,
multidirecional, dinâmica e viva. Ela reconhece as inevitáveis
diferenças da vida e experiências humanas, assim como as va
riadas necessidades dos indivíduos em diferentes fases da evo
lução espiritual. Quase qualquer forma de culto está preservada
na tradição e é valorizada pelos hindus se for útil para alguém
em algum estágio da evolução espiritual. Eles reconhecem e
respeitam a individualidade de cada tradição e seita; cada uma
representa uma perspectiva importante da Verdade. A aborda
gem hindu da Verdade é experimental: é vivendo e se movendo
na Bramã (Verdade universal). A busca da Verdade é ampla e se
baseia em descobertas progressivas da visão sempre ampliada
e experiência do Divino. A procura da Verdade e do valor é um
interminável. Subjacente a todos os diferentes movimentos e
seitas, os hindus veem certos temas comuns que contam para a
unidade maior. Eles enfatizam que a Realidade última é o Espí
rito Supremo, que é um, sem um segundo (advitiyá); que é valor
supremo; que existe um sentido de unidade percorrendo todas
as coisas e que há justiça no coração do universo. O espírito do
Hinduísmo é “unidade na diversidade”.
Teologia interconfessionai: uma perspectiva hindu
Perspectiva hindu
Na perspectiva hindu, as grandes tradições religiosas são
diferentes entre si, mas são necessárias e válidas conforme
enfatizam as várias dimensões da Verdade. Elas ajudam o de
senvolvimento espiritual da humanidade em diferentes tempos e
climas. Toda religião, cultura e idioma tem seu lugar no mundo.
Qualquer coisa que esteja em harmonia com a verdade e a lei
moral eterna é aceitável para o Hinduísmo. Ela possibilita a
seus seguidores respeitar outras religiões e admirar e assimilar
qualquer coisa que seja boa em outras crenças.
Toda religião é forte em alguns valores e deficiente em ou
tros. Há defeitos e pontos brilhantes em toda tradição. Nenhuma
religião é perfeita. Cada religião precisa purificar-se corrigindo
distorções e deficiências em sua herança cultural. Cada tradição
faz parte do patrimônio religioso da humanidade. Cada uma
delas fez e continua a fazer contribuições importantes para a
realização humana. Elas são complementares. A diversidade de
culturas traz riqueza e beleza para a vida humana. O Hinduísmo
mantém que o pluralismo religioso proporciona um contexto
adequado no interior do qual cada tradição é capaz de preservar
suas características singulares e pode agir, reagir, crescer e se
desenvolver. O Hinduísmo não insiste na semelhança religiosa,
mas na aplicação dos princípios da moralidade e retidão (darma)
na vida.
O Hinduísmo valoriza outras tradições e não alega que seja
o único repositório da Verdade no mundo. Em nenhum lugar
nas Escrituras hindus está escrito que somente os hindus são
qualificados para serem salvos. O Hinduísmo invoca as bênçãos
da vida para todos, não somente para os hindus. “Que sejam
todos felizes, saudáveis e abençoados” faz parte de suas preces
diárias. Sendo uma religião aberta, ela assimilou percepções
K,L,Seshaqiri Rao
Imagens de maternidade
Mahatma Gandhi usou imagens diferentes. Uma mãe nutre
e trata com carinho a vida de seu filho e a mãe é amada e res
peitada pela criança. Cada mãe é única para com seu filho. Da
mesma forma que eu respeito minha mãe, também se espera
que eu respeite as mães de meus vizinhos. Todas as mães devem
ser respeitadas. Uma religião, como uma mãe, nutre e trata com
carinho a vida espiritual de seus seguidores: ela merece o res
peito deles. Isso não significa que as outras religiões devam ser
deploradas. A fim de estabelecer a relevância de uma fé, não é
necessário menosprezar as outras. Na verdade, a reverência pela
fé dos outros exalta a própria fé; é um reconhecimento do fato
de que a verdade e os valores espirituais estão incrustados nas
diferentes tradições de acordo com as necessidades e índoles
dos respectivos povos.
O modo de vida hindu é direcionado essencialmente para a
busca da Verdade. A Verdade inclui o que é verdadeiro no co
nhecimento, o que é certo na conduta e o que é justo e equitativo
nas relações humanas. A tradição hindu (Vedas) nos guia na
arte de viver com base no conhecimento das verdades eternas
subjacentes do Universo. Ela trata da vida e da morte, do bem e
do mal, do amor e do ódio, do agora e da vida após a morte, bem
como do significado e do propósito da vida. Saber como viver
é o verdadeiro conhecimento. A tradição focaliza as condições
de vida e as metas humanas comuns da honradez (dharma), da
segurança econômica (artha), do prazer estético (kama) e da
m
K.L.SeshaqiriRao
Nascimento humano
Nascer como ser humano é um privilégio precioso e uma
grande dádiva. Independentemente da raça, religião, cultura,
nacionalidade, gênero ou geração à qual a pessoa pertença; um
ser humano é, primeiramente e antes de tudo, um ser humano. A
potencialidade de desenvolvimento moral e espiritual distingue
os humanos de outros animais. Alimento e bebida, sexo e sono
são comuns a humanos e animais. No entanto os humanos são
agraciados com a razão e o livre-arbítrio. Somente eles têm a
oportunidade única de buscar a salvação, que é direito nato
espiritual de toda pessoa. As religiões existem para ajudar os
humanos nessa direção. Sua responsabilidade principal é tra
balhar pela saúde, felicidade, harmonia e realização dos seres
humanos: isto tem precedência sobre metas restritas e sectárias.
Meta final
Salvação, a meta fundamental da vida humana, recebe
diferentes nomes em religiões diferentes (Moksha, Nirvana,
Reino de Deus, Redenção, Libertação, Céu, Paraíso etc.). Uma
variedade de abordagens da salvação é apresentada nas dife
rentes tradições religiosas. Em cada caso ela é direcionada para
alcançar a libertação do sofrimento e do mal, o desprendimento
do confinamento e obtenção da felicidade eterna. Existe uma
eterna ânsia da alma pelo Infinito. Ele diz respeito à totalidade
e salubridade. A meta espiritual é a vida eterna. Independente
dos antecedentes religiosos, todo indivíduo tem o privilégio
de batalhar pela salvação, que é a suprema meta espiritual.
K.LSeshaqiri Rao
Globalização
Em nosso mundo contemporâneo de viagens e comunicações
rápidas, diversas religiões e culturas entram em íntimo contato e,
muitas vezes, em confrontação umas com as outras. O encontro
de religiões não está confinado a este ou àquele país, agora é
um fenômeno mundial. Todo lugar no mundo está se tomando
multicultural e multirreligioso. O mundo se tornou uma aldeia
global. As fronteiras tradicionais têm sido questionadas pelas
novas gerações.
As verdades espirituais são eternas por natureza, porém os
costumes culturais e sociais e os métodos mudam conforme
as exigências dos tempos e circunstâncias. Muitas religiões na
história modificaram suas posturas em muitas questões. Por
exemplo, as religiões alteraram suas posições com respeito
à escravidão, discriminação racial, status das mulheres, ca
ráter central dos rituais e atitudes para com o conhecimento
científico. Agora chegou a hora de superar o exclusivismo e a
discriminação religiosos. Os rios devem fluir e o povo religioso
precisa crescer, caso contrário estagnarão. Nós devemos ser os
criadores da história, não suas vítimas. Não nascemos para vi
ver dentro de limites restritos. Temos de examinar detidamente
nossos problemas no contexto das pessoas de outras crenças.
Cada religião tem de se interessar ativamente com relação ao
bem-estar ao redor do mundo. Não deveria ficar emperrada nos
interesses imediatos, restritos e sectários. E os contatos culturais
e religiosos deveriam ser mutuamente benéficos e servir ao
mundo em geral. Na cultura global emergente, o mundo precisa
Teologiainterconfessionai: uma perspectiva hindu
Ponto decisivo
Encontramo-nos num ponto crucial da história. Chegou a
hora de as religiões mundiais alcançarem um novo horizonte.
Modelos passados de pensamento que consideraram os povos
como grupos fechados não são mais válidos. A classificação das
pessoas de outras crenças como pagãs, incultas, cafres e bár
baras deve ser totalmente rejeitada. Antes de nós, uma história
de séculos de confrontos religiosos. Diante de nós, a chance
de paz, cooperação e diálogo. As tradições religiosas são úteis
de várias maneiras, mas o exclusivismo religioso é retrógrado.
Temos de viver num mundo em que há hindus, budistas, cris
tãos, muçulmanos, siques, jainistas, confucionistas, taoístas,
xintoístas etc., grandes comunidades possuidoras de grandes
crenças. A fidelidade às nossas respectivas tradições não deveria
minar nossa lealdade para com a humanidade. Atualmente, as
religiões mundiais têm a oportunidade e a responsabilidade de
cooperar umas com as outras na promoção da unidade humana
e da paz mundial.
Os adeptos das diferentes crenças, na qualidade de cidadãos
nesta Terra, compartilham o mesmo planeta. Garantir a conti
nuação da raça humana, preservar os recursos da Terra para a
posteridade e enriquecer a qualidade de vida de todos os seres
humanos constituem responsabilidade comum de todas as re
ligiões. As religiões mundiais já contribuíram com profundas
percepções sobre esses e outros temas. É maravilhoso poder
auferir o benefício de qualquer coisa que seja verdadeira, bela
e boa, seja onde for encontrada. Para construir um mundo
K.LSeshaolrlRao
Visão de paz
Potencial para a paz existe em todas as religiões; essas po
tencialidades são importantes fontes para uma sociedade justa.
A aspiração essencial das tradições de fé é a liberdade, recon
ciliação e paz. Gita diz: “Não existe felicidade para aqueles que
não têm paz”. A exortação védica diz: “Não fira nenhum ser
humano”. A crueldade para com os seres humanos é a negação de
Deus. Buda nos ensinou: “Deixemos que o homem vença a raiva
com o amor, o mal com o bem, a ganância com a liberalidade e
a mentira com a verdade”. Jesus Cristo declarou: “Ame seus ini
migos, abençoe aqueles que o amaldiçoam, faça o bem àqueles
que o odeiam e reze por aqueles que o usam maliciosamente”.
No Alcorão está afirmado que, se for bom e bondoso com seu
próximo na Terra, Alá será benevolente no Dia do Julgamento
Final, e o profeta do Islã declarou que, “aquele que escava um
fosso para seu irmão, acaba por cair dentro dele”. Certa vez,
Mahatma Gandhi observou: “É bastante fácil ser amigável com
seus amigos. Mas ajudar como amigo alguém que se considera
seu inimigo é a quintessência da religião. O outro não passa
K.l.SeshagiriRao
Verdade espiritual
A verdade espiritual e os valores não estão restritos ao Orien
te ou ao Ocidente, a esta ou àquela tradição. Todas as literaturas
espirituais glorifícam a Verdade e iluminam a mente. A realiza
ção da Verdade é o bem supremo da vida. Todos devem prestar
homenagem à Verdade. As ciências estudam o mundo natural.
Nenhum ramo particular da ciência reivindica o monopólio da
sabedoria para si mesmo nem disputa sua superioridade sobre os
demais. As reügiões exploram o mundo espiritual. Elas também
devem ser vistas como complementares e suplementares entre si.
A verdade pode ser observada de muitas perspectivas. De
fato, a plenitude da Verdade é mais ampla e profunda do que sua
compreensão pelas religiões históricas. Os valores espirituais
são temas genuinamente humanos. Temos de elevar nossas
mentes e consciência acima do nível conceituai para o nível
espiritual a fim de encontrar nossa unidade humana comum.
Cada religião e cada cultura possui seus próprios méritos. Por
exemplo: a não violência no Janaísmo, a compaixão no Budismo,
a espiritualidade no Hinduísmo, o ecumenismo do Siquismo, a
fraternidade do Islamismo, a caridade e amor do Cristianismo
e a humanidade do Confucionismo são valores grandiosos. Eles
não contradizem uns aos outros. Eles expressam as belas di
mensões da Verdade. Ensinam a adesão a certos valores morais,
espirituais e humanos. A espiritualidade não separa as pessoas,
ela nos conduz para os domínios mais profundos e amplos da
Teouxha iwtercowfessional: uma peuspcctiva hindu
A fo n so M a r ia L igorio S o a r es
BB
0 SINCBETISMO A LUZ DE UMA TEOLOGIA INTERCONFESSIONAi:ALGUMAS NOTAS PRELIMINARES
3 Cf. <http://www.hartsem.edu/>.
0 SINCRETISMO ALUZ DE UMA TEOLOGIA INTERCONFESSIONAI.: ALGUMAS NOTAS PRELIMINARES
6 0 ’COLLINS, Gerald, SJ. Living Vatican II, the 21st Councilfor the 21st Century.
Mahwah, NJ: Paulist Press, 2006.
7 RIBEIRO DE OLIVEIRA, P. A. Coexistência das religiões no Brasil. Vozes 11/7
(1977)38.
0 SINCRETISMO A LUZ DE UMA TEOLOGIA INTERCONFESSIONAL: ALGUMAS NOTAS PRELIMINARES
10 Cf. SEGUNDO, J. L. O dogma que liberta. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2000. p.
141-144.
11 Cf. Relatório do Fórum Ecumênico Internacional - França, Alemanha, Brasil.
“Arriscar a fé em nossas sociedades” (Belo Horizonte, de 7 a 12 de abril de 2003).
Afonso Maria Lioorio Soares
every definition of the truth is like a tomb and only the dead are
put into tombs”.12 Entender isso é avançar pelos caminhos da
sabedoria, pois “wisdom is bom of a virginal mind, in which
the power of knowledge is silenced”.13 De outra parte, uma
linguagem apta a furar bloqueios meramente ideológicos ou
axiológicos é a eficiente linguagem científica. Inábil para nos
dizer a verdade cabal, ela pode, sim, desmascarar pretensas ver
dades e superar impasses que as viseiras religiosas e dogmáticas
não conseguem destrinçar sem anátemas ou derramamento de
sangue.
O que virá a seguir pode significar uma nova aliança entre
religião e ciência, entre a teologia e a ciência da religião. Realida
des como as vivências espirituais sincréticas estão literalmente
rompendo diques e tornando porosas fronteiras onde pode estar
nascendo uma nova possibilidade de nos reeducarmos como
seres humanos.
12 “A verdade não pode ser definida porque cada definição da verdade é como um
túmulo e somente os mortos são postos em túmulos”: SAHAJANADA, John
Martin. You Are the Light; Rediscovering the Eastem Jesus. Winchester, UK: O.
Books, 2006. p. 813.
13 “A sabedoria nasce de uma mente virginal, em que o poder do conhecimento é
silenciado” (Ibid., p. 149).
Marcos de uma mística
inter-religiosa
F a u st in o T e ix e ir a
In tro d u ção
Em sua etimologia, a palavra mística deriva de myein: fechar
os olhos ou cerrar os lábios. O místico é alguém que vive a ex
periência do mistério, é o sujeito de uma experiência que tem
o mistério como objeto. Inicialmente, o termo mystikòs vem
utilizado como adjetivo, e só em torno do século XVII ganha a
sua acepção de substantivo.1É a partir de então que se começa
a falar em linguagem mística, como linguagem nova e singular.
No vocabulário cristão, a mística vai designar um modo peculiar
de conhecimento de Deus, distinto do conhecimento comum,
marcado pela força de uma Presença que excede a capacidade
de expressão. Definições distintas de tal experiência foram
sendo fornecidas ao longo da história: “Cognitio Dei experi-
mentalis” (Tomás de Aquino); a “união interior de Deus com a
alma” (Angelus Silesius); “notícia amorosa de Deus” (João da
Cruz); “experiência fruitiva do Absoluto (Jacques Maritain).
Vale assinalar a força de dois termos essenciais que envolvem
esse modo singular de acesso direto ou imediato ao Mistério e
1 CLARAVAL, Bernardo de. Sermoni sul Cântico dei Cantici. Roma: Edizioni
Vivere in, 1996. v. 1, p. 53 e 230 (sermões 111,1,1 e XX,I,2).
3 WEIL, Simone. Attente de Dieu. Paris: Fayard, 1966. p. 45.
4 CARDENAL, Ernesto. Telescópio en la noche oscura. Madrid: Trotta, 1993. p.
67.
5 TERESA DE JESUS. Livro da vida 10,1. In: Obras completas. São Paulo: Loyola,
1995. p. 70.
QQ
FaustinoTeixeira
m
M arcos de uma mística inter- religiosa
Conclusão
Uma autêntica mística inter-religiosa necessita reconhecer a
irradiação universal da Presença Espiritual, da força do Real que
envolve todo o universo e empapa toda a história. Trata-se de
uma presença que se manifesta nas crenças, mas que as trans
cende radicalmente. Nada mais essencial do que a capacidade de
poder ampliar a visão para poder reconhecer a presença do Real
em todas as suas manifestações transcendentes e imanentes.
Não há como participar de uma visão profunda do Real senão
mediante a ampliação das crenças e o reforço no potencial de
sensibilidade para saber perceber o divino em toda parte. Como
dizia o místico Teilhard de Chardin, “nada é profano” para quem
sabe ver. Daí a importância fundamental de uma “educação
da vista”. Como dizia outro grande buscador, Henri Le Saux,
“basta abrir os olhos” para se poder perceber a presença do
Graal. Um dos mais ousados místicos de todos os tempos, Ibn
‘Arabi reconheceu, como poucos, o coração como o lugar por
excelência da percepção mística do Real: um coração capaz de
acolher todas as formas. Dizia num de seus poemas: “As mais
diversas crenças em Deus têm as pessoas. Mas eu as professo
Jo sé M a r ia V ig il
4 Félix WILFRED acaba de propor que esta teologia ecológica é, ao mesmo tempo,
teologia inter-religiosa: cf. Concilium 3/51 (2009) 379-392.
José Maria Viqil
Não custa insistir, porque é óbvio, que nem toda teologia tem
de passar por cada uma dessas etapas... Nem o aparecimento
de uma etapa nova significa a desqualificação dos anteriores
modelos de teologia...
O conhecimento humano, as culturas, e também o mundo
religioso, vão evoluindo por ondas sucessivas, mediante novos
paradigmas que se apresentam inesperadamente, de um modo
surpreendente, caótico, não linearmente previsto. Encontram-se,
cruzam-se, chocam-se, dão origem ou possibilidade a outros pa
radigmas, e tudo contribui para fecundar mutuamente a marcha
do conjunto rumo a etapas superiores. Os novos paradigmas
nem sempre substituem os anteriores: com maior frequência
simplesmente se somam e se fecundam mutuamente.
Nesse sentido, podem conviver juntas muitas teologias. Sem
pre haverá teologias confessionais, enquanto houver confissões
no mundo religioso. Essa forma de teologia não tem o que temer,
sempre será necessária em seu âmbito, não querem substituí-la
as formas de teologia supraconfessional.
Essas não vêm expulsá-la e substituí-la, e sim cobrir outros
espaços onde aquela não é aceita porque nem sequer é com
preendida, a saber, na sociedade multirreligiosa, nos meios de
comunicação seculares, na universidade laica...
Ou seja, a maior parte das formas de teologia dos últimos
tempos pode continuar, cada uma no nicho em que se encontra
acomodado.
Todavia, em minha opinião, isso não impede que se possa
afirmar que na evolução da teologia podemos descobrir uma
flecha, um sentido, que indica um certo perfil previsível da
teologia do futuro.
José Maria Viail
J o sé M a r ía V ig il ,
L u iza T om ita e
M a r c elo B a r r o s 1
M ichael AMALADOSS
Professor de teologia no Vidyajyoti College of Theology,
Delhi, índia, e diretor do Instituto para o Diálogo com as Cul
turas e Religiões, de Chennai, índia. Reconhecido conferencista
internacional, publicou muitos escritos sobre temas de missão,
espiritualidade e teologia da libertação. É também um professor
regular do East Asian Pastoral Institute, de Manila.
Marcelo BARROS
Nascido em 1944, é natural de Camaragibe, Recife, Brasil,
de uma família católica de operários pobres. Biblista, membro
da ASETT, escreveu 35 livros sobre leitura popular da Bíblia,
Espiritualidade Ecumênica, Teologia da Terra, Teologia do Ma-
croecumenismo e do Pluralismo Cultural e Religioso. Seu último
livro é O sabor da festa que renasce. Para uma teologia afro-
-latíndia da libertação (São Paulo: Paulinas, 2009). Na Itália,
publicou Cammini deli’amor divino: sul dialogo interreligioso
e interculturale (Rimini: Pazzini, 2009). É conselheiro da Pas
toral da Terra e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) e vive uma grande proximidade com as religiões
de matriz afro-brasileira.
A gen or BRIGHENTI
Doutor em Ciências Teológicas e Religiosas na Universidade
Católica de Louvain (Bélgica), especializado em Pastoral Social
e Planejamento Pastoral pelo Instituto Teológico-Pastoral do
CELAM (Medellín) e licenciado em Filosofia pela Universidade
do Sul de Santa Catarina (Tubarão, SC). Atualmente é professor
de Teologia na PUC-PR e na Universidade Pontifícia do México
(UPM), Presidente do Comitê Executivo Latino-americano da
Ameríndia e do Comitê Organizador do Fórum Mundial de
Teologia e Libertação. Foi perito do Ceiam na Conferência de
Santo Domingo e da CNBB em Aparecida. Entre suas publica
ções se destacam: Por uma Evangelização Inculturada. Princí
pios pedagógicos e Passos Metodológicos, Paulinas, São Paulo
1998; A Igreja Perplexa. A novas perguntas, novas respostas,
Ed. Paulinas, São Paulo 2004; A missão evangelizadora no
contexto atual. Realidade e desafios a partir da América Latina,
Ed. Paulinas, São Paulo 2006; A pastoral dá o que pensar. A
inteligência da prática transformadora da fé, Siquém-Paulinas,
Valência-São Paulo 2006.
Amín EGEA
Nasceu em Barcelona em 1977. Bacharel em Humanidades,
publicou vários trabalhos de pesquisa sobre a história da religião
bahá’í e foi cocoordenador da compilação La Religión Bahá’í.
Una introducción desde sus textos (Madrid: Trotta, 2008). É
membro da Sociedade Espanhola de Orientalistas e da associa
ção Unesco para o Diálogo Inter-religioso, de cuja assembléia
foi membro. Atualmente, serve como membro da Assembléia
Nacional dos Bahá’ís da Espanha, órgão de governo da Comu
nidade Bahá’í da Espanha.
Paul F. KNITTER
É professor da cátedra “Paul Tillich” de Teologia, Religiões
do Mundo e Cultura, no Union Theological Seminary de Nova
York. Professor emérito de Teologia na Xavier University, de
Cincinnati, Ohio, Estados Unidos. Licenciado em Teologia (Gre
goriana, Roma, 1966) e doutorado em Teologia (Universidade
de Marburg, 1972). Autor de No Other Name? (1985), estuda
como as comunidades religiosas do mundo podem cooperar
na promoção humana e para o bem-estar ecológico. Esse é o
tema de One Earth Many Religions: Multifaith Dialogue and
Global Responsibility (1995) e de Jesus and the Other Names:
Christian Mission and Global Responsibility (1996). Publicou
recentemente uma síntese panorâmica das posições cristãs rumo
às outras religiões: Introdução às teologias das religiões (São
Paulo: Paulinas, 2008).
David R. LOY
É Professor de Ética/Religião e Sociedade na Xavier Univer
sity, em Cincinnati, Ohio, Estados Unidos. Trabalha principal
mente em filosofia comparada da religião, de modo especial,
relacionando o Budismo com o pensamento moderno ocidental.
Entre seus livros estão Nonduality, Lack and Transcendence, e A
Buddhist History o f the West. É também coeditor de A Buddhist
Response to the Climate Emergency, 2009. Praticante do zen
durante muitos anos, é professor qualificado na tradição Sanbo
Kyodan do Budismo japonês.
Jacob NEUSNER
É autor de “Israel:”Judaism and its Social Metaphors, bem
como de The Incarnation o f God: The Character ofDivinity in
Formative Judaism. Neusner tratou em suas obras das relações
do Judaísmo com outras religiões. Seu^f Rabbi Talks with Jesus
(Philadelphia, 1993 - traduzido para o alemão, o italiano e o
sueco), tenta estabelecer uma ponte religiosamente confiável
para o intercâmbio judeo-cristão. Mereceu louvor do Papa
Bento XVI e o apodo de “o rabino predileto do papa”. Em seu
livro Jesus de Nazaré, Bento XVI se refere a ele como “o mais
importante livro para o diálogo cristão-judeu na última década”.
T eresa OKURE
Nigeriana, religiosa da Sociedade do Santo Menino Jesus
(SHCJ), ensina, além da Hermenêutica de Gênero, Antigo e
Novo Testamentos no Catholic Institute of West África, de Port
Harcourt. Ali foi Decana acadêmica, Decana de assuntos estu
dantis, e Chefe do Departamento de Estudos Bíblicos. Também
foi Auditora na Assembléia Especial para a África do Sínodo
dos Bispos da Igreja Católica (2009). Foi Secretária Executiva
da ASETT, membro de suas Comissões Teológica e da Mulher.
Sua reflexão quer promover a causa da unidade cristã, bem
como a cooperação inter-religiosa através de uma teologia que
transforme a vida à luz de Cristo. Atualmente é a Presidenta
Fundadora da Associação Católica Bíblica da Nigéria (Caban).
Irfan A. OMAR
Professor assistente no Departamento de Teologia na Mar-
quette University, de Milwaukee, Estados Unidos. Ensina sobre
Islamismo, Religiões do Mundo, e Diálogo Inter-Religioso. Entre
seus interesses de pesquisa está o pensamento islâmico, a partir
da perspectiva das conexões inter-religiosas entre o Islamismo
e outras religiões. É editor/coeditor de vários livros, dentre os
quais A Christian View oflslam: Essays on Dialogue byFather
Thomas Mchel, S J (Orbis, 2010) e Islam and Other Religions:
Pathways to Dialogue (Routledge, 2006). É redator associado
do Journal o f Ecumênica! Studies.
R aim on PANIKKAR
Nasceu em Barcelona, 1918. Viveu e estudou na Espanha,
Alemanha, Itália e índia. Doutor em Filosofia pela Universidade
de Madri (1946), Doutor em Ciências Químicas pela mesma
universidade (1958) e Doutor em Teologia pela Universidade
Lateranense de Roma (1961). Presbítero desde 1946, além da
atividade pastoral, foi pesquisador nas Universidades de Madri,
Mysore e Varanasi, e professor em Roma, Harvard, Montréal e
Buenos Aires, entre outras. Foi membro do Conselho Superior de
Pesquisas Científicas e cofundador de várias revistas de filosofia
e cultura (Arbor, Weltforum, Kairos, etc.). Deixou o Ocidente em
1954 para ir à índia. Retornou para a Europa onde foi nomeado
Livre Docente da Universidade de Roma e se dedicou ao ensino
da Filosofia da Religião. Desde 1966 dividiu seu tempo entre
as universidades de Varanasi, Roma e Harvard. Desde 1971 foi
Catedrático de Filosofia Comparada da Religião e História das
Religiões na Universidade da Califórnia de Santa Bárbara. É
autor de cerca de 50 livros. Publicou pela Ed. Paulinas: ícones
do mistério. Faleceu em 2010.
P eter C. PH AN
Vietnamita, emigrou para os Estados Unidos como refugiado
em 1975. Doutor em teologia pela Universidade Pontifícia Sale-
siana de Roma, e em filosofia e em teologia pela Universidade de
Londres. Doutor honoris causa pela Chicago Theological Union.
Ensinou na Universidade de Dallas, Texas; na Catholic Universi-
ty of America, Washington, DC, onde ocupa a Warren-Blanding
Chair of Religion and Culture; no Union Theological Seminary,
N.E.; no Elms College, Chicopee, MA; St. Norbert College, De
Pere, WI, e na Georgetown University, Washington, DC, onde
ocupa atualmente a Ignacio Ellacuría Chair of Catholic Social
Thought. Também participa no East Asian Pastoral Institute,
de Manila, e no Liverpool Hope University, da Inglaterra. E o
primeiro presidente não anglo da Catholic Theological Society
of USA. É o coordenador da série Theology in Global Pers
pective, de Orbis Books, e da série Ethnic American Pastoral
Spirituality, de Paulist Press.
A loysius PIERIS
Jesuíta e diretor do Centro de Estudos Tulana, em Kelaniya,
Sri Lanka. Fez seu doutorado em Estudos Budistas, o primeiro
concedido a um não budista pela Universidade de Sri Lanka.
RRI
Catedrático de Teologia em várias universidades, ensinou tanto
em faculdades católicas como protestantes. Escritor prolífico,
escreveu, entre outros livros, El rostro asiático de Cristo. No
tas para una teologia asiática de la liberación (Salamanca:
Sígueme, 1991 - original em alemão: Freiburg: Herder, 1986).
Richard RENSHAW
Religioso da Santa Cruz, canadense. Nascido em 1940,
ensinou filosofia na Universidade de Santo Tomás (Canadá,
1969-1971) depois do que decidiu dedicar-se à animação de um
bairro pobre em Toronto e à formação de comunidades de base.
Nesse período viveu como padre operário. Depois, passou 11
anos no Peru (anos 1980) como pároco, diretor de formação e
editor da DOC (Lima), além de lecionar no Instituto Superior
de Teologia. Foi Secretário Geral Adjunto da Conferência dos
Religiosos do Canadá, Diretor Adjunto em “Desenvolvimento
y Paz”, organismo de ajuda internacional da Igreja católica ca
nadense, copresidente do Comitê de Direitos dos Aborígenes
(Comitê Ecumênico Nacional no Canadá), presidente da Coo
perativa de Vivienda Abiwin (Ottawa), membro das diretorias
de Yancana Huasi (Lima) e de Kairos: Iniciativas Ecumênicas
para a Justiça (Toronto). Participou da Iniciativa Ecumênica do
Jubileu no Canadá e foi representante da Conferência Episcopal
no Comitê de Justiça e Paz do Conselho Canadense de Igrejas.
Agora milita em projetos comunitários de Montréal. Publicou La
Tortura en Chimbote (IPEP, Perú, 1985) e participou de vários
livros coletivos, como: Stone Soup: Reflections on Economic
Injustice, Paulinas, 1997, e Making a New Beginning: Biblical
Reflections on Jubilee, CEJI, 1998.
José A m an d o ROBLES
Sociólogo da religião, atualmente coordenador do “Programa
de Espiritualidade Mestre Eckhart” do Centro Dominicano de
Pesquisa (CEDI), em Heredia, Costa Rica. Desde sua fundação
em 2004 participa nos Encontros Internacionais Anuais organi
zados pelo Centro de Estudos das Tradições Religiosas (CETR)
de Barcelona. Entre suas obras são de destacar: Repensar la
religión: de la creencia al conocimiento, EUNA, Heredia (Costa
Rica) 2002; Hombre y mujer de conocimiento. La propuesta de
Juan Matus y Carlos Castaneda, EUNA, Heredia (Costa Rica),
2006; ^Verdad o símbolo? Naturaleza dei lenguaje religioso,
Editorial Sebila, San José (Costa Rica), 2007.
K. L. SESHAGIRI RAO
Professor emérito do Departamento de Estudos Religiosos,
da Universidade de Virgínia e redator-chefe da Enciclopédia
do Hinduísmo, é um dos editores fundadores do Interreligious
Insight, publicado pelo World Congress of Faiths, de Londres,
e Reitor da Thanksgiving Foundation, Dallas, TX. Membro do
conselho editorial das revistas Dialogue and Alliance e Gandhi
Marg. Escreveu vários livros, numerosos artigos, e organizou
alguns livros, dentre os quais, quatro volumes sobre Tradições
Religiosas do Mundo. Como professor de Religião comparativa
e Chefe do Guru Gobind Dingh Department of Religious Stu-
dies (Punjabi University, Patiala), ajudou a formar o primeiro
departamento desse tipo nas Universidades da índia. Suas áreas
de especialização são religiões indicas, estudos gandhianos, e
diálogo inter-religioso. Participou em Consultas da UNESCO,
bem como no Foro Econômico de Davos.
A fon so Maria Ligorio SOARES
Livre-Docente em Teologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, PUC-SP (2009), Doutor em Ciências da
Religião pela Universidade Metodista de São Paulo-UMESP
(2001), com pós-doutorado em Teologia pela Pontifícia Univer
sidade Católica do Rio de Janeiro-PUC-RJ (2005). É mestre em
Teologia Fundamental pela Pontifícia Universidade Gregoriana
(Roma, 1990). É Professor Associado da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) onde leciona e pesquisa no
Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião.
Exerceu mandato trienal (2007-2010) como Presidente da So
ciedade de Teologia e Ciências da Religião do Brasil (SOTER)
e foi Vice-presidente da INSeCT-International Network of So-
cieties for Catholic Theologies (2008-2011). É editor científico
da revista eletrônica Ciberteologia (www.ciberteologia.org.br) e
coeditor da Revista REVER - Revista de Estudos da Religião,
da PUC/SP (http://www.pucsp.br/rever/). Publicou: Interfaces
da revelação: pressupostos para uma teologia do sincretismo
religioso. Religião & Educação e No espírito do Abbá: fé, re
velação e vivências plurais, todos por Paulinas Editora.
F austino TEIXEIRA
Mestre em teologia pela Pontifícia Universidade Católica
de Rio de Janeiro, e doutor com pós-doutorado na Pontifícia
Universidade Gregoriana, Roma. Dedicado ao estudo do diá
logo inter-religioso. Professor no Departamento de Ciência da
Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, e coordenador
do programa de pós-graduação em ciências da religião. Publicou
muitos artigos em revistas como Vozes, REB, Convergência
e Concilium, e vários livros, dentre os quais o primeiro livro
latino-americano sobre teologia do pluralismo religioso: Teolo
gia de las religiones. Una visión panorâmica, Abya Yala, Quito
2004, coleção Tempo Axial. É membro de ISER-Assessoria, e
dá cursos e conferências em incontáveis encontros de pastoral.
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