MIOLO LV Nossa Senhora Do Ó

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Nossa Senhora do Ó

Uma devoção para grávidas e


mulheres que desejam engravidar
Gerência geral: Rafael Cobianchi
Preparação e revisão: Annabella Editorial / Thuâny
Simões
Diagramação e Capa: Diego Rodrigues
Fotos: Gracielle Reis / Jorge Silva

Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

Editora Canção Nova


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Todos os direitos reservados.

ISBN: 978-65-8845-126-7

© EDITORA CANÇÃO NOVA, Cachoeira Paulista, SP,


Brasil, 2021
Gracielle Reis

Nossa Senhora do Ó
Uma devoção para grávidas e
mulheres que desejam engravidar
Sumário
Agradecimentos............................................ 7
Apresentação.................................................. 11
Introdução..................................................... 17
Nossa Senhora do Ó: origens da
devoção............................................................. 41
A devoção a Nossa Senhora do Ó em
terras portuguesas...................................... 51
Os filhos são dons de Deus..................... 61
Uma devoção comprovada......................... 71
Orações à Senhora do Ó.......................... 83
Referências..................................................... 117
Agradecimentos

A
inda ecoa nos ouvidos e corações a frase
do Papa Francisco quando veio a Portu-
gal, em 2017, por ocasião do centenário das
aparições de Fátima e canonização dos Santos
Pastorinhos, Santa Jacinta e São Francisco Marto:
“Temos Mãe!”.
Esta mesma exclamação também é concreta
em minha trajetória. À Virgem Maria agradeço
por tanto me sustentar e me levar a Seu Filho
Jesus. Ao viver nesta Terra de Santa Maria, como
se diz do país luso, tenho essa experiência ainda
mais viva com Nossa Senhora. Como dizemos
na Canção Nova, “Ela é quem tudo fez e faz”.

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Assim foi também até chegar a este livro.
Um telefonema inesperado de Fátima Pacheco,
uma das mulheres que testemunhou neste livro,
foi o instrumento para que a Senhora do Ó che-
gasse à minha vida. Fátima ligou-me, contou
um pouco sobre a capela na Freguesia de Basto
e lançou o desafio para que eu escrevesse o livro.
A ela agradeço por essa boa “provocação”, por
todo apoio e por me fazer ver que esta publicação
não é fruto da minha vontade.
De igual modo, agradeço aos responsáveis
da Capela de Santa Senhorinha, da qual faz parte
a Capela da Senhora do Ó. Em especial, agradeço
também à zeladora Fernanda Carvalho por seu
acolhimento.
Gratidão ao amigo Fábio Rodrigues, que
tanto me ajudou com a pesquisa histórica e de
informações e se envolveu carinhosamente com
este projeto.

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Ao meu amor Uelber Alves, por ser uma
presença constante de incentivo, cumplicidade e
de grande devoção à Virgem Santíssima. Nossas
orações diárias do Santo Terço, inclusive por
mulheres que desejam engravidar, nos sustentam
em todo o caminho.
Agradeço ainda à minha comunidade.
Sou mais de Deus e de Maria graças ao carisma
Canção Nova.
Por fim, toda a gratidão aos meus pais,
Gilberto Carlos e Deoclecia Reis (in memorian).
O sofrimento pela perda da minha mãe da terra
de forma tão inesperada, em 2020, foi vivido na
paz que somente Cristo dá, porque o consolo
veio pelas mãos da Mãe do Céu!

Gracielle Reis

9
Apresentação

A
criatura mais perfeita, mais admirada e
mais buscada em toda a criação, sem som-
bra de dúvidas, é Maria! Em cada momento de
contemplação à sua história e personalidade,
pode-se encontrar algo sempre novo. Como seu
próprio Filho descreveu, quem é instruído nas
coisas do Reino dos Céus é comparado a quem
tira do seu tesouro coisas novas e velhas (cf. Mt
13,52). Em cada século da história, é possível
nos fixarmos em uma face de Maria, essa cria-
tura perfeita preparada por Deus para o plano
da nossa salvação.
Em cada época, exaltamos um aspecto que
nos ajuda na aproximação com o Divino e com

11
uma maior experiência Dele em nossa vida! Por
isso também Nossa Senhora tem tantos nomes
e invocações! E podem vir a surgir outras mais,
segundo as necessidades de cada geração e de
cada indivíduo.
Tudo isso porque, em sua essência, Maria
é mãe. Mãe de Jesus, Filho do Deus Vivo, en-
carnado para nossa Salvação e Redenção, mas
também, por um privilégio e uma doação divina,
ela é a Nossa Mãe! Ela gera novos cristãos a
cada dia. Novos filhos de Deus para imitarem e
transmitirem o seu Filho neste mundo!
Este livrinho tão singelo, esta “obrazinha”
da Misericórdia Divina, vem nos trazer algo tão
novo, mas tão antigo: Maria, Nossa Mãe, ges-
tante, a Senhora da Esperança! A Senhora dos
admiráveis “Ós”. É uma grande oportunidade
de conhecer essa face de Maria, que, durante
nove meses de espera, experimentou, com for-
ça, as incertezas, os mistérios, as dificuldades, a

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não planejada missão, em meio ao seu contexto
judaico-galileia-periférico tão afastado de qual-
quer centralidade e protagonismo, supostamen-
te inerente ao simples fato de gerar o Filho do
Altíssimo.
O Anjo veio e anunciou a missão confiada
àquela jovem. Ela consentiu e logo não houve
mais mensagens ou instruções. Maria viveu cada
uma das 40 semanas de gestação imersa em con-
templar o mistério em seu coração. Por isso, ela
pode, certamente, ajudar a cada uma que sente
o chamado a gerar uma vida, ainda que, talvez,
os mistérios e as vicissitudes da vida nem sempre
se apresentem favoráveis, como se fossem uma
lógica matemática precisa e constante. Pois bem,
sabemos que “os pensamentos de Deus não são
como os nossos pensamentos, e nossos caminhos
não são como os caminhos de Deus” (Is 55,8),
mas a fé pode tudo!

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E, justamente, este livro que está em suas
mãos, nesse momento, pode aquecer o seu cora-
ção e fazê-la crescer na fé, na esperança e no amor.
Aqui, Gracielle vai ajudá-la a conhecer as origens
desta maravilhosa devoção nas terras Ibéricas e
como ela foi se difundindo até chegar às terras
das Américas e dar nomes a tantas freguesias,
igrejas e bairros com o seu admirável “Ó”.
Mais que um livro acadêmico-sistemático,
a autora – a quem eu tive a graça de conhecer e
colaborar na Terra Santa – vai abrir as páginas
da história da vida dessa jovem Virgem que as-
pirava a uma vida consagrada e dedicada a Deus.
Contudo, de acordo com os planos de sua família,
ela estava prometida em casamento com o Justo
de Nazaré da Galileia, José.
Gracielle quer ajudá-la a entrar em cada
cena desse processo gestacional de Maria. A par-
tir do olhar atento de contemplação de Nossa
Senhora do Ó, ela se tornou devoção de tan-

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tas mulheres e homens de fé que confiam que
Deus tudo pode. Muitos são os testemunhos e
relatos daqueles que experimentaram a graça
e que obtiveram favores pelo simples fato de
conhecer, confiar, pedir a intercessão e dar a
conhecer essa devoção.
O livrinho é singelo sim, como dissemos
anteriormente, porém ele também é oração;
oração que se admira pela maravilhosa criação
da criatura mais excelsa entre todas as criaturas.
Não à toa, tantas orações e poemas foram feitos
em louvor à Maria, sem exaurir tudo o que nela
podemos alcançar de bens espirituais e humanos.
Ela será modelo de fecundidade de fé e amor na
sua vida conjugal e familiar, mas será um cami-
nho de esperança para tantos casais que buscam
servir a Deus na geração de novos filhos para Ele.
Aos pés de Maria, a atitude é se aproximar
com essa singeleza de admiração que nos faz
proclamar um simples “Ó Maria”. Uma expres-

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são que resume todo o desejo íntimo de nossos
corações para se cumprir em nós o que Deus
quer. Uma esperança que é certa e que se traduz
na admirável interjeição de surpresa e invocação.
Junto ao “Ó”, poderíamos até acrescentar: Olha,
ó Mãe, veja as minhas necessidades e os meus anseios.
Leve tudo isso junto ao seu Filho e que possa ser
curado em mim aquilo que deve ser curado, para
que eu possa ser, a Deus e aos demais, a minha
melhor versão. Amém.
Uma boa leitura, experiência e oração!
Nossa Senhora do Ó, rogai pelos seus fi-
lhos e filhas.
Fábio Rodrigues
Teólogo e Filósofo

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Introdução

H
istórias de vida, esperança e fé! As-
sim poderíamos resumir a mensagem do
livro, pois pretende nos aproximar da Mãe de
Deus e nossa!
Maria, a Mãe do Salvador, alimenta a es-
perança de cada pessoa e deseja que sigamos
as Palavras de Vida de Seu Filho! Em especial,
Nossa Senhora quer trazer em seu regaço, em
seu colo bendito, tantas mulheres que desejam
engravidar ou que já trazem uma criança em
seu ventre.
Muitas delas sofrem problemas de saúde;
enfrentam ansiedades, angústias e preocupações;
ou foram desenganadas pelos médicos quanto

17
à possibilidade de alcançarem a gravidez; ou
ainda estão em uma gestão difícil e de risco. Seja
qual for a condição e a situação atual, é hora de
exercitar a fé!
As palavras do Arcanjo Gabriel, durante a
anunciação à Virgem Maria, deixam bem cla-
ro: “porque a Deus nenhuma coisa é impossível”
(Lc 1,37).
É preciso renovar a fé e a confiança nos
desígnios de Deus. As Sagradas Escrituras e tes-
temunhos de tantos santos, homens e mulheres
de Deus, comprovam os Seus milagres, quando
assim é de Sua Santíssima vontade.
A Carta de São Paulo aos Hebreus, em seu
capítulo 11, é um belo elogio à fé dos antepassa-
dos e dos grandes homens e mulheres citados na
Bíblia. Um destaque quando comenta sobre Sara:

A fé é o fundamento da esperança, é uma


certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que

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fez a glória dos nossos antepassados. Pela fé reco-
nhecemos que o mundo foi formado pela Palavra
de Deus e que as coisas visíveis se originaram do
invisível. Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício
bem superior ao de Caim, e mereceu ser chamado
justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças
a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala.
Pela fé Henoc foi arrebatado, sem ter conheci-
do a morte: e não foi achado, porquanto Deus o
arrebatou; mas a Escritura diz que, antes de ser
arrebatado, ele tinha agradado a Deus. Ora, sem fé
é impossível agradar a Deus, pois para se achegar
a ele é necessário que se creia primeiro que ele
existe e que recompensa os que o procuram. Pela
fé na Palavra de Deus, Noé foi avisado a respeito
de acontecimentos imprevisíveis; cheio de santo
temor, construiu a arca para salvar a sua família.
Pela fé ele condenou o mundo e se tornou o her-
deiro da justificação mediante a fé. Foi pela fé
que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu
para uma terra que devia receber em herança. E
partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que
ele habitou na terra prometida, como em terra

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estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac
e Jacó, coerdeiros da mesma promessa. Porque
tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os
fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor
é Deus. Foi pela fé que a própria Sara cobrou o
vigor de conceber, apesar de sua idade avançada,
porque acreditou na fidelidade daquele que lhe
havia prometido. Assim, de um só homem quase
morto nasceu uma posteridade tão numerosa como
as estrelas do céu e inumerável como os grãos de
areia da praia do mar. Foi na fé que todos (nossos
pais) morreram. Embora sem atingir o que lhes
tinha sido prometido, viram-no e o saudaram de
longe, confessando que eram só estrangeiros e
peregrinos sobre a terra (Heb 1,1-13).

Testemunhos de quem soube se abandonar


no Senhor e confiou nas Suas promessas. Contu-
do, guardavam também a virtude da humildade.
O humilde sabe se colocar nas mãos de Deus,
espera e confia. Compreende que Deus é sobe-
rano e que Ele é o Senhor da vida.

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Os filhos são dons de Deus e o humilde
reconhece esta verdade. Por isso, nunca devemos
“exigir” de Deus um filho, mas desejar que se faça
a Sua vontade. A sociedade contemporânea nos
induz ao consumismo, soluções práticas e desejos,
muitas vezes, egoístas: são os “meus” planos; o
“meu” formato de família; o “meu” tempo; as
“minhas” condições, e por aí vai. Pode ser um
grande check-list dos planos pessoais. Obvia-
mente, é salutar, sobretudo na vida de um casal,
fazer planos e sonhar. O erro não está nisso, mas
quando não se submete a vida por inteira nas
mãos do Pai, a ponto de haver revoltas contra Ele
quando determinados anseios não são realizados.
Compreender que o filho é um dom de
Deus é libertador! Quando deixamos a vida ser
regida pela Divina Providência, há paz e um
coração sereno e tranquilo. Entende-se que tudo
é fruto de Sua graça e misericórdia. Isto não quer
dizer que aqueles casais que, por algum motivo,

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não conseguem engravidar sejam menos aben-
çoados por Deus! De forma alguma! O amor e
cuidado do Senhor são para todos, em qualquer
situação, tempo e espaço!
Há mulheres que, de forma constatada pela
medicina, não podem engravidar. Outras tentam,
realizam exames, não apresentam qualquer enfer-
midade e, ainda assim, não conseguem gerar um
filho. São os mistérios da vida incompreensíveis à
lógica humana! De repente, só compreenderão na
eternidade. Mas aí que está a graça do abandono:
caminhar na fé! Mesmo não compreendendo, a
fé sustenta uma grande certeza de nossas vidas:
Deus nos ama e cuida!
Por outro lado, essa confiança na Providên-
cia de Deus não descarta o planejamento familiar,
o que é totalmente orientado pela Igreja. Na
encíclica do Papa Paulo VI, Humanae Vitae, ele
destaca o que seria a “paternidade responsável”,
o que veremos no terceiro capítulo.

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Deste modo, seja qual for a situação do
casal, de estar planejando uma gravidez ou tendo
desafios para alcançá-la, o convite é: confiar em
Deus! E temos uma grande auxiliar para isso: a
Virgem Maria. Ela também carregou um Filho
em seu ventre, o Esperado por todas as gerações,
e também buscou se preparar para receber o mais
Belo Menino de todos!
E a vida de Maria foi marcada por inespe-
rados desafios: desde o anúncio de que seria a
Mãe do Salvador; as circunstâncias em que Ele
nasceria; a perda e o encontro de Jesus Adoles-
cente, com 12 anos; e tudo o que aconteceria até
a morte de Cristo. Mas como uma esplendorosa
Rainha, ela sabia o segredo: guardava todas as
coisas no coração!
Como nas histórias dos tempos das rainhas e
dos contos que lemos, temos a imagem da rainha
como aquela mulher sábia e magnânima! Muito
mais a Rainha do Céu e da Terra! A nobreza de

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Maria está justamente na sua humildade. Ela
conhecia muito bem a arte do silêncio, da dis-
ponibilidade e do abandono à vontade Divina.

A expectativa pelos planos do Senhor

O anúncio do Anjo Gabriel à Maria: um


diálogo que mudou não somente a vida dela,
mas de toda a humanidade. Recorde como foi
esta conversa e quais não teriam sido os senti-
mentos da jovem Maria. Entre na cena e absorva
cada palavra:

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por


Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
a uma virgem desposada com um homem que se
chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem
era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia
de graça, o Senhor é contigo”. Perturbou-se ela com
essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria
semelhante saudação. O anjo disse-lhe: “Não temas,

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Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis
que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás
o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado
Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o
trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na
casa de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria
perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não
conheço homem?” Respondeu-lhe o anjo: “O Es-
pírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo
te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente
santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.
Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um
filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela
que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma
coisa é impossível”. Então disse Maria: “Eis aqui
a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua
palavra”. E o anjo afastou-se dela (Lc 1,26-38).

Se for preciso, leia mais uma vez. Para o


casal que deseja engravidar, esse diálogo chama
a viver a disponibilidade. E ainda: falar sobre
engravidar é falar também sobre a expectativa

25
de realização dos planos do Senhor, mas com
o abandono e a consciência de que Ele orienta
todo o caminho.
Mas qual seria a relação de Nossa Senhora
do Ó com tudo isso? Tal devoção surgiu preci-
samente das antífonas das vésperas da Liturgia
das Horas, de 17 a 23 de dezembro. São sete
antífonas rezadas antes e depois do Magnifi-
cat, e todas elas começam com a interjeição “Ó”
seguida de uma invocação a Jesus, como, por
exemplo, “Ó Sabedoria”, “Ó Chave de Davi”,
“Ó Sol nascente justiceiro”. Invocações que recor-
dam o momento em que Maria estava grávida,
prestes a dar à luz. Imagine como não estariam
o coração dela e a expectativa para contemplar
o rostinho do Menino Deus! Como qualquer
mãe que prepara o enxoval de seu bebê, Maria
também deve ter feito o mesmo. Céus e terras
à espera do nascimento do Salvador!

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Daí a exclamação “Ó” acompanhada de
um nome dado a Cristo. Uma expressão que
indica admiração, júbilo e uma grande alegria!
Maria foi aquela que esperou e confiou. Uma
expectação alegre e confiante. Foi isso que ela
cantou em seu Magnificat:

Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pres-


sas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em
casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel
ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu
no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde
me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu
Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação
chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu
de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que
creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte
do Senhor te foram ditas!”. E Maria disse: “Minha
alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de
alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou

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para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me
proclamarão bem-aventurada todas as gerações,
porque realizou em mim maravilhas aquele que é
poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia
se estende, de geração em geração, sobre os que
o temem. Manifestou o poder do seu braço: des-
concertou os corações dos soberbos. Derrubou do
trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou
de bens os indigentes e despediu de mãos vazias
os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da
sua misericórdia, conforme prometera a nossos
pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para
sempre”. Maria ficou com Isabel cerca de três meses.
Depois voltou para casa (Lc 1,39-56).

Após saber que Isabel estava grávida, Maria


foi às pressas ao encontro daquela idosa, que
também era portadora de uma promessa. A es-
terilidade de Zacarias e Isabel era algo tido como
vergonhoso naquela época. Uma situação que
refletia os sofrimentos do povo, mas também a

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intervenção amorosa de Deus na história, pois
Ele sempre olha como vivem Seus filhos!
O casal experimentou, assim, uma grande
transformação pessoal e social: antes se viam
constrangidos por não poderem gerar um filho,
mas agora se veem como participantes do pro-
jeto da salvação humana, pois seriam pais do
precursor de Jesus, João Batista.
Uma realidade contemplada também pela
Mãe de Jesus. Quando, no diálogo que teve com
o anjo, fica sabendo que também Isabel foi agra-
ciada milagrosamente, vai visitar sua parenta.
Até chegar ao que hoje é a região de Ain Karem,
nas proximidades de Jerusalém, fez uma longa
viagem de pouco mais de 100 quilômetros saindo
da cidade de Nazaré. Acredita-se que foi junto
a uma das caravanas que se dirigia à Cidade
Santa, Jerusalém.

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Santuário da Visitação, em Ain Karem, Jerusalém.

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E aonde Maria chega, acontece um encontro
cheio de vida, cheio do Espírito Santo! Quando
ela e Isabel se veem, encontram-se também os
frutos da bondade e do amor de Deus.
Nossa Senhora do Ó é a mesma que foi
visitar sua parenta e exulta de alegria em Deus,
o Todo Poderoso que fez e faz maravilhas! Ao
seguir essa devoção, cada mulher que nutre o
desejo de engravidar ou já se encontra grávi-
da também se alegra em Deus, seu Salvador, e
experimenta a misericórdia que se estende de
geração em geração.
O Ofício das Leituras, de 20 de dezembro,
nas vésperas do Natal do Senhor, apresenta belas
palavras de São Bernardo:

O mundo inteiro espera a resposta de Maria


Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz
um filho, não por obra de homem - tu ouviste -,
mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua respos-
ta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou.

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Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados
por uma sentença de condenação, esperamos tua
palavra de misericórdia.
Eis que te é oferecido o preço de nossa sal-
vação; se consentes, seremos livres. Todos fomos
criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte;
com uma breve resposta tua seremos recriados e
novamente chamados à vida.
Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão,
expulso do paraíso com a sua mísera descendência,
implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a
implora. Os outros patriarcas, teus antepassados,
que também habitam a região da sombra da morte,
suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera,
prostrado a teus pés.
E não é sem razão, pois de tua palavra de-
pende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos,
a liberdade dos condenados; enfim, a salvação de
todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.
Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta;
responde sem demora ao Anjo, ou melhor, respon-
de ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma
palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra

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e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra
passageira e abraça a Palavra eterna.
Por que demoras? Por que hesitas? Crê, con-
sente, recebe. Que tua humildade se encha de
coragem; tua modéstia, de confiança. De modo
algum convém que tua simplicidade virginal es-
queça a prudência. Neste encontro único, porém,
Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se
tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais
necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.
Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus
lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis
que o Desejado de todas as nações bate à tua porta.
Ah! Se tardas e ele passa, começarás novamente a
procurar com lágrimas aquele que teu coração ama!
Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre
pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis
aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em
mim segundo a tua palavra (Lc 1,38) (Das Homi-
lias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo,
abade - Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc.
4, [1966], 53-54. Séc. XII).

33
O céu esperava a resposta de Maria, como
também o Senhor deseja a sua entrega. Permita
que Ele realize. Ele que é o Senhor da vida, do
tempo e da história!

O convite é entrar na cena

O conteúdo do presente livro parte do co-


ração. São experiências de vida, trabalho, missão,
de ouvir partilhas de tantas pessoas e vivências
com Deus, a Virgem Maria e São José. Tive a
grande graça de morar na Terra Santa durante
todo o ano de 2018. Frequentemente, podia
estar no local do “sim” de Maria, a Gruta da
Anunciação, Nazaré; na Igreja de São José, no
complexo da Basílica da Anunciação, onde, se-
gundo a tradição, era a casa da Sagrada Família;
ou ainda na Basílica da Natividade, em Belém.
A Terra Santa é chamada de “O Quinto
Evangelho”. Lemos, sentimos e tocamos na his-

34
tória do povo de Israel, nas Escrituras, na vida de
Cristo e da Igreja nascente por meio dos lugares
santos. Algumas das experiências mais marcantes
para mim foram na Oficina de São José, no nível
abaixo à Igreja de São José. Um local que me
fazia penetrar na atmosfera de trabalho, amor
e ternura de José, Maria e Jesus. As lágrimas
caíam quando parecia que eu estava, de fato, ali
com eles a conversar, a trabalhar, a preparar os
alimentos, a levar água aos homens da casa que
estavam trabalhando.…

35
Oficina de São José, Igreja de São José (Basílica da Anun-
ciação, Nazaré).

Um dos vitrais nessa oficina representa o


casamento de Maria e José, um acontecimento
entre a anunciação e o nascimento do Menino
Jesus. Diante das ruínas da cidade de Nazaré,
podemos imaginar os preparativos das famílias

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para o matrimônio, seguindo os costumes da tra-
dição judaica, que ainda hoje é muito celebrativa.
A partir dos textos evangélicos, vemos
também que o pai adotivo de Jesus passou por
momentos desafiadores. Contudo, depois do
anúncio em sonho, o anjo lhe pede para não ter
medo de acolher Maria como esposa. Dentro
do projeto de salvação, José renuncia também
sua juventude, vivendo na castidade, e coopera
com o projeto de Deus para os homens. Agora,
seria o momento de preparar a casa e a festa! A
cerimônia judaica era compartilhada por toda a
comunidade local e cheia de símbolos e ritos, pois
deveria ficar marcada na memória de todos. Uma
das características mais bonitas do povo judeu é o
fazer memória de suas tradições e de sua história.
Um instrumento eficaz, em tantas outras culturas
também, que ajuda a perpetuar os costumes, as
crenças e os valores por várias gerações.

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Os homens que nos leem, de repente, sen-
tem também algum tipo de preocupação: medo
de assumirem a paternidade, do futuro ou de
como será o sustento; ou desejam ter filhos, mas
eles e suas esposas enfrentam dificuldades para
tal. Eles, de igual modo, são desafiados a imitar
José no silêncio, na obediência, no abandono, na
serenidade, na certeza de que Deus cuida, ama
e providencia todo o necessário! É importan-
te, assim, fazer memória dos feitos do Senhor
em sua existência e perceber que Deus nunca
nos abandona.
As páginas dos Evangelhos saltam e enchem
a vida de quem as lê. “A Palavra de Deus é viva,
eficaz, mais penetrante do que uma espada de
dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do
corpo, das juntas e medulas, e discerne os pen-
samentos e intenções do coração” (Heb 4,12).
Depois do parto, temos ainda as bonitas
cenas do nascimento de Cristo. Como os pastores

38
e reis magos, podemos também ouvir o anúncio
dos anjos e ir até Belém adorar o Verbo que se
fez carne. Ou com Maria e José, preparamos a
manjedoura naquele local tão inesperado. A se-
renidade e o mistério daquela cena se eternizam.
Deixe-se envolver pela expectativa de Maria e de
José naquela Noite Santa. Nossa Senhora do Ó
tem muito a nos ensinar nas próximas páginas.
A partir de agora, como a Virgem Santís-
sima, guarde tudo no coração, em espírito de
amor e fé. Deixe Deus falar baixinho, no íntimo
do coração, e também, em alguns momentos,
silencie, pois o Menino Deus quer dormir.

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