O Candomble Bem Explicado George Mauricio
O Candomble Bem Explicado George Mauricio
O Candomble Bem Explicado George Mauricio
Sobre a obra:
Sobre nós:
Rio de Janeiro
2009
Copy right © 2009
Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã
Editoras
Cristina Fernandes Warth
Mariana Warth
Coordenação editorial
Silvia Rebello
Coordenação de produção
Christine Dieguez
Produção gráfica
Aron Balmas
Preparação de texto
Eneida D. Gaspar
Revisão
Cindy Leopoldo
Juliana Latini
Capa
Carlos Denisieski
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
ISBN 978-85-347-0576-9
O início deste livro não surgiu do toque inicial de uma caneta em uma
folha de papel. Ele já se apresentava há alguns anos, quando os autores, Odé
Kileuy e Vera de Oxaguiã, através de suas outras obras publicadas – Como fazer
você mesmo seu ebó, Feitiços para prender o seu amor e Presenteie seus orixás e
ecuruns –, mostraram o desejo de passar seu conhecimento prático para o lado
teórico e escrito. Ambos sentiram esta necessidade pela grande falta de
informações escritas e pela intensa busca de seus filhos e irmãos de religião e dos
amigos, freqüentadores e simpatizantes do candomblé. Porém, o casulo que
abrigava esta intenção começou a ser trançado no momento em que eles,
olhando mais atentamente a religião, puderam ver todas as nuances e
peculiaridades que podem ser vistas por quem é de fora. Mas que muitas vezes
não são entendidas por estes! Eles pressentiram que ali estava o futuro de uma
história religiosa que ainda não fora escrita!
Pensando em seu período como recém-iniciados e nas dúvidas que
tinham naquela época, os autores procuraram também conversar com outras
pessoas que, independentemente do tempo de iniciação, também se
questionavam sobre certos tópicos da religião. Perguntas como "O que é o
candomblé?", "O que estou fazendo aqui?", "Qual a minha função dentro da
religião?" e muitas outras ficavam sem resposta, porque poucos entendiam a
religião teoricamente. Ela só era vivenciada!
De todos estes questionamentos, surgiu a idéia de fazer este livro, iniciado
aproximadamente oito anos antes de ser entregue para publicação, e que se
tornou a evolução de uma cartilha planejada para uniformizar a educação
religiosa dos abiãs e dos iaôs em geral e, em especial, daqueles de nossa casa de
candomblé, o Kwe Axé Vodum Odé Kileuy (Axé Kavok). Após um período de
estagnação, e ainda não esquematizado e organizado, de repente ele pareceu
tomar um revigorante impulso, com necessidade e exigência de ser otimizado,
reformulado e ampliado. Ao sentir esta necessidade do "livro", o invadi e me fiz
ser aceito pelos autores neste objetivo! Tornei-me o organizador e
transformamos este anseio da dupla em um desejo comum a nós três!
Ficou acordado entre nós que o livro seguiria uma tendência linear, tendo
as suas questões uma seqüência pautada em quase todas as etapas e nos
patamares religiosos. Outras informações importantes e relacionadas a seus
quesitos foram inseridas em seus capítulos. Em nossas pesquisas foram
descobertas infinitas diversidades e conceitos simbólicos que explicam o uso de
objetos, as características e as funções de variados itens que participam do
candomblé. E são pouco explicados!
O livro foi quase todo pautado nos ensinamentos adquiridos na tradição
familiar religiosa dos autores, na qual também me insiro. As pesquisas ajudaram
a abrilhantar ainda mais a obra. Odé Kileuy e Vera de Oxaguiã optaram por
utilizar a compreensão da linhagem ou descendência religiosa para dirigir suas
explicações. Porém, não se portaram como intrusos em nenhuma das três
nações, pois têm ascendentes que participaram ou ainda participam delas!
Tentando ajudar e facilitar a leitura, foram utilizados conceitos
simplificados de outros já existentes na religião e remodelados para uma
explicação quase interpessoal. Tudo para objetivar um melhor entendimento e
compreensão de todas as pessoas, mesmo aquelas ainda não inseridas na religião.
Os conceitos foram explicados, mas ficou reservado o direito de não ensinar as
práticas e as funções religiosas! Acredito, ainda, que se este livro não possuir as
informações necessárias a algum candomblecista, este com certeza encontrará
nele pelo menos uma possibilidade de, com perseverança e o auxílio de um
sacerdote, descortinar o véu que lhe cobre os olhos e cega sua compreensão e
seu entendimento!
Que estas páginas possam trazer a elucidação e a condição de todos para
que conheçam e amem uma religião que lutou, e ainda luta, para ser entendida!
Marcelo Barros
(Ogã Babá Otum, do Kwe Axé Vodum Odé Kileuy)
Nossas raízes
Mãe-natureza
Dedicatória
Agradecimentos
Palavras dos autores
Introdução
Nossas raízes
Capítulo 1 – O candomblé
1. Como podemos definir o candomblé?
2. Como surgiu o candomblé no Brasil?
3. Quais as dificuldades que o povo do candomblé passou para ter o
reconhecimento de sua religião?
4. Como o sincretismo agiu na religião?
5. Quais as nações que formaram as religiões africanas no Brasil?
6. O que é o axé?
7. O que é uma casa de candomblé?
8. O que é a "cumeeira" da casa de candomblé?
9. Qual o comportamento que deve ser adotado por aqueles que visitam
uma casa de candomblé?
10. Quem são as pessoas que freqüentam o candomblé?
11. Por que só algumas pessoas são chamadas a fazer a iniciação em
nossa religião?
12. Todas as pessoas têm o dom da incorporação?
Capítulo – 2 Hierarquia no candomblé
13. O que é a hierarquia em uma casa de candomblé?
14. O que é a "Cuia"?
15. Quais são os cargos máximos dentro de uma casa de candomblé?
16. Quem são os babalorixás e as iy alorixás?
17. Quem são os babalossâins?
18. Quem são os alabás?
19. Quem são os babalaôs?
20. Quem são os oluôs?
21. Quem são os ogãs?
22. Quem são as equedes?
23. Quem são as/os ebômis?
Capítulo 3 – O início de uma nova vida
24. Quem são os abiãs?
25. Qual é o nome do ritual no qual o abiã se transforma em iaô?
26. O que é a iniciação propriamente dita?
27. Por que se denomina a iniciação no candomblé de "fazer o santo"?
28. Para que serve o período de recolhimento na época da iniciação?
29. O que é ser iaô?
30. O que é um "barco de iaôs"?
31. Quais os nomes dos componentes de um "barco de iaôs"?
32. Como se descobre quem são os orixás do futuro iaô?
Capítulo 4 – Os orixás na vida do iaô
33. Quem são os orixás?
34. Os orixás se vestem de acordo com o sexo doia seu/sua iniciado/a?
35. Quem são os irunmonlés?
36. Quem são os 400 irunmonlés da direita?
37. Quem são os 200 irunmonlés da esquerda?
38. Quem são os irunmonlés-ancestres?
39. O que é o termo "panteão dos orixás"?
40. O que é o termo "qualidade de orixás"?
41. O que é a "corte de orixás" do iniciado do candomblé?
42. O que é o orixá do amparo?
43. O que é o orixá do ori?
44. O que é o orixá do adjuntó?
45. O que é o orixá do etá?
46. O que é o orixá de herança?
47. Quais os orixás que o iaô precisa assentar, na sua feitura?
Capítulo 5 – O orí
48. O que é o orí?
49. Como é dividido o corpo humano em sua parte sagrada?
50. O que é o eledá?
Capítulo 6 – Os ebós
51. O que são ebós?
52. Por que o futuro iaô precisa fazer ebós antes dos rituais de feitura?
53. Que tipos de ebós o futuro iaô deve fazer?
Capítulo 7 – Borí, o primeiro sacramento
54. O que vem a ser o Borí?
55. O que é o igbá orí?
56. De quanto em quanto tempo deve-se fazer Borí?
57. Quais são os casos para a indicação do Borí?
58. Qual o significado litúrgico da "Toalha do Borí"?
Capítulo 8 – Preparação para a feitura
59. O que o iniciado precisa levar para a casa de candomblé quando for
se recolher?
60. O que é o igbá?
61. O que é o rondêmi?
62. Por que, na maioria das casas, há o costume de o iaô usar roupas
brancas em sua iniciação?
63. Por que o iaô dorme em esteira?
64. Por que o iaô usa xaorô, contra-egum, umbigueira e mocã?
65. O que representa o inhã para os iniciados do candomblé?
Capítulo 9 – Alguns preceitos da feitura
66. Como se convoca o orixá do iaô?
67. Qual é o significado de raspar a cabeça?
68. Por que se fazem incisões no iaô?
69. O que representa a matança na feitura do iaô?
70. O que é o sundidé?
71. Quais são os animais utilizados nas liturgias do candomblé?
72. O que significa a galinha-d'angola na feitura?
73. O que representa o pombo na feitura?
74. O que representa o camaleão na feitura?
75. O que representa o igbim na feitura?
76. O que representam os demais animais no ritual da feitura?
77. O que significa a sassanha/sassanhe?
78. O que é o quelê?
79. O que é o sarapocã (ou sadapocã)?
80. O que representa a colocação do icodidé no iaô?
81. O que representa o ato de "pintar o iaô"?
82. Quais são as cores fundamentais da religião?
83. O que é o oxu?
84. O que é a festa pública do "Dia do Nome"?
85. O que é o orunkó?
86. O que é o orupí?
87. O que é o panã?
Capítulo 10 – Pequenos ensinamentos para o iaô que está de quelê
88. Algumas formas de bênção, como respondê-Ias e algumas saudações
utilizadas no candomblé.
89. Como o iaô deve responder quando chamado pelo/a babalorixá/
iy alorixá?
90. Por que o iaô deve recitar certos oriquís antes e depois de alimentar-
se?
91. Por que o iaô, no seu período de resguardo, não deve cozinhar?
92. Por que o iniciado não pode comer certos tipos de alimentos?
93. Por que o iaô não deve comer com talheres?
94. Por que o iaô só pode sentar e dormir em esteira durante seu
resguardo?
95. Por que o iaô não pode dormir de barriga para cima?
96. Como deve ser o banho do iaô?
97. Por que os iniciados só devem usar o sabão-da-costa em seu banho?
98. Por que o usuário do quelê não pode ter contato físico com outras
pessoas?
99. Por que o iaô de quelê não pode se olhar no espelho?
100. Por que o iaô precisa andar de cabeça baixa?
101. Por que o iaô anda descalço na casa de candomblé?
102. Por que o iaô não deve cruzar os braços na casa de candomblé?
103. Por que o iaô não pode andar sozinho na rua?
104. Por que o iaô não deve estar na rua em determinados horários?
105. Por que muitas vezes o quelê do iaô arrebenta?
106. Após a retirada do quelê ainda existe algum resguardo?
Capítulo 11 – A nova vida do iaô no candomblé
107. O que significará o candomblé na vida do novo iaô?
108. Por onde começa o aprendizado do novo iaô na casa de candomblé?
109. O que o iaô poderá trazer para o candomblé?
110. Qual o comportamento que o iaô deve adotar ao chegar à casa de
candomblé?
111. Como deve vestir-se o iaô na casa de candomblé?
112. Qual o relacionamento do iaô com as pessoas que se iniciaram
juntamente com ele?
113. Como deve proceder o iaô nos dias de festa na sua casa de
candomblé?
114. Como o iaô deverá se relacionar com os integrantes da sua casa de
candomblé e da religião?
115. Quais são os os direitos e os deveres do iaô como um participante da
comunidade?
116. Alguns tipos de comportamentos poderão se transformar em
transgressão.
Capítulo 12 – O aprendizado na cozinha
117. O que é o ajeum?
118. O que é adimu?
119. Qualquer iaô poderá participar do preparo das comidas dos orixás?
120. Qual a representação de "ofertar comida" às divindades?
121. Qual é o procedimento para o preparo das comidas sagradas?
122. Como é feita a entrega das comidas aos orixás?
123. Onde devem ser guardadas as comidas que serão ofertadas aos
orixás?
124. Quais os recipientes usados para acondicionar as comidas dos orixás?
125. Quais são as comidas preferidas de cada orixá?
Capítulo 13 – A bandeja de temperos na liturgia
126. Qual o significado do azeite-de-dendê?
127. Qual o significado do azeite-de-oliva?
128. Qual o significado do adim?
129. Qual o significado do mel?
130. Qual o significado do açúcar?
131. Qual o significado do sal?
132. Qual o significado da água?
133. Qual o significado das bebidas alcóolicas?
134. Qual o significado da pimenta-da-costa?
Capítulo 14 – Alguns símbolos importantes da religião
135. Qual o simbolismo do ebô?
136. Qual o simbolismo do acaçá?
137. Qual o simbolismo do ovo?
138. Qual o significado do obí?
139. Qual o significado do orobô?
140. Qual o simbolismo do atim?
141. Qual o simbolismo do búzio?
142. Qual o simbolismo da palha-da-costa?
143. Qual o simbolismo do mariô?
144. Qual o simbolismo da esteira?
145. Qual o simbolismo do sabão-da-costa?
146. Qual o simbolismo do algodão?
147. Qual o simbolismo da vela?
148. Qual o simbolismo da pedra?
149. Qual o simbolismo da quartinha?
Capítulo 15 – Pequenas informações úteis
150. Como se "desperta" a pessoa que está incorporada com sua
divindade?
151. O que são orÍns?
152. O que são oriquÍs?
153. O que são as adurás?
154. O que é o ofó?
155. O que é o orô?
156. O que são os itãs?
157. O que é o ké?
158. Quais são as saudações gerais para os orixás?
159. O que são o dobale e o icá?
160. Que pessoas devem fazer o ato de "bater cabeça"?
161. O que significa euó ou quizila?
162. O que significa a ximba?
163. O que é o paó?
164. O que é o ossé?
165. O que é o abô?
166. Para que servem os breves, amuletos ou patuás?
167. Por que os iniciados da religião se reúnem nas casas de candomblé
na Sexta-feira da Paixão?
Capítulo 16 – Pessoas especiais dentro do candomblé
168. O que é uma pessoa Abicu?
169. O que é uma pessoa Abialá?
170. O que é uma pessoa Abiaxé?
171. O que é uma pessoa Salacó?
172. O que é uma pessoa Xeregun?
173. O que é uma pessoa Xerodu?
Capítulo 17 – Vestuário e paramentos
174. O que é o pano-da-costa?
175. O que é o camisu?
176. O que é o calçolão?
177. O que é o ojá?
178. O que é o singuê?
179. O que é a bata?
180. O que é o alacá?
181. O que é o brajá?
182. O que é o cordão de laguidibá?
183. O que é o runjeve?
Capítulo 18 – Sociedades secretas e confrarias divinas
184. O que é a Sociedade Geledê?
185. O que é a Sociedade Ogboni?
186. O que é a Sociedade Elecó?
187. O que é a Sociedade Gonocô?
188. O que é a Sociedade dos Oxôs?
189. Quem são os Ajás?
190. Quem são as Ajés?
Capítulo 19 – Nações
Nação Bantu
191. Como são chamadas as divindades da nação bantu?
192. Quais são as divindades da nação Bantu?
193. Como se denominam os/as sacerdotes/sacerdotisas desta nação?
194. O que é o Bengué Camutuê?
195. O que vem a ser Dijina Muzenza?
196. O que é o Jamberessu?
197. O que é Kassambá Muvú?
198. O que é a Cucuana?
199. O que é Nkudiá Mútue ou Quibane Mútue?
200. O que é Vumbi/Vumbe?
Nação Fon
201. Como são chamadas as divindades da nação fon?
202. Quais são as famílias dos voduns?
203. Como são chamados os sacerdotes ou sacerdotisas desta nação?
204. O que é o rumpame?
205. O que são os atinsás?
206. O que é o Jebereçu?
207. O que é o Ageuntó?
208. O que é o rumbê?
209. O que é o Mixaô?
210. O que é o Credezen?
211. O que é a "Prova do Zô" ou "Prova de Fogo"?
212. O que é o Zandró?
213. O que é o Andê?
214. O que é o Polê?
215. O que é o Rudjê?
216. O que é o Grá?
217. O que é o Dangbê?
218. O que é o Boitá?
219. Qual a representação de Aizã dentro da casa de candomblé fon?
220. O que é o ritual do Curram?
Nação Efon (Efan)
Nação Xambá
Capítulo 20 – Alguns instrumentos musicais do candomblé
Adjá
Agogô ou Gã
Aguidaví
Assanguê
Oguê
Atabaques
Batá
Babalajá
Calacolô
Caxixi
Xequeré
Xére
Capítulo 21 – Toques do candomblé
221. O que é o xirê?
Acacá
Adarrum
Agabí
Agueré
Ajagum
Alujá
Arrebate
Avamunha/Ramunia
Barravento
Batá
Bravum
Cabula
Daró
Darrome
Ibim
Ijexá
Ijicá
Modubí/Mudubí
Opanijé
Quiribotô
Sató
Tonibobé
Vivauê
222. O que são "cantigas de oiê"?
223. O que são "cantigas de fundamento"?
Capítulo 22 – Ferramentas, símbolos e emblemas
224. O que representa o ogó?
225. O que representa a espada?
226. O que é o tacará?
227. O que representa o ofá?
228. O que representa o iruquerê?
229. O que é o bilala?
230. O que representa o oxê?
231. O que representa o abebé?
232. O que representa o iruexim?
233. O que representa o xaxará?
234. O que é o brajá?
235. O que representa o ibirí?
236. O que é o atorí?
237. O que é o capacete de Oxaguiã?
238. O que representa o pilão?
239. O que representa a mão-de-pilão?
240. O que representa o opaxorô?
241. O que representa o alá?
Capítulo 23 – Algumas árvores sagradas
Apaocá
Acocô
Iroco
Dendezeiro
Obó
Capítulo 24 – As divindades
Exu
Bára
Ecurum
Ogum
Ossâim
Oxóssi
Obaluaiê
Oxumarê
Xangô
Iroco
Logunedé
Oxum
Oiá
Obá
lewá
Ibeji
lemanjá
Nanã
Oxaguiã
Oxalufon
Obatalá
Odudua
Olorum
Capítulo 25 – Outras divindades
Erê
Onilé
Oranfé
Erinlé
Ifá
Orunmilá
Babá Olocum
Odus
Iy amí Oxorongá
Babá Egum
Babá Oró
Iku
Capítulo 26 – O Ipadê
Capítulo 27 – O Axexê
Referências Bibliográficas
CAPÍTULO 1
O candomblé
Muito mais poderia ser dito, mas cabe a cada casa impor suas normas e
regulamentos, evitando que a religião seja denegrida por pessoas que não têm
nada a ver com seus conceitos. Não devemos permitir que uma religião de tantos
séculos seja maculada e achincalhada pelo comportamento de pessoas estranhas,
ou até mesmo pelo de seus membros. Precisamos lutar pela harmonia, pela paz,
pela união e pela importância que a religião tem dentro do contexto sócio-
sagrado.
Todo cuidado deve ser tomado pelos seus iniciados e também por seus
freqüentadores, pois estamos em uma era de transformações e todas as religiões
estão passando por um período de reformulação. E o candomblé, com certeza,
não deverá passar impune! Os que crêem, têm fé e amam os orixás
permanecerão. Aqueles que vivem em disputas e indecisos, pensando mais em
suas vaidades e com soberba, precisarão se decidir, senão as divindades
decidirão por eles. E aí o que o orixá decidir, ninguém mudará!
10. Q uem são as pessoas que freqüentam o candomblé?
Geralmente são as pessoas que possuem laços de amizade ou parentesco
com os seus seguidores, que têm afinidades com a religião, ou até mesmo que
querem estudá-la e conhecê-la mais profundamente. Outros recorrem à religião
após um longo tempo de luta e já desesperançados para resolver casos
recorrentes, por não terem encontrado respostas aos seus problemas em outro
segmento. Estes problemas podem ser de tipos variados: de ordem económica,
psicológica, de saúde, amorosos, de intranqüilidade, de equilíbrio etc. Uma vida
espiritual bem resolvida também ajuda as pessoas a terem a sua vida terrena
mais fortificada!
Muitas vezes aqueles que recorrem à religião acabam identificando-se
com seu perfil, com a comunidade e com seus hábitos e ali permanecem,
seguindo os seus preceitos, tornando-se assim amigos ou até mesmo futuros filhos
da casa. O candomblé não é uma religião catequisadora, portanto, ela não sai à
procura de adeptos. Ela é procurada. Seus freqüentadores são aqueles que
buscam uma ajuda religiosa mais consistente, mais palpável! Axé.
11. Por que só algumas pessoas são chamadas a fazer a iniciação em nossa
religião?
Geralmente isso acontece pelo fato de a pessoa ter antepassados e até
mesmo familiares ligados ao candomblé, à umbanda ou a outras religiões que
possuam afinidades entre si. A religião também é muito procurada por pessoas
que têm doenças não solucionadas e não explicadas. Outras, para buscar amparo
e ajuda nos seus caminhos, ao concluírem que outras religiões não lhes trazem
satisfação e proteção. Mas existem também aquelas que são naturalmente
tocadas pelos orixás, em uma espécie de atração sagrada, e essa "chamada dos
orixás" pode ocorrer de formas variadas e em vários momentos da vida.
Algumas pessoas já nascem com a necessidade da iniciação imediata. De outras,
as divindades esperam um amadurecimento mais adiantado quando, então, se
apresentam, seja em um momento de transe ou por meio do Jogo de Búzios. O
ideal seria que, conforme acontece em muitas outras religiões, os pais iniciados
no candomblé já incluíssem seus descendentes na religião. Isto só iria contribuir
para a sua continuidade, para o seu crescimento e seus ensinamentos e
fundamentos seriam melhor entendidos.
12. Todas as pessoas têm o dom da incorporação?
Não, nem todos os adeptos da religião têm o dom da incorporação. Os
exemplos principais deste caso na religião são os ogãs e as equedes, peças
fundamentais da religião que não incorporam suas divindades.
No Brasil é comum alguns sacerdotes acharem que todos os iaôs devem
incorporar seu orixá, sem contudo entender que a energia espiritual é como um
vento, que ora sopra forte, ora sopra fraco, vibrando com maior ou menor
intensidade. Isso não é indicativo de orixá forte ou fraco, mas de que o controle
dele sobre a mente é variável de pessoa para pessoa e que tudo depende da
permissão do nosso ori. Por isso, é preciso que a pessoa antes de ser iniciada
procure alguém de grande conhecimento da religião, ou recorra a várias pessoas,
até achar aquela que lhe transmita segurança. Agindo assim, muitas pessoas
evitarão, após serem confirmadas para ogãs ou equedes, por exemplo, passarem
pelo contrangimento de serem incorporadas por seu orixá! Muitas vezes a
divindade aguarda anos para fazer sua possessão, esperando o momento
adequado para quando aquele/a iniciado/a já estiver mais fortalecido
religiosamente e também com maior responsabilidade religiosa.
É muito comum certas pessoas, ao desmaiarem e passarem mal, serem
carregadas para hospitais e, ao chegarem lá, serem sedadas sem que os médicos
tenham encontrado nada de errado em sua saúde. Muitas vezes, estas pessoas
estão incorporadas com seu orixá sem o saberem. A divindade mexe com o
metabolismo humano de uma forma ainda muito incompreendida, apresentando
em certos momentos um tipo de convulsão que é visto pelo leigo como doença. O
que ocorre é um choque, um conflito entre o lado espiritual e o físico, que precisa
ser bem verificado e analisado pelo/a sacerdote/sacerdotisa, evitando assim
grandes problemas e desequilíbrios futuros. É do conhecimento geral que muitas
pessoas já foram retiradas de certos tipos de internação, com autorização de
parentes, e que logo após tratamento espiritual e iniciação tiveram sua saúde
mental de volta e sua vida normalizada!
Mas precisamos diferenciar os termos incorporação e mediunidade. A
mediunidade faz o médium escutar, receber e escrever mensagens dos
espíritos/almas, que são transmitidas aos homens. Sendo assim, o médium é o
intermediário entre os seres vivos e as almas dos mortos, bem explicado pelo
espiritismo, por meio dos livros de Alan Kardec.
A incorporação no candomblé é produzida pelas divindades sagradas que
tomam posse do nosso corpo. Neste momento, elas voltam momentaneamente
ao aiê e retomam a sua antiga personalidade. Trazem então à tona suas
qualidades e seus defeitos, seu caráter, seus gostos, sentindo-se inteiramente à
vontade nessa relação com os homens. Também se utilizam dos movimentos
para relembrar e contar histórias, mostrar o seu prazer pela dança. Trazem seu
instinto guerreiro ou sua graciosidade, sua serenidade ou sua vivacidade,
retornando, desse modo, aos seus tempos imemoriais.
Existem três modelos de incorporação: a pessoa que tem consciência; a
que é semi-consciente; e aquela totalmente inconsciente. A pessoa consciente e a
semi-consciente são aquelas em que a energia do orixá vibra mais suavemente,
oscilando um pouco. Sua consciência é maior, mas o orixá consegue dominá-la
em certos aspectos, como na dança, nos movimentos suaves. A pessoa não está
fingindo, pois sente que faz todos os gestuais, mas não consegue ter domínio sobre
suas ações. É uma situação delicada, que deve ser entendida e que pode ser
modificada através do saber e da ajuda doia babalorixá/iy alorixá. Já a pessoa
inconsciente é aquela a quem o orixá domina completamente os sentidos. É um
momento melindroso, em que a pessoa perde a consciência de tudo ao seu redor.
Para que a incorporação ocorra, com consciência ou não, é preciso que o
adepto esteja bem sintonizado com o seu mundo particular e também com o
religioso. Deve estar em harmonia com a vida ao seu redor, sem pensamentos
maldosos, sem rancores, sem ódios, de corpo e mente limpos e saudáveis. Se este
conjunto estiver em equilíbrio e harmonia, aí sim, ocorrerá uma perfeita
incorporação e a verdadeira sintonia com o orixá.
É por meio da incorporação que um novo participante da casa de
candomblé decidirá se deseja seguir os caminhos da religião, se quer
permanecer no Axé. Se decidir positivamente, se tomará então um abiã, um
iniciante que observará e será observado para poder fazer sua entrada na
religião.
CAPÍTULO 2
Hierarquia no candomblé
O candomblé é uma religião que possui uma hierarquia muito rígida. Isto facilita o
escalonamento de funções e permite que o andamento da casa flua mais
tranqüilamente. A hierarquia possibilita que os sacerdotes dediquemse quase que
exclusivamente às divindades e às suas funções de condutor e administrador do
Axé da Casa.
13. O que é a hierarquia em uma casa de candomblé?
O conhecimento no candomblé é primeiro aprendido para depois ser
apreendido e, muito depois, entendido. Todos estes vocábulos juntos se resumem
em hierarquia! E ela tem uma escala evolutiva dentro da religião que se inicia
pelo abiã, passa pelo iaô, pelos/as ebômis, ogãs, equedes e babalorixás/iy alorixás.
Numa escala vertical, o posicionamento seria o inverso. A hierarquia, contudo,
não isenta ninguém de trabalho! Ela só delimita espaços, organiza a comunidade,
promove a ordem, delega funções e responsabilidades! A hierarquia também
prepara novas pessoas para novas funções, pois o iaô de hoje será um babalorixá
amanhã. Ele precisa conhecer bem os meandros das diversas graduações para
poder retransmiti-las.
A hierarquia é baseada na senioridade, pois o fator antiguidade tem um
grande peso dentro dos terreiros de candomblé: é natural que alguns tenham
posição de maior ou de menor responsabilidade. Mas todos os cargos e postos
ocupados pelas pessoas do candomblé são importantes para o bom andamento
das casas e isto não impossibilita que todos da comunidade se ajudem e
desempenhem variadas tarefas! Mesmo aos amigos mais íntimos e mais antigos
de um Axé é costume ser concedido um cargo, geralmente conferido pelo/a
babalorixá/iy alorixá ou pelo orixá dono da casa. Este posto será somente
direcionado para as funções de cunho social ou administrativo, mas esta pessoa
fará parte da hierarquia e deverá respeitar e ser respeitada por todos da
comunidade.
A insubordinação à hierarquia às vezes atrapalha as pessoas, pois muitas
delas não entendem e não aceitam certos dogmas da religião. Cabe então aos
sacerdotes transmitir os ensinamentos que possam trazer um perfeito
esclarecimento das situações e, logicamente, a aceitação. E isto não está
ocorrendo atualmente. Muitos iniciados estão "queimando" etapas, se tornando
primeiramente sacerdotes para, depois, aprenderem o necessário e fundamental!
Até mesmo sem sequer ter completado algum tempo na religião ou mesmo ter
obtido o suporte e o aval de seus superiores, através do recebimento da Cuia,
objeto que o avaliza e ratifica um cargo. A hierarquia, em qualquer setor da
sociedade, define indivíduos com capacidade para liderar e assim ajudar um
conjunto de pessoas a conviver pacífica e harmoniosamente em um mesmo
local. É costume antigo que assim aconteça nas comunidades de candomblé, em
que a hierarquia é severa e as graduações são necessárias, pois a temporalidade
precisa ser respeitada. O povo do candomblé diz que "tempo é posto"!
14. O que é a "Cuia"?
É o símbolo primordial, na hierarquia do candomblé, que dá plenos
poderes religiosos ao iniciado e que lhe confere o "cargo" de
sacerdote/sacerdotisa. Só tem direito à Cuia a pessoa que tiver recebido de
Olorum a determinação de abrir e gerir sua casa de candomblé. O iniciado a
recebe de seu sacerdote como complementação do ciclo de sua vida religiosa, no
dia de sua obrigação de sete anos, o Odum Ejê. A partir deste momento, recebe
certos direitos, poderes e também muito mais responsabilidades, por isso deve
estar preparado ou sendo preparado para as funções sacerdotais, tendo atingido o
grau de autoridade.
A Cuia recebe, em cada nação, um nome diferenciado: decá ou ibaxé, na
nação nagô-vodum; oiê-de-ebomi, ibaxé ou balaio-de-axé, nas nações iorubá e
efan; e kijingu, na nação bantu.
Considerada uma transmissão de conhecimento, de saberes e também dos
fundamentos e dos segredos mais recônditos do candomblé, ela é passada de um
babalorixá para um futuro babalorixá, representando a maioridade. Sem recebê-
la, o iniciado não tem o direito nem as condições adequadas e preparatórias para
suportar e manter uma casa de candomblé. A Cuia possibilita assim o surgimento
e a continuidade de um Axé. O recebimento da Cuia indica que aquele filho já
esta apto a seguir as determinações de seu orixá e de seu destino, pois ali dentro
estão suas "ferramentas de trabalho"! Este recebimento não desvincula, contudo,
o iniciado do seu/sua babalorixá/iy alorixá, pois nenhum vínculo religioso foi
cortado. A partir daí precisarão existir a ascendência e a descendência, uma
união mais consistente e de confiança, com uma troca e uma busca de
informações. Esta ligação contínua é que enriquece ainda mais o vínculo
sagrado, que é permanente e eterno!
15. Q uais são os cargos máximos dentro de uma casa de candomblé?
O candomblé possui quatro cargos máximos que presidem vários
segmentos:
a parte divina, de culto aos orixás;
a parte religiosa, que lida com as ervas, as folhas, as árvores, os frutos, as
favas;
a parte da descendência propriamente dita, ou seja, a que trata dos
grandes ancestrais, os Babá Eguns;
a parte dos Odus, que rege e determina o destino e a vida dos seres
humanos.
Cada segmento desses é administrado por uma autoridade que, por sua
vez, só tem poder de mando dentro de sua casa de candomblé:
o babalorixá/iyalorixá, a pessoa que se dedica à parte de transmissão do
axé dos orixás e que também cuida da vida religiosa das pessoas da sua
comunidade;
o babalossâim, olóõsanyin ou babá l'ewé, a pessoa iniciada na religião que
se dedica ao estudo, aos cuidados e aos conhecimentos das folhas;
o alabá, responsável pelo candomblé de Babá Egum, sempre assessorado
pelos Babá Ojés;
o babalaô, sacerdote responsável pelo culto ao orixá Orunmilá e que não
possui ligação específica com nenhuma casa de candomblé;
o oluô, pessoa preparada e confirmada, com a incumbência divina de
exercer o cargo de consultor particularizado do oráculo sagrado para uma casa
de candomblé.
Alguns desses cargos já estão se tornando raros, como o de Babalossâim.
Outros, como os de Babá Ojés, têm seu círculo de atuação mais fechado e estão
localizados somente em determinadas regiões do país. Mas é bom lembrar que
esses sacerdotes se complementam, precisando geralmente um do outro, pois
possuem conexões necessárias ao bom andamento das funções da religião.
16. Q uem são os babalorixás e as iyalorixás?
Babalorixá e iy alorixá (babalòrìṣá e iyálòrìṣá, em iorubá) são as figuras
centrais de uma casa de candomblé e seus nomes já os identificam como o/a
"pai/mãe que cuida do orixá", sendo os chefes de um Axé. São pessoas
especialmente escolhidas por Olorum para ajudar a organizar a vida de muitas
pessoas no aiê! Recebem também os nomes de babalaxé ou iy alaxé, aqueles que
concentram e que distribuem o axé mais poderoso da casa! Com tantos
predicados, necessitam de equilíbrio, disponibilidade, dedicação e,
primordialmente, bondade no coração, para proporcionar bem-estar a quem os
procura.
Estes sacerdotes são pessoas iniciadas que assumem essa posição através
do seu Odu individual. Para exercê-la, precisam estar com suas obrigações
litúrgicas completas e ter recebido de seu sacerdote o elemento comprobatório
de seu cargo, denominado Decá, Cuia, Ibaxé etc., de acordo com cada Axé.
Na nação fon, geralmente, os homens recebem o nome de doté ou etemí.
Em algumas casas jeje-mahis são também chamados de humbano, palavra
traduzida como "primeiro". Em outros Axés, humbono é usual para distinguir o/a
primeiro/a vodunci iniciado/a. As mulheres são chamadas de doné ou de mejitó.
Porém, até o presente momento, só se tem conhecimento histórico de uma
sacerdotisa, no Brasil, que possuía o nome de mejitó, a primeira no país. Era a
sra. Adelaide do Espírito Santo, de vodum Ijó (vodum dos ventos), proveniente de
Aladá, no Benim, do Axé Podabá, Rio de Janeiro. Na nação nagô-vodum são
chamadas de gaiaku, não se conhecendo o similar deste nome para o cargo
masculino.
Na nação bantu o sacerdote recebe o nome de ta teta, tata-deinquice
(Angola) ou ganga (Congo), chefe supremo, e a sacerdotisa chama-se mameto,
mameto-ndenge ou nêngua-de-inquice.
Estes sacerdotes e sacerdotisas são as autoridades máximas dentro de suas
comunidades e possuem também o cargo mais elevado na hierarquia do
candomblé. Têm total responsabilidade sobre a vida religiosa de todos que ali
freqüentam. Precisam ter muito saber e conhecimento apurado da religião. É
uma posição hierárquica que requer doutrina, bom discernimento e um
comportamento exemplar, somados a muita perseverança e ponderação.
Respondem pela iniciação daqueles que os procuram, acompanhando-os
enquanto permanecerem em sua casa até o momento de seu falecimento.
O exercício desse cargo exige extrema dedicação, com sacrifícios para a
própria vida, pois necessitam quase que diariamente conviver com um universo
de problemas e situações de pessoas que estão sob a sua responsabilidade. Estes
podem ser os iniciados, amigos ou mesmo pessoas estranhas que os/as procuram,
desejando soluções para variados casos. E esses sacerdotes precisarão saber agir
ora com delicadeza, ora com severidade. Usando muitas vezes até mesmo uma
sinceridade que deverá ser bem dosada, oscilando entre a dor e o amor. Por isso,
necessitam de um extremo equilíbrio, uma incomparável paciência e grande
maleabilidade para agradar a todos. Sem deixar sufocar a sua personalidade e a
sua autoridade, o que é difícil, mas não impossível! Isso tudo só é conseguido
através da luta do dia-a-dia e à medida que vão obtendo maiores e melhores
conhecimentos do ser humano. Com o tempo, adquirem sensibilidade para
trabalhar com a parte psicológica e sensível de cada um. Aprendem, então, a
lidar com os diversos tipos de personalidade, caráter e educação dos que o
procuram.
Estas autoridades devem preocupar-se também em preparar pessoas que
dêem continuidade à casa de candomblé após a sua morte. Quando ocorre o
falecimento de um babalorixá ou de uma iy alorixá, é uma bandeira que se
arreia, é um Axé que se fecha, são conhecimentos que se perdem! Muitos não se
preparam em vida para que isto não ocorra; em alguns casos até mesmo para
evitar a intromissão familiar do falecido! É necessário que os ensinamentos
sejam passados aos mais dedicados e permanentes da casa. Estes, com certeza,
darão continuidade ao terreiro!
O candomblé está precisando de pessoas que continuem levantando seu
nome, que "mostrem a cara", orgulhosas de pertencerem a uma religião tão
fascinante. E abrir ou reabrir uma casa é um momento de grande regozijo para
toda a comunidade do candomblé. Novos/as babalorixás/iy alorixás surgem,
novos iaôs nascem e assim a vida religiosa tem uma continuidade. Na
inauguração de um Axé toda a família se movimenta, pois todos os pertencentes
à ascendência e à descendência são convidados e comparecem prestigiando! São
os babalorixás, os "avós-de-santo", os "tios", os "sobrinhos", os irmãos mais velhos
(ebômis), os filhos. Enfim, todo um conjunto familiar ajudando a abrilhantar a
festa das divindades. E todos se juntam para prestigiar a casa que nasce ou
renasce!
Embora tendo a grande maioria de seu tempo voltada para seus deveres
religiosos, os/as babalorixás/iy alorixás necessitam também de uma vida
particular bem harmoniosa. Isto lhes proporcionará um desligamento
momentâneo, e necessário, de suas responsabilidade sacerdotais. Esta conduta irá
permitir-lhes obter um autocontrole, renovar o equilíbrio mental e físico, tão
necessários quando se lida cotidianamente com diversos tipos de pessoas. Viajar,
viver domesticamente bem, passear, procurar novos horizontes e novos
ensinamentos, estabelecer novas amizades, deve fazer parte de sua vida. Afinal,
antes de serem sacerdotes/sacerdotisas, são, primordialmente, seres humanos e
precisam recarregar suas energias!
17. Q uem são os babalossâins?
Os babalossâins (babalóòsanyin) ou babaleuê (babalewe), assim
designados na nação iorubá; cambono insaba, na nação bantu; e mihuntó omã, na
nação fon, são os sacerdotes que cultuam as divindades donas das matas
(Ossâim, Agué, Catendê). São pessoas preparadas liturgicamente pelos
sacerdotes para colher, conhecer o valor sagrado e simbólico de cada erva e
saber fazer a combinação ritual correta. Precisam estudar também os horários
certos para colhê-las, suas propriedades, seu uso terapêutico e farmacológico. As
folhas têm importância fundamental na prática religiosa do candomblé, por isso
exigem cuidados especiais no seu entendimento e no seu manuseio. Esse
conhecimento só é obtido através dos ensinamentos oral e visual transmitidos
pelos sacerdotes. Muitas vezes adquiridos também por meio de convivência com
as pessoas mais antigas, donas de um grande saber que, dentro deste segmento, é
passado de geração para geração.
As plantas são tão importantes no candomblé que já é sabido que "sem
elas não haveria a religião". Precisamos das folhas em todos os rituais e somente
o babalossâim poderá situá-las devidamente. É ele quem sabe as palavras
sagradas que liberam os seus poderes. Quando se lida com plantas, deve-se ter
em mente que elas possuem um lado perigoso e um lado benéfico, tanto em sua
parte terapêutica como na sua parte ritual. Algumas ervas não poderão ser
maceradas com as mãos, será necessário o uso de um pilão, pois são folhas
perigosas, principalmente se forem direcionadas a Babá Egum e a Exu. Por isso,
os babalossâins precisam conhecer as plantas que são eró, ou seja, aquelas que
têm a propriedade da calmaria, produzem tranqüilidade e paz a quem faz uso
delas. Outras são da categoria gun, quentes, e têm o dom de "acordar", de
movimentar o corpo humano com o seu uso. Estes sacerdotes precisam saber
fazer também a correspondência das ervas com os diversos orixás, conhecendo a
combinação, as características e as classificações das plantas necessárias a
vários rituais. Precisam saber o horário correto para retirar determinadas folhas,
que em certas horas são dedicadas a uma divindade e, em outras mais tardias,
têm um outro "dono". Ao penetrar nas matas é preciso ter todo cuidado com as
palavras, principalmente ao falar o nome de certas folhas, pois estas costumam
"esconder-se" ou serem escondidas por Ossâim quando mencionado seu nome. O
catador muitas vezes está ao seu lado e não a vê! São os grandes mistérios das
matas e de seus moradores poderosos!
Para um babalossâim colher ervas é necessário todo um ritual próprio:
estar com seu corpo limpo, espiritual e fisicamente; saber como entrar na mata,
como agradecer e retribuir pela retirada das folhas; conhecer as cantigas
adequadas; demostrar grande respeito a Ossâim, o senhor das ervas, a seu
companheiro Aroni; a Oxóssi, o grande caçador e senhor das matas; e às Iy amís.
Antes da colheita, é normal que se leve um agrado para Ossâim e seu
companheiro Aroni, como pagamento pelos seus préstimos à religião e aos
iniciados. Umas moedas, um coité com mel, uns pedacinhos de fumo de rolo e
uns búzios são bem aceitos e recompensados!
Estes sacerdotes têm também a função de curandeiros, aqueles que
conseguem a cura espiritual ou física por meio do uso das ervas. Em alguns Axés
existe um cargo semelhante ao de babalossâim, que é dado às pessoas iniciadas
do orixá Oxóssi, as babá massí, que são aquelas que preparam os banhos de
folhas para a comunidade.
18. Q uem são os alabás?
Os alabás (alágbá) são as autoridades máximas dentro de uma casa de
culto aos Babá Egum. Costumam ser escolhidos dentre os ojéabás (õjé-àgbá),
que são os mais antigos iniciados deste grupo, possuidores de um grande saber e
que têm o poder de decisão. (Neste culto, os mais antigos são os que decidem
quem poderá ser iniciado ou quem irá galgar os degraus mais altos.) Estes
homens são muito bem preparados, conhecem os mistérios e os segredos da
ancestralidade e também sabem como lidar com o sobrenatural. Administram o
terreiro, os rituais e as liturgias, assessorados por seu otum (representante e
ajudante, pertencente ao lado direito) e pelo ossí (ajudante do lado esquerdo).
Estes dois auxiliares também são escolhidos entre os mais antigos da casa. A
antiguidade dentro do círculo dos ojés é mais importante do que qualquer título
que estes possam ter.
São os ojés (õje) que cuidam dos Babá Eguns, com rituais litúrgicos
próprios, e que intermediam o encontro dos mortos com os vivos. Estes
sacerdotes possuem liturgias capazes de dar visibilidade aos espíritos dos nossos
ancestrais ilustres.
Eles fazem parte de uma típica sociedade masculina, com organização
própria e ensinamentos secretos comuns, possuindo vários graus de categoria
bem definidos. Em seu primeiro momento, ao entrar para a iniciação, o noviço
recebe o nome de amuixã (amùìṣan). Nesse período-teste, não terá contato com
os Eguns nem poderá participar de liturgias secretas. De acordo com seu
interesse pelo culto, com o aprimoramento do seu saber e, principalmente, com
seu merecimento, conseguindo a benevolência dos mais velhos, poderá fazer a
sua iniciação propriamente dita. A partir daí já fará parte de um dos mais
fechados círculos de autoridades da religião, cheio de mistérios e segredos, de
pactos entre a vida e a morte. O iniciado terá, então, um longo período de
aprendizado, precisando de muita abnegação, tendo que dedicar-se com afinco e
seriedade para poder crescer na hierarquia sacerdotal. Este grupo possui
categorias de acordo com o grau de iniciação, temporalidade e cargo possuído. O
interessante dentro deste ritual é que todos são chamados também de mariô
(màrìwò), a palha que esconde, camufla o segredo!
Mas todos estes homens possuem um superior hierárquico único,
denominado alapini, que é responsável também por todos os terreiros que
cultuam Babá Egum. Escolhido entre os ojés anciãos, é aquele com saber
primordial e absoluto. Este segmento da religião tomou-se o único, dentro do
candomblé, que possui um chefe supremo. Talvez porque o conhecimento do
poder tomou-se quase indivisível, as liturgias e os segredos são partilhados
comunalmente e com isso as bases permaneceram as mesmas de nossos
antepassados!
19. Q uem são os babalaôs?
Babalaôs (babaláwo − "pai que possui o segredo") são sacerdotes do culto
a Orunmilá, "o senhor absoluto de todo o saber", e que é consultado através do
sistema divinatório de Ifá. São os intérpretes das mensagens divinas, os que
revelam as vontades de Olorum e das divindades. Em terras de culto aos voduns,
o cargo semelhante ao de babalaô é o de bokonon e estes cultuam Fá, a divindade
relacionada a Orunmilá. Os babalaôs geralmente são pessoas de imensa
sabedoria e com grande conhecimento da religião. Muito disciplinados, têm um
grande potencial de memorização, estudam profundamente durante muitos anos
os meandros da religião, desvendando e esmiuçando seus itãs. Necessitam
essencialmente de disponibilidade de tempo para dedicar-se aos ensinamentos.
Este culto nasceu na Nigéria. Em tempos de escravidão, grandes
sacerdotes foram trazidos para o Brasil, mas com o tempo e sua restrição à
distribuição dos conhecimentos, estes se perderam. Alguns saberes foram
transmitidos aos babalorixás e estes tiveram que adaptá-los às suas possibilidades.
Em época não muito distante, já no século XX, alguns nigerianos vieram para o
Rio de Janeiro e iniciaram novos grupos de babalaôs. Atualmente, é sabido que,
nas Américas, a sociedade dos babalaôs encontra-se mais concentrada em Cuba,
pois estes sacerdotes ainda buscam seus conhecimentos em terras iorubás.
Na África eram os babalaôs quem transmitiam o conhecimento, andando
de cidade em cidade, pois eles sabiam decifrar todos os mitos que
subliminarmente explicam o segredo milenar da religião. Eram tidos como
autoridades máximas do sistema religioso iorubá, e era através do seu mando que
a liturgia e os rituais se concentravam. Estavam com eles os segredos das
divindades, e as autoridades da religião precisavam recorrer a eles na condução
do destino das pessoas. Mas eles não se prendiam somente à adivinhação
sagrada, tinham também muita ascendência na vida dos povos iorubás. As
pessoas acreditavam que haviam sido criadas para viver bem o seu destino, e que
esse poderia ser alterado com a ajuda de um babalaô. Desde que este tivesse
primeiro o consentimento supremo de Orunmilá!
Sua sacralização litúrgica é feita de forma complexa e bem distinta da dos
demais integrantes da religião. São sacerdotes que possuem um grande
diferencial dos babalorixás: não entram em transe e pertencem a um círculo
muito fechado, uma espécie de sociedade que vivencia e possui um mundo cheio
de segredos. Sua iniciação é feita por um outro babalaô, pois babalorixá não
inicia babalaô, e babalaô não inicia babalorixá!
O sistema de adivinhação do babalaô é feito por meio do Opelê Ifá, mais
conhecido no Brasil como "Colar de Ifá", que encadeia seus mensageiros, os
Odus. Esse sistema consta de uma corrente dupla de metal com meias sementes
de favas que, ao serem jogadas em uma esteira, trazem vários significados e
mensagens, que são decodificadas somente pelo babalaô.
Outro sistema da adivinhação sagrada de Ifá é o jogo dos iquins, realizado
com 16 caroços de dendê de quatro olhos (podem também ser usados os de três
olhos, mas sempre em parceria com os de quatro). Esses 16 caroços
representam os 16 orixás enviados por Olorum para participar da criação do
mundo, e também os 16 Odus, que respondem trazendo as mensagens de todas as
divindades. Esses caroços são primeiramente consagrados, através de rituais
específicos. Usados exclusivamente no opón Irá, que é a conhecida "tábua de
Ifá", um tabuleiro de madeira arredondado, que geralmente tem um círculo
escavado no seu centro. (O opón é utilizado somente pelo babalaô, não sendo
permitido às demais autoridades da religião.) Com as bordas mais altas, possui
desenho de figuras de formatos circulares, triangulares e fios entrelaçados,
simbolismos religiosos que fazem relação com Orunmilá, com Exu, com Yiamí
Oxorongá e com a ancestralidade.
20. Q uem são os oluôs?
Os oluôs (òlùwò – "senhor que possui o segredo") foram designados pelos
orixás para receber o cargo de "olhador do oráculo" particularizado do Axé em
que é iniciado. Na parte da religião que cultua Ifá e Orunmilá, os oluôs são as
pessoas que possuem um dos cargos honoríficos mais elevados, na categoria dos
babalaôs. Recebem, por causa de seus conhecimentos pedagógicos, também o
título de mestres. Após uma longa preparação e sua confirmação dentro dos
rituais específicos, torna-se então a pessoa responsável pela consulta dos destinos
de uma determinada comunidade, através do merindilogum (jogo dos 16 búzios).
Nos dias atuais são poucas as casas que possuem um oluô particularizado, pois
os/as sacerdotes/sacerdotisas ao alcançarem o posto mais alto já trazem no seu
currículo o conhecimento do jogo de búzios.
21. Q uem são os ogãs?
São as autoridades masculinas, de posto hierárquico abaixo doia
sacerdote/sacerdotisa, e seus auxiliares diretos, assim denominadas pelo povo
iorubá. Na nação fon recebem o nome de runtó/huntó e, na nação bantu são
chamados de xicaringome/xicarangoma ou tata cambono. Estes homens, tal
como as equedes, não entram em transe e só passam a ser integrados a uma casa
a partir de algumas destas decisões:
Todos aqueles que aceitam a religião ou são chamados para fazer parte dela
precisam de um período de adaptação. Neste tempo se dedicarão e conhecerão
alguns preceitos e dogmas que o ajudarão a decidir pela sua permanência ou por
seu afastamento. É o seu período de teste, em que também testarão se têm
condições de seguir a fundo a religião dos orixás.
24. Q uem são os abiãs?
O termo abiyán, em iorubá, pode ser traduzido como "nascer para um
novo caminho" (abi = aquele que nasce; iyán ou an [contração de "onã"] =
caminho novo). Na nação bantu são chamados de ndumbe ou ntangi, e na nação
fon, arruretê. O abiã traz a idéia de início, de nascimento, e ele representa
realmente o começo, pois é um pré-iniciado, o primeiro momento do futuro iaô.
É muito necessário que as pessoas que desejam entrar para o candomblé
passem por essa etapa, pois ela é fundamental! É através dela que irão se
familiarizar com sua futura nova família e entender melhor como funciona uma
casa de candomblé, percebendo assim os relacionamentos interpessoais.
Aprenderão a conhecer seu líder espiritual e a pesar os prós e os contras dessa
nova relação, surgindo então um conhecimento mútuo. Enfim, terão uma visão
mais prática e local de uma nova vida física e sagrada, e farão sua iniciação já
bem conscientes do que desejam. Nessa etapa, irão se inteirar um pouco mais
sobre a religião, preceitos, obrigações e direitos que ajudarão na sua resolução
final. Poderão então decidir com isenção se aquela é a casa que serve aos seus
interesses espirituais, afetivos e morais.
Sendo abiã, não participará ativa e profundamente dos rituais, não
conhecerá fundamentos religiosos, mas terá um aprendizado moderado e
gradativo, pois já faz parte do axé da casa.
Precisará dispor de tempo para poder dedicar-se à sua nova casa, onde
terá ensinamentos que utilizará por toda a sua vida na religião. Aprenderá as
cantigas, as danças e alguns oriquís, receberá seus fios-deconta. Conhecerá
utensílios, verá e provará uma culinária rica e colorida, recheada de cheiros, de
sabores e de pequenos segredos. Aprenderá a respeitar dias e horários,
conhecerá os interditos (ewós) e a hierarquia da religião. Entenderá porque o
candomblé é uma das poucas religiões, nos dias atuais, em que ainda se encontra
uma noção muito forte de obediência a direitos adquiridos através das
graduações temporais. Enfim, já estará conquistando seu espaço na casa, e
também dentro da religião.
No passado, e também nos dias atuais, muitas vezes uma pessoa
permanece como abiã durante muitos anos. É testada longamente pelo/a
babalorixá/iy alorixá, pelas autoridades da casa, pelos próprios iaôs e também
pelos orixás. Sua humildade, seu sentido de união e de fraternidade são testados e
provocados.
Dedicar-se ao candomblé e aos orixás é uma prova de resignação, de
humildade e de muito amor. É renunciar a muitos momentos de sua vida
particular! Mas se juntarmos esses três itens e conseguirmos transformá-los em
união, cumplicidade e amizade, já teremos os requisitos primordiais para que a
entrada do abiã na religião seja um sucesso. Por isso, o abiã também deve ser
recebido com muito carinho pelos membros da comunidade, para que seu
período de teste e de adaptação seja perfeito. Se for ensinado, educado e
doutrinado corretam ente, o abiã, no futuro, será com certeza um bom iaô. Quem
ganha com isso é a casa e o candomblé!
O abiã também verá e sentirá surgir em si aspectos de sua personalidade
e de sua conduta que talvez estivessem escondidos. São reflexos do seu orixá que
estarão ressurgindo, como se fossem uma marca divina, mudando muitas vezes o
seu modo de viver, de ver e de pensar.
A primeira consagração para marcar a sua entrada no candomblé será
com o Bori, uma cerimônia de oferenda, o "dar de comer e beber à cabeça"
(orí), reforço que lhe dará uma boa estrutura espiritual. O Bori se torna então sua
primeira ligação com o axé da casa, transmitido pelas mãos doia
babalorixá/iy alorixá. Essa iniciação faz parte de um ciclo ritual que tem por
objetivo fazer circular o axé, fazer crescer e prosperar o terreiro. Vai fazer a
expansão familiar da religião, movimentar a força vital da casa, dos orixás de
cada membro do terreiro e também do orixá do próprio abiã.
Mas também existem pessoas dentro do candomblé que serão abiãs
eternamente, transformando-se somente em amigas da casa, que ajudam em
sua manutenção, são companheiras e amigas doia sacerdote/sacerdotisa, dos
demais membros da comunidade, participam ativamente das festividades etc.
Essas pessoas transformam sua vida e sua conduta em um ciclo que culmina
com a eterna gratidão de todos e vão angariando até mesmo alguns direitos que,
muitas vezes, só um bom iniciado possui. Algumas, por merecimento, também
recebem cargos honoríficos dentro da casa de candomblé. Em alguns casos, no
momento de sua morte conquistam direitos que só teria um iniciado amado por
todos do egbé.
25. Q ual é o nome do ritual no qual o abiã se transforma em iaô?
O ritual em que o abiã se torna um iaô (íyàwo) denomina-se iberê
(ígbèrè) e é uma parte litúrgica muito bonita. Consta primeiramente do Bori,
seguida de banhos, ebós, matanças, pinturas, raspagem etc., e culmina na feitura,
a sua entrada permanente na "família candomblecista".
26. O que é a iniciação propriamente dita?
Iniciar-se no candomblé é renascer para um novo mundo como uma
pessoa mais segura e mais forte, religiosa e psicologicamente. Ressurgindo com
plenas condições de buscar melhores momentos e amplas realizações. É ligar a
sua vida física, no aiê, com a vida sagrada, no orum, surgindo assim uma nova
aliança, uma nova união! Após a iniciação, as pessoas têm a capacidade e a
possibilidade de ajudar a conduzir melhor o seu destino. Sentirá que uma
transformação acontece em seu redor e deve permitir que seu orixá aja
permanentemente no seu dia-a-dia, ajudando na construção de uma vida mais
harmoniosa e próspera. Também descobrirá que seus limites se alargarão e que
os obstáculos serão mais facilmente transponíveis. E que também não estará
mais sozinha, pois terá o eterno acompanhamento de seu guardião!
Depois de iniciada, a pessoa terá novas normas a cumprir na sua vida
cotidiana e na sua casa de candomblé, e conhecerá como é uma hierarquia
religiosa. O candomblé é uma das poucas religiões em que a obediência à
temporalidade ainda é bem arraigada. A dedicação, o amor e o discernimento
serão responsáveis pela boa permanência do iniciado dentro do terreiro que a sua
divindade escolheu para "morar". Então, o período de abiã deve ser bem
aproveitado para servir e aparar pequenas arestas e trazer melhores
conhecimentos sobre o que realmente a pessoa deseja para si e para o seu futuro.
Axé!
27. Por que se denomina a iniciação no candomblé de "fazer o santo"?
O termo "fazer o santo" só ocorreu por interferência da religião cristã, na
época da escravidão. Na senzala, o escravo, obedecendo ao senhor branco, tinha
que idolatrar os santos da Igreja Católica. Com isto ocorreu o sincretismo,
fazendo a ligação das peculiaridades e da personalidade dos orixás com as dos
santos católicos. Ao precisar se referir aos seus orixás, os escravos tinham que
chamá-los procurando sempre agradar à maioria branca e escravagista, e para
isso trocavam o nome iorubá do seu orixá pelo nome do santo cristão, em
português. Ao guardar seus assentamentos, colocava-os, camufladamente, junto
aos santos católicos, porém invocando sua divindade africana. E o negro
habituou-se a sincretizar, amalgamar seus orixás com os "santos" do catolicismo,
criando termos que nos dias de hoje já estão perdendo a sua utilidade! Portanto,
cremos que já está no momento de mudarmos este termo, "fazer o santo", por
"iniciar no candomblé" ou "iniciar para o orixá"!
28. Para que serve o período de recolhimento na época da iniciação?
O recolhimento é um período que serve para que a pessoa seja testada
em sua firmeza religiosa. É tempo de ver dentro de si mesmo, enquanto se
prepara para ingressar em um novo mundo, em uma nova realidade! Período
delicado, que produz algumas modificações no ritmo de vida do iaô. Mas muito
necessário para que a pessoa sintonize-se bem com seus orixás, conheça melhor
seus novos parentes e também seu/sua sacerdote/sacerdotisa. Porém, o tempo
necessário para o recolhimento é determinado de acordo com o orixá e com
cada casa de candomblé.
É um período em que a pessoa fica acomodada em um quarto, chamado
de rondêmi ou roncó. Local restrito, afastado do movimento público,
completamente limpo, onde reinam a paz e o silêncio. No momento em que se
recolhe, o iaô desliga-se de todos os seus problemas e de toda e qualquer coisa
que diga respeito às relações exteriores. Sua cabeça precisa estar voltada
somente para as ligações espirituais, que ajudarão a produzir uma transformação
em sua vida. Haverá momentos tensos, pois o desconhecido assusta a todos, e são
muitos os iaôs que entram na religião sem saber sequer o que é o recolhimento.
Em compensação, haverá momentos de grandes alegrias e satisfação que, com
certeza, nunca serão esquecidos. Porém, o mais importante é que nesse período o
iaô obterá ensinamentos úteis que serão usados no seu dia-a-dia. Aprenderá as
regras, os dogmas, conhecerá a hierarquia e a diretriz da religião e do seu Axé e
penetrará nos meandros do candomblé. O iniciado prestará juramento à sua
casa, a Exu, às divindades, a seu/sua babalorixá/iy alorixá, pois ele tem que ser
uma "pessoa que não vê, não escuta e não fala"! Segredos e mistérios são
invioláveis!
O recolhimento serve também para que a pessoa passe pelos preceitos
sagrados e secretos que ajudarão na possessão do seu orixá. A sua doutrina será
mais apurada, seus conhecimentos se tornarão mais consistentes, aprenderá a
base de alguns saberes. Nele, conhecerá pessoas que dedicarão tempo integral a
ele e às suas obrigações religiosas. Pessoas que partilharão do seu dia-a-dia,
como a "mãe-criadeira" ou o "pai-criador", cuidando dele, transmitindo-lhe
ensinamentos primordiais e essenciais para essa fase e para o seu futuro dentro
da religião. Ganhará também um "pai-pequeno" e uma "mãe-pequena"
particularizados, pessoas que participarão de algumas fases de sua iniciação e do
seu aprendizado. Com todos estes o iaô cria laços eternos de parentesco religioso,
geralmente advindo daí uma grande amizade. Terá também como companheiros
e instrutores seus irmãos mais antigos na religião. A partir do período da
iniciação, pertencerá a uma nova família, que tem como principal mestre o/a
babalorixá/iy alorixá.
Para muitos, é neste período que ocorre o primeiro contato com a sua
divindade. E será por meio desse transe que conhecerá a personalidade mítica da
sua divindade: se é calma ou voluntariosa, dócil, violenta ou irrequieta. Nessa
fase também aprenderá a qual panteão seu orixá pertence, se ao das divindades
vibrantes, de movimentos violentos, espalhafatosos, ou ao grupo conhecido como
o dos orixás calmos, ponderados. Nesta fase, conhecerá muitas palavras da
língua das divindades, para que possa participar cotidianamente da comunidade e
também para crescer dentro da religião. Aprenderá as danças do seu orixá, e
também as danças das demais divindades. Aprenderá também cantigas e rezas
(oriquís) necessárias no seu dia-a-dia e também para agradar e chamar as
divindades. Muitas vezes será testado/a e precisará corresponder plenamente aos
anseios de seus superiores e também aos seus próprios. Porém, o não conseguir
não deverá lhe perturbar, tirar a calma e o equilíbrio. Deverá procurar fazer com
que cada erro seja um aprendizado, uma lição de humildade, de estar vencendo
cada etapa com dificuldade, mas também com dignidade, amor e resignação.
A iniciação produz momentos de alegria que poderão ser intercalados
com nostalgia e saudade. Isso é natural, pois a pessoa encontra-se reclusa, muitas
vezes reunida a pessoas que conhece muito superficialmente. Para esses
instantes, a religião possui um ser especial, o Erê, uma divindade infantil e
descompromissada, que distrai e acalma o iaô, fazendo-o esquecer a vida
mundana. Mas este período passa e o iaô retorna à vida externa, modificado e
mais enriquecido no seu interior, mais forte espiritual e fisicamente!
29. O que é ser iaô?
Ser iaô é possuir um dom divino que é dado somente a pessoas especiais!
Ser iaô é estar ligado a uma força superior e procurar manter-se sempre
conectado a ela, conhecendo a sua base, mas ainda desconhecendo seus
fundamentos! O iaô é o início, o recomeço de toda casa de candomblé, sendo
também aquele que revitaliza e movimenta o axé desta casa! O iaô é um/uma
iniciado/a que se comprometeu em aprender e seguir as normas de conduta e
orientações da religião dos orixás.
A palavra iorubá iaô (lyàwó) é ambivalente, independe de sexo. Ela pode
ser traduzida como íyà, mãe; awó, segredo-a "mãe do segredo" -; ou ainda
iyàwóorisá, -"a mãe do segredo do orixá". Recebe ainda o nome de omo orisà,
"filho do orixá", ou de elegún, aquele que recebeu o sagrado privilégio de "ser
montado" (gún) por uma divindade. Pelo povo fon o iniciado é chamado de
vodunsi. Na nação bantu, de muzenza ou mona nkise (filha/filho do inquice),
existindo também o termo cafioto, que é mais usado para aqueles com mais
tempo na casa, que já conhecem alguns segredos, e que auxiliam os seus
superiores.
Ser chamado de iaô transforma a ligação do ser humano com a divindade
em algo mais forte, no sentido de uma obediência e de uma dependência às
divindades. É tornar-se o instrumento do orixá para fazer a sua ligação com os
homens! O iaô foi escolhido, dentre tantas pessoas no universo, pelas divindades,
para que estas possam novamente retornar ao aiê! Nesse retorno, ao
paramentar-se com suas roupas e suas ferramentas, mostrar suas danças e seus
cânticos, o orixá está reconstruindo sua vida passada. Está dando licença para que
todos participem com ele desse momento tão especial por meio de um iaô! Além
disso, a divindade o transforma em seu mensageiro, pois será ele quem
transmitirá, no momento do transe, as mensagens que são dirigidas à
comunidade, tanto em forma de conselhos, como de ordens ou simples avisos!
Ao ser chamado para fazer parte da religião dos orixás, a pessoa precisa
ter consciência de que não poderá abandoná-la sem incorrer em grave
descumprimento da sua missão religiosa. Este desligamento poderá acarretar
uma perda de energia positiva, em detrimento da energia negativa. A religião é
uma troca de energia e de axé; ao se desligar, o ser humano deixa de receber a
parte provinda das divindades!
Quando se encontra recolhido para a iniciação, o iaô é uma pessoa que
está pura e limpa espiritualmente, portanto, com todo o poder emanando dele.
Seu axé está sendo transmitido e vai impregnando todos, pois tudo que é realizado
na casa de candomblé, nessa época, é direcionado para o iaô. Este axé se espalha
e vai se congregando nas pessoas e também em tudo que é tocado e em tudo que
é falado.
É uma época delicada em que a sensibilidade e a emotividade do iaô
estão à flor da pele. A reclusão assusta, mas se ele teve o seu período de abiã,
este deverá ter servido para prepará-lo neste convívio com as pessoas e com
alguns rituais. O iaô precisa ter muita perseverança e paciência no seu dia-a-dia
na casa de candomblé. Por meio do contato com as demais pessoas,
principalmente com os mais velhos, em sua longas horas de trabalho na cozinha,
lavando roupas, varrendo ou até depenando galinhas, se for interessado e esperto,
adquirirá grandes conhecimentos e também fará boas amizades. Precisará ser
prudente e não hesitar em aprender novas funções, procurando dar o melhor de
si em tudo o que fizer, mas sabendo que errar faz parte do aprendizado.
Diziam os antigos que o "bom iaô escuta e não fala, vê e não enxerga",
mas aprende tudo! Há necessidade de o iaô ser passivo, acomodado, saber
escutar, pois muitas vezes o calar-se é um ato de bravura, de comedimento e
prova de boa educação. Mas cabe aos mais velhos orientá-lo, para evitar os erros
ou ajudar a consertá-los. Todos que um dia foram iaô sabem o quão difícil é esse
período!
Para que o iaô aprenda é necessário que ele veja e participe mais
intensamente da vida da casa de candomblé. Em alguns locais é costume, na
execução de certos rituais, chamar o orixá do iaô, para que este não veja o que
está ocorrendo. Ocorre também de alguns sacerdotes não terem tempo e
paciência para explicar e ensinar. Como aprender? Somos sabedores de que
muitas liturgias são secretas, de fundamentos, e os mais jovens não devem
participar, pois só irão aprender com o passar do tempo. Porém, em certos casos,
existe a necessidade de que os iaôs conheçam melhor os meandros da religião,
até mesmo para poderem ajudar seus mais velhos!
O período de iaô é também uma época de recordação para os mais
antigos, pois cuidar de um recém-iniciado implica retransmitir conhecimentos,
retornar ao começo. E esse recomeçar com o iaô será de grande ajuda para
todos, pois através dos conhecimentos relembrados todos poderão reciclar seu
saber! Nossos mais velhos, em tempos longínquos, muitas vezes valiam-se dessas
lembranças recentes do iaô para refrescar-lhes a memória! Em muitos Axés,
antigamente, os iaôs eram mimados pelos mais idosos, que levavam-lhes
presentes e prendas para agradá-los, acarinhá-los. Demonstravam-lhes que
estavam agradecidos por terem um novo integrante na religião. Todos sabiam e
aceitavam que o pequeno de hoje será o grande de amanhã!
O iaô não pode ser tratado como uma pessoa insignificante nem deve ser
tratado como se fosse um serviçal sem pagamento. Ele é uma pessoa especial e
como tal deve ser cuidado. Tem seu caráter e sua personalidade independentes, é
novo na casa e precisa ser bem aceito e ensinado por todos os membros da casa.
Um iaô bem recebido e valorizado por seus atos, reconhecido em suas ações e
que receba bons ensinamentos, com certeza nunca deixará a sua casa de
candomblé, mesmo com todas as discórdias que ocorrerem. Se for um bom iaô e
amigo sincero de seu sacerdote, só terá a lucrar, porque este precisa sentir-se
seguro ao lidar com as pessoas que o rodeiam. Numa casa de candomblé
precisam reinar confiança e responsabilidade no trato com o sagrado e com a
vida civil de todos. A amizade inicial com seu/sua babalorixá/iy alorixá irá
transformar-se em companheirismo e ambos passarão a se conhecer melhor.
Mas deverá existir sempre entre eles uma hierarquia, porque isso faz parte da
religião. O iaô precisará aceitar o seu modo de ser, de ensinar e de transmitir o
que sabe. Porém, o que consolidará essa fraternidade será a sua maior
proximidade com a casa de candomblé.
Se o candomblé não iniciar novos filhos, a religião acabará; novas
gerações precisam surgir, fazendo uma renovação. E é o iaô que traz esta
continuidade, este crescimento, e é quem garante o surgimento de novas casas,
de novos Axés. Por isso voltamos a afirmar que o iaô é a peça fundamental e
importante no ritual do candomblé, já que é ele que permite que se espalhe a
religião dos orixás!
O que vemos, infelizmente, nos dias atuais são pessoas que se iniciam no
candomblé e que não cumprem corretamente o seu período de iaô. Em pouco
tempo já se transformam em sacerdotes/sacerdotisas, sem terem percorrido um
aprendizado correto e necessário de complementação. Muitos acham que agindo
assim as divindades lhes darão riqueza e grandeza material. Vã ilusão! O orixá
ajuda ao promover equilíbrio, dinamismo, paz interior e fortalecimento para a
nossa matéria. A feitura serve tão-somente para a perfeita manutenção do
potencial de cada um, não para modificar o destino. Este é regido pelas atitudes e
pelo livre arbítrio da pessoa. O iaô precisa saber canalizar a força do sagrado
para a sua vida, mentalizando e agindo sempre positivamente. Se existem pessoas
de muito boa situação financeira na religião, isso foi conseguido através de muito
trabalho, de renúncias, resignação e dedicação. Portanto, o iaô deve ser paciente
e perseverante e não esperar que sua iniciação se torne um elemento que vá lhe
dar aquilo que talvez não esteja no seu tempo de receber. Ou mesmo que não
esteja nos desígnios de Olorum para ele!
Como um componente do egbé, o iaô é um seguidor das diretrizes e das
regras de nascimento, de vida e de morte. Então, não deve ser esquecido se sua
morte ocorrer durante esse período, pois também possui vínculos e elos que
precisam ser desmanchados. Poderá ter direito a um carrego, a um balaio ou até
a um ritual de Axexê.
Mas o tempo de iaô passa após um determinado período. Isso ocorre
quando ele fizer sua obrigação de sete anos. A pessoa que não passar por esse
ritual permanecerá como iaô, independente de quantos anos de feitura tenha.
Este preceito é o fechamento de um ciclo, segundo os rituais iorubás. Mas é
importante não nos esquecermos que, verdadeiramente, seremos sempre iaôs
para nossos babalorixás ou nossas iy alorixás, e estes/as para seus sacerdotes, e
assim sucessivamente!
30. O que é um "barco de iaôs"?
O "barco de iaôs" é um conjunto de abiãs se preparando para a sua
iniciação. Na nação fon este agrupamento de iniciandos recebe o nome de
ahama ou rama; na nação bantu, chama-se nlungu. Muitas vezes, conforme cada
Axé, todos ficarão confinados ao mesmo tempo e no mesmo local e passarão a
ser chamados de "irmãos-de-barco". Durante este período de recolhimento os
iniciados tornam-se tão ligados fraternalmente que é como se formassem uma
nova família, fazendo surgir até mesmo ligações mais profundas do que aquelas
que muitos possuem com seus familiares consangüíneos.
31. Q uais os nomes dos componentes de um "barco de iaôs"?
Em um "barco de iaô" também existe uma hierarquia na seqüência da
chegada dos orixás, de acordo com atos litúrgicos da iniciação. Os nomes aqui
citados são utilizados na nação fon, porém acabaram também sendo assimilados
e usados até os dias de hoje pelas nações iorubá e por algumas casas bantu: 1)
dofono; 2) dofonitinho; 3) fomo; 4) fomotinho; 5) gamo; 6) gamotinho; 7) vimo
(ou vito); 8) vimotinho (ou vitotinho); 9) gremo; 10) gremotinho; 11) timo; 12)
timotinho.
A mega-nação bantu, por concentrar inúmeras nações, tem nomes
variados, porém optamos por descrever os mais usuais: 1) kadianga; 2) kaiadi; 3)
katatu; 4) kauana; 5) katanu; 6) lusamanu; 7) kasambuadi; 8) kanaké; 9) kavua; 10)
kakuinhi, todos precedidos da palavra muzenza. Em determinadas casas, se
estiverem recolhidos mais de 12 iaôs, dá-se início a um novo "barco". Existe
ainda o "barco" daquele iniciado que é recolhido sozinho. Este recebe o prenome
de dofono/a ou de runvá (fon) e diz-se que ele é "dofono dele mesmo".
Algumas nações preferem iniciar "barcos" com números ímpares de
pessoas; outras usam números pares. Antigamente era costume colocar-se
barcos com 12 ou 21 pessoas. Atualmente, para que isso aconteça é necessária
uma ampla infra-estrutura e muita ajuda dos filhos da casa e dos amigos.
32. Como se descobre quem são os orixás do futuro iaô?
Somente através do Jogo de Búzios, que é o oráculo do povo do
candomblé. Mas não se trata de um jogo de búzios comum, aquele utilizado no
dia-a-dia, para a vida material das pessoas. Para esse tipo de consulta é efetuado
um jogo mais aprimorado e específico, próprio para "leitura de cabeça". Nesta
modalidade de jogo, toma-se imprevisível a quantidade de horas que serão
usadas. Para se chegar ao orixá, o caminho está nos Odus, que respondem
através da determinação de Ifá, Obatalá, Odudua, Ossâim e Exu, mas a decisão
final está a cargo de Olorum e Orunmilá. Por isso mesmo, é um jogo
diferenciado, primoroso, necessitando que o sacerdote tenha bom conhecimento
do que faz.
Nos tempos antigos, para se fazer este tipo de "leitura" era necessário que
a pessoa descansasse antes de sentar-se à mesa de jogo. Geralmente, ela dormia
na casa de candomblé, acordava cedo, tomava seu banho matinal e banho de
ervas e, só depois, ia ao oráculo para que este pudesse dar suas determinações.
Devido ao ritmo agitado de vida atual, isso quase não acontece. Mas ainda
existem casas que seguem alguns preceitos espirituais, como banho de ervas, ebó
ou um repouso, para que a cabeça da pessoa esteja mais sintonizada com o jogo
e com os orixás. Pode acontecer de, às vezes, ser necessário que a pessoa, antes
do "jogo de leitura de cabeça", faça um Bori "frio", sem bichos. Isto servirá para
fortalecer a cabeça e para que a leitura se tome mais clara, sem sofrer quaisquer
interferências.
Em outros momentos, pode ser necessária a ajuda do Jogo de Búzios de
outros sacerdotes, com mais conhecimentos, para decifrar certos desígnios, pois
existem divindades difíceis de se "mostrar". E isso requer a ajuda de pessoas
mais antigas, com mais aprimoramento e esclarecimentos. Muitas vezes, a
feitura de determinados orixás necessita também da ajuda de pessoas amigas de
outros Axés, ou até mesmo que pertençam a outras nações. Porém, durante o
período das obrigações do iniciado, diariamente o baba lo rixá recorre ao seu
Jogo de Búzios para consulta sobre as liturgias necessárias.
O "jogo de leitura de cabeça" é o registro da pessoa dentro do candomblé
e o que regerá sua vida espiritual e material daí em diante. E este registro conterá
todos os dados necessários para que o adepto tenha uma vida harmoniosa e
equilibrada.
CAPÍTULO 4
Os orixás na vida do iaô
O poder do orí é muito grande dentro dos preceitos ritualísticos, sendo ele
o primeiro a ser servido. No orí está todo nosso poder de concentração, o
intelecto e a nossa consciência. Também concentra os cinco principais sentidos:
olfato, visão, audição, paladar e tato. Por ser a parte divina que nos torna
indivíduos únicos, torna-se assim a residência de nossas emoções e de nossas
carências, fundamentando a nossa personalidade, nos dando sensibilidade e nossa
formação moral e intelectual.
Assentamento natural de nossos orixás, o orí é um igbá primordial, a sede
de toda nossa força espiritual e a parte mais delicada de todo o conjunto humano
e espiritual, dentro da religião. A nossa sorte e o nosso destino estão vinculados ao
orí, sempre dependentes do seu fortalecimento, que é conseguido através do Borí.
O orí é tão importante para o povo africano que, em algumas aldeias da
África, não se carrega nada em cima da cabeça. Realmente, devemos ter muito
cuidado com o nosso orí e precisamos procurar sempre resguardá-lo e protegê-
lo, pois é o próprio orí que mostra à pessoa seus desígnios e vontades. Para poder
ajudar e ser ajudado, é ele quem faz as determinações, permitindo que o iniciado
tenha serenidade e tranqüilidade. E disso poderá resultar uma boa existência, pois
um orí equilibrado é sinônimo de uma vida saudável e próspera!
49. Como é dividido o corpo humano em sua parte sagrada?
O homem, ao nascer, traz consigo todo um conjunto de forças e
elementos que lhe foram legados por Olorum, mas que ele também pôde
escolher antes do seu nascimento. Mesmo os caracteres físicos particulares estão
congregados nesse grupo. O corpo, então, apresenta várias divisões consideradas
sagradas e necessárias para uma boa vivência no aiê. Os fragmentos do corpo
humano são todos escolhidos por nós, mas sempre orientados pelos orixás, que
nos governam e auxiliam para termos uma boa vivência no aiê.
O corpo humano em sua parte sagrada e física ficou assim dividido:
1. Ará – designação específica do nosso corpo estrutural, o invólucro que
protege todos os compartimentos do nosso organismo, através do qual o homem
se relaciona física e espiritualmente. Aquele corpo que retorna ao barro.
Conforme os itãs, o ará se subdivide em ará orum, morador do orum, e o ará aiê,
o corpo físico, vivente no aiê.
2. Ocarn – o coração físico. É o órgão que nos dá a condição de viver,
que movimenta o nosso sangue, nosso axé particular, por todo o nosso corpo.
3. Orí – a cabeça, que representa a individualidade física e que traz os
elementos sagrados e divinos de cada ser.
4. Ixé ou Exé – são todos os órgãos internos (coração, fígado, rim, pulmão
etc.) de um ser vivo.
5. Erní – a respiração, o sopro divino legado por Olorum aos seres vivos e
que nos diferencia dos moradores do orum. Um dos títulos de Olorum é Elemí, o
“Senhor do emí”. O emí é imortal; ao abandonar o corpo do ser humano, após a
morte, volta a Olorum para ser transferido a outro. É a parte mais poderosa do
corpo e a que possui maior ligação com os orixás. O emí é a base da nossa vida e
devemos ter consciência e responsabilidade para dele fazer bom uso e conseguir
uma boa estada no aiê.
6. Ojijí – um poder divino considerado a essência da existência, relativo à
sombra, nossa companheira visível e inseparável! Um poder que só o ser vivo
tem, uma representação visual que após a morte acaba; esta essência some!
7. Axé – a força poderosa que dá movimento e energia à vida e a tudo
que foi criado.
8. Orixá – o guardião e protetor do ser humano e também o mediador
entre este e a natureza.
9. Odu – é o destino, o caminho a ser percorrido pelo homem. Um signo
que dá uma identidade particularizada e que mostra ao indivíduo as regras a
serem seguidas, que vão reger a vida com os parâmetros certos para que vivam
bem.
50. O que é o eledá?
Eledá é um título que somente Olodumaré/Olorum possui, que é traduzido
como “criador do ser vivo”. Olorum é o único que pode ser assim denominado,
pois foi “aquele que deu existência a tudo”, tendo inclusive criado a si mesmo.
Mas ele também deu condições aos orixás de poderem ser assim chamados, pois,
para a confecção do ser humano, foram usados elementos que pertencem aos
orixás, que, por sua vez, receberam-nos de Olorum!
CAPÍTULO 6
Os ebós
São os preceitos que tornam uma pessoa digna de incorporar seu orixá
corretamente. Realizados com fundamentos, são considerados “segredos de
quarto” e resguardados através de juramentos religiosos.
66. Como se convoca o orixá do iaô?
O orixá do iaô é convocado no ritual denominado bolonã (bantu), odaê
(iorubá) ou adarrum (fon). Momento delicado, quando o iaô que nunca entrou em
transe se sente melindrado e até meio assustado com o desconhecido. Todos os
participantes deste ritual precisam ter sensibilidade e saber agir com calma,
segurança e carinho. Precisam transmitir confiança àquela pessoa, pois é a
primeira vez que ela entra em um quarto da casa de candomblé. Este é um
período em que o iaô sente-se só, mesmo estando no meio de muita gente!
O iaô está sensível, já induzido pelos vários preceitos realizados, com o
corpo preparado física e divinamente, tornando assim mais fácil a possessão do
orixá. Quando se recolhe, o iaô observa mudanças também no seu tipo de
alimentação. Comidas pesadas e alguns alimentos lhe serão proibidos, seus
alimentos serão mais leves e saudáveis. É uma espécie de limpeza orgânica,
possibilitando um melhor balanceamento entre o corpo físico e o espiritual. Essa
leveza corporal ajudará no seu transe e a divindade o encontrará mais sensível à
sua presença.
A convocação para a divindade “tomar posse” da cabeça de seu/sua
filho/filha é um ritual solene, realizado pelo/a babalorixá/iy alorixá, com a
presença de poucas pessoas e com o acompanhamento do adjá (adjarí). Através
de palmas, cânticos e saudações, a pessoa consegue deixar fluir seu inconsciente,
baixar suas defesas, tornando-se apta a receber a força da sua divindade. Um
momento supremo, no qual todos vibram e se emocionam!
67. Q ual é o significado de raspar a cabeça?
Raspar a cabeça é um momento de purificação e o modo de fazer a
pessoa renascer, se preparando para receber sua divindade. Este ato litúrgico é
chamado de Iabé, pelos iorubás, fárí, pelos fons, e catular, pelos bantus. O cabelo,
para as pessoas, tem uma representação simbólica de poder, soberania, vivência
e beleza. Tirar o cabelo, para o iniciado, significará cortar todos estes elos,
retroceder à infância, época em que a pureza e a inocência estão presentes, sem
existir a vaidade e a soberba.
O raspar a cabeça é também necessário para que as obrigações litúrgicas
sejam realizadas diretamente sobre o orí, para que os elementos interliguem-se a
este com mais facilidade. Representa o ato de dar equilíbrio à cabeça,
proporcionar a harmonia necessária ao seu fortalecimento e poder fixar os
elementos que participam da feitura. Recriando, então, no aiê, a mesma cabeça
que foi preparada no orum por Babá Ijalá.
É importante esclarecer que não são todas as pessoas que têm
necessidade de raspar totalmente o cabelo. Esta determinação é dada pelo Odu,
pela situação de cada um, ou pelo orixá. Não é um ato aleatório, ou que se faz
quando o iaô deseja. Quando não ocorre a raspagem, o processo é diferenciado,
e o corte é feito em locais sagrados e fundamentais do orí. Antigamente, em
algumas grandes casas de candomblé não era costume raspar toda a cabeça dos
iaôs, só em casos de extrema necessidade.
A navalha (obẹ́ ṣire) e a tesoura (obẹ́ farí) precisam ser individuais para
este ato, pois são instrumentos que serão utilizados no orí do iniciado e também na
época do seu Axexê. E este procedimento é também uma obrigatoriedade nos
dias atuais, tanto como medida de higiene, como na prevenção contra doenças.
Para algumas divindades, se for necessária a raspagem, esta não poderá ser feita
com o uso da navalha. Nanã, por exemplo, que não aceita elementos de ferro ou
de aço em suas obrigações.
Mas não é somente o ato da raspagem que representa a consagração
completa do iniciado na religião. Este cerimonial é acompanhado por várias
liturgias, entre as quais a imolação de bichos, incisões sagradas, a pintura do iaô,
a sassanhe (“cantar as folhas”), a colocação do quelê, do icodidé, do oxu, de
acordo com cada nação. Logo após a raspagem o iaô já será afastado das
demais pessoas e se recolherá em local previamente preparado para ele.
68. Por que se fazem incisões no iaô?
As incisões (gbéré) são cortes minúsculos e superficiais, feitos com
material de uso particular do iaô, em várias partes do corpo e que servem como
canais condutores por onde o axé do orixá penetrará no corpo do iniciado. São
realizadas também para reativar o poder do Exu Bára do iaô. (Exu Bára é o
esqueleto energético do ser humano que lhe permite passar por todas as fases da
vida: nascer, crescer, ficar velho e morrer.) Essas pequenas aberturas ajudam a
tornar o Exu um interlocutor entre o iniciado e seu orixá. Após as incisões, é
costume passar por cima destas o atim, um pó sagrado, que ajuda no fechamento
do corpo do iaô, proporcionando-lhe maior defesa contra as maldades e os
feitiços.
69. O que representa a matança na feitura do iaô?
A matança, ou imolação, de bichos no candomblé não é uma coisa que
ocorre à toa, nem é praticada por maldade. A matança tem como fundamento
primordial ser uma troca de força, de vitalidade e de regeneração. O sangue
(èjẹ́ ), na religião, é a representação da vida, o que produz o movimento. Os
animais que serão imolados para os orixás são considerados especiais, porque são
os emissários do homem para com as divindades. No momento do sacrifício
animal ocorre a liberação de forças poderosas que dão grande significado ao ato,
mas que também exigem dos sacerdotes muita precaução e habilidade para
manejá-las. Por este motivo, é um ato que só deve ser presenciado por aqueles
que estão preparados sacramentalmente. Esta condição ajuda na harmonização e
promove um momento de troca e fortalecimento entre o axé da casa e os seus
participantes.
A matança produz o alimento das divindades e propicia uma troca de
energia destas com o iaô, restabelecendo a ligação do orí com os orixás. É
através do dinamismo do sangue que se consegue a transformação de um
“assentamento” comum em algo sagrado, o igbá, que recebe vida através da
imolação de outra vida. O sangue do animal vivifica o assentamento e o corpo do
iaô ao ser aspergido. As vísceras principais (ixés) e alguns pedaços especiais são
preparados para serem ofertados às divindades. O restante da carne será
consumido pela comunidade no dia-a-dia e também pelos visitantes, nos dias de
festa.
Para a confirmação de um iaô, o sacerdote deve recorrer primeiramente
ao Jogo de Búzios, para que as divindades determinem que animais vão querer.
Não se faz matança indiscriminadamente! Às vezes, com um pequeno bicho,
como o igbim, uma galinha-d'angola ou um pombo resolvemos muitos
problemas! É necessário que haja coerência na quantidade de animais para
possibilitar que as pessoas consigam se iniciar, cumprir com suas obrigações
temporais ou possam somente agradar as suas divindades! A religião precisa de
adeptos, as casas precisam de filhos para crescer e se expandir. E tudo isso só
será possível com discernimento e comedimento, a partir de um conhecimento
profundo das determinações de cada orixá!
Cada divindade possui seu animal preferido e cada um é ofertado de
acordo com as normas do Axé. Mas em quase todas as casas de candomblé é
comum, todas as vezes que for utilizado um animal de quatro pés, serem
ofertadas juntamente quatro aves. Não importa se é cabrito (obucó), cágado
(japá) ou igbim. Este procedimento recebe o nome de ibossé (ìbòsè), que
significa “calçar” os pés do animal com outros animais de sangue mais “suave”.
É importante ressaltar que a matança no candomblé nada tem de
maldade, nem de barbárie, pois vemos todos os dias estes mesmos animais
serem mortos em matadouros ou criadouros, até mesmo cruelmente, para
alimentar o ser humano. Na religião essa imolação tem um objetivo maior:
beneficiar o homem, pois o sangue transporta energia e força. E é isso que ele irá
fornecer aos adeptos do candomblé! E suas carnes serão preparadas e utilizadas
como refeição para iniciados e convidados!
70. O que é o sundidé?
É o ritual sagrado em que o iniciado, no momento de sua iniciação,
recebe o sangue dos animais sacrificados em algumas partes do seu corpo.
Também seus fios-de-conta, seu mocã e os contra-eguns o recebem, numa
sacralização, formalizando a união do homem com a sua divindade. É o físico
unindo-se com o divino, por meio do sangue!
71. Q uais são os animais utilizados nas liturgias do candomblé?
Os mais usados para as divindades são: galinha-d'angola, cágado, pombos,
galinhas, carneiros, cabras, cabritos, bodes, passarinhos, galos, igbins e outros
mais. Nas iniciações, os animais são escolhidos de acordo com os orixás do iaô.
Utilizam-se também nos Borís, quando o orí solicita; nos ebós, para agradecer ou
para fazer pedidos às divindades.
72. O que significa a galinha-d'angola na feitura?
É o bicho de consagração, de confirmação, usado para coroar as liturgias
do iaô, em alguns Axés. É o animal que pertence ao elemento terra. Ela tem uma
representação mitológica e possui o simbolismo do primeiro ser iniciado na
religião. Traz em suas cores a ligação com Oxalá, Odudua, Oxum e Exu, o que é
demonstrado pela sua tricromia, ou seja, as cores branca, preta e vermelha. Por
ser um bicho inquieto, está associada ao movimento e à excitação, fazendo
contraponto, na matança, com a placidez e a serenidade do pombo. É por
intermédio da galinha-d'angola que o candomblé existe e se reproduz. Por suas
cores primordiais, ela se transformou e instaurou o sistema de marcas e de
simbolismos e conseguiu fazer a comunicação entre os orixás e os homens.
73. O que representa o pombo na feitura?
O pombo (eiyelẹ́ ) é conhecido como o “pássaro da vida” e pertence ao
elemento ar. Foi um animal participante da criação do mundo, junto com a
galinha e o camaleão, sob a orientação de Odudua. É considerado sagrado e
reúne em si os predicados que são pertencentes também a Obatalá, como a
calma, a lentidão e a serenidade. Possui altivez, tem um vôo majestoso e sereno
e prudência e esperteza no andar cauteloso. Por todas estas qualidades é o animal
preferido da “família funfun”. Dizem os antigos que para cada orixá existe um
pássaro, mas que o pombo substitui qualquer um. Num contra-senso da natureza,
seu sangue é conhecido como um dos mais quentes dentre os animais sagrados,
sendo o mais parecido com o do ser humano. Isso explica porque ele sempre é
ofertado logo após o igbim!
Embora dedicado a Obatalá, alguns outros orixás também o aceitam.
Participa de diversos rituais, como o Borí, os ebós e em tudo aquilo que for
relacionado à vida. Sua figura também aparece em paramentos de diversas
divindades. Representando o pássaro ancestral das Eleiy és, aparece nos
paramentos de Oxum e de Iemanjá; no ferro de Ossâim e em vários outros
ornamentos.
74. O que representa o camaleão na feitura?
O camaleão, também chamado de agemo (agèmo, para os iorubás, e
ságámán, para a nação fon), é um animal sagrado para os iorubás. Possui um
culto individualizado na África, e não é imolado para nenhuma divindade. Tem
características impressionantes, o que o torna singular, pois consegue se manter
invisível aos olhares. Ele tem o poder de mudar de cor, mimetizar-se, tornando-
se parte do ambiente onde estiver. O formato dos seus olhos lhe permite movê-los
de forma independente, em todas as direções, dando-lhe o controle de tudo à sua
volta. É um animal arisco, precavido e muito pacato. Participou, juntamente com
a galinha e o pombo, da criação do mundo. Os dois primeiros espalharam a terra.
Agemo, através do seu pisar cauteloso, pôde informar que o solo estava pronto e
firme para receber os seres que iniciariam o povoamento da Terra. Por tudo isso,
este animal recebe o título de “Olheiro de Olorum e de Orixalá”.
75. O que representa o igbim na feitura?
O igbim (ígbin) é um caramujo grande, proveniente da África, o animal
que faz a representação da tranqüilidade, da lentidão, da placidez. Seu sangue é
um tipo de plasma, branco transparente, considerado frio. Por ter estas
características, seu sangue é chamado de omí èró, a “água que acalma e que
abranda”. Bicho da preferência de Orixalá, é usado também quando é necessário
produzir a paz e a harmonia entre as pessoas. Por ter este princípio, recebe o
nome de animal eró (èró), o animal que pacifica e que produz a calmaria. É um
bicho que tem um grande poder, chamado pelos candomblecistas de “boi de
Orixalá”, encontra-se no mesmo patamar dos animais de quatro patas.
Atualmente, é necessário observar certos cuidados ao lidar com este
molusco, porque, segundo informações da rede de saúde, ele está trazendo
doenças ao homem. Precaver-se, usando luva, é obrigação, pois a religião e as
divindades só desejam que as pessoas vivam bem e com saúde!
76. O que representam os demais animais no ritual da feitura?
A cabra (uré) representa a fecundidade, a docilidade e a mansidão e é
mais apropriada para as divindades femininas. A pata é um animal brejeiro,
ligado ao elemento água. O peixe (ejá) muitas vezes é considerado, como o
igbim, animal sereno, e simboliza a paz e a calmaria.
O cágado (jápá) pertence ao grupo dos animais de quatro pés e é um
bicho sagrado para Xangô, consagrado em algumas casas também para Egum.
Por ser um bicho “forte”, em alguns Axés é costume se ofertar o cágado para
qualquer tipo de divindade nos rituais, seja nas iniciações ou em outras liturgias.
Este animal tem caráter malicioso, é vagaroso, porém persistente, e simboliza a
virilidade de Xangô.
77. O que significa a sassanha/sassanhe?
A sassanha (sasányìn) é um ritual iorubá muito bonito, conhecido como
“cantar a folha”, e tem como finalidade “despertar” o axé das ervas. Realizado
com preceitos litúrgicos, cânticos e oriquís serve também para se reverenciar
Ossâim, o senhor das folhas. Para este preceito existem cânticos exclusivos para
cada orixá e para cada tipo de folha. É feito com a presença de iniciados e
realizado nas liturgias dos iaôs ou após as grandes matanças. Existe um ritual
assemelhado, na nação fon, que é chamado de afexu. Ao contrário dos iorubás,
que realizam a sassanha bem antes das festas, o afexu é realizado, muitas vezes,
no salão, antes do início das festividades.
78. O que é o quelê?
Para o iorubá a palavra ilèkè tem o significado de “fio, colar”, e o quelê é
realmente um colar sacralizado! Após ser colocado no iaô, representa a aliança
formalizada entre ele e o seu orixá. Um símbolo sagrado na religião, o seu uso se
traduz num momento glorioso, em que a pessoa se sente mais unida e realmente
pertencente à sua divindade. O quelê não é usado somente durante o período de
iaô, ele será novamente colocado, no futuro, em algumas obrigações temporais.
Confeccionado somente pelo sacerdote, ou por uma pessoa graduada de
sua inteira confiança, possui preceitos para sua colocação, seu fechamento e sua
retirada. Em alguns Axés, a sua confecção exige uma quantidade certa de
miçangas, tendo a cor e o número de fios em conformidade com o Odu e com o
orixá do iaô. O quelê deve estar sempre protegido, resguardado dos olhares
públicos. O seu portador deve vestir-se adequadamente, sempre de branco,
paramentado com o pano-da-costa protegendo seu dorso e com o ojá na cabeça.
Essa é a roupa ritual do recém-iniciado no candomblé!
Estar com o quelê no pescoço é uma época melindrosa, de grande
sensibilidade física e espiritual. É um período que requer muita resignação, muita
calma e um rigoroso resguardo espiritual e corporal. Mas, em contraponto a isto,
o iaô recebe atenção especial de seus mais velhos e dos demais componentes da
comunidade. Todos precisam ser condescendentes com relação aos seus erros. O
quelê precisa ser tratado com todo o cuidado que um cristal requer, pois é assim
que o iaô deve ser visto. Ele precisa ser lapidado, manuseado com firmeza,
porém com carinho, pois, quando surgem pequenas rachaduras no cristal, estas
podem ocasionar imperfeições ou quebras em sua formação futura!
Antigamente, era costume o iaô permanecer com o seu quelê no pescoço
por três ou seis meses, e em muitas casas até pelo período de um ano. Cumprindo
todo este resguardo na casa de candomblé! Hoje em dia, com a vida atarefada e
conturbada das pessoas, isso se tornou quase impossível. Todos precisam
trabalhar para sustentar e manter suas famílias. Portanto, permanecer com o que
lê no pescoço tornou-se um pouco difícil e arriscado. Por isto, muitos Axés
optaram por retirá-lo e colocá-lo em cima do igbá do orixá, assumindo então o
iniciado, com as suas divindades, um compromisso muito grande, porque seus
resguardos e interdições permanecerão! Ocorre também em algumas casas a
retirada do quelê e a quebra dos seus resguardos, libertando assim a pessoa e
aliviando a sua responsabilidade e também a doia sacerdote/sacerdotisa. A
mesma coisa acontece, em algumas casas, quando o novo filho é criança ainda,
sem grandes responsabilidades, ou com aqueles que estudam e precisam retornar
à sua vida cotidiana. Pensamos que as divindades entendem as necessidades dos
seus filhos e aceitam estas modificações, tão necessárias à continuidade da
religião! Isto não é o correto nem o usual, mas atualmente ocorre, de acordo
com a posição dos responsáveis pelos terreiros.
Em épocas muito remotas, o quelê era de uso exclusivo das nações que
compõem o povo bantu. Com a união das nações, as casas iorubás e fons
adotaram a colocação do que lê em seus iniciados. Os fons o chamam de croquí
ou croquê, e ele é bem diferente dos usados pelos iorubás; são somente alguns
fios-de-conta preparados para esta ocasião. Em outras casas fons são
confeccionados somente com búzios, se o iniciado pertence aos voduns Nanã,
Sobô, Bessém ou a outros desta família. Existe também, quando o iniciado tem
“cargo”, a colocação de um quelê feito de búzios e um outro de miçanga. É
costume também que algumas casas usem somente um que lê confeccionado
com búzios para todos, independente da divindade. Para os filhos do vodum
Omolu é colocado um que lê feito com uma trança de palhada-costa. Em
períodos longínquos alguns terreiros utilizavam somente um único fio-de-conta
representando um quelê. Nos dias atuais algumas nações ainda procedem assim,
e devem ser respeitadas por suas co-irmãs ao utilizar este procedimento, pois as
normas de cada terreiro devem ser acatadas e respeitadas!
Tal como para a sua colocação, para a retirada do quelê também existem
uma liturgia e um cerimonial. Ambos, porém, são bem restritos e possuem ritual
próprio, denominado de “queda de quelê”, nas casas de nações iorubás.
O simbolismo do quelê é a sua sacralidade e a sua ligação com a pessoa
que o recebeu. Esta união, entretanto, só será desfeita no ato da morte da pessoa,
através de preceitos que cortam estes vínculos e os elos de ligação do homem
com o aiê.
79. O que é o sarapocã (ou sadapocã)?
O sarapocã (sarakpokàn), para o povo fon (realizado durante três dias), ou
“os sete dias de efum”, para o povo iorubá, é uma liturgia preparatória para
orientar a divindade que está nascendo no iaô. Nestes dias, eles aprendem como
se apresentar corretamente para a assistência em sua primeira festa pública.
Ocorre logo após a colocação do quelê, para que o iaô e seu orixá finalizem seu
aprendizado inicial. É um cerimonial realizado no barracão, com os atabaques e
a presença dos que ajudaram na iniciação e de alguns integrantes da egbé.
Costuma ser realizado à tarde, durante os sete dias que antecedem a saída do iaô
para a festa pública do orukó.
É através do sarapocã que aprenderão, primeiramente, como reverenciar
a porta, onde se saúdam Ogum, Exu e as Iy amís. Estas entidades estão ali para
resguardar a porta principal de más influências e energias negativas, permitindo
assim que a festa transcorra de maneira agradável e amena. Conhecerão os
ritmos e aprenderão a dançar para a sua nação e também para as demais. Terão
que reconhecer e acompanhar as ordens doia babalorixá/iy alorixá, aprendendo a
saudar e reverenciar os locais sagrados do barracão. Aprenderão a se postar
diante dos atabaques, diante dos ogãs e das autoridades e visitantes ilustres
presentes. O orixá terá conhecimento também de como saudar as demais
divindades participantes.
Em algumas casas fons é confeccionado um tipo de vassoura, com folhas
de mariô, e uma pessoa vem à frente do vodunsi dançando e varrendo o chão,
para que ele passe, limpando e retirando as negatividades do seu caminho. Esta
vassoura depois será despachada.
O ritual do sarapocã serve para preparar, condicionar e educar o iniciado
e sua divindade, permitindo que o conjunto flua com mais liberdade, mais à
vontade, sem atropelos e desacertos. Assim, ambos poderão participar melhor e
de forma mais bonita da grande festa.
80. O que representa a colocação do icodidé no iaô?
O icodidé (íkóòdídẹ́ ) é o símbolo iorubá da procriação e da geração de
vidas. Pequena pena vermelha de um papagaio africano chamado papagaio-da-
costa, ou dídẹ́ , é amarrada em um fio de palha-da-costa trançado e colocada na
cabeça do iaô, na parte frontal. Torna-se, a partir daí, o símbolo do nascimento
deste novo filho, de um ser recriado. Ogãs e equedes usam o icodidé em suas
iniciações porque estes também participam do processo de renascimento dentro
do candomblé.
A cada nova obrigação temporal, nos Borís e em algumas outras liturgias
religiosas, esta pena sagrada é novamente utilizada. O icodidé pode ficar à
mostra ou escondido sob o ojá, de acordo com cada Axé. Em algumas casas,
porém, seu uso não é muito comum. Nestas, ele é substituído por pena de pombo
ou de galinha-d'angola e, se a pessoa iniciada for de Iemanjá, é usual a utilização
de uma pena de garça.
Esta insígnia emblemática faz o elo de ligação da ancestralidade, Obatalá
(o pai), com Iemanjá (a mãe), e também com a descendência, a filha Oxum,
senhora proprietária do icodidé. Colocar o icodidé insere o iaô no passado, aos
pais, e no presente ao movimento, recebido de Exu, trazendo-lhe então a
evolução. O icodidé é o único ornamento de cor usado por Orixalá, em respeito
ao poder feminino da gestação. É através do mistério do sangue menstrual que a
mulher gera, alimenta e mantém uma nova vida, conseguindo assim a povoação
do aiê.
Esta pena é também a representação do Bára Orí, Exu particularizado,
muito ligado ao nosso orixá e ao nosso orí. Por ser a divindade que atiça ou
pacifica os instintos sexuais do homem e da mulher, está muito relacionado com
a multiplicação dos seres, regendo a reprodução. Pelas suas cores, o icodidé é
um emblema da vida, portanto, seu uso permite ao homem manter Iku, a morte,
afastada. É apropriado e muito comum usá-lo em rituais de Axexê.
O icodidé é uma insígnia que distingue as pessoas que foram escolhidas
pelas divindades.
81. O que representa o ato de "pintar o iaô"?
A união das três cores primordiais tem a força e o poder dos elementos da
natureza e, no ato da pintura, estas energias conjuntas são transferidas para o
iniciado. O axé que está contido nestes elementos, ao combinar-se com outros
materiais simbólicos, catalisa o desenvolvimento e a multiplicação do axé do
iniciado. E este axé particularizado junta-se ao axé coletivo, promovendo
crescimento e melhorias para a casa de candomblé e a sua comunidade.
A liturgia da pintura corporal faz parte do conjunto ritual da iniciação e
precisa ser feita com meticulosidade, como qualquer outra que é feito no iaô.
Esta pintura não é um ato artístico ou estético, é uma obrigação sacramental e só
deve ser realizada por quem foi preparado para essa função. Geralmente é
efetuado por pessoas iniciadas para Oxalá, que recebem o nome de babá efum ou
iy á efum. Pintar o iaô não pode ser uma tarefa indiscriminada, existem padrões
determinados que caracterizam o orixá e a sua nação. Ela serve para que a
divindade reviva as marcas identificatórias do seu passado.
A pintura inicia-se com cantiga especial e é feita no corpo inteiro, com
desenhos especiais no rosto, nas orelhas, nos olhos e no orí. Precisa ser realizada
com carinho, amor e perfeição, necessitando também de certa delicadeza e
refinamento. Tudo para mostrar ao público toda a beleza deste momento único,
tão singular e sagrado para o iaô e também para todos os componentes do
candomblé!
82. Q uais são as cores fundamentais da religião?
Na pintura do iaô são usadas as três cores primordiais da religião,
representantes das substâncias da vida. São elas:
o branco, efum (efun ou afin) – é conseguido através da extração de
pedaços de calcário, triturados até se transformarem em pó. Esta cor se remete
ao sangue branco (èjè funfun) e tem sua representação humana na saliva, no
hálito, no sêmem. Na natureza é simbolizada pela prata, pelo chumbo, pelo giz,
pelo barro, pelas bebidas brancas etc. Tem relacionamento com as forças
criadoras e com o orum. Liga-se à imobilidade, ao frio, ao silêncio, à pureza, e
pertence ao elemento masculino, ao ar e à água;
o azul, uáji (wáji ou llú) – é o índigo, pó extraído de cascas ou de frutos de
vários tipos de árvores. O azul possui a representação da cor preta e está
simbolicamente ligado à terra, à lama e à descendência. No reino mineral
compreende o ferro, o carvão. No reino vegetal é considerado o sangue preto
(èjé dúdú) retirado da seiva das plantas. Está relacionada ao movimento, ao
mistério e especialmente ao infinito de Olorum;
o vermelho, ossum (osùn) – é um pó extraído de cascas avermelhadas de
alguns troncos, de frutos ou de flores de certos tipos de árvores. Esta cor tem a
sua representação nos variados matizes de vermelho e também no sangue (èjé
pupá) do homem ou dos animais, no azeitede-dendê, no mel; no bronze, no cobre,
no estanho. Simboliza a vitalidade, a sensualidade, a gestação, a riqueza.
Todas estas cores pertencem a grupos de elementos condutores de axé e
são encontradas em várias substâncias representantes dos três reinos da natureza:
animal, vegetal e mineral. Combinadas, fazem a consagração do iaô, dos
sacrifícios e das oferendas. Os orixás também participam e partilham destas
cores, existindo alguns que só aceitam e usam a cor branca. Outros, porém, se
utilizam da combinação de cores. Sempre seguindo a idade temporal, o sexo,
suas particularidades, personalidade, sua colocação no reino da natureza etc.
Embora não possa ser considerada a ideal nem a perfeita substituta, no
passado, quando a importação era difícil, costumava-se utilizar um tablete de anil
em lugar do uáji; a pemba branca ralada ou a farinha fina do inhame ralado,
para substituir o efum. O pó de urucum ou a casca vermelha de algumas árvores
fazia o similar ao ossum. As modificações foram necessárias para que a religião
tivesse continuidade e não perdesse seus fundamentos. Mas as dificuldades, que
eram imensas, foram todas vencidas pela vontade e pela perseverança do
guerreiro “povo do candomblé”!
83. O que é o oxu?
O oxu (oṣù) é um objeto sacralizado, preparado com favas, ervas,
algumas substâncias sagradas e os pós correspondentes às cores primordiais. Em
formato cónico, é colocado na parte central da cabeça do recém-iniciado, após
as incisões sagradas do orí, concluindo os rituais do iaó. O oxu é a marca
identificatória e visual das pessoas consideradas “iniciadas”! A partir deste
momento elas são chamadas de adoxus, “aquele que é portador do oxu”, nas
nações Iorubá e NagóVodum. Nas casas fons não é costume o seu uso nos
iniciados; nesta nação dá-se o rumbê (hungbè) para o vodunsi beber, como
forma de consagração.
Ajudada por Exu, a iy abá Oxum fez o primeiro iaó da existência, a
galinha-d'angola. Quando colocado no orí, e em conjunto com as pinturas, o oxu
faz esta representação no novo adepto. Oxum é mãe por excelência, portanto
está ligada à procriação, ao início e também à descendência. Exu decidiu,
através do poder que tem sobre o crescimento e a fecundidade, ajudar e aceitar
a mulher como o ser que dá condições ao mundo de continuar. O oxu tornou-se a
insígnia que compõe o visual daqueles seres especialmente criados para a
religião!
84. O que é a festa pública do “Dia do Nome”?
É o dia em que se faz o fechamento das obrigações do iniciado, quando a
divindade se apresentará! Depois de tantos dias enclausurado/a, de tantos rituais e
liturgias e de ter conhecido um novo modo de ser, é chegada a hora do seu
retorno à vida comunitária. De mostrar-se à sua nova família! É o novo membro
do egbé que voltou de sua viagem à ancestralidade! E isto ocorre num dia de
festa para todos os adeptos do candomblé, numa celebração pública chamada de
“Dia do Nome” (Ikomojadè, para os iorubás).
É o momento em que a divindade vem ao aiê para se identificar e fazer a
apresentação formal de seu filho, um novo integrante da comunidade, a todos os
convidados. É também quando se reforçam a vitalidade e o prestígio da casa de
candomblé, movimentando o axé e congregando todos os presentes. São horas
festivas, uma celebração ímpar para todos aqueles que são iniciados. Nesta
ocasião, todos relembram o dia em que também já foram a estrela principal
desta comemoração. É um retorno, para muitos! Todos estão reunidos à espera
da hora de poder participar deste congraçamento. Alguém terá a honra de se
tornar importante na vida daquele iniciado, se for escolhido para “tomar o orunkó
(nome)” da sua divindade. A partir desta ocasião, se tornará então o/a
padrinho/madrinha daquele novo membro da religião e mais íntimo daquela
comunidade.
Cada casa tem seu modo de fazer esta festa. Em nossa casa, o iaô faz sua
aparição em três apresentações. Em sua primeira saída, surge com as roupas-de-
ração usadas no seu período de recolhimento, despedindo-se de um passado que
está sendo abolido. Em sua segunda saída, usa vestes simples e brancas, de
morim, reverenciando Orixalá e a criação. Neste momento, em alguns Axés, a
divindade grita bem alto o seu orunkó. É o momento culminante, quando os iaôs
mais recentes entram em transe e os ogãs vibram com furor os atabaques, numa
saudação alegre e feliz. É mais um para somar, dentro da casa e da religião!
Em sua terceira saída, a divindade surge paramentada com suas roupas
distintivas, brancas ou coloridas. Traz suas ferramentas, mostrando seu potencial
de dança e também seu agradecimento, por poder estar novamente entre seus
descendentes através de um novo filho. É a sua volta ao aiê! Momento em que se
diz que o vodum “vai tomar rum” ou que o orixá fará o sí njó, ou seja, irá dançar
para todas as divindades, ao som dos atabaques. A comunidade e os convidados
vibram!
A partir deste dia o iaô passará a existir, a ter um nome, e todos os seus
sacrifícios para a iniciação serão compensados. Esse sacrifício, porém, não deixa
marcas dolorosas! Suas lembranças dos momentos de clausura se ligarão
exclusivamente ao seu comportamento e às suas aceitação e receptividade aos
novos ensinamentos. Sua permanência dependerá, principalmente, de sua
educação, de sua índole e de sua personalidade! Mas este dia não é um término
para o iniciado; é, antes, um começo. O início de uma nova existência, mais forte
espiritual e emocionalmente. Ele conquistou uma nova família, tem novas
obrigações e responsabilidades. Participará de um grupo ainda meio
desconhecido, mas percorrerá seus meandros e aprenderá como seguir as regras
e os valores desta comunidade.
85. O que é o orunkó?
Orunkó (orukó) é palavra de origem iorubá, que designa um nome. Para
os savalus, denomina-se suna; para os mahis, hun-in. Para a nação bantu, a
palavra que designa nome é dijina, particularizando o/a muzenza e também o seu
inquice. Em algumas nações fons, tanto o vodum como o seu iniciado recebem
um nome religioso que os identificará. Na nação iorubá somente os orixás
possuem orunkó, composto de três partes: a primeira se origina do nome genérico
da família do orixá; a segunda determina a sua qualidade; a terceira designa
características próprias do orixá. Os iniciados são chamados pelo nome genérico
de suas divindades (Oiasse, Obasse, Oxalasse etc.).
O orunkó é uma nova identidade; ele toma a pessoa diferenciada no seu
grupo, porém inscrita na linhagem e na descendência do candomblé. A partir
daquele dia não mais será chamada pelo seu nome de nascimento dentro da sua
casa e também dentro da religião, pois para os iniciados isto significaria renegar
todo o seu sacrifício para se tornar “filho de um orixá”.
Em algumas casas não é costume que o nome seja dado publicamente. Já
em outras, a pessoa será conhecida pela simplificação do seu orunkó. É bastante
comum, em certos Axés da nação iorubá, que se desperte o iniciado chamando-o
pelo seu orunkó. Para ogãs e equedes, quem geralmente anuncia o orunkó é o
orixá para quem eles foram confirmados, ou o próprio babalorixá, no momento
da festa. No Axé Kavok ele é dado momentos antes do início da festa, numa
celebração com os mais íntimos. Não existe uma obrigatoriedade ou regra
imposta universalmente. Mas como ele contém todo o axé da união do ser
humano com seu orixá, toma-se único e particularizado, devendo então ser
protegido e resguardado, para que não seja usado inadequadamente.
Talvez manter em segredo o orunkó tenha surgido em anos longínquos,
quando a religião era perseguida e seus adeptos precisavam recorrer a artifícios.
Este novo nome do adepto da religião serviria até como um apelido ou um
codinome, permitindo assim que a pessoa pudesse se locomover com mais
facilidade.
86. O que é o orupí?
Orupí (orupí) é o nome dado ao ritual religioso que finaliza as funções de
feitura do iaô, quando alguns elementos que participaram da iniciação são
levados para a natureza. O local é previamente determinado pela divindade, e
pode ser colocado nas águas doces ou salgadas, nas matas, nas estradas. Após o
retorno dos que foram leválo, o iaô estará liberto de sua clausura e poderá juntar-
se aos demais componentes do egbé, ficando, entretanto, por mais um período
livre somente nas partes internas da casa de candomblé. Ele ainda terá mais
alguns preceitos a cumprir para sua total liberação.
87. O que é o panã?
É um termo iorubá (pònòn) que denomina o ato de reinserir o iaô em sua
vida cotidiana. Inicia-se pelo seu louvor ao orum e à luz do Sol, que ele não vê há
vários dias. Ele receberá com prazer o seu calor e a sua claridade! A seguir,
saudará simbolicamente a rua e seus vários caminhos. Agora, reaprenderá a usar
os utensílios domésticos e relembrará as tarefas do dia-a-dia. Terá algumas
proibições liberadas, que são necessárias para a sua lida diária. Este cerimonial
ocorre num clima ameno e festivo, bem descontraído.
Em alguns Axés iorubás ou bantus ocorre também uma festividade
chamada de “quitanda-do-iaô” ou simplesmente “quitanda”, para o erê do
iniciado, que neste dia é consagrado e diz a todos o seu nome. (O termo
“quitanda” é proveniente do quimbundo kitanda, feira.) Em tabuleiros ou mesas
são colocados à venda doces, frutas, comidas, objetos etc., por preços às vezes
acima do normal. Esta divindade infantil se diverte e também diverte a todos. É
costume que o dinheiro arrecadado seja revertido para o terreiro. A seguir, o iaô
poderá retornar à sua vida particular, retomar seu lugar no mundo externo,
liberado para sua nova vida. Entretanto, de acordo com seu sacerdote, ainda
deverá observar algumas restrições, pois estará usando o seu quelê e a sua
liberação total ainda demorará algum tempo!
Era costume, antigamente, que o iaô, após esses rituais, saísse para tomar
a bênção aos seus mais velhos, de outros Axés. Atualmente poucas casas de
candomblé o fazem. Este ato não deveria se perder, pois ele reforça os laços
religiosos e unifica as nações-irmãs e deve ser motivo de orgulho que um Axé
receba a visita de um “novo integrante” da religião. É sempre mais um a
engrandecê-la e a ajudar a levantar a sua bandeira!
CAPÍTULO 10
Pequenos ensinamentos para o iaô que está de quelê
O iaô precisa seguir regras, formuladas de acordo com cada casa de candomblé.
Descrevemos as mais usuais e as que achamos mais convenientes de ser escritas
num livro. Passar aos seus filhos os fundamentos e as liturgias ficará a cargo dos
babalorixás e das iyalorixás.
88. Algumas formas de bênção, como respondê-las e algumas saudações
utilizadas no candomblé.
Em algumas casas de nação fon, mesmo com sua obrigação de sete anos
realizada, a ebômi não poderá usar a bata dentro do terreiro, pois somente a doné
tem o direito de usá-la. O mesmo ocorre com o ojá.
A bata não faz parte da indumentária, nem tem como finalidade a
vaidade. Ela é a premiação do iniciado do candomblé pelo cumprimento correto
do seu período de iaô. A ebômi toma-se capacitada a usar sua bata quando sabe
agir com humildade e dignidade, tornandose um exemplo a ser seguido!
180. O que é o alacá?
É um tipo de traje africano, confeccionado com um tecido colorido ou
branco, que rodeia todo o corpo, terminando amarrado lateralmente. No Brasil,
essa vestimenta só é usada por babalorixás ou iy alorixás em grandes festividades
e somente por pessoas que já tenham feito a obrigação de 21 anos de iniciação.
181. O que é o brajá?
O brajá é um colar longo, feito com fileiras de búzios enfiados dois a dois,
lembrando uma escama de cobra. Fazendo seu fechamento, é costume colocar
pequenas cabacinhas enfeitadas com palha-da-costa ou “firmas” coloridas
africanas. Este colar é consagrado a alguns orixás e voduns ligados à
ancestralidade, à terra e aos búzios, como Orixalá, Nanã, Omolu, Oxumarê,
lroco. O brajá possui conotação hierárquica e é usado sempre nas grandes festas
pelos orixás ou por pessoas com graduação na religião.
182. O que é o cordão de laguidibá?
O laguidibá (lágídígbá, em iorubá) é um fio-de-contas que se associa à
terra, aos ancestrais, conhecido como o “colar símbolo” de Omolu. Pode ser
confeccionado com rodelas de chifre de búfalo ou com pedaços arredondados da
casca da semente interna do coquinho da palmeira. Existem cordões de laguidibá
que são produzidos alternando-se rodelas pretas com contas brancas. Este fio-de-
contas faz parte também dos paramentos de Nanã, lroco e Oxumarê, divindades
pertencentes ao panteão de Omolu. Oxalá também usa cordão de laguidibá,
sendo este confeccionado com rodelas de marfim ou pedaços de conchas. Este
cordão demonstra o grau hierárquico elevado de quem o usa.
183. O que é o runjeve?
É um fio-de-contas que os iniciados das nações Fon e Nagô-Vodum
recebem ao fazer a complementação de suas obrigações rituais, aos sete anos.
Representa a ligação do homem com o divino e simboliza a maioridade dentro da
religião, não tendo, contudo, o sentido de status.
Para sua confecção, usam-se miçangas amarronzadas, contas cilíndricas
de coral e uma conta azulada, o seguí (sègí). Estas três cores têm simbologias na
religião: o coral representa o sangue, a vida; o marrom, a força da terra; e o
seguí, o azul celestial. O runjeve só pode ser confeccionado pelo sacerdote ou por
pessoa de sua confiança, com graduação dentro da casa. Porém, o seu
fechamento só é realizado pelo babalorixá.
É proibido o empréstimo do fio-de-contas particularizado a qualquer
pessoa, e deve ser usado com seriedade e dignidade, não como um cordão de
enfeite. Ogãs e equedes não recebem runjeve, porque este colar faz a
consagração do nascimento do iaô. Estas autoridades foram somente
sacralizadas, não passaram por rituais de renascimento, como os iaôs.
Todos os iniciados, independentemente de sua divindade, recebem seu
runjeve ao atingir sua maioridade religiosa, porque este pertence a todos os
orixás. Porém, o runjeve é primordialmente do domínio de três divindades: Oiá,
Oxumarê e Omolu. Estas divindades possuem uma ligação com a vida e com a
morte e fazem um elo de união do aiê com o orum, que é a representação maior
do runjeve.
Simbolizando uma nova idade, um recomeço mais fortalecido, o runjeve
é único, particularizado e intransferível, e vai acompanhar a pessoa em sua
partida para o orum, no momento de sua morte.
CAPÍTULO 18
Sociedades secretas e confrarias divinas
Todas as nações trouxeram particularidades para o Brasil. A fon, com seus voduns
e seus segredos. A bantu, “nação-mãe”, com seus inquices, tão nossos amigos! Os
iorubás, com seus orixás e seus ancestrais divinos. Todas deram suas contribuições
para o Brasil, seja na modalidade falada ou escrita da nossa língua, na medicina
popular, no ensinamento dos segredos das suas ervas, na dança, na música etc.
Agradecemos também a culinária colorida, cheirosa e saborosa!
Nação Bantu
Ritmo muito usado nas nações fon e nagô-vodum, de uso primordial para
Bessém e Iewá, que convida todos os voduns a participar e dançar.
Cabula
Um toque muito rápido, próprio para Oiá, também conhecido como ilu,
ou “quebra-pratos”. É um ritmo muito trabalhoso para os atabaques e cansativo
para os ogãs. Os atabaques precisam ser rufados com energia e velocidade, para
dar maior beleza aos movimentos ligeiros, sensuais e impetuosos de Oiá. Este
toque produz e simboliza uma dança guerreira, fazendo esta iy abá relembrar
antigas divergências! Através dos gestuais rápidos e espalmados, ela faz também
a evocação dos ventos e das tempestades. Seus braços abertos e estendidos fazem
a representação da liberdade e produzem ainda uma delimitação de distância
para as más influências.
Darrome
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: Exussi
Dia da semana: segunda-feira
Elementos: fogo ou terra.
Símbolo: ogó
Metais: ferro e cobre.
Cores: azul-escuro, vermelho e estampados
Folha: loquinho
Bebidas: vinhos e bebidas destiladas
Bichos: cabritos, galos, preás, igbim
Saudação: Laroiê, Exu!
Seus filhos:
Os filhos de Exu são pessoas que possuem personalidade e caráter
ambíguos, não obedecendo aos conceitos que a sociedade aceita como normais.
As regras para eles têm brechas por onde seu senso de moralidade encontra
saída; o que para alguns não é correto, para os filhos de Exu poderá ser o
caminho ou a solução. Estão sempre à procura da evolução, utilizando-se de sua
perspicácia e malícia para consegui-la por meio da ajuda daqueles que o
rodeiam. Funcionais, usam da amizade e, às vezes, até da intriga, para alcançar
seus objetivos. Matreiros, brincalhões, moleques, animados, são espertos e de
pensamento ágil. Apreciam os momentos em que podem descontrolar o
ambiente onde se encontram, provocando confusão, brigas, intrigas. Ao
vislumbrar alguma forma de obter lucro, não hesitarão em utilizá-la. Mesmo
sabendo que às vezes poderão não alcançar o que desejam, já antevêem uma
outra solução que lhes trará maior benefício. Independentemente do sexo, são
grandes amantes, impetuosos, fogosos e gostam muito de fazer amor. Adoram a
noite, gostam de beber e comer bem, de festas, de confraternizações, de viver a
vida. Vestem-se de forma sedutora, porém sobriamente. Às vezes tornam-se
insolentes e desrespeitosos, porque não ligam para as convenções sociais.
Bára
O Bára (ou Bará), para o povo iorubá, é o Exu individual das pessoas,
representando a parte física do homem, o esqueleto energético. É denominado
“morador do corpo” (ungbà ará) ou “rei do corpo” (obá ará). É aquele que
proporciona a força, os movimentos, que rege os órgãos internos e imprime e
introjeta a energia no nosso organismo. Representa a carapaça protetora que
produz dinamismo e propulsiona e permite que a pessoa evolua, sendo também
quem faz a intercomunicação do homem com o seu orixá.
É cultuado privativamente pela pessoa para quem foi assentado, quando
passa a ser considerado por este como Bára-aiê. Seu assentamento pode ficar, se
necessário, no mesmo local onde está o igbá do orixá do iniciado.
Na época da feitura, de acordo com cada Axé, o sacerdote poderá
determinar ou não a sua confecção, porque o seu preparo demanda despesa. Mas
ele será reverenciado no agbá Exu ou no ojubó da casa de candomblé. Após
arrumado, seguirá as mesmas normas e características do orixá da pessoa.
Por ser particularizado, o Exu Bára, após assentado, tem que permanecer
sempre próximo àquele para quem foi assentado. Ele é o sentinela de quem
cuida dele, e seu nome não deve ser alardeado, porque pessoas mal
intencionadas, através dele, podem praticar maldade para o seu possuidor.
Mesmo os iniciados consagrados para o orixá Exu possuem e assentam o
seu Bára, porque ele é independente de qualquer orixá. O orixá está ligado ao
divino, a Olorum; o Bára está ligado à parte física! É um guardião do corpo
físico, um protetor, sendo assim, parte inseparável do homem! Ele precisa ser
agradado constantemente com oferendas de ajabó, frutas, doces (evita-se ofertar
o mel, porque esse alimento adoça e acalma demais Exu!). Também um pouco
da nossa comida favorita, água de coco, acaçás, ebô, caldo-de-cana (Exu
adora!). Tudo que a nossa boca come, nosso Bára também come! Quando a
pessoa oferece um banquete para o Bára, deve provar um pouco de cada comida
ofertada, porque assim estará participando de uma refeição comunal com ele.
No ato do Borí, o Bára também se alimenta, para evitar uma
descompensação e produzir um equilíbrio entre a cabeça física e a cabeça
espiritual, fortalecendo tanto o corpo físico como o corpo astral. Restabelece-se
então o elo entre a pessoa no aiê e seu duplo no orum. Assim, também cuidamos
do corpo que o Bára possui: o nosso!
Ecurum
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: ogunssi
Dia da semana: terça-feira
Elemento: terra
Símbolo: espada
Metal: ferro
Cor: azul-escuro, branco, verde
Folhas: peregum, panacéia, abre-caminho
Bebidas: vinho branco
Bichos: galo, cabrito, pequenos roedores e caça
Saudação: Ogunhê!
Seus filhos:
Os filhos de Ogum costumam ser atléticos, vigorosos e musculosos.
Dinâmicos, impulsivos, intransigentes e, em alguns momentos, mostram-se
violentos, sem saber equilibrar a convivência social.
Viris e sensuais, fascinam seus/suas parceiros/as, não demonstrando
porém muita dedicação ou valorização.
Muito extrovertidos, gostam de brincar, de rir, de comer bem, de beber.
Apreciam viver junto a outras pessoas que tenham o pensarnento semelhante ao
seu, porém sem se intimidar com as divergências que as diferenças trazem.
Contudo, esquentados como são, ofendem-se com facilidade. Mas com a mesma
rapidez, conseguem esquecer os incidentes. Dependendo do ocorrido, ficará a
mágoa; essa os filhos de Ogum não esquecem, pois não costumam perdoar as
ofensas doloridas!
Cuidadosos e observadores, não procuram briga, mas não correm dela,
porque não têm medo de nada e são poucos os que se atreverão a contestá-los.
Empreendedores e muito ativos, são trabalhadores incansáveis. Cada dia
para eles é como se tivessem que enfrentar e vencer grandes batalhas.
Bons chefes de família, boas mães, trabalham incessantemente para
prover sua prole de todas as necessidades, dentro daquilo que lhes é possível.
Ossâim
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: ewessi
Dia da semana: quinta-feira Elementos: terra e matas
Símbolo: ferramenta de metal
Metal: ferro Cores: azul, verde, branco
Folhas: todas, especialmente obó (rama-de-Ieite)
Bebidas: aruá, vinho branco
Bichos: de caça, como capivara, preá-do-mato, paca; codorna, galo
arrepiado, galo carijó, galinha-d'angola
Saudação: Ewe, ewe, assa!
Seus filhos:
Os filhos de Ossâim geralmente são constituídos de uma silhueta
longilínea e delicada, com um porte altaneiro e atraente. Equilibrados, de caráter
forte, não demonstram suas emoções ou seu favoritismo por alguém ou por
alguma coisa que seja de seu interesse. São bons articuladores, ardilosos,
observadores e manipuladores no meio em que vivem.
Ignoram estigmas e são também muito tolerantes com os erros alheios,
evitando fazer julgamentos.
Não são prepotentes, sendo, por vezes, até mesmo submissos.
Calculistas e frios, procuram tirar proveito de determinadas situações em
benefício próprio.
São, porém, bondosos e generosos com seus amigos, mas demonstram
logo a estes que não aceitam intromissão em sua vida particular e,
principalmente, na sua liberdade, que prezam acima de tudo.
Caridosos, por vezes esquecem deles mesmos, pois devotam-se
excessivamente ao seu próximo. Preocupam-se mais em ajudar, não se
importando de que forma e em que momento. Porém, ao se preocuparem com
as pessoas, esquecem de cuidar e de preservar sua própria saúde, que, num
futuro mais tardio, costuma tornar-se muito sensível e delicada.
Não se prendem muito a valores materiais, necessitando somente do
suficiente para viver bem.
Excelentes estudiosos, de qualquer campo relacionado à parte física e
mental do ser humano. Gostam da solidão para seus momentos de meditação,
quando então se tornam muito introspectivos.
As plantas e as flores, especialmente, são o seu hobby e a sua predileção,
sendo para alguns o meio de ganhar a vida. Através de sua percepção apurada e
de seu gosto refinado, com elas faz fluir seu dom inato da criação e da inovação.
Costumam usá-las tanto no sentido terapêutico, ajudando os seres humanos,
como no sentido estético e decorativo, embelezando pessoas e ambientes.
Até para com os animais têm um estilo próprio, já que estes os obedecem
e parecem entendê-los perfeitamente.
Oxóssi
Generalidades do orixá:
Como são chamados seus filhos: odessi
Dia da semana: quinta-feira
Elemento: terra
Símbolos: ofá, oguê, eruquerê
Metal: ferro bruto
Cores: azul-claro, todos os tons de azul, verde
Folhas: obó (rama-de-Ieite), capeba
Bebidas: vinho branco, aruá
Bichos: galo, faisão, passarinhos
Saudação: Okê, arole, Odé!
Seus filhos:
Os filhos de Oxóssi são, antes de tudo, pessoas apaixonadas pela vida e
que procuram vivê-la o mais intensamente possível. Muitos procuram criar para
si, e também para aqueles que os acompanham, momentos de aventura, um
escape, evitando assim cair na mesmice, pois não suportam a rotina.
Independentes, amantes da liberdade, são naturalmente inquietos, quase
hiperativos. Possuem raciocínio rápido, são espertos, inteligentes e determinados.
Ótimos alunos, pois aprendem de variadas formas, ou seja, somente escutando,
observando ou pressentindo; são também excelentes professores. Mas as pessoas
precisam saber como retirar deles os ensinamentos, pois estes são instintivos,
momentâneos e até mesmo passageiros. Criativos e originais, gostam de procurar
sempre novas atividades, através das quais possam mostrar seu potencial artístico
e eclético. Um interessante costume dos filhos dos odés é observar mais do que
ser observados, agindo como se estivessem à espreita, de tocaia.
São pessoas sensíveis, emotivas, mas que não demonstram estes
sentimentos, pois têm medo de, ao sentirem-se frágeis, perder o domínio das
situações. Procuram ouvir opiniões e conselhos, mas não costumam acatá-los;
seguem mais a sua própria vontade. Amigos sinceros, costumam ser generosos, e
os necessitados têm neles sempre um porto seguro. Procuram resolver os
problemas com tranqüilidade e calma, porém, se não conseguirem seu intento
desta forma, transformam-se de maneira inimaginável, com atitudes que não
condizem com sua posição, com seu caráter ou mesmo com o seu
temperamento diário. Da mesma forma como se enfurecem, retomam à sua
personalidade anterior e agem como se nada tivesse acontecido!
Os filhos de Oxóssi gostam de zelar pelos amigos e pela família, mesmo
que estes exijam mais do que ele possa oferecer. Possuem um grande senso de
proteção e de responsabilidade para com seus familiares, mas não hesitam em
promover mudanças bruscas no seu estilo de vida. Existe uma característica dos
filhos de Oxóssi que já virou um ditado popular: “ninguém consegue segurar ou
dominar um filho de Oxóssi!” Batalhadores, geralmente evoluem tendo como
base seu próprio trabalho. Primam pelo requinte, pela sofisticação e pela
elegância, porém sem muito luxo. Não gostam de coisas rebuscadas ou vulgares.
Existe uma coisa muito importante que os filhos deste orixá precisam evitar: os
vícios, sejam eles quais forem. Estes desagradam a Oxóssi, que não os aceita!
Obaluaiê
Conhecido também como Omolu pelo povo iorubá, este poderoso vodum
é oriundo da Família Dambirá, da nação Fon, reconhecido pelo nome de Sakpatá.
Ao ser trazido para o Brasil, foi aceito e passou a ser venerado também pelos
iorubás e pela nação Nagô-Vodum, tal como sua mãe Nanã e seus irmãos Iewá,
Iroco e Bessém, recebendo cuidados e rituais com variadas distinções. A nação
bantu tem o inquice Caviungo ou Cavungo com características assemelhadas,
pois é também ligado à terra, ao calor, às doenças, mas que recebe preceitos e
fundamentos diferenciados. Cada nação tem um modo distinto de tratar as
divindades, embora elas possuam grandes semelhanças. Isto não dá ao homem o
direito e a possibilidade de mesclá-los e de tratálos como o mesmo em todas as
nações. Suas individualidades e personalidades devem ser respeitadas!
Obaluaiê é uma divindade poderosa, associada à terra, à saúde e à riqueza
para o povo iorubá e tem o seu nome traduzido como “rei senhor da terra” ou
“senhor de todos os espíritos da terra”. Seu nome mais poderoso é Xapanã
(Ṣànpònmá), que deve ser usado mais restritamente, com o devido cuidado.
Evitando falar seu nome, muitos o chamam de Ainon (“dono/senhor da terra”),
outros preferem o termo carinhoso de “Velho”, “Tio” ou mesmo de “Amolu”.
Está ligado instrínseca e concretamente à terra quente, à crosta terrestre,
endurecida e seca, tendo em seu contraponto Nanã, sua mãe, que está mais
direcionada ao núcleo da terra, à parte inferior e úmida do planeta. Ele responde
também pela umidade que emana da terra e que propicia a gestação vegetal,
ajudando assim na manutenção da vida. Por meio desta ligação, Obaluaiê é
considerado pertencente ao grupo dos onilés, os “donos da terra”, tendo domínio
completo tanto sobre sua parte externa, física e viva, como pela sua parte
cósmica, sagrada. Através desta sua ligação com a terra, é chamado de “senhor
das pedras”, pelo povo fon. As pedras são elementos que vivificam as divindades,
após receberem liturgias. (Na nação Iorubá, este título pertence a Xangô.)
Omolu é conhecido também como ilé igbona, “senhor das terras
quentes”, ou babá igbona, “pai da quentura”, garantindo através do calor todas as
manifestações de vida na Terra: humana, animal ou vegetal. Outro nome que
possui é o de olodê, o “senhor do exterior”, aquele que fica do lado de fora tanto
no momento em que o Sol está no seu ápice, ao meio-dia, ou na hora considerada
fria, à meia-noite, horário que pertence às divindades mais poderosas e
perigosas. Assim, Obaluaiê rege o horário em que o calor é mais forte, quando a
temperatura da Terra e do solo chega a extremos. Advém daí a proibição de que
o homem se exponha ao Sol neste horário. Surge então a interpretação de que
Obaluaiê é o próprio Sol, e que provê o planeta do calor necessário para a
existência da vida.
Porém, em algumas ocasiões, ele extrapola esse poder, como forma de
castigo ou de penitência. Isto ocorre quando o homem o desagrada e pratica
queimadas, derruba florestas, desequilibrando assim o meio ambiente e
desregulando o termómetro atmosférico. Como conseqüência, tudo isso destrói a
proteção que o planeta tem para se resguardar contra os raios solares. Obaluaiê
então provoca descontroles, destruições, alterações climáticas que forçam o ser
humano a repensar seu modo de cuidar da “mãe-terra”.
Por meio do seu relacionamento com a quentura, liga-se também com a
febre que afeta o ser humano. A febre é geralmente o sintoma de uma doença,
tanto física como psíquica ou emocional, e Obaluaiê rege os efeitos e as curas
das doenças. É ele quem traz a enfermidade, como é também quem proporciona
seu alívio e sua extinção, porque possui o conhecimento sobre as formas
curativas que sanam as doenças. Se o ser humano procurasse seguir sua vida
com os devidos cuidados e precauções, ele diminuiria as possibilidades de
contrair qualquer moléstia, pois não é este vodum quem “fabrica” as doenças, é
o homem que, com seu descuido e sua desobediência, as produz e contrai!
Também o suor está sob sua regência, sendo um sintoma indicativo de que
a febre está se extinguindo. Rege também o suor produzido pelo calor do Sol
sobre a pele, ou aquele proveniente dos desgastes físicos de um corpo debilitado.
Observamos, assim, que Obaluaiê produz, então, sentidos antagónicos da saúde:
causa o calor e, logo após, o frio, que vem trazer a extinção da doença!
Recebendo o codinome de “médico dos pobres”, vem em resposta às
necessidades do ser humano e traz o alívio àqueles que precisam do seu auxílio.
Obaluaiê cuida tanto do interior do corpo do homem, como ajuda também no
trato da parte externa, da pele, estando muito ligado às coceiras, às alergias, aos
comichões e às queimaduras. Rege ainda as perturbações nervosas, os problemas
mentais, produz a ansiedade, a aflição, elementos que descontrolam o bom
funcionamento do organismo, causando então um ciclo vicioso de doenças!
Nenhuma divindade está tão relacionada ao corpo físico do ser humano quanto
Obaluaiê! Por cuidar tanto da saúde e do corpo do homem é considerado uma
divindade muito misericordiosa para com este!
Através do seu apadrinhamento, os cientistas e os estudiosos evoluem.
Estes são ajudados por Obaluaiê em suas descobertas e na criação de
composições farmacêuticas que permitam a cura ou o alívio para as doenças e
epidemias. Se é ele quem dá a doença, será também quem trará a cura ou quem
ensinará como preveni-la!
Fazendo a representação das epidemias e das doenças eruptivas, como
catapora, varíola, sarampo etc., surgem as pipocas (doburu/buburu/guguru) que
são a ele ofertadas. Elas, ao eclodirem do milho quente, simbolizam as erupções
que explodem no ser humano. Esta foi a forma que o homem encontrou de
mostrar a esse vodum que o seu sofrimento é compartilhado, mas que também
se utiliza do seu poder para se livrar dos males, assim como ele teve o amor e a
dedicação de Iemanjá!
Pelos itãs, Obaluaiê é sempre rememorado como a divindade com muitos
ferimentos e que procurou subsistir independentemente, através do isolamento,
carregando consigo as cicatrizes de grandes sofrimentos. Ao ser recolhido da
beira da água por Iemanjá, muito depauperado e com diversos ferimentos
causados por peixes, siris e caranguejos, Obaluaiê foi por ela acolhido e tratado
como filho. Iemanjá, para recompensá-lo de tantos sofrimentos, procurando
fazê-lo esquecer e tentando agradá-lo, deu a ele imensa fortuna em pedras
preciosas e em riquezas que trazia do fundo do mar. Ela fazia para ele uma cama
de pérolas, para que dormisse em cima da opulência! É por isso que Obaluaiê
recebeu, entre outros, o título de ]ehosu (Jerrosú), “o senhor das pérolas”. Alguns
de seus oriquís (oríki) são bem elucidativos sobre esta sua condição: “Ele dorme
sobre o dinheiro e mede suas pérolas em caldeirões!” e “Meu pai dança sobre o
dinheiro!”. Estes versos demonstram que Obaluaiê, nos primórdios da criação,
era uma divindade mais relacionada com a abundância, sendo reconhecido até
mesmo como o “senhor da riqueza”. Com as modificações do mundo, pelo medo
de sua ira e pelo reconhecimento do poder que as suas ações extremadas podem
promover, tornou-se mais cultuado e relacionado com as doenças e com a
morte.
Com o corpo coberto pela palha e com seu jeito sombrio, sério e solitário,
Obaluaiê transmite um certo medo e incute respeito. Mesmo em seu trato com
Iemanjá, que ama, respeita e venera, mantém um ar solitário e uma certa
reserva. Porém, não permite que o homem tenha pena dele! Seu sofrimento
cessou no momento em que suas feridas foram curadas e cicatrizadas! Poderoso,
muito cauteloso e paciente, procura ajudar a todos que dele se aproximam, mas
não aceita, em hipótese alguma, que transgridam suas leis e interdições,
tornando-se violento e assustador.
Todos os materiais que protegem os interiores, sejam eles humanos ou
abstratos, pertencem a Obaluaiê. Como exemplos temos: a pele, que cobre e
abriga os nossos órgãos; o barro, que produz vasilhames que protegem os
alimentos; a palha (ikó), que resguarda o nosso corpo do contato direto com o
solo e também os produtos fabricados com ela, como, tapetes, esteiras etc. (Daí
provém um outro título que ele recebe, o “senhor da tecelagem”.) Até a
vestimenta que cobre seu corpo é confeccionada em palha-da-costa e recebe o
nome de “axó icó” (aṣó ikò). Esta roupa é composta de um tipo de chapéu todo
trançado, denominado de filá, que desce cobrindo seu rosto e parte do seu dorso,
e uma pequena saia, também de palha-da-costa, que completa este vestual.
O uso da palha-da-costa esconde o poder sagrado de uma divindade,
reúne o oculto com o proibido, e encobre o sobrenatural. Tudo que tem ligação
com o passado, com a ancestralidade e com a morte utiliza essa palha para ser
ocultado. Esta cobertura serve também para ocultar os ferimentos do rosto e do
corpo de Obaluaiê, ou para encobrir, miticamente, seu brilho intenso.
Historicamente, este tipo de roupa é designativa dos cuidados que são dados a
todos aqueles que têm um poder real. Os representantes da realeza, considerados
descendentes dos deuses, costumam esconder seu rosto para não serem vistos por
seus súditos.
Obaluaiê possui ligação com as árvores, símbolos do
nascimento/renascimento, que regeneram-se continuamente, produzindo um
ciclo de vida e de fecundidade permanentes. Através delas, Obaluaiê se interliga
com o poder feminino. É por meio desta ligação que ele se associa às Iy amís e à
cor vermelha, representação do sangue e da gestação, fenômeno feminino que
fornece renovação à terra.
Muito é falado sobre as discordâncias entre Obaluaiê e Xangô, quando um
se torna oponente do outro. O que há realmente são diferenciações: enquanto
Xangô representa a vida, o calor e o fogo, Obaluaiê sintetiza o frio da morte, a
sensibilidade e a debilidade do corpo por meio das doenças. Mas ele é também o
senhor da terra quente, do calor abrasador. São sentidos antagônicos na mesma
divindade: ele causa o calor da febre, mas também traz o frio que vai aliviá-la e
acalmá-la! Assim, pode-se dizer que não há rivalidades entre ambos, o que há
são interpretações diferenciadas para diferentes lendas. Isso é comprovado pelo
uso do orobô, fruto que no passado era de domínio exclusivo de Obaluaiê, que
ainda o utiliza, mas que o concedeu a Xangô para torná-lo a sua
representatividade, pois é um fruto pertencente aos elementos quentes.
Obaluaiê possui um símbolo portentoso que o caracteriza, o xaxará
(ṣáṣárá), feito com as nervuras das folhas novas das palmeiras. O xaxará é
enfeitado com pequeninas cabaças que representam a contenção de remédios ou
substâncias poderosas para produzir feitiços ou outros fundamentos. E também
servem para espalhar e para limpar as doenças do mundo, ou para proporcionar
a cura e trazer a tranqüilidade. Ornamentado com miçangas, o xaxará leva
também búzios, que são pequenos moluscos que representam a existência da vida
no interior da terra, muito ligados à ancestralidade e à evolução. Obaluaiê é
reconhecido também como o patrono dos búzios, no Jogo de Merindilogum.
Um outro ornamento muito importante desse vodum é o brajá, colar feito
com carreiras de búzios superpostos. Ele é usado em par, cruzado no peito,
interligando o lado esquerdo com o direito; a parte frontal com a parte traseira,
unindo o pai com a mãe e os ancestres com a terra. Sua mãe Nanã e seus irmãos
Iewá, Bessém e lroco, participantes da família Jí (ou Unjí) e o orixá Ossâim
usam este fio-de-contas poderoso e de conteúdo hierárquico. O xaorô (ṣaorò)
também é pertencente a esta divindade. Colocado no tornozelo do iniciado serve
como vigilante e indicador dos movimentos do iaô. Foi dado a Obaluaiê por
Iemanjá, para que ela pudesse acompanhar seus movimentos e o localizasse
quando precisasse. O xaorô possui ainda o simbolismo da transmissão do som,
substituindo a voz que, em certas ocasiões, é interdita para os adeptos da religião.
Usar o xaorô é trazer a sutileza do que é divino, sem a necessidade de palavras.
Possuidor de vários símbolos, Obaluaiê tem no cordão de laguidibá seu
principal fio-de-contas e também seu identificador. Feito com rodelas de casca
de certas árvores, com a casca da semente de um coquinho ou com lascas do
chifre do búfalo, é um colar que representa o poder, a ligação da força vital com
os elementos da terra. Na África, este fio-decontas é usado no dia-a-dia pelos
filhos de Obaluaiê e demais religiosos, porém no Brasil alguns Axés só costumam
concedê-lo ao iniciado após a obrigação de sete anos. Em outras casas, porém,
ele é entregue aos “omolussis” no ato da feitura, para ser usado como um fio-de-
contas.
O uso maior do laguidibá ocorre na grande festa da divindade, o Olubajé,
em que até os iniciados de outros orixás costumam colocá-lo, em honra a este
grande vodum. Nesta festa, Obaluaiê mostra que o homem deve ser amigo dos
seus semelhantes, não devendo nunca negar-lhes alimento ou água, com perigo
de estes lhe faltarem, se assim proceder. É por isso que todos são convidados para
sua mesa, para comer e beber com ele, independente de sexo, cor, orixá ou
nação pertencente. Esteiras cobrem a terra, e nestas são colocados os recipientes
com as comidas de todos os orixás, cuidadosamente preparadas para esta
ocasião. Em volta da “Mesa do Olubajé” senta-se um grupo de filhos-da-casa, no
chão ou em banquinhos, para servir aos convidados as comidas. Estas são
colocadas em folhas de mamonas, limpas e secas, e degustadas com as pontas
dos dedos, cada um fazendo seus pedidos ao orixá. A bebida ofertada é o aruá,
preparada especialmente para a ocasião com preceitos e cuidados especiais,
como nos ensinaram nossos ancestrais. Os demais iniciados, junto com os orixás
presentes, após comerem, dançam e cantam em volta desta mesa.
O intuito maior do Olubajé, além de homenagear Obaluaiê, é servir
também para irmanar e unir os voduns e os inquices com os orixás, estes com os
homens e os homens entre si, pois nada une mais os seres do que a comida e a
bebida arrumadas numa grande mesa! A música e a dança, como
complementos, ajudam a produzir a alegria! Após suspensa a mesa, as
divindades retornam ao barracão para dançar com Obaluaiê ao som dos
atabaques e das cantigas. Neste momento, todos saúdam o vodum, jogando muito
buburu nas divindades e nos participantes, limpando o ambiente e as pessoas,
trazendo assim harmonia e pacificação para todos. A nação bantu tem um ritual
semelhante ao Olubajé, que é a Cucuana. A nação fon realiza o Andê, que é feito
internamente, somente com os voduns, que a seguir surgem na sala, para dançar
e também confraternizar com os homens.
Anteriormente à colocação da mesa existe a saída do Sabejé, cerimonial
realizado por uma iniciada filha de Iemanjá ou de Nanã. Neste tabuleiro está
uma grande quantidade de buburu, que é ofertado a cada pessoa, e esta deposita
uma quantia qualquer em dinheiro, como agradecimento. Estas pipocas poderão
ser comidas, passadas no corpo ou mesmo guardadas por quem assim preferir.
Existe um outro ritual muito significativo e bonito de Obaluaiê, porém
pouco visto nos dias atuais. Denominado peregrinação, é realizado por seus filhos
em determinados períodos – geralmente 7, 14 ou 17 dias que antecedem o
Olubajé – por algumas casas de candomblé, para angariar ajuda para a festa.
Um/a filho/a de Obaluaiê sai a pé, por volta de seis horas da manhã,
acompanhado/a de alguns ogãs, equedes ou ebômis (exceto os iniciados para
Xangô ou para Orixalá).
Em outros tempos, era costume que essas pessoas saíssem nessa
caminhada descalças. Isto era possível porque as ruas e as estradas antigamente
eram de pedras ou de terra. Atualmente, com as ruas asfaltadas, as pessoas
dificilmente conseguirão andar descalças, principalmente nos períodos de
temperaturas mais elevadas. Para não melindrar esta divindade, as pessoas
costumam utilizar-se de sandálias de couro ou de palha, minimizando assim a
infração religiosa.
Nesta peregrinação, a pessoa carrega na cabeça um tabuleiro onde está
um assentamento deste vodum, com pipocas em seu entorno. Seus
acompanhantes carregam um saco de estopa, para receber as oferendas. Ao
chegar às casas de candomblé são recebidos pelas autoridades da casa, que os
esperam no portão, junto a uma quartinha com água. A seguir, são levados ao
centro do barracão, onde depositam o tabuleiro. O/a babalorixá/iy alorixá faz as
honras e, no geral, são entoadas rezas e cantigas. Após as liturgias, suprimentos
lhes são entregues e geralmente é servido um lanche ou almoço, pois eles
precisam esperar passar o meio-dia sempre dentro das casas, para poderem
retornar à rua. Antigamente era comum, após a chegada desses peregrinos, que
o/a sacerdote/sacerdotisa abrisse obis e orobôs à frente do tabuleiro, como forma
de oferenda ao vodum. Algumas casas estão procurando fazer o mesmo
atualmente, porque esta tradição precisa ser resgatada pelos mais velhos, para
que os mais novos aprendam e dêem continuidade a esse dogma da nossa cultura
religiosa.
Esse cortejo percorre geralmente grandes distâncias e várias casas, mas
deve retornar à sua própria antes das 12 ou das 18 horas, conforme as normas do
Axé. Tudo que foi arrecadado é usado para ajudar a casa de candomblé. Quem
recebeu foi Obaluaiê, que repassa todo o montante, seja em dinheiro ou em
mantimentos, para sua casa. É costume dizer que essa peregrinação é usada para
Obaluaiê "arrecadar esmolas". Essa divindade não necessita de esmola! Ela é
possuidora de grande riqueza, conseqüentemente, seus iniciados também não
precisam dela! Este procedimento é somente um teste à fé e à devoção do ser
humano para ajudar àqueles que têm necessidade no momento. É também uma
forma de a divindade testar a boa vontade, a união e a fraternidade dos iniciados
dentro da religião!
Generalidades do vodum:
Como são chamados seus filhos: omolussi
Dia da semana: segunda-feira
Elemento: terra
Símbolos: xaxará
Metal: chumbo
Cores: branco, preto, vermelho, marrom
Folha: mamona
Bebidas: aruá
Animais: cabrito, galo, galinha-d'angola (em alguns Axés)
Saudação: Atotô!
Seus filhos:
Os filhos de Obaluaiê são geralmente pessoas muito reservadas, calmas,
pacatas, que possuem uma existência sóbria, capazes de se abster da própria vida
em prol de outros. Esquecem até mesmo de seus interesses, dedicando-se a
ajudar outrem, mesmo sem usufruto próprio. Isso não lhes tira a independência e
a ânsia de liberdade, o que ocorre de tempos em tempos, quando gostam de sair
sem destino, numa espécie de peregrinação, de rememoração do seu vodum.
Estão sempre insatisfeitos, mesmo quando tudo lhes corre bem! Procuram
sempre conquistar mais do que já possuem, e mesmo conseguindo não se
satisfazem. É característica dos filhos de Obaluaiê ter uma ambição extremada.
Diz-se que eles possuem tendências masoquistas. Não é bem assim! O
que existe é uma grande necessidade de serem mais compreendidos e menos
subjugados, menos subservientes. O fato de aceitar viver mais em prol dos
outros, mais modestamente, os torna subalternos. Seu caráter pacato e não adepto
da violência o transforma em alvo fácil de pessoas déspotas, que não
demonstram amor ao seu próximo. Porém, seu comportamento humilde muitas
vezes tem um objetivo determinado, pois um filho de Obaluaiê não gosta de
sofrer, a vida é que, às vezes, não lhe foi muito pródiga em melhorias. Mas ele
pode, como todos, em algum momento, tornar-se poderoso e conseguir uma
situação material digna e próspera, é só querer. Como diz o ditado “o fim justifica
os meios”: ele se obriga a aceitar todos os percalços para usufruir no futuro.
Inteligentes, excelentes alunos da vida, são bons observadores e assimilam
tudo que vêem com facilidade. Geniosos, só são violentos quando necessário.
Não se esquecem das mágoas sofridas e reprimidas, mas não fazem disso um
vale de lágrimas. Seguem em frente e somente quando necessário libertam seus
ressentimentos; se não for necessário, estes ficam guardados em algum canto do
passado, porém são eventualmente relembrados. Possuem um semblante
carrancudo, mas são generosos com quem de imediato criam algum elo de
afinidade, e sinceros, honestos e bondosos com os amigos. Sua sinceridade às
vezes assusta, mas quem os conhece bem, sabe entender e aceitar. Costumam ser
pessoas sempre prontas a ajudar respeitosamente, mas que também se
melindram com a maior facilidade. Neste momento, a independência e a
liberdade lhes dominam e eles se entregam a esta propriedade. Aí, o mundo é
todo seu!
Oxumarê
Generalidades do vodum:
Como são chamados seus filhos: danssí
Elemento: terra, ar
Dia da semana: terça-feira
Símbolos: arco-íris, cobra
Metais: ouro, prata, latão
Cores: amarelo/preto, amarelo/verde
Folhas: jibóia, cana-do-brejo, mutamba
Bebida: aruá
Animais: galo, bode, cabra
Saudação: Aho bo boy!
Seus filhos:
Seus filhos geralmente são pessoas muito “antenadas” e ligadas em tudo
ao seu redor. Obstinados, lutadores, muito perseverantes em seus intentos, são
capazes de mover-se em um piscar de olhos, transportando-se para outras
paragens, ou de fazer mudanças radicais em sua vida financeira, familiar ou
amorosa. Não pensam nem medem esforços para conseguir alcançar seus
objetivos, porque almejam sempre mais do que já possuem. Costumam agir
traiçoeiramente com aqueles que o desagradam, pois são muito desconfiados.
Entretanto, são amigos daqueles a quem se apegam. Gostam de ostentar belas
jóias e de viver bem, rodeados de conforto e opulência. Se possuem uma
condição social melhor, gostam de se sobrepujar aos participantes do seu
ambiente, porém não titubeiam em usar essa sua condição na ajuda aos que
necessitam. Sem esperar por um retorno futuro! Esbeltos e longilíneos, têm um
porte elegante, olhar aguçado e penetrante, como as serpentes. Irónicos,
debochados, curiosos, faladores, sua arma mais perigosa é a língua!
Xangô
Seus filhos:
Os filhos e filhas de Xangô são sempre altivos, talvez por se saberem
filhos míticos de um rei! Não gostam de ser contrariados ou comandados por
quem não saiba exercer autoridade e ter liderança. Muito severos e enérgicos,
sabem porém ser benevolentes e pacientes, quando necessário. Pessoas justas,
agem muitas vezes com certa imparcialidade. Quando o assunto se relaciona
com justiça, obrigações ou deveres, podem tomar-se violentos, coléricos e
ultrapassam todos os limites da boa educação. Mas não guardam rancor, pois
vivem de acordo com a instabilidade do seu humor. No convívio social são
conversadores, charmosos, sensuais, sempre chamando a atenção do sexo
oposto, porque costumam ter um forte apelo sexual. Encantadores, conseguem
atrair para si grupos que produzem e conduzem a alegria nas festas. Entretanto,
possuem um equilíbrio frágil e assim se desarmonizam facilmente. Às vezes,
acontece de uma simples “fagulha” produzir um imenso “incêndio”, já que não
são muito bons para lidar com pessoas e situações extremas.
Trabalhadores e batalhadores, não dispensam porém os momentos de
descanso, quando procuram estar sempre na companhia de outras pessoas,
porque o grande medo dos filhos de Xangô é a solidão, o esquecimento. Eles
necessitam estar sempre sentindo o calor e a presença humana junto de si. Tal
como seu orixá, eles não gostam de nada que lembre o frio, a doença, o
distanciamento. Hospital e cemitério são lugares que os inquietam!
São excelentes pais e mães, mas sem apego em demasia, procurando dar
aos seus filhos liberdade com responsabilidade, dengo sem chamego e muito,
muito amor, mas sem cobranças!
Iroco
Generalidades do vodum:
Como são chamados os seus filhos: irocossi
Elementos: terra e ar
Dia da semana: terça-feira
Símbolo: espada
Metal: prata e estanho
Cores: branco
Folha: iroco
Bebidas: cachaça com mel, vinho branco
Bichos: pombo, galo, bode, galinha-d'angola
Saudação: Eróf
Seus filhos:
A primordial característica da personalidade dos filhos de Iroco é a de não
se adaptar a locais fechados, que se transformam em clausuras para eles. A
liberdade, o movimento, o juntar-se a outras pessoas é tudo aquilo que eles mais
amam. É muito bom tê-los como amigos, porque são inimigos perigosos, mas
com um bom atenuante: não costumam guardar rancor! São charmosos e
irreverentes, mas também muito teimosos, ranzinzas e irritadiços.
Inteligentes, gostam de transmitir ensinamentos, sendo muito eloqüentes e
atualizados nas informações do seu meio social. Não são porém muito confiáveis
para escutar confidências, porque não conseguem guardar segredos: a mata tem
ouvidos! Gostam de beber e comer bem e de vestir-se refinadamente, porém
com simplicidade.
Brincalhões, não costumam permanecer muito tempo no mesmo local,
estando sempre em movimento, procurando novas paragens e amizades.
Inquietos, o mais apropriado é que seja combinado um momento certo para se
estar com eles; mesmo assim isto será por pouco tempo! São fujões; quando se
procura por eles, já estão longe!
Logunedé
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: logunssi
Elementos: terra e água
Dia da semana: quinta-feira e sábado
Símbolo: afá
Metal: bronze e ouro
Cores: verde, azul-turquesa, amarelo-ouro e branco
Folhas: alecrim-da-mato, cipó-caboclo, fava-divina
Bebidas: aruá e vinho branco
Bichos: tatu, galos, galinha-d'angola, bichos de caça (masculinos)
Saudação: Lossí, lossí, Logun! Oluáô, Logun!
Seus filhos:
Os filhos de Logunedé costumam ser muito reservados com suas
particularidades, não falando de sua intimidade a muitas pessoas. Muito
educados, gostam de tagarelar quando o assunto lhes agrada. Apreciam festas,
conseguindo monopolizar as atenções, pois são muito divertidos e engraçados.
Graciosos, vestem-se coloridamente, porém com muita sutileza e
elegância. Vaidosos, procuram se apresentar bem, de modo a ser notados onde
estiverem.
Sensíveis, inteligentes, com raciocínio rápido, “pescam” as coisas no ar.
Mas não aceitam críticas; estas os magoam quando feitas aleatoriamente. Seu
humor não é fixo, pois são pessoas instáveis, dependendo a sua permanência em
determinados locais das pessoas com quem estejam. Tenazes, persistentes, nunca
desistem de seus objetivos, mas não se depreciam ou se “vendem” para alcançá-
los.
Vivem em constante movimento, mas com certa serenidade e sensatez.
Procuram sempre coisas novas, pois gostam de viver bem. Possuem grande
sensibilidade a tudo que é belo; gostam muito de objetos de arte e até mesmo de
um certo luxo.
Meigos, dóceis e excessivamente carentes, fazem de tudo para tirar
proveito destes predicados e enfeitiçar seus amigos, conseguindo assim também
a transformação dos inimigos em companheiros fraternos!
É através da mistura do amor com a magia que Logunedé consegue fazer
com que seus filhos tenham uma vida harmoniosa e se tornem pessoas mais
equilibradas!
Oxum
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: oxunssi
Elemento: água
Dia da semana: domingo
Símbolos: abebé, adaga, espada
Metais: cobre, bronze, ouro, latão
Cor: amarelo-ouro
Folhas: oriri, colônia, saião
Bebidas: vinho branco, aruá
Bichos: galinha-d' angola, cabra, galinhas
Saudação: Ore Yêyê ô!
Seus filhos:
Os filhos e filhas de Oxum costumam ser carinhosos e calmos.
Diplomatas, são gentis, evitam melindrar os amigos, mas para os inimigos
guardam momentos irados e impulsivos. Vagarosos, tendem a ser preguiçosos e
lentos em seus afazeres, mas jamais se esquecem de suas obrigações. Possuem
personalidade forte, lutam sempre por seus interesses com muita obstinação para
alcançar seus objetivos e tentar ascender na vida. Vaidosos ao extremo, adoram
jóias e perfumes. Mesmo quando trajam-se com simplicidade, conseguem
mostrar-se elegantes. Apreciam festas e confraternizações e procuram
aproveitar tudo o que a vida pode lhes proporcionar de bom. Gostam de
ambientes refinados, procurando fazer de sua casa um modelo de beleza,
praticidade e modernidade.
Embora de aspecto sensual, voluptuoso e muito coquetes, os/as filhos/as de
Oxum não gostam muito de chamar a atenção, nem de chocar as pessoas, dando
muito valor à opinião alheia. Procuram viver mais reservadamente, o que muitas
vezes não conseguem, pois dominam os ambientes somente com a sua presença.
Têm grande apego às comidas bem temperadas e bem elaboradas, pois o visual
para eles/as é imprescindível. As pessoas deste orixá, quando mais velhas,
tomam-se rabugentas e austeras, mas sempre mantendo a emotividade e a
sensibilidade, a tranqüilidade e a serenidade, características dominantes dos filhos
de mãe Oxum!
Oiá
Seus filhos:
Os filhos de Oiá costumam ser dinâmicos, irrequietos, possuindo grande
energia e imenso vigor. Mostram-se excêntricos, às vezes até mesmo
exibicionistas, e gostam de vestir-se provocativamente, com cores fortes e
chamativas; alguns optam por roupas ousadas e vistosas. São pouco sociáveis em
determinados ambientes, pois querem ser conquistadores e dominadores,
possuindo um orgulho exacerbado, que muitas vezes os destoam dos demais. Não
aceitam desaforos nem desacatos pessoais ou que sejam dirigidos a pessoas de
sua consideração. Neste momento, mostram-se verdadeiramente e tornam-se
coléricos, provocando grandes confusões. A amizade para eles é algo muito sério,
que deve ser conservada a qualquer custo e de qualquer maneira.
São generosos ao seu modo, sem permitir aos amigos que penetrem na
sua intimidade. Extremamente apaixonados em seus relacionamentos, podem ser
muito volúveis e instáveis. As mulheres filhas de Oiá não costumam se prender
em demasia aos afazeres domésticos e à prole. Independentes, guerreiras e
muito batalhadoras, procuram mais prover a família de subsídios para uma vida
confortável do que mostrar a sua presença constante. Procuram transmitir aos
filhos a sua independência, educando-os para entenderem que cada pessoa tem
sua própria vida com obrigações e que devem saber como dirigila, sem
prejudicar a si mesmo ou aos outros. Em outros momentos, estas mulheres se
revertem para dentro de sua família, quando transformam-se em autoridade e
utilizam-se de firmeza para com os filhos e até mesmo para com os seus
companheiros. São mulheres que preferem educar a aceitar que outros venham
fazer o seu papel, já que não aceitam intromissões nem opiniões alheias em sua
vida familiar. Coquetes, sedutoras, maliciosas, mulheres na acepção da palavra,
algumas costumam ser volúveis, pois sentem-se livres para novos
relacionamentos, mas sem deixar que estes atinjam sua vida particular e
amorosa. Elas são libertas como o vento!
Obá
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: olobás
Elementos: terra e fogo
Dia da semana: quarta-feira
Símbolos: a espada, o afá e o escudo
Metal: cobre
Cores: vermelho, vinho, marrom
Folhas: iroco, mutamba, nega-mina
Bebidas: vinho branco, aruá
Bichos: galinha-d'angola, cabra, galinhas
Saudação: Obá xirê!, Obá xi!, Obá xilê!
Seus filhos:
As filhas de Obá conseguem, em sua grande maioria, ser atraídas por
brigas e confusões. Apesar de gostarem de aventuras, não participam de
competições porque correm o risco de perder, e isso elas não aceitam. Mesmo
sentindo atração pelas contendas, são proibidas de possuir ou chegar próximo a
armas brancas ou de fogo, porque Obá não permite que suas filhas envolvam-se
com objetos de guerra! Também não aceita que suas filhas permaneçam em
locais onde apareçam esses tipos de armas, porque elas correm o risco de passar
por situações que poderão se transformar em tragédia.
As pessoas consagradas a essa divindade têm grande senso de justiça e
amizade, mostrando-se às vezes severas e carrancudas. Consideram a estima e a
afeição sentimentos que vencem qualquer obstáculo. Mas, quando ofendidas
profundamente, tornam-se rancorosas; procuram a qualquer momento vingar-se
de quem as magoou! Seus iniciados ou as pessoas que ela considera amigas não
devem participar de falcatruas ou de ações que tragam prejuízos a outras
pessoas. Obá não as perdoará, nem fará nada para ajudá-las, sendo adepta da
máxima “quem fez deve pagar”.
Algumas filhas de Obá se sentem carentes, depreciadas e necessitam
constantemente de palavras ou atos que levantem o seu moral, injetando-Ihes
auto-estima e valor. É costume dizer-se que suas filhas dificilmente se casam e
têm filhos. Mas existem as exceções. Quando isso ocorre, costumam ser muito
felizes nos relacionamentos. Dentro desta perspectiva, entram elementos que
ajudam na personalidade desta pessoa, como a educação, o modo de ver a vida e
de lidar com o seu próximo! Muito difíceis no trato, costumam ser implicantes,
pois não aceitam barulho, não gostam de vulgaridades, de palavreados populares,
como as gírias e os palavrões. As futilidades mundanas não as atraem e também
não gostam muito de diversões, apreciando mais os locais refinados e sossegados,
com pouco movimento.
Seu gosto discreto também se reflete no modo de trajar, requintado, mas
conservador e tradicional. Estudiosas e sábias, sentem-se realizadas quando
conseguem transmitir para os demais os ensinamentos que adquiriram.
lewá
Seus filhos:
Os filhos e filhas de Iewá costumam ser elegantes, de boa aparência,
delicados, sensíveis e requintados. Geralmente são mulheres as escolhidas para
serem suas filhas. Isto ocorre porque talvez ela exija minúcias comportamentais
que os homens não conseguiriam manter, ou que não possuem.
Seus adeptos precisam levar uma vida pacata e límpida, precisando
observar algumas renúncias.
São pessoas extremamente educadas, dignas, de bom gosto, que não
compactuam com baixarias e vulgaridades.
Apesar desse refinamento, são consideradas truculentas e complicadas
nos relacionamentos, pelas suas exigências morais e éticas do comportamento
humano e social. São intolerantes com a falsidade, com a mentira e com a
hipocrisia. Os erros de postura na convivência homem-mulher também não são
aceitos por seus/suas filhos/as, pois quando se relacionam amorosamente
costumam ser fiéis, fazendo tudo para que a relação se mantenha estável.
Procuram sempre estar atentos à modernidade, a novidades, antenados
para o amanhã, por meio de estudos e pesquisas, transformando-se muitas vezes
em pessoas intelectualizadas.
Adeptas da solidão e da meditação, gostam mais de observar do que ser
observadas. No meio de uma multidão, conseguem manter-se tranqüilas, embora
rodeadas de pessoas.
Extremamente apegadas à vida religiosa, sensitivas, atingem um alto grau
de vidência e percepção, devendo utilizar esse dom sempre para ajudar seu
próximo.
Ibeji
Os Ibejis são orixás-criança, gêmeos, mas que são venerados como uma
só divindade. Como o próprio nome indica – ibi, nascer; eji, dois –, são aqueles
“nascidos em dupla”, patronos de tudo que forma ou tem duplicidade, como os
casais, os sentidos opostos, e principalmente os gêmeos. O ser humano também
possui a regência de Ibeji, porque tem duplicidade na sua personalidade e no seu
caráter. A dubiedade também está no dia, que depende da noite para surgir; na
doença que se instala quando a saúde se debilita; no bem, sempre em paralelo
com o mal e em várias outras formas. Tudo que tem existência possui seu duplo.
O próprio ser humano, ao nascer, já vem preparado para conhecer a morte!
Os Ibejis representam ainda os opostos que andam juntos, como o
homem e a mulher, que se atraem e se complementam. Até as pessoas de
mesmo sexo precisam ter características diferentes, para se entenderem e se
atraírem!
Este relacionamento de Ibeji com o duplo é simbolizado por Oiá e Xangô,
seus progenitores. Oiá é quem move o vento, que tanto atiça como apaga o fogo,
elemento de Xangô. E o calor do Sol, que abrasa Xangô, dilata e movimenta as
moléculas do ar, produzindo o vento de Oiá.
Ibeji representa também o início, trazendo o desabrochar de novas vidas.
É a duplicidade regendo a vida! Os Ibejis são dedicados, também,
simbolicamente, a Oxum, a responsável por gerar, aparar e amparar todas as
crianças, tanto no orum quanto no aiê. Contudo, é prerrogativa de Oiá a geração
e os cuidados com os filhos gêmeos! Através desta junção, eles também
passaram a ser saudados e a participar de todas as festividades para Oxum, com
um ritual próprio, denominado “Mesa de Ibeji”, onde estão presentes caruru,
doces, balas, frutas, refrigerantes, flores e muita alegria.
Dentro da nação Bantu, o inquice análogo a Ibeji tem o nome de Vunje ou
Mabaça; na nação Fon, o vodum assemelhado a ele é chamado de Hoho.
Os gêmeos, no contexto iorubá, pertencem ao grupo de crianças nascidas
em condições especiais, como os abiaxés, os salacós, os abialás, as talabís, os
abicus. São pessoas singulares que, dentro do candomblé, requerem tratamento
diferenciado e que precisam ser cuidados por um sacerdote que tenha profundos
conhecimentos sobre eles, na religião.
Os iorubás, na sua crença religiosa, acreditam que os gêmeos são
inseparáveis, não aceitando assim que estes possuam seu doble (enikejí) no orum.
Para eles, os gêmeos já são o duplo um do outro, aqui no aiê. Por isso, quando
ocorre a morte de um dos dois, os iorubás afirmam que poderá ocorrer um
desequilíbrio na família. Para compensá-lo, passam a cultuar uma estátua de
madeira, que toma o lugar daquela criança que se foi. Este emblema retoma,
então, o vínculo quebrado, trazendo de volta o equilíbrio. Em reconhecimento a
essa prática, entende-se melhor o simbolismo de Ibeji na forma de duas estátuas
de madeira. Estas representam duas crianças postas lado a lado, a fusão de dois
seres!
Ibeji traz a personificação da inocência, da matreirice, da
inconseqüência, mas simboliza também o equilíbrio e a ponderação. Por estar
ligado à infância e a tudo de puro e belo que esta possui, é considerado o “orixá
da alegria”. A sua regência está voltada para as brincadeiras e para a energia e a
sagacidade de todos que se preocupam em preservar a criança que cada um tem
dentro de si.
Personificando a parte infantil do ser humano, que evolui continuamente,
Ibeji tem o poder do crescimento e da transposição de barreiras, trazendo com
ele a capacidade de fazer a vida fluir tranqüilamente, permitindo que o homem
alcance a prosperidade e o progresso. Representante legítimo da fertilidade e da
virilidade, concebe em si a propriedade de tornar o mundo mais povoado, em um
sentido benéfico, pois traz a alegria, a amizade, a fraternidade e a cumplicidade
entre os homens.
Contudo, Ibeji não é somente doçura e meiguice, muito pelo contrário. É
orixá poderoso e perigoso, pois no seu afã infantil não reconhece limites e
transgride as regras, não aceitando ofensas sem responder à altura. Isto o faz ser
reconhecido, respeitado e também temido pelos homens e demais orixás. Se
contrariado ou relegado a segundo plano, seu castigo será aceito até mesmo pelos
irunmolés. As divindades mais velhas são quase sempre mais ponderadas, agem
racionalmente e até com certo paternalismo, porém Ibeji não é assim; ele age
num impulso, num rompante difícil de ser contido. Característica encontrada
comumente nas crianças!
Uma coisa que pode irritá-lo sobremaneira são os apitos e os assobios.
Porém, num contrasenso, os apitos fazem parte do seu mundo infantil e lhe são
dados como presentes. Os assovios, porém, ele considera como sons dos
pássaros, animais pertencentes às Ajés e aos orixás que possuem ligação com a
morte, como Iku. Por estas divindades Ibeji tem respeito e temor!
Como os demais orixás, Ibeji, para ter evolução, produzir e distribuir seu
axé, possui um Exu próprio, Idoú Obó (Idowu Ogbo), que recebe oferendas
juntamente com ele. Possui também um Erê, assim como todos os orixás, que o
acompanha e o ajuda em seus momentos de necessidade, ou que lhe serve como
companheiro.
Atualmente, é uma raridade nas casas de candomblé ver um iniciado de
Ibeji! Como acontece com vários outros orixás, a religião está correndo o risco
de perder o saber e o conhecimento para sua feitura, que, diga-se de passagem,
não é das mais fáceis.
Muitas pessoas referem-se a Ibeji como se este fosse um orixá inferior,
secundário. Isto não é verdade! Ibeji é a força mais pura que existe na natureza.
Ele representa a inocência e a energia das crianças, seres que ainda não foram
contaminados pelos dissabores, problemas e maldades que os adultos criam para
a sociedade. Agradar Ibeji é agradar Olorum e também todos os orixás, pois
estes dependem de sua inocência e de sua impulsividade para ajudar o homem
no seu caminhar pela Terra!
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: bejí
Dia da semana: domingo Elementos: ar e terra
Símbolo: estátuas de madeira
Metal: estanho
Cores: todas as cores, em tons suaves; exceto preto, roxo e marrom
Folhas: jasmim e alecrim
Bebidas: água de coco, aruá
Animais: garnizé, frangos-de-Ieite
Saudação: Bejí Eróf
Seus filhos:
Os filhos de Ibeji possuem temperamento jovial e um pouco
inconseqüente, com mudanças freqüentes de comportamento e opinião. Levam a
vida a sério, mas com a mais tranqüila descontração. Costumam ter uma
aparência infantil e não demonstram a verdadeira idade.
São brincalhões, irrequietos, teimosos e muito brigões. Esbanjam energia
e possuem uma certa dificuldade em permanecer muito tempo no mesmo local.
São muito criativos e fantasiosos, podendo descambar para a mentira com muita
facilidade.
Em certas ocasiões demonstram um comportamento bem infantil, seja
através de brincadeiras ou fugindo à responsabilidade. Sensíveis, costumam se
magoar e se decepcionar facilmente, sendo a própria representação do ditado
popular “fazem uma tempestade em um copo d'água”!
Adoram estar no meio de muitas pessoas, em festas, em eventos, com
alegria e descontração. Possessivos e ciumentos, não pensam; explodem num
impulso instantâneo, mas, passado algum tempo, tudo é esquecido. Adoram
animais, e estes se tornam muitas vezes seus companheiros inseparáveis.
Pelo seu modo peculiar de ver e aproveitar a vida, são pessoas que se
conservam eternamente jovens!
lemanjá
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: iemanjassi, iyá
Dia da semana: sábado/domingo
Elementos: água e ar
Símbolos: abebé, leque, alfange
Metal: prata
Cores: branco, rosa, verde e azul-claro
Folhas: alfavaca, macaçá (catinga-de-mulata), capeba
Bebidas: champanhe, vinho branco, aruá
Bichos: pata, cabra, bode, galinha, pombo ou galinha-d'angola
Saudação: Odô fê iyabá (Odò fè ìyábá), (traduzido como “amada mãe do
rio” ou “o rio ama a mãe”).
Odô iyá (Odò ìyá) (“mãe do rio”).
Omi ô (“salve as águas”).
Seus filhos:
Os filhos e filhas de Iemanjá são pessoas muito protetoras e rigorosas,
com tendências maternais. Tratam as pessoas como se estas dependessem dos
seus cuidados, exigindo em troca um tratamento do mesmo modo. Têm um
senso de ordem muito grande e a hierarquização é para eles fundamental, pois
faz parte da sua vida. Instáveis, irritam-se facilmente quando desobedecidas em
suas vontades. Preocupam-se com seu próximo e costumam ser generosos com
quem gostam, ou quando é de seu interesse. Alguns são traiçoeiros, como o mar
de Iemanjá, e conseguem enganar as pessoas com seus sorriros francos e
abertos! Voluntariosos, conhecem sua importância no grupo em que se inserem,
dando suporte e auxiliando naquilo que for necessário. Não costumam ser
vaidosos, mas gostam do que é belo e útil, apreciando uma vida confortável, sem
extravagância. Testam as amizades, fazendo-as revelarem realmente quem são,
procurando encontrar pontos fracos que possam desestabilizar a relação. Se isso
ocorrer, os filhos de Iemanjá dificilmente darão o perdão; a amizade poderá
continuar, mas o deslize não será esquecido! No geral, são pessoas de bom
coração, sempre dispostas a ajudar o seu semelhante.
Nanã
Generalidades do vodum:
Como são chamados os seus filhos: nanãssi
Elementos: água e terra
Dia da semana: segunda-feira
Símbolo: ibiri
Metal: não os utiliza
Cores: branco, azul, roxo
Folhas: fortuna, samambaia, manacá, melão-de-são-caetano, taioba
Bebidas: aruá
Animais: cabra, galinha-d'angola, rã
Saudação: Salúbá, Nanã! Aho bo boy, Naê!
Seus filhos:
As filhas de Nanã são pessoas que denotam e exigem muito respeito,
tratando todos com muito carinho, sendo extremamente gentis. Calmas, são
benevolentes, com um porte que transmite dignidade. Gostam de ficar sentadas e
quietas em locais reservados. Nestas ocasiões, voltam suas lembranças e
recordações do passado, pois têm uma boa memória. Seu semblante taciturno,
fechado, em alguns momentos rabugento e ranzinza, transforma-as em "velhas
antes do tempo". Algumas têm um temperamento introvertido, porém pacífico.
Muito trabalhadoras, são incansáveis. Contudo, não se apressam para
nada, nem mesmo para seus afazeres diários. Amigas, cultivam com carinho
suas amizades, por quem têm grande apego. Mas se forem traídas, machucadas
ou melindradas, não esquecem facilmente, tornando-se vingativas ou guardando
rancor por muito tempo.
Mesmo vivendo com a evolução do dia-a-dia, são tradicionalistas e
metódicas e procuram não evoluir radicalmente no seu modo de viver. Agem
com equilíbrio, porque não gostam de mudanças bruscas. Embora gostando de
viver bem, não são ambiciosas e preferem a simplicidade. Mas adoram ser
mimadas e acariciadas, tratadas com dengo, como se fossem vovós de todos.
Pacientes com as crianças e com os mais jovens, gostam de educá-los, de ouvi-
los, e os tratam com carinho e compreensão, pois gostam de aprender com a
juventude! Preferem ficar em sua casa, sempre muito limpa e acolhedora, a
estar na rua. As filhas de Nanã costumam ser muito procuradas pelos iniciados
das várias nações de candomblé porque são pessoas de uma boa índole e de
personalidade agradável e acolhedora, que procuram transmitir com prazer seus
ensinamentos éticos e morais.
Oxaguiã
Generalidades do orixá:
Como são chamados seus filhos: olissassi, oxalassi
Dia da semana: sexta-feira
Elementos: água, terra e ar
Símbolos: pilão, mão-de-pilão, alfanje, espada, escudo
Metais: prata, chumbo, estanho, ferro
Cores: branco e azul-claro
Folhas: cana-do-brejo, manjericão, do cafeeiro, alecrim, boldo
Bebidas: vinho branco, aruá
Bichos: cabra, pombo, igbin, galinha-d'angola
Saudação: Xeueu, Babá! Babá dimula, igbim!
Seus filhos:
Os filhos de Oxaguiã são pessoas longilíneas, de porte viril e elegante,
atrevidas e maliciosas. Sensuais, costumam ser volúveis, até se fixarem em um
(a) parceiro(a). Não se mostram inteiramente, omitindo certas características e
particularidades. Sua verdadeira personalidade é escondida até mesmo dos seus
mais próximos. Trabalhadores, organizados e lutadores, são ótimos estrategistas e
bons parceiros, tanto na vida pessoal e amorosa, como nas amizades. Em certos
momentos tentam impor suas vontades, até mesmo sem sentir. Parece que eles
controlam o mundo!
Conseguem galgar posições superiores, sem permitir que o poder lhes
deixem deslumbrados, preferindo trabalhar a comandar. Se privilegiados pela
sorte, são generosos e esbanjadores, sem muita preocupação com o futuro.
Independentes e irrequietos, mostram-se carentes e necessitados de atenção, mas
procuram abster-se disso ao sentirem que sua liberdade poderá ser tolhida. Se sua
vida não vai bem, ficam irritados, ressentidos, desanimados, mas, de repente, a
sorte muda e surge alguém para lhes impulsionar e dar novo ânimo. Como se o
Sol surgisse detrás das nuvens e clareasse sua vida!
Pessoas alegres, extrovertidas e felizes, gostam de lugares movimentados,
de festas, de música, preferindo o dia e as manhãs claras e ensolaradas. Bons
anfitriões, deixam as pessoas impressionadas com seu modo de ver a vida, com
suas liberalidade e descontração. Delicados e bondosos, sabem fazer e conservar
amigos, sofrendo por eles e desdobrando-se para agradá-los, se tiverem
reciprocidade. Mas são inimigos perigosos e traiçoeiros, difíceis de ser
controlados, capazes de atos impensáveis. Quando a raiva passa, tudo fica
encoberto, porém, nunca esquecido. Mas não costumam levar adiante seu desejo
de vingança, porque sabem que terão que responder perante seu próprio orixá
por aquilo que fizerem!
Devido à sua liderança natural, as pessoas que os rodeiam, por vezes,
sentem-se ameaçadas pela sua presença. Possuem um espírito brilhante e seu
lado intelectual é bem desenvolvido, evoluindo cada vez mais pela vontade que
têm de aprender e de se aprimorar. Possuem o dom da palavra e grande
compreensão das coisas a seu redor. Impulsivos, gostam de desafios, saindo
geralmente vencedores, pois competem com garra e determinação. Grandes
defensores dos injustiçados e dos incompreendidos, procuram estar sempre em
defesa da verdade, através da argumentação. Às vezes se mostram agressivos e
brutos no trato com as pessoas, pois não sabem utilizar muito bem sutilezas e
artimanhas, mas são apaziguadores e delicados ao extremo.
Uma coisa é certa para os filhos de Oxaguiã: embora sejam guerreiros,
não procuram confusões ou brigas, e não costumam ser agressivos! Axé!
Oxalufon
Generalidades do orixá:
Como são chamados seus filhos: oxalassi
Dia da semana: sexta-feira
Elementos: ar e água
Símbolo: opaxorô
Metais: prata, chumbo, estanho, latão
Cor: branca
Folhas: lírio, manjericão, macaçá
Bebidas: vinho branco, aruá
Bichos: igbim, pombo
Saudação: Xeueu, Babá! Babá dimula, igbim!
Seus filhos:
Os filhos de Oxalufon são pessoas de porte digno, aspecto respeitável,
sóbrios no comportamento, muito calmos e reservados, até um pouco
introspectivos. Delicados, sensíveis, de educação primorosa, sabem lidar com
pessoas de qualquer idade e qualquer posição social ou hierárquica, sem
melindrá-las ou enaltecê-las. Possuem uma tranqüilidade inabalável e poucos são
aqueles que conseguem irritá-los. Mas são obstinados e possuem opinião forte,
não costumando desistir de seus projetos, mesmo conhecendo seus possíveis
erros e reconhecendo, mais tarde, os resultados negativos do seu procedimento.
Aceitam bem os percalços da vida, sabem sobrepujá-los e até extrair
ensinamentos, visualizando novos horizontes e tentando modificar o rumo do seu
destino através deles. Tal como o Pai, que é rei, mas que não precisa de muito
para ser feliz, seus filhos costumam levar uma vida pacata e sem grandes luxos,
mas rica em sentimentos e objetivos.
Lentos, harmoniosos e pacíficos, não gostam de barulho, confusão, de
locais movimentados. Preferem a segurança e a tranqüilidade, ambientes calmos
e claros, muito limpos. Sua saúde é muito delicada, qualquer excesso lhes é
prejudicial, contudo, a parte emocional e o autocontrole são seus suportes, pois
dominam bem suas emoções. Não perdoam facilmente aqueles que os magoam
ou ofendem, mas também não são violentos ou agressivos com estes, preferem
simplesmente ignorá-los! Apesar de serem generosos e paternais, costumam ser
muito inflexíveis com alguns atos de seus semelhantes, e agem com muita
austeridade e um certo carrancismo, tendo em certos casos uma opinião arcaica
e ultrapassada.
Observadores, têm uma boa memória, tanto visual quanto auditiva,
portanto, nada lhes passa despercebido. Necessitam estar sempre aprendendo,
porém maior do que isso é o desejo de ensinar o que sabem!
Obatalá
Generalidades do orixá:
Como são chamados seus filhos: oxalassi
Elementos: ar e água
Dia da semana: sexta-feira
Símbolos: opaxorô
Metais: prata, chumbo, estanho, latão
Cor: branco
Folha: lírio
Bebidas: vinho branco, aruá
Animais: igbim, pombo, cabra
Saudação: Xeueu, Babá! Babá dimula, igbim!
Seus filhos:
As pessoas consagradas a Obatalá são extremamente calmas, delicadas e
sensíveis. Agem sempre com muita honestidade, são atenciosas, sinceras e
amigas. Implicantes, mostram-se muito rabugentas e não aceitam receber
ordens se estas não forem bem embasadas. Por serem francas demais e não
medirem o que falam, conseguem machucar as pessoas e, com isso, muitas
vezes fazem inimigos. Têm uma personalidade que poucos conseguem entender:
ao mesmo tempo que são bondosas e meigas, transformam-se repentinamente
em atrevidas e até agressivas. Não aceitam o falso moralismo e também não
perdoam com facilidade. Sofrem para alcançar o sucesso, porém quando este
chega não lhes dão o devido valor, pois não são materialistas, vaidosas ou
prepotentes. Gostam de locais confortáveis, limpos e muito tranqüilos. Em certas
épocas procuram a mais completa solidão para dedicar-se à leitura, a
passatempos individuais ou à contemplação. Não são adeptos de roupas escuras,
ambientes muito iluminados, agitados ou movimentados. Precavidos, têm a
velhice calcada na tranqüilidade, principalmente na parte social e financeira.
Paternais, são muito dedicados a ajudar os seus semelhantes.
Odudua
Suas filhas
As filhas de Odudua são intransigentes, teimosas, autoritárias. Prepotentes,
não gostam de opiniões, principalmente masculinas, pois preferem dominar a ser
dominadas. Preferem utilizar os homens para a completa realização dos seus
desejos, sem o intuito de procriação, pois aceitam o sexo com muita liberalidade,
sem ser promíscuas. São equilibradas, generosas e gostam de usufruir daquilo
que a vida lhes proporciona. Extrovertidas e pródigas em amizade, são muito
tagarelas!
Gostam de cuidar das pessoas, com grande dedicação e responsabilidade,
tendo regras rígidas que lhes permitem trazê-las sob controle. Geralmente são
mulheres que conquistaram uma certa ascensão na vida pessoal ou profissional, e
que procuram usufruir de algum lucro, de prestígio ou mesmo de uma melhor
posição social através deste poder. Para atingir este patamar, trabalham muito,
com abnegação e renúncias, e isto é conseguido quando a idade já está um pouco
avançada. Mesmo assim, sabem tirar proveito e gozar de tudo aquilo que
conquistaram. Sempre rodeadas de amigos, pois não aceitam e nem gostam de
viver sozinhas e desamparadas.
Olorum
Erê
Para entender melhor o que vem a ser o culto a Babá Egum (Bàbá Égùn),
vamos primeiramente procurar fazer uma distinção entre os termos antepassado
e ancestral. Podem ser tratados como sinônimos, quase sem nenhuma
diferenciação entre eles, mas existe uma leve distinção entre seus significados
para o candomblé. A palavra antepassado refere-se especificamente “àquela
pessoa que deu origem a outras, o precursor, ou seja, o pai, o avô, até o bisavô”.
Já a palavra ancestral tem o significado de “ascendente remoto ou antiqüíssimo”.
Neste livro decidimos adotar a nomenclatura “ancestral”, quando nos referirmos
aos Babá Eguns, por estes serem espíritos masculinos muito antigos e divinizados.
A palavra Babá possui diferentes designações, mas no caso presente é
usada respeitosamente para denominar os espíritos ancestrais, tendo a concepção
de “pai velho, mestre, o patriarca”. Mas os Babás recebem também as
denominações de Egungun (mascarado), Egum (esqueleto, o que está morto), ou
Egum-agbá (os mais velhos e mais poderosos).
Os Babá Eguns são forças centenárias poderosas, originárias de regiões
africanas iorubás e que provêm, geralmente, de famílias ilustres, reais, alguns
são integrantes de dinastias familiares, ou mesmo governantes-protetores e
benfeitores de cidades ou de comunidades. Alguns Babás devem possuir idade
milenar, pois é impossível situá-los dentro de uma idade cronológica!
Estes ancestrais são preparados para proporcionar ajuda a quem a eles
recorre, e o objetivo primordial de seu culto é o de orientá-los para que se
tornem visíveis, para que o homem tenha uma melhor compreensão de um
mundo que lhe é desconhecido! É através da preservação deste segmento da
religião que conseguimos entender a continuidade da vida.
Os Babá Eguns proporcionam auxílio individualizado ao ser humano, mas
também podem se dedicar a grupos ou à sociedade em geral. São eles que
impõem ensinamentos morais, regras de convivência, de comportamento e de
hierarquização, na religião ou no dia-a-dia do ser humano. Esta obediência
ocorre até mesmo entre eles e os demais irunmolés; cada um atua com total
independência. Porém, com respeito recíproco aos seus devidos patamares e
compartimentos, obedecendo às regras da natureza determinadas por Olorum.
Devido às suas antiguidade e senioridade, Babá Egum está ligado somente
ao passado, mas possui condição de nos impulsionar para o futuro e influenciar
em nossa evolução. Mas possui também a condição de nos impulsionar para o
futuro e para a evolução. A ancestralidade nos auxilia e nos orienta, e até mesmo
propõe mudanças em nossa vida e no nosso modo de pensar, mostrando assim a
sua condição patriarcal! Mas essa ajuda não produz choques ou divergências
com nossos orixás ou com as demais divindades. É a força conjunta da
ancestralidade ajudando a sua descendência!
Babá Egum procura agir como árbitro nas questões entre os homens e os
orixás, porém quase nunca pendendo para um dos lados. Nas sanções mais
graves cometidas pelo homem, Babá Egum procura interceder perante a corte
dos irunmolés, advogando para amenizar nossas penas. Tenta arbitrar um modo
mais ameno de saldarmos nossas dívidas terrenas, mas não se eximirá de
impingir sérias atribulações àqueles que agirem de forma contrária às normas da
religião, da ética e da moral.
Existem seres humanos muito privilegiados, que têm a ajuda suplementar
e grandiosa de determinados Babá. Estas pessoas recebem o nome de
maxeregun (maṣérègùn), aqueles que, por algum motivo desconhecido, Babá
Egum adora! Talvez tenham sido seus ancestrais diretos, amigos queridos e
diletos etc. São pessoas que terão eternamente seu auxílio e sua proteção. Mas,
em agradecimento, devem sempre agradá-lo e procurar seguir seus conselhos.
Agindo assim, farão com que Babá sinta-se prestigiado e motivado.
No candomblé de Babá Egum existe uma divisão hierárquica para o
melhor entendimento das suas liturgias. Não são todos os Eguns que podem vir ao
aiê trazer sua ajuda. Isso é prerrogativa somente dos Babá-agbás, “aqueles mais
antigos, mais velhos”, que são preparados liturgicamente e doutrinados,
recebendo o direito de poder falar (ké), se expressar verbalmente. Existem
também os aparacás (apáàràká), Eguns que não falam e que, por não
constituírem individualidade, não têm nomes ou simbologias que os identifiquem.
Os aparacás são os ancestrais mais novos e que não alcançaram o estágio
de Babá Egum. A eles cabe geralmente a função de fiscalizar e administrar as
partes exteriores dos Ilês de Egungum. Se necessitarem transmitir alguma
mensagem a alguém, utilizam-se do auxílio dos Babás.
Um outro segmento do culto à ancestralidade são os Essás (Èsá),
antepassados masculinos de uma casa de candomblé muito antiga, geralmente
fundadores e precursores de um Axé. Quando os Essás se apresentam, utilizam o
mesmo título que possuíam quando em sua vida terrena. Seu culto só ocorre nas
casas de candomblé de lessé arixá (“aos pés do orixá”) e são reverenciados nos
rituais e nas cerimônias dedicadas aos ancestrais.
Nos candomblés de Egungum, quando é cultuada especificamente a
ancestralidade, louvam-se também os africanos que morreram nos navios
negreiros e tiveram seus corpos jogados em nossos mares. Estes aráorum são
também lembrados e louvados nos rituais coletivos das casas de candomblé,
como nos Axexês, nas liturgias para Babá Oró e também nas de Iy amí
Oxorongá, pois muitas mulheres pereceram nestes transportes.
As casas de culto a Babá Egum possuem certas semelhanças estruturais
com as casas de candomblé, mas têm três segmentos distintos que as
particularizam:
a) o primeiro é aberto ao público, utilizado pela assistência em geral, nos
dias de festa, e também pelos iniciados, mas ninguém tem nenhum contato físico
com os Babás;
b) o segundo é fechado ao público em geral e utilizado unicamente pelos
iniciados e, algumas vezes, por alguns poucos privilegiados que têm a honra de
partilhar e participar mais intimamente da vida da comunidade;
c) o terceiro, um espaço privativo, onde somente o alapini, os alagbás e os
ojés penetram. É o local onde ficam os assentamentos individuais de alguns
Babás e também o assentamento coletivo, o ojubó. É neste lugar que os ojés
preparam tudo para receber estes visitantes divinos em suas festas. E, às vezes,
quando precisam de seu auxílio, ou quando necessitam consultá-los.
A pessoa que chefia e administra uma casa de culto a Babá Egum é o
alabá (alagbá), a quem cabe transmitir os ensinamentos práticos e necessários
aos Babás, geralmente escolhido entre os ojés mais velhos, mais antigos,
denominados ajé agbá. Estes ojés, também chamados de babá ojés são os
sacerdotes que têm o saber e o poder de invocar os Babá Eguns, sendo muito
respeitados pelos Babás porque são considerados os seus intermediários. Estes
homens vivem no mundo dos vivos e convivem também com o mundo dos
mortos!
Os babá ojés cuidam e administram os movimentos dos Egunguns,
utilizando-se do ixã (iṣán), vara feita de atorí, que serve para invocá-los, guiá-los,
orientá-los e mandá-los de volta ao orum. O ixã, quando colocado
horizontalmente no chão, produz uma fronteira intransponível que delimita os dois
mundos.
Os ojés formam um grupo seleto e fechado, com funções muito
específicas e definidas, a quem são ensinados segredos, preceitos invioláveis e
liturgias necessárias para que cuidem dos mistérios que advêm da ancestralidade.
Diferentemente do aprendizado do culto aos orixás, que necessita de um
conhecimento prático, uma psicologia de comportamento e atitudes, cuidar dos
ancestres exige mais o conhecimento de segredos sobrenaturais. Os babá ojés
geralmente são homens sensatos, de grande sabedoria, observadores do
comportamento humano e que possuem uma sensibilidade apurada. Silenciosos e
sagazes, captam rapidamente as nuances de todos os acontecimentos que
ocorrem ao seu redor. Acostumados a lidar com a morte em todas as suas
facetas, são por isso mais sensíveis em relação ao ser humano e às suas
necessidades.
No candomblé dos orixás, o iniciado precisa ser perspicaz, sagaz e dedicar
um bom tempo para um melhor aprendizado. No candomblé de Egungum, o
iniciado, chamado de amuixã (amuìṣan), talvez um futuro babá ojé, tem regras
rígidas e doutrina específica para poder ser aceito nesta sociedade. Porém, já
penetra nos meandros deste círculo fechado recebendo diretrizes e aprendizados.
Isto acontece principalmente porque a grande maioria já provém de uma
linhagem antiga de babá ojés. E também porque precisam saber,
antecipadamente, como se portar diante de certas situações, pois estarão lidando
com forças muito poderosas e misteriosas, muito mais próximas dos seres
humanos do que os poderes dos orixás.
Os amuixãs recebem também o epíteto de mariô (màrìwò), pois a
palmeira que fornece estas folhagens tem o simbolismo do início da criação. É
considerada o receptáculo natural do poder dos antepassados, tendo profunda
ligação com a vida e com a morte. O mariô, franja-filha da palmeira, tem ainda
a representação dos descendentes, dos filhos, e é muito usado para ocultar o
segredo, o mistério. E os iniciados deste culto nada mais são do que guardiões de
amplos segredos de um mundo para nós desconhecido!
Morada de alguns Babás mais antigos, Iroco, árvore que é também uma
divindade, um vodum do branco, possui muita ligação com a ancestralidade.
Considerada árvore mística e sagrada, concentra em si muitos mistérios
seculares.
Embora o culto a Babá Egum seja masculino e muito fechado, algumas
mulheres também participam dele, com muitas reservas e restrições. Não
poderia ser diferente, pois não se compreenderia um culto em que não houvesse
um equilíbrio e um entrosamento entre os sexos, um complementando o outro.
Os segredos e os mistérios são indivisíveis, pertencem somente aos homens, mas
a ajuda física e os cuidados com o egbé dividem-se com o outro lado, as
mulheres. Um não desmerece o outro, nem perde nos ensinamentos sagrados. Às
mulheres só é vedada a participação nos rituais secretos do culto. Estas
participantes recebem o nome de ató, e seu posto máximo é o de Iyá egbé, a
“mãe da comunidade”, que serve de intermediária entre as mulheres e o alagbá.
Existe também a iyá mondê, que governa todas as demais e recebe e transmite
as ordens e os desejos dos Babás. À Iyá agã cabe transmitir às mais novas os
preceitos religiosos que acumulou em seu tempo na casa. A Iyá erelu é a chefe
das demais erelus, mulheres que entoam as cantigas que trazem os Babá Eguns
para o salão.
A participação da mulher no candomblé de Egum tem também um
sentido de pacificação e harmonização das energias.
Dentro do candomblé, o culto à Babá Egum é a única segmentação que
possui um sumo sacerdote, o alapiní, geralmente escolhido entre os mais velhos
alagbás, aqueles que possuem maior conhecimento e saber, que saiba utilizá-los
para o bem-estar da comunidade. Ele é a autoridade suprema e o responsável
por todos os demais sacerdotes dos terreiros de Babá Egum, que se devotam
única e exclusivamente a este culto. Dentro de seu terreiro, porém, terá também
o título de alagbá.
Embora poucos sejam os escolhidos para participar deste segmento, este
culto ainda possui ampla sobrevivência, especialmente na Ilha de Itaparica,
Bahia, onde estão alguns terreiros. Algumas pessoas, principalmente no Rio de
Janeiro e em São Paulo, também procuram promover e perpetuar esta tradição,
que é parte integrante da vida do povo iorubá e da religião.
Várias divindades participam do culto a Babá Egum e a principal iy abá
ligada aos ancestrais é Oiá, conhecida como mãe, senhora e rainha dos eguns. É
ela quem comanda, carrega em seus ventos e transfere do aiê para o orum, ou
vice-versa, os eguns. Nanã, a senhora da lama, vodum intimamente ligada à
morte, também faz parte deste culto.
Odudua, senhora da terra, primeira mãe da existência e criadora dos
ancestres primordiais do Universo, é reconhecida por Egum como o ventre
gerador e fecundado que contém a vida e que recebe e guarda em si a morte.
Egum também se relaciona com Iewá, que, juntamente com Oiá, realiza
o serviço de encaminhar com seriedade o recente ará-orum em sua nova
jornada para outro plano. Outras divindades, como Orixalá, Obaluaiê e Xangô,
também interagem com Babá Egum pois interligam-se com os dois lados da
existência.
Os mais antigos Babá Eguns podem ser considerados os primeiros seres
humanos, do sexo masculino, adotados pelos orixás. Criou-se entre eles um elo
que também se concretiza em nossas vidas, pois passamos a ter um Babá
particularizado para nos atender e para podermos reverenciar, de acordo com
cada orixá: Babá Olokotum – Orixalá; Babá Xein – Oxaguiã; Babá Alapalá –
Xangô; Babá Olobojô – Oiá; Babá Alapaorum – Ogum; Babá Baraim – Obaluaiê;
Babá Omonilê – Odé etc.
Babá Egum usa em suas aparições nos terreiros roupas enfeitadas com
espelhos, búzios, favas, guizos, tiras de pano coloridas. Estes vestuários são
emblemáticos e têm a condição de tomá-los visíveis, servindo inclusive para
individualizá-los. São vestes que escondem todo o mistério que Babá produz ao
chegar! Chamadas de abalá, costumam ser complementadas pelo awon, um tipo
de tela que faz a representação figurativa do formato de um rosto. É através
desta tela que ele faz a sua comunicação com os homens, numa voz rouquenha,
gutural, denominada segí. Cada Babá possui também seu ké, um tipo de brado, ou
grito, que anuncia sua chegada e que o particulariza.
Alguns Babás preferem roupas vistosas, exuberantes; outros gostam de
vestimentas confeccionadas com muitas tiras de panos de cores variadas; alguns
utilizam somente roupas brancas. Quanto mais bonita e mais movimentos a roupa
produzir, maior é o indicativo de que seu portador é um dos Babás mais velhos ou
contém um simbolismo de opulência, riqueza e realeza.
O culto a Babá Egum tem atravessado várias gerações sem mudanças
radicais em suas tradições e pode-se dizer que este é um dos poucos cultos das
religiões africanas que chega em pleno século XXI ainda envolto em completo
mistério e segredo. Isto ocorreu porque mesmo existindo poucas casas
direcionadas para este segmento, todos procuraram seguir os mesmos
ensinamentos e fundamentos que lhes foram passados pelos antigos fundadores.
Sem tentar modificá-los ou descaracterizá-los, para satisfazer vontades e
ambições pessoais!
Os Babá Eguns continuam, então, como mantenedores da estruturação da
sociedade, cabendo a eles administrar e orientar a vida familiar, social,
financeira, jurídica e política de um segmento ou de toda uma comunidade.
Numa forma de reverência à ancestralidade masculina, formulamos os
nossos respeitos a todos os babalorixás, dotés e tatas-de-inquice que ajudaram a
eternizar o nome do candomblé, e que já partiram para o orum. Que eles possam
sempre nos guiar na forma correta de cultuar nossas divindades! Axé!
Babá Oró
BARROS, José Flávio Pessoa de & NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìsà: uso
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expand=1candomble-ketu · Cultura Africana e Afro-descendente
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Lopes, Nei
9788534705820
130 páginas
Cals, Suely
9788534705813
97 páginas
Editora, Pallas
9788534705837
123 páginas
Entre as décadas de 1970 e 1980, a Pallas Editora lançou seis pequenos livros que
formaram a coleção Cantigas. Cada livro era dedicado a um grupo de entidades:
caboclos, exus, boiadeiros, orixás, pretos-velhos e entidades do cemitério
(encabeçadas pelo orixá Omolu). A coleção foi um grande sucesso, como
provam as diversas reedições rapidamente esgotadas de todos os títulos. Chegou
um momento, entretanto, em que tornou-se necessária uma renovação desse
material. Desta observação nasceu a idéia de condensar os seis livretos em uma
só obra.
Lopes, Nei
9788534705738
295 páginas