Minimas-Estorias-Gerais Myriam Fraga
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Mínimas Estórias Gerais
Crônicas da província
A casa de Valdete 93
Águas do São Francisco 96
Assombrações e guardas noturnos 98
Circuito na comunicação 101
Do porão à clarabóia 103
Feliz aniversário 106
Fragmentos de um retrato de mulher 109
História de um poema 112
Lembranças de um poeta 115
Lembrancas de um poeta (ii) 117
Lindoca 120
Maneiras de gostar 124
Meu cavalo por um reino 127
Natal 129
O caso das baleias 132
Uma rua chamada saudade 135
Esparsas
As adolescentes voadoras 171
Crônica nostálgica à Cidade da Bahia 173
Devoções 176
Elegia para um morto em sua cadeira 180
Fundo de gaveta 181
Janelas 183
Jorge Amado, para sempre 185
Lisboa revisitada 188
Maratona 192
Nostradamus não está com nada
(ou o amargo sabor das profecias) 194
O calor da fogueira 196
Pássaros 198
Réquiem para um poeta assassinado 200
Hermafrodito 201
Tristeza 203
Metamorfose 205
Papai noel não existe 207
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S ei que você vai rir, meu jovem amigo. E vai até pensar
que eu sou uma mulher meio louca à procura de papo. Sei
também que, provavelmente, não lhe interessa nem um pou-
co esta nossa conversa. Mas, de manhã, quando eu acordei,
tinha um unicórnio pastando em meu jardim. Talvez você
nem saiba direito o que é um unicórnio, mas se se der ao
trabalho de procurar num bom dicionário, encontrará com
certeza: unicórnio, animal fabuloso, semelhando um cavalo
com um único e longo chifre na testa, etc... etc...
Eu sei, eu também tive um choque e pensei a mesmís-
sima coisa. Por que, afinal, perder tempo com um animal
que não existe? No entanto, ele está lá, bem no meio de um
canteiro de begônias. Mais real que uma girafa, mais plau-
sível que um rinoceronte. Seu longo chifre espiralado toca
de leve as flores do jasmineiro, e seus pés delicados pisam
as pedras sem mágoa; os casquinhos, brilhantes como ná-
car, desmunhecando levemente a cada nova pisada. Ah! E o
pelo! Branco, com reflexos prateados. Os olhinhos esbuga-
lhados revirando-se medrosos com um faiscar de ametistas.
E agora, o que fazer? Que armadilhas, que laços, que
propostas farei para que ele se aproxime? Para que paste em
minha mão com seu focinho morno e sua língua inocente?
Um unicórnio é um bicho encantado. Que se saiba, nunca,
em tempo algum, alguém conseguiu alcançá-lo. Para isto é
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A lguma coisa lhe dizia que aquela seria uma noite especial.
Depois de tanto tempo, tantos desencontros, traições,
mentiras... a voz ao telefone prometia, insinuava... um jan-
tar a dois depois de tudo o que passaram... Deu dois passos
para trás e admirou-se no grande espelho do guarda-roupa.
Ainda podia ser considerada uma bela mulher. A fisionomia
um pouco abatida pela recente perda de peso guardava traços
da beleza de outrora. Vestira-se esmeradamente, caprichando
na maquilagem. Duas gotas de perfume atrás da orelha, um
ajustar de meias nas pernas bem feitas, e estava pronta. Sorriu
confiante para a outra que a olhava do espelho: “Tchau, vou
em busca do destino, deseje-me boa sorte”.
A pequena mesa de canto no restaurante tinha ramo
de flores de cheiro enjoativo. Sentaram-se frente a frente.
Ele estava mais que solícito, até parecia querer conquistá-
la, mas seus olhos procuravam o relógio a todo instante, e,
quando os cálices se tocaram num brinde, sua mão tremeu
um pouco.
“Meu Deus”, ela disse, de repente aflita, “nós pedimos
vinho branco para acompanhar o peixe. E, de repente, me
servem vinho tinto. Por que só a mim serviram este vinho
cor de sangue?”
Naquele momento, com preendeu que estava tudo
perdido. Não quis sobremesa nem tomou café. Nem sur
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Ifigênia
Como touros
pelo mar/cortando
não me recordo de qualquer
vida interior
Só vejo a nau
pousada
linear
no horizonte
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