A Inserção Da Música Na Educação Infantil e o Papel Do
A Inserção Da Música Na Educação Infantil e o Papel Do
A Inserção Da Música Na Educação Infantil e o Papel Do
PROFESSOR
Resumo
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a inserção da música no cotidiano da
educação infantil e o papel do professor frente à mesma. Para tanto, inicialmente abordamos
algumas questões relacionadas à forma como a música participa do desenvolvimento da
criança e às habilidades que a mesma desenvolve em relação à música nas diferentes etapas
do desenvolvimento infantil. Também tratamos do objetivo do ensino da música nesse nível
de ensino e da responsabilidade que o educador possui nesse sentido. Na sequência tratamos
da formação de professores da educação infantil uma vez que é a partir dela que se configura
um dos aspectos que permeia a prática do profissional que atua junto às crianças nas
instituições formais de ensino. Sobre a formação desses professores ressaltamos a importância
da prática nesse processo já que a mesma deve ser concebida como eixo central no currículo
de formação de professores. Também discorremos sobre os desafios que recai tanto sobre os
profissionais da educação infantil quanto aos seus formadores, que precisam atualizar-se
continuamente no que diz respeito às tendências e práticas da sociedade moderna.
Finalizamos o presente trabalho refletindo sobre a necessidade que formação dos profissionais
da educação infantil assume no sentido de que a mesma aborde vários aspectos que vão desde
questões relacionadas ao desenvolvimento humano até noções de cultura e sociedade,
incluindo o papel da música nesse processo, uma vez que a presença da música na vida dos
seres humanos é incontestável se considerarmos que a mesma tem acompanhado a história da
humanidade, ao longo dos tempos, exercendo as mais diferentes funções.
Introdução
A presença da música na vida dos seres humanos é incontestável, uma vez que ela tem
acompanhado a história da humanidade, ao longo dos tempos, exercendo as mais diferentes
funções. Além disso, é possível afirmar que ela está presente em todas as regiões do globo,
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em todas as culturas, em todas as épocas, ou seja, a música é uma linguagem universal, que
ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço.
No entanto, nos meios acadêmicos da área da Educação, a música tende a ser vista
como ornamental, pouco substantiva, ou é tratada de forma pouco científica; no campo da
Música, é pouco valorizada ou carece de concepções mais sólidas a respeito da Educação
Infantil como primeira etapa da educação básica (NOGUEIRA, 2006).
Para Jeandot (1993) as pesquisas sobre educação musical no Brasil se mostram um
pouco lentas, se comparadas às que se desenvolvem em outros domínios artísticos, devido ao
fato de a música ser uma arte auditiva, interiorizada, que exige mais esforço, ao contráriod as
artes visuais, cuja captação é mais imediata.
Em relação à Educação Infantil é importante considerar que a música está presente, de
modo inequívoco, no cotidiano das crianças. Nesse sentido, Nogueira (2006) ainda afirma que
os brinquedos musicais fazem parte da vida da criança desde muito cedo – é por meio dos
acalantos, das parlendas, dos brinquedos ritmados entre mãe e bebê, que se estabelecem as
primeiras experiências lúdico-musicais da vida humana. Mais tarde, outros tipos de
brincadeiras musicais, cada vez mais dinâmicas e diversificadas, vão ampliando os
referenciais auditivos das crianças, num processo sempre crescente. Ainda de acordo com a
autora, este processo tende a se intensificar com o acesso aos meios de comunicação de
massas e a diferentes fontes sonoras, processo esse atualmente bastante disseminado junto às
diferentes camadas da população brasileira.
Também é importante salientar que ouvir música, aprender uma canção, brincar de
roda, realizar brinquedos rítmicos, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o
gosto pela atividade musical, além de propiciar a vivência de elementos estruturais dessa
linguagem.
A relevância da inserção musical na educação infantil também está fundamentada na
própria Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (Lei no 9394/96) quando afirma
que a finalidade da educação infantil está relacionada ao desenvolvimento integral da criança,
ou seja, pensando nesses termos, a música assume um papel fundamental no processo de
desenvolvimento infantil em seus vários aspectos.
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A relação afetiva das crianças com a música acontece, de acordo com Borges (1994),
desde muito cedo podendo ser facilmente comprovada nas reações de prazer que as mesmas
apresentam ao serem embaladas, às cantigas de ninar, nos primeiros movimentos de dança,
independentemente do contexto histórico-cultural em que estejam inseridas.
Oliveira, Bernardes e Rodriguez (1998) afirmam que as crianças, mesmo antes de
aprenderem a falar, se expressam através de movimentos, sons e ritmos. Para as autoras, a
convivência com os diferentes sons e ruídos é de suma importância, pois através dos mesmos
se faz descobertas e com elas, o conhecimento e a exploração do diferente.
Ainda de acordo com as autoras, a primeira descoberta dos sons e do ritmo se dá
através do próprio corpo e do ambiente ao redor. Por ser criativo, o ser humano rompe
continuamente os esquemas repetidos das experiências anteriores e vai explorando novos
caminhos.
Jeandot (1993) vai ao encontro dessas afirmações quando relata que a receptividade à
música é um fenômeno corporal. De acordo com a autora, a criança, ao nascer, passa a ter
contato com um universo sonoro que se localiza em torno dela, ou seja, os sons produzidos
pelos objetos e pelos seres vivos. Assim, sua relação com a música se torna imediata, seja
através dos aparelhos sonoros de sua casa, seja através do acalanto da mãe e do canto de
outras pessoas.
A autora também ressalta o fato das crianças gostarem de acompanharem as músicas
com movimentos corporais, seja com palmas, sapateados, volteios de cabeça, danças, entre
outros, sendo a partir dessa relação entre o som e o gesto da criança que ela constrói seu
conhecimento sobre música.
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Portanto, a autora salienta que é possível constatar a grande influência que a música
exerce sobre a criança. É por isso que os jogos ritmados, próprios dos primeiros anos de vida,
devem ser incentivados e trabalhados na escola.
Jeandot (1993) descreve as habilidades que as crianças desenvolvem em relação à
música nas diferentes etapas do desenvolvimento infantil. De acordo com a autora, cada idade
reserva um aspecto particular em relação à música, sendo que aproximadamente em torno de:
A autora ressalta que todas essas características variam de criança para criança, sendo
que o desenvolvimento da mesma pode ser acelerado através da interferência do trabalho de
musicalização realizado na escola. É importante que o professor tenha cuidado para, por
exemplo, não dar ênfase exagerada à parte rítmica em detrimento dos elementos melódicos,
culturais, formais e criativos que compõem a música.
O Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil (1998) ressalta a
importância de se trabalhar na pré-escola, com atividades que envolvam música, por ser este
um excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio e da auto-estima das
crianças.
Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos,
jogos de mão, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela
atividade musical, além de atenderem às necessidades de expressão que passam pela
esfera afetiva, estética e cognitiva. (BRASIL, 1998).
Para a autora cabe ao adulto compreender de que forma a música constitui uma
possibilidade expressiva privilegiada para a criança, considerando que a mesma atinge
diretamente sua sensibilidade sensorial e afetiva.
A autora ainda afirma que é de suma importância estimular a criança a fazer suas
próprias descobertas, cabendo ao educador enriquecer o repertório musical da mesma através
de materiais a serem explorados, observando o trabalho de cada criança e planejando
atividades que envolvam músicas de diferentes povos, de diferentes formas, de diferentes
épocas, de diferentes compositores. O trabalho do professor deve ser criativo para despertar a
motivação na criança, pensando em novas possibilidades de aprendizagem além de facilitar,
quando solicitado, as atividades dos alunos.
Paschoal e Zamberlan (2005) também enfocam a importância do professor organizar
um espaço que permita a participação de todas as crianças, reunindo, para isso, toda e
qualquer fonte sonora como brinquedos, instrumentos musicais e objetos variados, podendo-
se incluir os materiais recicláveis.
Para Jeandot (1993) a música é linguagem e, dessa forma, deve-se seguir, no que diz
respeito à música, o mesmo processo de desenvolvimento que se adota quanto à linguagem
falada, ou seja, é necessário que a criança seja exposta à linguagem musical e dialogue com
ela sobre e por meio da música.
A autora também coloca que da mesma forma que acontece com a linguagem, cada
grupo social, cada civilização possui sua expressão musical própria. Nesse sentido, antes que
o educador transmita sua cultura musical própria é importante que o mesmo investigue o
universo musical do qual a criança faz parte, encorajando, com isso, a criação de novas
formas de expressão através da música.
No entanto, Borges (1994) afirma que, embora se concorde com a importância que a
música tem na educação das crianças, é freqüente se deparar, nas classes pré-escolares, com
atividades musicias limitadas exclusivamente à reprodução de cantigas utilizadas com
finalidades apenas didáticas, quando as mesmas deveriam ligar-se primordialmente às
emoções, no sentido de proporcionar um momento de prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar
sons e ritmos.
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Para a autora, se a música for utilizada na educação infantil apenas com o objetivo de
ensinar conceitos matemáticos, anunciar o momento da história ou do lanche ou reforçar
hábitos de higiene, a função primeira da mesma estará sendo desvirtuada.
E para que isso não aconteça, é necessário que o professor seja sensível à expressão
musical, o que não significa que o mesmo tenha que ser um especialista em música ou que
saiba, necessariamente, tocar algum instrumento. Ele deve sim, estar consciente de que, em
contato com a música, a criança poderá:
Partindo disso, é possível perceber o desafio que recai tanto sobre os profissionais da
educação infantil quanto aos seus formadores, que precisam atualizar-se continuamente no
que diz respeito às tendências e práticas da sociedade moderna.
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Schmitz e Maciel (2003) afirmam que, mais do que ensinar coisas, o educador de
crianças necessita estabelecer um ambiente de relacionamentos no qual as crianças possam
vivenciar e praticar as diversas peculiaridades e aspectos de sua personalidade em formação.
Nesse sentido, o que se constitui como sendo de fundamental importância na formação
dos profissionais da educação infantil não reside na aprendizagem de várias disciplinas
formais. É necessário que esse profissional aprenda a compreender, respeitar e promover a
mente, os valores, os hábitos e as atividades das crianças.
Daí surge a necessidade de que
Para as autoras, a crítica recai sobre dois pontos. Por um lado se tem a má formação
dos profissionais que já estão na prática, pois muitas vezes os mesmos não possuem subsídios
teóricos que lhes possibilitem um movimento reflexivo especialmente no que diz respeito à
atuação junto à criança além da observação de seu desenvolvimento.
Em contrapartida existe uma formação acadêmica que sofre críticas em função de
centrar-se apenas em teorias e não vinculando a prática nesse processo,
tendo também uma formação deficitária, uma vez que saem da faculdade se o
conhecimento do cotidiano das creches, com uma aluno e um aluno idealizados, com
uma família pensada dentro de padrões de uma estrutura de classe média alta, que
não coincidem com a diversidade de sujeitos e situações com as quais deverá
trabalhar. (MONTEIRO E MARQUES, 2004, p. 208).
REFERÊNCIAS
CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. 13ª ed. Campinas: Papirus, 2001.