Estacio-2019 1-Historia Do Cristianismo Web

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HISTÓRIA DO

CRISTIANISMO

autora
OSANA NAZARÉ VENANCIO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2019
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autora do original  osana nazaré venancio

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  andré lage, luís salgueiro e luana barbosa da silva

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  rodrigo dos santos rainha e antonio sérgio giacomo macedo

Imagem de capa  ricardo reitmeyer | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

V448h Venancio, Osana Nazaré


História do cristianismo / Osana Nazaré Venancio.
Rio de Janeiro: SESES, 2019.
176 p: il.

isbn: 978-85-5548-675-3.

1. Jesus Cristo. 2. Cristianismo. 3. Igreja Primitiva. 4. História da Igreja.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 270

Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento


Av. das Américas, 4.200 – Barra da Tijuca
Campus Tom Jobim – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22640-102
Sumário
Prefácio 5

1. Jesus Cristo: humano e divino 7


O que significa Cristianismo? 8

Contexto histórico e geográfico 10

Contexto Religioso 15

Jesus anuncia o reino de Deus 25

Jesus é condenado, morto e ressuscitado e um dia voltará. 26

2. De Pentecoste a Constantino 33
De Pentecoste a Constantino 34

Pentecoste 35
Entendendo os significados de Pentecoste 35

Constantino 38

A divisão da história do Cristianismo 40

Idade Antiga 41
Jesus Cristo, no ano 1 d.C. até o ano de 476 d.C. 41

Idade Média 42

Idade Moderna 42

Idade Contemporânea 43

Fundação do Cristianismo 44

A separação do Cristianismo e do Judaísmo 45

As primeiras comunidades cristãs 46


Pedro e Paulo e os outros apóstolos 47
Os Padres/Pais da Igreja/Padres do Deserto e a Patrística 53
Quem é pai da Patrística? 54
Apóstolo Paulo: sua história e de seus escritos 55
Os padres apostólicos 56

3. De Constantino à Reforma 61
De Constantino à reforma 62

4. Da Reforma à proposta da razão ateísta


do Iluminismo 95
Da Reforma à proposta da razão ateísta do Iluminismo 97

A Reforma Protestante 97

5. Da razão ateísta do iluminismo às teologias


contemporâneas 129
Da razão ateísta do iluminismo às teologias contemporâneas 131
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

Na história da humanidade, houve muitos fatos que marcaram para sempre.


Fatos que ligam passado, presente e futuro e que traduzem a esperançosa busca
de sentidos para a nossa condição de peregrinos neste mundo. Para os Cristãos, o
Cristianismo é um desses grandes fatos. Nisto consiste a importância de estudar a
História de uma das maiores religiões do mundo.
Jesus Cristo, é filho de Deus, que se tornou homem e veio ao mundo a fim de
pregar o amor a Deus e ao próximo. Contudo, foi perseguido e morto pelos que
não aceitavam os seus ideais. O seu mandamento era o amor. “amai-vos uns aos
outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua
vida por seus amigos”. (João 15, 12-15)
Jesus nasceu em Belém, cidadezinha a 100 quilômetros de Nazaré, para onde
José teve que viajar com Maria por causa do senso que estava acontecendo. Jesus
nasceu numa manjedoura, pois não houve lugar para Ele e para os seus pais em ne-
nhuma pensão. A viagem para Belém fazia parte do Plano de Deus, pois a Profecia
de 700 anos AC já anunciava que lá nasceria o Messias, conforme podemos con-
ferir em Miqueias 5,2: "Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá,
é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel”.
Jesus veio para uma Missão diferente e ameaçava o que já estava constituído.
Ele incomodou ao começar sua vida pública, aos 30 anos. Ele arrebanhou multi-
dões. Era um pequeno grupo no começo, mas logo a notícia se espalhou e todos
queriam conhecer Jesus para ouvi-lo, para tocá-lo e buscar de milagres.
Jesus falava de um Reino que não era desse mundo, um Reino que era o de
Deus. Neste sentido, mexeu com questões muito sérias: poder religioso e poder
político. Deus era somente o do Imperador! Jesus estava ganhando fama e levando
consigo multidões que antes só admiravam o rei. Ele “transgrediu costumes” e
inaugurou um novo modo de convivência e de um Deus de amor.
Ao longo deste livro, você terá oportunidade de aprofundar essa história e
conhecer o contexto do nascimento do Cristianismo e como o mesmo, ao longo
de mais de 2000 mil anos passou por muitos obstáculos, mas superou a persegui-
ção. Fará uma jornada de revisitação aos Primeiros Cristãos até Cristianismo na
contemporaneidade.

Bons estudos!

5
1
Jesus Cristo:
humano e divino
Jesus Cristo: humano e divino
Você está começando uma jornada de estudo sobre a História do Cristianismo.
Como não poderia deixar de ser, antes de qualquer coisa, é preciso dar espaço ao
principal personagem da história que iremos contar: Jesus Cristo! Neste capítulo
você terá a oportunidade de conhecer ou revisar fatos da vida de Jesus Cristo: nas-
cimento, vida pública, morte e ressurreição.
Vamos começar nossos estudos com duas orientações iniciais:
99 Lembre-se de que ter a Bíblia ao seu lado, possibilitará o desenvolvimento
do conhecimento.
99 Não deixe de analisar, contemplar e acessar as fontes indicadas (ima-
gens, vídeos, canções, áudios, sites...), pois abrirão os horizontes. Você pode buscar
muitas outras. Exerça sua condição de pesquisador.

OBJETIVOS
•  Conhecer ou revisitar fatos da vida de Jesus Cristo: nascimento, vida pública, morte e
ressurreição, compreendendo o contexto histórico e de fé do nascimento do Cristianismo;
•  Reconhecer Jesus Cristo, como cidadão de seu tempo, mas também sua condição Divina,
compreendendo que Jesus é 100% homem e 100% Deus.

O que significa Cristianismo?

É a Religião dos seguidores de Jesus Cristo. Existem várias Religiões e entre


elas: o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo, o Budismo, O Hinduísmo. Cada
Religião tem sua mística, sua história e suas crenças.
Para os Cristãos, Jesus Cristo é o Salvador e Senhor. O Cristianismo tem mui-
tas doutrinas, que apesar das diferenças de culto e de regras, dialogam em nome
do que as une: a fé em Jesus Cristo. O Cristianismo é feito também de muitos
conflitos e divisões.

capítulo 1 •8
A sua ambição era reformar a fé de Israel, simbolizada pelo círculo dos doze íntimos que
o seguiam. Estes homens representam simbolicamente o povo das doze tribos, o Israel
com que Jesus sonha. Ele queria reformar a fé judaica, mas fracassou. Por quê? Jesus
era um místico, dotado de uma forte experiência de Deus. A seus olhos, Deus estava
próximo dos humanos, tão próximo que, para lhe orar, bastava chamar-lhe "papá" ou
"paizinho" (abba em aramaico). As suas palavras e os seus gestos estão marcados por
um sentimento de urgência inadiável. (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 134-135)

Saiba Mais
Este vos batizará com espírito santo e com fogo.” (Mateus 3,11)
Vamos escutar sobre João Batista e sobre o nascimento de Jesus e o contexto histórico
da época. Também vamos “viajar” por vários lugares e situações da vida de Jesus.
Cid Moreira - (Bíblia em Áudio) https://www.youtube.com/watch?v=WEpoSIGIHXA
Cide Moreira – (Bíblia em Áudio): https://www.youtube.com/watch?v=5PyanOqI4M8

As origens do Cristianismo estão nos últimos séculos da Idade antiga


(3.500 a.C. até 476 d.C). Na época do nascimento de Jesus, o Império Romano
tinha grande poder. Gaio Júlio Cesar Otaviano Augusto era o Imperador. Foi um
dos mais importantes, pois foi o primeiro imperador romano. Ficou conhecido
como Cesar Augusto. (27 a.C a 14 d.C).

CURIOSIDADE
Todos os imperadores eram chamados de “César”. Não era um nome, mas um título.
César, Kaiser e czar. Estes dois últimos são títulos imperiais, o primeiro da Áustria-Hun-
gria e Alemanha e o segundo da Rússia. Ambos derivam de Caius Julius Caesar, o imperador
romano cujo nome passou a significar “imperador”. E esse nome vem de caesaries, “cabelei-
ra”, pois o iniciador de sua linhagem teria nascido com um revestimento completo de cabelo.
O que não deixava de ser irônico, pois César era careca. E não gostava nada disso. Disponível
em: <http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/czar/>. Acesso em: 06 nov. 2017.

capítulo 1 •9
Veja só como aparece no relato bíblico: “Naqueles dias César Augusto pu-
blicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano”
(Lc 2,1).

Que tal começar ouvindo o relato dos Capítulos 1 e 2 do Livro do Evangelista


Lucas?
Uma narrativa que nos faz compreender que Jesus, o Messias, já estava sendo esperado
e era o cumprimento das Promessas de Deus. Antes dele, veio João Batista, o Profe-
ta do Deus Altíssimo, para preparar o caminho para Jesus. João Batista anuncia a
Salvação. O Deus Misericordioso e bondoso. Não era o Deus guerreiro e vingativo como
queria o imperador.
"O que vem depois de mim é mais forte do que eu, não sendo eu nem apto para
tirar-lhe as sandálias"

Contexto histórico e geográfico

Herodes, o Grande, que se intitulava rei dos judeus. Ficou assim conhecido
como “O Grande”, para diferenciar do nome do filho, que se chamou Herodes e
também se intitulava como rei e levou Jesus à condenação e à morte.

A Palestina era governada por Herodes, o grande, que obtive do senado romano o
título de Rei dos Judeus. Homem ambicioso e Cruel soube cativar a confiança dos
imperadores e o respeito dos judeus mandou restaurar o Templo de Jerusalém. E
tentou matar Jesus ainda criança ordenando a matança dos Inocentes. (GALBIATTI.H.
(Sup.). 1969, p.23)

Para compreendermos o contexto histórico dos fatos que envolveram o nas-


cimento do Cristianismo, precisamos compreender o contexto social, político e
geográfico desse período, que não é curto, mas muito longo e intenso. É necessário
situar no tempo, no espaço físico e no contexto histórico, os personagens dessa
grande história de amor que marcou a humanidade. A história de Jesus, 100%
homem e 100% Deus, assim professado pelos Cristãos.

capítulo 1 • 10
No tempo de Jesus, a Palestina estava dividida em províncias: a oeste do Jordão (Cisjor-
dânia), encontram-se a Judeia, a Samaria e a Galileia. A leste do Jordão (Transjordânia)
a Peréia e a Decápolis.
As Principais cidades que têm importância na narração evangélica:
Na Judeia: Jerusalém (a Cidade Santa), Belém (onde nasceu Jesus) Ain Karin, Emaús
Arimatéia, Efrém, Jericó, Betânia (a terra de Lázaro Marta e Maria).
Na Samaria: Samaria e Sicar.
Na Galileia: Nazaré (terra de Nossa Senhora e infância de Jesus), Canaã (onde Jesus
fez o primeiro milagre) Tiberíades, Magdala e Cafarnaum (terra de São Pedro).

Você verá no mapa a localização de cada cidade. Elas são berços do Cristianismo.
Este mapa apresenta as mesmas na época de Herodes, o Grande e de seu filho, o
também Herodes que ficou conhecido como Heródes Antipas. Esse, o filho, foi
quem mandou cortar a cabeça de João Batista, induzido pela mulher de seu irmão,
mulher Herodia. (Confira o relato Evangelho de Mateus, capítulo 14,1-12).

Por aquele tempo Herodes, o tetrarca, ouviu os relatos a respeito de Jesus e disse aos
que o serviam: "Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos! Por isso estão operando
nele poderes milagrosos". Pois Herodes havia prendido e amarrado João, colocando-o
na prisão por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto João lhe dizia:
"Não te é permitido viver com ela". Herodes queria matá-lo, mas tinha medo do povo, por-
que este o considerava profeta. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou
diante de todos e agradou tanto a Herodes que ele prometeu sob juramento dar-lhe o
que ela pedisse. Influenciada por sua mãe, ela disse: "Dá-me aqui, num prato, a cabeça
de João Batista". O rei ficou aflito, mas, por causa do juramento e dos convidados, orde-
nou que lhe fosse dado o que ela pedia e mandou decapitar João na prisão. Sua cabeça
foi levada num prato e entregue à jovem, que a levou à sua mãe. Os discípulos de João
vieram, levaram o seu corpo e o sepultaram. Depois foram contar isso a Jesus.

ATENÇÃO
99 Você se recorda quem é João Batista? Já falamos dele, não é mesmo? Ele foi o Profeta
enviado por Deus para preparar o caminho de Jesus. João Batista batizou Jesus. “O que vem
depois de mim é mais forte do que eu, não sendo eu nem apto para tirar-lhe as sandálias.
Este vos batizará com espírito santo e com fogo.” (Mateus 3,11)

capítulo 1 • 11
Figura 1.1  –  Leonardo da Vinci – O Batismo de Jesus. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/download/imagem/uf000002.jpeg>.

O autor do livro “História do Cristianismo”, Alain Corbin, elucida a situação


e o contexto:

Jesus nasceu numa data desconhecida, que poderia ter sido o ano 4, antes de o Grande.
Foi batizado no Jordão por João Batista, de quem se tornou nossa era (antes da morte
de Herodes) discípulo, antes de fundar o seu próprio círculo de aderentes. À maneira
de João, Ele espera a vinda iminente de Deus à história; também partilha a convicção
de que, para ser salvo, não basta pertencer ao povo de Israel: é indispensável praticar
o amor e a justiça. Pelos trinta anos, Jesus é um pregador popular que alcança algum
sucesso na Galileia. CORBIN, Alain (org.). (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 134-135)

capítulo 1 • 12
Voltando a Herodes Antipas, foi ele também que ordenou condenar Jesus. Ele
honrou o seu pai, o temido Herodes o Grande. Agora sim, veja o mapa:

ITURÉIA Damasco
SÍRIA

Tiro FENÍCIA Monte Hermom


Cesaréia
MAR MEDITERRÂNEO de Filipe
S
ITI
Lago Huté AN
UL
GA

Jordão
Rafana TRACONITES
Ptolomaida Gamala
GALILÉIA Mar da Kanatha
BATANÉIA
Galiléia Hipos
Tiberíades
Séforis
AURANITES
Monte Tabor Gadara Dion
Geba
DECÁPOLIS
Cesaréia
Citópolis Pela
Sebaste (Bete-Sea)
(Samaria)
Sicar Gerasa
SAMARIA (Jeras)
Jordão

(Siquém)
Alexandrium Capital
Jope Antipátride PERÉIA Filadélfia
Faselis (Rabate-Amom) Fronteira do reino de
JUDÉIA Arquelis Herodes, o Grande
Jamnia Livias Terra dada a:
Chipre Esbus
Azoto (Hesbom) Filipe
Jerusalém
Ascalom Hircânia Herodes Antipas
Heródio
Machaerus Arquelau
Mar Morto

Gaza Marisa
Hebrom Província da Síria
IDUMÉIA
N A B AT E U S Cidades da Decápolis
Masada Fortaleza de Herodes,
o Grande
0 50 km Rota principal

Herodes, o Grande, governava toda a Palestina, onde estava situada a cidade da


Galileia na época do nascimento de Jesus: (...) tendo nascido Jesus em Belém de Judéia,
no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém (Mt 2,1)

capítulo 1 • 13
Figura 1.2  –  Leonardo da Vinci - Adora-
ção dos Magos. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/
imagem/uf000003.jpg>.

Herodes, o Grande, foi um dos mais terríveis e cruéis dos reis. Ele mandou
matar a esposa e os três filhos. Seu governo foi marcado pela violência. Também foi
um rei de grandes obras, o que fazia aumentar ainda mais o seu poder. Herodes, o
Grande, dividiu a Palestina em três reinos e distribuiu entre os seus filhos, aqueles
que ele não matou. Podemos conferir no relato:

Aliás, ele não se contentou com perpetuar a lembrança e o nome de seus amigos
por meio de edifícios: seu zelo chegou ao ponto de criar cidades inteiras. Na Samaria,
construiu uma cidade cercada de muralha magnifica, com extensão de 20 estádios, aí
instalou seis mil colonos, a quem distribuiu lotes de terra bem rica. No meio dessa fun-
dação, mandou construir um templo imenso cercado de jardim sagrado de três meios
estádios consagrado a César. Denominou cidade de Sebaste e concedeu aos seus
habitantes uma constituição privilegiada. (JOSEFO. Flávio 1986, p.57)

Uma história que começa com muita dor, não é mesmo? Jesus foi perseguido
da Infância à morte. Há muito para descobrir sobre os que escolheram ser Cristão,
pois esses, assim como Jesus, também sofreram, sofrem e sofrerão perseguição. O
consolo dos Cristãos vem de Jesus no Sermão da Montanha:

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o


reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, por-
que é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós. (Mt 5,10-12)

capítulo 1 • 14
Seguir e imitar Jesus não são escolhas fáceis!

Contexto Religioso

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.3  –  Este é o ícone mais antigo de Jesus e se encontra no Monastério de Santa Cata-
rina no Monte Sinai.

Para os cristãos, Jesus Cristo, é filho de Deus, que se tornou homem e veio ao
mundo a fim de pregar o amor a Deus e ao próximo. Contudo, foi perseguido e
morto pelos que não aceitavam os seus ideais, disse Jesus.

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos,
se fazeis o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que
faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de
meu Pai. (João 15, 12-15)

capítulo 1 • 15
Que tal fazer uma parada para meditar o que está estudando? Se você é um
Cristão, renovará sua fé. Se você não é, vale conhecer mais de perto o Cristianismo
em suas origens.
É assim, os Cristãos acreditam. Reflita e medite com a letra da canção e tam-
bém com as imagens:

Ouça e veja: REAVIVA A TUA IGREJA: O martírio dos primeiros cristãos


Mara Lima
REAVIVA A TUA IGREJA
Da firmeza e vontade, da fé e devoção
Da igreja do tempo de Paulo, de Pedro e João
Que enfrentaram a fúria de Roma
Mas nunca negaram sua fé de cristãos
É um exemplo pra mim, verdadeira lição
Eu queria ver a bravura dos santos em plena arena
Enfrentando os leões
Quanto mais a fogueira queimava
Mais se ouvia o louvor dos nossos irmãos
Sob o sangue, tombavam nas ruas
Chegavam no céu com a vitória nas mãos
É um exemplo pra mim, verdadeira lição
Oh, meu Deus, reaviva tua igreja de novo
Faz a chama arder nesse povo
Como foram os primeiros cristãos
Oh, meu Deus, reaviva tua igreja de novo
Faz a chama arder nesse povo
Começando em meu coração
Começando em meu coração
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x69syp25VZ0>.

Vamos continuar nossa jornada de estudo sobre a História do Cristianismo


através da análise de outra canção, que vai ao encontro direto do nosso centro
de interesse: Jesus Cristo! É uma Canção de autoria de Padre Zezinho: “Um cer-
to Galileu”.

capítulo 1 • 16
CONEXÃO
Escute a canção. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gAz9VMIXE6Q>.
Passagens Bíblicas das situações destacadas na canção:
Mateus 4, 18: Andando à beira do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chama-
do Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois eram pescadores.
João 2,1: E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a
mãe de Jesus

Um certo Galileu

Um certo dia, a beira mar


Apareceu um jovem Galileu
Ninguém podia imaginar
Que alguém pudesse amar
do jeito que ele amava
Seu jeito simples de conversar
Tocava o coração de quem o escutava

E seu nome era Jesus de Nazaré


Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor

Naquelas praias, naquele mar


Naquele rio, em casa de Zaqueu
Naquela estrada, naquele sol
E o povo a escutar histórias tão bonitas
Seu jeito amigo de se expressar
Enchia o coração de paz tão infinita
Em plena rua, naquele chão
Naquele poço e em casa de Simão
Naquela relva, no entardecer

capítulo 1 • 17
O mundo viu nascer a paz de uma esperança
Seu jeito puro de perdoar
Fazia o coração voltar a ser criança
Um certo dia, ao tribunal
Alguém levou o jovem Galileu
Ninguém sabia qual foi o mal
E o crime que ele fez; quais foram seus pecados
Seu jeito honesto de denunciar
Mexeu na posição de alguns privilegiados

E mataram a Jesus de Nazaré


E no meio de ladrões puseram sua cruz
Mas o mundo ainda tem medo de Jesus
Que tinha tanto amor

Vitorioso! Ressuscitou!
Após três dias à vida Ele voltou
Ressuscitado, não morre mais
Está junto do Pai
Pois Ele é o Filho Eterno
Mas ele vive em cada lar
E onde se encontrar
Um coração fraterno
Proclamamos que Jesus de Nazaré
Glorioso e Triunfante,
Deus Conosco está!
Ele é o Cristo e a razão da nossa fé
E um dia voltará!

Após ouvir a canção e consultar as citações bíblicas, que fundamentam a mes-


ma ainda por ela, vamos continuar nossa jornada de estudo.
As palavras e as frases que foram destacadas continuarão sendo nosso foco.
São pontos importantes para compreendermos sobre a vida de Jesus Cristo, o
Galileu. Vamos buscar as referências da canção para continuar o estudo da História
do Cristianismo.

capítulo 1 • 18
Primeiro bloco de frases e de palavras destacadas

Um certo dia, à beira mar


Apareceu um jovem Galileu
E seu nome era Jesus de Nazaré
Naquelas praias, naquele mar, naquele rio, naquele poço.

CONTEXTUALIZANDO

•  A cidade de Nazaré se tornou famosa porque o anjo Gabriel anunciou o


nascimento de Jesus neste lugar (cf. Lc 1,27) à uma Virgem chamada Maria, pro-
metida em casamento a um jovem chamado José (cf. Mt 1,18). Em Nazaré a
Santíssima Virgem disse “sim” ao anúncio do Arcanjo. Foi onde também a Sagrada
Família composta por Jesus, Maria e José – viveu. Foi ali que Jesus Cristo viveu
toda a vida oculta até que desse início à vida pública.

Figura 1.4  –  Anunciação – Leonardo da Vinci. Disponível em: <http://www.dominiopublico.


gov.br/download/imagem/uf000001.jpeg>.

capítulo 1 • 19
O Papa Paulo VI fez uma Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de
1964 intitulada: As lições de Nazaré. Uma bela declaração de amor:

Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evan-


gelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão pro-
fundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do
Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se
descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os luga-
res, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se
serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.

CONEXÃO
Abra o link e continue lendo: <http://w2.vatican.va/content/paul-vi/es/speeches/1964/
documents/hf_p-vi_spe_19640105_nazareth.html>.

•  Jesus nasceu em Belém, cidadezinha a 100 quilômetros de Nazaré, também


conhecida como “Belem Efrata”.
©© KIKK | SHUTTERSTOCK.COM

capítulo 1 • 20
•  José era da família do Rei Davi, e por isso teve que ir para lá com Maria para
fazer o recadastramento do senso. (Belém hoje se localiza na Palestina).
•  Belém ficava em Judéia. Era um povoado e saíam de Belém para irem para
Jerusalém para as Festas. Nazaré era uma cidade da Galileia.

O relato do Nascimento pelo relato do Apostolo Lucas (Lc 2,1-7)


Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de
todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era
governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim,
José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, para Belém, cidade
de Davi, porque pertencia a casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com
Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam
lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em
panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Observe com atenção a cena do Nascimento de Jesus. Pela Arte, temos a pos-
sibilidade de entrar na cena.

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.5  –  The Adoration of the Magi - ANTONIO VIVARINI (Murano, 1440-1480) -
Gemäldegalerie, Berlin.

•  A viagem para Belém fazia parte do Plano de Deus, pois a Profecia de


700 anos AC já anunciava lá nasceria o Messias, conforme podemos conferir em

capítulo 1 • 21
Miqueias 5,2: "Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de
ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens
remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado".
•  Depois que o Rei Herodes morreu, José, Maria e Jesus voltaram para
Nazaré. Herodes era o Rei que mandou matar todos os meninos para tentar matar
o Menino Jesus. Confira o Relato do Apostolo Mateus sobre a Matança dos
Inocentes: (Mt 2, 16,18)

Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou
matar todos os meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de dois
anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos. Então se
cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que diz: Em Ramá se ouviu uma voz. La-
mentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, E não quer ser con-
solada, porque já não existem.

Observe com atenção a cena do “Massacre dos Inocentes”. A Arte nos ajuda
entrar na história, compreendê-la e senti-la.

Figura 1.6  –  Matteo di Giovanni - 1482 Massacre dos Inocentes.

capítulo 1 • 22
"O Massacre dos Inocentes”, um óleo sobre tela, datado de 1482 e pertencente à Gal-
leria Nazionale di Capodimonte, em Nápoles, é considerado a obra-prima de Matteo di
Giovanni di Bartolo, um pintor renascentista italiano também conhecido por Matteo di
Siena, por se ter radicado nessa cidade. Nascido em Borgo Sansepolcro, cerca de 1430,
foi viver para Siena quando a sua família para ali se mudou, e aí faleceu em 1495. Entre
as suas obras principais contam-se também um retábulo datado de 1477, para o Ora-
tório da Igreja de Nossa Senhora da Neve, em Siena e o retábulo de Santa Bárbara, de
1478/9, para a Igreja de San Domenico. Disponível em: <http://tulacampos.blogspot.
com.br/2012/12/massacre-dos-inocentes.html>. Acesso em: 05 nov. 2017.

•  Ao voltarem para Nazaré, Jesus cresceu e, anos mais tarde, cumpriu a Missão
para qual havia sido enviado por Deus: Ele é o Salvador do mundo!;
•  Em Nazaré, Jesus passou a Infância Durante o seu Ministério Jesus mora
também em Cafarnaum à beira do Mar, por isso, muitas vezes, encontramos cenas
no mar e sobre o Mar da Galileia;
•  Em Samaria havia o Poço onde Jesus encontrou a Samaritana, quando Jesus
saía da Judéia e ia para a Galileia e precisava passar por Samaria, que tinha con-
flitos com os outros povos de Israel. Havia mudança na forma de adorar a Deus
e evitava os demais povos. A Região da Galileia era uma região mais pobre. Mais
simples. Nazaré estava na Galileia, onde Jesus passou a infância;
•  Em Jerusalém estava o tempo de Salomão: Os Sacerdotes cuidavam do tem-
po. Conhecimento da Lei e da Religião Judaica.

Segundo bloco de palavras e frases destacada

Um certo dia, ao tribunal


Mexeu na posição de alguns privilegiados
E no meio de ladrões puseram sua cruz.
Vitorioso! Ressuscitou!
Ele é o Cristo e a razão da nossa fé
E um dia voltará!

CONTEXTUALIZANDO

capítulo 1 • 23
Lembra-se de Herodes, o Grande? Ele já foi apresentado neste estudo, não é
mesmo? Ele mandou matar três filhos e a esposa. Foi um dos reis mais violentos da
história do Cristianismo. Fez cair o sangue dos inocentes para tentar matar Jesus.
Tivemos a oportunidade de contemplar a obra da “Matança dos Inocentes”.
Herodes, o Grande, deixou muitas heranças do mal para o mundo e entre elas,
um de seus filhos, o também chamado Herodes. O filho continuou a tentativa de
colocar em prática o projeto do pai: perseguir e matar Jesus. Um no início, quando
Jesus era uma criança. O outro, quando Jesus estava em pleno desenvolvimento de
sua Missão como Filho de Deus, como o Messias.
Jesus é o Messias enviado por Deus! Essa verdade sempre desagradou ao poder
romano. Desde criança Jesus já compreendia a sua Missão e já ensinava nos tem-
plos admirando a todos os que ouviam. A fama de Jesus foi se espalhando e todos
queriam ver o “Jovem Pregador”
Jesus ensinava nas Sinagogas. Como assim? As Sinagogas não são templos dos
Judeus? Sim! Jesus era um judeu e assim como qualquer cidadão, por sua condição
100% humana, seguia as leis de seu povo e frequentava as sinagogas.
Ele foi apresentado ao nascer em uma Sinagoga. Confira o relato do Evangelista
Lucas sobre a apresentação de Jesus no Templo (Lc 2,22-35).

Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusa-


lém para apresentá-lo ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo
primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2); e para ofere-
cerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.
Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso,
esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Fora-lhe revelado pelo
Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. Impelido pelo
Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cum-
prirem a respeito dele os preceitos da lei, tomou-o em seus braços e louvou a Deus
nestes termos: Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra.
Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os po-
vos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel. Seu pai
e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. Simeão abençoou-os e
disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de que-
da e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará
contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma
espada transpassará a tua alma.

A apresentação do menino Jesus, no templo, evidencia as Promessas de Deus


que estavam se concretizando na história da humanidade. São Profecias que foram

capítulo 1 • 24
feitas pelos Profetas e entre eles. O Profeta Isaias, sete séculos antes da vinda do
Salvador, do Messias, já profetizava:
99 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e chamá-lo-ão pelo nome
de Emanuel. (Isaías 7,14)
99 O povo que andava em trevas viu uma grande luze sobre os que habitavam
nas regiões da sombra da morte resplandeceu a luz. (Isaías 9,2)
99 Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está so-
bre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso,
Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim
sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça
e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso.
(Isaías 9,6-7)

Jesus anuncia o reino de Deus

Conforme o menino crescia e compreendia cada vez mais sua missão, crescia
também a desconfiança e a insatisfação dos que não aceitavam o aceitavam.
Aos 12 anos, Jesus, mais uma vez protagoniza uma cena no Templo.
Acompanhe o relato do Apostolo Lucas, 4, 41-52:

De ano em ano, seus pais costumavam ir a Jerusalém para a Festividade da Páscoa. E,


quando ele tinha 12 anos de idade, subiram segundo o costume da festividade. Quan-
do a festividade terminou e eles começaram a viagem de volta, o menino Jesus ficou
em Jerusalém, mas seus pais não perceberam. Pensando que ele estivesse no grupo
que viajava junto, percorreram a distância de um dia e então começaram a procurá-lo
entre os parentes e conhecidos. Mas, visto que não o acharam, voltaram a Jerusalém
e o procuraram cuidadosamente. Pois bem, depois de três dias, eles o acharam no
templo, sentado no meio dos instrutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Mas
todos os que o escutavam ficavam admirados com o seu entendimento e suas respos-
tas. Assim, seus pais ficaram espantados quando o viram, e sua mãe lhe disse: “Filho,
por que você fez isso conosco? Olhe, seu pai e eu estávamos desesperados procu-
rando você.” Mas ele lhes disse: “Por que estavam procurando por mim? Não sabiam
que eu devia estar na casa do meu Pai?” No entanto, não compreenderam o que ele
estava lhes dizendo. Então ele desceu com eles e voltou a Nazaré, e continuou a estar
sujeito a eles. Também, sua mãe guardava cuidadosamente todas essas declarações
no coração. E Jesus progredia em sabedoria e em desenvolvimento físico, e no favor
de Deus e dos homens.

capítulo 1 • 25
Figura 1.7  –  Disponível em: <http://joseinacioh.blogspot.com.br/2015/12/evangelho-sao
-lucas-241-52-festa-da_20.html>. Acesso em: 06 nov. 2017.

Jesus é condenado, morto e ressuscitado e um dia voltará.

Na Canção “Um certo Galileu” diz que Jesus “mexeu na posição de alguns pri-
vilegiados”. Jesus não agradou ao poder romano. Ao começar sua vida pública, aos
30 anos, Jesus foi arrebanhando muitas pessoas. Era um pequeno grupo no começo,
mas logo, multidões seguiam Jesus para ouví-lo, para tocá-lo e também em busca de
milagres. Jesus falava de um Reino que não era desse mundo, mas um Reino que era
de Deus. Jesus mexeu sim com questões muito sérias: poder religioso e poder políti-
co. O Deus era o do Imperador! Não havia outro para os que dominavam. Além de
tudo, Jesus estava ganhando fama e levando consigo multidões que antes só admira-
vam o rei. Jesus “transgrediu costumes” e inaugurou um novo modo de convivência.

A sua transgressão do repouso sabático também chocou. Por várias vezes, Jesus cura
em dia de sábado; para se justificar, reivindica a necessidade imperiosa de salvar uma
vida (Mc 3,4). Quando Jesus comenta a Tora (a Lei), que é a coletânea das prescrições
divinas, o imperativo do amor ao outro desvaloriza todas as outras prescrições; até o
rito sacrificial no Templo de Jerusalém deve ser interrompido perante a exigência de
se reconciliar com o seu adversário (Mt 5,23-23). Em suma: tanto as curas como a
leitura da Tora participam num estado de urgência provocado pela iminência da vinda
de Deus. Jesus está convencido de que, dentro de pouco tempo, acontecerá a vinda
de Deus que, com o seu julgamento, suprimirá todas as causas de sofrimento e reunirá

capítulo 1 • 26
os seus à sua volta. Já nada importa senão chamar à conversão. Opções chocantes
de solidariedade social. Os Evangelhos e o Talmude judeu falam concordantemente da
tolerância chocante de Jesus quanto às suas atitudes e amizades. Tornou-se solidário
com todas as categorias. CORBIN, Alain (org.). (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 138)

Para os judeus, o Messias não seria um Deus de amor, mas deveria ter lideran-
ça política. Eles esperavam um restaurador que lutasse contra a opressão, mas seria
um líder terreno e não Divino. Os judeus esperavam um messias que reconquis-
tasse o esplendor de Israel. Não foi a revolução que queriam, pois Jesus pregava a
conversão, o amor, a paz e um novo tempo em Deus.
Muitos queriam segui-lo, mas nem sempre aceitavam as condições, assim como o
jovem rico que ficou encantado e desejo, mas não teve coragem de aceitar a proposta.

Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei de bom para ter
a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há
somente um que é bom. Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos”. “Quais?”,
perguntou ele. Jesus respondeu: “‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás
falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’[a] e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’[b”.
Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?” Jesus respondeu:
“Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá
um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”. Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste,
porque tinha muitas riquezas. (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 134-135)

Claramente a proposta de Jesus é espalhada. Todos já sabiam qual era o Reino


que Ele buscava e a serviço de quem Ele estava. Jesus ampliava, por um lado, a
admiração, mas por outro o ódio daqueles que mais tarde seriam seus algozes.

O apelo para seguir Jesus começa a quebrar as sociedades mais intocáveis: já não
há necessidade de despedir-se dos seus nem de cuidar das exéquias do seu pai (Lc
9,59-62). Este atentado aos escritos funerários e aos deveres familiares deve ter sido
considerado totalmente indecente, escandaloso. Outro sinal de urgência: a necessi-
dade de anunciar o Reino de Deus é tão imperiosa que os seus discípulos recebem
a ordem de ir dar testemunho sem levar alforge nem sandálias nem saudar ninguém
pelo caminho (Lc 10,4). CORBIN, Alain (org.). (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 136)

Não somente para os judeus, mas também para os romanos, Jesus causava es-
panto. Logo perceberam que Jesus estava mexendo com o cotidiano de todos, pois

capítulo 1 • 27
não tinha medo de defender os que sofriam por causa dos poderosos. Neste sen-
tido, toda elite econômica e religiosa estava buscando caminhos para calar Jesus.
E foi nestes fatos que eles conseguiram levar Jesus a julgamento. Jesus foi colo-
cado como inimigo dos judeus e também um grande inimigo do império romano.
Jesus mexeu na posição de alguns privilegiados, não é isso que diz a canção? Jesus
ensinava, curava, amava, corrigia e anunciava o Reino:

Ao contrário dos rabinos (doutores da Lei) da época, Ele ensina com uma linguagem
simples; as suas parábolas retomando quadro familiar dos seus ouvintes (o campo, o
lago, as vinhas) para falar surpreendentemente de um Deus próximo e acolhedor. Sim-
plifica a obediência à Lei, centrando-a, como outros rabinos antes dele, no amor aos
outros. Os seus numerosos atos de cura revelam que Ele era um curador talentoso e
apreciado. Com o seu grupo de aderentes, leva uma vida itinerante; vão-se aumentan-
do e alojando nas aldeias onde param. Além de um círculo próximo de doze galileus,
há outros homens e mulheres que o acompanham e partilham o seu ensino diário.
CORBIN, (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 137)

Jesus ensinava com paciência, amor e com o método da parábola para que seus en-
sinamentos pudessem ser aprendidos de forma significativa. No entanto, em algumas
situações, Jesus percebia que precisava apresentar sua autoridade diante das coisas que
passavam dos limites. Um dos comportamentos que Jesus corrigia, se relacionava ao
uso do Templo. O mesmo não podia ser profanado pelo pecado do homem. Por isso
mesmo, certa vez, Jesus expulsou os vendilhões com um chicote. Não é a imagem de
um Jesus rude que esta citação nos apresenta, mas a imagem de um Jesus que se man-
tem fiel à sua Missão e para isso age energicamente com os que insistiam em profanar a
Casa de seu Pai. Jesus estava cada vez mais próximo de sua condenação e morte. Como
já citado, buscaram argumentos para levá-lo ao julgamento.
Acompanhe o relato de Jesus expulsando os vendilhões do Templo: Jo 2,13-25

Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo
os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. Fez
ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os
bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. Disse aos
que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de
negociantes. Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua
casa me consome (Sl 68,10). Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu,
para procederes deste modo? Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o
reerguerei em três dias. Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado
este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?! Mas ele falava do templo do seu corpo.

capítulo 1 • 28
Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e
creram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus celebrava, em Jerusalém, a
festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia. Mas Jesus
mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos. Ele não necessitava que alguém
desse testemunho de nenhum homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.8  –  Jesus expulsa os vendilhões do Templo, de Giotto (sec. XIV), Capela Scrovegni.

Já estava claro, Jesus veio para uma Missão diferente e ameaçava o que já es-
tava constituído. Ele precisava ser parado. Ele estava incomodando, ameaçando e
perturbando a ordem pública.

A subida a Jerusalém irá causar a sua morte. Comete no Templo um gesto profético que
atrai a hostilidade da elite política de Israel: derruba as bancas dos vendedores de animais de
sacrifício, talvez para protestar contra a multiplicação dos ritos que se interpõem entre Deus
e o seu povo. Então, por instigação do partido saduceu, decide-se denunciar Jesus ao pre-
feito Pôncio Pilatos por causa da agitação popular. Pressentindo que a hostilidade iria apa-
nhá-lo, Jesus despedira-se dos seus amigos durante uma última refeição (a Ceia), em que
instaurou um rito de comunhão no seu corpo e no seu sangue: o pão partido e a taça de que
todos bebem simbolizavam a sua morte futura e relembrariam a sua memória. Depois da sua
detenção, facilitada por um discípulo, Judas, Jesus foi levado perante o prefeito, condenado
à morte e entregue aos legionários que o pregaram numa cruz. A sua agonia durou apenas
algumas horas, facto que espantou Pilatos; o homem de Nazaré devia ter uma constituição
fraca. (CORBIN, Alain (org.). 2009, p. 134-135)

capítulo 1 • 29
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E a história não acaba aqui. Ele Ressuscitou! A vida venceu a morte e as pro-
messas de Deus se cumpriram. Jesus vive. "Ele não está aqui, mas ressuscitou"
(Lucas 24, 6) Ele havia dito: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em
mim, ainda que morra, viverá”. (João 11,25). Os Apóstolos também falaram:
Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós
somos testemunhas disso. (A.T 3, 15)

Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão
depressa e digam aos discípulos dele: Ele ressuscitou dentre os mortos e está
indo adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês o verão. Notem que eu já os
avisei.( Mateus 28,6-7).

E ele prometeu que também nós Ressuscitaremos:

Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os
que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem
ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem
condenados. (João 5,28-29)

capítulo 1 • 30
Jesus Ressuscitado no 3º dia

Figura 1.9  –  Disponível em: <http://hdwallpaper.info/wallpaper-jesus>.

ATIVIDADES
01. O povo de Jesus era dividido em vários grupos (saduceus, fariseus, essênios e zelotes).
Alguns destes grupos acreditavam na vinda de um Messias. No entanto esperavam um Mes-
sias bem diferente de Jesus que dizia ser o “Filho de Deus”. Quais características de Jesus
definem essa diferença?

02. Alguns ensinamentos de Jesus não agradaram ao poder político e ao poder religioso.
Jesus foi condenado por mexer na posição dos mesmos. Explique o motivo ou os motivos da
condenação de Jesus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Sagrada Online: https://www.bibliacatolica.com.br/
CORBIN, Alain (org.). História do Cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. Trad.:
Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

capítulo 1 • 31
GALBIATTI. Henrique. O Evangelho de Jesus. (Sup.) Subsídios didáticos sobre os cuidados dos
voluntários da associação PMMS. Caxias do Sul, RS: Edições Paulinas 1971.
JOSEFO. Flávio. Uma Testemunha do Tempo dos Apóstolos. Documentos do Mundo da Bíblia. São
Paulo. Paulus.1986.
Paulo VI. Papa. As lições de Nazaré. A locução pronunciada em Nazaré: 5 de janeiro de 1964.

capítulo 1 • 32
2
De Pentecoste a
Constantino
De Pentecoste a Constantino
Vamos para mais um passo na jornada de estudo sobre a História do
Cristianismo? Não se esqueça de que o principal e essencial personagem dessa
história é Jesus Cristo!
Neste capítulo, vamos fazer uma longa viagem no tempo. Vamos relembrar
a História do Cristianismo de Pentecoste a Constantino, especificamente dos sé-
culos de 1 a 3. Estamos nos referindo à Igreja Primitiva. O início da Igreja, o
Testemunho dos Atos dos Apóstolos, a expansão da Igreja, ao Didaquê (Primeiro
Catecismo), aos Padres da Igreja ou Pais da Igreja: Os Apostólicos (Aqueles que
viveram com os Apóstolos) e os Apologistas (aqueles que produziram literatura
cristã). Vamos estudar a perseguição aos Cristãos, tornando-se implacável com o
incêndio de Roma. O martírio foi o preço para quem não negou Jesus. São muitos
acontecimentos, fatos e situações que constituem a história do Cristianismo nestes
séculos, por isso é muito importante que você pesquise e aprofunde. Vá em frente!

OBJETIVOS
•  Conhecer a História do Cristianismo no tempo de Pentecoste a Constantino, especifica-
mente dos séculos de 1 a 3 percebendo o sofrimento, mas também a resistência dos que
decidiram seguir Jesus;
•  Compreender que os três primeiros séculos fazem parte da Igreja Primitiva e se situa na
Idade Antiga.

De Pentecoste a Constantino

Iniciando os estudos neste capítulo, vamos partir dos dois pontos do título:
Pentecoste e Constantino. Pentecoste, por ser o início do Cristianismo e da Igreja.
Constantino por ter sido o imperador romano que concedeu a liberdade de cul-
to aos cristãos e também aos adeptos de quaisquer outras crenças pelo Édito de
Milão. Ele tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano. Vamos
aprofundar sobre ele no capítulo 3 e neste capítulo já iremos ter algumas pistas de
quem foi este imperador.

capítulo 2 • 34
Pentecoste

“Pentecostes”: palavra grega (pentekosté) que significa “quinquagésimo”.


Para os Cristãos, é a memória do dia em que os Discípulos estavam reunidos
no cenáculo e também estava Maria, a Mãe de Jesus, quando receberam o Espírito
Santo pela primeira vez. Jesus já havia subido aos céus, a Ascensão. Em Pentecoste
Jesus apresenta sua Glória e plenifica a Páscoa. Ele venceu a Morte! Está Vivo!

Entendendo os significados de Pentecoste

No antigo testamento:

•  Quinquagésimo dia após a Páscoa judaica cada família oferecia os seus dons
derivados da colheita.
Conferir em: Ex 19, 1-16:

Três vezes por ano celebrarás uma festa em minha honra. Observarás a festa dos Ázi-
mos: durante sete dias, no mês das espigas, como o fixei, comerás pães sem fermento
(foi nesse mês que saíste do Egito). Não se apresentará ninguém diante de mim com
as mãos vazias. Depois haverá a festa da Ceifa, das primícias do teu trabalho, do que
semeaste nos campos; e a festa da Colheita, no fim do ano, quando recolheres nos
campos os frutos do teu trabalho. (Êxodo 23, 14-16)
©© WIKIMEDIA.ORG

capítulo 2 • 35
•  Dia em que os judeus comemoravam com uma grande festa a entrega das
tábuas da Lei a Moisés sobre o monte Sinai. Jerusalém ficava repleta de estrangei-
ros, judeus vindos de todas as partes do mundo. A “Diáspora”: deslocamento do
povo, de todos os lados, tendo Jerusalém como destino, para celebrar a festa.
Conferir em Êxodo 19,16-18

Na manhã do terceiro dia, houve um estrondo de trovões e de relâmpagos; uma es-


pessa nuvem cobria a montanha e o som da trombeta soou com força. Toda a multidão
que estava no acampamento tremia. Moisés levou o povo para fora do acampamento
ao encontro de Deus, e pararam ao pé do monte. Todo o monte Sinai fumegava, porque
o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas; o fumo que subia do monte era
como a fumaça de uma fornalha, e toda a montanha tremia com violência.
©© WIKIMEDIA.ORG

No novo testamento

•  Quinquagésimo dia após a Ressurreição de Cristo. Jesus havia prometido


aos Discípulos que enviaria o Espírito Santo. Eles estavam temerosos, pois com a
subida de Jesus aos Céus (Ascensão) havia a insegurança, pois seriam perseguidos,
mas precisavam manter o testemunho sobre o que viram, ouviram e experimenta-
ram estando ao lado de Jesus.

capítulo 2 • 36
Depois da Ascensão, os discípulos não tinham mais a presença física do Mestre.
Por isso Jesus prometeu “outro Consolador”: “Se eu não for, o Consolador não
virá a vós; mas, quando eu for, vo-Lo enviarei” (João 16.7)
Conferir Atos dos Apóstolos 2,1-3:

Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente,


veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa
onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e
começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
©© BIBLIOTHÈQUE - LES CHAMPS LIBRES - RENNES | EVERYSTOCKPHOTO.COM

ATENÇÃO
O Novo Pentecostes marca o nascimento da Igreja e definitivamente do Cristianismo. Por
todas as nações e em todas as Línguas, pela ação do Espírito Santo, o nome de Jesus deve
ser proclamado para sempre. Todos os povos e nações devem saber que Jesus é o Salvador,
o Messias enviado que morreu e ressuscitou. Afirma o Apostolo Paulo: “Pois todos nós fomos
batizados em um Espírito, formando um corpo” ( 1Co. 12.13).

capítulo 2 • 37
Veja no Mapa Conceitual os pontos, que marcam a história do Cristianismo a
partir de Pentecoste pela ação dos Apóstolos Pedro e Paulo:
Inicia a Evangelização Pedro anuncia Jesus aos pagãos
Pedro toma a palavra Pedro age em nome de Jesus é
dos pagãos(Anos 10). Dá batiza Cornélio e todos os presentes.
em Pentecostes testemunha de Jesus
passos em direção a Eles. E.S. desce sobre eles. 2° Pentecostes

Igreja nascente: centrada na ação Teofania de Pentecostes Escolha dos 7 Diáconos e


Testemunho Igreja centrada em Pedro
de Jesus, no que Ele fez até partir entre judeus e pagãos martírio de Estevão que dá
desse mundo. testemunho supremo de Fé

Sete representantes do
História do Cristianismo
Teologia de Atos dos Apóstolos povo pagão indica para
Atos dos Apóstulos
onde vai a Igreja.

Anuncio Catequese
Concilio ou Assembleia de Fatos e atividades de Paulo
Jerusalém sua ação missionária.
Anuncio: tradução do Proposta de um
Kerigma. Valoriza a Pessoa caminho acontece de
que se anuncia Boa nova maneira narrativa Conversão de Saulo/Paulo
determina caminho em direção
Controvérsia a respeito Problemas de aos pagãos. Declara fiél a Cristo
da circuncisão convivência entre
judeus de origem
NT, é o novo jeito de ser, Pedro e Cornélio pagã e judaica
agir, pensar. Atos 10, 1-33
Através dele Deus ampliou os
Igualdade nos horizontes da Salvação, fazendo
chamados aliança com a humanidade não
Em uma sociedade de morte. Completa e apenas com o judaísmo
Anuncio do Ressuscitado é preenche o anuncio
possibilidade de vida,
caminho de esperança de Decisão importante os Apóstolos
Salvação deixam de ouvir e segura
Ação apostólica de TORAH e fazem as próprias 03 Viagens missionárias para difundir o
Paulo. Atos 16, 11-13 decisões “DIDAQUÊ” Evangelho entre os pagãos que o
Evangelho se desenvolve

Estar no caminho é se 4ª Viagem vai a Roma centro do mundo, pode testemunhar vida nova em Cristo. Testemunho em
identificar com o Senhor Roma. Sereis minhas testemunhas, em toda Judeia, Samaria e até os Confins do mundo (AT 1,8)

Figura 2.1  –  Mapa Conceitual construído pelo Profa Osana Nazaré Venancio.

Constantino

Para início de conversa é preciso saber que Constantino foi um Imperador


Romano, proclamado Augusto pelas suas Tropas em 306. Ele é também conheci-
do como Constantino Magno ou Constantino, o Grande.

CURIOSIDADE
Augusto significa (Augustus, plural: augusti, Latim para "majestoso", "o exaltado", ou
"venerável").

capítulo 2 • 38
Foi um Imperador que venceu muitas batalhas e entre elas Magêncio e Licínio
durante as guerras civis. Lutou contra os francos e alamanos, os visigodos e os
sármatas. Construiu a Nova Roma, uma nova residência imperial em lugar de
Bizâncio que ficou conhecida como Constantinopla, que se tornou a capital do
Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Por isso que ele é considerado
como um dos fundadores do Império Romano do Oriente. Estamos apenas come-
çando a conhecê-lo, mas no 3º Capítulo poderemos conhecer melhor suas ações.
Antes de voltar ao começo, ainda sobre Constantino, não nos prenderemos às
questões que envolvem os muitos questionamentos sobre sua conversão e sobre os
interesses que o levaram a proteger o Cristianismo, mas situaremos o Cristianismo
a partir do governo do mesmo:

Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino, o fato é que ele educou seus
filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença
institucional no Estado romano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, a
episcopalis audientia, podia ser escolhida pelas partes de um processo como tribunal
arbitral em lugar do tribunal da cidade[25]). E quanto às suas profissões de fé pública,
num édito do início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os
pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma
velha superstição". (Código Teodosiano, 2003, pg. 74)

Figura 2.2  –  Constantino e sua mãe, Helena (Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0).

capítulo 2 • 39
Neste capítulo, teremos a oportunidade de situar o Cristianismo, como elu-
cida o título: de Pentecoste até o Constantino, por isso, a partir daqui, voltare-
mos ao começo da história, em Pentecoste e viajaremos pelos fatos até chegar
Constantino, quando encerramos o 2º capítulo e passaremos para o 3º capítulo:
De Constantino a Reforma.
No capítulo I você teve a oportunidade de estudar sobre aquele que é a essên-
cia do Cristianismo. Teve a oportunidade de conhecer ou revisar fatos da vida de
Jesus Cristo: nascimento, vida pública, morte e Ressurreição pela dimensão da fé.
Esse estudo foi importante para que, nos próximos capítulos, você possa situar o
Cristianismo, que é o seguimento a Jesus Cristo, nas dimensões históricas, sociais,
políticas e também de fé. O Cristianismo está marcado pelas perseguições, mas
resiste ao longo dos séculos como uma das principais religiões da humanidade.
Dedique-se à construção de seu conhecimento e olhe para a História como
um processo humano e divino, pois a história do Cristianismo é feita por homens,
mas que creram na ação de Deus sobre os fatos, por isso que estudar Teologia en-
volve essencialmente a dimensão de fé.

CONEXÃO
Visite o Portal do Cristianismo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Portal:Cristianismo>.

A divisão da história do Cristianismo

Para que você se localize na história do Cristianismo, é muito importante que


conheça a divisão dos períodos da história situando-se nos mesmos: A divisão do
tempo recebe o nome e periodização clássica e divide a História em cinco grandes
períodos. Vamos nos dedicar aos quatro após a Pré-História.

ATENÇÃO
Não se esqueçam de que o nosso foco é o Cristianismo em cada período da História.
Neste capítulo estamos situados na Idade Antiga.

capítulo 2 • 40
HISTÓRIA

Pré-História Idade Idade


Idade An�ga Idade Média
Moderna Contemporânea

Teve início com o


aparecimento do
homem há cerca de Contagem dos séculos:
Nascimento de
4 milhões de anos. Jesus Cristo
Esse longo período • Se o ano não termina com dois zeros,
a.C /d.C
costuma ser dividido �ramos os dois úl�mos algarismos e
em Paleolí�co, somamos 1 ao número que restou:
Neolí�co e Idade dos 1808/18 + 1: séc. XIX
Metais. 1654/16 + 1: séc.XVII

• Se o ano termina com dois zeros,


Para os historiadores, a invenção �ramos o zero e encontramos o século:
da escrita, por volta de 4.000 1700 – séc. XVII
a.C, marca a passagem da Pré- 2000 – séc. XX
História para a História.

Idade Antiga

Jesus Cristo, no ano 1 d.C. até o ano de 476 d.C.

Roma foi invadida pelos povos germânicos e eslavos que ficou conhecido pelos
romanos como os “bárbaros”. Caracteriza-se pelo nascimento e expansão inicial
do Cristianismo. Houve muitas crises provocadas pelas rupturas com o Judaísmo
e muitas perseguições dos Romanos aos Cristãos. A sociedade, neste tempo, estava
marcada pela existência de grandes impérios e pelo escravismo.

capítulo 2 • 41
Idade Média

Abrange um longo (quase dez séculos). Vai do século V ao século XV. Teve iní-
cio com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e o fim, pela tomada
de Constantinopla pelos turcos, em 1453, culminando com o declínio do poder
temporal dos papas até o início da reforma protestante, em 1517.
Foi um Período de crescimento e expansão do Cristianismo, que ficou conhe-
cido como “Cristandade”. O Cristianismo torna-se uma grande força no mundo
ocidental, sendo assim, toda a vida social girava em torno da vida cristã.
Os historiadores dividem a Idade Média em duas partes: Alta Idade Média,
meados do século V até o fim do século X e do século XI e a Baixa Idade Média
(meados do século XV).

Idade Moderna

Período compreendido entre os séculos XV e XVIII. Foram os europeus desse


tempo que se autodenominaram modernos. Um período que começou com a to-
mada da cidade de Constantinopla pelos Turcos-Otomanos, em 1453, e encerrou-
se com a queda da Bastilha e a Revolução Francesa, em 1789. Também é o Período
da crise eclesial no renascimento, da Reforma Protestante Luterana e formação de
novas igrejas: Luterana, Calvinista e Anglicana. Também foi um período de trans-
formações paradigmáticas, a invenção da imprensa, o desenvolvimento marítimo
e pelo modo de produção capitalista.

ATENÇÃO
Apesar de ficar conhecido como Idade Moderna, este período não se refere aos dias
atuais, mas ao que era novo após a Idade Média.

CONEXÃO
Verifique os principais fatos da Idade Moderna. Disponível em: <https://www.suapesquisa.
com/historia/idade_moderna.htm>.

capítulo 2 • 42
Idade Contemporânea

Teve início em 1789 e continua até nossos dias. Período marcado por trans-
formações profundas na sociedade e também por conflitos mundiais. A adoção da
Revolução Francesa como ponto inicial desse período da história remete ao im-
pacto de seus efeitos em diversos locais do mundo. Tempo de novas perseguições
aos Cristãos, inclusive com genocídios. A rejeição ao religioso toma força a partir
do século XVIII.
O Cristianismo tornou-se a Religião mais perseguida. Pesquisas apontam que
no tempo presente “a cada cinco minutos morre um Cristão no Oriente Médio”.
Gabriel Nadaf (2016) afirma:

O que acontece no Oriente é um genocídio e está acontecendo hoje, agora (...). A cada
cinco minutos um cristão morre no Oriente Médio e os líderes mundiais sabem. Levo
anos gritando isso enquanto o mundo se cala (...) o Oriente Médio está esvaziando-se
de cristãos e foi lá onde a sua fé nasceu. (NADAF. Gabriel 2016. P 34)

As Religiões tentam encontrar caminhos para sobreviverem no mundo pós-mo-


derno. A Igreja Católica Apostólica Romana a partir do Concílio Vaticano II, pelas
tentativas bem-sucedidas de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, amplia sua ação
evangelizadora. As Igrejas Protestantes também se lançam no novo tempo de diálogo e
de ecumenismo. Dessa forma, há mais pontos que unem do que pontos que separam.
Agora, que recordamos a periodização da História, vamos situar o Cristianismo
ao longo da mesma utilizando a estruturação de BIHLMEYERTUECHLE (1964):

capítulo 2 • 43
a) Idade Antiga
1º período (1-313): marcado pela atuação da Igreja no Império Romano pagão (per-
seguições dos mártires).
2º período (313-692): marcado pela atuação da Igreja no Império Romano cristão
(oficialização do Cristianismo e dos grandes concílios).
b) Idade Média
1º período (692-1073): marcado pela atuação da Igreja na formação da Europa (cris-
tandade medieval).
2º período (1073-1303): em que se deu o apogeu do poder temporal dos papas (auge
da cristandade).
c) Idade Moderna
3º período (1303-1517): marcado pelo clamor pela reforma (crise eclesial pré-luterana).
4º período (1517-1648): marcado pelas Reformas Protestante e Católica (renovação
e fechamento tridentino).
d) Idade Contemporânea
5º período (1648-1789): estendeu-se até a Revolução Francesa (silêncio eclesial e
críticas modernistas).
6º período (período após 1789): marcado pelas revoluções sociais (intransigência católica,
diálogo com modernidade e abertura pós-vaticana) (BIHLMEYERTUECHLE, p.16-17)

Fundação do Cristianismo

O Cristianismo tem como berço a Palestina e foi fundado por Jesus Cristo e
teve continuidade com seus discípulos, com destaque inicial para Pedro, Paulo e
os apóstolos.
©© WIKIMEDIA.ORG

capítulo 2 • 44
Quando o Cristianismo foi fundado, os romanos tinham muito poder e domi-
nava a política e tinha grande exército de batalhas. Os Romanos viviam o apogeu.
Como estudado no primeiro capítulo, a Palestina pertencia ao Império
Romano. Depois da tomada de Jerusalém (Pompeu no ano 63 a.C.) não existiu
mais um Estado judaico independente. Depois da morte do idumeu Herodes
(37–4 a.C.), Augusto deixou o seu território aos filhos. A Palestina era uma região
desprezada, assim como também o seu povo Judeu. O imperador possuía poder
ilimitado; o governo era moderado, e as províncias tinham autonomia.

Fazendo memória
Volte ao capítulo I e relembre quem foram os Herodes que marcaram a História do Cris-
tianismo. Eles foram os grandes perseguidores de Jesus.

Foi no Império Romano que os primeiros cristãos viveram e deram continui-


dade à obra de Jesus Cristo e fundaram a Igreja e promoveram as comunidades
cristãs por todos os lados.
Esse período classifica-se como Cristianismo primitivo (séculos I, II, III e par-
te do IV). Vai da Ressurreição de Jesus e depois com Pentecostes, até a abertura do
Concílio de Niceia. De 30 d.C. 325, que veremos no capítulo 3, mas você pode
começar a pesquisa.

A separação do Cristianismo e do Judaísmo

O Cristianismo Surgiu como seita judaica surgida no século 1º, mas pouco a
pouco houve a ruptura com o Judaísmo. Foi pelo Concílio de Jerusalém, ano 52,
que o Cristianismo se desvincula do Judaísmo de vez. Surge definitivamente uma
nova religião.
Nos primeiros séculos, os romanos perseguiram o Cristianismo ocasionando a
morte de milhares de mártires e dificuldades para a expansão cristã.
Inicialmente, os cristãos foram vistos como "judeus fervorosos", mas, com
o passar do tempo, a pregação cristã, que enfatizava Jesus Cristo, como filho de
Deus, fez com que os judeus os proibissem de pregar. Tal medida não foi suficiente
e os cristãos foram expulsos das sinagogas judaicas. Os cristãos, diferentemente
dos judeus, passaram a adotar os livros do Novo Testamento, escrito após advento
de Jesus Cristo por seus apóstolos e que relata a Sua vida e dos primeiros aconte-
cimentos da comunidade cristã nascente.

capítulo 2 • 45
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.3  –  Jesus ensinando na Sinagoga.

A aproximação entre a Igreja e o Estado. A aproximação entre os cristãos e o


Estado, o Império Romano, se deu por que o Cristianismo se propagou muito.
Assim, perseguir os cristãos acabou por ser prejudicial ao próprio império, que
vivia uma crise religiosa e social e encontrou no Cristianismo apoio e respostas.

O cristianismo começou a se espalhar a partir de Jerusalém, e depois em todo o Orien-


te Médio, acabando por se tornar a religião oficial da Armênia em 301, da Etiópia em
325, da Geórgia em 337, e depois a Igreja estatal do Império Romano em 380. Tor-
nando-se comum em toda a Europa na Idade Média, ela se expandiu em todo o mundo
durante a Era dos Descobrimentos. (BOGAZ, Antonio Sagrado. 2014. P. 22)

As primeiras comunidades cristãs

Os Cristãos são perseguidos e sendo expulsos das Sinagogas passam a se es-


conder nas catacumbas para viverem o testemunho da Fé Cristã. Esta era a Igreja
de Jesus Cristo. Ela é ao mesmo tempo Divina e Humana, pois é um fato histó-
rico, mas um fato revelado. A Igreja, traduzida pelo Cristianismo é fato divino e
humano.

capítulo 2 • 46
©© I, SAILKO | WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.4  –  As catacumbas.

Pedro e Paulo e os outros apóstolos

Os Atos dos Apóstolos: expansão e perseguição ao Cristianismo

Pedro foi a grande coluna da fundação do Cristianismo. Por isso é conhecido


como uma das colunas da Igreja. O Testemunho dos Atos dos Apóstolos e a ex-
pansão da Igreja, Os primeiros cristãos, ou eram judeus ou eram gentios converti-
dos ao judaísmo, conhecidos pelos historiadores como judeus-cristão.
O Cristianismo se espalha e a Igreja é fundada, a princípio, pela liderança de
Pedro. Após, é possível verificar no livro dos Atos dos Apóstolos a formação de
uma comissão.

Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos
contra os hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição
diária. 2.Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram: Não é
razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar. 3.Portanto, irmãos,
escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de
sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. 4.Nós atenderemos sem cessar à
oração e ao ministério da palavra. 5.Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram
Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pár-
menas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6.Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes,
orando, impuseram-lhes as mãos. (Atos dos Apóstolos 6,1-6)

capítulo 2 • 47
Dessa forma, o Cristianismo se consolidou e se expandiu e foi perseguido.
Da comissão dos eleitos, Estevão se tornou o primeiro Mártir, pois pregava o
Evangelho de forma explícita, clara e segura. Fato que causava espanto, medo,
rancor e ódio. Estevão se tornou o líder dos sete diáconos eleitos. Ele não temia
e atacava a prática religiosa dos judeus que não se converteram. Estevão externou
que já não era possível nenhuma identificação do Cristianismo com o Judaísmo.
Definida a separação. Evidente que isso não agrada as autoridades religiosas.
Estevão não se intimidava e era incisivo em sua pregação. Por isso foi perseguido.
No livro dos Atos dos apóstolos podemos conferir:

7.Divulgou-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se consideravelmente o


número dos discípulos em Jerusalém. Também grande número de sacerdotes aderia
à fé. 8.Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o
povo. 9.Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos cirenenses, dos alexandri-
nos e dos que eram da Cilícia e da Ásia, levantaram-se para disputar com ele. 10.Não
podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava. 11.Então subornaram
alguns indivíduos para que dissessem que o tinham ouvido proferir palavras de blasfê-
mia contra Moisés e contra Deus. 12.Amotinaram assim o povo, os anciãos e os escri-
bas e, investindo contra ele, agarraram-no e o levaram ao Grande Conselho. 13.Apre-
sentaram falsas testemunhas que diziam: Esse homem não cessa de proferir palavras
contra o lugar santo e contra a lei. 14.Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré há de
destruir este lugar e há de mudar as tradições que Moisés nos legou. 15.Fixando nele
os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de
um anjo. (Atos dos Apóstolos 6,7-15)

Estevão não se calava. Sua pregação, cada vez mais, incomodava os poderosos.
Estevão era conhecedor das Escrituras e tinha profunda segurança ao denunciar o
pecado contra elas. Em Atos dos Apóstolos, no capítulo 7, 1-60- Pegue sua Bíblia
e leia – podemos acompanhar a pregação de Estevão e seus ensinamentos que
tanto incomodaram e o levaram ao martírio. Estevão foi apedrejado até a morte:
Confira:
51Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis
ao Espírito Santo. Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também!
52.A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a
vinda do Justo, do qual vós agora tendes sido traidores e homicidas. 53.Vós que rece-
bestes a lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes... 54. Ao ouvir tais palavras,
esbravejaram de raiva e rangiam os dentes contra ele. 55.Mas, cheio do Espírito Santo,
Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus:

capítulo 2 • 48
56. Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de
Deus. 57.Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos se
atiraram furiosos contra ele. 58.Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá
-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos pés de um moço chamado Saulo.
59.E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
60.Posto de joelhos, exclamou em alta voz: Senhor, não lhes leves em conta este pe-
cado... A estas palavras, expirou. (Atos dos Apóstolos 7, 51-60)
©© MANUEL ANASTÁCIO | WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.5  –  Estevão em serviço.

O Incêndio de Roma

A Perseguição aos Cristãos aumentava dia após dia e se tornou implacável.


Os Cristãos passaram a conhecer o medo, a dor, a tortura e o martírio. Foram
acusados do Incêndio em Roma em 64 d.C.. Muitas versões são levantadas pelos
pesquisadores, inclusive que podia ter sido o próprio Imperador. Em outras ver-
sões são os moradores os acusados. O fogo se alastrou rápido, pois as casas eram
de madeira. Dois terços da cidade foram destruídos, além de templos e outras
construções oficiais.
Conta a história que Nero, tocava violino enquanto apreciava o fogo destruir
a cidade. Também há versões históricas de que Nero não estaria em Roma e vol-
tou por causa do incêndio, mas foi indicado como incendiário por ser aproveitar,

capítulo 2 • 49
posteriormente, para comprar propriedades oferecendo baixo valor aos que já es-
tavam sofrendo com as perdas. Nero queria construir um palácio. Os Cristãos pa-
garam caro e com o próprio sangue a ira do poder romano. Dessa forma inicia-se
a sangrenta fase do Cristianismo.

A lenda diz que o imperador romano Nero "dedilhava" um instrumento musical, enquanto
Roma era destruída pelas chamas. Muitos de seus contemporâneos achavam que Nero
fora o responsável pelo incêndio. Quando a cidade foi reconstruída, mediante o uso de
altas somas do dinheiro público, Nero se apoderou de grande uma extensão de terra e
construiu ali os Palácios Dourados. O incêndio pode ter sido a maneira rápida de renovar
a paisagem urbana. Objetivando desviar a culpa que recaíra sobre si, o imperador criou
um conveniente bode expiatório: os cristãos. Eles tinham dado início ao incêndio, acusou
o imperador. Como resultado, Nero jurou perseguir e matar os cristãos. A primeira onda
da perseguição romana se estendeu de um período pouco posterior ao incêndio de
Roma até a morte de Nero, em 68 d.C. Sua enorme sede por sangue o levou a crucificar
e queimar vários cristãos cujos corpos foram colocados ao longo das estradas romanas,
iluminados, pois eram usados como tochas. Outros vestidos com peles de animais, eram
destroçados por cães nas arenas. De acordo com a tradição, tanto Pedro quanto Paulo
foram martirizados na perseguição de Nero: Paulo foi decapitado, e Pedro foi crucificado
de cabeça para baixo. (CURTIS, A. 2003. P.11)
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.6  –  Incêndio de Roma, 18 de julho de 64 d.C. óleo de Hubert Robert, no Museu de
Arte Moderna André Malraux, em Le Havre.

capítulo 2 • 50
O Incêndio do Templo de Jerusalém

Em 70 d.C, as Tropas do General Tito, invadiram a cidade de Jerusalém e


incendeiam o templo. Os Judeus, que antes eram protegidos pelo império, são
também perseguidos, maltratados e vendidos como escravos. Os Judeus queriam
independência a qualquer custo e lidera um massacre contra os romanos, mas
Vespasiano nomeou seu filho, Tito, para conduzir a guerra contra os judeus. Tudo
se concentrava em Jerusalém. O cerco estava fechado e a fome e a miséria toma-
vam conta. As doenças aniquilavam as pessoas. Os romanos desenvolviam má-
quinas para arremessar pedras contra as cidades. Os romanos foram avançando
e romperam os três muros de proteção do templo. Os Judeus foram se refugiar
dentro do Templo, mas os soldados provocaram um grande incêndio pondo fim
ao Templo de Jerusalém e aos judeus.
Os Cristãos não quiseram enfrentar a batalha. Não escolheram lado e fugiram
de Jerusalém. Tendo sido destruído o Templo de Jerusalém, também os Cristãos
ficariam vulneráveis, pois o império não mais podia defender o judaísmo. Fato que
permitia os Cristãos se esconder da perseguição dos romanos.

O Templo, construído por Salomão em 970 a. C. e reconstruído por Herodes em 19 a.


C., era o símbolo e o centro do poder religioso e político dos judeus. Somente o muro
ocidental de sustentação da esplanada do Templo permaneceria em pé. Seria cha-
mado mais tarde de “O Muro das Lamentações”. A destruição do Templo constitui de
resto um elemento determinante para a religião cristã, que se separa então, cada vez
mais, de suas origens judaicas. (CURTIS, A. 2003. P.15)

Os Apóstolos Pedro, Tiago, João foram os líderes da Primeira Comunidade


Cristã de Jerusalém:

E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça
que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé,
para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão. (Carta aos Gálatas 2, 9)

capítulo 2 • 51
CURIOSIDADE
Saiba como morreram os Apóstolos. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=cO0cfKyzDOE>.
Somente o Apóstolo João morreu de morte natural, na velhice, mas foi torturado sendo
jogado em um caldeirão fervente, mas se salvou.

Foi na língua aramaica que o Evangelho foi espalhado oralmente

O Cristianismo Primitivo, que aconteceu após Ressurreição de Jesus, ficou


conhecido pelo mundo pelo testemunho dos Apóstolos e de todos os que haviam
convivido com Jesus. Oralmente e em aramaico, a mensagem foi espalhada. Na
época de Jesus o Hebraico já não era mais usado, por isso o aramaico ganhou força
e se estabeleceu como língua principal.

CONEXÃO
O ARAMAICO. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DZ2k0isPZ-0>.
Aprenda sobre o Alfabeto Aramaico. Disponível em: <http://www.nyudraa.com.br/
download/EBOOK_Aprenda_Aramaico_Facil.pdf>.

A Didaquê (Primeiro Catecismo): 90 dC

Didaquê ( em grego clássico) ou Instrução dos Doze Apóstolos do


grego Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin. (DI BERARDINO, 2002.
pp. 404, 405)
É do Século I. São 16 capítulos de instrução para os Cristãos. Quem qui-
sesse seguir Jesus Cristo precisava seguir esta Doutrina. A Didaqué apresenta o
"O Caminho da Vida e o caminho da morte". O Cristão deve conhecer e seguir
sempre o caminho da vida.

capítulo 2 • 52
A Didaché. Este texto, fundamental para a história da liturgia, da disciplina eclesiás-
tica, da moral e da doutrina cristã, foi descoberto em 1863 em Constantinopla, dentro
de um código de 1056. Os materiais que o compõem provavelmente datam do mesmo
período em que foram escritos os sinóticos, embora o texto atual seja certamente re-
dacional, mas não para além do séc. I, e a área da composição terá sido a Síria. O que
é a Didaché? Didaché, significa “doutrina” e no texto descoberto em Constantinopla a
obra tem dois títulos, talvez adicionados por algum copista: “Doutrina dos doze apósto-
los” e “Doutrina do Senhor às nações por meio dos doze apóstolos”. É “uma espécie de
regra para a comunidade cristã” (LONGOBARDO, 2007, p.145).

CONEXÃO
Saiba mais
Disponivel em: <https://www.youtube.com/watch?v=8_Dfhmm4RuE&t=28s>.
Disponivel em: <http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/o-didaque-instrucao-dos-
apostolos.html>.
Disponivel em: <http://www.familiasemcristo.com.br/2010/10/didaque/>.

Os Padres/Pais da Igreja/Padres do Deserto e a Patrística

O início da patrística não é definido como um marco cronológico, mas como um pe-
ríodo de passagem se considerarmos que o texto bíblico está escrito no período da
segunda metade do século primeiro consideramos que nesta passagem inicia-se o
período dos padres e mães da Igreja Primitiva. Esta passagem está no final do primei-
ro século da era cristã podemos apresentar a instrução Didaquê como marco inicial.
Neste período datado aproximadamente do ano 90 consideramos ainda que temos
textos bíblicos canônicos posteriores a esta data e isso nos faz pensar que além do
tempo histórico outros elementos caracterizam este inscritos que estudamos para de-
limitar a finalização deste período consideramos duas áreas geográficas culturais e
eclesiásticas da igreja naquele século o Oriente e o ocidente cristão. (BOGAZ, Antonio
Sagrado. 2014. P. 22)

capítulo 2 • 53
Papa João Paulo II, na carta apostólica Patres ecclesiae afirmou:

Em favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira que
todo o anúncio e magistério seguinte, se quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto
com o anúncio e o magistério deles; todo o carisma e todo o ministério deve beber na
fonte vital da paternidade deles; e toda a pedra nova, acrescentada ao edifício santo
que todos os dias cresce e se amplifica, deve colocar-se nas estruturas já por eles
postas e a elas soldar-se e ligar-se. (SANTA SÉ. 1980)

Os que pertencem à primeira e segunda geração da Igreja, depois dos apósto-


los, recebem o nome de Padres apostólicos e mostram como começa o caminho da
Igreja na história. Seus escritos refletem diretamente o ensinamento dos apóstolos:

Os padres da Igreja são teólogos místicos nos seus primeiros séculos muitos eram epís-
copos, presbíteros, diáconos outros eram leigos entre eles temos muitos monges e már-
tires. São considerados cristãos de grande santidade. Os padres sentiram necessidade
de aprofundar refletir registrar e Intercomunicar os ensinamentos e rituais das Comuni-
dades Cristãs. Outra função importante era o testemunho Cristão diante de autoridades
e mesmo. O Confronto e o combate dos hereges e dos adversários das comunidades
cristãs. Consideramos São Jerônimo como autor do primeiro estudo histórico deste gru-
po de teólogos embora a distinção entre heréticos e ortodoxos seja posterior a ele. Uma
vez que esta distinção é atribuída ao autor dos escritos, após a consagração ou conde-
nação de suas afirmações. (BOGAZ, Antonio Sagrado. 2014. P. 22)

Quem é pai da Patrística?

No sentido da vivência dos sentidos do que significa Patrística, foi o Grande


Apóstolo Paulo. Aquele que passou de perseguidor, a defensor do Cristianismo.
Uma das grandes colunas junto com Pedro.

Paulo é um aprendiz dos Apóstolos, dos quais recebeu a herança da mensagem dos
Evangelhos. No entanto partindo dos eventos da vida de Cristo, interpreta sua men-
sagem para os novos convertidos. Depois de partir das comunidades que fundara,
escreve epístolas que se tornaram patrimônio mais precioso da Teologia Cristã. Suas
pregações e seus escritos nos fazem perceber que Paulo argumenta, com lógica dos
Mestres de Israel, e como exegeta, ultrapassa a herança tradicional judaica e se insere
no universo religioso dos pagãos. Mesmo sendo um pregador com grande especula-
ção filosófica e teológica, demonstra a verdadeira Mística dos cristãos viver o ideal de
Jesus Cristo. (BOGAZ, Antonio Sagrado. 2014. P. 22)

capítulo 2 • 54
Apóstolo Paulo: sua história e de seus escritos

Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro.
Se encontrei misericórdia, foi para que em mim primeiro Jesus Cristo manifestasse
toda a sua magnanimidade e eu servisse de exemplo para todos os que, a seguir, nEle
crerem, para a vida eterna" (I Tm 1, 15-16).

Paulo é o Apóstolo. O responsável pela expansão do cristianismo entre o mun-


do conhecido a sua época. O único chamado Apóstolo, que não fazia parte dos
doze. Sem conhecer pessoalmente Jesus, mas que O conheceu pela Graça. Como
nós podemos fazê-lo! É preciso que como ele, falemos: "Senhor, que queres que
eu faça?" (At 9, 6).
Através de seus escritos (tendo iniciado a literatura neotestamentária) foi
capaz de expor o pensamento cristão de forma clara e objetiva: ou se segue o
Evangelho (do Xto crucifixado) ou não se pode ser considerado cristão. É quase
impossível apresentar a importância de Paulo em uma resposta simples... Sem Ele,
não conheceríamos a proposta do Reino que Jesus trouxe. "A linguagem da Cruz
é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma
força divina" (I Cor 1, 18). Suas viagens fizeram com que o Cristianismo ficasse
conhecido.
No capítulo 3, ao aprofundar a Patrística, aprofundaremos também sobre esse
grande Cristão. Buscando as origens da criação da Patrística como área de estudo,
o conceito foi criado pelo Teólogo Luterano João Gerhardh, em 1563.
Também são responsáveis como guardiões da fé e fazem parte dos Padres da
Igreja, os Padres do Deserto. Eles foram fundamentais no desenvolvimento do
Cristianismo.

Os Padres do Deserto ou Pais do Deserto foram eremitas, ascetas, monges e freiras


que viviam majoritariamente no deserto da Nítria (Scetes), no Egito, a partir do século
III. O mais conhecido deles foi Santo Antão (ou Santo Antônio, o Grande), que mu-
dou-se para o deserto em 270-271 e se tornou conhecido tanto como o pai quanto
o fundador do monasticismo no deserto. Quando Antão morreu em 356, milhares de
monges e freiras tinham sido atraídos para a vida no deserto seguindo o exemplo do
grande santo. Seu biógrafo, o doutor da igreja Atanásio de Alexandria, escreveu que "o
deserto tinha se tornado uma cidade" (NOUWEN, Henri J. M 2000, p. 15)

capítulo 2 • 55
CONEXÃO
Saiba mais sobre Os Padres do Deserto. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=2y0YYyyCks0>.

Os padres apostólicos
©© MANUEL ANASTÁCIO | WIKIMEDIA.ORG

Já ouviu falar deles? São do século I e II. As pesquisas teológicas apontam


que alguns viveram diretamente com os apóstolos e outros com pessoas que po-
diam dar testemunho dos ensinamentos dos apóstolos por terem convivido com
os mesmos. A memória dos apóstolos permaneceu viva. Dessa forma, os Padres
Apostólicos, são essenciais para a compreensão da história do Cristianismo. Eles
fazem parte da 1ª fase dos padres da Igreja.

Os Padres Apostólicos são, assim, o elo e continuidade entre os Apóstolos e "aqueles


que viram e ouviram" o Senhor e as gerações posteriores. Ou, dito de outro modo, são
as testemunhas autorizadas da transição entre o período da Revelação e a idade da
Tradição. LAMLAS. Isidro. (1965.p.12)

capítulo 2 • 56
Os Padres ou pais Apostólicos fazem parte das duas primeiras gerações cristãs.
Muitos foram convertidos pelos Apóstolos e por aqueles que conviveram com eles.
Os Padres Apostólicos foram guardiões da fé, do testemunho e da memória do
cristianismo. Elaboraram a doutrina e defendiam o Cristianismo contra qualquer
ataque. Eles foram os responsáveis pela fundação da Filosofia Cristã que ficou co-
nhecida como PATRÍSTICA. (século I ao século V). Conhecida assim por ter sur-
gido com eles, os primeiros padres, ou pais da Igreja. É considerado como período
da Patrística o tempo que transcorre dos Apóstolos até Santo Isidoro de Sevilha
(560-536) no Ocidente; e no oriente até a morte de São João Damasceno (675-
749). Após eles, é o período dos Padres Apologista, que são da segunda fase dos
Padres da Igreja e escreveram Apologias em defesa da fé e dos cristãos perseguidos.

CONEXÃO
Saiba mais – Patrística.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Eu-CWNAa6lU>.

Não permitiram que esvaziasse o cristianismo e mantiveram sua doutrina, ou


seja, sua essência, pois já começavam surgir heresias (ebionismo, o marcionismo e
o gnosticismo) que maculariam o nome de Jesus e de seus ensinamentos. São mui-
tas as heresias cometidas ao longo da história do Cristianismo, mas neste período,
essas três já despontavam e a Patrística combatia cada uma.

Glossário
Heresia
99 Doutrina contrária ao que foi estabelecido pela Igreja católica como matéria de fé.
99 Atitude ou palavra que ofende a religião.
99 Teoria ou ideia que contraria ou nega a doutrina definida por um grupo.
Ebionismo:
•  Seita judaico-cristã dos séculos II ao IV, que professava a manutenção de algumas
práticas do judaísmo como, por exemplo, a circuncisão e a realização de ofícios religio-
sos aos sábados.
Marcionismo:
•  Doutrina gnóstica do século II d.C., pregada por Marcião, que negava a existência de
um corpo material de Jesus Cristo entre outras ideias.

capítulo 2 • 57
Gnosticismo:
•  Conjunto de princípios de várias seitas de natureza sincrética e esotérica dos séculos
I e II, consideradas heréticas pela igreja. Distinguia-se pelos pretensos insigts místicos e
por um desprezo pela matéria.
•  Profundo conhecimento esotérico das coisas divinas que repercute na condição espi-
ritual do ser humano por meio de processos suprarracionais.
Patristica:
•  Filosofia cristã, dos primeiros cinco séculos da nossa era, formulada pelos padres ou
pais da Igreja, baseada em conceitos da filosofia grega, que consiste na elaboração dou-
trinal das crenças religiosas do cristianismo e no combate ao paganismo e às heresias
que ameaçavam sua unidade.
Dicionário online Michaelis: Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>.

No século II, assim como já citado, outro grupo de Padres da Igreja surgiu.
Dessa vez ficaram conhecidos como os Padres Apologistas. Eles defendiam a fé,
assim como os Apostólicos e foram, tanto quanto, importantes para a Igreja e para
o Cristianismo. Esses Padres escreveram as Apologias em defesa da fé católica.
Muitos gentios se converteram e tinham grande formação e para se defenderem
dos ataques defendiam inúmeras teses sobre o Cristianismo. Também defendiam
os cristãos perseguidos.
Os Padres Apologistas foram grandes representantes da Filosofia Cristã. Eles
tinham conhecimentos filosóficos, dominavam a Filosofia Grega, e se coloca-
ram a serviço do Evangelho de Jesus Cristo divulgando os seus ensinamentos.
Preocupavam-se em levar o Cristianismo aos mais cultos, aos poderosos, aos
Romanos. Os pagãos não mediam esforços para atacar o Cristianismo, inclusive
querendo impedir suas manifestações com perseguições e até com martírios. A
Igreja sofria perseguição intelectual também e os Apologistas foram fundamentais
no combate a esses ataques.

CONEXÃO
Saiba Mais
Neste link você encontra um excelente resumo sobre os Padres da Igreja: Apostólicos e
Apologistas. Você poderá saber quem são eles. Disponível em: <http://www.mbpalavraviva.
org/download/papostapolog.pdf>.
Para aprofundar sobre os principais acontecimentos do Cristianismo acesse: “Os 100
acontecimentos mais importantes da História do Cristianismo: do incêndio de

capítulo 2 • 58
Roma ao crescimento da Igreja na China”. Disponível em: <https://bencaosdiarias.
files.wordpress.com/2015/11/os-100-acontecimentos-mais-importantes-da-historia-
do-cristianismo1.pdf>.

ATIVIDADES
01. “Pentecostes”: palavra grega (pentekosté) que significa “quinquagésimo”. Para os Cris-
tãos é a memória do dia em que os Discípulos estavam reunidos no cenáculo e também
estava Maria, a Mãe de Jesus, quando receberam o Espírito Santo pela primeira vez. Jesus já
havia subido aos céus, a Ascensão. Em Pentecoste Jesus apresenta sua Glória e plenifica a
Páscoa. Ele venceu a Morte! Está Vivo! Qual o principal acontecimento que marca este fato
e qual sua importância para o Cristão?

02. O Cristianismo Surgiu como seita judaica surgida no século 1º, mas pouco a pouco hou-
ve a ruptura com o Judaísmo. Foi pelo Concílio de Jerusalém, ano 52, que o Cristianismo se
desvincula do Judaísmo de vez. Surge definitivamente uma nova religião. Quais pontos foram
importantes para a separação entre Cristianismo e Judaísmo?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Sagrada Online. Disponível em: < https://www.bibliacatolica.com.br>.
BOGAZ, Antonio Sagrado / HANSEN,João Henrique Patrística - Caminhos da Tradição Cristã. Rio
de Janeiro: Paulus. 2014.
BIHLMEYERTUECHLE, História da Igreja. São Paulo: Paulina.1964, p.16-17
BROWN Peter. Código Teodosiano, (citado). Rise of Christendom 2a. edição, Oxford, Blackwell
Publishing, 2003.
CORBIN, Alain (org.). História do Cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. Trad.:
Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
Curtis, A. Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do
incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China / A. Kenneth Curtis, J. Stephen Lang e
Randy Petersen; tradução Emirson Justino — São Paulo: Editora Vida, 2003.
DI BERARDINO, A. Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs. Tradução de Cristina Andrade.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

capítulo 2 • 59
Padres Apostólicos. S. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Verbete Inácio de
Antioquia, p. 710.
GALBIATTI. Henrique. O Evangelho de Jesus. (Sup.) Subsídios didáticos sobre os cuidados dos
voluntários da associação PMMS. Caxias do Sul, RS: Edições Paulinas 1971.
HELLEY, Bruce. O período de Jesus e dos Apóstolos in História do Cristianismo ao Alcance de
Todos. São Paulo: Shedd Publicações, 2004, págs. 16 e 17;
JOSEFO. Flávio. Uma Testemunha do Tempo dos Apóstolos. Documentos do Mundo da Bíblia. São
Paulo. Paulus.1986.
LAMLAS. Isidro. As origens do cristianismo - Padres Apostólicos. Paulus
LONGOBARDO, L. Apostolica, letteratura – Padri Apostolici. In: BERARDINO, A. DI (ed). Letteratura
patrística. Cinisello Balsamo, 2007. p.140-8.
NADAF.Gabriel. Disponível em: <http://www.acidigital.com/noticias/um-verdadeiro-genocidio-a-cada-
5-minutos-morre-um-cristao-no-oriente-medio-61409/>.
NOUWEN, Henri J. M. A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo - O Caminho
do Coração. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.
PAULO VI. Papa. As lições de Nazaré. Alocução pronunciada em Nazaré: 5 de janeiro de 1964.
SANTA SÉ. Patres Ecclesiae. Carta Apostólica Patres Ecclesiae do Sumo Pontífice João Paulo II. 1980.
VV.AA. Atos dos Apóstolos: Ontem e Hoje, estudos Bíblicos 03, Vozes, Petrópolis, 1985.

capítulo 2 • 60
3
De Constantino à
Reforma
De Constantino à Reforma
Estamos avançando em nosso estudo, não é mesmo? Já tivemos muitas opor-
tunidades de aprofundamento e ampliamos nosso horizonte respondendo dúvidas
e descobrindo curiosidades. Ainda não acabou! Na verdade, a colheita do conheci-
mento nunca deve acabar. Vamos em frente abrindo este celeiro do conhecimento
desta farta messe da História do Cristianismo. Vale mais uma vez relembrar que o
principal personagem dessa história é Jesus Cristo.
Neste capítulo, vamos fazer mais uma longa viagem no tempo. Vamos fazer
memória da História do Cristianismo de Constantino à Reforma: Constantino e
a Oficialização da Igreja Católica, a Patrística de Santo Agostinho, a expansão da
Igreja na Europa e África, A Idade Média e a invasão dos bárbaros, a Escolástica
de São Tomás. Os Reformadores: João da Cruz, Tereza D’Avila, Santa Catarina de
Senna. A Igreja Medieval e a Reforma no contexto do Renascimento e o rompi-
mento com a Idade Média no nascimento da Modernidade. Vamos lá!

OBJETIVOS
•  Conhecer a História do Cristianismo, no período de Constantino à Reforma, analisando o
contexto dos acontecimentos ao longo dos séculos que compõem a Idade Média.
•  Identificar os vários conflitos teológicos decorrentes do arianismo e o papel da Patrística
para restabelecimento das verdades da fé.

De Constantino à reforma

Iniciando os estudos neste capítulo vale relembrar que no capítulo anterior já


tivemos a oportunidade de conhecer um pouco de quem foi Constantino. Como vi-
mos, ele foi um Imperador Romano, proclamado Augusto pelas suas Tropas, em 306.
Ele é também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande.
(Augustus, plural: augusti, Latim para "majestoso," "o exaltado," ou "venerável")
Constantino I ou Constantino, o Grande (272-337), se converteu ao Cristianismo
e em 313 assinou o Édito de Milão, tendo como inspiração o lema “um Deus no
Céu, um Imperador na Terra”, colocando fim a “fé oculta” dos Cristãos, oficializando
o culto livre ao nome de Jesus Cristo. A liberdade religiosa foi garantida.

capítulo 3 • 62
Havemos por bem anular por completo todas as restrições contidas em decretos an-
teriores acerca dos cristãos; restrições odiosas e indignas de nossa clemência, e dar
total liberdade aos que quiserem praticar a religião cristã. (Trecho do Decreto de Milão-
(CECHINATO, 2006)

ATENÇÃO
Não confunda os Éditos
•  Édito de Tolerância de Galério ou Édito de Tolerância de Nicomédia: Imperador
Galério (305-311) assinou em 311 em governo compartilhado com Constantino e Licínio,
legisla o fim da perseguição aos Cristãos.
•  Édito de Milão: Imperador Constantino (272-337) assinou em 313 tendo como inspiração
o lema “um Deus no Céu, um Imperador na Terra”, colocando fim a “fé oculta” dos Cristãos,
oficializando o culto livre ao nome de Jesus Cristo. A liberdade religiosa foi garantida.
•  Édito de Tessalônica: Imperador Teodósio assinou em 380, no século V. Também co-
nhecido como Cunctos Populos ou De Fide Catolica, tornando o Cristianismo a Religião do
Estado do Império Romano.

©© WIKIMEDIA.ORG
Licínio, o Co-Imperador do Oriente,
também assinou o Édito, mas não se con-
verteu ao Cristianismo e manteve-se liga-
do às antigas tradições. Seu reinado com-
preende o período de 308 a 324. Licínio
em 313 unificou o Império Romano
do Oriente.

Figura 3.1  –  Busto de Constantino.

Constantino possibilitou aos Cristãos professarem sua fé de forma livre. Antes


dele, o Cristianismo era perseguido pelo Império Romano e os judeus não me-
diam esforços para acusar os Cristãos de blasfemar contra os deuses do império,
já que para eles havia um único Deus, Jesus, o Messias. A perseguição aos Cristãos

capítulo 3 • 63
©© ALECCONNELL | WIKIMEDIA.ORG

gerou torturas e massacres. Em 303 (d.C.), o


Imperador Diocleciano apoiado pelo Imperador
Maximiano, determinou que as Igrejas e os li-
vros cristãos fossem incendiados e que seus líde-
res fossem presos. Ele queria que os Cristãos se-
guissem os seus deuses, mas os Cristãos
resistiram. Em 304 (d.C.), os Cristãos por não
obedecerem ao Decreto que determinava adora-
ção e sacrifícios aos deuses romanos, eram mor-
tos de várias formas violentas. Diocleciano assi-
nou inclusive o “Édito de Perseguição”, tempo
Chamado de “Grande Perseguição” esse período
de massacre durou 9 anos.
Figura 3.2  –  Busto do Imperador
Diocleciano.

CONEXÃO
Saiba mais sobre Constantino.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nfm84x4IDXI>. (Parte 1)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m57EdC-wacI&t=243s>. (Parte 2)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=39aemIra6Nw>. (Parte 3)

Constantino, construiu a Nova Roma, uma nova residência imperial, em lugar


de Bizâncio que ficou conhecida como Constantinopla, que se tornou a capital do
Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Por isso que ele é considerado
como um dos fundadores do Império Romano do Oriente. Ele transferiu a capital
principal de Roma para Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla
("Cidade de Constantino") e Nova Roma. “o que Roma foi, na Idade Média, para
o Mundo Ocidental e Germânico, Bizâncio o foi para o Mundo Grego, Eslavo e
Oriental” (GIORDANI, p. 284).
Constantino era ambicioso, o que o levou, em 324, a ordenar a morte de
Licínio, seu cunhado, após grande batalha militar entre ambos. O poder de Licínio
o incomodava, pois almejava ser o único regente do Império Romano. Licínio foi

capítulo 3 • 64
eleito “Augusto” por Galério, em 308, pois era o seu homem de confiança. Além
de Licínio, Constantino é apontado como o mandante da morte do filho de uma
de suas esposas.

©© JERRY "WOODY" | WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.3  –  Moeda do imperador Licínio .

As práticas de Constantino não fugiam ao que era próprio daquele contexto


histórico-cultural. Por isso, muitas interrogações acerca de sua conversão são le-
vantadas, pois seu passado, antes de se converter ao Cristianismo, em 312, não é
diferente dos demais Imperadores.
Constantino, foi um Imperador de muitas intervenções na vida da sociedade
de sua época, inclusive na economia. Ele buscava uma estabilização monetária e
por isso em 311 d cria o Solidus (em latim, sólido ou estável). Uma moeda cunha-
da em 1,72 de puro ouro, de 4,5g, proporção muito acima das demais que eram
de 1,60. Ouro que foi confiscado dos templos pagãos. As demais moedas se desva-
lorizaram e o solidus se configurou como a grande expressão monetária.
©© CLASSICAL NUMISMATIC GROUP, INC | WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.4  –  Moeda de ouro (follis) volta de 311.

capítulo 3 • 65
Vamos continuar aprofundando, mas como já orientado, é essencial que outras
fontes sejam consultadas. Que tal dar uma parada para consultar o “Saiba Mais”?

CONEXÃO
Saiba mais
Assista ao Documentário Constantino, o Grande - Documentário History Channel Brasil
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mgVKWzT_p1g>.

São muitos os questionamentos sobre sua conversão e sobre os interesses que


o levaram a proteger o Cristianismo, mas não parece possível negar a importância
do mesmo e de seu Édito de Milão:

Reunidos em Milão, em 313, Constantino e Licínio assinam o Edito de Milão. Em resu-


mo, o documento declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo
religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, es-
pecialmente ao Cristianismo. A aplicação do Edito fez devolver os lugares de culto e as
propriedades que tinham sido confiscadas dos cristãos e vendidas em praça pública.
O Edito deu ao Cristianismo (e a todas as outras religiões) o estatuto de legitimidade,
comparável com o paganismo e, com efeito, desestabeleceu o paganismo como a
religião oficial do Império Romano e dos seus exércitos. (CARLAN. Cláudio Umpierre.
2007, p. 30).

Constantino teve influência de sua mãe, Helena, para continuar zelando pelo
Cristianismo. Após a morte de seu pai, Constantino outorgou à mãe as honras
de mãe do Imperador. Ela se transformou em uma “Augusta”. Tendo também se
convertido ao Cristianismo, juntos se mantiveram na fé.

CURIOSIDADE
Curiosidades familiares do Imperador Constantino
Constâncio Cloro, tribuno romano, e Helena, uma plebeia, apaixonaram-se e tive-
ram um filho, Constantino. Mais tarde, o Imperador Maximiano nomeou Constâncio Cloro
como seu sucessor, sob condição de abandonar Helena e casar com a sua enteada Teodora.
Constâncio cedendo à ambição, repudiou Helena, que foi enviada para o exílio em Bitínia.
Constantino foi para Roma com o pai. Durante o seu exílio de 14 anos, Helena converteu-

capítulo 3 • 66
se ao Cristianismo. Quando Constâncio Cloro morreu, em 306, Maxêncio deu um
golpe de estado e ficou com o trono imperial. Constantino chamou de imediato para
o pé de si sua mãe Helena, mulher renovada no exílio pelo espírito cristão, sábia e santa, que
muito o ajudou a reconquistar o trono de seu pai. Logo após a sua chegada a Roma, Helena
tentava converter Constantino ao Cristianismo, lançando mão da Oração e do Jejum, mas sem
sucesso, pois as preocupações de Constantino eram a de formar um Exército que pudesse
derrotar Maxêncio em batalha. Mas sua mãe Helena, que não era minimamente motivada
pela política, persistia na conversão de seu filho, de uma forma prudente, serena, mas convic-
ta. Chegado o momento da grande Batalha, Constantino viu que estava em desvantagem, pois
o exército do seu inimigo e usurpador do trono de seu pai, era mais poderoso.
Disponível em: <http://www.amen-etm.org/Constantino.htm>.

Foi na intensa Batalha de Milvia, travada contra Lícinio e Magêncio ou


Maxêncio, que foi um usurpador e imperador romano entre 306 e 312, filho do
imperador Maximiano e genro de Galério, que no ano 312, Constantino teve a
visão que justificaria sua conversão, pois durante a mesma, visualizava uma cruz
luminosa onde estava escrito: "In Hoc Signo Vinces" (Com este sinal vencerás).
Após essa visão, mandou que em todos os escudos dos soldados fossem retirados
a imagem do “Deus Sol” e fosse estampada a Cruz, o “Monograma de Cristo”
(Cristograma de Constantino) ao voltar da batalha vencedor e único imperador.

Figura 3.5  –  O Chi-ro: Emblema que combinava as duas primeiras letras gregas do nome de
Cristo ("X" e "P" sobrepostos)..

E foi assim, que vencida a batalha, é assinado o Édito de Milão proibindo a


perseguição aos Cristãos. Esse fato concede a Constantino a credibilidade de con-
vertido pela fé, pelo sinal do Cristianismo, pelo objeto de tortura do Messias Jesus.

capítulo 3 • 67
A Batalha da Ponte Mílvia ou Batalha da Ponte Mílvio (em latim: Pons Milvius; em italiano:
Ponte Milvio) foi o último confronto travado no verão de 312, durante a Guerra Civil entre os
imperadores romanos. Constantino, o Grande (r. 306–337) e Magêncio (r. 306–312) pró-
ximo à ponte Mílvia, uma das várias sobre o rio Tibre, em Roma. Precisamente teria ocorrido
em 28 de outubro. Constantino seria o vencedor da batalha e passaria desde então a trilhar
o caminho que levou-o a extinguir a Tetrarquia vigente e tornar-se o governante único do
Império Romano. Magêncio, por outro lado, morreria afogado no Tibre durante o combate.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Ponte_M%C3%ADlvia>.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.6  –  A Batalha da Ponte Mílvia por Pieter Lastman, 1613 – 28/10/312. Vitória de
Constantino e invasão de Roma.

Eusébio de Cesáreia ou Eusebius Pamphili, foi bispo de Cesareia e ficou co-


nhecido como o Pai da História da Igreja, pois ele é responsável por relatos que
permitem remontar a História do Cristianismo Primitivo. Eusébio teria encon-
trado as cartas e, e essas compõem a História Eclesiástica. Sobre Constantino, afir-
ma Eusébio:

capítulo 3 • 68
Portanto, deixemos o companheiro de Deus, que tudo governa, ser proclamado nosso
único soberano, com a verdade por testemunha, o único que é verdadeiramente livre,
ou antes, verdadeiramente senhor. Acima do cuidado com o dinheiro, mais forte do que
a paixão pelas mulheres, vencedor dos prazeres físicos e das necessidades. Conquis-
tador, não cativo, do mau humor e da ira este homem, verdadeiramente autokrator, por-
ta o título adequado a sua conduta moral. Realmente um vencedor é ele, que triunfou
sobre as paixões que têm sujeitado a humanidade, que se modelou segundo a forma
do Supremo Soberano, cujos pensamentos espelham seus raios virtuosos, pelos quais
ele tem sido feito perfeitamente sábio, bom, justo, corajoso, pio e temente a Deus.
Verdadeiramente, portanto, este homem é um rei filósofo, que conhece a si mesmo e
compreende as chuvas de bênçãos que se derramam sobre ele do exterior ou, antes,
do céu. (EUSEBIUS PAMPHILI LC V.4)

Eusébio se preocupa em revelar ao mundo a conversão de Constantino divul-


gando um Reinado de rejeição ao politeísmo e a afirmação na Religião Monoteista,
o Cristianismo. Dessa forma, o reino da terra, onde ele era o Imperador, estava
em plena sintonia com o “Reino Divino”. Eusébio relata Constantino com um
interlocutor do Reino de Deus trazido na Encarnação de Jesus. Afirma Eusébio:

[...] tomando como exemplo o reino dos céus, dirige os assuntos terrenos com o olhar
voltado para o alto [...]. Ele se fortalece em seu modelo de governo monárquico, que o
governante de todos deu a um só homem, dentre todos na Terra. Pois esta é a lei da
autoridade real, a lei que decreta que um governe todos. A monarquia sobrepuja todos
os outros tipos de constituição e governo, pois principalmente anarquia e guerra civil
são o resultado da alternativa, uma poliarquia baseada na igualdade. Por essa razão,
há apenas um Deus, não dois ou três ou mais. Pois, estritamente falando, a crença em
muitos deuses é ímpia. Existem apenas um soberano, Seu Logos e a lei real.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.7  –  Eusebius of Caesarea.

capítulo 3 • 69
Após a visão da Cruz em 312 e assinado em 313 o Decreto de Milão,
Constantino passa definitivamente reconhecer publicamente o Cristianismo
como sua escolha, inclusive se recusando a prestar culto a Júpiter, fato ocorrido em
313, 315 e 326 em suas visitas solenes à Capital. Os emblemas e símbolos Cristãos
começam fazer parte de sua vida cotidiana como escolha, em 317. Constantino
adota o Cristianismo como sua religião. O Chi-ro, que havia sido estampado nos
escudos dos soldados após a visão de Constantino, torna-se público.
Constantino foi influenciado por sua mãe Helena, pois nascendo cristã sem-
pre buscou apresentar ao filho os sentidos do Cristianismo. Helena, Canonizada
Santa pela Igreja Católica, pouco antes de sua morte, em peregrinação à Terra
Santa ordenou que em Jerusalém, onde está a “Vera Cruz”, fosse erguida uma
Igreja que substituísse o templo de Afrodite. A Igreja do Santo Sepulcro.
©© JLASCAR | WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.8  –  A Basílica do Santo Sepulcro localizada no Quarteirão Cristão da Cidade Velha
de Jerusalém. Jesus teria sido crucificado, sepultado e, ao terceiro dia, teria ressuscitado.

Os Cristãos passaram a ter, por Constantino, gratidão e respeito, de modo


que suas ações e pensamentos eram acolhidos. Convertido ou não, ele continuava
determinado a centralizar em si o governo. Foi dessa forma que orquestrou para
que a Igreja também se tornasse uma estatal para que ele pudesse ser o Imperador
por ela também responsável. Nascia o Cesaro-Papismo, fato que fez com que as
desconfianças de sua conversão verdadeira e interior ao Cristianismo aumentasse
entre os não cristãos. O que é o Cesaro-Papismo?

capítulo 3 • 70
[...] um sistema de relações entre Estado e Igreja em que o chefe do Estado, julgando
caber-lhe a competência de regular a doutrina, a disciplina e organização da Societas
fidelium, exerce poderes tradicionalmente reservados à suprema autoridade religiosa,
unificando (pelo menos em via tendencial) na própria pessoa as funções de imperator
e de pontifex. Decorre daí um traço característico do sistema cesaropapista: a subor-
dinação da Igreja ao Estado, que atingiu formas às vezes tão acentuadas de levar a
considerar a primeira um órgão do segundo. (FERRARI, Silvio. 1998. pp. 162-63)

Dessa forma, Constantino passou a zelar pelos assuntos da Igreja em todas as


dimensões: as teológicas e estruturais. Unidos aos Bispos, unificou Igreja e Estado.
Diante dos fatos que colocavam em risco o Cristianismo, entre eles as heresias,
Constantino convoca o Primeiro Concílio de Nicéia.

O Concílio de Nicéia

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.9  –  Ícone do Primeiro Concílio de Niceia.

A Teologia da Trindade, a Divindade de Cristo e o arianismo formaram o tripé


reflexivo do Concílio. Nos três primeiros séculos, os Padres da Igreja (Patrística)
já defendiam a Igreja das heresias, preservando a doutrina das verdades de fé do
cristianismo. A Patrística foi e é a responsável de manter os dogmas ao longo da
história, assim, como estudado no primeiro capítulo. Foi o maior filósofo da época
Patrística, ele defendia a igreja católica contra os seus adversários pagãos.

capítulo 3 • 71
O arianismo foi uma doutrina ensinada por Padre Ário que contradizia a cren-
ça na Trindade. A relação do pai do filho do Espírito Santo era por ele contradita,
pois afirmava que não existia esta relação e que cada um era uma pessoa separada.
Negava a divindade de Jesus Cristo. Dizia também que em um determinado tem-
po a figura de Jesus nem existia e que fora criada do nada.
Santo Atanásio foi o grande opositor de Ário. Defendeu a divindade de Jesus
e não aceitava que a heresia do arianismo maculasse os ensinamentos. A ideologia
Ariana estava dividindo a igreja egípcia. Santo Atanásio, por não aceitar abrir
mão dos seus princípios da divindade de Jesus e combater a heresia do arianismo,
foi perseguido, tendo que ser exilado e viver com os monges no deserto do Egito
e por isso ele ganhou o apelido de “Atanásio contra o mundo” e ficou famoso
também por seus escritos contra o arianismo. Por causa da divisão entre o aria-
nismo e os ensinamentos ortodoxos, houve muitos conflitos que fizeram com que
surgissem inimigos ferozes e muita luta armada, muito sangue foi derramado. O
Cristianismo estava diante de uma grande divisão. Neste contexto, Constantino
convoca o Concílio de Nicéia:

Constantino finalmente reagiu a crise Ariana convocando o primeiro Concílio ecumê-


nico, escreveu a mil e oitocentos bispos de todo o império romano, eles ordenaram
que reunissem nicéia atual Smith na Turquia em 325 acredita-se que entre 200 e 250
bispos realmente compareceram a maioria deles vinham do oriente onde o anarquismo
era mais difundido o Bispo de guarda bósio foi encarregado da exatas junto com dois
embaixadores padres representantes do ausente Bispo de Roma Silvestre are you
também foram convocado para comparecer. E no meio da explicação de suas crenças
interrompeu num canto de sua doutrina que foi entoado por seus seguidores, nele
havia a frase: o filho não é igual ao pai que contestou e enfureceu os bispos presentes,
os bispos condenaram hario e propuseram o que lhes pareceu uma solução para o
problema redigir uma profissão de fé conhecida como o credo de niceia para explicar
a relação entre Deus e Jesus que era consubstancial ao pai todos os bispos com exce-
ção de dois assinaram o credo que mais tarde confessou a fé em um só senhor Jesus
Cristo, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro (COLLINS, M. & PRICE, 2000.P.61).

A situação era de ataque e de profunda divergência teológica. Neste sentido,


era preciso restabelecer a harmonia cristológica determinando a ligação direta,
inabalável e imutável entre Jesus e Deus, o Pai. Além dessa essencial questão, o
Concílio o tratou da doutrina Papal, a construção do Credo Niceno; a fixação da
data da Páscoa; e a promulgação da lei canônica que se trata de um conjunto de
leis que definem as normas a serem seguidas pelos membros da Igreja. O Papa, na

capítulo 3 • 72
época, era Silvestre, mas não compareceu ao Concílio enviando os dois presbíteros
representantes: Vito e Vicente.

Ao abrir o primeiro Concílio ecumênico da igreja, Constantino falou brevemente "a


divisão na igreja é pior do que a guerra". Essa reunião formal, que o imperador
convocou em 325 para tratar de uma crise herética, foi o primeiro de uma série de
quatro conselhos e regulamentou a disciplina e definiu a doutrina teológica na igreja
cristã. (COLLINS, M. & PRICE, 2000.P.60)
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.10  –  Arius (AD ca. 250 or 256 - 336).

Foi assim que construíram o Credo Niceno-Constantinopolitano, combaten-


do o arianismo, afirmando que não há separação entre o Pai, o Filho e o Espírito
Santos e outras essências para a fé cristã:

Credo Niceno-Constantinopolitano
Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, / de todas as coisas
visíveis e invisíveis. / Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, /
nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, / Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro, / gerado, não criado, consubstancial ao Pai. / Por ele todas as
coisas foram feitas. / E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se
encarnou pelo Espírito Santo, / no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; / padeceu e foi sepultado. / Ressus-
citou ao terceiro dia, / conforme as Escrituras, / e subiu aos céus, / onde está sentado à
direita do Pai. / E de novo há de vir, / em sua glória, / para julgar os vivos e os mortos; /
e o seu reino não terá fim. / Creio no Espírito Santo, / Senhor que dá a vida, / e procede
do Pai e do Filho; / e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: / ele que falou pelos
profetas. / Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. / Professo um só batismo

capítulo 3 • 73
para remissão dos pecados. / E espero a ressurreição dos mortos / e a vida do mundo
que há de vir. - Amém.
Ouça O Credo Constatinopolitano Cantado
Credo Niceno Constantinopolitano cantado em Latim.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rzywpcnBkw0>.
Credo Niceno-Constantinopolitano - Igreja Ortodoxa.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mM6e_g-iSvc>.

Aos 65 anos, doente, Constantino pede o Batismo aos Bispos. Em seu leito
de morte, acredita que seria perdoado de todos os seus pecados, inclusive de ter
matado o seu filho mais velho e sua esposa. O batismo apagou todas as marcas de
pecado e pela sua conversão permitiu que o Cristianismo permanecesse vivo.

Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino, o fato é que ele educou seus
filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença
institucional no Estado romano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, a
episcopalis audientia, podia ser escolhida pelas partes de um processo como tribunal
arbitral em lugar do tribunal da cidade[25]). E quanto às suas profissões de fé pública,
num édito do início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os
pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma
velha superstição". (Código Teodosiano, 2003, pg. 74)

A partir de sua morte os próximos Césares tiveram o desafio de unificar o


Império Romano e Cristão. Em 337, teve início um período de lutas internas
pelo poder. Os conflitos, além de políticos e religiosos, envolviam a grande família
de Constantino: irmãos, meio irmãos, sobrinhos e parentes próximos e distantes.
Uma ferrenha batalha que resulta em assassinatos entre eles.

A influência do Imperador nos assuntos da igreja era grande Constantino tentou unifi-
car a igreja, mas após sua morte a disputa entre seus filhos ameaçou arruinar o império
um filho adotou o arianismo, enquanto o outro permaneceu ortodoxo em suas crenças.
Juliano, o apóstata que chegou ao poder em 361, também ameaçou acabar com as
esperanças cristãs ao renovar perseguição aos crentes. Todavia sua influência pouco
durou, pois após menos de 02 anos foi morto em batalha na Mesopotâmia e seu su-
cessor Joviano revogou o decreto de Juliano contra o cristianismo e promoveu a igreja
cristã como fizeram os imperadores subsequentes no império que estava mais uma vez
dividido. COLLINS, M. & PRICE, 2000. P.59)

capítulo 3 • 74
Oficialização da Igreja

Apesar de Constantino ter assinando do “Édito de Milão”, pondo fim à perse-


guição aos Cristãos, foi somente no final do século IV, em 380, que o Imperador
Teodósio, o Grande, tornou o Cristianismo Religião Oficial. Um fato de grande
relevância na história do Cristianismo e também para a expansão da civilização na
Europa.
Édito da Tessalônica (Cunctos Populos ou De Fide Catolica)
Foi o decreto assinado por Teodósio, em 27 de fevereiro de 380, tornan-
do o cristianismo oficial, e a proibição dos cultos pagãos greco-romanos. O
Cristianismo se tornou a Religião Oficial. Decretou o fim dos cultos politeístas e
fechou templos pagãos.

Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência


professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi
pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dá-
maso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo
a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do
Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade.
Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, en-
quanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da
heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto,
primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que
adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março
em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio
Augusto. (Código Teodosiano 16.1.2)

Havia, nesta época, conflito entre os Bispos e Teodósio por não aceitarem que
o Imperador impusesse à Igreja as suas decisões.

Com a política religiosa do imperador Teodósio, a integração do cristianismo no Im-


pério Romano atingiu seu ponto mais alto. Ao mesmo tempo tornou-se mais aguda a
consciência do caráter duvidoso dessa coordenação entre Igreja e Estado; as ressal-
vas nasciam da própria fé.” (LENZENWEGER, 2006: 76)

Teodósio, para manter a oficialidade do Cristianismo implantou a intolerância a


todos os que, por algum motivo, fugisse às regras da nova fé. O homossexualismo era
uma prática na idade Média, acontecia a pederastia como comportamento comum.

capítulo 3 • 75
Os guerreiros dormiam com os aspirantes mais novos até que completassem a idade
adulta, sendo, inclusive, entendida como um ato de companheirismo, apoio e aten-
ção. Teodósio publicou um decreto proibindo a homossexualidade e da pederastia
e condenando à morte quem as praticassem. Por isso, não media esforços para que
os responsáveis fossem corrigidos, aplicando aos mesmos as correções. O Chefe da
Infantaria, responsável pela aplicação da lei, prendeu um condutor de cavalos em
um circo, atleta de grande popularidade. No entanto, a população revoltada, matou
o chefe da Infantaria. Teodósio enfureceu-se ao saber de tal fato e por isso mandou
massacrar o povo quando estivesse reunido no circo. Teodósio se arrependeu da
ordem e tentou cancelá-la, mas estava em Milão e não conseguiu chegar a tempo e a
tragédia já havia acontecido, morrendo inúmeras pessoas.
O Bispo Ambrósio recriminou Teodósio por carta e também em um dia quan-
do este quis participar da Missa, mas foi proibido pelo Bispo: “Não ousaria, em
sua presença, oferecer o sacrifício divino". Ambrósio exigiu que uma confissão
pública fosse feita para que fosse perdoado de seu pecado.
Durante 08 meses Ambrósio man-

©© WIKIMEDIA.ORG
teve a exclusão de Teodósio da comu-
nhão. Somente no Natal, após se vestir
um “saco de penitência” Ambrósio con-
cedeu a Teodósio o perdão. O próprio
Teodósio defende a ação do Bispo: "sem
dúvida, Ambrósio me fez compreender
pela primeira vez o que deve ser um bis-
po". A correção dos homens públicos
pelos homens eclesiásticos foi uma prá-
tica até a idade moderna.

Figura 3.11  –  O Bispo Ambrósio nega a


entrada de Teodósio na Igreja para participar
da Missa.

Ambrósio passa a ser solicitado por Teodósio para mediar os conflitos gera-
dos por muitos que não aceitavam a presença de outras religiões que não fosse o
Cristianismo, inclusive incêndios de Sinagogas. Ambrósio mantém a centralidade
do Cristianismo como a “verdadeira e única religião”, julgando os judeus como
equivocados por professarem outra fé.

capítulo 3 • 76
Imperadores e bispos trabalhavam lado a lado enquanto a igreja beneficiando-se do
Patrocínio dos imperadores cristãos, assumia cada vez mais um modelo Imperial. As
artes (arquitetura escultura mosaico e música) floresceram enquanto as Sés de Roma
Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria cresciam em prestígio. A teologia
se desenvolveu graças à contribuição de Gigantes intelectuais como Basílio Gregório
Atanásio no Oriente e Ambrósio e em Agostinho no Ocidente. Este período viu tam-
bém o desenvolvimento do monaquismo e admiráveis esforços catequizadores de mis-
sionários que pregaram o evangelho em terras tão distantes quanto a Irlanda a Índia a
Etiópia e a Geórgia. (P.57)

Foi dessa forma que a Igreja é oficializada trazendo as Leis do Concílio de


Niceia como argumento para que a unidade não fosse mais quebrada. À Igreja
cabe o julgamento e a preservação da obediência às leis estatais e divinas.

Os próximos séculos nos fins da Idade Antiga para a Idade Média

Em 395, Teodósio estabeleceu que Roma fosse a capital do Império Romano


Ocidental e que Constantinopla seria a sede do Império Romano Oriental. Assim
o Império foi dividido numa tentativa de preservar a administração e controle
militar das fronteiras, principalmente das orientais, já que as ocidentais estavam
mais suscetíveis aos ataques germânicos.
Apesar das medidas políticas e administrativas tomadas ao longo do século IV
por imperadores como Constantino, Teodósio e Diocleciano, a fim de garantir a
preservação do império Romano, este sucumbiu diante do processo de desagrega-
ção interna gerado pela crise do século III e da pressão externa que os germânicos
e outros invasores exerceram sobre as extensas fronteiras imperiais.
A história do Cristianismo se consolidou tendo como cenário o Império
Romano, aproximadamente 3.500 a.C. até 476 d.C. É preciso uma pesquisa apro-
fundada para conhecer os detalhes que permearam a história do Cristianismo ao
longo dos séculos. Após refletirmos sobre a influência de Constantino, vamos fazer
um “pouso rápido” em vários fatos e situações até a Reforma, passando da Idade
Antiga à Idade Média.

Para ele, tanto as civilizações como os Estados envelhecem e morrem. O importante é es-
crever de modo cristão nas linhas tortas da história humana” (HAMANN, 1989, p. 288, 289),

capítulo 3 • 77
Serão lançadas as sementes, mas é preciso que sejam cuidadas, cultivadas para
que se transformem em frutíferas árvores de conhecimento e por isso faz-se neces-
sário o aprofundamento nas várias fontes de pesquisa.

A partir do século IV, o cristianismo deixa de ser clandestino no Império Romano, sendo
reconhecido e tolerado, e, em seguida, tornando-se a religião oficial de Roma. As lutas
do período anterior renderam frutos e a filosofia patrística vive o momento de apogeu.
O grande nome do período é Santo Agostinho (354-430).

Os Bárbaros:

(…) A cidade que havia conquistado o mundo foi ela mesma conquistada. Ou, para dizer
melhor, morreu de fome, antes de ser destruída. Quase não sobrou ninguém para ser
escravizado. Na sua fome desesperada, os romanos comiam coisas horríveis. E até carne
humana. (São Jerónimo. Transcrito por Zelasco. G. et al. II. O. cit. v. p.383. Adaptado).

Passando por crises, o Império Romano começa a entrar em decadência e a


ameaça da invasão de povos não conquistados pelo Império Romano. Esses po-
vos ficaram conhecidos como bárbaros. Cada povo tinha sua própria organização
política e não se adaptaram às leis do Império Romano, inclusive se mantendo
politeístas. Viviam da agricultura e da criação de animais para o comércio. “para
além do Reno e do Danúbio estender-se-ia a Barbaria, isto é, a porção do mundo
quase desconhecida, que não tem a felicidade de participar da civilização roma-
na”. (“PERROY, 1964, p. 17) grandes grupos consanguíneos reunidos em tribos,
que por sua vez se agrupavam em confederações militares, os “povos”, francos,
alamanos, burgúndios, vândalos, ostrogodos e visigodos, conduzidos por chefes
de guerra, os reis.” (PERROY, 1964, p. 17).
A partir do século III já começaram migrar para o Império e pareciam aliados
ao Império, mas a pretensão era de invasão. Eles tinham autorização de entrar em
troca de trabalharem na ordem militar tomando conta das fronteiras.
Aos poucos abraçaram a fé, mas professando-a pelo arianismo, a heresia que separa
a Santíssima Trindade. Como federados, ficaram no espaço do Império Romano.

capítulo 3 • 78
Missionários vindos do Império introduziam entre os godos a religião cristã, mas sob
uma forma herética, o arianismo. Inversamente, grande número de germânicos que
atravessaram as fronteiras instalou-se como agricultores nos cantões mal povoados
do mundo romano ou faziam carreira no exército. (PERROY, 1964, p. 17).

450
Império Romano do Ocidente
Império Romano do Oriente
Vândalos
Hunos
451 Visigodos
330–405
451 433 Ostrogodos
Francos
430–555 Anglo-saxões
415–507 453–490
Burgúndios
412 Lombardos
250–276 250–280
409

455

419 395
429–534
429

Figura 3.12 – Migrações bárbaras em território romano entre os séculos IV e V.

Com o passar do tempo, o Império começa a ruir e a invasão dos bárbaros


foi inevitável. Era a crise do Império. Os cidadãos Romanos assistiam ao fim da
Cidade Celeste.

A invasão é o fato inicial da Idade Média. Nenhum fato da mesma amplitude ou de


consequências comparáveis se produziu depois, e a História subsequente, entendida
corretamente, nada mais foi que a evolução da sociedade resultante da invasão. É
necessário entender por invasão a compenetração desses dois elementos até então
separados: o civilizado grego ou latino, helenizado ou latinizado, e o bárbaro recém-
chegado sobre o solo imperial. (GIORGANI, 1968, p.21).

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Figura 3.13  –  Saque de Roma pelos Vândalos, em 455, por Heinrich Leutemann.

A invasão aconteceu em dois momentos diferentes. O primeiro, como já vi-


mos em busca de trabalho e proteção. No segundo momento, no entanto, de
forma violenta deixando marcas de dor, sofrimento, sangue e devastação. Eles
invadiram, ocuparam os territórios, saquearam e trouxeram destruição, pondo
fim ao Império Romano do Ocidente. Alguns dos povos, entre os bárbaros, eram
ainda mais violentos, como é o caso dos Humos liderado por Átila.

Os historiadores antigos mal mencionam os hunos. Eles habitam nas margens do Mar
Glacial. A sua ferocidade supera tudo. Não cozinham nem temperam o que comem.
Alimentam-se de raízes silvestres ou da carne do primeiro animal que aparece, carne
esta que esquentam por algum tempo, sobre o dorso de seu cavalo, entre suas pró-
prias pernas. Não possuem abrigo. Entre eles não se usam casas, nem túmulos. Não
encontraríamos nem mesmo uma cabana. Passam a vida percorrendo as montanhas e
as florestas. São endurecidos desde o berço contra o frio, a fome e a sede. Mesmo em
viagem, não entram em habitação sem necessidade absoluta e não se creem nunca
em segurança. Não têm reis nem governantes, mas obedecem a chefes, eleitos em
cada circunstância. Quando se lançam ao combate, soltam no ar uma gritaria terrível.
(Amiano Marcelino. 1955, pp. 151-152.)

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Figura 3.14  –  Os Hunos, liderados por Átila, invadem a Itália, como visualizado nessa pintura
do século XIX de Ulpiano Checa (1860-1916).

Santo Agostinho: a ponte entre a idade antiga e a idade média

Parando de expandir e sofrendo com a falta de mão de obra, a falta de soldados


e os problemas econômicos, a Crise do Império Romano era intensa. Os impostos
foram impostos e eram altos e o território romano já não é atraente. Com as su-
cessivas invasões dos povos bárbaros, a queda foi inevitável, pois a economia estava
cada vez mais comprometida. Em 410 Roma é tomada. Alguns queriam culpar o
Cristianismo pela mesma, mas do lado mais forte que era o Oriente se mantinha
de pé, estruturado e promissor, exatamente onde era mais cristianizado. Esse era o
Império Bizantino. Neste contexto expandia as heresias.
Ao falar em queda do Império Romano precisamos ter atenção que estamos
nos referindo ao Império do Ocidente, pois o Império do Oriente permaneceu
forte mais de mil anos depois da queda do Império Romano do Ocidente. Em 476
Rômulo Augusto, o Imperador, é derrubado e Roma desaparece.

A Roma Oriental foi grega pela língua, pela literatura, pela teologia e pelo culto; foi
romana na tradição militar (os soldados aclamavam os novos imperadores em latim,
enquanto a população o fazia em grego), no direito, na diplomacia, nas finanças e na
concepção da supremacia do estado e do governo central.” (GIORDANI. 1968 p. 36).

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Figura 3.15  –  Saint Augustine by Philippe de Champaigne.

Santo Agostinho é uma dessas heranças, pois marcou a história do Cristianismo,


inclusive por sua vida de conversão. Ele é o Grande Filósofo da Idade Média.
Antes de se tornar cristão, bebeu na fonte da Filosofia, principalmente em Cícero.
Sua busca foi grande e se reporta ao vazio que o habitava. Tu estavas, certamente,
diante de mim, mas eu me havia afastado de mim mesmo e não me encontrava»
(Confissões V, 2, 2).
Por influência de sua mãe Mônica, ele passa a estudar a Bíblia, mas volta à
Filosofia e estuda o Maniqueísmo: a doutrina do bem e do mal. Uma ontologia
que está na essência de todas as coisas. Neste sentido o pecado é fruto do mal e não
da vontade do homem. O pecado está em nossa essência. A razão, neste contexto,
é o canal para explicar essa manifestação do bem e do mal sem que seja necessário
lançar mão da fé para explicar o pecado e a manifestação do bem e do mal na exis-
tência humana. A natureza do mal é encontrada no “não ser”. É apenas a privação
do bem. O que existe é a ausência do bem.
Ao constatar que o maniqueísmo não dava conta de responder as principais
questões, Agostinho estuda o Ceticismo, uma doutrina da filosofia que prega que a
mente humana não pode ter certeza de nada. Não há certeza a respeito da verdade.

capítulo 3 • 82
Ceticismo: Doutrina cujos preceitos afirmam que o espírito humano não possui capaci-
dade para alcançar a certeza sobre a verdade, por isso, o ser vive em constante dúvida
ou renúncia, causada por uma incapacidade intrínseca de compreensão metafísica: Pirro
defendia o ceticismo universal. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/ceticismo/>.
Maniqueísmo: Doutrina religiosa propagada por Maniqueu (Mani ou Manes) que, na
Pérsia, durante o século III, concebia o mundo como uma fusão dualista do espírito e da
matéria, respectivamente do bem (luz) e do mal (trevas). Disponível em: < https://www.
dicio.com.br/maniqueismo/>.

Após buscar na Filosofia e dela extrair muitos ensinamentos para suas refle-
xões futuras, Agostinho constata que não encontrou as respostas que buscava. Foi
quando se encontrou com Santo Ambrósio, o grande Bispo que lutou contra a
heresia do Arianismo e fazia muitas pregações públicas. Era simples ao lidar com
as pessoas e escolheu o modo de vida asceta, que consiste no desenvolvimento es-
piritual. Ambrósio se tornou Bispo por aclamação popular, mesmo não querendo
cargos e carreira. Santo Agostinho, sendo influenciado pelos ensinamentos e tes-
temunho de Ambrósio e em 387 por ele batizado. Ele fez uma experiência mística
ao ouvir Santo Ambrósio e ao ter contato com as Cartas de São Paulo. As verdades
que Agostinho procurava estavam no Cristianismo.
Aproveitando todo conhecimento filosófico que tinha e a influência da
Filosofia de Platão e de Plotino, Agostinho passa a harmonizar Fé e Razão. A Fé
é Substância! Sem a fé a razão não consegue explicar a verdade. Ela é o canal do
entendimento, mas nada revela sem a fé. Tudo o que compreendemos conhece-
mos, mas nem tudo o que conhecemos compreendemos. Ao descobrir a Fé, Santo
Agostinho faz a seguinte oração:

Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim
e eu estava fora, e aí te procurava. Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas
das tuas criaturas. Estavas comigo e eu não estava contigo. Retinham-me longe de
ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem. Mas Tu me chamaste,
clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e curaste a minha ce-
gueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Tu me tocaste, e agora
estou ardendo no desejo de tua paz. (Confissões (X, 27, 38):

Para Agostinho, as verdades são reveladas ao homem através da iluminação


divina, que consiste nas verdades que vem ao homem pelas ideias ligadas a Deus.
Sendo assim, não basta que o homem receba as revelações das verdades, ele pre-
cisa ter um preparo de intelecto, ou seja, racional para que entenda o que lhe é

capítulo 3 • 83
revelado e que assim consiga separar os próprios julgamentos. Olhando para a
interioridade o homem conhece a verdade.

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Figura 3.16  –  Antonio Rodríguez (1636 - 1691) – Painter - Saint Augustine.

O objetivo de Santo Agostinho era, pela fé, compreender o homem. Não o


homem abstrato definido pela filosofia grega, mas o homem concreto. O homem
que tem sentimentos, pecados, sonhos. Para isso, a dicotomia fé e razão deve ser
rompida. Ao encontrar Deus, se encontrará consigo mesmo. Ser livre é servir a
Deus! A liberdade humana é fonte da vontade e não da razão.
Santo Agostinho, no meio da crise que arruinaria o Império Romano do
Ocidente, desenvolveu o conceito de "Igreja Católica" como uma Cidade de
Deus. “A Cidade de Deus" está intimamente ligada ao segmento da Igreja, que
aderiu ao conceito da Trindade como postulado pelo Concílio de Niceia e pelo
Concílio de Constantinopla. O sentido de ser é a construção da Cidade de Deus
em toda parte e em todo o tempo.

O mundo está transtornado como se estivesse numa prensa. Coragem, cristãos, se-
mentes de eternidade, peregrinos neste mundo, a caminho do céu! As provações que
se multiplicam são o destino dos tempos cristãos, mas não constituem um escândalo
para o cristão. Se amas este mundo, blasfemarás contra Cristo. E é isso o que te sopra
o teu amigo, o teu conselheiro. Mas não deves escutá-lo. “Se este mundo está sendo
destruído, diz a ele que Cristo o previu” (AGOSTINHO, apud HAMANN, 1989, p. 274)

capítulo 3 • 84
A Patrística de Santo Agostinho: século IV ao século VIII

Após sua conversão, que aconteceu aos 32 anos, depois de uma vida pregressa
e o encontro da fé, Agostinho retoma a Patrística, que é o nome dado ao conjunto
de reflexões empreendidas pelos primeiros padres da Igreja e que se estendeu do
primeiro ao sétimo séculos da era cristã. No primeiro capítulo, tivemos a oportu-
nidade de conhecer as origens da Patrística, que em seu início priorizava a análise
dos textos bíblicos, mas que atualizada por Agostinho, os textos filosóficos fo-
ram contemplados.
O Concílio de Niceia, realizado em 325, teve grande importância e influência
estabelecendo fidelidade e padronização nas questões de fé. Isto tornou possível
à Igreja enfrentar os inúmeros desafios representados pelas dissidências internas e
sistemas rivais.
Santo Agostinho (354-430), reformulou a Patrística, combinando os elemen-
tos da fé com princípios filosóficos retirados de filósofos como Platão e Plotino.
Essa foi a grande contribuição de Agostinho que conservando os argumentos da fé
cristã evocou a razão para manter por longo tempo a unidade da Igreja. “A fé vai
à frente, seguida da inteligência [...]”1. O conceito de “pecado original”, do “livre
arbítrio” A “predestinação divina” foram focos da Patrística de Agostinho.

Os Padres da Igreja, é um grupo formado por autores eclesiásticos cuja autoridade


em assuntos doutrinários tem peso especial. Sua autoridade é utilizada infalivelmente
somente quando eles ensinam a doutrina por unanimidade. Seus ensinos individuais
não são considerados infalíveis, mas devem ser respeitados. Nós iremos destacar seus
pensamentos sobre os Anjos brevemente abaixo. Nós agradecemos a Madre Alexan-
dra pela pesquisa em seu livro. Os Anjos Sagrados (Livro III páginas 131-168).

CONEXÃO
Filosofia Medieval.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Eu-CWNAa6lU&t=924s>.
A Queda de Roma – Cidade de Deus - Santo Agostinho.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0X98bWEPBlA>.
O livro: Cidade de Deus. Disponível em: < http://charlezine.com.br/wp-content/
uploads/Cidade-de-Deus-Agostinho.pdf>.

1  Sermo CXVIII, 1.

capítulo 3 • 85
Escolástica e São Tomás de Aquino

A partir do Século IX surgiram reflexões teológicas e filosóficas envolvendo os


intelectuais oriundos do clero, das escolas catedralícias e das universidades. O foco
de estudo recaiu sobre os tratados filosóficos antigos, propiciando a formação de
movimentos como o Humanismo e o Escolasticismo.
A Escolástica, que vem da Escola. Instruído, foi o método de pensamento
crítico dominante no ensino nas universidades medievais. Teve como principal
objetivo conciliar o ideal de racionalidade, corporificado pela tradição grega do
platonismo e aristotelismo, e a experiência de contato direto com a verdade reve-
lada, a essência da fé cristã.
A Escolástica surge no Século IX, retomando os ideais da Patrística e per-
dura até o fim da Idade Média, no século XVI. Tendo como pontos de partida
as bases Patrística (Primeiros Padres) a Escolástica aprofunda e expande a defesa
da fé se tornando um método de ensino para conciliar Fé e Razão, protegen-
do os princípios teológicos defendidos pela Igreja e valorizando as contribui-
ções primordiais da Filosofia, predominando a forte influência da filosofia grega.
Nas Escolas Monásticas a Escolástica tem o seu berço. A Escolástica se tornou a
“Filosofia Cristã”, tornando-se a guardiã dos valores espirituais e morais de toda
a Cristandade. Seu surgimento tem influência direta com as atividades de ensino
desenvolvidas no interior dos mosteiros e catedrais que culminaram com o apare-
cimento das primeiras universidades.
O termo “Escolástica” se originou das artes ensinadas nas escolas medievais:
trivium: gramática, retórica e dialética e quadrivium: aritmética, geometria, as-
tronomia e música:

' Sócrates e Platão estão a seus pés, porque eram considerados os filósofos precurso-
res do pensamento cristão, embora pagãos. Eram “os sábios do mundo” e “os profes-
sores do povo”, e tinham como tarefa a exploração da natureza profunda de todas as
coisas. O círculo interior da Rainha Filosofia e de seus discípulos Sócrates e Platão é
envolto por outro círculo, maior, onde estão as disciplinas necessárias para o estudo da
Filosofia. São as Sete Artes Liberais: a primeira parte, introdutória, chamada de Trivium,
por conter a Gramática, a Dialética e a Retórica. Na ordem: aprender a escrever e a ler
corretamente, a argumentar e a fazer isso com beleza. (...)Após aprender as discipli-
nas do Trivium, o aspirante à Filosofia deveria passar para as do Quadrivium, matérias
matemáticas: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. (...) O sentido retilíneo do
círculo é claramente do físico para o metafísico (isso porque, desde os antigos pitagó-
ricos, os filósofos pensavam que o mundo fora criado pela divindade de acordo com as

capítulo 3 • 86
regras da harmonia e da ordem). Assim, estudar Geometria, por exemplo, significava
seguir a máxima da Academia de Platão: “Que ninguém exceto os geômetras entrem
aqui”. No grande círculo exterior há os seguintes versos: “A Filosofia ensina as artes
por sete ramos. Investiga os segredos dos elementos e de todas as coisas. O que des-
cobre, retém em sua memória e escreve para transmitir aos alunos”. (SANTO. Bento
Silva e COSTA. Ricardo. 2015. P.18).

Uma parada no Século XI: cisma entre das igrejas

Neste período, enquanto a Escolástica crescia e se constituía como um grande


movimento da filosofia cristã, no século XI, acontece no ano de 1054 o Cisma
entre as Igrejas Cristãs. De um lado, Catolicismo que tem no Papa sua referên-
cia e submissão doutrinal. Do outro, as igrejas orientais que defenderam o po-
der do Patriarca de Constantinopla. Dessa forma é constituída a Igreja Católica
Apostólica Ortodoxa. Expressão grega que significa ‘doutrina reta’, ou seja, fun-
damentada nas bases da tradição original. Seus seguidores são chamados de cris-
tãos ortodoxos, que não aceitam os dogmas católicos, e nem consideram válidos os
sacramentos. Para os ortodoxos não existe purgatório e também não acreditam na
virgindade de Maria após a concepção. Os padres ortodoxos podem se casar, desde
que este tenha ocorrido antes da sua conversão, e apenas os bispos são obrigados a
manter o celibato. A ortodoxia é a corrente doutrinal que se fundamenta em prin-
cípios sistemáticos (metafísicos) e científicos combatendo a heterodoxia. Apoia-se
na Igreja bizantina depois do cisma que os opôs a Roma (nos séculos IX e XI).
A Igreja Ortodoxa está presente no Brasil e foi em São Paulo que foi cons-
truída seu primeiro templo. As igrejas ortodoxas mais importantes são a Igreja
Ortodoxa Grega e Igreja Ortodoxa Russa.

CONEXÃO
Visite o site da Igreja ortodoxa.
Disponível em: <https://www.ecclesia.com.br/igreja-ortodoxa/>.

Apesar de essa separação continuar, já faz alguns anos que a Igreja Católica
Apostólica Romana, através dos sucessivos Papas: João Paulo II, Bento XVI e
Francisco, busca o diálogo fraterno para que se unam nas diferenças. A Igreja

capítulo 3 • 87
Ortodoxa igualmente tem buscado manter esse encontro fraterno. Segue a lista de
alguns dos muitos encontros e visitas:
•  Em 2006, o então Papa Bento XVI, junto com o Patriarca Bartolomeu I emi-
tem uma declaração conjunta. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/be-
nedict-xvi/pt/speeches/2006/november/documents/hf_ben-xvi_spe_20061130_
dichiarazione-comune.html>.

•  Em 2008, Karekin II, Patriarca Supremo e Catholicos de todos os Armênios,


realizaram uma visita oficial ao. Disponível em: <http://www.acidigital.com/
noticias/patriarca-armenio-inicia-visita-oficial-ao-papa-bento-xvi-85961/>.

•  Em 2009: O Papa Bento XVI foi acolhido esta manhã, em


Jerusalém, pelo patriarca Teófilo III, na sede do patriarcado greco-ortodo-
xo. Disponível em: <https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/
bento-xvi/viagens-bentoxvi/terra-santa-bento-xvi/papa-encontra-se-com-
patriarcado-greco-ortodoxo-de-jerusalem/>.

•  Em 2016 Papa e patriarca russo Kirill protagonizaram um desses belos e fecun-


dos encontros. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/02/
papa-e-patriarca-da-igreja-ortodoxa-fazem-reuniao-historica-nesta-sexta.html>.

São Tomás de Aquino


©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.17  –  Triunfo de Santo Tomás de Aquino sobre Averroes.

capítulo 3 • 88
Após essa parada necessária no Século XI para refletir sobre o Cisma e apontar
a realidade atual da tentativa de reencontro ente as Igrejas, voltemos à Escolástica
avançando ao Século XIII, quando encontraremos o maior expoente escolástico
da história da Igreja:
O filósofo que promoveu a transição real do platonismo para uma forma mais
sofisticada de filosofia foi Tomás de Aquino (século XIII). Destacam-se ainda,
neste período, Occam, Scoto e Erígena. São Tomás, no entanto, foi e é o grande
nome da Escolástica. Sua obra-prima Summa Theologica é compreendida como o
exemplo maior da escolástica.
Atualizando em suas bases pelo pensamento de Platão, sintonizando elemen-
tos da natureza com os valores espirituais, a escolástica se amplia quando São
Tomás de Aquino introduz elementos da filosofia de Aristóteles à mesma.
Na busca de harmonização entre fé e razão, a escolástica transita entre o pen-
samento de Santo Agostinho, que era da Escola Patrística, que defende a primazia
da fé que deve subordinar a razão por crer que esta venha restaurar a condição
decaída da razão humana e São Tomás de Aquino que defende certa autonomia
da razão na obtenção de respostas se fundamentando no aristotelismo, sem negar,
que a subordinação da razão a fé.

Historicamente o filosofar na Idade Média latina, a partir da segunda metade do século


XIII e no século XIV, conhece duas formas distintas: a) A filosofia organicamente arti-
culada à teologia e, de alguma maneira, sob a sua regência normativa (“subalternada”
à teologia, como dirá Tomás de Aquino): tal é a filosofia oficialmente praticada nas
Faculdades de Artes das Universidades, degrau necessário para se atingir a Faculda-
de de Teologia. b) E a filosofia que retoma, pela mediação do ideal de vida filosófica
renascido em terras do Islã, a tradição antiga do exercício do filosofar como fonte do
mais alto prazer e da felicidade. (H. C. DE LIMA VAZ,1997. P.294.)
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.18  –  Aula numa Universidade Medieval, iluminura do século XIII.

capítulo 3 • 89
A Escolástica compreende os filósofos antigos, a Bíblia e os Padres da Igreja, auto-
res dos primeiros séculos cristãos foram fontes por terem sobre si a autoridade de fé e
de santidade. Afirma São Tomás de Aquino sobre a Filosofia como “serva da Teologia”:

Uma vez que a intenção principal desta ciência sagrada é transmitir o conhecimento
de Deus, e não só segundo o que é em si (secundum quod in se est), mas também
segundo o que é como princípio e fim das coisas, especialmente da criatura racional,
como é manifesto a partir do que foi dito (q. 1, a. 7); tencionando nós expor esta ciên-
cia, trataremos primeiro de Deus, em segundo lugar, do movimento da criatura racional
para Deus, e, em terceiro lugar, de Cristo, que segundo a sua humanidade, é para nós
via de acesso a Deus. (TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae, I, q. 2., a. 1).

CONEXÃO
Aprofunde sobre a Idade Média – faça essa viagem!. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=Eu-CWNAa6lU>.

Os “Reformadores” Católicos

A Idade Média deixou grandes heranças Teológicas e Espirituais daqueles que


de tudo fizeram para que o Cristianismo e a Igreja não fossem maculados pelo pe-
cado. Eles são os Reformadores Católicos. Por amor a Igreja, deixaram seus bens, se
afastaram da vaidade, renunciaram ao pecado e sofreram perseguição. Tudo fizeram
para evitar o novo cisma na Igreja. Exemplos de fé, resistência, coragem e entrega da
vida em nome de Jesus Cristo. Entre eles podemos citar alguns em séculos diversos:

São Francisco de Assis: (Século XII e XIII) Nasceu em Assis, Itália, em 1182. Era filho
de Pedro Bernardone, um rico comerciante, e Pia, de família nobre da Provença um dos
personagens centrais da Baixa Idade Média, é o fundador da Ordem dos Frades Meno-
res, foi, no início de sua juventude, um combatente militar, chegando a lutar ao lado das
forças do Papa Inocêncio III em 1205.
Catarina de Senna: nasceu em 25 de março de 1347, (Século XIV) na cidade de Siena
(Sena), na Itália. Filha de uma família muito pobre, ela foi uma entre os vinte e cinco filhos
que seus pais. Teve uma infância conturbada. Mesmo analfabeta, viajou pela Itália e outros
países. Não temeu repreender reis, príncipes, cardeais, Bispos e Papas. Enfrentou as tur-
bulências e se alimentou da fé. Fazia penitências, buscava a santidade, rezava com fervor e

capítulo 3 • 90
se penitenciava para ficar cada vez mais próxima da verdade de Jesus. Uma das importan-
tes místicas, escritoras e reformadoras da Igreja e é ainda hoje muito respeitada por suas
obras espirituais e sua audacidade política, alguém que teve coragem de "dizer a verdade
ao poder"— um feito excepcional para uma mulher de seu tempo, capaz de influenciar a
política e a história de sua época, tudo por incondicional amor à Igreja.
Santa Teresa de Ávila: também conhecida como Santa Teresa de Jesus. (Século XVI)
Nasceu em Ávila, na Espanha, em 1515, é considerada um dos maiores gênios que a
humanidade já produziu. Mesmo ateus e livres-pensadores são obrigados a enaltecer
sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo
e atraente e seu profundo bom senso. Doutora da Igreja. Uma mulher de atitude que
ousou sonhar em Deus. “Devemos traduzir nossos sonhos em feitos, nossas palavras
em obras, nossas aspirações em ação”, dizia ela. Foi grande reformadora da Igreja so-
frendo perseguições junto com São João da Cruz. Viveu em época contemporânea à
reforma protestante.
São João da Cruz: São João da Cruz nasceu em 1542 (Século XVI) em Fontiveros,
província de Ávila, na Espanha. Seus pais se chamavam Gonzalo de Yepes e Catalina
Alvarez. Pregador, místico, escritor e poeta. Faleceu após uma penosíssima enfermida-
de, em 1591, com 49 anos de idade. Escreveu obras bem conhecidas como: Subida do
Monte Carmelo; Noite escura da alma (estas duas fazem parte de um todo, que ficou
inacabado); Cântico espiritual e Chama viva de amor. No decurso delas, o itinerário que
a alma percorre é claro e certeiro. Negação e purificação das suas desordens sob todos
os aspectos. Foi grande reformador da Igreja sofrendo perseguições junto com Santa
Tereza de Ávila. Viveu em época contemporânea à reforma protestante.

ATENÇÃO
Estamos chegando ao final do capítulo. Mais uma vez vale lembrar, que é preciso pes-
quisa aprofundada, para que os fatos sejam conhecidos sem o ocultamento dos intervalos
que acontecem ao tentar apresentar a história do Cristianismo ao longo de 11 séculos em
algumas páginas. Por isso, além das referências foram indicadas, se lance na busca. Você
não irá se arrepender!

Reforma protestante

Podemos identificar dois grandes momentos de crises teológicas ao longo da


história do Cristianismo.
•  Entre os anos 325 e 451: por causa das heresias, quando os líderes das
primeiras comunidades primitivas foram convocados a participar dos concílios
universais ou ecumênicos para refletirem os problemas doutrinários que causavam
divisões e discórdias e estabelecer bases dogmáticas únicas.

capítulo 3 • 91
•  No século XVI: com a Reforma Protestante. O anuncio do fim da Idade
Média e o apogeu da Idade Moderna se identifica pela onda de ataques a Escolástica
por seus ensinamentos e também pelo ataque à Cristandade.
A Reforma Protestante acontece no século XVI liderado por Martinho Lutero.
Este Padre Católico, que se rebela contra a Igreja Romana por querer reformas,
publica 95 teses em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de
Wittenberg. Teses que criticam as vendas de indulgências, contra os abusos do
clero também uma proposta de reforma no catolicismo romano.

Resultado de uma longa evolução e de causas complexas, a revolta de Lutero contra


Roma explode em 1517. No plano doutrinal, a Reforma quer “protestar” contra as dou-
trinas “papistas” e retornar ao pensamento do cristianismo primitivo, reflexo da autên-
tica revelação cristã: esse movimento de Reforma promoveu uma aplicação religiosa
do conceito de tempo intermediário como tempo de degeneração religiosa, ou seja, da
perda de autenticidade do cristianismo primitivo. A Reforma protestante apresenta um
elemento tipicamente moderno, a saber: o individualismo na questão da interpretação
dos textos bíblicos. Esse individualismo associa-se à questão da autonomia, uma vez
que não se admite como critério normativo de interpretação a ideia de tradição, tal
como ocorre na Igreja Católica. SANTO. Bento Silva e COSTA. Ricardo. 2015. p 09.

Continuaremos esta viagem no próximo capítulo, mas você pode, desde já,
ampliar a pesquisa, não é mesmo?

ATIVIDADES
01. A Patrística é uma Filosofia cristã, dos primeiros séculos da nossa era, formulada pelos
padres ou pais da Igreja, baseada em conceitos da filosofia grega, que consiste na elabora-
ção doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e no combate ao paganismo e às here-
sias que ameaçavam sua unidade. O que a Patrística dos primeiros séculos tem a ver com a
grande contribuição que Santo Agostinho deixou para o Cristianismo?

02. São Tomás de Aquino foi o expoente da “Filosofia Cristã” na Idade Média, que ficou
conhecida como “Escolástica”. Qual a importância da Escolástica para o Cristianismo e o que
ela propõe?

capítulo 3 • 92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CECHINATO, Pe. Luiz. Os 20 séculos de caminhada da Igreja: principais acontecimentos da
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CORBIN, Alain (org.). História do Cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. Trad.:
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Curtis, A. Kenneth Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do
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DI BERARDINO, A. Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs. Tradução de Cristina Andrade.
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Padres Apostólicos. S. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Verbete Inácio de
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FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma: vida pública e vida privada. Cultura, pensamento e
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FERRARI, Silvio. “Cesaropapismo”. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
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GALBIATTI. Henrique. O Evangelho de Jesus. (Sup.) Subsídios didáticos sobre os cuidados dos
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HAMANN, A., Santo Agostinho e seu tempo, S. Paulo: Paulinas, 1989

capítulo 3 • 93
HELLEY, Bruce. O período de Jesus e dos Apóstolos in História do Cristianismo ao Alcance de
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TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae, I, q. 2., a. 1). Disponível em: <https://sumateologica.files.
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capítulo 3 • 94
4
Da Reforma à
proposta da
razão ateísta do
Iluminismo
Da Reforma à proposta da razão ateísta do
Iluminismo

Essa tem sido uma bela jornada, não é mesmo? Já chegamos ao Capítulo IV.
Foram muitas descobertas, reflexões, interrogações que alimentaram nosso desejo
de aprofundar com mais intensidade a História do Cristianismo. Uma história
de muitas dores, perseguições, sofrimentos, incertezas e dúvidas, mas igualmente
uma História de Fé, de Revelação Divina, de resistência, de alegria e de muita
esperança. O personagem central dessa História é Jesus Cristo! “Eu sou o Alfa
e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-
Poderoso” (Apocalipse 1, 8).
Neste capítulo, mais uma vez somos chamados fazer uma retrospectiva de fa-
tos que marcaram a História Cristã. Nossa viagem, dessa vez, partirá da Reforma
no Século XVI à proposta da razão ateísta do iluminismo. São três séculos de
história. A intenção é destacar os principais fatos que marcaram a História do
Cristianismo, inclusive o estabelecimento da “Época sem Cristianismo” que o ilu-
minismo, no século XVIII, tentou implantar, deixando consequências complexas
para a história posterior do Cristianismo.
Vamos avançar nossa pesquisa por águas mais profundas aceitando o convite
de Jesus? Disse Ele: Avança para águas mais profundas (...) Não tenha medo!
(Lc 5,4,)
Não se esqueça das duas orientações iniciais:
99 Lembre-se, de que ter a Bíblia ao seu lado, possibilitará o desenvolvimen-
to do conhecimento.
99 Não deixe de analisar, contemplar e acessar as fontes indicadas (ima-
gens, vídeos, canções, áudios, sites...), pois abrirão os horizontes. Você pode bus-
car muitas outras. Exerça sua condição de pesquisador

OBJETIVOS
•  Conhecer as causas que levaram à Reforma Protestante e as consequências da fragmen-
tação do Cristianismo do século XVI ao século XVIII;
•  Identificar a unidade entre Razão e Fé que possibilitou o crescimento da ciência no Sécu-
lo XVII;

capítulo 4 • 96
•  Compreender a resistência Cristã contra a proposta da “época sem Cristianismo” advinda
da razão ateísta do iluminismo e as complexas consequências para a história posterior do
Cristianismo.

Da Reforma à proposta da razão ateísta do Iluminismo

No capítulo anterior viajamos por 11 séculos. Fizemos memória da História


do Cristianismo de Constantino até as primeiras informações sobre a Reforma.
Uma longa viagem cheia de tropeços, erros, batalhas, luta pelo poder, desvios da
fé, mas como sempre foi na História do Cristianismo, uma viagem de muitas vi-
tórias, conquistas, resistência e profissão de fé. Mesmo nos grandes conflitos e nas
rupturas, o Cristianismo ascendeu.

SÉCULO XVI

A Reforma Protestante

A Reforma Protestante acontece no século XVI, liderado por Martinho Lutero.


Padre Católico, sendo Monge Agostiniano e Professor de Teologia, se rebela con-
tra a Igreja Romana por querer reformas, publica 95 teses em 31 de outubro de
1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Teses que criticam as vendas
de indulgências, contra os abusos do clero; também uma proposta de reforma no
catolicismo romano.

Resultado de uma longa evolução e de causas complexas, a revolta de Lutero contra


Roma explode em 1517. No plano doutrinal, a Reforma quer “protestar” contra as dou-
trinas “papistas” e retornar ao pensamento do cristianismo primitivo, reflexo da autên-
tica revelação cristã: esse movimento de Reforma promoveu uma aplicação religiosa
do conceito de tempo intermediário como tempo de degeneração religiosa, ou seja, da
perda de autenticidade do cristianismo primitivo. A Reforma protestante apresenta um
elemento tipicamente moderno, a saber: o individualismo na questão da interpretação
dos textos bíblicos. Esse individualismo associa-se à questão da autonomia, uma vez
que não se admite como critério normativo de interpretação a ideia de tradição, tal
como ocorre na Igreja Católica. (SANTO. Bento Silva e COSTA. Ricardo. 2015. p.09)

capítulo 4 • 97
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.1  –  Martinho Lutero.

A Igreja Católica detinha a centralidade da fé e buscava maior expansão pelas


descobertas ultramarinas, mas apesar disso, já lidava com conflitos e contestações
em seu cotidiano. Já havia pequenas turbulências que questionavam certas práticas
que faziam com que se afastasse do verdadeiro ideal do Evangelho. Esses contes-
tadores ficaram conhecidos como os Pré-Reformadores e entre eles estava Lutero.
As contestações tomaram força, pela liderança do Monge, e estabeleceu, na Igreja
Romana, a maior crise da história, aquela que geraria a Reforma, um novo modo
de compreender e experimentar o Cristianismo.

CONEXÃO
Saiba mais
Veja o filme: Lutero. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=
Et6at_yvMd8>.

Lutero começa sua contestação pela prática das indulgências. Indignado com
o pagamento do perdão dos pecados, quando as penitências ou o perdão total e
parcial eram concedidos de acordo com o valor pago. A dívida Espiritual paga pela
oferta material. A prática das indulgências, que era considerada para casos especí-
ficos, passa a ser utilizada em todas as situações, independentemente da situação
e condição do fiel. A lógica das indulgências como a “Salvação pela boa obra” era
aceita e recomendável e tinha suas bases na Doutrina de São Tomás de Aquino,
mas foi desviada para caminhos que divergiam de seus reais e profundos sentidos.
Além das Indulgências, Lutero também não estava satisfeito com a forma com
que a Igreja Romana tratava a questão das Santas Relíquias. Símbolos e objetos

capítulo 4 • 98
Sagrados que visualizavam a fé, tratados como peças de comércio, além de serem
falsificados enganando o povo cristão que, com fé acreditava ter comprado um
objeto ligado diretamente a Jesus. Dessa forma se instalou o pecado da Simonia1.
Outras questões também incomodaram a Lutero, como por exemplo, a venda
de Cargos Políticos e Religiosos; Centralização do Poder Papal e o poder de in-
terpretação da Bíblia escrita somente em Latim. Ele duvidava das interpretações
sinalizando que havia inconsistência entre o que dizia a Sagrada Escritura e a
prática dos líderes religiosos.

CONEXÃO
Conheça as 95 teses de Lutero. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/
credos/lutero_teses.htm>.

Agora que já conheceu as 95 teses de Lutero, conheça os Cinco Credos


Teológicos para combater a Doutrina da Igreja Católica que ficaram conhecidos
como as “Cinco Solas”, ou seja, cinco frases em latim, que definem os Princípios
da Reforma Protestante. Sola significa somente:
•  SOLA FIDE: “Somente a Fé”: A fé é o instrumento pelo qual nos apropria-
mos da salvação conquistada plenamente por Cristo.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JrKhdMs8VAo>.

•  SOLA SCRIPTURA: “Somente a Escritura”: Somente a Bíblica deve ser


utilizada como regra da doutrina. Ela é a autoridade máxima.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=u7cIpF8rl7Y>.

•  SOLUS CHRISTUS: “Somente Cristo”: A Salvação vem de Jesus e so-


mente por Ele. Jesus é o único caminho que leva a Deus. A Tradição continua
tendo lugar, mas é a Sagrada Escritura que julgará sua validade.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iub1K8LFzvw>.

•  SOLA GRATIA: “Somente a Graça”: É pela Graça de Deus que nos liber-
tamos do pecado e somos conduzidos para a Vida Eterna.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SpzqvURblUo>.
1  Simonia: Comércio ilícito de bens espirituais, de coisas sagradas, de benefícios eclesiásticos. (Michaelis online)

capítulo 4 • 99
•  SOLI DEO GLORIA: “Glória somente a Deus”: O fim principal de toda
pessoa é a glorificação de Deus. Em Deus está a Salvação e o sentido da existência.
Fomos criados para a Glória de Deus. Todas as obras humanas devem lembrar
a Glória.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Xi7yOomMDIM>.

Lutero e a educação

Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus e
nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado que cometemos contra as
crianças, quando as educamos (...). Para ensinar e educar bem as crianças precisa-se
de gente especializada (Lutero, 1995, Vol. 5, p. 307 e 308).

A crise que assola o contexto do século XVI, que faz com que Lutero lidere a
Reforma Religiosa, também apontava para outras crises, entre elas, para o refor-
mador, também a Educação precisava ser reformada.

Caros senhores, anualmente, é preciso levantar grandes somas para armas, estradas,
pontes, diques e inúmeras outras obras semelhantes, para que uma cidade possa viver
em paz e segurança temporal. Por que não levantar igual soma para a pobre juventude
necessitada, sustentando um ou dois homens competentes como professores? (LU-
TERO, 1995, Vol. 5, p. 305)

Para Lutero, a formação ministrada nos Conventos e Escolas tinha o único


objetivo de formar intelectuais que pudessem dar continuidade à hegemonia re-
ligiosa da Igreja Católica Romana. Neste sentido, Lutero (1987.p. 305), além de
uma reforma religiosa, pensava em uma Reforma Educacional e expressava com
clareza os seus ideais.
A formação de Lutero (1987, p. 306) foi fundamentada na escolástica me-
dieval e por isso tinha bases teóricas sólidas, mas faz uma crítica severa ao ensino
universitário e nos conventos e sugere o estabelecimento de novos métodos no
processo educativo:

(...) se as universidades e conventos continuarem como estão, sem a aplicação de no-


vos métodos de ensino e modos de vida para os jovens, preferiria que nenhum jovem
aprendesse qualquer coisa e ficassem mudos. (LUTERO, 1995, Vol. 5, p. 305)

capítulo 4 • 100
Lutero (1987. P.307), também se preocupou com o papel da família na
Educação dos filhos. Disse no Catecismo Menor

Aqui também deves insistir particularmente com as autoridades e os pais, para que
governem bem e levem os filhos à escola, mostrando-lhes por que é sua obrigação
fazê-lo e que pecado maldito cometem se não o fazem. Pois com isso, derrubam e as-
solam tanto o reino de Deus como o reino do mundo, como os piores inimigos de Deus
e dos homens. E frisa bem que horrível dano causa senão cooperam na educação de
crianças para serem pastores, pregadores, notórios etc., de sorte que por isso Deus
lhes há de infligir medonho castigo. Pois é necessário pregar sobre essas coisas. Os
pais e governantes pecam nisso agora de maneira indizível. O diabo também leva de
mira algo de cruel com isso. (LUTERO.1983. p. 20)

Compreendendo o dever do Estado, Lutero também compreendia a Educação


como um grande e fecundo canal para a formação das consciências através do
acesso à Bíblia. A Sagrada Escritura deveria ser lida e conhecida por todos. Para
tal, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, facilitando o acesso dos fiéis aos textos
Sagrados e para isso exigiu das autoridades políticas a criação de Escolas Cristãs
(1524) diferenciadas dos modelos escolásticos, que pudessem levar à frente o seu
projeto educativo evangelizador.
©© CROCOMIREDSK~COMMONSWIKI | WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.2  –  Universidade Luterana do Brasil.

capítulo 4 • 101
CURIOSIDADE
Em janeiro de 1988, o Presidente da República, José Sarney, autorizou pelo Decreto
95.623 a criação da Universidade Luterana do Brasil, a partir das Faculdades Canoenses,
pela via da autorização. Tornando-se a principal instituição que representa a concepção de
educação luterana no Brasil.

Os três grandes Reformadores: Lutero, Henrique VIII e João Calvino

Contemporâneos de Lutero, Henrique VIII (1534) e João Calvino (1536),


lideraram o movimento de Reforma a partir de seus próprios ideais e entendimen-
tos, que já não eram totalmente identificados ao de Lutero.
©© WIKIMEDIA.ORG

©© WIKIMEDIA.ORG

Rei Henrique VIII. João Calvino.

capítulo 4 • 102
Henrique VIII e a Reforma Anglicana

Não era um religioso, mas um Rei. Uma reforma Religiosa liderada por um
Monarca Absolutista da Inglaterra. Revoltado por sua mulher não ter gerado um
filho, envia ao Papa um pedido de divórcio para se casar com uma de suas aman-
tes. A Igreja nega o pedido por ser considerado pecado gravíssimo. Mais revoltado
ainda com a negação da Igreja, Henrique VIII se declara, em 1534, o “Chefe
Supremo” da Igreja na Inglaterra. Assim surge a Igreja Anglicana. Para as mãos
do Rei passam as propriedades, todas as riquezas materiais e a responsabilidade
doutrinal da fé.

ATENÇÃO
No mesmo ano de 1534
•  Rei Henrique VIII foi excomungado pelo Papa Paulo III por ter criado uma nova Igreja.
•  Foi fundada a Companhia de Jesus, uma das maiores e mais intensas organizações a ser-
viço da Fé Cristandade para resistir à Reforma.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.3  –  Igreja Anglicana de João Batista de Little Missenden, Buckinghamshire,


Inglaterra.

capítulo 4 • 103
©© EVERTON ZANELLA ALVARENGA | WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.4  –  Igreja Episcopal Anglicana do Brasil -São Paulo.

A Igreja fundada por Henrique VIII permaneceu no início similar a Igreja


Católica, inclusive com o Clero remanescente do Catolicismo Romano. A ruptura
com a Igreja Católica ocorreu principalmente por questões políticas. Logo essa
similaridade foi dissipada e a nova Igreja de Henrique VIII sintonizou-se aos ideais
da Reforma Protestante, especialmente do calvinismo.
Além de ser tomado por ira por causa da recusa do divórcio, Henrique VIII pro-
moveu a reforma religiosa para enfraquecer o poder do Papa e da Igreja na Inglaterra,
já era imensa a influência ideológica na Inglaterra, também era dona de muitas terras
e monopolizava o comércio das Relíquias Sagradas. Henrique VIII queria se apossar
dos bens materiais e do poder ideológico da Igreja Católica na Inglaterra.
Em 1534, foi criada a Igreja Anglicana através do voto do parlamento inglês no
Ato de Supremacia, que considerava Henrique VIII o chefe supremo da Igreja da
Inglaterra. Assim sendo, todos os fiéis passaram a se submeter ao Rei e não ao Papa.
Os desobedientes seriam excomungados e julgados, sendo, inclusive, perseguidos.

CONEXÃO
Saiba mais sobre Henrique VIII.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W8Iv0wV67LM>.

capítulo 4 • 104
Neste cenário, aparece Thomas More, o grande escritor de Utopia, um dos
poucos que ousou questionar e resistir ao absolutismo de Henrique VIII e pagou
com sua decapitação.

Sua trágica morte - condenado a pena capital por se negar a reconhecer Henrique VIII
de Inglaterra como cabeça da Igreja da Inglaterra, é considerada pela Igreja Católica
como modelo de fidelidade à Igreja e à própria consciência, e representa a luta da
liberdade individual contra o poder arbitrário. Devido à sua retidão e exemplo de vida
cristã, foi reconhecido como mártir, declarado beato em 29 de dezembro de 1886 por
decreto do Papa Leão XIII e canonizado, conjuntamente com São João Fisher, em 19
de maio de 1935, pelo Papa Pio XI. O seu dia festivo é 22 de junho. Deixou vários
escritos de profunda espiritualidade e de defesa do magistério da Igreja. Em 1557,
seu genro, William Roper, escreveu sua primeira biografia. Desde a sua beatificação e
posterior canonização publicaram-se muitas outras. Em 2000, São Thomas More foi
declarado [6] "Patrono dos Estadistas e Políticos" pelo Papa João Paulo II. Disponível
em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More>. Acesso em: 29 mar. 2018>
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.5  –  Thomas More.

CONEXÃO
Decapitação de Thomas Mores
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TS3Ra0TayTs>.

capítulo 4 • 105
João Calvino e a Reforma Calvinista

Recebeu influência de Lutero, ao qual, em um de seus escritos foi chamado


de seu “Pai”. Também formado para servir a Igreja Romana, acaba se convertendo
ao protestantismo entre 1532 e 1533, mas não há muitos registros. Um texto es-
crito em 1557 como prefácio ao seu comentário sobre os salmos Calvino registra
algumas explicações:

Quando eu era ainda um garotinho muito novo, meu pai destinou-me ao estudo de
teologia. Mas depois, quando percebeu que o exercício da profissão de advogado, em
geral, levava aqueles que a seguiam à riqueza, essa perspectiva induziu-me repenti-
namente a mudar seu propósito. Assim, ocorre que fui retirado dos meus estudos de
Filosofia, e fui colocado para estudar Direito. Esforcei-me fielmente para aplicar-me
nessa atividade, em obediência à vontade de meu pai; mas Deus, pela secreta direção
de sua providência, ao final deu uma direção diferente ao curso de minha vida.
A princípio, como eu estava, por demais, obstinadamente inclinado às superstições do
papado para ser facilmente libertado de tão profundo abismo de lama, Deus, mediante
uma repentina conversão subjugou-me e levou-me a uma organização mental que
pudesse ser educada, que era mais oprimida por essas questões do que se poderia es-
perar de alguém com tão pouca idade. Tendo então recebido alguma amostra e algum
conhecimento da verdadeira piedade, fui imediatamente inflamado por um desejo tão
intenso de fazer progresso a partir daí que, ainda que não tenha deixado os outros es-
tudos, passei a me dedicar a eles com menos ardor. (CALVINO, João. 1999, p. 10. 1v.)

Francês, perseguido em seu país por causa de suas ideias reformadoras, se


exila na Suíça, em 1536, difundindo o que ficou conhecido como “Cristianismo
Calvinista”. Tornando-se Professor e Pastor e passa a aprofundar o estudo aperfei-
çoando sua forma de compreender e viver o Cristianismo.

Calvino foi, inicialmente, um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu
afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente,
como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reco-
nhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes, na Fran-
ça, fugiu para Genebra, em 1536, onde faleceu, em 1564. Genebra tornou-se defini-
tivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje
uma figura central da história da cidade e da Suíça. (BIOGRAFIA DE JOÃO CALVINO:
Acesso em: 22 mar. 2018)

capítulo 4 • 106
Calvino mantinha sua base teológica ligada a Santo Agostinho, por isso acre-
ditava na predestinação. Viemos ao mundo para sermos salvos ou condenados.
Desta forma, a salvação depende da vontade de Deus e não das boas obras. O
trabalho, a pureza de costumes, o cumprimento dos deveres para com a sociedade
e a família são pontos da teoria calvinista sobre a salvação, ou seja, a vida de quem
cumpre esses preceitos é abençoada por Deus, resultando no progresso econômico.

(...) a maioria dos escolásticos protestantes dos séculos XVI e XVII não tinha cons-
ciência das semelhanças entre seus próprios empreendimentos teológicos e os de
Tomás de Aquino e de outros teólogos católicos medievais... Embora poucos (ou talvez
nenhum) desses praticantes do escolasticismo protestante reconhecessem explici-
tamente sua dívida para com fontes documentais católicas romanas, os sistemas de
pensamento ortodoxo protestante que desenvolveram dependiam muito das referidas
fontes e, sobretudo, de seus métodos de dedução lógica e especulação metafísica.
(GONZALEZ, Justo L. São Paulo: 2004, p. 274)

Seria o que hoje ficou conhecido com Teologia da Prosperidade. No calvinis-


mo a acumulação de bens deixou de ser vista como pecado. A discreta vida levada
pelos calvinistas estimulava ainda a contenção de gastos desnecessários, o que con-
tribuía para a acumulação de riquezas.
Influenciado por Lutero, muito tinha em comum com ele, mas divergia em
muitos pontos essenciais, entre elas a doutrina da salvação. Para Lutero, a salvação
se dá pela fé e para Calvino pela predestinação. “Se se tem de transitar pela terra
apenas de passagem, não há dúvida de que, enquanto neste mundo, devemos usar
dos bens, de modo que eles nos ajudem ao invés de nos embaraçarem a passagem”
(BONI, 2000, p. 229-230).

A fim de estabelecer uma base religiosa em uma moral cristã, Calvino escreveu o
Catecismo, aprovado pelo Grande Conselho, em novembro de 1536. Houve, por parte
do conselho, uma disciplina bastante severa com o objetivo de moralizar os costumes.
Foram estabelecidas rígidas regras de comportamento, foi proibida a vadiagem e o
comerciante ficava impedido de roubar no peso ou extorquir. Em 1536, o Pequeno
Conselho decretou a abolição da missa e a remoção de todas as imagens e relíquias
das igrejas. (DURANT, Will. 1957.p 391-392)

capítulo 4 • 107
Os princípios Calvinistas geraram muita satisfação, mas também desconfian-
ças por causa de alguns equívocos:

(...) No documento havia pontos pacíficos como a valorização da família, a eleição dos
pastores de cada paróquia e a representatividade dos presbíteros nos distritos. Contu-
do, logo no primeiro artigo do documento, havia uma matéria que Biéler classificou de
"equívoco calvinista” que suscitou controvérsias e interpretações fantasiosas. Por ele
dava-se ao magistrado civil o poder de intervir para avaliar a fé dos cidadãos, o que não
deixava de ser uma espécie de continuidade da política Católico-Romana. (BIÉLER,
1990. p. 135-137)

As Regras da Reforma Calvinista

Em março de 1536, foi publicada em Basileia a pri-


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meira edição de "Institutio religionis Christianae": A


Instituição Cristã, sua obra mais importante. Sua
teologia começava a adquirir autonomia se tornan-
do independente do Luteranismo. Criticava a vida
dos mosteiros, que comparava a bordéis e pregava
que queria não só a reforma da Igreja, mas de to-
dos os indivíduos. A institutio é "a organização da
sociedade daqueles que acreditam em Jesus Cristo".

Após desenvolver a teoria da predestinação ab-


soluta que diferenciou sua Reforma da pretendida
Figura 4.6  –  Institutio
por Lutero, o protestantismo pregado por Calvino
christianae religionis, 1597.
estabeleceu regras rígidas. Entre elas:

•  O conhecimento do evangelho através de rígidos estudos;


•  Realização de cultos em templos simples sem muita ornamentação, o que
não atrapalharia e nem desviaria a atenção dos fiéis;
•  Não bastam levar uma vida de fé e religiosidade, os seguidores do calvinis-
mo deveriam levar uma vida de trabalho e austeridade;
•  Expressamente proibido a participação em jogos de azar e em bailes e teatros;
•  Os sacramentos foram reduzidos a dois: o batismo e a comunhão, já que na
Igreja Romana eram sete.

capítulo 4 • 108
•  A presença de Cristo na eucaristia se dava pela presença puramente espiri-
tual e não corpórea.
•  O Batismo era apenas um sinal através do qual o fiel era aceito como mem-
bro da comunidade cristã.
•  A fé é apenas uma espécie de indício de que um determinado indivíduo é
um ser destinado à salvação.

A Doutrina Calvinista influenciou a criação de diversas escolas e universidades


em Genebra. A contribuição do Calvinismo na Educação se espalhou por toda a
Europa e fazendo surgir importantes centros universitários.

CURIOSIDADE
Ao contrário de outras doutrinas religiosas, o calvinismo não se baseou na criação de
uma igreja específica. Sua teoria serviu de base para a doutrina religiosa de diversas igrejas
protestantes, entre elas a mais conhecida é a Igreja Presbiteriana.

O cenário neste momento é de um Cristianismo dividido em quatro verten-


tes: Romano, Luterano, Calvinista e Anglicano.

CONEXÃO
Saiba mais sobre o Calvinismo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=
bLwU52O_adg>.
Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=-xJ4U2RQXHMC&printsec
=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=
Calvino&f=false>.

A Contrarreforma

A Igreja Católica respondeu aos ataques de Lutero e criou o movimento que fi-
cou conhecido como Contrarreforma. Para isso o Papa João III, nomeado em 1534,
convocou o Concílio de Trento, que se estendeu entre os anos de 1545 e 1563.

capítulo 4 • 109
©© WIKIMEDIA.ORG
Figura 4.7  –  Concílio de Trento.

A bula Papal indicava que o Concílio de Trento deveria elaborar medidas con-
tra os desvios da fé para a reconstituição da unidade da Igreja. As estratégias para
conter o avanço do Protestantismo:
•  Ampliou e reforçou o controle da Igreja sobre as nações;
•  Restaurar a inquisição;
•  Destruição dos livros que divulgavam doutrinas contrárias à Igreja;
•  Criação da Companhia de Jesus: Movimento de Cristandade liderado por
Inácio de Loyola.

Do outro lado, os Protestantes, durante o Concílio de Trento, publicaram três


confissões de fé: a Confissão Escocesa (1560), o Catecismo de Heidelberg (1562)
e a Segunda Confissão Helvética (1562). Todas contrárias às decisões proferidas
pela Igreja durante o Concílio de Trento.

capítulo 4 • 110
A Companhia de Jesus: Ordem dos Jesuítas

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.8  –  Inácio de Loyola - Fundador da Companhia de Jesus.

A Companhia de Jesus, ou Ordem dos Jesuítas, foi fundada em 1534 por um


pequeno grupo, sob a liderança de Inácio de Loyola (1491 – 1556) e, em 1540
foi definitivamente reconhecida pela Igreja. Foi um dos maiores movimentos de
Cristandade que se tem notícia na história e se espalhou por muitos países afora.
Os jesuítas propagaram o catolicismo por toda a Europa, na Ásia e nas Américas.

A Companhia, como se sabe, é composta de membros, que têm, a um tempo, caráter


regular e secular; são membros de uma ordem religiosa com estatutos e autoridades
próprias e do mesmo passo são sacerdotes ordenados que exercem todas as funções
dos demais sacerdotes. Ao contrário das outras ordens religiosas, vivem no século,
no mundo; e a Companhia tem caráter sumamente empreendedor e combativo. Sua
mesma designação de Companhia já indica o caráter de milícia, assim como a organi-
zação, disciplina e espírito de obediência, tudo para a maior glória de Deus (Omnia ad
Majorem Dei Gloriam ou, abreviadamente, A.M.D.G.). Dependem os membros de um
Geral e, em cada nação, de um provincial, embora submetidos à autoridade do Papa.
(LUZURIAGA, 1975, p. 118-119)

Sua organização se assemelhava a de um exército, pela disciplina e empenho,


voltado para a expansão da influência da Igreja no mundo. Assumiram também
o papel de educadores, criando estabelecimentos de ensino em que as disciplinas
fundamentais eram combinadas com a instrução religiosa e o desenvolvimento da
fé, principalmente nas colônias ibéricas.

capítulo 4 • 111
O Novo Mundo: Expansão da colonização na América para levar o
Cristianismo

Figura 4.9 – Brasão da Companhia de Jesus.

Não podemos esquecer que a expansão para o Novo Mundo, as Américas,


acontece neste momento, e além de significar a busca por novas fontes de riquezas,
aos poucos também se tornou um avanço para o Cristianismo. Para recuperar a
crise estabelecida pela Reforma, levando a fé aos povos que ainda não a conhecia,
de um lado; e pela oportunidade de levar a fé cristã reformada a novas terras, de
outro. Buscando a conquista de territórios e a reconquista da centralidade do
cristianismo Romano, os Jesuítas, com reforço dos reis peninsulares lançaram-se
sobre as terras de Ultramar, para a colonização do novo território. Logo, a con-
quista da América (basicamente toda a América Latina) expande a fé católica,
que passa a trabalhar pela conversão dos povos indígenas. E na América Anglo-
saxônica, prioritariamente acontece a penetração dos Reformados, em especial de
origem calvinista.

MULTIMÍDIA
Assista o Filme: A MISSÃO.
Disponível em: <https://gloria.tv/video/3hF314UDFYMBARE1dCdnCtcqf>.

capítulo 4 • 112
A Contribuição dos Jesuítas na Educação não pode ser desprezada ou anali-
sada somente pela vertente do ataque às práticas da Idade Média. O Ratio Atque
Institutio Studiorum Societatis, mais conhecido por de Ratio Studiorum, foi o mé-
todo de ensino instituído pelo Jesuíta líder da Companhia de Jesus. O método
estabelecia o currículo, as normas e as orientações que todos os Jesuítas deveriam
seguir nas atividades educacionais das escolas em qualquer lugar que estivessem,
seja na Colônia como na Metrópole. O Método Jesuíta de Educação foi funda-
mentado nas Teorias de Aristóteles e de São Tomás de Aquino e também pela cul-
tura europeia, principalmente no momento em que o Movimento Renascentista
era a centralidade da época. O método de Inácio de Loyola difundiu a Educação
humanista de caráter universal e tinha na música e na literatura aliadas essências
à formação humana.

O Ratio Studiorum estava fundamentado nas Regras do Colégio Romano e tinha como
orientação filosófica Aristóteles e São Tomás de Aquino e foi fortemente influencia-
do pelo Movimento da Renascença. Seus fundamentos básicos estavam direcionados
para o ensino religioso e a catequese. O método era centralizador, presente, portanto,
o papel da autoridade, fortemente influenciado pela cultura européia. A sua orientação
era universalista, voltada para a formação humanista e literária. Direcionado para os
seus objetivos, utilizaram-se da língua indígena, da música e do teatro para catequi-
zação. Os jesuítas demonstraram em seu trabalho profundo conhecimento da alma
humana e de psicologia, buscando de suas perspectivas a adaptação do currículo pro-
posto (NETO; MACIEL; LAPOLLI, 2012, p.277)

No Brasil, a atuação dos Jesuítas também foi fecunda no campo da Educação


contribuindo decisivamente com a construção de colégios, Universidades e desen-
volvimento da Pedagogia. Elaboraram, tendo como base o Ratio Studiorum, um
plano de estudos:

(...) diversificada, com o objetivo de atender à diversidade de interesses e de capaci-


dades. Começando pelo aprendizado do português, incluía o ensino da doutrina cristã,
a escola de ler e escrever. Daí em diante, continua, em caráter opcional, o ensino de
canto orfeônico e de música instrumental, e uma bifurcação tendo em um dos lados, o
aprendizado profissional e agrícola e, de outro, aula de gramática e viagem de estudos
à Europa. (RIBEIRO, 1998, p. 21-22)

capítulo 4 • 113
MULTIMÍDIA
A Companhia de Jesus no Brasil, Brasil, Papa Francisco e Educação
Reportagem do Jornal da Gazeta: <https://www.youtube.com/watch?v=dX6NMwGi0zY>.
Reportagem da TV Globo: <https://www.youtube.com/watch?v=k3y-ii4P09A>.
Reportagem Univesp/TV: <https://www.youtube.com/watch?v=ic28PaXiM14>.

A Reforma e Contrarreforma buscaram mecanismos para garantir a expansão


de suas ideias e o combate a ideias opostas. Podemos destacar os Tribunais de
Inquisição, de ambos os lados; o Index Librorum Prohibitorum, constituído para
garantir a manutenção da integridade da Fé Cristã Católica e a detenção do avan-
ço do protestantismo.

CONEXÃO
A Inquisição Protestante. Conheça a curiosa e triste história das BRUXAS DE SALÉM:
Disponível em: <http://portalconservador.com/o-julgamento-das-bruxas-de-salem/>.

Os massacres como consequências das Reformas e Contrarreforma

A história da Reforma está marcada por muitas memórias de sangue e de vio-


lência. Não foi instaurada apenas uma crise religiosa que geraria caminho alterna-
tivo ao Cristianismo Romano, mas foi instaurado, simultaneamente, um combate
que derramou sangue de inocentes. Se por um lado Lutero queria implantar a
Reforma, por outro, a Igreja Católica Romana responde com a Contrarreforma
numa tentativa de conter a desobediência e divisão causada por seu antigo Monge,
já que o Protestantismo avançava na Europa. Dois dos ataques mais famosos são:
“O saque de Roma” quando os Protestantes massacram os Católicos e “A noite de
São Bartolomeu”, quando os Católicos massacram os Protestantes.
O Saque de Roma: Carlos V com seu exército lança sua ira contra os Católicos
destruindo as Relíquias, os restos mortais dos Santos, os Santuários, profanando
o Sagrado debochando e desdenhando da fé dos Cristãos-Católicos. Conta-se que
a cabeça de São João Batista transformou-se em bola de futebol e a lança que per-
furou o torso de Cristo foi exibida como troféu de guerra. Afirma GIÁCOMO

capítulo 4 • 114
Martina (1997.p 62): “Apesar de Martinho Lutero ser pessoalmente contra o con-
flito, alguns que se consideravam seguidores do movimento protestante de Lutero
enxergavam, por motivos religiosos, a capital papal como um alvo”.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.10  –  O Saque de Roma – Carlos V - 1527.

Noite de São Bartolomeu: um massacre organizado pelos reis católicos, na


França, que pretendeu repreender o avanço do Protestantismo, engendrado pelos
reis franceses. Aconteceu no dia 23 e 24 de agosto, de 1572, em Paris, e era dia
de São Bartolomeu. O tratado de paz de Saint-germânica, pelo qual Catarina de
Médici concordou com tréguas aos protestantes foi descumprido. ©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.11  –  Massacre de São Bartolomeu, de François Dubois.

capítulo 4 • 115
Século XVII

Um século de expansão do Cristianismo Protestante, mas também de fragmenta-


ção do Protestantismo original, promovido por Lutero com a Reforma. Foi também
um século de despontamento das ciências experimentais que pretendiam provar os fe-
nômenos naturais. Não era a intenção romper com a fé, pois a Teologia se utilizava dela.
A Igreja Católica, neste contexto, teve imensa contribuição para o avanço da
ciência. Muitos cientistas eram Padres ou estudiosos que em suas escolas se forma-
ram. Foram vários séculos de apoio à pesquisa e ao estudo. Foram inúmeros Padres
Cientistas na Idade Média o que comprova definitivamente que não havia para a
Igreja Católica a divisão entre Razão e Religião e entre Razão e Fé. Todos os cam-
pos científicos carregam a marca do Catolicismo. Os Padres e outros estudiosos
Católicos deixaram heranças fecundas e irrefutáveis na Astronomia, na Medicina,
na Geologia, na Antropologia, na Psicologia, na Pedagogia, na Geografia, na
Física, na Química e nos mais diversos ramos científicos, sem contar a contribui-
ção óbvia no desenvolvimento da filosofia e da Teologia.
Neste sentido que Papa Bento XVI, o grande cientista da Teologia, não des-
cuidou em seu Pontificado de relembrar que é preciso cuidar do equilíbrio entre fé
e razão para conhecer o verdadeiro bem. Antes de se tornar Papa, o Cardeal Joseph
Ratzinger, sempre foi estudioso que soube harmonizar brilhantemente Fé e Razão,
qualidade reconhecida não apenas pela Igreja Católica, mas pelas Academias, sen-
do inclusive nomeado “member associe stranger” da Academia de Ciências Morais
e Políticas do Institut de France, em 1992, assumindo a cadeira vaga do dissidente
soviético Andrei Sakharov.
No discurso aos participantes, no congresso promovido pela Pontifícia
Universidade Lateranense, em 16/08/2008, por ocasião do 10º aniversário da car-
ta encíclica Fides et Ratio”, do Papa João Paulo II , Bento XVI recordou que Fé e
razão não se excluem:

A descoberta e o incremento das ciências matemáticas, físicas e químicas, bem como


as ciências aplicadas são fruto da razão e exprimem a inteligência com a qual o ho-
mem consegue penetrar as profundezas da criação. A fé, por sua vez, não teme o pro-
gresso da ciência nem os desenvolvimentos para os quais levam as suas conquistas,
quando estas têm como finalidade o homem, o seu bem-estar e o progresso de toda a
humanidade. Como recordava o autor anónimo da Carta a Diogneto: "Não é a árvore da
ciência que mata, mas a desobediência. Não há vida sem ciência, nem ciência segura
sem vida verdadeira" (XII, 2. 4). (SANTA SÉ. PAPA BENTO XVI. 2008)

capítulo 4 • 116
CONEXÃO
Saiba mais sobre os Padres cientistas ao longo da história.
Disponível em: <http://www.a12.com/redacaoa12/igreja/padres-cientistas>.

Foi possível verificar a grande contribuição que a Igreja Católica prestou à


humanidade no campo científico e foi neste contexto que os Filósofos Empiristas
queriam provas de que a natureza está em constante movimento, causando tam-
bém impacto sobre a Teologia.
Nos primeiros anos de pesquisa, Galileu, sendo também cristão, teve o apoio
incondicional da Igreja, assim como os diversos cientistas. Dois Papas e também
os Jesuítas apoiaram Galileu em suas muitas buscas científicas e grandes foram os
feitos, sendo inclusive condecorado:

Em 1611, foi convocado a Roma para apresentar as suas descobertas ao Colégio


Romano dos jesuítas, onde se encontrava o futuro Papa Urbano VIII, de quem ficou
amigo, e o cardeal Roberto Bellarmino, que reconhece as suas descobertas. No mes-
mo ano acede à Accademia dei Lincei. Os matemáticos do Colégio Romano eram con-
siderados as maiores autoridades daquele tempo e em 29 de março de 1611 Galileu
apresentou suas descobertas em Roma: foi recebido com todas as honras pelo próprio
papa Paulo V, pelos cardeais Francesco Maria Del Monte e Maffeo Barberini e pelo
príncipe Federico Cesi, que o inscreveu na Accademia dei Lincei, por ele mesmo fun-
dada havia oito anos. Em 1 de abril, Galileu escreveu ao secretário ducal Belisario Vinta
que os jesuítas "tendo finalmente conhecido a verdade dos novos planetas, estão há
dois meses em contínuas observações, as quais prosseguem; e as temos comparado
com as minhas, e seus resultados correspondem". (VIEIRA. Antonio, 2009. p. 55-56)

Galileu continuou arduamente as pesquisas sobre a natureza e fez da


Astronomia a ciência experimental em busca das verdades sobre o Universo e para
isso se apoiou na Teoria de Nicolau Copérnico selando para sempre a ruptura
com a Igreja sendo levando a excomunhão. O motivo da condenação? A defesa do
Heliocentrismo e a comprovação científica do equívoco do Geocentrismo, que se
fundamentava em ensinamentos do relato da Bíblia sobre a criação.

capítulo 4 • 117
Geocentrismo:
Por volta de 350 a.C., na Grécia antiga, Aristóteles desenvolveu uma teoria que defendia
a ideia de que a Terra era o centro do universo e nove esferas ficavam girando em torno
dela. Posteriormente, no século II d.C., o matemático e astrônomo, Claudio Ptolomeu,
reforçou esse pensamento e elaborou a teoria Geocêntrica, também chamada de sis-
tema ptolomaico.
Heliocentrismo
Sua teoria heliocêntrica afirmava que a Terra e os demais planetas se moviam ao redor
de um ponto vizinho ao Sol, sendo, este, o verdadeiro centro do Sistema Solar. A alter-
nância entre dias e noites é uma consequência do movimento que a Terra realiza sobre
seu próprio eixo, denominado movimento de rotação. A teoria heliocêntrica já vinha sen-
do desenvolvida durante o século III a.C., através de observações do astrônomo grego
Aristarco de Samos. No entanto, somente no século XVI d.C. foi que Nicolau Copérnico
sistematizou uma teoria que contrapunha o modelo geocêntrico, sendo denominado
heliocentrismo. Posteriormente, Galileu Galilei, durante o século XVII, reforçou a teoria
heliocêntrica através de observações com lunetas holandesas. Como consequência de
seu “atrevimento”,
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/
geografia/geocentrismo-heliocentrismo.htm>.

Vale lembrar que somente nesta ocasião, ao contestar o Geocentrismo, foi


chamado pela Congregação do Santo ofício para prestar esclarecimentos. O sis-
tema Aristotélico, que ainda predominava e servia de base para o pensamento
Teológico havia estabelecido a verdade do Geocentrismo. Dessa forma, conceber
a Natureza em constante movimento implicava perceber as instituições sociais
como suscetíveis de mudanças.
Galileu foi condenado em 1633 e cumpriu sua pena nas masmorras. Ao come-
çar cumprir sua pena, Galileu jurou que para sempre acreditaria nos ensinamentos
da Igreja, abandonaria a teoria do movimento da Terra ao redor do Sol e jamais
repetiria esses ensinamentos. Galileu foi obrigado a negar suas ideias publicamente
e viver confinado em uma espécie de prisão domiciliar.

CURIOSIDADE
Em 1992, no dia 31 de outubro, no 350º aniversário da morte de Galileu, o Papa João
Paulo II, proferiu um discurso e nele um “mea culpa”, reconhecendo o erro da inquisição
romana em 1633 ao condenar Galileu Galilei à prisão. Após 350 anos o Cientista teve o seu
nome enaltecido publicamente pela Igreja Católica.

capítulo 4 • 118
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 4.12  –  Galileu frente ao tribunal da inquisição romana, pintura de Cristiano Banti.

CONEXÃO
Veja esse vídeo e apresente-os para as crianças Galileo Galilei.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rxicbBpmbVc>.

Muitos outros filósofos e cientistas e defensores da filosofia natural experi-


mental tiveram o século XVII como cenário. Também foram influenciados por
Francis Bacon e Thomas Hobbes. Entre eles John Locke, o defensor ferrenho do
empirismo britânico e criador do liberalismo.
Galileu Galilei, René Descartes, Francesco Redi , Giordano Bruno, Nicolau
Copérnico, Johannes Kepler, Isaac Newton, Robert Boyle, David Harvey, Richard
Lower, Francis Bacon, Louis Pasteur marcaram a Revolução Científica que co-
meça no século VII, explode no século XVII e continua no século XVI. Com
eles não aconteceu somente uma revolução científica, mas também uma evolução
teológica, pois as explicações de ordem empírica divina foram influenciadas pelas

capítulo 4 • 119
explicações de ordem empírica-racional científica. O Método experimental, que
instala a “Revolução Científica” faz surgir o racionalismo e o empirismo que anun-
ciam novos paradigmas de conhecimento dos fenômenos. Dessa forma, a Teologia
é envolvida, pois todos eles, de alguma forma, apresentaram elementos novos, al-
guns inclusive, buscando nas bases do Cristianismo o respaldo para suas pesquisas.
A Filosofia natural nasceu, cresceu e fecundou-se nas bases do Cristianismo, época
onde fé e razão conviviam naturalmente.

Expansão do cristianismo protestante e os movimentos de


avivamento

O século XVII também marcou a expansão do Cristianismo Protestante,


mas também de fragmentação do Protestantismo original promovido por Lutero
com a Reforma. Um exemplo dessa fragmentação é o surgimento do Movimento
Pietismo, que no final do Século XVII promove o resgate ao Luteranismo Ordoxo
que foi deixado de lado. Philip Jacob Spener (1635-1705), Teólogo Luterano, foi
o criador deste movimento que inclusive influenciou outros teólogos. A preocu-
pação com os ensinamentos originais do Protestantismo e a valorização das expe-
riências individuais dos fiéis.

Figura 4.13  –  Caminho largo e caminho estreito, ilustração popular pietista alemã.

capítulo 4 • 120
Em 1675, foi publicado o “Pia Desideria” ou Desejos Pios. Trata-se de uma
Coletânea de Sermões que se tornou um grande manual manifesto para o resgate
dos princípios do Protestantismo.

CONEXÃO
Conheça a Pia Desideria.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WojZC4wXh5o>.

O título deu origem ao termo "Pietistas" e tornou-se um manifesto para a


renovação da Igreja. Nesta publicação fez seis propostas como o melhor meio de
restaurar a vida da Igreja: Estudo profundo da bíblia; leigos participando do go-
verno da Igreja; a prática deve levar ao conhecimento do Cristianismo; não atacar
os incrédulos e heterodoxos, mas ser simpático e gentil com eles; reorganização
da formação teológica das universidades; maior destaque à vida devocional; estilo
diferente de pregação com retórica agradável; a implantação do cristianismo, no
interior ou novo homem, que é a alma da fé, devendo trazer frutos para a vida.
O Pietismo buscou ser uma experiência do crente com Deus, reconhecendo
o pecado e a busca da Salvação. Para seguir este caminho, a conversão individual
seria a condição para nascer uma nova conduta no crente levando-o ao desapego
do mundo material e o apoio mútuo da comunidade reunida em culto ao redor
do estudo da Bíblia.
Além do Pietismo, aconteceu no Século XVII a Revolução Puritana. O mo-
vimento ficou conhecido como Puritanismo e surgiu na Inglaterra. Dessa vez, os
Calvinistas queriam purificar a Igreja Anglicana. Um dos seus líderes do movi-
mento Puritano, John Robinson queria levar à Igreja de volta ao molde primitivo
dos apóstolos. Além de querer purificar o Anglicanismo da influência Litúrgica
do Catolicismo também queriam retomar as origens do protestantismo que o
Luteranismo já havia perdido ao longo dos tempos.
Em 1640, aconteceu a Assembleia de Westminster, que foi um Concílio para
reestruturar o Anglicanismo e aconteceu na Abadia de Westminster, templo
anglicano de Londres, foi convocada pelo parlamento da Inglaterra em 1643 e
conseguiu reduzir os poderes do Rei Carlos I, que queria impor o anglicanismo
aos puritanos e aos presbiterianos escoceses. Foi a mais importante assembleia
protestante de todos os tempos.

capítulo 4 • 121
O Concílio perdurou por cinco anos, pois foi preciso chegar a um acordo
entre os que queriam uma Reforma fundamentada nos Princípios Presbiterianos,
os que queriam pelos princípios Congregacionais e os que queriam pelos princí-
pios Episcopais. Os resultados do Concílio foram estabelecidos pelos “Padrões
Presbiterianos”, sendo elaborados:
•  Diretório do Culto Público: (1644) substituindo o Livro de
Oração Comum;
•  Saltério (1645): uma versão métrica dos Salmos para uso no culto;
•  Forma de Governo Eclesiástico: (1644), mas provada 1648: os Padrões
Presbiterianos substituem os Episcopais;
•  Confissão de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parla-
mento em março de 1648;
•  Catecismo Maior e Breve Catecismo: (1647) e aprovados pelo parlamento
em março de 1648.

Os movimentos de Avivamento do Protestantismo do Século XVII, con-


tinuam no século seguinte. Outros movimentos renovadores do Protestantismo
surgiram e entre eles o Metodismo que com seu líder John Wesley organizou, em
1739, fundou a Igreja Metodista que passou a rejeitar princípios do Luteranismo e
outros que continuaram fragmentando os ideias de Lutero quando resolveu rom-
per com a Igreja Católica.

CONEXÃO
Saiba mais sobre os movimentos de Avivamentos Protestante
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NWj_XAo-zvE>.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZBQ9eRAO-WE>.

Século XVIII

Refletir sobre o Cristianismo no século XVIII é, necessariamente, refletir à


resistência a ele. Resistência advinda da razão ateísta do iluminismo se tornou
um século de proposta da “época sem Cristianismo”. Foram muitas e complexas
consequências para a história para os que escolheram defender o Cristianismo.

capítulo 4 • 122
Também teve influência em outros movimentos sociais como na indepen-
dência das colônias inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira,
ocorrida no Brasil.

CONEXÃO
O que pensavam os Filósofos Iluministas? Ouça!
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4C21n8XokBc&t=4s>.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=--RULLZchNA>.

O desejo dos Filósofos Iluminista foi o de “iluminar as trevas”, porque iden-


tificam todo o pensamento anterior ao seu movimento como “equivocado pelo
obscurantismo do pensamento religioso”. Por isso o século XVIII ficou conhecido
como o Século das Luzes. Foi o apogeu da Razão combatendo o Teocentrismo da
Idade Média. Para os Iluministas caberia a razão e somente a ela, responder as in-
dagações humanas. Qualquer outra concepção, inclusive as advindas da Teologia,
atrapalhavam o desenvolvimento da humanidade. Para isso, o Iluminismo coloca
o “Homem como Centro do Universo” e arranca a Fé. É célebre a frase atribuída
ao Iluminista Voltaire: “O mundo apenas estará verdadeiramente livre quando o
último rei for enforcado com as tripas do último padre”. Não há dúvidas acerca do
ataque não somente contra o Absolutismo, mas também contra a fé.
Voltaire, foi um dos mais agressivos ao atacar o pensamento teocêntrico por
meio de sua opção pelo “Deísmo”, que reconhece a existência de Deus, mas que
este apenas está presente na natureza e que somente o homem, pela razão, tem
capacidade de dominar o mundo. Somente pela razão o homem chega à sabedoria
e à verdade. A religião também deve ser propagadora da razão. Pensando dessa
forma, tornou-se o mais ferrenho divulgador das ideias liberais do Iluminismo e
para isso combateu a Igreja, a fé e a Teologia.
O Iluminismo se manifestou de forma radical, na França, que passava por
uma grande crise política que inflamava o povo contra o Rei Luiz XVI. Unidos
aos ideais do Iluminismo não tardou para acontecer a Revolução Francesa que
teve como lema: Liberdade, igualdade e fraternidade. Em setembro de 1792 a
Revolução Francesa é proclamada, no ano seguinte o Rei Luiz XVI é executado. A
Revolução perdura até o ano de 1799.

capítulo 4 • 123
MULTIMÍDIA
Revolução Francesa
Parte 1: <https://www.youtube.com/watch?v=IVfsFeYKM-s>.
Parte 2: <https://www.youtube.com/watch?v=ba_puXAqhC8>.
Parte 3: <https://www.youtube.com/watch?v=LkjFG6Bbno8&t=4s>.

O Iluminismo instaura uma grande perseguição à Tradição Religiosa ignoran-


do todas as contribuições da Igreja, da Teologia, dos diversos cientistas Cristãos
Católicos e Protestantes ao mundo. Impõe um reducionismo às imensas con-
tribuições até então reconhecidas. Entre as consequências do iluminismo para
o Cristianismo também se situa a ruptura entre Razão e Fé. Até então, ambas
caminhavam em sintonia, numa simbiose perfeita, não existindo uma sem a outra.
A separação entre mente e coração, entre razão e emoção.
Uma nova religião é fundada: o Deísmo. Essa era a Religião de Voltaire. Uma
religião fundamentada no racionalismo que pregava que Deus arquitetou todas
as coisas, mas se retirou, deixando nas mãos do homem o poder como senhor da
criação. O homem resolve tudo, não há necessidade de Deus. Deísmo afirma que
a única capaz de assegurar a existência de Deus é a razão. Para isso, não é necessária
nenhuma religião, pois o racionalismo é única fonte de conhecimento.
A exaltação a razão convida ao desprezo a qualquer outra forma explicativa
ou especulativa da verdade. Estabelece-se a legitimidade científica racional como
caminho de mão única tendo o “antropocentrismo” como bandeira. No homem,
pelo homem, com o homem e somente nele está a possibilidade de progresso.
Progresso que aconteceria pela valorização exclusiva da razão.
Papa Paulo VI, na Constituição Pastoral Gaudium Et Spes: A Igreja no mundo
atual (1965), explicou sobre o que representa o ateísmo:

O ateísmo moderno apresenta muitas vezes uma forma sistemática, a qual, prescindin-
do de outros motivos, leva o desejo de autonomia do homem a um tal grau que cons-
titui um obstáculo a qualquer dependência com relação a Deus. Os que professam tal
ateísmo, pretendem que a liberdade consiste em ser o homem o seu próprio fim, autor
único e demiurgo da sua história; e pensam que isso é incompatível com o

capítulo 4 • 124
reconhecimento de um Senhor, autor e fim de todas as coisas; ou que, pelo menos,
torna tal afirmação plenamente supérflua. O sentimento de poder que os progressos
técnicos hodiernos deram ao homem pode favorecer esta doutrina. (SANTA SÉ. Papa.
P. XV.1965)

O Papa Paulo VI, na mesma Constituição, denunciou sobre as consequências


ideológicas do pensamento ateísta dos que são responsáveis pelas políticas públicas:

Não se deve passar em silêncio, entre as formas atuais de ateísmo, aquela que es-
pera a libertação do homem, sobretudo da sua libertação econômica. A esta, dizem,
opõe-se por sua natureza a religião, na medida em que, dando ao homem a esperança
duma enganosa vida futura, o afasta da construção da cidade terrena. Por isso, os que
professam esta doutrina, quando alcançam o poder, atacam violentamente a religião,
difundindo o ateísmo também por aqueles meios de pressão de que dispõe o poder
público, sobretudo na educação da juventude. (SANTA SÉ. Papa. P. XV. 1965)

Levando em consideração que o Papa Paulo XVI fez tais afirmações acerca
do ateísmo na sociedade moderna, em 1965, o que é possível afirmar sobre o
ateísmo, hoje, após tantas modificações científicas, parâmetros morais e difusão
do relativismo?
No capítulo 5 teremos a oportunidade de partir desta interrogação, pois ire-
mos refletir do período da Razão ateia Iluminista até às recentes perseguições aos
cristãos no mundo contemporâneo. Comece pesquisando!

ATIVIDADES
01. A Reforma Protestante acontece no século XVI liderado por Martinho Lutero, Padre
Católico, sendo Monge Agostiniano e Professor de Teologia, se rebela contra a Igreja Roma-
na por querer reformas, publica 95 teses em 31 de outubro de 1517, na porta da Igreja do
Castelo de Wittenberg. Teses que criticam as vendas de indulgências, contra os abusos do
clero também uma proposta de reforma no catolicismo romano. Para combater a Doutrina da
Igreja Católica que Lutero instituiu Cinco Credos Teológicos que fiaram conhecidos como as
“Cinco Solas”, ou seja, cinco frases em latim, que definem os Princípios da Reforma Protes-
tante: Quais são eles e o que cada um instituiu?

capítulo 4 • 125
02. A Igreja Católica respondeu aos ataques de Lutero e criou o movimento que ficou conhe-
cido como Contrarreforma. Para isso o Papa João III, nomeado em 1534, convocou o Concílio
de Trento, que se estendeu entre os anos de 1545 e 1563. A bula Papal indicava que o
Concílio de Trento deveria elaborar medidas contra os desvios da fé para a reconstituição da
unidade da Igreja. Quais as principais estratégias para conter o avanço do Protestantismo?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BIELER, André. O pensamento econômico e social de Calvino. São Paulo: CEP, 1990.
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CALVINO, João. Livro de Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, p. 10. 1v.
CONSTITUIÇÕES DA COMPANHIA DE JESUS e NORMAS complementares. São Paulo: Loyola,
1997.
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DURANT, Will. A história da civilização VI. A Reforma. História da civilização européia de Wyclif a
Calvino: 1300-1564. Trad. Mamede de Souza Freitas. Rio de Janeiro: Record, 1957.
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GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão. v. 3: Da Reforma Protestante ao século
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LIMA, D. F. C. O Homem Segundo o Ratio Studiorum. 2008.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Vol. 1, São Leopoldo: Ed. Sinodal, 1987.
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mantenham escolas cristãs: In: KAYSER, Ilson, ed. ger. Martinho Lutero: obras selecionadas. São
Leopoldo/Porto Alegre: RS.: Sinodal/Concurdia, 1995, Vol. 5.
LUTERO, Martinho. Catecismo menor, Prefácio: In: LUTERO. Os catecismos. Porto Alegre/São
Leopoldo, RS.: Concordia/Sinodal, 1983.
_______As 95 Teses de Martinho Lutero: Site de Felipe Sabino de Araújo Neto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/credos/lutero_teses.htm>.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 7. ed. São Paulo: Editora Nacional,
1975.

capítulo 4 • 126
KUHN, Ademildo. Caderno Universitário: Cultura Religiosa. Centro Universitário Luterano de Palmas,
2008.
NETO, A. S.; MACIEL, L. S. B.; LAPOLLI, E. M. O Professor e as Propostas Educacionais do Ratio
Studiorum: Algumas Reflexões Iniciais Sobre a Prática Docente, 2012.
VIEIRA, Antonio Augusto Passos (2009). As descobertas astronômicas de Galileu Galilei 1 ed.
Rio de Janeiro: Vieira & Lent. pp. 55–56. ISBN 978-85-88782-61-7
WOODS JR, Thomas, E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. Ed. Quadrante,
8 ed., São Paulo, 2008
RIBEIRO, M. L S. História da educação brasileira: a organização escolar. 15 ed. rev. e ampl.
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SANTO. Bento Silva e COSTA. Ricardo. Filosofia Política I. Universidade Federal do Espírito Santo,
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SANTA SÉ: Papa Paulo VI na Constituição Pastoral Gaudium Et Spes: A Igreja no mundo atual.
1965.

capítulo 4 • 127
capítulo 4 • 128
5
Da razão ateísta
do iluminismo
às teologias
contemporâneas
Da razão ateísta do iluminismo às teologias
contemporâneas

Chegamos ao capítulo 5. A jornada até aqui tem sido de muitas descober-


tas! A História do Cristianismo foi construída com muitas tensões e resistências.
Chegando ao último capítulo, que tal fazer uma pausa reflexiva, um momento de
silêncio para pensar (refletir/rezar/orar) em todos aqueles que tiveram coragem de
professar publicamente a fé Cristã e que por isso foram perseguidos, torturados e
mortos? Para esse momento de reflexão, vamos retomar uma canção sugerida no
capítulo 1.
Ouça e veja novamente: REAVIVA A TUA IGREJA: O martírio dos pri-
meiros cristãos. Autora: Mara Lima: Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=x69syp25VZ0>.
Qual a motivação para escutar novamente esta canção? Vamos, neste capítu-
lo, refletir sobre a grande perseguição Pós-Moderna ao Cristianismo. A exaltação
à razão convida ao desprezo a qualquer outra forma explicativa ou especulati-
va da verdade. Estabelece-se a legitimidade científica racional como caminho de
mão única, tendo o “antropocentrismo” como bandeira. No homem, pelo ho-
mem, com o homem e somente nele está a possibilidade de progresso. Progresso
que aconteceria pela valorização exclusiva da razão. Neste capítulo, vamos fazer
uma viagem da Razão Iluminista do Século XVIII, passar pelo maior inimigo
do Cristianismo, que é o Comunismo, instaurado no século XIX, e chegar às
Teologias Contemporâneas que tentam responder aos apelos de um mundo “Sem
Cristianismo”, onde o ateísmo avança e o laicismo é a ordem. São as novas formas
de perseguição que exigem igualmente, “Novas Catacumbas”.
Vamos em frente! Jesus prometeu: “Eis que estarei convosco todos os dias,
até o final dos tempos" (Mt 28, 20).
Não se esqueça das duas orientações iniciais:
99 Lembre-se, de que ter a Bíblia ao seu lado, possibilitará o desenvolvimen-
to do conhecimento.
99 Não deixe de analisar, contemplar e acessar as fontes indicadas (ima-
gens, vídeos, canções, áudios, sites...), pois abrirão os horizontes. Você pode bus-
car muitas outras. Exerça sua condição de pesquisador

capítulo 5 • 130
OBJETIVOS
•  Compreender a resistência Cristã contra a proposta da “época sem Cristianismo” advin-
da da razão ateísta do iluminismo e as complexas consequências para a história posterior
do Cristianismo;
•  Identificar os muitos fatos que envolvem a história do Cristianismo ao longo dos Séculos
XVIII, XIX e XX;
•  Compreender os desafios atuais que se contrapõem ao Cristianismo e as perspectivas do
Ecumenismo e do Diálogo Inter-religioso como testemunho Cristão em um mundo de divi-
sões, intolerância e falta de Paz.

Da razão ateísta do iluminismo às teologias contemporâneas

No capítulo anterior, iniciamos a reflexão sobre o Cristianismo no sécu-


lo XVIII, em plena razão iluminista. Neste capítulo, aprofundaremos alguns
pontos desse movimento, que apesar de fazer alusão à luz, foi e ainda é, para o
Cristianismo, ponto de escuridão. COMBY (1994, p. 81-82), elucida:
A partir do final do século XVII tem início uma "crise da consciência eu-
ropeia". Pierre Bayle (Pensamento sobre o cometa, 1682, Dicionário Histórico
e Crítico, 1695-1697), é uma das primeiras testemunhas dessa crise. No século
XVIII, uma grande quantidade de escritores assume destaque: Voltaire, Diderot,
d´Alembert... Educados no cristianismo, frequentemente entre os jesuítas, esses
"filósofos" desejam julgar todas as coisas com as "luzes" da razão, que se opõem
às obscuridades da revelação. Guarda-se dessa filosofia das Luzes – em alemão
Aufklärung – seu aspecto de máquina de guerra anticristã. Sem negar tal coisa,
é necessário dizer que esse ideal da razão corresponde também a uma distinção
dos domínios. A ciência adquire sua própria linguagem e se afasta da metafísica.
COMBY (1994, p. 81-82)

capítulo 5 • 131
A partir do final do século XVII tem início uma "crise da consciência europeia". Pierre
Bayle (Pensamento sobre o cometa, 1682, Dicionário Histórico e Crítico, 1695-1697),
é uma das primeiras testemunhas dessa crise. No século XVIII, uma grande quantidade
de escritores assume destaque: Voltaire, Diderot, d´Alembert... Educados no cristianis-
mo, frequentemente entre os jesuítas, esses "filósofos" desejam julgar todas as coisas
com as "luzes" da razão, que se opõem às obscuridades da revelação. Guarda-se des-
sa filosofia das Luzes – em alemão Aufklärung – seu aspecto de máquina de guerra
anticristã. Sem negar tal coisa, é necessário dizer que esse ideal da razão corresponde
também a uma distinção dos domínios. A ciência adquire sua própria linguagem e se
afasta da metafísica. COMBY (1994, p. 81-82).

A Resistência advinda da razão ateísta do iluminismo se tronou um século de


proposta da “época sem Cristianismo”. Foram muitas e complexas consequências
para a história para os que escolheram defender o Cristianismo. Como vimos, foi de-
sejo dos filósofos Iluministas “iluminar as trevas”, porque identificam todo o pensa-
mento anterior ao seu movimento como “equivocado pelo obscurantismo do pensa-
mento religioso”. Por isso o século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 5.1  –  Frontispício da Encyclopédie (o símbolo central do iluminismo).

Foi o apogeu da Razão, combatendo o Teocentrismo herdado da Idade Média.


Para os Iluministas caberia à razão e somente a ela, responder as indagações huma-
nas. Qualquer outra concepção, inclusive as advindas da Teologia, atrapalhavam o
desenvolvimento da humanidade. Para isso, o Iluminismo coloca o “Homem como

capítulo 5 • 132
Centro do Universo” e arranca a Fé. Qual a intervenção concreta do Iluminismo
no Cristianismo na Religião? MARTINA (2003.p.265) Elucida:

Na religião: toda religião positiva, toda revelação, todo dogma, enfim, toda instituição
que se posicionasse entre Deus e o homem era refutada. Salvava-se uma religião natu-
ral, reduzida a um vago deísmo, no qual a essência divina permanecia desconhecida e
era negada toda intervenção divina no mundo, e no qual se sublinhava o aspecto ético
da religião. Essas grandes linhas apareciam já no século 16, com Herbert di Cherbury.
Contudo, muito mais fácil era a passagem do deísmo ao ateísmo: o barão d'Holbach,
por exemplo, fazia aberta profissão de ateísmo, sendo muito aceito pela sociedade que
o tornou um ídolo, lido e admirado por príncipes e senhores. O ateu, e somente ele,
era o homem honesto, sincero, incorrupto, amante do belo e de tudo o que é racional;
os eclesiásticos, ao contrário, sobretudo os mosteiros masculinos e femininos, eram
apresentados como centros cobertos pelo regime de privilégio, pelo foro eclesiástico e
pela ignorância, a que se chamava "inútil erudição. (MARTINA 2003.p.265)

Vale recordar, que o iluminismo faz parte de um conjunto de muitas ten-


dências filosóficas que se espalharam no século XVIII. Todas essas tendências se
convergiram para o que conhecemos como Iluminismo. Duas dessas tendências,
no entanto, contribuíram definitivamente para a instauração do iluminismo: O
Racionalismo e o Empirismo. COMBY, (1994, p. 90) explica que:

Com a Revolução Francesa, é uma parte do espírito das "Luzes" que é concretizada:
triunfo da razão na política e luta contra o cristianismo. Levadas pelos exércitos con-
quistadores, as ideias revolucionárias ganham a Europa. Se os franceses distinguem
claramente a Revolução da era napoleônica, os europeus consideram os dois períodos
como um todo. Napoleão, "Robespierre a cavalo", propagou a ideologia revolucionária
até mesmo nas estepes russas [...] (COMBY, 1994, p. 90).
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René Descartes – O líder Racionalista. Jonh Locke – O líder Empirista.

capítulo 5 • 133
Empirismo: negava toda diferença substancial entre o conhecimento sensível
e o inteligível, pondo nos sentidos a única fonte do conhecimento, colocando à
parte as ideias inatas, bem como exaltando e promovendo o método experimental.
Racionalismo: atribuiu um valor absoluto ao conhecimento racional, que se
desenvolveu de modo independente dos sentidos, admitindo como único critério
de verdade a razão, que possui em si mesma os princípios de todo conhecimento.
A partir dessas duas colunas do Iluminismo a religião se tornou, naturalmen-
te, alvo dos ataques iluministas. Dessa forma, os alicerces da religião: a tradição e a
fé passam a representar aprisionamento para o homem. Os iluministas almejando
a expansão do pensamento racional e científico, lança aos cristãos novos desafios
doutrinários.
Antes de continuar a trajetória de reflexão acerca da razão Iluminista, é essen-
cial lembrar que o Cristianismo não nega a importância da Ciência. Assim como
já abordado no Capítulo anterior, muitos são os Cientistas Cristãos que contribuí-
ram definitivamente com a história da humanidade. Uma razão iluminada pela fé,
num diálogo fecundo, amoro, transparente e produtivo entre a fé e a racionalida-
de. Veja o vídeo e reflita sobre a beleza desta sintonia Fé e Razão:

CONEXÃO
Ciência e Fé | A Grande Catástrofe.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=k_0i4ei_kXw>.

É célebre a frase atribuída ao Iluminista Voltaire: “O mundo apenas estará


verdadeiramente livre quando o último rei for enforcado com as tripas do último
padre”. Não há dúvidas acerca do ataque não somente contra o Absolutismo, mas
também conta a fé. O Iluminismo contou com várias características, dentre as
quais podemos destacar:
•  Fé na razão: é a via e a norma única e absoluta da verdade. É o caminho
a seguir, para que os caminhos sejam deduzidos com base na experiência. A pro-
posta Iluminista é de uma Religião natural-racional que não se fundamente na
revelação Divina, mas na manifestação natural da divindade, ou seja, um deus
criado pela razão humana;
•  Fé e confiança somente na natureza humana: o homem em si é bom, não
é corrompido pelo pecado e não tem necessidade de uma redenção que venha

capítulo 5 • 134
do alto para salvá-lo. Para atingir a plena felicidade, o homem precisa cuidar-se
sozinho de si mesmo. Dessa forma ele descobre a verdade e segue aquilo que é do
bem. Ele pode curar-se sozinho, por isso não precisa de Deus ou de qualquer outra
transcendência. A verdade está nele e somente nele;
•  Desprezo pelo passado: o passado é compreendido como "idade das tre-
vas", por isso exaltavam o presente e o futuro como a "era das luzes". Dessa forma,
mal e bem estavam adequadamente divididos. Eis que é estabelecido o tempo das
luzes. Os Iluministas consideram que todo ensinamento acumulado até o século
XVII não trazem bem ao homem, pois estava impregnado do conhecimento e
intervenção divina;
•  Otimismo: a nova fase da história humana que, pela razão, todas as decisões
seriam acertadas. Todas as escolhas humanas passariam a ser boas sendo guiadas
pela capacidade racional. Os iluministas, no seu entusiasmo, anteciparam a fé no
progresso humano e possuíam “um ardor que se poderia chamar "profético" ou
"messiânico"’.

É preciso lembrar que o mundo atual está fundamentado nas colunas do


Iluminismo. Muitas são as vertentes que fazem os princípios iluministas serem
reinaugurados cotidianamente na sociedade contemporânea: a primazia da razão,
a laicidade e o ateísmo formam o tripé iluminista embalado pelo “sopro” comu-
nista que combate a Religião. Papa BENTO XVI na Audiência Geral de 14 de
novembro de 2012 alertou:

A partir do Iluminismo, a crítica à religião intensificou-se; a história foi marcada também


pela presença de sistemas ateus, nos quais Deus era considerado uma mera projeção
do ânimo humano, uma ilusão e o produto de uma sociedade já alterada por tantas
alienações. Depois, o século passado conheceu um forte processo de secularismo,
sob a bandeira da autonomia absoluta do homem, considerado como medida e artífice
da realidade, mas empobrecido do seu ser criatura «à imagem e semelhança de Deus».
No nosso tempo verificou-se um fenômeno particularmente perigoso para a fé: de fato,
existe uma forma de ateísmo que definimos «prático», no qual não se negam as ver-
dades da fé ou os ritos religiosos, mas simplesmente se consideram irrelevantes para
a existência quotidiana, destacadas da vida, inúteis. Então, com frequência, cremos
em Deus de modo superficial, e vivemos «como se Deus não existisse» (etsi Deus non
daretur). Mas, no final, este modo de viver resulta ainda mais destrutivo, porque leva à
indiferença à fé e à questão de Deus.

capítulo 5 • 135
Papa BENTO XVI continua com a mesma clareza dizendo:

Na realidade, o homem separado de Deus reduz-se a uma só dimensão, a horizontal,


e precisamente este reducionismo é uma das causas fundamentais dos totalitarismos
que tiveram consequências trágicas no século passado, assim como a crise de valo-
res que vemos na realidade atual. Obscurecendo a referência a Deus obscureceu-se
também o horizonte ético, abrindo espaço ao relativismo e confirmando-se uma con-
cepção ambígua da liberdade que em vez de ser liberatória acaba por ligar o homem
a ídolos. As tentações que Jesus enfrentou no deserto antes da sua missão pública,
representam bem aqueles «ídolos» que fascinam o homem, quando não vai além de si
mesmo. Se Deus perder a centralidade, o homem perde o seu justo lugar, e não encon-
tra a sua colocação na criação, nas relações com os outros. Não se extinguiu o que a
sabedoria antiga evoca com o mito de Prometeu: o homem pensa que pode tornar-se
ele mesmo deus», dono da vida e da morte.
©© GIUSEPPE RUGGIRELLO | WIKIMEDIA.ORG

Figura 5.2  –  Bento XVI numa audiência privada (20 de janeiro de 2006).

Como claramente descreve Papa Bento XVI, o Iluminismo instaura uma gran-
de perseguição à Tradição Religiosa, ignorando todas as contribuições da Igreja, da
Teologia, dos diversos cientistas Cristãos Católicos e Protestantes ao mundo. Impõe
um reducionismo às imensas contribuições até então reconhecidas. Entre as con-
sequências do iluminismo para o Cristianismo também se situa a ruptura entre
Razão e Fé. Até então, ambas caminhavam em sintonia, numa simbiose perfeita não
existindo uma sem a outra. A separação entre mente e coração, entre razão e emoção.

capítulo 5 • 136
Muitas foram às interferências dos iluministas, inclusive nos movimentos po-
líticos da Independência dos Estados Unidos e na Revolução Francesa. A situação
se tornou tão intensa que em 1773 o Cristianismo foi abolido da França e no
lugar instituído o “Culto à Razão”. E como já foi refletido, na dimensão religiosa,
gerando também as bases para a construção de muitas doutrinas Protestantes que
desejavam a separação entre estado e Igreja.

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Figura 5.3  –  Fête de la Raison ("Festival da Razão"), Notre Dame, Paris.

A Revolução Francesa fortaleceu o pensamento antirreligioso diminuindo o po-


der do Papa na França, inclusive provocando a saída de 4 mil clérigos. Os Jacobinos
são os responsáveis diretos por um tempo muito difícil para muitas situações, inclu-
sive para a religião. Este tempo foi chamado de período do Terror, de 1793 a meados
de 1794. Houve grande quantidade de execução dos opositores, inclusive religiosos.
O número oficial de execuções foi de 16.594, sendo 2639 em Paris. Há um consen-
so de que o número é muito maior devido a mortes na prisão, suicídios e pessoas
abatidas na guerra civil. O catolicismo teve seu calendário Litúrgico desrespeitado,
sendo retirado do mesmo os dias Santos de Guarda e o Domingo.
Os revolucionários passaram a dificultar as ações eclesiásticas e clericais, crian-
do uma legislação anticatólica que levaria, depois, à perseguição dos membros da
Igreja. No dia 2 de novembro de 1789, com base na proposta de Talleyrand, bispo
de Autun, os bens do clero são postos à disposição da nação, tornando-se assim
bens nacionais. O Estado se encarregou da subsistência do clero e dos serviços que
este último assegurava, como assistência, ensino entre outros.

capítulo 5 • 137
A Igreja possuía um sexto do solo nacional, a venda dos bens da Igreja acarreta uma
transferência de propriedades sem precedentes. No dia 13 de fevereiro de 1790, a
Constituinte proíbe os votos religiosos. A geografia eclesiástica é completamente mo-
dificada: de 135, as dioceses passam para 85 [...] (COMBY, 1994, p. 91).

No início de 1791, o papa Pio VI condena a Constituição civil do clero e exige


a retratação deste que apoiou os revolucionários. Foram 10 anos de crises e pertur-
bação na vida da Igreja francesa, o que provocou grandes disputas internas, pri-
sões, exílios e perseguições. O período mais difícil foram os anos de terror: 1793-
1794, com muitas prisões e execuções de padres e religiosos. Em 1801, foi assinada
a Concordata com Napoleão Bonaparte, que, em 1807, anexou os Estados
Pontifícios ao seu império.
Após a Revolução Francesa, sendo os
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princípios desta assimilados pelos demais


países europeus, a questão da separação
entre Igreja e Estado ganhou terreno. O
Separatismo foi apoiado pelos leigos e tam-
bém pelo clero, entre intransigentes e cató-
licos liberais. Foi a primeira fase histórica
do processo de secularização, ou seja, do
primeiro passo em direção à cidade leiga,
em contraposição à cidade sacra.
Com a reconstituição do Estado
Pontifício no Congresso de Viena, em
1815, é iniciada a restauração católica, com
a assinatura de várias concordatas com vá-
rios países, com a reorganização eclesial e
Figura 5.4  –  Pio VI. com a fundação de centenas de novas or-
dens e congregações religiosas.
O século XIX, trouxe para o mundo ocidental um novo modo de encarar a po-
lítica, a economia, a religião, a sociedade etc. Após a Revolução Francesa, na ques-
tão política e na relação entre Estado e Igreja, foi forte a questão do Liberalismo.
Segundo ZAGHENI (1999, p. 87-88):

capítulo 5 • 138
Relação entre Igreja e Estado, no século XIX, deve ser posta no contexto do liberalismo,
que, partindo da visão da pessoa como ser individual capaz de alcançar a felicidade com a
ajuda da razão, vê o Estado como uma entidade composta de indivíduos e não de grupos.
Consequentemente, a autoridade não é concebida segundo a forma patriarcal da família
(em que a dignidade do homem é garantida pela inserção orgânica no conjunto); antes,
baseia-se num contrato. Esse contrato existe para que o indivíduo, desenvolvendo ao má-
ximo os próprios interesses econômicos, promova lucro maior. Essa concepção requer que
a economia se desenvolva segundo suas próprias leis e que seja excluída qualquer forma
de intervenção ou planificação estatal. Esse Estado não precisa de Deus para alicerçar a
própria autoridade e nem do "instrumento" da Igreja para levar a população à obediência à
autoridade constituída: ele se considera incompetente em matéria religiosa e interpreta a
religião como uma questão individual, privada. ZAGHENI (1999, p. 87-88).

Na transição entre os Séculos XVIII e XIX o mundo conheceu o mais con-


tundente líder que teve o papel sangrento de concluir os ideais da Revolução
Francesa. Napoleão, para colocar em práticas seus planos de poder absoluto li-
vrou-se de qualquer culpa, sensibilidade ou julgamento moral. Lembrando que
esta Revolução foi totalmente influenciada pelo iluminismo.
Papa Pio VI teve o Pontificado mais longo depois de Pedro, foram 24 anos à
frente da Igreja. Ele foi feito prisioneiro e morto por não aceitar recusar os poderes
papais, exigências do General Louis-Alexandre Berthier, general do exército de
Napoleão. Foi levado do Vaticano à Siena e depois para Certosa, onde permaneceu
preso e morreu em 29 de agosto de 1799.
Napoleão autorizou que o corpo de Papa Pio VI fosse levado para Roma, em
janeiro de 1800. Em 1801 os restos mortais foram sepultados nas grutas vaticanas.
Os restos mortais de Pio VI estão depositados na cripta da Basílica de São Pedro
no Vaticano a mando do Papa Pio XII nos meados do século XX.

Quando Pio VI morreu, em 29/08/1799, em Valença (França), para onde tinham de-
portado o “cidadão Papa”, a Igreja se via em situação crítica tal como nunca antes.
Com efeito, a França, a “filha primogênita”, caíra na incredulidade; a Itália estava invadi-
da e convulsionada; a Alemanha, contaminada pelo Iluminismo (Aufklarung); a Bélgica,
incorporada à República Francesa revolucionária; a Polônia, retalhada por três potên-
cias vizinhas; a Espanha e Portugal eram governados por Ministros hostis a Igreja; na
Inglaterra e nos Países Baixos, os católicos eram minorias flutuantes. O Catolicismo
parecia em agonia; dir-se-ia que Pio VI fora o último Papa. Oradores irônicos faziam
a oração fúnebre da Igreja com frases blasfematórias. Como eleger novo Pontífice
em ambiente tão agitado e rebelde? Os Cardeais estavam ou prisioneiros ou depor-
tados ou dispersos em liberdade. (AGUINO. Felipe. Disponível em: <http://cleofas.
com.br/historia-da-igreja-pio-vii-e-napoleao-bonaparte/>. Acesso em: 23 abr. 2018.

capítulo 5 • 139
Em um período de transformações radicais, não é fácil distinguir o erro da
verdade, os aspectos relativos dos valores permanentes.

A herança revolucionária dividiu os franceses e essa divisão perdurou até um período


recente. Enquanto os 'liberais' se prevaleciam dos princípios revolucionários de liber-
dade e de igualdade, os católicos, em sua maioria, viram na Revolução a obra de Satã.
Essa é a razão por que, no século XIX, os católicos que desejavam uma restauração
social e religiosa com base no modelo do Antigo Regime de opções aos liberais, que
se empenham em defender as aquisições revolucionárias. O conflito se desenrola no
interior da Igreja quanto alguns católicos consideram que os princípios de 1789 não
são incompatíveis com o Evangelho e que é inútil desejar ressuscitar um passado já
cumprido (COMBY, 1994, p. 102).

Desenvolveu-se dentro da Igreja e entre os católicos, uma dupla tendência: de


um lado, os católicos intransigentes e, de outro, os católicos liberais.
Católicos intransigentes: A obra “O Liberalismo é pecado”, publicada em
1884, pelo sacerdote espanhol Sarda y Salvany, é o símbolo do posicionamento
geral dos católicos intransigentes diante das suas liberdades modernas. A imprensa
católica do século XIX foi largamente invadida pelos seguintes juízos:
•  A liberdade é a amiga mais fiel e cara do demônio, porque abre caminhos
para inumeráveis e quase infinitos pecados;
•  Toda partícula de liberdade tem de ser condenada; a liberdade de cons-
ciência é uma loucura e a liberdade de imprensa é um mal que jamais se deplora-
rá suficientemente;
•  Uma vez que o Liberalismo é intrinsecamente perverso, não resta outra
coisa a fazer senão rechaçar em bloco as doutrinas.

Católicos Liberais: O grande esforço dos católicos liberais era fazer a Igreja
entender que o Antigo Regime já estava morto; demonstrar que o acordo entre
religião e liberdade seria algo bom e positivo; dissipar os juízos contra a religião
e evitar que o progresso em curso se concretizasse sem inspiração cristã: "Se a
Igreja não caminhar com o povo", observa o Pe. Joaquim Ventura no prefácio do
Discurso pelos mortos de Viena, feito em Roma, em novembro de 1848, e colo-
cado no índice no ano seguinte, "não é por isso que o povo deixará de caminhar,
mas caminhará sem a Igreja, fora da Igreja e contra a Igreja" (MARTINA, 1996,
p. 185). Aprofundando o significado do Liberalismo Católico (SCHLESINGER,
1995, n.p) explica:

capítulo 5 • 140
Movimento de emancipação do pensamento católico surgido no século XIX. Resultou
principalmente em duas vertentes: a político-religiosa e a científica. A primeira estendeu-
se pela zona francófona, donde surgiram grupos liberais ativos em torno dos periódicos
L´Avenir com Lamennais à frente e Le Correspondent sob Montlambert. Na Alemanha, o
liberalismo católico colocou o centro de suas preocupações no âmbito da ciência. O pro-
fessor bávaro, J. Froschammer, encarregou-se de exaltar a liberdade científica. Outros
partilharam das mesmas ideias. Roma intervém, porém, com quase nenhum sucesso. O
movimento propaga-se pelas minorias cultas e não tarda a aparecer um grave conflito
entre a cúria romana e a teologia universitária alemã (SCHLESINGER, 1995, n.p).

MULTIMÍDIA
Não se esqueça de quem foi Napoleão Bonaparte. Sugestões de Vídeos
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LjNnGbXGOEg>.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rBBabptWXrA>.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NkIdlTGCL_I>.
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Em 1800, foi nomeado o novo


Papa que escolheu o nome de Pio VII.
O Cardeal Barnabé Chiaramonti,
monge beneditino. O novo Papa era
homem profundamente religioso,
com ampla formação e tinha o objeti-
vo de ser o monge pobre a serviço de
Deus e da Igreja. Pio VII assume seu
Pontificado em um cenário de muitas
complexidades, de perseguições, de
incertezas.
No mesmo período, também,
Napoleão Bonaparte assume defi-
nitivamente o poder. SOUZA &
GONÇAVES (2014. P. 103) descre-
vem que:

Figura 5.5  –  Pio VII.

capítulo 5 • 141
Em 1793 o cristianismo foi abolido na França e instituído o culto a razão. Em 1795 a
separação entre o estado e a Igreja era elevada a lei e repetiam-se as perseguições e
deportações de eclesiásticos. A perseguição ao Cristianismo só terminou quando o jovem
General vitorioso na polícia Napoleão Bonaparte derrubou o diretório com o golpe do Esta-
do de 09 de novembro de 1799. Napoleão tratava a religião como fator político. Tendo por
objetivo recuperar ordem na França. Concluiu, em 15 de julho de 1801, uma Concordata
com Papa Pio VII. No preâmbulo determinava se a religião Católica Apostólica Romana
constituía a confissão da maioria dos cidadãos franceses, devendo por isso ser restaurada.
A igreja renunciava os bens expropriados competindo ao estado a remuneração do clero.
Os Bispados deveriam ser redefinidos e ocupados. Bonaparte acrescentou secretamente,
à concordata 77 “artigos orgânicos” que abolinam, em parte, as conquistas da mesma. De
nada adiantou o protesto do Papa que ainda sofreria muitas humilhações por parte de
Napoleão. Em 1804, Napoleão nomeava se Imperador dos Franceses. O Papa Pio VII pro-
cedeu à sua unção, mas foi o próprio Napoleão que se coroou. Em 1808, mandou ocupar
Roma e o estado pontifício. A este fato o Papa respondeu com a excomunhão e Napoleão
o fez Prisioneiro Fontainebleau, sendo pressionado abdicar do Estado Pontifício. SOUZA.
Ney, GONÇAVES. Paulo Sérgio Lopes. 2014. P. 103.
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Em 1814, Napoleão é derrotado o


que leva à realização do Congresso de
Viena que teve como objetivo rever as
mudanças realizadas por Napoleão, mas
também deter a expansão de novos mo-
vimentos revolucionários. Uma nova
aliança entre Igreja e estado acontece.
Não como as mesmas características da
Idade Média, mas com grande sintonia
e complementaridade entre os poderes.
Neste contexto, é preciso recordar
que o Romantismo e o Idealismo ga-
nham força e notoriedade para comba-
ter o Racionalismo iluminista fazendo
da Arte o grande e essencial canal de
divulgação do Cristianismo promo-
vendo a valorização dos sentimentos
Figura 5.6  –  Napoleão I em regalia, por
humanos e da trajetória de cada indiví-
François Gérard, 1805, no Palácio de
duo e a subjetividade na compreensão
Versalhes.
da realidade que o iluminismo havia

capítulo 5 • 142
racionalizado, pois propõe a valorização dos sentimentos humanos e da trajetória
de cada indivíduo.
A interpretação errônea da valorização do indivíduo é confundida com o indi-
vidualismo inaugurado pela filosofia idealista, que defende que o mundo só existe
a partir da observação do sujeito que dá a ela um sentido. Dessa forma, defende a
existência de um alto grau de subjetividade na compreensão da realidade.
Ainda assim, o Romantismo e o Idealismo foram fonte de renovação para o
Cristianismo compreendendo de forma idealizada o passado dos povos e valorizan-
do os símbolos e os ritos tradicionais da sociedade ocidental, dentre eles os religiosos.
Também possibilitou a reafirmação da fé como condição pessoal e intransferível.

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Figura 5.7  –  A Liberdade Guiando o Povo por Eugène Delacroix, no Museu do Louvre.

Também em 1814, o Papa Pio VII, após uma missa no Altar de Santo Inácio,
em Roma, em presença de cerca de 100 jesuítas e de todos os cardeais da cidade,
leu a Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum, que restaurou a Companhia de Jesus,
suprimida em 1773. A igreja Católica, para atender as mudanças do novo tem-
po, compreende que era preciso dar respostas concretas e por isso, encontra na
Companhia de Jesus o canal para tal.

capítulo 5 • 143
Em 1854, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma da Imaculada
Conceição de Maria pela bula Ineffabilis Deus em 08 de Dezembro de 1854.

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Figura 5.8  –  Imaculada Conceição.

A convicção de que Maria permaneceu virgem na sua vida terrestre após o nascimento
de Jesus existe na Igreja desde os primeiros séculos: Maria não teve mais filhos nem
consumou o seu matrimônio com José. Que Maria permaneceu sempre virgem não é
dito expressamente na Escritura, mas é verdade de fé (de fide), enquanto ela é atesta-
da pela fé viva dos fiéis (sensus fidelium), e elucidada pela reflexão teológica Embora
a Escritura não faça menção explícita da virginitas post partum, o desenvolvimento da
fé tem sido possível na convicção de que a Escritura não apresenta argumentos sérios
e válidos em favor de opinião contrária. Vários trechos dos evangelhos, ao contrário,
dão a entender como provável que Maria não teve mais filhos depois de Jesus, e isso é
ainda hoje a opinião de vários exegetas católicos. Segundo eles, os chamados irmãos
de Jesus foram, na verdade, seus primos de diferentes graus (NUOVO DIZIONARIO
DI MARIOLOGIA, 487).

O papa Pio IX, também endureceu com o Idealismo condenando-o como


doutrina panteísta que compreendia que tudo e todos compõem Deus, retirando

capítulo 5 • 144
dEle sua soberania e superioridade. A palavra é derivada do grego pan (que signi-
fica "tudo") e theos (que significa "deus"). o panteísmo só admite como Deus "o
todo, a universalidade dos seres", não sendo, portanto, um conteúdo em particu-
lar Deus, mas sim a totalidade de Papa Pio IX na intenção de defender condenou
também a separação entre a Igreja e o Estado, as escolas seculares, o casamento
civil, e o socialismo.
Papa Pio IX buscou fortalecer a catolicidade e por isso estimulou as devoções
populares, promoveu a espiritualidade sacerdotal e empreendeu reformas na vida
religiosa, tendo três objetivos, quais sejam, a retomada da vida comunitária, a
seleção acurada de religiosos e o apoio às novas fundações que melhor correspon-
dessem às urgências da época. Durante os 32 anos do pontificado de Pio IX, o mo-
vimento missionário cresceu notavelmente; na América Latina, por exemplo, 206
novas dioceses e vicariatos foram erigidos entre 1849 e 1878. Sofreu com a evo-
lução política e social que caracterizou o século XIX e incapaz de discernir o que
foi positivo na Revolução Francesa. Todos os seus esforços como pontífice visaram
à reafirmação do transcendente contra as tendências racionalistas e laicizadoras.

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Figura 5.9  –  Pio IX.

O Sílabo dos Erros de Nossa Época (Syllabus Errorum), foi promulgado


pelo papa Pio IX, em 1864. Um documento com oitenta pontos considerados

capítulo 5 • 145
errados pela autoridade da Igreja. Foi publicado como apêndice da encíclica
Quanta cura. As 80 proposições que condenam os erros modernos contidas no
Sílabo abraçam dez capítulos, os quais podem ser reunidos em quatro pontos
fundamentais:
1. O primeiro grupo de erros diz respeito ao panteísmo, ao naturalismo,
ao racionalismo absoluto, ao indiferentismo e à incompatibilidade entre ra-
zão e fé. Também fala sobre os autores católicos que não queriam obedecer
a um magistério infalível;
2. O segundo grupo recolhe os erros da ética natural e sobrenatural com
especial interesse pelo matrimônio. Nele, é condenada a moral leiga que
pretende salvar a distinção entre o bem e o mal, a separação entre casamen-
to e contrato de matrimônio;
3. A terceira série fala dos erros sobre a natureza da Igreja, a natureza do
Estado e sobre a relação entre os dois poderes. A Igreja, por sua própria
natureza, é independente, e o Estado é subordinado à lei moral; menciona,
também, os direitos naturais anteriores e independentes do Estado. Além
disso, são recusadas todas as teorias jurisdicionalistas que falavam da subor-
dinação da Igreja ao Estado, enumeram-se os abusos dos governos, e não se
aceita o princípio fundamental do Liberalismo, ou seja, a separação entre
Igreja e Estado;
4. Mais grave foi o quarto grupo de proposições, pelo menos enquan-
to se referia às reações provocadas. Diz que a religião católica ainda deve-
ria, naqueles dias, ser considerada religião de Estado, com a exclusão dos
outros cultos; assim, são condenadas a liberdade de culto, a liberdade de
pensamento e a de imprensa. Em resumo, Era do Liberalismo não acei-
tam as teses fundamentais da sociedade moderna, os imortais princípios
da Revolução Francesa. E como se isso não bastasse, a última proposição
afirma ser categoricamente falsa a afirmação pela qual o romano pontífice
pode e deve reconciliar-se com o progresso, com o Liberalismo e com a
civilização moderna (o Sílabo e todos os documentos da Igreja podem ser
lidos no site disponível em: Acesso em: 05 de abril de 2018).

Concílio Vaticano I: A primeira ideia da realização de um Concílio Ecumênico


foi exposta em 1864, na eminência do Sílabo, com a finalidade de restaurar a fé
cristã no século XIX, como o foi o Concílio de Trento no século XVI. O anúncio
público foi feito por ocasião da comemoração do martírio de São Pedro, em 1867.

capítulo 5 • 146
A convocação ocorreu por meio da bula Aeternus Patris, em 28 de junho de 1868,
sendo realizada a abertura em 08 de dezembro de 1869, mesma data da definição
do dogma da Imaculada Conceição e do Sílabo.
Cerca de setecentos padres conciliares participaram do Vaticano I; a maior
parte era composta por europeus e por favoráveis à definição do dogma da infa-
libilidade. O primeiro documento aprovado foi o Deus Filius que trata sobre os
valores e limites. Condena o Racionalismo e o Tradicionalismo, que negavam à
razão a capacidade de conhecer as supremas verdades religiosas e morais, alcançá-
veis somente por meio de uma revelação primitiva transmitida pela sociedade, e
que foi uma tentação difundida na primeira metade do século XVIII como reação
do século XVII à Revolução Francesa.

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Figura 5.10  –  Concílio Vaticano I.

Neste interim do Século XIX, ao mundo é apresentado a Charles Robert


Darwin 1809 - 1882. Naturalista britânico que desenvolveu a teoria científica da
ocorrência da evolução defendendo que a mesma acontece pela seleção natural e
sexual. Esta teoria é considerada o paradigma central para explicação de diversos
fenômenos na biologia. Com sua publicação “A origem das espécies” (1859),
afirma que o homem é resultado de uma longa evolução que começou com os
hominídeos até o homo sapiens, o que corresponde às nossas características atuais.
Sabendo que criaria uma ruptura na forma de pensar da Teologia, Darwin
desenvolve sua teoria no ocultamento e para isso fazia experiências com plantas
e consultava criadores de animais, incluindo criadores de pombos e porcos, na
tentativa de encontrar respostas convincentes para todos os contra-argumentos

capítulo 5 • 147
que ele conseguia antever. Assim fez até revelar ao mundo a Teoria da Evolução e
romper com as bases teológicas da Criação. Para ele, todas as espécies de seres vi-
vos, inclusive o ser humano, evoluíram a partir de um ancestral comum por meio
de mutações graduais, variações espontâneas, e da seleção natural sobrevivendo
os mais aptos. Darwin quis provar que o homem é um descendente do macaco.
Nasce um dos maiores inimigos da Religião: O Evolucionismo que combate radi-
calmente o Criacionismo, que é a Teoria na crença de que o Homem foi criado por
Deus. Esse conceito é uma definição científica para fazer contraponto ao conceito
de Evolucionismo.
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Figura 5.11  –  Caricatura de Charles Darwin como um macaco, refletindo a reação cultural
contra a evolução.

Com a morte do papa Pio IX, assume o Pontificado o Papa Leão XIII, um
Jesuíta. (1878-1903) que acirrou ainda mais o conflito entre a Igreja e os Estados
europeus. Com Leão XIII a Igreja desperta para a condição de vida das classes
trabalhadoras por causa dos efeitos da Revolução Industrial. Neste contexto, o
Papa Leão XIII se levanta na defesa do direito dos trabalhadores. Por isso escreve a

capítulo 5 • 148
Encíclica Rerum Novarum: sobre a condição dos operários ("Das Coisas Novas").
Uma carta aberta a todos os bispos, sobre as condições das classes trabalhadoras.
A encíclica buscou combater o socialismo e expôs a doutrina católica acerca
do trabalho, do direito de propriedade, do princípio de colaboração contraposto
à luta de classes marxista. Tornou-se, assim, uma espécie de "Carta Magna" da
atividade cristã no campo social. A encíclica defendeu, dessa forma, a instauração
de uma ordem social justa. Papa Leão XIII apoiava o direito dos trabalhadores de
formarem sindicatos, mas rejeitava o socialismo ou social democracia. O Centro
da justiça é Jesus e não um “revolucionário” social.
Papa Leão XIII também publicou a Encíclica Immortale Dei (1885), defen-
dendo a de que o Estado e a Igreja foram criados por Deus e cada um tem uma
função específica, logo, quando o Estado não reconhecia a autoridade da Igreja,
e consequentemente de Deus, e buscava controlar a Igreja, falhava gravemente.
Também para condenar o socialismo, declaradamente ateu.

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Figura 5.12  –  Leão XIII, Papa, em 1898.

Outra bandeira defendida pelo papado foi a crítica ao socialismo e ao comu-


nismo que se tornava cada vez mais popular entre os trabalhadores europeus no
contexto do século XIX, graças à implantação de formas exploratórias de trabalho
geradas pela Revolução Industrial iniciada no século XVIII.

capítulo 5 • 149
Figura 5.13  –  A foice e martelo e a estrela vermelha são os símbolos universais
do comunismo.

Também foram ações da Igreja, no Século XIX, para se aproximar mais da


população e demonstrar a importância de uma espiritualidade com dimensões in-
dividuais, mas com práticas coletivas: a Igreja reforçou a organização dos congres-
sos eucarísticos (o primeiro se deu na cidade de Lille, em 1881), enfatizou o culto
mariano e a devoção ao sagrado coração de Jesus, além de, através da ação dos be-
neditinos, a promoção da tradução dos textos litúrgicos para as línguas nacionais.
As Igrejas protestantes iniciaram a evangelização no Brasil, no século XIX:
anglicanos, luteranos, congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas, meno-
nitas e adventistas. Os anglicanos, os luteranos e os menonitas concentraram seus
esforços missionários na população imigrante. Na cidade de Nova Friburgo, no
Rio de Janeiro, instalaram a Igreja Luterana.

CONEXÃO
Muitas foram as consequências da intervenção da era de Napoleão, no Cristianismo.
Continue aprofundando. Disponível em: <http://cleofas.com.br/historia-da-igreja-pio-vii-e-
napoleao-bonaparte/>.

capítulo 5 • 150
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Figura 5.14  –  A Bíblia traduzida em vernáculo por Martinho Lutero. A suprema autoridade
da Escritura é um princípio fundamental do protestantismo.

O Século XX

Para compreender com mais sensibilidade o que representou o Século XX para


a humanidade, assista o documentário: Nós que aqui estamos por vós espera-
mos. Neste contexto o Cristianismo continuou, assim como nos séculos passados,
emitindo seus ensinamentos e verdades. O filme apresenta, de forma sensível,
clara e reflexiva os acontecimentos do século. Não é um documentário religioso,
mas um documentário sobre “gente” que viveu, que sentiu, que se alegrou, que
chorou. Gente como a gente! Gente como gente de todos os séculos! Gente que
é a prioridade do Cristianismo. É um filme brasileiro de 1999 sob a direção de
Marcelo Massagão.

CONEXÃO
"Nós que aqui estamos por vós esperamos"
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-PXo5oGztiw>.

capítulo 5 • 151
Muitos foram os eventos que marcaram o Cristianismo no século XX e entre
eles, a fundação de muitas Igrejas Cristãs Protestantes. Vale conferir a cronologia
da fundação de cada uma:

1816 Igreja Adventista EUA Willian Miller

1830 Mórmons EUA Joseph Smith

1865 Exército da Salvação Inglaterra Willian Booth

1878 Testemunhas de Jeová EUA Charles T. Russel

1901 Igreja Pentecostal EUA Charles Parham

1903 Igreja Presbiteriana Independente Brasil Othoniel C. Mota

1909 Congregação Cristã do Brasil Brasil Luís Francescon

1910 Igreja Assembleia de Deus EUA/Brasil D. Berg/ G. Vingren

1918 Igreja do Evangelho Quadrangular EUA Aimée Mc Pherson

Igreja Católica Apostólica


1945 Brasil Carlos D. Costa
Brasileira (ICAB)

1955 Cruzada o Brasil para Cristo Brasil Manoel de Mello

1962 Igreja Deus é Amor Brasil David Miranda

1977 Igreja Universal do Reino de Deus Brasil Edir Macedo

Figura 5.15  –  Disponível em: <https://www.bibliacatolica.com.br/blog/quem-fundou-a-sua


-igreja/#.W2MehfnR_IU>.

Em 1910, a Conferência de missões, em Edimburgo, apresentou a preocu-


pação dos Cristãos Protestantes com a expansão da Evangelização para a América
Latina, juntando-se aos Cristãos Católicos, que para lá já havia seguido para ex-
pandir o Cristianismo. A Conferência aconteceu em um congresso missionário
que reuniu missionários, líderes de agências e outros obreiros cristãos de países da
Europa e da América do Norte. 100 anos depois, também em Edimburgo, acon-
teceu em 2010, outra conferência em comemoração ao centenário, mas também
de novas perspectivas. Aprofunde:

capítulo 5 • 152
CONEXÃO
Evangelização protestante na América Latina
Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=V5U9nTf6fcoC&pg=PA11&lp-
g=PA11&dq=Primeiro+Congresso+Protestante+Panamericano&source=bl&ots=ON-
QoIhGfD1&sig=SsozuozD4J8KrEFLHf63bi42QwA&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKE-
wirqMviucncAhWHIpAKHQFqCkIQ6AEwAHoECAAQAQ#v=onepage&q=Primeiro%20
Congresso%20Protestante%20Panamericano&f=false>.
A Conferência de Edimburgo 2010 e novos desafios da Missão
Disponível em: <http://servicioskoinonia.org/relat/396.htm>.

Vale relembrar as ramificações do Protestantismo ao longo da História


do Cristianismo:
Anaba�sta
Pentecostalismo
Adven�stas
Reforma Radical

Movimento de San�dade
Ba�stas
Igrejas Reformadas

Calvinismo

Presbiterianos
Congregacionalistas

Puritanos / Separa�stas
Reforma Protestante

Metodistas
Pie�smo
Luteranos

Anglicanos

1500 1600 1700 1800 1900 2000

Figura 5.16  –  Ramos do protestantismo.

A partir de 1900, o protestantismo se espalhou pela África, Ásia, Oceania e


América Latina, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando a África
deixou de ser colônia e conquistou liberdade de expressão. Em 1910, enquanto a
maioria dos Protestantes era encontrada nos Estados Unidos.
Principais ramificações do Protestantismo se estabeleceram na América
do Sul no século XIX:
•  Os Luteranos: fundaram a primeira congregação no Brasil, em 1824;

capítulo 5 • 153
•  Os presbiterianos: se instalaram na Argentina, em 1836, no Brasil, em
1859, no México, em 1872, e na Guatemala, em 1882;
•  Os metodistas: México, 1871, Brasil, 1886, Antilhas, 1890, Costa Rica,
Panamá e Bolívia, nos últimos anos do século;
•  Os Batistas e os Pentecostais e uma parte dos metodistas: se estabelece-
ram no Equador, Colômbia e Peru.

Entre os Protestantes norte-americanos, o avivalismo (avivamento) tornou-se


um fenômeno bastante generalizado. Prática que se expandiu por todo o mundo
com o objetivo de resgatar as origens da Reforma:

Esse interesse resultou em uma curiosa instituição, que perdurou até as primeiras
décadas do século XX – o acampamento avivalístico ("camp meeting"). Tratava-se de
grandes concentrações em zonas rurais, por vezes bastante confusas, em que cente-
nas de pessoas, inclusive famílias inteiras, hospedavam-se em tendas e ouviam por
vários dias uma série de pregadores avivalistas. Essas reuniões foram precursoras das
grandes concentrações evangelísticas realizadas desde o final do século XIX até os
nossos dias, sob a liderança de homens como Dwight L. Moody, Billy Sunday e Billy
Graham. (MATOS Alderi. 2005. P.132)

Além do notável crescimento das igrejas Protestantes por todo o mundo, ou-
tros avivamentos ocorreram, todos deixaram um dos frutos valiosos e duradouros
fazendo surgir um grande número de movimentos de natureza religiosa e social,
as "sociedades voluntárias".

Essas organizações estavam voltadas para causas como educação religiosa, abolicio-
nismo, temperança, distribuição das Escrituras e, acima de tudo, missões nacionais e
estrangeiras. Alguns exemplos marcantes, por ordem cronológica de fundação, são os
seguintes: Junta Americana de Missões Estrangeiras (1810), Sociedade Bíblica Ame-
ricana (1816), União Americana de Escolas Dominicais (1824), Sociedade Americana
de Tratados (1825), Sociedade Americana de Educação (1826), Sociedade America-
na para a Promoção da Temperança (1826) e Sociedade Americana de Missões Na-
cionais (1826). O Segundo Grande Despertamento contribuiu decisivamente para o
movimento missionário do século XIX, que levou a mensagem evangélica e instituições
evangélicas (igrejas, escolas, hospitais) a todas as regiões da terra, inclusive o Brasil.
(MATOS Alderi. 2005. p.132)

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Figura 5.17  –  John Wesley, um dos grandes avivacionistas e responsável pelo maior aviva-
mento da Inglaterra.

Voltando ao Catolicismo, verificamos que eleito papa no dia 4 de agosto de


1903, José Sarto (1825- 1914), escolheu como nome Pio X, "Fazer a vontade de
Deus e servi-lo por meio de um ministério fiel". Foi um papa reformado, preo-
cupando-se em manter a unidade interna da Igreja. O lema para o seu pontifi-
cado: instaurare omnia in Christo, isto é, fazer com que a influência de Cristo se
estendesse a toda a sociedade, por meio do seu vigário na terra e dos seus demais
representantes. Para trazer Deus de volta à sociedade, era preciso, antes, reformar
a Igreja internamente e purificá-la de tudo o que não se adequava à missão que
Cristo lhe havia confiado. A reforma abrangeu todos os aspectos da vida cristã,
por isso as reformas promovidas referem-se, principalmente, ao Código de Direito
Canônico, à catequese e à liturgia. Existem muitos juízos contrários e a favor das
iniciativas de Pio X. Segundo SCHLESINGER (1995):

Ao contrário de Leão XIII, que, que procurou dialogar com as ideias políticas e sociais
do século XIX, Pio X foi preponderantemente um pastor, mas voltado para a pastoral
e o incremento da vida eclesiástica e cristã. [...] Alguns historiadores têm apreciado
negativamente certos aspectos da luta de Pio X contra o modernismo, sobretudo a
sua tendência de ver heresia modernista em tudo. Ele não foi um teólogo, foi, sim, um
pastor dedicado e, sobretudo, um verdadeiro santo, extremamente devoto, mas simples
e sem ostentação. Foi canonizado em 1954 (SCHLESINGER 1995, n.p.).

capítulo 5 • 155
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Figura 5.18  –  Papa Pio X.

O século XX chega na esteira do Século XIX apontando um Cristianismo


que não pode esquecer as questões sociais que pela Encíclica Rerum Novarum foi
indicado. O advento da Indústria ocasionou a concentração de riquezas nas mãos
de um pequeno número gerando desigualdades sociais que levaram à miséria e a
degradação pelo trabalho em condições desumanas.
Diante de situação tão desafiadora, surgiram tentativas de solucionar a questão
social: o socialismo puro, o sindicalismo e o socialismo científico (comunismo). O
socialismo puro não saiu da teoria; o sindicalismo apresentou-se como solução em
muitos países e passou por três fases distintas: a fase de sua clandestinidade; a fase
em que foi tolerado e, por último, a em que era reconhecido juridicamente. Já o
comunismo (socialismo científico) fora adotado por alguns países do leste europeu
no século XX. A Igreja, tendo condenado o Socialismo, não aderiu a esse projeto.
Sobre o tema do "catolicismo social", GUTIERREZ (2005, p. 16- 17) afirma que:

[...] é impossível compreender a gênese e a evolução da Doutrina social da Igreja sem


evocar toda uma geração de católicos sociais, cardeais, bispos, sacerdotes e leigos
europeus e norte-americanos. Estes, mediante uma rica reflexão teórica e uma multi-
forme ação social, iniciaram o processo de reencontro da Igreja com os assalariados
industriais e tornaram possível a formulação da Doutrina Social da Igreja. É muito pro-
vável que sem a sua contribuição não teríamos tido a Rerum Novarum. GUTIERREZ
(2005, p. 16- 17).

capítulo 5 • 156
No início dos anos 1930, logo depois da grave crise econômica de 1929, o Papa
Pio XI publicou a encíclica Quadragesimo anno, em 1931. Uma comemoração aos
40 anos da Rerum novarum o PAPA releu o passado à luz de uma situação econômico-
social em que a industrialização se ajuntara a expansão do poder dos grupos financei-
ros, em âmbito nacional e internacional. GUTIERREZ (2005, p. 18) esclarece:

Em primeiro lugar, a sua denúncia da "miséria imerecida" dos proletários. Em seguida,


a convicção de que a referida miséria não é produto de um fatalismo histórico nem
vontade de Deus, mas produto de um sistema econômico capitalista rígido. E finalmen-
te, à diferença dos socialistas da época, elaboraram a tese de que não é necessário
destruir o sistema capitalista mediante a luta de classes e a revolução. É preciso, sim,
aproximar as classes sociais e abrir espaços de participação dos trabalhadores por
meio de reformas adequadas que humanizariam o sistema. É verdade que a maioria
dos católicos sociais tendia para o corporativismo ou corporativismo como solução
para os problemas dos trabalhadores. Esta proposta, que não foi acolhida por Leão XIII,
emergirá com força na Quadragésimo Anno. GUTIERREZ (2005, p. 18).

Os anos 1960 irromperam promissores, com o reinício no pós-guerra, a desco-


lonização da África e os primeiros e tímidos sinais de um degelo nas relações entre
os blocos americano e soviético. Nesse sentido, João XIII, sensível aos sinais dos
tempos, entendeu que a questão social estava se universalizando e abarcava todos
os países: ao lado da questão operária e da Revolução Industrial, delineavam-se os
problemas da agricultura, das áreas em via de desenvolvimento, do incremento
demográfico e os referentes à necessidade de cooperação econômica mundial.
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Figura 5.19  –  Papa João XXIII.

capítulo 5 • 157
As desigualdades, antes advertidas no interior das nações, apareciam no âmbi-
to internacional e faziam emergir, cada vez mais, a situação dramática em que es-
tava o Terceiro Mundo. Com a encíclica Mater et magistra, João XXIII pretendeu
atualizar os documentos já conhecidos e avançar no sentido de comprometer toda
a comunidade cristã. As palavras-chave da carta são "comunidade" e "socializa-
ção": a Igreja é chamada na verdade, na justiça e no amor a colaborar com todos
os homens para construir uma autêntica comunhão. Por tal via, o crescimento
econômico não se limitaria somente a satisfazer às necessidades dos. No início
dos anos 1970, sob um turbulento clima de contestação ideológica, Paulo VI
retomou a mensagem social de Leão XIII e atualizou-a, por ocasião do octogési-
mo aniversário da Rerum novarum, com a carta apostólica Octogesima adveniens.
Nela, o papa refletiu sobre a sociedade pós-industrial com todos os seus complexos
problemas, salientando a insuficiência das ideologias para responder a alguns de-
safios: a urbanização, a condição juvenil, a condição da mulher, o desemprego, as
discriminações, a emigração, o incremento demográfico, o influxo dos meios de
comunicação social e o ambiente rural. Já a encíclica Laborem exercens, lançada
noventa anos depois da Rerum novarum, por João Paulo II, foi dedicada ao traba-
lho, que é visto como bem fundamental para a pessoa, fator primário da atividade
econômica e chave de toda a questão social. A Laborem exercens delineou uma
espiritualidade e uma ética do trabalho no contexto de uma profunda reflexão
teológica e filosófica.
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Figura 5.20  –  Papa Paulo VI.

capítulo 5 • 158
O trabalho não deveria ser entendido, então, somente em sentido objetivo e
material, mas também se levando em conta a sua dimensão subjetiva como ativida-
de, que exprime sempre a pessoa. Além de ser o paradigma decisivo da vida social,
o trabalho tem toda a dignidade de um âmbito no qual deve encontrar realização e
vocação natural e sobrenatural da pessoa. Comemorando o vigésimo aniversário da
Populorum progressio, João Paulo II, com a encíclica Sollicitudo rei socialis, abordou,
novamente, o tema do desenvolvimento para sublinhar dois dados fundamentais:
Por um lado, a situação dramática do mundo contemporâneo, sob o aspecto do
desenvolvimento que falta no Terceiro Mundo e, por outro lado, o sentido, as condi-
ções e as exigências de um desenvolvimento digno do homem (CONGREGAÇÃO
PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 1988, p. 30). Essa encíclica introduziu, ainda,
a diferença entre progresso e desenvolvimento, afirmando que: O verdadeiro desen-
volvimento não pode limitar-se à multiplicação dos bens e dos serviços, isto é, àquilo
que se possui, mas deve contribuir para a plenitude do ser do homem.
Deste modo pretende-se delinear com clareza a natureza moral do verdadeiro
desenvolvimento (CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 1988,
p. 30). No centésimo aniversário da Rerum Novarum, João Paulo II, promulgou a sua
terceira encíclica social, a Centesimus annus, da qual emergiu a continuidade doutrinal
de cem anos de magistério social da Igreja. Retomando um dos princípios basilares da
concepção cristã da organização social e política, que fora o tema central da encíclica
precedente, o papa escreveu: O princípio, que hoje designamos de solidariedade.
[...] Várias vezes Leão XIII o enun-
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cia com o nome amizade [...]; desde
Pio IX é designado pela expressão mais
significativa caridade social, enquan-
to Paulo VI, ampliando o conceito na
linha das múltiplas dimensões atuais
da questão social, falava de civilização
do amor (JOÃO PAULO II, Carta
Encíclica Centesimus annus, 10, 1991).
João Paulo II realçou, também, como o
ensinamento social da Igreja correu ao
longo do eixo da reciprocidade entre
Deus e o homem: reconhecer a Deus em
cada homem e cada homem em Deus é
a condição de um autêntico desenvolvi-
mento humano. Figura 5.21  –  Papa João Paulo II.

capítulo 5 • 159
Alguns fatos do Cristianismo no século XX que não podem ser
esquecidos:

1916: Foi organizado o Primeiro Congresso Protestante Panamericano que ti-


nha um caráter ecumênico e como resultado constituiu o Comitê de Colaboração
na América Latina (CCLA) para direcionar as ações missionárias na região.

Em meados da década de 1920, o recém-criado partido político de Hitler tornou-se


o principal oponente do comunismo, além de expoente do nacionalismo alemão. No
final de 1932, em meio a uma grave crise de desemprego, o partido de Hitler obteve
37% dos votos nas eleições nacionais, tornando-se o maior partido independente. Por
apreciarem seu nacionalismo, muitos cristãos votaram nele, embora condenassem sua
ambição excessiva. Na opinião de Hitler, "ou se é cristão ou se é alemão". Os dois ao
mesmo tempo seria impossível. (GEOFFREY BLAINEY. p 195. 2012)

1920: Surgem vários movimentos fundamentalistas Cristãos (Católicos e


Protestantes) que uniu igrejas conservadoras de toda a américa.

Havia a esperança de que, diante da crise, todas as Igrejas falassem a uma só voz. Na
década de 1920, a antiga palavra grega "ecumenismo", virtualmente desconhecida da
maioria das pessoas religiosas, reapareceu. Referindo-se ao mundo todo ou à Igreja in-
teira, o termo havia sido empregado 15 vezes no Novo Testamento; tinha história, por-
tanto. Um ferrenho defensor do movimento ecumênico foi Randall Davidson, arcebispo
de Canterbury, que, em 1922, liderou um ataque ao ateísmo russo. Depois da prisão do
patriarca Tikhon, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Davidson organizou protestos que
reuniram praticamente todas as denominações britânicas, além de católicos e judeus.
Naquela que foi uma das maiores demonstrações de solidariedade cristã vista na Eu-
ropa desde o início da Reforma, o movimento talvez tenha livrado o patriarca russo de
uma longa temporada na prisão. (GEOFFREY BLAINEY. p 196. 2012)

1921: Transmissão do primeiro programa radiofônico cristão. Transmissão de


cultos pela primeira Emissora Protestantes, a KDKA.
1945: Executado por Hitler - Dietrich Bonhoeffer, teólogo, Pastor Luterano,
membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja
Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista.
Em agosto de 1948, em Amsterdã, acontece a criação do Conselho Mundial
de Igrejas. Seu lema saiu das sombras da guerra: "A desordem do homem e o pro-
jeto de Deus". Compareceram representantes de 44 países.

capítulo 5 • 160
Juntos, eles caminharam sobre as pegadas de Lutero, Zuínglio e outros protestantes
rebeldes que concordaram em se reunir - mas não aceitaram um segundo encontro
- em Marburg, menos de uma década depois de iniciada a Reforma. De início, os cató-
licos não participaram do Conselho Mundial de Igrejas nem mandaram observadores
oficiais. Já que ocupavam o posto de maior Igreja do mundo, não viram necessidade
de correr para fechar uma brecha aberta pelos outros. Algumas seitas cristãs funda-
mentalistas, em especial aquelas estabelecidas nas Américas, também se recusaram
a participar, mas os alemães pareciam satisfeitos em estar ali, embora carregando, em
nome do povo, um sentimento de culpa pela guerra. As Igrejas Ortodoxas demons-
travam atitudes diversas. Com a intensificação da Guerra Fria, os debates revelavam
tensões entre os delegados da Europa oriental e da América. Destes últimos, um dos
palestrantes era o presbiteriano John Foster Dulles, que cinco anos mais tarde se tor-
naria secretário de Estado norte-americano, e um feroz inimigo da Guerra Fria. (GEOF-
FREY BLAINEY. p 196. 2012)

A dura década de 40: o Regime Comunista persegue o Cristianismo.

Em 1945, as forças russas ocupavam o leste europeu, onde permaneceriam por quase
meio século. Naquela vasta extensão do território ocupado, a maior parte das Igrejas
Cristãs foi transformada em instituições menores. Os prédios de quase todas as escolas
e de muitos templos foram fechados, perdendo o tradicional papel nas grandiosas ceri-
mônias públicas. Os jovens, em especial os mais ambiciosos, perceberam que o caminho
do sucesso estaria bloqueado para eles, na profissão ou em cargos públicos, caso se
tornassem fiéis ardorosos. Além disso, as escolas ensinavam os méritos do ateísmo.
Na Lituânia, os padres, em sua maioria, estavam presos ou tinham sido deportados. Na
Hungria, em 1949, o cardeal Mindszenty foi condenado à prisão perpétua, e na antiga
Tchecoeslováquia, o arcebispo foi confinado em local não revelado. Em determinada
ocasião, 8 mil monges e freiras ocupavam as prisões. Na Polônia, um dos países mais
católicos da Europa, o governo comunista e a Igreja discordavam frequentemente, mas
a Igreja conservou o apoio público. Em 1949, a vitória final dos comunistas na guerra
civil da China expandiu bastante a zona anticristã, que passou a ir de Berlim a Xangai, e
da foz do rio Danúbio à foz do rio Pérola. A China tinha sido objeto de intensa, mas não
vitoriosa, atividade cristã. Em 1949, as escolas católicas atendiam cerca de 5 milhões de
estudantes chineses, enquanto hospitais e médicos católicos cuidavam de 30 milhões
de pessoas, mais ou menos. Quando escolas e hospitais passaram para as mãos do go-
verno, e a maior parte das igrejas foi fechada, padres, pastores, freiras e médicos missio-
nários regressaram ao país de origem. Em sua maioria, eram americanos e canadenses,
que partiram tristes. (GEOFFREY BLAINEY. p 196. 2012)

1960: Surge a Renovação Carismática em igrejas tradicionais Protestantes e


na Igreja Católica

capítulo 5 • 161
1962: Realização do Concílio Vaticano II: entre 1962 e 1965, foram fei-
tas mais mudanças do que em qualquer outra conferência, desde o Concilio de
Trento, quatro séculos antes.
1963: Martin Luther king lidera marcha a Washington.

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Figura 5.22  –  Martin Luther King Jr.

O Dr. Martin Luther King Jr., Pastor de uma igreja Batista em Montgomery, Alaba-
ma, começava a chamar atenção, em sua cruzada pelos direitos civis dos negros "do
sul". Uma visita à Índia, em 1959, convenceu-o das virtudes da tática empregada por
Gandhi: "persistir nos protestos, evitando a violência." Depois de assumir o posto de
pastor ao lado do pai na Igreja Batista Ebenézer, em Atlanta, na Geórgia, o Dr. King
pacientemente continuou com os protestos passivos e boicotes que ajudaram a mo-
dificar ou eliminar a prática, adotada nos estados do sul, de segregar negros e bran-
cos em ônibus e restaurantes. Várias vezes foi preso por isso. Daí a quatro anos, ele
fez um discurso do alto dos degraus do Lincoln Memorial, em Washington. Buscando
palavras no Antigo Testamento, assim se dirigiu à multidão diante dele: "Eu tenho um
sonho... Eu sonho que, um dia, todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas
se abrandarão. Os lugares acidentados serão aplainados, os caminhos tortuosos se
endireitarão, e a glória do Senhor se revelará." Foi o presidente Lyndon B. Johnson,
mais conhecido como político atuante do que como seguidor da grande seita chamada
Discípulos de Cristo, quem assinou as leis federais corrigindo formalmente alguns dos
erros que provocaram as queixas de Martin Luther King Jr. Em 4 de abril de 1968,
King foi assassinado em Memphis, aos 39 anos. (GEOFFREY BLAINEY. p. 204. 2012)

capítulo 5 • 162
1971: Gustavo Gutiérrez, Padre Peruano, publicou um livro denominado A
Teologia da libertação que se transformou em uma linha Teológica e foi alimen-
tada no Brasil pelo então Teólogo Leonardo Boff, na época Franciscano. O mo-
vimento foi censurado nos Pontificados de João Paulo II e de Bento XVI. Essa
linha Teológica não centra sua reflexão na Revelação e na Tradição, mas nas ques-
tões sociais. Leonardo Boff não é mais Padre e se afastou da ligação com a Igreja
Católica. Papa Francisco permite um relacionamento de respeito com as várias
linhas teológicas, inclusive com a Teologia da Libertação, estando, no entanto
atento para que a Doutrina da Igreja não seja maculada.
1979: a revolução na Nicarágua alimentada pelos marxistas e liberalistas.
Católicos liberalistas nicaraguenses instituíram um credo radical: "É imperativo
que se revolucione a sociedade, qualquer que seja o sistema ou regime. É impera-
tivo também revolucionar constantemente a própria Igreja, para que se torne cada
vez mais evangélica." Dom Pedro Casaldáliga foi o divulgador desses ensinamen-
tos no Brasil, inclusive desafiando a Igreja de Roma, sendo chamado ao Vaticano
em 1988 para explicar suas posições.
1989: em El Salvador, o arcebispo Dom Romero criticou severamente o go-
verno militar e difundiu as bases da Teologia da Libertação. Um dia, pregando
pela "justiça e pela paz quando preparava-se para rezar missa, foi assassinado por
um homem armado. Uma multidão acompanhou o cortejo, e 40 pessoas morre-
ram pisoteadas.
©© CAROLINA BATISTA | WIKIMEDIA.ORG

Figura 5.23  –  A maior obra do mundo dedicada a um santo, chamada "San Romero de
América", mede 20mx15m e foi pintada pelo arquiteto e artista salvadorenho Josué Villalta.

capítulo 5 • 163
CONEXÃO
Saiba mais sobre esses fatos e muitos outros
Uma breve História do Cristianismo
Disponível em: <http://politicaedireito.org/br/wp-content/uploads/2017/02/uma
-breve-histc3b3ria-do-cristianismo-geoffrey-blainey-1.pdf>.

O Cristianismo continua sua história pelo mundo e ainda encontra muitas


resistências e perseguições. Ser cristão é uma escolha radical. Além disso, em um
mundo de pluralismo religioso, no exercício da missão cristã não podemos nos
envolver com nenhuma prática, em nome da fé, que fira a dignidade dos irmãos de
Religiões e Credos diferentes. Cumprir o mandato Cristão exige seguir princípios
básicos que nos colocam na sintonia do que espera, Jesus, de nós.
Nossa primeira ação missionária é saber conviver com as diferenças religiosas.
Não podemos repetir, em nossas escolhas, a ideia de atacar o outro através de sua
Religião. A história da humanidade está cheia de exemplos de povos que foram
dominados e obrigados a não professarem sua fé. As perseguições religiosas deixa-
ram máculas que parecem incuráveis. Vidas foram ceifadas, povos extintos, pes-
soas oprimidas e silenciadas no seu tempo e espaço e na história. Não nos parece
sábio e mais do que isso, cristão, reproduzir essas atrocidades.

Figura 5.24 – A cruz é o principal símbolo do cristianismo e o peixe um dos mais antigos.

O Pontifício Conselho para o diálogo inter-religioso, O Conselho Mundial


das Igrejas e a Aliança Evangélica Mundial, tiveram a preocupação de apresentar
recomendações claras acerca da vivência Cristã no mundo multi-religioso. Para
que essas recomendações fossem elaboradas, houve três encontros e em cinco anos

capítulo 5 • 164
de reflexão, em 2011, na terceira consulta Bangkok, na Tailândia, de 25 a 28 de
Janeiro de 2011, foram aprovadas as 12 recomendações. São elas:
•  Agir no amor de Deus;
•  Imitando a Jesus Cristo;
•  Virtudes cristãs;
•  Atos de serviço e justiça;
•  Discernimento nos ministérios de cura;
•  Rejeição da violência;
•  Liberdade de religião e de crença;
•  Respeito e solidariedade mútua;
•  Respeito por todas as pessoas;
•  Renunciando aos falsos testemunhos;
•  Assegurando o discernimento pessoal;
•  Construindo relações inter-religiosas.

São recomendações de conduta, no sentido de que cada deve ter disposição in-
terior na construção de relações de paz e que há responsabilidade pessoal e intrans-
ferível que deve ser recordada todos os dias. Como Cristãos, não podemos cair no
engodo de querer combater, em nome da fé, a Religião ou Doutrina dos Irmãos.
Não se trata de um abandono à nossa Identidade Cristã e doutrinária. Preservar
a identidade não se trata de combate, agredir, denegrir e isolar quem escolheu outro
caminho religioso. Inclusive, entre o Cristão, essa atitude equivocada de defesa da
identidade é mais insana ainda, já que Jesus é ponto de encontro. E em relação aos
não Cristãos, continua sendo insana, pois o princípio Cristão é de vida para todos.
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. (João 10,10)
Evidente que há responsabilidades institucionais, mas é preciso que cada
Cristão compreenda profundamente a responsabilidade para que colaborem,
definitivamente, para que suas Instituições cumpram plenamente a essência do
Cristianismo. “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem”. (Mt 5,44).
Recomendações de conduta têm a ver com código moral. Os códigos morais
são importantes para que não nos esqueçamos de que a ética deve nos conduzir
em qualquer situação e lugar. Neste sentido, a existência e as vivências humanas,
não são consideradas como fatalidades, mas escolhas claras e reais. Se eu escolho
ser reto vou pronunciar e executar a retidão. “Diante de ti ponho a vida e ponho a
morte. Mas tens que saber escolher” (Dt 30, 19). A deliberação é a capacidade de
escolher a própria condição.

capítulo 5 • 165
Não faz sentido, pela essência Cristã, haver qualquer tipo de agressão ao irmão
que professam diferentes religiões. Nossa fé deve nos levar ao respeito e não ao ata-
que à escolha religiosa do outro. “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos
façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”. (Mt 7,12).

©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 5.25  –  Sermão da Montanha, por Carl Bloch, século XIX.

Essas recomendações de conduta foram necessárias. Uma lembrança clara para


todos os que professam Jesus como Salvador e Senhor. Talvez elas fossem dispensá-
veis, se todos nós, Cristãos, não perdêssemos a ligação íntima com os ensinamen-
tos do próprio Jesus, pois neles já estão implícitas e explícitas todas as condutas
que são coerentes para seus seguidores e imitadores.

Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram


chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de
todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. (Ef. 4, 4-6)

capítulo 5 • 166
No entanto, ao nos afastarmos desses ensinamentos, precisamos que os mais
atentos nos chame atenção e nos reconduza ao caminho. Esse é um dos papeis dos
líderes religiosos. E é neste contexto que as Recomendações foram construídas
e publicadas. Através delas fomos impulsionados à retomada da Virtude Cristã.
Quando somos impulsionados à virtude, temos maior possibilidade de encontrar
na retidão o sentido da própria existência.
As Recomendações não podem ser entendidas como um documento teológi-
co, mas de fato, conselhos práticos e diretos para que possamos exercer com ple-
nitude os sentidos da paz, da harmonia e do respeito no mundo multi-religioso.
O exercício da Paz e do respeito somente é possível quando estamos diante das
diferenças. Somente no convívio com as diferentes religiões e credos podemos me-
dir nossa capacidade de superação do proselitismo e nossa capacidade de viver em
harmonia. "A Paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio"
(Jo, 20,23). Quando não há diferenças, corremos o risco de guardar, em nossos
“subterrâneos”, nossa incapacidade de olhar e cuidar do outro como irmão. Se
somos testemunhas de Jesus também somos, por esta condição, imitadores dele,
portanto, viver como Jesus viveu é o nosso grande desafio.

Figura 5.26  –  Papa Francisco posa para foto ao lado de diversos líderes religiosos após as-
sinatura de declaração contra a escravidão. Vaticano (Foto: Osservatore Romano/Reuters).

capítulo 5 • 167
ATIVIDADES
01. Com a morte do papa Pio IX, assume o Pontificado o Papa Leão XIII, um Jesuíta (1878-
1903), que acirrou ainda mais o conflito entre a Igreja e os Estados europeus. Qual o princi-
pal fato que marcou seu pontificado?

02. Em 1910, uma Conferência de missões foi realizada em um Congresso Missionário,


tendo sido um fato de grande importância para o Cristianismo Protestante em sua expansão.
Que Conferência é essa e qual seu principal objetivo?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Sagrada Online: Disponível em: <https://www.bibliacatolica.com.br/>.
BENTO XVI. na Audiência Geral. Santa Sé.14 de novembro de 2012. Santa S
COMBY. Jean. Para ler a história da Igreja II - Do século XV ao século XX. São Paulo: Loyola. 1994
GIÁCOMO. Martina. História da Igreja - de Lutero a nossos dias I. Edições Loyola. São Paulo: 1997
GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão. Vol. 3: Da Reforma Protestante ao
século 20. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 274.
GEOFFREY Blainey. Uma breve história do Cristianismo. Fundamento. 2012. Disponível em:
<http://politicaedireito.org/br/wp-content/uploads/2017/02/uma-breve-histc3b3ria-do-cristianismo-
geoffrey-blainey-1.pdf>.
GUTIERREZ. Teologia da Libertação. São Paulo: Loyola. 2005
SOUZA. Ney, GONÇAVES. Paulo Sérgio Lopes. Catolicismo e sociedade contemporânea: Do
Concílio Vaticano I ao contexto histórico-teológico do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus.2014.
MATOS ALDERI. A Caminhada Cristã na História. Viçosa, MG: Ultimato. 2005. P.132
NETO, A. S.; MACIEL, L. S. B.; LAPOLLI, E. M. O Professor e as Propostas Educacionais do Ratio
Studiorum: Algumas Reflexões Iniciais Sobre a Prática Docente, 2012.
PIETRA ARTURO. EVANGELIZAÇÃO PROTESTANTE NA AMÉRICA LATINA: análise da razões que
justificaram e promoveram o Protestantismo na América Latina. v. 2. São Leopoldo: Editora Sinodal. 2008.
SCHLESINGER, Hugo; PORTO, Humberto. (Orgs.). Dicionário Enciclopédico das Religiões. Vol. I.
Petrópolis: Vozes, 1995.
PAULO VI. Constituição Pastoral Gaudium Et Spes: A Igreja no mundo atual. 1965.
PIUS PP. IX. Quanta cura. Romae, 1864.
ZAGHENI. Guido. A Idade Contemporânea: curso de História da Igreja IV. Trad José Maria de
Almeida. São Paulo: Paulus, 1999.

capítulo 5 • 168
GABARITO
Capítulo 1

01. Jesus é o Messias enviado por Deus! Essa verdade sempre desagradou ao poder roma-
no. Desde criança Jesus já compreendia a sua Missão e já ensinava nos templos admirando
a todos os que ouviam. Jesus falava de um Reino que não era desse mundo, mas um Reino
que era de Deus. Para os judeus, o Messias não seria um Deus de amor, mas deveria ter lide-
rança política. Eles esperavam um restaurador que lutasse contra a opressão, mas seria um
líder terreno e não Divino. Os judeus esperavam um messias que reconquistasse o esplendor
de Israel. Não foi a revolução que queriam, pois Jesus pregava a conversão, o amor, a paz e
um novo tempo em Deus. Não somente para os judeus, mas também para os romanos Jesus
causava espanto. Logo perceberam que Jesus estava mexendo com o cotidiano de todos,
pois não tinha medo de defender os que sofriam por causa dos poderosos. Neste sentido,
toda elite econômica e religiosa estava buscando caminhos para calar Jesus.

02. Ao começar sua vida pública, aos 30 anos, Jesus foi arrebanhando muitas pessoas. Era
um pequeno grupo no começo, mas logo, multidões O seguiam para ouví-lo, para tocá-lo e
também em busca de milagres. Jesus falava de um Reino que não era desse mundo, mas um
Reino que era de Deus. Jesus mexeu sim com questões muito sérias: poder religioso e poder
político. O Deus era o do Imperador! Não havia outro para os que dominavam. Além de tudo,
Jesus estava ganhando fama e levando consigo multidões que antes só admiravam o rei. Jesus
“transgrediu costumes” e inaugurou um novo modo de convivência. E foi nestes fatos que eles
conseguiram levar Jesus a julgamento. Jesus foi colocado como inimigo dos judeus e também
um grande inimigo do império romano. Jesus mexeu na posição de alguns privilegiados, não é
isso que diz a canção? Jesus ensinava, curava, amava, corrigia e anunciava o Reino.

Capítulo 2

01. Jesus havia prometido aos Discípulos que enviaria o Espírito Santo. Eles estavam teme-
rosos, pois com a subida de Jesus aos Céus (Ascensão) havia a insegurança, pois seriam
perseguidos, mas precisavam manter o testemunho sobre o que viram, ouviram e experi-
mentaram estando ao lado de Jesus. Depois da Ascensão os discípulos não tinham mais a
presença física do Mestre. Por isso Jesus prometeu “outro Consolador”: “Se eu não for, o
Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-Lo enviarei” (João 16.7). O Novo
Pentecostes marca o nascimento da Igreja e definitivamente do Cristianismo. Por todas as

capítulo 5 • 169
nações e em todas as Línguas, pela ação do Espírito Santo, o nome de Jesus deve ser
proclamado para sempre. Todos os povos e nações devem saber que Jesus é o Salvador, o
Messias enviado que morreu e ressuscitou. Afirma o Apostolo Paulo: “Pois todos nós fomos
batizados em um Espírito, formando um corpo” (1Co. 12.13).

02. Nos primeiros séculos, os romanos perseguiram o Cristianismo ocasionando a morte de


milhares de mártires e dificuldades para a expansão cristã. Inicialmente, os cristãos foram
vistos como "judeus fervorosos", mas, com o passar do tempo, a pregação cristã, que enfa-
tizava Jesus Cristo, como filho de Deus, fez com que os judeus os proibissem de pregar. Tal
medida não foi suficiente e os cristãos foram expulsos das sinagogas judaicas. Os cristãos,
diferentemente dos judeus, passaram a adotar os livros do Novo Testamento, escritos após
advento de Jesus Cristo por seus apóstolos e que relata a Sua vida e dos primeiros aconteci-
mentos da comunidade cristã nascente. Os Cristãos são perseguidos e sendo expulsos das
Sinagogas passam a se esconder nas catacumbas para viverem o testemunho da Fé Cristã.
Esta era a Igreja de Jesus Cristo. Ela é ao mesmo tempo Divina e Humana, pois é um fato
histórico, mas um fato revelado. A Igreja, traduzida pelo Cristianismo é fato divino e humano.

Capítulo 3

01. Após sua conversão, que aconteceu aos 32 anos, depois de uma vida pregressa e o
encontro da fé, Agostinho retoma a Patrística, que é o nome dado ao conjunto de reflexões
empreendidas pelos primeiros padres da Igreja e que se estendeu do primeiro ao sétimo
século da era cristã. Em seu início a Patrística priorizava a análise dos textos bíblicos, mas
que atualizada por Agostinho, os textos filosóficos foram contemplados. Santo Agostinho
(354-430) reformulou a Patrística, combinando os elementos da fé com princípios filosóficos
retirados de filósofos como Platão e Plotino. Essa foi a grande contribuição de Agostinho que
conservando os argumentos da fé cristã evocou a razão para manter por longo tempo a uni-
dade da Igreja. “A fé vai à frente, seguida da inteligência [...]” O conceito de “pecado original”,
do “livre arbítrio” A “predestinação divina” foram focos de sua Patrística.

02. Corrente de pensamento voltada para a conciliação entre razão e fé e cujo surgimento
teve estreita relação com as atividades de ensino desenvolvidas no interior dos mosteiros
e catedrais durante a Baixa Idade Média. A Escolástica se tornou a “Filosofia Cristã”, tor-
nando-se a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Seu surgimento
tem influência direta com as atividades de ensino desenvolvidas no interior dos mosteiros
e catedrais que culminaram com o aparecimento das primeiras universidades. A Escolásti-

capítulo 5 • 170
ca, que vem da Escola. Instruído, foi o método de pensamento crítico dominante no ensino
nas universidades medievais. Teve como principal objetivo conciliar o ideal de racionalidade,
corporificado pela tradição grega do platonismo e aristotelismo, e a experiência de contato
direto com a verdade revelada, a essência da fé cristã.

Capítulo 4

01. As Cinco Solas de Lutero:


•  Sola Fide: “Somente a Fé”: A fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos da salvação
conquistada plenamente por Cristo.
•  Sola Scriptura: “Somente a Escritura”: Somente a Bíblica deve ser utilizada como regra da
doutrina. Ela é a autoridade máxima.
•  Solus Christus: “Somente Cristo”: A Salvação vem de Jesus e somente por Ele. Jesus é o
único caminho que leva a Deus. A Tradição continua tendo lugar, mas é a Sagrada Escritura
que julgará sua validade.
•  Sola Gratia: “Somente a Graça”: É pela Graça de Deus que nos libertamos do pecado e
somos conduzidos para a Vida Eterna.
•  Soli Deo Gloria: “Glória somente a Deus”: O fim principal de toda pessoa é a glorificação
de Deus. Em Deus está a Salvação e o sentido da existência. Fomos criados para a Glória de
Deus. Todas as obras humanas devem lembrar a Glória.

02. Estratégias da Contrarreforma estabelecidas pelo Concílio de Trento


•  Ampliou e reforçou o controle da Igreja sobre as nações
•  Restaurar a inquisição
•  Destruição dos livros que divulgavam doutrinas contrárias à Igreja
•  Criação da Companhia de Jesus: Movimento de Cristandade liderado por Inácio de Loyola.

Capítulo 5

01. Com Leão XIII a Igreja desperta para a condição de vida das classes trabalhadoras por
causa dos efeitos da Revolução Industrial. Neste contexto, o Papa Leão XIII se levanta na
defesa do direito dos trabalhadores. Por isso escreve a Encíclica Rerum Novarum: sobre a
condição dos operários ("Das Coisas Novas"). Uma carta aberta a todos os bispos, sobre as
condições das classes trabalhadoras.

capítulo 5 • 171
02. A Conferência de Edimburgo que apresentou a preocupação dos Cristãos Protestantes
com a expansão da Evangelização para a América Latina, juntando-se aos Cristãos Católicos,
que para lá já havia seguido para expandir o Cristianismo. A Conferência aconteceu em um
congresso missionário que reuniu missionários, líderes de agências e outros obreiros cristãos
de países da Europa e da América do Norte.

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ANOTAÇÕES

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