Resumos Fiscal Casalta Nabais

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Resumos Fiscal - Casalta Nabais

Direito (Universidade Lusíada de Lisboa)

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Resumos Direito
Fiscal
José Casalta Nabais
4ª Edição

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INTRODUÇÃO

NOÇÃO, OBJECTO E ÂMBITO DO DIREITO FISCAL

1. Direito Financeiro, direito tributário e direito fiscal

Para satisfação das necessidades, tanto o Estado como os demais entes


públicos carecem de bens materiais e de recursos humanos, o que implica
a disponibilidade de dinheiro para produzir ou adquirir os primeiros e para
remunerar os segundos.
O dinheiro, num Estado não patrimonial, em que os bens susceptíveis de
produção de rendimentos na titularidade dos entes públicos são muito
limitados, e muito reduzidas as chamadas receitas patrimoniais, há-de ser
obtido junto dos agentes económicos privados.
A actividade financeira dos entes públicos, ou seja, a actividade de
obtenção e gestão de receitas e de realização das despesas públicas,
reconduz-se à percepção, gestão e dispêndio de dinheiro ou meios
pecuniários obtidos junto dos agentes económicos privados.
No moderno Estado de Direito, a actividade financeira desenvolve-se
inteiramente em execução de normas jurídicas que os agentes públicos
estão adstritos a observar.

É o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a actividade


financeira do Estado e demais entes públicos que damos o nome
de Direito Financeiro Público. Complexo de normas jurídicas que
disciplinam a obtenção e distribuição do dinheiro necessário ao
funcionamento dos entes públicos e, bem assim, à gestão dos
bens propriedade desses mesmos entes.

O Direito Financeiro estende-se por três sectores bem diversos:


 Direito das receitas
 Direito das despesas
 Direito da administração ou gestão financeira

Direito das despesas Públicas

Distribui pelos diversos sectores do direito da acção e intervenção


estadual, reconduzindo-se ao direito administrativo, relativamente à
actividade económica e social, e direito da economia no respeitante às
despesas cuja realização tenha por objectivo essa intervenção.

Direito administração ou gestão financeira

Rege a organização e funcionamento da administração financeira,


constituído pelo direito orçamental ou orçamentário ou direito da
contabilidade pública em sentido amplo.
Direito das receitas

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Distribui-se pelos seguintes sectores:


 Direito patrimonial – relativo às receitas patrimoniais dos entes
públicos, derivadas do património mobiliário ou carteira de títulos,
do domínio rural e das explorações industriais e comerciais de
utilidade pública;
 Direito do crédito público – que disciplina o recurso ao crédito por
parte das entidades públicas e a gestão da dívida pública;
 Direito tributário ou direito das receitas coactivas do Estado e
demais entes públicos – em que se destaca o direito fiscal ou
direito relativo ao mais importante das receitas coactivas – as
receitas coactivas unilaterais ou impostos.

A doutrina tem procurado isolar dentro do direito financeiro um sectro


suficientemente homogéneo quanto ao seu objecto e específico no que
concerne ao seu regime jurídico. Esse sector tem sido o direito da
generalidade das receitas coactivas de natureza contributiva, ou seja, o
direito dos tributos ou direito tributário, e o mais importante
segmento deste domínio normativo, que é constituído pelo direito das
receitas coactivas unilaterais – direito dos impostos ou direito fiscal.

Do direito dos outros tributos ou tributos bilaterais, que reconduzimos à


figuras das taxas assentes numa armadura jurídica-constitucional bem
diferente da dos impostos estarão presentes nas nossas preocupações
todos os impostos que, independentemente do nome que ostentem ou da
configuração que tenham em sede da ciência das finanças ou do direito
financeiro, possam ser tidos como impostos de um ponto de vista jurídico-
constitucional.

Os impostos são uma instituição omnipresente na vida dos


cidadãos, não havendo qualquer outro domínio do ordenamento
jurídico com o qual nos encontremos tantas vezes como com o
direito fiscal.

Em nenhum outro segmento do universo jurídico estabelecemos com o


Estado uma relação tão duradoura, que nos acompanha desde o
nascimento até à morte, e tão diversificada, que afecta praticamente
todos os aspectos da nossa vida por mais variados ou mesmo vulgares que
se apresentem.

As normas que disciplinam a figura dos impostos têm por objectivo


assegurar a capacidade funcional do Estado, proporcionando-lhe os meios
financeiros que suportam tanto a sua existência como o seu
funcionamento.

2. Imposto, figuras afins e sistema fiscal

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Podemos definir impostos com base em três elementos: elemento


objectivo, elemento subjectivo e elemento teleológico (ou finalista).

Objectivamente o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral,


definitiva e coactiva.

Subjectivamente o imposto é uma prestação, comas


características objectivas atrás referidas, exigida a (ou devida
por) detentores (individuais ou colectivos) de capacidade
contributiva, a favor de entidades que exerçam funções ou tarefas
públicas.

Em termos teleológicos, o imposto é exigido pelas entidades que


exerçam funções públicas para a realização dessas funções,
conquanto que não tenham carácter sancionatório.

Do ponto de vista objectivo:

 O imposto é uma prestação que integra uma relação de natureza


obrigacional e não uma relação de carácter real.
 É uma prestação pecuniária, ou seja, uma prestação de dare
pecunia ou concretizada em dinheiro.
 O imposto é uma prestação unilateral, não lhe correspondendo
assim qualquer contraprestação específica a favor do contribuinte.
Esta é uma característica que distingue o imposto da figura mais
típica dos impostos bilaterais – a taxa. Nestas, diversamente do que
ocorre nos impostos, em que temos apenas a contraprestação
traduzida no conjunto dos diversos serviços públicos que os mesmos
suportam, à prestação do particular a favor do Estado e demais
entes públicos corresponde uma contraprestação específica, uma
actividade desses mesmos entes especialmente dirigida ao
respectivo obrigado.

Actividade que se vem a concretizar seja na prestação de um serviço


público, como as taxas devidas pelos serviços de registo e notariado,
pelos serviços de justiça, pelos serviços de educação pública, pelos
serviços consulares, na utilização de bens do domínio público, como
as portagens, as devidas pela costagem de navios nos portos e
aterragem de aeronaves nos aeroportos, as devidas pela ocupação
do subsolo, do leito das estradas ou da via pública, seja na remoção
de um limite jurídico à actividade dos particulares, como as devidas
pelas licenças de uso e porte de arma, de caçar, de ter cão, etc.,
conforme dispõe o art.º 4/2 LGT (típicas licenças).

Quanto às licenças o seu pressuposto de facto também se reconduz


à prestação d eum serviço públio, pois a remoção de um obstáculo
jurídico à actividade dos particulares, conquanto que tenha sido

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levantado por exigência dum específico interesse administrativo, não


deixa de se configurar como a prestação de um serviço público.

Nas verdadeiras taxas o obstáculo jurídico a remover constituía


um obstáculo real, levantado pela exigência dum específico
interesse administrativo.
Quanto às licenças fiscais, estas são verdadeiros impostos. Não
se vislumbra aí qualquer contraprestação real a favor do
contribuinte, constituindo o levantamento e a posterior remoção do
obstáculo em causa uma verdadeira actividade e os serviços
correspondentes um verdadeiro serviço de lançamento e cobrança
do referido imposto.
A este propósito, foram apreciadas as licenças fiscais pelo Tribunal
Constitucional nos acórdãos 558/98 e 63/99, relativos à publicidade
através de anúncios. Estava perante verdadeiros impostos, tendo
julgado organicamente inconstitucionais a licença por afixação de
painéis publicitários em veículos de transporte colectivo e em
veículos particulares e a licença para afixação de anúncios luminosos
em prédios;

 O imposto é uma prestação definitiva, não dá lugar a reembolso,


restituição ou indemnização;
 O imposto é objectivamente uma prestação coactiva, uma
prestação ex lege ou uma prestação que tem por fonte a lei, que é
estabelecida por lei. Assim modela o seu conteúdo,
independentemente, portanto, de qualquer manifestação de vontade
do contribuinte nesse sentido – art.º 36/1 e 2 LGT.

Do ponto de vista subjectivo procura-se convocar para o terreno do


próprio conceito de imposto o critério material da igualdade ou da justiça
fiscal que constitui o suporte indiscutível dum Estado fiscal de direito – a
capacidade contributiva – art.º 4/1 LGT.
Pretende-se, não limitar a titularidade activa dos impostos exclusivamente
às pessoas colectivas públicas, admitindo-se assim a hipótese de impostos
exigíveis a favor de pessoas privadas que exerçam funções públicas –
empresas concessionárias de obras públicas, servços públicos ou bens de
domínio público, desde que a lei lhes confira qualidade de titulares activos
de relações jurídicas fiscais.
As funções ou tarefas públicas hão-de assumir um carácter geral, isto é,
hão-de dizer respeito à generalidade os contribuintes e não a cdertas
categorias ideais destes.

Excluem-se do conceito de imposto o que poderemos designar de


tributos associativos, como as quotas obrigatórias para as associações
públicas – quotas das ordens profissionais que têm por finalidade o
financiamento de tarefas públicas muito especiais, porquanto relativas à

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realização de interesses constitucional e legalmente configurados como


próprios dos respectivos membros.

Do ponto de vista teleológico ou finalista o imposto é exigido pelas


entidades que exercem funções públicas para a realização das suas
funções de carácter não sancionatório. Assim, o imposto pode ter por
finalidade não apenas a finalidade financeira ou fiscal, mas também
outras, excluída a função sancionatória.
Não está constitucionalmente vedada a possibilidade de o Estado utilizar o
imposto com o objectivo ou finalidade principal ou dominante de evitação
de certos comportamentos económicos e sociais dos seus destinatários,
caso em que não estaríamos perante impostos subsumíveis na
“constituição fiscal”, mas sim perante típicas medidas de intervenção
económica e social por via fiscal a subsumir na “constituição económica”.

Impõe-se, então, distinguir os verdadeiros impostos ou impostos


fiscais que têm por objectivo ou finalidade principal a obtenção de
receitas, dos falsos impostos ou impostos extrafiscais cuja
finalidade principal é, em direitas as contas e no limite, evitar ou
obstar à verificação do respectivo pressuposto de facto ou facto
gerador – impostos suicidas que não podem ter por suporte a
“constituição fiscal”. Depois, da finalidade dos impostos, está
afastada a finalidade sancionatória. Se com o imposto se pretende
aplicar uma sanção, então estaremos perante uma multa, uma
coima, um confisco, uma indemnização, mas nunca perante um
imposto.

2.2 Algumas figuras afins do imposto

2.2.1 A divisão dicotómica dos tributos

A divisão dicotómica divide entre impostos, taxas e contribuições ou


tributos especiais, sendo que os tributos unilaterais reconduzem à figura
dos impostos e os tributos bilaterais reconduzem à figuras das taxas.

Os impostos obedecem ao princípio da legalidade fiscal e a sua


medida tem por base o princípio da capacidade contributiva, as
taxas bastam-se com a reserva à lei parlamentar (ou decreto-lei
parlamentar autorizado) do seu próprio regime geral e a sua medida
assenta no princípio da proporcionalidade taxa/prestação estadual
proporcionada ou taxa/custos específicos causados à respectiva
comunidade.

Estamos perante um imposto se apenas puder ser medido ou aferido com


base na capacidade contributiva do contribuinte, ou perante uma taxa se
for susceptível de ser medida ou aferida com base na referida ideia de
proporcionalidade. Há aqui dois testes: o da bilateralidade e o da

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proporcionalidade, pelo que não basta que o tributo tenha carácter


bilateral para podermos concluir pela sua conformidade constitucional.
Exige-se também proporcionalidade entre o tributo e a respectiva
contraprestação específica.
A respeito da recondução dos tributos aos impostos ou às taxas,
consoante se apresentem como tributos unilaterais ou bilaterais, tem sido
tradicional na doutrina, é a orientação da jurisprud~encia do Tribunal
Constitucional e tem expressão tanto na CRP como na LGT. Pois estes dois
textos normativos, embora façam menção a três figuras tributárias –
impostos, taxas e demais contribuições financeiras a facor das entidades
públicas -, não retiram dai qualquer consequência, mormente em sede
jurídico-constitucional.

Quanto à doutrina, referido o encargo de mais-valia, a generalidade da


doutrina se tem pronunciado no sentido de o equiparar ao imposto: de um
lado, não se vislumbrando aí nenhuma contraprestação específica a favor
do contribuinte, não podemos pedir quaisquer préstimos à figura das
taxas; de outro lado, tais contribuições ou tributos especiais não passam
de impostos, que apresentam a particularidade de terem por base
manifestações da capacidade contributiva resultante do exercício de uma
actividade administrativa e não, ou não exclusivamente, do exercício de
uma actividade do respectivo contribuinte.

Também a jurisprudência do TC se inscreve na referida divisão dicotómica.


Para o que basta lembrar que este tribunal considerou como imposto um
“encargo” por deficiência de estacionamento (Acórdãos 236/94 e 582/99),
que se integrava claramente na contribuições especiais, na modalidade de
contribuição por maiores despesas, as “contribuições” das entidades
empregadoras para a segurança social (Acórdãos 183/96 e 1203/96), as
”taxas” para os organismos de coordenação económica (Acórdãos 387/91,
297/93 e 1239/96), tradicionalmente remetidas pela doutrina para as
contribuições parafiscais, a “taxa” da Radiodifusão Portuguesa (Acórdão
354/98), um claro imposto sobre o consumo da electricidade de receita
consignada à RDP, e os já referidos tributos exigidos pelas “licenças”
relativas à publicidade através de anúncios em suportes fixos ou móveis
(Acórdãos 558/98 e 63/99).

2.2.2 As contribuições especiais, as tarifas e as receitas parafiscais

É também conhecida a divisão tripartida ou ternária dos tributos, em que


entre as figuras dos impostos e das taxas encontramos a figura das
contribuições ou tributos especiais.

Quanto às contribuições ou tributos especiais é possível referenciar


duas modalidades: contribuições de melhoria – casos em que é devida
uma prestação, em virtude de uma vantagem económica particular
resultante do exercício de uma actividade administrativa, por parte

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daqueles que tal actividade indistintamente beneficia; e a das


contribuições por maior despesa, que ocorre naquelas situações em
que é devida uma prestação em virtude de as coisas possuídas ou de a
actividade exercida pelos particulares darem origem a uma maior despesa
das autoridades públicas. Ora, como se pode ver pelas definições acabas
de dar, tais contribuições ou tributos fiscais não passam de
impostos, embora impostos que apresentam a particularidade de terem
por base manifestações da capacidade contributiva de determinados
grupos resultantes do exercício de actividade administrativa pública e não,
ou não exclusivamente, do exercício de uma actividade do respectivo
contribuinte, como por exemplo, as taxas que os camiões pagam para
circular nas estradas.

Manifestações de tal capacidade contributiva que operam de maneira


diferente consoante se trate de contribuições de melhoria ou de
contribuições por maiores despesas, já que, enquanto nas primeiras a
actividade administrativa pública provoca manifestações positivas
dessa capacidade, aumentando-a, nas segundas, a actividade
administrativa pública limita-se a obstar a que surjam manifestações
negativas dessa capacidade, ou seja, limita-se a manter essa mesma
capacidade. Há assim uma contrapartida pública traduzida numa
vantagem que, embora indeterminada relativamente a cada contribuinte
como nos impostos, não deixa, a seu modo, de ser determinável na
perspectiva do grupo beneficiado pela correspondente actividade
administrativa.

Quanto às tarifas, elas reconduzem-se a um especial tipo de taxas – as


taxas que exprimem não apenas uma equivalência jurídica, como é
característico de todas as taxas, mas também uma equivalência
económica, como é característico dos preços. Por isso, são de designar
preferentemente por tarifas as taxas (economicamente) equivalentes.

Finalmente, quanto às contribuições, tributos ou receitas parafiscais,


podemos dizer que se caracterizam por serem tributos – art.º 3º LGT e
art.º 1º CPPT – que são cobrados para cobertura das despesas das pessoas
colectivas públicas não territoriais, ou seja, de tributos objecto de uma
verdadeira consignação subjectiva de receitas.

2.3 Ideia sobre o sistema fiscal

O sistema fiscal é o sistema dos impostos vistos como u conjunto dotado


duma dada articulação ou estrutura interna. Pelo que, de um lado, se não
confunde com o que podemos designar por sistema tributário que integra
o conjunto dos tributos – impostos e tributos bilaterais (ou impostos e
taxas). Rejeita-se assim a posição de alguns autores que, com base na
contraposição das expressões “criação de impostos” e “sistema fiscal”
constantes do art.º 165/1, i) CRP, e com o manifesto intuito de subordinar

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a figura das taxas ao princípio da legalidade fiscal, equiparavam o sistema


fiscal ao sistema tributário. Por outro lado, não se diga que a mencionada
referência constitucional ao sistema fiscal constitui uma redundância e
que não tem, por isso, qualquer efeito útil, pois a mesma tem por
consequência reservar à lei parlamentar, para além dos elementos
essenciais de cada imposto, enunciados no n.º 2 do art.º 103, a
estruturação do próprio sistema fiscal, ou seja, a articulação dos diversos
impostos entre si: seja a articulação, que podemos designar de
horizontal, dos impostos sobre o rendimento com os impostos sobre o
património e com os impostos sobre o consumo, de molde a obter-se um
adequado entre esses três tipos de tributação, seja a articulação vertical,
do sistema fiscal nacional com o sistema fiscal da União Europeia com os
subsistemas fiscais que possam a vir a constituir-se nas regiões
autónomas, ao abrigo do art.º 227/1, i) CRP, ou mesmo com os
subsistemas fiscais autárquicos que possam emergir nas autarquias locais,
ao abrigo do art.º 238º CRP.

Finalmente, no que concerne às autarquias locais, dispões a CRP nº art.º


238/4 que podem dispor dos poderes tributários, nos casos e nos termos
previstos na lei, manifestação de adequada compatibilização ou
concordância prática do princípio da legalidade fiscal com o princípio da
autonomia local. Assim, permite-lhes a concessão de benefícios fiscais
relativamente aos impostos a cuja receita tenham direito, conquanto que
tais benefícios constituam contrapartida de fixação de projectos de
investimento de especial interesse para o desenvolvimento do respectivo
município.
Foi-lhe também atribuído o poder que se concretiza em as assembleias
municipais estarem legalmente autorizadas a diferenciar as taxas do IMI,
aumentando-as ou diminuindo-as em função de objectivos de política
urbanística.

3. Os momentos da vida do imposto

Encontramos dois momentos essenciais: momento do


estabelecimento, criação, instituição ou incidência do imposto e,
por outro, o momento da sua aplicação, efectivação, administração
ou gestão.

Primeiro momento

Trata-se de definir o se (an) e o quanto (quantum) do imposto, o que


engloba a definição normativa: 1) do facto, actividade ou situação que
dá origem ao imposto (o chamado pressuposto de facto, facto gerador ou
facto tributário); 2) dos sujeitos passivos e activos (contribuintes,
responsáveis, substitutos, etc.) da obrigação de imposto; 3) do montante
do imposto, montante em regra (sempre que não seja um imposto de taxa
fixa) definido através do valor sobre que recai (definição em abstracto da

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matéria colectável), mediante a percentagem desse valor ou a quantidade


por unidade a exigir do contribuinte (a taxa ou alíquota) e, eventualmente,
das deduções a fazer ao valor assim apurado (no caso de deduções à
colecta); e 4) na medida em que decidem que não há lugar a imposto ou
há lugar a menos imposto, dos benefícios fiscais.
Trata-se de um momento normativo, dum momento legislativo
qualificado, já que a sua disciplina se encontra subordinada às exigências
do princípio da legalidade fiscal.

Segundo momento

É a sua aplicação, efectivação, administração ou gestão. O que se traduz


nas operações de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos. Pelo
lançamento identificam-se os contribuintes através do lançamento
subjectivo, e determina-se a matéria colectável (ou tributável) e a taxa
(no caso da pluralidade de taxas), mediante o lançamento objectivo.
Pela liquidação, determina-se a colecta aplicando a taxa à matéria
colectável, colecta que vem a coincidir com o imposto a pagar, a menos
que haja lugar a deduções à colecta, caso em que a liquidação também
abarca esta última operação. Finalmente através da cobrança (ou
pagamento quando vista do lado do sujeito passivo), o imposto vai dar
entrada nos cofres do Estado, seja através da cobrança voluntária se há
lugar ao pagamento espontâneo pelo contribuinte do montante liquidado,
seja através da cobrança coerciva se for preciso recorrer à apreensão dos
bens necessários à solvência do débito fiscal do devedor.

Assim temos o procedimento fiscal, a sequência funcional de actos


conducentes à identificação do sujeito passivo e à determinação
do montante do imposto a pagar.

4. Algumas classificações de impostos

4.1 Impostos directos e impostos indirectos

Critérios Económicos

Critério Financeiro

É um critério que atente ao objecto do imposto, segundo o qual são


impostos directos aqueles que, atingindo manifestações imediatas da
capacidade contributiva, têm por pressuposto a própria existência duma
pessoa, dum património ou dum rendimento, e impostos indirectos
aqueles que, atingindo manifestações mediatas da capacidade
contributiva, tributam a despesa, a transferência de bens e outras
manifestações indirectas da capacidade contributiva.
Critério Económico

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É um critério que tem em conta a natureza económica dos impostos, ou


seja, a sua integração ou não nos custos de produção das empresas. De
acordo com este critério, são impostos directos aqueles que não
constituem custos de produção das empresas, e impostos indirectos
aqueles que constituem custos de produção das empresas. Enquanto os
impostos directos não integram os preços dos bens e serviços, e por isso
não tidos nem havidos para apuramento do produto e rendimento
nacionais, os impostos indirectos já integram os referidos preços e são
deduzidos ao produto nacional. Assim, o rendimento nacional é igual ao
produto nacional menos os impostos indirectos ou impostos sobre o
consumo. O que significa que os impostos indirectos correspondem aos
impostos sobre o consumo.

Critério da repercussão económica

Este critério tem em conta se os impostos são repercutíveis ou não no


consumidor, ou em termos mais rigorosos, no adquirente final de bens e
serviços, sendo indirectos o primeiros e directos os segundos. Em
aplicação, este conceito, tradicionalmente têm-se considerado
repercutíveis os impostos sobre o consumo, e irrepercutíveis os impostos
sobre o rendimento e sobre o património, pois enquanto nestes se verifica
uma identidade entre o contribuinte e o suportador económico do imposto,
naqueles o contribuinte não coincide com o suportador económico do
imposto.

Critérios Jurídicos

Critério do lançamento administrativo

Segundo este critério seriam impostos directos ou impostos com


lançamento aqueles cujo procedimento fiscal houvesse lugar a um acto
administrativo de lançamento ou acto tributário, e impostos indirectos
ou impostos sem lançamento aqueles em que esse acto administrativo
não tivesse lugar.

Critério do rol nominativo

De acordo com este critério seriam directos os impostos cujo lançamento


se baseasse na existência junto da administração fiscal duma lista ou rol
nominativo de contribuintes, e indirectos os impostos cujo lançamento
não tivessem por base essa lista ou rol.

Critério do tipo de relação jurídica base do imposto

A distinção entre impostos directos e impostos indirectos reside no tipo de


relação jurídica fonte da obrigação de imposto, ou seja, na configuração
instantânea ou duradoura do elemento temporal do facto tributário. Assim,

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se se tratar de uma relação desencadeada por um facto ou acto isolado ou


por factos ou actos sem continuidade entre si, isto é, de uma relação de
carácter instantâneo, que dá origem a uma obrigação de imposto isolada,
o imposto que sobre ela recai é um imposto indirecto. Se, pelo contrário, a
relação jurídica fonte da obrigação de imposto tiver na base situações
estáveis, situações que se prolongam no tempo, mantendo-se ano após
ano, dando origem a obrigações periódicas, a obrigações que se renovam
todos os anos, então estamos perante um imposto directo. A distinção de
impostos directos e indirectos vem a coincidir com a distinção feita entre
impostos periódicos e instantâneos.

O artigo 6º/1 e 2 LGT, atendendo às características que nestes preceitos se


indicam para cada uma dessas tributações, que se pretendeu contrapor, a
título de tributação directa, a tributação do rendimento e do património e,
a título da tributação indirecta, a tributação do consumo.

4.2 Impostos periódicos e impostos de obrigação única

A distinção reside na configuração do elemento temporal do facto


tributário. Pois, se os impostos instantâneos ou de obrigação única, por
terem base do facto tributário um elemento temporal cuja definição não
carece de critérios jurídicos, bastando-se a mesma com simples critérios
naturalísticos, não levanta problemas jurídicos de maior, já os impostos
duradouros ou periódicos, por terem na base do facto tributário um
elemento temporal que tende a manter-se, a reiterar-se, coloca o
problema do fraccionamento jurídico desse facto, o qual é
naturalisticamente unitário no tempo, ou seja, o problema do período do
imposto, período que, em geral, tende a coincidir com o ano civil.

O que tem importância, designadamente em sede da contagem dos prazos


de caducidade da liquidação e da prescrição da obrigação de imposto, os
quais, como consta dos art.ºs 45/4 e 48/1 LGT, se contam em termos
diferentes consoantes estejamos perante impostos periódicos ou perante
impostos de prestação única, pois, enquanto nos primeiros se contam a
partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário, nos segundos
contam-se a partir da data em que ocorreu o facto tributário, com
excepção do IVA e nos impostos sobre o rendimento quando a tributação
seja efectuada por retenção na fonte a título definitivo, caso em que o
prazo se conta a partir do ano civil seguinte àquele em que se verificou,
respectivamente, a exigibilidade do imposto ou o facto tributário.

4.3 Impostos reais e impostos pessoais

No impostos reais, atinge-se a matéria colectável objectivamente


determinada, fazendo-se abstracção da concreta situação económica e
social do contribuinte (IMI, IMT, IVA, IRC, etc); nos impostos pessoais, tem-
se em consideração a concreta situação económica e social do

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contribuinte, isto é, o valor da sua fortuna e dos seus rendimentos, por um


lado, e o montante dos encargos que tem obrigatoriamente de suportar,
por outro, como ocorre no IRS.

Os impostos podem ser mais ou menos pessoais consoante partilhem a


generalidade das características dos impostos pessoais ou apenas uma
delas:
 Atendem ao rendimento global do contribuinte, o que constitui um
verdadeiro pressuposto da pessoalização do imposto, uma vez que,
a não ser assim, não se pode conhecer minimamente a situação
pessoal do contribuinte;
 Excluem da tributação o mínimo de existência, ou seja, aquela quota
de rendimento necessária à satisfação das necessidades essenciais
à salvaguarda da dignidade humana do contribuinte e sua família;
 Têm em consideração os encargos com a família, abatendo-os à
matéria colectável, ou tendo-os em conta através de deduções à
colecta;
 Sujeitam a matéria colectável a uma taxa progressiva.

4.4 Impostos de quota fixa e impostos de quota variável

Esta distinção tem a ver com o modo de definir e, em consequência, de


determinar o montante individual do imposto, ou seja, o montante a pagar
por cada contribuinte.
A lei utiliza dois métodos: ou determina que esse montante seja para
todos os contribuintes uma importância fixa por ela mesma estabelecida,
ou faz variar esse montante em função da matéria colectável ou
tributável, indicando neste caso, por via de regra sob a forma de uma
percentagem, o factor ou factores que devem recair sobre o valor da
matéria colectável para o apuramento da colecta.
No primeiro caso temos impostos de quota fixa, que têm de
característico, além do mais, a dispensa de uma liquidação, já que o
montante da colecta consta da própria lei – ex. a contribuição de
audiovisual que se paga na factura da EDP, todos os contribuintes pagam
o mesmo valor.
Por sua vez, no segundo caso temos os impostos de quota variável,
cujo montante varia em função da variação da mateira colectável, seja
esta variação numa proporção ou taxa fixa, caso em que temos os
impostos proporcionais, seja uma proporção ou taxa variável, caso em
que temos impostos progressivos, se a variação da proporção ou taxa
for ascendente, elevando-se até certo máximo em função da matéria
colectável, ou perante impostos regressivos, se a variação da proporção
ou taxa for descendente, diminuindo até certo mínimo da matéria
colectável ou tributável.

4.5 Impostos estaduais ou impostos não estaduais

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Podem ser estaduais ou não estaduais consoante o seu titular activo seja o
Estado ou outros entes públicos territoriais, como as regiões autónomas e
as autarquias locais, ou entes públicos não territoriais.
Aqui é tida em conta a capacidade tributária activa, isto é, a qualidade de
sujeito activo ou de credor da correspondente relação jurídica fiscal.

4.6 Impostos gerais e impostos especiais

Os impostos gerais estão previstos na lei de modo a aplicarem-se a toda


uma categoria de situações homogéneas, os especiais, não obstante
dizerem respeito a factos ou situações genericamente abrangidos nos
primeiros, são objecto de uma disciplina jurídica especial.
Assim, o IRS e o IRC constituem impostos gerais sobre o rendimento e o
IVA um imposto geral sobre o consumo. Ao invés: por um lado, a
constribuições especiais, face à tributação das mais-valias imobiliárias em
IRS e IRC, e o Imposto de Jogo, face ao IRC (art.º7 CIRC) apresentam-se
como impostos especiais sobre o rendimento; de outro, os IEC’s (imposto
sobre consumo especifico) face ao IVA configuram-se como impostos
especiais sobre o consumo.

4.7 Impostos principais e impostos acessórios

São principais ou acessórios conforme existam por si ou dependam, na sua


existência ou nos seus elementos, da prévia existência de outros. Os
impostos acessórios podem assumir duas modalidades: os
adicionamentos, se incidem sobre a matéria colectável dos impostos
principais, também designados por sobretaxas ou sobrimpostos; e os
adicionais, se incidem sobre a colecta dos impostos principais.

4.8 Impostos sobre o rendimento, sobre o património e sobre o


consumo

Nos impostos sobre o rendimento tributa-se ou o rendimento-produto, isto


é, o acréscimo de bens obtidos durante o correspondente período a título
de contribuição para actividade produtiva, ou o rendimento-acréscimo que
integra também os acréscimos em bens obtidos a outro título e sem dano
do património inicial – ex: IRS, IRC.
Por sua vez, nos impostos sobre o património tributa-se a titularidade ou a
transmissão de valores pecuniários líquidos, constituam os mesmos capital
produtivo, capital lucrativo ou bens de consumo duradouro – ex: IMI, IMT,
IS.
Finalmente, os impostos sobre o consumo tributa-se o rendimento ou o
património utilizado no consumo – ex: IVA, IEC’s, ISP, IT, IABA, IA.

4.9 Impostos fiscais e impostos extraficais

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Esta distinção prende-se com o elemento teleológico ou finalístico do


conceito de imposto. São impostos extrafiscais aqueles que prosseguem
predominantemente objectivos de natureza económica e social, não
integram o direito fiscal, mas antes o direito económico fiscal, o que leva
naturalmente a não aplicar os princípios e os preceitos constitucionais
integrantes da “constituição fiscal”.

5. Natureza do Direito Fiscal

O direito fiscal insere-se no campo do direito público, constituído por


normas que disciplinam relações entre o Estado e os particulares que têm
por objectivo satisfazer as necessidades colectivas da comunidade
organizada no Estado (moderno), em que este se apresenta munido de
poderes de autoridade ou de ius imperii.

TEORIA GERAL DO DIREITO FISCAL

I - As fontes de Direito Fiscal

1. A constituição

A CRP é indiscutivelmente a primeira das fontes ou modos de revelação


das normas jurídico-fiscais. O direito dos impostos apresenta-se
fortemente moldado pela chamada “constituição fiscal”, isto é, por um
conjunto de princípios jurídico-constitucionais disciplinadores, ao mais
elevado nível, quer de quem, de como e de quando pode tributar, quer
do que (é que) e do quanto tributar, estabelecendo assim toda uma teia
de limites à tributação – de carácter formal, os primeiros, e de carácter
material os segundos.
A este respeito é de assinalar que, durante muito tempo – mais
concretamente enquanto perdurou o Estado Liberal ancorado no conceito
racional de lei próprio do liberalismo oitocentista -, a tutela dos
contribuintes face ao poder tributário preocupou-se fundamentalmente,
quando não mesmo exclusivamente, com o que hoje consideramos
princípios de carácter formal, sobretudo com o princípio de legalidade
fiscal. O que bem se compreende se tivermos em conta que, no período
em referencia, era de todo incompreensível que os contribuintes se
sentissem oprimidos ou afectados nos seus direitos e liberdades da lei
fiscal, a qual constituindo um produto de um debate racional entre
iluminados, era tida por expressão necessária da razão, do bem comum.
O princípio da legalidade, assente no conceito racional de lei, assegurava
simultaneamente um adequado processo de instituição dos impostos e
uma tributação apriorística justa, ou seja, um due process os law
(processual e material). Hoje, os impostos já não podem bastar-se com o
princípio da legalidade fiscal, exigindo antes que tenham por base
inequívocos critérios materiais de justiça. Daí a actual diversidade de
princípios constitucionais – formais e materiais – relativos aos impostos.

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1.1 Os princípios jurídico-constitucionais da tributação

A analise vai começar pelos que fixam os limites de natureza formal:


 Quem pode tributar;
 Como tributar;
 Quando tributar;
Nos quais temos os princípios da legalidade fiscal, da segurança
jurídica e da proibição do referendo fiscal.

Depois prosseguirá com a análise dos limites de natureza material:


 Que tributar;
 Quanto tributar;
Nos quais se destacam os princípios da igualdade fiscal a aferir através
da capacidade contributiva, da não discriminação d família e do respeito
pelos direitos fundamentais e pelo princípio do Estado social.

1.1.1 Princípio da legalidade fiscal

Tradicionalmente a tutela dos contribuintes face ao poder tributário do


Estado, limitava-se ao princípio da legalidade fiscal entendido como um
qualificativo princípio da legalidade da administração. Esta mentalidade
vigorou durante o Estado de direito Liberal, ancorado no conceito racional
de lei, sendo esta entendida como expressão da razão ou da justiça e
havendo uma correspondência necessária entre a forma de lei e o seu
conteúdo racional ou justo, a reserva dos impostos à lei tinha por efeito
automático remeter estes para um critério de justiça.

Este princípio desdobra-se ainda em dois: princípio da reserva de lei


(formal) e o princípio de reserva material (lei).
O princípio da reserva de lei (formal) implica que haja uma
intervenção da lei parlamentar, seja esta uma intervenção material a fixar
a própria disciplina dos impostos, ou uma intervenção de carácter
meramente formal, autorizando o Governo-legislador, as assembleias
legislativas regionais ou as assembleias das autarquias locais a
estabelecer, dentro de certas coordenadas que hão-de constar da
respectiva lei de autorização, essa disciplina – art.ºs 165/1, i) 1ª parte;
227/1, i) e 238/3 CRP.
O princípio da reserva material (lei) exige que a lei contenha a
disciplina tão completa quanto possível da matéria reservada, matéria
que, nos termos do art.º 103/2 CRP, integra, relativamente a cada
imposto, a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes, sendo certo que, quanto às garantias dos contribuintes, a
reserva é apenas exigida se e na medida em que estas sejam objecto de
restrição ou condicionamento e já não quando forem objecto de ampliação
ou alargamento.

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A lei decorrente do princípio da legalidade fiscal não abrange qualquer


outra matéria fiscal - liquidação e cobrança dos impostos – matérias estas
que apenas estão sujeitas ai princípio geral da legalidade da administração
pública.

Relativamente à interferência de outros princípios constituicionais no


princípio da legalidade fiscal, diremos tão só que, quanto ao da autonomia
local, o que se extraía de um tal princípio constitucional para moderar o da
legalidade fiscal, tem agora um suporte constitucional expresso na CRP.
Pois prevendo esta, no art. 234/4 CRP, a atribuição pelo legislador de
poderes tributários às autarquias locais, poderes onde naturalmente se
inclui o poder tributário stricto sensu, ou seja, o poder de, nos termos da
lei, criar impostos ou de disciplinar os seus elementos essenciais, deixou
de ser necessário invocar a harmonização, com base na ideia de
concordância prática, entre o princípio da legalidade fiscal e princípio da
autonomia local.
Por seu turno, quanto à interferência do princípio da igualdade no princípio
de legalidade fiscal, ele vinha legitimar a admissão da colmatação de
lacunas nos casos em que a lei o permitisse, num são equilíbrio entre
esses dois princípios. Todavia, o art.º 11/4 LGT, veio excluir a aplicação
analógica das normas fiscais relativas aos elementos essenciais dos
impostos, é evidente que os operadores jurídicos concretos, sobretudo a
administração e o juiz, não podem colmatar tais lacunas.

1.1.2 Princípio da segurança jurídica

Este princípio, ínsito na ideia de Estado de direito democrático constante


do art.º2º CRP, impõe-se ao legislador, limitando-o em dois sentidos:
 Na edição de normas retroactivas (desfavoráveis);
 Livre revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais (favoráveis).

Todavia, actualmente a proibição das normas retroactivas desfavoráveis


tem consagração constitucional expressa no art.º 103/3 CRP.
O princípio da segurança jurídica também serve de critério de ponderação
em situações de retroactividade imprópria, inautêntica ou falsa, bem
como em situações em que, não se verificando qualquer retroactividade,
própria ou imprópria, há que tutelar a confiança dos contribuintes
depositada na actuação dos órgãos do Estado.
Este princípio, na sua expressão de princípio de protecção da segurança
jurídica, operará igualmente em sede dos diversificados e onerosos
deveres ou obrigações fiscais de natureza acessória, alguns deles de
natureza pecuniária, que impendem sobre os particulares, obstando que
os mesmos possam ser agravados retroactivamente. Isto se e na medida
em que tais deveres ou obrigações não se configurem como verdadeiras
restrições aos direitos, liberdade e garantias fundamentais, pois, neste
caso, a proibição da retroactividade, decorrerá do art.º 18/3 CRP.

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1.1.3 Princípio da igualdade fiscal

Afirmado contra os privilégios próprios do Estado pré-liberal o princípio da


igualdade fiscal teve sempre ínsita sobretudo a ideia de generalidade ou
universalidade, nos termos da qual todos os cidadãos se encontram
adstritos ao cumprimento do dever de pagar impostos, e da uniformidade,
a exigir que semelhante dever seja aferido por um mesmo critério –
capacidade contributiva. Este implica assim igual imposto para os que
dispõem de igual capacidade contributiva (igualdade horizontal) e
diferente imposto (em termos qualitativos ou quantitativos) para os que
dispõem de diferente capacidade contributiva na proporção desta
diferença (igualdade vertical).

O princípio da capacidade contributiva não carece dum específico e


directo preceito constitucional. Este decorre do princípio da igualdade
fiscal articulado com os demais princípios e preceitos da respectiva
“constituição fiscal”.

A capacidade contributiva constitui o pressuposto e o critério da


tributação.
Como pressuposto, exige não só que todos os tributos, em que
naturalmente se incluem os impostos extrafiscais, mas também os
próprios benefícios fiscais tenham por objecto “bens fiscais”, excluindo da
tributação, tanto o mínimo existencial como o chamado máximo
confiscatório.
Enquanto critério da tributação, a capacidade contributiva rejeita que o
conjunto dos impostos (o sistema fiscal) e cada um dos impostos per si
tenham por base qualquer outro critério, seja ao nível das respectivas
normas, seja ao nível dos correspondentes resultados. Atento ao seu
âmbito, um tal critério vale, em termos objectivos apenas relativamente
aos impostos fiscais e no concerne à respectiva obrigação de imposto e diz
respeito, em termos subjectivos, somente aos contribuintes (e não a
outros sujeitos passivos fiscais), sejam cidadãos ou estrangeiros, pessoas
singulares ou colectivas. Relativamente ao quantum ou intensidade da
tributação, a capacidade contributiva não constitui qualquer suporte da
progressividade do sistema fiscal ou dos impostos, indiciando-nos antes a
opção por impostos proporcionais.

Constituindo a ratio ou a causa da tributação, este princípio afasta o


legislador fiscal do arbítrio, obrigando-o a que, na selecção e articulação
dos factos tributários, se atenha a revelações da capacidade contributiva,
ou seja, erija em objecto da matéria colectável de cada imposto um
determinado pressuposto económico que seja manifestação dessa
capacidade e esteja presente nas diversas hipóteses legais do respectivo
imposto.

1.1.4 A consideração fiscal da família

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A consideração fiscal da família, requerida pela Constituição – art.ºs 67/2,


f) e 104/1 CRP – implica a proibição de discriminações desfavoráveis dos
contribuintes casados ou com filhos face aos contribuintes solteiros ou
sem filhos, e não a imposição ao legislador da utilização do instrumento
fiscal (benefícios fiscais) para o favorecimento da constituição e
desenvolvimento da família. Uma ideia, de resto, concretizada no art.º 6/3
LGT.

1.1.5 O respeito pelos direitos, liberdades e garantias

Porque integram um dever fundamental, apresentando-se como limites


imanentes ou limites máximos de conteúdo ou do âmbito dos direitos,
liberdades e garantias fundamentais, os impostos (fiscais) não beneficiam,
de acordo com a doutrina e a jurisprudência constitucional, da
aplicabilidade do regime jurídico-constitucional das restrições (ou de
outras afectações) jusfundamentais, mormente dos testes em que se
desdobra o princípio da proibição do excesso.
Todavia, o direito fiscal não está de todo imune aos direitos fundamentais.
A ideia de intangibilidade da dignidade da pessoa humana, que dá sentido
ao conjunto dos direitos fundamentais e consubstancia o conteúdo ou
núcleo essencial de cada um deles, ale de constituir um eficaz obstáculo
às capitações, sempre constitui uma barreira inferior aos impostos, a exigir
que estes não ponham em causa que a cada um seja assegurado um
mínimo de meios ou recursos materiais indispensáveis a essa mesma
dignidade.

1.1.6 Princípio do Estado Social

Entendido como constituindo tarfea fundamental do Estado a realização da


democracia económica, social e cultural, este princípio tem naturalmente
implicações importantes no domínio do direito dos impostos. O que tem
expressa concretização na própria Constituição, em que: de um lado e em
sede (mais geral) da “constituição económica” estabelece uma
incumbência prioritária do Estado, no âmbito económico e social,
“promover a justiça social, assegurar a igualdade de oportunidades e
operar as necessárias correcções das desigualdades na distribuição da
riqueza e do rendimento, nomeadamente através da política fiscal – art.º
81, b) CRP – de outro, em sede (mais específica) da “constituição fiscal”,
prescreve que o sistema fiscal visa também uma justa repartição dos
rendimentos e da riqueza (art.º 103/1 CRP).
Orienta-se para a tributação ou para uma maior tributação na medida em
que suporta a progressiva dos impostos, a tributação do capital, a
extrafiscalidade e tributação das prestações sociais (se e na medida em
que excedam os mínimos existenciais estabelecidos e assegurados pelas
prestações sociais). Por sua vez, vai no sentido da não tributação ou da
limitação da tributação, na medida em que nos fornece a concreta medida

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dos mínimos existenciais a ter em conta no direito dos impostos, exigindo


a não tributação das prestações sociais e do rendimentos monetários ou
imputados afectos pelos contribuintes à satisfação das suas necessidades
existenciais, ou seja, as despesas com a habitação, a saúde, a educação, a
segurança social, etc., até ao montante dos mínimos decorrentes do
direitos das prestações sociais.

1.2 A coerência do sistema e o limite aos limites da tributação

1.2.1 O princípio da coerência do sistema

Os limites materiais da tributação têm, sobretudo, a ver com a ideia de


coerência do sistema ou da sistemacidade, entendida como uma coerência
conteudistica ou substancial de integração do direito fiscal no sistema de
direito público e no conjunto do ordenamento jurídico.
Ao impor limites intra-sistemáticos, ou seja, coerência entre os diversos
impostos e coerência do sistema fiscal no seu conjunto, o princípio em
causa deve ser convocado para a solução de problemas tais como a dupla
tributação interna, concretize-se esta numa dupla tributação (dupla
tributação jurídica) ou numa sobreposição de impostos (dupla tributação
económica) a tributação múltipla ou plural, que se traduz em os mesmos
bens serem objecto de diversos impostos – imóveis -, a conversão de
impostos, que se materializa na transformação de impostos sobre o
rendimento em impostos sobre o património em virtude da inércia do
legislador face ao fenómeno da inflação, etc.
De outro lado, ao reclamar limites extra-sistemáticos, a ideia de coerência
do sistema implica que o direito fiscal se articule com:
 Direito financeiro;
 Direito sancionatório;
 Direito das prestações sociais;
 Direito civil;
 Direito do segredo bancário, ao nível da sua aplicação, que deve ser
harmonizado e certamente temperado com as exigências da luta
eficaz contra a evasão fiscal.

1.2.2 O limite aos limites da tributação


Dominado por fenómenos de massa, o direito dos impostos está
particularmente condicionado pelo princípio da praticabilidade, que conduz
à exclusão não só das soluções impossíveis de levar à prática mas
também das soluções economicamente insuportáveis. Deste princípio
decorre, designadamente, que os limites da tributação não possam ser
levados tão longe quanto seria defensável.

1.3 O recorte constitucional do sistema fiscal

A nossa Constituição recorta o desenho do nosso sistema fiscal em dois


momentos.

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Num primeiro momento, quando fixa as finalidades do sistema fiscal – art.º


103/1 CRP – estabelecendo que o sistema fiscal tem uma finalidade
financeira, visando a satisfação das necessidades financeiras do Estado e
outras entidades públicas, e uma finalidade de carácter extrafiscal, que
visa uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
Num segundo momento, quando recorta, mais em pormenor, os exactos
contornos do nosso sistema fiscal no art.º 104 CRP em que prevê: 1) um
imposto único e progressivo sobre o rendimento pessoal; 2) a tributação
real como regra da tributação do rendimento das empresas; 3) uma
tributação do património que contribua para a igualdade dos cidadãos e 4)
uma tributação do consumo adaptada ao desenvolvimento económico e à
justiça social.

1.3.1 O imposto sobre o rendimento pessoal

Assim e quanto à tributação do rendimento pessoal, exige a Constituição


um imposto que seja:
 Único;
 Progressivo;
 Que tenha em conta as necessidades e os rendimentos do agregado
familiar.

O legislador optou por fixar, para a incidência sobre rendimentos – IRS -,


uma tributação regra separada, proporcional e bastante moderada face à
tributação dos restantes rendimentos.
A consideração das necessidades e rendimentos do agregado familiar está
longe de se verificar, já que as despesas da família realizadas com a
satisfação dos direitos sociais à saúde, educação, habitação e segurança
social, até aqueles patamares mínimos que o Estado social está em
condições de satisfazer a todos os cidadãos, não são tidas em conta em
sede de abatimentos ao rendimento líquido total, mas em sede de
deduções à colecta e, especialmente em relação ás despesas com a
educação, em termos manifestamente muito limitados, uma vez que se
não tem devidamente em consideração o número nem a situação
específica dos dependentes que integram o agregado familiar.

1.3.2 A tributação das empresas

A tributação das empresas singulares em IRS

O n.º 1 do art.º 104 CRP, ao falar em imposto sobre o rendimento pessoal


e ao exigir que este seja único, progressivo e tenha em conta as
necessidades e os rendimentos do agregado familiar, nada diz quanto à
tributação das empresas. Desta trata apenas o n.º 2, para dizer que, a
haver tributação do rendimento das empresas, ela assentará sobre o seu
rendimento real.

Descarregado por Márcia Teixeira ([email protected])


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Assim, o art.º 104 da CRP prescreve que o imposto sobre o rendimento


pessoal seja único, progressivo e não discriminatório negativamente da
família. Não exige, por conseguinte, qualquer imposto com tais
características sobre o rendimento empresarial. Pois a contraposição do
n.º 1 com o n.º 2 desse preceito é entre o “imposto sobre o rendimento
pessoal” e “a tributação das empresas” e não entre “imposto sobre
rendimento das pessoas singulares” e “o imposto sobre o rendimento das
pessoas colectivas”.
A CRP consagra, assim, uma estrita neutralidade do direito fiscal face à
liberdade de configuração jurídica da actividade empresarial dos
indivíduos e suas organizações.

O princípio do rendimento real

Outro aspecto constitucional da tributação das empresas, prende-se com o


sentido da exigência da tributação das empresas pelo seu rendimento real
– efectivo ou presumido – constante no art.º 104/2 CRP. Este princípio não
é mais o que uma concretização, uma explicitação dos princípios da
capacidade contributiva e da igualdade fiscal, os quais, serão observados
ao seu nível mais elevado se a tributação do rendimento empresarial
incidir sobre o rendimento real.
No momento histórico em que este preceito foi adoptado e o específico
ambiente em que a CRP foi elaborada e aprovada, pretendeu-se introduzir
e impor como regra de tributação do rendimento das empresas a sua
tributação pelo rendimento real, excluindo, por conseguinte, a regra da
sua tributação pelo rendimento normal, um modelo com grande tradição
no direito fiscal português.
A partir da aprovação da CRP, a base ou a medida da tributação do
rendimento das empresas deve ser, em princípio ou por via de regra, a
base ou a medida fornecida pelo seu rendimento real. O que obsta, claro
está, a que haja retrocesso neste domínio.
Mas não impede que haja empresas que não sejam tributadas pelo seu
rendimento real, mas sim pelo seu rendimento normal. Pois o que esse
preceito impede é que as empresas que tenham todas as condições para
revelarem o seu rendimento real, mormente porque estão sujeitas ou
porque optaram pela contabilidade organizada e dispõem desta em termos
aceitáveis para a administração fiscal, venham a ser tributadas, não por
essa medida do rendimento, mas pela medida apurada pela administração
a partir de outras realidades, de outros elementos.
O legislador está assim proibido de subtrair ao modelo de tributação pelo
rendimento real empresas, relativamente às quais, consideradas na sua
realidade empresarial e económica, nenhum motivo ou fundamento se
vislumbra que possa suportar uma excepção. Fora desse domínio, o
legislador goza da liberdade para estabelecer excepções ao princípio,
desvios ao modelo, cuja legitimidade constitucional há-de ter por suporte
nomeadamente o princípio da praticabilidade das soluções.

Descarregado por Márcia Teixeira ([email protected])


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Liberdade de gestão fiscal

A liberdade de gestão fiscal que parte da própria ideia do Estado fiscal,


tem a sua expressão nas liberdades de iniciativa económica e de empresa,
contempladas nos art.ºs 61, 80 c) e 86 da CRP.
Mas a liberdade de gestão fiscal das empersasm vista do lado do Estado,
concretiza-se no princípio de neutralidade fiscal, o qual tem clara
expressão no art.º 81, e) CRP em que se estabelece, como incumbência
prioritária do Estado, assegurar o funcionamento eficiente dos mercados,
de modo a garantir a equilibrada concorrência entre as empresas, a
contrariar as formas de organização monopolistas e a reprimir os abusos
de posição dominante e outras práticas lesivas do interesse geral.

1.3.3 A tributação do património

Relativamente à tributação do património, a CRP apenas exige que ela


constitua um instrumento de igualdade entre os cidadãos. A diminuição
das desigualdades é assim o objectivo constitucional da tributação do
património, um objectivo que abre a porta para proceder, nomeadamente,
à discriminação de patrimónios, tributando os mais elevados e isentando
ao mais baixos ou adoptando taxas progressivas.

1.3.4 A tributação do consumo

A CRP, exige por um lado, que ela vise a adaptação económica e da justiça
social e, por outro lado, a oneração dos consumos de luxo. Quanto à
primeira proposição, não há nada a assinalar a não ser para acentuar a
ideia de equilíbrio patente no preceito constitucional, a exigir que a
tributação do consumo sirva não só o desenvolvimento económico, mas
também a justiça social. Pelo que o legislador ao disciplinar a tributação do
consumo não pode deixar de fazer uma ponderação entre estes dois bens
jurídicos constitucionais.
Já a segunda proposição, trata-se de uma imposição constitucional que já
devia ter sido eliminada. Na verdade, a manutenção na CRP desta
imposição levanta a questão da sua crescente incompatibilidade com as
obrigações decorrentes da integração de Portugal na União Europeia. Pois,
proibindo esta a existência de taxas agravadas de IVA, o que teve como
consequência a abolição em 1995 da que existia entre nós, não vemos
como o legislador por cumprir tal imposição constitucional.

2. O direito comunitário

O direito da actual União Europeia constitui uma fonte cada vez mais
importante do direito fiscal. A este propósito, podemos mesmo falar de
direito comunitário fiscal, no qual se descortinam dois seguementos: o do
direito comunitário fiscal próprio e o do direito comunitário fiscal
interestadual.

Descarregado por Márcia Teixeira ([email protected])


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O primeiro é o que disciplina os impostos comunitários próprios. O


segundo é o respeitante à harmonização e à cooperação fiscal entre os
Estados membros.

3. As convenções internacionais

Tenhamos, apenas, em conta os tratados e acordos em matéria fiscal para


evitar a dupla tributação ou lutar contra a evasão e fraude fiscais, que são
hoje em dia muito frequentes, é de fazer alusão a que pode haver tratados
internacionais com repercussões fiscais, como acontece com a Concordata
de Portugal com a Santa Sé, cujos art.ºs 26 e 27 regulam situações
tributárias exclusivamente internas.
Assim, com a nova redacção do art.º 161º, i) da CRP, as convenções de
dupla tributação não têm que assumir a forma de tratados, como
acontecia anteriormente. O que significa que a CRP apenas exige a forma
de tratados para as convenções que versem sobre matérias
expressamente referidas no na 1ª parte do art.º 161º, i). As convenções de
dupla tributação não têm de assumir forma de tratados, podendo assumir
a forma de acordo, sendo certo que, quando assumam esta última forma,
os mesmos têm de ser aprovados pela AR.
Portugal, por imposição da abertura da economia ao exterior, acelerou,
nos últimos anos, a celebração de convenções de dupla tributação sobre o
rendimento.
As convenções celebradas nos países membros, tendem a perder bastante
a sua importância, à medida que o direito comunitário fiscal progride e a
luta contra a dupla tributação passa a constituir uma tarefa comunitária a
solucionar, portanto, através de instrumentos de harmonização fiscal
supranacional.
Resta assinalar que a dupla tributação internacional também é afastada
através de regimes internos unilaterais, como o previsto entre nós em
sede de IRS e IRC (p.ex. art.ºs 85º CIRC e 81º CIRS).
4. As leis

Temos, então: leis da AR, decretos-lei do Governo e decretos-legislativos


regionais das Assembleias Regionais das Regiões Autónomas. Todavia,
relativamente aos elementos essenciais dos impostos tem de haver
sempre uma intervenção prévia da lei parlamentar. Só depois de uma
pronúncia legislativa da AR, podem o Governo e as Regiões Autónomas,
disciplinarem os elementos essenciais dos impostos, com base no art.º
165º/2 a 5 CRP, com excepção dos art.ºs 166/2 e 164/1, t) CRP, cujas leis
devem revestir a forma de lei orgânica.
No que diz respeito às regiões autónomas, aquela prévia pronúncia da AR
pode ser materializada seja em leis avulsas, que venham fixar os termos
em que as regiões autónomas podem exercer o seu poder tributário
próprio – art.º 227/1, i) CRP.

Descarregado por Márcia Teixeira ([email protected])


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Com base nos art.ºs 227/1 i) e 232/1 CRP, apenas a primeira manifestação
de poder tributário regional, tem de ser exercido pelas assembleias
regionais, através de decretos-legislativos regionais.

5. Os regulamentos

Os regulamentos, sejam do Governo, sejam das regiões autónomas ou das


autarquias, não podem, em virtude do princípio da legalidade fiscal,
disciplinar os elementos essenciais dos impostos. Nem agora, por força do
princípio da legalidade da administração fiscal do art.º 8/2, a) LGT, versar
sobre a liquidação ou cobrança de impostos.
Quanto às demais matérias tributárias os regulamentos poderão intervir se
e na medida em que o princípio geral da legalidade da administração o
permita e não haja disposição legal a impedi-lo, dispondo portanto em
contrário.
Coloca-se um problema que é o de saber qual o relevo das chamadas
orientações administrativas, tradicionalmente apresentadas nas mais
diversas formas como instruções, circulares, ofícios-circulares, ofícios-
circulados, despachos normativos, regulamentos, pareceres, etc., que são
muito frequentes no direito fiscal. Trata-se de regulamentos internos que,
por terem como destinatário apenas a administração tributárias, só esta
lhes deve obediência, sendo obrigatórios apenas para os órgãos situados
hierarquicamente abaixo do órgão autor dos mesmos – art.º 68º LGT.

6. Os contratos

Fala-se em direito fiscal, nos contratos fiscais, os quais se encontram


agora expressamente mencionados no art.º 37 LGT.
Temos os contratos fiscais strito sensu – que têm por objecto, em alguma
medida, o se e/ou o quanto da incidência do imposto, em que intervêm, de
um lado, o titular do poder tributário ou, por sua delegação, a
administração fiscal e, de outro lado, o contribuinte e se concretizam
sobretudo na atribuição de benefícios ficais, mormente de benefícios
fiscais dinâmicos, isto é, incentivos e estímulos fiscais; e temos os
contratos fiscais lato sensu – que têm por objecto o lançamento, a
liquidação ou a cobrança do imposto, em que intervêm, de um lado e por
parte do sujeito activo, a administração fiscal, e de outro, o próprio sujeito
passivo da correspondente relação jurídica fiscal, ou terceiros.
Assim, os contratos ficais lato sensu, nas diversas modalidades que
assumem, dizem respeito a situações concretas e individuais. Por isso não
se podem considerar como fontes de direito fiscal.

7. A jurisprudência e a doutrina

Tanto as declarações, com força obrigatória geral, de inconstitucionalidade


e de ilegalidade (reforçada ou qualificada) pelo TC – art.ºs 281 e 282 CRP -,
como as declarações de ilegalidade (simples) pela 2ª secção do TCA e

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pelos tribunais administrativos e fiscais - art.º 38,c) e 49/1, e), i) do ETAF)


de normais fiscais constituem fontes formais de direito fiscal.
Efeito idêntico têm os acórdãos do TJCE em matéria fiscal, seja os
proferidos em acções de incumprimento do direito comunitário por parte
dos Estados, seja os proferidos nas acções de reenvio prejudicial.
Também agora o STA pode proferir acórdãos de uniformização da
jurisprudência, julgando a oposição de acórdãos, ou até mesmo a oposição
de sentenças dos tribunais administrativos e fiscais – art.º 280/5 CRP.

INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DO DIREITO FISCAL

1. A interpretação das normas jurídico-fiscais

Neste domínio é de rejeitar as interpretações literal, económica ou


funcional. É de seguir a orientação no sentido de que as normas jurídicas
fiscais se interpretam como quaisquer outras normas jurídicas.
Esta orientação tem concretização no art.º 11/1 LGT. Todavia, tendo
presente o n.º 3, em que se estabelece que “persistindo dúvidas sobre o
sentido das normas de incidência a aplicar, deve atender-se à substância
económica dos factos tributários”, é de nos interrogarmos se o legislador
da LGT não caiu na tentação de consagra a teoria da interpretação
económica, contrariando assim o disposto no n.º1.
Assim, o n.º 3 está a mais já que, ou não diz nada, ou contradiz o n.º1.

2. A integração das normas jurídico-fiscais

Antes de mais é de referir a tradicional proibição de integração das


lacunas dos elementos essenciais dos impostos fundadas no princípio
constitucional da legalidade fiscal – art 11/4 LGT. Este, ao exigir que a
disciplina dos elementos essenciais dos impostos, conste da lei
parlamentar, obstaria a que o legislador deixasse para o aplicador das leis
– a administração tributária ou o juiz – qualquer possibilidade de
colmatação de lacunas, seja através do recurso à analogia, seja por
qualquer outro modo de preenchimento de lacunas.

3. As cláusulas anti-abuso

As cláusulas anti-abuso são destinadas a prevenir e a reprimir as


crescentes práticas de evasão e fraude fiscal. Clausulas que se
apresentam quer como cláusulas especiais, quer como cláusulas
gerais.
Relativamente às cláusulas especiais, encontramos no CIRC toda uma
série de clausulas – art.º 58, art.º 78/11; art.º 59; art.º 60; art.º 61 e art.º
67/10). Todavia devemos acrescentar a este respeito, nem todas as
clausulas podem ser tidas como clausulas anti-abuso, pois, pelo menos
algumas delas – art.ºs 59, 60 e 61 CIRC -, que se limitam a estabelecer
presunções a afastar através do procedimento do art.º 64 CPPT, e não

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clausulas a aplicar seguindo o procedimento de aplicação de normas anti-


abuso previsto no art.º 63º CPPT.
Quanto à clausula anti-abuso geral – art.º 38/2 LGT -, ela foi introduzida
em 1999. a consagração desta clausula compreende-se, em princípio, pois
estamos num momento em que se torna cada vez mais necessário dar
poderes à administração tributária, sobretudo em segmentos da tributação
como o paradigmático exemplos dos rendimentos das aplicações
financeiras, cujos mercados são cada vez mais dominados pela
desregulação legal, pela desintermediação e consequentes
instrumentalização, titularização e internacionalização.
Assim, podendo a administração tributária considerar ineficazes, em sede
de direito fiscal que os contribuintes pretendiam ver aplicado, todos e
quaisquer actos ou negócios jurídicos realizados pelas empresas com
um único ou principal objectivo de redução ou eliminação de impostos,
abria-se a enorme porta por onde certamente podia passar a generalidade
dos actos e negócios jurídicos das empresas. Pois estas, numa gestão
correcta, não podem deixar de ter presente o critério do aforro fiscal,
optando pelas actuações que impliquem menores custos fiscais.
Parece-nos que do princípio do Estado fiscal deriva a liberdade de as
empresas escolherem as formas de actuação menos onerosas possíveis do
ponto de vista fiscal. E numa tal liberdade integram-se também as
possibilidades de praticar actos ou celebrar negócios jurídicos com o
principal ou mesmo único objectivo de reduzir ou eliminar impostos,
conquanto que esta opção não seja veiculada através da utilização
de meios ou instrumentos insólitos ou de todo adequados ao
objectivos económicos pretendidos.

4. A eficácia das normas jurídico-fiscais


4.1 A eficácia temporal

A eficácia temporal reconduz-se a 3 problemas: o início da vigência das


normas fiscais, a cessação da vigência das normas ficais e a sucessão
de normas fiscais no tempo.
O direito dos impostos rege-se pelo princípio da não retroactividade da lei
fiscal, que apresenta 2 níveis: o nível constitucional e o nível legal.
A nível constitucional, impõe o art.º 103/3 CRP a proibição de impostos
retroactivos, pelo que o legislador está impedido de criar ou aumentar
respectivamente os impostos – princípio da segurança jurídica e da
protecção da confiança com base no Estado de direito democrático.
Quanto ao nível legal, tem por destinatários, não o legislador, mas os
operadores jurídicos concretos (juiz, administração e particulares).
Temos agora uma concretização especifica em sede de direito fiscal – art.º
12 LGT -, o que significa que o princípio da aplicação imediata de lei nova
aos procedimentos e processos em curso, comporta duas importantes
excepções: não se aplica se afectar as garantias ou interesses legítimos
anteriormente constituídos dos contribuintes e, se se tratar de normas
que, embora respeitantes ao procedimento de determinação da matéria

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tributável, tenham por função o desenvolvimento de normas de incidência


tributária.

4.2 A eficácia especial

A eficácia das normas rege-se, tradicionalmente, pelo princípio da


territorialidade. Assim, as leis tributárias apenas se aplicam aos factos
ocorridos no território da ordem jurídica a que pertencem,
independentemente de outras característica que eventualmente possam
ocorrer na situação em causa, como a nacionalidade, o domicilio ou a
residência do sujeito passivo.
Este princípio tem um vector negativo e um positivo: quanto ao primeiro,
as leis estrangeiras não se aplicam no território do país da causa – os
órgãos de aplicação do direito de cada Estado apenas aplicam as suas
próprias leis tributárias, jamais podendo desencadear a produção de
efeitos previstos em leis tributárias estrangeiras; quanto ao segundo
vector, as leis tributárias internas aplicam-se no território nacional, de
modo generalizado, inclusivamente aos que não são nacionais do
respectivo Estado.
Todavia, a progressiva internacionalização da economia, a crescente
desmaterialização dos pressupostos de facto dos impostos e a tendência
para a personalização da tributação, conduziram a que as legislações
internas ou as convenções internacionais elegessem como elementos
relevantes de conexão com o território, já não aspectos objectivos ou
reais, mas elementos subjectivos diversos na nacionalidade, sede,
domicílio ou a residência do contribuinte.
Assim, está consagrado no art.º 13 LGT, em que consagra no seu n.º 1 o
princípio da territorialidade objectiva ou real, e no seu n.º 2 o princípio da
territorialidade pessoal ou subjectiva.
Ainda assim, encontramos preceitos em contrário: art.ºs 15 e ss CIRS, 4ª
CIRC e 2º, 6º, 13º e 15 CIVA.

No que diz respeito a imposto sobre o rendimento, o elemento de conexão


é a residência do beneficiário do rendimento e o local da produção do
rendimento.
Também em sede de tributação do património (ou do capital), se
apresentam como elementos de conexão a residência do proprietário ou
titular dos bens patrimoniais e o lugar da situação dos mesmos.
Em sede de impostos sobre o consumo, os elementos de conexão são a
origem e o destino dos bens transaccionados. A regra, a este respeito, é a
de que os impostos sobre o consumo devem ser lançados no país de
consumo, revertendo assim em benefício dos Estados em que são
consumidos os bens sobre que incidem. Daí que no país de origem, em
que o bem foi produzido, se proceda em geral à isenção com restituição ou
isenção do imposto no momento da exportação.

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Aqui a dupla tributação configura uma situação em que o mesmo facto


tributário se integra na hipótese de incidência de duas normas tributárias
diferentes, o que implica, de um lado, a identidade do facto tributário e, do
outro, a pluralidade de normas tributárias.
Como requisito da identidade do facto tributário, costuma exigir-se a regra
das 4 identidades: identidade do objecto, identidade do sujeito, identidade
do período de tributação e a identidade do imposto.

A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL

1. O carácter complexo da relação jurídica fiscal

1.1 A complexidade da relação jurídica fiscal

Quanto aos titulares dos diferentes poderes tributários ou das diversas


titularidades activas, podemos indicar os titulares do poder tributário sricto
sensu, os titulares da capacidade tributária activa e os titulares da
competência tributária.
Relativamente aos sujeitos (passivos) ou titularidades passivas
encontramos o contribuinte, os substitutos, os retentores, os responsáveis
fiscais, os sucessores, os suportadores económicos do imposto (em caso
de repercussão) e os sujeitos passivos das múltiplas e diversificadas
obrigações e deveres acessórios – particulares, empresas, oficiais públicos
como os notários, conservadores e oficiais de justiça (art.º 123 CIRS),
profissionais liberais.
No que concerne ao conteúdo temos ao lado da obrigação de imposto,
relativa à prestação material ou principal a satisfazer pelo contribuinte,
substituto, responsável, sucessor, etc., as mais diversificadas obrigações
ou deveres acessórios – prestações de natureza pecuniária, prestações de
carácter formal ou prestações de facere a satisfazer seja pelo contribuinte,
seja por terceiros.
Quanto às relações que se estabelecem ou relação fiscal em sentido
amplo, é de salientar que esta se desdobra na relação fiscal em
sentido estrito ou relação de imposto e em diversas relações jurídicas
acessórias, sendo certo que estas nem sempre se concretizam em
relações entre os particulares e a administração tributária.

Na primeira dessas relações temos a Administração Fiscal numa relação se


supremacia/subordinação com o contribuinte ou sujeito passivo do
imposto, apresentando-se munida do correspondente poder administrativo
para aplicar as leis fiscais, praticando os correspondentes actos de
autoridade ou actos administrativos – actos tributários.
Já na segunda dessas relações, temos a Fazenda Pública enquanto credora
da prestação constituída pelo imposto numa relação de natureza paritária
como o devedor do imposto, em que não dispões de qualquer poder de
autoridade, muito embora seja titular de um direito de crédito que tem de
característico apresentar-se rodeado de particulares garantias, tendo o

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particular vários deveres de colaboração com a Administração tributária –


art.º 48º CPPT, art.º 7º CPA e art.º 59º LGT.

1.1.1 Ilustração das obrigações ou deveres acessórios

1.1.1.1 Em sede de IRS empresarial e profissional e do IRC

Temos como deveres acessórios:


 Obrigações declarativas – nesta sede, os sujeitos passivos de IRS e
de IRC ou seus representantes têm de apresentar as declarações de
início, alteração e de cessação da actividade; declaração periódica
de rendimentos; declaração de substituição; declaração anual de
informação contabilística e fiscal;
 Obrigações contabilísticas e de escrituração – dever de possuir a
contabilidade organizada; dever de constituir e manter um processo
de documentação fiscal (dossier fiscal); o dever de os sujeitos
passivos de IRC e os de IRS, possuírem uma conta bancária através
da qual devem ser, exclusivamente movimentados os pagamentos e
recebimentos respeitantes à actividade empresarial exercida; o
dever de possuir um regime simplificado de escrituração; o dever de
apresentar os livros de inventário e balanço e diário; dever de
proceder aos lançamentos por ordem cronológica; os deveres de
passar recibo e de emitir factura; o dever de ter documentos de
suporte; o dever de centralização da contabilidade ou da
escrituração

1.1.1.2 Em sede de IVA

Temos como obrigações acessórias:


 Obrigações declarativas – declaração de início, alteração ou
cessação da actividade; declaração mensal ou trimestral relativas às
operações realizadas no exercício da sua actividade; declaração de
informação contabilística e fiscal e anexos; mapa recapitulativo;
 Obrigações contabilísticas – as mesmas que em sede de IRS e IRC;
 Outras obrigações acessórias – obrigação de emitir factura e de
repercussão do imposto.

1.2 A obrigação fiscal

Quanto às características da obrigação fiscal, embora estruturalmente


seja uma obrigação como qualquer outra, é uma obrigação legal, pública,
exequível e executiva, semi-executória, indisponível e irrenunciável,
autotitulada e garantida. Vejamos uma a uma.

1.2.1 Obrigação legal

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É uma obrigação legal porque se trata duma obrigação ex lege, duma


obrigação que tem por fonte a lei. Por isso nasce do encontro do facto
gerador ou facto tributário com a hipótese legal – art.º 36/1 LGT.

1.2.2 Obrigação pública

É pública dado a sua disciplina jurídica integrar o direito público, o que tem
tradução na presunção da legalidade do acto de liquidação ou acto
tributário que suporta a sua exigibilidade.

1.2.3 Obrigação exequível e executória

Na medida em que o acto tributário não é autoexequível, carecendo de


execução e a sua execução não está dependente de qualquer pronúncia
para além da constituída pelo próprio acto tributário.

1.2.4 Obrigação semi-executória

Porque a sua execução ocorre, em parte, na Administração Tributária e


nos tribunais tributários.

1.2.5 Obrigação indisponível e irrenunciável


Uma vez que ao credor não cabem, em princípio, quaisquer poderes de
conceder moratórias, admitir o pagamento em prestações ou conceder o
perdão da dívida – art.ºs 36/3 LGT e 85/3 CPPT.

1.2.6 Obrigação autotitulada

É uma obrigação relativamente à qual a administração fiscal – o fisco – cria


os seus próprios títulos executivos, constituídos pelas certidões da dívida
extraídas pelos serviços competentes das notas de cobrança ou de outros
elementos que tiverem ao seu dispor – art.º 88 CPPT.

1.2.7 Obrigação especialmente garantida

Dadas as garantias especiais que rodeiam o crédito tributário, garantias


que colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos credores
comuns.
2. Sujeito activo da relação jurídica fiscal

A titularidade activa comporta: poder tributário, competência tributária, a


capacidade tributária activa e a titularidade da receita fiscal.

2.1 Poder fiscal

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Consubstancia-se no poder conferido constitucionalmente ao legislador


para a criação, instituição, estabelecimento ou “invenção” de impostos e a
sua disciplina essencial.

2.2 Competência tributária

Diz respeito à administração ou gestão dos impostos, traduzida no


lançamento, liquidação e cobrança dos mesmos.

2.3 Capacidade tributária activa

Traduz a qualidade de sujeito activo da relação de crédito em que a


relação fiscal se consubstancia.

2.4 Titularidade da receita dos impostos

Verifica-se naqueles casos em que, por imposição constitucional ou legal,


as receitas proporcionadas por certos impostos sejam subjectivamente
consignadas a determinados entes públicos que não tenham todas ou
algumas das outras titularidades activas.

3. O sujeito passivo da relação jurídica fiscal


3.1 Contribuinte, devedor do imposto e sujeito passivo

3.1.1 Contribuinte

É a pessoa relativamente à qual se verifica o facto tributário, o


pressuposto de facto ou facto gerador do imposto, isto é, o titular da
manifestação de capacidade contributiva que a lei tem em vista atingir e
que deve suportar a ablação ou desfalque patrimonial que o imposto
acarreta.

3.1.2 Devedor do imposto

É o sujeito passivo (stricto sensu) que deve satisfazer perante o credor


fiscal a obrigação de imposto, isto é, a prestação ou prestações em que o
imposto se concretiza.

3.1.3 Sujeito passivo

O sujeito passivo (lato sensu) da relação fiscal é toda e qualquer pessoa,


singular ou colectiva, a que a lei imponha o dever de efectuar uma
prestação tributária, seja a prestação de imposto, sejam as prestações
correspondentes às múltiplas e diversificadas obrigações acessórias – art.º
18º/3 e 4 LGT, art.º 2/1 CIVA.

3.2 A personalidade e capacidade tributárias

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De acordo com os art.ºs 15 e 16/2 LGT, a personalidade tributária


traduz-se na susceptibilidade de ser sujeito (activo ou passivo) de relações
tributárias, sendo inerente a esta a capacidade tributária de gozo, ou
seja, a qualidade de ser titular dos direitos e deveres tributários
correspondentes, sendo a capacidade tributária de exercício (ou de
agir) como a medida dos direitos e deveres que cada sujeito pode exercer
e cumprir por si – art.º 2º CIRC.
A família ou agregado familiar não constitui sujeito passivo de IRS, mas tão
somente uma unidade fiscal para efeitos da tributação conjunta da família
em sede deste imposto – art.º 104 CRP e art.º 13º LGT.

3.3 A representação legal, o mandato tributário e a gestão de


negócios

De acordo com o art.º 16/1 LGT e o art.º 5º/1 CPPT, no caso de


incapacidade de exercício, isto é, no caso de menores, interditos ou
inabilitados, essa incapacidade é suprida, também no direito dos impostos,
pelos seus representantes legais – pais, tutores ou curadores.
O não residentes têm de ter representante lega – art.º 19/4 LGT -, bem
como aqueles que obtenham rendimentos em Portugal e não disponham
de estabelecimento estável – art.º 130 CIRS e art.º 118 CIRC.
Quanto à gestão de negócios – art.º 17 e 27 LGT -, os gestores de bens ou
direitos de não residentes sem estabelecimento estável em território
português são solidariamente responsáveis em relação a estes e entre si
por todas as contribuições e impostos dos negócios dos não residentes
relativos ao exercício do seu cargo. Salienta-se que a lei civil para a qual
remete o art.º 17/1 da LGT são os artigos 464º a 472 do CC, e que a
presunção do art.º 17/3 é elidível.

3.4 Domicílio fiscal

Nos termos do art.º 19/1 LGT, art.º 16 CIRS e art.º 2/3 CIRC, o domicilio do
sujeito passivo é, salvo disposição em contrário:
 Para as pessoas singulares, o local da residência habitual;
 Para as pessoas colectivas, o local da sede ou direcção efectiva ou,
na falta, do seu estabelecimento estável – art.º 5º/1 CIRC -, em
Portugal.

A mudança de domicilio deve ser comunicada de acordo com o art.º 19/2


LGT, podendo o mesmo ser rectificado oficiosamente pela administração –
art.º 19/6 LGT -, bem como os sujeitos passivos residentes no estrangeiro
e aqueles que se ausentem de Portugal por período superior a seis meses,
devem, para efeitos tributários designar um representante com residência
em território nacional.

4. A substituição tributária

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Nos termos do art.º 20 LGT, a substituição tributária verifica-se quando,


por imposição da lei, a prestação tributária for exigida a certa pessoa
diferente do contribuinte, sendo a mesma efectivada através do
mecanismo de retenção na fonte do imposto devido. No entanto, a LGT
entende a retenção na fonte em termos que abrange não apenas a
verdadeira retenção na fonte, mas também os pagamentos por conta de
imposto efectuados por terceiro.

Substituição total

Ocorre quando abrange tanto a obrigação de imposto como a generalidade


das obrigações fiscais acessórias, o que acontece no caso da retenção na
fonte com carácter definitivo de imposto – art.º 71 CIRS (taxas liberatórias)
e art.º 88/3 CIRC.

Substituição parcial

Ocorre quando o substituto tiver de cumprir a generalidade ou algumas


das obrigações fiscais acessórias.
4.1 Regime Jurídico

Devemos dizer que ele se concretiza numa relação de tipo triangular entre
o substituto, a administração fiscal e o contribuinte ou substituído. Em
relação a esta relação temos, no que respeita à relação entre o credor
(fisco) e o devedor, em devedor primário, em primeira linha ou originário,
que é o substituto, e um devedor secundário, de segunda linha ou
responsável subsidiário, que é o substituído ou contribuinte. Depois, no
respeitante à relação entre o substituto e o substituído, temos um direito
de retenção e um direito de regresso do substituto face ao substituído ou
contribuinte – art.º 28 LGT.

4.2 Natureza jurídica

A substituição tributária constitui uma figura própria, típica do direito


fiscal, insusceptível de se reconduzir inteiramente a qualquer instituto do
direito privado ou do direito público, substantivo ou pessoal.

5. A responsabilidade tributária

Neste assunto é imperioso distinguir entre responsabilidade tributária e


solidariedade tributária.

5.1 A solidariedade tributária

Esta verifica-se quando o credor do imposto pode exigir o cumprimento


integral da dívida tributária – art.º 22/1 LGT – tanto ao devedor como ao

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responsável ou responsáveis, como acontece nas situações dos art.ºs 21/1


e 27 LGT, 107º CIRC.

5.2 A responsabilidade tributária

A responsabilidade tributária é, por via dos art.ºs 22/3 e 23 LGT e 159º e


160 CPPT, de natureza subsidiária face ao devedor originário, embora
possa ser subsidiária ou solidária na relação entre os diversos
responsáveis no caso de pluralidade de responsáveis tributários.

5.3 Alguns casos de responsabilidade tributária

Artigos 24º, 25 e 28 LGT.

5.4 Responsabilidade civil pelas coimas e multas fiscais

No respeitante à responsabilidade civil dos administradores, gerentes e


outras pessoas que exerçam funções de administração em pessoas
colectivas, sociedades ou outras entidades fiscalmente equiparadas pelo
pagamento das sanções pecuniárias, isto é, das multas e coimas, temos
aqui duas situações: uma, no caso de os administradores ou gerentes não
terem colaborado dolosamente na prática da infracção fiscal; outra, no
caso de essa colaboração dolosa ter ocorrido.
Assim, no primeiro caso a responsabilidade é subsidiária de todos os
administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que
somente de facto, funções de administração em pessoas colectivas,
sociedades e outras entidades fiscalmente equiparadas pelas multas e
coimas a estas aplicadas.
No segundo caso, quando o administrador ou gerente colaborou na prática
da infracção fiscal, há lugar a uma responsabilidade solidária tanto face ao
agente principal da infracção como entre os colaboradores.

6. A transmissão da obrigação fiscal

Em consonância com o seu carácter indisponível e irrenunciável


estabelece o art.º 29/1 e 3 LGT o princípio da intransmissibilidade dos
créditos e das dívidas tributárias. Disposições em contrário – art.º 29/2 e
41/2 LGT.

6.1 A sub-rogação nos direitos da Fazenda Pública

Segundo o art.º 41/1 LGT, qualquer pessoa pode pagar as dívidas fiscais
de outrem, muito embora as relações deste terceiro com o sujeito passivo
ou devedor do imposto sejam, por via de regra, regidas pelo direito
privado.

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Assim, verificadas algumas condições, tem lugar uma transmissão da


obrigação fiscal pelo lado activo, isto é, relativamente ao credor do
imposto.

6.2 Sucessão legal

Está prevista no art.º 29/2 LGT que prescreve que as obrigações fiscais do
de cujus se transmitem aos respectivos sucessores – herdeiros ou
legatários. Porém, estes só são responsáveis pelas dívidas à Fazenda
Pública até às forças da herança ou do legado.

7. Extinção da obrigação fiscal

7.1 O cumprimento

Uma das formas de extinção da obrigação fiscal é o cumprimento, que


pode ser voluntário ou coercivo – art.ºs 40 LGT e 84º e ss CPPT.
O cumprimento ou pagamento voluntário das dívidas tributárias é o que é
efectuado dentro do prazo estabelecido pelas leis tributárias, podendo as
prestações ser realizadas em moeda corrente ou por cheque, débito em
conta, transferência conta a conta e vale postal ou por outros meios
utilizados pelos serviços dos correios ou pelas instituições de crédito que a
lei expressamente autorize – art.º 40/1 LGT.
A este propósito são de lembrar o princípio da indisponibilidade da
obrigação fiscal e que, decorrido o prazo para o pagamento voluntário –
art.º 42 LGT -, começam a contar juros de mora.

Juros de mora – são devidos quando o sujeito passivo não pague o


imposto no prazo legal.

Juros compensatórios – são devidos quando, por facto imputável ao


sujeito passivo, for retardada a liquidação da parte ou da totalidade do
imposto devido ou a entrega de imposto a pagar antecipadamente, ou
retido ou a reter no âmbito da substituição tributária.

Há ainda a salientar, os limites à cobrança de juros de mora previstos no


art.º 44/2 LGT, que não poderá ultrapassar os últimos 3 anos anteriores
`data do pagamento da dívida sobre que incidem, não contando para este
efeito os períodos durante os quais a liquidação de juros tenha estado
legalmente suspensa.

7.2 Outros modos de extinção da obrigação fiscal

7.2.1 Prescrição

Vem regulada nos art.ºs 48 e 49º LGT, sendo de referir que as dívidas
tributárias prescrevem, salvo disposto em lei especial, no prazo de 8 anos

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contados, nos impostos periódicos, a partir do termo do ano em que se


verificou o facto tributário, e nos impostos de obrigação única, a partir
da data em que o facto tributário ocorreu.

7.2.2 Dação em cumprimento e compensação

Vêm previstas no art.º 40/2 LGT, sendo que apenas são admitidas nos
casos expressamente previstos na lei.

8. As garantias de cumprimento da obrigação fiscal

8.1 Garantia geral

Como qualquer credor, também o Estado ou outro credor tributário tem no


património do devedor a garantia real do seu crédito – art.º 50/1 LGT e
art.ºs 601 e 817º CC.

8.2 Garantias especiais

Temos como garantias especiais:


 Privilégios creditórios – art.º 50/2, a) LGT;
 O penhor e a hipoteca – art.º50/2, b) e 3 LGT;
 Direito de retenção – art.º 50/2, c) LGT;
 A prestação da caução.

DIREITO ECONÓMICO FISCAL

1. Noção e âmbito do direito económico fiscal

O direito económico fiscal é o conjunto de normas jurídicas que regula a


utilização dos instrumentos fiscais, isto é, dos impostos e dos benefícios
fiscais, com o principal objectivo de obter resultados extrafiscais,
mormente em sede de política económica e social.
Um conjunto de normas que apenas formalmente integram o direito fiscal,
já que têm por finalidade principal ou dominante a consecução de
determinados resultados económicos ou sociais e não a obtenção de
receitas para fazer face às despesas públicas.
Dois grandes domínios ou sectores do direito económico fiscal: o domínio
ou sector do impostos extrafiscais ou de agravamentos extrafiscais de
impostos e o domínio ou sector dos benefícios fiscais.~

1.1 Impostos extrafiscais

Não está constitucionalmente vedada a possibilidade de o Estado utilizar o


imposto ou o agravamento do imposto com o objectivo ou finalidade
principal ou dominante de evitação de certos comportamentos económicos
e sociais dos seus destinatários.

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O que os configura como típicas medidas de intervenção económica e


social via fiscal, como verdadeiros “impostos suicidas”. Daí que não sejam
subsumíveis na “constituição fiscal”, dominada por uma exigente reserva
de lei e pelo princípio da igualdade aferido pela capacidade contributiva,
mas antes na “constituição económica” ancorada num flexível princípio da
legalidade e nas exigências do princípio da proibição do excesso ou da
proporcionalidade lato sensu.

2. Os benefícios fiscais

Quanto ao seu conceito, os benefícios fiscais enquadram-se numa noção


mais ampla – a noção de desagravamentos fiscais – que integra: de um
lado, as não sujeições tributárias (ou desagravamentos fiscais stricto
sensu), cuja modalidade mais significativa é constituída pelas chamadas
exclusões tributárias (que estão para as não sujeições tributárias como
as isenções estão para os benefícios fiscais); de outro, os benefícios
fiscais.

Enquanto as não sujeições tributárias são “medidas fiscais estruturais de


carácter normativo que estabelecem delimitações negativas expressas da
incidência”, inscrevendo-se portanto na política fiscal ou política de
obtenção de receitas fiscais, os benefícios fiscais são “medidas de
carácter excepcional instituídas para a tutela de interesses públicos
extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que
impedem”, integrando-se assim na política extrafiscal ou política de
prossecução de objectivos económicos e sociais por esta via fiscal.
Enquanto os desagravamentos fiscais em sentido estrito constituem
medidas dotadas de estabilidade, medidas por natureza duradouras, os
benefícios fiscais apresentam-se como medidas conjunturais, como
medidas temporárias. Um aspecto que, atenta a tendência para a
perpetuidade da generalidade dos benefícios fiscais, o legislador parece
não levar muito a sério, não obstante a sua afirmação expressa na lei no
art.º 14/1 LGT, em que dispõe: “sem prejuízo dos direitos adquiridos, as
normas que prevêem os benefícios fiscais vigoram durante um período de
5 anos, se não tiverem previsto outro, salvo quando, por natureza, os
benefícios fiscais tiverem carácter estrutural”.

IRS – IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS SINGULARES

1. Incidência

1.1 incidência pessoal

De acordo com o art.º 13 CIRS, são sujeitos passivos de IRS, por um lado,
as pessoas singulares residentes e, por outro, as pessoas singulares não
residentes:

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 Pessoas singulares (incluindo empresas individuais) residentes


território nacional, que são tributadas pela totalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora do território nacional, ou seja,
segundo o princípio da universalidade ou do rendimento mundial;
 Pessoas singulares não residentes (que não tenham domicílio) em
território nacional, que são tributadas apenas pelos rendimentos
obtidos em Portugal, ou seja, segundo o princípio da
territorialidade (em sentido estrito ou da fonte) ou da obrigação
tributária limitada.

Tratando-se de residentes e existindo agregado familiar, o imposto é


devido pelo conjunto dos rendimentos das pessoas que constituem o
agregado, o qual é constituído, pelos cônjuges não separados
judicialmente de pessoas e bens e pelos seus dependentes, sendo estes os
filhos, os adoptados e os enteados menores e, bem assim, os maiores em
certas circunstâncias e, no caso de agregados monoparentais, por cada
um dos cônjuges, ex-conjuges, pai ou mãe solteiros ou adoptante solteiro
e seus dependentes – art.º 14 CIRS.
O que significa que os unidos de facto, ao contrário do que acontece com
os casados que estão obrigados à tributação conjunta, podem optar pela
tributação conjunta ou manterem-se na tributação separada, uma solução
que, na medida em que discrimina os casados face aos unidos de facto,
briga com a Constituição, cujo art.º 36º não permite essa espécie de
discriminação inversa.

No que diz respeito aos não residentes, é de referir que o princípio da


tributação limitada aos rendimentos da fonte, comporta uma importante
excepção. Pois, nos termos do art.º 18 CIRS, se os rendimentos dos não
residentes, em que naturalmente sobressaem os rendimentos
empresariais ou profissionais, forem rendimentos imputáveis a um
estabelecimento estável, então a tributação em IRS incidirá sobre a
totalidade dos rendimento imputáveis ao estabelecimento estável.

1.2 Incidência real

Segundo os art.ºs 1 a 11º CIRS, o IRS incide sobre o valor anual dos
seguinte rendimentos, mesmo quando provenientes de actos ilícitos.

1.2.1 Categoria A – rendimentos do trabalho dependente

Remunerações decorrentes de trabalho por conta de outrem e


remunerações equiparadas às do trabalho por conta de outrem que foram
sendo introduzidas no âmbito dessa categoria e se situam na sua periferia.
 Contrato de trabalho;
 Contrato legalmente equiparado ao contrato de trabalho;

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 Contrato de aquisição de serviços ou outro de idêntica natureza em


que o trabalho seja prestado sob autoridade e direcção do
adquirente dos serviços;
 Exercício de função, serviço ou cargo público;
 Atribuição a título de pré-reforma, pré-aposentação, reserva, com ou
sem prestação de trabalho;
 Prestações atribuídas, não importa a que título, antes de verificados
os requisitos exigidos nos regimes obrigatórios de segurança social
para a passagem à situação de reforma e, bem assim, as prestações
que continuem a ser devidas até que se verifiquem os requisitos
necessários à passagem à situação de reforma.
Nas situações periféricas temos:
 Remunerações dos órgãos estatutários das pessoas colectivas;
 Remunerações acessórias
 Abonos para falhas devidos a quem, no seu trabalho tenha que
movimentar numerário na parte em que excedam 5% da
remuneração mensal fixa;
 Ajudas de custo e as importâncias auferidas pela utilização de
automóvel próprio em serviço da entidade patronal, na parte em que
ambas não excedam os limites legais;
 Quaisquer indemnizações resultantes da constituição, extinção ou
modificação da relação jurídica que origine rendimentos de trabalho
dependente, incluindo as que respeitem ao incumprimento das
condições contratuais;
 Quota-parte, acrescida dos descontos para a segurança social, que
constituem encargo do beneficiário, devida a título de participação
nas campanhas de pesca aos pescadores que limitem a sua
actuação à prestação de trabalho fixa;
 Gratificações auferidas pela prestação ou em razão da prestação de
trabalho não atribuídas pela entidade patronal, etc.

Nos termos do art.º 2/3, b) CIRS, as remunerações acessórias são


definidas como os direitos, benefícios ou regalias não incluídos na
remuneração principal que sejam auferidos devido à prestação, ou em
conexão com esta e constituam para o seu beneficiário uma vantagem
económica – subsídios, abonos ou pagamento de determinadas despesas,
quer em prestações sem natureza pecuniária como a atribuição de casa ou
automóvel de função, o fornecimento de refeições no local de trabalho,
etc.

1.2.2 Categoria B – rendimentos empresariais e profissionais

Esta categoria inclui rendimentos:


 Decorrentes do exercício de qualquer actividade comercial,
industrial, agrícola, silvícola ou pecuária;

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 Auferidos no exercício, por conta própria, de qualquer actividade de


prestação de serviços ainda que conexas com qualquer actividade
mencionada no número anterior;
 Os provenientes da propriedade intelectual ou industrial ou da
prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida
no sector industrial, comercial ou científico, quando auferidos pelo
seu titular originário;
 Rendimentos prediais e de capitais imputáveis a actividade
empresariais e profissionais;
 As mais-valias apuradas no âmbito das actividades empresariais e
profissionais, designadamente resultantes da transferência para o
património particular dos empresários de quaisquer bens afectos ao
activo da empresa;
 As importâncias auferidas, a título de indemnização, conexas com a
actividade exercida, nomeadamente a sua redução, suspensão e
cessação, assim como pela mudança do local do respectivo
exercício;
 As importâncias relativas à cessão temporária de exploração de
estabelecimento;
 Os subsídios ou subvenções obtidos no âmbito de qualquer
actividade comercial, industrial, agrícola, silvícola, pecuária ou de
prestação de serviços;
 Os provenientes da prática de actos isolados referentes à actividade
comercial, industrial, agrícola, silvícola, pecuária ou prestação de
serviços.

1.2.3 Categoria E – rendimentos de capitais

Trata-se de rendimentos resultantes da aplicação de capitais, em que se


compreendem, os juros provenientes de contratos de mútuo e de abertura
de crédito, os juros derivados de depósitos à ordem ou a prazo em
instituições financeiras, os juros e outros rendimentos de títulos, incluindo
títulos de dívida pública, os lucros da entidades sujeitas ao imposto sobre
o rendimento das pessoas colectivas colocados à disposição dos
respectivos associados ou titulares e os rendimentos provenientes de
contratos que tenham por objecto a cessão ou utilização temporária de
direitos da propriedade intelectual ou industrial ou a prestação de
informações respeitantes a uma experiência adquirida no sector industrial,
comercial ou cientifico, quando não auferidos pelo próprio autor ou titular
originário, bem como os derivados de assistência técnica e, ainda,
decorrentes do uso ou concessão do uso de equipamento agrícola e
industrial, comercial ou científico, quando não constituam rendimentos
prediais.

1.2.4 Categoria F – rendimentos prediais

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Estes integram rendas de prédios rústicos, urbanos e mistos pagos ou


colocados à disposição dos respectivos titulares e decorrentes da locação
de tais prédios ou de cessão de exploração de estabelecimentos
comerciais ou industriais, incluindo as dos bem móveis que aí se
encontrem, e bem assim a diferença de rendas obtidas pelo sublocador.

1.2.5 Categoria G – incrementos patrimoniais

Integram esta categoria, a título de mais-valias, os ganhos que, não sendo


considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou
prediais, resultem da alienação onerosa de direitos reais, de partes sociais
e da propriedade intelectual ou industrial, da cessação de posições
contratuais ou outros direitos relativos a imóveis, operações relativas a
instrumentos financeiros derivados e operações relativas a warrants
autónomos, indemnizações que visem a reparação de danos emergentes
não comprovados e de lucros cessantes, as importância recebidas em
virtude de obrigações de não concorrência e os acréscimos patrimoniais
não justificados determinados nos art.ºs 87, 88 e 89-A LGT.

1.2.6 Categoria H – Pensões

Consideram-se como pensões: as prestações que, não sendo havidas


como rendimentos de trabalho subordinado, sejam devidas a título de
pensões de aposentação ou reforma, velhice, invalidez ou de
sobrevivência e outras idênticas e ainda as pensões de alimentos; as
prestações a cargo das seguradoras, fundos de pensões, ou quaisquer
outras entidades, devidas no âmbito de regime complementar de
segurança social em razão da contribuição da entidade patronal, e que não
sejam considerados rendimentos do trabalho dependente; as rendas
temporárias ou vitalícias; quaisquer outras pensões ou subvenções.

1.3 Delimitação negativas de incidência

Nos termos do art.º 12 CIRS, a incidência do IRS, para além de delimitada


positivamente encontra-se também delimitada negativamente através de
exclusões tributárias de carácter primário, o que leva a que não haja
verdadeiras isenções de IRS.
Para além destas exclusões da incidência de IRS de carácter geral, outras
há de carácter especial. Entre estas sobressai, pela sua importância e seu
significado, a relativa aos rendimentos resultantes de actividade agrícolas,
silvícolas e pecuárias – art.º 3/4 CIRS.

2. Determinação da matéria colectável

2.1 As diversas etapas de determinação da matéria colectável

A determinação da matéria colectável comporta os seguintes momentos:

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 Apuramento do rendimento líquido de cada categoria através da


subtracção do rendimento ilíquido (ou bruto) de cada categoria
das deduções específicas dessa mesma categoria – art.º 25 CIRS –
sendo que nos rendimentos empresariais e profissionais, a dedução
específica concretiza-se de maneira diferente consoante os sujeitos
passivos se insiram no regime simplificado ou no regime normal de
determinação dos rendimentos, sendo que nesta última seguem as
regras dos art.ºs 28 a 39 CIRC. Nas categorias E e G não há lugar a
dedução específica – art.º 40 e 40-A e 42 e 52 CIRS – e na categoria
F a dedução específica está limitada às despesas de manutenção e
de conservação suportadas pelo sujeito passivo e devidamente
documentadas, e ao IMI que incida sobre o valore dos prédios cujo
rendimento tenha sido englobado – art.º 41 CIRS. Por fim, a
categoria F beneficia de uma dedução específica vantajosa prevista
no art.º 53 CIRS;
 Apuramento do chamado rendimento global líquido ou
rendimento líquido total através do englobamento dos
rendimentos das diversas categorias, o que se obtém somando os
rendimentos líquidos apurados nos termos do art.º 22 CIRS. Vigora
aqui, o princípio da não intercomunicabilidade dos custos;
 A dedução ao rendimento líquido total dos chamados
abatimentos, que agora se limitam às importâncias respeitantes
aos encargos com pensões a que o sujeito passivo esteja obrigado
por sentença judicial ou acordo judicialmente homologado. Feitos os
respectivos abatimentos, apura-se o chamado rendimento
colectável – art.º 56 CIRS;
 Apuramento de quociente conjugal, no caso dos cônjuges casados
e não separados de pessoas e bens e dos unidos de facto que
tenham optado pela tributação conjunta, que se concretiza através
da divisão por dois do rendimento colectável, de modo a
encontrar a taxa aplicável a todo o rendimento colectável – art.º 69
CIRS.

3. A taxa

3.1 As taxas gerais

As taxas gerais de IRS estão no art.º 68 CIRS.


O montante do rendimento colectável, quando superior a € 4.451, será
dividido em duas partes: uma, igual ao limite maior dos escalões que nele
couber, à qual se aplicará a taxa da coluna da média, correspondente a
esse escalão; outra, igual ao excedente, a que se aplicará a taxa da coluna
normal, respeitante ao escalão imediatamente superior. Aquando esta
operação temos que ter em conta o art.º 70 CIRS.

3.2 As taxas especiais

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São taxas de carácter promocional, que em muitos casos constituem


taxas liberatórias, pois concretizam o pagamento integral do IRS através
do mecanismo da retenção na fonte – art.º 71 CIRS – noutros casos são
taxas de tributação autónoma – art.º 72 CIRS.

4. Liquidação e cobrança

Nos termos do art.º 75 CIRS, a liquidação compete aos serviços centrais da


DGCI. A liquidação deve respeitar os prazos do art.º 77 CIRS.
Apurado o rendimento colectável, há que proceder à liquidação stricto
sensu, ou seja, à aplicação da taxa ao rendimento colectável para apurar a
colecta. Mas como há uma multiplicidade de taxas, pois estamos perante
uma taxa progressiva, temos de seleccionar qual a taxa ou taxas
aplicáveis e, quando se tratar de contribuintes casados ou unidos de facto
– tributação conjunta -, proceder ao apuramento do quociente conjugal,
dividindo o rendimento colectável por 2 a fim de seleccionarmos a taxa
aplicável a este quociente, muito embora esta taxa se aplique a todo o
rendimento colectável e não apenas a este quociente.
Realizada esta operação, temos apurada a colecta do IRS, à qual há que
proceder a numerosas deduções – art.º 78 a 88 CIRS.

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