Geração 70 Angola
Geração 70 Angola
Geração 70 Angola
Abstract: We divide our work into three sections: first, we will raise ques-
tions about the concept of post-colonialism; then we will trace a route of
Angolan poetry in post-independence, and the last section discusses some
important painters of Angola. Our intention is to highlight some trends in
Angolan post-1975 literature and painting.
Keywords: Postcolonialism, coloniality, post-independence, literature,
painting.
1 UFRJ e CNPq
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Conexão Letras
português em relação às colônias e, de outro, a submissão de Portugal frente aos ingleses.
Devido a essa ambiguidade, podemos perceber que o término do colonialismo português
no Brasil e nas ex-colônias em África não determinou o fim das relações de subalternidade.
Após alertar para essa questão, passamos a definir os significados de “pós-colonia-
lismo”, bem como a enumerar algumas críticas que lhe têm sido atribuídas atualmente.
O primeiro sentido de “pós-colonialismo” se prende ao significado do prefixo “pós”,
referindo-se a tudo que sucedeu as independências das colônias. A crítica que se faz ao termo
é que, hoje, vivemos outras formas de “colonialismos”, os chamados “neocolonialismos”.
O primeiro significado do termo é meramente cronológico e, para os Estudos Cul-
turais surgidos no fim dos anos 1980 e início dos 1990, não tem relevância, pois o mais
importante para o campo teórico das reflexões pós-coloniais é o seu caráter transversal que
perpassa a Literatura, a História, a Filosofia, a Psicanálise, a Antropologia, a Política. Tal
caráter se encontra intimamente relacionado ao segundo significado do termo “pós-colonial”
que diz respeito a um “conjunto de práticas e discursos que desconstroem as narrativas
coloniais escritas pelos colonizadores, procurando substituí-las por narrativas escritas do
ponto de vista dos colonizados”. De acordo com essa concepção, o “pós-colonialismo”
consiste, portanto, em uma crítica que aponta para as consequências danosas da coloni-
zação em culturas colonizadas, buscando subverter as relações de opressão e propiciando
visibilidade aos segmentos periféricos. Tal “descentramento” de perspectiva traduz a opção
por “ouvir as margens”, ou seja, os marginalizados da História. Nesse sentido, enquanto
reescrita poética descentrada e disfórica de Angola, a poesia angolana produzida após a
Independência pode ser considerada, teoricamente, “pós-colonial”.
Todavia, também esse segundo significado de “pós-colonialismo” sofre, contem-
poraneamente, questionamentos. Um deles é o de que, ao dar voz aos excluídos, faz com
que a representação do outro seja segregada em uma espécie de “gueto cultural”. O “pós-
-colonialismo”, deixando “falar” somente as margens, acaba por enfatizar o processo de
supressão dos subalternos. Ao acirrar a antinomia EU X OUTRO, pode marcar ainda mais
a submissão de um em relação ao outro.
Boaventura de Sousa Santos também põe em questão o conceito de “pós-colonial”,
indagando criticamente: “Será que estes discursos e estas práticas em países (como o
Brasil, Angola) colonizados por Portugal, país semiperiférico, não estarão ainda presos
a um estatuto colonial de subalternidade, tendo introjetado valores, modelos e cânones
eurocêntricos?!”.
Diante de tais críticas, preferimos a designação “poesia angolana da pós-indepen-
dência”, embora essa terminologia também não seja ideal, uma vez se centrar num critério
temporal, cronológico.
2 BARBEITOS, Arlindo. Angola angolê angolema. 2. Ed. Lisboa: Sá da Costa, 1977, p.72.
3 MAIMONA, 1997, p. 81.
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Conexão Letras
Um homem com o coração nas mãos
correu pela borda da noite
para oficiar as trevas
(...)
Perdeu a capacidade do gesto
(...)
as mãos já não são mãos
mas um tecido de veias
que pingam sangue no útero da floresta4
Paula Tavares é autora de obras de poesia: Ritos de passagem (1985), O lago da lua
(1999), Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), Ex-votos (2003) e Manual para
Amantes Desesperados (2007), além de um romance e de dois livros de crônica em prosa
poética. Sua poiesis, embora surgida nos anos 1980, guarda muitas características comuns à
poesia angolana dos anos 1970, isto é, da geração de David Mestre e Ruy Duarte de Carvalho.
Outras vozes poéticas femininas também despontaram após 1980, como Ana de
Santana, Lisa Castel, Maria Alexandre Dáskalos, Amélia Dalomba.
Ao lado dessa significativa produção poética feminina, vários poetas continuaram
escrevendo. Lembro o nome de João Melo que vem publicando desde os anos 1980 e,
embora não tenha saído das Brigadas Jovens, tem sido atuante na consolidação da poesia
contemporânea angolana. João Melo foi Secretário da União dos Escritores Angolanos,
tendo organizado o I Seminário da Literatura Angolana em dezembro de 1997, onde se
discutiram os rumos da literatura de Angola. O erotismo em sua poesia é marcante e se faz
arma de resistência para enfrentar medos e dores do passado e do presente povoados por
fantasmas, pesadelos, gemidos. Poeta da paixão, elege o amor como forma de se manter
vivo e de poder sonhar.
Outra vertente que caracterizou o panorama da poesia angolana pós-1980 foi a
de poetas como Lopito Feijoó e Frederico Ningi, cuja linguagem poética rompeu icono-
clastamente com os cânones estéticos tradicionais, valendo-se de metáforas dissonantes e
experimentalismos visuais. Tais poetas assumiram claramente um viés poético paródico,
transgressor e irreverente, através do qual denunciaram pesadelos sociais. Frederico Nin-
gi, ironicamente, optou por uma poética, na qual palavras, imagens e símbolos gráficos
interagem criticamente. Sua poesia sempre se mostrou discordante e agressiva.
Mais recentemente, em Luanda, como também tem ocorrido em diversas partes
do mundo, começaram a surgir alguns movimentos de poesia performática: o grupo
LEV´ARTE e o POESIA AO VIVO. Já há publicações desses jovens poetas: ControVerso
é um livro de poesia de autoria de Kardo Bestilo, um dos pseudônimos literários de Kussi
Bernardo, membro executivo do LEV´ARTE, grupo artístico que dramatiza poemas ao
som de guitarra em bares da noite luandense. Dilemas, paradoxos existenciais e sociais,
sentimentos são ali declamados e encenados.
Gostaríamos de poder abordar uma gama maior de obras literárias, mas como tam-
bém iremos dar uma ideia da pintura em Angola pós-independente, trazemos aqui telas de
alguns pintores angolanos que privilegiamos para esta apresentação: Eleutério Sanches,
Referências
Tela 2: Etona
Sem título. Técnica: óleo sobre tela
Sem data
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Volume 8, nº 9 | 2013
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