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Capítulo 4
Rochas Sedimentares
1. Introdução
Cerca de 3/4 da Terra são cobertos por rochas sedimentares que revestem partes dos continentes e dos
fundos oceânicos.
No entanto, estas formam apenas uma película superficial sobre as rochas magmáticas e metamórficas
que constituem a maioria do volume rochoso crustal.
Formação de sedimentos
Diagênese
Rocha Sedimentar
Uma vez depositado, o material sedimentar passa a responder às condições de um novo ambiente, o da
diagênese.
Diagênese - É o nome dado ao conjunto de transformações que o depósito sedimentar sofre após a deposição,
consistindo em mudanças nas condições de pressão, temperatura, pH e pressão de água, ocorrendo dissoluções
e precipitações a partir das soluções aquosas existentes nos poros.
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Processos sedimentares
2. Processos diagenéticos
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Dissolução - A dissolução diagenética tem como fator principal o efeito ou não de pressão. Se houver
ausência de pressão, ocorre somente a percolação de fluidos no material depositado, podendo ocorrer
reações químicas entre a solução e os minerais depositados. Quando ocorre dissolução sob pressão,
também chamada de compactação química, podem ocorrer vários tipos de feições.
Cimentação - Trata-se da cristalização de minerais formados a partir dos íons dissolvidos na solução
intersticial. Ocorre em conjunto com a dissolução diagenética.
os silicosos (quartzo)
carbonáticos (calcita)
Os férricos ou ferrosos (pirita, geothita, hematita)
Aluminossilicaticos (argilominerais como clorita, caulinita, ilita).
Exemplos:
Aragonita → Transformação → Calcita; (Neomorfismo - Ocorrem mudanças apenas no retículo
cristalino, sendo mantida a composição original.)
Calcita ou Aragonita → Substituição → Sílica; (Substituição - Ocorre a troca da calcita ou aragonita por
sílica.)
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Os processos diagenéticos modificam a textura e a mineralogia dos grãos, alteram a porosidade e criam
novos componentes mineralógicos.
Um depósito de rocha sedimentar é composta de componentes que se depositaram e componentes que
surgiram durante a diagênese.
4.1 Texturas
A textura numa rocha sedimentar diz respeito aos grãos, nos aspectos relativos ao tamanho, forma,
arranjo e distribuição.
Nas rochas sedimentares são consideradas as texturas clásticas e as não clásticas, sendo a primeira
caracterizada por sedimentos detríticos e a segunda de depósitos químicos.
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Textura clástica
A seleção dos tamanhos reflete as condições de transporte, bem como certas particularidades ambientais, tais
como:
Água corrente, ondas ou ventos – originam depósitos bem selecionados. Um sedimento mal
selecionado compreende diversos tamanhos de partículas.
Corridas de lama – formam, em relação ao tamanho dos grãos, depósitos de maior irregularidade textural
no que diz respeito à distribuição do tamanho dos grãos.
As rochas mais grosseiras indicariam maior proximidade da área-fonte, enquanto as mãos finas sugerem
uma maior distância de transporte.
Os grãos de pedregulho areia e silte podem ter formas arredondadas ou angulosas que refletem a sua história
geológica. A subseqüente abrasão durante o seu transporte (pela ação da água, vento ou gelo) reduz as
irregularidades. As cinco classes de arredondamento das partículas usualmente utilizadas são as seguintes:
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Existem várias classificações de tamanho de grãos entre elas destaca-se a classificação da ABNT (Associação
Brasileira de Normas técnicas):
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As texturas não clásticas são características dos sedimentos químicos e diferem daquelas das rochas clásticas. As
texturas cristalinas são referidas de acordo com o seguinte tamanho:
Uma rocha sedimentar possui textura oolítica quando é constituída, em grande parte, por oólitos. Estes são formas
esféricas ou subesféricas (0,25 a 2mm). A textura oolítica é comum em alguns calcários da fácies Teresina da
Formação Estrada Nova da bacia Sedimentar do Paraná. Quando os oólitos possuem tamanho maior do que 2
mm, são denominados pisólitos e a textura é pisolítica.
4.2 Estrutura
Um dos aspectos mais característicos das rochas sedimentares é a sua deposição em estratos ou
camadas. A estratificação é salientada pelas diferenças de composição, textura, dureza, coesão, cor,
dispostas em faixas aproximadamente paralelas.
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Estratificação Cruzada
Estrutura de fluxo
Estratificação gradacional
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Marcas ondulares
Gretas de contração
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Concreções – Diferem dos nódulos pelo seu tamanho (dimensões maiores) e pela presença de estruturas
internas. São mais comuns no formato esferoidal e discóides.
Fragmento de rocha transportado por “iceberg” a um antigo lago que, após derretimento do gelo caiu ao fundo do
lago, em Mafra (SC) – Neste caso não se trata de um nódulo ou concreção
Fóssil de um peixe
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clásticas ou mecânicas
quimicamente precipitadas
orgânicas
A textura, mineralogia e composição química do depósito permitem caracterizar alguns tipos principais de
rochas sedimentares representadas na tabela abaixo.
Sedimentos
Sedimentos Sedimentos
Sedimentos clásticos químicos e/ou
químicos orgânicos
orgânicos
Rudáceos: Arenáceos: Siltico- evaporitos Rochas calcáreas turfa
Cascalho Areia argiloso: sílex Carvão
Conglomerado Arenito Silte
Brecha Arcósio Argila
Grauvaca Siltito
Calcarenito Argilito
folhelho
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Estes depósitos caracterizam-se por sedimentos grosseiros de tamanho maior que 2mm.
Os constituintes grosseiros são denominados de fenoclastos.
Depósito de cascalho retrabalhado pela ação das ondas no Costão do Santinho/SC. Os clásticos encontram-se
relativamente bem arredondados e polidos pela ação marinha, entretanto o arredondamento inicial deve-se à
decompisição esferoidal das rochas cristalinas.
Brecha
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Conglomerado
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Arenitos
Os arenitos possuem coloração variada: geralmente são amarelados, avermelhados, cinzentos, castanhos
ou brancos
A granulação média constitui textura comum.
Via de regra, são bem selecionados e apresentam-se bem estratificados, muitas vezes com estratificação
cruzada, marcas de ondulação, concreções ou fósseis.
São rochas sedimentares constituídas por grãos de quartzo, freqüentemente imersos numa matriz argilosa
ou siltosa, ora cimentados por sílica amorfa, ora por óxidos de ferro ou ora por carbonatos.
Os silicosos e os carbonáticos são muito mais resistentes que os ferruginosos.
Os carbonáticos, porém, desagregam-se na presença de águas aciduladas.
A maioria apresenta, entretanto, alta porosidade.
A resistência mecânica e a durabilidade são variáveis, pois dependem da natureza e do teor do cimento.
A resistência mecânica também depende da direção dos esforços em relação à estratificação. Valem aqui
as mesmas considerações feitas para os gnaisses.
Uso: Como pedra de revestimento, apresentam durabilidade aceitável (principalmente os silicosos), mas podem
se manchar pela acumulação de pó ou outros detritos. Os arenitos desagregam-se, às vezes, quando submetidos
a ensaios de congelamento e degelo e de sanidade com sulfatos devido à sua maior porosidade. Como pedra
britada, só os silicosos apresentam características mais favoráveis; há, entretanto, a possibilidade de reação do
cimento silicoso com os álcalis do cimento Portland e de má adesividade a Iigantes betuminosos; os fragmentos
são, em geral, angulosos, e isso diminui a trabalhabilidade dos concretos.
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Arenito silicificado. O Arenito Botucatu foi coberto pelos derrames de lava da Formação Serra Geral, de
idade jurássico-Cretácea. A ação das lavas fundidas, fluindo sobre as areias do deserto (dunas),
produziu uma silificação do arenito nas proximidades do contato com o basalto. O arenito silicificado é
referido como arenito “cozido”.
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O arenito Botucatu (silicoso) é muito usado como calçamento pela facilidade de obtenção de
placas (devido à sua estratificação) e pela aspereza que apresenta. É usado, também, como
revestimento decorativo de paredes.
Depósito sedimentar localizado entre Rio do Sul e Itajaí (SC) na altura d Km 10 6,5 da rodovia SC-470 com
espessa sucessão rítimica de arenitos e lutitos marinhos (a) aspecto geral (b) detalhe do afloramento. Foto: P. C.
F. Giannini
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Arenito de coloração marrom exposto, por ação das ondas, na praia do Campeche (Florianópolis/SC)
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Aqüífero Guarani
• Esse Aqüífero possui água de excelente qualidade, extraída através de poços artesianos e semi-
artesianos, utilizada no abastecimento de centenas de cidades de médio e grande porte. Os poços podem
apresentar uma vazão de até 700 mil litros de água por hora.
• Sua importância é estratégica, uma vez que o volume aproveitável de água é de 40 km 3/ano, superando
em 30 vezes a demanda de cerca de 15 milhões de pessoas que vivem em sua área de ocorrência. O
Aqüífero Guarani tem uma reserva potencial para abastecer toda a população brasileira por cerca de
2.500 anos.
• O topo do Aqüífero Guarani em Santa Catarina ocorre em profundidades que variam de 360 metros, em
poços localizados em Itá e Tangará, a 1267 metros, em um poço localizado em São João do Oeste.
• O Aqüífero Serra Geral é formado pela água que se acumula nas fraturas, de origem tectônicas e por
resfriamento, e das zonas vesiculares interconectadas presentes nos derrames de basalto da Bacia do
Paraná.
• È o aqüífero mais utilizado de Santa Catarina com características que permitem a captação de água
subterrânea a um custo muito menor que o Aqüífero Guarani.
• A recarga do aqüífero ocorre através da pluviometria, principalmente em áreas com topografia pouco
acidentada. Nos locais onde ocorrem estruturas favoráveis pode ocorrer recarga ascendente a partir do
Aqüífero Guarani.
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Siltitos
São rochas clásticas finas, com pelo menos 50% de partículas de silte. Apresenta-se, em geral, finamente
estratificados.
Sua coloração pode ser cinza, negra, castanha ou amarela.
Devido à sua granulação fina, os minerais são dificilmente percebidos.
È comum, nos siltitos, a presença de nódulos, concreções ou fósseis.
Argilitos
São rochas sedimentares, de granulação finíssima, poucos mícrons e por isso untuosa ao tato.
É uma das rochas sedimentares mais abundantes, o que lhe dá grande importância geológica.
Possuem de cor de cinza até preta, amarela, verde ou avermelhada.
Os principais constituintes destas rochas são os minerais argilosos, que são silicatos hidratados de
alumínio.
Os argilitos são rochas argilosas muito firmemente endurecidas, desprovidas de clivagem ardosiana, e sua
formação implica em alguma recristalização do material original.
Estas rochas argilosas, quando apresentam a propriedade denominada fissilidade, de modo que podem
se partir (esfoliar) segundo camadas finas e paralelas levam o nome de folhelhos.
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Amostra de folhelho, grãos do tamanho argila e lâminas Folhelho preto da Formação Irati, proximidades da cidade
finas e paralelas esfoliáveis. de Criciúma, SC.
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Folhelho pirobrtuminoso/São Mateus do Sul (Paraná) explorado pela Petrobrás para a produção de óleo
• Os sedimentos bioquímicos originam-se direta ou indiretamente das atividades dos organismos animais ou
vegetais. Eles acumulam-se principalmente nos ambientes marinhos, podendo, contudo, ocorrer
igualmente em bacias terrestres de água doce (ex.: conchas e corais).
• depósitos silicosos;
• depósitos carbonatados;
• depósitos ferruginosos;
• depósitos salinos (cloretos, sulfatos, carbonatos, boratos e nitratos).
•
U ma rocha de origem bioquímica pode formar-se:
Calcários
É uma rocha poligenética, visto que pode ter uma origem de sedimentos bioquímicos e químicos.
Comumente, os calcários clásticos são bioclásticos, com grande contribuição de sedimentos bioquímicos, pelo
fato de serem originados pelo embate das ondas sobre recifes de corais, algas calcárias e diversos outros
organismos de carapaça calcária.
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Uso: Os calcários onde a sua estrutura original foi modificada (calcários metamórficos) podem ser utilizados como
agregados e para revestimentos. Apresentam bom comportamento como agregado em concreto hidráulico, mas
sua relativa baixa dureza não os credencia para uso em revestimento betuminoso de rodovias, por ser polível no
transcurso das solicitações do tráfego. Algumas variedades são utilizadas também como revestimento. Tal como
os mármores, são atacáveis por ácidos.
Dolomito
Carvão Mineral
No processo da formação do carvão a matéria orgânica passa por uma série de transformações recebendo
diferentes nomes:
Turfa: Sedimento de origem vegetal que se encontra nas formações sedimentares de idade recente e continua em
formação nos dias atuais, tem poder calorífico baixo (3000 a 5000 calorias/grama), com teor de carbono variando
entre 55% a 65%. Pode apresentar grande teor de umidade, chegando a 95% em alguns casos.
Linhito: É um carvão acastanhado que se distingue da turfa pelo teor menor de celulose, com poder calorífico
entre 4000 e 6000 calorias/grama com teor de carbono entre 65% e 75% e o de água entre 10% e 30 %.
Ulha ou Carvão Betuminoso: É o carvão negro que apresenta poder calorífico entre 5000 a 6800 calorias/grama,
com teor de carbono entre 75% e 90% e de água variando entre 2% e 7%.
Antracito: Forma, juntamente com o carvão betuminoso, o denominado carvão mineral. Possui aspecto vítreo e
fratura brilhante, com teor de carbono entre 90% e 93% e poder calorífico superior a 8000 calorias/grama. São
raras as ocorrências de antracito no Brasil.
A figura abaixo ilustra os processos de transformação pelos quais passa a matéria orgânica até se transformar em
carvão.
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• Os depósitos de carvão fóssil do Brasil estão situados nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Distribuem-se em oito grandes jazidas, sete das quais no Rio Grande do Sul e uma em
Santa Catarina, além de várias outras de menor porte.
• Cerca de 88% dos recursos localizam-se no Rio Grande do Sul. Os jazimentos mais importantes
denominam-se, de Sudoeste para Nordeste, Candiota, Capané, Irui, Leão, Charqueadas,
Morungava/Chico Lomã, Santa Terezinha e jazida Sul-Catarinense.
Jazida Sul-Catarinense
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A camada Barro Branco jaz à profundidade média próxima de 300 m; a Bonito Superior está sotoposta à
anterior, separada por um intervalo predominantemente arenítico com espessura média estimada em 43
m. A camada Pré-Bonito Superior está sotoposta à anterior, separada por cerca de 3 m de siltitos.
Pilha de rejeitos da Mina Barro Branco/Lauro Muller/SC (Fotos: Rodrigo André Hummes)
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