Dicionário Da Eneida V
Dicionário Da Eneida V
Dicionário Da Eneida V
Conselho Editorial
Marcos Nicolau – UFPB
Roseane Feitosa – UFPB – Litoral Norte
Dermeval da Hora – Proling/UFPB
Helder Pinheiro – UFCG
Hildeberto Barbosa Filho – UFPB
EDITORA
[email protected]
www.ideiaeditora.com.br
Sobre o Dicionário, 6
Referências, 163
Iconografia, 165
Sobre o Dicionário
por Júpiter (et sic fata Iouis poscunt, verso 613), que o herói, no
futuro mais próximo, enfrente a guerra, implore ajuda e veja a
morte indigna dos seus (auxilium imploret uideatque indigna
suorum/funera; versos 617-618). Para o futuro mais distante,
uma vez tendo sido quebrado o pacto matrimonial entre ela e
Eneias, que os descendentes de ambos se enfrentem. Deverá
nascer um vingador de seus ossos (exoriare aliquis nostris ex
ossibus ultor, verso 625), além de impor-se a inexistência de
qualquer pacto ou amizade entre os dois povos, Tírios e
Dardânios, conforme se pode ver com a utilização do imperativo
futuro, sunto (Nullus amor populis nec foedera sunto, verso 624).
No auge de seu furor, Dido impreca que os litorais se joguem
contra os litorais, as ondas contra as ondas; que as armas se
lancem contra as armas, que combatam eles próprios e seus
descendentes (Litora litoribus contraria, fluctibus
undas/imprecor, arma armis; pugnent ipsique nepotesque,
versos 628-9). A quebra do pacto, foedus, é quebra da fides. A
confiança tendo sido rompida, a alternativa que se impõe é a
guerra. Dido, no Livro IV (verso 373), já se lamenta dessa ruptura,
no momento em que Eneias, atendendo as determinações do
destino, diz-lhe de sua decisão de deixar Cartago, depois de todo
o acolhimento que lhe deu e a seus companheiros: nusquam tuta
fides (em parte alguma a confiança é segura).
Essas perspectivas sombrias acompanham o herói na sua
caminhada em busca do Lácio, que prevê, antes, um retorno a
Drépano, na Sicília, onde terão início os grandes rituais. O início
do Livro V, portanto, marca a transição do destino do herói
Eneias, com o fim das provações (Livros I-IV) e o início dos rituais
(Livros V-VIII).
Escolhido pelos deuses superiores por sua piedade (pietas),
Eneias é o herói (vir), cujas ações são determinadas pelo destino
(fatum). Ele deverá fundar uma cidade (condĕre urbem), no
Lácio, para onde levará seus deuses (inferret deos Latio). Esta
cidade, a nova Troia, deverá ser, no futuro, a altiva Roma (alta
Roma). A ação grandiosa do herói não poderá ser feita sem
provações (labores), dentre as quais as errâncias por terra e por
mar (iactatus terris et alto), com perseguição de Juno, o nume
ofendido (numen laesum), e terá de sofrer a guerra (pati bellum),
pois são as provações que dão a têmpera ao caráter do herói, no
seu embate com a adversidade. Tudo isso está anunciado no
proêmio da Eneida. A empresa a ser enfrentada pelo herói
contará com a ajuda de Apolo e de seus instrumentos de profecia
– Júpiter, profetas, sacerdotes, Heitor, Ascânio, Creúsa, os
penates, as harpias, augúrios, a Sibila, Anquises, Lavínia,
Tiberinus, a ninfa Carmenta, Evandro, o escudo do herói,
fabricado por Vulcano... –, decifrando ou indicando o caminho a
seguir. Caminho marcado pelo fogo.
A partir dessa compreensão da estrutura do poema,
podemos dizer que o verbo cano, canĕre é o verbo mais
importante da Eneida. Ele está presente, desde o proêmio,
anunciando as profecias. Se no Livro III, considerado o Livro das
Profecias, o verbo cano marca a sua presença, ele não estará
menos presente nos Livros V, VII e VIII, em que essas profecias
se reforçam. A diferença está na profecia de busca da terra (Livro
1
Todas as traduções, do grego ou do latim, são nossas, salvo quando
referenciadas.
abre caminho para uma nova cidade, fundada por Eneias, mito
civilizador.
Como rei-empreendedor e rei-sacerdote, cujas bases são a
Fides e a Piĕtas, Eneias se prepara para investir-se na condição
de rei-guerreiro, fundamentado na Virtus, e, assim, completar o
seu perfil de pai da nação. Essa trajetória não é outra, senão a
que Otaviano César vai fazer: Princeps e Augustus (27 a. C.),
Pontifex Maximus (12 a. C.) e Pater Patriae (2 a. C.); estas duas
últimas honrarias não vistas por Virgílio, morto prematuramente
em 19 a. C.
Na realidade ou na ficção, os fados encontrarão o seu
caminho.
1. Sinopse
Eneias, partindo de Cartago, vê o fogo da pira que queima o
corpo de Dido e percebe ali um mau presságio. Formando-se
uma tempestade, o herói consegue chegar a Drépano, onde é
recebido por Aceste. Para celebrar, naquelas paragens, um ano
da morte do pai, Anquises, Eneias decide instituir um culto ao
pai divinizado, nomeando-lhe um sacerdote e consagrando-lhe
um bosque. Completando os rituais, ele celebra jogos fúnebres
em honra de seu pai, em cuja prova de arco e flecha a
confirmação de seu destino é assinalada. Juno, ainda em
perseguição ao herói, incita as mulheres troianas a uma rebelião,
levando-as, através de Íris, a queimar as naus. Uma chuva
torrencial enviada por Júpiter ajuda Eneias a salvar os navios
suficientes para continuar a sua caminhada em busca do Lácio.
Nauta o aconselha a fundar ali uma cidade, deixando na Sicília os
que não quiserem mais enfrentar viagens, e os que são inaptos
à guerra. Anquises, aparecendo-lhe em sonhos, confirma o que
Nauta sugerira, incentivando o filho a continuar a sua caminhada
em busca da nova Troia prometida pelos deuses. Vênus,
preocupada com a segurança de Eneias, busca o apoio de
Netuno, que lhe assegura o herói chegar incólume aos litorais
ítalos, mas um dos homens da tripulação deverá morrer, para
salvar a vida dos demais. O deus Sono, enviado por Netuno,
consegue adormecer Palinuro, que cai no mar. Eneias lamenta a
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2. Núcleos Narrativos
Partida de Eneias de Cartago (versos 1-7): Partindo de
Cartago, Eneias vê do seu navio as chamas que iluminam as
muralhas da cidade. Um augúrio triste invade o peito dos
Teucros.
Tempestade (versos 8-34): Palinuro observa a tempestade
que se aproxima e navega, com a anuência de Eneias, para o
porto mais próximo, as terras de Érix, na Sicília, onde vive Aceste
e onde Anquises se encontra enterrado.
Recepção de Acestes (versos 35-41): Aceste recebe os
Troianos, seus compatriotas, reconfortando-os com sua
amizade.
Preleção de Eneias aos Troianos (versos 42-71): Passado um
ano da morte de Anquises, Eneias decide instituir honras anuais
em memória do pai, na cidade que fundará e nos templos que
lhe serão consagrados. O herói anuncia que Aceste ofereceu, em
banquete, um par de bois para cada navio, conclama todos a
participarem dos jogos em honra a Anquises, e dá início aos
rituais.
Ritos fúnebres a Anquises (versos 72-103): Depois que
todos cingem a cabeça com ramos de mirta, Eneias faz as
libações, joga flores púrpuras e saúda o pai, as cinzas, a alma e a
sombra paternas, lamentando que não lhe foi dado atingir as
terras da Itália e o Tibre Ausônio com ele. Eneias assusta-se com
o aparecimento de uma serpente, que se alimenta dos pratos
(871 versos)
A
Acaica (Achaica, v. 623): Relativo aos Acaios ou Aqueus. Vide
Exército Acaico.
B
Baco (Baccho, v. 77): Frequentemente, o deus do vinho é
tomado metonimicamente como o próprio vinho, o caso desta
passagem no verso 77 - mero Baccho, um vinho puro, com que
Eneias inicia as libações dos ritos a Anquises.
C
Campos Sículos (Siculis...aruis, v. 702): Campos da Sicília,
onde Eneias cogita ficar, depois do incêndio ocorrido com as
naus.
Creta (Creta, v. 588): Ilha do Mar Egeu, regida por Minos, que
mandou construir um labirinto pelo arquiteto Dédalo, de modo
a esconder o Minotauro, filho de sua esposa Pasífae com um
touro (vide Labirinto). Virgílio a chama Creta alta, com o sentido
de montanhosa.
D
Dânaos (Danais, v. 360): Relativo aos Dânaos, termo genérico
para designar os Gregos, oriundo de Dânaos, ancestral que
emigrara da Líbia para o Peloponeso, acompanhado de suas
filhas, as Danaides. O escudo que Eneias presenteia a Niso, obra
de Didimáon, havia sido arrancado pelos Dânaos do umbral
sagrado de Netuno, por ocasião da tomada de Troia.
E
Elísio (Elysium, v. 735): Os Campos Elísios eram o lugar para
onde iam os heróis e os homens melhores, premiados com uma
vida amena pelos deuses, após a morte. É onde se encontra
Anquises, em sua aparição a Eneias. O velho herói diz ao filho
que o Tártaro ímpio ou suas tristes sombras não o retêm, mas
que ele habita as amenas assembleias dos pios e os Elísios (Non
me impia namque/ Tartara habent, tristes umbrae, sed amoena
piorum/ concilia Elisiumque colo, versos 733-735). É a partir
dessa visão dos Elísios como lugar ameno, que se institui o
sentido do locus amoenus caro ao Arcadismo. Vide Livro VI da
Eneida.
piedade (pietas antiqua, verso 688), ele apague o fogo das naus
troianas ou que fulmine todos com seu raio. O pai Eneias (pater
Aeneas, verso 700), diante do acontecido, inquieta-se com a
possibilidade de cumprimento ou não do destino. Ficaria nos
campos sículos ou buscaria atingir as margens ítalas? O idoso
Nautes alivia a inquietação do herói, aconselhando-o a deixar na
Sicília os velhos, as mulheres cansadas do mar, os inválidos e os
tementes ao perigo. Eles ficariam aos cuidados de Aceste,
fazendo parte da nova cidade ali construída, Acesta. Os demais
partiriam com o herói em busca da terra anunciada pelos deuses,
a Itália. Eneias, em meio ao sono, parece ver a imagem de
Anquises, que reafirma os conselhos de Nautes e lhe diz para,
antes de atingir o Lácio, passar no Averno e buscar entrevistar-
se com ele, sendo conduzido pela Sibila, após o sacrifício de
animais de pelo negro. Eneias convoca Aceste e os demais para
transmitir as ordens recebidas de Júpiter e os conselhos do pai,
e enquanto Aceste se põe, imediatamente, ao trabalho de
organizar a nova cidade sob o seu comando, Eneias traça os
limites da urbe com o arado e sorteia as casas do que ali ficarão.
Sob o seu comando, a cidade será Ílium e os locais Troia (hoc
Ilium et haec loca Troiam esse iubet, verso 755-756). Tal atitude
só confirma o caráter de mito civilizador e fundador de Eneias
(vide as cidades que ele funda, no Livro III, e como ele ajuda Dido
na construção de Cartago, no Livro IV). Após ajudar na
construção da civilização em Drépano, Eneias parte em busca de
seu destino, consolando as mães Troianas, que haverão de ficar
na Sicília, por ele recomendadas ao agora rei Aceste. Eneias,
antes de partir, preside os sacrifícios a Érix e às Tempestades,
Érix (Erycis, v. 24; Eryx, v. 391; Eryx, v. 402; Eryx, v. 412; Erycis,
v. 419; Eryx, v. 483; Erycis, v. 630; Eryci, v. 772): O monte Érix,
situado na Sicília ocidental, tem o seu nome proveniente de Érix,
rei da Sicília, morto por Hércules. Após sua morte, erigiu-se um
templo para Vênus, no monte, em cujo sopé se construiu uma
cidade que também tomou o nome do herói; cidade próxima a
Drépano, onde morre Anquises. Sobre Érix ou Érice relata-nos
Robert Graves o seguinte: “Certa vez, para fazer ciúmes a Adônis,
Afrodite passou várias noites em Lilibeu com o argonauta Butes,
com quem teve o filho Érice, que se tornou rei da Sicília”
(GRAVES, 2008, p. 86). O que se sabe a respeito de Butes, em
primeira mão, é que, atraído pelas Sereias, ele se joga ao mar,
mas é salvo por Afrodite, que o estabelece no Cabo Lilibeu, na
Sicília. Neste Livro V da Eneida, Palinuro saúda as margens
fraternas de Érix (litora fraterna Erycis, versos 23-24), que
acolherão os Troianos, protegendo-os contra a tempestade. Érix
é citado por Aceste como um deus da Trinácria (Sicília), mestre
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F
Fados Ilíacos (Iliacis...fatis, v. 725): A imagem de Anquises
aparece a Eneias, para dizer-lhe estar ali pela vontade de Júpiter
e que o seu filho deve entregar-se à ocupação com os destinos
de Troia, os fados ilíacos. Ele deve conduzir ao Lácio apenas os
jovens escolhidos, os de coração forte, pois lá haverá uma dura
raça a ser debelada. Antes disso, Eneias deve passar no profundo
Averno e, com o concurso da Sibila de Cumas, deverá buscá-lo
para que ele saiba mais sobre os destinos de sua raça.
Filho de uma Deusa (Nate dea, v. 383; Nate dea, v. 474; Nate
dea, v. 709): Um dos epítetos de Eneias, por ser filho de Vênus.
G
Genitor (genitori, v. 94; genitori, v. 537; v. 817): As duas
primeiras referências são a Anquises. A referência do verso 817
é a Netuno, o pai dos seres marinhos.
Gias (Gyas, v. 118; Gyas, v. 152; Gyas, v. 160; Gyas, v. 167; Gyae,
v. 169; Gyan, v. 184; Gyan, v. 223): Um dos companheiros de
Eneias, comandante do Quimera, na disputa do prêmio de navio
mais veloz, por ocasião dos jogos fúnebres a Anquises. Gias
anima a juventude Dardânia disposta em três fileiras de remos.
No início da competição, Gias começa a se destacar, seguido de
Cloanto, quando na metade do caminho, o seu piloto, Menetes,
faz uma manobra errada e Cloanto o ultrapassa. Com raiva, Gias
lança Menetes ao mar. A manobra atrasa o Quimera, que, sem
piloto, é ultrapassado por Mnesteu.
H
Hélimo (Helymus, 73; Helymus, v. 300; Helymus, v. 323;
Helymus, v. 339): Um dos companheiros de Aceste, que,
cumprindo os rituais, cinge as têmporas com mirto. O jovem
Hélimo é um dos Trinácrios que participa dos jogos fúnebres a
Anquises, disputando a corrida a pé, vindo logo após Euríalo,
sendo, momentaneamente, o quarto colocado, embora termine
a corrida em segundo.
I
Iásio (Iaside, v. 843): Pai de Palinuro. É referido apenas como
epíteto, quando Sono se dirige ao piloto, sob as feições de
Forbas.
J
Jônio (Ionio, v. 193): Vide Mar Jônio.
Jove (Iouis, v. 255; Iouis, v. 726; Iouis, v. 747; Iouis, v. 784): Vide
Júpiter.
L
Labirinto (Labyrinthus, v. 588): O famoso labirinto de Creta foi
construído por Dédalo, a mando do rei Minos, para esconder o
Minotauro, filho de sau esposa Pasífae, com um touro. O mito
do labirinto e do Minotauro é retomado por Ovídio, em
Metamorfoses (Livro VIII, versos 152-182).
M
Mãe Troiana (Troia...mater, v. 38): Mãe de Aceste, não
nomeada no poema.
N
Nauta (Nautes, v. 704; Nautes, v. 728): Instruído por Palas
Atena, que o tornou insigne nas artes, o idoso Nautes (senior
Nautes) aconselha Eneias a deixar na Sicília os velhos, as
mulheres cansadas do mar, todos os inválidos e os tementes ao
perigo. Eles devem ficar com Aceste, fazendo parte da nova
cidade ali construída, Acesta. Os demais deverão seguir Eneias
na busca da terra anunciada pelo destino, a Itália. Em seguida,
Eneias parece ver a imagem do pai, ratificando os conselhos de
Nautes.
O
Oliva (oliua, v. 494): Ramo verde de oliveira (uiridi...oliua), dado
ao vencedor da corrida de barcos, no caso, Mnesteu. Era uma
homenagem a Palas Atena, que doou a oliveira aos atenienses e,
assim, se tornou a deusa protetora da cidade.
P
Pai (pater, v. 521; pater, v. 533; patri, v. 603; pater, v. 690;
parentis, v. 747; patribus, v. 758; pater, v. 867): Na primeira
ocorrência, a denominação é dada a Aceste, por ser este herói o
mais velho e aquele que irá fundar a cidade de Acesta, na Sicília,
de que ele será o rei. Na segunda ocorrência é a denominação
que Eneias lhe concede, após o augúrio da flecha inflamada. A
terceira referência diz respeito a Anquises, o pai santo
(sancto...patri). A quarta alusão refere-se a Júpiter, a quem
Eneias suplica apagar o fogo das naus. Anquises é também o caro
pai (cari...parentis, verso 747), que transmite as ordens de
Júpiter a Eneias, determinando a sua partida e o cumprimento
dos destinos. Aceste convoca os pais para dar as leis, depois que
Eneias determina quem deverá ficar na nova cidade sob as
ordens do velho herói. Os pais convocados – patribus – são os
mais velhos, que irão a ajudar na fundação da cidade. Trata-se
da instituição do Senado, cujas origens no mundo romano
remontam a Rômulo (Tito Lívio, I, VIII, 7). Vide Aceste. A última
alusão é a Eneias. Trata-se do momento em que o herói se dá
conta de que a nau está sem piloto, porque Palinuro, tornado
sonolento pelo deus Sono, cai no mar e morre. Como pai dos
Troianos, Eneias lamenta que Palinuro jazerá, nu, em praia
desconhecida (nudus in ignota, Palinure, iacebis harena, v. 871).
Q
Quimera (Chimaeram, v. 118; Chimaeram, v. 223): Navio de
grande porte (ingentem... Chimaeram), trirreme, conduzido por
Gias. Vide Gias.
R
Raça Bebrícia (Bebrycia...gente, v. 373): Butes, morto por
Dares, no pugilato, acreditava pertencer à raça Bebrícia, que tem
origem em Âmico, grande pugilista filho de Netuno. Vide Âmico.
S
Sagaris (Sagaris, v. 263): Fâmulo de Eneias, que, juntamente
com Fegeu, porta, com dificuldade, a couraça que pertencera a
Demoleu, para entregar ao segundo colocado na corrida de
navios.
T
Tártaros (Tartara, v. 734): Local nos Infernos, para onde vão os
condenados, para serem punidos. Anquises diz a Eneias que não
se encontra no Tártaro, mas nos amenos Elísios. No mundo
Grego, o Tártaro era o lugar mais profundo, no seio da Terra,
onde foram aprisionados alguns Titãs, por Zeus, após a
Titanomaquia. Para Hesíodo, a distância do Céu à Terra era o
equivalente a uma bigorna caindo durante nove dias e nove
noites, atingindo a Terra apenas no décimo dia. Da Terra para o
Tártaro era a mesma distância (Teogonia, versos 722-725).
V
Vênus (Veneri, v. 760; Venus, v. 779): Deusa do amor e da
beleza, mãe de Eneias, a quem é dedicado um templo por
Aceste, no cimo do monte Érix. Vênus repete aqui, o que faz no
Livro I da Eneida, com relação a Júpiter: endereçando-se a
Netuno, cheia de cuidados e angustiada com o destino do filho,
Eneias, ela lhe faz um resumo dos acontecimentos adversos aos
Troianos, provocados pela pesada ira de Juno (Iunonis grauis ira,
v. 781), desde a queda de Troia até a chegada, em retorno, a
Drépano. Vemos aí, um recurso narrativo, o flashback,
relembrando ao leitor os episódios acontecidos nos Livros
anteriores da Eneida. Vênus também recorda a Netuno não só
as ações de Juno, em pleno domínio do deus marinho, levando
Éolo a criar uma tempestade no mar, de modo a desviar Eneias
de seu destino, mas também o acontecido no próprio Livro V,
quando as mães Troianas, incentivadas por Íris, sob a forma de
Béroe, tocam fogo nas naus, com a intenção de impedir a
continuidade da viagem ao Lácio. Vênus, enfim, suplica a Netuno
que seja permitido as velas cruzarem os mares sob a proteção
do deus e atingirem as margens do Tibre Laurente, isto é, o Lácio,
se o destino tecido pelas Parcas aos Troianos é receber as
muralhas da nova cidade.
X
Xanto (Xanthum, v. 634; Xanthum, v. 803; Xanthus, v. 808): Rio
troiano referido por Íris, sob a imagem de Béroe, em seu lamento
às mulheres troianas. O Xanto também é tomado por Netuno
como testemunha de seu interesse por Eneias, quando o deus
tenta acalmar a angústia de Vênus, com relação ao destino do
filho. O deus relembra a Vênus que a carnificina produzida por
Aquiles, no seu retorno à guerra, enviou muitos milhares de
guerreiros para a morte. Eneias tenta enfrentar Aquiles em um
combate singular, mas diante da desigualdade de forças e de
proteção divina, Netuno resolve envolver o herói em uma
nuvem, para salvar a sua vida e preservar o seu destino de
fundador de uma grande nação. Vide Íris, Rios Hectóreos e
Netuno.
Z
Zéfiros (Zephyri, v. 33): No contexto do Livro V, os Zéfiros são
os ventos favoráveis, que ajudam os Troianos a chegar nas
margens amigas de Drépano, fugindo à tempestade. Vento do
oeste, brando e tépido, na Torre dos Ventos, em Atenas, é Zéfiro
(Ze/furoj) quem traz as flores primaveris. Para
Hesíodo, juntamente com Bóreas e Notos, Zéfiro é um dos
filhos de ânimo poderoso ou violento
( )Astrai/% d’ )Hw\j a)ne/mouj te/ke karteroqu/mouj, verso
378), gerados por Aurora e Astreu (Teogonia, versos 378-382).
Para Ovídio, nas Metamorfoses, Zéfiro é vento vizinho do
poente, de Vésper e dos litorais tépidos (Livro I, versos 63-64).
Índice Onomástico
Filho de uma Deusa (Nate dea, v. 383; Nate dea, v. 474; Nate
dea, v. 709)
Filhos dos Teucros (Teucrum nati, v. 592)
Foloé (Pholoe, v. 285)
Forbas (Phorbanti, verso 842)
Forcos (Phorci, v. 240; v. 824)
Fortuna (Fortuna, v. 22; Fortuna, v. 604; Fortuna, v. 625)
Frígios (Phrygum, v. 785)
Fronde Álama (populea, v. 134)
Genitor (genitori, v. 94; genitori, v. 537; v. 817)
Gétulo, Gétulas (Gaetulis, v. 51; Gaetulis, v. 192; Gaetuli, v.
351)
Gias (Gyas, v. 118; Gyas, v. 152; Gyas, v. 160; Gyas, v. 167;
Gyae, v. 169; Gyan, v. 184; Gyan, v. 223)
Glauco (Glauci, v. 823)
Gnósios (Gnosia, v. 306)
Grande Rei do Olimpo (rex magnus Olympi, v. 533)
Hélimo (Helymus, 73; Helymus, v. 300; Helymus, v. 323;
Helymus, v. 339)
Heitor (Hector, v. 371)
Heitóreos (Hectorei, v. 190; Hectoreos, v. 634)
Hércules (Herculis, v. 410)
Hipocoonte (Hippocoontis, v. 492)
Hirtacida (Hyrtacidae, v. 492; Hyrtacidae, v. 503)
Referências
1. Edições da Eneida
VIRGILE. Énéide; texte établi et traduit par Jacques Perret. Quatrième
tirage de l’édition revue et corrigée par R. Lesueur. Paris: Les Belles
Lettres, 2006 (3 vol.).
VIRGILE. Énéide; texte établi par Henri Goelzer et traduit par André
Belessort. 7. éd. Paris: Les Belles Lettres, 1952.
VIRGILIO. Eneida; traduzione di Luca Canali; introduzione de Ettore
Paratore. 15. ed. Milano: Oscar Mondadori, 2004.
VIRGILIO. Opere; a cura di Carlo Carena. Torino: UTET Libreria, 2011.
2. Obras Gerais
ANDRÉ, Jacques. Les noms des plantes dans la Rome antique. Paris:
Les Belles Lettres, 2010.
CARANDINI, Andrea. Roma, il primo giorno. Roma; Bari: Laterza &
Figli Spa, 2009.
CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire étymologique de la langue
grecque: histoire des mots. Paris: Klincksieck, 1999.
CICERO. De natura deorum.
DELAMARRE, X. Le vocabulaire indo-européen: léxique étymologique
thématique. Paris: Librairie d’Amérique et d’Orient, 1984.
DUMÉZIL, Georges. Mythe et épopée I-II-III; préface de Joël H.
Grisward. Paris: Gallimard, 1995.
GAFFIOT, Félix. Dictionnaire latin-français (le grand Gaffiot); nouvelle
édition revue et augmentée sous la direction de Pierre Flobert. Paris:
Hachette, 2000.
GRAVES, Robert. O grande livro dos mitos gregos; tradução de
Altar da Paz, construído por Augusto (Ara Pacis, Roma. Foto do autor)