Dicionário Da Eneida V

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6

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Dicionário da Eneida Livro V
Os Jogos Fúnebres a Anquises
(871 versos)

Milton Marques Júnior


Pesquisadores colaboradores e coautores nesta obra
Alcione Lucena de Albertim
Diógenes Marques Frazão de Souza
Felipe dos Santos Almeida
Prisciane Pinto Fabrício Ribeiro

Ideia – João Pessoa – 2020

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Todos os direitos e responsabilidades são do autor.

Projeto Gráfico/Capa: Magno Nicolau


Ilustração da capa:
https://www.istockphoto.com/br/vetor/ornamento-elegante-gm1093635524-
293495060%20 (Olena Kaidash)
Detalhe da capa: Eneias escapa de Troia em Chamas, Federico Barocci, 1598
Revisão: Hamilton Sérgio Nery de Medeiros / Robson Lucena Carneiro

Conselho Editorial
Marcos Nicolau – UFPB
Roseane Feitosa – UFPB – Litoral Norte
Dermeval da Hora – Proling/UFPB
Helder Pinheiro – UFCG
Hildeberto Barbosa Filho – UFPB

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

D546 Dicionário da eneida, livro V: os jogos fúnebres a Anquises (871 versos)


[recurso eletrônico] / Milton Marques Júnior ... [et al]. – João
Pessoa: Ideia, 2020.
3,7mb.:pdf.
ISBN 978-65-5608-053-6
1. Literatura mundial - clássica. 2. Poema épico. 3. Obra de referência
- dicionário. I. Marques Júnior, Milton. II. Título.

CDU 82-13 (038)

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810

EDITORA
[email protected]
www.ideiaeditora.com.br

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SUMÁRIO

Sobre o Dicionário, 6

Os Jogos Fúnebres a Anquises e a reafirmação do


destino de Eneias, na busca do Lácio, 13

Estrutura do Livro V da Eneida – Os Jogos Fúnebres a


Anquises (871 versos), 27

Dicionário da Eneida, Livro V, Os Jogos Fúnebres a


Anquises, (871 versos), 33

Livro V – Texto em latim, 121

Índice Onomástico, 149

Referências, 163

Iconografia, 165

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Sobre o Dicionário

A nossa pesquisa consiste na dicionarização da Eneida, de


Virgílio. Como o poema virgiliano é composto de doze Livros,
dividimos a pesquisa em três momentos: verbetização dos Livros
I a IV; dos Livros V a VIII, e dos Livros IX a XII. Neste momento em
que damos a lume a publicação do Dicionário da Eneida, Livro V
– Os Jogos Fúnebres a Anquises, iniciamos o segundo bloco
temático da Eneida, que chamamos de Livros dos Rituais.
A publicação do Dicionário da Eneida, de Virgílio – Livro I,
Eneias na Líbia foi, para nós, um teste, esperando que o público
a quem o dicionário se destinava – inicialmente, os estudantes
do curso de Letras – desse o seu retorno de leitura, sem o que
não poderíamos corrigir as falhas, com o intuito de tornar
melhor esta obra de referência.
A partir da publicação do Dicionário da Eneida, Livro II – A
Narrativa de Eneias: A Destruição de Troia –, realizamos algumas
mudanças nas informações dos verbetes e na objetividade que
se espera de uma obra dessa natureza, mudanças provenientes
do uso do dicionário em sala de aula. Por outro lado, procuramos
melhorar o aspecto visual do dicionário, separando cada seção
de verbete com a letra capital correspondente e acrescentamos
ilustrações a esse volume, com as fotos oriundas de uma viagem
de estudos que, em 2011, fizemos a Roma e à Grécia – Atenas,
Epidauro, Micenas, Olímpia e Delfos –, visitando museus e sítios
arqueológicos importantes. Assim, acreditamos que a infor-
mação foi qualitativamente melhorada, com as 8 ilustrações
proporcionando ao leitor um prazer visual.

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A leitura frequente da Eneida, para ministração de aulas na


graduação e na pós-graduação em Letras, na Universidade
Federal da Paraíba, fez-nos constatar a necessidade de um texto
de apoio, de uma obra de referência – de que somos tão
carentes no Brasil –, para a compreensão dessa obra virgiliana.
Complexa na sua estrutura, complexa na sua linguagem, a
Eneida é também complexa pela variedade e abundância de
informações: histórica, filosófica, geográfica, religiosa... Apenas
para estabelecer uma característica da Eneida, que nos parece
bem nítida, é impossível ler e compreender esse poema épico
sem o conhecimento da história de Roma, de seus primórdios à
época de Augusto.
Foi pensando na dificuldade que encontra o leitor não
iniciado, e mesmo alguns iniciados, nas obras clássicas, sem
acesso ao texto em latim, que intentamos a realização de um
dicionário da Eneida. Trata-se de trabalho lento e complexo, que
faz jus às dificuldades que o texto nos apresenta a todo o
instante. À frente do GREC – Grupo de Estudos Clássicos e
Literários, da Universidade Federal da Paraíba –, o professor
Juvino Alves Maia Junior e eu reunimos um grupo de
pesquisadores, que conta com professores do curso de Letras
Clássicas, estudantes da graduação e da pós-graduação, e
começamos um trabalho que, a princípio, parecia de Sísifo, pois
se rolar o rochedo ao cume do monte já é bastante difícil, rolar
o rochedo sem saber que caminho tomar torna bem pior essa
empreitada. Contudo, uma vez traçado o caminho, a pesquisa
pôde avançar, e se o rochedo não chegou ao cume, pelo menos
não rolou mais montanha abaixo.

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A primeira decisão que tomamos, que nos parecia óbvia, foi


no sentido de realizar a verbetização a partir do texto em latim
e não a partir de uma tradução. Embora nem sempre nosso
público seja o aluno de Letras Clássicas, entendemos que uma
obra que tem intenção elucidativa, como um dicionário, não
pode confiar senão no texto lido na sua língua de origem. Além
do mais, nossa experiência com traduções nos mostra que o que
se traduz e se coloca no mercado não é exatamente o que se
encontra no texto. Pode ser na sua essência, mas não nos seus
detalhes. Como nosso trabalho objetiva um estudo da Eneida, o
viés analítico se impõe, obrigando-nos a ir às minúcias do original
em latim.
O que verbetizar foi decidido ao longo do rolar a pedra
montanha acima. Inicialmente, pensamos nos personagens –
heróis e divindades –, depois verificamos que era necessário
ampliar a verbetização para os espaços e acidentes geográficos,
além de determinadas plantas e expressões. Como compreender
a viagem terra marique de Eneias, no Livro III da Eneida, sem a
preocupação de verbetizar cada local por onde o herói passa? E
as várias expressões de relação metonímica, como um velho
Baco (ueteris Bacchi, Livro I, verso 215), por um vinho
envelhecido? Ou expressões estereotipadas como julgamento
de Páris (iudicium Paridis, Livro I, verso 27)? Desse modo,
acreditamos ter dado mais substância ao nosso trabalho.
Uma vez que o texto latino naturalmente se impôs, restava-
nos escolher que edição seguir. Para um trabalho como este,
torna-se evidente e imperioso o uso de um texto estabelecido
filologicamente, por ser o mais confiável para o estudo.

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Optamos, pois, pela lição filológica de Jacques Perret, de 2006,


procurando sempre confrontar com o texto estabelecido por
Henri Goelzer e traduzido por André Belessort, de 1952. Em
ambos os casos, a edição é da Les Belles Lettres de Paris.
Apoiamo-nos em outras lições filológicas, como é o caso daquela
sob os cuidados de Carlo Carena, edição da UTET de Torino.
Todas estas edições estão devidamente elencadas na
bibliografia.
O uso de um texto crítico, estabelecido filologicamente, é de
suma importância, pois nos aproxima das sutilezas do texto
virgiliano, o que não encontramos em outras edições do texto
latino. Por exemplo, fiéis ao texto estabelecido, mantivemos
todas as formas arcaicas de Virgílio, como os acusativos plurais
da terceira declinação em -is, como no verso “Heu fuge crudelis
terras, fuge litus auarum” (Ai, foge destas terras cruéis, foge
deste litoral avaro, Livro III, verso 44); ou as formas em -uont, da
terceira pessoa do plural do presente do infectum, como no
verso “et uestigia foeda relinquont” (e nos deixam os vestígios
repugnantes, Livro III, verso 244); assim também as formas em -
uom e -um, do genitivo plural da segunda declinação, como em
auguriis diuom (pelos augúrios dos deuses, Livro III, verso 5), e
outras formas semelhantes.
Para dar uma ideia dessa complexidade que é o poema de
Virgílio, como o Livro III trata da longa viagem de Eneias, numa
errância terra marique, tivemos de recorrer a mapas do mundo
antigo de modo a tentar estabelecer o roteiro percorrido pelo
herói. A consulta dos mapas da edição do Gaffiot, dos mapas da
edição italiana do Liddell & Scott, e da edição do mapa da Grécia

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antiga, preparado a partir da Geografia de Estrabão foi


imprescindível para essa compreensão.
As entradas no dicionário mostram o verbete em sua
tradução portuguesa, mantendo, entre parênteses, a forma
latina, no caso em que a palavra aparece no texto original.
Quando o vocábulo vem acompanhado da conjunção enclítica -
que, como em Aeneadasque (Livro IIII, verso 18), consideramos
apenas a parte lexical (Aeneadas) e não a conjunção
coordenativa aditiva enclítica (-que).
Como verbetizar os nomes foi outra grande dificuldade.
Decidimos pela simplificação, para tornar a consulta mais rápida.
Os nomes latinos ou gregos serão traduzidos para o português e
aproximados, até onde for possível, da língua original. Em todo
caso, simplificamos o y para i, o ch para c ou qu, conforme a
situação; o th para t e assim por diante. Acreditamos que os
problemas de tradução de nomes sempre existirão, mas eles nos
parecem minimizados, pelo fato de que eles se encontram em
sua forma original dentro dos parêntesis, que acompanham o
verbete, e no índice onomástico, ao final do dicionário. Dois
casos à parte subsistiram. O primeiro foi em relação a Thétis,
mãe de Aquiles, e Téthys, a titã, cujas grafias mantivemos
próximas ao original para evitar confundir-se uma com a outra.
O outro foi com relação a Júpiter. Optamos pela verbetização das
duas formas, Jove e Júpiter, mesmo sabendo que a forma Jove é
o desdobramento em outros casos do nominativo Júpiter. No
entanto, na tradição poética da língua portuguesa, tanto
permaneceu o caso lexicogênico Jove (Iouem), como o
nominativo Júpiter (Iuppiter).

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Já os nomes acompanhados dos epítetos, como Pio Eneias,


ou apenas, como Pai dos deuses e dos homens, foram
verbetizados, pois esse tipo de recurso é comum, frequente e
estrutural na poesia épica.
Com relação aos patronímicos, quando aparecerem
isolados, como Troianos ou Argivos, ou acompanhando um
substantivo designando a descendência de um herói, como
Anquises Dardânio, isto é, descendente de Dárdanos, serão
grafados com maiúscula; quando aparecerem como um adjetivo
ligado a um substantivo comum, serão grafados com minúscula.
Por outro lado, agrupamos todos os patronímicos iguais num
mesmo verbete, quando se trata das formas de masculino,
feminino, singular e plural – Argivo, Argivos, Argiva, Argivas.
Cumpre-nos, ainda, dizer que procuramos observar ao máximo
o texto original e manter o uso de Argivos, Aqueus, Dânaos e
Graios, em lugar de Gregos, tradução corrente, mas que não se
coaduna com o espírito do texto, que remonta a uma época em
que não havia a Grécia, mas cidades-reino, que funcionavam
independentemente, unindo-se contra o inimigo comum,
quando necessário.
Por fim, mas não por último, temos consciência de quanto é
extensa a tradição mitológica, tanto de poetas, quanto de
mitógrafos, não sendo possível, portanto, exauri-la nos limites
desse trabalho. Faremos, no entanto, todas as relações
transtextuais que nos forem possíveis fazer, de Homero aos
tragediógrafos gregos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides –,
chegando até os contemporâneos de Virgílio.

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Entendendo o texto literário como um tecido que se compõe


de outros textos, vemos como, por exemplo, o poeta latino
Ovídio (43 a. C. – 17 a. D.) se torna uma fonte importante para a
leitura da Eneida, embora suas obras sejam posteriores à obra-
prima de Virgílio. Mesmo sendo as Metamorfoses do ano 1 a. C.
e os Fastos do ano 3 a. D., podemos ver como alguns mitos que
estão em Virgílio são desenvolvidos por Ovídio nessas duas
obras, ajudando o leitor, que conhece ambos os autores, a
entender melhor o complexo tecido da Eneida – uma das fontes
de Ovídio – e a perceber a influência do mantuano sobre o poeta
de Arte de amar.

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Os Jogos Fúnebres a Anquises e a reafirmação do


destino de Eneias, na busca do Lácio

Fata uiam inuenient


(Livro X, verso 113)

O Livro V da Eneida pode ser estruturado da seguinte forma:

Partindo de Cartago, Eneias vê as chamas que iluminam as


muralhas da cidade. Um augúrio triste invade o peito dos
Teucros (versos 1-7). A aproximação de uma tempestade leva-os
às terras de Érix, na Sicília, onde vive Aceste e onde Anquises se
encontrava enterrado (versos 8-34). Aceste recebe os Troianos,
seus compatriotas, reconfortando-os com sua amizade (versos
35-41). Passado um ano da morte de Anquises, Eneias decide
instituir honras anuais em memória do pai. O herói conclama
todos a participarem dos jogos em honra a Anquises (versos 42-
71). No início dos rituais, Eneias assusta-se com o aparecimento
de uma serpente, que se alimenta dos pratos sagrados e se retira
para o fundo do túmulo. Passado o estupor, o herói retoma os
ritos com os sacrifícios de animais, seguidos de outras oferendas
feitas por seus companheiros (versos 72-103). No nono dia após
a chegada na Sicília, os jogos se iniciam, com o sinal da tuba
(versos 104-113). A primeira disputa é a da corrida das naus, com
a vitória de Cloanto (versos 114-285); a segunda é a da corrida a
pé, cujo vencedor é Euríalo (versos 286-361); em seguida vem o
pugilato, com a vitória cabendo a Entelo (versos 362-484). A
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última disputa é a do arco e flecha, com a vitória de Eurítion, que


abate a pomba no voo. O último a disparar sua flecha é Aceste,
embora o prêmio já esteja decidido. Ao lançar a sua seta, ela se
incendeia, indicando um grande presságio dos deuses, sendo
Aceste declarado o vencedor por Eneias (versos 485-544). A
apresentação da juventude troiana, sob o comando de Ascânio,
simulando um combate armado, encerra os jogos fúnebres a
Anquises (versos 545-602). Ressentida com os Troianos, Juno
envia Íris para insuflar o espírito das mulheres troianas, com o
objetivo de afastar Eneias do seu destino (versos 603-617). Íris
toma a forma de Béroe e incita as demais a queimar os navios e
a fundar ali, na Sicília, uma nova Troia. Diante do incêndio, Eneias
pede a intervenção de Júpiter, que envia uma chuva forte e
apaga o fogo das naus (versos 618-699). Tendo perdido 4 navios,
Eneias fica em dúvida se permaneceria ali na Sicília, esquecendo
o seu destino, ou se deveria continuar a busca para atingir as
margens Ítalas. Nauta intervém, aconselhando o herói a deixar
os velhos, as mulheres e todos os que tenham medo da guerra e
sejam sem vigor para enfrentá-la. Estes deverão fundar ali uma
cidade chamada Acesta (versos 700-718). Anquises aparece a
Eneias em sonhos e diz-lhe que, pela vontade de Júpiter, o herói,
deve seguir a sugestão de Nauta e levar consigo apenas os
escolhidos, de fortíssimo coração, pois ele encontrará no Lácio
uma gente dura e áspera que deverá ser debelada. Anquises
ainda o aconselha a passar no Averno, para ouvir, de sua boca, a
sua descendência e as muralhas que lhe serão dadas (versos 719-
745). Convencido, Eneias comunica a decisão de fundar ali uma
cidade, cujo rei será Aceste, além de consagrar a Anquises um

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sacerdote e um bosque. Após o banquete fúnebre e os sacrifícios


a Érix, os Troianos partem de Drépano (versos 746-778). Vênus
inquieta-se com a sorte do filho e pede a Netuno para proteger
Eneias da ira de Juno. O deus reafirma a proteção ao herói,
estabelecendo, no entanto, que alguém dará a vida, em favor
dos demais (versos 779-826). Os Troianos partem de Drépano
com ventos favoráveis garantidos por Netuno, que cobra o
acordo firmado, enviando Sono para enganar Palinuro. Sono
adormece o piloto, que cai no mar e morre. Eneias ao perceber,
tardiamente, a morte de Palinuro, lamenta que seu corpo nu vá
jazer em alguma praia desconhecida (versos 827-871).

A saída de Cartago e a visão das chamas da morte de Dido


marcam a continuidade aos ditames do destino de Eneias. Os
versos de 1 a 7 do Livro V se adensam com prognósticos nada
bons para o herói: ele enfrenta as atras ondas enfurecidas pelo
Aquilão; divisa as chamas da pira da infeliz Elissa (Dido), que
brilham por toda a parte; sente as dores duras do grande amor
desonrado, que conduzem os corações dos Teucros por um
nefasto augúrio. São os indícios da guerra iminente, que Eneias
vai enfrentar no Lácio, mas também são os prenúncios da futura
guerra entre Romanos e Cartagineses, ambas preconizadas por
Dido, em preces aos deuses: Sol, Juno, Hécate, e as Fúrias, as
cruéis vingadoras (Livro IV, versos 607-629).
Eneias, com sua fuga ditada, mais uma vez, pelo destino,
tornara-se para Dido um ser cujo nome sequer deveria ser
pronunciado – infandum caput (verso 614). A infortunada rainha
deseja, então, que, tendo de se cumprir o destino estabelecido

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por Júpiter (et sic fata Iouis poscunt, verso 613), que o herói, no
futuro mais próximo, enfrente a guerra, implore ajuda e veja a
morte indigna dos seus (auxilium imploret uideatque indigna
suorum/funera; versos 617-618). Para o futuro mais distante,
uma vez tendo sido quebrado o pacto matrimonial entre ela e
Eneias, que os descendentes de ambos se enfrentem. Deverá
nascer um vingador de seus ossos (exoriare aliquis nostris ex
ossibus ultor, verso 625), além de impor-se a inexistência de
qualquer pacto ou amizade entre os dois povos, Tírios e
Dardânios, conforme se pode ver com a utilização do imperativo
futuro, sunto (Nullus amor populis nec foedera sunto, verso 624).
No auge de seu furor, Dido impreca que os litorais se joguem
contra os litorais, as ondas contra as ondas; que as armas se
lancem contra as armas, que combatam eles próprios e seus
descendentes (Litora litoribus contraria, fluctibus
undas/imprecor, arma armis; pugnent ipsique nepotesque,
versos 628-9). A quebra do pacto, foedus, é quebra da fides. A
confiança tendo sido rompida, a alternativa que se impõe é a
guerra. Dido, no Livro IV (verso 373), já se lamenta dessa ruptura,
no momento em que Eneias, atendendo as determinações do
destino, diz-lhe de sua decisão de deixar Cartago, depois de todo
o acolhimento que lhe deu e a seus companheiros: nusquam tuta
fides (em parte alguma a confiança é segura).
Essas perspectivas sombrias acompanham o herói na sua
caminhada em busca do Lácio, que prevê, antes, um retorno a
Drépano, na Sicília, onde terão início os grandes rituais. O início
do Livro V, portanto, marca a transição do destino do herói

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Eneias, com o fim das provações (Livros I-IV) e o início dos rituais
(Livros V-VIII).
Escolhido pelos deuses superiores por sua piedade (pietas),
Eneias é o herói (vir), cujas ações são determinadas pelo destino
(fatum). Ele deverá fundar uma cidade (condĕre urbem), no
Lácio, para onde levará seus deuses (inferret deos Latio). Esta
cidade, a nova Troia, deverá ser, no futuro, a altiva Roma (alta
Roma). A ação grandiosa do herói não poderá ser feita sem
provações (labores), dentre as quais as errâncias por terra e por
mar (iactatus terris et alto), com perseguição de Juno, o nume
ofendido (numen laesum), e terá de sofrer a guerra (pati bellum),
pois são as provações que dão a têmpera ao caráter do herói, no
seu embate com a adversidade. Tudo isso está anunciado no
proêmio da Eneida. A empresa a ser enfrentada pelo herói
contará com a ajuda de Apolo e de seus instrumentos de profecia
– Júpiter, profetas, sacerdotes, Heitor, Ascânio, Creúsa, os
penates, as harpias, augúrios, a Sibila, Anquises, Lavínia,
Tiberinus, a ninfa Carmenta, Evandro, o escudo do herói,
fabricado por Vulcano... –, decifrando ou indicando o caminho a
seguir. Caminho marcado pelo fogo.
A partir dessa compreensão da estrutura do poema,
podemos dizer que o verbo cano, canĕre é o verbo mais
importante da Eneida. Ele está presente, desde o proêmio,
anunciando as profecias. Se no Livro III, considerado o Livro das
Profecias, o verbo cano marca a sua presença, ele não estará
menos presente nos Livros V, VII e VIII, em que essas profecias
se reforçam. A diferença está na profecia de busca da terra (Livro

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III), na da reafirmação de busca da terra (Livro V) e na da


conquista e grandeza da terra (Livros VII e VIII).
A construção do Livro V retoma o Livro I da Eneida, do
mesmo modo que confirma a deixa de Virgílio para escrever o
seu poema, encontrada no Canto XX da Ilíada, versos 293-308,
momento em que Posídon salva Eneias do confronto com
Aquiles, tendo em vista a piedade do herói e o que lhe aponta o
seu destino glorioso como pai da nação troiana, que se
estenderá por seus descendentes:

“Imediatamente, [Posídon] diz aos deuses imortais:


Ai de mim! sinto uma grande dor por Eneias do grande coração,
que depressa baixará ao Hades, sob o braço do Pelida,
por ter sido persuadido pelas palavras de Apolo, o que fere de longe.
Tolo! Não é ele que vai socorrê-lo contra a morte ruinosa.
Mas qual a necessidade de que ele sofra estas dores,
inutilmente, pelos males dos outros, ele que sempre ofereceu
presentes aos deuses que habitam o vasto céu?
Eia, vamos subtraí-lo da morte e levá-lo conosco;
se por um lado, o Cronida se indignaria de ver Aquiles
matá-lo, por outro lado, o destino deseja vê-lo salvo,
para que não pereça, sem posteridade e aniquilada,
a raça de Dárdanos, que, dentre todos os seus filhos,
nascidos dele e de uma mortal, o Cronida mais amou.
Já a raça de Príamo, o Cronida odeia.
É o poderoso Eneias que reinará, doravante, sobre os Troianos,
ele e os filhos de seus filhos, que nascerão em seguida.” 1

1
Todas as traduções, do grego ou do latim, são nossas, salvo quando
referenciadas.

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Observa-se que neste Livro V, Vênus utiliza com Netuno o


mesmo expediente que empregou com Júpiter, para assegurar o
destino de seu filho. Assim como Júpiter a tranquiliza,
apontando o destino glorioso de Eneias e da nação que surgirá
de sua chegada ao Lácio (Livro I, versos 254-296), Netuno
assegura-lhe que o herói chegará ao Lácio incólume, ajudando-o
do mesmo modo quando interviera na ação de Éolo, a mando de
Juno (Livro I). Vemos, portanto, uma retomada da disputa entre
Netuno/Posídon e Juno/Hera, que se dá desde o episódio já
referido da Ilíada. Obviamente, que a ajuda de Netuno a Vênus,
desde a guerra travada em Troia, é para a consecução do destino
de Eneias, de que falaremos mais adiante.
Conforme já dissemos, este Livro V determina o fim do
predomínio das provações, ainda que Eneias se ressinta da perda
de quatro navios, incendiados pelo furor de Juno, e da perda de
Palinuro, a partir do acordo feito entre Vênus e Netuno, de que
um dos Troianos dará a sua vida por todos – unum pro multis
dabitur caput (verso 815), num hexâmetro incompleto. O fim das
provações é o início dos rituais, sendo o maior deles, nesse
momento, a divinização de Anquises, a doação de um sacerdote
para o seu túmulo e um bosque sagrado. Marca-se também
neste Livro V, o fim da errância de Eneias, com o herói chegando
ao Lácio, no Livro seguinte.
É importante ver neste Livro V, três núcleos norteadores da
Eneida: o início do predomínio dos rituais, Eneias como mito
civilizador e a reafirmação do destino do herói.
Os rituais mostram Eneias como o rei-sacerdote,
comprovando a sua pietas. Por quatro vezes, ao longo da

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narrativa, reforça-se o epíteto de Eneias como pius (versos 26,


286, 418 e 685). A divinização de Anquises, comprovação da
pietas de Eneias, abre espaço para conceder ao herói o estatuto
de pai dos Troianos, conforme se vê no texto da Ilíada já citado.
O epíteto de pai aparece 8 vezes (versos 129-30, 348, 423, 461,
545, 700, 827), sendo uma delas o de pai ótimo (verso 358).
Anquises, cuja morte se dá no Livro III, será para Eneias um novo
oráculo, seja nos aconselhamentos, no Livro V, seja na profecia
do Livro VI.
É, portanto, para o Eneias como mito civilizador que aparece
Anquises, de modo a fazê-lo aceitar as ponderações de Nauta.
Eneias, como sabemos, vai semeando cidades, por onde passa:
na Trácia e em Creta (Livro III); na Líbia, ajudando Dido na
construção de Cartago (Livro IV), e agora na construção da
cidade de Acesta, na Sicília, onde deve deixar todos aqueles que
não estão desejosos de seguir em frente ou aptos para enfrentar
a dura guerra no Lácio. Nesse momento de fundação da cidade,
é simbólico o fato de o próprio Eneias pegar no arado para traçar
o primeiro sulco da cidade nascente, escolhendo as casas,
estabelecendo que ali será Ílio e que os locais serão Troia –
Interea Aeneas urbem designat aratro/sortiturque domos; hoc
Ilium et haec loca Troiam/esse iubet (versos 755-57). A próxima
cidade será no Lácio, quando serão fundadas as bases da futura
Roma. O nascimento de uma civilização, muito claro no Livro V,
é o prenúncio da civilização que Roma levará para o ocidente e
para o mundo.
No tocante à reafirmação do destino de Eneias, estamos
diante do episódio mais importante do Livro V. Diga-se, de início,

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Dicionário da Eneida Livro V | 21

que o destino de Eneias é fechado, de acordo com a expressão


de Georges Dumézil (1995, p. 365 e ss.), fata fermées. O destino
de Eneias, portanto, vai-se cumprir, pelo fato de que ele foi
escolhido por sua piedade – insignem pietate uirum (Livro I,
verso 10). Dentro do Livro V e em outros momentos, como o
Livro VII, fica claro que Eneias alcançará o que lhe foi proposto
pelos deuses. Quando Vênus se endereça a Netuno, para pedir-
lhe ajuda, ela não só recorda o que a deusa Juno fizera até então
contra Eneias, como também lembra as muralhas concedidas ao
herói pelo destino (si concessa peto, si dant ea moenia Parcae,
verso 798), de acordo com o permitido pelos deuses. No
flashback implícito de Vênus a Netuno sobre a perseguição de
Juno a Eneias, há um retorno ao Livro I (profecia de Júpiter a
Vênus; as causas da perseguição; tempestade contra Eneias,
encomendada a Éolo), ao Livro II (a destruição de Troia
comandada por Juno) e ao Livro III (recomendações de Heleno a
Eneias, no sentido de amainar a ira de Juno com preces). Com
relação às causas da perseguição de Juno, é importante ver o
sentido da frase de Vênus – "Causas tanti sciat illa furoris."
(verso 788), retomando, como resposta, a questão retórica do
Proêmio da Eneida.
Para fazer uma análise do destino de Eneias, destacamos um
trecho essencial do Livro V (versos 519-544), cujos elementos
proféticos se apresentam mais claramente:

Amissa solus palma superabat Acestes,


qui tamen aerias telum contendit in auras 520
ostentans artemque pater arcumque sonantem.
Hic oculis subito obicitur magnoque futurum
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augurio monstrum; docuit post exitus ingens


seraque terrifici cecinerunt omina uates.
Namque uolans liquidis in nubibus arsit harundo 525
signauitque uiam flammis, tenuisque recessit
consumpta in uentos, caelo ceu saepe refixa
transcurrunt crinemque uolantia sidera ducunt.
Attonitis haesere animis, superosque precati
Trinacrii Teucrique viri; nec maximus omen 530
abnuit Aeneas; sed laetum amplexus Acesten
muneribus cumulat magnis, ac talia fatur:
“Sume, pater; nam te uoluit rex magnus Olympi
talibus auspiciis exsortem ducere honores.
Ipsius Anchisae longaeui hoc munus habebis, 535
cratera impressum signis, quem Thracius olim
Anchisae genitori in magno munere Cisseus
ferre sui dederat monumentum et pignus amoris.”
Sic fatus cingit uiridanti tempora lauro,
et primum ante omnes uictorem appellat Acesten. 540
Nec bonus Eurytion praelato inuidit honori,
quamuis solus auem caelo deiecit ab alto.
Proximus ingreditur donis, qui uincula rupit;
extremus, uolucri qui fixit arundine malum.

Tendo sido perdida a palma, restava só Aceste,


que, no entanto, lançou a flecha para as brisas aéreas 520
ostentando o pai a sua arte e o arco sonante.
Aqui, súbito, com grande augúrio, expôs-se aos olhos
o fato prodigioso que há de ser; o êxito ingente ensinou, em seguida,
e os vates terríficos cantaram as profecias tardias.
E, pois, voando entre as nuvens claras a flecha ardeu 525
e assinalou o caminho pelas chamas, e afastou-se, consumida,
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Dicionário da Eneida Livro V | 23

nos tênues ventos, como no céu frequentemente separados


os astros transcorrem e conduzem as cabeleiras voantes.
Imobilizaram-se, com os espíritos atônitos e aos deuses oraram
os heróis Trinácrios e Teucros; e nem a profecia o máximo 530
Eneias recusa; mas abraçando o alegre Aceste
cumula-o com grandes presentes e disse tais coisas:
Recebe, pai, pois o grande rei do Olimpo te quis,
excepcional, com tais auspícios, conduzir honras.
Do próprio longevo Anquises, terás este presente, 535
uma cratera impressa com sinais, que antigamente o Trácio
Cisseus, ao pai Anquises, em grande presente dera,
para levar, como lembrança de si e promessa de seu amor.”
Assim falou e cinge as suas têmporas com o louro viridente,
e diante de todos declara Aceste o primeiro vencedor. 540
Nem o bom Eurítion teve inveja da honra preferida,
Ainda que, único, precipitou a ave do alto céu.
para os dons avança o próximo, o que rompeu o laço;
O último, o que fixou o mastro com a flecha voadora.

O trecho diz respeito à última prova dos jogos fúnebres em


honra a Anquises. Uma pomba é atada a um mastro, devendo
ser abatida por um dos competidores do arco e flecha. O
primeiro competidor, Hipocoonte, atinge o mastro; o segundo,
Mnesteu, corta a corda, liberando a pomba, e o terceiro,
Eurítion, abate a ave, em pleno voo. A este último cabe o prêmio,
embora ainda reste um competidor, Aceste, que resolve lançar
sua flecha, mesmo que a nada mais concorra. O que acontece,
em seguida, é um grande augúrio: a flecha se incendeia. Eneias,
vendo ali um sinal dos deuses, presenteia-o com uma cratera

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que pertencera a Anquises, cingindo a sua cabeça com uma


coroa de louros.
O incêndio da flecha e a coroa de louros são significativos
nesse momento. O grande augúrio (magno augurio) é reforçado
como fato prodigioso (monstrum), que deverá acontecer
(futurum). O que devemos entender nessa passagem é que os
deuses enviam um sinal claro de advertência aos Troianos, pelas
mãos de Aceste. O termo monstrum não deixa qualquer dúvida
em relação a isto. Aceste ficara por último, para que a prova do
arco e flecha pudesse se realizar e, após o seu término, a
advertência dos deuses poderia vir de maneira mais clara. O
êxito ingente (exitus ingens) é, na realidade, a clarificação dos
fados, ensinando, mais uma vez, o caminho e as dores que vão
palmilhar essa via, em busca da nova Troia.
Se o texto se refere a profecias tardias cantadas pelos vates
(seraque terrifici cecinerunt omina uates), é porque o caminho
para a nova Troia já havia sido indicado pelo fogo – o fogo da
destruição de Troia, o fogo do augúrio sobre os cabelos de
Ascânio (Livro II), o fogo da morte de Dido (Livro IV e V), o fogo
da destruição das naus em Drépano (Livro V), além do fogo dos
cabelos de Lavínia, que anuncia o fogo da guerra, a partir da
morte do cervo e do jovem latino Almo, incendiando a Ausônia
e abrindo espaço para a quarta invocação do poema (versos 641-
6), mostrando que a Itália arderá pelas armas (Livro VII); por
último, o mesmo fogo que se encontrará no escudo de Eneias,
forjado pelo deus faber, Vulcano – cujo epíteto nesse momento
é ignipotens (Livro VIII, verso 710) –, na alegoria da Batalha de

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Dicionário da Eneida Livro V | 25

Actium, em que o fogo de Apolo fará Augusto vencedor de


Marco Antônio.
Embora já indicado ao longo da trajetória de Eneias, o fogo
só agora, tardiamente, será visto como um prodígio, uma
advertência dos deuses – monstrum. O trecho, reforçado pelo
termo omina e pelo verbo cano, em sua forma de 3ª pessoa do
plural do presente do indicativo perfectum – cecinērunt – revela,
a um só tempo, a profecia como estrutural dentro do poema, e
esse verbo como um dos elementos importantes nessa
estruturação, assumindo, na Eneida, mais o sentido de profetizar
do que de cantar ou celebrar.
Ainda é importante ressaltar dois elementos proféticos e
augurais. O primeiro é que o emprego do termo auspícios
(auspiciis), por Eneias, é perfeitamente adequado ao contexto.
Lembremos que os sacerdotes e arúspices faziam seus
prognósticos também a partir dos pássaros. Auspicium é
formado de auis e specio, significando (pre)ver pelos pássaros, o
que revela a pomba atada no mastro ser também estrutural à
passagem, não apenas um alvo a ser atingido. O outro elemento
é a coroa de louros, que cinge a cabeça de Aceste, como um dos
prêmios recebidos das mãos de Eneias, numa dupla referência a
Apolo: o arqueiro e o profeta.
O fogo da flecha, assemelhando-a a um cometa, astro
profético para os antigos, é, pois, o prenúncio do fogo das naus
e da cidade que deverá ser fundada na Sicília, e da civilização
troiana no Lácio. Assim como o fogo destruiu Troia e abriu
caminho para a fundação de uma nova Troia, o fogo das naus

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abre caminho para uma nova cidade, fundada por Eneias, mito
civilizador.
Como rei-empreendedor e rei-sacerdote, cujas bases são a
Fides e a Piĕtas, Eneias se prepara para investir-se na condição
de rei-guerreiro, fundamentado na Virtus, e, assim, completar o
seu perfil de pai da nação. Essa trajetória não é outra, senão a
que Otaviano César vai fazer: Princeps e Augustus (27 a. C.),
Pontifex Maximus (12 a. C.) e Pater Patriae (2 a. C.); estas duas
últimas honrarias não vistas por Virgílio, morto prematuramente
em 19 a. C.
Na realidade ou na ficção, os fados encontrarão o seu
caminho.

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Dicionário da Eneida Livro V | 27

Estrutura do Livro V da Eneida – Os Jogos Fúnebres a


Anquises (871 versos)

1. Sinopse
Eneias, partindo de Cartago, vê o fogo da pira que queima o
corpo de Dido e percebe ali um mau presságio. Formando-se
uma tempestade, o herói consegue chegar a Drépano, onde é
recebido por Aceste. Para celebrar, naquelas paragens, um ano
da morte do pai, Anquises, Eneias decide instituir um culto ao
pai divinizado, nomeando-lhe um sacerdote e consagrando-lhe
um bosque. Completando os rituais, ele celebra jogos fúnebres
em honra de seu pai, em cuja prova de arco e flecha a
confirmação de seu destino é assinalada. Juno, ainda em
perseguição ao herói, incita as mulheres troianas a uma rebelião,
levando-as, através de Íris, a queimar as naus. Uma chuva
torrencial enviada por Júpiter ajuda Eneias a salvar os navios
suficientes para continuar a sua caminhada em busca do Lácio.
Nauta o aconselha a fundar ali uma cidade, deixando na Sicília os
que não quiserem mais enfrentar viagens, e os que são inaptos
à guerra. Anquises, aparecendo-lhe em sonhos, confirma o que
Nauta sugerira, incentivando o filho a continuar a sua caminhada
em busca da nova Troia prometida pelos deuses. Vênus,
preocupada com a segurança de Eneias, busca o apoio de
Netuno, que lhe assegura o herói chegar incólume aos litorais
ítalos, mas um dos homens da tripulação deverá morrer, para
salvar a vida dos demais. O deus Sono, enviado por Netuno,
consegue adormecer Palinuro, que cai no mar. Eneias lamenta a
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morte de seu piloto e o fato de que seu corpo jazerá, nu e


insepulto, em alguma praia.

2. Núcleos Narrativos
Partida de Eneias de Cartago (versos 1-7): Partindo de
Cartago, Eneias vê do seu navio as chamas que iluminam as
muralhas da cidade. Um augúrio triste invade o peito dos
Teucros.
Tempestade (versos 8-34): Palinuro observa a tempestade
que se aproxima e navega, com a anuência de Eneias, para o
porto mais próximo, as terras de Érix, na Sicília, onde vive Aceste
e onde Anquises se encontra enterrado.
Recepção de Acestes (versos 35-41): Aceste recebe os
Troianos, seus compatriotas, reconfortando-os com sua
amizade.
Preleção de Eneias aos Troianos (versos 42-71): Passado um
ano da morte de Anquises, Eneias decide instituir honras anuais
em memória do pai, na cidade que fundará e nos templos que
lhe serão consagrados. O herói anuncia que Aceste ofereceu, em
banquete, um par de bois para cada navio, conclama todos a
participarem dos jogos em honra a Anquises, e dá início aos
rituais.
Ritos fúnebres a Anquises (versos 72-103): Depois que
todos cingem a cabeça com ramos de mirta, Eneias faz as
libações, joga flores púrpuras e saúda o pai, as cinzas, a alma e a
sombra paternas, lamentando que não lhe foi dado atingir as
terras da Itália e o Tibre Ausônio com ele. Eneias assusta-se com
o aparecimento de uma serpente, que se alimenta dos pratos

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sagrados e se retira para o fundo do túmulo. Passado o estupor,


Eneias retoma os ritos com os sacrifícios de animais, seguidos de
outras oferendas feitas por seus companheiros. Começa o
banquete.
Dia dos jogos (versos 104-113): No dia dos jogos, o nono
após a chegada de Eneias na Sicília, os povos vizinhos vêm
curiosos para ver os Enéades. Com os prêmios aos vencedores
dispostos no meio do circo, a tuba dá o sinal para o início.
Disputa dos navios (versos 114-285): Quatro robustos
navios disputam a primeira prova: o navio de Mnesteu, o Pristis;
o de Gias, o Quimera; o de Sergesto, o Centauro, e o de Cloanto,
o Cila. A vitória cabe a Cloanto; Sergesto, quase naufragado, fica
em último, mas todos são premiados por Eneias.
Disputa da corrida (versos 286-361): Eneias convoca os
heróis para a disputa da corrida, prometendo além dos prêmios
comuns a todos, ricos prêmios aos três primeiros lugares. Euríalo
é o primeiro, Hélimos vem em segundo e, em terceiro lugar, fica
Diores. Eneias ainda concede prêmios de consolação a Sálio e a
Niso.
Disputa do pugilato (versos 362-484): Eneias convoca os
heróis para a disputa de pugilato. De início, Dares é o único a se
apresentar. Sem concorrente, Dares reivindica o prêmio, um
touro com fitas de ouro. Mas Entelo, insuflado por Aceste,
decide enfrentar o Troiano. A vitória cabe a Entelo. A Dares,
massacrado pelo adversário, cabem a espada e o capacete como
prêmio ao vencido.
Disputa do arco e flecha (versos 485-544): Eneias convoca
os que desejam participar da prova de tiro rápido com arco e

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flecha. O alvo é uma pomba atada a um mastro tomado do navio


de Seresto. Os concorrentes são Hipocoonte, Mnesteu, Eurítion,
irmão de Pândaro, e Aceste. Hipocoonte atinge o mastro,
Mnesteu corta a corda e Eurítion abate a pomba no voo. A este
último cabe o prêmio, mas Aceste resolve lançar sua flecha e
acontece um grande augúrio: ela se incendeia. Eneias o
presenteia com uma cratera que pertencera a Anquises e cinge
sua cabeça com uma coroa de louros.
Apresentação da Juventude Troiana (versos 545-602):
Eneias pede a Ascânio que faça a apresentação do batalhão da
juventude troiana, simulando um combate armado, cerimônia
com que se encerram os jogos fúnebres a Anquises.
Ressentimento de Juno (versos 603-617): Ressentida com
os Troianos, Juno envia Íris para insuflar o espírito das mulheres
troianas, que choram as provas passadas e aquelas ainda a
passar. O objetivo de afastar Eneias do seu destino.
O incêndio das naus troianas (versos 618-699): Íris toma a
forma de Béroe, uma das troianas, incitando as demais a
queimar os navios e fundar ali, na Sicília, uma nova Troia. As
mulheres, descobrindo que Béroe é, na realidade, uma deusa,
resolvem queimar os navios. Eneias pede a intervenção de
Júpiter, que envia uma chuva forte e apaga o fogo das naus.
Dúvida de Eneias e a intervenção de Nauta (versos 700-
718): Tendo perdido 4 navios, Eneias fica em dúvida se
permanece ali na Sícilia, esquecendo o seu destino, ou se deveria
continuar a busca para atingir as margens Ítalas. Nauta intervém,
aconselhando Eneias a deixar os velhos, vergados sob o peso dos

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anos; as mulheres cansadas do mar, e todos sem vigor e que


tenham medo. Estes fundarão ali uma cidade, chamada Acesta.
Sonho de Eneias (versos 719-745): Anquises aparece a
Eneias em sonhos e diz-lhe que, pela vontade de Júpiter, o herói,
que suporta os fados ilíacos, deve seguir a sugestão de Nauta e
levar consigo apenas os escolhidos, de fortíssimo coração, pois
ele encontrará no Lácio uma gente dura e áspera que deverá ser
debelada. Anquises ainda o aconselha a passar no Averno, para
que Eneias, de sua boca, ouça a sua descendência e as muralhas
que lhe serão dadas.
Decisão de Eneias (versos 746-778): Eneias comunica a
decisão de fundar ali uma cidade, cujo rei será Aceste, além de
consagrar a Anquises um sacerdote e um bosque. Em seguida,
são realizados o banquete fúnebre e os sacrifícios a Érix, e
partem de Drépano.
Inquietação de Vênus e seu acordo com Netuno (versos
779-826): Inquieta com a sorte do filho, Vênus pede a Netuno
para proteger Eneias da ira de Juno. O deus a acalma e reafirma
a proteção que sempre assegurou ao herói, estabelecendo, no
entanto, que alguém dará a vida, em favor dos demais. Depois
de firmado o acordo com Vênus, Netuno, domando seus cavalos,
vai-se com o séquito de tritões rápidos, das Nereidas e de outros
habitantes do seu reino.
Morte de Palinuro e Lamento de Eneias (versos 827-871):
Os Troianos partem de Drépano com ventos favoráveis
garantidos por Netuno, que cobra o acordo firmado, enviando
Sono para enganar Palinuro. Sono adormece o piloto, que cai no
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mar e morre. Eneias, ao perceber, tardiamente, a morte de


Palinuro, lamenta que seu corpo nu vá jazer em alguma praia
desconhecida.

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Dicionário da Eneida, Livro V

Os Jogos Fúnebres a Anquises

(871 versos)

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A
Acaica (Achaica, v. 623): Relativo aos Acaios ou Aqueus. Vide
Exército Acaico.

Acarnaniano (Acarnan, v. 298): Herói epônimo dos


Acarnanianos, de cuja origem descende Sálio. A Acarnânia é uma
região que se encontra situada no Épiro, no litoral da Grécia
ocidental. Vide Sálio.

Acesta (Acestam, v. 718): Nome da cidade que será fundada na


Sicília, de que farão parte os Troianos que não acompanharão
Eneias e ali deverão ficar, sob o comando de Aceste. Vide Nauta.

Aceste (Acesten, v. 30; Acestes, v. 36; Acestes, v. 61; Acestes, v.


63; Acestes, v. 73; Acestae, v. 106; Acestae, v. 301; Acestes, v.
387; Acestes, v. 418; Acestes, v. 451; Acestes, v. 498: Acestes, v.
519; Acesten, v. 531; Acesten, v. 540; Acestae, v. 573; Aceste, v.
630; Acestes, v. 711; Acesten, v. 746; Acestes, v. 749; Acestes, v.
757; Acestae, v. 771): Troiano que vive na Sicília e que, no
contexto do Livro I, na partida de Eneias, o supriu de vinho. Neste
Livro V, Eneias refere-se a Aceste como um Troiano amigo a cujo
encontro ele vai, em fuga da tempestade. Aceste recebe Eneias
vestido com uma pele de ursa da Líbia, assistindo os amigos com
alegria. Aceste concede aos Troianos um par de bois para cada
navio. Como hospedador, ele oferece um banquete aos
Troianos. Cumprindo os ritos anunciados por Eneias, em

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Dicionário da Eneida Livro V | 35

homenagem a Anquises, Aceste cinge suas têmporas com o


mirto. Por esta passagem de início dos rituais, sabemos que
Aceste já é um homem idoso - aeui maturus Acestes (v. 73) A
fama do nome de Aceste atraiu os povos vizinhos, que se
espalham na planície para ver os Enéades e assistir aos jogos.
Dois jovens Trinácrios, Hélimos e Panopes, companheiros de
Aceste, disputam a corrida a pé. Aceste ataca com palavras
graves Entelo, instigando-o a lutar contra Dares. Entelo aceita e
apresenta as armas de Érix, os pesados cestos que o herói usara
no combate contra Hércules, mas eles são rejeitados por Dares.
Entelo decide lutar com outros cestos, desde que Aceste
aprove. A queda de Entelo leva Aceste a correr para a arena e
levantá-lo. Terminada a disputa do pugilato, Aceste, apesar da
idade, decide concorrer ao arco e flecha. Seu nome é o último a
ser sorteado. Mesmo sendo Eurítion o vencedor do certame do
arco e flecha, Aceste quer mostrar a sua destreza nessas armas
e dispara a sua flecha, que, num prodígio augural, incendeia-se
no céu. Todos se espantam com o acontecido e Eneias,
compreendendo ali a ação dos deuses, abraça Aceste, chama-o
de pai e cumula-o de presentes, dentre eles uma cratera ornada
de relevos, presente de Cisseu a Anquises, e o declara vencedor,
entregando-lhe o ramo verdejante de loureiro, planta adequada
à situação augural que se apresentou e que contempla tanto o
Apolo arqueiro, quanto o Apolo profeta. Todo o episódio, do
vocabulário aos acontecimentos, se reveste de presságios. Os
demais jovens, que não os pertencentes ao batalhão de
cavaleiros de Ascânio, montam os cavalos do ancião Aceste
(senioris Acestae, v. 573). Íris, sob as feições de Béroe, diz que a

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Sicília é o país de Érix e que Aceste acolheu os Troianos. Elas, as


mulheres troianas, deverão fazer dali a sua pátria, em lugar de
seguir viagem para a Itália. Nauta aconselha Eneias a deixar na
Sicília todos quantos seriam um estorvo na viagem à Itália. Eles
ficariam sob o comando do Dardânio Aceste, de estirpe divina
(Dardanius diuinae stirpis Acestes, v. 711), na cidade ali fundada,
Acesta. Eneias convoca Aceste e os demais para transmitir as
ordens recebidas de Júpiter e os conselhos do pai. Aceste se põe,
imediatamente, ao trabalho de organizar a nova cidade sob o seu
comando, contente de ser rei da nova cidade (Gaudet regno
Troianus Acestes, verso 757), indicando o fórum e dando as leis
aos pais da pátria por eles convocados. Funda-se, também, no
vértice do Érix, um templo a Vênus Idália e concede-se um
sacerdote ao túmulo de Anquises, bem como se lhe consagra um
grande bosque. Assim, Aceste, como rei, mostra-se civilizador,
seguindo os passos de Eneias e preenchendo duas das funções
do rei indo-europeu: o rei-sacerdote e o rei-provedor. No
momento de sua partida, Eneias recomenda ao agora rei Aceste
as mães Troianas, que em Drépano devem ficar.

Alba Longa (Longam...Albam, v. 597): Reino fundado por


Ascânio, ao norte de Roma, ao redor do Monte Albano, após a
apoteose de Eneias. Ali, Ascânio reinará por trinta anos e seus
descendentes por trezentos anos, até a fundação de Roma por
Rômulo (Eneida, Livro I, versos 265-277). Ascânio retoma a
celebração dos jogos com a apresentação de um batalhão de
cavaleiros, quando da construção dos muros de Alba Longa, e
ensina os antigos Latinos a celebrá-los, como ele próprio fizera,
desde a infância e, consigo, a juventude Troiana.
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Dicionário da Eneida Livro V | 37

Albanos (Albani, v. 600): Povos de Alba Longa, a quem Ascânio


ensina os jogos de cavaleiros apresentados por ocasião das
honras fúnebres a Anquises. Por sua vez, os Albanos ensinaram
os jogos a seus descendentes, de onde chegam a Roma, com os
jovens que se apresentam chamados Troianos e o grupo
Batalhão Troiano.

Alcides (Alciden, v. 414): Um dos nomes de Hércules, por ser


neto de Alceu. É pelo epíteto genealógico de Alcides, que Entelo
se refere a Hércules. Vide Hércules.

Amazônia (Amazoniam, v. 311): Relativo às Amazonas. Trata-


se do prêmio dado ao segundo lugar da corrida a pé: uma aljava
Amazônia (Amazoniam pharetram) cheia de flechas Trácias,
circundada por um amplo boldrié de ouro, com uma pedra
polida que um broche segura.

Âmico (Amyci, v. 373): Âmico era rei dos Bebrícios, habitantes


da região que, depois, viria a ser a Bitínia, na Ásia Menor.
Gigante, filho de Netuno, exímio pugilista, Âmico, que também
recebia o nome de Bébriz, sacrificava os estrangeiros vencidos
por ele. Posteriormente, Âmico é vencido e morto por Pólux.

Anquíseo (Anchiseo, v. 761): Relativo a Anquises. Aceste


também funda um bosque sagrado, em honra de Anquises e
concede um sacerdote para o túmulo do velho rei.

Anquises (Anchisae, v. 31; Anchisae, v. 99; Anchisa, v. 244;


Anchisae, v. 535; Anchisae, v. 537; Anchisen, v. 614; Anchisae, v.
652; Anchisae, v. 664): A referência inicial é aos portos de

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Sicanos, ou seja, a Sicília, que guarda os ossos de Anquises, pois


o velho pai de Eneias, como sabemos, morre em Drépano, cidade
litorânea da ilha (Livro III). Na chegada a Drépano, Eneias realiza
as honras fúnebres ao pai, fazendo as libações, sacrificando
animais e evocando a sua alma e os Manes reenviados do
Aqueronte. Eneias, no momento da premiação da corrida de
navios, é chamado de semente vinda de Anquises - satus Anchisa
(verso 244). Um dos presentes que Eneias dá a Aceste, por
ocasião da disputa do arco e flecha, é uma cratera ornada de
relevos, que Anquises, seu pai (Anchisae genitori, verso 537)
recebera das mãos de Cisseu. Ao fim dos jogos, um grupo de
mulheres troianas chora a perda de Anquises. Nesse momento,
Íris, insuflada por Juno, assume as feições de Béroe e incita as
mulheres troianas a buscar ali mesmo na Sicília sua Troia. Pirgo,
uma das mulheres, revela a todas que aquela que as incita à
queima das naus não é Béroe, mas uma divindade. Ela, Pirgo,
acabara de deixar Béroe doente e se lamentando por não poder
participar das honras fúnebres a Anquises. Os Troianos que se
encontram no túmulo de Anquises recebem de Eumelo a notícia
das naus incendiadas pelas mulheres. Após ouvir os conselhos
de Nauta, Eneias parece ver a imagem do pai Anquises, que
reafirmará os conselhos recebidos. O velho pai diz ao herói ali
encontrar-se pela vontade de Júpiter e que o seu filho deve
entregar-se, ocupar-se com os destinos de Troia, os fados ilíacos.
Ele deve conduzir ao Lácio apenas os jovens escolhidos, os de
coração forte, pois lá haverá uma dura raça a ser debelada. Antes
disso, Eneias deve passar no profundo Averno e, com o concurso
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da Sibila de Cumas, deverá buscá-lo para que ele saiba mais


sobre os destinos de sua raça (Livro VI). Informando melhor
Eneias, Anquises diz que o Tártaro ímpio ou suas tristes sombras
não o retêm, mas que ele habita as amenas assembleias dos pios
e os Elísios (Non me impia namque/ Tartara habent, tristes
umbrae, sed amoena piorum/ concilia Elisiumque colo, versos
733-735). Vide Aceste, Cisseu e Pirgo.

Anquisíade (Anchisiades, v. 407): Vide Eneias.


Anquises Genitor (Anchisae genitori, v. 537): Vide Anquises.
Aqueronte (Acheronte, v. 99): Um dos rios dos Infernos que as
almas deveriam atravessar para chegar a sua última morada.
Nesta passagem está como metonímia dos Infernos. Na Odisseia,
Circe aconselha Odisseus a guiar seu navio até o local onde o
Aqueronte se encontra com o Piriflegetonte e as águas que, do
Estiges, caem no Cocito (Canto X, versos 513-514). Na Eneida, a
Sibila de Cumas guia Eneias pelo Tártaro, em direção às ondas do
Aqueronte, cuja areia é vomitada no Cocito (Livro VI, versos 295-
297).

Aquilão (Aquilone, v. 2): Vento Norte, relacionado ao Grego


Bóreas (Bore/aj). Já vimos no Livro I o Aquilão ser liberado por
Éolo, para causar o naufrágio da frota de Eneias. No Livro III, os
Aquilões são anunciados como ventos glaciais de inverno (verso
285); no Livro IV, Dido recrimina Eneias por ele estar deixando-a
e preparando a partida em meio aos Aquilões, ou seja, no
inverno (verso 310). Neste Livro V, a primeira referência ao
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Aquilão mostra-o formando ondas negras (fluctus atros, verso 2)


e fazendo uma negra nuvem de chuva deter-se sobre a cabeça
de Eneias (olli caeruleus supra caput astitit imber, verso 10 - para
ele uma nuvem sombria se deteve sobre sua cabeça), trazendo a
noite e a tormenta, com a onda a eriçar-se em trevas (noctem
hiememque ferens et inhorruit unda tenebris, verso 11). É a nova
tempestade por que Eneias deve passar. Observe-se que os
versos 10 e 11 deste Livro V são a repetição dos versos 194 e 195
do Livro III, momento em que Eneias enfrenta sua segunda
tormenta no mar.

Aquiles (Achilles, v. 804): Maior herói entre todos os guerreiros


Argivos presentes em Troia, Aquiles retorna à guerra, após seu
dileto amigo Pátrocles ser morto por Heitor. A sua volta (Cantos
XIX-XXIV da Ilíada), depois de receber novas armas fabricadas
por Hefestos (Canto XVIII da Ilíada), é marcada por uma grande
carnificina, provocando grandes baixas nas tropas Troianas, a
ponto de o rio Xanto ficar com as águas vermelhas e tomado por
cadáveres, que o impedem de desaguar no Egeu. Na tentativa de
impedir massacre ainda maior ao exército Troiano, Eneias vai
desafiar Aquiles para um combate singular, em uma flagrante
desigualdade de forças e de proteção divinas, mas a intervenção
de Posídon (Netuno) é fundamental, envolvendo o herói em uma
nuvem, de modo que, não sendo visto por Aquiles, não poderá
ser morto pelo Pelida. Esses fatos são relembrados a Vênus por
Netuno, para aliviar a angústia da deusa, preocupada com o
destino do filho. Netuno vai, mais uma vez, proteger Eneias.

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Aquivos (Achiuos, v. 497): Nome genérico para designar os


Gregos. Na passagem específica, diz respeito ao episódio do
Canto IV da Ilíada, em que Pândaro despacha uma flecha contra
Menelau, que se encontra em meio às hostes Aquivas.

Arcádio (Arcadio, v. 299): Proveniente da Arcádia, no


Peloponeso, pátria de Tegeu, de quem descende Patrão. Vide
Patrão.

Argivos (Argiuom, v. 672): Um dos nomes para designar os


gregos.

Argólico (Argolico, v. 52; Argolica, v. 314): Referência à


Argólica. A primeira ocorrência diz respeito ao Mar Argólico
(vide); a segunda, a um capacete Argólico (Argolica...galea,
verso 314), prêmio ao terceiro colocado na disputa da corrida a
pé.

Ascânio (Ascanius, v. 74; Ascanio, v. 548; Ascanius, v. 597;


Ascanius, v. 667; Ascanius, v. 673): Filho de Eneias, que participa
dos rituais, cingindo também as têmporas com o mirto. Findas
as provas dos jogos, Eneias pede a Epítides que vá buscar
Ascânio para que ele se apresente com os seus batalhões, diante
do avô Anquises. As evoluções do batalhão de cavaleiros é a
iniciação dos jovens impúberes na arte da guerra. Ascânio
retoma tal celebração, quando da construção dos muros de Alba
Longa, e ensina os antigos Latinos a celebrar tais jogos, como ele
próprio fizera, desde a infância e, consigo, a juventude troiana.
Por sua vez, os Albanos ensinaram os jogos a seus descendentes,
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de onde chegam a Roma, com os jovens que se apresentam


chamados Troianos e ao grupo Batalhão Troiano. Ascânio, no
entanto, tem de paralisar as evoluções de seu batalhão, que
imitam a guerra, para ajudar a apagar o incêndio das naus
troianas, provocado pelas mulheres.

Átios Latinos (Atii...Latini, v. 568): Referência à Gens Átia,


proveniente de Átis. Vide Átis.

Átis (Atys, v. 568; Atys, v. 569): Líder do segundo batalhão de


crianças, querido de Iulo, o pequeno Átis (paruos Atys, v. 569) se
apresenta por ocasião dos jogos fúnebres em honra de Anquises.
Segundo a tradição virgiliana, a gens Átia será proveniente dele,
cujo maior expoente é a sobrinha de César, Átia, mãe de
Augusto.

Aurora (Aurora, v. 65; Auroram, v. 105): Deusa que, na


narrativa homérica, abre as portas do Oriente com seus dedos
cor de rosa. Na primeira referência, Eneias alude à nona Aurora,
momento em que os jogos fúnebres a Anquises deverão ser
iniciados. Na segunda referência, o nono dia chegou e os jogos
começam.

Ausônio (Ausonium, v. 83): Ausônia é o antigo nome da Itália.


Nas Geórgicas, Virgílio diz que os colonos da Ausônia são a raça
enviada de Troia (Ausonii, Troia gens missa, coloni – Livro II,
verso 285). A raiz *ausos é indo-europeia e significa Aurora
(DELAMARRE, 1984), o que nos leva a crer que o termo

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primitivamente se referiria à Itália oriental. Chamava-se Sicílio


ou Ausônio o mar que banha a costa oriental da Sicília.

Austros (Austris, v. 696; Auster, v. 764): Ventos Sul, violentos e


carregados de chuva, que Júpiter envia, após a súplica de Eneias,
para apagar o fogo que consome as naus troianas. Os Austros
chamam para o alto mar as naus Troianas, para nova partida,
após a civilidade imposta por Aceste. Na Torre dos Ventos, em
Atenas, o Austro corresponde ao Notos, representado por um
jovem vertendo água de uma ânfora.

Ave Armígera de Jove (praepes...Iouis armiger, v. 254-255):


A águia é a ave consagrada a Zeus/Júpiter ou Jove. De acordo
com Virgílio, Júpiter envia a águia, como seu escudeiro, para
raptar Ganimedes. Vide Menino Régio.

Avernos (Auerna, v. 732): Os Avernos ou o Averno era um lago


da Campânia, onde, habitualmente se situava a entrada para os
infernos, podendo ser tomado, metonimicamente, como o
próprio inferno. O nome é proveniente do grego a)/ornoj, que
significa sem pássaro, pois as aves que voavam sobre o lago
acabavam morrendo, por causa dos miasmas que dele exalavam.
Vide Livro VI da Eneida.

Avô (auo, v. 550; aui, v. 564): A primeira referência é a Anquises,


diante de quem Ascânio tem de se apresentar com os seus
batalhões, após o fim dos jogos fúnebres dedicados ao seu avô.
A segunda diz respeito a Príamo, rei de Troia, avô do Príamo,
filho de Polites. Vide Príamo, Filho de Polites.
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Azinheira (ilice, v. 129): Árvore da família das fagáceas, cujo


nome científico é Quercus Ilex. Eneias estabelece para os navios
um marco verde, uma azinheira frondosa, a partir do qual eles
deveriam fazer a volta.

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B
Baco (Baccho, v. 77): Frequentemente, o deus do vinho é
tomado metonimicamente como o próprio vinho, o caso desta
passagem no verso 77 - mero Baccho, um vinho puro, com que
Eneias inicia as libações dos ritos a Anquises.

Batalhão Pueril (puerile...agmen, v. 548-549): Batalhão de


cavaleiros formado por crianças, sob o comando de Ascânio, que
se apresenta diante dos mais velhos, após os jogos, durante o
ritual de celebração da alma de Anquises, em Drépano.
Enquanto eles passam para a apresentação, toda a juventude
Trinácria e Troiana se admira. Cabelos presos por uma coroa
cortada, segundo o costume; cada um portava duas lanças de
corniso com ponta de ferro; alguns portam nos ombros aljavas
polidas; acima do peito, circundando o pescoço, um colar de
ouro retorcido. O batalhão forma três tropas de cavaleiros, cada
uma das três com seus chefes, constituindo dois grupos de seis
crianças, cada qual com seu líder. A primeira tropa é liderada por
Príamo, filho de Polites, neto de Príamo, montando um cavalo
bicolor trácio com manchas brancas; a segunda tropa é liderado
por Átis, que originará os Átios do Lácio; a última tem o comando
de Iulo, montado em belo cavalo sidônio, que Dido lhe dera. Os
outros, a juventude da Trinácria, montam os cavalos do velho
Aceste. Aplaudido, o batalhão desfila orgulhoso sob os olhares
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dos pais. Sob o comando de Epítides, eles fazem várias


evoluções, dentre elas a de um combate armado, seguido da
celebração da paz. O entrelaçamento das evoluções compara-se
aos descaminhos do labirinto de Creta e a golfinhos fendendo as
ondas do mar.

Batalhão Troiano, Batalhões Troianos


(Troianum...agmen, v. 602; Troia...agmina, v. 804-805): Assim
será chamado em Roma o grupo de jovens que integra o
batalhão em apresentação, em memória dos jogos liderados por
Ascânio desde a infância. A segunda referência diz respeito a
episódios da guerra de Troia (Ilíada, Cantos XX-XXII), lembrados
por Netuno a Vênus, de modo a acalmar a angústia da deusa,
com relação ao destino do filho. Netuno se refere aos "exangues
batalhões Troianos" (Troia...exanimata...agmina, versos 804-
805), perseguidos e dizimados por Aquiles, quando este perpetra
uma carnificina sem precedentes, no seu retorno à guerra
(Ilíada, Cantos XIX-XXI), levando à morte muitos milhares (milia
multa daret leto, verso 806). Vide Aquiles.

Batalhões dos Teucros (agmina Teucrum, v. 675): Batalhão


dos Troianos, que se apressa a ir ajudar a apagar o incêndio das
naus.

Bebrícia (Bebrycia, v. 373): Relativo a Bébriz, outro nome de


Âmico, que reinava sobre os Bebrícios, nome dado aos
habitantes do que depois viria a ser a Bitínia, na Ásia Menor. Vide
Âmico.

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Béroe (Beroe, v. 620; Beroe, v. 646; Beroen, v. 650): Anciã


esposa de Dóriclos, cuja forma é assumida por Íris, para
conclamar as mulheres troianas a permanecer na Sicília, sob o
argumento de já terem suportado muitas provações, ao longo
dos quase oito anos, desde a saída de Troia. Béroe tivera,
antigamente, família, nome e filhos, que se juntam às mães dos
dardânidas. Possivelmente, Béroe casou no Épiro, depois de ter
acompanhado Heleno na fuga de Troia. Pirgo revela às mulheres
troianas que aquela que se faz passar por Béroe é, na realidade,
uma divindade, pois ela acabara de deixar a verdadeira Béroe
doente, lamentando-se por não poder participar das honras
fúnebres a Anquises. Troiana, Béroe é chamada por Pirgo de “a
Reteia, esposa de Dóriclos”. Vide Íris.

Bom Eneias (bonus Aeneas, v. 770): Um dos epítetos de Eneias.


Assim Virgílio se refere ao herói, quando ele consola as mães
Troianas que haverão de ficar em Drépano, recomendadas a
Aceste.

Butes (Buten, v. 372): Herói derrotado por Dares, por ocasião


dos jogos fúnebres em honra a Heitor – funerais apenas
referidos, como fechamento da Ilíada, no Canto XXIV. Butes
tinha a pretensão de ser da raça Bebrícia de Âmico. Vide Âmico
e Dares.

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C
Campos Sículos (Siculis...aruis, v. 702): Campos da Sicília,
onde Eneias cogita ficar, depois do incêndio ocorrido com as
naus.

Carpátio (Carpathium, v. 595): Referência às águas que


banham a ilha de Cárpatos, no Mar Egeu, situada entre Creta e
Rodes, citadas quando os jovens do batalhão de cavaleiros,
liderados por Ascânio, fazem as evoluções da apresentação,
comparados aos golfinhos que fendem as ondas dos mares
Carpátio e Líbico.

Carvalho (robore, v. 681; robora; 698; robora, v. 753): Madeira


de que são feitas as naus, proveniente de um carvalho muito
duro, o robur ou robor, roboris. Jacques André diz que se atribuiu
o nome robus, “vermelho”, devido à cor dos veios dessa
madeira, embora sua cor, um marrom tênue, seja mais clara do
que os outros carvalhos. Talvez fosse melhor explicar esse nome
por causa de sua folhagem, única, entre todos os demais
carvalhos, que conserva a tonalidade ruiva do outono à
primavera (2010, p. 218). Às vezes o termo é tomado
metonimicamente como nau, outras vezes como a madeira da
nau.

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Casa Sérgia (domus...Sergia, v. 121): Linhagem de família


romana, proveniente de Sergesto. Vide Sergesto.

Cassandra (Cassandrae, v. 636): Cassandra é filha de Príamo,


profetisa de Apolo. Íris, sob as feições de Béroe, diz ter visto a
imagem de Cassandra, que lhe estendia tochas, para que
queimassem as naus e, assim, permanecessem na Sicília,
alegando que as mulheres troianas procurassem Troia ali. O
próprio deus Netuno, com seus quatro altares, havia fornecido
as tochas e a vontade.

Cauros (Cori, v. 126): Ventos do noroeste que, segundo Virgílio,


no inverno escondem os astros. Na Torre dos Ventos, na Ágora
Romana de Atenas, o vento equivalente ao Cauros é o Kaikias
(Kaiki/aj).

Cavalos de Faetonte (Phaethontis equi, v. 105): Alusão aos


cavalos do carro do Sol, que, liberados das portas do oriente pela
Aurora, iluminam o mundo. Também encontra-se aí a alusão ao
mito de Faetonte, o desventurado filho de Febo, que guia
desastradamente o carro do Sol, em lugar do pai. Vide Faetonte.

Centauro (Centauro, v. 122; Centaurus, v. 155; Centaurus, v.


157): Navio comandado por Sergesto, na disputa dos jogos
fúnebres a Anquises. O grande Centauro, vindo após os navios
de Gias e de Cloanto, disputa acirradamente com o Prístis.

Cidade Acesta (urbem...Acestam, v. 718): Vide Acesta.


Cila (Scylla, v. 122): Navio comandado por Cloanto, na disputa
dos jogos fúnebres a Anquises.
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Cimodoce (Cymodoce, v. 826): Nereida do séquito de Netuno,


citada por Hesíodo (Teogonia, verso 252).

Cisseu (Cisseus, v. 537): Rei Trácio, pai de Hécuba, citado por


Eneias no momento em que o herói presenteia Aceste com uma
cratera que Cisseu havia dado de presente a Anquises.

Citereia (Cytherea, v. 800): Um dos epítetos de Vênus, tendo


em vista que, segundo Hesíodo, ela aportou, após o seu
nascimento no mar, na ilha de Citera (Teogonia, versos 192 e
195-198). Tanto Júpiter (Livro I, versos 257 e 657), quanto
Netuno a ela se dirigem com esse epíteto. Nessa passagem,
Netuno é bem explícito sobre a origem marinha de Vênus ao
confirmar que ela está certa em ter confiança em seu reino, de
onde ela traz as suas origens – “Fas omne est, Cytherea, meis te
fidere, regnis,/ unde genus ducis” (versos 801-802).

Cloanto (Cloanthus, v. 122; Cloanthus, v. 152; Cloanthum, v.


167; Cloanthus, v. 225; Cloanthus, v. 233; Cloanthum, v. 245):
Um dos companheiros de Eneias, comandante do Cila, que
disputa o prêmio de velocidade, por ocasião dos jogos fúnebres
a Anquises. Cloanto é originador do Romano Cluêntio. No
começo da competição, Cloanto segue de perto Gias, que
começa a se destacar dos demais. É o peso do seu navio que o
retarda. Por causa de uma manobra errada de Menetes, piloto
de Gias, Cloanto toma a dianteira da disputa, sendo atacado de
perto por Mnesteu, após o encalhe de Sergesto e a falta de piloto
de Gias. Cloanto faz uma prece aos deuses marinhos,
prometendo-lhes o sacrifício de um touro brilhante (candentem
taurum, v. 236) em seus altares, cujas entranhas serão lançadas
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no mar, e libações, se vencer a prova. Suas preces são ouvidas


pelas Nereidas, Forcos, Panopeia e Portuno, que o fazem chegar
em primeiro ao porto. Cloanto é proclamado vencedor e tem a
cabeça cingida por um ramo verde de loureiro, recebendo como
prêmio uma clâmide de ouro, com a representação do rapto de
Ganimedes.

Cluêntio (Cluentius, v. 123): Romano cuja origem remonta a


Cloanto. Vide Cloanto.

Companheiros Heitóreos (Hectorei socii, v. 190): Os


Troianos da tripulação de Mnestheu, assim por ele chamados
para exortá-los a vencer a disputa da corrida dos navios.

Corníseas (Cornea, v. 557): Do corniso. As duas lanças, que


cada um dos meninos do batalhão de Ascânio portavam, eram
de corniso, com pontas de ferro. O corniso (cornu mas) é árvore
pequena ou arbusto com folhas vermelhas outonais, de fruto
comestível (ANDRÉ, 2010). Sua madeira era tão propícia para a
fabricação de lanças que corniso, metonimicamente, passa a ter
o sentido dessa arma.

Coro das Nereidas (Nereidum...chorus, v. 240): Vide


Nereidas.

Creta (Creta, v. 588): Ilha do Mar Egeu, regida por Minos, que
mandou construir um labirinto pelo arquiteto Dédalo, de modo
a esconder o Minotauro, filho de sua esposa Pasífae com um
touro (vide Labirinto). Virgílio a chama Creta alta, com o sentido
de montanhosa.

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Criniso (Criniso, v. 38): Rio da Sicília, pai de Aceste. Seu curso se


situa no noroeste da Sicília, subindo de Alícia em direção a
Segesta, para desaguar no Mar Tirreno.

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D
Dânaos (Danais, v. 360): Relativo aos Dânaos, termo genérico
para designar os Gregos, oriundo de Dânaos, ancestral que
emigrara da Líbia para o Peloponeso, acompanhado de suas
filhas, as Danaides. O escudo que Eneias presenteia a Niso, obra
de Didimáon, havia sido arrancado pelos Dânaos do umbral
sagrado de Netuno, por ocasião da tomada de Troia.

Dárdana (Dardana, v. 119): O mesmo que Dardânios ou


Dardânidas. Troianos. Vide Juventude Dárdana.

Dardânio Aceste (Dardanium... Acesten, v. 30; Dardanius...


Acestes, v. 711): Vide Aceste.

Dardânidas (Dardanidae, v. 45; Dardanidae, v. 386;


Dardanidae, v. 576; Dardanidum, v. 622): Os Troianos,
descendentes de Dárdanos.

Dardânio (Dardanium, v. 30; Dardanium, v. 711): Descendente


de Dárdanos, troiano. Os dois patronímicos se referem a Aceste.
Vide Aceste.

Dares (Dares, v. 369; Dares, v. 375; Dares, v. 406; Dares, v. 417;


Daren, v. 456; Dareta, v. 460; Dareta, v. 463; Dareta, v. 476;
Daretis, v. 483): Troiano de grande estatura, que se apresenta,
altivo, como primeiro combatente no pugilato. Em Troia, havia
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sido o único que ousara enfrentar Páris, e havia derrotado Butes,


até então invencível, perto do túmulo de Heitor, por ocasião dos
jogos fúnebres do herói. Não aparecendo, de início, ninguém
que ouse enfrentá-lo, Dares orgulhosamente reivindica o prêmio
a Eneias, sendo apoiado pelos Dárdanos. Ao ver os cestos
lançados por Entelo, em desafio, Dares espanta-se e recusa o
combate com os cestos. Iniciado o combate, Dares tem a seu
favor a juventude e o jogo de pernas, mas não logra resultado
em vencer Entelo. A queda de Entelo não lhe retira o vigor. Dares
leva sucessivos golpes do adversário, sem conseguir atingi-lo.
Eneias tem de intervir, retirando Dares, exausto, do combate,
consolando-o e dizendo que os deuses mudaram de campo e
ficaram ao lado de Entelo. Dares é levado pelos companheiros,
cuspindo sangue, em mistura com dentes, cabeça bamboleante,
e recebe como prêmio o capacete e a espada. A demonstração
de força de Entelo, matando com um murro o touro que recebeu
de prêmio, tem o sentido de consagrar a Érix a vida do touro, em
lugar da vida de Dares, que, retirado do combate, foi poupado
por Eneias.

Demoleu (Demoleu, v. 260; Demoleus, v. 265): Herói Grego,


cuja couraça é tomada por Eneias, como prêmio de guerra, em
Troia, às margens do Simois.

Deus (Deus, v. 854): Referência a Sono, filho da Noite (Teogonia,


versos 211-212).

Deusa (dea, v. 657; v. 816): No verso 657, a palavra se refere a


Íris; já no verso 816, a referência é a Vênus.

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Dicionário da Eneida Livro V | 55

Didimáon (Didymaonis, v. 359): Artesão Troiano que fabricou


um belo escudo, dado por Eneias de presente a Niso, em
compensação pelo fato de o jovem ter escorregado em sangue
e em excrementos, tendo perdido a disputa da corrida a pé.

Dido (Dido, v. 571): Rainha de Cartago, que se apaixona por


Eneias e se mata, quando o herói tem de deixá-la, para poder
cumprir o seu destino. A brilhante Dido (candida Dido, v. 571)
presenteia Iulo com um cavalo sidônio, com que o menino se
apresenta por ocasião das honras fúnebres a Anquises. Vide
Dido, nos Livros I e IV.

Dite (Ditis, v. 731): Deus dos infernos, entre os Latinos, também


conhecido como Plutão. O equivalente a Hades, para os Gregos.
Antes de chegar ao Lácio, Eneias deve ir às moradas de Dite, pelo
alto Averno, e encontrar-se com o pai.

Diores (Diores, v. 297; Diores, v. 324; Diores, v. 339; Diores, v.


345): Régio Troiano da egrégia estirpe de Príamo (regius egregia
Priami de stirpe Diores, verso 297), que disputa a corrida a pé,
nos jogos fúnebres em honra a Anquises. Diores, que vem logo
atrás de Hélimo, no início da corrida, acaba ficando com o
terceiro lugar. Diores, diante dos protestos de Sálio, fica ao lado
de Euríalo, garantindo assim seu prêmio de terceiro lugar.

Domador do Mar Profundo (domitor maris...alti, v. 799):


Um dos epítetos de Netuno, por sua condição de deus que tem
o mar como domínio. Vide Netuno.

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Milton Marques Júnior | 56

Dóriclos (Dorycli, v. 620; Dorycli, v. 647): Esposo de Béroe,


forma assumida por Íris entre as mulheres troianas. Dóriclos é
originário de Tmaros no Épiro, daí o epíteto de Béroe – esposa
longeva de Dóriclos de Tmaros (Beroe, Tmarii coniunx longaeua
Dorycli, verso 620).

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Dicionário da Eneida Livro V | 57

E
Elísio (Elysium, v. 735): Os Campos Elísios eram o lugar para
onde iam os heróis e os homens melhores, premiados com uma
vida amena pelos deuses, após a morte. É onde se encontra
Anquises, em sua aparição a Eneias. O velho herói diz ao filho
que o Tártaro ímpio ou suas tristes sombras não o retêm, mas
que ele habita as amenas assembleias dos pios e os Elísios (Non
me impia namque/ Tartara habent, tristes umbrae, sed amoena
piorum/ concilia Elisiumque colo, versos 733-735). É a partir
dessa visão dos Elísios como lugar ameno, que se institui o
sentido do locus amoenus caro ao Arcadismo. Vide Livro VI da
Eneida.

Elissa (Elissae, v. 3): Elissa ou Alissa é o nome Fenício de Dido.


Como já observamos nos Livros I e IV, a rainha tem sua tragédia
anunciada pelo epíteto de infeliz e misérrima (infelicis Elissae,
neste Livro V; infelix Phoenissa, Livro I, versos 712-714, e infelix
Dido, verso 749; infelix Dido, no Livro IV, nos versos 68, 450 e
596; miserrima Dido, Livro IV, verso 117). Ao partir, Eneias vê as
muralhas de Cartago que se iluminam com as chamas (moenia
quae iam infelicis Elissae/ conlucent flammis, versos 3-4).
Sabemos tratar-se da pira que consome o corpo de Dido, mas
não nos parece forçado ver aí uma antecipação da destruição de

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Cartago por Roma, na última Guerra Púnica (164-146 a. C.); Vide


Guerras Púnicas (Livros I e IV).

Enéades (Aeneadas, v. 108): Designação aos Troianos que


acompanham Eneias. Os povos vizinhos a Aceste acorrem à
planície, desejosos de ver os Enéades e de assistir aos jogos em
honra a Anquises.

Eneias (Aeneas, v. 1; Aenea, v. 17; Aeneas, v. 26; Aeneas, v. 44;


Aeneas, v. 90; Aeneas, v. 129; Aeneas, v. 282; Aeneas, v. 286;
Aeneas, v. 303; Aeneas, v. 348; Aeneae, v. 381; Aeneae, v. 418;
Aeneas, v. 461; Aeneas, v. 485; Aeneas, v. 531; Aeneas, v. 545;
Aeneas, v. 675; Aeneas, v. 685; Aeneas, v. 700; Aenean, v. 708;
Aeneas, v. 741; Aeneas, v. 755; Aeneas, v. 770; Aeneas, v. 804;
Aenean, v. 809; Aeneae, v. 827; Aenean, v. 850): Eneias lança-se
ao mar, partindo de Cartago, em busca de seu destino, vendo as
muralhas da cidade iluminadas pelo fogo, sem saber a causa. Um
dos epítetos de Eneias, que revelam a sua piedade, é
Magnânimo Eneias (Magnanime Aenea, verso 17), como
Palinuro a ele se dirige, para mostrar sua preocupação com a
tormenta que se avizinha. Eneias também é chamado de Piedoso
(pius Aeneas, verso 26), o principal dos seus epítetos. É assim
que o herói, numa demonstração de sua piedade, aconselha a
Palinuro a seguir os ventos e ir em direção a Drépano, terra que
guarda o Dardânio Aceste e que encerra em seu íntimo os ossos
de Anquises, seu pai (quae Dardanium tellus mihi seruat
Acesten/ et patris Anchisae gremio complectitur ossa? - versos
30-31). Ao chegar em Érix, Eneias, recebido por Aceste, fala aos
companheiros e lembra que já se passou um ano da morte do

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Dicionário da Eneida Livro V | 59

pai, afirmando que nada seria obstáculo para as honrarias a


Anquises: as sirtes Getúlias, o mar da Argólica ou a cidade de
Micenas. Eneias concita a todos a celebrar as honras a Anquises,
pedindo-lhe ventos favoráveis e que ele possa conceder-lhe
oferecer anualmente as cerimônias em sua memória, na cidade
por ele a ser fundada e nos templos consagrados. Iniciando os
ritos, Eneias pede silêncio piedoso a todos, que todos cinjam as
têmporas com o mirto de sua mãe, e realiza as libações – vinho
puro, leite fresco e sangue sagrado. Em seguida, após jogar flores
purpúreas no túmulo, Eneias faz a saudação ao pai venerável, às
cinzas, almas e sombras de Anquises, lamentando não lhe ter
sido concedido atingir as terras de Itália e o Tibre Ausônio
consigo. Mal terminara de falar, Eneias vê, saindo do fundo do
santuário, uma grande serpente estirando seus sete círculos,
abraçando placidamente o túmulo e deslizando pelos altares.
Eneias, espantado, vê a serpente banquetear-se nos pratos
sagrados e voltar para o túmulo, deixando os altares. O herói
retoma os ritos e sacrifica duas ovelhas, dois porcos e dois jovens
touros de dorso negro, vertendo o vinho nas pateras, evocando
a alma de Anquises e os manes reenviados do Aqueronte.
Conclamando todos para o início dos jogos, Eneias estabelece o
marco da corrida das naus, a primeira prova a ser realizada.
Nesse momento, o herói já aparece com um dos seus mais
importantes epítetos - pater Aeneas (versos 129-130). Eneias
proclama Cloanto vencedor da corrida, coroando sua cabeça
com um ramo verde de loureiro e distribui os prêmios (numa
estrutura de ablativo, Eneias é chamado de semente vinda de
Anquises - satus Anchisa, verso 244): para cada navio, três

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novilhos a escolher, vinho e um talento de prata; aos capitães,


Eneias dá honras especiais: ao vencedor, uma clâmide de ouro,
em cujo tecido encontra-se a representação do rapto de
Ganimedes por Zeus. O segundo lugar recebeu uma couraça de
tripla espessura de malhas, em ouro polido, prêmio de guerra
conquistado por Eneias ao Grego Demoleu, em Troia. Para o
terceiro lugar, Eneias distribuiu duas bacias de bronze e vasos de
prata com figuras em relevo. Ao último lugar, Sergesto, Eneias
dá como prêmio Foloé, uma escrava cretense, com os dois filhos
que amamenta. Terminada a corrida de navios, o piedoso Eneias
(pius Aeneas, verso 286) dirige-se a um campo gramado e de sua
tribuna convoca os heróis para a disputa da corrida a pé. Teucros
e Sicanos correm de todos os lugares para participarem da
disputa. Falando aos companheiros, Eneias promete além dos
prêmios comuns a todos – um par de dardos Cnóssios e uma
bipene –, prêmios aos três primeiros colocados, que também
terão a cabeça cingida com um ramo dourado de oliveira. Ao
primeiro lugar, um cavalo ornado; ao segundo, uma aljava
amazona cheia de setas trácias; ao terceiro, um capacete
argólico. Diante das reivindicações de Sálio, Eneias, tratado
como pater optimus (verso 358), garante os prêmios dados aos
vencedores e decide também premiar Sálio com a pele de um
leão da Getúlia e Niso com um escudo, obra de Didimáon. Eneias
convoca os heróis para a próxima disputa: o pugilato. Ao
primeiro lugar caberá um touro ornado de fitas douradas; ao
segundo, um capacete e uma espada. Eneias sente a altivez de
Dares, que, sem concorrente que se apresente para a disputa do
pugilato, reivindica para si o primeiro prêmio. Com o desafio

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inesperado de Entelo, incitado por Aceste, Eneias intervém,


examinando os imensos cestos que pertenceram a Érix, e que ele
usara na luta contra Hércules, motivo de espanto a todos,
inclusive a Dares, que se recusa ao combate. Eneias, como
magnânimo, pio e pai nascido de Anquises (magnanimus
Anchisiades, v. 407; pio Aeneae, v. 418; satus Anchisa pater, v.
424), iguala o combate entre Dares e Entelo, rejeitando aos
cestos de ambos e cobrindo as mãos de cada um com cestos de
igual peso. Eneias, mais uma vez como pai (pater Aeneas, v. 461),
tem de intervir, retirando Dares, exausto, do combate,
consolando-o e dizendo-lhe que os deuses mudaram de campo
e ficaram ao lado de Entelo. O herói, então, conclama os
companheiros aos jogos do arco e flecha, anunciando os
prêmios. Os concorrentes deverão acertar uma pomba no voo,
atada a um mastro levantado por Eneias. Tirada a sorte, os
concorrentes são, pela ordem, Hipocoonte, Mnesteu, Eurítion e
Aceste. No final da disputa, depois que Eurítion traspassa a
pomba com sua flecha, Aceste quer mostrar a sua destreza
nessas armas. Ao lançar sua seta, ela se incendeia e Eneias,
chamado na ocasião de máximo (maximus...Aeneas, v. 530-1),
compreende ali o augúrio, vindo da vontade de Júpiter.
Prontamente, o herói o aceita e cumula Aceste de presentes,
declarando-o vencedor do certame. Acabados os jogos, Eneias
pede a Epítides para chamar Iulo e seu batalhão de cavaleiros
para uma exibição diante do avô Anquises. Com o incêndio das
naus, Eneias se apressa a apagá-lo, ajudado pelos batalhões dos
Teucros. Exercendo a sua condição de pio, Eneias clama aos
deuses e suplica a Júpiter onipotente que, em nome da antiga

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piedade (pietas antiqua, verso 688), ele apague o fogo das naus
troianas ou que fulmine todos com seu raio. O pai Eneias (pater
Aeneas, verso 700), diante do acontecido, inquieta-se com a
possibilidade de cumprimento ou não do destino. Ficaria nos
campos sículos ou buscaria atingir as margens ítalas? O idoso
Nautes alivia a inquietação do herói, aconselhando-o a deixar na
Sicília os velhos, as mulheres cansadas do mar, os inválidos e os
tementes ao perigo. Eles ficariam aos cuidados de Aceste,
fazendo parte da nova cidade ali construída, Acesta. Os demais
partiriam com o herói em busca da terra anunciada pelos deuses,
a Itália. Eneias, em meio ao sono, parece ver a imagem de
Anquises, que reafirma os conselhos de Nautes e lhe diz para,
antes de atingir o Lácio, passar no Averno e buscar entrevistar-
se com ele, sendo conduzido pela Sibila, após o sacrifício de
animais de pelo negro. Eneias convoca Aceste e os demais para
transmitir as ordens recebidas de Júpiter e os conselhos do pai,
e enquanto Aceste se põe, imediatamente, ao trabalho de
organizar a nova cidade sob o seu comando, Eneias traça os
limites da urbe com o arado e sorteia as casas do que ali ficarão.
Sob o seu comando, a cidade será Ílium e os locais Troia (hoc
Ilium et haec loca Troiam esse iubet, verso 755-756). Tal atitude
só confirma o caráter de mito civilizador e fundador de Eneias
(vide as cidades que ele funda, no Livro III, e como ele ajuda Dido
na construção de Cartago, no Livro IV). Após ajudar na
construção da civilização em Drépano, Eneias parte em busca de
seu destino, consolando as mães Troianas, que haverão de ficar
na Sicília, por ele recomendadas ao agora rei Aceste. Eneias,
antes de partir, preside os sacrifícios a Érix e às Tempestades,

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Dicionário da Eneida Livro V | 63

mandando matar, respectivamente, três novilhos e uma ovelha


jovem, e, de pé, na proa do navio, com a testa cingida por um
ramo de oliva, ele derrama o claro vinho e joga, nas ondas, as
entranhas (exta) dos animais sacrificados. Vênus, preocupada
com o destino de Eneias, demonstra a sua angústia a Netuno,
que lhe relembra fatos acontecidos durante a guerra de Troia,
quando protegeu Eneias, que se lançara contra Aquiles, na
tentativa de deter a matança do Pelida. O deus o envolveu em
uma nuvem, de modo que, não sendo visto por Aquiles, Eneias
não foi morto, tendo sido preservado o seu destino de fundador
de uma grande nação (Ilíada, Canto XX). Eneias dá, então, velas
ao vento e parte de Drépano, em busca do Lácio. Com a morte
de Palinuro, de que Eneias se dá conta com o navio, já sem o
piloto, passando próximo ao rochedo das Sereias, aproxima-se o
fim da errância do herói, tendo em vista que o termo da sua
viagem é o Lácio, que ele encontrará no Livro VI.

Entelo (Entellum, v. 387; Entelle, v. 389; Entellus, v. 437;


Entellus, v. 443; Entellus, v. 446; Entellum, v. 462; Entello, v. 472):
Herói Trinácrio, atacado gravemente por Aceste com palavras e
instigado a disputar o pugilato contra Dares. Entelo, aceitando o
combate, joga em meio ao certame os cestos que pertenceram
a Érix, espantando a todos. Tratava-se de um par de cestos bem
pesados, atados ao braço por duras correias de couro; sete
enormes couros de boi enrijecidos com o ferro e com o chumbo
costurados dentro. Eneias examina os cestos e Entelo lhe diz que
seu próprio irmão (de Eneias), Érix, os usara, no combate contra
Hércules. Entelo, abrindo mão dos cestos, os remete a Érix e, por
sua vez, Eneias iguala o combate entre Dares e Entelo, cobrindo
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as mãos de cada um com cestos de igual peso. Começado o


combate, Entelo tem a seu favor sua musculatura e seu peso,
embora seja lento. Entelo permanece imóvel, pesado,
esquivando-se dos golpes de Dares com um simples jogo de
corpo e com vigilância. Errando um golpe, de que se esquiva
Dares, Entelo cai pesadamente por terra. Levantado por Aceste,
a queda não lhe tira o ânimo, que retorna ao combate com mais
ânimo, tendo o vigor atiçado pela ira, pela virtude e pelo pudor.
Ele bate em Dares, redobrando os golpes, enquanto dele se
esquiva. Eneias interrompe o ânimo de Entelo e evita um
massacre maior a Dares, que sai cambaleante, apoiado nos
braços dos companheiros. Vencedor, Entelo recebe com orgulho
o primeiro prêmio, o touro e a palma. Entelo dirige-se a Eneias e
aos Teucros, no sentido de mostrar de que tipo de morte Dares
foi poupado. Dando demonstração de sua força, Entelo abate o
touro, que ganhou, lançando os cestos na cabeça do animal e
esfacelando seus ossos e, em seguida, ele o oferece a Érix, em
lugar da vida do adversário. Ao mesmo tempo, o herói depõe os
cestos e a arte de lutar.

Eólias (Aeoliis, v. 791): Referentes a Éolo, senhor dos Ventos.


Alusão de Vênus às procelas eólias do Livro I, que desviam Eneias
do seu destino, o Lácio, e o jogam nos litorais líbicos.

Epítides (Epytiden, v. 547; Epytides, v. 579): Companheiro e


guardião de Iulo, a quem Eneias pede para chamar o filho, de
modo que o jovem se apresente com o seu batalhão de
cavaleiros. Sob o comando de Epítides, o batalhão faz várias
evoluções, dentre elas a de um combate armado, seguido da

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celebração da paz. Epítides é filho de Epítus, escudeiro de


Anquises.

Ericino (Erycino. v. 759): Relativo ao monte Érix. É no vértice


ericino que Aceste funda um templo para Vênus Idália. Vide Érix
e Aceste.

Erimanto (Erymantho, v. 448): Montanha no norte da Arcádia,


célebre pela caçada do javali de Erimanto, um dos doze trabalhos
de Hércules. Entelo, caindo pesadamente ao solo, ao errar um
golpe contra Dares, é comparado à queda de um pinheiro no Ida
ou em Erimanto.

Érix (Erycis, v. 24; Eryx, v. 391; Eryx, v. 402; Eryx, v. 412; Erycis,
v. 419; Eryx, v. 483; Erycis, v. 630; Eryci, v. 772): O monte Érix,
situado na Sicília ocidental, tem o seu nome proveniente de Érix,
rei da Sicília, morto por Hércules. Após sua morte, erigiu-se um
templo para Vênus, no monte, em cujo sopé se construiu uma
cidade que também tomou o nome do herói; cidade próxima a
Drépano, onde morre Anquises. Sobre Érix ou Érice relata-nos
Robert Graves o seguinte: “Certa vez, para fazer ciúmes a Adônis,
Afrodite passou várias noites em Lilibeu com o argonauta Butes,
com quem teve o filho Érice, que se tornou rei da Sicília”
(GRAVES, 2008, p. 86). O que se sabe a respeito de Butes, em
primeira mão, é que, atraído pelas Sereias, ele se joga ao mar,
mas é salvo por Afrodite, que o estabelece no Cabo Lilibeu, na
Sicília. Neste Livro V da Eneida, Palinuro saúda as margens
fraternas de Érix (litora fraterna Erycis, versos 23-24), que
acolherão os Troianos, protegendo-os contra a tempestade. Érix
é citado por Aceste como um deus da Trinácria (Sicília), mestre
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de Entelo, cuja fama se espalha por toda a ilha. É uma maneira


de instigar Entelo a lutar contra Dares. Érix é tratado por Entelo
como irmão de Eneias, pois ambos são filhos de Vênus. Na luta
contra Hércules, usando os cestos, que agora pertencem a
Entelo, Érix é morto. Após o combate de Entelo contra Dares,
terminado com a intervenção de Eneias, para poupar a vida de
Dares, Entelo abate o touro, seu prêmio, com os punhos
protegidos pelos cestos, oferece aquela vida a Érix, em lugar da
vida do adversário, e depõe os cestos, abandonando a arte da
luta. Íris, sob as feições de Béroe, diz que a Sicília é o país de Érix
e que Aceste acolheu os Troianos. As mulheres troianas, deverão
fazer dali a sua pátria, em lugar de seguir viagem para a Itália.
Eneias, antes de partir, preside os sacrifícios a Érix e às
Tempestades, mandando matar, respectivamente, três novilhos
e uma ovelha jovem, e, de pé, na proa do navio, com a testa
cingida por um ramo de oliva, ele derrama o claro vinho e joga
as entranhas dos animais sacrificados nas ondas.

Esposa de Dóriclo (coniunx...Dorycli, v. 620; Dorycli coniunx,


v. 647): Vide Béroe e Dóriclos.

Estiges (Stygia, 855): Filha de Palas e Oceano, de cujo fluxo ela


constitui a décima parte, Estiges é a primeira das divindades a
ficar do lado de Zeus, na sua luta contra os Titãs, fazendo-se
acompanhar de seus quatro filhos: Zelo, Vitória, Poder e
Violência. Zeus a honrou com grandes dons e tornou-a o grande
juramento dos deuses, o mega orko (Teogonia, v. 383-403).
Detestada pelos imortais, Estiges é água imperecível, como rio
dos infernos (Teogonia, v. 775-806). Na Eneida, diante da

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Dicionário da Eneida Livro V | 67

relutância de Palinuro em ficar no leme da nau capitânea, Sono


toma um ramo ensopado com o orvalho do Letes e de sonífero
pela força do Estiges, e o sacode nas duas têmporas de Palinuro,
de modo a provocar-lhe sonolência. V. Palinuro.

Eumelo (Eumelus, v. 665): Eumelo é quem anuncia, aos que se


encontram no túmulo de Anquises, o incêndio das naus pelas
mulheres troianas.

Euríalo (Euryalus, v. 294; Euryalus, v. 295; Euryalus, v. 322;


Euryalum, v. 323; Euryali, v. 334; Euryalus, v. 337; Euryalum, v.
343): Jovem Troiano, insigne pela beleza e pela viçosa juventude
(Euryalus forma insignis uiridique iuuenta, verso 295), amigo de
Niso. Euríalo participa da corrida a pé, nas disputas dos jogos
fúnebres, em honra a Anquises, inicialmente se postando em
terceiro lugar, mas vencendo-a com a ajuda do amigo Niso. A
história do amor que liga os dois amigos até a morte será objeto
do Livro IX da Eneida. Diante da reivindicação de Sálio, alegando
ser merecedor da vitória, pois dela foi afastado pelo dolo de
Niso, Euríalo tem seus defensores.

Eurítion (Eurytion, v. 495; Eurytion, v. 514; Eurytion, v. 541):


Eurítion, irmão de Pândaro, é o terceiro a ser sorteado para a
disputa do arco e flecha. Eurítion, vendo a pomba livre após o
tiro de Mnesteu, de pronto atira a sua flecha, não antes de fazer
uma prece ao irmão, Pândaro. Sua flecha atinge a ave sob uma
nuvem, que cai inerte no chão. Diante do augúrio que se vê com
a flecha atirada por Aceste, Eurítion, com atitude nobre, aceita
que Eneias declare aquele vencedor do certame de arco e flecha,

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mesmo sendo ele, Eurítion, o único a acertar a pomba e a matá-


la. Vide Pândaro.

Exército Acaico (manus...Achaica, v. 623): Exército grego, que


lutou na guerra de Troia. Íris, tendo assumido a forma de Béroe,
lamenta que o exército grego não tenha matado todos, quando
da destruição de Troia. Teria sido melhor morrer no solo da
pátria, defendendo-a, do que continuar uma vida de sofrimento
e errância, como a que estão levando já há oito anos.

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F
Fados Ilíacos (Iliacis...fatis, v. 725): A imagem de Anquises
aparece a Eneias, para dizer-lhe estar ali pela vontade de Júpiter
e que o seu filho deve entregar-se à ocupação com os destinos
de Troia, os fados ilíacos. Ele deve conduzir ao Lácio apenas os
jovens escolhidos, os de coração forte, pois lá haverá uma dura
raça a ser debelada. Antes disso, Eneias deve passar no profundo
Averno e, com o concurso da Sibila de Cumas, deverá buscá-lo
para que ele saiba mais sobre os destinos de sua raça.

Faetonte (Phaethontis, v. 105): Faetonte, filho de Febo, que lhe


concedera um desejo para provar a sua paternidade, antes de
saber o que o jovem ia lhe pedir. O jovem pede-lhe para guiar o
Carro do Sol. Diante da fraqueza das mãos de Faetonte, ao
segurar as rédeas, os cavalos desembestam e ora queimam a
terra, ora a tornam gélida, segundo se aproximam ou dela se
afastam demais. Júpiter o fulmina com seus raios, antes que haja
uma ruína maior. O mito está narrado por Ovídio nos Livros I
(versos 747-779) e II (versos 1-346) das Metamorfoses.

Fegeu (Phegeus, v. 263): Fâmulo de Eneias, que, juntamente


com Sagaris, porta, com dificuldade, a couraça que pertencera a
Demoleu, para entregar ao segundo colocado na corrida de
navios.

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Filho (Nate, v. 724; nate, 725; nate, v. 733): Tratamento de


Anquises a Eneias. Vide Eneias.

Filho de uma Deusa (Nate dea, v. 383; Nate dea, v. 474; Nate
dea, v. 709): Um dos epítetos de Eneias, por ser filho de Vênus.

Filhos dos Teucros (Teucrum nati, v. 592): Referência aos


jovens componentes do batalhão de crianças, liderados por
Iulo/Ascânio, que se apresentam por ocasião das honras
fúnebres a Anquises, em Drépano.

Foloé (Pholoe, v. 285): Serva Cretense, conhecedora dos


trabalhos de Minerva, dada por Eneias a Sergesto, como prêmio,
juntamente com os dois filhos que amamenta.

Forbas (Phorbanti, verso 842): Forbas foi um dos filhos de


Príamo, morto por Menelau (GAFFIOT, 2000). O deus Sono toma
a sua forma, para convencer Palinuro a soltar o leme e dormir.
Como Palinuro rejeita a proposta, Sono faz o piloto ficar
sonolento, cair no mar e morrer. Sua morte salva os seus
companheiros. V. Palinuro e Sono.

Forcos (Phorci, v. 240; v. 824): Divindade marinha do cortejo de


Netuno. Forcos é filho do Mar e da Terra, segundo Hesíodo
(Teogonia, versos 237-238). Unido a Ceto, ele é pai das Graias e
das Górgonas, sendo Medusa a mais conhecida (Hesíodo,
Teogonia, 270-276).

Fortuna (Fortuna, v. 22; Fortuna, v. 604; Fortuna, v. 625): Deusa


que favorece os homens, identificada com a Tyche (Tu/xh)
Grega. Segundo Grimal (2007), atribui-se a introdução de seu
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Dicionário da Eneida Livro V | 71

culto a Sérvio Túlio, sexto rei de Roma (578-534 a. C.). Palinuro,


mesmo temendo a tormenta e se preparando para ela, diz que é
melhor seguir a Fortuna, pois ela é superior (Superat quoniam
Fortuna, sequamur, verso 22). Terminados os jogos, a Fortuna
muda, ao sabor da vontade de Juno, que resolve voltar a
perseguir os Troianos. Íris, sob as feições de Béroe, apostrofa a
raça infortunada das mulheres troianas, perguntando que fim a
fortuna teria reservado para ela (o gens/infelix, cui te exitio
Fortuna reseruat? Versos 624-625).

Frígios (Phrygum, v. 785): Originários da Frígia, região oriental


da Ásia Menor, a que os povos Troianos pertenciam. Vide Raça
dos Frígios.

Fronde Álama (populea, v. 134): Folhagem do álamo, árvore


de madeira branca, cujos ramos cingem as frontes da juventude
troiana que participa dos jogos a Anquises. O álamo era a árvore
dedicada a Hércules, patrono dos atletas, conforme a nota de
Jacques Perret (VIRGILE, 2007, p. 9). Pelo fato de os jovens
Troianos terem suas cabeças cingidas com os ramos dessa
árvore, trata-se possivelmente do populus nigra, cujas folhas
têm as duas faces verdes. No Brasil, também é conhecida como
Choupo.

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G
Genitor (genitori, v. 94; genitori, v. 537; v. 817): As duas
primeiras referências são a Anquises. A referência do verso 817
é a Netuno, o pai dos seres marinhos.

Gétulo, Gétulas (Gaetulis, v. 51; Gaetulis, v. 192; Gaetuli, v.


351): Referência à Getúlia, no noroeste da África, região entre o
atual Marrocos e a atual Argélia. Como prêmio de consolação a
Sálio, Eneias lhe dá uma pele de leão da Getúlia, com garras
douradas. Vide Sirtes Gétulas.

Gias (Gyas, v. 118; Gyas, v. 152; Gyas, v. 160; Gyas, v. 167; Gyae,
v. 169; Gyan, v. 184; Gyan, v. 223): Um dos companheiros de
Eneias, comandante do Quimera, na disputa do prêmio de navio
mais veloz, por ocasião dos jogos fúnebres a Anquises. Gias
anima a juventude Dardânia disposta em três fileiras de remos.
No início da competição, Gias começa a se destacar, seguido de
Cloanto, quando na metade do caminho, o seu piloto, Menetes,
faz uma manobra errada e Cloanto o ultrapassa. Com raiva, Gias
lança Menetes ao mar. A manobra atrasa o Quimera, que, sem
piloto, é ultrapassado por Mnesteu.

Glauco (Glauci, v. 823): Divindade marinha do cortejo de


Netuno, que o acompanha com o seu velho coro.

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Dicionário da Eneida Livro V | 73

Gnósios (Gnosia, v. 306): De Cnossos, isto é, de Creta. O termo


refere-se aos presentes que Eneias dará aos que disputarão a
corrida a pé: todos ganharão dois dardos Gnósios em ferro
polido (Gnosia bina...spicula, versos 306-307) e uma bipene
burilada em prata.

Grande Rei do Olimpo (rex magnus Olympi, v. 533): Epíteto


dado por Eneias a Júpiter, após o augúrio da flecha incendiada
de Aceste. Para Eneias, Júpiter demonstrou com os auspícios,
que Aceste deveria ser agraciado com honras. Vide Júpiter.

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Milton Marques Júnior | 74

H
Hélimo (Helymus, 73; Helymus, v. 300; Helymus, v. 323;
Helymus, v. 339): Um dos companheiros de Aceste, que,
cumprindo os rituais, cinge as têmporas com mirto. O jovem
Hélimo é um dos Trinácrios que participa dos jogos fúnebres a
Anquises, disputando a corrida a pé, vindo logo após Euríalo,
sendo, momentaneamente, o quarto colocado, embora termine
a corrida em segundo.

Heitor (Hector, v. 371): Maior dos heróis Troianos. Por ocasião


dos jogos fúnebres em sua honra (Ilíada, Canto XXIV), próximo
ao seu túmulo, Dares enfrenta Butes, no pugilato, até então
invencível, deixando-o prostrado.

Heitóreos (Hectorei, v. 190; Hectoreos, v. 634): Relativo a


Heitor. Vide Companheiros Heitóreos e Rios Hectóreos.

Hércules (Herculis, v. 410): Hércules luta contra Érix, cada um


usando suas armas, num combate que termina com a morte de
Érix.

Hipocoonte (Hippocoontis, v. 492): Hipocoonte, o Hirtacida, é


o primeiro a ser sorteado para a disputa do arco e flecha. Em seu

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Dicionário da Eneida Livro V | 75

tiro, Hipocoonte não obtém êxito, cravando sua flecha em pleno


mastro.

Hirtacida (Hyrtacidae, v. 492; Hyrtacidae, v. 503): Filho de


Hirtacus. Vide Hipocoonte.

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Milton Marques Júnior | 76

I
Iásio (Iaside, v. 843): Pai de Palinuro. É referido apenas como
epíteto, quando Sono se dirige ao piloto, sob as feições de
Forbas.

Ida (Ida, v. 252; Ida, v. 254; Ida, v. 449): Referência ao monte


Ida, na Tróade, um dos locais preferidos por Zeus/Júpiter. É no
frondoso monte Ida (frondosa Ida, verso 252) que Zeus/Júpiter
rapta Ganimedes, de acordo com a representação tecida na
clâmide dada a Cloanto como prêmio. Descendo do Ida como um
raio, a águia que porta as armas de Zeus/Júpiter (armiger, v.
255), rapta Ganimedes, prendendo-o em suas garras. Entelo,
desabando pesadamente ao solo, por ter errado um golpe
contra Dares, é comparado à queda de um pinheiro que cai no
Ida ou em Erimanto.

Idália (Idaliae, v. 760): Relativo à Idália, cidade da Ilha de Chipre,


onde Vênus era cultuada. Vide Vênus Idália.

Ilíaca, Ilíacos (Iliacam, v. 607; Iliacis, v. 725): Referente a Ílion,


a Troia. A passagem se refere à frota ilíaca, que recebe a visita
de Íris, enviada por Juno, em sua perseguição aos Troianos.

Ilíades (Iliadum, v. 644): As Troianas. Tendo sido insufladas por


Íris, sob a falsa forma de Béroe, as mulheres troianas ateiam fogo

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Dicionário da Eneida Livro V | 77

nas naus. Após terem alimentado o incêndio, dispersas, se


escondem nos bosques e nas cavernas. Transformadas, elas só
reconhecem a si mesmas, rejeitando a luz e retirando do peito
Juno. Ao que tudo indica, elas foram transformadas em
morcegos. Vide Mães dos Dardânidas.

Ílion (Ilio, v. 261; Ilium, v. 756): Fortaleza que protege Troia,


tomada muitas vezes, metonimicamente, como a própria Troia.
Virgílio a trata com a altiva Ílion (Ilio alto, verso 261), sob a qual
Eneias venceu Demoleu. Após receber os desígnios de Júpiter,
através da imagem do pai, Anquises, Eneias traça os limites da
nova cidade em Drépano e ordena que ali seja Ílion e os locais
sejam Troia.

Infeliz Elissa (infelicis Elissae, v. 3): Vide Elissa.


Ino (Inous, v. 823): Divindade marinha, cujo filho, Palemon,
acompanha o cortejo de Netuno. Ino é importante dentro da
Odisseia, no Canto V, para orientar Odisseus durante a
tempestade que o herói enfrenta na sua saída de Ogígia, no
retorno para casa.

Íris (Irim, v. 606): A deusa Íris, virgem mensageira dos deuses,


que une o céu e a terra com seu arco de mil cores. Juno a envia
até as naus troianas, em sua perseguição aos Dardânios.
Assumindo a forma de Béroe, anciã esposa de Dóriclos de
Tmaros, Íris, lamentando tantas provações ao longo de quase
oito anos, desde a saída de Troia, conclama as mulheres troianas
a ficar na Sicília, terra acolhedora de Aceste. Na tentativa de
convencer as mulheres troianas, a quem chama infortunadas, a

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Milton Marques Júnior | 78

não seguir para o Lácio, Íris, na pele de Béroe, lamenta que a


mão acaica não tenha matado todas as mulheres sob os muros
da pátria tomada. Íris diz que a Sicília é o país de Érix e que Aceste
acolheu os Troianos. Elas, as mulheres troianas, deverão fazer
dali a sua pátria, em lugar de seguir viagem para a Itália. Dizendo
ter sido visitada em sonho pela imagem de Cassandra, ela incita
as mulheres a tocar fogo nas naus, de modo a permanecerem ali.
O deus Netuno, com seus quatro altares, havia fornecido as
tochas e a vontade. Íris, então, toma as tochas e as joga sobre as
naus, começando o incêndio, quando Pirgo intervém e revela às
outras mulheres que havia acabado de deixar Béroe doente e se
lamentando por não poder participar das festividades a
Anquises. Pirgo pede que todas reconheçam na falsa Béroe os
sinais de uma divindade, pelos olhos brilhantes, pela firmeza,
pelo rosto, pelo tom da voz. Descoberta, Íris abre as asas e voa
em direção ao céu, deixando atrás de si um arco ingente. Vide
Béroe.

Itália (Italiam, v. 18; Italiam, v. 629; Italiam, v. 730): Eneias


busca atingir a Itália, onde se encontra o Lácio, região em que
ele deve fundar as bases da nova Troia. Palinuro teme que com
a tempestade, eles não possam atingir a terra buscada. Béroe
lamenta a busca pela Itália fugitiva, sendo os Troianos jogados
de um lado a outro pelas ondas, sem encontrá-la. Virgílio chama
a “Itália fugitiva” – Italiam fugientem (v. 629). A imagem de
Anquises diz a Eneias para, deixando os mais velhos e as
mulheres na Sicília, escolher a elite dos jovens e levá-los consigo
à Itália, no cumprimento dos destinos.

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Dicionário da Eneida Livro V | 79

Ítalo, Ítalos, Ítalas (Italos, v. 82; Italus, v. 117; Italos, v. 565;


Italas, v. 703): Da Itália, Ítalos, Ítalas.

Ítalo Mnesteu (Italus Mnestheus, v. 117): Vide Mnesteu.


Iulo (Iuli, v. 546; Iulo, v. 569; Iulus, v. 570): Filho de Eneias, ainda
impúbere (impubis, v. 546), que se apresenta, a mando do pai,
com seu batalhão de cavaleiros. O belo Iulo (pulcher Iulus, v. 570)
comanda o terceiro batalhão de jovens, que se apresentam por
ocasião das honras fúnebres a Anquises, seu avô, montando belo
cavalo branco sidônio, presente de Dido.

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Milton Marques Júnior | 80

J
Jônio (Ionio, v. 193): Vide Mar Jônio.
Jove (Iouis, v. 255; Iouis, v. 726; Iouis, v. 747; Iouis, v. 784): Vide
Júpiter.

Jovens Trinácrios (Trinacrii iuuenes, v. 300): Os jovens


Sicilianos. Vide Hélimo e Panopes.

Juno (Iuno, v. 606; Iuno, v. 679; Iunonis, v. 781): Deusa das


deusas, Juno, em perseguição aos Troianos, envia Íris até as naus
ilíacas, ruminando muitos projetos. As mulheres troianas, após
terem cometido o incêndio, dispersas, se escondem nos bosques
e nas cavernas. Transformadas, elas só reconhecem a si mesmas,
rejeitando a luz e retirando do peito Juno. Vênus se queixa a
Netuno da angústia que sofre pelo fato de o seu filho Eneias e os
demais Troianos, que o acompanham, sofrerem a perseguição
da pesada ira de Juno (Iunonis grauis ira), cujos motivos já foram
elencados no Livro I.

Juno Satúrnia (Saturnia Iuno, v. 606): Juno é filha de Saturno,


na genealogia de Hesíodo (Teogonia, versos 453-454) Vide Juno.

Júpiter (Iuppiter, v. 17; Iuppiter, v. 687): Deus supremo do


Olimpo. Palinuro, diante da tempestade, teme não atingir as
terras buscadas da Itália, mesmo que o próprio Júpiter Criador
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Dicionário da Eneida Livro V | 81

lhe garantisse isto diante dele. Estaria aí o erro de Palinuro, por


que ele deverá morrer, no final do Livro V? Júpiter é chamado
por Eneias de grande rei do Olimpo (rex magnus Olympi, v. 533),
após o augúrio da flecha incendiada de Aceste. Eneias clama e
suplica a Júpiter onipotente para apagar o fogo que consome as
naus troianas. Júpiter, atendendo ao pedido de Eneias, envia os
Austros, ventos chuvosos, e extingue, assim, o fogo das naus. O
deus também envia a imagem de Anquises a Eneias, para
aconselhá-lo a seguir o que determinam os destinos, e Eneias
transmite as ordens do deus a Aceste e aos demais
companheiros. A queixa de Vênus a Netuno, contra a
perseguição de Eneias por Juno, mostra que nem a ordem de
Júpiter com o estabelecimento do destino (vide Livro I) a
desencorajou.

Júpiter Criador (Iuppiter auctor, v. 17): Vide Júpiter.


Júpiter Onipotente (Iuppiter omnipotens, v. 687): Vide
Júpiter.

Juventude Dárdana (pubes...Dardana, v. 119): Jovens


Troianos, que conduzem os remos da trirreme de Gias, por
ocasião da disputa dos jogos fúnebres a Anquises.

Juventude da Trinácria e de Troia (Trinacria...Troiaeque


iuuentus, v. 555; Troia pubes, v. 599): Vide Trinácria e Troia.

Juventude da Trinácria, Juventude Trinácria (Trinacria


pubes, v. 450; Trinacriae pubes, v. 573): A primeira referência é
aos jovens Sicilianos, que torcem por Entelo, seu representante,
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Milton Marques Júnior | 82

na luta contra Dares. A segunda diz respeito aos jovens,


presentes à apresentação do batalhão de crianças, liderado por
Ascânio, e que montam os cavalos de Aceste.

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Dicionário da Eneida Livro V | 83

L
Labirinto (Labyrinthus, v. 588): O famoso labirinto de Creta foi
construído por Dédalo, a mando do rei Minos, para esconder o
Minotauro, filho de sau esposa Pasífae, com um touro. O mito
do labirinto e do Minotauro é retomado por Ovídio, em
Metamorfoses (Livro VIII, versos 152-182).

Lácio (Latio, v. 731): Eneias, segundo Anquise, que lhe aparece


em sonho, deverá debelar no Lácio uma gente áspera e de duros
hábitos. Ele, portanto, deve levar a elite da juventude, de
coração forte, para o combate.

Lar (Larem, v. 744) : Divindade protetora da casa, alma dos


ancestrais mortos. No caso, trata-se dos Lares de Troia ou
Pérgamo.

Lar Pergameio (Pergameum Larem, v. 744): Vide Lar.


Latinos (Latini, v. 568; Latinos, v. 598): A primeira referência é
à gens latina Átia; a segunda referência diz respeito aos antigos
Latinos a quem Ascânio ensinou a celebração dos jogos com o
batalhão de cavaleiros, apresentados por ele desde a infância.
Vide Átis e Batalhão Pueril.

Léteo (Lethaeo, v. 854): Do Letes, rio do inferno que produz o


esquecimento. Sono, diante da relutância de Palinuro em ficar
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no leme da nau capitânea, toma um ramo ensopado com o


orvalho do Letes e de um sonífero com a força do Estiges, e o
sacode nas duas têmporas de Palinuro, de modo a provocar-lhe
sonolência. V. Palinuro.

Litorais de Érix (litora...Erycis, v. 23-24): Vide Érix.


Líbico, Líbicas (Libycum, v. 595; Libycis, v. 789): Mar Líbico,
parte do Mediterrâneo que banha a costa da Líbia, na África do
Norte. Esse mar é citado quando os jovens do batalhão de
cavaleiros, liderados por Ascânio, fazem as evoluções da
apresentação, comparados aos golfinhos que fendem as ondas
dos mares Carpátio e Líbico. A segunda alusão é metonímica.
Vide Ondas Líbicas.

Libístide (Libystidis, v. 37): Oriundo da Líbia. Trata-se de uma


referência à pele de ursa Libístide com que Aceste está vestido
(Libystidis ursae).

Loureiro (lauro, v. 246; lauro, v. 539): Árvore dedicada a Apolo.


Eneias cinge a cabeça de Cloanto, vencedor da corrida de navios,
com um ramo verde de loureiro (uiridi...lauro, verso 246). Do
mesmo modo, Eneias cinge a fronte de Aceste com um ramo
verde de loureiro (uiridante...lauro, verso 539), após o augúrio
da flecha incendida. É importante a referência ao loureiro, tendo
em vista que Apolo é o deus que guia Eneias ao seu destino. A
transformação de Dafne num loureiro, após a perseguição do
deus Apolo dela enamorado, mas por ela rejeitado, é o tema de
um dos episódios do Livro I das Metamorfoses de Ovídio (versos
452-566).

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Dicionário da Eneida Livro V | 85

M
Mãe Troiana (Troia...mater, v. 38): Mãe de Aceste, não
nomeada no poema.

Mães dos Dardânidas (Dardanidum...matribus, v. 622): Mães


dardânidas a quem Béroe se junta no Épiro, ao casar-se com
Dóriclos. Vide Béroe.

Mães Troianas (Troianas matribus, v. 793): Referências às


mães Troianas que Juno induziu a tocar fogo nas naus, de modo
que não continuassem mais a viagem e pudessem permanecer
em Drépano.

Magnânimo Anquisíade (magnanimus Anchisiades, v. 407):


Epíteto de Eneias, filho de Anquises. Vide Eneias.

Magnânimo Eneias (magnanime Aenea, v. 17): Vide Eneias.


Maleu (Maleae, v. 193): Referência ao Cabo Maleu, situado ao
sudeste do Peloponeso, na região da Lacônia. Para tentar
alcançar as terras Italianas, os Troianos, saídos do mar Egeu, têm
de contornar o Cabo Maleu, passando entre o Peloponeso e a
ilha de Citera, numa travessia arriscada. Mnesteu evoca o
esforço dos Troianos nessa travessia, de modo a exortá-los
durante a prova de corrida dos navios, por ocasião dos jogos
fúnebres em homenagem a Anquises.
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Milton Marques Júnior | 86

Manes (manis, v. 99): Os Manes são os espíritos dos mortos, na


religião Romana. No contexto do Livro V, Eneias evoca, além da
alma de Anquises, os seus Manes reenviados do Aqueronte, para
os ritos fúnebres em honra do pai.

Mães dos Dardânidas (Dardanidum...matribus, v. 622):


Mulheres troianas ou dardânidas, entre as quais Íris, sob as
feições de Béroe, se mistura, a mando de Juno, para convencê-
las a ficar na Sicília. Vide Ilíades.

Mar Argólico (Argolico mari, v. 52): Referência ao mar Egeu,


que banha a região da Argólida, onde se situa o reino de
Agamêmnon.

Margens Ítalas (Italas...oras, v. 703): Os litorais da Itália, que


Eneias tem dúvida de ainda alcançar, conforme manda o destino,
após o incêndio ocorrido com as naus.

Mar Jônio (Ionio mari, v. 193): O mar Jônio banha a costa


ocidental da Grécia. Os Troianos saem da navegação do mar
Egeu e, avançando em direção ao ocidente, em busca da Itália,
penetram nas águas do mar Jônio, passando entre o sul do
Peloponeso e a ilha de Citera. Mnesteu evoca o esforço dos
Troianos nessa travessia arriscada, de modo a exortá-los durante
a prova de corrida dos navios, por ocasião dos jogos fúnebres em
homenagem a Anquises.

Máximo Eneias (maximus... Aeneas, v. 530-531): Ver Eneias.

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Dicionário da Eneida Livro V | 87

Melibeia (Meliboea, v. 251): Proveniente de Melibeia, na


Tessália. A clâmide de ouro, dada a Cloanto como prêmio, é
bordada em duplo meandro de cor púrpura da Melibeia.

Melite (Melite, v. 825): Nereida do séquito de Netuno


(Teogonia, verso 207).

Mêmio (Memmi, v. 117): Vide Mnesteu e Raça de Mêmio.


Menetes (Menoeten, v. 161; Menoetes, v. 164; Menoete, v.
166; Menoeten, v. 173; Menoetes, v. 179): Piloto do navio de
Gias que, ao fazer uma manobra errada com a Quimera, perde a
posição para Cloanto. Furioso, Gias o joga ao mar, provocando o
riso nos Troianos.

Menino Régio (puer...regius, v. 252): Referência a Ganimedes,


filho de Tros. Zeus/Júpiter envia sua águia para raptar
Ganimedes, no monte Ida. O jovem servirá de escanção no
Olimpo. O fato, agora representado na clâmide de ouro recebida
como prêmio por Cloanto, já foi referido no Livro I da Eneida
(verso 28), como um dos motivos do ódio de Juno contra Eneias
e os Troianos.

Micenas (Mycenae, v. 52): Região na Argólida, onde se situava


a fortaleza e o reino de Agamêmnon, no nordeste do
Peloponeso.

Minerva (Mineruae, v. 283): Deusa da sabedoria e da guerra


inteligente, Minerva também rege a arte, protegendo os
artesãos. A serva que Sergesto recebe de Eneias como prêmio

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não é ignorante dos trabalhos de Minerva (operum haud ignara


Mineruae, v. 283).

Mirto (myrto, v. 72): Planta dedicada a Vênus, com que Eneias


e os demais companheiros cingem as têmporas, no momento
dos rituais a Anquises. A partir de Virgílio utiliza-se o termo
myrtus, para designar o Myrtus communis, seu nome científico.

Mnesteu (Mnestheus, v. 116; Mnestheus, v. 117; Mnesthei, v.


184; Mnestheus, v. 189; Mnestheus, v. 194; Mnestheus, v. 210;
Mnestheus, v. 218; Mnestheus, v. 493; Mnestheus, v. 494;
Mnestheus, v. 507): Um dos companheiros de Eneias,
comandante do Prístis, na disputa da corrida de navios, durante
os jogos fúnebres em honra de Anquises. Mnesteu logo será
Ítalo, originando a raça ou a gente dos Mêmios. Vindo atrás de
Gias e de Cloanto, no começo dos jogos, Mnesteu mantém uma
disputa acirrada com Sergesto. Aproveitando-se de um erro de
manobra do piloto de Gias, Mnesteu o ultrapassa e exorta os
companheiros de competição, vendo a aproximação da nau de
Sergesto, lembrando-os dos momentos cruciais da navegação,
em busca da Itália. Aproveitando o fato de que o navio de
Sergesto encalhou, Mnesteu o ultrapassa e a Gias, cujo navio
estava sem o piloto. Vencedor da disputa naval, Mnesteu, que
detém o verde ramo de oliva, é o segundo escolhido para o
certame do arco e flecha. Com seu tiro, Mnesteu só consegue
romper a linha que vincula o pé da pomba ao mastro.

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Dicionário da Eneida Livro V | 89

N
Nauta (Nautes, v. 704; Nautes, v. 728): Instruído por Palas
Atena, que o tornou insigne nas artes, o idoso Nautes (senior
Nautes) aconselha Eneias a deixar na Sicília os velhos, as
mulheres cansadas do mar, todos os inválidos e os tementes ao
perigo. Eles devem ficar com Aceste, fazendo parte da nova
cidade ali construída, Acesta. Os demais deverão seguir Eneias
na busca da terra anunciada pelo destino, a Itália. Em seguida,
Eneias parece ver a imagem do pai, ratificando os conselhos de
Nautes.

Nereidas (Nereidum, v. 240): Ninfas do mar, filhas de Nereu,


filho mais velho do mar (Hesíodo, Teogonia, versos 233-234), e
Dóris, filha de Oceano (Hesíodo, Teogonia, verso 241). Cloanto
faz uma prece às Nereidas e outras divindades marinhas,
prometendo-lhes sacrifícios e libações, caso vença a disputa.
Segundo Hesíodo, as Nereidas são em número de cinquenta,
todas devidamente nomeadas (Teogonia, versos 240-264). Nos
versos 825-827 deste Livro V, são nomeadas 7 Nereidas,
acompanhando o séquito de Netuno.

Netuno (Neptune, v. 14; Neptune, v. 195; Neptuni, v. 360;


Neptuno, v. 640; Neptunum, v. 779; Neptune, 782): Deus do mar,
irmão de Júpiter. Se Netuno ajudou Eneias no Livro I, coibindo a
ação dos ventos e parando a tempestade, agora, neste Livro V,
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Milton Marques Júnior | 90

ele terá uma ação decisiva. A primeira referência ao deus é uma


pergunta retórica, porém preocupante, de Palinuro, ao ver
formar-se a tormenta: "Que preparas tu, pai Netuno?” (quidue,
pater Neptune, paras?, verso 14). Na disputa pelo primeiro
prêmio da corrida de navios, Mnesteu evoca Netuno, aceitando
a vitória daquele por quem o deus decidiu. Eneias concede a Niso
um prêmio de consolação: um escudo, obra de Didimáon,
arrancado pelos Dânaos do umbral sagrado de Netuno. Íris, sob
as feições de Béroe, diz ter visto a imagem de Cassandra, que lhe
estendia tochas, para que queimassem as naus e, assim,
permanecessem na Sicília, alegando que as mulheres troianas
procurassem Troia ali. O deus Netuno, com os seus quatro
altares, teria fornecido a ela as tochas e a vontade. Netuno é
interrogado por Vênus, cheia de cuidados e inquieta com o
destino do filho Eneias, perseguido pela ira de Juno. Buscando
convencer Netuno a dar-lhe apoio contra as perseguições de
Juno a Eneias, Vênus o lembra da tempestade encomendada
pela deusa-mãe, ousando interferir no reino do deus do mar, o
que desvia Eneias de seu destino, o Lácio, e o joga nos litorais
Líbicos - in regnis hoc ausa tuis (ela ousou isto em teus reinos, v.
792). Netuno procura acalmar o espírito de Vênus, certificando-
a de que Eneias entrará protegido nos portos do Averno, isto é,
na Península Itálica, perdendo apenas um dos homens, no caso,
Palinuro, para a salvação dos demais (unum pro multis dabitur
caput, verso 815). Para acalmar a deusa sua sobrinha, Netuno
toma o Xanto e o Simoís como testemunhas e relembra de como
salvou Eneias da sanha cruenta de Aquiles, em plena guerra de
Troia, o que nos remete para os Cantos XX (versos 318-339) e XXI

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Dicionário da Eneida Livro V | 91

(versos 218-220) da Ilíada. É a prova mais cabal de que Virgílio


aproveita a deixa de Homero, no Canto XX (versos 292-308), para
dali compor a sua Eneida. Além do epíteto Pai Netuno, o deus
aparece com dois outros: Satúrnio (Saturnius, v. 799), dada a sua
condição de filho de Saturno, e Domador do Mar Profundo
(domitor maris alti, v. 799), por ter o mar como seu domínio
absoluto.

Nisea (Nisaee, v. 826): Nereida do séquito de Netuno


(Teogonia, verso 249).

Niso (Nisus, v. 294; Nisus, v. 296; Nisus, v. 318; Nisus, v. 328;


Nisus, v. 353; Niso, v. 354): Jovem Troiano, insigne pelo amor de
criança (Nisus amore pio pueri, verso 296), amigo de Euríalo.
Participando da corrida a pé, na disputa dos jogos fúnebres em
honra a Anquises, Niso se distingue rapidamente em relação aos
demais competidores, sendo, no dizer do poeta, mais rápido que
o vento e do que as asas do raio (et uentis et fulminis ocior alis,
verso 319). Escorregando no sangue sagrado dos animais
sacrificados e nos excrementos, ele cai e decide ajudar o amigo
Euríalo. Ao interceptar a corrida de Sálio, Niso insufla o ânimo do
amigo, que ganha a corrida. Niso, vendo Eneias premiar Sálio,
reivindica para si um prêmio, por ter escorregado e perdido a
corrida. Eneias o premia com um escudo, rica obra de Didimáon.
A história do amor que liga os dois amigos até a morte será
objeto do Livro IX da Eneida.

Noite (Nox, v. 721; Nox, v. 738; Nox, v. 835): A Noite é mostrada


como uma divindade puxada por bigas. Filha do Caos e irmã de
Érebos, a quem se une para gerar Éter e Dia, Hesíodo a chama
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de Noite Negra (me/laina/ Nu\c, Teogonia, verso 123), epíteto


retomado por Virgílio – Nox atra. Na segunda passagem,
Anquises, ao se despedir de Eneias, refere-se à Noite úmida, em
meio a seu curso, que se volve (Torquet medios Nox umida
cursus). Mais uma vez, Noite é referida como úmida, como
antecipação da morte de Palinuro.

Noto (Noto, v. 242; Notos, v. 512): Vento Sul, quente e


carregado de umidade, relacionado ao grego No/toj e
representado na Torre dos Ventos, em Atenas, como um homem
despejando água de uma urna. Nesta passagem, o navio de
Cloanto, Cila, é dito mais rápido que o Notos, chegando em
primeiro lugar no porto e vencendo a disputa. No tiro de
Mnesteu, durante a disputa do arco e flecha, a pomba, libertada
do laço pela flecha do herói, voa livre em direção ao Notos e às
nuvens negras.

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O
Oliva (oliua, v. 494): Ramo verde de oliveira (uiridi...oliua), dado
ao vencedor da corrida de barcos, no caso, Mnesteu. Era uma
homenagem a Palas Atena, que doou a oliveira aos atenienses e,
assim, se tornou a deusa protetora da cidade.

Ondas Líbicas (Libycis...undis, v. 789): Referência metonímica


ao mar da Líbia. Eneias, tendo partido de Drépano após a morte
do pai, em busca do Lácio, é surpreendido por uma tempestade
desencadeada por Éolo e seus ventos, encomendada por Juno. É
desse modo que o herói aporta em Cartago, que, naquele
momento, se situava na Líbia (Vide Livro I).

Oriente (Oriente, v. 42; Oriens, v. 739): Relativo às estrelas do


Leste, postas em fuga pelo surgimento do dia. Na segunda
referência, trata-se da fala de Anquises, ao despedir-se de
Eneias: a noite já volve o seu curso médio e o Oriente cruel com
seus cavalos resfolegantes já sopra em sua direção (torquet
medios Nox umida cursus/ et me saeuos equis Oriens adflauit
anhelis, versos 738-739). Trata-se de uma metonímia para Carro
do céu, com seus cavalos, guiado por Apolo Febo.

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Milton Marques Júnior | 94

P
Pai (pater, v. 521; pater, v. 533; patri, v. 603; pater, v. 690;
parentis, v. 747; patribus, v. 758; pater, v. 867): Na primeira
ocorrência, a denominação é dada a Aceste, por ser este herói o
mais velho e aquele que irá fundar a cidade de Acesta, na Sicília,
de que ele será o rei. Na segunda ocorrência é a denominação
que Eneias lhe concede, após o augúrio da flecha inflamada. A
terceira referência diz respeito a Anquises, o pai santo
(sancto...patri). A quarta alusão refere-se a Júpiter, a quem
Eneias suplica apagar o fogo das naus. Anquises é também o caro
pai (cari...parentis, verso 747), que transmite as ordens de
Júpiter a Eneias, determinando a sua partida e o cumprimento
dos destinos. Aceste convoca os pais para dar as leis, depois que
Eneias determina quem deverá ficar na nova cidade sob as
ordens do velho herói. Os pais convocados – patribus – são os
mais velhos, que irão a ajudar na fundação da cidade. Trata-se
da instituição do Senado, cujas origens no mundo romano
remontam a Rômulo (Tito Lívio, I, VIII, 7). Vide Aceste. A última
alusão é a Eneias. Trata-se do momento em que o herói se dá
conta de que a nau está sem piloto, porque Palinuro, tornado
sonolento pelo deus Sono, cai no mar e morre. Como pai dos
Troianos, Eneias lamenta que Palinuro jazerá, nu, em praia
desconhecida (nudus in ignota, Palinure, iacebis harena, v. 871).

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Pai Anquises (patris Anchisae, v. 31; parentis Anchisae, v. 722-


723): Vide Anquises.

Pai Eneias (Aeneas...pater, v. 129-130; pater Aeneas, v. 348;


pater Aeneas, v. 461; pater Aeneas, v. 545; pater Aeneas, v. 700;
patris Aeneae, v. 827): Vide Eneias.

Pai Gerado de Anquises (satus Anchisa...pater, v. 423):


Trata-se de Eneias, que, com a morte de Anquises, torna-se o pai
dos Troianos e da nova pátria. Vide Eneias.

Pai Netuno (pater Neptune, v. 14; Patris Neptuni, v. 863): Vide


Netuno.

Pai Ótimo (pater optimus, v. 358): Um dos epítetos de Eneias.


Vide Eneias.

Pai Portuno (pater...Portunus, v. 241): Vide Portuno.


Pai Venerável (sancte parens, v. 80; sancto...patri, v. 603): Pai
venerável, pai santo, saudação fúnebre de Eneias a Anquises, no
início dos ritos em sua memória. Ao final dos jogos, também se
saúda Anquises com o mesmo epíteto.

Palas (Pallas, v. 704): Palas Atena ou Minerva, deusa da


sabedoria, da guerra inteligente e das artes. Ela instrui Nauta em
vários saberes e ele aconselha Eneias a dar continuidade às
determinações do destino, após o incêndio das naus. Um dos
seus principais epítetos é Tritônia, cuja etimologia gerou uma
série de controvérsias. Uma explicação possível é a relação com
a fonte Trítonis, na Arcádia, onde teria nascido Palas Atena. Por

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outro lado, esse epíteto está relacionado com outro,


Tritogeneia, segundo Chantraine (1999), de origem obscura.
Vide Palas no Livro II.

Palemon (Palaemon, v. 823): Divindade marinha, filho de Ino


(v.), que acompanha o cortejo de Netuno.

Palinuro (Palinurus, v. 12, v. 833; Palinure, v. 840, v. 843;


Palinurus, v. 847; Palinure, v. 871): Piloto do navio de Eneias, que
se preocupa com a formação da tormenta, mostrando-se sem
esperança de atingir as terras de Itália, mesmo que o próprio
Júpiter lhe garantisse isto (non, si mihi Iuppiter auctor/ spondeat,
hoc sperem Italiam contingere caelo, versos 17-18). A partir do
verso 833, Palinuro ganha uma grande importância na narrativa.
Guiando ante todos a esquadra cerrada, os demais pilotos
deveriam manter seu curso por ele (Princeps ante omnis densum
Palinurus agebat/ agmen; ad hunc alii cursum contendere iussi,
v. 833-834). Mal chega a Noite úmida, quando da partida de
Eneias de Drépano, rumo ao Lácio, Sono, ligeiro, se avizinha de
Palinuro (aqui apostrofado pelo poeta – Somnus...dispulit
umbras,/ te, Palinure, petens, tibi somnia tristia portans/ insonti,
v. 838-841), dissipando as sombras e levando ao inocente piloto
funestos sonhos. Palinuro nada fizera para merecer a morte, mas
o acordo entre Netuno e Vênus, para que Eneias chegasse
incólume ao Lácio, foi “uma única cabeça será dada por muitas”
(unum pro multis dabitur caput, verso 815). Assumindo as
feições de Forbas, o Sono diz a Palinuro para repousar um pouco,
diante da tranquilidade do mar e da brisa que sopra, afirmando
que ele, o falso Forbas, ficaria no comando da nau. Palinuro não

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Dicionário da Eneida Livro V | 97

aceita, dizendo não se fiar nos ventos falaciosos e nas mentiras


da serenidade e continua no seu posto. Sono, diante da
relutância de Palinuro em ficar no leme da nau capitânea, toma
um ramo ensopado com o orvalho do Letes e do sonífero pela
força do Estiges, e o sacode nas duas têmporas do piloto, de
modo a provocar-lhe sonolência. Palinuro cai na água,
morrendo. A nau, no entanto, como prometera Netuno,
continua seu curso sem perigo. Palinuro era filho de Iásio.

Pândaro (Pandare, v. 496): O ilustre Pândaro


(clarissime...Pandare) lutou na guerra de Troia e aparece no
Canto IV da Ilíada, como o Troiano levado pelos deuses a quebrar
o pacto estabelecido entre Troianos e Argivos, quando do
combate singular entre Menelau e Páris (versos 50-147).
Instigado por Hera, Zeus despacha Atena para insuflar os
Troianos a romper o pacto feito. Sob as feições de Laódoco, filho
de Antenor, ela fala a Pândaro, seduzindo-o com promessas de
presentes da parte de Páris, caso o arqueiro consiga matar
Menelau. A flecha de Pândaro, no entanto, desviada pela própria
Atena, atinge Menelau apenas de raspão. A consequência desse
ato é o confronto entre os dois exércitos de coalizão, a partir do
Canto IV da Ilíada, e a sua morte por Diomedes, no Canto V
(versos 290-296).

Panopeia (Panopea, v. 240; v. 825): Uma das Nereidas


(Teogonia, verso 250), que ouve as preces de Cloanto, tratada
por Virgílio, nas duas referências, de virgem Panopeia (Panopea
uirgo). Vide Nereidas.

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Panopes (Panopes, v. 300): O jovem Panopes é um dos


Trinácrios, companheiro do velho Acestes. Ele participa dos
jogos fúnebres a Anquises, disputando a corrida a pé.

Parcas (Parcae, v. 798): Deusas tecelãs do destino, elas


encarnam, metonimicamente, o próprio destino. Elas são
representadas como três irmãs: Cloto, a que tece; Láquesis, a
que distribui, e Átropos, a que decide o quanto alguém viverá.
Na Teogonia, elas são as Moiras (versos 901-906), filhas de Zeus
e de Têmis. Vênus a elas se refere, na sua súplica a Netuno, para
que se cumpra o destino tecido pelas Parcas, no sentido de que
o herói receba as muralhas, isto é, construa uma cidade, a nova
Troia. Vide Parcas no Livro I.

Páris (Paridem, v. 370): O herói Troiano é citado para realçar a


bravura de Dares, o único que ousara enfrentá-lo.

Patrão (Patron, v. 298): Herói de sangue Arcádio da família de


Tegeu, que disputa a corrida a pé, nos jogos fúnebres em honra
a Anquises.

Pelida (Pelidae, v. 808): Um dos epítetos de Aquiles, por ser


filho de Peleu. Vide Aquiles.

Penates (penates, v. 632): Referência de Béroe/Íris aos Penates


de Troia, retirados aos inimigos.

Penates Pátrios (penatis...patrios, v. 62-63): Os Penates de


Troia, convidados para o banquete oferecido por Aceste aos
Troianos. Ver referência aos Penates Troianos, salvos no Livro II.

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Dicionário da Eneida Livro V | 99

Pergameio (Pergameum, v. 744): De Pérgamo, Troia. Vide Lar


Pergameio.

Piedade Antiga (pietas antiqua, v. 688): A piedade dos deuses


em relação aos homens, como uma maneira de retribuir-lhes a
piedade para com os deuses.

Pinheiro (pinus, v. 153; pinus, v. 449): No trecho, refere-se


como uma metonímia de navio. A segunda ocorrência diz
respeito à comparação de Entelo com um pinheiro, pelo
tamanho e peso do herói. Entelo, caindo pesadamente, ao errar
um golpe contra Dares, é comparado a um pinheiro
violentamente arrancado de suas raízes, caindo no Ida ou em
Erimanto. A comparação se justifica, pois o pinheiro é símbolo
do renascimento e da eternidade, por não perder suas folhas no
inverno e permanecer sempre verde. Mesmo mais velho, Entelo
se renova na luta contra Dares.

Pio Eneias (Pius Aeneas, 26; pius Aeneas, v. 286; pio...Aeneae,


v. 418; pius Aeneas, v. 685): Um dos mais importantes epítetos
de Eneias, definindo o porquê de ele ter sido escolhido pelos
deuses, para a construção de uma nova Troia: a piedade. Vide
Eneias.

Pirgo (Pyrgo, v. 645): Pirgo é a “régia nutriz de tantos filhos de


Príamo” (tot Priami natorum regia nutrix, v. 645), que, no
momento em que Íris, sob as feições de Béroe, toma as tochas e
as joga sobre as naus, começando o incêndio, intervém e revela
às outras mulheres que havia acabado de deixar a verdadeira
Béroe doente e indignada por não poder participar das honras
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merecidas a Anquises. Pirgo pede, então, que todas reconheçam


na falsa Béroe os sinais de uma divindade, pelos olhos brilhantes,
pela firmeza, pelo rosto, pelo tom da voz, pelo jeito de andar.
Das mulheres troianas, que se encontram em culto separado a
Anquises, Pirgo é a mais velha.

Polites (Polite, v. 564): Filho de Príamo, morto por Pirro, diante


dos olhos do pai (Eneida, Livro I, 526-528). Seu filho tem o
mesmo nome do avô e integra o batalhão de jovens liderados
por Ascânio, sendo um dos chefes, que se apresenta por ocasião
dos jogos fúnebres em honra de Anquises. Vide Polites, no Livro
II.

Portos do Averno (portus...Averni, v. 813): O Averno é um


lago da Campânia, região ao sul da Península Itálica, onde
tradicionalmente se coloca a entrada para os infernos. Netuno
diz a Vênus que Eneias chegará protegido aos portos do Averno.
A alusão pode ser entendida de duas formas: na primeira,
metaforicamente, Eneias chegará às terras Ítalas, ao seu destino;
a segunda, mais especificamente, faz referências à obrigação
que Eneias tem de descer aos infernos para se entrevistar com o
pai, Anquises, e conhecer o destino grandioso que o aguarda,
conforme já fora anunciado por Heleno (vide Livro III).

Portos Sicanos (portus Sicanos, v. 24): Portos da Sicília. No


caso específico, na parte ocidental da Sicília, em Érix, onde reside
o Troiano Aceste. Vide Sicanos.

Portuno (Portunus, v. 241): Divindade romana, que preside os


portos. Portuno é o nome que recebe Melicerto, filho de Ino,
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quando, fugindo à perseguição de Juno, mãe e filho chegam ao


Lácio, na embocadura do Tibre. A profetisa Carmenta prediz para
Ino e seu filho um futuro feliz, com ambos mudando de nome.
Ela receberá o nome de Mater Matuta e ele, de Portuno (Ovídio,
Fastos, Livro VI, versos 485-548). Ino já fora Leucoteia e
Melicerto fora Palaemon, antes de serem Matuta e Portuno.
Cícero se refere a Portuno, discutindo a etimologia de seu nome,
proveniente de portus, porto (De natura deorum, Livro 2, XXVI,
66).

Praças Fortes dos Argivos (castra Argiuom, v. 671-672):


Diante do incêndio das naus, Ascânio recrimina os que o
atearam, dizendo que não estão sendo queimadas as praças
fortes dos Argivos, mas a própria esperança dos Troianos. Sem
as naus, não se chegaria ao Lácio.

Príamo (Priami, v. 297; Priami, v. 645): Rei de Troia, de cuja


linhagem honorável descende Diores. Muitos dos filhos de
Príamo foram nutridos por Pirgo. Vide Diores e Pirgo.

Pequeno Príamo (paruos...Priamus, v. 563-564): Neto do rei


Príamo, filho de Polites. Ele monta um bicolor cavalo trácio, com
manchas brancas e é o líder do primeiro batalhão de crianças,
que se apresenta em honra a Anquises. Vide Polites.

Prístis (Pristim, v. 116; Pristis, v. 154; Pristis, v. 156; Pristis, v.


187; Pristis, v. 218): Navio de Mnesteu. O nome em latim pode
designar o peixe-serra, a baleia ou um pequeno e ágil navio. O
Prístis, vindo atrás dos navios de Gias e de Cloanto, disputa
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acirradamente com o Centauro. Continuando a disputa, o navio


de Mnesteu segue de perto o seu rival, o navio de Sergesto, que
ganha a dianteira.

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Dicionário da Eneida Livro V | 103

Q
Quimera (Chimaeram, v. 118; Chimaeram, v. 223): Navio de
grande porte (ingentem... Chimaeram), trirreme, conduzido por
Gias. Vide Gias.

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R
Raça Bebrícia (Bebrycia...gente, v. 373): Butes, morto por
Dares, no pugilato, acreditava pertencer à raça Bebrícia, que tem
origem em Âmico, grande pugilista filho de Netuno. Vide Âmico.

Raça Cressa (Cressa genus, v 285): Raça Cretense, origem da


serva dada a Sergesto por Eneias. Vide Foloé.

Raça de Mêmio (genus...Memmi, v. 117): Família Romana


proveniente, segundo Virgílio, de Mnesteu. Vide Mnesteu.

Raça dos Frígios (gente Phrygum, v. 785): Ao se queixar a


Netuno das perseguições de Juno aos Troianos, Vênus lembra
que o ódio nefando da deusa exterminou uma nação da raça dos
Frígios, referindo-se aos Troianos, e arrasta em sofrimento o que
dela restou.

Raça Tegeia (Tegeaeae...gentis v. 299): Raça Troiana, cujo


iniciador foi Tegeu, de quem descende Patrão. Vide Patrão.

Régia Nutriz dos Filhos de Príamo (Priamo Natorum regia


nutrix, v. 645): Vide Pirgo.

Reteia (Rhoeteia, v. 646): Referência a Pirgo, nascida em Reteu,


cidade sobre o Promontório Reteu, na Tróade. Vide Pirgo.

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Dicionário da Eneida Livro V | 105

Rios Heitóreos (Hectoreos amnis, v. 634): Os rios Xanto e


Simoís, que banhavam Troia, pátria de Heitor. Em seu falso
lamento como Béroe, Íris pergunta-se se não mais verá os rios
heitóreos.

Roma (Roma, v. 601): Virgílio a chama a Roma Máxima.


Romano (Romane, v. 123): Patronímico usado para designar
Cluêntio. Vide Cluêntio.

Romano Cluêntio (Romane Cluenti, v. 123): Vide Cluêntio.

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S
Sagaris (Sagaris, v. 263): Fâmulo de Eneias, que, juntamente
com Fegeu, porta, com dificuldade, a couraça que pertencera a
Demoleu, para entregar ao segundo colocado na corrida de
navios.

Sálio (Salius, v. 298; Salius, v. 321; Salio, v. 335; Salius, v. 341;


Salio, v. 347; Salio, v. 352; Salium, v. 356): Acarnaniano
(proveniente da região do Épiro, na Grécia ocidental), que se
encontrava em segundo lugar na corrida a pé, na disputa dos
jogos fúnebres a Anquises, mas é interceptado por Niso, em
favor de Euríalo, e cai, perdendo a corrida. Finalizada a disputa,
Sálio reclama o prêmio que lhe foi retirado por dolo. Eneias
garante os prêmios aos vencedores, mas recompensa Sálio com
a pele de um leão da Getúlia, de longos pelos e garras douradas.

Satúrnia (Saturnia, v. 606): Referência a Juno, filha de Saturno.


Vide Juno.

Satúrnia Juno (Saturnia Iuno, v. 606): Vide Juno.


Satúrnio (Saturnius, v. 799): Netuno, filho de Saturno. Vide
Netuno.

Semente de Anquises (satus Anchisa, v. 244): Vide Eneias.

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Dicionário da Eneida Livro V | 107

Sereias (Sirenum, v. 864): Eneias percebe que o navio está sem


piloto, quando ele passa perto do rochedo das Sereias (scopulus
Sirenum). Como Eneias faz, de certo modo, um percurso errante
pelo Mediterrâneo, parecido com o de Odisseus, vemos alguns
pontos em comum com a narrativa homérica, como foi o caso da
ilha dos Ciclopes e a visão de Polifemo, que se encontra no Livro
III. O livro V é o fim da errância de Eneias, pois o termo de sua
viagem é o Lácio, que ele encontrará no Livro VI. Nesse pequeno
episódio, ressalte-se a aliteração do verso “tum rauca adsiduo
longe sale saxa sonabant” – Os roucos rochedos soavam, ao
longe, com o sal (onda) contínuo.

Seresto (Seresti, v. 487): Conclamando os companheiros para a


disputa do arco e flecha, Eneias põe de pé o mastro do navio de
Seresto, em cujo cimo ele ata uma pomba, para ser acertada em
seu voo pelos concorrentes.

Sergesto (Sergestus, v. 121; Sergesto, v. 184; Sergestus, v. 185;


Sergestus, v. 203; Sergestum, v. 221; Sergestus, v. 272;
Sergestum, v. 282): Um dos companheiros de Eneias,
comandante do Centauro, que disputa o prêmio de velocidade,
por ocasião dos jogos fúnebres a Anquises. De Sergesto, virá a
Casa Sérgia. No começo dos jogos, Sergesto vem, juntamente
com Mnesteu, logo atrás de Gias e Cloanto. Aproveitando-se do
erro do piloto de Gias, Sergesto logra tomar a vantagem, embora
seguido de perto por Mnesteu. Sergesto acaba por dirigir seu
navio para os rochedos, encalhando-o e sendo ultrapassado por
Mnesteu. Acabada a disputa, em meio ao riso dos demais,
Sergesto, com grande esforço, consegue livrar seu navio do
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rochedo, tendo perdido toda uma ordem de remos. Mesmo


chegando em último, Eneias lhe dá como prêmio Foloé, uma
escrava cretense, com os dois filhos que amamenta.

Sérgia (Sergia, v. 121): Linhagem Romana, proveniente de


Sergesto. Vide Sergesto e Casa Sérgia.

Sibila (Sibylla, v. 735): Sacerdotisa de Apolo, cujo santuário


encontra-se em Cumas. A casta Sibila (casta Sibylla) deverá
conduzir Eneias até os Elísios, após o sacrifício com muito sangue
dos animais de pelo negro, para que o herói se encontre com o
seu pai. Vide Livro VI da Eneida.

Sicanos (Sicanos, v. 24; Sicani, v. 293): Os Sicanos eram antigos


povos do Lácio que haviam se radicado na Sicília. O termo
designava, inicialmente, apenas os povos de uma parte vizinha a
Agrigento, no sudoeste da ilha, passando depois a designar, por
metonímia, toda a Sicília. Quando Eneias convoca os heróis para
a disputa da corrida a pé, aparecem tanto os Teucros, quanto os
Sicanos.

Sículos (Siculis, v. 702): Referentes à Sicília, da Sicília.


Sidônio (Sidonio, v. 571): De Sídon, na Fenícia. Referência ao
cavalo que Dido deu de presente a Iulo e com o qual ele se
apresenta por ocasião das honras fúnebres a Anquises.

Simoís (Simoenta, v. 261; Simoenta, v. 634; Simoenta, verso


803): Um dos rios que banha a planície de Troia, em cujas
margens Eneias vence Demoleu e lhe toma a couraça como
prêmio de guerra. O Simoís é referido por Íris, sob a imagem de
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Dicionário da Eneida Livro V | 109

Béroe, em seu lamento às mulheres troianas sendo também


tomado por Netuno como testemunha de seu interesse por
Eneias, quando o deus tenta acalmar a angústia de Vênus, com
relação ao destino do filho. Vide Íris, Rios Hectóreos e Netuno.

Sirtes Gétulas (Gaetulis...Syrtibus, v. 51; Gaetulis Syrtibus, v.


192): As Sirtes são dois bancos de areia sobre a costa norte da
África entre Cirena (Líbia) e Cartago (Tunísia). A Sirte Maior fica
no Golfo de Surt (atual Golfo de Sidra), na Líbia, e a Sirte Menor,
no Golfo de Gabes, na Tunísia. Ao referir-se às Sirtes Gétulas,
Eneias diz que elas não seriam obstáculos para as honrarias
anuais aos restos mortais do pai. Mnesteu faz referência às Sirtes
Gétulas, para exortar os companheiros a vencer a corrida de
navios, primeira prova dos jogos fúnebres a Anquises. Trata-se
de uma alusão à tempestade enviada por Juno contra a Frota de
Eneias, narrada no Livro I da Eneida. Vide Sirtes, no Livro I.

Sono (Somnus, v. 838): Divindade que provoca o sono nas


pessoas. Em grego, é Hipnos, que faz Zeus dormir depois do
amor com Hera, no Canto XIV da Ilíada. Segundo Hesíodo, Sono
é filho da Noite, que o pariu sem qualquer conúbio divino
(Teogonia, v. 213). Na Eneida, mal chega a Noite úmida, quando
da partida de Eneias de Drépano, rumo ao Lácio, Sono, leve, se
avizinha de Palinuro, dissipando as sombras e levando ao
inocente piloto funestos sonhos. Palinuro nada fizera para
merecer a morte, proveniente de um acordo entre Netuno e
Vênus, para que Eneias chegasse incólume ao Lácio – “uma única
cabeça será dada por muitas” (unum pro multis dabitur caput,

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verso 815). Assumindo as feições de Forbas, o Sono diz a Palinuro


para se repousar um pouco, diante da tranquilidade do mar e da
brisa que sopra, afirmando que ele, o falso Forbas, ficaria no
comando da nau. Palinuro não aceita, dizendo não se fiar nos
ventos falaciosos e nas mentiras da serenidade e continua no seu
posto. Diante da relutância de Palinuro em ficar no leme da nau
capitânea, Sono toma um ramo ensopado com o orvalho do
Letes e de um sonífero com a força do Estiges, e o sacode nas
duas têmporas do piloto, de modo a provocar-lhe sonolência.
Palinuro cai na água, morrendo. A nau, no entanto, como
prometera Netuno, continua seu curso sem perigo.

Spio (Spio, v. 826): Nereida do séquito de Netuno (Teogonia,


verso 245).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Dicionário da Eneida Livro V | 111

T
Tártaros (Tartara, v. 734): Local nos Infernos, para onde vão os
condenados, para serem punidos. Anquises diz a Eneias que não
se encontra no Tártaro, mas nos amenos Elísios. No mundo
Grego, o Tártaro era o lugar mais profundo, no seio da Terra,
onde foram aprisionados alguns Titãs, por Zeus, após a
Titanomaquia. Para Hesíodo, a distância do Céu à Terra era o
equivalente a uma bigorna caindo durante nove dias e nove
noites, atingindo a Terra apenas no décimo dia. Da Terra para o
Tártaro era a mesma distância (Teogonia, versos 722-725).

Tártaros Ímpios (impia...Tartara, v. 733-734): Vide Tártaros.


Tegeia (Tegeaeae, v. 299): Vide Raça Tegeia.
Tempestades (Tempestatibus, v. 772): Divindade a quem
Eneias sacrifica uma ovelha jovem, para que ela lhe propicie uma
boa navegação em direção ao Lácio.

Terras Ítalas (finis Italos, v. 82): As terras da Itália, prometidas


pelos deuses a Eneias.

Teucros (Teucrorum, v. 7; Teucris, v. 66; Teucri, v. 181; Teucri,


v. 293; Teucri, 450; Teucri, v. 474; Teucri, v. 530; Teucrum, v. 592;
Teucrum, v. 675; Teucrum, v. 690): Nome genérico para designar
os Troianos, proveniente do seu ancestral Teucro. Genro de
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6
Milton Marques Júnior | 112

Dárdanos, Teucro será avô de Erictônio, de quem descende Tros,


pai de Ilos e de Assáraco, responsáveis pela geração futura dos
Priâmidas e de Eneias, respectivamente. A partida dos Teucros é
acompanhada de maus pressentimentos trazidos pela visão das
muralhas cartaginesas iluminadas pelas chamas, e pela tormenta
que se forma no mar. Eneias conclama as naus teucras a
participarem dos jogos em honra a Anquises. Os Teucros riem
com a fúria de Gias, jogando Menetes no mar, por causa de uma
manobra errada do piloto. Quando Eneias convoca os heróis
para a disputa de corrida a pé, aparecem tanto os Teucros
quanto os Sicanos, os habitantes da Sicília. Testemunhando o
augúrio ocorrido durante a disputa de arco e flecha, depois que
Aceste lança seu tiro e a flecha se incendeia, os Teucros, tanto
quanto os Trinácrios, se admiram atônitos. Os filhos dos Teucros
são os jovens que se apresentam, sob a liderança de
Iulo/Ascânio, por ocasião das honras fúnebres a Anquises.

Thalia (Thalia, v. 826): Nereida do séquito de Netuno, embora


não figure na lista de Hesíodo, na Teogonia.

Thétis (Thetis, v. 825): Nereida do séquito de Netuno (Teogonia,


verso 244), muito conhecida por ser a mãe de Aquiles (vide
Ilíada, Cantos I e XVIII).

Tibre (Thybrim, v. 83; Thybrim, v. 797): O rio que banha Roma,


em cujas margens nascerá a cidade. Vide Tibre Ausônio e Tibre
Laurente.

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Dicionário da Eneida Livro V | 113

Tibre Ausônio (Ausonium...Thybrim, v. 83): O rio Tibre, que


banha a cidade de Roma. Ausônia era o antigo nome da Itália.
Vide Ausônio.

Tibre Laurente (Laurentem...Thybrim, v. 797): Trata-se de


uma referência a Acca Larentia, a mítica nutriz de Rômulo e
Remo, depois que os meninos, salvos das águas do Tibre e
amamentados por uma loba, são encontrados pelo pastor
Fáustulo e aleitados por sua mulher.

Tmaros (Tmarii, v. 620): Monte do Épiro, de que Dóriclos,


esposo de Béroe, é originário. Vide Béroe.

Trácio (Trhacius, v. 536; Thracius, v. 565): Referência à Trácia. A


primeira referência alude a Cisseu, rei da Trácia; a segunda, ao
cavalo montado por Príamo, filho de Polites. Vide Cisseu e
Pequeno Príamo.

Trácio Cisseu (Thracius...Cisseus, v. 536-537): Vide Cisseu.


Treicas (Threiciis, v. 312): Da Trácia. Trata-se das flechas Trácias
(sagittis Threiciis, versos 311-312), que se encontram na aljava
Amazônia, prêmio ao segundo colocado da corrida a pé. Vide
Amazônia.

Trinácria (Trinacriam, v. 393; Trinacriae, v. 555; Trinacriae,


573): É um dos nomes da Sicília, por causa dos seus três
promontórios – Peloro (ao noroeste), Paquino (ao sudoeste) e
Lilibeu (ao oeste). No momento da apresentação do batalhão de
crianças, sob o comando de Ascânio, toda a juventude da
Trinácria se admira.
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Trinácria, Trinácrios (Trinacrii, v. 300; Trinacria, v. 450;


Trinacrii, v. 530): Da ilha Trinácria, outro nome que recebe a
Sicília. Testemunhando o augúrio ocorrido durante a disputa de
arco e flecha, depois que Aceste lança seu tiro e a flecha se
incendeia, os Trinácrios, tanto quanto os Teucros, se admiram
atônitos. Vide Jovens Trinácrios e Trinácria.

Tritões (Tritones, v. 824): Divindades marinhas do cortejo de


Netuno.

Tritônia Palas (Tritonia Pallas, v. 704): Vide Palas.


Tróades (Troades, v. 613): Mulheres troianas que, isoladas na
praia, choram a perda de Anquises e lamentam ainda os mares a
percorrer até a chegada ao destino. Cansadas de suportar as
provações, elas reclamam o pouso em uma cidade.

Troas (Troas, v. 265): Designação patronímica para os Troianos,


descendentes de Tros. Os Troas dispersos são afugentados por
Demoleu, durante a guerra de Troia.

Troia (Troia, v. 61; Troiae, v. 190; Troiae, v. 555; Troia, v. 602;


Troia, v. 626; Troiae, v. 633; Troiam, v. 637; Troiam, v. 756;
Troiae, v. 787; Troiae, v. 811): Grande cidade da Ásia Menor, no
Helesponto ou Estreito de Dardanelos, destruída pelos Gregos.
Aceste é filho de uma Troiana. Na exortação aos companheiros
para vencer a corrida de navios, durante os jogos fúnebres a
Anquises, Mnesteu lembra que ele os escolheu para
companheiros na sorte suprema de Troia (Troiae sorte suprema,
v. 190), isto é, no momento final da cidade, destruída pelos

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Dicionário da Eneida Livro V | 115

Gregos. No momento da apresentação do batalhão de crianças,


sob o comando de Ascânio, toda a juventude de Troia se admira.
Nas palavras de Íris, sob as feições de Béroe, já são passados oito
anos, desde a ruína de Troia, quando eles se encontram na
Sicília, por ocasião das honras fúnebres a Anquises. Íris, sob as
feições de Béroe, diz ter visto a imagem de Cassandra, que lhe
estendia tochas, para que queimassem as naus e, assim,
permanecessem na Sicília, alegando que as mulheres troianas
procurassem Troia ali. Após receber os desígnios de Júpiter,
através da imagem do pai, Anquises, Eneias traça os limites da
nova cidade em Drépano e ordena que ali seja Ílion e os locais
sejam Troia. No seu lamento a Netuno, contra a perseguição de
Juno a Eneias e seus companheiros, Vênus diz que eles são
reliquias Troiae, os restos de Troia, o que sobrou da destruição
da cidade comandada pela deusa-mãe. Netuno também se
refere a Troia, chamando-a Troia perjura (periurae...Troiae),
querendo destruir, e com efeito destruiu, suas muralhas desde a
base.

Troia Perjura (periurae...Troiae, v. 811): Epíteto concedido a


Troia por Netuno, tendo em vista que Laomedonte não lhe
pagou o devido pela construção das muralhas da cidade. O deus,
no momento da tomada de Troia pelos Argivos (Vide Livro II de
Eneida), destrói as muralhas da cidade, sacudindo-as de suas
bases. Vide Netuno e Troia.

Troiano, Troianos (Troianos, v. 420; Troiano, v. 602; Troianos,


v. 688; Troianus, v. 757; Troianis, v. 793): Relativo a Troia. Na

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Milton Marques Júnior | 116

passagem, o termo diz respeito aos cestos Troianos portados por


Dares. A última referência diz respeito a Aceste.

Troio, Troia (Troia, v. 38; Troius, v. 417): Proveniente de Troia.


A primeira referência diz respeito à mãe de Aceste; a segunda, a
Dares.

Troio Dares (Dares..Troius, v. 417): Vide Dares.

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Dicionário da Eneida Livro V | 117

V
Vênus (Veneri, v. 760; Venus, v. 779): Deusa do amor e da
beleza, mãe de Eneias, a quem é dedicado um templo por
Aceste, no cimo do monte Érix. Vênus repete aqui, o que faz no
Livro I da Eneida, com relação a Júpiter: endereçando-se a
Netuno, cheia de cuidados e angustiada com o destino do filho,
Eneias, ela lhe faz um resumo dos acontecimentos adversos aos
Troianos, provocados pela pesada ira de Juno (Iunonis grauis ira,
v. 781), desde a queda de Troia até a chegada, em retorno, a
Drépano. Vemos aí, um recurso narrativo, o flashback,
relembrando ao leitor os episódios acontecidos nos Livros
anteriores da Eneida. Vênus também recorda a Netuno não só
as ações de Juno, em pleno domínio do deus marinho, levando
Éolo a criar uma tempestade no mar, de modo a desviar Eneias
de seu destino, mas também o acontecido no próprio Livro V,
quando as mães Troianas, incentivadas por Íris, sob a forma de
Béroe, tocam fogo nas naus, com a intenção de impedir a
continuidade da viagem ao Lácio. Vênus, enfim, suplica a Netuno
que seja permitido as velas cruzarem os mares sob a proteção
do deus e atingirem as margens do Tibre Laurente, isto é, o Lácio,
se o destino tecido pelas Parcas aos Troianos é receber as
muralhas da nova cidade.

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Milton Marques Júnior | 118

Vênus Idália (Veneri Idaliae, v. 760): Um dos vários epítetos de


Vênus, que, na Idália, cidade de Chipre, era celebrada e assim
denominada. Vide Vênus.

Vesta (Vestae, v. 744): Deusa protetora do fogo sagrado do lar


e da cidade. Eneias a leva consigo na sua saída de Troia,
conforme recomendação do espírito de Heitor (Vide Livro II,
versos 293-297). Na referência em questão, o poeta trata a
divindade como Vesta encanecida (canae...Vestae), maneira de
dizer que se trata de uma das divindades mais antigas em Roma.
Confronte o epíteto Vesta encanecida com o da Fides
encanecida (cana Fides), no Livro I da Eneida (verso 292). Vide
Vesta, no Livro II da Eneida.

Vesta Encanecida (canae...Vestae, v. 744): Vide Vesta.


Virgem (uirgo, v. 610): Íris, a deusa mensageira. Vide Íris.
Vulcano (Volcanus, v. 662): Vulcano é o deus do fogo e também
o deus artífice. Hefestos, entre os Gregos, Vulcano é tomado
aqui como metonímia do fogo que Íris e as mulheres troianas
ateiam às naus de Eneias. Vide o Velho Baco, para o vinho, no
Livro I.

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Dicionário da Eneida Livro V | 119

X
Xanto (Xanthum, v. 634; Xanthum, v. 803; Xanthus, v. 808): Rio
troiano referido por Íris, sob a imagem de Béroe, em seu lamento
às mulheres troianas. O Xanto também é tomado por Netuno
como testemunha de seu interesse por Eneias, quando o deus
tenta acalmar a angústia de Vênus, com relação ao destino do
filho. O deus relembra a Vênus que a carnificina produzida por
Aquiles, no seu retorno à guerra, enviou muitos milhares de
guerreiros para a morte. Eneias tenta enfrentar Aquiles em um
combate singular, mas diante da desigualdade de forças e de
proteção divina, Netuno resolve envolver o herói em uma
nuvem, para salvar a sua vida e preservar o seu destino de
fundador de uma grande nação. Vide Íris, Rios Hectóreos e
Netuno.

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Milton Marques Júnior | 120

Z
Zéfiros (Zephyri, v. 33): No contexto do Livro V, os Zéfiros são
os ventos favoráveis, que ajudam os Troianos a chegar nas
margens amigas de Drépano, fugindo à tempestade. Vento do
oeste, brando e tépido, na Torre dos Ventos, em Atenas, é Zéfiro
(Ze/furoj) quem traz as flores primaveris. Para
Hesíodo, juntamente com Bóreas e Notos, Zéfiro é um dos
filhos de ânimo poderoso ou violento
( )Astrai/% d’ )Hw\j a)ne/mouj te/ke karteroqu/mouj, verso
378), gerados por Aurora e Astreu (Teogonia, versos 378-382).
Para Ovídio, nas Metamorfoses, Zéfiro é vento vizinho do
poente, de Vésper e dos litorais tépidos (Livro I, versos 63-64).

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Dicionário da Eneida Livro V | 121

Livro V – Texto em latim

Aeneĭdos Virgilĭi, Liber Quintus

Interea medium Aeneas iam classe tenebat


certus iter fluctusque atros Aquilone secabat
moenia respiciens, quae iam infelicis Elissae
conlucent flammis. Quae tantum accenderit ignem
causa latet; duri magno sed amore dolores 5
polluto notumque furens quid femina possit
triste per augurium Teucrorum pectora ducunt.
Vt pelagus tenuere rates nec iam amplius ulla
occurrit tellus, maria undique et undique caelum,
olli caeruleus supra caput astitit imber 10
noctem hiememque ferens et inhorruit unda tenebris.
Ipse gubernator puppi Palinurus ab alta:
“Heu quianam tanti cinxerunt aethera nimbi?
quidue, pater Neptune, paras?” Sic deinde locutus
colligere arma iubet ualidisque incumbere remis, 15
obliquatque sinus in uentum ac talia fatur:
“Magnanime Aenea, non, si mihi Iuppiter autor
spondeat, hoc sperem Italiam contingere caelo.
Mutati transuersa fremunt et uespere ab atro
consurgunt uenti, atque in nubem cogitur aer. 20
Nec nos obniti contra nec tendere tantum
sufficimus. Superat quoniam Fortuna, sequamur,
quoque uocat uertamus iter. Nec litora longe
fida reor fraterna Erycis portusque Sicanos,
si modo rite memor seruata remetior astra.” 25
Tum pius Aeneas: “Equidem sic poscere uentos

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Milton Marques Júnior | 122

iamdudum et frustra cerno te tendere contra.


Flecte uiam uelis. An sit mihi gratior ulla,
quoue magis fessas optem dimittere nauis,
quam quae Dardanium tellus mihi seruat Acesten 30
et patris Anchisae gremio complectitur ossa?”
Haec ubi dicta, petunt portus et uela secundi
intendunt Zephyri; fertur cita gurgite classis,
et tandem laeti notae aduertuntur harenae.
At procul ex celso miratus uertice montis 35
aduentum sociasque rates occurrit Acestes,
horridus in iaculis et pelle Libystidis ursae,
Troia Criniso conceptum flumine mater
quem genuit. Veterum non immemor ille parentum
gratatur reduces et gaza laetus agresti 40
excipit, ac fessos opibus solatur amicis.
Postera cum primo stellas Oriente fugarat
clara dies, socios in coetum litore ab omni
aduocat Aeneas tumulique ex aggere fatur:
“Dardanidae magni, genus alto a sanguine diuom, 45
annuus exactis completur mensibus orbis,
ex quo reliquias diuinique ossa parentis
condidimus terra maestasque sacrauimus aras.
Iamque dies, nisi fallor, adest, quem semper acerbum,
semper honoratum (sic di uoluistis) habebo. 50
Hunc ego Gaetulis agerem si Syrtibus exsul,
Argolicoue mari deprensus et urbe Mycenae,
annua uota tamen sollemnisque ordine pompas
exsequerer strueremque suis altaria donis.
Nunc ultro ad cineres ipsius et ossa parentis 55
haud equidem sine mente, reor, sine numine diuum
adsumus et portus delati intramus amicos.
Ergo agite et laetum cuncti celebremus honorem:

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Dicionário da Eneida Livro V | 123

poscamus uentos, atque haec me sacra quotannis


urbe uelit posita templis sibi ferre dicatis. 60
Bina boum uobis Troia generatus Acestes
dat numero capita in nauis; adhibete penatis
et patrios epulis et quos colit hospes Acestes.
Praeterea, si nona diem mortalibus almum
Aurora extulerit radiisque retexerit orbem, 65
prima citae Teucris ponam certamina classis;
quique pedum cursu ualet, et qui uiribus audax
aut iaculo incedit melior leuibusque sagittis,
seu crudo fidit pugnam committere caestu,
cuncti adsint meritaeque exspectent praemia palmae. 70
Ore fauete omnes et cingite tempora ramis.”
Sic fatus uelat materna tempora myrto.
Hoc Helymus facit, hoc aeui maturus Acestes,
hoc puer Ascanius, sequitur quos cetera pubes.
Ille e concilio multis cum milibus ibat 75
ad tumulum magna medius comitante caterua.
Hic duo rite mero libans carchesia Baccho
fundit humi, duo lacte nouo, duo sanguine sacro,
purpureosque iacit flores ac talia fatur:
“Salue, sancte parens, iterum; saluete, recepti 80
nequiquam cineres animaeque umbraeque paternae.
Non licuit finis Italos fataliaque arua
nec tecum Ausonium, quicumque est, quaerere Thybrim.”
Dixerat haec, adytis cum lubricus anguis ab imis
septem ingens gyros, septena uolumina traxit 85
amplexus placide tumulum lapsusque per aras,
caeruleae cui terga notae maculosus et auro
squamam incendebat fulgor, ceu nubibus arcus
mille iacit uarios aduerso sole colores.
Obstipuit uisu Aeneas. Ille agmine longo 90

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Milton Marques Júnior | 124

tandem inter pateras et leuia pocula serpens


libauitque dapes rursusque innoxius imo
successit tumulo et depasta altaria liquit.
Hoc magis inceptos genitori instaurat honores,
incertus geniumne loci famulumne parentis 95
esse putet; caedit binas de more bidentis
totque sues, totidem nigrantis terga iuuencos,
uinaque fundebat pateris animamque uocabat
Anchisae magni manisque Acheronte remissos.
Nec non et socii, quae cuique est copia, laeti 100
dona ferunt, onerant aras mactantque iuuencos;
ordine aena locant alii fusique per herbam
subiciunt ueribus prunas et uiscera torrent.
Exspectata dies aderat nonamque serena
Auroram Phaethontis equi iam luce uehebant, 105
famaque finitimos et clari nomen Acestae
excierat; laeto complerant litora coetu
uisuri Aeneadas, pars et certare parati.
Munera principio ante oculos circoque locantur
in medio, sacri tripodes uiridesque coronae 110
et palmae pretium uictoribus, armaque et ostro
perfusae uestes, argenti aurique talenta;
et tuba commissos medio canit aggere ludos.
Prima pares ineunt grauibus certamina remis
quattuor ex omni delectae classe carinae. 115
Velocem Mnestheus agit acri remige Pristim,
mox Italus Mnestheus, genus a quo nomine Memmi,
ingentemque Gyas ingenti mole Chimaeram,
urbis opus, triplici pubes quam Dardana uersu
impellunt, terno consurgunt ordine remi; 120
Sergestusque, domus tenet a quo Sergia nomen,
Centauro inuehitur magna, Scyllaque Cloanthus

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Dicionário da Eneida Livro V | 125

caerulea, genus unde tibi, Romane Cluenti.


Est procul in pelago saxum spumantia contra
litora, quod tumidis summersum tunditur olim 125
fluctibus, hiberni condunt ubi sidera Cauri;
tranquillo silet immotaque attollitur unda
campus et apricis statio gratissima mergis.
Hic uiridem Aeneas frondenti ex ilice metam
constituit signum nautis pater, unde reuerti 130
scirent et longos ubi circumflectere cursus.
Tum loca sorte legunt ipsique in puppibus auro
ductores longe effulgent ostroque decori;
cetera populea uelatur fronde iuuentus
nudatosque umeros oleo perfusa nitescit. 135
Considunt transtris, intentaque bracchia remis;
intenti exspectant signum, exsultantiaque haurit
corda pauor pulsans laudumque arrecta cupido.
Inde ubi clara dedit sonitum tuba, finibus omnes,
haud mora, prosiluere suis; ferit aethera clamor 140
nauticus, adductis spumant freta uersa lacertis.
Infindunt pariter sulcos, totumque dehiscit
conuulsum remis rostrisque tridentibus aequor.
Non tam praecipites biiugo certamine campum
corripuere ruuntque effusi carcere currus, 145
nec sic immissis aurigae undantia lora
concussere iugis pronique in uerbera pendent.
Tum plausu fremituque uirum studiisque fauentum
consonat omne nemus, uocemque inclusa uolutant
litora, pulsati colles clamore resultant. 150
Effugit ante alios primisque elabitur undis
turbam inter fremitumque Gyas; quem deinde Cloanthus
consequitur, melior remis, sed pondere pinus
tarda tenet. Post hos aequo discrimine Pristis

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Milton Marques Júnior | 126

Centaurusque locum tendunt superare priorem; 155


et nunc Pristis habet, nunc uictam praeterit ingens
Centaurus, nunc una ambae iunctisque feruntur
frontibus et longa sulcant uada salsa carina.
Iamque propinquabant scopulo metamque tenebant,
cum princeps medioque Gyas in gurgite uictor 160
rectorem nauis compellat uoce Menoeten:
“Quo tantum mihi dexter abis? huc derige cursum;
litus ama et laeua stringat sine palmula cautes;
altum alii teneant.' Dixit; sed caeca Menoetes
saxa timens proram pelagi detorquet ad undas. 165
'Quo diuersus abis?' iterum 'pete saxa, Menoete!”
cum clamore Gyas reuocabat, et ecce Cloanthum
respicit instantem tergo et propiora tenentem.
Ille inter nauemque Gyae scopulosque sonantes
radit iter laeuum interior subitoque priorem 170
praeterit et metis tenet aequora tuta relictis.
Tum uero exarsit iuueni dolor ossibus ingens
nec lacrimis caruere genae, segnemque Menoeten
oblitus decorisque sui sociumque salutis
in mare praecipitem puppi deturbat ab alta; 175
ipse gubernaclo rector subit, ipse magister
hortaturque uiros clauumque ad litora torquet.
At grauis ut fundo uix tandem redditus imo est
iam senior madidaque fluens in ueste Menoetes
summa petit scopuli siccaque in rupe resedit. 180
Illum et labentem Teucri et risere natantem
et salsos rident reuomentem pectore fluctus.
Hic laeta extremis spes est accensa duobus,
Sergesto Mnestheique, Gyan superare morantem.
Sergestus capit ante locum scopuloque propinquat, 185
nec tota tamen ille prior praeeunte carina;

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Dicionário da Eneida Livro V | 127

parte prior, partim rostro premit aemula Pristis.


At media socios incedens naue per ipsos
hortatur Mnestheus: “nunc, nunc insurgite remis,
Hectorei socii, Troiae quos sorte suprema 190
delegi comites; nunc illas promite uiris,
nunc animos, quibus in Gaetulis Syrtibus usi
Ionioque mari Maleaeque sequacibus undis.
Non iam prima peto Mnestheus neque uincere certo
(quamquam o! – sed superent quibus hoc, Neptune, dedisti); 195
extremos pudeat rediisse: hoc uincite, ciues,
et prohibete nefas.” Olli certamine summo
procumbunt: uastis tremit ictibus aerea puppis
subtrahiturque solum, tum creber anhelitus artus
aridaque ora quatit, sudor fluit undique riuis. 200
Attulit ipse uiris optatum casus honorem:
namque furens animi dum proram ad saxa suburget
interior spatioque subit Sergestus iniquo,
infelix saxis in procurrentibus haesit.
Concussae cautes et acuto in murice remi 205
obnixi crepuere inlisaque prora pependit.
Consurgunt nautae et magno clamore morantur
ferratasque trudes et acuta cuspide contos
expediunt fractosque legunt in gurgite remos.
At laetus Mnestheus successuque acrior ipso 210
agmine remorum celeri uentisque uocatis
prona petit maria et pelago decurrit aperto.
Qualis spelunca subito commota columba,
cui domus et dulces latebroso in pumice nidi,
fertur in arua uolans plausumque exterrita pennis 215
dat tecto ingentem, mox aere lapsa quieto
radit iter liquidum celeris neque commouet alas:
sic Mnestheus, sic ipsa fuga secat ultima Pristis

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Milton Marques Júnior | 128

aequora, sic illam fert impetus ipse uolantem.


Et primum in scopulo luctantem deserit alto 220
Sergestum breuibusque uadis frustraque uocantem
auxilia et fractis discentem currere remis.
Inde Gyan ipsamque ingenti mole Chimaeram
consequitur; cedit, quoniam spoliata magistro est.
Solus iamque ipso superest in fine Cloanthus, 225
quem petit et summis adnixus uiribus urget.
Tum uero ingeminat clamor cunctique sequentem
instigant studiis, resonatque fragoribus aether.
Hi proprium decus et partum indignantur honorem
ni teneant, uitamque uolunt pro laude pacisci; 230
hos successus alit: possunt, quia posse uidentur.
et fors aequatis cepissent praemia rostris,
ni palmas ponto tendens utrasque Cloanthus
fudissetque preces diuosque in uota uocasset:
“Di, quibus imperium est pelagi, quorum aequora curro, 235
uobis laetus ego hoc candentem in litore taurum
constituam ante aras uoti reus, extaque salsos
proiciam in fluctus et uina liquentia fundam.”
Dixit, eumque imis sub fluctibus audiit omnis
Nereidum Phorcique chorus Panopeaque uirgo, 240
et pater ipse manu magna Portunus euntem
impulit: illa Noto citius uolucrique sagitta
ad terram fugit et portu se condidit alto.
Tum satus Anchisa cunctis ex more uocatis
uictorem magna praeconis uoce Cloanthum 245
declarat uiridique aduelat tempora lauro,
muneraque in nauis ternos optare iuuencos
uinaque et argenti magnum dat ferre talentum.
Ipsis praecipuos ductoribus addit honores:
uictori chlamydem auratam, quam plurima circum 250

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Dicionário da Eneida Livro V | 129

purpura maeandro duplici Meliboea cucurrit,


intextusque puer frondosa regius Ida
uelocis iaculo ceruos cursuque fatigat
acer, anhelanti similis, quem praepes ab Ida
sublimem pedibus rapuit Iouis armiger uncis; 255
longaeui palmas nequiquam ad sidera tendunt
custodes, saeuitque canum latratus in auras.
At qui deinde locum tenuit uirtute secundum,
leuibus huic hamis consertam auroque trilicem
loricam, quam Demoleo detraxerat ipse 260
uictor apud rapidum Simoenta sub Ilio alto,
donat habere, uiro decus et tutamen in armis.
Vix illam famuli Phegeus Sagarisque ferebant
multiplicem conixi umeris; indutus at olim
Demoleos cursu palantis Troas agebat. 265
Tertia dona facit geminos ex aere lebetas
cymbiaque argento perfecta atque aspera signis.
Iamque adeo donati omnes opibusque superbi
puniceis ibant euincti tempora taenis,
cum saeuo e scopulo multa uix arte reuolsus 270
amissis remis atque ordine debilis uno
inrisam sine honore ratem Sergestus agebat.
Qualis saepe uiae deprensus in aggere serpens,
aerea quem obliquum rota transiit aut grauis ictu
seminecem liquit saxo lacerumque uiator; 275
nequiquam longos fugiens dat corpore tortus
parte ferox ardensque oculis et sibila colla
arduus attollens; pars uulnere clauda retentat
nexantem nodis seque in sua membra plicantem:
tali remigio nauis se tarda mouebat; 280
uela facit tamen et uelis subit ostia plenis.
Sergestum Aeneas promisso munere donat

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Milton Marques Júnior | 130

seruatam ob nauem laetus sociosque reductos.


Olli serua datur operum haud ignara Mineruae,
Cressa genus, Pholoe, geminique sub ubere nati. 285
Hoc pius Aeneas misso certamine tendit
gramineum in campum, quem collibus undique curuis
cingebant siluae, mediaque in ualle theatri
circus erat; quo se multis cum milibus heros
consessu medium tulit exstructoque resedit. 290
Hic, qui forte uelint rapido contendere cursu,
inuitat pretiis animos, et praemia ponit.
Vndique conueniunt Teucri mixtique Sicani,
Nisus et Euryalus primi,
Euryalus forma insignis uiridique iuuenta, 295
Nisus amore pio pueri; quos deinde secutus
regius egregia Priami de stirpe Diores;
hunc Salius simul et Patron, quorum alter Acarnan,
alter ab Arcadio Tegeaeae sanguine gentis;
tum duo Trinacrii iuuenes, Helymus Panopesque 300
adsueti siluis, comites senioris Acestae;
multi praeterea, quos fama obscura recondit.
Aeneas quibus in mediis sic deinde locutus:
“Accipite haec animis laetasque aduertite mentes.
Nemo ex hoc numero mihi non donatus abibit. 305
Cnosia bina dabo leuato lucida ferro
spicula caelatamque argento ferre bipennem;
omnibus hic erit unus honos. Tres praemia primi
accipient flauaque caput nectentur oliua.
Primus equum phaleris insignem uictor habeto; 310
alter Amazoniam pharetram plenamque sagittis
Threiciis, lato quam circum amplectitur auro
balteus et tereti subnectit fibula gemma;
tertius Argolica hac galea contentus abito.”

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Dicionário da Eneida Livro V | 131

Haec ubi dicta, locum capiunt signoque repente 315


corripiunt spatia audito limenque relinquont,
effusi nimbo similes. simul ultima signant,
primus abit longeque ante omnia corpora Nisus
emicat et uentis et fulminis ocior alis;
proximus huic, longo sed proximus interuallo, 320
insequitur Salius; spatio post deinde relicto
tertius Euryalus;
Euryalumque Helymus sequitur; quo deinde sub ipso
ecce uolat calcemque terit iam calce Diores
incumbens umero, spatia et si plura supersint 325
transeat elapsus prior ambiguumque relinquat.
Iamque fere spatio extremo fessique sub ipsam
finem aduentabant, leui cum sanguine Nisus
labitur infelix, caesis ut forte iuuencis
fusus humum uiridisque super madefecerat herbas. 330
Hic iuuenis iam uictor ouans uestigia presso
haud tenuit titubata solo, sed pronus in ipso
concidit immundoque fimo sacroque cruore.
Non tamen Euryali, non ille oblitus amorum:
nam sese opposuit Salio per lubrica surgens; 335
ille autem spissa iacuit reuolutus harena,
emicat Euryalus et munere uictor amici
prima tenet, plausuque uolat fremituque secundo.
Post Helymus subit et nunc tertia palma Diores.
Hic totum caueae consessum ingentis et ora 340
prima patrum magnis Salius clamoribus implet,
ereptumque dolo reddi sibi poscit honorem.
Tutatur fauor Euryalum lacrimaeque decorae,
gratior et pulchro ueniens in corpore uirtus.
Adiuuat et magna proclamat uoce Diores, 345
qui subiit palmae frustraque ad praemia uenit

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ultima, si primi Salio reddentur honores.


Tum pater Aeneas “Vestra” inquit “munera uobis
certa manent, pueri et palmam mouet ordine nemo;
me liceat casus miserari insontis amici.” 350
Sic fatus tergum Gaetuli immane leonis
dat Salio uillis onerosum atque unguibus aureis.
Hic Nisus “si tanta” inquit “sunt praemia uictis,
et te lapsorum miseret, quae munera Niso
digna dabis, primam merui qui laude coronam 355
ni me, quae Salium, fortuna inimica tulisset?”
Et simul his dictis faciem ostentabat et udo
turpia membra fimo. Risit pater optimus olli
et clipeum efferri iussit, Didymaonis artes,
Neptuni sacro Danais de poste refixum. 360
Hoc iuuenem egregium praestanti munere donat.
Post, ubi confecti cursus et dona peregit,
“Nunc, si cui uirtus animusque in pectore praesens,
adsit et euinctis attollat bracchia palmis”:
Sic ait, et geminum pugnae proponit honorem, 365
uictori uelatum auro uittisque iuuencum,
ensem atque insignem galeam solacia uicto.
Nec mora; continuo uastis cum uiribus effert
ora Dares magnoque uirum se murmure tollit,
solus qui Paridem solitus contendere contra, 370
idemque ad tumulum quo maximus occubat Hector
uictorem Buten immani corpore, qui se
Bebrycia ueniens Amyci de gente ferebat,
perculit et fulua moribundum extendit harena.
Talis prima Dares caput altum in proelia tollit, 375
ostenditque umeros latos alternaque iactat
bracchia protendens et uerberat ictibus auras.
Quaeritur huic alius; nec quisquam ex agmine tanto

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Dicionário da Eneida Livro V | 133

audet adire uirum manibusque inducere caestus.


Ergo alacris cunctosque putans excedere palma 380
Aeneae stetit ante pedes, nec plura moratus
tum laeua taurum cornu tenet atque ita fatur:
“Nate dea, si nemo audet se credere pugnae,
quae finis standi? quo me decet usque teneri?
ducere dona iube.” Cuncti simul ore fremebant 385
Dardanidae reddique uiro promissa iubebant.
Hic grauis Entellum dictis castigat Acestes,
proximus ut uiridante toro consederat herbae:
“Entelle, heroum quondam fortissime frustra,
tantane tam patiens nullo certamine tolli 390
dona sines? Vbi nunc nobis deus ille, magister
nequiquam memoratus, Eryx? ubi fama per omnem
Trinacriam et spolia illa tuis pendentia tectis?”
Ille sub haec: “Non laudis amor nec gloria cessit
pulsa metu; sed enim gelidus tardante senecta 395
sanguis hebet, frigentque effetae in corpore uires.
Si mihi quae quondam fuerat quaque improbus iste
exsultat fidens, si nunc foret illa iuuentas,
haud equidem pretio inductus pulchroque iuuenco
uenissem, nec dona moror.” Sic deinde locutus 400
in medium geminos immani pondere caestus
proiecit, quibus acer Eryx in proelia suetus
ferre manum duroque intendere bracchia tergo.
Obstipuere animi: tantorum ingentia septem
terga boum plumbo insuto ferroque rigebant. 405
Ante omnis stupet ipse Dares longeque recusat,
magnanimusque Anchisiades et pondus et ipsa
huc illuc uinclorum immensa uolumina uersat.
Tum senior talis referebat pectore uoces:
“Quid, si quis caestus ipsius et Herculis arma 410

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Milton Marques Júnior | 134

uidisset tristemque hoc ipso in litore pugnam?


Haec germanus Eryx quondam tuus arma gerebat
(sanguine cernis adhuc sparsoque infecta cerebro),
his magnum Alciden contra stetit, his ego suetus,
dum melior uiris sanguis dabat, aemula necdum 415
temporibus geminis canebat sparsa senectus.
Sed si nostra Dares haec Troius arma recusat
idque pio sedet Aeneae, probat auctor Acestes,
aequemus pugnas. Erycis tibi terga remitto
(solue metus), et tu Troianos exue caestus.” 420
Haec fatus duplicem ex umeris reiecit amictum
et magnos membrorum artus, magna ossa lacertosque
exuit atque ingens media consistit harena.
Tum satus Anchisa caestus pater extulit aequos
et paribus palmas amborum innexuit armis. 425
Constitit in digitos extemplo arrectus uterque
bracchiaque ad superas interritus extulit auras.
Abduxere retro longe capita ardua ab ictu
immiscentque manus manibus pugnamque lacessunt,
ille pedum melior motu fretusque iuuenta, 430
hic membris et mole ualens; sed tarda trementi
genua labant, uastos quatit aeger anhelitus artus.
Multa uiri nequiquam inter se uulnera iactant,
multa cauo lateri ingeminant et pectore uastos
dant sonitus, erratque auris et tempora circum 435
crebra manus, duro crepitant sub uulnere malae.
Stat grauis Entellus nisuque immotus eodem
corpore tela modo atque oculis uigilantibus exit.
Ille, uelut celsam oppugnat qui molibus urbem
aut montana sedet circum castella sub armis, 440
nunc hos, nunc illos aditus, omnemque pererrat
arte locum et uariis adsultibus inritus urget.

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Dicionário da Eneida Livro V | 135

Ostendit dextram insurgens Entellus et alte


extulit, ille ictum uenientem a uertice uelox
praeuidit celerique elapsus corpore cessit; 445
Entellus uiris in uentum effudit et ultro
ipse grauis grauiterque ad terram pondere uasto
concidit, ut quondam caua concidit aut Erymantho
aut Ida in magna radicibus eruta pinus.
Consurgunt studiis Teucri et Trinacria pubes; 450
it clamor caelo primusque accurrit Acestes
aequaeuumque ab humo miserans attollit amicum.
At non tardatus casu neque territus heros
acrior ad pugnam redit ac uim suscitat ira;
tum pudor incendit uiris et conscia uirtus, 455
praecipitemque Daren ardens agit aequore toto
nunc dextra ingeminans ictus, nunc ille sinistra.
Nec mora nec requies: quam multa grandine nimbi
culminibus crepitant, sic densis ictibus heros
creber utraque manu pulsat uersatque Dareta. 460
Tum pater Aeneas procedere longius iras
et saeuire animis Entellum haud passus acerbis,
sed finem imposuit pugnae fessumque Dareta
eripuit mulcens dictis ac talia fatur:
“Infelix, quae tanta animum dementia cepit? 465
non uiris alias conuersaque numina sentis?
cede deo.” Dixitque et proelia uoce diremit.
Ast illum fidi aequales genua aegra trahentem
iactantemque utroque caput crassumque cruorem
ore eiectantem mixtosque in sanguine dentes 470
ducunt ad nauis; galeamque ensemque uocati
accipiunt, palmam Entello taurumque relinquunt.
Hic uictor superans animis tauroque superbus
“Nate dea, uosque haec” inquit “cognoscite, Teucri,

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Milton Marques Júnior | 136

et mihi quae fuerint iuuenali in corpore uires 475


et qua seruetis reuocatum a morte Dareta.”
Dixit, et aduersi contra stetit ora iuuenci
qui donum astabat pugnae, durosque reducta
librauit dextra media inter cornua caestus
arduus, effractoque inlisit in ossa cerebro: 480
sternitur exanimisque tremens procumbit humi bos.
Ille super talis effundit pectore uoces:
“Hanc tibi, Eryx, meliorem animam pro morte Daretis
persoluo; hic uictor caestus artemque repono.”
Protinus Aeneas celeri certare sagitta 485
inuitat qui forte uelint et praemia dicit,
ingentique manu malum de naue Seresti
erigit et uolucrem traiecto in fune columbam,
quo tendant ferrum, malo suspendit ab alto.
Conuenere uiri deiectamque aerea sortem 490
accepit galea, et primus clamore secundo
Hyrtacidae ante omnis exit locus Hippocoontis;
quem modo nauali Mnestheus certamine uictor
consequitur, uiridi Mnestheus euinctus oliua.
Tertius Eurytion, tuus, o clarissime, frater, 495
Pandare, qui quondam iussus confundere foedus
in medios telum torsisti primus Achiuos.
Extremus galeaque ima subsedit Acestes,
ausus et ipse manu iuuenum temptare laborem.
Tum ualidis flexos incuruant uiribus arcus 500
pro se quisque uiri et depromunt tela pharetris,
primaque per caelum neruo stridente sagitta
Hyrtacidae iuuenis uolucris diuerberat auras,
et uenit aduersique infigitur arbore mali.
Intremuit malus micuitque exterrita pennis 505
ales, et ingenti sonuerunt omnia plausu.

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Dicionário da Eneida Livro V | 137

Post acer Mnestheus adducto constitit arcu


alta petens, pariterque oculos telumque tetendit.
Ast ipsam miserandus auem contingere ferro
non ualuit; nodos et uincula linea rupit 510
quis innexa pedem malo pendebat ab alto;
illa Notos atque atra uolans in nubila fugit.
Tum rapidus, iamdudum arcu contenta parato
tela tenens, fratrem Eurytion in uota uocauit,
iam uacuo laetam caelo speculatus et alis 515
plaudentem nigra figit sub nube columbam.
Decidit exanimis uitamque reliquit in astris
aetheriis fixamque refert delapsa sagittam.
Amissa solus palma superabat Acestes,
qui tamen aerias telum contendit in auras 520
ostentans artemque pater arcumque sonantem.
Hic oculis subitum obicitur magnoque futurum
augurio monstrum; docuit post exitus ingens
seraque terrifici cecinerunt omina uates.
Namque uolans liquidis in nubibus arsit harundo 525
signauitque uiam flammis tenuisque recessit
consumpta in uentos, caelo ceu saepe refixa
transcurrunt crinemque uolantia sidera ducunt.
Attonitis haesere animis superosque precati
Trinacrii Teucrique uiri, nec maximus omen 530
abnuit Aeneas, sed laetum amplexus Acesten
muneribus cumulat magnis ac talia fatur:
“Sume, pater, nam te uoluit rex magnus Olympi
talibus auspiciis exsortem ducere honores.
Ipsius Anchisae longaeui hoc munus habebis, 535
cratera impressum signis, quem Thracius olim
Anchisae genitori in magno munere Cisseus
ferre sui dederat monimentum et pignus amoris.”

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Milton Marques Júnior | 138

Sic fatus cingit uiridanti tempora lauro


et primum ante omnis uictorem appellat Acesten. 540
Nec bonus Eurytion praelato inuidit honori,
quamuis solus auem caelo deiecit ab alto.
Proximus ingreditur donis qui uincula rupit,
extremus uolucri qui fixit harundine malum.
At pater Aeneas nondum certamine misso 545
custodem ad sese comitemque impubis Iuli
Epytiden uocat, et fidam sic fatur ad aurem:
“Vade age et Ascanio, si iam puerile paratum
agmen habet secum cursusque instruxit equorum,
ducat auo turmas et sese ostendat in armis 550
dic” ait. Ipse omnem longo decedere circo
infusum populum et campos iubet esse patentis.
incedunt pueri pariterque ante ora parentum
frenatis lucent in equis, quos omnis euntis
Trinacriae mirata fremit Troiaeque iuuentus. 555
Omnibus in morem tonsa coma pressa corona;
cornea bina ferunt praefixa hastilia ferro,
pars leuis umero pharetras; it pectore summo
flexilis obtorti per collum circulus auri.
Tres equitum numero turmae ternique uagantur 560
ductores; pueri bis seni quemque secuti
agmine partito fulgent paribusque magistris.
Vna acies iuuenum, ducit quam paruus ouantem
nomen aui referens Priamus, tua clara, Polite,
progenies, auctura Italos; quem Thracius albis 565
portat equus bicolor maculis, uestigia primi
alba pedis frontemque ostentans arduus albam.
Alter Atys, genus unde Atii duxere Latini,
paruus Atys pueroque puer dilectus Iulo.
Extremus formaque ante omnis pulcher Iulus 570

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Dicionário da Eneida Livro V | 139

Sidonio est inuectus equo, quem candida Dido


esse sui dederat monimentum et pignus amoris.
Cetera Trinacriis pubes senioris Acestae
fertur equis.
Excipiunt plausu pauidos gaudentque tuentes 575
Dardanidae, ueterumque agnoscunt ora parentum.
Postquam omnem laeti consessum oculosque suorum
lustrauere in equis, signum clamore paratis
Epytides longe dedit insonuitque flagello.
Olli discurrere pares atque agmina terni 580
diductis soluere choris, rursusque uocati
conuertere uias infestaque tela tulere.
Inde alios ineunt cursus aliosque recursos
aduersi spatiis, alternosque orbibus orbis
impediunt pugnaeque cient simulacra sub armis; 585
et nunc terga fuga nudant, nunc spicula uertunt
infensi, facta pariter nunc pace feruntur.
Vt quondam Creta fertur Labyrinthus in alta
parietibus textum caecis iter ancipitemque
mille uiis habuisse dolum, qua signa sequendi 590
frangeret indeprensus et inremeabilis error;
haud alio Teucrum nati uestigia cursu
impediunt texuntque fugas et proelia ludo,
delphinum similes qui per maria umida nando
Carpathium Libycumque secant luduntque per undas. 595
Hunc morem cursus atque haec certamina primus
Ascanius, Longam muris cum cingeret Albam,
rettulit et priscos docuit celebrare Latinos,
quo puer ipse modo, secum quo Troia pubes;
Albani docuere suos; hinc maxima porro 600
accepit Roma et patrium seruauit honorem;
Troiaque nunc pueri, Troianum dicitur agmen.

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Milton Marques Júnior | 140

Hac celebrata tenus sancto certamina patri.


Hinc primum Fortuna fidem mutata nouauit.
Dum uariis tumulo referunt sollemnia ludis, 605
Irim de caelo misit Saturnia Iuno
Iliacam ad classem uentosque aspirat eunti,
multa mouens necdum antiquum saturata dolorem.
Illa uiam celerans per mille coloribus arcum
nulli uisa cito decurrit tramite uirgo. 610
Conspicit ingentem concursum et litora lustrat
desertosque uidet portus classemque relictam.
At procul in sola secretae Troades acta
amissum Anchisen flebant, cunctaeque profundum
pontum aspectabant flentes. heu tot uada fessis 615
et tantum superesse maris, uox omnibus una;
urbem orant, taedet pelagi perferre laborem.
Ergo inter medias sese haud ignara nocendi
conicit et faciemque deae uestemque reponit;
fit Beroe, Tmarii coniunx longaeua Dorycli, 620
cui genus et quondam nomen natique fuissent,
ac sic Dardanidum mediam se matribus infert.
“O miserae, quas non manus” inquit “Achaica bello
traxerit ad letum patriae sub moenibus! o gens
infelix, cui te exitio Fortuna reseruat? 625
Septima post Troiae excidium iam uertitur aestas,
cum freta, cum terras omnis, tot inhospita saxa
sideraque emensae ferimur, dum per mare Magnum
Italiam sequimur fugientem et uoluimur undis.
Hic Erycis fines fraterni atque hospes Acestes: 630
quis prohibet muros iacere et dare ciuibus urbem?
O patria et rapti nequiquam ex hoste penates,
nullane iam Troiae dicentur moenia? Nusquam
Hectoreos amnis, Xanthum et Simoenta, uidebo?

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Dicionário da Eneida Livro V | 141

Quin agite et mecum infaustas exurite puppis. 635


Nam mihi Cassandrae per somnum uatis imago
ardentis dare uisa faces: "Hic quaerite Troiam;
hic domus est" inquit "uobis." Iam tempus agi res,
nec tantis mora prodigiis. En quattuor arae
Neptuno; deus ipse faces animumque ministrat.” 640
Haec memorans prima infensum ui corripit ignem
sublataque procul dextra conixa coruscat
et iacit. Arrectae mentes stupefactaque corda
Iliadum. Hic una e multis, quae maxima natu,
Pyrgo, tot Priami natorum regia nutrix: 645
“Non Beroe uobis, non haec Rhoeteia, matres,
est Dorycli coniunx; diuini signa decoris
ardentisque notate oculos, qui spiritus illi,
qui uultus uocisque sonus uel gressus eunti.
Ipsa egomet dudum Beroen digressa reliqui 650
aegram, indignantem tali quod sola careret
munere nec meritos Anchisae inferret honores.”
Haec effata.
At matres primo ancipites oculisque malignis
ambiguae spectare rates miserum inter amorem 655
praesentis terrae fatisque uocantia regna,
cum dea se paribus per caelum sustulit alis
ingentemque fuga secuit sub nubibus arcum.
Tum uero attonitae monstris actaeque furore
conclamant, rapiuntque focis penetralibus ignem, 660
pars spoliant aras, frondem ac uirgulta facesque
coniciunt. Furit immissis Uolcanus habenis
transtra per et remos et pictas abiete puppis.
Nuntius Anchisae ad tumulum cuneosque theatri
incensas perfert nauis Eumelus, et ipsi 665
respiciunt atram in nimbo uolitare fauillam.

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Milton Marques Júnior | 142

primus et Ascanius, cursus ut laetus equestris


ducebat, sic acer equo turbata petiuit
castra, nec exanimes possunt retinere magistri.
“Quis furor iste nouus? quo nunc, quo tenditis” inquit 670
“heu miserae ciues? Non hostem inimicaque castra
Argiuom, uestras spes uritis. En, ego uester
Ascanius!” – Galeam ante pedes proiecit inanem,
qua ludo indutus belli simulacra ciebat.
Accelerat simul Aeneas, simul agmina Teucrum. 675
Ast illae diuersa metu per litora passim
diffugiunt, siluasque et sicubi concaua furtim
saxa petunt; piget incepti lucisque, suosque
mutatae agnoscunt excussaque pectore Iuno est.
Sed non idcirco flamma atque incendia uiris 680
indomitas posuere; udo sub robore uiuit
stuppa uomens tardum fumum, lentusque carinas
est uapor et toto descendit corpore pestis,
nec uires heroum infusaque flumina prosunt.
Tum pius Aeneas umeris abscindere uestem 685
auxilioque uocare deos et tendere palmas:
“Iuppiter omnipotens, si nondum exosus ad unum
Troianos, si quid pietas antiqua labores
respicit humanos, da flammam euadere classi
nunc, pater, et tenuis Teucrum res eripe leto. 690
Vel tu, quod superest, infesto fulmine morti,
si mereor, demitte tuaque hic obrue dextra.”
Vix haec ediderat cum effusis imbribus atra
tempestas sine more furit tonitruque tremescunt
ardua terrarum et campi; ruit aethere toto 695
turbidus imber aqua densisque nigerrimus Austris,
implenturque super puppes, semusta madescunt
robora, restinctus donec uapor omnis et omnes

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Dicionário da Eneida Livro V | 143

quattuor amissis seruatae a peste carinae.


At pater Aeneas casu concussus acerbo 700
nunc huc ingentis, nunc illuc pectore curas
mutabat uersans, Siculisne resideret aruis
oblitus fatorum, Italasne capesseret oras.
Tum senior Nautes, unum Tritonia Pallas
quem docuit multaque insignem reddidit arte 705
(haec responsa dabat, uel quae portenderet ira
magna deum uel quae fatorum posceret ordo);
isque his Aenean solatus uocibus infit:
“Nate dea, quo fata trahunt retrahuntque sequamur;
quidquid erit, superanda omnis fortuna ferendo est. 710
Est tibi Dardanius diuinae stirpis Acestes:
hunc cape consiliis socium et coniunge uolentem,
huic trade amissis superant qui nauibus et quos
pertaesum magni incepti rerumque tuarum est.
longaeuosque senes ac fessas aequore matres 715
et quidquid tecum inualidum metuensque pericli est
delige, et his habeant terris sine moenia fessi;
urbem appellabunt permisso nomine Acestam.”
Talibus incensus dictis senioris amici
tum uero in curas animo diducitur omnis; 720
et Nox atra polum bigis subuecta tenebat.
Visa dehinc caelo facies delapsa parentis
Anchisae subito talis effundere uoces:
“Nate, mihi uita quondam, dum uita manebat,
care magis, nate Iliacis exercite fatis, 725
imperio Iouis huc uenio, qui classibus ignem
depulit, et caelo tandem miseratus ab alto est.
Consiliis pare quae nunc pulcherrima Nautes
dat senior; lectos iuuenes, fortissima corda,
defer in Italiam. Gens dura atque aspera cultu 730

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Milton Marques Júnior | 144

debellanda tibi Latio est. Ditis tamen ante


infernas accede domos et Auerna per alta
congressus pete, nate, meos. non me impia manque
Tartara habent, tristes umbrae, sed amoena piorum
concilia Elysiumque colo. Huc casta Sibylla 735
nigrarum multo pecudum te sanguine ducet.
Tum genus omne tuum et quae dentur moenia disces.
iamque uale; torquet medios Nox umida cursus
et me saeuus equis Oriens adflauit anhelis.”
Dixerat et tenuis fugit ceu fumus in auras. 740
Aeneas “Quo deinde ruis? quo proripis?” inquit,
“quem fugis? aut quis te nostris complexibus arcet?”
Haec memorans cinerem et sopitos suscitat ignis,
Pergameumque Larem et canae penetralia Uestae
farre pio et plena supplex ueneratur acerra. 745
Extemplo socios primumque accersit Acesten
et Iouis imperium et cari praecepta parentis
edocet et quae nunc animo sententia constet.
Haud mora consiliis, nec iussa recusat Acestes:
Transcribunt urbi matres populumque uolentem 750
deponunt, animos nil magnae laudis egentis.
Ipsi transtra nouant flammisque ambesa reponunt
robora nauigiis, aptant remosque rudentisque,
exigui numero, sed bello uiuida uirtus.
Interea Aeneas urbem designat aratro 755
sortiturque domos; hoc Ilium et haec loca Troiam
esse iubet. Gaudet regno Troianus Acestes
indicitque forum et patribus dat iura uocatis.
Tum uicina astris Erycino in uertice sedes
fundatur Veneri Idaliae, tumuloque sacerdos 760
ac lucus late sacer additus Anchiseo.
Iamque dies epulata nouem gens omnis, et aris

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Dicionário da Eneida Livro V | 145

factus honos: placidi strauerunt aequora uenti


creber et aspirans rursus uocat Auster in altum.
Exoritur procurua ingens per litora fletus; 765
complexi inter se noctemque diemque morantur.
Ipsae iam matres, ipsi, quibus aspera quondam
uisa maris facies et non tolerabile numen,
ire uolunt omnemque fugae perferre laborem.
Quos bonus Aeneas dictis solatur amicis 770
et consanguineo lacrimans commendat Acestae.
Tris Eryci uitulos et Tempestatibus agnam
caedere deinde iubet soluique ex ordine funem.
Ipse caput tonsae foliis euinctus oliuae
stans procul in prora pateram tenet, extaque salsos 775
proicit in fluctus ac uina liquentia fundit.
Prosequitur surgens a puppi uentus euntis;
certatim socii feriunt mare et aequora uerrunt.
At Venus interea Neptunum exercita curis
adloquitur talisque effundit pectore questus: 780
“Iunonis grauis ira neque exsaturabile pectus
cogunt me, Neptune, preces descendere in omnis;
quam nec longa dies pietas nec mitigat ulla,
nec Iouis imperio fatisque infracta quiescit.
Non media de gente Phrygum exedisse nefandis 785
urbem odiis satis est nec poenam traxe per omnem
reliquias Troiae: cineres atque ossa peremptae
insequitur. Causas tanti sciat illa furoris.
Ipse mihi nuper Libycis tu testis in undis
quam molem subito excierit: maria omnia caelo 790
miscuit Aeoliis nequiquam freta procellis,
in regnis hoc ausa tuis.
Per scelus ecce etiam Troianis matribus actis
exussit foede puppis et classe subegit

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Milton Marques Júnior | 146

amissa socios ignotae linquere terrae. 795


Quod superest, oro, liceat dare tuta per undas
uela tibi, liceat Laurentem attingere Thybrim,
si concessa peto, si dant ea moenia Parcae.”
Tum Saturnius haec domitor maris edidit alti:
“Fas omne est, Cytherea, meis te fidere regnis, 800
unde genus ducis. Merui quoque; saepe furores
compressi et rabiem tantam caelique marisque.
Nec minor in terris, Xanthum Simoentaque testor,
Aeneae mihi cura tui. Cum Troia Achilles
exanimata sequens impingeret agmina muris, 805
milia multa daret leto, gemerentque repleti
amnes nec reperire uiam atque euoluere posset
in mare se Xanthus, Pelidae tunc ego forti
congressum Aenean nec dis nec uiribus aequis
nube caua rapui, cuperem cum uertere ab imo 810
structa meis manibus periurae moenia Troiae.
Nunc quoque mens eadem perstat mihi; pelle timores.
Tutus, quos optas, portus accedet Auerni.
Vnus erit tantum amissum quem gurgite quaeres;
unum pro multis dabitur caput.” 815
His ubi laeta deae permulsit pectora dictis,
iungit equos auro genitor, spumantiaque addit
frena feris manibusque omnis effundit habenas.
Caeruleo per summa leuis uolat aequora curru;
subsidunt undae tumidumque sub axe tonanti 820
sternitur aequor aquis, fugiunt uasto aethere nimbi.
Tum uariae comitum facies, immania cete,
et senior Glauci chorus Inousque Palaemon
Tritonesque citi Phorcique exercitus omnis;
laeua tenet Thetis et Melite Panopeaque uirgo, 825
Nisaee Spioque Thaliaque Cymodoceque.

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Dicionário da Eneida Livro V | 147

Hic patris Aeneae suspensam blanda uicissim


gaudia pertemptant mentem; iubet ocius omnis
attolli malos, intendi bracchia uelis.
Vna omnes fecere pedem pariterque sinistros, 830
nunc dextros soluere sinus; una ardua torquent
cornua detorquentque; ferunt sua flamina classem.
Princeps ante omnis densum Palinurus agebat
agmen; ad hunc alii cursum contendere iussi.
Iamque fere mediam caeli Nox umida metam 835
contigerat, placida laxabant membra quiete
sub remis fusi per dura sedilia nautae,
cum leuis aetheriis delapsus Somnus ab astris
aera dimouit tenebrosum et dispulit umbras,
te, Palinure, petens, tibi somnia tristia portans 840
insonti; puppique deus consedit in alta
Phorbanti similis funditque has ore loquelas:
“Iaside Palinure, ferunt ipsa aequora classem,
aequatae spirant aurae, datur hora quieti.
Pone caput fessosque oculos furare labori. 845
Ipse ego paulisper pro te tua munera inibo.”
Cui uix attollens Palinurus lumina fatur:
“Mene salis placidi uultum fluctusque quietos
ignorare iubes? mene huic confidere monstro?
Aenean credam (quid enim?) fallacibus auris 850
et caeli totiens deceptus fraude sereni?”
Talia dicta dabat, clauumque adfixus et haerens
nusquam amittebat oculosque sub astra tenebat.
Ecce deus ramum Lethaeo rore madentem
uique soporatum Stygia super utraque quassat 855
tempora, cunctantique natantia lumina soluit.
Vix primos inopina quies laxauerat artus,
et superincumbens cum puppis parte reuulsa

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Milton Marques Júnior | 148

cumque gubernaclo liquidas proiecit in undas


praecipitem ac socios nequiquam saepe uocantem; 860
ipse uolans tenuis se sustulit ales ad auras.
Currit iter tutum non setius aequore classis
promissisque patris Neptuni interrita fertur.
Iamque adeo scopulos Sirenum aduecta subibat,
difficilis quondam multorumque ossibus albos 865
(tum rauca adsiduo longe sale saxa sonabant),
cum pater amisso fluitantem errare magistro
sensit, et ipse ratem nocturnis rexit in undis
multa gemens casuque animum concussus amici:
“O nimium caelo et pelago confise sereno, 870
nudus in ignota, Palinure, iacebis harena.”

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Dicionário da Eneida Livro V | 149

Índice Onomástico

Acaica (Achaica, v. 623)


Acarnaniano (Acarnan, v. 298)
Acesta (Acestam, v. 718)
Aceste (Acesten, v. 30; Acestes, v. 36; Acestes, v. 61; Acestes, v.
63; Acestes, v. 73; Acestae, v. 106; Acestae, v. 301; Acestes, v.
387; Acestes, v. 418; Acestes, v. 451; Acestes, v. 498: Acestes, v.
519; Acesten, v. 531; Acesten, v. 540; Acestae, v. 573; Aceste, v.
630; Acestes, v. 711; Acesten, v. 746; Acestes, v. 749; Acestes, v.
757; Acestae, v. 771)
Alba Longa (Longam...Albam, v. 597)
Albanos (Albani, v. 600)
Alcides (Alciden, v. 414)
Amazônia (Amazoniam, v. 311)
Âmico (Amyci, v. 373)
Anquíseo (Anchiseo, v. 761)
Anquises (Anchisae, v. 31; Anchisae, v. 99; Anchisa, v. 244;
Anchisae, v. 535; Anchisae, v. 537; Anchisen, v. 614; Anchisae, v.
652; Anchisae, v. 664)
Anquisíade (Anchisiades, v. 407)

Anquises Genitor (Anchisae genitori, v. 537)


Aqueronte (Acheronte, v. 99)
Aquilão (Aquilone, v. 2)

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Milton Marques Júnior | 150

Aquiles (Achilles, v. 804)


Aquivos (Achiuos, v. 497)
Arcádio (Arcadio, v. 299)
Argivos (Argiuom, v. 672)
Argólico (Argolico, v. 52; Argolica, v. 314)
Ascânio (Ascanius, v. 74; Ascanio, v. 548; Ascanius, v. 597;
Ascanius, v. 667; Ascanius, v. 673)
Átios Latinos (Atii...Latini, v. 568)
Átis (Atys, v. 568; Atys, v. 569)
Aurora (Aurora, v. 65; Auroram, v. 105)
Ausônio (Ausonium, v. 83)
Austros (Austris, v. 696; Auster, v. 764)
Ave Armígera de Jove (praepes...Iouis armiger, v. 254-255)
Avernos (Auerna, v. 732)
Avô (auo, v. 550; aui, v. 564)
Azinheira (ilice, v. 129)
Baco (Baccho, v. 77)
Batalhão Pueril (puerile...agmen, v. 548-549)
Batalhão Troiano, Batalhões Troianos (Troianum...agmen, v.
602; Troia...agmina, v. 804-805)
Batalhões dos Teucros (agmina Teucrum, v. 675)
Bebrícia (Bebrycia, v. 373)
Béroe (Beroe, v. 620; Beroe, v. 646; Beroen, v. 650)
Bom Eneias (bonus Aeneas, v. 770)
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Dicionário da Eneida Livro V | 151

Butes (Buten, v. 372)


Campos Sículos (Siculis...aruis, v. 702)
Carpátio (Carpathium, v. 595)
Carvalho (robore, v. 681; robora; 698; robora, v. 753)
Casa Sérgia (domus...Sergia, v. 121)
Cassandra (Cassandrae, v. 636)
Cauros (Cori, v. 126)
Cavalos de Faetonte (Phaethontis equi, v. 105)
Centauro (Centauro, v. 122; Centaurus, v. 155; Centaurus, v.
157)
Cidade Acesta (urbem...Acestam, v. 718)
Cila (Scylla, v. 122)
Cimodoce (Cymodoce, v. 826)
Cisseu (Cisseus, v. 537)
Citereia (Cytherea, v. 800)
Cloanto (Cloanthus, v. 122; Cloanthus, v. 152; Cloanthum, v.
167; Cloanthus, v. 225; Cloanthus, v. 233; Cloanthum, v. 245)
Cluêntio (Cluentius, v. 123)
Companheiros Heitóreos (Hectorei socii, v. 190)
Corníseas (Cornea, v. 557)
Coro das Nereidas (Nereidum...chorus, v. 240)
Creta (Creta, v. 588)
Criniso (Criniso, v. 38)
Dânaos (Danais, v. 360)
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Milton Marques Júnior | 152

Dárdana (Dardana, v. 119)


Dardânio Aceste (Dardanium... Acesten, v. 30;
Dardanius...Acestes, v. 711)
Dardânio (Dardanium, v. 30; Dardanium, v. 711)
Dares (Dares, v. 369; Dares, v. 375; Dares, v. 406; Dares, v. 417;
Daren, v. 456; Dareta, v. 460; Dareta, v. 463; Dareta, v. 476;
Daretis, v. 483)
Demoleu (Demoleu, v. 260; Demoleus, v. 265)
Deus (Deus, v. 854)
Deusa (dea, v. 657; v. 816)
Didimâon (Didymaonis, v. 359)
Dido (Dido, v. 571)
Dite (Ditis, v. 731)
Diores (Diores, v. 297; Diores, v. 324; Diores, v. 339; Diores, v.
345)
Domador do Mar Profundo (domitor maris...alti, v. 799)
Dóriclos (Dorycli, v. 620; Dorycli, v. 647)
Elísio (Elysium, v. 735)
Elissa (Elissae, v. 3)
Enéades (Aeneadas, v. 108)
Eneias (Aeneas, v. 1; Aenea, v. 17; Aeneas, v. 26; Aeneas, v. 44;
Aeneas, v. 90; Aeneas, v. 129; Aeneas, v. 282; Aeneas, v. 286;
Aeneas, v. 303; Aeneas, v. 348; Aeneae, v. 381; Aeneae, v. 418;
Aeneas, v. 461; Aeneas, v. 485; Aeneas, v. 531; Aeneas, v. 545;
Aeneas, v. 675; Aeneas, v. 685; Aeneas, v. 700; Aenean, v. 708;

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Dicionário da Eneida Livro V | 153

Aeneas, v. 741; Aeneas, v. 755; Aeneas, v. 770; Aeneas, v. 804;


Aenean, v. 809; Aeneae, v. 827; Aenean, v. 850)
Entelo (Entellum, v. 387; Entelle, v. 389; Entellus, v. 437;
Entellus, v. 443; Entellus, v. 446; Entellum, v. 462; Entello, v.
472)
Eólias (Aeoliis, v. 791)
Epítides (Epytiden, v. 547; Epytides, v. 579)
Ericino (Erycino. v. 759)
Erimanto (Erymantho, v. 448)
Érix (Erycis, v. 24; Eryx, v. 391; Eryx, v. 402; Eryx, v. 412; Erycis,
v. 419; Eryx, v. 483; Erycis, v. 630; Eryci, v. 772)
Esposa de Dóriclo (coniunx...Dorycli, v. 620; Dorycli coniunx, v.
647)
Estige (Stygia, 855)
Eumelo (Eumelus, v. 665)
Euríalo (Euryalus, v. 294; Euryalus, v. 295; Euryalus, v. 322;
Euryalum, v. 323; Euryali, v. 334; Euryalus, v. 337; Euryalum, v.
343)
Eurítion (Eurytion, v. 495; Eurytion, v. 514; Eurytion, v. 541)
Exército Acaico (manus...Achaica, v. 623)
Fados Ilíacos (Iliacis...fatis, v. 725)
Faetonte (Phaethontis, v. 105)
Fegeu (Phegeus, v. 263)
Filho (Nate, v. 724; nate, 725; nate, v. 733)

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Milton Marques Júnior | 154

Filho de uma Deusa (Nate dea, v. 383; Nate dea, v. 474; Nate
dea, v. 709)
Filhos dos Teucros (Teucrum nati, v. 592)
Foloé (Pholoe, v. 285)
Forbas (Phorbanti, verso 842)
Forcos (Phorci, v. 240; v. 824)
Fortuna (Fortuna, v. 22; Fortuna, v. 604; Fortuna, v. 625)
Frígios (Phrygum, v. 785)
Fronde Álama (populea, v. 134)
Genitor (genitori, v. 94; genitori, v. 537; v. 817)
Gétulo, Gétulas (Gaetulis, v. 51; Gaetulis, v. 192; Gaetuli, v.
351)
Gias (Gyas, v. 118; Gyas, v. 152; Gyas, v. 160; Gyas, v. 167;
Gyae, v. 169; Gyan, v. 184; Gyan, v. 223)
Glauco (Glauci, v. 823)
Gnósios (Gnosia, v. 306)
Grande Rei do Olimpo (rex magnus Olympi, v. 533)
Hélimo (Helymus, 73; Helymus, v. 300; Helymus, v. 323;
Helymus, v. 339)
Heitor (Hector, v. 371)
Heitóreos (Hectorei, v. 190; Hectoreos, v. 634)
Hércules (Herculis, v. 410)
Hipocoonte (Hippocoontis, v. 492)
Hirtacida (Hyrtacidae, v. 492; Hyrtacidae, v. 503)

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Dicionário da Eneida Livro V | 155

Iásio (Iaside, v. 843)


Ida (Ida, v. 252; Ida, v. 254; Ida, v. 449)
Idália (Idaliae, v. 760)
Ilíaca, Ilíacos (Iliacam, v. 607; Iliacis, v. 725)
Ilíades (Iliadum, v. 644)
Ílion (Ilio, v. 261; Ilium, v. 756)
Infeliz Elissa (infelicis Elissae, v. 3)
Ino (Inous, v. 823).
Íris (Irim, v. 606)
Itália (Italiam, v. 18; Italiam, v. 629; Italiam, v. 730)
Ítalo, Ítalos, Ítalas (Italos, v. 82; Italus, v. 117; Italos, v. 565;
Italas, v. 703)
Ítalo Mnesteu (Italus Mnestheus, v. 117)
Iulo (Iuli, v. 546; Iulo, v. 569; Iulus, v. 570)
Jônio (Ionio, v. 193)
Jove (Iouis, v. 255; Iouis, v. 726; Iouis, v. 747; Iouis, v. 784)
Jovens Trinácrios (Trinacrii iuuenes, v. 300)
Juno Satúrnia (Saturnia Iuno, v. 606)
Júpiter (Iuppiter, v. 17; Iuppiter, v. 687)
Júpiter Criador (Iuppiter auctor, v. 17)
Júpiter Onipotente (Iuppiter omnipotens, v. 687)
Juventude Dárdana (pubes...Dardana, v. 119)
Juventude da Trinácria e de Troia (Trinacria...Troiaeque
iuuentus, v. 555; Troia pubes, v. 599)
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Milton Marques Júnior | 156

Juventude da Trinácria, Juventude Trinácria (Trinacria pubes,


v. 450; Trinacriae pubes, v. 573)
Labirinto (Labyrinthus, v. 588)
Lácio (Latio, v. 731)
Lar (Larem, v. 744)
Lar Pergameio (Pergameum Larem, v. 744)
Latinos (Latini, v. 568; Latinos, v. 598)
Léteo (Lethaeo, v. 854)
Litorais de Érix (litora...Erycis, v. 23-24)
Líbico, Líbicas (Libycum, v. 595; Libycis, v. 789)
Libístide (Libystidis, v. 37)
Loureiro (lauro, v. 246; lauro, v. 539)
Mãe Troiana (Troia...mater, v. 38)
Mães dos Dardânidas (Dardanidum...matribus, v. 622)
Mães Troianas (Troianas matribus, v. 793)
Magnânimo Anquisíade (magnanimus Anchisiades, v. 407)
Magnânimo Eneias (magnanime Aenea, v. 17)
Maleu (Maleae, v. 193)
Manes (manis, v. 99)
Mães dos Dardânidas (Dardanidum...matribus, v. 622)
Mar Argólico (Argolico mari, v. 52)
Margens Ítalas (Italas...oras, v. 703)
Mar Jônio (Ionio mari, v. 193)

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Dicionário da Eneida Livro V | 157

Melibeia (Meliboea, v. 251)


Melite (Melite, v. 825)
Mêmio (Memmi, v. 117)
Menetes (Menoeten, v. 161; Menoetes, v. 164; Menoete, v.
166; Menoeten, v. 173; Menoetes, v. 179)
Menino Régio (puer...regius, v. 252)
Micenas (Mycenae, v. 52)
Minerva (Mineruae, v. 283)
Mirto (myrto, v. 72)
Mnesteu (Mnestheus, v. 116; Mnestheus, v. 117; Mnesthei, v.
184; Mnestheus, v. 189; Mnestheus, v. 194; Mnestheus, v. 210;
Mnestheus, v. 218; Mnestheus, v. 493; Mnestheus, v. 494;
Mnestheus, v. 507)
Nauta (Nautes, v. 704; Nautes, v. 728)
Nereidas (Nereidum, v. 240)
Netuno (Neptune, v. 14; Neptune, v. 195; Neptuni, v. 360;
Neptuno, v. 640; Neptunum, v. 779; Neptune, 782)
Nisea (Nisaee, v. 826)
Niso (Nisus, v. 294; Nisus, v. 296; Nisus, v. 318; Nisus, v. 328;
Nisus, v. 353; Niso, v. 354): Jovem Troiano, insigne pelo amor
de criança (Nisus amore pio pueri, verso 296)
Noite (Nox, v. 721; Nox, v. 738; Nox, v. 835)
Noto (Noto, v. 242; Notos, v. 512)
Oliva (oliua, v. 494)
Ondas Líbicas (Libycis...undis, v. 789)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 158

Oriente (Oriente, v. 42; Oriens, v. 739)


Pai (pater, v. 521; pater, v. 533; patri, v. 603; pater, v. 690;
parentis, v. 747; patribus, v. 758; pater, v. 867)
Pai Anquises (patris Anchisae, v. 31; parentis Anchisae, v. 722-
723)
Pai Eneias (Aeneas...pater, v. 129-130; pater Aeneas, v. 348;
pater Aeneas, v. 461; pater Aeneas, v. 545; pater Aeneas, v.
700; patris Aeneae, v. 827)
Pai Gerado de Anquises (satus Anchisa...pater, v. 423)
Pai Netuno (pater Neptune, v. 14; Patris Neptuni, v. 863)
Pai Ótimo (pater optimus, v. 358)
Pai Portuno (pater...Portunus, v. 241)
Pai Venerável (sancte parens, v. 80; sancto...patri, v. 603)
Palas (Pallas, v. 704)
Palemon (Palaemon, v. 823)
Palinuro (Palinurus, v. 12, v. 833; Palinure, v. 840, v. 843;
Palinurus, v. 847; Palinure, v. 871)
Pândaro (Pandare, v. 496)
Panopeia (Panopea, v. 240; v. 825)
Panopes (Panopes, v. 300)
Parcas (Parcae, v. 798)
Páris (Paridem, v. 370)
Patrão (Patron, v. 298)
Pelida (Pelidae, v. 808)
Penates (penates, v. 632)
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6
Dicionário da Eneida Livro V | 159

Penates Pátrios (penatis...patrios, v. 62-63)


Pergameio (Pergameum, v. 744)
Piedade Antiga (pietas antiqua, v. 688)
Pinheiro (pinus, v. 153; pinus, v. 449)
Pio Eneias (Pius Aeneas, 26; pius Aeneas, v. 286; pio...Aeneae,
v. 418; pius Aeneas, v. 685)
Pirgo (Pyrgo, v. 645)
Polites (Polite, v. 564)
Portos do Averno (portus...Averni, v. 813)
Portos Sicanos (portus Sicanos, v. 24)
Portuno (Portunus, v. 241)
Praças Fortes dos Argivos (castra Argiuom, v. 671-672)
Príamo (Priami, v. 297; Priami, v. 645)
Pequeno Príamo (paruos...Priamus, v. 563-564)
Prístis (Pristim, v. 116; Pristis, v. 154; Pristis, v. 156; Pristis, v.
187; Pristis, v. 218)
Quimera (Chimaeram, v. 118; Chimaeram, v. 223)
Raça Bebrícia (Bebrycia...gente, v. 373)
Raça Cressa (Cressa genus, v 285)
Raça de Mêmio (genus...Memmi, v. 117)
Raça dos Frígios (gente Phrygum, v. 785)
Raça Tegeia (Tegeaeae...gentis v. 299)
Régia Nutriz dos Filhos de Príamo (Priamo Natorum regia
nutrix, v. 645)
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6
Milton Marques Júnior | 160

Reteia (Rhoeteia, v. 646)


Rios Heitóreos (Hectoreos amnis, v. 634)
Roma (Roma, v. 601)
Romano (Romane, v. 123)
Romano Cluêntio (Romane Cluenti, v. 123)
Sagaris (Sagaris, v. 263)
Sálio (Salius, v. 298; Salius, v. 321; Salio, v. 335; Salius, v. 341;
Salio, v. 347; Salio, v. 352; Salium, v. 356)
Satúrnia (Saturnia, v. 606)
Satúrnia Juno (Saturnia Iuno, v. 606)
Satúrnio (Saturnius, v. 799)
Semente de Anquises (satus Anchisa, v. 244)
Sereias (Sirenum, v. 864)
Seresto (Seresti, v. 487)
Sergesto (Sergestus, v. 121; Sergesto, v. 184; Sergestus, v. 185;
Sergestus, v. 203; Sergestum, v. 221; Sergestus, v. 272;
Sergestum, v. 282)
Sérgia (Sergia, v. 121)
Sibila (Sibylla, v. 735)
Sicanos (Sicanos, v. 24; Sicani, v. 293)
Sículos (Siculis, v. 702)
Sidônio (Sidonio, v. 571)
Simoís (Simoenta, v. 261; Simoenta, v. 634; Simoenta, verso
803)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Dicionário da Eneida Livro V | 161

Sirtes Gétulas (Gaetulis...Syrtibus, v. 51; Gaetulis Syrtibus, v.


192)
Sono (Somnus, v. 838)
Spio (Spio, v. 826)
Tártaros (Tartara, v. 734)
Tártaros Ímpios (impia...Tartara, v. 733-734)
Tegeia (Tegeaeae, v. 299)
Tempestades (Tempestatibus, v. 772)
Terras Ítalas (finis Italos, v. 82).
Teucros (Teucrorum, v. 7; Teucris, v. 66; Teucri, v. 181; Teucri, v.
293; Teucri, 450; Teucri, v. 474; Teucri, v. 530; Teucrum, v. 592;
Teucrum, v. 675; Teucrum, v. 690)
Thalia (Thalia, v. 826)
Thétis (Thetis, v. 825)
Tibre (Thybrim, v. 83; Thybrim, v. 797)
Tibre Ausônio (Ausonium...Thybrim, v. 83)
Tibre Laurente (Laurentem...Thybrim, v. 797)
Tmaros (Tmarii, v. 620)
Trácio (Trhacius, v. 536; Thracius, v. 565)
Trácio Cisseu (Thracius...Cisseus, v. 536-537)
Treicas (Threiciis, v. 312)
Trinácria (Trinacriam, v. 393; Trinacriae, v. 555; Trinacriae, 573)
Trinácria, Trinácrios (Trinacrii, v. 300; Trinacria, v. 450;
Trinacrii, v. 530)

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Milton Marques Júnior | 162

Tritões (Tritones, v. 824)


Tritônia Palas (Tritonia Pallas, v. 704)
Tróades (Troades, v. 613)
Troas (Troas, v. 265)
Troia (Troia, v. 61; Troiae, v. 190; Troiae, v. 555; Troia, v. 602;
Troia, v. 626; Troiae, v. 633; Troiam, v. 637; Troiam, v. 756;
Troiae, v. 787; Troiae, v. 811)
Troia Perjura (periurae...Troiae, v. 811)
Troiano, Troianos (Troianos, v. 420; Troiano, v. 602; Troianos, v.
688; Troianus, v. 757; Troianis, v. 793)
Troio, Troia (Troia, v. 38; Troius, v. 417)
Troio Dares (Dares..Troius, v. 417
Vênus (Veneri, v. 760; Venus, v. 779)
Vênus Idália (Veneri Idaliae, v. 760)
Vesta (Vestae, v. 744)
Vesta Encanecida (canae...Vestae, v. 744)
Virgem (uirgo, v. 610)
Vulcano (Volcanus, v. 662)
Xanto (Xanthum, v. 634; Xanthum, v. 803; Xanthus, v. 808)
Zéfiros (Zephyri, v. 33)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Dicionário da Eneida Livro V | 163

Referências

1. Edições da Eneida
VIRGILE. Énéide; texte établi et traduit par Jacques Perret. Quatrième
tirage de l’édition revue et corrigée par R. Lesueur. Paris: Les Belles
Lettres, 2006 (3 vol.).
VIRGILE. Énéide; texte établi par Henri Goelzer et traduit par André
Belessort. 7. éd. Paris: Les Belles Lettres, 1952.
VIRGILIO. Eneida; traduzione di Luca Canali; introduzione de Ettore
Paratore. 15. ed. Milano: Oscar Mondadori, 2004.
VIRGILIO. Opere; a cura di Carlo Carena. Torino: UTET Libreria, 2011.

2. Obras Gerais
ANDRÉ, Jacques. Les noms des plantes dans la Rome antique. Paris:
Les Belles Lettres, 2010.
CARANDINI, Andrea. Roma, il primo giorno. Roma; Bari: Laterza &
Figli Spa, 2009.
CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire étymologique de la langue
grecque: histoire des mots. Paris: Klincksieck, 1999.
CICERO. De natura deorum.
DELAMARRE, X. Le vocabulaire indo-européen: léxique étymologique
thématique. Paris: Librairie d’Amérique et d’Orient, 1984.
DUMÉZIL, Georges. Mythe et épopée I-II-III; préface de Joël H.
Grisward. Paris: Gallimard, 1995.
GAFFIOT, Félix. Dictionnaire latin-français (le grand Gaffiot); nouvelle
édition revue et augmentée sous la direction de Pierre Flobert. Paris:
Hachette, 2000.
GRAVES, Robert. O grande livro dos mitos gregos; tradução de

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 164

Fernando Klabin. São Paulo: Ediouro, 2008.


GRIMAL, Pierre. Dictionnaire de la mythologie grecque et romaine;
préface de Charles Picard. 15e. éd. Paris: Presses Universitaires de
France, 2007.
HÉSIODE. Théogonie, Les travaux et les jours, Le bouclier; textes
établis et traduits par Paul Mazon. Paris: Les Belles Lettres, 1996.
HESÍODO. Teogonia; tradução e ensaio crítico de Jaa Torrano. 3. ed.
São Paulo: Iluminuras, 2005.
HOMÈRE. Iliade; texte établi et traduit par Paul Mazon; notes
d’Hélène Monsacré. Paris: Les Belles Lettres, 2002 (3 vol.).
HOMÈRE. Odyssée; texte établi et traduit par Victor Bérard, notes de
Silvia Milanezi. Paris: Les Belles Lettres, 2001 (3 vol.).
LA GRÈCE ANTIQUE: carte de la Grèce archaïque et classique d'après
les textes anciens (Hérodote, Thucydide, Strabon); le monde égéen
entre 750 e 330 a. C. Marly-le-Roi: Yves Gretener, 1994.
LIDDELL, H. G. e SCOTT, R. Dizionario illustrato greco-italiano; a cura
di Q. Cataudella, M. Manfredi, F. di Benedetto. 22 ed. Firenze: Le
Monnier, 2008.
MORKOT, Robert. Atlas de la Grèce antique; traduit de l’anglais par
Carine Chichereau. Paris: Éditions Autrement, 1999.
OVIDE. Les fastes; texte établi, traduit et commenté par Robert
Schilling. Paris: Les Belles Lettres, 2003 (2 vol.).
OVÍDIO. As metamorfoses; organização de Mauri Furlan e Zilma
Gesser Nunes; tradução de Cláudio Aquati et alii. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2017.
THE OXFORD CLASSICAL DICTIONARY. Third edition revised. Edited by
Simon Hornblower and Antony Spawforth. New York: Oxford
University Press, 2003.
TITE-LIVE. Histoire romaine I: la fondation de Rome; texte établi et
traduit par Gaston Baillet, introduction et notes de Jean-Noël Robert.
Paris: Les Belles Lettres, 2005.
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6
Iconografia

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 166

Cena de lustratio, com o sacrifício da Suouitaurilia (Coluna de Trajano,


Museu da Civilidade Romana, Roma. Foto do autor)

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Dicionário da Eneida Livro V | 167

Detalhe da cena de lustratio, com o sacrifício da Suouitaurilia, na


coluna de Trajano (Museu da Civilidade Romana, Roma. Foto do
autor)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 168

Altar da Paz, construído por Augusto, entre os anos 13-9 a. C. (Ara


Pacis, Roma. Foto do autor)

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Dicionário da Eneida Livro V | 169

Altar da Paz, construído por Augusto (Ara Pacis, Roma. Foto do autor)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 170

Cena de procissão com Pontífices, áugures e familiares da gens júlio-


claudiana (Ara Pacis, Roma. Foto do autor)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Dicionário da Eneida Livro V | 171

Cena de procissão com Pontífices, áugures e familiares da gens júlio-


claudiana. A primeira figura à esquerda, entre os áugures, é o
imperador Augusto. No meio, vê-se Agrippa e Lívia, tendo entre eles
uma criança (Ara Pacis, Roma. Foto do autor).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Milton Marques Júnior | 172

Cena de ritual de sacrifício (Ara Pacis, Roma. Foto do autor)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6


Dicionário da Eneida Livro V | 173

Cena de Suouitaurilia (Curia Romana, Roma. Foto do autor)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-053-6

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