RAFAEL NOVOSSAD Ensino de Violao Postura
RAFAEL NOVOSSAD Ensino de Violao Postura
RAFAEL NOVOSSAD Ensino de Violao Postura
RAFAEL NOVOSSAD
PONTA GROSSA
2017
RAFAEL NOVOSSAD
PONTA GROSSA
2017
AGRADECIMENTOS
Ao orientador, Prof. Me. Egon Eduardo Sebben, por orientar este trabalho
com dedicação e esmero.
RESUMO
O trabalho tem como enfoque a análise dos conceitos de postura que estão
presentes em métodos de violão erudito e em que medida estes conceitos são
ergonomicamente efetivos, ou seja, se preocupam com a ergonomia e a
antropometria do sujeito. Como objetivo geral, a presente pesquisa propôs analisar
como métodos de violão erudito abordam a questão da postura no ensino de
instrumento. Consequentemente, os objetivos específicos são: identificar em que
medida os métodos apresentam as informações, se elas divergem ou convergem
entre si; analisar se os métodos discutem a postura a partir de fundamentos
ergonômicos; discutir brevemente o desenvolvimento do ensino de instrumentos
musicais. A pesquisa é de natureza qualitativa e de viés bibliográfico, no qual a
coleta de dados se deu diretamente com os métodos e a fundamentação a partir de
publicações relacionadas a área (artigos, livros etc.). As fontes foram selecionadas a
partir de levantamento bibliográfico em editoras e por meio de contato com
professores de violão. A pesquisa revela a falta de fundamentação ergonômica dos
métodos, ainda que todos tratem do conceito de postura. Os materiais se baseiam
em um tipo de ensino repetitivo e acrítico, bastante negativo para o aluno, bem como
há uma preocupação muito mais técnica, focada em uma metodologia reprodutiva e
com heranças conservatoriais em que o aluno deve se adequar às informações. A
partir dos resultados, infere-se que os métodos necessitam ser flexíveis e não
tomados como dogmáticos, dando uma orientação concisa capaz de ser transposta
para a realidade antropométrica de cada aluno, em que este encontre a postura
mais confortável e livre de tensões com o auxílio do professor e que busque os
aparatos ergonômicos que mais se adequam às suas características.
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6
CAPÍTULO 1 .................................................................................................... 11
1.1 BREVE HISTÓRIA DO VIOLÃO: RELAÇÕES ENTRE O
INSTRUMENTO E A ERGONOMIA ............................................................. 11
1.2 ENSINO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS................................ 15
1.3 POSTURA E ERGONOMIA ....................................................... 24
CAPÍTULO 2 .................................................................................................... 31
2.1 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS ............................. 31
2.2 ANÁLISE DOS MÉTODOS ........................................................ 33
2.2.1 Christopher Parkening .................................................................. 34
INTRODUÇÃO
Dentre os diferenciais que colaboram para uma cisão conceitual entre violão
erudito1 e violão popular está presente a questão da postura. Visualmente é possível
identificar quem pertence a cada escola de violão. O instrumento apoiado sobre a
perna esquerda e esta apoiada em um banquinho pode ser considerado um “marco
postural” da escola erudita.
Quando vemos um violonista se utilizando deste tipo de postura logo
imaginamos que ele possui uma formação erudita, também chamada de clássica.
Porém, deixamos de lado as questões propriamente posturais e ergonômicas, ou
seja, que benefícios tal postura pode trazer para o músico, tanto em sua técnica
quanto em sua saúde.
Os adeptos da “escola erudita” argumentam que essa postura oferece mais
flexibilidade à técnica e uma maior desenvoltura na digitação do violão, bem como
reduz consideravelmente a quantidade de tensão presente nos músculos
(principalmente das costas e dos ombros), permitindo um maior tempo de atividade
musical.
Por sua vez, a “escola popular” considera esse tipo de preocupação como
algo exagerado, “erudito” por demasiado, e que prejudica um tipo de técnica mais
visceral e mais espontânea, característica desse tipo de música. Mas, a postura
comumente adotada por essa “escola” é a de o instrumento apoiado sobre a perna
direita, sem nenhum tipo de ajuste ou algo similar ao banquinho do violão erudito.
Nesse tipo de postura há uma grande tensão dos músculos das costas e do ombro,
o que pode reduzir o tempo de atividade musical e estar relacionada com certas
dores que surgem durante a prática.
Quando a dor muscular se faz presente no estudo musical, algumas vezes é
tratada como algo, em certa medida, natural, inerente ao aprendizado musical e que
1
Será empregado o termo “violão erudito”, o qual tem, na presente pesquisa, o mesmo sentido do
também empregado “violão clássico”. Vale destacar que ambos possuem imprecisões, tendo em vista
que o “erudito” denota uma erudição (um conhecimento aprofundado) que pode ser observada em
composições de música popular brasileira, por exemplo. Já o termo “clássico” remete a um dado
momento histórico da música, o Período Clássico, além de ser questionável pelo fato de que uma
música popular brasileira, por exemplo, reconhecida historicamente e referência de determinado
momento da história da música, também possa ser considerada um “clássico”. Juntamente com tais
considerações, o termo “clássico” incorre, igualmente, em definições que o relacionam a “tradicional”,
“exemplar”, “que serve de modelo”, ou mesmo “obra ou autor que constitui modelo digno de imitação”
(HOUAISS, 2004, p. 163), aspectos que se relacionam a um modelo de ensino de música que será
discutido na seção 1.2 do capítulo 1 da presente pesquisa.
7
o músico deve se acostumar e conviver com ela, até que seja superada. Este é um
conceito comum na aprendizagem de instrumentos musicais, mas deve ser
observado com atenção, pois a dor sempre é um sinal de alerta, de que algo não
está correto. E essa dor, muitas vezes, é causada por uma má postura adotada pelo
músico (com tensões musculares em excesso).
A temática da postura é bastante utilizada no campo da escola erudita do
violão, também denominada de violão clássico. Dentro dos campos da música
popular, tal temática não é abordada com tanta ênfase e muitas vezes é relegada a
um segundo plano. Este é um fato que deveria ser superado, assim como não dividir
o violão em escolas – algo que não faz sentido, segundo as palavras de Eduardo
Fernandez (2000) – uma vez que ambas as partes (erudito e popular) se debruçam
com o mesmo entusiasmo sobre o mesmo instrumento, o violão (que não difere em
sua construção e afinação entre popular e erudito).
Uma das características do estudo de violão erudito é sua sistematização
por meio de métodos de ensino. Para a efetivação do trabalho, o primeiro passo
para se tocar uma música é a definição da postura, que nessa escola se caracteriza
pelo violão apoiado na perna esquerda e essa sobre um banquinho2. Essa
adequação do indivíduo às exigências da postura é um trabalho que, geralmente,
acontece antes do trabalho técnico motor (do aparato motor dos braços, das mãos e
dos dedos).
Os métodos são um compêndio de informações necessárias ao
desenvolvimento do aluno. No caso específico do violão, constam informações sobre
a postura, técnica geral de mão esquerda e direita, exercícios progressivos de
técnica e musicalidade, certo tipo de repertório (de técnica aplicada ou não), e,
algumas vezes, algumas discussões sobre a interpretação musical, tais como
ansiedade na performance, tópicos sobre musicalidade, como preparar um recital
etc. Tais informações são, de maneira geral, superficiais e servem como uma
orientação preliminar, o que de certa forma faz sentido, tendo em vista que os
métodos acabam tendo essa função. Dadas tais circunstâncias, pode-se dizer que
um método de violão é como se fosse um “professor em papel”, já que sintetiza
informações importantes para o aluno de uma maneira acessível. Contudo, vale a
ressalva, um método não substitui um professor, é apenas um facilitador.
2
Essa postura, representativa do violão erudito, tem sido questionada por meio de propostas
alternativas, conforme será observado ao longo do trabalho.
8
CAPÍTULO 1
3
Região da Mesopotâmia, atual Iraque e Kuwait.
4
As cravelhas são uma forma primitiva do que atualmente se denomina tarraxas. Se caracterizam
como pedaços de madeira em que se enrolam as cordas, de modo similar ao mecanismo do violino.
As tarraxas possuem mais mobilidade e permitem uma afinação mais precisa.
5
O plectro é uma peça pequena, feita de material diverso (principalmente plástico) e que serve para
pulsar as cordas. Atualmente a palheta é um ancestral do plectro.
12
6
Cabe destacar que a elaboração de conceitos de infância ocorreu a partir do final do século XVII,
após a consolidação dos modelos de ensino vigentes até o início do século XX.
19
7
Partido Socialista Cristão, Mato Grosso do Sul.
8
Disponível em <http://www.brasilpost.com.br/2016/10/19/presidente-comissao-ensino
medio_n_12557216.html> Acesso em 16 de jan. de 2017.
23
9
Cabe destacar que reformulações curriculares de cursos de formação na área do bacharelado em
música já vem sendo realizadas, de modo a atender às demandas de trabalho na área do ensino.
24
o músculo que faz uma grande parte do trabalho estático, não recebe
açúcar nem oxigênio do sangue, e deve usar suas próprias reservas. Além
disso, os resíduos não são retirados, ao contrário, acumulam-se e causam a
aguda dor e fadiga do músculo. (GRANDJEAN, 1998 p. 19).
CAPÍTULO 2
contribuem para tal. Isso pode ser considerado como um levantamento bibliográfico
preliminar, o qual “[...] irá possibilitar que a área de estudos seja delimitada e que o
problema possa finalmente ser definido.” (GIL, 2002, p. 61). Também tal
levantamento serviu para proporcionar familiaridade com o campo de estudo e
facilitar a delimitação do problema. Depois, foram localizadas nos métodos
analisados as possíveis relações com os elementos de postura encontrados nos
referenciais acima.
A partir desse levantamento bibliográfico foi possível delimitar o objeto de
estudo: a postura e como ela é tratada em métodos de violão erudito. Um plano
provisório de assunto foi construído para definir uma estrutura lógica do trabalho
para que “as partes estejam sistematicamente vinculadas entre si e ordenadas em
função da unidade de conjunto” (SALVADOR, 1982 apud GIL 2002, p. 63).
A definição dos métodos de violão erudito analisados na pesquisa tomou
como critério inicial um levantamento dos cursos de bacharelado10 em violão
oferecidos no Brasil. Para tanto, foi acessada a plataforma E-MEC11 e a partir dela
foram localizados os cursos de bacharelado em violão no país e seus respectivos
projetos e programas de disciplina.
Neste aspecto, a busca se deu por meio de palavras chave em uma base de
dados, a qual também pode ser utilizada como fonte de pesquisa. A esse respeito
Gil (2002, p. 68) afirma: “em virtude da ampla disseminação de materiais
bibliográficos em formato eletrônico, assume grande importância a pesquisa feita por
meios de bases de dados e sistemas de busca”.
O processo de levantamento dos cursos resultou em um total de oito
universidades (UFMT, UFU, UFU, UDESC, UNESP, UFJF, UFRJ, UFPEL), porém
nenhum dos cursos disponibilizava digitalmente um programa no qual pudessem ser
consultadas as referências bibliográficas da disciplina de instrumento, e quando
apresentava apenas citava que as referências eram critérios (que parecem ser
subjetivos) do professor de instrumento.
Tendo em vista a indisponibilidade dos programas de disciplina, a alternativa
encontrada foi a realização de um levantamento em editoras musicais, assim como o
10
A opção pela delimitação nos cursos de bacharelado se justifica devido ao estudo mais prolongado
e aprofundado do instrumento e um enfoque técnico-interpretativo que se aproxima dos objetivos da
pesquisa. Contudo, vale destacar a possibilidade futura de um estudo em cursos de licenciatura em
música que oferecem o violão.
11
<http://emec.mec.gov.br/>
33
12
Strive to achieve a balance between security, relaxation, and the hability to produce a good sound,
no original.
36
13
Pelo padrão, a mão esquerda é posicionada no braço do instrumento e a direita na região do
tampo.
39
Como já visto anteriormente, uma boa postura se faz refletir nos movimentos
das mãos e dos braços. Uma boa postura será fundamental para uma boa técnica e
uma boa qualidade sonora. (RODRIGUEZ, 2011).
Além disso, Jorge Cardoso compara o estudo de um violonista com a
ginástica: o consumo de energia, a circulação sanguínea, o metabolismo, etc. Para
que o “estudo-ginástica” seja efetivo, é necessária a combinação de alguns fatores:
relaxamento, força, regularidade, velocidade, resistência, dinâmica etc.
Antes de começar de fato a falar sobre como o violonista deve se sentar,
Jorge Cardoso ainda faz algumas considerações de caráter psicológico e de
maneiras de se estudar e aprender uma peça.
Quando o autor começa a explanação sobre a maneira correta de se sentar,
novamente define o que é postura:
que a postura deve ser distinta segundo seja homem ou mulher.” (CARDOSO, p.
53). Porém o autor não dá explicações posteriores relacionadas a tal fato.
O autor aponta para a necessidade de um estudo relacionado com as
implicações da postura na coluna e nas articulações:
Assim sendo, percebe-se que para o autor uma boa postura é aquela que
está livre de causar dores, seja cômoda e se preocupe com a saúde muscular do
executante. Logo, pode-se dizer que Jorge Cardoso possui uma preocupação
ergonômica.
Para a efetivação de uma boa postura, de acordo com Jorge Cardoso, é
necessário um assento ergonômico, que é definido pelo autor como um assento
adequado. Para que um assento seja considerado ergonômico ele deve reunir
algumas características: deve ser de um material duro, em que a pessoa não afunde
ao se sentar; que a altura do assento possa ser regulada de acordo com a altura da
pessoa; deve ter profundidade de aproximadamente 38 cm; de largura deve ter
aproximadamente 40 cm; deve possuir um apoio posterior para manter a
estabilidade do tronco e deve ser ligeiramente inclinado de cima para baixo e de
frente para trás.
Vale salientar aqui que Jorge Cardoso não menciona a utilização de apoios
para pés nem a necessidade de se apoiar o violão na perna esquerda, aliás, não
afirma como e onde se deve apoiar o violão, apenas onde o executante deve se
sentar.
Outro fator importante é que Jorge Cardoso reconhece que o trabalho diário
em uma postura específica acarretará invariavelmente em dores. O autor não
trabalha com possibilidades de postura para que tais dores sejam eliminadas ou
retardadas ao máximo, ou seja, não leva a preocupação ergonômica e preventiva ao
fim, apenas citando uma postura que deve ser livre de tensões para não causar
dores, mas não desenvolvendo um conceito de postura ergonomicamente aplicada
que seja livre de tais tensões.
44
14
O autor emprega o termo “colocación”, que em tradução livre significa colocação.
45
Além disso, o executante deve se sentar em um ângulo em que a perna direita não
seja impedida de se mover.
mover
O violão deve estar em contato com o lado esquerdo do corpo, para o autor.
Ainda, o aro superior deve encostar-se
encostar se ao peito. O autor ainda salienta que ambos
os ombros devem estar nivelados.
Depois dessas orientações gerais, o autor parte para o ajuste da postura
pos à
individualidade de cada um,
um, aspecto que em certa medida contraria o inicialmente
apresentado a respeito da altura do apoio de pé. Para isso, afirma que cada pessoa
deve fazer experimentos e encontrar a postura mais confortável para si. Além disso,
Shearer
hearer salienta que uma postura boa para determinada pessoa pode não ser boa
para outra pessoa. Para finalizar essa parte, o autor ainda afirma que a postura é
algo processual e gradual, ela vai se moldado com o passar do tempo e a
experiência adquirida pelo
pe executante.
Vale salientar que o autor cita também modos alternativos de se apoiar o
violão. Segundo Shearer, muitos violonistas não utilizam o apoio para pé, o que gera
um excesso de tensão no ombro esquerdo, que deve se abaixar para uma
mobilidade de mão esquerda mais efetiva. Tal movimento gera uma quantidade
bastante grande de tensão e desequilíbrio em relação à coluna. Para resolver isso, o
autor sugere a utilização de um suporte ajustável que adere ao violão. As vantagens
decorrentes desse apoio, segundo
segundo Shearer, é que ambos os pés podem ficar
confortavelmente apoiados no chão, e a quantidade de tensão sobre a coluna será
ainda menor em relação ao apoio de pé. O autor exemplifica o uso do apoio de pé e
do apoio com ventosas a partir das seguintes imagens:
im
Para finalizar, o autor adverte que a posição sem o apoio de pé, quando de
longas durações, não é recomendada: “Quando você tiver experiência com a
postura, você pode testar meios alternativos à postura tradicional” (SHEARER, 1990,
p.19).
Dos métodos analisados, o de Shearer é o único a tratar do tema “formas
alternativas de se sentar”, fortalecendo a ideia de que a postura não deve ser algo
dogmático e regido por postulados universais. Por mais que o autor apresente
alguns desses postulados universais (como a medida do apoio de pé), ele não
defende apenas a postura com o pé, já que, como ele próprio cita, a postura dever
ser encontrada de maneira individual, e com a experiência do executante ele pode
fazer alterações e modificações que acredite ser valorosas.
Além dos métodos analisados acima, foram consultados os métodos de
Fernando Sor, Dionísio Aguado, Isaías Savio (escola moderna do violão vol. 1 e 2) e
Julio Sagreras (Lecciones de guitarra, em quatro volumes), Mário Rodriguez Arenas
(La escuela de la guitara, em sete volumes), Ruggero Chiesa (Tecnica
Fondamentale della Chitarra, em dois volumes). Os métodos citados não
apresentaram informações a respeito da postura e/ou maneira considerada correta
de se apoiar o instrumento.
Também foi consultado o método de Gaspar Sanz (Instruccion de música
sobre la guitarra española, de 1697), que também não trazia informação alguma
sobre postura. Este método também não foi analisado em outros requisitos por ser
um método ainda para vihuela, instrumento que já caiu em desuso em nossos dias –
salvo grupos de performance história, mas estes são mais exceção do que regra. Foi
igualmente consultado o método de Angelo Gilardino (Nuovo Trattado di Técnica
Chitarristica de 1993). Porém, devido ao fato de este método estar em língua
italiana, o que dificultaria uma análise, este não foi incluído na análise. Mas, tal
método trata também sobre a postura.
2.2.8 Postura e ergonomia no violão: uma meta análise dos métodos investigados
15
O método de Pujol foi publicado em 1956 e o de Tennant em 1995.
51
lesões que poderiam acontecer com a tensão muscular (VIEIRA, 2009). Mas, nesses
métodos não há uma forma de consciência corporal para se eliminar a tensão,
denotando a necessidade de o executante descobrir por contra própria. Porém, até a
tomada de consciência do corpo livre de tensões, o executante já pode ter se
lesionado por um excesso de tensão. Além disso, a utilização de um apoio para pé é
praticamente unânime em todos os métodos, com exceção do de Jorge Cardoso.
Todos os métodos inserem o apoio para o pé e alguns colocam uma medida
específica para ele, outros somente o citam e defendem a sua utilização. O método
de Parkening o cita e define suas medidas, assim como o método de Pujol. Os
demais métodos não citam explicitamente o banquinho, mas nas imagens e fotos ele
aparece como que parte integrante que não necessariamente necessita de
explicação.
Isso nos faz definir o próximo ponto em comum dos métodos: a utilização
de imagens com função pedagógica. O uso de imagens para explicar melhor um
texto não é de todo condenável. Porém, na grande maioria dos métodos as imagens
são usadas como fim em si mesmo, ou seja, como se tivessem caráter
autoexplicativo. Bastaria o executante imitar aquilo que está na imagem e
automaticamente a postura estaria correta. Este fato desconsidera todas as
peculiaridades anatômicas e antropométricas do sujeito, como já dito anteriormente,
porque nenhum ser humano possui as mesmas dimensões e as mesmas medidas
que outro. A preocupação ergonômica e anatômica não deve se restringir a certas
medidas, mas deve ser acessível a todas as pessoas.
De modo geral, a postura “real” não difere muito da postura mostrada pela
imagem. Por mais que sejam consideradas as peculiaridades individuais de cada
um, a postura que é mostrada na imagem torna-se um ideal a se alcançado, como
se ela fosse a reprodução da postura de um grande mestre que deve ser seguido.
Outro ponto importante que apareceu em alguns métodos é a diferença
entre uma postura para homens e uma postura para mulheres. Os métodos que
dividem a postura são os métodos de Parkening e de Pujol.
O método de Parkening traz figuras ilustrativas de uma postura para homens
e uma para mulheres, mas a postura para mulheres não segue todo o roteiro
descrito pelo autor nem a preocupação com uma execução livre de tensões. Nas
imagens, pode-se ver claramente uma grande quantidade de tensão, principalmente
nos ombros, na postura feminina, bem como o banquinho não é usado com a
52
dando aulas. E como esses alunos ensinam da mesma maneira que aprenderam,
este modo de ensino se conservou sem questionamentos, porque:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
16
Conforme discutido na seção 1.2 do capítulo 1.
56
17
Tais aparatos são colados a partir de ventosas no instrumento, sem prejudicar o equilíbrio corporal
nem manchar ou deformar o instrumento, além de serem mais leves e menores que os apoios para
pé.
57
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11769.htm> Acesso em 15 de janeiro de 2017.
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Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade. Pontifícia Universidade
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