Observação Participante e o Que Fazer Do Psicólogo Escolar: Subsídios para o Estágio em PEPA - Psicologia Escolar
Observação Participante e o Que Fazer Do Psicólogo Escolar: Subsídios para o Estágio em PEPA - Psicologia Escolar
Observação Participante e o Que Fazer Do Psicólogo Escolar: Subsídios para o Estágio em PEPA - Psicologia Escolar
A observação participante permite ao psicólogo escolar, inserido neste contexto, “olhar” para o
processo de apropriação de conhecimento dos vários segmentos inseridos no ambiente escolar, o
que significa analisar a existência cotidiana da escola como história acumulada, buscar, em seu
presente, os elementos estatais e civis com os quais a escola se construiu. Ou seja, na observação da
escola ele poderá averiguar o que é convergente e o que é divergente, ou contraditório, nas diversas
formas do existir da escola.
Assim, o cotidiano escolar passa a ser o espaço privilegiado para a pesquisa e para a intervenção do
psicólogo escolar, pois é aí que ocorre o encontro dos diversos segmentos envolvidos com o dia-a-
dia da escola, o que circunscreve o campo para a emergência das contradições que estão implícitas
na relações sociais que ali se desenvolvem.
O cotidiano escolar, enfim, caracteriza-se como um campo de interseção entre sujeitos individuais
que levam seus saberes específicos para a construção da escola. Nesses espaços incorporam-se e
tornam-se significativos numerosos elementos não previstos na realidade, nas categorias
tradicionais da realidade escolar. A realidade escolar aparece sempre mediada pela atividade
cotidiana, pela apropriação, elaboração, refuncionalização ou repulsa que os sujeitos levam a cabo.
A partir do cotidiano escolar e pela observação participante, o psicólogo escolar terá acesso às
representações sociais que medeiam as relações que se travam intra e extra-instituição escolar. As
representações sociais (...) são as explicações e as afirmações que os indivíduos dão sobre sua
realidade, É como assimilam a estrutura social na qual integram suas experiências, valores, ou
seja, é a relação que se estabelece entre o homem e o meio. (Salles, 1990/1991, p. 15).
Tendo em vista essas considerações, podemos dizer que, ao tomar o cotidiano escolar como espaço
social de pesquisa/intervenção, o psicólogo escolar terá acesso às mediações que os indivíduos
estabelecem para compreender sua realidade – as representações sociais – e, assim, poderá desvelar
os mecanismos utilizados (individual e coletivamente) na construção de sentidos para a realidade
escolar. Dito de outra forma, o psicólogo escolar poderá desvelar os significados (convergentes ou
contraditórios) que s agentes sociais envolvidos no processo educacional – pais, alunos,
professores, direção, etc. – atribuem para a relação professor-aluno, par o conhecimento, para o
processo ensino/aprendizagem, para o processo de avaliação, etc., além dos significados atribuídos
ao próprio trabalho do psicólogo escolar.
Essas considerações nos levam a indicar a observação participante como a metodologia mais
adequada para o psicólogo escolar apreender, compreender e intervir no contexto escolar. Por um
lado, essa metodologia lhe proporciona aproximação do cotidiano escolar e suas representações
sociais, resgatando sua dimensão histórica, sócio-cultural e seus processos. Por outro lado, permite-
lhe intervir nesses cotidiano, e nele trabalhar no nível das representações sociais e propiciar a
emergência de novas necessidades para os agentes que ali se “movimentam”.
A observação participante se insere no conjunto das metodologias denominadas, no campo
educacional, de “qualitativas” e, freqüentemente, de etnográficas. André (1992) avaliando a
produção científica que se desenvolveu sob essa abordagem nos últimos dez anos, conclui:
O que se verifica, no entanto, é que a grande maioria envolve dados de campo, sistematizados em forma de
descrições que acrescentam muito pouco ao que se sabe e conhece ao nível do senso comum. É a empiria
pela empiria. O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece
“esperar” que esses dados por si produzam alguma teoria. Mas é evidente que sem um e referencial de
apoio que oriente o processo de reconstrução desses dados não há avanço teórico – fica-se na constatação
do óbvio, na mesmice, na reprodução do senso comum (André, 1992, p.31-32)
A proposta que se coloca aqui busca superar tais limitações; ir além do senso comum. Trata-se da
tradição etnográfica cuja essência é identificada como documentar a realidade não documentada
(Ezpeleta & Rockwell, 1986, p. 15, n.3). Ela se circunscreve, por um lado, pela utilização das
categorias empregadas pelas ciências sociais para a compreensão da realidade (como classe social,
ideologia, poder, etc.) e, por outro, pela criação de novas categorias que são
construídas/reconstruídas na relação pesquisador x escola, pois
(...) Trabalhar com as pessoas, considerando-as sujeitos históricos de seus próprios processos ante e
os desafios do cotidiano escolar, permite-nos constatar que não existe uma única verdade acerca da
realidade escolar, mas diferentes aproximações. Tais aproximações, possibilitadas por esse
processo interativo (que não é fixo pela própria natureza da história) e pelas condições objetivas
que a realidade social nos apresenta, deixa-nos por legado a idéia de que viver e desenvolver-se
implica transformações contínuas que se realizam através da interação dos indivíduos entre si e
entre os indivíduos e o meio no qual se inserem (Lima, 1990, p.19).