Educação Ambiental e Quilobolas
Educação Ambiental e Quilobolas
Educação Ambiental e Quilobolas
Abstract: The study analyzed the relationship between environmental education and
quilombola culture, materialized in knowledge, environmental and cultural practices in
the Quilombola community of Bailique Centro (Baião-Pará). For this, a bibliographic
and field research was carried out, which according to the problem is qualitative, whose
data collection was through semi-structured interviews for socio-environmental
analysis. The study revealed socio-environmental, educational, infrastructure and
health issues, among other public services. It follows that, even with the absence of
public educational and environmental policies, focused on sustainability, the materiality
of environmental knowledge is based on the concern for the conservation of local bio-
socio-diversity, made explicit through work actions, experienced in the collective.
Keywords: Environmental Education; Environmental and Cultural Knowledge; Human
Formation.
4 Segundo afirma Pinto (2010), quilombola diz respeito à povoação (ou habitante desta), originária de
antigo reduto de negros fugitivos, os resistentes do processo escravistas. A autora também ressalta que,
de origem Kimbundo (Sul de Angola), as palavras quilombo e mocambo têm significados diferentes.
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Figura 1: Mapa da trajetória do Município de Cametá e Baião até o lócus da pesquisa.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores (2020).
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Figura 3: Rua de acesso principal da comunidade de Bailique Centro.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores (2020).
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Infelizmente, muitos confundem a relação do homem-natureza com as
relações sociais dos homens entre si. A natureza não é objeto eterno e
imutável, situação observada por meio do resultado da ação coletiva de
transformação do mundo pelo homem. Segundo Laraia (2009, p. 24),
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Observamos que, mesmo que a comunidade esteja enfrentando
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problemáticas socioambientais de infraestrutura, como a inexistência de
saneamento básico e de água tratada; a falta da coleta dos resíduos sólidos; o
acesso e o atendimento de saúde são precários e insuficientes e/ou
inexistência assistência técnica, entre outras dificuldades que venham interferir
politicamente e socialmente, além da necessária melhoria da qualidade de vida
e das condições ambientais, ainda assim suas práticas de trabalho e
organização social são orientadas por preocupações de conservação da bio-
sócio-diversidade local por meio da agricultura familiar e de seus manejos,
além dos desenvolvimentos de projetos.
O desenvolvimento dos projetos e da prática de organização de trabalho,
como a agricultura familiar e seus manejos, contribuem economicamente para
a região, uma vez que, além dos moradores garantirem um equilíbrio ambiental
e um ambiente sustentável, a comunidade pode desenvolver os saberes
culturais e ambientais, além dos recursos financeiros, colaborando para uma
alimentação saudável e uma qualidade de vida dos moradores do local. Dessa
forma os saberes ambientais e culturais, que os quilombolas de Bailique criam
e recriam, podem promover a autonomia e luta política para a libertação, de
acordo com os moldes de educação, pensada por Paulo Freire (1993).
Observamos que os moradores quilombolas tentam refletir sobre as
transformações sociais, culturais e ambientais e transmitem os saberes aos
mais novos, assim, estes redescobrem o valor dos saberes tradicionais e das
antigas práticas da comunidade. É nessa transmissão de saberes que
acontece o processo de preservação das raízes quilombolas no Bailique
Centro. Esses saberes são transmitidos por meio da oralidade, deixados pela
ancestralidade, principalmente pelas pessoas mais idosas.
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