Sergipe Del Rey - População, Economia e Sociedade (Luiz Mott, 1986)

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Mott, Luiz Roberto de Barros •

M92 ls Sergipe dei jley; populaç:to, econ omia e sociedade/Mott.


Luiz R. B., Apresentaça-o de Beatriz Góis Dantas. Aracaju.
Fundesc, 1986.
(Coleçã'o Jackson da Silva Lima)

Bibliografia.
l. Condições Sociais - Sergipe. 2. Política - Sergipe. I.
Título. li

CDD 320.981.41
" 309.981.41
CDU 32(814.l)
308 (814.1)
1:
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO

CAPÍTULOS

L Brancos, Pardos, Pretos-e Indíos


em Sergipe: 1825- 1830

II. Pardos e Pretos em Sergipe:


1773 - 1851

m. A Populaça-o Sergipana do Rio


São Francisco no século XIX

IV. Estatísticas e Estimativas da População de Sergipe Del Rey de


1707 a 1888

V. Relaçã'o Nominal dos fudios de Sergipe Dei Rey, 1825

Vl. Uma Estatística Inédita para a História Demográfica de Sergipe Dei Rey:
O mapa demonstrativo d:i populaça-o e freguesia da Vila de Santa Luzia e
Estância em 1825

Vll. A Etnodemografia histórica e o problema das fontes, documentais para o


estudo da população de Sergipe na I. a metade do século XIX

VIII. Engenhos de açúcar em Sergipe Dei Rey: 1612- 1884

lX. Populaça-o e Economia: Aspectos do problema de mlío-de-obra escrava em


Sergipe (Séculos 18 e 19)

X. O Imperial Instituto Sergipano de Agricultura e a Ideologia do Progresso

XI. Violência e Repressão em Sergipe:


Notícia sobre revoltas de escravos (Séc. XIX)
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APRESENTAÇÃO

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Este livro, que em boa hora a FUNDESC coloca em circu/açtio mais ampla e
ao alcance dos sergipanos, é resultado de um sério trabaDto de pesquisa e elabora­
ção intelectua� desenvolvido ao longo de quinze anos, pelo autor, qJUalmente
professor da Universidade Federal da Bahia.
Foi no Arquivo Público de Sergipe que, pela primeira vez, encontrei Luiz
Mott. Era o in icio da década de setenta, éJX)ca em que o Arquivo, ent4ó locaJiza­
do na A ven-ida Ivo do Prado para onde fora transferido recentemente, passava
por uma fase de intensa reorganizaç4o do seu acervo, permitindo aos pesquistltur
res o acesso às fontes documentais. Assistia-se, entcro, à retomada de interesse pe-
111 preservaçtio e estudo das fontes históricas no Est4do, interesse apoilliw pela
Univenidade atrrrllés do seu Programa de Levantamento das Fontesl'rimárias da
História de Sergipe.
Foi nesse contexto que encontrei o antropólogo e então professor em Qzm.
pinas, Luiz Mott, às voltas com a documentaçii:) sobre o passado de Sergipe. Não
era. contudo, um estTeante a descobrir o nosso Estado. Aqui já esttvera outras ve­
zes, demorando-se no Baixo São Francisco, inicialmente coDtendo dados para es­
crever sua dissertaçtio de Mestrado em Etnologia, apresentada à Sorbonne, em
1971, versando sobre a estrutura de produção e o sistema de meaç6o em Brejo
Grande. Mais tarde, retomou à região ,xua estudar as feiras enqU1111to instiluif40
econômica, tema de sua tese de Doutorado em Antropologia Socia( defendida
na Universidade Estadual de Campinas, em 1975.
Experimentado nos trabalhos de campo, que fazem parte do ritual de inicia­
ção do antropólogo, luiz Mott os completa com a pesquisa das fontes históricas
cuja familwridade adquiriu trabalhando em divenos arquivos brasileiros e portu­
gueses: Arquivo Histórico Ultramarino, To"e do Tombo e Bib'/iotec,a N«ional
de Lisboa, Arquivo Nacional (Rio de Jaaeiro), Instituto Histórico e Geográftco
Brasileiro e nos arquivos estaduais da Bahia, do Piauí e de Sergipe. Aqui. d«/1-
cou-se ao trabalho de localizar as fontes para reconstituir a nossa est,utura "1nl>'
gráfica e social no século XIX, do que resultou um con;unto de útdtrmtt!! artigo,
sobre nossa etno-história, estudos quase sempre apresentados em TftlnilJa CMt­
tí/icas e publicados em revistas especializadas de circulaçt1o restrita.
Veste /il'ro, v autor trata de ternas diversos. entre os quais se destaca o seu lNTRODUÇAO
·res�e pelo cs1rut11ra e dinâmica do população, na qual é realçada a presença
•1cgrvs e i11d10s, que são e11/ocados não apenas como categorias estatísticas
·rcnc111das pelo fenóripo. mas como atores que desempenham um papel na
no das relações sociais que se desenvolvem ao longo do nosso processo lu·s­
co. Baseado numa farra e variado documentação, pacien cemente colecada em
•1il'os dil'ersos, associando dados quomirativos e qualitativos trabalhados com
•nstrumenros do fazer antropológico e historiográjico. o autor co nstrói uma
a que é uma conm·buição original e imprescindível para a ·compreensão acerco
:ociedode sergipana
Meu interesse por Sergipe data de 1968, quando iniciei wna pesquisa antro­
Aracafti/SE, setembro de 1986 pológica sobre as feiras rurais do Baixo S!o Francisco: era ainda estudante de
Ciências Sociais da Universidade de São Paulo. Procurando pelo Nordeste a fora,
Beatriz Góis Dantas um local adequado para efetullr a pesquisa, encantei-me pelo pequ'enp município
de Brejo Grande, sendo aí minha pómeira convivência com o povo e a realidade
de Sergipe. Residi na regiã'o sete meses, percorrendo todas as feiras e mercados ri·
beirinhos, redundando na realização primeiramente de uma Tese de Mestrado,
defendida na Sorbonne (Paris, 1971), tendo como título "A Estrutura de Produ­
ção de uma comunidade camponesa do Nordeste Brasileiro", onde estudei minu­
aosarnente o sistema de meiação nas lagoas de arroz do Baixo S. Francisco. Em
1975 completei minha Tese de Doutorado, defendida na Unicamp: "A Feira de
Brejo Grande: Estudo de uma instituiçã'o econômica num município sergipano
do Baixo S. Francisco". Foi exatamente quando procurava documentos sobre a
origem das feiras sergipanas que descobri minha vocação para as pesquisas histó­
ncas, tendo feito meu noviciado neste "metier" no Arquivo Histórico Ultramari­
no, em Lisboa, onde permaneci quatro meses vasculhando toda a documentação
relativa a esta pequena e símpática Capitania nordestina. Foi então que passei a
interessar-me sistematicamente pelo passado sergipano, trazendo de Portugal inú­
meros documentos nã'o apenas sobre as feiras e a regiã'o franciscana, mas também
sobre outros aspectos da sua tústória social e econômica.
F01 em 1972 quando pi � pela prime.ua vez no Arquivo Público do Estado
de Sergipe, na ocasiã'o ainda localizadc no Ateneuzinho. Fiquei fascinado com a
nqueza documental aí conservada, quase completamente intacta, sobretudo com
a documentação com data posterior à independência desta Província, cuja eman­
cipação da Bahfa se deu em 1820. Embora ainda pesquisando temas relativos à
etno-história da regia-o franciscana, deparei-me fortuitamente com um velho ca­
derno de capa de couro, man�crito, intitulado "Livro de Actas da Assembléia
Geral do Instituto Sergipano de Agricultura". Lendo-o, constatei tratar-se de
uma instituiçã'o de primeiríssima grandeza para a compreensã'o da sociedade ser­
gipense na segunda metade do século XIX, congêneres aos institutos fundados por
O. Pedro n no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, não obstante ser completa·
mente ignorado pela historiografia consagrada a Sergipe. Aproveitando a realiza.
ção em Aracaju do V SimpÓSlo de Hístória do Nordeste, em agosto de 1975, aí
apresentei meu primeiro trabalho sobre a1tist6ria desta regiã'o: "O Imperial lnsti·
tuto Sergipano de Agricultura e a Ideologia do Progresso", texto que vem aqui
publicado pela primeira vez, apesar de ter circulado largamente em duas versões
mimeografadas. É o único trabalho nesta coleçã'o de onze artigos que refere-se à
segunda metade do século XIX, posto que todos os demais trabalhos abrangem
o período que vai dos fins do século XVBI à pàmeira metade do século passado.
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Apôs este primeiro trabaTho, publi camos entre 1974-1982 uma dezena de - Conflitos Raciais: embora alguns historiadores antigos de Sergipe propa­
"tlgos consagrados ao estudo da demografia histórica de Sergipe, tema que tem la�em que·nesta regiã"o a escravaria por ser mellior tratada do que nas capitanias
os ocupado igualmente na análise do material histórico de outras capitanias nor­ vizinhas, menos revoltou-se contra a servida-o, em dois artigos abordaf!µs particu­
estinas. sobretudo o Piauí e a Bahia setecentistas. Tendo localizado no Arquivo larmente a questão das interações co nflituosas entre a população de cor - cativa
? Sergipe 54 "mapas exatos da popula�o" datados entre 1825-1837, doeu­ e liberta - e a sociedade dominante. Apresentado inicialmente como comunica­
tentos �quissimos de detalhes e completamente inéditos, elaborei um projeto çã"o na X Reunião da Associaçlío Brasileira de Antropologia, Salvador 1976, o ar­
! pesquisa que aprovado pela Fundaça'o Ford permitiu-me permanecer oeste tigo ·'Pardos e Pretos em Sergipe, 1774-1851" foi publicado n a Revista do Insti­
1quivo de julho a dezembro de 1975, onde coletei enorme volume de informa­ tuto de Estudos Brasileiros (USP, n. o 18, 1976): aí discorro sobre a p�rticipaçã'o
:ies sobre a evoluçlfo e estrutura da população de Sergipe na primeira metade do diferencial destes dois segmentos populacionais em diversos setores ela estrutura
-culo XIX, completando as informações carentes nos arquivos cartoriais e pa­ social, profissional, etc, mostrando como a rebeldia dos par�os e ':' retos contra o
>quiais de São Cristóvã"o, Laranjeiras e Propriá, e no Rio de Janeiro, na Bibliote- status-quo escravista ora aproximava os dois grupos, ora distanciava-os. Deten­
1 e Arquivo Nacionais e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. d�me mais especificamente na quest!o dos conflitos raciais e escravistas, escrevi
Embora todos estes dez. artigos tratem de temas correlatos à demografia his- "Violência e repress!o em Sergipe: Notícia sobre revolta de escravos, Sergipe, sé­
1rica sergipan!> podemos agrupá-los em quatro áreas temáticas: culo XIX" (Mensário do Arquivo Nacional, n.0 5, 1980).
. -Grupos ttnicos: partindó dos ''Mapas Exatos" que dividiam a população
rgipense em quatro sub-grupos, meu primeiro artigo nesta área repetiu no títu­
- Economia e Demografia: a variável econômica sempre estev� presente em
' a mesma classificaça-o censitária dos documentos: "Brancos, pardoqretos e ín­
nossos textos quando descrevemos e analisamos a estrutura e dinâmica demográ­
os em Sergipe: 1825-1830", originalmente publicado nos Anais de História
ficas desta área nordestina, tanto quanto as capitanias e províncias lim,ítrofes,
\ssis, SP. 1974). Detalhando tal abordagem e ampliand�a cronologicamente'
1alisei em argi_to publicado no Mensário do Arquivo Nacional (N.º 9, 1978) "A crucialmente marcadas pelo latifúndio canavieiro. No artigo "F.ngenhos de açú­
car em Sergipe dei Rey, 1612-1884", publicado originalmente no Mensário do
)pula�o Sergipana do Rio Sã'o Francisco no primeiro quartel do século XIX",
ide m.os.tro, com base. em censos de 1802, 1808, 1825 e 1829 como se proces­ Arquivo Nacional (n. o 12, 1978), arrolo um total de 28 estatísticas dos engenhos
sergipanos. desde seu primeiro e úruco exemplar referido no início do século
,u a dinam1ca populacional em quatro freguesias desta área ribeinnha. Cucuns­
XV ll, até atingir ·'mais de 800" às vésperas da Abolição. "População e &ono
evendo ainda mais o universo de análise, com base agora numa lista manuscrita
mit1: Aspectos do problema da mão de obra escrava em Sergipe, séculos XVIll e
1contrada no Arquivo Nacional, onde estavam anolados os nomes, idades, esta­
> civil e outras características demográficas de todos os mdigenas desta Provín· XlX' foi meu último artigo publicado sobre esta regiã'o (Revista do Instituto
Hist6rico e Geográfico de Sergipe, n. o 28, 1982): aí descrevo a procedência étoi·
a, publiquei no mesmo Mensário (n. o 10, 1980) "Relação norrunal dos índi<li
c:i da escravaria nas terras de Slfo CristôvlJo nos finais dos setecentos e sua distri·
· Sergipe dei Rey, 1825", fazendo a crítica das limitações que tais listas norm- bu1ç11'0 pelas diferentes regiões ecológicas da província, ratificando uma de mi­
1t1vas representam para a História Demográfica de nosso país. nh(I.) tupóteses já desenvolvidas em outros artigos: que a importância demográfica
- Estatísticas Demográficas: considerando a exiguidade e falta de divulgação e tconõnuca dos trabalhos livres - agregados, moradores, rendeiros, etc - em
: documentos censitários referentes ao Brasil antigo, e dada a pequeno número sua maioria constituídos de negros e mestiços, já nos inícios dos oitocentos dev:ia
: pesquisas e estudos na atual década de 70 consagrados a demografia h1stónc:i ser qualitattvamente igual ou quiçá superior à força de trabalho escrava.
asileira, prestei . particular atençã'o à elaboração de listas demográficas e pubh·
,ção de estatísucas que servissem de pista a outros pesquisadores interessados Ao reunir estes artigos num úruco volume, minha intençlío é facilitar os es­
Jª nos estudos censitá nos em geral, seja na demografia sergipana em parucular tudiosos e interessados na história de Sergipe, posto que algumas das revistas on·
m 1976, no mesmo Mensário, (n.0 12), d1vulgue1 "Estatísticas e Estunat1vas da de ongi nalmente apareceram, ou deixaram de circular, ou tomaram-se de dificíli­
)pulação livre e escrava de Sergipe dei Rey de 1707 a 1888'', onde estão arrola­ mo acesso. Os textos aqui foram reproduzidos tal qual foram primeiramente pu­
is tnn1a referências encontradas seja no Aiqu1\'0 Público do Estado de Sergipe. blicados, raia-o pela qual pedimos clemência ao leitor pelas inevitáveis repetições
Jª nos arquivos canocas e lusitanos. Em 1977, m.a1s doJS artigos sobre a mesma e correções.
·oblemática: "Uma estatística inédita para a histôna demográfica de Sergipe: O Já lá vão quase duas décadas desde a primeira vez que visitei Sergipe pela pri·
apa Demonstrativo da população da freguesia da Vila de Santa Luzia e Estância metra vez. e ao longo destes anos, privei da cordial amizade de alguns ilustres ser·
n 1825" (Mensário do Arquivo Nacional, n.0 11, 1977), onde curioso censor gipanos a quem gostaria de homenagear: Profa. Maria Thetis Nt.01es, Presidente
ém das quatro categonas étnicas previstas nos demais mapas populacion,us, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ao qual tenho a honra de ser asso­
b-dJVJdiu � popu}Jç:io dc-sta regiã"o fronteiriça com a Ba11Ja em mais três sub­ ciado; Prof. José Calazans, meu colega no Departamento de Antropologia da
upos sócio-económicos: ricos, rem::d.Jados e pobres, estes últimos representan­ Umveridade Federal da Bahia; Profa. Beatnz Gois Dantas, da Universidade Fede·
l 83% do total populacional. Na Revista da SBPC publiquei o resultado do ie­ raJ de Sergipe. A todos os sergipanos, partrcularmente aos funcionários e direto­
.ntamento documental dos seis meses de permanência nos Arquivos sergipenses res do Arquivo Público de Sergipe e à Fundação Estadual de Cultura, minha gra·
canocas, sugenndo nova área de pesquisas dentro áa Antropologia his1órica: udão.
!I. Etno-Demografia tustórica e o problema das fontes document:i.is para o es­
do da popul a�o de Sergipe na primeira metade do século XIX" (Ciência e Cul­ Luiz Mott. SaJvador, Agosto 1986
ra. no :::9. 1977)
Brancos, Pardos, Pretos e .fndios
em Sergipe: 1825 - 1830

Afora 08 trabalhos de Maria Luiza Marcilio, de Luiz LiBanti, e de º!-'- troe


poucos estudiosos, tendo a demografia histórica como �Jl!.8 (1), pou� COl88 &e
,
publicou sóhre a estrutu11l e dinâmica da populaç4'o brasileua � os penodos pre e
proto estatísticos (2). � P,º� u� la�o n;otamos um crescente u_iteresee n? exte­
rior por este ramo da hisfona quantitatiVa (3); no Brasil, �etun!'8, lastimavel­
; .
mente são ainda muito reduzidos O& estudiosos e as obras dispomve1S, quer ma­
nuais, quer estudos monográficos, referentes à nossa história demográfica.

Abreviaturas:
A.N. e Arquivo Nacional (Rio de Janeiro)
A.P.E.S. • Arquivo Público do Estado de Sergipe (Al'acaju)
B.N." Bibtloteca Nacional
RIGHS •Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (Ar acaju)
(l) Mana Luiza Marcílio: • .
1968. La Ville de Stro Poulo: Peupleme,., et Pl.pulatron, 1750-1850. Rouen, Univer­
sité de RouC!l, Faculté de Lettres et Sciences Humaines.
- 1970. Dos registros paroquiais à demografia histórica no Brasil. Anais de Hisiório.
(Assis), n. 0 2. 1970, p. 81-100.
- 1971. População, sociedade e economia de uma comunidade pré·malthusiana brasj.
leua. 0 10 1971, p. 9-20.
&tudos Jlistórir.os (Marília). n. .
LUIZ L1san11:
1962/63. La poblacion de la capitania de São Paulo entre la se gunda mitad dei siglo
XVIII y el comienzo dei siglo XIX.
Anuário dei ln11itulo de fove4tigocione$ Ifütoricos, (Universidad Nacional dei Lito­
ral), Faculdad de rnosofia y Letras de Rosario, 1962 /63 , n. 0 6, p. 13·26.
L Lisantii& M.L. MarcíUo: �
- 1971. Problemes de l'histoire quantitative du Brésil: métrologie et demograpbie.
in l 'llútoire quontitative du Brésil de J 800 a J 930, Centre National de la Recher­
che Scientifique, Paris, ll/15 octobre 1971, p. 175-195.
(2) De acordo com a terminologia utilizada por Ma.rcílio & Lisanti (1971: 33), o período
pré-e,tatútico corresponde aos começos da colonização Brasil até a primeira metade do
século XVUI; o período proto-estatístico começa na segunda metade do século XVIII,
terminando no ano do primeiro recenseamento nacional do Brasil (1872).
(3) Entre inúmeros trabalhos publicados nos últimos anos, tendo a demografia histórica'
como tema. nifo poderíamos deixar de citar os seguintes:
- Peter Laslett: (ea./
J 792. Ho,uehold ond family in pcut time.
Cambridge University P,ess.
- T. H. FoUJngsworth:
1969. Ristorical Demogrophy. The Sources of Hístocy. Studfos in the uses of Histori·
cal Evidence.
London, The Camelot Press Ltd.
- Paul Deprez (ed.):
1970. Population and Economi�.
Winnipeg.. Uníversity of Manitoba Press.
- E. A. Wrigley:
Société el Population.
Paris, Hachette.
IS

márias, um e outro sobre a bihli� dedicada à bistoriopfia eergipana (6),


No que se refere à Capitania e Província de Sergipe d'd Rei, verdade &e- No que se refere à produção histon �ca �obre esta rep? nordeatiria, �
dita, raríssunos t.êm sido os nlro-sergipanos a se interessar pela história desta de muito esforço e verve terem sido pJ"C?digamente canamadoe na pdenuca
mpática e atraente região nordestina.- Embora vizinha e em muitos aspectoe
:ológicos, sociaic;, econômicos e culturais, semelhante, para nlo dizer igual, à
Jti ga Capita.rua da C apital da Colônia, salta à vista do estudioso, a di.spanclade
do J?_róprio seculo pusado, que dlo um panorama ,ohal
"ques tão d� limit.es" com a Bahia (7), além de al�ns trahal�oe da!4cfoe ain�
da diacroma de Senzi..
pe (l:S}, vem06 recentemente, un..a crescente a au.spic1 � produçlo intdoctual Ío­
ci.qente na documentação (fontes primárias) e no interesse .Pºr parte aos cien· cal que começa a txazer novas luses sobre o p888Ado aergipano (9).
stas soei.ais estrangeiros e nacionais, no _que se refere à Bahia, de um lado, e à
ergipe, do ootro: no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa), p<>r exemplo, en·
uanto que a Capitania da Bahia dispõe de centenas de "caixas' e códices, oe do­
lnlentos relativos a Sergipe d'el Rei mal necessitam de três humildes "caixas" (6) José Sil�lo Leite Fontes :
l). Não só na quantidade; mas também na ancianidade, os documentos existen· Levanta mento das fontes pnrnárias da história de Sergipe.
:s nos Arquivos Públicos da Bahia e de Sergipe sfo, da mesma fotm.a, muito dis­ Cadernos da Uniue�idade Federal de Sersipe, n. 0 1, 1971, p. 4·12.
José Calasans Bran<!Ko da Silva:
:melhantes: enquanto que no Arquivo de Salvador há manuscritos datados de&­ Introdução ao estudo da Historiografia Sergipana.
e o século XVI; em Aracaju a "pacotilha" mais antiga refere-se ao tempo das lu­ Comunicaç4o apresentada no V SimpéKio de História do Nordeste, Atacaju, agosto 1973
is da Indep endência. Enquanto que Recife, Salva<lor e mesmo Maceió aio de (7) Ivo do Prado:
:mpos em tempos visitadas por sôfregos pesquisadores do sul do país ou da A Capitania de SerJ!Ípe e sU& ouvidoria.,.
Rio de Janeiro, Papelaria Brasil, 1919
merica do Norte, em Sergipe raros são os "de fora" que se preocuparam com Francisco C. Lima Jr.:
1 a história. História dos Limites entre Sergipe e Bahia.
Aracaju, Irnp. Oficial, 1918.
Tal desinteresse pela menor das Províncias do Império é injustificado, M. P. Oliveira Telles:
LimiteJ de Sergipe
ois muito embora as fontes primárias sobre esta zona nordestina nio seja.m tio Aracaiu, imprensa Oficial, 1919
>undantes, antigas e divulgadas, como as que tem a antiga CaJ>ital da Colônia João Pereia Baneto:
>mo tema, o certo é que notadamente sobre o século XIX, enste rico, intere& Limites de Sergipe e Bahia.
AtacaJu. Imprensa Of1cial, 1920.
mte e na ma maior parte inexplorado material à �era dos estudiosos que ae (8) Felisbello Ftrmo de Olíveira Freire:
tsponbam a analisá-lo, interpretá-lo e divulgá-lo. Felizmente p0demos contar Histório de Sergipe (1575-1855)
>m algumas Memórias ou Descrições de Serrpe relativ as ao J?rimeiro quartel do Rio de Janeiro, Tipografia Perseverança, 1891.
,culo passado, quer impressas, quer manuscntas, mas de relatJvo (ácil acesso (5). - l.aUdélíno Freire:
Quadro Coro&rófico de Ser&ipe­
elizmente já podemos dispor áe dois levantamentos críticos sobre as fontes pri· R10 de Janeiro, Garnier, 1896.
- J.C. Silva L15boa:
Corogrofio do E.ttado de Sergipe.
Aiacaju, lmp. Oficia.!, 1897.
(9> (as alguns autores que modernamente têm se preocupado com a primeua·metade do sé­
culo XIX de Sergipe:
1) A mesma randadc de documentos retauvos a Sergipe foi por nós constat ada num te,.in· - Jose Silvério Leite Fontes<
tamento que real.Jumos. entre oullos. nos seguintes arquivos de Po1tugal Arquivo Na· Labatur cm Sergipe.
c1onal da Torre do Tombo, Bíblioteca Naci.>naJ de Luboa, Biblioteca <Ili Aiuda. Atqw· Cadem� da U. F. S., n. 0 1, 1972, p. 13·21.
vo do Ministério das Obras Públicas, Biblioteca da Academia de Cicnctas de Lisboa, 81· Cidades e Vilas de Sergipe no século XIX. Depoimentos
bboteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Convém no en11ctanto lembrar que gran­ ComunicaÇ4o apruentado no VII Simpó,io NacwMl da ANPUH,Belo Horizonte,
de parte da documentay:o relat1V2 a Sergipe antenor ao .uio de 1320, devt tncontnu-se Sct. 1973
dispersas nas call,as , códices e livros catalogados como pertencent� à Bahia, pois so­ - Maria Thétis Nunes:
mente após esta data que Sergipe d'el Rei é elevada ao status de c:ip11Bni3 independente Sergipe no p,ocesso da Independência do Brasil.
da Bahia. isto por Decreto de D. João VI, <laudo de 8 de JUiho de 1820
i) Dentre os escritos antigos consagrados à Cap,tanía de St:rglpe d'el Rei. cttem� LademO# da UFS, n.0 2, 1972, 1973, p. 1·52.
Auto1 Anônimo, ano de 1802. A Presidência de Manuel Fernandes da Silveira e a rcpercuss4"o em Sergipe da Con­
Bíbhoteca Nacional, Seçfo de Manuscri1os. ll - 33,16,3
- D. Marco:. Antonio de Souw: federação do Equador.
Memório ,obre a Capitania de Senipe, suo fU1'1doÇ60, populaç6o, produto, e melhtr Comunicoç4o apresentada no V Simpósio de História do Norde,ie, A.racaiu '"-to '
' '.--..-·
romen tos de que é copo:. 1973.
Araca JU, IBGE/DEE. 2.ª edição, 1944. - BeBlriz Gois Dantas·
- Aues de Casal Subsídios à História da Antiga MISSiIO do Geru.
ComunicoÇ4o opre.Jentada no V Sim�io de Hutório doNordute, Aracaju, Agosto,
Co,ogrofio Brwllioo (1817)
Cap. XI li: Provínclll de Seregipe d"el Rei. 1973
Ldíção fac-símile, lmpreso.ca Nac1onaJ. 1947 - Maria da Glória Santana de Almeida:
A Barra da Counguiba e o acúcar, 1840/1850.
- José Antonio Fe,nandes
Informação da Capitama de Sergipe em 1821. Comumcaç6o opresentoda no V Simpó,io de llillória do Norde,te. AtacaJU, A&osto,
/(,•Vt>IO do /,utituto IU..tórir<> P c�Of!'áfico de Serg,pe., vol. 1. n.0 1, 1913. p. 46·50. 1973
população, tomand_o-os dependentes dos juízes �� direito e p_revenindo a ação
Cumpre dizer, logo de inicio, que se a demografia histórica no Brasil en­ fraudulenta dos vigarios nos arrolamentos paroquiais empreendidos para fins ele1-
seus primeiros passos, em Se�e ela está para na..o,cer (10). AJém das infor­ tof3Ís" (! 5)
ões encontradas na obra Investigações sobre os recenseamentos da população
1 do Império e de cada Província de per si, tentado desde os tempos coloniais De acordo com esta fonte oficial, antes de 1837 não consta terem sido
1oje, elaborada em 1870 por Joaquim Norberto de Sousa e Silva (11 ) infor­
eferuados arrolamentos ou estatística da população de Sergipe. Tal afi.nnaçlo pa­
ões estas que foram em parte transcritas no Resumo Histórico dos Inquérit os rece não ser de todo exata, pois pela Lei de 20 de outubro ae 1823, § 7, art. 24,
!itári os realisad os no Brasil (12), nada mais foi escrito, até opresente, sobre a
.ilação de Sergipe na primeira metade do século passado. E, pois, tentando
pletar este vazio, que estamos desenvolvendo uma pesquisa tendo como pon­ "Conferiu-se a organiZação da estatística das províncias aos conselh�s das respec-
referenciais dois corpoo estatístic os : os Mapas exatos da População das Fre­ tivas presidências, e pelo aviso circular de 8 de agosto de 18261 publicado no Diá­
rio Fluminense do mesmo ano, mandou-se que em todas provmcias se fonnassem
ias e Missões da Província de Se� d'el Rei dos anos 1825-1826-1829- taõuas estatísticas por um sistema wúforme, para o que se remeteram exemp�es
0 (13), e a Estatística da População Livre e &crava da Província de Sergipe de um elenco, que se fez estampar para esse .fim, recomendando-se que nesse im­
.rosada no ano de 1854 (14). Nossa intenção é mostrar como se configurava a portante trabalho se empregassem os indivíduos mais hábeis d.a província, e que
com eficaz diligência se procwasse que'tudo se concluísse a tempo de poderem ser
itnra demográfica de Sergipe nestes dois períodos, como se estruturavam presentes os seus resultados à Assembléia Geral quado novamente se abrisse em
diferentes grupos étnicos e estamentais, que tipo de interação - legal, aspi­ Maio de 1827"(16)
:mal e de fato existia entre as várias categorias sociais constituintes desta so­
ade agrário-escravocrata, finalmente, como tais estruturas e proce$0$ �o­
un do primeiro _para o segundo quartel do século passado. Ora: em Ata da Sessão do Conselho de Governo da Província dt Sergi­
Um _primeiro problema se coloca às nossas indagações: quantos e <J!18ll· pe, de 4 de dezembro de 1826, consta gue em virtude da indicação tra11$Crita na
foram realizados os recen.seamentos em Sergipe? De acordo com N. de Sou­ J. ata antecedente, sobre as tábuas estatísncas desta província, o elenco e aviso que
Silva, a acompanhou, expedida à presidência pela Secretaria de Estado d06 Negóci06 do
Império, em data de 8 de agosto de 18�6. resolveu o Conselho fosse encan.egado
''pelo� mapas remetidos em_ 1 S 16 à Mesa do Desembargo do Paço, Y1il-se que a po­ por sua capacidade, préstimo e talentos, o Professor Jubilado de Latinidade Ig­
pulaçao não adulta de Sergipe era de 91.997 habitantes. O Conselheiro Antonio nácio Antonio Donnundo, da prontificaçio da tábua estatística da _provínci.a,' pe­
Rodrigues Velloso de Oliveira, na sua obra A Igreja no Brasil calculou que esse nú­
mero ter-se-i_a elevado em JS19 a 114.996, sendo 88.783 livres e 26.213 lo denc� 'i'1e para se':1 governo, n�ta i�portante tarefa, lhe sena transmitido
,
escravos"(l4 ). com a copia do mencionado Impenal aviso (17). Sucede porem que o referido
professor JUbilado envia um ofício ao Conselho.
lindo a Diretoria Geral de Estatística,
"escusando-se pol su3 avançada idade e moléstias da preparação da tábua estatís­
tica, uansferindo ent€o o Conselho em dezembro do mesmo ano tal incwnbência
··Nos primeiros anos decorridos após a proclamaçío da independêncw nac-10na1
não se registrou nenhuma tentativa digna de nota, no sentido de restabelecer
serviço regular de estatística na Província de Seigipe, 3SSm cano t=bém rufo
um a José Pinto de Carvalho, que por sua ínteligêncía e patriotismo"

consta que se tenha efetuado nesse período arrolamentos da população corn re­
sultados satisfatórios. Só em 183 7 chamou o Presidente Bento de Meilo Pere1111 a certamente levaria a cabo tal encargo (18). Na seMfo de Janeiro do ano seguinte,
atenção da Assembléia Provincial para o problema estatístico consegwndo obter o Conselho, preocupado com osilêncio do novo indicado envia ao mesmo um
a lei de 14 de março de 1837. que veio facilitar a execução dos reoonseamento� d3 ofício, exigindo que desse conta se havia aceitado a importante tarefa e ínfor­
maase o estado em �e ela se achava, atenta a brevidade com que devia a mesma
ser detenninada (19). Uma semana ªP?ª•
o encarregado da realizaçlo da referida
Infelizmente não conseguimos até o momento tocahzru o uaballlo de 1-ebsbello • 1euc, estatística oficia ao Conselho reenviando o exemplar do elenco .Para
o mapa esta­
A Populaç.ro de Sergipe, suas leis e desenvolvimento (1884 ), de modo que nfo sabemos tístico da Província, escusando-se por falta de precisos conhecunentos dã pre�
se aquele erudito sergipano trata a1 de assuntos retauvos à história populac1onat deste ração deet.a tarefa de que havia sido incumbido. Diz ainda que o falecido Presi­
Estado. Até o momento, salvo erro, apenas Beauiz Góis Dantlb (1973) escreveu a pro­ dente havia prevenido ao Minist.ério na ocasião que acusou a recepção do elenco,
rósito da evolução, ou melhor, mvolução da população indígena da antiga aldeia de�­
ru.
, Joaquim Norberto de Souza e Silva:
lnves1igoçôes sobre os recenseamentos do população gual do Império e de cada Prooin­
ria de per si, tentados desde os tempos coloniais oté hoje.
Rlo de Janeiro, Mínistério. dos Negócios do Império, 1870. (15) Op. cit. 481 •
l>ovcrnos a indicação desta obra, assim como muiras outras gentis informações ao Dr. (16) lnv1!$tigoÇ<Jes•••, op. cit. 12
t•c10, El•cnbcrg. o qual prepara um estudo demográfico e econômico sobre a Província (J 7) Documentos inéditos do Mquj� Público �o �tado de Sergipe, Actas das Sessões do
Lle Pernambuco. C�nselho de Governo da Provmcta de Sergtpe, UI Revista do ln&tituto Histórico e Ceo­
1 11ucto1la Gcial de E�tatís11ca, R,o de Janeiro, 1922. grofico de Sergipe, ano IV, 110!. rv, 1919,p. 345.
1 1 ,,�, Mapn., cncont1am-se no Arquivo Público do Estado de Sergipe. Pacot�ha 114, (18) Idem. ActJl da Sessão de 11 de dezembro de 1826. idem, ibidem, p.348
1 J""' l)o,�vuntc vamos nos referir a eles simplesmente como mapas exoto$. (19) ldem, Acta da Sessão de 30 de janeiro de 1827, idem, ibidem, P. 356.
, \l'I, 1•11,·01ilh11 211,. hcra-.o,
21
19

;e rendesse conta a S. M.. o lmpecador na ocasião que se houvesse de �n� � Ano de 1830 Freguesia
\iaea p0r classes, idade, sexos e estados ad instar do que p0r esta Provmcia f01 4 dl" maio Nossa Sra. do Socorro do Tomar do Geru
:Jmad-o no ano de 1825 (20). 4 d� maio Nossa Sra. do Socorro da Cotin�ui�
. . . . ,. 7 de iunho Santa Luzia do Rio Real de Estanc,a
Quer dizer: em 1825 o Presidente de Sergipe env1ou ao ��no dos
�egócios do Império um Mapa por classes, idade, �os e estados; _ ate 8 de �eve­
:eiro de 1827 não se iniciara o levantamento p0pulaaonal de Sergipe a partir do Perguntamos nós: como explicar tamanha v�edade na data e na fre.
nodelo enviado do Rio de Janeiro, de modo que tudo faz c�r que tal levanta­
guência destes mapas? Por que contam certas freguCSIAl! com apenas um mapa
nento, se é 9'1e foi realizado, deve tê-lo sido durante ou ayos o ano de 1�, (como Japaratuha S. Cristóvão, Itabaiana, uunpos
e a misdo de Japantuba),
enquanto que outras �em dois (como S8!1ta Luzia, Santo Am�?• Vila Nova
;endo que ate o momento não encontramos dele n� uma pi.Sta nem no Arquivo
>õblico do Estado de Sergipe, nem no Arquivo Nacional.
Lagarto e a missão de S. Pedro) ou mesmo três mapu (como Propna e Socorro)..,
)ra: como infelizmente ainda não co�os localizar no Diário Fluminense o Como explicar a data da realização destes reeenseamentoe? Ter-se-iam perdido 08
fonco padrão dos recenseamentos de 1826 (21), nem sabemos se na lei de 20 de restantes 6 desconhecidos de 1825, ou simplesmente, por nã'o terem sdo realia­
MJtuhro de 1823 (citada anteriormente) constava o mesmo ou outro elenco, tu­ dos em tempo há�il, o fo� �os anos subsequentes, em 1826, 1� � 183�? Co­
lo nos leva a crer que o tal mapa por classes, idade, sex� e estados �e 1825 foi
_ mo explicar a maior frequencia de mapas datados de 1829? Tenam sido tais ma­
:laborado seguindo o elenco de 1823, modelo este que alias deve ter SJdo segmdo pas o resultado - um tanto atrasado - da ½i de 8 de agosto d� 1826? Infeliz..
ambém em 1826, 1829 e 1830. mente, nessa fase inicial de nossa pesquisa, ainda ni'o temos resposta para estas
1o Arquivo Público do Estado de Sergipe existem mapas exatos seguin­
questões.. Sabemos, no entretanto, que
x.atamente o mesmo modelo, referentes aos seguintes anos:
�no de 1825 Freguesias e Missões ..Toda a provf.ocia de Sergipe, segundo o mapa mandado organizar e rcmcôdoaoMi­
nistúio do lmpmo pelo Presidente da Província, cm 1829, chega a 140.512 almas,
cálculo que o mesmo Presidente julgava imperfeito, por apresenlllr uma popwaçio
3 de re,ueiro Misdo de São Pedro cbnasiadamente pequena. '"(22)
, de abnl Nossa Sra. dos Campos do Rio ReaJ de Cima
S de abril Santo Antomo do t:rubu de Baixo de Propriá
·o de abril l\ilssSo de Nos.sa Sra. do Carmo de Japaratuba
'5 de abril Nossa Sra. da Piedade do Lagarto lfto evidencia que provavelmente, ao menos para o ano de 1829, deveria haver
�nwo Santo Antõruo do Urubu de Baixo de Propriá
Ode mao Santo Antônio da Vila Nov:i Real do Rio S. Franct$CO mapas relativos a cada uma das freguesias e missões da Província, o que vale diser
J de1unho �ossa Senhora do Socorro da Counguiba que certamente existiram (e se nl'o se perderam, devem estar �m Arquivo ou
BwliotN:a}, os J!'ªPªS das freguesias de <:ampos, .T�ar do Gero, da Miasfo de
\no de 1826 Freguesia Pacatuba e da �li88ão de Japaratuba. Pensaram06, uuciabnente, que talvez a repe­
/d Nossa Sra. do Socorro do Tomar do Gero tição de mapas com datas próximas (em Propriá, p. ex., há um mapa datado de
18 de abril de l 925, e um �Cfí'l ndo,
_ d� 6 de rnai� do m�o ano �, poderia 94;r �­
1n0 de 1829 Freguesia e Missões
plicada pela mudança• do vigano da dita freguesua: mOVtdo por mteresae propno
de janeiro Santo Antorúo da Vila Nova ReaJ do Rio S. Francisco de saber o número de almas a..apacentar, ou simplesmente, de fregueses a �r­
7 de JUIClfO Santo Amaro das Brotas
7 de fevereiro Santo Antonio e Abnu de Itabaiana lhe a conhecença, teria o novo vigário efetuado uma nova contagem dos habitan­
6 de fevereiro NOSS2 Sra. do Socorro da Cotinguiba tes de sua freguesia. Contudo, das 8 freguesias J>08Sllidoras de mais de um mapa
de março Nossa Sra. da Vilôna de S. Cristó,�o populacional, ei:n 5 delas (inclusive Propriá) {01 o m�m;io vigário que p�edeo
4 de abril Santa Luzia do Rio Real de Lstãnru aos dois ou ma1s recenseamentos, de modo que tal hipotese nio se mantém de
de setembro Santo Amaso d.u 8Jotas
2 de novembro M.íssSo de S. Pedro pe.
9 de novembro Santo Antonio do Urubu de Baixo de Propriá Não obstante tais dificuldades fonnais rdativas ao histórico de laia re­
8 de dez.cmbro Nossa Senhol11 da Purificação de Japaratuba censeamentofl e m�do a lista mais completa de mapas datados do mesmo ano
1 de dezembro Nossa Senhora da Piedade do Lagarto reí.ere-sc somente a 9 das 12 freguesias, e a 1 das 3 missões que compunham a
província de Sergipe naquela época (23), o leitor há de conconlar conoeco que o

O) Idem, Acta da Sessio de 8 de fever�Lro de 1827, ld �m, i�id�m. p. 358-359. (22) B.N., sessão de manuscntos. Apontamentos para a História de Sergipe (Autoi Anôni-
1) A coleça:o do Diário Fluminense eXJStente no Asqwvo Público do Esta.do de Sfo Paulo mo), 19-4-13 (antigo 1, 10,4,13), Ofício de 30 de maio de 1829. .
está U1completa, e nos números por nós consultados não havia menção à referida esta­ (23) Nenhum manual de História de Ser�pe .:scluccc convenientemente as datas de cnaçlo
tística. Na Biblioteca Nacional (II, 30, 35, 5) há um modelo o de um Mopo da populo­ das diferentes freguesias desta Provtncia. Este é, aliás. wn assunto que pretendemos ÍII·
Ç41>, datado de 1825, mapa este que apresen � muito mais d�talhes so�re a comp �ção
turamente pesqutSaS. Tudo faz crer que na ocasifo em que foram realizados os -p
ex.oto, havia em Sergipe as seguintes freguesias S. Crist6�o, N. Sra. do Socorro, Sto .
profissional e familiar do que os elencos aplicados em Ser�pe a parllr de l82S. �da
não temos elementos para da.e, se este Mopo d4 populoçtlo e o mesmo que fora enviado Amard d.u Btotas, Santo Antonio de Vila Nova, Santo Antonto de Proprm, N. Sra. da
a Sergipe em 1826. Piedade de Lagarto. Sto. Antonio e Almas da Itabaiana. N. Sra. do Socouo de Tomar
21

mjunt?_ des� ,m.apas, pela min�cia e uniformidade como foram realizados, Pêter Eisenberg, baseando-se em Figu eira de MeUo (25), awm como em
>��tu1 r� �OSltOf!O de p�eira grandeza para o estudo e compreensão de com­ flll88prolongadas pesquisas nos arquivos pernambucanos, nos informa que tam·
)SlÇao etarta, e�ca, social e conjugal de Sergipe no final da segunda década do bóm na vizinha província de Pernambuco teve lu� um recenseamento aparente­
culo pas..�do. Veiam � então, alguns aspectos destes rec enseamento s. mente igu aJ ao levant.ado em Sergipe, datado de 1829, contendo inclusive as me&
. Ao todo localizamos 23 mapas e._\tatos no Arquivo Público do Estado de mas categorias étnicas e divisã o p or condição e idades em dezenas de anos. Resta­
:rgipe; todos eles fornecem uniformemente as seguintes informações: nos saber se na divisão da população por condição, aparecem as mesmas subcate­
gorias (ingênuos, libertos e cativos): no caso positivo, isto nos revela, confonne
· data completa (apenas do� mapas_omitem o dia, e um, o dia e o mês) sugere P. Eisenberg, que certamente houve um modelo padrorúzad o, um elenco,
· nome compl�t.o da fre��Sta, ou missão que d ev e ter sido aplicado na:o só em Ser &ipe e Pernambuco, . no ano de 1829,
· n?�: do ngano ou m1ss10nario que realizou a estatística mas em outras (quem sabe, em todas) Provmcias do Império, restando-nos saber
· divisão da poJlulaçâo nas seguintes categorias: se tais recenseamentos foram realmente realizados e se teremos a ventura de en­
. brancos, pardos, pretos e índios contrá-los nalgum arquivo ou biblioteca.
. os pardos e pretos subdivididos em: ingênuos libertos e cativos. Como ainda permanece uma série de dúvidas e lacunas sobre tais ma�,
. todo s os habitantes subdivididos em: home� casados/homens solteir os·' mu- e como tencionamos brevemente continuar o levantamento nos Arquivos de Se�­
lheres casadas/mulheres solteiras· gipe e do Rio de Janeiro a fim' de tentar localizar os elencos e os ex.emplares res­
. todos os habitantes subdivididos'em grupos etários de dez em dez anos, dela
1000 anos. tantes dos recenseamentos de 1825 e 1829, em vez de transcrevermos um a um
em 15 dos 23 mapas aparece ainda o número de fogos da f reguesia ou mi�o os mapas exatos que já encontramos, nos limitaremos por ora em apreseµtar su­
mariame nte al gu mas observações e conclusões a que chegamos, lembrando toda­
em 2 mapas aparece sob o título "Observações" o número de oficiais mecâni-
cos existentes na freguesia. via que tais dados guantitativos n4'o pretendem nem p odem ser definitivos, pois
baseiam-se provísonarnente em levantamentos efetuados em anos diferentes, es­
tando, por conseguinte esta série i ncompleta ( 26). Embora provisórios, tais nú­
Segu_ndC? �- L. Marcilio, os mapas de população de SergiP.e devem fazer meros não deixam de ter significaçã o, pois revelam certas tendências da compo­
II'te d_e uma prabca de levan �t;ntos censibirios aperfeiçoada sob o reinado de sição populacional de Sergipe que certamente hão de se confirmar no trabalho
que planejamos desenvolver, trabalho este que se baseará tanto <JUanto possível
_ r _(1797), e <JUe o I. Remado 1:1anteve (e até mesmo durante a R�ên­
. Mana
na �e completa dos mapas do mesmo ano para todas as freguesias e missões de
a foi realizada em wgumas I!oucas provtncias), sem_p_�entro da mesma auste­
a�ção e model o es�lec1do no final do século XVill. A partir das listas de Serg1pe. Isto afi,m1am� n!o como mera conjectura, mas baseados na evidência
iliitantes de cada freguesta e de cada vila, levantadas anualmente, a Secretaria seguinte: a nossa soma provisória dapopul ação de Sergipe baseada nos 10 mapas
,s Go�emadores Mor�s de cada Capitania (Presidentes de Província depois) e&­ de 1829 e nos três restantes de 1825 e 1830, é de 115:418 habitantes. Por sua
helec1a mapas re�m1dos d� população para toda a regi§o , distribuída de acor­ v�, de acorc!o com o map8: m�dado org�izar e remetido ao Ministro do Impé­
l com as categonas: classe, idade, ��o e estado . Parece que uma inovavão exis- no pelo_ Presulente da P�ovmc1a, em 1829, chegava a 140.512 o número de pes­
. soas restdentes em Se�gtpe (27), quer dizer, o nosso resultad o provisório e de
nos m:'P as ���s de Sergrpe: a CÜVJ.Sio dos pretos e pardos em ingênuos, Liber­
,s e cattvos, divisão que parece na-o ter sido ainda constatada em tabelas desse apenas 8,2% inferior ao que foi-oficialmente enviado para a capital do Império.
?º para outras Capitanias e/ou Províncias (24). Assim sendo, vejamos alguns dad os sobre a composição da população de Sergipe
tomando como referência os !°ªPas de 11 fregu esias e duas missões de índios, da­
dos estes que cobrem o pen odo de 1825 a 1830. Nossa intenção nessa análise

,...,,\t-t
do �ru, N. Sra. dos Campos do Rio Real, Santa Luzia e Divtna Pastora-Sã'o Gonçalo IE
d_o Pe do Banco. Com? _não enconuam?s nenhum mapa referente a esta úluma fregue­ (25) Jeronymo Martiniano F'igueica de Mello:
sia. e com_o embora engidas lllJlda no seculo X V)ll, tanto S. Gonçalo do Pé do Banco Ensaio sobre o estotútico cil.Jil e poUtico do Pro11íncio Recife, 1852.
de Pemombuco.
como 01� Pastora f<?ram novamente constitu1das em 1839 , não seria de todo infun­ - Pete, Eisenberg:
dado adm1ttr:-5C que a ep� ef!l que foram efetuados os censos, tais igrejas já estavam A abolição da escravatura: o processonas fazendas de açúcar em Pernambuco. Re·
sendo admtrustradas pelo vigáno de N. Sra. do Socor;ro da Cotinguiba · em oficio de 18
�e <?u.tubro de 1825, o Prestdeote Manoel Clemente Cavalcanti d' Albuquerque se refere
ruia
de &tudos Económicos, IPE-USP, volume 2, 1972, n.q6, p. 101-203.
A informaçã'o sobre a existência de um recenseamento de fs;iy semelliante aos ma,
a D1vma Pastora sem chama-la de freguesia, mas simplesmente 0 "Di"lna Pastora da Co­ ptJJ exato, foi-nos prestada pelo referido pe1iquísador P. Eisenberg, em carta escrita
tiniuiba ... (B. N. il!9,300,. Maço 3, n. 0 19, �.45-50. Ofício do Governo de Sergipe). em New Jersey, de 4 de dezembro de 1973.
Al;m des,tas _freguesias, havia no começo do seculo passado mais quatro missões ou al­ (26) Os dados quantitativos relativos à população de Sergipe baseiam-se neste ensaio, nos
deias de 1ndios, cada c:iuaJ com seu capelão ou CUia d"almas: Nossa Senhora do Canno mapas dos seguintes anos:
de Japaratuba, São Felix de Pacatuba, Nossa Senhora da F'é de Água Azeda e São Pedro - 1825: N: Sra. dos Cam_po�, �issão d� ]'J. Sra. do Carmo de Japaxatuba.
do Po.rto da Folha. 1829: Vila Nova. S. Cnstovao, Propna, Santo Amaro, Santa Luzia' Lagarto ' Japara-
t) Cof!!unicaçâ'o pessoal _de M. L. Marcílio em carta a nós dirigida, data de S. Paulo, 17 de tuba, Socorro, Itabaiana, Missão de S. Pedro.
abril de 1974. Aproveitamos o momento para agradecer a mesma as informações ' suges- - 1830: Tomar do Gcru.
tões e cdticas que 1cm dado a esta pesquisa. (27) 8. N. 194·13, Apontamento para a História de Sergipe, Ofício de 30 de maio de 1829.
23
22
mentos. t verdade que ali habitam muitas familias puras e podem bem numeru-s�
inicial, repetimo s, é deicohrir alguns traços cruciais da composição demográfica mais de 1.SOO brancos naturais da Europa e descendentes de europeus, seus pn·
desta Pr o,•íncia nordestina, mostrando como se estruturaram e interagiam os meiros povoadores. Estes são os que servem nos cargos da câmara, nos p�tos das
principais grupos constituintes daquela sociedade açário�ravocrata. ordenanças, que con�empllll!'! com os mais enobrecidos empregos e com &o PU·
saro os clias muito satisfeitos ( 28)

II
A riqueza e em consequência a nobreza e prepotência dos brancos advinha sobre­
tudo da eosse de engenhos de cana e secundariamente, da p088e de rebanh08 de
gado bovmo. Eis como uma estudiosa de Sergipe, à.1aria Ttietis Nunes, ee mani­
A oooulação total da Província de Sergipe era, conforme já referimos _
festa a este respeito:
anteriormente,de 115.418 habitantes. Eis sua composiçã'o de.mográfica referente
à divisão por grupos ébÚcos e por sexo:
"Os senhores de engenho eram cm grande nlimero, portugueses e awntureiros que
com trabnlho, coragem e perservera.oça. asc:endcram socialmente, como Leandro Ri­
beiro de Siqueira e Mcllo, que começou sua carreira sendocarreirono Jtt aoo; DO 2!
DIVISÃO DA POPULACÃO DE SERGTPE SEGUNDO empregou o produto do 1tt ano de cancagcm, depois comprou se11 canoe foi pWlllndo
cana; o trabalho e economia cm alguns anos o fueram possuidorde6 bons engenhos da
GRUPOS tTNICOS (1825/1830) n"beira do Vazabarris. •. "(29)

COR NÜMEROS PORCENTAGEM


AD.SOLUTOS Outro estudioso traça um quadro um pouco diferente a respeito da elite branc.
da capitania de Sergipe d'el Rei:
Brancos 22.055 19,11
Pardos 51.067 44,24
Pretos 40.796 35.35 ••A leitura dos requerimentos e cartas de sesmaria revela que a quase totalidade
índios 1.500 1,30 dos primeiros colonizadores portugueses ou de origem lusitana , em Sergipe, fazia
TOTAL 115.418 100,00 p11rte da pequena b�uesia. Como credenciais em seu$ pedidos de tei:ra alegam
sempre que aqui já estfo residindo ou pretendem fazê-lo, acompanhados de mu­
lher e filhos o das criações que possuem, além das miuças (gado ol'ino o çaprino).
Isso demonstra uma situaç€o estável de quem do vem tanto ou apenas tentar for­
tuna .•. Todos eram homens de posse, traziam gado.• Podemos considerá-los sem
DIVISÃO DOS GRUPOS tTNICOS DE SERGIPC medo de erro, como pequenos bUigUeses (sic) com seus agregados "(30)
. .. . ... :::: SECUNDO O SEXO (1825/1830)
'\\ t '

HOMENS MULHERf.S TOTAL E mais adiante, continua o autor de Etnias Sergipanas:


Números % Números % Numcros %
absolutos absolutos absolutos "Ao lado deste elemento principal, aconerun para Sergipe, durante os séculos co­
Brancos 1 l.806 50,26 10.969 49,76 22.055 100,00 loniais, outros de variada origem e condiçlo : aventureiros, curiosos, ooaidos da
Pardos 24.933 48,83 26.134 51,17 S1067 100.00 Justiça metropolitana ou por ela degredados'.' (31)
Pretos 20 212 49,SS 20.584 S0,45 40.796 100.00
índios 708 47,20 792 52.80 1 soo 100.00
Deixaremos para um futuro trabalho a diacusslo da origem eocial doe aenhorea
de engenho e da elite branca em Sergipe. Por ora o que podemoe afinnar, como
Vejamos então alguns aspectos estruturais da organização e dinâmica de o íez D. Marcos, é cr,e os brancos eram pouco numel'0808, e se valiam em muitas
:ada um destes quatro grupos constitutivos da sociedade scrgipana de antanho. ocasiões da "pureza 'de seu sangue com fins promociooais e/ou ptt.eerVlffl'08 do
Como se nota, os brancos �n;sentam pequena minoria: um branco pa· status que ocupavam nesta socieilade predominantemente "de cor". Argumenta­
ra cada quatro pessoas "de cor". Esre e o grupo que apresenta o maior número ções como esta sâ'o frequentemente encontradas nos documentos do começo do
percentual de homens, superior inclusive à média geral de toda a popitlaçfo. século passado:
' Referindo-se à população branca de Sergipe, o arguto observador D.
Marcos Antônio de Souza, antigo vigário da Freguesia de Jesus-Maria-José do
Pé do Banco (hoje município sergipano de Siriri), assim se erpressava:
(28) D. Marcos A. de Souza, op. cit., p. 13 e 16.
(29) M. Thetis Nunes - op. cit., 1973, b. p. 2.
··� povoada esta províneta por homens de diversas denominações. Ali moram mui· (30) Fclte Bezerra:
tos europeus das províncias de Portugal... Dentro da cidade de S. Cristóv:l"o (a ca­ Etnia, SeT$Í_panas
pital) habitam 400 moradores, quando em todos os distritos da freguesia se con­ Ar.lcaju, Coleç5o Estudos Scrgipanos (publ n.0 6), 1965, p. 65-66
lBm 6.000 habitantes. Pretendem ser muito distintos pela nobreza de seus nasci- (31) Idem, p. 76
25
"Di2 o Pe. Domingos Vieira de Mello ser natural da comarca da cidade de Sergipe
d'cl Rei, da Capitania e Arcebispado da Bahia , é morador no seu engenho de Je­ "todos os mais sa-o pardos. mamelucos e curibocas." (36)
sus-Maria-José. situado na freguesia de Socorro da Cotinguiba, que por seus pais e
avós é descendente de uma famiUa das mais distintas daquele continente, que sem­
pre se trataram à lei da nobreza, sendo possuidor de grandes lavouras de cana e de
outros gêneros..."(32) A pcpulação dos pardos, segu ndo os mal>as exatos era de 51.067 pes­
soas, o que representava 44,24% do total dos moradores da Capitania. Era, como
se vê, o grupo mais numeroso. Infelizmente, a documentação que a desse refere
é extremamente reduzida, de modo que apenas nas entrelinhas é que encontra­
>s inúmeros peclidos de títnJos honoráóos, como a Mercê da Comenda, o Hábi­
m06 escassos dados que nos pemútem reconstituir algu ns traços significativos do
da Orde?1 d e Cristo, o de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul,
dia-a-dia deste grupo de mestiços. Encontramos, p. ex., no processo contra o Pa­
e, os �rgtpanos ilustres nunca deixavam de salientar sua vinculação às boas ce­
dre Antônio José Gonçalves de Figueiredo, Vigário Colado na Freguesia de Nossa
s familiares. São numerosos os casos como este:
S. a do Socorro da Cotinguiba, a acusação de que este pároco lusitano

"':{ermenegildo José TeUes de Menezes, proyrietário de um engenho ho termo da


Vila de Santo Amar o das Brotas, di2 que e descendente duma das famílias mais "declarava crua gueua contra os honrados b1asileiros"
distintas do país, tem servido os cargos principais da municipalidade, é abastado
de bens ... e ficaria bem compensado com a mercê de Cavaleiro da Ordem Impe­
riaJ do Cruzeiro do Sul ou da Ordem de Cristo ... "(33) te11:do in��e prendido ao cidadão h�eiro B�ardino José, pessoa digna da
esturui pública, tendo-o acorrentado, obngava-o a força d 'armas e com sentindas
:equentes vezes encontramos nos documentos expressões como: "pertencente à à vistB:, a �apin!l1". o Lar�o .d� Praça das Laranjeiras, lugar muito pmoadQ(3_I1 Em
na . das principais famfüas", "famfüa da primeira ordem", "homem possante,, ciu:ta JWtificatona, o vtgano acusado refuta as acusações dizendo, entre outras
talifi�abvos que geralmente vêm acompanhando à gn'i.sa de credencial, as c� C01S8S, que
t petições dos senhores de engenho e dos homens ricos de Sergipe.
Além dos brancos, "quanto à p1isão do pardo Bernardino?1???????"(sic).(38)
"todos os mais são pessoas de distintas com.binações, dizia D. Marcos,
n 1808 (34). E provavelmente para escapar aos inúmeros termos regionais lan­
mã� es� �strado frelado d� cinco categorias ,Pí0p06tas por Jorge Marcgrave Quer dizer: "cidads:o b�asile�i;o" foi o apelativo utilizado em substitui-
_ .
tra discrmunar os diferentes tipos humanos eustentes na então Capitarua de ça<? ao apodo u6!1al. da cor, pratica alias que parece ter se propagado sobretudo
:rgipe d'el Rei, a saber: apos a Indep endenc1a.
Os pardos aparecem al gumas vezes ao lado dos b ranc06 como testemu­
nhas nos proceasos ou devaseaa: em Vila Nova, v .g., quando os índios da Missão
"mozombos: os nascidos de pais europeus de Pscatuba invadem a cidade no ano de 1826, no auto da devassa que mandou
mamelucos: filhos de pais eu1opeus e m:res índias
muJatos: filhos de europeus e negras fazer o Juiz Ord inário Joc�, de 32 3'inantes como testemunhas, 23 do pardos.
curiboça.s: nascidos de pais índios e mães negras T odoe os 9 brancos (com idades vanando de 23 a 80 anos) são declarados como
criou los: sendo ambos os pais negros." (3 5) "vivendo de seus negócios", enquanto que os pardos, (de !8 a 58 anos), .apresen­
_
tavam a seguinte gama de ocupações:
liás, �meras v?zes D. Marcos �vi� entrar em detalhes linguísticos sobre a víve de sua lavoura 13
1mpos1ção dos diferentes gru r.os etnicos, referindo-se a estes de maneira genéri­ VÍ\e de seus negócios 3
t, como "raças misturadas". 'raças com.binadas", "pessoas de muitas varieda­ vive de criar 2
:s", "div� !lli51nras de gentes". S�vo erro, apenas ao tratar da nova fregu e- alfaiate 2
ofício de música l
1 de Propna e _que este autor especifica outras categorias além dos brancos e 1
alferes e 'li ve de negócio
·etos, quando dii: lavoura e carpina l (39)

2) A . N. Caixa 267, pacote 2, Viga.rias, doc.8 Oficio do Pe. Domingos Vieira de Mello
ao Rei. de 26 de janeiro de 1816.
3) A. N. IJJ9, 300 -Correspondência dos Presidentes de Sergipe com o Ministério do Im­
pério, maço 3, n. 0 19, fl. 42, requerimento datado de 22 de abril de 1826. (36) D. Marcos A. de Souza, op. cit. p. 42
i) D. Marcos A. de Souza, pp. cit. p. 13. (37) A. N. Caixa 314, doe. 13, Ofício do Coronel José de Barro�· Pimentel ao Rei · de 7 de
5) Jorge Marcgrave: janeiro de 1824.
História Natural do Brasil (1648) (38) lde!11, ibidem, ofício do Padre Antonio José Gonçalves de l"igueircdo ao Reí, de 14 tlu
lmp,ensa Oficial do Estado de S. Paulo, 1942. p. 268. abnl de 1824.
(39) A. N. Caixa 142. RepresentaçÕ<:$, pac. 3, íl. 170. Vila Nova. 7 de mai,,:o de 1827
27

representada pelo �ento Mor das Ordenanças ae Vila Nova, se insurge, confor­
Embora t.enhamos encontrado_referência de crianças brancas e� me podemo!; ver a traves desta relação datada de 1827:
tuclando na mesma classe escolar'(40), apesar do supra-citado pardo Bernardi­
> José ter sido bombasticarnente eh.amado de "cidadlo braàleiro" e "pe88011
gna da estima pública", os documentos parecem provar que as relações d01 par­ "As vozes espalhadas no distrito de Brejo G:rande de que os pardos ali resldtntes
>s e demais sent.es de cor com os brancos eram antes conflitivas do que pacífi­ se dis punham, prevenidos a tal fim de pólvora e armu, a romperem no dia de Na­
tal próximo uma verdadeira revoluç f"o, massacrando os brancos, o que parecia ser
lS ou cordiaís. Aliás, e este é ootro tema que pretendemos futuramente apro­
continuação do t>oato aparecido antes pela Cotingwôa, de que a aboliçío do tnfi·
,ndar, o clima de violência reinante em Sergipe nos sécul06 XVIIl e XIX parece co da escravatura dos ne gros , estava detenninado a cativarem os pardos e mais
.r sido muito mais generalizado do que normalmente se c08twna imaginar: gentes de cor..."(44)

"Os muJatos, oegros forros e� brancos do J'aÍS t8m por dC$J>m:o trabalha.r Uma das facetas asaunidas pelo conflito social e/ou racial em Ser P,J>e,
para si, e ser para os cativos: a rndole de todos e de suma reserva e vingança; por foi o anti-lusitanismo, sentimento que com o �mpo se torna mais radical, iden­
qualq uer leve capricho se despicam e o fazem atraiço adamente a tiro, vulgarmente tificando no mesmo gtup<> opositor todos os brancos, losit.an06 ou nacionais.
de trás de pau; o pr imeiro cuidado deste é ha\'ef uma arma de fogo, om,a_to que t&
mem muito, se tomam atrevidos e capazes de todo o mal; e neste continente é o Pouco antes da IndeJ>Cilàência, o Juiz Ordinário e Vereadores de Vila Nova, em
uso da espingarda frequente e as mortes frequentes ; os homens quietos e=· ofício dirigido ao "Supremo Congresso, Altas Cortes da naçfo p0rtuguesa, pda
chados temem estes vadios e os sofrem por evitarem cairem na indigna ção deles" mfo de Deus unidas para a salvaçfo do seu escolhido J><lVO ", 8S8lJil reijtava a rea­
(41) ção dos nacionais aoslusitanos:

a descrição de um autor anônimo, datada de 1802, o panorama que este deso­ "Senhor, causa dó, luto e pranto ver nesta vila tantas famílias expatriaoas, deixan­
do todos os seus bens, uns, e outros, deixando a doce vida naquela ingnta provín­
ha não é menos tenebr060: cia, sem mais outro crime do que ser europeu..."(45)

"Os habitantes de Sergipe sfo robustos, forte$ , igncultores e cnadores de gado, Segundo uma estudiosa <lo assunto,
espertos e hábeis para os ofícios fabru. O seu gênio no geral é sobert>o,vaidoso e
vingati\lO , e a quanttdade de Mamelucos e Caneludos (sic) protegidos por alguns
Senhores de Engenhos e pessoas mais abundantes de bens, vaidosos, traz mquela
Capitania inquieta bastantemcnte e não h á tempo algl.lm em que nf"o sucedam "0 ant1·1U511an? que <:�ce� em Sergi pe no processo da Independência, no ano de
mortes, ferimentos, arrombamentos de cadeias, despi ques e desafios, por qutJ. 1824. se rev estiu ele violenc1a, mdo a espancamentos e perseguições a portu gueses
quer insignificante cousa, pela propensão que tem semelhante canalha pllI11 ma.n• nns r(laJS ncas po110a ç ões ... fazendo com q4e muitos fugissem ' abandonando bens
datários, oferecendo-se mesmo p ara desa.frontar ofendidos , com tanto que se lhes e famíhos."(46)
pague o trabalho, praticando semelhantes insultos pelas facilidades nas entendidas
proteções e a.silos._"( 42)
� situação, como bem descreve M. Thetis Nunes, parece ter atingido
seu cüma.x no tempo em que o pardo Antônio Pereira Rebouças ocupouº cargo
1. Marcos, por seu turno, chama de "f.acin?r->i.vs" aos autores de um número de
.
de Secretário do Presidente Mà'hoel Fernandes da Silveira. Nesta época notada­
rimes e arliitrariedades, ch ega ndo anualmente a quase 100 o núm ero de assassi­ mente na cidade das Laranjeiras, o clima de tenslo entre brancos e a "g�ntalha"
atos cm toda a comarca, sendo esta, segundo eate douto prelado, a causa por era alarmante. Em carta de 27 de junho de 1824, o Tenente Coronel Man oel
ue não terr. chegado à esta capitania o progreESO, inclusive o aumento de sua po­ RoUemberg participava ao Comandante das Armas, Manod da Silva Daltro que
ulação(43). na manhã do mesmo dia,
Em,., .,ra a categoria dos facinoroaos n!'o fosse exclusivamente preenchi­
a por h�mens de c_or parda, º. certo, é que ao menos no povoado de Brejo Gran­ "'d olorosamente apareceram nesta povoaçSo vános pasquíns cujo conteúdo era vi­
vam mulatos e negros , morram os marotos e caiados".
e, na baixada do no S. FrancLSCo, e contra os pardos que a população branca,

E concluía:
40) Mapa dos alunos da aula do Professor Braz Oini1. Vüas-Boas, Estância, feveicLro de
1824, 1n RIHGS, n.0 19, vol. 14, 1945-1948, p.16J.163.
4 1) Representação do Ouvidor da Comarca de Se.gipe d'el Rei. Antonio Pereira de Maga·
IMes de Pa ços, d1ngida à Ramha, de 26 de abril de 1799, in Eduardo de Almeida Cas­

tro, lnuent6rio dos Documentos relotilJOI oo Brasil existentes Arqwuo IJurónco. U/.
1romarino ( antifo Arqu,vo de Malinha e Ultramar de Lisboa), R. de Janeuo, 1916, ( 441 A1.ta da ,c."..ao cx1,ao1dináJ ,a do Con,clho de Governo dn Província de 12 de dezcm·
vol. IV , doe. n. 20.852. bro ,k 11127 .•rn R//1<::i. ano IV. vol. IV, 1919, p. 318-319.
n1 B. N sessão de manuscrit�.11 33,16,3 -0.1. 1 451 A, quívo Ht<IOnco Ullra111a11no. Ser gipe. Caixa 3, otíc,o de 25 dé a go�co de 1822
i 3) D Mucos A. de $ou2.a, op.cit.p. 22 !461 M. Thl'I" Nun,,. op. ,·11. 1973. b.p. 2.
29

O último grup_o a qu_e se referem os mapas populacio� é o dos índios.


"sendo estes os princípios por onde podem vir grandes males à Província e à Na· Baseando-se em Filisbelo Freire, Felte Bezen-a calcula que devenam ser por volta
ção ..."(4 7)
de 20.000 os índios existentes na Capitania por ocasião de sua conquista (52).
Durante a 'campanha de Cristóvfo de Barros, aproximadamente 3.000 índios fo­
Datado de um dia anterior, surgiu na mesma povoação, um ou�o. Fa.s­ ram mortos ou capturados. F. Freire diz que no ano de 1751, 3.000 índioe tenta­
onde o apelo à luta racial é ainda mais manifesto: a riqueza de seu _sign1;11ca- ram atacar a cidade de S. Cristóvão, tendo sido no entretanto dominados pela
1 espontaneidade de seu estilo, justificam plenamente sua tran.scoção mte- guarnição. Em 1763, nova tentativa de ataque, esta sendo uma reação à tentativa
aos colonos de aprisioná-los, tendo agora como aliados certo número de negros
foragidos (5 3).
..Senhor Governador das Armas. O único estudo que dispomos sobre os índios de Sergipe é o já citado
ALERTA. Uma pequel\3 faísca faz um grande incêndio. O mcêndio já va.J lavran· artigo de Beatriz G. Dantas (1973). Trata-se de uma excelente abordagem diacr�
do. No jantar que deram nas Laranjeiras os Mata-<:aiados, se fizeram 3 saúdes: nica das diferentes fonnas assunúdas pelo contato entre a sociedade envolvente
primeira à extinção de tudo quanto é do Reino, a que chamam de marotos;a se­
gu nda a tudo quanto é branco do Brasil, a que chamam caiporas; e a tercciia, a i­ (colonial, depois provincial) e a aldeia dos Cariri de Geru, a incorporação da for­
gualdade de sangue e de direitos. Que tal alena e bem alena. Um tal menino R._. ça de trabalho dos aborí ge nes e ururpaçã"o de suas terras pelos brancos,os confü­
innâo de outro bom menino, fez muitos elogios ao Rei de Haiti, e porque o não tos decorrentes desta interação, a reação nativa e a consequente extinção do gru·
entendiam fàíÕumais claro - SÍo Domingos, o granóe S. Domingos. N!o houve po aborí gene.
manobra. Vossa Exa. tome cuidado. Os homens de bem confiam em Vossa Exa..
só querem Religão, Trono e $15tema de Go11erno jur.ido no dia 6 de junho. Alerta. Segundo os mapas exatos, havia em Sergipe, entre 1825-1830, um to­
Alerta. Acudir enquanto é tempo. tal de 1500 índios, o que representava apenas I,29% da eopulaç,ã"o provincial.
Luanjeiias, 26 de junho de 1824. Dtstes, 47,20% eram do i-exo masculino, e 52,80% do femuuno. E o grupo étni­
Philioord.Ínio'.' (48). co que aprt'Mmta a mais elevada porcentagem de mulheres, superior mesmo à mé­
dia da população total. Tais índios estavam distribuídos em quatro missões:
Esta outra representação datada poucos dias após o pasquim assinado - �a Azeda
10ônimo "Amante da Ordem", é também muito sintomáoca das pretensões - ão Félix da Pacatuba
nham as gentes de çor: - io Pedro de Porto da Folha
Nossa Sra. do Carmo de Japaratulia.

"Têm os malfeitores crescido, e são quase todos homens de cor, porque o Se­ ,\ antiga aldeia dt> Geru, a partir de 1758 é elevada à categoria de vila, não obs­
cretário Rebouças, homem pardo, os tem doutnnado e pei:suadido que todo b<>­ tante contar com elevada população indígena (54). Em todas as fregu esias sergi­
mem pardo ou preto pode ser um general e eles tão ufanos têm se feito que alt.3· panas, por ocasião da porcentagem destes, em relação ao total da população,de
mente falam contra os brancos, charnand<>-OS de caiados e já deixam de gua..dar
aos const11uídos em d.igrudadc aquele respeito que até então guaiclavarn .•."(49) realização dos mapas estatísticos, havia índios, variando a porcentagem destes,
em relação ao total da PºP.nlaçá"o, d!) 0,1(,% (como na f�esia de N. S.a da Puri­
ficação de Japaratuba) a 2,38% (freguesia de N. S.a dos Campos do Rio Real de
€ co�t1:1do a população _negra que constituía, ao menos segundo os do- Cima).
1tos oficlal.S, a fonte de ma.ior preocupação {lar& a sociedade sergipana da. Vejamos algu mas infonnaçõcs a 1;ropósito de cada uma destas aldeias. A
época. De acordo com os mapas exatos havia nesta província 40.796 pre- de Áe:ua Azeda, situada por volta de 5 leguas da Capital de Capitania, eossuía,
que significava 35 ,34% da população total. Diz D. Marcoe que os pretos em ltl02 um total de 317 indígenas, sendo 165 homens e 152 mulheres. Tais ín­
·gi:pe provinham da Guiné e em maior número de Angola (50). Felte Bezer­ dios eram no temporal governados por um Capitão-mor nativo e por um Sargen·
ma que a maioria dos africanos desta província provinham, como na Ba­ to-mor, estando e espi ritual sujeito a um Missionário.
' Sudão (5 1) . Como a grande maioria dos negros, isto é, 62 ,44%, estava su-
o cativeir�, e como as informações referente! aos ne�os_ livres são extrema­
raras, deixaremos para tratar deste segmento populacional quando ahor­
s o problema dos cativos.
(52) Idem, ibidem, p. 203.
(53) Idem, ibidem, p. 206. upud l'clbbcllo Frei«.-. op. i:i1 .. p. 189·200.
B<>atriz C. Danta� (1975 8-9) com.:nt� que "c,pccllicamcnte cm rela�ão ao Geru. n!o
. N. IGI, 105, n. 117, '-Comandante das Armas <.Onheccmo, dado� qu.: no; autorizem a l"Onl'Orda, ou dM'o1du1 dessa asse1t 1\'a".
aroto significava ··tudo o que era do Reano•· e Caiado ou Ca,poro ··a tudo que é bran­
(54) De .:onfo,m,dadc co•1, a or,c111,,�·ão pombalina de cstL'ntl<a u lodo o 81a.sil
t0
>"'.(4R\ de 8 de mu,o de J 7 51:11 as medida, antetiormcn1.: adotada.s no Maranhão e1 dc11uç:iono Pará
. N. ÍGI. 105. íl. 119. (17�5). ObJeLwjndo u l1b.:1t_ação do, {nd,os e 11 .< ccula.nza.ção das missões cclc,iástk:1$,
,nlcW º'R... " refere-se sem dúvida a Rebouças, o confeu dos '"mata-caiados". aldeia do G1:1u fo, elevada a l"ategoua de YJ!u conforme CJrta de O. José 1 rei de Portu·u
N. til. 105, íl. 126. Ofíc,o de João S,m� dos Reu e José francísco de Sales. de 6 .
gal • ao OuYJdor da Comarca d.: Scr1upc d'cl Re,, Miguel /\1t<.'S Lobo de CarvuU
r julho de 1824. 1 o com
de,pacho do Conselho lJhranuu1no. c.h.: 22 d,.: no..:mbl"O de J 758'º. Bc.1tri?; Gois · ' O:in-
M11<.<>1, A. d� Souza. op. cn. p. 13 tas. op. c11., p. 9
l\r,t<"ttn. ºI' \. 1t 1' 1 S 1
31

mot que os obrigava a uma contribuiç{o aliás muito justa, visto qu! lhes ia dar wn
"Estes índios s:io preguiçosos, como naturalmente são todos; ébó?5, �j?s e que direito que eles wto tlnham e que eles queriam ter sem custo. O V1�Presidente a
fazem grandes desordens e perturbaÇ(!es na Cidade; sua lavoura e insignificante, 28 de agosto de 1827 mandou agradecer ao Sargent?"Mor o se� sernço (o qual) a­
que apenas lhes chega para uma escassa sustentaç{o"(55) briu mão da comissfo que fora encarregado nada mm obrando (S9)

No ano �inte, exatamente em setembro de 1828, os índios que ali


em 1808, D. Marcos acusa a presença de apenas 40 nativos da mesma aldeia: persistiram instados • pela Presidência a partirem para o Geru, pediram gue se
que tais índios "domesticados" possuíam um capel !o com visos de P� ? < , lhes concedesse tempo p� colherem �as plantaç�es, sendo-!�es ordenado que
,
ido tal sacerdot.e pago pelo Erario Real com a coo.grua de 150 mil rCIS .
fizessem a colheita e se remassem o mais pronto (60). Por ofício de 11 de outu­
mais). bro do mesmo ano, o Governo dá como prazo último o dia 31 a�
dezembro para
que os mesmos se recolhessem à vila de Tomar do Geru (61). Nesta ocasi!'o , o
documento ameaça-os de serem "c�dos", caso continuassem relutantes. Aos
"Estes índios bem como os outros, são muito indolentes, vivem sempre eaantes,
sempre prontos para acompanharem os cabos da justiça logo que lhes dfo algum 14 de janeiro do a.n o seguinte, os índios impertinentemente permanecem imutá­
sustento ou pelo seu néctar delicioso que é aguardente. Estes descendentes dos veis no desí�o de nfo �dar � p � do l?gar que secularm �te ocupavllf!1; em
selvagens Tupinambás, que viviam vagabundos nesta capitania, ainda hoje não vista disto, o Governo nomeia ao mdio Máxlmo como secretário a fim de liberar
conhecem as doçunis do direito de proptieca.de, bem como seus ascendentes; não
estão civilizados em quase uês séculos que habitam entre os portugueses, nem tem a transumância (62). Novo fracasso. Úma semana após vencido, o Pxesident.e da
abraçado a ordem civil e social que entre os mesmos se mandou estabelecer"(S6) Província envia ofício do Governo Central dando conhecimento dessa sitüação
in1possível de se
resolver (63).
Conseguimos localizar mapas exatos de �enas duas das três missões
jetos de tão desfavorável parecer, nfo é de se estranhar o que suced eu aos aho­ existentes em S"ergipe na década da Cndep endência: Sio Pedro do Porto da Folha,
enes desta aldeia: em cumprimento ao aviso imperial de 27 de agosto de 1825, ao norte, no rio S. Francisco, que contava em 1829 com 139 índios, e a missfo
'residente da Provincia orâenou ao Comandante desta Missio que aprontasse de Nossa S.a do Monte do Carmo de Japaratuha, que em 1825 acusava a presen­
los os índios existentes na missão, de qual�er sexo e idade, para no prazo im­ ç.a de 213 aborígenes. Agua Azeda, confonne vimos, fora desmantelada, restando
tlongável de 15 dias,,os' conduzir à vila de Tomar do Geru, onde viveriam in­ nas imediações da antiga missão, em 1827.
porados e sujeitos às autoridades daquela vila (57). V árias cartas e ofícios são
cados entre o referido Comandante dos índios e a Presidência, até que final­ ··um SO ou 60 índios que ficaram emboscados nas matas, donde saíam a cometer
ate a mudança dos índios �ra o novo lugar indicado tem sua data marcada roubos e assuadas e aterrar os vizinhos"(64)
a o dia 11 de maio de 1826 (58). Em 1827, eis o que acontecia em Águ a Aze­ Gero, agora vila Tomar do Geru, era o lugar da Província onde havia o maior nú­
segundo as anotações de u m autor anônimo: mero de índios; em 1830 eles eram 338, sendo que 182 do sexo masculino e 156
do feminino. Se atcntamtos para a porcentagem de índios e de n�o índios resi­
dindo nesta antiga missfo, notaremos que a população indígena diminuiu gra·
"Os índios de Água Azeda removidos para o Gero, não permaneceram longe do
seu lar e dos lugares conhecidos e voltar am a \ê-los, resolutos a fican:m na sua an­ dualrnente: (65)
uga posse. O sargento-mor Silvestre Juquitiba Boticudo (Botocudo') era homem Porcentagem de índios
resoluto e capaz. de cometer qualquer emprC$a. O Vice-Pres1deme mandou charnaz ANO em celação ao to1al da
por cana de 2S de agosto de 1827 e o incumbiu da missão de lt sondar os ârum0$ população (Ccru)
e tratar de desalOJU os índios, podendo empregai a força para os coagu a '1.lffm
de Água Azeda. Era vontade dos senhores de Engenho da V1Z111hança da aldel3 que 1802 72"
aqueles vizuihos deixassem este lugar não tanto para ficarem livres de uma v12.1- 1822 54 %
nhança que assun mesmo não era das melhores, como por poderem a�sar e uti­ 1826 46 %
lizar sem estorvo das terras. O maior prometeu desempenhar a com15sao de que o 1830 57 %
incumbira sem reparar quem tinha razão. Tratou em paz. com os ín dios, instou
com eles para que saíssem, pondo-lhes por diante a obrigaçlo de cumpnr a vonta­
de do governo: eles .n�-se, mas como ele tinh! �rdens, e era cumpndor, dll'!· (58) Idem, 1b1dem.
giu-se ao Cap1tão-M� r !)Cdindo 11-ma força que por s1 so lizesse fugu os 1nd1os, e di· (59) Idem, 1b1dcm.
ngiu-se aos vizinhos senhores de engenho U1teressados, ordenando que pusessem (60) Idem. Otfoo de 25 de �eicmbro de 1826.
no ponto que lhes indicou, tudo o que era necessário �a o sustento da gente que (61) Idem . Ofício de 11 de outubro de 1828.
pediu. sustento que orçava por grande quantidade de vi.veres, porque a gente que (62) Idem, Ofício de 14 de Janeiro de J 829.
rcqujsitou não foi pouca. Os interessados que nada qu_enam sc:ná'o gozar e a quem (63) Idem. Ofício de 22 de Janeiro de 1829.
pesou o encargo. correram ao Vice-Presidente representando con11a o sargento /64) Idem. Ofício de ? ? 1827..
Até o momento tcmOI comecamento �mSergipc, de apenas cinco missões de índios:
Agua Azeda. Geru, Pacatuba. Japara1uba e S. Pedlo. Na "Informação sobie a Província
de St1g1pc cm !821"', do José Antonio Feinandc�. diz o Auto1 existirem nessa época
··•eis n11,,õc$ de índios mais ou menos povoadas''. Qual seria a soxta missão? Como Á-
13 N .,.,,são de manuscrnos. li - 33. 16. 3 - n. 7. 1,!Ua Atee.la é d�mantclada por volla de 1826-1829 e Ceru elevada a vila cm 1758, no íl·
1) Ma,cos A. de S0u1.�. op. cu.• p. 18. nal do p11mciro quu, tcl do século XJX devia ha11C1 oficialmente apenas uês missões:
1 li N l'l-4 13 Apnn1jmcmo p:u� hMÓn:. ;!e Scr8Jpe, Auto, Anônimo. Ordem de 2 J apa,atuba. Pacatuba e S. Pedro. Of. RIIICS, ano 1, 1913. vol. 1. p. 46-50.
1·, mh1u,lr IX:'\ t<,� 1 l"\I,· <1u•dro «· ba.,c1a cm parte na., pesquisas de Bca1r,1, G. Danta< 11973. 11 l.
33

víduos não satisfeitos com os m uitos excessos ,criminosos que têm cometido, de
1 sabemos po� C{UC razão não constam no Arquivo Público do Estado de Ser­ armas com as quais deliberadamente passaram as portas de algu_ns cidadlos pa�di­,
. mapas estatlstJcos relativos à missão de São r'élix de Pacatuba. In licavel- cos para matar uns e maltratar outros;e vagam sempre pelo dito �ermo em ajun ­
1te d� mesma fo�a, no mapa referente à Vila Nova, comarca a �perten­ tamento de 30 a 40 homens, com as mesm� �as, a roubar publicam�te osga­
dos vacuns e cavalal'es dos criadores e propneta.nos, a arrancar as mandiocas dos
.. o, se1;1 ��rio, o Padre Luiz. Antonio dos Santos, em 182 , no mapa
ttl r!'us.� lavradores, sem que estes e aqueles ousem impedi;los,��o j�to . receio de serem
envtou a PreS1dencia, escrevia: mesmo nas suas pessoas atacados o que tudo os ditos tndtos tem unpunementc �
brado , e estão a obrar, J'orque � autoridades territoriais por eles estão coactas e
intimidadas a ponto de ja ntro poderem '!landar prende; pes soa �a conforme a
"Não consui i'ndJos" {66) lei porque eles a seu bel prazer com mao armada, a vao soltar. Eles Juntos, em as­
su�da de 300 homens armados, no dia 19 de dezembro de 1826, entraram nesta
vila onde pOl" ordem do Govcmo Provincial estav.i preso o culpado Sargento-Mor
1802 dizia o já citado Autor Anônimo que a povoaçã'o de Pacatuba está si­ da c:lita Missío Se.nú1m José Vieira, com mais três índips criminosos, e
la à beira do rio de São Francisco (67), sendo assistida por u m missionário all'ombando as �deias dela, os tiraram e soltaram outros presos, e até foram à
>Bdinho e por �m Capitão-mor dos mesmos índios. Havia por esta época 541 prisão militar, que arrombaram � d�la sol� s�is. mancebos para o s�ço . da
,tmtes na aldeia-povoação; a ocupação destes índios era servir de tangedores primeira linha recrutados ••. (Os mdtos) estão decididamente a ssuados po1$ entra·
ram em Penedo, na Província de Alagoas, armados e comandados pelo dito sargat·
gado� das fazendas circunvizinhas. Suas produções �colas, segundo o mes­
to-mor, a açoitar um certo indiv íduo em plena praça pública, para grande escânda­
Anôrumo, mal chega,,a para a sustentação própria (6U). lo da população local .."(71)
D. Marcos referindo-se à mesma aldeia de Pacatuba, dizia:

Como medidas corretivas de tamanhas arbitrariedades, Os signatários deste ofício


"Denuo do tenno de Vila NO\'a, e peno da bami do grande rio de S. Francisco,
solicitam a S.A. Imperial que puse� u� fim a esta "guer;ra •:, sugerindo qu� se
esta situada a Missão da Pacatuba, o lugar mais vistoso que há em toda a capitania
de Sergipe, pois que dali se descobre o oceano e gyande extensão da corrente do mandasse extinguir a belicosa aldeia, obngando que seus rnd1os f�m collSlde·
rio. Nesta missfo habitam 700 índios os quais são dirigidos por um religioso capu­ rados súditos e sujeitos ao Cap itio-Mor das Ordenanças. Suge �m amda que os
chinho italiano. As [ndias são muito cheias de simplicidade e inocência, porém os índios casad os ficassem cuidando das plantações e gue os solteiros fos.5em logo
[nd.ios vivem errantes e esta é a causa de sua pobreza. Alguns se ocupam na caça
ou oa pesca, e tsto mostra que 8JJlda vivem inclinados ao estado selvagem. Os la­ rec� tadoe para o se�iço da Mari�ha do Imp�rio (72); �. �-se d! passagem,
-
vradores circunVIZinhos experimentam grande detrimento da parte destes índios a idei9i de se aproveitar os abongen � nas lides manb� Jª i:inha sido �esde o
�o pouco industtiosos. Esta missão não oferece mais cousa alguma de notável..." século passado proposta pelo acadêmJco Azeredo Coutinho, no seu f�erado
(69) "Ensaio Econômico sobre o Comércio de Portugal e suas Colônias" (73): no ca­
pítulo rv estuda este a maneira de se civilizar os selvícolas através das pescarias.
1826, segundo informações do Comandante das Armas de Vila • ova, a al­
t de Pacatuba possuía mais de 600 índios, devendo-se a este número acrescen­ A idéia de se aproveitar 08 índios de Sergipe no setor marítimo parece datar de
os desertores e criminosos que segundo o militar, tinham se agregado aos in­ 1825: aos 21 de agoeto deste ano, o Govemo Geral pediu ao Presidente da Pro­
enas: viviam na maior i.n.subordinaçlo (>OSSÍvel, nfo consentindo outra autori­ víncia que enviasse alguns índios para a armada. A presidência oficia à corte es­
e que na'o da sua mesma nação (70). Este parecer tão desíavorávd tinha co­ cu88Jldo-se do nfo cumprimento do ordenado,
raison d'être um fato acontecido algu m tempo antes: a iovasiro da cadeia de
1 Nova pelos índios da dita Missão. Em vereação de 18 de fevereiro de 1827, .. por tema- efuslo de sangue no emprego da for?., segundo o estado quase selva·
como 08 homens bons da comarca se manifestavam a respeito de ti'o graves gem em que estfo as principais aldeias da Província"(74)
ntecimentos:
Dois anos após, o novo Vjce Presidente consegue vencer as sobreditas dificulda­
"A câmara, nobreza, a maior e melhor parte do pO\'O de Vila Nova Real dei Rei do des, exi�do que cada Capitão-Mor de índios enviasse de 12 a 15 "solt eiros, são
rio de São Francisco, e seu termo .... todos continuamente penegu1dos pelos índios e eecolhldos", para serem empr�ados no exército e marinha, sendo tal a cota de
da mlSSâo de São Felix da Pacatuba, no seu distrito.•. (decla.ram que)aqueles tnd.J-
cada agrupamento indígena: (7'5')

APES, Pacotilha 114, Clero, Mapa exato da Freguesia de Vila Nova, Janeiro de 1829 (71) A.N. IJJ9, 300, Ofício do Governo de Sergipe, Ofício do Juiz Ordinário José Guilher­
Pacatuba não se enconna precisamente à beira do Rio S. Francisco, mas situa-ie, em IJ­ me da Silva Martins,ao Imperador, de 18 de fevereiro de 1827.
nha reta, a matS ou menos 8 kms. das margens daquele rio. O rio mais próximo desta (72) Idem, Ibidem.
localidade é o rio Betume, afluente do S. Francisco. A distância em linha reta de Paca­ (73) Academia ReaJ das Ciências, Lisboa, 1794, Cap. IV: "As pescarias sfo o meio mais
tuba a Vila Nova (atualmente Neópolis) é de aproximadamente 16 kms. próprio para ci\'ilizar os índjos do Brasil, principa lmente os que habitam junto às
B. N Sesslo de Manuscsitos, li - 33.16,3 - n. 14. margens dos grandes rios ou do mar.".
D. Marcos A. de Souza, op. cit. p. 41-4 2. (74) B. N. 19-4-13, Apontamentos para a História de Sergipe, Autor Anônimo, Ofício de 14
A N JCI, 289, Comandante das Armas, Ofício de lgnác10 J. V. Fonseca, Comandante de janeiro de 1826.
du Armas, ao Conde de Lages, de 30 de dezembro de 1826. (75) Idem, ibidem, Ofício de..8 de agosto de 1827.
35

consideraçâ'o :i sua lavoura. Tem 231 habitantes índios, e � seus miss!o�rios an­
dam sempre inquietos pelas perturbações dos mesmos Uldios e pelas tntríg&S dos
Número de índios a moradores... " (79)
MISSÃO serem recrutados
Pacatuba "Em distância de 30 léguas pelo rio acima da Vila de Propriá, se acha !J mi,sfo de
15 s. Pedro, na q,ual bá um capuchinl_lo italiano que �ge 300 índios muito indolen­
Japuatuba 12
S.Pedro tes os quais vivem da pesca e muito pouca mandioca que plantam nessa pequena
8 i!hi de S. Pedro, que tem meia légua de comprido e 400 braças de largo"(80)
Vila de Tomar do Geru 25
TOTAL 60
<; ar Faria Bulcão era o sacerdote q,ue assistia a esta �o� 1�29; tudo fu
cr'J''Fle desde a década anterior, �to e, p01;1 c,os anos apos a referencia de
mcse:s após o envio desta ordenação ! cu!11 pre o Vice Presidente o aviso _
_ cos, tal missão era regida n!'o ma16 por �osos capu chinh�, mas p_or Dei� .'�­
1: envia para a corte como recrutas da M.arinha, 80 índios (76). seculares : em 1814, por exemplo, o pr� sb1ter_? �'! I� F:mcll!Co Joee de Can:a·
oe

As duas aldeias restantes parecem pos.5W.r uma história menos movimen· lho Lessa diz que na ausência dos refendos m1ss10. �os, era ele �em �a 11.881&­
· que Áeua Azeda, Pacatuba e Gero. A m.issa'o de Nossa Senhora do Monte .
tência aos índios e como estes nada p3evam de direitos paroquws, pedia ao Im-
no de Japaratuha situava-se a doze léguas de São Cristóv4'o: contava em erador que lhe �oncedesse a côngrua { 1). Das 488 pessoas recensea� no ano
>m somente 94 habitantes, sendo 53 homens e 41 mulheres. Seu govern o
8
�e 1829, 139 eram índios (pouco �ais de 31 % do total dos�� ), havendo
ia e<:onômico era� iguais, segundo informa o já citado autor Anônimo, nesta época 112 fogos, o 'Fle perfazta 3,99 moradores por residencia.
mtiga missão de Agua Azeda; quanto à rdaçã"o dos nativos com a econo­ .
A fim de oferecer ao leitor uma visfo de conjunto do 'Fle represen�a a
ional diz-nos este autor que população dos índios aldeados em Sergipe nas três primeims décadãs do século
passado, apresentaremos este quadro geral sintético à guisa de conclusão:
"todos estes índios se ocupam em servir aos moradores bxancos em tangedores de
boiadas, nas roças a Jornal, se bem que sSo vadios e �vem da caça e da pilhagem
dos gados das fazendas circunvizinhas"(77) POPULAÇÃO INDfGENA DAS ALDEIAS DE SERGIPE
(1802/1829)
arcos lança mão das mesmas amargas expressões com que se referiu às ou­
iias, para informar sobre esta última: ALDEIAS 1802 1808 1825 1826 1827 1829

"Os índios da Japaratuba (missionados por um religioso carmelita), em número de ,¼ua .A2cda 317 40 50/60
300, vivem errantes e por serem imorigerados, servem de muito gi:avame 30$ seus Jap3.nuuba 94 300 213
vizinhos. Se adquirissem maior grau de civilizar!,o, podiam sez úteis a si próprios e Pacatuba 700 �00
com seus braços servir à sociedade e ao Estado' (7 8) Sã"o Pedzo 300 139
541
241

5, de acordo com o mapa exato, possuía esta missã'o 233 habitantes, sen­
índios. Seu pároco, Fr. Luiz de Santa Gertrudes Silva informava exi.sti-
75 fogos, o que perfaz uma média de 3,10 habitantes por residência. Per­
u mis.5ão ao termo da vila de Santo Amaro das Brotas.
m
Quanto à aldeia de S. Pedro do Porto da Folha, eis como a ela se referi-
1tor da Descrição Geográfica em 1802, e o Memorialista de Sergipe, no
Após estas informações sumárias a respeito dos quatro grupos étnicos
con.stituintea da sõciedade sergipana, vejamos a seguir a1$'1 ns detalhes a propÓ&­
.808:
to das suh-eate.gorias sociais dos ingênuos, libertos e cabVos. Parte dos pa.i:dos e
"Esta po\lOaçfo é situada à beira do rio S. Francisco e termo da Vila Nova e é regi·
da por um Missionário barbadinho e por um Capitão Mor dos índios, é de pouca pretos estavam sujeitos, :m Sergipe como . no resto do Brasil, ao ca�eiro. Os ín­
dios embora declarados livres pelo Marques de Pombal em 1755, vmam uma es­
treita liberdade:

n, ibidem, Of{c10 de 6 de dezembro de 1827.


>nde teriam sido cequJSitados os 20 índios a mais da lista inicialmente exigida de 60
teüos slo e escolhidos"? Quem sabe se não teriam sido estes 20 a mais "cap . tura­
, entr� "os 50 ou 60 que ficaram emboscados nas matas" cucunvizinhas a antiga aJ.
de Água Azeda? (79) B. N. sess.to de Manuscritos, II - 33, 16,3 • fl. 14.
. sessão de Manuscritos, li - 33, 16, 3, n 7 (80) D. Marcos A. de Souza. op. ciL p. 43.
ta,cos A. de Souza. op, cit.p. 38 (81) APES, Mapa da Missfo de S. Pedro, Pacotilha, 114, de J 2 de novembro de 1829.
•u\

37

.. Esl3 farsa hbcrtána só representou ea.ra


os índios o direito de serem explorados cio do século paSS1do, mais de 37% elos negros de Sergipe eram livres, isto é, in-
sem ter para quem apelar. Os admirostradores das (suas) � foram recrutados, gênuos e libertos.
em geral entre minhos que cobiçnvam as terras da antiga missão ou a seara repre· Se somarmos os totais de pardos e pretos por categon.as, temos o qua-
sentada pelo controle da força de trabalho de todos os índios aldeados"(82) dro seguinte:
De acordo sempre com os lll�as exatos, tal era a situação jurídico-so­
pardos e pretos em Sergipe: (&S) PROPORÇ ÃO DE ING�NUOS-UBERTOS.CATIVOS FACE À
POPULA ÇÃO TOTAL DE SERGIPE (1825/J 830)
SITIJA("ÃO JURíDICO-SOCIAL DOS PARDOS E PRETOS EM SERGIPE
(1825/1830)
ING!NUOS LIBERTOS CATIVOS OUTROS
INGÊ i.:os LIBERTOS CATIVOS TOTAL
N.os N.os N.os N.os N.os
% absoL
absol. absol. absoL absoL
Números % Números % Números % Números
absolutos absolutos absolutos absolutos 47.39S 41,06 13.110 11,36 31.35S 27,17 13. .SSS 20,41 1 15,418 100,00
38.067 74,54 7.129 13,96 5. 871 11,50 51.067 100,00
9.331 22 , 88 5.981 14,66 25.484 6 2,46 40.796 100,00
Quer dizer: apenas 27,17% dos habitantes de Sergipe eram escravos,
,
sendo que 11,.3 �% �os P.ai:dos e pretos entJo livtes tinham durante algum
perío­
Como se vê, o comportamento de cada gru po no que tange à sua situa­ do de suas CXJ.Stências, vmdo sob o regime servil (84 ). Assim sendo' a nosso ver'
lico-social é diametralmente oposto: apenas 11,50% dos mulatos penna­ dificilmente poderíamos concordar que
> cativeiro, enquanto que 62,46% dos negros eram estnvos.No que se refere
ativos, nã'o fiJ em tenn os a bsolutos notamos a predominâncra de líhertos
"as condições sociais em Semoe. em 1 824. decorriam da estrutura econômica do­
como também se atentarmos para o número de escravos de cada gru po,
minante , repousada no binõmio senhor da terra e eccravos, como acontecia naé,.
emos que os pardos se libertavam ou eram 1ibertadcs cem mi:íto maior E.ro­ poca , cm toda a região onde a cana de açúcar era o esteio". (8 S)
do que os negros: 54,83% dos pardos saíram da escravidão, enquanto
nas 19% dos negros tiveram a venb.Jra de _p�r de escravos a libertos.
tante a predominância de negros escravos, e surpreendente que já no ini- Mesmo se considerássemos todos 08 brancos de Sergipe como pertencentes à ca­
tegoria de "senhores" - hipótese evidentemente insensata, pois além de existi­
rem, como mostram os documentos, muitos brancos pobres, havia nesta Provín­
cia em 1826 aeena8 232 engenhos, - repetimos, mesmo excluindo todos os bran­
,Y Ribeuc:
ndios e a Ciuili::oç4.o. cos, havia ainda em Serg!pe 62.008 peSBoas, isto é, 53,72% do total da po pula­
de Janeuo , Ed. C1vi.lizaçâo Brasileira, 1970, p.. 51·52. ção, que nlo era nem seruior nem eacravo. E isto se evidencia na-o apenas nos ma­
1 Beatriz G. Dantas, op. cit., p. 13. pas ex.atos, mu também em outrouevant.ament08 populacionais anteriores. As­
ora apenas Geru tenha sido elevada à categona de vila, o certo é que também nas sim, por exemplo, de acordo com 08 dados fornecidos pelo Conselheiro Vell060,
ús aldeias a libe1da.de dos índios, seja pessoal. seia da posse de suas ter:ra.s, semp1e os escravos representavam em 1819, apenas 22,79% do total dos habitantes desta
'C ameaçada pelos moradores da circunvizinhança. All.ils, não fo1 apenas em Água
la, conforme vimos antenocmente, e no Geru (cf. Beatriz G. dantas, op. Clt . p. 11 Província; em 1823, de acordo com a Memória oferecida ao Marquêa de Carave­
1 que os índios tiveram de enfrentar a ganância dos do índios, sequiosos em apo­ las, 08 escravos representavam 26% do total da populaçfo (86). Embora pobre,
:-se de suas teuas. Em Pacatuba. igmlrnente , "as contendas de pos�sóno de ter· destituída na Mia maior parte de direitos políticos e privilégi08 sociais, referida
eram a causa da oposiçã'o dos indí�na.s a que o capitfo mor Bento de Mello Perei­ usualmente com ex preaeõea depreciativas, como a gentalha, canalha, miseráveis,
:upasse o posto de Diretor da dita 1'1/ssã'o, na medida em que o mesmo era sogro do
mto mor José Guilherme da Silva M.artms, "�ornem pelos índios temido e (que) gente que vive da misericórdia de Deus, etc, o certo é que mais da metade da ro­
z o detestavam per causa da questão da terra dos Anhuma.s,terras estas que corâi­ pulação de Sergipe pertencia, ao menos durante as primeiras décadas do 01t�
m com as da aldeia". (cf. RIGHS, ano li, 1914, fase. UI e IV, voL 11, p. 365-366. centoa, a cá.a cateS°ria: a doe homens livres, traballiadores do eit o, agregados,
do Conselho de 4 de maio de 1827 e na Btbhoteca Nacional, 19-4-13. Aponta· moradores de condiçfo, meeiros e rendeiros. Gente pobre, na sua maioria, livre,
os para a História de Sergipe, Autor Anônimo, Rep1esentação de 29 de outubro
827). Ao 1eferir-se à ordem recebida por Bento de Mcllo Peieua, de "'castipl os vivendo nu periferias iiaa vilas e das grandes pr opnedades, e mbora ce_ rtamente
,s de que havwn quevcas, para que pela impunidade se nã"o tornassem criminosos",
nesta que incluía "recrutai o maior número de índjos possível para a marinha, no
·w SCMÇO muito bom e digno de muito louvor", eis o comentá.rio tecido pelo a· (84) P. Eisenbe.tg diz que em Pernambuco, em 1823, os escravos representavam 31 por cen·
no autor dos Apontamenl0$: "Aqui se criou o direito de escnvisu e de eXtil\guir to do total da população (1969·281);em 1839 a porcentagem de escravos face a popu­
,bres índios". Odem, ibidem). laçfo livre era de 23,6 po1 cento ; em 1842, de 22,7 por cento, em 1855, 20,9 por cento
,uo era o preto ou pardo filho de pai livre; liberto era o preto ou pardo que tendo eem 1872,de 10,6 por cento (1972: 196).
do escravo , adquuiu a liberdade por manumissão ou alforria; catioo en o escra­
leste ensaio \/3JllOS nos lim1w o uma primeira análise do grupo dos cativos, de,xan­ (8S) M. ThetlS Nunes, 1973. b. p. l.
ua o futuro estudu os ingênuos e líbertos. <86) Cf. Re,c.,rw Histórico dos Inquéritos Ceruitários reolúadM no Bra.si4 op. cit. p. 404.
' 39

;ulando na áhita das grandes propriedades canavie.,iras, taJ massa populacional, vam a seus cativos. Os poucos testamentos que dispomos até agora ensinam-noe
;ez apresentando um estilo de vida muito semelhante ao da escravaria, sobre­ pouco sobre tal particular. BeJ?l tratadas ou �o. melhor 1;tatados do que os n1>
lo no qu e se refere às práticas e tipo de trabalho, à dieta alimentar, vestuário gros da Bahia ou não, o certo e que volt.a e meia a escravana estava se rebelando,
eição as doenças, etc, tal população constituía, junto com a escravaria, motivo chegando al gu mas vezes a constituir grave ameaça à tranquilidade pública em di­
grandes preocupações à elite senhorial e à população em geral. ver:as fregu�as. E isto desde os primórdios da colonizaçf'o desta pequena capi­
tarua nordestlna:
""Têm os malfeitores crescido e sáo quase todos homens de cor···" "Já no ano de 1601 os nossos negros iniciavam suas tentativas de reação contra·
culturativa: fogem dos engenhos e propriedades e se aquilombam no ltapicuru,
juntamente com outros foragidos da Bahia." (91)
:ia o Juiz Ordinário Presidente do Senado da Câmara de S. Cristóvão, em der
mento anterionoente citado (87).
Antes porém de abordar este tema, vejamos algo a respeito do grupo Mais de uma vez foram os indígenas da aldeia do Geru utilizados para e•ssar
s escravos de Sergipe. Como viviam, como eram tratados, como reagiram ao as fileiras dos soldados brancos que iam combater e desbaratar os mocamoos dos
tema que os obrigava a trabalhar servilmente. caUuunbolas:

"Nas muitas entradas que se fizeram para combater os mocambos o branco domi­
" ... 20 cativos em Sergipe fazem muito maior quantidade de açúcar do que muitos nante se utilizou _dos indivíduos de urnadasetnias subjugadas - o índio para com­
lavradores no recôncavo da Bahia com enfraquecidos braços de 100 escravos. Mas bate,: a outra etnia que se rebelava - a neg.-a."(92)
eu descubro e apresento a razão de proveito tão vantajoso. Ali são mais bem trata­
dos estes homens desgraçados, sujeitos à lei do catiWJJo· são nu-tridos com os sau­
dáveis alim�ntos de vegetais, com feij� e com milho, q�e por toda parte colhem Embora referidos desde o século XVII, o mais antigo relato de uma re­
com abundãncia. Os escravos ,do reconcavo da Bahia se nutrem com o escasso e volta negra que conseguimos localizar refere-se ao ano de 180"9. Eis como a ela se
nocivo alimento de carne salgada do Rio Grande; suas pequenas casas são cobertas referiu o citado autor anônimo:
de palhas e mal os agasalham do rigor da estação, quando as senzalas em Sergipe
são cobertas de telha. Os escravos vestidos com algodão manufacturado pelas es­
cravas, quando os do recôncavo pela maior parte parecem mudos orangotangos "Desordem de pretos:
Ali se Ih� permite a mais doce sociedade;podcm casar·� com as escravas da mes: Em sessão d e 25 de fevereiro de 1809, a Cãmara dirigiu·se ao CapitãO'Mor Govet·
ma família e ainda de outra, quando os proprietários da V!Zmha Bahia embaraçam nador da Capitania de Sergipe, para dar as providências sobre wn 1êvante de pre
a liberdade do. matrimônio..."(88i tos que vagavam pelas partes da Cotínguiba, aonde furtam, roubam e insultam os­
povos; a fim de que náo aumente a dila corporação de sone que fique i nconquis­
tável, oficiou-se em nome do Governador aos Capitáes-mores de Ordenanças para
darem as 11rovidências para coibirem os pretos revoltosos. Por parte dos republi·
,mentando, pouco mais adiante, o mesmo D. Marcos, a respeito das excelências canos e milicianos foi enviado ante o Senado em sessão de 10 de abril de 1809
s recursos alimentares encontrados nos arredores da vila de Santo Amaro das o Professor de Gramática Latina, lgnácio Antorüo Dormundo, o qual represen·
otas, diz que é abundantíssima ai a colheita de feijão, milho e oulTOS legu mes, tou que era pública a voz e fama de uma sediç!o ou rebeliã'o que pretendiam fa·
zer os escravos desta comarca e outros que da Bahia vieram fugidos que lá foram
,s �ais exportam para a Bahia mais de 2.000 al qu eires. Por motivo de tanta cúmplices em tal delit<f'.(93)
rtihdade torna-se mais fácil a conservação dos negros da Guiné e AngolaA nfo
ado tão <f:ispendiosa sua suhsistência como oc orre no recôncavo bahiano (i,9).
iás, não foi �enas este autor quem tentou mostrar que a escravaria era melhor Pedem então os oficiantes uma aç!o i mediata contra tais "mal feitores", afir.
1tada em Sergipe do que na Bahla. Fel te Bezerra, baseando-se em quem nao sei, mando que algu ns escravos foram presos como suspeitos de saberem e terem par­
� que a zona canavieira de seu estado, era uma das regiões no Brasil onde havia te na "sublevação". Em vista de ta.is acontecimentos, a Câmara resolve que todo
!l tratamento relativamente humano do senhor para o escravo. Diz não ter co­ escravo que fosse encontrado annado, deveria ser açoitado no pelourinho, o mes­
tecimento se em outro lugar qualqu er do território brasileiro foram tão recluzj. mo ocorrendo soa que forem encontrados de_pois elas 8 horas sem bilhete de seus
s ou disfarçadas as distâncias sociais e implicitamente raciais no convívio entre donos; deliberou t.ainhém que se n!o permitisse o uso de instrumentos ofensivos·
que obedeciam (90). e perfuradores, só permitindo o uso de facas de cortar capim e outros misterea.
felizmente ainda não dispomos de material arquivístico suficiente que nos per·
ita uma análise em profundidade sobre o tratamento que os senhores dispensa- Em conclusão, diz o autor deste docwnento, que na �eneralidade destas proibi­
ções se deviam compreender todos os e�ravos, inclu61Ve os mulatos, devendo os

') A. N. IGI, 105, n. 126, ofício de João Simões dos Reis e José Francisco de Sales, de 6
de julho de 1824. (91) l dem,p. 154.
:) D. Mucos A. de Souza, op. cit. , p. 17. (92) Beatriz G. Dantas, op. cit., p. 8.
1) ldem, p. 34-4 5
(93) B. N. 19-4-13, Apontamentos para a História de Sergipe, Autor Anônimo, Acta.s das
•) Felte Bezerra, op. cil.,p. 1 S 7 e ss. Ses.tões da Câmara, de 1796 a 181O.
.. .,
41

res de enn:enho e demais lavradores ter toda a dilie:ência e precaução em fa­ Numa carta datada do mesmo dia (1.º de outubro de 1827, o Juiz Ordinário ad­
colher de noite nas suas casas, a bom recato, todos os instrumentos com moesta ao Vice-Presidente que já ia
cultiva a lav oura.
In�te notar que na representaçao feita p�o Profcsso,r J?onnundo "giassa.ndo pelos engenhos vizinhos o contágio destruidor e já oom muitas mor­
smo1 aliás, que fora rncarregado em 1826 de. orgamzar a. estati�ca da P!�
). ha menção de que C$Cr&vos fugidos da sediç€o da Bahia estanam partic1-
tes"(97) ,,1,
' '-,-,, 1,
}._
da planejada sublevação em Sergipe. Picrr� V erger r�fer �-se a du.as tenta ti· Esta outra carta, de um Senhor de Engenho, é ainda mais trágica: ·)
r ebelião de negros em Salv ador or esta epoca :a pnme1ra1 erevtSta para o ,._
/ �,,,,,1 1[ \\\\�
de maio de 1807 a o u tra, aos de janeiro de 1809 (94): Como a sessão
1ara em S. Cristóvio se realizou aos 25 de fevereiro de 1809, não seria de "Neste momento, escapo por milagre de M aria Santíssima de ser vítima r
de um partido de e.scravos nagões (sic) meus, do Engenho Poiteira,.Caraibas, Ma­
nfundado pensar que os negros da B.ahia te�am fugJdo des� s� gunda revol­ ruim, Taverna, Vanea, Sítio, Santa Bárban de cujo ataque fica um meu filho e_..
.ndo-se a seguir aos rebeldes de . Sergipe. Alias, não e 1;5t� o umc? docurnen­ tres foaos meus vizinhos-e dois escraws nã'o nagões que foram defensores de mi-
: se refere a comunicação havida entre os negros d alem do no Real: em nha vida, mulher e filhos. S'e acham nove bem maltntados, além de dois suponho
eis o que rdatava o Coronel Comandante Manoel Rollembe.rg d'Auvedo: mortos. Passo a V. Exa. esta participação e logo quero dar providência, pois de&­
confio que es tavam recolhidos (os revoltosos) nas matas de que vil'e cercado e su­
ponho voltarA'o na seguinte noite .••"(98)
�te momento recebo uma carta do Tenente Coronel Sebasti.io Gaspar, em que
/�: diz que um escravo seu, de nação Nagô, denunciara que os escravos desta na- Aos 3 de outubro, as forças armadas tinham conseguido matar 12 o� 14 reTolto-
ção seduzidos pelos escravos (do engenho) Mato Grosso, se acham em........ -....,.. . sos, mas informava o Comandante que
de Úma sublevação muito breve, e que o dito es�vo não sabia o dia porque os ou­
tros desconfiavam dele, e como agora chega noticias de que a poucos dias te\"'C ar­
rebentado uma sublevação de pretos da Bahia, não duvido tenha havido alguma "tem muito negro dentro dos brejos qu e julgo não se dará fim a eles esta noite''
correspondência dos escravos daquela com os desta': ( 95). (99)

Não era sem razão que os proprietários da zona da Cotingu iha, a mais Mais minuci06a é esta relaçfo de como os negros foram surpreendidos:
produtiva � Província, temiam t.ais sublevações. Um ano a.ntes ao ofício
citado, ocorreram grandes inquietações entre a es::ravaria de diversos enge­ .. Ontem,( d ia 3) tiveram fortuna os homens das Ordenanças de encontrar na Mata
Salvo erro, este é o mais documentado episódio de confJitos entre escravos do Cambuí, Junto ao Engenho das Cruzes , com um partido de escravos subleva­
a ordem escravocrata. Eis o que ocorreu: dos, dos quau ficaram mortos de 16 a 20, inclusive uma esc.cava"(100)

Diz o mesmo informante que tinha mandado marchar um batalhão para ir estor­
"Exposição sucinta de um Senhor de Engenho, José Pullo de Carvalho. de 1 .0 de vando as "comunicações ou reuniões" dos sublevados naquelas matas. Conclui
outubro de 1827: dizendo que os revoltosos tinham matado até aquela data de 8 a 10 pessoas, en­
Era meia noite quando me bateu à porta o Sargento-Mor Jcdo Pau d' Azevedo dJ­ tre homens, mulheres e orianças.
zend<>-me naquele momento fora avisado que os escravos dos engenhos S1uo. Peri­
peri, Unha de Gato e Vagem estavam sublevados, como Já na povoação do Rosáno Aos 7 de outubro é o próprio Yice-Presidente quem escreve à Corte Imperial
e que já se sabia de dois senhores monos, posto que oom a pressa não perguntou dando parte dos sinistros eventos. Diz que com
quem eram os infeltzes. Eu recomendei ao Capita-o Francisco Perc11a ah fosse reu­
nindo todo o homem liberto, com o fim de formar um porto de força para ao "energia trabalha em sufocar a faísca do incêndio (comoção sediciosa de escral'OS)
amanhecer, socorrer o ponto mais atacado, VISto que a desgraça se ateava;infeli.t· que é sempre de recear se ateie em um país onde a populaçã'o dos pretos e escra­
mente, porém, aio há armas, nem mesmo para o pequeno destacamento que al.t se vos excede muito a dos brancos e livres, o que espero por esta vez felizmente se
acha. Retirei-me para o Porto das Redes a fim de fazer as participações necessánas consiga..."(lOL)
a todos os pontos, entretanto V. Exa. determmará o que lhe parecer mau acertado
em tal apuro..."(96)

(97) Idem, ibidem, fl. 140, n .0 2, carta do Juiz Ordinário José Rolz Vieira Andrade ao Vice
Presidente.
(98) Jdem, ibidem, Carta de Hermenegildo José TeUes de Menez�ao Vicc-Prc.sidente, de 30
1e11e Verger: ETAOINSHR DLUCMF • . _ de setembro de 1827.
/ux er Réflwc de la Traite desNegres entré la Golfe de Berun et &h,a de lodos os San- (99) Idem, ibidem, Carta de Francisco Correa de F'.-ao Vice Presidente, de 4 de outubro de
•• du dir-sepriéme ou dtx•neuuieme siêcle. 1827.
tib. Mouton, 1968, p. 328-329. (100) Idem, ibidem, fl. 155, Carta de Manoel Rodrigues do Nascimento ao Vice-Presidente,
•1 S. racolilha 174, Co1onéis, Ofício do Coronel Comandante Manoel Rollemberg de 4 de outubro do 1827
At<'1nlo A. ao P1cs1dcntc da Província. de 25 de março de 18280 (101) Idem. Ibidem, O, 151, n.0 51, Ofício do Vice Presidente Manoel de Deus Machado no
N tJ li/. '.lÜO. ma.;o 4. Ofício do Governo de Sergipe, fl. 14 5, n. 50, Ofício do Pre- Visconde de S. Leopoldo. ele 7 de ou cubro de 182 7.
1, ,.,, ,1 .. ,.. .-1 ,k U,·u, M,1d1allo ao v,�condc de S. L.eopoldo de 2 de outubro de 1827
43

; 16 do mesmo mês, assim escrevia ao Vice-President.e o Comandante do Bata­ A última notícia referente a estes sinistros episódios é dada eelo Vice­
:> encarregado de reprimir os negros revol tosos: Presidente, em ofício enviado ao Rio de Janeiro. Diz que tinha a satiafaç.fo de
comunicar que a comoção de escravos de vários engenhos da Cotingaiba, que
"Ainda existem muitos escravos dispersos pelas maw, reunidos em pequenos gru· tanto terror tinha incutido nos ânimos dos habitantes da Prmíncia, em conae­
pos que só podem ser presos de corso por m.ilicias e ordenanças dos_lugar� a ��d_e
aparecem inesperadamente e estes, mesmo dispersos, podem ser mu1to preJUdi.CllUS quência das instantâneas e fortes medidas empregadas, se achava inteiramente
em assassínios e roubos..."(102) dissipada. E conclui:

"Para evitar contudo a aparição de igullis acont�entos, seqiprc ��em um


n o escopo de a terrar a esc�vatura, dirigiu-se o dito Comand�nte pdos enge­ país de população heterogênea, tenho estabelecido nos pontos� con��.
,s _circun�inhos, mostrando �os negros a f!' rça que se destmav8: �ontra os novos destacamentos além dos que já exístwn, e dado todas as mais pro'Yidéncw
,nnados. !\ão obstant.e a gravidade do ocomdo, acusa o mesmo militar a cer­ q_ue parecerem adeqwida.s a manter a tranquilidade pública e velar na segurança dos
senhores de engenh o que estavam em.barcando em hora noturna alguns escra­ adadãos."(104)
am otinados, para serem vendidos na Bahia, para assim evadirem-se das pen.as
Lei em que estavam i ncursos: numa patrulha efetuada à Barra, surpreenderam Além desta revolta de escravos pertencentes aos engenhos vizinhoa à po­
:enderam a quatro escravos pertencentes ao Sargento-Mor Hermen� do José
, _ voação do Rosário, temo s conhecimento de outras sedições ocorridu em Esfh.
es (o mesmo que dissera ter escapado das mãos dos _revoll?sos por milagre eia (104a), Brejo Grande (105), Laranjeiras (106), Santo Amaro (107) e Tomar
\1-aria Santísmna ") escravos estes gue ficaram na cadeia da vila de Santo Ama­
de Geru (108).
à �de serem punidos. Diz amda qu � alguns escravos foram embarcados
_ Antes de concluir esta análise preliminar <tos mapas exat06 das fregue­
a outras regiões samdo do Porto de Màroun, e que alguns senho re;s a fim d�
sias sergipanas, lembrando mais uma vez que além de publicá-los na ín� num
, perderem o dinheiro dos negros sublevados , têm-nos ag�lhado as escon�
próximo trabalho, pretendemos estudar a composiç•o etária de cada um àos qua­
, 0 que, segundo opin11Va o Tenente Com �dante d� 125. Batalhão po d�
tro grupos étnicos e dos subgrupas dos ingênuoa-liherto&-<:ativos, assim como
a ser um mui funesto ex emplo. Como medi� CO IJCtiv� -�gere, �e se policie
abo rdar o problema da compOtllçfo da populaç.fo quanto ao estado civil, antes
is a povoação do Rosário, lugar onde surgira o conciliábulo , devendo �
de concl uir, repetimos, vamo s ver alguns dados referentes à divislo por sexo de
ílância estender-se desde o presente até o mês de janeiro , devendo-se estac10-
urna das ca tegorias jurídi c o-sociais áe pardos e pretos.
aí um destacamento a fim de evitar as calendas do Natal, ocasião em que
itas vezes se aproveitam os rev?ltosos para maus fins". Sugere ainda 911� se
iciem mais as barras para se evitar a passagem e a venda de escravos crumno­
. E continua:

.. Tenho 1nferido de tudo o que tenh o Visto e ouvido e da confissfo de algum a.b·
ciado mas que de fato recwou entrar na trama destrwdora, que os neg1os da na­
ção Nagou (sic) ti.Ilham formado de acordo entre si o desígruo de uma guetn ser­
vil cujo plano era massacrar todos os brancos, principiando pelos senhores, e fica­
rem de p osse do terreno, pois para isso tinham aprestad o umas, fundas. couraças, 0
peitos de armas, etc., proJeto que só foi desfeito facilmente pela força oposui,,por ( 104) Idem, Ibidem, O. 16 J. n. SS. Ofício do Vice-PLesidente ao Visconde de S. Lepoldo,
de 18 de outubro de 1827.
se terem enganado (como dizem) com o dia aprazado ou o qu1:_ é matS provavel,
por se terem acelerado no rompunento, aproveitando-se da ausencia dos dou �a­ (104,a) A. N. IG( 289, O. 112, Comandante das Annu, Ofíci o de lgnácio José Vicente da
ta.lhõe. nessa cidade. Apesar de se ter cortado a cabeça da H1dn da conJuraçao, Fonseca, ao Conde de Lages, de 31 de dezembro de 1826, denunciando desordens
como em outro(ofício) já fiz ver a V. Exa., e como o aparto de �as e prospecto de escravos no dia de Natal em Estância.
aterrador, que procurei infundu nos animos dos q_ue pudeo;sem amda ter inteo� (105) Acta da sessfo extrao1dinária do Conselho de Gowmo da Província, de 12 de de­
simsuas, e não obstante se achar atualmente aparen<:ia o m�} sedado, contudo nao �embro de 1827, denunciando o plano dos mulatos de Brejo Grande de ,ealizarern
me parece este negócio de uma face tão serena que 113:o e)(J_la da parte do, g�Vttno uma "verdadeira revoluçro, massacrando os brancos... " in RIHGS, ano IV, voL IV,
a mai or solicitude para o futuro , porque estes 11gres esf3Jlllados que so _tem de 1919, p. 318-319.
homens a figura, tendo�e debandado na sua derrota _me consta terem-se dispersa· (106) A. N. IGI , 105, fl. 123, Ofício do Capitfo José d'Anunciaçf'o Borges ao Coman­
do por várias partes, assaltado casas, matando sem piedade e roubando e levando dante das Almas, de S de julho de 1824, informando sobre motim ou assuada de
consigo para as brenhas mulheres brancas e_talvez para diante engrossando o seu gentes de cor c o otra os marotos e caiados.
partido e contaminando a parte sã, poderao causar "!111ores danos • enftm acaz· (107) B. M. 19-4-13 �pontamentos para a Hist6Lia de Sergipe, Autor Anônimo, Ordem
1
do Juiz Ordinario de Santo Amaro. de 29 de março de 1826, informando sobre um
retar desgraças incalculáveis. A dor que me ca_usa a :,u1na em que se me figura 1T
submergind o a Pátria me tem feito falar demasiado... (103) levantamento de escrav os de diversos engenhos desta fre�esia que teve luau em
março de 1825, tendo o Presidente da �rovíncla mandadd deva.!Sar o (\!feres Henri·
que Dias e Sebas tifo de Paiva e Noronha e outros suposto s' cúmplices de tal subleva­
çao.
(108) Acta da SessA'o d o Conselh o do G ovemo da Ptovíncia, de 4 de novembro de 1828,
2) Idem. Ibidem, O. 162, Ofício do Tenente Comandante do Batalhão 125, a o Vice Pre­ denunciando que nas matas vizinhas à vila de Tomar de Ceru, "existem Je�tadot
,1dentc Manuel Ro w1gues do Nascimento, de 16 de outubro de 1827. 15 a 17 escravos , pr oduzidos de uma esCiava, rest o dos bens dos proctistos Pad.res
da Companhia de Jesus, sem que queiram obedecer ao Vigário respectivo .•." ln
} 1 ld.om, lb1dem. P.IHGS, on IV, ,'OI. IV, 1919, p. 352.
4S

parte dos escravos, tentaremos, na medida em que for poesível, companu se os


DIVJSÃO DOSINGÊNUOS-LlBERTOS-CAnvos POR SEXO padrões deste processo eram os mesmos ou diferentes quer se tratasee de escravos
SERGIPE (1825/1830)
urbanos ou rurais.
Quanto ao grupo dos cativos, muito embora os homens sejam 5,2% ma.is
numer080S do que as mulheres, tal_porcentagem se mostra bastant.e baixa se com­
INGÊNUOS LIBERTOS CATIVOS parada com a de outras áreas do Brasil (110). Como ex�ar tal fenômeno? Por
Números esta época, o que representava em Sergipe a importaç!'o de africanos? Entrariam
Números Números % %
absolutos % absolutos absolutos mais eacravos do sexo maaculino?
Concluindo, gostaríamos de recordar que n0888 intenção nestas páginas
Homens 22.702 47,90 5.968 45,52 16.500 52,62 foi chamar a atençlo dos interessados para um campo ainda 'n6o suficientement.e
Mulheres 24.696 52,10 7.142 54,48 14.853 47.38 estudado no Brasil, a demografia historica, campo este gue se explorado há de
TOTAL 47.398 100,00 13.100 100,00 31.355 100,00 trazer grandes contribuições para a compreensão integral, tanto no nível sincro-
nico, corno no diacrôrúco, dos grupos mais significativos que compunham a so­
ciedade brasileira de antanho. Nel!lle primeiro esboço, demos mais atenção a cer·
tos aspectos qualitativos da cµnâmica da int.eração dos brancos, pardos, pretos e
. � leitura d�te quadro nos evidencia �mas importantes t.endências da índios em Sergipe, nas três primeiras décadas do século paasado . Como a série
> f!l�º �em.o�ca das gentes de cor de Sergipe na tercei.ra década do sécu-
1 XIX: a Pl:lmei.ra e que a porcentagem de mullieres i
dos mapas exatos que encontramos nlo está completa, e como tencionamos pro-
ngênuas era mais elevada
o que a porcentagem do total das mulheres existentes em toda a Província. Tal­ ximamente tentar encontrar e analisar todo o corpo censitário deste período -
:z se compararmos a esperança média de vida de cada subgru po assinalado nos se possível comparando os mapas de 1825-1829 com os de 1854 - deixaremos .
apas exatos chegoem�s a al�ma conclusão que n()!\ expli qu e o ponr.ie de tal
..alidade.. Po: que estanam os homens ingênuos mais sujeitos à morte do que as �ara ou .tro estudo transcre�er os mapas,3.$ím como propor uma análise quantita·
,ulheres mgenuas? tiv � mA18 completa e sofisticada . Por ora, ficam como definitivos três pontos: pri·
No que� refere ao grupo dos libertos, ai então há outro aspecto inte­ metro, que embora men ?s docume�tado que a Bahia, Se�gip� oferece ao _pesqui,
sador, abundante matenal manuscnto para estudos quahtatívos e qu anbt.ativos
:ssante a ser s:ruentado: a predominância de mulheres que compraram e/ ou ga· .
de sua história social na primeira metade do século XIX; segundo, que este mate­
haram a sua liberdade (109). Quem sahe se tal fenômeno nlo se explicaria pelo
tlor diferente conferido ao trabalho de um e de outro sexo? Em outros termos: rial em sua maior parte iné dito, encontra se- disperso sobretudo no Arquivo Pú­
''!'º os escravos masculinos eram mais valiosos e certamente empregados com bli �o do �tado de Sergipe, no Arquivo e Bibliot�ca. Nacionais, sem falar nos ar­
,aior sucesso nas lides agrícolas, seria mais ou m1;nos lógico que ao conceder a ��os bS1anos e portugo e8e;S; terceiro, que a Pi;ov1nc1a de Se �pe dispõe de uma
. sene de recenseamento realizados nas fases pre e proto-estatisticas, que mesmo
herdade a seus cativos, os senhores o fizessem maJS frequentemente livrando,se
ão de sua principal força de trabalho, mas da menos indispensável, a saber ,� que se revelem incompletos, permitem minuciosas análises demográficas sobre a
�ulheres. �ão obstante, fazemos tal afirmação sem muita convicção, pois nfo maior parte de suas fregu esias.
ISJ>?mos amda de dados que nos esclareçam sobre dois aspectos fundamentais
a Situação dos escravos em Sergipe: primeiro, o valor monetário de escravoo de
.ferentes sexos e idades; segundo, a utilização ou não do trabalho das escravas
is �nas agrícol�s . Soment� .9u�do tivermos in.t:ormações a este respeito, e
_
mbém, qua?do tivermos evidencias da maneara mais usual utilizada pelos escra­
>S. para se lih �rtarem e �a forma e ocasiões em que OS senhores avaciavam SC\1$
1tivos com a liberdade, e que poderemos interpretar porque havia 8,9% a ma.is
! mul�eres do que de h�ens na categoria dos libertos. Evidentemente que se
>nsegu1rmos encontrar listas ou róis de concessão ou compra de liberdade por

)9) Kátia �t O. Manosos, no artigo, "A propósito de cartas de alforria Bahia J 779-
_l,850" ,.m. Anais dl' llútóna (Assis). ano IV. 1972. p. 40. diz que haY1a ru Bahia (J10) Emília V1otti da Costa, (Do Senzala ô Colônia, SP, Difusão Européia e.lo L,vro,1966),
pcefereneta pela 1,bcr�ç;io de csc,avos do )C�O feminino. Com efeito , 3 porc.:nta· �IZ 9ue cm certas áre�. a proporçlo era de uma escrava para cada 4 ou 5 escravos.
em ma., :ulina se mamem .durante J�tlo o penodo 1779-1850, �a,1an1ec,1á11el,oi·
�cllando Ate a c�sa�fo do trafico, a populaça-o masculi na represcntavn , cm cenas área�. a
entre 32 .4 por c�nto, seu m,mmo e 4 7por cento ,seu maximo··. Stuart Sch­ gran�e ma1ona : cerca de 70 por ccnio da popula.ç«o escrava" (p . 267) 1.
warl1., em �ct,go pohcopoa<.lo . "Thc Manumission of slaves 1n Colonia l Br.m.l Balua , , que em Pernambuco, para cada 100 escravos. havia, rcspcct,vamcn·
16!<4 1750 . , d11 1,·1 �n<."Ont1ado uma rarío de duas mulheré< para cada c,crovo ho- , P. Eisenberg diz
te, em J 829, 136 escravos,em 1842,133. em 1872 , 112 (op. c11. l 972 · 197).
111,·111 l1h.:, 1a,lu tl <l74 r <.JcnotJ21)
li

Pardos e Pretos em Sergipe:


1774 -1851
"Têm os malfeitores cmscldo e são quase todos homens de

1
cor. .• " (Ofício do Presidente da Câmara de São Cristóvlo ao
Ministro da Guerra, 6-7-1824).

Embora para efeitos censitários e mesmo para cla.sai ficaçio dos indiví­
duos aptos a ocupar certos cargos públi cos costumava-se distinguir em Ser�pe
os pardos dos pretos, o cert'o é que, via de regra, sobretudo quando se senna a­
meaçada, a população branca dominante, a elite do poder, parecia considerar to­
dos os "não-brancos" como formando um único e perigoso grupo - "os homens
de cor".
A principal preocupação deste trabalho será discutir até �e ponto os
pardos e pretos de Sergipe formavam um único grupo e em que medida o concei­
to de grupo étnico, taf qual o define F. Barth (2) , revela-se adequado para a ca­
racterização de tal segmento populacional
Em trabalhos anteriores (3) , já discorremos longamente a propósito das
fontes documentais di sp oníveis para o estudo da p opulação de Sergipe na
primeira metade do século XIX. Gostaríamos apenas de frisar que dentre as fon­
tes mais importantes, quer manuscritas, quer impressas, não resta. dúvida que os
"Mapas Exatoe da População" estio em primeiro lugar para o estudo da popula­
ção de Sergipe do passado.
TalS Mapas (cf. Anexo), referen tes a todas as fr egu esias e missões de ín­
dios da Província, cobrem o período que vai de 1825 a 1837. Após sistemática e
extensiva pesquisa em diversos arquivos, tanto de Sergipe, como da Bahia, Rio
de Janeiro e Lisboa, conseguwios localizar o surpreendente número de 54 destes
mapas manuscritos. Se levannos em conta gue até hoje nenhum dos autores
i,
ue estudaram a popalaçio brasileira de antanho- nem mesmo as obras clássicas
nvestigações sobre os Recenseamentos da Populaçá"o Geral do Império e d6 cada
Provfncia de per si tentados desde os Tempos Coloniais até hoje e Resumo His-

( /) Este 1Tnbolf10 é uma primeira tentatiua de sistematizOÇ4'o do material referente à pesquw


"FJtruturo e /)inâmico do Pop_ulaç/fo de Sergipe: J 802-1854". Tal pesquiso vem sendo potro­
cmoda peki Furidaçtro Ford (Estudos Populocionoi1) • d qual renovo o minha gratitkro.
(2) Bortli, F., "ln troduction ", in &rth (ed) Ethnic Groups and Boundariei. The Social Orga·
nLiation ofCuhure Oifference. london, Ceorgc Allen &Unwín, 1970, p. 9-3&
{3) Mott, l. R. 8., "Broncos, Pardos, Pretos e fndios cm Sergipe· 1825-1830". Anais dt
Histór1a ( Assis). ano VI, 1974, p. 131).184.
"1011, L. R. 8.. A Etno-demografia•histbrica e o problema das fontes dOQ.lmen-
1a,s p.,ra ó e•tudo da populaçSo de Sergipe na primeira metade do Século XIX. Comunico­
ç<10 apresentada r,a X lleuni4'o da As1ocioçt10 Orasíleiro de Antropolosio, Soluodor, 22·25 do
f.,1,ereiro de 1976.
49

P ara efeitos censitários e também como critério de classi�caçlo � c\al,


> dos Inquéritos Censitários realizados no Brasil (4) - se referem a tais Ma­ via de regra, a população de Sergipe, assim como d o resto d o Brasil,. e�a _div di�a
em atro os: brancos, pardos, pretos e lndios. Apesar d;a S�)etJVlda e a
d
·xaros, somos forçados a con cluir que a descoberta de tais documentos abre
nov-a petSpecth-a para as pesquisas do nosso periodo proto-estatístico (5). avaliTção d�!enótipos , o certo é � e quase s;e'!lpre _que um ��VlduO se �� re­
tl'lsiderannos qu e tais Mapas foram realizados em Sergipe em obediência a sentava perante wna aut oridade juradica, adm1D1strattva, e�}es�astica ou pobc1al,
cninações imperiais e gerais para as demais Províncias, só outras pesquisas sua "qualidade" devia ser referida dentro das quatro van��1s : branc�, ardo,
lcmais arquivos estaduais poderio revdar se de fato também nas demais preto ou índio. Observe-s e a nuança da classificação qu� distingue os ani 1� � o
neias se efetuaram tais recenseamentos. No caso positivo, disp oríamos en­ grupo dos pardos : muito embora, aparentemente possumdo ? mesmo matiz. e
e um quadro bastante minucioso, completo e inédito das populações de to­ cor jurÍdica e socialmente os índios constituíam um grupo a parte , na medida
lmpério , muit o anteri or ao famigerado l.O Recenseamento G eral de 1872. em 'que, desde os tempos de Pombal, estavam ise�t� d o ca�veiro_ (�)-
Discutimos nest e trabalho os seguintes t.emas: Assim sendo adotaremos o mesmo cnteno classaficat9no dos censos
antigos, subdividindo'a popul!ção sergipana em auatro grupos, que , em 1834,
u1indod o "Mapa Exato da Populaçlo de Sergipe em 1834", m ostramo s, em representavam o seguinte conbngente:
tnhas � rais, as principais características da estrutura demográfica de Sergi­
,e, salientand o com o pardos e pretos participavam de maneira divers a das
�gorias jurídico-sociais dos ingênuos , libertos e cativos; Dmsão da população de Sergipe segundo a cor ( 1834)
tilizando documentação manuscrita qualitativa, salientamos a subjetividade
diversidade da classificação da população segund o a cor; Pop ulaç.io %,
n.alisamos ç,om&-p._ardos e pretos participavam diferentemente dos quadros Cor
1stitucionais e profissionais da sociedade sergipana, mostrando que mesm o 18,8
ue, aos olhos da elite do poder, pardos e pretos constituíssem um único (e Brancos 30.011
erigoso) grupo, de fato, na prática social, institucio nal e coletiva, pardos e Pardos ' 70.717 44,0
retos form avam dois agrupamentos diversos; P retos 58.208 36,3
fndios 1.516 0,9
ue por sua mal�ilidade, h eterogeneidade e falta d e c oealo, oa pardos e
re� não pod e nam c orretamente ser considerados como fonnando grupos 160.452 100,0
tmcos. Total

II C.omentemos sumariamente as principais caracter ísticas da estrutura


demográfica de Sergipe, sugerida por este quadro:

. Em 1834, Sergipe possuía 160.452 habitantes, o, que represen�va, l. Os brancos, que constituem a dite do poder, representam apenas 18,8 por
nnadamente, 3 por cento da população total d o lm peno (6). Provmcia
:na e pobre, dependeu politicamente da Bahia até 1821 e ainda hoje, Salvar cento do total da p9pulação. Considerando que para todo o Império do Bra­
s il, em 1830, os bran cos reeresentam 25 t>ºr cent o do total da população
onstitui seu pnncipal ponto de referência econômica e cultural. Embor a
,e e Bahia apresentem grandes semdhanças na sua ec ologia, p06Suindo in­ (9), concluímos que em Sergipe a minona• branca era ainda em número
e outro ra a mesm a infra-estrutura ec onômica, baseada sob retn do na agro­ mais reduzid o.
. grande e 2. Os "não-branc08" constituíam por conseguinte a grande maioria da popula­
aia açucareiri:, a B�� sempre foi ':'Íirà-vis de Sergipe, a vizinha
:entro de decisão pohbca, mercad o unportador de sua produção açucarei­ ção: 81,2 por cento . Havia , em média, 4 pessoas "de cor" para cada bran­
ltro financiad or de sua economia (7) co. Os problemas de o rdem social e as neuroses coletivas no rdacionamento
da mino ria branca dominante com a maioria de cor dominada são realidades
fáceis de se imaginar e a que mais adiante nos haveremos d e referir.
uzc e Silve, J. N., ln119rti9aç:6es sobre os recenseamentos da populaç6o geral do lmpé­ 3. Dentr o do grupo d08 não-branc os, o dos pardos era o mais numeroso:'44 por
le cada Província de per si, tentados desde os tempos coloniais até hoje. R u,' M111uté- cento dos sergipanos descendiam em maior ou men or grau do caldeamento
, Ne(Jócios do Império, 1970. de brancos e pretos. Tendência que reflete a antiguidad e da importaçlo de
Resumo Hist6rico dos Inquéritos Censiútios rulizados no Brasil. Rio, Diretoria
,Je Este t(rtico, 192 2
africanos para esta área nordesbna e igualmente o alt o índice de m.iscige.
· acordo com o tenninologia uti/i%0da por Lisanti e Marcílio, o perlodo pré-utatútico nação.
,onde oo.. começos da coloni�do do Brc,ilaté a primeira metade do seculo XVfll; o
'o prolo-estctlstico come91J no segunda metade do século )(JIW, tenninando no ano do
ro recenseamento nocional do Brasil (1872). (Lisanti, L&-Mareíüo, M. 4 "Problêmes (8) Liuro dos OrdenoçiJes do Reino, Ordenaç,,To de 8 de maio de l 758. Amoud, E.. Aspectos
1toire quantitative du Bréal: métrologie e1 demogrcphie", ln L'Hls1oire quan1i1etive da Legisla�o sobre lndios do Brasil PubliccçDel Avulsos do Museu Goeledi.n. O 22, Belém
dil de 1800 a 1930, Centre Nationcl de lo Recherche Scientifique, Paris, 11115 octo- 1973
71, p. 175-195). (9) Molte-Brun. Géographie Universelle/Tab/eau Sratistique du Brésf/ en 1830)., apud Sou:o
IJUJ e Siluo, op. cit. , p. 73-17 ,. Siloa. oo. cit.• p. /64.
•ir e. FelisbeUo F. O., História de Sergi1>9,-Rio de /anell"O, Tip. Perieveranço. 1891.
SI
so
resta con cluir que, de fato, o trah4!.hador livre devia ser uma mi?-�e-obra, se n
r
4. Os pretos constituíam 36,3 por cento dos moradores da Província de Sergi­ tão produtiva(?), ao menos numencamente quase duas vezes mais unpartante o
pe. Düícil seria saber se a porcentagem destes que eram n ativos d'África e que e representada pelos escravos (12)
qual a dos nascidos no Brasil: não conseguimos encontrar nenhum registro
que fornecesse tal infonnação para toda a população negra. Quando muito, Ili
através d e fontes indiretas, como testamentos e inventános,1>odemos íazer
_ Vejamos inicialmente a estrutura dos grupos dos pardOI! e pretoe, no
uma estimativa aproximada de que já nos inícios do século X1X os crioulos
constituíam mais da metade, talvez mesmo 2/3 dos negros de Sergipe. que tange ao sexo:
5. O grup� ét_nico menos �um.eroso e já nesta ép<:C-3 com nítidos s�to�as
_
de destrihahzação e mar:irinalização era o dos 1 ndios (10): estes constltmam Divisão dos pardos e pretos de Sergipe quanto ao sexo (1834)
apenas 0,90 por cento dos moradores da Província (1.516 indivíduos). Se•
tentarmos para o fato de que no fin al do século XVI existiam aproximada­
mente 20.000 índios nas terras de Se�pe-del-Rei, con cluím06 que o Pardos Pretos
processo de depopulação de tais abongenes já ia adiantado, resultando atual­ Número % Número %
mente na ineX-istência de grupo indígena neste estado. Homens 35.605 50,3 30.872 53,0
Mulheres 35.p2 49,7 27.336 47,0
Propositadamente omitiremos n este trabalho as informações qualitati­
vas referentes acbRU) osição de cada um destes quatro grupos : tratamos âcste as­ Total 70.717 100,0 58.208 100,0
sunto em trabalho an'terior(já citado) e trabalhamos no momento na sistematiza­
ção de novo materiaJ 'arquivístico com vistas a enriquecer nossas colocações ini­
ciais. A procedência dos brancos, a pre..o:ença de estran geiros, o processo de mis­ Enquanto que para a população total de Se!gipe, em 1 834, a �a �e
_
cigenação, o lugar de origem dos africanos, os diferentes grueos indígenas, suas masculinidade era 51,4 por cento , os pardos se aproxunavam maIS do equilíbn?
aldeias e missões, a i nteração entre os cliversos grupos são aiguns dos assuntos entre o número de homens e mulheres, enquanto que os pretos, certamente devi­
que vêm merecendo nossa atenção, fugindo porém aos objetivos deste trabalho. do à impartação preferen?al d _ e e5Cffl� do sexo '!'asculino (seja dire��nte d'Á
Antes de passar à caracterização e diferenciação dos grupos dos pardos e frica, seja de outras t'rovinc1as), revelaram a mais alta taxa de masculinidade de
pretos - nosso tema central - valeria ainda, deslocando a anâlise para a perspec­ todos os demais segmentos yopulacionais desta sociedade: havia 3.536 (6 por
tiva jurídico-social da composição demográfica de Sergipe, discorrer sobre a Ím· cento) homens pretos a mrus do que mulheres pretas, quer dizer, os pretos re­
eortância dos escravos nesta sociedade nordestina. Segundo o Recenseamento presentavam 53 por cento , enquanto que as pretas , 47 por cento.
de 1834, havia em Sergipe um total de 47.712 cativos, o que representava qua­ No tocante à situaçfo jurídico-social, novamente e com maior significa­
,e 30 por cento do total da população provi ncial. Descontando deste número as do social, pardos e pretos revdavam tendências demográficas divergentes:
:rianças com menos de 10 anos e os velhos com idade superior a 60 anos , a mão­
de-obra escrava em idade ativa representaria 23,7 por cen to do total da eoeula­ Situação juddico-social dos pardos e pretos de Sergipe (1834)
yâ.o (11). Perguntamos: tirante os escravos empregados nos serviços domésticos,
'las lavouras âe subsistência e os "escravos de ganho", seriam os restantes su.6-
:ientes e representariam a _principal mão-de-obra para laborar os 400 e tantos en­ Pardos Pretos
�enhos existentes em Sergipe neste período? Nossa hipótese - baseada nlo ap& Número % Número %
rias nestes números, mas também na familiaridade com as fon tes manuscrita!! pcs­ Ingênuos 43.718 61,9 15.288 26,2
JUisadas - é de que já nesta éeoca·, e mesmo an tes, o trabalho "livre" devia Libertos 11.748 16,6 10.359 17,8
·epresentar em Sergiye uma variavel muito mais Eignificativa do que se tem pen­ Cativos 15.251 21,5 32.561 56,0
.ado até então. Qual a ocupação de 82.629 homens de cor livres? Considerando
iue os não-brancos livres (ingênuos e libertos) representavam 51,5 por ce nto do Total 70.717 100,0 58.208 100,00
otal dos habitantes de Sergipe e que, como maioria desprivilegiada, deviam en·
:ontrar o ganha-pão no trabalho agrícola, certamente em terras alheias, só nos
Por esta tabela, vemos que enqu anto 61,9 por cento dos pardos já nas.
ceram livres, apen as 26,2 por cento dos pretos tiveram tal ventura. Não obstante
o número bem maior de pretos-ingênuos Cace ao de pardos-ingênuos, não deixa
/0) A respeito do airacterização dos índios como&_rupo étnico, cf. Ribeiro, D., Oi lndios e de ser surpreendente, a nosso ver, o fato dê que meio século antes da abolição
civ,lizaçlo. Rio, Ciuili.:oç,f"o Brasileiro., 1970, C4p. XI 59.006 habitantes de Sergipe, isto é, 36,7 por cento da J>Opulação com idênticos
Melotti, /. C. , Índios do Brasil. Br'"ílio., Coordenada Editora de Br,uílio, 1911,
ap. //. fenótipos aos dos escravos, já n ascera de ventre livre. Se acrescentannoe a este
/ J) Or acordo com os d4dos fornecidos pelo CoMelheiro VeUoso, 01 escrouo, represenro­
""' ,•m 1819. 22. 7 por cento dos habitantes de Sergipe; em I 823, 1k acordo com a Memb-
1• nf,•n•, lda pl'lo Marqué& de Corouelos. OI C4tillOS eram 26 por cento da popula,;40 de,r,, (12) Mort., 1974: 113.
\,., "" .,� f'.J. RMumo d� lnquérot� Censitàrios Realir.ados no Brasil, op. cit., p. 404.
52 53

número os 22.107 libertos pardos e pretos, teremos um total de 81.ll3 indiví­ cor''(l6)
duos de cor gozando de suas liberdades (13) . Quer dizer: 50,5 ,POr cento da per "Ancelmo Pereira, natural de Itabaiana, pardo disfarçado e Ma­
pulação de Sergipe, embora semelhantes na cor e na aparên cia f1sica aos escravos, nuel Dias, natural de Itabaiana, que se tem em conta de bran­
estavam legalmente isento.s do cativeiro, quer possuindo pais já livres ou libertos, co, ambos acusad08 de picarcame fora do talho" (17)
quer tendo adqu irido suas liberdades através de alforria ou manumissã'o. "Manud Caldas Ferreira, branco misturado, alto, mal encara­
Pardos e pretos manifestam igualmente certa diferença no tocante à ob­ do nervoso, de poucas carnes, assassino de profissA'o, roubador
tenção de suas liberdades.Embora em teonos absolutos notemos pouca diferença e l;drlo de todoe os gênero s" (18)
no número de libertos pardos (16,6 por cento) e pretos (17,8 por cento), não de­ José Monteiro, um tanto triguelfo, quis matar seu Sargento­
vemos nos esquecer que proporcionalmente ao número de escravos de cada uma mor" (19)
das cores, tais porcentagens assumem um significado muito diferente e revda­ Antomo Freitas, pardo trigueiro, moço e Antonio Fdix,pardo
dor. Se compararmos o número de libertos com o número de escravos de cada mais trigueiro, enviados à Bahia para dar busca em 3 escrav08
categoria, notaremos que os 11.478 pardos libertos representam, face ao total de, fugidos "(20).
15.251 pardos escravos, pouco mais de 77 por cento, enquanto os 10.359 pretos
libertos representam, vis-a-vis os pretos escravos, aproximadamente 32 por cento. Um estudioso das etn.iM de Sergipe, Fdte Bezerra, refere-se a sete ter­
Tal observaçio reforç.a, aliás, a constatação de outros estudiosos (14) de que os mos usadoe a.n�ente para caracterizar a populaçlo escrava: preto, mulato, ca­
pardos alcança�· status de liberto em maior número do que os pretos. bra, pardo, mestJço, fulo e crioulo(21)
Finalizando:motamos igualmente tendência hem diversa no que se refe­ D. Marc:08 de Souza, por sua vez, autor da prpicipal memória bi�ntis­
re ao número de cativos entre os dois grupos: enquanto apenas 21,5 por cento ta consagrada a Sergipe-dei-Rei, apesar de ter vivido vários anos nesta Capitania,
dos pardos �tavam presos à escravidã'o, mais da metade dos negros, 56 por cen· utiliza-se dos nominativos arroJados pelo holandês Marcgrave, dividindo a popu­
to, eram cativos. lação sergipana, além dos brancos reinóis, em mais 5categorias:
Aí está. não resta dúvida, o cerne da diferenciação entre os dois grupos:
desde o início da colonização e até o final do período escravista, cor preta era si­ "mozombos: os nascidos de pais europeus
nôrúmo de escravidão, de tal sorte que um negro desconhecido precisava provar mamelucoe: filh06 de pais europeus e mies índias
que não era cativo. Caso não trouxesse consigo a cautela de sua carta de mulatos: filhos de europeus e negras
alforria, ou um passaporte ou atestado de batismo, seu fim era a prisão. Tal curibocas: nascidos de pais índi06 e mães negras
comportamento ocorria com muito maior f:re<(ll êocia em relaçfo aos pretos. Co­ crioul06: sendo ambos os pais negros" (22)
mo a maioria dos p_ardos era forra (liberto ou ingênuo), corriam estes menor ris­
co que os negros. Exemplos do que vimos de afirmar são numeros08 na corres­ Tendo dificuldade em precisar a "qualidade" exata de certos hahitantes,
pondência mantida entre os delegados de Polícia das diversas \'ÍJas e a Presidência ,este douto prdado por mais de uma vez utiliza-se de conceitos genéricos, tais co­
da Província (15) mo "raças misturadas", "raças combinadas", "diversas misturas de �entes" "pes­
soas de muitas variedades", a fim de caracterizar a composiçA'o racial da p�pula-
rv 910 das diversas fregue�as desta Capitania (23)
Muito embora oficialmente fossem quatro as qualidades clas&ficatónas
da população sergi pana, o certo é que encontramos ao longo do século XIX uma

E
(16) Arquivo Público do E.,u,do da Bahia (doro1>ante referido apenas como APEB), maço
de variedade de termos usados, quer em lugar dos quatro matizes iniciais 1150, O/feio do Pruidente de SerJ(ipe ao Pre3idente da &ihio, 19-1-1837.
oco, pardo, preto e índio), quer adjetivanderos positiva ou negativamente. (J 1) APES, Cokç4o &brik> Sobrinho, J().JJ.J 798.
IS alguns exemp los: {18) APES, poe. 361, Ofício do]ui:r. Municipal de ltabaianinha ao Presidente, 2S.11-1842.
_ (19) APEB, maço 192, Ofício do Capild'o•mor de Santa Lu:r.io oo Covemador do Bahia, J().
12-1792.
"O recruta Manuel Luiz dos Santos, pardo, solteiro, filho legí­ (20) APES, poc. 588, Requerimento do Copit4Q-mor de Santo Amaro, 3-12-1826.
timo de Antonio Freitas, natural de Divina Pastora, 24 anos, (21) Be:r.erra, F., Etnias Se,vlpanas. Contribulçlo IO seu studo. Aracaju, Cofoç4o &tudo,
estatura ordinária, cabelos castanhos , olhos pardos, alvo na Sergipano,, voL 6, 1950. A re1peito deita uariedode de tennos c/03,ificatório, 110 atualidade,
oei9-1e Sonjek, R., "Brosilian Racial Terms: some kpects of Meoning ond Leoming", A
,,_ican Anthropolo9irt. ooL 73. n. 0 S, 1971, p. 1/26-1143: Banu. "1.. "Racial fdentity
in Broril'.'· Luso-Brazilian Revi- J, I 9i4,p.2J-28; Horris,M..."The s,;ucturol Signijiconce
of Brazilion Cote8ories", Sociologia. n. 25, I 963, p. 203-209; Borrü, M. "Referentiol Am­
(13) Neste número �160 excluído& os índios que, embora "1140 branco,", eswuom desde 01 biguity in rhe Colculw o/ Bro:r.ilian JlacÍ(Jl ldentity" Southwes18rn Journal of AntlvopoloiJy.
meado, d-O século XVUI, isentos d-O catiueiro. l 910t..2, 1. J 4.
(14) Mottoso. K., "A propósito de corto., de alforria- Bahia, 1779-185()". Arlai5de Histb­
ria (Anil), ano IV, 1972,p. 23-52. {22)Souza. !ti. A. (dom.) Memória sobre• Capitania de Sergipe. sue fundaç6o. populaçlo,
Schwart�, S. B., "A manumiu�o dos escravos no Brasil Colonial: Bahia, 1684 produtos e melhoramentos de que, capaz. Aracaju, IBCEIDEE, 2.0 ed., 1944.
/14S". Anais de História (Auis), ano VI, 1974. p. 7f .J 14. (23) Eú c<>;r10 dois outor� do ,éculo XVIU ckwificorom o populaç4o de dUOJ copitanitu: no
( 1 S) ,t,qui1JO Público do &tado de :SerK'P" (doratJOn�,efendo apena, c°'!'o APES), poc. Piou(, o Ouvidor An tõnio Jo,é de Moraú Dur6o ( Descriç&, da Capitania de Slo Jo,6 do PI·
aul, Arquiuo Hutórico Ultromorino, Piou(, caixa 3, I S.6-1112) a dividia em 9 tipa&: bronca&,
581. /!equcrimento de 1.1onuel Jooauim do Nascimento oo J'rcsidente. Vila Nova. 25-6-1825.
Certamente que no dia-a-dia, quando os indivíduos de\iam ser referidos de em que se acham as tropa.a na situaçJ'o crítica da Europa"
1 cla.'-Sific.ado� tendo a cor como criterio, dúvidas e disputas deviam ter lugar. (25)
te r'equerimento de 1825 retrata a dificuldade, confusão e arbitrariedade 0{1 •
alia ção dos fenótipos: Diz te.r deixado de recrutar aos jovens doentes, os de pouca idade e oe que
"Diz �tinho José da Assunçio, soldado da I.ª Companhia
do Batàlhão da 2. ª Linha de São Cristóvão, que sendo ele alista­ "pela sua cor demllSÍada escura nfo podem servir no regimen­
do neste batalhão, de novo o alistam no de pardos, querendo o to "(26)
C:Omandante do dito que ele seja do batalhão dos pardos e n.io
dos brancos, quando o suplicante nio é pardo, tanto s:im Aliás, alguns anos mais tarde, em 1808, dentre os recrutas "capturad06" pelo e.
que tem dois irmãos no mesmo batalhão dos brancos e nfo dos pitão-mor de Santa Luzia , havia um tal
pardos" (24) . Após consultar o Tenente-Coronel, o Presidente •
da Província determina que o dito soldado fique no batalhão "Joio Francisco, dispensado por muito preto" (21)
dos brancos.
As fronteiras entre um "pardo disfarçado" e um "branco misturado", As prescrições oficiais relativas ao recrutamento sfo bem explícitas no que se re­
entre unv eardo a�do" e um "cabra", eram certamente por demais tênues fere à excluslo dos negros:
ido necessario o apelo'à outros atributos físicos, além da cor, ou sociais co­
>, por exemplo, o fato dt ter outro6 irmãos identificados e girando no univer­ "Ficam sujeitos ·ao recrutamento tod06 os homens brancos sol­
dos brancos a fim de se decidir a qual dos grupos pertence o indivíduo em teiros e ainda pardos libertos de idade ae 18 a 35 an06" (28)
estão.
Os pardos, embora partic�ando, conforme dissemoe, das milícias doe
V brancos, sobretudo d a Guarda Nacional, tinham possibilidade de ser arregimen­
tados �m wna companhia _própria, o chamado Batalhão dos Pardos. Tal corpora­
Embora em certos momentos de crise em que a ordem e tranqüilidade çãc;>, cnada em 1823 pela Secretaria dos N egócios da Guerra, vinha em resposta
thorial eram postas em xeque, pardos e pretos sejam considerados pelos clo­ ª<?S. anseios dos militares pardos que se manifesuvam a este respeite desde os i­
nantes como um único grupo, a gentõlha - na qual se incluíam, para efei­ nic1os do século XIX. Em ofício datado de 1809, o Juiz Ordinário e demais ve­
. repressivos e policiais, também os índios e os brancos pobres - notamos que readores da Cirnara de Sio Cristóvfo, assim se manifestavam:
muitas circunstâncias e momentos, pardos e pretos constituíam dois grupos
tintos, ,earticipando de maneira diversa dos quadros institucionais desta socie­ "Os pardos desta cidade se sentem deaconsolad08 por lhes
ie. , o Exército, na Igreja, na administração pública , e mesmo no desempe, parecer �e Vossa Alteza Real os nlo acha dignos de servirem
o das artes e ofícios, notamos que embora os pard06 sejam apenas pequena na Armaâ.a posto q,ue nlo havia batalhio para eles... Há muitos
>porção se comparados com os brancos, o fato e que os pret06 estão sistem• pardos com cabedais e agilidade para bem servirem... " (29 )
amente excluídos. 'o Exército, por exemplo , enquanto os pardos eram eng.
os tanto na Guarda 'acional, no Batalhões de Caçadores, como nos Regun en-
de Cavalaria, os pretos só conseguianl sentar praça no chama_do Batalhão dos e exatamente po� serem alyo de segregação na Armada, sempre preteri­
1riques. Mesmo como recrutas para o Exército e Marinha os pretos estavam ex­ dos e� fav O! �os brancoe, que se animaram diversos oficiais pardos de Vila Nova
ídos. e de São Cristov�o a re:querer ao Governo C �ntral a criaç§o de Batalhão de Caç•
O Capitão-mor de São Cristóvão relatava ao Governador da Balua ter dor �_pardos, CUJO efetivo , entre estado-maior e menor perfaria a soma de 432
nprido as ordens de "por de assalto " a capital da Capitania, tendo 06c1m. Apesar de wn pouco longo, p ela riqueza e acuidade das informações' v•
le a pena transcrever integralmente tal requerimento:
"prendido moços brancos para se empregarem no Real SCTVl­
ço, pardos disfarçados e 'Ião de cor apertada, \isto a necessida-

(25) APEB, moço l 97, OJ(cio do Capitlfo.mor de S4o Crúu,.xro oo Co uemodor da &hia,
01, vermelhos (índu>s de qlllllquer n09cs.,), mulatos. mutiçoc, mamelucos, caful, cobro e 11-5-1195
boca; em Mato Crouo, um autor anônimo (Arqwuo Hútórico Ultromarino, Mato Gros­ (26) 1<19m, íbldem.
coi:ta J. s}d.., século XVID) apresentava 6 subdivisões da populaç6o quanto à cor: negros (21) APEB, moço 21 O, 22-12-1808.
gros hvres.mulacos e 1111lacas //t,res,coriboca, bastardo, vermelho, cabra e o utro e1pécie
-�. cujo pai ou mlk é ne8'º· (28) APES, Coleç'1o Sebrao Sobrinho, Porlorio e ln.struçCet reiatioos ao l(e,crutamento' JQ.1.
/822. § IIL Do cUcoda de 40 em diante 01 pretos também pusoram o ser recrutado, .
J APé:i. poc. 587, Reqourimento de 1-5-1825. . " (29) 8iblio1� ,Yocionaf (dorauante, será referida apena., como BN) - 11, 33, 15,17, .Ofício
. e mau Vereadores e Procurodor da Cómaro de Stro CristÓVdó oo R 29
A este respe110,consul1e-se Martinez-Alter. V. Cor como slmbolo de douificafâo do )ui: Ordrnono ei,
.,,,.. Revista de Ho:stbria. n. 0 96. 1 973, p. 453-472. l l! 1809.
S7
"Dizem Manoel Antonio do Valle Barbosa, Tenente da 5.ª conseguinte, nenhuma referência em· Sergipe a sacerdotes pardos ou pretos (33)
Companhia do Batalhão de 2.ª Linha de lnfantaria de Caçado­ Parece ter sido nas Irmandades re!igiosas que as populações de cor ti­
res de Vila Nova e outros homens pardos livres _da Vila e Termo nham , em Sergipe, aliás corno no resto do País (34) , oportunidade de se reunir
de Santo Amaro , todos firmados no atestado Junto , que a ex­ enquanto grupo. Tem06 notícia, na primeira metade do século XIX, da existên­
periência de muitos anos lhes tem mostrado que eles_somente cia de innandades de N0$$8 Srmhora do Rosário dos Homens Pretos, nas s�
pela difer ença da sua cor entre os homens brancos_, sao menos tes looalidades: Santo Amaro (1813), Sio Cristóvão (1817), Socorro (1817), Vi-
presados e por maiores e mais relevantes que seJam os seus
la Nova 817>, Divina Pasto� <! 817), Rosário �o Gatete (Í818) e Brejo Grande
serviços, nunca na tropa se lhes concede aquel� acessos e des­ .
(1849)(3� . Ain.da·em São Cnsto�ã<;>, segundo Aires do Casal, havia a Irmandade
pachos que de jure lhes são devidos, nos qurus pref�em os de Nossa enhora do Amparo, a UllJCa da qual temos notícia que se destinava a­
passam '$º
brancos sem os iguala r em merecimentos, e eles, suphcantes,
acerbo desprazer de ficarem os seus �itos p re­
teridos, des rezados e sem esperança algw11_a de incremento,
penas aos homens pardos (36). Em Propriá, segundo o Vigário Antônio Gouveia
de Siqueira, havia em 1817,
não obstante sua adesão à santa causa brasília, e não h�ver ne­
les a menor nota de inconfidênci� antes, de uma expenmenta­ "uma única irmandade de Nossa Senhora do Rosário, sendo
da fidelidade com a qual avidamente aspiram o melhor ê:d�o, a esta de homens brancos, pardos e pretos"(37)
maior fortuna de �o sagrada cau� sendo por todo vantaJoso
ao bom serviço da nação brasiliense e do nosso A�to e Em Itabaiana, na mesma época, só os br an cos tinham irmandade: a das Almas e
Amabilíssimo Imperador, pie não havendo nesta Pro".mc1a Re­ de Nossa Senhora do Rosário. O Vigário Alexandre Pinto Lobão informava 'ain­
gimento de Infantaria miliciana de homens pardos hvres, d� da:
mesmos haja ao menos de criar um Batalhão de Caçadores M1- '.'tem mais uma congregação dos pretos que devotament.e feste ­
licianos, com o título de Defensores da Pátria, r�ado pelo Jam a mesma Senhora, sem que tenham compromisso ou finali­
plano também junto, cuja oficialidade há de se brar dos ho­ dade alguma" (38)
mens pardos que houverem nos Regimentos de 2. ª Linha dos
homens brancos, aos soldados do Terço de Ordenanças ...''(30) Outras irmandades aparecem referidas em São Cristóvão (São Mi guel Arcângel
l ��l), em Santo Amaro (São Miguel e Almas, 1814), e em Divina Pastora (Sa:::
Nem todos os militares brancos, porém, concordavam quanto às vanta- t1smno Sacramento, 1818): entretanto não bá notícia se se destinavam apenas
15 de se ter em Sergipe wn batalhão exclusivo �ara os par�os . O S�rgento-mor aos bran cos ou também às demais cores (39)
:nnenegildo José Telles, Senhor do En genho Pati, no D1Stnto de Vila.Nova, era Mesmo nas s_u� manifestações religiosas ou para-religiosas, os pretos
tegórico ao afirmar ao Presidente: enfrenblvam certas. dificuld �des, recebendo oposição, quer dos brancos, er
de outros P":tos. Ou o Capitão-mor José da Motta Nunes, proprietário do�n­
"Vossa Excelência não ignora que neste tenno tem um.. . Bata­ genho Maçape, que na povoação do Senhor Bom Jesus,
lhão de Pardos no qual estão alistados tod<:>5 os ,·adios de p�
simos c�mpo�mentos e nocivos e� �do, a boa or?em s,oc1al ''costumavam os anos atrasados os cativos e muitos forros e
dos pac1ficos cidadãos com ações propnas a sua qualidade ainda brancos, t.?marem coroas com título de Rei para feste-
(31)
tido, havido e reputado sem hauer fama, rumor ou s'wpeita em contrdrio. tm algumas inqui·
Quanto à participação dos pardos e pretos na Ig reja Católica, infeliz.­ riçOe.t postericres a 1812 o item 8 vinho riscado nos impressos e em seu l ugar apareciam es­
ente a docum entação consultada pouco esclarece: Ç�mo sis�m. aticament� ee o­ critaf o m&:> tais palavras: "se cometeram crime de lwa Majestade Divino ou Humano" (A r­
itia nos documentos oficiais a cor dos padres e viganos - a uruca categona so­ quioo do CúriaArquidiocuana de Salvador, De Cenere, maço 14).
u que parecia estar �enta desta ��cificaç�o:- som� l�va?os a pensar
(33) Se lembronnos que pouco mais de meio século op63 a cristianizoç4o do Reino do Con­
go, jó hovia ai um clero nativo, inclusive um bispo preto, notaremos como o Direito Canôni­
1e ainda na metade do seculo XIX o direito canoruco restnngia so aos hrancos co era diferentemente interpretado na, diversas Colônia,.
recebimento das ordens sacras, dispensando-se por ser redundante nos docu­ (34) Sobre lrmondodu Religia.sru, cf. Scarono,J., Devoç4o e Escravidao: a Irmandade de
entos oficiais, especificar-se a cor dos sace rdotes (32) . Não encontra.mos, por Nossa Senhora do RosMio dos Pretos no Distrito Diamentino no século XVIII. S4o Paulo,
Companhia Editora Nacionol e Comelho &tadual de Cultura, 1975.
(35) Arq_uioo Nacional (doro11onte será referido apena, como AN), caixa 291, pacote � Rela­
Ç(TO das lrmandadés existentes em diferentes freguesias do Pro11íncio de Sergipe {1817-J 818).
À8 dota.J enh"e parênteses referem-se d ocosuro em que os visóri<» prestaram a informaçtFo, o
')APES, �e. 585, Requerimento de Manuel Antônio do Vai/e Barbosa e outros, 1824.
)APES, Cl - 580, 26-11-1925 ue uole dizer que tais irmandades s(Io anteriores o t(lis dotas.
�36) Caso� A. do, Co.-ogrefia Br.asllica 11817). Rio, Ediçtro Fac-•fmil e, Imprensa Nacionol,
?) Nas t nquinções de Genere a que deu iam ser �ubmeticl-Os todos os candidatos ao sacer­ 947, p. 147.
cío, no item 8 constava o seguinte: "se é legítimo e inteiro crisuro velho sem raço alguma (3 7) A[ � caixa 291, pacote 5, Oficio do Vigário Antonio Couueío de Siqueira, 1817.
iudeu, .mouro, mourisco, mulato, crúuro, herege ou de outra qoolquer infesta naçã,:, das (38) AIV, caixa 291, pocote 5, Ofício do Vigá.rio Alexandre Pinto Lowo ao Vigário Cerol de
,,oood4S em direito contro nossa Santa Fé Úitólica, ou descende de p�O(JS o elo now­ S11rg/pe, Itabaiana, 9-5-J 817.
rnte conuertidru, e se por inteiro e legítimo crútl1<:I velho, e de limpo sangue e seraç,ro está (/J<J) AN, caixa 291, pacote 5, Relaç,10 � Irmandades existentes em diferentes freguesitu da
l'roulncio de Sergipe {1817-1818).
58

jarem São Benedito. Isso era costume muito antigo, todos os pena e a 3 meses de suspensão. E yela terceira vez será declar11-
anos. No ano que era Vice-Presidente, Manuel de Deus Ma­ do inábil para continuar no exerc1cio do emprego"(42)
chado, os ditos quiseram tomar as tais coroas para fazerem o
dito festejo porque naquele tempo havia um boato que os cati­ Enquanto �amos enco� tr� pardos participand<?, v� pOI' outra, de al­
vos queriam se levantar... E porque agora querem neste domin­ guns cargos ôa administração pública - professores dey�ell'88 letras, professo­
go próximo tomarem as tais coroas para fazerem o dito festejo, ras de meninas, Juiz municipal, até mesmo um Secretàrto de Governo - n.lo en­
Vossa Excelência me detennine se os deixo ou não tomar as contramos nenhum negro neste setor oficial Apesar de presentes, tais pardos nlo
tais coroas" ( 40) deixavam em várias ocasiões de ser alvo da contestação por p&rt4: de a1g11m bran­
co. Os documentos abaixo transcritos elucidam o mal�star e�� te entre os
Esta contenda revela confütos
s entre pretos de diferentes localidades: brancos que viam na no���ã? de pardos para ocupar empreg9s public06, uma a­
os pretos de Santo Amaro se op m aos pretos da povoação do Rosário do Cate­ meaça a seus seculares pnvilégios:
3
te quando estes últimos pretende oficializar sua confraria. Alegando <Jlle a cria­
ção da nova irmandade era dispe sável e que enfraqueceria o patrimôruo de San­ "Tendo lu� no � 30 de junho a proposta �e juízes munici­
to Amaro, chegam a dizer que pais e dos órfãos, e do meu deve�, c?mo preS1dent.e dela, levar
ao conhecimento de Vossa Excelenc:ia a torpe e degradante ca­
"uma turma de homens pretos da povoação do Rosário fize­ bala produzi_da t>Or _dois pardos, que nel� , tomaram assento, 06
ram um ajuntamento em confuso com o título de .confraria. .. quai& seduzindo dois outros homens, aliás bran��. Ptide�
composta de homens i gnorantes e debochados que só traba­ fazer a maioria dominante da Câmara,para destnurem o ngor
lham de consumir sinistra e coloradamente em seu uso as es­ da lei, propondo para Juiz Municipal u m outro pardo, orimmo­
molas e rendimentos. .. "(41) so de morte e criminoso por desooediência às ordens do Gover­
no e cuja conduta é éontiecidamente péssima" (43)
Também no tocante à participação de pardos e pretos nos quadros do
:u.ncionalismo e da administração pública, infelizmente nossas informações são Este outro episódio envolve a disputa entre duas moças,. Maria �astçra
imitadas. A legislação oficial era muito clara e rígida no que se refere à prece­ dos Anjos, branca, protegida por pessoas poder� e Flávi � B�nedita de V1ter�,
iência que deviam ter os homens livres em relação aos escravos nas estações pú· . de libertos. Ambas dis utam a cadeua de pnmell'as letras de men!­
parda, filha
>licas. nas da Vila do Rosário do Catete. O pai da mestra branca alega que a parda Fla­
P.

Decreto de 20-9-1831 acerca da admissão de homens livres nas estações via não pode ocupar o emprego público
P.'úblicas:
l. Nas estações públicas desta Provtncia não serão admitidos es­ "principalmente no Cat.ete, aonde a maior parte das alunas hão
cravos como trabalhadores ou como oficiais das artes necea;ã. de ser filhas de cidadãos grados, que não hão de querer vê-�
rias, se houverem ingênuos ou libertos que nelas que.iram em­ castigadas por quem t.em a nota de cativeiro." (44)
eregar-se.
2. Os ditos ingênuos e libertos serão convidados para trabalharem Advogando em favor da parda, seu padrinho, Frei Francisco de Santa Rosa de Vi­
ou ex:ercítarem as respectivas artes por meio de editais, não so­ terbo, opõe-se a tais alegações dizendo:
mente afixados nos lugares públicos e portas das estações, mas
ainda írn pressos nas folhas, declarando-se neles os jornais que "Desconhecerá por ventura quem quer que lhe ditou �. Pen;
hão de vencer e outras quaisquer vantagens se as houver. sarnentos, que podem os pardos ocupar empregos P.uhlico.5.
3. Aínda depois do erazo marcado nos editais, aparecendo pes­ Desconhecerá quem quer que �e, <J';le. os �hos de ventre
soas livres que queiram ser admitidas deve-lo-ão logo ser, ex· • .
liberto são aptos para qualqu er of1cJO pubhco? (45)
cluindo-se os escravos que estejam trabalhando ou exercendo
algu ma arte porque não houvessem pessoas Jivres. O caso mais interessante e de maior conotação de fricção inter-étnica
4. O chefe de qualquer repartição pública <p1e contravier as pre­ ocorrido em toda a história de Sergipe é o que envolve a �ra controvertida do
sentes disposições, pela primeira vez sera obrigado a pagar de ,
p ardo Antonio Pereira Rebouças, que foi em 1824 secretario do Gov_emo, do Pre­
sua fazenda aos escravos, os jornais vencidos e no caso de esta­ sidente Manuel Fernandes da Silveira. Rebouças era natural da Bahia, rabula de
rem já pagos, reporá a sua importância que reverterá em pro­
veito do l\1unicípio. Pela segunda vez, ficará sujeito à mesma

(43) A:!ES;pac. :J6, Vf{cio do Presidente da Câmara oo Rosano ao Presrde_nte, 3-7-1836:


.
(42) APE�c. 445, Decreto de 20-9·1831 , . .
40) APES, pac. 150, Ofício do Capitl10-mor do Povoaçao de Bom JeswaoPresrdente, 12- {H) APES, pac. 84 7. Requerimento do Fr. Francisco de Santa Rosa de Viterbo ao Pres,den·

,if) AN. caixo 291, pacote 5, Requerimento do Pároco de Sonto Amaro, Pruídente da Con­
. I 1829. te. S4o CristóolfO, 3-J0-1848.
rMw <1,• No.mJ S,•11hora do Rosário. 22- 7-18) 8.
.
{45) APES, pac. 847, Requerimento do Fr. Francisco de Santa Rosa de Virerbo ao Pre$1den·
t,�. Siro Cri1tóooo, 3.-10-1848.
VJ

vv 61

profis.�o � �era a Sergipe a fim de secretariar o Presidente Silveira, homem que, Se compararmos o número total de habitantes de Sergipe com o númtr
�ndo diz111m seus contemporâneos,além de idoso possuía poucas luzes (46). ro de estudantes de diferentes cores, temos (51):
Durante sua permanência na Secretaria, Rebouças foi alvo de uma devassa e acu­
sad ? de alici �r a pop uJaçio de cor contra os br-ancos,tanto portugueses ,como Relação entre população total e número de alunos segundo a cor:
_
nacionais. Foi acusado de ter dado "vivas à Revoluçio do !iaiti", de ser republi­
cano e defender em Sergipe os interesses da Sociedade Gregoriana que tinha co­ Sergipe, 1834-1849
mo escopo_ revoltar as �ntes de cor e dar só aos pardos os empregos pu.blicos Aluno, (%)
(47). Refermd� ª? pengo re Pop ulaç.io total (%)
ntado p ela presença de um funcioná.no públi­
c? !ão suhvers1".o, eis como o residente da Câm ara e Juiz Ordinário de São Cri.s­ Brancos 26,7 44,6
tovao o denunciava ao Ministr Parqos 49,2 51,2
�do Império:
Pretos 22,8 p,9
fudios 1,3 0,3
''Têm os maliei, res crescido e são quase todos homens de cor
porque o Secretário do Governo Antonio Pereira Rebouças,
Total 100,0 100,0
homem pardo, os têm doutrinado e persuadido que todo ho­
mem pardo ou preto pode ser um general; e eles tão ufanos
Este quadro evidencia que os brancos procuravam instrução escolar com
têm se efeito que altamente falam contra os brancos, chaman­
muito maior frequência do que o restante da populaçA'o, pois embpr11 represen­
do-os caiados e deixam de _guardar aos constituídos em digni­ tando pouco mais de l/4 da população livre da Província, as crianças e jovens
dade aquele respeito que ate então guardavam" (48) brancos ocupavam quase a metade dos bancos escolares. As crianças e jovens par­
dos , por seu turno, são a maioria nas escolas de primeiras Letras: 51,2 por cento
Se a presença dos pardos no funcionalismo público, mesmo prevista do total de alunos. As vantagens da instruçã'o escolar como estrat� de ascensão
por le� não contava com o apoio geral, o fato de a documentação consultada não sócio-econômica parecem ter despertado muito mais os pardos :iue os pretos,
se referu: a funcion �os de_ cor preta revela que certamente os negros, assim co­ p ois muito embora houvesse em Sergipe 6.875 jovens negros livres (com idade
n-r:>os cativos, eram s1stemabcamente excluídos do setor público-administrativo. inferior a 20 anos) , apenas 24 pretos freqüentavam os bancos das 15 escolaa to­
�o�-se. a �eren?a na particip!ção de par�os e pretos não apen� nos madas como amostra. Tie fato, preto saber ler e escrever era exceção e o · •e;ro
�adros mstitucionms mlllS representat1Vos da sociedade sergipana do scculo possuidor de tal habilidade era objeto de nota. Na comenda que teve lugar entre
XIX, como também na política, na educaç!o e na especializaçlo profi�onaLNa o Mestre da Serraria do Trem Militar de São Cristóvão e o oficial preto Apoliná­
rio José de Moura, uma testemunha declara que o preto Apolinário é pontual no
lista de qualif�cação de votantes de �ão Cristóvão, por exemplo - 0 único d o­
seu dever e tem boa educação.
cumento do genero em que se especifica a cor - de 388 d os qualificados 211
eram pard?S e apenas 41 os pretos (49). "tanto assim <JUe sendo homem das cores pretas, seus pais o
Numa amostra das escolas de primeiras letras de 17 localidades da Pt-o- mandarar
. o ensinar a ler e escrever e o ofício' (52)
. .
V1nc1a, encontramos a segu.inte distribuição dos alunos segundo a cor: Talvez fosse tal habilitaçlio que desse "ousadia" ao oficial preto para responder
altivamente a seu mestre, pois <Jl.!ando corrigido retrucou-lhe alteradamente:
Distol>uição dos alunos de primeiras Letras segundo a cor: Sergipe, 1849
Número de alunos "Não vim aprender ofício. Vosmecê não se engane comigo"
Brancos 274 (53).
Pardos 315 Notamos também ee pardos e pretos participavam diferentemente
Pretos 24 de atividades profissionais._ as lides marítimas, por exemplo, entre práticos, ma­
fndios 2 rinheiros, mestres, moços e pescadores, temos o seguinte quadro (54)
Total 615 (50)
Santo Afll.(JrO, Barro dos Coqueiros, Santa luzia, ltaporango, Espfr,to Santo, Diurna Po.storo.
(46 ) A respeito de Antonio Pereira Reóouços, cf. /\unes, /11. T .• A P=rdência de Manuel Socorro, Asua Aredo, Chopodo e Logoa Vermelha.
Fernandes da Sllwira e a repercussfo em Sergipe da Confederação do Equador. Comunico . (SI) Foi considerado no populaçao total apenas a populaçlfo escolariuwel, isto é, jouP.11.$ com
,dode inferior o 20 ono,.
çtro opruenta_do no V Simp6$io de Hútória, Aracnju, asosto 1973.
(4 7) A respe,�o dos conflito, entr-e pordo, e bronco, em Laranjeira.sem 1824, cf. MoN, 1974. (52) APE;,, poc. 589, Requerimen10 de José Ale1:ro Benedito, Mestre de Serrorio do Trem
p. 156 e seguintes. A rnform<J940 sobre a referido Sociedade GregorioM deue-se o M. A. Col· M,1itar. S4o Cristórxro, 3-3-1831.
uro, autor dos Apontementos para a Hlst6ria de S�gipe (BN' I 9-4 ./ J' s/d). (53) Al'ES, poc. 589, Requerimento de José Aleixo 8encdi10, Mestre de Senurio do Trem
(48) AN, S 6- 7. I 824. Miliw, S4o Cristóvt10. 3-3-183 I.
(49) APE, poc. 524, S,10 Crist61.1110, 1847 (54) Lisla de todos os indiufduos ocupados no mar em pescoriru, canoa, jangada., e borcas,
(5� ) APES, P�- �09, Mapo do, Alt '.nos de primeir/J$ letro.s, J 849, �eferente à.r segvin res lo de alto mar e de cobotogem. referenles ao, portos de ltaporalVJO, Sonto luzia e &tãncia.
colrdode,: E.,umcro.. ursarto, laran1e,ros. Geru, Campo do Brito. Pe do Bonco. B rejo Cronde, 1824-1825. APES, poc. 472; AN- X- /tf- 67.
;2

Relação dos empregados no mar segundo a cor: Se.rgipe, 1824-182S sempre que ter em vista a grande hetei:ogenei�d� 9ue devia apresentar tais •
grupament06. Diferença não apenas Je s1tuáÇ10 J1llldica - um escravo negro_ ce:
tamente apresentava comportamento social bem diferente do. de um ne�o tng�
Número % nuo -mas diríamos inclusive diferenças culturais e econômicas. Q_ue distância
Brancos 158 32,7 devia existir entre um crioulo ingênuo ou liberto de segunda ou m818 gerações_e
Pardos 25� 52,8 um africano boç al, recém-chegado, como fica claro neste caso relatado pelo Jwz
Pretos 14,5 de Paz de Simão Dias:
701 "Aparecendo no distrito um preto africano, se�do me-pare-
Total 100,0 ce, dos que há pouco se tem desembarcado nos diferentes por­
� tos des ta Provín�ia, o mandei pôr �m seFança há �O dias e
Os pardos representavam mais da metade dos profissionais ocupados nos serviços dentro deste penôdo n�o tenho podido VU' no �onhecunento a
de canoas, barcos, jangadas e pescarias de Sergipe. a
Note-se ainda quanto a este tópico que a inferioridade dos pretos não !Jlle senhorio pertence, isto porque o mesmo ainda conserva
lingu�em de seu nacion�ismo e ainda nada se deixa enf.en.
era apenas quantitativa, mas igualmente qualitativa, pois entre os pardos havia 4 der.•. ' (57)
práticos e contra-mestres, enquanto que apenas um preto ,crioulo exercia a funç!o
de..Prático, todos os demais sendo empregados na função de moço ou marinheiro Este outro africano, preso em São Cristóvão, quando in�do, só sou­
(S::>). Em São Cristóvão, da mesma fonna, enquanto que os pretos livres !Jllalifi· be responder
cados como votantes a1_1areciam dedicando-se exclusivamente ao setor pnmário
(lavradores e pescadores), os pardos, além de lavradores, roceiros e pescadores, a­ "chamar-se José, de naç.{o Mina e pertencente a um. tal Sr.
presentavam variada especialização profissional: empregados públicos, oficial de Domingos" (58)
Cartório, escrivão, negociantes, proprietário de terra, requerente , marceneiros,
fogueteiros, oleiros, serradores, carpinas, mestres de Açúcar (56). Que difer ença do citado escravo mina José,face a estoutro José �a,
Concluindo, vemos que a diferenciação entre pardos e pretos aparece, negro de nação Uçá (sic) , liberto, acusado de�� recep �dor de roubos: do� ca­
não apenas na sua maior ou menor ligação com a escravid!o - o que chamam os bos de uma alçada invadem sua casa em LaranJetras e la encontram escon<lidos
de situação juríclico-social, ou seja, o número várias vezes superior de pardos li­ 20$800, <\uantia que José Maria diz ter-lhe sido confiada por um conhecido.Diz
vres (ingênuos e libertos) em oposição à maioria de negros escravos - mas tam· mais que vtve de embarcado, dedicando-se
bém na maior participação dos pardos dentro dos principais <{U&dros institucio•
oaise profissionais desta sociedade multi.racial. Antes de concluu esta parte, cum­ "ao comércio de gêneros co� oniais (sic), tendo ainda uns �eg?'
priria lembrar que, ao falarmos em grupo dos pardos ou grupo dos pret06, temos cinhos na Bahia, sendo muito bem comportado, de louvaveJS
costumes e de todos respeitado ... " (59)

Sempre interessados em perceber até que ponto pardos e pretos consti­


tuíam um único grupo, com interesses, aspirações e problemas semelhantes, fi.
(55) Numa representaç/fo anônimo dos infcios do século XlX, relorivo d "Escrovoluro'· no
Brosil, seu signatário, temeroso do perigo represento do pela maioria negro, 'U8ere uma série
de medidas com o fim de ir paulatinamente diminuindo o número das gen� de cor. Eu aJ. zemos um levantamento das tentativas de revoltas das "gentes de cor" em Ser­
gumas de suas proposiçoes: gipe: entre 1774 e 1837 (63 anos) , ao menos vinte vezes, o poder público e os
"Artigo J.0 - Degradar poro sempre o co�rcio da escrouoturo. pro1bindo"e de­
particul ares denunciaram e se precaveram contra possíveis rebeliões (60) . (Cf.
quadro).
baixo de graves penas a importM,4o deúu paro o Brasil
Artigo 5.0 - Proibir-se que nenhum comeroianle, qualquer que t>le posso ter, od·
nuto na tripulaç/fo dOJ seus nauios, gente bronca moú do que os ojiaois do CoHume, e três
ou quatro marinheiros principais, tudo o mai.t sejam crioulos. nep-os mestiços. etc.
Artigo 6. 0 - Que os tripu�oes, mesmo dru nosso.1 nouiru de guerra., sejam com• (51) APES, pac. 384, Ofício do Juiz de Paz de Simtto Dias_ ao Presidente, Jl./ 2.1837.
postas de semelhonle3 ge.ntes, à exceção da Trapo da Marinha, pou que o expenéncia tem (58) J.º Cartório de São Cristóutto, JustificaçtJo do Cap1tl!'o Froncuco Rollemberg Choves,
mostrado que ele$ s4o excelentes marinheiros. Engenho Cumbe, Santo Amar?, 1822 (livro de nO(D:J·
Artigo 7. 0 - Es to belecer corporaç<Jes de pesC<Jdoret do aJlo a baixo mor em que , . ,
(59) 1. 0 Cartório de São Cnstôuõo, Sentença C1v,I entre o preto Jose Mono, n�o Uço e
se empreguem milhares destas gentes, que forl!o o forturo de pescados de toda sorte., fresco e AntonioJosé Teixeira, bronco, Laronjeirru, 1818.
saJeodo, em todos OJ portes do Brasil de que há bastante falto, especialmente no Bahia e Per­ (60) Referências CÍlJ.$ tentativo.s d,i reuolta do.s sentes de cor de Sergipe.
nom buco. ( 9-10.1174) APEB- 180
Artigo 8. O - Estabelecer IJTDndes salinos em Pernambuco, em Cabo Frio e em ou,. ( 4. 3-1777) APEB - 180
Ln:>s lugares, poro facilitar o salgo dos pescados. Nestes trabalhos, se podem empregar OJ inu­ (25-12-1808) APEB- 180
meráwis vadios desto baixo gente, que oo presente só ,ervem de reuoltar os cativos e apoiá­ (25- 2-1809) BN - 19-4-13
/os nos seus roubos e fuga contra seus senhores, e muitos oez.es pondo-se à testo deles paro (23-12.,;l815JBN-19-4- 13
f'Ometerem O$ maiores crimes". (26-11-182 11)APES 125
(Mou, L R. 8., "A Escravatura: a propósito de uma repre.sentoçl!o o El Rei soüre (3Q. 9-1827)AN JJI 905
u P-'S<;ravuluro no Bro.sil'', Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.0 14, 1973. p. 127- ( 5-IQ.l827)APEB- /14
136). ( 9-12-1827) R. f. li. C. S., 1919, p.318
(56} APl•:S. pac. 5211. S<ro Cristóut1o. 1841. (I 2-12-18271 APES Cl 580
e,:,
64
PAHDOS E PHETOS E�! SE�CJPE: 1774 - 1851 Quanto aos lugares onde apareceram tais focos de rebelião, tem08:

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Freqüência dos locais de rebelião das gentes de cor: Sergipe, 1774-1837
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bem superior às das areas do criatório e da policultura de su.bsJStência (como em
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(31- 3-1835) AJ>ES 383

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Q e (61) APES, pac. 114, Mapa Era10 da Populaçtro de São CrutótXfo, ?-3-1829, AJ>ES, poc.
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e tratavam de milicianos livres Ll:u(º motivo da revolta era ter corrido pda ção da Província (66). Ayesar da le�� dão e dificuldades �e comunicaçlo entre
'rovíncia o seguinte boato: Balúa e Sergipe, o certo e que as nobctas, sobretudo as mais graves, logo atrav�
_
savam as fronteiras. Inicialmente referidas como boatos, eram acredita<las depolS
"o lmperador tinha detemúnado que com a aboliçio do tráfi­ de confirmação oficial, quer através de ofícios do Presidente baiano, quer através
co da escravatura dos negros, estava determinado a cativarem da imprensa periódica. Tais notícias refletiam-ae ofo apenas no ânimo dos bran·
os pardos e mais gentes de cor... " (62) cos, temerosos de serem massacrados pela gentalha, mas também chegavam aos
interessados ouvidos das gentes de cor, aumentando-lhes o desejo e a coragem de
Das 20 referências sobre as revoltas, em apenas oito especificou-se con· também se sublevarem.
ra quem as gentes de cor se insurgiam :
"Logo que se vu�arizou no distrito de Laranjeiras a notícia da
insurreição dos africanos na cidade da Bahia, a maior parte do
Número� denúncias Contra quem povo atemorizou-se de que nli'o sucedesse o mesmo nesta Prer
5 brancos víncia, principalmente n�ta Vila, pela quantidade de engenhos
2 senhores que contêm o seu recôncavo" (67)
1 gente livre
Total: 8 Na semana subseqüente a tais temores, na mesma vila das 't,aranjeiras, o
reverso da moeda:
No que se refere à repressão governamental, esta variou desde simples "uma porção de pretos, armados de espadas de bainha de ferro
incremento das rondas diuturnas, proibição dos pretos de saírem das senzalas andavam pelas ruas da vila e um homem abrindo sutilmente a
após as 20 horas, devassa contra os supostos líderes, prisão, açoitamento e depor- janela, ouvira-os dizer que 'os branquinhos desta terra se pensa­
tação dos cabeças. vam que (escapariam)? como os da Bahia,enganavam-se, porque
Tanto nas revoltas onde os negros sio acusados de serem os líderes, cer tinham forças bastantes para executar o seu intento ... "(68)
mo nas tentativas denunciadas em 1809, 1828, 1835 e 1937, sempre se propala
que veio da Bahia a faísca revolucionária. Embora as revoltas de escravos fossem Este outro relato de um subdelegado da Vila do Socorro, revela tanto
bastante freqüentes na Bahia, o certo é que, de fato , entre 1809 e 1835, houve o temor da elite do poder , como as aspirações da escravaria de Sergipe:
11 levantamentos no Recôncavo que bem poderiam tu servido de emulaçlo para
as tentativas congêneres em Sergipe (63). "Um senhor de engenho de minha ami1.ade pode pescar de cer­
Em 1809, por exemplo, tem-se notícia de que tas conversas de escravos seus que se dispõem outros escravos a
al gum atentado funesto contra seus senhores e é o caso: 'nós
"os negros não descansavam e eram influídos e auxiliados por aqui (os escravos) estamos ou estávamos enganados; na Bahia
outros que da Bahia vieram fugidos depois da insurreiç4o que todos os escravos estão forros e assim mesmo no Recôncavo.. .'
lá fizeram... " (64) cujas palavras sendo aplaudidas por outros (escravos) se obser·
vava a satisfação" (69).
Em 1828, assim relatva um Comandante de Santo Amaro: Consultando os manuseritos que se referem a revoltas das gentes de cor,
encontramos várias vezes acusações de que são pessoas de fora, geralmente livres,
"Chegam notícias de que há ,POUCOS dias teve arrebentado uma que instigam os escravos à rebelião:
sublevaç.fo de pretos da Bahia, não duvido tenha havido algu­
ma corres_pondência dos escravos daquela (pro�í ncia) com os "há notícias de �e há pessoas que induzem os escravos para se
desta" (65) sublevarem..." (, O)
Vários documentos assinados por delegados e oficiais de Polícia refe­ afumava o Capita'.ermor de Santo Amaro.A mesma opinião tinha o Arcebispo da
rem-se à influência das revoltas dos escravos da Bahia, argumentando junto à Bahia, que se referindo aos levantes de negros nas regiões pertencentes à sua mi­
Presidência pela necessidade de se reforçar o corpo policial e as reservas de muni- tra (inclusive a Vigaria Geral de Sergipe), assim dizia:

(66) APES, poc. 383, Ofício do Juiz de Paz de 'iogarto ao Presidente, 27·4-1835 e APES.
(62) "Acto da S1'$s4'o extraordinária do CoMelho de Governo do Província, de 12 de dezem­
poc. 383, Oficio do Juiz: de Paz de Santo Atrn1ro ao Pruidente, I 9-12-1833.
bro de 1827", Revista do Instituto Histbrico e Geográfico de Sergipe. ano TV, ool. TV,
(61} ;(PES, � 383. Oficio do J ui: de Pai de Laranjeiras ao Presidente, 3I 3 I 835.
1919. p. 318-3_19.
(68) APES, poc. 383, Ofício do Juiz: de Po:: do Distrito de Nosso Senhora do Cuia da Came­
(63} Verger, P., Flux et réflux de la traide des nêgres entre te goilfe de Benin et Bahia de leiro ao Pr1'$idente, 5·4-1835.
Todos os Santos. du XVlleme au XIXême siêcle. Paris, Mouton, 1968.
(69) APES, poc. 501, Ofício do Sub-Prefeito de Socorro ao Presidente, 17-12-1837.
(64) BN - 19 - 4 - 13. (10) APES, pac. 414, Ofício do Copit4"<>-mor de Santo Amaro ao Presidente, 21-/ 1-1824.
(65) API-:•. poc. J 14. 25 3-1828.
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pardo Antonio Pereira Rebouças que dá todo � a�. ílio para


"eu receio que hajam algu mas influências sobre os neuos e que ela, ªP.az�ando em sua casa ª. t_odos � revoluc1onan08 e �
eles por si sós não sejam capazes de tentativa aleuma. .. Se aJ. este, Já na Povoação das Lara Jeuas, saira em mangas de. cami­
guém os excit.e, nio pude cu ainda descobrir ... " (11) sa, gritando em vozes altas, :3morram os. brancos e que1xa<!a5
brancas e vivam os pardos e pretos e º· sJStema de Slo Do�n­
Em 1824, por exemplo, na povoação do Rosário, é o liberto Sebastião goe' e desde entâo começou o rumor e maldade nos Revolucio­
rres, alferes do Batalhão dos Henriques, que além de declarar publicamente nários e a Re volução na Província;.. E que o Tenente(? ) Co­
s "danadas intenções", inflama os escravos a rebelarem-se, chegando a consul­ mandante da l.ª Companhia do R�ento lhe dissera que de
milicianos livres se, mediante o soldo de S 960 por dia, estanam dispostos a nlo pegava em armas para defender Sua Majestade Imperial
punhar armas contra seus superiores (72). quando este foi avisado para rondar no destacamento que se
Em 1831, no distrito de Vila Nova, botava na'1!1ela povoação do Rosário para obstar semdhante
Revolução (74)
"há indícios assaz perceptíveis �e escravos africanos, iludidos
por forros, pretendem nessa ribetra do Vazaharris fazerem víti­
Em certos momentos t.emos a impressão de que, malgrado os imÍmeros
mas de seus cruéis assassínios a seus próprios senhores, muito
mom1ente os dos engenhos Itaporanga, Roma, Belém e Capoei­ revezes anteriores, os pardos e pretos, quer unidos, quer em separado,, alc�ç•
ram um tal grau de organização e predisposição para a luta que, de f.ato, esta�
ras" (73). agindo como grupo, cônscios de seu poder, sabedores, c'omo os pardoe de BeJO
Tem-se a impressão, ao menos a partir da documentação consultada, _
os i�-ufladores, a liderança das revoltas, vêm geralmente de fora, quer da Ba­ Grande , de que se fazia mister a posse de annas de fogo para se conseguir a
quer de gente saída da escravidão, forros e libertos. A já citada devassa feita vitória:
tra o Secretário Rebouças, acusado, juntamente com outros pardos e inclusi­
>rancos, de fomentar o levante das (;entes de cor, revela-se como o episódio "oe pardos de ordeanças e milícias de Brejo Grande e de gran·
; significativo desta tendência. Manifesta, também, de forma cristalina algu - de parte do termo de Vila Nova se acham dispostos para o
das principais contradições desta sociedade em que não apenas a "pureza de rompimento duma íacçfo ou guerra civil no dia 25 de dezem­
;ue", mas a própria integridade física da elite estava ilhada e constantemente bro, tendo por fim matarem a todos os brancos, para o que
açada pela maioria de cor: se haviam preparado de pólvora e armas de fogo, o que tem
áterrado (a populaçfo) J.>.Or alo restar quase com que se
"D oimento do Alferes José Sutério de Sá J r. do Capitão-mor p06Sa rebater tal força... "(7�
J osef3)da Trindade Pimentel, do CapitA'o Francisco Viel.I'a de f\el­
lo, do Coronel Sebastifo Gaspar d'Almeida Boto, do Corond No extremo sul da Província, em Estância, imp<>�te cenn:o de comér­
Antonio Luiz de Araújo Maciel, todos brancos e senhores de cio, 0 escravo de nome Marcelino do Engenho do Penpen, preso e mterrogado,
engcmho... informou
"ter sido convidado por 3 escravos do Padre Francisco , da Vi­
"Sab em, por ser voz pública e notório que Sebastião Soares, la de Santa Luzià; para se levantarem contra os, brancos e que
crioulo, casado e morador na Povoação do Rosário, Alferes já tinham um Capitão, muitas espi�ardas, polvora e bala
Comandante da Companhia dos Henriques, tem convocado para fazerem fogo no caso de haver resistência . .. " (76)
pelos engenhos e fazendas, a pretos cativos para, pelo natal do
corrente ano, se levantarem contra seus senhores e contra tu· Na Povoação do Rosário, conforme ".llllºs na dev� há pouc? trans­
do o que fosse branco e os matarem e aclamarem a República, crita, 0 Alferes doe Henriques, o preto Sebastião So�, alem de arregunentar
convocando também aos pretos cativos e forros pela Japaratu­ cidadãos livre s e ter enviado aliciadores a Japaratuha, tmh� t�anha confiança
ba e induzindo de público a seus soldados, que se eles os aJU· na vitória do grupo das gentes de cor que ironicamente sugenu a rosarense
dassem no que pretendia., eles seriam felizes e que a riqueza
dos brancos desta terra era para eles... E sabem mais, ser tam­ "Margarida, beata e muito honesta que ( ela) pedisse ao seu
bém público que os cabeças desta revolução que induzem ao Meruno Jesus para que� acontec�e - o que el_ e esperava
dito Alferes para ela é o Padre Sobral, o Quartel Mestre (?), - porCF.c muitos não havtam. de ouvtr o toque do SIJlO no Na-
pardo, casado e mais dois brancos ... e a causa, agente e motor tal...''("17)
de toda a Revolução é o Secretário do Governo da Província, o
(14) Jornal Soldado de Tarimba, Bahia, 1828, BN 1- 31, 13, I 3. Como os infonnoç<Je$ dos
5 tettemunhtu ,e complomcntom e ,e repetem, fixemM umo col'1l[t!m dela.. .
BN-11- 33,22,69, Relatório de Fr . Francisco, Arcebispo do Bohui, 3/./. 0.}814. (75) APES Cl - 580, Ofício do Sargento-mor de Vila No. uo oo Pre�idante, 9-12-1821.
_
APES. pac. 125 Offcio do Comandante do Qwrtel do Catete oo Pre,iáente, 2(,.J I · (76) APES. pac. 331, Offr;,. do Juiz; ele Direito de E,ti.,nc,oao f're41Óe?' "• 3.3.1835.
.
; APES, pac. 4 74', Offcw do Sorgento-mor 1o Ro.,iirio oo Capit4o-mor, S. l 2· 1824. (71) Af'ES, poc. 4 74, OJ,cu, do &,'Bento-mor ao Capit4o-mor do Ro,ano, 5-12-1824.
4 PES. poc. 844, Corl<I de Lui: Francisco Freire oo Prendente, 2(). I Q. J 83 J •
71

Jhures passando por ingênuo ou liberto e chegaram não só a ludibriar os Órgf08


Em Laranjeiras, o gr.3-u'<le organizaçfo da insurreição escrava alcançava de repressão, como a fazer �e deles:Wários são os casos de esc� av ?8 que conse­
t.l sofisticação que guiram alistar-se como Guar<à Nacional ou como recrutas no Exercito ou na Ma-
rinha (90)
"certos escravos se reuniam em clubes secretoe para fins sinis­ .
Se tais soluções individuais enfraqueciam . e remn-
o potenc1'aJ agres&JVo . .
tros e já tinham leis escritas... "(78) clicatório d05 grupos de cor, as ttaições e a alienaçfo, p _or certo, eram os grandes
responsáveis pelo insuceiSo � re"'.oltaa. Temos conhecunento de escra:voe sendo
s tais leis escritas foram ter às mãos do senhor de um dos escravos revoltosos
enviados por seus senhores a Bahia em busca de. outros escravos fugidos (91),
ue temendo a repre..�ão policial ocultou-as.
crioulo depondo em devassa. contra liberto revoltoso (92) , 2 esc_ravos �e em
Apesar de em alguns momentos, como nestes que acabamos de descre­
1837 denunciaram a imurreiçfo da escravaria de Laranjeiras (9S), oe libertos
que ajudam a
!t pardos e pretos quer unidos, quer em separado, darem a impressão de
?�Ji!em um grupo �oeso, organizado, �restes a atingir s��s obJ etivos de emai:i·
paçãÕ·,nQ,_tamos, entretanto, que no méUs � vezes o md� dualism� conta mais
ue a sofid�dade grupal, o temor da �ebelião e do su�quente castigo, levan_ do
guns à traiç�o. Soluções in<!i�íduais contta a ordem escravocr:3ta �ram muito
_
'Cqiientes: escravos que se swc1dam (79) , escravos que fo gem mdiv1dualmente
IO}; qt1e' fogem em grupo, formando mucambo escondido no mato (81), negra Sumariando o que vimos até agora, temos:
·ntando matar senhora de eogenho com doce envenenado (82), negros pondo a
1. pardos e pretos p articipam de man�ir! �eren�.e divergente na , e�­
ique e roubando embarcações (83) , escravos matando feitor (84), matando se­ tura social global, quer em termos Jur1dico-soc1ais, quer nos quadros ms­
hor de en $enho (85), escravo tentando matar, com ajuda de agregados, negoci­ titucionw;
nte para migar sopapo ..9ue este dera no seu moleque (86), negros apedrejando 2. pardos e pretos manifestam grande heterogeneidade na sua �omp?Sição
atrulha de soldados (8-1) . Um exemplo do individualismo a�e na revol t;a
�- nl_o � se_ compararmos um grupo com o outro, mas mclusrve no
os escravos G-êge, em 1808, que vêem seu levante fracassar, poJS havendo doJS
seu propno mtenor;
abecilhas, estes 3. pardos e pretos demonstram certa coalescência e solidariedade grupal
nos momentos de crise, nos levantes e rebeliões, muito embora mesmo
"se desconcertaram, por competências, entre os dois qual deles
nessas ocasiões haja traições e defecções.
havia de ser o Rei.. . " (88)
Per�ntamos: seria correto identificar os pardos e pret06 como consti­
Tais reações individuais ou de pequenos grupos redundaram na quase
>talidade das vezes cm prisão, espancamento ou açoite, ou mesmo enforcamen­ tuindo wn unico gru po? A resposta é negativa, pois os dados empíricos parecem
> do escravo (89). Os mais bem sucedidos corJSeguiam fugir para a Bahia ou a- demonstrar que de Jure e� fac�o,. os pardos _co°:8ti�am um segm�t� popufa.
cional com importantes caracter1stícas orgamzac1onais e esb"uturais diferentes
das dos pretos. Embora p086ivelmente fossem mais tênues as diferenças existen­
tes entre pardos e pret06 sscravos, o certo é que ingênuos e libertoe patenteavam
18) APES, poc. 331, 0/ic,o do Jur: de Direito e O.e/e J., Pol,t,a de Laran}l'mu ao Pr�s� grande diferenciaç4'o em se trataJTdo de pard06 ou de pretos.
ente, 25-12-1837. Aí se coloca então oub"o problema: seria correto pensarmos 06 pardos e
19) APES, poc. 333, Ofício do }uh de D,reito de l::stãnc,a ao Pte11dente, 1 /,4-/840.
10) Tanto no Noticiador Sergipense, no Recopilador Sergipen.,e, como no Com>io Sererpen
pretos formando, cada qual, um grupo étnico?
·, s6o numerosos os anúncios de proprietário, oferecendo r<'COmpensa a quem der ll()l(clll.f Seguindo a tradiçlo antropológica (95) , a expressão grupo étnlco na
! seus escravo, fugitivo,. sua acepção mais abrangente, engiooa os indivíduos �e :
li) APES, poc. 150, Oficio do C,ap,ttfO .mor de Nosso Senhora d4 Conc�rç@ da Penha oo
•esidente, 8-7-1826; A.PES, pac. 1149, Ofício do C,apittfO.mor de ÚJIJflrl-0 ao Pres,denle,
6-1825.
12) I. 0 Cartório de São Cristóv(f(), Sumário de Querelas de D. Clara de Faro Lei Mo contra
(90) APES, poc. 593, Requerimento do Tenente Antonio Fra�Í.$c-O Rois _Lima, ltobaiafl!I,
preta Luiza., 94-1828.
/-/1.1844; APEB, ,,;aç o 1149, Oficio do Pre1idente <i'; �rgr_">e Of'.Pres11Jente da Bahra.,
13) APES, pac. 472, Ofício do Pamro de 801To de Santa Lu:ro e EstâncrJJ ao Pren dente,
�10-1828. /4-1-1830; AN JGI - 107, Ofício do Presidente da Prootncra a. Mmutro do Guerra, 20.9-
14) APES, poc. 513, Ofício do Promotor Público de Santo Amaro ao Presidente, 2-�1844.
15) APEB, maco 210, (!fício do C,apillf'o-mor de Sersipe oo Covemador da Bahia, I1 2· }:t{A.PES, poc. S88, Roquerimenlo do C,apiuro-mor Sime4o Tclles <k Mone•es, 3.,,.J826.
907; A.PES, pac. 332, Oficio do }ui: de Direito de Laranjeiru.s ao Presidente, 10-12-1839. (92) APES puc. 414, 5-12-1824.
(93) APES, poc. 331, 0/ícÜ> do }u,: de Dire,10 áe LoronJeiras ao Chefe de Polrcio, 25-1 2
• . . . . , .
16) APES, pac. 595, Requerimento dos moradores da ,Wis$6o de Japaratubo, 18-8-1848.
17) APES, pac. 522, 0/ic,o do Subdelegado de Laranjeiras ao Chefe de PoUcio., 22-4-1851;
:::rAPES CI - 613. Ofício do Comandante oo Presidente, 26·3··1828.
PEB, maço 332, Ofício do luiz de Direito de Laronfeira, ao Presidente, 10-12·1839.
18) APEJJ. mo(O 213, Ofício do Ouvidor da Comarca de Serl{lpe ao Co�mador da IJolua., (95) NoroU R. ··un 1!,thnic Únil Clas.sijicotion ", Current Anthoropolgy, voL S, n. 4,
0

4 1809. October 1964, �- 283-291; Vieira, F. /. S., O Japonês na frente de expando paulista, S4o
Paulo, Pioneiro e Editoro da USP, 1913.
9) 1 p,-;/J. mn(o 513. 0/lrio do Promotor Público de l,aranJlmW ao Pru,dcnle, 28-4- I844
. . .
1. partilham de valores culturais básicos, que se marúfestam em wna u­
nifonnidade de formas culturais;
2. constituem uma comunidade biológica auto-reprodutora;
. 3. criam um campo de comunicação e interação inter e extra-grop:iJ; Ili
4. identificam-se e são identificados pelos dem&s_ membros da sociedade
inclusiva, como pertencentes a uma categoria c:listinguivd da
mesma o,dem. A População Sergipana do Rio
S egundo Barth (1970: _ 13), na "'.edi�a e!11 qu� se c�msidera o grupo �t­
nico como uma forma de orgamzação social, e a 1dentificaçao de grupo por s1 e
São Francisco no século XIX
?elos de fora a característica fundamental na conceptualização de um segmento
:>0pulacional como sendo um grupo étni �o. . . . ,
Muito emb�ra em algumas ocasi� espec13.1s, os de fora, is! º e, os bran­
,
!OS vissem os pardos e pretos como um uruco grupo ameaçador - as gentes de O período de maior destaque econômico � re�o do �o F�
�or\' - o certo é que, n�o apenas� �tuação �pecífica _de ingê �uos, libertos e ca­ restringe-se ao primeiro Sl!culo da ocu �ção da Ca�tarua de Sergipe dei Rei,
jvos represen�va barreiras e prop1ciav,am dife�� bpos }e m ��ão entre � _
. quando ai se instalaram numerosos cumus de cnatóno de gado vacum. Encer�·
ii.versas "gentes de cor", como também a tez m81S alva ou mais apertada do este ciclo, a regifo do S. Francisco nunca mais ganhou gran<i4! destaque na
·epresentava para os pardos e pretos motivo e critério de düerenciação interna. vida econômica e social da Capitania e Província de Sergipe, participando apenu
)estarte, a nossa ver, P. ardos e pretos, não mani��varn, via de re�a, co�porta­ marginal e secundariamente na grande lavoura açucareíra sergipana durante' os sé­
nentos de auto-identificação enquanto grupo etruco: os dados evidenciam que c:ulos XVIII e XIX. Se compararmos a produçio (exportaçfo e importaçfo) de
ipenas em certos momentos de crise - nos levantes - � que se revelava um em­ Vila Nova e Propriá - as duas mais importantes vilas da regi.lo - com a das vilas
>rião de COl'\$Ciência grupal, êlS5Ún mesmo, fraco e logo mmado pelas defecções. da Cotinguiba nos alvores do século XIX, notaremos que de fato a riqueza estava
Qual o conceito então que melhor caracterizaria estes dois segmentos
muito mais concentrada em S. Cristóvão, Socorro, Laranjeiras, Santo Amaro, do
>opulacionai.s? Oasse, estamento, casta? Dada a complexidade do tema, transf�
imos tal definição para um próximo trabalho. que nas áreas ribeirinhas do antigamente chamado "rio dos currais" e hoje cog­
nominado "rio da unidade nacional" (1). Mesmo que encontremos en�os de
cana na regi!o franciscana, nunca foram tfo numerosos nem tfo produtivos c�
mo os da Cotinguiba e do Va.zaba.rris: em 1815-1825, por exemplo, de acordo
com o "Mapa Topográfico de Sergipe", de autoria de J. J. Gonnet, na freguesia
de Propriá havia 15 propriedades rurais, sendo 5 engenhos e 1 O fazendas de gado;
em Vila Nova, quase na foz do rio S. Francisco, existiam 15 engenhos de cana de
açúcar (2). No documento "Relaça-o dos Engenhos existentes na Província de
Sergipe no ano de 1823", Propriá apaiecia com um total de 9 propriedades cana­
vieiras, enquanto que Vila Nova com 12, sendo que toda a Província contava
com 367 engenhos registrados, o que vale dizer que o S. Francisco abrigava 5,7%
do total dos enge.nhos de Sergipe (3). D. Marcos Antônio de Sousa, antigo vigá­
rio da freguesia sergipana de Divina Pastora, autor da principal memória novecen­
tista consagrada a esta capitania, ao referir-se à economia de Propriá, assim se ex­
pressava: "Ainda que a plantação do �godáo seja diminuta, contudo há 200 (sic)
fazendas de gado vacum e cavalar... E certo que em alguns anos perecem os ga·
dos, murcham as plantas pela seca estaçáo, que às vezes dura mais de um ano, pe­
lo que parece qu e. com mais vantagem se podia empregar os capitais na escavaqáo
e lava.gens das auríferas (de) Canindé. Esta indústria podia bem suprir a cultura
de certos gêneros que se náo podem cultivar pelo rigoroso do verão ... " (4). Dis­
cordamos da avaliação feita pelo Prelado D. Marcos quando aponta a existência
de duas centenas de fazendas de gado na freguesia de Santo Antônio do Unibu
de Baixo de Propriá: a menos que tivesse subentendido por "fazenda" também
os pequenos sítios e roças que eventualmen�e possuíssem poucas cabeças de gado
destinadas às lides agrícolas (5 ). Talvez só nas freguesias de Lagarto e Itabaiana,
zonas tradicionais de pastoreio, que se pudesse contar com tantas fazendas de g&·
do.
Regicfo sem grande projeçáo econômica, no S. Francisco, em contrapar·
tida, ocorreram alguns episódios importantes da história política e social de Ser-
74 7S
.
gipe. foi aí que se instalaram os holandeses no século XVII; foi nessa região, no vinha Propriá, cuja população a partir de 1808 ultrapassa a de Vila Nova. Criada
povoado de Brejo Grande e em V�NÓva onde eclodiu a revolta republica.na de vila em 1801, contava no ano anterior em toda a extensão da freguesia com 875
1831; foram os índios da Missã.o de São Felix de Pacatuba os autores do princi­ fogos e aproximadamente 4.000 almas. Não é em v.fo que o arguto obs�ador D.
pal gesto de insu bord.inação e coragem na história indígena de Sergipe, invadindo Marcos A. de Sousa profetiza futuro brilhante para a freguesia de Santo Antônio
a cadeia de V'tla Nova e dela libertando o chefe da aldeia; foi igualmente em Bre­ do UNbu de Baixo de Propriá: "Em todos os domingos se ajunta nesta vila uma
jo Grande onde teve inicio um movimento sedicioso de pardos e mui.atos revol­ feira de grande concurso ... Creio que no espaço de 20 anos disputara a grandeza
tados contra a notícia de que com a extinça-o do tráfico negreiro, os pardos e da vila do Penedo, situada 6 léguas abaixo na margem oposta do rio. Virá a ser
mulatos livres (ingênuos e hbertos} passariam a ser escravizados. Bento de Melo !:!ma <:4s mais famosas vilas da Comarca por ser o mercado de todo o comércio
Pereira, um dos personagens de maior influência na vida política sergipana do se­ interior do rio de São Francisco" (11). A partir de 1808, como se nota, a fregue­
gundo quartel do século passado, cabeça do governo provincial por várias vezes, sia de Propriá ctesce muito mais do que sua ex-Matriz Vila Nova: entre 1802 e
tinha à beira do S. Francisco suas propriedades agro-pastoris (6}. 1829 Propriá tem sua populaç.ro mais que quplicada, enquanto que a de Vila No­
No que se refere à estrutura demográfica, se compararmos a populaça:o va aumenta em aproximadamente 40%. D. Marcos tinha raz!o: hoje a cidade de
do S. Francisco com a população g�ral da Capitania, notaremos certos pontos Propriá possui mais de 19 mil habitantes, enquanto que Neópolis (ex-Vila Nova.)
em comum e certas especificidades. E sobre tais aspectos demográficos que nos ná'o chega a 6 mil Penedo, contudo, ainda continua ma.is populosa que Propriá
ocuparemos neste ensaio. (cerca de 24 mil hal::itantes}, embora depois da constNçáo da ponte s:ibre o S.
Sergipe dei Rei contava, no final do primeiro quartel do século passado Francisco em frente a Propriá, tudo f.u crer que esta cidade ainda nesta década
com o seguinte quadro político-administrativo: além da cidade de S. Cristóv.to há de ultrapassar em muito Penedo ná'o só no progresso material como em sua
(capital da capitania), possuía um total de 10 vilas-freguesias:Santo Amaro das populaça:o.
Brotas, Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba, Divina Pastora, Vila Nova, Pro­ Pacatuba e Porto da Folha eram antigas aldeias indígenas, a primeira si­
priá, Itabaiana, Lagarto, Campos, Santa Luzia-Estância e Tomar do Geru. Con­ tuada aproximadamente a uma légua do rio S. Francisco, dependente da Vila
tava ainda com 4 missões ou aldeias de índios: São Felix da Pacatuba, São Pedro Nova, enquanto que a segunda, sujeita à vila de Propriá, encontra-se a poucos
do Po�o da Folha, Nossa Senhora do Carmo da Japmnuba e Nossa Senhora da passos do mesmo rio (12).
Fé de Agua Azeda (7). Sua base econômica repousava sobretudo na agro-indús­ Eis o quanto representava a população residente na região do S. Fran­
tria açucareira. Conforme nos referimos anteriormente, em 1823 possuía Sergipe cisco comparativamente à população total de Sergipe:
um total de 367 engenhos, produzindo uma média de 10 a 12 mil caixas de açú­
car por ano (8). Sua produção era na quase totalidade enviada para a Bahia: no _ QUADRO II
final do século XVIII calcula-se que Sergipe contribuía com 1/3 do açúcar que POPULAÇÃO DA REGlAO DOS. FRANCISCOFACE A POPULAÇÃO
saia dos portos de Salvador (9). TOTAL DE SERGIPE
Tomando como ponto inicial de referência os trinta primeiros anos do
século XIX, notaremos que de 1802 a 1829, tal foi a dinâmica populacional na
regi.fo do rio de São Francisco: (10}. 1802 1808 1825 1829
QUADRO! $ao Francisco 8901 9654 16.337 19.030
POPULAÇÃO SERGIPANA DO RIOSÃO FRANCISCO (1802-1829) Sergipe 55.668 72.236 93.055 140.512
% 15,9% 13,3% 17,1 % 13,4%

1802 1808 1825 1829


Vila Nova 4315 4154 6622 7850
Propri.â 4500 8792 10092 Zona predominantemente voltada para a economia de subs:istência e se­
3814
Pacatuba 541 700 494 600 cundariamente ao pastoreio e à cultura da cana, o S. Francisco nunca despertou
Porto da Folha 231 300 429 488 grandes interesses econômicos, nem investimentos governamentais no sentido da
abertura de melhores vias de comunicaça:o que possibilitassem a chegada de im­
Total 8901 9654 16.337 19.030 portantes correntes migtatórias, quer de brancos, quer de escravos. Só de quando
em vez, quando as secas se prolongam em demasia, é que levas de familias aban­
donam o se�ão, fixando-se nas margens do S. Franci.sco;voltando a chover, mui­
tos destes retirantes voltam para suas terras.
Vejamos a seguir alguns aspectos referentes à composiça:o demográfica
Como se nota, Vila Nova era nos alvores dos anos 800 a freguesia mais da região do S. Francisco, comparando-a com a da Capitania de Sergipe:
populosa do Rio S. Francisco. Elevada à categoria de freguesia no a no de 1679,
tinha em 1689, 200 moradores, constituindo-se desde o inicio de sua história,
�orno o principal ponto de travel.Sia do rio por parte da populaçao que vinha por
terra do norte em direç30 à Bahia, e do sul para Pernambuco. Logo em seguida
76 77

QUADRCNII QUADRO IV
COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DO S>f"RANCISCO E DE SERGIPE
QUANTO À COR (1802) EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DO S. FRANCISCO
1
E DE SERGIPE QUANTO À COR - (1802-1825)
S. Francisco Sergipe S. Francisco Sergipe
1802 18� 1802 18�
BRANCOS 2124 (23,9 %) 13.317 (23,8 % )
PARDOS 3983 (44,7%) 20.849 (37,4 � BRANCOS 2124 (23,9 %) 353 9 (21,7%) 13.317(23,8 � ( 19,1%)
PARDOS 3983 (44, 7 %) 891 7 (54,6 e¼) 20.849 (3 7,4 � ( 44,2 �
PRETOS 2024 (22,7 %) 19.893 (35,8%)
INDIOS 772 ( 8,7 %) 1.641 ( 3,0%) PRETOS 2024 (22,7 %) 3191 (19,5%) 19.893 ( 3 5,8 %) ( 35,4 �
INDIOS 772 ( 8,7% ) 690 ( 4,2%) ].641 ( 3,0%) ( 1,3% )
TOTAL 8903(100,0 %) 55.700 (100,0 %)
TOTAL 8903 (100,0%) 16.337(100,0� 55.700(100,0� (100,0 �

Em 1802 a tenàência geral da população franciscana �pre�ta_al� Se em linhas gerais a populaç.1o da Capitania tendeu a se miscig�. os
aspectos distintos quando comparada à populaç.1o geral da <:ap1tarua: pnmeira· brancos perdendo 4,7% de sua representatividade relativamente à população to­
_
mente a maior representatividade dos pardos face a populaçao _to� - sá? 7, 3% tal, os índios baixando em 1,7%, os pretos em 0.4%, notamos que os pardos au­
mais numerosos nas margens do rio do que no restante do temtóno sergipense. mentam em 6.8%, passando de 3 7,4% do total da população para 44,2%. Em ter­
Por outro lado, os pretos Seio 13, 1 % menos numerosos no S. Francisco d� q�e no mos absolutos, apenas os índios que tiveram seu número desfalcado, os demai.s
restante da Capita.rua. Tais tendênC1as se explicarr., a nosso ve!, pela propn.a �s­ grupos crescendo até em 63 % entre 1802 e 1825. Isto quanto à população da Ca­
pecializaç.1o da atividade econô�i.ca: pred�minando a� a . Pº�cultura d� subsis· pitania. No São Francisco tal tendência se acentua ainda ma.is: os brancos que re­
tência e secundariamente a pecuana extensiva e a agro-mdustn.a açucareua, �u­ presentavam em 1802 23,9% da populaçá'o total, di!'l"inuem para 21,7% em
ca import.áncia desempenhou aí o uabalho escravo, renovando-se por consegwn· 1825; os pretos que já eram proporcionalmente bem inferiores em número se
te em menor propo�o do que na zona canavieira os estoques humanos negros comparados com a população geral de Sergipe, passam agora a representar apenas
originários d'Africa. É com tino que D. Marcos dizia em 1808: "Co�tam-se entre 19,5 % do coqtingente demográfico ribeirinho; os índios de 8, 7% passam a signi­
os moradores de Propriá 600 brancos e 1200 pretos e todos os mais sáo pardos, ficar 4,2 % da população franciscana. Os pardos, ao contrário, sá'o os únicos que
mamelucos e curibocas ... " (13). Ta.is mestiços representavam ent.fo 60% da po­ têm seus números aumentados: de 44,7% da população total, passam a 54,6%,
pulação total da novel freguesia do Ururu de Baixo. Zona de grande me.stiçagem a-escendo em 23 anos 9,9%. Tal é a nosso ver, a explicação do movimento demo­
o que não quer dizer necessariamente ausência de conflitos raciais. An�es �lo gráfico destes quatro grupos durante este período: o crescimento vegetativo dos
contrário: as revoltas, insurreições, levantes e violências tendo como mouvo difí· índios devia ser bastante baixo, dado as precárias condições de higiene e saúde,
culdades na interaçáo das diferentes cores-etnias sáo sénas e frequentes, e_a � as constantes ondas epidêmicas (1 7), sobretudo se considerarmos as dificuldades
voltaremos mais adiante. Outro aspecto importante a se observar nesta pnme1ra que devia enfrentar este grupo. primitivamente tribal, mas já naquela época em
aproximação da populaç.10 regional com a da Capitania é a alta representativida­ níúdo processo de destnõalizaçio e desorganização sócio-cultural (18). O recru·
de do grupo indígena: 47% dos índios de Sergipe viviam distribuídos entre as t.1mento para a Marinha da Corte deve igualmente ter contribuído drasticamente
duas aldeias-missões de São Felix de Pacatuba e de Sa:o Pedro do Porto da Fo· para provocar desequfübrios irrecuperáveis na composição demográfica interna
lha. Embora enfrentando a constante cobiça dos proprietários circunvizinhos se­ do grupo (19). A depopulação indígena é portanto bastante alta: o grupo de­
quiosos de apoàerarem-se das terras indígenas, o certo é que nestas área.s francis· cresce em 4,5% entre o começo de 1800 e 1825.
canas os aborígenes conseguiram naquela epoca enfrentar com mais coragem e Infelizmente n.io dispomos de dados que esclareçam sobre a importação
êxito a investida dos terra-tenentes locais - o mesmo não acontecendo por de negros africanos para esta regiáo: não encontramos nenhum livro de registro
exemplo com os aldea:es de Água Azeda, na freguesia de S. Cristóvão, que foram de escravos, ,rem sequer notícia de que se importassem negros diretamente da
removidos arbitrariamente para a antiga aldeia do Geru a fim de liberarem o ter­ Bahia ou da Africa pelos portos fluviais do S. Francisco. Nossa impressão.através
reno de sua aldeia para ser ocupado pelas fazendas em expansão (14). Talvez por da leitura de milhares de documentos nos arquivos de Sergipe, Bahia e do Rio de
disporem de um habitat mais favorável à sua economia ext:3tiva (o . rio S. Fran­ Janeiro é de que no século XIX era pequena a importação de negros pelos senho­
cisco e seus mangues constituindo um fertilíssimo manancial de peixes, crus�á­ res de engenho e fazendeiros de Sergipe, devendo vir da Bahia os escravos africa­
ceos e moluscos), contando inclusive com maior contacto com outros <J:UPOS in­ nos chegados a Sergipe. Como as referências a escravos africanos nas cartas de al·
dígenas ribeirinhos, inclusive de out� Capit.afU:i3S (l�?, estes fa�ores, aliados tal· forria e nos demais documentos públicos sáo pouco frequentes, somos levados a
_
vez à menor agressividade expansiorusta dos latifundiános locais se comparados
com os senhores de engenho, tais fatores teriam contribuído J>él:ª
a _conservaç.fo
crer que de fato já nos inícios do século XIX a grande massa da escravaria de Ser·
gipe devia ser criola. (20). Assim sendo, o grupo negro n.io sendo constantemen­
de maior contingente indígena nesta área do que no resto da Cap1tarua. te ren.o vado, como ocorria nas zonas economicamente mai.s pujanies, como nas
Se confrontarmos o quadro da composiçio da populaç.io do S. Francis­ áreas canavieiras, tendia a decrescer tanto pelos óbitos, quanto pela miscigenação
co em 1802 com o ano de 182S, teremos o seguinte panorama: (16) com os demais estoques raciais: passa de 22,7% em 1802 para 19,5% em 1825.
78 79

Quanto ao grupo dos brancos, a cris( político-social decorrente das lu­ Uma grande inovação introduzida nos "Mapas �tos da População" de
tas da Independência deve ter contribuído em parte para a sua diminuição numé­ Sergipe (nos quais se baseia o Quadro V) é que além de se sulxlividir a população
rica. O sentimento anti-lusitano, a oposição e perseq.úção de que foram alvo os em 4 grupos (brancos, pardos, pretos e índios), classificam os pardos e pretos em
europeus nasci.dos em Portugal, devem ter contribuído para que muitas familias 3 sub-categorias jurídico-sociais, a saber: ingênuos (os que já nasceram livres),
tenham abandonado a re�o. conforme temos notícia que ocorreu em Vila No­ libertos (aqueles nascidos escravos que conseguiram a liberdade por alforria ou
va (21 ). manumi.ssão) e finalmente os cativos ou escravos. Pequeno detalhe no arrolamen­
Como se conclui, a conjuntura social, política e econômica não era mui­ to dos povos, mas que permite ao estudioso do passado uma vis.to muit.o mais
to propícia ao crescimento demográfico do grupo dos brancos, pretos e índios: clara e precisa do que a fornecida pelas demais estatísticas demográficas que divi­
go os pardos, no entretanto, que apresentam melhores condições adaptativas diam a população apenas em dois grandes segmentos: forros e cativos. Pequeno
manifestadas através do incremento demográfico e da ascenção na estrutura so­ detalhe censitário que nos revela um aspecto crucial da evolução demográfica e
cial: MO é sem razão que exatamente às beiras do S. Francisco, em Brejo Grande, sócio-jurídica da sociedade se.rgipana: que em pleno apogeu da grande indústria
que vai emergir um importante foco revolucionário que �talhava pela igualdade açuca.reira, no primeiro quartel do século XIX, em Sergipe os escravos represen­
racial, tendo como liderança um grupo de pardos. (22) E também sintomático tavam apenas 27,2% da população total da Capitania e que 56,6% da população
que nesta mesma área tenham surgido as mais pujantes reivindicaçoos da elite mi­ sergipana era constituída de gente livre de cor.
litar parda no sentido de se criar pelotões especiais para os homens de cor (23). Quer dizer: mais da metade da população não era nem senhor (branco) nem es·
Era essa uma época de euforia geral da população parda de Serqipe, época em cravo. Mais da metade da população residente em Sergipe era constituída de gen­
que se propalava ousadamente, pela primeira vez, que um pardo podia até chegar te de cor - pardos, pretos e índios - livres. Tal população que em 18oi repre­
a ser general... (24). sentava 41,3% passou em 1825 a 56 ,6% do total dos habitantes da Capitania, au­
Como tendência geral da população, o S. Francisco revela o mesmo mentando, por conseguinte, em mais de 15% num espaço de 23 anos.
comportamento da Capitania de Sergipe dei Rei: grande maioria de população Observando o Quadro V, a primeira constatação a ser feita é a incrivel­
não branca - 76,1 % dos moradores da beira do rio em 1802 na:o eram brancos; mente alta porcentagem de pardos e pretos ingênuos: 53, 7% das pessoas de cor
78,3% em _ 1825. Zona mestiça por excelência:predominam ai os pardos, mame­ no S. Francisco já haviam nascido livres em 1825.
lucos, cunbocas, cafusos. Os brancos e pretos "puros" go poucos: "todos os Come teria tão grande contingente populacional, originariamente escravo, chega­
mais são de raças combinadas", dizia muito bem o arguto D. Marcos quando es­ do à condiçao de livres? Infelizmente este é um problema em que a documenta­
crevi3 sobre a composição da população de V'tla Nova (25). ção disponível náo nos permite ir além de conjecturas: encontramos apenas um
Desloquemos agora nossa a tenção para o quadro V: Livro de Notas em Propriá onde ao lado de escrituras de compra e venda de bens
móveis e imóveis, testamentos e inventários, havia igualmente dezenas de regis­
QUADRO V tros de cartas de alforria. Tais cartas de liberdade referell}·se apenas aos anos
1822-1825, de modo 9ue toda esta populaçáo de ingênuos adultos recenseados
em 1825 escapa a tal informação documental. Na'o temos condição, ao menos
COMPOSIÇÃO DA PO�ULAÇÃO DO S. FRANCISCO até o presente, de saber se tais ingênuos recenseados em 1825 compraram ouga­
SEGUNDO A SITUAÇAO JURIDIC0-S0C1AL - 1825 nharam suas liberdades. O certo é que embora "livres" juridicamente, tal liberda­
de devia ser muito relativa e constantemente ameaçada pela prepotência e man­
dorúsmo da elite do poder - corrobora nossa afirmação o episódio já referido da
Ingênuos Libenos Cati vos revolta dos pardos de Brejo Grande onde '!lediante boato propalado na Corte de
VILA NOVA 3806 (57,5 %) 193 (2,9%) 1466 (22,1 %) que com o estanque do tráfico negreiro d' Africa, os pardos passariam a ser escra­
PROPRIÁ 4724 (53,8%) 126 (1,4 %) 1515 (17,2%) vizados para suprir a falta de brancos cativos, a população parda se rebela e pia·
PACATUBA neja executar graves sinistros contra a liderança branca (26 ). A presença de par-
PORTO DA
FOLHA 234 (54,6 %) 12 (2,8 %) 32 { 7,5%) dos assinando como testemunhas em JrOCt'SSCS judiciais na Comarca de Vila Nova
(27), a requisição de oficiais da milícia de pardos, pleiteando a criação de um ba­
TOTAL 8764 (53,7% ) 331 (2,0%) 3013 (18,4%) talhão específico (28), a existência de pardos com bastante cabedal, proprietá­
rios de fazendas e engenhos (29), são sinais primeiramente da grande heteroge­
Branoos-Indios neidade social e econômica do grupo dos ingênuos, segundo, que de fato o grupo
dos ingênuos, notadamente os de cor parda,_constituiam uma massa humana com
claras aspirações e relativa possibilidade de sucesso de ascençáo social e econômi­
1157 (17,5 %)
2427 (27,6%) ca. Contudo, pouquíssimos eram os pardos que conseguiam êxito em suas pre·
tensões elitistas: a grande maioria dos mulatos e pardos ingênuos aprêsentava um
151 (35, l %) estilo de vida certamente tão pobre e sofrido como o da escravaria. Mesmo livres,
3735 (25,9 %) dificilmente encontravam outras alternativas de subsistência fora do urúverso das
grandes fazendas. Certamente que muitQS ingª11uos trabalhavam lado a lado dos
escravos nos canaviais na qualidade de diaristas, agregados ou camaradas. Entre
81
80
agro-pastonal desta região franciscana. Deste número temos aind � que extrair os
os ingênuos os pardos eram a grande maioria, 91,6%, sendo que os negros _ repre­ escravos domésticos e "de ganho", que malgrado a fraca urbaruzaçao desta re­
sentavam ape nas 8 4% desta categoria de homens já nascidos livres. Nao deixa de _giao, certamente que deviam ser empregados pelos seus pro�rietários nestas ativi·
ser surpreendente, 'no entretanto, que nesta regiã�, já em �825, havia 74 0 negros dades. Assim sendo, resta-nos concluir que o trabalhador livre, representado so­
que tinham nascido �res, sendo_ que _deste� 1/4 tinha mais de 30 anos em 1825, bretudo pelos 9785 homens e m�eres livres de cor, que não e� nem_ senho� ,
o que vale dizer que tinham nascido livres ainda no século XVlll. nem escravos, devia ser um contingente humano e uma força social multo rruus
o grupo dos libertos é o menos significativo numericamente: �m 1825 significativa do que se tem pensado até ent�o: E qu� toda �se que caracte �e
havia no s. Francisco apenas 331 pessoas pertencentes a esta categooa, sendo esta sociedade como possuindo uma econol'Illa de tipo escravista, peca por s1m­
188 pardos e 143 pretos. Havia 153 homens libertos (46,2%) para 178 mulher1:5 plificação, por desprezar um contingente de�<? gráfico �e mais de 56% da popula·
(53,8%). A leve superioridade dos libertos pardos face aos pretos.e do sexo fenu­ ção regional, populaçao livre que devia participar � o Sistema nem que fosse mar·
nino face ao masculino reflete uma tendência geral de outras sOCledades escravo­ ginalmente . Mas que não eram simplesmente "vadios", como aquela centena de
cratas, onde ser mulher e ser mulata representava maior_ acesso à casa gran�e das indivíduos arrolados na "Descrição Geográfica de Sergipe dei Rei" no ano de
familias senhoriais, consequentemente, maiores oportun1dades do estabe.lecun� ­ 1802.
to de laços pessoais de amizade e favoritismo e a obtenção de cartas de alforna
(30). A baixa porcentagem de libertos na região franciscana (2, 0%) se com�da
com a observada na Capitania (11,4%) revela-nos que certamente as condições
para a obtenção da liberdade nas beiras do rio eram mais dificeis do qu? alhures:
NOTAS
infelizmente também aqui a documentação encontrada n.io permite amda uma
explicação plausível desta diferença. Nao d� de ser surpre?n�e� te, 01;1tromm,
( ., ) Esta pequena comunicação faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre
a porcentagem tao alta _ de in�nuos comparanvam��e. ao baixíssimo numero de
a estrutura e dinâmica da população de Sergipe na primeira metade do século
libertos: por que teria sido mais fácil em tempos pretentos a toda esta população
de ingênuos emancipar-se, se atualmente, em 1825, tao poucos passavam do sta· XIX. Aproveito a oportunidade para renovar meus agradecimentos à FUNDA­
ÇÃO FORD pela dotação que me permitiu realizar esta pesquisa.
nu de escravo ao de liberto? Teriam consciência os cativos de que, a medir pela
l) Relativamente a exportação e importação de cada uma das vilas de Ser­
porcentagem de libertos face ao número de ingênuos, tomava-se cada vez mais
difícil sair do cativeiro pelo caminho da alforria? Seria a atual populaç.fo de ingê­ gipe no início do século XIX, con.sulte,se "Descriação geográfica de Sergipe de!
nuos descendente de poucos casais originais de libertos que pela reproduç.1o na­ Rei", Anônimo, 1802, Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, II, 33-16-3.
tural teriam ao longo de séculos, chegado a representar mais da metade da popu· 2) "Mapa topográfico da Prov�nci� de Sergipe dei Rei", J: J. _Gonne� , re­
produzido por Ivo do Prado, A Capitania de Sergipe e suas Ouv1donas, Rlo de
lação regional? A taxa de concessao de alforria. teria se mantido,_ aumentado ou
diminuido entre o século XIX e os anteriores? Finalmente: bu.scanam os escravos Janeiro, Papelaria Brazü, 19 l 9.
aJJorriados da reg:i!o canavieira preferencialmente as áreas de subsístência das 3) Arquivo Público do Estado de Sergipe (doravante representado pela
margens do S. Francisco, exatamente como estratégia de vida para fugir das pro­ abn,viação APES), Coleção Sebrão Sobrinho, s/class.
ximidades dos canaviais e do estigma da escravid.to? Só a descoberta de novos 4) D. Marcos Antônio de Souza, Memórias sobre a Capitania de Serripe,
sua fundação, população, prody.tos e melhoramentos de que é capaz. (1808).
documentos é que pode responder a tais questões.
Se no conjunto da Capitania, 27,2% das pessoas estavam sujeitas à e$1Ct'él·
A/qçaj.l, IBGE/DEE, 2.ª
Edição, 1944, p. 42-43.
5) Há vários documentos no APES, (pac. 36) que se referem às disputas
vid.to, no S. Francisco esta cifra baixa ainda mais: 18,4% da populaç.10 ribeirinha entre pequenos proprietários e fazendeiros, tendo como motivo os estragos feito
era constituída de escravos, ou seja, 3013 indivíduos. Excluindo-se deste total pelo gado nas Javooras.
854 "inativos", isto é, as crianças de 1 a 10 anos e os anciãos com mais de 60, 6) Relativamente � estes episódios da lústôria de Sergipe, cf. FelJ.sbelo
teremos um total de 2159 escravos na faixa ativa de trabalho (11 a 59 anos) . Freire, História de Sergipe, 2.ª Edição, Editora Vozes, Petrópolis, 1977.
Quer dizer: os escravos representavam 13,2% do total da população residente no 7) O leitor interessado em aprofundar-se no conhecimento da sociedade
S. Francisco. Poderíamos a rigor chamar tal economia de "escravocrata"? Por sergipana do começo do século XIX poderá ler com interesse as seguintes mem<>
existirem 2159 escravos em idade ativa, num total de 13,324 pessoas livres, seria rias: "Descrição geográfica de Sergipe dei Rei" (op. cit.), "Memória sobre a capi­
justo qualificar o escravismo como o modo de produção dominante, ou ao me­ tania de Serzipe" (op. cit.), "Noticia topográfica da Província de Sergipe", 1826,
nos como a relação de trabalho mais característica desta sociedade? Meu ponto I�cio Antôrúo Dormundo, Biblioteca Nacional, Apontamentos para a história
de vista é que n.io . Os dados estatísticos evidenciam que em Sergipe em geral e de Sergipe, 19-4-13; "Informação sobre a Província de Sergipe em 1821 ", José
no S. Francisco em particular, o modo de produção baseado no trabalho escravo Antôrúo Fernandes, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe , ano
coexistia e já nesta época era inferior em termos de braços ocupados na lavoura, I, 1912, p. 46-49.
3 out ros modos de produção, o camponês tradicional e o incipiente modo de 8) APES, ol-1s, Of. do Presidente Silveira ao Ministmo do Interior in·
produção de capitalista assalariado. Este porém é um assunto muito complexo e formando sobre a criação da Junta da Fazenda Póblica, 1824.
:iue está a exigir mais pesquisa e maior desenvolvimento t�rico. Po: ora salien�­ 9) Informação prestada pelo Prof. José Cal.asans Brandão da Silva, autor
mos o fenôllléno: que certamente os 2159 escravos em a idade auva (deste nu­ do trabalho, "Introdução ao esrudo da historiografja sergipana ", apresentado no
mero dever-se-ia ainda descontar os doentes, inválidos, aleijados, táo numerosos V Simpósio de História do Nordeste, Aracaju, agosto I 973.
em qualquer lista de escravos), na:o eram suficientes para ativar toda a economia
83

Nova, pedindo a criação de um Regimento de Infantaria miliciana de homens


O) Fontes para a elaboração do Quadro I:
pardos livres, 1824.
1802: "Descrição geográfica de Sergipe del Rei" (op. cit.) 24) "Têm os malfeitores crescido e são quase todos homens de cor porque
1808: "Memória sobre a capítania de Serzipe" (op. cit.) o SecreUrio (do Governo de Sergipe ), Rebouças, homem pardo, es tem dou trina·
1825: "Mapas exatos da população das freguesias de Vila Nova, Propriá,
do e persuadido que todo homem pardo ou preto pode ser um general e eles tão
Porto da Folha e Pacatuba", APES, pac. 114-115.
ufanos têm se feito que altamente falam contra os brancos, chamando-os de caia­
1829: Idem, ibidem dos e já deixam de guardar aos constituidos m dignidade aquele respeito que até
1) D. Marcos A. Souza, op. cit., p. 42. , 1
então guardavam ... , Arquivo Nacional, IG , 105, Oficio de João Simões dos
2) Mott, Luiz R. B., "Brancos, pardos, pretos e índios em Sergipe: 1825-
Reis a José Francisco de Sales, 6-7-1824.
830", Anais de História, ano VI, 1974, p. 161-170. 25) D. Marcos A. Souza, op. cit, p. 40
3) D. Marcos A. Souza, OE· cit., p. 42.
26) APES, G l , 580, Ofício do Sargento Mor de Vila Nova ao Presidente,
4) . Da'!tas, Beatriz G., "Indios e brancos em conflito pela posse da terra
!Udeia de Agua Azeda, século XIX)", Anpi§_do VIII Simpósio Nadonal dos Pro­ 9-12-1827.
:ssores Universitgrios de História!. val.. II, 1976, p. 421-452. 27) n.
Arquivo Nacional, Caixa 142, Representações, pac. 3, 170, Vila No­
"Ao romper da aurora do dia 3 de abril de 1823, aportaram a esta znis. va, 7-3-1827.
?)
10 de �- P�o do Porto da Folha os índios da missão de Aguas Belas, perten• 28) APES, pac. 585, 18�4.
.
mtes a cap1tarua de Pernambuco, com seus oficiais maiores e inferiores dizendo 29) Mott, Luiz R. B. "Pardos e Pretos em Sergipe: 1774-1851 ",Revistado
1e abandonaram a Missão por motivos justos. .. Por ora só tomei conh'ecimento
l?tStituto de Estudos Brasileirof.L N. 0 18, 1976, p. 7-37.
? 60 arcos. Esta missão consta de 30 arcos, motivo porque não lhes impedi a en­
30) Schwartz, S. "A manumissão àos escravos no Brasil Colonial: Bahí.a
ada. Vossa Excelência mandará o que for )..isto", informava o vigário -missioná­ 1684-1745", A1r1is de História, ano VI, 1974, p. 71-114; Mattoso Kátia Q. "A
o de Porto da Folha ao Presidente. Apes, pac. 114. propósito de cartas de alforria, Bahia, 1779-1850", Anais de História' ano N,
I 972, p. 23-52.
5) Fontes para a elaboração do Quadro IV:
1802: "Descrição geográfíca. de Sergipe del Rei", (op. cit.)
1825: "h:apas exatos da população de Sergipe" (op. cit.).
s cores dos habitantes da segunda data foram calculadas a partir da estimativa
·opo � por nós no trabalho "Brancos, pardos, pretos e índios: 1825-1830"
rp. Clt., p. 1 S2).
1) . "Epidemias, mortalidade e vacinação anti-variólica em Sergipe no sécu·
ª
XIX", comunicação apresentada na 29. Reunião Anual da SBPC, S. Paulo,
>77.
3) . Dantas, Beatriz G. "Subsídios à história da antiga Missão do Gero"1 Co-
_
umcaçao apresentada no V Simpósio de História do Nordeste' Araca,-, ;,, Agosto
>73.
>) Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos' 19-4-13' "Apontamentos
ira a história de Sergipe", Ordem de 14-1-1826.
)) Mott, Luiz R. B. "População e Economi.a: o problema da mlo de obra
crava em Sergipe", Comunicação apresentada na 28. 3 R81JJlião Anual da SBPC'
-asilia, Julho 1976.

) Ar'f,1ivo . Histó��º. Ultramarino {LJG), Sergipe, Caixa 3, ofício de


;.s-1822: O Jwz ordinário � Vereadore.s de V"lla Nova dingem-se ao Supremo
mgre.sso, Altas Cor:es da naçao portuguesa, pela mão de Deus unidas para a saJ.
ção do � escol1!,Jdo povo: causa dó, luto e pranto ver nesta vila tantas faml­

quela ingrata província, sem mais outro crime do que s:r


-s expatnadas, demando todos os seus bens uns e outros deixando a doce vida
europeu•.. ,, A re:spei·
do sentimento anti-lusitano em Sergipe, consulte-se Maria Thetis Nunes,
. _1!º
,e�grp � proc�o de Independência do Brasil", Comunicação apresentada no
.
SunpOSJo de Hist6na do Nordeste, Aracaju, ago.rto 1973.
!) R eVista do Instituto Histórico e Geournfico
ºº ""' ·o·rv, 1919, p. 318 ,·
de Senri.,..,,
>ES, Gl, 580.
:) APES, pac. 585, Requerimento do pardo Manoel Antônio do VaUe Bar­
ª
,sa, tenente da 5. Companhia do Batalhão de 2.ª Linha de Caçadores de Vila
IV

Estatísticas e Estimativas da População de Sergipe Dei Rey de


1707 a 1888

Duplo é o objetivo desta comunicação: primeiramente chamar a atenção


dos estudiosos para a existência de diversas fontes, tanto impressas como manus­
critas, que podem nos informar a respeito de dados demográficos de base (esta­
tísticas e estimativas} para o estudo da popuJaçáo do Brasil do passado; em se­
gundo lugar, fornecer uma lista t!o completa quanto possível referente à dináini­
ca da populaçáo da Capitania e Província de Sergipe durante os séculos.XVIJI e
XIX.
Não resta dúvida que qualquer estudioso de demografia histórica ou de
história demográfica do Brasil, notadamente quando interessado no século XIX,
deve iniciar sua pesquisa consultando duas obras basilares: Investigação sobre os
recenseamemos do lmoério e de cada Província de per si tentados desde os tem­
pos coloniais até hoje. de autoria de Joaquim Norberto de Souza e Silva (Rio de
Janeiro, Ministério dos Negócios do Império, 1870), e Resumo Históriéo dos in­
quéritos Censitários realizados no Brasil , publicado pela Diretoria Geral de Esta­
tística, (Rio cte Janeiro, 1922}. Estas duas obras constituem uma espécie de "va­
demecum" dos pesquisadores da populaçáo do Brasil notadamente durante o pe­
ríodo proto-estatístiro.Contudo,embora importantes e básicas, tais obras não se
pretenderam nem podem ser tomadas como exaustivas e completas, posto que o
livro de J.N. Souza e Silva (que aliás foi amplamente utilizado no Resumo Histó­
rico) refere-se quase que exclusivamente às estatísticas populacionais e recensea­
mentos impressos que existiam na capital do Império antês de 1870, dados estes
que na sua maior parte foram coletados nos Relatórios dos Presidentes das Pro­
vínc:ias e nos Relat6rios do Ministério dos Negócios do Império. Assim sendo,
tais obras quando pesquisadas a fundo, revelam�e bastante incompletas e limita·
das. Eis uma prova: J.N. Souza e Silva reveJa a existência de 10 censos referentes
A Província de Sergipe, o primeiro datado de 1816 e o último, de 1869;a Direto­
ria Geral de Estatística, por seu turno, arrola um total de 11 censos, o mais anti­
go também de 1816 e o último do século XIX, datado de 1890 (cf. páginas 73-
77 e 481-483, respectivamente). Até o presente, já conseguimos encontrar 24
estatísticas e estimativas da populaçáo total de Sergi pe, sendo 3 referentes ao sé­
cu.lo xvm. Note•se que se acrescentarmos a este número as estatísticas que se
referem somente à população escrava, disporemos en�o de um total de 30 refe­
rências sobre a popuJaç!o sergipana no período que vai de 1707 a 1888. Embora
as obras supra-<:itad.as vez por outra refiram-se às imprecisões e !alhas de alguns
dos recenseamentos, ambas deixam de f�r urna crítica sistemática aos censos e
estimativas que arrolaram, atribuindo valor igual à informações por vezes díspa­
res e visivelmente contraditórias. Eis outro exemplo: que creclit.J.idade pode ter a
estimativa de Saint-Adolphe &Lopes de Moura, quando chegam a afirmar a exis­
tência do inverossímil número de 25.000 índios em Sergipe no ano de 1839, sen­
do que durante todo o século XIX a população indígena desta PrOYinc:ia nunca
deve ter ultrapassado a casa dos 2.500?1 Por que teriam deixado de desmarcarar
o cálculo exagerado feito pelo Senador Thomaz Pompeu de Sol128 Brasil (1869)?
87

1775 - "Mapa de todas as freguesias a que pertencem ao Arcebispado da Ba­


Nosso objetivo ao fazer estas ressaJv� s �o é men�bar estas duas hia", in Almeida, E. C.: Inventário dos documentos relativos ao Brasil
ras, mas advertir os pesquisadores de nossa histo� demográfi� que os recen- existentes no Arquivo da Marinha e Ultramar de Lisboa, Rio de Janei­
1mentos do Império e de cada Província de per S1 s.fo bem �s nu� osos e ro, 1916, vol. IV (doe. 8750).
cigos do que as duas publicações supra-citadas fazem crer. E fica aqw o nosso 1780 - "Mapa ela enumeraç&o da gente e povo desta Captania daBahia", in AJ.
elo: tratando-se de dois livros extremamente raros, em _vt:z. de _p�por suas�­ meicla, E.C.: op. cit. (doe. 10701).
ições, estimulamos aos estudiosos. qu� ampliem � atualizem cnticamente a _ m­ 1802 - Anônimo: Descrição geográfica de Sergipe, Biblioteca Nacional, Seç.fo
stiga�o sobre os inquéritos c�tanos do Brasil, _ of��end<:�� s em seguida de Manuscritos II - 33, 16,3.
l trabalho mais completo e exausuvo sotre nossa histona cen.suana. 1808,a Souza, D. Marcos Antonio de: op cit., p. 44.
1808,b "Memória cíereci.da ao Marquês de Caravelas", in Resumo Histórico dos
Inquéritos Censitários realizados no Brasil, Rio de Janeiro, Diretoria
POPULAÇÃO DE SERGIPE: 1707-1888 Geral de Estatística, 1922.
1815 - Gonnet, J. J.: Mapa Topográfico ela Província de Sergipe del Rei" in
Prado, Ivo do: A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias, Rio de Janei­
Ano Livres Escravos Total ro, 1919.
1816 - Conselheiro Antonio Rodrigues Velloso de Oliveira, in Souza e Silva,
1707 17.169 J. N.: Investigação sobre os recenseamentos do Império e de cada Prr>
1775 16.454 vinda de per si tentados desde os tempos coloniais até lwje. Rio, Minis·
1780 54.005 tério dos Negócios do Império, 1870.
1802 36.234 19.434 55.668 1819 - Idem.
1808, a 72.236 1821 - Fernandes, J. A. "Informa�o sobre a Província de Sergipe em 1821 ",
1808,'b 75.061 Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ano I , n.0 1,
1815 75.669 1912, p. 46-49.
1816 91.997 1823 - "Memória Oferecida ao Marquês de Caravelas", in Reswno Histórico
1819 88.783 26.213 114.996 dos [TllJUéritos Censitários realizados no Brasil, Rio de Janeiro, Direto­
1821 114.916 ria Geral de Estatística, 1922.
1823 88.000 32.000 120.000 1825 - Gonnet, J. J. "Mapa Topográfico da Província de Sergipe del Rei" in
1825 101.928 Prado, Ivo do, op. cit.
1829 140.512 1829 - "Mapa remetido pelo Presidente Manuel de Deus Machado ao Ministério
1834 112.640 47.812 160.452 do Império, ofício de 30/5/1829, in Galva:o , M: A. Apontamentos pa­
1837 128.000 ra a História de Sergipe, Biblioteca·Nacional, Seç.to de Manuscritos, 19-
1839 167.397 4-13.
1848 134.454 1834 - Mapa Estatístico da Província de Sergipe, enviado pelo Presidente Joa­
1849 137.743 quim G. de Morais Navarro ao Ministério do Império. Aiquivo Nacional,
1850 163.696 55.924 219.620 Cx. 761, pacote 1.
1851 166.426 56.564 222.990 1837 - Revista Estatística Financial do Brasil, Londres, 1837.
1854 100.192 32.448 132.640 1839 - Saint-Adolphe, J.C.R.M. Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo
1856 101.383 32.741 134.124 do Império do Brasil Paris, Aillard, 1845.
1863 200.000 1848 - Relatório do Presidente Zacharias de G6es e Vasooncellos, 1/3/1849, in
1869 230.000 50.000 280.000 Resumo Histórico dos Inquéritos Censitárlos realizados no Brasil, op.
1872 153.620 22.623 176.243 dt., p. 481
1877 32.974 1849 - Quadro da Populaça-o Livre da Província de Sergipe no ano de 1849.
1881 26.381 (Relatório do Presidente Amâncio Joo'o Perei-a de Andrade, 1/3/1850).
1883, a 27.254 1850 - Mapa Estatístico da Populaça-o Livre e �Ja Prolincia de Sergipe, no
1883, b 26.190 ano de 1850 (Relatório do Presidente Amâncio Joio Pereira de Andra­
1888 283.112 16.888 300.000 de, 11/1/1851).
1851 - Mapa Estatístico da Populaça-o Livre e Escrava da Província de Sergipe
::>NTES no ano de 1851 (Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira e Sil­
va, 8/3/1852}.
107 - Souza, D. Marcos Antonio de: Memória sobre a Capitania df Serzipe, 1854 - Mapa Estatístico da Populaça:o Livre e Escrava da Província de Sergipe
sua ftmdat;ão, populaçãO, produtos e melhoramentos de que e capaz. A- por Comarcas, Distritos de Subdelegacias e Quarteirões em 1854 (Presi-
racaju, IBGE/DEE, 2.a. ed., 1944,p. 38.
dente inácio Joaquim Barbosa, 9/10/1854). Arquivo Público do Estado
de Sergipe, pac. 287. V
b - Mapa da Popula�o Livre e Escra� da �rovincia d� Sergipe, o��o
pelo Tenente-Coronel Manuel Diruz Villas-�as, � Resumo Hzstonco
dos Inquéritos Censitários realizados no Brasil, op. cit., p. 481 Relação Nominal dos ,índios de Sergipe Dei Rey, 1825
3 - Relatório do Presidente JÓaquim Jacinto de Mendonça, 4/3/1863.
:, - Calculo do Senador Thomaz Pompeu de SoU7.a Brasil, in Compêndio
Geográfico, Rio de Janeiro, 1869, apud Souza e Silva, J. N. Investiga­
ções sobre os Recenseamencos dJI População Geral do Império e de cada Calcula-se que quando Cristóvão de Barros conquistou- as terras deSer­
Província de per si, tentlldos desde os tempos coloniais até hoje. Rio, gipe em 1590, sua população indígena devia atingir por volt.a de 20.000 indiví­
Ministério dos Negócios do Império, 1870, p. 77. du� (1). Apesar de derrotados, capturados e massacrados, o certo é que uma pe­
2- Recenseamento Geral do Império do Brasil, Província de Sergipe. quena p arcela de �ndios soh �eri aos séculos posteri°!°es �a colomzação, �he­
7- Relatório do Presidente José N'.artins Fontes. A
gando mclusive ate os nossos dias, malgrado a permanenc1a, amda em pleno &eCU·
l - Relatório do Presidente Luiz Alves de Oliveira Bello lo XX, de grandes oposições pqr parte dos latifundiárioe, que pretenderam apo·
3- Relatório do Presidente José Aires do Nascimento. derar-se do pouco de terra que lhes subsistiu (2).
S- Relatório do Presidente José de Calazans B. França. t, sobretudo, referent.e ao Século XIX que di.s_pomos do maior número
3- Relatório do Presidente Olímpio M. dos Santos Vital. de documentos e informações sobre tal grupo étnico. De acordo com Luís dos
Santos Vilhena, em sua Recopilação de Notfcias Soterop9litanas e BrasfliC!lS
(1802). Os _índios de Sel]We estavam distribuídos em cinco núcleos, pertencen­
Jo aos seguintes grupos: (;;S)

Nome dJI aldeia Naçffo do gentio

l. �a Azeda Boimé
2. Gero Kiriri
3. Japaratuba Boimé
4. Pacatuba Caxago
5. Porto da Folha Uruna

Desde 1758 a aldeia de Geru, situada a sudoeste de Se�pe, gróxima ao


Rio !leal, é convertida em vila, passando a denominar-se desde então Nova Tho­
mar" ou s�plesmen te, ''Tbomar do Geru ", de modo que strictu sensi, durante
o século XIX existiam emSerrpe apenas quatro aldeiamentos ou missões, asa­
ber: Nossa Senhora da Fé de Agua Azeda, situada aproximadamente 5 léguas de
S. Cristóvão, capital deSergipe até 1855;São Pedro do Porto da Folha eSão Fé­
lix da Pacatnba, ambas localizadas na região do Baixo S. Francisco, e NossaSe­
nhora do Carmo de Japaratuba, distante duas légu as do centro administrativo e
político da Capitania.
Sempre que referidos, quer nos documentos oficiais, quer nas Memórias
e Descrições consagradas aSergipe, os índios recebem adjetivos os mais negativos
e desmerecedores. Eis como um autor anônimo em 1802 e um ex-vigário de uma
freguesia Sergipana (Pé-do-Banco), em 1808, descreveran1 a índole dos índios de
cada uma destas aldeias, respectivamente:
AGUA AZEDA
"Estes índios são preguiçosos, como naturalmente são todos; ébrios, va·
dios e que fazem grandes desordens e perturbações na Cidade (S. Cristóvã'o); sua
lavoura é insignificante, que apenas lhes chega para urna escassa sustentação".
(4)
o 91

"Estes índios, bem como os outros, são muito indolentes, vivem sempre Cunha de Azeredo Coutinho, no seu famigerado Ensaio Econômico sobre o Co­
Tantes, sempre prontos para acompanharem os cabos da justiça logo que lhes mércio de Portugal e suas Colônias . (15), asmn pôstulava a respeito do melhor
ão al m sustento ou p�lo seu, néctar ��licioso que é aguardente. E�es �ea:�n­ aproveitamento ifa mio-de-obra ameríndia:
entesgudos selvagens Tupmambás, que� vagahw:idos nesta cap1tarua, am­ "Para se civilizarem os índios do Brasil se têm já feito alguns trabalhos,
a hoje nã:o conhecem as doçuras óo direito de propnedade, bem como seus des­ mas at.é agora debalde ... O índio1 · selvagem entre a raça dos homens parece anfí.
mdentes; ná:o estão civilizados em quase três &éculos que habitam entre os por• bio, parece feito para as águas: é naturalmente inclinado à pesca, por necessidade
1gueses, nem têm abraçado a ordem civil e social que entre os mesmos se man­ e por gosto. Esta é a sua paixão dominante, e por consequência, a mola real do
ou estabelecer". (5) seu movimento. � por esta parte que se deve fazer trabalhar a sua máquina, em
benefício comum dde e de toda a sociedade ... Estes povos civp.izados pela pesca·
PACATUBA ria sairão marinheiros hábeis p ara a nav�ação daquela costa e do comércio recí­
"As produções destes índios mal chega para a sustenta.ç4"o ddes. Ser­ proco de umas para outras colônias ... Alem d.e hábeis marinheiros e pilot-OS, sai­
� de tangedores de gados e aos moradores brancos das fazendas circunvizi­ rão muitos artífices para o serviço da marinha, c�inteiros, calaíates, ferreiros,
has". (6) etc, e des� sorte, aqu��- índio _ sel��em que até �ra n �m para� presta!�•
"As índias são muito cheias de simplicidade e inocência, porém os ín­ atravessara os mares, Vira um dia he1Jat aquela benéfica mao que o tirou da mdi­
ios vivem errantes e esta é a causa de sua pobreza. Alguns se ocupam na caça ou gência, que por meio do sal o fez pescador, marinheiro, mestre, piloto, artífice,
a pesca, e isto mostra que ainda vivem inclinados ao estado selv agem. Os lavra­ comerciante; numa palavra, cidadfo e um membro útil à sociedade".
ores vizinhos experimentam grande detrimento da parte destes índios tão pou­ � f>OÍS com vistas a fornecer à Corte o panorama da população indígena
o industriosos". (7) que eventualmente poderia ser recrutàda para ãMarinha, quê o·President.e envia
a 11 de Junho de 1825 uma relação de todos os índios existentes em Se�pe, re­
JAPARATUBA lação esta _P.e constitui o principlll_ohjeto deste ensaio. Tal documento, mtitula­
"Todos estes índios se ocupam em servir aos moradores brancos em tan· do RELA<,;ÁO DOS 1NDIOS EXISTENTES NESTA PROvmCTA DE SERG. e
,dores de boiadas, nas roças a jomal, se bem que sa'o vadios e vivem da caça e da DE EL REY · COM DECLARAÇÃO DE SEOS NOMES OCCUPAÇOES, ESTA­
lhagem dos çados das fazendas circunvizinhas". (8) DOS, IDAD É S E RESIDfNCJAS, EXIGIDA POR PORTARIA DA SECRETA­
"Os mdios de Japaratuba vivem errantes e por serem imorigerados, �r· RIA DE ESTADO DOS NEGOCIOS DA MARINHA EM DATA DE 11 DE FE­
,m de muito gravam e aos seus vizinhos". (9) VEREIRO DESTE ANNO (1825), encontra-se no Ar ivo Nacional, na Seção
dos Ministérios, Catalogado sob o número "X-M-67!f, '. Salv·o erro, constitui a
PORTO DA FOLHA única relação nominal abrangendo toda a populaçio aborígene de Sergipe. Cum­
".É de pouca consideraçâ'o a lavoura destes índios, e os seus mi.smonários pre notar, no entretanto, que destinando-se a fins militares, tal relação enumei:a
1dam sempre inquietos pelas perturbações dos mesmos índios e pelas intrigas apenas a população masculina, o que infelizmente nos dá um perfil limitado des­
te segmento demoG1'áfico do Século XIX.
os moradores".(10)
'"Éstes índios são muito indolentes. Vivem da
1oca que_plantam nessa pequena ilha de S. Pedro". (11)
eesca e muito pouca man- Vejamos inicialmente algu ns detalhes sobre tal documento.
Os índios aparecem arrolados por localidades começando por Geru
Como se pode notar, além de serem acusados de pouco laboriosos, os Água Az�da? Missão deJaparatuba, l'v�o �e Pacatuba, �ão de São Pedro. Pa�
1dios eram constantemente condenados como perturbadores da ordem e sosse­ ra cada mdio são oferecidas as segumtes mfonnações, conforme consta nestes
> públicos, responsáveis inclusive por certas façanhas de grande ousadia e cora­ exemplos que passamos a transcrever:
�m, como o episódio ocorrido em dezembro de 1826, quando mais de 300 ín- "N. 0 1. 0 - Antônio da Rocha, casado, 22 anos, sem ocupaçâ'o.
1os de Pacatuba entraram agressivos e a1T11ados em Vila Nova, arrombaram a ca­ n.o 2. 0 -JoaquimJosé, casado, 34 anos, sem ocupação.
eia libertando em seguida o Sargento Mor da Missão e outros índios que esta­ n.o 6. 0 - Manoel Ferreira Vieira, casado, 35 anos, lavoura.
uu presos por ordem da autoridade municipal (12). Foi certamente numa tenta· n.o 12 -José de Deus, casado, 25 anos, sapateiro."
va de ir neutralizando a ação violenta dos grupos indígenas e ao mesmo tem,Po, De acordo com tal relação, o número total de índios do sexo masculino
:ntando-se aproveitar economicamente tal opulação numa atividade rentavd. de Sergipe, entre 1 e 90 anos, era de 625 indivíduos (16). Tais indígenas distri­
ara a Coroa, que o Imperador expediu, aos r1 de Fevereiro de 1825 uma Porta­ buíam-se nas seguintes localidades na seguinte proporçâ'o:
a solicitando ao Governador da Província Manoel Clemente Cavalcante de AJ.
t1querque, que Lhe enviasse uma relaç ão de todos os índios existentes em Sergi­
e (13), determinação que é completada por uma portaria de 5 de agosto do População Indígena Masctrlina de Sergipe, 1825
,esmo ano, na qual determina "qu e se remetesse para o Serviço do Arsenal da
larinha dessa Corte e dos Navios aa Annada Nacional e Imperial, o maior núme· Localidade
> possível de índios existentes na Província que estejam nas circunstâncias de População Porcentagem
:rem semelhante aplicação". (14) Pacatuba 241 38,6%
Não era de todo nova a idéia de se apr oveitar os nativos para as lides Geru 219 35,0%
,arí\imas. Já em 1794. o ilustre prelado de Pernambuco, D. José Joaqu.im da Agu a Azeda J 03 16,5%
93

São Pedro Porto Folha 54 8,7% Grupos Etários da População Indígena Masculina de Sergipe - 1825
Japaratuha 8 1,2%
TOTAL 6 25 100,0% Total Porcentagem
Grupos de Idade
1 a 15 anos 218 36,4%
16 a 60 anos 366 61,1%
Tratando-se de um levantamento populacional em que são registrados
rios dados identificadores de cada indivíduo, de a ldeia por aldeia, tendemos a
61 a 90 anos 15 3,5%
conhecer que certamente se trata de uma informação mais fidedigna do que as TOTAL 599 10 0,0%
timativas gerais ap �ntadas por �tt:a6 fontes, �mde seus aul?res se co_ntentam
n assinalar a p opitlaçao tot.al dos mdíge.� Assim �do, crei? qu� as, infof!D&· Infelizmente nli'o temos elementos para saber com exatidão se as crian­
,es disponíveis sobre a população a.men ndi� �e Sergipe n� tres pnme1ra.s d�­ ças com idade inferior a 12 meses foram computadas no grupo de 1 ano, ou se
IS do século XIX devem ser repensadas e cnbcadas a a� desta relaç{o no�- desprez adas na contagem, posto que na "Relação" a menor idade assinalada foi

11 de 1825. Como tudo faz crer que a razão de m�irudade nutc grupo pre­ um ano. Se aglutinarmos os grupos de idade dos índios de 10 em 1 0 anos, com­
althusiano devia ser igual a zero, se acrescentarmos a relaçfo dos_h_om�ns o su­ parando-os com os grupos de idade de toda a população da Província de Sergipe,
>sto e provável �úmero id�nti:o de m�eres, no�ir: os que _vanas in_!onna­ entre 1825-1830, notaremos que, se yor um lado as crianças e jovens com me­
ões relativas ao numero de indígena das diferentes mlSSoes sergipanas nao pas­ nos de 20 anos apresentam entre os indios uma superioridade de 2,3%, face a
m de grosseiras estimativas, ou então, seguiram critérios clauificatórios distin­ mesma categoria etária da população totaJ da Província, em contrapartida, a par­
s deste levantamento oficial. (17) tir dos 41 anos, a mortalidade entre os ameríndios era muito mais elevada: havia
21,5% de sergipanos entre 41 e l 00 anos, enquanto que cm 1825, apenas 13,5%
População Indígena de !-ergipe, 1798-18.'lO dos índios pertenciam a este grupo etário (21).
No sentido de oferecer aos especialistas em demografia histórica ou his­
tória demográfica um quadro completo das idades deste segmento populacional
<alidade 1798 1802 1808 1822 1825 1825 1826 1829 1830
indígena, transcreveremos a seguir a distribuição destes a meríndios agtutinando­
;ua A:teda 240 317 40 206 os em grupos etários de 5 em 5 anos:
.ru 120 4458 479 425 438 425 456 338
;,.iratuba 240 94 30:) 213 16
�tuba 466 541 700 494 482
o Pedro 250 231 300 127 108 139 Grupos Etários da População fndígena C\lasculina tle Sergipe, 1825
'OTAL 1316 164] 1250
Grupo& d1> Idade Total Porcentagem
la5 62 10.3%
Como se pode constatar, a principal diferença no total da popul aç ão das 6 10
a 9J 15,5%
ferentes localidades aparece na missão de Japaratul,a, pois pela relação de 11 15a 6.3 10,5%
:25, constava existirem aí apenas 8 indivíduos do sexo masculino, enquanto ló a 20 77 12,8%
te pelo Mapa estatístico da missão enviado dois meses antes pelo Missionário 21 a 25 66 11, 0 %
>cal, constava haver 111 índios do sexo masculino. (18) Como temos notícia, 26 a 30 79 13,2%
ravés dos "Apontamentos para História de Sergipe", �e autoria de M.A. Gal­ 31 a 35 42 7,0 %
o, cre a missão de J apara tuba "não conse!Va mais índio al gu m desde o ano de 36 a 40 33 6,1 %
125 (19), somos levados a supor que ou os 213 índios ex1Stentes em abril de 41 a 45 21 3, 5 %
125 foram removidos para algu m outro sítio, restando menos de duas dezenas
46 a 50 25 4,1 %
moradores em junho do mesmo ano (data da "Relação"), ou então, os ccité­ 51 a 55 10 1,6%
>s utilizados nos dois arrola mentos foram total mente divergentes, o primeiro 56 a 60 L3 2,1 %
ais abrangente, computando a população amestiçada na categoria de 1n<lios, o 61 a 65 s· 1 3%
66 a 70 3 o:5%
, ndo, mais estrito, deixando de arrolar a _população cabocla.
ro . • 71 a 75 2 0,3%
No que se refere a composição etaria, tal era o panorama dos cinco nu- 76a 80
�os de índios de Sergipe no ano de 1825: ( 20) 8J a 85 l 0,1 %
86 a 90 l 0,1%
Total 599 100,0%
j

95

Além da idade, outra infonnação existente na "Relação" e o estado ci­ Este quadro sugere-nos al gumas observações: primeiramente, a questão
J dos índios. Eis como se distribuía a população masculina no que se refere à da variabilidade ou falta de uniformidade nos critérios censitários utilizados pe­
tuaçâo conjugal: (22) los diferentes vigários quando arrolaram os índios de suas missões. Com toda cer­
teza os 172 índios de G-eru declarados "sem ocupação" deviam dedicar-se a al­
gu.11; tipo de lavoura ou criatório, pois seria de todo improvável que apenas os 7
Estado Civil da População Indígena Masculina de Sergipe, 1825 i ndios arrolados como lavradores produzissem o suficiente para sustentar 78 5%
dos índios restantes apontados como desocupados. Tudo faz crer que o vigirio
189 45,3% de G:eru (que nesta época era o Padre FranclSCo !homaz de Moura) deixou de
Solteiros
207 conS1de � como lavou!8 � peq,uei_w roças de pohcultu�a de subsistência, consi­
Casados 49,6% .
21 derando sem ocupaçao aos mdios ocupados neste m!Ster. Tal imprecisão no
Viúvos 5,1%
arrol�ent<:> das ocupações (suh-co?ta�'!' dos agricultores) vicia os re&Ultad os
417 _
Total 100,0% elohais, po � de um total de 549 indíos com idade superior a 7 anos apenas
�l, 5% exerc�m uma ocup�ç�o, ;�, repetimos, certamente viciada pdos crité­
nos preconceituosos do ml.SSlonano-recenseador, que menosprezou o número
de índios ocupados nos trabalhos de eito. (24)
Considerando-se que mais de 60% dos índios casad� s �o na �ma �e
1-35 anos, podemos considerar bastante alta a taxa_ de celibatanos p 018 os m­ • (?utra ohserv �çã? que este quadro das ocupações nos sugere, é o nítido
os solteiros com mais de 35 anos representam aproxunadam�nte . 1?% da p�u­ predomuuo entre os indi ?5 de Ser�e de �alhos l�dos ao setor primário:
_
36, 3% dos homens das m1SSOes dedicavam-se a lavoura. Embora na maioria das
t .
;.ão total. difícil saber o motivo de tão devada tau de celibatart�� - a.msco
tribos ameríndias, pela divisão sexual do trabalho cabia às mulheres o cuidado
na hipótese: quem sabe se _devido à de�turaç(o da cuJturs tradicional ame·
Jdia provocada pel� coloruza�o, as pnm! tiv� estruturas elemen� de p�en· da maior parte das lide$ agrícolas, com a colonizaçio tanto o índio como O afri.
. cano, tiveram que sujeitar-se ao trabalho agrícola, co�partilhando c�m as mulhe­
sco tribal se desarticularem, VIVendo os mdios naquela epoca uma utuaçao de
omia ou de indefinição de novas regras de aliança conjugal? res o que n:is suas c!-'lturas tradicionais era atributo sexo feminino. Quanto aos
Concluindo esta análise da ''Relação" dos índios de Sergipe, vejam05 produtos e as quantidades do q_ue colJtiam, D . Marcos Antôrúo de Sousa e O Au­
1e elementos podemos descobrir a partir da lista de ocupações dos mesmos ín­ t�r �ô�o áe 1802 já nos ofereceram um panorama de cada uma destas mis­
:is. (23) soes md1genas (c�. notas 4 e seguintes).
Após a lavoura, a pescaria representa a principal ocupação destes nati­
\O�: J 5, 8% ?OS índios de Sergipe em 1825 dedicavam-se à pesca. Situadas no Bai­
Ocupações da População Indígena Masculina de Sergipe, 1825 "' º �- Franc_lSCo Pacatuba e Porto da Folha ainda hoje dependem grandemente do
.
n� como Vll d� transporte e fo�te bB;Silar ela su�Jstência {peixes e crustáceos).
��o de n�ta e o fofo de que Jª na epoca desta Relação não constava existir
Ocupação Geru A.Azeda Japaratuha Pacatuba S. Pedro Total indios que tive�m a �a �orno oc �paç _ão erofissional, P?Sto que, como se sabe,
2 214 a base eco?ôm1ca da ma.iona das tribos indigenas do Brasil fundava-se na �cul­
lavoura 7 89 116 tura de corvara, na caça, na pesca e na coleta. A ocupação dos terrenos circun­
pescador 1 56 36 93
2 2 �antes das �deias _ por la�ouras de cana ou por pastos de cria tório já era uma rea­
criador lidade dramabca na oc&SJilo deste recenseamento, não mais havendo certamente
2 2
serrador abundáncia �e ca �a que ju��casse sua referência nesta "Relação".
carpina 1 l .
Dois mdios da J\•lissao de S. Pedro do Porto da Folha são indicados co­
ferreiro 3 3
mo � ria_dor �, en:ibora os crorústas relatassem, para o começo do século que mui­
sapateiro 8 l 9
l l tos ind1os serviam de tangedores de gados dos brancos". Além d estas ocupa­
jornaleiro ç�es, al_guns Ín?ios dedicam :� aos se�i 9os: marinheiro, c<_>rreio, jo�aleiro (?ia­
alfaiate 6 2 8
l l nsta). Outros, as artes ou <.>fic1os rnecamcos: serrador, carpma, ferreiro, ped reuo.
pedreiro Ohseive-se que destes serviços, os que aparecem com maior freqüência sio os sa­
marinheiro l 1
2 3 pateiros e alfyia
_ � e� (9 e � índios, �spectivamente) - o que nos leva a �1lpor que
correio embora ta.is _i �dw1duos amda mantivessem !1iguns elementos tradicionais de sua
estudante l 1
cultura P!1?11hva, como o uso do arco e flecha, não obstante, já deviam ter incor·
sem ocupação 172 5 184
6
1 porado vanos elementos da cultura material dos colonizadores, pois só em Paca­
doido l
76 tuba, para �ma �op �lação de aproximadament.e ?00 indivíduos, havia 8 sapatei­
crian4,:<1s 37 10 2 20 8
ros e 6 alfaiates md1genas, perfazendo uma media de um artesão servindo de 60
219 10� 8 241 54 625
TOTAL a 80 pess<.>as, respecth �a!'11ente (neste número incluídas as crianças). É também na
n:1CS1?"ª missão ?e?· FellX da Pacatu�a. onde v�mos encontrar a indicação da exiir
Lencui de um 1nd1os chamado Antoruo Procopio, com 9 anos, que tinha como
97

:ueação "estudante". Trata-se de um fato insólito e extremamente precoce na ção, População, Produtos e Melhoramentos de que é capaz. Aracaju, IBGE!DEE,
storia de Serg!.pe, pois nos �ea?os do Século XIX, num lcvantament<:? ef�tuado 2. a Edição, 1944,. p. 18
n 17 localidaaes desta Provmcia, para um total de 615 alunos de pnmeJJ'8S le- 6) Bibl. Nac. S. Manusc. I1-3J,16,3, fL 14
as, enCO!ltl:amOS apenas dois índios (�5). 7) Souza, D.M.A , op . cit. p. 41-42
, .
A !?"isa de conclusão, g�-tanamos de fazer ao menos uma rap1da aJusao
_ 8) BibL Nac. S. Mansr:. II-33,16,3, n. 7
onomástica destes índios, posto que estamos analisando Qma relação que os 9) Souza, D.M.A, op. cit p. 38
,resenta_pelos nomes. 10)BibL Nac. S. Man.sc. Il-3J,16,3, 11. 14
(Juanto aos prenomes, encontramos praticamente a mesma tendência de 11)Souza, D.M.A op. cit p. 43
:nominação predominante d aqu ela época, ou seja, a reQ.etição dos nomes dos 12) Mott, Luiz R.B. "Brancos, pardos, pretos e índios em Sergipe: 1825-1830",
ntos, com grande preferência pelos prenomes Antônio, Franc�o, J�ão, J�. e f!nais de História, ano 6, 1974, p. 167
anoel. Muito comum era o uso de nomes duplos, como Joao Jose, Antõruo 13) Arquivo Nacional, X-M-67, Of.O de 11/6/1825
aiz t\lanoel Cipriano, José Vicente, etx:. Não aparece nenhum índic- -;om nome 14)ArquivoNacional, X-M-67, Of.Ode 24/9/1825
ab�o, muito embora tenha havido casos em Sergipe, como no resto do Brasil, 15)Coutinho, J.J . da Cubha Azeredo: Obras Econômicas SP, Cia. Ed. Nacional,
! b rasileiros que movidos por impulsos nativistas, tenham adotado nomes brasí­ 1966, Cap . IV, p. 92 e ss.
�os (26). Embora algu ns mdios apareçam arrolados apenas com o prenome, ou 16) Este documento apresen t.s âlgumas irregularidades que conviria salientar: pri­
)!11 nomes compostos, 54% deles possuia sobrenome. Aqu i também repete-se o meiro, houve um gravíssimo equivoco na contagem, pois ao fazer a transcrição
)minante na sociedade e;lobal: predomínio dos sobrenomes Silva, Santos, Sou­ da l.isus dos índios da Misslo de Pacatuba, o Secretmo do Governo ao papar da
., Rodrie:ues . Há contudo uma ressalva: a presença de índios com sobrenomes folha 8 para a folha 9, em vez de recomeçar a listagem pelo número �26, enga­
msideractos os mais notáveis pela nobilia rqu ia não apenas sergi_pana, mas do nou-se, escrevendo [ 26, viciando o resultado firw, que no tato aparece como
:sto �o Nordeste acucareiro. a saber: Albuqu erque, Rocha Pitta, Teixeira Leite, sendo 525, enquanto que contando-se um a um os índios arrolados, perfazem
ezerra de Sampaio, Pinheiro Lobo, Sousa Campos, Vieira Machado, etc. Como um total de 625 indivíduos. Outra únprecisSo refere-se à quest.fo das idades, pois
às índios teriam in corporado os mesmos sobrenomes das íam11ias brancas mais na mesma missão de Pacatuba, inexplicavelmente omitiu-se a idade dos índios .
�cadas! Sabemos que os escravos ou libertos negros muitas vezes adotavam que estão entre o núm.-o 155 ao 180 (26 pessoas).
1 pia batismal os nomes e sobrenomes de seus senhores, protetores ou padri­ 17) Não podemos deixar de lembrar, que durante todo o período colonial, únpe­
hos. Como teriam estes índios semi-civilizados de Ser gipe a65Umido sobrenomes �'. e me.mio em nossos dias, muitas vezes o poder central transferiu populações
io ho��tico�? Esta � u1;1a entre � várias 0dagações sem resposta que esta 111d1genas de uma localidade para çutra. Na história de Sergipe isto ocorreu parti·
Relaçao nommal �os 1ndios de Sergipe suscita, e que somente futuias pesqui­ cu.larmente no c.uo da Aldeia de Agua Azeda, entre os ano.s 1825-1830 confor­
,s talvez tragam mw luzes sobre o passado deste grupo étnico cujos últimos re­ me tivemo � coasi.ão de relatar (cf. Mott, op. cit p. 162 e ss.) Assim �do, só
anescentes,
. f
hoje na llha . de São e�o, continuam , sofrer as mesmas ameaças uma pesquw paralela pode f!sclarecer se a alteração (diminujç4o ou aumento) da
po pul aç_ão de uma localidade indígena se deve a fatores d e emigração, inúgração,
pei:i:gos de seus ancestnus: a perda de suai terras e a negaçã'o de seu direito à vi­
i trilia!. epidermas, etc.
18 ) Para este quadro da população indi'gena de Sergipe, foram utilizadas as s1r
NOTAS gu.m tes fontes:
1798: Vilhena, L.S., op. cit p. 460-461
1802: Autor Anônimo, B.N. Seção de Manuscritos, II-- 33,16, 3.
1808: Souza, D.M.A. op. cit p. 41 e .ss.
e) Esta Pesquisa faz parte de um trabalho ma.is amplo sobre a estrutura e dmá­ 1822: Dantas, B.G. op. cit., 1973, nota 52.
lx:.3 da popul;Jção de Sergipe entre 1800 e 1854, patrocinado pela Fundação 1825: Arquivo Público do Estado de Sergipe, Pac. 114 e 125
ord através do set� de Estudos Populacionais. 1825: Estimativa baseada na "Relação Nominal dos Inclios de Sergipe", calculada
} Bezerra, Felte: Etnias Sergipanas, Aracaj.1 ' Coleção Estudos Sergipanos' publ . a população total a partir da multiplicação da população masculina por 2.
. o 6, 1965, p. 203 1826, 1829, 1830: Arquivo Público do Estado de Sergipe, Mapas Exatos da Po­
) A respeito dos problemas envolvendo índios e latifundiários em Sergipe, con­ pulação de diversas missões, Pac. 114 e 125.
iltem-se os excelentes trabalhos de Beatriz Goís Dantas, a saber: "Subsídios à 18) Arquivo Público do Estado de Sergipe, Pac. 114, Clero, Mappa Exato da Po­
(ist�rla_ df1 Antiga Missão do Geru" , Comunkação �presentada no V Simpósú:> pulação da Missão de Nossa Senhora do Canno da Japaratuba, 20/4/1825.
e Hzstona do Nordeste, :41acaA1, Agosto 1973; "lruiios e Brancos em conflito 19)Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, 19-4-13, "Apontamentos para a
>ela posse da Tena {Alde111 de Agua Azedai': Anais do Vlll Simpósio Nacional História de Sergipe", S!D.
'os Professores Universítán·os de Hisfória, VoL li: Terra dos Íruiios Xoco (co-au­ 20) Conforme referimos anteriormente, do total de 624 ínclio.s arrolados, cons­
'Xla de Dalmo de Abreu Oallari) _, Comissão Pró-Indio: SP, 1980. tam informações sobre a idade de 599 individuas, sendo sobre este total que ba.
} Vilhena, L.S. A Balua no Século XVlll, Salvador, Ed. Jta,...,c!
r""- I 1969I 3 vol . p.
IHmOS a análise das idades.
60-461. 21) Mott, L.R.B. op. cit. p. 152 e ss.
} Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, II-33, 16,3. FL 7 22) Na composição deste quadro foram desprezadas 208 cnarx;as e jovens com
) Souza, D. Marcos Antônio: Memória sobre a Capicania de Sergipe. sua Funda-
98
VI
idade inferior a 15 anos, população em idade pré-núbíl.
23) Conforme assinaLamos na nota �6, na lista dos indios da M�o de Pacatuba Uma Estatística inédita para a História Demográfica de
foram omitidas informações sobre a idade e ocupação de 26 fnd1os, que para n5o
viciar a contagem final, foram acrescidos n.este quadro.
Sergipe Dei Rey:
24) Já chamamos a atenção sobre o problema da dificuldade em caracterizar o o mapa demonstrativo da população e freguesia da Vila de Santa Luzia
conceito de "lavrador" em Sergipe do século XIX, às vezes em certas freguesias
identificado com a condição de "senhor de engenho", noutras, com a de simples
e Estância em 1825
"agricultor". Sobre esta particular confira: Mott, L.R.B. "Uma estatística inédita
para a história demográfica de Sergipe del Rey: o Mapa Demonstrativo da Popu- O pesquisador da história da população do Brasil dos. séculos passados
1.acão da Freguesia e Vila de Santa Luzia e Estância em 1825", Mensário do Ar­ defronta-se, de quando em vez, com certos documentos quantitativos de caráter
quivo Nacional, ano vrn, n.O 11, 1977, p. 3-9. sintético, que fugindo ao elenco padrfo que geralmente vinha uniforme da Corte
25) Mott. L.R:B. "Pardos e Pretos em Sergipe: 1774-1851",Revistado Institu­ para ser aplicado em todas as freguesias ou delegacias provinciais, revelam tais
co de Estudos Brasileiros, n. o 18, 1976, p. 22. documentos n.io apenas a inteligência original e a imaginaç.to censitári.a de�
26) No Oficio que o Capitão José d' Annunciação Borges dirigiu ao Comandante autores (geralmente vigários, delegados e mesmo capit�s-mores), como também
das Annas (S. Cristóvão, 5/7/1824) indicando a lista dos indivfduos que formam certos aspectos estruturais de grande interesse e que geralmente Silo-Omitidos nos
o partido revobJcionário na povoação das Laranjeiras, havia um pardo com o no­ censos oficiais. Assim, por exemplo, embora dispondo de uma farta coleção de
me Silvestre Jequitibá Boticudo, e outro, Bernardino Pau Brasü, nomes certa­ mapas (estatísticas) populacionai-. seguindo exatamente o mesmo modelo pa­
mente que foram anotados pelos brasileiros mais sensíveis às idéias nativistas da­ drão, cobrindo notadamente os anos de 1825 e 1829 e referindo-se a todas as
queles anos pós-independência. (Arquivo Nacional, IGl-105, f1. 124) freguesias e missões de índios da Proví ncia de Sergipe (1 ), documentação esta de
primeira grandeza para se estudar a história demográfica desta área nordestina, a
descoberta de um documento como este MJl.PA DEMONSTRATIVO abre novas
perspectivas para o estudo quantitativo e qualitativo deste segmento populacio­
nal de Sergipe, permitindo inclusive novas pistas de comparaçáo vis-a-vis outras
regiões. Tal documento, que transcrevemos a seguir integralmente, encontra-se
no ARQUIVO NACIONAL, seç.!o histórica, Caixa 267, pacote 2.

MAPA DEMONSTRATIVO DA POPULAÇÃO DA FREGUESIA DA VILA DE


SANTA LUZIA E ESTÂNCIA DA PROVINCIA DE SERGIPE DEL REI
8 DE AGOSTO DE 1825
VIGÁRIO MIGUEL TEIXEIRA DE ARAÚJO SANTOS

Exphcaç.to Brancos Pardos Pretos lndios Todas as Padres Fogos Total das
cores idades de
casados 1 a 120
Ricos 97 1
Remediados 293 185 18
Pobres 697 1.729 467 65
Total
destes 1.087 1.915 485 65 1.539 8 3.020 12.994

OFICIOS E EMPREGOS
Negociantes 87
Lavradores 1.279
Carpina.s 121
Carpinteiros 16
101
100

Calafates 15 EXPLICAÇÃO DAS IGREJAS


Sapateiros 57 - Serve de Matriz na Povoa�o da Estância: Nossa Senhora de Guadalupe
Alfaiates 53 - Sáo dentro da Povoa�o: Nossa Senhora do Amparo e Nossa Senhora do Rosá-
Pescadores 41 rio
Ourives 15 - � uma légua e meia da Povoa�o: Santa Luzia
Oleiros 10 - E uma légua distante da Pov�o: São Gonçalo
Pedreiros 4 As duas igrejas Santa Luzia e São Gonçalo têm administraç6es.
Ferreiros 36
Músicos 10 A matriz fica quase 1;10 meio de toda a extensa:o da Freguesia, dista 5 Jé.
guas para os mais longe dela e nenhuma das outras capelas seriem para Matriz,
Total destes 1.744 cujas capelas são duas beira-mar e duas na povoaç!o.

EXPLICAÇÕES GERAIS
Obseivações: No número dos lavradores se compreendem 26 proprietá· - Há na vila, povoa�o e termo uma Legi!o de Milícias, composta de 3 batalhões
rios de engenhos de fazer açúcar. Nas casas de pardos e pretos casados n.fo conta· e um esquaddo, com 1.012 praças de infantaria e cavalaria. , .
ramos cativos, mas sim no total geral das idades de 1 ano a 120 ditos. ,
- Tem na vila de Santa Luzia, 91 predlos urbanos que pagam dêcima naaonal-
imperial. . . .
- Tem na povoação da Estância 706 prédios urbanos que pagam décima nacio­
DIFERENÇA DAS ALMAS nal-imperial.
- A povoa�o da Estância dista da vila uma légua e meia; a sua barra é o rio
Real, 5 léguas distante da vila e Povoação; os seus portos distam menos de meio
INCtNUOS LIBERTOS LIVRES ESCRAVOS
Brancos Pardos Índlos Pretos Pardos Pretos TOTAL quarto de légua da povoaçáo e vila. O porto desta é o de São Félix e o daquela,
mos. rem. m.asc fem masc fem masc rern. masc. fem. ma.se fem os Postinhos.
- Das 12.994 almas da Freguesia, 11.264 slo de comunhio.
:�- 480 441 859 817 29 27 171 187 485 467 897 1099 5959 - Há na vila uma escola de ensino das primeiras letras e há outra na povoação.
loh 615 573 1056 824 36 24 3(4 238 707 543 1084 1021 7035 Há mais uma de Gramática Latina na Povoaç!o que todas três Sifo pagas pela Na­
rot.11 1095 1014 1915 1641 65 5l 485 42S 1192 1010 1981 2120 1m4 Çáo. Há mais na povoaçfo duas escolas particulares de primeiras letras que ãs ve·
zes deixam de existir.

XXX
TOTAIS DOS INGÊNUOS, LIBERTOS E LIVRES E SUAS QUALIDADES Um aspecto particularmente interessante deste documento é revelar a
relação existent& entre a cor e o status econõmioo da populaÇáo liVte:.,<l Autor
desta estatística, o Padre Miguel Teixeira de Araújo Santos, Vigário de Santa Lu·
LIVRES zia (sul de Sergipe, quase divisa com a Bahia), subdivide a população de seus fre·
gueses em 3 grupos: ricos, remediados e pobres. Para tanto, considerou apenas os
Total de todos os brancos e brancas 2.109 representantes do sexo masculino de êada grupo recenseado, omitindo, no entre­
Total de todos os pardos e pardas 3.556 tanto se tais homens eram sempre o cabeça do casal ou também solteiros sem fa·
Total de todos os índios e índias 116 mfila. De um total de 3.560 homens recenseados, apenas 98 (3%) Sifo tidos como
Total de todos os pretos e pretas 910 ricos. Destes, com exceção de um pardo, todos os demais slo de cor branca. Dig·
nõ de nota é que num mapa populaàonal semelhante a este, datado de 1824,
Soma de todos os totais destes 6.691 existente no Arquivo Público do Estado de Sergipe (2), aparecem arrolados 100
ricos, todos brancos. Como explicar no ano seguinte- um pardo entre os ricos? Se·
ria um recém-chegado na vila, ou ent.fo um típico caso de dúvida quanto à cor
ESCRAVOS real e à cor social de um mesmo indivíduo, num ano classificado como branco,
Total de todos os pardos e pardas no ano seguinte, como pardo? Infelizmente a documenta�o disponivel não per·
escravos 2.202 mit1-no1 responder a esta questlo. O que provavelmente é certo, é que entre os
Total de todos os pretos e pretas rl001 deviam estar grande parte dos 87 negociantes residentes na vila e povoação,
escravos 4.101 uabn como os 26 proprietários de engenho de açúcar e parte ou mesmo a totali·
dade dos 8 sace.rdotes residentes neste local. Note-se que não há nenhum preto
Soma de todos os totais destes 6.303 nem índio no giupo dos ricos. Ser rico era quase sinônimo de ser branco. O in·
Soma de todos os totais gerais de veno porém nSo era verdadeiro, pois -vamos encontrar inúmeros brancos entre a
l ano a 120 ditos: 12.994 aun.ta remediada e pobre.
103
102

Os remediados perfazem um totaJ de 496 indivíduos (14%), dos quais quisa, não estamos em condição de explicar tão alta concentração de má'o-de­
59% são brancos, 37% pardos e aproximadamente 4% pretos. Tal grupo monopo­ ol:\ra cativa nesta área meridional de Sergipe.
lizava, certamente, as profissões mecânicas e as artes manuais, tais como carpina, Antes de encei:rar estas rápidas reflexões a propósito do MAPA DE­
calafates, alfaiates, ourives, pedreiros, musices, carpinteiros, sapateiros, oleiros, MONSTRATIVO de Santa Luzia e Estância no an o de 1825, vejamos alguns da­
fen:eiros, pescadores, lavradores (sitiantes), etc. Observe-se que o fato de Santa dos referentes ao estade civil das diferentes cores-etnias relacionando-o com a
Luzia e Estância situarem-se nas proximidades do Rio Real e terem intensa vida situação jurídico-social dos pardos e pretos.
de navegação tanto fluvial como marítima, explica a presença de algumas ocupa­ Do t?tal de 12.994 habitantes i:ecenseados, 5.959 eram casad os (45,9%)
ções ligadas às lides de navegação (calafates, pescadores) e marinheiros (3). A e 7.?35 solt �ro � (54,1 %). Destes solte1ros, 3.339 eram crianças e adolescentes
presença de 57 sapateiros e 53 alfaiates (respectivamente o 3.0 e 4.0 grupo pro­ em idade pre-nubil (25,6%), de modo que a taxa de celibatários com mais de 21
fissional mais numeroso) evidenciam certa sofisticação nos hábitos de consumo anos era de 28,4%. (7)
desta população, pois se conjecturarmos que provavelmente apenas os ricos e re­ Dentre os diferentes grupos constituintes desta sociedade, surpreenden­
mediados de maior poder aquisitivo recorriam aos serviços dos alfaiates e sapa· temente o que apresenta o maior índice de nupcialidade é o dos pretos escravos:
_
teiros, concluiremos que cada um de.stes profissionais servia aproximadamente �8,6% dos cauvos eram casados. Seguem-se a este 0s índios (48,3%), os pardos
a um círculo restrito de 10 familias. livres (�7, 1% ), os brancos (�,6%), os pardos escravos (43,2%) e finalmente ps
Os pobres constituem a grande maioria da população: são 83% dos r� pretos livres (39,3%). Não deixa de ser impressionante como um mesmo grupo
censeados. Não devemos nos esquecer, outrossim, que a estes deveriam ser acres· racial, o dos pretos, reagia diversamente face ao casamento em se tratando de ca­
centados os escravos, o que aumentaria ainda mais o enorme contigente da po­ tiv� ou livre: os neg�s li�es e� os que menos se casavam, os que cedamente
breza local. Seguramente dentro deste grupo deviam estar quase todos os 1.279 deviam ocupar a InalS baixa poslç.iO na camada pobte-livre e que não apresenta­
lavradores que o Vigário Miguel T.A. Santos diz existirem em sua freguesia. A vam, certame�te, nem �ondições mate�� para pagar as espórtulas do casamen­
maior parte dos pobres, contudo, Mo deve ter sido �rolada entre tais lavradores, t �, ne� manifestavam mteress ! em legitimar suas uniões familiares, posto que
pois muito embora vivendo do trabalho na terra, n.fo foram considerados como nao tenam nenhum bem material a deixar a seus descendentes. Os pretos escra·
lavradores. Impossível que dos 6. 691 indivíduos livres existentes nesta freguesia, vos, ao c�trário ! como dependiam em tudo de seus senhores, eram certamente
apenas 1. 744 tinham uma ocupação (26%), sendo que destes, apenas 1.256 os qu e� so!nam o controle exercido pela Igreja Cat6lica, estrita observante
(18%) viviam das fainas agrío:>las. O que deve ter ocorrido é que os critérios cen­ � administraçao do sacramento do matrimônio aos membros da elite e à sua
sitários do sobredito Vigário eram por demais restritos no que se refere ao con­ clientela e escravaria. A utilizaç6o dos sacramentos e da religião em geral como
ceito de "lavrador", de modo que sua contagem seguramente subestimou o nú­ estratégia pata manter a tranquilidade pública e levar à massa escrava à submis­
mero real desta categoria de camponeses. Quanto à cor desta popul�o desprivi· Scio, � �ssunto de conhecimento geral e que dispensa maiores comentários (8).
legiada, observamos.ª presença de 24'l\, de brancos, 58% de pardos, 16% de pre­ Tal tattca é amplamente documentada para o caso de Sergipe onde um represen­
tos e 2% de índios. E digno de nota que em termos absolutos, é no grupo dos po­ tante do �l�ro ?1uito . bem resumia a função conservadora da prática religiosa: "A
,
bres que existe o maior número de representantes de cada uma das quatro cores­ Santa Religião e a umca segurança do nexo social..." (9)
etnia existentes nesta sociedade multi-racial: 64% dos brancos recenseados são
pobres; 90% dos pardos idem; 96% dos pretos idem e 100% dos índios, idem. O
que vale dizer: sociedade predominantemente pobre. Se acrescentarmos a estes
os escravos, teríamos de reformular a sentença anterior: sociedade miserável. *) Esta pequena_ comunicação faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre a es­
Um outro aspecto importante da composição demográfica desta regiA'o trutura e dinâm� da população de Sergipe na primeira metade do século XIX.
_
ressaltado por este MAPA DEMONSTRATIVO é a presença do trabalhador es­ Aproveit e: ª oca�o para nov �ente agradecer à F undação Ford a dotação que
.
�vo. Havia em Santa Luzia e Estância 6.303 escravos, ou seja, 48,5% do total me penn1ou realizar esta pesqu1Sa.
ela população. Taxa excessivamente alta e a nosso ver, discordante com o resto a
Província de Sergipe, pois em 1819 os escravos representavam 22, 7% da popula­
ção provincial, 26% em 1823 e 27,l % em 1825 (4). Como explicar que em plena
zona canavieira, como v.g., em Santo Amaro das Brotas, com um total de 104 1) Mo !t, Luiz R.B. "A Etnodemografía histórica e o problema das fontes docu­
engenhos de açúcar, os escravos representavam em 1825 apenas 22,7% da popU· mentais para o estudo da população de Sergipe na ,rimeira metade do século
lação total, enquanto em Santa Luzia e Estância, com 80 engenhos, os cativos XIX", CfêncÚ: e _Cultura, vol. 29, n. o 1, janeiro 1977, p. 3-24.
chegariam à altíssima porcentagem de 48,5% da população total da f reguesia? (5)
� Arquivo Pt!blico do Estado de Sergipe, pac. 114, Clero.
Exigiria a lavoura de mandioca - uma das grandes atividades exportadoras da re­ ) A propósito das pessoas de Santa Luzia e Estância empregados no alto-mar
gião - mais !Mo-de-obra do que a agro-indústria açucareira? Observe-se que tal of. Arquivo Nacional, Seção dos Ministários X -M-67.
cifra é confirmada pelo Capitão-Mor de Santa Luzia, David Oliveira-Lima, que 4) Mott, L�iz �.B. "Brancos, Pardos, Pret� e lndios em Sergipe: 1825-1830".
aos 26 de abril de 1825 revelava no seu Mapa Exato existirem 6.303 cativos, exa­ Anais d_e H1stóna, ano VI, 1974, p. 172-173.
tamente o mesmo número apontado no Mapa Demonstrativo pelo Vigário Miguel G) Cópu da Matrf<:u!a dos Engenhos da Provincia de Sergipe, 13 de outubro de
T.A. Santos. (6) Com tal confinnação fica exlcluida a hipótese de um erro na in­ l Ba!, Arquivo Público do Estado de Sergipe, Coleção Sebrão Sobrinho S/cla!;.
formação prestada pelo Vigário. Contudo-na fase em que se encontra esta pes· llltcat;lo.
º"
S ) Arquivo Público do Estado de Sergipe, pac. 125 , Comandantes de Batalhão. VII
7) Cclcu/amos a porcentagem das criançu e jovens em idade pré-núbil a partir
lo Mapa Exato da População assinado pelo Capitão-Mor David Olivei.ra Lima,
O.pes, pac. 125.
3) Costa, Emi'lia Viotti da, Da Senzala it Colônia, Difusa-o Européia do Livro, A ETNODEMOGRAFIA HISTÓRICA E O PROBLEMA DAS
ião Paulo, 1966, p. 249 e ss. FONT�S DOCUMENTAIS PARA O ESTUDO DA
�) Arquivo Públro do Estado de Sergipe , pac. 332, oflcio do Padre Francisco
3envindo de Campos ao Juiz de Paz de Maroim, 7-3-1839. POPULAÇÃO DE SERGIPE
NA 1 ª METADE DO SÉCULO
XIX

TANTO A ETNOLOGIAl COMO A DEMOGRAFIA Sito ci6ncias hu·


manas, tendo, portanto, como objeto de estudo a IOCiedade - a primeira, 00n­
centrando-1e no etnos, o povo, a segunda no demos, a popula�. Não obstante

ambas preocuparam-se em estudar a socieaade humana, o objeto formal, o m41to­
do e a linguagem das duu ciências, senZo divergentes, do bastante específicos.
Em linhu gerais podemos dizer que o campo privilegiado da Etnologia sfo os pe­
quenoc grupos, as sociedades tribais e canwúdades camponesas2 sua pesquisa
caracteriza-se pelo m4todo direto e intensivo, levantando-se o maior nwnero pos­
sível de vwveis s6cio-aulturail do pequeno grupo que se investiga; a técmca de
pesquisa mais aplicada tem sido a obserraçfo direta, a pesquisa participante, a
coleta de infamações diretamente junto aos nativos. Quanto aos aspectos mate­
áais da pesquisa, notamos que, geralmente, o antropólogo trabalha sozinho, rara­
mente participando da empresas públicas.

Comunicaçlo apreaentada na X Reuniio da � Bnsilein de Antropologia. Salva·


dor, 22 a 25 de fevereiro de 1976. Este trabalho representa a primeira tentati-va deâstemati·
uçlo do material de uma pesquisa mais ampla, intituhda "Estrutura e Dinâmica da Popl!la·
� de Sergipe: 1802-1854", patrocinada peb Fundaç(o Ford (E&tudos Populacio1111S), a
qual renovo meus mais sinceros agradeclmentM. Sou igualmente muito �to aos funcioná•
nos dos arquiv� citados neste ardgo, espedalmente às funcionáriu do Arquívo Público do
Estado de setglJl:e, que, durante o segundo semestre de 1975, suportaram com p1.ciência e
cortesia, a iruadâvel c:urloàdadc documental deste pesquiudor.
1. Recoxmnos a Lévi,Stuuss (1967: 14) para a dúcusdo das divisões da Antropologia. A
Etnologia colUUte na obfenia� e análisede giupos humanos, considerado) em sua puticu·
lal:idade e 'Viwwlo à reoostituiçSo, d'o fiel quanto pOSSÍVel da '1fda de cada um deles. A etno­
logia utiliza« de modo comparativo, dos documentos apresentados pelo etnógrafo, cones•
pondendo aproximadamente ao que se cntend�nos países anglo-saxões, por antropologia
social e cultural. Na França, pelo tenno antropo1ôgla subentende-se antropologia fíilca (i:f.
Gessain. 1948), enqm.nto quet no Brasil, etnolOgia, via de r� refere-se ao estudo dos gru­
pos tribais ou etnias, cabendo a Antropologiao papel de ciê.ncaa globalizadoa.
2. Na medida em 9ue o ob�to de estudo da antropologia é o alter e a diversidade, o.lo apo­
rw u sociedades' exóticas 'ou pómitivas, mas também as chamadas sociedades complexas
estio dentro de 11eu campo de investlpçS � (Banton, 1966).
J07
106

A Demografia, por rua vez, tem como campo preferencial de estudo, as Este dilema não é de hoje que vem sendo pensado pelos estudiÓISOs e já
grandes populações, rua u. nidade de análise não é a e� ou a ��munida�e,. mas� dispomos, felizmente, de algumas pistas de aproximação das duas dilciplinas.
nação entendida como grandes agregados com fronteiras politiCO-adminirtratl­ Costumam os demógrafos fazer uma subdmsiio nas paquisas que têm
vas ddi.nidas; sua pesquisa caracteriza-se pelo método indireto-extensivo, abor­ a população como tema: de um lado, a demografia pura ou fonnal, que re dedica
dando limitada variedade de temas referentes a uma grande ext�o populacio­ exclusivamente à análise matemática dos elementos 1::ésicos da ccm�o e fNO­
nal · sua técnica de pesquisa é o que.stionário fechado, aplicado por uma grande lução das populações - seria a ciência das taxas (P�ppot 1957: 8}; do outro la­
eq\tlpe de técnicos ad hoc contratados, na-o se exigindo, portanto, a presença do do, os estudos populacionais, que procuram salientar as relaçaet entre 01 compo­
demógrafo na fase de coleta de material. Tais empreendimentos são quase sem­ nentes demográficos e as variáveis na-o-demográficas de dif'«,emes tipos: sociais,
pre patroeinados pelo poder pútiico e, geralmente, os demógrafos, dada a exten­ culturais, ,conômas, ecológicas, psicológicas etc. (Hauser & Duncan, 1959).
são do material a ser sistematizado, trabalham em equipe (I:rard, 1968). E de longa data que os cientistas ,oclais se têm preocupado em estndar
No que se refere ao tratamento e análise de seu material empírico, nota­ a população. Na lição de abertura da primeira escola francesa de Antropologia,
mos que a Antropologia se tem preocupado quase exclusivamente com proble­ Paul Broca pretendia que, no programa da recém-aiada "ciancia do homem",
mas de ordem qualitativa. Tal privilegiamento, a nosso ver, explica-se por duas aparecesse ao lado da etnologia e da lingüútica, também a demografia. Quer di­
razões igualmente fundamentais: prim$o, porque a maior parte das sociedades zer: a Antropologia desempenharia o papel de síntese das ciênàa� sociais, sendo
estudadas pelos antropólogos são "áqr.{i.6", na-o dispondo de seriações quantitati­ a Demografia apenas uma de súas ramificações (Gessain, 1948: 486�. ,
vas que permitam um tratamento estatístico dos principais aspectos da cultura e H. Spencer, por sua vez, parece ter sido o primeiro cientista social a for­
sociedade em que.stâo; segundo, porque a maior parte dos temas que interessam à mular um principio salientando a relaçfo entre o tamanho da populaçio e a com­
Antropologia, tais como parentes::o, sistema de representações, mitologia, estru­ plexidade social (Spencer, 1885: 449-450, apud Nag, 1973: 66-67). Durkheim,
tura social etc., pela sua complexidade e riqueza de significados simbólicos, se igualmente, salientava que o aumento do tamanho da popula�o é uma condiçio
prestariam mal e se desfigurariam se su tmetidos a um tratamento estritamente necessária, porém náo suficiente, para o desenvolvimento da dmsio do trabalho
estatístico. Assim, embora mode rnamente, matemática e ciências sociais (sobre­ numa sociedade. Segundo ele, a integraç.{o de uma sociedade na base de diferen­
tudo sociologia, antropologia e história) comecem a dialogar (Lévi-Strauss et ciação funcional progressiva ocotTe quando, juntamente com o incremento popu­
allii, 1964· Lévi-Strauss, 1967· Leach, 1968; Guillaumin, 1968; Boudon, 1967 e lacional, surge, além disso, um aumento na dinâmica ou na densidade moral que
1971; Aydellotte, 1971; Fogef & Engerman, 1974), o certo é que as di.sciplinas pode ser interpretada com o grau de comunicação entre seus membros (Durk­
que mais colaboram com a Antropologia são, ainda hoje, também qualitativas:a heim, 1933: 256-263, apud Nag. 1973:66-67).
s:x:iologia, a história, a geografia humana, a psicologia, a ecologia etc. Mais recentemente, diversos têm sido os antropólogos interessados nos
Com a demografia, ocorre exatamente o contrário: sendo definida por estudos populacionais, quer nas questões de método (Izard, 1968; Lestrange,
L. Henry (1966: 1105) como "o estudo das populações humanas sob seu aspecto 1951; Gessain, 1948; Naq, 1973), quer na chamada paleodemografía (Angel,
quantitativo e estatístico", tem, como ciências auxiliares, so bretudo a estati"stica 1947, 1960; Kobayashi, 1967; Vallois, 1960), quer no estudo das populações tri­
e a matemática. Guillaume & Poussou (1970: 8) são igualmente categóricos ao bais (Dobyns, 1966; Hackenberg, 1967; Thompson, 1966; Fortes, 1954; Landis,
conceptualizar a demografia como "une connaissanoe mathématique des popula· 1954). Outros cientistas sociais têm igualmente se preocupado com este ramo de
tions, les autres aspeots de l'étude des populations étant laissés au.x anthropolo­ estudos, sempre interessados em salientar as ligações entre a estrutura e dinâmica
gues, sociologues, médécin.s, etc... " de uma população com as variáveis nfo-demográficas, específicas de suas disci­
Estamos aparentemente em face de uma incompatibilidade disciplinar: plinas: sociológicas (Banks, 1968; Halbwachs, 1940; Davis, 1964; Moore, 1964 ;
emoora ambas as ciências se proponham a estudar os grupos humanos, a Antro­ Matras, 1973; Ford & De Jong, 1970);históricas(Follingsworth, 1969;Shorter,
pologia qualitativa, interessada no particular, nas canunidades, a Demografia, 1971; Wrigley, 1969; Glass & Eversly, 1965; Laslett, 1972); econômicas (De­
quantitativa, trabalhando na-o com o indivíduo, mas com grandes conjuntos, com prez, 1970; Cippolla, 1965) etc.
massas populacionais que ultrapassam frequentemente a casa dos milhões (Guil­
laurne & Poussou, 1970: 8)3 .
3. Evidentemente que se tal é o procedimento da demogxafia ao estudar gnndes países com
serviços estatísticos bem desenvolvidos, nSo ocorre o mesmo com os estudiosos da demogn·
fia histórica que devendo trabalhar ou, melhor, despojar suas fontes docnmentais, devem II
contentar-se em se cestnngir a conjuntos populacionais bem menores. Mirdlio (1971: 14)
sugere mesmo que no caso do Brw, no estudo de micropopulações baseado nas listas nonú·
nativas de habitantes, escolha-se uma vila de porte pequeno, cuja média de popula� li-.re
não ultrapasse 4.000 habitantes, pua que o volume de familias reconstituídas possa ser ma­ A Etnodemografia, tal qual a define I:zard (1968 :25 7) tem, como cam­
rúpulado por um pesquisador. As monografias de demogxafi2 histórica referem-se, em sua po, um conjunto de grupos de envergadura geralmente restrita, tais como aldeias,
quase totalidade, a pequenas paróquias, freguesias, vüs, g:nipos familiais. demonstn.ndo as­ grupos familiais, c:Us, grupos de idade etc. Seu método nfo representa simples­
Slm que este tamo histórico da dem<>S:t3fia, devido à natureza muiw vezes �entária de men� uma síntese do método demográfico e do método antropológico, porám,
suas fontes e à necessidade de g)'al\de mvestimento de tempo (e paciência) no' despojamen·
to� dos dados empíricos, não tem condições de tnbalh.u com macropopubçõcs (Cauticr & um modo de aproximação dos fatos populacionais ao quadro da pesquisa antro­
ttenry, \958; Henry, 1956;G:uúage, \963;Valma.ry, 1965;Terrwae, 1961;1.aslett, 1972).A pológica: é o antropólogo aplicando, a tais fatos, seu método próprio utilizando
teSl)Ch.o <13 den,ogxafia qualitativa , consultem-se Sutter. 1946 e Sutter & Tabah, l9Sl, na perspectiva específica da antropologia social. Assim, a etnodem� nl.'o se
\9!)�.
109
l08

preocupa primordialmente com a representatividade estatística:aos olhos do an­ para as pesquisas de demografia histórica: os registros paroquiais e as relaçc5es no­
tropólogo, os trabalhos da demografia formal revelam-se como uma traduç.fo minais de habitantes (Biraben, 1963; Fleury & Henry, 1965;Henry, 1967·San­
abstrata e fria da realidade social. Por isso, a antropologia procura o!o separar ar­ chez-Albomoz, 1967; Marcílio, 1968, 1970, 1974; Cbarbonneau 1970).'Para
titlcialmente os fatos populacionm de seu ambiente sociocultural (Izard, 1968: nossa surpresa e inicial decepção, �o conseguimos encontrar, n.w nos arquivos
260), estando nesse sentido, mais próxima da abordagem desenvolvida pelos es­ de Sergipe, nem nos da Bahia sequer uma shie completa de registro de batismo
tudos populacionais. casamento e óbito relativos a uma das onze freguesias existentes em Sergipe deÍ
Evidentemente que ena valorizaçio qualitativa �o implica no desprezo R�. referente �os primeiros cinq�enta anos d o s«:ulo passado. Conaeguimos lo­
pela quantificação: já nos referimos anteriormente à importância da contribuição calizar alguns livros _avulsos, perdidos em v�os arméfrios de sacristias, incomple­
das matemáticas para a antropologia e para as ciências sociais em geral. O que sa­ tos, sem bomegeneidade no modelo do registro. Quer dizer: a primeira grande
lientamos é que (1) foge às aspiraçOa da antropologia, o tratamento estatístico fonte da demografia histórica para os países de tradiçfo cristí; � existe em Ser­
puro de um grupo populacional, e (2) mesmo grupos que nJo disponham de re­ gipeS. Tampouco existem para Sergipe as tais Relações Nominativas de habitan­
gistros estatísticos formais ou que os possuam apenas parcialmente, podem ser tes, documentação demográf1Ca de primeira grandeza, abundante para a Capita­
objeto de estudos etnodemográficos. Af está, a nosso ver, -a�ficidade. da nia de São Paulo,, mas ao que tudo indica, inexistente para as demais regiões,
etnodemografia e sua distinçfo, nfo s6 em relaçfo à demografia pura, como, in­ monnente para o Nordeste (Marcüio, 1971, 1974).
cluáve, aos estudos populacionais, na medida em que ela abrange no seu campo Não nos desanimam?s perante a ausência, em Sergipe, das principais
também as sociedades "ágrafas" ou com registros quantitativos parciais. fontes de que, até então, tem lançado �o a demografia histórica em suas pes­
Af se coloca o problema da etnodemografia histórica, que é proposta quisas. Num levantamento inicial realizado no Arquivo Público do Estado'de Ser­
n!o como uma dúciplina separada, mas como uma nova abertura da antropologia gipe, em 1973, conseguímos localizar, nas pacotilhas dedicadas à documentaçfo
para mais uma área de interesses: o estudo das populações do passado. A etnod&­ sobre o Clero, 23 estatísticas relativas ao período 1825-1830, intituladas Mapas
mografia já existe e se conctitui em campo produtivo dentro das pesquisas antro­ Exatos da Populaç.fo. Tais mapas referem.se às freguesias e m.issôes de índios da
pol6gicas (Izard, l 968L;.J'fag, 1973). A etno-,hist6ri.à, por seu turno, também de Província de Sergipe e foram realizados pelos respectivos vigários e capelfes. For­
longa data é considerada como uma das �ões da Antropologia (Polanyi, necem unifo �emente as seguintes informações:
1957; Evans-Pritchard, 1961; Schapera, 1962; Smith, 1962; Va.nsjna, 1965; - divisão da população nas seguintes categorias:
Imchamps & Poirier, 1968; Lewis, 1972). O que propomos é mais do que uma . brancos, pardos, pretos e índios
mnples aproximação da etnodemografia com a etno-hirt6ria: penamos que a . pardos e pretos estão subdivididos em 3 grupos:
etnodemografia histórica deve desenvolver técnicas de pesquisas espec:Uicas d&­ ingênuos - libertos - cativos
correntes da natureza de seu objeto de ertUdo, atingindo um maior ou menor . toda a população está subdividida em:
grau de soiisticaçáo matemática, dependendo igualmente do tipo de documento homens casado$/homens solteiros
histórico de que se dispõe, isto sem abrir m.fo da coleta r.istemitica e intensiva mulhe.res casadas/mulheres solteiras
dos aspectos qualitativos mais importantes da composição do grupo populacional . toda a população está dividida em grupos etários de 10 em 10 anos de
que se propõe estudar. Quer se trate de populações da antiguidade, quer dos gru­ l a 100 anos.
pos populacionais das sociedades tribais e camponesas do passado, quer ainda de - �- �guns �pas, declara-se ? número de fogos da freguesia e o ntl­
segmentos populacionais da nossa pr6pria sociedade dos skulos anteriores, pre­ mero dos of �lalS. mecânicos e das de� profissões. Tratando-se de um corpus
tende a eoiodemografia histórica: docu !71ental. médrto, ext�ainente nao (cor, idade, sexo, estado civil, situação
1. Fazer um levantamento completo dos documentos escritos e de i,n. jurídic _o-social, fogos, profwões), pensamos que valeria a pena explorar esta pis­
formações crai.s referentes ã composiçáo e dinâmica do giupo ou populaçio que ta. Foi exatamente ã cata de outros Mapas Exatos que decidim0$ continuar O Je­
se pretende estudar, tanto no seu aspecto qualitativo como quantitativo; van �ento . das fonte� documentais relativas à população de Sergipe. Quanto às
2. privilegiar na sistematizaçáo do material histórico disponível, �o datas limite� da pesqwsa, 1�02-185 4 , devem-se ao fato de dispormos, para estes
apenas as variáveis utilizadas nos estudos clássicos da demografia (sexo, idade, anos, de dolS documentos unportantes na história censitária sergipana: o primei-
oor, estado civil, profiuão etc.), mas igualmente os aspectos socioculturais usual­
mente e.nfocados pela antropologia social: relações de parentesco; giupos de des­
cendência.e f�; divisão do trabalho; relações inter-átnicas etx:.
E dentro desta perspectiva que estamos desenvolvendo uma pesquisa
que se propõe estudar a população de Sergipe na primeira metade do s4culo S. At,é .1912, <!a!3 <la cr:iaçSo da dfocesede Aracaju, t:aislivrosparoquialsenmconservados
na Cúna AJ'qutdi<>ce$ana de Salvador. A partir desta <lata, nLo se tem mais notíci2 do para·
XIx4. Nossa intenç!o, ao planejar a pesquua, era utilizar, como fonte primária delro de tab livros: se foram acidentalmente des1ruídos, se se consum.izam com o tempo se
para o estudo desta área, os documentos que tradicionalmente servem de acervo ronm queimados ou se encontnm depositados nalgum local incógnito. Nosso levantame�to
no, arquivo. das dW1$ dioceses setgjpan&3 (Aracaju e Propriá) , assim como nas sacristias do
lnlérim, redundou em fncasso. Apenas em Neópolis, conseguimos e11contnr um volume do
"Jlrtto de casamentos em mau estado de conservação, releren �ri.mein metade do sécu­
lo XIX. Na Cúria de Aracaju, há uma série, também basunte ��=1· 1cadada, dos registros de
4. Com uma subve�o da Pundaçfo Ford, rea.l.l.zamos pesquisa intitulada "Es1rUtun e Oi· óblt01 de Santo �� das Brotas, cobrlndo quase todo o sé<:uJo pusado. Como esta fr&­
ninúca da Populaçlo de Seigipe: 1802-1854". Pequena parcela do material já (oi sl&tcmati· íluoda ,orreu 3 subd.ivtsões du.rante este per{odo, tais registros tomam-se de düícil tratamen­
zado <Mott. 1974. 1976). To.
111
110

ro é a Descrição geográfica da capitania de Ser gipe dei Rei 6 o documento maú mente poucos são os arquivos nacionais que dispõem de·catálogos deJCritiYos de
completo referente á composição damograr)lja desta Capitania nos alvores dos oi­ seu acervo e como muitas vezes o pessoal dos arquivos ni'o tam conhecimento ou
toeentos; e o segundo, a Esrot{stica da pap u.Jaçõo livre e escrava da Província de capacidade de infonuar ao pesquisador novato onde encontrar tal ou qual assun­
Sergipe or gani::ada no ano de 18547 _, levantamento completo e minuncioso da to, foi pensando em auxiliar o trabalho de outros interessados na etnodemogratia
população existente em todas as su'.bdelegacias sergipanas. Embora existam OU· histõrté:a, que nos animamos a elaborar um invenúrlo geral das fontes quantitati­
tros censos realizados na década de 60 e, principalmente, o Recenseamento Geral vas para os estudos populacionais. Como na sua maioria, os arquivos nacionais
do Império, de 1872, preferimos restringir nossa pesquisa somente a meio século, apresentam, mutatis mutandis, grande semelhanç4 na dísposiçio de seu acervo -
exatamente devido a nossos objetivos metodológicos: ao estudar a estrutura da disposiçáo esta que segue, em linhas gerais, a mesma ordem das antigas reparti­
população damos a este termo, não apenas o Eignificado de "ca:npo�o" (Bar· ções públicas da Colônia e Império - cremos que este nosso inventário pode for­
clay, 1958: 2), tal qual o fazem os demógrcúos, mas por estrutura, entendemos necer pistas, o.lo apenas para quem vá pesquisar no Arquivo Público do Estado
também estrutura social, definida como uma rede complexa de relações sociais de Sergipe, mas também, feitas as adaptaÇóes devidas, poderá servir de roteiro
realmente existentes, em que os agentes se diferenciam pelo papel que desempe­ para pesquisas nos demais arquivos estaduais do Brasil.
nham ou pelo status que ocupam, em conseqüência de pertencerem a uma deter­ Gostaríamos de lembrar, concluindo estas reflex<5es introdutórias, de
minada classe ou categoria social (Radcliffe-Brown, 1968: 190). Por din4mica, que várias séries que uanscrevemos a seguir, estio longe de representar estatísti­
da mesma forma, entendemos nSo apenas o resultado de acontecimentos que fa. cas completas e perfeitas e que, certamente, d.lo uma rislo parcial de grupos par­
zem aumentar ou diminuir o mlmero de membros de um agregado populacional ciais desta sociedade nordestiná. Nfo pretendem ser mais do que �: inf�nnar a
(Barclay, 1958: 2), mas usamos dinânuca, como o fazem os antropólogos, para quantidade e certas qualidades de pequenos grupos - soldados, estudantes, vigá­
nos referir a qualquer tipo de mudança ou moviment o ocorrido na populaçSo, rios, marinheiros etc. Evidentemente que, através dos Mapas Exatos, podemos
quer sejam acontecimentos vitais (nascimentos, óbitot. etc.), quer seja a transfe­ ter a vísão de toda a sociedade, mas o �dioso orientado pela penpeCti,a da
rência de certo número de pessoas de uma cawgoria social para outra (por «xem· etnodemogralia histórica reputa tfo importante conhecer não apenas as caracte­
pio, a passagem de pardos e pretos cativos para o grupo dos libertos), seja ainda rísticas gerais da população da sociedade global, mas também os pequenos gru·
a evolução da composição demográfica e social local ao longo dos 50 primeiros pos, na medida em que fazem parte intrínseca da estrutura social. Tais listas, to­
anos do sáculo passado. Como estamos interessados numa abordagem que integra madas isoladamente apresentam pouco significado: devem servir de ponto de par­
o quantitativo e qualitativo, considerando a pret� antropológica de de.::rever tida para a coleta de material qualitativo referente às categorias ou grupos sociais
e analisar � apenas os grandes traços demográficos, mas a sociedade global em a que se referem. A maior parte da documentaçfo manuscrita, abaixo transcrita,
sua pluricomplexidade, reputamos que meio século NJ)te$8lltaria um período su­ encontra-se no Arquivo Público do Estado de Sergipe e secundariamente no Ar·
ficientemente longo e uma unidade de análise significativa para nossa pesquisa, quivo Nacional e na Biblioteca Nacional. Vários Mapas e Listas dos grupos popu­
sem falar tratar-se de um período mais do que suficiente para ocupar um pesqui­ lacionais encontram-se nos Relatórios Presidenciais da Província de Sergipe.
sador por vmos anos. Além da referência e da especificação resumida do conteúdo dos documentos, fa­

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�os o �b� o de c�eta de material em Julho de 1975 (Alquivo remos, nalguns casos, comentários relativos à utilizaçlo de · documentos.
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N371onal, Blblioteca. .Naçional, Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), pes­
�ndo em tempo integral de agosto a dezembro, nos arquivos de Sergipe e da
�· As �tage _ns de se realizar uma pesquisa durante tão lcngo período sáo
mwtas e salienwiamos, entre outras, a familiaridade adquirida pelo pesquisador
c�. �rtos pers �gens do passado, que, omitidos dos compêndios históricos ili
ofi�, .ocu � unportantes papéis quer no universo político, quer no sócio­
econom �o regional. Outra vantagem, principal a nosso ver, é a possibilidade de
o pesquisa�or conhecer pessoalmente os principais corpus documental$ existen­ Começaremos a relação dos documentos, pelas listas mais gerais, os dife­
tes no �uivo e m, questão. Nío chegamos a ver toda a documentaçío existente rentes mapas �e �opulação q�e se referem, quer às fniguesias em particular, quer
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no Arqwvo Público do Estado de Sergipe relativa à primeira metade do � � toda a Provmcia.. Em seguida, agruparemos o restante material nos seguintes
XIX. Manipulamos, com certeza, aproximadamente 80% dos manuscritos lá con­ itens: mapas dos banzados, casamentos e óbitos; relações nominais· categorias so-
savados, anteriores a 1854. Consultamos, porém várias pacotilhas de todas as ciais; mobilidade espacial; doenças; diversos.
"�ões" ou "fu �dos" deste Arquivo, de maneira que dispomos de uma informa­
� geral da totalidade do acervo do Arquivo: por exemplo, quais os f\mdos mais 1. MAPAS EXATOS DA POPULAÇÃO E ESTATfSTICAS GERAIS
ncos em dad�s econômicos, quais pacot:illw trazem listas de soldados, relações
de doentes, listas de ferramentas do Trem Militar, requerimentos de passaportes, Dispomos de uma lista inédita de 54 Mapas Exatos da Pop�o sendo
mapas de popu.laçfo, número de fogos, número de criminosos etc. Como infeli2- o mais antigo, o de 1802 e o mais recente, o de 1837. Apenas 4 destes ce�s fo­
gem em alguns detalhes ao padrão seguido nos 50 restantes. Tais levantamentos
quand � feitos pelos vigários, eram baseados no Rol de Desobriga que os sacerdo'.
6. BN, 11-33, 16, 3 (Autor AnônJmo) tes deviam. fazer regularmente, arrolando todos os moradores de suas freguesias·
7. APES, pac: 287 (Esutística). quando feitos pelos Capitães-Mores do Distrito, os Mapas Exatos baseavam-�
113
112

em listas nominais, que lhes eram adrede fornecidas pelos Inspetores de Quartei-
rão. Do total de 54 Mapas Exatos, 37 foram realizados sob a responsabilidade

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contram-se, sobreturo, no Arquivo Público do Estado de Sergipe, nas pacotilhas
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o leitor vislumbre-o em sua real dimensão. Eis a lista dos referidos Mapas: as lo-
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, -03 S. Cristóv�Õ s.d. Santo Amaro - Mapa Estatístico da População Livre e Escrava da Província de Sergi­
24-04 Santa Luzia pe no ano de 1851 (Relatório Presidencial - Fala do Presidente José Antonio de
)l-09 Santo Amaro Oliveira e Silva). 8-3-1852
26-09 Capela da Purificação . comateas e municípios
L2- l l S.Pedro . pop. livre: brancos, pardos, pretos, índios
29-11 . pop. escrava: pardos, pretos
Propriá
28-12 .sexo
Capela da Purificaçáo - Mapa Estatístico da População Livre e Escrava da Província de Sergi­
31-12 Lagarto pe por Comarcas, Distritos de Subdelegacias e Quarteirões (1854). APF.S, pac.
,.d. Vila Nova
287 (Estatística)
1830 .sexo
>4-05 Geru 04-07 Lagarto . con�o : livre - escravo
)4.0S Socorro . livres: adultos, menores, casados, solteiros
)7-06 Estância/Sta, Luzia . profissões
1833
13-09 RiacMo 2. ESTATÍSTICAS DE BATIZADOS, CASAMENTOS E ÓBITOS
(Juiz de Direito)
21-10 Lagarto Como dissemos anterionnente, nenhuma antiga freguesia de Sergipe dis­
(Juiz de Direito) põe de uma série completa e homogênea de registros paroquiais relativos ao sécu­
1837 lo XIX. Encontramos apenas um ou outro livro avulso, incompleto, em mau es­
.d. Sim.ao Dias tado de conservação e cobrindo pequeno período. No entanto, nas pacotilhas do
2-03-1834 Mapa Estatístico da Província de Sergipe del Rei. Clero, no Arquivo Pllblico do Estado de Sergipe (114, 115, 116, l17, 118) existe
mais de uma centena de mapas mensais, trimestrais e semestrais, onde os vigários
de cada freguesia resumiam o movimento de batizados, casamentos e óbitos
ocorridos durante o pê?foio em questão. Infelizmente, nem todo os sacerdotes
Al� dos 54 mapas supracitados, outras estatísticas populacionais de­ eram estritos no envio de tais resumos à Secretaria da Presidência, de modo que
rem ser refendas: há muitas falhas na documentação. Não obstante, há mapas sobre todas as fre­
- apa Demonstrativo da População da Freguesia da Vila de Santa Lu- guesias e missões, embora alguns sobre certas localidades apresentem lacums.
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aa e Estancia (1825). AN, caixa 267, pacote 2. (Vigaria) Não sabemos se tais mapas foram igualmente levantados em todas as Províncias:
. número de igrejas da freguesia em caso positivo, representariam uma fonte muito importante e sintética para se
. distância entre uma igreja e outra estudarem vários aspectos da estrutura e dinâmica das populações, na medida em
. número de prédios urbanos que representam uma sintese dos Registros Paroquiais. Em Sergipe, neles estão
. número dos habitantes ricos, remediados e pobres especificados pela registrados, com interrupções, os batizados, casamentos e óbitos que ocorreram
:or em todas as freguesias a partir de 1837. Desde 1842, intennitentemente, apare­
. número de oficiais e empregados cem nos Relatórios Presidenciais, Mapas Gerais de todos os batizados, casamen­
. . número de ingénuos, libertos e livres e escravos, especificande>se o es­ tos e óbitos ocorridos em todas as freguesias da Província. Além dos já citados
ado civil e a cor mapas de batismos, casamentos e óbitos manuscritos existentes no Arquivo Pú­
. número de escolas e aulas blico do Estado de Sergipe, os interessados encontrarão mapas nos seguintes Re­
. - �dro � População Li� da Província de Sergipe no ano de 1849 latórios Presidenciais:
Relatóno Presidencial - Fala do Presidente .Ammcio João Pereira de Andrade) - 1842: Fala do Presidente Anselmo Francisco Peretti, ll-1-1844
.
..0-3-1850 - 1849: Fala do Presidente Amâncio João Pereira de Andrade,
. comarcas e termos e vilas 1-3-1850
. homens e mulheres - 1850: Fala do Presidente Amâncio João Pereua de Andrade,
. brancos, pardos, pretos, índios 11-1-1851
- Mapa Estatístico da População Livre e Escrava da Província de Sa-gi­ - 1853 (janeiro a setembro): Fala do Presidente Inácio Joaquim Barbo­
.e no ano de 1850 (Relatório Presidencial - Fala do Presidente Amâncio João sa, 22-11-1853.
·ereira de Andrade). 11-1-1851
. comarcas e municípios 3. RELAÇÕES NOMINAIS
. pop. livre: brancos, pardos, pretos, índios
. pop. escrava: pardos, pretos Em vários documentos, sobretudo naqueles datados dos primeiros anos
. sexo do século XIX, encontramos referências ao envio de diferentes listas nominativas
16 1!7

le Sergipe para a Capitania da Bahia, sede administrativa da Comarca de Sergipe: . número de fogos
ão vigários acusando a remessa d� Rol d� Desobriga e Rol dos Confessados, Ca­ - Mapa de todos os habitantes do Distrito do Geru - 1839. APES,
>it.ies-Mores referindo-se ao envio de Listas de Moradores etc. Debalde vascu- pac. 386 (Juiz de Paz):
bamos O Arquivo Público do Estado da Bahia e os arquivos do Rio de Janeiro à .nome
:ata de tais listas. Não obstante, conseguimos localizar�� r�ções no pró­ . idade
)rio Arquivo Público do Estado de Sergipe, que nos pemutíréfo �r a compo­ . cor
sição dos fogos, a estrutura familiar e profiss:io. � de algumas l�dades desta . ocupação
?rovíncia. Observé-se que a maior parte de tatS listas referem-se as popula�es . relação de parentesco, agregados
ias missões indígenas: não sabemos se tal freqüência é casual ou fruto de legisla­ · fogos ' ·
;ão específica. Consideramos como listas nominais apenas aqueles ��entos Como 3 d� relações referem-se a• antiga · Cariri.
· aldeia e
• d _GeN, especl·
l'}e inventariam a população total de� localidad e, tendo como cnténo de�­ ficando-se náo só a popuJação indígena, mas também os de� habttante!, pode­
_ remos acompanhar diacronicamente a estrutura des1a aldeia por um periodo de
:Q\amento os fogos ou grupos domésticos. Outras listas, como as que nos refen­
:emos mais adiante, embora fornecendo também o� n�mes das pessoas r� e�­ 14 anos, testando inclusive a sua exatid!o através do confronto com os Mapas
ias como foram organizadas a partir de outros cntérios que n!o o� �. Exatos da População.
nã� serão consideradas listas nominais, mas lista.s baseadas na "cateqona social".
As Relações Nominais são as seguintes: . . .
- Relação Nominal de todos os habitantes da freguesia de 1ndios de
Nossa Senhora do Socorro da Vila de Thornar do Geru - 1822. APES, pac. 115 4. LISTAS DE GRUPOS PROFISSIONAIS E SITUACIONAIS
(Clero):
. nome Agrupamos sob o título Categorias Sociais, uma série de listas de exten­
. idade são e qualidade de informações bastante variadas, que nos revelam alguns traços
. cor fundamentais da composição demográfica de certos grupos, quer profissionais
. estado civil (funcionários públicos, vigários, senhores de engenho, marinheiros, soldados, re­
. profissão
crutas), quer atuacionais (alunos, presos).
. composição dos fogos . . .
- Relação Nominal de todos os índios da Freguesia e Vila de Thomar 4.1 Funcionários pú bUcos
do Geru, Prcwíncia de Sergipe - 1825. APES, pac. 115 (Clero): - R�o de todos os ofícios de Justiça da Província de Sergipe -
.nome 1826. AN - IJl - 905:(Min. da Justiça)
. estado civil .ofícios
. idade . nome do funcionário
. ocupação . lotaç.ro e i:endimento real
.�o de parentesco . leis de sua criação
. fogos . títulos pelos quais servem
- Relação dos índios existentes nesta Província de Sergipe - 182 5. AN, - Relaçfo dos empregados da Secretaria da Presidência com declaração
X - M - 67 (Marinha): dos vencimentos que ora percebem. Relatório Presidencial - Fala do Presiden
. nome e sobrenome (só homem) José Antonio de Oliveira e Silva, 8-3-1852: te
. estado civil . nomes
. idade . empregos
. ocupação . vencimentos anuais: ordenados, gratificações
. aldeía.s a que pertencem O interesse da primeira lista está nSo apenas em apresentar a totalidade
. em alguns casos, indica-se a filiação dos fl.Jncíonários lotados em cada repartição das diferentes vilas da PrO\'íncia
- Relação dos habitantes da Freguesia e Missão c!e S. Pedro do Porto da ,
mas também seus salários oficiais e seus rendimentos reais. Um ea:rivão da Prove­
Folha - 1829.APES, pac. 115 (Clero): doria da Comarca, por exemplo, estava lotado em apenas 75$000; seu rendimen
.nome ­
to real, no entanto, era calculado entre 400$000 e SOOSOOO; um tabelião que,
. filiação e agregado ao mesmo tempo, era escrivão da Câmara e dos Órflos, recebia 90$000 de esti·
. cor pêndio; sua renda real, no entanto, era de 600$000. Para o estudo da hierarquia
. estado civil salarial do funcionalismo, este documento é de primeira grandeza.
. idade
. naturalidade 4.2 Vigários
. anos de residência no local - Relação exata dos Religiosos de Sergipe que se acham
. ocupação pectivos Conventos (1828). AN - IJl - 907 (Ministério da Justiça fo.ra dos res­
):
119

. nome do frade . número de canadas que produ


. ordem religiosa a que pertence . qualidade do laboratório
. convento a que está filiado . observações
. local em que se encontra - Rela�o dos Engenhos matriculados na Província de Sergipe at, 5 de
. motivo do afastamento fevereiro de 1852. Relatório Presidencial - Fala do Presidente JoM Antonio de
. conduta Oliveira e Silva, 8-3-1852:
, · de Sergipe
- Relação de todos os vigários e coadjutores da Provmaa · .comarcas, municípios
\32).AN - IJl - 907 (Min. da Justiça): Tais listas, embora forneçam, strictu sensu, maior núm«o de informa­
. nome do vigário ções sobre o engenho em si, do que sobre seus proprietários, nJo deixam de inte­

=
.nome do coadjutor ressar ao estudo da elite sergipana do poder, na medida em que aí aparecem to­
dos os principais fazendeiros da Província; mesmo que seja difícil, não , de todo
. freguesia ..
• . lª""') Rela tono
- Mapa Geral dos Vigários e Freguesias da Provtnaa ( impossível tentar descobrir a rede de parentesco existente entre os memtros
!Sidencial - Fala do Presidente Anselmo Francisco Peretti, 1843: da classe dominante.
. nome do vigário
. freguesia a que pertence 4.4 Homens do mar
. se colado ou encomendado - Lista de todos os indivíduos empreoados no mar pertencentes aos di·
versos portos de Sergipe (1824).APES, - � 472 (Patrões da Bana):
.nome
3 Senhores d.e engenho .cor
- Livro de Matrícula dos Engenhos da Capitania da Bahia (inclusive .naturalidade
rgipe) para pagamento dos dízimos reais (1807). APEB, Sem C1assific:aç.to: .maada
. nome do proprietário .icàde
. nome do engenho . emprego
.localidade • estado
. distância ao porto de embarque - Lista dos indivíduos que se empregam como mmnheiros, quer em na­
. despesas vegação de alto-mar, quer na de cabotagem na Província de Sergipe (1824). AN
- Cópia da Matrícula dos Engenhos de Sergipe (13-10-1823). APES, X - M - 67 (Marinha):
�eção Sebao Sobrinho, s,tclas: .nome
. número .idade
. marca do engenho (ferro) . cor
. proprietário . naturalidade
. localidade . moradas
. nane do engenho .empregos
• distância ao local de embarque - Relação de todos os proprietários e tripulaçfo de todos os barcos de
. despesas gerais cargas, pescarias, jangadas de Sergipe (1825).APES, pac.472 (Patrões da Barra):
- Relação dos Engenhos de fazer açúcar no Município de Larangeiras. • nome do dono
338). APES, Coleção Sebao Sobrinho, s/cl.as: .idade
. nome do engenho . estado
. nome do proprietário .cor
. distáncia ao porto de embarque .cargo
- Relação dos Alambiques que se acham estabelecidos no Distrito da . denominaçJo da embarca,;!o
la do Espírito Santo (1848).APES, pac.725, (Tesowaria Provincial): . qualidade da embarcação
. nome do proprietário - Relaçfo dos estaleiros da Província onde se constroem lanchas, swna-
. nome dos alam biques cas (1825). AN - X - M - 67 (Marinha):
. qualidade de líquido que produzem . número de oficiais
. qualidade (cobre, carapuça etc.) .número de empregados livres e escravos
- Relação dos Alambiques estabelecidos em clivaras Vilas da Província . número de aprendizes
348-1849).APES, pac. 725 (Tesouraria Provincial): .idades
. nome dos alambiques . cor
.nome dos proprietários .moradias
. em funcionamento ou não .nomes
.força:muita, pouca
121

- Relação das embarcações que entraram e saíram dos portos da Pro- .naturalidade
eia de Sergipe (1825). AN - X - M - 67 (Marinha): . residência
. nome do proprietário .cor
. tipo de embarcação .estado
. nome da embarcação .possibilidade financeua
. toneladas .ofício
. destino .idade
. qualidade da carga .tempo de serviço
. residência dos proprietários - Mapa geral anual da Força do Exército e mais objetivos militares de
. número de viagens Sergipe (1827). APES, pac. 136 (Comandante das Armas):
- Mapa demonstrativo do número de embucações nacionais e estran­ .batalhões de caçadores e cavalaria
ras entradas e saídas pelas divmas barras daProvíncia em 1851. Relatório do .oficiais superiores
?si.dente José Antonio de Oliveira e Silva (8-3-1852): .estado menor dos corpos
. número de embé!Icações .oficiais
. tonelagem . oficiais inferiores ew .
. tripulação .número de quartéis
Estas listas de diferentes categorias de profissionais ocupados nas lides .número de empregados no trem militar
1.rítimas são particularmente interessantes, pois permitem não apenas aquilatar Além destes, dispomos de diversos Mapas Gerais, que informam o nú­
importância representada por este ramo do setor primário na economia sergi­ mero de todos os militares da ProYíncia, subdividindo-<>s de acordo com sua
na, como a diferente participação de estrangeiros,brílncos, pardos e pretos nos hierarqu.ia interna. Tais Mapas seguem aproximadamente o mesmo padao deste
riados misteres marítimos. Infelizmente, tais dados referem-se apenas à d�da que abaixo transcrevemos:
, 20. - Mapa Geral da Guarda Nacional. Relatório do Presidente Anselmo
FrancúcoPeretti (2141843):
5 Militares
De todos os grupos constituintes da sociedade sergipana, foram os mili­ . estado-maior dos superiorados
res que deixaram o maior número de informações estatísticas sobre sua popula­ . estado- maior das legiões da Província
ío, quer em forma de arrolamento nominal, quer sob a de Mapas Gerais sintéti­ . estado- maior e menor dos batalh6es
>S. São tais arrolamentos que fornecem, com maior riqueza de detalhes, infor­ . oficiais de companhia
.ações sobre a composição demográfica de um grupo social de Sergipe: . inferiores
- Regimento de Cavalaria n.o 46 - 1825 (diversas Companhias daPro- . para todos estes, especificam-se as patentes: coronéis, majores, alferes,
:ncia. APES, pac. 125 (Comandante de Batalhões): sargentos, tenentes, cabos, soldados etc.
.para todos se especificam
. nome
. prontos para o serviço ordinário
. posto . destacados
. naturalidade . na rese.rva
. morada . total
. idade
. cor Os demais .podem ser encontrados nos seguintes locais:
. estado civü - Relató r1? do Presid�nte Amâncio João Pereira de Andrade (1-3-1850)
. emprego - ofício .
- ReJatono do Presidente Amâncio Jo.ro Pereira de Andrade (11-1-
. filiação 1851)
- Arrolamento do Terço de Ordenanças da Vila de Santo Amaro das - Relatório doPresidente José Antonio 1e Oliveira e Silva (8-3-1852)
rotas (1827). AN - IG1 - 289 (C omandante das Armas): - Relatório do Presidente Inácio Joaquim Barbosa (22-11-1853)
. nome - AN - IGl - 106 {Ministério da Guerra)
.idade - AN - IGl - 106, n.o 395 (Ministério da Guerra)
.cor - AN - IGl - 107 (Ministério �Guerra)
. morada
- Relação dos praças existentes da 6.ª Companhia do Batalháo de Ca­ 4.6 Recrutas
adores n.o 124 de Larangeiras e demais lugares da Província (1829). APES, pac. Esta, é uma catego � social das mais interessantes e que permeiam a his­
25 (Comandante de Batalhões): tória de Sergipe e das demais regi6es do Brasil durante os séculos XVIII e XIX
.nome Raro é o maço ou pacotilha de documentos que nio apresente alguma autorida:
. posto de - seja militar, policial, judiciária, administrativa e até clerical - indicando ou
22 123

nviando algum rapaz ou adulto para ser recrutado para a Exército ou Marinha8. . para o Exercito
lfel.izmente, poucas Silo as listas referentes a tais indivíduos; como quase sem­ . para a Marinha
re eram enviados individualmente ou em pequenos grupos, iam geralmente .para Imperiais Marinheiros
x,mpanbados de um oficio da aut?ridêw:ie local, �do.� . �ter{� . com praça na Companhia Fixa
.cas (nome, idade, cor, profissão, filiação). Só através de tais of1oos �dividuais .soltos por terem isenções
que podemos estabelecer a reI;açã� completa dos �tas: �a mui�o traba· . voluntários com prênuo e sem prêmio
1osa, porém compensadora, pc,is ta1S �feios �o. mwtas vezes, ncos de �orma­ . recrutados
ôes sobre uma categoria social numérica e socialmente importante na SOCledade
rasileira de antanho, os vadios, compostos em Sergipe de 4. 7 Alunos e professores
"mulatos, negros forros e alguns bfAD;COS do pais (que) têm por despre­
zo trabalhar para s:i, e ser para os cauvos: � índole de t�os é de suma Apesar de termos noticia da existência de E3COlas ou Aulas de Primeim
reserva e vingança; por qualquer lE!'le capricho se�- e o f_a:em Letras em Sergipe, desde os primeiros anos do séaulo XIX, 6 somente a partir de
atraiçoadamente a tiro, vulgarmente de trás de pau; o pnmeuo cwdado 1824, que vamos encontrar os primeiros mapas de alunos�A partir da década de
destes é haver uma arma de fogo, ornato que temem muito, setornam 40 eles Silo mais regulares e minuciosos, refletindo, sem d11Yida, maior grau de
atrevid� e capazes de todo o mal; e neste continente é o uso da espin· burocratizaçfo ela lnstIU�o P11blica:
garcia frequente e as mortes frequentes; os _homens quietos e at;ancha· - Mapa dos Alunos da Aula de Estância (1824). Revista do Instituto
dos temem estes vadios e os sofrem por evitarem �m na indignação Histórico e Geográfico do Brasil, n. o19, vol. XIV, 1945-1948, p.161-163:
deles"9. . nane
Eis algumas listas de remessa de recrutas de Sergipe para a Corte: . idade
- Relação dos indivíduos mandados para o. Serviço da Marinha como .cor
!erutas (1825). AN - X - M - 67 (Marinha):
.nome . filiaçáo
. idade . adiantamento
. naturalidade . comportamento
.estado civil - Mapa dos alunos de Vila Nova (1833), APES, pac.35 (Câmaras
. cor Municipais):
- Mapa dos recrutas apurados desde 28 de aml de1848 até 25 de ne>­ .nome
!!lllbro de 1849. Relatório do Presidente Zacarias de Goes e Vasconcelos (17-12- . idade
849): . cor
. voluntários . filiação
. recrutados . naturalidade
. menores . adiantamento
. desertores . dia, mês e ano da entrada
. falecidos . fortuna de seus pais
.baixas .observações
- Mapa dos alunos de Gramática Latina e de Primeiras Letras da Pro-
. para o Exército víncia (1845), APES, pac. 305 (Instrução Pllblica):
.para a Marinha .nome
- Mapa dos Voluntários e Recrutados nesta Provinda desde 17- 12- .idade
849 até 18-7-1851, com declaração dos destinos que tiveram. Relatório do Pre­ .cor
.d.ente José Antônio de Oliveira e Silva, 19-7-1851: . filia�o
. adiantamento
- Mapa dos alunos da Província de Sergipe em 1850. APES, pac. 309
. Vários são 0$ autores dos séculos XVlil e XlX que denunciam as ubitrariecãdes e preju {. (Instrução Pública):
os deoonentes do Recrutamento: .nome
Yllhena, L S. A Bahia no 1éculo lVUL Salvador, Ed. l�pul, 1 ��. e· 138. .idade
Muruz de Souza A. "Do mau metodo de rec:r:uwne.nto e prejuuo que deie resulta a po. . cor
ulaçlo, etc., !te."� "Viagens e Observações(1834)".Revista do Instituto Histórico e Ceo­ . filiação
ráfico da Bahia, n. 72, 1945, p.36-37.
. Representação do Ouvidor da Comuca de Seigipe dei Rei, Antonio Pereira de Magalhles . adiantamento
e PaÇO$. dirigida à Rainha, de 26 de abril de. 179�, in Castro, E.� lnuen!ário d01_docu- - Mapa Geral das aulas de ensino primário e secundário da Província de
1ento1 relatiuo, ao Bnuil e:ruten� no Arqu,uo Hur6rfco Ultramanng (antvfo Arquwo do
farinha e Ul17omar de Luboo). Rio de Janeiro , 1916, vol. [V, doe. n. 20.852 (apud Mott_ Sergipe. Relatório Presidencial do Presdente .Am.tncio Je>ao Pereira de Andrade
974, nota 41). (1·3·1843):
125
24
.crime
. oomarc:a.s . juízos a que pertencem
.número de aulas de meninos e meninas .moradas
. numero de alunos e alunas . observações
.número de aulas de latim
- Relaçfo dos presos pertencentes à Comarca de S Cristóvfo e à Pro-
.número de estudantes.de latim víncia de Sergipe (1834). APES, pac. 331 (Juízes de Direito):·
se­
- Quadro demonstrativo das aulas de Primeiras Letras de um e outro .nome
alunos que as freqüen tam. Relatóri o do Praide nte Am!n­
o da Província e dos .idade
io João Pereira de Andrade (1-3-1850): . cor
.comarcas e vilas . naturalidade
. número de aulas
. nomes dos professores .ofício ou ocupação
.sexos dos alunos . dia da prisão
.crime
.cor dos alunos
. lugar da prisfo
0
. juízos a que pertencem
'_ =�ral da Instrução Pública primária e secundária da Prol'ín.cia
2): .moradias
e Sergipe. Relatório do Presidente José António de Oliveira e Silva (8-3-185 ões
.comarca, cidades e vilas e povoação
. nomes dos professores de ambos os sexos
-·º��
R o dos crimes graves cometidos na Província de Sergipe durante
os anos de 1849 e 1850. Relatório do Presidente � João Pereira de An­
. números de alunos drade (1-3-1850):
.idades dos alunos .dia, mfs e ano em que foram cometidos
. aproveitamento dos alunos
. observações sobre seu procedimento e índole . comarca, tenno e distrito onde foi perpetrado
.resumo . natureza do crime: morte, tentativa de morte, ferimento envenena-
mento, rapto, roubo
-Quadro demonstrativo das Cadeiras de ensino primário e secundário
.nomes dos pacientes
cistentes na Província. Relatório do Presidente Inácio Joaquim Barbosa
. nomes dos autores
U-11-1853).
- Mapa das Cadeiras de Primeiras Letras de um e outrs> sexo providas .otservações
o ano de 1 850.Relatório do Presidente Amâncio Joa'b Pereira de Andr-ade
.1-1-1851): - Relaçfo dos assassinatos e ferimentos graves perpetrados nesta Pro­
. nomes dos professores víncia desde 1851 até a presente data. Relatório do Presidente José Antônio de
. datas de nomeação Oliveira e Silva (8-3-1852):
. ordent.<.'.os .nomes dos assassinados
- Mapa dos professores de um e outro sexo . jibilados no oorrente ano, . data do crime
:iro . c:leclaraça> das datas ae suas ju bilaççes, das leis que as autorizam, tempo de . nome do criminoso
niço e dos ordenados por inteiro,proporcionais que ficarão percebendo. Rela­ .lugar do delito
>f:ÍO do Presidente Amâncio Joáo Pereua de Andrade (11-1-1851). - Mapa demonstrativo da existência, entradas e saídas dos presos da Ca­
- Mapa sios alunos do Liceu desta Capital e das Cadeiras de Gramática deia da Capital de Sergipe. Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira e
.atina de diversQS Municípios da Província. Relatório do Presidente Amâncio Silva (8-3-1852):
·oa:o Pereira de Andzade (1-3-1850): .número de presos que foram recolhidos
. cadeiras do Liceu . cumprindo sentença
. lugares das Cadeiras de Latim . pronunciados
. nomes dos professores e lentes . indiciados
. número de alunos . despronunciados
. notas .absolvidos pelo Júri
- Mapa demonsuativo das aulas do Liceu da Capital e dos alunos que as . por terem cumprido sentença
·eqUentam em 1851. Relatório do Presidente Joio Antônio de Oliveira e Silva . mortos
3-3-1852): - Relação dos réus capturados nesta Província no ano de 1851 até o
presente. Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira e Silva (8-3-1852):
. cadeiras
. número de matrículas . nomes dos réus
. número dos que perderam o ano . quais seus crimes
. em que datas toram perpeuados
. número dos que concluíram o ano
127
!6
. quem os sofreu
. número dos que fizeram o exame - Mapa dos presos existentes nas cadeJas da Ptovíncla de Sezgipe.Rela·
- Mapa das aulas do L.iceu desta Capital, c� declaraçfo d�s profess<; tório do Presidente José Antônio de Oliveira e Silva (8-3-1852):
is que as regem e do número de alunos que as freqüentam.Relatório do Presi· . na Capital
ente Inácio Joaquim Barbosa (22-11-1853). . . . .nas demais Vilas
- Quadro estatístico dos trabalhos do Liceu de Sergipe desde sua cm.­ - Mapa dos julgamentos proferidos no corrente ano pelo Júri da Pro­
io em 1847 até o ano de 1853. Relatório do Presidente Inácio Joaquim Barbosa víncia de Sergipe sobre os crimes nela cometidos em diferentes anos. Relatório
?2-11-1853): do Presidente Inácio Joaquim Barbosa (22-11-1853):
. número de alunos que se matricularam, reprovados e aprovados nas di- . comarcas e municípios em que se reuniu o Jwi
trentes matérias. . datas das sessões
. ocupações e instrução dos réus
.8 Presos e criminosos .quem os denunciou
. quem os sustentou no Júri
As primeiras estatísticas criminais de Sergipe de que temos notícia, re­ . sexo dos julgados
cotam à década de 30, constituindo apenas w_na das fon_tes � se detcreY.er o . naturalidades
ima de grande violência que reinava nesta sociedade. A unpunidad.e do onme, . idades
mio à fraqueza da máquina repressora, � uma r�de que os encanegados .estado civil
, sossego pútiico não cansavam de denllllCW': poucas p�es, cadeias adap_ tadas . crime praticado
0 casas de pau-a-pique, milícia insubordinada e no mm das vezes, insuficiente­ .condenaç&o
ente armada. Eis como um Juiz de Direito, Cláudio Manuel de Castro, o perso­ .absolvição
igem mais lúcido, culto e de inWÍ9ência mais penettante dentre a centena de - Mapa dos criminosos presos desde julho do corrente ano até esta da-
rgipanos do skulo XIX, cujos escntos passaram por nossas imos, se expressava ta. Relatório do Presidente Irwrlo Joaquim Barbosa (22-11-1853):
este respeito: . em convencer-se e pwur. . . . nomes
"A incerteza que há boie os grandes cnmes vai .crimes
tomando bem segura a vida do roubador e assassino, pois quase sempre
tais crimes são improváveis no Tribunal dos Jurados, assim a i<Uia da • contra quem
morte é bem familiar nas massas que se vão acostumando na apatia de .onde
não procurarem justiça e adquirindo o hábito de tirarem, por pequenas . datas em que foram cometidos
contendas, a vicia de seus semelhantes ... "10 .observações
Eis as relações de criminosos presos em Sergipe entre 1832 e 1853:
- Relação dos presos no trimestre julho/setembro de 1832. APES, pac. 5. MOBILIDADE ESPACIAL
12 (Juízes de Paz):
. localidade Malgrado as dificuldades e morosidade dos meios de transporte no sécu­
. nome lo passado, o certo é que as pessoas mudavam de uma vila para outta, de uma re­
.idade gilo para outra, para fora da Província. As informações sobre tais mudanças de
. cor domicilio sáo extremamente raras e mesmo os poucos registros paroquiais que
. naturalidade alhures assinalam o local de nascimento ou de residência dos pais dos �
. ofício dos nubentes ou dos defuntos, omitem tais dados em Sergipe. Assim, o achado
. crime de certas "Relações de Forasteiros" chegados às vilas sergipanas, revela um aspec­
.lugar da prisão to sumamente importante da vida sQCial desta área nordestina, na medida em
.residência que, através da documentação qualitativa, ficamos informados de que tais imi­
. o�o grantes procuraram a Província fugidos da seca nos sertões de origem, sendo
- Relação de todos os crimes ocorridos na Província nos anos de 1833- portanto, a unidade usual de emigraçio, o grupo doméstico.
,34. AN - IJl - 908 (Ministério da Justiça): - Relaçlo nominal de todos os indivíduos forasteiros que no termo da
. nome do criminoso Vila de Santa Luzia e Estância se acham residindo no ano de 1826, vindos de di·
.idade ferent.es lugares e seus motivos. APES - Gl 580 (Governo):
.cor .nome
. naturalidade .idade
.ocupação .cor
.estado
.moradaJ
. donde vieram e causa
Ai'tS, pac. 332, Ofício do Juiz. de Direito de Estincia ao Presidente, 3·7·1839.
129
28
. profissfo
- Relação dos indivíduos forasteiros que existem no Distrito da Vila de . procedãncia
'ropriá (1826). APES, pac. 150 (Capitães-Mores): . data de chegada ao Brasil
.nome . data de chegada em Sergipe
. idade . residência
. sexo
• cor 6. DOENTES E VACINAÇÃO
. estado civil
. residência Um dos temas de maior intere"58 no estudo da dinâmb de uma popu­
naturalidade . lação, é o problema do ciclo vital ?1 proc�s yitais (Barclay, '1958: 2). E nada
:_ Relação das pessoas que acham-se residin� o em div� �rt81I' · ões
mais correlato, para se estu dar o fim do ciclo vital - a mo�e - do que as d�­
:hegados aproximadamente (1838). APES, pac. 36 (Câmaras MUlUClpau).
ças, sobretudo se pensarmos qufo precários eram, em Sergtpe, os recursos m�­
.nome co-hospitalares e mesmo as boticas no sáculo pa.ssado. Dispomos de um número
.relação de parentesco bastante grande de informações de primeira má:o referent8' a surtos epidêmicos
. idade (sobretudo a bexiga), a períodos de seca e penllrla alimentar, assi� c,omo sobre
. estado civil as primeiras tentativas - a resistência da populaçáb e os efeitos -.da introcbfção
.cor da vacina({_o u pus vacínico, como a chamavam) em terras de Sergipe dei �81.Os
.naturalidade hospitais nesta Província, embora referidos desde o segundo quartel do século
r
XIX, nfo passavam de pequenas enfermarias, ou dormit �rios �e doentes! pouco
�� ��a de mobilidade espacial, mais cristalizada e documentada.! é
equipados e can es::assos recursos. A Santa Casa de Misericórdia de S. Cnstóvão,
1 emigração de estrangeiros, notaqamente � P?rtugal. Logo após a Independên­
_ embora ietecentista, se comparada cana da Bahia ou do Rio de Janeiro, era tfo
:ia, quando se espalharam P?r todo o Império dif�ren! es manif�� de an ��­
pobre e pequena que causava pena. Dispomos de listas de doentes s6 a partir da
:itanismo os europeus nascndos em Portugal deviam JUrar fidelidade a Consotw­
década de 40; quando à vacinação, embora desde os inícios dos 30, já houvesse
;ão do rn'.ipério, dando então inúmeras e �osas informações sobr� suas pessoas.
::is os registros de estrangeiros que conseguunos encontrar em dois arquivos ser­ aplicaçáo das lâminas em Sergi , s6 após 1849 que o Governo se preocupou em
r
fÍpanos: recensear as pessoas vacinadas!
- Mapa demonstrativo dos doentes pobres de Lagarto medicados du-
- Relação dos portugueses moradores nesta Província que têm ap�n­ rante a epidemia de disenteria (1853). APES, pac. 849 (Papéis Divenios):
tado certidêes de juramento da Constituição deste Império, guias e passaportes . 14 moldstia.s
(1824). APES Gl - 585 (Governo): . idade: infantes e adultos
.nome . sexo
. residência .condiçfo:�,escravo
. tempo de residência . resultado do tratamento: convalescência, continuam doentes, morre­
.local de nascimento ram, ignora-se o resultado.
. estado civil - Tabela demonstrativa da despesa feita com a epidemia que reinou
. profissa"o nesta Província em 1853. Relatório do Presidente Inácio Joaquim Barbosa
. procedência (22-11-1853):
- Livro do termo de residência de todos os estrangeiros que habitam no .medicamentos
Termo de Larangeiras (1841-1842). IHGS - Doc. nSo elas.: . grat:i.ficações a médicos
.nome
.naturalidade - Mapa demonstrativo das pessoas vacinadas na Província de Sergipe
. idade desde 1.0 de julho até 31 de dezembro de 1849.Relatório do Presidente Alnfn­
. estado civil cio Jofo Pereira de Andrade (1-3-1850):
.sexo dos vacinados
. residência
. profissão . infantes brancos
. chegada ao Brasil: porto de desembarque, data, data de transferência . adultos brancos
para Sergipe e outros locais
- Livro de lançamentos das apresentações e matrículas dos estrangeiros
da cidade de S. Cristóvão (1840 -:- 1854). APES, SP9 - 1 (Polícia):
. nome 11. Apesar de termos feito apenas um levantamento amostral, dispomos de informações so­
. naturalidade bl'e a cau,a morti.l de centenas de fregueses da Vila de Santo Amaro. Dispomos também de
.idade ·dezenas de atestados de saúde passados pelos médiCO$ de Sergipe, diagnosticando grande p·
. estado civil ma de doenças dos moradOJes desta área nordestina•
131
30

. infantes pardos, livres e cativos .nome


.adultos pretos, livres e cativos . idade
- Mapa da vacinação praticada na Província de Sergipe no ano fina.ncei­ . estado civil
o de 1850 a 1851. Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira e Silva .profissão
8-3-1852): . cor (apenas para a Capital)
.município � mapas que serio discriminados a seguir, embora nlo se rdiram preci­
.sexo puamente a população ou a segmentos populacionais, fornecem importantes el•
.condição men�s para se estudar a distriwição demográtlca de Sergipe na primeira metade
. resultado da vacina ção do século XIX.
- Lista dos Fogos da Província.APES, pao. 297 (Fogos}:
·-º��';acinação praticada no Município da Capital de l-7 a 31-11- . número de fogos
1851. Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira e Silva (8-3-1852). .número de almas
- Mapa demonstrativo das pessoas vacinadas na Província desde l-1 a - Lista geral dos Fogos de diversas freguesias no ano de 1844 - APES
3o.ó-18SO. Relatório Presidencial de Amâncio Jofo Pereira de Andrade pac. 297 (Fogos}
(11-1-1851). - Relaçlo nominal da cidade e vilas da Província de Sergipe com decla­
- Mapa estatístico patológico dos doentes desta l.ª linha da Província ração �o número de fogos de cada freguesia e do número de eleitores (1845).
de Sergipe tratados durante o l. 0 semestre de 1853, inclusive recrutas. APES, AN, catxa 761, pac. 1, doe. 7 (PopulaçSo)
pac. 849 (Papéis Diversos): - Relação nominal da cidade e vilas da Província de Sergipe com•as de­
. nomenclatura das doenças - 13. clarações do número de freguesias e dos distritos municipais (1845). AN, caixa
. quantos entraram, saíram, continuam, motreram 761, pac.1, doe. 5 (PopulaçA'o)
- Mapa explicativo dos enfermos recolhidos no Hospital de S. Mateus _ - Mapa da divisfo judiciária da Província contendo o ndmero e denomi-
na Capital da P!'O'líncia de Sergipe desde janeiro de 1842 até o presente. Relató­ naçao das coman:as, os municípios, em cada uma delas compreendidos, os juízes
rio do Presidente Anselmo Francisco Peretti (11-1-1844): d! Direito e d� Feitos da Fazenda, os promotores, os juÍ2S municipais e de 6r­
. entradas e saídas, especificando-se sexo faos! os re�!1VOS su�entes nomeados e os que faltam nomear. Relatório do
. curados e em tratamento Presidente lnac10 Joaquun Barbosa (22-11-1 853) .
. mortos - Mapa demonstrativo da clivisto policial da Província contendo as co­
- Mapa dos doentes do Hospital da Santa Casa de Misericórdia da cida­ marcas e municípios �a Provín� e o nwnero de autoridades policiais nomeadas
de de S. CristO'fão em 3 anos, a contar de 1.0 de janeiro de 1847 atá o último de e por nomear. Relatóno do �sidente Inácio _ Joaquim
Barbosa (22-11-1853).
dezembro de 1849. Relatório do Presidente Amâncio Joá'o Pereira de Andrade - Mapa demonstrattvo do ndmero de quarteirões e de fogos de cada um
(1-3-1850): d_os mesmos que contám a Província de Sergipe. Relatório do Presidente Amãn­
. sexo dos que entraram, saíram e morreram oo João Pereira de Andrade (1-3-1850).
. nomenclatura das enfermidades (33 doenças) - Mapa demonstrativo do número de quarteiraes e de fogos de cada um
- Mapa dos doentes pobres recolhidos no Hospital da Santa Casa da Mi­ do� �esm� que contám esta Província. Relatório do Presidente José Antônio de
sericórdia de Sergipe em 1850. Relatório do Presidente Amáncio JOifo Pereira de Ohveua e Silva (8-3-1852).
Andrade (11-1-1851). Concluindo este levantamento sobre as fontas dOCWMntais para os es­
- Mapa dos doentes do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de S. tudos de etnodemografia histórica de Sergipe, gostaríamos de fazer 3 obserra ­
Cristovão de 1-1 a 23-12-1851. Relatório do Presidente Josá Antônio de Ol.tveira ções que talvez ajudem aos pesqu.iaadores interessados nesta mesma temática
e Silva (8-3-1852). l. �bservando a documenta9fo arrolada neste trabalho notaremos que
Antes de encerrar este levantamento das fontes quantitativas relativas à os maços, caIXaS ou pacotilhas que contêm o maior ndmero de lbta, relações ou
populaç.fo de Sergipe, conviria citar ainda um dos corpos documentaiJ mais com­ �· são as que têm por título: Clero, Capitles-Mores, Comanau;tes de Bata­
pletos do Azquivo Público do Estado de Sergipe, que são as listas de "Qualifica­ lhao e de Armas, Juízes de Paz, lnstruçfo Pública, Câmaras Municipais Estatísti­
ção de· Vo tante�". Esta série, referente a todas as vilas da PrO\'íncia, tete início ca, Ministário _$ia �. da Marinha e da Guerra. Como os arquiv� estaduais
em 1842, sendo realizada em Sergipe , todos os anos. Embora referindo-se ape­ po_ssuem, �m ·mutandis, se09ões se nlo com os mesmos títulos, ao menos•
nas à populaç4o de maior destaque econômico, posto que o sistema político­
eleitoral, no tempo do Império, era essencialmente timocrático, só podendo v<>­ �do aproximadamente clamffcaçlo semelhante, sugerimos que os pesquisad<>
res interessados � localiza! tais séries quahtitativas, que as procurem entre as
tar os indivíduos que comprO\'assem certa renda, não obstante, tais listas nfo dei­ documentações acuna especificadas. Como o levantamento estatístico era encar­
xam de ser interessantes pois prestam informaçôes sobre quem era quem na elite go Primeirc? ?OS vigários e �tfes-Mores, em seguida, dos juízes (tanto de Paz
econômica de cada localidade. Infelizmente, apenas na lista de S. CristO'f!o á que c'?mo Mumcipal), devendo ameia o Governo fornecer regularmente listas de S(tas
se especifica a cor dos votantes - uma variável importante na diferente participa­ diferentes co9>orações aos �rios, o mais certo é encontrar-se a documenta­
çio dos indivíduos dentro desta sociedade multi-racial. çio quan�_tanva �obre o_s diferentes segmentos populacionais, exatamente na do­
- Q11aJiflcação de votantes de toda a Província, por vil.as e quarteirões ownentaçao relativa a talS categoriu administrativas.
(a partir de 1842). APES, pac. 524 (Qualifi�o dos Votantes):
133
13'2 REFERÊNCIA S
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documentação encontrável nos clife
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vamos encontrar as m.o� . � rrn�
. s.
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:'J:��
udo da documentaç O
ã quali tativ
0 mesmo comentário vale para o oonte .
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ciar nosso levantame nto sobre a P?P� r:; �otalida
Janeiro, sentíamos uma grande ausen cia: 0 po vo,
ª
-
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trada no arqu
tinha acesso à Corte e, conseqüentemente, a en ão oficial ar- Press. ,
o grand e au - doeu
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csqullll3UJC polam:s , balagem de seu produto. Tais são, por conseguinte, os documentos mais comple­
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e
�r!.�,. 55
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.
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Wrigley,E A, 1969.�ctpopolaljocl,Pans, Hachettc
de gado.
Para a análise qualitativa da organização e funcionamento da �o-indús­
tria açucareira ser�pana durante o período escravocrata, a principal fonte é a
Mtmbria sobre a Capitania de Sergipe, sua ftmda;4o, popuJa;4o, flTodutos e me­
lhoramenros de que é capaz, de autoria de D. Marcos Antoruo de Sousa, cx-vigá-
IJó
137
rio da fre,,auesia �rgipanà de Jesus-Maria-José e São Gonçalo do Pé-do-Banco, 1856........................
que tenninou seus dias como Bis po do Maranhão e membro do Instituto l listóri­ ·
1858 ........................ : : .
753
: : : : : : ·.: ·.: : : .
· : : : : : : : : 769

!ffli : :; :; ; i i i ;:; ;:; ;: ; ; ; :; :; ; :JJ�.!


co e Geográfico Brasileiro. Os Relatórios Presidenciais igualmente referem-se a 1862................................................
certos problemas ligad� à agro-in��a açucareira � à exportação d�ta �erca­ 830
1863
doria que foi durante seculos a pnnc1pal fonte de nquez.as desta regiao Situada
entre o Rio Real e o S.Francisco.Quanto aos trabalhos mais recentes, dispomos
de dois esclarecedores 8:f1igos da historiad�ra sergipana _tv)aria da Gló�a Sa�tana
de Almeida, "Nota Previa sobre a propnedade canaV1eira em Sergipe, seculo
XIX", e "Uma unidade açucareira em Sergipe: o E�nho Pedras", ambos apre­
sentados no VIIl SunpÕsio Nacional dos Professores Uni versitários de Historia,
publicados nos Anais da Revista de História.. 1976, D volume, e-483-549. l\a
28. 8 Reurúão Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Brasí­
lia, 1976), apresentamos uma comunicação inbtulada "População e Economia: O
Problema da mão-de-obra escra va em Sergipe" (inédito) , no qual analisamos, en­
tre outros temas, a composição demográfica dos engenhos sergipa_nos.Toma.mos Referências Bibliográficas e Arquivísticas
a liberdade de sugerir ao leitor interessado no estudo de no� líistória econômica
e na história de Sergipe, e_m particular, qu�consulte o volume 12 (dezembro
1976, p. 19-23) do MENSARIO DO ARQUIVO NAOONAL, onde �uhlicacnos 1612 - "Livro �e dá Ra�o ao Estado do Brasil" apud Buescu
M.História ,E.
um levantamento complementar a este, referente às estatísticas e estunativas da conô� do Brasil, APEC, Rio, 1970: 66
população livre e escrava de Sergipe, de 1707 a 1888. A confrontaçlo destas 1637 - Ãlrea de Cãsàí,Pe.Manuel -Çorografia Brasl1ica (1817) Livraria
Itatiaia
auas listas permite-nos levantar algumas hipóteses interessantes sobre a relação Editora Lt�a.e Ed it�ra d a USP, SioPâúlo, 1976, p.250.
entre o crescimento demográfico e o desenvolvimento da economia sergipana co­ 1724-30 - Rocha Pita, Sebastião - História da América Ponuguesa.
1730
lonial e imperial. 1756 - Caldas, Joaé Antoni� - N_otfcia Geral àê Toda esta "Capitania
desde o si!}' .pescobnmento até o Presente Ano de J 759. SaJva<lo� Bahia
r '1951 ·
Após estes prolegômenos, daremos a seguir a lista dos e�enhos de Ser­ E?-r'ac-S1�e P 435-8
·
1798 - Vilhena, Lu1s dos Santos -A BaJria no Século XYill. Salvad or, Editor
gipe, transcrevendo no final a referência bibliográfica ou arquiv1stica onde en­ a
contramos as referidas infonnações. ltapuf, vol. l, p.57.
1802 - Arqu ivo Histórico Ultramarino - Sergipe Cx 3.
Representação de José
ENGENHOS DE SERGIPE Bor�s da Çui:ma ao Re i - Slo Cristóvlo, I4/l/180Z.
ano n.0 de engenhos 1807 - ��� Público?º Estado d a Bahi a, s/ das.Matrícu
la dos E ngenhos ela
vaptt:anía da Bahia para pagamento dos dízimos reais administr
ados pe-
1612...... .................. ........................ l la Junta cla R eaJ F azenda: 30/9/1807.
1637. ................... ...................... ...... 8 1808 - �ouza, D.Marcos Antonio -Memória sobre a Capitania Serzipe, sua
l 724r30...... ..................... .. ......... ....... . 25 ,
undaçllo, PopulaçUo, Produtos e Melhoramentos de quede é Capai
1756 ...................................•............ 4ó caju, ffiGE/DEE,2a.ed.1944. · - · Ara-
1798 .....................................•..........140 1809 - Biblioteca Nacional, II· 33, 15,l 7 Ofício do
Juiz Ordinário Verea
1802 ................................................14ó res e frocura1or da Comarc a de São Cristóvlo ao Rei 29/12/i809 do­
1807 ................................................148 1815 - Arqurvo N�c1o_nal Cx. 191, pac. 1 doc.7 - Ofício do Ouvidor d� C o­
_,
1808 ..............•.............................. ...114 marca, Jose Tetxetra da Matta Bacellar ao Rei 16ll/l815
1817 - �es d� Casal, Pe. Manuel - Corografia .Bnlrflica(l8
1809 ................................................200 I1)., Livraria Ita.
baia �d1to�a �tda.e Editor a ela USP, São Paulo, 1976, p.146.
1815...........................................mais de 100 1820 - Ar�v� Público �o Estado da Bahia, s/ elas.M atrícula dos
1817 .......................................... ma.is de 300 E enhos da
Cap itania d a Balúa para Pagamento dos Dízimos Reais Ad�
1820 ................................................163 nistrad os
pela Junta da Real Fazenda.1820.
1823 ................................................347 1823 - A:t"qu iv� Pú!>lico do Estado de Sergipe, Coleção Sehrão
Sobrinh
1824 ................................................226 p ia d� l\la�1c�la dos Engenhos da Província de Sergi_pe.13/10/ o.Có­
1825................................................114 1823.
1826 ................................................232
1824 - �wvo P�l.ico_ do_ Estado �e s��pe - G 15.Ofício
{si . r do Presidente
Antoruo SilveU"a ao Mirusteno dos Negócios do Interior, 15/4/
1838 ................................................445 4.
1840 ................................................433
1840................................................344
1852 ................................................680
1825
- f82 ;,
et, · J · - Mapa Topográfico da Provinda de Sergipe dei Rey.
J
1826 - Biblioteca Nacional, 19/4/13 - Notícia To oar.i'fic
p .,,.- a d a prov1·nc1a
· te l
138 �-\� 1(1
IX ///
IV I(. .
;i'
"":'")
Sergipe realizada no ano de 1826 pelo Pe. Inácio Antônio Dpmun_?o,da
.
Ordem do Consellio do Governo e resulução tomada em sessao de
4/12/1826. POPULAÇÃO E ECONOMIA: \,,,.,,,
1838 - Saint-Adolphe, J.C.R..M · .. • .o d
eDescritivo do lmpen.
.
o Brasi.., pans,
· ASPECTOS DO PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA ESCR i('h,A.--
Dicionário Geográfico, Histórico
Aillard, 1845- - · ·
EM SERGIPE (S�CULOS 18 E 19)
,
184-0 - Relatório do Presidente José Antônio de Oliveua e Silva, 8/3/1852
mapa n.O 15.
·�=-:�· . A ,tari-
1840 - Ofício do Presidente Wenceslau de Oliveira Bello ao L•·ww,,ertO da 1•
''São muito ativos os moradores de Sergipe, por que com vin­
te cativos fazem maü;r quantidade de açúcar do que muitos ricos
nha (Arquivo Nacional X M - 68 (67 - 159 - 73)
a ud Almeida, M.G.S. ABana�oD;��iba_e?1"çúcaTll!40/1850, lavradores do Recôncavo da Bahia com os enfraqu«iiios braços de cem
�municação apresentada no V Sunp0sio de Histona do Norâeste, Ara- escravos. Mas eu descubro e apresento a raz6o de proveito tão vanta­
caju, agosto 1973, p- 6. . . . . . 5 josq. Ali s4o mais bem cuidados estes homens desgraçados, sujeitos à
1852 - Relatório do PreS1dente Jose Antômo de Oliveua e Silva, 8/3/18 2 lei do cativeiro. São · · nutridus com os saudáveis alimeizt0s vegetais,
mapa n.0 15. cÓm feijões e com m i/Jws que ppr toda a parte colhem com abunãância.
1856 - Relatório do Vice-Presidente Barão de Maroim, 26/2/185�, Os escravos do Recôncavo da Bahia se nutrem com o escasso e, nocivo
apud Almeida, M.G.S. Nota Prévia sobre a Propriedade Omavieira em alimento de carne salgada do Rio Grande. Suas pequenas casas s4o w­
Sergipe, 1975, p. 13 (mimC?) . . . bertas de palhas e mal os agasalham do rigor da estaçtfo, quanilo as sen­
1858 - Descrição Sinótica da Provmcia de Sergipe,.Martinho de Freitas Gomes, zalas em Sergipe sllo cobertas de t�has. Os escravos s4o vestidos com
in Relatório do Presidente João Dabney d'Avelar Brotero, 20/8/1859.
1862 - Relatório do Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça, 1/3/1862. algodl!o manufacturados pelas escravas quando os do Recôncavo pela
1863 - Relatório do Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça, 4/3/1863. maior parte parecem mudos orangutangos. Em Sergipe se lhes permi­
1871 - Relatório do Presidente Francisco José Cardoso Júnior, 3/3/1871. te a mais doce sodedade: podem casar-se com as escravasda mesma fa­
1872 - Relatório do Presidente Rui Alvares de Azevedo Macedo, 4/3/1872. mília e ainda de outro, quando os proprietários da vi�nha Bahià emba­
1883 - Relatório do Presidente José Aices do Nascimento, 1/3/1883. raçam a liberdade do matrimônio, ob stam (I' este contrato santo, esse
1884 - Relatório do Presidente Francisco de Gouveia Cunha Barreto, grande sacramento como escreve o ApóstokJ''. (Marcos Antonio cÍe
2/3/1884. Souza, ex- Vigário da Freguesia sergtpana de Jesus- -Maria - José e S.-
Gonçalo do Pé-do-Banco; ano de 1808).

A historiografia dedicada à escravidão no Brasil revela uma grande dispa­


ndade no que tange aos estudos referentes-de um lado às grandes e mais importan­
tes Capitanias, e do outro às pequenas e mais pobres regiões da Colônia e do Im­
pério. Já dispomos de importantes trabalhos sobre a escravic!No no Pará, em Per­
nambuco, na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais, no Rio
Grande do Sul�) .,Sobre as pequenas capitanias - Piauí, Alagoas, Sergipe. Espí­
rito Santo, entre outr.as, quase tudo est.l ainda por ser feito. No caso especí­
fico de Sergipe del Rey, as fontes que nos informam sobre o grupo dos escra­
vos e dos descendentes de africanos sã"o extrema111ente raras .ll incompletas.
Se para Pemambuco,Bahia;Pará são possíveis cálculos relativos ao número de es-
crava, introduzidos nos respectivos portos, qual a procedência dos africanos, qual
a raia-o de masculinidade, etc.,, em Sergipe, assim como na maioria d as pequenas
capitanias, corno a introdução de africanos se fazia através dos portos das gran -
des, capitanias, inexistem registros específicos relativos a tal contingente demo-
gráfico. As tentativas dos senhores de engenho de Sergipe, no início do século
XVIJJ, de irem resgatar escravos duetamente na Costa d'África não contou com
o beneplácito da Coroa(2).
141
IO

Sergipe, a menor das Capitanias, apresenta muitas semelhanças com sua vi· 1848 134.454
mha-nca, a Bahia, no tocante à sua ecologia, estrutura demográfica, especia­ 1849 137.743
tzação econômica e características soéio-culturais. Não obstante, em termos da 1850 163.696 55.924 219.620 25.5
strutura interna da agro-01dústria açucareira - tamanho dos engenhos e pO· 185) 166.426 56.564 22:?.990 25.4
,ulaça-o escrava neles ocupada - Sergipe apresenta-se bem diferente da Bahia 1854 100.192 32.448 132.640 24.S
de seu Recôncavo. Trata�e de uma região ainda muito pouco estudada: sobre
1856 101.383 32.741 134.124 24.S
propriedade canavieira, por exemplo, dispomos até o presente apenas de �a
tota prévia geral sobre os engenhos, e de um estudo particular de uma wúdade 1863 Z00.000
.cucareira da região da Cotinguiba, o Engenho Pedras(3). Assim sendo, este 1869 230.000 50.000 280.000 17,9
1osso ensaio é uma primeira tentativa de fornecer mais dados quantilativos sobre 1872 153.620 22.623 176.243 12,8
il.guns aspectos básicos da estrutura e organização da mão-de-0bra escrava em 1877 32.974
;ergipe. 1881 26.381
Começamos oferecendo no Quadro f a relaçá'o dos habitantes de Sergipe
nlre os anos de 1707 e 1888. Tal quadro é fruto de pesquisa em fontes as mais 1883 a 27.254
ariadas, indo do Arqwvo Público do Estado de Sergipe, Arquivo do Estado IXX.I h :!(,. l 'Hl
La Bahia, Biblioteca Naciona1_ Arquivo Nacional, até o Arquivo Histórico Ultra­ 1888 283.112 16.888 300.000 5,6
narino de Portugal. Quando possível, apontamos o significado numérico da po­
iulaça-o escrava comparativamente à população livr�. Cumpre lembrar que aJ.
;umas destas estatísticas sa'o mais fidedignas, posto que tiveram como substra­ Alravés deste quadro notamos que a população de Sergipe entre 1707
o os recenseamentos�ódioos das freguesias,levantados pelos Vigários ou pelos e 1888 cresceu nas seguintes proporçoes:
:apitã'es-Mores. Outras nã'o passam de estimativas, algumas grosseiras como
,arece ser o caso dos anos 1839, 1863, 1869; outras, incompletas como foi o QUADRO n: Crescimento da Populaçfo Livre e Escrava
:enso de 1872(4).
População Livre Populaç!o Escrava Total
QUADRO 1: População de Sergipe - Livres e Escravos
1707 · 1802 3,2
1802 · 1854 2,7 1,6 2,3
Escravos Total % Escravo
1854 · 1888 2,8 menos 5,2 2,2
Ano Livres
1707 17.169
1775 16.454 No que se refere â composição jurídico-social da população, notairosquc
1780 54.005 -' tre 1819 e 1856, a proporção de escravos face à população livre manteve.se
1802 36.234 19.434 55 668 34,9 bastanle estável, oscilando entre 22,8% a 29,7%. t no segundo ano do século
XIX que aparentemente Sergipe contou com a maior porcentagem de cativos fa.
l 808 a 7'.!.236
ce à população forr�: mais de 1/3 dos seus habitantes eram cativos. A interrup­
75 061
1
1808 b ção do tráfico negreuo parece não ter afetado inicialmente a proporção dos es­
1
1815 75 669 crvos vis-a-vis os livres, pois em 1850 havia 25,5% de escravos, em 1851 eles
1816 91 997 eram 25,4% e entre 1854 e 1856, seu número manteve-se estável: 24,5%. A gran­
1
de aJ teração nessa proporça-o se dá a partir de 1869, quando os cativos passam
1
88.783 26.213 114.996 22.8

1
1819
a representar 17,9% da população total. Em 1872 são 12,8% e no ano da Abo-
1
1821 114.91 6
1.Jção, apenas 5,6%. As causas desta diminuição são assaz conhecidas: além
1823 88.000 32.000 l::!0 000 26,7 da cessação do tráflco, a venda de escravos do Nordeste decadente para as prós­
1825 101.9::!8 peras fazendas de café do Sul, e as diversas leis posteriores a 1850 que emanci­
1829 140.51 ::! param certas classes de cativos.
1
1834 112.640 47.812 160AS2 29.7 Isto posto, vejamos a seguir alguns dados a respeito da distribuição e com­
128 000 posição do grupo escravo em Sergipe. Podemos, simplificando, dividir a Pro­ 1
1837 víncia de Sergipe em três zonas ecológicas e econômicas : I) Zona dos Rios (o.
1839 ló7397
143
142

ttnguiba e Vazabarris, tradicionalmente a prin �pal áre� �avieira e centro �°: é onde, surpreendentemente, aparece o menor número de b rancos, e a maior
concentração porcentual de negros. Se observarmos o Quadro N, notaremos que
lítico-administrativo; II) Zona Sert.aneja, dedicada ��cipalmente à �cuária,
m) Zona Ribei:riJzlw do Rio S. Francisco, voltada pnnapalmente à policultura é no sert:ro que se concentra a maior p-0rcentagem de libertos: enquanto que na
de subsistência e à pesca. Tomando como amostra os Mapas Exatos da Popula- zona da cana (representada pela freguesia de Nossa Senhora da Vitória de São
ão( S) do ano de 1825, e escolhendo nestas zonas aleatonamente quatro f.regue­ Cristov.ro, a Capital da Província, e por Santo Amaro das Brotas), apenas 1,7%
_ dos indivíduos saíram da escravidão através da alforria ou da manumissão, na
�as, notaremos a seguinte distribui�o da população segundo a cor-etrua e de
acordo com sua situação jurídico-soaal: (6) zona de policultura, os libertos sã"o 4,9% da totalidade da população, em lagar­
to, 23, 1 % dos pardos e pretos eram libertos. Na falta de elementos docu­
mentais que nos esclareçam tal fenômeno, arriscamos duas hipóteses que somen­
Quadro IJI: l>istribuiÇáo da l'opul1tçào sc:gw1<lo u Cor-1.::lnill ( 1815) te novas pesquisas poderão ratificar ou retifi car nosso enunciado,a saber:talvez a
a pecuária extensiva possibilitasse uma maior liberdade e distan ciamento dos es­
Zona de Cana Zona de Pecuária Z-0na de Policultura cravos Yis-a-vis se us senhores.contando por conseguinte os escravos com maiores
(S. Cristóvão (Lagarto) (Propriá) chances de acumular o pe cu.Jiq necessário à compra de suas alforrias, diferente­
e St9 Amaro) mente do que devia acontecer nas áreas açucareiras.Outra possíb,ilidáde".é a de
Brancos 21,1% 17,1% 29,0% que os escravos alforriados ou manUIJÚtidos em outras áreas,notadarnente na Co.
cinguiba e Vazab anis,buscassem a zona sertaneja exatamente para distanciar-se
Pardos 44,8% 45,0% 51.5%
da área mais escravista de SergipeJsto com a intença-o de conseguir mais facil­
Pretos 32,8% 36,6% 17,6% mente ganhar a vida como agregados ou vaqueiros das fazendas de gadp,estes úl­
fodios 1,3% 1,3% 1,9% timos pagos, via de regra,corn 1/4 das crias que nasciam sob seu cuidado. A Zona
TOTAL 100,0% 100,0% 100,0% de Policultura está representada aqui nesta nossa amostra pela freguesia de Santo
Antonio de Urubu-de-Baixo de Propriá,situada na beira do rio de São Francisco.
Quadro IV: Distribuição da População segwido a situação É a regi:ro que revela o maior índice de míscigenação, concomitantemente ao me­
nor número de pretos e cativos de Sergipe. Os brancos aí s:ro proporcionalmente
J urídico-SociaJ ( 1825) mais nwnerosos do que os das demais zonas, o mesmo ocorrendo com os índios.
(7).
Zona de Cana Zona de Pecuária Zona de Policultura Passando para outro nível demográfico, vejamos algo a respeito da proce­
(S. Cristóvão (Lagarto) (Proprtá) dência ou origem étnica da escravaria de Sergipe. Co nforme dissemos no iní­
e St9 Amaro) cio, niro havendo re�tros específi cos dos africanos entrados nesta Capitania,
temos que nos valer de fontes parciais. A principal e única fonte encont rada até
Ingênuos 44,1% 34,1% 47,!% então referente à procedência dos escravos de Sergipe, refere-se ao século XVIII:
Libertos 1,7% 23,1% 4.9% trata-se de cinco listas dos "Lavradores que plantam mandioca" na então Comar­
Cativos 31,8% 24,4% 17,1% ca de Sergipe dei Rey( 8), no ano de 1785. De um to tal de 8 l 4 escravos arrola­
(Brancos/ dos, tal era sua composi çfo quanto à origem e cor:
fodios) 22,4% 18,4% 30,9%
TOTAL 100,0% I00,0% 100.0% Quadro V: Composição Demográfica dos Escravos de Se rgipe
segundo a Origem e Cor (1785)
A confrontação destes dois quadros permite-n os observar_ algun: aspect�s
impo rtantes da relação entre estrutura demográfica_ e .espec�çao econo­ AFRICANOS NACIONAJS
mica regional. A Zona da Cana é a que revela o menor md1� de nusc1ge?açã_o ra­ Congo-Angola Crioulos: 340
cial e O menor número de libertos. Sendo a área econ orrucamente maLS attva _
e Angola: 197 Mulatos: 144
dependia do trabalho escravo , não �avia J uga na estrutura social lo­
que mais _ � f',,11ro: � M,·sfi ._;us; J3
cal para os saídos da escravidão, ou por serem mdeseJávetS aos senhores de escra- lk11guda:
ameaçados pela estrutura de po der escravo- (> Cabras: 19
vos, ou po r sentirem-se os libertos ·
..1a zona de
. . , de cat vos. i.J
crata do minante nesta região E a zona de maior numero �
Pecuária, exemplificada pela freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Lagarto,
144 14

Costa do Ouro ano de J 78S, onde aparece especificada a idade e a quantidade dos eocra•
Mina: 67 propriedade possuidora do maior número de cativos tinha 45, e o engenho
Golfo do Benin "moente e corrente'' com o menor número, possuía 7 eocravos. ExcluindMe
aproximadamente 1/3 de inativos, teremos uma média de aproximadamente 16
Gêgc: 4 escravos por propriedade açucareira em Sergipe. Nos meados do século passado,
TOTAL 276 {34%) TOTAL 538 (66%) n �a amostra de S8% dos engenhos existentes em Sergipe (447 unidades), a mé­
_
dia foi de 20 escravos por propriedade, média bastante inferior aos cálculos fei­
Quadro Vl: Composição Oemogr:Hica dos Escravos de Serg.ipc tos para o Recôncavo da Bahia e para Pemambuco (15).
segundo a Nâcionalidade ( 1872) O último tema a ser tratado neste ensaio sobre aspectos da mã"o-de-obra es­
cr �va em Se i:sipe, s�r:1 uma tentativa de relacionar o número de propriedades ru­
.
nus com a disponibilidade real de braços ocupados n a lavoura. O primeiro passo
ORIGEM TOTAL % _
é fomecer um quadro cronológico sobre a evoluç:to numérica dos engenhos ( 16).
Nacionais �f.228 93,8
Africanos 1395 6.2 QUADR<;> VII: Engenhos de Sergipe
TOTAL 22.623 100,0
ANO QUANTIDADE
1612 1
Baseando-se nestes dados, e em outras fontes indiretas, tais como inventá­ 1637 8
rios, testamentos, cartas de alforria, anúncios de jorn'al (9), calculamos que os ca­ 1724/30 25
tivos oriundos d' África nunca devem ter ultrapassado 1/3 da escravaria total de
1756 46
Sergipe, contrastando ponahto fortemente com a realidade observada em outras
áreas, como na·lfahia e no Rio de Janeiro, nos mesmos períodos (1O). A unposs1- 1798 140
bilidade de importar negros diretamente da Costa da África e o próprio estilo de 1802 146
pequena empresa doméstica dos engenhos; sergipanos seriam talvez as duas pnn· 1807 148
cipais razões que explicam a alta taxa de reprodução dos escravos e conseqüente· 1808 114
mente, a predominância de crioulos nas terras de Sergipe dei Rey. As palavras de
1809 200
O. Marcos Antonio de Souza, na epígrafe deste irabalho, sfo comprovadas pelas
estatísticas. Em 1834, 16,5% dos escravos negros de Sergipe estavam na fa.ixa de 1815 100
l a 10 anos. Como via de regra Importavam-se sobretudo africanos adolescentes 181,7 300
e adultos, supomos que a quase totalidade dos negros escravos com menos de 10 ,s.:o J(,J
anos devem ter sido crioulos nascidos em Sergipe, mdicando outrossun que o 18.:!J 347
grupo escravo devia apresentar significativos fnd1ces de auto-reprodução {11) 1824 226
No que se refere à distriblDÇi!"O da população escrava pelos diferentes seto­
res econômicos, de acordo com o censo de 1872, mais de 80% dos callYos con­ 1825 114
rentravam-se na zona rural, trabalhando no eito. A rust1c1dade da Vida urbana lo­ 1826 232
cal nao pennitiu o grande desenvolYJmento de ocupações ligadas ao setor terciá­
1838 445
rio (l 2).
Na zona rural, os engenhos de Sergipe, se comparados com os da Bal:úa ou 1840 433
mesmo de Pernambuco, não passavam de bangues. Não temos notíaa da existên­ 1840 344
cia de sequer um "engenho real" no século XVUI. Somente a parttr de 1860 que 1852 680.
o vapor é introduzido além do Rio Real. Embora tenhamos encontrado referên­ 1856 753
cia de dois engenhos no século XIX que possuíam mais de 100 escravos - um

-
1858 769
com 120, o outro, com 129 - ( 13), a grande maioria do� .:ngeu.hos sergipano�
contavam com menos de 40 cativos, sendo que destes, aproxLmadamente 1/3 era 1862 830
constituído de mão-de-obra econom1camente mativa na lavoura. cnanças peque­ 1863 750
nas, velhos, portadores de doenças crônicas (14). Numa lista de 31 engenhos, no 1871 646
147
146
NOTAS E BIBLIOGRAFIA
1872 800
1883 737 (*I Este trabalho faz parte de uma f>8SC1Ulsa mais ampla sobre a es1nltura e dln•mlc;a da
populaéo de Sergipe na primeira metade do skulo X IX. Agrad990 mala uma vez i
1884 800 Fundaçlo Ford. ·E.wdos Populacionais'" l>8'o suporta financeiro que tomou l)OISf•
vel a ex>lsta desle material Este trabalho foi apr.entado sob a fonna de comunica•
ção, sob o mesmo tr1111o, na 28! Reuniio Anual da SBPC, BrasOla, 1976; Seção 5•3
(Demografia) l
Este quadro evidencia wn enorme crescimento da agro-indústria açucarei.ra (1) Para maiores lnformaç6es sobre a bibliografia relativa i eecravldlo na difereotas
regiões brasileiras, oonsulta-se Jacob Gorender o·ca.aaWlaua,càbi._-S"P, Ed. Atl·
nesta pequena região nordestina. De um único engenho existente em 1612, passa ca, 1979.
a 140 nos fins do século XVlll, a 680 nos meados do século XIX, e a mais de
(2) Arquivo H lst6rlco Ultramarino, Cx. 2, Sergipe: "'Representaçlo dos Senhores de
800 na década da Abolição. Se comparannos o crescimento da população escra­ �.rigenho de Sergipe a el Rey"', 12•6• 1736.
va com o aumento do número de engenhos. notaremos que entre os primeiros 50
(3) �a da. Glória Santana de Almeida: ·Nota privia sobre a propriedade c:anavleln
anos do século XIX, mais exatamente, entre 1802 a 1852, os engenhos aumenta­ em Sergipe, skulo x1x· e •uma unidade açuc:arelra em Sergípe. o Engenho Pe­
ram seu número num índice de 4,6, enquanto que a mão-de-obra escrava cresceu dras'": Anais do VUI SlalpWo Nacional .. Pn• ena u.,_,._. Hia16-
ria. voL li. S. Paulo, 1976, p. 483·550.
na proporção de 2,9.
Aí se coloca uma quest2o crucial no estudo do problema da mão-de-obra (4) Fontes do Quadro 1:
- 1707: Marcos Amonlo de Souza: Memõrla sobre a Capitania da,Serglpe, sua
em Sergipe: inúmeras fontes comprovam fartamente que durante a primeira me­
fundaçio, pop�, produtos e melhoramentns de que • capaz. Aracaju, 18·
tade do século XIX, a populaç4o livre de cor representava mais de 50,5% dos ha­ GE/OEE.• 1944, 2· edição, p. 38.
bitantes desta Província (17). Quer d_izer: mais da metade da populaç!o de Sergi­ - 1775: ·Mapa de todas as freguesias a que pertencem ao An:ebiSf>adO da Bahia..
pe não era nem Senhor, nem Escravo. Perguntamos então: o que fazia tal contin· ln E. C. Almeida, lnvenUrlo dos Documentos relativos ao Brasil exlsten18s nÓ
gente populacional? Como viviam? Do que víviarn1 Nossa hipótese é que tais ho­ Arquivo da Marinha e Ultramar de Llsboe, R.J.1916; voL IV, Doe. 8750.
mens-de-<:or livres constituíam importante mão-<le-obra nos diversos setores eco­ - 1780: "M11pa de enu�o da gente e povo desta Capitania da Bahle", ln E. e.
nômicos de Sergipe dei Rey. Somente através do auitwo dos "braços livres·· é Almeld11, op.. clt.,D�.10,7ói.
que podemos entender como alguns engenhos apontados nos documentos como 1802 Anommo, "D89Crlç(o Geograflca de Sergipe.., Bíbli018Ca Nacional, Seção
..moentes e correntes", isto é, funcionando, podiam trabalhar contando apenas deManuscritoa,. 11.33.16.3,
18<íll. a: S0uz11, M. A. op. clt. p. 44,
com 7 ou JO escravos (18). infelizmente, na fase atual de nossa pesqwsa, amda
não dispomos de dados que esclareçam o significado quantnauvo e descrevam - 1808. b: "Memória oferecida ao Marquês de C11r11ve1a• ln Resumo Hin6rico dos
lnqu�itoc Cenalt'11osreallzadosno Brasil, RJ, DGE, {922.
qualitativamente tal gn..po, numericamente o maior desta sociedade escravocra­ - 1815: J. J. Gonnet "Mapa topogr#loo da Província de Sergipe cW Rey"', in Ivo
ta. Num levantamento de 58% das propriedades rurais de Sergipe, no ano de do Prado, A Capitania de Sergipe e suas Oúvldorlas, RJ, 1919.
1858, calculamos que havia para engenho, conforme dissemos anteriormente, - 1816: Con:Milhelro Antonio Rodrigues Velo$o de Ollvelra. ln J. N. Sousa e so-·
ve: Investigações sobre, osrecenseamentos do lmp4rlo e de c;ade Provfncla de
urna média de 20 escravos (19). Nestas mesmas propriedades, os agregados atin­ per ai tentados d�e os tempos oolonlaia et.1 hoje..RJ, Mlnlsdrlo dos Negóclóa
do lmpêrlo, 1870.
giam a cifra de 5,7 - isto sem falar nos eventuais "diaristas", "meeiros'', "ren­ - 1819: ............
detIOS. que compartilhavam com os escravos e agregados o trabalho braçal. Só - 1821: J.A. Fernandes: ·1ntonnaçlo sobre a Província de Seral_pe em 1821• e.
f uturas pesquisas poderão trazer mais luzes sobre este grupo sooal, o dos homens
livres de cor, con tingente demográfico que tem sido pouco est udado pelos pes­
- :��ufa �.,...,
rim doInstituto H �• G-.ffico de Serva-. ano l,n! T.1912.p.46-49.
Marqua de e..,..-. Resumo rfistõtloo,op.clt.
qwsadores, e que a nosso ver, desempenhou um papel social e econômico muito - 1125:J..L �op. clt.
mais sign ificativo do que até entã"o se tem pensado. do�. of. de 30/5/1829, ln M. A. Galvlo :!\:
- 1829: "llapa 1.awtidu paio P'iwUm.. ..__. de Dea Ma:faado _, Minillilrlo

de s.,lpe'°, Biblioteca Naclon11I, Seç.io de Man� tos. 19·4-13


114 pana Hi116rta
- 1834: Mapa E,1 llitlllo da � de S.V� enviado pelo Presidente Joa­
quim G. de Morais Navano, ao M1nlst6rlo do lmp«lo, Arquivo Nacional. ex.
761, pacote ,.
- 1a'f. Revista Estatística Financial do Brasl•: � 1137
- 1U9: .I.C.R.M. Sain-A
do l�lo do Brasl ParÍIÍa � OI'f81 ��-•ri:.tL-G
o eogrMloo, Hlstórloo e Descritivo J
- 1848: R"816rlo do �resi�ente Zacharl
rd,
.. de Góes e Vaconcelos, 1/3/1849, 1n 1
R -- HlaliOnm,. op,clt.e.481.
J
_ �r6
- 1849: Quadro da J>opulaclo Livre da Provlncla de S.-gl d
rl do Presidente Amlnclo Joio Pereira de Andrade, rJ37't9'f� e 1849' R
O.�Mapa estatfstlco da Populaçlo Livre e Escrava da Provfncla de s 1
r do residente Amlnclo .fojo P�relra de Andrade 11/1/1851. erg pe,
e-
1
_ �rtr · k°apa � atatlstlco da População Livre e Escrava da �rovfncla
Relatdrlo do Presidente Joú Antonio de Oliveira e Silva. 8/3/1852 de serg1pe.
.
149
148

·com menos de 40 NCl'avos nlo pode engenho aJgum fabricar açõcer moendo re-
- 1854: Mapa Estatlstico da População Livre e Esaava da Província de S�gipe. . dondamento.. (Arq. Hist. Ultramarino, Bahia, doe. 2.691, Ofício do Vlg*lo JOM
por Coman:as, Distritos de Subdelegacias e Quarteirões em 1854, Presidente Nogueira da S tiva, ap�d J. N. Kenedy, HAIR.1973: 417). Os engenhos serglpa­
ln6cio Joaquim Barbosa, 9/10/1854, Arquivo POblico do Estado de Sergipe,
pac. 287. . nos possuidores da ma,o, escnvarla de que temos noticia sio: Engenho do Mato
- 1856: Mapa da P2pulação Livre e E.scr?va da província de Sergipe, org_an� Grosso, com 26 escravos em 1807 e 120 em 1825 e Engenho Pedras,. que chegou
i. p. a ter 129 cativos em 1866. baixando para 40 em 1872 (respectivamente, Arq. PCI­
pelo Teaeme-Coronel Manuel O in íz ViBas-Boas, in R- Hid6ric0. op. ct s.
� Estado de Sergipe, G 1 • 580, 11 de maio de 1825; M. G. Am,lda, op.
Jacin!c.> d o Mimdollfll, �/3!1863. ctt.1976, p. 71; 1975, b.p. 45 e 16.
- ���: Relatório do Presidente Joaquim
Sol!Z3 �rasU. m.com,mdio
- 1869: Cü::ulo do Senador Thomaz PomP.eu de (14} De um total de 9 engenhos cujos inventik'ios oomuftamos no 1! Cartório de S.
RJ, 1869. ai,ud J.N. e Silva,. ln�est1gaxoes,. � p. t7
G�-..0.
eito Çenl� l:mP*io do Brasil PnmnciadeSWg1pe.
Soara. _

- 11 Re Crmóvio, para uma lista de 512 escravos onde vinha espec:iflcado a Idade e evao­
- 1877: Relatório do Presidente José Manins Fontes. tuais caracterfstlcas trslcas. enoontramos 169 (33%) que eram ou «lalli*. ouve­
lhos ou doentes. Os restan111119 343 indlvfduos (67%) estavam em principio em·
oondlcfo de trabalhar nalgum setor da agro•lndastria açucerelra. Nesta nõmero
- 1881: Relatório do Presidente Luiz Alves Oliveira Bello, estio lnduid0$ as gr'vldas. lac:tentes. os l)OStldorea de enfermldad• espor'dic:as.
- 1883; Relati)rio do Presidente José Ai res do Nascimento. Nosso cO:ulo concorda com as oondus6es da Prof! Maria da GJ6rla,Almelda,que
1883; Rela:aNio do Presidente José Calazans B. Fnins;a. para o Engenho Pedru Indica que quase 1/3 da eecravariaseconstitufa de pessoal
1888: Re&at6rio do Presidente Oltmpio M, dos Santos Vital. 1mprodutfvo.
(5) Reterências dcalhadas sobre os '"Mapas Exatos da População· podem ser enoomra­ (15) Em recente conferência promovida pelo Mestrado de Cllnclas Soclâl da UFBa
das nos seguintes artigos: Luiz R.B. Mot t. ·Brancos, pardos. pretos e lndios em (setembro 1980), o prof. Stuart Schwartz a�ntou novos elementos sobre' a pro•
Sergipe: 1825-1830"', Anais de H�ano 6.1974,p. 146 ess; •A Etnodemogra­ priedade açucarelra na Bahia dos s&ulos XVIII e XIX, sugerindo que o nci� de
fia Histórica e o problema das fontes documenfais para o estudo da população de escra� por propriedade deveria ser menor do que atê emlo se tem própalado,
sergipe na primeira metade do século x1x·, Ci&icia e� VoL 29, 197&, p. 8 Peter Eisenberg.por sua vez. oferece para Pernambuco intaressantes elementos so­
ess. bre a �pulaçio escnva oc:11paéfa nas usinas de aç4car, cf. lllodam�- 1111-
(6) Arquivo POblico do Estado de Sergipe, pacotilha 125, Mapas Exatos da População
� Ed, Paz e Terra, RJ, 1977.
de S. Cristóvio (·14/5/ 1825), Santo Amaro dlls Grous (30/4/18251, Lagar•
to (25/4/1825), Propria!(27/4/1825), realizados pelos respectivos Capitães-Mo,_
(16) Referfnclas Bl bllogrdflcas e ArqulvfstlcasrelatlV8$ aos Engenhos de S =
das vilas. - 1612: Llwoquedl,azlo-, &bldodoB�apud M. Buesa.i, l n H &D-
(7) A respeito da popu�o desta zona ribeirinha, consulte-se nosso ensaio, ·A J:f:.: nOaicaclo BIIIIQ. APEC, RJ, 1970:66,
�o se,gipana do Rio São Francisco no primeiro quartel do S6<:ulo x1x·,
rio do Al'IIUiw Na:iofta(.ano IX, n!! 9, 1978, I?· 3-14. - 1637: Manue1Alres de Cll$8t �Bnaaial,Liv. ltatiala-USP, 1976,p,
(8) Arquivo Põblieo do Estado da Bahia, Maço 188. Registro aqui meus agradecimen­ 250.
tos cordiais ao Dr, Stuart Schwartz, da Universidade de Minnesota, pela gentil; ... 1724-30: Sebastllo Rocha Plta, Hile5rfadl Am8r1c:a � 1730.
dicação deste documento. - 1756: Jos4 Antonio Caldas. NOCfc:la 'G... de tDda illa c.ttaala c1a Bahia
(9) LR.B.Mott. 1!176. oo.ciL deacle o-Ducat..lo......,allo,._a-de 1759. Ed.�ac-Slmile, 1951'
(1O) Katia M.de Queiroz Manoso,·os Escravos da Bahia no alvo,- do S6<:ulo XI x•, P. 435-8,
Reriiaa de HiâSria, 97, 19'74; Maria Josá S. Andrade, ·A mão-de-obra escrava eni - 1798: Luls doa Santos Vilhena; A Bllllllano Slmll, XVIIL Salvador, Ed. ltapuã.
Salvador de 1811 a 1860", T- de Mcsaaacto. Universidade Federal da Bahia, voL l,'1969, p. 57,
1975; Joio Josá Reis, ·População e Rebelião: Notas sobre a populaç:io escrava na - 1802: Arquivo Histórico Ultnlmarlno,Serplpe, Caixa 3; Reprasentaç4o deJos4
Bahia na primeir.t metade do Século x1x·, Reristl das C"'1iciaia H� 1980,
Borges da Cunha.ao Rei �- Cristõvlo, 14/1/1802.
n!! 1,voL 1, p. 143-154; MaryC. Karas1t, ·s1ave Life ln Rio de Janeiro' 1808-1850"', - 18�7: Arg, Põbllco do � da Bahl1, sidas. Matricula dos Engenhos da Capi­
Ph. O. Dissertation. University of Wisconsin, 1972.. tania de Sergipe (Bahia), para pagamento dos dfzlmos reais administrados pela
(11) L.R.B. Mott. ·Pardos e pretos em Sergipe: 1774-1851•, Rerisla do 1.-J11111> de Junta Real da Fazenda. 30/9/1807.
EscudmBc íl irw.,n218.1976,p. 7-37 - 1808: O, Marcoe Antonio de Souza. op. cit.
(12) Não oodemoc nos esquecer que Sergipe não passava de uma pequena e pobre Pro­
vlncia. ouja 6apital, S. Cristóvão, possuía em 1808 apenas 400 moradores (O. - 1809: Biblioteca Nacional, li · 33, 15, 171,o Olfcio do Juiz Ordln�o,Vereadores
Man:0$ A. Souza, op. ci.l. p. 16), apresentando em 1837 um total de 643 assas, das e Procu111dor da Co� de Slo Crlstóvlo, ao Rei, 29/12/1809.
quais, 45 •;oabldvel�(Arq. Publl. Est. Sergipe, Pac. 801, La�to da Oluma - 1815: Arquivo NaclonaLCx. 191, J>!IC.�doc.7,/0ffcio de Ouvidor da Comarca
de S. CristóYio em 1837). Laranjeiras, por seu tumo, a povoaçáO de maior desta· de Sergipe, Jos6 Teixeira da Matta B r, ao Rei, 16/1/1815.
que oomen:ial e cultural da província no seculo XIX, em 1816 possuía nos seu$ 752 - 1817: Aires de Casal, op.ciL p.146.
fogos, 2.035 almas de confi$$âo (Arq. Nacional, Cx. 267, pac. 1 Offclo do Escrivão - 1820: Arq. PdbL Est. Bahia. s/c:lass. Matrícula dos Engenhos da Capitania da
do Auditório Eclesi4stioo de S, Cristóvão. 17/12/1816), em 1829, •900 fogos ar· Bahia (Sergipe) para pagamento dos Dfzimos Reais administrados pela Junta
ruados" (Arq. PObL Est. Sergipe, pac. 34,•Representaçio dos Moradores ele La­ da Real Fazenda. 1820,
ranjeiras ao Presidente da Província, 18/7/1829);contando tamWm as residlnclas - 1823: Arquivo Põbllco do Estado de Se,gipe, Coleção Sebrão Sobrinho' Cópia
de seu distrito (zona rural e urbana), em 1839, Laranjeiras contava oom 2. 132 fogos da Matrícula dos Engenhos da Província de Serg_ipe 13/X/1823
(Arq. Nacional, 19·4·13, ·Apoc1ta,1e,1DS para a hisldria de Sagip.-'. Ralaçlo dD - 1824: Arquivo Põbllco do Estado de Serglpe,G\ f5, Offcio do Preslente José
0

N� de,.._ de Sergipe mn 1839). De_. como C- de 1872(op.d&J, Antonio SIiveira ao Mlnlstdrlo dos Negõclos do Interior, 15/4/1824,
mais de 80% dos esaavos de Sergipe estavam ocupados no setor agropea.i,rio. - 1825: J.J, Gonnet. op.ciL
(13) De acordo com a lista dos ·Lavradores que plantam mandioca", de 1785L num total - 1826: Biblioteca Nacional, 19-4-13; Noticia Topegrdflca da Província de S�r·
de 31 engenhos de açOcar (15 em Socorn>, 10 no Vazabarris, 6 em S. 1,;ristóvio), glpe realizada no ano de 1826 pelo Pe. lnklo Antonio Donnundo,da Ordem do
Conselho do Qovemo e resoluçao tomada em sessão de 4/12/1826.
havia um total de 814 esaavos, que se distribuíam da seguinte tom\&: dois en.ge­
nhos com menos de 10 escravos,. 10 eng. com 11 a 19 escravos. 8 eng. com 20 a 29, - 1838: J, C. R. M. Sjlint·A�olphe, op. dt.
7 eng. com 30 a 39 e finalmente, 4 engenhos com 40 a 45 escnvos.. Quer dizer: mais - 1840: Relatório do Presidente J� Antonio de Oliveira e Sllv-, Mapa n!!
de 87o/o dos engenhos das principais áreas canavielras de Sergipe funcionavam - 15, 8/3/1852.
com menos de 40 escnvos, situação aberrante dentro dos paradigmas da indOus­
tria e,çucareira da Bahia, pois segundo as palavras de um vig6rio do Recõncavo,
....
150
..
1840• Ofício do �<1im.� Wenceslau de Oliveira Belb ao M1nilli1r10s
- n,.__
_A · u• N�M-68(67,159,73). . . ?A..: ",. .;
rq ek":.:to José Antonio de Oliwlra • 5,_ - ..........
��.
-852: R do �dente !D!!
- 81
- lSS 1�52.elab!rio do vice-Presidente Barão de Maroi"" 261211�-
/3/ 6: R kk. cit. 976.
k '],.� "ff:
1 . · · 8 ti- -
_ ��á�Ô� S�ótica da f'._rovfncia de Sergipe, Martt��=:-z.
. Reiatõrio Plaidente Joao Oubney d'�velar B .:�
�=ó., 11211g ,, "'r'"
:... •
m RelaUriodof>residetrteJoaquimJacanto de
- � itf. R� do ,residenteJoaq� imJacinto de M�.,.:x:--
- 18 1:.R..............,_ d& presidente Francisco J� Card oso
- .u<aL1
3131181�.
�•• � t .
; .•. •
- 87 R-!" deAzevedoM -.do,.� �-'3 1 IU

: rn:: ��
,Pres"denteR uiAlva 1
11

- 1 72: elat6r!ot/ !denteJoséAires do Nascimento, t/311183.


-

•.
res v ,., ..
es

a.a.o, � .• .�,::.
do P�idente Francisco de Gouveia Cunha O IMPERIAL INSTITUTO SERGIPANO D� AGRICULTURA
(1 \ LR.B. Mott. 197.!:C:- 12 ��h
7 TomemoscomD
(18 O E o Buraco situado na região do \taub '!"-._... E A IDEOLOGIA DO PROGRESSO
em l7'SS·l78ti c»mava com apenas 7 'cativos • (ef. L"sta
1 dos lavradela ...
plantam mandk>Q,,.. "+-do)·
,& ci"' • •
. . de alguns estabelecimentos desta-ProvCncia · s---
. dl --- ·
t·�) ?:J:'�� Pnsidente João DabneyA. ·sr otero.

·� ..o comportamento mental se constitui numa important8


d;mensão da vida social. Pode-se mesmo afirmar que o estu­
do de certas formas de pensamento e de certos conceitos-cha­
ves constituí o ponto de partida estratégico para a compreen­
são de um complexo social. A partir de tais observações n§o
há que admitir, ingenuamente, que os limites entre o mental
e o soeis/ pOS$8m surgir, numa análise, rig;damente estabele­
cidos: não há história da mentalidade válida que não seía ao
mesmo tempo história social. A re1eiç5o de tal postura meto­
dológica implica uma concepção entfficadora de nlveis da
realidade (o social, o mental,o econômico, o polftico, etc)
que nunca ocorrem isoladamente, em se tratando de Histó­
ria':

(Carlos Guilherme Mota: Atitudes de Inovação no Brasil


1789-1801. Livros Horizonte, Lisboa,p. 18)
153

e. Presidente Thomaz Alves Júnior, 15 de agosto de 1860 e 4 de março


de 1861.
3) Col�o de Leis e Resol119Ges da As.,emlWa Provincial de Sergipe
(1850-1870).
4) Pacotilhas 285 e 416 do Arquivo Público do Estado de Sergipe.
S) Correio Sergipeme (1859-f86I).
Considerando a exiguidade do tempo que dispusemos para realizar o le­
vantamento de dados, somos quem primeiro reconhece o caráter perfunctório
destas páginas. Nosso intento ao escrever este ensaio foi apenas �ar alguns
INTRODUÇÃO ;.• temas que J>areceram-nos relevantes para a compreendo de um IISJ)CCto pouco es­
tudado da história de Sergipe. Pretexto para discusslo e ponto âe partida para
realizaçfo de D. P� I(!.
A mais importante, senão a �ais come . �tada futuras pesquisas mais aprofundadas, eis o que "pretendemos com estas reflexões.
,or ocasião de sua passagem por Ar�caJU, � }aneiro �e 1860, quand<;> a cam_mba:.
do Imperial lnstituta-::
1.a Cachoeira de Paulo Afonso, foi sem duvtda, a cnação J: A PE�CEPÇÃO DA CRISE
,ergipano de Agricultura. (1) Saudado como "u1!1 dom cheio �e�� futuro" t.
ncerrando em si "o futuro da riqueza e prospendade da Provincia (2), o IISA-­
riado por Decreto Imperial de 20 de Janeiro de 1860, teve seus Estatutos ap� Lendo os joma.!!l..�eJatórios presidenciais e outros documentos dq ter­
ados por Decreto o.o �602 de 9 de ju�o de 1�0. (3) , ,·.: ceiro quartel do século ;u.x, uma da.a idéias mais freqüentes é a de que se vive
Foi através do enconu-o fortuito do Livro � Actas da �o d� numa epoca de crise. Esta situaç4o crítica nl"o se limita ao território de Sergipe,
téia Geral do Instituto d'Agricultura Sergipano, existente no ArquIVo Púh_l� mas se generaliza por todo o Império:
lo Est.ado de Sergipe, (4) que tivemos no� atençfo _chamada para tal In.stitu..... "que o país acha-se sob a presdo intensa de uma crise econômica, todos o sen­
ão. A medida que aprofundávamos a p� a respe1to �os a�tecedentes, orga­ tem e freqüentemente o dizem". (6)
.iza.ç4o, funçto e realizaçoes do IISA, conc�os que sena m� r�evante e czu.. . Na Província de Sergipe eÍa coll8titui uma das grandes preocupações das
iaJ se alargássemos o panorama desta pesqu1Sa, nfo nos restrmgmdo apenas à r\utoridade& Assim, a 15 de agosto de 1860, o Presidente Manoel da Cunha Gal­
,ma análise de tipo institucional, mas faz�do dela�":'� entrée para o estudo de vão ao entregar a administraç4o da Província a Thomaz Alves Jr., dizia:
U1l problema mau; geral da sociedade sergipana no 101c1o_ da se�nda metade dG "A crise �o�e temos passado (é) suficiente para justificar o estado da divida da
éculo XIX, a saber. a ideologia progressista. Nesse sentido, o IlS� �m vez de. província '(7)
ausa é por nós interpretado como um dos recursos que o pode,- publico - l= A crise se manifesta em diversos setores da sociedade provincial: nas fi.
,erial' e Provincial - fançou rMO a fim de "preparar o caminho da regeneraçlo e nanças públicas, no abastecimento da capital, na segurança pública. Mas é sobre.
lo progresso da agricultura". (5) . . rudo a crise da agricultura que desperta as maiores atenções·e cuidados. Ela é a
Em linhas gerais, �ataremos neste ensa�o dos_segumtes t�: começa­ que mais polariza e reflete os desequiliôrios existentes nos demais escalões da so­
nos por analisar como os orgaos govemamentllS e � unprensa _da epoca perc�­ ciedade:
,iam e diagnosticavam a crise pela qual passava a sociedade sergipana. Em scgur · 'A agricultura é uma parte da indústria �ícola que abraça todos os trabalhos
la tentaremos descobrir quais as perspectivas que eram apontadas a fim de se pelos <Juais o homem constrange a terra cúltivável a produzir até satisfazer suas
operarem aqueles graves pr�blem� q�e af�tavam p�c1osamente os set�e:a necCSSJdades. Sem questionar se é ou na"o a primeira das indústrias, o que é certo 1
nais significativos da economia provincial A 1deologui movadora ou progressista.. é que nesta província ocupa ela os cuidados da maioria de sua População e cons­
erá estudada através da análise de três elementos principais: do IISA, das te�tati: • litue a principal ri qu eza de seus 1labitantes, hem como é a fonte primária das ren­
·as de modernizaçfo tecnológica e�finalmente, através da caloro;l9 p0lêm� •• ',
espeito da substituição do trabalho escravo pela mllo de obra livre (colo�.
das provinciais. Não abrange eia pocém muitas espécies de cultura e quase que se
1
:ao). n.•_u•
Para estas reflexões fizemos pesquisas notadamente no Arquivo nw•JCO.
acha reduzida à simples cultura da cana. O seu estado é decadente e exige pronto
remédio e imediatas providências." (8) 1
lo Estado de Sergipe, e na Biblioteca Pública do Estado, ambos em Aracaju. Ser-' Muito semelhante a este é o parecer do Redator do Correio Sergipense 1
-iram-nos de fontes primárias as segumtes obras: num artigo escrito �ns, il.ias subseqüentes à visita de Sua Alteza lmperiafa Ara­ 1
caju. Ao analisar a mtuaç4o da província eis seu comentário a respeito daqu ele
momento histórico: . 1
1
l) Uno de Actas da Sessfo d'Assembléia Geral do Instituto d'Agóc:ul- "A agricultura se acha num tal estado que a continuar desta maneira irá defi­
túra Sergipano (1860-1881) }. nhando como já acontece desde a certo tempo". E mais adiante, o mesmo crinco
1
2) Relatórios e Falas Presidenciais:
a. Presidente Amâncio J. Pereira de Andrade, l .0 de março de 1850.
insurge ainda com maior ardor contra a decadência da economia agrícola:
·� tempo que este estado de causas mµde a não se querer que a Província se 11
b. Presidente José Antônio de Oliveira, 8 de março de 1851 ache realmente comprometida, pois que II produçao do açúcar que por ora é o
c. Presidente João Dabney d 'Avelar Brotero, 7 de_ março de 1859. único ramo de cultura da Província e sua unica e principal ri qu eza (por ora) vai
d. Presidente Manoel da Cunha. Galvão, 27 de abril de 1859. definhando cada vez mais''. (9)
154 155

Este "definhamento" da agr icultura em 1860 era muito mais real do cana, ao emprego quase geral de animais como motor,à falta absoluta de máqui­
que se podia imaginar. Dizia o Presidente Galvfo no seu relatório de 15 de agosto nas." ( 17)
de 1860: . Como se sabe, a tecnologia nos engenhos se mostrava arcaica na quase
"Segundo me informam pessoas antigas de Sergipe a safra foi este ano tão mes­ totalidade ,das fases �o processo �ro<;lntivo: havia sérias resistências ao uso do ara­
quinha coroo não há exemplo desde 1830". (10) do, aos metodos de irngaçfo artificial, sem falar da quase completa aueência de
Como explicavam as autoridades e críticos da época "o estado decaden­ máquinas hidráulicas ou a vapor.
te... o marasmo e apatia da lavoura na Província de Sergipe?"(11) Quais as cau- "Muitos poucos senhores de e� enho têm adotado o W10 de má inas para moer
qu
sas da crise? as canas,quer como rodas hidráulicas, quer como máquinas a vapor estando es­
. . . .
Percebemos um certo consenso' em apontar a rot:ma como a pnnCipal tas últimas assaz desacreditadas,nesta Província, por ser mal �tad� ou n!"o ser
responsável por tal situação crítica: da força p�isa a única que �ela existe". (18)
"Os homens (vivem) aferrados à rotina.!" (12), exclamava Thomaz Alves Jr no Ha �em tenha sali�tado outras �usas para explicar "a ruma" da la­
seu discurso de inauguração do IlSA. vou_ra em .Sergipe. O_ D�. Tobias �ello Lelte,d utado surl�nte na Çilpital Ln­
ep .
Ao anuncia.r ao público leitor a existencia de alguns exemp_lares da "in­ penal, eleito ,Pelo Dl8tnto de Aracaiu, escrevia numa carta dirigida ao Presidente
teressante obra O Lavrador da Cana de Açúcar", o Oficial Maior da �retaria do Galv4'o, que 'o caráter nimiarnente tím.ido·(dos senhores de engenho) os precon'­
Governo nfo titubeava em proclamar que "o nobre corpo agrícola desta Provín­ ce�tos que': educaçlo lhes imprimiu, o sistema defeituosíssimo da.c�tua.-a e fa­
cia" encontraria na leitura da referida obra ''um meio fac11imo de uma vez deixar boco do açucar entre eles, e finalmente, a falta de capitais 9?e os oprime·' e que
a mortífera e caron.xosa rotina,à que está U:o arraigado". (13) no meu fraco entender é a principal causa do seu atrazo ". (1'1)
A campanha em Sergipe contra a rotina pode ser interpretada como um Como reflexo d� esta�o de coisas pouco favorável à economia agri'co-
reflexo do que se passava na capital do �pério onde ta!lto º: poderes públicos, 1� encontramos no Co1Teio Sergipense, entre 1859 e 1860, wna série de anún­
.
como a imprensa cu.idavam de anat�a�ar a d;C8déncia _agncola. Um exemplo CJ� �e fazendeiros .que of �ec�m seus e�enho� e propriedades à venda;
tais
disto é este extrato do Jornal do Comerc.10 do Rio de Janeiro, portador do suges­ anun_e.t<?s . pode� servir com_o mdices pa�a di
agnosticarmos este momento de crise
tivo ótulo "Agricultura-Lahi.rinto", reproduzido no Correio Sergipense de 12 n:i h1Stona SOCJal e econõrruca desta região nordestina. Vejamos dois d estes anún­
de dezembro de 1860: cios: "Send? os _ ahaixo assinados �este C�rreio Sergipense n.o 41 de 9 do corren­
"A Agricultura no Brasil com�a a faze; verdadeiros esforços pan �car« das te, o anúncio feito. pelo Sr. Joaquun Martins Fontes no sentido de vender os seus
rudes e pesadas garras da rotina, :.ee e sempre tfo fatal e ta'.o contrana aos gran­ engenhos S. Fran�o e Salobro, e que quem os _P.retender se dirijaa L arto,a
. ag
des m�or�entos das naçôea". Na conclusão de seu.�. º autor lança impro. P;OCurar o anuncaante - Têm de prevenirem
. ao publico que o dito Sr. Fontes es­
périos a rotina, tratando-a quase como se fosse uma msbtwçA'o ou mesmo uma ta sendo acionado pel? foro de Aracaju, onde reside, por mais de reis 26:
OOOSOOO, que deve a diversos,alem ,
entidade íísica: de outros credores, que t.éln dire ito aos seus
"(V oi temos) as costas à maldita rotina._ (da) é velha ,enfesada e feia_." (14) bens para seus pagamentos, e que o nfo acionarão por ora. Portanto, se tais ven­

ruJJ1a
Ê ainda wna vez Thomaz AJves Jr. quem chama a atenção sobre esta ini­ das forem feitas sem II concorrê!tcia, ou acordo dos credores, deverão ser tidas

1
miga "da lei do progresso": o lavrador aí está ou entr�e à rotina que o faz re­ como f�au�ulentas e c�ntra elas desde já protestam os abaixo assinados. .. Cidade
troceder, ou à que o aniquila completamente". (l�) de S. Cnst�lo, 15 d_ e Julho de 1859 ." (20)
De crítico 2ara cn'tico varia a ênfase dada aos sintomas da rotina. O Pre­ .Ai�d11 ma15 r�velador da crise é este anúncio de um Senhor de engenho
sidente Galva:o, no Relatório em que entregava a gerência da Província a seu su­ de 1 �abaaananho, publi�d � 19 de julho de 1860: "O abaixo assinado, M . anoel
<?

1
cessor, dizia: da. Silva Card'?so, propnetan o �o Engenho Jacaré, do municapio de ltahaianinha,
"O país por ora quase exclusivamente agrícola,não possue um só Estabelecimen­ d eIXou de estilar no seu alamb iqu e desde o ano de 1856,e nem pretende conti­
to onde possam ad quirir as !loções mais element�s .necessárias ao la� dor . .. Se nuar; para que na estoçtro competente na'.o seja mais cotisado, fez público pelo

1
pois os poderes do f::stado tem olhado com tanta indiferença para aquilo �e tal­ presente." (21)
ve:r; mais atenção devia merecer, como estranhar que não tenha feito a agricultura . Conviria refe�r que .�ta situação crítica, conforme adiantamos no iní-
no Brasil o menor ,progresso, e ainda se ache entregue à rotina? ainda se veja tra­ cio, embora sendo mru5:-notor10 e grave na agricultura, se faz sentir i almente
balhar à enxada onde devia sulcar o arado, ainda se veja a força muscular do ho­ em outros setores da sOCJedade sergi(lana. As finanças públicas,v .g., se gu ressentem
mem e dos animais produzir os efeitos que os países civilizados entregam às má­ fortemente nest�s anos de decadência ag . rícola. Assim na prestaçtro de contas da
quinas? ( ... ) Os terrenos fertilíssimos desta Provi'ncia estão por ora só dependen­ Tesouraria Provincial, dizia o Presidente Galvão:

1
tes dos favores do Céu para a produção: a irrigaça:o com seus resultados milagro­ "Se o estado das finanças desta Prov(ncia quando tomei posse da Administraç:Jo
sos ainda na:o foi tentada; ai máquinas ainda nfo substituem o braço do homem, na'.o era feliz•. hoje �da não o é." Isto diz111 porque ao entrar no Palácio do Go­
raríssimos são os engenhos cujo serviço é feito por máqu inas..." ( 16) v.emo o re!�do Presad�nte encontrara um deficit de 82:2ll $015, e ao transmi­

1
Comungam o mesmo parecer os Diretores da Companhia de Refinação .tir a Ad�m1stTação deixa a seu sucessor um deficit que segundo os cálculos da
f esouran� era de 1�2:057S l�O, no dia 30 de junho de 1860. (22)
e üestilaça:o Sergipenses, que em requerimento dirigido à Assembléia Provincial , . Neste senbdo, rufo e sem razã'o que o Presidente declar.1 neste mesmo
assim pintavam o panorama da indústria açucareira: Relatono:
"(Ela) definha devido à ignorância dos mais simples métodos ôe boa cultura da "/\ quadra atual é péssima em relação a finanças ... " 1
157
156

Comentando a época da presidência de Thomaz Alves Jr. diz Filisbello tava que "um abismo esperava os Senhores de Engenho", caso continuassem no
Firmo de Q(jveira Freire: "Daí em diante, os deficits tenderam a aumentar e tor­ mesmo passo tradicional.
naram-se permanentes na história financeira da provfocia... Não obstante o au­ Resumindo: a situação da agricultura notadamente durante as presidén­
mento da produção(?), o desiquih'brio cnlle a receita e a despesa tomou-se cada cias de ��vfo e Alves Jr. �scitam graves preocupações pelo seu estado â ecaden­
vez maior. AJém dessa decadência fin_ anceira, para a qual Uo poderosamente con­ te e rotinea.ro. As perspectivas futuras nfo S4'o nada acalentadoras caso se deixe
tribufo a mudança da capital,seus.efeitos foram de grande inconveniência nos que � lavo�ra permaneça no mesmo marasmo: �m 186� falava_-se de aeatia, deca­
centros populosos que já existiam nas circunvizinhanças de Aracaju. Laranjeiras dê:11c1a, ro bna.
_ O futuro se apresentava aos cnbeos da epoca amda rruu.s sombrio:
que era o melhor centro comercial, decaiu..." (23) n.una e abISmo.
�ão são apenas as finanças públicas que se ressentem de tais momentos Em vista de tal situaçlo caótica e desalentad0111, surge por esta época
problemáticos. Os consumjdores do mesmo modo sofrem penosamente com a c.a­ c?m? que uma nova cruzada que tem c�mo escopo dinamizar a lavoura na Pro­
restia dos gêneros alimentícios. Os habitantes da jovem capital, em particular, pa­ V1i:ic1a. As palavras de orde� de tal. �oVJmento sS:o: maquinismo, estradas e ca­
decem ao extremo com a falta de géneros, mesmo os de prime.ira n�dade: naJS, coloruza�o, �ola agracola, credito _ t?r!ll. Em síntese: progre5SO.
"Ao chegar a esta capital, (relata o Presidente Galvão), reconheci logo as grandes Tal moVltnento parece querer IIlJetar novo sangue à papuJaçfo sergipa­
dificuldaaes com que lutavam seus habitantes à respeito de todos os cõmõdos da na, dirigindo sua propaganda sobretudo ao "nobre corpo agncola d esta Provín-
vida: os objetis de consumo todos caríssimos e escassos; a carne verde que se cia". (31)
:ortava nfo ch�ando para a popula�o e vendo aprox_imar� o dia em que esta Tem-se a imp ressão de que os ideólo�os e corifeus de tal reggiomamen­
nesma ia falhar'. (24) to querem afastar todos os argumentos aos ceticos quanto a importância da in­
Entre as causas da carestia dos géneros alimentares o Presidente assinala dústria agríco�a n? contexto da econo�ia sergipana. Por esta razA"o, nlo poupam
'a seca desoladora que devastava a Província" e "a falta de braços oriunda dos esforços para Justificar mesmo as premlSS8S áesta campanha a saber a exclusivi·
:lesastres e estragos ocasio_nado! pela Cólera Morbuf: Os maiores prejudicados dade e_importtncia da agricultura no Império Brasileiro. Ne�te con�to, o Dis­
:.ntre os moradores da Capital, sao segundo a mesma fonte, os empre gados púhli­ curso lido por Thomaz Alves Jr. quando da inauguração do ISSA constitui docu­
:os, os quais "dispondo de ordenafos tão mesquinhos para vencer as dificuldades mento fundamental para a comp reensso dest.a realidade. Acompanhemos suas re­
mensas, e entre estas a de não terem ao menos carne fresca para o seu sustento, flexões a respeito da "independência social-internacional"· das nos introduz em
tenlo por preço que nã'o estava ao seu alcance". E num desabafo 6nal , o chefe de �heio a um dos �Jciomas do pensamento político e eco'nórnico deste ilustre
fa Província retrata a existencia penuriosa dos habitantes do Aracaju que entre serg1pano, a saber, a lillpOrtância e excelência da agricultura no Brasil da segunda
nuitos males de que padecem, "estão privados de boa água de beber de luz de metade do século passado.
:alçados, e de outros rnwtos cômodos que se gozam em todas as capi�."(25) "• «o. é independ�t� o P?VO (apenas) porque se governa com suas leis, com suas
auto!1dades_oonst:itu1das; independente é aquele que tem em ai todos os recursos
II. A TDEOLOGIA DO PROGRESSO da vida social, e que pode fazer prosperar a seu comércio, a sua indústria e as
suas artes.. �bora o �xalt.ado patriota exclame: quebrei as cadeias do despotis­
mo .e da tiraní!, sou livre porque pertenço a um país que tem chefes, instituição
··u progresso é uu, 111anceLu 111u1tc, l"m,to, muito corajoso, entusiasta.'' e leis, o _seu ��o no�re e natural ntro passa de um bom desejo, quando a inde­
(26) pendéncia po�íbca existe mas quand� a escravida'o permanece em todos os ramos
Conforme acabamos de ver na erimeira .P.arte deste trabalho, um dos do desenvolv �ento moral e m,!ltenal_ de um povo. Há �da uma utopia neste
problemas que mais sensihifuava as autondades públicas e os redatores do Cor­ pensamento,e verdade, quando se aspira a uma completa independência ac me­
r�o Se�pen.se, era a rotina em que se encontrava a agricultura em Sergipe. To­ nos prema�ra, quando se deseja que o País seja grande e superior em todos os
dos senbam e comentavam fre qüentemente tal situaçllo: ram�s . da VJda social. O P:ogresso está sujeito a um passo lento e refletido; seu
·'Sobre os meios para conjurá-la muito tem-6e escrito, largamente tem-se discuti­ pre �1p1tar faz abalar a sociedade, e talvez retrogradá-la. Poctanto, se somos liv res
do, sem que até o presente tenha-se chegado a qualquer re:.-ultado, nem ao menos polibcam�� falando, procuremos si.Jo na viáa social-internacional nfo de um
para atenuá-la." (27) modo prec1p1tado, porque se é um mal a liberdade polfüca sem a liberdade so­
Não ohstan te os "resultados" ainda sere� nulos, a verdade é que certos ciaJ-in temacional - poc<Jue é uma escravidiro disfarçada - pior será p_rocurar a
;etores da opinião pública estavam cada vez mais sensibilizadoo pela necessidade independência completa precipitadamente, porque não será alcançada. E verdade
1rgente de por um fim a tal "marasmo e estado de apatia": �e somos livr_ �, e <i'!e. so,mos livres 'desde 7 de setembro de 1822. Gozamos da
'Estamos no ano de 1860, devemos apreciar quais as necessidades que sofre a la- liberdade pohbca. Glóna aqueles que para tanto cooperaram. Mas ainda estamos
1oura , quais os meios mais prontos de remediar essas.necessidades". (28) muito longe, dessa independ�� i� �cial internacional a que toda nação deve aspi­
rar porque so então se constituira rndependente, como cumpre que seja. Para isso
Temia-se nesta época que "o estado decadente" da a�cultura se agra­
,a.sse ainda mais com o correr dos anos. Thomaz AJves Jr. vnt:icmava "males emj. deve o País lançar-se descuidoso em todos os ramos de indústria? Deve abraçar
nentes" (29), e o Deputado Suplente Tobias R. Leite, em carta publicada no de um só _golpe todos esses elementos de sua grandeza e prosperidade? Acredita­
:::Orreio Sergipense aos 23 de março de 1859 aspirava que os conselhos que dava mos que não, e que se tal fizesse, teria desejado o impossi'vel, e em lugar de cami­
10 Presidente Galvão pudessem "prevenir a ruina que (antevia) eminente à fortu­ nhar para o progresso, teria se precipitado, e deixado de caminhar segundo a lei
,as públicas e particulnrea.'' (30) Na mesma cart11 este fiU,o de Sergipe agouren- natural do desenvolvimento. Portanto, uma reflex4'o, e ela é bastante para 006
159
58
ganismo Imperial Instituto de Agricultura. No Nordeste, foi na Bahia onde pri­
all'ar da utopia e do precipício . O que é o Br3;SÍ-l enquanto aos ram� de indú&-_ meiro se estabeleceu tal Instituto, criado por decreto lei de 1.0 le Novembro de
rias? O Brasil é essencialmente agrícola, o Brasil na:o pode ser por mwto � 18�9. Quando despachava o Imperador na cidade de Estância, deeretou a 20 de
enão essencialmente agrícola. Se o Brasil � essencialm;11te agríc�la, se o Braál janeiro de 1860 que em Sergipe também houvesse um Imperial �tuto de Agri­
ião pode ser por muito tempo senão essenc1alment.e agr1cola_, a agncultura é e.bí cultura, que foi criado "sob � mesmas bases do existente na Bahia". (40)
le ser por longo tempo a sua principal senão única fonte de nqueza". (32) O que vem a ser tais Institutos de Agricultura? Quais seus antecedentes?
Provavelmente, a in spú:aç«o de se criar estes Institutos surgiu depois da
A conclusão a ser tirada desta preleç.fo é uma só: �ge_ enco� oa fundaça:o em 1827 da "Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional". Tal Socie­
quau le-
meios para vivificar a principal e única fonte de riquezas da Provmcia. E dade, com sede no Rio de Janeiro manteve um periódico, "Auxiliador da Indús­
-iam tais meios? ., tria" (1 833-1877), que trouxe à discu.ss6o pública importantes temas relativos à
'Os Institutos Agrícolas são os únicos meios con_i �e podemos desde fl, PECP� indústria agrícola (inovações tecnológicas, mtroduç«o de novas sementes e mu­
do
0 caminho da regeneraç{o, do progresso da agncultura e portanto da nqaeza- das, etc), que foram posteriormente aproveitados e redefinidos pelos Institutos
país." (33) . . h 1 . �-- Agrícolas.
Como se atingir o progresso? Qua.lS os carmn os que evanam ao ua,c;u.o Nada melhor do que transcrever alguns dos artigo s mais significativos
volvimento? O que fazer? • dos Estatutos do IISA a fim de �teranno-nos de seu �pírito e aspirações.
Uma das idéías dominantes nesta époc� quand.� se fala em pro��
)
que ele estaria sujeito à "lei natural do desenvolVJmento . (34 Nada de JftCJPl· ESTATUTOS PARA O IISA
tações": Thomaz AlvesJr. ac??se:1Jia prudentemente a seus c�n�porâneoa:
"E preciso um pouco de pac1enC1a Uo somente, e algum sacrifieto, quer do Esta-
do, quer do indivíduo". (35) . . .
E ainda neste mesmo discurso, pouco mais a<hante, declara: Capítulo I: Do fim do Instituto e sua orgaruzação:
"(O progresso) está sujeito a um �asso fento e refletido; seu precipitar fu &balir 1) O IISA fundado na Capital da Província de Sergipe por S.M. o Impe­
a sociedade, e talvez retrogradá-la. '(36) , . rador, sob sua imediata proteçio, tem poc fim animar e desenvolver a lavoura da
Fala-se ainda nesta época que.a introdução de colonos da ProVJnaa 119- Província, já diretamente pelos
_ meios a seu alcance,já indiretamente auxiliando
(
presentaria "um tr�endente.prog_resso" 37), do mesmo �odo que "a.� o Governo Geral e Provincial em tudo quanto possa concorrer para este fim.
ção do tráfico de africanos (deix�a) ante�;f num fubuo mais _ ou meno�pron­ 2) O Instituto deverá em proporç4'o com os...seus recursos:
mo uma nova era para a nossa ��ultura? (38); falava� , ! inda
, haveriaque a 1� de I. fundar escolas e estabelecimentos normais em que se ensinem os prin­
já referida obra "O Lavrador Prallco da Cana de Açucar de ._. u cípios e ensaiem os sístemas mais convenientes de cultura da terra e sua prepara­
portas à nossa prosperidade e progresso" (39) ç.ão, os métodos que possam melhor concorrer para aperfeiçoar o fabrico dos
Progresso no pare�er de AlvesJr. não quer dizer diversi.ficaçf'o e_�i­ produtos agrícolas, fazendo às e,cpensa.s suas a introduç4'o de máquinas e instru­
ca muito menos industrializa ção. Embora reconhecendo que a dependê11aa so­ mentos que facilitem o tr�balho e melhorem
_ �s processo até �ra empregados;
e� internacional do Brasil {face às potências européias) �ra �'u�a esc!:viào � , .TI. estud � por� e P?r meio de comissões suas nos diferentes pontos da
forçada", nao obstante tal fato, ele advoga que d Brasil se.J& ameia po r mwto Provanc1a, os meios de facilitar o trans porte dos gtneros para seus principais
tempo:· Úl�ica e essencialmente agri'cola, pois� se lançasse "em todos� r.amoa rnerca?os, tendo em atença--o a comodidade, do preço da condução, e sua menor
da industna" certamente que em lugar de canunhar para o progresso _tena ae � mor0S1dade, e representar acerca aqueles meios ao Governo Geral e Provincial,
cipítado e deixado de caminhar segundo a lei natural do ôesen�olvunento. Em indicando a conveníência de levá-fos a efeito;
outros termos: diversificação da economia e início de industrualiuçfo reptesen-
tava "utopia e precipício". . . III. formar e r?':r anua1mente a Estatística rural da Província, a�ompa­
Assim, como se vê, a idéia de se cri.ar um Instituto Agr1cola surge como nhan�o-a de um� n:�ona em. que se expo�a o estado da �cultura, a marcha
uma resposta imediata pua se "preparar o caminho da regeneração do progteMO íavoravel ou preJ 1;1dicial .<!3s estaç�es, o ��e10 ou esperança das colheitas, a escas­
da agricultura". Su � �riação se !nsere no consenso �e gue urge encontrar oe llCZ ou ab�n�ãnc1a dos generos alimenhc1os, as causas a que se possa atribuir a
meios adequados e rap1dos para sair-Qe do marasmo e atmgir o progresso. �ua decadenc1a ou progzl�o, a . natureza dos novos processos introduzidos, quais
118 ,suas vantagens; as p Vidências qu� se. devam fo rma� �ara combater as epizo­
ill. O IMPERIAL INSTITUTO SERGIPANO DE AGRICULTURA ollas e outras molel! do gado, anunais e aves domesticas quais os remedios
aplicados, que mel res resultados praticados apresentaram:'o abandono deca­
dên�ia . e progresso dos estabelecimentos rurais mais im po rtantes, o es�do de
.udmin�tração dos gue pertencerem a órgãos, ausentes e as pessoas legalmente
[sto posto, vejamos alguns dados a respeito?� Instit:uiç:o que po�­ Impedidas de por s1 mesmo dirigi-los; as causas permanentes ou transitórias de
zou durante certo tempo as atenções do.s poderes publi�o� � dos homens da m­ decadência ou progresso da agricultura nos três anos anteriores: finalmente tudo
dústria agrícola de Sergipe . Corúorrne d�mos logo no m1�10, quan�o da pusa­ quanto possa interessar à lavoura;
'
em de D. Pedro II pelas províncias. d_ o Nordeste, rumo a Cachoei:3 de "Paulo IV.. criar e manter um periódico, às expensas suas, que exclusivamente
�onro resolveu o lmJ,>erador criar um orgito que se encarregasse de incrementar 1r1110 de agricultura, no qual alem dos trabalhos próprios do instituto se publi-
a agric�\tuca nas _provi ncias da Bahia, Sergipe e P emambuco. Chamou-u a tal OI'·
)61
60
pelos setores mais destacados da sociedade sergipense, desde os próprios Presi­
(llem arngos. memórias, traduções � n_otíc� �portantes _eara a lavoura, e que dentes, através 'de seus relatórios, até os debates jornalísticos. E se lembnnnos
:>:ponham em 1.iguagem acomodada a mteligéncia e iencralida�e dos l.avr�dores. que os EstatuÍos do IISA são 'mt�almente os mesmos do Instituto Baiano,
,s melh ores meios de cultivar !ISO só os gêneros usuais e conhecidos no pais, e a. com diferença apenas.,de algumas idéUIS (que foram aproveitadas) do discuno do
1ovos que devam ser introduzidos, como o tratamento e cria�.do gado e de a­ Exm.o.J>residente de Pernambuco, apresentado rui ocasü'o da instaJaçf"o do Impe­
iimais pouco ou não conhecidos de melhores raças e aves domesbcas; rial Instituto na me811la Província_.' (45), concluí"!os que tais. t�as de.-iam cer.
tamente constituir preocupações senão comuns a todo o lfnpeno\ ao menos sen.
tidas unanimemente e_elas princi pais Províncias nordestinas. Assim, v. g., a idéia
V. mandar vir novas sementes, renovos de plantas já cultivadas na Pr� da fundaçlo de uma Escola -Agr1 cola era há muito acalentada em Sergipe, e exa­
· · conheci-
'lncia, e de outru que dev am ser introduzidas, novos ·animais ou pouco ·
tamente, quatro diaSSIDtea da promulgaçfo do Decreto Imperial que dava origem
los ou de melhores raças,e distribuí-los �os ,azen, dei:� e.lavradores!, . ao IISA, o Redator do Correio Sergi p ense escrevia: "Dev- criar uma elleola em
Vl Cuidar da substituição dos raços necessanos.a lavour!.Jª por meJO que seja patente a todos os inter-dos neaia indústria ossbons métodos dé plan.
!e máquinas e instrumentos apropriados,estu�ando �� ? do . SL < tema de co­ tar e os mdh<ll'es processo de fabricar". (46)
onização nacional e estrangeira que pareça mats proficuo;Ja auxiliando o Gove,:. No seu Relatório de 15 de agosto de 1860, o Presidente Galvao assim
,o neste ern_J>enho; · colocava seu panto de mu sobre este tema;
VIl. promo\'er a exposição anual dos produtos da lavoura, arumando-e· "O país por ora quase exclmivamente agrícola, n!"o p�e um só Estabelecimen­
>OC meio de prêmios e facilitando o transporte e ven� d
. � & mesm� p � du .tos. to onde se poseam adqu irir as noções mais elementares necessárias do lavrador,
3) Os sócios do Instituto serão em número ilimitado, e �idos em quando eu entendo que tantas sfo as províncias quantaa devem ser as Escólas de
il"ês classes com a denominaçio de efetivos, corr�ndentes e bonoranos.. . Agricultura. Se pois os poderes do Estado têm olhado com tanta indiferença para
L Só podem ser sócios efetivos os íaz�de!i"?s, lavradores,p�opn�táriol aquilo que talvez mais atençlo devia merecer, como estranhar que rd'o tenha fei­
,u negociantes matriculados, residentes na Prov1nc.ui,que se tenham uiscnto co­ to a agncultura no Brasil o menor progresso, e ainda se ache entregue à rotina?"
mo sócios do lnsti�to ". (41) . . . _ (47)
Os capítulos restantes ("Do Fundo !()Cial", 'Da AdnunistraçiO soe.ial , rv. AS INOVAÇÕES TECNOLOGICAS
'Das Comissões Municipais de Agricultura" e ''Disp?sições Gerajs') t:natam m;t,ia
los princípios or · atórios desu lnstituiçio, en8UWld01'!0$ pouco a � A fundação de um periódico que tratasse exclusivamente da aizricultura
le seu eseinto e os çõeS. . . e da elaboraçfo de uma estatístie& rural da Província constituem juntamente
C.Omo se p e concluir a partir da lei�a destes par'graíos iruciau � com a criaç4o da Escola Agrícola, t�_tapvas do USA em racionalizar as práticas
�tutos, o IlSA passu.ia objetivos altamente movadore;s que se pastos em pra­ agrícolas no nível dt formaçlo e da �çfo de novidades referentes a indús­
ica representariam se nfo unia revoluçfo � lavoura �� a,· � m_mo1 uma re­ tna 86:o-pecwíria. Surpreende.nos ·que a mtrodução de novas má� não te­
orma substancial na sua estrutura e organJZaçl!o trad1c1onais. Nao.e pois sem ra­ nha Sido destacada como um tópico particular dentre os deveres do llSA: ela
:a-o que o Presidente Alves Jr. tinha afirmado entus.i.uticamente: aparece em segunda plana no tópico que trata precipuamente a respeito da funda·
'Nada há que possa satisfazer uro de pronto a$ necessidades do lavrador, como çlo das CBCol&s agrícola$. E igua!mente estarrecedora a maneira eufémica como
)$ lnstituto6 Agrícolas".(42) . . . foi abordado nos Estatutos o problema da m lo de obra: os termos escravo e ab�
E maJS adiante, no mesmo Discurso, o Prwdente comenta o significado
lição não aparecem - em seus lugares sugere este documento imperial que se cui­
[U e atribuia aos estatutos do USA: de "da subetituiçlo dos braços necessários à lavoura... "
'Lede o artigo 2. 0 desses Estatutos, refleti sobre o 9lle nele se escreveu,e vereia
.e porventura exagero n.a exposição que vos..te.nho_feito, e do quanto devemos e&­ Nlo obstante o relativo descaso destes problemas por parte dos Estatu•
ierar dessa instituição concedida com tanta convtcçfo... Quero crer que S.M. o Los do USA, o certo ê que a inovaçlo tecnológica e o probl ema do trabalho es­
mperador, liberalizand? esta instituição a Sugipe �o se enganou com os sena cravo constituíam um dos assuntos mais palpitantes e frequentes nos escritos pre·
lignos e ilustres 6.IJ:tos .:iue lhes �ez um presente _digno do ma,� 51;1�'.do �re,ço, sidenciais e nos ó rglos de imprenso desta época. Comecemos peJo problema das
,orque encena em SI o futuro da nqueza e prospendade da Pr°'·�n� .. (43) inovações tecnológicaa.
Pisando na tC1Ta, conhecedor que era por um lado da mercia,e por oo. Como vimos anterionnente, um dos temas mais repetidos qua.ndo se co­
:ro das "divergências domé..<ticas" existentes en� os proprietários de sua PT� mentava sobre a agricultura era o problema da rotina.,Esti gmatizada,a rotina era
,íO::ia Alves Jr. nfo obstante saudar essa instiruiç4o como ''um dom de feliz fu. sempre contraposta ao progresso,ao desenvolvimento.Aa críticas incidiam sobre·
uro" 'completa: "Oxalá tantas.-esperanças nao se iludam, oxalá a vida risonha e tudo na ruatic1d.ade d.a tecnologia utiliz.ada na lavoura e no processamento da ca•
,ró��ra do crente destemido e esforçado nlo suceda o suicídio do �ovarde e pu. na de açúcar. Escravos e animais de traçfo sucediam-se no eito e nas casas de pu.r·
gaz: u máquinas a vapor ou bidráulicas, e mesmo os arados, ainda estavam por
:ilânime que o.lo pode porque o.lo quer, oxalá o assinalamento mm giori� da
tisita l mpenal a e� erovincia n4� � r1 �do por ml!o sacri1ega e. vandálica de ser únplantados.
céticos sem con.9C1ênc1A e sem patnolllimo . . (44) Nlo obstante a aparência entusiástica de certos anúncios encontrados
Se nos detivermos na análise dos ob1etivos do IISA constataremos que no Correio Sergiperu;e, a máquinaria existente 1U1 praça À venda era bulante re­
:om exceçfo da quarta proposição do segundo artigo . (a criaçfo d� um pe· duzida. Eis dois anúncios de um ne.gociante de ferragens, João Welch {Wilk?.),
;ódico), todos os demais tópicos já tinham Sido asSJduamente discuodos . proprietário de um depósito de impfementoi mgrícolas em Ma.roim. Através de.
163
162

O Engenheiro Pedro P. d 'Andrade, que criou e montou a W>rica siblada


tes anúncios de propaganda podemos obter alguns dados sobre quais ferramentas
. da ela época. 110 H10 de Janeiro (pertencente à Companhia de Refinaçlo e Dcstilaçlo), acfian.
e u tensi1ios eram mais empregados na lavoura qu
do-se nesta Província,encarrega�:
"Aos Senhores Proprietários ae E enho: áquinaa,
ng 1) de <:malquer trabalho de construçfo de foma.lhas e ueentamento de m
O abaix ? assinado, JoJ:o �dch r�dentc em l\�oim, com depósito de
. 1 tanto para a indústria do açúcar,como pua qualquer outra;
unplementos agncolas e outros ob1etos ute1S para econonusar o trabalho partici­
:?) de mandar vir qualquer maquinismo da Europa afiançando boa coumu�,
pa aos enhores Proprietários c seus fregueses em ieraJ, que tem chegado um
modicidade de preços e prontida'o,para o que se acha em relaçlo com os melho­
sortimento de rodas e eixos de {erro de patente, Cahncados em Londre,; ' os quais
N'S construtores;
oferece por preços módicos. "(48)
:1) de qualqu er trabalho de constniçfo de edift"cios, estra�.
Cinco meses após tal a.núncio, o mesmo negociante volta a comunicar
l'o.ra informações,dirijam-$e à casa do Sr. Horácio U. "(50)
ao público, no mesmo jonw:
Alguns an06 mais tarde, em Janeiro de 1864, quando os membros do
"Cátálo �o de implementos 'agrícolas e outros objetos út&s que se acham à venda
. USA cogitaram em encomendar "um aparelho dos mais aperfeiçoados para o fa.
nos dep<>S1tos de João Welch. na cidade de Maroim:
!,rico do açúcar bruto", o proponente da &UgestA'O "ofereceu aeus préstim06 ao
mesmo Instituto, como peseoa conhecedora ila matéria em CJUestfO, ele procurar
- ;uados grandes e pequenos, pr6prios para abrir terra de virias qualidades. na Europa, nas diferentes.çficinas deste g€nero, quais os fabricantes que por con­
- Cultivadoras para limpar cana com arreios e pe itorais completos.. ta do Instituto fornecessem o dito aparelho pelos preços mais cõmodos". SI
( )
- G rades com 32 dentes para ciscar e soltar o terreno, A Europa continuava a desempenhar o papel de vanguarda ria conatru­
- Arados de subsoil para entranhar e quebrar terreno maisslate; �/Jo industrial e sempre que se aspirava adqu irir máquinas ou mesmo-bons imple­
- Enchadas finas com cabos para limpar cana e mandioca;
rnentos de trabalho,era a ela, e secundáriamente aos l:!:stados Unidos que se dev.i,
- Plantadores ou semeadores de arroz, milho e feijlo; recorTer. NA"o ob&tante tal dependência - à <J1:lal Thomaz Alves Jr. congnom.inou
- Máquinas para lavar roupa;
- Verrumas para abrir tem para esteios, estacas, etc;

de "escravidzo disfarçada" - o certo é que nesta época percebemos CJUº o go­
verno se preocupava em preparar a alme1ada - e distante - "independência so-
-.Peitorais com seus 'pertences para a moagem;
- Cei.fa.s para roçar e cortar o capim; cial - internacional". Assun, em 1860 o Presidente da Província autorizava "a
- Martelos de atarachar; dar o prêmio de 5:000SOOO a um engenheiro meunico ou à qualqu er particular
- Facas para cortar cana; que est��er nesta Província uma fábrica de fundiçi� que se preste ao conser­
- tlláquinas para picar a carne; to de maquinas de Engenho a vapor, rodas.-de ferro de moer com água e que ao
- Má�inas para encher line:uiças; mesmo tempo fabrique ferragens e instrumentos agrícolas". (52)
- Momhos inpeses para milho;
- Ditos amencanos para milho e café; A conccsslo de prêmios foi um re<:urso utiliz.ado divenas vezes pelo Go­
- Ditos para desca.&ear arroz ou caié; verno a fim de incentivar as inovações. Assim, a 22 de março de .1860 fá auta:iu­
- Máquinas para cortar capim para animais; do pela Asóembléia Provincial o projeto da criação de um "Engenho Modelo" pe­
- Foice& americanu com cabo; lo eng�nheiro Pe?"o Pereira d� An�de, o mesmo que exatamente um ano antes
- Ferros com letras para marcar; oferec11 seus serviços no CorTe10 Sergipense. Tal "E ngenho Modelo" seria instala­
- Flames para sangrar animais; do em algu111 �os estabelecimentos de açúcar da Província, empregando as m•
_ _
- Passadeiras de feno para limpar a tena dos buracos de este.aos· quinas necessanas para todos os trabalhos desde a moagem até a preparaçlo de
- Pás de ferio puchada por animais para limpar tanques abrir vda., aguardentes ..Haven� de seguir um novo método de fabricaçlo, que apresentava
- Picaretas com plbo para pedreiras, etc, e arrancar tocC:S; entre out:ru as segumtes vantagens: aumento de 25% no rendimento em dinheiro
- Rodas e eixos. de ferro }'ara carroçaa da mais afamada Cábrica inglesa·' de um mesmo peso de cana relativamente aos processos empregados tradicional­
- Ditas fabricadas no pais". (49) mente, e a obtençlo do açúcar branco perfeitamente purgado em vinte e quatro
hons. (53)
Como se vt, a quase totalidade dos implementos supra c1tad06 conti­ Na mesma página deste número do Correio Sergipense encontramos os
seguintes comentários a tal concessA'o:
nuam a depender da força mu&eular. Obsetvuc que as núquinas oferecidas des­
tinam« mais ao uso doméstico ou ao beneficiamento de gtneros de Sllhsisténcia "� Província pode,ap� da crise porque passa hoje, e deve mesmo por causa da
Nfo há neste depósito nenhuma "máquina moderna'' destinada especificamente" cnse, conc�der o prê�10 de 12:000SOOO ao dito Engenheiro, porque a verdadei­
. ra econom11 nJ:o consiste � na-o gastar dinheiro, mas em gasbr-$e conveniente­
ao fabnco do açucar.
mente,quando dessa maneua aumenta-6C a receita da Província".
No � de um Senhor d� �ngenho que prelende66e modernizar 6U&8 Em ou!r '?6 termos: os ideólogos do progiesso estavam dispostos a justifi­
.
instalações, teria _de _ recorrer aos pr�Imos de um tecnico oo conhecedor do as­ ,
car grande&,Sacnfícios (sobretudo aos cofres públicos) na medida em CJUC ee e&­
sun�. que na maiona dos casos devia atrave5SII' o Atlintico a fim de adqu irir nas tava 1:ontribuindo para o "desenvolvimento". Seguind� as pegadas da Socieda!le
ofic�as européias ?· maquinário necessário. Nfo raramente o Correio Sergipen.se Auxiliad �ra da Indústria Nacional do Rio de Janeiro, que importara e distribwra
P.ublicou um anúncio neste teor: entre os mteressados novas sementes de café, noz-moscada, mangusuo, bauni-
'Aviro à lndústria:
16S
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lha, etc, a (iro de divcrsificu a nossa agricultura, do mesmo modo o Presidente que Manoel Ezequiel Henrique montar na vila de Propriá, f,lrl deacaroçar llp
Joaquim Tibúrcio Ferreira Gomes aos 23 de abril de 1861 resolve "dar o prêmio da:o, pilar arroz e ex trair óleo de rícino e azeite de mamona. '(56)
de 1:000$000 a quem apresentar primeiro no espaço de 5 anos contados da pu· Este ela: inovadOI' pede ser detectado igualmente em outros nívei1 , co,
blicAçlo da pre..<ente Lei, uma p lantaçfo regular de 4.000 pés de baunilha no es­ mo por eicemplo, na tent.abVa de se divul gar uma literatura agrícola "cient(fict '',
tado Bore..�ente e de produzir frutos'� (54) Assim, a parbr do dia 26 de maio de 1860, o Correio Sergipense publica na ma
Nio satisfeito com a instituiça:o de prémios para os que correspo ndes­ seça:o de Literatura uma série de ensaios sob o título "Oàínord da Agricultu11
sem ao ela: inovad or do Governo .�s anos mais tarde, em julho de 1864, o vi­ no Brasil". Do númer o 53 em diante, a mesma seç•o é dedicada 10 tema: "Me,
ce·presidente da Província, Antônio Dias 'Cod.ho e l\lello sanciona a resoluçf o lhoramentos dos processos de nossa lav oura".(57)
n.º '685, que representa a nosso ver a principal medida tomada pelo Governo Não é apenas a imprensa periódica �e se,Preocupa em trazer à baila u,
neste período a fim de incrementar a introdução de melhorias na lavoura sergipa· su ntos referentes à renovaçlo da lavo ura na Provmcia, Tanto o Governo como
oa. Apesar de certas' condições serem um tanto inibidoras, nlo resta dúvida que certos setores ,Privados incentivaram a divulgaç•o de obras de caráter teórico e
ela re�resentou uma excelente oportunidade para qu antos se dispuzessem intro­ prático cuja leitura daria conhecimentos mais adequados aos f:azendeiros e lavra,
duzir 'aparelhos modernos" em seus engenhos: dores, devendo destarte "abrir as portas à nossa prosperidade e progresao ". Já
"Faço saber que a Assembléia Lqislativa Pro,ucial decretou e eu sancionei a noticiamos a existência, a� de fevereiro de 1859, óe "30 exemplares da in14.
Reeoluça:o seguinte: ressante o bra 'O Lavrador Prático da can a de açúrar "' que aguardavam quem ot
l) O G ov erno da Província fica autoruado a despen der at.é a <JUADtia de 20 con­ quizesse ad quirir�pelo preço de 5 mil réis. A 17 de novembro·do mesmo a.no, ui
tos de réis para auxiliar os proprietários de Engenho da Provinc11 que se propuse­ este anúncio no Correio Sergipense:
rem a melh ocar a fábrica de açúcar por meio de aparelhos moderno s de cozimen­ "Ac.ham-ae â venda na Ti_pografia Provincial de Sergipe, os seguintes manuaie:
to a vapor. Manual dos Arntes F ertilizadorea.
2) Este aaxílio consistirá no adiantamento de capitais para a compra e assenta- Ensai o sobre a regeneraç•o das raças cavalares.
mento dos aparelhos. Aclimataçfo do dromedário nos sertões do Nordeste Brasileiro. Todot
3) Ar, propostas de pedidos de adiantamento sedo dirigidas �os proprietários escritos.,pelo Brigadeiro Dr. F. S. C. Burlarnarqu e. Vendem-se elos preços ae­
ao Governo da Prov1ncia, por intennédfo da Diretoria do Instituto A.gl'ícola Ser· guintes: o l . º a 15000 cada um, o 2.0 e 3.0 a 500 rs.c.ada um." � 8) .
gipano, a qual informará sobre a pretençfo como julgai conveniente. Antes de passarmos ao estudo do problema ela m•o de o ra, conviria ío­
4) O adiantamento se fará debaixo d.as condições seguintes: . � aimariamente outros dois tem•s constantemente lembrados nos debatee
§ 1. A nenhum pf(,priet.ário adiantar..ic,. mais de 20 c ontos de réis. relativos à inovaçfo em Sergipe, a saber, o problent11 das vias de comuoicaçj'o e
§ 2. Para garantia do adiantamento, o proprietário prestará 6ança idô­ do Ccédito agrícola.
nea perante a Tesouraria Municipal ou hipotéca de seus bcna. �mecemo� pelas vias de comunicaça:o. Nossa fonte para abordar este
§ 3. Poder-&e.á adiantar porém até 50 contos de réis a qualq\!er associa­ assunto e o Relatóno apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe no dia 4
ção de agricultores da l'l-ov1'ocia, ou �!tores e industriais, que queiram esta· de março de 1861, pelo Presidente Thomu AlvesJr. Ao tratar dos meihoramen­
belecer uma fábrica central para o í.abríco do açúcar. tos materiais, assim se exprimia:
§ 4. O _proprietário, bem como associaç6o de que Ir.li.a o par,ígraío ante­ "P �ec �os de 'um plano p�íeito de estradas de rodagem e de outro de canaie,
cedente, rerá obrig11do a apresentar os melhoramentos de que trata a presente Ferto 1Sto, teremos logo o leito para no futuro obter estrada de {erro e nav�­
Lei, dentro de um prazo nunca maior de dois anos, contados da data do recibo. ça:o a vapor interna - e já muito hi de ganhar a agricultura decadente da Prov1n·
§ 5. A quantia adiantada será reembolsada dentro do PJUº de 10 an06, eia". (59) Maia adiante, depois de tratar dos problemas da navegação fluvial ' o
divididos em·prazos razoáveis. Presidente c ollll8gra um cap1'tulo inteiro às Esh-adas de Ro�em ·
§ 6. Na falta de pagamento, nos prazos estipulados, ou no caso de infra­ "Nesta Pro_vi"ncia nfo há uma estrada. Caminhos abertos pelos habitantes em di,
ção d�ondições desu Cei, o proprietário e seus fiadores �o considerados co­ verso� senbdoa, p� se porem em contacto com as cidades e vilas: eis tudo quan­
mo recebedores remissos dos :l.inheiros públicos e como tais executados pela Fa­ to exurte. Essea caminh?a s«o bons ou maus conforme a estaçfo é seca e chuvosa
zenda Provincial entrando pua os cofres públicos ofo só com a quantia l'etebida, e em alguffl;88 partes a inação da! Câmaras Municipais é tal, gue difícil trãnsitu
scofo também com os juros concspondentes ao tempo decorrido da data do reci­ diro, obstruadas como se acham pelo mato, que de ambos os lados tem crescido
bo, na raz4o de 9% ao ario. (...) e pela escavaç6o da! águas. No entanto, quando se sabe que em Sim.a:o Dias exia'.
6) O proprietário de Eng enho que montar e fizer trabalhar os aparelhos de que te? mais rico celeiro da Província, quando se vê que o grande número de eatabe­
trata o artigo 1. 0, independente de auxa1io dof cofres, 6u isento de pagar o un­ lecnnentos rurais tem de fazer conduzir seus produtos aos mercados, ou ao porto
� provincial sobre o açúcar de sua produçao, por espaço de 10 anos.(...)" de embarque seus "ênero s, e se atente para esse estado de vias de comunicaçfo
(55) claramente se conc1ui quanto n4o sofre a lavoura - onerada com todas &1118 da.'
Além desta resolução de caráter geral exteru.iva a todos os pr oprietário s pesas de tran.sporte, e o que mais é, entorpecida pelo mau estado das estradas -
que preenchessem os requisitos. acima mencionados, o Governo tentou mcentivar quanto nlo sofre a po pulaçlo no consumo dos gêneros alimentícios que �o bu..
u inovaçOeB isentando de impostos algumas iniciativas., part:iculares, corno por .
car uma causa _da alta de seus preços na deseei.a de transporte - quanto &C roaeen,
exernploatrav� da Resolução n.º 679 de 8 de junho de 1864: te a abunda:ncia dos mercados, porque muitos gêneros nlo podem conconer,ji
"Fica i.eenta do pagamento de direitos por espaç o de 5 anos a fábrica de vapor porque seu valor n4o excede ao preço do transporte,já porque receia a c onaen-1•
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çlo pela demora do transporte. Tendo�e estudado a canalização ao longo da cos­


ta me parece que será de necessidade estudar qual o plano de estradas de roda­
gem de forma que ponha o 1itor� em comu�1:ação com? c�tro". (60)
O realismo deste inteligente Adtnllllstrador vai al�m do que formulo_u
neste capítulo: el� aponta que �m estradas a futura coloruzaçío em lugar de ar
Pll!ª frente, havena de desacrediw-se: .
º'E preciso que os centros pro�tores estep.m em conta,cto coro os meccados,
porque só assim se animará a emigração natural dos povos em busca de seu bem
esw". (61)
Outro tema que mereceu grande atenção qu2:11do se falava-� inova�o,
era a necessidade de se criar na Província um estabelecimento de Credito. Se&'-1"1-
do os Relatórios Presidenciais, podemos ver de ano I>ara ano como tal carência se
tomava cada vez mais dramática. O Presidente Joâ'o Dabney d'Avelar Brotero de-
clarava: . . .
"A experiência tem mostrado <J:le �n�anto pela Legislação Geral e Po� �tw­ IIOMENS MULHERES LIVRES
ções de crédito nã'o se torna mais facil à lavoura o adiantamen� de capílaiS, IIJ'o
é possível esperar que os nossos lavradores empreendam senamente qualquec 66561 66097 100192 32448 70488 29704
grande melhoramento". (62) . ,. . . .
Ao prestar contas junto a Assembleia Provmcial, o Presidente Galvao
continuava na mesma tecla: Quer dizer: de um total de 132.640 habitantes, aproximadamen te 1/4,
"A nece�dade hoje a mais palpitant� que sente a Província d� S�rgipe é a de _ter era composto de escravos.
uma casa Bancária, ou de uma agência d� a!guns Bane?� con�tu1do_ s . Parece�­ Como viviam os negros:nestas partes do Império? Como a questão servil
possível que ao passo que diversas Pr<?vmcias do In:ip�o obtem. hoJe com f acili­ era encarada pelos grandes propriet.ários? Qual a Posição do Governo? Em quan­
iiade dinheiro a juro de 8% ao an�, am.da na Prov1nc1a. de 5cl:�p_e n.ro se possa tos andava a campanha abolicionista?
obtê-lo senlo a 30%, e isto com �u1ta difi<:uldade. Esta �p?ssi!>ilidade de obter­
se dinheiro por menos juro parali� e estaciona todas as mdustnas, e coloca os la­ . O 6>iscurso de Thom� Alves Jr. quando da abertura solene do IISA,
profen �o perante uma assemblé18 de mais de 60 representantes da elite fundiária
vradores nas mais sérias dificuldades". (63) de Sergipe, entre eles os _Baroes de Propriá, �e Maroll!' e de Itaporanga, constitui
Ainda uma vez Alves Jr. quando prestava contas junto à Assembléia Le­ u111a excelente fo�te de mfonnaç.ro a respeito dos, dilemas e contradições da ea­
�lativa, voltava à mesma tem_ática: c�av�tura em Sergipe naquele p�í<;> �o. Cõ �.�erando ser tal Discurso de �4e
'A primeira condição do progresso da lavoura está na mobilização da proprieda­ &1gr1 �cado para um estudo da h1stona das 1de1as da sociedade sergipana do Sécu­
de territorial, está na criaçá'o do créd to ruraJ. Ora, a criação do crédito rural de­ lo -�' _e tendo em vista �e muito poucos estudiosos têm conhecimento de sua
pende de uma reforma da lei hipo�ária, que �da não pod� ser levada a e�eito, ox111Lenc1a, cremos ser pertinente mais esta lo� transcriçâ'o do referido decu­
depende da c_ria9ão d� bancos.ramt �cados , CUJO fim excluS1Vo em, g�al seJa de mento:
mobiliz ar capitais rurais. Enquanto ISSO se não fizer , o lavrador está a1, ou entre­
e à rotina que o faz retroceder, ou à ruína que o aniquila completamente." "Houve um tempo desgraçado para o nosso país. Os homens aferrados à rotina
fc;
64 11ntenderam que só eram felizes quand� dominavam m�tos escravos: acredita:
Vim como o. Poeta do Ponto, �e de�o da zona tomda ,
) Não obstante a veemência com que os Presidentes reconhecem a neces- só podia trabalhar o
sidade e urgência de se criar um Banco � ,Sergip�, ai�da em 186_8 o Presidente d��rraçado �ilho da C<?sb. d 'Africa, quem:iado pelo sol africano! Que injustiça, o
Antôrúo Bulcão numa seçA:o do IISA fazia 'ver a madiaveJ necesS2dade de se en­ oou, do Brasil puro _ e limp1do, como dese1ava 1!'1vez o civilizado europêu, foi por
dereçar aos alto; poderes do Estado, por ocasi4o da próxima reunião das C'.ãma­ muito tempo considerado como de mau pressagio e erigoso! E assim caminh
p a.
ras, uma representaçifo assinada pela totalidade dos membros do Institu� e pelo VAtn os ho�ens no erro . Erro fatal que traz_ía consigo duas consequências fa� -
t., homem tmha-se tornado surdo aos gemJdos de
maior número poss��el de lavr�dore�, pedfr1do a �eção �e um estahel�c1menti> 5e:u semelhante, era-lhe in e.
de crédito agrícola . (65) _Sera precJSO esp�ar. amda. ate a �nda dec:ada d� ,1111!0 a sua sorte, e com o costume ficou quase sancionado que o escravo eraâif me-
nosso século p ara que Sergipe receba sua agenc18 oficial de crédito, destinada a 11<)- que o aromai, era o 'res' dos antigos romanos. Eis a primeira consequência.
lavradores, o Banco dos Lavradores de Sergipe (1928) ll11ç11 �túpida, dege_ncr �da e.desmor�sada, privada de toda a educação,, o�o
11uu&11na grande pengo a sociedade,. a1 ficou encerrada no seio da familia· p
eeut
V. O PROBLEMA DA ESCRAVATURA �•Jelumes foram arremedados e as futuras gerações amamen.tadas em gr'.ande
••rl� com l�ite mercenário da �rav_a, beberam com ele mais de uma de suu
l1�cl1 õC!!. Eis a
ç segunda consequeneta. Em tempo se conheceram esses defoi•
Passamos agora ao estudo de uma outra faceta crítica dentro da estrutu­ 1,.,, A família brasileira horrorizou-se quando viu os efeitos da escravid4'o sobre
ra sócio-econômica de Sergipe na segunda metade do século passado: o proble­ • ,narnlidnde e educação de seus filhos; o brasileiro nío sentiu menos que ou-
ma da mão de obra. Tentaremos ver como se eonfi,,"Urou ai a polêmica referente 1r11 quolquer, o efeito da Lei bárbara que separa o homem em senhor;.
escravo.
168 169

Mas tudo sacrificaram ao seu futuro, à sua riqueza e ao bem estar material da países em que a escravidão existe, é mis� que ela seja aceita com toda•
fam ília, e o escravo passou como uma, i1ece�dade do país. Embora l�gislado­ suas consequências" (68)
res acreditassem e tentassem por um paradetro a . esse abuso da moralJdade, a "Raça estúpida, degenerada e desmoralisada, privada de toda a educa­
essa injustiça dos homens, recuavam ou contemponsavam. Chegou uma epoca, o ção ", os escravos constituíam segundo o pirecer- deste sergipano il1181:rado, "gran­
país levantou-se uníssono e decretou sem outra inspira�o que não fosse o .seu de perigo à sociedade". Embora referindo-se apenas à in1luência perniciosa dA et­
progresso e seu fu�o, e o triunfo de seus n�bres sentunentos pela hurnaruda­ "aavmia solxe os costumes, moralidade e educação dos brasileiros, levantamos a hl­
de: a abolição do tráfico da escravatura. E foi bastante a vontade firme da na· P.ótese de que havia subentendida naa palavras deste Presidente a idéia de outroe
ção para cair esse comércio fatal, que havia zomha�o da força. e de todos os sa­ 'perigos" mais ameaça. dores, e <JUe por conveniência e por serem um dos usun­
crifícios e recursos da _podero� inglaterra. Alguns a�da da antiga escola pensam tos tabu nesta socieade e8Cravagi.sta, foram prop08itadámente omitidos ou referi­
que sacrificou-se o pais, não a vontade do �trangetro, porque devemos. fazer dos de maneira eui'emica. Eia, v.g., o gue relatava o Presidente Galvlo diante da
justiça a nós mesmos e sim à, sen�, e�tos 9ue não compensam as nec«:551dades Assembléia Provincial em abril de 1859:
porque temos passado. Não e sacrif1c10 , e d�v�r concorrer p�. o �1wúo da "Devo noticiar-v06 que noa dias próximos passados, alguns hoatoe aterradores ae
justiça - a escravidão estava condenada pel? sa_b10 Autor do �ns?� msm? , � o propagaram de urna inSU?Teíçllo de escravos na Província, a qual deveria despon­
interesse qualquer que ele seja !lão se pode Jus.tificai: �em. o p�nc1p10 da JUSbça tar-se no dia 23 para 24 d e abril, Nenhum fundamento achei em tais boatos,
em que se baseia. Sacrificar ? interesse m�s �nho a JUSúça: eis o dever do ho­ todavia, por parte do digno e vigilante Dr. Chefe de Polící'll, .dera,m-se preventi­
mem. Não há interesse ma�naJ qu.e possa JU� �-se !em o mte�e moral. Em vas e as mais enérgicas providências, folgando-se IIBSeverar-vos que- o dia aponta­
tal caso era dar o triunfo a barbane contra a c1vilizaçao, era preferu o gozo ma­ do para despontar o movimento �assou-se placidamente sem qu� ele felizmente
terial ao gozo do espíri �, escravizand� todos os p�cípios do progresso. Não se verificasse, como eu o esperava . (69)
há razão, pois, que Justifique a necessidade da escrav_id«o tal qual se ostentava Infelizmente nlo há detalhes que nos infonnem quais foram aa "preven·
até bem poucos anos , e bem (agiram?) aquêles que ttveram a coragem de a ex­ tivas e mais enérgicas providências", tomadas pela autoridade policial. Talvez
terminar. Foi um çrande passo âado na c1viliução e no progresso.Não era pos­ a prisão doe suapeitoe e cabecilhas, tal como ocorreu exatamente um mês ·an­
sível ir além. O sistema completo abolicionista ou da emancipação não pode tes da divulgação dos tais "boatos aterradores" do levante dos escravos:
ser adotado por nenhum brasileiro que seja amante de seu país. Aí ficou pois
ainda a escravidlo como um fato que só pode desaparecer com o andar dos anos. "Foram presos cm Laranjeiras os escravos Domi ngos e José 'Macula', cabecillw
Cumpre que os senhores destes f.5Cravos compreendam bem o dever em que estSo do quilombo, e que mais terroriaava a popuJaç!o. O Delegado Sr. Garcez com o
de serem mais humanos do que infelizmente têm sido - os preceitos naturais o a­ sub-delegado, sendo incessantes em perseguir esses negros conseguiram capturá­
consdham, o seu futuro lhes ensina. Cumpre por um dique a essa torrente de ex­ los. Danâo·sobre eles em diversos pont08 onde _pelas relações supunha-se sua
portação que todos os dias vai arrancando esses braços ainda necessários à lavou· existência. Nada maia tem encontrado; estão dispersos e já a população deseea
ª.
ra, muito princil? almente 9uando parece que causa disso é ? espírito de int� lugares desassombrada pelas enérgicas providências da policia. Não há portanto
resse que ilude so para mau; tarde trazer um tnste desengano aqueles que se det­ o mínimo receio de que tomem a congrega.r-se"(70).
xam seduzir. E � verdade o preço fabuloso dado ao . escravo tem levado _mais € digno de nota <JUe não só a estrutura, mas inclusive a própria lingu•
de um lavrador a desfazer-se dele, pensando que com ISSO lucra. Engano: e um gem destes dois anúncios e a mesma: a ameaça representada _pelos negros, o re.
braço produtor que perde, o �inheiro esvai-se em despesas mal peosad�, de ceio da população, as enér�cas providências tomadas pela policia, a esperança de
maneira que bem depressa ele a, fica sem o seu escravo e sem o seu valor; e um retorno à paz e à tr11nquilidade. Aliás, wn dos temas frequentemente retomadoe
abismo que cumpre evitar com todo o empenho e esforço. E quando outra seja a pelos jornalistas e autoridades da época é exatamente o da ordem, paz, tranqui­
causa que ve�a compeJir a permuta ou entrega do escravo, -.omo � lei de neces­ lidade. Assim, quando D. Pedro ar.orta no Aracaju, é cognominado "Anjo da
sidade que obi:iga o devedor � pagar ao seu cre�or, então ruio se_ derxe de hanno­ Paz". Ao abordar os problemas da 'tranquilidade pública", eis o que dizia o Pre­
nisar este motivo com o senbmento de humarudade, não fracc1onando-se as fa­ sidente Alves J r.:
mílias, arrancando-se os filhos dos braços de sua mãe, dando a cada um novo "Se em qualquer época é sempre agradável a notícia de estar inalterável a tran•
Senhor, um novo cativeiro, porque o escravo por _ ser escravo não deixa de se� ­ quilidade pública, dobrado prazer deve se sentir quando se recebe essa notícia
tir esse amor nato qu� prende todos os s�res .8JU.!ll8.dOS na naturez� Hum�1- em uma quadra em que o espírito sempre mais ou menos se arreceia de qualquer
sai-vos! Se o escrevo e mere�edor de castigo, mfit�gi--0, por�e. es� a�to�a­ perturbação".
do pela lei, � entr � � castigo_ legal e a tortura. ha grande dis�cta. Ah esta a . , Aí in!foduz o �residei:ite um dos a.xi.ornas !deológicos de sua época - o
-sançã'.o de justiça, o direito, aqw, o excesso da vmgança, o arb1trto. O nosso es­ qual aliás continua a ser irreflettd�ente repetido ate os nossos dias -
cravo. hoje. constitui a parte mais preciosa de nossa riqueza, é preciso que essa
força produtora não se estrague e sim que seja alimentada com o maior cuidado, "O povo de Sergipe é bom ... cura as instituições de seu país e sabe curar de seu•
com a maior dedicaçã'.o. Pensai, lede no futuro e treimeil"{67). direitos com calma refletida e moderada". E conclui pontificalmente:
"Rendemos uaças à Divina Providência que velou sobre nósl" (71)
O pe nsamento deste Presidente é claro: o escravo é um mal necessário: Note-se que não fomos nós quem primeiro percebeu a intencionalidade
"A eacravida:o esse cancro que roí a sociedade brasileira, esse triste legado d?9 dos Relatórios Presidenciais em mostrar o caráter pacífico do povo sergipano. Já
tem 01 colonlri.s, nlo pode ser ex tinta repentinamente, porque. uí? tal ato trana no segundo quartel do século passado, Daniel Kidder, ao se referir a Sergipe ,u­
à in�úatria mais importante do país, à lavoura, a morte e o amquilamenlo. Nos sim o fazia:
170 tit

"Pelos Relatórios de seus presidentes, vê-se que o povo é essencialmente ordeiro Outro sinistro ocorreu em junho de 1859:
e patriota. De vez em quando um ou outro delinquente perturba o sossego geral, "No dia S do corrente, apareceu assassinado à 1/4 de légua distante do E�
com relativa iml?unidade, devido à lentidão com que funciona o aparelliam ento Peri9.uito, em Itabaianinha, o respectivo feitor. O proprietário do Engenho,
judiciário e ao pe$imo estado das prisões." (72) Sr. Tenente Coronel José Vicente de Souza, tratou logo de fazer todas aa pet,
Atraves da leitura do Livro de Registro de Leis e Regulamentos da Pro­ quisas, e não descobriu vestígio algum de pessoa de fora, e suspeitas apareceram
víncia, tomamos conhecimento de uma série de medidas tomadas pelo governo a de escravos do engenho, mas ignorava-se. qual e quais os autores; tratando o Sr,'
fim de afastar o perigo representado pela massa de negros existentes na José Vicente com as cautelas necessárias, descobriu a verdade. Nesse Íntéri m,
Província. Na proposta apresentada pela Câmara Municipal de Maroim à A.ir teve o Sr. José Vicente ciênciapela delegacia de que eram dois escravos ereua e
sembléia Legislativa Provincial, lemos no artigo 12. 0: um agregado os assassinos, Imediatamente mandou-os prender e entregar à aç1o
"Qualquer escravo que for encontrado nas ruas desta cidade de noite, depois do da justiça. Que belo e digno exemplo! O Sr. José Vicente sempre levado pelo
toque de recolher, será preso e sofrerá até duas dúzias de palmatoadas ou um dia amor da ordem e bem público, sacrificou a este 3: 000$0001 Tanto llie valiam
de-pri�o, em atenção,.a idade; e o Senhor não querendo que sofra a eena, pa­ esses dois escravos de flor em sua ·lavoura, um com 18 anos e o outro com 26111
gará a multa de 2$ relS. Excetuam-se os escravos que andarem com bilhete de (80)
seus senhores" (73) As exclamações no final deste anúncio sfo particularmente sugestivas:
Como se sabe, era proibido nesta época a venda a escravos, de pól-vora, "Escravidão! Escravida-ol De quantos prejuizos, de quantos. cr:im� e horrores nfo
armas, e o porte de facas com ponta. Proibia-se igualmente que os mesmos an­ tens sido, nâo és, não serás ainda infelizmente por muito tempo causa entre
dassem vagando pela cidade ou mesmo pedindo esmolas em qualquer parte do nós!". '
município de Estância. (74)' Todas estas medidas restringindo o livre movimen­ Com<;> se pode conclu?" do expost? até a�, graves acusações pesavam
to dos escravos, inclusive aquela que proibia os batuques na vila do Rosário (75) sobre a escr�vi�a-o: se� responsavel pela rotina _ e �81Xa produtividade da lavoura.
refletem sem dúvida o receio e cuidado dos brancos face à ameaça representada causar homve1s defeitos no processo de socialização da elite senhorial esta
pelo contingente de escravos. constantemente provocando receios e cometendo baix as nos membros du pre,
Não obstante toda a vigilância exercida pelos Fazendeiros e pelos agen­ postos das classes dominantes.
tes policiais, as fugas de escravos eram um fato comum na vida cotidiana de
Sergipe. São frequentes os anúncios de jornal oferecendo gratificações a quem Vl A ESPERANÇA DA COLONIZAÇÃO
trouxe.s..<e de volta, ou desse notícia de negros fugidos. Entre estes, embora perce­
bamos a predominância de fujões estando na flor da idade - entre 20 e 40 anos . Com� cont?.rnar os p roblemas causados pelo elemento servil? Como
- encontramos igualmente diversas negras e velhos com mais de 60 anos que pre­ se eVltar o _pengo de um levante de escravos que quebrando suas al mas incen­
feriram o risco da fuga a continuar no cativeiro. (76) diarão as cidades, os campos e as plantações massacrando os brancos ge
e fazendo
Certamente que o desejo de liberdade devia ser um dos principais mó­ deste m�ífico lmtiério do Brasil urna depl�rável réplica da brilhante'colônia de
veis das fugas, desejo que devia tomar-se ainda mais forte quando pela crueldade São Dommgos?"(8l)
dos maus tratos, as condições da escravidão se tomavam ainda mais insuportá­ � nov.amente AJvesJr. quem toma a palavra-:·
veis. Não deve ter sido gratuitamente que o Presidente Alves Jr. lemhrava pe­ "f; fato que os escravos eram os braços da lavoura e que sem os braços ela nlé>
rante a fina flor da sociedade escravocrata: pode progredir. Porque assim era, nlo se se�e !pie eles devam voltar, -p o�4
el� �r_am seus braços_e ��oa em r�ação ao proprio trabalho, e hoje ningu�m p�
"Humanizai-vos! se o escravo é merecedor de castigo, infligi-o, porque estais au­ fennra perante os pnnc1p1os da ciência, o trabalho escravo rotineiro e desmoraJi:.
torizado pela lei; mas entre o castigo legal e a tortura há grande distância. Ali es­ zador, ao trabalho livre, progressivo e moralisador"(82)
tá a sanção da justiça, o direito, aqw o excesso da vingança, o arbítrio". (77) Em outras palavras : a Província começa a discutir e paulatinameitte a
Não e pois sem razão que se escrevia no Correio Sergipense de 22 de preparar-se para a substituiçío do escravo pelo trabalhador livre:
outubro de 1859:
r.o trabalho livre é hoje uma verdade para todos os tempos e para todos os lup.
"O escravo, simples máquina que a nossa legislação sujeitou à vontade do se­ res" (83), dizia o várias vezes citado Alves Jr,
nhor... vê com bons ollios a pena. das galeras, pois tal pena longe de ser re­ Mas como fazer tal substituição. Como mudar a mentalidade e quehnl
pressiva, é muito pelo contrário uma provocação continuada ao crime, é mesmo a resistência dos Senhores de E�enho, que julgavam que "só eram felizes

uma ameaça flagrante contra todos o� homens liY;e:3 que podem ser vítimas do do dominavam muitos escravos?'(84). Onde encontrar novos hraç08 para ia fii1,.
desejo que tem o escravo de ver-se Livre do dom1ruo do senhor, e de gozar do nas agrícolas?
maior descanso (sic) que lhe dão as galés em relação ao trahal ho na Lavoura"(78) "Eis o grande problema: como introduzir-se os braços livres em suhetituiç(o �
Não encontramos nenhuma notícia nos jornais sobre escravos que te­ braços escravos? Não acreditamos que esse problema nllo tenha soluçio:- elâ,\Jf
nham assassinado seus senhores. No entretanto, localizamos duas ocorrências de xiste, é preciso um pouco de paciência tlo somente, e algum sacrifício � �
feitores que terminaram seus di.as sob tal cutelo. Em 1850, ao referir-se à"Tran· Estado, �er do inàivíduo."(85)

ilidade Pública", o Presidente Amâncio J. P. de Andrade contava o caso do . .Já em 185�, � entfo f>r�idente da Proví��ia, José Antonio de O!b!
• feitor do Engenho Cajueiro, no termo de Divina Pastora, assassinado por dois Silva saJ1e�tava realiaticam�nte diante da Assembleia Legislativa, 0 quão cru
�.1wravor, do proprietário do mesmo engenho."(79) era a coloruzação p11ra Sergipe;
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"Escuso encarecer a imp ortância da (colonização). Se antes da promulgação da rações entre si , e com os cômodos de uma sociedade civilizada, todas oercadaacle
Lei de 4 de setembro de 1850 podiam os espíritos menos refletidos entru em � arvoredos e lindos pomares; lá finalmente se vê um grande número de oo,
dúvida acerca das vantagens da introdução de braços livres, hoje a vista da vigo­ che1ras com vacas, que abastece o mercado de leite, manteiga e queijo. D on de
rosa persistência com que o Governo Imperial tem reprimido o tráfico, essa dú- provém· Senhores, tão desmesurada diferença? Certamente que provém ele
vida tem desaparecido dos ânimos ainda os mais obcedados. Se a colonização é uma só e . única cal!-84 - o trabalho. No Ara�a�u as ��eres que residem n..,
uma necessidade palpitante para todo o Império, é para esta Província urna ne­ cabanas,VIVem habitualmente entregues ao ocio, e a mdolêncaa. Em PetrópoUa
cessidade vital Melhor do que eu, sabeis, Senhores, ser a agricultura o único ra­ a alemã entregue ao trabaJho vive alegre e feliz. Com suas faces corada e cJ..
mo de riqueza da Província, e que eor falta de braços está ela ameaçada de pró­ ras, tira o leite da vaca; e vai �ender; faz queijo, manteiga, corta lenha, e capim,
xima ruina. Urge pois leva.ntar barreiras contra esse futuro ameaçador concorren­ laVt'a a terr�1 plan�, tr9:ta de arvo_res, _de pomar, � h,ão se desdoura do tnhãlho
do_ no círculo . de vossas atribuições _ para auxiliar o Governo na grande empresa, Neste continuo hdar vtve a �ema satisfeita e fehz. Comparai, agora, Senhoree,
cu1as bases aJ estão lançadas na lei de 18 de setembro de 1850. Antevejo os este quadro que sem en�ec1mento..vos apresento_ com a cena que se desenrola
obstáculos que tendes a vencer, já nascidos da pouca predisposição de agricul­ aos vossos ?1!1os no �caiu, e co�o concordare� que a aracajuana de8888 cuu
tores ao trabalho escravo, já das circunstâncias dos cofres que mal permitem de palha, vituna da 111erc1a e do oc10, toma-se a si mesma inútil, ao passo que a
sacrifícios, já da dificuldade de comunicações com os países onde abunda a p<r alemã, entregue a todo gênero de trabalho, é útil a si, e a seus 6lbos, de quem y{.
pulação colonizadora." (86)
O problema do trabalho livre ocupa um lugar de destaque entre as preo­ do qu:
ve rodeada, todos fortes, rohu_ �tos . e trabalhadores. Em p,:eaença pois, Scnhore,,
te�o demonstrado, e obVIo e co!1dudente _ _que a causa primeira da falta
dos gcneros de consumo em vossa ProVInc1a provem essenc�mente de nlo ,e
cupações governamentais do Presidente Galvão. Talvez conhecedor do insucesso
da tentativa de colonização realizada na Província de Pernambuco, onde colo­ entregarem ao trabalho tantos braços inertes que sem nada produzirem apen•
nos alemães contratados em 1839, para a construção de pontes e calçadas, não servem
_ para aument�r º . núme t? dos c�nsu!llldores. E bem vedes, Senhores, que
co nseguiram levar a bom termo a obra começada, devido ao excesso das zom· _nao havendo 9:1>undancta d � generos, e evidente pelas leis econômicas que
barias que recebiam dos nacionais, apelidados que foram de "escravos brancos", eles devem subir de preço, vist<;> c?mo a .?e�anda é superior à oferta. Se pois oe
(87), ou talvez, pelo fato de ser bom conhecedor dos hábitos senhoriais de seus �ales que ,sofremo� pela _ c�re�tJa e defic1enc1a dos gêneros alimentícios provêm
conterrâneos, o fato é que o dito Presidente embora pensando também na co­ tão censuravel e_ �osa inercia, que segundo me consta predomina em todoe 08
lonização, mostra-se todavia particularmente preocupado com um problema pontos da Provmc1a, peço-vos, Senhores, que hajais de emp�ar tod os 08 voe­
mais imecliato: a revalorização do trabalho entre os estratos mais ba.útos da so­ sos esforç?S para desenvol�er o amor ao trabalho à essa porçfo inútil da popu­
ciedade. Ao analisar em 27 de março de 1859, o problema da carestia dos gêne­ ção, e fica, certos que farei fielmente executar quaisquer medidas q_ue neste in•
ros alimentícios, ele esclarecia: twto vossa ilustração e patriotismo houver de adotar. Quanto a mun devo dj.
"Segun do o meu entender, a principal causa de um tão w ave mal ... é que os bra­
zer que_ �bre tão importante matéria tendo volvidas todas as minh� vistaa, e
a mais sen � atenção;_ espero que uni�os os meus aos vossos desejos atingirem01
ços cuja falta mais sente a vossa lavoura, são os braços mdustriosos, aqueles que com os meios m81S adequados a realizar na Província os melhoramentos de que­
já estão afeitos ao trabalho, e que com a idéia de um interesse próprio a des, por este lado tanto precisa, e que muito deve contribuir pua o bem catar de
se prestam com mais desenvolvimento e tino, e sem que sejam movidos pelo te­ seus habitantcs" .(88)
mor do castigo, como acontece com o mísero escravo. Ape..118.r do dítimação ope­
rada pela cófera, não se pode dizer que a falta de braços seja a única causa da Ao deixar a chefia da Província, o Presidente Galvão volta a discorrer
calamidade porque pas.5aJTIOS. Ainda abunda na província uma população livre, sobre este mesmo tema:
cujos produtos comparados com sua totalidade nos apresentam um resultado "Tendo reconhecido em meu Relatório apresentado à Assembléia Provincial de
nimiamcntc mesquinho, e a todas vistas inferior ao que certamente apresenta. 1859 que uma das causas principais da carestia dos gêneros alimentícios na Pro­
ria se não houvesse tanta inércia, tanta ociosidade e preguiça. Aqui mesmo nes. víncia era o ócio e a indolência a que se entregavam muitos habitantes, que em
ta Capital, onde era bem natural que o trabalho estivesse em relação à íalta lugar de serem outros tantos produtores, eram apenas consunúdorcs, devia
extrema que seus habitantes sofrem de todos os recursos necessários à vida, re­ forçosamente procurar extirpar este mal e _procurar desenvolver o amor ao tr•
cursos que naturalmente devem faltar num l ugar que não há muito era deserto balho. Assim o fiz: reconhecendo que aos Juízes de Paz pela Lei de sua or�·
e carecedor de todos os benefícios; aqw mesmo, repito, se percorrerdes, Senho­ zação competia velar para que nlo houvessem vadios e mendigos, recomendei.
res, essas ruas que ainda são formadas yor casas de p alha, vos possuireis do me&­ lhes encarecidamente o cumprimento da�ele importante preceito da Lei; pedi,
mo reparo, e estranheza, de que eu proprio me tenho possui�o, testemunhando lhes �e fizessem o que estivesse ao seu âlcance para acabãrem com a ocioeid•
a maior e a mais censurável indolência. Vejo em cada uma dessas casas grande de. Dirigi-me também ao Dr. Chefe de Polícia para que por seu intermédio e d•
número de mulheres sem a menor ocupação, e abso rto em presença de tal espe­ autoridades policiais procurassem tanto quanto estivesse dentro da órbita de aua
táculo, comigo mesmo comparo a vida inerte que se passa nos contemos desta atribuições, obrigar o povo ao trabalho e abandonar a ociosidade fonte de tanto,·
Cidade, com a vida laboriosa e ativa que se observa nos da cidade de Petrópolis. vícios. Pela minna parte, servi-me do recrutamento, sobre o qual tantas recomon­
Aqui reina a preguiça, o ócio , e a andez; vemos casas de palha contígu as umas a daçõea recebi do Governo Imperial , para acabar com os vadios. Reconhecendo
outras, sem cômodos alguns, quais outras cabanas de pobres indígenas, n5o se porém que todos estes meios não eram suficientes, e sobretudo não tinham pelO
vê um cercado, não se vê uma chácara e muito menos indústria e lavoura. Lá pre­ no grande número de mulheres que abunda na Província, e q_ue sem o auxílio
domina o trabalho, a atividade e a cultura: lá vemos casas e chácaras com sepo· da nossa Religião eu não poderia realizar os meus desejos, dingi-me a tod 011 01
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"Escuso encarecer a importância da (colonização). Se antes da promulgação da rações entre si , e �om os cômodos, de uma sociedade civilizada, �oercacàedt
Lei de 4 de setembro de 1850 podiam os espíritos menos refletidos entrar em � arvoredos e lindos pomares; la finalmente se vê um grande numero dec:o,
dúvida acerca das vantagens da introdução de braços livres, hoje a vista da vigo­ cheiras com vacas, que abastece o mercado de leite, manteiga e queijo. D on de
,
rosa persistência com que o Governo Imperial tem reprimido o tráfico, essa dú- prove�· �e�ores, tio desmesurada diferen9a? Certamente que provém de
uma so e .uruca ca� - o trabalho. No Ara�a�u as i;n�eres que residem ne1111
vida tem desaparecido dos ânimos ainda os mais obcedados. Se a colonização é
cabanas,VIVem habitualmente entregues ao oc10, e a mdolêncUI. Em Petrópolfa
uma necessidade palpitante para todo o Império, é para esta Província uma ne­
cessidade vital Melhor do que eu, saheis, Senhores, ser a agricultura o único ra­ a alemã entregue ao trabalho vive al egre e feliz. Com suas faces coradaa e cl•
mo de riqueza da Província, e que por falta de braços está ela ameaçada de pró­ ras, tira o leite da vaca; e vai �endcr; faz queijo, manteiga, corta lenha, e capim,
xima ruina. Urge pois levantar barreiras contra esse futuro ameaçador concorren· lavra a t�plan �. tr�ta de arvo_res, d _ e pomar, � não se desdoura do trahãlho
Neste continuo hdar VIve a :tlema satisfeita e feliz. Comparai, agora, Senhoret,
do no círculo de vossas atribuições para auxiliar o Governo na grande empresa,
cujas bases aí estão lançadas na lei de 18 de setembro de 1850. Antevejo os este quadro que sem en<:a:ec1mento_ vos apresento. com a cena que se desenrola
obstáculoo que tendes a vencer, já nascidos da pouca predisposição de agricul­ aos vossos olhos no Araca ju, e comigo concordarei que a aracajuana dessas cuu
tores ao trabalho escravo, já das circunstâncias dos cofres que mal permitem de palha, vítima da inércia e do ócio, toma-se a si mesma inútil, ao p11880 que 1
sacrifícios, já da dificuldade de comunicações com os países onde abunda a po­ alemã, entregue a todo gênero de trabalho, é útil a si, e a seus filhos, de quem vi­
ve rodeada, todos fortes, rob,u�tos. e trabalhadores. Em presença pois, Senhores,
pulação colonizadora." (86)
O problema do trabalho livre ocupa um lugar de destaque entre as preo­ do que tenho demonstrado, e obvto e concludente que a causa primeira da (ali.
cupações governamentais do Presidente Galvão. Talvez conhecedor do insuces.50 dos gêneros de consumo em vossa Província provém essencialmente de nlo ee
entregarem ao trabalho tantos braços inertes que sem nada prod uz irem apenu
da tentativa de colonização realizada na Província de Pernambuco, onde colo­
nos ale�ães contratados em 1839, para a construção de pontes e calçadas, não servem para aumen�r º. núme � dos c�nsu!llidores. E bem vedes, Senhores, que
conseguiram levar a bom termo a obra começada, devido ao excesso das zom­ não havendo �hundancUI d � generos, e evidente pelas leis econômicas que
barias que recebiam dos nacionais, apelidados que foram de "escravos brancos", eles devem suh11 de preço, vtst<;> c?rno a . �e�anda é superior à oferta. Se pois oe
(87), ou talvez, pelo fato de ser bom conhecedor dos hábitos senhoriais de seus �ales que ,sofremo� pela .c�r�ba e de.fic1enc1a dos gêneros alimentícios provêm
conterrâneos, o fato é que o dito Presidente embora pe=do também na co­ tão censuravel e. ru_mosa mercta, que segundo me consta predomina em todoe 08
lonização, mostra-se todavia particularmente preoeupado com um problema pontos da Prov1nc1a, peço-vos, Senhores, que hajais de empregar todos os voe­
mais imediato: a revalorização do trabalho entre os estratos mais baixos da so­ SOS esíorç?S para desenvol �er o amor ao trabalho à essa porção inútil da popu•
ciedade. Ao analisar em 27 de março de 1859, o problema da carestia dos gêne­ çã ?, e ficai certos
_ que farei �el�ente executar quaisquer medidas que neste in·
ros alimentícios, ele esclarecia: tmto vossa ilustu�ão e patnotism? h _ ouver de adotar. Quanto a mim, devo di·
ur q_ue �bre tllo unportante mate�,a tendo volvidas todas as minhas vistas, e
"Segun do o meu entender, a principal causa de um tão pave mal ... é que os bra­ a mais sen � aten�ã'o; espero que uni�os os meus aos vossos desejos atingiremoe
ços cuja falta mais sente a vossa lavoura, sã"o os braços mdustriosos, aqueles que com os meios malS adeq�ados a real1z� na Província os melhoramentos de que­
já estio afeitos ao trabalho, e que com a idéia de um interesse própno a eles, por este lado tanto precisa, e que muito deve contribuir para o bem estar de
se prestam com mais desenvolvimento e tino, e sem que sejam moV'ldos pelo te­ seus habitantes".(88)
mor do castigo, como acontece com o mísero escravo. Ape..� da dizimação ope­
rada pela cólera, não se pode dizer que a falta de braços seja a única causa da Ao deixar a chefia da Província, o Presidente Galvão volta a discorrer
calamidade porque passamos. Ainda abunda na província uma populaçfo hvre, sobre este mesmo terna:
cujos produtos comparados com sua totalidade nos apresentam um resultado "Tendo reconhecido em meu Relatório apresentado à Assembléia Provincial de
nimiamente mesquinho, e a todas vistas inferior ao que certamente apresenta­ 1�5? que u�a _das ca�sas p�n�ipais da carestia dos gêneros alimentícios na Pro­
ria se nfo houvesse tanta inércia, tanta ociosidade e preguiça. Aqu i mesmo nes­ vmc1a era o oc10 e a mdolenc1a a que se entregavam muitos habitantes, que em
ta Cap ital, onde era bem natural que o trabalho estivesse em relação à falta lugar de serem outros tantos produtores, eram apenas consumidores devia
extrema que seus habitantes sofrem de todos os recursos necessários à vida, re­ forçosamente procurar exti rpar este mal e _procurar desenvolver o amo'r ao tr•
cursos que naturalmente devem faltar num l ugar que não há muito era deserto balho. Assim ? fiz: reconhecendo que aos Juízes de Paz pela Lei de sua organi·
e carecedor de todos os benefícios; aqui mesmo, repito, se percorrerdes, Senho­ zação comp �tla velar para que_ não houvessem vadios o mendi.gos, recomendei­
res, essas ruas que ainda são formadasJOr casas de p alha, vos possuireis do mes­ lhes encarecidamente o cu�pnmento daquele importante preceito da Lei;_ p�cli,
mo reparo, e estranheza, de que eu proprio me tenho possui4o, testemunhando lhes �.e _fizessem º. que esbvesse ao seu âl��ce para acahãrem com a oc1oe1da­
a maior e a mais censurável indolência. Vejo em cada uma dessas casas grande de. Dmgi-me tarnbem ao Dr. Chefe de Pol1c1a para que por seu intermédio e du
número de mulheres sem a menor ocupação, e absorto em presença de tal espe· autoridades policiais procurassem tanto quanto estive5.5e dentro da órbita de auli
táculo, comigo mesmo comparo a vida inerte que se passa nos contornos desta atribuições, obrigar o povo ao trabalho e abandonar a ociosidade fonte de tant()(I ·
Cidade, com a vida laboriosa e ativa que se observa nos da cidade de Petrópolis. vícios. Pela minna parte. servi-me do recrutamento, sobre o qual tantas recomen­
Aqui reina a prego.iça, o ócio , e a ander.; vemos casas de palha contígu as umas a dações recebi do Governo Imperial , para acabar com os vadios. Reconhecendo
outras, sem cômodos alsun5, quais outras cabanas de pobres indígenas, não se porém que todos estes meios não eram suficientes, e sobretudo não tinham peftO
vê um cercado, não se vê uma chácara e muito menos indústria e lavoura. Lá pre­ no grande número de mulheres que abunda na Província, e que sem O au:dtl()
domina o trabalho, a atividadf' e a cultura: lá vemos casas e chácaras com sepa· da nossa Religião eu nào poderia realizar os meus desejos, dirigi-me a todoe Clll
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Vigários da Província, que nas suas prédicas exortassem o povo!º trabalho , p�r brigação do trabalho, proclamado, como em direito social a _ espoliaçlo1 a p�
meio do qual obteria a abundância e a �tisíação com o �wcílio de Deus. Nao gem e a guerra aos ricos, e a todoe os que possuem, e conse�tcmentc a fami'Jia
obstante tudo isto, entendendo que o matS poderoso auxilio par� desenvolver o e a propriedade que na fras� de um de seus chef�, _nlo e �não o furto? Ohl
amor ao trabalho poderia vir da v?z P??e.rosa , eloguente e erudita do Exmo. e feliz o país que, escapando as seduções desses pern1c1os<?6 SIStemas, nio meD<JI
Revmo. Senhor Arcebispo da Bahia; dirigi·me � �. Ex9:,, que a� de suas.�v�­ anti-catolicos, que anti-sociais, se compenetrar da necess��d� do trab�o º<?D·
lhas e desta Província que está sob o seu dom1ruo espu,tual, se, �asu � veniente ao estado de cada um , como um dever de consc1enc1a, de que nmguem
uma pastoral a este povo para que ele abandonando os seus hábitos de oc1os1- se pode eximir, sem resistir a vontade de Deus e subtrai, à sociedade o contin­
dade e indolência, se entregasse ufanoso ao trabalho, ao qual se deve ter amor gente do serviço, que ela tem direit� de. ex�r de cada � d� �us me�rotl
como a fonte terrestre de nossa felicidade. S. Ex. Revma. , o Senhor. MUl)llez Feliz o povo, onde uma educaç.to cnstf inspirar o horror! oc10SJdade, e unpri­
de Santa C ruz d.ienou-se atender ao meu pedido, como V. Ex. se d.ignari ver mir em seus ânimos o gosto e os hábitos do trabalho, santificado pelo temor de
pela carta que S."Ex. Revmo. fez.me e honra de ender� a�ot?p�anao a Pas­ de Deus, de quem procedem, todos os dons e todos os bens, que o homem pode
toral ue eu tanto desejava, e que imediatamente mandei distnlimr por todas as gozar sobre a terra. Esse país oferecerá de certo o aspecto en�tador da.paz, da
autor iilades da Província, pedindo-lhes que cada�� pela sua part� fizesse o que abundância e da prospendade, como outrora o povo Israelita, nos m.m bel01
estivesse na sua alçada para que as palavras do Ministro de Deus , moculando-se dias do reinado de Salomão, pda concórdia de todos os cidadfos entregire& ao
no espírito dos hahi�tes desta Provi ncia gerassem o bem que elas tendem pro­ exercício pacífico de suas honestas profissões, pela cultura e progresso das ar­
duz ir. As palavras de um dos sáhi� da Igreja, ungidas pel? perfwne . da dou­ tes, por uma esclarecida piedade para com Deus pelo sincero unor e dedícaçfo
trina de Jesus Cristo não podem de.ixar àe prodUZJI os � feitos os ma.tS saluta- à pátria, e pelo respeito e obediência às legítimas autoridades, e� Leis, cuja sub­
. versão anarquiza, e perturba a ordem publica, achando sempre dóceis instru­
res. Aqui transcrevo a Carta e a Pastoral de S. Ex. Revtna. .. (89)
mentos n05 vadios e proletários, iludidos por mentirosas prom�. A moleza
Á Carta Pastoral do Arcebispo da Bahia, publicada inicialmente no e a ociosidade diz o imortal Fenelon, tomarão os povoe insolentes e rebeldes".
Jornal da Tarde (Bahia) , foi também repro'dnzida integralmente neste mesmo (89)
Relatório Presidencial. Por amor à brevidade, limitar-no&-emos a citar apenas as Como se vê, todos os poderes da Província foram convocados pelo
P.ass�s que se referem mais de perto ao problema do trabalho: Presidente a fim de "acabarem com a ociosidade" na procura de se desenvolver
'O Cristianismo é o mais implacavel inimigo da ociosidade, que ele conta entn o amor ao trabalho: Juízes de Paz, Chefes de Polícia, todos os vigários, o pró,
os pecados capitais, inculcando o trabalh� c?m? a vocação do gên�r?. humano, e prio Arcebispo da Bahia. Mesmo fora da Província havia também quem,
uma inevitável condição de sua penosa eustencta sobre a terra. A tdCJa de deson­ se preocupava com estes problemas, sob instigaçlo do Presidente Brotero. Assim,
ra associada ao trabalho, como um sinal de escravidão, e baixeza, nunca foi quando Manoel da Cunha Galvã'o recebe a chefia do Executivo das mfos de seu
idéia crist.ã: ela pertence a esses infelizes tempos em que os bárbaros inundaram a antecessor, este lhe confia as seguintes informações a respeito da colonização:
Europa e consideravam , diz Bergier, o não.fazer nada como um título de nobre­ "(A idéia da colonizaçlo) encontra pouco apoio e é pouco compreendida pela
za. Fiel à instituição e exemplo do mesmo criador, a lgreja Católica só isenta do máxima dos proerietários ... nada se faz �ortanto no sentido de ensaiar-se a colo­
trabalho um dia do Senhor reservado ao cuJto e repouso do homem. e especial­ nização cm Sergipe. Entretanto procurei obter no Rio de Janeiro as mais com­
mente sobre este ponto, irmãos e filhos muito amados, que boje cbamam08 a pletas e minuciosas informações sobre as condições e modo prático com que 01
vossa atenção e folgamos de o dizer, ele nos foi sugerido pelo ilustre administra­ proprietári os desta Província �odem obter colonos. Encontrei neste sentido a,
dor de uma Província vizinha, que na sua sol�c�tude pela f��ci?�de dos seus su­ mais ativa cooperação do Dr. Tobias Rabello Leite, deputado suplente per eata
bordinados compre('ndeu que a voz da Religião pelo muusteno d� pastores Província, eleito pelo Distrito do Aracaju. Deixo sobre a mesa de V. Exa. toda
era o meio mais efica.z para reanimar enLTC os pov06 o amor e a aplicaçlo do a correspondência deste digno cidadão onde V. Exa. encontrará as mais minu­
trabalho, como um preceito da lei natural e divina expressamente revelado e im­ ciosas informações prestadas pela Associação Central de Colonização." (90)
posto pelo mesmo Criador ao primeiro homem antes e depois de sua queda. Os Estas cinco cartas, escritas entre novembro de 1857 e janeiro de 185�
próprios filósofos e lepsladores do paganismo reconheceram esta verdade, repro­ foram publicadas no Correio Sergipense entre os dias 23 de março e 13 de abril1
vando e punindo o ócio e a indolência. Abri os livr?s Sant�, e em quase todas as de 1859. Elas representam excelente fonte para a análise das expectativas da co­
páginas de uma ,e . outra aliança, achareis d� _mane1ra � malS clara a c��denação lonizaçã'o nesta Província nordestina.
desse perigoso v1cto, e a con6nnaç§o do divino preceito do trabalho, Jª �ando Na primeira carta, após os cumprimentos iniciais, RabeDo Leite entra
representa a indigência, como um homem . annado_, . que �ta o pregwç060, no âmago da questão:
ao mesmo tempo que foge do homem labonoso e diligente;Ja quan, do _propõe a "Nutro há muito tempo o desejo de promover a introdução de colonos na pro­
imitação da formiga, q ue nã'o tendo condutor, _nem mestre, nem prin�';Pe, faz o ví ncia de Sergipe, mas conhecendo 'o caráter ru!lli�ente tímido dos meus com­
.
seu provimento no estio ai.unta no tempo da ceifa de que se sustentar;Ja quando provincíanos, ?5 preconceitos qu� a educação .lhes �u os prejuízos de que lhe
declara que aquele que lavrou a sua terra, será f�rto de pão., e. inse�ato o que se encheu o semço de escravos, o SIStema defe1tuos1SS1mo da cultura e fabrico de a­
entrega ao ócio; já finalmente quando pronuncia que a oaos1�de e a fonte �n­ açucar entre eles, e finalmente a falta de capitais que os oprime, e que m> meu
venenada de inúmeros pecados. (...) 8 porventura não temos V1Sto rcprod�1do fraco entender, é a principal origem do seu atraso, e não tendo ao meu alcanee
nesta época de civilização.e de luzes este 1G1tigo erro, nl� de her�es que dorrruam meios que prometea,em eficácia, quase que acreditei impossível a realizaçlo do
mas de pretendidos filosofos acorda?OS, que debau:o .de diversas formas e meu desideralum. A organização porém da sociedade central de colonizaçlo, a
teori as mil ve11es mais funestas descobnram o segredo de !Sentar os povos da o-
176

proteção que os �oderes do Estado füe dtro, as promessas que el! tem f� ifo, e menda de menor número do que 150, porque ficaria muito caro mandar
ultimarrente a convicção em que estou de que V. Exa. não recusara o auxilio de os colonos com escala por esta corte ou ir wn navio de propósito com m
sua inteligente e enérgica vontade, reviveram o desejo que tenho de procurar número do que 150, porque ficaria muito caro mandar vir os colonos com
prevenir a ruína que antevejo eminente as fortunas públicas e particulares da mi­ eor esta corte ou ir um navio de propósito com menor número para o Ar
nha província com a falta de braços, que de dia em dia se vai fazendo sentir. Nes­ Ora, sendo eu da opinião que no regulamento que se tem de formwar para a
se intuito, e com o conhecimento prático que tenho da índole de meus patrícios, cução da Lei n. 0 525 não se pode permitir aos proprietários menor número
do sistema do seu trabalho, e da maneira porque eles vivem, escrevi na ordem L5 colonos, que equivalem a 60 tarefas de terra ou 1500 pies, termo médio
que me foram ocorrendo as idéias, que me parecem , poderão ser aproveitadas uma safra; me parece que será fácil se reunirem 10 _proprietários para obtu �
ou atendidas na organização de um projeto de contrato entre os Senhores de en­ lonos. E assim se fará as encomendas de lotes de 150 cada uma, à proporçlo �
genho e os colonos que eles ti\"eram de contratar. Tomo pois a liberdade de for havendo encomendas de 10 .P roprietários para 'Cada vez. Pelo segundo que,;
remeter a V. Eic. não só essas idéias, como três exemplares do regulamento e sito, V. Ex ª vê que o preço m1nimo é de 96S por cabeça, o que equivale ..,
relatório da Sociedade Central de Colonização, e peço a -V. Ex. que se sirva pres­ 1500S (formando contra redonda). Ora, creio que nada é mais conveniettl
tar-lhes a sua benévola atenção. Duas únicas dificuldades vejo que embaraçam a para um proprietário, do que obter trabalhadores para seus terrenos por a,
importação de colonos nes,a província. A primeira é a garantia que muito razoa­ paço de 4 anos, pda quantia de 1500$ pagáveis em .dois anos, em quatro JJ-.
velmente exige a sociedade para os capitalS que adiantar com a impo rtação dos tações. Supondo mesmo o máximo do preço, 130$ por cabeça, imporuriam
colonos. A segunda é comp reenderem os senhores de engenho dessa província os 15 colonos em 1.650$ pagáveis da mesma formaDe maneira <jUC pode-se ...
que o sistema indicado nas idéias, que tenho a honra de submeter à consideração segurar que um proprietario pode ter 15 colonos pela quantia máxima de
de V. Exa. promete maiores interesses do que o sistema até hoje seguido, atenta 2:. 500S compreendidos os juros de 6 por cento que a associaçl"o exigi: peles
a falta de escrav05. Ambas estas dificuldades, estou convencido que desaparece­ adiantamento, . e � despesas de alimentação � que é _obrigado o proprietário
rão diante da vontade de V. Exa. e da seguinte maneira: A ,Primeira, solicitando somente no pnme1ro ano. Quanto ao 5. 0 quesato (que e o maior espantalho Pi'í
V. Exa. da Assembléia Provincial autorização para garantu os contratos cele­ ra os proprietários dessa província)o Presidente da Associação me disse �e-IS'
brados entre a sociedade, os proprietários e os colonos. Acredito que a Assem· nas lelS do país, e na falta de uma lei especial para esta matéria., só no r�
bléia não negará esta autorização, não só pelas grandes vantagens que resulta­ mento que -V.Ex.ª, tem de promulgar, se poderá com cautela criar essas garlll"
r!o à província, como porque deve existir convicção de que V. Exa. dela tias. (... ) Feito o contacto com a Associação serio os proprietários prevenid�
!ará o mdbor uso. A segunda, faundo V. Exa. ver os senhores de engenho o de que em tal tempo deverlo ter as habitações prontas, e no Aracaju os mãe.
abismo _gue os espera, e as vantagens que colherão da colonizaç4o. Espero necessários para tranSportar os colonos para os E ngenhos.Pennita V. Ex.ª
sua bondade, que chame sua atenção ara as seguintes considerações: O �
que V. Exa. se dignará tomar este oôjeto na consideração que merece, nlo por
mim, mas pela transcendência dos seus resultados, e que me honrará com as ou mau resultado da primeira porção <k colonos tem de decidir da sorte da
observações que lhe aprover fazer, transmitindo-me mesmo qual quer objeções voura dessa Província, ao menos por alguns anos, �to eu entendo que
ou dúvidas que apareçam da parte dos senhores de engenho para eu procurar Exa. deve ter muito em vista, em relação aos pnprietários e em relaçlo 1
removê-las". (91) colonos, que os primeÍ:'"06 �on�ctos sejam fidmente curnprid06 por ambaa
Na segunda carta o Deputado Suplente deixa de lado o tema da co­ partes, e para esse fim mfiu1 muito o l ugar do Engenho, que deve ser mais p
lonização, para criticar a idéia da construção da estrada de ferro de Aracaju ximo possível doe portos, a qualidade du terras que devem ser as melh orei
a lohambupe. Mostrando <{De tal ferrovia iria matar a nai;cente navegação de ra a cana, a h�nradez e boa fé dos priprietários. Se 06 primeiros p roprie ..

im'
longo curso, tomando Serg ype aúida mais dependente da \'lZlnha Província da �orem de boa_ f�_ e felizes, �tará vencida a primeirfi e maior dificuldade para
Bahia, ele aconselha que em vez da ferrovia fossem feitos estudos regulares e lização des.,a 1de1a que eu julgo salvadora da prov1nci a. Eu tenho o maior
profissionais a fim de melhorar a barra da Cotinguiba, incrementando destarte de que V. Exa. leve a efeito esse negócio e como nlo confio na estabilida
a navegação de cabotagem.(92) nossas co� polític:is, re<:eio que V. Exa. nlo seja o executor de tio
A Terceira carta é resposta à consulta que o Presidente Brotero fizera à tantes �edid 3:1, por isso _lhe peço que nlo perc� tempo. Em março próximo
Associação Central de Colonização: turo seria mwto con�eruente �e os colonos a1 ch egassem, por ser a época
plantações dos cerews. Não &eJa a falta do Regulamento, que V. Exa.
"A carta datada de 5 de j ulho e_róximo passado, com a qua1 \'. Exa. se serviu promulgar, razão para adiar a encomenda, porque até o tempo da chegada
transmitir-me uma cópia da Lei Provincial n.0 325, de 3 do mesmo mês , e na colonos, o 8:e�amento pode-se _ fazer com vagar. Eu me esforçarei em
qual me dava certas ordens sobre o objeto da mesma lei, chegou às minhas ver algumas ideias a respeito, não prometendo oferecer a V. Exa. um p
m!os na v� era da partida do último paquete... Logo que recebi a cópia da de regulam� t? porque seria uma ousadia, aten� a minha falta de hab"
Le� formulei os pedidos constantes do papel incluso , e apresentei-os ao Presi­ _
Me parec� mdispensavel uma exp081ç�o da mane1ra porque aí .se cultiva a
dente da Associação Central de Colonização, exigindo a resposta por escrito co­ se se fabnca o açucar, narrando« nuudamente o processo p ratico O aú
mo V. Ex.a. verá. Necessitando de explicações mais detalhadas, tive uma confe­ limpas, a quantidade de terreno que um tr abalhador pode fimpa, '0 nÚllll
rência com o mesmo presidente e obtive as seguintes: Quanto ao primeiro es­ horas de serviço no dia, o número de carradas de cana que dá 'uma
clarecimento, declarou-me ele que logo que a Associação tivesse uma encomen­ cana, quantas carradas dá um pão de açucar, quantas arrobas, o preço elQ.,
da de 150 ao 200 colonos, que daria suas ordens para que fosse fretado um bar· deve também ser esquecida a cir cunstância de que no mesmo terren� da
co para conduzir ao Aracaju. Acho portanto conveniente que não se faça enco- e ao mesmo tempo que esta é cultivada , se planta e se colhe milho e feijloi
17

Se esta quantia se juntar a 600S qu� é o j_uro ou o .tr�b�o dos _escravoe, ••

!º!�ra:
quantidade, preço.Em uma palavra, uma exposição minuciosa e exata da vida, ª S O p et U
loºt���n!� �� -�� �� .� .IS: :�� � ..�
do trabalho c dos lucros que os colonos vêm encontrar.Esta exposição pode ser r �� .�� � ��'.".� � .� C :
feita facilmente por um proprietário de critério.Eu mesmo a faria se não temesse
al gum a inexatidão, visto o tempo que estou fora da lavoura.Tenho tanto interes­ - rendas dos es cravos ........... · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · J
- rendas dos bois ... '......... · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · •
se em ver por V. Exa.realizada a colonização em Sergipe que não duvidaria em
fazer o sacrifício, se fosse necessário , de ir a Sergipe empregar os meus esforços Total ........................... · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·
para persuadir aos meus comprovinàanos das vantagens que lhes colheriam. Nã.,
o faço porque me seria necessário uma licença do Govêmo com os meus orde­ � pois evidente que o proprietário que contratar colonos tem pel� menoe o la,
nados, e a minha posição política me priva de pedir semelhante favor.Entre­ cro liquido de 2450$ em 6 meses, e o trabalho dos escravos nos seis me&ea de 11
t�nto, confio tanto .na boa vontade e de dicaçã� de V.Exa. que espero alcança­ vemo, que pode dar outro tanto ou mais.€ tambêm evidente, �e nenhum pro,
ra o resultado deseJado, a que brevemente esteJ3m as encomendas feitas para a prietário é capaz, com dobrada força , de ter o mesmo l_ucro, além de gour dt
Europa, quero d.izer,para os Açores, donde me parece w conveniente que sejam tranquilidade, comodidade e descanço que deve necessanamente resultar da pe
os colonos".(93) ce ria organizada e sustentada com a boa fé que convém e deve ser.
No número subsequente do Correio Sergipense encontramos: "Consi· (Cálculo que eleve ser ver ificado e corrigido por um proprietário fidedigno).
derações e cálculos anexos às cartas do Sr.Dr.Tobias Rab-�Uo Leite. Conside­ Om homem pode ·plantar e tratar hem um canavial ' de 4 tarefas (penao •lm
rações que devem atender os senhores proprietários de um en,tenho com 20 es­ porque há muitos escravos que só tendo os dias santificados e os sál,ad01 no ln,
cravos e 80 bois, mal pode conseguir uma safra de 800 pães ele açucar, empre­ vemo, são lavradores nos Engenhos de seus S enhores, de 60 a 100 pies, ora, 11111
gando esforços tão excessivos que mais deterioram as forças da fábrica, do que homem livre que dispõe de todos os dias, não deve fazer menos). Um canmal
lhe dã'o o justo lucro de seu trab alho.A imperfeição, o d esperdício, o atrope­ de 4 tarefas de boa terra e hem tratado deve dar 60 pã"es de açucar.
- 60 pães de bom açucar deve pesar 120 arrobas de branco e 90 de mascav
p�
lamento e o cansaço acompanham a moagem desde o primeiro dia até o últi·
mo. resulta 9.u� os lucros sio tão mesquinhos e incertos, e os �aros e - 80 arrobas (2/3 do colono)de açucar branco a 2$.............. , 16
suhsbtuições na fáhnca e no E ngenho tão certas e tão grandes, que as dividas se - 60 arrobas(idem) de mascavado a IS SOO ..................•• i
tornam inevitávei� O proprietário pois que estiver nes� circunstâncias, atende
melhor aos seus interesses se contratar colonos para seu Engenho.A primeira
vantagem que colh_e é não ter tanto capital empregado em vidas e poder aplicar
= i���- e r d i
� �� �� .�/:.�-�·ª· � :� �� �� :
l
��� �� i ve d
: �� �� �-� �� _ ..� : . :

o excedente a mais seguro emprego, por exemplo melhorar o ma�inismo do A despesa de corte e carreto será de 800 por pão ....... . • . . . . . .... �
seu E ngenho, concorrer para a formação de estabelecimentos de crédito, tio vital Total..............................................
n�cessiaade da lavoura, etc., etc.Admitida a paiceria de colonos, deve-se redu .
ztt a metade o número dos escravos e dos bois necessários para rodar o Enge­ - dir eitos de 5 por cento ............................... 12
nho por toda safra. Contratados 15 colonos e distribuindo a cada um oito tare­ - 60 pães deve produzir líquidos ......................... 2391
fas de terra, teria o E ngenho cana para 1800 pães. R�ehendo o propriebÍrio Nas quatrq tarefas de terra pode-se plantar no primeiro ano(?)
pelo foro � te!'1". a. e pelo trabaJ1?o e _des�as de moagem o terço daquele nú, salamins de feijão, que devem produzir quatro, que a S (?) devem produzir
mero de paes, vina ter 600 pães, 1Sto e, dolS terços do íucro que colhia com do­ No mesmo terreno pode-se plantar(?) salami.ns de milho e se colherá qu
�ra�a força e com centuplicado tra.baJho.O produto dos 600 pães é quase todo a$ ..............................................• •
hqu1do, porque dele apenas há a deduzir a importância dos salários d06 mes­ Nos aceiros pode-se plantar tantos pés de algodão ou mamona, que dará
tres de açucar, e os juros de 6 meses do capital empregado nos escravos e nos bras ou salamins a(?) ................................•.••
bois, porque durante os 6 meses do inverno noa escravos podem ser aplicados a N.B. A cifra que deve produzir o milho pode ser substituída pela que deve p
outros trabalhos que dêem para o juro desse tempo e para o alimento o vestiario zir as galinhas e outras aves domésticas, bem assim pore06.
de todo ano.Atendamos a linguagem das cifras, que é a mais conveniente. Al guns Proprietários do Engemos de açucar na Província de Sergipe, d
obter para seus engenhos, sob condições constantes do projeto de contra�
:- 1� colonos plantam e cultivam canas para 1800 pães.Toca o proprietário l/3 , to, colonos europeu.s,pedem à Associação Central de Colonização os seguintel(I
JSto e, 600 pães. clarecimentos:
- 600 pães dã"o 1200 arrobas de açucar branco, ou ...............2400S 1) A Associação manda vir da Europa e leva ao Aracaju quantos coloDOI �
- 900 arrobas mascavado do dito ...........................13SOS rem pedidos?
- 5 pipas de mel .................. .. .................. SOOS R) A Associaçfo pode mandar encomendar colonos e transport.loe ao
Deduz-se de .........................................4250S com algum as das condições marcadas no Projeto e outras que adiante
- Juros do capital dos escravos, 6 meses a 8 por cento (15: OOOS) ... . . 600S rá, mas não pod e assegurar que venham em número taJ como forem en
- Ditos 40 bois (2: OOOS). .. .... . . ... . .. . . . . ...... . . .... . 80$ dos.
- Salários dos mestres de açucar ............................1800$ 2) Por que preço máximo a Aa.ociação se compromete a por no Aracaju ca
Total •.............................................2480S lono?
R.) O preço de cada colono é variável, mas o termo médio é de 861000
Produto lí quido do terreno ocupado pelos colonos ............... 1770$
181
180

beça, deduzida a subvenção do Governo. Acresce-se a isto lOSOOO por cabeça peço a V. Exa. o favor de me informar do estado em que se acha este negó­
que será pago à vista por ser comissão da A...:;sociação para retribuição de seus a­ cio. "(95)
A derradeira carta apresenta mais algu ns esclarecimentos obtidos jun·
gentes.
3) A Associação exige o pagamento da importância proveniente das despesas to a Presidência da Assembléia Central de Colonização:
feitas pelos colonos desde o porto da partida até prestações? e nesse caso em "... Se V. Ex. Íne pemlite, eu ainda esta vez vou incomodá-lo com este negócio,
quantas e com que intervalo de tempo de uma a outra até final reembolS<>? que tenho tomado muito a peito.Confio tanto na sua bondade para comigo,
R.) Depende do trato e a Associação exige o pagamento em prazo de 6, 12 e 24 e nos bons desejos que V. Ex. tem de felicitar:
meses. O meu amigo o senhor Barão de Moritiba me disse que o Governo paga a passa­
4) A Associação leva juros rios dinheiros dispendidos com as despesas feitas gem de todos os colonos que vierem para estabelecimentos rurais, e que 08
com os colonos, e de quanto .
proprietários só tem a pagar 15 U por cabeça - me prometeu ainda que se
R.) A Associação cobre juros de 6 por cento ao ano das quantias por que o Fa­ houverem pedidos para cem colonos, que os manda buscar e levar em derei­
zendeiro fôr responsável. tura ao Aracaju . Ora, à visto disso, lembro a V. Exa_ uma idéia qu� tenho:
5) Quais as garantias que dá a Associação aos proprietários que contratarem co­ 5 proprietários escolhidos por V. Exa_ me pedem 10 colonos cada um, são
lonos para que estes cumpram seu contrato? 50, ou 750 U por 10 proprietários e V. E,ca. por parte da Província me pede
R) Desde que os colonos forem entregues ao fazendeiro a Associação nada mais outros 50 que podem ser empregados nas obras públicas, na conservação daa
t.em que ver. As questões suscitadas entre as partes são decididas por árbitros.
estradas, etc. A despesa com o sustento a salários deles não pode ir além de
As garantias oferecidas aos fazendeiros estão expressas no artigo 16 do Regula­
mento da Associação que foi aprovado pelo Governo em 2o de setembro de 12: OOOS por ano. E V. Exa_ convirá que nfo é urna despesa infrutífera, que a
1857. Província precisa de trabalhadores para suas obras, que a Capital mesmo tem
6) Quais as condições que a Associação exige dos proprietários que quiserem muito em que ocupe 20 a 30 trabalhadores diariamente. No caso de que nlo
contratar colonoe? houvessem sempre trabalhos públicos para lhes dar, o que me parece que não
R) As condições estão marcadas no artigo 17 do Regulamento acima citado que se dará, podiam ser cedidos a� outros proprietários que quizessem. Me pareceu
vaJ junto. As cláusulas gerais dos contratos constam do artigo 4. 0 do mesmo em conclusão que 100 trabalhadores podem ser facilmente importados, que a­
0 0
Regulamento e dos seguintes 5. e 6. • O artigo 7. 0 do dito Re gu lamento con­ chariam muito em que se ocuparem, e que é conveniente já pela diminuta
t.ém outras cláusulas que também a Associação exige que sejam observadas.Os quantia de 1500 U que custaria a sua importância até o Aracaju, e já pelo di­
fazendeiros devem passar letras a lavor da Associação ou a sua ordem endossadas minuto salário que vencerã'o até ultimar o contrato que aceitassem. Perdoe V.
pelo Tesoureiro da Tesouraria Provincial, segundo o disposto na lei (por cópia) Exa. esta impertinência: atenta que é SÓ o desejo de melhorar minha Província
0
n. 525 e pagáveís no Rio de Janeiro. A condição ou cláusula 7. ª das - Idéias - que me leva a ela - e a V. Ex. não caberia pouca glória o reconhecimento da
que constam do Relatório, parece muito onerosa e quaae impossível de ser Província, sendo o primeiro a iniciar tão transcendente progresso". (96)
cumprida, porque o colono não tem carros e bois para conduçlo da cana. Em Provavelmente influenciado pelas otimistas e alvissareiras cartas deste
suma as clausulas que a Assooiaçlo entende deverem constar do contrato vão Deputado, o sucessor do Presidente Brotero consegue que a Assembléia Legi1-
especificadas no papel que se oferece. C:Onvém ultimamente notar que se for a ·1ativa Provincial aprove, a 10 de maio de 1860, o seguinte projeto de coloni·
Associação incuhicla de fornecer colonos por parceria aos fazendeuos de Sergi­ zaçllo:
pe é mister que seja avisada com antecipação para que tomando as convenien­ "Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial
tes medidas e escrevendo a seus Agent.es possa declarar o tempo em que devem decretou e eu sancionei a re�oluçA'o seguinte:
chegar, a fim de estarem prevenidos os fazendeiros com casas provisórias onde Art. 1 - O Presidente da Província é autorizado, logo que se tenha pago a dí·
sejam recebidos aqueles, logo que chegar o navio ao porto de Aracaju. Os fa­ vida interna e externa da Província, a empregar exclusivamente o dinheiro que
zendeiros serão obrigados a alimentá-los até estabelecê-los na forma do contrato, houver em cofre na criação de cinco colônias, principiando com 25 fami.lianw
e por essa alimentação nlo levarão cousa algu ma aos colonos. B igualmente ne­ cada uma, sendo a primeira na margem do Rio de S. Francisco, a segunda no
cessário que as primeiras plantações estejam feitas e sejam entl'egues aos colo­ Município de Capela, a terceira no de Laranjeiras,a quarta no de Itabaiana OQ
nos em bom estado, tendo-se o cuidado de instrui-los praticamente na maneira SimA'o Dias , e a quinta no da EstAncia.
de tratar a cana e outras plantações do país. "(94). Art. 2 - Destas colõrúas duas serão nàcionais e as três outras estrangeiras.
Na sua quarta missiva, o Dr. Rabello Leite solicita informações a res­ Art. 3 - A criaçao de tais colônias será feita na escala determinada no art. L O
peito das resoluções que forem tomadas a partir de su� derradeira carta� e à medida dos recursos fmanceiros da Província.
'°Tenho necessidade de dar uma soluçlo ao meu amigo o Senhor Barao de Mo­ Art. 4 - No contl'ato do engajamento os cólonos se obrigarão a cultivar 6
ritiba, Presidente da Associação Central de Colonização, sobre o projeto de desenvolver a lavoura de mandioca, feijão, milho e arroz, e a desenvolver e
importação de colonos para esta província, para� �e ele de muito_ �oa vontade feiçoar a criaçA'.o de aves domesticas e gado miudo e tudo mais que for objet6
me prestou tod06 os esclarecimentos de que precisei, e que transrrub a V. Exa.; alimentação, compatíveis com as circunstâncias do lugar e número dos colonOL
182 183

ArL 5 - Entre os colonos contratados deverá vir para cada colônia um carpina, do crédito territorial. Logo que isto se der acredito que não será precU? melJO!
um pedreiro' um alfaiate um sapateiro, e um ferreiro, aos quais é permitida a esforço gara fazer vir o colono; o seu hem estar o chama, porque essa e uma lei
' . natural. (98)
aceitar aprendizes nacionais ou esliangeiros, sem que percebam por ISSO sn bven-
ção algu ma da Província. O mesmo Presidente, wn ano após seu discurso, agora perante a Assem-
. . bléia Legislativa Provincial repetia:
ArL 6 - As colônias nacionais serão dirigidas segundo o Sistema de parcena, e as
"Não creio na eficácia do que resolvestes - sob o n.0 599 - em 10 de maio de
esnangeíras o serão segundo o sistema da colonização por núcleos, fundado so­ 1860. O que se pode fazer por agora é ve� se �guns lavrad �res �esta Pr�víncia
bre a compra de terras e cultura das mesmas por conta d?s colona:-, �vas as . -
ensaiam em suas terras o s1tema de parcena, Jª com os nae1onais pie a1 estío
subvenções, que o ��vemo em R egulamento entender preclSar no pruneuo ano vagando sem trabalho, ou entregues a uma indolência , por assim dizer nata., j3
da fundação da colonia. . . com estr�eiros engajados por intermédio da Associ�çio Central de Coloniza;
Art. 7 - O Governo fica igualmente autooiado a c?'?'Prar por preços e prazos ra­ çã'o. Tamhem se poae alguma cousa faz.er. com esses terrenos que pertencerâtri
zoáveis, e nos lugares �dicados, os terrenos necessanos para acomodaçlo e traba­ às antigas aldeias dos (ndi<?5 da Provínci� que precisam ser demarca�os, conh!:"
lho não só das 25 fam1lias como das que se possam obter, se poryentur� .º� hou­ cidos e bem estudados cre10 que conhecidos esses terrenos se podera cons�
ver terrenos devolutos apropriados, porque em tal caso devera requwta-los ao algu ma cousa, com a base .de conceder a mesma pr?�riedade a� colono. F�­
Governo Geral. . . mente direi que embora hoJe não possamos com eficaCJa co�r essa colomza.
ArL 8 - Para que se _levem a efeito as �posiç� da presente Lei, o Presidente ção, que tem por fim · dar população e braços pro�upvos 'à P:ovfoci� devemQ&:
da Província recorrera ao Governo lmpenaJ solicitando oportunamente com ur­ criar uma robusta esperança do que a população VlJ'8 e.xponünea e inesperada­
gência a mesma coadjuração que tem sido dada a outras províncias do Império mente quando o estado da Agricültura da Província estiver em ponto de a rec�
para o estabelecimento de colôruas. ber." (99)
Art. 9 - O Governo da Província dará R egulamento criando Diretores, e estabe­ ,. . ·
Satisfeito Thomas AJves Jr. revela aos membros da Assemble18 Lep
lecendo o regime e economia das colônias! r:narcando. os rendiment<?5 que deve !ativa as primeir� conquistas do progresso, prenúncio e condição da futura
perceber cada um dos Diretores, ficando SUJClto o dito Regulamento a aprovação colonizaçlo:
da Assembléia Provincial. "'Já possuís enlie vós a prova do progresso da la�a e do fahric� do açocar. O
Art. 10 - O Govêrno poderá dispe nder até a quanti! de vin.te �ontos �e réis com Dr. Antonio Dias Coelho e Mello em seu estabeleclmento rural Jª prova qual a
cada colôrua, dependente da aprovaçlo da Assemble1S Provmc1al o mais que por· diferença que existe entre a ll'.IIDeúa de rotear os campoe e limpar as sementeiras
ventura gastar. pelo arado, e esse sistema antigo rotinei."O que realmente é seguido. Em seu esta­
Arl 11- Revogam-se as disposições em contrário' 1 (97) .. . . belecimento, bem como no do Major Antoruo Joaquim Fernandes de Barros, e
Mais realista foi novamente Thomaz Alves Jr. Em seu Jª vanas vezes outros, podeis ver qual o bom resultado que tira o fabrico do açúcar do empr�
citado discurso de abertura do IlSA, ele expõe seu pensamento sobre tal assun­
to: go das máqu inas. E ent!o vos convencereis do quanto serviço se faz, e de quant08.;
braços e instrumentos sujeitos à destruição se dispensa, de quantos capitais se .
"Querer que a colonização já se derrame sobre o país é um vão desejo1 nAo est•
mos preparados para abrigá-la. Obrigar a colonizaçlo pela emigração e antes í• poupa à lavoura.Se como vos disse, esses melhoramentos em grande escaJa depen­
zer-lhe mal do que bem, e destruir o fytu.ro, da mesma colonizaçlo . porque a d� dem do crédito rural , alguns se podem fazer dentro de vossas forças?' ( 100)
credita Acreditamos que o nosso pS1s sera procurado pela colo1U2.açlo esponta­
CONCLUSÃO
nea 1. 0 ) Quando o colono achar um sistema de trabalho em hannonia com a
natur eza do solo e com a temperatura do clima, maneira que esse trabalho nfo
Somente uma pesquisa mais aprofundada nos últimos decênios do sécu­
lhe possa ser nocivo, cujo processo seja igual ao que, �tava acoetumado . 2; º.) lo passado poderia nos esclarecer qual foi o desfecho de toda esta fermentaçfo i­
Quando no solo êle se poder ligar senão como propnetano, ao menos como soc10
do proprietário, porque o amor ao seu trabalho ��ce n� razio da crença �e que novadora que se desenvolveu em Sergipe notadamente por volta das presidências.
\. de Brotero Galvão e AJves Jr. Faltou-nos tempo e �a às pretensões deste en­
trabalha no que e seu. 3. 0 ) Quando os cen?'OS ferteu; esbverem em comunicação
saio uma incursão no último quartel do Século XIX. 'Fica, pois, nossa sugestão e
rápida e barata com os mercados de !11�e1Ta que a desp� do � 1'8l!Sport �, não esperança que outros pesquisadores tragam luz sobre tal problema.
exceda ao valor do gênero, qu� acha facil consum ?, porque runguem querera pro­ Parece-nos que a ideologia inovadora infelizmente muito pouca coisa
duzir sem cont.ar com uma sai da p�on� e lucrativa �o. �roduto de seu ti:abalho. realizou de concreto em Sergipe. Todos estes debates, polêmicas, esperanças, re,
4. 0 ) Quando as capitais temtonais ��es de t.od� libgto derem . garanb� a sua latórios, n.lo passaram de letra morta. O IISA, a pupifa dos olhos e a grande ea­
mobilização, e houver expansão do credito te�t?"al, porque assun o ago�tor perança dos modernizantes daquela época, nlo deixou, salvo eno, nenhum u&;
t.erá mcios de fugir ao_gravame da usura e sem VII' �obifizadas .as fontes da nque­ ao positivo atl"ás de si. Solenemenle instalado a 2 de dezembro de 1860, teve a
za que só podem se desenvolver com. outros auxil�. Daqw concluo, segundo sua próxima Assembléia Geral aos 16 de dezembro do ano s�nte. A próxima
p enso ' que antes da colooização precisamos: l.°) Enslllo e melhoramento no tra· reunião se deu aos 7 de fevereiro de 1863; nela o Presidente do Instituto, Dr. J•
balho de rotear 06 campos e preparar os frutos da colheita para entrar em c.on­ cinto de Mendonça discorre sobre "o estado decadente da lavoura na Província"
curso no mercado. 2.0j Conhecimento perfeito das terras devolutas, ou obnga­ dizendo que o próprio USA encontrava-se igualmente nesta mesma situaçlo de
ção indireta da permuta do supérfluo para aqueles que a nlo p<>derem trabalhar. "Marasmo e apatia" (101). O ano de 1864 começa alvis,areiro: duas reuniões dp
3.°) Melhoramento das vias de comunicação. 4.°) Desenvolvunento e expansão
-
184 185

IISA no mês de janeiro, a primeira. no dia 23, é dedicada à discussão da encomen· ria de algumas dezenas de crianças negras. Humilde realização para tão moderna
da de um aparelho dos mais aperfeiçoados para o fabrico do açucar bruto; a se­ e revolucionárias propoeicões estatutárias.
gunda, no dia 26 , onde os membros do !ISA resolveram empregar
19:SOOSOOO para comprar "aparelhos mais aperfeiçoados de fabricar açucar que
possam acomodar-se às necessidades da Província. "(102). Tendo encaminhado NOTAS
tal _proposta ao Presidente, este respondeu que embora 'julgando de suma utili­
dade a indicação apresentada_ nfo poderia tornar efetiva a entrega da quantia l ) Esta Instituiç.i>, cognominada oficialmente de Imperial Instituto Sergipano de
que se exigia sem'gue chegll$e à Província a decisão de uma consulta que lhe Agricultura (Decre10 de 20/1/1860),recebeuainda outras denominações: Institu­
constava fora ultimamene feita ao Governo Imperial sobre semelhante assunto". to Agricola Sergipano, Instituto d' Agricultura de Sergipe, Imperial Instituto de
Três anos se passam sem que o IlSA se reuna. Somente a 12 de novembro de Agricultura de Sergipe.
1867 que bá outra seção onde a pauta do dia é "o abandono em que se achava 2) Discurso de Insta!aç.to do USA, lido pelo Presidente Thomas Alves Jr., Livro
o Instituto". (103) A 14 de janeiro de 1868 nova reuniA'o, presidida, agora por de Actas da Se�o d'Assembléia Geral, fl. 7
Antonio de Araújo de Aragão Bulcio: propõe-se "a criação de uma escola teir 3) Correio Sergipense, n. 0 81, 6/10/1860, p. 1-3.
rica e prática p ara a prospendade da agricultura."'(T04) A �O de fevereiro do 4) Trata-se de um livro de 36 x 30 cm., com capa de couro trazendo o braz.to do
mesmo ano resolvem os membros do IISA · nomear uma comissão que escolhes­ Império, com 200 folhàs rubricadas por Thomas Alves Jr., •das quais apenas 15
se o local �ais aproP.riado no estabelecimento projetado de uma escola �ícola foram efetivamente utilizadas para registrar Atas do IISA Tal obra ainda nao
teórica e prática. "(105) A 24 do mesmo ano , a Acta do IISA nos informa se encontra catalogada, encontrando-se na Estante "Agricultura" do Arquivo Pú­
que fora encontrado "o engenho denominado Patrimônio, que _dista da Capitaf blico do Estado de Sergipe.
duas léguas e meia, pouco mais ou menos, engenho que podens ser comprado 5) Discurso de instaJaçto do USA. fl. 4
pela quantia de 4: 600SOOO." (106). A verba foi aprovada, e o Presidente Bul­ 6) Correio Sergipense, n.0 73, 5/9/1860, p. 3
cão"fez ver a inadiável necessidade de se endereçar aos altos poderes do F.stado, 7) Relatório com que foi entregue a administraça-o da Província de Sergipe , no
por oc�ião da pró�ma reunião das Câm�as, uma representaç!'.? �inada pelo dia 15 de agosto de 1860, ao Dmo. e Exo. Sr. Dr. Thomas Alves Jr. pelo Dr. Ma­
maior numero poss1vel de lavradores, pedindo a ereção da Prov10c1a de um es­ noel da Ctmha Galvão; p. 15.
tabelecimento bancário de crédito agrícola." (107) Decidiu-se ainda que na pr� 8) Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março
xima seção á l .º de abril de 1868, nomear-se-ia "uma pessoa competente f>&ra se de 1861, pelo Presidente Thomas Alves Jr., p. 43.
1

encarregar da direção da indicada escola agrícola que se pretende criar." ( 108) 9) Correio Sergipense, n. 0 7, 16/1/1861, p. 2
10) Relatório do Presidente Galv.fo, de 15/8/1860, p.15
Tal reunião não se realizou, e salvo erro, tampouco se chegou a organi­ 11) Discurso de instalaç.to do USA, n. 10
zar a referida escola agrícol.a, pois 13 anos após, na reunião subsequente do 12) Discurso de instalaç.to do USA, n. 5
IISA, o Barão de Estância propunha novamente "o estabelecimento de uma e&­ 13) Correio Sergipeiue, n. 0 7, 1/2/1859.
cola ou fazenda modelo, que tenha por fim facilitar o ensino prático e profissi<>­ 14) Correio Sergipense, n.0 99, 12/12/1860, p. 4
nal, aproveitand<>-se para este mister o engenho do Patrimônio, pertencente ao 15) Relatório de Thomaz Alves Jr., de 4/3/1861
Instituto , e dando-se assim emprego proveitoso ao capital de que dispõe o mes­ 16) Relatório de M. C. Galv.fo, de 16/8/1860, p. 6-'7
mo Instituto". (109) Nesta seção foi também resolvido que a próxima reunião 17) Arquivo Público do Estado de Sergipe, Pacotilha 416, Ministério da Agricul­
seria três .temas: a fundacã:o da escola modelo. a oromocfo dos meios necessári08 rura, 13/1/1860
a fim de que o instituto pudesu mandar vir instrumentos aperfeiçoados e novos 18) Correio Sergipense, n. 0 16/1/1860.
para serem distribuídos pelos lavradores,e finalmente.a fundaçf'o de uma revista 19) Correio Sergipense, n.0 7, 23/3/1859
agrícola.(110) Inexplicavelmente a ata desta se9ão não apresenta_ como as de­ 20) Correio Sergipense, n.0 47, 20/7/1859. Outros anúncios de vendas de Enge­
mais, as assinaturas dos membros presentes. E a última reunião que aparece regi&­ nhos podem ser encontrados no mesmo periódico nos n.0 72, de 2/11/1859,
txada no livro de ata do IISA. e n. 0 16, de 19/3/1860.
Infelizmente n!o dispomos de informações que nos elucidem sobre o 21) Correio Sergipense, n. 0 47, 19/6/1860
que ocorreu ao IISA após esta última reunião. Sabemos apenas que pela Lei n. 0 22) Relatório do Presidente Galv.fo, de 15/8/1860, p.5
806 de 17 de abril de 1868, o Governo Provincial concedera a subvenção anual 23) Filisbello Firmo de Oliveira Freire: História de Sergipe, Rio de Janeiro,1891,
de io_: OOOSOOO ao USA, � que _d�is anos após, a 2 de maio de ;s-zo, a mes�a p. 326.
24) Relatório do Presidente Galv.1o, de 27/4/1859, p.24
lei foi revogada, sendo destinsda a libertação dos escravos da Provinc1a a quanba.,
de 6: 000$000 anuais, deduzidas dos 10: 000$000 �e pela resolução anterior"­ 25) Relatório do Presidente Galvão, de 27/4/1859, p.25
26) Correio Sergipense, n.° 99, 12/12/1860, p .4
tinha O g;overno doado �u&me!1te ao dito Instituto;, (111). � tal verba tenha 27) Correio Sergipense, n.0 73, 5/9/1860, p.3
sido efetivamente doada a Sociedade 25 de Março , a fim de Libertar preferen­ 28) Discurso de instalaç.to do USA, fl. 5
cialmente os escravos de 2 a 14 anos, do sexo feminino, teremos de reconhecer 29) Discurso de instalação do IISA, f1 2
que ao menos de maneira in�reta. o Impe�al Instituto �ergipano de Agricultura 30) Correio Sergipense, n° 17, 2�/3/1859
contribuiu , senão para a abolição da escravidão em Sergipe, ao menos para a.lfor-
186 181

31) Correio Sergipense, n. 0 7, 16/2/1859, p. 4 77) Discurso d.e instaJaça:o do USA, n 7


32) Discurso de instalaça:o do !ISA, fls. 4 v.0 e fl. 5 78) Correio Sergipense, n.0 71, 22/10/1859, p.4
33) Discurso de instalaça:o do !ISA, fl. 4 79) Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe a l.º d.e mar,,
34) Discurso de instalaça:o do USA, fl 5 ço de 1850 o Presidente da Província Dr. Amâncio J. Pereira de Andrade,p. 3.
35) Discurso de ínstalaça:o do USA, fl. 6 80) Correio Sergipense, n. 0 38, 11/6/1859
36) Discurso de instalaÇáo do USA, fl. 4 v. 0 81) "Um documento inédito para a história da Independência" traduça:o eco­
37) Correio Sergipeose, n. 0 23, 13/4/1859 mentários de Luiz Mott. in carlos Guilherme Mota: 1822: Dimensões,
38) Correio Sergipense, n. 0 99, 12/12/1859 p. 482, Editora Perspectiva, SP, 1972
39) Correio Sergipense, n.0 4, 16/1/1859, p. 4 82) Discurso de Instalaç.to do llSA, fol. 6
40) Discurso de instalaÇáo do IISA, f1 2 83) Discurso de Instalaç.to do USA, fl. 5
41) Correio Sergipense, n.0 11, 28/11/1860 84) Discurso de Instalação do USA, fl. 5
42) Discurso de instalaça:o do IlSA, fL 7 85) Discurso de Instalaç.to do IISA, fl 6
43) Discurso de ínstalaÇáo do IlSA, fl . 7 86) Relatório do Presidente José Antonio de Oliveira Silva, de 8/3/1852, p. 46
44) Discurso de instalaça:o do !ISA, fl. 7 v. 0 87) Daniel Kidder: Reminiscências de Viagens e Permanências no Brasil, citado
45) Relatório do Presidente Galvão, de 15/8/1860, p. 5 por Sergio Buarque de ,Holanda, in Thomaz Davatz, Memórias de um Colono no
46) Correio Sergipense, n.0 7, 16/1/1860, p. 2 Brasil, p. xxvn, nota 4, Llv. Martins-USP, 1972
47) Relatório do Presidente Galvão, de 15/8/1860, p. 6 88) Relatório do Presidente Galv.to, de 27/4/1859, p. 25-27
48) Correio Sergipense, n.0 71, 22/10/1859, p.4 89) Relatório do Presidente Alves Jr., de 15/8/1860, p.7/89) Idem, p.8-9
49) Correio Sergipense, o.0 29, 31/3/1860 90) Relatório do Presidente Brotero, d.e 7/3/1859, p. 35-36
50) Correio Sergipense, n..215, 16/3/1859 91) Correio Sergipense, n.0 16, 19/3/1859
51) Seção do !ISA, Livro de Atas, fl 10 v. 0 92) Correio Sergipense, n.v 18, 26/3/1859.
52) Coll eçao de Leis e resoluções da �mbléia Provincial de Sergipe. Resolu· 93) Correio Sergipense, n.0 19, 30/3/1859
ça:o n. 0 596, de 8/5/1860. 94) Correio Sergipense, n.0 20, 2/4/1859
53) Correio Sergipense, n. 0 30, 4/4/1860, p.4
54) Correio Sergipense, digo, Coleça:o de Leis e Resoluções da Assembléia Pro­ 95) Correio Sergipense, n.0 22, 9/4/1859
vinda! d.e Sergipe, n. 0 615, de 23/4/1861. n. 102, v. 0 96) Correio Sergi�nse, n.0 23, 13/4/1859
55) Coleçao de leis e resoluções da Assembléia Provincial de Sergipe, n.0 685, de 97) Resoluç.to n. 599, de 10/5/1860
15/6/1864, as. 187-188 98) Discurso de instalação do .IIS.A, FI. 6v.0 . 7V.º
56) Coleça:o de leis e resoluçoes..., n. 0 679, de 8/6/1864 99) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861, p. 45
57) Correio Sergipense, n. 0s. , 43, 46,51,52,53,56 100) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861' p. 45
58) Correio Sergipense, n. 0 17/11/1860, p. 4 101) Livro de Atas do IISA, fL 10
59) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861, p. 39 102) Livro de Atas do IIS.A, fl. 10 v.0
60) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861, p. 43 103) Livro d.e Atas do IISA, fl. 12
61) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861, p. 46 104) Livro de Atas do IISA, fl. 13.
62) Relatório do Presidente Galvão, de 27/4/1859, p. 22·23 l 05) Livro de Atas do IISA, fl 13v.0
63) Relatório do Presidente Brotero, de 7/3/1859, p. 35-36 106) Livro de Atas do IIS.A, fl 14
64) Relatório do Presidente Galvão, de 27/4/1859, p. 22-23 107) Livro de Atas do IISA, fl. 14vº
65) Aiquivo Público do Estado de Sergipe, Pacotilha 285 108) Livro de Atas do Il!?A. fl. 14vº.
66) Discurso de instalaça:o do IISA, f1s. 5 5v.0, 6 109) Livro de Atas do !ISA, fL l Sv.0
68) Correio Sergipense, n. 0 71, 22/10/1859, p. 4 110) Livro de Atas do IISA, fl 15 v.0
69) Relatório do Presidente Galvão, de 27/4/1859, p. 32-33 111) Resoluçao n.0 806, de l 7/4/1868
70) Correio Sergipense, n.0 9, 23/2/1859, p.4
71) Relatório do Presidente Alves Jr. de 4/3/1861, fl. 39
72) Daniel Kidder: Reminiscências de Viagens e Permanências no Brasil (Provín·
cias do Norte) Martins Ed. e USP, 1972, p. 55
73) ResoluÇáo n. 0 619, de 29/4/1861
74) ResoluÇáo n.0 702, de 13/7/1864 e Resolução n.0 63, de 26/2/1841.
75) Resoluça:o n.0 644, de 29/4/1862
76) Correio Sergipense, n.0 2, 15/1/1859; n. 0 31, 7/4/1860; n.0 59
23/7/1860; n.0 63, 4/8/1860.
XI
VIOLÊNCIA E REPRESSÃO EM SERGIPE;
NOT.{CIA SOBRE REVOLTAS DE ESCRAVOS (SÉC.XIX)

Cada vez mais as _pe8<{Uisas sobre a sociedade brasileira do _passa do e do


presente desmistificam duas un� ens bem populares na historio�a nacional:a .
do brasileiro, identificado como 'homem cordial" e a da sociedàde brasileira, co­
mo possuidora de uma :'tradição de não-violência". Pesquisa.s,recentes, como de
H. H. Keith, Maria Si1via de Carvalho Franco, Carlo.s Alberto R.icacdo, entre ou­
tras, têm demonstrado ex.atamente o contrário: que a violência permeia toda a
nossa história. Que a violência manifestou·se de formas as mais diversas, sendo a
tônica dos movimentos sociais do tipo"banditiamo",' messianismo, revoltas de es­
cravos, revoltas populares, etc. No caso específico de Sergi pe dei Rei oitocentis­
ta, uma das formas maia contundentes de cristalizaçã'o da v10lência envolviã an­
tagonicamente dois grupos: o das "gentes de cor" contra a elite senhorial, majori­
tariamente branca. Por vezes o conflito revestiu-se mais de conotações raciais, os
pardos e pretos almejando a destruição dos brancos e de seus lacaios; por vezes a
bandeira levantada pelos insatisfeitos é claramente social, os escravos e oprimidos
desejando inverter a hierarquia do poder. Embora a contestação da ordem esta­
mental asswnisse no mais das vezes a forma de rebeldia individual do tipo fuga/,
Rticídio, 8SS8Sfilnato de senhores ou de prepostos seus, incêndio da propriedade
rural, envenenamentos, etc, as tentativas de rebeliões coletivas permeiam nume­
rosas toda a história de Sergiee, notadamente a primeira metade do século passa·
do. A reconstrução das principais manifestações do antagonisno violento envol­
vendo as gentes 'de cor contra a elite branca será o assunto deste pequeno ensaio.-
Embora as estatísticas antigas sejam bastante falhas e incompletas, pode,
m06 i�e � que durante o período colonial e imperial, na maior parté do Nordes­
te brasile1ro, os brancos representavam apenas âe 20 a 30% da população total
(Alden, J 963), porcentagem aliás que peananece a mesma em nossos dias, pois
ele acordo com o último recenseamento nacional em que se declarou a cor dos
habitantes, havia no Nordeste em média 35% de brancos, sendo que para os esta­
dos do Centro-Sul a composição demográfica segundo a cor era inversa: os "de
cor" aqui representavam aproximadamente 35% da população total (LBGE, Cen­
so Populacional de 1950). No caso de Sergipe, a população branca era ainda me­
nos numerosa, conforme se pode constatar através deste quadro: ( L)
C.Omposição da População de Sergipe segundo a cor

1802 1808 1 825 1834


População branca 24% 28 % 19% 19%
População de cor 76% 72% 81% 81%
Total 100% 100% 100% 100%
191
190
gipe do que se supunha até então, constataç!o aliás que vem reforçar duas hi�
Os "não-brancos" eram subdivididos em variadas categorias fenotípicas
teses: primeiro que o autoritarismo e crueldade no trato dos escravos e nas rela.
incluindo além dos negros africanos e crioulos, dos índios aJdeados, os diverso� ções da elite branca com as gentes de coe foi em Sergipe tio real e dramática co,.
resultados da miscigenação destas três raças: mulatos, pardos, mestiços, cw:iho­ mo a que se obseivou em outras regiões escravocratas; segundo, que embora le'i
cas, mamelucos, cafusos, etc (SolWI, 1808:13). Embora fossem quatro ofioiaJ...
men� e a� qualidades classificatorias da popula�? .sergipana (brancospardos, pr; primidos violentamente, os grupos subalternos tentaram reagir, inclusive, coleti­
tos, Uldi?s�, encontramos ao longo de todo o século XIX uma 11ande variedade vamente, contra a ordem expofiativa qu� os oprimia, reação aliás também obser-­
vada em outras áreas do país.
�e .termos que er � usados �er substituindo os quatro matizes miei.ais, quer ad­ Tomando como referência a primeira metade do �ulo XIX, pudemos afé.
Jetivando-os negativa ou poSltiVamente, por exemplo, chamando a um indivíduo
mestiço de "pardo alvo na cor'', outro de "pardo disfarçado", estoutro de "bran­ o presente localizar 17 referências à tentativas de revoltas por parte das gentes
de cor, tanto de escravos como de eardos e pretos livres moradores em Sergwl:!
co ?listurado" este último de ' 'pardo trigueiro", etc (Mott, 1976:13-15). O cer­
.
to e que embora em certos contextos e em certas ocasiões os brancos subdividis­ �mas infonnações sob�e �is movunentos, pelo visto, oío passaram de supc:,s:
sem os não-brancos com diferentes classificações, nos momentos de cri.oe em çoes, boatos ou (a.Isas denuncias; outros, revelavam por parte aa população revoi;
que se viam ameaçados, os não-brancos eram vistos como uma só coisa: "nossos tosa, eminentes . desejos d� luta, reforçados às vezes por sóli�06 iennes d� orgarq­
inimigos": "Têm os malfeitores crescido e aio quase todos homens de cor... "(2). za�ç grupal. Eis os locais e datas onde encontramos referencias a movimentos
-Oesta grande massa de população não-branca, parte vivia no cativeiro: em sediciosos de escravos,e das demais gentes de cor: (7)
1802 os escravos representavam 34% da população total de Sergi_pe, 22% em São úistóvão (1808, 1815)
1819, .26 % em 1823, 29.% e!11 1834 e finaln:1ente, 25% em 1850 (J). Donde se Santo Amaro das Brotas (1827, 1828, 1833)
conclw que durante .ª pnmeira metade do seculo passado, as gentes de cor livre
'7presentavam ªfroxuna�ente metade da popufação desta Capitania e Provín­ Rosário do Catete (1824)
cia: em 1�2, 4 % dos sergipanos eram de cor e livres (libertos e ingênuos); em Brejo Grande (18 27)
1825 sufa� para 56% e para quase 64% em 1850 (4). tais dados demográficos Vila Nova (1827)
fa�am. por SI: a pr�se�ça de tio alta poreentagem de �ntes de cor - seja escravos. Maroim (1827, 1835)
seJa hvres, o� pi;uneiros totalmen�e explora«;!os devido à sua condição servil, os Laranjeiras (1835, 1837)
_ Estância (1828)
se�dos, mJ.SeravelS �a sua poS!ção marginal numa ordem sócio-econômica
domm.ida p� mentalidade e autoritarismo característico da e&Cravidf"o - devia Santa Luzia (1835)
co �tuir um motivo constante de medo e insegurança para a minoria senhorial, Nossa Senhora do Socorro (1837)
rece1osa sobretudo �OI'Cf.le conhecedora da. fraqueza e vulnerabilidade do apare­ Região da Cotinguiba (180�)
lho repressor, constJtu!d? por �- núrn _ero reduzido, de policiais mal annados, Região do Vazabarris (1831)
sendo ex-tremam ente debil e precano o SJStema carcerario de Sergipe (confira nos
�t�� ?s Presidenciai � �s itens: ?alta de ca�eias e prisões"; "A guarda-na­ Vejamos'! que nos revelam as fon!es primárias sobre tais episódios. Vamoe
c10nal 'Falta de condiçoes materuus para eqwpar a guarda-nacional" "Falta nos deter esp�c1almente naquelas tentativas de sedição que aparecem mais d ocu­
de corpo policial e sua ação"). men �u� pois algumas das referências supra-citadas pelo visto não passaram ífê
. • �á qu�.tenha �eriJo CJ!le Sergipe foi um dos locais da Colônia onde as &1p0S1çoes '!� boatos, como _por ex�plo o que sucedeu em 1837 na pró era �
5e
distânCias SOCl31S e rac= entre Senhores e Escravos foram as menores (Bezerra, la de L:i,ranJeiras, ond� o.Jwz de Direit? Domingos Martins de Faria part:Icipa\'.I
1950:�56 -:157),_ havendo um �tAmento mais humano e �eneroso vis-a-vis a es­ ao Prt5!de�t� da Provmcia_ que cheg� as suas �d'os " _uma requisição para serem
cravana, mcluSJve no tocante a alimentação e ao vestuáno (Souui, 1808:17). presos mdinduos pronunciados por crunes de msurreu;.ão de escravos em conse­
Ce�ente que bons senhores, caridosos, existiram por toda a parte, mas em quê!17ia de �mário tirado et:lo juiz de paz do povoado de Santana. Achei tão iin.'
Sergif.e, co�o no resto .do_pa�s. a tônica do r�cionamento do� fazendeiros com pohhc� e_tão falsa tal reqws1çã�, que ordenei que não cumprisse por bem de sos,;
_ sego publico de� comarca, P?1s_ que certamente é do maior escândalo um pro­
suas peças . era a da v10lenc1a posto que so o medo do castigo e que poderia
manter submLSSa uma massa negra e mestiça, tanto escrava como liberta, explora­ cesso por um cnm� q�e .iu:o ex1Sbu em parte alguma da ProvÍncia." (8)
da e forçada a trabalhar de graça. Embora violentada e aterrorizada. temos nume­ No manu�n�o medit'! "Apontamentos para a I listória de Sergipe" ( 9), en·
rosas evidências de que os negros e gentes de cor eram vistos muitas vezes como contramos referencia ao pengo de uma revolta no ano de 1809. O autor deste de­
"tigres esfaimados que só têm de homens a figura", temendo-6e que sua rebeldia poimento :omeça seus escritos com o título "desordem de pretos" . Eis o conteú,.
vies.5e "a acarretar desgraças incalculáveis. .. sempre a recear em um país de popu­ do de sua m!om1açâo: "No ano d� 1809, te�do .havido na Bahi11 uma insurreição
lação heterogênea" (5) . de pretos, nao ficou esta comarca de Serw.pe ilesa, se não de i�al sucesso ao
Vamos nos deter, nesta comunicação notadamente na violência dos negros menos de uma tentativa e muitos temores éle que ela se pr onunciasse. Ern 8�0
de 25 de fevereiro de 1809, a Câmara da Capital (S. Cristóvlo) recebeu uma de,
e demais gentes de cor que se cristalizaram em movimentos coletivos. Conforme núncia de que uma corporaç�o de pretos vagavam _pel � partes da Cotinguiba, a
dissemos anteriormente, embora os epi sódi os individuais da reação à escravidão
ou à opressão apareçam quase que diariamente na correspondência das delegacias onde furtavam, roubavam e insultavam os povos. OfiCJou-se então em nome do
e demais órgãos policiais para a Secretaria da Presidência (6), os movimentos so­ G�v �nador aos Capitães Mor�s de Ordenanç.:15, paro darem as providências ara
ciais de revolta e contestação da ordem senhoriaJ foram mais numerosos em Ser- co1b1rem os pretos revoltosos a fim de que nao aumentasse a dita corporaç«i t�
192

ro endo ficasse inconquistável como outra repúh�ca do �almar. "D o� meses após ''S enh or G overnador das Armas:
esta sessão da Câm ar a, como o Go verno nada ttvesse feito e aumentassem as no­ ALERTA. Uma pequena faísca faz-� grande incên�o. O inc�ndio jíiv ,
tícias sobre ato s aterradores ·aos negr os, os milician os de Sergipe encarre� ao lavrando. No Jan�ar �e �eram nas LaranJe� os �ta-caiados, se fizeram tres
profes...o0r de latinidade, Inácio Antôni o D orn:i'!1do, de r ep�esentar peran� o Se­ saúdes : primell'a a extinçao df tudo quanto e_d o Remo, a <Fe clu�mam de mv'?'"
nado que era pública a v oz e fama de uma sediçao ou rebelião que pretendiam fa­ tos; a segunda a tudo quanto e _br�ço do {3rasil, a que cham am cai_eoras; a �éi'­
zer os escravos da Comarca e outros que da Bahia vieram fugidos e que lá tinham ra a igualdade de san �e e de d1rertos. Que tal alerta e bem alerta, Um tal meruno
sido cúmplices em tal delito. Pede ação imediata da força policial contra tais mal­ R...................... (14) 1rmlo �e outro b om. menino, fez muito� elQgios ao Retg.e__
feitores, êlizendo que "alguns esc�vos foram presos como _suspeitos de saberem e Haiti, e porq�e não entendiam, falou maJS claro - S�o Domingos, o grande Slo .;;
terem parte na sublevação os quais confessaram o que sabiam e descobert o o tra· Doming os. Não houve rn�ohra. Vo5SS: �,:t a. tome cui�do. Os homens d� heip
m a". Em vista d o que a Câmara deliberou que tod o escravo que fosse encontra­ confiam em Vossa Exa.,,so querem Rel�ao, Tro�o e S1Stema �e G ov.emo JU�do _
do armado "fosse a�oitado no pelounn1:1o", o m �mo ocon:endo aos <IJ:�m no dia 6 de junho de 1824. Alerta., Alerta. Acudir enquanto e tempo. LaranJe�
surpreendidos dep�ns das 8 ho� d a noite sem b�ete de seu senhor. ,. tm« ras. 26 de junho de 1824. Philiiodinio. '' (15).
que não se permitisse o us o de 'instrumentos ofensivos e perfurador:es , toleran­ Na devassa que se procedeu ��ntra o pardo �eh?�ças, fi�aroos sah endq_t:te-.
do-se apenas que os escravos usassem para cortar capim e outros misteces, de fa. alguns detalhes mais S-Oh _re suas a_tiyida<l�s revoluc1?�anas,,�m co�o r�la� va,
cas tor a das sem pontas. Que os senhores de enge�o e lavradores tivessem toda a mente às agitações oco mdas na v1zmha vil� d o Rosano , seqílo que.ai o pnncipàl
diligência e precaução em fazerem recolher de noite em suas casas, a bom recat-o, contestador era o Alferes Comandante da Companhia dos Henriques, o preto U:• · ;
todos os instrum entos que se cultiva a lavoura (10). berto Sebastião Soares. Se�do depoimento jurado nos Santos·Evangelhos do.
Apesar da existência de minuciosa legislação repri.mindo o uso de armas, Alferes José Sutério de Sá Junior, homem branco, morador no Engenho Porte.ira,
quer de fogo , qu';1" d� instrumentos perfurantes o� contundentes, por parte da era voz pública e notóri a em Rosári o que o crioulo de nome Fuão e o alferes d-qs
escravaria e da rale mmda em geral, em certas ocasiõ�s parece que os Óon?8 �o f lenriques Sebastião So ares "têm convocado pelos Engenhos e Fazenda s a _pretos
poder se descuidavam de coibir tal uso, pondo« em nsco a seguran� da rrunona cati vos, para pelo Natal d o corrente ª!1º (1824) se levantarem.contra seus S.en�()';
senhorial. No sul da Ca itania, na vila de Santa Luzia, eor exemplo, informava o res e os matarem, convocando tambem aos pretos forr os, aromando de publico·,_
CapitA"o Mor local que p,'esta vila está inteiramente perilida pelo geral uso de an­ aos seus soldados que se eles o ajudassem no que pr etendia, eles seriam felizes.,.
darem os negros e mulatos cativos armados, pois um só senão enco';ltra sem faca Disse aquele Fuão que ele não tinha mais gost o de servir no Regin) ento por té.,...., �
na m aneira e a maior parte deles usam também de duas espadas vuadas, a que sido muito rnal correspondido dos Vassalos que executavàJi'l as Leis, e que JJÍO_ .
ch amam pamaíbas, �1:do muito p�>Ucas as senzal8! d?s ditos que se nã�, acham pegava mais em armas a �avor de Sua Majestade Im veriaJ, e que. hav�ndo oc_así� ?
com tais aonas e mais e que com a mdulgente tolerancia de seussenhores (11). se ia esconder. E sabe mms, ele te sternw1ha , por ouvir falar, porem nao tem mte1- •
Conforme se pode notar através da leitura da documentação manuscnta e ra lembrança quem foí, e quem disse, que gu em era a causa desta Revolução é 9. ·
impressa, tudo faz crer que n o segundo semestre do ano de 1824, Seri;pe foi recretário do Governo da Província, o paráo Antônio Pereira Reb ouç as, que dá' :
pafco de grandes agitações sociais. AJJ localidades mais tumul��das fo�.!.aran­ todo o auxíli o para ela". (16)
j eiras e Rosário do Catete, situad� no centr_o c!a 1:ona canayi �ra,,ª pnmeir a �n­ Outro denunciante, ta mbém jurado aos Santos EvangeU1os, o Capitão-l\Jór -·
do �rincipal entreposto comercial da Provinc1a durante vanas decadas do sec�­ José da Trindade Pimentel, branco, morador no seu Engenho Bolandeira, com­
lo XIX. S egundo as denúncias, o cah�ilba das contes�ções era � então �ecreta­ pletou as acusações informando que os rebeldes já tinha m escolhido quais os pro­
rio do Govemo, o pardo Antônio Pereir a Rebo _ �ças, b�o de oi:gem, rábula de prietários que seriam primeiramente sacrificados, e que o Alferes Soares "aroma­
ofício e acusado de perturbar a ordem consntu1da, doutnnando as gentes}e cor va aos seus soldados que eles haviam de serem felizes, em pouco s dias o mostra·
e persuadindo-os que "todo homem pard o ou preto pode ser um general... (12). ,·a ... e que a ríqueza
- dos brancos desta terra era para eles' (17). Informou mais
Quem dá o rimei ro alerta é o Tenente Coronel Manuel Rollemberg, se­ que "sabe por ser público qlle o Secretário do Excelentíssimo Governo da Pro·
vincia, Reb ouças, e o motor de toda a revolução da Provincia, dando todo o aú·
nhor do Engenho únha de Gato, membro de uma das mais �uentes fammas de
,cílio para ela e apaziguando em Slla casa a todos os revolucionári os e que este j
Sergipe dei Rei. Diz que na ��ã d� �7 de jun�o de . 1824, �olosam.�te apare·
na Povoação das Laranjeiras saíra em mangas de camisa gritando em vozes altas,
ceram na povoação das Laran1eiras, vanos Pa.scr'.ms c�JO c onte�d� �- vivam mu­ morra m os brancos e queixadas brancas, e vivam os pardos e pretos, e o sistema
latos e negro s, morram ºs m arotos e caiados (13). 'Marol? S1gru ficava tud<;> o de São Oorningos, e isto pela festa do Santíssimo Córaçã"o de Jesus (patro no da;
.
e era do Reino, e "caiado" ou "caipora" a tudo o que e branco . .o Arquivo
tcio nal conserva um exemplar destes pasquins: trata-se de um pedacmho de t matriz .�ocal), e desde então, começou o rumor e maldade nos revolucionários co-
mo ele (17)._ ,.
pel de 7 x 10 cms, escrito com caligrafia primária e pena grossa, �. o .texto t\.Ja,s tres testemunhas, tambern senhores de engenho, ratificaram as aéusa­
e xatamente : "Viva os negros e mulatos, morão os marot�s e caado
. Detalhe sa­
da. cera de abelha ções, acrescentando que o objetivo dos revoltosos era "se levanta rem e matarem
b oroso: este pasqu � consexva ainda n o vers u
� r:n p o uquinho a tudo quanto tosse branco '' e que o alferes Soare s "andou convocando os cati­
que serviu para grudá-lo nasp ortas e lugares publicas. , . vos e pretos forros pela Japaratuba para na noite de !\'atai se ac harem na Povoa­
Esta outra carta, também anônima, da.tada de 26 de junho , v�spera do �parec1- ção do Rosário para fazerem a revolução e aclamaram a República... " (18).
me nto dos supra-citad os pasquins, descreve com precisão o �l.una ?e. agttaç ão e A impressão que se tem, ao ler a _documentação vinda de Rosário para a .
'temoc reinante na povoação à� Lar�njeiras, o cent�o comer�1al mrus 1mpo�te Capital, no segundo semestre de 1824, e que o cl,ma de temor de uma revolta
da Província, onde residia o maior numero de nt>,goc1antes luSJtan os de Sergipe.
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seus serviçais: do crioulo João_Crespo e �o ,ª?i�º de naçtto Gêge, Jo
d negrada aumentava dia a dia. Em ofíc� �- de 26 ?e· novembro de 1824, , º. Cor� e de dois escravos, Abraão, africano e Qwtena, cnoula (23).
nel Gaspar de �ei� Boto,_ um do� po!1t1cos mais podero�s durante van� �e­ Março de 1826, novas agitações da escravaria: em Santo Amaro nA,Nil�i•
cadas em Sergipe 01tocentista, assun informava ao Presidente da Provmc1a: os escravos de diversos engenhos se levantam , insuflados, segundo se <lizia:"', ':ili!�_.
"Tendo eu no meu ofício de 18 de setembro infonnado a V. Ex.a. acerca dos lo alferes dos Henriques,Sebastião Paiva Noronha (24).
sintomas de rebelião que aparece na classe preta, foi V. Exa. servido me respon­ 1827 ficou marcado na história de S ergipe como o ano da ,Principal revol•
der que a tal respeito p�va a dar as pr OVJdências, e como .º: gr�ndes casos u�­ ta negra A 30 de setembro, espavorido e trêmulo, assim escrevia ls pressu aó
gem prontas medidas e ate este momento não aparecem pro,,denc1as a tal respe1- Vice-Presidente da Província o abastado Hennenegildo José Telles de Menezes,
to, de novo levo � presença d_e _ Y. �xa. que o m_al cresce a Largos P�:, e já sem senhor de vanos engenhos na freguesia do Rosário:
rebuço. Na povoação do Rosano há um preto liberto de n_ome Sebas�ao, alferes "l.':J este momento, escapo por milagre de .Maria Santfssima, de ser vítima do
dos Henriques que publicamente declara suas danadas intenções, inflamando furor de um partido de escravos N agôs meus do engenho Porteira, Carai.bas, Ma­
mesmo os se�of a rebelarem-se, do que já aparecem provas e nada du"'idosas. ruim, Taverna, Várzea, Sítio, Santa Bárbara, de cujo ataque fica um meu filho a_
passando mesmo armar alguns particulares e (se} V. Exa. não tom!! as medidas expirar e três forros meus vizinhos, e dois escravos n4"o nagos que foram defenso­
cautelosas, decerto a desgraça apareça em curto espaço de tempo. I\a mesma po· res de m.inha vida, mulher e filhos. Se acham nove bem máltratados, al ém de dois
vo.ação do Rosário e circunvizinl�os, já aquela classe diz publicament�_que d_ eve suponho mortos. Pasw a· V. Exa. C$la participação e logo quero dar providência
.
rebentar a desordem no dia do Natal, e ouu-os como o mesmo Sebastuio, dizem pois desconfio que estavan1 recolhidos nas matas de que vive cercado e suponho
que deve ser antes porque senão tomem algu mas medidas. Toda a elll:ravatura voltarão na segumte noite". (25).
apresenta uma face carrancuda mui diferente cio costume. As providências dadas No dia �nte, ou1ro senhor de E ngenho, José P-mto de Garvalho, envia à
por juízes or dinários são inteiramente insuficientes e certifique-se V. Exa. que Capital da Provincia mais detalhes sobre a sediçio: "Exposição sucinta de um se·
nada se poderá fazer sem que todos os corpos coadjuvem a evitar um mal emi­ nhor de engenho: Era meia noite quando me bateu à porta o Sargento-Mór João
nente de maneira que V. Exa. julgar adequada.' Todas as povoações estão inteira· Pais d'Azevedo, dizendo-me naquele momento fora avizado que os escravos dôs
mente entregues à descrição, sem se conhecer uma autondade que tenha vigifân­ engenhos Sítio, Periperi, Unha de Gato e Vargem estavam sonlevados, como já
cia na polícia !\os corpos de milícias há poucas armas e nenhuma munição, do na povoação do Rosário, e que já se sabia de dois senhores mortos, posto que
que era preciso V. Exa. mandar fazer algum fornecimento tanto qu�to as <:ir· com a l'ressa não per�ntara quem eram os infeliz es. Eu recomendei ao Capítão
cunstânc1as permitirem. Tendo sempre em lembrança que o caso exige muita Miguel Francisco Pere1ta ali fosse reunido_ todo o homem liberto; com o fim de
pressa " (l9): ' · · formar um ponto de força para ao amanhecer socorrer o ponto atacado visto
Dez d,as apos tal •• • Darreto, "encarregado d o sos-
· ofício, e o S argento-1nor
sego público" quem oficia ao Capitão-l\lór do Rosário, enviando um "Rol de que a desgraça se ateava. Infelizmente, porém , nlío há armas, nem mesmo para
o
pequeno destacaniento que alí se acha. 1letirei-me para o Porto das Redes a fim
acusações contra o alferes dos Henriqu es, Sebastião Soares". l>iz o acusante que de fazer as participações necessárias a todos os pontos, entretanto V. Exa. deter­
"o alferes perguntou a Félix Gonçalves, seu vizinho, se lhe pagassem S 400rs. nimará o que lhe parecer mais acertado em tal apuro•·. (26)
por dia de solao, se ele pegava em armas, ao que ele respondeu que não peiiwa
em armas <:ontra os seus superiores, ao q:ue o alferes disse qu� a sua espingar�a No mesmo dia, o Juiz Ordinário de Rosário, José Rois Vieira Andrade in­
se não havia valer e nem aos seus supenores e que breve havia de haver mUlto forma que além dos engenhos supra-citados, "vai graçando já pdos e enhos vi­
sangue". Disse mais que "Manoel Bade presenciou o Alferes Sebastião duer q_ue ng
zinhos o contágio destruidor e já com muitas mortes" (27).
precisava haver nesta terra muito san p11 e". A Margarida Beata, "mulher mwto Mal recebe a notícia, o Vice Presidente de Sergipe, Manoel de Deus Macha­
honesta", dissera com ironia que ela ' pe di� ao seu Mei;iino Jesus para que algo do mobiliza a soldadesca da capital, envia-a para auxiliar os atacados de Rosário
acontecesse, o que ele esperava, por que muitos não haviam de ouvir o toque uo e Santo Amaro, mandando à Cõrte um ofício dando notícia dos acontecimentos
sino no Natal" (20). (28).
Não bastasse a agitação da "cla55€ preta", como a caracterizara o Coronel No dia 3 de outubro, o Coronel responsável p ela Cavalaria da 2.ª Linha
Boto, eis que nos últimos meses de 1824, Sergipe é igualmente_ palco de uma sé­ informa ª? �i�e-Presidente que ''.tendo-se reti_ rado d <>;> ditos e enhos as fam1�
ria crise política decorrente dos movimentos republicanos da Confederação d? ng
dos propnetanos o Sargento-Mor Hermenegildo Jose Telles escapando àa carrei-
Equ ador (21), levando, �nclusive à Corte nomear _ a l.� de ?ezembro ootro pr eS1· ras, ficou a maior parte de suas fam11ias feridas". Completa.esclarecendo que·"a
dente, senão com o intwto de afastar da Secreta.na ao inquieto Rebouças, ao me- comoção dos escravos só se declarou no Engenho Patí, fugindo para os matos os
nos para apazigu ar os ânimos. , . ditos escravos que se achavam culpados. Ao amanhecer deltoje no l dos Ou­
Infelizmente a documentação consultada e onussa sobre o que �ssou nos ugar
terinhos, beirada de Japa.ratuba, em UlTta casa, foram atacados'os moradores
últimos meses deste agitado ano ae 1824: a sediçNo programada para o Natal, tu­ pe­
los ditos escravos da comoção, onde assassinaram três pessoas e ficaram dois feri­
do faz crer que não se concretizou. Em fev� r�iro d.e 1_ 825 novamer:it� o nome do dos mortais". Conclui com a informação de <JUe as tropas tentaram prender os
ex-secretário Rebouças aparece nas re�çoes públicas: num ?Üc10 d:ttado de revoltosos mas "encontraram grande resistência e que para se poderem defender
.
17 de fevereiro diz o Jui·t Ordinário de S. Cristóvão que na noite do dia 9 P:P·• foram alguns mortos'.: (29). Outro d?Cwnento esclarece que na luta foram mor­
desconhecidos soltaram dois foguetes d� ar na cidade, um s?bre o p�cio <lo Go­ tos 12 ou 14 negros, porem tem muito negro dentro dos breJos _
que julgo não se
verno outro sobre a casa do ex-secretario (22). Poucos dl.Jls depolS, Rebouças, dará fim a eles esta noite" (30).
0 gra�de líder da luta pela igu aldade de sangue deixa Sergipe acompanhado de
196
197

No di a se,,uuinte, 4 de outubro, chega à Capital uma cart.a em que se dizia o dente Machado que "ainda existem muitos escravos di sp ersos pelas matas da Co­
seguinte: ''Ontem tiveram fortuna os homens das Ordenanças de encontrar na ti.nguiha, reunidos em pequenos grupos que só podem ser _presos de corso por mi­
�1ata do Cambuí, junto ao E ngenho das Cruzes, com um partido de escravos lícias e ordenanças dos lugares a onde aparecem inesperadamente e estes meamoe
sublevados, dos quais ficaram mortos de 16 a 20, inclusive uma escrava ... O bata· dispersos podem se muito prejudiciais em a�ínios e.roubos". Diz o Tenente­
lhão nwdiou para ir estorvando as comunicações ou reuniões dos sublevados na­ Coronel que dirigiu-se com seus homens "por muitos engenhos a fim de aterrar a
quelas matas ... Os sublevados mataram até hoje de 8 a 10 pessoas, entre homens, escravatura, mostrando-lhe a força que se destinava contra os an1otinados".
mulheres e crianças." (31). Completa informando que soube estarem embarcando no Porto das Pedras
O oroorietário do ÉtUtenho Unha de Gato, o Coronel Manoel Ro llemberg em_ hora n<?tuma, algu ns esc�vos amotinados {'ara serem ve�didos na Bahia, p�
d'Azev edo Auciouli dava mais detalhes, escrevendo ao Vice-Presidente Machado assun evad1rem-6e das penas unpostas pela Lei em que são inclusos. Em vista de
no dia 5 de ou tubro; diz que ao todo foram mortos 17 negros, prendendo-se 4. tal informação, mandou uma patrulha a Barra e _erendeu com efeito quatro escra­
vos pertencentes ao Sai:�ento Mór-�ermene�do José Te�es (aquele primeiro
Calcula-se que o número dos fuf,itivos passava de 40 e que encontravam-se de­
senho.r de engenho que dís.5era estar vivo por nillagre de Mana Santíssima) escra­
bandados depo� d.a reação militar. Diz que um escravo do Sargento-Mór Herme­ vos que ficaram presos na Cadeia da vila de Santo Amaro. Diz que foram �mbar­
negildo confes.."Ou estarem os escravos de muitos engenhos coloiados para o le­ cados Oll;tros_ escravos no Porto de Maroim e que os sen?.ores, a fim de não perde­
vante e que "a providência do Altíssimo foi que nos livrou de sermos hoje víti­ r� o dinhell'o dos ��-s �levados, os �ha�i,_ o <I'! e pode vir a ser um
mas daqueles malvados". Diz que os negros mataram mais 3 pesroas, um pai e mw funesto exemplo . Diz amda que necessita policiar maJS. a povoação do Ro-
dois filhos e que os comandantes dos Distritos estavam avisados para prenderem sário, "donde surgiu o conciliábulo, isto desde já até o mês de janeiro devendo­
todos os escravos que não apresentassem licença escrita de seu senhor(32). se estacionar aí wn destacamento por evitar as Calendas do Natat,'de que muitas
Dia seguinte: oficio do Tenente Coronel Manoel Ko�es do Nascimento, ve�es se valem para maus fins a escravari!"·. Que se policie rr_iais as barras para se
do Quartel do Cabral, infonnando ao Vice-Presidente que 'está mais pacificada eVJtar a _ passagem . e venda ?e escra�os c�osos. E conclua dando sua opitúão
a sublevação dos escravos. Tem cessado a fuga que continuavam a fazer do poder sobre ta.IS acontecimentos: 'Tenho infendo de tudo o que tenho visto e ouvido
dos donos. Os últimos que me consta que fugissem foram oito, do Tenente-Co­ e da confissão de algu m aliciado, mas que de fato recusou entrar na trama des,.
ronel Jose· Leandro; não se sabe de reunião dos ditos, os quais existem fueidos, truidora, que os negros de nação Nagô tinham formado de acordo entre si e de­
andam disp . ersos aos 4 até 8, e estes mesmos vão sendo perseguidos quanc!o há síg nio de uma guerra servil cujo plano era massacrar todos os brancos, principi-
notícia deles e continuam a serem eresos e mortos, cujos número destes excede a _ ando pelos senhores, e ficarem �e posse do terreno, pois para isso tinhãm apres­
30 (mortos). Na cadeia da vila de Santo Amaro se acham dois quepara ali man­ tad? armas, fundas, couradas, peitos de armas, etc., projeto que só foi desfeito
dei, e os mais que se tem prendido pelos lugares circunvizinhos a éste, os que os facilmente pela for9a oposta, _por se terem enganado (como dizem) com o dia
têm prendido tem entregado aos proprietários sobr e o que já tenho advertido aprazado ou o que e mrus provavel, por se terem acelerado no rompimento apro­
que devem recolher a Cadeia. Const.a-me que ao amanhecer hoje deram uns pou­ veitando-se da au�ncia dos �ois batalhões nes.sa cidade ... Apesar de se ter'corta­
cos em casa de uma mulher velha além da Missão de Japaratuba, estragaram o do a cabeça da Hidra da conJuração, como em outro ofício fiz ver a V. Exa., e
pouco que possuía, e lhe deram bastantes pancaaas. As providências que'V. E:u. com o aparato 4e �mas e �rospecto a�dor que procurei infundir nos ânimos
mandou dar tem aproveitado muito porque animou aos proprietários que esta­ dos que pudessem amda ter intenções SJrustras, e não obstante se achar atualmen­
vam inteiramente esmoreeidos, destruiu os sublevados e aterrou a muitos escra­ te aparência � mal .�ado, contudo na-o me par�ce este negócio de uma face tão
vos que de certo se teriam reunido a eles se não temesse as forças que se tem em­ serena, que nao eXJJa da parte do Governo a ma.ior solicituâe para o futuro. por­
pregado nesta causa. Neste momento me avisam de certo mato a onde há escra­ que estes tigres esfaimados que só têm de homens a figura tendo-se deba�dado
vos e mando correr". (33). na sua derrota me consta te rem-se dispersado por várias partes assaltado casas
7 de outubro, novamente o Vice-Presidente de Sergipe escreve ao Visconde matando sem piedade � roubando e fevando consigo para as brenhas mulher�
de São Leopoldo, na Corte, narrando que sobre a "comoção sediciosa de escra­ b�cas e_ talvez para �nte engrossando o seu partido e contaminando a arte
vos de aleuns engenhos da Coti.ngu iba" ainda não podia dar notícias certas, razão sã, poderao causar '!1ruores danos, enfim ac�etar des�ças incalculáveis. A dor
pela quaf "vaí levando ao conhecimento de V. Exa. as notícias que for tendo so­ que me cau_sa a reuma em que se me figu ra 1r submergmdo a Pátria me tem feito
bre tão importante objeto". Refere-se à "energia com que se trabalha em sufocar falar demaS1ado... " { 36)
a faísca do incêndio que é sempre a recear se ateie em um país onde a população . A, última noticia dest;a revolta ��a é dada pelo �hefe ?º Governo que ofi-
ciando a Co�e'. pela tercerra vez, diz. 'E com a maior satisfação que tenho a
dos pretos e escravos excede muito a dos brancos e livres, o que espero por esta
vez felizmente se cons�" (34). hon_ra d� partaetpar a V. Exa.. que .ª co1;11oção de escravos de vários engenhos da
8 de outubro: o Capitão Mor José da Mota Nunes informa que no municí­ Cotingu1ba que tanto terror tinha meundo nos ânimos . dos habitantes da ProvÍn·
pio vizinho de Divina Pastora corre a notícia, "que não sei se verdadeira, que 15 eia,. em cons�ê!1cia das ��tâneas e fort�s medidas que em pronto empre­
escravos tinham fugido para as bandas de Itabaiana". Pede que percorram as mi­ guei, se _acha inteiramente dissipada... Para e)'itar, contudo, a aparição de iguais
lícias e infantaria os engenhos Cambão e do Brejo, a fim de aterrorizar os negros acontec�entos, sempre a �ecear �m !I� pais de população heterogênea, tenho
que pretende$em se sublevar (35). estabelecido nos pontos ma.tS convinhave1s, novos destacamen tos além dos que já
A próxima notícia referente à rebeldia dos negros é datada de 16 de outu­ existiam e dado todas as mais providências que pareceram adequadas a manter a
bro: o Tenente-Coronel Comandante do Batalhão 125 infonna ao Vice-Presi- tranquilidade pública e velar na segurança dos cidadãos". (37)
198 1�

Não era sem razão que o Comandante do Batalhão 125, 1\1anoel Rodrigues capa à penetração de V. Exa. mas julguei do meu dever levar à presença de V.
do �ascimento embora concorda..,<e c6m o ch_e �e do Governo de_ que �om a per­ Exa. a participação referida"(41).
se,,au1ção dos revoltosos, a morte de algu ns e pnsao de outros, se tinha cortado a No dia �te, 27 de março, o Presidente Fonseca oficia a várias autori­
cab eç a da Hidra", não obstante no futuro poderiam os negros "causar maiores dades, entre elas ao Cel. Rollemherg, ao Capitão-Mór de Santo Amaro, ao Juiz
danos e desgraças incalculáveis" (38). E foi o que aconteceu. Terminadas as fes­ Ordinário de Santa Lum e Estância, instigando a que tomem prontas medidas de
tas natalinas e as folias de Reis (6 dejaneiro), os destacamentos estacionados no prevenção contra a sublevação dos negros em consequência elas revoltas ocorridas
distrito do Rosário retomam para a Ca_pital. Em mazço de 1828 é o nosso já co­ há pouco na Bahia (42).
nhecido senhor do engenho Onha dé Gato, �1anoel Rollemherg d 'Azevedo que Tais medidas já tinham sido tomadas no dia anterior, pois conforme noti­
e..oereve ao novo Presidente Pro vincial, inácio José Vicente da Fonseca informan­ ciin:a o proprietário Antônio Rodrigues Montes, "nós rião devemos nmn caso de
do que "neste momento recebo uma carta do Tte. Cel. Sebastião Gaspar Boto, pengo esperarmos por ordens do Governo porque em casos tais estamos autorw•
em que roe diz que um escravo seu, de nação nagô, denunciara que os escravos dos para procurarmos meios úteis a desfa,zer uma manobra" (43). Participa ainda
desta nação, seduzidos pelos escravos do Engenho Mato Grosso, se acham em que de·fato 84'o novamente os escrav08 Nagô que pretendem se sublevar e que oe
transcerto de uma sublevação muito breve, e que o dito escravo não sabia o dia escrav08 do Brigadeiro B811'08 é que são os oráculos dos demais.
porque os outros desconfiavam dele, e como agora chega notícias de a poucos Além da remobilização dos destacamentos e alerta ge� dos senhores de es­
.
dias teve arrebentado uma sublevação de pretos na Bahia, não duvido tenha havi­ ?ravos e dos responsáveis pelo sossego público, na'o conseguimos encontrar mais
do alguma co rrespondência dos escravos daquela com os desta província, achei informações de �o.mo te�� tal �taçá"o progra �ada para as quadras da Se­
muito do meu dever em imediatamente fazer esta participaçío a V. Exa. para mana Santa. A uruca referencia relativ� a. eedicão da escravaria neste ano
que dê aquelas providências CJl:le lhe parecer mais justas. Entretanto, mandarei de 1828, subsequente ao mês de março, trata do que ocorreu na vila de Estân­
logo p or um destacamento na Povoação do Rosário e vou oficiar a todos os Co­ cia, no sul de Se_rgipe, onde os brancos, notadamente de origem lusitana, em
mandantes de Companhias para terem todos pr:;ontos em seus quartéis. Para a pri­ gx:ande número, ''tiriham saido da povoaçlo por temerem alguns insultos e rou-
meira (companhia) vos lembro a V . . Exa. que o batalhão de meu Comando só bos por �e dos escravos, desorden� comum nos dias das festas do Natal"(44).
tem 20 annas. Deus guarde a V. Exa." {39) Para se eV1tar funestos eventos, o PreS1dente fez marchar para Estância um desta­
Alguns dias mais tarde o Comandante do Batalhão n. o 127 fornece mais aJ.
ª
camento de tropas da 1. Linha, ficando aí estacionado até o final das festivida­
des natalinas.
guns detalhes sobre o reinício das perturbações da escrava.ria no distrito do Rosá­
rio: ''Neste ruomento em que me chega a notícia de que os escravos de naçã'o ltaro é o ano em que uma ou mais autoridades municipais do interior de
Nagô dos engenhos J\tato Grosso, Maria Tellis e Periperi vi eram seduzir a escravo5 Sergipe n4o requi.sitas&em auxilio do governo provincial no sentido de impedir
do engenho i:las Porteiras, para uma sublevação nos dias da Semana Santa e que agitação e revoltas por parte da escravaria na época do Natal. São frequ entes os
não seria como a primeira (sedição de outubro do ano passado) porque tinham comentários como estes: "Por se acharem próximas as festas de Natal tempo em
muitos escravos que entravam neste partido até crioulos, recebo ofício do Sr. (,0. qu e de ordinário apareum desordeiros a intranquilizar a paz dos cidadãos e há
mandante do Batalhão n. 0 126 ... �o enqu�to rec�bo ordem . a este respeito, fa­ suspeita de sublevação de africanos" (45). O Comandante do Batalhão n.0 125
ço postas patrulhas rondantes, por Jul gar mwto precISo o se eV1tar a comunicação dizia assim: "Para se evitar as Calendas do Natal, de que muitas vezes se valem os
dos ditos escravos, (isto) de inteligência com os mais senhores e comandantes" escravos__para maus fins", que se mantivesse estacionado o regimento na povoa­
(40) ção do Rosário até o mês de fevereiro (46). O Coronel Boto dizia ter dado or­
Aos 26 de março o Presidente Fonseca recebe mais esclarec imentos sob re dens para as Patrulhas percorrerem a região da Cotinguiba a fim de se ",evitar
o que acontecia na Cotinguiba: "No dia 22 do corrente c.h�oo aqui (em Ma­ qualquer barulho que possa acontecer entre as escravaturas como acontece por
roim) um homem vindo da Bahia e dá notícia de ter aparecido ali uma subleva­ vezes nestas ocasiões de festas" (47). O juiz de paz de Simão Dias notificava ao
ção de escravos e!" número de mais de mil, e que sendo batidos, se reti raram pa· Presidente dez diaa antes da noite de Natal:·� necessário conservar-se de contÍ·
ra o lugar denommado Cabula, a onde continuavam a serem Rerseguidos segundo nuo força de tropa destacada aqui a fim de ativamente policiar a freguesia, prin­
as providências dadas. Hoje os avisos que junto remeto a V . Exa para ver, posto cipalmente qu ando há grande concurso de povo. f: costume nestes pequenos po­
que eu tenho ouvido dizer a muitos homens c de tal whlevaçEo pouco há '{_UC voados, principalmente no Natal e nas mais festas consecutivas, ajuntar-se inúme­
recear, contudo, eu penso mui diferente, e · fio que o caso merece muito cuida­ ra gente em cujas ocasiões longe de reinar entre os concorrentes aquela fraterni­
do da parte do �ovemo, determinando em · êncio medidas cautelosas. No dia dade e harmorua que são devidas, pelas mais das vezes ou �ase sem;>re travam
1.0 de outubro ultimo apareceu neste termo uma não pequena faísca de seme­ desavenças e não pequenas desordens.�e sorte que por expenência propria posso
lhante mal, que felizmente se sufucou porque todos os libertos eram unânimes afirmar que não hã memória de haver passado uma destas festividades sem fun es­
em defenderem-se. Pouco depois daquele acontecimento começou a graçar entre tos acontecimentos" (48). Símso Dias contava por esta época com cerca de 546
o povo e por toda a Província, um diabólico cisma, chegando a persuadir-6e a fogos (freguesia), om uma papulaçá"o aproxima
_ �a de � r.nil pess� (49); para
7
socorrer esta local1dade contra evenruais comoçoes socuus, o Presidente envia
classe parda que a classe branca a queria escravisar, e desprezando-se a princípio
este boato, chegou a ponto de ameaçar a mais triste cena, que por fortuna vaga­ d� milicianos:um �aho,l in�erior e 8 sol�ados (50)., E�dentemente que Simão
rosamente se foi disspando; entretanto aquela classe ficou tocada duma descon­ Dw como as de1Jlll.18 fregue518S e povoaçoes da Provrncra contava com contigen ­
fiança que a meu ver merece muita atenção no presente caso. Eu sei que nada es- tes próprios de homens encerregados de policiar o território: milicianos, guardas
�00
licial haviam co�ido animar aos proprietários e "aterrar (aterrorizar?) a
n�onais. ins �etores de <r�arteírllo, etc. O reforço solicitado parece ter mais fun.
tos escravos que de certo se te.riam reunido aos sublevados se n!'o temeaeem
çao _de atem��ar eventuais revoltosos, �omo se pod� ver no epi_sódio da rcbelifo
forças que se tem empregado nesta causa" (53). Agora é o Comandante do Bata,.
sef\·il de Rosano em 1827, do que propna.mente seIVIr como exercito de luta efe­ !hão n. o 125 quem retoma a mesma argumentação, informando que dirigm-18
tivo contra forças amotinadas.. A freg. de Maroim, p. ex., eossu.ia em 1835 por
com seus homens "por muitos engenhos a fim de aterrar a eacravatma, mo,tran.
,:olta de 955 fogos, com uma população aproximada de 6 mil pessoas. Nesta
�o-lhe .ª força
_ que se destinava contra oe amotinados" (54). TCffllr, aliá que li
epoca el;' �ergipe, os escravos represent.avam entre 20 a 25% da populaçfo total
infundia aao ape� pela o�taçfo da& 11'1?1as, P.ºr parte dos organismos encar­
da ProvmCJa, d� modo que .Cl'!ando menos a esc:ravari.a de Maroim deveria atingir
r�d?S da repcessao e policiamento, mas anclusve por outras agêJ_>cia, in,tita.
por volta de mil a 1500 mdividuos (51). Nas vesperas do Natal, o Juiz de Paz àe
!\1aroim comunica !º P�dente da Província que "o tempo nos anda ameaçando �! onSJS, como por exemplo, pela religião católica, assunto, �« de puaagm,
J8 tratado por outros autores. Os famosos "SA'o José de Botas , preeentea em to­
ao m�nos al_guma m.surreição _de �rav?5, corno bem col.4?i duma parte oficial
da igreja por Sergipe a fora, eram o símbolo da autoridade e p�er do senhor ele
que tlve de mspetor de quarteirão , porem, com a chegada do reforço de 10 pra­ engenho e do proprietário de e8Cl'avos em geral; Sant 'Ana é bem o símbolo da
ças, como seus competentes cartuxames, diz o Juiz que "estou certo que poderei
Casa-Crande, dobrando o pessoal da senzala através da obediência e �o
afiançar a '!: Exa. não terei nada a recear d� partes dos insur�ntes, co mple­
suportando os sacrifícios desta vida na espera de melhores dias na futwâ (55). '
tando que Jª dera ordens aos chefes de quarteirão para ao primeiro sinal de revõf.
ta, estar� prontos _ e comunicarem à sede da fre�esia (52). Interessante notar Vamos concluir este ensaio transcrevendo um episódio que o franciacano Frei
que no of1ci_o antenor, de 10 de dezembro, o Jwz de Ma.ruim alegando o receio Antônio de Santa Maria Jaboatfo, autor do famoso Novo Orbe Sén1ftco Brm/16
de "desordeiros" e "suhlev ações de africanos", solicitara ao Presidente um refor­ '°•. �el�ta como tendo a<:ont�ido em S�rgipe nos inícios do Século XVIIl: tal
ço de 20 praças permanentes: quando chegam os 10 supra-citados dá« pl ena­ t:p�dio reflete! de_ maneu-a V1Va e suges· tiva, como a relil?iio foi manipulada em
Sergipe com o mtwto de manter suhlill888 . a força de tra.líalho servil inculcando
mente cor:no satisfeito e tranquilo de que a paz será inalterável. coir:o a presença
de 10 milicianos �mudos de espingardas. conseguia inibir a insurreiçl:o de cente­ nas ment.e� dos escravos que a fuga ou a rebeldia era não ªl'enas � crime mu
nas de e...�ravos, e_ que ainda não con_seguiamos descobrir, considerando-se que um l>es�o unoral e_pecanunoso. Duo franciscano: ''Não deixaremos de repetir
certamente nas noites da semana do Natal grande parte da escravaria devia afluir por ultimo, um mil� do nosso Santo Antônio, também em benefício doa se�
_para_ as ruas da �a, aliás, como ainda acontece hoje em dia com a populaçfo doe devotos. F ug_iu ao Cõronel Domingos Dias Coelho, morador nos distritos da ci­
1ntenores de_ Sergipe, � a qual Festa de Natal é sinônimo de 8JUnla.mento de dade de Sergipe del �y, um preto, escravo seu, levando em sua companhia duu
povo no oitão da lgre)8, comendo, bebendo, dançando ducontraidamente ao pretas, escravas tambem de outros senhores. Com estas se foi arranchar no centro
dos sertões �a l!c_oca, aonde viveu alguns anos fora de todo o comércio de outra
5?ID de W:Oª "banda de pife". �udo isto regado com moita cachaça e pouca cJa­
nda�e pois os ar��otes, lampannas, ve18:5 � ío�eiras CJUe ilumina,•am a praça da �nte. Ao p�c1p10, como lhe davam o c o, os matos e os rios do Vaza.Bar­
rnatru mal penrubam aos transeuntes dist1 ngu 1r por cama das bancas e barracas ras, e ao depolS, com roças e lavouras quetantava vestindo-se ele e as concuhi­
�as com os filhos .que delas ali teve, de pe es de ve�dos que �panhava em fojoe e
das "negras de taholeiro ., seus quitutes .e beberugens. Num amlienteparticulannente a flecha, e os cur:13-_ Val�u-se o seu senhor, depois de outras diligências, sem efei­
�escontraido pelo excesso de bebida, com muitas sombras e escuridão, numa so­ to, de Santo l\ntoruo. EIB que aparece ao negro um Frade lá nesse recôndito em
ciedade onde apenas 1/4 da população era branca, os 3/4 resta.ntea sendo negros que se achava, e com voz. repreensiva., lhe pergunta: Nep, que faua aqni? �
e pardos (destes, 1/4 composto de cativos), não é fáctl acreditar que apenas a po_ndeu ele, que estav� ali p<>r nt:o se atrever com o serviço do senhor, que o nfo
presença de l� espi ngardas ou carabinas los.sem suficientes para contec os exces­ detXava descançar. �Ja 8881Jll, ou �o, disse o frade, vai-te embora da qui. E en·
sos ou rebeldia da . massa explorada. A falta de coalescênc1a entre a escra,•aria, quant� o negro se !1ªº p<n em �inho, o frad� o não largou, pondo-se-lhe sem­
constantemente minada pelas tTaiçôes e deserções (como mostramos no episódio pre adian�e e repebndo: Negro, v11-te daqui. Veio enfun o negro e O Frade adian-
onde os escravos naef,s rebelados são traídos por escravos crioulos), o medo da te dele �te a casa do home�, �e quem era uma das pretas, que entx�u. E deten­
repressão posterior <perseguição pelos matos, ameaça de ser baleado, prisão e cas­ do-se ala algum tempo, ÍO) 8VJSO ao Capitão do Campo que o prendeu e entregou
tigos no caso de aprisionamento1, em suma, a invia.bilidade de sobrevtvência após a_ s�u senhor, co1_n? também a outra negra, a quem pertencia., fazendo Santo Àn­
uma eventual matança generalizada dos brancos e dos senhores da terra, é a meu lóruo este b�ef�ca� ao seu devoto e sendo também a causa de se livrarem 18 a1.
ver o que inibia à massa escrava e à grande maioria da população de cor, de apro­ mas destes ruiserave1s escravos das contínuas culpas em que caiam". (56).
veitar-se dos momentos de reunião, como no Natal, em que eram em média 3 ve­
zes mais numerosos do que os detentores do poder, para concretizar seus proje­
tos de sublevação. A presença de 10 milicianos, com suas espingardas, alem de
resolver pequenas "desavenças e des ordens", como dizia o citado Juiz de Simão
Dias, devia servir como uma espécie de aide-memoire para a populaça:que o aso
de armas, seja brancas, seja de fogo, era privilégio dos donos do poder e de seus
lacaios, e que o ferro e o fogo estavam sempre �restes a perseguu, ferir e rnat.ar
quem pretendesse sublevar a ordem constitu1da. Sobretudo no er. isódio da revol­
ta escrava de 1827 islo fica bem demonstrado: em documento Já citado, dizia o
Tle. Cel. do Quartel do Cabr aJ que com a sublevaç5o servil, os senhores de enge­
nhos estavam "inteiramente esmorecidos" mas que com a chegada do reforço pO·
203
:.!02
percussão em Sergipe da Confederaçtió do Equador': Comunicação apresentadtz
NOTAS no V Simp_ósio de História do Nordeste, Ar� agosto 19?3·,
22). APES, pac. 381, Oficio do Juiz Orduzano de S. OistovtiJ ao Presidente,
J ). Fontes estatísticas que serviram de base p(JT(J este quadro: 17/2/1825.
- 1802: "Descrição Geográfica de Sergipe", Biblioteca Nacional, Seção de 23). APES, cl - 603, Passaportes.
24). APES, pac. 381, OfíckJ do Juiz Ordinário de Santo Amaro das Brotas, Mt,,
Manuscritos., IJ. 33,16,3, Anônimo. noel Rodrigues do Nascimento, ao Presidente, 13/4/1826
- 1808: Souza, D.Marcos Antônio, "Memória sobre a Capitania de Serzi­ 25 ). APES, pac. 174, Ofício do Coronel Comandante M(JTl()e/ Rollemberg d'Au,

Vieinli
pe, sua fundação, população, produtos e melhoramentos de que écapaz", Aruca­ vedo Auciolli, ao Vice-Presidente, 25/3/1827.
;u, lBGE/DEE, 1944.
- 1825: Mott, Luiz R. B. "Br(ll'ICos, pardos, pretos e índios em Sergipe: 26). AN, IJJ9, 300, 17U1ÇO 4, fo_L 145, n. 0 50, Cortado Senhor de EngenhoJil.lf
1825-1830" Anais de História,ano6, 1974,p.152. Pinto de Carvalho ao Vice-Presidente, 1/10/1827.
- 1834: "Mapa estatístico da Província de Sergipe", enviado pelo Presi­ 27). Idem, ibidem j1. 148, n.O 2, Carta do Juiz Ordinárw José Rois
dente Joaquim G. de Morai.s Navarro ao Ministério do Império, Arquivo Nacic,. drade, ao Vice-Presidente, 1/10/1827.
nal, ex. 761, pac. 1 . _ . 28 ). Idem, ibidem, Ofício do Vtce-Presidente Manoel de J)eus MachadíJ ao
2J Arquivo Nacional (doravante ANJ, IG l 105, fl. 126, offao de loao Sün(Jes conde deS. Lropoldo, 2/10/1827. ,
Reis Juiz Ordinário deS. Cristóvão à Corte, 6/7/24. 29 ). Idem, ibidem, fl. 151, n. o 51, Carta do Coronel JoséRodri_gues Dantas Melf.í
3). Mott, Luiz R.B. "Estatfsticas e estúnativas da populaçro livre e escrava de lo ao V'rce-Presidente, 3/10/1827.
Sergipe dei Rei de 1707 a 1888': Mensário do Arquivo Nacional, ano VII, n. 0 30). Idem, ibidem, Carta de Francisco Comia ao Vice-Presidente, 3I1O/182 7.
12, 1976, p. 19-23. 31). Idem, ibidem, Carta deManoel Rodrigues do Nascimento ao Vzce-Presiden.
4). Mott, Luiz R. B. "População e economip: o problerl}!! da �de-obra escrava
em Sergipe·: Comunicação apresentada na 28. a Reuruoo Anual da SBPC, Brasf· ffl� � . ·
32). APES, pac. 174, Ofício do CoronelManoel Rollemherg d 'Azevedo AuCI?
lia, 1976, (datilo} ao·Vice-Presidente, 5/10/1827.
5). AN, IJJ 9, 300, maço 4, fl. 161, n.o 55, ofício do Vice-Presidente de Sergrpe, 33). APES, pac. 125, Ófícw do Tenente-Coronel Manoel Rodrigues do M
Manoel de Deus Machado ao Visconde de São Leopoldo,18/10/1827. menta ao Vice-Presidente, 6/10/1827.
6) Arquivo Púbüco do Éstado de Sergipe (doravante AJ'ES), pacotilhas 68 a 76 34). AN, IJJ9, j7.. 151, n.O 51, Ofício do Vice-Presidente Manoel de Deus Moe
(Corpo de Polícia), 208 a 214 (Delegados e sulrde/egados), 474 a 475 (Polícia do ao V'zsconde deS. Leopoldo, 7/10/1827. �
Municipal). 35J. APES, p_ac.. 150, offcw do Capittlo-Mór José daMotta Nunes ao Vice-Pr�:
7). Mott, Lui2 R. B. "Pardos e pretos em Sergipe: 1771-1851 ", Revisto do Insti­ dente, 9/10 /�827.
tuto de Estudos Brasileiros, n.018, 1976, p.25 e segumtes.
8). APES, pac. 331, Oficio do Juiz de Direito e chefe de Policia de Laranjeiras, 36). AN, IJJ9, fl. 161, n. o 55, Ofício do Tenente-Coronel Manoel Rodrigues diíJ.
ao Presidente da Província, 2/2/1837. Nascimento ao Vice-Presidente, 16/10/1827.
9).Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, 19·4-13. 37). Idem, ibidem, fl. 161, 1tº 55, Ofícw do V-ice-PresidenteManoel de Deus­
10). Idem, ibidem. Machado ao Visconde de S. Leopoldo, 18/10/1827.
.. 38/. Idem, ibidem, fl. 161, n.o 55, Oficio do Tenente-Coronel Manoel Rodrigues­
11/. Arquivo Público do Estado da Bahia (doravante APEB}. maço 210, Ofwo
de Manoel Francisco C: Lima à Corte, 28/6/1807. do Nascimento ao Vice-Presidente, 16/10/1827.
28/6/1807. 39 ). APES, pac. 174, Oficio do Coronel Comandante Manoel Rollemberg d '.Aze­
12). AN, JGl, 105, fl. 126, oficio do Juiz Ordinário de S. Cristóvão, João Si· vedo Aucioll� ao Presidente, 25/3/1828.
mões Reis, à Corte, 6/7/1824. 40). APES, pac. 174, Ofício do Comandante do Batalhiío 127 ao Presidente fnli,
13). Idem, ibidem, fl. 117, Ofício do Tenente Cel. Manoel Rollemberg ao � cio José Vicente da Fonseca, s/d.
mandante de Armas, 27/6/1824. 41). APES, GL613, Ofício do Comandante de Maruim, José Pinto de Cmvalho,
14/. "R" obviamente éa inicial do nome de "REBOUÇAS" ao Presidente, 26[3/1828.
15). AN, JGl:105, fl. 119, pasquim de 26/6/182�. . . 42). APES, GL1'34, Ofício do Presidente Fonseca a várias autoridades munici­
. pais, 27/3/1828.
16). Jornal SoldJJdo de Tarimba, Bahia, 1828, cn Bzbliotec.a NaCJona� /.31, 13,
13, fl. 2, testemunha 1t 3.
o 43). APES, doe. n class. Carta de Antônio Rodrigues Montes, senhor de enge,
17). Idem, ibidem, fl. 2, testemunha 1t O 5. nho ao Capitão-MórJosédaMattaNunes, Santo Amaro, 26/3/1828.
18 ).ldem, ibidem, f1. 3 e 4, testemunhas 1t o 6, 7, 21. ·- 44).' AN. !Gl, 289, Ofício do Comandante de Annas ao Conde de Lages,
19). APES, pac. 125, Oficio do Coronel ComandanteSebastiao Gaspar de A/mez­ 31/12/1828 .
45 ). APES, pac. 383, Oficio do Juiz de Paz de Maruim Q1) Vice-Presidente,
da Boto ao Presidente Silveira, 26/11/1824. 10/12/1835.
20). APES, pac. 474, ofício do Sargento-.ft�ór Agr�ado, PedroMuniz Ba"eto 46). AN. JJJ9, 300, Ofício do Comandante do Batalhão 125 ao Ministério da
ao Capitíio-Mór José daMotta Nunes, Rosano, 5/12/1824. Guerra, 16/10/1827.
21). Nunes, Maria Thetis, "A presidência deManoel Fernandes da Silveira e are-
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47). APES, pac. 382, Oficio do Coronel Sebastiã.o Gaspar de Almeida Boto, ao
Presidente, Rosário, 14/12/1829.
48t APES, pac. 384, Ofício do Juiz de Paz de Simão Dias, Francisco de Paula
V. Gatto, ao Presidente, 15/12/1837.
49). APES, pac. 386, Arrolamento dos povos da Freguesia de Simão Dias em
1839.
50). APES, pac. 384, Ofício do Juiz de Paz de Simão Dias ao Presidente,
15/12/1837.
51). APES, pac. 297, Relação dos Fogos das Freguesias de Sergfpe no ano de
1835.
52). APES, pac. 383, Ofício do Jui:!. de Paz de Mmuim ao V,ce-Presidente,
21/12/1835.
53). APES, pac. 125, Ofício do Tte. - Ce! Manoel Rocbigues doNascimento ao
V',ce-Presidente, 6/10/182Z
54). AN, 1JJ9, fl. 161, n. o 55, Oficio do Tte. • CeL Manoel Rodrigues do Nasci­
mento, ao Vice-Presidente, 16/10/1827.
55). Costa, Em{lia Viotti, da Senzala à Colônia, Dif. Europ. do Livro, SE', 1966,
p. 249 e ss. Hoomaert, Eduardo et allii, História da Igreja no Brasil, Ed. Vozes,
Petrópolis, 1977, p. 251 e segubues.
56). Jahoatão, Fr. Antônio de Santa Muia, Novo Orbe Se,áfico Brasikiro
{1761}, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ano 3,n. º3,
1912, p.56-57.
BIBLIOGRAFIA CITADA FORADASNOTAS
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Freire, Felisbelo
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Souza, D. Marcos Antônio
Memória sobre a Capitania de Serzipe, sua fundação, popu/oçtfo, produtos
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