Monsenhor Silveira: o Fundador Da Imprensa de Sergipe (Sebrão Sobrinho, 1947)

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SEBUO, SOBRINHO

MO 'SE HOR SILVEIRA


O FUNDADOR DA IMPRENSA
DE SERGIPE
{Conferência pronunciada em à noite de
31 de agôsto de 1946, dia do aniversário
da fundação da Associação Sergipana de
Imprênsa, pelo orador da mesma, em ses­
são do Instituto Histórico e Geoçráfico de
Sergipe, por ocasião do oferecimento do
retrato do notável sergipano a essa en-
tidade por aquela instituição).

-::.:::::::Ili==-

ARACAJU
1947
I - ---J

SEIRÃO, SOBRINHO

MONSENHOR SILVEIRA
O FUNDADOR DA IMPRENSA
DE SERGIPE
(Conferência pronunciada em à noite �
31 da agôsto da 1946, dia do aniversário
da fundação da Associação Sel"gipana de
Imprênsa, pelo orador da mesma, em ses­
são do Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, por ocasião do oferecimento do
retrato do notável sergipano a essa en-
tidade Por aquela instituição).
(a) Eliéser Leopoldino
v J

4-'- j:;?"� "?? -fz:..


DOAÇÃO AO INSTITUTO
HISTÕRICOEGEOGlira
DE SERGIPE -ARACAJU

PBOF. SEIBJ.O. aobdnlao.

pertinaz traça da Hlat6rJa de Sarqlpe e orador


da A. s. L, ilutn autcr dHta conferAncla.


O
BIBUTECA

Ao I!ust:-e Con::-ade

ELitsER LEOPOLDINO DE SANTANA.

o arauto da restauração do Associação


Sergipona de lmprênso, liader em pról
da idea do Coso do Jornalista de Sergipe
e Presidente eventual da mesma,
O, D. e C.

o AUTOR

\
PREÂMBULO

A ASSOCIAÇÃO SERGIPANA DE IMPRENSA tomou o


alvitre de comemorar a passagem do 13 ..0 aniversário de sua funda­
ção com um ato solenissimo, no qual seria, como o foi, oferecido o
retrato do Mons Antônio Fernandes da Silveira, fundador da im­
prensa sergipana, ao nosso Instituto Histórico e Geográfico.
Para falar naquela festa comemorativa, resolveu aquele soda­
licio escolher, entre os seus associados, um cultôr das lêtras qne
estivesse à altura de tal cometimento qual fôsse o de dizer com
verdade e segurança sobre a vida do antigo politico e jornalis�
recaindo a escolha, com felicidade, no ilustre historiografo conter­
râneo Sebrão, sobrinho.
Esse respeitavel homem de lêtras, que é paciente investiga­
dor dos fastos da nossa história, deu fiél cumprimento ao encargo
que lhe fôra cometido, prendendo a atenção do seléto auditório,
que acorreu ao Instituto Histórico, onde se realizou a importante
sessão, por cerca de duas horas.
Revelou o prof. SEBRÃO, sobrinho , fatos até então desco­
nhecidos da vida do tréfego politico e desabusado sacerdote, pondo
a nú, também, em varias passagens da sua interessante palestra
biografica, com as irreverencias proprias do seu clima temperamen­
tal de critico e analista, episodios escabrosos, mas incontestados,
até agora, do notavel estânciano.
A biografia do fundador da imprensa sergipana, agora dada
a lume, com mais detalhes e minucias, tem por objetivo principal
concorrer, com o produto de sua venda, para a construção da
"CASA DO JORNALISTA SERGIPANO".
Ainda por este meio, para fins tão elevados, falará a generosi­
dade dos nossos conterrâneos e daqueles que, não o sendo, teem na
devida conta os elevados intuitos e finalidades da imprensa em
quaisquer circunstâncias.

Z6zimo Lima

'
Exmo. Sr. Representante de Sua Excelência o Sr. Interventor
Federal no Estado,
Exmo Sr Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados
do Estado;
E-xmo C:.r Pre::identc. do Instituto Histórico e Geográfico de
...,erg1pe;
.t:.:xmc �r Pre�idente eventual da Associação Sergipana de
Imprcn:::,<1,
Exmo -r. R t'. pt t:..,tntante <.k Sua Excelência o �r. Secn::Lário
Geral �t Eqado:
Exm<. 1 Pre�idente da Liga Sergipana Contra o Analfabe-
tismo.
Exma� ""-enhôras e Senhorinhas;
Ilustre!: Cunfradr:s do Instituto Histórico e da Imprensa:

E tz festa, - perdoai-nos, senhores -, é a da sorridente H u­


m1ldade, que se confraterniza e, fora da barrica de Diógenes, apaga
a lâmpada, o alenatório de azeite. com que o filósofo cínico procu-
rava um H ornem.
f\e,·emo-la ao:. bon- au:::píciot: de Eliéser Leopoldino de San-
tana, atento t dtdicado ::.ervo deste seio de Abraão, que é a Asso-
.d;- Sergipc1na dt l mpren a o ,;uai sôbe; a ordem dessa, fôr:i.
bu...car, na !\1e:sopotámia da:, boa..,-letras, - a História-. o retrato
do Mo;:1�enhor SHveira. - Rd,ec.a d1J jornali'>mO íncola -, para ufc1
�a-Jo ao In.�tituto Histúrko e Geográfico de Sergipe, que, nobre­
m""nte ,e sacrifica, como o Ic::áque bíl;lic<>, para, gentil. ho'>pedar-t1rJs.
Que de aurifulgé�cia se resumbra na <lata <ir· hoje !
- 14 -

A-través-da paisagem loiçan de um p r e t é r í t o curto, mas


amplo de contínuos esforços de lutadore� bem intencion.tdos, com
o simples afan de assegurar, em equilíbrio, a esta pobrí sima insti­
tuição, ainda não desaparecida graças a pouco� bondo�os cirincus,
fulge, longe, muito longe ainda, a esperança fagueira daquilo que
mais aspiramos: nossa Casa, a Casa dos Jornalistas de Sergipe.
Atlas poderoso, que trás êsse ideal no cérebro, confio que

'
Eliéser Leopoldino vencerá seu sonho. que é o de todo� nó,.
Dia de nosso genetlíaco, parabenizamo-nos à sombra da figura
nobre, simpática. atraente, bondosa, ingênua, bairrística, patriótica.
humana, de nosso patrono, como fundador da Imprensa em Sergipe,
o l\.1onsenhor Antônio Fernandes da Silveira, cuja verônica, num
tributo de veneração e respeito, nossa modesta sociedade oferece.
-agora, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, cativa de
sua hospitalidade, para que o amure em suas galerias, passando a
figurar entre os dos super-homens nossos maiores, aos quais ren­
demos profundo tributo de eterna gratidão pelo que fizeram para o
bem estar que desfrutamos.

*
• •
Permiti, seleto auditório, que meu coração, já sol que se cre­
puscula a occidar-se, estertorante, por trás da montanha de minha
inútil vitalidade, insatisfeita por sua inadaptação à Ordem, - har­
monia universal - , e pelo, pois, insensato suicídio por sua incon­
veniente altivez, com a fatalidade determinista de un1 �ieneceu
a matar-se em sacrifício heroico; consenti-o, senhores, se genuflexe
no esteiro negro da própria sombra, em seu claro-escuro espiritual.
lusco-fusco de sabenças ilunes, resultantes de educação autodidata,
para, convosco, comungar na cívica evocação aos manes augustos
de nossos avoengos, neste templo de J ano, onde a experiência do
Passado se alia à conveniência do Futuro, onde se consorciam a
Histórja e o Pensamento.
15

Amoral, ignorante do que seja moral ou imoral, tenho a pre­


sunção de que o preconceito é um prejuízo da Opinião, - deusa a
quem não rendo culto, porque é uma formação estranha à madre­
Natureza no Tempo e no Espaço, na História e na Geografia. e
inimiga acérrima da Liberdade, que é luz, que é beleza. Todos so­
mos mortais e neste marnel telúrico, no qual. em a\.'êltares. em evos
sucessivos. cada um depende da constituição das próprias glândulas
secretivas. de seu sistema endocrinal, de seu conjunto sinérgico,
afetivo e intelectual, rolamos, ladeira abaixo, pela sombria e irre­
mediável fatalidade de nosso destino.
Só tesso litanias à Verdade e. por ela, venero o Direito, que é.
na frase do genial rebelde Tobias Barreto, "a força que matou a
própria força··. Daí, meu culto à Justiça, venerando ao J uis. que
é o espírito da Lei. e respeitando ao Reu, que é sagrado. e o bió­
grafo deYe colocar-se entre ambos. principalmente no banco do
último: quando o primeiro tiver de lavrar a sentença, de mãos la­
vadas. como Pilatos.
Patere quam ipse, feciste legeJ\11"\ �
Quid veritas est? ! ...
Assim, senhores, não quero iludir-vos quanto ao que penso do
�1onsenhor Sifreira.

Foi o notáYel conterrâneo a figura rediviva de !caro. Ascendeu


tanto e tão desordenadamente que, coitado, se lhe derreteu a cera
das asas aos raios luminosos do Poder e. como o corYo dos Yerso�
de GamaJiel :\1endonça, após subir tanto, qual largo e negro lenço.
açoitado de ventos infernais, desceu à esfera terrestre, tentando.
de-balde. OOYO vôo.
Sem dar-se ao trabalho de orientar a um partido, entregue ao
bem-estar de gozar as benesses que sua cultura e seu� talentos. alia­
dos à honorificência própria e dos seus, faziam jus, nunca quis ser
mais que um eleitor, mas um eleitor acima dos correligionárioa, êle
16 -

e êsses chefiados por alguêm, que tomasse a vanguarda <las lutas


e. . . dos gastos.
Queria escalar o Olimpo, mas outros que figurassem de J ú
piter... Nem na frente nem atrás: seu lugar era no meio, em ele­
vação visível. .. Não tinha gostos burguezes de um Pisafon, que,
para ser considerado uma divindade, ensinara aos pássaros que era
um Deus e êsses, repetindo-o, quem os escutasse, estaria certo de
que o desgraçado mortal era mesmo um nume e não um parvo ca­
botino. Amplo de recalques, de morbidezas, de impaciências, de
tudo que o Eclesiastes chama de Vaidade! ...
Enardecia-se com a lisonja nem sempre sincera, porém, sem
auto-suficiência para as grandes escaladas, se consolava no arrai­
gado vício do proselitismo e se sentia seguro e muito bem em ser
mero sacerdote da deusa tribal de Sergipe.
Tinha Lagarto, a terra da tabagia e dos teares, onde o primo
Capitão-mor Joaquim Martins Fontes era o trunfo. Tinha o primo
Comendador Sebastião Gaspar de Almeida Bôto, substituto do
Brigadeiro José de Barros, Pimentel na chefia do partido Liberal,
manda-chuva na bagaceira e nos demais rincões da Província.
Sua vaidade lhe impedira de contemplar o desenrolar dos fatos,
a lógica das coisas e não pensava quão perto vivia do abismo, poi::.
que sua elevação era resulta de trabalho alheio, sendo seu equilí­
brio duvidoso, estável.
Arrimado nesc:;as muletas do partidarismo da clan, do sipe
açucurocrata-tabagíaco, presumia, em Iêdo engano, descansar em
suas redes, à sombra de frondosas jaqueiras ou palmilhar entre
os bastos canaviais, rezando seu breviário passional ou anotando
as escabrosidades à porta aberta lesivas ao Código Eleitoral, para
imediata aplicação, a seu favor, quando necessário, sem refletir
de que isso, quando executado, lhe demarcaria posição trágica na
História l
Por tais devaneios, por tais vícios, foi que sua personalidade
não saiu ilesa à primeira rolha adolfog6rdia à Imprênsa de Sergipe,
que êle fundara, e que descobriu, sucessivamente, no Brasil, em elei-
- 17 -

ção, a Fraude e a DupJic:1ta, as quais, princip�tlmu1tc ;\ primeira,


custaram rios til' snnguc, trag-<'.:tlias, lutas, amarguras, <4t1asc fa li-n ­
cia do� cofrl's pro\'inciais, anH:açadora hanca-rúta, lcgiddio soci a l
da ProYincia.
Não pensou que se finalizassem assim suas invenções ! Que 0
colega Pitanga 1Iuri, um sacerdote irrequieto, arruaceiro, caísse na
cadeia e as g rades <la prisão fossem bem guarnecidas, pouco se lhe
dava! Entretanto, que da Fraude e da Duplicata erudisscrn tra­
gédias, não se apoquentou. É que, de certo, não pensou chega se
a tanto, emhora, conhecedor da sensibilidade altiva do sergipano, i
quando ainda feudalizado na lei do mais forte, nos costumes aus­
teros do mando e posso arrogantes. ciente estivesse que seus ad­
versários, acobertados pelo manto da Razão, quando essa lhe fal­
tasse. espertaria do letargo psicológico, possivelmente bravios, sei- 1
Yagínios no protesto, da defesa do jus incontestc, tal qual aconse- ��
l
lhava. depois, no mundo culto, Von Ihering em seu hino ao Direito. �
Iludiu-�e. o que, si em si era acentuado, é, aliás, fato muito hu- t_:
mano de compulsão convencional, principalmente aos Narcisos,
como êle !
Poucos, como o saudoso Monsenhor Olímpio Campos, sabem •
subir arredando impecilhos. E o notável Monsenhor da República•
não tinha o prestígio do oiro, da roda-de família e não tinha assento
em Capela do Presidente da República, nem tão pouco era, do Chefe
do Executivo, Conselheiro. coisas desfrutadas pelo colega da Mo­
narquia ! :8 que, enquanto OHmpio vivia à testa do partido Cabaú,
chefiando-o, orientando-o, vivendo em Sergipe, amestrando seus
soldados na rígida disciplina de inquebrantável solidariedade, in­
fundindo-lhes o espírito de cooperação e se impondo, pela fôr�a,
aos Pebas, satisfeito de ser um político estadual, só se afastando de
Sergipe para representá-lo na Câmara e no Senado federais, retor­
nando sempre, alviçareiro e vencedor, olímpicamente maior, para
o meio ambiente, Silveira n�o se impunha nem na Côrtc, onde se'
ofuscava nos esplendores das festas entre fidalgos, como êle, nem
na Província, onde olvidava os correligionários, arrimado, ape-
- 18-

nas. no pn•..,tígio dos parcnlc'S, cm manifrsta inadaptação 1,arti­


dária, que. ele-certo, lhe prejudicaria depois. Encarados psicotógi­
('aml'nte, ambos, aos recalques de Silveira se contrapunha o rea­
ju�tamento de Olímpio, que se fez o primeiro de sua grei. Arrimado
em Bôto, seu guindaste, de Silveira, eis que êsse o alija a fav<.1r de
um sobrinho recem-formado em París, a eloqüência feita homem, o
Dr. José de Barros Pimentel, o Canário de Sergipe na Câmara, o
qual o substituiu, destruindo-lhes os valimentos, bem como os do
Comendador Martins Fontes, e, com êles, o prestígio da arquípolL
do sul da Província, cuja sede era Lagarto, reduto eleitoral do úl­
timo. Vergôntea dos Távoras, pretendente, mesmo, ao :Morgado de
Angra dos Reis, nos Açores, no que não tinha direito, era orgulho­
so de sua prosápia e, em mais de um documento, por si firmado. alu­
dia a seus genitorcs e, mesmo, até aos mais remotos progenitores.
Na genealogia, que lhe compulsei em meu trabalho Tobias Barreto,
o Desconhecido, Vol. I, anotei-os a êsses e a outros ainda mais an­
' tigos, desde o fundador da Casa D. Luís .\h cs de Távora, 3. 0 Du­
que de San-João e 1. 0 Marquez de Tú vora. Realmente, foi ela uma
da� mais lustrais, honorificentes de Portugal, famosa pela linha­
gem de seus fidalgos e pela libido de suas saias e calções, até nossos
dias sem desmentido, e essa hereditariedade sensualística se fez
acentuada em nosso homenageado ele hoje, que foi. antes de tuJu.
' , um cerebral perfeito.
Foram seus genitores João Batista da Silveira e D. l\Iaria
Zeferina de Andrade e era aparentado com o que a Capitania. de­
pois Província, tinha de melhor socialmente e pecuniária.mente.
Estância, a íncola Iviarãú de caliplastia admiráYeJ. a banhar­
se, nua, ao plenilúnio, no Poço das Pedras, à sombra da secular
Gameleira; Estância, noiva do bravo cort'e-costa preador Capitão
e Mar e Guerra Pedro Homem da Costa, soldado das hostes de
Cristóvam de Barros na conquista de Sergipe; Estância do poético
e saudável Piauítinga com cascatinhas sombreadas por moitas entu-
fadas, de ninfa cristalina e que faz barra no silêncioso Piauí, _ 0
arauto de boas-novas ao Rio-Real; Estância, empório do comércio
- IY-

do S\ll, cujo pôrto empanou a Santa Lusía; Estância, berço da,


b?as-letras em Sergipe; Estância dos palacetes, das flautas, dos
pianos e das dalilas românticas ; Estância dos pomares e dos bos­
ques, - "Jardim de Sergipe", ao ver estético e justiceiro de Pedro
II; Estância, forn1osa urbe de vinte e um quilômetros de períme­
tro; Estância de paisagem empolgante e de vida industrial intensa;
Estância republicana, democrata, quando ainda povoação para,
após, ser Vila Constitucional e, tambêm, sede provisória do Go­
verno da Província, bem como do Império do Brasil ; Estância,
legalista e rebelde, dos Voluntários da Pátria : - em 1817, nos ..
campos de Pernambuco; em 1823, compartilhando da Epopea do
Dois de Julho, na Baia ; em 1836, nas colinas de Santo Amaro das
Brotas ; em 1839, na transferência da capital das Alagoas e, logo
depois, em Maranhão, ao lado de Ca.xias, ao tempo que se batiam
no Rio da Prata, entre os Farrapos e, por fim, nos charcos do Pa­
raguai, crepitando no ardor sublime de Camerino, o Voluntário­
Paisano simbolizador do heroísmo nacional ; Estância, mãe não
mui dadivosa e melhor madrasta, graças ao cwtó que mantém da
hospitalidade e de tal sorte que seus ,filhos, seus naturais, se as­
semelham àqueles lotófagos, povos africanos, que viviam do fruto
de lotos, e dele, sem sinal de xenofobismo, davam a comer a es­
trangeiro, e cuja virtude consistia em fazer q• o adventício se
esquecesse da própria pátria, logo t}ue o experimentasse e Estância
faz sempre olvidar ao forasteiro, ao natural de outras plagas, to­
mando-a como tal, adotando-a: é a madrasta excepcional, que
nã-o amamenta os filhos, ciosa de beleza dos cactos de seus divinos
seios em flor, mas que deles faz magnifica oferta aos enteados�
que os possuem com o justo título de trabalhnr progr«Nivo • .f•vor
dela, enriquecendo-a, embelezando-� que os detêm, como bem
de hereu ou de evento, por uso capião ou beneficio aal8tat' , ..
a� 9t1bliciana espiritual, entre filhos • entead� •rde, �
em.� a índiâ Mari\1, transV#.la ea Etd:Acia,. de� áW�u
to,�tQdpa. . . r;

• o
wpj#Cll,QIIIW'a�-�-1-,.t,t8'Je*�
- 20-

nascer, como um príncipe do lirismo e da beleza, o . fonsenhor


Silveira, embalado pelos harmônicos acordes de enardecentes po­
lifonias das selvas bastas meridionais de Sergipe; de uma plaga
de rincões úberes, massapés e saroios japões férteis; habitado
por pássaros multicores e olente por variegados roseirais e por
lindas flores ; e Yivido por um povo feliz, laborioso. inteligente,
esclarecido, valente. nobre, desportista e desprendido. possuidor
do fruto de loto hospitaleiro, atrante, que é a potável e saborosa
água da fonte Santa Cruz, ninfa igu al a homônima de Itabaiana
dessa Itabaiana que, em verdade, sem estetismos e sem dinamis­
mos, controlados ou não pelos canais colidentes para outras partes,
nunca jamais se lhe poderá arrancar o privilégio, exclusiYo, de
celeiro de Sergipe, de mercado de Aracaju, não sendo, assim, só
"a terra dos alhos e das cebolas" ! ...
Porém, meus senhores, rogando desculpas pela divagação in­
sopitada, retornando à Estância e à fonte de água com o sabor de
loto. afirmo-Yos que o ádYena, que a sorve, se cativa eternamente
e, ainda que forceje por dela afastar-se, é forçado a retornar,
depois !
E além de nascer em um rincão esplêndido assim, ao surgir
à luz Yital, foi nosso homenageado coroado de bens pela ingrata
e avara deusa Pecúnia, que, pródiga para êle, despejou em seu ber­
ço róseo e perfumado, com prodigalidade incríYel, a cornucópia
cheia de dinheiro amoedado, tal qual fizera entre seus parentes, -
proprietários rurais, donos da Pro,·íncia, latifundiários senhores
de engenho de açúcar, uma plêiade de Pelasgos. de agricultore�
discípulos de Ceres.
Xão se lhe sabe a data do advento ou encarnamento. do �Ion­
senhor Sih-eira. Por hipotético cálculo de Can·alho Lima Júnior.
seu único e ligeiro biógrafo, que foi recopilado pelo Desembarga­
dor �Armindo Guaraná, que lhe achegou notas testamentárias, foi
em 1795, quando Estância ainda era, de direito, um povoado da
Vila de Santa Lusia, pois que, de fato, era cadona-beça do Municí­
pio, e sede, desde 1759, da Freguesia, nela vivendo e tendo casas


-21-

de poisada o escol da Nobreza e do Clero do Sul da Capitania, que


só tinha a disputar-lhe, além da Capital, a fidalguia de Vílanova
d'El-Rei do Rio Real de San-Francisco, Santo Amaro das Brotas
e Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba.
Vergôntea da fina flor da plutocracia sergipense, demandou,
cedo, aos estudos.
Feitos os primários e parte dos secundários em Estância, que
já os possuia, transferiu-se para Salvador, na Baia de Todos os
Santos, indo residir em casa de seu tio, o mais tarde Brigadeiro
)Ianuel Fernandes da Silveira, onde continuou os preparatórios
cursando, nos anos de 1815 e 1816, - diz Carvalho Lima Júnior -
as aulas de Filosofia no Seminário "San-Damaso", reitorado,
então. por frei Domingos das Dores, e se matriculando, ao 1.º de
abril de 1818, no mesmo estabelecimento, fazendo o curso de Teo­
logia e recebendo as Ordens de Presbítero de San-Pedro entre os
anos de 1820 e 1821, ainda segundo o mesmo Carvalho Lima Jú­
nior. depois de Felisbelo Freire o mais paciente investigalor de
inéditos para a História de Sergipe.
Sobrinho de quem era e estando sem Primaz a Província Ecle­
siástica, pois o titular metropolitano da Arquidiocese, o monge be­
neditino luso Frei Vicente da Soledade, nomeado, em 1820, por
Pio VII, se deixara ficar em Portugal, dado o restígio do tio.
fácil foi obter do frescário Deão Governador do Arcebispado, José
Fernandes da Silva Freire, bisavô de nosso saudoso e inteligente
conterrâneo Professor Durval Freire, o alto título de Cônego da
Sé, só conferido a velhos servidores de sumas virtudes ou de alta
linhagem.
Serv1tihe-ia a dignidade só para sua carreira na vida poHtic:a
da Pátri� começa.da a libertar-se des4e 18>8. Vivendo numa época
de evolução no Brasil e em Sergipe, - tomado outra ve& catho
da Baia -, ambicioso de glórias, dedicando extremo amor -.
pagos onde nascera e onde viviam os aeua, pleno de sadio l)&lmt•lt'.·
tismo, ambicioso de futuro prometedor, toraou ao lar e
beça de ponte entre Eatbcia e Laprto, 1 eombra 4lo

- 22-

pitão-mor. depois Comendador Joaquim Martins Fontes, poderosa


influência no sul da Província, sucessor do prestígio do Padre Cai­
tano da Silva Natividade, sacerdote virtuoso e influente, vigário
da Freguesia de Lagarto. liberal, amigo e correligionário do Bri­
gadeiro José de Barros Pimentel e que foi vítima de sua franca
brasilidade , sendo envenenado , - dizia-se -, a mando do padre
português Antônio José Gonçalves de Figueiredo, Vigário de So­
corro e controlador, entre nós, do movimento recolonizador do
Brasil e que tinha a ampara-lo o Vigário Geral da Vara de Sergipe,
o português Cônego Luís Antônio Esteves, inimigo, por igual, do
Brigadeiro José de Barros, como aquele, e também do jovem co­
lega Silveira, em quem Yia não só o brasileiro emancipacionista,
mas, naturahnente, um perigo às altas funções de delegado do
Primaz. na Capitania, que exercia.
Laranjeiras. como Estância com Santa Lusia, era a sede, de
fato, da Paróquia de Socorro e era em a residência do Vigário Fi­
gueiredo. ali, que o Brigadeiro Pedro Vieira de Melo, Governador
das Armas de Sergipe e delegado da Baia lusitana, que havia
rasgado o real Decreto de 8 de julho de 1820, dava expediente.
Yelho octogenário e, talvez, para evitar males de maior vul­
to em sua terra, aceitou o governo da Capitania anexada nova­
mente à Baia portuguesa e fazia tudo que lhe mandava praticar
o referido Vigário Figueiredo, que era quem realmente governava.
Entre outros patriotas, vítimas dêsse Vigário português, foi
o Cônego Silveira, de quem denunciou ao Ouvidor da Comarca
como perturbador da Ordem na Capitania, na qualidade de emis­
sário de D. Pedro para alevantar o povo contra as Côrtes de Portu­
gal e reconhecer àquele como Principe-Regente do Brasil, e como
promotor da emancipação de Sergipe do jugo da Baia.
Feita a devassa pelo Ouvidor Manuel Gomes Coelho, Silveira
foi preso e, com outros patriotas, remetido, urgente, em uma ca­
traia para Salvador, pequena embarcação cuja s e r v enti a ' até
então, era da fiscalização da Barra da Cidade (San-Cristovam).
Só se soltou com a nova libertação de Sergipe da Baia e, pe-
- 23-

rante a Junta Provisória, <leque era Governad,1r da:; Armas o Bri­


gadeiro José de Barros, foi deputado pelo Município de Lagarto.
Depôsto José de Barros, rompeu com a mesma, cujo presi­
dente era José Matem; da Graça Leite Sampaio, Capitão-mor do
3.0 das Ordenanças de Itabaiana e amigo do Brigadeiro Pedro
Vieira, de quem êsse era até vizinho de propriedade açucareira.
Amigo da Junta até antes, quando rompeu, limpou a vista e
lhe viu os defeitos, que, em 1823, denunciou, por escrito, ao Go­
verno Imperial.
Em sua representação, dizia o Cônego Silveira que Sergipe
não merecia tivesse Alfândega, pois seu rendimento nã<> compen­
sa\'a com o que se tivesse de pagar aos funcionário� da mesma;
- acusava à Junta como despótica e, mais, delapidadora, extor­
quindo dinheiro dos particulares, a título de empréstimo, para
fins ignorados ;
- atacou o abuso da arrematação dos dízimos e miuças da Pro­
víncia, feitas pelo futuro Brigadeiro João de Aguiar Caldeira Bôto
(seu primo, irmão de Bôto) e o depois Tenente-Coronel Francisco
José da Graça Leite Sampaio, respectivamente genro e filho do
Presidente da Junta, por 18 :000$000, quando, anteriormente, foram
arrematados no valor de 33 :000$000 por José Antônio Ribeiro de
Oliveira, comerciante em Baia.
Eis que seu tio, o Brigadeiro Silveira, aliás já septuagenário,
foi nomeado presidente da Província, o 1. 0 na ordem cronológica,
por Carta imperial de 23 de novembro dêsse ano (1823).
De 5 de março subsequente ( e não 7, como diz Felisbelo Frei­
re), quando tomou posse, a 15 de fevereiro do ano seguinte (1825),
quando deixou a administração, o Cônego não deu ar de sua grac;a,
a não ser que, em a noite de 27 de abril (1824), foi sériamente sur­
rado, levando muitas bordoadas, juntamente com o então Sargen­
to-mor Antonio José da Cruz e Meneses, comandante das Rondas
da Polícia da Província.
Foram mandatários os soldados de 1.ª Linha e mandantea a
oficialidade. principalmente o Major Prancúco Goaçalvea u Ca-
-24-

nha, os quais, 110 dia seguinte, cm pleno estado de revolta, fizeram


com que o \·elho presidente e seu secretário, o célebre democrata
Antônio Pereira Rebouças, fugissem para a povoação de Estância,
de onde o Brigadeiro fez proclamações à tropa amotinada, que st:
voltou contra os oficiais sediciosos, prendendo-os e os remetendo
para Salvador, Yoltando o Presidente e seu Secretário para San­
Cristovam.
O melhor é que depois que os oficiais foram escoltados para
a vizinha Província, o Cônego, - é assim que o chamo até sua
ascenção a 1Ionsenhor -, o Cônego Silveira e seu companheiro
de bordoadas fizeram "Querelas por assasínio noturno" contra os
mesmos. O vocábulo assasínio não era, como hoje, sinônimo de
morte, como o é assasinato, que, então, como aquele, era sinô­
nimo de tentativa de homicídio-!
Quando o Brigadeiro foi embora, êle o acompanhou. É falso
que tio e sobrinho se associassem aos Andradas, quando êsses
foram e)..'"Ílados, em 1823, pois o Brigadeiro: no ano seguinte, fôra
nomeado Presidente e o sobrinho era sua sombra, seu filhote, pri­
meiro ato do filhotismo do Cônego, que lhe faria, na vida, tanto
mal, porque se lhe tornou um hábito.
Só em 1830 deu o Cônego sinal de existência. Ocupava o car­
go de secretário da Presidência do Piaui, e fôra, então, eleito de­
putado à Câmara Temporária pelas duas Províncias : a de Ser­
gipe e a daquela. para o quatriênio 1830-33.
Como era natural, optou pela da Província natal, sendo subs­
tituido na outra pelo Padre Marcos de Araujo, o qual, não toman­
do assento, foi substituido por outro sacerdote, o Padre José Mon­
teiro de Sá Palácios.
Por Sergipe, foi seu companheiro de representação o depois
Conselheiro Dr. Joaquim Marcelino de Brito..
Não é verdade que interfirisse nos movimentos que deram
lugar a Abdicação de D. Pedro I, fábula igual a que se aventara,
antes, de haver sido emissário do mesmo na Província para ser acla­
mado príncipe:..regente.
-25-

Perspicaz, inteligente, prático, certo de que a Imprensa era c1


trombeta da Fama, a escada de Jacob para a cúpula do Poder,
a estrada real desbravadora da escuridez espiritual, o maior monu­
mento da Civilização, o porta-voz da Política e porque, em Ser­
gipe, não havia ainda uma gazeta, inflamou-se seu patriotismo e
fundou o Recopilador Sergipano, nome modesto, mas expressivo
quanto sua dedicação à Província natal.
Bairrista, com que lotófago, estanciano amistoso, a tenda de
onde fez surgir seu jornal, em setembro de 1832, denominou "Ty­
pographia Patriota" e , imediatamente, "Tipographia Constitucio­
nal". em homenágem à terra natal, um ano antes elevada à cate­
goria de Vila Constitucional de Estância pelo Decreto de 25 de
oitubro de 1831, ao qual não o tenho como estranho 1 presumindo,
mesmo, fosse quem mais trabalhasse para êsse fim, e dois séculos
que ela, Estância, fôra fundada, no sábado 19 de junho de 1632,
por Pedro Homem da Costa.
Foi dali que surgiu a lâmpada votiva da Liberdade, a Im­
prensa, representada pelo Recopilador Sergipano, aurora boreal,
sol-nascente de Sergipe, que se ementava com dois versos deWas­
• hington
. .
.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. . .. ..
"Sede justos se quereis ser livres,
Sêde unidos se quereis ser fortes".
. . . . .
.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . .. .. .. . . .
Era a gazeta de formato exíguo, 0,25 x 0,15, com quatro lau­
das e com duas colunas. Bisemânio era editado às terças e sábados.
� egociante em tudo, Mercúrio atento, as assinaturas eram pagas
adiantadas, sendo trimestrais, a 2$, na já "Typographia de Sil­
Yeira" e semestrais, 4$, fora, podendo-se angariar assinaturas nas
duas agências, naturalmente gratuitas, sem ônus para a adminis­
tração ou gerência, ambas nas importantes localidades comerciais
da Província : Maruim, em casa de seu primo afim José Pinto de
Carvalho ( cunhado de Bôto) e Laranjeiras, com seu colega Pa­
dre José Joaquim de Campos.
-· 26 -

Deu-lhe- Can·alho Lima Júnior como seu primeiro redator ao


depois í amoso padre José Alves Pitangueira, de 1832-1833. O pro­
prietário <4tteria auferir dele, apenas, o lucro, isto é, o dinheiro da:;
assinaturas para a respectiva tiragem e a propaganda política do
partido Liberal em que realçasse, sem gastos, seu nome em pri­
meiro lugar e, depois, os dos correligionários do credo. Não podia
faze-lo pessoalmente. Era éncargo ordinário das abelhinhas lite­
rárias, plumitivas ...
Já ai, em Estância, da Escola do ba}ano professor Joaquim
Maurício Cardoso, homem de incomum ilustração, apareciam as
primeiras manifestações intelectualísticas sergipenses. Com o sur­
gir do Recopilador, tais manifestações se concretizaram e da
"terra dos latinistas", como já era chamado Sergipe, passou a cha­
mar-se berço de poetas e ninho de literatos, representada por uma
pleiade de cultores da boas-letras, graças a pedagogia áurea do
mestre-escola aliada ao jornal do Cônego Silveira, ambos farois com
que a terra do Piauitinga iluminava ao firmamento ilune de nosso
rincão sergipense e Pitangueira, o redator, fôra a imagem viva da
rebeldia e da insolência valorizadas em atos de Espartaco. Com
a provisão, em 1833, a 11 de junho, de Pitangueira na cadeira se­
cundária de Lagarto, a de Latim, foi forçado o Cônego a associar­
se na Tipografia com o comerciante João Inácio de Azevedo, cu­
nhado do professor Joaquim Maurício Car�oso, o mesmo fundador
da intelectualidade, das boas-letras sergipanas, em Estância. Tor­
nado João Inácio administrador do estabelecimento comercial,
êsse foi alterado para "Tipografia <le Silveira etc. Companhia•·.
Hábil, prático em tudo mais, não o foi para chamar a si a chefia,
na Província, do partido Liberal.
Por atavismo, era um ludâmbulo, um andarengo. Nunca um
Távora verdadeiro se fixou em parte nenhuma. Sangue judeu, de­
certo.
Em Estância, dominavam os Freires, Azevedos, Dantas, Avilas,
Martins . . . Nas urnas; ali; era uma nulidade! Seus parentes era
gente rural e, à maioria, espalhados por Santa Lusia, Lagarto,
-'O-

San-Cristovam. Itabaiana, etc. Judeus errantes, como êle, Silvei­


ra. Yiviam ao sabor das propriedades, que se desfaziam por ,·enda,
e. assim. com facilidade, mudavam de município, de paróquia.
Xo último ano de seu primeiro mandato de deputado geral
(1833), sendo, na época, o sergipano de maior ilustração na Pro­
víncia. foi eleito membro do Conselho Geral da Província e' a 30
de novembro, aclamado presidente, sendo aclamado seu secretá-
rio o depois Conselheiro Dr. �Ianuel Ladislau Aranha Dantas, ci­
rurgião e lente de Filosofia do Liceu de San-Cristovam, o primeiro
estabelecimento centralizador que teve Sergipe.·
X o dia seguinte, 1. 0 de dezembro, foi êle eleito Presidente e
porque o Dr. Aranha Dantas estivesse prestes a dei.--car a Pro­
víncia, pois fôra nomeado lente substituto da seção cirúrgica da
Escola de �iedicina da Baia, para que se não tivesse de fazer nova
eleição. o Cônego Silveira indicou para secretaria-lo, efetivamente,
a um seu velho inimigo, gesto êsse demonstrativo da bonhomia de
sua alma, da Jhaneza de seu espírito, o qual foi o Major Francisco
Gonçalves da Cunha, o mesmo que, nove anos antes, em 1824,
mandara a soldadesca revoltada esbordua-lo e ao Sargento-Mor
Comandante das Rondas da Polícia, o após Coronel de 2.ª Linha
Antônio José da Cruz e Menezes.
Um de seus primeiros atos no Conselho, foi fazer com que o
Governo contratasse consigo, representado por seu sócio e admi­
nistrador. a publicação dos atos do mesmo Conselho no Recopi­
lador Sergipano e, após, em separata dêsse, intitulada "Diario do
Conselho", a qual não indicava data nem lugar, porque era os mes­
mos do hebdomadário estanciano.
As Câmaras :Municipais foram intimadas a assina-lo! ...
Inteligente e ativo, prático, mas, por acanhamento, vaidade
e pena de dinheiro, não quis fazer mais alto sua cupidez. Os olhos
de seu espirita eram bifocais e viam, conforme a oportunidade,
longe ou perto.
Ainda no Conselho, deu prova de sua visão sociológica, que,
r-
mais do que nunca, hoje devia ser imitado pelos homens de gove
- 28 --

no ele no�sa P:Hrin. 1,egislüu-i;t fornt(et,se, por parte '1a Pr<Jvin­


cia, aos escolares, nímiamcntc mi�eráv,�ís, todo CJ wateria.l neces·
�ário ao cr...tudo !
Quão perto estava o eminente sergípano do pen �amento r!e
Tobias narreto, tão distanciado ainda de n6s, quando o notável
filósofo interrogava: "O Estado quer saber se os meninos apren­
dem - e por que, antes, não procura saber se eles comem i"
Ao passo que, na sessão de 3 de dezembro (1833), f&ra rece­
bido, com especial agrado, um ofício de seu íntimo amigo e colega
de estudos Antônio Munis de Sousa, o Homem da N"atureza Bra­
sileira, ensinando o melhor método de tesser o algodão, o r1ual
teve parecer fa varável de comissão especial, que ordenou se desse
publicidade pela imprensa e o remetesse às Câmaras Municipais.
na sessão de 9, deixando a cadeira de Presidente, o Cônego propoz
a criação, na Província, de uma Escola de Ensino mútuo de no­
ções generalizadas de Geografia, Metereologia e Agricultura !
Defendeu, ainda nesse dia 9, o direito de propriedade dos ín­
dios nas terras da Missão de Agua-Azeda.
Na sessão de 4 (dezembro de 1833), requereu se pedisse ao
Governo informações do estado em que se achava a Casa de �Ii­
sericordia da Província, bem como as Portarias expedidas pela
Secretaria do Governo Imperial a respeito das delapidações e desa­
pareci tp entos de títulos dos Bens da dita Casa e se já tinham sido
responsabilizados aqueles que deram causa a semelhante extravio.
Extinto o Conselho em 1834 e subtituido pela Assembleia
Provincial 1 foi eleito para o triênio 1835-37, 1 .ª Legislatura, con­
tinuando na presidência da Mesa.
Sem vigor, assim, o contrato que o Governo fizera com sua
Tipografia, não teve dúvida de fazer um outro e, agora, mais van­
tajoso para si ... Antes, porém, destratou a sociedade com João
Inácio. Isso feito, trabalho calculista de leão, fez que seus pares
votassem um projeto autorizando o Governo a contratar "com o
proprietário nela existente", na Província, que era êle, a impressão
aludida, porém mais ampla e �om a cláusula especial da transfe-
-29-

rência da tipografia de Estância para San-Cristovam, o qual tomou


forma de sanção pela Lei <le 29 de janeiro ( 1835).
Era. então, um cordial amigo do Presidente da Província,
Dr. :Manuel Ribeiro da Silva Lisbôa, e, com êJe, ex-vi a r .ei, a 26 <te
fevereiro, firmou o contrato, cujas cláusulas, as dependentes dele,
quase nenhuma cumpriu! Vejamo-las, comentando
l.ª - Estabelecimento, na Capital, da Tipografia, ma') o Go­
verno lhe adiantaria 400$000, pagáveis em letras sóbre a Te:.oura­
ria da Baia, quantia que seria descontada nos semestres que se fo:,­
sem Yencendo (n5o eram limitados). afim <le fazer face às dt!--­
pesas de transporte e do estabelecimento da tipografia em San­
CristoYam. Do dele não entraria com um real e a importância se­
ria paga com os rendimentos da tipografia, descontados no:- :,e­
mestres que podesse faze-lo e só aceitou a letra sôbre a Tesoura­
ria da Baia, naturalmente porque a da Província lhe não merecia
crédito. Levou para San-Cristovam parte dela, o bastante para ti­
rar o jornal. Na Estância, continuou a outra parte, mas sem pe­
riódico, pois queria extinguir a sociedade.
2.ª - Todo pagamento, que a Província tivesse de fazer-lhe,
seria no fim de cada trimestre e tal improrrogávelmente e, já que
''Seguro morreu de velho", em letras sacádas sôbre a referida Te­
souraria da Baia! Para o pagamento dele, o prazo de seis meses,
senão seria no outro ou ainda no outro, quando possivel; para
os dela, da Província. na metade dêsse tempo, em trimestre im­
prorrogável, garantido com letra sacada pelo Governo sôbre o Te­
souro Público da Baia a favor do proprietário da Tipografia !
3.0) - A direção da Tipografia estava sempre debaixo do po­
der do proprietário e, sôbre a mesma, nenhuma ingerência teria
o Govêrno. A ação da Província era nula, mas não foi no ano
seguinte, 1836, para, a pedido do Cônego, nomear, a custa dos co­
fres da Província, para seu âdministrador, em janeiro, a Antônio
Luís de Araujo e, depois, ao jovem poeta Manuel Joaquim de Oli­
vei�a Campos, autor, nesse ano, da letra do Hino Sergipano, que
frei José da Santa Cecília adaptou a um trecho da popular ópera
30 -

''Italianos em Argel", música que muitos nativo têm �omo da


autoria do boêmio franciscano conterrâneo, com que poeta de raro
la ,·or. orador sacro e profano de eloquência invulgar e músico
componista de fino, apurado gôsto. Aliás essa adaptação, - digo-o
de passagem -, não humilha a Sergipe, porque, - aos OUYidos
brasileiros -, depois do Hino Nacional, a mais bela canção do
Orbe, o hino da Liberdade, dos direitos de Homem, a Marselheza,
tem origem semelhante: Rouget de Lisle foi, só, o lirófilo e não o
componista. Com o título Marcha do Reno, adaptou-lhe, ao::, ,·er­
:-os inspirados e entusiásticos de seu lavor, o côro da ária Ester,
pelo poeta-soldado tantas vezes escutado na Catedral de Estras­
burgo. o que, igualmente, é estranho à abaürama ... Consolem-se,
pois. os sensíveis, os críticos elefancinos, os que passaram pelo
Arco-Iris antes de chegarem ao templo de Onan ...
4.ª - Obrigava-se o Governo a garantir, ao proprietário, a
base anual de 35. 000 linhas a $050 cada ou 1 . 750$. dinheiro, naquela
época, bastante Yultuoso, que saia dos cofres da Província, em le­
tras trimensais, exatas. em ação dinâmica, naturalmente controla­
da. por misteriosos canais, sôbre o Tesouro Público da Baía. num
círculo adorável.
5.ª e última - O proprietário forneceria, ao Governo, 110 e..."<em­
plares de cada lei, que se imprimisse,, sendo que, pelo papel, o
GoYerno nada pagaria! Essa cláusula ficou estática no contrato.
não foi cumprida pelo esperto proprietário at� 1838, quando o mes­
mo se extinguiu com a venda da tipografia ao Governo. E tanto
não teve dinamismo, controlado ou não pelos canais competentes
que a Lei núm. 25, de 6 de março de 1839, em seu art. llP. aut;
rizou o GoYerno a fazer imprimir todos os atos legislativos ro­
vinciais, desde a primeira sessão até as de 1838, que estivesse: em
vig�r, com �r�ferê�cia a impressão dos atos e quejandas dete
rmi-
naçoes admm1strativas, o que só foi feito muito d ep 01s, · quan do
. .
não havia mais contratos ...
Como se vê, ao patriota, reunia o Cônego Silvei
ra O esperto
homPm de negócio, o poético Mercúrio.
-
-31-

Sem dar nenhuma importância à terra-bêrço, mudou o jornal


para San-Cristovarn e 1 à rua San-Francisco, hoje extinta e que
ficava por detrás do Convento dêsse nome, colocou o material
preciso para edita-lo ali, na "Typographia de Silveira" embora
na Estância continuasse outra sua "Typographía de Silveira" para
trabalhos de mão de obra, mas sem editar jornal ne11hum, entran­
do no rol de finados o Recopilador e seu suplemento Diário do
Conselho, que se transformaram, então, em Noticiador Sergipense,
que teve vida até 1838 e não até 1836, como afirmou Guaraná,
recopilado pelo saudoso e nunca as$nz pranteado Clodomir Silva,
tão cedo roubado às letras sergipanas, como um de seus expoentes
intelectuais.
Para o Noticiador, subscrevia-se, na Capital, em a Typogra.fia;
em Laranjeiras, em casa do Tenente-Coronel Francisco Antônio
de Carvalho Nobre e do já citado Padre Campos; em Maruim, em
casa do mesmo José Pinto de Carvalho; na Estância, em casa do
padre mestre Raimundo de Campos Silveira e José Maria Gomes
de Sousa, pai do intelectual dêsse nome e de Constantino José
Gomes de Sousa, a 2$ por trimestre, 3$ por semestre e 6$ por ano,
"pagos adiantados"! ...
�essa época, em 1837, na Capital-San-Cristovam - : havia
outra tipografia, a Social, do advogado Joaquim José Peixoto e
nela saia o jornal do partido Camondongo, Sergipano Constitu­
cional, redigido pelo inquieto e inteligente Padre Antônio Joa­
quim Pitanga �íuri, que atacava forte e era atacado pelo jornal
do Cônego, o Noticiador Sergipense, não saindo Silveira ileso
das verrinas assacadas ao Rapina. seu partido.
Aliás as injúrias 5e revidarem, o partidarismo situacionista
apegou-se da Lei e se ya)endo do Código Criminal, contando com
o prestígio, fez que o Padre Pitanga Muri fosse processado, �u­
cessivamente, pelos juízes de Paz Florêncio de Araújo Gois e
Simeão da �ota Rabelo, indo bater com o costado na cadeia e
bem seguro para não fugir e vir continuar suas propagandas so­
cialistas, ultra-democratas !
-32-

Muito influiu para essa rôlha adolfogórdia1 para ésse reacio­


narismo fascista, naturalmente para agta<lar ao fun<lador da Im­
prensa em Sergipe, seu antigo inimigo e já, então, amigo e cor
religionário, Coronel José Eloi Pessoa, Presidente da Província e
Deputado Geral suplente pela mesma Província.
Aliás o Noticiador continuar com a ementa citada dos versos
de Washington, foi arbitrário, tanto quanto seu proprietário, bem
como o Governo mandando fechar o Sergipano Constitucional, a
primeira Yítima de lei de imprensa, nada lhe valendo o nome Cons­
titucional, aliás concorde com a valiosa observação de Tobias Bar­
reto, que perguntava: "Quais são as fórmas em que se move o
espírito brasileiro. isto é, em que ele se manifesta? Política !
Pressão!"
Estava inventada a rôlha adolfogórdia em Sergipe, graças ao
prestígio de nosso homenageado! ...
O Padre Pitanga Muri, saiba-se, já que Sergipe não tem His­
tória, mesmo porque a do Brasil é um acúmulo de elogios e de in­
justiça ao gôsto dos pálpavos, era, então, lente de Francês no Liceu
de San-CristoYam, sendo que se fizera substituir, oficialmente, mas
a sua custa, desde 11 de oitubro (1836) por Francisco da 11ota
Rabelo e, por êsse processo de Imprensa, pelo qual foi condenado
a tirar sentença na Cadeia Pública, em prisão comum, perdeu a
Cadeira no primeiro estabelecimento sergipano que centralizou ao
Ensino Secundário em Sergipe, o que, naturalmente, graças ao
}1.emsenhor Silveira, não deixou de contribuir, também, para a dis­
solução do 1.0 Liceu existente entre nós! ...
• Sendo o comendador Bóto seu manto de Dejanira. com o pri­
mo �lartins Fontes foi eleito deputado geral para o quatriênio
1834-37.
Esquecido de suas relações afetuosas com o Dr. Silva Lis­
boa. subscreveu. com Martins Fontes, nesse mesmo ano de 1835,
uma carta em resposta ao 11inistro Joaquim Vieira da Silva e
Sousa, fazendo tremenda acusação àquele, juntando documentos.
� nesse ano de 1835, que, aos influxos da fraterna
l amizade
-33-

ao Homem da Natureza e obedecendo à própria vocação ao que ;;e


reportasse às ciências naturais, propoz-se estabelecer emprêsa para
agenciar e promover uma Companhia de Colonização, Cultural e
Mineralogia na Província.
Em toda a vida agitada, mesmo nos piores tempos, nunca
olvidou as riquezas do sub-solo de Sergipe, do Brasil.
Requereu-o ainda, mas o Governo do Império nada lhe adean­
tou. Ficou sem sequência. Fato comum em nossa Pátria.
Em 1836, foi reeleito deputado provincial para a 2.ª Legisla­
tura, biênio 1838-39, e presidente da Mesa, e se tendo apresentado,
com Bôto, às eleições a deputado geral, tiveram ambos como con­
tendores aos Drs. 1fanuel Joaquim Fernandes de Barros e Manuel
Joaquim de Sousa Brito, dois fortes l\1anueis Joaquins ! Sabedor
de que a chapa seria derrotada, inteligente, hábil, inventou a Frau­
de eleitoral, que era a conta de chegar, o fio de espada, e a atirou
no Distrito de Lagarto, que se compunha das Freguesias de sua
dependência (Nossa Senhora da Piedade e de Santana de Simão
Dias) e as de Itabaianinha e Campos.
Sem que, de leve, o presumisse, seu invento, que o Brasil ado­
tou, como em 1849, o da Duplicata eleitoral, deram lugar à sedição
de Santo Amaro e as consequências trágicas que lhe advieram,
por anos, na Província, que chorou lágrimas de sangue, cobrindo­
se de pesado luto, ficando seus contos ou herários quase falidos,
à porta da banca-rôta.
Anuladas, a 9 de janeiro de 1837, pelo Regente em nome do
Imperador e contra a opinião da Assemblea Geral, que protes­
tava não ter êsse tal atribuição, que, entretanto, vigorou, e só no
fim do ano de 1839 é que fizeram outras para o biênio-1840-41,
saindo eleitos êle e Bôto, e suplentes o Presidente da Província,
Coronel Wenceslau de Oliveira Belo, e o injustiçado Bacharel Pa­
dre Manuel José da Silva Pôrto, Juiz de Direito e Chefe de Polícia
da Comarca de Vilanova, uma das vítimas, depois, da Fraude do
..
Conego s·1 · ....
1 veira t
Sem ter o que fazer na Côrte, obteve ser nomeado ajudante
-34-

do Bibliotecário da Biblioteca Pública, e, ne-,sc cargo, esteve na


direção da mesma. de 30 de oitubro de 1837 a 5 de no\embro de
1839 Enquanto seus conterràneos se matavam por causa de sua
inYenção nacional. em coisas eleitorais, a Fraude, êle, desocupado,
arranjou emprêgo !
Era dinâmico! AçambarcaYa tudo que lhe rendesse, tudo que
falasse a seus interesses pessoais. Se o Cônego tivesse a coragem
do Príncipe Antioco. que colocou no templo de Jerusalém a es­
tátua de Jupíter Olímpio e criou o culto de 1faózim, em um dos
altares da Igreja. de que era alto dignatário, colocaria o deus Plu­
to, de sua deYoção particular.
Pretendendo residir na Côrte, pegou da velha "Typographia

de Sih·eira" e se Yiu liYre dela. antes que se arruinasse em seu
' poder.
Xão cumprira a alínea em que se obriga,·a a publicar as Leis
da ProYíncia e essa falta. ainda hoje, é tão sensível, que deixa
tontos a incipientes historiógrafos de nossa terra, vítimas. igual­
mente, dele! ...
Arranjou da Assembleia Provincial o Decreto núm. 4, de 7
de março de 1838, que autorizava o Govêrno a compra-la e, logo, no
dia seguinte 8. o Presidente, que era José Eloi Pessoa, ordenou
ao Inspetor da Tesouraria fizesse, legalmente, examinar a Tipo­
grafia Silveira e todos os pertence e, urgente, contratasse com
o Proprietário a venda dela "a vista dos valores e idoneamente
deYidos e seus utensílios e géneros, relacionando tudo e avalian­
do por partes", dando-lhe exata informação em parecer, podendo
enviar-lhe_ o contrato antes de sua aprovação, uma vez que lhe
parecesse conforme os interêsses da Fazenda.
Feito o contrato entre o Inspetor da Tesouraria e o Proprie­
tário, a 11. o Presidente Eloi, a 12, ordenou àquele passasse ao Cô­
nego Silveira a quantia de 4: 400$ e que atendendo, porém, à de­
ficiência em que se achavam os Cofres Públicos, não faria o Inspe­
tor o pagamento à Yista, mas com letras sôbre o Tesouro Público
Nacjonal, a favor do vendedor.
-35 -

Pôsto à·prc,va seu deSJJrcndimcnto. do Cônego, ésse deu o fora


e Eloi, a 20, ordenou ac, rderido Inspetor. que ",·isto não ...e pres­
tar o Cônego Silveira a receber o preço da Tipografia em letras e
porque tives::,e cessado a maior per.úria em que .;.e acha,·a a Cai­
xa Pública, por terem entrado e estarem entrando mais dinheiros
de empréstimos feitos pela Tesouraria", atenta:, as propo=ota.:, de.,:.a,
a comerciantes e a agricultores abastados, pagasse, efetivamente,
em moeda papel a quantia e5tipulada ao referido vendedor, cujo
gesto deselegante ia de encontro a seu incontestável amor à Pro­
víncia e tal quando Sergipe, para manter !>CU equilíbrio adminis­
trativo, tornava dinheiro emprestado, a juros, em mãos de pessoas
que não desfrutavam os proventos auferidos pelo Cônego!
De�de o citado dia 7 (março de 1838), que a Tipografia se
tornara oficial, pois o jovem poeta Oliveira Campos fôra dispen·
sado do cargo de administrador, sendo nomeado para sucede·lo,
ne,.:e mec;mo dia. Bartolomeu José Correia Beija-Flor e o Noticia­
dor Sergipense se transformou em o Correio Sergipense, conti­
nuando com a ementa dos versos de Washington.
As oficinas foram transferidas da rua San-Francisco para o
ConYento do Carmo e, após, para a Praça do Palácio, na velha
Capital
Toda criatura tem, em si, múltiplas personalidades, caracte­
res diversos e ao 11onsenhor Silveira, como a qualquer mortal, o
subconsciente dominava o Ego. Quando se tratava de interêsse
próprio, anormais , olições manifestavam-se de pronto.
'Ê admirável vê·lo quando, ao tempo que se negava vender
fiado, com garantia insuspeitável, sua tipoia gráfica à Província,
seu patriotismo exaltado, seu imenso bairrismo, defendendo as
Iindes fronteiriças de Sergipe contra a mais que trisecular usur·
pação baiana.
Xesse mesmo ano de 1838, a 17 de março, subscre,·eu. como
Presidente da Assemblea Provincial, com os secretários da :\lesa,
Padres José Fernandes de Bulhões e Raimundo de Campos Sil­
veira, uma representação à Câmara temporária, pela mesma Assem-
-36-

blea, a propósito de limites com a Província vizinha, e depois, lá, na


.\ssemblea Geral, como um dos mais ilustres representantes da
Nação, embora como seu suplente, já tendo contra si a indife-
.. rença do primo Comendador Bôto, que fôra seu chefe e ali, na
Cân1ara temporária, era seu colega de bancada, não teve a menor
dúvida de, com a eloquência que lhe era peculiar, defender, ardo­
roso, ao lado daquele, autor do projeto e seu lídimo advogado na
tribuna, os direitos incontestáveis de Sergipe, ambos paralelos
na arte da palavra, em discursos e apartes cheios de beleza e de fé
em pról da Província amada, ambos a enfrentar a fina flor da
bancada baiana, sem· desvantagem cultural, e ambos, por fim, ar­
rancando a gloriosa Lei de 1843, que, jt!sticeira, nos reentregou
a faixa da ribeira do Rio-Real de Baixo, aquem do Tauripe e além
do riacho Saguim, justamente na seção navegável do Rio Real.
que o abaürarna chamava de ütanhü, isto é, em :Nheengatu ou
Abanhenga, a Tupi viva, águas que, rolando sôbre pedras, caem
sôbre outras águas: cachoeira, a que fica em Abadia.
Em 1839, ainda fôra eleito o Cônego Silveira para a 3.ª Legis­
latura ProYincial, biênio 1840-41, e, como dantes, eleito presidente
da �1esa em todas as sessões, acumulando-o, assim, com o de depu­
tado geral.
Em 1840, na Câmara temporária, en1 a memorável sessão de
23 de julho, teve a ventura de fazer parte da Comissão designada
para receber o jovem Pedro II, cuja Maioridade ia ser proclamada.
Da honra insigne, compartilhou sua Província, nossos maiores.
�ão ficou só nisso. Em fevereiro imediato (1841), a Assem­
bleia Provincial designou-o, com os deputados Comendador Bôto,
Cônego José Francisco de Meneses Sobral, Dr. Francisco Alves
de Brito e Cônego Inácio Antônio da Costa Lôbo. para felicitar
0 Imperador por haver assumido o exercício dos poderes tnajes­

tátic os e para assistir à solenidade da sua Coroação, que seria a


23 de maio.
A 15 de março, oficiou o Presidente da ProYíncia ao Inspetor
da Tesouraria, ordenando-lhe entregasse 500$000 a cada um dos
-37-

três membros da Comissão, Dr. Brito e Cônegos Sobral e Lôbo, e,


a 28 de. abril, marcou o mesmo Govêrno a quantia de 2: 000$000 ..
para ajuda de custa de ida e volta aos deputados, Bôto e Silveira.
Havendo sido a Coroação transferida para o dia 18 de julho,
Yoltou aquela Comissão, exceção dos dois deputados gerais.
1-Ial chegados ao Rio, sem prévio aviso a Bôto e aos demais
colegas, naturalmente para tirar todas as vantagens para si, o que
era clara ingratidão, pelo Jornal do Comércio, edição d0t aludido
dia 23 de maio. com que não ignorasse, nem era possível, que a
data fôra transferida, para ser o primeiro, o que é patente, dirigiu
duas manifestações, subscritas só por si, ambas ao Imperador: uma,
em nome do Governo e dos habitantes de Sergipe; outra, em nome
da Câmara de Lagarto 1
Sua ambição, seu egoismo impensado, teve êxito, alcançou o
que quis. No dia da Coroação, foi elevado a Monsenhor com as­
sento na Catedral e na Capela Imperial, foi nomeado Membro
do Conselho de S. M. o Imperador, e, ainda, foi agraciado com a
Comenda da Ordem de Cristo !
Para um outro, tais dignidades serviriam de escada para vôo
maior; mas, para êle, agarrado à Província, de nada servia, antes
perdera tudo, pois Bôto, seu chefe, seu protetor, seu primo e seu >
amigo. lhe dera costas, ressentido com sua manifesta deslealdade
e o faria, com todas aquelas honras, transformar-se em um outro
Eresicton partidário: - o novo Monsenhor teria que devorar as
próprias honrarias num ostracismo sem remissão nem piedade.
Alijaria a êle e a seu protetor, Martins Fontes. Derrubaria a ambos.
l.... Entregaria Lagarto a outro e ao Monsenhor substituiria por seu
sobrinho, Dr. José de Barros Pimentel, mais tarde, na Câmara, o
Rouxinol do Norte, como Epitácio Pessoa, na República, fôra a
Pata tiva.
E Bôt� foi nomeado, então, Presidente da Provinda e se
elegeu e ao sobrinho deputados gerais. Alijara ao Monsenhor,
que, ingénuo, não vira os exemplos de Marcelino de Brito e de Mar­
tin& Fontes ... Contudo, ainda conseguiu a suplência para o biê--
- 38-

nio 1843-44. Nunca trabalhara para mandar! Ao invés de ferrão,


boi, embora do meio. Conseguindo um pouco do que desejasse,
estaYa satisfeito. Trabalhara, ainda, na Assemblea Geral, ao lado
de Bôto.
Eis uma boa das suas:
Em Sergipe, depois da expulsão dos J esuitas, aos quais nada
culturalmente ficámos a dever, com a reforma Subsídio Literário,
de Pombal, mantida por seus sucessores até D. João ,-1 e D I'e'�i''
I. tiYemos as aulas maiores, as do Curso Secundário, como as ca­
deiras de Latim, Filosofia. Retórica, Geometria, Francês, Dese­
nho, História e Geografia ...
Em janeiro de 1830, oito anos antes da culta Baia, teve Ser­
gipe seu Liceu, centralizando tais cadeiras em seu estabelecimento,
no Convento do Carmo, em San-CristoYam.
O Cônego Silveira, cioso de sua querida Estância, arranjou,
em 1835, em nome, a extinção do Liceu, isto é, a descentralização
das cadeiras secundárias aludidas, embora, oficialmente, ficassem
em San-Cristovam e dirigidas pelos mesmos lentes em suas casas,
"como dantes". Isso com a Lei de 29 de janeiro e, nesse mesmo
ano (1835), pela de S de março, conseguiu o Cônego, sem alterar
nada em as de San-Cristovam, as cadeiras secundárias de Filoso­
fia, Retórica e Poética, e Francês na Estância, que já tinha a de
Latim e, por isso é que, em nome, conseguiu a extinção do 1.º Li­
ceu de Sergipe, o qual continuou, como dantes, funcionando no
Convento do Carmo, só se extinguindo, de verdade, em 1839, um
ano depois que se extinguiram (menos a de Latim) as de Estância!
Sergipe era tão adeantado que sua pequena Tipografia Pro­
vincial editorava e em 1843, por exemplo, foi reimpressa nela, em
San-Cristovam, "a bem conceituada Gramática" de Antônio Gen­
til Jbirapitanga Pimentel, que era vendida a $400 o exemplar!
�ão inquirir os meios para obter o fim, eis sua divisa, do Cô­
nego Silveira.
O l.º Liceu de Sergipe viveu, realmente, nove anos, enqua,,to
0 2 °_ criado, oficialmente, a 31 de julho de 1847, pela Lei núm.
..

·- 39 -

200. foi extinto a 28 de abril de 1855, durando, só, oito anos in­
completos, muito menos que o 1. 0, que só desapareceu em conse­
quências das lutas de Santo Amaro, resulta de sua invenção, -
do ilustre Cônego Silveira, a terrivel Fraude eleitoral! ...
Senhores, nesta terra de errados Centenários, tenhamos todos,
os que reahnente investigamos o passado, a coragem de afirmar
de uma vez, já que a História, entre nós, é motivo de tombeirices,
de adulações!
O segundo Liceu de Sergipe só foi criado, oficialmente, a 31
de julho de 1847, pois que só nesse dia é que, por vontade do poder
legislativo. teve tal finalidade e a Lei, que o instituiu, não deixa
a menor dúvida a ninguêm, pois que, só nesse dia, José Francisco
de 1feneses Sobral, Cônego Honorário com assento na Capela
Imperial, Vigário Geral, Oficial da Ordem da Rosa, Cavaleiro da
de Cristo, Deputado à assemblea Legislativa Provincial e Vice-Pre­
sidente, em exercício, da Província, sancionou a Lei núm. 200, de­
cretada pela aludida Assemblea, que dizia expressamente:
"Haverá nesta Capital um Liceu", etc. e o Dr. Cândido Au­
gusto Pereira Franco: em sua Compilação das Leis de Sergipe de
1835 e 1880, bacharel de verdade, por sua ilustração jurídica, disse,
ao anotar essa Lei, abaixo da epigrafe "Liceu,,:
"Autorisa a organizar um Liceu" ...
Se não havia organização, claro é que êle, oficialmente, não
existia.
1fandado organizar pela Lei número 165, de 21 de março de
1846, o Presidente da ProYíncia, que a sancionou, Comendador
Bacharel Antônio Joaquim Alves do Amaral, não quis faze-lo. Po­
rém, sendo êle substituido pelo Presidente Bacharel José Ferreira
Souto, que tomou posse a 30 de oitubro (1846), êsse, valendo-se da
Lei citada, alugou, por 16$000, as antigas salas do 1 .0 Liceu, no Con­
vento do Carmo, e, absurdamente, sem aprovação legal nem au­
torização para faze-lo, elaborou um programa, juntou algumas
c;ideiras e. a 15 de março, inaugurou o 2° . Liceu da Província, dan­
do a Diretoria do mesmo ao lente de Latim padre José Roberto
-
-40-
de Oliveira, e a secretaria ao de Filosofia, padre José Gonçahres
Barroso.
O lente de Retórica, Olímpio Fiuza Munis Barreto, deitou
discurso e o Correio Sergipense, ano X, número 21, de 17, deu
breve notícia da abertura do Liceu, isto é, da segunda fracassada
centralização do Ensino Secundário em Sergipe, que era antiga,
velha !
Verdadeiramente, só depois é que o Presidente Souto enviou
o Programa impresso ao diretor do 2.0 Liceu e êsse acusou o
recebimento de seis exemplares, a 30 de março.
Entretanto, a Assemblea Provincial não se conformou com
essa arbitrariedade, com essa expressão de fôrça do Dr. Souto e
tanto que êsse tendo deixado a administração a 3 de julho ( 1847),
assumindo-a o vice-presidente Cônego Sobral: ela, a mesma As­
semblea, procurou normalizar a situação ilegal do Liceu e assim
é que êsse, oficialmente, foi instituído a 31 de julho (1847), ins­
tituição da tentativa, pela 2.ª vez, da fracassada centralização do
Ensino Secundário em Sergipe, pois que tais Aulas Maiores já
existiam antes do 1. 0 Liceu, quanto mais em 1847, que não é crivel
.
seja levado a sério para festejar-se um centenário de instituição de
Curso Secundário em nossa terra, o que, em 1847, seria muito
triste para a memória de nossos ilustres e dignos antepassados,
merecedores de outro juízo, de outro conceito cultural, se inocente
e para exibições pirotécnicas não fosse a inventiva diminuidora a
nosso lustre intelectual. Digamos os rebuscadores de uma vez :
O 2.0 Liceu, carunchoso, caiu de podre, não merecia crédito muito
antes de 1855.
Matou-o a superioridade de Estância e de Laranjeiras e só
em 1862 se falou na econômica centralização do Ensino Secundário
com Liceu Gratuito ...
E os colégios privados, como, então, se deno1ninavan1 ao�
particulares, de Curso Secundário, principalmente em San-Cristo­
vam, Laranjeiras e Estância?
Porque não esteja, aqui, a fazer a História do Ensino em Ser-
- 41 -

gipe, basta-me citar-vos, de carreira, o do professor Brás Dinis


Vilasboas, fundado em agôsto de 1841, após .sua jubilação de lente
oficial de Latim e de aposentado como Secretário do Governo,
colégio depois transferido de San-Cristovam para Laranjeiras, onde
te, e maior amplitude pelo auxílio do notável poeta e eminente ora­
dor Frei José de Santa Cecília, que, na rival de Estância, banhada
pelo Cotinguiba, aos sopés do pinturesco Bonfim, ensinava "al­
guns preparatorios" e, do ilustre franciscano, dissera, até, alguêm,
nessa ocasião, que deduzia "de suas letras parte dos meios de sua
subsistência".
Ainda em San-Cristovam, o velho mestre anglicista Eusébio
Vanério, lente que foi dos dois Liceus oficiais da Província, auxi­
liado por suas neta e espôsa D.D. Angélica e Olímpia Vanério de
Argolo Castro, à Ladeira San-Miguel, casa número 32, mantinha
ótimo educandário feminino para os Cursos Primário e Secundá­
rio, o qual se rivalizava com o do sexo masculino, "Collegio S. Chris­
tovão", que era dirigido pelo inolvidável tribuno José GonçalYes
Barroso, onde se ensinavam todas as matérias secundárias, inclu­
sive Música e Dança !
De muito, San-Cristovam e Laranjeiras tinham importantes
Companhias Dramáticas de Amadores, artistas inteligentes, sen­
do que Ouvertures de grandes maestros, como de Racine, eram
levadas à ribalta !
Em Estância e Laranjeiras havia imprensa!. ..
Porém,quando, senhores, nos esqueceremos, por um pouco,
de nossos interêsses presentes e futuros, para um olhar sincero
soAbre o passa d o .....
?1
Nisso, de maneira diversa, somos diferentes do Monsenhor
Silveira, que era um ret.rospectivo, pois seu espírito vivia em pe­
rene caleidoscópio de recordações, em exaltada introspecção diri­
gida a mórbidos sentimentos de noblesse oblige, sen1 auto-análise
a seu próprio meio ambiente, à função mesológica, que lhe abal­
coava, naturalmente controlado por fôrças imperiosas, estranhas,
remotas, a aJtaneria fidalga dos Távoras e daí, sem um solar, como
-42-

pêndulo, em ida=> e
seus antepassados, distrair os ócios como um
debruado no or­
venidas, sem residência certa, fechado em copas,
ºO'ulho concro ênito de seu subconscient e esperto em letargias, inte -
.
mentos,
ressantes, merecedoras do estudo de um psicanalista de
A.S.I.
impossivel a um leigo e obscuro, como o presente orador da
a,
Mais uma vez, meus senhores, desculpai a divagação ... latin
de
própria da ênfase de nós, latinos, diria, com graça, nosso José
Patrocínio.
Eis outra dele
Em 1838, pela Lei núm. 10, de 7 de março, foi criado para os
meninos órfãos, só, o "Collegio de Artes Mecânicas", que também
funcionava no Carmo, em salão vizinho aos das "Escolas de Hu­
manidades", - eufemismo com que a lei substituiu o nome Liceu.
Sendo êle extinto no ano seguinte, conseguiu Silveira restau­
ra-lo em 1840, pela Lei núm. 10, de 7 de março, dando-lhe maior
amplitude, escolhendo-lhe para sede o prédio colateral do templo
da Misericórdia.
Aumentou tanto as obrigações do Colégio que êsse se akan­
forou ! ...
Nesse mesmo ano de 1838, obteve o Cônego Silveira assassi­
I nar a primeira Escola Normal que teve Sergipe, a qual foi criada
pela Lei núm. 15, de 20 de março dêsse ano.
Se não teve efeito prático, devemo-lo a êle, Cônego Silveira, o
qual era levado por seu bom coração, quando protegia em nome do
Estado e nunca de sua fazenda particular ... Para tanto. teve a
complacência um pouco desinteressada de seu chefe, primo e ami­
go, o Comendador Bôto.
Ao contrário do que pensou o benemérito Dr · CaA n d'd
.
. .
s
Pere1ra Franco, compilador apressado das Leis de erg1pe d e ·
1 o A ugust o

1 83 5
• •
a 1 880 (....? ), teve vigor, sim! Se assim na-0 f"ora. nao- estaria
.
adedentro figurando na Coleção respectiva !
O pistolão tem sido a desgraça do Brasil · É a sau• va
matreira
que degrada os departamentos administrativos, cim
entando, dia

'
-43-

a dia, o pedestal gigantesco do Culto da Incompetência em nossa


Pátria ?
O Cônego Silveira, protetor e colega do espertalhão Padre J'c­
dro Antônio Bastos, adjetivando a uma lei substantiva, personali­
zando-a, conseguiu, com seu prestígio, absolutista, reacionário, in­
troduzir, na aludida Resolução, um artigo atinente a que dito sacer­
dote fosse ao Rio de Janeiro fazer curso de aplicação por dois anos,
curso abaixo da crítica, mediante a gratificação, - adeantada ...
já se vê-, de 600$000, propina pomposa para o tempo !
Abaixo da crítica. porque as matérias exigidas constavam, tão
só, de - Leitura e escrita; as quatro operações fundamentais so­
bre números inteiros e fracionários, e proporções; princípios de
moral cristã e da religião do Estado; ensaio sôbre sinônimos da
lingua portuguesa, pelo compêndio de D. Frei Francisco de San­
Luís, e Gramática Nacional; noções gerais de Geometria, prática
e teórica ; e elementos de Geografia ! ...
Como se vê, era um programa simplório, accesível aos menos
letrados, que faria rir a nossos quartanistas primários de hoje,
mas que o Cônego achou preciso mandar a Côrte seu colega de há­
bito. que faria pensar mal de sua cultura dêsse, não soubéssemos
pertencer a uma classe por suas letras justamente privilegiada, já
então perdendo terreno para a dos bachareis.
Dando-lhe sua sanção, o comendador Bôto, que, como Yice­
Presidente da Província, estava no exercício da administração
pública, só dois meses depois, talvez por insistência do Cônego Sil­
veira, baixou a seguinte Portaria ao Inspetor da Tesouraria
"O Vice-Presidente da Província em observancia ao Dispo�to
nos artigos 5. 0 e 6. 0 da Lei Provincial de 20 de Março deste anno,
por não haver pessoa apta, e que tenha os requizitos necessarios para
reger a Escola �ormal" - a que leva um grande homem o par­
tidarismo! - "creada pela referida Lei nesta Província ha por
bem autorizar ao Padre Pedro Antonio Bastos para hir ao Rio de
Janeiro aprender as Doutrinas precisas" - que sacerdote iletrado 1
- "ao desempenho daquela profissão na forma da citada Lei, que
-44-

no induzo exemplar a esta acompanha, percebendo para esse fim p a ­


ga pelo cofre da mesma província a gratificação anu�l de seiscentos
mil reis que depois do seu provimento ser-lhe há descontado pe­
las 6.ª partes sendo obrigado a dar-se por prompto nas matérias
analogas em que fixa impreterivel prazo de dous anno.:,, ou antes,
se possivel for, com o onus de remetter a este Governo de tres t:m
tres mezes certidões authenticas de sua frequencia, aplicação, ou
aproveitamento, pena de satisfazer, a indenizar de sua fazenda ao
referido cofre as prestações que com o fito de hum tal Estabeleci­
mento o que lhe forem adiantados. Cumpra-se na forma determi­
nada expedindo-se neste sentido as ordens necessárias neste sen­
tido. Palacio do Go,Terno de Sergipe 18 de �1aio de 1838. Sebastião
Gaspar d'alrneida Bôto".
A 18 de dezembro dêsse ano, sete meses após, o vice-presidente
Bôto oficiou ao Dr. Tomás Xavier Garcia de Almeida, presidente
da Província da Baía, requisitando-lhe expedição de ordens à Te­
souraria desse Província "para por ela se verificar o saque, que
no valor de hum conto e duzentos mil reis, de Ordem desta Pre­
sidência pelo Inspetor respectivo n/esta data se fizera sobre a
dita Tesouraria pêlas "Rendas Provinciais" de Sergipe, arreca­
dadas en1 Baia, "a favor do Padre Pedro Antonio Bastos, afim de
hir instruir-se a Côrte do Rio de Janeiro nas materias precisas para
estabelecer n/esta Capital huma Escola de ensino Normal na forma
ordenada pela Carta de Lei de 20 de 11arço deste anno ''.
Era o dinheiro de todos os dois anos que o padre queria em­
pacotar nos bolsos da batina e ir gozar no Rio, para aprender O que
qualquer iletrado em Sergipe sabia de cor e salteado !
Porém a ?1Iulata Velha, que gostaYa de reter o dinheiro que
Sergipe nela cobraYa de seus dízimos dele. não deu ou,·idos ao
Yice-presidente Bôto e só no ano seguinte. 1839. a 28 <le 1narço, utn
ano depois, o então Pre!:>i<le11te da Província de Sergipe. Dr. Toa­
quim José Pacheco, oficiou ao mesmo presidente da Baia, G ar­
cia de Almeida, prevenindo-o de que a Tesouraria de Sergipe sa­
cara sôbre a da Baia a referida quantia de 1 :200$000, a favor do
-45-

Padre Bastos, agora "por conta dos vinte contos de reí5. que por
Ordem do Thcsouro tem essa Província de fornecer-no� pêlo .:.U­
primento que a Assemblea Geral se dignou dar a esta Pro\TÍncia n .
Recebido dos cobres, voou a ave de arribação para o Rio e em 1841,
dois anos depois, findo o prazo estipulado de seu Curso de Aper-
, feiçoamento - o Curso de Aperfeiçoamento de Sergipe, no Dis­
trito Federal, é, com honrosas excessões, u'a manicaca secular!-,
ao invés de retornar para fazer funcionar a Escola Normal, se dei­
xou ficar, deslumbrado com as festas da Maioridade e, depois, com
as da Coroação e, após gozar tanto, faleceu um ano depois, em
1842, indigestado, de-certo, do entusiasmo cívico da Côrte.
Desprestigiado pelo primo Bôto, que estava outra Yez na ad­
ministração e, dessa, como presidente, resolveu o Monsenhor Sil­
Yeira voltar a Sergipe e juntando os parcos bens do protegido de­
funto.um escravo e três baús de roupas velhas1 foi para Estância.
de onde fez saber ao parente o que tinha em seu poder para indeni­
zar a ProYÍncia, da qual, entretanto, aliás haver sido o protetor e fia­
dor do finado, cobrava a despêsa do transporte do miserá\'el e
irrisório espólio, cuja conta enviara com toda minudênciosidade
de um contador de Sacristia.
Era um batuta o Monsenhor Silveira ! ...
E Bôto, que lhe dera espáduas, despercebido do gesto burguez
e azinhavrado do primo, oficiou, como resposta, a 14 de julho de
1842, ao Juiz dos Feitos da Fazenda Pública, Dr. Francisco Alves
de Brito, Primo afim de ambos:
"Havendo fallecido o Pe. Pedro Ant0 • de Bastos, devedor
a Fazenda Publica da qtia. de um conto e dusentos mil rs., e tendo
apenas deixado um Escravo e tres Baús com facto ja usado, que
hoje se achão na Estância em mão do Senhor Monsenhor Antonio
Fz. da Silveira, que dignou-se traser do Rio de Janeiro, como
consta tudo dos Documentos juntos, cumpre q. Vmcc. faça em­
bargar o dito escr0 . e baús, pª . pios. tramites legais indcmnisar-se
a Fasda., bem como ao mmo. Monsenhor de 50$800 que despen­
deo com o transporte d'estes objetos".
-46-

Sensual - 1 pcrdoi me a raça de Esciton, a quem Ovídio deu


o epiteto de Ambiguus, se lhe!) firo os castos tímpauo) auditi1os.
111as não sei mC'ntir, não receio falar verdade-; sensual, homem­
hon1em, um cerebral completo e 1 como César "um marido de t<-dé.l�
as mulheres", mcnos 1 porém "a mulher de todos os maridos.,, por
que não tinha jeitos de Heliogábalo nem elegância à Oscar \Vyl­
de, eis um caso que bem o caracteriza
Em Estância, nessa ocasião, um amigo dedicado e um bra\ o
brasileiro 1 querendo participar das guerras do Sul do Império, fi­
gura de relêvo que era do Exército 1 teve a ingenuidade de confiar­
lhe a espôsa, senhora linda, e o Monsenhor, um Lovelace elegante,
nas costas do ingênuo heroi, fê-la sua amante e nela houve uma fi­
lha, cuja paternidade não quis assumir, ainda que a infiel o apon­
tasse como tal ! E não foi só êsse caso de sedução do bel9 e ele­
gante Monsenhor da Capela Imperial e Conselheiro do Imperador
D. Pedro II. O ceu de Estância que o diga e o do Rio que o fale!
Sem esperança de acomodar o primo Bôto, retornou ao Rio
o rico gentil-homem, apenas como suplente de Deputado Geral,
certo do ostracismo que o esperava em Sergipe. Contudo, ainda
trabalhou ali e nessa Legislatura.
Na Côrte, pelo menos, faria passear sua elegância e as altas
dignidades de que era portador.
A 30 de maio de 1843, o jovem imperador D. Pedro II casou­
se, por procuração, com D. Teresa Cristina Maria de Bourbon e
das Duas Sicílias, jovem napolitana de 21 anos de idade, filha de
Francisco I e D. :\faria Isabel. Seria outro grande acontecimento
no Rio de Janeiro a chegada da infanta neta de Carlos IV de Espa­
nha, bem como as solenidades das bençãos nupciais na Côrte. O
Brasil inteiro far-se-ia representar em homenágem à futura Mãe
dos Brasileiros. Sergipe, pelo seu Governo, com cinco representan­
tes, e, pelas respectivas Câmaras, com três, cada, esteve presente.
De-feito, o Presidente da Província, Dr. Anselmo Francisco Pereti,
ao l.º de julho dêsse ano ( 1843). escolheu ao Monsenhor Silveira,
aos deputados gerais comendador Bôto e Dr. José de Barros Pi-
-47-

1nentel, que estavam no Rio, e ao major José Trind éi oe Prado e te­


nente�coronel João Gomes de Melo, futuros Barões de Propriá e de
�Iaru1m, que estavam em Sergipe e deviam ir à metropo)e do Im­
pério até princípios de setembro, quando ali se daria as bên­
ções nupciais.
Dessa vez, entretanto, não tomou a peito escrever nada em
seu nome. con10 o fizera dois anos antes, chance que o anulou aoi
olhos de Bôto.
Abastado. bem apessoado, do Conselho do Imperador. alto
dignatário da Igreja com assento na Catedral Metropolitana e na
Capela Imperial. ficou a desfrutar na Côrte seu ostracismo parti­
dário até quando seu amigo e comparsa de elegância, o mais tarde
C onselheiro Zacarias de Gois Vasconcelos, vindo presidir a Pro­
víncia ck Sergipe. deu-lhe oportunidade para retornar à Câmara
acobertando-lhe com o manto da Violência.
Como em 1842, por causa das eleições �rregulares e escanda­
losas� como em 1844, com prejuizo para conservadores e lucro para
o� liberais; por Decreto de 19 de fevereiro de 1849, foi dissolvida
a Câmara temporária. eleita para o quatriênio 1849-52, dando ori­
gem a Re"olução Praieira, em Pernambuco, e a novas denomina­
çõc5 para o::- partidos : Liberal por Lusia e Conservador por Sa­
quarema. sedição extinta pelo presidente da Província de Pernam­
buco e ex de Sergipe, Manuel Vieira Tosta, depois Visconde de Mu­
ritiba, e pelo General José Joaquim Coelho, após Barão da Vitória.
Convocada a Asscmblea para o 1. 0 de janeiro de 1850 por Decre­
to de 22 de feYereiro anterior, foram marcadas as eleições para
deputados gerais, no triênio 1850-52, a 5 de agôsto de 1849.
Apresentaram-se ambos, o Monsenhor Silveira e o Presidente
da Província, Dr. Zacarias de Gois e Va�concelo!=. Tinham cer­
teza que c;eríam derrotados pelos liberais legais ou bôtistas e pelos
conservadores, principalmente nos círculo!-- eleitorais de Laranjei­
ras Pé do Banco (Siriri) e no de Itabaiana. E ê)c, o Monsenhor,
· nt;Jigente raposa, inventou algo que lhes daria vitoria: Duplicata
_
/ eJtitr.,ral, em Itabaiana ! Custou sangue, muitas mortes, mortes
48 -

muitas, - digo-ú cum cntu iasrno, a Sergipe, mormente a então


Vila de Itabaiana, que foi tra11sformada cm um cam de guPrra.
havendo luta� e a:-sa ...�ínio..., cm 1,ltua Igreja M
'. atriz, e e eu ui­
sesse formular um tropo, uma figura de retórica, que não ci qual
seja, mas chamaria a atenção, rcpeteria. JJC�aroso: muitas mortes�
mortes muitas, - embora me recordasse da ob.:,ervação crítica do
genial Tobias Barreto, o mestre dos mestres, a quem me não canso
de citar, observação a Guyau, de quem afirma,·a ",er omente ori­
ginal em crear expressões pomposas e retumbantes, mas de difí­
cil compreensão", como "mythologia sociologica, que podia muito
bem ser trocada, e sem mudar sentido, por uma sociologia mytho­
logica", pois, ··quer de um, quer de outro modo, a parYoice era a
mesma"! ...
Recontinuando com o último invento do 1Ionsenhor Silveira,
invento igual ao da rolha adolfogórdia da Imprensa e ao da Fraude
eleitoral de Lagarto, é que peço licença para reclama-lo para I ta­
baiana, o da duplicata, sendo que os três foram as delícias parti­
dárias, depois, de nossa Pátria !
Pela sanguínia Duplicata eleitoral de Itabaiana, fez-se De­
putado Geral e quase nada trabalhou nessa Legislatura.
Havendo &ido de-balde o pedido à Assemblea Geral. em 1830.
do Conselho Geral da Província, conforme a população, aumento
de sua representação, havendo, em 1835, representado, no mesmo
sentido a Assemblea Provincial, juntando um mapa da popula �ao.
que era de 176.000, sendo 135. 000 livres, sem que fosse atendida.
aliás ainda haver sido dado parecer favorável pela Comissão de
Estatística; havendo sido, depois, feitas, em ,·ão, outras repre$en­
tações; na sessão de 2 de agôsto de 1851, discursou. provando con­
tar Sergipe com 219 . 620 habitantes, sendo 163.693 escravos, e re­
clamou providências à Comissão de Estatística.
Longe, não se esquecia dos seus e, na sessão de 9 de julho do
ano seguinte ( 1852). o Monsenhor foi consolado com un1 projeto
assinado por seus pares Antônio Nunes <le :\guiar, J. J. de Lima
e Silva Sobrinho e J. J. de Oliveira, marcando o soldo mensal de
-49-

,i5$. clC'!-,<k :t data de n·forma n,, 1,osto de Brigadeiro a _{anuel


r 11ilcio ela �ilv<'ira, da <·xtinta L ·• Ljnha. Era um bom parente e ,,
a ru�ta dos cem tos públicos, ninguém o superava !
Scu canto d<.' c1..,,u:, na Cámara t ·mporária, íoí em a e ...sáo
dt 7 de agÔt;lO ( 1852), num disc.ursú de ataque â admíni tração do
prc�idcntc ela Província de Sergipe, José António de OJh•eira e Sil­
"ª· , ulgo J ogé Sabão, adjeti,ando-a de violenta, abu Í\ 2 e de , ' -
tica. ao pas!--o que defendia a Asc:emhlea Pro,·incial, dizendo que
aquele Presidente, sistemático. lhe negava �anção às lei�. quando
Yotadas por dois terços, e concluiu sua brilhante peça oratória apre­
�entando um requerimento, pedindo informaçõe:::- r.esse sentido, o
qual mereceu aproYação de seus pares. contra o , oto do .Mini tiro
da Justiça, presente ao ato.
Longe ele Sergipe. cheio de ilusõe�. ple1�0 de c�1 er� 1 ca, e.
como prova de serviços a seu partido. mandou ,<:: edita�,� ::-e� di,­
curso na União, jornal liberal de Estância. ediçüc:� de -+ t J J e oi­
tubro dêsse aludido ano (1852).
Debalde o fez. Seu ostracismo era fatal. Não tinha vaiimento
próprio. Apoiado em tradiçõe:-- de família. frag-ílimo arrimo. de�­
prevenido ela ingratidão ele beneficiados. não sabendo impor-se nt'm
na Côrte nem na Província, �em a compreensão de que devia ter­
se feito a· unidade de um todo e nunca um coletivo do rebanho de
Panúrgio, clesmoronott-$e e caiu para sempre. que é o fim de todo
, aidoso, menos prevenido que um pobre caracol, o qual. como
Bias. trás nas costa�. - omnia mec� porto-. sua bolsa. sua auto­
suficiência ...
Nada valeram seus esforços. na Côrte. em defe�a do partido
Liberal, o legal ou bôtista, pois que procura\'a. pe�ar de tanto me­
nospreço do primo e antigo chefe. agradar a Bôto. fican<lo con­
tra os dissidentes liberais !
De nada valeram seus argumentos erwiados para a União,
folha bôtista, apelidada de União Rotina!
Tudo era de-balde, mesmo os xingamentos de jornais adYer­
sários, entre os quais A Voz da Ruio, editado na "Typographia


- 50 --

Constitucional", em Laranjeiras, à rua Direita da Conceição, núm.


832, e dirigido por A. �. Aires de Sou�a, o qual defendia ao Go­
verno e ao Barão de 1faruim, atacando, de rijo, ao �fonsenhor e a
Bôto.
Semp re ! Se é um Yocábulo que a poc..,ia torna ideal, sonhadora
realidade que se entremostra em miragem, também é epinício,
marcha fúnebre. passo grave de dolorosa angústia ante o Princípio
do Fim !. ..
O do 11onsenhor Silveira sossobraria no !:leio do Fracasso.
Ressurreto 11eleagro do partidarismo aldeão, antes de apa­
gar-se o tição que lhe alimentava a Yida política. contern1>iou a
Bôto. enodoado pela calúnia infamante de mandatário do asa�ssínio
do Dr. Manuel Joaquim Fernandes de Barros, atirado no ostracis­
mo como êle, bem como a ?\fartins Fontes, liquidado, falido.
morto ...
Tendo estado em Sergipe no fim do ano de 1852 e algo de
1853, andou envolvido na Estância em escabrosidade com uma pri­
ma distante, senhora casada, de quem, de retôrno ao Rio, teve sau­
dade e a isso eu já me referi em meu livro Tobias Barreto, o Des­
conhecido à págs. 162, em uma carta que o mesmo �Ionsenhor.
em nome do Homem da Natureza (Antônio 11unis de Sousa), dada
do Rio e datada de 3 de Julho de 1854, fez ao irmão dêsse, Tenente­
Coronel Salvador de Gois e Sousa. residente na então Yila de Cam­
pos, carta vinda por intermédio do Tenente Manuel Barbosa Fran­
co Freire, comerciante em Esf.õ"\icia e irmão de uma professora de
Campos, a qual era a confidente do �Ionsenhor com a prima D.
1faria, então casada com um comerciante estanciano, �Ianuel Joa­
quim de Andrade, de quem depois ficou viúva e se casou com
ilustre magistrado na Província ...
Era um dos TáYoras e a libído que os perdeu vivia nele, pal­
pitava-lhe forte, a assemelhar-lhe a batina com as saias de D. Maria
de Távora da Silveira. a ex-freira �lorgada de Angra dos Reis,
espôsa do Cônego Antônio Pereira Sarmento. ou com as de D.
Teresa de Távora de Lorena, a amante de D. José I, de Portugal!


- 51 -
"Quem se julgar livre de culpa, atire-lh
. e a primeira pedra",
repito as palavras con1pree11sivas de extrema ben
emerência do DiYi­
no Mestre contra os fariseus, que queriam apedrejar Adú
a ltera e me
lembro da freira Joana de la Cruz, grande poetisa mex
icana do
Século XVII, que se tinha razão em· reprochar aos que
compra­
vam um a1nor para vício, nada disse, porém, quanto aos que, como
nosso ho1nenageado, amam porque são feitos de carne e não de ferro
,
co1no se defendia o Bossu@t brasileiro, o mimoso poeta franciscano
Frei Santa Rita Bastos.
Perguntava a angelical Espôsa de Jesus:

"Cual será mas de culpar,


a un que cualquiera n1al baga;
la que peca por la paga
o el que paga por pecar?" '
Habitando en1 casa de seu amigo o H o mem da Natureza, na
chácara Santa Rosa, em Nitero i, teve saudades de Sergipe, de seu
engenho de açúcar entregue a feitor de sua confiança.
Era o engenho Panelas, que êle denomino u Santa Cruz, que
comprara, dep ois de sua queda política, ao B rigadeiro Manuel
Inácio da S i lveira.
Dita co mpra fo i efetuada depo is de no vembro de 1845, pois
que, no Correio Sergipense de 19 dêsse mês e ano, estava o mes1110
expôsto à venda.
Em Estância. a 3 de julho de 1856, deu o Mo nsenhor Silveira
a reaist
b ro territorial dito engenho, que adquirira daquele e de sua
espôsa, D. Maria Josefa da Silveira, então do Município de Est�n-
cia e hoje da de Arauá, antiga Parida. Estava assentada a proprie­
dade em terra� compradas pelo Sargento-m or Vicente Fernandes
da Cunha e Vas-
da Silvei ra, a 6 de janeiro de 1781, a Lourenço
a a la rgura do ria-
conceJ os e Sua mulher D · Maria Perpétua. Tinh .
até à Lagoa d o Cam po, cham ada Lago a da Pan< la
eh o <los ap
T Ul·05 . , ,
CfJm me1a · Je'gua de fundo para o norte do no Aragua (Araua) �
'\

- 52-

dessa Lagoa da Parida quinhentas braças de largura até encontrar


com as terras pertencentes ao engenho dos Passos, que fôra antes
ycndido pelo mesmo Sargento-mor Vicente Fernandes da Silveira
e sua mulher ao Capitão-mor l\1anuel Francisco da Cruz Lima, e,
pela parte do sul, a encontrar com as Canas Bravas até tocar às
cem braças vendidas pelo Coronel 11anuel Inácio e sua mulher.
sendo que, pelo poente, se dividia no Campo Redondo, com ter­
ras que foram de Antô_nio Francisco dos Santos com a largura de
trezentas braças até à sobredita lagoa d� Parida.
Como se vê, sua propriedade era rica de terras, mas parece
que a vida agrícola não tinha atrativos para si, se bem que se ti­
vesse inoculado do vírus da Natureza, influenciado pelo grande
amigo, Antônio Munis de Sousa, que faleceu no ano seguinte,
1857, a 17 de setembro, o que lhe fez ir ao Rio de Janeiro. Que
saiba eu, foi a única pessoa, em sua presente vitalidade, a quem
dedicou desinteressada amizade pessoal, oriunda da vocação de
ambos para as riquezas do subsolo, para as ciências naturais.
Na Côrte, certo de haver descoberto u'a mina de prata, pos­
sivelmente as famosas e ambulatórias mais conhecidas por Minas
de Prata de Itabaiana, a "soberba chronologia de pedra, áaquela
formidavel massa de granito, em tôrno da qual durante mais de
um século", ao ver de nosso ilustre patrício Costa Filho, "girou
o sonho deslumbrador das Minas de Prata, amaravilhosa ilusão
que, segundo o sabio geografo Perschel, foi a causa do povoamento
da América", na Corte, - reitero -, elidido o pranto e findas as
lides com as disposições testamentárj,as do ,sábio sergipano, das
quais foi um dos melhores contemplados, enviou un1a pedra para
o laboratório do Tesouro Público e, do exame, ficou comprovado
que não era prata, ma� silícia, magnésia e, principalmente, ferro.
. _
Des1Iud1do da argentea adiça, seu alvorôço não foi menor:
teria ferro para as estradas dos Estados do centro do País ! o sonho
do Marquez de Abrantes, o ideal dos 1·rma-os Te·1xe1ra · L e1·t e, a
. .
realidade do futuro Visc onde de Mauá e a acentuação de D. Pedro
II com sua quase concluída, então, Central do Bra ·1
st , so• ab ert a ao

..
- 53

tráfego, de Quei111ados a Belén1, a 8 de novembro de 1858, tudo


isso fez que o Monsenhor Silveira, nesse tnesmo ano de 1858, a
26 de junho, em circunstânciado ofício, possivelmente a conselho
do Imperador, a quem oferecera rica coleção de cristais, dirigido
ao Ministro do Império, forcejasse para que o me�mo se intere;:,­
sasse por ela. que daria os trilhos para a viação férrea, caminho
da riqueza e da civilização nacional.
Falava-lhe de um rio subterrâneo perto <la Vila de Simão Dias
de lagedo n1armóreo, não olvidando o café, nem o morro dos cris­
tais. Era a furna !
Eis sua interessante epístola ao Ministro e Secretário <le E::.­
tado nos X egócios do Império, o Marquez de Olinda, o mesmo
�linistro que tanto auxiliou ao Imperador na construção da fu­
tura Estrada de Ferro D. Pedro II, nome que substituiria a pri­
nüti, a Central do Brasil, procurando interessa-lo no assunto. Ei­
la, a cópia de sua epístola :
''Ilm. e Exm. Sr. - Quando vejo a solicitude com que V. Ex.
procura desenvolver, e tornar uteis e interessantes os productos
do paiz, não posso deixar de levar ao conhecimento de V. Ex. o
haver eu de::.coberto uma mina inexgotavel de metal, que contem
a pedra que tenho a honra de offerecer a V. Ex .., que à primeira
,·ista, pareceu-me conter prata, desconfiando por isso, não fosse
a mesma que o Muribeca fôra offerecer ao Rei de Portugal, porém
$ujeitando-a ao exame do Sr. Dr. Gabriel Militão de V. N. :IYlacha­
do. no laboratório do Thesouro Publico, apenas produziu 35 por
% de ierro, magnesia, e alguma silicia, como verá V. Ex. das car­
tas que me dirgiu o mesmo Dr. e amostras a que se referem.
�ão creio desvantajoso ao lmperio semelhante descoberta pela
necessidade de abundancia de ferro para ser empregado em e::;tra­
das que facilitam a comunicação rapida entre as provincias do
centro, e mais. fortificam-me as idéas à respeito, quando a mina
que indico, µode ser trabalhada sem grande custo, ficando distan­
te dü Porto do mar seis legoas, que se podem fazer pela navegação
de cscaleres, e canoas até a chegada da mina.
- 54 -

Devo, igualmente, chamar attenção de V. Ex. sobre o rio sub­


terraneo junto à villa de Simão Dias (província de Sergipe) lugar
onde a falta d'agua potavel em estação propria obriga a seus ha­
bitantes a procura-la em distancia de mais de duas leguas, quando
por meio de uma fonte artesiana aberta sobre o lagedo, que se tem
como marmore, em pequena distancia daria com o rio de que faço
menção, o qual tem de profundidade 22 braças, e 18 a chegar a
este descendo-se pela abertura do alto do monte, que �e julga pro­
duzida pbr algum antigo vulcão.
As aguas deste rio são crystalinas, pouco dista da villa, que
com este grande beneficio se tornaria em breve opulenta, pelo seu
commercio com os sertões da Bahia, e Pernambuco; pela lavoura,
especialmente do café, que produz com abundancia, e de uma qua­
lidade que assemelha-se no cheiro, e gosto com o de móca.
A falta, pois, de tempo, e dos meios privam-me de fazer �·1tras
pesquizas uteis e aproveitaveis no paiz, especialmente no morro
dos crystais, onde colhi uma curiosa colleção de pequenas pedras,
que tiYe a honra de offerecer a S. M. o Imperador. Se pois V. Ex.
considerar aproveitaveis as minhas pesquizas, e quizer verifical­
as, digne-se escolher uma pessoa completamente habilitada para ir
examinar os objectos que refiro, e neste cazo me offereço para com
auctorisação de V. Ex. guial-a a indicar os lugares onde existem.
Deus guarde a V. Ex. por muitos annos. Rio de Janeiro, 26 de
junho de 1858 - Ilm. e Exm. Sr.. Marquez D'Olinda, Ministro e
Secretario d'Estado dos Negocios do Imperio - Monsenhor An­
tonio F ernan<les da Silveira".
Atirado no ostracismo partidário, porque se não soubera man­
ter nas posições e, depois, pela queda de sua grei, o partido Libe­
ral: retotnado dos velhos gostos geórgicos de mineralogista por
influência do sabio Homem da Natureza, ludâmbulo impenitente.
sibarita bandeirante da chácara Santa Rosa, em Niteroi, interes­
sante é que lhe não sobrava tempo, que só o teria, para outras in­
teressantes descobertas, se o Ministro lhe desse os respectivos
meios, que era o clímax de suas aspirações ! Porém O Marquez de
- 55 -

Olin<la, preocupado com problemas outros de sua pasta, não aten­


deu ao colega do Conselho do Imperador ! Os problemas partidá­
rios eram de maior n1onta ao estadista brasileiro, enquanto o :\fon­
senhor, tornado mineralogista bandeirante, mais modesto que o
sertanista colonial das pratas, que pretendia o título de :\farquez
das Minas, esperava, de-balde, nas antecâmaras do :\Iínístério, que
Pedro de Araujo Lin1a o atendesse. Mas o Marquez não o atendeu.
porque íoi substituído no ano seguinte, 1859, no �linistérío, pelo
Conselheiro João de Almeida Pereira Filho. cujo pai fôra um gran­
de bandeirante, um devastador de sertões.
O nóvel Ministro, entretanto, mal tinha tempo de arrumar as
próprias bagagens para acompanhar às Suas �·1ajestades na Yisita
imperial às Províncias do Norte, entre as quais, a de Sergipe.
Numa ironia atroz da sorte do Monsenhor Silveira, enquanto,
nesse mesmo ano de 1859, o Imperador, possivelmente esquecido
de seu Conselheiro e alto dignatário da Capela Imperial. mesmo de •
,.--, seu valioso cimélio presente, a coleção de cristais, com sua jovem
espôs�, com seu Ministro e Secret�rio, que, talYez, nem tivesse lido
o ofício de 26 de junho de 1858, dirigido pelo Monsenhor a seu
antecessor de pasta, vinha a Sergipe, onde até se demorou bastan­
te, o notável sergipano, tornado mineralogista depois do fracasso
partidário, se deixou ficar na Côrte: preso a sua esperança de êxito,
de mãos enclavinhadas, a esp_era do t1ltimo jôgo, sem a responsabi­
lidade consciente de agir por si mesmo !
De-feito, Suas Niajestades e seu Ministro, além da respectiva
Comitiva, estiveratn, de 13 a 24 de oitubro, no Baixo-San-Francisco,
em visita às localidades de Sergipe e Alagoas, até à Cachoeira de
Paulo Afonso, e no ano seguinte, 1860, de 11 a 21 de janeiro. cm
Sergipe, no meio ele festas soleníssimas e entusiásticas. sendo que
a última localidade visitada, de 19 a 21, foi Estância, onde a raça
de Enteados, sobresaindo-se o baiano coronel Francisco José 1Iar­
tins, fez brilhantíssima figura, já que o filho de l\farãu estava longe
no Rio de Janeiro, para representa-la, e D. Pedro tanto se enamo­
rou dessa Cornélia madrasta que a chamou de Jardim de Sergipe
• -56-

e tanto dos Lotófagos, os filhos, e dos Enteados dela que, entre os


mesmos, como o fizera na Baia, criou o Imperial Instituto <le
.\gricultura Sergipano, a 20, véspera de sua partida.
Enquanto tudo isso em Estância, sede ambulatória do Palá­
cio Imperial, o grande estanciano, lá1 no Rio de Janeiro, se deixava
ficar, tristemente apreensiYo, com o cérebro ardente de ideas mega­
lómanas e o já sexagenário nlfonsenhor Silveira, sombra daquele jo­
Yem prestigioso político, ainda que sempre elegante e belo, belo de­
mais para ser padre, ainda forcejando por apresentar-se, por chamar
a atenção dos poderes públicos para suas minas de ferro, para o rio
sub-terrâneo, para a fonte artesiana de Simão Dias com seu café
adoráYel com sabor de :Móca, para seus cristais, para seus már­
mores. daYa lume, no mesmo instante que Suas Majestades e o
Ministro e Secretário do Império estavam em Sergipe, possivelmen­
te na Estância, em a Revista do Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico do Brasil, do 1. 0 trimestre dêsse ano de 1860, em o
tomo XXIII, a laudas 129-30, àquela velada petição, assim epi-
grafada :
"Copia d'um officio do Illm. e Rev. Sr. Monsenhor Antonio
Frnandes da Silveira sobre a existencia de preciosas minas de
e

ferro e d'um rio subterraneo na província de Sergipe".


Compreendeu a indiferença dos homens de sua Pátria, com­
penetrou-se de sua queda, de que rolara demasiadamente e fôra tra­
gado pelo revôlto pelago do Fracasso e teve pudor da absoluta
falta de sequência de sua vitalidade. Nunca soube aliar O Dever
à Ação e daí sua cruel inadaptação ao ciclo hominal ! ...
Voltou a Sergipe e com aquele orgulho indomáve l dos Tá­
voras, antes que os beneficiados e os amigos dos dias venturosos
procurassem esquivar-se de sua presença, deu-lhes espáduas, se­
parando-se deles, mas não foi muito longe de seu Sergipe, em um
lugar onde sentisse seu contacto, lugar onde não fosse importunado
com a fala de falsas solidariedades em seu insulamento, onde podia
viver de suas imensas saudades, de suas amargas recordações.
- 57

Não o fez, em absoluto, como Scipião, o Africano: "Pátria


ingrata. não possuirás meus ossos !". Não tinha razões para fazer
isso com Sergipe, que não era culpado da cafagt:,tada de indivíduo::>
solidários do Exito, exploradores sombras de dias bonançosos.
Queria descansar, fugir do bulício humano. Ia para onde �e
não fizesse lembrado e onde podesse esquecer o passado. Insulou­
se na vila de Itapicuru, à margem esquerda do rio de �eu nome, �
onde, certamente, estavam suas minas de ferro. Como Fernão Dias
Pais Leme entre suas esmeraldas, quis êle morrer entre seu te�ouro
desprezado.
Ficaria ali, a espera ... Sim. esperaria a grande madre con::-o­
ladora, augusta e clemente, que lhe viesse fechar os olhos cau�a­
dos, os lábios por onde. tantas ,·ezes, extravasara eloquência, e a
acalmar-lhe o coração enevoado de suprema dor, de íntima� �au­
dades, de mágoas atrozes e, é possível, de tardios arrependimen­
tos. Expiraria entre riquezas, nas adiças inexploradas, tendo como
travesseiro seu Segredo.
E Ela, Vênus Libitina, deusa comum do Amor e dos Sepul­
cros, maternal e doce, carinho$a e pura, lhana e solaz, lhe acor­
reu ao apêlo na Paróquia de Nossa Senhora de Nazareth do Ita­
picuru de Cima, a urna légua de Missão da Saúde, dando-lhe o lar­
go e amplo colo para o descanso eterno da leonina cabeça de sonha­
dor, pesada de inquietitudes dêste mundo enganoso.
Deidade da Paz perene, Ela lhe refundaria a cinestesia má,
fechar-lhe-ia o ciclo de Homem, seu evo, seu avatar telúrico.
Fôra satisfeito, completamente, em seus desejos e essa vez
foi. indubitável, a única de completo êxito.
Ocorreu seu trespasse a 30 de janeiro de 1862, como um jus­
to, cheio das baldas próprias à pobre humanidade, guardando seu
grande Segredo !
E não fôra o falecimento, a 8 de fevereiro dêste mesmo ano,
em Santa Lusia, do benquisto Tenente-Coronel Paulo de Sousa
Yieira, que deu motivo a Pedro de Calazans escerever sôbre êsse
um belo artigo e ao jornal noticiar o último passamento, aprovei-
-58-

tando, é possível, a ocasião para registrar o do �fonsenhor, talvez


que não o fizesse e, assim como se não sabe, ao certo, a data de seu
nascimento, igualmente se ignoraria a de seu óbito e, o que seria
pior, até o lugar em que o mesmo ocorrera f
Seria mais uma tristeza para nós, para nossa História, plena
delas, e um eterno labeu para a Imprensa de Sergipe, da qual foi
o fundador.
Entretanto, graças ao cantor de "Ophenisia", em colura co­
mum, a 2.ª da 2.ªpágina da edição núm. 18, ano XXV, de 5 de maio
de 1862, sôbre a epígrafe "Fallecimentos", registrou-o, três meses
depois, o jornal de sua fundação, Correio Sergipense, o antigo No­
ticiador Sergipense e, antes, Recopilador Sergipano. Quanta iro­
nia, Senhor dos Ceus !
Fê-Ia um anônimo, a notícia, o qual mostrou have-lo conheci­
do e para a qual chamo vossa atenção. Ei-la:
"No dia 30 de janeiro próximo passado falleceo na vila de
Jtapicurú, província da Bahia, e sepultou-se na Missão da Saude, o
Monsenhor Antonio Fernandes da Silveira, distinto filho d'esta
província, e seu representante na Camara quatrienal em diversas
legislaturas. Seu passamento, deYe ser bem sensíve l para seus pa­
rentes, e amigos, e em geral para todo" os que conheciam a do­
cilidade de seu coração, e placidez de seu animo.
Não poucos serviços fez êle a esta província, e a muitog de
seus patrícios, quando na cupula da grandeza, e rodeado de affei­
ções e prestigio podia fazer favores.
Hoje!!!. . . que o nobre finado havia experimentalmente coa
nhecido quanto ephemeras e inconstantes são taes grandezas e
prestigio! !! ... Hoje! ... que prefirio o retiro e obscuridade ao bu­
lício e influencia da vida política ! . . . Hoje 1. • • nem um suffra­
gio... , nem uma lagrima sequer por seu passamento? 1 ••• • •
.. .. . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Que notícia breve, mas expressiva ! Parece até psicografada, di­
tada, irónicamente, pelo ilustre morto ! Sente-se, nas entreHnhu.,
59 -

naquelas reiteradas reticencia� admirativas, e a úiuma me:):no,


interrogativa, que foi inspirada, como qut surdindo da!) mais re­
motas faculdades do espírito queixoso, em soluços cortantes de
uma curta nênia. a fazer-se justiça em reproche con·,·incente, •,er­
dadeiro !
Xão se tratará de re!:>umida lauda introspectiYa apÓ::,-morte: 1 ••
�1al o Correio Sergipense, edição de 5 de maio de 1862, noticiàra
�eu trespasse, nesse mesmo mês, na Côrte, seu feliz antigo amigo
Zacarias de Gois e \-asconcelos subia ao poder: a 24 ,para cair a
?:l, como presidente do Conselho do �finistério dos Três Dias,
êsse Zacarias altiYo e elegante que, na vida política só uma vez
tivera um orientador, que foi nosso homenageado em as eleições
de 1849 e isso parece que foi outra ironia no destino do 1fonsenhor
Sib:eira, que chegara a influir tanto sôbre aquele estadista futuro,
do qual Constâncio Alves afirmara que "nasceu com tendencias
para ser superior, mesmo entre os seus eguaes" e "a opinião que
formava dos seus merecimentos não lhe consentia outro Jogar se­
não acima ou na frente ou como chefe ou como mestre".
Porém, sem o talhe enérgico dêsse, na placidez de sibari­
tismo político contraproducente,o ilustre sergipano se não soube
impor-se como chefe na Província, deixando-se acomodar como
satélite dos outros, quanto mais na Côrte do bom católico Pedro
II (pelo menos exteriormente), onde se poderia ter impôsto ou
como padre, angariando titulo maior, ou como ministro de qual­
quer pasta, pois tinha talentos para isso.
Ainda nesse mesmo ano de 1862, na Capital da Província, Ara­
caju, reuniram-se ilustres homens de letras, no dia 16 de julho, e
suplicaram ao Governo auxílio para a fundação do Liceu Gratui�o,
denominado "Lyceo Sergipano", que seria o terceiro de Sergipe.
Foi marcado o dia 7 de setembro para sua abertura, o que não hou­
• ve lugar pelo aparecimento de moléstias endêmicas, etc. Só três
anos após, em 1865, pela Lei de 20 de julho, em virtude do fracasso
do 3.º Liceu em 1864, no ano anterior, foram criadas, em Aracaju,
cadeiras secundárias, que serviriam, em 1871, para o "Ateneu Ser-
-60-

gipense'' .. Só em 1866, pela Lei de 17 de março, onze anos depois que


perdera a categoria de Capital, San-Cristovam teve a ventura de
criação de um Liceu e internato, tambêm fracassado e para sempre
nas terras do Paramopama.
Mistérios da vida humana 1 .••
Ubi veritas?·! Que haverá de verdade em todos ésses mis-
térios?!. . . Que será, mesmo, a Verdade?! Quando sairá homem
vitorioso no combate de sua personalidade adquerida sôbre a con­
gênita?!
E dele, do notável Monsenhor Silveira, após êste exaustivo
estudo massudo e sem Yalimento, mas que foi o que melhor pude
elaborar e que, de todo coração, dedico e consagro a meu preclaro
confrade e velho camarada Eliéser Leopoldino; e dele, do Monse­
nhor Silveira, - repito -, dêsse acêrvo de complexos formadores
de seu evo, de seu avatar de 1795 ( ?) a 1862, que nos dirá a Psicopa­
tologia?! Oh! êle foi a avidez e La Rochefoucauld dizia que "as
virtudes perdem-se no interêsse como os rios no mar".
Esta,·a nas artérias, na massa do sangue, sangue hereditário
dos Távoras, transmitido, geração a geração, ainda que contra a
opinião de cientistas de nomeada, por óvulos remotos, dominan­
tes em os diferentes cruzamentos genealógicos, em diretrizes exa­
tas, retilíneas, toda a resulta complexa de seu Ego, Eu multiplo,
contraditório nos impulsos refletidos em seus atos, em seus hábi­
tos, uns e outros adicionados no limbo de indecisões. apareda.dos nos
aspeitos estranhos de sua conduta, de seu comportamento, de sua
personalidade inconfundivel de aristocrata de raça, dominada, sem­
pre e sempre, pelo Pretérito!
Adejava-se o avatar de Monsenhor Silveira à sombra da co­
puda árvore dos antepassados, mesmo dos que, pela perseguição
pombalina, se aburguezaram no Brasil, sôbe o cognome de Nolete, •
máscara, pseudônimo dos Távoras.
O que parece certo, entretanto, se é que a certeza se pode con­
ceber, o que me faz pensar; o que parece certo, entretanto, é a
eterna interrogação, resultante da hór rida mistura de dispares co-
-61 -

moções do cicJo do emincnté bra�ileiro, do simpático !l.trgipano,


dentre as fôrças motrizes desordenada� de estatismo e dinamismos
de atraçã o e repulsão, cruciantes de mórbida acuidade, em que o
Monsenhor se torturava para resolver os próprios problemas, que
êle mesmo embaralhava, desfazendo-os, sem propósito, ao passo
que os construia, tal qual Penélope em sua obra, sua teia, a des­
fazer de noite o que bordara de dia !
Nunca, na vitalidade agitada, dera leve sinal de contro­
l_ãr-se na realidade material das circunstâncias, que se lhe anteo­
lhassem e que êle poderia alcançar, estava em suas mãos, mãos que
não sabia abrir para os altos misteres, mãos fortes só para coisinhas
de pouca monta provinciana, enclavinhadas, sempre, contra o Fu­
turo e, pois, contra a Ordem.
Sua sobranceria a pequeninas coisas, seu lema vital - Absit
Invidia, sua liberalidade espiritual intocada
_ de qualquer laivo
de azedumes, de rancores, de resentimentos, que nada, - é inte­
ressante -, sabia a seu estado mórbido e sintomático, tudo isso me
faz inquerir, senhores, que diria, em última análise, a êsse agrupa­
mento de complexos, a Psicopatologia?!
Recordo-me, agora, de uma outra passagem interessante de
nosso homenageado. Foi da vez que se lembrou que era sacer­
dote e isso afora as em que foi Cônego e Monsenhor. Havendo, em
1843, o deputado A. Azevedo, em sessão da Assemblea Geral, ata­
cado o clero, como principal fator do atrazo nacional, escutou-o, pa­
ciente, nosso homenageado e, em seguida, na sessão de 6 de maio,
com o brilhantismo que lhe era inato, defendeu sua classe, embora
reconhecesse nela haver muitos membros de "orelha-redonda", ao
passo que atacou, com exceções, a dos bachareis, representada por
certos magistrados, verdadeiras calamidades para o progresso do
Brasil e o disse com aquele bom humor, que se não separava de
seu espírito compreensivo, ainda que aferrado na superioridade tabu
de tradição familiar.
Estonteia o Monsenhor Silveira a quem percorra, em suas
pegadas, em seu rastro, o itinerário incerto, serpenteante; a quem
-- 62 -

o encare de perto, f are a face. contcmpla.11<lo·lha!,, as mutações


tr�11�Ct'1Hlc11tai� do c:--pírito, ou melhor, de �tta J>l'r:-.<malidade e de
�cu comportamento. isto é, seu todo estático e dinâmico!
Pnr mim. ape11as pre�umo haver-lhe visto como o <k�cre, í,
p�icostático e psicodinâmico ...
Elegante, nunca foi um esteta ! Cubiçoso <le glória::; e <le di­
nheiro. nunca soube o que fôsse l\Iatemática ! ...
Só o esteta sahe o valor cromático da maga ciência das gran­
dezas, resumo de Todo Infinito, que se manifesta nas cadências
sinfônicas do equilíbrio metódico do orbe material !
Pode ser falha minha opinião, meus senhores, mas o que fal­
tou ao Monsenhor Silveira e que. por isso, fracassou e que sua ex­
trema vaidade não consentiu se apercebesse, foi aquilo que rege to-
4as as coisas universais, a única Lei irrevogável: - Ordem!
Esqueçamos, porém, tudo isso, todas essas considerações fi­
Ji-óficas, ante sua tumba, protegida pela sombra de Harpócrate, o
deus do Silêncio.

*
* •

Seleto auditório
Humano, caketa de Deus, nosso homenageado, sejam quais
fossem seus erros, se êrro se pode chamar àquilo que se nos afi­
gure como tal. aliás compensados pelo contrário, que chamamos
acêrtos, isto é, virtudes, foi um sergipano de demarcado valor, um
brasileiro notável que honrou. sobremodo, a Sergipe e, afnda hoje,
como fundador da Imprensa na Província, principalmente, iverece
nossa entusiástica homenagem.
O Destino, - reza o Corão, a biblia maometana -, é unt pás­
pro invizível, preso a nosso pescoço ...

-63-

Assim, contemplando a larga trajectória vital, plena de au­


rifulgências e de sombras, do Monsenhor Silveira, declamo babci­
nho, para meus botões, a quadra popular de observação filosófica
certa, exatíssima:

"Ninguêm se julgue feliz,


por viver em bom estado ;
pois Yem a sorte infeliz,
faz do feliz desgraçado".
BIBLIOGRAFIA
(Poesia lida por seu ou:c..r, :, .ni;,,otcr de Ensino professor
Sebrão, sobrinho, à tarde de 12 de oitubro d'J 1937, n-:,
cidade de Estância, ao pé do hermo do Monsenhcr �iJ.
v,..lro, por ocosiõo do passeata cívko, q ie crganizo­
com o Grupo EscolOT "Gumercindo &sso". no iníd-o de
Semana do Criança, em o dia da Descoberta do Arnéric,:,J.

Avé, EJtância!

Pedro Homem da Costa, o navegante audacioso,


Capitão de �lar e Guerra, um português brioso,
que veio a Serigi com Cristovam de Barros,
nas lutas da Conquista a nossos Abaís zarros;
houve por bem fundar-te,
com a família povoar-te,
deYeras en1eiado ante a suave fragrância
de teu Ceu sempre azul, de teu Yergel sereno,
de teus bosques tafuis, teu clima sempre ameno,
ó índia tupinambá, encantadora Estância !

Um dia o ilhéu preeiro, o pirata de Açores,


jardineiro do Mar, quis vêr, da Terra, as flores,
no Jardim de Sergipe, à taba de Marãt\,
a cabocla gentil de corpo lindo e nu 1
-61-

arr
1a a e pr 1e 1d I t
arquitetou templo crtdio.
mar o de t\ 1hza o,
aum ,,bado fchz, dczcno" e de ,unho,
mil 1eiacento1 e trinta e dois, - 4a H I i o ,�-�.i.U:iü
cloaado-a l No11a Senhora, a pátria, Sanu 1mad:a
edrou, 1oberbamcntc, o mágico roul.
IIU tolo erudiu o primeiro Jornal. -
- celeiro de talentos
e, cm todos o intentos,
ela Cultura, atravéa, da Indústria e do Com&cio,
releva, alto, a Sergipe e o faz sem petulioaa,
num trabalho eficaz, de intehgcncs.a c.irrcc:o.
pr6prio do povo bom da rutilant� � tin aa

Eia Monsenhor Silveira, o fundador da lmprawa


com o Recopllador Ser&ipano, o que: 1n1
01 manes Calazans, todo Gome: de .Jl6u .....
Cardoaos, Gumersindo, o h,ro, o
Naacimentos, Martin • abu ,
01 Aboina, Salomlo, Conrado, D u,nno.
Silveira,, Dantas, Sás, Azc" t:do , Este,
maia Leopoldo Amaral e a um cena ulo que
no cora'-:.º dr rgi1�
de no o br �. "stirpe:
naa lx\aa-lctra ou na arma • cm ja tincia.
deatimida, lirial, demarcada na Hi 6ria,
aureolada e modesta, cn mbrada de Glória.,.
olenta, ao aul do E tado, a inf6n�a Estlnc.a l

-69-

Como ermida, Francisco Almeida Branco, aqui ,


em setecentos e cincoenta e nove, criou
sede da Freguesia e a aldeiola ensombrou
Santa Lusia da Vila Rea] do Piangui !

Vila Constitucional,
espírito liberal,
sacerdotisa da Lei, impassível, fria,
foste, entre nós, fanai da Democracia ·1119
e ultrapassaste além das peugadas patriotas,
nas lindes triunfais de Santo Amaro das Brotas ! ...
Cidade, na Província, eras extraordinária
aos beijos com Atenea, a Palas Laranjeiras ! .. .
Castelã sergipense, és progna literária,
portaJiras são os mananciais das càchoeiras ! ...
És agrícola tambêm, tens açúcar demais:
enfrentas 1Iaruím, a rainha dos canaviais! ...
Do tessido. industrial, contemplas, a olho nu,
o progresso solaz do rico Aracaju! ...
Yoluntários da Pátria! ... És redivivia Esparta,
áureo ninho de herois. de laureis és refarta! ...
Ensinastes a pensar ao rútilo Tobias,
eleYaste a Lagarto, honrando a Simão Dias;
<la familia de Sílvio, o crítico genial,
teu solo fecundou e a Sergipe imortal!...
Faceira. sorridente, extremamente bela,
º" taboÍeiro� teu� são como os de Capela ! ...
De tua natureza, em bairrismo, és ufana:
. a ....
se tentas ser rival da maga Ita ba1an 1

És fidalga demais, tens aprumo, elegânci:: ..


1
San-Cristovam corava ante teu porte, Estancta .

Lanceiros e quadrilha ainda são tuas danças


Nos dias que fluem, alçanças,
-68-

Deixa a nau pela en.x.ada, amplia-se brasileiro,


do _.\.tlântico. argonauta. Jrroga-se. estancieiro
e, com �écia Car<losa e a prole idolatrada.
arquitetou templo cristão,
marco de ci,;Iizaçào,
num sábado feliz. dezenoYe de junho,
mil seiscentos e trinta e dois. - da História é o cunho-,
doando-a à Xossa Senhora, a pátria, Santa amada!
Medrou, soberbamente. o mágico rosal,
em seu solo erudiu o primeiro J ornai, -
- celeirÕ de talentos
e, em todos os intentos,
da Cultura, através, da Indústria e do Comércio,
releva. alto, a Sergipe e o faz sem petulância,
num trabalho eficaz, de inteligência cérceo,
próprio do povo bom da rutilante Estância !

Eis Monsenhor Silveira, o fundador da Imprensa


com o Recopilador Sergipano, o que intensa
os manes Calazans, todos Gomes de Sousa,
Cardosos, Gumersindo, o heroico Camerino ;
Nascimentos, 11artins, Nabuco, Avilas, :freires,
os Aboins, Salomão, Conrado, D. Quirino,
Silveiras, Dantas, Sás, Azevedos, Esteves,
mais Leopoldo Amaral e a um cenáculo que poisa
no coração de Sergipe,
de no�sos brasões, estirpe;
nas bôas-1etras ou nas armas, sem jactância,
destimida, Jirial, demarcada na História,
aureolada e modesta, ensombrada de Glória,
oJenta, ao sul do Estado, a sinfônica Estância l

,. Tada
te excede, Estância ! �s portentosa, és linda,
teu passado é lustral, de ampla esbelteza infinita!
- ,O-

solarenga íom1osa. ó índia tupinambá,


o liame de ê.xul jazz a teus riais vilancetea,
buscando os bangalou� <luantlo teu� palacete,.
às caricias de teu noi\'o, o boêmio Propriá !
Reune toda esperança
tua caliplastia esplendente de luz,
mercê dos ludos teus : - Cruzeiro e Santa Cruz t ..•
Tens o futuro. as bonanças,
que a Virgem e Guadalupe em teu solo compressa,
abençoando ao labor de teus filhos honrados,
guardando áureo porvir aos alunos amados,
aos que se apliquem bem no "Gumersindo Bessa"!. ..

Escolares, o livro é a eólia estrada florida,


ci- nos conduz, certeiro, às belezas da Vida;
o analfabeto é pó,
nocente poeira, só;
quem cultura possui, quem do aprender tem ânsia,
representa, no Globo, um brilhante papel,
tem jucunda a existência e prenhado o farnel -
- Discentes, imitai aos obreiros de Estância! .••.

ô efeméride homérica,
Descoberta da América!
Dia consagrado aos bravos lobos do Mar.
De Cristóvam Colombo a Pedro Homem da Costa,
da "Semana da Criança" - a alegria do Lar,
da gente do A1nanhã, a que os idos arrosta,
tesoireira augustal dos fastos dest\ terra,
belezas varonis, que o cQração encerra,
resumindo na fé, que se consagra à infância,
assistindo-a, com ardor, nestes patriciozinhos,
carecentes de amor, de auxílio, de carinhos,.
oriundos dos atuais responsáveis de Estància l
- 71 - •

Estancianos, ouvi ! t a verdade que brilha.


Protege-los?!... A Caridade humilha ...
Quem tem mais, restitui. De todos, é o Sol e o Ar.
Percorre, sem cessar, servindo a toda gente,
o velho Piauí tinga, estranho, indiferente.
Eu não sou Comunista, integro-me Cristão.
A solidariedade é, ao infinito, amar;
é da Democracia a liberal unção.
Como a árvore da Vida, em o Jardim Terrial,
dai os frutos do Bem, à-toa, sem fanal.
Sêde bons, como o solo úbere: dadivoso,
que o justo delinea entre o trabalho honroso,
Praticai a Eugenia, a alta religião
do combate, sem trégua, ao analfabetismo,
do saneamento heril, recuando o pauperismo,
que aos seres conspurca em males sociais, políticos,
religião cultural. evoluída, exaltada
na higiene do Brasil, - a Pátria idolatrada.
Pela Estância infantil, tudo fazei, enclíticos! ...
�foral individual : degrada a Compaixão.
Quando a Fraternidade espagir-se no �fundo, -
- o auxílio igualitário em extreme execução - ,
ocupará o Amor, dos corações, o fundo;
será traço vital, entre os homens, a União,
reinará, de Jesus, o Verbo adamantino,
desaparecerá a egoística Ganância
e, auxiliados de nós,
compartilhareis vós
da cívica cruzada - Educar o •.uno,
entre hosanas do Ceu : - Aleluia I Avé, Eatincia 1

(Do Sergipe Jornal, ele 2-4-938)


VELHA GAMELEIRA

(Estância)

Nas priscas eras. sã, tua copa ensombrava


à cristalina linfa, ao marulhar ameno
do meigo Piauitinga que, célere, avan çava,
de ti enamorado, estático, sereno.

Demolidor da vida, o atro tempo ceifou,


carcomendo-te o tronco, extinguindo a beleza
da viridente copa e, aos pouco.s, profanou
teu porte de musmé, tua gentil realeza.

Torturada, andrajosa, és, do passado, a sombra,


sem que cuidasse alguêm da moléstia fatal,
que sem dó te extinguiu a majestosa alfombra.

Todos fogem de ti, de tuas ramas tedras:


o corpo nu de Estância, a cabocla desleal,
não se retrata mais em o Poç o das Pedras 1 ...


• •
VERBETE : - Resguarda, em si, todo Orbe Infinito, eterna
interrogação. Palpita, em todas as coisas, a base racional da Filoso-
-73-

fia, que se resume do Como e Po r Que interrogativos, cuja resp0n­


dência só será satis[eita pela Curiosidade, quando ce amo]d(: no
cendeiro luminoso, que pretendemos nos leve ao mi teri0 ....o tu,:>lr>
da Verdade. :e.tal C$trada cintilante a Hipótese e seu ponto de
partida se inicia nas subse quentes estâncias da Observação, Asso­
ciação e Expressão, quando se completa a etapa do raciocí nio de­
dutivo, que é o Silogismo, escudado na matéria e na forma, sumário
da lógica das proposições de relação ou Logística, sendo que o
cálculo das relações do que interrogamos finda na Hipótese, o nde
se reflexiona entre o Ser ou Não Ser e, até hoje, a curiosidade in­
telectual, destruindo a fé, n egando todos os dogmas, só tem al­
cançado a Dúvida no labiríntico caminho científico da Verdade
Duas outras espécies de curiosidades, que não a intelectual, se
nos anteparam ao m editar: a sensorial e a sentimental ou afetiva,
a da contemplação estética e a dos impulsos do coração. Em meu
caso. foram as duas últimas que atuaram,
Desde criança, quando come cei a atentar nas coisas da Vida.
que. aos gabos das belezas de Estância, uma vontade suprema me
impelia a conhece-la. Antes de vê-la fisicamente, procurei olha-la
pela sua vida sociológic a . Desvendei-a antropogeográficamente em
suas ascenções e em suas quedas, a-través-de sua história e li tudo
que se lhe referia, até m esmo a seus autores, poetas e p rosadores.
R e cordo-me, até, d a tristez a que me causou O DESENGANO de
Constantino José Gomes de Sousa, romance de costume estancia­
no, do qual José de Alencar afirm ara: "há muito não aparece em
nosso meio literário uma obra como essa''. Faltava-me vê-la físi­
camente e assim só a vi, pela primeira vez e mui ligeiramente. a 26
de março de 1916, quando lá fui como orador do "Cotinguiba". Re­
tornei em oitubro dêsse ano e em igual mês do ano findo, ocasiões
propícias para melhor inteirar-me de. seu todo,. sa�isf�zen�o-me as
curiosidades sensorial e afetiva, aspiradas na mfanc1a. Diz-se, na
da Santa
d ogar esa urbe sule nse, que que m bebe da água da fonte
. . o m1·1a-
Cruz (há uma de igual nom e em Itabaiana, que faz 1'd"enttc
-74-

gre), tem que retornar. Far-lo-ci de coração, pois que gosto muito
e muito de Estância, talvez, quase, como de Cedro.
A margem do Piauitinga, no belo Poço das Pedras, há uma
velha gameleira, mais que centenária, desgalhada, carunchosa, fe­
rida a seiva por grandes pregos, que servem de guarda-roupa. Sem
sombra, fogem-lhe os banhistas para a misteriosa Panela e ainda
para além, numa espécie de lago, regularmente profundo.
Ante isso. dei-me a imaginar no viço antigo da macróbia ár­
vore e saiu a campo minha débil gnoseologia, isto é, minha aptidão
de investigar o real, que retroagiu aos tempos lendários, evadindo­
se meu espírito para a época íncola, a concretizar o abstrato,


• •
Noite de esplêndido luar. Boiava Jaci na esplendidês do Ceu
e seus raios se filtravam entre a copa da gameleira e iam alumiar a
cristalina ninfa dos piaus, o doce Piauitinga, em o Poço das Pedras,
o Pirambué, que Tupã mandou construir para o banho das virgens
abaís. Nessa noite, enquanto da taba repercutia os sons da inúbia,
dando o sinal de silêncio, a memura (filha) do cacique deixou a
quiçaba (rêde) em que se embalava e, como em todos plenilúnios,
foi banhar-se no pequeno poço construido para si. E o rio cantava o
hino da volúpia ao receber o corpo da cabocla virgem, que se espre­
guiçava ardente antes de dar-lhe a caliplastia. Recebia-lhe, con­
tente, o Poço das Pedras, sorvendo-lhe a samatiá cheirosa, a femi­
nilidade deslumbrante. Porém antes, :Marãú, narcisando-se na água,
oaa, completamente nua, se deixava proteger pela alfotQbra mater­
nal da gameleira gigantesca.
Transcorreram os anos. Em certo dia, o iurupari (o diabo) ten­
tou a éuabã puranga (mulher bonita) e ela foi para o cariua (ho­
mem branco), que a levou ao mocerocaçaua (batistério), trocando­
lhe o nome de Marãú pelo de Estância, a qual logo mudou de poço
ee&18 banhos. Por isso, andrajou a ve nu,ta pmeleira, adoeceu e
-75-

P"rtieu o lu tre de munm� cabíJcla 1 aem (tUt a cn1tá nv·1a tíve1s.e a


1

m,..11<,r (',Jmpa.ixlo <la ftrida\, que lhe vém matand,>, atA p<,ucrA,
st:m lhe dar antidoto ao mal.
Só e tri-stt, tão melancóJíc<J quão aquela abandonada gamelei­
ra, depoi� de meu banho matinal, a 14 de mtubrú (J937J e,,.. reYi 'JS
ver1os acima e os li, mais tarde, no "Gumersindo Busa''. onde
prec,1d1a, como inspetor de Ensino, a Semana da Criança.
SensibHidade demasiada de impenitente curioso t. ..

S., s.

(Sergipe Jornal de 4-4-938)


ESTÂNCIA
(Mãe desalmada - Bôa Madrasta)

Marãú, ao ser Estância, aureolada de glória,


amamentou a Graco, aleitou a Tibério,
vivia entre os rosais, focada na memória
dos que amam, em verdade, ao maternal império.

Entibiou-lhe a vaidade, após tanta grandeza:


temeu a flacidês dos sazonados seios
e, ciosa de seu corpo, anegou-se à beleza
do supremo dever, presa a fúteis receios.

Buscando substituta em uma outra senhôra,


que lhe aleitasse a prole inocente e infeliz,
desprezou-os ao leu, não foi mais genitôra.

Medram os filhos seus alhures, exilados,


enquanto ela se orgulha ante as flores de liz,
as pomas aromais, que concede aos enteados! ...


• *

VERBETE: - Li estes versos no Grupo Escolar "Gumersin­


do Bessa", a 15 de oitubro (1937). Era meu intento despertar o
-17-

amor bairrista da infância escolar à terra-berço, mostrando-lhe


que, antigamente, todos os cargos públicos, as demarcadas posi­
ções sociais, políticas, administrativas de Estância, tudo era con­
trolado pelo estânciano. Demonstrei-lhes, depois, o êxodo, quando
o estânciano abandonava a terra natal e ia emprestar capacidade
de trabalho longe dela, noutras plagas , enquanto ela, �ó. desampa­
rada dos seus, era forçada a aceitar a colaboração de filhos de ou­
tras regiões, que, pouco a pouco, foram desbancando o elemento
restante íncola e tomaram conta, se bem que distintamente, das
principais funções do município.
Figurei, pois, Estância antiga como aquela matrona filha de
Scipião, o Africano, a gloriosa Cornélia, a mostrar os filhos. como
joias e adornos preciosos, a uma patrícia da Campânia. De-feito.
berço das bôas-letras em Sergipe, senhôra da Indústria e do Co­
mércio, rica, opulenta e nobre o foi no passado com os próprios
filhos.
Depois. . . depois. . . veio o êxodo e ela passou a aleitar ao5
adventícios, esquecida da prole e de tal maneira que todos os car­
gos, riquezas e quase tudo mais vivem sôbe a direção e_xclusiYa
dos enteados.
Porém tudo isso é natural: são vôos e quedas de um determi­
nismo, que não pode fugir da lógica da história. Voltará. é pos­
sível, a ser Cornélir1 1 • • •
Naquele dia, pensando nesse fenômeno sociológico. à margen1
do Poço das Pedras, fitando meus olhos na decrepta gameleira que
ensombrava o corpo nu de l\f arãú, escrevendo o sonetilho despre­
tencioso, vi a carcassa de Estância transfigurada nu1n corpo ju,�e­
nil, representando a Filosofia, a harmonia do conhecimento, apu­
nhalada, após o desaparecimento de Spinoza e Bacon. pela puerícia
do - Penso, logo sou - do ingênuo Descartes.
E por que? Responde-lhe seu nome primévo íncola: - o que
se toma aos sôrvos e esses sôn·os são feitos nu1na n1agnificência
c1 ue pode deslustrar-se, nunca jamais extinguir-se.
Que fizeram as Ciências, vergônteas da Filosofia? Apossaram-
- 78-

se de seu hcn t lhe deram e pádua_, tornando-a �quccida pelo


d� 111erN·i111ento, a 1,onto de empanar-se completamente.
l'! hem \'e.rclade c1ue não chegou Est�nci.a a tal dedinio mas
caminha parn o abismo e, pelo <:vitar, é nec,. _ário enorm rom.
reacionftri:t eh· prédica ;i ua juventude, n�o só nos templos _cola­
res riuc, também, em sua imprén a e em conícrênci� e.stímulantes
no:s ca:--inos e na praça pública, apontando-lhes os perig� da e.mi­
gra,ã,> e ela inérc:ic1. falando-lhes da, filha� do rei Lear, qu ,. id-
ti<:nmcntc a� Ciénci,b e aos c�tanciano no desprezo à Filosofia e
;\ E:-l[u1cia. ahan<lonaram o velho pai. depois de repartir-lhe o rri-
no. concluindo tudo numa tragédia, <1uc ,ó a pena imort.a.l de a­
k,pcan: poderia traçar.
E�,as não \ oltaram o csfa(.'<'lado reino ao iulgor primc,·o, mas
cn:io que o facho divino que Sócrate� fc.z baixar do Ccu ao Orbe
resuscitará um dia! Fa-lo-a o produlo brilhante do trabalho de Mon­
senhor Sih·eira? ! Crci-o firmemente. e,tou con, icto. porqut> coz -
fio na juventude e. tánciana. que cte�porna para a g ração rein,·indi­
cadora do amanhã.

( Scrgipe-Jornal de 5-4-938.}
ECOS DA CONFERêNCIA DO ORADOR DA ASSOCIA­
ÇÃO SERGIPANA DE IMPRENSA, PROFESSOR SE­
BRÃO SOBRINHO, SôBRE O MONSENHOR ANTONIO
FERNANDES DA SILVEIRA, O FUNDADOR DA IM-
PRÊNSA EM· SERGIPE:

A SESSÃO CONJUNTA DA A. S. I.

E DO INSTITUTO HISTóRICO

Consoante tivemos oportunidade de divulgar, realizou-se, sá­


bado ultimo, às 20 horas, a sessão conjunta da Associação Sergipa­
na de Imprênsa com o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Abrindo a sessão, o nosso confrade Eliéser Leopoldino disse
da finalidade da mesma, prestando, logo após, o compromisso de
praxe, os novos membros da Diretoria e do Conselho Deliberativo.
Em seguida foi concedida a palavra ao jornalista Pedro Dias, que,
em eloquente improviso, saudou os recem-empossados, dizendo en­
tre outras coisas do protesto que com o dr. Antônio Garcia Filho
e Junot Silveira fizera ha um ano na A. S. I. contra a prisão injusta
do jornalista Paulo Costa, acrescentando que isso faria em defêsa
de qualquer homem de Imprênsa ameaçado pelo abuso do poder.
O segundo orador foi o dr. Antônio Garcia Filho, que agra­
deceu em nome dos que acabavam de ser empossados dizendo que
só poderemos ter imprênsa verdadeiramente livre quando os jor..


_.,_
nali1ta1t puderem ter indcpendlncia econhmíc• Falou «u,aa rena,
cença que •e procea&a cm Strripe, com aociedadu q.u K orpni..
zarn, jornais que se fundem - tu,fo itto intpírad<J n0t acon
mtntos da hora que vivemo,.
Logo apó21 o sr. Eliéser Leopoldino patlOU a preaidêncía da
aesslo ao pre1idente do In1tituto Histórico profeA6'>r Jo,,,é Cala·
zan, que concedeu a palavra ao profe11o r Sebrlo, ,obrínho, que ftt
u'a importante e documentada confcr�ncia M)bre o fundador da
Jmprênaa Sergipana, Monsenhor Antônio Fcrnandc1 da Sih•eira,
r.
cujo retrato a A. S. oferecia naquele momento ao Instituto.
O conferencista lembrou fatos e pessou que a.e prendiam ao
lloaaenhor Silveira, discorrendo com muita segurança sóbrc a per­
aoaalidade do ilustre sergipano, fazendo-lhe a biografia. dizendo
doe sucessos, fraquezas e patriotismo do seu retratado, cm torno
do qual giravam diversos acontecimentos e até se travaram lutas,
como, por exemplo a chamada guerra de Santo Amaro, que T"C­
aultou de uma fráude eleitoral posta cm prática cm Lagarto, pelo
fundador do Recopilador Sergipano.
Um dos pontos versados pelo conferencista que mais 001
chamaram a atenção foi quando ele se referindo ao ano de 1847.
disse que essa data foi sómente a da centralização, pela segunda
vez, do ensino secundário em Sergipe, na velha Capital. São Cris­
tóvão, com a criação do segundo Liceu, que teve a Provinda, desse
ano a 1855, enquanto que o primeiro, que o orador disse onde hm­
cionava (no Convento do Carmo), fôra instituido cm 1830 e te,·e
maior durabilidade que o outro, pois só foi extinto realmente. em
1839, durando, uaim, nove anos. O professor Sebrio, sobrinho,
no 1eu amor pela História de Sergipe, citou até o nome de um len­
te de filosofia deaae primeiro Liceu, que foi o Sr. Manuel Ladi �
lau Aranha Dantas, professor na Faculdade de edicina da Bahia
e Coálelheiro de S. M. Imperial.
O conf«encitta, proueplndo, di e nlo ser _po1ai el a funda­
çlo do enthto aeeundirlo em � t6. aa 1141, q-.ndo o ti­
ttde de "Terra de Lattniltu" Ji ltiê era e16aaito, poil com o �
- 81 -

fes-sor Joaquim ?\1aurício Cardoso a Estância já havia produzido


uma pleia.de de poetas e bcletristas. O Ensino Secundário em nos�o
Estado, frisou o conferencista, YCm da reforma de Pombal, com o
"S1.1bsidio Literário".
Chamou-nos tambem a atenção a afirmativa do professor Se­
brão. de que já em 1824 Sergipe tinha Corpo de Polícia, citando o
caso do Sargento-mór, Comandante das Rondas, Cruz e �fenezes
ser esbordoado juntamente com o então Cônego Silveira, pela
soldadesca a mando de oficiais do Exército. demonstrando. assim a
falsidade da data de 1835 para a instituição da Força Pública em
Sergipe.
Depois do professor Sebrão, sobrinho. ocupou a tribuna o Dr.
Marques Guimarães, que agradeceu, em nome do Instituto a oferta,
pela A. S. I., do retrato do :Monsenhor Antônio Fernandes da Sil­
veira.

(Ext� do ··correio de Aracaju" de 2-9-1946).

HOMENAGEIADO O FUNDADOR DA IMPR1tNSA


DE SERGIPE

A SESSÃO CONJUNTA DO INSTITUTO HISTóRICO E DA


ASSOCIAÇÃO SERGIPANA DE IMPRitNSA

Saudados os novos eleitos da Associação Sergipana de Imprensa


- "Democracia, para o pleno gozo da Liberdade de Imprênsa, e
que não mais se repitam prisões de jornalistas", disse Pedro Dias
- Agradece o Jornalista Dr. Antônio Garcia Filho e afirma: uLi..
herdade no sentido político e libertação no sentido econômico, eis
a fórmula que tomará independente a Imprênsa de uma nação -
A biografia do Monsenhor Silveira pelo Prof. Sebrão Sobrinho -
Em nome do Instituto Histórico, agradece o intelectual
Marques Guimarie1.
-82-

-� .!\s-ociaçit> St. -� de lmpring ��.. diz 31


d� =;-:.s·o. no !nstituto Hi,t ºriro . ·noo d"C Se:gtp,r.. o :í.....,­
óz.::-: ....3 -�f':"CD�.a em Se · . o:1::: • .atônio Ft.r:mt:�es, ,� .:rl­
� eiã- A it.,� c�.:-w.mc. -compa:-�nm o ·���tan't� do fct�
:e:- .F�....-:; '"" Es:zdo . .\c:!'-irlade� f�e;-:a� e E.s:..d� ?::C:a 'li'.-

- 1· • -_.,: :: ...
-�� � '\-;tr'.;.::- 2I::112, & --....:-<i :=;oc:xni.au�.

ABRIU A SE�SÃO O PRESIDE- TE EII EXERCICIO

...
_.\ �� é 5�S:,..::;, �lo P�s�.:e:1:e e:::: exc..-cido. o jern< :�ta C-f:ié-
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se L.."O?).dinc f-i :ido os c-0�e3 rlo5 :;.o·.·c5 c.i,e:c.e5- e: �--_,.:
� �� p...�:.....�ü> e ó•.•nüo jur.s.ü:en:o. <:v:i =vr'i!:e o -;.�e·.

FALOU PEDRO DIAS

Segipe ha· ;a ee s.e�::-. e::;; !ace ,5 �i!s:orma �E e =.-.l's =::o.;ii.«-:­


ment03 r�turai::- ...!..: :em;:�::- Q-..:e ��ade t'.ül e ::-e" co·�:e::���c:.:)
por iab.r em aomê ce u=a c:��e :�e tin�:t 3 h�-a d.� pie:-:�;:ê-la..
e �:__ . .- .
omo. a.ouc.m reportDn-se ao c�c ..::1 pn� m;:::3::�caca �::,
.- .
,l •
:,o:--
nali.sta Paulo Costa, o ano passado ::ão por e..e pcr:encer ao mesmo
pan:i<!o s�. mas pelo íãro dele pertencer à .-\. 5 I.. e �ez::o 5orna­
t-isu 020 era P,""�5n el que tal aronteci=.e:i:o fica-"se se::: '- �
protesto :-e50Juto e firme. contra os çce fazem da i:mp:rê.:i_� um
jogo de �eu.5 capricho� c.esY.úrados.
Falou ainda sob:rc a figu ra simpâtica e dinâmica Ct' El�
Leopoldino. alma da f\::50eiação �rgipana de Imprêr.�. GUC 1
de�peito de «nas direções, que ro \·i�\ am a eJ�ci3 to �..rgo..
para fins pro,·eitosos ''ffll � �forçando. com toda a d�o para
mante-la de � e dar novos rumos à Assoc�çio. Ta-minou �da­
mando os corrcligionirio para darem o ,·aJor qu� �.ai�nt'C' a das­
se ftlCJllff', como defensora dos postulados dunocriticos..
-83-

DISCURSOU O DR. ANTONIO GARCIA FILHO


'
O jornalista Antônio Garcia Filho, em seu discurso, disse da
grande finalidade do jornalismo em Sergipe e no mundo inteiro
Que os jornalistas são os baluartes e defensores dos interesses do
povo, encorajando-o para a vida sublime da liberdade, mostram aos
governos do mundo a política de paz, a fórmula viavel para urna
unificação sadia dos povos. E só a imprênsa é o orgão de defêsa
da comunidade humana, - disse o ilustre conferencista, - deve
ser livre, não é admissível censura, mormente nestes tempos de
ampla ascenção da liberdade.
Dentre outras, disse o jornalista:
"E isto, meus senhores e minhas senhoras, não é por obra e
graça de um homem ou de um punhado de homens. Em que pesem
a dedicação, o interesse paternal, o carinho irrequieto de Eliéser
Leopoldino, ou a assiduidade, o cumprimento das determinações de
tantos que neste sodalício sentem o ambiente patriarcal da inte­
lectualidade sergipana, ou ainda os arroubos fulgurantes da pena
da mocidade jornalística em Sergipe que nesta entidade se har,
monizou, revigorou-se, e porque não dize-lo, ressurge a Associação
Sergipana de Imprênsa em consequência da hora atual em que se
encontra o povo empurrando as velas para uma nova vida, em que
um sopro de concessões anuncia bonançosos ventos de liberdade".
Falando sobre a posição independente do jornalismo, disse:
"A emancipação dos homens de Imprênsa, para não serem o­
brigados a defender postulados políticos atrazados, reacionários ou
de interesses grupistas, às custas de auxílios monetários ou sine­
curas improvisadas".
E, tambem:
"Liberdade no sentido político e libertação no sentido eco­
nômico, eis a fórmula que tornará independente a Imprênsa de
uma Nação".
Concluiu o ilustre jornalista assim:
-84-

"E a Imprênsa não deve ir na frente do povo nem atraz do


povo, mas com ele misturado, num só bloco, para a consecução do�
anseios da gente brasileira".

O JORNALISTA ELIÉSER LEOPOLDINO PASSOU APRE­


SIDENCIA DA SESSÃO AO DR. JOSÉ CALAZANS

Ao presidir a sessão o jornalista José Calazans fez belo im­


proviso, ressaltando o esforço que Eliéser Leopoldino vinha em­
preendendo em pról desse sodalício, como ainda congratulaYa-se
com os correligionários pelo soerguimento da A. S. I.. Passou a
palavra ao professor Sebrão, sobrinho.

A CONFER:ÊNCIA DO PROF. SEBRÃO, SOBRINHO

O Jornalista Sebrão, sobrinho foi escolhido para, em nome da


A. S. I., homenagear o fundador da imprênsa em Sergipe, o Mon­
senhor Antônio Fernandes da Silveira.
O ilustre conferencista 1 pesquisador profundo, crítico e ana­
lista, não teme as consequências do meio ou mal humor, daqueles
que, porventura, se sintam molestados por certos fátos que dese­
jariam ficassem sigilosos.
Sebrão, sobrinho é de fáto um historiógrafo inato e sincero.
X arra os quadros com as tonalidades reais, com as côres naturais
da personalidade humana, sem bajulação, sem arrodeios para his­
toriar os acontecimentos. Não considera história sem a vicissitude
e os prazeres. isto é, sem mostrar em toda a sua plenitude os traços
característicos dos personagens, conquanto que fiquem isentos de
dúYida os que o ouvem, e saibam a posteridade o quanto fomos

desgraçados e felizes.
O orador falou acêrca da vida política ,social e íntima do ilus­
tre fundador da Imprênsa em Sergipe, psicodinâmicamentc, psi­
coestaticamente, isto é, a personalidade e o comportamento.
Descreveu-lhe as belezas resultantes do homenageado. bem
-85 -

como os defeitos. Fê-lo enfim humano, tendo, então palavras com­


plascentes de compreensão para os últimos e dizendo:
"Esqueçamos, porém, tudo isso, todas essas considerações
filosóficas, ante a sua tumba, protegido pela sombra de Harpócrate,
o deus do Silêncio".
O conferencista esternando o caso da Polícia da Província,
conta fátos interessantes, deixando contastada a existência dela
já desde 1824, da qual era Comandante da Ronda o Sargento-mór,
que fôra esbordoado com o então Cônego Silveira.
O orador descreveu minudências sobre o ensino em Sergipe
mostrando que o Ensino Secundário foi fundado entre nós com o
Liceu de São Cristóvão, criado em 1847, aliás o segundo como afir­
mou o orador, dando a data do primeiro Liceu, que foi em 1830,
quando se fez a primeira centraJização das escolas de humanidade
entre nós. Afirmou que o Ensino Secundário em Sergipe é de época
imemorial, posterior à reforma de Pombal, e que, em 1847, ele já
era velho, arcaico entre nós. E o centenário do ano vindouro?!

O PRIMEIRO JORNAL EM SERGIPE

Segundo o Professor Sebrão, o primeiro jornal que circulou


em Sergipe chamava-se "Recopilador Sergipano", na Estância,
de propriedade do Monsenhor Silveira, transformado, depois, em
"Noticiador Sergipense" com a separata "Conselho do Governo da
Província", ainda de propriedade do Monsenhor Silveira, tomando
após o nome de "Correio Sergipense", ao passar para a proprie­
dade do Governo da Província. Ainda reportou-se sobre a primei­
ra "Rolha Adolfogordia" do poder contra a imprênsa, citando fátos
interessantes sôbre o assunto.
E concluiu, dizendo:
"Humano, calceta de Deus, nosso homenageado, sejam quais
forem os seus erros, se erros se podem chamar àquilo que se afi­
gure como tal, aliás compensados pelo contrário, que chamamos
acerto, isto é, virtudes, foi um sergipano de demarca valo
do r, um
-86-

hra$il�iro notaYel.que honrou. sobretudo, a Sergipe e, ainda hoje.


�omo inndallor da imprênsa, na Pro , íncia. principalmente, merece
nossa entu�iastica home11ag-em ".
O hilll) com que o or.1d ür ,audou a E:::-tância é pleno de loiça­
mas. er, que ,;e �ente palpitar o passado e o presente da romântica
Cidade e'-.tremo meridional do Estado. berço da fundação. igual­
mente. da$ bôas letra$ em Sergipe.

O DR. MARQUES GUIMARÃES

Com a pab, ra o jürnalista João �!arques Guimarãe:i. fez bdn


impro,·iso cheio de entusiJ�mo ci,·ico mergulhando no mundo da,;
Yirtudes cristãs. como redenção das adversidades humanas.
"'O �e:dcd@"
(Ex,. do------- de 3-l0-46).

A FESTA DO INSTITUTO HISTóRICO E DA A. S. 1.


Rca:izou-se. no sábado último, às 20 horas, no salão de iestas
do Instüuto Histórico, a sessão conjunta daquele sodalício e da
.-\s.sociaç:!o C.ergipana de lmprênsa. para posse. respecti, am�,ne.
de no, '"l5 membros da Diretoria e do Conselho DeliberatiYo da ..\.
S. I. e entrega. por essa. do retrato do �1onsenhor Sih·eira. funda­
dor da imprênsa sergipana ao mesmo Instituto.
Presidida a sessão pelo confráde Eliéser Leopoldino foram em­
possados os noYos diretores e conselheiros da A. S. I., tendo orado.
com e1u"fuê;Jcia. cs confrades Pedro Dias e Antônio Garcia.
O �residente da A. S. I. passou, depois, a presidência ao dr.
José Calazar?s que. em breYe� palaYras. se referiu ao gesto da .\s­
sociação Serg,pana de Imprênsa em oferecendo ao Instituto His­
tórico o retrato do fundador da imprênsa sergipana para fi gu rar
nos salões daquele sodalício.
Dada que foi a palavra ao confrade Sebrão, sobrinho, ilustre
homem de letras e historiógrafo, êstc fez um longo e brilhante,
-89-

uJoão �ascimento Filho Diretor da "A Razão" Estância

Tive muito prazer em representar o distinto amigo na home­


nagem especial a M'.onsenhor Silveira.

(a) Franco Freire'\

Por nossa vez. cabe!nos deixar aqui expresso o nosso vivo


agradecimento ao nosso prezado amigo Prof. Franco Freire pela
honra que nos concedeu, aceitando a incumbência acima referida.

CExt. do A Razão", de 8-9-1946).


-88-

conferência o Professor Sebrão Sobrinho, profundo conhecedor da


nossa história regional, ocupando depois a tribuna o Dr. João
:Marques Guimarães que agradeceu, em nome do Instituto, a '\'a­
liosa oferta da A. S. I.
Para tomarmos parte na solenidade de que nos estamos ocu­
pando, tão grata ao coração estânciano, pois nossa terra tem na
nobre e intrépida figura de sacerdote, de&crata e patriota que íoi
Monsenhor Silveira , um dos seus maiores filhos. recebemos, no
dia 30 de agosto passado, o seguinte telegrama :

"Diretor da "A Razão" Estância.

A Associação Sergipana de I mprênsa tem a honra de convidar


V. S. para assistir à sessão solene que realizará amanhã, às Yinte
horas, no Instituto Histórico, oferecendo a êste sodalício o retra­
to de Monsenhor Silveira, fundador do primeiro jornal aparecido
em terras de Sergipe.

Cordialmente,

(a) Eliéser Leo1>oldino


Presidente eventual''.

Na impossibilidade de comparecermos pessoalmente à soleni­


dade em aprêço, fizemos-nos representar na m�sma pelo tlO$�ú
ilustre conterrâneo Professor Franco Freire, membro dt$tacadü
das duas entidades culturais que iam homenagear o fundador d -..,
Recopilador Sergipano, jornal nparcddo, como �e $:\l't�. ll<.'$ta ei­
dade, em 1832.
Dando-nos ciência <le 5e ha\'t'r desincumbi\io do �ncargo que
lhe confiamos, recebemo�. <'m ctata lle 3 ,lo rorrent�. 0 $t•g-uintc
despacho do Prof. Franco Freire:
SUMÁRIO

Págs

- previa
Expr1caçao
·
' . ................................... 3
Cliché do orador da A. S. I. ............................ 5
Dedicatória . .......................................... 7
No Ádito - Prefácio de Zózimo Lima .................. 9
Cliché do �1onsenhor Silveira .......................... . 11
Conferência 13
Bibliografia . ...... . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Ecos da Conferência . ................................... 79
e a a •' a_,.­
DftAlll& •a• UDL
A..-::_1..�\.s....: - �

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