Matematica Basica

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prof.

Márcio Fabiano da Silva

MATEMÁTICA BÁSICA

Santo André, 2020


SUMÁRIO

1 produtos notáveis e fatoração 1


1.1 Produtos notáveis e fatoração 1
2 módulo e distância 9
2.1 Valor Absoluto de um número real 9
2.2 Propriedades do módulo 12
3 potenciação e radiciação 15
3.1 Potenciação e Radiciação 15
3.2 Exercícios 21
4 polinômios 31
4.1 Polinômios 31
4.1.1 Divisão de Polinômios 31
4.1.2 M.M.C. (Mínimo Múltiplo Comum) e M.D.C. (Máximo Divisor
Comum) de Polinômios 35
5 equações 37
5.1 Equações Polinomiais do 1o Grau 37
5.2 Equações Polinomiais do 2o Grau 40
5.2.1 A técnica de Bhaskara 40
5.2.2 A técnica de completamento de quadrado 42
5.2.3 Equações biquadradas 45
5.2.4 Equações Irracionais 48
5.3 Equações Modulares 50
6 inequações 57
6.1 Notação para intervalos reais 57
6.2 Inequações 59
6.2.1 Inequações do 1o grau 60
6.2.2 Inequações do 2o grau 61
6.2.3 Inequações produto-quociente 63
6.2.4 Inequações e a lógica matemática 70
6.2.5 Mais exemplos de resolução de inequações 72
6.2.6 Inequações modulares 76

3
P R O D U T O S N O TÁV E I S E FAT O R A Ç Ã O
1
1.1 produtos notáveis e fatoração

Fatorar significa escrever como produto. Cada termo da multiplicação é chamado de


fator. Por exemplo, quando fatoramos 12 como 22 .3, escrevemos 12 como produto de
potências de números primos. O mesmo se aplica à fatoração de polinômios; neste caso,
os números primos são substituídos por polinômios irredutíveis. Vejamos alguns casos:

1. Quadrado da soma de dois termos/Trinômio quadrado perfeito

(a + b)2 = a2 + 2ab + b2

Quando se pede para calcular (a + b)2 , o objetivo é calcular o produto notável


"quadrado da soma de dois termos", que é igual a

(a + b)2 = (a + b)(a + b) =
= a2 + ab + ba + b2 =
= a2 + 2ab + b2 .

Quando se pede para fatorar a2 + 2ab + b2 , o objetivo é escrever a expressão como


um quadrado perfeito, ou seja, como (a + b)2 .
No entanto, como (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 , os casos "quadrado da soma de dois
termos"e "quadrado perfeito"são os mesmos.

Exemplo 1.1: Calcule (2x + 13 )2

1 1 1
(2x + )2 = (2x)2 + 2.2x. + ( )2 =
3 3 3
4 1
= 4x2 + x + .
3 9

1
2 produtos notáveis e fatoração

Exemplo 1.2: Fatore 4x2 + 34 x + 91 .


1 1
4x2 + 34 x + = (2x+ )2 .
.
. 9√ 3
√ b
↓ a ↓
2x 1/3
| {z }
4
2.2x. 13 = 3 x

2. Quadrado da diferença de dois termos/Trinômio quadrado perfeito

(a − b)2 = a2 − 2ab + b2

De fato, temos que

( a − b)2 = (a − b)(a − b) =
= a2 − ab − ba + b2 =
= a2 − 2ab + b2 .

Exemplo 2.1: Calcule (2x − 31 )2

1 1 1
(2x − )2 = (2x)2 − 2.2x. + ( )2 =
3 3 3
2 4 1
= 4x − x + .
3 9
Exemplo 2.2: Fatore 4x2 − 34 x + 91 .
1 1
4x2 − 34 x + = (2x − )2 .
.
.
9√ 3
√ b
↓ a ↓
2x 1/3
| {z }
4
2.2x. 13 = 3 x

3. Produto da soma pela diferença de dois termos/Diferença de quadrados

Produto da soma

pela diferença

de dois termos
z }| {
(a + b)(a − b) = a2 − b2
| {z }
Diferença de

quadrados
1.1 produtos notáveis e fatoração 3

De fato, temos que

(a + b)(a − b) = a2 − 
ab
+ − b2 = a2 − b2 .
ba

Exemplo 3.1: Calcule 1001 × 999

1001 × 999 = (100 + 1)(1000 − 1) =


= (1000)2 − 12 = (103 )2 − 1 =
= 106 − 1 = 1000000 − 1 =
= 999999.

Exemplo 3.2: Calcule (2x − 13 )(2x + 13 ).


1 1
(2x − )(2x + ) =
3 3
2 1 2
= (2x) − ( ) =
3
1
= 4x2 − .
9

Exemplo 3.3: Fatore 4x2 − 19 .


1 1 1 1
4x2 − = (2x)2 − ( )2 = (2x − )(2x + ).
9 | {z 3 } 3 3
Diferença de

dois quadrados

4. Cubo da soma de dois termos

(a + b)3 = a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3 .


| {z }
Cubo da soma

de dois termos

De fato,

(a + b)3 = (a + b)2 (a + b) =
4 produtos notáveis e fatoração

= (a2 + 2ab + b2 )(a + b) =


= a3 + a2 b + 2a2 b + 2ab2 + ab2 + b3 =
= a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3 .

Exemplo 4.1: Calcule (2x + 13 )3

1 1 1 1
(2x + )3 = (2x)3 + 3 .(2x)2 . + 3.2x.( )2 + ( )3 =
3 3 3 3
1 1
= 8x3 + 4x2 + 3 .2x. + =
9 27
2 1
= 8x3 + 4x2 + x + .
3 27
Exemplo 4.2: Fatore 8x3 + 4x2 + 32 x + 27
1
.

1 1
8x3 + 4x2 + 2
3x + = (2x+ )3 .
.
.
27
√ 3

3
3
b
↓ a ↓
. .
2x 1/3
| {z }
3.(2x)2 . 31 = 4x2
3.2x.( 13 )2 = 2
3x

5. Cubo da diferença de dois termos

(a − b)3 = a3 − 3a2 b + 3ab2 − b3


| {z }
Cubo da diferença

de dois termos

De fato,

(a − b)3 = (a − b)2 (a − b) =
= (a2 − 2ab + b2 )(a − b) =
= a3 − a2 b − 2a2 b + 2ab2 + ab2 − b3 =
= a3 − 3a2 b + 3ab2 − b3 .

Exemplo 5.1: Calcule (2x − 31 )3 .

1 1 1 1
(2x − )3 = (2x)3 − 3 .(2x)2 . + 3.2x.( )2 − ( )3 =
3 3 3 3
1.1 produtos notáveis e fatoração 5

1 1
= 8x3 − 4x2 + 3 .2x. − =
9 27
2 1
= 8x3 − 4x2 + x − .
3 27

Exemplo 5.2: Fatore 8x3 − 4x2 + 23 x − 1


27 .

1 1
8x3 − 4x2 + 2
3 x − = (2x − )3 .
. ↑
.
↑ 27
√ 3

3 a
3
b
↓ ↓
. .
2x 1/3
| {z }
3.(2x)2 . 31 = 4x2
3.2x.( 31 )2 = 23 x

6. Soma de dois cubos

3
+ b}3
|a {z = (a + b)(a2 − ab + b2 )
Soma de cubos

De fato,

(a + b)(a2 − ab + b2 ) =
= a3 − 
a2 abZ2 + 
b +Z a2 abZ2 + b3 =
b −Z
= a3 + b3 .

1
Exemplo 6.1: Fatore 8x3 + 27

1 1
8x3 +
= (2x)3 + ( )3 =
27 3
1 1 1
= (2x + )((2x)2 − 2x. + ( )2 ) =
3 3 3
1 2 1
= (2x + )(4x2 − x + ).
3 3 9

7. Diferença de dois cubos

a3 − b3 = (a − b)(a2 + ab + b2 )
| {z }
Diferença de cubos
6 produtos notáveis e fatoração

De fato,

(a − b)(a2 + ab + b2 ) =
= a3 + 
a2 abZ2 − 
b +Z a2 abZ2 − b3 =
b −Z
= a3 − b3 .

1
Exemplo 7.1: Fatore 8x3 − 27

1 1
8x3 − = (2x)3 − ( )3 =
27 3
1 1 1
= (2x − )((2x)2 + 2x. + ( )2 ) =
3 3 3
1 2 1
= (2x − )(4x2 + x + ).
3 3 9

...

Usando os casos de 1 a 7, calcule os seguintes produtos notáveis:

a) (x3 + 23 x)2 .

2 2 2
(x3 + x)2 = (x3 )2 + 2.x3 . .x + ( x)2 =
3 3 3
4 4
= x6 + x4 + x2 .
3 9

b) (a2 b + c2 )(a2 b − c2 ).

(a2 b + c2 )(a2 b − c2 ) = (a2 b)2 − (c2 )2 =


= a4 b2 − c4 .

c) (1 − 3y2 x)3 .

(1 − 3y2 x)3 = 13 − 3.12 .3y2 x + 3.1.(3y2 x)2 − (3y2 x)3 =


= 1 − 9y2 x + 3.9y4 x2 − 27y6 x3 =
= 1 − 9y2 x + 27y4 x2 − 27y6 x3 .
1.1 produtos notáveis e fatoração 7

Fatore as seguintes expressões algébricas:

a) x4 − y4 .

Diferença de Diferença de

quadrados quadrados
z }| { z }| {
x − y = (x ) − (y ) = (x + y ) . (x2 − y2 ) =
4 4 2 2 2 2 2 2

= (x2 + y2 )(x + y)(x − y).

b) a2 x − b2 x + a2 y − b2 y.

Diferença de

quadrados
z }| {
a2 x − b2 x + a2 y − b2 y = x(a2 − b2 ) + y(a2 − b2 ) = (a2 − b2 ) (x + y) =

a2 − b2
é comum.

= (a + b)(a − b)(x + y).

c) ac2 − a + bc2 − b.

ac2 − a + bc2 − b = a(c2 − 1) + b(c2 − 1) =


= (c2 − 1) . (a + b) = (c + 1)(c − 1)(a + b).
| {z }
Diferença de

quadrados

d) a3 x + b3 x − a3 y − b3 y

a3 x + b3 x − a3 y − b3 y = x(a3 + b3 ) − y(a3 + b3 ) =
= (a3 + b3 ) . (x − y) =
| {z }
Soma de

cubos

= (a + b)(a2 − ab + b2 )(x − y).


8 produtos notáveis e fatoração

e) 3x3 − 12x2 y + 12xy2

3x3 − 12x2 y + 12xy2 = 3x(x2 − 4xy + 4y2 ) =


= 3x(x − 2y)2 .

f) 2x3 + 14x2 + 20x

2x3 + 14x2 + 20x = 2x (x2 + 7x + 10)


| {z }
Como fatorar?
No capítulo sobre equação do 2o grau, veremos que
x2 + 7x + 10 = (x + 5)(x + 2).
M Ó D U L O E D I S TÂ N C I A
2
2.1 valor absoluto de um número real

Definição 2.1. Dado um número real x, o módulo de x, ou valor absoluto de x, denotado por
| x |, é definido como 
 x, se x ≥ 0,
| x |=
− x, se x < 0,

Em outras palavras, o módulo de um número real é igual ao número se este for


maior ou igual a 0; e é seu oposto quando o número é negativo.

Exemplo. |7|= 7 |−7|= −(−7) = 7

Uma consequência imediata da Definição 2.1 é que

| x |≥ 0.

Outra consequência muito importante é que

| x |= |− x |.

Exemplo. O conjunto dos números reais tais que

| x |= −2

é vazio.

Exemplo. O conjunto dos números reais tais que



| x |= 3
√ √
é { 3, − 3}.

Agora, definimos a distância entre dois números reais. Para isso, consideremos a
reta real.

9
10 módulo e distância

Definição 2.2. Dados dois números reais a e b quaisquer, a distância entre a e b é definida por
| a − b |.

Ou seja, a distância entre os números reais a e b nada mais é que o valor absoluto
da diferença entre a e b. Como consequência da Definição 2.1, se a − b ≥ 0, isto é,
se a ≥ b, então | a − b|= a − b, enquanto que se a − b < 0, isto é, se a < b, então
| a − b|= −(a − b) = b − a. Para um cáculo mais direto da distância entre os números
reais a e b, fazemos a diferença entre o maior deles pelo menor deles. Vejamos alguns
exemplos:

Exemplo. A distância entre os números reais 5 e 7 é igual a |5 − 7|= |−2|= 2. Como o módulo
sempre é positivo, poderíamos ter calculado diretamente |7 − 5|= 2.

Figura 1: Distância entre 5 e 7 na reta real.

Exemplo. A distância entre os números reais −5 e 7 é igual a |−5 − 7|= |−12|= 12. Como o
módulo sempre é positivo, poderíamos ter calculado diretamente |7 − (−5)|= |7 + 5|= 12.

Figura 2: Distância entre −5 e 7 na reta real.

Exemplo. A distância entre os números reais 5 e −7 é igual a |5 − (−7)|= |5 + 7|= 12.


2.1 valor absoluto de um número real 11

Figura 3: Distância entre 5 e −7 na reta real.

Exemplo. A distância entre os números reais −5 e −7 é igual |−5 − (−7)|= |−5 + 7|= 2.

Figura 4: Distância entre −5 e −7 na reta real.

Exemplo. A distância entre os números reais 3 e 0 é igual |3 − 0|= 3, assim como a distância
entre os números reais −3 e 0 é igual |0 − (−3)|= 3.

Figura 5: Distância entre −3 e 0 e entre 3 e 0 na reta real.

Observamos que, em geral, a distância entre os números reais x e 0 é igual a | x |.


Por esta razão, geometricamente, o módulo de um número real x é a distância de x à
origem da reta real. Além disso, por exemplo, | x − 2|= 6 representa, geometricamente,
os números reais cuja distância ao número 2 é igual a 6. No caso, estes números são o 8
e o −4.
12 módulo e distância

Figura 6: | x − 2|= 6.

Exemplo. | x + 2|= 6 representa, geometricamente, os números reais cuja distância ao número


−2 é igual a 6. No caso, estes números são o −8 e o 4.

Figura 7: | x + 2|= 6.

Exemplo. Em R\{2}, temos que


| x − 2| | x − 2| | x − 2|
= = = 1.
|− x + 2| |−(x − 2)| | x − 2|

2.2 propriedades do módulo

Nesta seção, apresentamos algumas propriedades do módulo de um número real.

• (o módulo do produto de dois números reais é igual ao produto de seus módulos)


Para todos x, y ∈ R, vale que
| x.y|= | x |.|y|

prova: temos as seguintes possibilidades para considerar:


i) x, y ≥ 0. Logo, x.y ≥ 0. Neste caso, temos que | x |= x, |y|= y e | x.y|= x.y.
Consequentemente,
| x.y|= x.y = | x |.|y|

ii) x, y < 0. Logo, x.y > 0. Neste caso, temos que | x |= − x, |y|= −y e | x.y|= x.y.
Consequentemente,

| x.y|= x.y = (− x).(−y) = | x |.|y|


2.2 propriedades do módulo 13

iii) x ≥ 0 e y < 0. Logo, x.y ≤ 0. Neste caso, temos que | x |= x, |y|= −y e


| x.y|= − x.y. Consequentemente,

| x.y|= − x.y = x.(−y) = | x |.|y|

iv) x < 0 e y ≥ 0. Logo, x.y ≤ 0. Neste caso, temos que | x |= − x, |y|= y e


| x.y|= − x.y. Consequentemente,

| x.y|= − x.y = (− x).y = | x |.|y|

• (o módulo do inverso de um número real é igual ao inverso do módulo do número)


Para todo y ∈ R, y 6= 0, vale que

1
= 1
y |y|

prova: temos as seguintes possibilidades para considerar:



1 1 1
i) y > 0. Logo, > 0. Neste caso, temos que |y|= y e = . Consequente-
y y y
mente,
1 1
= = 1
y y |y|

1 1 1
ii) y < 0. Logo, < 0. Neste caso, temos que |y|= −y e = − . Consequen-
y y y
temente,
1
= −1 = 1 = 1
y y −y |y|

Como consequência das duas primeiras propriedades, temos que

• (o módulo do quociente de dois números reais é igual ao quociente dos módulos


dos números) Para todos x, y ∈ R, y 6= 0, vale que

x |x|
=
y |y|

prova: temos que



= x. = | x |. 1 = | x |. 1 = | x |
x 1
y y y |y| |y|
14 módulo e distância

• (o módulo da potência natural de um número real é igual à potência do módulo


do número) Para todo x ∈ R e para todo n ∈ N∗ , vale que

| x n |= | x | n

prova: temos as seguintes possibilidades para considerar:


i) n é um número par. Logo, x n > 0, independentemente do sinal de x. Neste
caso, temos que | x n |= x n e | x |n = x n = (− x)n . Consequentemente,

| x n |= x n = | x | n

ii) n é um número ímpar e x ≥ 0. Logo, | x |= x e x n > 0. Neste caso, temos que


| x n |= x n e
| x n |= x n = | x | n

iii) n é um número ímpar e x < 0. Logo, | x |= − x e x n < 0. Neste caso, temos


que | x n |= − x n e
| x n |= − x n = (− x)n = | x |n

Observação 2.3. Em geral, não é verdade que o módulo da soma de dois números reais é igual
à soma de seus módulos, isto é, que | x + y|= | x |+|y|, para todos x, y ∈ R. Um contraexemplo é
x = 4 e y = −1. Neste caso,

| x + y|= |4 + (−1)|= 3 6= |4|+|−1|= 4 + 1 = 5.

No entanto, vale sempre a desigualdade triangular

| x + y|≤ | x |+|y|, para todos x, y ∈ R

Observação 2.4. Sendo x um número real, temos que


√ √
x2 = | x | e ( x)2 = x.
√ √
De fato, como x2 ≥ 0, pode acontecer de x2 6= x, como quando x = −3, pois
q √
(−3)2 = 9 = 3 6= −3.

Como | x |≥ 0 então x2 = | x |. Em relação à segunda relação, observamos que x ≥ 0. Caso
√ √
contrário, não faria sentido calcular, em R, x. Consequentemente, ( x)2 = x.
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO
3
Neste capítulo, retomamos algumas propriedades básicas da potenciação e radiciação
de números reais.

3.1 potenciação e radiciação

Começamos retomando a definição de potenciação de números reais.

Definição 3.1. Sendo n um número natural qualquer e x um número real qualquer, definimos


 1 , se n = 0 e x 6= 0,
n
x = x.x.x. . . . x , se n ≥ 1.

| {z }
n vezes

x é chamado de base e n de expoente.


Assim, por exemplo,

• π0 = 1

• (−3)2 = (−3).(−3) = 9 e −32 = −3.3 = −9

2 4
         
2 2 2 2 16
• − = − . − . − . − = .
3 3 3 3 3 81
Na próxima definição, estendemos o conceito de potência para números reais
com expoente inteiro negativo.

Definição 3.2. Sendo n um número natural, n ≥ 1, e x um número real qualquer, x 6= 0,


definimos  n
−n 1
x = .
x
Vejamos alguns exemplos:
 3
1 1 1 1 1
• 2−3 = = . . =
2 2 2 2 8

15
16 potenciação e radiciação

1 3 1 3
        
1 1 1 1
• (−4)−3 = = − = − . − . − =−
−4 4 4 4 4 64
  −2 !2  
7 1 5 2 5 5 25
• = 7 = = . =
5 5
7 7 7 49

Temos as seguintes propriedades de potenciação:

Proposição 3.3. Sendo x, y ∈ R∗ e n, m ∈ N∗ quaisquer, temos que

1. (Pot1) x n .x m = x n+m

2. (Pot2) (x n )m = x n.m

3. (Pot3) (x.y)n = x n .yn


 n
x xn
4. (Pot4) = n
y y
Demonstração. estas propriedades são consequências imediatas da Definição 3.1. Por
exemplo, para provar a propriedade Pot4, basta observar que
 n
x x x x xn
= . ... = n
y y y y y
| {z }
n vezes

As propriedades (Pot1)-(Pot4) são válidas também quando as potências são


inteiros negativos e x, y ∈ R∗ . Por exemplo, se n, m ∈ Z∗ , n, m < 0 então n = −r e
m = −s, com r, s ∈ N∗ . Logo,
 r  s  r+s
− − 1 1 1
n m r
• x .x = x .x = s . = = x −(r+s) = x n+m
x x x
Observação 3.4. um corolário deste resultado e da Definição 3.2 é que, se x ∈ R∗ e
n ∈ N∗ são quaisquer então

1 = x0 = x n+(−n) = x n .x −n ,

donde obtemos
1
x −n = .
xn
Desse modo,  n
−n 1 1
x = = n
x x
3.1 potenciação e radiciação 17

Continuemos verificando a validade das propriedades (Pot2)-(Pot4) para x, y ∈ R∗ ,


n = −r e m = −s, com r, s ∈ N∗ :
1 1 1
• (x n )m = (x −r )−s = =  s = 1 = xr.s = x(−n).(−m) = x n.m
(x −r )s 1
xr.s
xr

1 1 1 1
• (x.y)n = (x.y)−r = r
= r r = r . r = x −r .y−r = x n .yn
(x.y) x .y x y
  n   −r
x x 1 1 y r x −r x n
• = =   r = x r = r = −r = n
y y x
yr
x y y
y

Além disso, temos mais uma propriedade de potenciação:

Proposição 3.5. Sendo x ∈ R∗ e n, m ∈ N∗ quaisquer, temos que


xn
1. (Pot5) = x n−m .
xm
Demonstração. Temos que

1 xn
x n−m = x n+(−m) = x n .x −m = x n . = .
xm xm

Observação 3.6. Em geral, se x ∈ R∗ e n, m ∈ N∗ quaisquer,


m
x n 6= (x n )m .

Um contraexemplo é
3
22 = 28 = 256 e (22 )3 = 26 = 64.

Exemplo. Colocar em ordem crescente os seguintes números: 417 , 220 e 644 :


Resolução: como 417 = (22 )17 = 234 e 644 = (26 )4 = 224 , temos que

220 < 644 < 417 .

Para estendermos a potenciação para expoentes racionais, precisamos retomar a


definição de radiciação de números reais.

Definição 3.7. Sendo x ∈ R e n ∈ N, n ≥ 2, quaisquer, definimos a raiz enésima de x,



denotada por n x, por

n
• se x = 0 então x=0
18 potenciação e radiciação


• se n é par e x > 0 então n
x é o número real w > 0 tal que wn = x

• se n é ímpar então n
x é o número real w tal que wn = x.

n
No símbolo x = w, x é chamado de radicando, n é chamado de índice da raiz e
w é a raiz enésima de x.

Observação 3.8. Segue da Definição 3.7 que a raiz enésima de índice par está definida somente
para números reais positivos. Além disso, neste caso, a raiz enésima de x é positiva.

Por exemplo,

• 16 = 4, pois 4 > 0 e 42 = 16

3
• −8 = −2, pois (−2)3 = −8

3
• 8 = 2, pois 23 = 8
r  4
4 16 2 2 2 16
• = , pois > 0 e =
81 3 3 3 81
Temos as seguintes propriedades de radiciação de números reais:

Proposição 3.9. Sendo n, m ∈ N, n, m ≥ 2 e x, y ∈ R∗ tais que quando n é par x > 0, y > 0,



x.y > 0, x /y > 0, x m > 0, e quando m é par n x > 0, temos que
√ √
n √
1. (Rad1) n x.y = x. n y
√ √
n
2. (Rad2) ( n x)m = x m
q√ √
m n
3. (Rad3) x = m.n x

n
x x
r
4. (Rad4) n = √
y n y

Demonstração. Tomados os devidos cuidados para que faça sentido calcular essas raízes,
cada uma das propriedades é provada a seguir.
√ √
• sejam x = w e n y = z. Logo, wn = x e zn = y, donde x.y = wn .zn = (w.z)n .
n

√ √ √
Portanto, n x.y = w.z = n x. n y.

• seja n x = w. Logo, wn = x, donde x m = (wn )m = wn.m = (wm )n . Portanto,
√n √
x m = wm = ( n x)m .
3.1 potenciação e radiciação 19

Observação 3.10. Observamos que se l ∈ N, l ≥ 2, vale que



n

n.l
(Rad5) xm = x m.l .

√n
De fato, se x m = w então wn = x m , donde (x m )l = (wn )l , isto é, x m.l = wn.l . Por-

n.l √n
tanto, x m.l = w = x m . No caso em n é par e x m > 0, sempre teremos n.l par,
independentemente da paridade de l, e x m.l = (x m )l > 0.

A propriedade Rad5 nos permite resolver o seguinte exemplo.


√ √
3

4
Exemplo. Colocar em ordem crescente os seguintes números: 2, 4e 3.

Resolução: Começamos calculando o m.m.c. dos índices das raízes, isto é, m.m.c.(2, 3, 4)=12.
Assim,
√ √
2.6

12
2= 26 = 64

3

3.4 √
12
4= 44 = 256

4

4.3

12
3= 33 = 27

4
√ √
3
Portanto, 3< 2< 4.

Continuemos a provar as propriedades de radiciação:


√ √
w = z. Logo, wn = x e zm = w, donde x = (zm )n = zn.m . Portanto,
• sejam n x = w e m q

n.m
√ m √
x=z= mw= n
x.
√ √ x wn  w n
• sejam n x = w e n y = z. Logo, wn = x e zn = y, donde = n = . Portanto,
√ y z z
n
x w x
r
n = = √ .
y z n y

Agora, estamos em condições de definir a potenciação para expoentes racionais.


m
Definição 3.11. Sendo x ∈ R e n, m ∈ N∗ , n ≥ 2, quaisquer, definimos x n , por
m
• se x = 0 então x n = 0
m √
n
• se n é par e x m > 0 então x n = xm
m √
n
• se n é ímpar então x n = xm .
20 potenciação e radiciação

Por exemplo,
1 √
• 22 = 2
q q
3 15
p
5
5 5
• (−32) =5 (−32)3 = (−25 )3 = −215 = −2 5 = −23 = −8
s
 3  3 r
2 4 4 2 4 8
• = =
3 3 27

A partir da Definição 3.11, das propriedades de potenciação e radiciação, é


possível mostrar que as propriedades (Pot1)-(Pot5) são válidas para o caso em que
os expoentes são números racionais. Tomados os devidos cuidados em relação às
condições de existência, as propriedades (Pot1)-(Pot4) são provadas a seguir. Para isso,
tomamos m, n ∈ Q+∗ dados por n = p/q, m = r /s, como p, q, r, s ∈ N ∗ , q, s ≥ 2.


p r p.s r.q √
q.s

q.s

q.s

q.s
x n .x m = x q .x s = x q.s .x s.q = x p.s . xr.q = x p.s .xr.q = x p.s+r.q =

p.s+q.r p
+ rs
=x q.s = xq = x n+m


 rs √ √
r r r r qp
 p p
n m s s q s q q.s
(x ) = x q = x q = xp = (x p )r = x p.r =

p.r p r
.s
= x q.s = x q = x n.m

p p √q
p p
• (x.y)n = (x.y) q = q (x.y) p = q x p .y p = x p . q y p = x q .y q = x n .yn
p p


s  s
 n   p p p
x x q x xp q
x p q n
• y = y = q
= q
p = p q p
= p = yxn
x
y y y yq


p p.s √

q.s
r
xn xq x q.s x p.s q.s x
p.s
q.s
p.s−q.r
p.s−q.r = x q.s
= r = r.q = √ = = x
xm x s x s.q
q.s
x q.r x q.r

p
− rs
= xq = x n−m
3.2 exercícios 21

Para o caso de expoentes racionais, também é possível apresentar uma definição


como a Definição 3.2:

Definição 3.12. Sendo x ∈ R∗ e n ∈ Q+∗ da forma n = p/q, com p, q ∈ N∗ , q ≥ 2,


satisfazendo as condições da Definição 3.11, definimos
p
−q 1
x −n = x = p
xq
Assim, por exemplo,
1 1 1
• 2− 3 = 1
= √
3
23 2

 − 3
49 2 1 1 1 1
=  3 = s 3 = s  3 u  2 !3 =
= v
36 49 2
49 72 u 7
t
36 36 6 2
6

1 1 1 1 216
= s   =   6 =  3 = =
343 343
7 6 7 2 7
6 6 216
6
√ π
Observação 3.13. A potenciação para expoentes reais, como em 2 , pode ser dada a partir
das funções exponencial e logaritmica. Para isso, é preciso restringir a base da potência para
números reais positivos e diferente de zero. Desse modo, para que a definição de potenciação com
expoentes reais generalize as definições de potenciação com expoentes inteiros ou racionais, é
necessário restringir a base a R+∗ .

3.2 exercícios

1. Calcule:
a) (−1 − 3)2 : (−2)3 + (−4)0

(−4)2 : (−8) + 1
16 : (−8) + 1 (a divisão tem prioridade em relação à soma).
−2 + 1
−1
22 potenciação e radiciação

30 − (−1)2 + 23
b)   −2
1
2

1 − (1) + 8
 +2
2 Lembrando: n ∈ N
1 1
a−n =
an
0+8
22 1
2−3 =
23
8
 n
4
 a −n 1 1 bn b
= a n = an
= n =
b (b) bn
a a
2

c) (−2)−4 − (−2)−3 − (−2)−2

1 1 1
− 3
− =
(−2) 4 (−2) (−2)2
Agora,mmc(16, 8, 4) :
1 1 1
− − = 16, 8, 4 4
16 −8 4
4, 2, 1 2
1 1 1 2, 1, 1 2
+ − =
16 8 4
1, 1, 1 16
1 + 2 − 4 −1
=
16 16
3.2 exercícios 23

10x+2
d)
10x+1
= 10x+2−(x+1) =10x+2−x−1 =101 = 10

e)

2− x+3 .4x−1 = 2− x+3 .(22 )x−1


= 2− x+3 .22(x−1)
= 2− x+3 .22x−2 Lembrar :
= 2− x+3+2x−2 (22 )3 = 22.3 = 26 = 64
3
= 2x+1 22 = 28 = 256


3

6

f) 2 27 − 3 64 + 2 100
64 2
32 2
p
3
p
6 27 3
2  33 − 3  26 + 2.10 16 2
9 3
= 2.3 − 3.2 + 20 8 2
3 3
= 6 − 6 + 20 = 20 4 2
1 33
2 2
1 26


3

5

g) 2 −125 + 4 32 − 6 3 −8
32 2
q
3
p5 3
q 125 5 16 2
= 2  (−5)3 + 4  25 − 6  (−2)3
25 5 8 2
= 2.(−5) + 4.2 − 6.(−2)
5 5 4 2
= −10 + 8 + 12 = 10
1 53 2 2
1 25
24 potenciação e radiciação

√ √
h) 3 − 5 28 + 9 + 4 175
p p
= 12 − 5 22 .7 + 4 52 .7
√ √ 28 2 175 5
= 12 − 5.2 7 + 4.5 7
√ √ √ 14 2 35 5
= 12 − 10 7 + 20 7 = 12 + 10 7
7 7 7 7

q
p √
3 5 1 22 .7 1 52 .7
Lembrar : a p = a q .Exemplo : 25 = 2 3


3

3

6

9
i) 189 + 448 − 2 49 + 343

448 2

√ √ √ √ 224 2
3 3 6 9 189 3
= 33 .7 + 26 .7 − 2 72 + 73 112 2 343 7
p
3 √ 3
√3

3 2 3 63 3
=  33 . 7 + 26 . 7 − 2.7 6 + 7 9 56 2 49 7
√3 6 √3 1 1 21 3
= 3 7 + 2 3 . 7 − 2.7 3 + 7 3 28 2 7 7
√ √ √ √ 7 7
3 3 3
= 3 7+4 7− 7 = 6 7
3
14 2 1 73
1 33 .7
7 7
1 26 .7

√ √ √ √
j) 3a x − 2x x − 4a2 x + 9x3 , sendo a e x positivos.
√ √ √ √
= 3a x − 2x x − 2a x + 3 x2 .x
√ √ √ √
= 3a x −2x x −2a x + 3x x
√ √ √
= a x + x x = (a + x) x
3.2 exercícios 25

r
6 225
k)
a4 .b2
s s
2 225 3
52 .32

6 6 5.3
= =
a4 .b2 a2 .b 75 3
25 5
  2   1 r
15 6 15 3
3 15 5 5
= = =
a2 .b a2 .b a2 .b 1 32 .52

r
112.y2 .n
l) m.y2 . , com m, n e y positivos.
32.m2
r
2 24 .7.y2 .n
= my .
25 .m2

4 √ √ √ √
2 2. 7.y. n 2 4 7.y n 112 2 32 2
y2 . √
m
= =y . 4√
4 m
2 .2.
 22 2 56 2 16 2
√ √ r 28 2 8 2
4 . 7. n 3 7n
= y3 . √ 14 2 4 2

=y
4 2 2
7 7 2 2
1 24 .7 1 25

√ p p √
Cuidado : x2 = | x |, pois (−3)2 6= −3, já que (−3)2 = 9=3


m) x2 + 6x + 9
q
= (x + 3)2 = | x + 3|

Lembrar: (a + b)2 = a2 + 2ab + b2



 x + 3, se x + 3 ≥ 0, isto é, x ≥ −3
Lembrar: | x + 3|=
−(x + 3), se x + 3 < 0, isto é, x < −3
26 potenciação e radiciação

√ √ √ √
n) 5 a5 + 4a3 − a 4a3 − a , sendo a positivo.
√2
√ √ √
= 5 a4 .a + 2 a2 .a − a.2 a2 .a − a
4√ √ √ √
= 5a 2 a + 2| a| a − 2a| a| a − a
√ √ √ √
= 5a2 a + 2a a − 2a.a a − a
√ √ √ √
= 5a2 a + 2a a − 2a2 a − a
√ √ √
= 3a2 a + 2a a − a

= (3a2 + 2a − 1) a

Veja que: | a|= a ,pois a > 0

r r r
2 12 45
o) . .
3 5 4
v
9
u
u
t 2.12.
 45> √
 √ √
= = 18 = 32 .2 = 3 2
3 .5 .4


2

3

4
p) a1 . a1 . a1 , sendo a positivo.

1 1 1 mmc(2, 3, 4) :
= a 2 .a 3 .a 4
1 1 1 2, 3, 4 2
= a2+3+4
6+4+3 13 1, 3, 2 2
= a 12 = a 12

12

12 √ √ 1, 3, 1 3
= a13 = a12 .a = | a| 12 a = a 12 a
1, 1, 1 12
3.2 exercícios 27

512 2
256 2
128 2
rq 64 2
2 2 √
2

8

8

8

8 32 2
q) 512 = 512 = 29 = 28 .2 = 2. 2
? ↑ 16 2
2×2×2
8 2
4 2
2 2
1 29

√ √
r) (2. 2 − 1).( 2 − 4)
√ √ √ √
= 2. 2. 2 − 8 2 − 2 + 4
√ √ √
= 2 4 − 9 2 + 4 = 2.2 − 9 2 + 4
√ √
= 4−9 2+4 = 8−9 2


3
√ √
3
s) ( 2. 3) : 6
√3
√ √3
√ √
2. 3  2. 3 3
= √ 3
= √3 3
√ =√ 3
2.3  2. 3 3
1
32 ×1 1 3−2
= 1 = 3 :2 − 3 = 3 6
33 ? ↑
mmc(2,3)=6
1 √
6

6
= 3 6 = 31 = 3
28 potenciação e radiciação

√ √
t) (2 3 − 2)2
√ √ √ √
= (2 3)2 − 2.2. 3. 2 + ( 2)2
√ √
= 4.3 − 4 6 + 2 = 12 − 4 6 + 2

= 14 − 4 6 Lembrar : (a − b)2 = a2 − 2ab + b2

√ √
u) (3 2 − 5).(3 2 + 5)

= (3 2)2 − 52
= 9.2 − 25 = 18 − 25 = −7 Lembrar : (a + b).(a − b) = a2 − b2

2. Racionalize o denominador das seguintes expressões numéricas:


√ √
2+ 5
a) √
2
√ √ √
2+ 5 2
= √ .√
2 2

2 + 10
=
2

2
b) √
3
3 16
2 2
= √ 3
= √ 3
3 24 3 23 .2√
3
2 1 22
= √3
= √ 3
. √
3
3.2 2 3 2 22
√ 3
√ 3
√3

3
4 4 4 4
= √ 3
= √3
= =
3 2.22 3 23 3.2 6


3−1
c) √
3+1
√ √
3−1 3−1
= √ .√
3+1 3−1
3.2 exercícios 29

√ √ √ √
( 3 − 1)2 ( 3)2 − 2. 3.1 + 12 4 − 2 3
= √ = =
( 3)2 − 12 3−1 2

2− 3

2 2
d) √ −√
5−1 5+1
√ √
2 5+1 2 5−1
=√ .√ −√ .√
5−1 5+1 5+1 5−1
√ √ √ √
2 5+2 2 5−2 2 5+2 2 5−2 4
= √ − √ = − = =1
( 5)2 − 12 ( 5)2 − 12 4 4 4
POLINÔMIOS
4
4.1 polinômios

4.1.1 Divisão de Polinômios

Você se lembra da divisão inteira de números? Por exemplo, na divisão inteira de 9


por 4, temos:

dividendo

divisor

9 4

9 = 2 × 4 + 1
1 2

resto quociente quociente resto

Observe que o resto é menor que o divisor, pois se ele fosse maior ou igual ao
divisor seria possível aumentar o quociente. Este algoritmo de divisão é chamado de
Algoritmo de Euclides, o qual também é aplicado para a divisão de polinômios. O
algoritmo se aplica à divisão dos polinômios p(x) e d(x) se o grau de p(x) for maior ou
igual ao grau de d(x). Neste caso, a divisão termina quando o grau do polinômio-resto
r(x) é menor que o grau do polinômio divisor.

p(x) d(x)

r(x) q(x)

p(x) = q(x).d(x) + r(x) com grau(r(x)) < grau(d(x))

31
32 polinômios

Para dividir dois polinômios usando-se o algoritmo de Euclides, o primeiro passo


é escrevê-los na ordem da esquerda para a direita de decrescimento de graus.
Por exemplo, façamos a divisão do polinômio p(x) = 2x + 5x4 − 3x2 por d(x) =
−1 + x 2
Prosseguimos com os seguintes passos:

1. Reescrever os polinômios em ordem decrescente de grau.

p(x) = 5x4 − 3x2 + 2x


d(x) = x2 − 1

2. Dividir o primeiro termo de p(x), isto é, 5x4 , pelo primeiro termo de d(x), x2 .

5x4
= 5x2
x2

Portanto, o 1o termo do quociente q(x) é 5x2 .

5x4 − 3x2 + 2x x2 − 1

5x2

3. Multiplicamos 5x2 por d(x), que resulta em 5x4 − 5x3 . Então subtraímos o resul-
tado de p(x).

5x4 − 3x2 + 2x x2 − 1

−(5x4 − 5x2 ) 5x2

0 + 2x2 + 2x

Chamamos o resultado de r1 (x).

4. Comparamos o grau de r1 (x) com o grau de d(x). Neste caso ambos são polinômios
de 2o grau, então continuamos com a divisão, aplicando os passos 2 e 3 para r1 (x).
Ou seja,
4.1 polinômios 33

• Dividimos o primeiro termo de r1 (x) pelo primeiro termo de d(x).

2x2
=2
x2

• Somamos o resultado da divisão a q(x), obtendo assim o 2o termo de q(x).

• Multiplicamos o resultado por d(x) e subtraímos de r1 (x).

5x4 − 3x2 + 2x x2 − 1

−(5x4 − 5x2 ) 5x2 +2

0 + 2x2 + 2x

−(2x2 + 2)

0 + 2x + 2

5. Temos então r2 (x) = 2x + 2, que tem grau igual a 1. Como o grau de r2 (x) é menor
que o grau de d(x) então a divisão acabou e r(x) = r2 (x).

Portanto, na divisão de 5x4 − 3x2 + 2x por x2 − 1 obtemos o quociente q(x) =


5x2 + 2 e o resto r(x) = 2x + 2. Desse modo:

5x4 − 3x2 + 2x = (x2 − 1).q(x) + r(x)


5x4 − 3x2 + 2x = (x2 − 1).(5x2 + 2) + (2x + 2)

Exemplo. A seguir, fazemos a divisão do polinômio n5 − n por n2 + 1.

n5 − n n2 + 1

−(n5 + n3 ) n3 − n

− n3 − n

−(−n3 − n)

0
34 polinômios

Portanto, n5 − n = (n3 − n).(n2 + 1).

Se você quiser, você pode fatorar n3 − n :

n3 − n = n(n2 − 1)
= n(n − 1)(n + 1)

Desta forma:

n5 − n = (n3 − n)(n2 + 1)
= n(n − 1)(n + 1)(n2 + 1)

n5 − n = n(n − 1)(n + 1)(n2 + 1)


4.1 polinômios 35

4.1.2 M.M.C. (Mínimo Múltiplo Comum) e M.D.C. (Máximo Divisor Comum) de Polinômios

A partir da forma fatorada, podemos determinar o m.m.c. e o m.d.c. de um conjunto de


polinômios.
Dado um conjunto de polinômios, escritos na forma fatorada, seu m.m.c. é
determinado multiplicando-se todos os fatores que aparecem na forma fatorada, sendo
que no caso de fatores repetidos, toma-se o de maior grau. Por exemplo, determi-
nemos o m.m.c. dos polinômios (nas indeterminadas a e b) a2 − 4ab + 4b2 e a2 − 4b2 .
Primeiramente, obtemos sua forma fatorada:

a2 − 4ab + 4b2 = (a − 2b)2


a2 − 4b2 = a2 − (2b)2 = (a − 2b)1 (a + 2b)

Comparando as formas fatoradas, vemos que o fator comum é (a − 2b), sendo


que aquele de maior grau é (a − 2b)2 .
Portanto,

m.m.c.(a2 − 4ab + 4b2 , a2 − 4b2 ) = (a − 2b)2 (a + 2b).

Dado um conjunto de polinômios, escritos na forma fatorada, seu m.d.c. é


determinado multiplicando-se somente os fatores que aparecem na forma fatorada de
todos os polinômios do conjunto, sendo que, neste caso, toma-se o fator de menor
grau. Por exemplo, determinemos o m.d.c. dos polinômios a2 − 4ab + 4b2 e a2 − 4b2 .
Primeiramente, obtemos sua forma fatorada:

a2 − 4ab + 4b2 = (a − 2b)2


a2 − 4b2 = a2 − (2b)2 = (a − 2b)1 (a + 2b)

Comparando as formas fatoradas, vemos que o único fator comum é (a − 2b),


sendo que aquele de menor grau é (a − 2b)1 .
Portanto,
m.d.c.(a2 − 4ab + 4b2 , a2 − 4b2 ) = (a − 2b).

Exemplo. Dados os polinômios (nas indeterminadas a, b, x, y, z) 18a3 b3 x2 y2 , 30b5 x4 z3 e


24a2 x3 y3 z, calculamos a seguir o m.m.c.(18a3 b3 x2 y2 , 30b5 x4 z3 , 24a2 x3 y3 z) e o m.d.c.(18a3 b3 x2 y2 ,
30b5 x4 z3 , 24a2 x3 y3 z). Para isso, obtemos a forma fatorada destes polinômios:
36 polinômios

18a3 b3 x2 y2 = 32 .2.a3 .b3 .x2 .y2


30b5 x4 z3 = 2.3.5.b5 .x4 .z3
24a2 x3 y3 z = 3.23 .a2 .x3 .y3 .z1

Portanto,

m.m.c.(18a3 b3 x2 y2 , 30b5 x4 z3 , 24a2 x3 y3 z) = 32 .23 .5.a3 .b5 .x4 .y3 .z3 = 360a3 b5 x4 y3 z3

m.d.c.(18a3 b3 x2 y2 , 30b5 x4 z3 , 24a2 x3 y3 z) = 3.2.x2 = 6x2

Exemplo. Dados os polinômios 6x2 − 12x + 6, 3x2 − 3 e 6x − 6, calculamos a seguir o


m.m.c.(6x2 − 12x + 6, 3x2 − 3, 6x − 6) e o m.d.c.(6x2 − 12x + 6, 3x2 − 3, 6x − 6). Para
isso, obtemos a forma fatorada destes polinômios:

6x2 − 12x + 6 = 6(x2 − 2x + 1) = 3.2.(x − 1)2


3x2 − 3 = 3.(x2 − 1) = 3.(x − 1).(x + 1)
6x − 6 = 6(x − 1) = 3.2(x − 1)

Portanto,

m.m.c.(6x2 − 12x + 6, 3x2 − 3, 6x − 6) = 3.2.(x − 1)2 .(x + 1) = 6x3 + 6x2 − 6x − 6

m.d.c.(6x2 − 12x + 6, 3x2 − 3, 6x − 6) = 3.(x − 1) = 3x − 3


E Q UA Ç Õ E S
5
5.1 equações polinomiais do 1 o grau

Uma Equação Polinomial do 1o Grau é uma expressão algébrica do tipo

ax + b = 0, a, b ∈ R , a 6= 0. (1)

Por exemplo, no conjunto dos números reais, a expressão 2x + 3 = 0 é uma


equação polinomial do 1o grau. E o que isto quer dizer? Significa, neste caso, determinar
os números reais cujo dobro somado com 3 é igual a 0.
Na escola básica, aprendemos uma técnica da resolução deste tipo:

2x + 3 = 0 Passamos o 3 para o outro lado, trocando o sinal


2x = −3 Passamos o 2 para o outro lado, dividindo
3
x=−
2

Desse modo, o conjunto solução da equação 2x + 3 = 0 é


 
3
S= − .
2

Ou seja, x = −3/2 é o único número real que satisfaz a equação 2x + 3 = 0.


Observe que a mesma equação poderia não ter solução. Basta, por exemplo,
considerá-la no conjunto dos números naturais, uma vez que, em N, o conjunto solução
da equação é S = ∅.
No caso de equações polinomiais do 1o grau, ou não há solução (isto é S = ∅) ou
temos uma única solução.

37
38 equações

Por que a técnica de "passar para o outro lado"funciona?

A resposta é dada por meio de um conjunto de propriedades válidas para os


números reais:

ax + b = 0 Soma-se o oposto de b dos dois lados1


(ax + b)+(−b) = 0+(−b) Usa-se que 0 é o elemento neutro da soma
(ax + b) + (−b) = −b Aplica-se a associatividade da soma
(ax) + (b + (−b)) = −b Usando a propriedade de soma do elemento com seu oposto
ax + 0 = −b Usando que 0 é o elemento neutro da soma
ax = −b Como a 6= 0, multiplicamos os dois lados pelo inverso de a
   
1 1
(ax) = (−b) Usa-se a propriedade associativa da multiplicação
a a
 
1 b
.a x = − Pela definição de elemento inverso
a a
b
1x = − Como 1 é o elemento neutro da multiplicação
a
b
x=− Caso exista, esta é a solução da equação
a

Exemplo. Resolver, em R, as seguintes equações polinomiais do 1o grau:

2(x + 3) − 1 = 4 − 3(x − 2)

2(x + 3) − 1 = 4−3(x − 2) Aplicamos a propriedade distributiva


2x + 6 − 1 = 4−3x+6 Somamos −6 aos dois lados
2x + 6 − 1−6 = 4 − 3x + 6−6
2x − 1 = 4 − 3x Somamos 3x − 4 aos dois lados
5x − 5 = 0 Obtemos uma Eq. do 1o Grau

1 Elemento Neutro da Soma: a + 0 = a, ∀ a ∈ R


Associatividade da Soma: a + (b + c) = (a + b) + c, ∀ a, b, c ∈ R
Elemento Oposto: a + (− a) = 0, ∀ a ∈ R
Associatividade da Multiplicação: a(bc) = (ab)c, ∀ a, b, c ∈ R
Elemento Neutro da Multiplicação: 1a = a, ∀ a ∈ R
5.1 equações polinomiais do 1 o grau 39

Tomando-se a = 5 e b = −5 em (1), temos


b −5
x=− =− =1
a 5
S = {1}

Exemplo. Resolva, em R, a seguinte equação algébrica:


5 x
+1 =
x2 −9 x+3
Primeiramente, determinamos a condição de existência da equação anterior, ou seja, os
números reais para os quais faz sentido calcular a equação:

5 x
+1 =
x2 −9 x+3

x 2 − 9 6= 0 x + 3 6= 0

x 6= 3 ∧ x 6= −3 x 6= −3

Assim, a condição de existência é: x ∈ R, x 6= −3 ∧ x 6= 3.


O próximo passo é reduzir a equação algébrica a um mesmo denominador. Para isso,
determinamos o m.m.c. dos denominadores, isto é, o m.m.c.(x2 − 9, 1, x + 3).

x2 − 9 = x2 − 32 = 1(x − 3)(x + 3)
1=1
x + 3 = 1(x + 3)

Logo,
m.m.c.(x2 − 9, 1, x + 3) = 1(x − 3)(x + 3) = x2 − 9

Desse modo,

5 x2 − 9 (x − 3)x
+ = 2 Somamos as frações
x2 − 9 x2 − 9 x −9
2
5 + x − 9 (x − 3)x
= 2 Multiplicamos por (x2 − 9) os dois lados
x2 − 9 x −9
5 + x2 − 9 = (x − 3)x Aplicamos a propriedade distributiva
40 equações

5 + x2 − 9 = x2 − 3x Somamos − x2 + 3x aos dois lados


5 + x2 −9− x2 + 3x = 0 Somamos os termos semelhantes
3x − 4 = 0 Somamos 4 aos dois lados
3x = 4 Dividimos ambos os lados por 3
4
x=
3

4 4
Como 6= 3 e 6= −3, temos a solução:
3 3

4
S={ }
3

5.2 equações polinomiais do 2 o grau

Uma Equação Polinomial do 2o Grau é uma expressão algébrica do tipo:

ax2 + bx + c = 0, a, b, c ∈ R, a 6= 0. (2)

Por exemplo, x2 − 7x + 10 = 0 é uma equação polinomial do 2o grau com a = 1,


b = −7 e c = 10. No conjunto dos números reais, R, resolvê-la significa determinar os
números reais cujo quadrado, subtraído de seu sétuplo, e somado com 10 é igual a 0.

5.2.1 A técnica de Bhaskara

Na escola, aprendemos uma técnica de resolução de equações deste tipo, que é conhe-
cida como "fórmula de Bhaskara".

x2 − 7x + 10 = 0

a = 1 b = −7 c = 10
∆ = b2 − 4ac = (−7)2 − 4.1.10 = 49 − 40 = 9
5.2 equações polinomiais do 2 o grau 41


7 + 3 10
√ √

 = =5
 2 2

−b ± ∆ −(−7) ± 9 7 ± 3

x= = = =
2a 2.1 2
7 − 3 = 4 = 2




2 2

Assim, o conjunto solução da da equação x2 − 7x + 10 = 0, em R, é

S = {2, 5}

Os números 2 e 5 também são chamados de raízes da equação x2 − 7x + 10 = 0.


Observe que, desse modo, x2 − 7x + 10 pode ser fatorado como:

x2 − 7x + 10 = (x −2)(x −5)

Em geral, se x1 e x2 são as raízes da equação ax2 + bx + c = 0 então:

ax2 + bx + c = a(x − x1 )(x − x2 )

Exemplo. x2 + 3x − 4 = 0

Cuidado: não faça isso!


x2 + 3x = 4
Está totalmente errado! ab = 4 pode ocorrer
x(x + 3) = 4 1
quando a = b = 2 ou a = 2 e b = 8.
x = 4 ou x + 3 = 4

a=1 b=3 c=-4


∆= b2 − 4ac = 32 − 4.1.(−4) = 9 + 16 = 25

−3 + 5 2

√ √

 = =1
 2 2

−b ± ∆ −3 ± 25 −3 ± 5

x= = = =
2a 2.1 2
 −3 − 5 = −8 = −4




2 2

Assim, o conjunto solução da da equação x2 + 3x − 4 = 0, em R, é

S = {−4, 1}
42 equações

Observe que, desse modo, x2 + 3x − 4 pode ser fatorado como:

x2 + 3x − 4 = (x+4)(x −1)

Observamos também que o número de raízes de uma equação polinomial do 2o


grau em R é determinado pelo sinal do discriminante ∆ = b2 − 4ac.

∆ < 0 : não tem solução real


−b
∆ = 0 : duas raízes reais e iguais (x1 = x2 = )
2a
√ √
−b − ∆ −b + ∆
∆ > 0 : duas soluções reais distintas (x1 = 6= x2 = )
2a 2a

Por que a técnica do "método de Bhaskara"funciona?

Para responder a esta pergunta, primeiramente entendamos a técnica conhecida


como completamento de quadrado.

5.2.2 A técnica de completamento de quadrado

No capítulo sobre Fatoração, estudamos o caso conhecido como Trinômio Quadrado


Perfeito. Lembra? Por exemplo,

x2 + 4x + 4 = (x + 2)2 .

Ou seja, x2 + 4x + 4 pode ser escrito como quadrado perfeito. Mas, nem sempre
ocorre isso. Por exemplo, x2 + 4x + 5 não pode ser escrito como quadrado perfeito, pois
caso x2 + 4x + 5 = (x + β)2 , então

x2 + 4x + 5 = x2 + 2βx + β2 ,

donde obteríamos 2β = 4, isto é, β = 2 e β2 = 5, o que seria um absurdo.


No entanto, podemos completar quadrado à expressão algébrica x2 + 4x + 5. A
técnica de completamento de quadrado funciona da seguinte maneira:

(x + 2)2 = x2 + 4x+4.

Assim,
x2 + 4x + 5 = (x2 + 4x+4)−4 + 5 = (x + 2)2 + 1.
5.2 equações polinomiais do 2 o grau 43

Note que na expressão do quadrado perfeito na forma (x + β)2 , o segundo termo


β é a metade do número que multiplica x na expressão inicial. Por exemplo, no caso
4
anterior, β = 2 = 2.

Exemplo. Complete quadrado em x2 − 7x + 2.


Temos que
 2 !  2
7 2 49 7 2 41
   
7 7
x2 − 7x + 2 = 2
x − 7x+ − +2 = x− − +2 = x− − .
2 2 2 4 2 4

Agora, estamos em condições de deduzir a técnica de Bhaskara a partir de


completamento de quadrado:

ax2 + bx + c = 0, com a 6= 0.

Como a 6= 0, dividimos a equação ax2 + bx + c = 0 por a, obtendo:

b c
x2 + x + = 0.
a a
Aplicamos a técnica de completamento de quadrado, lembrando que
 2  2
b b2 b
x+ = x + x+ .
2a a 2a
Assim, temos que
2 ! 2 2
b2
  
b c b b b c b c
x2 + x + = 0 =⇒ x2 + x+ − + = 0 =⇒ x+ − + = 0.
a a a 2a 2a a 2a 4a2 a
2
b2

b c
=⇒ x+ = 2
− .
2a 4a a
Como m.m.c.(4a2 , a) = 4a2 então

b 2 b2 − 4ac
 
x+ = .
2a 4a2

É neste momento que aparece o discriminante ∆ = b2 − 4ac.


 2
b
Como x + 2a ≥ 0 e 4a2 > 0, a equação
2
b2 − 4ac ∆

b
x+ = 2
= 2
2a 4a 4a
44 equações

tem solução real se e somente se ∆ ≥ 0. Neste caso, as soluções são


r √
b ∆ ± ∆
x+ =± = .
2a 4a2 2| a |

Como ±| a|= ± a, temos que



b ± ∆
x+ = .
2a 2a
Isolando o x, obtemos as soluções da equação ax2 + bx + c = 0:
√ √
b ∆ −b ± ∆
x=− ± = .
2a 2a 2a

Portanto, a única ferramenta que necessitamos para resolver equações polinomiais


do 2o grau é o completamento de quadrado.

Exemplo. Em R, resolva a equação x2 + 3x − 4 = 0.


Temos:
 2 !  2
3 3
x2 + 3x+ − −4 = 0
2 2

 2
3 9
x+ − −4 = 0
2 4

 2
3 9
x+ = +4
2 4

 2
3 9 + 16
x+ =
2 4

 2
3 25
x+ =
2 4
r
3 25 5
x+ = ± =±
2 4 2

3 5
x=− ±
2 2
Assim, as raízes de x2 + 3x − 4 = 0 são x = − 32 + 25 = 2
2 = 1 e x = − 32 − 5
2 = − 28 = −4.
Isto é, o conjunto solução da equação x2 + 3x − 4 = 0 é S = {−4, 1}.
5.2 equações polinomiais do 2 o grau 45

Exemplo. Resolva, em R, a equação x2 − 1 = 0.


Resolução: temos uma equação polinomial do 2o grau (incompleta) com a = 1, b = 0 e
c = −1.
x2 =1


x = ± 1 = ±1
Logo, o conjunto solução é S = {−1, 1}.

Exemplo. Resolva, em R, a equação x2 − 3x = 0


Resolução: temos uma equação polinomial do 2o grau (incompleta) com a = 1, b = −3 e
c = 0.

x(x + 3) = 0
x = 0 ou x + 3 = 0 Em R, a multiplicação é igual a 0
quando um ou ambos os fatores são iguais a 0.
x = −3

Logo, o conjunto solução é S = {−3, 0}.

Exemplo. Fatore a expressão algébrica 2x3 + 6x2 − 8x.


Resolução: temos que

2x3 + 3x2 − 8x = 2x(x2 + 3x − 4)

Mas, vimos há pouco que as raízes de x2 + 3x − 4 = 0 são −4 e 1. Assim,

2x3 + 3x2 − 8x = 2x(x − (−4))(x − 1) = 2x(x + 4)(x − 1)

A seguir, apliquemos a técnica de resolução de equações polinomiais do 2o grau


para resolvermos dois tipos especiais de equações: as biquadradas e as irracionais.

5.2.3 Equações biquadradas

Equações biquadradas são equações do tipo ax4 + bx2 + c = 0, com a, b, c ∈ R e a 6= 0. O


caso interessante é aquele em que b 6= 0 e c 6= 0. A técnica consiste basicamente em fazer
uma mudança de variáveis. Por exemplo, chamando x2 de t. Neste caso, x4 = (x2 )2 = t2 .
É o que faremos nos exemplos a seguir.
46 equações

Exemplo. Resolva, em R, a equação

x4 − 5α2 x2 + 4α4 = 0,

onde α é uma constante real positiva.


Resolução: Façamos a mudança de variável: x2 = t. Assim, temos que

x4 = (x2 )2 = t2 .

Substituindo na equação inicial, temos:

(temos então uma equação polinomial do 2o grau


t2 − 5α2 t + 4α4 = 0
em t)
2 ! 2
5α2 5α2
 
2 2
t − 5α t+ − + 4α2 = 0.
2 2
2
5α2 25α4

t− − + 4α4 = 0
2 4
2
5α2 25α4

t− = − 4a4
2 4
2
5α2 25α4 − 16α4

t− =
2 4
2
5α2 9α4

t− =
2 4
r
5α2 9α4
t− =±
2 4
5α2 3α2
t− =±
2 2
5α2 3α2
t= ±
2 2

5α2 3α2 5α2 3α2


t= + ou t= −
2 2 2 2
8α2 2α2
t= t=
2 2
t = 4α2 t=α 2
5.2 equações polinomiais do 2 o grau 47

Voltando à variável x, temos que x2 = t. Logo,

x2 = 4α2 ou x 2 = α2
√ √
x = ± 4α2 x = ± α2
x = ±2α x = ±α

Portanto, o conjunto solução de x4 − 5α2 x2 + 4α4 = 0 é

S = {−2α, −α, α, 2α}.

Exemplo. Resolva, em R, a equação

(x2 + 1)2 + (x2 − 1)2 = 4x2 .

Resolução:

x4 + 2x2 + 1 + x4 − 2x2 + 1 = 4x2

2x4 − 4x2 + 2 = 0 (: 2)

x4 − 2x2 + 1 = 0

Mudança de variável: x2 = t.

t2 − 2t + 1 = 0

(t − 1)2 = 0

t−1 = 0

t=1

Como t = x2 então x2 = 1. Logo, x = ±1.


Portanto, o conjunto solução da equação (x2 + 1)2 + (x2 − 1)2 = 4x2 é

S = {−1, 1}.

Agora, partimos para as equações irracionais, que são aquelas em que a variável
aparece também como radicando.
48 equações

5.2.4 Equações Irracionais

Façamos alguns exemplos:

Exemplo. Em R, resolva a equação


√ √
3x − x + 1 = 1.

A condição de existência é que

3x ≥ 0 e x + 1 ≥ 0,
isto é, ("e"indica simultaneamente/intersecção)
x ≥ 0 e x ≥ −1.

Logo, a condição de existência é x ≥ 0.


Agora, passemos a resolver a equação. O truque consiste em separar as raízes quadradas
nos dois lados da equação e elevar a equação ao quadrado.

√ √
3x − x + 1 = 1
√ √
3x = x + 1 + 1
√ √
( 3x)2 = ( x + 1 + 1)2
√ √ Lembrar:
3x = ( x + 1)2 + 2 x + 1 + 12 √
√ x 2 = | x |.
3x = x + 1 + 2 x + 1 + 1 √
√ Mas, ( x)2 = x, pois, neste caso, x ≥ 0.
3x − x − 2 = 2 x + 1

2x − 2 = 2 x + 1 :2

x−1 = x+1


Aqui surge mais uma condição: como x + 1 ≥ 0, devemos ter que x − 1 ≥ 0, isto é,
x ≥ 1. Assim, ficamos com x ≥ 0 e ≥ 1, donde temos x ≥ 1 como condição para ser solução.
Elevando a equação anterior ao quadrado, obtemos:

(x − 1)2 = ( x + 1)2

x2 − 2x + 1 = x + 1

x2 − 3x = 0
5.2 equações polinomiais do 2 o grau 49

x(x − 3) = 0

Consequentemente, x = 0 ou x − 3 = 0, isto é, x = 3.
Observamos que somente x = 3 satisfaz a condição x ≥ 1.
√ √
Portanto, a única raiz da equação 3x − x + 1 = 1 é x = 3, e o conjunto solução é

S = {3} .

Exemplo. Resolva, em R, a equação


q √
x+ x + 8 = 2.

Neste caso, é necessário que x + 8 ≥ 0 e x + x + 8 ≥ 0.
Comecemos elevando a equação dada ao quadrado:
q √
( x + x + 8)2 = (2)2

Nas condições de existência,



x+ x+8 = 4

x+8 = 4−x

Agora vamos elevar ao quadrado novamente:


( x + 8)2 = (4 − x)2

x + 8 = 16 − 8x + x2

x2 − 9x + 8 = 0

∆ = 81 − 32 = 49
9±7
x=
2

9+7 9−7
x= ou x=
2 2
16 2
x= x=
2 2
x=8 x=1

x = 1 satisfaz a equação inicial, pois


q √ √ √
1 + 1 + 8 = 1 + 3 = 4 = 2.
50 equações

Mas x = 8 não satisfaz, pois


q √ √ √
8+ 8+8 = 8+4 = 12 6= 2.

Portanto, o conjunto solução da equação é

S = {1} .

Observação 5.1. Neste último exemplo, usamos uma estratégia diferente do primeiro exemplo,
pois obtemos as possíveis soluções e verificamos se elas satisfam (ou não) a equação dada.
Outra forma de resolver esta equação irracional é verificar se as possíveis soluções satisfazem as

condições de existência: x + 8 ≥ 0, x + x + 8 ≥ 0 e 4 − x ≥ 0, sendo esta última proveniente

de x + 8 = 4 − x.

5.3 equações modulares

Nesta seção, discutimos algumas equações que envolvem módulos de polinômios do 1o grau
ou do 2o grau. Elas podem ser facilmente solucionadas com a análise dos gráficos das funções
lineares e quadráticas, mas esta abordagem será feita somente após o estudo dessas funções.
Por enquanto, resolveremos as equações modulares com uma técnica algébrica proveniente da
definição de módulo de número real.

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

| x − 7|= 1.

Resolução: lembramos que isso significa, geometricamente, determinar os números reais


cuja distância a 7 é igual a 1. Desse modo,

x−7 = 1 ou x − 7 = −1
x = 1+7 x = −1 + 7
x=8 x=6

Portanto, o conjunto solução da equação | x − 7|= 1 em R é

S = {6, 8}
5.3 equações modulares 51

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

| x + 1|= |2x − 1|.

Resolução: A técnica consiste em analisar os sinais dos polinômios para os quais estão
sendo tomados os módulos; no caso, os sinais de x + 1 e de 2x − 1. Para isso, determinam-se
as raízes das equações x + 1 = 0 e 2x − 1 = 0, que são, respectivamente, −1 e 1/2. Temos que
x + 1 ≥ 0 ⇐⇒ x ≥ −1, de modo que | x + 1|= x + 1 ⇐⇒ x ≥ −1. Caso contrário (isto é,
x < −1), temos que | x + 1|= −(x + 1).
Analogamente, 2x − 1 ≥ 0 ⇐⇒ x ≥ 1/2, de modo que |2x − 1|= 2x − 1 ⇐⇒ x ≥ 1/2.
Caso contrário (isto é, x < 1/2), temos que |2x − 1|= −(2x − 1).
Agora, marcamos as 2 raízes sobre a reta numérica, observando os 3 intervalos determina-
dos por elas:
−1 1/2
R
sinal de x + 1 (−) (+) (+)

sinal de 2x − 1 (−) (−) (+)

Se x < −1 então x + 1 < 0 e 2x − 1 < 0, de modo que | x + 1|= −(x + 1) e |2x − 1|= −(2x − 1).
Assim,

| x + 1| = |2x − 1|
−(x + 1) = −(2x − 1)
x + 1 = 2x − 1
2= x

Como 2 > −1 então a equação | x + 1|= |2x − 1| não tem solução real no intervalo
] − ∞, −1[.
Se −1 ≤ x < 1/2 então x + 1 ≥ 0 e 2x − 1 < 0, de modo que | x + 1|= x + 1 e
|2x − 1|= −(2x − 1). Assim,

| x + 1| = |2x − 1|
x + 1 = −(2x − 1)
x + 1 = −2x + 1
3x = 0
x= 0
52 equações

Como −1 < 0 < 1/2 então a equação | x + 1|= |2x − 1| tem x = 0 como única solução
real no intervalo [−1, 1/2[.
Se x ≥ 1/2 então x + 1 > 0 e 2x − 1 ≥ 0, de modo que | x + 1|= x + 1 e |2x − 1|= 2x − 1.
Assim,

| x + 1| = |2x − 1|
x + 1 = 2x − 1
2= x

Como 2 > 1/2 então a equação | x + 1|= |2x − 1| tem x = 2 como única solução real no
intervalo [1/2, +∞[.
Portanto, o conjunto solução da equação |2x − 1|= 2x − 1 é

S = {0, 2}

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0.

Resolução: A técnica consiste em analisar os sinais dos polinômios para os quais estão
sendo tomados os módulos; no caso, os sinais de x − 2 e de x + 2. Para isso, determinam-se
as raízes das equações x − 2 = 0 e x + 2 = 0, que são, respectivamente, 2 e −2. Temos que
x − 2 ≥ 0 ⇐⇒ x ≥ 2, de modo que | x − 2|= x − 2 ⇐⇒ x ≥ 2. Caso contrário (isto é, x < 2),
temos que | x − 2|= −(x − 2).
Analogamente, x + 2 ≥ 0 ⇐⇒ x ≥ −2, de modo que | x + 2|= x + 2 ⇐⇒ x ≥ −2. Caso
contrário (isto é, x < −2), temos que | x + 2|= −(x + 2).
Agora, marcamos as 2 raízes sobre a reta numérica, observando os 3 intervalos determina-
dos por elas:
−2 2
R
sinal de x − 2 (−) (−) (+)

sinal de x + 2 (−) (+) (+)

Se x < −2 então x − 2 < 0 e x + 2 < 0, de modo que | x − 2|= −(x − 2) e | x + 2|= −(x + 2).
Assim,

1 − | x − 2|+x.| x + 2| = 0
5.3 equações modulares 53

1 + (x − 2) − x.(x + 2) = 0
1 + x − 2 − x2 − 2x = 0
x2 + x + 1 = 0

cujo discriminante é ∆ = 1 − 4 = −3 < 0, de modo que a equação 1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0 não


tem solução real no intervalo ] − ∞, −2[.
Se −2 ≤ x < 2 então x − 2 < 0 e x + 2 ≥ 0, de modo que | x − 2|= −(x − 2) e
| x + 2|= x + 2. Assim,

1 − | x − 2|+x.| x + 2| = 0
1 + (x − 2) + x.(x + 2) = 0
1 + x − 2 + x2 + 2x = 0
x2 + 3x − 1 = 0

cujo discriminante é ∆ = 9 + 4 = 13 e cujas raízes são



−3 ± 13
x=
2
√ √
−3 + 13 −3 − 13
Como −2 < (≈ 0, 3) < 2, mas (≈ −3, 3) < −2 então a equação
2 √ 2
−3 + 13
1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0 tem x = como única solução real no intervalo [−2, 2[.
2
Se x ≥ 2 então x − 2 ≥ 0 e x + 2 > 0, de modo que | x − 2|= x − 2 e | x + 2|= x + 2.
Assim,

1 − | x − 2|+x.| x + 2| = 0
1 − (x − 2) + x.(x + 2) = 0
1 − x + 2 + x2 + 2x = 0
x2 + x + 3 = 0

cujo discriminante é ∆ = 1 − 12 = −11 < 0, de modo que a equação 1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0


não tem solução real no intervalo [2, +∞[.
Portanto, o conjunto solução da equação 1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0 é
( √ )
−3 + 13
S=
2
54 equações

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

| x − 4|.| x + 4|= 16.

Resolução: Podemos seguir os passos da técnica apresentada nos dois exemplos anteriores.
No entanto, a resolução desta equação é mais simples se observarmos que

| x − 4|.| x + 4|= |(x − 4).(x + 4)|= | x2 − 16|

Assim,

| x2 − 16|= 16 ⇐⇒ x2 − 16 = ±16

x2 − 16 = 16 ou
x2 = 32

x = ± 32 x2 − 16 = −16

x = ± 25 x2 = 0

x = ± 24 .2 x=0

x = ± 22 . 2

x = ±4. 2

Portanto, o conjunto solução da equação | x − 4|.| x + 4|= 16 em R é


S = {0, ±4. 2}

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

| x2 − 5x + 4|= x − 1.

Resolução: lembramos que o módulo de um número real é sempre maior ou igual a 0.


Desse modo, uma condição para existência de solução real é x − 1 ≥ 0, isto é, x ≥ 1. Neste caso,
temos que
5.3 equações modulares 55

x2 − 5x + 4 = −(x − 1)
x2 − 5x + 4 = x − 1 ou x2 − 5x + 4 = − x + 1
x2 − 6x + 5 = 0 x2 − 4x + 3 = 0
∆ = 36 − 20 = 16 ∆ = 16 − 12 = 4
6±4 4±2
x= x=
2 2
x = 5 ou x = 1 x = 3 ou x = 1

Como 1, 3 e 5 satisfazem a condição de existência (x ≥ 1), o conjunto solução da equação


| x2 − 5x + 4|= x − 1 em R é
S = {1, 3, 5}

Exemplo. Resolver, em R, a equação modular

| x + 2.| x − 3||= 4.

Resolução: segue da definição de módulo que

x + 2.| x − 3|= 4 ou x + 2.| x − 3|= −4


2.| x − 3|= 4 − x 2.| x − 3|= 4 − x
Mas, Mas,
2.| x − 3|≥ 0 2.| x − 3|≥ 0
Logo, Logo,
4−x ≥ 0 −4−x ≥ 0
isto é, isto é,
x ≤ 4 (∗) x ≤ −4 (∗∗)

Observamos que as relações (∗) e (∗∗) são as condições para existência de solução das
equações x + 2.| x − 3|= 4 e x + 2.| x − 3|= −4, respectivamente. Mas,

2.| x − 3|= 4 − x
x
| x − 3| = 2 −
2
56 equações

x x
x−3 = 2− ou x − 3 = −2 +
2 2
x x
x+ = 2+3 x − = −2 + 3
2 2
3x x
=5 =1
2 2
10
x= x=2
3

Como 10/3 < 4 e 2 < 4 então 10/3 e 2 satisfazem a condição (∗).


Analogamente,

2.| x − 3|= −4 − x
x
| x − 3| = −2 −
2

x x
x − 3 = −2 − ou x−3 = 2+
2 2
x x
x + = −2 + 3 x− = 2+3
2 2
3x x
=1 =5
2 2
2
x= x = 10
3

No entanto, 2/3 > −4 e 10 > −4. Logo, 2/3 e 10 não satisfazem a condição (∗∗).
Portanto, o conjunto solução da equação | x + 2.| x − 3||= 4 em R é

S = {2, 10/3}
I N E Q UA Ç Õ E S
6
Neste capítulo, estudamos algumas técnica de resolução de inequações. Para isso, dividimos
nosso estudo em 4 classes:

1. inequações do 1o grau;

2. inequações do 2o grau;

3. inequações produto/quociente;

4. inequações modulares.

6.1 notação para intervalos reais

Antes de passarmos à resolução de inequações, fixamos a notação que é utilizada para descrever
um conjunto como intervalo real. Abaixo de cada subconjunto destacado na representação
geométrica da reta real, estão a notação de intervalo e o correspondente (sub)conjunto de números
reais. Para isso, consideramos a e b números reais quaisquer com a 6 b.

R
a
[a, +∞[ = { x ∈ R|x > a}

R
a

]a, +∞[ = { x ∈ R|x > a}

R
b

] − ∞, b] = { x ∈ R|x 6 b}

57
58 inequações

R
b

] − ∞, b[ = { x ∈ R|x < b}

R
a b

[a, b] = { x ∈ R|a 6 x 6 b}

R
a b

[a, b[ = { x ∈ R|a 6 x < b}

R
a b

]a, b] = { x ∈ R|a < x 6 b}

R
a b

]a, b[ = { x ∈ R|a < x < b}

] − ∞, +∞[ = R

]a, a[ = ∅
6.2 inequações 59

Exemplo. Sobre a reta real, o conjunto

A = { x ∈ R| x ≥ −1} = [−1, +∞[

é representado geometricamente como

R
−1

enquanto que o conjunto

B = { x ∈ R|−5 ≤ x < 2} = [−5, 2[

é representado como

R
−5 2

Exemplo.

Na figura a seguir, estão representados geometricamente sobre a reta real os conjuntos C e D.

C R D R
2 2 −4

5

Em linguagem simbólica, os conjuntos C e D são escritos como:


   
2 2
C= x ∈ R|− < x ≤ 2 = − ,2
5 5

D = { x ∈ R| x < −4} =] − ∞, −4[

6.2 inequações

Passemos agora a discutir cada um dos 4 tipos de inequações que descrevemos anteriormente.
60 inequações

6.2.1 Inequações do 1o grau

São expressões algébricas do tipo ax + b ≤ 0, ax + b < 0,ax + b ≥ 0 ou ax + b > 0, com


a, b ∈ R, a 6= 0.
A técnica de resolução de inequações do 1o grau é a mesma que a de equações polino-
miais do 1o grau levando-se em conta que ao multiplicarmos uma desiqualdade por um número
negativo, ela muda de sinal, isto é, > é trocado por < e vice-versa.
Por exemplo, se multiplicarmos −3x + 7 > 0 por −1, a desigualdade torna-se 3x − 7 < 0.
Observamos, no entanto, que não é necessário multiplicar uma desigualdade por −1. No
caso de −3x + 7 > 0, podemos fazer assim:

−3x + 7 > 0
⇔ 7 > 3x
isto é, 3x < 7
7
Logo, x <
3
Neste caso, o conjunto solução é
   
7 7
S = x ∈ R| x < = −∞, .
3 3

Exemplo. Resolva, em R, a inequação 3 · (x − 1) + 2 ≤ 3(x + 1) + x.


Resolução: Temos que

3 · (x − 1) + 2 ≤ 3(x + 1) + x
3x − 3 + 2 ≤ 3x + 3 + x
−1 ≤ 3 + x

(uma prática muito comum é passar +x para o 1o lado, tornando-se − x; em seguida,


multiplicar por −1; NÃO VALE A PENA)

−1 − 3 ≤ x
−4 ≤ x
x ≥ −4.
6.2 inequações 61

S = { x ∈ R| x ≥ −4} = [−4, +∞[ .

2x
Exemplo. Resolva, em R, a inequação − 1 > x.
3
Resolução: Começamos reduzindo as frações a um mesmo denominador: m.m.c.(3, 1) = 3

2x − 3 3x
>
3 3
−3 > 3x − 2x
−3 > x
x < −3.

S = { x ∈ R| x < −3} = ]−∞, −3[ .

6.2.2 Inequações do 2o grau

São expressões algébricas do tipo ax2 + bx + c ≤ 0, ax2 + bx + c < 0, ax2 + bx + c ≥ 0 ou


ax2 + bx + c > 0, com a, b, c ∈ R, a 6= 0.
Por exemplo, x2 − 1 < 0 é uma inequação do 2o grau.
Um erro conceitual muito comum ao resolver uma desigualdade deste tipo é fazer:

x 2 − 1< 0
x2 < 1

x< ± 1
x < ±1 (isso nem faz sentido!)

Mesmo que você fizesse


√ √
x2 < 1 ⇔ x2 < 1 ⇔ x < 1,

ainda estaria errado, pois x 2 = | x |.
62 inequações

Então, como se resolve a desigualdade x2 − 1 < 0?


O primeiro passo é resolver a equação x2 − 1 = 0.
Temos que

x2 − 1= 0
x2 = 1

x= ± 1 = ±1

Agora, marcamos sobre a reta real as raízes −1 e 1.

I II III R
| |
−1 1

Temos três intervalos para os quais devemos estudar o sinal de x2 − 1:

I: x < −1; II: − 1 < x < 1; III: x > 1

A justificatica da preservação do sinal de x2 − 1 em cada um desses intervalos é dada


pela continuidade da função f (x) = x2 − 1 em R. Mas isso é assunto do final do curso.
Para determinar o sinal de x2 − 1 nos intervalos I, II e III, basta tomar um elemento
qualquer no intervalo e avaliar o sinal de x2 − 1 para este elemento. Por exemplo, para o intervalo
I (x < −1), tomamos x = −2. Como (−2)2 − 1 = 4 − 1 = 3 > 0 então x2 − 1 > 0 no intervalo
I. Para o intervalo II (−1 < x < 1), tomamos x = 0. Como 02 − 1 = −1 < 0 então x2 − 1 < 0
no intervalo II. Finalmente, para o intervalo III, tomamos x = 2. Como 22 − 1 = 3 > 0, temos
que x2 − 1 > 0 no intervalo III.

+ + + - - - + + + R
| |
−1 1

Assim, a inequação x2 − 1 < 0 (como é < 0 e não 6 0, descartamos as raízes) tem como
solução:
S = { x ∈ R|−1 < x < 1} = ]−1, 1[

Exemplo. Resolver, em R, a inequação do 2o grau x2 − 3x > 0:


Resolução:
1o passo: resolver a equação x2 − 3x = 0.
6.2 inequações 63

x2 − 3x = 0
x(x − 3) = 0
x = 0 ou x = 3.

2o passo: descrever os intervalos determinados pelas raízes obtidas no passo anterior:

I II III R
| |
0 3

I: x < 0; II: 0 < x < 3; III: x > 3


3o passo: estudar o sinal de x2 − 3x em cada um dos intervalos determinados no passo
anterior:

Para o intervalo I (x < 0), tomamos x = −1. Como (−1)2 − 3.(−1) = 1 + 3 = 4 > 0
então x2 − 3x > 0 no intervalo I. Para o intervalo II (0 < x < 3), tomamos x = 1. Como
12 − 3.1 = 1 − 3 = −2 < 0 então x2 − 3x < 0 no intervalo II. Finalmente, para o intervalo
III (x > 3), tomamos x = 4. Como 42 − 3.4 = 16 − 12 = 4 > 0, temos que x2 − 3x > 0 no
intervalo III.
+ + + - - - + + + R
| |
0 3

4o passo: obter o conjunto solução para a desigualdade dada.

x2 − 3 > 0 tem como solução:

S = { x ∈ R| x 6 0 ou x > 3} =] − ∞, 0] ∪ [3, +∞[.

0 3

6.2.3 Inequações produto-quociente

São desigualdades que envolvem produtos e/ou quocientes de polinômios. Aqui, uma regra básica
é a regra de sinais:
64 inequações

+·+ = + +:+=+

+·− = − +:−=−

−·+ = − −:+=−

−·− =+ −: −=+

Vale a pena lembrar que quando trabalhamos com frações algébricas, como no caso de
inequações quociente, o primeiro passo é discutir as condições de existência. Por exemplo, a
inequação
(x − 1) · (x + 3)
>0
x−5
está definida somente quando x − 5 6= 0, isto é, x 6= 5.
O que significa resolver esta inequação produto-quociente?
Significa determinar os números reais x, com x ∈ R − {5}, tais que o quociente do
produto (x − 1) · (x + 3) por x − 5 é positivo. Isso pode ser feito estudando-se os sinais de x − 1,
(x − 1) · (x + 3)
x + 3 e x − 5 e, finalmente, estudando-se o sinal de por meio da regra de sinais.
x−5
Uma técnica usual para este estudo é a chamada “regra do varal”. É o que faremos a
seguir:
(x − 1) · (x + 3)
>0
x−5
1o passo: Condições de existência.
Como o denominador nunca pode ser igual a 0 então

x − 5 6= 0, isto é, x 6= 5

.
2o passo: estudo do sinal de cada polinômio.

• estudo do sinal de x − 1:
x−1 > 0 ⇔ x > 1 (logo, x − 1 < 0 ⇔ x < 1)

- 1 + R
|

• estudo do sinal de x + 3:
x + 3 > 0 ⇔ x > −3 (logo, x + 3 < 0 ⇔ x < −3)
6.2 inequações 65

- −3 + R
|

• estudo do sinal de x − 5:

x−5 > 0 ⇔ x > 5 (logo, x − 5 < 0 ⇔ x < 5)

- 5 + R
|

3o passo: Agora, colocamos essas informações no varal.

−3 1 5 R
| | |
Sinal de x − 1 - - + +
| | |
Sinal de x + 3 - + + +
| | |
Sinal de x − 5 - - - +
| | |
Regra de sinais - + - +
| | |
−3 1 5

Desse modo, concluímos que

- −3 + 1 - 5 +
| | |

4o passo: encontrar a solução da desigualdade dada.


(x − 1) · (x + 3)
Como desejamos > 0 e x 6= 5, então a solução é
x−5

- −3 + 1 - 5 +
| | |

S = { x ∈ R|−3 < x < 1 ou x > 5} =] − 3, 1[∪]5, +∞[.

Outra maneira de resolver este exemplo é estudar o sinal de (x − 1) · (x + 3) diretamente


de x2 + 2x − 3:
66 inequações

−3 1 R
| |
−4 0 2

Para estudar o sinal de x2 + 2x − 3, consideramos as raízes de x2 + 2x − 3 = 0, que


são −3 e 1, pois x2 + 2x − 3 = (x − 1).(x + 3). Logo, há três intervalos para considerarmos:
] − ∞, −3[, ] − 3, 1[ e ]1, +∞[. O sinal de x2 + 2x − 3 será o mesmo para cada número real
pertencente a um destes intervalos. Consequentemente, podemos escolhaer um número real em
cada um dos três intervalos, e determinar o sinal de x2 + 2x − 3 em cada um deles. Escolhemos
os números x = −4, x = 0 e x = 2:
(−4)2 + 2 · (−4) − 3 = 16 − 8 − 3 = 5 > 0
02 + 2 · 0 − 3 = − 3 < 0
22 + 2 · 2 − 3 = 4 + 4 − 3 = 5 > 0
Assim,

+ - + R
| |
−3 1

Como antes, o sinal de x − 5 é:

- + R
|
5

O varal fica assim:

−3 1 5 R
| | |
Sinal de x2 + 2x − 3 + - + +

Sinal de x − 5 - - - +

Regra de sinais - + - +

−3 1 5

(x − 1) · (x + 3)
Novamente, o conjunto solução da inequação >0é
x−5

S = { x ∈ R|−3 < x < 1 ou x > 5} =] − 3, 1[∪]5, +∞[.


6.2 inequações 67

Exemplo. Determine, em R, o conjunto solução da desigualdade

(4x2 + 20x + 25).(−2x + 1) ≤ 0

Resolução: pode-se proceder como antes. Uma ótima alternativa é perceber que
4x2 +20x+ 25 = (2x + 5)2 .
↓ ↓
√ √
↓ ↓
2x 5
| {z }
2.2x.5=20x
Como (2x + 5)2 ≥ 0 então

≥x0

(4x2 + 20x + 25).(−2x + 1) ≤ 0 ⇔ (2x+5)2 .(−2x + 1) ≤ 0


⇔ −2x + 1 ≤ 0
⇔ 1 ≤ 2x
1
⇔ ≤ x,
2
Portanto, o conjunto solução da inequação dada é
   
1 1
S= x∈R:x≥ = , +∞ .
2 2

Exemplo. Resolva, em R, a inequação

2x 3
− ≤2
x+3 x−1
Resolução:
1o passo: Condições de existência.
Como o denominador nunca pode ser igual a 0 então x + 3 6= 0 e x − 1 6= 0, isto é, x 6= −3
e x 6= 1.
Notamos que

2x 3 2x 3 2
− ≤2⇔ − − ≤0
x+3 x−1 x+3 x−1 1
68 inequações

2x(x − 1) − 3(x + 3) − 2(x + 3) (x − 1)


m.m.c.(x + 3, x − 1, 1) = (x + 3)(x − 1) ← ⇔ ≤0
(x + 3)(x − 1)
2x2 − 
2x 2x2 + 
 − 3x − 9 −   − 6x + 6
2x
⇔ ≤0

(x + 3)(x − 1
−9x − 3
⇔ ≤0
(x + 3)(x − 1)
9x + 3
×(−1) ← ⇔ ≥0
(x + 3)(x − 1)
2o passo: estudo do sinal de cada polinômio.

• estudo do sinal de 9x + 3:
3 1 1
9x + 3 > 0 ⇔ 9x > −3 ⇔ x > − = − . (−) − 3 (+)
9 3 R
• estudo do sinal de x + 3:
(−) −3 (+)
x + 3 > 0 ⇔ x > −3.
R
• estudo do sinal de x − 1:
(−) 1 (+)
x − 1 > 0 ⇔ x > 1.
R
3o passo: Agora, colocamos essas informações no varal.
−3 − 13 1
R
(9x + 3) (−) (−) (+) (+)

(x + 3) (−) (+) (+) (+)

(x − 1) (−) (−) (−) (+)

Regra de sinais (−) (+) (−) (+)

−3 − 13 1
4o passo: encontrar a solução da desigualdade dada.
9x + 3
Sendo x 6= −3 e x 6= 1, temos que ≥ 0 → (+) em
(x + 3)(x − 1)
1
(−) −3 (+) − 3 (−) 1 (+)
R
 
1 1
S = { x ∈ R : −3 < x ≤ − ou x > 1} = −3, ∪]1, +∞[.
3 3
6.2 inequações 69

No próximo exemplo, resolvemos um sistema de inequações quadráticas.

Exemplo. Resolver, em R, o seguinte sistema



 x2 − 3x + 2 > 0
 x2 − 3x ≤ 0
Resolução:
Primeiramente, lembremos que um sistema é uma sentença matemática cujas proposi-
ções/sentenças então conectadas com o conectivo e. De fato, resolver o sistema acima significa
determinar os números reais x que satisfaçam x2 − 3x + 2 > 0 e que satisfaçam x2 − 3x ≤ 0.
Desse modo, devemos proceder fazendo o estudo do sinal de x2 − 3x + 2 e obtendo o conjunto
solução S I . O mesmo para x2 − 3x, obtendo o conjunto solução S I I . O conjunto solução do
sistema é S = S I ∩ S I I .

y

intersecção

(i) x2 − 3x + 2 > 0:
x2 − 3x + 2 = 0
∆ = 9−8 = 1

3+1 4
x= = =2
3±1 2 2
x=
2 3−1 2
x= = =1
2 2
1 2
R
escolho x = 0 x = 3/2 x=3

02 −3.0 + 2 = 2 > 0


3 2 3 9 9 9 − 18 + 8 1
− 3. + 2 = − + 2 = =− <0
2 2 4 2 4 4
32 − 3.3 + 2 = 9 − 9 + 2 = 2 > 0

(+) 1 (−) 2 (+)


R (queremos x2 − 3x + 2 > 0)

S I = { x ∈ R : x < 1 ou x > 2} =] − ∞, 1[∪]2, +∞[.


70 inequações

(ii) x2 − 3x ≤ 0:
x2 − 3x = 0
x(x − 3) = 0
x = 0 ou x − 3 = 0
x=3

0 3
R
escolho x = −1 x=1 x=4
(−1)2 − 3(−1) = 1 + 3 = 4 > 0
12 − 3.1 = 1 − 3 = −2 < 0
42 − 3.4 = 16 − 12 = 4 > 0

(+) 0 (−) 3 (+)


R (queremos x2 − 3x ≤ 0)

S I I = { x ∈ R : 0 ≤ x ≤ 3} = [0, 3].

 x2 − 3x + 2 > 0
Finalmente, determinemos o conjunto solução S = S I ∩ S I I de
 x2 − 3x ≤ 0
0 1 2 3
R

SI

SI I

S = SI ∩ SI I
0 1 2 3

S = [0, 1[∪]2, 3].

6.2.4 Inequações e a lógica matemática

Determine os números reais x que satisfazem

√ 
2
( x + 1 < 3 e − (x − 3)(x + 1) ≥ 0) ou x2 >xex ≥9 .
6.2 inequações 71

• x+1 < 3 ⇔ x < 2

.(−1)

• −(x − 3)(x + 1) ≥ 0 ⇔ (x − 3)(x + 1) ≤ 0
(−) 3 (+)
Mas, x − 3 > 0 ⇔ x > 3.
R

(−) −1 (+)
e x + 1 > 0 ⇔ x > −1.
R

Assim,
−1 3
R
sinal de x − 3 (−) (−) (+)

sinal de x + 1 (−) (+) (+)

Regra de sinais (+) (−) (+)

−1 3

(x − 3)(x + 1) ≤ 0

Logo,
−1 2 3
R
x + 1 < 3 e − (x − 3)(x + 1) ≥ 0
x<2
⇔ x < 2 e −1 ≤ x ≤ 3
⇔ −1 ≤ x < 2 −1 ≤ x ≤ 3

−1 ≤ x < 2
−1 2 3

√ √
• x2 > x ⇔ x < 0, pois x2 > 0.
72 inequações

• x2 ≥ 9 ⇔ x2 − 9 ≥ 0

Mas, x2 − 9 = 0 ⇔ x2 = 9 ⇔ x = ± 9 ⇔ x = ±3.
(−4)2 − 9 = 16 − 9 > 0 (0)2 − 9 = −9 < 0 (5)2 − 9 = 25 − 9 > 0

(+) −3 (−) 3 (+)


R

x2 − 9 ≥ 0
Logo,
−3 0 3
R

x2 > x e x2 ≥ 9 x<0
⇔ x < 0 e (x ≤ −3 ou x ≥ 3)
⇔ x ≤ −3 x ≤ −3 ou x ≥ 3

x ≤ −3
−3 0 3
Portanto, √ 
( x + 1 < 3 e − (x − 1)(x + 1) ≥ 0) ou x2 >xe x2 ≥9 .
⇔ −1 ≤ x < 2 ou x ≤ −3

−3 −1 0 2
R

−1 ≤ x < 2

x ≤ −3

−1 ≤ x < 2 ou x ≤ −3
−3 −1 0 2

S =] − ∞, −3] ∪ [−1, 2[.

6.2.5 Mais exemplos de resolução de inequações

Exemplo. Determine, em R, o conjunto solução da inequação



x + 2x < 0
6.2 inequações 73

Resolução:
1o passo: Condições de existência.
Como o radicando tem que ser positivo então x ≥ 0.

2o passo: Estudo do sinal de x + 2x.

Nas condições de existência, isto é, para x ≥ 0, temos que x ≥ 0 e 2x ≥ 0. de modo
√ √
que x + 2x ≥ 0. Como estamos interessados em x + 2x < 0 então o conjunto solução é

S = ∅.

Exemplo. Determine, em R, o conjunto solução da inequação


p
x2 − 2x − 8 > x − 2

Resolução:
1o passo: Condições de existência.
Como o radicando tem que ser positivo então x2 − 2x − 8 ≥ 0 → (+)
Mas, x2 − 2x − 8 = 0 ⇔ x = 4 ou x = −2, pois
∆ = 4 + 32 = 36
2+6 8 02 − 2.0 − 8 < 0
x= = =4
2±6 2 2 (+) −2 (−) 4 (+)
x= R
2 2 − 6 −4
x= = = −2
2 2 (−3)2 − 2.(−3) − 8 > 0 52 − 2.5 − 8 > 0
Desse modo, a condição de existência é que x pertença ao conjunto ] − ∞, −2] ∪ [4. + ∞[.

2o passo: Estudo do sinal de x2 − 2x − 8 > x − 2.

√ √
x2 − 2x − 8 > x − 2 ⇔ x2 − 2x − 8 − (x − 2) > 0.
Mas, para resolver a inequação, começamos resolvendo a equação
p p
x2 − 2x − 8 − (x − 2) = 0 ⇔ x2 − 2x − 8 = x − 2
elevando ao quadrado no
domínio em que x2 −2x −8≥0
← ⇔ x2 − 2x − 8 = (x − 2)2

⇔ x2 − 2x − 8 = x2 − 4x + 4
⇔ 2x = 12

⇔ x = 6 → a igualdade ocorre
para x=6
74 inequações

sinal:
√ √
52 − 2.5 − 8 − (5 − 2) = 7−3 < 0
(+) −2 4 (−) 6 (+)
R
domínio domínio

sinal: sinal:
p √ √ √
(−3)2 − 2.(−3) − 8 − (−3 − 2) = 7 + 5 > 0 72 − 2.7 − 8 − (7 − 2) = 27 − 5 > 0

Como queremos x2 − 2x − 8 − (x − 2) > 0 então a solução é S =] − ∞, −2]∪]6, +∞[.
f (x)

g(x) = x − 2

f (x) = x2 − 2x − 8

x
√ √
x2 − 2x − 8 > x − 2 x2 − 2x − 8 > x − 2

Exemplo. Determine, em R, o conjunto solução da inequação



4

3
x> x.

Resolução:
1o passo: Condições de existência.
Como o radicando de uma raiz de índice par tem que ser positivo então x ≥ 0.
6.2 inequações 75

√ √
2o passo: Estudo do sinal de 4
x> 3
x.

Temos que

4

3

4

3
x> x⇔ x− x>0.

Para resolver a inequação dada, começamos resolvendo a equação


4

3
√ √
4
x− x=0⇔ x= 3x
no domínio considerado
√ 12 √ 12
m.m.c.(4,3)=12 ←⇔ 4x = 3x
12 12
⇔x4 =x3
⇔ x3 = x4
⇔ x4 − x3 = 0
⇔ x3 (x − 1) = 0
⇔ x = 0 ou x = 1

0 (+) 1 (−)
R
1 teste do sinal para x = 2:
teste do sinal para x = : √ √
2 4
2 −
3
2<0
 1  1
1 4 1 3 1 1
− = √ 4
−√ 3
>0
2 2 2 2
√ √
Assim, a solução de 4 x > 3 x é S =]0, 1[. (x = 0 e x = 1 correspondem à igualdade

4

x = 3 x).
f (x)

f (x) = 4 x

f (x) = 3 x

x

4

3
x> x
76 inequações

6.2.6 Inequações modulares

Assim como com as equações modulares, nesta seção discutimos algumas inequações que envolvem
módulos de polinômios do 1o grau ou do 2o grau, as quais podem ser facilmente resolvidas com a
análise dos gráficos das funções lineares e quadráticas, cuja abordagem será feita somente após o
estudo dessas funções. Por enquanto, usaremos técnicas algébricas para trabalhar com elas.
Para resolver uma inequação modular, é conveniente conhecer as raízes da respectiva
equação modular. Por esta razão, vamos aproveitar os exemplos feitos na seção sobre Equações
modulares, na mesma ordem que lá eles aparecem.

Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

| x − 7|≥ 1.

Resolução: a inequação | x − 7|≥ 1 é equivalente a | x − 7|−1 ≥ 0. Ou seja, estamos


interessados em determinar os números reais x cujo sinal em | x − 7|−1 seja positivo.
Para isso, resolvemos a equação modular | x − 7|−1 = 0. Já sabemos que as soluções desta
equação são x = 6 e x = 8. Agora, estudamos o sinal de | x − 7|−1 em cada um dos intervalos
determinados pelas raízes 6 e 8. Isso pode ser feito escolhendo-se três números reais quaisquer:
um sendo menor que 6, outro estando entre 6 e 8, e outro sendo maior que 8.
|5-7|-1=2-1=1>0 |7-7|-1=-1<0 |9-7|-1=2-1=1>0

(+) 6 (−) 8 (+)


R

|x-7|-1≥ 0
Portanto, o conjunto solução da inequação | x − 7|−1 ≥ 0 em R é

S =] − ∞, 6] ∪ [8, +∞[

Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

| x + 1|< |2x − 1|.

Resolução: a inequação | x + 1|< |2x − 1| é equivalente a | x + 1|−|2x − 1|< 0. Ou seja,


estamos interessados em determinar os números reais x cujo sinal em | x + 1|−|2x − 1| seja
(estritamente) negativo. Neste caso, as raízes são descartadas.
6.2 inequações 77

Para isso, resolvemos a equação modular | x + 1|= |2x − 1|. Já sabemos que as soluções
desta equação são x = 0 e x = 2. Agora, estudamos o sinal de | x + 1|−|2x − 1| em cada um dos
intervalos determinados pelas raízes 0 e 2. Isso pode ser feito escolhendo-se três números reais
quaisquer: um sendo menor que 0, outro estando entre 0 e 2, e outro sendo maior que 2.
|-1+1|-|-2-1|=-3<0 |1+1|-|2-1|=2-1=1>0 |3+1|-|6-1|=4-5=-1<0

(−) 0 (+) 2 (−)


R

|x+1|-|2x-1| < 0
Portanto, o conjunto solução da inequação | x + 1|−|2x − 1|< 0 em R é

S =] − ∞, 0[ ∪ ]2, +∞[

Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

1 − | x − 2|+x.| x + 2|> 0.

Resolução: estamos interessados em determinar os números reais x cujo sinal em 1 −


| x − 2|+x.| x + 2| seja (estritamente) positivo. Neste caso, as raízes são descartadas.
Para isso, resolvemos a equação modular 1 − | x − 2|+x.| x + 2|= 0. Já sabemos que a

−3+ 13
solução desta equação é x = 2 . Agora, estudamos o sinal de 1 − | x − 2|+x.| x + 2| em cada

−3+ 13
um dos dois intervalos determinados pela raiz 2 ≈√
0, 3. Isso pode ser feito escolhendo-se

dois números reais quaisquer: um sendo menor que −3+2 13 e sendo maior que −3+2 13 .
1-|0-2|+0.|0+2|=-1<0 1-|1-2|+1.|1+2|=3>0


−3+ 13
(−) 2 (+)
R

1-|x-2|+x.|x+2|>0
Portanto, o conjunto solução da inequação 1 − | x − 2|+x.| x + 2|> 0 em R é

−3 + 13
S =] , +∞[
2
Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

| x − 4|.| x + 4|< 16.


78 inequações

Resolução: a inequação | x − 4|.| x + 4|< 16 é equivalente a | x − 4|.| x + 4|−16 < 0. Ou


seja, estamos interessados em determinar os números reais x cujo sinal em | x − 4|.| x + 4|−16
seja (estritamente) negativo. Neste caso, as raízes são descartadas.
Para isso, resolvemos a equação modular | x − 4|.| x + 4|−16 = 0. Já sabemos que as

soluções desta equação são x = 0 e x = ±4. 2. Agora, estudamos o sinal de | x − 4|.| x + 4|−16

em cada um dos intervalos determinados pelas raízes 0 e ±4. 2. Isso pode ser feito escolhendo-se
√ √
quatro números reais quaisquer: um sendo menor que −4. 2, um estando entre −4. 2 e 0, um
√ √
estando entre 0 e 4. 2 e outro sendo maior que 4. 2.

|1-4|.|1+4|-16=-1<0

|-6-4|.|-6+4|-16=4>0 |-1-4|.|-1+4|-16=-1<0 |6-4|.|6+4|-16=4>0

√ √
(+) −4 2 (−) 0 (−) 4 2 (+)
R

|x-4|.|x+4|-16 < 0

Portanto, o conjunto solução da inequação | x − 4|.| x + 4|−16 < 0 em R é

√ √
S =] − 4 2, 0[ ∪ ]0, 4 2[

Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

| x2 − 5x + 4|> x − 1.

Resolução: a inequação | x2 − 5x + 4|> x − 1 é equivalente a | x2 − 5x + 4|−(x − 1) > 0.


Ou seja, estamos interessados em determinar os números reais x cujo sinal em | x2 − 5x +
4|−(x − 1) seja (estritamente) positivo. Neste caso, as raízes são descartadas.
Para isso, resolvemos a equação modular | x2 − 5x + 4|= x − 1. Já sabemos que as soluções
desta equação são x = 1, x = 3 e x = 5. Agora, estudamos o sinal de | x2 − 5x + 4|−(x − 1) em
cada um dos intervalos determinados pelas raízes 1, 3 e 5. Isso pode ser feito escolhendo-se quatro
números reais quaisquer: um sendo menor que 1, um estando entre 1 e 3, um estando entre 3 e 5
e outro sendo maior que 5.
6.2 inequações 79

|4^2-5.4+4|-(4-1)=-3<0

|0^2-5.0+4|-(0-1)=5>0 |2^2-5.2+4|-(2-1)=1>0 |6^2-5.6+4|-(6-1)=5>0

(+) 1 (+) 3 (−) 5 (+)


R

|x^2-5x+4|-(x-1)>0
Portanto, o conjunto solução da inequação | x2 − 5x + 4|−(x − 1) > 0 em R é

S =] − ∞, 1[ ∪ ]1, 3[ ∪ ]5, +∞[

Exemplo. Resolver, em R, a inequação modular

| x + 2.| x − 3||≥ 4.

Resolução: a inequação | x + 2.| x − 3||≥ 4 é equivalente a | x + 2.| x − 3||−4 ≥ 0. Ou


seja, estamos interessados em determinar os números reais x cujo sinal em | x + 2.| x − 3||−4 seja
positivo.
Para isso, resolvemos a equação modular | x + 2.| x − 3||= 4. Já sabemos que as soluções
desta equação são x = 2 e x = 10/3. Agora, estudamos o sinal de | x + 2.| x − 3||−4 em cada um
dos intervalos determinados pelas raízes 2 e 10/3. Isso pode ser feito escolhendo-se três números
reais quaisquer: um sendo menor que 2, outro estando entre 2 e 10/3, e outro sendo maior que
10/3.
|0+2.|0-3||-4=2>0 |3+2.|3-3||-4=-1<0 |4+2.|4-3||-4=2>0

(+) 2 (−) 10/3 (+)


R

|x+2.|x-3||-4 ≥ 0
Portanto, o conjunto solução da inequação | x + 2.| x − 3||−4 ≥ 0 em R é

S =] − ∞, 2] ∪ [10/3, +∞[

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