Pesquisa em Ciências Humanas-A Filosofia
Pesquisa em Ciências Humanas-A Filosofia
Pesquisa em Ciências Humanas-A Filosofia
1. Introdução
2. A especificidade da filosofia
A filosofia se difere das ciências naturais porque seu objeto não está plenamente
situado ao exterior do pesquisador dado que suas ferramentas principais são o raciocínio e o
discurso. Ela não apoia em experimentos e na observação. Embora, tal definição
metodológica da filosofia não pode ser considerada de modo estrito. Em filosofia, é possível
além da reflexão, utilizar a observação de comportamentos, do tratamento de fenômenos. A
filosofia não depende de laboratórios para produzir conhecimentos. No entanto, ela pode
utilizar muitas técnicas das demais ciências, estabelecendo uma fronteira de
interdisciplinaridade.
A produção filosófica se serve bastante da capacidade de raciocínio, de organização de
ideias, da observação crítica da sociedade e do mundo. Os temas de filosofia muitas vezes são
ocupações comuns da maioria das pessoas e que são levados para um espaço especulativo
para tirar deles as razões e os porquês mais profundos. Os temas mais gerais e antigos da
filosofia de natureza metafísica procuram explicar a essência do mundo, do ser, da divindade.
1
Texto-referência para a introdução das aulas de Dissertação Filosófica para o 1º ano de filosofia do Seminário
Diocesano Nossa Senhora do Rosário do dia 22/02/2021. Contato: [email protected].
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A filosofia se difere das demais ciências porque ela trabalha com respostas de origens das
coisas. São especulações anteriores ao uso das coisas, à manipulação dos objetos como fazem
as ciências naturais. Portanto, a pesquisa filosófica atua com a produção de conceitos e se, de
fato, eles representam ou explicar bem a essência do mundo e dos fenômenos.
A filosofia é uma ciência de produção de significados e de representações acerca da
estrutura e do funcionamento do mundo. Antes mesmo de conhecer, através da filosofia se
pergunta se é possível conhecer e como isso ocorre ou não ocorre. A diversidade de temas foi
sempre a marca do campo filosófico, mas existentes alguns temas constantes que delimitam a
área da filosofia.2
3. O cânon filosófico
2
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 442.
3
interpretação é crucial para aproveitamento desses textos. Por causa disso, a aprendizagem da
filosofia depende da leitura dos clássicos.
Considero de grande valia uma compreensão também dos diferentes gêneros textuais
utilizados na literatura filosófica. As obras de Platão fazem frequente uso do gênero diálogo.
São tantos gêneros possíveis para escrever textos filosóficos. Jean-Jacques Rousseau utilizou
o romance Emílio para esse fim. Agostinho utilizou a autobiografia nas Confissões. O
conhecimento prévio dos gêneros já prepara o leitor para saber como interpretar o texto. A
leitura dos clássicos é fundamental e cada curso seleciona os textos mais importantes. No
entanto, o ensino e aprendizagem de filosofia não pode se restringir ao método histórico.
Existe uma forte tradição pedagógica em filosofia que converte todo esse processo em ensinar
história da filosofia. Como acenamos, a tradição é referência para a produção filosófica ao
lado do desenvolvimento da reflexão do estudante não pode ficar esquecido. A filosofia para
cumprir seu papel precisa uma reunião de métodos do tipo historiográfico-reflexivo-
contextual.
O que queremos dizer com essa expressão? Um método historiográfico-reflexivo-
contextual procuraria ler e interpretar os clássicos da filosofia ao mesmo tempo em que ele
ensina a produzir filosofia pela reflexão e pela necessidade do contexto de cada comunidade
acadêmica. Os filósofos antigos tinham prática muito contextual e vivencial. Eles discutiam
grandes problemas da humanidade, mas rompiam no momento exato com toda a abstração,
tornando a filosofia um estilo de vida. A filosofia possui também a sua dimensão prática.
Bastam verificar os estoicos, os epicuristas e os cínicos. Eles viviam o que ensinavam.
Diógenes de Sínope é a expressão máxima de dedicação à filosofia encarnada.
disciplina bastante decisiva para que o estudante aperfeiçoe sua capacidade de raciocinar de
modo organizado e coerente e a argumentar e a contra-argumentar de forma convincente.
Além da leitura, a argumentação se desenvolve pela prática da discussão em grupos como os
conhecidos cafés filosóficos, simpósios e pela adoção do hábito de escrever sobre o que se
está lendo ou sobre assuntos que tenham provocado o estudante a se posicionar.
Alguns passos podem devem ser observados na iniciação científica em filosofia. Em
primeiro lugar, o estudante deve procurar conhecer os problemas mais comuns que foram
discutidos pela tradição filosófica. A forma mais didática de compreender esses temas é por
meio das subdivisões da filosofia. A metafísica se ocupa da natureza fundamental da
realidade como o ser, o mundo, Deus. A epistemologia examina a natureza e o valor do
conhecimento. A ética trata sobre o comportamento humano a partir dos conceitos de bem e
de mal. A lógica trabalha com princípios e regras para o raciocínio correto.
Cada área da filosofia se ocupa de um número de problemas. A problematização é a
identificação de um assunto que precisa ser compreendido. Vamos buscar o porquê. Por
exemplo, é possível chegar à verdade? Eis um problema de pesquisa em epistemologia. Para
respondermos à questão, formulamos algumas hipóteses que são ensaios de respostas
possíveis. Para esse fim, devemos levar em conta tradição filosófica e a realidade que nos
cerca. Devemos saber como outros filósofos procuraram responder àquela pergunta e como
podemos responder levando em conta nossa ambiência.3
Por último, temos de considerar a relevância do problema e identificar as questões
secundárias envolvidas. Esse caminho percorrido hoje pela pesquisa em filosofia tem sua
origem na Grécia antiga. Foram assim que os filósofos começaram essa tradição. Os pré-
socráticos se perguntaram sobre qual era o elemento que deu origem a diversidade da natureza
(o arché).
Referências:
3
BARBOSA, Evandro; COSTA, Thaís Christina Alves. Metodologia e Prática de Pesquisa em Filosofia.
Pelotas: NEPFIL, 2015, p. 25.