Adalberto Narciso Hommerding
Adalberto Narciso Hommerding
Adalberto Narciso Hommerding
História do Direito
História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico [recurso eletrônico] / Adalberto Narciso
Hommerding -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2021.
290 p.
ISBN - 978-65-5917-092-0
DOI - 10.22350/9786559170920
CDD: 340
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito 340
Para Helena Krein Hommerding, a bela, Pedro Krein Hommerding, o anjo (in
memoriam), e Catarina Krein Hommerding, a imaculada, meus filhos amados;
Cleide Maria Krein Hommerding, minha esposa; Vanir Hommerding, minha
mãe, e Valdir Narciso Hommerding, meu querido e amado pai (in memoriam),
com muito amor.
Agradecimentos
Ao Professor Odécio ten Caten, Mestre em Direito, meu amigo e amigo do meu
querido pai, que gentilmente aceitou o convite para prefaciar a obra.
Sumário
Prefácio ..................................................................................................................................... 15
Odécio ten Caten
Introdução ................................................................................................................................ 17
I ................................................................................................................................................ 19
O caráter compreensivo da reflexão histórica sobre o Direito
1. Considerações iniciais ................................................................................................................... 19
2. A história como nosso maior problema .................................................................................... 22
3. Da Hermenêutica como base metodológica para as geisteswissenschaften à Hermenêutica
do Dasein e da compreensão existencial ........................................................................................27
4. O jurista e o historiador jurídico .................................................................................................35
5. Considerações conclusivas .......................................................................................................... 39
II .............................................................................................................................................. 42
Filogenia jurídica
1. Considerações sobre filogenia jurídica ....................................................................................... 42
2. A Roma clássica e a Germânia bárbara na origem das instituições político-sociais ............ 49
III ............................................................................................................................................. 63
Direito e justiça nas comunidades primitivas
1. Direitos da Antiguidade ............................................................................................................... 63
2. Os direitos cuneiformes............................................................................................................... 63
III. Seção I. O Código de Hamurabi ....................................................................................................... 66
1. Algumas características do Código de Hamurabi ..................................................................... 66
III. Seção II. O direito hindu e o Código de Manu ................................................................................ 71
1. Breve introdução ao direito dos povos orientais (sistemas jurídicos tradicionais não
europeus)............................................................................................................................................ 71
2. O que é o Direito Hindu?.............................................................................................................. 75
3. Os quatro períodos do desenvolvimento da cultura dos hindus .............................................76
3.1. O primeiro período ..............................................................................................................76
3.2. O segundo período .............................................................................................................. 77
3.3. O terceiro período .............................................................................................................. 78
3.4. Quarto período ................................................................................................................... 82
4. O Dharma como base da concepção de Direito ........................................................................ 83
5. O direito de castas ........................................................................................................................ 84
6. As fontes do dharma .................................................................................................................... 85
7. A situação da mulher no Direito hindu ..................................................................................... 88
III. Seção III. O Direito Hebreu .............................................................................................................. 90
1. O povo hebreu é o povo escolhido .............................................................................................. 90
2. A importância dos profetas hebraicos para o jurista atual: uma contribuição histórica para
os direitos humanos ......................................................................................................................... 99
3. Fontes do direito hebraico .........................................................................................................104
3.1. A Bíblia ................................................................................................................................104
3.2. A lei oral, a Michna, a Guémara e o Talmude ............................................................... 105
IV ............................................................................................................................................ 107
A antiguidade greco-romana
IV. Seção I. O Direito Grego Antigo ...................................................................................................... 107
1. A diferença entre as concepções biológicas e jurídicas dos gregos e dos romanos ............. 107
2. As concepções jurídica e política dos gregos ............................................................................. 111
3. A Grécia, seus legisladores e o Direito grego ............................................................................117
3.1. Da divisão das pessoas ............................................................................................................. 135
3.2. O matrimônio, o poder paterno e o direito de sucessão ..................................................... 136
3.3. Outros direitos.......................................................................................................................... 138
IV. Seção II. O Direito Romano ............................................................................................................. 141
1. A vocação jurídica de Roma ........................................................................................................ 141
2. O que é o Direito Romano? ........................................................................................................ 147
3. O Direito Romano e o Direito Grego ........................................................................................ 147
4. A influência etrusca na formação das instituições romanas.................................................. 150
5. A história interna e a história externa do Direito Romano .....................................................151
5.1. As fases da história externa de Roma.............................................................................. 152
5.1.1. A Realeza ................................................................................................................... 153
5.1.1.1. A fundação de Roma e o surgimento da Realeza ........................................ 153
5.1.1.2. A constituição política da Realeza ................................................................ 156
5.1.1.3. A organização do povo ................................................................................... 158
5.1.1.4. Fontes do direito na Realeza ......................................................................... 162
5.1.2. A República ............................................................................................................... 162
5.1.2.1. Algumas características da magistratura na República ............................. 164
5.1.2.2. O Senado como centro do governo ..............................................................171
5.1.2.3. As quatro espécies de comícios .................................................................... 172
5.1.2.4. As fontes do direito na República ................................................................ 178
5.1.3. O Principado ............................................................................................................. 183
5.1.3.1. Como se caracteriza o Principado como forma de governo? ...................184
5.1.3.2. As tendências do Principado ........................................................................ 185
5.1.3.3. As instituições políticas no Principado ........................................................186
5.1.3.4. Fontes do Direito no Principado .................................................................. 191
5.1.4. O Dominato .............................................................................................................. 197
5.1.4.1. O Dominato enquanto instituição política ..................................................198
5.1.4.2. Fontes do direito no Dominato .................................................................... 199
5.2. As fases da história interna de Roma: características do Direito romano pré-clássico,
clássico e pós-clássico ............................................................................................................. 202
5.2.1. Direito romano pré-clássico .................................................................................. 202
5.2.2. Direito romano clássico ......................................................................................... 203
5.2.3. Direito romano pós-clássico ................................................................................. 205
6. Algumas considerações críticas sobre a importância e os problemas oriundos da herança
processual romana na atualidade ................................................................................................. 206
V ............................................................................................................................................. 221
O Direito Islâmico
1. Considerações gerais ................................................................................................................... 221
2. As fontes do Direito Islâmico .................................................................................................... 227
2.1. A primeira fonte: o Corão ................................................................................................ 227
2.2. A segunda fonte: a tradição sagrada (sunnah, sunna ou suna) ................................. 229
2.3. A terceira fonte: a opinião concordante da comunidade (ijma) ................................. 230
2.4. A quarta fonte: a interpretação analógica (qiyas) ........................................................ 232
3. A flexibilidade do sistema de direito muçulmano em face dos estrangeiros e não
muçulmanos, e o pluralismo jurídico .......................................................................................... 233
4. Relação do Direito islâmico com o Direito interno do Estado, Sharia de minoria, relação do
Direito islâmico com o Direito Internacional Privado, e relação do Direito islâmico com o
Direito Internacional Público: uma breve noção sobre a atualidade do Direito islâmico e suas
distintas relações com outros Direitos ......................................................................................... 236
5. Direito islâmico (ou muçulmano) versus direitos positivos dos países muçulmanos ....... 239
6. A estrutura judiciária e o cádi ................................................................................................... 240
VI ........................................................................................................................................... 243
A Magna Carta
1. Como surgiu a Magna Carta?.................................................................................................... 243
2. É a Magna Carta uma criação original? Ou é uma Constituição? O que é, afinal, a Magna
Carta?............................................................................................................................................... 249
1
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 13.
2
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 14.
18 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
O caráter compreensivo da
reflexão histórica sobre o Direito
1. Considerações iniciais
1
Nesse sentido, indispensável a leitura de: GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma
hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. No Direito brasileiro, por
todos: STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2002.
20 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
2
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 3. ed. Tradução
de Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 459-460. O intérprete não interpreta por partes, como que a
repetir as fases da hermenêutica clássica: primeiro conhecendo, depois interpretando, para, finalmente, aplicar. No
plano da hermenêutica (ontologia da compreensão), esses três momentos ocorrem em um só: a applicatio. Logo,
quando o intérprete interpreta um texto, estará no entremeio do círculo hermenêutico. Há um movimento antecipa-
tório da compreensão, cuja condição ontológica é o círculo hermenêutico. Nesse sentido, consulte-se: GADAMER,
Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo
Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 400-533. No Direito: STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e her-
menêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 22.
3
SALDANHA, Nelson. Teoria do direito e crítica histórica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987, p. 7-11.
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4
SALDANHA, Nelson. Teoria do direito e crítica histórica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987, p. 7-11.
5
SALDANHA, Nelson. Teoria do direito e crítica histórica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987, p. 10-11.
22 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
6
STEIN, Ernildo. Exercícios de fenomenologia: limites de um paradigma. Coleção Filosofia; 8. Ijuí: Unijuí, 2004, p.
15.
7
CABRAL DE MONCADA, Luís. Filosofia do Direito e do Estado. v. 1º. Parte histórica. 2. ed. – reimpressão. Coimbra:
Coimbra Editora, 1995, p. 1.
8
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 5.
Adalberto Narciso Hommerding | 23
9
GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und methode: grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. – 6. Aufl. (dur-
chges). – 1990. Tübingen: Mohr, 1990.
10
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. São Paulo: Loyola,
1996, p. 229.
24 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
11
ALMEIDA, Custódio Luís S. Hermenêutica e dialética. Hegel na perspectiva de Gadamer. In: ALMEIDA, Custódio
Luís S. et al. Hermenêutica filosófica. Nas trilhas de Hans-Georg Gadamer. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.
12
GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. Tradução e apresentação de Benno Dischinger. São Leo-
poldo: Unisinos, 1999 (Coleção Focus), p. 186.
13
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de
Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 415-416.
14
LAWN, Chris. Compreender Gadamer. Tradução de Hélio Magri Filho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007 (Série Compre-
ender), p. 42-43.
15
STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 71-72.
Adalberto Narciso Hommerding | 25
16
Ente, ensina Heidegger, é tudo aquilo de que falamos, tudo aquilo a que miramos, aquilo para o que nos compor-
tamos de tal e tal modo. Ente é também o que e como nós mesmos somos. Então, o ente é tudo aquilo com quem o
homem mantém uma relação; é aquilo sobre o que se pode dizer algo. O ente, porém, não é o ser, ainda que deste
não se cinda em razão da diferença ontológica. O ser, ao contrário, diz respeito ao universo de condições do encontro
com os entes. Diz respeito às condições a partir das quais se faz possível um tal encontro com entes como entes
qualificados, ou seja, entes que vêm ao encontro sempre submetidos a uma perspectiva. Para Heidegger, porém, a
questão sobre o sentido do ser é a mais universal e a mais vazia; ainda assim, ela abriga igualmente a possibilidade
de sua mais aguda singularização. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Parte I. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante.
9. ed. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 6-7; p. 70.
17
STEIN, Ernildo. Nas proximidades da antropologia: ensaios e conferências filosóficas. Ijuí: Unijuí, 2003, p.17.
18
HEIDEGGER, Martin. O conceito de tempo. Prólogo, tradução e notas de Irene Borges-Duarte. Lisboa: Fim de Sé-
culo, 2003, p. 12-33.
26 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
A história, portanto, não pode ser havida apenas como a ciência his-
tórica, mas, sim, como o acontecimento do próprio ser-aí20. No sentido de
Geschichte, portanto, a história passa a ser como que uma espécie de ha-
bitat do homem e o lugar da cultura. Por isso, hoje, a história é, na
expressão de Gehrard Kruger, o nosso maior problema21.
19
CASANOVA, Marco Antonio. Apresentação à tradução brasileira. In: HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia.
Tradução Marco Antonio Casanova; revisão de tradução Eurides Avance de Souza; revisão técnica Tito Lívio Cruz
Romão. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 2.
20
HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. Tradução Marco Antonio Casanova; revisão de tradução Eurides
Avance de Souza; revisão técnica Tito Lívio Cruz Romão. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 10.
21
A referência ao escrito de Gehrard Kruger (Die Geschichte im denken der Gegenwart, in Grosse Geschichts Denker,
Rainer Wunderlich Verlag Hermann Leins, Tübingen e Stuttgart, 1949, p. 219) é feita por: A. L. Machado Neto. Soci-
ologia jurídica. 6. ed. 13ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 11.
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22
ROHMANN, Chris. O livro das idéias: pensadores, teorias e conceitos que formam nossa visão de mundo. Tradução
de Jussara Simões. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 196.
23
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Hermenêutica Filosófica e Aplicação do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
2005, p. 30.
24
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Hermenêutica Filosófica e Aplicação do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
2005, p. 30.
28 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
25
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Hermenêutica Filosófica e Aplicação do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
2005, p. 34.
26
WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, estado e direito. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 26.
27
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Hermenêutica Filosófica e Aplicação do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
2005, p. 31.
28
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 50.
Adalberto Narciso Hommerding | 29
29
Consulte-se: KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São
Paulo: Nova Cultural, 2000.
30
HEIDEGGER, Martin. Sein und Zeit. Tübingen: Niemeyer, 2001.
31
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 51.
32
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 51-52.
33
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 23.
30 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
34
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 25.
35
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 30-31.
36
Consulte-se: ARISTÓTELES. Da interpretação. Tradução e comentários José Veríssimo Teixeira da Mata. 1. ed. São
Paulo: Editora Unesp, 2013.
37
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 31.
38
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 32.
Adalberto Narciso Hommerding | 31
39
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 32-33.
40
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 33.
41
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 33.
32 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
42
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 34.
43
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 35.
44
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 35.
45
GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. Tradução e apresentação de Benno Dischinger. São Leopo-
lodo: Unisinos, 1999, p.161.
46
STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 57.
Adalberto Narciso Hommerding | 33
47
STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 58.
48
STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 59.
49
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo I. 12. ed. Vozes; Universidade São Francisco: Petrópolis, 2002, p. 204.
50
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo I. 12. ed. Vozes; Universidade São Francisco: Petrópolis, 2002, p. 207.
34 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
51
STOLLEIS, Michael. O direito público na Alemanha: uma introdução a sua história do século XVI ao XXI. Coorde-
nação de Ricardo Campos. Tradução Gercélia Batista de Oliveira Mendes. São Paulo: Saraiva Educação, 2018 (Série
IDP: Linha direito comparado), p. 21.
52
STOLLEIS, Michael. O direito público na Alemanha: uma introdução a sua história do século XVI ao XXI. Coorde-
nação de Ricardo Campos. Tradução Gercélia Batista de Oliveira Mendes. São Paulo: Saraiva Educação, 2018 (Série
IDP: Linha direito comparado), p. 21.
53
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. São Paulo: Loyola,
1996, p. 226.
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54
BITTAR, Eduardo C. B. Hans-Georg Gadamer. Hermenêutica plural: a experiência hermenêutica e a experiência
jurídica. In: BOUCAULT, Carlos E. de Abreu; RODRIGUEZ, José Rodrigo (Org.). Hermenêutica plural: possibilidades
jusfilosóficas em contextos imperfeitos. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 185.
55
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de
Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 415-416.
56
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de
Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 483.
36 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
tem que ser determinado com respeito ao caso ao qual se trata de aplicá-la. E
para determinar com exatidão esse conteúdo não se pode prescindir de um
conhecimento histórico do sentido originário, e só por isso o intérprete jurí-
dico tem que vincular o valor posicional histórico que convém a uma lei, em
virtude do ato legislador. Não obstante, não pode sujeitar-se ao que, por exem-
plo, os protocolos parlamentares lhe ensinariam com respeito à intenção dos
que elaboraram a lei. Pelo contrário, está obrigado a admitir que as circuns-
tâncias foram sendo mudadas e que, por conseguinte, tem que determinar de
novo a função normativa da lei57.
57
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de
Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 485.
Adalberto Narciso Hommerding | 37
perspectiva que se dá num quadro. Não se trata, diz Gadamer, de que esse
ponto de vista tenha de ser procurado como um determinado lugar para
nele se colocar, mas que aquele que compreende não elege arbitrariamente
um ponto de vista, mas que seu lugar lhe é dado com anterioridade.
Só é possível compreender quando se antecipa o horizonte que dá
sentido a compreensão; quando se localiza e se situa aquilo que se quer
compreender. A interpretação, portanto, não é uma intervenção do sujeito
que desnuda as verdades incrustadas enigmaticamente no objeto. A inter-
pretação é o momento de explicitação do compreender, daquilo que
sempre esteve à disposição e que é desvelado pela compreensão. A inter-
pretação, para Heidegger, funda-se existencialmente na compreensão, e
não ao contrário.
Para Ernildo Stein, a filosofia de Heidegger traz uma contribuição no
que se refere à concepção do ser humano como um ser-no-mundo que
desde sempre já se compreende a si mesmo no mundo, mas só se compre-
ende a si mesmo no mundo porque já antecipou sempre uma compreensão
de ser. Compreensão do ser não é de um ser objetivo, objeto, mas compre-
ensão da totalidade58. Na medida em que somos seres no mundo, que
compreendemos e descrevemos o mundo a partir do modo como nos pro-
jetamos nele, nossa compreensão nunca será acabada e pura, mas apenas
uma decorrência de nosso modo de ser-no-mundo.
A compreensão, portanto, nunca é plena porque nos colocamos num
mundo em andamento; aparecemos como um projeto já projetado, carre-
gados de uma historicidade que é anterior a nós e que, de certo modo, nos
dá a dimensão do mundo. Ou seja, chegamos tarde porque existe algo an-
tes de nós que nos coloca no mundo, que nos projeta como continuidade:
somos um jogo que já sempre foi jogado. Assim, o Dasein, este ente que
compreende o ser, compreende na medida em que está no mundo, na me-
dida em que se abre para as possibilidades já (pré)definidas que desde
sempre se manifestam no mundo. Nas palavras de Lenio Luiz Streck,
58
STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 61.
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5. Considerações conclusivas
59
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica (e)m crise. Uma exploração hermenêutica da construção do direito.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 193-194.
60
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 2001, p. 210.
61
Nesse sentido, OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. São
Paulo: Loyola, 1996, p. 229.
62
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução Mauro W. Barbosa. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.
28-42.
40 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Ele tem dois adversários: o primeiro acossa-o por trás, da origem. O segundo
bloqueia-lhe o caminho, à frente. Ele luta com ambos. Na verdade, o primeiro
ajuda-o na luta contra o segundo, pois quer empurrá-lo para frente, e, do
mesmo modo, o segundo o auxilia na luta contra o primeiro, uma vez que o
empurra para trás. Mas isso é assim apenas teoricamente. Pois não há ali ape-
nas os dois adversários, mas também ele mesmo, e quem sabe realmente de
suas intenções? Seu sonho, porém, é em alguma ocasião, num momento im-
previsto – e isso exigiria uma noite mais escura do que jamais o foi nenhuma
noite -, saltar fora da linha de combate e ser alçado, por conta de sua experi-
ência de luta, à posição de juiz sobre os adversários que lutam entre si.
63
SILVA, Ovídio A. Baptista da. Verdade e significado. In: ROCHA, Leonel Severo, STRECK, Lenio Luiz et al (org.).
Constituição, sistemas sociais e hermenêutica: programa de pós-graduação em Direito da UNISINOS: mestrado e
doutorado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 269.
Adalberto Narciso Hommerding | 41
64
FONSECA, Marcelo Ricardo. Introdução teórica à história do direito. 1. ed. (ano 2009), 3. reimpr. Curitiba: Juruá,
2012, p. 26-36. Por isso, há bem mais de meio século, Arnaldo Biscardi concluiu que a necessidade de estudar o
Direito Romano, por exemplo, estava no fato de ele ser um elemento formativo da civilização europeia e, portanto, o
próprio fundamento da ciência jurídica. Vandick Londres da Nóbrega, por sua vez, também afirmou que o estudo do
Direito Romano – e, portanto, da História do Direito - seria, assim, o principal fator para a formação de uma verda-
deira consciência jurídica. Afinal de contas, se, como também observou Lauro Chiazzese, o direito sem a justiça seria
uma palavra vã, e a consciência jurídica, na acepção romana e eterna, seria formada pela absoluta identidade entre o
fim do direito e o fim da justiça, por que não afirmar, então, que é nele, no Direito Romano – e acrescento aqui na
História do Direito -, que podemos encontrar um meio para formar essa consciência jurídica? Consulte-se:
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos,
1955, p. 6. O papel do historiador também é o de erudito conhecedor do passado próximo e remoto, como ensina
Paolo Grossi. Esse papel, porém, embora nobre, é um papel renunciável. Para Grossi, o papel maior do historiador
do direito junto ao operador do direito positivo é o de servir como sua consciência crítica, revelando como complexo
o que na sua visão unilinear poderia parecer simples, rompendo as suas convicções acríticas, relativizando certezas
consideradas absolutas, insinuando dúvidas sobre lugares comuns recebidos sem uma adequada confirmação cultu-
ral. GROSSI, Paolo. Mitologias jurídicas da modernidade. 2. ed. rev. e atual. tradução de Arno Dal Ri Júnior.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2007, p. 13.
II
Filogenia jurídica
1
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 7-8.
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2
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 17. A referência é à obra: COGLIOLO, Pietro. Filosofia del Diritto Privato. Florença:
Ed. Barbéra, 1888.
3
O regime da gens é baseado na religião da família. FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos
sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia e de Roma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca.
São Paulo: Hemus, 1975, p. 208. Todos aqueles que descendiam do mesmo chefe, embora pertencessem a famílias
diferentes, constituíam a gens. Os membros da gens deviam ter o mesmo nome gentilício e os mesmos cultos. A gens
era uma extensão da família, concebida para que seus membros melhor se defendessem e se bastassem por si mes-
mos. A gens é anterior à civitas. Para uma compreensão didática da gens consulte-se: NÓBREGA, Vandick Londres
da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1955, p. 35-36.
44 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
4
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 93.
5
Vem de Aristóteles a distinção entre razão teórica e razão prática. A primeira é reconhecida; a segunda, determinada
pela ação humana. O saber sobre as virtudes corresponde a essa distinção. O saber prático inclui a Ética e a Política,
distinguindo-se do saber teórico. Política e Ética, em Aristóteles, caminham, assim, de mãos dadas. O objetivo do
saber prático é o estabelecimento de normas e critérios da boa forma de agir, ou seja, da ação correta e eficaz; o
objetivo do saber teórico, o conhecimento de uma determinada realidade. Consultem-se: COING, Helmut. Elementos
fundamentais da filosofia do direito (Grundzüge der Rechtsphilosophie). Tradução da 5ª Edição alemã por Elisete
Antoniuk. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002, p. 36; ARISTÓTELES. A ética. Tradução Paulo Cássio M. Fon-
seca. Bauru: Edipro, 1995, p. 24-25; MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein. 10. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 76; BITTAR, Eduardo C. B. Doutrinas e filosofias políticas:
contribuições para a história das ideias políticas. São Paulo: Atlas, 2002, p. 74.
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6
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 121.
7
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 21-22.
46 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
8
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 23-24.
9
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
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10
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 24-25; OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo no processo civil. São
Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
11
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
12
O pretor pronunciava as palavras do, dicco e addico, isto é, admitia a demanda (do), dizia qual o direito aplicável
(dicco) e aprovava o compromisso das partes que deveriam comparecer perante o iudex (addico).
13
O iudex não era um órgão estatal, mas um cidadão atuando como instrumento das partes. Podia ser escolhido pela
vontade das partes, por indicação do pretor ou por sorteio. O devedor condenado tinha trinta dias para cumprir a
obrigação. Se não cumprisse, o credor instaurava perante o magistrado um manus iniectio a fim de fazer com que
cumprisse. Se o devedor não ofertasse um vindex, o magistrado pronunciava a palavra addico e autorizava o credor
inclusive a exercer seu direito sobre a pessoa ou bens do devedor. Assim, por exemplo, o credor poderia colocar à
venda o devedor, poderia matá-lo ou vendê-lo como escravo aos etruscos, poderia esquartejá-lo – no caso de concurso
de credores -, etc.
14
Para que se possa bem compreender o que se está dizendo, é necessário que o leitor tenha conhecimento de que o
processo opera por meio do procedimento. Devemos ter em mente o fato de que o processo, por ser um “caminhar
48 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
O período formulário, por sua vez, vai de 149 a. C. a 209 d. C., apro-
ximadamente. Neste período, o pretor remetia os contedores, providos de
uma fórmula, ao iudex privatus, que iria decidir o litígio. Nesta fase, aban-
dona-se a forma; o magistrado – pretor - assume a função de indicar e
formular o direito a ser aplicado pelo iudex. A fórmula era um documento
redigido pelo pretor com o auxílio das partes onde se fixava o objeto da
demanda que deveria ser julgada pelo iudex. A composição da fórmula se-
ria a seguinte: Intentio – encerrava a pretensão (... se parecer que Tício
deve pagar 10.000 sestércios a Caio...) -; Demonstratio (... uma vez que
Caio vendeu um escravo a Tício...) e Condemnatio (... juiz, condenai Tí-
cio...)15.
A cognitio extra ordinem tem início em 209 d. C. e vai até 468 d. C.
Nesta fase o processo romano perde o caráter privado e assume natureza
pública inerente à função estatal de administrar a justiça. Suprime-se a
divisão do processo em duas fases distintas. Com a queda do império ro-
mano do ocidente em 476 d. C.16, a cognitio extra ordinem tem um
retrocesso diante das invasões bárbaras (século das trevas) e, na idade mé-
dia, o sistema é retomado nas penínsulas itálica e ibérica.
Dos três sistemas, ou fases, acima descritos, os dois primeiros eram
eminentemente simbólicos e dramáticos, cheios de atos e palavras
para frente”, conforme já referido, nasce, desenvolve-se e, por fim, encerra-se. Pense-se no processo biológico: o
homem nasce, cresce e morre. Assim também é o processo civil. Há um procedimento – exteriorização do processo
- que se desenvolve rumo ao seu fim. Inicia-se quando alguém vai a juízo buscar algo que entende lhe ser devido por
determinada pessoa; esta, tomando ciência do que pede aquele, comparece em juízo para defender-se. Surge, então,
a oportunidade para provar o que alegam. Concluídas as provas, o juiz decide acerca de com quem está a razão,
atendendo ou não aquilo que foi pedido. Em Roma, na fase das ações da lei, havia um juiz privado, que daria ou não
a actio. Antes, porém, de os interessados comparecerem perante o juiz – que decidiria o conflito -, tinham de com-
parecer perante o pretor que diria qual o direito aplicável ao caso. Iurisdictio significa, portanto, dizer o direito. O
non liquet significa que, se o juiz ficasse em dúvida acerca de quem tinha razão, poderia até mesmo deixar de julgar
alegando que nada entendeu da causa.
15
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
16
A Idade Média vai de 476 d. C. a 1.453 d. C. Inicia-se com a queda do império romano do ocidente e termina com a
tomada de Constantinopla pelos turcos.
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17
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 24.
18
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 25-26.
19
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 29.
50 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
20
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 30.
21
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 30-31.
22
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 30-31.
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23
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 32.
24
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 41.
25
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 428.
26
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 428.
52 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
política durante a república, e a filosófica e moral que tem lugar sob o Im-
pério, sob o influxo do catolicismo e do Cristianismo. Roma sempre teve o
mesmo ponto de partida, a cidade, e o mesmo ideal, a associação de todos
os povos27.
Já quem dá nome ao direito germânico é todo um povo que sempre
necessitou de rígida coesão, inclusive no tempo em que encontrou unidade
jurídica estatal no Sacro Império Romano. No direito germânico predomi-
navam o indivíduo e o grupo, ou seja, o elemento pessoal. Então, o direito
germânico não tem um ponto de cristalização como o encontrado pelo di-
reito romano na Urbs. Tem, sim, um caráter costumeiro e, na Idade Média,
vai-se consolidando em múltiplos textos e se mesclando com os direitos
romano e canônico, não chegando, porém, a completar o seu desenvolvi-
mento porque, a partir dos séculos XV e XVI, teve de adotar o direito
romano. Aparece, assim, o direito germânico como o direito de diversas
tribos conquistadoras no período posterior à queda do Império Romano
do Ocidente, em 476 d. C., conhecido na história do direito como regime
da personalidade das Leis28.
A raça ariana havia se projetado, primeiro, nas vizinhanças do Hima-
laia. Em seguida, estendeu-se na direção do oeste. Os germanos, celtas,
helenos, ítalos e lituano-eslavos, trouxeram, assim, para a Europa as ten-
dências psíquicas da raça mater e alguns resquícios das primitivas
instituições religiosas e sociais do tronco comum. O que ocorreu, então, foi
que as aptidões de cada um desses grupos de famílias indo-europeias (ou
hindu-europeias) se diferenciaram e se especializaram. A idiossincracia de
cada grupo modificou-se progressivamente sob a pressão do meio. Aí o
caráter germânico veio a se separar profundamente dos outros povos ir-
mãos, em especial dos helenos e latinos. Estes se estabeleceram sob o clima
mais doce e sob o céu mais puro, preparando a argamassa para a constru-
ção do edifício greco-romano; aqueles, os germanos, internaram-se,
27
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 428.
28
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 41.
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29
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 33.
30
Segundo John Gilissen, Tácito (De situ et moribus Germaniae, 98 d. C.) é o autor latino mais explícito sobre as
instituições germânicas, embora, provavelmente, nunca tenha estado na Germânia. Tácito recolhe muito de autores
mais antigos (por exemplo, de Plínio, o Velho) cujos escritos sobre os Germanos se perderam. A sua obra, embora
concisa, é essencial para o conhecimento do direito germânico do século I. Por ser fonte única, no entanto, sua exa-
tidão seria de difícil controle. GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e
L. M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 163.
31
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 34-35.
54 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
atos mais simples, tendo cada princípio jurídico seu fundamento em uma
necessidade dos indivíduos.
O direito germânico, portanto, refletiu perfeitamente o caráter dos
povos que lhe deram origem, manifestando, assim, as mais francas ten-
dências individualistas e subjetivas. O direito era considerado pelos
germanos como um poder pertencente ao indivíduo (Giuseppe Carle, em
La vita del Diritto), à família, à tribo. Os germanos conservaram no pró-
prio direito os resquícios das paixões do homem primitivo. Enquanto o
sentimento da personalidade e dignidade individual ocorre vigoroso, ainda
está em formação o conceito abstrato de uma personalidade coletiva e so-
cial32.
Já o direito romano, ao invés de acentuar o indivíduo, como o faz o
direito dos germanos, coloca acento no social. Foram os latinos e etruscos
que deram a estrutura básica do direito romano. Os romanos deviam re-
produzir e revelar nas suas instituições os traços principais da fisionomia
dos seus elementos geradores. Os latinos, ensina Martins Júnior33 com
base em Ahrens, eram rudes e práticos, egoístas secos e insensíveis, mas
raciocinadores, submissos à autoridade e amigos da concentração do po-
der; os etruscos, a seu turno, era políticos e industriais, regulamentadores
e formalistas. Em razão desses fatores, o produto só poderia ser o que foi:
um povo ordenador e dominador, absorvendo o indivíduo no Estado e,
pela conquista, projetando a sombra do Estado sobre as populações adja-
centes. Todo o direito romano obedeceu a um espírito de força expansiva
e de autoridade centralizadora. O princípio do egoísmo é a força motriz das
instituições romanas (Ihering). O verdadeiro sinal do egoísmo romano
está no fato de que ele não perde nunca de vista os laços que prendem o
membro ao todo e não procura jamais obter às expensas deste último a
menor satisfação. O caráter romano, com suas virtudes e vícios, é um sis-
tema do egoísmo raciocinado. Seu princípio fundamental é o de que o
32
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 36.
33
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 37.
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34
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 37-38.
35
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 38-39.
36
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 41.
37
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p.41.
56 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
38
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 41.
Adalberto Narciso Hommerding | 57
39
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 43.
40
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 43.
58 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
41
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 43.
42
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 44.
43
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 44.
Adalberto Narciso Hommerding | 59
44
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 45-46.
60 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
45
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 48-49.
46
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 49.
47
STOLLEIS, Michael. O direito público na Alemanha: uma introdução a sua história do século XVI ao XXI. Coorde-
nação de Ricardo Campos. Tradução Gercélia Batista de Oliveira Mendes. São Paulo: Saraiva Educação, 2018 (Série
IDP: Linha direito comparado), p. 25.
48
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 49.
Adalberto Narciso Hommerding | 61
49
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 52.
50
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 53-54.
62 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
51
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves. Recife:
Arquivo Público Estadual, 1966, p. 56-57.
III
1. Direitos da Antiguidade
2. Os direitos cuneiformes
1
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 51.
2
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 51.
3
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 58.
64 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
4
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 72-73.
5
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 74-75.
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6
Ideogramas são símbolos gráficos utilizados para representar palavras ou conceitos.
7
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 75.
8
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 75-76.
9
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 58.
66 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
10
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 29.
11
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 61.
12
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 17.
13
Ur-Namu é o soberano que deu início, nos finais do terceiro milênio, à terceira dinastia de Ur. O Código de Ur-
Namu constitui a mais antiga recolha legislativa. Um primeiro fragmento, numa pequena tábua conservada no Mu-
seu de Istambul, foi decifrado no início dos anos cinquenta do século passado por S. N. Kramer. A segunda recolha
legislativa, por ordem cronológica, é o código sumérico de Lipit-Istar (1934-1924 a. C.). As leis de Esnunna (Tell
Asmar) – uma cidade à esquerda do Tigre, não longe de Bagdá – apresentam-se em língua acádia, e precedem em
algum tempo o código de Hamurabi. BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos
e Hossein Seddighzadeh Shooja. Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 321.
14
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 17.
Adalberto Narciso Hommerding | 67
15
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 80-82.
16
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 81-82.
17
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 82.
68 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
18
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 296.
19
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 18.
20
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 296.
21
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 61-62.
22
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 297.
Adalberto Narciso Hommerding | 69
23
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 63.
24
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 63.
25
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 297.
26
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 20 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Repensando a história), p. 82.
70 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
27
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
47.
28
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
47. PAULA, E. Simões de. Hamurabi e o seu código. In: Revista de História. Vol. XXVII. Ano XIV. Nº 56. Outubro-
Dezembro/1963, p. 257-270.
Adalberto Narciso Hommerding | 71
29
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 51.
30
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 52.
72 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
31
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 52-53.
32
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 54.
Adalberto Narciso Hommerding | 73
33
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 54.
74 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
34
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 55.
35
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 101.
36
Quanto ao direito dos chineses e dos japoneses, não serão objeto de exposição dados os limites do programa da
disciplina de História do Direito na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI. Como o
livro tem fins didáticos e é destinado aos alunos do curso de Direito dessa instituição de ensino universitário, não
haveria por que discorrer sobre tais sistemas jurídicos.
Adalberto Narciso Hommerding | 75
37
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 102.
38
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 492.
39
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 492. Uma didática explicação – que recomendo - sobre a distinção entre Direito hindu e Direito indiano
pode ser encontrada em: CAMPOS NETO, Antonio Augusto Machado de. O hinduísmo, o direito hindu, o direito
indiano. In: Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. v. 104, p. 71-111, jan./dez. 2009. Disponível
em: https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67850/70458
O Direito hindu é o direito tradicional da Índia, que é aplicado pelos e aos adeptos do Hinduísmo em determinadas
situações, enfatizando o Direito de família e coexistente com o Direito indiano. Não se deve confundir hindu com
indiano. Os habitantes da Índia são os indianos. Dentre os indianos, aqueles que adotam o Hinduísmo como religião,
são os hindus. Direito indiano e Direito hindu não são sinônimos. O primeiro é o Direito do Estado indiano, que se
aplica a todo e qualquer de seus habitantes, não importando qual seja a religião. O Direito hindu, por sua vez, somente
se aplica à comunidade hindu. O Direito hindu, assim, seria a espécie de nómos específico de comunidades religiosas
de um país, mando de condutas; de perfil próprio da época medieval e também no estilo da Antiguidade, respaldado
por extensas regras religiosas, morais e mandamentais. O Direito hindu, dada a complexidade voltada ao subjeti-
vismo, depende da consciência do indivíduo e não do poder estatal, que assume contornos político-administrativos
especiais. O Direito hindu, atualmente, continua a ser, para a maioria dos indianos, o único sistema de Direito que
diz respeito à sua vida privada, a exemplo do art. 45 da Constituição que prevê a generalização do sistema de elabo-
ração de um Código Civil, comum a todos os cidadãos da Índia. O Direito indiano dos dias atuais, segundo os
observadores internacionais, açambarca a realidade sociológica da Índia, em razão de uma economia moderna, que
é mergulhada ou esbarrada em empecilhos das crenças indianas respaldadas e munidas de tradições milenares sem-
pre veneradas. Embora a Índia seja um país travestido de perfil espiritualizado, quase nos moldes do Tibet, há sérios
76 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
defeitos a serem considerados. Quando se observa a discriminação e a não-aplicação dos direitos humanos na Índia,
essa qualificação secular espiritual é descartada.
40
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 56-57.
41
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 57.
Adalberto Narciso Hommerding | 77
42
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 58.
78 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
43
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 58.
Adalberto Narciso Hommerding | 79
44
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 59.
45
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 391-392.
46
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 59-60.
80 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
a juros e leem os livros sagrados; os sudras têm por único ofício servir aos
demais. Nas palavras de Ahrens47,
47
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 391.
48
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 60.
49
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 391-392.
50
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 391-392.
Adalberto Narciso Hommerding | 81
51
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 53.
52
Nesse sentido: AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares.
Buenos Aires: Impulso, 1945, p. 60.
82 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
53
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 102-103.
54
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires: Impulso,
1945, p. 61. Consoante Jayme de Altavila, o período búdico ter-se-ia projetado seis séculos antes de Cristo, modificando
profundamente a fase teogônica anterior, mas não abolindo em absoluto os preceitos raciais que ainda hoje subsistem.
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 46.
55
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 61.
Adalberto Narciso Hommerding | 83
56
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 102-103.
57
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 102.
58
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 471.
59
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 472.
60
A referência a obra de U. C. Sarkar pode ser encontrada em Mario Losano e Mario Bretone: U. C. Sarkar. Epochs
in Hindu Legal History, Vishveshvaranand Vedic Research Institute, Hoshiarpur 1958, pp. 19, 33. Consulte-se:
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja. Lis-
boa: Editorial Estampa, 1988, p. 32-37.
84 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5. O direito de castas
61
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 472.
62
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 59.
63
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 102.
64
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
175.
65
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 64.
Adalberto Narciso Hommerding | 85
6. As fontes do dharma
66
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 22.
67
Nas palavras de Jayme de Altavila: Observemos que o próprio rei poderia ser recomendado ao fogo do inferno pelos
brâmanes, desde que não aplicasse aos culpados os castigos legais, - isto é, aqueles que os seus conselheiros achassem
compatíveis com os seus interêsses. Era, assim, o soberano hindu um prisioneiro político e religioso daquela casta
que retinha nas mãos ávidas todos os poderes do nebuloso e complicado estado bramânico. ALTAVILA, Jayme de.
Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 51.
68
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 22.
69
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 103.
86 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
70
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 299.
71
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 103.
72
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 46.
73
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 103.
Adalberto Narciso Hommerding | 87
princípios monoteístas. Esse período védico, porém, foi superado pelo pe-
ríodo bramânico que destruiu a epopeia cosmogônica dos arianos e se
encaminhou pela legislação religiosa da casta invencível dos sacerdotes. O
Código de Manu faz parte da coleção dos livros bramânicos que estão en-
feixados em quatro compêndios: o Maabárata, o Romaiana, os Purunas e
as Leis de Manu. Fora dos limites hindus, no entanto, foi um código sem
ressonância. Formulado dez séculos depois do Código de Hamurabi, não
teve a projeção legal que este teve. O Código de Hamurabi infiltrou-se pela
Assíria, Judéia e Grécia, constituindo um legado comparável ao que Roma
constitui para o mundo moderno74.
Sabe-se que, após o século VIII d. C., parou-se de escrever os dhar-
masãstra, sendo consideradas sagradas as recolhas existentes. Sua
interpretação, porém, continuou. Essas interpretações, chamadas de ni-
bandhas, consistiam, no geral, em escolhas de textos a fim de eliminar
contradições e permitir fazer considerar regras de conduta retida como
obrigatórias. A autoridade de tais nibandhas ainda é considerável na Índia,
pois não foi imposta, nem por poder religioso e nem por poder laico75. Os
Nibandha foram redigidos na época de transição do direito bramânico ori-
ginário para o direito misto indo-islâmico introduzido pela dominação
muçulmana. É por esse motivo que os mais tardios entre esses comentá-
rios delineiam decisivamente as estruturas fundamentais do direito
bramânico, exatamente para afirmar sua originalidade e autonomia em
relação a outro sistema jurídico, nascido numa sociedade com usos e reli-
gião profundamente diferentes76.
A principal fonte do direito para os hindus, sem dúvidas, é o costume.
O costume é um elemento básico e primordial do direito hindu. Opera se-
cundum ou praeter legem, e, também, contra legem. O costume pode ser
74
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 46-48.
75
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 104.
76
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 477.
88 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
77
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 37.
78
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 104.
79
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 54.
80
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 300.
Adalberto Narciso Hommerding | 89
81
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 491-492.
90 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
82
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 80-81.
83
Na Bíblia Sagrada, no Livro do Gênesis, 17, 1-15, consta que Deus aparece a Abrão e lhe diz querer fazer uma aliança
para multiplicar sua descendência ao infinito. Dali em diante, Abrão passa a se chamar Abraão e passará, ele e sua
posteridade, a guardar a aliança eterna com Deus. O sinal dessa aliança será, então, a circuncisão, a ser feita em todo
homem no oitavo dia do seu nascimento. As devidas referências bíblicas faço aqui com base na Bíblia Sagrada. Tra-
dução dos originais mediante a versão dos Monges de Maredsous (Bélgica) pelo Centro Bíblico Católico. 31. ed. revista
por Frei João José Pedreira de Castro, O.F.M., e pela equipe da Editora. São Paulo: Editora Ave Maria, 1981.
Adalberto Narciso Hommerding | 91
84
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 81.
85
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 21. A referência feita por Enrique
Ahrens é ao ano de 1.491 a. C. Veja-se: AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y
Augusto G. de Linares. Buenos Aires: Impulso, 1945, p. 82.
86
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 66.
92 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
87
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 66.
88
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 20.
89
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 81.
90
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 20-21.
Adalberto Narciso Hommerding | 93
seca no Oriente – o chamado período das vacas magras – que só foi supor-
tada pelo Egito, preparado que estava graças a José. Com isso, de todas as
partes vinham emissários para adquirir os víveres que haviam sido arma-
zenados por ordem de José. José, então, viria perdoar seus irmãos e
conseguir do faraó a entrada dos hebreus no Egito.
Em quatrocentos e trinta anos de Egito, o número de hebreus seguia
crescendo. Embora José já tivesse morrido, os faraós não hostilizavam os
hebreus, justamente em razão do prestígio de José. Ocorre, no entanto,
que subiu ao trono um faraó que não conhecera José e que, então, passou
a hostilizar os hebreus, escravizando-os e os exterminando. Foi aí que uma
mulher da tribo de Leví, para salvar seu filho recém-nascido, colocou-o
num cesto, próximo ao local em que se banhava a filha do faraó. Esta, por
sua vez, resolveu adotá-lo, salvando-o da morte. É assim que Moisés, que
significa salvo das águas91, foi educado entre os egípcios, só vindo a saber
de sua origem quando adulto. Moisés veio a matar um soldado egípcio que
havia ferido um hebreu e teve de fugir para o deserto onde conheceu o
pastor Jetro, para quem viria a trabalhar, casando-se com Séfora, filha de
Jetro. Vivendo pacificamente com sua família e seu rebanho, Moisés, então,
receberá, no Monte Horeb, a ordem de Deus para voltar ao Egito e libertar
o seu povo. O faraó, porém, só viria permitir a saída dos hebreus após
muitas delongas, iniciando-se o êxodo pelo deserto apenas em 1.495 a. C.,
quando, guiados por Moisés, os hebreus foram em busca da Terra Prome-
tida, Canaã. Ao passarem pelo Monte Sinai, Moisés subiu no cume da
montanha e lá recebeu de Deus o Decálogo, os Dez Mandamentos92.
O Decálogo ditado a Moisés é, assim, a Aliança do Sinai, o Código da
Aliança de Jeová93. Nos Dez Mandamentos se vê a defesa do monoteísmo
(1º e 2º mandamentos), da instituição familiar (4º, 6º e 9º mandamentos)
e da propriedade privada (7º e 10º mandamentos). Aí é que estão as bases
91
Bíblia Sagrada, Livro do Êxodo, 2, 5-10.
92
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 21. Na Bíblia Sagrada, a passagem
referente aos Dez Mandamentos encontra-se no Livro do Êxodo, 20, 1-17.
93
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 66.
94 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
94
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 22.
95
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 18.
96
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 82.
Adalberto Narciso Hommerding | 95
97
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 82-83.
98
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 83.
99
A referência é feita por ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhora-
mentos, 1964, p. 15.
100
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 15.
101
Como se vê no Livro do Deuteronômio, 21, 15-17, que trata do direito de primogenitura dado ao filho da mulher
menos amada, se esse for o caso.
96 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
102
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 83.
103
Sobre o Levirato, consulte-se a Bíblia Sagrada, Livro do Deuteronômio, 25, 5-10.
104
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 83.
105
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 84.
Adalberto Narciso Hommerding | 97
106
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 84-85.
98 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
107
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 85.
108
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 85.
109
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 14-15.
Adalberto Narciso Hommerding | 99
110
PINSKY, Jaime. Os profetas sociais e o Deus da cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-27.
111
Na epístola de São Paulo aos Romanos, 2, 17-29, isso fica muito claro no exemplo da circuncisão, que representa a
aliança de Abraão com Deus, de que trata o Livro do Gênesis, já referido anteriormente. Diz, então, São Paulo no
versículo 25 do referido capítulo da epístola citada: A circuncisão, em verdade, é proveitosa, se guardares a Lei. Mas,
se fores transgressor da Lei, serás, com tua circuncisão, um mero incircunciso. E ao final, nos versículos 28 e 29,
conclui: Não é verdadeiro judeu o que é exteriormente, nem verdadeira circuncisão a que aparece exteriormente na
carne. Mas é judeu o que o é interiormente, e verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o espírito da Lei, e não
segundo a letra. Tal judeu recebe o louvor não dos homens e sim de Deus.
100 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
afirmava prever o futuro. Embora não tenha sido criação dos hebreus, os
profetas que entre eles se desenvolveram, à diferença dos videntes que
eram gente não muito confiável, conceberam uma nova forma de pensar
o mundo, a divindade e a relação entre as pessoas. Os grandes profetas,
assim, utilizaram-se de uma forma de ser já existente e praticada pelos
videntes para dar um novo conteúdo a ela. É que os profetas partem de
um formato presente, familiar ao mundo em que atuam, e lhe dão uma
nova dimensão112. E são considerados grandes revolucionários porque to-
mam para si a bandeira dos mais pobres. Assim, eles criam um modelo do
que seria uma sociedade justa, a partir da crítica moral e ética ao presente,
na busca de exemplos de relações sociais diferentes no passado idealizado.
Como ensina Pinsky113, o mundo agora estava ouvindo, pela primeira vez,
o grito dos oprimidos e dos injustiçados. Daí a afirmação de que os profetas
desistiram do deus do templo e criaram o deus da cidadania. Por isso, o
grande legado, a contribuição original dos hebreus à civilização, foi a con-
cepção de um deus que não se satisfazia em ajudar exércitos, mas exigia
um comportamento ético por parte de seus seguidores. E esse deus era um
deus comprometido com problemas vinculados à exclusão social, à po-
breza, à fome, à solidariedade114.
Uma boa amostra dessas ideias, em especial da importância dos pro-
fetas da tradição hebraica para a formação da civilização ocidental e o
desenvolvimento da cidadania, e, consequentemente, do que hoje se
chama direitos humanos, pode ser encontrada no texto Os filhos nascidos
fora da lei, reconhecimento e os direitos humanos: uma reflexão a partir do
livro bíblico de Oséias, de autoria do Professor Noli Bernardo Hahn115.
112
PINSKY, Jaime. Os profetas sociais e o Deus da cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-27.
113
PINSKY, Jaime. Os profetas sociais e o Deus da cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-27.
114
PINSKY, Jaime. Os profetas sociais e o Deus da cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-27.
115
HAHN, Noli Bernardo. Os filhos nascidos fora da lei, reconhecimento e os direitos humanos: uma reflexão a partir
do livro bíblico de Oséias. In: GIMENEZ, Charlise Paula Colet et al (Org.). Direitos humanos e os desafios da vida
contemporânea. Cruz Alta: Ilustração, 2018, p. 31-39.
Adalberto Narciso Hommerding | 101
Nesse texto, Noli Hahn imbrica os textos proféticos com os direitos huma-
nos. Os direitos humanos, embora como categoria formal só tenham
surgido no Século XX, enquanto sistema de valores floresceram ao longo
da história humana, pressupondo uma sensibilidade solidária, como diz
Hahn, e compaixão com o outro em sua alteridade. Essa sensibilidade so-
lidária e compaixão já se encontram presentes nos textos proféticos de
tradição hebraica, como no livro de Oséias. A vida histórica e cotidiana – e
daí a ideia de que não se faz justiça lendo a lei afastada da vida – é a fonte
e o fundamento do sistema de valores subjacente ao Direito que deverá,
então, inspirar e efetivar a justiça. O jurista, a partir de uma reflexão nesse
sentido, tem muito a ganhar ao se inspirar na literatura profética de tra-
dição hebraica.
O tema da esperança aqui é importante, pois quando se fala em espe-
rança é introduzido também o tema da resistência, em especial a partir
dos profetas bíblicos do Século VIII a. C. Na época de Oséias, há duas terras
de Javé e, pois, dois reinos ou Estados: os do Norte e os do Sul. Além de
Oséias, há, ainda, no Norte, o profeta Amós, e, no Sul, os profetas Isaías e
Miquéias, todos profetizando contra o Estado monárquico instalado na-
quela época. Todos esses profetas, diz Noli Hahn, abraçam a mesma
bandeira, acusando o Estado de ser a razão fundamental das maldades e
injustiças que eram cometidas em ambos os reinos. Uma dessas injustiças,
por exemplo, estava no fato de que, com o início das monarquias, se inau-
gurou o modo de produção tributário, com tributação das famílias
camponesas, exigindo, então, o Estado monárquico tributos acima das
possibilidades reais de pagamento por parte dos tributados. Os Estados do
Norte e do Sul, portanto, tributavam os camponeses acima de suas reais
possibilidades, sendo as colheitas menores que as exigências da tributação
e precisando as famílias entregar mais ao Estado do que colhiam. É a rea-
lidade, assim, que fez surgir esses profetas, cada qual ao seu modo fazendo
sua leitura do contexto. E esse contexto caracteriza-se pelo fato de que mi-
litares, sacerdotes e representantes do poder político (reis e
administradores) cometem muitas injustiças, violências e maldades. Os
102 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
116
Sobretudo no capítulo 4 do Livro de Oséias.
117
Livro de Oséias, 9, 1-2.
Adalberto Narciso Hommerding | 103
3.1. A Bíblia
118
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 67.
119
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 67.
120
Êxodo, 20, 22-26; 21, 1-35; 22, 1-31; 23, 1-33.
121
Pela sua forma e fundo, o texto do Código da Aliança assemelha-se às codificações mesopotâmicas e hititas, nome-
adamente o código de Hamurabi, o que, segundo Gilissen, permitira supor que uma primeira formulação (talvez
Adalberto Narciso Hommerding | 105
oral) poderia remontar à época anterior à estada no Egito. Na sua forma final, o texto dataria da época dos Juízes, ou
seja, do início da fixação em Canaã, nos séculos XII ou XI antes de Cristo. GILISSEN, John. Introdução histórica ao
direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001,
p. 68.
122
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 15-18. O
Deuteronômio constitui uma nova versão do Código da Aliança. É uma codificação de antigos costumes, tendendo
sobretudo à manutenção da pureza do monoteísmo, mas compreendendo disposições que também interessam ao
direito público e ao direito familiar. Dataria do século VII. A tradição o atribui ao rei Josias (621), mas teria sido
remodelado no século V. GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M.
Macaísta Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 68.
123
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 69.
106 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
124
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 69.
125
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 70.
IV
A antiguidade greco-romana
1
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 91.
108 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
2
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 92.
Adalberto Narciso Hommerding | 109
romano não abraça o Estado, em e por si mesmo, como obra de valor pró-
prio e digno, mas segundo o conceito intelectual da utilitas, que tem em
vista a generalidade, prevalecendo, porém, o interesse do indivíduo3.
Segundo Ahrens4, a luta das duas classes sociais em Roma também
deve ser considerada do ponto de vista de que os patrícios procuravam
conservar a organização e os costumes políticos, e os plebeus, pelo contrá-
rio, converter cada vez mais o Estado numa instituição para sua utilidade.
Na Grécia e em Roma há luta pela posse dos poderes públicos: naquela, no
interesse pelo poder mesmo; nesta, para satisfação de outros fins. Na Gré-
cia, a demagogia arruína a vida política; em Roma, sucumbe pela completa
vitória de um de seus elementos, os plebeus, somente se contendo exteri-
ormente pelo despotismo imperial que daí se segue.
Há que se notar que, na Grécia, o direito e a lei jamais se divorciaram
por completo do espírito ético. A vida, na Grécia, não se desenvolve, pois,
pelo lado formal do Direito. Ela alcança um profundo conteúdo na Filosofia
e na Arte. Tampouco o Estado permanece indiferente à Religião. Direito e
política são concebidos como parte da Ética. Aliás, os antigos legisladores
motivavam suas leis em razões éticas. O espírito romano, por sua vez, con-
sidera no Estado unicamente uma forma geral, um molde, bastando
existir. É indiferente ao seu conteúdo. Esse conteúdo nasce do livre movi-
mento, vontade e alvedrio dos cidadãos. Roma não opôs resistência ao
receber no seu seio os deuses estrangeiros e tampouco se isolou ou recha-
çou o direito dos demais povos. Na verdade, reformou o seu direito com o
direito dos demais, recebendo o jus gentium e fazendo do Estado um Es-
tado internacional5.
3
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 92-93.
4
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 93.
5
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 93-94. Na antiguidade clássica, a Grécia foi a inteligência, a filosofia, a arte, e Roma, a política, o
Estado, o poder, o direito imperial. VALLADÃO, Haroldo. História do direito especialmente do direito brasileiro. 3.
ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 38.
110 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
6
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 94.
7
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 94-95.
Adalberto Narciso Hommerding | 111
8
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: UnB, 1997.
9
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 99.
10
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 99.
112 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
11
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 99-100.
12
MOSSÉ, Claude. Atenas: a História de uma Democracia. Tradução de João Batista da Costa. 2. ed. Brasília: Univer-
sidade de Brasília, 1982 (Coleção Pensamento Político), p. 12-13.
13
A palavra fratria possui uma raiz indo-europeia que implica relação de parentesco. Quando, porém, os autores
antigos empregam-na, consideram a fratria uma subdivisão da cidade. Como conciliar, então, essas duas noções
contraditórias? Muitos veem nas fratrias uma reunião de famílias, de gené; uma aglomeração em torno de um genos
aristocrático de membros plebeus, os orgeones, integrados assim aos cultos do genos; ou, ainda, corporações de
guerreiros ou associações de vizinhos. Nenhuma dessas versões, no entanto, é realmente definitiva. Para Claude
Mossé, a saída, então, é tratar apenas do papel desempenhado pelas fratrias na sociedade democrática. A fratria,
explica Mossé, surge como uma associação que cumpria certas funções simultaneamente familiares e religiosas. É
aos membros de sua fratria que o pai apresenta seu recém-nascido, e a aceitação da criança é considerada prova de
sua legitimidade. É também dentro da fratria que os adolescentes são admitidos entre os adultos, o que acontecia
durante o Festival das Apatúrias, que durava três dias. Ao longo do terceiro dia, as crianças, os adolescentes e as
mulheres recém-casadas eram, então, admitidos à fratria. O casamento também é em razão de uma cerimônia à qual
são frequentemente associados os fráteres. O mesmo ocorre com os funerais. As fratrias igualmente intervêm para
perseguir um assassino e, perante um tribunal, é frequente que o acusador ou o acusado invoquem o testemunho de
seus fráteres. MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de
André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 142-143.
Adalberto Narciso Hommerding | 113
14
O hoplita era, nos exércitos das cidades gregas, o soldado de infantaria fortemente armado que combatia dentro
das falanges. Ao longo dos primeiros séculos da época arcaica o equipamento do hoplita foi pouco a pouco se insti-
tucionalizando: capacete encimado por uma ferradura, couraça de bronze, cinturão, perneiras, lança curta e,
finalmente, o escudo de empunhadura dupla, característica principal da falange hoplítica. Firmemente seguro graças
à segunda empunhadura, chamada antílabe, permitia ao hoplita proteger-se e, ao mesmo tempo, proteger seu vizi-
nho da esquerda, com os escudos formando um verdadeiro muro diante do inimigo. O encontro entre duas falanges
de hoplitas ocorria em campo aberto. A vencedora era a que continuasse a dominar o terreno e forçasse a adversária
a fugir. MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André
Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 172.
15
MOSSÉ, Claude. Atenas: a História de uma Democracia. Tradução de João Batista da Costa. 2. ed. Brasília: Univer-
sidade de Brasília, 1982 (Coleção Pensamento Político), p. 12-13.
16
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 100.
114 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
17
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 101.
18
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 101.
19
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Tradução de Henrique de Araújo Mesquita e Roberto Cortes de Lacerda. 2. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988, p. 90.
Adalberto Narciso Hommerding | 115
de segunda classe. Assim, não houve título oficial e geral para designá-los,
sendo, exatamente por esse motivo, desde os tempos antigos, necessário
lhes dar aquele com que os seus inimigos os estigmatizavam. Todas as di-
famações, todas as calúnias de que os cumulou o ódio dos oligarcas
encontraram crédito junto à democracia, quando ela deles não mais ne-
cessitou e percebeu que um governo arbitrário era contrário aos seus
princípios. Todos os gregos, desde então, por um processo de emulação,
apedrejaram o regime execrado. E aí, explica Glotz20,
20
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Tradução de Henrique de Araújo Mesquita e Roberto Cortes de Lacerda. 2. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988, p. 90.
21
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Tradução de Henrique de Araújo Mesquita e Roberto Cortes de Lacerda. 2. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988, p. 90-91.
116 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
22
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 101.
23
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 101-102.
24
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 102. Demos é a terra habitada por um povo, a população de um lugar. Nos estados livres e demo-
cráticos, é a reunião ou o conjunto dos homens livres. Em Atenas, sobretudo, é a subdivisão da tribo (phylê), logo,
cantão, distrito, município. O significado do étimo Demos, portanto, era duplo. A palavra queria dizer tanto terra
quanto a população de um lugar. Esta é a primeira observação que cabe fazer. A segunda é a de que se poderia estar
incorrendo em erro ao traduzir demos por povo. LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos
históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 73-74.
Adalberto Narciso Hommerding | 117
25
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 135-136.
26
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 34.
27
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 300.
28
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 102.
29
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 188.
118 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
30
As proposições normativas podem ser escritas ou não escritas. Aquelas que não são escritas até podem parecer
melhores. Segundo Plutarco, Licurgo, o mítico fundador da constituição espartana, era desta opinião. As normas não
deviam ser escritas porque, como princípios fundamentais, não tinham outro lugar senão a consciência dos homens.
Se se tratavam de regras secundárias ou marginais, também neste caso escrevê-las teria sido um erro porque a
escrita, entorpecendo-as, teria impedido a sua fácil e contínua mudança. BRETONE, Mario. História do direito ro-
mano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja. Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 63.
31
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 74.
32
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 188.
33
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 164.
34
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 188.
Adalberto Narciso Hommerding | 119
35
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 102-103. Para Haroldo Valladão, conhecem-se as leis de Esparta, com Lycurgo, no século IX a. C.,
e, as de Atenas, com Solon, em VII a. C., que teriam influenciado a primeira lei romana, a Lei das XII Tábuas. As
primeiras costumeiras (Plutarco), explica Valladão, teriam sido feitas após vários anos em que Lycurgo esteve ausente
de sua terra, da Lacedemônia, numa primeira experiência de direito comparado, e abrangiam, principalmente, o
direito público, a organização do Governo com a Assembleia Popular, o Senado e a Realeza. Só os dórios, espartanos,
tinham direitos políticos e civis, e o direito, visando sobretudo a incolumidade do Estado e a pureza dos costumes,
não só denegava direitos aos estrangeiros, como os queria longe do território. VALLADÃO, Haroldo. História do
direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 38.
36
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 102-103.
120 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
37
Não se pode confundir o reformador espartano Licurgo, o legislador, com o político Licurgo. Este foi um dos últimos
grandes políticos da história da democracia ateniense. Logo após a Batalha de Queronéia começou a desempenhar
um papel atuante na vida da cidade. Como antes dele haviam feito Calístrato, Eubulo e, de certo modo, Demóstenes,
foi como perito nos aspectos administrativos e financeiros da cidade de que se tornou o principal governante. O
essencial de sua obra é informado num decreto homenageando sua memória e se localizaria entre 338-7 e 326-5. É
possível que tenha sido encarregado da administração financeira com o título de tamias, tesoureiro, da dioikésis. O
decreto, porém, lembra principalmente as construções públicas que Licurgo ordenara ou concluíra; os hangares para
as naus, o arsenal, o teatro de Dionísio e o ginásio do Liceu, para tornar a cidade digna de sua antiga glória, valori-
zando também seu patriotismo diante do Macedônio. Licurgo teria tentado restaurar a grandeza da cidade, e o
período em que ele dominou a vida política de Atenas coincide com o último brilho da democracia ateniense. MOSSÉ,
Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 188.
38
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 103.
39
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 300-
301.
40
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 103.
Adalberto Narciso Hommerding | 121
escravizado se a dívida não fosse paga, garantia do credor que Sólon aca-
bou abolindo41.
Drácon foi importante porque realizou um antigo anseio das classes
populares: que as leis fossem publicadas42. Assim, armou o Estado de um
poder judiciário43. A legislação de Drácon, portanto, deve ser encarada
como um grande progresso. É a primeira tentativa, ainda limitada a casos
de assassinatos, de instituir um direito comum a todos e de colocar termo
à prática de vingança das famílias44. A despeito dela, porém, a aristocracia
continuava com os seus privilégios, continuando as classes mais pobres a
amargar a sorte. Dois partidos digladiavam-se na época. O primeiro base-
ava-se na legalidade tradicional; o segundo, numa equidade
revolucionária. É aqui, então, que surge Sólon, um dos sete sábios da Gré-
cia (R. Maisch e F. Pohlhammer). Sólon, na condição de legislador, foi
capaz de realizar uma revolução mitigada. Ao permanecer insensível aos
ataques das facções que lutavam, Sólon eliminou as barreiras que manti-
nham os Eupátridas separados das outras classes, legislando também em
matéria agrária e familiar.
Sólon, portanto, propôs-se a organizar e ordenar os interesses da
aristocracia com uma democracia temperada45. Seu princípio fundamental
foi o direito do livre cidadão e a honra que nele se funda. A condição ne-
cessária para isso, por um lado, era a importante lei de que em nenhum
41
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 300-301.
42
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 70-71.
43
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Tradução de Henrique de Araújo Mesquita e Roberto Cortes de Lacerda. 2. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988, p. 100.
44
MOSSÉ, Claude. Atenas: a História de uma Democracia. Tradução de João Batista da Costa. 2. ed. Brasília: Univer-
sidade de Brasília, 1982 (Coleção Pensamento Político), p. 13. Como explica Gustave Glotz, um único homem soube
executar em alguns meses a obra que, durante muitos anos, representava um desafio para todo um colégio. Ele
deixou um nome sinistro e temido, por ter armado o Estado do poder judiciário; passou por legislador sanguinário,
por ter-se dedicado a por fim ao derramamento de sangue. As guerras civis eram um encadear de guerras privadas
em que os génê se lançavam uns contra os outros com todas as suas forças. Para obrigar a parte lesada a dirigir-se
aos tribunais, Drácon fixou as condições em que se devia recorrer à vingança ou à conciliação. Para desagregar os
grupos familiares, separou em cada um deles círculos de parentelas mais ou menos próximos, e mesmo, em certos
casos, impôs que os parentes convocados tomassem as decisões por unanimidade; apelou para o individualismo
existente dentro do génos. 44 GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Tradução de Henrique de Araújo Mesquita e Roberto
Cortes de Lacerda. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988, p. 100-101.
45
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 103.
122 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
caso se pudesse prender uma pessoa por dívida, mas tão somente perse-
guir sua fortuna; por outro, a supressão de encargos, exigida pela situação
do povo, que não consistiu certamente em anular os contratos de emprés-
timo, mas apenas em uma remissão de juros e uma diminuição do padrão
monetário; devolução livre, ao agricultor, da propriedade da herança hi-
potecada46 e restituição à sua condição primeira de todos os que se
achavam escravizados por dívidas. Aos artesãos (metecos), em razão da
sua atividade, e aos escravos, por sentimento humanitário, também se ga-
rantiu a proteção contra o orgulho e a violência. Para dar eficácia aos
deveres de cidadania, Sólon determinou que a perda dos direitos de cida-
dania fosse consequência do descumprimento daqueles47.
Na organização formal da constituição política, Sólon quis combinar
a aristocracia e a democracia. Manteve a organização do povo em 4 tribos
e 170 demos, dividindo-o, política e militarmente, em 4 classes, segundo a
diversidade de fortuna48. Assim, levando em conta as distinções entre os
cidadãos, fundadas na riqueza, Sólon dividiu-os em quatro classes censi-
tárias (ou timocráticas): a) Pentacosiomedinos, que colhiam pelo menos
500 medinos de sólido (260 hectolitros) ou 500 metretas de líquido (195
hectolitros); b) Cavalheiros, que colhiam pelo menos 300 (156 ou 117 hec-
tolitros); c) Zeugîtai, que colhiam pelo menos 200 (104 ou 78 hectolitros);
e d) Thêtes, classe dos que não possuíam terras ou não conseguiam alcan-
çar a produção mínima de 200 medinos49.
O acesso às funções públicas estava vinculado à divisão de classes, não
havendo, portanto, uma igualdade, na época, entre os cidadãos. As obriga-
ções e os direitos dessas classes eram fixados proporcionalmente ao seu
respectivo censo. Todos os integrantes dessas classes eram cidadãos da Po-
lis. As obrigações e os direitos, porém, variavam. Assim é que os thêtes
46
TOYNBEE, Arnold J. Helenismo: história de uma civilização. Tradução de Waltensir Dutra; introdução de Antonio
Olinto. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960, p. 66.
47
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 103-104.
48
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 104-105.
49
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 72.
Adalberto Narciso Hommerding | 123
50
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 72.
51
O Areópago recebeu seu nome da colina dedicada ao deus Ares na qual se realizavam as reuniões do conselho que
assessorava o rei na Atenas da época arcaica. Quando o arcontado passou a ser uma magistratura anual, o conselho
do Areópago acolhia todos os arcontes que deixavam o cargo. Uma tradição difundida por Plutarco atribui sua criação
a Sólon. Parece, no entanto, que o conselho existia muito antes da época do legislador, que sem dúvida se limitou a
designar suas atribuições. A criação por Clístenes de um segundo conselho, a Boulé dos Quinhentos, e, mais tarde,
em 461, as medidas tomadas por Efialtes privaram o conselho do Areópago de grande parte de suas atribuições. Na
Atenas democrática dos séculos V e IV, o Areópago praticamente não intervinha na vida política da cidade. Suas
funções, essencialmente jurídicas, limitavam-se ao registro dos assassinatos premeditados, dos ferimentos provoca-
dos com a intenção de matar, das tentativas de incêndio e envenenamento. Ainda que seu papel tenha se tornado
relativamente secundário em relação ao desempenhado pela boulé, a Eclésia ou a Heliéia, muitos atenienses manti-
nham uma reverência inabalável em relação ao antigo conselho. Tudo indica que em muitas ocasiões e situações
difíceis, o Areópago foi investido de poderes mais extensos e considerado o guardião da constituição e das leis.
MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de André Telles. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 38-39.
124 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
52
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 104-105.
53
TOYNBEE, Arnold J. Helenismo: história de uma civilização. Tradução de Waltensir Dutra; introdução de Antonio
Olinto. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960, p. 67.
54
Segundo Arnold Toynbee, o ano seria o de 507 a. C., e não 510. a. C., como sugere Enrique Ahrens.
55
TOYNBEE, Arnold J. Helenismo: história de uma civilização. Tradução de Waltensir Dutra; introdução de Antonio
Olinto. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960, p. 68-69.
56
Péricles marcou tanto a sua época que ela foi chamada O século de Péricles. Ao pronunciar o epitaphios dos mortos pela
pátria, Péricles afirmou: A constituição que nos rege nada tem que invejar as leis dos povos vizinhos; serve-lhes de modelo
e de modo algum as imita. O seu nome é democracia, porque visa ao interesse, não de uma minoria, mas da grande
maioria. Em seu discurso, Péricles exalta o princípio da igualdade, na vida pública e na privada, afirmando que o mérito
pessoal é a base de todas as recompensas. O discurso é um texto apologético, a propósito de Atenas, do seu povo e das
suas instituições. Péricles não fala na qualidade de pensador político, mas na de dirigente máximo dos atenienses. Faz o
elogio fúnebre de combatentes atenienses, mortos na guerra. Se, por um lado, o discurso de Péricles não pode ser subes-
timado, como fonte para o conhecimento das instituições da democracia ateniense, por outro lado, ele não pode ser
superestimado. A polis, com seu entranhado exclusivismo, continha os germens da sua própria destruição. Isso vem a
propósito da Guerra do Peloponeso, na qual foi pronunciada a oração de Péricles. A polis foi a mais completa e complexa
forma de organização atingida pelos antigos helenos. Além disso, ela propiciou que os gregos atingissem o seu clímax,
em termos de realização do espírito. Foi ela, porém, também a causa da ruína da Antiga Grécia. E prova disso é a Guerra
do Peloponeso, de proporções desastrosas, que possibilitou a dominação estrangeira. LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder
na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 76-77.
57
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 105.
Adalberto Narciso Hommerding | 125
58
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 70-
71. A revolução econômica, explica Arnold Toynbee, consistiu na modificação de um regime de agricultura de subsis-
tência para um regime de produção especializada, industrial e agrícola, de exportação em troca de importação de
alimentos e matérias-primas. Um hectare de solo ático poderia sustentar mais bocas atenienses se, ao invés de ser
cultivado com cereais para consumo interno, fosse plantado com vinhas e oliveiras para produção de vinho e azeite
que podiam ser trocados por cereais cultivados na Sicília, Egito e Ucrânia. O lucro da economia ateniense seria maior
se o líquido produzido no solo ático fosse entregue ao comprador em recipientes de cerâmica atrativamente decora-
dos. Dessa forma, os campos de trigo da Ucrânia, Egito e Sicília, os pastos do planalto da Anatólia, as minas da
Etrúria, e até mesmo o interior de Cartago no noroeste da África e sudoeste da Espanha, ciosamente guardado,
puderam ser anexados, comercialmente, ao mundo helênico, na época em que chegava ao fim, pela resistência
etrusca e cartaginesa, a expansão da área colonizada pelos helenos e cultivada por suas mãos. Sólon compreendeu
isso porque era um homem de negócios. A contribuição permanente que prestou a Atenas foi o estímulo dado à
exportação de vinho e azeite ático e à imigração de ceramistas e outros artesãos estrangeiros. TOYNBEE, Arnold J.
Helenismo: história de uma civilização. Tradução de Waltensir Dutra; introdução de Antonio Olinto. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1960, p. 67.
59
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 79-
80.
60
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 135.
126 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
61
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho 1: Antigüedad y Edad Media. Traducción de José F. Lorca Nava-
rrete. Tercera edición. Madrid: Ediciones Pirámide, S. A., 1982, p. 27.
62
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho 1: Antigüedad y Edad Media. Traducción de José F. Lorca Nava-
rrete. Tercera edición. Madrid: Ediciones Pirámide, S. A., 1982, p. 27.
63
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho 1: Antigüedad y Edad Media. Traducción de José F. Lorca Nava-
rrete. Tercera edición. Madrid: Ediciones Pirámide, S. A., 1982, p. 27.
64
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho 1: Antigüedad y Edad Media. Traducción de José F. Lorca Nava-
rrete. Tercera edición. Madrid: Ediciones Pirámide, S. A., 1982, p. 27-28.
Adalberto Narciso Hommerding | 127
65
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho 1: Antigüedad y Edad Media. Traducción de José F. Lorca Nava-
rrete. Tercera edición. Madrid: Ediciones Pirámide, S. A., 1982, p. 28.
66
AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à história do direito. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010, p. 39. Luiz Carlos de Azevedo fala em civilização helênica. Prefiro usar o termo civilização grega,
pois, como ensina Arnold J. Toynbee, a civilização que tomou o nome de helenismo começou a existir em fins do
segundo milênio a. C. e preservou sua identidade, desde aquela época, até o século VII da era Cristã. A Grécia, por
sua vez, já existia antes que a civilização helênica surgisse. TOYNBEE, Arnold J. Helenismo: história de uma civiliza-
ção. Tradução de Waltensir Dutra; introdução de Antonio Olinto. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960, p. 5.
67
AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à história do direito. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010, p. 39.
128 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
68
GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na antiguidade clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi
(orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 29-47.
69
GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na antiguidade clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi
(orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 29-47.
70
GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na antiguidade clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi
(orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 29-47.
Adalberto Narciso Hommerding | 129
71
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 115-116.
72
LIMA FILHO, Acacio Vaz de. O poder na Antiguidade: aspectos históricos e jurídicos. São Paulo: Ícone, 1999, p. 69.
73
ISRAËL, Nicolas (com a colaboração de Laurent Gryn). Genealogia do direito moderno: o estado de necessidade.
Tradução Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão; revisão da tradução Claudia Berliner. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2009 (Biblioteca Jurídica WMF), p. 2.
74
ISRAËL, Nicolas (com a colaboração de Laurent Gryn). Genealogia do direito moderno: o estado de necessidade.
Tradução Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão; revisão da tradução Claudia Berliner. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2009 (Biblioteca Jurídica WMF), p. 2.
75
COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2002 (Coleção primeiros passos;
250), p. 16.
130 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
76
TORRES, Ricardo Lobo. Cidadania. In: BARRETO, Vicente de Paulo (Coordenação). Dicionário de Filosofia do Di-
reito. São Leopoldo, RS/Rio de Janeiro, RJ: UNISINOS, Renovar, 2009, p. 125-128.
77
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. 10. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense Universitária, 2001, p. 37-39.
78
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. 10. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense Universitária, 2001, p. 40.
Adalberto Narciso Hommerding | 131
negócios públicos. Viver como iguais na polis significava que tudo era de-
cidido mediante palavras e persuasão, sem violência79. Aí está o espírito da
democracia que, no entanto, para os gregos, era mais restrita porque in-
cluía apenas os homens livres, deixando de fora mulheres, crianças e
escravos80. A polis, portanto, diferenciava-se da família pelo fato de so-
mente conhecer iguais, ao passo que a família era o centro da
desigualdade. Ser livre, explica Hannah Arendt81,
79
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. 10. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense Universitária, 2001, p. 35.
80
COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2002 (Coleção primeiros passos;
250), p. 16-17.
81
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. 10. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense Universitária, 2001, p. 41-42.
82
SACCO, Rodolfo. Antropologia jurídica: contribuição para uma macro-história do direito. Tradução de Carlo Al-
berto Dastoli; revisão da tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 113-114.
83
SACCO, Rodolfo. Antropologia jurídica: contribuição para uma macro-história do direito. Tradução de Carlo Al-
berto Dastoli; revisão da tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 114.
132 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
84
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2. ed. revista. São Paulo: Max Limonad,
2002, p. 34.
85
SACCO, Rodolfo. Antropologia jurídica: contribuição para uma macro-história do direito. Tradução de Carlo Al-
berto Dastoli; revisão da tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 114.
86
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2. ed. revista. São Paulo: Max Limonad,
2002, p. 34.
87
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2. ed. revista. São Paulo: Max Limonad,
2002, p. 34.
88
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 105.
89
A filosofia jurídica, na condição de reflexão abstrata sobre conceitos fundamentais do Direito, foi um fenômeno
relativamente tardio na história do espírito grego (Werner Jaeger). Costumam-se encontrar numerosas referências
isoladas ao problema da justiça e sua relação com as leis dos homens, mas até Platão não aparece um tratamento
ordenado dos temas jusfilosóficos. O que há são conselhos. Segundo Diógenes Laércio – a referência aqui é de
Adalberto Narciso Hommerding | 133
etc. Assim, se os gregos não tivessem repelido a ideia de que as leis eram
reveladas pela vontade da divindade, dos deuses, ou constituiriam parte
da tradição herdada, tal discussão não seria possível90. A positivação do
direito, para os gregos, exige, pois, uma reflexão sobre a lei e sobre a jus-
tiça. Como o centro da vida se desloca da família para a cidade, já não mais
podem valer as decisões dos sábios, dos mais velhos ou prudentes. O que
se exige, então, são regras universais, que sejam válidas para todos os ca-
sos e não dependam da prudência para cada caso concreto. É a
solidariedade cívica, e não a solidariedade de sangue, que será capaz de
gerar o espaço público91, a polis e a democracia92.
Por isso, lembra Enrique Ahrens93, deve-se notar a posição geral do
cidadão no Estado grego. É mediante essa posição que se determina
Eduardo Ángel Russo -, quando perguntaram a Tales de Mileto o que era mais fácil, este teria respondido: dar con-
selhos aos demais. Por essa razão, os fragmentos dos chamados sete sábios que perduraram são também em sua
grande maioria conselhos. Neles é possível ver um grande respeito à lei, definida por Pitaco de Lesbos (século VII a.
C.) como a melhor norma, a norma da tábua em mudança, com o que se aludia à mutabilidade da lei humana frente
à imutabilidade das normas supraempíricas. Também se encontra um antecedente do pacta sunt servanda (os pactos
devem ser cumpridos) no tirano Periandro de Corinto, da mesma época aproximadamente, que aconselha que, qual-
quer que seja o trato que tenhas feito, respeite-o. Esse respeito pela lei humana também é encontrado em Heráclito:
o povo deve combater pela lei como por suas muralhas (Fragmento 44). O mesmo com Demócrito: quem se inclina
alegremente às ações justas e legais regozija-se noite e dia e se sente forte e feliz (Fragmento 174). Deve-se matar,
segundo a lei dos nossos pais, o inimigo da cidade em toda comunidade organizada, ao menos que alguma lei o proíba
(Fragmento 259). Quem, contrariamente à lei, absolve o culpado comete injustiça (Fragmento 262). Também no
sofista Licofrón: a lei é a garantia de mútua justiça entre os cidadãos (Fragmento 3). ÁNGEL RUSSO, Eduardo. Teoría
general del derecho en la modernidad y en la posmodernidad. Buenos Aires: Abeledo Perrot, 1995, p. 179.
90
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2. ed. revista. São Paulo: Max Limonad,
2002, p. 35.
91
O espaço público e o Estado parecem confundir-se nas origens das cidades-estado. Ambos variaram de cidade para
cidade. Primeiramente, foram um espaço de poder, de decisão coletiva, articulado em instâncias cujas origens são
remotas: conselhos de anciãos (v.g., o Senado romano ou a gerousia espartana), conselhos de cidadãos (como a boulé
ateniense), assembleias com atribuições e amplitudes variadas, magistraturas, posteriormente tribunais. O espaço
público foi o espaço de uma lei comum, que obrigava a todos e que se impôs como norma escrita, fixa, publicizada e
coletiva. Abrangia, igualmente, áreas que hoje não seriam definidas como áreas políticas em sentido estrito: o culto
comum às divindades próprias de cada cidade-estado; as festividades coletivas, seguindo calendários exclusivos; ma-
trimônio geralmente endogâmico; direito de comerciar bens; um exército comum garantidor da defesa do território.
Na maioria das cidades-estado esse espaço público materializava-se em um núcleo urbano que congregava os tem-
plos, a praça do mercado, o porto, as oficinas de artesãos, as lojas de pequenos comércios, enfim, aquilo que era
comum por excelência. Cidades-estado eram comunidades num sentido bem mais forte do que nos Estados nacionais
contemporâneos. Essa identidade comunitária foi construída ao longo do tempo, a partir de populações muitas vezes
díspares, sem unidade étnica ou racial. GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na antiguidade clássica. In:
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 29-47.
92
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2. ed. revista. São Paulo: Max Limonad,
2002, p. 35-36.
93
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 106.
134 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
94
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 106.
Adalberto Narciso Hommerding | 135
95
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 107-108.
136 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
96
Uma das obras que melhor retrata toda a tradição religiosa e familiar do mundo greco-romano antigo, inclusive
tratando do casamento como uma espécie de teatro, caracterizado por um rapto da noiva, cuja leitura é indispensável
e que sugiro é: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito, as instituições
da Grécia e de Roma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, 1975.
97
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 108.
Adalberto Narciso Hommerding | 137
98
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 108-109.
99
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 109-110.
138 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
100
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 110.
Adalberto Narciso Hommerding | 139
101
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 111.
140 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
102
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 410. A referência de Ahrens é à obra Der attische Process (Procedimento ático), 1824, de Maier e
Schömann.
Adalberto Narciso Hommerding | 141
103
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 6.
104
ARNAUD, André-Jean; FARIÑAS DULCE, María José. Introdução à análise sociológica dos sistemas jurídicos. Tra-
dução do francês por Eduardo Pellew Wilson. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 11-12.
105
Consultem-se: LUHMANN, Niklas. Legitimação pelo procedimento. Tradução de Maria da Conceição Corte-Real.
Brasília: Universidade de Brasília, 1980; LUHMANN, Niklas. Observaciones de la modernidad: racionalidad y contin-
gencia en la sociedad moderna. Traducción de Carlos Fortea Gil. Barcelona: Paidós Studio, 1997; LUHMANN, Niklas.
Sociologia do direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983; LUHMANN, Niklas. So-
ciologia do direito II. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985; LUHMANN, Niklas; DE
GEORGI, Raffaele. Teoría de la sociedad. Guadalajara: Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Occidente,
1993; LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. Tradução Ana Cristina Arantes Nasser. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 2010.
142 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Conta-nos Cícero que certo comerciante chegou à ilha de Rodes com grande
carregamento de trigo vindo de Alexandria. Em Rodes havia muita falta de
trigo e o navegante não disse que outros navios se dirigiam à ilha com carre-
gamento da mesma mercadoria. Por isto, o trigo foi vendido a preço mais
elevado do que aquêle que teria obtido o comerciante se não houvesse silenci-
ado. Grotius é de opinião que os rodenses eram obrigados aos contratos de
compra, porque o navegante não mentiu; não houve dolus malus, porém uma
licita solertia. No entanto, Cícero, de acôrdo com a doutrina estóica, pensa
diferentemente, porque o navegante não devia ter calado.
106
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 9.
107
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 9.
108
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 9.
Adalberto Narciso Hommerding | 143
109
Nesse sentido, LACLAU, Martín. La historicidad del derecho. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1994, p. 21.
110
LACLAU, Martín. La historicidad del derecho. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1994, p. 21-22.
111
A chamada História interna do Direito Romano, como se verá adiante, é dividida em: a) direito antigo ou pré-
clássico (das origens de Roma à Lei Aebutia, de data incerta, compreendida aproximadamente entre 149 e 126 a. C.;
b) do direito clássico (daí ao término do reinado de Dioclesiano, em 305 d. C.; o período áureo dessa época vai de 96
a 235 d. C.); e c) do direito pós-clássico ou romano-helênico (dessa data à morte de Justiniano, em 565 d. C. – dá-se,
porém, a designação de direito justinianeu ao vigente na época em que reinou Justiniano, de 527 a 565 d. C. ALVES,
José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 68.
112
LACLAU, Martín. La historicidad del derecho. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1994, p. 21-22.
144 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
113
LACLAU, Martín. La historicidad del derecho. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1994, p. 22.
114
INSANTI, Horacio. Derecho y posmodernidad: el ius y la superación de la metafísica. Buenos Aires: Abeledo-Perrot,
1999, p. 52-53.
115
António Manuel Hespanha entende que a equidade romana clássica é inspirada na filosofia aristotélica ou estóica,
e que não é a mesma equidade dos direitos cristianizados, pós-clássico, medieval ou moderno, nem a mesma do
direito, individualista e laicizado, dos nossos dias. HESPANHA, António Manuel. Cultura Jurídica europeia: síntese
de um milênio. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005, p. 135.
116
INSANTI, Horacio. Derecho y posmodernidad: el ius y la superación de la metafísica. Buenos Aires: Abeledo-Perrot,
1999, p. 52-53. José Carlos Moreira Alves dá conta de que alguns autores - caso de Beseler, por exemplo -, baseando-
se no fato de que o vocábulo aequitas se encontra em várias constituições de Justiniano e em muitos textos interpo-
lados, pretendem que se deva eliminá-lo do vocabulário e do pensamento clássico: a aequitas somente teria surgido
no direito pós-clássico. A melhor doutrina, porém, segundo Moreira Alves, é a que entende que o conceito de aequitas
não foi o mesmo no direito clássico e no pós-clássico. Para os jurisconsultos clássicos, explica Moreira Alves, aequitas
é o que, modernamente, se denomina justiça: aquele ideal ético que existe, em estado amorfo, na consciência social,
e que tende a transformar-se em direito positivo. É ela – e a frase é de Scialoja – uma tendência, uma visão ideal,
algo que se contrapõe ao que é concreto. Por isso, o direito positivo pode entrar em choque com ela. E Celso, ao
definir o ius como ars boni et aequi, pretendeu chamar a atenção para a circunstância de que, no período clássico, o
direito é intimamente penetrado pela aequitas: trata-se de um direito justo. Bem diversa a noção de aequitas no
período pós-clássico. Aí, em antítese com o ius, ela adquire o sentido de benignidade, benevolência (humanitas, be-
nignitas, benevolentia, pietas, caritas). Com base nela, os imperadores romanos derrogam princípios jurídicos, como,
por exemplo, permitem que os humildes (humiliores), em certos casos, se desliguem, por vontade unilateral, de
Adalberto Narciso Hommerding | 145
vínculos contratuais. ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro:
Forense, 1997, p. 78-79.
117
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 11.
118
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 11.
119
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 301.
120
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 21-22.
121
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 21-22.
146 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
122
Em O direito da guerra e da paz, Hugo Grócio faz referência às três classes de jurisconsultos que fizeram profissão
da ciência do direito romano. A primeira, explica Grócio, se compõe daqueles cujos trabalhos são colocados em evi-
dência nos Pandectas, nos Códigos de Teodósio e de Justiniano e nas Novelas. A segunda compreende aqueles que
sucederam a Irnerius, Accursio, Bartolo e tantos outros nomes que reinaram por longo tempo no banco dos advoga-
dos. A terceira abraça aqueles que unem as letras aos estudos das leis. Com relação aos mestres da terceira classe é
que Grócio falará dessa sutileza. Nas suas palavras: Os mestres da terceira classe, que se encerram dentro dos limites
do direito romano e dele não se afastam jamais para entrar nesse direito comum ou não o fazem senão superficial-
mente, não são de quase nenhuma utilidade em nosso tema. Eles uniram a sutilidade escolástica ao conhecimento das
leis e dos cânones, a tal ponto mesmo que dois espanhóis, Covarruvias e Vasquez, não se abstiveram assim mesmo de
tratar das controvérsias dos povos e dos reis: o primeiro com uma grande liberdade e o segundo com mais reserva e
com um julgamento mais exato. GROTIUS, Hugo. O direito da guerra e da paz. Trad. Ciro Mioranza. Ijuí: Ed. Unijuí,
2004, V.I. (Coleção clássicos do direito internacional/coord. Arno Dal Ri Júnior), p. 62-64.
Adalberto Narciso Hommerding | 147
uma orientação segura aos estudiosos do direito que são cientes do seu
papel e guardiões de uma tradição de permanente valor123.
123
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 21-22.
124
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 25.
125
É bom lembrar que, em Roma, há três tipos de cidadãos libertos, que são aqueles que foram libertados de uma
escravidão legal: cidadãos romanos, latinos ou submetidos. FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In:
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
126
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 29-30. Imprescindível a leitura de: FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos
148 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
grega, aliás, serviu de modelo para a elaboração da Lei das XII Tábuas127.
Na lei de Rhodes há referência expressa ao modelo grego; na lex Iulia de
adulteriis está patente a imitação às leis draconianas; o direito de asilo ad-
mitido em Roma por Antônio é também consequência da influência do
direito grego. É muito acentuada, ainda, a recepção do direito grego no
que diz com a administração do Estado: nas ordens do fisco, na cunhagem
de moedas com a efígie do imperador etc.
Os juristas romanos não pensaram na possibilidade de uma codifica-
ção capaz de abrigar toda a vida jurídica. A única codificação com a
pretensão de plenitude foi a que precisamente encerra, ou seja, conclui o
Direito romano histórico: a compilação de Justiniano, que foi composta
com a desregrada produção legislativa e doutrinária dos séculos passados.
Assim, nada menos sistemático que o Direito romano com sua diversidade
de fontes (costumes, leis, plebiscitos, senatus consultos, constituições im-
periais, editos) e onde a doutrina adquiria caráter vinculante. Frente a esse
direito não sistemático, a doutrina também adotou um modelo não siste-
mático128. O Direito romano, portanto, foi casuísta, pragmático,
acumulativo, definidor de ações mais que de direitos. Os romanos não for-
mularam definições abstratas do ius em seu principal significado de
ordenamento jurídico, mas definiram situações concretas. Para os roma-
nos, então, a boa técnica jurídica é a que proporciona da melhor maneira
possível (com menor esforço, com menor gasto, com menor tempo) o re-
sultado esperado. A eficácia, assim, é um critério de validez para as
proposições técnicas, um critério objetivo. Por isso não se estranha que as
opiniões dos técnicos (prudentes, de providere: ver com antecipação),
quando coincidentes, tiveram força de lei129.
sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia e de Roma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca.
São Paulo: Hemus, 1975.
127
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 65.
128
ÁNGEL RUSSO, Eduardo. Teoría general del derecho en la modernidad y en la posmodernidad. Buenos Aires:
Abeledo Perrot, 1995, p. 232.
129
ÁNGEL RUSSO, Eduardo. Teoría general del derecho en la modernidad y en la posmodernidad. Buenos Aires:
Abeledo Perrot, 1995, p. 232-233.
Adalberto Narciso Hommerding | 149
Como explica Eduardo Angel Russo, talvez isso possa ser de difícil
compreensão para nossa mentalidade profissional corrente, acostumada a
ver o Direito como algo dado, e não como algo que se faz. Para os romanos,
portanto, o direito era visto como um conhecimento criativo130.
O estudo do Direito em Roma era metódico, ao menos a partir da
época clássica. Incluía a memorização de textos legais, a análise da juris-
prudência pretoriana e extrapretoriana, o estudo da retórica e da
eloquência, e, finalmente, de filosofia. A personalidade do advogado, por-
tanto, estribava-se neste tripé: expert no Direito prático, hábil orador e
argumentador, e conhecedor da filosofia moral dominante. A interpreta-
ção da lei, por sua vez, não tinha nada a ver com a atividade exegética do
modelo napoleônico, por exemplo. O jurista não buscava a solução do con-
flito ou a defesa de uma das partes a partir das palavras da lei. Conhecer
as leis, para os romanos, não era saber seu texto, mas sua força e poder. E
ter poder equivale a poder fazer. Conhecer as leis implicava saber o que se
podia e o que não se podia fazer com elas. Ao dar à lei esse valor instru-
mental, de meio e não de fim, a ausência de sistema não era um
inconveniente, mas uma virtude. O advogado romano tinha ao seu alcance
uma diversidade de fontes a serviço do caso que tinha nas mãos, sem ne-
nhuma necessidade de estruturá-las sistematicamente. Se o edito, por
exemplo, resultava inaplicável ou injusto, lá estavam os costumes antigos
(mores maiorum), ou o direito natural das gentes, aplicado aos estrangei-
ros (ius gentium), enriquecido com os aportes helênicos do estoicismo,
apontando para um direito natural. Se nada disso era suficiente, havia
ainda a arte retórica. Aliás, não é causalidade que, uma ou outra vez, se
intentasse em vão proscrever a retórica, acusando-a dos abusos que acar-
retava a possibilidade de se fabricar, por via argumentativa, uma fonte na
medida. Tampouco é causalidade – retorno a Ángel Russo - que a retórica
expulsada pela porta viesse voltar pela janela131.
130
ÁNGEL RUSSO, Eduardo. Teoría general del derecho en la modernidad y en la posmodernidad. Buenos Aires:
Abeledo Perrot, 1995, p. 233.
131
ÁNGEL RUSSO, Eduardo. Teoría general del derecho en la modernidad y en la posmodernidad. Buenos Aires:
Abeledo Perrot, 1995, p. 233-234.
150 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
132
AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à história do direito. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2010, p. 39.
133
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 33-34.
134
Na família o pai atua como um rei. Ele é o sacerdote e o juiz; o direito de vida e de morte que pode exercer sobre
os filhos conserva por muito tempo um valor simbólico, vindo só muito tarde a ser negado. A patria potestas é um
instituto singular, que não tem comparação, e os escritores gregos falam dele com uma ponta de admiração. Só o
pater famílias é proprietário, tem um patrimônio e se torna titular de direitos; pode instituir um herdeiro, tomar
parte num processo e responder pelas dívidas que assume. BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução:
Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja. Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 74.
Adalberto Narciso Hommerding | 151
135
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 35.
136
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 1-2.
137
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 122.
138
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 2.
152 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
139
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 58.
140
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 1.
141
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 28.
142
VALLADÃO, Haroldo. Historia do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 38.
143
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 28.
Adalberto Narciso Hommerding | 153
5.1.1. A Realeza
144
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 7.
145
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 7.
146
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 18.
154 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
147
Os lictores eram uma espécie de servidor público que serviam de guarda-costas para os magistrados que dispu-
nham de imperium.
148
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 18-19.
149
Tarquínio teria degolado Sérvio Túlio, de quem era genro.
150
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 19.
151
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 19.
Adalberto Narciso Hommerding | 155
152
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 19-20.
153
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 36. A cidade limitou-se ao perímetro chamado Septimontium. Desses sete montes – que não se con-
fundem com as sete colinas que ocupavam uma extensão muito maior – os topos centrais eram os três do Palatino
(Palatium, Cermalus e Velia). Segundo a opinião dominante, a estes se uniram os três do Esquilino (Cispius, Oppius
e Fagutal) e o Celio, achando-se compreendido nesse perímetro um vale entre o Cispio, o Opio e a Velia, chamado
Succusa ou Subura. O Quirinal era qualificado de collis e habitado pelos Sabinos. A união do Quirinal com a cidade
dos sete montes, patenteada com a construção da via Sacra, foi posterior à conquista etrusca e talvez a própria
monarquia, ainda que a tradição possa querer situar o pacto de aliança nas origens da cidade ao criar o mito do rapto
das Sabinas, e o suposto reino dividido entre Rômulo e o rei dos sabinos, Tito Tacio. ARANGIO-RUIZ, Vicente.
156 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.1.2.1. O rex
Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de Pelsmaeker e Ivañez. Segunda
edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 21-22.
154
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 36. Civis, para os romanos, é o ser humano livre. Em latim, a palavra civis gerou civitas, cidadania,
cidade, Estado. Civitas carrega a noção de liberdade em seu centro. Para os gregos, havia, primeiro, a polis, a cidade,
e só depois o cidadão, polites. Para os romanos, ao contrário, era o conjunto de cidadãos que formava a coletividade.
Para os gregos, havia cidade e Estado, politeia. Para os romanos, a cidadania, civitas, englobava cidade e Estado.
FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História
da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
155
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 8.
Adalberto Narciso Hommerding | 157
cinco dias, passando o poder a outro senador, e assim por diante até que
se escolhesse o rei.
Segundo Vicente Arangio-Ruiz156, o mais duvidoso a respeito da mo-
narquia é o modo com que os reis eram nomeados. Na tradição podem ser
vistos dois modos distintos. Um deles é o da sucessão hereditária, mani-
festada no caso da dinastia dos Tarquinos e mesmo com a suposta tutela
confiada, por Anco Marcio, sobre seus filhos e sobre o reino, ao primeiro
Tarquínio. O outro modo é o da designação pelo predecessor comunicada
solenemente ao povo, que investia do poder o novo monarca (lex curiata
de imperio). Para Arangio-Ruiz, o membro mais destacado e influente da
família do falecido rei apresentava-se, então, à investidura popular.
5.1.1.2.2. O Senado
5.1.1.2.3. Os comícios
156
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 29-30.
157
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 9.
158
O comício curial remonta à época régia. As cúrias, associações sacras funcionando como unidades de voto, eram
trinta, e as tribos nobres ou étnicas dos Tities, Ramnes e Luceres contavam com dez cada uma delas. Segundo Mario
Bretone, é duvidoso que a elas pertencessem os plebeus. O comício curial tomava parte na inauguratio do rei. Na
época da República reunia-se (pelo menos simbolicamente, por meio dos lictores que representavam as cúrias) para
a lex de imperio, com a qual os magistrados uma vez eleitos recebiam o reconhecimento formal do seu poder; ou
desempenhava, sob a presidência do pontífice máximo, um papel relevante no âmbito do direito sacro. BRETONE,
158 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja. Lisboa: Editorial
Estampa, 1988, p. 42.
159
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 11-
12.
160
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 35.
Adalberto Narciso Hommerding | 159
161
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 35-36.
162
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 9.
160 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.1.3.2. A clientela
163
FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia
e de Roma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, 1975, p. 155.
164
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 105.
165
FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História
da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
166
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 10.
Os clientes eram aqueles que obedeciam a um patrício, mantendo relação de fidelidade ao patrono, a quem deviam
serviços e apoios diversos, e de quem recebiam terra e proteção. Clientes podiam ganhar independência e passar a
integrar a plebe, e vice-versa. FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla
Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
Adalberto Narciso Hommerding | 161
5.1.1.3.3. A plebe
167
FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História
da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
168
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 20-21.
169
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 10.
170
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 35. Plebe, portanto, era o termo usado
para englobar todos os cidadãos romanos sem os mesmos direitos dos oligarcas. Na sua base estavam os camponeses
livres de poucas posses, aos quais se juntaram os artesãos urbanos e os comerciantes. A plebe também incluía des-
cendentes de estrangeiros residentes em Roma, ao que se sabe. FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos.
In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 49-79.
162 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.2. A República
171
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 12.
172
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 12.
173
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 13.
O grande crítico dessa interrupção abrupta da Realeza, por diversos motivos, é Vicente Arangio-Ruiz. Consulte-se:
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 33-34.
Adalberto Narciso Hommerding | 163
174
Em meados do século V a. C. foi publicada a Lei das XII Tábuas. Mesmo prevendo grande poder aos patriarcas,
essa lei estabeleceu o princípio da lei escrita, o que representou um grande avanço, pois o direito consuetudinário,
baseado na tradição, gerava grande insegurança e, em caso de divergência, quem tinha sempre a palavra final eram
os patrícios. Ora, com a publicação da lei, todos podiam, agora, recorrer a um texto conhecido para reclamar direitos
sem depender da boa vontade dos poderosos. Com isso, institui-se também a classificação das pessoas pelas posses,
o que veio beneficiar os plebeus ricos, cuja importância social começou a ser reconhecida. FUNARI, Pedro Paulo. A
cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo:
Contexto, 2003, p. 49-79.
175
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 14-15.
164 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
duas magistraturas cujo acesso era somente a eles reservado. Essas duas
magistraturas são a pretura e a edilidade curul.
Primeiramente, havia o pretor encarregado da administração da jus-
tiça e, depois, em 241 a. C., o pretor peregrino, denominado pretor urbano,
com competência para dirimir conflitos entre romanos e estrangeiros, ou
apenas entre estrangeiros.
Os edis curuis, por sua vez, foram encarregados da polícia dos mer-
cados e das ações penais correlatas; também lhes competia a jurisdição
civil contenciosa com relação àquelas questões176.
A plebe, após conseguir o consulado, seguiu buscando a total equipa-
ração política com os patrícios. E assim foi obtendo acesso às demais
magistraturas: em 364 a. C., aproximadamente, à edilidade curul; em 356
a. C., à ditadura; em 351 a. C., à censura; e, por fim, em 337 a. C., à pre-
tura177.
A partir da igualdade política obtida no terceiro século a. C., despare-
ceu, então, a distinção social entre plebeus e patrícios, surgindo, assim,
uma nova aristocracia: a nobilitas. A esta pertencem as famílias que con-
tam, entre seus antepassados, com membros que ocuparam magistratura
curul.
176
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 15.
177
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 15.
178
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 15.
Adalberto Narciso Hommerding | 165
179
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 39.
180
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 39.
181
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 39-40.
166 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
182
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 106.
183
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 106.
Adalberto Narciso Hommerding | 167
184
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
185
MARTINS JÚNIOR, J. I. Obras reunidas II. História do Direito Nacional. 4. ed. Prefácio de Antiógenes Chaves.
Recife: Arquivo Público Estadual, 1966, p. 24-25; OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo no processo
civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
168 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
186
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
187
O pretor pronunciava as palavras do, dicco e addico, isto é, admitia a demanda (do), dizia qual o direito aplicável
(dicco) e aprovava o compromisso das partes que deveriam comparecer perante o iudex (addico).
188
O iudex não era um órgão estatal, mas um cidadão atuando como instrumento das partes. Podia ser escolhido
pela vontade das partes, por indicação do pretor ou por sorteio. O devedor condenado tinha trinta dias para cumprir
a obrigação. Se não cumprisse, o credor instaurava perante o magistrado um manus iniectio a fim de fazer com que
cumprisse. Se o devedor não ofertasse um vindex, o magistrado pronunciava a palavra addico e autorizava o credor
inclusive a exercer seu direito sobre a pessoa ou bens do devedor. Assim, por exemplo, o credor poderia colocar à
venda o devedor, poderia matá-lo ou vendê-lo como escravo aos etruscos, poderia esquartejá-lo – no caso de concurso
de credores -, etc.
189
Para que se possa bem compreender o que se está dizendo, é necessário que o leitor tenha conhecimento de que
o processo opera por meio do procedimento. Devemos ter em mente o fato de que o processo, por ser um caminhar
para frente, nasce, desenvolve-se e, por fim, encerra-se. Pense-se no processo biológico: o homem nasce, cresce e
morre. Assim também é o processo civil. Há um procedimento – exteriorização do processo - que se desenvolve rumo
ao seu fim. Inicia-se quando alguém vai a juízo buscar algo que entende lhe ser devido por determinada pessoa; esta,
tomando ciência do que pede aquele, comparece em juízo para defender-se. Surge, então, a oportunidade para provar
o que alegam. Concluídas as provas, o juiz decide acerca de com quem está a razão, atendendo ou não aquilo que foi
pedido. Em Roma, na fase das ações da lei, havia um juiz privado, que daria ou não a actio. Antes, porém, de os
interessados comparecerem perante o juiz – que decidiria o conflito -, tinham de comparecer perante o pretor que
diria qual o direito aplicável ao caso. Iurisdictio significa, portanto, dizer o direito. O non liquet significa que, se o juiz
ficasse em dúvida acerca de quem tinha razão, poderia até mesmo deixar de julgar alegando que nada entendeu da
causa.
Adalberto Narciso Hommerding | 169
190
TUCCI, José Rogério Cruz e, AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civil romano. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1996, p. 40-93. Também: FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução:
análise crítica da Lei 9.307, de 23.09.1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 23-28; OLIVEIRA, Carlos Alberto
Alvaro de. O formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 16-24.
191
A idade média vai de 476 d. C. a 1.453 d. C. Inicia-se com a queda do império romano do ocidente e termina com
a tomada de Constantinopla pelos turcos.
192
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 107.
170 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
contudo, não era certo que o edito encontrasse realmente aplicação, pois,
antes de mais, o magistrado podia não conceder o julgamento previsto ou
outro meio protetor, com base no exame das circunstâncias; ou podia con-
ceder, com um decreto, a sua tutela em situações não disciplinadas do
edito. Apesar de não se apresentar como um todo sistemático, o edito, em
especial nos últimos dois séculos da República e, em alguns casos, também
depois, foi um instrumento de produção normativa muito eficaz, distin-
guindo-se nele cinco setores nos quais a matéria era distribuída:
introdução do litígio e seu desenvolvimento perante o magistrado, a juris-
dição ordinária, os meios urgentes de tutela jurídica, a execução da
sentença e o processo de falência contra os devedores insolventes, e, enfim,
os interditos, as exceções processuais e as estipulações pretorianas193.
Como a duração do edito era anual, como anual era o cargo de pretor,
cessado o cargo, o edito perdia formalmente qualquer eficácia, sendo subs-
tituído, então, pelo edito do pretor seguinte. Todos os anos, portanto, havia
um novo edito; as normas pretorianas, porém, passavam frequentemente
de um edito para outro, durando, assim, muito mais tempo que o texto em
que eram escritas. Daí revelar o edito um dinamismo, o jogo alterno de
conservação e inovação194.
A censura também aparece no período da República. Segundo a tra-
dição, o ano de criação da censura teria sido 443 a. C. Os nomes que eram
dados pelos escritores são, porém, todos duvidosos. O mais provável é que,
a partir de 400 a. C., quando era necessário proceder à padronização da
população, elegia-se um par de magistrados, sem denominação especial
ainda quando unido ao colégio dos tribuni militum que, nesse período,
eram os magistrados superiores. Dos oito tribunos nomeados, seis exer-
ciam o mando das correspondentes seções das duas legiões e os outros
dois permaneciam na cidade para levar a cabo o censo. Os magistrados
especiais, com o nome de Censores, somente apareceram na época de que
193
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 108-109.
194
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 107.
Adalberto Narciso Hommerding | 171
195
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 40.
196
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 40-41.
197
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 17.
172 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
198
O nominado Primeiro Triunvirato havia sido uma aliança política, na República, entre Júlio César, Pompeu e Marco
Licínio Crasso.
199
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 17.
200
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 48-49.
Adalberto Narciso Hommerding | 173
que o advento dos reis, com as funções cada vez mais reduzidas que lhe
iam reservando como chefe do Estado, decorria da sucessão hereditária ou
da designação pelo predecessor comunicada solenemente ao povo, que in-
vestia do poder o novo monarca. Outros estudiosos, segundo Arangio-
Ruiz, deduziriam, no entanto, o sistema primitivo de nomeação dos ma-
gistrados do instituto vigente desde os últimos anos da República, que é a
referida lex curiata de imperio. Depois de se celebrar a eleição pelo comício
centuriado, as antigas cúrias eram reunidas e conferiam poder aos novos
eleitos. Assim, o entendimento é de que semelhante intervenção das cúrias
representava a lembrança de um período no qual, ao não existir ainda o
comício por centúrias, a eleição dos magistrados correspondia ao comício
por cúrias. A função das cúrias, porém, segundo Arangio-Ruiz201, sempre
teria sido igual, ou seja, uma aclamação, e não uma votação formal. É que,
para o historiador italiano, não faz sentido que se criasse, para o orga-
nismo cuja criação fora postergada, uma função nova tão privada de
eficácia prática, cuja significação jurídica fosse tão difícil de entender.
As magistraturas republicanas surgiram do tronco mesmo da antiga
realeza. Isso se deu mais por exigências repentinas, que apareciam de vez
em quando, que em razão de um plano preestabelecido. Os ditadores e os
tribuni militum eram os chefes do exército cidadão. Portanto, razoável que
fosse o próprio exército que os elegesse. Por não estar reconhecido o exér-
cito como órgão constitucional, precisava-se, então, que sua eleição fosse
depois sancionada pela aclamação da única assembleia popular existente
então, que é o comício curado. Posteriormente, a organização castrense
reproduz-se, tanto com fins eleitorais como legislativos, na nova assem-
bleia centuriada, subsistindo, ainda, a lex curiata de imperio, mesmo
privada de qualquer valor prático, de acordo com aquela exigência do pen-
samento jurídico romano segundo a qual as normas consuetudinárias não
eram suscetíveis de ab-rogação. Para as magistraturas surgidas depois,
201
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 48-49.
174 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
202
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 48.
203
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 48-49.
204
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 48.
205
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 42.
206
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 42.
Adalberto Narciso Hommerding | 175
207
O povo votava armado; por isso, os comícios por centúria realizavam-se no Campo de Marte, fora da cidade de
Roma.
208
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 43.
176 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
209
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 18.
210
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 41.
211
Terras que pertenciam ao Estado e que eram fruto de confisco.
Adalberto Narciso Hommerding | 177
conquistada, criou-se com o seu território e como 21º tribo da série (17ª
das rústicas) a Clustumina (450 a. C.). E, ao se apoderar de Veyes (a maior
conquista territorial que fizera Roma nos primeiros séculos), criaram-se
no ano 387 outras quatro tribos com nomes locais. Com as subsequentes
atribuições de terras conquistadas foram-se criando mais duas nos anos
358, 332, 318, 299 e 241, até alcançar o total de 35 tribos. Essa cifra não
foi ultrapassada porque os novos territórios – na parte que não se queria
deixar em condições de ager publicus - foram agregados às trinta e uma
tribos rústicas existentes, talvez porque as inscrições de novas famílias ple-
beias eram menos numerosas e, sobretudo, porque a constituição do
Estado se assentava, primordialmente, sobre esse sistema das tribos e era
inoportuno alterá-lo212.
Os cidadãos pertenciam às tribos em razão de seu domicílio. Na con-
cepção romana, porém, somente se considerava domicílio, no território de
uma tribo rústica, para aquele que era, nele, proprietário de um pedaço de
terra, o que se expressa com a palavra adsidui, ou seja, que tem uma sede.
Isso é o que distingue os titulares das terras dos chamados proletarii, que
somente prestam à cidade o serviço de gerar uma prole. Os proletários,
desde os artesãos aos vagabundos, incluíam-se nas tribos urbanas, junta-
mente com aqueles que possuíam uma casa na cidade. Essa é a razão pela
qual as tribos urbanas eram mais populosas que as rústicas. Mesmo
quando se tentou inserir os proletários nas tribos rústicas, tal projeto sem-
pre encontrou forte resistência por parte dos cidadãos romanos, o nervo
econômico e militar do Estado nas suas melhores épocas213.
É possível que os comícios por tribos tenham surgido a partir das
assembleias que a plebe realizava para tratar dos assuntos de seu inte-
resse. É que, a um, a plebe não tinha ingresso nos comícios por cúrias, e,
a dois, quando não dispunha de bens, sequer tinha acesso aos comícios por
centúrias. Como a plebe foi aumentando e, em termos de população, se
212
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 41-42.
213
ARANGIO-RUIZ, Vicente. Historia del derecho romano. Traducción de la 2.ª edición italiana por Francisco de
Pelsmaeker e Ivañez. Segunda edición. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1963, p. 42-43.
178 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.2.4.1. O costume
214
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 19.
215
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 18.
Adalberto Narciso Hommerding | 179
5.1.2.4.2. A lei
216
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 35.
180 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
217
Urbe é a cidade, o centro urbano.
Adalberto Narciso Hommerding | 181
5.1.2.4.3. Os editos
218
CICCO, Cláudio De. Dinâmica da história. São Paulo: Palas Athena, 1981, p. 36.
219
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 16.
182 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
220
AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à história do direito. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010, p. 59.
221
Algumas das limitações nas formas e instrumentos destinados à tutela jurisdicional – do que é exemplo a doutrina
europeia da tripartição das ações em declaratórias, condenatórias e constitutivas - devem-se às origens romano-
canônicas do nosso direito e de seus institutos fundamentais, e são inteiramente coerentes com o conceito romano
de jurisdição, concebida como simples jurisdictio, desprovida de imperium, exercida por meio do procedimento pri-
vado da actio, com exclusão, por exemplo, de duas das funções mais nobres desenvolvidas pelo praetor romano, por
meio dos interditos: a tutela executiva e a tutela mandamental. Enquanto o juiz privado (iudex) do procedimento
formulário e, depois, os magistrados do processo extraordinário – já quando o Império Romano vinha se desagre-
gando – limitavam-se a produzir sentenças meramente declaratórias do direito controvertido na causa, uma vez que
a condemnatio, tanto no direito romano quanto em nossa moderna sentença condenatória, nada mais é, no plano do
direito material, do que mera declaração, o pretor romano, por meio dos interditos, exercia atividade imperativa,
seja promovendo atos executórios, como a missio in possessionem, seja ordenando a prática ou a abstenção de certos
atos ou comportamentos. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed.
rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 9.
222
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 22-
23.
Adalberto Narciso Hommerding | 183
5.1.3. O Principado
223
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 29.
224
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 84.
184 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
225
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 85.
Adalberto Narciso Hommerding | 185
226
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
227
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
228
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 31.
229
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
230
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 86.
186 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.3.3.1. O Senado
231
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 86-87.
232
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 88.
233
Calenda é o primeiro dia da cada mês; idos são o décimo terceiro ou décimo quinto dias, conforme o mês.
234
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 88.
Adalberto Narciso Hommerding | 187
5.1.3.3.2. Comícios
5.1.3.3.3. A Magistratura
5.1.3.3.3.1. Consulado
235
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 88.
236
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
237
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 31.
188 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.3.3.3.2. Pretura
5.1.3.3.3.3. Censura
5.1.3.3.3.4. Questura
238
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 31.
239
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
240
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
241
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
Adalberto Narciso Hommerding | 189
5.1.3.3.3.7.1. O princeps
242
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 32.
243
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 32.
244
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
190 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.3.3.3.7.2.a. Praefecti
5.1.3.3.3.7.2.b. Os legati
245
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 89.
246
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
247
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
Adalberto Narciso Hommerding | 191
5.1.3.3.3.7.2.c. Procuradores
5.1.3.4.1. Costumes
248
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
249
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 90.
192 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.3.4.2. A lei
5.1.3.4.4. Senatus-consultos
250
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 35.
251
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 91.
252
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 92.
Adalberto Narciso Hommerding | 193
5.1.3.4.5.1. Mandata
253
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 92.
254
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 92.
194 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5.1.3.4.5.2. Decreta
5.1.3.4.5.3. Os edicta
5.1.3.4.5.4. Os rescripta
255
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 93.
256
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 93.
Adalberto Narciso Hommerding | 195
257
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 93.
258
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 91.
259
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 91-92.
196 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
acerca das diferenças entre ambas as escolas. O que se sabe é que Lábeo,
fundador dos Proculianos, tinha tendências republicanas, ao passo que Cá-
pito identificava-se com a reforma de Augusto.
No século III d. C. irão distinguir-se três importantes jurisconsultos:
Ulpiano, Paulo e Papiniano. A partir daí a ciência jurídica entrará em de-
clínio, aparecendo somente a figura de Modestino, que teria escrito
algumas obras em grego260.
A literatura jurídica do Principado compreende as responsa et quaes-
tio, os comentários, o digesta e as sentenças.
5.1.3.4.7.2. Comentários
5.1.3.4.7.3. Digesta
260
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 94.
261
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 95.
Adalberto Narciso Hommerding | 197
5.1.3.4.7.4. Sentenças
5.1.4. O Dominato
262
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 95.
263
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 95.
264
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 41.
198 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
265
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 31-
32.
Adalberto Narciso Hommerding | 199
266
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 43-
44.
267
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 44.
Quando escreve sobre o direito comum inglês, Hegel, fazendo referência à obra de Hugo, História do Direito, explica
200 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
ainda, que as opiniões dos autores citados por qualquer desses juriscon-
sultos poderiam ser invocadas em juízo desde que o original fosse trazido
a juízo.
Mesmo com tais providências, o problema não se resolveu. É que a
época do dominato foi um período de decadência da jurisprudência, da
ciência do direito. Não havia grandes juristas. Havia, sim, práticos do di-
reito. E havia o tribunal dos mortos, a opinião dos cinco grandes
jurisconsultos. As constituições imperiais, por sua vez, foram se suce-
dendo, a ponto de não se saber quais as constituições que estariam em
vigor. O que fazer, então? Compor compilações. Essas compilações, deno-
minadas pré-justinianéias porque anteriores as que foram elaboradas por
ordem de Justiniano, dividiram-se em dois grupos: as que continham ape-
nas leges e as que continham leges e iura268.
O estudo do direito irá ressurgir apenas no século V, graças às escolas
do Império Romano do Oriente, em especial as de Constantinopla e Berito.
Não se encontrará, no entanto, no período do dominato uma obra que
possa ser considerada verdadeiramente criadora. Os professores de tais
escolas de direito dedicaram-se a estudar as obras dos juristas clássicos,
reelaborando-as e as adaptando às necessidades sociais da época. É graças
a essas escolas que Justiniano viria encontrar juristas e material para a
elaboração da sua grande obra: o Corpus Iuris Civilis.
Justiniano assumiu o poder em 527 d. C. e, em 528 d. C., nomeou
uma comissão para compilar as constituições imperiais vigentes. Em 529,
o porquê da criação do tribunal dos mortos. Em suas palavras: Sabe-se que o direito nacional inglês, ou direito co-
mum, está contido em status (leis formais) e numa lei que se chama não-escrita. Mas esta lei não escrita está tão bem
escrita como qualquer outra e nem se pode ter conhecimento dela senão através da leitura de numerosos in-quarto.
Os conhecedores deste assunto descrevem a monstruosa confusão que se estabelece na jurisprudência bem como na
própria matéria da legislação, observam, em especial, que, uma vez que a lei não-escrita se contém nas decisões dos
tribunais e dos juízes, estes ficam sendo perpétuos legisladores, e tanto se pode dizer que os juízes se devem referir à
autoridade dos seus predecessores, pois o que eles fizeram foi exprimir a lei não-escrita, como o que não devem fazer,
pois eles mesmos possuem essa mesma lei com igual autoridade. Com efeito, lhes é dado o direito de numa sentença
se pronunciarem sobre decisões precedentes considerando-as conformes ou não a essa lei. Foi contra uma confusão
análoga, surgida no último período da jurisprudência romana em resultado da autoridade de diversos jurisconsulto-
res célebres, que um imperador estabeleceu um recurso com o nome de lei sobre as citações, que introduzia uma
espécie de instituição colegial entre os juristas mortos, com maioria de votos e presidentes. HEGEL, G. W. F. Princípios
da filosofia do direito. Tradução Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 187-188.
268
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 44.
Adalberto Narciso Hommerding | 201
269
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 303.
202 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
270
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 49.
271
BRETONE, Mario. História do direito romano. Tradução: Isabel Teresa Santos e Hossein Seddighzadeh Shooja.
Lisboa: Editorial Estampa, 1988, p. 11-12.
Adalberto Narciso Hommerding | 203
272
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 68-
69.
273
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 428.
204 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
274
AHRENS, Enrique. Historia del derecho. Traducción de Francisco Giner y Augusto G. de Linares. Buenos Aires:
Impulso, 1945, p. 428.
275
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 69-
71.
276
NÓBREGA, Vandick Londres da. História e sistema do direito privado romano. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1955, p. 51-52.
Adalberto Narciso Hommerding | 205
mais limitada que a da lei, pois se estende até onde vai a jurisdição do
pretor, ao passo que tal limitação não abrange a lei que se aplica em todo
o Império romano; b) o edito de pretor vigorava apenas durante um ano,
ao passo que a lei era perpétua; e c) o direito civil emana do povo e qual-
quer lei votada pelo povo podia conceder ou suprimir direitos. Já o edito
não podia revogar uma norma de direito civil.
277
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. v. 1. 7. ed. rev. e acrescentada. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 71-
72.
206 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
278
Sobretudo em SILVA, Ovídio A. Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2004.
279
SALDANHA, Jânia Maria Lopes. Substancialização e efetividade do direito processual civil – a sumariedade mate-
rial da jurisdição: proposta de estabilização da tutela antecipada em relação ao projeto de novo CPC. Curitiba: Juruá,
2012.
280
Em especial, ISAIA, Cristiano Becker. Processo civil e hermenêutica: a crise do procedimento ordinário e o rede-
senhar da jurisdição processual civil pela sentença (democrática) liminar de mérito. Curitiba: Juruá, 2012.
281
ISAIA, Cristiano Becker. Processo Civil e hermenêutica: os fundamentos do CPC/2015 e a necessidade de se falar
em uma filosofia no processo Curitiba: Juruá, 2017.
Adalberto Narciso Hommerding | 207
282
SILVA, Ovídio A. Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 24-
25.
283
Consultem-se: STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da constru-
ção do direito. 3. ed. rev. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001; STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e
hermenêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002; STRECK, Lenio Luiz. Verdade
e consenso: Constituição, hermenêutica e teorias discursivas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
208 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
284
Consultem-se: DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo: Martins
Fontes, 2002; DWORKIN, Ronald. O império do direito. Tradução Jefferson Luiz Camargo. Revisão técnica Dr. Gildo
Rios. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Adalberto Narciso Hommerding | 209
285
Consultem-se: ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Versión castellana Ernesto Garzón Valdés.
Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1997; ALEXY, Robert. Theorie der juristischen argumenta-
tion. Frankfurt: Surkamp, 1978.
286
Robert Alexy, embora possa ser tido por alguns juristas como um autor perfilhado ao paradigma pós-positivista
ou ao paradigma hermenêutico, não o é. Alexy filia-se, sim, ao racionalismo discursivo, desenvolvendo uma teoria
da argumentação. Uma boa crítica da teoria de Robert Alexy é feita por Francisco José Borges Motta. Após análise da
teoria alexyana (distinção estrutural entre regras e princípios; abertura do direito à moral pela institucionalização
dos direitos fundamentais; preocupação de descobrir os direitos que as pessoas têm; conceito de norma; vinculação
entre norma e argumentação; noção de princípio como mandamentos de otimização; colisões de princípios; desdo-
bramentos do princípio da proporcionalidade etc.), Francisco Motta, a partir de Arthur Kaufmann e Lenio Streck,
demonstra que a teoria da argumentação não supera o positivismo, pois acaba apostando na suficiência ôntica da
regra, que seria um receptáculo de sentidos, ou nas condições privilegiadas do sujeito, que então assujeitaria o objeto
conforme as possibilidades de sua consciência. Nesse aspecto, a teoria da argumentação é anti-hermenêutica
(Kaufmann), o que não implica que a hermenêutica seja anti-argumentativista. Daí a advertência de Ernildo Stein e
Lenio Streck no sentido de que a hermenêutica e as teorias da argumentação operam em níveis de racionalidade
distintos. Enquanto a primeira funciona como um “vetor de racionalidade de primeiro nível” (estruturante), (...) a
segunda opera no plano lógico, apofântico, mostrativo. Resumindo: a teoria da argumentação não substitui a herme-
nêutica filosófica, pois não há um modo procedimental de acesso ao conhecimento. Sentidos não estão nas coisas.
Eles se dão intersubjetivamente, como diria Lenio. Em outras palavras, com o método só se lida a partir da pré-
compreensão, que escapa ao sujeito e ao assujeitamento! Nesse sentido, MOTTA, Francisco José Borges. Levando o
direito a sério: uma crítica hermenêutica ao protagonismo judicial. Coleção Lenio Luiz Streck. Florianópolis: Con-
ceito, 2010. Outras críticas importantes a Alexy são feitas por: MORAIS, Fausto Santos de. Ponderação e
arbitrariedade: a inadequada recepção de Alexy pelo STF. Salvador: Juspodivm, 2016; DALLA BARBA, Rafael Giorgio.
Direitos fundamentais e teoria discursiva: dos pressupostos teóricos às limitações práticas. Salvador: Juspodivm,
210 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
2018; DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Nas fronteiras da argumentação: a discricionariedade judicial na teoria discur-
siva de Robert Alexy. 2. ed., rev. e at. Salvador: Juspodivm, 2018.
287
MOTTA, Francisco José Borges. Levando o direito a sério: uma crítica hermenêutica ao protagonismo judicial.
Coleção Lenio Luiz Streck. Florianópolis: Conceito, 2010; MOTTA, Francisco José Borges. Ronald Dworkin e a decisão
jurídica. Salvador: Juspodivm, 2017.
288
OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. Decisão judicial e o conceito de princípio: a hermenêutica e a (in)determinação do
direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
289
RAMIRES, Maurício. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010.
290
COSTA, Marcelo Cacinotti; LIMA, Vinicius de Melo. Decisão judicial e democracia: por uma ética de responsabili-
dade no direito brasileiro. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
Adalberto Narciso Hommerding | 211
291
Reprisando as considerações de Biondo Biondi em Diritto romano cristiano, Ovídio Baptista da Silva lembra que,
ao se ler a legislação romana pós-clássica e ao compará-la com a legislação que a precedeu, a impressão que se colhe
é de que ingressamos num mundo novo. Enquanto os reescritos de Diocleciano reafirmam e pressupõem a tradição
jurídica clássica, a nova legislação, em forma e substância, separa-se nitidamente da legislação precedente. Parece
que tais leis, assim, ignoraram o direito precedente e que, a partir de Constantino, o primeiro imperador cristão do
Império, a transformação operada no Direito Romano, por ampla e profunda, torna impossível uma investigação
histórica que compreenda numa mesma unidade orgânica, o direito romano clássico e o direito de Justiniano. Por-
tanto, ao contrário do que se possa imaginar, como diz Ovídio, nossos vínculos com o direito romano são
inteiramente intermediados pelo espírito cristão que plasmou o direito do último período romano, permeando-o com
outros princípios e lhe injetando novos valores, inteiramente diversos e às vezes antagônicos aos valores e princípios
formadores do direito romano clássico. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-
canônica. 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 91.
212 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
com as tradições da civil law e da common law, e como estas foram influ-
enciadas pelo Direito romano. Enquanto a tradição da civil law, de que faz
parte a processualística brasileira, herdou um modelo jurisdicional fun-
dado no direito justinianeu vulgarizado e na figura do iudex - o que
impossibilitou uma prática interdital do direito, sobrelevando, por outro
lado, a submissão mecânica do magistrado, como funcionário do Estado e
burocrata, à lei, bem nos moldes do positivismo legalista e do racionalismo
iluminista -, a tradição da common law, ao contrário, foi influenciada di-
retamente pelo Direito romano clássico, guardando, portanto, íntima
conexão com o direito jurisprudencial elaborado pelos juízes, em que os
precedentes judiciários possuem importância e utilidade relevantes na de-
cisão dos casos, resgatando com isso a função mais importante dos
pretores: o poder de emitir interditos. É nesse aspecto que Isaia vê no Novo
Código de Processo Civil uma das possibilidades de estabelecer zonas de
contato entre ambas as tradições, constituindo, segundo ele, o exemplo
mais significativo desse contato a aposta que o Código faz nos chamados
precedentes judiciais que, como se sabe, possuem raízes na tradição da
common law. Quem sabe aí esteja algo importante - e a ser lembrado –
deixado pelos juristas romanos do período clássico e que possa vir a con-
tribuir para iluminar a interpretação do Direito Processual pátrio atual.
Veja-se que, ao tratar dos desafios da jurisdição processual, que se
assenta entre a sedução liberal racionalista e os anseios do Estado Demo-
crático de Direito, Cristiano Isaia busca explicar como se deu a consagração
do procedimento comum do CPC/2015, investigando o que ele chama de
obsessão do processualismo moderno na busca da certeza e da verdade.
Isso tudo nada mais é que a supremacia da razão como meio de acesso a
uma verdade absoluta, bem nos moldes do preconizado pelo Iluminismo.
O processo judicial, os juristas e todo o direito, assim, são profundamente
influenciados por essa ideia que, no fim das contas, leva a não se pensar
no direito como solução normativa para problemas práticos, mas, como
ensina e critica Castanheira Neves, como um sistema normativo-prescri-
tivo-abstrato, antecipado e logicamente construído. É o positivismo
Adalberto Narciso Hommerding | 213
292
Consulte-se, por exemplo, SILVA, Ovídio A. Baptista da. Racionalismo e tutela preventiva em processo civil. In:
SILVA, Ovídio A. Baptista da. Sentença e coisa julgada. 4. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
293
Em Gadamer, ensina Lenio Streck, a linguagem deixa de ser instrumento e veículo de conceitos – deixando, assim,
de estar à disposição do intérprete - para ser a condição de possibilidade da manifestação do sentido. Tampouco o
intérprete interpreta por partes, como que a repetir as fases da hermenêutica clássica; primeiro a subtilitas intelli-
gendi, depois a subtilitas explicandi; e, por último, a subtilitas applicandi. Claro que não! Gadamer vai deixar isto
muito claro quando diz que esse três momentos ocorrem em um só: a apllicatio. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica
jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004, p. 212.
214 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
294
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil: a relação processual ordinária de cognição. As
relações processuais. v. II. Tradução de J. Guimarães Menegale. São Paulo: Saraiva, 1965, p. 3.
Adalberto Narciso Hommerding | 217
da tutela, que no atual Código passam a ser integrantes das chamadas tu-
telas provisórias.
O século XIX é o século do desenvolvimento da ciência processual.
Bülow, Wach, Windscheid, Savigny, entre outros, são os expoentes de uma
ciência que cindiu o processo do direito material, e que apostou no tecni-
cismo. A sedimentação do processo de conhecimento, de cunho
declaratório, é resultado da ignorância da concomitância entre a ação de
direito material e a ação de direito processual. O século XX, por sua vez, é
o século da instrumentalidade do processo, dos valores, e, consequente-
mente, do solipsismo judicial. E isso não fez bem para a democracia, pois
se continuou a apostar no Estado-Gerente, no Juiz Júpiter (Ost295). O pro-
cesso civil do século XXI, no entanto, deve ter por fundamento um agir
jurisdicional que dê relevância aos direitos subjetivos fundamentais cons-
titucionais. E isso, segundo Cristiano Isaia, implica religar os vínculos do
Direito Processual com a Hermenêutica, rompendo com uma prática
295
François Ost apresenta uma tese sobre os três modelos de juízes (Júpiter, Hércules e Hermes) que possibilita
identificar aqueles juízes submetidos a rotinas e os que vivem na angústia (no sentido de que trata Martin Heidegger).
O juiz Júpiter representa o modelo liberal-legal. É o juiz do direito codificado, articulado de forma hierárquica e
piramidal, reduzido à simplicidade de uma obra única. Sua atuação baseia-se na ideia de legalidade como condição
necessária e suficiente para validar a regra; é uma atuação racionalizada, dedutiva, linear, solucionando conflitos a
partir da dedução de regras gerais, em suma. Já o juiz Hércules é aquele que leva em consideração a tradição moral
da comunidade. Hércules é um juiz superior, pois tem capacidade, sabedoria, paciência e sagacidade, guiando-se pelo
princípio da integridade para prestar jurisdição. É pela integridade que enxerga o direito em sua completude, de
forma coerente e estruturada. Para Hércules o Direito é um fenômeno complexo. Segundo Ost, no entanto, Hércules
pecaria por ser monopolizador da jurisdição, caindo, então, no decisionismo porque pretende regular judicialmente
interesses privativos ao invés de simplesmente assegurar a aplicação mais correta da lei. Por fim, o juiz Hermes é
aquele que trabalha em rede, considerando o Direito em todas as suas possibilidades, com combinação infinita de
poderes interligados, de atores e regras, que não se deixa aprisionar por um código ou uma decisão. Em suma,
segundo Ost, Júpiter vincular-se-ia às convenções; Hércules, ao decisionismo; Hermes, ao caráter reflexivo da juris-
dição. OST, François. Júpiter, Hércules, Hermes: tres modelos de juez. In: Revista Doxa, cuadernos de filosofía del
derecho. n. 14. Alicante, p. 169-194. Disponível em: https://rua.ua.es/dspace/bitstream/10045/10681/1/
doxa14_10.pdf . Marcelino da Silva Meleu, em obra que tive a honra de prefaciar (orientei também a dissertação, de
que resultou o livro), busca apoio em Lenio Streck para criticar alguns dos ataques promovidos por Ost à figura de
Hércules, em especial. Isso porque, segundo Meleu, no Estado Democrático de Direito, o positivismo se enfraquece e
dá lugar aos princípios que, por sua vez, permitem o encontro do direito com a moral, como defende, por exemplo,
o Professor Lenio. Nesse sentido – e a crítica aqui também vem de Streck -, Hércules é a antítese do juiz discricionário,
solipsista e assistencialista, porque entende que a prática do direito deve pautar-se pela coerência e integridade, o
que Ost não conseguiria ver. Para concluir o ponto, Marcelino Meleu invoca a figura do juiz medíocre, burocrático,
sem atitude e, portanto, irresponsável. O juiz medíocre submete-se à rotina e, ainda que entenda que fazer justiça é
seu dever, cumpre o triste ofício de jamais efetivá-la. Ao contrário, diz Marcelino com base em Ingenieros, muitas
vezes a dificulta. Como contraponto ao juiz medíocre, Marcelino Meleu apresenta o juiz idealista angustiado, jamais
imparcial frente à Constituição e que jamais se esconde atrás da norma, esta entendida no sentido de regra. MELEU,
Marcelino da Silva. O papel dos juízes frente aos desafios do Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte: Arraes
Editores, 2013.
218 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
296
HOMMERDING, Adalberto Narciso. Fundamentos para uma compreensão hermenêutica do processo civil. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
297
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução
Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999; GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II: complementos e
índice. Tradução de Ênio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2002.
220 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
trabalhar com tais aportes no âmbito do Direito Processual Civil, tese ado-
tada por Cristiano Isaia e que, inclusive, foi por mim defendida quando do
meu Doutoramento em Direito no já distante ano de 2005. A Hermenêu-
tica – desde Hermes, desde o Crátilo, passando pelo protestante Danhauer,
por Wilhelm Dilthey e por Friedrich Schleiermacher, e chegando até Hei-
degger e Gadamer – contribui para que possamos encontrar fundamentos
suficientes para, com o atual CPC, defender a necessidade de um juiz que
seja ser-no-processo, como diz Cristiano, juiz que respeite a tradição au-
têntica, o romance em cadeia (Dworkin), e que, inserido na situação
hermenêutica, seja capaz de resgatar a razão prática da discussão jurídica
que deve ser trazida para dentro do processo. Juízes não são os donos dos
sentidos. Juízes devem respeito à tradição, à Constituição e seus princípios.
Juízes são pulverizadores do poder. Sem essas noções não há democracia.
V
O Direito Islâmico
1. Considerações gerais
1
Ao invés das grafias muçulmano e Islã parece ser preferível utilizar mussulmano e Islam. Consoante Olavo de Car-
valho, as formas mussulmano e Islam são quase transliterações, fieis à raiz trilítera de ambas essas palavras, slm (de
onde vem saláam, paz). Na religião islâmica a grafia das palavras tem um uso ritual e um profundo sentido simbólico
– similar ao hebraico – que, segundo Carvalho, se perde por completo nas adaptações arbitrárias feitas por legisla-
dores gramaticais que, portanto, as consideram corretas. CARVALHO, Olavo. O jardim das aflições: de Epicuro à
ressurreição de César: ensaio sobre o materialismo e a religião civil. Campinas: VIDE Editorial, 2015, p. 171. Nesse
mesmo sentido, BESSON, Sylvain. A conquista do ocidente: o projeto secreto dos islamitas. Tradução de Felipe Le-
sage. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 11-12. No transcorrer deste texto, ambas as formas muçulmano e
mussulmano aparecem, pois não me preocupei em utilizar uma em detrimento da outra. O mesmo ocorre com as
palavras Islã e Islam.
2
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399.
3
Ao lado dos sistemas de Common Law e de direito codificado, além do direito muçulmano, René David inclui tam-
bém o direito hindu entre os grandes sistemas contemporâneos de direito. DAVID, René. Os grandes sistemas do
direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 23.
4
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 118.
222 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
5
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399-400.
6
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 89.
7
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399-400.
8
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 89.
9
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399-400.
10
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399.
11
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 89.
12
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 118.
13
Nas palavras de Demétrio Magnoli: “Só há um Deus, que é Alá, e Maomé é o seu profeta.” A voz do anjo Gabriel
transmitiu essa mensagem a Maomé no ano 610. A partir da Noite do Destino, como ficaria conhecida, o profeta
recebeu várias outras revelações e passou a pregar a nova fé monoteísta na cidade de Meca. O monoteísmo de Maomé
difundiu-se entre os pobres de Meca e diversas tribos do deserto, alarmando os sacerdotes dos cultos dominantes da
cidade. Em 622, perseguido, o profeta abandonou a cidade e refugiou-se em Iatreb no episódio conhecido como Hégira.
O islamismo logo tornou-se predominante em Iatreb, que passou a chamar-se Medina (a cidade do profeta). Então,
Maomé organizou seus seguidores e proclamou uma guerra santa (jihad) contra os senhores de Meca. Em 630, as
forças do profeta conquistaram Meca. Dois anos depois, à frente de dezenas de milhares de seguidores, Maomé reali-
zou uma peregrinação coletiva a Meca e retirou da Caaba os ídolos politeístas, deixando apenas a Pedra Negra. Esse
ato instituiu a nova religião monoteísta e concluiu a unificação política das tribos da península. MAGNOLI, Demétrio.
Relações internacionais: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 299.
Adalberto Narciso Hommerding | 223
foram codificados num texto sagrado: o Corão (ou Alcorão)14. O Corão re-
flete diretamente a vontade divina e não pode ser inovado pelo homem. O
Corão é o texto fundamental do direito islâmico clássico. Será apenas no
século XIX que codificações de origem europeia virão fazer companhia ao
Alcorão, o que não significa que ele será substituído em definitivo por tais
codificações15.
O direito islâmico tem uma concepção totalmente diferente das con-
cepções jurídicas próprias do nosso direito16. Pra começar, o texto do Corão
é escrito em árabe. O direito islâmico, portanto, sofre a influência da língua
e da cultura árabe. Há muitas dificuldades, então, para traduzi-lo para o
alfabeto latino, por exemplo. A mentalidade árabe, por ser mais algébrica
que geométrica, tende a agregar noções, e não a sistematizá-las. Não é
possível, assim, abordar os princípios fixados no Alcorão com uma men-
talidade cartesiana ou euclidiana. No direito islâmico, ensina Mario
Losano17, o jurista ocidental perde-se nas infinitas especificações que, dos
princípios corânicos, se ramificam nas aplicações concretas. O direito mu-
çulmano, assim, oferece, pela primeira vez na história da civilização, o
aspecto de um sistema filosófico desenvolvido a partir de princípios fun-
damentais. René David18 lembra que, antes do século XIX, as universidades
da Europa negligenciaram de modo quase total os costumes ou direitos
nacionais para, assim, ensinar um direito ideal, elaborado sobre a base do
14
O monoteísmo islâmico é mais absoluto que o cristão. Para os muçulmanos, Deus não tem filhos, pois isso não
seria coerente com a sua unicidade. Maomé é o principal profeta, mas, ao contrário do Jesus dos cristãos, não é filho
de Deus. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, contém as revelações recebidas por Maomé e é a única palavra
direta de Deus. Mas não foi escrito por Maomé, e sim pelo califa Otman, o terceiro sucessor do profeta, em 652.
MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 299.
15
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 400.
16
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 399.
17
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 400-401.
18
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 22.
224 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
direito romano, o único, diz David, que a seus olhos merecia o nome de
direito. Paralelamente, nos países muçulmanos, a atenção concentrou-se
num sistema ideal, o do direito muçulmano, ligado à religião do Islã: os
costumes locais são considerados fenômenos de puro fato; leis e ordenan-
ças dos príncipes são consideradas como medidas de administração,
expedientes de alcance local e transitório, que, segundo David, não atin-
gem plenamente a dignidade do direito.
O direito islâmico está subordinado ao ritual religioso. A ciência jurí-
dica, por isso, é vinculada à teologia. Enquanto para o nosso direito, cujas
categorias jurídicas são europeias, vigora uma lógica binária lícito/ilícito,
para o direito islâmico o ato jurídico pode ser obrigatório, recomendado,
permitido, reprovado e proibido19. As fontes do direito islâmico são teoló-
gico-jurídicas. Não existe a figura do jurista nos moldes do Ocidente. Há o
teólogo-jurista, o alim, que é o perito em fikh (ou Figh)20. O fikh é o direito
islâmico em sentido estrito21. O direito islâmico sempre foi uma atividade
individual e informal. Apenas em 1896 é que veio surgir no Egito um cur-
rículo de estudos destinado à obtenção do título de alim22.
O conjunto de normas religiosas, jurídicas e sociais diretamente ba-
seadas na doutrina corânica recebe o nome de sharia (ou Châr’ia). Na
sharia convivem regras teológicas, morais, rituais e normas de direito pri-
vado, normas fiscais, penais, processuais e de direito bélico. A tradução de
19
O direito islâmico é o conjunto de regras que rege todos os adeptos da fé islâmica, independentemente de onde se
encontrem. Ele abrange todos os aspectos da vida humana, estabelecendo obrigações religiosas, morais e jurídicas,
sem diferenciá-las de modo preciso. Veja que o árabe, língua franca do direito, não contém palavra para as noções
distintas do moral e do jurídico. LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico.
Acessível em https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-ju-
ridico
20
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 404.
21
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 425-426.
22
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 404.
Adalberto Narciso Hommerding | 225
Sharia é via a seguir, lei revelada23; significa, pois, o caminho a seguir, a lei
divina24. Por isso, como explica Mario Losano25, a sharia conserva uma co-
notação de divino. Ela prescreve aos crentes como devem agir. O direito
muçulmano é inaplicável aos infiéis.
A sharia apresenta três dimensões26. Primeiramente, ela regula a re-
lação do crente com Deus (o culto ou ibada), estabelecendo os deveres da
pessoa muçulmana em relação a Deus e à religião. Esses deveres são os
pilares da fé: a shahada – a fórmula falada, profissão de fé, dita por mu-
çulmanos que professam sua crença na existência de um Deus único e na
escolha de Maomé (Mohamad) como seu profeta; salat, ou oração, cinco
vezes por dia; hajj, a peregrinação obrigatória a Meca; siam, o jejum feito
durante o mês de Ramadan; zakat, um pagamento a ser feito para o bene-
fício dos pobres. Veja-se que não há discordância entre as linhas sunita e
xiita (ou chiita27) no que se refere a tais pilares28. Os muçulmanos xiitas,
porém, acreditam na existência de imãs (líderes religiosos e também de-
tentores de poder secular), únicos corretamente orientados e destinados a
reger a Umma29, a nação islâmica.
A sharia também organiza as interações sociais (muamalat). Essa é a
segunda dimensão. Nesse contexto, as regras da sharia referem-se ao
23
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 119.
24
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 402.
25
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 402.
26
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
27
A palavra árabe Chi’a quer dizer partidário. Os chiitas são chamados assim porque são partidários de Ali, genro do
Profeta e seu sucessor, segundo a doutrina chiita. Os iranianos, por exemplo, qualificam-se como djafaritas duode-
cimais. DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 413.
28
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
29
Os fieis muçulmanos têm a missão de difundir o Islã, de modo que amplie a umma, ou seja, a comunidade islâmica
definida pela submissão a Deus e pela obediência aos preceitos do Corão. Esse foi, desde o início, o combustível para
a expansão islâmica. MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 300.
226 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
30
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
31
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
32
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 119.
33
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 402-404.
34
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 119.
35
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
36
SACCO, Rodolfo. Antropologia jurídica: contribuição para uma macro-história do direito. Tradução de Carlo Al-
berto Dastoli; revisão da tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 108-109.
Adalberto Narciso Hommerding | 227
Corão (ou Alcorão, Qorân) deriva do verbo árabe recitar em voz alta.
Nas palavras de Jayme de Altavila39, o Corão encerra a vantagem de ser
37
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 401-402.
38
Por todos, DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 411.
39
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 91.
228 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
lido num tom de recitação que obriga o maometano a lhe dedicar tôda a
sua fôrça espiritual e impregnante, ao amavio de sua linguagem empolada.
O livro contém 144 suras, que são capítulos, todos eles introduzidos com
a fórmula em nome de Deus, clemente e misericordioso. O Corão contém a
palavra de Deus, e não de Maomé. Maomé foi apenas o intermediário da
revelação40. Segundo Altavila41,
A palavra que menos se lê no Alcorão é lei, mas compreende-se bem isso num
povo em que a legislação não foi recolhida através das camadas sociais, não
representou a conquista de muitos, não foi promulgada em centúria, não foi
discutida em comícios, não foi elaborada pelos jurisconsultos e nem reclamada
pela plebe. Alá inspirou a sua legislação a Maomé e êle a ditou aos discípulos.
40
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 404-405.
41
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 94-95.
42
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 91.
43
No Estado islâmico, os crentes convivem com os infiéis, tolerados se seguem uma das religiões que Maomé consi-
dera reveladas, as chamadas religiões do livro, porque fundamentadas, como o Islã, numa Escritura Sagrada: os
judeus, os cristãos, os zoroastrianos e os hindus. LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos
sistemas jurídicos europeus e extra-europeus. Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite.
São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e direito), p. 427.
44
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 405.
Adalberto Narciso Hommerding | 229
45
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 410.
46
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 405.
47
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 405-406.
48
A sunna, tradição do profeta, corresponde aos atos e às falas do profeta, registrados a partir dos relatos de teste-
munhas confiáveis e recuperados por cadeias de comunicação (hadith). O silêncio do profeta também poderia fazer
parte da sunna, pois, para alguns, em especial para os maliquitas, ele representaria a concordância tácita com as
práticas da cidade de Medina. LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico.
Acessível em https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-ju-
ridico
230 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
49
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 406.
50
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 406. O Islã, apesar da sua profunda unidade básica, divide-se em diversas seitas. As mais importantes,
tanto do ponto de vista demográfico quanto do político, são a sunita e a xiita. O quarto califa, Ali ibn Abu Talib, genro
de Maomé, foi assassinado em 661 e, com o apoio da maioria dos líderes islâmicos, o cargo passou para Moawiya. Os
seguidores da maioria formaram a seita sunita, que atualmente constitui a imensa maioria do islamismo. Os sunitas
consideram que a fonte essencial para a lei islâmica é a Suna, a compilação da vida e do comportamento do profeta.
A minoria formou a seita xiita. Os xiitas acreditam que só os membros do clã de Maomé poderiam liderar os muçul-
manos. Ao contrário dos sunitas, que não atribuem qualidades divinas ao líder religioso, os xiitas atribuem ao imã
uma proteção sobrenatural contra o erro e o pecado. MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais: teoria e prática.
São Paulo: Saraiva, 2004, p. 299.
51
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 407.
Adalberto Narciso Hommerding | 231
52
A igma não foi aceita sem alguma resistência. É que existia o medo de que pudesse se caracterizar como legislação
pelos homens. A validade do consenso como fonte do direito é, porém, atribuída a uma fala do profeta, segundo a
qual seu povo jamais concordará em um erro. Na prática, não se fazia necessária a unanimidade entre todas as
pessoas, mas somente entre os estudiosos. Consulte-se: SCHACHT, Joseph. An introduction to islamic law. Oxford:
Oxford University Press, 1982, p. 33-35. Também: LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre
pluralismo jurídico. Acessível em https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-
licoes-pluralismo-juridico
53
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 407.
54
Os hanefitas, explica Haroldo Valladão, dominavam o antigo império otomano. O seu sistema era o do Sultão e foi
seguido na antiga Turquia e em sua zona de influência especialmente no Egito. Os malekitas concentravam-se, de
preferência, no norte da África e na Espanha. Já a escola Schafeita, sediada em Bagdá onde Hal-Schafei ensinou,
espalhou-se pelo Iraque, Síria, Egito inferior, Sul da Arábia, Malásia, certas regiões das antigas Índias inglesas e da
Ásia Central, na antiga África Oriental alemã e em todas as antigas Índias Holandesas. Finalmente, os hambalitas,
mais reduzidos, encontram-se na Arábia Central, Arábia Saudita no Hedjaz e no Yemen. VALLADÃO, Haroldo. His-
tória do direito especialmente do direito brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977, p. 45.
55
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
173.
232 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
56
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 407-408.
57
OLIVIERO, Maurizio. I paesi del mondo islâmico. In: CARROZZA, Paolo; GIOVINE, Alfonso Di; FERRARI, Giuseppe
F. (org.). Diritto costituzionale comparato. Roma: Laterza, 2014, p. 554-582.
58
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
59
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 407.
60
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 408.
Adalberto Narciso Hommerding | 233
língua comum a essas culturas diversas. É aqui, nesse ponto, que elemen-
tos do pensamento grego passaram, então, a ser englobados no raciocínio
jurídico-teológico do Islã. E é aqui também que normas justinianas e he-
braicas passaram a ser englobadas no direito islâmico. Com o final da
dinastia abássida, em 935 d. C., os regionalismos jurídicos do Islã fortale-
ceram-se, mas o direito sagrado, o fikh, há havia se petrificado. Assim, o
direito islâmico
61
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 408.
62
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
172.
234 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
63
A natureza pessoal do direito islâmico tem um alcance geral. Na época clássica, dirigiu todas as relações no âmbito
do Estado islâmico: em especial, somente a personalidade do direito tornou possível uma expansão territorial muito
rápida sem contínuos choques com as populações subjugadas. O exemplo concreto está nas terras de al-Ándalus
(Andaluzia), quando na península ibérica conviviam árabes, judeus e cristãos, usando normas romanas, germânicas
e islâmicas. LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-
europeus. Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007
(Justiça e direito), p. 427. Quem conhece Granada, na Espanha, sabe do que estou falando.
64
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 412.
65
LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico. Acessível em
https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-juridico
66
São elas, já referidas: hanifitas, maliquitas, chafiitas e hanbalistas.
Adalberto Narciso Hommerding | 235
67
LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico. Acessível em
https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-juridico
68
SCHACHT, Joseph. An introduction to islamic law. Oxford: Oxford University Press, 1982, p. 201; LAGE, Leonardo
Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico. Acessível em https://www.conjur.com.br/2014-
jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-juridico
69
LAGE, Leonardo Almeida. O Direito islâmico contém lições sobre pluralismo jurídico. Acessível em
https://www.conjur.com.br/2014-jul-07/leonardo-lage-direito-islamico-contem-licoes-pluralismo-juridico
236 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
70
Destaco, no ponto, o didático trabalho de: NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os
termos de uma relação. In: Revista Direito GV, São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
71
Estas são as palavras de Jayme de Altavila com relação a Maomé e à doutrina islâmica: Teve a sensatez de não exigir
templos: cada quadrilátero de um tapête era uma mesquita transportável onde os fiéis poderiam fazer suas orações
nos oásis, nos desertos e nas ruas, contanto que estivessem voltados para Meca. Anulou praticamente a classe sacer-
dotal, porque ela engrandecera e arruinara o Egito e a Mesopotâmia. Cada árabe seria o seu próprio sacerdote, desde
que levasse os preceitos de sua lei dentro do coração. (...) em suma: engendrou um sistema religioso, econômico e
adaptável ao nomadismo do seu povo até então disperso como um rebanho sem pastor. ALTAVILA, Jayme de. Origem
dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 92.
72
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
73
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
Adalberto Narciso Hommerding | 237
74
A discussão sobre o uso do véu pelas alunas nos colégios na França é um exemplo de problema envolvendo a
interação da sharia com outros Estados. Trata-se aqui da questão envolvendo os direitos culturais que, segundo Alain
Touraine, dependem mais dos direitos à diferença do que dos direitos à igualdade de tratamento. Nesse sentido,
consulte-se: TOURAINE, Alain. Um novo paradigma: para compreender o mundo hoje. Tradução de Gentil Avelino
Titton. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 194-201.
75
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
238 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
76
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
77
NASSER, Salem Hikmat. Direito islâmico e direito internacional: os termos de uma relação. In: Revista Direito GV,
São Paulo. 8[2], p. 725-744. Jul.-dez./2012.
Adalberto Narciso Hommerding | 239
O que fica bem claro, no que se refere ao direito dos países muçulma-
nos, é que, nos séculos XIX e XX, ocorreu a produção de três fenômenos: a
78
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 425.
79
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 426.
80
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 426.
240 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
81
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 426-427.
82
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
171-172.
Adalberto Narciso Hommerding | 241
conhecimento das leis. Essas sentenças apontam, pois, para uma liberdade
de interpretação, mas nos limites da lei. Os fátuos, além disso, tiveram e
continuando a ter força de decreto religioso83.
O resultado desse contexto religioso legal é que a justiça maometana
é sintética no que diz com os seus membros e extensiva quanto às suas
interpretações. O califa é uma espécie de supremo tribunal pessoal e o cádi
o juiz comum, escolhido pelo chefe espiritual sem a exigência de especiali-
zação judiciária. É claro que ele tem de se manter numa compostura
imparcial, não podendo receber dádivas ou comparecer a reuniões a con-
vite das partes. Nas palavras de Jayme de Altavila84, tem de se manter
impenetrável durante a exposição de cada processo e sòmente ditar a sua
sentença quando estiver suficientemente instruído e de ânimo tranqüilo.
O procedimento do cádi era oral. Não havia arquivos escritos das de-
cisões85. Como demonstrar, então, sua existência e como cumpri-las? Isso
ficava a cargo de duas testemunhas oficiais que faziam parte da repartição
do cádi. Todo o processo era em contraditório. Na medida do possível, pro-
curava-se evitar a revelia. Quanto ao regime de provas, a prova
testemunhal prevalecia sobre a prova escrita. A essa estrutura judiciária,
generalizada na época dos sultões otomanos, veio sobrepor-se a domina-
ção europeia do século XIX. Então, a afirmação do direito de origem
europeia levou à formação de tribunais laicos e à progressiva limitação dos
poderes do cádi, que, na Índia, inclusive, chegou a ser abolido pelos ingle-
ses86. Ao lado da jurisdição do qhâdi - a única legítima segundo o direito
muçulmano - existiram sempre um ou vários tipos de tribunais, que apli-
cavam os costumes profanos do país ou os regulamentos emanados das
83
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 13. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
171-172.
84
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 95.
85
A ação judicial, nos tempos antigos, não tinha caráter escrito como hoje e os cádis tinham um secretário, o catib,
encarregado de ir registrando o desenrolar do processo, numa taquigrafia especial. ALTAVILA, Jayme de. Origem dos
direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 95.
86
LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus.
Tradução Marcela Varejão; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Justiça e
direito), p. 430-431.
242 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
87
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 426. O direito islâmico, historicamente, convive com as influências estrangeiras, especial-
mente no que diz com a recepção da legislação europeia. O modelo constitucional iraniano, por exemplo, representa
um exemplo de estatuto organizador da sociedade islâmica de acordo com contornos normativos ocidentalizantes
promovedores de um conflito aparentemente irreconciliável com a doutrina islâmica. A Constituição do Irã, que data
de 1979 e que recebeu significativas emendas em 1989, pretende promover o avanço das instituições culturais, sociais,
econômicas e políticas da sociedade iraniana, com base em princípios e normas do islamismo. No que diz com a
organização judiciária, o Poder Judiciário, segundo a Constituição iraniana, é independente e tem como missão in-
vestigar e julgar violação de direitos, promover a justiça, supervisionar a aplicação das leis, prevenir crimes. O chefe
do Judiciário é apontado pelo líder religioso. Uma suprema corte dá assento a magistrados e ao procurador-geral,
indicados pelo chefe do Judiciário, para um mandato de cinco anos. Os julgamentos devem ser públicos, as decisões
fundamentadas e o princípio da reserva legal respeitado. O direito iraniano conhece tribunais administrativos, a
serem definidos em lei, e com competência para matérias de administração pública. GODOY, Arnaldo Sampaio de
Moraes. Chefe do Judiciário é indicado por líder religioso. In: Consultor Jurídico – CONJUR. Acessível em:
https://www.conjur.com.br/2010-nov-10/carta-iraniana-preve-indicacao-chefe-judiciario-lider-religioso
VI
A Magna Carta
1
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 283-284.
2
As condições da common law têm exercido uma influência que ainda subsiste sobre esse sistema. A aplicação dava-se
em circuitos periódicos dos condados e posteriormente em Londres, nas Cortes Reais. Por motivo de coerência, os juízes
depositavam muita confiança nos julgamentos anteriores de casos semelhantes, o que deu origem à doutrina do prece-
dente judicial. Por volta do século XIII, começaram a circular as decisões dos magistrados, reduzidas a termo. Criaram-se
anuários que foram os precursores dos law reports. O sistema da common law desenvolveu-se na estrita dependência de
processos formalistas e, a partir de um determinado momento, passa a encontrar dificuldades para desenvolver-se e
atender as necessidades da época. STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 3. ed. reformulada da
obra Jurisdição constitucional e hermenêutica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 351.
3
O terceiro período corresponde à época de maior florescimento da common law. Surge a equity, caracterizada por
ser um recurso à autoridade real diante da injustiça flagrante de alguns casos concretos. Encaminhavam-se petições
ao rei ou ao seu conselho, que eram despachadas pelo Chanceler (Kepper of the Kings Conscience), encarregado de
orientar e guiar o rei em sua decisão. Aos poucos, o Chanceler vai se constituindo em juiz autônomo. Em determina-
das matérias, o tribunal do Chanceler foi capaz de criar direitos não conhecidos na common law (caso de fideicomisso
e do direito de propriedade, mesmo que limitado, para mulheres casadas). Em outros casos, ofereceu alternativa
eficiente para prover um remédio ou algum direito que se perdera. Ajudou a forçar a revelação de fatos e documentos.
Assegurou ao querelante, caso vencedor, os benefícios do litígio, bem como a proteção de terceiros diante de eventuais
danos decorrentes da lide. As regras da equity foram se tornando sistemáticas, sem, contudo, se contraporem à
common law, havendo, pelo contrário, uma complementação entre ambas. STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitu-
cional e decisão jurídica. 3. ed. reformulada da obra Jurisdição constitucional e hermenêutica. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2013, p. 351-352.
244 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
4
Entra-se no quarto período com a primeira Lei de Organização Judiciária (Judicature Act), que, no ano de 1873,
fundiu as jurisdições de common law e de equity, mas manteve a distinção dos remédios baseados na common law e
daqueles tratados na equity. A partir dos Judicature Acts, uma única corte passou a aplicar as diferentes regras para
o caso. Outra contribuição importante dos Judicature Acts para o direito inglês foi a edição de um código procedi-
mental: Rules of the Supreme Court, denominado The White Book, emendado de tempos em tempos. Já o Apellate
Act de 1876 estabeleceu regras para a revisão das decisões por uma corte superior. As reformas processuais de 1873-
1875 implicaram uma nova organização judicial centralizada, uma vez que desapareceu a distância entre tribunais
de common law e tribunais de equity. A partir de então, todas as jurisdições inglesas resultaram competentes para
aplicar tanto um como outro sistema. Assim, os juízes de equity inspiraram-se nas soluções dadas por seus anteces-
sores, e essa evolução institucional levou o parlamento a assumir a função inovadora que teve a seu cargo – nas
centúrias precedentes – o chanceler. STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 3. ed. reformu-
lada da obra Jurisdição constitucional e hermenêutica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 352.
5
Os visigodos, os burgúndios, os francos, os lombardos, os anglos, os saxões e outros povos germânicos foram-se
apossando e se tornando donos de vastos territórios, passando a governar populações que, até então, haviam vivido
segundo o direito romano. Os dominadores, porém, praticavam costumes completamente diferentes. Então, a radical
mutação induzida pelas fixações territoriais e pela criação de reinos independentes acabou criando árduos problemas
para o controle dos territórios ocupados, onde viviam as populações já submetidas e que eram muito mais numerosas
em relação à minoria representada pelos conquistadores. Criou também o problema de como manter uma tradição
jurídica a qual cada estirpe germânica estava fortemente ligada, pois, durante séculos, representara a identidade e
Adalberto Narciso Hommerding | 245
os valores compartilhados por aquelas populações. A presença, no território, de um sistema normativo tão articulado
e maduro, como era o caso do direito romano, criava, por sua vez, para os núcleos dos novos dominadores, um
constante e incontornável terreno de confronto. Assim se explica a decisão de manter a distinção entre o direito dos
vencedores e o direito dos vencidos. Uns mantiveram vivas, tanto quanto possível, as próprias tradições jurídicas
nacionais. Aos outros foi permitido continuar a regulamentar as próprias relações jurídicas de acordo com as regras
romanas, à exceção das relações de subordinação às novas autoridades. Em um mesmo ordenamento, dentro de um
mesmo reino, passou-se assim a reconhecer a legítima coexistência de uma pluralidade de direitos, cada um dos
quais aplicável a uma etnia específica: esse é o princípio da personalidade (ou pessoalidade) da lei, fundamental nessa
fase histórica. E ele se tornou possível também pelo fato de as relações jurídicas entre as etnias – antes de tudo entre
os vencidos e os vencedores: matrimônios mistos, contratos, negócios – terem sido por muito tempo quase inexis-
tentes. SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução
Marcos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes,
2014, p. 30.
6
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 284-285.
246 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
7
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Tradução Hermínio A. Carvalho. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996, p. 285-286.
8
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 111.
9
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
Adalberto Narciso Hommerding | 247
10
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
11
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
248 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
12
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
13
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 114.
Adalberto Narciso Hommerding | 249
14
Segundo F. Uchoa de Albuquerque, seriam 63 artigos, e não 67, incorrendo em erro, portanto, nesse aspecto, Jayme
de Altavila. Os textos encontrados na Enciclopédia Britânica e em Constitutions of Nations, de Amos J. Preslee, e em
Development of European Civilization, de Clarence Perkins, dão conta de 63 artigos tão-somente, não se sabendo o
porquê do excesso dos quatro artigos referidos por Altavila. ALBUQUERQUE, F. Uchoa de. Sôbre a carta política de
João sem Terra. In: Revista da Faculdade de Direito. UFC, p. 153-163. http://www.revistadireito.ufc.br/index.php/re-
vdir/article/viewFile/380/323
15
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 114. F.
Uchoa de Albuquerque é da opinião de que, por ser João Sem Terra um analfabeto, não podia ter procedido em
relação à aceitação da Magna Carta da maneira como indica Jayme de Altavila. Outros juristas, segundo Uchoa de
Albuquerque, também se mostrariam indignados com quem quer que afirme ter sido a Magna Carta assinada por
João Sem Terra. ALBUQUERQUE, F. Uchoa de. Sôbre a carta política de João sem Terra. In: Revista da Faculdade de
Direito. UFC, p. 153-163. http://www.revistadireito.ufc.br/index.php/revdir/article/viewFile/380/323
16
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 112.
17
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 113. A
referência feita por Altavila encontra-se na valiosa obra FERREIRA, Pinto. Princípios de direito constitucional mo-
derno. 2. ed. Rio de Janeiro: José Konfino, 1951.
250 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
a Magna Carta, de que os inglêses tanto se orgulham e que realmente num dos
seus artigos prescrevia, já naquele tempo, que nenhum homem seria privado
de sua vida, liberdade ou bens, sem o julgamento de seus pares e disposição
da lei nacional (...) essa Magna Carta teve por principal redator um doutor da
Universidade de Bolonha, portanto, do direito romano19.
o habeas-corpus, a mais eficaz e pronta garantia, que se supõe ter o povo inglês
descoberto para felicidade do gênero humano civilizado, já encontra suas raí-
zes no Dig. 4. 4. Tit. 29 I. I., pelo interdito de homine libero exhibiendo, por
fôrça do qual (...) o pretor ainda protegia a liberdade do cidadão, de qualquer
modo violada, sem prejuízo do respectivo processo criminal e que servia tam-
bém para defender o exercício do pátrio poder dominical.
18
A Magna Carta, assim, tem origens longínquas, pois reproduz com maiores detalhes uma carta de Henrique I, que,
por sua vez, pretendia estar vinculado às leis de Eduardo, retomando assim a cadeia que liga as instituições da Ingla-
terra anglo-normanda às da época anglo-saxã. PACHECO, Cláudio. Novo tratado das constituições brasileiras. v. 2.
Brasília: Offset, 1992, p. 3.
19
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 117.
Adalberto Narciso Hommerding | 251
20
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 120-125.
21
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 125-126.
22
BERMAN, Harold J. Direito e revolução: a formação da tradição jurídica ocidental. Tradutor Eduardo Takemi Ka-
taoka. São Leopoldo: Unisinos, 2004 (Coleção Díke), p. 368.
23
A Magna Carta e os velhos documentos constitucionais ingleses, embora rudimentares, são precursores das mo-
dernas declarações de direitos. Um dos autores que procura demonstrar o caráter tradicionalista do Direito
Constitucional inglês é Marcaggi. Para ele, as leis inglesas que estatuem sobre os direitos dos súditos falam sempre
dos direitos antigos e das liberdades de outrora. O que o Parlamento está sempre pedindo, em todas as oportunidades
de reivindicações libertárias, é apenas a confirmação das relações que existem entre a realeza e seu povo. Assim,
desde a época da Magna Carta até a das declarações de direitos, a mais constante política constitucional da Inglaterra
é a de reclamar a manutenção das liberdades como uma herança que foi deixada pelos antepassados e que deve ser
transmitida à posteridade, como um bem que pertence especialmente ao povo do reino, sem nenhuma espécie de
relação com um outro direito mais geral e mais antigo. Cfe. PACHECO, Cláudio. Novo tratado das constituições bra-
sileiras. v. 2. Brasília: Offset, 1992, p. 3.
252 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
24
ALBUQUERQUE, F. Uchoa de. Sôbre a carta política de João sem Terra. In: Revista da Faculdade de Direito. UFC,
p. 153-163. http://www.revistadireito.ufc.br/index.php/revdir/article/viewFile/380/323
25
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
26
FASSÒ, Guido. Historia de la filosofía del derecho. v. 1. Antigüedad y Edad Media. 3. ed. Traducción de José F. Lorca
Navarrete. Madrid: Ediciones Pirámide, S.A., 1982, p. 166.
Adalberto Narciso Hommerding | 253
condenaremos, nem lhe imporemos prisão, exceto pelo juízo legal de seus
pares ou conforme às leis do país. A Magna Carta deve sua fama a essa
cláusula. O texto, como já referido, não cria o procedimento de habeas cor-
pus, mas consagra a dupla garantia do iudicium parium suorum e da lex
terrae. O primeiro significa o julgamento por jurados, excluindo que al-
guém pudesse ser condenado por um tribunal ou uma comissão especial
dependente do rei. A segunda exigência, alternativa ou complementar a
anterior, consiste em que o julgamento se faça conforme as leis do país.
Trata-se, diz Satrústegui Gil-Delgado27, de um requisito ambíguo, que che-
gou a ser entendido às vezes como equivalente ao primeiro (afinal, as leis
do país, o Common Law, exigiam o julgamento por jurados desde o século
XII). Acabou prevalecendo, porém, uma interpretação da lex terrae como
uma garantia de conteúdo mais amplo, como o direito ao devido processo
legal (due process of law28), ou seja, o direito à legalidade processual em
todos os seus aspectos ou o direito a um julgamento justo29.
27
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
28
Quando se trabalha com o due process of law, a atenção se volta aos chamados princípios fundamentais, que são
aqueles princípios adotados pelo sistema jurídico, pela Constituição de um país, mediante critérios político-ideológi-
cos. Dentre eles destaca-se o princípio do devido processo legal, previsto no art. 5º, LIV, da Constituição da República
Federativa do Brasil, podendo ser considerado a base de todos os outros princípios, nestes termos: Art. 5º (...) LIV -
ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Dito princípio tem origem na Magna
Carta inglesa de 1215, onde, no art. 39, fez-se referência à law of the land. O uso da expressão, todavia, aparecerá
somente em 1354, na Lei inglesa baixada no reinado de Eduardo III, denominada Statute of Wesminster of the Liber-
ties of London, por meio de um legislador desconhecido (some unknown draftsman). Posteriormente, aparecerá
também na Declaração dos Direitos de Maryland, em 1776, nos Estados Unidos. A chamada cláusula due process of
law, em que pese trazer ínsita a ideia de processo, não indica apenas a tutela processual. Ela é bipartida de tal forma
que podemos dividi-la em substantive due process, que é a incidência do princípio em seu aspecto material, e proce-
dural due process, que representa a tutela do direito material por meio do processo. O devido processo legal, assim,
manifesta-se em todos os campos do direito em seu aspecto substancial, tais como: o princípio da legalidade no
direito administrativo: o administrador só faz o que a lei permite; age secundum lege; a proibição da retroatividade
da lei penal; a garantia dos direitos fundamentais no direito constitucional, etc. Em sentido processual, a expressão,
porém, é mais restrita: diz respeito aos padrões próprios do processo. No processo penal, por exemplo, ela se mani-
festa de várias formas: direito à citação e ao conhecimento do teor da acusação; direito a um rápido e público
julgamento; direito ao contraditório; direito a arrolar testemunhas; direito à igualdade entre acusação e defesa; di-
reito de não ser acusado nem condenado com base em provas ilícitas; direito à assistência judiciária gratuita. No
processo civil a cláusula manifesta-se nos seguintes direitos e garantias, dentre outros: igualdade das partes; garantia
do direito de ação; direito de defesa; direito ao contraditório, etc. A cláusula procedural due process of law é, portanto,
a possibilidade efetiva de a parte ter acesso à justiça, deduzindo pretensão e se defendendo do modo mais amplo
possível. Por todos, consulte-se: NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 2. ed.
rev. e aum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 33-38.
29
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
254 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
30
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
31
Blackstone tentara dar uma aura transcendental ao common law. Segundo ele, o common law tinha raízes no
direito costumeiro saxônico, que, na verdade, era direito natural, especificamente a lei de Deus do modo como a
razão humana a havia percebido em épocas mais esclarecidas. Assim, Blackstone deu ao common law um pedigree
de direito natural. POSNER, Richard A. Problemas de filosofia do direito. Tradução Jefferson Luiz Camargo; revisão
técnica e da tradução Mariana Mota Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2007 (Coleção justiça e direito), p. 17-18.
32
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
Adalberto Narciso Hommerding | 255
33
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
34
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
256 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
35
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
36
SATRÚSTEGUI GIL-DELGADO, Miguel. La Magna Carta: realidad y mito del constitucionalismo pactista medieval.
In: Historia Constitucional, n. 10, 2009. http://www.historiaconstitucional.com, págs. 243-262.
37
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 126.
38
ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 4. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964, p. 127.
Adalberto Narciso Hommerding | 257
39
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 158-159.
VII
1
ODALIA, Nilo. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da
cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 159-169.
2
A Constituição Americana viria apenas em 1787 com a Convenção que a redigiu, na cidade de Filadélfia, no Estado
da Pensilvânia. Segundo Voltaire Schilling, Thomas Jefferson, que não conseguiu fazer-se presente na Convenção,
mostrou-se desgostoso com o documento aprovado por seus colegas, pois não abrigava nenhuma Declaração dos
Direitos como já existia, por exemplo, na Constituição do Estado da Virgínia, de 1776. Temeroso pelo fato de não
haver artigos que expressassem o repúdio à intromissão do Estado na vida do cidadão comum e que garantissem
uma proteção legal contra tudo que abominava, Jefferson bombardeou por carta seus amigos, e também o Presidente
George Washington, reclamando uma Bill of Rights válida para todos os estados. Uma Declaração que servisse a
todos os americanos, e não apenas uma para os virgininianos, outra para os nova-iorquinos, outra, ainda, para os
bostonianos. Um documento máter, enfim, que espelhasse os anseios coletivos, da União e não só dos estados, e que
servisse como exemplo das possibilidades do que Jefferson chamava de autogoverno (a democracia). Exatamente
naquele mês de setembro, em que Jefferson regressava à América, seu amigo James Madison fazia aprovar as dez
primeiras amendments, as emendas constitucionais de 1789, que somente entraram em vigor 810 dias depois, em 15
de dezembro de 1791, quando, por fim, onze estados americanos as aprovaram. Elas providenciavam salvaguardas
para alguns direitos fundamentais, tais como a liberdade de religião, de expressão e de imprensa. Asseguravam ao
Adalberto Narciso Hommerding | 259
cidadão o direito de portar armas, de reunir-se pacificamente para reclamar do governo. Garantia-se o direito de a
pessoa não depor contra seus próprios interesses, bem como lhe assegurava julgamento por júri popular. Algumas
dessas salvaguardas remontavam aos direitos ingleses dos tempos da Magna Carta, de 1215, ou do código de Eduardo
III, de 1335, enquanto outras eram novidades revolucionárias, tais como a separação do Estado da religião.
SCHILLING, Voltaire. América: a história e as contradições do império. Porto Alegre: L&PM, 2004, p. 38.
3
A inauguração simbólica e o marco inicial da modernidade podem ser situados no tempo na aprovação dos docu-
mentos revolucionários do século XVIII: os norte-americanos Declaration of Independence (1776) e Bill of Rights
(1791), já referidos anteriormente, e o francês Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen (1789). Para Costas
Douzinas, seu encerramento simbólico foi situado na queda do Muro de Berlim, em 1989. Nesse meio tempo, os
direitos naturais proclamados pelas declarações do século XVIII transformaram-se em direitos humanos, seu escopo
e jurisdição expandiu-se da França e dos Estados Unidos para toda a humanidade e seus legisladores ampliaram-se
das assembleias revolucionárias para a comunidade internacional e seus plenipotenciários e diplomatas em Nova
York, Genebra e Estrasburgo. Nesses dois longos séculos, as ideias revolucionárias não apenas triunfaram no cenário
mundial, mas também foram violadas das formas mais atrozes e sem precedentes. DOUZINAS, Costas. O fim dos
direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção Díke), p. 99.
4
ODALIA, Nilo. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da
cidadania. São Paulo: Contexto, 2003, p. 159-169.
5
JULIERME. História moderna e contemporânea. São Paulo: Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, [s/d], p.
85-89.
260 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
país6. A economia francesa também havia sido golpeada pela perda do Ca-
nadá e da Índia para os ingleses. A população francesa era de
aproximadamente 25 milhões7. Destes, 100 mil eram nobres e donos de
privilégios. Constituíam a primeira classe social. Além de não pagarem im-
postos, podiam cobrá-los dos camponeses residentes nas suas terras.
Também monopolizavam os melhores cargos públicos, possuindo regalias
na Justiça. A segunda classe social era o Clero, com cerca de 400 mil pes-
soas. O Alto Clero tinha praticamente os mesmos privilégios dos nobres; o
Baixo Clero tinha menos regalias. A terceira classe era a mais numerosa,
com mais de 24 milhões de pessoas: o Terceiro Estado. Essa classe não
tinha regalias e pagava com seus impostos o luxo e os privilégios das ou-
tras duas classes. Enquanto nos banquetes dos nobres desperdiçavam-se
iguarias, faltava pão na mesa dos camponeses e operários.
A verdade, portanto, é que, em 1787, o reino da França era pratica-
mente uma sociedade sem governo8. Luís XVI, embora ainda mantivesse o
consenso dos súditos em torno de sua figura, vinha sofrendo um processo
de deslegitimação da sua autoridade real; processo esse motivado por
maus ministros e nefastos conselheiros, e agravado pela crise econômica,
agrícola, industrial e social. A Revolução Americana, pouco tempo antes,
também viria incrementar essa crise, alimentando a rebelião com uma
Carta de Direitos e com o próprio déficit financeiro que a ajuda francesa
havia produzido. Luís XVI, então, tenta estancar a crise financeira com
uma reforma fiscal, convocando Necker e Turgot para ministros. Como
tomaram medidas contrárias aos interesses dos nobres, acabaram sendo
afastados por interferência de Maria Antonieta, a rainha. Em maio de 1789,
Luís XVI desencadeia, então, um processo eleitoral de modo a constituir os
6
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 306.
7
JULIERME. História moderna e contemporânea. São Paulo: Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, [s/d], p.
85-89.
8
CADEMARTORI, Daniela Mesquita Leutchuk de; CADEMARTORI, Sergio Urquhart de. O surgimento/descoberta de
um novo direito e de uma nova política e a revolução francesa. In: Revista Novos Estudos Jurídicos – Eletrônica, Vol.
24 – n. 3 – SET-DEZ 2019.
Adalberto Narciso Hommerding | 261
9
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307.
262 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
10
SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A constituinte burguesa (Qui Est-ce que le Tiers Etat?). Rio de Janeiro: Líber Juris,
2001. Nas palavras de Sieyès, A nação existe antes de tudo, ela é a origem de tudo. Sua vontade é sempre legal [...].
Qualquer que seja a forma que a nação quiser, basta que ela queira; todas as formas são boas, e sua vontade é sempre
a lei suprema. SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A constituinte burguesa (Qui Est-ce que le Tiers Etat?). Rio de Janeiro:
Líber Juris, 2001, p. 50-51.
11
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 306.
12
JULIERME. História moderna e contemporânea. São Paulo: Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, [s/d], p.
85-89.
Adalberto Narciso Hommerding | 263
13
A origem da palavra terrorismo remonta à Revolução Francesa, com o período de terror instaurado pelo partido
jacobino, liderado por Robespierre. Inicialmente, portanto, o termo designava a forma de política praticada pelo
Estado, que se utilizava do terror. LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derecho penal del terrorismo: límites de su punición en
un Estado democrático. Madrid: La Ley, 2010, p. 109. Também: AVILÉS, Juan. Los orígenes del terrorismo europeo:
narodniki y anarquistas. In: JÓRDAN, Javier (Coord.). Los orígenes del terror: indagando en las causas del terrorismo.
Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 2004, p. 61; CALLEGARI, André Luís et al. O crime de terrorismo: reflexões
críticas e comentários à Lei de Terrorismo: de acordo com a Lei nº 13.260/2016. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2016, p. 23.
264 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
14
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 305.
15
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 305.
16
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 305.
17
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 103-104.
Adalberto Narciso Hommerding | 265
18
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 121.
19
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 118.
20
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 120.
266 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
21
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 120-121.
22
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 121.
Adalberto Narciso Hommerding | 267
23
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 103. Como explica Roger Scruton, quando os revolucionários franceses irrompem no palco da política mun-
dial, fazem-no com a declaração de que dali em diante não é mais a soberania, a lei ou a divindade que comandam a
lealdade do cidadão, mas a nação. SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Tradução de Bruno Garschagen;
revisão técnica de Márcia Xavier de Brito. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 2020, p. 55.
24
O ancien régime (Antigo Regime) é o regime social e político que a Revolução Francesa destruiu. Começa com o
advento dos Bourbon, em fins do século XVI, compreendendo, então, a época que media entre o desencadeamento
das guerras de religião e o princípio da era revolucionária. Nessa época, a França padeceu de múltiplas e profundas
modificações. Segundo Frantz Funck-Brentano, talvez tenha havido mais diferença entre a sociedade da época de
Luís XIII e a dos fins do século XVII, que entre esta e a sociedade produzida pela Revolução. Por outro lado, as trans-
formações políticas e sociais do reinado de Luís XVI foram tão rápidas e importantes que quase não se poderia dizer
que haja formado parte do Antigo Regime. Para Funck-Brentano, quase se poderia afirmar que a Revolução Francesa
começou com o advento de Luís XVI. Poder-se-ia pensar também nas reformas parlamentares do chanceler Maupeou
(1770-1771), obra revolucionária e de grande envergadura. O que chamaram Antigo Regime está representado, em
realidade, pelo estado social e político do reinado de Luís XV, época bela e gloriosa em que a França havia brilhado
com o esplendor das letras e das artes, pela perfeição de sua indústria, pela difusão da sua influência e da sua língua,
e por seus exércitos e sua diplomacia. Frederico II, aliás, chegou a exclamar que os franceses seriam os romanos dos
tempos modernos. FUNCK-BRENTANO, Frantz. El antiguo regimen. Traducción del francés por Rafael Vázquez-
Zamora. Barcelona: Ediciones Destino, S. L., 1953, p. 11.
25
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 103.
26
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 104.
27
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 105.
268 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
28
Milhares de federalistas foram guilhotinados em Paris, fuzilados em Lyon e afogados em Nantes. A França, assim,
foi aplainada e nivelada; as velhas províncias, com suas tradições e suas autoridades particulares, se despedaçaram
e foram divididas em departamentos. Ao final da Revolução, o número de funcionários públicos havia duplicado, e a
França patronal, feudal, pitoresca, ativa, de iniciativas fecundas e frondosas, havia morrido. Nascia, então, a França
administrativa. A revolução destruiu a antiga família francesa e, por meio da administração, deu à centralização a
forma que lhe convinha. As reformas familiares e administrativas, assim, são os dois traços essenciais onde a obra
revolucionária subsistiu, respondendo à transformação dos costumes e às novas necessidades econômicas. Mesmo
se Luís XVI tivesse continuado no trono, ou seus sucessores ou seus ministros, ou quem viesse a substitui-los iriam
ter de realizá-las, quisessem ou não FUNCK-BRENTANO, Frantz. El antiguo regimen. Traducción del francés por
Rafael Vázquez-Zamora. Barcelona: Ediciones Destino, S. L., 1953, p. 352.
29
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 122.
30
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 167.
31
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 122-123.
Adalberto Narciso Hommerding | 269
32
SHAPIRO, Ben. O lado certo da história: como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande. Traduzido
por Carolina Gaio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019, p. 123.
33
Cfe. DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Co-
leção Díke), p. 160-161.
270 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
34
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução na França. Tradução, apresentação e notas de José Miguel Nanni
Soares. São Paulo: Edipro, 2014, p. 252.
35
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 18-19.
Adalberto Narciso Hommerding | 271
36
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 22-23.
37
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 25-26. A referência é à obra On Revolution, de
Arendt.
272 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
38
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 40.
39
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 40-41.
40
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 101.
41
A referência é feita por DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo:
Unisinos, 2009 (Coleção Díke), p. 102.
Adalberto Narciso Hommerding | 273
42
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 102. As emendas à Constituição de 1787 somam 26 no total e foram sendo aprovadas conforme os aconte-
cimentos políticos, sociais e econômicos da história norte-americana assim exigiram. Destacam-se entre elas a XIII,
que aboliu a escravidão, e a XIX, que implantou o voto feminino. Nesse sentido, consultem-se: CORWIN, Edward S.
A Constituição norte-americana. Rio de Janeiro: Zahar, 1986; SCHILLING, Voltaire. América: a história e as contra-
dições do império. Porto Alegre: L&PM, 2004, p. 40.
43
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 153.
44
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 153.
274 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
45
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 153-154.
46
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 153-154.
47
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 103.
48
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 103.
49
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 106.
Adalberto Narciso Hommerding | 275
50
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 106.
51
As afirmações performativas dizem respeito à linguagem compreendida como ação. O enunciado, portanto, realiza
o ato, ex.: eu me desculpo; eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
52
As afirmações constatativas têm relação com os enunciados que apenas descrevem um acontecimento. Assim,
submetem-se ao critério de verificabilidade. Podem ser rotulados de verdadeiros ou falsos.
53
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 106-107.
276 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Está na natureza dos direitos humanos serem proclamados, pois não há qual-
quer humanidade histórica externa para garanti-los. No ato da proclamação,
o “homem” não apenas reconhece, mas também afirma sua natureza como
livre-arbítrio. A revolução é um ato de autofundação que, simultaneamente,
estabelece o postulador do direito e o poder do legislador como o represen-
tante histórico de seu próprio construto para criar todo direito humano ex
nihilo. A partir desse momento, uma nova declaração de direitos tem um ele-
mento comum e imutável que ser refere ao “homem” ou natureza humana e
torna legítimo o legislador e os conteúdos variáveis que abrem novas áreas de
prerrogativa e livre atuação.
54
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 106-107.
55
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 107.
Adalberto Narciso Hommerding | 277
56
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 154-155.
57
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 155.
58
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 157.
59
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 159.
278 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
60
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 160.
61
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 161-162.
62
Uma boa síntese das ideias e um conjunto razoável de textos escolhidos de John Locke podem ser encontrados em
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador).
Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão.
São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 79-110.
Adalberto Narciso Hommerding | 279
63
BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Tradução: Pedro Henriques. Lisboa: Ins-
tituto Piaget, 2001, p. 162.
280 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Art. 1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só
podem fundamentar-se na utilidade comum.
64
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307.
65
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 110.
66
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 110.
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homem, definido como ser sensível, capaz de raciocinar e ter ideias morais.
O problema, segundo Douzinas67, é que, depois que o sexo, a cor e a etnia
foram acrescentados, essa abstrata natureza humana descorporificada ad-
quiriu uma forma muito concreta: a do homem branco e dono de
propriedades. Para Costas Douzinas, portanto, os homens representavam
a humanidade porque sua razão, sua moralidade e sua integridade faziam
deles uma imagem exata do homem das declarações. Comparados, então,
com esse protótipo de humanidade, os sentimentos fugazes e as tendências
naturais das mulheres impediam a sua capacidade de estar à altura do
protótipo de indivíduo. E quaisquer divergências biológicas, psicológicas
ou sociais do modelo masculino eram, portanto, interpretadas como defi-
ciências e sinais de inferioridade68. Por isso, os dias que se seguiram à
Revolução Francesa foram alguns dos dias mais negros na história das
mulheres (Nicole Arnaud-Duc). A natureza feminina, nas palavras de Dou-
zinas, ficou aprisionada entre a éternelle malade, de Michelet, e a mulher
histérica, de Charcot, e foi definida como reservada e prática; sua vocação
delicada, frágil e emocional indispensável para as tarefas domésticas, po-
rém totalmente incompatível com o exercício de direitos políticos e legais.
Em outubro de 1793, o representante da Convenção, Fabre d’Eglantine,
denunciou mulheres que reivindicavam seus direitos de cidadania ao invés
de se ocuparem de cuidar de suas tarefas, de mães inseparáveis de seus
filhos ou de garotas que trabalham para seus pais e cuidam de suas irmãs
menores69.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais
e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segu-
rança e a resistência à opressão.
67
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 110-111.
68
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 110-111.
69
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 111.
282 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
70
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307.
71
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 96-97.
72
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador).
Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão.
São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 79-110.
Adalberto Narciso Hommerding | 283
73
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 96-97.
74
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador).
Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão.
São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 87-88. Veja-se que a doutrina do direito de resistência não era
recente e sua origem remontava às guerras de religião, quando os escritores políticos calvinistas, denominados mo-
narcomaci, conclamavam o povo a resistir aos atos ilegais dos príncipes católicos. Resgatada e revalorizada por Locke
no Segundo tratado, a doutrina do direito de resistência transformou-se no fermento das revoluções liberais que
eclodiram depois na Europa e na América. MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal.
In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rous-
seau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão. São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 88.
284 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo.
Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão
aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direi-
tos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
75
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307. Como se pode verificar em O Contrato Social, no capítulo VII – Do Soberano -, o soberano existe pela integri-
dade do contrato social. Ele não pode obrigar-se, mesmo em relação a outrem, a nada que derrogue esse ato primitivo,
como alienar uma parte de si mesmo ou submeter-se a outro soberano. NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau:
da servidão à liberdade. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes,
Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão. São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos
62), p. 187-241.
76
NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador). Os
clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão.
São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 194.
77
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 238.
78
HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. Tra-
dução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 238.
Adalberto Narciso Hommerding | 285
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado
pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não
ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de
concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve
ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são
iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empre-
gos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas
virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados
pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem,
executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer
cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso
contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e
ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada an-
tes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar
indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá
ser severamente reprimido pela lei.
79
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307. Sobre o povo soberano como agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas
leis, consulte-se: NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade. In: WEFFORT, Francisco C.
(Organizador). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13.
ed. 3. impressão. São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 196.
286 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religio-
sas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos di-
reitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente,
respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pú-
blica. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade
particular daqueles a quem é confiada.
80
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução
Marcos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes,
2014, p. 308.
Adalberto Narciso Hommerding | 287
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus represen-
tantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de
observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua
administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem es-
tabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode
ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir
e sob condição de justa e prévia indenização.
81
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 307-308.
82
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 308.
288 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
indivíduo, constitui para Locke o cerne do estado civil. Por isso, ele é con-
siderado o pai do individualismo liberal. Por meio dos princípios de um
direito natural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no consenso,
de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de um poder li-
mitado, de direito de resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais
do Estado liberal (Bobbio). Locke forneceu a posteriori a justificação mo-
ral, política e ideológica para a Revolução Gloriosa e para a monarquia
parlamentar. Também influenciou a revolução norte-americana, onde a
declaração de independência foi redigida e a guerra de libertação foi tra-
vada em termos de direitos naturais e de direito de resistência para
fundamentar a ruptura com o sistema colonial britânico. Locke, como re-
ferido, influenciou ainda os filósofos iluministas franceses, em especial
Voltaire e Montesquieu, e, por meio deles, a Revolução Francesa de 1789
(a Grande Revolução) e a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão.
Com a Grande Revolução, as ideias inglesas, que haviam atravessado o
Canal da Mancha e estabelecido uma cabeça de ponte no continente, trans-
formaram-se, então, nas ideias francesas e se difundiram por todo o
Ocidente83.
5. Considerações conclusivas
83
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C. (Organizador).
Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. 1. v. 13. ed. 3. impressão.
São Paulo: Ática, 2000 (Série Fundamentos 62), p. 88-89.
84
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 308.
Adalberto Narciso Hommerding | 289
e sobre a lei como sua expressão podiam – como até hoje acontece - ser
utilizadas e manipuladas para legislar contra a liberdade e a segurança em
nome da liberdade e segurança. Tudo isso, porém, segundo Schioppa, não
negaria uma verdade: que os enunciados de princípio inseridos na Decla-
ração têm um valor universal que, na história, acabaria vindo a se impor,
ainda que por via de um caminho longo e conturbado85. Apesar das críticas
que são feitas à Declaração Francesa de 1798 – em especial as de Shapiro
e Douzinas, com quem concordo -, penso também ser possível concordar,
ainda que em parte, com Schioppa e com Himmelfarb; esta, em especial,
no que diz com a influência do Iluminismo francês no movimento revolu-
cionário86 e as consequências que de aí advieram. De fato, o impacto da
Declaração Francesa foi profundo. Não é sem razões que a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 1948, seguiu de perto a Declaração Francesa, em essência e em
forma87. No ano de 2018, aliás, celebrou-se o aniversário de 70 anos da
85
SCHIOPPA, Antonio Padoa. História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea. Tradução Mar-
cos Marcionilo, Silvana Cobucci Leite; revisão da tradução Carlos Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 309. Um exemplo do que Schioppa afirma é constituído pelos direitos políticos. A Declaração implica o princípio
democrático em sentido pleno e coerente, incluindo o sufrágio universal, afirmando solenemente que todos os ho-
mens são iguais em direitos, sem distinguir entre direitos públicos e privados, e que o direito de contribuir para a
formação da lei cabe a todos os cidadãos. A discussão sobre os requisitos necessários para o exercício do sufrágio nas
eleições locais e nacionais levou, porém, a um resultado distinto: os cidadãos foram divididos em duas categorias, só
podendo votar os chamados cidadãos ativos, assim denominados com base no censo, distinguidos dos cidadãos pas-
sivos. Assim, só quem pagava um imposto igual a pelo menos três dias de trabalho por ano possuía o eleitorado ativo.
Já para o passivo era exigido que o imposto atingisse pelo menos dez dias de trabalho, e para a Câmara legislativa
ainda mais.
86
Gertrude Himmelfarb chama atenção para o fato de que não se pode, sem cometer injustiça, atribuir ao Iluminismo
a responsabilidade por todos os atos ou delitos da Revolução, ainda que tenha havido ecos inegáveis dos philosophes,
especialmente de Rousseau, em todos os estágios. HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os
iluminismos britânico, francês e americano. Tradução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p.
238. Himmelfarb, porém, não defende a ideia de que a Revolução Francesa tenha sido uma revolução social. Em suas
palavras: Uma visão alternativa da Revolução realça a ideia de uma natureza humana regenerada, vendo os eventos
como uma profunda revolução social. Para Hannah Arendt, a Revolução “nasceu da compaixão” pelas “pessoas de
camadas inferiores”, les misérables. Articulada primeiramente por Rousseau, e levada a cabo por seu discípulo Ro-
bespierre, essa “paixão pela compaixão” culminou inevitavelmente no Terror, pois a compaixão respondia apenas à
“necessidade, às urgentes necessidades do povo”, não deixando espaço para lei ou governo, para liberdade ou mesmo
para razão. Essa é uma leitura comovente, mas, creio eu, fantasiosa da história. A Revolução Francesa não foi uma
revolução social, e o Terror foi instituído não por compaixão para com os pobres, mas por propósitos de “segurança
pública”, a segurança do regime. Le peuple, em cujo nome Robespierre estabeleceu a república, não era o povo no
sentido ordinário, ainda menos les misérables, mas um povo singular e abstrato, representado por uma vontade geral
apropriadamente singular e abstrata. HIMMELFARB, Gertrude. Os caminhos para a modernidade: os iluminismos
britânico, francês e americano. Tradução de Gabriel Ferreira da Silva. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 241-242.
87
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009 (Coleção
Díke), p. 99.
290 | História do Direito: reflexões histórico-compreensivas sobre o fenômeno jurídico
88
A opacidade do direito, em poucas palavras, significa que o sistema de direitos, notadamente pela pobreza e mar-
ginalidade, não incide no vivenciar das pessoas, seja pelo completo desconhecimento de seus direitos, seja por falta
de acesso ao sistema jurídico. CÁRCOVA, Carlos María. La opacidad del derecho. 2. ed. Madrid: Trotta, 2006, p. 47.
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