Tese - de - Mestrado A Casa Palmela

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Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Pedro Urbano da Gama Machuqueiro

A Casa Palmela e o desafio Liberal:


Estratégias de afirmação
Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, secção de século XIX
Orientador: Professor Doutor Luís Espinha da Silveira

Lisboa, Dezembro de 2005

2
Capa: Retrato do Duque de Palmela e Família. Ferdinand Krumholz (1810-1878). Portugal, 1847. Óleo
sobre tela. Alt: 1450mm; larg: 1820. Proveniência: Colecção Palmela. Colecção Particular.
Legenda: Sala de Música do Palácio do Rato. Da esquerda para a direita: D. Eugénia Teles da Gama, D.
Filipe de Sousa Holstein, D. Pedro de Sousa Holstein, D. Domingos de Sousa Holstein, D. Teresa de
Sousa Holstein, D. Maria Luísa Noronha Sampaio e D. Francisco de Sousa Holstein. Sentados no chão,
pela mesma ordem: D. Tomás de Sousa Holstein, D. Maria Luísa de Sousa Holstein e D. Luísa de Sousa
Holstein.

Agradecimentos

Não é de admirar que um trabalho como este seja resultado, não de uma, mas de
um conjunto de pessoas que, directa ou indirectamente, contribuíram para a realização
do mesmo.
O primeiro agradecimento dirijo-o ao Professor Doutor Luís Espinha da Silveira,
não só pelo rigor científico com que orientou esta tese, mas também pela
disponibilidade, motivação e compreensão que demonstrou ao longo da produção da
mesma.
A nível institucional, a minha gratidão vai para o IAN/TT, nas pessoas da
Professora Doutora Miriam Halpern Pereira e da Drª. Anabela Ribeiro que acreditaram
neste projecto e fizeram os possíveis para levantar qualquer entrave na consulta da
documentação, para além de todos os funcionários e técnicos desta instituição. Mas
também ao Dr. João Calvão, da Direcção de Cultura e Assuntos Sociais da Fundação
Oriente; à Drª Maria Isabel Fevereiro, do Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios
Estrangeiros; à Drª Madalena Braz Teixeira, Directora do Museu Nacional do Traje; à
Drª Leonor Mello, do Serviço Histórico/Cultural/Museu, da Cruz Vermelha Portuguesa;
à Drª Maria Teresa Caetano da Câmara Municipal de Sintra; à Drª Sara Brás do
Gabinete de Imagem e Comunicação, da Caixa Geral de Depósitos; ao Dr. Carlos José
de Sousa Mendes, Secretário da Procuradoria-geral da República; à Drª Maria Favila
Vieira da Cunha Paredes, do Arquivo Regional da Madeira; ao Arquivo
Histórico/Biblioteca da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; ao Arquivo Histórico
Militar, ao Arquivo Central da Marinha e ao Departamento de Comunicação e da
Cultura do Patriarcado de Lisboa.

3
À empresa José Maria da Fonseca, nomeadamente ao Eng. António Soares
Franco; Prof. Doutora Conceição Andrade Martins; Drª Ana Fernandes Pinto e Drª Rita
Almeida de Carvalho.
Nos contactos efectuados a nível internacional, não posso deixar de referir
Wendy Butler do University College of London; Dr. A R Morton, arquivista do Royal
Military Academy of Sandhurst e Prof. Bert van den Braak, da Universidade de Leiden.
À minha família, o principal sustentáculo ao longo de todo o trabalho, um muito
obrigado.
Agradeço também a Ana Margarida Cruz, Nuno Miguel Lima, Marta Furtado,
Sandra Coelho, José Daniel Soares Ferreira, Maria Manuel Bastos, Raquel Carmona,
Nuno Ramalhete, Lígia Ventura Ferreira e muitos outros que ficarão por dizer.
Por último, um agradecimento especial ao Sr. Dom Manuel Sousa Holstein Beck
(Palmela), pela franca disponibilidade demonstrada.

4
Índice

Página

Agradecimentos 3

Índice 5

Índices de Árvores Genealógicas, Quadros e Gráficos 7

Siglas e Abreviaturas 5

1. Introdução 10
1.1. Estado da Questão: as nobrezas estrangeiras e nacionais oitocentistas. 10
1.2. A Casa Palmela 22
1.3. Objectivos e problemáticas 24
1.4. Metodologia 27
1.5. Divisão Interna 28

2. As raízes: séculos XV – XVIIII. Breve evolução genealógica 29

3. O Tronco familiar no século XIX: os indivíduos 40

4. Os Enlaces: a reprodução familiar, as estratégias sociais e os


79

5
cônjuges
4.1 Fecundidade e Nupcialidade 79
4.2 Casamento e escolha dos cônjuges. 86
4.3 Os Cônjuges, a monarquia e o poder: cargos, ofícios e carreiras. 103

5. Desenlace: as tentativas de dissolução do Matrimónio de D.


Domingos 112

6. Dotar, partilhar e legar: a transmissão do matrimónio 151

7. Receber e manter. Rendimentos e propriedades da Casa 175


7.1. Dificuldades quotidianas 176
7.2. Rendimentos e propriedades 184

8. Palácios e respectivo recheio: a vida material e social 197


8.1. Sociabilidade, cultura e lazer 206

9. Conclusão 218

Bibliografia 224
Fontes Manuscritas 224
Fontes Impressas 226
Periódicos 226
Outras Fontes Impressas 227
Dicionários, Genealogias e outros Instrumentos de Trabalho 234
Estudos Nacionais 237
Estudos Estrangeiros 242

6
Índices de Árvores Genealógicas, Quadros e Gráficos

Página

Árvore Genealógica I – Ascendência e descendência dos primeiros Barões de


Alvito 31
Árvore Genealógica II – Descendência de D. Francisco de Sousa (1561-s.d.) 33
Árvore Genealógica III – Descendência de D. Filipe de Sousa (1666-1714) e
ascendência de D. Pedro de Sousa Holstein (1781-1850), 1º Duque de Palmela 37
Árvore Genealógica IV – Ascendência de D. Eugénia Teles da Gama (1798-1848)
e sua descendência 48
Árvore Genealógica V – Ascendência e descendência da Segunda Duquesa de
Palmela 67
Árvore Genealógica VI – Ascendência e descendência do Terceiro Duque de
Palmela 69
Árvore Genealógica VII – Ascendência e descendência do Quarto Duque de
Palmela 71
Árvore Genealógica VIII – Ascendência e descendência de D. Brás da Silveira
Lorena 90
Árvore Genealógica IX – Ascendência e descendência de D. Luís Pereira de
Lacerda 92
Árvore Genealógica X – Ascendência e descendência de D. Caetano Saldanha
Vasconcelos de Lencastre 92
Árvore Genealógica XI – Ascendência e descendência de D. Francisco Melo
Castro 93

7
Árvore Genealógica XII – Ascendência e descendência de Maria Eugénia
Braamcamp de Melo Breyner 95
Árvore Genealógica XIII – Ascendência e descendência de D. Ana Maria
Gonçalves Zarco da Câmara 96
Árvore Genealógica XIV – Irmãos do Conde da Póvoa 113
Árvore Genealógica XV – Parentesco entre a Condessa da Póvoa e a Duquesa de
116
Palmela
Árvore Genealógica XVI – Filhos de António Teixeira de Sampaio 117

Índice dos Quadros


Quadro I – Primeiros Duques de Palmela e respectivo/as filho/as e genros/noras 66
Quadro II – Filhas e genros dos Segundos Duques de Palmela 69
Quadro III – Filhos e genro dos terceiros Duques de Palmela 71
Quadro IV – Idade de Casamento da Casa Palmela 83
Quadro V – Dotes relativos às filhas dos Primeiros Duques de Palmela 155
Quadro VI – Escrituras de renúncia de legítimas dos herdeiros dos primeiros
Duques de Palmela a favor de seu irmão primogénito, D. Domingos de Sousa
159
Holstein
Quadro VII – Morgados pertencentes à Casa Palmela 189
Quadro VIII – Morgado Póvoa, instituído por Henrique Teixeira de Sampaio 191
Quadro XIX – Prédios livres rústicos e urbanos pertencentes à Casa Palmela, em
191
1863
Quadro X – Prédios livres rústicos e urbanos pertencentes à Casa Póvoa, em 1860 193
Quadro XI – Quadros a óleo pertencentes aos Duques de Palmela 202
Quadro XII – Bustos e estátuas em pedra 205

Índice dos Gráficos


Gráfico I – Rendimentos brutos de todos os bens e propriedades em Portugal em
1854 185
Gráfico II – Origem dos Rendimentos brutos das Casas Palmela e Póvoa 186
Gráfico III – Rendimentos e Encargos das Propriedades da Casa Palmela 186
Gráfico IV – Rendimentos e Encargos das Propriedades da Casa Póvoa 187

8
Siglas e Abreviaturas

ACM – Arquivo Central da Marinha


ACP – Arquivo Casa Palmela
AJMF – Arquivo José Maria da Fonseca
AMS – Arquivo Mouzinho da Silveira
BN – Biblioteca Nacional
COD – Códice
IAN/TT – Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo

9
1. Introdução

Se queremos que tudo fique como está


é preciso que tudo mude1.

O leitmotif da obra de Tomasi de Lampedusa, imortalizada no grande ecrã pela


objectiva de Visconti, sintetiza a sua ideia central, acerca do declínio das antigas elites,
em particular da aristocracia, a favor da ascensão das classes médias, a partir da segunda
metade do século XIX e a forma como uma facção daquela procurou, sem sucesso,
manter a sua posição.
O tema da presente dissertação é precisamente o da evolução da Aristocracia em
Portugal, em concreto da Casa Palmela, no contexto do Liberalismo, com maior
precisão, no período que medeia entre 1810 e 1887, datas que, como veremos, reflectem
a cronologia ditada pela própria evolução da Casa e também pelos rumos da
nacionalidade.

1.1. Estado da questão: as nobrezas estrangeiras e nacionais


oitocentistas.

1
LAMPEDUSA, Tomasi di, O Leopardo, Lisboa, Livraria Bertrand, 1960, p. 35.

10
O debate acerca do impacto do Liberalismo na antiga sociedade de ordens foi
relançado no início dos anos 80 do século XX com a obra de Arno Mayer. Até então,
tendia-se a exaltar a ruptura com o período imediatamente antecedente, traduzindo-se
numa absorção ou aniquilamento da aristocracia por parte da burguesia emergente. Este
autor procurou, no entanto, demonstrar as continuidades do Antigo Regime, ao longo de
todo o século XIX e, inclusive, o vigor e a capacidade da aristocracia de se adaptar às
novas condições políticas2. De facto, a nobreza continuava a ser a principal proprietária
fundiária, o que se traduzia na possibilidade de uma educação, de um estilo de vida, de
uma mentalidade e de um código de conduta identificadores de si mesma. Para lá das
diferenças resultantes do nascimento, da fortuna e da influência junto da sociedade civil
e política, a coesão do grupo mantinha-se devido à existência dos mesmos interesses
materiais e a partilha da mesma visão do mundo, que era facilitada precisamente não só
pela sua posição política, social e cultural privilegiada, mas igualmente pela sua pujança
económica que, apesar de se encontrar em declínio, permanecia importante. Perdeu
parte das suas prerrogativas militares, administrativas e jurídicas, mas manteve a sua
consciência enquanto grupo, o que permitiu manter a sua preponderância face à
burguesia em ascensão, mas, no confronto entre ambas, terá sido esta que se teve de
adaptar à antiga ordem e que acabou por se moldar ao padrão nobre. A persistência da
nobreza permitiu-lhe tirar partido da ambição da burguesia em se promover, permitindo
que se verificasse uma mais generalizada nobilitação desta, do que o contrário, ou seja,
o emburguesamento da nobreza. Arno Mayer realça ainda as características da
aristocracia, grupo de elite da nobreza, mais fechado sobre si mesmo, mais próxima das
cabeças reinantes, que alia os privilégios de nascimento conferidos pelo sangue azul às
grandes fortunas fundiárias, quer em imóveis rurais, quer em imóveis urbanos. O
prestígio das suas relações e da sua fortuna permite-lhes investimentos económicos em
sectores de ponta, como a indústria e a banca. A longo prazo, os casamentos entre
aristocracia e altos magnatas vão-se tornando possíveis.

Após a publicação da obra de Arno Mayer a produção historiográfica tendeu a


desenvolver-se em torno do tema da aristocracia e da sua relação com o liberalismo,
sobretudo em países como Espanha, França e Inglaterra. As actas do Colóquio realizado

2
Cf. MAYER, Arno, La persistance de l’Ancien Régime. L’Europe de 1848 à la Grande Guerre,
Paris, Flammarion, 1990.

11
em Roma no final da década de 1980 permitiram o alargamento a outros âmbitos
geográficos, seja o caso da Itália, Alemanha e Áustria, e o diálogo entre historiadores
acerca destas questões3.

Relativamente à França, a comunicação de Adeline Daumard analisa a situação


da nobreza após a Revolução de 1789, sobretudo depois do desaparecimento dos
privilégios de nascimento decretado nos anos que lhe seguiram. Apesar do exílio e da
legislação que coarctou aqueles seus privilégios, a nobreza vai conseguir manter uma
identidade oficial, resultado dos vários regimes políticos que se sucederam, permitindo-
lhe exercer certa influência política, pelo menos a nível local e que assenta precisamente
sobre a sua riqueza fundiária. Aliás, a sucessão de regimes permitiu o aparecimento de
novas nobrezas que souberam integrar-se progressivamente nas antigas famílias, ao
contrário da burguesia, que permaneceu separada daquelas.
Ainda no mesmo colóquio, André-Jean Tudesq defende a sobrevivência da
nobreza como realidade social, uma vez que se verifica na primeira metade do século
XIX um alargamento dos seus quantitativos, consequência da outorga régia de títulos,
das alianças matrimoniais, mas essencialmente da usurpação de títulos nobiliárquicos.
Outro fenómeno terá sido o alargamento do estilo de vida aristocrática na sociedade de
classes4.
David Higgs5 analisa igualmente a nobreza francesa após a revolução, nos três
primeiros quartéis do século XIX, e a sua evolução ao longo dos vários regimes, quer a
nível económico e político, quer familiar e religioso. Conclui que, apesar da diminuição
dos efectivos da nobreza causada pela emigração e pela impossibilidade de viver
nobremente e, apesar da diminuição do seu poder político, ao deixar de desempenhar
cargos governativos, continua a exercer alguma proeminência, que lhe é conferida pela

3
Cf. Les noblesses européennes au XIXe siècle / Actes du colloque organisé par L'Ecole française de
Rome et le Centro per gli studi di politica estera e opinione pubblica de l'Université de Milan... (Rome
21-23 novembre 1985), Roma, École Française de Rome, 1988.
4
Cf. TUDESQ, André-Jean, « L’élargissement de la noblesse en France dans la première moitié du
XIXe siècle », in Les noblesses européennes au XIX e siècle / Actes du colloque organisé par L'Ecole
française de Rome et le Centro per gli studi di politica estera e opinione pubblica de l'Université de
Milan... ... (Rome 21-23 novembre 1985), Roma, École Française de Rome, 1988, pp. 121-135.
5
Cf. HIGGS, David, Nobles, Titrés, aristocrates en France après la Révolution, 1800-1870, s. l.,
Liana Levi, 1990.

12
posse da terra e pela própria consciência enquanto grupo social. O principal contributo
de Higgs é o de defender a ideia de que o estudo da aristocracia após a revolução de
1789 não poder ser o do sucesso ou fracasso como grupo social, mas sim a percepção da
aristocracia como um grupo particular, com um estilo de vida próprio e um
comportamento familiar diferenciado dos restantes grupos sociais, apesar das alterações
verificadas ao longo do século XIX.
Christian de Bartillat 6 comenta o comportamento da aristocracia desde a
Revolução Francesa até à actualidade, numa perspectiva quase cronística e laudatória
dos antepassados gloriosos, acentuando as dificuldades originadas pela revolução de
1789. Baseando-se em grande parte em memórias e autobiografias, esta obra prima por
descrever as mutações verificadas no seio da aristocracia, acompanhando as alterações
políticas verificadas em França desde então, realçando a importância deste grupo ao
longo de todo o período em questão e a transformação da aristocracia em nobreza. Por
outras palavras, a transformação de uma casta pouco homogénea e detentora do poder
num grupo que, apesar da sua fraca pujança, possui alguns valores em comum.
O método de trabalho utilizado por este autor será contestado por Claude-
Isabelle Brelot7. Esta autora privilegia outro tipo de fontes, como as eleitorais e fiscais,
procurando analisar as consequências da revolução para o grupo da nobreza, quer no
que respeita à antiga aristocracia, quer no caso das novas elites nobres que emergem,
através da observação dos cargos e funções desempenhados, dos seus rendimentos e
estratégias fundiárias, a gestão do seu património e o tipo de vida que caracteriza o
grupo. Constata uma redefinição e até mesmo uma adaptação da aristocracia às novas
realidades trazidas pela Revolução, independentemente das suas escolhas políticas, que
terá inclusive permitido a emergência de uma nova nobreza, que se fundiu com a já
existente. A este conjunto nobre homogeneizado correspondem várias características,
como a interiorização dos valores meritocráticos, a rentabilização do património
fundiário e a igualdade no modelo sucessório. Todavia, esta fusão de elites não significa
um emburguesamento da nobreza.

6
Cf. BARTILLAT, Christian de, Histoire de la noblesse française 1789-1989, Paris, A. Michel, 1988.
7
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse réinventée. Nobles de Franche-conté de 1814 a 1870,
Paris, Pie imprenta Annales litteraires de l'Université de Besauson, Centre National de la Recherche
Scientifique, 1992.

13
Guy Chaussinad-Nogaret8 defende que 1789 marca o ponto de viragem entre
uma aristocracia sem unidade, dividida, com grandes clivagens internas, e um grupo que
funde as antigas e as novas elites. Ainda assim, a nova ordem social mimeteia a antiga
sociedade de ordens, uma vez que a propriedade fundiária se manteve como o principal
critério da definição da elite e do próprio cidadão, distinguindo-se essencialmente pelo
seu carácter funcional. Deste modo, a aristocracia anterior à revolução conseguiu
sobreviver graças à sua fortuna, educação e cultura, apesar do recrutamento da elite já
não ser a hereditariedade e o privilégio, mas sim a competência, a riqueza e o mérito.
Natalie Petiteau9 adopta o método prosopográfico para compreender o processo
de adaptação da nobreza francesa após a Revolução. De facto, constata a existência de
alguns nobres de Antigo Regime que souberam subsistir. Grande parte da nova nobreza
que emerge depois da revolução terá tido origem na meritocracia militar administrativa,
que procura, além da consolidação da sua fortuna, adoptar um estilo de vida próprio do
seu estatuto e bastante próximo do estilo de vida da antiga nobreza, com a qual se
fundiu desde cedo.

Em relação à historiografia inglesa que, apesar de profícua, se afasta da


realidade portuguesa, é de destacar a obra de Lawrence Stone e Jeanne Stone, que
originou um grande debate historiográfico em meados da década de oitenta do século
passado, sobre a aristocracia inglesa, entre os séculos XVI e XIX10. De facto, até então
prevalecia a ideia de que a elite inglesa era, no seu conjunto, um grupo social aberto, o
que a tornava singular no contexto das suas congéneres europeias, exactamente por essa
mobilidade social que a caracterizaria e que iria influenciar a preponderância económica
da Grã-Bretanha nos séculos XVIII e XIX. A historiografia inglesa, ao analisar as
mutações ocorridas na composição do grupo mais elevado que compunha a sociedade
Britânica nas datas consideradas, apontava para a perpetuação da sua hegemonia
política, social e económica, graças à abertura da nobreza, que deixou penetrar nas suas
fileiras os grandes empreendedores comerciais, industriais e financeiros. Caracterizada

8
Cf. CHAUSSINAND-NOGARET, Guy, « De l’aristocracie aux élites » in Histoire des élites en
France du XVIe au XXe siècle, s.l., Tallandier, 1991, pp. 217-318.
9
Cf. PETITEAU, Natalie, Élites et mobilités: la noblesse d’Empire au XIX siècle (1808-1914), Paris,
la Boutique de l’Histoire, 1997.
10
Cf. STONE, Lawrence, STONE, Jeanne, An open elite? England 1540-1880, Oxford, Clarendon
Press, 1986.

14
por ser, eminentemente, um grupo terratenente e uma nobreza de toga (e não de espada,
como sucedia na restante Europa), a herança era apenas transmitida ao primogénito,
originando uma grande mobilidade social (geralmente descendente), dos ramos laterais,
provenientes dos filhos secundogénitos. A posse de riqueza fundiária, o seu estilo de
vida, que passava por uma formação superior, a posse de casas características e o
facilitado acesso ao poder tornavam-na uma elite económica, de estatuto e poder, que
conseguiu sobreviver mais ou menos incólume a todas as crises até 1880. O contributo
de Stone para a questão foi o de questionar a razão dessa sobrevivência. Efectivamente,
na sua perspectiva, tal não adveio pelo facto da nobreza ser um grupo aberto, ou pelo
seu recrutamento se estender a outros grupos sociais, como até então a historiografia
inglesa tinha procurado explicar. A estabilidade da preponderância do grupo deveu-se
essencialmente, na perspectiva de Stone, às atitudes psicológicas e culturais que tomam
corpo no próprio estatuto jurídico. Por outras palavras, a ausência de privilégios legais
explícitos e o próprio esforço de cada uma das famílias em preservar o seu património
permitiram esta estabilidade ao longo do tempo.
Ainda na década de oitenta, um outro estudo, da autoria de J. V. Beckett 11,
analisava a aristocracia em Inglaterra, entre 1660 e 1914, data esta que, na sua
perspectiva, marcava irremediavelmente o declínio daquele grupo nos vários sectores do
poder político, económico e social. A preponderância da aristocracia advinha-lhe
directamente do estatuto que a posse da terra lhe conferia, permitindo-lhe o desempenho
de cargos políticos e a manutenção de um estilo de vida que a caracterizava e a
distinguia do restante tecido social. Segundo o autor, ainda que teoricamente fosse um
grupo aberto, que permitia a mobilidade no seu seio, na verdade, a entrada nas suas
fileiras e a consequente promoção era algo difícil de ocorrer e a posse da terra, ainda
que fosse um requisito essencial, não era a garantia para a admissão no grupo. De facto,
tanto a carreira na política, como as alianças matrimoniais, eram efectivamente as
principais vias de acesso. A sobrevivência do poder do grupo até ao século XX dever-
se-á a ter sabido acompanhar e inclusive contribuir para as transformações económicas
verificadas desde o século XVII, seja na promoção da revolução agrícola, na exploração
dos recursos minerais, no desenvolvimento da rede de transportes ou até mesmo de
novas cidades, o que terá permitido que, já no século XIX, continuasse a ser o mais rico
grupo terratenente.

11
Cf. BECKETT, J. V., The aristocracy in England 1660-1914, Oxford, Basil Blackwell, 1989.

15
David Cannadine12 procura traçar os aspectos distintivos da aristocracia inglesa
no período do seu declínio e queda, enquanto uma elite com auto-consciência da sua
riqueza, poder e estatuto. Publicada na década de noventa, esta obra reúne vários
ensaios do autor acerca deste tema e sintetiza as suas principais questões. Apesar das
dívidas que assolaram muitas das famílias aristocráticas durante o século XIX, elas
continuaram à frente das maiores fortunas do país, reunindo largas propriedades
fundiárias, em todo o território da Grã-Bretanha.
Por seu lado, Peter Mandler13 analisa a ascensão e declínio das casas de campo
inglesas ao longo do século XIX como traço característico do grupo social em questão,
facto apontado pelos autores antecedentes. Esta abordagem da cultura da elite procura
ver a aristocracia não como algo distante das restantes realidades, mas como algo que é
moldado e sofre as influências do aparelho governamental, das atitudes populares e da
própria cultura interna. Daí que a casa de campo seja aqui interpretada não
exclusivamente como um mero objecto decorativo, mas como uma unidade económica
dependente da especulação imobiliária, das vicissitudes agrícolas ou do mercado das
artes.

Em relação à historiografia espanhola destacamos vários trabalhos. Desde logo o


de Pedro Ruiz Torres que, no já mencionado colóquio internacional, analisa a nobreza
da província de Valência no século XIX, verificando que os grandes titulares tenderam a
desaparecer como consequência da legislação liberal anti-senhorial, a par da pequena
nobreza, que experimentou um declínio económico resultante da desvinculação. Em
contrapartida, a nobreza recente, de origem burguesa, conseguiu inclusive desempenhar
um papel decisivo impulsionando o capitalismo agrário 14. No entanto, para melhor
compreender a relação que se estabelece entre aristocracia e liberalismo em Espanha,
deveremos debruçarmo-nos sobre o outro texto deste mesmo autor acerca deste

12
Cf. CANNADINE, David, Aspects of Aristocracy, London, Yale University Press, 1994.
13
Cf. MADLER, Peter, The fall and rise of the Stately Home, New Haven, Yale University Press,
1997.
14
Cf. RUIZ TORRES, Pedro, “La aristocracia en el País Valenciano: la evolucion dispar de un grupo
privilegiado en la España del siglo XIX», pp. 137-163, in Les noblesses européennes au XIXe siècle /
Actes du colloque organisé par L'Ecole française de Rome et le Centro per gli studi di politica estera e
opinione pubblica de l'Université de Milan... ... (Rome 21-23 novembre 1985), Roma, École Française de
Rome, 1988,137-163.

16
assunto15. Ele constituiu um resumo da historiografia espanhola dos últimos anos em
torno da questão do impacto do liberalismo na aristocracia, perscrutando a continuidade
ou a ruptura com o Antigo Regime, defendendo uma visão conciliatória entre as duas
correntes historiográficas.
Santiago Aragón Mateus16 analisa a nobreza da província da Estremadura
espanhola no século XVIII e, essencialmente, a média nobreza, prendendo a atenção nos
aspectos sociais e económicos, decorrentes do regime senhorial. Realça a importância
da família, não só entendida como um conjunto de pessoas com vínculos sanguíneos,
mas essencialmente como um património económico, tornando-se por isso dependentes
entre si. 17 Estuda, por isso, todas as etapas da vida humana em que haja uma alteração
do património, nomeadamente o casamento (através da análise de contratos dotais) e a
morte (através da análise dos testamentos). À análise das estratégias de reprodução
familiares, segue-se a da base estrutural: a economia propriamente dita, onde procurou
qualificar rendimentos e despesas, comprovar a solidez da fortuna deste grupo e a
existência ou não de características específicas desta mesma economia. Deste modo,
verifica a manutenção dos valores de uma sociedade em que a posse da terra continuava
a ser a principal riqueza, e o sistema rentista, ainda que menos rentável que a exploração
directa, era o modo de exploração favorito.
Inacio Atienza Hernández 18 examina a ascensão e o declínio de uma grande casa
aristocrática espanhola ao longo de quatro séculos, observando-a sob diversos aspectos
económicos e sociais. O autor privilegia o estudo do senhorio, como base fundamental
da expressão aristocrática e a sua transformação em propriedade, como consequência
das alterações introduzidas na lei verificadas aquando do liberalismo espanhol, de onde
se destacam a abolição do senhorio em 1837.

15
Cf. RUIZ TORRES, Pedro, “Aristocracia e Revolução Liberal em Espanha” in Penélope nº 12,
Lisboa, Edições Cosmos, 1993, pp. 101-115.
16
Cf. ARAGÓN MATEOS, Santiago, La nobleza estremeña en el siglo XVIII, Mérida, Consejo
ciudadano de la Biblioteca Pública Municipal Juan Pablo Forner, 1990.
17
Cf. IDEM, Ibidem, p. 28.
18
Cf. ATIENZA HERNÁNDEZ, Ignacio, Aristocracia, poder y riqueza en la España Moderna: la
casa de Osuna, siglos XV-XIX, Madrid, Siglo XXI de España, 1987.

17
A tese de doutoramento de Juan Carmona Pidal19 analisa a transformação agrária
ocorrida no século XIX em Espanha, sob o ponto de vista de uma casa aristocrática, a
saber, a de Alcañices. O principal intuito é o de perceber o papel desempenhado pelos
terratenentes na transformação agrária, partindo da hipótese de que a aristocracia não
era de todo hostil às novas oportunidades que o recente sistema político e institucional
lhe trazia. De facto, a sua situação económica depauperada, consequência dos elevados
gastos sumptuários, e a própria sobrevivência política de relevo junto da corte, tê-los-á
sensibilizado para que incrementassem determinadas responsabilidades no
desenvolvimento agrário, dentro das suas possibilidades. Desta forma, tratou-se de
analisar a formação do património da casa e a gestão do mesmo, tendo em conta o
sistema de morgadio. Estudou igualmente as suas despesas, procurando relacioná-las
com as dificuldades financeiras que toda a aristocracia terá sentido em finais do Antigo
Regime. Outro dos objectivos desta obra terá sido o de verificar de que modo a
revolução liberal afectou jurídica e economicamente o património desta Casa. A
novidade deste estudo reside, tal como o seu autor aponta, na análise das estratégias
económicas da Casa, tendo em conta as diversas rentabilidades dos seus activos, o que
vem a realçar a importância da terra até bastante tarde no século.
O artigo de Maria Jesus Baz centra-se na questão do património de uma das mais
importantes casas aristocráticas espanholas: a casa de Alba 20. Nele se demonstra como o
velho esquema de exploração rentista da terra terá conseguido sobreviver muito para
além da implantação do regime liberal no país vizinho, consequência de um processo de
desvinculação lento, o que terá permitido que esta Casa aristocrática tenha conservado o
seu património vinculado até bastante tarde e, consequentemente, gozado das
prerrogativas daí advenientes. Só a partir de 1890 é que os bens adquiriam a condição
de livres e seriam vendidos para fazer frente aos graves problemas financeiros.

A bibliografia estrangeira levanta algumas questões pertinentes e apresenta


essencialmente metodologias de análise. É preciso ter em conta que não pretendemos
servir-nos dela como suporte à tentativa de um estudo comparativo entre as aristocracias

19
Cf. CARMONA PIDAL, Juan, Aristocracia Terrateniente y cambio agrario en la España del siglo
XIX. La Casa de Alcañices (1790-1910), Ávila, Junta de Castilla y Leon Consejeria de Educación y
cultura, 2001.
20
Cf. JESÚS BAZ, Maria, “A dissolução do Património da casa de Alba na Galiza, 1890-1926”, in
Penélope, nº 12, Lisboa, Edições Cosmos, 1993. pp. 65- 79

18
estrangeiras e a nacional, visto que os contextos de cada Estado onde se inserem têm
condicionantes próprias, que dificultam o confronto.

No caso de Portugal, assiste-se a uma grande escassez de estudos. A excepção é


o livro recentemente publicado de Francisco L. de Sousa Vasconcelos 21, que apresenta o
panorama geral da aristocracia portuguesa no período em questão. Por um lado, incide
sobre a questão da delimitação do grupo, de onde ressalta a indefinição das suas
fronteiras inferiores; por outro, debatidas estas questões, procede à análise da
composição do mesmo, fazendo o arrolamento dos indivíduos que o compunham entre
1792 e 1910. Levanta problemas relevantes, ao realçar que mais importante do que a
explosão da atribuição de títulos nobiliárquicos no século XIX, fora exactamente a
consagração exclusiva da nobreza hereditária, que excluía a nobreza civil de outrora e
que marcava as franjas inferiores do grupo. Outrossim, a referida explosão de títulos, até
então monopólio de algumas famílias, foi efectuada através da agraciação de indivíduos
não da alta nobreza, mas da fidalguia. Aliás, como já haviam demonstrado Helena
Diogo, Maria de Fátima Faria, Maria João Moreira e Maria Margarida Fernandes, a
concessão de títulos verificou-se essencialmente em alturas de conturbação política,
como forma da Coroa reforçar os laços com personalidades militares ou do mundo dos
negócios que de alguma forma contribuíram para o sucesso da causa Liberal 22. Ainda
que as Constituições Liberais tenham coarctado muitos dos seus poderes, suprimido os
seus privilégios e derrubado o grosso dos seus rendimentos, a aristocracia conseguiu
adiar até 1863 a abolição dos vínculos e morgados, iniciada em 1834; prolongar até
1910 o pariato hereditário e manter, até a essa data, os principais cargos palatinos.
Todavia, o preço a pagar por tais regalias era por vezes insustentável para os próprios
nobres que, muitas das vezes, recusavam a mercê, por as despesas decorrentes do
consequente encarte serem demasiado elevadas.

21
Cf. VASCONCELOS, Francisco de, A Nobreza do século XIX em Portugal, Lisboa, Centro de
Estudos de Genealogia Heráldica e História da família da Universidade Moderna do Porto, 2003.
22
Cf. DIOGO, Helena I. B., FARIA, Mª de Fátima M. Fernandes, MOREIRA, Mª João S. Guardado,
FERNANDES, Mª Margarida Dias, “Para o estudo da nobreza Portuguesa Oitocentista – Barões e
Viscondes no Reinado de D. Maria II” in Ler História, nº 10, Lisboa, Edições Salamandra, 1987, pp. 139
– 158.

19
Inultrapassável é o trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro, que constitui a sua
dissertação de doutoramento23. Efectivamente, é aqui elaborado um retrato
pormenorizado dos titulares com Grandeza em finais de Antigo Regime, na transição
para o Liberalismo. Não só se define e caracteriza claramente o grupo em questão,
nomeadamente analisando os modelos de reprodução familiar e as formas de
administração do património dos Grandes, para além dos ofícios por eles
desempenhados no seio da Monarquia, como se defende que o rápido declínio das elites
aristocráticas de Antigo Regime constitui uma marca singular do advento do
Liberalismo em Portugal. Nuno Gonçalo Monteiro lança importantes pistas para a
compreensão e análise da aristocracia neste período, nomeadamente, o recurso a
estratégias activas na reprodução do grupo; realça a importância da condição social
adveniente do nascimento na selecção para os ofícios superiores da monarquia, a
acelerada ruína económica da aristocracia, como consequência da sua base de
rendimentos provir dos bens da Coroa, que foram desamortizados com a legislação
liberal.
Alguns artigos deste mesmo autor foram compilados sob o título Elites e
Poder24. Em alguns deles, o tema da aristocracia encontra-se em debate, continuando-se
a defender o declínio acentuado da maior parte das velhas casas da aristocracia titular,
quer a nível económico, social e político, quer simbólico, com o advento do
Liberalismo, o que marca a diferença comparativamente à restante Europa. A abolição
dos dízimos, dos forais e dos bens da coroa fizeram extinguir mais de metade das fontes
de receita do grupo, aumentando o nível de endividamento que se fazia sentir desde o
século anterior. Também já Luís Espinha da Silveira tinha chamado a atenção para a
extinção dos vínculos, decorrente essencialmente da legislação liberal, que coloca novos
problemas na visão da aristocracia durante o Liberalismo 25. Com efeito, a abolição dos
morgados coloca em xeque o principal sistema sucessório da aristocracia, que
possibilitava a detenção de todo o património de uma Casa nas mãos de um único

23
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes. A casa e o património da
aristocracia em Portugal (1750-1832), Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998.
24
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, Elites e Poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa,
Imprensa de Ciências Sociais, 2003.
25
Cf. SILVEIRA; Luís Nuno Espinha, Revolução Liberal e Propriedade. A Venda dos bens Nacionais
no distrito de Évora. (1834-1852), Lisboa, Dissertação de doutoramento em História apresentada à
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1988.

20
herdeiro. Aliás, a própria abolição dos vínculos poderá inclusive ser resultado das
transformações ocorridas no próprio seio da aristocracia e sintoma da sua incapacidade
de adaptação à nova conjuntura.
A par do declínio económico, Nuno Gonçalo Monteiro defende também a
decadência política deste grupo, quer na presidência dos governos, quer na própria
composição destes e, inclusive, na própria Câmara dos Pares, como igualmente havia
mostrado Luís Espinha da Silveira, desta feita nos seus estudos acerca deste órgão
político26. Em conjunto com o declínio da aristocracia, Nuno Gonçalo Monteiro
defende, de igual modo, a precoce erosão das distinções nobiliárquicas, que demarca
irremediavelmente o caso português do resto da Europa.
Para tal poderão ter concorrido igualmente as opções políticas do próprio grupo
com o advento do Liberalismo e, em particular, a adesão ou à facção liberal ou à facção
miguelista. Maria Alexandre Lousada27 analisou o grupo nessa perspectiva, constatando
que a esmagadora maioria seguiu, de facto, o partido absolutista de D. Miguel, sendo
essa escolha o resultado de diversos factores, de onde ressalta essencialmente o percurso
de cada indivíduo, para o qual concorrem a educação, as relações familiares, as práticas
culturais, o estilo de vida, a origem dos rendimentos, entre outros. Esta autora chama a
atenção para o facto de que, em finais do Antigo Regime, embora o acesso ao grupo não
fosse difícil, os privilégios daí advenientes eram pouco significativos, e o preço do
encarte demasiado elevado, fazendo com que muitos indivíduos recusassem tal
privilégio, como atrás foi mencionado. Como características principais da aristocracia, a
autora aponta para a sua origem num serviço prestado à Coroa, que é retribuído com a
agraciação, tornando o grupo necessariamente dependente desta; a residência quase
exclusiva em Lisboa, e o desempenho de cargos na Corte ou na administração central.

26
Cf. SILVEIRA, Luís Nuno Espinha da, Suas Excelências. Os Dignos Pares do Reino, 1834-1842,
Lisboa, Prova Complementar de Doutoramento a apresentar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, 1989; e Cf. SILVEIRA, Luís Espinha da, “Revolução Liberal e Pariato
(1834-1842)” in Análise Social, nº 116-117, vol. XXVIII, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais 1992, 2º –
3º., pp. 329-353.
27
Cf. LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As opções políticas da Nobreza
titulada Portuguesa” in Penélope, nº 4, Lisboa, Quetzal Editores, 1989, pp 82-111.

21
Quanto ao estudo de Casas aristocráticas, existe o trabalho de Maria Teresa
Sales Lopes acerca da Casa de Oeiras e Pombal28, que incide sobre século XVIII e se
debruça essencialmente sobre questões económicas, nomeadamente a composição e a
gestão do património. Analisa o processo de formação da Casa e a sua evolução, quer a
nível dos poderes jurisdicionais, quer a nível da economia senhorial propriamente dita.
Destaca-se ainda o estudo da Casa de Bragança, por Mafalda Soares da Cunha29, que
procura analisar as estratégias de consolidação do poder operadas por esta Casa,
essencialmente através da análise das redes de clientelismo da mesma, nos séculos XVI
e XVII. Demonstra como o casamento constituía um contrato de investimento não só
social previamente estudado, mas também económico, ao implicar a disponibilização de
um leque de recursos materiais que permitia a manutenção do novo casal. Daí que
defenda que os enlaces matrimoniais constituíam formas de consolidação do poder da
casa.

Os restantes estudos acerca de casas aristocráticas portuguesas reportam-se


essencialmente à época medieval. Nestes casos, o estudo de uma linhagem em
particular, com forte recurso às genealogias foi preponderante, uma vez que se tratam
das principais fontes para a época. Deste modo, não surpreende que o método seguido
tenha sido essencialmente o prosopográfico, procurando-se levantar pistas para o
sucesso do grupo, analisando a reprodução social através das estratégias matrimoniais, o
seu património, a sua dinâmica geográfica e as relações com a Corte, através das
carreiras prosseguidas, procurando deste modo delimitar as características definidoras
do grupo em questão30.

28
Cf. LOPES, Maria Teresa Fernandes Pereira de Sena Sales, A Casa de Oeiras e Pombal: Estado,
senhorio, e Património, Lisboa, s. n. Tese de mestrado em História, apresentado à Universidade Nova de
Lisboa, 1987.
29
Cf. CUNHA, Mafalda Soares da, A Casa de Bragança. 1560-1640. Práticas senhoriais e redes
clientelares, Lisboa, Editorial Estampa, 2000.
30
Cf. PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor, Linhagens Medievais Portuguesas (Genealogias e
Estratégias (1279-1325), Porto, Dissertação de doutoramento em História da Idade Média, apresentada à
Faculdade de letras da Universidade do Porto, 1997; SOUSA; Bernardo Vasconcelos, Os Pimentéis.
Percurso de uma linhagem da nobreza medieval Portuguesa (Séculos XVIII-XIV), Lisboa, Universidade
Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1995.

22
1.2. A Casa Palmela

Se exceptuarmos a biografia do primeiro Duque de Palmela, realizada por Maria


Amália Vaz de Carvalho 31, de onde sobressai a dimensão humana desta figura; o estudo
genealógico acerca dos Duques oitocentistas 32; as entradas nos diversos dicionários, que
apenas ressaltam as áreas onde cada um dos indivíduos se notabiliza, quer seja o
percurso político, no caso do primeiro Duque, quer a veia artística, cultural e
filantrópica da terceira Duquesa, e o catálogo da exposição das colecções que esta
família possuía33, pouca produção historiográfica existe acerca desta Casa em particular.
A sua origem, outrora conhecida pela dos Sousas Calharizes, remonta ao
longínquo século XV, na pessoa de D. Filipe de Sousa, filho segundo dos primeiros
barões de Alvito, D. João Fernandes da Silveira e D. Maria de Sousa Lobo 34. Ao longo
de várias gerações, quer pelos cargos desempenhados, quer pela vinculação à casa de
alguns morgados, conseguiram consolidar a sua posição social e económica. Embora
nunca tendo chegado à titulação, tratava-se inequivocamente, nas vésperas da
Revolução Liberal, de uma família da primeira nobreza de corte.
Terá sido, certamente, a adaptação à nova ordem liberal que permitiu a
consagração desta família, iniciada ainda em finais de Antigo Regime, sobretudo se
atentarmos no percurso individual do primeiro titular, D. Pedro de Sousa Holstein, a
quem foram outorgados sucessivamente, os títulos de Conde, Marquês e Duque, de juro
e herdade. Sucessor dos vínculos de seus antepassados, do ofício da Casa Real de
Capitão da Guarda Alemã e da carreira diplomática de seu pai, que lhe terá permitido o
acesso à titulação, D. Pedro de Sousa Holstein é uma das figuras de proa do Liberalismo
português, alinhando clara e activamente pelo lado de D. Pedro, que o nomeia Par do

31
Cf. CARVALHO, Maria Amália Vaz de, Vida do Duque de Palmela D. Pedro de Souza e Holstein,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1898.
32
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo Branco e, BAENA, Visconde de Sanches,
Memórias Histórico-genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX, Lisboa, Tipographia da
Academia Real das Ciências, 1883.
33
Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família de
Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela, Lisboa, Instituto Português de Museus,
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2001.
34
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo Branco e, BAENA, Visconde de Sanches,
Memórias Histórico-genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX, Lisboa, Tipographia da
Academia Real das Ciências, 1883, p. 398.

23
Reino em 1826, chegando mesmo a ser nomeado Presidente da mesma Câmara em
183335. Aliás, é precisamente na Câmara dos Pares que se vislumbra a rede de
parentesco alargada que esta Casa detém36. D. Pedro de Sousa Holstein exerceu ainda o
cargo de Presidente do Conselho de Ministros em 1834, 1842, e 1846. Casou em 1810,
com D. Eugénia Telles da Gama, filha segunda dos sétimos Marqueses de Nisa, casa da
primeira nobreza de Corte, de quem teve uma numerosa prole. O herdeiro da casa, D.
Domingos de Sousa Holstein, secundogénito (o primogénito, D. Alexandre de Sousa
Holstein, Conde de Calhariz, morrera cedo na idade e sem deixar descendência) seguirá
as pisadas do pai, sendo ele igualmente Par do Reino. O seu casamento com D. Luísa
Maria de Sampaio Noronha, filha e herdeira do Conde da Póvoa, rico financeiro, viu-se
envolvido em grande celeuma, não só pelo engrandecimento económico que acarretou,
mas sobretudo pelos moldes em que se viria a realizar. Desse casamento nasceriam três
filhas, das quais apenas duas chegariam à idade adulta. D. Maria Luísa de Sousa
Holstein, como primogénita, seria a herdeira da Casa. Casou com António de Sampaio e
Pina de Brederode, segundo filho dos primeiros Viscondes da Lançada que,
curiosamente, desempenhou funções características da Casa à qual viria a pertencer: as
de Ministro plenipotenciário em Madrid, e Par do Reino. A sua única filha sobrevivente,
que viria a herdar a casa à sua morte37, D. Helena Maria de Sousa Holstein de Sampaio
e Pina, casou a 20 de Julho de 1887 com Luís Coutinho Borges de Medeiros Sousa Dias
da Câmara, filho dos então primeiros Condes da Praia e de Monforte e que
desempenhou funções no seio da monarquia, como Vedor de D. Carlos e de D. Manuel
II, e também outro tipo de cargos, tais como director do Banco do Faial ou do Banco de
Portugal.

35
Cf. ARANHA, Inocêncio Francisco da Silva Brito, Dicionário Bibliográfico Português, Lisboa,
Ofir – Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001. (CD – ROM),
tomo XVII, p. 5.
36
Cf. SILVEIRA, Luís Nuno Espinha da, “Revolução Liberal e Pariato (1834-1842)” in Análise
Social, nº 116-117, vol. XXVIII, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1992, 2º - 3º., pp. 329-353; Cf.
IDEM, Suas Excelências. Os Dignos Pares do Reino, 1834-1842, Lisboa, Prova Complementar de
Doutoramento a apresentar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, 1989. Mais recentemente, a conferência proferida por MOREIRA, Fernando, “As dinastias
liberais: as relações de parentesco entre os membros do parlamento sob a Monarquia Constitucional
(Portugal, 1834-1910)” in 2º Colóquio Social das Elites, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 2003.
37
Não possuímos dados acerca da data certa do encarte no título de Duquesa de Palmela, mas terá
sido por autorização de D. Manuel II, no exílio.

24
Por todas estas razões, trata-se de uma casa de excepção, quer no seu percurso
durante o Antigo Regime, quer sobretudo durante o Regime Liberal. É por este seu
carácter excepcional, de uma família com um estatuto diferenciado, que o soube não só
manter, mas engrandece-lo até quase às vésperas da Primeira República, que a sua
investigação é interessante.

1.3. Objectivos e problemáticas

O principal objectivo do nosso trabalho é o da integração do estudo da Casa


Palmela no contexto geral do Liberalismo e, em particular, no grupo social em que se
insere. Deste modo, o âmbito cronológico do nosso trabalho é, como já foi referido, o
período compreendido entre o casamento de D. Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque
de Palmela, em finais de Antigo Regime (1810), logo seguido da elevação da Casa à
Grandeza (1812), e as vésperas do declínio da Monarquia Constitucional,
nomeadamente, a data do casamento daquela que virá a ser a quarta duquesa,
coincidente com o ano do testamento de sua mãe (1887), à época detentora do título.

Primeiramente, torna-se necessário traçar um breve retrato da evolução da


família desde o século XV, não só para perceber o modo de constituição da Casa e a
instituição dos morgados a ela pertencentes, mas essencialmente para compreender o
que encontramos ao tempo da primeira barreira cronológica do nosso estudo. Esta
descrição torna-se ainda mais necessária se tivermos em conta que o período mais
estudado relativamente à nobreza portuguesa é precisamente o do Antigo Regime.
Depois de identificados os indivíduos que compõem a família no período que
aqui tratamos, pretendemos analisar as suas alianças matrimoniais, averiguando se
existem, ou não, estratégias nas escolhas dos cônjuges e se, porventura, existirá um
padrão de comportamento comum ao longo das gerações. Se, efectivamente, durante o
Antigo Regime a aristocracia desenvolveu uma forte endogamia social, não só tendo em
vista a manutenção do estatuto social, mas também o engrandecimento do património,
como demonstraram os autores atrás citados, gostaríamos de perceber se a Casa Palmela
perpetuou esses padrões tradicionais ou se o Liberalismo rompeu com os cânones
anteriores no que respeita à reprodução social. Esta matéria da alta nobreza parece

25
particularmente interessante neste caso concreto, mais uma vez pelo carácter particular
desta casa. Por um lado, a profícua prole do primeiro Duque terá certamente
condicionado o modelo de reprodução social adoptado, por outro, verificou-se a perda
da linha varonil com a descendência feminina do segundo Duque. Daremos ainda relevo
aos cargos desempenhados pelas diferentes gerações da Família e, inclusive, aos dos
indivíduos que com ela se enlaçaram. Assim sendo, poderemos verificar o poderio
político desta Casa, através dos lugares que estes indivíduos desempenharam, apesar
dos efeitos trazidos pelo Liberalismo. A nível jurídico, com a Carta de 1826 que
proclamava a igualdade dos cidadãos, o grupo havia perdido todos os privilégios que
detinha38. Contudo, ainda que se tenha verificado um declínio geral do peso da primeira
nobreza na elite política do liberalismo, sobretudo a partir da segunda metade do século
XIX, sabemos existirem vários elementos desta Casa na Câmara dos Pares, o que parece
ser sintomático do seu poderio ou simplesmente contingências de uma família alargada.
Com especial atenção analisaremos também o casamento do segundo Duque,
realçando as tentativas de anulação do mesmo, intentadas pela família da nubente, uma
vez que este matrimónio constituiu um marco essencial na consolidação do poderio
económico desta Casa.
Relacionado ainda com a questão dos casamentos, iremos estudar os momentos
de transmissão de património desta casa, como sejam os contratos dotais, as escrituras
de renúncia às legítimas maternas e os testamentos. A análise jurídica dos contratos
dotais e as principais cláusulas aí patentes permite verificar a existência de padrões
comuns, ou não, na mesma geração, e nas gerações subsequentes. Consideraremos
igualmente os poucos testamentos disponíveis, que não incluem um inventário do
património da Casa. Neste âmbito, julgamos importante realçar a questão da abolição
dos vínculos, coincidente com a morte dos segundos Duques de Palmela e que suscitará
algumas questões jurídicas.
Em seguida, apresentaremos os rendimentos que esta Casa possuía em meados
do século e o peso relativo de cada uma das suas componentes. A legislação liberal não
foi benevolente para com o património aristocrático, cuja maior parte dos rendimentos
era, às vésperas do liberalismo, gerado por bens da Coroa, Comendas ou Tenças39. A
extinção destas e as leis de desamortização, iniciadas em 1821 e que se publicariam até

38
Cf. SILVEIRA; Nuno Espinha da, Suas Excelências. Os Dignos Pares do Reino, 1834-1842, p. 18.
39
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, Elites e Poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, p. 148.

26
1863, trouxeram consequências para o património e rendimentos do grupo em questão,
e para a Casa Palmela em particular.
Iremos igualmente debruçarmo-nos sobre o recheio de um dos palácios que a
Casa Palmela possuía na capital, com o objectivo de esboçar as condições da vida
material da mesma, o que nos poderá lançar pistas importantes para a compreensão dos
níveis de sociabilidade e cultura desta família, que sabemos de antemão dedicada à
literatura40, às artes41, e ao coleccionismo 42.

Respondendo a estas questões, pensamos não só compreender os


comportamentos desta Casa em particular, mas lançar pistas importantes para o
entendimento da aristocracia portuguesa no contexto do Liberalismo e perceber se a
abolição através das leis e decretos dos privilégios que este grupo detinha, teve, de
facto, consequências reais para o grupo, a nível social, económico e político.

1.4. Metodologia

Para atingir tais objectivos tornou-se fundamental proceder, a nível


metodológico e num primeiro momento, à construção da genealogia da Casa no período
considerado, uma vez que se trata de um estudo de conjunto, no qual se pretendem
compreender dinâmicas de grupo no seio familiar. Após a realização desta tarefa foi
necessário delimitar convenientemente o grupo em análise. Neste caso, decidimos
incidir o nosso estudo apenas em cada um dos Duques e respectivos filhos. Pensamos

40
O primeiro Duque de Palmela, além de ter encetado relações de amizade com grandes vultos
literários da cultura europeia, como é o caso da Madame de Stäel, precursora do romantismo, dedicou-se
também à tradução de alguns Cantos de Os Lusíadas, que foram publicados no periódico O Investigador
Português em Inglaterra, Londres, H. Bryer, 1811 e que explica a sua presença figurativa no conjunto de
alto-relevos que ornamentam a entrada da Biblioteca Nacional, em Lisboa, da autoria de Leopoldo de
Almeida.
41
A terceira Duquesa de Palmela foi, como referimos, uma exímia escultora, pupila de Anatole
Calmels e amiga de Rodin.
42
Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família de
Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela, Lisboa, Instituto Português de Museus,
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2001

27
que este será o âmbito indicado para a nossa análise, pois a ele correspondem os
membros principais desta Casa.
Realizada esta primeira tarefa com o auxílio das convenientes genealogias,
iniciou-se a interrogação das fontes primordiais, que compõem o arquivo particular da
Casa, que vem agora a público através do IAN/TT, com o intuito de responder às
questões levantadas anteriormente. Privilegiámos as cartas patentes, diplomas e mercês
régias; as memórias, apontamentos biográficos e notícias históricas; os inventários de
bens, propriedades e rendimentos; os inventários de recheio de palácios; as escrituras
antenupciais/ dotais/ esponsais; as escrituras de renúncia / desistência de legítimas; os
testamentos; os autos de deliberação do conselho de família do Conde da Póvoa, as
escrituras e correspondência com eles relacionados; e, finalmente, a correspondência
particular entre familiares, que possibilitará colmatar os silêncios da restante
documentação.
Finalmente, recorremos a outros núcleos de fontes, que possibilitam ultrapassar
as omissões do acervo documental inicial, como seja o caso do Arquivo Central da
Marinha, o Arquivo Histórico-Militar e o Arquivo Mouzinho da Silveira.

1.5. Divisão interna

Debruçando-se sobre a Casa Palmela no período compreendido entre 1810 e


1887, esta dissertação insere-se essencialmente no âmbito da História Social, mas não
deixa de tocar temas da História Económica, Política e Cultural. Será dividida
internamente em nove capítulos, se tivermos em conta a introdução e a conclusão.
O segundo capítulo será consagrado a um breve resumo da evolução histórica da
família desde o século XV ao momento em que iniciamos o estudo propriamente dito. O
terceiro capítulo será dedicado à constituição do grupo familiar e à apresentação dos
indivíduos que o compõem. Segue-se a abordagem dos enlaces matrimoniais e o estudo
de estratégias matrimoniais, no quarto capítulo. Aqui procuraremos analisar índices
como a nupcialidade e fecundidade, para além da identificação e caracterização dos
cônjuges. O quinto capítulo será dedicado ao casamento dos segundos Duques de
Palmela, que procurará mostrar o empenho do primeiro Duque de Palmela na
concretização deste consórcio. No sexto capítulo iremos analisar os momentos de

28
transmissão do património, como os contratos dotais, as desistências de legítimas e os
testamentos, sublinhando o impacto da legislação tendente à desvinculação. O sétimo
capítulo será dedicado à composição dos rendimentos da casa, nomeadamente às
dificuldades económicas quotidianas, e aos rendimentos e propriedades desta Casa.
Finalmente, o oitavo capítulo trata o recheio de um dos palácios desta Casa, como
forma de apreender a sua vida matérias, suas formas de sociabilidade e cultura.
Deste modo, pensamos responder a algumas questões pertinentes que nos
permitirão conhecer melhor esta singular família e, de certa forma, lançar pistas para o
aprofundamento do futuro conhecimento da aristocracia portuguesa durante o período
da monarquia Constitucional, para cuja construção esta Casa terá, certamente,
contribuído.
2. As Raízes: séculos XV-XVIII – Breve evolução genealógica

Antes de analisar os enlaces matrimoniais que envolveram a Casa Palmela ao


longo do século XIX, torna-se necessário fazer uma pequena apresentação da história
desta Casa e, em seguida, definir o grupo em análise, fazendo uma exposição acerca de
cada um dos indivíduos sobre os quais incidirá o nosso estudo.
Como se sabe, a Casa Palmela ou dos Sousas Calharizes, como também foi
conhecida, teve a sua origem na Casa dos Barões de Alvito 43, nomeadamente na pessoa
de D. Filipe de Sousa, filho secundogénito do primeiro Barão de Alvito, D. João
Fernandes da Silveira44, e de D. Maria de Sousa Lobo, sua segunda mulher e herdeira da
Casa de seu pai. Moço fidalgo e Cavaleiro do Conselho de D. João II, Comendador de

43
Para saber mais acerca da fundação desta Casa, vide PELÚCIA, Alexandra, “A baronia do Alvito e
a expansão manuelina no Oriente ou a reacção organizada à política Imperialista” in A Alta Nobreza e a
fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, org. João Paulo Oliveira e Costa e Vítor
Luís Gaspar Rodrigues, Lisboa, Centro de História de Além-mar / Instituto de Investigação Científica
Tropical, 2004.
44
Doutor em Leis, Regedor, Chanceler Mor de D. Afonso V, Escrivão da Puridade do mesmo rei,
Vedor da Fazenda no reinado de D. João II, foi-lhe outorgado o título de Barão de Alvito de juro e
herdade, em 27 de Abril de 1475 e confirmado em 10 de Abril de 1482. Foi, por diversas vezes,
embaixador. Cf. GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de famílias de Portugal, vol. X,
Braga, edição de Carvalhos de Basto, 1992, p. 360; TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-
Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, Lisboa, Tipografia da Academia Real das Ciências, 1883, p. 398.

29
S. Martinho de Sande da ordem de Cristo e arcebispado de Braga; Vereador de Lisboa e
Senhor da Jugadas de Coimbra, D. Filipe de Sousa casou com D. Filipa da Cunha 45, a
20 de Outubro de 1463 e com ela instituiu o morgado de Monfalim, no termo de Torres
Vedras, no seu testamento datado de 25 de Julho de 151646.
Seu filho primogénito, D. Francisco de Sousa, Vedor da Fazenda de D. João III,
herdou os morgados de Monfalim e de Calhariz, pertencente ao seu avô materno. Casou
com D. Beatriz de Mendonça 47, e sucedeu-lhe nos morgados o seu filho primogénito, D.
Filipe de Sousa, Trinchante do rei D. Sebastião e Mestre-Sala do Príncipe D. João48. Foi
o filho primogénito do matrimónio de D. Filipe com D. Maria Barreto 49 que herdou os
morgados de seu pai (Monfalim e Calhariz) e de sua mãe (Tavira). Governador da Ilha
Terceira50, Cavaleiro na ordem de Cristo, e moço fidalgo acrescentado a fidalgo
escudeiro, Familiar do Santo Ofício, D. Francisco de Sousa, “o de Calhariz”51 (1561-
s.d.)52 casou com D. Violante Henriques53.

45
O pai de D. Filipa da Cunha, Gil Vaz da Cunha, foi senhor da Quinta do Calhariz em Sesimbra. Cf.
GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de famílias de Portugal, vol. X, p. 361. As
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX apelidam-na de Silva, e não de
Cunha. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 399.
46
Cf. IDEM, ibidem, p. 400.
47
Neta paterna de Diogo de Mendonça, Alcaide-mor de Mourão. Cf. GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário de famílias de Portugal, vol. X, p. 361. Era filha de Francisco de Mendonça, irmão
de D. Joana, Duquesa de Bragança. Viria a ser herdeira da casa de seu pai. Cf. TORRES, João Carlos Feo
Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógica dos
Duques Portugueses do Século XIX, p. 406.
48
Cf. IDEM, ibidem, p. 423.
49
Morgada dos Barretos em Tavira, filha de Álvaro Barreto da Costa. Cf. IDEM, ibidem, p. 424.
50
As Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX referem, em
contrapartida, a ilha da Madeira, assim como as Memórias Genealógicas da Casa Calhariz. Cf.
TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias
Histórico-Genealógica dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 437; Memórias Genealógicas da Casa
Calhariz, Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa Palmela, Microfilme 5540,
Livro 185, s.p.
51
Memórias Genealógicas da Casa Calhariz, IAN/TT, ACP, Microfilme 5540, Livro 185, s.p.
52
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 438. A árvore genealógica
apresentada por Uma família de Coleccionadores induz em erro, pois sugere que D. Filipe de Sousa, seu
irmão, é mais velho que ele, quando, na verdade, é mais novo. De facto, D. Filipe de Sousa nascera em

30
Árvore Genealógica I - Ascendência e descendência dos Primeiros Barões de Alvito
Diogo
?
Lopes Lobo

Estevão Maria Afonso D. [..] D. Lopo D. Maria D. Maria Rui Dias


Pires Gonçalves [imperceptível] Rodrigues Dias Sousa Ribeira Vasques Lobo

Catarina Fernão Afonso D. Isabel Diogo


Teixeira Silveira de Sousa Lopes Lobo

D. João da 2º D. Maria Gil Vaz Isabel da


Silveira de Sousa da Cunha Silva

Francisco de D. Leonor D. Diogo D. Filipe de Outros D. Filipa


Mendonça de Almeida Lobo Sousa filhos da Cunha

Álvaro Barreto D. Catarina D. Beatriz de D. Francisco Outros


da Costa Pereira Mendonça de Sousa filhos

D. Maria D. Filipe de Outros Pedro Inês


Barreto Sousa filhos Mascarenhas Carvalho

D. Francisco D. Margarida D. Violante


de Sousa de Mendonça Henriques

Seu filho primogénito, D. Filipe de Sousa, “o desbarbado”54 (s.d.-1666), moço


fidalgo acrescentado fidalgo escudeiro, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Provedor do
Hospital de S. Lázaro de Coimbra herdou os morgados de seu pai e casou com D.
Francisca de Sá, morrendo sem geração.

Sucedeu-lhe seu irmão D. António de Sousa55 (s.d.-1637), fidalgo escudeiro, que

1563, como é aí apresentado, e igualmente referido nas Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques
Portugueses do Século XIX. Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein,
Uma família de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela, Lisboa, Instituto Português
de Museus, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2001; TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-
Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, p. 426.
53
Filha de Pedro Mascarenhas, Comendador de Aljustrel. Cf. GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário de famílias de Portugal, vol. X, p. 361. Também denominada Violante
Mascarenhas. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches
de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 438.
54
Cf. Memórias Genealógicas da Casa Calhariz, IAN/TT, ACP, Microfilme 5540, Livro 185, s.p.
55
Felgueiras Gaio apresenta-o como o filho primogénito, tendo apenas mais uma irmã. Cf. GAYO,
Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de famílias de Portugal, vol. X, p. 361. No entanto, nas
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX surge como o oitavo de onze
filhos, sendo, inclusive, o filho varão mais novo. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-
Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, pp. 439-443. Na árvore genealógica apresentada por Maria Antónia Pinto Matos e Maria

31
estudou em Coimbra, mas logo depois passou a servir nas armadas, onde morreu. Casou
com D. Leonor de Melo Coelho 56e foi pai de D. Francisco de Sousa (07/08/1631-
05/02/1711), que sucedeu nos morgados de sua Casa, Calhariz e Monfalim, e nos de sua
mãe, Fonte de Anjo e Olivais57. Foi ele quem passou a desempenhar as funções de
Capitão da Guarda Real Alemã, por impedimento de seu tio D. Lourenço de Sousa 58.

de Sousa e Holstein Campilho não é referido como sucessor de seu irmão D. Filipe de Sousa nos
morgados de Calhariz, Monfalim e Tavira. Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de
Sousa e Holstein, Uma família de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela. As
informações disponibilizadas por Felgueiras Gayo e Visconde de Sanches Baena contradizem-no.
56
Era filha de Francisco de Faria Coelho e D. Violante de Melo. Foi sucessora no morgado dos
Olivais, do qual seu pai tinha sido o quinto administrador, por morte de sua prima D. Maria de Lima e de
uma capela deixada por sua tia paterna, D. Paula de Faria. Foi igualmente sucessora no morgado da Fonte
do Anjo, por intermédio da morte de sua prima em segundo grau, D. Luísa da Silva Melo, quarta
administradora desse morgado e neta paterna do irmão de sua mãe, Manuel Coelho Melo e D. Violante
Melo, respectivamente. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde
de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógica dos Duques Portugueses do Século XIX, pp. 443-445.
Na árvore genealógica de Uma família de Coleccionadores não se faz menção ao morgado dos Olivais,
mas sim ao de Azeitão. De facto, segundo as Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, os administradores do morgado dos Olivais residiam numa quinta em Azeitão e,
concluindo adiante, que o Lugar dos Olivais contava de olivais e terras, partindo tudo com a quinta,
cabeça do Morgado. Pressupõe-se, por isso, que se trata do mesmo morgado. Cf. TORRES, João Carlos
Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas
dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 444.
57
As Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX referem que teria
herdado os morgados de Calhariz e Monfalim de seu tio. Cf. IDEM, ibidem, p. 448. Na árvore
genealógica de Uma família de Coleccionadores refere-o também como morgado dos Anjos e Santarém.
Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família de
Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela.
58
Foi terceiro Capitão da Guarda Real Alemã, através do casamento datado de 27 de Julho de 1634
com a sua prima, D. Mariana de Sousa, detentora desse cargo e filha de D. Álvaro de Sousa (1568-s.d.),
Comendador de S. Salvador de Infesta na Ordem de Cristo e 2º Capitão da Guarda. Filho de D. Francisco
de Sousa (irmão de D. Filipe de Sousa), que havia sido o primeiro capitão da Guarda de Pé (nome
inicialmente dado à Guarda Alemã), em cartas de 10 e 11 de Novembro de 1578. De facto, tal deve-se a
D. Filipe I de Portugal e II de Espanha que, quando regressou a Castela, deixou a corporação, formada
por arqueiros alemães, ao Governador de Portugal, o Cardeal Alberto, Arquiduque da Áustria. Cf.
TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias
Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, pp. 407, 415. Uma família de
Coleccionadores refere-o como sendo sucessor de D. Filipe de Sousa nos morgados de Calhariz,
Monfalim e Tavira. As Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX não o

32
Exerceu diversos e inúmeros cargos59, tendo casado em 1664 com D. Helena de
Portugal, viúva de D. António de Alcáçova Carneiro Carvalho da Costa. Dos vários
filhos, legítimos e ilegítimos, o primogénito, D. Filipe de Sousa (24/06/1666-
12/10/1714), 5º Capitão da Guarda Real Alemã foi sucessor dos vínculos que
administrava seu pai. Foi também Cavaleiro da ordem de Cristo, moço fidalgo da Casa
de D. Afonso VI, Comendador de Santa Maria de Belmonte e de S. Salvador de Infesta,
Alcaide-mor da Sertã e Ervededo e ainda Familiar do Santo Ofício. Casou com D.
Catarina de Meneses (29/02/1677-s.d.)60, que lhe deu vários filhos, sucedendo-lhe na
administração da Casa D. Francisco de Sousa (25/02/1700-14/11/1729)61.

referem no seu capítulo. No entanto, e mais adiante, referem que D. Francisco de Sousa sucedeu a seu tio
nos morgados de Calhariz e Monfalim. Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa
e Holstein, Uma família de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela; Cf. TORRES,
João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-
Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 448.
59
Moço fidalgo da Casa Real, acrescentado a fidalgo escudeiro; Alcaide-mor do Crato e Belver,
Comendador de Santa Maria de Belmonte e de S. Salvador de Infesta; Conselheiro Régio de D. Afonso
VI, D. Pedro II e D. João V; membro do Conselho de Estado e Guerra; Deputado da Junta dos Três
Estados, Vedor da Casal Real, Presidente da Câmara de Lisboa, Regedor da Mesa da Consciência e
Ordens e Presidente do mesmo Tribunal; Familiar do Santo Ofício, Provedor do Hospital de S. Lázaro,
Embaixador Extraordinário de Inglaterra. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco,
BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século
XIX, pp. 446-449.
60
Filha dos primeiros Marqueses de Alegrete, Manuel Teles da Silva e D. Leonor Coutinho. Casou
com D. Filipe a 15 de Agosto de 1690. Cf. IDEM, ibidem, p. 455. Cf. GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 361.
61
Uma família de Coleccionadores apresenta como data de nascimento 1703, a mesma que o seu
irmão D. Manuel de Sousa. Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein,
Uma família de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela.

33
Árvore Genealógica II - Descendência de D. Francisco de Sousa (1561-s.d.)
Francisco D. Branca D. Francisco D. Violante D. Álvaro 2º D. Maria Francisco de Violante
Pereira de Sá de Berredo de Sousa Henriques de Sousa de Sousa Faria Coelho de Melo

D. Francisca D. Filipe de D. Lourenço Mariana D. António D. Leonor de D. João de D. Violante


de Sá Sousa de Sousa de Sousa de Sousa Melo Coelho Almeida Henriques

Sem D. Manuel D. Luísa Sem D. Francisco D. Helena de


Outros
Geração Teles da Silva Coutinho Geração de Sousa Portugal

D. Catarina D. Filipe
de Meneses de Sousa
Outros

D. Francisco
de Sousa Outros

D. Francisco pertenceu à Academia Real de História 62 e casou com D. Francisca


de Sá Pereira63. Morreu sem geração, sucedendo, por isso, seu irmão D. Manuel
(21/07/1703-175964), quer no cargo de Capitão da Guarda Real Alemã, quer nas
Comendas, Alcaiadarias e Morgados65. Foi ainda Deputado da Junta dos Três Estados,
Familiar do Santo Ofício e Escrivão da Mesa da Santa Casa da Misericórdia. Casou na
Corte de Viena de Áustria com a Princesa Leopoldina de Holstein Beck (02/08/1717-
07/02/1789)66. Seu filho primogénito, D. Filipe João de Sousa (23/06/1736-1778)67

62
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 457.
63
Senhora do Prazo de Corval. Cf. GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias
de Portugal, vol. X, p. 361. Não se faz qualquer referência a casamento nas restantes fontes.
64
1759 é a data apresentada em Uma família de Coleccionadores, que coincide com a referência nas
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, onde se diz que teria morrido
poucos meses após a sua prisão no forte da Junqueira a 4 de Setembro de 1758, por desconfianças, a
mando do Marquês de Pombal. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA,
Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p.
460. Contrariamente, Felgueiras Gaio diz ser em 1761. Cf. GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras,
Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 492.
65
Segundo as Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, ao morgado
dos Anjos (que parece fazer confusão com a Fonte do Anjo) pertencia o uso honorífico da Capela-Mor da
freguesia com este nome, na cidade de Lisboa. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-
Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, p. 460.
66
Filha primogénita de Frederico Guilherme (04/05/1682-26/06/1719), Duque de Holstein
Soudenbourg-Beck, herdeiro da Noruega, General de Batalha de Infantaria ao serviço dos Estados Gerais
e da Duquesa Maria Antónia Josefa, Condessa de Sanfré e Marquesa de Isnardi. Cf. TORRES, João

34
herdou a casa de seu pai. Todavia, a sua prematura morte fez com que lhe sucedesse seu
irmão, D. Frederico Guilherme de Sousa (02/12/1737-25/08/1790), inclusive nos cargos
de Governador e de Capitão Geral do Estado da Índia 68. Não tendo filhos legítimos,
quem sucedeu na Casa foi o irmão sobrevivente destes, D. Alexandre de Sousa Holstein
(04/12/1751-13/12/1803)69, fidalgo escudeiro da Casa Real70.
Do primeiro casamento de D. Alexandre com D. Isabel Juliana Bazeliza José de
Sousa (1753-10/04/1793)71 nasceram vários filhos, a saber, D. Pedro de Sousa Holstein

Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-
Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 461; Cf. GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 462; Cf. SOUSA, D. António Caetano de,
História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo X, Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, 1953, p.
492. Nuno Gonçalo Monteiro refere que este casamento sem dote foi negociado pelo então Conde de
Tarouca, parente próximo dos Sousa Calharizes e que, numa carta por ele enviada, menciona o facto de o
enlace possibilitar a manutenção da pureza de sangue da família. Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, O
Crepúsculo dos Grandes (1750-1832), Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1998, p. 137.
67
Foi nomeado Governador e Capitão Geral do Estado da Índia, que também não chegou a exercer.
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias
Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 463; Cf. GAYO, Manuel José da
Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 462; Cf. SOUSA, D. António Caetano
de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo X, p. 492.
68
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 467; Cf. GAYO, Manuel
José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 462; Cf. SOUSA, D. António
Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo X, p. 492.
69
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 496; Cf. GAYO, Manuel
José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, p. 462. Não é referido na História
Genealógica da Casa Real Portuguesa.
70
Cf. Alvará de filhamento de moço escudeiro a D. Pedro de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP,
Microfilme 5562, Caixa 16, fol. 206.
71
Filha de D. Vicente José Roque de Sousa Coutinho Monteiro Paim e de D. Teresa Vital da Câmara,
ficou conhecida pelo cognome de “Bichinho de Conta”. De facto, chegou a casar-se com José Francisco
de Carvalho e Daun, Conde da Redinha e filho segundo do Marquês de Pombal. Todavia, o casamento
não foi consumado, devido à resistência de D. Isabel Juliana, que conseguiu mais tarde a anulação do
mesmo, opondo-se ousadamente ao Marquês de Pombal. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de
Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques
Portugueses do Século XIX, p. 499; CARVALHO, Maria Amália Vaz de, Vida do Duque de Palmela D.
Pedro de Sousa e Holstein, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1898 pp. 15-22; MARTINS, Rocha, Os

35
(08/05/1781-12/10/1851)72, D. Mariana Vicência de Sousa Holstein (05/05/1784-
28/04/1829)73; D. Maria Teresa Frederica Cristina de Sousa Holstein (19/09/1786-
30/11/1841)74 e D. Catarina Juliana de Sousa Holstein (28/03/1789- s.d.)75; e, do
segundo casamento, desta feita com a sua sobrinha D. Balbina Cândida de Sousa
(20/01/1775-02/05/1853)76 nasceram D. Maria Helena de Sousa Holstein (29/03/1797-

grandes amores de Portugal – O bichinho de conta, 6º fasc., 2º vol., Colecção História, Lisboa, Edição do
Autor, s.d..
72
Cf TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 505.
73
D. Mariana casou com o tio D. Luís Roque de Sousa Coutinho Monteiro Paim (01/02/1783-
05/04/1850). Era 6º Morgado de Alva, e 3º Conde do mesmo título por Decreto de 9 Junho de 1797.
Elevado a Marquês de Santa Iria em sua vida, por decreto de 4 de Abril de 1833. Cf. IDEM, ibidem, p.
500; cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. 1, Braga, Tipografia da Pax, 1932, p. 84; Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde
Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. I, Lisboa, Empresa
Editora de Francisco Artur da Silva, 1991, p. 75.
74
Dama da Rainha D. Maria II e da Ordem de Maria Luísa em Espanha, D. Teresa casou com o 1º
Conde de Vila Real, D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (09/02/1785-26/09/1855),
senhor dos Morgados de Mateus, Cumieira, Arroios, Moroleiros e Fontelas. Elevado à categoria de Conde
de Vila Real por duas vidas, por decreto de 3 de Julho de 1823. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso
de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques
Portugueses do Século XIX, p. 501; Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique
Travassos, Livro de Oiro da Nobreza, vol. 3, p. 582-583; Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA,
Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 763.
75
Dama da Rainha D. Maria II, D. Catarina casou com o 2º Conde de Linhares, D. Victorio Maria
Francisco de Sousa Coutinho Teixeira de Andrada Barbosa (25/06/1790-30/06/1857), par do Reino,
Ministro e Ministro plenipotenciário. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco,
BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século
XIX, p. 501, AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da
Nobreza, vol. II, p. 104.
76
Era filha ilegítima do irmão de D. Alexandre, D. Filipe de Sousa. Cf. TORRES, João Carlos Feo
Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos
Duques Portugueses do Século XIX, pp. 499-500. Nesta mesma obra refere-se ainda outra data de
nascimento: 30 de Agosto de 1775. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA,
Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p
463.

36
s.d.)77 e D. Filipe Maria de Sousa Holstein (22/11/1820-13/10/1839)78.
Árvore Genealógica III - Descendência de D. Filipe de Sousa (1666-1714)
e ascendência de D. Pedro de Sousa Holstein (1781-1850), 1º Duque de Palmela
Augusto Heduvige Luisa Maria Madalena
Francisco Isnardi
Schlesvig-Holstein- Lippe-Buckeburg- Grundemann von
di Castello
-Sonderburg-Beck -Schaumburg Falkenberg

D. Filipe D. Catarina Frederico D. Rodrigo Sousa


Maria Antónia Luís Câmara Isabel Mendoça
Coutinho
M. Antónia
de Sousa de Meneses Guilherme de Sanfrè Coutinho e Moura Menezes
Menezes Paim

D. Manuel Mariana D. Teresa Vital D. Vicente de


de Sousa Holstein Beck da Câmara Sousa Coutinho

? D. Filipe Frederico D. Francisco D. Augusto D. João D. Alexandre


1º 1º D. Isabel
de Sousa de Sousa de Sousa de Sousa de Sousa de Sousa Sousa Coutinho

D. Balbina 2º
de Sousa

D. Maria D. Filipe de D. Pedro de D. Mariana D. Teresa D. Catarina


Helena Sousa Hosltein Sousa Holstein Vicência Frederica Juliana

É neste momento que se inicia o nosso estudo propriamente dito, com o


nascimento do filho primogénito de D. Alexandre, D. Pedro de Sousa Holstein. Como
percebemos até aqui, esta foi uma família que, ao longo dos tempos, conseguiu
engrandecer a sua Casa. De facto, os elementos que a constituíam conseguiram, desde
cedo, incorporar nela cinco importantes vínculos79; duas comendas80; o cargo de

77
Casou com o 1º Visconde de Beire, Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto Figueiroa
(03/10/1774-12/05/1849). Era o 10º Senhor da Casa e Morgado de Beire, elevado a Visconde em duas
vidas em decreto de 3 de Julho e Confirmação de 23 de Setembro de 1824. Cf. IDEM, ibidem, p. 501; Cf.
AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza, vol. 1, pp.
254; Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. I, p. 228-229.
78
Bacharel em Leis, pertenceu ao conselho de D. João IV. Em 1834 foi par do Reino. Casou com D.
Maria Amália Burchardt, (22/11/1820-13/10/1839) filha do cônsul de Mecklembourg, Jacob Henrique
Burchardt e de sua mulher D. Maria Eufémia de Oliva e Silva. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de
Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques
Portugueses do Século XIX, 1883, p. 501.
79
Morgado de Santa Maria dos Olivais, instituído em 21 de Fevereiro de 1438 e incorporado nesta
casa em 30 de Agosto de 1641; Morgado do Calhariz, composto pela Quinta do Calhariz, comprada em
1480 por Gil Vaz da Cunha, sogro de D. Filipe de Sousa, e confirmada por carta régia de 4 de Maio de
1501; Morgado de Tavira, instituído a 26 de Fevereiro de 1511 por Álvaro Barreto da Costa e Catarina
Pereira; o morgado de Monfalim, instituído por D. Filipe de Sousa e D. Filipa da Cunha em 25 de Julho
de 1516; Fonte do Anjo instituído a 11 de Outubro de 1558 e incorporado já no século XVII. Cf.
TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias
Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, pp. 399, 424 e 443; Cf Anuário da

37
Capitães da Guarda Real Alemã 81 e a representação de um título estrangeiro 82.
Embora nunca tendo sido agraciados com a titulação durante o Antigo Regime,
os Sousas Calharizes foram consolidando a sua importância económica e social,
adveniente da posse dos vínculos referidos e do desempenho de variados cargos. Não
nos referimos somente ao cargo perpétuo de Capitão da Guarda Real Alemã, mas
igualmente aos vários cargos que desempenharam como alcaides83, governadores das
possessões ultramarinas84, cargos na Corte85 ou ainda o desempenho de cargos da

nobreza de Portugal, vol. I, Lisboa, Instituto Português de Heráldica, 1950, p. 35. A obra Uma família de
Coleccionadores, não refere o Morgado dos Olivais. Em contrapartida, refere os Morgados de Azeitão,
Anjos e Santarém. Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma
família de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela. Sobre este assunto, vide capítulo
6.
80
Comendas de Santa Maria de Belmonte no bispado da Guarda e S. Salvador de Infesta no bispado
de Braga, ambas na ordem de Cristo, a 10 de Outubro de 1655. Cf. Anuário da Nobreza de Portugal, vol.
I, p. 35. As Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX referem
respectivamente, as datas de 10 de Fevereiro de 1666 e 4 de Fevereiro de 1666. Cf. TORRES, João Carlos
Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas
dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 447.
81
Criado a 10 de Novembro de 1578 e incorporada na linha varonil como propriedade a 24 de Agosto
de 1669. Cf. Anuário da Nobreza de Portugal, vol. I, p. 35; cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de
Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques
Portugueses do Século XIX, p. 446.
82
Condes de Sanfré no Piemonte pelo casamento dos já referidos D. Manuel de Sousa com a Princesa
Maria Leopoldina de Holstein-Beck, em 4 de Agosto de 1735. Cf. Anuário da Nobreza de Portugal, vol.
I, p. 35.
83
D. Francisco de Sousa (1631-1711) foi Alcaide-mor do Crato e Belver; D. Manuel de Sousa (1703-
1759) foi Alcaide-mor da Sertã e de Ervededo; D. Filipe João de Sousa (1736-1778) também o foi, assim
como D. Frederico Guilherme de Sousa (1737-1790). Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-
Branco, BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses
do Século XIX, pp. 447-464.
84
D. Francisco de Sousa foi Governador da Ilha da Madeira (1561-s.d.). D. Filipe João de Sousa
(1736-1778) nomeado Governador e Capitão Geral do Estado da Índia, cargos que não chegou todavia a
exercer. D. Frederico Guilherme de Sousa (1737-1790) foi Governador e Capitão Geral do Estado da
Índia, nomeado por carta patente de 18 de Março de 1778, governando até 3 de Novembro de 1786. Cf.
IDEM, ibidem, pp. 437 464.
85
D. Filipe de Sousa (s.d.-s.d.) foi Trinchante dos reis D. João III e D. Sebastião, e mestre-sala do
Príncipe D. João. D. Francisco de Sousa (1631-1711) foi do Conselho dos Reis D. Afonso VI, D. Pedro II
e D. João V; dos Conselhos do Estado e da Guerra dos últimos dois reis, Deputado da Junta dos Três

38
carreira diplomática, quer como Embaixadores, quer como Ministros
Plenipotenciários86.
Sintomático foi também aquilo que Nuno Gonçalo Monteiro realçou para esta
família durante todo o Antigo Regime: a procura desta Casa por outras, para enlaces
matrimoniais, por ela se mostrar incólume quanto à pureza de sangue, dentro do
contexto do fenómeno puritano 87.
Prova de uma certa preponderância da família foi a perseguição pombalina,
nomeadamente a D. Manuel de Sousa. Como se sabe, o Marquês de Pombal tentou
cercear de variados modos o poder das casas titulares mais importantes de seu tempo e
os Sousas Calharizes não foram excepção, o que revela certa preeminência na Corte por
parte destes. Por outro lado, o Marquês de Pombal ao ter querido casar o seu segundo
filho, Conde da Redinha com aquela que viria a ser a nora do citado D. Manuel de
Sousa, demonstra, de igual modo, a importância desta família no contexto dos seus
pares.
É, pois, já uma família da primeira nobreza de Corte no fim do Antigo Regime,
sem, no entanto, ter sido agraciada com algum título. Seriam os ventos do novo regime,
que se aproximava, que iriam mudar o destino desta Casa, encarnada na pessoa de D.

Estados, Vedor da Casa Real, Presidente do Senado da Câmara de Lisboa, Regedor da Mesa de
Consciência e Ordens, Provedor do Hospital de S. Lázaro. D. Manuel de Sousa (1703-1759) foi Deputado
da Junta dos Três Estados, Familiar do Santo Ofício, Escrivão da Mesa da Santa Casa da Misericórdia. D.
Frederico Guilherme de Sousa (1737-1790) pertenceu ao Conselho da Rainha D. Maria I. D. Alexandre
de Sousa (1751-1803) foi Conselheiro de Estado. Cf. IDEM, ibidem,, pp. 422-498.
86
D. Alexandre de Sousa Holstein (1751-1803) foi, em 1785, Enviado Extraordinário e Ministro
Plenipotenciário na cidade de Copenhaga; em 1788 na de Berlim, e no ano de 1802 Embaixador em
Roma. Cf. IDEM, ibidem, p. 482.
87
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, O Crepúsculo dos Grandes (1750-1832), p. 135. Para este
fenómeno se verificar nesta família, não terá sido indiferente o testamento com que morreu D. Filipe de
Sousa, datado de 1666, onde os morgados de Calhariz e Monfalim são unidos, ordenando que neles não
suceda “pessoa alguma que tenha raça de nação infecta, mouro, judeu ou mourisco, nem pessoa que seja
casada com quem tenha algum das ditas raças e se depois da sucessão casar com tal pessoa, por isso
mesmo perca o dito morgado, e passe ao imediato sucessor que havia ser dele, se o que em tal forma a
casar fora morto, porém se excluso pelo dito casamento não tiver filhos dessa mulher, e por falecimento
dela tornar a casar com outra de limpo sangue de que tenha sucessão depois de a ter tornará a conseguir
o morgado excluindo o que haviam sucedido nele, e se tiver filhos da primeira dita mulher, e depois da
segunda também, tornará a ele o morgado para depois de sua morte sucederem os filhos que não tiverem
defeito (…)”. Testamento de D. Filipe de Sousa, IAN/TT, ACP, Microfilme 5500, Livro 2, fols. 6 e 6v.

39
Pedro de Sousa Holstein.

3. O Tronco familiar no Século XIX – Os Indivíduos

D. Pedro Maria de Sousa Holstein nasceu em Turim a 10 de Maio de 1781. Foi


baptizado no mesmo dia, em casa 88. Acompanhou desde cedo a família nas várias
missões diplomáticas do pai que, em conjunto com a mãe, o ensinaram a ler e os
primeiros conhecimentos de História e Geografia. Aos dez anos, a sua educação ficou a
cargo de um preceptor oriundo de Genebra. Em 1793 morreu-lhe a mãe, ficando só com
as irmãs no estrangeiro, uma vez que D. Alexandre estava em Portugal para assumir o
governo da sua Casa que, entretanto, nele havia recaído. Em 1795 vem pela primeira
vez a Portugal. Nos três anos que se seguiram prosseguiu a sua educação em casa, com
um padre das Necessidades, no estudo da Filosofia e Retórica, e com um professor da
Academia de Fortificação, na aprendizagem da Matemática, tendo por objectivo a
entrada na Universidade. No entanto, à vista dos primeiros indícios de guerra, foi
forçoso assentar praça, como acontecia a todos os filhos primogénitos que possuíam
bens da coroa e ordens. Fê-lo no regimento de cavalaria da corte, denominado de
Mecklemburgo, em 1796, tendo sido promovido no ano seguinte, ao posto de capitão e
ajudante de Campo do Duque de Lafões89, participando nas campanhas de Portalegre e
Azambuja. Finalmente, em 1799 foi capitão agregado no regimento de Alcântara
(depois nº 1 de Cavalaria), corpo militar no qual se conservou até ao fim da carreira

88
Cf. Certidão de baptismo, Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa
Palmela, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 7.
89
D. João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva (1719-1806).

40
militar.
Em Julho de 1802, ao cargo de moço fidalgo da Casa Real90, foi-lhe
acrescentado o foro de fidalgo escudeiro 91. Nesse mesmo ano acompanhou o pai a
Roma92, como conselheiro da embaixada que D. Alexandre encabeçava, a qual chefiou,
no período que medeia entre a morte deste, em 1803, e a chegada do seu sucessor, José
Manuel Pinto de Sousa, em 1805.
Herdava por isso a Casa de seu pai, a qual todos os seus antepassados tinham
procurado aumentar e engrandecer. Herdava por isso os morgados já referidos no ponto
anterior93, o Condado de Sanfré, no Piemonte; o cargo de Capitão da Guarda Real dos
Archeiros da Companhia Alemã 94; a alcaiadaria mor da Sertã; a Comenda de Santa
Maria de Belmonte e de S. Salvador de Infesta95.
Ao regressar a Portugal, em 1807, reingressou no exército, assentando praça em
vários locais do Reino, tendo sido promovido a major agregado ao regimento de
cavalaria número 1 do exército, em 26 de Abril de 180996. Foi numa altura em que
estava em Lisboa, nesse mesmo ano de 1809, que pediu a mão de D. Eugénia Francisca
Maria Ana Júlia Felizarda Apolónia Xavier Teles da Gama (04/01/1798-20/04/1848),
filha secundogénita dos Marqueses de Nisa, seguindo os conselhos de suas irmãs. Casou

90
Recebia de moradia mil reis mensais e um alqueire de cevada por dia. Alvará de 12 de Setembro de
1799. Cf. TORRES, João Carlos Feio Cardoso de Castelo Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias histórico-genealógicas dos Duques portugueses no século XIX, Lisboa, Typographia da
Academia Real das Ciências, 1883, p. 502.
91
Ao foro de moço fidalgo acrescentava-se mil, quatrocentos e oitenta reis. Cf. Alvará de Filhamento
de moço fidalgo a D. Pedro de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5562, Caixa 16, fol. 206.
92
Acerca do recrutamento dos diplomatas no Antigo Regime vide CARDIM, Pedro, MONTEIRO,
Nuno Gonçalo F., FELISMINO, David, “A diplomacia portuguesa no Antigo Regime. Perfil sociológico
e trajectórias” in Optima Pars. Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime, MONTEIRO, Nuno Gonçalo
F., CARDIM, Pedro, CUNHA, Mafalda Soares da, (org), Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005.
93
No entanto, os morgados mais destacados em documentos oficiais, como escrituras notariais eram o
de Calhariz, Monfalim e Fonte do Anjo. Vide, a título de exemplo, Alvará de procuração, IANTT, ACP,
Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 343.
94
Carta de 24 de Setembro de 1804. Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco,
BAENA, Visconde de Sanches de, Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século
XIX, p. 502.
95
Alvarás de 14 de Agosto e Cartas de 15 de Setembro de 1804 e de 23 de Outubro de 1806. Cf.
IDEM, ibidem, p. 502.
96
Cf. Carta, Arquivo Histórico Militar, Caixa 196 A.

41
apenas no ano seguinte, a 4 de Junho de 1810, pois na altura do pedido a noiva era ainda
menor97, numa cerimónia discreta e contida, sem a menor pompa. “Receberam as
bênções no Palácio de Xabregas98, festejou-se o noivado no palácio de seu cunhado, o
conde de Alva, a Santo Amaro, e ali ficaram residindo até partirem para Cádis, o que
fizeram poucas semanas depois”99.
Foram os serviços prestados como Ministro Plenipotenciário na Corte de
Espanha, cargo para o qual fora nomeado em 1809100 e que exerceu até 1812, que o
elevaram à categoria de Conde de Palmela em sua vida, nesse mesmo ano 101. O seu
objectivo foi procurar, embora sem efeito, que a rainha D. Carlota Joaquina fosse
nomeada regente de Espanha. Nesse mesmo ano foi destacado como enviado
extraordinário à corte de Londres102. Em 1814 exerceu o cargo de ministro
plenipotenciário em Londres.
Participou no Congresso de Viena em 1815, tendo-lhe sido concedido o título de
Marquês por duas vidas em 1823, como recompensa dos trabalhos prestados no
Congresso.103. Em Janeiro de 1817 foi nomeado ministro plenipotenciário a Londres,
para tratar da questão da escravatura104. No final desse mesmo ano foi novamente
nomeado ministro plenipotenciário nas cortes espanhola 105 e francesa, embora tendo
mantido residência em Londres até 1820.
Nesse ano de 1820 foi nomeado ministro de Estado para o Rio de Janeiro,
rumando a esta cidade, mas fazendo escala em Lisboa, na mesma altura em que se

97
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 207.
98
O Palácio de Xabregas era o Palácio de residência dos Marqueses de Nisa.
99
BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do Marquês de Fronteira e d’Alorna, D.
José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, Ernesto Campo de ANDRADA
(rev.), vol. 1, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926, p. 101.
100
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol 288.
101
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol 6. Além dos serviços de D.
Pedro, a outorga do título serve também como recompensa pelos serviços prestados por D. Augusto de
Sousa, tio deste, que morreu no exercício de cargos diplomáticos na Holanda, sem ter sido remunerado.
Curioso é constatar que esta mercê é posterior, ainda que por poucos dias, à condecoração de D. Eugénia,
sua mulher, com a Real Ordem de Santa Isabel, pelo reconhecimento dos serviços de D. Pedro. Cf. Carta
patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5726, Caixa 159, fol. 51.
102
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 9.
103
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol 18.
104
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 291.
105
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 556, Caixa 21, fol. 316.

42
verifica o pronunciamento militar do Porto de 24 de Agosto e a subsequente formação
da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. Foi D. Pedro de Sousa Holstein
que, quando chegou ao Rio de Janeiro, tendo sido agraciado com o posto de Marechal
de Campo106, informa o Rei D. João VI, em documento de 16 de Janeiro de 1821, dos
projectos da Junta Provisional e da necessidade da presença régia em Portugal, onde o
Rei poderia exercer a sua influência de forma directa107. Efectivamente, D. João VI
acaba por regressar a Lisboa, juntamente com grande parte dos nobres que o haviam
acompanhado na ida. Da comitiva também fazia parte D. Pedro de Sousa Holstein,
apesar de demitido do cargo que o tinha levado ao Brasil, por preferir que fossem dadas
por D. João VI as bases de uma carta constitucional, em vez deste ter jurado a Carta
Constitucional de Fevereiro de 1821108. Ao chegar a Lisboa, o desembarque do então
Conde de Palmela foi proibido pelas Cortes Constituintes, que decretaram o seu desterro
para Borba, onde passou a residir durante algum tempo 109.
Em consequência da Vila Francada, ocorrida em 27 de Maio de 1823, o Conde
de Palmela presidiu à Junta que então se formou, em Julho do mesmo ano, com o
objectivo de proceder à redacção do projecto de nova constituição e recebeu igualmente
a pasta dos Negócios Estrangeiros. Poucos dias depois desta nomeação era agraciado
com o título de Marquês, em duas vidas, como já referimos. Todavia, o assassinato do
Duque de Loulé, em Fevereiro de 1824, iniciou um processo de perseguição política ao
Conde de Palmela, que culminou com a sua prisão, após a sublevação absolutista da
Abrilada, em Abril desse mesmo ano. No entanto, o corpo diplomático, nomeadamente
o embaixador francês Hyde de Neuville 110, conseguiu a sua soltura da Torre de

106
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5548, Caixa 2, fol. 42.
107
Cf. VARGUES, Isabel Nobre, “O processo de formação do primeiro movimento liberal: a
Revolução de 1820” in História de Portugal (dir. José MATTOSO), vol. V, O Liberalismo, (coord. Luís
Reis TORGAL, João Lourenço ROQUE), s.l., Círculo de Leitores, 1993, p. 63.
108
Cf. ALEXANDRE, Manuel Valentim Franco, Os sentidos do Império. Questão Nacional e questão
colonial na crise do Antigo Regime Português, Lisboa, Dissertação de doutoramento apresentada à
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1988, p. 1031.
109
Cf. SERRÃO, Joel, “Palmela, Duque de (1781-1850)” in Dicionário de História de Portugal, vol.
IV, Lisboa Figueirinha, 1984, p. 537.
110
Jean-Guillaume, barão Hyde de Neuville (24/01/1776-28/05/1857). Embaixador francês em
Washington e em Portugal

43
Belém111.
Em Fevereiro de 1825, o Marquês de Palmela foi nomeado embaixador em
Londres112, imediatamente após a sua nomeação como embaixador a França, logo no
início desse mesmo ano 113. Foi por estar em Londres que, embora tendo sido nomeado
para a Câmara dos Pares, em 30 de Abril de 1826114, não chegou a tomar posse115, mas
é significativa esta nomeação, uma vez que o objectivo de D. Pedro IV era fazer da
Câmara dos Pares o órgão representativo dos Grandes do Reino116. Como defensor da
Carta, D. Pedro de Sousa Holstein fez todos os esforços junto do Governo Britânico
para que fosse enviado um corpo expedicionário inglês para a defesa do regime da Carta
Constitucional, o que se verificou em Outubro desse ano. O Marquês de Palmela
manteve-se na qualidade de embaixador em Londres até 1828, altura em que D. Miguel
de Bragança, após chegar a Lisboa, dissolveu a Câmara dos Deputados e convocou a
antiga Assembleia dos Três Estados do Reino. Após a aclamação de D. Miguel como
rei, o Marquês de Palmela considera-se demitido das suas funções e inicia várias
manobras de apoio à causa liberal. Por um lado, acolhe os emigrados que fugiam do
Portugal absolutista, por outro toma parte na Belfastada, ou seja do desembarque de
exilados no Porto, que não se entenderam com a Junta Revolucionária que aí se tinha
formado, verificando-se uma cisão entre os que seguiam uma via mais moderada do
liberalismo, encabeçada pelo próprio Marquês de Palmela, e outra mais extremista,
encabeçada pelo Marquês de Saldanha 117. D. Pedro de Sousa Holstein regressou de
novo a Inglaterra, onde acolheu, em Outubro de 1828, D. Maria II, filha de D. Pedro IV,
e encetou diversa diligências diplomáticas para que Inglaterra não reconhecesse o
regime miguelista, apesar dos esforços contrários de Wellington.

111
Cf. BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do marques de Fronteira e d’Alorna,
D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, ANDRADA, Ernesto
Campo de Andrada, (rev.), vol. I, p. 397.
112
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 245.
113
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 253.
114
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5700, Caixa 140, fol. 63.
115
Cf. LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza
Titulada Portuguesa” in Penélope, Lisboa, 4, Edições Cosmos, 1989, pp. 112-113.
116
Cf. SILVEIRA, Luís Nuno Espinha da, Suas Excelências. Os Dignos Pares do Reino, 1834-1842,
Lisboa, Prova Complementar de doutoramento a apresentar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, 1989, p. 48
117
João Carlos de Saldanha Oliveira e Daun (1790-1876).

44
Os acontecimentos de Agosto de 1829, que consistiram na batalha da Praia, na
Ilha Terceira, no arquipélago Açoriano, em que miguelistas e liberais se digladiaram,
vencendo estes últimos, permitiram que fosse nomeado Presidente da Regência, que aí
se estabeleceu em seguida. O Marquês de Palmela desembarcou em 15 de Março de
1830, na ilha Terceira, onde permaneceu até ao desembarque das tropas liberais no
Mindelo, no mês de Julho de 1832. Em Agosto do mesmo ano regressa a Londres, para
aí angariar fundos e munições118.
Em 3 de Março de 1832, D. Pedro de Sousa Holstein havia sido nomeado
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiro e encarregue interinamente
do Expediente dos Negócios do Reino 119.
Em Junho de 1833 o Marquês de Palmela entrou com uma esquadra naval na
barra da cidade do Porto, que se encontrava cercada pelas tropas miguelistas. Com esta
acção, foi agraciado com o título de Duque do Faial, de juro e herdade, em Abril
daquele ano, pelos “quesitos e relevantíssimos serviços que tem feito à causa da
legitimidade e à do brio e da honra da nação portuguesa”, nomeadamente por ter
lutado contra D. Miguel, pugnando pelos interesses da Rainha D. Maria, em particular
pelo papel que desempenhou na Ilha Terceira, como membro da Regência. D. Pedro de
Sousa Holstein pediu, todavia, que o título de Duque do Faial fosse modificado para o
de Duque de Palmela, que era o título que já possuía anteriormente 120. No mesmo ano
foi nomeado Conselheiro de Estado121, tendo sido posteriormente Ministro em vários
Ministérios, para além de Presidente da Câmara dos Pares, em Agosto de 1834.
Efectivamente, entre Setembro de 1834 e Abril de 1835 foi nomeado Presidente do
Conselho de Ministros, cargo que por vezes acumulou com o de Ministro dos Negócios
Estrangeiros122. Nesse mesmo mês foram-lhe doados pelo poder executivo cem contos

118
Cf. Carta da Regência, de autorização, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 61.
119
Cf. Carta de nomeação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 65.
120
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5725, Caixa 158, fol. 729.
121
Cf. Alvará de nomeação de conselheiro de Estado vitalício, IAN/TT, ACP, Microfilme 5725,
Caixa 158, fol. 773.
122
Apesar de a guerra civil só ter terminado com a Convenção de Évora Monte, em Maio de 1834, já
em Agosto de 1833, junto dos liberais emigrados existia um espírito de vitória, como podemos constatar
na palavras de D. Maria das Dores de Sousa Coutinho (1813-?), condessa de Sousa Coutinho e sobrinha
de D. Pedro de Sousa Holstein, em carta a D. Eugénia Telles da Gama: "já podemos dizer que não somos
imigradas, que estamos cá [Paris] porque muito queremos". Correspondência particular, IANTT, ACP,
Microfilme 5748, Caixa 171, fol. 1435.

45
de reis, admissíveis na compra de bens de raiz nacionais123.
Com a Revolução de Setembro de 1836 ausentou-se para Londres, por não se
rever nos princípios que moldaram esse movimento. Foi apenas em 1838, no mês de
Abril que, tendo sido promulgada e jurada uma nova Constituição, o meio-termo entre a
de 1822 e a Carta Constitucional de 1826, foi eleito membro da Câmara dos Senadores;
em Junho do mesmo ano foi nomeado embaixador em Londres, para assistir à coroação
da Rainha Vitória.
Em 1841, durante a vigência da Constituição de 1838, presidiu à Câmara dos
Senadores. Com a restauração da Carta, em 1842, conseguiu acumular em Maio de 1842
os cargos de Presidente do Conselho de Ministros, da Justiça e da Fazenda, embora por
um breve período de tempo 124.
Voltou a Portugal em 1846, após uma ausência prolongada em Itália. Na
sequência da Revolta da Maria da Fonte, o Duque de Palmela foi nomeado Presidente
do Conselho. No entanto, um golpe de Estado orientado pelo Duque de Saldanha
conduziu à exoneração do Duque e à sua emigração. Só no ano seguinte, em 1847, com
a Convenção do Gramido foi possível voltar ao país, onde apenas desempenhou, a nível
político, as funções de Presidente da Câmara dos Pares125.
Ao longo de vários anos foi agraciado com vários graus de diferentes ordens
nacionais e internacionais126.

123
Cf. Carta de lei, IAN/TT, ACP, Microfilme 5700, Caixa 140, fol. 139.
124
Para ver, em particular, os vários mandatos, vide MARTINS; Oliveira, Portugal Contemporâneo,
9ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1986, p. 355.
125
Acerca da sua actividade política vide, PALMELA, Duque, Discursos parlamentares proferidos
pelo Duque de Palmela nas Câmaras Legislativas desde 1834 até hoje, 3 vols., Lisboa, Imprensa
Nacional, 1844; MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “Holstein, D. Pedro de Sousa,” in Dicionário Biográfico
Parlamentar, 1834-1910, (dir. Maria Filomena MÓNICA), vol. 2, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais e
Assembleia da República, 2005, pp. 432-439.
126
Grã-cruz da Ordem de Cristo, por decreto de 21 de Janeiro de 1825, pela qual receberia uma
pensão de um conto e seiscentos mil reis anuais (cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654,
Caixa 100, fols. 229 e 257); Grã-cruz da ordem da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito, por carta
de 1 de Dezembro de 1834 (cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 151);
Grã-cruz da ordem de Carlos III, em Espanha, em 5 de Setembro de 1812 (cf. Carta patente, IAN/TT,
ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, fol. 111); Grã-cruz da Legião de Honra em França, conferida desde 17
de Dezembro de 1823 (cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5700, Caixa 140, fol. 32); Cavaleiro
da Ordem de S. Alexandre Newsky, na Rússia, em 15 de Junho de 1824 (cf. Carta patente, IAN/TT,
ACP, Microfilme 5556, Caixa 21, fol. 321); Cavaleiro da Insigne Ordem do Tosão de Ouro de Espanha,

46
Foi sócio honorário da Academia Real das Ciências desde 1817 127, sócio
honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1840128 e, em 1850,
Presidente vitalício da Sociedade Arqueológica Lusitana, fundada na então vila de
Setúbal129. Foi também presidente da Associação Promotora da Indústria Nacional130.
Às cinco horas e meia da tarde do dia 12 de Outubro desse mesmo ano morreu
D. Pedro, no palácio do Rato. O seu corpo foi embalsamado e depositado num caixão de
chumbo. Foi sepultado três dias depois, no jazigo de família, mandado por ele construir
em 1846, no Cemitério dos Prazeres131.
D. Eugénia Teles da Gama distinguiu-se pelas suas qualidades como
embaixatriz, ao lado de seu marido 132. Mas também exerceu cargos relacionados com a
beneficência. Fez parte da Comissão de Inspecção para as escolas de meninas,
pertencentes à Sociedade de Instrução Primária 133. Em 1840 desempenhou a função de
Inspectora na Associação para as Casas de Asilo de Primeira Infância Desvalida, situada
no edifício do Colégio dos Nobres134. Foi também uma das responsáveis do
estabelecimento do Instituto de S. Vicente de Paula em Portugal, fundando e dotando

conferida em 2 de Março de 1824 (cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5624, Caixa 75, fol.
305), Grão Cruz da Ordem de Ernesto, o Pio, do ducado de Saxónia Cobourg Gotha, conferida em 1836
(cf. Licença Régia de uso de insígnias, IAN/TT, ACP, Microfilme 5701, Caixa 140, fol. 287); e Cavaleiro
da Ordem de Malta, de que não temos indicação da data da atribuição, mas seguramente pelo menos após
1834. (cf. Escritura de doação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5645, Caixa 92, fol. 902).
127
Cf. Decreto de 8 de Abril de 1817, IAN/TT, ACP, Microfilme 5701, Caixa 140, fol. 513.
128
Cf. Diploma de Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, IAN/TT, ACP,
Microfilme 5701, Caixa 140, fol. 259.
129
Cf. Diploma da Sociedade Arqueológica Lusitana, IAN/TT, ACP, Microfilme 5701, Caixa 140,
fol. 573.
130
Cf. TORRES, João Carlos Feo Cardoso de Castelo-Branco, BAENA, Visconde de Sanches de,
Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do Século XIX, p. 504.
131
IAN/TT, ACP, Certidão de óbito, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 29. A propósito deste
Mausoléu e da sua arquitectura de teor maçónico, que expressava a personalidade do Duque, Moita Flores
refere que, apesar do Duque não ser maçon, “foi o homem do Antigo e do Moderno, que se substantivava
na Carta Constitucional, que foi dos mais legítimos representantes”. Cf. FLORES, Francisco Moita,
“Jazigo Palmela” in Cemitérios de Lisboa: entre o real e o imaginário, Lisboa, Câmara Municipal de
Lisboa, 1993, pp. 88-89.
132
Cf. GARRETT, Almeida, Memória histórica da Duque de Palmela, D. Eugénia Francisca Xavier
Teles da Gama, Lisboa, Imprensa Nacional, 1848.
133
Cf. Almanak estatístico de Lisboa em 1837, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 233.
134
Cf. Almanak estatístico de Lisboa em 1840, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 257.

47
uma congregação de Irmãs da Caridade 135.
Para além da Ordem de Santa Isabel, recebeu também a de Maria Luísa de
Espanha. Foi Dama da Rainha D. Maria II136.
D. Eugénia morreu em 1848, dois anos antes da morte de seu marido e após 38
anos de casamento, muitos dos quais separados fisicamente, devido à acção política que
o Duque de Palmela desempenhou.

Árvore Genealógica IV - Ascendência de D. Eugénia Teles da Gama (1798-1848) e sua descendência


João Xavier
D. Tomás Xavier Eugénia Josefa D. Mª Francisca
Fernão Teles
Lima Teles Silva de Bragança Menezes
da Gama

D. Domingos D. Maria Josefa D. Rodrigo


Xavier de Lima Xavier de Lima Teles da Gama
D. Alexandre de D. Isabel
Sousa Holstein Juliana
D. Eugénia
Teles da Gama
D. Pedro de D. Eugénia
Sousa Holstein Teles da Gama

D. Alexandre de D. Isabel de D. Manuel de D. Maria José de D. Rodrigo de D. Ana Rosa D. Francisco de D. Filipe de
Sousa Holstein Sousa e Hosltein Sousa Hosltein Sousa Holstein Sousa Hosltein Sousa Holstein Sousa Holstein Sousa Holstein

D. Eugénia de D. Domingos de D. Mariana de D. Teresa de D. Catarina de D. Pedro de D. Tomás de


Sousa Hosltein Sousa Hosltein Sousa Holstein Sousa Hosltein Sousa Hosltein Sousa Holstein Sousa Hosltein

Do casamento de D. Pedro com D. Eugénia nasceram vários filhos. O


primogénito, D. Alexandre Domingos António Maria Bento Raimundo de Sousa
Holstein, nasceu em Cádis, a 21 de Março de 1812137, quando na rua se celebrava
efusivamente a publicação da Constituição hispânica 138, sendo padrinhos por
procuração, o seu tio, o Conde de Alva, e sua avó materna, visto não se encontrarem
presentes.
Começou a sua formação em 1820, com lições de Gramática Latina, Aritmética
e História Portuguesa com os Padres das Necessidades 139, tendo o estudo sido
interrompido com o desterro de D. Pedro para Borba, onde o próprio Conde se

135
Cf. GARRETT, Almeida, Memória histórica da Duque de Palmela, D. Eugénia Francisca Xavier
Teles da Gama.
136
Cf. PINTO, Albano da Silva, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, Lisboa, Empresa Editora de Francisco Artur da Silva, 1890, vol. II, p. 447.
137
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 323.
138
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460.
139
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 234, fol. 21.

48
encarregou da formação dos filhos140. Fluente nas línguas inglesa e francesa 141, retoma a
sua formação nas Necessidades, entre 1823 e 1825, altura em que acompanha seu pai a
Inglaterra. Este considerava imprescindível o estudo dos autores clássicos,
nomeadamente o dos Historiadores, que lhe poderiam incutir o interesse da História e
da Latinidade. No entanto, em carta, D. Pedro de Sousa Holstein aconselhava também
ao filho o estudo das matemáticas aplicadas à arte militar, das ciências físicas e do
direito público, essenciais a uma carreira, rematando dizendo: “Bem vês que te trato
com uma confiança que quase todos os pais mostram aos filhos da tua idade e que
espero porém seja justificada pelo apreço que dela farás por não teres outra paga a
dar-me do amor e direito que me deves senão o persistir cada vez mais na tua boa
conduta e habilitares-te a servir de amparo a tua mãe e de exemplo e de apoio a tantos
irmãos pequenos”142. É neste período que D. Alexandre tem aulas com um preceptor e
inicia algumas visitas a colégios ingleses, nomeadamente Woolwick, Sandhurst,
Downesd e Bath143, acabando por frequentar o colégio Militar de Sandhurst, um dos
mais conceituados de Inglaterra, ingressando na terceira Companhia de Cadetes, a 4 de
Março de 1828, e frequentando o primeiro nível de Aritmética e Matemática e o quarto
de Francês144. No final do ano de 1827 deveria assentar praça no exército, tendo sido
expedida uma carta por parte de D. Maria, regente em nome do pai, dando conta ao
Comando Geral de Artilharia que D. Alexandre “se acha actualmente estudando em
Inglaterra e deverá continuar a ser assim considerado, até novas ordens”145.
Escrevia-lhe o pai, em carta de 18 de Março de 1828: “ (…) Vejo que te achas
instalado no teu novo modo de vida (...) persuado-me que a resolução que tomei te há-
de ser muito útil para o futuro, menos debaixo do ponto de vista do aproveitamento nos
estudos, do que para te acostumar e dispor a viver na sociedade de outros homens que
não estão ligados contigo pelos íntimos e carinhosos enlaces da tua família. Para um

140
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460.
141
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5795, Caixa 204, fol. 775 e cf.
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 179.
142
Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5806, Caixa 209, fol. 1237.
143
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5806, Caixa 209, fols. 1241; 1261 e 1265.
144
Cada disciplina era dividida em 5 classes, conforme a dificuldade. Em Francês, passou
directamente para quarta classe, com a indicação de que tinha boa formação na língua. No entanto, não
frequentou outras cadeiras habituais, como Fortificação. Cf. Royal Military Academy Sandhurst – WO
151, Royal Military College Gentleman Cadet Register 1806-1864.
145
Carta, Arquivo Histórico Militar, Caixa 513.

49
homem, para um militar e principalmente na era em que vivemos é necessário adquirir
uma tempera mais forte do que se adquire debaixo do bafo paterno e conhecer pela
própria experiência o que são os outros homens e qual é o nosso próprio e verdadeiro
valor. A tua doçura e prudência, desempenho das tuas obrigações a amabilidade com
os companheiros, confio que te livrarão de disputas frequentes e de bulhas, entretanto
não dês nunca o mínimo motivo de suspeitar que a doçura provenha de cobardia e a
amabilidade de babuja. Enquanto aos estudos não vejo que me falho no alemão que eu
substituiria de boa vontade ao Francês e parece-me que deves sem bazófia nem
arrogância, passar quanto antes da aritmética e da geometria para cima. (…)”146
Todavia, o facto de ser posto de lado pelos seus colegas foi um factor decisivo para a
sua saída de Sandhurst, em 24 de Junho de 1828147. O objectivo seria o de frequentar
posteriormente, na Universidade de Coimbra, o curso de Matemática, e assentar praça
em Portugal, no corpo de artilharia, o que não se deu, devido aos acontecimentos
políticos verificados no Reino 148. Ingressou na Universidade de Londres (University
College of London), através de Earl Dudley149, nas disciplinas de Química e Física, no
ano lectivo de 1828-1829 e Física, Matemática e Grego no ano lectivo seguinte150,
conseguindo inclusive alguns prémios nestas cadeiras 151. Em 1830, estando em Paris,
considera cursar a Escola do Estado-maior, mas prefere a escola de Pontes e Calçadas.
Frequenta alguns cursos de Química e História Natural na Sorbonne152. O ensino da
música, do desenho, da dança e da esgrima também não foram descurados153.
Tinha-lhe sido outorgado o título de Conde de Calhariz por D. João VI, em 2 de
Outubro de 1823, “tomando em consideração o ser ele filho do Conde, hoje Marquês de
Palmela, que tanto se tem distinguido no meu real serviço, confiando que ele será digno
imitador da lealdade e zelo com que seu Pai me tem servido”154 seguido, no mesmo dia,

146
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5806, Caixa 209, fol. 1269.
147
RMAS – WO 151, Royal Military College Gentleman Cadet Register 1806-1864.
148
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460.
149
Provavelmente Lord Dudley Stuart (1803-1854), advogado, político e defensor da independência
da Polónia.
150
Cf. Informações gentilmente cedidas pelo University College of London.
151
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5747, Caixa 169, fols. 1529 e 1883.
152
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 949.
153
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460.
154
Carta de Mercê Régia, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol 27.

50
da sua nomeação para o Conselho de Estado do mesmo monarca 155. Tendo
acompanhado o pai no desembarque no Porto em 1828, D. Alexandre veio a morrer
precocemente, a 21 de Junho de 1832, na ilha de S. Miguel, vítima de tuberculose,
contraída por ter prestado vigilância a sua irmã Maria, vítima da mesma doença. Morreu
sem nunca ter casado e sem deixar descendência 156. Sua mãe, a respeito da sua morte,
escrevia ao marido, D. Pedro de Sousa Holstein, numa carta de 13 de Agosto de 1832, o
seguinte: “ (…) Todos os nossos filhos estão bem. Ontem se juntaram todos em casa da
nossa mana. Parecem-me tão poucos agora. (...) penso com gosto na hora em que me
há-de levar para onde ele está. Agora mais que nunca desejo ser boa (…), para poder
esperar ir para o Céu onde estão já quatro bocadinhos nossos, mas este último sempre
foi o que nos doeu mais a arrancar (...)”157.
D. Eugénia Maria Antónia Domingas Francisca José Colleta de Sousa e Holstein
foi a segunda filha do casal. Nasceu em 6 de Março de 1813, em Lisboa, tendo sido
padrinhos o Marquês de Niza, D. Tomás Francisco Xavier Teles (04/11/1796-
13/08/1820)158, seu tio materno, e a sua tia paterna, D. Mariana de Sousa Holstein,
Condessa de Alva159. Padecendo da espinha dorsal desde muito cedo, o que a fazia
coxear160, veio a ser curada em 1830, efectuando para tal tratamentos ortopédicos em
Morley. Recebeu instrução de seus pais, de Latim, História, Geografia, Matemáticas,
Francês e Inglês161. Prosseguiu os estudos em casa, a cargo de uma preceptora, Miss
Kelleghene, a quem terá causado algumas dores de cabeça, como podemos constatar
pela carta que D. Eugénia Teles da Gama escreveu a seu marido, a 16 de Dezembro de
1826: “(…) os quatro pequenos tem-se adiantado muito neste mês em que tu lá tens
estado, (…) queira Deus que pudesse dizer o mesmo da Eugénia, não haverá remédio
senão privá-la por algum tempo até ela mudar, dos divertimentos que ela mais gosta,

155
Cf. Carta de Mercê Régia, IAN/TT, ACP, Microfilme 5566, Caixa 21, fol. 319
156
Cf. Certidão de óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 335.
157
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 166.
158
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 168.
159
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 368.
160
Cf. VENTURA, António, “Para a História da Epistolografia feminina em Portugal.
Correspondência da Condessa de Alva para sua irmã, D. Teresa de Sousa Holstein, (1814-1816)”, Revista
da Faculdade de Letras, nº 21-22, 5ª série, Lisboa, Faculdade de Letras, 1996-1997, p. 57.
161
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 234, fol. 45. Cf.
Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460.

51
não tem a menor vontade de seu adiantar, nem de me dar gosto. Esta noite a lição de
geografia obrigou-me a sair do quarto aonde ela estava porque não podia ser sem me
afligir o modo porque ela repetia a lição e como estava com a Miss Kelleghene. Deus
sabe o que me custa vê-la tão diferente do que eu a desejo (...) e vejo que os anos
passam e ela tem quase 14 anos está uma mulher. (…)”162. Mais tarde, a sua educação
esteve a cargo de Mrs Wallace, juntamente com as restantes irmãs163. Sabia lavoures,
tocava piano, desenhava164, actividade para a qual recebia aulas, a par das irmãs165.
Cedo ficou com o encargo da contabilidade corrente da casa, a pedido da mãe 166. O
exercício físico também não foi descurado, não por questões de educação, mas de
saúde: “(…) Todos os nosso filhos estão bons, à excepção da Eugénia, que continua do
mesmo modo, e já há dois meses que não é regular. Ela diz sempre que não lhe dói
nada, e come e dorme optimamente, mandei hoje pedir ao médico que a viesse amanhã
ver, todas as tardes anda uma hora a cavalo num burro, e salta com a corda. O médico
quer muito exercício, e ela gosta pouco de o fazer. (…)”167.
D. Eugénia casou com D. Brás da Silveira, Marquês das Minas, a 8 de Maio de
1842168. A cerimónia de casamento foi simultânea com a do casamento de sua irmã D.
Teresa, na capela do Loreto, às cinco e meia da tarde, para cerca de 150 pessoas 169. A
festa da boda só teve lugar dia 11 do mesmo mês. Ao jantar seguiu-se um concerto de
bel canto. Foi mãe de vasta prole. Não conseguimos apurar a data da sua morte.
D. Isabel Leopoldina foi a terceira filha dos primeiros Duques. A sua vida foi de

162
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 373.
163
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 270.
164
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5743, Caixa 169, fol. 465. Cf.
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5796, Caixa 204, fol. 1834. Cf. Correspondência
particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 997.
165
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 378. Cf.
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol. 593.
166
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 270.
167
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627.
168
Cf. Certidão de Casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 375.
169
Cf. L’abeille: revue encyclopédique, 4º année, nº 42. Lisboa, Imprensa de C. A. S. de Carvalho, 15
Mai, 1842, Os vestidos nupciais, confeccionados num atelier parisiense, causaram sensação pelos
elevados direitos que pagaram na alfândega. A Revolução de Setembro refere que a bênção nupcial teve
lugar na Igreja da Encarnação. Cf. A Revolução de Setembro, nº 438, Lisboa, Tipografia J. B. da A.
Gouveia, 11 de Maio 1842, fol. 2.

52
curta duração, pois nasceu em 12 de Novembro de 1816, após 10 horas de trabalho de
parto e morreu a 15 de Junho de 1819170, embora tenha sido a que nasceu com a
compleição mais robusta, comparativamente aos seus irmãos mais velhos 171.
O quarto filho foi aquele que sucedeu na casa de seus pais. D. Domingos
António Maria Pedro de Sousa Holstein nasceu em Londres a 28 de Junho de 1818, às
dez da manhã. D. Pedro não se encontrava presente 172. Foi apadrinhado por D.
Lourenço de Lima, irmão de seu avô materno e Conde de Mafra, e por D. Catarina de
Sousa Holstein, sua tia paterna173.
Aos dois anos e meio já falava e compreendia tanto a língua portuguesa, como a
inglesa, segundo narra a sua mãe ao marido, em carta datada de 28 de Dezembro de
1820, onde lhe faz os maiores elogios: “ (…) O Domingos parece-me que ainda está
mais bonito e é sempre o mais meu amigo que é possível, estávamos ambos eles no meu
quarto esta manhã e o Manuel descuidou-se, e o Domingos ralhou-lhe, e disse-lhe que
a Mamã não havia gostar dele, achei-lhe muita graça; há dias estava-lhe a Ana
Joaquina pedindo um dos seus canudos e ele não lhos queria dar, e a Dove que tão bem
ali estava perguntou-me em inglês que lhe estava a Ana pedindo, esta falava-lhe
português, o pequeno no mesmo instante lhe traduziu em inglês o que a Ana lhe estava
pedindo (...)”174.
Tal como os irmãos recebe uma educação doméstica, até frequentar aulas num
estabelecimento a que chamavam pensão, com o irmão mais novo, Manuel, e com os
primos, por decisão materna 175. A sua caligrafia e ortografia foram muito criticadas por

170
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243. Em nenhum nobiliário se encontra referência a esta filha dos Primeiros Duques de
Palmela. Apenas em CANEDO, Fernando de Castro da Silva, CASTRO, Fernando Santos, CASTRO,
Rodrigo Faria de, A descendência Portuguesa de El-Rei D. João II, 2ª ed. Braga, 1993, vol. II, p. 127-
129, e MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família de
Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela, Lisboa, Instituto Português de Museus,
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2001.
171
Cf. VENTURA, António, “Para a História da Epistolografia feminina em Portugal.
Correspondência da Condessa de Alva para sua irmã, D. Teresa de Sousa Holstein, (1814-1816)”, Revista
da Faculdade de Letras, nº 21-22, 5ª série, p. 96.
172
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5729, Caixa 160, fol. 653
173
Cf. Certidão de Baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 390.
174
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 234, fol. 69.
175
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 997.

53
sua mãe, sobretudo após a morte do irmão mais velho, que servia de modelo de
comparação e de virtude, como escreve D. Eugénia ao marido, em carta de 8 de
Fevereiro de 1831: “O Domingos em comparação de outros rapazes também está
[adiantado], mas à vista do irmão decerto que não tem tanto brio, mas talvez quando se
vir com pessoas estranhas se emende. O que ele está é crescidíssimo e muito grosso,
quase que lhe não serve nada. (…)”176. Também por isso e pela sua saúde 177, a escolha
de uma carreira foi bastante discutida pelos seus pais, decidindo-se afinal pela
Academia Real da Marinha, onde entra como Guarda Marinha em Janeiro de 1833,
seguindo o curso de Matemática, ocupando o lugar de segundo Tenente, até que em
1844 passa a Capitão Tenente honorário, sem vencimento ou soldo algum 178.
Foi agraciado com o título de Conde de Calhariz, por decreto de 21 de Julho de
1832, à morte de seu irmão primogénito, título que lhe pertencia 179. O título de Marquês
do Faial seguiu-se à outorga do título de Duque a seu pai180. Por portaria de 15 de
Janeiro de 1840 foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo. Após a morte de seu

176
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 312.
177
Além de ter problemas de visão, (Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme
5809, Caixa 235, fol. 891), D. Domingos padecia de uma doença não identificada, possivelmente
epilepsia, cujos sintomas seriam exactamente calores seguidos de um calafrio que o faziam desmaiar,
tendo em seguida um ataque epiléptico, do qual não se recordava quando voltava a si. (Cf. Diário de
Viagem de D. Domingos, IAN/TT, ACP, Microfilme 5730, Caixa 160, fol. 1594; Sem título, IAN/TT,
ACP, Microfilme 5725, Caixa 158, fol. 613; Certidão de autos do inventário do Conde da Póvoa,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 249). Foi exactamente na tentativa de cura que, em
1844, enceta uma viagem com a mulher, a irmã mais velha e o cunhado a Bruxelas, com o intuito de ser
consultado por um médico homeopático, uma vez que em 1837 já tinha seguido este tipo de tratamento,
com alguns resultados. Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol.
255 e cf. Diário de Viagem de D. Domingos, IAN/TT, ACP, Microfilme 5730, Caixa 160, fol. 1607.
178
Arquivo Central da Marinha, Livro Mestre nº 380, fol. 162 verso e Caixa 748.
179
A justificação da entrega desta mercê é dirigida a D. Pedro e não propriamente como recompensa
do mérito de D. Domingos. Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol 32.
180
Decreto de 1 Dezembro de 1834. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de,
Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 224. Os mesmos autores
chamam a atenção para que, de acordo com o costume antigo do Reino, aos filhos dos Duques se
conferisse o título de marquês, o que foi efectuado não só pelo Duque de Palmela, mas também pelo
Duque de Saldanha, ao contrário do Duque de Loulé “mais respeitador dos princípios em que deve
fundar-se a monarquia constitucional”. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de,
Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. I, p. 447.

54
pai, herdou o título de Duque de Palmela e o de Capitão da Guarda Real181, função que
já tinha anteriormente exercido, no impedimento do pai182, assim como tomou posse no
cargo de Par do Reino183. No entanto, não teve qualquer papel relevante nesta matéria,
não tendo feito de parte de nenhuma comissão nem tido qualquer intervenção em
debates políticos184.
A nível de funções que tenha desempenhado, devem-se destacar as de adido
honorário à legação em Londres por ocasião da coroação da Rainha Vitória, onde
acompanhou o seu pai185; Presidente da Direcção do Club Lisbonense em 1841 186;
Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e Hospital Real
de S. José, desde 1841 e até, pelo menos, 1851187. Neste ano exerceu o cargo de
Tesoureiro do Conselho Geral de Beneficência e de Provedor da Irmandade de Santa
Cecília 188.
Foi também um empreendedor, com a criação da Companhia dos Canais da
Azambuja, em 1844, onde desempenhou as funções de director e principal accionista
singular da mesma189.

181
Cf. Carta Patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 556, Caixa 21, fol. 418.
182
Cf. Notificação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 143.
183
Cf. Almanaque de Portugal para o ano de 1855, Lisboa, Imprensa Nacional, 1854, fol. 101.
184
Cf. FERNANDES, Paulo Jorge, “HOLSTEIN, D. Domingos”, in Dicionário Biográfico
Parlamentar, 1834-1910, vol. 2, p. 427.
185
Cf. Diário de Viagem de D. Domingos, IAN/TT, ACP, Microfilme 5730, Caixa 160, fol. 1616.
186
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 241. Todavia, a
sua primeira candidatura para sócio do Club, a 31 de Maio de 1839 foi reprovada, na sequência da
questão do seu casamento com a herdeira do Conde da Póvoa, uma vez que parte do júri era familiar de
sua mulher. Cf. Correio de Lisboa, nº 303, Lisboa, Tipografia no largo do Contador mor nº 1, 3 de Junho,
fol. 1223.
187
Cf. IAN/TT, ACP, Correspondência, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 251; Cf. PORTUGAL, M. A.
F., Almanak estatístico de Lisboa em 1843, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 204; Cf. Almanak
estatístico de Lisboa em 1851, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 74.
188
Cf. Almanak estatístico de Lisboa em 1851, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., pp. 102 e 270.
Pertenceu igualmente às Irmandades de Santa Maria Egipciana e do Santíssimo Sacramento. Cf.
Diplomas da Irmandade, IAN/TT, ACP, Microfilme 5654, Caixa 100, pp. 297 e 303.
189
Para saber os objectivos e termos de contrato da Companhia, vide Companhia dos Canais da
Azambuja. Contrato Celebrado com o governo de Sua Majestade e sancionado por Alvará de 25 de Abril
de 1844 seguido da escritura de associação relativa à canalização da Vala da Azambuja, Lisboa,
Imprensa nacional, 1844.

55
D. Domingos casou com D. Luísa Maria de Noronha e Sampaio (21/04/1827-
21/03/1861)190, filha do Conde da Póvoa e Barão de Teixeira, Henrique Teixeira de
Sampaio (30/10/1774-27/03/1833). A este casamento nos referiremos com maior
pormenor no capítulo 5. D. Domingos morreu em Lisboa, a 2 de Abril de 1864 191.
D. Manuel Vicente Maria António Domingos Francisco Sousa Holstein, o filho
seguinte192, nasceu em Londres a 11 de Outubro de 1819 e teve como padrinhos os seus
tios paternos, os Condes de Linhares, D. Victorio de Sousa Coutinho (1790-
30/06/1857)193 e D. Catarina de Sousa Holstein194. Teve uma educação idêntica à dos
seus irmãos mais velhos, tendo lições particulares. Posteriormente ingressou num
escola, provavelmente num colégio católico de Paris, onde tinha boas notas, apesar de
certa preguiça denotada pelos pais, como se pode verificar na carta enviada por sua mãe,
ao marido, a 27 de Agosto de 1832: “ (…) O Manuel não dá uma conta de si, mas se
tivesse mais um pouco de brio, poderia fazer muito melhor figura, tem muito talento,
mas tem alguma preguiça. (…)”195. Fez a primeira comunhão no dia de Corpus Christi
do ano de 1830, em França 196. A partir de 1834, faz parte das cerimónias oficiais da
corte, para as quais é convidado 197, seguindo-se a agraciação com o título de marquês e

190
Cf. Certidão de Baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 97; Cf. Certidão de
óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 85.
191
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, Lisboa, Empresa Editora de Francisco Artur da Silva, 1991, p. 225.
192
O catálogo refere um outro filho entre D. Domingos e D. Manuel, a que chama D. António Maria
Pedro de Sousa Holstein. Todavia, em nenhum outro lugar temos qualquer referência a esta figura. Além
disso, nem mesmo nessa fonte surge data de nascimento nem de morte. E estando as datas de nascimento
dos acima mencionados correctas, verifica-se que medeiam entre um e outro nascimento cerca de 16
meses, espaço de tempo demasiado curto para o nascimento de duas crianças, a menos que tenha(m) sido
prematura(s). Cf. MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família
de Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela.
193
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, Lisboa, Empresa Editora de Francisco Artur da Silva, 1991, p. 91.
194
Cf. Certidão de Baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 391.
195
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5796, Caixa 204, fol. 1886;
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 861; Correspondência
particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fols. 154 e 192.
196
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 817.
197
Cf. Notificação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5701, Caixa 140, fol. 255; Cf Notificação, IAN/TT,
ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol. 95.

56
da participação no conselho de Sua Majestade 198.
Morreu em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1837, vítima de doença pulmonar 199,
solteiro e sem descendência 200.
D. Maria Ana da Anunciação Josefa Francisca de Assis Salles Xavier Antónia
Domingas de Sousa Holstein, a sexta filha dos primeiros Duques de Palmela, nasceu em
Lisboa, a 25 de Março de 1821. Foram padrinhos, por procuração, seu tio paterno por
afinidade, Dom José Luís de Sousa Botelho (09/02/1785-26/09/1855), embaixador e
futuro Conde de Vila Real201, e a Marquesa de Nisa, D. Tomásia Francisca de Melo
Breyner (25/08/1795-?)202, sua tia materna por afinidade203.
A educação da menina não foi descuidada, seguindo-se o mesmo padrão que as
suas irmãs: ler e escrever, lavoures, música, desenho e religião. O facto de a sua família
ter residido no estrangeiro facilitou-lhe o conhecimento de outras línguas, como o
francês e o inglês204 e demonstra uma natural aptidão para a aprendizagem: “A Maria
Ana já vai entendendo muitas coisas e como tem muito boa vontade é provável que cedo
aprenda.”, escrevia sua mãe a seu marido, em carta de 1 de Agosto de 1829205.
D. Maria Ana, “alta” e “magrinha” na meninice206 foi a primeira filha a deixar a
casa paterna. Casou em Paris, a 15 de Setembro de 1838 207, com Luís Brandão de Melo

198
Cf. Cartas patentes, IAN/TT, ACP, Microfilme 5562, Caixa 16, fols. 315 e 317. Na presente carta
régia não é indicado o título de Marquês que era atribuído, sendo apenas referido que lhe é feita a mercê
de honras de marquês. Pensamos, por isso, tratar-se de um título honorífico, decorrente do facto de ser
filho de Duque.
199
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol. 575.
200
Cf. Certidão de Óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 563.
201
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 761
202
Cf. IDEM, ibidem, vol. II, p. 168.
203
Cf. Certidão de nascimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 411. A cerimónia
verificou-se em casa do Conde de Belmonte, freguesia da Ajuda e tocaram por procuração o Conde de
Alva, e a Marquesa D. Eugénia.
204
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5743, Caixa 169, fol. 465;
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 559; Correspondência
particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627 e fol. 957.
205
Correspondência particular IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627.
206
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981
207
Cf. Certidão de casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 424.

57
Cogominho Pereira de Lacerda (7/11/1814-08/06/1866)208, terceiro Conde de Terena209,
vindo residir mais tarde no Porto, cidade onde se encontrava a residência sede do
morgado da Casa do marido. Deste casamento nasceram três filhos, o terceiro dos quais
morreu ao nascer. D. Maria Ana veio a morrer poucos dias depois, em Lisboa, a 20 de
Março de 1844210.
D. Maria José de Sousa Holstein nasceu em Borba, a 27 de Setembro de 1822 e
viria a morrer em 29 de Agosto de 1834211. Aos olhos da mãe, tinha mais propensão
para a música e dança do que para os estudos, onde se mostrava algo desinteressada,
como escreve sua mãe, D. Eugénia, a D. Pedro de Sousa Holstein, em 7 de Dezembro
de 1830: “ (…) a Maria [é] muito doida e não se adianta tanto como poderia porque
não toma tanto sentido que deveria. (…) ”212. Aliás, era uma preocupação constante
pois já anteriormente, no primeiro dia de Agosto de 1829, D. Eugénia pedia ao marido
que “Quando escreveres à Maria diz-lhe que não seja preguiçosa, está numa má volta,
teima muito e não aprende quase nada, até o Didi tem aprendido mais depressa a ler do
que ela e a Teresa cedo lhe passa adiante. (…) ”213.
Seguiu-se uma outra rapariga: D. Teresa Maria da Conceição Antónia Domingas
Francisca José de Sousa Holstein, que nasceu em Lisboa a 14 de Dezembro de 1823.
Seus padrinhos foram o Conde de Linhares, D. Victório de Sousa Coutinho, por
procuração, e a Condessa de Vila Real, sua tia, D. Teresa Cristina de Sousa Holstein214.
D. Eugénia relatava acerca de D. Teresa, em carta de 1 de Agosto de 1829,
dirigida a D. Pedro, acerca da correspondência que as filhas lhe enviam, que “Copiei-as
no papel à Teresinha, só depois que aqui estamos que tem dado lições de escrita
regularmente. Tem muito talento, faço tempo de as mandar [à filha Teresa e às restantes

208
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 651.
209
Decreto de 30 de Abril de 1858. Em 17 de Fevereiro de 1866 foi elevado à categoria de marquês.
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, Lisboa, Editorial
Enciclopédia, 1961, vol. III, p.433.
210
Cf. Certidão de Óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 429.
211
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
212
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fols. 957 e 981.
213
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627.
214
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 443.

58
filhas] todos os dias por uma hora à pensão em que esteve a Maria Vila Real215 para
lhes darem algumas lições de francês”216.
Conhecedora de línguas e contabilidade 217, esta “bonacheirona”218 rapariga foi
quem acompanhou a irmã D. Maria Ana nos primeiros tempos de casada, quando foi
residir para o Porto219.
Casou em Lisboa, a 8 de Maio de 1842, com D. Caetano de Vasconcelos de
Lencastre (24/08/1819-14/02/1894)220, Conde das Alcáçovas. Foram padrinhos deste
consórcio os Marqueses de Abrantes e de Castelo-Melhor e madrinhas, a Marquesa do
Faial, sua cunhada, e a irmã D. Mariana221. Foi dama de honor da Rainha D. Maria II222.
Teve uma vasta prole e veio a falecer em 11 de Junho de 1865223, vítima de bronquite
crónica que lhe sobreveio aquando do nascimento da sua última filha 224.
D. Rodrigo Maria José da Conceição da Rocha António Domingos Francisco de
Santa Luzia de Sousa Holstein nasceu em Lisboa a 13 de Dezembro de 1824, sendo
seus padrinhos os Marqueses de Ponte de Lima, D. José Xavier de Lima, e sua mãe, D.
Helena José de Silva Mascarenhas225. Em família todos o tratavam por Didi. Iniciou os
seus estudos em casa, na companhia dos irmãos 226. A 4 de Janeiro de 1831 D. Eugénia
Teles da Gama escrevia ao marido, dando notícias do filho, dizendo que “O Didi,
coitado, vai-se desemburrando, o que ele tem é linda voz, acho que há-de ser outro

215
D. Maria Teresa de Sousa Holstein (19/09/1786-30/11/1841), condessa de Vila Real e irmão de D.
Pedro de Sousa Holstein.
216
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627.
217
Cf. Jornal do Comércio, 20 de Junho de 1865, p. 2.
218
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981.
219
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 816.
220
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
Braga, Tipografia da Pax, 1933, vol. 1, p. 22.
221
Cf. Certidão de casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 459. A respeito da
cerimónia do casamento, vide nota 165.
222
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 216.
223
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. 1, p. 22.
224
Cf. Jornal do Comércio, 20 de Junho de 1863.
225
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 467. Apenas é
referido que a madrinha era a Marquesa de Ponte de Lima. Como D. José Xavier de Lima não casou,
pressupõe-se que se trata de sua mãe.
226
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 627.

59
Manuel Alva”227. Aos 13 anos ingressou no colégio de Hickley, sob responsabilidade de
um padre dominicano 228.
A Rainha D. Maria outorgou-lhe as honras do título de Marquês e tornou-o
membro do seu conselho 229. Morreu em Lisboa, a 25 de Abril de 1840, solteiro e sem
sucessão230.
Segue-se D. Catarina Maria da Assunção Antónia Francisca Domingas Josefa de
Sousa Holstein, que nasceu em Londres, a 22 de Agosto de 1826, tendo sido
apadrinhada por procuração pelo Visconde de Beire, D. Manuel Pamplona Carmim
Rangel (03/10/1774-12/05/1849)231, e sua tia, D. Catarina de Sousa e Holstein,
Condessa de Linhares232. A Caquinha, como lhe chamava seu pai233, passou a sentar-se
à mesa dos adultos com 3 anos234e aos cinco “ (…) já quase que lê e continua a ser
muito galantinha, todos os dias te quer escrever (…) ”, narrava D. Eugénia ao marido,
numa carta de 4 de Janeiro de 1831235.
Foi dama honorária das Rainhas D. Maria II, D. Estefânia e D. Maria Pia 236.
Casou com o Conde das Galveias, D. Francisco Xavier de Almeida Melo e Castro
(26/12/1824-02/08/1892)237, na cidade de Lisboa, a 26 de Novembro de 1845238. Deste

227
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981.
228
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5804, Caixa 236, fol. 1148.
229
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5562, Caixa 16, fol. 311. Não indica qual o título de
Marquês que deveria assumir. Pensamos, por isso, tratar-se do título honorário de Marquês, honra que lhe
cabia por ser filho de Duque, tal como aconteceu com seu irmão D. Manuel de Sousa Holstein.
230
Cf. Certidão de óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 468.
231
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. 1, p. 254. O visconde de Beire era casado com a meia-irmã de D. Pedro de Sousa Holstein, D. Maria
Helena de Sousa Holstein, filha de D. Alexandre de Sousa Holstein com sua sobrinha, D. Balbina de
Sousa.
232
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 71.
233
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 989.
234
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 643.
235
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981.
236
Cf. FREITAS, A. M de, Anuário da Corte Portuguesa, Primeiro Ano 1895, Lisboa, M. Gomes,
Editor, 1895, p. 158.
237
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. II, p. 11.
238
Cf. Certidão de casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 79.

60
casamento nasceram 17 filhos. D. Catarina morreu a 7 de Outubro de 1885239.
D. Ana Rosa do Santíssimo Sacramento de Sousa Holstein foi a décima primeira
filha dos primeiros Duques de Palmela. Nasceu a 5 de Junho de 1828, em Londres, após
um trabalho de parto de quatro ou cinco horas240. Foi apadrinhada por seu irmão, D.
Alexandre de Sousa Holstein, e pela Baronesa de Roisin, Rosa Falch241.
Certamente que a sua educação não diferiu da das suas irmãs, apesar de não
possuirmos dados que o comprovem. No entanto, a correspondência entre os seus pais
referem-se a si e à sua caturrice amiudadamente, como fica patente nesta carta de D.
Eugénia ao marido, escrita a 7 de Dezembro de 1830: “ (…) a Anica está uma criança
galantíssima. Agora chama-me mami por caturrice. Morre pelo Alexandre a quem ela
chama sempre good papa beija-o por toda a parte, já vão dizendo ela e a Catarina
muitas coisas em francês e entendem quase tudo. Dá vontade de vir ver uma migalhinha
de gente entender e falar 3 línguas (...)”242. Em Janeiro de 1831, quando D. Pedro de
Sousa Holstein se encontrava na ilha Terceira, D. Eugénia escrevia-lhe contando que D.
Ana Rosa repetia constantemente “poor papa, so good”, e acrescentava que “queria
matar D. Miguel com uma faca, porque ele era very naughty, he took all papa’s
sons”243. Isto apenas com três anos de idade. D. Eugénia, numa outra carta, também de
Janeiro de 1831, igualmente dirigida a D. Pedro, conta como D. Ana Rosa repete
constantemente que o pai chama à filha tolinha 244.
Contraiu matrimónio por duas vezes. A primeira, com Luís de Vasconcelos e

239
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
240
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5809, Caixa 235, fol. 1368.
241
Cf. Certidão de nascimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 117. Rose Amour
Charlotte Ghislaine (29/11/1723-19/021851), baronesa de Falck-de-Roisin. Casou com Anton Reinhard
Falck (19/03/1777-16/03/1843) em 2 de Dezembro de 1817. Anton Reinhard Falck foi embaixador em
Londres entre 1824 e 1832, altura em que foi nomeado ministro de Estado. Rosa Falck foi dama da rainha
Anna Pauwlowna e da rainha Sofia, da Holanda. O seu irmão foi membro da segunda Câmara do
Parlamento.
242
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa. 234, fol. 957.
243
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981
244
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 989.

61
Sousa (18/03/1823-28/07/1851)245, filho dos Marqueses de Castelo-Melhor, a 6 de Maio
de 1850246, e do qual nasceu uma filha. O segundo matrimónio foi contraído a 7 de
Outubro de 1857, com D. António Lobo de Almeida Melo e Castro (21/07/1826-
27/07/1865)247, filho dos Conde das Galveias, do qual nasceram dois filhos. D. Ana
morreu em Lisboa, a 16 de Maio de 1864248.
O décimo segundo filho do casal teve uma vida curta. Nasceu em Paris a oito de
Janeiro de 1830, “forte e perfeito”249, no dia de aniversário da sua avó materna e
recebeu o mesmo nome de seu pai, o que à partida seriam bons presságios aos olhos da
família. Pelo menos assim o entendeu D. Eugénia, como confidenciou ao marido, em
carta de 19 de Janeiro de 1830: “ (…) Parece-me que o Pedro há-de ser muito bom,
porque nasceu no dia dos anos de minha mãe e porque tem o teu nome, e é por amor de
ti. A mana Teresa gostou muito que ele se chamasse Pedro e muito me tem lembrado a
nossa boa Condessa de Alva que muito havia de gostar também. (…)”250. No entanto,
D. Pedro Maria de Sousa Holstein morreu a 6 de Março do mesmo ano (dia de
aniversário de sua irmã Eugénia) e na mesma cidade 251, após nove ou dez dias de
“moléstia das entranhas”, e sem ter conhecido o pai, tal como foi recordado por sua
mãe, ao comunicar a morte do filho ao marido e como podemos ler nas linhas seguintes:
“Há dias que te não escrevo porque de todo me tem até faltado as forças físicas.
Quando recebia a semana passada a tua carta de 26 fiquei como tu podes julgar e tinha
então o nosso Pedrinho a morrer e foi com a dita vontade de Deus levado para o céu,
no dia dos anos da nossa Eugénia, não posso bem dizer qual foi sua moléstia, mas creio
que era de entranhas, durou 9 ou 10 dias, era a criança mais forte e perfeita que se
podia ver, ontem se enterrou e está mais perto que foi possível da nossa rica e sempre

245
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 406 e cf. Certidão de Óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 143.
246
Cf. Certidão de casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 137.
247
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 8.
248
IDEM, ibidem, p. 226.
249
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 805.
250
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 753.
251
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.

62
sentida irmã252, ora já é o segundo filho que nos morre sem tu o conheceres. Espero em
Deus que nos há-de aceitar este sacrifício e que há-de acudir e valer por amor daquele
anjinho nosso que lá tem consigo e desde que tive esta ideia de que talvez fosse
necessário este golpe ainda nos nossos corações para nos livrar ainda de alguma coisa
pior que estou muito mais descansada e espero em Deus que tu hás-de chegar muito
bom à Ilha [Terceira] e que em pouco tempo havemos de viver juntos com quietação
não nos tem faltado trabalhos nos 20 anos para cá, mas este sacrifício que tu agora
fizeste é o maior que se pode fazer (...)”253.
Seguiu-se D. Francisco de Borja Pedro Maria António de Sousa Holstein,
nascido também em Paris, a 20 de Abril de 1838 254.
Desde recém-nascido que a sua educação ficou a cargo do pai, D. Pedro, visto
que D. Eugénia se ausentou de Paris, com a filha mais velha, D. Eugénia e a nora, D.
Maria Luísa de Noronha Sampaio, para resolver, em Portugal, questões relativas ao
casamento desta com D. Domingos, como poderemos verificar com maior pormenor no
capítulo 5. Nesse sentido, as cartas escritas neste período por D. Pedro de Sousa
Holstein à mulher, dão conta do crescimento de D. Francisco e das saudades que este
parece demonstrar pela mãe, quando nela se falava. Efectivamente, em carta de 20 de
Janeiro de 1838, D. Pedro escrevia: “ (...) O Francisco saiu agora do meu quarto, não
podes crer como ele está galante e o dó que faz quando ouve falar no teu nome! Põe-se
a olhar para todos os lados como se tivesse lembrança de alguém que lhe falta e na
verdade parece impossível na sua idade. (…)”255. Episódios como este eram relatados
frequentemente.
Em 1852, D. Francisco entrou na faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra256, que frequentou até ao sexto ano257. Frequentou também a Cadeira de
Princípios de Física e Química, e Introdução à Historia Natural dos Três Reinos, curso

252
Refere-se à Condessa de Alva, D. Mariana Vicência de Sousa Holstein (05/05/1784-28/04/1829),
morta pouco tempo antes.
253
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 805.
254
Cf. Auto de nascimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 159.
255
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 150.
256
Cf. Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no
Anno Lectivo de 1852 para 1853; suas Naturalidades, Filiações, e Moradas – Tomo VI (XLV - LIV –
1850 a 1860), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1852, p. 10.
257
Cf. Idem, Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a 1860), p. 22.

63
do Liceu258 e algumas cadeiras do curso Administrativo da Faculdade de Filosofia 259. A
sua tese intitulada Ex universo jure foi apresentada em 1858. Apesar de ser considerada
um sucesso junto da família, constava que em Coimbra não teria sido um triunfo
total260.
Foi nomeado para adido de embaixada, quer em Viena, quer em
Sampetersburgo, em 1857, embora não tendo tomado posse. Todavia, no ano seguinte, a
seis de Novembro foi nomeado primeiro adido da Embaixada de Roma, onde
permaneceu até 1859. Foi Secretário graduado em 1860, par do Reino e Deputado às
Cortes em 1859 e 1860261.
Foi também sócio do Instituto de Coimbra, Académico Honorário da Academia
das Belas artes de Lisboa e Membro da Associação dos Advogados. Gentil-homem da
Casa real e Oficial Mor, recebeu várias comendas, nacionais e estrangeiras 262. A 3 de
Setembro de 1855 foi agraciado com o título de Marquês de Sousa Holstein.
Em 1873 era um dos principais sócios de uma empresa que fabricava garrafas
destinadas ao engarrafamento de vinho 263.
Casou com D. Maria Eugénia da Piedade Braamcamp de Sobral Mello Breyner
(22/10/1837-07/10/1879)264, filha dos Condes do Sobral, em Lisboa, a 20 de Agosto de
1862265. D. Francisco morreu a 30 de Setembro de 1878, pai de três filhos266.

258
Cf. Idem, Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a 1860), p. 49.
259
Cf. Idem Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a 1860), p. 23 e Cf. Idem– Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a
1860), p. 26.
260
Cf. MÓNICA, Maria Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio Maior, correspondência para seus
filhos, 1852-1865, Lisboa, Quetzal Editores, 2004, p. 225.
261
Para saber a sua actividade parlamentar vide, Cf. MARINHO, Maria José, “HOLSTEIN, D.
Francisco” in Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910, vol. 2, pp. 430-431.
262
Comendador da Ordem de Santiago, da Ordem da Conceição, da Águia Vermelha da Prússia e S.
Gregório Magno. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias
Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 631. Acrescem ainda a grã-cruz de S. Maurício e S.
Lázaro da Sardenha e a comenda da Ordem da Santa Sé. Cf. MARINHO, Maria José, “HOLSTEIN, D.
Francisco” in Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910, vol. 2, pp. 430-431.
263
Cf. Correspondência comercial, Arquivo José Maria da Fonseca, Caixa 2, Lisboa (cota provisória).
264
PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 631.
265
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
266
Cf. IDEM, ibidem.

64
D. Tomás de Sousa Holstein nasceu no último dia do ano seguinte ao
nascimento de D. Francisco. Foram padrinhos o seu irmão e cunhada, os então
Marqueses do Faial267. Não possuímos documentação relativa à sua infância.
Começou a frequentar o curso do Liceu em Coimbra, nomeadamente a Cadeira
de Princípios de Física e Química e Introdução à Historia Natural dos Três Reinos,
juntamente como o seu irmão mais novo, D. Filipe268. Frequentou o curso de Filosofia
desde o ano lectivo de 1856-1857 até concluir o quinto ano, no de 1860-1861, tendo
também frequentado os dois primeiros anos do curso de Matemática 269.
Oficial-mor honorário da Casa Real e do Conselho régio, o título de Marquês de
Sesimbra foi-lhe outorgado por decreto de 3 e carta de 8 de Fevereiro de 1864270. Foi
vogal supranumerário do Supremo Tribunal Administrativo e Governador Civil da
Madeira, para onde se mudou com a família, entre 1868 e 1869, e de Santarém, entre
1870 e 1871271. Casou a 11 de Abril de 1864 com D. Ana Maria Gonçalves da Câmara
(10/12/1845-19/01/1885)272 filha dos primeiros Marqueses da Ribeira Grande, de quem
teve onze filhos273. Morreu a 22 de Setembro de 1887274.
D. Filipe Maria José Pedro Estêvão João-Evangelista Francisco de Salles Xavier
de Assis de Borja de Paula de Sousa Holstein foi o último dos filhos dos primeiros
Duques de Palmela. Nasceu em Lisboa, a 26 de Dezembro de 1841, tendo sido
apadrinhado por seu irmão, o Marquês do Faial, e pela tia (meia irmã de D. Pedro), D.
Maria Helena de Sousa Holstein, Viscondessa de Beire, através de procuração275. Teve

267
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 165.
268
Cf. Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no
Anno Lectivo de 1855 para 1856; (…) – Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a 1860), p. 42.
269
Cf. Idem, Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a 1860), p. 20; Cf. Idem, Tomo VI (XLV - LIV – 1850 a
1860), p. 27; Cf. Idem, Tomo VII (LV - LIX – 1860 a 1865), p. 41.
270
PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. I, p. 450.
271
Cf. SESIMBRA, Mariana, Madre Monfalim, (Eugénia de Sousa e Holstein), Lisboa, Bertrand,
1946, pp. 10-14.
272
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. II, p. 371.
273
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 226.
274
IDEM, ibidem, p. 226.
275
Cf. Certidão Baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 171.

65
um percurso académico idêntico ao de seu irmão D. Tomás, de quem, inclusive, foi
colega. Foi nomeado para desempenhar as funções de par do Reino a 16 de Maio de
1874, tendo sido igualmente deputado da nação276. Foi oficial-mor da Casa Real em 30
de Abril de 1858. Dois anos depois, foi agraciado com as honras de marquês honorário
e em 1861 com o título de Marquês de Monfalim277. Casou a 29 de Julho de 1861, com
a sua sobrinha, D. Eugénia Maria Filomena Brandão de Melo Cogominho Correia
Pereira de Lacerda (21/05/1840-30/06/1900)278, filha dos Condes de Terena. Faleceu na
ilha da Madeira, a 22 de Fevereiro de 1884, sem descendência 279.

Quadro I – Primeiros Duques de Palmela e respectivo/as filho/as e genros/noras


Títulos Nomes Filiações Nascimentos Casamentos Óbitos
1ºs D. Pedro de D. Alexandre Turim, 10 de Lisboa, 12 de
Duques Sousa Holstein de S. Holstein Maio de 1781 Lisboa, 4 de Outubro de 1850
de D. Eugénia Marqueses Lisboa, 4 de Junho de 1810
Abril de 1848
Palmela Telles Gama de Niza Janeiro de 1798
Conde de D. Alexandre 1º Duques de Cádis, 21 de S. Miguel, 21 de
Calhariz de Sousa Holstein filho Palmela Março de 1812 Junho de 1832
D. Eugénia de 2ª Duques de Lisboa, 6 de
Marqueses ?
Sousa Holstein filha Palmela Março de 1813 Lisboa, 8 de
das
D. Brás da D. Nuno da Lisboa, 17 de Maio de 1842 16 de Janeiro de
Minas
Silveira Silveira Dezembro de 1814 1867
D. Isabel de 3ª Duques de 12 de Novembro 15 de Junho
Sousa Holstein filha Palmela de 1816 de 1819
D. Domingos de 4ª Duques de Londres, 28 de Esponsais 3 de Lisboa, Abril
2ºs
Sousa Holstein filho Palmela Junho de 1818 Julho de 1836 de 1864
Duques
Confirmação a
de D. Maria Luísa Condes da Lisboa, 21 de Lisboa, 21 de
22 de Abril de
Palmela Noronha Sampaio Póvoa Abril de 1827 Março de 1861
1839
Marquês D. Manuel 5º Duques de Londres 11 de Lisboa, 3 de
Honorário Sousa Holstein filho Palmela Outubro de 1819 Fevereiro de 1837
D. Maria Ana de 6ª Duques de Lisboa, 25 de Paris, Lisboa, 20 de
Condes
Sousa Holstein filha Palmela Março de 1821 15 de Março de 1844
de
Luís Brandão Conde de Porto, 7 de Setembro
Terena 8 de Junho de 1866
Pereira Lacerda Terena Novembro de 1814 de 1838
D. Mª José de 7ª Duques de Borba, 27 de 29 de Agosto
Sousa Holstein filha Palmela Setembro de1822 de 1831

276
Para conhecer a actividade parlamentar exercida por D. Filipe vide MOREIRA, Fernando,
“Holstein, D. Filipe” in Dicionário Biográfico Parlamentar, vol. 2, p. 429.
277
PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 144.
278
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p. 13.
279
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.

66
D. Teresa de 8ª Duques de Lisboa, 14 de 11 de Junho de
Lisboa,
Condes das Sousa Holstein filha Palmela Dezembro de 1823 1865
8 de Maio
Alcáçovas D. Caetano de D. Luís Tomar, 24 de Lisboa, 14 de
de 1842
Lencastre Vasc. Sousa Agosto de 1824 Fevereiro de 1894
Marquês D. Rodrigo de 9º Duques de Lisboa, 13 de Lisboa, 25 de
Honorário Sousa Holstein filho Palmela Dezembro de 1824 Abril de 1840
D. Catarina 10ª Duques de Londres, 22 de Lisboa, Lisboa, 7 de
Condes
Sousa Holstein filha Palmela Agosto de 1826 26 de Outubro de 1885
das
D. Francisco Conde das 26 de Dezembro Novembro 2 de Agosto
Galveias
Melo e Castro Galveias 1824 de 1845 de 1892
D. Ana Rosa de 11ª Duques de Londres, 5 de Lisboa, 16 de
Sousa Holstein filha Palmela Junho de 1828 Lisboa, 5 de Maio de 1861
Marqueses Maio de 1850;
Luís Vasconcelos Lisboa, 18 de Lisboa 28 de
Castelo 2ª: 7 de
Sousa Março de 1823 Julho de 1851
Melhor Outubro
D. António Condes das Lisboa, 21 de de 1857
27 de Julho de1865
Melo e Castro Galveias Julho de 1826
D. Pedro de 12ª Duques de Paris, 8 de Paris, 6 de
Sousa Holstein filho Palmela Janeiro de 1830 Março de 1830
D. Francisco de 13º Duques de Paris, 20 de Luz, 30 de
Marqueses Lisboa,
Sousa Holstein filho Palmela Abril de 1838 Setembro de 1878
de Sousa 20 de Agosto
D. Mª Eugénia Condes de Lisboa, 22 de
Holstein de 1862 Outubro 1879
Mello Breyner Sobral Outubro de 1837
D. Tomás de 14º Duques de Lisboa, 31 de 22 de Setembro
Marqueses
Sousa Holstein filho Palmela Dezembro de 1840 11 de Abril de 1887
de
D. Ana Marqueses da 10 de Dezembro de 1864 19 de Janeiro
Sesimbra
Gonçalves Câmara Ribeira Grande de 1845 de 1885
D. Filipe 15º Duques de Lisboa, 26 de Madeira, 22
Marqueses Porto, Fevereiro de 1884
Sousa Holstein filho Palmela Dezembro de 1841
de 29 de Julho
D. Eugénia Condes de Lisboa, 21 de 30 de Junho
Monfalim de 1861
Brandão Melo Terena Maio de 1840 de 1900
Feita a apresentação da primeira geração, passamos à apresentação da geração
seguinte. Todavia, e como já referimos anteriormente, apenas nos vamos deter na prole
do herdeiro da Casa.

Árvore Genealógica V - Ascendência e descendência da Segunda Duquesa de Palmela


D. T eresa Xavier
Pedro Teixeira D. Bernarda D. Pedro José de D. Francisca Rita D. Manuel Caetano
de Sampaio Amaral Guedes ? ? Lourenço de Almeida
Botelho de
Noronha Camões de Menezes Lancastre

Eulália Floriana D. Maria José


Francisco T eixeira 2º Gualberta Cabral de
D. José Noronha
Lourenço
de Sampaio Albuquerque
Melo Carvão Almeida

Henrique D. Luísa Mª
2º Baltasar
D. Pedro de D. Eugénia
Teixeira de
Sampaio
Sousa Holstein Teles da Gama
Noronha

Mª Luísa D. Domingos de
Lourenço T eixeira João Maria
de Sampaio
Noronha Sousa Holstein
Teixeira Sampaio
Sampaio

D. Maria Luísa
D. Eugénia
de Sousa D. Luísa Maria
Holstein Luísa

Assim sendo, D. Domingos de Sousa Holstein teve três filhas. A primeira, e a


que sucedeu na casa, foi D. Maria Luísa, que nasceu a 4 de Agosto de 1841, em

67
Lisboa280. Dedicou-se à escultura, tendo sido discípula de Anatole Calmels. Algumas
das suas obras figuraram no Salão de Paris. Juntamente com a sua amiga, a Condessa de
Ficalho, dedicou-se também à cerâmica, no seu palácio do Rato, onde nasceram as
peças chamadas da Fábrica do Ratinho.
Exerceu uma intensa actividade filantrópica, admirando o socialismo, que
aproximava dos ideais cristãos281. Fundadora das Cozinhas Económicas, que servia
refeições por uma módica quantia, foi apoiante de outras instituições e iniciativas como
o Hospital de S. Vicente de Paulo, criado por sua mãe e destinado a recolher e tratar
crianças pobres282, assim como a Assistência Nacional aos Tuberculosos ou o Instituto
de Socorro a Náufragos ou mesmo a Liga Protectora dos Animais.
Recebeu o título de Marquesa do Faial após a morte da mãe, em 1861, como
descendente do primeiro Duque de Palmela283. No ano seguinte recebia o título de
Duquesa de Palmela, pela mesma razão 284.
Foi dama da Rainha D. Maria Pia, Camareira-mor da Rainha D. Amélia, dama
da ordem de Santa Isabel, comendadeira da Ordem de Santiago, do mérito Científico,
Literário e Artístico, dama da Ordem da Maria Luísa em Espanha 285.
Casou com António de Sampaio e Pina de Brederode (08/01/1834-
24/11/1910)286, filho dos primeiros Viscondes de Lançada, a 15 de Abril de 1863.
Haviam-se conhecido em Londres, quando António de Sampaio e Pina de Brederode aí
se dirigiu para comprar a corbeille nupcial para o casamento de D. Luís com D. Maria
Pia, sendo-lhe recomendada D. Maria Luísa, que aí se encontrava 287. O “notável
consórcio”288 começou à uma da tarde, no palácio do Rato e decorreu “com o maior
espalhafato possível”289. Além do Rei D. Luís e de D. Maria Pia, que foram os

280
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
281
Cf. SABUGOSA, Conde, Embrechados, 2ª ed., Lisboa, Livraria Ferreira, Editora, 1908, p. 221.
282
Cf. Regulamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol. 695.
283
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 71.
284
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 42.
285
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p. 105.
286
Cf. IDEM, ibidem, vol. III, p. 105.
287
Cf. RATTAZZI, Maria, Portugal de Relance, Lisboa, Edições Antígona, 1997, p. 120.
288
A Revolução de Setembro, Nº 6275, 15 de Abril de 1863, fol. 2.
289
MÓNICA, Maria Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio Maior, correspondência para seus
filhos, 1852-1865, p. 321.

68
padrinhos do sacramento, celebrado pelo Cardeal Patriarca, assistiram vários membros
da família. Após a boda, bem apressada por sinal, como comenta D. Isabel, condessa de
Rio Maior, em carta a seu filho, os noivos partiram para Sintra. No entanto, as portas do
palácio foram abertas ao povo durante os dias seguintes, de modo a este poder admirar
as obras de arte que recheavam a casa e a decoração propositadamente montada para a
cerimónia290.
D. Maria Luísa morreu a 2 de Setembro de 1909, vítima dos problemas
cardíacos de que padecia, um ano após o regicídio, a que assistiu, e um ano antes da
proclamação da República291.
D. Eugénia Luísa Maria Balbina Domingues Filomena Ana Josefa Francisca de
Sales Borja Xavier de Assis de Sousa Holstein nasceu em Lisboa, a 3 de Agosto de
1842, vindo a morrer dois anos depois, a 24 de Setembro de 1844, no Lumiar 292. Foram
padrinhos de baptismo o avô paterno e D. Balbina Cândida de Sousa (1770-?)293. Foi
sepultada na Capela do Palácio do Lumiar, tendo seu corpo sido trasladado
posteriormente para o jazigo de família na quinta do Calhariz 294.
D. Luísa Maria Eugénia Filomena Caetana Francisca de Sousa Holstein, a
terceira filha deste casamento, nasceu a 18 de Janeiro de 1845, em Paris 295. Casou em
Londres, a 30 de Abril de 1862, com José Maria Gonçalves Zarco da Câmara
(03/11/1843-15/12/1907)296, Conde da Ribeira Grande297. Morreu a 9 de Fevereiro de
1864, no recobro do parto de sua filha, que apenas lhe sobreviveu dois dias 298.

Quadro II – Filhas e genros dos Segundos Duques de Palmela


Títulos Nomes Filiações Nascimentos Casamentos Óbitos
3ºs D. Maria de 1ª 2ºs Duques Lisboa, 4 de Lisboa, 2 de Setembro
Duques Sousa Holstein filha de Palmela Agosto de 1841 15 de Abril de 1909
de António Sampaio e 1ºs Viscondes Lisboa, 8 de de 1863 24 de Novembro

290
Jornal do Comércio, Nº. 2854, sexta-feira, 17 de Abril de 1863, fol. 1.
291
Cf. COLAÇO, Branca Gonta, Memórias da Marquesa de Rio Maior, Lisboa, Parceria António
Maria Pereira, 1930, p. 220.
292
Cf. Certidão de óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 91.
293
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 89.
294
Cf. Certidão de óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 91.
295
Cf. Auto de nascimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 251.
296
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, 1961, p. 222.
297
Cf. Certidão de Casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 267.
298
Cf. Auto de verificação de óbito, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 381.

69
Palmela Pina Brederode da Lançada Janeiro de 1834 de 1910
D. Eugénia de 2ª 2ºs Duques Lisboa, 3 de Lumiar, 24 de
Sousa Holstein filha de Palmela Agosto de 1842 Setembro de 1844
D. Luísa Mª de 3ª 2ºs Duques Lisboa, 18 de Lisboa, 9 de
Condes da Londres,
Sousa Holstein filha de Palmela Janeiro de 1845 Fevereiro de 1864
Ribeira 30 de Abril
José Mª Zarco Marqueses da Lisboa, 3 de
Grande de 1862
da Câmara Ribeira Grande Novembro de 1843

Árvore Genealógica VI - Ascendência e descendência do Terceiro Duque de Palmela

António Xavier Marina José de


? ?
Teixeira Homem Andrade Brederode

D. Domingos de D. Maria Luísa Manuel Inácio de Helena Teixeira


Sousa Holstein Noronha Sampaio Sampaio e Pina Homem de Brederode

D. Maria Luísa António Sampaio


de Sousa e Pina de
Holste in Bre de rode

D. Helena
D. Pedro Maria
Maria

Deste modo, seria D. Maria Luísa quem viria a suceder na casa de seu pai. Do
seu casamento nasceriam dois filhos. A primogénita, D. Helena Maria de Sampaio e
Pina de Sousa Holstein nasceu em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1864299.
Fez a primeira comunhão a 30 de Maio de 1887, juntamente com as primas,
Eugénia de Jesus (que viria a tornar-se a Madre Monfalim), filha de seu tio-avô,
Marquês de Sesimbra, e D. Teresa Lobo de Almeida Melo de Castro, filha de sua tia-
avó D. Catarina, Condessa das Galveias300.
Casou com Luís Coutinho Borges de Medeiros Sousa Dias da Câmara
(24/04/1866-25/09/1933)301, filho dos primeiros Condes da Praia e de Monforte, a 20 de
Julho de 1887. A cerimónia realizou-se no palácio do Rato, ao meio-dia e encheu as
páginas dos periódicos, que o descreveram à exaustão: os convidados pertencentes às
“principais famílias da nossa sociedade, ministério e todo o corpo diplomático
estrangeiro”302; as toilettes, não só da noiva, mas dos demais convidados; o repasto

299
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
300
SESIMBRA, Mariana, Madre Monfalim, (Eugénia de Sousa e Holstein), p. 41.
301
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p.105.
302
A Revolução de Setembro, Nº 13468, 21 de Julho de 1887.

70
servido; os presentes recebidos pelos noivos, a decoração de todo o palácio 303. O
celebrante da cerimónia foi o Cardeal Patriarca e os padrinhos foram o Conde da
Silvã304 e o Dr. João de Andrade Albuquerque305, ambos cunhados do Conde da Praia,
enquanto as madrinhas foram a Marquesa das Minas, prima de D. Luísa, e D. Carolina
Brederode Smith, tia do Duque de Palmela.
D. Helena foi elevada a Marquesa do Faial em 1882, como distinção pelos
serviços prestados pelo seu bisavô, D. Pedro, primeiro Duque de Palmela 306. Herdou
também os títulos de Condessa do Calhariz, Sanfré e da Póvoa e ainda o de Viscondessa
de Lançada, depois da morte do irmão de seu pai. D. Helena faleceu em Cascais a 28 de
Setembro de 1941307.
O segundo filho de D. Maria Luísa foi D. Pedro Maria Luz. Nasceu em 24 de
Fevereiro de 1866, às cinco horas e vinte e cinco minutos da manhã, na residência dos
seus pais, ao Rato. Foi padrinho o seu tio Luís Teixeira Homem de Brederode e
madrinha Nossa Senhora308. Morreu na mesma cidade, três anos volvidos, a 2 de
Dezembro de 1869309, vítima de meningite310.

Quadro III – Filhos e genro dos terceiros Duques de Palmela


Títulos Nomes Filiações Nascimentos Casamentos Óbitos
3ºs D. Helena de 1ª 3ºs Duques Lisboa, 16 de Lisboa, Cascais, 28 de
Marqueses Sousa Holstein filha de Palmela Fevereiro de 1864 20 de Julho Setembro de 1941
do Faial Luís Coutinho 1ºs Condes Lisboa, 24 de de 1887 Cascais, 25 de

303
Cf. A Revolução de Setembro, Nº 13469, 22 de Julho de 1887. É curioso notar como um jornal tão
politizado no início da sua fundação se tenha rendido aos faits-divers do mundanismo, dedicando
extensos artigos ao acontecimento, com maior pormenor que o Diário de Notícias. Cf. Diário de Notícias,
nº 7727, Lisboa, Tipografia Universal, 20 de Julho de 1887 e nº 7728, 21 de Julho de 1887.
304
D. Francisco de Melo Manuel da Câmara (1837-1919), 2º conde da Silvã.
305
Casado com Carolina Adelaide Borges da Câmara e Medeiros, filha dos primeiros Viscondes da
Praia.
306
Cf. Carta patente, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 81.
307
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
308
Cf. Certidão de baptismo, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 199.
309
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
310
Cf. BREYNER, Tomás, de Melo, Memórias do professor Tomás de Melo Breyner, fac. simil.,
edição comemorativa do centenário da fundação da Consulta de moléstias sifilíticas e venéreas do
Hospital do Desterro, s.d., p. 9.

71
4ª Duques Dias da Câmara Praia Monforte Abril de 1866 Setembro de 1833
de Palmela
D. Pedro de 2º 3ºs Duques Lisboa, 24 de Lisboa, 2 de
Sousa Holstein filho de Palmela Fevereiro de1866 Dezembro de 1869

Árvore Genealógica VII - Ascendência e descendência do Quarto Duque de Palmela

Duarte Borges da Ana Teodora Borges Luís Coutinho de D. Ana de Brito


Câmara e Medeiros do Canto Medeiros Albergaria Freire Mouzinho

António Borges de Maria José Coutinho


D. Maria Luísa de António Sampaio e
Medeiros Dias da Maldonado de
Sousa Holstein Pina de Brederode Câmara Albergaria Freire

Luís Borges
D. Helena Maria
Coutinho Medeiros
Sousa Holstein da Câmara

D. António
D. Maria Rita D. Maria José D. Domingos D. Maria Luísa D. Ana Maria
Maria

Do casamento de D. Helena nasceriam vários filhos. Apesar de não incidirmos a


nossa atenção sobre eles, não podemos deixar de os referir. São eles D. Maria Rita
(22/06/1889-22/06/1889)311; D. António Maria (14/08/1892-2/09/1941)312; D. Maria
José (17/09/1894-16/05/1969)313; D. Domingos (06/06/1897-16/11/1969)314; D. Maria
Luísa (30/12/1900-25/11/1872)315 e D. Ana (16/11/1968-9/06/1966)316.

Desta apresentação dos indivíduos sobre os quais incide a nossa investigação


ressaltam, desde logo, algumas ideias que pensamos ser importante sublinhar antes de
passarmos à análise dos enlaces matrimoniais propriamente ditos.

311
Cf. Certidão de nascimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 177; cf. Certidão de
óbito IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 179.
312
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
313
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243.
314
Cf. Relação geral da família dos Exm.ºs Sr.s Duques de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 243
315
Cf. Anuário da nobreza de Portugal, vol. III, tomo I, p. 36.
316
Cf. IDEM, ibidem, vol. III, tomo I, p. 36.

72
Com efeito, se atentarmos nos nomes dos indivíduos que compõem esta família,
verificamos o recurso sistemático aos mesmos nomes próprios. Por exemplo, para os
filhos do primeiro Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein; D. Alexandre, seu
filho primogénito, recebeu o nome de seu avô paterno; D. Eugénia, o da mãe; D.
Domingos recebeu o nome secundário de seu avô paterno; Filipe e Francisco são
igualmente nomes recorrentes na família, assim como Mariana, desde que D. Manuel de
Sousa, avô do primeiro Duque casou com a princesa de Holstein, de seu nome Mariana.
D. Teresa e D. Catarina receberam os nomes das tias paternas, também escolhidas para
madrinhas, respectivamente. Ademais, parece ser uma questão de uso e costume, como
forma de obséquio: assim o referia D. Mariana de Sousa Holstein, em carta a sua irmã,
D. Teresa de Sousa Holstein, pelo nascimento da sobrinha de ambas, D. Isabel
Leopoldina, que assim se chamou em memória da bisavó paterna, D. Mariana
Leopoldina, princesa de Holstein317. As filhas de D. Domingos, segundo Duque de
Palmela, receberam todas elas o nome de sua mãe, Luísa, sendo que a filha segunda
recebeu igualmente o de sua avó paterna. D. Helena, por seu lado, recebe o nome de sua
avó paterna Helena Homem de Teixeira Brederode (02/12/1800-s.d.), primeira
viscondessa de Lançada318.
Mas não é só a adopção de nomes próprios iguais aos de seus antepassados que
aqui ressalta. É também a escolha das várias facetas de Nossa Senhora (Anunciação,
Conceição e Assunção), do Santíssimo Sacramento ou de certos santos, como S.
Francisco, surgindo todos os santos deste nome do calendário litúrgico: Francisco de
Assis, Francisco Xavier, Francisco de Salles, Francisco de Paula e Francisco de Borja.
Há também referências a Santa Luzia e a S. João Evangelista. Pretender-se-ia com isto
dar provas de devoção ao sagrado e a busca de protecção divina.
Curiosa é também a escolha dos padrinhos. Como se sabe, os de baptismo
tinham um papel importante na formação da criança, sobretudo se esta se tornasse órfã.
Nesse sentido, parece cuidadosa a opção, essencialmente por familiares próximos, como
sejam os avós e os tios. No entanto, à medida que o número de filhos por casal aumenta,
como se verifica com D. Pedro e D. Eugénia, outras pessoas com laços menos estreitos
vão começando a desempenhar esse papel, ao lado de outras pessoas mais próximas dos

317
Cf. VENTURA, António, “Para a História da Epistolografia feminina em Portugal.
Correspondência da Condessa de Alva para sua irmã, D. Teresa de Sousa Holstein, (1814-1816)”, Revista
da Faculdade de Letras, nº 21-22, 5ª série, p. 96.
318
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 673.

73
baptizados, como seja o caso dos seus irmãos mais velhos, como realçámos atrás.
Assim sendo, pensamos que a escolha dos nomes e a escolha dos padrinhos não
são fruto do acaso; pelo contrário, parecem denotar uma selecção consciente que pode
ser explicada pela noção de pertença a uma mesma estirpe e a uma mesma casa, que
importa preservar.
Não podemos deixar de referir a educação, uma vez que esta é uma preocupação
constante que ressalta da correspondência mantida entre os primeiros Duques de
Palmela. Não se trata somente de dar conta ao cônjuge da educação que se dá aos filhos,
mas sim a reflexão de que a mesma é um dado importante na escolha das suas carreiras.
Além disso, e como demonstrou David Higgs, importa verificar as profissões seguidas
pelos nobres, uma vez que toda a família nobre procurava uma profissão conveniente,
sobretudo para aqueles que não iriam viver dos rendimentos do património familiar, ou
seja, os filhos segundos319.
Verificamos algumas semelhanças, pelo menos dentro de cada geração. A
primeira característica é, desde logo, a diferença entre a educação masculina e a
feminina. Ainda que o ensino dos princípios básicos das línguas, da matemática e da
História seja comum nos primeiros anos, a educação masculina tende a evoluir para um
nível superior, primeiro em colégios, depois na Universidade. Efectivamente, esta
última é o destino escolhido para os três filhos mais novos do primeiro Duque de
Palmela, D. Francisco, D. Tomás e D. Filipe, quer no curso de Direito, quer no de
Filosofia. Não é de estranhar este percurso, uma vez que também o meio-irmão do
primeiro Duque, D. Filipe de Sousa Holstein, foi bacharel em leis, pela Universidade de
Coimbra, onde esteve matriculado entre 1816 e 1821320. Como Maria do Rosário Cruz
chamou a atenção relativamente à aristocracia inglesa de meados do século XIX, a
frequência da Universidade não tinha como único propósito a aquisição de
conhecimentos, mas pautava-se também pelo alargamento de relações que viessem a

319
Cf. HIGGS, David, Nobles, Titrés, aristocrates en France après la Révolution, 1800-1870, s. l.,
Liana Levi, 1990, p. 203.
320
Cf. Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no
Anno Lectivo de 1820 para 1821; (…) – Tomo III (XX - XXVIII – 1820 a 1830), p. 5 e cf. Ibidem, Tomo
IV (XXIX - XXXV – 1830 a 1840), p. 8.

74
revelar-se proveitosas, quer a nível social, quer a nível político 321.
D. Alexandre, o primogénito, frequentou um colégio militar em Inglaterra, tendo
estudado algumas disciplinas quer na Universidade de Londres, quer na Sorbonne. O
objectivo de seus pais era o de matriculá-lo na Universidade de Coimbra, no curso de
Matemática e fazê-lo assentar praça em artilharia, o que não se verificou, devido aos
acontecimentos políticos ocorridos em Portugal. Contudo, ficou claro o empenho de
seus pais na prossecução de um curso superior e na aposta de uma carreira militar no
exército, como tinha desempenhado seu pai, o Duque de Palmela, e como conviria a um
filho primogénito. No entanto, a insistência na formação superior parece ser pouco
comum para um jovem primogénito do seu estado.
Quanto à formação de D. Domingos, que à morte do seu irmão mais velho, D.
Alexandre, se torna o potencial sucessor da casa de seu pai, a opção recai na Academia
da Marinha, escolha efectuada posteriormente à morte desse seu irmão. A carreira das
armas é novamente a preferida, embora sem uma formação superior, na qual os seus
pais tinham investido tanto, relativamente ao seu irmão mais velho.
Quanto a D. Manuel e a D. Rodrigo, constatámos que frequentaram colégios,
mas não receberam formação superior, pois morreram antes disso. Todavia, temos a
percepção da rotina diária de um colégio através da narrativa que D. Rodrigo efectuou à
mãe, em carta de 9 de Fevereiro de 1834: “ (…) Agora vou-lhe dizer a regra do dia.
Nós nos levantamos as seis horas da manhã depois vamos rezar, depois ouvimos missa,
depois vamos ouvir uma leitura sagrada que nos lê um dos padres, depois do almoço
vamos brincar e depois vamos estudar até às onze e meia depois vamos brincar até ao
meio-dia e meia hora, depois vamos estudar até o jantar que é às 2 horas, depois
brincamos. A noite temos chá até as 7 horas depois vamos brincar até às 8 horas,
depois vamos rezar e deitar. (…)”322.
Todavia, apesar dos percursos seguidos na sua educação, não sabemos até que
ponto os mesmos influenciaram, de facto, a escolha da sua carreira, pelo que podemos
verificar no caso dos filhos do primeiro Duque de Palmela que sobreviveram até à idade
adulta, D. Domingos, D. Francisco, D. Tomás e D. Filipe.
Efectivamente, a formação na Academia Real da Marinha seguida por D.

321
Cf. CRUZ, Maria do Rosário Pombo Braga da, Tradição e inovação. A aristocracia inglesa entre
1832-1851, Lisboa, dissertação de mestrado em Estudos Anglo – portugueses apresentada à faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1996, p. 48.
322
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5749, Caixa 161, fol. 453.

75
Domingos não o fez seguir a carreira das armas, tendo apenas tomado a administração
de sua casa e desempenhado a função hereditária de Par do reino e de presidente de
algumas comissões ou associações. Todavia, demonstrou algum interesse empresarial,
ao ser um dos principais accionistas da Companhia dos Canais da Azambuja.
D. Francisco, Marquês de Sousa Holstein, doutorado em Direito, desempenhou
funções diplomáticas, para além de Par do reino, funções que o seu pai também exerceu
sem ter formação em Direito. Tal como o seu irmão antecedente, teve também
interesses empresariais, como referimos antes. D. Tomás e D. Filipe foram ambos
formados em Filosofia. O primeiro exerceu o cargo de Governador Civil, o segundo foi
Par do Reino. Apesar de as carreiras seguidas serem as tradicionais para a aristocracia,
como a política ou a diplomacia, havia certamente uma maior formação académica que
permitiria um melhor desempenho das mesmas.
Relativamente à educação feminina, esta consiste essencialmente na
aprendizagem dos conhecimentos básicos da gramática, através de “livros de uma sílaba
só”323, ou de “spelling books”324, encomendados de Inglaterra, da Matemática e da
História, dada ou pelos pais, ou por mestras contratadas, e que não diferia muito da
educação que os rapazes recebiam na mesma idade e do que acontecia relativamente à
aristocracia francesa325, ao contrário da inglesa, cujo ensino elementar estava a cargo
exclusivamente de preceptores326. Era completada com os lavores femininos, com o
ensino da música, do desenho e da pintura, que permitiam passar os serões familiares
em plena harmonia, como acontece no quadragésimo sétimo aniversário natalício de D.
Pedro, relatado por D. Eugénia Teles da Gama a seu filho primogénito, D. Alexandre: “
(…) Sejamos muitos com parabéns o dia de Hoje. Deus nosso Senhor nos dê a
consolação de ver contar muitos dias destes ao Papa. As manas deram todas coisas
feitas por elas, a Maria Ana e a Maria deram uns tapetes feitos por elas. (…) a Maria
Ana há-de logo à noite tocar um dueto com a Eugénia. Esta fez uma bolsa muito bonita
e tem pingente (…)”327.

323
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 559.
324
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 366.
325
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse réinventée. Nobles de Franche-conté de 1814 a 1870,
Paris, Annales Littéraires de l’Université de Besançon, 477, 1992, pp. 819-820.
326
Cf. CRUZ, Maria do Rosário Pombo Braga da, Tradição e inovação. A aristocracia inglesa entre
1832-1851, p. 39.
327
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5743, Caixa 169, fol. 465.

76
No entanto, o gosto pelas ciências físico-químicas não é de todo arredado do
interesse familiar, considerado quase como um divertimento. É assim que podemos
entender o estranho pedido da Duquesa de Palmela, em carta de 14 de Julho de 1829 a
seu filho primogénito, D. Alexandre, para além dos habituais: “ (…) A Miss Kelleghene
te manda recado e te pede que mandes papel para escrever, que é para a Maria Ana
desenhar e que te não esqueças dos desenhos, igualmente te pede lhe mandes um livro
de uma sílaba só que é para o Didi. Eu também bem te quero pedir uma coisa. É que
me mandes um microscópio se não custar muito dinheiro. Informa-te primeiro do
dinheiro e manda-me dizer. O nosso divertimento aqui é examinarmos o lixo (…) ”328
O cultivo das línguas, tido em França como sinal de distinção 329, ocorre desde
muito cedo, visto tratar-se de uma família que esteve durante largos períodos no
estrangeiro, sendo natural que as crianças, ainda de tenra idade, falassem fluentemente o
inglês e o francês, como verificámos através de vários exemplos epistolares. No entanto,
o afastamento da pátria também produziu o efeito contrário, ou seja, provocou o
esquecimento da língua portuguesa, como relata D. Eugénia Teles da Gama a seu
marido, a respeito do filho D. Rodrigo, em 13 de Agosto de 1832: “ (…) O Didi está
muito crescido e já começou a aprender latim, no princípio do cólera esteve muito
tempo sem vir a casa e quando veio já quase que se tinha esquecido do português,
agora já o torna a falar bem (…)”330.
Relativamente às restantes gerações, no que diz respeito à formação académica,
nada podemos acrescentar pela ausência de fontes, à excepção da formação artística da
terceira Duquesa de Palmela, D. Maria Luísa de Sousa Holstein. Apesar disso, podemos
afirmar que, pelo menos por parte dos primeiros Duques de Palmela (não nos
esqueçamos que nas gerações seguintes se trata de gerações femininas), houve uma
clara preocupação com a educação e a formação académica dos seus filhos, na qual
investiram bastante. Quando debatermos o assunto da carreira dos cônjuges, no capítulo
4.3.. veremos se se trata de uma característica desta família ou se de um traço comum à
aristocracia deste período.
A par da formação escolar, a formação religiosa não foi descurada. Ainda que

328
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 559.
329
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse réinventée. Nobles de Franche-conté de 1814 a 1870,
p. 690.
330
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 166.

77
numa carta de Fevereiro 1821331, D. Pedro de Sousa Holstein, primeiro Duque de
Palmela, perguntasse à mulher qual a fé de baptismo dos filhos, o seu espírito racional
fazia-o um pouco avesso à religião, como demonstra esta outra sua carta dirigida a D.
Eugénia, de 25 de Maio de 1830: “Estimo que me digas acerca do confessor que
achaste mas peço-te que não te esqueças de que o teu principal dever como mãe, de
família é de cuidar nas filhas e na casa e não te exaltes demasiado a imaginação com
misticidade e com práticas religiosas que sendo boas em si devem contudo deixar o
tempo e a cabeça livres para cuidar nas coisas deste mundo!”332. Era a resposta à carta
de D. Eugénia, datada de 30 de Março do mesmo ano: “A propósito ainda te não falei
numa fortuna que aqui tenho tido e é ter achado um confessor muito bom, é homem de
muita virtude e de muito juízo e achei-o bem diferente do que eu esperava pelas notícias
que tinha dos padres franceses; as vezes que me tenho confessado, tem-me dito coisas
tão boas que me tem consolado e meu rico se nós não vivermos para Deus, quem é que
nos pode consolar como ele! E agora tenho bem visto que se minha mãe me não tivesse
dado uma criação tão religiosa, nunca poderia ter podido resistir a tantos trabalhos
como tenho tido, e por ti te deves sempre lembrado de Deus e que ele te tem valido e
há-de sempre acudir e espero que ele há-de ouvir as orações de tantas pessoas boas
que lhe pedem por ti.”333 Era esta educação religiosa que D. Eugénia recebera de sua
mãe que pretendia dar a seus filhos. O ensino do catecismo, a que se seguia a cerimónia
da primeira comunhão e, posteriormente, a do crisma, são várias vezes relatados por D.
Eugénia, como nesta carta de 14 de Junho de 1830: “(…) Os dois pequenos foram na
procissão e pegaram nos cordões da bandeira dos rapazes. Não podes crer como a
cerimónia da primeira comunhão foi interessante. Eu chorei imenso, os pequenos
especialmente o Manuel portaram-se optimamente, e com muita devoção. De tarde no
dia do corpo de Deus que foi o dia da comunhão, renovaram as promessas do baptismo
e foi uma coisa bem devota e de fazer a maior impressão. Agora para Agosto hão-de
ser crismados para então já tu cá estás (…)”334
Nas gerações posteriores não podemos deixar de referir, como o fizemos
anteriormente, D. Helena de Sousa Holstein, quarta Duquesa de Palmela, de que temos
indicação de que fez a sua primeira comunhão com algumas de suas primas. Além

331
Cf. Correspondência particular, IANTT, ACP, Microfilme 5748, Caixa 171, fol. 16.
332
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 56.
333
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 817.
334
Correspondência particular IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 817

78
disso, parece ter seguido uma fervorosa religiosidade, uma vez que os livros que
sabemos ter possuído são, na sua maioria, de temática religiosa 335.

4. Os Enlaces: a reprodução familiar, as estratégias sociais e os


cônjuges

O concílio de Trento, cujas disposições ainda permaneciam como válidas


durante o século XIX, instituía o matrimónio como um sacramento. Todavia, este
casamento não era apenas a apropriação do corpo da mulher 336 e a sacralização de uma
união aos olhos de Deus. Era a base de toda a unidade familiar e, essencialmente, a
“pedra mestra onde assenta a ascensão social e económica”337, uma vez que permitia a
reprodução, tão necessária à manutenção da Casa.
No caso das elites isso tornava-se ainda mais evidente. Como sistematizou Nuno

335
Cf. ROCHA, Ilídio, Catálogo da Livraria do Convento da Arrábida e do acervo que lhe estava
anexo, Lisboa, Fundação Oriente, 1994. Os livros autografados por D. Helena, que indiciam a sua posse
são, no caso desta biblioteca, que era pertença familiar, desde a compra do Convento da Arrábida pelo
primeiro Duque de Palmela, essencialmente de temática religiosa.
336
Cf. MENDES; Maria do Céu Dinis, Alguns aspectos do casamento na Inglaterra setecentista ou o
velho Patriarca e a nova Mulher, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1997, p.39.
337
GONÇALVES, Helena Maria da Costa, Amar, Sofrer e Obedecer. A mulher e o casamento na
Grã-Bretanha: 1790-1890, Dissertação de mestrado. Instituto de Letras e Ciências Humanas,
Universidade do Minho, 1997, p. 38.

79
Gonçalo Monteiro, “o casamento e o celibato constituíam momentos fundamentais de
afirmação da identidade social do grupo e de cada uma das Casas que o
compunham”338. Por outras palavras, o casamento enquadrava-se numa estratégia de
reprodução e perpetuação da Casa e era usado em seu proveito, não só a nível
económico, mas sobretudo a nível simbólico. Daí que o casamento, ou a sua ausência,
tenha de ser objecto de estudo em relação à Casa Palmela, procurando averiguar de que
forma foi usado e verificar se aqui se manifesta a manutenção das características já
evidenciadas pela historiografia relativamente ao período antecedente para o grupo da
aristocracia.

4.1. Fecundidade e Nupcialidade

Um dos primeiros factores a ter em conta na nossa análise é o número de filhos


por casal, uma vez que pode ser um indicativo da necessidade de assegurar a
sobrevivência e continuidade da casa, sobretudo numa época em que a mortalidade,
particularmente a infantil, registavam índices bastante elevados. No tronco principal
apenas existe uma prole numerosa com D. Pedro de Sousa Holstein, em concreto 15
filhos, muito embora nem todos chegassem à idade adulta. Ninguém conseguiu, nas
gerações seguintes igualar tal proeza, nem de perto nem de longe, à excepção dos ramos
secundários, referentes aos filhos do primeiro Duque de Palmela: D. Eugénia de Sousa
Holstein é mãe de 8 filhos; D. Maria Ana de 3; D. Teresa de 10; D. Catarina de 17; D.
Ana Rosa de 3 (um do primeiro casamento, os restantes do segundo); D. Francisco é pai
de 3 filhos; D. Tomás de 11. D. Filipe não teve qualquer descendência339. De facto, no
ramo principal o número de filhos é bastante inferior: na geração seguinte apenas três e,
na posterior, dois filhos apenas. Há, de facto, uma forte redução do número de filhos por
casal, no caso do tronco principal, o que se apresenta como uma continuidade no

338
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O crepúsculo dos Grandes: a casa e o património da
aristocracia em Portugal: 1750-1832, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, p. 197.
339
O Visconde Sanches de Baena atribuiu a causa às sucessivas alianças entre parentes, que só
produzem o definhamento das raças e o seu aniquilamento. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA,
Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., Lisboa, Empresa
Editora de Francisco Artur da Silva, 1890, vol. II, p. 652.

80
comportamento da aristocracia face ao período antecedente340 e semelhante ao que
acontecia em Inglaterra341.
Dos indivíduos em questão, pertencentes ao ramo principal das quatro gerações
em análise, todos os que chegaram à idade adulta casaram, à excepção de D. Alexandre
e de D. Rodrigo, filhos dos primeiros Duques de Palmela e ambos com idade para casar,
mas que morreram antes disso. No entanto, no primeiro semestre de 1830, D. Alexandre
tinha sido pensado para noivo de D. Eugénia Maria de Assis Mascarenhas (19/11/1808-
1847)342, filha dos quintos Condes de Sabugal, D. Manuel de Assis Mascarenhas (1778-
1839) e D. Maria Ana Teles da Gama (1798-1816), sua tia materna. De facto, D.
Manuel queria este casamento pois “seriam assim ambos ricos, e que enquanto aos
títulos poderiam unir-se ou alternar-se” e tal agradou também aos Condes de Palmela e
ao próprio D. Alexandre.343. No entanto, logo no início do ano seguinte, D. Alexandre
parece, aos olhos da mãe, estar impressionado pela sua prima, D. Isabel Sousa Botelho
Mourão Vasconcelos (12/07/1812- 4/04/1890). De facto, D. Eugénia escreveu ao
marido, a 4 de Janeiro de 1831, dando-lhe conta da sua intuição materna e mostrando a
sua opinião relativamente ao assunto: “(…) O Alexandre está muito bom em todo o
sentido. Saberás que me parece que a Isabel que não deixa de lhe ter feito sua
impressão, ela na verdade é galantíssima, e muito boa, mas não me parece que seja
forte e em proporção é mais velha do que o Alexandre, há-de se acabar muito depressa
e eu (…) queria uma nora que me dê netos e fortes, mas isto só para falar porque o
Alexandre é ainda muito criança e as nossas coisas então estarão por muito tempo
bastantemente embaraçadas para se pensar em o casar e em ele passando algum tempo
sem a ver é natural que se esqueça por força: que hão-de ser sempre muito amigos
porque tem sido criados juntos. Ela é tão galante que não admira nada que faça andar

340
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O crepúsculo dos Grandes, p. 63.
341
Cf. CRUZ, Maria do Rosário Pombo Braga da, Tradição e inovação. A aristocracia inglesa entre
1832-1851, Lisboa, Tese mestrado em Estudos Anglo-Portugueses, Universidade Nova de Lisboa, 1996,
p. 82.
342
D. Eugénia viria a casar em 1839 com D. Pedro Sousa Coutinho Monteiro Paim, filho segundo dos
Condes de Alva, D. Luís Sousa Coutinho Monteiro Paim e D. Mariana de Sousa Holstein, irmã de D.
Pedro de Sousa Holstein. Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol.
III, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1961, p. 294.
343
Cf. Correspondência particular, Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa
Palmela, Microfilme 5808, Caixa 235, fol. 403 e Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP,
Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 805.

81
a cabeça à roda aos rapazes de figura está boa, mas não tem tanta graça no corpo
como tinha antes, mas assim mesmo já tem ganho muito depois que voltou de Morley
(…) ”344 Apesar desta primeira oposição de D. Eugénia, é com D. Isabel que se acorda o
matrimónio, em Paris, sem, no entanto, se concretizar, pois D. Alexandre morre antes
disso345.
A preocupação em casar todos os filhos e a sua efectiva concretização, uma vez
que nenhum ficou solteiro, são características completamente novas relativamente ao
grupo aristocrático. É certo que o número de celibatários estava tendencialmente em
decréscimo no período imediatamente antecedente e é evidente que, com o advento do
liberalismo e o consequente encerramento das ordens religiosas masculinas, extintas em
1833-34, a procura de uma carreira eclesiástica deixava de ser um padrão comum e
mesmo possível de realizar. Por outro lado, poder-se-á igualmente supor-se que, numa
época de convulsão política, como foi a primeira metade do século XIX, enredada numa
reordenação do poder, as alianças matrimoniais seriam um método eficaz de
consolidação das redes de solidariedade e de aliança política. Se assim for, a análise das
escolhas matrimoniais desta família pode ser reveladora disso mesmo, como veremos
adiante. No entanto, não nos podemos esquecer da vontade própria e livre arbítrio destes
indivíduos. Efectivamente, a carta que acabámos de citar, demonstra claramente o
desejo de D. Eugénia em ter netos, embora não saibamos ao certo qual o peso da
vontade individual na concretização do matrimónio.
Em relação ao comportamento dos homens da família, é na primeira geração que
se verifica o casamento mais tardio, exactamente com o primeiro Duque de Palmela,
que casa com 29 anos. Só se pode avaliar a idade masculina à data do primeiro
casamento apenas na geração seguinte, pois nas restantes apenas há descendências
femininas pertencentes à casa de Palmela. Nesse sentido, as idades variam entre os 18
anos, de D. Domingos, e os 24, de D. Francisco e de D. Tomás, numa média nessa
geração de 21 anos. Nota-se, por isso, uma descida da idade de casamento, mas uma vez

344
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 981.
345
Cf. Autobiografia de D. Pedro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol. 460. D. Isabel,
que quando sabe da morte de D. Alexandre prometeu nunca se casar, (Cf. Correspondência particular,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 146) acaba por contrair matrimónio com o 3º Conde de
Rio Maior, D. João Maria de Saldanha Oliveira e Sousa. A respeito de D. Isabel vide MÓNICA, Maria
Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio Maior, correspondência para seus filhos, 1852-1865, Lisboa,
Quetzal Editores, 2004.

82
que apenas temos um casamento registado na primeira geração – o do primeiro Duque
de Palmela –tal não é, de todo, conclusivo. Por outro lado, podemos explicar a tão baixa
idade de casamento de D. Domingos, não só pelas condições específicas do seu
matrimónio, como relataremos nos capítulos posteriores, mas também por se ter
verificado a prematura morte de seu irmão primogénito, o que iria acelerar
necessariamente o seu matrimónio, com o objectivo de garantir a sucessão da Casa. Pelo
contrário, a idade com que D. Pedro, primeiro Duque de Palmela, casou poder-se-á
explicar pelo facto de ter vivido muito tempo no estrangeiro e querido casar com
alguém de origem portuguesa e em Portugal, como se verificou com seus irmãos, à
excepção de D. Filipe, seu meio-irmão, que casou com uma senhora nascida em
Portugal, embora filha do Cônsul de Mecklemburg-Schewerin em Lisboa346.
A idade de casamento das mulheres desta Casa varia entre os 17 anos e os 29347,
na geração dos filhos do primeiro Duque de Palmela. A média nessa geração é de 21
anos. Já na terceira e quarta gerações a idade máxima é de 23 anos à data do primeiro
casamento, sendo a média de 22 anos e meio. Nesse sentido, confirma-se a tendência
progressiva do retardamento da idade média do primeiro casamento das mulheres,
enunciada por Nuno Gonçalo Monteiro para o Antigo Regime 348.
Em contrapartida, se tivermos em conta as várias gerações, os indivíduos do
sexo masculino da Casa Palmela apresentam uma idade média de casamento de 23 anos,
que é coincidente com a idade média de casamento dos indivíduos não Palmela.
Contudo, se analisarmos cada geração em separado, verificamos, por exemplo, que na
geração dos filhos do primeiro Duque de Palmela, os homens Palmela casam mais cedo
do que os maridos de suas irmãs, apresentando idades médias de casamento de 21 e 23
anos, respectivamente. Relativamente às mulheres, verificamos exactamente o inverso:
as mulheres da Casa Palmela tendem, globalmente, a casar com maior idade,
nomeadamente 21 anos, ao passo que as mulheres que casam com membros masculinos
da Casa Palmela apresentam uma média de idade de 17 anos à data do casamento.

346
TEIXEIRA, Júlio A., Fidalgos e morgados de Vila Real e seu termo. Genealogias, Brasões,
Vínculos, vol. I Vila Real, Imprensa Artística, 1946, p. 94.
347
Esta última idade refere-se a D. Eugénia de Sousa Holstein. Apesar de não sabermos o porquê de
uma idade tão tardia, pensamos que os seus problemas de saúde na coluna, que a obrigaram a frequentes
tratamentos, como referimos anteriormente, aliados à ausência do país, terão eventualmente, sido a causa
do atraso do seu casamento.
348
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), p. 65.

83
Quadro IV – Idade de Casamento da Casa Palmela
Geral Palmela Não Palmela
Indivíduos Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
D. Pedro/Eugénia 29 12 29 12
D. Eugénia/ D. Brás 24 29 29 24
D. Domingos/ D. Mª Luísa 18 9 18 9
D. Mariana / Luís 22 17 17 22
D. Teresa / D. Caetano 23 18 18 23
D. Catarina / D. Francisco 21 19 19 21
D. Ana Rosa / Luís 27 21 21 27
D. Francisco / D. M Eugénia 24 24 24 24
D. Tomás / D Ana Maria 24 19 24 19
D. Filipe / Eugénia 19 21 19 21
Média 22 20 21 21 23 18
D. Maria Luísa /António 29 21 21 29
D. Luísa / D. José 18 17 17 18
Média 24 19 19 24
D. Helena /D. Luís 20 23 23 20
Média Total 23 19 23 21 23 17

Todavia, ainda que o casamento se verifique nestas idades, pode ter começado a
ser traçado pelas famílias envolvidas algum tempo antes, como se pode verificar pela
documentação referente ao processo burocrático que um contrato desta natureza
envolvia. De facto, era necessária uma licença régia para a realização do matrimónio,
que data geralmente até um ano antes do contrato matrimonial com que se celebra o
casamento349. Daqui surgem logo duas ilações. A primeira é a de que a decisão do
casamento ocorria ainda mais cedo na vida dos nubentes, o que poderá reforçar a ideia
de que estes teriam pouco peso na decisão, uma vez que sendo mais novos, estariam
mais sujeitos à autoridade paterna. Embora a historiografia tenha vindo a insistir na

349
D. Eugénia de Sousa Holstein casou em 1842 e o alvará régio de permissão de casamento datava
de 15 de Dezembro de 1841. Cf. Alvará régio, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol 373v-
374. D. Teresa de Sousa Holstein casou em 1842 e o alvará régio de permissão de casamento era datado
de 15 de Junho de 1841. Cf. Alvará Régio, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fols. 93 e 94. D.
Maria Ana casou em 10 de Setembro de 1838 e o alvará régio datava de 8 de Junho do mesmo ano (Cf.
Alvará régio, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol 415). Todavia, este mesmo alvará foi
pedido a 28 de Março de 1838. Cf. IAN/TT, ACP, Correspondência particular, Microfilme 5803, Caixa
236, fol. 762. D. Ana casou em 1851 e o alvará régio datava de 12 de Abril de 1850. Cf. Alvará Régio,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 133. D. Luísa Maria casou em 1862, sendo o alvará
régio de 9 de Abril do mesmo ano. Cf. Alvará Régio, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol.
272.

84
ideia de que durante o século XIX se vinha insinuando a afeição pessoal, a atracção
física e o amor como motivos para o casamento350, parece que no caso concreto desta
família ainda eram os interesses económicos, políticos e de influência que prevaleciam.
Seria o que aconteceu com D. Maria Ana, quando casou com o Conde de Terena. De
facto, pouco tempo após de aquela noivar, sua mãe, D. Eugénia, comentava com o
marido, em carta de 28 de Março de 1837, que o futuro genro “diz que gosta muito da
Maria Ana e ela já me parece que não desgosta muito dele”351, o que demonstra a
pouca influência da nubente na escolha do seu futuro marido e que os afectos ainda
estavam submissos à vontade paterna, como acontecia nos reinos vizinhos352, apesar de
em Inglaterra o casamento por amor ser mais banal, ainda que fosse necessária a
autorização paterna353. Também os próprios primeiros Duques de Palmela parecem ter
casado, segundo o próprio D. Pedro, por ter seguido os conselhos e votos de suas
irmãs354. No entanto, não quer dizer que não existisse amor, como refere sua mulher, D.
Eugénia, em carta que lhe dirigiu, datada de Janeiro de 1826: “Lisonjeio-me muito as
tuas finezas mas ainda mal que acho que não as mereço, é verdade que sou muitíssimo
tua amiga, e que desejo de todo o meu coração a tua felicidade, e que os nossos filhos
sejam bons e bem criados, mas apesar de todos estes meus bons desejos há às vezes em
mim um não sei o quê que faz de mim toda outra pessoa do que eu desejo, e conheço
que devo ser, e bem vejo que tu merecias outra mulher em todo o sentido melhor do que
eu, e isso seria fácil de achar excepto que te tivesse mais amor do que eu te tenho; abri
os olhos gostando de ti, e quanto tive idade de saber que tinha coração já to tinha
dado”355.
A segunda ilação a que nos referíamos relativamente às licenças régias para a

350
Cf. GONÇALVES, Helena Maria da Costa, Amar, Sofrer e Obedecer. A mulher e o casamento na
Grã-Bretanha: 1790-1890, p. 18.
351
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 762.
352
Cf. ATIENZA HERNÁNDEZ, Ignacio, Aristocracia, poder y riqueza en la España moderna. La
Casa de Osuna, siglos XV-XIX, Madrid, Siglo XXI de España editores, 1987, p. 43.
353
CRUZ, Maria do Rosário Pombo Braga da, Tradição e inovação. A aristocracia inglesa entre
1832-1851, p. 79.
354
Cf. Autobiografia de D. Pedro de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5801, Caixa 233, fol.
207.
355
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 277. Em Janeiro de
1826 a Duquesa de Palmela também se encontrava em Inglaterra, nomeadamente em Brighton, mas não
em Londres, onde estava o Duque de Palmela.

85
realização dos casamentos é precisamente a própria necessidade de aprovação régia para
a concretização do matrimónio, naquilo que Nuno Gonçalo Monteiro apelidou de Rei
casamenteiro356. Apesar do rei não intervir directamente na escolha dos cônjuges,
decisão essa exclusivamente a cargo de cada uma das famílias, era necessário, desde o
século XVII, que os possuidores de bens da coroa com rendimentos, pedissem uma
licença prévia ao Rei, através do Desembargo do Paço, para contraírem matrimónio,
pagando de direitos determinada quantia 357. Estranhamente, a necessidade desta licença
surge-nos pelo menos até 1862, onde a mesma ainda é pedida. Efectivamente, quer a
Constituição de 1 de Outubro de 1822, no seu artigo 9.º, quer a Carta Constitucional de
1826, no artigo 145.º, § 12.º, quer a Constituição de 1838, Art.º 10.º, estabelecem que a
Lei é igual para todos e que os privilégios que não forem fundados em utilidade pública
seriam abolidos. Embora a licença régia não seja propriamente um privilégio é
claramente a manifestação de uma desigualdade social, que ainda persistia no quadro de
um sistema jurídico que proclamava a igualdade dos cidadãos perante a lei.
4.2. Casamento e a escolha dos Cônjuges.

Se já verificámos as características de que se reveste a nupcialidade desta


família, resta ainda apurar se existem, ou não, estratégias quanto à escolha dos futuros
cônjuges.
Em pleno século XIX, houve boatos da Casa Palmela se querer unir
matrimonialmente com a Casa Real. O primeiro ocorreu quando D. Augusto, primeiro
marido de D. Maria II, morreu, tendo sido o Duque de Palmela, D. Pedro, acusado de
ter implicação nesse acontecimento, motivado por querer casar um seu filho com a
rainha. Posteriormente, Maria Ratazzi insinua que a terceira Duquesa de Palmela, D.
Maria Luísa, terá casado com António de Sampaio e Pina, como vingança por o Rei D.
Luís se ter casado com D. Maria Pia e não consigo 358.

356
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), p. 127.
357
Cf. Leis de 23 de Novembro de 1616, 29 de Janeiro de 1739 e 29 de Novembro de 1775. Cf.
Tratado Jurídico das Pessoas Honradas escrito segundo a legislação vigente à morte d’El Rei D. João
VI, Lisboa, Imprensa de Lucas Evangelista, 1851, pp. 119-120.
358
RATTAZZI, Maria, Portugal de Relance, Lisboa, Edições Antígona, 1997, p. 120. Em
contrapartida, D. Isabel Vasconcelos, Condessa de Rio Maior, em carta a seu filho datada de 16 de Abril
de 1863 refere que o noivo, António de Sampaio e Pina “parece-me que não casa decerto por paixão,

86
Numa carta que D. Pedro, primeiro Duque de Palmela, dirigiu a sua mulher, em
18 de Dezembro de 1844, acerca da escolha do noivo para a sua filha, D. Catarina,
ficam bem esclarecidas as principais condições necessárias para o enlace: “isto é, bom
carácter do rapaz, probidade no meio da maluquice do pai359 e uma casa de suficiente
rendimento”360.
Ora, esta última afirmação acerca da necessidade de uma “casa de suficiente
rendimento” parece estar em desacordo com o que Nuno Gonçalo Monteiro constatou
para o século XVIII, ao ter demonstrado que o objectivo dos matrimónios não era
ampliar o património económico, mas sim preservar a identidade autónoma das casas
titulares361. Por outras palavras, o que seria realmente importante durante o Antigo
Regime seriam os ganhos simbólicos que se conseguissem com determinadas alianças
matrimoniais e não os ganhos materiais, numa forma de “afirmação da identidade
social do grupo e de cada uma das casas que o compunham” 362. No entanto, no caso
concreto das escolhas matrimoniais de D. Pedro de Sousa Holstein para os seus filhos
parecem estar envolvidos, por um lado, as qualidades humanas dos noivos, e por outro a
posse de rendimentos suficientes para a sua sustentação, ou seja, os ganhos materiais
que pudessem advir do matrimónio. Esta questão levanta-nos pois, várias interrogações.
Afinal, o que presidiu à escolha dos futuros cônjuges desta família? Qual a posição
destes no seio de uma nobreza em rápida expansão no século XIX? Haveria ainda,

posto que ela seja digna de a inspirar”. Cf. MÓNICA, Maria Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio
Maior, correspondência para seus filhos, 1852-1865, p. 322.
359
A referência à suposta “maluquice” do então Conde das Galveias, D. António Francisco Lobo
Almeida de Melo e Castro de Saldanha e Beja, deve-se ao facto de este querer que o casamento se
verificasse o mais depressa possível, ao contrário dos desejos do Duque (Cf. Correspondência particular,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 312.). A mesma “maluquice” foi mais tarde confirmada,
quando, no início do ano de 1845, D. Pedro e o seu futuro genro, D. Francisco, se preparavam para
embarcar no paquete para se juntarem a D. Eugénia e D. Catarina. Nesse momento, o Conde das Galveias
“teve um verdadeiro acesso de loucura com saudades do filho, medo da viagem, e foi preciso até sangrá-
lo e receou-se que morresse se insistissem na partida do rapaz. Este ficou chorando e segundo todas as
aparências, sentidíssimo e acho que a sujeição que ele nesta circunstância mostrou é uma prova de que é
bom filho porque todos conheciam o gosto com que ele se preparava para a viagem (…) é provável que a
doidice lhe passe e que deixe vir o filho vendo que não tem outro remédio (…)”. Correspondência
particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 328.
360
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 320.
361
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), pp. 124-125.
362
IDEM, ibidem, p. 197.

87
motivações políticas? É o que procuraremos responder em seguida, deixando a resposta
às questões económicas e simbólicas para os capítulos seguintes.
Para responder às questões relativas à escolha dos cônjuges, vamos analisar a
antiguidade das casas envolvidas e o seu papel durante a guerra civil. A análise da
antiguidade prende-se com a necessidade de averiguar se as alianças matrimoniais se
efectuaram com membros da antiga aristocracia de corte ou se, pelo contrário,
ocorreram com uma nobreza que terá emergido com as alterações políticas decorrentes
do liberalismo. Por outro lado, a apreciação do seu posicionamento relativamente a D.
Pedro ou a D. Miguel poderá revelar se houve, ou não, uma preocupação de índole
política na escolha dos matrimónios da Casa Palmela. A análise destes aspectos parece-
nos pertinente, atendendo ao contexto histórico e social específico do período em
questão. Efectivamente, como já referimos anteriormente, quando incidimos a nossa
atenção sobre o percurso de D. Pedro de Sousa Holstein, primeiro Duque de Palmela,
Portugal viveu momentos conturbados a nível político durante a primeira metade do
século XIX: as invasões francesas, a partida de D. João VI e de toda a corte para o
Brasil, a revolução de 1820, o juramento de uma constituição e de uma carta
constitucional, a guerra civil que opôs liberais e absolutistas, uma nova constituição e
todo um processo de reformas irá transformar a sociedade de então, ou pelo menos
lançar as bases para essa alteração. Esta evolução provocou a cisão da Antiga Nobreza e
o afastamento do centro político das casas que tinham alinhado pelo lado miguelista.
Se até à década de noventa do século XVIII se verificou uma relativa
estabilidade no grupo aristocrático, a partir da regência do príncipe D. João, houve um
aumento significativo do número de títulos, onde se insere, naturalmente, a própria
titulação de D. Pedro de Sousa Holstein. Efectivamente, se em 1807 existiam em
Portugal 68 casas tituladas, em 1828 o número ascendia aos 168363. Posteriormente, o
número de títulos atingiu os 302 em 1855, duplicando em 1886, altura em que existiam
620 títulos364. Todavia, e como Francisco de Vasconcelos chamou a atenção, é preciso
ter em conta que muitos dos títulos concedidos nesta época foram atribuídos não a
plebeus, mas a pessoas que já eram nobres, embora no final do século XIX a atribuição

363
MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “A Nobreza na Revolução Liberal” in Portugal Contemporâneo,
coord. António Reis, Lisboa, Alfa, 1990, p. 252.
364
VASCONCELOS, Francisco de, A Nobreza do século XIX em Portugal, Lisboa, Centro de Estudos
de Genealogia Heráldica e História da família da Universidade Moderna do Porto, 2003, p. 140.

88
de títulos a pessoas de origens modestas se tenha generalizado 365. Importa, pois,
distinguir entre as famílias que se uniram à do Duque de Palmela, as que vinham de
Antigo Regime e as que foram tituladas posteriormente. Neste último caso, três marcos
serão essenciais relativamente à antiguidade da atribuição dos títulos: o início da
regência de D. João VI, em 1792, uma vez que a partir dessa data se verificou um
aumento do número de titulados; a criação da Câmara dos Pares em 1826, que D. Pedro
IV pretendeu que fosse um órgão representativo dos Grandes do Reino 366; e, finalmente,
a vitória do liberalismo em 1834. Por um lado, a partir desta data a titulação tornava-se
meramente honorífica, desprovida de quaisquer privilégios, uma vez que a carta
constitucional proclamava a igualdade dos cidadãos perante a lei. Por outro lado, a
nobreza que tinha apoiado o partido miguelista durante a guerra civil, viu-se afastada da
Câmara dos Pares.
A própria vitória do liberalismo e a consequente publicação de legislação,
nomeadamente a de Mouzinho da Silveira, que aboliu os dízimos, os bens da coroa e os
forais, ou seja, grande parte dos bens que maiores rendimentos traziam à aristocracia, já
de si endividada, como mostrou Nuno Gonçalo Monteiro, bem como a concorrência
promovida pelos recém-nobilitados, trouxeram novos desafios a este grupo. Seriam os
enlaces matrimoniais a solução?

D. Pedro de Sousa Holstein casou com uma das filhas dos sétimos Marqueses de
Nisa, sétimos Condes de Unhão e 11ºs Condes da Vidigueira. Este último título data do
século XVI, outorgado aos descendentes de Vasco da Gama. Os outros dois títulos
datam do século seguinte, sendo o de Conde de Unhão do período filipino, e o de Nisa
posterior. É de salientar que o senhorio de Unhão remonta ao final do século XIV 367. A
casa de Nisa tinha sido, durante o Antigo Regime, uma das casas aristocráticas com
maior rendimento368. Para além da sua antiguidade, é bom relembrar que foi uma das
escolhidas para estar representada na Câmara dos Pares do Reino em 1826, na pessoa de
D. Domingos Teles da Gama, nono Marquês de Niza e sobrinho de D. Eugénia que,

365
IDEM, ibidem, p. 134.
366
Cf. SILVEIRA, Luís Espinha da, “Revolução liberal e pariato (1834-1842)” in Análise Social, nº
116-117, vol. XXVIII, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1992, 2º – 3º, p. 333.
367
PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, Lisboa, Empresa Editora de Francisco Artur da Silva, 1890, p. 168.
368
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), p. 329.

89
todavia, não tomou posse, por ser menor369. No entanto, D. Pedro de Sousa Holstein não
foi a primeira escolha da família de D. Eugénia, pois esta esteve para casar com o
Conde de Assumar370, filho do Marquês de Alorna (1754-1813). No entanto, este jovem
morrera antes de se efectuar o consórcio. 371

A primeira filha de D. Pedro de Sousa Holstein e D. Eugénia Teles da Gama, D.


Eugénia, casou com o nono Marquês das Minas, recém-titulado. O título foi renovado
em sua vida nas vésperas do casamento e herdou-o por via indirecta. A anterior
detentora morrera sem deixar descendentes e D. Brás herdara-o por ser quarto neto e
representante de D. Luísa Bernarda de Lima, filha dos primeiros Marqueses de Minas.
Embora o título remonte ao século XVII372, sem dúvida que foi renovado em sua vida
pelos serviços prestados no exército liberal, quer em Portugal, quer em Espanha, ao lado
das tropas isabelinas. Aliás, consta que terá sido o próprio D. Pedro de Sousa Holstein
que, enquanto Ministro do Reino, em Fevereiro 1842, terá conseguido o título para seu
genro, contrário à vontade da rainha 373.

369
Cf. ALBUQUERQUE, António Tavares de, Índice alfabético e remissivo dos trabalhos
parlamentares das cortes Gerais das Cortes Gerais da nação Portuguesa. Primeira Legislatura da
Segunda época Constitucional (1826-1828), tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1903, p. 74.
370
Não conseguimos identificar se seria o 6º Conde de Assumar, D. João Almeida Portugal (1786-
1805) ou o seu irmão, o 7º Conde do mesmo título, D. Miguel de Almeida Portugal (1787-1806), ambos
mortos na juventude.
371
SILVA, Luís Augusto Rebelo da, Varões ilustres das três épocas constitucionais, Lisboa, Livraria
de António Maria Pereira, 1870, p. 13.
372
O título foi pela primeira vez outorgado em 1608 por D. Filipe III de Espanha a D. Francisco de
Sousa, terceiro Senhor de Beringel, mas morrendo antes de ser encartado. O primeiro Marquês das Minas
trata-se então de seu neto, D. Francisco de Sousa, tendo-lhe sido outorgado o título em 7 de Janeiro de
1670. Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 743.
373
SORIANO, Simão José Luz, Biografia do 1º Duque de Palmela ou colecção dos principais factos
da sua vida pública, Lisboa, s.e., 1857. Cf. IAN/TT, ACP, Microfilme 5725, Caixa 158, fol. 341.

90
Árvore Genealógica VIII - Ascendência e descendência de D. Brás da Silveira Lorena
D. Luís Gonçalves da
D. Brás Silveira D. Ana Isabel D. Maria Benedita
Câmara Coutinho
e Lorena de Castro Pereira de Sande
de Noronha

D. Pedro de D. Eugénia D. Nuno da D. Ana José de


Sousa Holstein Teles da Gama Silveira Lorena Assis da Câmara

D. Eugénia de D. Brás da
Sousa Holstein Silveira Lorena

D. Nuno da D. Pedro da D. Alexandre da D. Brás da D. Brás Maria da D. Luís da D. Eugénia da D. Ana Maria da
Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena Silveira e Lorena

D. Domingos de Sousa Holstein casou com D. Maria Luísa de Noronha e


Sampaio, filha segunda do primeiro Conde da Póvoa e Barão de Teixeira, mas herdeira
da Casa de seu pai à morte do irmão. Sua mãe era filha dos primeiros Condes de
Peniche, título outorgado em 1806 ao filho secundogénito dos terceiros Marqueses de
Angeja e quartos Condes de Vila Verde 374. Por parte do pai, trata-se de títulos recentes:
o de Barão de Teixeira data de 16 de Março 1818 e o de Conde da Póvoa de 3 de Julho
de 1823, embora lhe tivesse sido outorgada a comenda da ordem de Cristo em 1816 e a
carta de Fidalgo de cota de armas em 1819375. A outorga do primeiro destes títulos
deve-se essencialmente aos empréstimos concedidos por Henrique Teixeira Sampaio ao
exército anglo-luso durante o período das invasões francesas. O segundo, outorgado
após a sua nomeação como Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, no Governo
de D. Pedro de Sousa Holstein, reafirma o seu importante papel como principal credor
do erário régio376. Apesar de ser de nobreza recente, Henrique Teixeira de Sampaio
pertenceu ao pariato na legislatura de 1826 a 1828377. Tal como seu sogro, o Conde de

374
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p. 122
375
Seu pai também fora fidalgo de cota de armas (1789) e cavaleiro professo na Ordem de Cristo
(1788). Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, Porto, Centro de Estudos de
Genealogia, Heráldica e História da Família da Universidade Moderna do Porto, 2001, p. 66.
376
Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, p. 96.
377
Cf. ALBUQUERQUE, António Tavares de, Índice alfabético e remissivo dos trabalhos
parlamentares das cortes Gerais das Cortes Gerais da nação Portuguesa. Primeira Legislatura da
Segunda época Constitucional (1826-1828), tomo II, 77.

91
Peniche, terá seguido o partido de D. Miguel durante as lutas liberais 378.

D. Maria Ana casou com o segundo Marquês de Terena, Luís Brandão de Melo
Cogominho Pereira de Lacerda (07/11/1815-08/06/1866). O seu avô materno, que
seguiu a causa de D. Pedro379, foi o primeiro Conde (decreto de 28 de Setembro de
1835) e primeiro Marquês de Terena (decreto de 1 de Julho de 1848), para além de
Visconde de S. Gil de Perre (30 de Outubro de 1824). Os títulos foram renovados em
vida de Luís Brandão de Melo, em 30 de Março de 1858 e 7 de Fevereiro de 1866,
respectivamente, bastante depois do casamento com D. Maria Ana de Sousa Holstein.
Aliás, esta senhora nunca chegou a ser nem marquesa nem sequer condessa de Terena,
pois morreu antes do marido ter herdado o título. Embora seja um título de criação
recente, esta família estava na posse há já muitas gerações dos morgados de Torre dos
Coelheiros, Honra de Farelões, Torre da Marca, Sampaio e de Carvalho da Arca 380.

Árvore Genealógica IX - Ascendência e descendência de D. Luís Pereira de Lacerda


Luís Brandão de
D. Antónia de Sebastião D. Francisca Jacome
Melo Pereira de
Portugal e Meneses Correia de Sá do Lago Bezerra
Lacerda e Meneses

José Brandão de Melo Maria Emília


D. Pedro de D. Eugénia
Cogominho Correia Jácome Correia de
Pereira de Lacerda Sá Sousa Holstein Teles da Gama

D. Luís Brandão de
D. Maria Ana de D. Filipe de
Melo Cogominho
Pereira de Lacerda Sousa Holstein Sousa Holstein

Eugénia Maria José de Melo


José Brandão de
Brandão de Melo Cogominho Pereira
Cogominho Melo de Lacerda

Sem Geração

D. Teresa Maria casou com D. Caetano de Sales Henriques Pereira de Faria


Saldanha Vasconcelos e Lancastre, segundo Conde das Alcáçovas por decreto de 22 de

378
Cf. LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza
Titulada Portuguesa” in Penélope, 4, Lisboa, Edições Cosmos, 1989, pp. 114-115.
379
Cf. IDEM, ibidem, pp. 116-117.
380
AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
Braga, Tipografia da Pax, 1933, vol. 1, pp. 411-414.

92
Março de 1840, em sua vida. O seu irmão foi o primeiro Conde do mesmo título, de
quem o herdou. Todavia, o senhorio das Alcáçovas é bastante antigo, remontando ao
século XV, sendo o seu primeiro detentor inclusive de sangue real, ou seja, neto de D.
Afonso V381. Relativamente à posição política de D. Caetano nada sabemos, apenas que
o seu irmão, D. Francisco, lutou durante o cerco do Porto pelo lado liberal,
nomeadamente, no combate de 19 de Setembro de 1834, onde perdeu um braço.

Árvore Genealógica X - Ascendência e descendência de D. Caetano Saldanha Vasconcelos de Lencastre


D. Caetano Faria António D. Eugénia Maria
Saldanha de
D. Maria Domingas
Vasconcelos e Sousa
D. Mariana de Assis D. Domingos
T eles de Castro da
de Castro Mascarenhas Xavier de Lima
Lancastre da Camara Gama

D. T eresa Saldanha Luis Vasconcelos Afonso de D. Francisca D. Pedro de D. Eugénia


e Lancastre e Sousa Vasconcelos e Sousa Teles da Gama Sousa Holstein Teles da Gama

D. Caetano D. Teresa de Luis de Vasconcelos 1º D. Ana Rosa de


Vasconcelos e Sousa
Lancastre Sousa Holstein Sousa Holstein

D. T eresa D. Caetano Faria D. Alexandre D. Domingos


D. Maria Saldanha Saldanha Saldanha de Saldanha de Saldanha e
de Lancastre Lancastre Lancastre Lancastre Eugénia de
e Lancastre
Vasconcelos e Sousa

D. António D. Maria Ana


D. Luis Saldanha D. Pedro Saldanha e D. Eugénia Saldanha
Saldanha de Saldanha e
e Lancastre Lancastre e Lancastre
Lancastre Lancastre

D. Catarina de Sousa Holstein casou com o 8º Conde das Galveias, D. Francisco


Xavier Lobo de Almeida Melo de Castro. O título data de 1691, ainda no rescaldo das
Guerras de Sucessão. Foi confirmado naquele senhor, em sua vida, por decreto de 27 de
Junho e carta de 15 de Outubro de 1844382. Seu avô foi Par do reino na legislatura de
1826383 e seu pai terá seguido a causa liberal384.

381
Cf. IDEM, ibidem, vol. 1, pp. 20-22.
382
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 633; PINTO,
Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de
Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 7; AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro
de Oiro da Nobreza, vol. 2, p. 7.
383
ALBUQUERQUE, António Tavares de, Índice alfabético e remissivo dos trabalhos parlamentares
das cortes Gerais das Cortes Gerais da nação Portuguesa. Primeira Legislatura da Segunda época
Constitucional (1826-1828), tomo II, p. 77.
384
LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza Titulada
Portuguesa” in Penélope, 4, pp. 114-115. Todavia, Nuno Gonçalo Monteiro considera que D. António,
pai de D. Francisco, seguiu a causa miguelista. Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “CASTRO, D.
Francisco Xavier, “ in Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910, (dir. Maria Filomena MÓNICA),
Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República, 2004-2005, vol. 1, p. 741.

93
Árvore Genealógica XI - Ascendência e descendência de D. Francisco Melo de Castro
D. Maria de Francisco Lopes
D. Domingos D. Eugénia T eles de D. Francisco D. Maria Emília de
Monserrate de Calheiros de
Xavier de Lima Castro da Gama Melo de Castro Almeida Coelho
Saldanha Meneses

D. Pedro de D. Eugénia D. António Ana Calheiros e


Sousa Holstein Teles da Gama Melo e Castro Meneses

D. Catarina de D. Francisco D. Ana Rosa de 2º D. António


Sousa Holstein Melo de Castro Sousa Holstein Melo e Castro

D. Pedro D. Francisco
Melo e Castro Melo de Castro

D. Eugénia D. Pedro Melo e D. Francisco D. Maria Melo D. Maria Ana D. Domingos D. Teresa Melo D. N… (filha) D. José Melo e
Melo e Castro Castro Melo e Castro e Castro Melo de Castro Melo e Castro de Castro Melo e Castro Castro

D. António Melo D. Ana Melo e D. Alexandre D. Isabel D. Dinis D. João D. Catarina D. Violante
e Castro Castro Melo e Castro Melo e Castro Melo e Castro Melo e Castro Melo e Castro Melo e Castro

D. Ana Rosa é o único caso em que se verificaram dois casamentos, em


consequência de uma viuvez prematura. Casou, primeiro, com Luís de Vasconcelos e
Sousa, nono filho dos terceiros Marqueses de Castelo-Melhor e nonos Condes da
Calheta, D. Afonso de Vasconcelos e Sousa e D. Francisca de Assis Xavier Teles da
Gama, tia materna de D. Ana Rosa 385. D. Afonso de Vasconcelos foi nomeado Par do
Reino em 1826, embora não tendo chegado a tomar posse386. A Casa Castelo Melhor,
criada a 21 de Março de 1611, com o título de conde, foi elevada ao marquesado de juro
e herdade por decreto de 2 e carta de 10 de Outubro de 1766387. Quanto à posição
política de Luís Vasconcelos e Sousa, não a conseguimos apurar. Sabemos, sim, que o
seu irmão, o quarto Marquês de Castelo Melhor, seguiu a causa de D. Pedro388. D. Ana
voltou a casar, desta feita com D. António Francisco Lobo de Almeida Melo e Castro de

385
Vide Árvore Genealógica X – Ascendência e descendência de D. Caetano Saldanha Vasconcelos
de Lencastre.
386
ALBUQUERQUE, António Tavares de, Índice alfabético e remissivo dos trabalhos parlamentares
das cortes Gerais das Cortes Gerais da nação Portuguesa. Primeira Legislatura da Segunda época
Constitucional (1826-1828), tomo II, p. 74.
387
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. I, p. 408; AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique
Travassos, Livro de Oiro da Nobreza, vol. 1, p. 430.
388
LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza Titulada
Portuguesa” in Penélope, 4, pp- 114-115.

94
Saldanha e Beja, irmão do oitavo Conde das Galveias, seu cunhado, cuja casa foi atrás
referida389.

D. Francisco de Sousa Holstein, que viria a receber o título de primeiro Marquês


de Sousa Holstein, por decreto de 3 de Setembro de 1855, casou com Maria Eugénia
Braamcamp de Melo Breyner, dama honorária da Rainha D. Maria Pia e filha dos
segundos Condes de Sobral, D. Adelaide Braamcamp Sobral de Almeida Castelo-
Branco, detentora do título, e seu marido, Luís Maria de Melo Breyner. O senhorio do
Sobral, honorífico por condição, foi outorgado por carta de 10 de Maio de 1771, em
consequência da constituição de um morgado por Joaquim Inácio da Cruz. O título de
barão foi outorgado por Decreto de 14 de Maio de 1813 ao quarto Senhor do Sobral.
Seria o filho deste que receberia o título de primeiro visconde desta Casa, por decreto de
14 de Setembro de 1838, sendo elevado à grandeza por decreto de 24 de Outubro do
mesmo ano. O título de conde foi decretado a 13 de Dezembro de 1844 a este mesmo
indivíduo, avô de Maria Eugénia 390, que alinhou pelo lado liberal391.

Árvore Genealógica XII - Ascendência e descendência de


Maria Eugénia Braamcamp de Melo Breyner
Francisco de Melo Luisa Amable Rion
D. Eugénia de Hermano Braamcamp
Breyner T eles da Francisca de
Almeida Portugal Castelo-Branco
Silva Narbonne-Lara

D. Pedro de D. Eugénia Adelaide Braamcamp


Luis Maria de
Sobral de
Sousa Holstein Teles da Gama Melo Breyner Castelo-Branco

Maria Eugénia
D. Francisco de
Braamcamp de
Sousa Holstein Melo Breyner

D. Pedro de D. Luis de D. Adelaide de


Sousa e Holstein Sousa e Holstein Sousa Holstein

D. Tomás de Sousa e Holstein, a quem foi outorgado o título de Marquês de


Sesimbra, casou com D. Ana Maria Gonçalves Zarco da Câmara, filha do primeiro

389
Vide Árvore Genealógica XI – Ascendência e descendência de D. Francisco Melo de Castro.
390
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, pp. 392-393;
PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes
de Portugal, 2ª ed., vol. II, pp. 625-626.
391
LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza Titulada
Portuguesa” in Penélope, 4, pp. 114-115.

95
matrimónio do primeiro Marquês da Ribeira Grande (29/07/1819-01/19/1872) e oitavo
conde do mesmo título 392, D. Francisco de Sales Gonçalo Soares da Câmara e de D.
Ana da Piedade de Bragança Melo e Ligne Sousa Tavares Mascarenhas da Silva
(01/08/1822-18/07/1856), filha dos terceiros Duques de Lafões. A Casa de Ribeira
Grande remonta ao século XVII e tem a representação dos Condes de Vila Franca, que
data do século XVI393. O sétimo Conde de Ribeira Grande, avô de D. Ana Maria, seguiu
a causa liberal394, tendo-lhe sido outorgado o cargo de Par do Reino em 1826, embora
não tendo chegado a tomar posse395. Foi a respeito da segunda mulher deste, também
avó de D. Ana Maria, que D. Pedro de Sousa Holstein, estando no Rio de Janeiro, terá
escrito a D. Eugénia Teles da Gama, em 7 de Fevereiro de 1821: “ (…) O conde dos
Arcos tem estado doente e a nora assim como os filhos e a Sr.ª Condessa da Ribeira
com sarna, mas é porque se não lavam (…)"396.

Árvore Genealógica XIII - Ascendência e descendência de D. Ana Maria Gonçalves Zarco da Câmara

D. Segismundo D. Ana Sousa


D. Pedro de D. Eugénia D. José Gonçalves D. Mariana de
Álvares Pereira de T avares
Sousa Holstein Teles da Gama Zarco Camara Almeida Portugal Melo Mascarenhas Silva

D. Francisco de D. Ana de Bragança


D. Maria Luísa D. Domingos de D. Tomás de 1º
Sales Gonçalves Mascarenhas da
Noronha Sampaio Sousa Holstein Sousa Holstein Zarco da Camara Silva

D. José Maria D. Ana Maria



D. Luísa Maria Gonçalves Zarco da Gonçalves Zarco
Camara da Camara

D. Maria Luísa D. Francisco de D. Maria da D. Maria de Lurdes


D. Ana de Sousa D. Pedro de Sousa e D. José de Sousa
Gonçalves Zarco da Sousa e Holstein Conceição de Sousa Sousa e Holstein
e Holstein Beck Holstein Beck e Holstein Beck Beck
Camara Beck e Holstein Beck

D. Eugénia de Sousa D. Mariana de Sousa D. Maria de Sousa e D. Isabel de Sousa e D. T eresa de Sousa e
e Holstein Beck e Holstein Beck Holstein Beck Holstein Beck Holstein Beck

392
Na verdade, herdara o título de Marquês de Ponta Delgada de sua tia, mas mudou a designação
para Ribeira Grande. Decreto de 5 de Setembro de 1855. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA,
Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 409.
393
Cartas de 15 de Setembro de 1662 e de 17 de Junho de 1583, respectivamente. Cf. IDEM, ibidem,
vol II p. 414.
394
LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza Titulada
Portuguesa” in Penélope, 4, pp- 114-115.
395
ALBUQUERQUE, António Tavares de, Índice alfabético e remissivo dos trabalhos parlamentares
das cortes Gerais das Cortes Gerais da nação Portuguesa. Primeira Legislatura da Segunda época
Constitucional (1826-1828), tomo II, p. 77.
396
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 8.

96
Finalmente, nesta geração, temos D. Filipe de Sousa Holstein, 1º Marquês de
Monfalim397, que casou com Eugénia Maria Brandão de Melo Cogominho Correia de
Sá Pereira do Lago Bezerra de Lacerda e Figueiroa, 3ª Marquesa de Terena e sua
sobrinha, por ser filha de sua irmã D. Maria Ana 398.

D. Maria Luísa de Sousa Holstein, 3ª Duquesa de Palmela casou com António de


Sampaio e Pina de Brederode, filho dos primeiros Viscondes da Lançada, Manuel
Inácio de Sampaio e Pina Freire (07/08/1778-07/08/1856) e Helena Teixeira Homem de
Brederode (02/12/1800-?). O título é de atribuição recente, datando o decreto de sua
criação de 10 de Janeiro de 1849399. Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire destacou-
se por ser um dos cabecilhas da aclamação popular da Rainha D. Maria e da Carta
Constitucional em Lisboa, em 1833.

D. Luísa Maria de Sousa e Holstein400 casou com o nono representante da Casa


dos Condes de Ribeira Grande, D. José Maria Gonçalves Zarco da Câmara (03/11/1843-
1907), Casa acerca da qual já falámos anteriormente, a propósito do tio de D. Luísa
Maria, D. Tomás. D. José é exactamente o irmão primogénito da já citada D. Ana da
Câmara401.

Por último, referiremos D. Helena Maria Domingas de Sousa Holstein, aquela


que viria a ser a quarta Duquesa de Palmela e que contraiu matrimónio com D. Luís
Coutinho de Medeiros de Sousa Dias da Câmara, filho dos primeiros Marqueses de
Praia e Monforte, António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa (23/01/1829-
1903) e Maria José Coutinho Maldonado de Albergaria Freire (13/03/1883-18/10/1893).
O primeiro título outorgado a esta Casa foi o de visconde, por decreto de 7 de Maio de

397
Decreto de 9 de Agosto de 1861 Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e
do Brasil, vol. III, p. 13.
398
Vide Árvore Genealógica IX - Ascendência e descendência de D. Luís Pereira de Lacerda.
399
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 74.
400
Cf. IDEM, ibidem, 2ª ed., vol. II, pp. 355-357.
401
Vide Árvore Genealógica XIII – Ascendência e descendência de D. Ana Maria Gonçalves Zarco
da Câmara

97
1845, ao avô paterno de D. Luís. D. António receberia o título de conde por decreto de 9
de Julho de 1881 e o de marquês em 21 de Fevereiro de 1890. Curiosa é a proximidade
geográfica da residência das duas famílias, pois o palácio dos Condes da Praia e
Monforte situa-se a meia dúzia de passos do palácio dos Palmela no Rato, o actual
edifício da Procuradoria-geral da República.

Posto isto, passemos então à análise propriamente dita destes casamentos no


contexto do grupo social onde os Palmela se inserem e na sua época. Desde sempre que
“o casamento desempenha uma dupla função ao nível da reprodução biológica e da
reprodução social”402. De facto, e de acordo com a vasta bibliografia acerca da questão,
verifica-se uma unanimidade em considerar o casamento como uma aliança, sobretudo
no seio da aristocracia. Mais do que estabelecer um vínculo entre cônjuges, estabelece-o
entre famílias403.
Mafalda Soares da Cunha chamou a atenção para os diferentes factores que
concorrem para a realização do casamento. Os externos, interesses políticos, estatuto e
rede social em que tais casamentos se inserem, e o nível de riqueza; os internos, número
de filhos, sexo e ordem de nascimento dos mesmos404. São estes os factores que, válidos
para os séculos XVI e XVII, provavelmente poderão ainda ser válidos no século XIX,
daí que os devemos ter em conta na nossa análise.

A mulher desempenhava um papel fundamental, seja como filha, herdeira ou


não, ou como nora. Percebe-se desde logo uma preocupação dos primeiros duques em
casar as filhas não herdeiras com titulares. Mas esta constatação não é de todo linear; há
um exemplo contrário a isso, o de D. Ana Rosa, cujo primeiro casamento foi com um
secundogénito da Casa Castelo Melhor e o segundo, com um senhor também
secundogénito da Casa Galveias. Todavia, a explicação para esta excepção prender-se-á
com o facto de esta ser a filha mais nova dos primeiros Duques de Palmela e de ser

402
SOUSA, Bernardo Vasconcelos, Os Pimentéis. Percurso de uma linhagem da nobreza medieval
Portuguesa (Séculos XVIII-XIV), Lisboa, Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, 1995, p. 273.
403
Cf. PINTO; Alda Maria Martins da Silva, Casamentos da Casa Real Portuguesa no Século XV,
Braga, Universidade do Minho – Instituto de Ciências Sociais, 1998, p. 46.
404
Cf. CUNHA, Mafalda Soares da, A Casa de Bragança. 1560-1640. Práticas senhoriais e redes
clientelares, Lisboa, Editorial Estampa, 2000, p. 473.

98
também a que casa mais tardiamente.
Há também o caso de D. Maria Ana que, apesar de nunca chegar a ser titular por
intermédio do marido, visto morrer antes disso, é como se casasse com um titular, pois
o marido era o herdeiro presuntivo de sua Casa. Assim sendo, obedece ao paradigma do
casamento com um titular, ou futuro herdeiro de uma Casa titular, assim como as
restantes suas irmãs e sobrinha, D. Luísa Maria. Esta capacidade de casar as mulheres
da Casa com sucessores de casas titulares é, como demonstrou Nuno Gonçalo Monteiro,
um indicador da importância de cada uma das Casas da elite aristocrática e, em última
análise, reveladora do seu estatuto405. Neste caso concreto, a Casa Palmela demonstra
um estatuto elevado, comparativamente aos seus pares, sendo procurada para casar os
herdeiros das restantes casas da aristocracia portuguesa.
No caso das herdeiras e futuras Senhoras da Casa de Palmela sucede de maneira
diferente. De facto, tanto D. Maria Luísa, como sua filha, D. Helena, casam com
secundogénitos de casas titulares, prática típica de Antigo Regime 406. O nubente era
imediatamente adoptado pela Casa à qual ficava pertencendo. Isso é notório na imediata
atribuição do título que detinha a noiva à altura do casamento 407.
Os filhos secundogénitos dos primeiros duques tendem a casar com filhas
secundogénitas de casas titulares. A excepção é a de D. Filipe Maria, Marquês de
Sesimbra, que casa com a herdeira de uma casa titular: a de Terena. Realmente seria
algo invulgar, caso esta herdeira não fosse sua própria sobrinha, numa clara tentativa de
fazer perdurar a linhagem dentro da família, evitando a quebra da varonia. Todos os
rapazes encabeçaram a formação de uma nova casa titular, logo depois do seu
casamento, à excepção de D. Francisco de Sousa Holstein408, cuja elevação à titulação
tinha ocorrido anteriormente. Pensamos que estas atribuições se devem ao facto de
serem filhos de Duque e, como tal, terem direito às honras de Marquês.

405
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), p. 129.
406
Cf. IDEM, ibidem, p. 122.
407
A António Sampaio e Pina de Brederode é dado o título de Duque de Palmela por alvará régio de
16 de Abril de 1863, sendo a mercê outorgada a D. Maria Luísa de Sousa Holstein, por aquele ser seu
marido. Cf. Carta Régia de mercê, IAN/TT, ACP, Microfilme 5565, Caixa 21, fol. 59.
408
D. Francisco de Sousa Holstein casou em 1862, tendo já recebido o título de Marquês de Sousa
Holstein por mercê de 3 de Setembro de 1855; D. Tomás casou em 1864, tendo recebido a 3 de Fevereiro
do mesmo ano o título de Marquês de Sesimbra. D. Filipe de Sousa Holstein casou a 29 de Julho de 1861,
tendo recebido o título de Marquês de Monfalim a 9 de Agosto do mesmo ano.

99
Por último, temos de atentar no casamento do único herdeiro varão da Casa
Palmela no período em estudo. De facto, foi um casamento envolto em grande celeuma,
como já chamámos a atenção atrás. D. Domingos casa com a herdeira de uma casa
recém-titulada e detentora de uma das maiores fortunas do país. À data do enlace, D.
Domingos era já o herdeiro presuntivo de sua Casa, pois seu irmão primogénito já havia
morrido. Todavia, a sua mulher não era ainda a herdeira do património da família. De
facto, seu pai já tinha morrido, mas o seu irmão, D. João, herdeiro da casa, ainda era
vivo. O caso realmente complica-se com a morte deste último e a não consumação do
casamento de D. Maria Luísa, por ainda serem menores os nubentes. Os pormenores do
desenvolvimento desta questão serão descritos no capítulo seguinte.
No entanto, pensamos ser importante clarificar desde já as intenções de tal
aliança matrimonial, uma vez que a Casa da Póvoa não era uma Casa de grande
antiguidade, como sucedia com outras com que a de Palmela estabelecia alianças
matrimoniais. É em Agosto de 1833, após a expedição do Algarve e a recepção de D.
Pedro IV em Lisboa, que D. Pedro de Sousa Holstein, já feito Duque de Palmela,
contacta a Condessa da Póvoa, já viúva, para pedir a mão da sua filha D. Maria Luísa.
Em carta à mulher, datada de 7 de Agosto desse ano, D. Pedro explica os seus
propósitos: “Saberás que me resolvi a aproveitar estes primeiros momentos para pedir
a filha do Conde da Póvoa para um dos nossos filhos e tenho já a promessa que vou
tratar de assegurar por um contrato. Não quis declarar para qual dos dois porque me
pareceu que devia esperar por ti para essa decisão. A pequena tem 7 anos, é galante e
terá de dote 5 para 6 milhões de cruzados, isto é para cima de oitocentos mil francos de
renda409. Isto não é para desprezar mesmo para o Domingos, porque um ducado sem
vinténs é triste coisa, mas enfim, se por espírito de aristocracia quiseres antes que seja
para o Manuel arranjarei a coisa de modo que poderá para qualquer dos dois. Tua
mãe já sabe isto e pende para o Manuel, eu confesso que acharia mais razoável que
fosse o Domingos, tu decidirás. A condessa da Póvoa já disse ao Imperador que
desejava isso muito.”410.
Efectivamente ficam bastante claros os objectivos que revestiram a aliança:

409
Corresponderia entre 2.000.000$000 e 2.400.000$000.
410
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5809, Caixa 235, fol. 1238. Jorge Forjaz é
de opinião que o casamento fora propiciado pelo próprio Duque de Bragança, como forma de remunerar
D. Pedro de Sousa Holstein pelos serviços prestados, sem ter, para isso, de desperdiçar qualquer dinheiro.
Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, p. 103.

100
única e exclusivamente questões de índole económica. Todavia, a questão reveste-se de
outras particularidades. O interesse seria fazer uma união com a Casa Póvoa, sendo
quase indiferente qual dos filhos casaria: o mais velho, D. Domingos, visto que o
primogénito já tinha morrido, ou o filho imediatamente a seguir. D. Pedro era de
opinião que seria preferível que a aliança se fizesse com o herdeiro de sua casa, de
modo a engrandecer economicamente a mesma. No entanto, sua sogra, a Marquesa de
Nisa, defensora da antiga ordem social e representante da antiga aristocracia, era de
opinião que a aliança se efectuasse com o seu neto secundogénito e não com o herdeiro
da Casa, por “espírito de aristocracia”. Curiosa é também a tomada de decisão ser
deixada para a mulher, D. Eugénia. Além disso, o motivo de ordem económica é
reiterado numa carta posterior, ainda de Agosto de 1833, em que D. Pedro diz à mulher
“que não repugne com a consciência tratar de assegurar uma fortuna pecuniária nestes
tempos de revolução”411. Falava a experiência de serem emigrados, que passaram por
dificuldades financeiras, e de uma nobreza que já vira os seus bens arrestados por razões
políticas, como tinha acontecido durante o seu desterro em Borba. Aliás, as
recomendações de severa economia eram constantemente relembradas por D. Pedro a
sua mulher 412.
Se os interesses económicos não estiveram arredados do propósito inicial do
casamento, provavelmente estiveram-no as questões políticas, visto que o Conde da
Póvoa tinha sido um dos assinantes da Representação de 25 de Abril de 1828, alinhando
claramente pelo lado miguelista413, embora tenha feito parte do Ministério encabeçado
por D. Pedro de Sousa Holstein em 1823414. Todavia, face às razões económicas, o
alinhamento político pouca importância teve na questão.
No entanto, a Casa da Póvoa foi a única com que a Casa Palmela encetou
relações matrimoniais que alinhou pelo lado miguelista; as restantes alinharam pelo lado
liberal, que saiu vencedor em 1834.
Relativamente à antiguidade das Casas, verificamos a existência de vários tipos
de aliança. Em primeiro lugar, com aquelas casas da nobreza de Antigo Regime, criadas
anteriormente a 1792. É o caso de Castelo Melhor, Galveias, Nisa e Ribeira Grande. Um

411
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5809, Caixa 235, fol. 1258.
412
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 48.
413
LOUSADA, Maria Alexandre, “D. Pedro ou D. Miguel? As Opções Políticas da Nobreza Titulada
Portuguesa” in Penélope, 4, pp. 114-115.
414
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p. 174.

101
segundo grupo é formado pelas casas que foram tituladas após 1792 e antes da
atribuição da Carta Constitucional de 1826, que é o próprio caso da Casa Palmela,
embora fosse anteriormente possuidora de morgados e ofícios na Corte, e a Casa da
Póvoa. Finalmente, temos as restantes casas, que apenas acederam à titulação após o fim
da guerra civil, em 1834. Nesta condição, há duas casas que, para além de terem sido
tituladas após 1834, nem sequer possuíam morgados ou senhorios: é o caso da Casa de
Lançada e a da Praia e Monforte, a primeira das quais claramente por ter alinhado pelo
lado liberal. As restantes, apesar de apenas serem tituladas com grandeza após 1834, já
possuíam morgados ou senhorios anteriores a essa data. Estão neste caso as casas de
Alcáçovas, Sobral e Terena. Há que chamar ainda a atenção para a Casa de Minas, que
apesar de ser um título de Antigo Regime, foi renovada num ramo secundário da Casa,
em 1842, ou seja, posteriormente a 1834, como recompensa dos esforços empreendidos
para a causa liberal.

Em conclusão, verificamos que o comportamento da Casa Palmela relativamente


à política matrimonial seguida apresenta, em traços gerais, uma continuidade em relação
ao que se verifica com as casas titulares de finais de Antigo Regime. De facto, o
celibato, quer feminino, quer masculino, que vinha decaindo desde finais de Antigo
Regime, torna-se totalmente inexistente. Verifica-se igualmente alguma endogamia
social, pois são procuradas, na sua grande maioria, outras casas titulares. As filhas não
sucessoras casam preferencialmente com sucessores de outras casas, sendo a excepção a
última filha de uma vasta prole, que casa, nos seus dois matrimónios, com
secundogénitos, demonstrando que o número de filhos concorre para a escolha dos
cônjuges, como foi atrás referido. As sucessoras, por seu turno, casam com
secundogénitos, característica comum ao Antigo Regime.
Relativamente ao comportamento dos indivíduos do sexo masculino desta
família, é também semelhante ao verificado durante o Antigo Regime, casando
geralmente com filhas de titulares, não necessariamente herdeiras presuntivas. Aliás, o
único caso em que tal se verifica é uma herdeira que faz já parte da família, o que
parece demonstrar a vontade que a Casa fique na família.
No entanto, a análise da antiguidade das Casas com que se mantiveram alianças
é reveladora de que, apesar de algumas delas serem da antiga nobreza titulada do Reino,
com títulos atribuídos anteriormente à regência de D. João VI, muitas eram
relativamente recentes. A Casa da Póvoa estava nas mesmas condições que a Casa

102
Palmela, tendo sido ambas tituladas no período compreendido entre 1792 e 1826, para
além da Casa de Sobral, embora sem Grandeza. As restantes foram tituladas após 1834,
apesar de possuírem nobreza antiga, a maior parte por terem alinhado pelo lado
vencedor da guerra civil, para além de possuírem vínculos anteriores a essa data. Assim
sendo, parecem ter concorrido para a escolha dos cônjuges mais os factores externos
anteriormente referidos e sistematizados por Mafalda Soares da Cunha, do que os
factores internos, neste contexto preciso da Casa Palmela durante o século XIX. É
todavia, difícil avaliar em cada caso a importância relativa dos factores simbólicos e
económicos, com excepção, talvez, do casamento do segundo Duque de Palmela, sobre
o qual deteremos a nossa atenção.

4.3. Os Cônjuges, a Monarquia e o Poder. Cargos, ofícios e


carreiras

Embora já tenhamos identificado as famílias com que a Casa Palmela se


relacionou através do casamento, falta agora perceber a carreira seguida pelos cônjuges
durante a sua vida, nomeadamente, os cargos públicos ou políticos que desempenharam,
ou ainda os ofícios exercidos no Paço. Já não se trata somente de averiguar as escolhas
que presidiram aos enlaces matrimoniais da Casa Palmela, como no capítulo precedente,
mas compreender o percurso individual dos membros que ficaram pertencendo a esta
família.
Nesse sentido, preferimos sistematizar a informação em pequenos quadros
biográficos para cada uma das pessoas em questão, de modo a possibilitar uma
comparação das suas carreiras mais fácil. Dividimos a informação disponível em vários
predicados, embora nem todos os indivíduos os preencham na totalidade. Tal deve-se ou
à ausência de fontes, ou por não terem o predicativo correspondente. Assim, para além
do nome e do título, que permita identificá-los, entendemos que seria necessário analisar
a sua formação académica, a sua carreira militar, e os cargos que desempenharam.
Iremos também analisar os ofícios exercidos na Casa Real e se foram pares ou
deputados. Para além disso, iremos verificar a posse de comendas, grã-cruzes e
condecorações, quer nacionais, quer estrangeiras.
Ficam, no entanto, a faltar as senhoras. Todavia, perceber o seu percurso é, por

103
vezes, difícil. A solução consiste em colmatar a falta de informação com dados relativos
a seus pais, visto que escolha de determinada noiva passaria necessariamente pela
aceitação da família que o pai encabeçava. No entanto, estes dados foram sendo tratados
nos capítulos precedentes.

Passemos então à análise do percurso individual dos sujeitos em questão:

Nome D. Brás da Silveira


Título 9º Marquês das Minas e 12º Conde do Prado
Formação Académica
Alistou-se a 17 de Dezembro de 1830;
1833 - exército liberal;
Carreira Militar Combateu em Espanha, pela causa de D. Isabel.
1842 – Passou à 3ª secção do exército, por se achar incapaz de servir por
moléstias adquiridas em campanha415.
Diplomacia
Outros Cargos
Ofícios Casa Real
Comendas, Grã Cruzes Comendador da Torre e Espada 1834, por feitos militares; Comendador
e Condecorações da Ordem de Cristo416. Medalha de Isabel II
Par / Deputado Par, Decreto 3 de Maio de 1842, Posse a 12 de Julho 1842417

Nome Luís Brandão de Melo Cogominho Pereira de Lacerda


Título 3º Conde e 2º Marquês de Terena
Formação Académica
Carreira Militar
Adido à delegação portuguesa nomeada para assistir à coroação da
Diplomacia Rainha Vitória.

415
Carta, Arquivo Histórico Militar, Caixa 177.
416
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 746.
417
Cf. Almanaque de Portugal para o ano de 1855, Lisboa, Imprensa Nacional, 1854, p. 101. Para
conhecer a actividade parlamentar do Marquês das Minas vide MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “LORENA,
D. Brás Maria da Silveira e” in Dicionário Biográfico Parlamentar, vol. 2, pp. 626-627.

104
Outros Cargos Presidente da Câmara Municipal do Porto418.
Ofícios Casa Real Conselheiro de Sua Majestade419.
Comendas, Grã Cruzes Comendador da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha420.
e Condecorações
Par / Deputado Deputado em 1842, quando o seu avô foi nomeado par do Reino

Nome D. Caetano de Vasconcelos de Lencastre


Título 2º Conde das Alcáçovas
Frequentou 2 anos da faculdade de Direito, Coimbra, entre 1838 e
Formação Académica 1840421.
Praça no 2º Batalhão Nacional de Voluntários do Comércio.
Carreira Militar Baixa do serviço militar, conservando as honras do posto.
Diplomacia
Outros Cargos Director da Companhia de Interesse Público422.
Gentil-homem da Câmara de D. Luís; Camarista de D. Fernando II423;
Ofícios Casa Real Mestre Sala e Aposentador Mor da Casa Real
Comendas, Grã Cruzes Comendador da Ordem de Cristo; Grã-cruz de Carlos III de Espanha;
e Condecorações Grã-cruz de Ernesto Pio, Saxe-Coburgo-Gotha424.
Par /Deputado Par, 22 de Novembro 1843, por sucessão de seu pai425

Nome D. Francisco Xavier de Almeida Melo e Castro


Título 8º Conde das Galveias.
Formação Académica

418
Cf. Revolução de Setembro, nº 7210, Lisboa, Terça-Feira, 12 de Junho de 1866, p. 2.
419
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 763.
420
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p. 432.
421
Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no Anno
Lectivo de 1838 para 1839 (…), Tomo IV (XXIX - XXXV – 1830 a 1840), pp. 6 e 8.
422
Cf. Almanaque de Portugal para o ano de 1856, p. 602.
423
Cf. AFFONSO, Domingos de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza,
vol. 1, p. 22. Cf. Anuário Diplomático e Consular Português (Referido a 31 de Dezembro de 1888),
Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa, Imprensa Nacional, 1889, p. 22.
424
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. II, p. 216.
425
Cf. Almanaque de Portugal para o ano de 1856, Lisboa, Imprensa Nacional, 1856, p. 13.

105
Carreira Militar
Diplomacia
Outros Cargos
Ofícios Casa Real Couteiro-mor da Tapada de Vila Viçosa e Reais Coutadas426
Comendas, Grã Cruzes
e Condecorações
Par / Deputado Par Hereditário, posse em 6 de Fevereiro de 1872427.

Nome Luís de Vasconcelos e Sousa


Título Filho 2ª dos 3º Marqueses de Castelo-Melhor.
Formação Académica Estudos em Lisboa e Paris, com aproveitamento428.
Carreira Militar
Diplomacia
Outros Cargos
Ofícios Casa Real
Comendas, Grã Cruzes
e Condecorações
Par / Deputado

Nome D. António Lobo de Almeida Melo e Castro


Título Filho 2ª dos 7ºs Condes das Galveias.
Formação Académica
Carreira Militar
Diplomacia
Outros Cargos
Ofícios Casa Real
Comendas, Grã Cruzes
e Condecorações
Par / Deputado

Nome José Maria Gonçalves Zarco da Câmara


Título 9º Conde da Ribeira Grande e sucessor ao título de Marquês.

426
FREITAS, A., Anuário da Corte Portuguesa, 1º Ano 1895, Lisboa, M. Gomes Editor, 1895, p. 158.
427
Carta Régia de 30 de Abril de 1826. Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches
de, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 7; Cf. AFFONSO, Domingos
de Araújo, VALDEZ, Ruy Dique Travassos, Livro de Oiro da Nobreza, vol. 2, p. 11.
428
Cf. Revolução de Setembro, nº 2802, quarta-feira, 30 de Julho de 1851.

106
Doutor em Ciências Políticas e Administrativas pela Universidade de
Formação Académica Louvain, Bélgica.
Carreira Militar
Diplomacia Adido à legação de Portugal no Vaticano
Outros Cargos
Ofícios Casa Real Oficial-mor honorário. Mordomo-mor da Rainha D. Amélia
Grã-cruz da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Grã-
cruz de Vitória, de Inglaterra. Grã-cruz a de Carlos III. Grã-cruz Afonso
Comendas, Grã Cruzes XII de Espanha. Grã-cruz de Alberto, de Saxe. Grande oficial da Legião de
e Condecorações Honra. Comendador da Ordem de Hohenzollern. Condecorado com o colar
de S. Pedro429.
Par / Deputado Par por sucessão a seu pai, tendo tomado posse a 7 de Janeiro de 1873430

Nome António de Sampaio e Pina de Brederode


Filho dos 1ºs Viscondes de Lançada; Duque de Palmela, em sua vida, pelo
Título casamento
Curso preparatório de Marinha na Escola Politécnica, em 24 de Julho de
Formação Académica 1849, e o da Escola Naval em 3 de Junho de 1851.
Assentou praça como aspirante de 3ª classe da Marinha, em 12 de Março de
1847. 1853 - promovido a guarda marinha e, em 1854, a segundo tenente.
Dez anos depois ascendeu ao posto de primeiro-tenente, tendo sido adido
Carreira Militar ao quadro em 1869. Em 1873 foi promovido a capitão-tenente431. Desde
1850 que encetou várias comissões de serviço no Mar, destacando-se
aquelas ao serviço da Família real.
Diplomacia
Outros Cargos Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa entre 1890 e 1905
Oficial mor da Casa Real; Fidalgo Cavaleiro da Casa Real; Moço Fidalgo
Ofícios Casa Real da Casa Real; Capitão da Guarda Real.
Ordem da Águia Vermelha, 3ª classe, da Prússia, em 1859. Cavaleiro da
Ordem de Albertus Animusus, da Saxónia, em 1860. Baltic-medal
inglesa432. Cavaleiro da Legião de Honra, de França; 3º grau da Ordem de
Hohenzollern. Ordem de S. Maurício e S. Lázaro, de Itália, 1864. Cavaleiro
Comendas, Grã da ordem de Leopoldo da Bélgica. Grã-cruz de Carlos III. Cavaleiro da
Cruzes e Ordem Militar de S. Bento de Avis, por mais de 21 anos de serviço à
Condecorações marinha. Grã-cruz e comenda da ordem militar de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa. Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada.
Cavaleiro da Ordem de Cristo. Medalha de ouro de D. Maria II, concedida
ao mérito, generosidade e filantropia. Medalha de prata comemorativa da
expedição da Angola, em 1860, para a qual fora nomeado433.
Par / Deputado Par por carta régia de 23 de Fevereiro de 1864

429
Cf. PINTO, Albano da Silveira, BAENA, Visconde Sanches de, Resenha das Famílias Titulares e
Grandes de Portugal, 2ª ed., vol. II, p. 408; cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de
Portugal e do Brasil, vol. III, p.433; cf. Anuário Diplomático e Consular Português (….), pp. 22 e 26.
430
Para saber a actividade parlamentar que desenvolveu, vide PEREIRA, Zélia, “CÂMARA, D. José
Maria” in Dicionário Biográfico Parlamentar, vol. 1, p. 541.
431
Cf. Arquivo Central da Marinha, Livro Mestre nº 381, p. 136; Livro mestre nº382, p. 192.
432
Que devolveu à precedência, na sequência do ultimatum inglês.
433
Cf. ACM, Livro Mestre nº 381, p. 136; Livro Mestre nº382, p. 192 e cf. ABREU, José D’Ornelas
de Sanches, FORMOSINHO, José, et alii; Cruz Vermelha Portuguesa – 1865 a 1925, Lisboa, Centro
Tipográfico Colonial, 1926, pp. 63-73.

107
D. Luís Coutinho Borges Medeiros Sousa Dias da
Nome
Câmara
Filho segundo dos 1ºs Condes da Praia e de Monforte, Marquês do Faial
Título e Duque de Palmela pelo casamento
Voluntário na Faculdade de Direito e na Faculdade de Filosofia, na
Universidade de Coimbra, em 1883, para além de frequentar a aula de
Formação Académica desenho do curso de matemática434. Todavia, é em Filosofia que se forma
como bacharel, em 1890.
Carreira Militar
Diplomacia
Director do Banco Emissor. Presidente da Assembleia-Geral do
Automóvel Club de Portugal435. Protector da Misericórdia de Cascais e
Outros Cargos dos Bombeiros Voluntários Cascais. Sócio nº 1 do Ginásio Club
Português436. Criador de gado bravo, que exportava para Espanha437.
14º capitão da Guarda Real dos Archeiros, em substituição do seu sogro.
Ofícios Casa Real Oficial-mor. Fidalgo Cavaleiro da Casa Real. Vedor dos Reis D. Carlos e
D. Manuel II438.
Comendas Grã Cruzes
e Condecorações
Par /Deputado

Como podemos observar, os percursos individuais dos elementos masculinos


que casaram com senhoras da Casa Palmela não diferem muito entre si. A grande
maioria foi Par do reino. Cinco, num total de nove indivíduos ascenderam a esse lugar.

434
Cf. Relação e Indice Alphabetico dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no
Anno Lectivo de 1883 para 1884; (…) – Tomo XVI (LXXVII – LXXVIII – 1882 a 1884), pp. 173 e 184.
435
Cf. Diário de Noticias, nº 24301, 26 de Setembro de 1933, p. 4; Cf. Diário de Noticias, nº 24302,
27 de Setembro de 1933, p. 4.
436
Cf. Diário de Noticias, nº 24301, 26 de Setembro de 1933, p. 4.
437
Cf. Jornal do Comércio e das Colónias, nº 23936, 26 de Setembro de 1933, p. 1.
438
Cf. ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. III, p.105.

108
Pensamos que esta forte presença, a que se acrescentarão os dois primeiros Duques e
dois dos filhos do primeiro, se explica essencialmente pelo elevado número de
descendentes do primeiro Duque de Palmela e pelo facto de todos os descendentes que
chegaram à idade adulta terem casado, aliada à política de casamentos seguida. Também
é preciso ter em conta que alguns dos cargos de Par do reino são hereditários, como
acontece com os das Casas das Alcáçovas, Galveias, Ribeira Grande e o próprio caso da
Casa Palmela, sendo sintomático que o terceiro Duque seja nomeado após o seu
casamento. Os que não exerceram o cargo de Par eram filhos secundogénitos, como
Luís de Vasconcelos e Sousa, primeiro marido de D. Ana Rosa, filha do primeiro Duque
de Palmela, ou Luís Coutinho, quarto Duque de Palmela.
Haveria que verificar se estes mesmos indivíduos, nas decisões que tomaram, se
se situaram em correntes políticas semelhantes e se defenderam os mesmos interesses.
Isto possibilitaria perceber se houve uma efectiva noção de grupo e de pertença a uma
mesma estirpe. Todavia, esta investigação está fora dos propósitos deste trabalho.
Por outro lado, pensamos ser expressivo o número de indivíduos que exerceu
ofícios no Paço.
Há também um peso significativo do número de indivíduos condecorados pois, à
excepção do segundo Marquês de Terena, Luís Brandão Cogominho Lacerda, que
apenas possui um grau numa ordem estrangeira, todos os outros indivíduos agraciados o
foram com três ou mais condecorações. A maior parte destas condecorações foram
atribuídas a título honorífico, à excepção daquelas que constituem uma recompensa por
mérito militar.
Muito timidamente, assistimos ao desempenho de cargos não considerados
próprios da nobreza durante o Antigo Regime. Efectivamente, temos alguns poucos
casos de empreendimentos, sobretudo em companhias de interesse público, tal como
acontecia com alguns dos filhos do primeiro Duque de Palmela, como vimos.
As carreiras militares, seja no exército, seja na marinha, assumem um valor
pouco expressivo. O exército apresenta maior expressividade que a Marinha, como
sucedia com a nobreza estremenha de Espanha no século XVIII439. Além disso, não
convém esquecer que Marinha proporcionava uma formação académica.
A formação académica começa a tomar terreno, sobretudo nos filhos

439
Cf. ARAGÓN MATEOS, Santiago, La nobleza estremeña en el siglo XVIII, Mérida, Consejo
ciudadano de la Biblioteca Pública Municipal Juan Pablo Forner, 1990. p. 463.

109
secundogénitos, relativamente ao período anterior. A única excepção é a do Conde da
Ribeira Grande, filho primogénito, se que doutorou na Universidade de Lovain.
Apesar de não possuirmos fontes relativas à educação escolar primária, nem
sequer outro tipo de informações que nos permita compreender o investimento em
educação por parte destas famílias nos seus filhos, parece haver uma grande
discrepância entre a educação que os membros da Casa Palmela receberam e a que
tiveram os seus cônjuges. De facto, houve a preocupação, sobretudo por parte dos
primeiros Duques de Palmela, de providenciar aos seus filhos uma sólida formação
cultural e escolar, que ia bem mais além do que o ensino elementar, ou apenas do
ingresso no Exército ou na Marinha. Em França, esta maior formação intelectual seria
própria de meio mais aristocrático 440. Basta atentar no percurso daquele que foi o
primogénito, D. Alexandre de Sousa Holstein, que cursou num colégio da Marinha
Inglesa, mas completou a sua formação escolar, frequentando aulas na Universidade de
Londres e na Sorbonne. Ora, estes estudos superiores contrastavam com a preparação
dos restantes primogénitos que casaram na Casa Palmela, e que, à excepção do Conde
de Ribeira Grande, não seguiram uma formação académica superior, que continuava a
estar destinada aos secundogénitos, tal como acontecia no Antigo Regime 441. É
sintomático que D. Caetano de Vasconcelos de Lencastre, Conde das Alcáçovas e filho
secundogénito, tenha iniciado os seus estudos em Coimbra, deixando-os logo após a
morte de seu irmão mais velho, de modo a assumir os destinos da sua Casa, que então
herdou.
As razões que estarão por detrás da aposta em fortes alicerces educacionais por
parte da Casa de Palmela poderão estar relacionadas com o facto de esta família ter
vivido largas temporadas no estrangeiro ou com a noção, coerente com o espírito
liberal, de que a nova sociedade se deveria fundar na meritocracia, para a qual uma
formação académica se revelava imprescindível, e que a competência técnica,
intelectual e profissional constituía um instrumento privilegiado de predomínio
social442. No entanto, esta parece-nos uma característica própria da família, que

440
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse reinventée: nobles de Franche-comté de 1814 à 1870,
Paris, Pie imprenta Annales litteraires de l'Université de Besauson, Centre National de la Recherche
Scientifique, 1992, p. 818.
441
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (…), pp. 521 e 522.
442
Cf. CHAUSSINAND-NOGARET, Guy, « De l’aristocracie aux élites » in Histoire des élites en
France du XVIe ao XXe siècle, s.l., Tallandier, 1991, p. 255.

110
manifestou desde cedo interesses na leitura, no coleccionismo, nas artes, e que travou
conhecimento com grande parte da intelectualidade portuguesa e europeia do seu tempo,
tendo consciência da importância que estas relações tinham, como podemos observar
por esta carta, de 1 de Março de 1831, de D. Alexandre de Sousa Holstein, dirigida à
mãe, D. Eugénia: “(…) Ontem encontrei o príncipe Esterhazy443 e isso poupou-me o
trabalho de ir lá; ele perguntou-me se o papa já tinha partido e convidou-me para lá ir
esta noite e sempre que eu quisesse. A princesa de Lieven444 ainda a não tornei a ver
depois da partida do papa, mas não tenho remédio se não ir lá bastantes vezes, pois o
papa recomendou-me muito que o fizesse. V. Ex.ª bem vê que estas visitas e partidas me
custam bastante, não só pelo pouco que eu gosto delas, em todos os tempos, mas
particularmente nestas circunstâncias e só as faço por ser uma das ordens mais
positivas que o papa me deu. (…)”445.

443
Príncipe Nicolau II (1765-1833), diplomata Húngaro, pertencente ao império Austríaco, ou então
seu filho, o príncipe Paul Anton III (1786-1866), também diplomata.
444
Doroteia Christophorona Von Bekendorf, (1785-1857) princesa de Lieven pelo seu casamento com
o príncipe Cristóvão Lieven, embaixador Russo em Inglaterra entre 1812 e 1834. Íntima de
personalidades como Metternich, Madame de Staël e o Duque de Wellington.
445
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5747, Caixa 169, fol. 1917.

111
5. Desenlace: tentativa de dissolução do matrimónio de D. Domingos

Propositadamente, não nos debruçámos com particular atenção sobre contrato


antenupcial dos segundos Duques de Palmela, uma vez que a própria união entre ambos
foi um acontecimento que provocou um grande alarido nos tribunais, na imprensa e na
própria família. Deste modo, não poderemos deixar de explicar neste capítulo as
tentativas de dissolução deste matrimónio por parte dos tios paternos de D. Maria Luísa
Noronha Sampaio e as medidas tomadas pela Casa Palmela para o evitar. Neste sentido,
procuraremos também aprofundar os motivos que presidiram à escolha de D. Maria
Luísa como noiva de D. Domingos de Sousa Holstein, que parecem divergir da escolha
dos restantes consórcios que analisámos. Iremos também analisar o esforço dispendido
para contrariar a tentativa de separação dos nubentes.

Para melhor compreender como tudo se passou, é necessário recuar um pouco no


tempo, à data da morte de Henrique Teixeira de Sampaio, pai daquela que veio a ser a
segunda Duquesa de Palmela. Como referimos anteriormente, Henrique Teixeira de
Sampaio nasceu em Angra, em 1774. Estudou num colégio em Londres e aí iniciou a
sua vida comercial. Em 1800 foi Comissário-em-Chefe do exército auxiliar anglo-luso.
Em 1816 foi-lhe outorgada a comenda de Cristo, a que se seguiu o título de Barão de
Teixeira, em 1818, como recompensa dos empréstimos concedidos ao exército anglo-
luso durante as invasões francesas. Seguiram-se a outorga da carta de fidalgo de cota de
armas em 1819 e o título de Conde da Póvoa em 1823, que lhe permitiu tomar assento
na Câmara dos Pares, entre 1826 e 1828. Foi ainda o impulsionador do Banco de

112
Lisboa, de que foi um dos principais accionistas446. Henrique morreu a 27 de Março de
1833447, com testamento de dia três do mesmo mês. Em inventário a que se procedeu
após a sua morte, os seus bens foram avaliados em oito mil e quatrocentos contos.
Tendo instituído um morgado em 1 de Março de 1824 no valor de 3 milhões de
cruzados, ou seja, 1.200.000$000, com especial mercê régia de 27 de Fevereiro de 1824,
declarou, no seu testamento, vincular simultaneamente todos os bens de raiz adquiridos
antes e depois da instituição do mesmo morgado. Foram também incorporadas as duas
baixelas de prata de que era possuidor e os brilhantes que tinha a uso pessoal. Ordenou
que a legítima que caberia a seu filho primogénito fosse igualmente incorporada neste
vínculo, assim como a terça remanescente, após o pagamento dos encargos ordenados
no testamento. Instituiu como herdeiros universais os seus filhos legítimos, D. João e D.
Maria Luísa, na(s) parte(s) da herança e na terça da mesma da qual dispunha livremente
e a parte que restava da terça ficaria anexa ao morgado. Sendo os seus filhos menores,
nomeou para seus tutores a Condessa de Peniche 448 e o Desembargador do Paço, João
Baptista Esteves449.

Cinco meses depois da morte do Conde da Póvoa, o Duque de Palmela pedia a


mão de sua filha, D. Luísa, à Condessa da Póvoa viúva, para um dos seus filhos, D.
Domingos ou D. Manuel, como vimos, ao que aquela depressa anuiu.
Entretanto, tinha-se formado o conselho de família, constituído pelo tutor, João
Baptista Esteves, o curador Luís Martins Bastos, a Condessa da Póvoa, D. Domitília
Teixeira de Sampaio, Luís Teixeira de Sampaio, ambos irmãos do falecido e que
podemos observar na Árvore Genealógica XIV, e José Joaquim Gerardo de
Sampaio 450. O objectivo era velar pelos interesses dos menores e possibilitar a
administração da Casa do Conde da Póvoa. Foi perante este conselho que, a 11 de

446
Cf. FRANÇA, José Augusto, “Burguesia Pombalina, Nobreza Mariana, Fidalguia Liberal” in
Pombal revisitado, vol. I, Lisboa, Imprensa Universitária, Editorial Estampa, 1984, p. 31.
447
Cf. Certidão de óbito do Conde da Póvoa, Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo
Casa Palmela, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 187.
448
Isabel Teles da Silva (1789-1862), filha do terceiro Marquês de Penalva, Fernando Teles da Silva e
casada com D. Manuel Lourenço de Almeida e Noronha, 2º Conde de Peniche, cunhado do Conde da
Póvoa.
449
Cf. Testamento do Conde da Póvoa, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 593.
450
Cf. Actas do Conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 25.

113
Agosto de 1834, se apresentaram os autos do alvará régio de licença de casamento
expedido em favor de D. Domingos de Sousa Holstein e de D. Maria Luísa, filha do
Conde da Póvoa. Decidiu-se unanimemente que se procedesse à escritura de esponsais
entre os futuros esposos, onde se estipulasse a promessa verbal de casamento entre a
Condessa da Póvoa e o Duque de Palmela, declarando-se também que, quando os
noivos chegassem à idade própria de se efectuar o casamento, se procederia a outra
escritura antenupcial, que ajustaria a administração dos bens de cada uma das partes451.

Árvore Genealógica XIV - Irmãos do Conde da Póvoa


Pedro Teixeira D. Bernarda
? ? de Sampaio Amaral Guedes ? ?

D. Maria Luísa 1º Francisco T. 2º Eulália Cabral


da Guerra Sampaio Melo Carvão

João T. D. Violante Dinis T. D. Domitila Francisco T. Manuel T. João T. Luís T. Dinis T.


Sampaio T. Sampaio Sampaio T. Sampaio Sampaio Sampaio Sampaio Sampaio Sampaio

António T. Henrique T. D. Mariana D. Leonor Alexandre


Alexandrina
D. Ana Máxima D. Francisca D. Mariana D. Catarina
Sampaio Sampaio Sampaio T. Sampaio T. Sampaio T. Sampaio T. Sampaio T. Sampaio T. Sampaio

Efectivamente, foi isso que aconteceu, como podemos constatar com maior
pormenor no capítulo seguinte: a 6 de Setembro de 1834 procedeu-se à primeira
escritura de esponsais, onde se decidiu que o casamento teria lugar quando a noiva
atingisse a “idade conveniente”452. A relação entre a família Póvoa e Palmela parecia
correr dentro da normalidade. No Verão seguinte, em 12 de Agosto de 1835, o Duque
de Palmela, em carta à mulher, pensava pedir emprestada a Casa de Sintra à Condessa
da Póvoa, para aí passar alguns dias: “(...) Acho porém muita dificuldade em obter
quartos na estalagem. Lembrou-me pedir à Condessa da Póvoa que me emprestasse por
oito dias a sua casa, mas agora suscitou-me a Rainha outra ideia, oferecendo-me
quartos no paço. Que te parece? Se gostares de vir estar um mês ou dois meses em
Sintra podemos acomodar-nos todos optimamente no paço e bem sabes que não é coisa
nova emprestarem-nos aqueles quartos. Creio mesmo que se poderão obter alguns
móveis para lá. Se preferires ir aos banhos do mar mando-mo dizer. Eu creio que para
a saúde dos nossos filhos uma estada em Sintra não será pior do que uma residência na

451
Cf. Actas do Conselho de Família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 151, fol. 68.
452
Escritura de Esponsais, IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151, fol. 311.

114
praia e o Didi podia ir dia ou outro banhar-se à praia das maçãs. (...)”453.

Em Junho de 1836, o Duque de Palmela recebia uma carta do tutor dos menores,
no qual este lhe confirmava não se opor ao casamento entre D. Domingos e D. Maria
Luísa, sobretudo quando se tinha já assinado uma escritura de esponsais celebrada pelo
conselho de família e ordenada pelo imperador454.
Esta missiva parece ter sido um estratagema arquitectado pelo Duque de
Palmela, como ele próprio confessa a D. Eugénia numa carta datada do dia
imediatamente posterior, como forma de concretizar o casamento: “(...) Fui ontem ao
Lavradio e depois de muito combater e uma singular consideração que te contarei, o
mais que pude conseguir foi uma carta (que já tenho na minha mão) na qual João
Baptista me diz que se não oporá ao casamento, visto que assinou a escritura dos
esponsais, por mandado do Imperador. Que te parece isto? Assim mesmo suponho que
esta resposta basta para podermos fazer o casamento, mas necessito arranjar aqui as
coisas para isso e levar tudo feito para a Condessa da Póvoa. Entretanto guarda isto
tudo para ti. Mas vejo com certeza que J. Baptista favorecia a Condessa de Peniche e
que para por todos os contendores fora de combate é indispensável apressar todo o
negócio (…)” O objectivo foi o de apressar o “negócio” – leia-se casamento – de forma
a colocar “todos os contendores fora de combate”, ou seja, todos aqueles que se
opunham ao mesmo. D. Pedro demanda à mulher, ainda na mesma carta, que esta tome
as medidas necessárias para alojar D. Maria Luísa em Sintra: “Portanto é preciso que a
todo o custo tomes as tuas medidas para arranjar em Sintra lugar para a pequena, para
a mestra, que nos primeiros dias será a D. Teresa e para uma ou duas criadas. Para
este fim é indispensável tomar ou a Piedade ou a casa amarela por cima da água
férrea. Arranja tu isso como quiseres falando ao procurador do Duque de Cadaval ou a
quem te parecer mas olha que te digo de todo o coração que nisto não admito a menor
dúvida nem demora e que te tornarias responsável por todos os transtornos e desgraças
que resultassem de se sacrificar agora a considerações pequenas e secundárias uma
coisa em que interessa o sossego de toda a minha vida e a sorte futura da nossa família.
Perdoa estas reflexões, porque o caso é sério e digo-te que o não pode haver mais sério

453
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5804, Caixa 236, fol. 986.
454
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151, fol. 369.

115
para mim neste mundo”455. Desde esta data fica claro que o Duque de Palmela iria
empregar todos os seus esforços para concretizar o casamento de seu filho com a filha
do Conde da Póvoa, percebendo-se desde esta data a preocupação de que o casamento
poderia não vir a realizar-se, por falta de autorização do tutor.
Todo o empenho dos progenitores Palmela veio a ter bom sucesso, pois os
prometidos receberam-se a 3 de Julho do mesmo ano, como marido e mulher, no
oratório da Casa da Condessa da Póvoa. Foram efectuadas as autorizações régia e do
conselho de família e a dispensa de idade e de parentesco456 por parte do Cardeal
Patriarca. A escritura assinada nesta data referia expressamente a vontade deste
casamento por parte dos pais dos noivos e deles próprios. Acordou-se, no entanto, que a
noiva vivesse separada do noivo até que o casamento fosse consumado 457.

Todo o final de ano ocorreu sem grandes incidentes. A vinte de Outubro o


conselho de família dos menores reuniu-se, estando presente como membro do mesmo,
o Duque de Palmela. Nele se decidiram os alimentos que a Marquesa do Faial, D. Maria
Luísa Noronha Sampaio, teria pelos rendimentos da sua legítima. A Condessa da Póvoa,
Luís Teixeira de Sampaio e Dinis Teixeira de Sampaio, tios da menor, decidiram que se

455
Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 104.
456
A Duquesa de Palmela ainda era aparentada com a Condessa da Póvoa, como podemos
verificar:
Árvore Genealógica XV - Parentesco entre a Condessa da Póvoa e a Duquesa de Palmela.
Fernão T eles de D. Maria de
Menezes e Castro Lancastre

Rodrigo T eles de
T omás José D. Juliana Xavier Vitória de
Menezes Castro e
Botelho de T avora de Lancastre Tavora
Silveira

D. Manuel Caetano D. T eresa Botelho João Fernão D. Maria Baltazar


Lourenço de Almeida de Lancastre Teles de Menezes da Gama

D. José Noronha D. Mª José D. RodrigoTeles D. Mariana D. Domingos


e Albuquerque Lourenço Almeida Castro da Gama Xavier de Lima Xavier de Lima

D. Eugénia
D. Luisa Baltasar
Teles da Gama
de Noronha
D. Eugénia
Teles da Gama

457
Cf. Certidão de Casamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5708, Caixa 146, fol. 671. Jorge Forjaz
refere que o advogado Manuel Pereira de Araújo, no depoimento que prestou posteriormente, diz que a
noiva não demonstrou a sua vontade na realização dos esponsais. O mesmo Autor refere que a junção dos
contraentes se daria quando a noiva tivesse 12 anos de idade, o que não é referido na escritura. Cf.
FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, Porto, Centro de Estudos de Genealogia,
Heráldica e História da Família da Universidade Moderna do Porto, 2001, p. 105.

116
deveriam dar todos os rendimentos da sua legítima. Nesta questão o Duque foi
peremptório, demonstrando que era contra a entrega da totalidade dos rendimentos, mas
que aceitava a decisão, uma vez que era propósito da maioria 458. No entanto, a ideia de
que a família da nubente poderia voltar atrás na decisão tomada relativamente ao
casamento permanecia na mente do Duque, apesar de a Condessa da Póvoa mostrar-se
favorável ao mesmo, como podemos observar na carta dirigida pelo Duque de Palmela à
mulher, na véspera de Natal de 1836: “ (…) Fui à 4 ou 5 dias com a Maria Luísa a
Benfica ter com Mãe. Fez-lhe algumas festas mais do que costume e disse-me na
conversação que a maior consolação que tinha era ter casado a menina. Respondi-lhe
que esperava que ela assim dissesse sempre. A pequena gosta muito de nós todos
(…)”459.

Um facto viria, no entanto, a mudar o rumo dos acontecimentos. Às oito horas


da manhã do dia oito de Julho de 1837 morria o irmão de D. Maria Luísa, o segundo
Conde da Póvoa, D. João Noronha de Sampaio 460. Isto significava que D. Maria Luísa
se tornava, assim, a herdeira da Casa da Póvoa e da totalidade da fortuna que a
compunha.
Os acontecimentos precipitaram-se a partir deste momento. A nove de Outubro
de 1838461 o conselho de família reuniu-se novamente. Por essa altura, os Duques de
Palmela estavam a residir em Paris, com os seus filhos e claro, com D. Maria Luísa
Noronha Sampaio, que com eles vivia, desde a já referida escritura de 3 de Julho de
1836. O conselho compôs-se, para além do tutor e do curador da menor, por Luís
Teixeira de Sampaio, Francisco Martins e Pedro Daniel Mouchet, como procurador da
Condessa da Póvoa, e José Xavier Mouzinho da Silveira, como procurador de Dinis
Teixeira de Sampaio. O motivo desta reunião tinha sido uma carta recebida pelo tutor,
datada de 29 de Maio desse mesmo ano, assinada por Osborne Henrique de Sampaio,

458
Cf. Acta do Conselho de Família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 131.
459
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 622.
460
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 65.
461
E não a 9 de Outubro de 1837, como é referido por Jorge Forjaz. Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira
de Sampaio da Ilha Terceira, p. 105.

117
por si e como procurador de seu irmão António de Sampaio 462 e Luís Teixeira de
Sampaio e ratificada pelos Duques de Palmela, onde se convencionava um novo ajuste
relativamente ao casamento entre D. Domingos e D. Maria Luísa, uma vez que as
circunstâncias faziam desta menina herdeira de seu irmão. Era, por isso, necessário
“promover o [seu] desenvolvimento físico e moral” de modo a não extinguir o seu livre
arbítrio na escolha de esposo. Deste modo, os Duques de Palmela e seu filho
obrigavam-se a concluir o casamento somente quando D. Maria Luísa tivesse
completado quinze anos de idade, o que corresponderia a 21 de Abril de 1842 e apenas
nas cidades de Lisboa, Paris ou Londres. Para tal, a mesma deveria declarar perante
estes seus parentes paternos que casava de livre vontade, sem condicionamento algum.
Seria necessário também estabelecer uma casa de residência para D. Domingos
diferente daquela que os Duques partilhariam com D. Maria Luísa, uma vez que a
mesma continuaria sob a direcção moral de D. Eugénia até à conclusão do casamento
com D. Domingos, com qualquer outro esposo ou até mesmo nenhum. Caso os Duques
de Palmela residissem em outra cidade diferente das três mencionadas, seriam obrigados
a manter a menina em uma delas, de modo a permitir uma mais fácil comunicação entre
ela e os seus parentes paternos, que devia, aliás, ser propiciada. Caso alguma destas
condições não se verificasse, o casamento seria considerado como não tendo o
consentimento e vontade legal da menina, e como tal considerado nulo. Esta seria
considerada menor até à idade de vinte e cinco anos completos e todos os seus bens e
rendas passavam a ser administrados como se tratassem de propriedade de um menor,
sendo somente entregues aquando da maioridade da mesma. Os Teixeira de Sampaio
procuravam, deste modo, atrasar o mais possível a consumação do casamento, abrindo a
possibilidade de a menor poder escolher no futuro um outro noivo, preferencialmente
algum membro da sua família.
Perante isto, o tutor pedia ao conselho de família a deliberação adequada,

462
Ambos filhos de António Teixeira de Sampaio, meio-irmão de Henrique Teixeira de Sampaio:
Árvore Genealógica XVI - Filhos de António Teixeira de Sampaio
? ? Pedro Teixeira D. Bernarda
de Sampaio Amaral Guedes

D. Maria Luísa 1º Francisco T. Osborne


Mary Weeb
da Guerra Sampaio Greatrabes

João T. António T. Frances


Sampaio Sampaio Greatrakes

D. Frances D. Louise T. D. Anne T. D. Demetilde D. Sally T. António T. D. Mary T. Osborne Henry


D. Maria
Sampaio Sampaio Sampaio T. Sampaio Sampaio Sampaio Sampaio Sampaio

118
afirmando, no entanto, que não ratificava o casamento da menor sem a aprovação do
mesmo conselho, além de que também não apoiava que a menina tivesse saído do reino
sem a sua autorização e a do conselho de família, demarcando-se essencialmente da
posição tomada pela Casa Palmela. O conselho de família, em conjunto com o Juiz de
Paz, decidiu que a convenção descrita seria reduzida a escritura pública 463.

Poucos dias depois, a 15 de Outubro de 1838, celebrou-se uma nova escritura


entre o Conde de Vila Real, como procurador dos Duques de Palmela e do Marquês do
Faial, e Pedro Daniel Mouchet, procurador do tutor João Baptista Esteves. O objectivo
era o de celebrar as novas condições do consórcio de D. Maria Luísa e de D. Domingos,
que foram aprovadas por conselho de família a 9 de Outubro desse ano. As condições
foram as mesmas expostas nesse conselho e que referimos anteriormente 464. Trata-se
pois, de uma escritura em que se verifica que os parentes paternos de D. Maria Luísa
procuraram fazer valer os seus direitos pela forma da lei: por um lado fazendo atrasar a
realização e a consequente consumação do matrimónio, prevendo a possibilidade de a
noiva poder decidir sobre o seu destino e sobre o qual os seus parentes pensavam poder
interferir; por outro lado, evitavam que a fortuna que a menor possuía fosse
administrada senão pelo conselho de família. Apesar de dificultarem a conclusão do
matrimónio, a menor continuava à guarda dos Duques de Palmela.
No entanto, encontramos uma outra escritura datada do mesmo dia, mas com
algumas diferenças. Desta vez, as partes eram compostas pelos Duques de Palmela,
representados pelo seu cunhado, o Conde de Vila Real, e Luís Teixeira de Sampaio,
Osborne Henrique Sampaio, por si como procurador de Alexandre Teixeira Sampaio,
seu tio e António Sampaio, seu irmão, procurando estabelecer não só as mesmas
condições expressas da carta de 29 de Maio, mas também outras no mesmo sentido. De
facto, os Duques de Palmela ficavam obrigados a não colocar entrave algum a D. Maria
Luísa em passar um dia, pelo menos uma vez por semana, nas casas de Osborne
Henrique Sampaio e António Sampaio, sempre que estes assim o desejassem. Os
Duques também se obrigam a não sair de Paris, onde se encontravam, com a D. Maria
Luísa antes de ela perfazer quinze anos completos. Caso os Duques necessitassem de

463
Cf. Acta do Conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 189.
464
Cf. Escritura, IAN/TT, ACP, Microfilme 5645, Caixa 92, fol. 1028. Jorge Forjaz refere apenas esta
escritura. Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, p. 106.

119
sair da cidade deviam deixá-la num estabelecimento conveniente à sua educação. A
Duquesa de Palmela continuaria com a superintendência geral da educação da menina,
que deveria assentar no princípio de que possuía a liberdade de escolher um esposo e
que iria administrar uma grande fortuna. Também não deveria tomar o título de
Marquesa do Faial, sendo que todos a tratariam pelo seu nome de baptismo, de modo a
manter a sua liberdade de escolha intocável relativamente a um marido. Estas condições
incrementavam ainda mais a tentativa, por parte dos tios paternos da menor, de exercer
influência sobre ela, apesar desta continuar à guarda dos Duques de Palmela.
Por outro lado, os familiares da pequena, condescendendo em que os Duques de
Palmela não deveriam sofrer perdas causadas pela demora do casamento ou inclusive
pela sua eventual não realização e como consideravam possível qualquer um deles ser o
sucessor da Casa da Póvoa, obrigaram-se a entregar anualmente aos Duques de Palmela
e ao Marquês do Faial uma renda vitalícia, igual à quarta parte da renda do morgado já
constituído, ou que se viesse a constituir. Para além disso, Luís Teixeira Sampaio e
António Sampaio ficavam obrigados a entregar a metade da legítima que actualmente
possuía a menor, caso esta designasse para esposo algum dos filhos destes últimos
nomeados. Se assim fosse, mas se o escolhido tivesse casa ou título de aliança, os
Duques de Palmela e o Marquês do Faial receberiam a quinta parte do rendimento. Na
eventualidade de Luís Teixeira de Sampaio ou António Sampaio não quererem nessa
ocasião a fortuna pecuniária da menina e caso não pudessem pagar aquele capital igual à
sobredita metade e por seus próprios bens, cada um deles se obrigava a não dispor de
nenhuma parte da sua fortuna, sem lhe fazer saber qual sua posição 465. Ou seja, nestas
condições da escritura ficava expressa a possibilidade de um dos familiares paternos vir
a casar com a menina, mas possibilitando à Casa Palmela uma indemnização pelos
danos que daí adviessem. Ficam claramente traçados os objectivos dos Sampaio
relativamente a esta questão: anular a todo o custo o casamento de D. Maria Luísa com
o Marquês do Faial e casá-la com um dos seus tios ou primos, de forma a apoderarem-
se da sua fortuna. Obviamente, logo após a clarificação teórica dos seus objectivos, que
ficava patente nesta escritura, os mesmos parentes passariam à acção, de modo a
concretizarem os seus objectivos.
Efectivamente, cinco dias depois, a 20 de Outubro de 1838, o conselho de
família reuniu-se novamente, a pedido de Luís Teixeira de Sampaio. O seu objectivo era

465
Cf. Escritura, IAN/TT, ACP, Microfilme 5574, Caixa 31, fol. 310.

120
o de nomear em Paris, onde residia à data a menor, uma pessoa de confiança e
probidade que tivesse todo o cuidado na fiel execução dos contratos celebrados entre o
Duque de Palmela e os parentes paternos da mesma menor. Luís Teixeira de Sampaio
sugeria que tal pessoa fosse António Sampaio “porque reside em paris e é parente mui
próximo da menor e é dotado de todas as qualidade necessárias para o bom
desempenho de uma tal comissão”. O conselho decidiu unanimemente que, embora não
fosse necessária a sua autorização para tal, se encarregasse António Sampaio ou
qualquer outra pessoa apta, “de todos os poderes necessários para fazer executar
perfeitamente o convencionado na escritura a que se procedeu por determinação deste
mesmo Conselho”. Caso houvesse alguma falta, pudesse esse procurador requerer às
autoridades competentes em Paris tudo o que fosse para bem da menor, inclusive a sua
remoção “para uma casa ou convento decente e próprio à dignidade dela, e conduzi-la
com todo o decoro e cautela a este reino.” O procurador poderia também requerer
perante as autoridades francesas a declaração da violência e nulidade com que a menor
tinha sido levada para fora do Reino de Portugal, sem o seu consentimento e vontade.
Também poderia invocar a nulidade de um casamento feito por uma menor e, por isso,
sem uso de razão. Em suma, o procurador poderia tomar todas as providências que
achasse necessárias, ou por falta da Duquesa de Palmela, ou qualquer outra
eventualidade, expedindo-se assim uma procuração precatória do tutor dirigida a
qualquer autoridade a quem fosse apresentada 466. O objectivo dos Sampaio era o de
retirar D. Maria Luísa da guarda dos Duques de Palmela, alegando-se, para tal, que fora
levada para fora de Portugal sem o seu consentimento e que o casamento, tendo sido
efectuado por uma menor, sem uso de razão e vontade próprias, deveria ser considerado
nulo. Era esta a base argumentativa dos parentes da menor, com o objectivo de a casar
com um seu parente ou, pelo menos, de ela não vir a ter descendentes directos, o que os
tornava seus imediatos sucessores e herdeiros.
A 22 do mesmo mês de Outubro de 1838, dois dias depois desta decisão do
conselho de família, os parentes do falecido Conde da Póvoa assinaram um contrato
entre si, de modo a negociarem as condições da herança que lhes viesse a caber, caso D.
Maria Luísa morresse sem sucessão. Os interessados foram Luís Teixeira de Sampaio,
representando o seu filho Luís Teixeira de Sampaio, Dinis Teixeira de Sampaio e
Alexandre Teixeira de Sampaio (este representado por Osborne Henrique Sampaio),

466
Cf. Acta do Conselho de Família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 219.

121
irmãos do Conde da Póvoa. Por outro lado apresentava-se António Sampaio e seu filho
primogénito António Sampaio, representados por Mouzinho da Silveira467. Caso se
extinguisse a linha directa do Conde da Póvoa por falecimento de D. Maria Luísa, sua
única filha legítima, os bens passariam para os colaterais do mesmo Conde. Todavia,
seria necessário apurar qual o sucessor, se os irmãos, se os filhos de seu irmão mais
velho. Acresce ainda o facto de não se saber quais seriam vivos na altura em que a
sucessão tivesse lugar. A escritura pretendia assim estabelecer as condições dessa
sucessão, ou melhor, embora não se decidindo quem viria a ser o sucessor da Casa
Póvoa, decidia-se sim a quantia em alimentos que o sucessor teria de pagar aos restantes
membros da escritura468.
Estando previstas as condições da repartição da fortuna do falecido Conde da
Póvoa, faltava agir de forma a impedir que D. Maria Luísa tivesse descendentes e a
forma de o conseguir era conseguir a anulação do matrimónio com D. Domingos de
Sousa Holstein. Assim, a 27 de Outubro de 1838, Luís Teixeira de Sampaio, Dinis
Teixeira Sampaio e Francisco Martins dirigiram uma petição ao Desembargador
promotor do Patriarcado de Lisboa, aprovada pelos representantes da família do falecido
Conde, em que provavam que o casamento da mesma menor tinha sido celebrado sem
as condições necessárias que satisfaziam o que estava disposto pelo Concílio de Trento
e pelas restantes leis canónicas e civis que regulavam o sacramento do matrimónio.
Pediam, por isso, junto do patriarcado a separação canónica do Marquês do Faial e de
D. Maria Luísa, incorrendo os mesmos nas penas canónicas que o direito lhes aplicasse,
caso contrariassem a intimação da sua separação, sendo o mesmo extensível aos Duques
de Palmela e demais parentes da mesma senhora assinados na convenção 469. A petição
foi aceite e assinada pelo Arcebispo da Lacedemónia 470, que anulava o casamento até

467
Vide Árvore Genealógica XIV – Irmãos do Conde da Póvoa.
468
Cf. Escritura, IAN/TT, ACP, Microfilme 5708, Caixa 146, fol. 639.
469
Cf. Autos cíveis de Petição, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 151, fol. 85.
470
O Arcebispado de Lacedemónia era a agraciação da Santa Sé ao Vigário-Geral do patriarcado.
Todavia, em 1833, quando morreu D. António José Ferreira de Sousa arcebispo de Lacedemónia, o título
não fora renovado pelo Vaticano, uma vez que as relações da corte pontifícia com Portugal se
interromperam. Quando reatadas, a agraciação passou a ser com o arcebispado de Mitilene, em 1853.
Todavia, apesar de a Santa Sé nesse período não ter procedido a nenhuma nomeação com essa
denominação, encontramos na documentação o título de Arcebispo de Lacedemónia, eleito, cargo que
cabia a Marcos Pinto Soares Vaz Preto, um dos principais clérigos que participou activamente nas
comissões encarregues de proporem e efectivarem a extinção das ordens religiosas. De facto, Marcos Vaz

122
ele ser canonicamente revalidado ou anulado por acção ordinária. No entanto, a menor
deveria permanecer em casa dos Duques de Palmela, sob responsabilidade da Duquesa,
que deveria assinar um termo de direito de responsabilidade caso concordasse em ser
depositária da menor. Tanto os contraentes, como os Duques de Palmela deveriam ser
intimidados por carta requisitória dirigida às justiças eclesiásticas e civis da diocese de
Paris471.
No dia seguinte, o arcebispo de Lacedemónia, Marco Pinto Soares Vaz Preto,
expediu a carta requisitória às autoridades eclesiásticas e civis de Paris 472, onde aí
chegou a 4 de Dezembro. Dia 12, o meirinho dirigiu-se à residência dos Duques de
Palmela para os intimar, mas não encontrou o Duque para lhe comunicar que os
nubentes tinham de se submeter a separação canónica e legal até que, por acção civil, a
nulidade dele fosse pronunciada.
Foi a 14 de Dezembro que os Duques de Palmela se apresentaram no Consulado
Geral Português em França, na cidade de Paris, onde declararam que dia 12 foram
notificados pelo Tribunal de Primeira Instância de Paris, ordenando a separação
canónica do Marquês do Faial e de D. Maria Luísa até que se revalidasse o seu
matrimónio ou se julgasse sua nulidade, sendo que a menor continuaria em depósito a
cargo da Duquesa que, com aprovação de seu marido, o confirmou 473.

Entretanto, a Duquesa de Palmela veio para Portugal, juntamente com sua filha
D. Eugénia e a sua nora, às escondidas e deixando em Paris um filho de colo 474. Durante
a viagem, D. Pedro escrevia-lhe, a 19 de Dezembro de 1838, de Paris, onde
permaneceu, preocupado com o sucesso da mesma, dando-lhe instruções sobre o que

Preto exerceu as funções de arcebispo eleito de Lacedemónia, usurpando as funções episcopais da diocese
do Porto, mas nunca recebeu a confirmação. Cf. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em
Portugal, vol. III, Porto – Lisboa, Livraria Civilização – Editora, 1970, pp. 294, 324, 468 e 502. Foi
confessor da Rainha D. Maria II e inclusive, de D. Domingos de Sousa Holstein, em 1832, conforme carta
dirigida a D. Eugénia Teles da Gama, por seu marido, em 6 de Maio desse ano: “(…) O Domingos está
bom e vai dar lições de escrita, conforme a tua recomendação. Também arranjei já com o Padre Marcos
para o confessar (…)”. IAN/TT, ACP, Microfilme 5808, Caixa 235, fol. 767.
471
Cf. Autos cíveis de Petição, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 151, fol. 85.
472
Cf. Carta requisitória, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 761.
473
Cf. Termo de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 473.
474
Jorge Forjaz refere que todos se ausentaram de Paris, inclusive o Duque de Palmela. Cf. FORJAZ,
Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, p. 107.

123
fazer quando D. Eugénia chegasse a Portugal, o que demonstrava claramente a posição
do Duque perante a questão: “Bem podes acreditar o cuidado com que estou e estarei
até saber o fim e o resultado da tua viagem! Comigo pelo que me inspira o rigor da
estação e sem depois a consideração da incerteza do juízo dos Homens! Enfim, Deus te
protegerá como bem mereces e eu em todo o caso te abençoarei. Abraça as nossas
Eugénia e Maria Luísa muitas coisas a Mme Messier. Vamos às instruções que serão
por agora em poucas palavras. Esta carta pode servir-te de auxílio para a memória
sobre os principais pontos. 1º O grande objecto é certificar-te se há ou não a certeza
(que pode haver nas coisas humanas) de que a decisão do Tribunal será a nosso favor.
Se o Bastos, o P. J. d' Oliveira, as outras pessoas que consultares te assegurarem que
sim deves apressá-la o mais possível e dar-te logo por citada, assim como a Mª Luísa.
O conde de Vila Real tem procuração minha e do Domingos para isso. Mas, se, pelo
contrário, parecer que há dúvida, então deves gastar tempo com as citações e com o
mais até vermos se chegam os doze anos para nos prestar auxílio, dando voz activa à
Maria Luísa. 2º Assim que chegares a Lisboa manda a minha carta ao tutor pelo Basto.
Se pudesses ir levar-lhe a Maria Luísa seria melhor, mas se o tempo estiver mau, basta
que lhe anuncies a visita. Entretanto, quanto antes ele vir a Maria Luísa e lhe ouvir
declarar as suas intenções melhor será, mas é preciso pedir-lhe que se pronuncie bem
decididamente sobre o casamento e o que diga o que quer e que o quer. 3º Deves logo
ir falar com ela a todos os juízes, principiando pelo Patriarca e o seu Vigário e convém
que a Mª Luísa diga a todos não só que quer ficar contigo, mas que quer ser Marquesa
do Faial e ficar com o Marquês do Faial, que sua mãe e seu tutor a prometeram e
deram e que ela agora está decidida a não anuir a outro nenhum arranjo. 4º Deves
leva-la a El-Rei e à Rainha para pedir o mesmo e visitar com ela as tias sempre fazendo
que fale, enquanto aos tios, depois do que fizeram, não digo que lá vão, só se persuades
que podias induzi-los a desistir da demanda. 5º Bom está que te faças auxiliar por toda
a gente que tiver alguma actividade e amizade por nós. Manda chamar o João de
Sousa. O réu sobredito, Jm. A. de Magalhães e Basto já se sabe, autoriza-os a todas as
promessas inclusivamente de dinheiro, pois é preciso combater o inimigo com as armas
de que ele se serve. 6º Ao Padre Manuel dirás logo que lhe estás o mais obrigada pela
decisão de depósito, mas que é preciso terminar a questão. Que se lembra que ele
mesmo arranjou tudo isto. Que saiba que os Sampaios aqui o queriam fazer passar com
o arcebispo por cismático, que sabes que os outros têm prometido grandes coisas, mas
que tu sempre farás mais do que eles possam ter prometido. 7º O que o cura disse

124
ontem e de que é bom lembrar-se é que há uma grande diferença entre impedimentos
dirimentes e os que não são dirimentes. Os primeiros tornam um matrimónio nulo
sempre que se apresentam. Os outros servem para impedir que um matrimónio se faça
mas não o tornam nulo depois de feito. Ora, todos os argumentos que apresentam os
nossos contrários são da segunda espécie e mesmo são falsos, mas ainda que fossem
verdadeiros não poderiam já agora invalidar o matrimónio depois de feito. Lembra-te
desta razões que são boas e sobretudo de que sua mãe é que a deu, estando ela em sua
casa e ninguém pode tirar os direitos que a natureza dá, nem o Patriarca tinha nada a
ver com o testamento do Conde da Póvoa. 8º Ensejo dizer-te que o Conde de Vila Real
e o Conde que tanto tem lidado com este negócio estão identificados connosco.
Enquanto a dinheiro creio que sacarei por força sobre ti e deves para pagar as minhas
letras e fazer cá as tuas despesas consultar a Mª Teresa e ajustar logo se for preciso
com o Quintela a venda de Cadafais. A minha carta para o tutor irá amanhã, e te
alcançará em Lisboa. O Francisquinho está bom, e os outros todos te abraçamos.”475.
Em suma, a carta do Duque dizia que, em primeiro lugar era necessário indagar as
justiças acerca da decisão do tribunal, pois se fosse em contrário seria necessário ganhar
tempo para que quando a menor atingisse os 12 anos e declarasse que queria realmente
casar com D. Domingos. Até lá, o objectivo era demonstrar a todos quantos
interessasse, quer à família, ao tutor, ao cardeal, ao rei e à Rainha, que a menor
manifestava vontade de se casar com o Marquês do Faial, tal como tinha sido essa a
vontade de sua mãe, a Condessa da Póvoa e do próprio tutor. Manifestando D. Maria
Luísa essa vontade, os Sampaio nada podiam fazer contra a realização do casamento.
No entanto, D. Pedro aconselhava também a mulher a servir-se de toda a teia de
amizades que dispunha, nem que fosse preciso pagar determinados préstimos, o que
demonstra uma efectiva vontade de que nada corresse contrariamente aos seus desejos:
efectivar o casamento de D. Maria Luísa com o seu filho.
Numa outra carta de D. Pedro para a mulher, de 27 de Dezembro de 1838 dava
conta de como D. Eugénia escapara das autoridades francesas, referia o estado da
opinião pública relativamente ao caso e lhe aconselhava novamente o que fazer quando
chegasse a Portugal: “Devo começar esta carta dando novamente graças a Deus pelo
milagre que fez para te livrar e a nós todos do risco eminente que correste de ser
apanhada em Boulogne. Não foi por horas, mas por minutos que escapaste da ordem

475
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 92.

125
telegráfica em virtude da qual terias sido reconduzida para Paris e a Maria Luísa
levada para o convento (que já estava destinado) das Agostinhas! Se assim acontecesse,
que trabalhos não teríamos tido depois para a tirar daí vista a rede terrível em que A.
Sampaio nos tinha envolvido com a procuração do tutor de que abusava as cartas
precatórias [SIC]. Escrevo esta à última hora e ainda não recebi as cartas de Lisboa,
que segundo vejo das gazetas devem ser de 16. Já há 3 dias te escrevi no maço da
Embaixada inglesa e mandei-te o artigo que os Sampaios escreveram sobre a tua
partida. Agora mando-te a resposta que Mme. Messyer me aconselhou de dar e que tem
produzido o efeito de desenganar a maior parte da gente. Já fui procurar o Juiz (Mr. de
Balleynu) que tinha passado a ordem contra ti. Ficou convencido da sua injustiça e vou
começar um procedimento jurídico sumário para obter a revogação da tal ordem que
me emitem e que acabará de manifestar ao Publico a conduta dos Sampaios. Temos
tido também alguns amigos muito eficazes que tomam o maior calor a nosso favor.
Principalmente a Princesa de Lieven e a Duquesa de Talleyrand que nesta ocasião me
tem dado as maiores provas possíveis de uma activa e eficaz amizade. (…) O Capeller
e o Lasteyvier gritam em toda a parte a nosso favor (...) Enfim, os portugueses (à
excepção dos miguelistas) mostram-se a nosso favor (…) Os Sampaios (creio que A.
Sampaio e mulher e o filho) e os Mouzinhos, ouço que partiam daqui no dia 3. Estão na
maior desesperação possível. A Sampaio diz que gastará tudo quanto tem (e se poder
metade da fortuna da Mª Luísa) para comprar juízes, e toda a gente enfim vomita as
maiores imprecações. Mostra esta carta à Mª Teresa, e ao C: V. R, visto que tudo o que
te digo sirva também para eles. Conhecerás quanto é necessário tomar a dianteira aos
Sampaios. Creio que se se disser ao Patriarca os propósitos que eles têm de espalhar
dinheiro será uma boa razão para o induzir a interpor a sua autoridade para pôr termo
à causa ou ao menos declarar que não deve progredir até que a Mª Luísa tenha doze
anos para se lhe tomar então a sua declaração e se validar o casamento. Muito importa
que a Mª Luísa seja levada mais de uma vez ao paço. Que ela mesma peça a protecção
de sua madrinha e padrinho, pois creio que os Sampaios por meio de intriga solicitem
recomendação do Rei Leopoldo [I da Bélgica] para o nosso Rei. Sobretudo ao tutor
mostra-lhe o abuso que fizeram da sua procurarão intitulando-se A. Sampaio Tutor
subrogado; diz-lhe que queres tudo o que ele quiser, mas nada mais com nenhum
Sampaio, vê se obténs a sua promessa escrita de não desmanchar o casamento, fazer-
lhe ver o desenvolvimento da Mº Luísa, quanto ela é tua amiga e que por caso nenhum
te quer largar. Fala ao P.e Marcos dizendo-lhe que o quiseram aqui dar por cismático

126
e que abusavam das palavras do seu desprezo para dar a entender que o casamento
estava anulado. Diz-lhe que falam em dinheiro mas que não contamos com a sua
amizade e que se lembre que ele é que arranjou tudo para o casamento. Perdoa tantas
repetições, estamos ambos fazendo uma guerra decisiva, tu atacando e eu defendendo e
se não sairmos ambos bem ficamos perdidos. Mas estou certo que Deus o protege e é o
que me dizia a Duquesa de Talleyrand476 que a virtude que toda a tua vida seguiu-te, te
serve agora até nesta contenda mundana (...). A condessa de Alva, o Barão de Rendufe,
Visconde da Carreira, se mostram mais vivo interesse pelas nossas coisas. (…). Diz mil
coisas ao Conde de Sabugal, e diz ao Duque da Terceira que conto sobre ele para
muito eficazmente por El Rei, por si e por todos os seus amigos falar ao P. Marcos e
pôr termo às maroteiras dos Sampaios. A Condessa da Póvoa deveria falar também
juntamente contigo. (...)”477.
Pelas próprias palavras do Duque verificamos que se trata de uma questão
essencial, que é necessário resolver: por um lado, continuar a mostrar que a vontade de
D. Maria Luísa era casar com o Marquês do Faial, por outro, usar a opinião pública em
seu favor. Simultaneamente, verificamos que os Sampaios também estavam
empenhados, a qualquer preço, em atingir os seus objectivos. Nesta luta, parecia
continuar de fora a mãe de D. Maria Luísa, a Condessa da Póvoa, inclinando-se mais
para o lado da Casa Palmela, que para os Sampaio. Pela primeira vez percebemos que
esta questão, à partida uma simples contenda familiar, assumia alguns contornos
políticos. A referência aos portugueses não miguelistas, que estariam do lado do Duque
de Palmela, deve ser tida em consideração, uma vez que a guerra civil já tinha acabado,
e os emigrados liberais tendiam a regressar a Portugal. Todavia, não é de admirar que os
miguelistas preferissem apoiar os Sampaio. Por um lado, em clara oposição ao liberal
Palmela, por outro, porque o falecido Conde da Póvoa e mesmo o pai da Condessa da
Póvoa, o Conde de Peniche, tinham sido miguelistas, como referimos anteriormente.
A 30 de Dezembro de 1838 a Duquesa de Palmela apresentou-se perante a Cúria
Patriarcal, em Lisboa. Nela declarou que, uma vez que fora constituída depositária em
Paris de sua nora, por ordem de uma carta rogatória expedida pelo Patriarcado
considerando que em mais nenhuma parte podia melhor efectuar o depósito, que em

476
Possivelmente Catherine Worlée, mulher de Charles Maurice de Talleyrand (1754-1838), primeiro
ministro Francês e embaixador em Inglaterra.
477
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 162.

127
Lisboa, para aí se dirigiu, onde chegara na véspera e assim o declarava 478.

Em 21 Janeiro de 1839, D. Pedro de Sousa Holstein, que se ainda encontrava em


Paris, escrevia à mulher, dando conta das suas resoluções: “(…) não deixes pedra por
mover para frustrar as diligências do malvado Mouzinho que na sua passagem por
Londres vomitou postas de pescada e ameaços de toda a espécie. Esta circunstância da
moléstia de tua mãe veio ainda reforçar o desejo que eu tinha de partir quanto antes
para Lisboa, porque me parece que a minha presença lá sempre poderá contribuir para
me impor um pouco a J. B. Esteves e aos Sampaios. Vou portanto ocupar-me
seriamente de ver se me posso arranjar para partir com muita brevidade, mas a
operação é difícil por muitas razões que tu podes conceber. Se for, parece-me que
levarei comigo a Teresa que já é grande para ficar aqui sem um de nós, e deixarei o
Domingos que não deve aparecer em Lisboa no fim de Abril, (…) A condessa da Póvoa
se for toda nossa pode facilmente adiantar à filha as somas de dinheiro que quiser, fala
sobre isto com o Basto, mas sem dar passos decisivos, enquanto nos não concertarmos
a este respeito (…)”479. Duas conclusões se retiram destas palavras. A primeira é a de
que D. Domingos só iria para Portugal quando D. Maria Luísa completasse os 12 anos
de idade, em 21 de Abril de 1839, altura em que podia ratificar o seu casamento. A
segunda é de que a Condessa da Póvoa se encontrava do seu lado, embora sem terem a
certeza absoluta.

No mesmo mês de Janeiro de 1839, Luís Martins Basto, escrevia da parte do


Duque de Palmela ao Juiz de Paz, dando conta de umas escrituras, em que Luís e Dinis
Teixeira de Sampaio partilharam entre si e outro seu irmão e sobrinho, Alexandre
Teixeira Sampaio e António Sampaio, respectivamente, uma quantia pecuniária dos
alimentos destinados à menor D. Maria Luísa, o que deveria ser entendido como
concussão. Por esta razão, considerava que se deveria organizar novo conselho de
família e que se retirasse aos actuais membros toda a ingerência nos fundos estrangeiros
e rendimentos que pertencessem à menor. O Juiz de Paz anuiu a este pedido, por achar
suspeita contra as pessoas mencionadas. Através desta acção, o Duque de Palmela
procurava afastar os parentes paternos da menina do conselho de família, o que

478
Cf. Auto de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 477.
479
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 188.

128
significava afastá-los do centro de decisão acerca dos destinos da mesma.
Todavia, como resposta ao processo, Luís e Dinis Teixeira de Sampaio
dirigiram-se ao Juiz de Paz, alegando que não pretendiam a fortuna de sua sobrinha, ao
contrário dos Duques de Palmela, a quem a menor foi entregue na altura em que se
contratou um pretenso casamento, que era contrário à vontade do tutor da menina.
Quanto às escrituras que repartiam a fortuna de D. Maria Luísa entre seus tios e primos,
alegavam que tinha sido o Duque de Palmela, que persuadindo o primo da órfã, António
de Sampaio, de que seria ele o sucessor da Casa Póvoa, que seria conveniente efectuar
uma escritura. Perante esta argumentação, o juiz voltou atrás na decisão e requereu a
convocação do conselho de família, formado pelos membros de sempre. Face à decisão,
o Duque de Palmela, por intermédio do seu cunhado, o Conde de Vila Real, interpôs
dois recursos, tendo sido aceite apenas o segundo, embora não tenham sido atendidas as
alegações, que se baseavam essencialmente em três pontos essenciais: a validade do
matrimónio, por ser afecto à vontade da mãe, tutor e parentes da menor, presidido pelo
Patriarca e testemunhado por várias pessoas e de acordo com a própria vontade da
menor; a tentativa de impugnação do matrimónio verificar-se apenas após a morte do
seu irmão, que fez aumentar desmesuradamente a sua herança; e, finalmente, a falta de
idoneidade dos parentes da menor, que levantam fundos que pertenciam aos menores,
colocando-os no banco em seu nome e proveito próprio 480.
O conselho de família, reunido em seis de Fevereiro de 1839 decidiu que,
atendendo à “repentina saída” da Duquesa de Palmela com a menor de Paris, mantinha
a decisão tomada por António Sampaio e Alexandre Sampaio, de suspensão da entrega
dos rendimentos à menor481. Uma vez não recebendo mesada, talvez isso tivesse um
efeito de abrandamento no contra-ataque da Casa Palmela relativamente à questão.
Toda a família Palmela tinha a noção de que era preciso que a menor
continuasse afecta à sua família, assim como a Condessa da Póvoa. “Se a menina estiver
firme na sua amizade, para a tua família nada se perderá, mas a sua pouca idade, e a
ligeireza herdada de sua mãe sempre mete medo”, é a opinião da irmã de D. Pedro, D.
Maria Teresa, que lhe escrevia em 5 de Fevereiro de 1839. Afiançava também que havia
suspeitas que Luís Teixeira de Sampaio procurava os favores da Condessa da Póvoa 482,

480
Cf. Representação e resposta, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 249 e segs.
481
Cf. Auto do Conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 241.
482
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 613.

129
o que demonstra que esta não pendia para o lado dos Sampaio. Aliás, esta era uma
grande preocupação para o Duque, que escreve a sua mulher, em 7 de Fevereiro de
1839, dizendo que se deveriam “empregar todos os meios para a segurar”483.
A 25 de Fevereiro de 1839 os Sampaios tomaram medidas enérgicas: decidiu-se
em conselho de família que se deveria proceder à anulação do casamento da menor com
o Marquês do Faial e remover o depósito da menor onde se encontrava 484.
No dia 28 de Fevereiro de 1839, o jornal O Director noticiava que a Rainha
nomeava D. Maria Luísa de Noronha Sampaio sua dama de honra, para a acompanhar
em todos os actos oficiais, designando-a pelo título de Marquesa do Faial485. Via-se
concretizado um desejo do Duque de Palmela, como ele tinha expresso na carta já
referida de 7 de Fevereiro de 1837, dirigida à mulher486, desejo esse que terá conseguido
o apoio régio, ainda que de forma implícita. Por outro lado, esta nomeação contrariava
os objectivos dos Sampaio, que tinham procurado desde sempre fazer com que D. Maria
Luísa não fosse tratada pelo título do marido. Ao tratar D. Maria Luísa pelo título de
Marquesa do Faial, a Rainha reconhecia tacitamente a validade do seu casamento.
Poucos dias depois, a 11 de Março de 1839, D. Pedro escrevia ao tutor de sua
nora perguntando se, tendo os parentes do Conde da Póvoa requerido à Rainha a
anulação da nomeação de dama de honor dirigida à Marquesa do Faial, se a petição ia
assinada pelo próprio tutor, ou por algum procurador em seu nome. Pedia também
informações se a menor tinha direito a usar o título de Condessa da Póvoa, ou seja, se a
Rainha já lhe tinha feito mercê do título, ou se tinha vida no mesmo 487. Não sabemos
qual a resposta, mas sim que, poucos dias depois, no dia 18 de Março desse ano, D.
Pedro escrevia à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, pedindo uma certidão
onde viesse referido se tinha sido conferido o título de Condessa da Póvoa a D. Maria
Luísa, por morte de seu pai ou de seu irmão. A mesma secretaria respondeu que não
havia nenhum registo de decreto ou diploma onde constasse que tal título tivesse sido
conferido a D. Maria Luísa. Acrescentava que também não tinha dado entrada na

483
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 204.
484
Cf. Auto do conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 295
485
O Director, nº 341, Lisboa, Tipografia de M. A. F. Portugal, Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 1839,
fol. 1534 e nº 342, sexta-feira, 1 de Março de 1839, fol. 1537.
486
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 204.
487
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 101.

130
repartição qualquer requerimento seu ou em seu nome, do mesmo título 488.

Entretanto, o Duque preparava a argumentação necessária ao processo.


Analisando o requerimento do Conselho de família, fez notar a omissão, de má fé, de
que se havia ordenado a separação canónica até que se ratificasse ou se julgasse
competentemente a validade do casamento, além de que se determinava que a menor
ficaria depositada em casa da Duquesa de Palmela, sob sua responsabilidade e que esta
deveria assinar um auto de aceitação de depósito, caso quisesse encarregar-se dele. Ao
notificarem-se os Duques de Palmela e os Marqueses do Faial em Paris, através do
despacho do Vigário-Geral, foi apresentada uma tradução “viciada”, com o objectivo de
“confundir os tribunais franceses e conseguir que o depósito ficasse incompleto pela
falta de aceitação da Duquesa”, em que se dava a entender que a causa da nulidade já
se achava julgada e tratando a separação canónica como uma sentença. Além disso, não
se pedia à Duquesa de Palmela a aceitação do depósito, como determinou o Vigário
Geral. O depósito ficou completo pois a Duquesa apresentou-se no Consulado
Português em Paris, para declarar formalmente a sua responsabilidade e porque adoptou
o recurso legítimo de trazer a menor para Lisboa, perante o tribunal que devia julgar a
causa de nulidade. Não só a Duquesa cumpriu o depósito, como efectuou “do modo
mais decisivo, a separação canónica imposta aos dois cônjuges”. D. Pedro procurava
argumentar contra a ideia de que o depósito da Duquesa se tratava de um rapto, como
era dito pelo tutor da menor, alegando, como sempre o fizera, que fora efectuado um
legítimo contrato de casamento de acordo com a vontade de seus parentes489.
João Baptista Esteves, em seu nome e como “órgão das vontades da mãe e
parentes da pupila”, em 22 de Março de 1839, pediu a efectiva separação decretada. No
mesmo dia foi feita diligência para se proceder à remoção do depósito da menor. Assim,
o Juiz de Direito substituto da Primeira Vara, juntamente com um escrivão, dirigiu-se ao
Palácio da Marquesa de Nisa, em Xabregas, e fazendo-se anunciar à Duquesa de
Palmela e à Marquesa de Nisa, sobre o objecto por que ali se encontravam, foi-lhes dito
que a menor não se encontrava no Palácio e por isso a diligência deu-se por
concluída490.

488
Cf Correspondência, Cf. IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 505.
489
Cf. Alegações, IAN/TT, ACP, Microfilme 5666, Caixa 109, fol. 53.
490
Cf. Autos cíveis de Petição, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 515.

131
No dia seguinte, a 23 de Março de 1839, João Baptista Esteves pede a citação da
Duquesa de Palmela, pois há “a suspeita que se ausente, ou fuja para lugar incerto, e
para fora do reino” e solicita que o depósito da menor seja na companhia da mãe 491.
No mesmo dia 23, D. Domingos pede que em nada se altere o estado dos
negócios pendentes relativamente a esta questão, mantendo-se o depósito da menor a
cargo da Duquesa de Palmela, e sob a protecção e o abrigo da lei. Nesse sentido, foram
intimados os Duques de Palmela, ao que a Duquesa de Palmela assentiu em como se
responsabilizava a conservar debaixo de sua guarda a Marquesa do Faial, de que já era
depositária, até à conclusão do litígio pendente no juízo eclesiástico 492.
Conforme foi pedido, citou-se a Duquesa de Palmela em sua pessoa, mas apenas
a 3 de Abril de 1839, visto ser a época da Páscoa. No entanto, a Duquesa protestou
segundo o artigo 503 da Reforma Judiciária, contra a nulidade da intimação, pela
incompetência do juiz que a ordenou, visto ter sido o depósito efectuado pela jurisdição
do juiz eclesiástico, tendo o juiz relator do recurso ratificado o mesmo depósito 493.
Tratava-se, certamente, de um estratagema utilizado pela Casa Palmela para conseguir
ganhar algum tempo, uma vez que a menina estava prestes a completar os 12 anos.
A 30 de Março João Baptista Esteves, ao ver aproximar-se a data de aniversário
da sua órfã e consciente de que o Duque de Palmela procuraria ratificar o suposto
matrimónio, rogou ao Patriarca para não dar dispensa nem decisão alguma que
ratificasse o suposto matrimónio sem audiência do suplicante, nomeadamente intimando
os párocos das freguesias de naturalidade e residência dos contraentes, para que não
procedessem ao matrimónio. Segundo o despacho do arcebispo, a lei civil estava
satisfeita. Relativamente às leis eclesiásticas, o Arcebispo faria o que lhe parecesse
indicado, embora não o dissesse 494.
Entretanto, vários documentos de declaração de testemunho foram sendo
efectuados, para mostrar que o casamento dos Marqueses do Faial tivera lugar em Junho
de 1836. A 23 de Março de 1839, D. João da Silva Pessanha, Moço Fidalgo e cunhado
da Condessa da Póvoa, declara que a Condessa escrevera uma carta aos Duques de
Palmela, poucos dias anteriores a 3 de Junho de 1836, para se efectuar o casamento de
sua filha menor com o filho dos Duques. Além disso, na antevéspera do dia 3 de Julho,

491
Cf. Certidão, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 151, fol. 21.
492
Cf. Contra fé e Notificação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 303.
493
Cf. Contra-fé, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 317.
494
Cf. Auto de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 347.

132
a mesma Condessa da Póvoa fora a Casa de D. João da Silva Pessanha convidá-lo a si e
à sua família para testemunha da escritura deste casamento, que teria lugar dia 3. No dia
citado, “viu e presenciou [que] com a maior publicidade se celebrou aquela escritura
de casamento, sendo testemunhas ele Exmos. declarantes os Ilmos. Dinis Teixeira de
Sampaio, tio da Exma. noiva, Francisco Teixeira de Sampaio, primo da Exma. mesma
noiva, além de outros muitos fidalgos e outras pessoas que igualmente para solenizar
aquele acto assinaram a referida escritura, a que também esteve presente o Exmo. D.
Domitilia de Teixeira de Sampaio, tia da Exma. noiva, mas que agora não se recorda se
também assinou a sobredita escritura, e bem assim assistiu a mesma escritura o
curador da Exma. noiva, o Dr. Luís Martins Vastos sendo lida pelo respectivo tabelião
antes de se celebrar a sobredita citada escritura, uma carta do Exmo. João Baptista
Esteves, o tutor da Exma. noiva, na qual se declarava que se não opunha ao
casamento”495.
D. José Miguel de Noronha, Coronel Graduado e comandante interno do corpo
militar do arsenal do Exército, casado com D. Leonor da Silva Pessanha fez uma
declaração semelhante, em 2 de Abril de 1840: que a Condessa da Póvoa convidara sua
mulher para o casamento de sua filha e que estava “satisfeitíssima por sua sobredita
filha ficar debaixo da tutela dos Exmo. Duque e Duquesa de Palmela, em que ela
reconhecia todas as virtudes imagináveis e próprias para educarem a menina até que
chegasse à idade competente de se juntar com seu marido”. Além disso, dizia também
que “muito folgava que ela se enlaça-se com uma respeitosa família, até para se ver
livre das exigências dos seus parentes Póvoas, e Peniches, e que pensava pedir uma das
filhas do Exmo. Duque de Palmela para o Exmo. Sr. Conde da Póvoa moço, o que
efectivamente verificou”496.
Também a irmã de D. Luísa Maria de Noronha, Condessa da Póvoa, D.
Francisca de Noronha esclareceu a questão em carta dirigida aos Duques de Palmela,
datada de 3 de Abril. Segundo D. Francisca, foi o Imperador quem mandara chamar D.
Luísa Maria de Noronha à sua presença, que se fez acompanhar pela irmã, D. Francisca,
e por Luís de Sampaio. D. Pedro ter-lhe-ia dito que estimaria muito que a sua filha
casasse com o Marquês do Faial, ao que a Condessa da Póvoa terá respondido que
cumpriria de bom grado os desejos do Imperador. A nomeação de D. Luísa Maria como

495
Auto de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 523.
496
Auto de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 527.

133
tutora de seus filhos permitiu-lhe gozar mais da sua companhia, o que não se verificava
desde a morte do Conde da Póvoa497. Esta nomeação, verificada com o auxílio do
Duque de Palmela, fez com que a Condessa da Póvoa lhe ficasse muito grata,
consolidando-se uma amizade e confiança, que já resultavam do parentesco que unia as
duas Casas498 e a convivência que o falecido Conde da Póvoa tinha com os Duques de
Palmela. Ora, os Sampaio eram contra esta nomeação, tendo apresentado diversos
requerimentos contra ela. Providenciaram a vinda de mestres Franceses para a educação
dos menores, ameaçando a tutela de D. Luísa Maria e manifestando que esta não seria
capaz de os educar. Vendo ameaçada a posse dos seus filhos, a Condessa lembrou-se de
antecipar o casamento, visto ser a ser gosto. Ora, conhecendo as qualidades da Duquesa
de Palmela como educadora, preferia que fosse esta a educar a sua filha do que uma
mestra totalmente desconhecida. Foi neste contexto que se verificou o casamento, que
também era do agrado dos Sampaios que, para além de nada dizerem em contrário,
todos conviviam pacificamente com os Duques. D. Francisca de Noronha foi convidada
para o mesmo casamento, ao qual compareceu, apesar de atrasada. No entanto,
constatou que tanto a irmã, como os parentes de seu falecido cunhado pareciam estar
satisfeitos499. Outras cartas, de Mariana da Silva, cunhada de D. Francisca de Noronha,
e D. José António de Noronha, primo de D. Francisca, confirmavam o mesmo,
relativamente à cerimónia do casamento dos Marqueses do Faial 500.
Estas declarações, bem propícias à Casa Palmela, provavam como o casamento
fora efectuado de acordo com a vontade da mãe e dos parentes da menor, justificando a
principal argumentação da Casa Palmela, mas também explicam o porquê de a menor
ficar entregue aos cuidados da Duquesa de Palmela.
No entanto, por parte dos parentes do falecido Conde da Póvoa também se
reuniam outros testemunhos em contrário. De facto, todos aqueles, entre médicos e

497
De facto, os testamenteiros do Conde da Póvoa tiraram os seus filhos menores do seio materno. A
Condessa da Póvoa, logo em Maio de 1833 manteve correspondência com Francisco Teixeira de Sampaio
e Osborne Henry Sampaio, que também eram de opinião de que os menores deveriam permanecer à
guarda da mãe. Cf. Cartas, Arquivo Histórico Militar, Caixa 565.
498
A Condessa da Póvoa era familiar da Duquesa de Palmela. O bisavô paterno da Marquesa de Niza,
mãe da Duquesa, era irmão da bisavó materna da Condessa da Póvoa. Vide Árvore Genealógica XV –
Parentesco entre a Condessa da Póvoa e a Duquesa de Palmela.
499
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 481
500
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 489 e Correspondência,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 537.

134
mestres, que em 1836 tinham passado certidões confirmando que D. Maria Luísa,
apesar de ter apenas 9 anos, possuía um desenvolvimento superior à sua idade, vieram
agora dar o dito por não dito. De facto, Teresa MacDonald, aia e educadora de D. Maria
Luísa, confirma que a menina na altura gozava de saúde e tinha um desenvolvimento
superior às meninas da sua idade, mas que, no entanto, ainda se ocupava “com
entendimento da puerícia”501. Dois cirurgiões, Policarpo José de Sousa e Caetano Maria
Ferreira da Silva Beirão, fazem declarações no mesmo sentido, embora com uma visão
mais científica acerca da questão.502

A três de Abril de 1839, os Duques de Palmela e os Marqueses do Faial fizeram


um pedido formal ao arcebispo para que autorizasse qualquer pároco a ratificar o seu
matrimónio, segundo os ritos da Igreja Católica, assim que a contraente atingisse a
“idade de puberdade”, que ocorria dia 21 do mesmo mês. Como consta deste pedido, o
objectivo da ratificação era o de afastar quaisquer dúvidas acerca do merecimento do
casamento das consciências mais escrupulosas, uma vez que apesar dos casamentos
antes dessa idade serem conformes ao direito, são pouco frequentes 503.
A seis de Abril de 1839, face à representação do Duque de Palmela, expondo
que havia mais de oito meses que a menor não recebia alimentos, devido ao processo
judicial que decorria, o conselho de família não se opôs a que se pagassem despesas
razoáveis relativamente a uma menina da sua nobreza e proporcionadas à sua idade e
boa educação, perfazendo para isso uma quantia de quatrocentos mil reis mensais, pagos
através do tutor, a contar desde o dia em que o pagamento dos rendimentos fora
suspenso504.
Na mesma altura, a Duquesa de Palmela escondeu-se em local incerto,
juntamente com D. Maria Luísa, mas seguramente em casa de alguém de sua confiança.
O intuito era permanecerem assim, até se verificar o casamento da mesma com D.
Domingos, possivelmente por desconfiarem que os Sampaios tentassem, de algum
modo, impedir o casamento, visto que apenas o pretendiam para quando a menor

501
Declaração, Biblioteca Nacional, Arquivo Mouzinho da Silveira, COD. 8862, F. 3629, fol. 61. Nº
12.
502
Cf. BN, AMS, COD. 8862, F. 3629, P. 63 (nº 14). Encontra-se transcrito em FORJAZ, Jorge, Os
Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, p. 107.
503
Cf. Certidão, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 547.
504
Cf. Auto do Conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 275.

135
atingisse os 15 anos, e não os 12505. Efectivamente, a 13 de Abril desse ano, D. Pedro de
Sousa Holstein escreveu a sua mulher, dizendo: “(…) Os nossos adversários vão
desanimando, creio eu, e já conhecem que não poderão embaraçar a união dos nossos
filhos, mas teremos depois uma guerra renhida para os fundos Estrangeiros. (…)”506

A 10 de Abril de 1839, o tutor dirigiu-se ao Cardeal pedindo que se impedisse a


consumação do casamento, enquanto não se resolvesse a questão da nulidade do
depósito, pedidos por si anteriormente. Todavia, o pedido foi indeferido, assim como a
sua réplica507.
Uma semana depois, dia 18 de Abril, a Condessa da Póvoa escrevia ao
Patriarcado, rogando que as autorizações e demais despachos por ele emitidos fossem
declarados nulos, por forma a que não fosse possível a revalidação do casamento de D.
Maria Luísa com o Marquês do Faial. Foi a primeira vez que a Condessa da Póvoa
tomou uma posição clara e desta vez contrária à Casa Palmela. Todavia, o Cardeal
respondeu dizendo que estava ciente das leis civis e canónicas que pendiam sobre a
questão, de forma a proceder em sua conformidade 508. À vista desta resposta, a
Condessa recorreu no dia seguinte à rainha, por carta, denunciando a situação, que
reputava de repugnante, de a sua filha estar violentamente raptada pelos Duques de
Palmela. Apelava ao amor de mãe da Rainha, para que esta ordenasse a libertação da
menor509.
Nesse mesmo dia, dia 19, o conselho de família reuniu-se, para se tomarem as
precauções necessárias para evitar que os fundos pertencentes à menor fossem
invadidos pelo Duque de Palmela ou seu filho. Ficou decidido que se tomariam todas as
medidas necessárias para o evitar. Ficou igualmente estabelecido que o casamento da
menor, previsto para quando esta tivesse 15 anos, se efectuasse sempre com o prévio
conhecimento e aprovação do conselho de família510. Apesar de desconfiarem que os
Duques de Palmela poderiam ratificar o casamento de seu filho com D. Maria Luísa,
assim que esta completasse 12 anos, o conselho de família procurava, através dos meios

505
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 224.
506
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 232.
507
Cf. BN, AMS, COD. 8862, F. 3629, fol. 11 – Nº 1.
508
Cf. BN, AMS, COD. 8862, F. 3629, fol. 18 (º 4).
509
Cf. IAN/TT, ACP, Microfilme 5645, Caixa 92, fol. 1038.
510
Cf. Auto do Conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5707, Caixa 146, fol. 301.

136
a seu alcance, fazer com que este só se verificasse quando ela atingisse os 15 anos e
apenas com o conhecimento e aprovação do próprio conselho de família.
Ainda no mesmo dia, o tutor João Baptista Esteves escrevia ao Cardeal Patriarca
pedindo o impedimento da ratificação do casamento do Marquês do Faial com D. Maria
Luísa, visto estar em poder de seu sogro, sem lhe ser permitido o contacto consigo, nem
com a mãe e demais parentes. No entanto, o cardeal assumiu que, atingindo a nubente a
idade legal, que seriam os 12 anos, ela própria poderia ratificar ou não o casamento, não
tendo lugar o dito protesto. Duas réplicas se seguiram, mas ambas foram escusadas pelo
Cardeal511, que se mostrava favorável à Casa Palmela.
A 22 de Abril, o conselho de família reuniu-se para assinar um documento de
declaração de protesto. Alegavam que D. Maria Luísa, não queria nem podia casar antes
do período estipulado pela escritura de 15 de Outubro de 1839 e apenas o poderia
efectuar estando livre dos Duques de Palmela. Ora, esta alegação, era contrária à
alegação da Casa Palmela, de que a menor tinha casado de livre vontade. Alegavam
também que a menor se encontrava encarcerada, sem comunicação desimpedida com o
tutor, mãe ou outros parentes, não tendo por isso direito a vontade própria, o que
também era contrário à argumentação da Casa Palmela, que considerava o depósito da
menor nas mãos da Duquesa de Palmela perfeitamente natural. Por outro lado, ainda
que se provasse e atestasse que a menor estivera sós com o Marquês do Faial, não se
podia induzir desse facto presunção alguma de consumação de matrimónio, ainda que o
fosse por violência, ignorância ou sugestão, uma vez que o mesmo matrimónio só podia
ser considerado legítimo com declaração prévia estipulada e aprovada pelo conselho de
família, pelos Duques de Palmela e Marquês do Faial. Relativamente a este ponto,
introduziam uma nova questão, que a Casa Palmela não tinha até então focado: a
consumação do matrimónio. Mesmo que se consumasse o casamento, alegava o
conselho de família, a menor continuava a ser a administradora de seus bens e rendas.
Por sua morte, nem o seu marido, nem a família dele teriam sucessão da partilha,
ficando o tutor responsável pela vigilância da pessoa e bens da menor. Isto significava
que, já que não se pudesse anular o casamento, devido à sua consumação, os bens que
pertenciam à menor continuavam a ser administrados pelo conselho, não tendo a família
do marido direito às partilhas, afastando a possibilidade de a Casa Palmela arrecadar a

511
Cf. BN, AMS, COD. 8862, F. 3629, fol. 13.

137
fortuna do Conde da Póvoa512.
Apesar de tudo, no mesmo dia, no oratório do Palácio do Calhariz em Lisboa e
em virtude de um despacho do Cardeal, ratificou-se o sacramento do matrimónio dos
Marqueses do Faial, com testemunho de diversas individualidades, muitas das quais
relacionadas quer familiarmente, quer politicamente, como o Duque de Palmela.513.
O Correio de Lisboa noticiou a celebração, acrescentando que fora servido um
jantar para mais de sessenta convidados514. No mesmo sentido, O Director afirma que
“concorreram a testemunharem este acto quase toda a nobreza e outras muitas pessoas
de hierarquia; mui luzido foi o cortejo, e consta-nos que a jovem Marquesa se
expressara da maneira a mais lisonjeira, dirigindo-se ao seu novo consorte, declarando
na presença de todos os convidados, que livre e espontaneamente acabava de confirmar
os seus esponsais, já há muito celebrados em França, e em cuja cerimónia tinha havido
toda a solenidade, sem faltar mesmo o consentimento da Mãe e do tutor, e que só lhe
pesava no seu coração, não se poder ter realizado há mais tempo os seus desejos.”515.
Curioso é notar que todo o artigo está escrito de acordo com grande parte das alegações
da Casa Palmela: foi largamente testemunhado; a noiva expressava, sem margem para
dúvidas, que aceitava de livre vontade o casamento, cujos esponsais já tinham
anteriormente sido efectuados e para o qual tinha o consentimento da mãe e do tutor.
No dia seguinte à ratificação dos esponsais, o tutor de D. Maria Luísa,
confirmado pelo conselho de família, requeria junto do Cardeal uma revogação do
casamento, alegando novamente todas as arbitrariedades do processo, já anteriormente
referidas por si, acrescentando que o casamento se tinha realizado apenas na presença de
amigos do Marquês do Faial. Todavia, o patriarcado indeferiu todas as alegações
apresentadas, considerando que tudo quanto tinha deferido até então estava de acordo
com as leis civis e canónicas e o seu usual cumprimento 516.
A 29 de Abril de 1839, D. Maria Luísa, instaurou um processo judicial em que,
mostrando-se emancipada, de acordo do artigo 62 do decreto de 18 de Maio de 1832,

512
Cf. Auto de declaração do conselho de família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5574, Caixa 31, fol.
319.
513
Cf. BN, AMS, COD. 8862, F. 3629,fol. 26, nº 8.
514
Cf. Correio de Lisboa, nº 271, Lisboa, Tipografia no largo do Contador Mor nº 1, 23 de Abril, fol.
1096.
515
Cf. O Director, nº 383, 24 de Abril de 1839, fol. 1703.
516
BN, AMS, COD. 8862, F. 3629, fol. 15.

138
através do seu casamento, e competindo-lhe a administração de todos os seus bens,
pretendia que estes passassem da posse do seu tutor para si. João Baptista Esteves
respondeu que lhe entregaria todos os bens de raiz de que tinha sido administrador e que
os bens móveis nunca estiveram em seu poder, mas da Condessa da Póvoa que, por
deliberação do concelho de família, fora declarada inventariante e cabeça de casal517. A
esperança que os Sampaios tinham de, tendo o casamento sido consumado, o conselho
de família continuar a ser o administrador dos bens de D. Maria Luísa, ficava, deste
modo, posta de lado. Teriam de lançar os últimos esforços para se apoderarem da
fortuna de sua prima e sobrinha.
Efectivamente, novos acontecimentos se verificaram no mês seguinte. De facto,
a 3 de Maio de 1839, o Duque de Palmela requereu que as autoridades judiciais fossem
testemunhas da tentativa de suborno, que uma aia da Marquesa do Faial e sua ama de
leite, por parte da Condessa da Póvoa, pretenderia fazer a uma criada de sua casa, mãe
da criada da mestra da Marquesa, com o objectivo de extorquir dolosamente desta
senhora uma assinatura em branco 518.
Dia 6 de Maio de 1839, o Duque de Palmela tomou posse do Palácio do Rato,
propriedade do Conde da Póvoa. O momento foi oportuno para os miguelistas, que se
aproveitaram “das indiscrições da Condessa da Póvoa, das loucuras da família
Sampaio e da persuasão dos seus agentes”, lançando um impresso apelando o povo à
revolta. De facto, havia quem se dirigisse ao Duque de Palmela, alertando-o para o facto
de que a Condessa da Póvoa fora sempre uma protectora dos miguelistas519.
Efectivamente, uma carta de um mesmo indivíduo, não identificado, dirigida ao Duque,
de 26 de Abril do mesmo ano, dava conta de que constava nos círculos miguelistas,
nomeadamente do Conde de Mesquitela, que o casamento de seu filho com a filha do
Conde da Póvoa “ainda havia de fazer correr muito sangue, e dar em resultado um
grande triunfo para o partido realista”520.

Entretanto, os Sampaios ainda não haviam desistido do seu objectivo de impedir


o casamento de sua sobrinha com o Marquês do Faial. Efectivamente, poucos dias

517
Cf. Certidão, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 333.
518
Cf. Requerimento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 561 e cf. Declaração, IAN/TT,
ACP, Microfilme 5712, Caixa 150, fol. 351.
519
Cf. Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 655.
520
Correspondência, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 645.

139
depois, a 10 de Maio de 1839, a Marquesa do Faial assinou uns autos de declaração, em
que dizia que o seu primo António Sampaio, na quinta-feira de Endoenças desse ano
tinha enviado a Madame Messiers, mestra da Marquesa, dois bilhetes, um na Igreja dos
Inglesinhos, outro na Igreja do Loreto, aliciando a dita mestra para falar com António
Sampaio no Largo do Carmo, nº 7, para raptar a Marquesa, com a promessa de cem mil
reis, o que não se veio a verificar, devido à denuncia de Mme Messiers 521.

No mês seguinte, a 11 de Junho de 1839, os membros do conselho de família


reuniram-se para discutir a questão da extinção da tutela. De facto, a Marquesa do Faial
estava emancipada pelo seu casamento e tinha já expedido ordem ao tutor para lhe
entregar a administração de todos os bens que lhe tocavam por legítima paterna, e dos
rendimentos da dita legítima, dos bens vinculados e dos fundos destinados para
preencher o vínculo. Todos estiveram de acordo quanto à extinção da tutela, à excepção
do procurador da Condessa da Póvoa522, o que demonstra a posição que esta assumia na
altura, pois pressupunha que, ainda estando sob tutela, a Marquesa do Faial estaria
menos exposta às decisões da Casa Palmela, como agora ficaria ao extinguir-se a tutela.
Na semana seguinte, dia 18 de Junho de 1839 a Marquesa do Faial pediu que se
declarasse extinta, através da Cúria Patriarcal, a acção de nulidade intentada contra o
seu matrimónio e ilegais as denúncias verificadas ao longo de todo o processo. O
requerimento foi indeferido, alegando-se que a acção de nulidade não podia ter lugar,
uma vez que tendo-se verificado a 22 de Abril de 1839 a revalidação do matrimónio
celebrado a 3 de Julho de 1836, este não podia ser considerado nulo nem ser posta em
dúvida a sua validade523.

Concluía-se assim todo o processo judicial, junto dos tribunais civis e das
autoridades eclesiásticas. Em todo o ele, o comportamento da Casa Palmela pautou-se
por várias linhas mestras. Efectivamente, houve a preocupação de demonstrar que a
vontade de D. Maria Luísa em casar com o Marquês do Faial era real, nomeadamente
junto das diversas autoridades, seja o trono, seja o altar. Houve também a preocupação
de ganhar tempo até que D. Maria Luísa atingisse os 12 anos de idade para ratificar o

521
Cf. Cópia de Certidão de Escritura de declaração, IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151,
fol. 453.
522
Cf. Acta do Conselho de Família, IAN/TT, ACP, Microfilme 5708, Caixa 146, fol. 327.
523
Cf. Certidão, IAN/TT, ACP, Microfilme 5713, Caixa 150, fol. 749.

140
matrimónio que, a partir desse momento, já não levantava dúvida alguma acerca da sua
validade. De facto, existiu sempre a noção por parte da Casa Palmela, nomeadamente do
Duque D. Pedro, de que apenas a consumação do casamento de seu filho com D. Maria
Luísa poderia terminar com toda a especulação, conforme podemos constatar nesta carta
enviada por si a sua mulher, quando esta se encontrava escondida com D. Maria Luísa,
em 15 de Abril de 1839: “ (….) Dizem-me que sempre quero por o Domingos com a
Maria Luísa!!! Com efeito tu quererás continuar a estar uns poucos de meses ou de
anos escondida? E não sabes que só isso pode terminar a questão? (…)”524. Aliás,
parece ser de facto D. Pedro o mais empenhado na concretização do mesmo casamento,
por ter a noção exacta das consequências que o mesmo traria para a Casa Palmela, ao
contrário de D. Eugénia, que se prestou a tantos sacrifícios para agrado do marido,
como podemos perceber na continuação da mesma epístola: “ (…) Enfim, eu desejo de
todo o coração fazer o que é melhor, isto é o que for mais do teu agrado e se tu sofres
este trabalho como me dizes quase só por minha tenção posso afirmar-te que eu me não
interesso no resultado da contenda, senão por tua tensão e dos nossos filhos, e que nem
tu imaginas quais seriam os resultados da nossas derrota! (…)”525.
Em contrapartida, a família Sampaio usou todos os meios que estavam a seu
alcance para obter separação de D. Maria Luísa e do Marquês do Faial, assim que a
menina se tornou a herdeira de casa de seu pai, após a morte de seu irmão. Foi apenas
no final do processo que a Condessa da Póvoa, que até então estivera do lado da Casa
Palmela se bandeou para o lado dos Sampaio, pelo que se percebeu através da influência
que estes souberam exercer sobre ela.
A insistência da Casa Palmela na prossecução do casamento da herdeira com o
Marquês do Faial e, por conseguinte, da família Sampaio na sua dissolução, e os meios
empregues por ambas as partes demonstram quão apetecível era o pomo dos seus
desejos. De facto, tratava-se da maior fortuna do país à época, o que não era de
menosprezar.

Todos estes acontecimentos foram sendo acompanhados tanto pela imprensa


nacional, como pela estrangeira, a partir do momento em que é expedida a carta
precatória, ordenando a separação canónica dos Marqueses do Faial. De facto, logo no

524
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 240.
525
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 240.

141
final do ano de 1838 surgem os primeiros artigos em jornais franceses, caracterizando a
questão como “ une aventure assez romanesque qui cause une trés vive émotion dans la
haute societé parisienne”526. Segundo o mesmo folheto, o casamento fora efectuado
sem o conhecimento dos parentes da noiva, que recorreram ao tribunal eclesiástico de
Lisboa pedindo a separação canónica dos menores.

Em Portugal, a questão surge na imprensa periódica aquando da nomeação de D.


Maria Luísa como Dama da Rainha, no final do mês de Fevereiro de 1839 527. Não
estava em causa a nomeação em si, mas sim a forma como a menor fora apelidada,
Marquesa do Faial, o que pressupunha que a rainha considerava legítimo o casamento
entre D. Maria Luísa e D. Domingos. Neste mesmo pasquim, acusava-se o Duque de
Palmela de roubar a menor, de a fazer Marquesa do Faial e de obrigar a Rainha a fazê-la
dama sem o consentimento dos ministros. Neste mesmo texto fazia-se um paralelismo
entre este caso e o da mãe do próprio Duque: também esta fora casada com o filho do
Marquês de Pombal e durante anos considerada Condessa da Redinha pelo Rei e pela
corte, mas ficou sendo conhecida como mulher de D. Alexandre que, não sendo nem
conde, marquês ou duque, fora sempre tratada pelo nome de baptismo.
Um outro panfleto, datado de dia 8 de Março de 1839, dava conta de que os
familiares de D. Maria Luísa se dirigiram ao Primeiro-ministro e ao Ministro dos
Negócios do Reino, pedindo justificações acerca da nomeação da sua sobrinha para
dama da Rainha, ao que lhes responderam que isso era unicamente uma questão do
Paço, para a qual não tinham sido consultados. Face a isto, os mesmos parentes
pediram, por intermédio do então Visconde de Sá da Bandeira, uma audiência à Rainha,
que os recebeu e lhes comunicou que não existia carta escrita ou assinada por si e que o
tratamento de Marquesa do Faial assim se devia, visto ter sido a vontade da mãe da
menor e de alguns seus parentes, “no tempo em que o casamento se julgava bom e
válido”. A isto responderam os parentes da menor que a mãe da mesma não tinha dado
consentimento ao casamento e porque lhe tinham feito crer que o tutor lhe tinha dado o
seu consentimento. Que eles apenas procuravam uma explicação por parte da Rainha,
sobretudo, “quando acabavam de saber que o Juiz que devia sentenciar este processo
se tinha dado por suspeito; que este facto tinha um carácter deplorável para a justiça,

526
Periódico francês [sem nome], IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151, fol. 254.
527
Cf. Folheto, Lisboa, Tipografia JCM, 1 Março 1839, BN, AMS, COD.8862, F. 3629, fol. 94.

142
por quanto este juiz se achava moralmente constrangido e fora de estado de fazer
justiça, como entenderia”528.
A dez de Março de 1839 surgia uma carta publicada num outro jornal, fazendo o
elogio do Duque de Palmela e seu filho 529, contrapondo tudo o que se disse nos números
anteriores, nomeadamente a 1 de Março de 1839530. Ficava assim patente que uma
facção da imprensa periódica apoiava os Duques de Palmela, enquanto outra apoiava
claramente os parentes da menina. Não conseguimos, todavia, avaliar, se por detrás de
cada uma destas facções havia uma acção interventora de cada uma das partes, isto é, se
cada uma das partes interessadas se serviu da imprensa periódica para manipular a
opinião pública ou se essa iniciativa foi realizada espontaneamente pelos periódicos
que, entretanto, continuavam a publicar variadíssimos folhetos relativamente à questão.
A 12 de Abril de 1839, um panfleto saído da tipografia de J. C. Novais publicava
o requerimento apresentado à segunda vara pelo tutor de D. Maria Luísa, onde se
explanava que a suplicante não queria casar e que se encontrava em cárcere privado em
casa dos Duques de Palmela. O matrimónio só poderia ser legitimado através do
conselho de família e que, relativamente aos bens, ainda que o casamento viesse a ser
validado, apenas seria a Marquesa do Faial a administradora de seus bens e rendas 531.
A 23 de Abril de 1839, dia seguinte à ratificação dos esponsais, a Tipografia de
J. M. Novais lançava um panfleto dando conta do ocorrido, embora dissesse que a este
acto não tinha assistido a mãe, tutor, curador, ou outro parente paterno na menor, além
de que este casamento nunca tivera o livre consentimento da menina. Se ninguém
interessado assistiu a esta revalidação, ninguém, “nem a subsequente cópula carnal
revalidam o matrimónio nulo, pela falta de consentimento”. Novamente se declarava

528
Panfleto, Lisboa, Tipografia de MJ. Coelho, 8 de Março de 1839, BN, AMS, COD. 8862, F. 3629,
fol. 96
529
“O Marquês do Faial é de uma constituição fraca, porém não consta que adquirisse moléstias,
nem a sua boa morigenação e suas aplicações permitem que se possam suspeitar dele travessuras, até
quem o conhece lhe faz a justiça, que o autor do monstruoso papel lhe nega: é verdade, que o moço Faial
não é petit-maître, não faz vida de vadio, nem de jogador, não quebra penas a algum desgraçado com as
rodas da sua sege correndo partidos não atropela quando anda a cavalo: parece que se o fizesse não
seria julgado hipopletico e por outros princípios mórbidos, finalmente inábil para marido”. Folheto,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5725, Caixa 158, fol. 613.
530
Cf. Folheto, IAN/TT, ACP, Microfilme 5725, Caixa 158, fol. 613.
531
Cf. Folheto, Lisboa, Tipografia de J. C Novais, 12 de Abril de 1839, BN, AMS, COD. 8862, F.
3629, fol. 97.

143
que o tutor apenas tinha dado consentimento para os esponsais e que no dia da
ratificação a Condessa da Póvoa apenas tinha sido participada a assistir ao meio-dia e
meia hora, quando a mesma ocorrência já tinha ocorrido às dez e meia da manhã. Para o
provar, publicava uma carta do Duque de Palmela, datada do dia anterior, dirigida à
Condessa da Póvoa, convidando-a a assistir à declaração que a Marquesa do Faial faria
perante as autoridades eclesiásticas, convite esse efectuado também pela própria
Marquesa, através de carta, também publicada nesse panfleto. Ao Duque, a Condessa
respondeu que não percebia porque é que o convite só surgia depois de a declaração já
ter ocorrido e, à filha, que ficava admirada com tal carta, pois havia quase dois meses
que não recebia notícias suas. Maldizia a sorte da filha, ao querer casar-se com o
Marquês do Faial e aludia à inveja que se tem da fortuna de que é possuidora532.
O jornal O Eco, de feição miguelista, dava também conta do sucedido, louvando
a firmeza de carácter do tutor e da Condessa da Póvoa, de “fazer valer a sua justiça
contra todos os obstáculos que a política lhes tem anteposto”533. O Correio de Lisboa,
de corrente contrária, além de tentar repor os factos a favor do Duque de Palmela,
acabava por fazer propaganda política a favor da causa liberal 534.
Dia 5 de Maio de 1839, um outro jornal relatava como o Duque, para conseguir
a herança do Conde da Póvoa, requereu no juízo competente um mandado para entrega
e posse de todos os bens, que efectivamente conseguiu. Assim, dia 4, às seis horas da
tarde, uma vasta quantidade de soldados municipais surgira em torno do Palácio do
Rato, para dele se apossarem, ao que a Condessa da Póvoa não consentiu. Publicava
ainda uma carta de D. Maria Luísa, de 2 de Maio de 1839, em que esta se dirigia à
Condessa da Póvoa sua mãe, dizendo que apesar de a justiça estar a proceder à posse,
em seu nome, das suas propriedades, que a sua mãe podia continuar a habitar o Palácio
do Rato535.
Também o jornal O Director defende o Duque de Palmela contra a opinião
pública, nomeadamente quando surgiram pasquins que o detractavam536.

532
Folheto, Lisboa, Tipografia de JM de Novais., 23 de Abril de 1839, BN, AMS, COD. 8862, F.
3629, fol. 99.
533
Cf. O Ecco, Jornal Critico, Litterario e Politico, nº 368, Lisboa, Tipografia de A. I. S. de Bulhões,
4 de Maio de 1839.
534
Cf. Correio de Lisboa, nº 283, 7 de Maio, fol.1143.
535
Cf. Folheto, IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151, fol. 181.
536
Cf. O Director, Nº 397, 11 de Maio de 1839, fol. 1831 e Nº 399, 14 de Maio de 1839, fol. 1840.

144
A escritura efectuada entre António Sampaio e Luís Teixeira de Sampaio
também suscitou o interesse da imprensa que apoiava o Duque de Palmela, que a
publicou e a criticou fortemente, considerando que foi a forma por aqueles encontrada
de divisão de espólio e herança de uma pessoa viva537.
Igualmente os acontecimentos verificados em 24 de Maio de 1839, quando pelas
duas horas da tarde, o Duque de Palmela e os Marqueses do Faial se apresentaram na
residência da Condessa da Póvoa, onde as portas foram arrombadas, com os criados
armados, provocaram reacções diferentes na imprensa, consoante se posicionavam pró
ou contra o Duque de Palmela, ou melhor dizendo, caso se tratasse de imprensa liberal
ou de imprensa miguelista. Esta recordava os processos de que o Duque se serviu para
incentivar o Patriarca a consentir o casamento da menor, sem autorização do tutor, e
acicatar o conselho de família a outorgar como alimentos uma soma demasiado
avultada. Recordava ainda que “quando o Duque ostentava fausto, e luxo pela ocasião
da coroação da Rainha de Inglaterra, só a menina que o sustentava parecia pobre”.
Claro que por detrás desta argumentação estava uma intenção política, pois o mesmo
jornal argumentava que tal só podia acontecer com a conivência de um governo fraco.
Defendia a Condessa da Póvoa, que considerava a pessoa mais empenhada em exigir o
cumprimento e execução da lei538.
Os jornais de feição liberal mostravam a questão por outro prisma, acusando o
jornal anterior de calúnia e de deturpação, relativamente ao episódio ocorrido a 24 de
Maio, em que na sua opinião a menina fora obrigada a dizer que estava constrangida em
casa dos Duques e violentada na companhia do marido 539.
Um outro panfleto, apoiante do Duque de Palmela e publicado em início de
Abril de 1839 apresentava as duas escrituras de 15 de Outubro de 1838, procurando
mostrar como os Sampaio e a Condessa da Póvoa tinham “aturdido os Povos,
fascinando e talvez conseguindo enganar os incautos”. O panfleto acusava-os de terem
subornado várias autoridades e pessoas, inclusive talvez o próprio juiz. Dava ainda a
conhecer a tentativa de suborno ocorrida na Hospedaria de Isabel de Belém e a má

537
Cf. Correio de Lisboa, nº 296, 24 de Maio 1839, fol. 1195 e nº 300, 29 de Maio, fol. 1211.
538
Cf. Folheto, IAN/TT, ACP, Microfilme 5645, Caixa 92, fol. 1031.
539
O Director, Nº 409, 27 de Maio de 1839, fol. 1881.

145
tradução para francês da carta requisitória emitida em Portugal540.

Dois jornais fizeram o balanço de toda a história acerca do casamento dos


Marqueses do Faial. Um deles, claramente opositor de D. Pedro, considerava que tudo
fora urdido por este, para unir a menor a seu filho, reputado de “incapaz de preencher
os fins do matrimónio e arriscado a morte prematura, por enfermidades, que se
reportam incuráveis”, tudo para que o Duque venha a desperdiçar a sua fortuna em
“jantares diplomáticos, luxo, jogo e a álcoois/alcova”. A questão, segundo o periódico,
começara em 1833, quando o Duque chegara a Lisboa, ávido de dinheiro. Entendeu que
era um meio de remediar a sua situação, casando o seu primogénito com a órfã do
Conde da Póvoa. O único obstáculo, a idade da menina, facilmente se transpunha,
retirando-a do poder da mãe e do tutor, através da simulação de uma carta em nome da
Condessa da Póvoa, tendo como destinatário o general das tropas miguelistas,
estacionadas nos arredores de Lisboa nesse mesmo ano. A carta, que denunciava a
posição do exército constitucional, fora remetida através de um galego, que se deslocou
por um caminho onde não pudesse escapar à vigilância das sentinelas, sendo
efectivamente apreendido e fuzilado. D. Pedro ter-se-ia servido desta circunstância,
prometendo à Condessa da Póvoa influência e patronato e acabou por se negociar o
casamento. O facto de o tutor da menor ser de diferente posição política do Duque, foi
favorável a este Duque, conseguindo que ele concordasse numa escritura de esponsais, e
para a qual se conseguiu a dispensa de idade. A prematura morte do Conde da Póvoa foi
bastante oportuna para o Duque. A restante argumentação era semelhante ao já relatado
em outros periódicos541.
O segundo é um rascunho de um folheto, acompanhado de cópia dos vários
documentos e constitui o contraponto do anterior, fazendo claramente a apologia da
Casa de Palmela, o que não deixa de supor uma intervenção por parte do Duque na
publicação do folheto, uma vez que utiliza claramente toda a argumentação usada por
este nas variadas circunstâncias pontuais ocorridas anteriormente. Considera que foi o
amor paternal e o uso acostumado no reino “fazer alianças matrimoniais, tendo em vista

540
Cf. Considerações sobre uma das escrituras de 15 de Outubro de 1838, e sobre o que escreveu em
um papel diário nº 112 de 31 de Maio último a respeito da célebre causa do casamento do Marquez do
Fayal com a herdeira da Casa do Conde da Póvoa, Lisboa, Tipografia do largo do Contador mor, 1839.
541
Cf. Cópia manuscrita de artigos de imprensa, IAN/TT, ACP, Microfilme 5714, Caixa 151, fol.
425.

146
as vantagens e interesses sociais”. Nessa altura, a fortuna de D. Maria Luísa era
somente a da sua legítima que, embora importante, não fazia crer um casamento
desigual e pouco proveitoso para ambas as partes, atendendo à posição social que o
Duque de Palmela atingira. A escritura de esponsais celebrou-se a 2 de Setembro, com o
consentimento da Condessa da Póvoa, Luís Teixeira de Sampaio e do conselho de
família. A Condessa da Póvoa, sabendo que os parentes da menina procuravam afastá-la
da sua companhia, com o pretexto de prover à sua educação, propôs aos Duques de
Palmela procederem à conclusão do casamento, tendo sido a própria Condessa da Póvoa
quem expôs junto do patriarcado a necessidade de celebrar-se com a maior brevidade
possível o matrimónio, o que se verificou. D. Maria Luísa ficou entregue aos cuidados
da Duquesa, tendo o conselho de família decidido entregar-lhe como alimentos, todos
os rendimentos de sua legítima. Quatro meses volvidos, o Duque ausentou-se para
França com a família e foi nessa altura que morreu o irmão da Marquesa do Faial, o que
veio engrossar a sua fortuna. Por essa mesma razão, os seus parentes consideravam que
tinham direito a desfazer o casamento, a fim de ligá-la com alguém de sua família. O
jornal refere ainda a má tradução da carta precatória emitida pelo juízo eclesiástico.
Nesta altura, a Condessa da Póvoa não tomava parte destas maquinações, pois em carta
dirigida a sua filha, em 9 de Novembro, ainda reconhecia a Duquesa como sogra de sua
filha. O tutor da menor também estava alheio da situação. Portanto, quem estaria por
detrás destas manobras contra o Duque de Palmela eram os parentes paternos da menor.

Como pudemos perceber, a imprensa periódica teve neste caso um papel de


relevo, que não se ficou apenas pela informação e divulgação do caso, quer a nível
nacional, quer a nível europeu. De facto, o caso foi sendo utilizado com fins políticos,
sobretudo pela imprensa miguelista, que procurou através dele denegrir a imagem do
Duque de Palmela e, com isso, o próprio regime Liberal. Por outro lado, há que realçar a
intervenção da imprensa periódica, que não foi inocente, defendendo ou atacando cada
um dos lados. Muitas vezes transparece que, sobretudo a Casa Palmela, mas também a
família Sampaio, terão, através dos periódicos, feito publicar a sua visão dos
acontecimentos. Ou seja, torna-se difícil perceber onde acaba o apoio dos jornais a cada
uma das partes e começa a sua utilização activa por parte dos intervenientes, que deles
se servem para defender os seus interesses.

Para além da imprensa periódica, os acontecimentos relativos ao casamento dos

147
segundos Duques de Palmela, de contornos rocambolescos, tiveram também impacto
em diversas individualidades da época, como o Conde de Lavradio (1796-1870),
Marquês de Fronteira e o Príncipe Félix Lichnowsky que, nas suas memórias dedicaram
algumas linhas a este assunto, como Jorge Forjaz chamou a atenção 542.

O Conde de Lavradio, D. Francisco de Almeida Portugal diz que foi um caso


que, “fora da política”, “apaixonou vivamente a opinião pública” visto terem-se escrito
“artigos nos jornais, apareceram pasquins nas esquinas das ruas de Lisboa”. Atribuiu a
tentativa de anulação do matrimónio de D. Maria Luísa com D. Domingos, ao facto de
estranhos à Condessa da Póvoa não terem visto com bons olhos o aumento
extraordinário da fortuna da Casa Palmela, provocado por este matrimónio 543.

O Marquês de Fronteira, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, (1802-1881)


relata a questão do casamento como tendo sido a Condessa da Póvoa a propor ao Duque
de Palmela o casamento de sua filha com o filho primogénito daquele, proposta essa
aceite com bastante entusiasmo e que tiveram como consequência a celebração de
vários jantares, onde os próprios Marqueses de Fronteira estiveram presentes544. Quanto
à tentativa de anulação do casamento, D. José Mascarenhas Barreto diz que foi ele quem
convenceu o Ministro do Reino, na altura também com a pasta da Justiça, a que
mudasse de juiz no caso, uma vez que se dizia que o que então exercia tinha sido
comprado pelos Sampaios545.

O Príncipe Lichnowsky, de visita a Portugal em 1842 e hóspede em casa dos


Duques de Palmela, também alude ao casamento dos Marqueses do Faial, referindo que
D. Domingos casou com a mais rica herdeira de Portugal. E acrescenta: “Acerca de

542
Cf. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, pp. 100-101.
543
Cf. SÁ, D. José de Almeida Correida de Sá (com.), ANDRADA, Ernesto de Campos de, Memórias
do Conde do Lavradio D. Francisco de Almeida Portugal, vol. III, Coimbra, Imprensa da Universidade,
1934, p. 144.
544
Cf. BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do Marquês de Fronteira e
d’Alorna, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, ANDRADA,
Ernesto Campo de Andrada, (rev.), Parte V e VI (1833 a 1842), Coimbra, Imprensa da Universidade,
1926, p. 45.
545
Cf. IDEM, ibidem, Parte V e VI (1833 a 1842) ,p. 260.

148
história singular deste casamento com o qual estão entrelaçadas cenas de rapto da
idade média, falaram largamente os jornais daquela época. Julgo supérfluo discutir de
novo esse assunto, e tanto mais que eu não conheço qual é a verdadeira versão entre as
muitas que a tal respeito apareceram, nem sei qual o Duque desejaria antes que fosse
impressa. Contudo, é fora de dúvida, que se chegou a haver roubo, o que eu ignoro; o
objecto roubado acha-se muito a seu contento; ninguém poderá dizer que a jovem
Marquesa tenha a menor aparência de vítima. Estive um dia sentado junto dela à mesa,
via-a animada, satisfeita, e como costumam dizer os ingleses, naquele estado
interessante em que os maridos gostam de ver as suas consortes. Tem já um filho, que
como é próprio a toda a criança, parece-se excessivamente com o pai e com a mãe”546.

Já no século XX o assunto também não deixou de ser referido. De facto, D.


Tomás de Melo Breyner (1866-1933), quarto Conde de Mafra e médico da família Real,
referia no seu diário a seguinte história, que lhe havia sido confirmada pelo Conde de
Ficalho, pelo Conde de Sobral e pelo professor May Figueira: “(…) O 1º Duque de
Palmela (D. Pedro) o que foi diplomata e bom estadista tinha um filho chamado
Domingos que ele casou com a filha única do riquíssimo Conde da Póvoa (um semi-
plebeu e novo rico daquela época). Como o filho fosse julgado incapaz de procriar
encarregou-se o pai desse encargo e teve da nora duas… “netas” (…)”547, referindo-se
a D. Maria Luísa de Sousa Holstein, terceira Duquesa de Palmela e sua irmã, D. Luísa
Maria de Sousa Holstein.

Em conclusão, se por si só a ligação da Casa Palmela a uma filha de um “semi-


plebeu” e “novo rico” não poderá demonstrar a existência de alterações no recrutamento
dos cônjuges na aristocracia portuguesa oitocentista, é certo que a própria Casa Palmela
não teve qualquer pejo, por “espírito de aristocracia” em unir-se a tal família, estando
em causa uma “fortuna pecuniária”. Só assim se poderá compreender os esforços
levados a cabo por si para efectivar a união, sobretudo face aos ataques dos parentes do
Conde da Póvoa. De facto, foram estes que manifestaram um comportamento mais
aristocrático relativamente à questão, uma vez que a tentativa da anulação do casamento

546
LICHNOWSKY, Príncipe, Portugal. Recordações do Ano de 1842, 2ª ed, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1844. p. 60.
547
BREYNER, Tomás de Melo (Prod.), Diário de Um monárquico, 1911-13, Porto, Fundação
Engenheiro António de Almeida, 1994, p. 209.

149
da sua sobrinha teria como objectivo um possível casamento com um primo, permitindo
assim que a fortuna permanecesse na família, evitando desse modo, a quebra da varonia.
Tal com Maria de Lurdes Rosa apontou para os séculos XIV e XV em Portugal, no
século XIX “ (…) o perigo dos cunhado e genros explica as dobradas prevenções em
relação ao casamento das herdeiras (…)”548. Neste caso, uma vez que D. Maria Luísa
Noronha Sampaio somente se tornou herdeira apenas após o seu casamento com D.
Domingos de Sousa Holstein, as prevenções resultaram nas tentativas da anulação deste
consórcio.
Todavia, apesar de não podermos comprovar através deste consórcio alterações
no recrutamento dos cônjuges na aristocracia portuguesa oitocentista 549, podemos
afirmar com certeza que este casamento rompeu claramente com o padrão seguido pelos
primeiros Duques de Palmela relativamente ao casamento dos restantes filhos. De facto,
e como verificámos, houve uma clara preocupação de casá-los com membros de casas
tituladas. Mesmo que não fossem tituladas no Antigo Regime, eram já nessa época,
antigas famílias da nobreza da Corte, cujo posicionamento pelo lado liberal permitiu o
acesso à titulação. O casamento do segundo Duque de Palmela veio romper com este
cânone, não só pela ausência de nobreza antiga do primeiro Conde da Póvoa, ainda que
casado com uma filha de uma antiga Casa titular, mas também pelo posicionamento
deste pelo lado miguelista. Neste caso concreto, os ganhos simbólicos foram
completamente suplantados pelos interesses económicos e as vantagens materiais que
decorreriam deste consórcio.

Assim, compreendidas as razões que estiveram por detrás deste casamento,


importa avaliar, em termos concretos, as vantagens económicas que o mesmo trouxe
para a Casa Palmela. Todavia, antes de o fazer, iremos analisar os contratos dotais desta
família.

548
ROSA, Maria de Lurdes, O morgadio em Portugal séculos XIV-XV, Lisboa, Editorial Estampa,
1995, p. 182.
549
Temos conhecimento de um caso parecido, nomeadamente do casamento do quarto Conde da
Cunha, com a filha do Barão de Quintela. Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos
Grandes (...), p. 193.

150
6. Dotar, partilhar e legar: a transmissão do património.

O casamento era, para as elites aristocráticas europeias, um momento singular 550,


uma vez que constituía o veículo primordial de transmissão de património material e
simbólico. Ao longo do século XVIII, em Inglaterra, assumiu-se cada vez mais como
uma forma, potencial ou real, de acumulação de terras ou de aumento de fortunas551.
Neste contexto, tornou-se imprescindível que se fixassem, através de um
contrato notarial, as condições matrimoniais, nomeadamente os dotes552, ou seja, os
bens que a mulher levava para o casamento e dos quais tinha o usufruto. Como Nuno
Gonçalo Monteiro constatou para a alta nobreza em Portugal, foi apenas no século
XVIII, através da lei de 17 de Agosto de 1761, que se tabelou o montante do dote em
1,6 contos de reis e das jóias esponsalícias, oferecidas pelos futuros maridos às noivas,
em 3,2 contos de reis553. De facto, os dotes relativos às pessoas que tivessem o foro de
Moço Fidalgo da Casa Real só poderiam atingir o referido valor máximo e serem
constituídos pelo enxoval de roupa branca, não se podendo dar ou doar às noivas
quaisquer outros bens a título de dote, fossem de raiz, dinheiro, jóias ou outras alfaias,

550
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse réinventée. Nobles de Franche-conté de 1814 a 1870,
Paris, Pie imprenta Annales litteraires de l'Université de Besauson, Centre National de la Recherche
Scientifique, 1992, p. 500.
551
Cf. MENDES; Maria do Céu Dinis, Alguns aspectos do casamento na Inglaterra setecentista ou o
velho Patriarca e a nova Mulher, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1997, p.
40.
552
Cf. ATIENZA HERNÁNDEZ, Ignacio, Aristocracia, poder y riqueza en la España moderna. La
Casa de Osuna, siglos XV-XIX, Madrid, Siglo XXI de España, 1987, p. 43.
553
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O crepúsculo dos grandes: a casa e o património da
aristocracia em Portugal: 1750-1832, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 99-100.

151
sob pena de anulação dos contratos. A excepção era feita, quer às Damas da Rainha,
quer às herdeiras de suas Casas, podendo-se estas dotar livremente com os bens que
tivessem. Estava também previsto nesta lei que as viúvas tinham direito à décima parte
do rendimento das casas dos seus falecidos maridos, a título de apanágio ou alimentos.
Esta legislação tinha como principal objectivo refrear o aumento dos dotes, que vinha
causando a ruína financeira das famílias.
No mesmo sentido, foi publicada a lei de 4 de Fevereiro de 1765, que clarificava
alguns pontos da anteriormente referida, nomeadamente, as questões relativas aos bens
dotais, em caso de viuvez. A viúva ficava com o direito de manter as mesadas que lhe
tivessem sido estipuladas nas escrituras dotais como alfinetes, até passarem a segundas
núpcias. Os alfinetes constituíam o dinheiro que era dado à mulher casada para as suas
próprias despesas.
Já durante o reinado de D. Maria I, a lei de 17 de Julho de 1778 revogou alguns
pontos relativos a esta legislação, mas o tabelamento máximo do dote em 1,6 contos de
reis e o das jóias esponsalícias em 3,2 contos de reis manteve-se em vigor.

Contudo, a tendência para a estabilização do montante do dote era anterior à


publicação destas leis, datando da primeira metade do século XVIII, como consequência
do próprio mercado matrimonial, que se tornou pouco competitivo e mais fechado sobre
si mesmo. Efectivamente, como Nuno Gonçalo Monteiro mostrou, para o período entre
1681 e 1761, os dotes das noivas dos titulares só ultrapassavam os oito contos de reis
quando incluíam expressamente as legítimas ou serviços, como damas do paço. Além
disso, verificava-se uma ausência quase total de bens de raiz na constituição dos dotes,
que apenas incluíam dinheiro, jóias e roupa branca. Relativamente aos alfinetes, estes
oscilavam entre os 40 e os 50 mil reis mensais. Obviamente que oito contos de reis não
era uma quantia desprezível, visto representarem para a maioria das casas titulares,
cerca de ano e meio de rendimentos. Além disso, era uma quantia bastante superior à do
dote dado para a entrada num convento. No entanto, comparativamente a outros países,
era um valor bastante inferior, sobretudo se se tiver em conta a ausência de bens de raiz.
Segundo o mesmo autor, verifica-se que, após as leis de 1761, há uma
normalização do que era apenas uma tendência – a uniformização dos dotes na quantia
fixada juridicamente, com excepção dos casos já referidos. Para além disso, no caso de
viuvez, em vez do pagamento das arras à viúva, que consistira na devolução de parte do
dote, passava-se agora ao pagamento de apanágios ou alimentos, que consistiam em

152
10% do rendimento das casas554.

No século XIX, vigorava ainda a legislação pombalina. De facto, apesar da


Constituição de 1822 e os outros textos constitucionais que lhe seguiram, como a Carta
de 1826 ou a Constituição de 1838, preverem a igualdade jurídica do cidadão, eram
aquelas as leis que vigoravam relativamente ao matrimónio e que assentavam na noção
de privilégio, uma vez que se destinavam a quem era detentor, pelo menos, do foro de
Moço Fidalgo da Casa Real. Seria apenas com a publicação do Código Civil de 1867
que a legislação relativa ao matrimónio deixaria de assentar em tais bases de privilégio,
passando a estar de acordo com a vontade expressa dos noivos. Efectivamente, este
Código, para além de prever as disposições gerais acerca do casamento, estabelecia
também as várias convenções que os esposos podiam realizar relativamente a seus bens,
desde que dentro do limite da lei e de acordo com uma escritura pública. Assim sendo, o
casamento podia efectuar-se sob o costume do reino, que consistia na comunhão de
todos os bens dos cônjuges, presentes e futuros; comunhão de adquiridos; separação
total de bens; e, finalmente, regime dotal. Cada um destes casos estava devidamente
regulado no Código Civil.

Torna-se fundamental que se proceda à análise dos contratos dotais que


antecederam os casamentos efectuados no seio da Casa Palmela, de modo a verificar a
existência de um eventual padrão comum nas várias gerações e os moldes que revestiam
todo o processo, procurando detectar a existência de continuidades ou rupturas entre
gerações e relativamente ao período do Antigo Regime. Apesar de não termos contratos
antenupciais relativos a todos os indivíduos mencionados, possuímos uma grande parte
deles, apenas faltando os relativos aos filhos do sexo masculino mais novos do primeiro
Duque e o da terceira Duquesa de Palmela, que não o efectuou555.

D. Pedro de Sousa Holstein assinou o seu contrato antenupcial a 4 de Junho de


1810 com a sua mulher e sua futura sogra, na altura já viúva. Nele se estabelece que a
Marquesa de Nisa dotava a sua filha com “a quantia de um conto e seiscentos mil reis

554
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, O Crepúsculo dos Grandes, pp. 106-108.
555
Cf. Testamento, Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa Palmela, Microfilme
5710, Caixa 147, fol. 1447.

153
empregados em roupas, vestidos do seu enxoval”556, em conformidade com a quantia
estipulada no decreto de 17 de Agosto de 1761. Por seu lado, D. Pedro obrigava-se a dar
à noiva a “quantia de cinquenta mil reis no principio de cada mês para seus alfinetes, e
pela grande satisfação que tem neste consorcio se obriga também de pedir quanto antes
a sua alteza real a sobrevivência de uma das melhores comendas da sua Casa para
coadjuvar a decente sustentação da mesma (…) futura noiva no caso de Viuvez.”

Na geração seguinte, a primeira escritura de esponsais efectuada foi a relativa a


D. Domingos de Sousa Holstein e a sua futura mulher, D. Maria Luísa de Noronha
Sampaio. Lavrada no então palácio de residência da Condessa da Póvoa, já viúva, ao
Rato, aos seis de Setembro de 1834, a dita escritura não apresentava a fixação do dote,
mas sim as condições em que o casamento se viria a realizar. Efectivamente, tal decorria
do facto de a noiva ser menor, então apenas com 7 anos. Assim, estabeleceu-se que o
casamento teria lugar quando a nubente atingisse a “idade competente”. Estas
condições, segundo a mesma escritura, eram o resultado da reunião dos pais dos noivos
com o imperador D. Pedro, regente em nome de D. Maria, que, tendo acordado entre si
essa união, contrataram que se expediria “uma portaria ao juiz de Paz da Freguesia de
S. Mamede remetendo o alvará de Licença para o dito casamento” e se ordenaria “a
convocação do Conselho de Família para se darem as providencias que se julgassem
úteis aos interesses e seguranças recíproca dos Exmos. futuros noivos”. Assim, a
reunião do Conselho de Família da menor, em Agosto de 1834, apenas estabeleceu que
se procedesse à presente escritura de esponsais, que constituía um contrato de obrigação
futura557.
Foi somente em 1836 que se efectuou nova escritura, precedendo o sacramento
do matrimónio e cumprindo o estabelecido na escritura efectuada dois anos antes e a
vontade dos pais dos noivos e dos próprios558. Aqui ficavam também estabelecidas as
condições do casamento. Em primeiro lugar deliberou-se que a noiva viveria em casa
dos seus sogros, mas separada do seu marido, “até que se possam unirem-se para a

556
Cf. Contrato Matrimonial, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 21.
557
Cf. Escritura de esponsais, IAN/TT, ACP, Microfilme 5708, Caixa 146, fol. 661.
558
É referido no documento que, apesar da noiva, em 1836, ter apenas 9 anos, tem o discernimento
intelectual para exercer “o seu agrado e gosto” e sendo para isso autorizada pelo Cardeal Patriarca, que
concedeu a dispensa da idade para o matrimónio. Cf. Contrato para casamento, IAN/TT, ACP,
Microfilme 5708, Caixa 146, fol. 671.

154
consumação do matrimónio”. Em segundo lugar, “estipulou-se que tendo ambos os
contraentes bens e rendimentos próprios com que possam sustentar a dignidade e
decoro de suas pessoas, na constância do matrimónio, e no estado de viuvez, não
precisam aproveitar-se das providências dadas nas leis de 17 de Agosto de 1761 e de
quatro de Fevereiro de 1765, relativamente ao apanágio e decima vidual.”
Concordaram que todos os bens da noiva, tanto os da legítima paterna, “como quaisquer
outros que acrescerem a esses tenham e conservem a natureza de dotais enquanto ela
viver”, revertessem metade para D. Domingos, à morte da mulher, se não existissem
filhos. No caso contrário, ficaria D. Domingos com a terça parte dos rendimentos dos
referidos bens, enquanto vivesse. Também se estipulou que se poderia constituir “um
vínculo de quatrocentos contos de reis ou um fideicomisso de igual importância,
determinado nele a forma da sucessão e administração do mesmo.” Não ficou
contratado o montante do dote da noiva, apenas o destino a dar-lhe no caso da sua
morte.

De modo a não sobrecarregar o texto com a descrição pormenorizada das


escrituras dotais das filhas dos primeiros Duques de Palmlea, resumimo-las no quadro
seguinte:

Quadro V – Dotes relativos às filhas dos Primeiros Duques de Palmela


Data Nubente Dote Jóias Outros Alfinetes Arras
2000$000
13 de D. Maria Ana anuais ou
1600$000 50$000
Setembro Sousa Esponsalícias 1/10
em enxoval mensais
1838 Holstein559 rendimento
Casa marido
Enxoval em
D. Eugénia 40.000$000 trastes,
8 de Maio 50$000 50$000
Sousa em Esponsalícias roupas,
de 1842 mensais mensais
Holstein560 dinheiro prata, ouro
e brilhantes

559
Cf. Contrato dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 413
560
Cf. Contrato dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 369.

155
Enxoval em
40.000$000 trastes,
8 de Maio D. Teresa Sousa 50$000 50$000
em Esponsalícias roupas,
de 1842 Holstein561 mensais mensais
dinheiro prata, ouro
e brilhantes
29 de D. Catarina 40.000$000
Fevereiro Sousa em
de 1848 Holstein562 dinheiro
Enxoval em
D. Ana Rosa 40.000$000 trastes,
6 de Maio
Sousa em fundos roupas,
de 1850
Holstein563 franceses prata, ouro
e brilhantes
Enxoval em
D. Ana Rosa
5 de 40.000$000 trastes,
Sousa Holstein
Outubro em fundos roupas,
(2º
de 1857 franceses prata, ouro
Casamento)564
e brilhantes
Como podemos observar, a primeira filha a casar, D. Maria Ana foi a única que
efectuou o seu contrato dotal em estrita observância da lei de 17 de Agosto de 1761,
sendo dotada com a quantia de 1600$000 em enxoval. Tanto ela, como suas irmãs D.
Eugénia e D. Teresa receberam na ocasião as jóias esponsalícias de seus futuros
maridos. Embora não seja referido o seu valor, supõe-se que não excedessem os
3200$000 estabelecidos na lei. Além disso, foram as únicas dotadas por seus pais: D.
Catarina foi dotada por seu irmão primogénito, ainda que em vida dos pais, ao passo
que D. Ana Rosa, no seu primeiro consórcio, foi dotada também pelo seu irmão, sendo
já órfã. No entanto, no segundo casamento dotou-se a si própria. Apenas o contrato
dotal de D. Catarina é omisso relativamente ao enxoval, visto que no caso de D. Maria
Ana, é referido que o dote é constituído pelo enxoval.
Os alfinetes a dar às noivas pelos seus maridos apenas estão estipulados nos
contratos dotais das três primeiras nubentes, consistindo na quantia de 50 mil reis
mensais. É também nestes casos que se referem as arras ou apanágio que receberiam
quando enviuvassem: D. Maria Ana receberia 2000$000 anualmente ou um décimo do
rendimento da Casa do falecido marido; D. Eugénia e D. Teresa receberiam 50$000
mensalmente.

Em todos os contratos estava consignada a identidade jurídica dos bens dotais.


De facto, quaisquer bens da noiva que viessem ao casal, como legítimas, heranças,
561
Cf. Contrato dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 81.
562
Cf. Contrato dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 173.
563
Cf. Contrato dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 125.
564
Cf. Contrato Dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 147.

156
doações ou outros direitos, conservariam a sua natureza de dotais, independentemente
da existência de filhos. Havendo filhos, estes seriam os herdeiros de sua mãe. Caso não
existissem, a esposa não podia testar a favor do marido, à excepção da terça, tornando-
se os irmãos dela, herdeiros da restante parte. No caso de viuvez, o dote revertia para a
viúva, ou para seu herdeiros. Isso significava que os bens permaneciam sua propriedade
exclusiva. O dote era também inalienável ou passível de ser hipotecado, mesmo que
fosse transformado em bens de raiz, direitos e acções. No entanto, ficaria reservado o
direito da noiva poder alienar os referidos fundos, empregando o seu produto da forma
que mais lhe conviesse, sem necessidade de consentimento ou outorga. Todos ou parte
dos fundos dotais que fossem convertidos em bens de raiz, direitos ou acções manteriam
a natureza de dotais e os respectivos privilégios. Para garantir a segurança dos dotes das
noivas, algumas das Casas com que a de Palmela casou as filhas – Terena, Alcáçovas e
Galveias – hipotecaram os seus bens ou rendimentos.

Como já referimos, apenas a primeira filha que casou, foi dotada de acordo com
a legislação pombalina, tendo as suas irmãs recebido como dote uma quantia vinte e
cinco vezes superior. Ora, os quarenta contos de reis correspondiam à quantia que elas
receberam por haverem cedido o direito que tinham às legítimas dos seus pais, em favor
de seu irmão primogénito e cunhada, os Marqueses do Faial.

De facto, até à promulgação das leis de extinção dos vínculos e da publicação do


Código Civil de 1867 estava previsto na lei que os filhos das Casas distintas
procedessem a um contrato de renúncia da parte que lhes caberia por herança pela morte
de seus pais, a favor de seu irmão primogénito, mediante uma recompensa monetária
que permitisse a sua conveniente sustentação. Obviamente que a parte que lhe estava
destinada em herança era única e exclusivamente composta pelos bens livres, uma vez
que os vinculados pertenciam, na totalidade, aos primogénitos.
Tal derivava da distinção que o direito civil fazia dos bens dos particulares:
livres ou alodiais eram aqueles de que se podia dispor livremente, sem necessidade de
licença de outrem e, por conseguinte, comunicáveis entre cônjuges e divisíveis entre os
herdeiros, em contraposição aos vinculados, aos enfitêuticos e aos da coroa565. Por

565
ROCHA, M. A. Coelho da, Instituições de direito civil português, 8ª ed., Lisboa, Livraria Clássica
Editora, 1917, p. 52.

157
outras palavras, dos bens livres fariam parte os bens de família não vinculados, ao passo
que os bens não livres corresponderiam aos bens vinculados, de morgado ou capela, aos
bens enfitêuticos e aos bens das comendas e ordens.

O quadro legal que regulava esta questão remontava, pelo menos, à lei de 9 de
Novembro de 1754, que ordenava que os bens livres passariam, por morte dos seus
possuidores, aos seus herdeiros, escritos ou legítimos, e que os bens vinculados
passariam ao filho mais velho, ou neto, filho do primogénito. Tratava-se não só de
manter intactos e indivisíveis os bens de morgado, mas também de possibilitar aos
filhos secundogénitos herdarem algo de seus pais.
A lei de 17 de Agosto de 1761 determinou que, relativamente às heranças das
pessoas que possuíssem o foro de Fidalgo da Casa Real e bens vinculados, da Coroa e
Ordens, que excedessem os três contos de reis de renda anual, os bens livres apenas
seriam divisíveis entre os filhos Esta lei determinava que os secundogénitos apenas
podiam herdar o que lhes cabia das partilhas dos bens livres, sendo as filhas excluídas
das legítimas paternas. A lei foi revogada em 17 de Julho de 1778, permitindo que dois
terços dos bens livres estivessem destinados aos filhos dos seus possuidores,
independentemente do seu sexo, quando estes morressem, repondo a situação anterior a
1761.

O principal objectivo ao renunciar à sua parte na herança era, mais do que


favorecer o primogénito, favorecer Casa, mantendo os seus bens. No fundo, tratava-se
de mais um mecanismo que permitia a concentração dos bens na posse das Casas
titulares, sendo os bens livres, na maior parte dos casos, em menor número e valor do
que os vinculados. Como sublinhou Maria de Fátima Coelho, a transmissão perpétua do
património familiar tinha como objectivo a manutenção do estatuto social privilegiado
da aristocracia566.

Nuno Gonçalo Monteiro constatou que, ainda em finais de Antigo Regime, as


legítimas, como podiam atingir valores superiores aos 1,6 contos de reis estabelecidos

566
COELHO, Maria de Fátima, “O instituto vincular, sua decadência e morte: questões várias” in O
Século XIX em Portugal, Análise Social, vol. XVI, (61-62), Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1980,
pp. 112-123.

158
para o dote, estavam muitas das vezes omissas nos contratos dotais, no caso de as
noivas já terem herdado, não adquirindo, por isso, natureza dotal567.

Quadro VI – Escrituras de renúncia de legítimas dos herdeiros dos primeiros


Duques de Palmela a favor de seu irmão primogénito, D. Domingos de Sousa Holstein
Data Renunciador Quantia Pagamento
22 de 40000$000 Metade no acto renúncia, metade até 20
Abril de D. Eugénia Sousa Holstein568 moeda Abril de 1852, vencendo juro anual de
1842 metálica 5%
22 de 40000$000 Metade no acto renúncia, metade até 20
Abril de D. Teresa Sousa Holstein569 moeda Abril de 1852, vencendo juro anual de
1842 metálica 5%
Pagamento quando D. Catarina atingisse
30 de 40000$000
maioridade ou casasse. Neste caso,
Agosto D. Catarina Sousa Holstein 570 moeda
pagamento de juro de 5% até
de 1844 metálica
amortização total.
Luís Brandão de Melo
5% de juro de metade desde a morte de
9 de Cogominho, como tutor de 40000$000,
um dos Duques de Palmela; 5% da
Junho de seus filhos, metade para
totalidade depois da morte dos dois
1845 D. Eugénia e José Maria cada um
Duques de Palmela572
Brandão de Melo

567
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, O crepúsculo dos Grandes, p. 113.
568
Cf. Escritura de desistência de legítima, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 59.
569
Cf. Escritura de desistência de legítima, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 59.
570
Cf. Escritura de desistência de legítima, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 107.
572
Caso algum dos menores morresse sem descendentes, o irmão sobrevivo seria o herdeiro desta
transacção. Caso morressem ambos sendo ainda menores, ab intestado ou sem descendentes, os quarenta
contos de reis reverteriam para a herança dos Duques de Palmela. Ora, anos mais tarde, a 9 de Março de
1867, os então Duques de Palmela, D. Maria Luísa e António de Sampaio e Pina de Brederode, e os
Marqueses de Monfalim, seus tios efectuaram uma escritura de quitação de pagamento, visto ter falecido
D. José Maria. D. Eugénia, Marquesa de Monfalim, era a sua imediata herdeira e, portanto, tinha direito a
herdar a quantia que pertencia a seu irmão, ou seja, os vinte contos de reis respeitantes à renúncia de
legítimas dos seus avós. Ficavam, por isso, através desta escritura, pagos dez contos de reis a D. Eugénia,
que dava plena quitação dos restantes dez contos de reis e dos juros do capital de vinte contos de reis,

159
Cogominho571
Quando atingissem a maioridade ou
D. Francisco, D. Tomás e D. casassem. Deviam ser empregues na
40000$000 a
28 de Filipe, representados por seu totalidade ou em parte, em bens
cada um,
Outubro pai, como seu tutor, por serem rendosos, enquanto não fosse pago o
moeda
de 1848 menores, e D. Ana Rosa de juro de 5%, a partir do falecimento de
metálica
Sousa Holstein573 seu pai ou desde o casamento dos
menores

Como podemos observar pelo Quadro VI, os herdeiros dos primeiros Duques
de Palmela renunciaram a parte que lhes caberia por legítima herança à morte de seus
pais, a favor do irmão primogénito, o Marquês do Faial. Cada um dos herdeiros, à
excepção de D. Eugénia e José Maria Brandão de Melo Cogominho, que representavam
a mãe, já defunta, recebeu 40 contos de reis em moeda metálica, a qual foi aplicada
pelas mulheres para seu dote.
Curioso é o facto de, nos três primeiros contratos de renúncia realizados, constar
também um auto de decisão do conselho de família de D. Maria Luísa, Marquesa do
Faial, que estipulava que o mesmo conselho não se opunha à transacção descrita, desde
que, para o pagamento do montante da renúncia às legítimas, não se utilizassem capitais
nem se alienassem os bens de raiz pertencentes à Marquesa do Faial, ficando desde logo
implícita a separação dos bens relativos às Casas Palmela e Póvoa. De facto, a renúncia
às legítimas dizia única e exclusivamente respeito à Casa Palmela.

Entretanto, em 27 de Julho de 1850, o Duque de Palmela efectuou uma escritura


com os Marqueses do Faial, doando-lhes todos os bens, direitos e acções que possuía no
Reino de Portugal e em Sanfré, no Piemonte, com a reserva de que continuaria
possuidor dos rendimentos por ele auferidos enquanto vivesse, uma vez que todos os
seus outros filhos tinham renunciado às legítimas, que receberiam quando herdassem 574.
No mesmo ano, a 12 de Outubro, D. Pedro de Sousa Holstein morria. D. Domingos, seu
primogénito, tornava-se assim o herdeiro da totalidade de sua casa. De facto, a doze de

desde que se começaram a vencer até então, por terem sido pagos na totalidade. Cf. Instrumento de
pagamento e quitação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 547.
571
Cf. Instrumento de pagamento e quitação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 547.
Sendo viúvo de D. Maria Ana de Sousa Holstein, assinou o contrato na qualidade de tutor dos filhos
menores de ambos, D. Eugénia e José Maria Brandão de Melo Cogominho, que representariam a mãe.
573
Cf. Escritura de desistência de legítima, IAN/TT, ACP, Microfilme 5674, Caixa 116, fol. 475.
574
Cf. Escritura de doação inter-vivos e obrigação IANTT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol.
145.

160
Fevereiro de mil oitocentos e cinquenta e um, era certificado ao Duque de Palmela, D.
Domingos, que era o único herdeiro de todos os bens livres, direitos e acções que
ficaram por morte de seus pais, assim como de todos os vínculos a eles pertencentes, em
virtude das transacções e renúncias de heranças que suas irmãs e cunhados
efectuaram575.

Apesar de a sua certidão de óbito atestar que não efectuou testamento, o que é
certo é que existe um testamento de honra do primeiro Duque de Palmela, D. Pedro de
Sousa Holstein, datado de 12 de Outubro de 1850. Visto terem-se efectuado já as
renúncias indicadas, deixa patente que gostaria de deixar algumas determinações por
escrito. Queria recomendar a seus filhos e noras/genros, que “procurassem viver todos
com a melhor harmonia e amizade entre si.”. Tratava-se de realçar a harmonia familiar,
presente também em grande parte dos testamentos efectuados em França para o mesmo
período576. Relativamente aos seus três filhos menores, D. Francisco, D. Tomás e D.
Filipe, nomeava-lhes como tutor o seu filho primogénito, o Marquês do Faial, e como
subtutor, o Conde de Lavradio ou o próprio Tabelião João Baptista Ferreira, sendo que
o que não ficasse subtutor fizesse parte do conselho de família, juntamente com alguns
de seus genros e amigos, de que se lembrava dos Viscondes de Sá, de Benagasil e de
Algés, de João de Sousa Pinto de Magalhães 577.

Como vimos anteriormente, os segundos Duques de Palmela tiveram duas filhas.


Antes de procedermos à análise do contrato dotal de D. Luísa Maria e à da escritura de
renúncia das legítimas, é necessário ter em conta o testamento de seus pais, datado de
10 de Maio de 1859, que anulava um outro testamento de mão comum, anterior a este,
datado de 1856. De facto, a sua filha primogénita, D. Maria Luísa, seria a imediata
sucessora dos vínculos que administravam e, por isso, teria uma fortuna muito superior
à de sua irmã. Querendo prover esta de um melhor futuro, pretendiam estabelecer um
fundo de propriedades e rendas sólidas que não dependesse da demora de um processo
de partilhas. Nesse sentido, fixavam-lhe através deste testamento, a sua legítima em
quatrocentos contos de reis, quantia que poderia eventualmente elevar-se. Caso não

575
Certidão dos autos de inventário dos bens, IAN/TT, ACP, Microfilme 5625, Caixa 77, fol. 49.
576
HIGGS, David, Nobles, Titrés, aristocrates en France après la Révolution, 1800-1870, s. l., Liana
Levi, 1990, p. 334.
577
Cf. Testamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121 fol. 41.

161
atingisse a essa cifra, deixavam-lhe a terça de seus bens livres, instituindo D. Luísa
Maria a única herdeira desses bens, nos quais ficavam compreendidas as quintas de
Cadafais e da Goucha, pelo preço que tivessem ao tempo da sua entrega. Para além
disso, o fundo que constituía a sua legítima, estimada em quatrocentos contos de reis,
seria constituído em moeda metálica, bens de raiz ou fundos públicos consolidados,
nacionais ou estrangeiros, pelo preço real de mercado que tivessem na altura do
pagamento. No entanto, a entrega desta quantia de quatrocentos contos de reis apenas
podia ser efectuada após a renúncia, por parte de D. Luísa Maria, de todos os bens da
herança e legítima que lhe pertencesse por morte de seus pais. Caso não se pudesse
efectuar esta renúncia, os Duques de Palmela instituíam D. Luísa Maria como herdeira
na terça dos bens que possuíam dentro e fora do reino 578.

Foi em 27 de Julho de 1859, que D. Luísa Maria de Sousa Holstein efectuou a


escritura de renúncia às legítimas materna e paterna, em favor de sua irmã, D. Maria
Luísa, mediante o pagamento da indemnização de quatrocentos contos de reis em
moeda forte. Todavia, não poderia ser exigido o seu pagamento ou parte dele enquanto
os Duques de Palmela vivessem. Deste modo, o referido capital não venceria juro algum
durante esse período de tempo. No entanto, no caso de se verificar a morte de um dos
Duques, deveria vencer-se juro de metade do capital, ou da totalidade dos quatrocentos
contos de reis em moeda forte, no caso de serem os dois que morressem579.

Entretanto, eram publicadas as leis de 30 de Julho de 1860 e 19 de Setembro de


1861, no sentido da desvinculação dos bens de morgado e capela. De facto, até à
promulgação dessas leis, vigorava a de 4 de Abril de 1832, que aboliu os vínculos, cujo
rendimento líquido não chegasse aos duzentos mil reis. O relatório que acompanhava
esta lei justificava tal decisão: ainda que estas instituições – morgados e capelas – não
fossem injustas em si, pois o seu objectivo era o da não alienação dos bens, tinham, no
entanto, como consequência, tornar um irmão rico e muitos irmãos pobres “causando a
imoralidade, e os costumes dissolutos, e destruindo a circulação, e os meios de
industria e de trabalho”580. Julgado o vínculo dissolvido, os bens que o constituíam

578
Cf. Testamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa fol. 287.
579
Cf. Escritura de renúncia de legítimas, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 293.
580
Colecção Oficial de Legislação, Lisboa, Imprensa Nacional, 1832, p. (1).

162
seriam considerados alodiais ao tempo da morte do último administrador, vindo às
partilhas da herança geral.
Todavia, foi a lei de 30 de Julho de 1860 que causou maior impacto, ao tornar
livres e alodiais todos os bens de vínculo móveis e semoventes, assim como os “juros
vinculados de capitais que estão fora do mesmo vínculo, embora sejam estes capitais
livres ou alodiais, ou estejam vinculados em outros vínculos”. Aboliu também “todos os
morgados ou capelas que não tiverem de rendimento anual líquido 400 mil reis ou daí
para cima”581. No entanto, se o administrador, por si ou em conjunto com o seu
cônjuge, reunissem dois ou mais vínculos que perfizessem o rendimento anual líquido
de 600 mil reis, a abolição era facultativa. Todos os morgados e capelas que não fossem
registados no prazo de dois anos a partir da publicação desta lei também seriam
abolidos. Os bens desvinculados ficavam livres de quaisquer encargos pios que
tivessem e permaneciam em posse dos actuais administradores. Todavia, se estes
administradores tivessem sucessores maiores, metade dos bens conservaria a natureza
vincular, passando pela morte do actual administrador para os seus imediatos
sucessores, tornando-se nessa ocasião livres e alodiais. Se o imediato sucessor tivesse
filhos ao tempo da publicação desta lei, os bens conservariam a sua natureza vincular
até que, por morte daquele, passassem para posse do seu sucessor, tornando-se então
bens livres e alodiais. Relativamente à sucessão dos vínculos, esta lei abrangia ambos os
sexos, ficando limitada aos descendentes do administrador do vínculo e aos seus ramos
colaterais, ou seja, a seus irmãos, sobrinhos ou sobrinhos netos. Extinta esta ordem
sucessória, os bens de vínculos tornavam-se livres e alodiais. Curiosamente, esta lei
garantia aos Pares do Reino o direito de instituir novos vínculos em bens de raiz ou em
títulos de dívida pública portuguesa582.

Tal como podemos observar, a legislação tendente à abolição gradual dos


vínculos introduziu alterações a nível do sistema sucessório. Assim se explica que, no
mesmo dia da publicação da lei de 19 de Setembro de 1861, que determinava a forma e
os emolumentos do registo dos vínculos a que estavam obrigados os seus
administradores, D. Domingos de Sousa Holstein tenha efectuado uma escritura de
partilha amigável com sua filha D. Maria Luísa, dos bens que ficaram por morte de D.

581
Ibidem, 1860, p. 275.
582
Cf. Colecção Oficial de Legislação, 1860, pp. 275-279.

163
Maria Luísa de Sampaio e Noronha, mulher e mãe dos contratantes. Nesta partilha não
entrava D. Luísa Maria, irmã da antecedente e herdeira de sua mãe, uma vez que já
tinha efectuado a renúncia à legítima paterna, a favor da irmã, através da escritura que
referimos anteriormente, celebrada em 27 de Julho de 1859. Também não entravam seus
tios, irmãs e primos, herdeiros legítimos de seus pais e avós, os Duques de Palmela, que
receberam os quarenta contos de reis por cessão das suas legítimas, cujas escrituras
também já referimos. Ora, o Duque de Palmela e sua filha reconheciam que as
benfeitorias realizadas nos palácios do Calhariz de Lisboa e do Calhariz ao Sul do Tejo,
tinham sido efectuadas com fundos pertencentes à Casa do Conde da Póvoa, a qual
ainda era credora da Casa Palmela em avultadas somas, apesar da cessão que esta lhe
fizera da propriedade de Sanfré, no Piemonte. Como todos os bens da Casa Palmela não
chegariam para o pagamento desta dívida, caso esta se liquidasse conforme o direito,
acordaram em efectuar entre si a partilha dos bens de ambas as casas do seguinte modo:
ao Duque de Palmela ficavam pertencendo exclusivamente os bens vinculados da Casa
Palmela, dispondo dos seus rendimentos como lhe aprouvesse; à Marquesa do Faial
ficariam pertencendo os bens livres da Casa da Póvoa, da qual era herdeira directa por
morte de sua mãe, e os bens livres da Casa Palmela. Ficava também com a posse de
todos os bens vinculados da Casa Póvoa, em virtude da escritura efectuada com sua
irmã, em 1859. No entanto, a Marquesa do Faial ficava obrigada a dar anualmente a seu
pai, para além dos rendimentos dos bens vinculados da Casa Palmela, a quantia de seis
contos de reis, possibilitando-o “sustentar-se com a decência e grandeza que a sua alta
posição exige.”583.

O contrato antenupcial de D. Luísa Maria de Sousa Holstein realizou-se a 28 de


Abril de 1862, em Londres, onde estavam residindo584. Estiveram presentes, quer o pai
e a irmã de D. Luísa Maria, quer o pai do noivo. O dote da noiva era constituído por
todos os seus bens, que lhe ficaram por testamento de mão comum de seus pais, de 10
de Maio de 1859, que analisámos anteriormente, e pela renúncia efectuada com sua
irmã, que perfaziam a soma de quatrocentos contos de reis. Além desta quantia dotou-se
com tudo o mais que lhe adviesse por título gratuito, como as jóias que recebeu do seu
futuro sogro. Todo o dote gozava dos privilégios que o direito concedia, nunca ficando

583
Cf. Escritura de partilha, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 323.
584
Cf. Contrato Dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 269.

164
por isso sujeito às dívidas do seu marido. Os bens dos noivos ficavam, deste modo,
incomunicáveis entre si, independentemente da existência de descendência. Para seus
alfinetes, a noiva tinha direito a reservar da totalidade dos bens dotais, tantos quantos
pretendesse para terem o carácter de parafernais, isto é, para os gozar ou administrar
como pretendesse, de modo a produzirem um rendimento equivalente a duzentos e vinte
cinco mil reis mensais, enquanto não estivessem vencidos os primeiros duzentos contos
de reis, que passariam a ser de quatrocentos mil reis, quando vencidos os restantes
duzentos contos de reis. As restantes disposições referiam-se à sucessão. Caso o seu
marido morresse, havendo ou não descendentes, a noiva só poderia herdar o dote, ainda
que tivesse direito à décima que a lei previa em caso de viuvez e “nos casamentos de
pessoas de sua qualidade e nobreza”.
No entanto, na sequência da publicação das leis de 1860 e 1861, D. Maria Luísa
decidiu proceder a alterações à renúncia das legítimas que sua irmã tinha efectuado em
seu favor, em 1859. Nesse sentido, a 9 de Abril de 1862, ainda antes da escritura
antenupcial de D. Luísa Maria, consultou o advogado António Maria Ribeiro da Costa
Holltreman585 para que desse o seu parecer relativamente à questão, tendo este sugerido
três possibilidades de convenções a estabelecer 586.

D. Maria Luísa e D. Luísa Maria assinaram então uma nova escritura, a 2 de


Setembro de 1862, já depois do estabelecimento do contrato dotal de D. Maria Luísa.
Tratava-se da segunda hipótese de escritura apresentada pelo advogado acima indicado
e a mais favorável a ambas e que alterava o modo de pagamento da renúncia da legítima
paterna. Tendo-se estipulado que o dote de D. Luísa Maria seria de quatrocentos contos
de reis, a receber pela maioridade desta, que aconteceu através do casamento, ratificou-
se a escritura de 27 de Julho de 1859, sem a qual apenas poderia esperar uma
“pequeníssima” legítima paterna, alterando somente a forma do pagamento nela

585
António Maria Ribeiro da Costa Holtreman (18/08/1812-12/04/1890) foi advogado e um abastado
proprietário, pai do primeiro Visconde de Alvalade. Liberal, responsável pela Gazeta dos Tribunais e um
dos fundadores do Partido Histórico. Foi ainda vice-presidente da Associação dos Advogados em Lisboa
e advogado de grandes casas aristocráticas, como a de Palmela ou a de Lafões. Cf. SARDICA, José
Miguel, “HOLTREMAN, António Maria Ribeiro da Costa” in Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-
1910, (dir. Maria Filomena MÓNICA), vol. 2, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da
República, 2004-2005, pp. 439-441.
586
Cf. Parecer, IAN/TT, ACP, Microfilme 5667, Caixa 109, fol. 900.

165
estabelecida, “e como ambas desejam entre sim conservar a melhor harmonia, não
tendo jamais presidido a contracto algum dos supra-indicados, a ideia de lesar a
excelentíssima Condessa da Ribeira Grande, e de favorecer à Excelentíssima Marquesa
do Faial, antes havendo positivamente da parte desta, excelentíssima primeira
outorgante, Marquesa do Faial, o desejo que hoje ainda subsiste, de antes, em caso de
dúvida, beneficiar do que prejudicar sua irmã, e excelentíssima Condessa da Ribeira
Grande” acordaram que, para além dos quatrocentos contos de reis estabelecidos na
escritura de 27 de Julho de 1859, equivalentes a metade da herança de seus pais, D.
Luísa Maria receberia de sua irmã brilhantes, jóias, pratas e enxoval na importância de
19 contos de reis e mais metade de “uns valores provenientes da Casa Póvoa”, que
apenas possuíam valor nominal, mas que poderiam adquirir valor real, de cento e
cinquenta e seis contos de reis, do empréstimo forçado e voluntário feito pelo avô de
ambas, o Conde da Póvoa, ao governo de D. Miguel. Como princípio de pagamento, a
Marquesa do Faial entregava à sua irmã a Quinta da Goucha, no valor de quarenta
contos de reis, que ficava pertencendo à Condessa da Ribeira Grande como bem dotal.
Os restantes trezentos e sessenta contos de reis entregar-se-iam no dia 31 de Dezembro
de 1869. Desde o casamento de D. Luísa Maria, até sua data, a sua irmã dar-lhe-ia o
juro dessa quantia, à razão de cinco por cento, ou seja, dezoito contos de reis anuais.587

Logo no ano seguinte, casava-se a terceira Duquesa de Palmela, em 15 de Abril


1863 sem, no entanto, ter efectuado contrato antenupcial, tal como nos refere o seu
testamento de 1887 e, por isso, o seu casamento ficava sob o regime de comunhão total
de bens, conforme o costume do reino 588. Segundo D. Isabel Vasconcelos, Condessa de
Rio Maior, em carta a seu filho, de 16 de Abril de 1863, tal deveu-se a que o noivo,
António de Sampaio e Pina, “não tinha querido aceitar dote, e que, por isso, não houve
escrituras, mas, não havendo escrituras, há quem diga que ele tem direito à metade, de
maneira que o que finge desinteresse pode ser especulação.”589.

A 19 de Maio de 1863 foi publicada a derradeira lei relativa à instituição

587
Cf. Contracto de convenção, forma de pagamento, partilha, amigável, ratificação de transacção, e
nova transacção, quitação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 343.
588
Cf. Testamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5710, Caixa 147, fol. 1447.
589
Cf. MÓNICA, Maria Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio Maior, correspondência para seus
filhos, 1852-1865, p. 322.

166
vincular. De acordo com ela, todos os morgados e capelas seriam abolidos e os bens que
os constituíam considerados alodiais. Metade desses bens seria reservada para o
imediato sucessor do morgado ou da capela extintos, nascido ou concebido ao tempo da
promulgação desta lei, sendo descendentes, irmão, filho ou neto de irmão do actual
administrador. Caso o imediato sucessor morresse antes do actual administrador, essa
metade, ainda que não tendo disposto dela, seria destinada para os seus herdeiros. O
direito do imediato sucessor a receber metade dos bens desvinculados cessava nos casos
em que, por nascimentos supervenientes, ele deixaria de ser o sucessor legítimo do
vínculo. Os administradores conservariam até à sua morte o usufruto da parte dos bens
vinculados que ficava reservada ao imediato sucessor. Por morte dos administradores e
de seus imediatos sucessores, não seriam admitidos à sucessão ab intestato dos bens de
que se compunham os vínculos, pessoas estranhas à linha por onde os mesmos vínculos
proviessem, quando existissem nessa linha parentes até ao terceiro grau contado por
direito canónico, já nascidos ao tempo da promulgação da lei, preferindo-se o grau mais
próximo ao mais remoto, relativamente ao actual administrador. Os cônjuges do actual
administrador ou do imediato sucessor não teriam direito à meação dos bens
desvinculados. No entanto, caso estivessem casados segundo o costume do reino, ou
seja, em comunhão total de bens, poderiam pedir alimentos.

Como consequência desta lei, a 7 de Janeiro de 1864 efectuou-se uma escritura


entre os Duques de Palmela, D. Maria Luísa e António de Sampaio de Brederode, de
uma parte, e os Condes da Ribeira Grande, de outra. Visto que ainda não se tinham
estremado os bens que, pela publicação da lei de 30 de Julho de 1860 perderam a
qualidade vincular, tornava-se necessário efectuar um acordo para divisão e designação
da metade do vínculo que, pela lei de 13 de Maio de 1863 ficou reservada ao imediato
sucessor dos bens transcritos no registo, que seria a Condessa da Ribeira Grande.
Assim, os bens que eram ainda vinculados quando foi publicada a lei de 13 de Maio de
1863, somavam a quantia de 834 contos, 700 mil e 149 reis, em moeda forte. Os bens
que ficaram pertencendo à Duquesa de Palmela em plena propriedade somavam a
quantia de 417 contos, 279 mil e 27 reis e os que constituíam a reserva para a sua
imediata sucessora somavam a importância de 417 contos, 421 mil, 122 reis. Embora
havendo diferença entre ambas as somas, D. Luísa Maria considerou-se com esta

167
escritura completamente satisfeita 590.

Após a morte de D. Domingos de Sousa Holstein, em 2 de Abril de 1864, os


Duques de Palmela, sua filha e genro, pediram ao Ministério Público, em 14 de Abril do
mesmo ano, que declarasse livres e alodiais os diversos vínculos administrados por seu
pai e sogro, o segundo Duque de Palmela, que haviam sido registados pela lei de 30 de
Julho de 1860 e 19 de Janeiro de 1861. Tendo alguns desses vínculos sido onerados
com encargos pios, aquando da sua vinculação, ficavam sem esse encargo, pela lei de
19 de Maio de 1863591. De acordo com a escritura de 19 de Setembro de 1861, os bens
que permaneceram na posse de D. Domingos tinham sido exclusivamente os bens
vinculares da Casa Palmela, passando agora, já livres e alodiais, para a sua filha
primogénita, D. Maria Luísa.

O testamento com que faleceu D. Maria Luísa de Sousa Holstein, terceira


Duquesa de Palmela, foi efectuado em 26 de Abril de 1887. Nela estabelecia a sua única
filha, a única herdeira legítima de todos os bens de que não podia dispor, ao passo que
dos que podia dispor, legava-os ao marido, o Duque e Palmela, o qual nomeava também
seu testamenteiro 592. Estas disposições testamentárias estavam de acordo com o código
civil português, promulgado em 1867, que estabeleceu que o testador apenas poderia
dispor livremente de um terço dos seus bens, recebendo os seus descendentes dois
terços, ou seja, a legítima, partilhada equitativamente. Consideravam-se descendentes os
filhos legítimos e os seus descendentes, sem distinção de sexo nem de idade, mesmo

590
Cf. Escritura de partilha, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 385. D. Luísa Maria
viria a morrer em 9 de Fevereiro de 1864, após o parto de uma filha, que lhe sobreviveu alguns dias.
Nesse sentido, o viúvo de D. Luísa Maria, D. José Zarco da Câmara colocou em tribunal os Duques de
Palmela, seus cunhados, exigindo da Duquesa de Palmela o pagamento das mesadas que a mesma lhe
devia, em consequência da escritura de 2 de Setembro de 1862, uma vez que era herdeiro na sucessão dos
bens, direitos e obrigações de sua mulher. A 20 de Fevereiro de 1865 lavrou-se a escritura de conciliação
entre as partes, tendo o Conde da Ribeira Grande recebido em acções do Banco de Portugal, inscrições,
dinheiro e letras, e as propriedades e foros, a quantia de quatrocentos e quarenta contos, novecentos onze
mil seiscentos sessenta e seis reis. Cf. Auto de declaração e verificação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5677,
Caixa 121, fol. 381; Processo judicial, IAN/TT ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 401. Escritura de
transacção, IAN/TT, ACP, Microfilme 5667, Caixa 109, fol. 952.
591
Autos cíveis de Petição, IAN/TT, ACP, Microfilme 5574, Caixa 31, fol. 104.
592
Cf. Testamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5710, Caixa 147 fol. 1447.

168
que fossem fruto de diferentes casamentos. Caso não houvesse descendentes, os
herdeiros seriam os pais ou avós do defunto; os irmãos e sobrinhos. Só no caso de não
os haver, seria considerado herdeiro em quarto lugar, o cônjuge sobrevivo. Seguiam-se
os parentes transversais e, em último caso, a Fazenda Nacional 593.

Por seu lado, em 19 de Julho desse mesmo ano a sua filha, D. Helena de Sousa
Holstein, procedeu à realização do contrato dotal, na véspera do seu casamento594. O
contrato foi efectuado sob o regime dotal, segundo os artigos 1134 a 1165 do código
civil de 1867. Segundo este, a mulher dotava-se ou seria dotada por seus pais ou
procuradores. Os bens dotais tanto podiam ser móveis ou imóveis. Como temos vindo a
constatar, também se verificava uma completa incomunicabilidade de bens,
independentemente da existência, ou não, de filhos, abrangendo os bens que tivessem
sido adquiridos por título gratuito. Apenas seriam comunicáveis os bens adquiridos por
título oneroso. O dote da noiva era constituído pelo “enxoval no valor de dez contos de
reis, rendas no valor de dois contos de reis, pratas no valor de sete contos de reis, jóias
no valor de trinta contos de reis e mobílias, roupas, carruagens e arreios no valor de
12 contos de reis, e com todos os bens quanto lhe advierem por título gratuito na
constância do matrimónio; e os não registáveis ou não registados e que por isso não
possam ter o carácter dotal, serão havidos como próprios e sempre incomunicáveis”.
Relativamente às questões testamentárias, ficavam as disposições consoante o que a lei
previa. Os pais da noiva obrigaram-se a dar a sua filha a quantia de um conto de reis
mensais, metade para os seus alfinetes e a outra metade para alimentos, ao passo que os
pais do noivo ficaram na obrigação de dar a seu filho quinhentos mil reis mensais para a
sustentação dos encargos do matrimónio, para além da legítima, que consistia na
quantia de vinte contos de reis “para o estabelecimento de futura residência dos noivos
em Lisboa e em Coimbra, entrando nesta quantia o valor de roupas, pratas, jóias, e
mobília”.

Posto isto, várias conclusões se podem retirar da análise dos contratos dotais e
da sua evolução ao longo das gerações. Desde logo, que há, na maior parte dos casos,
contratos dotais, pelo menos relativamente às mulheres da Casa Palmela, à excepção da

593
Cf. Código Civil Português, Porto, Typographia do Jornal do Porto, 1867, artº1969.
594
Cf. Contrato Dotal, IAN/TT, ACP, Microfilme 5690, Caixa 129, fol. 2335.

169
terceira Duquesa de Palmela, D. Maria Luísa de Sousa Holstein, que casa sem proceder
a contrato antenupcial.
Se a questão dos contratos dotais se punha, ainda que não obrigatoriamente, na
forma da lei relativa às pessoas de família que possuíam foro de Moço Fidalgo da Casa
Real e possuidores de bens vinculados, da Coroa e Ordens, após a publicação do Código
Civil em 1867 a questão do regime de bens adoptado pelos noivos estava unicamente
dependente da sua escolha, estando implícita a igualdade jurídica entre cidadãos.
Todavia, o único caso de contrato antenupcial que analisámos referente ao período após
1867 acaba por seguir o habitual regime dotal. De facto, a única excepção é o
imediatamente anterior, em que se segue o regime geral do reino, da comunhão total de
bens, o que nos leva a crer que não terá sido a publicação do Código Civil, que trouxe
alterações aos contratos antenupciais.
Geralmente, os contratantes são os pais da noiva e o noivo, eventualmente
também os pais do noivo. A excepção encontra-se quando a noiva já não tem pais vivos,
e nesse caso é o seu irmão primogénito, que herdou a casa, juntamente com a mulher,
sua cunhada, quem assume o papel parental. A outra excepção é quando se verifica um
segundo matrimónio, decorrente de uma viuvez, onde é a própria noiva que celebra o
contrato antenupcial. Simultaneamente, apesar de estar à partida arredada das
negociações, a noiva é o centro destas.
Os contratos dividem-se geralmente em três pontos fundamentais, embora nem
todos focando a totalidade desses pontos. O primeiro conjunto de cláusulas tem
directamente a ver com a instituição do dote. Define não só os bens que passam a
constitui-lo, como o montante a que equivalem e a sua forma de pagamento, mas
também o carácter jurídico que tais bens adquirem e as prerrogativas de que gozam. O
segundo conjunto de cláusulas refere-se ao montante que se dará à noiva para seus
alfinetes. Finalmente, todas as outras questões prendem-se com problemas sucessórios,
nomeadamente, o que sucede ao dote em caso de viuvez. Além destas disposições
sucessórias nem sempre surgirem nas escrituras antenupciais, assentam na base da
hipótese e da eventualidade.
O dote encontra-se sempre referido, à excepção do contrato dos segundos
Duques de Palmela, uma vez que, e em consonância com o que já foi referido, possuíam
bens e rendimentos que permitiam sustentar-se decentemente.

Os alfinetes, ou seja, a quantia que é dada à noiva para seu usufruto, são sempre

170
de 50 mil reis mensais, à excepção do caso de D. Luísa Maria, que receberá 225 mil reis
numa primeira fase e, posteriormente, 400 mil reis. O mesmo acontece com sua
sobrinha, D. Helena, que receberá 1000$000 reis mensais, metade para alfinetes, metade
para alimentos. Curioso é serem os seus pais, e não o seu futuro marido a fazê-lo, como
acontece em todos os outros contratos antenupciais. Talvez porque na altura este ainda
estava a estudar, tanto que também irá receber dos seus pais 1500$000 reis mensais para
a sustentação do seu casamento.

Todos e quaisquer bens que a noiva viesse a possuir tornavam-se, na maior parte
dos casos, bens dotais. Caso estes, em forma de fundos, fossem convertidos em bens de
raiz, direitos ou acções, continuavam ser considerados bens dotais, gozando das
prerrogativas jurídicas que auferiam perante a lei, tornando-se, por isso, inalienáveis e
incomunicáveis entre os membros do casal. Incomunicável seria também qualquer tipo
de dívidas que viessem a contrair-se. Previa-se ainda que todos os bens que fossem
adquiridos a título oneroso (excluindo, obviamente, os doados ou herdados) já
passariam a ser comunicáveis a ambos os cônjuges e alcançariam a qualidade jurídica
de bens adquiridos e não de bens dotais. Sendo estes incomunicáveis, caso a noiva
morresse, os seus herdeiros seriam os seus filhos. Caso não os houvesse, seriam os seus
colaterais quem herdaria os seus bens e não o seu marido, reservando-se, todavia, o
direito à mulher de poder testar a terça parte dos bens em favor do cônjuge. No caso do
marido morrer, os bens dotais continuariam na posse da mulher, prevendo-se
igualmente uma quantia, variável consoante as escrituras, que possibilitasse a
sustentação da viúva, sob a forma de arras. Começou por ser a melhor comenda da
Casa, fixando-se uma quantia na geração das filhas dos primeiros Duques de Palmela:
dois contos de reis anuais, um décimo do rendimento da Casa do marido ou uma quantia
igual aos alfinetes que recebia em vida do marido. Este rendimento seria recebido
mesmo no caso de se terem perdido os bens dotais. Caso ela também morresse, o seu
dote reverteria para os seus herdeiros.

Pelo que ficou atrás dito, percebe-se que a principal preocupação que presidia à
escritura de um contrato dotal era a de assegurar um conjunto de bens à noiva, cujos
rendimentos revertessem em seu favor durante a observância do matrimónio, mas
também depois dele, em caso de separação ou viuvez. O dote tornava-se uma das
formas visíveis do dever que a Casa tinha para com os não sucessores, em particular as

171
mulheres, permitindo-lhes reproduzir o modelo social de vida nobre 595.
Os bens que constituíam o dote eram sempre bens móveis e nunca bens de raiz,
tendência que se verificava desde os finais do século XVII596. Sendo pago totalmente
em dinheiro, menos lesionaria o património familiar, o que também demonstra uma
situação económica razoável e a existência de uma renda excedentária que permitia este
desembolso597. Efectivamente, o dote é geralmente constituído por dinheiro metálico ou
fundos, havendo uma diferenciação entre dote e o enxoval, este sim constituído por
trastes, roupas, prata, ouro e brilhantes, não respeitando, por isso, a lei de 1761. Ainda
que prata, ouro e brilhantes pudessem pertencer ao património familiar, parece-nos que
o restante terá sido adquirido.
Em comparação com o que se passa na vizinha Espanha, percebe-se que a
preocupação é semelhante: a de que os dotes, mais de que um pagamento ao futuro
marido, sejam uma garantia de independência para a noiva, em circunstância de
separação, ou viuvez, como chamou a atenção Ignacio Atienza Hernández no seu estudo
acerca da Casa de Osuna598. Se, efectivamente, a quantia do dote está directamente
relacionada com a posição social dos indivíduos599, poder-se-á concluir que os dotes que
a Casa Palmela dava às suas filhas estaria certamente adequados ao status quo desta
Casa.

No entanto, o que nos parece mais importante sublinhar, é o impacto que a


legislação liberal, nomeadamente no que diz respeito à propriedade, sobretudo
propriedade vincular, provocou não só no sistema sucessório, como seria de esperar,
mas também no regime dotal, acarretando um aumento do valor dos dotes.
Como pudemos compreender ao longo desta exposição, se durante o Antigo
Regime a instituição vincular, como realçou Nuno Gonçalo Monteiro, era a base de

595
Cf. BRELOT, Claude-Isabelle, La noblesse réinventée. Nobles de Franche-conté de 1814 a 1870,
p. 501.
596
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “Casamento, celibato e reprodução social: a aristocracia
portuguesa nos séculos XVII e XVIII” in Análise Social, vol. XXVIII (123-124), Lisboa, Instituto de
Ciências Sociais, 1993, 4º, 5º, pp. 938-939.
597
Cf. ARAGÓN MATEOS, Santiago, La nobleza estremeña en el siglo XVIII, Mérida, Consejo
ciudadano de la Biblioteca Pública Municipal Juan Pablo Forner, 1990, p. 175.
598
Cf. ATIENZA HERNÁNDEZ, Ignacio, Aristocracia, poder y riqueza en la España moderna. La
Casa de Osuna, siglos XV-XIX, p. 283.
599
Cf. ARAGÓN MATEOS, Santiago, La nobleza estremeña en el siglo XVIII, p. 172.

172
todas as práticas sucessórias, que dela estavam dependentes600, a legislação relativa à
sua abolição veio também provocar alterações. Efectivamente, se a legislação
pombalina não autorizava a criação de vínculos inferiores a determinado valor,
tornando-os por isso um privilégio da nobreza, sobretudo dos seus estratos superiores, a
legislação liberal veio abolir, num primeiro momento, os vínculos inferiores a certa
quantia, nomeadamente o decreto de Mouzinho da Silveira de 4 de Abril de 1832, que
extinguia os vínculos cujos rendimentos líquidos e livres de encargos e contribuições
directas não atingiam os 200$000 reis. Este decreto favorecia somente a desvinculação,
prejudicando, em contrapartida, a nobreza de baixos rendimentos, sobretudo se tivermos
em consideração que a aristocracia portuguesa era bastante rentista, comparativamente
às suas congéneres europeias601. Os decretos que se seguiram foram infligindo golpes
mais duros, como já tivemos ocasião de explanar, culminando no decreto de 19 de Maio
de 1863, que aboliu todos os vínculos do reino, tornando os seus bens alodiais e no
domínio e posse dos administradores actuais, à excepção dos bens da Casa de Bragança,
que continuaram vinculados, pois eram considerados apanágio do herdeiro do trono
português602.
Até à publicação destas leis, era permitido que os filhos secundogénitos
renunciassem às legítimas paternas, através de uma indemnização. Por esta via
procurava-se manter a indivisibilidade do património e, com ele, a manutenção do
status quo da Casa aristocrática. Foi o que sucedeu com os filhos secundogénitos dos
primeiros Duques de Palmela, que renunciaram às legítimas paternas e maternas em
favor do seu irmão mais velho, numa estratégia clara de manutenção da casa, favorecida
pela liquidez financeira que o casamento do segundo Duque proporcionara.
Efectivamente, o montante das renúncias às legítimas corresponderia a quarenta contos
de reis para cada um deles, estimando-se os bens livres da Casa Palmela em 540 contos
de reis, no total603. Os contratos de renúncia foram efectuados, na sua maioria, nas

600
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (...), p. 352.
601
IDEM, Ibidem, p. 316.
602
Cf. PIMENTA, Alfredo, Vínculos portugueses, Catálogo dos Registros vinculares feitos em
obediência às prescrições da Lei de 30 de Julho de 1860 e existentes no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, pp. XXXIV-XXXVIII.
603
Oito são os filhos que renunciam às legítimas paternas (incluindo D. Maria Ana de Sousa Holstein,
representada por seu marido, viúvo) e nove os filhos que teriam direito a dois terços dos bens livres da
Casa Palmela. Sendo que o montante das legítimas corresponderia a 40 contos de reis, isso perfaria um

173
vésperas de casamento das filhas dos primeiros Duques de Palmela, ou então,
posteriormente à morte de D. Eugénia Teles da Gama, relativamente aos seus filhos
menores. No caso das filhas, à excepção de D. Maria Ana, a primeira a casar e que foi
dotada de acordo com a legislação setecentista, as restantes foram dotadas com os
capitais que resultaram da renúncia às legítimas que lhes caberiam por morte de seus
pais, com uma quantia vinte e cinco vezes superior àquela. Nas restantes sociedades
aristocráticas europeias verificavam-se situações semelhantes. Em Castela, as legítimas
eram geralmente antecipadas e dadas em parte como dotes nupciais às filhas 604.

Na geração seguinte, no caso da irmã da terceira duquesa, cujo dote ascendeu a


400.000$000, pensamos que tal quantia, tão díspar relativamente às restantes, se prende
com o facto de, em 1859, os seus pais terem querido partilhar igualmente a fortuna pelas
duas filhas, antes mesmo da lei de 1860 proceder à extinção dos morgados e à
consequente partilhas dos bens que caberiam por herança às duas irmãs.
De facto, a vontade dos segundos Duques de Palmela em partilhar
equitativamente a sua fortuna pelas duas filhas era coincidente com a tendência que
vinha a estabelecer-se, através das reformas legislativas tendentes à abolição dos
vínculos, desde 1832, o que se poderá considerar como uma característica nova na
mentalidade aristocrática, visto antecipar o que a lei de 1863 viria concretizar.
Para além desta característica, é necessário ter em conta que, relativamente ao
aumento do dote de D. Luísa Maria, os segundos Duques de Palmela eram
administradores de duas Casas, Palmela e Póvoa, esta com rendimentos muito
superiores e não apenas de uma, podendo por isso proporcionar um dote mais elevado.
Também se deverá ter em atenção o facto destes terem apenas uma filha secundogénita
para casar, ao passo que os primeiros Duques casaram cinco filhas. Também é relevante
o facto de esta quantia estar de acordo com que fora estabelecido no contrato
antenupcial dos segundos Duques de Palmela, que previa a constituição de um vínculo
exactamente na quantia de 400.000$000.
Relativamente à legislação desvinculadora, embora esta pudesse reflectir-se num
aumento significativo das renúncias de legítimas e consequentemente, do próprio dote,

total de 360 contos de reis, que equivaleriam a dois terços. A totalidade corresponderia a 540 contos de
reis.
604
ARAGÓN MATEOS, Santiago, La nobleza extremeña en el siglo XVIII, p. 203.

174
uma vez que implicava alterações no direito sucessório, tal não aconteceu. Como já
referimos, os segundos Duque de Palmela anteciparam-se, dividindo a sua fortuna pelas
duas filhas. A derradeira lei de 1863 apenas veio provocar algumas alterações na forma
de pagamento do dote de D. Luísa Maria pela irmã. A partilha equitativa dos bens da
Casa paterna já fora decidida por seus pais.

7. Receber e manter. Rendimentos e propriedades da Casa.

O panorama económico da aristocracia portuguesa durante o século XIX não era


o mais famoso, atravessando uma crise, cujas origens vinham de longa data, não sendo
consequência imediata do liberalismo. Nuno Gonçalo Monteiro destacou, no que diz
respeito aos séculos XVII e XVIII, o endividamento das casas nobiliárquicas e a prová-
lo a frequência das hipotecas de rendimentos de bens vinculados de modo a pedir novos
empréstimos, dos pedidos de prorrogação do prazo de pagamento, e frequência da
administração judicial de casas605.
Para além desta questão, Nuno Gonçalo Monteiro sublinhou também a
dependência que as Casas aristocráticas tinham dos rendimentos provenientes dos bens
da Coroa e comendas, atingindo por vezes mais de metade dos seus rendimentos totais,
uma vez que não possuíam bens patrimoniais significativos606.
Ora, o liberalismo e, em concreto, a legislação de Mouzinho da Silveira aboliram
os bens da Coroa e as comendas, cuja indemnização só aconteceu a quem não tivesse

605
Cf. MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas, O Crepúsculo dos Grandes (...), Lisboa, Imprensa
Nacional Casa da Moeda, 1998, p. 368.
606
Cf. IDEM, ibidem, pp. 263-264.

175
apoiado o partido de D. Miguel na guerra civil. A aristocracia perdia assim perto de
metade das suas fontes de receita, na maior parte dos casos sem direito a
indemnizações607.
O liberalismo trouxe também consigo a extinção dos morgados, cuja legislação
analisámos no capítulo antecedente. No entanto, a aristocracia terá mantido a
propriedade e o domínio do seu património, embora não saibamos avaliar ao certo em
que medida o seu poder económico foi afectado. Efectivamente, a ruptura foi relativa à
abolição de um privilégio, uma vez que a legislação consagrava agora a igualdade do
indivíduo, que se manifestava numa alteração do regime jurídico da propriedade.
Contudo, esta alteração era única e exclusivamente no plano jurídico e não da
propriedade em si, uma vez que esta acabou por se manter como domínio dos seus
antigos administradores, ou seja, a nobreza. Nesse sentido, a existir ruptura decorrente
da desvinculação, será a nível social e simbólico, uma vez que se traduzia pela perda de
um privilégio que caracterizava a elite nobiliária. Aliás, se anteriormente o possuidor de
um vínculo apenas tinha um direito de propriedade muito limitado, visto não poder
dispor dos bens, vendê-los ou aliená-los, sendo somente o seu administrador, agora
tornava-se o seu proprietário, de facto. A existirem consequências funestas para a
situação económica da aristocracia decorrentes da desvinculação, apenas se pode
apontar o facto de os bens vinculados, tornando-se livres, virem à herança comum e,
consequentemente, serem divisíveis entre todos os herdeiros, o que diminuiria o
quinhão do primogénito. No entanto, iria favorecer os filhos secundogénitos, que
estariam em pé de igualdade com o primogénito, sendo esta uma das principais
justificações para a abolição dos vínculos, logo com o decreto de 1832.
No contexto descrito, será importante perceber a situação da Casa Palmela.
Estava, ou não, na mesma posição de carência económica e endividamento que as suas
congéneres?
Não conhecemos os rendimentos da Casa Palmela no Antigo Regime. Apesar de
Nuno Gonçalo Monteiro analisar os rendimentos de diversas Casas aristocráticas
durante o Antigo Regime, não aborda a questão relativamente à Casa Palmela. Deste
modo, desconhecemos qual a consequência da abolição dos bens da coroa e ordens
nesta Casa.

607
Cf. IDEM, Elites e poder entre o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa, Imprensa de Ciências
Sociais, 2003, pp. 152-153.

176
Por outro lado, as repercussões da legislação desvinculadora para a Casa
Palmela foram, como vimos no capítulo anterior, praticamente nulas, visto que os
segundos Duques de Palmela anteciparam estas leis, tendo dividido os bens de suas
Casas equitativamente por suas duas únicas filhas. Posteriormente à lei de 1863
seguiram-se apenas algumas alterações à forma de pagamento da legítima de D. Luísa
Maria, procurando favorecê-la.

7.1. Dificuldades quotidianas

Para além destes aspectos, há que ter em consideração duas circunstâncias que
influenciaram, particularmente, a Casa Palmela durante a administração de D. Pedro de
Sousa Holstein, decorrentes da situação política que então se vivia. Referimo-nos ao
sequestro dos bens da sua Casa por D. Miguel, como retaliação de esta ter seguido o
lado liberal, e à emigração do Duque para Inglaterra. Isto significava, claro está, que os
rendimentos proporcionados pelos bens que possuía em Portugal não eram por ele
recebidos, causando obviamente um desequilíbrio importante na contabilidade da sua
Casa. Restavam-lhe os que possuía em Sanfré, Itália.
Quanto à emigração, esta traria despesas extras, como o arrendamento de uma
morada, por exemplo. Se, quando se encontrava em Cádis, como representante da Coroa
Portuguesa, estava isento do pagamento da habitação onde residia 608, o mesmo não se
passava numa situação de emigração forçada.
De facto, são inúmeras as cartas trocadas entre D. Pedro de Sousa Holstein, e sua
mulher, D. Eugénia, em que a economia doméstica é discutida, pedindo-se a mais
“severa economia”. A 4 de Agosto de 1829, D. Eugénia escreveu ao marido.
Encontrava-se com os filhos em Passy, França, enquanto D. Pedro estava em Inglaterra.
Dizia-lhe que “(...) A despesa da Casa este mês foi dalguma coisa menos, e é impossível
meu rico, viver mais economicamente do que eu tenho feito, ainda não mal gastei um
soldo, e estimo até poder-te provar que quando prometo uma coisa sou capaz de
cumprir com a minha palavra (…)”609. A poupança a que se viu obrigada, veio manter-

608
Cf. Carta, Arquivo Histórico-militar, Caixa 196 A
609
Correspondência particular, Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa
Palmela, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 623.

177
se nos anos seguintes. Em 23 de Fevereiro de 1830, D. Pedro escrevia à mulher, após ter
conseguido um crédito de 24 mil francos: “Deste crédito irás tirando todos os meses o
que te for absolutamente preciso com severa economia e deixarás de ora em diante de
receber mesada do Daupias, a quem contudo escusas dizer nada a este respeito, pois
conto escrever-lhe sexta-feira e remeter-lhe o dinheiro que lhe devo, mas se ele te não
tiver ainda pagado a mesada de Março não lha aceites. Estimo dizer-te que fiz os
arranjos necessário para desembaraçar as rendas de Sanfré e vou escrever ao primo
Manuel dizendo-lhe que te remeta regularmente a ti, tudo quanto poder liquidar das
ditas rendas. (...) PS. Torno-te a recomendar a mais severa economia e que ninguém
sonhe senão o Conde de Vila Real que tens algum vintenas, pois no meio da miséria
geral dos nossos compatriotas todos te saltariam em cima e não podendo sustentar a
todos é preciso ao menos fazer viver os nossos filhos, Portanto peço, e exijo, que não
emprestes nada a ninguém e só que sustentes o mano Filipe em a tua casa se ele quiser.
Tendo sempre na tua mesa um lugar para os Alvas se a desgraça for tanta que o
necessitarem e para mais ninguém, porque felizmente os nossos outros irmãos se acham
ao abrigo da necessidade”610.
Assim se percebe que os tempos que se viviam no exílio eram de carência
económica, ainda que se conseguisse suportar as despesas domésticas correntes com o
recurso ao crédito, o que implicava a existência de contrapartidas que permitissem o seu
futuro pagamento. Poucos dias depois, em carta de 26 de Fevereiro de 1830, D. Pedro
explica à mulher como resolveu a questão dos credores: “Felizmente os arranjos que fiz
deixam-me sem cuidado para a tua subsistência. (…) Vendi aqui tudo inclusive
diamantes e prata, (…) e creio que o produto pagará todas as nossas dívidas. Deixo ao
nosso Alexandre, que se comporte nesta ocasião como um homem, o encargo de tratar
com os credores, (…) ”611
Enquanto D. Pedro esteve à frente da Regência na ilha Terceira, os problemas
económicos mantiveram-se. A preocupação com a economia doméstica era constante,
como podemos perceber pela carta dirigida por si a sua mulher, em 2 de Setembro de
1830, visto os 24 mil francos terem já sido gastos: “ (…) Não sei bem como será
possível continuares a estar em França gastando o dinheiro que gastas. Eu sei que toda
a tua despesa é necessária, que fazes a maior economia que podes, que tens de dar de

610
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 48.
611
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5808, Caixa 235, fol. 403.

178
comer a vinte e tantas pessoas, tudo isto eu vejo, mas nem por isso se remove a
impossibilidade absoluta em que estou de fornecer para uma tal despesa. Confesso-te
que desde que recebi a carta em que me dizes, em data de 22 de Junho, que já estavam
gastos os 24 mil francos que te mandei no fim de Fevereiro, tenho estado no maior
desassossego, porque vejo que apenas te restam 14 mil francos de Sanfré, os quais pelo
mesmo andar isto é a razão pelo menos de cinco mil francos por mês apenas te chegam
até ao fim de Setembro, e não sei quando o primo Manuel poderá mandar mais algum
dinheiro. Por outra parte o Alexandre escreve-me que só para o fim de Outubro se
acabarão de pagar as dívidas e eu fui obrigado daqui a fazer sobre ele saques pouco
mais ou menos por 150 £, de modo que só para Dezembro é que ficará desembaraçada
a mesada que o Tomás lá lhe entrega. Ora esta mesada tem sido até agora de 150 £ e
poderá continuar assim até ao fim do ano, mas não por mais tempo, porque o meu
ordenado está agora reduzido a 140 £ em tudo e por tudo e estar com a metade em
papel e perdas de cambio de modo que não é possível por mais que eu reduza aqui a
minha despesa a dar-te mais de dois mil francos por mes, os quais com vinte mil
francos anuais que o primo Manuel te pode mandar fazem em tudo 44 mil francos por
ano e é indispensável que seja como for reduzas a tua despesa a isso. Eu lisonjeava-me
que com 45 mil francos poderia ceder a tua despesa até ao mês de Fevereiro próximo, e
agora vejo que gastarás quinze mil francos mais e não sei de todo ainda se tira, pois
bem sabes que nem nos resta mais um trapo para vender. Eu gasto aqui o menos
possível mas sendo preciso pagar a metade da despesa da mesa do Conde de Vila Flor
importa-me ao menos um mês por outro a mesma despesa com 300 mil reis, porque
dela comem o Conde e mais umas poucas de pessoas (...)”612 De facto, como
rendimentos certos, os Duques de Palmela apenas podiam dispor do ordenado de D.
Pedro e das rendas das propriedades de Sanfré, no Piemonte. Podia ainda recorrer a um
ou outro crédito. Sobre as suas contas pesava também a comensalidade, tão típica
durante o Antigo Regime e que ainda se mantinha no século XIX. Ainda que D.
Eugénia tivesse à data 10 filhos sobreviventes, tinha mais do dobro de pessoas à sua
mesa para sustentar, o que também acontecia com o Duque de Palmela, que sustentava
também o Duque da Terceira, António José de Sousa Manuel de Menezes Severim de
Noronha (1792-1860), então Conde de Vila Flor, para além de outras pessoas não
mencionadas.

612
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5808, Caixa 235, fol. 473.

179
Em resposta a esta carta, D. Eugénia tranquilizava o marido, em missiva de 21
de Novembro de 1830: “É verdade que tenho gasto muito mas tenho ainda dinheiro. O
Primo Manuel vai-me mandar 5000 francos e tenho ainda 3500 na mão do Banqueiro.
Já mandei dizer ao Alexandre que da mesada de Outubro me mandasse 200 £ assim
bem vês que ainda tenho bastante, e vou fazer a diligência para gastar muito menos na
casa, e só quase e comer e vestir e isto é pouco porque tanto eu como os pequenos
viemos muito bem vestidos de Londres, o calçado é remendado, enfim fazemos e
faremos a diligência para que não seja preciso que tu te empenhes mais, mas lembra-te
que tu ainda por cá tens muitos amigos, e que se eu pedisse alguma quantia que fosse
acharia com toda a certeza quem mo emprestasse mas espero em Deus não precisar
(…) não te faças mais aflições a nosso respeito bem te basta já as que tens. (...)”613.
Contudo, em carta do dia seguinte, datada de 22 de Novembro de 1830, o
discurso mudava de tom: “A respeito das minhas finanças não sei o que te diga, pois
tenho gasto muito e não sei quase em quê, pois que faço a vida o mais regular e a
economia que é possível, mas eu deveras por melhor vontade que tenha não sei fazer
economias mas não há coisa pior do que não ter absolutamente jeito para uma coisa
porque por mais diligência que se faça nunca se faz bem, e depois ando às vezes tão
aflita que nem cabeça tenho para fazer contas. Hoje tive de usar do banqueiro o meu
último dinheiro, mas espero que o primo Manuel me mande algum e o Alexandre
também me há-de mandar de Londres, e com isso não fiques lá aflito, a nosso respeito.
Os ordenados levam-me muito, mas não tenho tido ânimo de os diminuir, porque no
fim, não é tamanha para menos a diferença, e os criados 40 francos a mais ou menos
faz-lhes muita diferença e coitados fazem-me dó. É verdade que tenho muita gente em
casa, mas no comer é talvez coisa em que talvez gaste menos a proporção, e mesmo já
me tenho reduzido na mesa, e em tudo mais tenho feito a diligência, mas torno a dizer
não me sei governar e o que tenho tido se tivesse sido bem governado teria chegado
para muito mais tempo e não fazes ideia como isto me aflige, e entristece, e junto com
as outras coisas que já tenho, e as saudades e o cuidado em que sempre estou a teu
respeito parece, e num estado terrível e tenho até envelhecido (…).”614 Assim, para
além da comensalidade, que apesar de elevada, não seria o principal motivo para a falta
de liquidez, eram sobretudo os ordenados gastos com o pessoal que, segundo a

613
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 925.
614
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 949.

180
Duquesa, lhe causava maior o rombo no orçamento.
Uma das hipóteses levantadas por D. Pedro, em Abril de 1831, para fazer face às
despesas, é a de a família ir viver para Sanfré, ou para uma província de França 615, o que
parece indiciar que os gastos com a habitação, ou com o estilo de vida de uma capital
seriam demasiado elevados. Ainda assim, seria em Paris onde D. Eugénia se instalaria,
conforme esta carta de 9 de Setembro de 1832: “Tomei uma casa na rua de La Femme
des Matharins, nº 3, não é má, custa 300 francos por mês e posso ter aos meses, o que é
uma grande coisa, porque se as coisas mudam dum instante para o outro posso largar
logo a casa. Não ficamos muito à larga, por exemplo eu devo dormir com a Eugénia e a
Teresa para se poder fazer school room do quarto da Maria Ana, que fica ao pé da Mrs
Wallace. Isto são pequenos inconvenientes, mas vale a pena pelo preço da casa. Faço
tenção de mudar no princípio da semana e as pequenas um ou dois dias depois. Tenho
que pagar 15 dias da pensão, mas não podia deixar de ser. Tornei ontem a fazer a
conta ao dinheiro que tenho que gastar por mês e parece-me que não me bastam só os
2000 francos, como eu queria, mas talvez que não seja preciso gastar os 2500. Agora
vou tomar uma cozinheira e com o Charles não preciso de mais ninguém. Este coitado
tem servido optimamente e faz muito bem de comer, mas não me faz conta que ele fique
cozinheiro porque ele há-de querer quem o ajude para lavar a louça e outro homem
para fazer os quartos, em vez que uma mulher na cozinha faz tudo quanto há a fazer e
mesmo ajuda para mais alguma coisa se poder.”616 A estratégia de economizar passava,
pois, por uma mudança para uma casa mais pequena e com uma renda menor, para além
de ter o mínimo de criados domésticos, de modo a ter de pagar o menor número de
ordenados possível.
No entanto, havia sempre gastos extraordinários, como a educação das crianças,
como podemos observar nesta carta de 16 de Novembro de 1832: “Se te não tenho
falado mais vezes nos meus arranjos pecuniários é porque não tenho nada de novo a
dizer-te. Vou andando muito bem com os 2500 francos, já por duas vezes tenho tido
dois extraordinários: um para pagar as pensões dos pequenos, e a outra para ir para St
Germain; (…) Podes estar descansado que não hei-de mexer nos dez mil francos que
guardo em caso extraordinário. Já te mandei dizer que o Charles tinha ficado
cozinheiro e depois de custear duas cozinheiras vejo que é o que me faz mais economia

615
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5808, Caixa 235, fol. 589.
616
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 204.

181
porque à melhor sempre lhe ficava alguma coisa pegada aos dedos. Tenho então outro
homem a quem dou 30 francos por mês e que me faz tudo o mais. Eu tenho muito boa
vontade de fazer economias mas bem sabes que ninguém tem menos jeito. (...)”617.
Entretanto, os créditos continuavam a ser pedidos, conforme esta carta de 27 de
Janeiro de 1837. “Já me foi apresentada a tua letra de £500 a 90 dias e foi por mim
aceite assim como o será a outra. Mas não te dês para o futuro a nenhum cuidado nem
trabalho para prolongar assim de um mês o prazo do vencimento das letras. Isso não
me importa, tanto assim que vou pagar esta letra antes do vencimento. (…).”618
Todavia, algo tinha mudado relativamente às economias dos Duques de Palmela,
como podemos observar mais adiante, na mesma carta: “Não nos há-de faltar já agora
se Deus quiser, e se o Domingos e a Maria Luísa tiverem vida, coisa nenhuma nem
havemos de sofrer mais os apertos e vexames pelos quais tantas vezes tenho passado
nem a dependência de empregos públicos, o que é ainda mais de estimar. Antes pelo
contrário, teremos dentro de dois anos a nossa casa perfeitamente desembaraçada e a
renda do Domingos inteiramente livre.”619. Por outras palavras, o casamento de D.
Domingos com D. Maria Luísa, filha do Conde da Póvoa – nesta altura ainda não era
herdeira da Casa de seu pai, pois seu irmão primogénito ainda vivia – mostrava-se já
proveitoso a nível económico para os Duques de Palmela, pelo menos num futuro
próximo, o que permitiria a D. Pedro retirar-se da vida pública.
Efectivamente seria daí a dois anos que as coisas estariam resolvidas e a situação
económica da casa Palmela sanada, ou melhor dizendo, o casamento de D. Domingos e
D. Maria Luísa estaria efectivado, como se pode constatar pela carta que D. Pedro de
Sousa Holstein enviou à mulher, em 17 de Janeiro de 1839: “Não te aflijas demasiado
com as questão de dinheiro porque se a grande questão se acabar com efeito para Abril
daqui até lá sempre nos poderemos arranjar metendo agulhas por alfinetes.”620 De
facto, seria em Abril de 1839 que o casamento dos Marqueses do Faial seria ratificado,
e D. Maria Luísa emancipada pelo casamento, podendo passar a administração da sua
casa para sua mão, como observámos no capítulo 5.
Todavia, este casamento não resolveria o problema das despesas da Casa
Palmela. Na década de 1840 o Duque continuava a queixar-se dos gastos elevados. Em

617
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5803, Caixa 236, fol. 270.
618
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 120.
619
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 120.
620
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 184.

182
3 de Dezembro de 1843, D. Pedro escrevia à mulher dando conta dos gastos com as
mesadas entregues aos genros, que deveriam ser reduzidas: “(...) Enquanto ao que me
dizes das casas em paris parece-me sempre que conviria procurarmos alojamento no
Faubourg St Germain, mas se a da Rua St Honoré estiver já tomada ainda que
caríssima dar-nos-á tempo a arranjarmo-nos com mais vagar. (...) Remeto-te a nota
inclusa para lhe entregares. Nela verá claramente o Marquês das Minas que durante
29 meses só recebi de renda da sua casa 3.532$000, o que depois de deduzidos os juros
do dote, os pagamento das dívidas que eu me obriguei a pagar e o rendimento dos bens
hipotecados que me obriguei a resgatar e que já estão hoje quase na totalidade livres
para casa deixa ainda uma dispensa de perto de seis contos de reis que eles receberam
de mais. Isto por mais que eu o desejo não pode continuar assim e será indispensável
reduzir a mesada que recebem quanto muito a 500$000 mensais. Faço-lhe presentes de
todo o atraso (assim fiz já ao Conde das Alcáçovas cuja diferença era com tudo muito
menor e cuja mesada também fui obrigado a reduzir), e assim mesmo não se as rendas
da casa cobrirão o desembolso dos 500$000 de mesada. À vista falarei com ela e com o
marquês a fundo sobre estes negócios, mas convém não se fazer ilusões e não se
habituarem a imaginar que tem com efeito de renda aquilo que até agora têm recebido
e conviria que o Marquês se resolvesse mandar fazer aqui alguma economia vendendo
bestas e despedindo criados.”621
Isto, apesar de continuarem a desfrutar da fortuna de D. Maria Luísa, como
podemos observar por esta carta de 27 de Dezembro de 1846: “(…) Tira o dinheiro que
quiseres para ti e para o João Ribeiro, mas conta que este ano gastámos muito mais do
que temos. Digo-te isto com toda a verdade e confesso-te que é com o maior escrúpulo
que vejo que abusamos da fortuna da Maria Luísa, parecendo-me que em todos os
ramos e mesmo nas esmolas pede a consciência que sejamos muito mais avarentos do
que temos sido. Esta corda é tão sensível para mim e haveria tanto que dizer que não
me atrevo a toca-la hoje mais a fundo.”622
No ano seguinte, as elevadas despesas ainda eram tema de conversa. De facto,
D. Pedro escrevia à mulher em 16 de Janeiro de 1847, dando-lhe conta das dívidas e das
formas que entendia deverem-se tomar para resolvê-las: “ (...) O pior é a despesa que
estamos fazendo! Vejo pelas contas e pelas cartas do Francisco Maria que estamos

621
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 312.
622
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 336.

183
endividados em perto de 15 contos de reis, aos quais é preciso prover já, assim como à
continuação da despesa da Casa e da minha viagem. Para tudo isto é indispensável
salvar dinheiro de Londres e as rendas têm diminuído enormemente pela falta de
pagamento de apólices de juros em Portugal, das rendas das terras. Peço-te que juntes
uma espécie de conselho com o Francisco Maria, o Mayer e o Domingos e que vejam se
é possível estabelecer algum sistema de mais examinar porque na verdade receio que
vamos caminhando para muitos embaraços. Sobre tudo é preciso tomar a resolução
firme de não dar mais do que uma soma certa em cada mês, à Sr.ª Condessa da Póvoa
não deve dar-se mais e bom seria que ela soubesse que as rendas da sua filha tem
diminuído muito, enquanto as dela não tem diminuição nenhuma. (…)”623. Para além
das elevadas despesas, o problema era também o da diminuição das rendas da Casa da
Póvoa e a falta de pagamento das apólices de juros, que agravavam a situação.
Como podemos observar, a falta de liquidez, provocada pelo desequilíbrio entre
os rendimentos e os gastos, foi uma realidade para a Casa Palmela, agravada pelo
contexto resultante da instabilidade política vivida em Portugal e do exílio político daí
decorrente. O recurso constante ao crédito foi uma das formas encontradas para fazer
frente às dificuldades, a par da tentativa de redução das despesas domésticas. O
proveitoso casamento do Marquês do Faial também deu os seus frutos, trouxe os seus
proventos, ainda que os problemas não tenham desaparecido, como pudemos observar.

7.2. Rendimentos e Propriedades

Nesse sentido importa compreender os ganhos materiais resultantes deste


casamento, no qual o primeiro Duque tanto se empenhou. Iremos analisar um mapa
relativo ao ano de 1854, com o objectivo de perceber os rendimentos auferidos.
Referiremos, ainda, os bens vinculados e livres de ambas as casas. Por esta altura, as
questões pendentes relativas ao casamento em questão já estariam resolvidas e os bens
da Casa Palmela administrados por D. Domingos, uma vez que D. Pedro de Sousa
Holstein já tinha morrido, ao passo que a Casa Póvoa seria administrada por sua mulher,
D. Maria Luísa, como referimos anteriormente.
O mapa dos rendimentos das Casas Palmela e Póvoa para o ano de 1854 faz a

623
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5746, Caixa 171, fol. 352.

184
descrição das acções e também dos bens imóveis, constituídos por propriedades urbanas
e rústicas, pertencentes a cada uma das Casas, o que nos permite a respectiva
comparação. Para além dos rendimentos, são referidos também os encargos a que os
bens estavam sujeitos, encontrando-se divididos entre foros; dízimos e côngruas;
seguros, obras e outras despesas. Os somatórios apresentados na fonte contêm alguns
erros, embora pequenos, que procurámos corrigir 624.

Como podemos observar no Gráfico I, verificamos que os rendimentos brutos


auferidos pela Casa Póvoa são quase quatro vezes mais relativamente aos da Casa
Palmela. De facto, os daquela atingem os 38.124$200, enquanto a Casa Palmela fica-se
pelos 10.009$340 de rendimento anual, o que equivalia, respectivamente, a 0,35% e
0,09%, da receita ordinária do orçamento do Estado Português para o ano de 1854-
1855625.

Gráfico I – Rendimentos brutos de todos os bens e propriedades em Portugal em 1854

624
Mapa Geral dos rendimentos de todos os bens e propriedades em Portugal Casas de Palmela e
Póvoa, organizado em 31 de Agosto de 1854, IAN/TT, ACP, Microfilme 5672, Caixa 115, fol. 242
625
CLEMENTE, Barão de S., Estatísticas e biografias parlamentares portuguesas, Liv. 1., Porto,
Tipografia do Comércio do Porto, 1887, p. 503.

185
R$ 45.000,000

R$ 40.000,000

R$ 35.000,000

R$ 30.000,000

R$ 25.000,000

R$ 20.000,000

R$ 15.000,000

R$ 10.000,000

R$ 5.000,000

R$ 0,000
Casa Palmela Casa Póvoa

Total Acções Total propriedades

Aliás, só o rendimento das acções da Casa Póvoa excedia todos os rendimentos


da Casa Palmela. Além disso, esta casa apresenta um peso bastante superior dos
rendimentos gerados pelas propriedades, relativamente ao das acções. No caso da Casa
Póvoa, esse peso está em maior equilíbrio, o que nos permite afirmar que a Casa
Palmela estava muito mais dependente financeiramente da posse de propriedades
rústicas ou urbanas que a Casa Póvoa.

No conjunto das duas casas, de acordo com o Gráfico II, facilmente verificamos
que os rendimentos provêm, na maioria, de propriedades, embora os gerados por acções
não sejam, de todo, desprezíveis, o que nos leva a dizer que, apesar de ainda se mostrar
dependente da posse da terra, como acontecia com a aristocracia portuguesa de finais de
Antigo Regime, as Casas reunidas de Palmela e Póvoa eram detentora de outras formas
de capitalização de fortunas, como o investimento em acções de diversas companhias.

Gráfico II – Origem dos Rendimentos brutos das Casas Palmela e Póvoa

186
R$ 29.658,540;
62%

R$ 18.475,000;
38%
Total acções Total propriedades

Todavia, há que analisar também os rendimentos líquidos e os encargos com as


propriedades. Neste caso omitimos as acções, uma vez que tanto no caso da Casa
Palmela, como no da Casa da Póvoa, o rendimento bruto proveniente das acções é
equivalente ao líquido.

Gráfico III – Rendimentos e Encargos das Propriedades da Casa Palmela

84%
Foros

Dízimas e Congruas

Seguros, obras e outras despesas

Rendimento líquido
6% 8% 2%

Como podemos observar nos Gráfico III e Gráfico IV, em termos relativos, a
Casa Palmela apresenta um rendimento líquido (84%) superior à Casa Póvoa (74%), o
que se explica pelos encargos serem menores. Isto pode significar a existência de uma
maior liquidez por parte da Casa Póvoa, que permite a realização deste tipo de despesas.
De facto, se compararmos as restantes despesas, relativas a gastos obrigatórios – foros,
dízimas e congruas, verificamos que estão reservados em ambos dos casos, 10%
relativamente ao rendimento bruto.

Gráfico IV – Rendimentos e Encargos das Propriedades da Casa Póvoa

187
74%
Foros

Dízimas e Congruas

Seguros, obras e outras


despesas
16% 10% 0% Rendimento líquido

O Mapa de Rendimentos das Casas Palmela e Póvoa permite, ainda, outras


conclusões. De facto, a Casa Palmela é investidora numa maior variedade de empresas
do que a Casa Póvoa. Efectivamente, esta possuía 381 acções do Banco de Portugal,
uma vez que o primeiro Conde da Póvoa fora um dos seus principais fundadores, e 407
inscrições de 3%. Por seu turno, a Casa Palmela, relativamente às acções que possuíam
dividendos, tinha 75 acções da Companhia da Vala da Azambuja de que, como vimos,
D. Domingos foi o principal accionista; 26 acções da União Comercial; 6 da Companhia
Fidelidade e 1 acção da Ponte Pênsil, perfazendo um total de 108. A estas vinham-se
juntar as acções das Companhias sem dividendos: 63 da Companhia das Pescarias
Lisbonense, 40 da segunda emissão da Ponte Pênsil; 35 acções da Companhia de
Lanifícios de Patente; 5 da Companhia Fabril de Louça; uma acção da Companhia das
Minas Azougue e, finalmente, 10 acções na Nova Empresa de Navegação a Vapor,
perfazendo por isso um total de 154 de acções sem dividendos. Trata-se de um
comportamento mais seguro, investindo pouco no maior número possível de
companhias diferentes e de diversos sectores: transportes, seguros, exploração mineira e
indústria, sendo superior o investimento no sector dos transportes. Deve-se sublinhar a
novidade destes investimentos pois, como se sabe, durante o Antigo Regime, os
rendimentos da aristocracia advinham essencialmente das rendas auferidas pela posse de
bens da Coroa ou de bens vinculados. O investimento na banca, na indústria ou em
outros sectores, tal acontece neste caso concreto surge como uma novidade.
Inevitavelmente, esta alteração de comportamentos pressupõe também uma mudança de
mentalidade – o aristocrata começa a desempenhar actividades pouco comuns entre a

188
nobreza de Antigo Regime. Esta alteração era já preconizada por D. Pedro de Sousa
Holstein em 1820, como chama a atenção Valentim Alexandre. De facto, no rescaldo da
levantamento militar na ilha de Leo, para que o mesmo não ocorresse em Portugal, D.
Pedro escrevia a Saldanha da Gama como seria proveitoso estabelecer uma
contribuição, para favorecimento do exército, de um terço, ou até mesmo metade do
rendimento dos bens da Coroa e Ordem pertencentes à nobreza. Neste sentido, D. Pedro
de Sousa Holstein era de opinião que o caminho para a nobreza, no âmbito de uma
monarquia absolutista, teria de ser feito com base no sacrifício dos seus interesses
económicos, que assentavam no seu estatuto privilegiado 626.

Os bens de raiz, como ficou dito atrás, são, em ambas as Casas constituídos por
propriedades rústicas e urbanas, sendo que estas últimas estavam centradas, na grande
maioria, em Lisboa. Aliás, são os concelhos de Lisboa, Setúbal, Palmela e Azeitão
aqueles onde tanto a Casa Palmela, como a da Póvoa, possuíam maior número de
propriedades. A Casa Palmela tinha também bens nos concelhos de Alenquer,
Almeirim, Cartaxo, Santarém, Óbidos, Avis, Évora, Beja, e no distrito de Faro627. Por
seu turno, a Casa da Póvoa possuía propriedades no concelho de Sintra, Torres Vedras,
Alverca, Santarém e Castelo Branco 628. Grande parte destes bens tinha origem em
morgados ou capelas, embora houvesse também bens pertencentes à extinta Companhia
de Jesus ou à Inquisição de Évora. De facto, a descrição das propriedades refere-o
muitas vezes.
Efectivamente, vários eram os vínculos que uma e outra Casa possuíam, como
podemos observar pelos quadros seguinte:

Quadro VII – Morgados pertencentes à Casa Palmela

626
ALEXANDRE, Manuel Valentim Franco, Os sentidos do Império. Questão Nacional e questão
colonial na crise do Antigo Regime Português, Lisboa, Dissertação de doutoramento apresentada à
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1988, p. 887.
627
Alfredo Pimenta, referindo-se aos vínculos da Casa Palmela, refere que se situam em Lisboa,
Santarém, Évora, Beja e Faro. Cf. PIMENTA, Alfredo, Vínculos portugueses, Catálogo dos Registros
vinculares feitos em obediência às prescrições da Lei de 30 de Julho de 1860 e existentes no Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, p. 37.
628
Alfredo Pimenta, referindo-se aos vínculos da Casa Póvoa, refere que se situam em Lisboa,
Lumiar, Loures, Sintra, Setúbal, Sesimbra, Santarém, Tomar, Castelo Branco, Évora, Elvas, Portalegre e
Beja. Cf. PIMENTA, Alfredo, Vínculos portugueses, Catálogo dos Registros vinculares (…), p. 37

189
Morgado Instituição
Instituído por D. Filipe de Sousa e sua mulher D. Filipa da Silva na sua quinta de
Monfalim
Monfalim, então termo de Lisboa, por testamento de 25 de Julho de 1516 e aprovado
ou da Chã em 9 de Dezembro do dito ano629.
Morgado de Instituído pelo Arcebispo de Braga D. Luís de Sousa e anexo ao de Monfalim, em 22
Santarém de Junho de 1683630.
Morgado de
Instituído por D. Maria da Silva por testamento de 14 de Julho de 1544 e novamente
Calhariz de acrescentado por D. Filipe de Sousa, por testamento de 23 de Agosto de 1666631.
Sesimbra
Morgado de Instituído por Pedro Coelho e sua mulher Margarida Cota por escritura de 11 de Julho
Azeitão de 1550, fazendo a Quinta Velha de Azeitão cabeça do mesmo vínculo632.
Palácio do Situado na freguesia da Encarnação, em Lisboa, foi vinculado por D. Luís de Sousa,
Calhariz Francisco da Costa e D. Filipa Barreto, sua mulher633
Instituído por Pedro Lopes Bolhão, na sua quinta e lugar dos Olivais, por testamento de
Morgado
21 de Fevereiro de 1438, aprovado no mesmo dia e aberto em 3 de Março do mesmo
dos Olivais ano634.
Morgado
Situado em Palmela, foi instituído por Francisco Coelho Cardoso e sua Mulher Ana
da Fonte do Mendes em 1558635.
Anjo

Morgado Instituição

629
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado do Monfalim ou da Chã instituído por D.
Filipe de Sousa e sua mulher, D. Filipa da Silva, do qual é actual administrador o Exmº. Duque de
Palmela D. Domingos de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 891.
630
Cf. Morgado de Santarém instituído pelo Arcebispo Primaz D. Luís de Sousa, anexo ao morgado
de Monfalim, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 894.
631
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado do Calhariz instituído por D. Maria da Silva,
do qual é actual administrador o exmº Duque de Palmela D. Domingos de Sousa Holstein, e Morgado de
Calhariz instituído por D. Filipe de Sousa, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 909.
632
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado de Azeitão instituído por Pedro Coelho e sua
mulher Margarida Cota, do qual é actual administrador o Exmº Duque de Palmela D. Domingos de
Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 897.
633
Cf. Relação do vínculo instituído pelo Arcebispo primaz D. Luís de Sousa e Francisco da Costa e
sua mulher, D. Filipa Barreto no Palácio de Calhariz de Lisboa e do qual é actual administrador o Exmº
Duque de Palmela D. Domingos de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 887.
634
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado dos Olivais instituído por Pedro Lopes
Bulhão, do qual é actual administrador o exmº Duque de Palmela D. Domingos de Sousa Holstein,
IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 889.
635
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado da Fonte do Anjo, instituído por Francisco
Coelho Cardoso e sua Mulher Ana Mendes, do qual é actual administrador o exmº Duque de Palmela D.
Domingos de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 905.

190
O Morgado
Instituído por Belchior Carvalho por seu testamento de 30 de Agosto de 1549, um dos
de S. que foi administrado pelo Conde de Sandomil636.
Cristóvão
Martim Vaz
Instituído por Martim Vaz Mascarenhas e sua mulher, em Évora, em 1417637
Mascarenhas
Morgado dos Instituído por Diogo de Sousa na freguesia dos Anjos de Lisboa, por seu testamento
Anjos de 8 de Setembro de 1668638.
Morgado das Instituído por António de Miranda de Azevedo, na vila das Alcáçovas pelo seu
Almargens testamento feito em 1550639;
Morgado do Foi administrador o Conde de Sandomil, instituído por D. Brites Francisca de
Algarve Noronha casada com D. António de Meneses640
Morgadinho
de Beja641.

636
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado de Belchior de Carvalho em S. Cristóvão de
Lisboa, um dos que administrou o Conde de Sandomil, do qual é actual administrador o Exmº Duque de
Palmela, D. Domingos de Sousa e Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 885.
637
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado instituído por Martins Vaz Mascarenhas e
sua mulher em Évora, do qual é actual administrador o exmº Duque de Palmela D. Domingos de Sousa
Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 911.
638
Cf. Relação dos Vínculos pertencentes à Exmª Casa de Palmela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779,
Caixa 191, fol. 1051.
639
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado instituído por António de Miranda de
Azevedo chamado os Almargens na Vila das Alcáçovas, do qual é actual administrador o exmº Duque de
Palmela D. Domingos de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 915.
640
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgado instituído no Reino dos Algarves por D.
Brites Francisca de Noronha, do qual é actual administrador o exmº Duque de Palmela D. Domingos de
Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 917.
641
Cf. Relação dos bens de que se compõem o morgadinho de Beja do qual é actual administrador o
exmº Duque de Palmela D. Domingos de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191,
fol. 913.

191
Quadro VIII – Morgado Póvoa, instituído por Henrique Teixeira de Sampaio 642
Bens que foram da Extinta Inquisição de Évora
Bens que foram dos Jesuítas de Beja
Capela de André Carvalho da Cunha
Capela de Bartolomeu Gil e sua mulher
Capela Catarina e Margarida Freixo
Capela de Cristóvão Salema Correia
Capela de D. Ana Maria d'Almeida
Capela de D. Joana d'Azevedo
Capela de D. Maria Barbosa
Capela de D. Margarida da Gama
Capela de Damião Dias Magro
Capela de Gomes Annes
Capela de Gonçalo Annes Rabeja
Capela de Inês Pires Frances
Capela de José Barreto de Abreu
Capela de Juliana de Matos
Capela de Luís Gomes
Capela de Pedro de Sousa Falcão
Capela do Cónego Pedro Fernandes
Capela do Padre Baltasar Gomes
Capela do Padre João Dias da Fonseca
Capela do Prior João da Costa Caldeira
Capela de Fernão Boto de Sousa

Para além dos bens de morgado, temos também indicação dos bens livres que
pertenciam a cada uma das Casas, após as leis de desvinculação de 1860, conforme
podemos observar nos seguintes quadros:

Quadro XIX – Prédios livres rústicos e urbanos pertencentes à Casa Palmela, em


1863643
Local Propriedades Aquisição
Morgadinho de Avis composto:
Herdade da Ordem em
Bambelide,
Herdade do Mortal,
Avis Herdade do Mato Branco, Bens livres pertencentes à Casa de Palmela.
Herdade do Pauinho,
Duas courelas de terra no sítio
da Maganeira
Courela nas Fontainhas.

642
Cf. Relação dos bens pertencentes ao vínculo instituído pelo falecido Exmº. Conde da Póvoa
Henrique Teixeira de Sampaio e de que é actual administradora a Exmª. Duquesa de Palmela D. Maria
Luísa de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme 5779, Caixa 191, fol. 957 e segs.
643
Cf. Notas que serviram de base à formação da relação suplementar dos prédios livres rústicos e
urbanos pertencentes à Exmª Srª Duquesa de Palmela, conforme o parecer do Advogado António Maria
Ribeiro da Costa Oltreman, em 12 de Março de 1863, IAN/TT, ACP, Microfilme 5668, Caixa 109, fol.
1104.

192
[Sem Capela instituída por Pedro Comprados em 20 de Novembro a 1797 por D.
indicação] Anes Lobato Alexandre de Sousa Holstein
Alcácer do Uma marinha de sal no sítio do
Pertencem ao antigo vínculo da Casa Palmela
Alono, Águas Morta;
Sal e Uma marinha no sítio de
Não se incluíam na relação para o registo do vínculo
Setúbal porque são domínio útil
Bombarral,
Um moinho de água
denominado do Paço,
Um moinho de água Comprados por escritura de 15 de Novembro de
Sintra denominado Ribeira, 1849 por D. Pedro de Sousa Holstein
Um lagar azeite, na ribeira da
vila de Canha.
Serra da Arrábida, que
compreende:
Ermida do Bom Jesus,
Casas do Forno,
Casas denominadas as
Espedarias, situadas no arraial, Tudo arrematado em hasta pública perante Junta do
Casas abarracadas, Crédito Público em 18 de Janeiro de 1840, por D.
denominadas as mesquitas, Pedro de Sousa Holstein
Azeitão Grande prédio com sua ermida,
e cerca denominada El Cármen,
Edifício do Convento de N. Sª
da Arrábida com cerca toda
murada
Casas no Portinho da Arrábida,
Comprados por escritura pública em 20 de Fevereiro
altas e baixas,
de 1840 por D. Pedro de Sousa Holstein, a José
Edifício do Convento Velho
[Maria] da Fonseca
com algumas ermidas
Carta de arrematação de 4 de Julho de 1825, para
Quinta das Gagas, ou de Tomé
Palmela Dias.
pagamento da dívida dos herdeiros de Tomé Dias
Vieira
Propriedade e direito a qualquer
porção de água que se possa
Comprado por Escrituras publicas de 22 de Julho de
Belas achar no casal da Vila Chã, que
1840, por D. Pedro de Sousa Holstein
pertence à capela de Pedro
Anes Lobato
Quinta da Granja, termo de
Alenquer, Foi do Mosteiro de
Comprado em 29 de Março de 1835 por D. Pedro de
Cadafais S. Vicente de Fora, dos
Sousa Holstein, ao Curador da Vila.
Cónegos Regrantes de St.º
Agostinho de Lisboa
Parte de terra dentro do
Cemitério dos Prazeres, onde
Comprada 11 de Março de 1837 por D. Pedro de
existe o Jazigo de família da
Sousa Holstein
Casa Palmela e outra parte fora
de muros,
Casas na Calçada do Forno do Pertenciam ao morgado dos Anjos da Casa de
Tijolo, nº4 a 22 moderno e os Palmela. Era senhorio directo à Câmara Municipal
foros que lhe são anexos de Lisboa
Lisboa Casas na R. da Rosa das
Partilhas nº 209 a 211 antigo, e
moderno 16 a 20
Uma cocheira na Travessa das Aforadas por escritura de 15 de Setembro de 1846,
Alentes nº 20 a 22 antigo por D. Pedro de Sousa Holstein ao Conde do Sobral
Um terreno com casas
principiadas na Rua da
Trombeta nº 4 antigo

193
Carta de confirmação de contrato a 25 de Novembro
de 1834 feito por D. Pedro de Sousa Holstein. Foi da
capela de Martins Esteves, incorporada na Fazenda
Olivais Quinta da Fonte e Casa nobre. Nacional, pelo Palácio de D. Pedro de Sousa
Holstein, no sítio da Boa Hora, em Belém. Em 19 de
Novembro de 1834 foi doada por D. Pedro a sua
mulher, D. Eugénia.

Quadro X – Prédios livres rústicos e urbanos pertencentes à Casa Póvoa, em 1860 644
Local Propriedade Aquisição
Casas na R. de S. Julião com os nºs 83 a 85 antigos, e
modernos 63 a 69
Casas com seu quintal na R. da Glória nºs 53 a 53 A antigos, e
modernos 26 e 18
Arrematada em praça
Casas na Rua Direita da Fábrica da Seda nº 47 a 50, hoje Rua
pública em Agosto de
da Escola Politécnica nº 209 a 217, que actualmente serve de
1853, pelos segundos
cocheira.
Lisboa Duques de Palmela
Comprada a José
Baptista por escritura de
Casas na Rua da Rosa das Partilhas com esquina para a
20 de 1854, pelos
Travessas dos Fiéis de Deus nº 208
segundos Duques de
Palmela
Casas na R. do Livramento em Alcântara com os nºs 85 e 86
Antigos e modernos 50 e 52
Um casal de semeadura, situadas na Ribeira de Alcântara,
junto aos arcos das águas livres
Campolide:
A Quinta denominada do Martinho
43 barracas no Beco do Gonçalo
Quinta ou Palácio que foi do Marquês de Angeja
Quinta denominada do Guerreiro, sita no Paço do Lumiar,
constituída de Casas, terras, horta e pomar
Três courelas de terra, Courelas de terra dos Alcoitins,
Duas courelas no Sítios das barras
Lumiar Uma courela de vinha e árvores de fruto no sítio do Lumiar,
travessa do Alqueidão
Casal dos Alcoitins
Casa com seu quintal no sítio de Lumiar
Casas com seu quintal, situada na travessa do Alqueidão de
cima, nº 9 e 10
Quinta do Outeiro, Lugar dos Calvos
Quinta das Azenhas, no sítio dos Calvos
Loures:
Dois prazos perpétuos, o 1º de uma terra murada e o 2º de
uma terra e mato na serra

644
Notas que serviram de base à formação da relação dos prédios livres rústicos e urbanos
pertencentes à Exmª Casa da Póvoa que pelas disposições da Lei dos vínculos de 30 de Julho de 1860
não foram registrados, ficando por consequência da natureza de bens livres, IAN/TT, ACP, Microfilme
5668 Caixa 109, fol. 1130.

194
Quinta da Raposa
Uma propriedade de Casas situada na Calçada que vai da Vila
de Sintra para Rio de Porto
Uma terra e mato no alto do Varatojo
Dois prazos sitos na Ribeira da Vila abaixo da Fonte do
Louro, composta de dois engenhos de almoenda, duas casas
de sobrado e seis inferiores.
Uma quinta situada na Ribeira de Rio de Posto composta de
casas, azenhas, pomar de espinho e caroço, e terras de
Sintra semeadura,
Domínio útil de 2 prazos: Casal da Mata Mouros e Casal no
sítio das Palheiras
Um pardieiro no beco da Judiaria
Um pomar de Limoal no Sítio da Fonte
Casal da Fava Seca, no sítio de Vale de Malaquias
Terra no sítio de Vale de Raposa
Uma terra de mato chamado dos Pilates no sítio da Ribeira de
Vila de Sintra.
Quinta denominada de Pé do Castelo
Quinta da Agualva composta por:
Quinta da Algualva
Quinta do Sobral,
Três casas pertencentes à mesma quinta, denominadas da
Sesmaria, Formial do Ameixial,
todos 3 chamados Casal do Rego Travesso,
Alpiarça Casal do Olival pertencente à mesma quinta,
Quinta da Atela,
Quinta do Outeiro,
Casal do Borranceiro
Casal dos Marmelos,
Casal dos Carvalhos,
Casal da Calfadada
Termo de
Golegã e Prazo do Reguengo denominado a Câmara
Santarém
Termo de
Quinta denominada do Foradouro com todas as suas pertenças
Óbidos
Comprada por escritura
pública a 2 de Junho de
Quinta de EL Carmen, ou Quinta do Vidal.
1856 pelos segundos
Duques de Palmela
Fazenda das Piteiras
Fazenda no sítio da Routeira, ou Portela
Palmela
Uma marinha,
Uma marinha, no sítio das Moitas
Quinta denominada dos Vidais no termo da dita vila.
Casas sitas na Travessa de Nenhures,
Setúbal
Casa na Rua da Conceição, nº 105 a 109.
Duas sortes de vinha
Um Ferragial
Um Ferragial a Cabeça da Azinheira
Alter do Olival e terra no caminho do Reguengo
Chão Tapada no sítio do Cavaco, em Cabeço de Vide
Ferragial tapado e outro destapado e sua horta em cabeço de
Vide
Ferragial que foi Moinho junto à Ribeira de Vide
Quinta das Cruzes
Portalegre
Casas na Rua do Pocinho no sítio da Ribeira de Nexe,

195
Veiros
Herdade da Madalena do Crato
(Fronteira)
Évora Herdade da Tejeosa Matinha na Torre dos Coelheiros
Borba Metade da herdade de Maria Ruiva
Herdade da Machina
Moinho do Olival da Ribeira de Odivelas
Alvito
Herdade das Carneiras Grandes
Herdade do Moutinho de D. Isabel

Como podemos observar, os bens livres eram constituídos apenas por bens de
raiz, situados na maior parte dos casos junto ao concelho de Lisboa, na margem sul do
Tejo e no Alto e Baixo Alentejo. Grande parte das propriedades são prédios rústicos. No
caso concreto da Casa Palmela, onde nos é indicado a aquisição do bem em questão,
verificamos um peso significativo de bens que foram comprados já depois da revolução
liberal. Registe-se a grande quantidade de bens adquiridos em Azeitão, antigos bens
nacionais e adquiridos em hasta pública. Se a Casa Palmela teve, depois desta data,
liquidez suficiente para adquirir tantos bens livres, também é certo que a revolução
liberal contribuiu para tal, nomeadamente com a transformação em bens nacionais dos
antigos bens das comendas e ordens, que posteriormente terá vendido. Além disso, D.
Pedro, como regente, doara ao Duque de Palmela, a 25 de Abril de 1835, cem contos de
réis admissíveis na compra de bens nacionais. Curiosamente, o investimento fundiário a
que se terá dedicado o primeiro Duque de Palmela poderá ser entendido como um
modelo arcaizante, onde a posse da terra continuava a ser sinónimo de riqueza.
Há também a salientar nestes bens a existência de antigos morgados.

Em resumo, o que importa reter é que, efectivamente, os rendimentos da Casa


Póvoa eram substancialmente superiores ao da Casa Palmela. Enquanto esta possuía um
peso bastante superior de rendimentos advenientes de propriedades urbanas ou rústicas,
a da Póvoa apresentava rendimentos relativamente equilibrados quanto à origem –
acções ou propriedades. Aliás, a existência de rendimentos de acções constitui uma
novidade importante. No entanto, o peso dos encargos da Casa Póvoa era bastante
superior ao da Casa Palmela, uma vez que investia bastante mais em seguros e obras.

Podemos ainda afirmar, sem margem de dúvida, que o casamento do


primogénito da Casa Palmela com a herdeira da Casa da Póvoa se traduziu em
substanciais ganhos materiais. A obtenção desses ganhos foi premeditada, na medida
em que o próprio primeiro Duque de Palmela afirma, num primeiro momento, que se

196
trata de “assegurar uma fortuna pecuniária nestes tempos de revolução”645 para depois
afirmar que era algo “ em que interessa o sossego de toda a minha vida e a sorte futura
da nossa família”646. Assim se compreendem todos os esforços despendidos para fazer
frente às acções movidas pelos parentes paternos de D. Maria Luísa.

645
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5809, Caixa 235, fol. 1258.
646
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 104.

197
8. Palácios e respectivo recheio: a vida material e social

Referir as propriedades que a Casa Palmela possuía é falar também dos espaços
que habitava. Uma das características desta família é a sua grande mobilidade,
decorrente, é certo, das missões diplomáticas do primeiro Duque ou dos exílios políticos
a que se viu obrigado. Mas não só.
Efectivamente, se exceptuarmos os períodos em que residiu no estrangeiro,
verificamos que as moradas que habitou em Lisboa foram variadas, muitas delas não
correspondendo aos palácios de que a família foi possuidora ao longo dos tempos. De
facto, em 1810, D. Pedro morava na freguesia de S. Pedro de Alcântara 647, a mesma
freguesia onde morava em 1813, mais propriamente na Rua Direita do Calvário 648, no
palácio onde residiam seu cunhado e irmã, os Condes de Alva.
Entre 1821 e 1824, o Duque e a sua família habitaram na freguesia de S.
Bartolomeu, sempre em moradas diferentes: Rua de D. Vasco, em 1821 649; Sítio da Boa
Hora em 1823650 e Pátio do Calhariz, em 1824, 651 locais inclusive muito próximos entre
si. Em 1834 habitavam no Largo das Chagas 652, enquanto entre 1839 e 1840, se
encontravam na Rua Formosa, na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires 653. Nesta
última data efectuaram a compra, nos arredores de Lisboa, da Quinta e Palácio do
Lumiar, pertença do então falecido Marquês de Angeja, D. José Xavier de Noronha
Camões de Albuquerque654.
A partir de 1843 a residência da Casa Palmela acaba por se fixar no antigo
Palácio adquirido pelo Conde da Póvoa em 1822, na Rua Direita da Fábrica das Sedas,

647
Cf. Certidão de Casamento, Instituto Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Arquivo Casa Palmela,
Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 13.
648
Cf. Certidão de Baptismo, IANTT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 368
649
Cf. Certidão de Baptismo, IANTT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 411.
650
Cf. Certidão de Baptismo, IANTT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 443.
651
Cf. Certidão de Baptismo, IANTT, ACP, Microfilme 5577 A, Caixa 34, fol. 467.
652
Cf. Instrumento de doação, IAN/TT, ACP, Microfilme 5645, Caixa 92, fol. 902.
653
Cf. Almanak estatístico de Lisboa em 1839, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 187, Certidão de
Baptismo, IANTT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 165.
654
Cf. Auto de posse, IAN/TT, ACP, Microfilme 5638, Caixa 88, fol. 91.

198
ao Largo do Rato655, embora passando algumas temporadas no palácio do Lumiar, no
palácio do Calhariz de Sesimbra, em 1846656, ou em Belém, quando em 1859 arrendam
o Palácio do Marquês de Loulé, denominado Quinta da Praia 657.
Fora de Lisboa não deixemos de referir o Palácio de Sintra, ou Quinta de S.
Sebastião, pertencentes à Casa Póvoa, e o Palácio Palmela em Cascais, construído sobre
o antigo Forte da Conceição, que fora adquirido em hasta pública em 1868 658, tendo-se
iniciado a edificação do palácio em 1873.
Obviamente que a posse de tantas residências implicava a existência de um
extenso recheio, referente não apenas a mobiliário, como a todo o tipo de utensílios de
cozinha, alimentação, higiene e, claro, a decoração. No estrangeiro, a tendência seria
para a venda da mobília após a estadia, uma vez que as casas eram arrendadas, como
podemos perceber pela carta que D. Alexandre, filho primogénito de D. Pedro, lhe
escreveu em 22 de Março de 1830: “ (…) A venda dos trastes deve ter lugar, como já
disse a V. Eª nos 3 último dias deste mês, o catálogo dos trastes e dos livros creio que já
está quase acabado; os únicos quartos que ficam com móveis são aquele em que V. Eª
fumava e aquele em que eu durmo; estes trastes quando se acabar o aluguer da casa
tenho tenção de os vender, excepto alguns que a mamã deseja guardar (…).”659. Aliás,
a escolha da distribuição das divisões da casa cabia ao casal, tarefa essa que D. Eugénia
por vezes deixava a seu marido, a contragosto dele, como podemos observar numa carta
de 15 de Abril de 1839, dirigida àquela: “(…) Sinto muitos sentimentos que me não
queiras dar as tuas ideias a respeito de distribuição dos quartos, tendo-o eu pedido com
tanta instância. Que satisfação poderás tu ter em desaprovar qualquer arranjo que eu
fizer (pois todos hão-de ser maus e provisórios enquanto se não arranjarem os quartos
de cima) em lugar de tomar para ti uma parte da responsabilidade? (…)”660.
Relativamente às diversas residências da Casa Palmela, a existência de

655
Cf. PORTUGAL, M. A. F., Almanak estatístico de Lisboa em 1843, Lisboa, Tipografia do Gratis,
s.d., p. 9; Almanak estatístico de Lisboa em 1848, Lisboa, Tipografia do Gratis, s.d., p. 5, Certidão de
falecimento, IANTT, ACP, Microfilme 5677, Caixa 121, fol. 29.
656
Cf. Pedido de licença de posse do Santíssimo Sacramento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5694, Caixa
134, fol. 767.
657
Cf. Escritura de arrendamento, IAN/TT, ACP, Microfilme 5574, Caixa 31, fol. 58.
658
Cf. Propriedades adquiridas em Cascais, IAN/TT, ACP, Microfilme 5753, Caixa 173, fol. 765
659
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 1123
660
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 240.

199
inventários, muitas das vezes elaborados pelos encarregados das respectivas moradas,
permite compreender de que forma o espaço estava organizado e a forma de estar desta
família.
Detenhamo-nos na descrição do Palácio do Rato, datada de 1844 e 1845661, uma
vez que, para além da mais pormenorizada, é aquela que acabou por se tornar a
residência oficial da Casa Palmela na capital. Antes de mais, é preciso especificar os
diversos espaços que a compõem. Distinguem-se, desde logo, três tipos fundamentais:
os espaços de manutenção, relacionados com o funcionamento da casa, que são a
cozinha, a casa das luzes, onde se armazenam candeeiros e outro tipo de luzeiros, para
além de alguns outros trastes, as arrecadações, a copa e os apartamentos dos criados e
outros serviçais, como o guarda-livros e o capelão. Os espaços comuns, como a casa de
jantar, as restantes salas (azul e amarela) e a capela; Finalmente, o espaço privado,
composto pelos quartos de dormir e os respectivos quartos adjacentes: escritórios,
toucadores ou quartos de vestir.
Dentro desta última categoria, é possível efectuar uma outra divisão e diz
respeito às pessoas que habitavam nesta altura o Palácio: os Duques de Palmela, e dois
dos seus filhos: os Marqueses do Faial, e os Condes de Terena 662. A cada casal estava
destinado um espaço privado diferente.
Relativamente aos espaços comuns, a sala de jantar, destinada às refeições,
continha mobiliário de arrecadação de louças, como aparadores e armários. Possuía 3
mesas, todas extensíveis, sendo que uma delas permitia 60 lugares sentados. Aliás, a
sala de jantar possuía 89 cadeiras, a que se somavam 3 para crianças663.
A Sala Amarela destinava-se certamente ao lazer, contendo quatro mesas de
jogo, um banca também de jogo e um piano de madeira de pau-santo. Acrescentavam-se
trinta e nove cadeiras e um sofá, para além de outros móveis e objectos decorativos 664.
A Sala Azul parecia estar destinada a um uso mais privado, apesar da existência
de dois tremós, móvel de aparato sem grande utilidade. Além dos 2 sofás e das 36
cadeiras, apenas encontramos uma banca de jogo. O piano da Sala Amarela aqui dá

661
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fols. 283-
332.
662
A residência habitual dos Condes de Terena era no Porto, no Palácio da Torre da Marca e cabeça
do morgado.
663
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 283.
664
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 283.

200
lugar a um relógio de música francês. Um armário é usado como livraria. Para além de
vários objectos decorativos, de onde se destaca uma caixa de tabaco, vários quadros
ornamentam as paredes, prevalecendo os temas religiosos ou retratos de família 665.
Na Capela, devemos destacar as imagens de S. Pedro, S. Domingos, S.
Francisco, visto serem os santos com o mesmo nome de muitos dos elementos da
família – Pedro, o primeiro Duque; S. Domingos, o segundo. S. Francisco remete para a
ideia de devoção que já realçámos no capítulo 3, visto o nome de muitos dos elementos
da família conter o de todos os Franciscos do calendário litúrgico 666.
Relativamente aos aposentos privados, verificamos que existe um quarto de
cama, destinado ao casal, mas tendo cada um dos membros deste, uma ou duas divisões
para si. Assim, os Duques de Palmela possuíam um quarto comum, com duas camas e
uma mesa-de-cabeceira. D. Eugénia tinha um quarto de vestir, destinado ao guarda-
roupa e ao mobiliário de higiene pessoal, composto de lavatório e retrete. Para além
deste quarto, possuía ainda uma sala, para seu lazer: uma escrivaninha, uma secretária e
uma mesa de costura. Dois espelhos, um fogão e várias poltronas, sofás e cadeiras, para
além de outras mesas, completavam a sala. Nas paredes, vários quadros, com o retrato
de familiares, cenas religiosas ou históricas. O Duque de Palmela tinha apenas um
aposento privado, mas que reunia ambas as funções: vestir e higiene e lazer. De facto,
além do guarda-roupa, do lavatório, bidé e tina de lata com torneira, o quarto estava
equipado com um tremós, estantes, secretária e escrivaninha 667.
Relativamente aos Marqueses do Faial, o quarto do casal, com apenas uma
cama, estava destinado também a outras funções, ao contrário do que acontecia com os
restantes: higiene, uma vez que possuía retrete e mesa de lavar; vestiário, pois possuía
cómodas e espelhos; lazer, atendendo à existência de uma banca de jogo; alimentação,
visto conter um pequeno serviço de chá; leitura, pela existência de uma estante e,
finalmente, oração, atendendo à proliferação de imagens sacras. Esta variedade de
funções é para Nuno Madureira, uma inovação, ao incluir-se no quarto actividades
próprias das salas de uso colectivo 668. Em contrapartida, a Marquesa do Faial, D. Maria

665
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 283.
666
Cf. Paramentos de Capela, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 306.
667
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fols. 283 e
309.
668
Cf. MADUREIRA, Nuno Luís, Cidade: espaço e quotidiano, Lisboa 1740-1830, Lisboa, Livros
Horizonte, 1992, p. 132.

201
Luísa, dispunha apenas de um aposento privado, destinado ao seu toucador. D.
Domingos possuía duas salas: um gabinete com um tremó, escrivaninhas e armários
para livros, e uma sala do fogão, também com estantes, mas destinado sobretudo ao
lazer e convívio, uma vez que possuía uma mesa de jogo, sofá e diversas cadeiras669.
Os aposentos destinados à Condessa de Terena, D. Maria Ana de Sousa Holstein
e seu marido repetem um pouco o esquema anterior: um quarto de cama e dois quartos
de vestir preparados para a higiene pessoal, um para cada um deles. No entanto,
acrescem mais três divisões: a casa da espera, a casa das visitas e a antecâmara. Tratava-
se, no fundo, de tornar os seus aposentos mais particulares, fazendo uma casa dentro de
outra casa, permitindo receber com maior privacidade quem os visitasse. Assim, a casa
de espera apenas possuía duas cadeiras e a sala das visitas um tremó, as habituais
cadeiras, sofá, mesa de jogo. A antecâmara estava mobilada com um canapé, divã,
poltrona e cadeira, para além de uma estante e cómodas670.
Para além da mobília a uso, existia igualmente variada mobília guardada nas
diversas arrecadações da casa e nas quais se amontoavam também inúmeras qualidades
de tecido, como cortinas e armações de cama 671.
A descrição do recheio de parte deste palácio permite-nos compreender melhor a
vida material desta família no contexto da aristocracia do seu tempo.
Desde logo, percebe-se uma separação entre público e privado, sobretudo pelo
número de lugares sentados existentes em cada uma das divisões: de facto, as salas
estão destinadas a receber pessoas tendo muitos assentos, enquanto nos restantes
aposentos, aqueles são em menor número. No entanto, é nestes espaços mais privados
que vamos encontrar as poltronas, móveis ainda pouco comuns. É também nestes
espaços que vamos encontrar os móveis mais caros e de aparato – os tremós, com
excepção dos que se encontram na Sala Azul, e também os guarda-roupas, geralmente
presentes apenas nos agregados com maior fortuna, como realçou Nuno Luís
Madureira672. Constata-se também o que este mesmo autor referiu relativamente à
cómoda: de facto, esta destronou completamente o uso da papeleira, a que não

669
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 283.
670
Cf. Quartos destinados para a Exmª Srª D. Mariana de Sousa Holstein, IAN/TT, ACP, Microfilme
5676, Caixa 120, fol. 293.
671
Cf. Inventário Geral no Palácio do Rato, IAN/TT, ACP, Microfilme 5676, Caixa 120, fol. 313.
672
Cf. MADUREIRA, Nuno Luís, Cidade: espaço e quotidiano, Lisboa 1740-1830, pp. 225 e 190.

202
encontramos nenhuma referência673. Devemos também realçar a existência de uma mesa
de costura na sala da Duquesa de Palmela, que contrasta com o toucador, inexistente no
seu quarto de vestir, mas presente nos de sua filha e nora, que não possuem mesas de
costura. Por outro lado, é de realçar a existência de diversos objectos de culto,
nomeadamente, as imagens de santos, nos compartimentos privados o que é sintomático
não só de religiosidade, mas também da privatização das práticas devocionais, apesar da
existência de uma capela, também ela privada.
Relativamente aos espaços públicos verifica-se a continuação daquilo que Nuno
Luís Madureira verificou para o início do século XIX: a afirmação da sala de jantar
como o lugar próprio de refeições; por outro lado, nas salas onde as visitas são
recebidas destacam-se o lugar da música, com a existência de um piano, e a proliferação
de mesas de jogo, fazendo lembrar “verdadeiros casinos”. Como consequência
fundamental, o espaço social encontra-se dividido em zonas de menores dimensões,
prestando-se à individualização dos sujeitos que a frequentam674.

Para além do recheio habitual dos Palácios, a Casa Palmela distinguiu-se por
possuir uma vasta colecção de objectos de arte, não só de pintura e escultura, mas
também outros objectos decorativos, nomeadamente de ourivesaria, esmalte, porcelana
e faiança. A colecção foi iniciada com Luís de Sousa (1637-1690), bispo de Lamego,
arcebispo de Braga e embaixador em Roma, e irmão de D. Francisco de Sousa, capitão
da guarda de D. Pedro II, e acrescentada por D. Pedro de Sousa Holstein e por sua neta,
D. Maria Luísa de Sousa Holstein.
Comecemos por nos deter no catálogo dos quadros existentes no Palácio do
Rato.

Quadro XI – Quadros a óleo pertencentes aos Duques de Palmela 675


Descrição Autoria ou Escola
Retrato de D. Alexandre de Sousa Holstein
Original do Cavaleiro Gaspar Lande
em meia figura
Aves mortas Original de Pedro Boel - Escola Flamenga
Santo António com o Menino Deus nos
Original de Domingos António de Sequeira
braços

673
Cf. IDEM, ibidem, p. 188.
674
Cf. IDEM, ibidem, pp. 129 e196.
675
Cf. Catálogo dos quadros pertencentes aos Emxºs Srs Duques de Palmela redigido pelo Exmº Sr
Abade António Dâmaso de Castro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5753, Caixa 174, fol. 115.

203
Busto de D. Carlos V Estilo de Ticiano Vicelli - Escola Veneziana
Cópia de um quadro de Francisco Albano, feita por
Toucador de Vénus
Francisco Vieira Portuense, 1792
Paisagem com figuras Estilo de Francisco Vieira Portuense
Retrato em meia figura de Arquimedes com a
Estilo de P P Rubens - Escola Flamenga
mão direita sobre um globo
Cristo e a Samaritana junto ao poço de Jacob Original de Gianquinto Corrado - Escola Napolitana
Retrato em meia figura, D. Fradique de
Estilo de António Vandyck - Escola Flamenga
Portugal
Nª Sª e o Menino Deus Estilo de Domingos Beccafunni - Escola Senense
Original de João Stein, estilo de Du Sort e Vem Ostade -
Bebedores e jogadores em uma casa de venda
Escola Holandesa
Cabeça de Cristo Estilo de Guido Rheni –Escola Bolonhesa
Cabeça de Nossa senhor Estilo de Guido Rheni - Escola Bolonhesa
Paisagem com figuras Francisco Vieira Portuense
Retrato em meia figura de um pajem Escola Flamenga
Figura em meio corpo, com uma gorra na
Escola Flamenga
cabeça
Desenho original de Raphael Sanio D'Urbino e o
Sagrada família
colorido de seu discípulo Júlio Romano - Escola Romana
Original de António Francisco Vander Murlen - Escola
Díptico, representando uma batalha
Flamenga
Origial de João Bruegel, sendo as figuras de Henrique
4 quadros representando os 4 elementos
Klerck - Escola Flamenga
Retrato em meio corpo o Duque de Ferrara,
Original de Ticiano Vicelli - Escola Veneziana
Afonso d'Este
Paisagem com várias figuras Estilo de Salvador Rau - Escola Napolitana
Sátiro descobrindo uma ninfa adormecida Estilo de Lucas Jordani - Escola Napolitana
S. Paulo, 1º eremita no deserto Original atribuído a Guido Rheni - Escola Bolonhesa
Santa Rosa de Viterbo, abraçando um
Original de António Blestra - Escola Romana
crucifixo
Estilo de Nicolau Coussin e de Claudio de Lorena -
Paisagem com figuras
Escola Francesa
Original de Giorgio de Barbarelli chamado Giorgio de
Encontro da Nossa Senhora com Santa Isabel
Castel Branco - Escola Veneciana
Santo António de Lisboa, pregando aos
Original de Francisco Viera Lusitano
peixes
Crucificação de Cristo, tendo junto da Cruz
Escola Florentina
N. S.ª, S. João e Santa Maria Madalena
Estilo de João Baptista Barbieri Guerreiro - Escola
Cristo preso pelos Fariseus
Bolonhesa
N. Srª, o Menino Deus, S. José e Santa Ana,
Estilo de Daniel Segchers, e discípulo de João Brueghel
circundados de Flores
Estilo de Daniel Segchers. As figuras dos seus quadros
N. Srª, o Menino Deus e S. João, cercados de
denotam serem do pincel de Cornélio Schurt - Escola
flores
Flamenga
Original de Gerard Daun, estilo de Paulo Van Rin -
Velha avarenta, pesando moedas em ouro
Rembrandt - Escola Flamenga
Ninfa distribuindo favos de mel a uma
Original de B. Gagneraum 1791 - Escola Francesa
ninhada de cupidos
N. Sr ª, o Menino Deus, S. José e Stª Ana,
Escola Flamenga
circundados de flores
Nossa Senhora, o Menino Deus, S. José, e S.
Estilo de João Mabuse - Escola Florentina
João Baptista
Bernardino Luini, discípulo de Leonardo de Vinci -
Ecce Homo
Escola Romana
S. Jerónimo no deserto Estilo de Miguel Angelo Buoinarotti - Escola Florentina
Campina, com um boi deitado Estilo de Paulo Potter - Escola Holandesa

204
Original atribuído a António Van Dyck - Escola
Crucificação do Salvador
Flamenga
Marquês de Niza, sentado a uma mesa Original de Domingos Pellegrini. 1801
Uma cegonha Original de Pedro Boel - Escola Flamenga
Aves mortas Escola Flamenga
Cupido encostado a um leão Original de B. Gagnesaur 1791 - Escola Francesa
Original de Cláudio Coelho, discípulo de D. Francisco
Retrato em meia figura, do Rei D. Sebastião
Risi - Escola de Madrid
Estilo de Bartolomeu Estêvão Murillo - Escola
Anunciação do Anjo a Nª Srª
Espanhola
Sibila Original de Madeira Boldrini, 1846
Adoração dos Reis Escola Florentina
Cópia de um quadro de Bartolomeu Estêvão Murillo,
Meia figura S. Tiago Apóstolo,
feita por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Menino Deus dando de beberem uma concha Cópia de um quadro de Bartolomeu Estêvão Murillo,
a João Baptista feita por Manuel Maria Bordalo Pinheiro 1849
Cópia de um quadro de Bartolomeu Estêvão Murillo,
Nossa Senhora do Rosário
feito por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Cópia de um quadro de Bartolomeu Estêvão Murilo, feira
S. João Baptista e o Cordeiro
por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Cópia de um quadro de D. Diogo Velásquez, da Silva,
D. Filipe de Espanha em idade avançada
feita por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Cópia de um quadro de D. Diogo Velásquez da Silva,
Um anão sentado registrando um livro
feita por Manuel Bordalo Pinheiro, 1849
Menino sentado com a cabeça descoberta e Cópia de um quadro de D. Diogo Velásquez da Silva,
vestido de verde feita por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Cópia de um quadro de D. Diogo Velásquez da Silva,
Bobo de vestido de verde e sentado
feita por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, 1849
Adoração dos pastores Estilo de Rafael Sancio d'Urbino - Escola Romana
Cristo pregado na cruz Original de Francisco Vieira Lusitano
Cópia de um quadro de Raphael Sanio d'Urbino, feita por
Madonna de Foliguou
António Manuel da Fonseca
Adoração dos reis Magos Original de Domingos António de Sequeira
Original de Domingos António de Sequeira, no estilo de
Descida de Cristo da Cruz
Rembramt
Ressurreição de Cristo Original de Domingos António de Sequeira
O juízo Final Original de Domingos António de Sequeira
Vida de Nossa Senhora [Sem indicação]
Quadros com a vida de Nossa Senhora Original atribuído a Grão-Vasco
N. Sª com o Menino Deus nos braços, S. Cópia de um quadro de António Alegre Corregio, feita
Jerónimo e outras figuras por Francisco Vieira Portuense
S. Miguel Arcanjo, pisando um dragão Original atribuído a Grão Vasco
Retrato em meio corpo de um Cardeal Estilo de Pompeo Battoni - Escola Florentina
Retrato de grupo da família Palmela Original de Krumholtz, em 1847
Retrato em meio corpo de Salomé, sustendo
nas mãos uma bacia, com a cabeça de S. João Escola Veneziana
Baptista
Retrato, em meio corpo, de uma personagem
Estilo de António Vandick - Escola Flamenga
vestida de preto, com balona no pescoço,
Um cavaleiro, em meia figura do tempo de
Luís XIV, com capa e volta, sustendo nos Estilo de Pedro Mignard, de Trayes - Escola Francesa
dedos polegar e indicador um anel
Jovem artista em meia figura, com um gorro
Escola Flamenga
na cabeça
Paisagem variado. Estudo de S. Cornelio Vroche Sloot - Escola Holandesa
Retrato em meio corpo, de D. Manuel
Estilo de Pedro António Quillarel – Escola Francesa.
Caetano de Sousa,
Busto de uma personagem vestida de preto Estilo de António Vandyck - Escola Flamenga.

205
Como se pode observar, grande parte das obras são temas religiosos, embora os
temas mitológicos e históricos sejam também bastante expressivos. Apesar de
constarem bastantes originais, o número de cópias de obras conhecidas é muito comum.
A escola flamenga e a escola italiana são as correntes artísticas mais expressivas.
Relativamente a Portugal, salientam-se os nomes de António Manuel da Fonseca,
Francisco Vieira Portuense, Grão Vasco, Domingos António de Sequeira e Manuel
Maria Bordalo Pinheiro. Para além destes quadros a óleo, existem também na colecção
alguns esboços de Domingos António de Sequeira, nomeadamente aqueles que estão na
base do famoso quadro da Condessa de Atouguia, D. Filipa de Vilhena. Há também os
esboços de Francisco Vieira Portuense, para as cenas dos Lusíadas676.
Para além desta colecção de pintura, também vários objectos escultóricos
adornavam as salas do palácio, como podemos observar no quadro seguinte.

Quadro XII – Bustos e estátuas em pedra


Estátua em mármore de Carrara, representado o gladiador moribundo
Estátua em mármore de Carrara, representado a fé em Deus
Estátua em mármore de Carrara, que representa Stª Maria Madalena
Busto de um Fauno, sendo a cabeça escultura antiga de pedra vermelha
Busto antigo de Baco
Busto de Apolo de Belcedere, de mármore
Busto de uma vestal, em mármore de Carrara
Busto de imperador romano
Busto de uma imperatriz romana
Busto de Vénus de Médicis
Fragmento de busto antigo, achado por D. Alexandre de Sousa Holstein
numa escavação em Roma e restaurado
Busto de D. Vasco da Gama
Busto de Luís de Camões
Busto de D. Teresa de Sousa Holstein
Busto de D. Maria Ana Holstein
Busto de Mariana de Sousa Holstein
Busto de uma vestal, em mármore de Carrara
Psyche de António Canova
Patena de marmóreo, tendo no baixo-relevo um fauno com um facho na mão. Encontrado na
escavação referida
Hebe, copeira de Júpiter e Deusa de mocidade de Canova
Grupo das 3 Graças de Canova
Busto do Duque de Palmela D. Pedro de Sousa e Holstein,
original de Francisco de Paula Araújo de Cerqueira
Busto da Duquesa de Palmela D. Eugénia, original de Victor, Paris, 1838
Estátuas de antigas bailarinas de Canova

676
Cf. Catálogo dos quadros pertencentes aos Emxºs Srs Duques de Palmela redigido pelo Exmº Sr
Abade António Dâmaso de Castro, IAN/TT, ACP, Microfilme 5753, Caixa 174, fol. 115.

206
Relativamente a estes objectos, os principais motivos representados são os
históricos e os mitológicos, sendo também expressivo o número de bustos de diversos
membros da família.
Vítor Serrão considera que a colecção não é um todo coerente, uma vez que é
proveniente de diversos fundos e com origens bastantes diversas, sendo reveladora das
escolhas particulares dos membros que a enriqueceram e com a qual procuraram
engrandecer as suas diversas residências 677.
Para além deste importante núcleo artístico, é de referir também outro
significativo acervo cultural, a biblioteca do Convento da Arrábida. Antes da compra
deste Convento, pela Casa Palmela, a respectiva Livraria já estava na sua posse, uma
vez que um incêndio em finais de Setembro de 1834 obrigou os monges a proteger o
seu acervo bibliográfico no Calhariz de Sesimbra. Desde então que a biblioteca do
Convento juntou-se ao acervo da Casa Palmela.
O estudo de Ilídio Rocha acerca da Livraria do Convento da Arrábida 678
permitiu distinguir os contributos da família Palmela na aquisição de importantes obras
que vieram enriquecer o espólio já existente, com destaque para D. Pedro de Sousa
Holstein e António Sampaio de Brederode, terceiro Duque de Palmela.
Efectivamente, o primeiro adquiriu importantes livros, manuscritos e jornais
relacionados com a temática das lutas liberais, ou de autores que estavam exilados em
Londres ou Paris, devido ao governo miguelista. Outros livros por ele adquiridos
reflectem a teia de conhecimentos do próprio Duque, como é o caso dos livros assinados
por Madame Staël, que D. Pedro conhecera em Itália.
Por seu lado, o terceiro Duque, como oficial da Marinha, adquiriu o Livro de
Marinharia de João Lisboa, o qual mandou transcrever e editar.

8.1. Sociabilidade, cultura e lazer.

O recheio de uma casa permite também compreender muito das sociabilidades,

677
MATOS, Maria Antónia Pinto, CAMPILHO, Maria de Sousa e Holstein, Uma família de
Coleccionadores, Poder e Cultura. Antiga Colecção Palmela, Lisboa, Instituto Português de Museus,
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2001, p. 75.
678
ROCHA, Ilídio, Catálogo da Livraria do Convento da Arrábida, Lisboa, Fundação Oriente, 1994.

207
grau de cultura e lazer de quem a habita. O facto de se ter capacidade para sentar mais
de 90 pessoas às refeições é sintomático de que haveria o hábito de receber. Aliás, ao
longo do nosso trabalho já aludimos a esse facto várias vezes, nomeadamente, durante a
citação de correspondência particular.
As grandes recepções ocorridas em casa dos Duques de Palmela referem-se
sobretudo a casamentos, baptizados ou aniversários dos seus membros. Apesar de Maria
Rattazzi se referir à terceira Duquesa de Palmela, D. Maria Luísa, dizendo: “(…) raras
vezes abre as suas salas; podem contar-se os bailes que tem dado, distanciando-se
qualquer deles por espaço de anos. Nem bailes, nem jantares, nem reuniões nem
círculo íntimo, nada! (…)”679, certo é que há outros relatos que contradizem estas
afirmações, como o de Mariana Sesimbra, filha de D. Francisco de Sousa Holstein e,
portanto, prima de D. Maria Luísa, que refere que os “Os Duques de Palmela davam,
todos os Invernos, umas soirées semanais de grande luxo, frequentadas por gente da
mais alta sociedade”, no Palácio do Rato, onde, inclusivamente, D. Eugénia de Sousa
Holstein, irmã de D. Mariana, debutou680.
Também o casamento da filha de D. Maria Luísa, D. Helena, foi bastante
comentado na imprensa da época, pela magnificência da cerimónia e da boda, ocorrida
no Palácio do Rato. O “Casamento principesco”, como lhe chamava A Revolução de
Setembro681 iniciou-se ao meio-dia, havendo uma longa fila de carruagens de onde se
apeava a alta sociedade de Lisboa, auxiliados pelos criados da Casa Palmela, que
estreavam fardamentos novos. Os convidados reuniram-se na Sala Amarela, que
mencionámos anteriormente, tendo a cerimónia decorrido no interior da capela, coberta
de flores e verdura e profusamente iluminada, as senhoras à frente, os homens atrás.
Após a cerimónia serviu-se o almoço, composto por diversos pratos quentes e frios,
servido na baixela da casa. Para além disso, saindo de maciços de espinheiros, grandes
blocos de gelo tinham como objectivo suavizar a temperatura ambiente. Na Sala

679
RATTAZZI, Maria, Portugal de Relance, Lisboa, Edições Antígona, 1997, p. 120.
680
SESIMBRA, Mariana, Madre Monfalim, (Eugénia de Sousa e Holstein), Lisboa, Bertrand, 1946, p.
654.
681
Revolução de Setembro, Nº 13460, Lisboa, Tipografia J. B. da A. Gouveia 19 de Julho de 1887,
fol. 3.

208
Encarnada682 encontrava-se a corbeille, onde se amontoavam os presentes nupciais.
Nesta ocasião, a acção benemérita não foi esquecida, distribuindo-se uma refeição a 100
pobres683.
O casamento de D. Helena fazia, sem dúvida, recordar o de seus pais, terceiros
Duques de Palmela, ocorrido 24 anos antes, tendo-se realizado também no mesmo
palácio. D. Isabel Vasconcelos, Condessa de Rio Maior, descreve-o ao seu filho, em
carta de 16 de Abril de 1863: “O tal casamento teve lugar ontem com o maior
espalhafato possível (…) Os convites eram para a uma hora. El-rei serviu de padrinho,
a rainha de madrinha: chegaram pela volta da uma e meia. A Duquesa estava no
quarto de baixo, que era da mãe e hoje é do pai, à espera de S.S.M.M.. Quando
chegaram, sugiram logo e atravessaram as salas, e subiram para a capela, seguidos
por todos os convidados que estavam nas salas à espera. Os convidados estavam pelas
escadas juntamente com os vasos de flores e os criados da casa. Na capela (…) havia
um dossel e cadeiras de espaldar para S.S.M.M., exactamente como nas festas de corte.
(…) Depois do casamento, veio tudo para baixo, e a família real foi lanchar. A casa
estava muito bem arranjada com o plateau do conde da Póvoa, ao fim da casa da mesa
há um quarto separado dela por um arco em que estava a mesa de El-Rei. Mas a
duquesa em vez de encarregar alguém de encaminhar logo todas as senhoras para a
casa da mesa, não disse nada a ninguém, de maneira que merendou El-rei, a rainha, e
o Sr. patriarca, a duquesa ficou em pé sem tomar nada, a sala toda sem ninguém,
depois disso S.S.M.M. atravessaram as salas, a ninguém falaram, e ninguém lhes falou,
e abalaram sem que as pessoas da sua comitiva e da do Sr. Patriarca tomassem coisa
alguma. Se a duquesa estivesse atarantada desculpava-se, mas ela estava o mais
senhora de si que é possível, e o noivo o mais frio e indiferente, parecendo que não era
nada com ele. (…) A duquesa, depois que a rainha saiu, foi para o quarto mudar de
toilette, e lá comeu alguma coisa, segundo ouvi, enquanto os convidados, por instinto
natural se dirigiram à casa da mesa e aproveitaram o óptimo almoço que havia
(…)”684. Nos dias que se seguiram, o palácio foi exposto ao público, num gesto de

682
Acerca desta sala não possuímos inventário, apenas temos referência a alguns quadros ou
esculturas que aí se encontravam. Cf. Catálogo de Quadros, IAN/TT, ACP, Microfilme 5753, Caixa 174,
fol. 115, Pedra, IAN/TT, ACP, Microfilme 5753, Caixa 174, fol. 149.
683
A Revolução de Setembro, Nº 13469, 22 de Julho de 1887.
684
MÓNICA, Maria Filomena (org.), Isabel, Condessa de Rio Maior, correspondência para seus
filhos, 1852-1865, Lisboa, Quetzal Editores, 2004, pp. 321-322.

209
“franqueza fidalga”, tendo o Jornal do Comércio efectuado uma descrição minuciosa
da magnificência e bom gosto de todas as salas, referindo amiúde o fausto e grandeza
dos objectos – as loiças do Japão, Sèvres, Saxe, todo o tipo de porcelana e prataria; os
quadros, os bustos de mármore e jaspe 685. A sala de jantar ainda se encontrava com a
mesa posta, onde a baixela de prata e o plateau do Conde da Póvoa também não foram
indiferentes ao repórter. Refere ainda o pavilhão de estofo verde e branco, com as armas
reais de Portugal e Itália, montado na sala de jantar sobre uma mesa destinada aos
noivos e a D. Luís e D. Maria Pia 686.
Temos também notícia de outras festas de casamento no seio da Casa Palmela,
nomeadamente, o de D. Eugénia e D. Teresa de Sousa Holstein, filhas do primeiro
Duque de Palmela que casaram, respectivamente, com o Marquês das Minas e o Conde
de Alcáçovas, a 8 de Maio de 1842, dia de aniversário do próprio Duque de Palmela D.
Pedro. A cerimónia teve lugar na capela do Palácio do Calhariz, às cinco e meia da
tarde, seguindo para o palácio do Lumiar, onde os Duques de Palmela ofereceram um
concerto e um baile no dia 11 do mesmo mês, para cerca de quinhentas pessoas. O
evento, que se iniciou às dez da noite, foi precedido de um jantar mais íntimo. Os
principais cantores, na sua maioria de origem italiana, brindaram os convivas com um
recital lírico, composto por excertos de diversas óperas e com acompanhamento ao
piano. Ao concerto seguiu-se o baile e a ceia687.
Outros acontecimentos deram azo a serem celebrados com a respectiva
magnificência, como a festa de acção de graças do nascimento de D. Maria Luísa de
Sousa Holstein, terceira Duquesa de Palmela, oferecida por seu pai, D. Domingos,
também no palácio do Lumiar, a 25 de Outubro de 1841. As festividades iniciaram-se
com uma missa cantada, na igreja do Palácio, com peças nacionais, nomeadamente o Te
Deum de Marcos de Portugal688 e o Tantum Ergo de José António Leite. Se a orquestra
era profissional, uma vez que se tratava dos Músicos da Real Câmara, dirigidos por
Manuel Inocêncio dos Santos, a maior parte dos cantores foram os mais ilustres
amadores da primeira plana da sociedade lisboeta, entre os quais D. Eugénia de Sousa
Holstein, a filha mais velha dos primeiros Duques de Palmela, a Duquesa da Terceira, a

685
Estes objectos não se encontram referidos no inventário que analisámos.
686
Jornal do Comércio, nº 2854, Lisboa, Tipografia do Jornal do Comércio, 17 de Abril de 1863, fol.
1.
687
Cf. L’Abeille, 4º année, nº 42, Lisboa, Imprensa de C. A. S. de Carvalho, 15 Mai 1842, p. 186.
688
Músico (24/03/1762-7/02/1830).

210
Marquesa de Fronteira e sua filha; as condessas de Ribeira, da Lapa e da Ponte. Às três
horas e meia, quando acabou o serviço religioso, foi servido um banquete com mais de
70 iguarias. O baile, para cerca de setecentas / oitocentas pessoas iniciou-se às oito
horas da noite. À meia-noite foi servida uma ceia. Infelizmente, a iluminação preparada
para o jardim e o fogo de artifício não puderam ter lugar, devido à forte tempestade que
se verificou689.
O quadragésimo quinto aniversário da Duquesa de Palmela, D. Eugénia, foi
celebrado no próprio dia 4 de Janeiro de 1843, tendo sido oferecido um almoço aos
parentes e amigos mais íntimos. À noite, uma grande festa permitiu à grande sociedade
lisboeta felicitar a Duquesa. A escada do palácio estava decorada de plantas exóticas e
raras para a época do ano. Para além dos seus filho/as e genros/noras, encontravam-se
também a Duquesa da Terceira, Marqueses de Fronteira690 e Santa Iria, Condes Vila
Real, Linhares, Ponte, Cabo de S. Vicente. Um concerto lírico amador foi improvisado,
sendo seguido de um baile, intervalado por uma ceia 691.
As recepções da Casa Palmela não se ficaram pelas festividades relacionadas
com os seus casamentos ou aniversários. Efectivamente, outros acontecimentos foram
festejados nas suas propriedades, como a visita dos reis ao palácio do Lumiar, a 4 de
Novembro de 1841, onde lhes foi servido e ao corpo diplomático um almoço 692, ou o
jantar oferecido em honra do Príncipe de Joinville 693. Para além da família mais
chegada, participaram neste jantar os habituais Duques da Terceira, o Conde de
Lavradio, o Barão de Campanhã, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Howard

689
Cf. L’abeille, Vol 4, 3º annee, 1er novembre 1841, nº 29, p. 157.
690
O Marquês de Fronteira, D. José Mascarenhas Barreto diz nas suas memórias que fazendo anos no
mesmo dia de D. Eugénia Teles da Gama, e tendo sido criados pela mesma ama, festejavam os seus
aniversários em casa de um ou outro, indistintamente. Cf. BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas,
Memórias do marques de Fronteira e d’Alorna, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por
ele próprio em 1861, ANDRADA, Ernesto Campo de Andrada, (rev.), Parte V e VI (1833 a 1842),
Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926, p. 141.
691
Cf. L’abeille, 5 année, 15 Janvier 1843, nº 58 p. 377.
692
Cf. L’abeille, 3º année, 15 novembre 1841, nº 31, p. 204.
693
François-Ferdinand-Philippe-Louis-Marie d'Orléans, príncipe de Joinville (14/08/1818-
16/06/1900) filho do Duque de Orléans, Luís Filipe.

211
de Walden, Lady Howard de Walden694, a baronesa de Varennes e o barão de Marechal,
entre outros695.
Além disso, o primeiro Duque de Palmela tinha como hábito receber
semanalmente, ao sábado, em sua casa do Lumiar, nos últimos tempos de sua vida 696.
Certamente nessas reuniões repetia aquilo que acontecia aquando da sua estadia em casa
de seu genro, no Porto, onde as reuniões tinham lugar, à noite, passeando-se nos jardins
e fumando charutos697.

Os tempos livres eram aproveitados para a leitura, para o desenho, pintura e


música698. Os passeios a cavalo também eram um entretenimento, sobretudo quando se
verificavam nas propriedades de família, nomeadamente, em Azeitão, como descreve D.
Pedro em carta à mulher, em 25 de Maio de 1840: “Escrevo-te ao momento de montar a
cavalo para ir ao Esteval. De caminho contamos lanchar em casa do Fonseca, visitar a
Condessa de Murça e ver a Quinta Nova. Amanhã iremos a Setúbal. O passeio da
Arrábida foi lindíssimo e muita pena tive sobretudo na volta que não viesses connosco
porque já não havia calor, viemos por meio de bosque. Na verdade, fragantes e
sombrios e mesmo por caminhos sofríveis ao chegar a El Carmen tivemos o golpe de
teatro de um rendez-vous de todos os gados de Calhariz, vacas, cabras, porcos, éguas,
bois de carretas”699.
Outro divertimento era o passeio de barco. Efectivamente, os terceiros Duques
de Palmela eram possuidores de um, o Surpresa, oferecido a D. Maria Luísa por seu

694
Charles Augustus Ellis, 6º Barão Howard de Walden e 2º Barão Seaford (5/06/1799 – 29/08/1868),
e Lady Lucy Cavendish-Scott-Bentinck (c.1813-29/07/1899). Foi diplomata inglês em diversos países,
incluindo Portugal.
695
Cf. L’abeille, 3 année, 1er janvier 1842, nº 33, p. 348.
696
BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do Marquês de Fronteira e d’Alorna, D.
José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, ANDRADA, Ernesto Campo
de Andrada, (rev.), Volume 2, Parte Sétima: 1842-1847, p. 339.
697
Cf. IDEM, ibidem, Vol. 2, parte terceira e quarta (1824 a 1833), Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1828, p. 284
698
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5796, Caixa 204, fol. 1834.
699
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5804, Caixa 236, fol. 1232

212
marido, por ocasião do seu aniversário natalício 700.
A ida às termas era frequente, não só nas Caldas da Rainha, como ocorreu em
1824, onde D. Eugénia, então Marquesa de Palmela, se encontrava com a cunhada, a
Condessa de Alva, os Marqueses de Fronteira, Lavradio, Valada e Alegrete, os Condes
da Lapa e o Barão de Porto Covo. A rotina era marcada pelos banhos, o passeio público
ou os jantares sociais e quebrada por alguma visita às redondezas, como a Alcobaça. 701.
A par das termas, também houve por parte da Casa Palmela uma procura de
estâncias balneares. Quando se encontrava em França, D. Eugénia e os filhos passavam
algumas temporadas em Boulogne-sur-mer, juntamente com outras emigradas, como a
Duquesa de Terceira ou a Infanta D. Ana de Jesus 702. Brighton, em Inglaterra, foi outro
sítio frequentado pela Duquesa de Palmela, nomeadamente em 1826, onde as idas à
praia eram frequentes703.

Para além de todas as sociabilidades verificadas no seio de sua Casa, tendo os


mais variados pretextos, verifica-se igualmente a existência de uma sociabilidade que se
desenrola num espaço físico exterior à Casa Palmela, mas que tem lugar no mesmo
espaço social que descrevemos inicialmente.
Em primeiro lugar, há que destacar aquilo que apelidaremos de sociabilidade
oficial, decorrente dos cargos públicos ou políticos desempenhados por esta Casa, à
qual está inerente a sociabilidade desenrolada no Paço. Assim, encontramos a presença
dos primeiros Duques de Palmela e de seu filho, D. Domingos de Sousa Holstein, por
ocasião do baptismo do infante D. João, em 17 de Abril de 1842, ou a 24 do mesmo mês
na cerimónia da entrega da Rosa de Ouro Pontifícia à Rainha D. Maria II 704. A 29 de
Outubro de 1842, para festejar o aniversário do Rei, para além do habitual beija-mão,
verificou-se um jantar onde compareceu toda a Família Real e os Marqueses do Faial,

700
BREYNER, Tomás, de Melo, Memórias do professor Tomás de Melo Breyner, fac. simil., Edição
Comemorativa do Centenário da fundação da Consulta de moléstias sifilíticas e venéreas do Hospital do
Desterro, p. 283.
701
BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do marques de Fronteira e d’Alorna, D.
José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, ANDRADA, Ernesto Campo
de Andrada, (rev.), vol. 1, p. 431.
702
IDEM, ibidem, p. 18.
703
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5802, Caixa 234, fol. 285.
704
Cf. L’abeille, Vol 5, 4e annee, 1er Mai 1842, nº 41, p. 137.

213
para além dos de Viana e Fronteira, entre outros705. Aliás, o tradicional beija-mão no dia
de aniversário do monarca foi participado ao longo de gerações, uma vez que já com D.
Luís o mesmo sucedia, assistindo D. Maria Luísa, terceira Duquesa de Palmela 706.
Os bailes no Paço também foram frequentados pelos membros da Casa Palmela,
como o baile de máscaras oferecido no Paço da Ajuda por D. Luís e D. Maria Pia, na
década de 1860, onde D. Maria Luísa de Sousa Holstein compareceu vestida de Isabel I
de Inglaterra, de acordo com um quadro célebre. “Foi uma festa tão
extraordinariamente luxuosa que não se pôde repetir, por causa das enormes despesas
707
que acarretou” . Com o nascimento do príncipe Real D. Carlos e do infante D.
Afonso, realizaram-se festas infantis, durante o dia, como os bailes de Entrudo, onde
crianças da Casa Palmela estiveram presentes 708.
De facto, também as crianças possuíam a sua rede de sociabilidades. Por
exemplo, D. Pedro Luz de Sousa Holstein, filho da terceira Duquesa de Palmela, que
morreu com 3 anos, recebeu em Sintra algumas vezes Tomás de Melo Breyner quando
ainda criança, onde brincavam com um carrinho puxado por carneiros 709. Desta forma, a
sociabilidade dos jovens iniciava-se bastante cedo, iniciando a sua vida social no
mesmo círculo onde se desenrolava a de seus pais, como podemos verificar na carta que
D. Alexandre de Sousa Holstein enviou a sua mãe, em 3 de Março de 1830, onde relata
frequentar a casa dos amigos dos pais: “ Segunda-feira à noite fui a casa do Príncipe
Esterhazy, demorei-me pouco e não me diverti nada; ontem a Casa da Princesa de
Lieven aonde havia um baile, eu não dancei e voltei para casa muito cedo”710.

Há também festividades oficiais que se desenrolavam fora do Paço, como a do


aniversário da Restauração da Carta. Tal como os aniversários do monarca, eram um dia
de grande gala na Corte, tendo também lugar o beija-mão. Em 1843, o décimo

705
Cf. L’abeille, 4º année, 1er novembre 1842, nº 53, p. 143.
706
Cf. BREYNER, Tomás, de Melo, Memórias do professor Tomás de Melo Breyner, fac. simil.,
Edição Comemorativa do Centenário da fundação da Consulta de moléstias sifilíticas e venéreas do
Hospital do Desterro, p. 318.
707
COLAÇO, Branca Gonta, Memórias da Marquesa de Rio Maior, Lisboa, Parceria António Maria
Pereira, 1930, p. 104.
708
BREYNER, Tomás, de Melo, Memórias do professor Tomás de Melo Breyner, p. 87.
709
IDEM, ibidem, p. 9.
710
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5747, Caixa 169, fol. 1755.

214
aniversário, foi festejado no Teatro Nacional de S. Carlos, onde se tocou o Hino da
Carta Constitucional, antes da récita de Beatrice di Tenda. Para além dos monarcas,
estavam presentes membros das Duas Câmaras, que ofereceram uma ceia de 114
iguarias aos Duques da Terceira e de Palmela e aos restantes membros da Junta
Provisória do Porto. Há que realçar a iluminação preparada para o efeito do Castelo de
S. Jorge711.

Os eventos de carácter religioso eram também usuais. A 10 de Dezembro de


1842, a Duquesa de Palmela, juntamente com a Duquesa de Ficalho, as Marquesas de
Pombal, Alegrete e Valada estiveram presentes na Igreja do Antigo Convento de Jesus,
em acção de graças pelo bom sucesso do Estabelecimento da Sociedade para a
Propagação da Fé em Portugal712.
Nas quintas-feiras Santas, era habitual os membros da Casa Palmela assistirem à
cerimónia do lava-pés, no Palácio dos Caetanos, onde residiam os Condes de Ficalho,
encontrando-se presentes também os Condes de Sobral e Moçamedes713.
Acontecimentos mundanos também tinham lugar com fins caritativos, como
aquele organizado pela comissão de socorros às vítimas das inundações da Madeira, de
que era presidente o Marquês do Faial, D. Domingos de Sousa Holstein, realizado no
Teatro de S. Carlos, onde estive presente a família Real714.

Na vida diplomática, os primeiros Duques eram conhecidos por “aquela


amabilidade que sempre os caracterizou”715. Enquanto embaixadores em Londres, aí
recebiam grande parte da aristocracia portuguesa, como os Marqueses de Fronteira,
apresentando-os à alta sociedade inglesa e, inclusive aos monarcas 716. Também ficou
conhecido o episódio que ocorreu com D. Eugénia Teles da Gama, ainda como
condessa de Palmela, numa das suas primeiras estadias em Londres, como embaixatriz.

711
Cf. L’abeille, 5e année, 15 Février, 1843, nº 60, p. 457.
712
Cf. L’abeille, 4º année, 15 décembre 1842, nº 56, p. 286.
713
BREYNER, Tomás, de Melo, Memórias do professor Tomás de Melo Breyner, p. 79.
714
Cf. L’abeille, 4º année, 1er janvier 1842, nº 57, p. 335.
715
BARRETO, D. José Trazimundo Mascarenhas, Memórias do Marquês de Fronteira e d’Alorna, D.
José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861, ANDRADA, Ernesto Campo
de Andrada, (rev.), Vol. 2, parte terceira e quarta (1824 a 1833), p. 173.
716
IDEM, ibidem, vol. 2, parte terceira e quarta (1824 a 1833), pp. 173-174.

215
De facto, numa das recepções no Paço, não encontrando o lugar que lhe competia como
mulher do representante da coroa portuguesa, arrojou uma cadeira de um outro sítio da
sala, tomando o lugar que lhe pertencia, tendo sido aplaudida por toda a corte inglesa 717.

Vários foram os convites para jantar que os Duques de Palmela receberam para
durante a sua ausência do Reino. De facto, as suas sociabilidades no estrangeiro não
diferiam muito daquelas a que estavam habituados em Portugal, apesar dos seus
interlocutores diferirem. Efectivamente, quer fosse em Inglaterra, ainda na década de
1820718, ou 1830, em França719, os convites eram constantes, sendo alguns
acompanhados por partidas de Whist, jogo de cartas semelhante à bisca 720. Algumas
vezes, alguns dos seus convidados para jantar retribuíam levando os membros da Casa
Palmela a desfrutarem de concertos particulares, como aconteceu em Janeiro de 1839,
como contou D. Pedro de Sousa Holstein a sua mulher, em carta de 7 de Janeiro de
1839: “(…) Saberás que a Princesa de Lieven quis jantar aqui sábado passado com as
pequenas e logo depois de jantar levou a Teresa a um concerto a casa de M.me de
Bourke para ouvir o Rubin721i e a Grisi722.”723. Isto permitiu um maior envolvimento da
Casa Palmela com a alta sociedade europeia e um acrescentamento da sua cultura.
Para além dos jantares, as idas ao teatro eram igualmente constantes, como relata
D. Alexandre de Sousa Holstein, Conde de Calhariz, em carta a sua mãe, datada de 19
de Dezembro de 1824: “Hoje fomos ver umas chinesas que se mostram e uma delas
cantou e tocou. Ontem à noite fomos ao Teatro Francês, e vimos o Perlet no
Tartuffe.”724 Obviamente que para além das sociabilidades habituais, o estrangeiro era
um pretexto para visitar e conhecer monumentos. É o que acontece com D. Alexandre,
quando se encontra em França, em 11 de Setembro de 1829, escrevendo ao pai: “Esta

717
GARRETT, Almeida, Memória histórica da Duque de Palmela, D. Eugénia Francisca Xavier
Teles da Gama, Lisboa, Imprensa Nacional, 1848.
718
Cf. Correspondência particular, IANTT, ACP, Microfilme 5748, Caixa 171, fol. 24.
719
Cf. Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 168.
720
Cf. Correspondência particular, IANTT, ACP, Microfilme 5748, Caixa 171, fols. 8-167.
721
Giovanni Battista Rubini (1794-1854). Tenor italiano, com especial sucesso nas óperas de Rossini.
722
Giulia Grisi (28/07/1811-29/11/1869): soprano italiana para quem foram escritas as óperas I
Capuleti ed i Montecchi e I Puritani, de Bellini. Era prima da bailarina italiana Carlotta Grisi
(18/06/1819-20/05/1899), que estreou o bailado Giselle.
723
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5745, Caixa 171, fol. 176.
724
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5747, Caixa 169, fol. 1315.

216
semana temos visto algumas coisas, fomos aos Inválidos; gostei muito, mas o edifício
pareceu-me que não tem comparação com o de Greenwich, à excepção da Igreja que é
magnífica. A vista de Paris do alto do Pantheon é linda (....) Tenho ido algumas vezes
ao Teatro, acho-os em geral mais bonitos do que os de Londres, mas muito mais
pequenos.”725 Mas não só monumentos. É o caso de D. Domingos, que descreve
pormenorizadamente no seu diário, a visita que fez com o pai, a uma mina de Cobre em
Inglaterra: “(…) e conduziu-nos esta manhã à mina de cobre chamada Consolidated
Mine situada a 10 milhas de distancia de Falmouth e que é a mais considerável de
todas que actualmente se trabalham. Chegados ao distrito que chama das minas e que
ocupa um terreno pouco mais ou menos de 10 milhas quadradas causou-nos impressão
o aspecto triste que apresenta aquele país aonde se não vê cultura nenhuma mas sim
uma quantidade de montes de terra remexida, de covas profundas, de máquinas de
madeira destinadas aos diversos trabalhos das minas e de choupanas disseminadas que
servem de habitação aos mineiros (…) Os poços que nela se tem escavado para seguir
o veio de cobre chegam já a 1800 pés de profundidade perpendicular sendo esta,
segundo parece, a maior profundidade a que até agora se tem chegado em uma mina,
disse-nos [o feitor da mina] que o termómetro dava 96 graus de calor no fundo da mina.
Parece impossível que os trabalhadores possam respirar em uma tal atmosfera e
ficámos espantados quando soubemos que perto de 1500 indivíduos passam
diariamente 8 horas do dia ou da noite naqueles poços (…)”726.

Em conclusão, as sociabilidades da Casa Palmela encontravam-se divididas em


dois aspectos essenciais: o quotidiano e os eventos extraordinários. De facto, a prática
do lazer e da ocupação dos tempos livres resultavam simplesmente do decorrer
quotidiano e eram desenvolvidos num ambiente mais íntimo. Pelo contrário, os eventos
extraordinários eram marcados por vários aspectos: os rituais da corte e do serviço no
Paço; a vida diplomática e, finalmente, os rituais de passagem, como o nascimento e o
casamento. A educação, baseada no ensino da música e da dança, proporcionava o
savoir faire necessário para a concretização das práticas sociais. Por outro lado, parte
das ocasiões festivas encontravam-se enquadradas por um cerimonial religioso. Por fim,
há que realçar o papel desempenhado pela mulher – é ela que é referida

725
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5744, Caixa 169, fol. 1095.
726
Correspondência particular, IAN/TT, ACP, Microfilme 5730, Caixa 160, fols. 1557-1558.

217
pormenorizadamente na imprensa, não havendo uma segregação evidente, podendo,
inclusive, haver um convívio entre ambos os sexos, mesmo em ambientes mais íntimos,
como as refeições.

218
9. Conclusão

A Casa Palmela é uma Casa nobre que, nas vésperas do liberalismo, apesar de
não ser titulada, pertencia à primeira nobreza de Corte, pelos vínculos que ao longo de
gerações os seus membros foram instituindo, pelas comendas que obtiveram, pelo
importante cargo de Capitães da Guarda Real que desempenharam e porque partilhavam
a vida daquele pequeno grupo. É também um exemplo de como o percurso político do
primeiro titular possibilitou a consolidação do seu prestígio social. Efectivamente, o seu
apoio à causa liberal condicionou, sobremaneira, o lugar entre os seus pares, como aliás
acontece em períodos de conturbação política, permitindo o acesso à titulação e a subida
no cursus honorum.

Todavia, não foi apenas o percurso político, fortemente marcado pelo apoio a D.
Pedro, que terá condicionado a sua preponderância no novo regime. De facto, para tal
também terão concorrido outros factores, como a biografia dos restantes indivíduos da
família, a educação, os seus casamentos, a origem dos rendimentos, o estilo de vida e as
práticas culturais.

De facto, a educação, nomeadamente, a formação académica foi uma


preocupação constante, pelo menos dos primeiros Duques de Palmela relativamente a
seus filhos. A educação foi entendida no seio desta Casa como de elevada importância.
Ela era diferente para cada um dos sexos, sendo que a educação masculina tendia a
evoluir para um nível superior, restando aos elementos femininos, para além dos
conhecimentos básicos da gramática, os lavores, a música, o desenho e a pintura.
Obviamente que a permanência no estrangeiro, decorrente, quer da actividade
diplomática do primeiro Duque de Palmela, quer da condição de exilados, como
consequência do governo de D. Miguel, permitiu a aquisição, desde a infância, do
conhecimento de línguas estrangeiras, como o francês e o inglês.

As alianças matrimoniais foram outra das estratégias seguidas como forma de


consolidação do seu status quo. De facto, há desde logo uma clara preocupação em
casar todos os filhos, característica completamente nova relativamente ao grupo

219
aristocrático, apesar do número de celibatários no seio da aristocracia já estar em
decréscimo desde a segunda metade do século XVIII. Essa preocupação poderá decorrer
de uma procura de consolidação das redes de solidariedade e de aliança política,
sobretudo num contexto de guerra civil e de reestruturação política, como foi a primeira
metade do século XIX.

O casamento ocorria cedo na vida dos nubentes, o que vem reforçar a pouca
influência dos noivos na sua escolha. Eram casamentos combinados, parecendo o seu
objectivo primordial, ao contrário do que acontecia durante o Antigo Regime, em que se
procuravam ampliar os ganhos simbólicos, afirmando o estatuto de cada uma das casas,
ser agora o de ampliação do património económico, nomeadamente a posse de
rendimentos suficientes para a sua conveniente sustentação.

Obviamente que os casamentos foram efectuados no seio do grupo aristocrático.


Todas as mulheres casaram com titulares, à excepção da filha mais nova dos primeiros
Duques de Palmela, que casou, no entanto, com secundogénitos de titulares, e das
terceira e quarta Duquesas de Palmela que, como senhoras da Casa que eram, casaram
com secundogénitos de outras casas titulares, tal como acontecia ainda no Antigo
Regime. Também os homens casaram com filhas secundogénitas, excepto D. Filipe,
Marquês de Sesimbra, que se liga a uma herdeira de sua Casa, curiosamente, sua
sobrinha, como forma de evitar a quebra da varonia. Ainda assim, todos os filhos do
primeiro Duque de Palmela foram agraciados com novos títulos, encabeçando uma nova
casa titular.

Grande parte dos indivíduos foi Par do Reino. Alguns destes cargos eram
hereditários. Significativo é também o número de indivíduos que exerceu ofícios no
Paço, assim como as condecorações adquiridas, ainda que a título honorífico. As
carreiras militares, no exército ou na marinha, são pouco expressivas, e a formação
académica começa a desenvolver-se, embora mais evidente no caso dos próprios
indivíduos Palmela, que são também aqueles com maior participação em
empreendimentos comerciais, industriais ou financeiros.

Se se tiver em conta a antiguidade das Casas titulares com que a Casa Palmela
encetou relações matrimoniais, constata-se que, apesar de algumas delas serem da

220
antiga nobreza titulada do Reino, com títulos atribuídos anteriormente à regência de D.
João VI, como Castelo Melhor, Galveias, Niza e Ribeira Grande, muitas eram
relativamente recentes. De facto, as Casas de Alcáçovas, Terena, Lançada e Praia e
Monforte foram tituladas após 1834, apesar de possuírem nobreza antiga e vínculos
antigos e conseguiram a titulação após esta data por terem alinhado pelo lado vencedor
da guerra civil.
As que foram agraciadas com títulos no período compreendido entre 1792 e
1826, ou seja, as Casas da Póvoa e de Sobral, ainda que esta sem grandeza, estavam na
mesma situação da Casa Palmela, que também foi titulada neste período.

Todas as Casas com que a de Palmela se ligou pelo casamento alinharam pelas
hostes liberais, à excepção da casa da Póvoa, sendo o conde, um dos assinantes da
Representação de 25 de Abril de 1828, alinhando, por isso, pelo lado miguelista.
Embora nos outros matrimónios os ganhos económicos fossem evidentes, pela
leitura da correspondência trocada entre os primeiros Duques de Palmela, este
casamento é a prova cabal da importância de uma aliança que trouxesse um
acrescentamento económico à Casa Palmela. De facto, nem a pouca antiguidade da Casa
da Póvoa, nem o seu posicionamento político miguelista impediram a sua união, uma
vez que se tratava de garantir uma aliança com uma das maiores fortunas do país,
rompendo por isso com o padrão seguido pela Casa Palmela relativamente às suas
estratégias matrimoniais. Só assim se compreendem os esforços realizados, sobretudo
pelo primeiro Duque de Palmela, com sacrifício de sua família, para a concretização de
um matrimónio, cuja validade foi posta em causa pelos parentes paternos da nubente,
que, a todo o custo, procuraram a sua anulação, tentando desse modo manter a fortuna
na família.
A liquidez financeira que este consórcio proporcionou terá, de certa forma,
contribuído para a possibilidade do pagamento das indemnizações às renúncias de
legítimas que os irmãos do segundo Duque de Palmela efectuaram em seu favor,
permitindo a manutenção da totalidade da Casa nas mãos de um único herdeiro. As
renúncias terão possibilitado, no caso concreto das mulheres, dotarem-se com essa
quantia, à excepção de D. Maria Ana, a primeira que casou, ainda conforme a legislação
pombalina. Dos dotes não constaram bens de raiz, apenas fundos monetários, à
excepção do que se verificou com a única irmã da terceira Duquesa de Palmela, D.
Luísa Maria, que foi dotada com uma quantia dez vezes superior à de suas tias, sendo

221
paga em parte através de uma propriedade fundiária. Este aumento significativo foi
consequência da vontade expressa dos segundos Duques de Palmela em partilhar a sua
fortuna pelas duas filhas. Apesar de coincidir com a teorização de Mouzinho da Silveira
relativamente à legislação de abolição dos vínculos, esta divisão antecipa o que a lei
desvinculadora de 1863 consagrou, podendo-se considerar como uma nova
característica na mentalidade aristocrática desta Casa.

O casamento dos segundos Duques de Palmela também possibilitou equilibrar a


contabilidade desta Casa. Durante o reinado de D. Miguel, os seus bens foram
arrestados e a família obrigada a exilar-se, provocando uma maior falta de liquidez, já
de si agravada com os elevados gastos com a manutenção do estatuto da Casa. Só um
casamento tão proveitoso a nível económico poderia viabilizar um equilíbrio financeiro
que o recurso constante ao crédito e a tentativa de redução das despesas domésticas não
conseguiram concretizar.

Efectivamente, a análise dos rendimentos das Casas Palmela e Póvoa,


administradas individualmente, permite-nos chegar a essa conclusão, uma vez que esta
última possuía rendimentos substancialmente superiores àquela. Além disso, a Casa
Palmela estava muito mais dependente financeiramente da posse de propriedades
imobiliárias que a Casa Póvoa, cujos rendimentos se baseavam tanto neste tipo de
propriedades, como em aplicações financeiras, uma novidade no contexto dos
rendimentos tradicionais da aristocracia.

No que diz respeito ao recheio do Palácio do Rato, residência habitual desta


família, há que realçar a posse de variadas obras de arte, pintura e escultura, que denota
a propensão desta Casa para as artes e para o coleccionismo.
Assinala-se neste palácio a existência de espaços especializados destinados ao
convívio e sociabilidade, em contraposição a espaços privados, destinados à intimidade
familiar e ao lazer.
Os espaços públicos estavam preparados, não só para receber uma grande
quantidade de convivas, mas também para lhes proporcionar um entretimento adequado,
seja através do jogo ou da prática musical, onde todos participavam. As grandes
ocasiões festivas ocorriam em circunstâncias especiais, como casamentos e aniversários.
A par desta sociabilidade dentro de portas, é também visível uma sociabilidade

222
oficial, decorrente do serviço no Paço.

Em conclusão, parece que no caso concreto da Casa Palmela se registaram


mudanças nas mentalidades e comportamentos aristocráticos, que permitiram a
manutenção do estatuto privilegiado que alcançara em finais do Antigo Regime e,
inclusive, a sua elevação. De facto, a actividade diplomática desenvolvida pelo primeiro
Duque de Palmela, D. Pedro e, sobretudo, a opção pelo liberalismo de D. Pedro IV,
ainda que com algumas consequências funestas durante o reinado de D. Miguel,
revelou-se como essencial para a obtenção de um prestígio social, recompensado com
os mais altos títulos da monarquia do Reino.
Outro contributo decisivo para esse prestígio, para além de uma inovadora e
forte aposta na formação académica dos seus filhos, foram as alianças matrimoniais que
o mesmo D. Pedro de Sousa Holstein procurou para os seus filhos, casando-os tanto
quanto possível no grupo seus pares, com aqueles que possibilitariam um maior
acrescentamento económico à sua Casa e liberais, não hesitando, todavia, em casar o
herdeiro com uma senhora de uma casa recente e miguelista, tendo em vista o
enriquecimento da Família. Foi o que aconteceu com o herdeiro D. Domingos, que
casou com a filha do Conde da Póvoa.
Esta preocupação de perpetuar nos filhos o modo de vida nobre, é também
visível nos contratos de renúncia de legítimas que estes efectuaram em favor dos
primogénitos. Isto, além de favorecer a integridade da Casa Palmela, permitia
simultaneamente uma soma apreciável para a constituição dos novos casais.
O testamento dos segundos Duques, ao dividir os bens da Casa Palmela pelas
duas filhas é também um traço revelador de alteração dos quadros mentais deste grupo,
ao antecipar a abolição total dos vínculos verificada em 1863.
Esta mudança na mentalidade aristocrática desta Casa passou também pela
forma como foi entendido o património. Procuraram capitalizá-lo através de actividades
que não estivessem dependentes da exploração fundiária, ainda que esta estivesse
significativamente presente. Foi o caso do investimento em diversos sectores
económicos, como a finança, a indústria e os serviços, através da posse de acções de
diversas empresas.

Estas alterações mentais e comportamentais, que destacaram esta Casa


aristocrática no contexto da monarquia constitucional em Portugal permitirão explicar,

223
mais do que a manutenção do seu estatuto privilegiado, o alcançar da sua posição
cimeira no topo da pirâmide social da monarquia.
Se D. Maria Luísa, terceira Duquesa de Palmela, segunda Marquesa do Faial,
terceira Condessa de Calhariz e Camareira-Mor da Rainha D. Amélia ainda assistiria ao
regicídio de 1908, só sua filha D. Helena Maria, quarta Duquesa de Palmela, terceira
Marquesa do Faial e representante dos títulos de Condessa da Póvoa, Condessa de
Calhariz e Viscondessa da Lançada é que presenciaria a queda do regime monárquico.
Agora sim, as mudanças comportamentais e mentais não seriam suficientes para a
conservação do estatuto aristocrático.

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156; 157; 158; 159; 160; 161; 162; 163; 164; 165; 166; 167; 168; 169; 170; 171; 172;
173; 174; 175; 176; 177; 178; 179; 180; 181; 182; 183; 184; 186; 187; 188; 189; 190;
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