Leitura e Produção Textual - Unidade 2
Leitura e Produção Textual - Unidade 2
Leitura e Produção Textual - Unidade 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Dialogar com diferentes conceitos sobre leitura.
•• Compreender os processos de aquisição de leitura.
•• Refletir sobre os desafios do ensino de leitura no contexto contemporâneo.
PLANO DE ESTUDO
Caro(a) aluno(a), um texto é um todo organizado de sentido, feito para ser lido e in-
terpretado. É pela leitura que decodificamos textos, é pela leitura que descobrimos e
interagimos com o conhecimento. Portanto, conceituá-la e compreender como nós,
nossos alunos e as pessoas, em geral, processam textos, é fundamental para formar
cidadãos capazes de leituras críticas. Dessa forma, neste estudo, trataremos das pro-
priedades da leitura.
Para tanto, vamos, em um primeiro momento, caracterizar o que é leitura, dia-
logando com diferentes conceitos. No segundo momento, iremos caracterizar os
processos para a construção de significados por meios para leitura: decodificação,
compreensão, interpretação e retenção. Dessa forma, teremos meio de entendermos
os processos que constituem um leitor e traçarmos maneiras de fazer práticas com
o intuito de formar leitores. Finalmente, neste estudo, refletiremos sobre os desafios
do ensino de leitura no contexto contemporâneo. Abordaremos as estratégias de
leitura (seleção, antecipação, inferência e verificação) e as estratégias de compreen-
são, (antes, durante e após a leitura).
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CONCEPÇÕES DE
LEITURA
Caro(a) aluno(a), quem lê tem a capacidade de decifrar textos, certo? Se assim fosse,
definir o que é leitura seria muito simples. Bastaria dizer que leitura é o processo de
decifração do que foi escrito, ou seja, seria a propriedade de interpretar e codificar
textos. Certo?
Bem, caro(a) aluno(a), isso não está errado. Contudo, tampouco é o único con-
ceito possível. Isso, porque definir leitura não é uma tarefa fácil. Diferentes ciências,
tais como a psicolinguística, a sociolinguística, a psicologia cognitiva, a educação
e entre muitas outras, vêm se dedicando aos estudos dos atos de leitura. É funda-
mental que professores que trabalham com leituras de textos (e não falamos só de
professores de Língua Portuguesa, mas de todos os professores) tenham consciência
de tudo o que está envolvido no ato de leitura. Isso deve acontecer para evitar que
a leitura seja considerada um simples ato de decodificação, em que o sujeito leitor
é passivo ao conteúdo que lê.
Um consenso entre todos os atuais estudos sobre leitura é o de que esse ato é
dinâmico e interativo. Dos estudos interacionistas, fundamentados tanto na obra de
Bakhtin (2003) quanto na obra de Vygotsky (1988), temos a contribuição de que ler
é essencialmente uma atividade dialógica, ou seja, um momento de pleno diálogo
interativo entre quem produziu o texto, o texto propriamente dito e quem o lê. Dos
estudos cognitivos, como a psicolinguística, temos a confirmação que o ato de ler
sempre será complexo, pois o leitor mobilizará múltiplos processos cognitivos para
poder, enfim, construir o sentido de um texto (KLEIMAN, 2004).
Para aprofundarmos o conceito de leitura, vamos abordar a concepção de Leffa
(1996), que considera que a leitura é basicamente um processo de representação.
Em outras palavras, pelo que lemos, entendemos a realidade e não acessamos dire-
tamente o real, mas representações sobre ele. Leffa (1996, p. 10), utiliza a metáfora
do espelho para explicar essa relação:
10 Pós-Universo
““
A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por intermediação de
outros elementos da realidade. Nessa triangulação da leitura o elemento in-
termediário funciona como um espelho; mostra um segmento do mundo
que normalmente nada tem a ver com sua própria consistência física. Ler é,
portanto reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos
oferecem imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possí-
vel quando se tem um conhecimento prévio desse mundo.
Perspectivas
Texto Leitor Interação Discursiva
Levando em consideração que a leitura deve ser entendida, então, como um proces-
so ativo e dinâmico, pois o “texto tem um potencial de evocar significado, mas não
tem significado em si mesmo” (MOOR ; CASTRO; COSTA. 2001, p. 160), o ideal seria
ter uma concepção ampla de leitura e ter uma perspectiva interacionista e discursi-
va. Em outras palavras, é necessário articular essas duas posturas: ao mesmo tempo
em que se considera o leitor como um sujeito ativo que age sobre as informações
do texto, também é preciso levar em conta que os textos têm os sentidos submeti-
dos às condições de produção de seu tempo.
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Pós-Universo 15
PROCESSOS DE
LEITURA
Caro(a) aluno(a), percebemos, até agora, que a leitura não deve ser analisada como
um produto, como um mero resultado de um ato, mas deve ser analisada como um
processo de construção de significações. Se for completo, terá, como resultado, a exis-
tência de um leitor crítico, que exerce o ato de ler como um ato político. Convergente
a essa perspectiva, Soares (1988, p. 28) afirma que a leitura é um processo político e,
dessa maneira, os formadores de leitores, como, por exemplo, os alfabetizadores, os
professores e os bibliotecários, acabam desempenhando um papel político. Assim,
sua ação poderá, ou não, ser um instrumento de transformação social.
Para tanto, é preciso entender melhor como a leitura se processa e como os pro-
fessores podem intervir para que ela seja ainda mais efetiva. Em relação aos processos
de leitura, podemos destacar três: processo ascendente, descendente e interativo
(KATO, 1985; LEFFA, 1996).
As duas primeiras são frutos da polarização entre a concepção de leitura voltada
para o texto versus aquela voltada para o leitor. Assim, segundo Kato (1985), temos a
hipótese bottom-up, ou ascendente, e a hipótese top-down, ou descendente. A pri-
meira se processa do texto para o leitor: os dados do texto são o ponto de partida
para a compreensão. O segundo volta sua importância para o leitor: o leitor se volta
para o texto e confirma hipóteses. Estudamos, na sessão anterior, que essas perspecti-
vas são incompletas para a compreensão do ato de leitura. No entanto, é interessante
observar a análise de Kato (1985). Segundo a autora, esses dois tipos de processa-
mento podem ser utilizados para a descrição de tipos de leitores. Observe no quadro
a seguir:
16 Pós-Universo
É o leitor que apreende fa- Constrói o significado com base nos dados É aquele que
cilmente as ideias gerais do texto, fazendo pouca leitura nas entre- usa, de forma
e principais do texto, é linhas. Ele apreende detalhes, detectando adequada e
fluente e veloz, mas faz até erros de ortografia, mas que, ao con- no momento
excessos de adivinha- trário do primeiro tipo, não tira conclusões apropriado, os
ções. É o tipo de leitor apressadas. É vagaroso, pouco fluente e dois processos
que faz mais uso do seu tem dificuldade em sintetizar as ideias do complemen-
conhecimento do que da texto, por não saber distinguir o que é mais tarmente.
informação efetivamente importante do que é meramente ilustrati-
dada pelo autor. vo ou redundante.
DECODIFICAÇÃO
Processo primário de leitura: o leitor decodifica os símbolos, junta letras, forma as pa-
lavras e compreende a sua significação. Se a leitura parar nesse processo, ela jamais
se efetivará, pois será superficial e incompleta. No entanto, decodificar é imprescin-
dível para avançar para as outras etapas (KLEIMAN, 2004).
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COMPREENSÃO
Nesta etapa, os sentidos do texto são percebidos pelo leitor. Assim, ele é capaz de
identificar o assunto do texto, a que gênero pertence, suas características formais
e faz uma síntese do conteúdo do texto. Em suma, “compreender pressupõe saber
como um objeto simbólico produz sentidos, através da exposição à materialidade
dos processos de significação presentes no texto” (ORLANDI, 1999, p. 26).
INTERPRETAÇÃO
Etapa posterior à compreensão. Aqui, acontece atribuição de sentidos, o deciframen-
to das informações implícitas. Além disso, há a real interação entre texto e leitor, pois
o leitor ativa seus conhecimentos prévios para confirmar as hipóteses e agir sobre
o texto.
RETENÇÃO
Nessa etapa, as informações mais importantes da leitura ficam retidas da memória
do leitor, fazendo parte de seus conhecimentos prévios. A retenção pode acontecer
em dois níveis: no nível da compreensão e no nível da interpretação. O primeiro diz
respeito a memorização das regras de um gênero ou, então, em saber resumir um
texto após sua leitura. Para fazer isso, é necessário que parte da leitura tenha sido
retida. O nível da interpretação manifesta-se quando o leitor consegue relacionar os
sentidos que construiu a partir da leitura de outros contextos de sua vida.
reflita
O ENSINO DE LEITURA
Caro(a) aluno(a), o grande desafio do ensino de leitura é a formação de leitores crí-
ticos. O primeiro passo é garantir que nossos alunos tenham as ferramentas básicas
para decodificar os textos, interagir com o seu conteúdo e, assim, ter em um olhar
crítico sobre eles.
No Ensino Fundamental, uma forma importante de iniciar o processo de formação
de leitores críticos é ensinar por meio de estratégias de leitura. Segundo Menegassi
(1995), estratégias devem ser consideradas procedimentos que facilitam a leitura. Elas
são ótimos auxílios no objetivo de “formar leitores autônomos, capazes de enfrentar
de forma inteligente textos de índole muito diversa, na maioria das vezes diferentes
dos utilizados durante a instrução (SOLÉ, 1998, p. 72)”.
Além disso, as estratégias de leitura podem ser consideradas, também, como
planos flexíveis que apresentam grande adaptação às mais diversas situações comu-
nicativas presentes nos textos, facilitando a compreensão dos leitores (PELLEGRINI,
1996; KOPKE, 2001). Destacamos quatro principais estratégias: seleção, antecipação,
inferência e verificação, as quais foram retiradas dos estudos de Goodman (1987),
Smith (1991) e Menegassi (1995).
SELEÇÃO
O leitor seleciona quais informações são relevantes ou escolhe algumas para inter-
pretar e reter.
ANTECIPAÇÃO
São as hipóteses de leitura criadas pelo leitor, antes e durante a leitura. Ele tenta ante-
cipar o que está por vir e tentará comprovar suas hipóteses. Uma vez comprovadas,
o leitor estará satisfeito por estar compreendendo o que lê. Caso não tiver uma hi-
pótese comprovada, o leitor terá que rever sua compreensão e, assim, terá de trocar
de estratégia ou hipótese.
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INFERÊNCIA
A partir de informações expostas no texto, o leitor é capaz de inferir outras. Por exemplo,
em uma manchete: “Morre um famoso ator”, o leitor pode inferir que a esposa ficou
viúva, que os fãs do ator poderão estar penalizados e entre outras inferências. Em
outras palavras, a inferência acontece quando o que está posto no texto ativa os co-
nhecimentos de mundo dos leitores.
VERIFICAÇÃO
É quando o leitor comprova ou refuta todas as suas antecipações e inferências. É a
verificação que faz com que o leitor ajuste a sua interpretação do texto.
Bem, caro(a) aluno(a), temos uma base para compreender como acontece o
processo de leitura e como um leitor lança mão de estratégias para a construção de
sentidos. Cabe, agora, refletir sobre como deve agir um professor em aulas de leitura.
Em primeiro lugar, devemos pontuar que não existe uma receita prévia, delimitada,
com passos únicos e rígidos. Pelo contrário, há muitas possibilidades e todas devem
ser relativizadas de acordo com o contexto em que o ensino se efetivará. Em outras
palavras, o professor precisa criar atividades de leitura compatíveis com a faixa etária
dos alunos, com o nível de conhecimento, o contexto escolar e, dentro do possível,
contemplando as necessidades individuais de cada um de seus alunos.
De forma geral, podemos afirmar que uma aula de leitura deve priorizar três
grandes momentos (SOLÉ, 1998; JOLIBERT, 1994): motivação de leitura, leitura pro-
priamente dita e reflexão sobre o que foi lido, que correspondem, respectivamente,
a um antes, um durante e um depois do ato de leitura.
MOTIVAÇÃO DE LEITURA
É o momento que antecede a leitura. O professor deve motivar o interesse dos alunos
em relação ao texto que será lido. Para tanto, deverá mobilizar o conhecimento prévio
dos alunos. Aqui, podem ser desenvolvidas as atividades de pré-leitura relacionadas
com o gênero que se vai ler.
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atenção
1. Levando em consideração que a leitura deve ser entendida, então, como um proces-
so ativo e dinâmico, pois o “texto tem um potencial de evocar significado, mas não
tem significado em si mesmo” (MOOR ; CASTRO; COSTA. 2001, p. 160), qual deve ser
a concepção de leitura adotada pela escola?
3. Sobre o ensino de leitura, julgue as afirmativas a seguir com (V) para as Verdadeiras
e (F) para as Falsas:
( ) No ensino de leitura, existe uma receita prévia, delimitada, com passos únicos e
rígidos, a qual deve ser seguida.
( ) O professor precisa criar atividades de leitura compatíveis com a faixa etária dos
alunos, o nível de conhecimento e com o contexto escolar.
A sequência correta é:
a) V, F, V, V.
b) V, F, F, F.
c) F, V, V, F.
d) F, V, V, V.
e) F, F, F, F.
resumo
O nosso estudo teve, como objetivo, sintetizar os estudos sobre a leitura na perspectiva inte-
racionista, enfocando especialmente na relação entre leitura e ensino. Para tanto, no primeiro
momento, refletimos sobre diferentes concepções de leitura: pelo texto, pelo leitor, pela intera-
ção e pelo discurso. Verificamos que as quatro concepções apresentam vulnerabilidades e que
o ideal é conceber a leitura por uma perspectiva interacionista e discursiva, ou seja, levando em
consideração a interação de sentidos entre o texto e o leitor, bem como o contexto de produ-
ção e recepção. Em seguida, refletimos sobre como se efetivam os processos de leitura, ou seja,
como lemos. Descrevemos três processos, o ascendente, o descendente e o processo de leitura
ancorada na ampla competência comunicativa de um leitor maduro. O leitor maduro é aquele
que cria pontes de sentido entre o seu conhecimento de mundo e o que está disposto no texto.
Em seguida, pontuamos os passos do processo de leitura: a decodificação, a compreensão e a
retenção. Cada um dos passos é fundamental para a efetivação do ato de leitura.
Finalmente, tratamos sobre a leitura no ensino. Pontuamos que a escola precisa ensinar estratégias
de leitura e destacamos quatro delas: seleção, antecipação, inferência e verificação. As estratégias
devem ser pensadas para serem trabalhadas em aulas de leitura. Apesar de não existir receitas
prontas, idealmente, uma aula com textos e leitura deve ser composta por três momentos: um
momento de motivação que antecede a leitura, uma estimulação a questionamentos durante a
leitura e uma maior reflexão ao final da leitura.
material complementar
NA WEB
Um pesquisador sempre deve estar atento às publicações e estudos mais recentes de sua área.
Uma forma muito eficaz de fazer isso é conhecer as últimas teses e publicações. Para isso, uma
ferramenta muito importante é a consulta do Banco de Teses e Dissertações da Capes.
Web: http://bancodeteses.capes.gov.br/banco-teses/#!/
referências
ANGELO, C. M. P.; MENEGASSI, R. J. Desempenhos em leitura nas séries finais de ciclo. Acta
Scientiarum. Language and Culture, v. 30, n. 2, p. 129-137, 2008.
KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática, 1985.
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7. ed. Campinas: Pontes, 2004.
MOOR, A. M.; CASTRO, R. V.; COSTA, G. P. O ensino colaborativo na formação do professor de inglês
instrumental. In: LEFFA, V. (org.). O professor de línguas estrangeiras: construindo a profissão.
Pelotas: Educat, 2001. p. 157-173.
referências
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
resolução de exercícios
3. c) F, V, V, F.