Estimulação para o Desenvolvimento Da Fala

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Estimulação para o Desenvolvimento da Fala

    Objetivo geral: O professor deve preparar a criança para a emissão,


desenvolvendo o controle de tensão e relaxamento, sua respiração,
sensibilidade, mobilidade e propiocepção (consciência corporal) da região
fonoarticulatória.

    A estimulação para o desenvolvimento da fala deverá dar ênfase:

a) à Respiração
b) à Tensão e ao Relaxamento
c) ao Ritmo
d) à Estimulação da sensibilidade e da mobilidade orofacial.
a) Respiração

    Objetivo Geral: Adquirir hábitos corretos de respiração, propiciando melhor


ritmo de fala e melhor emissão dos fonemas e de uma voz  mais natural.

    Um dos aspectos envolvidos na emissão correta e na colocação de fonemas


é uma respiração adequada.

    A respiração sadia é, em grande parte, inconsciente, mas através da


educação respiratória, a criança surda poderá ter condições não só de
melhorar sensivelmente seu estado geral de saúde, como também aprender a
emitir e melhorar o ritmo da fala.

    A atividade respiratória, constituída de uma alternância de inspiração e


expiração, mobiliza a caixa toráxica e a coluna e, se adequada, melhora  a
capacidade pulmonar da criança.

    Os principais músculos respiratórios são os intercostais e o diafragma.

    O diafragma, que tem feitio de cúpula, é o mais importante músculo da


inspiração e separa a cavidade toráxica da cavidade abdominal.

    Na respiração normal, ao inspirar - enquanto o ar desce - o diafragma


aplana-se, o gradil costal inferior eleva-se, o superior movimenta-se
ligeiramente para a frente e o ventre dilata-se. Ao expirar, há o relaxamento do
diafragma, que volta a adquirir nítido feitio de cúpula; o gradil costal inferior
baixa e os músculos abdominais se retraem.

    Assim, a respiração fisiologicamente correta é aquela em que há


predominância funcional da região costo-diafragmática.
 
    Se a criança inspira ou expira com grande predominância da região costal
superior, estará indo contra a natureza e, sobretudo, contra a fonação.
 

    Se a criança imprime um movimento particularizado e excessivo aos


músculos abdominais ou só aos intercostais, também estará errada.
 

    A criança deve aprender a utilizar os músculos expiratórios voluntariamente,


em caso de necessidade.
    É preciso, porém, lembrar que a atividade respiratória é automática e que é
difícil torná-la consciente, especialmente nas crianças até 3 anos.

    Se a pessoa não sabe usar convenientemente as cavidades de ressonância


(área bucal) de forma equilibrada e o sopro sonorizado, a voz ou sairá
distorcida ou não se projetará no ambiente. Daí a grande importância da
respiração na fonação.

    Aos profissionais que atuam com a criança surda interessam:

a) os movimentos respiratórios de inspiração e expiração;


b) a produção da voz através do sopro expiratório;
c) a perfeita coordenação fono-respiratória que vai permitir a produção livre e
valorizada da voz;
d) a adequada produção da fala.
    Educação respiratória

    Qualidades da respiração para a fonação:

    inspiração:

 correta
 silenciosa
 nasal (preferentemente)
 tranqüila
 suficiente (a respiração insuficiente provoca uma interrupção da fala)
 mais ou menos rápida.

    expiração:
 natural
 relaxada (sem esforço)
 controlada
 escoamento regular
 quantidade dosada
 direção apropriada
 duração

    Sabe-se que a respiração correta é a diafragmática, com inspiração nasal e


expiração bucal.

    Em se tratando de crianças de zero a três anos, os melhores resultados


serão obtidos através de situações lúdicas bastante motivadoras.

    Desse modo poderão ser usados jogos de sopro e instrumentos musicais de
sopro, além de exercícios em meio líquido visando conscientizar o educando
para a existência e o uso da respiração oral.

    Sugere-se, portanto que a criança realize as seguintes atividades:

 apagar velas;
 soprar tiras de papel, penas, algodão, língua de sogra, balões (bexigas),
bolinhas de sabão (“mil bolhas”), barquinhos de papel e/ou bolas de
isopor em vasilha com água ou em uma caixa coberta com filó;
 soprar, através de canudos, no espelho, tentando deixar marcas;
 brincar com apito, gaitas;
 derrubar retrós com sopros;
 cheirar perfumes;
 falar, expirando, soltando e sustentando a voz;
 conscientizar-se do ato respiratório, colocando uma mão sobre seu
próprio peito e a outra sobre o do professor, ou um objeto sobre o peito
ao deitar-se para vê-lo levantar e abaixar;
 nadar.

b) Tensão/Relaxamento

    Objetivo: adquirir atitudes de controle de tensão e relaxamento da


musculatura do corpo em geral, com ênfase especial no tórax, pescoço e face,
propiciando melhores possibilidades de respiração, vocalização e articulação
de fonemas.

    As atividades de relaxamento são indispensáveis para a boa educação


respiratória e deverão ser realizadas de preferência com a sala escurecida.

    Para que o professor consiga realizar um bom relaxamento com a criança
deve procurar exercícios que efetivem a oposição entre contração e relaxação.

    Deitada:

 fazer a criança deitar, de preferência numa superfície não muito mole,


de costas, com os braços ao longo do corpo e as palmas das mãos
viradas para baixo;
 colocar um travesseiro sob os joelhos dela;
 pedir para a criança fechar as mãos e em seguida abri-las;
 pedir para a criança que:
o levante um braço e depois o deixe cair pesadamente;
o levante o outro braço e depois o deixe cair também;
o levante os dois braços juntos e depois os deixe cair;
o estique bem os braços e depois os soltem;
o levante uma perna e depois a deixe cair;
o levante outra perna e depois a deixe cair também;
o levante as duas pernas aos mesmo tempo e depois as deixe cair;
o estique bem as pernas e depois as solte.

    Em pé:
 fazer a criança imitar “boneco de pau” e “boneco de pano”, de modo que
sinta no próprio corpo a diferença entre tensão e relaxamento;
 fazer a criança ficar com as pernas ligeiramente afastadas, “esticar” o
corpo para cima com os braços levantados, e em seguida “soltar”, a
cabeça e os braços para baixo;
 fazer a criança deixar pender o tronco de forma que os braços e a
cabeça fiquem balançando molemente;
 fazer a criança levantar suavemente os ombros; depois deixá-los cair;
 fazer a criança pender a cabeça para trás, elevá-la lentamente até a
posição vertical.

    Sentada:

    Fazer com que a criança:

 sente-se, mas com a espinha ereta, encostada ao espaldar da cadeira;


 estenda as pernas e solte-as molemente;
 deixe os braços pendentes ao lado do corpo;
 monte as partes do corpo de um boneco e identifique-as no seu próprio
corpo;
 realize movimentos circulares com a cabeça bem relaxada.

c) Ritmo

    Objetivo geral:

    A criança deverá desenvolver a percepção do ritmo através da música e dos


movimentos corporais.

    Objetivos específicos:


    Favorecer, através de experiências corporais, o amadurecimento da criança
quanto à:

 propriocepção (consciência corporal);


 coordenação motora global mais harmônica;
 tonicidade muscular: estados tônicos físico-emocionais (tensão e
relaxamento);
 própria respiração;
 emissão vocálica, respeitando os ritmos básicos que são próprios da
fala.

    A estimulação do ritmo inicia-se com o diálogo corporal (contato pai/bebê,


professor/bebê) no momento ‘das cantigas’ de ninar, quando há movimentos de
danças.

    A estruturação do ritmo depende da sucessão harmônica de movimentos


corporais. No início, o aconchego ao colo que nina faz com que a criança
perceba o ritmo.

    A estimulação rítmica destina-se a fazer com que a criança perceba a si


mesma através do desenvolvimento da propriocepção e do controle corporal.

    A criança pequena deve perceber a presença e ausência da música,


acompanhá-la, inicialmente no colo de alguém, depois com seus passos
vacilantes até que possa livremente executar o andamento apropriado,
geralmente com ritmos simples, tipo binário e ternário. Deve também
acompanhar batidas de um tambor, bem como os movimentos de marcha,
pulo, salto, corrida. É no movimento, na soltura de seu corpo que ela vivencia e
interioriza o ritmo. A interiorização do ritmo musical é fundamental, para ser
usado, posteriormente, na expressão oral através do ritmo próprio de cada
palavra ou frase.

d) Estimulação da Sensibilidade e da Mobilidade Orofacial

    Objetivos:

 conscientizar o educando para a existência e o uso da respiração oral;


 conscientizar o educando sobre as vias nasais como instrumento da
respiração e de sua correta utilização;
 utilizar a inspiração e a expiração como movimentos distintos,
alternando as duas vias respiratórias;
 ampliar e coordenar a capacidade de produção fono-articulatória com a
respiração diafragmática;
 tomar conhecimento das partes do corpo e dos diferentes graus de
tonicidade muscular;
 adquirir movimentação e controle articulatórios necessários aos padrões
desejáveis de emissão;
 adquirir condições de articular fonemas, estabelecendo correto
“feedback” acústico, proprioceptivo, visual e tátil.
    Para que a criança articule palavras faz-se necessário que além de um clima
calmo e tranqüilo, ela esteja relaxada e envolvida por afetividade e segurança.

    A estimulação da fala envolve estimulação auditiva e rítmica. Para tanto


trabalha-se:

 a respiração da criança, uma vez que a produção dos fonemas ocorre a


partir do controle do ar expirado;
 os órgãos fonoarticulatórios, principalmente, os lábios, a língua, o palato,
a mandíbula, as bochechas;
 a tensão, o relaxamento da musculatura do corpo em geral e dos órgãos
fonoarticulatórios;
 a voz, de modo que a intensidade, duração e freqüência dos sons se
ajustem;
 a produção e automatização de alguns fonemas e palavras
significativas.

    O professor poderá sentar-se com a criança frente a um espelho, procurando


ficar na  mesma altura dela. Após receber a atenção da criança, iniciar
exercícios respiratórios de sopro. Usar e abusar do tato! Brincar com a criança
para:
 estimular o uso da voz para produzir determinadas vogais e
determinadas combinações vogais e consoantes;
 estimular o uso da visão, da audição e do tato para ajudar a articulação
da criança surda.

    As atividades abaixo sugeridas podem ser utilizadas em situações


espontâneas e lúdicas, aproveitando o interesse da criança.

    a) Exercícios para os lábios:

 utilizar batom para pintar a boca da criança com uma cor, e em volta dos
lábios com outra cor, permitindo que a criança faça o mesmo com a
professora.
 observar se a criança não apresenta protusão de língua, e realizar
exercícios que envolvam, lábios e língua;
 passar mel nos lábios fazendo com que a criança retire com a língua;
 passar doce em pasta ou mel na parte interna dos lábios da criança para
que ela o sugue ou retire (seguindo modelo da professora);
 passar batom nos lábios da criança e fazer com que ela segure papel
nos lábios;
 fazer com que a criança segure uma pequena quantidade de líquido na
boca e esguinche-o depois, fazendo um jato (este exercício trabalha
também as bochechas).
 imitar o motor de um carro, vibrando com os lábios;
 fechar a boca, apertando bem os  lábios;
 fazer “bico”;
 soprar vela;
 sorrir com os dentes fechados;
 projetar os lábios fazendo “bico” e movê-los para a direita e para a
esquerda;
 imitar vozes de animais;
 rir exageradamente;
 segurar um pedaço de papel entre os lábios, evitando que outra pessoa
o puxe;
 segurar um canudinho nos lábios, sem deixar que toque nos dentes.

    b) Exercícios com a língua:


 mostrar a língua;
 passar a língua nos lábios, em movimentos de rotação;
 abrir a boca e tocar com a língua o lábio superior, o lábio inferior e os
cantos da boca;
 fechar a boca e com a língua, empurrar a parte interna da bochecha
direita e da bochecha esquerda;
 estalar a língua;
 colocar a língua para fora e recolhê-la lentamente;
 colocar a língua para fora e recolhê-la rapidamente;
 imitar um gatinho bebendo leite;
 passar a língua no palato duro, de dentro para fora;
 colocar alimentos pastosos ou em pó:
     - na face interna dos incisivos superiores;
     - na face interna dos incisivos inferiores;
     - no palato;
     - na parte interna das bochechas;
e levar a criança a retirá-lo com a ponta da língua.

    c) Exercícios para o palato:

 gargarejar;
 bocejar, fazendo de conta que está com sono;
 dar gargalhadas;
 tossir;
 beber refrigerante ou groselha, gole por gole;
 com a boca aberta, inspirar pelo nariz e expirar rapidamente pela boca;
 passar a ponta da língua no palato, de dentro para fora;
 estalar a língua imitando cavalinho.

    d) Exercícios com a mandíbula:

 comer lentamente biscoitos, pão, maçã, etc. com a boca fechada;


 movimentar devagar a mandíbula para a direita e para a esquerda, para
a frente  e para trás;
 os mesmos exercícios, com movimentos rápidos;
 abrir e fechar a boca lentamente;
 abrir e fechar a boca rapidamente.
    f) Exercícios com as bochechas:

 inflar as bochechas e pressioná-las com as mãos, mantendo a boca


fechada;
 “chupar” as bochechas;
 encher a boca de ar, antes de um lado e depois de outro;
 assoprar, evitando que as bochechas se inflem;
 massagear externamente as bochechas com as mãos;
 utilizar fita durex de cores diferentes. Cortá-las em pedaços pequenos,
colocando-os em seguida nas bochechas da criança, no sentido
posterior-anterior;
 utilizar material de maquiagem, como batom, sombras de cores
diferentes, fazendo desenhos circulares ao redor da bochecha da
criança, imitando cara de palhaço;
 utilizar tecidos de texturas diferentes podendo começar com algodão,
veludo, flanela, etc., passando gradativamente para tecidos mais
ásperos, como linho. Passar os tecidos pela face da criança sempre do
ponto mais distante para o mais próximo da região dos lábios;
 passar pincel macio do ponto mais distante ao mais próximo à região
dos lábios.

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