Zuin, A - A Teoria Crítica e A Sociedade Da Cultura Digital - Revista Eletrônica de Educação, Universidade Federal de São Carlos
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Resumo
O objetivo desse artigo é abordar, no âmbito da sua trajetória de pesquisa, a inserção do
“Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação” na Linha de Pesquisa “Educação, Cultura
e Subjetividade” do PPGE/ UFSCar. Para tanto, apresenta algumas considerações sobre o
referencial teórico-metodológico da Teoria Crítica da Sociedade, um breve histórico dos 25 anos
do Grupo de Pesquisa e a ênfase atual, no contexto dos dilemas da Sociedade da Cultura
Digital, na revitalização dos conceitos de indústria cultural, formação e semiformação cada
vez mais presentes nos trabalhos de seus pesquisadores. Atualmente, vários pesquisadores
do Grupo, sob a orientação do professor Antônio A. S. Zuin, estão estudando o modo como
os conceitos de formação e semiformação são revigorados na sociedade da cultura digital por
meio de objetos, tais como: cyberbullying de alunos contra professores; trotes universitários e
cultura digital; educação e televisão, educação e redes sociais, educação a distância, educação
e tecnologias da informação e comunicação, esfera pública e sociedade digital, entre outros.
As análises específicas da sala de aula, por meio da reconstrução empírica do sentido pedagógico
da Educação, com o aporte teórico-epistemológico da Hermenêutica Objetiva, se destacam
nos projetos de pesquisa atuais liderados pelo professor Luiz Roberto Gomes e auxiliam o
processo de interpretação do impacto da Cultura Digital na Educação.
Palavras-chave: Teoria crítica da sociedade. Cultura digital. Cyberbullying.
Hermenêutica objetiva.
Abstract
The objective of this article is to address, within the scope of its research trajectory, the
insertion of the “Critical Theory and Education Research Group” in the PPGE/UFSCar
Research Line “Education, Culture and Subjectivity”. In order to do it, the article presents
some considerations about the theoretical-methodological framework of the Critical Theory
of Society, a brief history of the 25 years of the research group and the current emphasis,
in the context of the dilemmas of the digital culture society, about the revitalization of the
concepts of cultural industry, formation and semiformation, which are increasingly present
in the work of its researchers. Currently, several researchers of the Group, under the guidance
of Professor Antônio A. S. Zuin, are studying the way in which the concepts of formation and
semiformation are reinvigorated in the society of the digital culture by means of objects, such
as: cyberbullying of students against teachers, university and digital culture, education and
1
Professor-Titular do Departamento de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de São
Carlos. E-mail: [email protected]
2
Professor Associado do Departamento de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de
São Carlos. E-mail: [email protected]
ISSN 1982-7199 | DOI: http://dx.doi.org/10.14244/198271992183 Revista Eletrônica de Educação, v.11, n.1, p.97-107, jan./maio, 2017
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television, education and social networks, distance education, education and information and
communication technologies, public sphere and digital society, among others. The specific
analyzes of the classroom, through the empirical reconstruction of the pedagogical sense
of education, according to the theoretical-epistemological contribution of the Objective
Hermeneutics, stand out in the current research projects led by professor Luiz Roberto
Gomes and help the process of interpretation of the impact of digital culture in education.
Keywords: Critical theory of society. Digital culture. Cyberbullying. Objective
hermeneutics.
Introdução
A expressão Teoria Crítica é muito ampla em sua acepção: nomeia todas as teorias
que se pautam pela negação da ordem estabelecida, pelo anti-positivismo, pela busca de
uma sociedade mais justa e humana. Quando falamos em Teoria Crítica nos referimos
ao pensamento de um grupo de intelectuais marxistas não ortodoxos, que, a partir
dos anos 1920, desenvolveram pesquisas e intervenções teóricas sobre problemas
filosóficos, econômicos, sociais, culturais, estéticos gerados pelo capitalismo de sua
época e influenciaram, de certo modo, o pensamento ocidental particularmente dos anos
40 aos anos 70 do século passado. Esses pensadores constituíram a chamada “Escola
de Frankfurt”, pelo fato de se estabelecerem enquanto um grupo de pesquisadores
nesta cidade alemã (a mais judia da Alemanha), criando aí o Instituto de Pesquisa
Social e um órgão de divulgação de suas produções, a Revista de Pesquisa Social.
Destacam-se entre seus membros Max Horkheimer (1895-1973), diretor do instituto
de 1930 até 1967, Herbert Marcuse (1898-1979), mais conhecido no Brasil nos anos
1970, por seus livros aqui publicados, Theodor Adorno (1903-1969), que ingressou
no Instituto no final dos anos 1930 e dirigiu-o de 1967 a 1969, Walter Benjamin
(1892-1940), bolsista do Instituto nos anos 1933-1940 e Jürgen Habermas (1929),
filósofo e sociólogo, ainda vivo, mas aposentado. Desde 2001, o diretor do Instituto
de Pesquisa social é o filósofo e sociólogo Axel Honneth (1949).
A ênfase na pesquisa teórica, empírica, multidisciplinar, crítica, e orientada para a
emancipação, sempre foi uma marca do Instituto de Pesquisa Social em Frankfurt, desde
os anos de sua fundação e consolidação (1924-1950), até constituição epistemológica
daquilo que se denomina Escola de Frankfurt3, e que ficou conhecida como “Teoria
Crítica da Sociedade” (Wiggershaus, 2002). Trata-se de uma teoria social crítica
3
Sobre o conceito de Teoria Crítica e a especificidade da Escola de Frankfurt Cf. Horkheimer (1987) e Nobre (2004).
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a formulação de uma explicação, com base empírica, dos motivos pelos quais as
aspirações da escola, de educar, ensinar e formar não se realizam. Nesse sentido, o
livro “Frieza Burguesa e Educação” de Andreas Gruschka, traduzido por pesquisadores
do nosso grupo e publicado pela Editora Autores Associados em 2014, é uma boa
ilustração dos trabalhos empíricos de pesquisa atuais realizados no interior da escola.
Esses estudos também são desenvolvidos no Brasil pelas professoras Rita Amélia
Vilela e Magali Reis (PUC-Minas) e pelo professor Luiz Roberto Gomes (UFSCar).
Atualmente, vários pesquisadores de nosso grupo, sob orientação do professor
Antônio A. S. Zuin, estão estudando o modo como os conceitos de formação e
semiformação são revigorados na sociedade da cultura digital por meio de vários
objetos, tais como: cyberbullying de alunos contra professores; trotes universitários
e cultura digital; educação e televisão, educação e redes sociais, educação a distância,
educação e tecnologias da informação e comunicação, esfera pública e sociedade
digital, entre outros.
4
As informações contidas nesse item foram baseadas no texto “Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação: Histórico” escrito
pelo Prof. Bruno Pucci em 2015 e no conteúdo do site do Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação. Todas estas informações
estão disponíveis em Universidade Federal de São Carlos (2017).
5
UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), UNESP-Araraquara (Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), UFES (Universidade Federal do
Espírito Santo), UFLA (Universidade Federal de Lavras), UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), PUC-Minas (Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais).
6
Conferir as informações completas do X Congresso Internacional (programação, relatório científico e caderno de anais) no site
do Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2017).
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Deste modo, tal como qualquer outra mercadoria, o filme de western, por
exemplo, também é produzido de acordo com a lógica do processo de produção de
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Esta guerra de todos contra todos certamente alude a sociedade na qual as promessas
de universalização da igualdade, da liberdade e da fraternidade se esfacelavam, na
mesma medida em que as relações de produção capitalistas consolidavam cada
vez mais a exploração e a desigualdade como elementos constituintes crucias de
seu tecido sociocultural. Evidentemente, também a formação se danifica de forma
sensível, na medida em que a indústria cultural se espraia enquanto uma espécie de
espírito objetivo de um tempo. Não por acaso, Adorno define os danos na experiência
formativa como semiformação (Halbbildung), ou seja, como um estado aparentemente
formativo, mas que, na verdade, trata-se de seu inimigo mortal. Para Adorno,
A experiência – a continuidade da consciência em que perdura o ainda não
existente e em que o exercício e a associação fundamentam uma tradição no
indivíduo – fica substituída por um estado informativo pontual, desconectado,
intercambiável e efêmero, e que se sabe que ficará borrado no próximo instante
por outras informações [...]. A semiformação é uma fraqueza em relação
ao tempo, à memória, única mediação capaz de fazer na consciência aquela
síntese da experiência que caracterizou a formação cultural em outros tempos.
(ADORNO, 2010, p. 33).
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Conclusão
Repensar a relação entre educação, cultura e subjetividade à luz dos conceitos
elaborados pelos pensadores frankfurtianos, particularmente Theodor W. Adorno,
Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Walter Benjamin, implica refletir sobre os
atuais desdobramentos desta relação na chamada sociedade da cultura digital.
No que concerne ao grupo de pesquisa: “Teoria Crítica e Educação”, a revitalização
dos conceitos de tais pensadores no contexto da cultura digital tornou-se objeto
de análise de pesquisadores desde a realização do “VIII Congresso internacional
de Teoria Crítica: Desafios na Era Digital”, que ocorreu na UNESP-Araraquara, no
período de 10 a 14 de setembro de 2012.
Desde a realização deste evento, várias das pesquisas desenvolvidas por estudantes
de iniciação científica, mestrado, doutorado, pós-doutorado e professores de várias
instituições vinculadas ao nosso grupo tiveram como objetivo principal investigar
as transformações, sobretudo na esfera educacional, derivadas do modo como o
processo de digitalização da própria vida se torna ubíquo. São vários os desafios
engendrados diante da relevância de se repensar a forma como conceitos dos pensadores
frankfurtianos podem ser atualizados na sociedade da chamada cultura digital. Se o
conceito de indústria cultural, por exemplo, deve ser pesquisado de acordo com
as características dos elementos objetivos e subjetivos de determinados tempos e
espaços, isso significa que devem ser consideradas as mediações históricas específicas
da cultura digital na análise da atualidade da própria indústria cultural. Ou seja, é
preciso realizar a crítica imanente da cultura digital para que se possa compreender
os atuais desdobramentos da indústria cultural e os danos no processo formativo.
Esta preocupação de realizar tal crítica sempre esteve presente nas pesquisas
realizadas pelos participantes de nosso grupo desde o seu início no ano de 1991.
De lá para cá, foram produzidos centenas de livros, capítulos de livros e artigos em
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