6 GT02 Karen Grujicic Marcelja Corpo Gordo Na Moda
6 GT02 Karen Grujicic Marcelja Corpo Gordo Na Moda
6 GT02 Karen Grujicic Marcelja Corpo Gordo Na Moda
Resumo
A pressão pelo corpo ideal vem sendo fortemente alimentada pela sociedade de
consumo nas últimas décadas. Por outro lado, nunca se falou da obesidade de forma tão
branda ou até mesmo positiva, seja nos meios de comunicação, no cinema ou na cultura pop
em geral.
Essa “valorização” dos gordos é muito visível no campo da moda. Para ganhar
proximidade com a parcela feminina desse nicho, o mercado adotou um novo termo: plus
size. O nome refere-se, mais do que ao manequim maior, a uma nova atitude, traduzida em
sensualidade e orgulho das próprias formas. Sem esquecer que a obesidade pode acarretar
problemas de saúde, os novos discursos estimulam a autoestima mesmo fora dos padrões de
beleza, tom vem sendo incorporado pela mídia em geral.
Este artigo busca investigar o processo de construção e o que está por trás do termo
plus size, sobretudo nos blogs de temática fashion plus size, que têm sido os principais meios
de veiculação dessa mensagem amigável em relação ao excesso de peso.
1
Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 02, do 5º Encontro de GTs - Comunicon, realizado nos
dias 5, 6 e 7 de outubro de 2015.
2
Jornalista; mestre em Gerontologia e doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Bolsista CAPES. E-mail:
[email protected].
PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2015 (5 a 7 de outubro 2015)
próprio corpo – o que atinge, vale lembrar, não somente os indivíduos gordos, mas
também os magros.
A força que o segmento plus size vem ganhando nos últimos anos tem sido
vista como a ampliação de um leque de possibilidades. Muito mais do que um guarda-
roupa, abre-se um mundo de estilos e influências. A individualidade é formada por
necessidades, sentimentos, preferências e, naturalmente, traços físicos; ao vestir-se, a
pessoa usa os traços mais marcantes de sua personalidade para escolher a peça que vai
comunicar ao mundo o que ela é e como se sente. Por isso, ter acesso a uma boa
variedade de estilos de roupas contribui para a composição de aparências específicas e
adequadas às ambições sociais do indivíduo. Essa diversidade na aparência, diz
Souza, permite a expressão mais completa do si-mesmo na vida pública (2011). Até
pouco tempo atrás, havia pouca variedade de lojas e confecções de tamanhos
especiais disponíveis, geralmente nas capitais e grandes centros. Quem se encontrava
com sobrepeso não tinha opção a não ser resignar-se e aceitar o que cobria seu corpo,
mesmo estando fora de tendências de cores, estampas ou modelagens. Com a
popularidade do conceito plus size, não só há mais pluralidade de estilos como peças
que já são pensadas para o corpo mais arredondado, ao invés de meras versões
maiores de peças desenhadas para magros. Esse novo posicionamento do segmento de
moda resulta, obviamente, em um novo olhar das mulheres em relação às próprias
curvas, que já podem ser valorizadas ao invés de disfarçadas ou escondidas.
busca pela própria identidade a partir das imagens reforça o poder simbólico da
construção do “Eu” pela moda no contexto pós-moderno, ou seja, construir um estilo
que signifique. Cabe inserir tal discussão no âmbito do debate acalorado sobre as
questões da identidade na pós-modernidade. Segundo Stuart Hall (2006), o período
marcado pela modernidade produziu utopias e um sujeito unificado, racional e
consciente de seu papel no mundo em relação às instituições tradicionais (a família, a
religião e o trabalho). Todavia, este cenário entrou em colapso devido à mudança
estrutural ocorrida no final do século XX.
A liberdade de assumir sua identidade, seu estilo, seus princípios, seu corpo,
sua imagem e suas particularidades mais autênticas precisam de autoafirmação; assim,
podem e devem ser compartilhadas através de sites, blogs, redes sociais, imagens e
relatos. Na onda da busca pela saúde e pelo corpo em boa forma proliferaram nas
redes, blogs e páginas pessoais de culto ao corpo, à beleza, à dieta, ao emagrecimento
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Parte disso vem por iniciativa dos próprios obesos, que se unem em grupos de
defesa, associações e outras formas de apoio mútuo. A movimentação é no sentido do
“direito a ter direito”, o que não se limita apenas a conquistas legais e que tragam
3
http://portalsaude.saude.gov.brportalsaude/noticia/12926/162/mais-da-metade-da-populacao-
brasileira-tem-excesso-de-peso.html, acessado em 27 de agosto de 2013.
4
http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/sus-gasta-488-milhoes-por-ano-com-obesidade-
7882054.html?zunnit-rec=7882054&z-case=165&origin_id=N:8331821, acessado em 8 de maio de
2013.
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Ao longo das últimas décadas, a pressão pelo corpo ideal vem sendo
fortemente alimentada pela sociedade de consumo. Por outro lado, é visível que algo
vem mudando no que diz respeito às pessoas acima do peso, especialmente no mundo
da moda. Estimulado principalmente pelo crescimento econômico, o mercado passou
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por uma reformulação que incluiu até a criação de um novo termo: plus size. O nome
refere-se, mais do que ao manequim maior, a uma nova atitude. Ser uma mulher plus
size não é apenas estar acima do peso, mas apresentar vaidade, sensualidade, alegria e
orgulho de suas próprias formas. O cinema, a televisão e, sobretudo, a internet e os
blogs de temática plus size têm sido os principais meios de veiculação dessa
mensagem que reforça a autoestima.
pessoal faz com que o autor responda ao anseio emocional e afetivo dos leitores, tal
apelo mantém e dá vida ao blog.
Embora a temática seja a moda e seus usos, a distinção entre os blogs está na
abordagem, no enquadramento, na construção do texto e no sentido da mensagem. A
questão que se impõe para os estudiosos dos fenômenos da comunicação e da
sociologia do consumo é compreender de que forma o discurso das blogueiras
influencia leitoras e consumidoras. Além disso, de que modo tal discurso se relaciona
com a construção de identidades?
Sabe-se que tanto as imagens como os textos dos blogs fornecem elementos
subjetivos que influenciam e instigam a escolha por determinados produtos ou
serviços. O discurso, ou seja, o texto escrito do post, revela detalhes pessoais e
íntimos das autoras, opinião, dúvidas, sugestões e questões próprias do universo
feminino, que têm como função tecer o laço emotivo com o público-leitor.
Os atores são conscientes das impressões que desejam criar e dos valores e
impressões que podem ser construídos nas redes sociais mediadas pelo
computador. Por conta disso, é possível que as informações que escolhem
divulgar e publicar sejam diretamente influenciadas pela percepção de valor
que poderão gerar (2009: 118).
O Corpo em Disputa
Embora estejamos presenciando uma onda plus size na Internet que influencia
fortemente o campo da moda, é preciso lembrar que as pessoas acima do peso sempre
tiveram dificuldades em consumir roupas estilizadas pela escassez de oferta. Neste
cenário, a busca por peças de tamanhos maiores significava frequentar lojas
especializadas, o que acabava por estigmatizar tal consumidor. Nesse sentido,
consumir moda tamanho grande tornava-se uma fonte de angústia, de infelicidade, de
tempo perdido e de exposição social de sua frustração com o peso, uma vez que, a
percepção social acabava por julgar o corpo gordo como resultado da falta de
cuidado, indisciplina, fruto da letargia e que está excluído dos padrões de beleza, ou
seja, um não-corpo que foge das prescrições normativas do que seja um corpo
saudável e “normal”.
As percepções condicionadas às relações sociais ainda existem e avaliam o
corpo gordo como não saudável, doente e anormal. Porém, há uma mudança no
campo da moda que dialoga com a ambiguidade deste cenário. Como já apresentado,
foi a partir do final do ano 2000 que a moda passou a focar este público que crescia
em quantidade e em poder de consumo. Alguns fatores desta mudança impactaram o
campo moda, como a pressão causada pelos consumidores e a expectativa de lucros
neste setor; aceitação de novos padrões identitários pautados na distinção e nos
marcadores sociais; acesso à informação e aos novos discursos amparados pelas novas
tecnologias de informação, como a popularização das redes sociais e os blogs
especializados em moda. Todavia, é importante ressaltar que, apesar desta mudança
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Considerações Finais
Referências
NOVAES, J.V. Com que corpo eu vou? Sociabilidade e usos do corpo nas
mulheres das camadas altas e populares. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Pallas,
2010.