GRECO - Translatio Iudicci e A Ressunção Do Processo
GRECO - Translatio Iudicci e A Ressunção Do Processo
GRECO - Translatio Iudicci e A Ressunção Do Processo
Leonardo Greco
ProfessorTitular de Direito Processual Civil da Faculdade Nacional de Direito da UERJ.
Professor-adjunto de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da UERJ.
1. Introdução
O avanço dado pelos tribunais italianos nas duas decisões de 2OO7 somente se tornou
possível graças à precisa compreensão que ambas, por linhas de argumentação
diferentes, deram ao direito de acesso à jrrstiça, universalmente reconhecido. E, por
isso, inteqrando ele também o rol dos direitos fundamentais proclamados solenemente
pela Corrstituição br¿sileira (art.5.o, XXXV, d¿ CFl1988 (LGLU9BB\3)), as razões nelas
desenvolvidas podem ajudar o processualista brasileiro no estudo e aperfeiçoamento de
inúmeras situações em que/ à falta de um pressuposto processual - incompetência ou
outro - rìosso sistenra ora prevê a co¡rtinuidade do processo no novo juízo, sem definir,
entretanto, com clareza o que se preserva e o gue se despreza do processo original, ora
simplesmente determina a extinção rlo processo, sujeitando o autor aos riscos de uma
nova demanda originária que pode estar definitivamente impossibilitada, ou na qual
todos os atos anteriores deverão ser renovados, com perda de tempo, repeLição de
despesas e resultados nem sempre equivalentes aos já alcançados no processo
prlmltlvo.
Exerrrplo da prinreira lripóLese é a decllnatúr ia da conrpetêtrcla absoluta do Jufzo
incompetente para o juízo competente, em que a lei declara que nulos são apenas os
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ser mencionados, sem caráter exaustivo, a extinção do processo iniciado nos juizados
especiais por inarlmisçihilidarle rlo procedimento (art. 51 , II, da lei 9.099/1995), a
caducidade da medida cautelar pela extinção do processo principal (art. B0B, III, do CPC
(LGLU973\5)), a denegação do mandado de segurança por falta de direito líquido e
certo ou a sua extinção, quando impetrado perante tribunal superior, por indicaçäo
errônea da ar"rtoriclacle impetracla.
2. A unidade da jurisdição
O poder jurisdicional se distribui entre os diversos órgãos jurisdicionais, de tal modo que
certos litígios, relações jurídicas de direito material ou pedidos somente podem ser
apreciados por determinados juízes, e não por outros, assim como alguns provimentos
somente podem ser atingidos através de predeterminados procedimentos, e não por
outros.
No Ancien Régime, ou seja, antes da Revolução francesa, o poder jurisdicional era
atributo do próprio soberano, que o delegava com determinada extensão a cada juiz.
Vigorava uma concepção patrimonial da jurisdição, pois cada juiz velava pela sua própria
competência e a exercia no seu interesse/ como delegatário de um poder outorgado pelo
soberano. Nos países que adotaram a dualidade de jurisdição, com a submissão das
causas do Estado a uma jurisdição administrativa ou a um contencioso administrativo,
seguindo o modelo francês, este ramo da justiça sempre esteve umbilicalmente
comprometido com a defesa dos interesses do soberano ou do próprio Estado, o que,
mesmo após a Revolução francesa, continuou a justificar a sua incomunicabilidade, para
que aquele que tivesse fracassado por uma via jurisdicional na postulação de algum
direito ou interesse contra o Poder Público, não tivesse uma segunda chance, pagando
assim pelo seu próprio erro.
Chiovenda foi o primeiro jurista a defender a unidade da jurisdição, propondo que a
causa iniciada perante juiz. incompetente prosseguisse sem quebra de continuidade
perante o juiz competente. " O poder jurisdicional é um só, único e pertence ao Estado.
Os juízes são funcionários do Estado, não sendo mais aceitável que disputem entre si o
poder de julgar, como se este integrasse seus patrimônios privados. A distribuição de
competências entre os diversos juízes visa essencialmente a racionalizar o exercício da
jurisdição e facilitar o acesso à justiça pelos cidadãos, não podendo ser desvirtuada para
se transformar em óbice à tutela jurisdicional efetiva dos direitos e negaçäo da própria
promessa do Estado de Direito de assegurá-la.
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Translatio iudicii e reassunção do processo
Também já manifestei o meu inconformismo com certas regras qtte aincla remanescem
em nosso ordenamento positivo, típicas do Estado patrimonial, como a que manda
cancelar ¿ distriliuiçãu^du leitu enr razão do trão recolhitlento das custas (aft. 257 do
CPC (LGLU973\5)), v mitiqada no âmbito de certos tribunais que permitem o
recolhimento parcelado ou ao final.
Se todos os Jufzes são tltulares do mesmo poder jurisdicional, o direit<.r de acesso ao
direito exige o máximo aproveitamento possível dos atos praticados pelo juriz
incompetente perante o juiz competente, bcm como dos atos do proccdimento
inadequado no procedimento adequado, preservando-se efeitos de direito processual e
de direito material dos atos do juízo ou do procedimento primitivo viciado, na medida em
que são compatíveis com as regras vigentes no juízo ou no procedimento apropriados,
servindo utilmente à mais ampla e efetiva tutela do direito material das partes,
Respeitadas as garantias mínimas do processo justo, sem as quais não se pode crer na
efetividade clessa tutela, nem em processo de qualiclade, o exercício da função
jurisdicional deve ser célere e econômico, evitando-se o retardamento ou a trustraçäo 0a
sua efetivação em razão de obstáculos que em nada servem aos próprios jurisdicionados
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\Jìl Pr t Pr tO gTELTVTUO\IE \loqUsrO LULsrc¡.
4. A natureza dos pressupostos processuais
À primeira vista pode parecer incongruente que o direito processual preserve efeitos
processuais e substanciais de um processo nulo ou de atos processuais nulos, pois isso
poderia significar que os fins justificam os meios, representando a própria ruína do ideal
de um processo justo ou de qualidade.
Por isso, a passagem do processo inválido para o processo vál¡do há de ser construída
cuidadosamente, lastreada em fundamentos que sirvam para definir com clareza o que
se deve preservar e o que deve ser renovado.
Um primeiro limite ao aproveitamento dos atos do processo nulo e dos seus efeitos foi
acima apontado: o desrespeito às garantias fundamentais do processo. Mas não basta,
porque esse desrespeito pode afetar a validade de atos praticados no curso da relação
processual ou apenas da prestação jurisdicional provisória ou final sobre a relação
jurídica de direito material.
Há pressupostos processuais de validade de determinados ou de todos os atos do
processo e há pressupostos processuais de validade da prestação jurisdicional sobre o
direito material.
Em obra impo¡lante sobre o tema da continuidade do processo iniciado em juízo
incompetente, " Achille Saletti leciona ser prevalente na doutrina italiana (Carnelutti,
Liebman) o entendimento de que a competência é pressuposto de validade da decisão de
mérito, não de cada ato do processo. Se essa conclusão pode ser válida no direito
italiano, no atual direito brasileiro ela se apresenta bem menos convincente, pois nem
sempre a competência absoluta adota como critério determinativo uma espécie de
relação jurídica de direito material. Com freqüência essa competência está vinculada a
um determinado tipo de procedimento, como ocorre entre nós nos juizados especiais.
tribunais, permite a produção de provas perante juízo de 1,o grau (art. 492 do CPC
(LGLUe73\s)).
Já se a falta de pressuposto processual (incompetência ou inadequação do
procedimento) afeta a própria validade do processo, então será preciso analisar em que
medida a sua continuação perante o juízo competente ou através do procedimento
adequado exigirá a repetição ou renovação de atos já praticados para que o exercício da
jurisdição atinja com a máxima eficácia possível a sua finalidade de mais ampla tutela do
direito material das partes, De qualquer modo, a continuação do mesmo processo e não
a instauração de um novo deve ser a regra/ com o máximo aproveitamento dos atos já
praticados e dos seus efeitos.
5. As recentes decisões italianas sobre a translatio iudicii
A Corte de Cassação italiana, em acórdão das suas Seções Unidas (Decisão 4109, de
22.02.2007), examinando as relações entre o juiz ordinário e o juiz da jurisdição
administrativa, sustentou o entendimento de que o processo, na busca de uma sentença
de mérito, para evitar obstáculos inúteis à tutela dos interesses dos litigantes e custos
desnecessários aos órgãos do Estado, deve conservar os efeitos da demanda proposta
perante o juiz carente de jurisdição e determinar a continuidade da causa perante o juiz
apropriado. Invocando precedente da Corte Constitucional de que foi relator o grande
processualista Virgilio Andrioli (Sentença 220/86), observou que esta já havia firmado
que o justo processo não tem por escopo alcançar qualquer decisão, mas prover a
apreciação do mérito, definindo quem tem ou não razão, não devendo exaurir-se
simplesmente na apreciação dos pressupostos processuais.
A Corte Constitucional, poucos dias depois (em 05.03.2007), através da Sentença
77/2OO7, examinando o mesmo problema, ponderou que o princípio da
incomunicabilidade de juízos pertencentes a ordens jurisdicionais diversas, conseqüência
da chamada concepção patrimonial do poder jurisdicional, não é mais compatível com
valores constitucionais fundamentais. A Constituição atribuiu ao sistema jurisdicional
como um todo a função de assegurar a tutela dos direitos subjetivos e dos interesses
legítimos. Esta é a razâo de ser de todos os órgãos jurisdicionais, sejam eles ordinários
ou especiais. A multiplicidade destes não pode resultar numa menor efetividade ou até
mesmo numa frustração da tutela jurisdicional. Por isso, independentemente de
qualquer declaração judicial do órgão que declina da competência, o processo perante
ele iniciado deve conservar todos os efeitos substanciais e processuais produzidos pela
demanda já proposta, no seu deslocamento para o juízo competente. Em conseqüência,
a Corte Constitucional, adotando técnica muito freqüente em suas decisões, declarou a
ilegitimidade constitucional de dispositivo da lei que institui os tribunais administrativos
regionais, na parte em que não previu que os efeitos substanciais e processuais,
produzidos pela demanda proposta perante juiz privado de jurisdição, se conservem, em
seguida à declinatória de jurisdição, no processo que prosseguir perante o juiz dotado de
jurisdição.
Para Sigismondi, 12 essa decisão da Corte entende que a conservação dos efeitos da
demanda, mesmo entre juízes que pertencem a jurisdições diferentes, constitui um
princípio fundamental do ordenamento, assentado nos arts. 24 e tLL da Constituição
italiana, que definem o direito de acesso à justiça, o direito ao processo justo, à garantia
do contraditório e à duração razoável do processo.
Do mesmo modo, Cacciavillani destaca que a existência de uma pluralidade de juízes e
de competências visa a assegurar uma mais adequada resposta à demanda de justiça, e
não a frustrá-la. Este é um princípio fundamental do ordenamento. A Constituição
italiana conferiu ao sistema jurisdicional, através dos arts. 24 e Ll1 da Constituição
italiana, a função de assegurar a tutela dos direitos subjetivos e dos interesses legítimos.
A incomunicabilidade dos juízes de ordens diversas lhq^ parece incompatível, no
momento atual, com fundamentais valores constitucionais. " Ressalta, por outro lado,
que a introdução da garantia da razoável duração do processo, em 1999, no art. 111 da
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Translatio iudicii e reassunção do processo
estará acessível a via de não aceitar os rumos ditados pelo juiz, não adotando as
modificações por este recomendadas, dando causa, assim, à extinção desse processo.
Esse é o tratamento que, a meu ver, deva ser dado, ao mandado de segurança originário
em que o tribunal superior entenda que o titular do foro privilegiado não seja o autor do
ato impugnado. Remetido ao juízo competente para processamento do mandado contra
o possível autor do ato impugnado, deverá o juízo determinar que o impetrante emende
a sua inicial para redirecionar o writ em face desta outra autoridade, podendo ele
concordar ou não com tal redirecionamento. Apesar de entender atualmente que a
autoridade coatora não é parte no mandado de segurança, mas simples órgão de
presentação ou porta-voz da pessoa jurídica em nome da qual praticou o ato, parece-me
que o regime do mandado de segurança, ao exigir que o impetrante interpele
determinada autoridade, deve respeitar a sua liberdade de manifestar se quer fazê-lo ou
não, sem prejuízo do seu direito de impessoalmente demandar a pessoa jurídica
adversária através de um procedimento diverso.
Se a reconfiguração do direito material exigir algum outro pressuposto ao exame do
mérito, como por exemplo, uma notificação, um protesto, uma tentativa prévia de
conciliação, uma caução, o juiz, no momento da reassunção do processo, determinará a
sua implementação ou, se couber à parte, que esta a providencie.
Mas, afora a situação extrema de insuperável reformulação da causa de pedir ou do
pedido ou, até mesmo, de inclusão de uma nova parte, a reassu¡ção prossegue a
mesma ação originária, o que impossibilita qualquer mutatio libelli. 'o Por isso Achille
Saletti esclarece, referindo-se à incompetQ¡cia, que objeto da reassunção não é a
demanda, não é a causa, mas é o processo. "
Não é ocioso dizer que, nos nossos juizados especiais, em que há dispositivo expresso de
lei impedindo a continuidade do processo e determinando a sua extinção (art. 51, II, da
Lei 9.099/1995), será forçoso reconhecer a inconstitucionalidade desse preceito por
violar a garantia da tutela jurisdicional efetiva inscrita no art. 5.o, XXXV, da CFl1988
(LGLU9BB\3), ou, de modo menos traumático, a sua revogação pelo subseqüente
advento da garantia do art. 5.o, LXXVIII, da CFl1988 (LGLU9BB\3), introduzida pela EC
45/2OO4.
9. Incompatibilidade dos efeitos anteriores com o novo procedimento
10. As preclusões
As preclusões são um dos mais difíceis desafios do processo civil moderno. A proposta
chiovendiana de oralidade e concentração da causa que chegasse rapidamente ao
momento final da sentença, sem recursos contra decisões interlocutórias, recomendaria
um processo sem preclusões, para que o juiz e as partes na audiência e sentença finais
pudessem tudo rever, desfrutando naquela oportunidade de uma visão ampla e
atualizada da causa como um todo. Mas num processo excessivamente fragmentado
como o nosso, que tarda até chegar à sentença final, com recursos contra todas as
decisões interlocutórias, é preciso assegurar a sua marcha contínua em direção ao seu
fim e coibir a deslealdade que pode a cada momento tornar infrutíferos todos os esforços
anteriormente despendidos.
O juiz burocrático tende a exacerbar as preclusões, que o dispensam de olhar para o
passado e o libertam da tortura de ter de aferir e remediar a todo instante o possível
desacerto do que ele, outros juízes e as partes fizeram ou deixaram de fazer.
O direito brasileiro vigente adota um sistema mitigado de preclusões, não porque seja
um sistema flexível, mas porgue as impõe em certas matérias, como as exceções
substanciais, e a dispensa em outras, como a carência de ação, as nulidades absolutas e
as questões de ordem pública (arts. 303 e 267, 5 3.o, do CPC (LGLU973\5)),
constituindo estas uma zona cinzenta em que se digladiam na luta por maior ou menor
amplitude publicistas e privatistas.
Em matéria probatória, para o juiz não há preclusões, pois a lei brasileira o autoriza a
determinar de ofício a produção de todas as provas que entenda necessárias (art. 130
do CPC (LGLU973\5)), mas há preclusão para as partes, que têm o direito de propor
provas em determinados momentos do processo e, conseqüentemente, de exigir que
sejam produzidas apenas se requeridas nesses momentos (arts. 282 e 3OO, CPC
(LGLUe73\s)).
No trato da translatio iudicii e da reassunção do processo cumpre por ora, a meu juízo,
examinar pelo menos duas situações, quais sejam, a do processo iniciado com
preclusões que deva continuar sem preclusões e vice-versa, levando em conta o
princípio do aproveitamento e a conseqüente preservação dos efeitos processuais e
substanciais produzidos na primeira fase.
Figuremos, por exemplo, a hipótese do processo instaurado na justiça comum, no qual
foi suscitada exceção de incompetência rejeitada, sem que o excipiente tivesse agravado
dessa decisão. A questão da incompetência relativa estaria preclusa. Posteriormente,
declinando o juízo estadual de sua competência para a Justiça do Trabalho, poderia o réu
renovar a argüição de incompetência no recurso contra a sentença final, com
fundamento no art. 799, g 2.o, da CLT (LGLU943\5), que expressamente a permite? E,
na hipótese inversa: se no processo iniciado perante o juízo trabalhista no qual foi
oferecida exceção de incompetência rejeitada, posteriormente remetido para uma vara
da justiça comum federal ou estadual, tendo em vista que o mencionado dispositivo da
Consolidação das Leis do Trabalho estabelece a irrecorribilidade imediata da decisão que
rejeita a exceção de incompetência, poderia o réu argüí-la em grau de apelação?
A minha resposta é negativa à primeira indagação e positiva à segunda. No primeiro
caso, parece-me que, estando o autor de boa-fé, a preservação dos efeitos processuais
da fase inicial não permite que matéria nela preclusa seja reaberta em seu prejuízo,
ainda que o procedimento em continuação assim o permitisse, caso tivesse ele sido
adotado por inteiro. A perda de um direito subjetivo pelo réu no processo primitivo gerou
um direito subjetivo à manutenção da competência territorial em favor da parte
contrária.
Já no segundo caso, não tendo havido preclusão na fase inicial, a prerrogativa de argüir
a incompetência em grau de recurso contra a sentença final não se extinguiu com a
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Translatio iudicii e reassunção do processo
Unt dos efeitos nrais nefastos da extinção processo por inadequação do procedimento, e
não a sua continuidade através do novo procedimento, é a caducidade das liminares ou
cautelares (art. B0B, III, do CPC (LGLU973\5)). Com a adoção da reassunção do
processo, esse problema ficará totalmente resolvido, porque o processo principal não
será extinto. No caso de alteraÇão do procedimento perante o mesmo juizo, a eficácia da
tutela da urgência estará preservada até que sobrevenha a decisão final da causa ou até
que seja ela revista no curso do novo procedimento, respeitado o pressuposto da boa-fé.
Em qualque!' caso, näo cabe distinguir se se trata de medida de urgência que tLttele
apenas o processo ou diretamente o próprio direito material.
Mesrno nas IripóLeses ern que elelivanrenLe seja exLirrLo o processo prirrcipal, cottto ttos
casos de sentença de improcedência, carência de ação ou de extinção sem resolução do
rnérito por falta de algurn outro pressuposto processual, parece-rì1e que a preservação
dos efeitos da medida de urgência deverá ser aferida em face da instância recursal
subseqüente ou de nova demanda que seja proposta no prazo de trinta dias da sentença
de extinção. Se no juízo de admissibilidade do recurso ou na nova demanda, o órgão
jurisdicional competente verificar a concorrência dos requisitos do fumus boni juris e do
periculum in mora em relação à nova postulação, deverão ser preservados os efeitos da
medida de urgência anterior. A tutela jurisdicional efetiva nesses novos juízos não
poderá ser sacrificada pela caducidade da medida cautelar ou da tutela antecipada, que
não pode ser automática.
O art. 808, III, do CPC (LGLU973\5) deve ser aplicado apenas às situações em que não
haja recurso contra a extinção do processo principal, nem propositura de nova demanda,
ou em que nessas novas instâncias não se caracterizem os requisitos necessários para a
|-r ¡l-olr ¡lr
!qlgru uu ¡rnAn¡i¡
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y!l lllu.
4. V. Franco Cipriani, ob. cit., p. t62; Giuseppe Chiovenda, Relazione sul progetto di
riforma del procedimento elaborato dalla Commissione per il dopo guerra, Saggi di diritto
processuale civile, 1993, vol. 2, p. 86 e ss. e 140.
5. No mesmo sentido milita, ainda que timidamente, o art. 2t9 do CPC (LGLU973\5),
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Translatio iudicii e reassunção do processo
que determina que a citação ordenada por juiz incompetente "constitui em mora o
devedor e interrompe a prescrição", mas sem coragem de estender a sua eficácia para
induzir a litispendência ou tornar a coisa litigiosa.
6. lar¡re Milano, le clroit à r¡n trihunal au sens de la Convention européenne des droits
de I'homme, Paris: Dalloz, 2006, p.57.
10. Loïc Cadiet, Efficience versus éqüité?, in: Gilberte Closset-Marchal et alii (Org.),
Mélanges Jacques van Compernolle, Bruxelles: Bruylant, 2004, p. 40,
11. Achille Saletti, La riassunzione del processo civile, Milano: Giuffrè, 1981, p. 194-195.
13. Chiara Cacciavillani, Translatio iudicii tra Corte di Cassazione e Corte Costituzionale,
Diritto Processuale Amministrativo - Rivista Trimestrale IV/1041, ano XXV, Milano:
Giuffrè, 2OO7.
16. Carlo Emanuele Gallo, La translatio iudicii nei rapporti tra giurisdizioni, Diritto
Processuale Amministrativo - Rivista Trimestrale III/916-917, ano XXV, Milano: Giuffrè,
2007.
17. Idem, p.932. Também Sigismondi (ob. cit., p. 840) sustenta a conservação da
eficácia das provas produzidas pelo juiz incompetente no processo que continua perante
o juiz declarado competente.
18. Stefan Leible, Proceso civil alemán, Medellín: Biblioteca Jurídica Diké, 1999, p. L2B
22. Confesso que não tenho nenhuma paixão pelo art. 264 do CPC (LGLU973\5), que
dificulta que as partes possam ajustar a demanda no curso do processo para que a
sentença incida eficazmente sobre o litígio real, tal qual ele existe na data da sua
prolação, e não como o autor unilateralmente o caracterizou na petição inicial. Penso que
deveríamos caminhar - e já vejo alguns sinais dessa tendência nos juizados especiais,
por exemplo - para uma flexibilização da estabilização da demanda, desde que
respeitadas a liberdade de iniciativa do autor, a plenitude de defesa do réu e o princípio
da boa-fé. Entretanto, por ora, não encontro suporte para simplesmente ignorá-lo.
23. Assim, por exemplo, se o autor descreveu uma relação jurídica caracterizadora de
locação, mas qualificou-a de comodato e, em consequência do seu erro, pediu a
reintegração de posse e não o despejo, será necessário retificar a causa de pedir
próxima e o próprio pedido.
26. Athos Gusmão Carneiro, Jurisdição e competência, L4. ed. São Paulo: Saraiva,2005,
p. L22.
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