Considerações Sobre o Ensino Do Acompanhamento Rítmico No Violão

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

DENIS RILK MALAQUIAS

“A CIFRA JÁ PEGUEI. E AGORA, COMO FAÇO A BATIDA?”


Considerações sobre o ensino do acompanhamento rítmico no violão

Goiânia
2016
1

DENIS RILK MALAQUIAS

“A CIFRA JÁ PEGUEI. E AGORA, COMO FAÇO A BATIDA?”


Considerações sobre o ensino do acompanhamento rítmico no violão

Trabalho de conclusão de curso apresentado na Escola de Música


e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás como pré-
requisito para a obtenção do título de Licenciado em Música –
Habilitação em Ensino do Instrumento Musical – Violão Popular.
Orientador: Prof. Ms. Fabiano Chagas da Silva

Goiânia
2016
2

Aos meus pais Neri (pai) e Elizete (mãe) que


sempre foram meu porto seguro me apoiando
incondicionalmente na corrida atrás dos meus
sonhos.
3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, ao Deus criador de todas as coisas, por mais essa conquista e pela
oportunidade de vivenciar novas experiências de aprendizado.
Ao professor e orientador desse trabalho, Ms. Fabiano Chagas, pela paciência e pelos
preciosos ensinamentos sobre o violão e música popular que estruturaram todo esse trabalho.
À professora Dra. Nilceia Protásio, pelas orientações sobre estruturação e metodologias,
sem as quais eu não poderia ter construído esse trabalho.
Ao professor Ms. Júlio Lemos que prontamente aceitou o convite para a defesa desse
trabalho e auxílio em momentos diversos.
A professora Dra. Magda Clímaco, que com seus ensinamentos me ajudou a compreender
e valorizar novas possibilidades e objetos de pesquisa.
A todos os professores e funcionários da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG pelo
auxílio em momentos diversos.
À Clara Sanches, pelo auxílio nas revisões e contribuições com sábias reflexões.
Ao meu amigo e compositor Dayves Wisney, que muito contribuiu para o desvendamento
de levadas rítmicas atualizadas.
A todos meus amigos e colegas, os quais, direta ou indiretamente, colaboraram com mais
essa conquista na minha vida.
4

“Não há saber mais ou saber menos:


há saberes diferentes.”
Paulo Freire

“Pra mim tem dois tipos de música:


a ruim, e a boa. ”
Tião Carreiro
5

RESUMO

Este trabalho é resultado de experiências com ensino coletivo de violão, e baseado nessas
experiências, sugere uma grafia com intuito de colaborar com o ensino e aprendizado do
acompanhamento rítmico no violão, algo ainda pouco explorado pelos métodos de ensino de
música popular. Faz ainda uma análise sobre alguns materiais e metodologias aplicadas no ensino
de acompanhamento rítmico no violão. Discorre, além disso, sobre a questão da motivação dos
alunos na fase inicial através da escolha do repertório.

Palavras-chave: Violão, Acompanhamento Rítmico, Música Popular.


6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Levada de samba-funk (FREIRE, 2005, p. 30).


Figura 2 – Vídeo com grafia do ritmo de acompanhamento da música 60 Dias Apaixonado
na legenda.
Figura 3 – Usando letras para representar os dedos da mão direita (TEIXEIRA, 2008, p.
27).
Figura 4 – Setas para representar as levadas do violão com palheta ou com os dedos
(TEIXEIRA, 2008, p. 28).
Figura 5 – A mesma levada das figuras 1 e 2 grafadas na partitura (TEIXEIRA, 2008, p.
28).
Figura 6 – Levada de valsa (AZEVEDO, 1979, p. 28).
Figura 7 – Levada de Folk Rock (SÁ, 2002, p. 42).
Figura 8 – Representação gráfica da batida de valsa no violão (FREIRE, 2005, p. 14).
Figura 9 – As letras “P” representa o toque com o polegar, “I” indicador e “C” as costas da
mão.
Figura 10 – Representação gráfica do ritmo baião (ROCHA FILHO, 2000, p. 46).
Figura 11 – Grafia do ritmo de guarânia (OLIVEIRA, 2015, p. 55).
Figura 12 – Levada de rock na guitarra elétrica
Figura 13 – Exercício de combinação de dedos da mão esquerda e alternância de palhetadas
(CAESAR, 2003, p. 45).
Figura 14 – Proposta de grafia do ritmo Valsa no violão.
Figura 15 – Proposta de grafia do ritmo Cururu no violão.
Figura 16 – Proposta de grafia de uma variação do ritmo Pop-Rock no violão.
Figura 17 – Exemplo de ritmo usando toque rasqueado “r”.
Figura 18 – Transcrição do groove arpejado da música A Thousand Years – compasso 9 ao
14.
Figura 19 – Transcrição da levada de balada em 6 utilizada na música A Thousand Years
Figura 20 – Transcrição do groove arpejado da introdução parte da música Sosseguei.
Figura 21: Levada rítmica evidenciada na música Sosseguei a partir do primeiro refrão.
Figura 22 – Transcrição do groove arpejado da introdução da música Flor E O Beija-Flor.
7

Figura 23 – Levada rítmica de guarânia na música Flor E O Beija-Flor a partir do primeiro


refrão.
Figura 24 – Transcrição do modelo de groove utilizado na música Domingo de Manhã.
Figura 25 – Levada rítmica da música Domingo de Manhã a partir do primeiro refrão.
8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1 – O ACOMPANHAMENTO DA MÚSICA POPULAR NO VIOLÃO ........ 13

1.1 O ACOMPANHAMENTO DE MÚSICA POPULAR NA FASE INICIAL DE ESTUDO ................................ 13


1.2 O TAL DO “GROOVE” ................................................................................................................. 16
1.3 SIMBOLOGIA DA MÃO DIREITA .................................................................................................. 17

CAPÍTULO 2 – O VIOLÃO E AS LEVADAS RÍTMICAS .................................................. 22

2.1 ALGUMAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA .................................................................... 22


2.2 UMA PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE LEVADAS RÍTMICAS ..................................... 27
2.3 O INTERESSE DOS VIOLONISTAS BASEADO NOS SITES DE CIFRAS ............................................... 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 39
9

INTRODUÇÃO

Estudar violão tem se tornado algo cada vez mais acessível. São numerosos os métodos
existentes no mercado para aquele que deseja aprofundar seus conhecimentos no instrumento,
sejam estes para se tornar um concertista, um instrumentista da “música popular” arraigando-se na
arte da improvisação, ou até mesmo para aquele que só deseja acompanhar algumas canções nas
rodinhas com os amigos, comunidade religiosa, ou reuniões de família.
Vivemos em uma era de informações superabundantes; a internet tem sido uma grande
aliada para quem deseja principiar-se no instrumento ou mesmo para aqueles que desejam
aprimorar os seus conhecimentos. Existem até mesmo cursos de violão em ambiente virtual com
métodos e materiais nos mais variados formatos de mídias. No entanto, nos deparamos com certa
carência de material no que diz respeito ao acompanhamento rítmico no violão, as “batidas”. Talvez
pelo fato de que a música popular seja uma música que, por tradição, quase sempre é transmitida
oralmente.
Recentemente, que se principiou essa procura por uma sistematização do ensino da música
popular. Com o surgimento dos songbooks, revistas, livros com músicas cifradas e até mesmo sítios
de cifras na internet, essa parte de escrita da harmonia foi praticamente resolvida nos últimos anos.
Apesar de tudo, não existe ainda uma sistematização de grafia do acompanhamento rítmico violão,
as “batidas”. Existem sim, várias propostas, formais e informais, de metodologias de ensino, mas
na maioria das vezes sem muita funcionalidade. Sá (2002, p.3) relata:

Se nos últimos anos temos acompanhado uma considerável evolução no que tange
ao material didático voltado Música Popular, constatamos, porém que a mesma
não se estendeu a área do acompanhamento. Em que pese a enorme quantidade de
“songbooks” que vemos surgir atualmente, raros são os que além da Linha
Melódica e da Cifra, nos oferecem também a “Levada” que deve ser aplicada a
música a ser executada.

Ainda a respeito da qualidade desse material disponibilizado tão facilmente para o


aprendizado de música popular Tourinho (2002, p.180-181) acrescenta:

Desnecessário seria falar do padrão de qualidade deste material tão procurado,


onde pode haver falhas desde a informação da tonalidade da música até ao próprio
acompanhamento, mas que se revela um produto muito requisitado, face aos
títulos e quantidade de vendas. A sua eficácia é discutível em muitos pontos, mas
revela-se como um primeiro contato para boa parte dos iniciantes, com ou sem
10

ajuda de um professor [...]. Os fatores que motivam este aprendizado são: o preço
destas revistas, a sua atualidade em termos de repertório, e mesmo algumas noções
rudimentares acerca de como estruturar os acordes que se repetem quase sempre
na mesma sequência. O aprendiz que conhece a letra e canta a melodia, é capaz,
na maioria dos casos vendo um amigo ou o professor tocar, de poder reproduzir o
ritmo harmônico com facilidade depois de algumas tentativas.

O Violão é um instrumento acompanhador por excelência, e provavelmente essa forma de


tocar seja também a mais manifesta na cultura brasileira. Taborda (2011, p. 9-10) remetendo as
origens dessa tradição de acompanhador do violão relata que:

Durante o império, já agora com seis cordas simples, foi a velha viola batizada de
violão, e tornou-se a grande, ou melhor, o grande metamorfoseador das danças
europeias (valsas, polcas, schottisches, mazurcas etc.) em danças brasileiras de
idêntica denominação. Foi também o violão constante acompanhador dos gêneros
e subgêneros de visível caráter nacional: modinhas, lundus, cateretês, maxixes,
choros e sambas.

Em alguns casos o acompanhamento rítmico no violão acaba se tornando o grande


caracterizador de certo gênero musical.

A presença do violão no desempenho da sustentação rítmico-harmônica revelou-


se, em alguns casos, aspecto identificador do próprio gênero musical a que servia
de base. Basta lembrar a importância que assumiu na música brasileira o chamado
baixo cantante, realizado pelo acompanhamento violonístico, e, mais
recentemente, a batida “bossa-nova”, que transpôs para o violão o padrão de
acompanhamento que tipifica o próprio gênero (Ibidem, p. 11).

Não podemos ignorar a existência desses gêneros musicais populares, nem o fato de que,
na maioria dos casos, as músicas que os alunos ouvem no dia-a-dia é o que de fato os entusiasmam
a querer estudar um instrumento. Deve-se então observar o que o aluno traz de sua realidade, e
porque não partir daí? Um professor que não expande seus horizontes musicais, e não se atualiza,
tem por consequência a perda de alunos. A respeito disso, Tourinho (Apud FREITAS, 2007, p. 2)
narra:

Tenho presenciado o esvaziamento e o fechamento de cursos com anos de tradição


e escutando queixas de professores de violão que insistem em se manter dentro de
padrões mais rígidos e pouco afeitos as transformações sociais. Por outro lado,
professores experientes e com muitos anos de ensino estabelecem metas claras
para o ensino de iniciantes, vislumbrando as mudanças e se colocando a serviço a
vontade da maioria dos alunos em primeira instancia.
11

Complementando, Loureiro (Apud CAMARGO, 2007, p. 88) parece estar de acordo com
Tourinho nessa mesma linha de pensamento ao alegar que:

Um outro fator que tem contribuído para o afastamento do aluno em relação às


aulas de música diz respeito ao professor, ou à escola, que insistem em trabalhar
com um repertório que está em desarmonia com a música que seus alunos ouvem
e apreciam fora da sala de aula. Professor e aluno devem buscar um consenso ao
selecionar um repertório, ou mesmo um tema a ser abordado em sala de aula.

Seria muita insensibilidade ignorar essa parte da nossa cultura, ela está presente o tempo no
nosso cotidiano. Tourinho (2002) assinala que mesmo o aluno que vai aprender “violão por
música” ou “violão clássico”, apesar de desejar aprender a leitura musical e o repertório que não
conhece, mas sabe ser diferente, não está desvinculado do seu grupo social e das influências da
mídia. Hargreaves (Apud TOURINHO, 2002, p.181) alega também que “as preferências musicais
são parte de uma rede de gostar e não gostar, e estas preferências estão padronizadas de acordo
com a divisão de classes sociais”. Já para Teixeira, a motivação dos alunos para aprender violão
está diretamente ligada ao repertório a ser aprendido (TEIXEIRA, 2008, p.20). Sendo assim, o
professor precisa demonstrar certa sensibilidade na escolha desse e, uma certa maleabilidade, de
forma que esse repertório atenda os interesse técnicos do aprendizado do instrumento e também
que aproxime do gosto e da realidade sociocultural desse aluno.
Face aos expostos acima, trazemos as seguintes questões para elucidar essa pesquisa: Como
é abordado o quesito “acompanhamento rítmico” nos métodos de violão popular no Brasil? Como
desenvolver uma metodologia para o ensino do acompanhamento rítmico focado num repertório
atualizado levando em consideração a realidade e o interesse dos jovens da atualidade? Qual a
notação e ou simbologia seria a mais adequada na grafia das levadas rítmicas do violão, e que
facilite a compreensão do aluno? E quais os critérios devem ser utilizados na seleção dessas
incrementações gráficas?
Após certo período lecionando violão, me deparei com uma questão, um tanto repetitiva
entre os alunos. Especialmente alunos da rede pública, onde as aulas de violão são coletivas, sempre
tentei estimulá-los a não se limitarem somente ao conteúdo aplicado nas aulas semanais, mas sim,
a terem autonomia de procurar outras fontes e arriscarem a aprender outras músicas
individualmente. A resposta dos alunos ao regressar as aulas era quase sempre a mesma: “professor
eu aprendi os acordes, mas não entendi a “batida” e nem as explicações que estavam no material”.
De fato, é quase sempre justificável esse embaraço dos alunos na compreensão do
12

acompanhamento rítmico. Ao fazer análise desses materiais, é possível perceber que nem sempre
apresentam conteúdos de fácil aplicabilidade. Além das grafias rítmicas não apresentarem padrões,
em sua maioria as metodologias propostas acabam por confundir o aluno.
Frente aos descritos acima, esse trabalho pretende fazer uma abordagem do ensino de
música popular com o intuito de colaborar com o ensino do violão aplicado a essa música. Fazendo,
também uma proposta de sistematização de um quesito pouco abordado nos métodos de ensino
deste instrumento. Esta proposta de pesquisa abrolhou através de experiências com o ensino
coletivo do instrumento ao observar a carência e a grande necessidade desse tipo de material no
ensino do violão, e, se justifica, portanto, por estar colaborando com o ensino do violão na música
popular, sobretudo, no quesito acompanhamento rítmico. Colaboração essa focada no aprendizado
de um repertório mais atualizado e voltado para um público jovem/contemporâneo.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar metodologias de ensino de
acompanhamento rítmico de músicas populares ao violão, avaliando como estas colaboram com o
ensino e aprendizado do acompanhamento rítmico no instrumento. E, após selecionar levadas
rítmicas (ou grooves não arpejados) mais funcionais e de músicas mais ouvidas pelo público
jovem/contemporâneo para sugestão grafo musical, recomendar uma metodologia e grafia para o
ensino de levadas rítmicas, que venha facilitar a apreensão de alunos principiados no instrumento
e ou que ainda possuem pouco conhecimento sobre leituras de partituras.
A proposta metodológica desta pesquisa consiste em levantamento e análise bibliográfica
(livros, dissertações, teses, artigos, anais, revistas e métodos para violão popular); análise de textos,
manuscritos, partituras, jornais, revistas, cartas, discursos; análise de imagens, sons, vídeos,
estatísticas, arquivos públicos e particulares, levando em consideração também que esta é,
sobretudo, uma pesquisa de caráter qualitativo. Porém, além dos dados sugeridos acima para o
levantamento, estes foram complementados com relatos de experiências pessoais do próprio autor
adquiridos anteriormente com o ensino coletivo de violão relacionado ao tema proposto.
A próxima etapa está implicada com a organização dos resultados obtidos no levantamento
e na abordagem das fontes mencionadas. Com base nos resultados alcançados nas etapas anteriores
será feito um trabalho de reflexão, interpretação, comparação, relação, e conclusão para, com base
nos resultados obtidos, discorrer sobre o tema proposto. Tendo por base esses resultados, foi
realizado um levantamento sobre qual seria a melhor metodologia e grafia a se empregar no estudo
das levadas rítmicas ao violão.
13

CAPÍTULO 1 – O ACOMPANHAMENTO DA MÚSICA POPULAR NO VIOLÃO

1.1 O acompanhamento rítmico e música popular na fase inicial de estudo

Essa questão do valor estético e gosto musical poderia ser bem justificada no livro de Caldas
(2009), onde mesmo relata a questão do gosto, valores culturais e até exemplos de processo de
“refinamento” cultural de certas práticas populares como é o caso da corrida de cavalos:

O gosto por corridas de cavalos não se pode atribuir apenas à aristocracia e mais
tarde a burguesia. Trata-se, na verdade, de uma prática tradicionalmente
camponesa, posteriormente incorporada à cultura aristocrática. Hoje, no entanto,
é uma modalidade comercial e esportiva identificada inteiramente com os
refinamentos, a elegância e o poder econômico da burguesia. Se o esporte tivesse
permanecido apenas circunscrito apenas ao universo cultural do homem do campo
até nossos dias, certamente seria notadamente chamado de “brega” (Ibidem, p.
27).

Se tratando de música, no ensino formal de música no Brasil existiu por muito tempo uma
certa ênfase no ensino da música advinda da tradição europeia. Esse é muita das vezes até defendida
como uma música de qualidade superior. A música de tradição oral por muito tempo não foi vista
com bons olhos, até mesmo ignorada e ou menosprezada por parte da chamada “elite cultural”
brasileira. Nas universidades, a abertura de cursos de música que abordam a música popular como
foco é bem recente. Conforme relata Cerqueira (2009), o primeiro curso superior em música
popular a ser implantado no Brasil, foi na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em
1989, seguidamente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Atualmente
podemos encontrar cursos superiores de música popular em outras importantes universidades do
Brasil como Universidade Federal da Bahia – UFBA, Universidade Federal da Paraíba – UFPB,
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR,
Universidade Estadual do Ceará – UECE. E ainda, iniciativas como a da Universidade Federal de
Goiás – UFG que, desde 2009, dentro do tradicional curso de música da mesma, implantou-se as
habilitações em guitarra elétrica e violão popular, ambas sob responsabilidade do professor Fabiano
Chagas.
Já em relação aos iniciados no instrumento, a música que faz parte da realidade cultural da
grande maioria desses, é a música popular. E, estudar uma música que tenha maior aplicabilidade
14

prática no dia a dia desse estudante poderia ser um ponto positivo no aprendizado do instrumento.
Para Oliveira (2014)

O repertório apresenta-se como fator preponderante neste processo, pois


entendemos que utilizando músicas do interesse dos alunos é possível obter
respostas positivas aos significados inerentes e delineados da música, conforme
os conceitos apresentados por Lucy Green (2012), e ainda motivar e estimular os
alunos a continuarem a estudar o instrumento, obtendo melhores resultados
técnicos e sonoros (Ibidem, p. 510).

Um grande fator que, a meu ver influencia na escolha de um repertório para os alunos nessa
fase inicial, é a motivação. Através de relatos informais de alunos de violão, sabemos que muitas
vezes, alguns passaram e ou passam por situações constrangedoras. Por exemplo, imaginemos a
seguinte situação: um adolescente diz para seus amigos, que está estudando violão e um amigo lhe
pede para acompanhar uma daquelas das músicas mais tocada do momento, ou o tradicional
“Parabéns a Você” para dar felicitações a um outro amigo, e ele ter que dizer que não sabe tocar
violão dessa forma. O curioso é que quando você diz que estuda ou toca violão para alguém, na
maioria das vezes, este espera que você vá tocar acompanhando uma canção popular e logo já lhe
fazem pedidos. E, não usando de hipocrisia, há veridicidade sim no fato de que fazer algo que vá
agradar outrem também é prazeroso pra um artista. Afinal, arte é feita pelo artista para ser mostrada
e tocar as pessoas de alguma forma. Para Tourinho (2002):

[...] o estímulo ao repertório que o aluno aprecia e valora pode se constituir em


uma poderosa arma de interesse e motivação para o aprendizado de novos
conhecimentos, tornando a aula de instrumento um espaço agradável onde as
pessoas podem trazer as suas primeiras experiências para serem acrescidas, não
tendo que deixá-las para aprender um repertório completamente novo e dissociado
do anterior. (Ibidem, p. 237).

Uma escola não funciona sem alunos. E especialmente as aulas de violão1, que na maioria
das vezes são disciplinas e ou oficinas opcionais, precisa-se de algo que entusiasme os alunos a
estudarem violão. E nesse trabalho de “conquista” dsse público, a escolha do repertório é
fundamental. Segundo Freitas (2007, p. 2) a música popular proporciona, de forma mais eficiente,
uma ponte entre a comunidade interna e externa de uma escola de música. Moura (2008) aponta
também que:

1
Faz-se referência ao ensino coletivo do instrumento aqui nesse caso.
15

Dentre as inúmeras propostas para o ensino de música no Brasil, uma das mais
significativas tem sido as que buscam contemplar o ensino contextualizado de
música com a realidade das demandas socioculturais do país... A tendência é que
o repertório de música popular brasileira venha compor, cada vez mais, o
conteúdo programático de disciplinas de música, currículos, estratégias
pedagógico-musicais, além de colaborar com a experiência musical em contextos
escolares (Ibidem, p. 38).

Souza (apud CAMARGO, 2007, p. 88) afirma que “a experiencia musical só pode ser
compreendida dentro de um sistema de valores, estruturas e organizações que são construídas
historicamente, e a inclusão de um repertório mais próximo do aluno pode ser uma acréscimo em sua
formação”. Dependendo do contextos sociocultural dos alunos, principalmente na fase inicial do estudo do
instrumento, as aulas quando estão fazendo um exercício de leitura musical, técnica ou algo assim
tende a parecer uma eternidade para os mesmos. Diferentemente do que acontece quando estão
fazendo acompanhamento de uma canção popular, na maioria das vezes eles nem percebem a aula
passar.
Uma outra curiosidade em relação à escolha do repertório é que, mesmo só fazendo
acompanhamento, nem sempre as músicas mais fáceis são as melhores assimiladas. Apesar de
parecer que “Marcha Soldado” (canção folclórica) usando dois acordes e uma batida simples é uma
música fácil de ser tocada, na maioria das vezes uma canção com ritmo mais complexo e com mais
acordes, mais rapidamente é tocada. Todavia, isso na maioria acontece quando essas são as canções
mais populares do contexto sociocultural desses alunos na ocasião. E uma possível justificativa
para isso é que algo que agrada o público e o aluno principalmente motiva mais seus estudos e o
seu empenho.
“O planejamento musical cujos conteúdos estão mais próximos dos alunos favorece seu
interesse e a sua participação, e a criação lhes permite trabalhar e se desenvolver segundo suas
habilidades e possibilidades individuais e coletivas” (CAMARGO, 2007, p. 97). Teixeira (2008,
p.20) aponta que a motivação dos alunos para aprender violão está diretamente ligada ao repertório
a ser aprendido. Contudo, sabemos também que não é só a questão de gosto de motivação que se
deve levar em consideração na escolha do repertório dos alunos. Para Oliveira (2014):

Diferentes aspectos são levados em consideração no momento de escolha do


repertório a ser ensinado em grupo ou individualmente, tais como: quem são os
sujeitos, faixa etária gênero, preferências, nível intelectual e socioeconômico,
habilidades e competências musicais, possibilidade de rendimento artístico, entre
outros. Geralmente o critério gosto pessoal dos integrantes predomina sobre os
demais (Ibidem, p. 505).
16

Em relação ao gosto musical dos alunos por certo repertório, pode-se dizer que são vários
os fatores que influenciam na constituição do mesmo, segundo Caldas (2009, p. 11), a classe social,
época, moda, nível socioeconômico e geração, entre outros fatores, de alguma forma interferem no
gosto, naquilo que devemos consumir, e até nosso estilo de vida. Certamente, uma das maiores
provas disso encontraremos na própria hitória da arte e da civilização [...]. Baseado nisso, podemos
supor também que o gosto musical do aluno não é imutável, e está sempre sofrendo algum tipo de
influência, e o professor, na sua posição de formador, não estaria alheio à essas influenciações.
Segundo Mendonça Filho (Apud PEDROSA, 2015, p 53):

A transmissão, por ocorrer na tangência de dois arcos – o que enuncia o


desejo de ensinar e o que enuncia o desejo de saber – implica em um
inesperado que remete a um jogo de presença-ausência; um jogo do qual só temos
as regras e o local e, nunca, a certeza prévia de seu resultado. Assim, ao invés de
a transmissão ocorrer por meio de uma apropriação que o professor possa
fazer do aluno, do tipo ‘eu sei o que você deve saber’, ela se dará em um espaço
vazio, em que impera o acaso, pois o professor não sabe o que o aluno deseja
saber, mas o aluno supõe que o saber produzido pela enunciação do desejo de
ensinar criará uma oferta que estabelecerá um porto onde ocasionalmente o
desejo de saber do aluno atracará.

Partindo desse pressuposto, podemos entender também que, nesse processo de


“negociação” entre professor e aluno na escolha de um repertório motivador do estudo do
instrumento, de alguma forma, e ou em algum momento, um poderá estar influenciando na
ampliação do gosto musical do outro. Contudo, parece haver maiores expectativas que essa
influêcia parta mais da parte do professor, devido ao papel que esse tradicionalmente desenvolve
de propositor e “enunciador” do conhecimento.

1.2 O Tal do “groove”

Essa é uma expressão advinda do inglês e bastante utilizada entre os músicos com
performances ligadas à música popular, em especial, músicos de bandas. Porém, pouco se vê escrito
sobe a tradução e o verdadeiro significado dessa expressão na bibliografia brasileira. Nos
dicionários inglês-português é possível encontrar as seguintes traduções da palavra groove:
ranhura, entalhe, encaixe, canaleta, estrias e etc. Se tratando de música, Caeser (2015) afirma que
a música popular está sustentada no groove que serve ao acompanhamento vocal, alega ainda que:
17

Grooves, na linguagem musical norte-americana, são padrões rítmico-harmônicos


que delineiam um estilo musical ou uma canção. Normalmente, em uma banda,
quem determina o groove é a seção rítmica (bateria e baixo). Cabe a guitarra, em
um acompanhamento, a condução rítmico-harmônica da música, sincronizada à
bateria e ao baixo. Vale ressaltar que outros instrumentos também conduzem,
como o piano (ou teclado) e o violão (antecessor da guitarra elétrica) (Ibidem,
p.7).

Para Azevedo (1979, p.27) característica mais importante na música popular para
determinar sua espécie é o ritmo. Fortes (2007, p.5) também enfatiza essa importância do ritmo
quando alega que:

O ritmo certamente é o princípio de tudo na música, sendo que a percussão sempre


esteve diretamente ligada a rituais religiosos dos povos primitivos, colocando o
ritmo como parte da natureza humana. Além disso, qualquer altura (nota) é, na
verdade, uma série de vibrações consecutivas, como por exemplo, o Lá 440, que
tem é composto por quatrocentos e quarenta vibrações por segundo. Pode-se dizer
então que, fisicamente, o ritmo vem primeiro que a melodia, ou ainda, que a
melodia é uma consequência do ritmo.

Partindo dessa perspectiva, podemos entender como groove todas as levadas rítmicas feitas
ao violão que se repetem ao longo da execução de uma música, e mesmo não estando acompanhado
com baixo e bateria, essa execução é baseada em elementos rítmicos pensados sincronizadamente
com os mesmos. Devemos lembrar ainda que, dependendo do estilo musical executado no violão,
é possível perceber nas levadas rítmicas do violão elementos sonoros percussivos e ainda a
enfatização ao executar o baixo dos acordes. Tudo sempre com o objetivo caracterizar algum
gêneno e ou estilo musical.

1.3 Simbologia da mão direita

Abordaremos aqui a simbologia da mão tangenciadora, ou seja, a mão que fere as cordas
do instrumento, a mão direita. Essa também que é a maior responsável pela produção sonora do
instrumento. Uma vez que a maior função da mão esquerda é a administração das notas, quais
dessas devem soar ou não no instante em que as cordas são tangidas. Contudo, sabemos que são
grandes as possibilidades técnicas que os instrumentos de cordas dedilhadas como o violão e
guitarra, por exemplo, possuem. E dentre essas possiblidades, é factível também a produção sonora
18

através da mão esquerda. Seja estas através de ligados, percussão dos dedos nas casas do
instrumento etc. Como um grande exemplo disso poderíamos citar como exemplo o guitarrista
Stanley Jordan2. Este que, com o auxílio da eletrificação dos seus instrumentos (guitarra e às vezes
faz uso até do piano em suas apresentações) consegue executar até dois instrumentos
simultaneamente em suas performances musicais.
Ainda sobre a mão esquerda (a mão que faz as notas e acordes), quem pega no violão em
primeiro instante, geralmente, tem a sensação de que essa é a maior dificuldade no instrumento, e
acaba focando muito nisso. Não é atoa que a maioria dos métodos de violão foca na maior parte
em acordes e escalas. Salvo as levadas rítmicas que utilizam a mão esquerda para complementar
os grooves com efeitos harmônicos e ou melódicos, ou mesmo as sutilezas rítmicas que exigem um
corte sonoro e ou stacctato, em termos de função rítmica a mão esquerda seria talvez até
dispensável.
Contudo, na verdade, antes de qualquer coisa, o aluno precisa ter mesmo certa segurança
em relação à mão esquerda para então começar a fazer o ritmo. Também, para que a mão esquerda
não tome toda a atenção que deveria estar sendo dada ao tanger das cordas no violão, ou seja, a
mão direita, o ideal é que o aluno comece a praticar uma nova batida fazendo acordes que já estão
resolvidos tecnicamente na mão esquerda. Caso isso ainda não esteja resolvido, é interessante fazer
um aquecimento antes de treinar as levadas rítmicas das músicas, praticando exercícios de
alternâncias de acordes. Essa alternância de acordes a priori seria melhor usando somente a mão
esquerda para memorizar a digitação. Uma vez resolvido isso, as chances de pausar a mão direita
indevidamente na execução de uma levada rítmica na mão direita são bem menores. E consequente
tem-se assim maiores rendimentos no estudo do ritmo de uma música.
Possivelmente, um dos maiores desafios para escrita de levada rítmica seja a questão da
simbologia. Segundo Corrêa (2000, p. 79):

A escrita musical, por mais rigorosa que seja não consegue comunicar todo o
universo sonoro de uma peça musical. Notas de um compasso que continuam
soando no próximo e não são escritas, os harmônicos da caixa sonora do
instrumento soando durante toda a execução da obra musical, detalhes relativos à
mecânica das mãos, à intensidade e a qualidade de cada nota, e outros fatores
mais, não são escritos em pauta, mas constituem elementos inerentes ao fazer
musical.

2
Vídeo de Stanley Jordan tocando Stairway to Heaven em duas guitarras com mais de 1.582.045 visualizações.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NeooHiX4oH0>. Acesso dia 06 de junho de 2006.
19

A representação gráfica do tocar não dedilhado das cordas do violão parece ser uma tarefa
ainda mais complexa. Não se tem notícias ainda de nenhuma convenção que defina esses símbolos
de notação que traduza e represente perfeitamente o movimento feito pelas mãos3 ao executar uma
levada rítmica, especialmente as mais complexas e cheias de ranhuras, rasgueios, movimentos
percussivos etc. bem como as sutilezas de intensidades na execução dos mesmos. Apesar da escola
violonística formal ter uma certa tradição nas metodologias de ensino que perduram por longas
datas, não poderíamos, nesse caso, deixar de destacar, dentre outras, as iniciativas Francisco
Tárrega no século XIX, que através dessa acabou se consolidando uma tradição sistematizada do
tocar violão. Contudo, a cultura musical folclórica e ou de tradição oral não se ateve atrelada a toda
essa sistematização de ensino do instrumento. Apesar de que modestamente alguns compositores
eruditos acresceram em suas obras elementos da música popular, por parte da considerada “elite
cultural”, por muito ela sempre foi vitimada por olhares e opiniões preconceituosas.
Isso parece acontecer em outros instrumentos inseridos na música e cultura popular. À
exemplo, outro instrumento da mesma família do violão, a viola caipira (ou viola de arame, viola
brasileira etc dentre outras nomenclaturas que esta possui), essa que tem iniciativas de
sistematização do ensino do instrumento bem mais recentes que o violão (que datam após a segunda
metade do século XX), já houve um certo cuidado por parte dos proponentes de representar da
forma mais clara possível as peculiaridades sonoras produzidas com a exequibilidade das levadas
rítmicas. Como não existia simbologia para isso houve-se iniciativa de criar uma que representasse
esses elementos. Dentre os pioneiros desse tipo de iniciativa, está o violeiro Roberto Corrêa, este
que na ocasião que escrevia o seu método A Arte de Pontear Viola, este teve que criar uma
simbologia própria pra representar certos efeitos produzidos na execução das levadas rítmicas.
Mesmo em pleno século XXI, a tradição oral permanece forte no aprendizado do
instrumento. Estamos tão acomodados com ela que não tem despertado preocupação de uma
sistematização de representação gráfica das levadas rítmicas que possam abarcar maiores sutilezas
sonoras. No exemplo a seguir, Freire (2005, p.30) grafa uma levada rítmica de samba-funk:

3
Diz-se mãos porque, apesar de a mão direita ser a responsabilizada pelas levadas rítmicas sabemos que algumas
sutilezas sonoras também são produzidas pela mão esquerda, tais como: cortes sonoros, o staccato, o abafamento
para produção de efeito pizzicato e etc. Existe ainda a possibilidade de uma trabalho rítimico complementar, como
acontece, por exemplo, na viola caipira com o “pagode de viola” onde é feito um trabalho rítmico complexo
combinando mão esquerda e mão direita (MALAQUIAS, 2013).
20

Figura 1: Levada de samba-funk (FREIRE, 2005, p. 30).

Baseado nas orientações iniciais do método escrito podemos interpretar os seguintes


elementos desse gráfico o acento (^) sobre o “I” aponta que o movimento deve ser um toque ferindo
as cordas debaixo pra cima com o dedo indicador. O compasso é quaternário e a duração de cada
toque está bem definido pela partitura rítmica na parte superior do gráfico. Porém outros sinal
ocorrentes no decorrer do livro em outros ritmos como “R” (rasgueado), “x” (toque percutido), “d”
(toque feito com as costas da mão com dedos indicador, médio e anelar) etc. Estes só são possíveis
de serem interpretados quando se tem acesso aos vídeos que acompanham o método. No mesmo,
o autor faz demonstração de como executar todos os ritmos do método.
Rocha Filho (1976) já defendia que “o melhor processo de aprender um ritmo é o da
imitação, isto é, ouvindo e imitando o professor ou outro bom executante, discos, rádio etc”. Em
relação ao seu método, defendia também que os esquemas práticos de ritmos do mesmo “deverão
ser considerados apenas como um recurso ou uma ajuda aos que, por qualquer circunstância, não
puderem obter a assistência indispensável de um professor” (Ibidem, p. 42).
Nota-se que é bem comum professores e autores de materiais sobre violão não se
preocuparem tanto com essa questão da grafia rítmica e suas de definições de simbologia.
Perduram-se até os dias atuais, fortemente, os modelos de aprendizado da tradição oral. Na cultura
popular por muito tempo se aprendeu a tocar o instrumento através da observação na execução de
outrem. Especialmente em sites especializados em cifras e músicas da atualidade são muito comum
as levadas rítmicas das músicas dos mesmos serem transmitidas através de vídeo-aulas. E as grafias
(quando tem) nesse caso geralmente é adicionada como legenda do próprio vídeo, conforme
exemplo de imagem abaixo de um vídeo-aula4 ensinando tocar o ritmo (guarânia) da música 60
Dias Apaixonado5 na versão da dupla Victor e Leo:

4
Disponível em: <https://www.cifraclub.com.br/victor-leo/60-dias-
apaixonado/simplificada.html#autoplay=true&footer-chords=false&tabs=false> acesso dia 30 de maio de 2016
5
Composição de Darci Rossi e Constantino Mendes.
21

Figura 2: Vídeo com grafia do ritmo de acompanhamento da música 60 Dias Apaixonado na legenda.

Nesse caso aqui, a tecnologia auxilia mais do que a própria grafia do ritmo na legenda. Uma
vez que, da medida em que o instrutor vai tangendo as cordas do instrumento com a mão,
simultaneamente vai acendendo a cor no gráfico adicionado na legenda exatamente na seta
representante do toque. Contudo, não é especificado com quais dedos devem se ferir as cordas,
nem quais seriam essas cordas. Pois as setas são só direcionais. Levadas rítmicas mais complexas
não seriam possíveis serem grafadas só com símbolos direcionais6 dos toques.

6
Símbolos que representam que o tanger nas cordas deve ser em movimento pra baixo ou pra cima.
22

CAPÍTULO 2 – O VIOLÃO E AS LEVADAS RÍTMICAS

2.1 Algumas formas de representações gráficas

Talvez esse seja o maior nódulo do estudo do acompanhamento rítmico, a grafia. Conforme
foi comentado anteriormente, a escrita musical, por mais detalhista que seja, não consegue
representar todas as sutilezas sonoras produzidas na execução do violão. Se tratando de grooves e
ou levadas rítmicas no violão o desafio parece ser ainda maior. A complexidade do tanger as cordas
do instrumento das mais variadas formas possíveis parece intimidar a criação de uma convenção
para o tema. Contudo, existem algumas iniciativas de sistematização, e, as propostas de grafia são
as mais variadas e as mais exóticas possíveis. Teixeira (2008) nos apresenta alguns dos modelos
utilizados, veja os exemplos abaixo:

Figura 3: Usando letras para representar os dedos da mão direita (TEIXEIRA, 2008, p. 27).

Figura 4: Setas para representar as levadas do violão com palheta ou com os dedos (TEIXEIRA,
2008, p. 28).

Figura 5: A mesma levada das figuras 1 e 2 grafadas na partitura (TEIXEIRA, 2008, p. 28).

Na proposta a seguir, que é de grafia do ritmo de valsa, o autor aponta a contagem dos
tempos com os números grafados ao centro e os símbolos: representando o toque do baixo e
23

para representar o ataque nas demais notas do acorde. Porém o mesmo não indica qual seria essa
forma de ataque, ou seja, se é arpejado, “batido”, com as costas das mãos e etc. e também não
descreve o sentido desse ataque nas cordas. Esses detalhes geralmente não são descritos na maioria
dos métodos de ensino de acompanhamento rítmico ao violão.

Figura 6: Levada de valsa (AZEVEDO, 1979, p. 28).

Renato de Sá em seu método “211 Levadas rítmicas: para violão e outros instrumentos de
acompanhamento”, é um dos poucos no Brasil que aborda o assunto com tamanha abrangência de
gêneros e estilos musicais. No seu método ele nos apresenta também um modelo de grafia que
utiliza de duas pautas, uma para a célula rítmica e outra para apontar com setas o direcionamento
do tanger as cordas do violão:

Figura 7: Levada de Folk Rock (SÁ, 2002, p. 42).

Existem outras propostas de grafias de batidas interessantes como a do violonista Arnaldo


Freire onde ele utiliza embaixo de cada figura rítmica (representada na partitura) letras para
representação simbólica dos dedos que irão ferir as cordas, a exemplo, “P” para toque com o
polegar e “d” toque com os dedos indicador, médio e anular, conforme gráfico à seguir:
24

Figura 8: Representação gráfica da batida de valsa no violão (FREIRE, 2005, p. 14).

Podemos encontrar na internet outras ideias similares a de Arnaldo Freire, como a da figura
9, encontrada na pagina do professor Bruno7, que também utiliza de letras pra representar os dedos
a ferirem a corda. Só que nesse caso, sem representação de figuras musicais (partitura), mas sim
com setas:

Figura 9: As letras “P” representa o toque com o polegar, “I” indicador e “C” as costas da mão.

Um outro modelo de representação gráfica para levadas rítmicas é proposto por Rocha
Filho. Este apesar de grafar somente em tablatura faz questão antes de tudo de adicionar uma
legenda para tentar explicar cada símbolo grafado e sua execução. O problema dessa grafia é não
definir a duração de cada movimento a ser executado e ou suas pausas e cortes devido a falta da
partitura.

Figura 10: Representação gráfica do ritmo baião (ROCHA FILHO, 2000, p. 46).

7
Disponível em: < http://acordesdeviolao.com.br/2010/08/05/batidas-de-violao-sinta-o-ritmo/> Acessado em 28 de
outubro de 2012.
25

Segundo a legenda dos sinais de execução (ROCHA FILHO, 2000, p. 44), a tradução dos
itens grafados no ritmo baião mostrados na figura 10 seria a seguinte:

= Chaveta: que indica as três cordas que deverão ser tocadas ao mesmo tempo para
produzirem os acordes, e ainda os três dedos responsáveis por sua execução. Nesse caso: i = dedo
indicador, m – médio, a = anelar.

= Grande Rasgueado: este que seria um rasgueio feito da sexta corda


em direção a primeira feito com o dedo polegar. Segundo a legenda indica deve-se deslizar o dedo
em todas as cordas, com exceção os casos em que o acorde exclui determinadas cordas.
Já na grafia apresentada por Oliveira (2015), conforme a figura 11, ele representa o ritmo
de guarânia, descrevendo as notas musicais numa pauta rítmica para apontar a duração dos toques
e as setas para direção do tanger e a ainda letras indicando com quais dedos se deve fazer o mesmo:

Figura 11: Grafia do ritmo de guarânia (OLIVEIRA, 2015, p. 55).

Se levarmos em consideração também as grafias de grooves e ou levadas rítmicas utilizadas


para guitarra elétrica, podemos deparar ainda com outras possibilidades de modelos de
representações gráficas dos mesmos. À exemplo, o da figura 12:
26

Figura 12: Levada de rock na guitarra elétrica8

Esse sistema de notação, que no decorrer dessa pesquisa foi encontrado, em suma, em
métodos de guitarra elétrica. E, os símbolos que apontam a direção do ataque nas cordas são
utilizados tanto para toques de notas melódicas quanto em acordes (neste caso principalmente no
instante de execução dos grooves). E essa simbologia parece ter sido tomada emprestada dos
métodos de violino, que seriam utilizadas para representar a direção das arcadas. Sendo assim, na
escrita para violino o sinal indica arcada pra cima, ou seja, começando o movimento na ponta
em direção ao talão [...], e para baixo, do talão à ponta, indicado pelo sinal (SALLES, 1998, p.
20). Já no caso da escrita para a guitarra esses mesmos são utilizados para determinar a direção
das palhetadas. (down pick) movimento da palheta para baixo e (up pick) movimento da
palheta para cima (CAESAR, 2003, p. 36). Veja outro exemplo a seguir de aplicação dessa
simbologia num exercício de digitação:

Figura 13: Exercício de combinação de dedos da mão esquerda e alternância de palhetadas


(CAESAR, 2003, p. 45).

8
Disponível em: <http://www.academiamusical.com.pt/en/tutorials/instruments/guitar-instruments-en/rock-n-roll-
rhythm-on-the-guitar/> acesso dia 07 de julho de 2016.
27

Apesar das mais variadas propostas, algumas muito interessantes por sinal, sentimos falta
de uma que apontasse no mínimo os seguintes quesitos: notação rítmica na partitura para definir as
durações dos toques e as pausas, sinais que apontem o direcionamento do tanger das cordas e que
apontem também as possíveis cordas, notação de quais os possíveis dedos indicados para esse
tanger, dentre outras simbologias para outros efeitos sonoros produzidos na execução de uma
levada rítmica.

2.2 Uma proposta de representação gráfica de levadas rítmicas

Durante um longo período trabalhando no ensino coletivo de violão, sempre estive


buscando uma forma de grafia que fizesse com que os alunos aprendessem as levadas rítmicas com
mais praticidade possível e que também que fosse de fácil exposição para o professor. Baseado na
minha experiência e, dialogando9 com o que já foi apresentado nos modelos como estes
mencionados nas figuras 1 a 13, venho propor uma grafia, a qual utilizo há algum tempo nas
minhas aulas, e que felizmente tem funcionado bem com meus alunos, inclusive com colegas
professores que foram apresentados ao método e fazem uso também.
Nesse método, a notação rítmica é grafada a linha superior da grade, já a direção dos toques
é grafado em tablatura que fica na parte inferior da grade de notação representando as seis cordas
do violão (somente as possíveis cordas a serem feridas com o toque são marcadas), e por final,
abaixo letras representando quais os tipos de toques e ou dedos devem ferir as cordas. À exemplo:
a letras “p” representa o toque com o polegar; “d” ou “t” o toque com as costas da mão com os
dedos indicador, médio, anelar ou anular e mínimo; “i” toque com indicador; e “a” abafando as
cordas; “r” para o rasqueado10. Veja à seguir alguns exemplos de levadas rítmicas grafadas no
sistema proposto:

9
A proposta foi feita através experiências e adaptações baseadas nesses modelos de grafias apresentados, por esse
motivo, pode conter até mesmo semelhanças com alguns desses.
10
Movimento com os dedos na ordem: anular, médio e indicador. Tocados ininterruptamente e sucessivamente no
sentido 6ª à 1ª corda.
28

Figura 14: Proposta de grafia do ritmo Valsa no violão.

Figura 15: Proposta de grafia do ritmo Cururu no violão.

Figura 16: Proposta de grafia de uma variação do ritmo Pop-Rock no violão.

Figura 17: Exemplo de ritmo usando toque rasqueado “r”.


29

Sabemos que existem diferentes modelos de tablatura que são utilizadas para notação
musical de instrumentos de cordas dedilhadas, contudo, a mais comumente utilizada para guitarra
e violão é a seguinte:

E---------------------------------- 1ªcorda
B---------------------------------- 2ªcorda
G---------------------------------- 3ªcorda
D---------------------------------- 4ªcorda
A---------------------------------- 5ªcorda
E---------------------------------- 5ªcorda

Ou seja, apesar de usar números, esse modelo, assim como na tablatura francesa a linha de
cima representa a primeira corda do violão ou guitarra. Segundo Borges (2007, p. 16) “a tablatura
italiana utiliza números e a linha de baixo representa a corda mais aguda. Já a tablatura francesa
utiliza letras e a linha de cima representa a corda mais aguda”. Baseado em experimentos com
alunos, durante todo o tempo que lecionei aulas de instrumento, somente nesse aspecto levada
rítmica, optamos por grafar a direção e o modelo dos toques na tablatura italiana por demonstrarem
melhor assimilação com a ideia: seta pra baixo é igual toque em direção a terra, e seta para cima é
igual a toque em direção ao céu (CORRÊA, 2000).
Nessa metodologia, a ideia é que, quem possui um pouco de conhecimento sobre partituras
a leitura desse gráfico seja bem prática. Uma vez conhecida essa legenda apresentada no parágrafo
anterior, o executor não necessitará mais de intermediador para fazer leitura das levadas. Já para
quem ainda não tem conhecimento de partituras como é o caso da maioria dos alunos, o
intermediador, nesse casso o professor, deve solfejar as batidas pronunciando as letras que
representam a batida. Nesse caso direção do tanger as cordas como é mais difícil de ser solfejado
o aluno é orientado pelo gráfico.

2.3 O interesse dos violonistas baseado nos sites de cifras

Ao adentrar nesse tema de levadas rítmicas, despertou-se também a curiosidade se os


espaços na internet dedicados ao ensino de violão, em especial de música popular, estão se
dedicando também a essa questão da levada rítmica. Ao pesquisar nos sites especializados em
cifras, pude notar que já existem iniciativas do ensino do ritmo também através das vídeo-aulas,
porém, na grande maioria das cifras de músicas postadas, não possuem vídeo-aula de levadas
30

rítmicas das mesmas. Sabe-se também que, a maioria desses sites recebem essas cifras através de
contribuições de usuários. As cifras que possuem vídeo-aulas normalmente são as produzidas pelos
próprios administradores dos sites.
Dentre os sites de cifras em evidência na internet e especializados no ensino de violão
popular, selecionamos quatro destes para análise. E, como todos estes possuem um ranking de
cifras mais procuradas nas suas paginas iniciais, construímos uma tabela baseada nesses,
selecionando as 10 mais procuradas de cada um. Coincidentemente em todos os sites apontados
aqui esse ranking de músicas mais procuradas é denominado de Top Cifras. Vale ressaltar aqui que
a posição e ordem dessas músicas mais procuradas podem ser alteradas diariamente nesses rankings
dependendo da procura nos sítios. Essa tabela foi baseada em dados extraídos dos sites no dia 21
de maio de 2016. Veja a tabela abaixo:

Posição SITES DE CIFRAS


No
ranking Cifra Club11 Cifras12 Vagalume13 Pegacifra14
1ª Flor e o Beija-Flor Oceano Como é Grande o Meu Amor Domingo De Manhã
Henrique e Juliano Djavan por Você - Roberto Carlos Marcos e Belutti
2ª Infiel Sosseguei A Thousand Years No Woman No Cry
Marília Mendonça Jorge e Mateus Christina Perri Bob Marley
3ª Sosseguei Trem Das Onze A Nós Descei Divina Luz Raridade
Jorge e Mateus Adoniram Barbosa Músicas Católicas Anderson Freire
4ª Que Sorte a Nossa Tocando Em Frente Borboletas Someone Like You
Matheus e Kauan Almir Sater Victor e Leo Adele
5ª Seu Polícia Águas de Março Chão de Giz Espírito Santo
Zé Neto e Cristiano Tom Jobim Zé Ramalho Fernanda Brum
6ª Louca de Saudade Esse Cara Sou Eu Palavras ao Vento Vou deixar na Cruz
Jorge e Mateus Roberto Carlos Cássia Eller Kleber Lucas
7ª Ela Só Quer Paz Aquele 1 Fico Assim Sem Você A Thousand Years
Projota Marcos e Belutti Adriana Calcanhoto Cristina Perri
8ª A Rosa e o Beijar- Domingo De Tempo Perdido Vai Valer A Pena
Flor Manhã Legião Urbana Livres Para Adorar
Matheus e Kauan Marcos e Belutti
9ª Nosso Santo Bateu Coelhinho Da Asa Branca Além Do Horizonte
Matheus e Kauan Páscoa Luiz Gonzaga Roberto Carlos
Músicas Infantis
10ª Amei Te Ver Flor e o Beija-Flor Pra Você Guardei o Amor Boate Azul
Tiago Iorc Henrique e Juliano Nando Reis (Part. Ana Cañas) Marco e Montenegro

11
Disponível em: https://www.cifraclub.com.br/cifras/ acesso dia 21 de maio de 2016.
12
Disponível em: http://www.cifras.com.br/# acesso dia 21 de maio de 2016.
13
Disponível em: <https://www.vagalume.com.br/top100/musicas/cifras/> acesso dia 21 de maio de 2016.
14
Disponível em: http://www.pegacifra.com.br/> acesso dia 21 de maio de 2016.
31

Algumas músicas estão entre as mais procuradas para se aprender tocar em mais de um site.
Salientamos ainda que maiores partes dessas músicas da tabela estão nas listas das mais procuradas
em todos estes sites, claro, isso se confirmaria se considerássemos as posições acima da 10ª no
ranking. Uma vez que só separamos para essa tabela as 10 mais acessadas de cada um. Caso
ampliasse essa lista, haveria grandes probabilidades de uma mesma música estar entre as
procuradas nos quatro sites analisados.
Separamos então para análise e proposta de grafia de levada rítmica algumas dessas que
estão em maior evidência de procura nesses sites. Dentre essas estão: Flor e o Beija-Flor de
Henrique e Juliano; Sosseguei de Jorge e Mateus; Domingo De Manhã de Marcos e Belutti; A
Thousand Years de Christina Perri. Nota-se também que, na maioria das músicas dos rankings
desses sites não existe abordagem do ensino do ritmo e ou vídeo-aula dos mesmos. Já a transcrição
dos grooves e levadas rítmicas dessas músicas foram feitas através dos áudios dos canais oficiais
desses artistas no Youtube.
A primeira, A Thousand Years15, interpretada por Christina Perri, é a mais procurada nos
sites de cifras e também a mais visualizada das quatro no Youtube, tem por volta de 450 milhões16
de visualizações. Talvez por ter sido lançada há mais tempo que as demais e ou por ter feito parte
da trilha sonora de um dos filmes da saga Crepúsculo, grande sucesso dos cinemas. A levada dessa
música é uma balada em 6 e o violão faz dois modelos de grooves durante a música. A primeira
entrada do violão fazendo o groove se da a partir do compasso 9, e a mão direita faz o arpejo
conforme grifado17 no gráfico à seguir:

15
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rtOvBOTyX00> acesso dia 07 de julho de 2016.
16
Não pudemos afirmar com precisão se essas são calculadas pelo número de IPs que visualizaram a página ou se o
mesmo IP é recalculado na soma a cada repetição de visualização. No decorrer dessa pesquisa, não se obteve uma
informação precisa de como é calculada essa questão das visualizações, tanto nos sites de compartilhamento de
vídeos quando os sites de cifras.
17
Observação: optamos por grafar os grooves arpejados no pentagrama convencional, e a digitação dos dedos da mão
direita representados pelas letras iniciais do nome de cada dedo. Somente levadas rítmicas e ou batidas foram grafadas
no sistema de notação proposto.
32

Figura 18: Transcrição do groove arpejado da música A Thousand Years – compasso 9 ao 14

Após repetir esse groove arpejado duas vezes nesse encadeamento harmônico exposto na
figura 18, em seguida, o violão parte para uma variação de levada de balada onde predomina a
seguinte célula rítmica:

Figura 19: Transcrição da levada de balada em 6 utilizada na música A Thousand Years

A segunda música mais procurada nos sites de cifras por quem quer aprender tocar violão
é brasileira, Sosseguei18, interpretada pela dupla Jorge e Mateus, no Youtube essa já ultrapassa os
220 milhões de visualizações. Pra se ter uma ideia do tamanho dessa difusão, esse número é maior

18
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vZcjAmfkemk> acesso dia 08 de julho de 2016
33

do que a população do Brasil segundo a projeção da população brasileira apontada pelo site do
IBGE que é um pouco mais de 206 milhões19 de pessoas. Assim como na música anterior, esta
também possui dois grooves distintos para o violão. Na introdução e primeira parte predomina o
seguinte modelo:

Figura 20: Transcrição do groove arpejado da introdução parte da música Sosseguei.

Nesse groove há uma novidade, que são notas percutidas sempre na cabeça do terceiro
tempo de cada compasso. Esse efeito é adquirido ferindo as cordas frontalmente com a mão
percutindo-as em direção a boca do violão com os dedos polegar, indicador e médio. Cada dedo se
responsabiliza individualmente por uma corda nesse ataque. Esse encadeamento harmônico I V VI
IV predomina por toda música. A partir do primeiro refrão já evidencia mais a levada de um ritmo
“bolerado”que é comumente denominado de “arrocha”20 no âmbito da música sertaneja, conforme
o modelo a seguir:

19
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/> Acesso em 08 de julho de 2016.
20
Devido a grande absorção de elementos musicais advindos dos mais variados gêneros e estilos musicais na música
sertaneja, há uma hibridação constante nas levadas rítmicas presentes na mesma, o que dificulta ás vezes dizer com
precisão qual gênero musical determinada levada rítmica pertence e a sua taxonomia.
34

Figura 21: Levada rítmica evidenciada na música Sosseguei a partir do primeiro refrão.

A música a seguir é uma guarânia, e é a terceira colocada na nossa lista, interpretada pela
dupla Henrique e Juliano com participação da cantora Marília Mendonça, Flor E O Beija-Flor21
possui quase 140 milhões de visualizações no seu vídeo oficial no Youtube. Guarânia é um gênero
musical criado pelo músico paraguaio José Asunción Flores na década de 1920 e chegou ao Brasil
ainda na primeira metade do século passado. A partir de então, a música brasileira o adotou com
muita receptividade, especialmente a música caipira e sertaneja, partes dos grandes sucessos dessa
música são compostos nesse gênero, tais como, Chalana, Fio de Cabelo, Amargurado, Vestido de
Seda dentre vários outros. Geralmente é uma levada de andamento mais moderado e tranquilo.
Nessa também o primeiro groove de violão é arpejado:

Figura 22: Transcrição do groove arpejado da introdução da música Flor E O Beija-Flor.

21
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LmRrLl8aLfE> acesso dia 08 de julho de 2016.
35

A digitação do arpejo grifado no terceiro compasso é a que predomina durante todo o tempo
que mantém esse groove. Já a partir do primeiro refrão, esse groove é substituído por uma levada
tradicional de guarânia, conforme exposto no modelo da figura 23:

Figura 23: Levada rítmica de guarânia na música Flor E O Beija-Flor a partir do primeiro refrão.

E a quarta música selecionada da lista é Domingo de Manhã22, interpretada pela dupla


Marcos e Belutti. Além da sua grande procura nos sites de cifras, essa possui também quase 120
milhões de visualizações no Youtube. Das quatro selecionadas para grafia de levada e análise
rítmica, essa é a única que não possui um groove arpejado em seu arranjo. Contudo possui duas
levadas distintas no decorrer da música. A primeira, conforme grafia a seguir, é a que predomina
desde a introdução até o primeiro refrão:

Figura 24: Transcrição do modelo de groove utilizado na música Domingo de Manhã.

Apesar de mudarem os acordes e notas de efeito melódico no groove, o modelo de levada


grafada na tablatura da figura 24 se mantém. Intencionalmente não foram grafadas aqui letras que
representam os dedos utilizados no toque para lembrar que nesse caso o toque foi feito com palheta,

22
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vuiAcTC8o88> acesso dia 08 de julho de 2016.
36

mas pode ser alterado para toque com os dedos sem nenhum prejuízo sonoro. Já a partir do refrão
se inicia a seguinte levada:

Figura 25: Levada rítmica da música Domingo de Manhã a partir do primeiro refrão.
37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o surgimento das técnicas de gravação, a música no Brasil passou a sofrer influências
mais acentuadas da cultura musical estrangeira e, nesse sentido, pudemos assistir uma rápida e
brusca transformação, em particular, a partir da década de 1950 (CAESER, 2015, p. 55). Com essa
invasão de ritmos populares estrangeiros no Brasil houve muitas ressignificações nos ritmos
tradicionais brasileiros, ou mesmo hibridações destes com outros. Ficando cada vez mais difícil
padronizar uma levada rítmica de certo gênero, pois os mesmos estão sempre sofrendo constantes
variações. Construir um dicionário de “levadas rítmicas”, como por exemplo, existem dicionários
de acordes para violão, seria um desafio enorme para o proponente. Pois, além da grande variedade
de gêneros e estilos muitos existentes – alguns até mesmo só praticados em contextos sociais
isolados do grande público – cada instrumentista tem suas particularidades e seu jeito de executar
suas levadas no violão. Dificilmente soaria com igual sonoridade um mesmo ritmo executado por
instrumentistas distintos.
O presente trabalho almejou baseado na experiência com o ensino coletivo de violão,
sugerir uma grafia que possa colaborar com o ensino e aprendizado do acompanhamento rítmico
no violão, e que, de acordo com a necessidade ocorrente de acrescer um novo repertório nessas
aulas, tenha-se como base um sistema gráfico para notação rítmica, sendo este objetivo, de mais
fácil assimilação possível, e que permita grafar levadas rítmicas de músicas tanto atualizadas
quando tradicionais da cultura popular.
Os resultados obtidos com alunos que estudam baseados na metodologia proposta tem sido
satisfatórios, e, com certo período de prática logo os alunos começam a identificar as levadas
aprendidas nas músicas que ouvem inclusive as variações. Apesar da dificuldade, uma vez
internalizado, a batida ela vai se tornando cada vez mais automática, deixando assim espaço para
dar atenção a outras peculiaridades da performance musical.
É de suma importância, principalmente na fase incial do estudo do instrumento, a aplicação
de uma metodologia de ensino adequada afim de facilitar mais a apreensão do aluno. E se tratando
do quesito levadas rítmicas, especialmente as das músicas mais atuais, constatou-se no decorrer
dessa pesquisa que, existe uma certa carência de materiais que abordam esse assunto na literatura
brasileira. É muito comum, ainda em pleno século XXI, esse tipo de conhecimento ser transmitido
através da oralidade. Não desmerecendo aqui a tradição oral, pelo contrário, reconhecemos o seu
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mérito, pois foi através dessa que muitas práticas culturais perduram-se por datas longínquas,
inclusive certas maneiras de se tocar violão. A questão é que, em grande parte dos casos, quem vai
ensinar o acompanhamento rítmico no violão, utiliza desse artifício por não ter outra uma
metodologia como base e ou como referência. Há uma grande necessidade de pesquisas com esse
tipo de temática para que possamos avançar mais o conhecimento nessa área, afim de sanar esse
evidente déficit no ensino do violão no Brasil como instrumento acompanhador.
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