PEREIRA CUNHA - LIDERANDO EQUIPES À DISTÂNCIA - UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NECESSÁRIA - vf3
PEREIRA CUNHA - LIDERANDO EQUIPES À DISTÂNCIA - UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NECESSÁRIA - vf3
PEREIRA CUNHA - LIDERANDO EQUIPES À DISTÂNCIA - UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NECESSÁRIA - vf3
php/ciki/article/view/873/519
Ricardo Pereira1;
Cristiano José Castro de Almeida Cunha2;
Abstract: The coronavirus crisis accentuated a trend that had been occurring for some years:
the adoption of remote work. In recent months, many companies have adhered to this new model
that uses information and communication technologies as a means to connect leaders and
followers in virtual teams. The purpose of this article is to identify the challenges of leaders
and the most appropriate leadership styles to maintain the good performance of a virtual team.
The research was carried out using the method of integrative literature review and articles
collected in the Scopus and Web of Science databases were analyzed. The study revealed that
the main challenges facing virtual team leaders are related to: communication, cooperation,
establishing work rules and monitoring team work and that the literature does not indicate an
ideal style of leadership in this context.
Resumo: A crise causada pelo coronavirus acentuou uma tendência que já vinha ocorrendo
há alguns anos: a adoção do trabalho remoto. Nos últimos meses, muitas empresas aderiram
a este novo modelo que usa as tecnologias da informação e comunicação como meio para
conectar líderes e liderados nas equipes virtuais. O objetivo deste artigo é identificar os
desafios dos líderes e os estilos de liderança mais adequados para manter o bom desempenho
de uma equipe virtual. A pesquisa foi realizada utilizando-se o método da revisão integrativa
da literatura e foram analisados artigos coletados nas bases de dados Scopus e Web of Science.
O estudo revelou que os principais desafios dos líderes de equipes virtuais estão relacionados
com: comunicação, cooperação, estabelecimento de normas de trabalho e acompanhamento
do trabalho da equipe e que a literatura não aponta um estilo ideal de liderança nesse contexto.
1
Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Florianópolis – Brasil. E-mail: [email protected]
2
Docente no programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – Brasil. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas três décadas, o trabalho remoto tem se tornado cada vez mais popular e
mudado a maneira como as organizações e as equipes operam. Esta é uma tendência que não
apresenta indícios de abrandamento. Pelo contrário, com a crise causada pelo Covid-19, nos
últimos meses, muitas empresas (grandes e pequenas) foram obrigadas a aderir e se adaptar ao
trabalho remoto. De acordo com dados do Gallup Panel (Hickman & Saad, 2020), nos EUA a
porcentagem de adultos que trabalham em casa aumentou de 31% em meados de março para
62% em meados de abril de 2020 devido à preocupação com a Covid-19.
Várias grandes empresas como Ford, Facebook, Google e Alibaba adotaram o trabalho
remoto como modelo. Devido às incertezas provocadas pelo coronavírus e algumas vantagens
deste modelo, empresas, como o Twitter, já declararam que os seus colaboradores podem
continuar trabalhando remotamente por tempo indeterminado (O’Mara, 2020).
Um elemento central do trabalho remoto é a equipe virtual – uma equipe dispersa
geograficamente, constituída por pessoas que interagem, normalmente, por meios de
comunicação eletrônica e que, portanto, têm pouca (ou nenhuma) interação face a face
(Malhotra, Majchrzak, & Rosen, 2007). São pessoas que trabalham juntas, mesmo estando
geograficamente separadas (Maduka, Edwards, Greenwood, Osborne, & Babatunde, 2018).
O modelo das equipes virtuais traz vantagens como redução de custos, aumento da
produtividade, menos absenteísmo, menos poluição e menos acidentes (Picu & Dinu, 2016;
Cascio, 2000; Baruch, 2000). Por outro lado, trazem, também, alguns desafios como dificuldade
de manter o comprometimento dos colaboradores, redução do contato social que pode levar a
uma sensação de isolamento, e a necessidade de uma nova dinâmica de liderança (Picu & Dinu,
2016; Cascio, 2000; Baruch, 2000). Dentre estes desafios, um dos mais importantes é como se
adaptar a uma nova dinâmica de liderança. Quando adequada, a liderança de uma equipe virtual
pode aumentar a produtividade e o moral; mas, se o estilo de liderança não for compatível com
as novas estruturas, pode gerar conflito, desmotivar os membros da equipe e reduzir a
produtividade.
O objetivo deste artigo é identificar os desafios dos líderes e os estilos de liderança mais
adequados para manter o bom desempenho de uma equipe virtual.
Além da introdução, o artigo apresenta cinco seções. As seções 2 e 3 abordam os
referenciais teóricos sobre equipes virtuais e liderança à distância. A quarta seção descreve os
aspectos metodológicos da pesquisa. A quinta seção traz a análise e discussão dos resultados.
Por fim, a última seção apresenta as considerações finais, limitações e recomendações para
trabalhos futuros.
2. EQUIPES VIRTUAIS
Uma das características do ser humano é buscar a socialização - estar reunido a outras
pessoas. A interação contribui para a constituição de grupos de pessoas, que se agregam por
interesses ou atributos comuns. Os indivíduos de um grupo se vêm e são vistos pelos outros
como uma entidade social. São indivíduos interdependentes por causa das tarefas que
desempenham como membros de um grupo e, enquanto grupo, são incorporados em um ou
mais sistemas sociais maiores, por exemplo, uma organização (Mcgrath &Argote, 2001)
Para se qualificarem como equipes, os membros devem interagir; devem trabalhar em
direção a objetivos comuns; e devem adaptar-se às circunstâncias de modo a alcançar esses
objetivos (Forsyth, 2010)
Um tipo de equipe cada vez mais importante para as organizações é a equipe virtual.
Embora a definição de virtualidade seja multidimensional, as duas dimensões mais
consistentemente usadas para caracterizá-la são: dispersão geográfica e a comunicação
intermediada pelas tecnologias (Cascio & Shuryaglio, 2003).
Nesse sentido, as equipes virtuais são definidas como dois ou mais indivíduos que usam
uma mistura de tecnologias de comunicação e colaboração; geograficamente dispersos; têm
contato pessoal limitado e trabalham de forma interdependente para alcançar objetivos comuns
(Davis & Bryant, 2003).
As equipes virtuais são contemporâneas da internet e sua exploração comercial. No final
da década de noventa do século passado, já se estudava as equipes virtuais. Um dos primeiros
trabalhos a tratar o tema foi o de Towsend e colegas (1998), que chamaram a atenção para as
qualidades desses arranjos organizacionais. Para os autores, a popularidade das equipes virtuais
nas organizações modernas é atribuída aos sucessos da estruturação do trabalho em equipe, aos
avanços da tecnologia da informação e das telecomunicações, à globalização e às crescentes
pressões para competir por talentos em todo o mundo, proporcionando flexibilidade e
agilidade, reduzindo os custos operacionais e os custos operacionais (Townsend, DeMarie e
Hendrickson, 1998).
O uso de equipes virtuais é vantajoso, pois elas podem obter resultados que as equipes
presenciais não alcançariam. Alguns benefícios das equipes virtuais incluem: a possibilidade
de montar equipes que maximizam o conhecimento funcional incluindo profissionais dispersos
geograficamente; permitir produtividade contínua 24 horas por dia, 7 dias por semana, usando
diferentes fusos horários a seu favor; reduzir custos de viagens, realocação e despesas gerais; e
compartilhar conhecimento entre fronteiras geográficas e unidades organizacionais (Dulebohn
& Hoch, 2017).
3. LIDERANDO À DISTÂNCIA
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta seção apresenta os resultados obtidos a partir da análise e síntese dos 24 artigos
relacionados no quadro 2. O objetivo da síntese foi identificar temas que pudessem responder
à questão quais os desafios dos líderes e os estilos de liderança mais adequados para manter o
bom desempenho de uma equipe virtual. A síntese de dados foi operacionalizada com o auxílio
da análise temática proposta por Braun e Clarke (2016). A análise temática possibilitou que os
temas fossem identificados e codificados durante todo o processo de leitura e análise dos
artigos.
Quadro 1. Artigos selecionados para análise e discussão
Id Ano Autor Título
01 2014 Fan; Chan; Wang; Chen E-leadership effectiveness in virtual teams: motivation language
perspective
02 2003 Davis; Bryant, Influence at a distance: leadership in global virtual teams
03 2018 Maduka; Edwards; Greenwood; Analysis of competencies for effective virtual team leadership in
Osborne; Babatunde building successful organisations
04 2009 Purvanovaa; Bono Transformational leadership in context: Face-to-face and virtual
teams.
05 2003 Cascio; Shurygailo E-leadership and virtual teams
06 2007 Hambley; O´Neill; Kline; Virtual team leadership: The effects of leadership style and
communication medium on team interaction styles and outcomes
07 2008 Wakefield; Leidner; Garrison A Model of Conflict, Leadership, and Performance in Virtual
Teams
08 2014 Avolio;Sosik;Kahai;Baker E-leadership: Re-examining transformations in leadership source
and transmission
09 2009 Lee E-ethical leadership for virtual project teams
10 2009 Sarker; Sarker; Schneider Seeing Remote Team Members as Leaders: A Study of US-
Scandinavian Teams
11 2017 Liao Leadership in virtual teams: A multilevel perspective.
12 2013 Korzynski Online social networks and leadership Implications of a new
online working environment for leadership
13 2014 Ziek; Smulowitz The impact of emergent virtual leadership competencies on team
effectiveness
14 2015 De Paoli; Ropo Open plan offices – the response to leadership challenges of
virtual project work?
15 2015 Fernandez; Jawadi Virtual R&D Project Teams: From E-Leadership To Performance
16 2018 Anoye; Kouamé Leadership Challenges In Virtual Team Environment
17 2018 Purvanovaa; Kenda Paradoxical Virtual Leadership: Reconsidering Virtuality
Through a Paradox Lens
18 2012 Mitchell Interventions for effectively leading in a virtual setting
19 2017 Dulebohn; Hoch Virtual teams in organizations
20 2015 Leduc; Guilbert; Vallery Impact of ICTs on leadership practices: representations and
actions
21 2010 Neufeld; Wan; Fang Remote Leadership, Communication Effectiveness and Leader
Performance
22 2008 Zimmermann; Wit; Gill The Relative Importance of Leadership Behaviours in Virtual and
Face-to-Face Communication Settings
23 2005 Boje, D.; Rhodes The Virtual Leader Construct: The Mass Mediatization and
Simulation of Transformational
24 2012 Kelley; Kelloway Context Matters: Testing a Model of Remote Leadership
Fonte: Os autores (2020)
A partir da análise dos artigos foram identificados os quatro temas apresentados a seguir:
aspectos teóricos da liderança virtual; desafios dos líderes virtuais; estilos de liderança; e
liderança e desempenho das equipes virtuais.
No final dos anos 90, com a rápida disseminação das tecnologias da informação e
comunicação (TIC´s) - Internet, e-mail, videoconferência, equipes virtuais e sistemas de
groupware (GDSS) -, vários autores começaram a pesquisar sobre como essas tecnologias
transformariam a organização do trabalho e suas implicações nos processos de liderança
(Avolio et. al, 2014).
O primeiro trabalho teórico que cunhou o termo liderança eletrônica (e-leadership) foi
realizado por Avolio, Kahai, & Dodge (2001). Os autores empregaram uma teoria de
estruturação adaptativa para explicar como as tecnologias de comunicação podem interagir com
os líderes de equipes e seus membros para produzir novas estruturas e culturas (Purvanovaa &
BONO, 2009).
Em sua revisão sobre liderança eletrônica, Avolio, Kahai & Dodge (2001, p. 617),
reforçam que: “escolhemos o termo liderança eletrônica para incorporar o novo contexto
emergente para examinar a liderança” (Avolio et. al, 2014, p. 106). Os autores enfatizam a
tecnologia como uma mediadora dos processos de influência social que normalmente estão
associados à liderança e consideram que as “estruturas organizacionais, incluindo liderança,
podem ser transformados como resultado de interações com a Tecnologia da Informação
Avançada” (Avolio et. al, 2014, p. 106). Além disso, eles sugerem que “os líderes precisarão
desempenhar um papel mais proativo na criação de estruturas sociais que promovam a
implementação das tecnologias de informação computacionais” (Avolio et. al, 2014, p. 106).
O ambiente virtual e suas várias tecnologias de comunicação criaram um novo contexto
para a liderança e o trabalho em equipe (Avolio, Kahai, Dumdum & Sivasubramaniam, 2001).
Para Avolio et. al (2014), tem-se, então, um objeto de pesquisa (liderança) no qual o contexto
não apenas importa, mas é parte integrante do construto a ser estudado.
Como já foi visto na seção 2, este novo constructo, denominado “liderança eletrônica”
ou “liderança virtual” (ou remota), é definido como “um processo de influência social mediado
por tecnologias de informações avançadas para produzir mudanças de atitudes, sentimentos,
pensamentos, comportamentos e/ou desempenho nos indivíduos, grupos e/ou organizações''
(Avolio, Kahai, & Dodge, 2001, p. 617).
Davis & Bryant (2003) acreditam que as teorias existentes sobre a liderança, com
algumas modificações, podem ser adequadas para as equipes virtuais. Entretanto, os artigos
analisados não identificaram um estilo de liderança que possa ser considerado o melhor ou o
mais adequado para uma equipe virtual. Compete, portanto, a cada líder analisar as
características da equipe e adaptar seu estilo de liderança de forma a atender às demandas
contingenciais (Cascio & Shuryaglio, 2003).
Nas equipes virtuais, os estilos e funções de liderança precisam se adaptar e integrar a
virtualidade para serem eficazes e garantir o sucesso e o bom desempenho. A adaptação dos
líderes envolve aprender a lidar com questões desafiadoras geradas por processos de
comunicação não presenciais, diversidade de membros, problemas técnicos e, em alguns casos,
pressão de tempo. É importante levar esses fatores em consideração ao formular estratégias para
desenvolver as competências do líder e reforçar o relacionamento entre os membros da equipe
(Cascio & Shuryaglio, 2003) .
Finalmente, um estudo realizado com 412 empregados de uma empresa multinacional,
localizados em diferentes países, mostrou que os líderes de equipes virtuais devem apresentar
tanto comportamentos orientados a tarefas quanto orientados a relacionamentos com maior
intensidade do que em configurações face a face (Zimmermann, Wit, & Gill, 2008).