Religiões Proféticas

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RELIGIÕES PROFÉTICAS: JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO

( Prof. Dr. Pe. Antonio R. S. Mota S.J)

O judaísmo, o cristianismo e o islamismo são as três grandes religiões mundiais que tiveram
seu início no Oriente Médio. Todas são monoteístas. São religiões proféticas, pois foram
fundadas por profetas que escutaram as promessas de Deus.

Atualmente, o cristianismo e o islamismo são as duas maiores religiões do mundo, tendo se


expandido mais do que o judaísmo. O cristianismo é sobretudo a religião do Ocidente. Três
quartos de todos os cristãos do mundo vivem nas Américas e na Europa. Atualmente, há cerca
de 2 bilhões de cristãos no mundo. O islamismo,além de estar enraizado no Oriente Médio,
tornou-se uma religião importante no Sudeste Asiático, na Índia, na Ásia Central, na Turquia e
na África. O judaísmo conta com cerca de 14 milhões de adeptos. Destes, apenas 5 milhões
vivem em Israel. A maior parte vive nos Estados Unidos, 5,7 milhões, e os demais estão
espalhados por todo o mundo. Cerca de 6 milhões de judeus morreram durante a Segunda
Guerra Mundial, no Holocausto, fato que não pode ser omitido, esquecido ou mascarado.

Judaísmo, cristianismo e islamismo são chamadas também religiões abraâmicas, por sua fé no
Deus Único, que se teria revelado ao primeiro dos patriarcas bíblicos, Abraão (1800 a.C.). Este
desempenha, nas três religiões, um papel fundamental, pois todos descendem dele: Isaac e
Jacó, patriarcas de Israel e de Jesus Cristo; Ismael, patriarca dos árabes e, mais tarde, dos
muçulmanos. Abraão é o representante primordial do monoteísmo, o arquétipo das religiões
proféticas.

As três religiões abraâmicas são também chamadas religiões da fé. De maneira diferente das
religiões míticas da Índia, que conhecem Deus em si, ou das religiões sapienciais da China, que
conhecem Deus acima de si, Abraão está na presença de Deus. Manifestando para com ele
inabalável confiança, ou seja, fé. Para as três religiões proféticas, Abraão é o pai da fé.

As três religiões têm igualmente em Moisés a sua segunda figura-chave. Moisés é o grande
líder da libertação e da peregrinação pelo deserto. É o mensageiro de Deus, o guia do povo, o
legislador, o representante do próprio Deus. É exemplo e modelo de todos os profetas, ao lado
de Abraão.

Moisés experimenta a Deus como Tu, como realidade que fala à pessoa humana e exige dela
uma resposta responsável. Deus é Aquele que é (Ex 3,4), ou seja, aquele que está, guiando,
ajudando, fortalecendo e libertando. Deus se apresenta como salvador e libertador.

O que distingue as três religiões? O que é mais importante para cada uma delas?

Para o judaísmo, o mais importante é Israel como povo e terra de Deus;

Para o cristianismo, o mais importante é Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus;
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Para o Islã, o alcorão como livro e palavra de Deus.

Hoje em dia, especialmente depois do ataque às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, pelo grupo
terrorista Al Quaeda, muitas pessoas identificam o islamismo com o fundamentalismo e com o
terrorismo. No entanto, é necessário lembrar que o fundamentalismo é uma ideologia
deturpadora, e não deve ser identificada com nenhuma religião. Ao longo da história, é
possível perceber que as três crenças foram alvo dessa forma agressiva ( ou defensiva) e
radical de se compreender a própria religião, mais isso deve ser continuamente revisto. Por
isso, a seguir, são apresentados os elementos centrais da crença dessas três grandes religiões.

Judaísmo

O judaísmo se formou em torno da fé no único Deus que libertou o povo de Israel da


escravidão no Egito, para uma terra de liberdade, sob a liderança de Moisés.

A Bíblia judaica é chamada Tanakh. Vocábulo composto das iniciais das três seções de livros
canônicos que a compõem: Torah (Lei de Moisés = Pentateuco), Nebiim (Profetas = livros
históricos e proféticos) e Ketubim (Escritos = Salmos e livros sapienciais). Os cristãos chamam o
conjunto desses livros de Antigo Testamento. A partir do segundo século, as escolas rabínicas
desenvolveram um rico corpo de escritos religiosos.

A Tanakh nos mostra os judeus como um povo escolhido por Deus. Mas isso não significa
privilégios, ou arrogância, mas, sim, uma obrigação particular de seguir os preceitos de Deus, a
Torah. É evidente que outros povos também têm os seus preceitos. A diferença é eu, no
judaísmo, esses mandamentos são postos sob a autoridade do único e mesmo Deus. Religião e
ética são inseparáveis no judaísmo- a isso se chama santidade.

Os preceitos mais importantes são conhecidos como o Decálogo – os Dez Mandamentos.


Segundo o Livro do Êxodo, capítulo 20, eles foram dados por Deus a Moisés, no Monte Sinaí.
Moisés viveu por volta do ano 1200 a.C. O Decálogo compõe a base da ética fundamental das
três religiões proféticas. É importante observar, nele, a já mencionada relação entre religião e
ética; os cinco primeiros mandamentos enfatizam a relação com Deus; os cinco últimos, a
relação com o próximo . E os 10 são inter-relacionados e indissociáveis. Ele constitui, segundo
alguns teólogos, o grande legado ético do judaísmo à humanidade.

Decálogo de Moisés ( Dez mandamentos)

Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:

Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima dos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da
terra.Não te encurvarás a elas, enm as servirás: porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus
zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que
me aborrecem. E faço misericórdia, em milhares, aos que me amam e guardam os meus
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mandamentos.Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão: porque o Senhor não terá
por inocente o que tomar o seu nome em vão.Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.

Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu
Deus: não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque
em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia
descansou: portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.

Honra teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu
Deus, te dá.

Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo.

Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a mulher, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o
seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

Aqui foi apresentada apenas uma introdução. Muito mais sobre o judaísmo, como sua
história, ritos, festas, fica ainda por pesquisar. De maneira especial, a história e o futuro do
judaísmo não podem ser separados da experiência do holocausto na Segunda Guerra Mundial,
em que 6 milhões de judeus foram assassinados.

Sobre a relação entre judeus e palestinos, muitos se perguntam se é possível a convivência.


Fica aqui o depoimento de Noa Ben , judia israelense. Noa tinha 19 anos quando escreveu um
livro sobre seu avô, Yitzhak Rabin.Yitzhak Rabin foi primeiro-ministro de Israel e recebeu o
Prêmio Nobel da Paz em 1993, juntamente com Shimon Peres e Yasser Arafat. Foi assinado no
exercício do cargo em 1995, por um estudante judeu ortodoxo que se opunha às negociações
de paz em favor da autonomia palestina.

Os israelenses podem viver em paz entre si? Nós podemos viver em paz com nossos vizinhos?
Quando penso que meu avô foi morto por puro ódio, meu otimismo fraqueja. Mas então penso
como ele teria reagido: NOALE, NADA É IMPOSSIVEL QUANDO SE ESTÁ AGINDO CERTO. A
DERROTA É MAIS UM MOTIVO PARA SE TENTAR DE NOVO...

A morte de vovô foi um preço muito alto por não ter conseguido convencer todos os israelenses
de que o futuro poderia ser diferente... mas sei que ele gostaria que continuássemos tentando.
(Noa BenArtzi-Pelossof. Em nome da dor e da esperança: a neta de Yitzhak Rabin escreve sobre
seu avô, seu país e sua luta pela paz. P. 153-154).

Cristianismo

O Cristianismo é a religião dos que proclamam a fé naquele que é chamado o Cristo, ou


Messias, Jesus de Nazaré, e que têm as suas vidas guiadas e pautadas por ele. Por isso, o
cristianismo não pode ser simplesmente identificado com as estruturas de poder eclesiástico
ou instituições burocráticas.

Nós devemos pensar em Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assinado no altar durante a
celebração da missa; em Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano que lutou contra o nazismo; em
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Martin Luther King, ativista dos direitos civis; em Jerzi Popieluszko, padre polonês. Todos eles
tiveram em comum: eram cristãos comprometidos; lutaram por seus irmãos e irmãs por um
caminho não violento; foram eliminados pela força bruta. Mas isso também os faz iguais
àquele que foi o modelo de suas vidas, sofrimentos e lutas: Jesus de Nazaré (KUNG,2005).

Hoje se poderia acrescentar, junto a esses, a Irmã Dorothy e tantos outros que, no Brasil,
deram sua vida para serem coerentes com o seguimento de Jesus.

O cristianismo foi assim nomeado depois de Jesus Cristo, judeu peregrino que viveu na
Palestina no primeiro século. Em sua curta atividade pública, Jesus proclamou, por meio de
palavras eações, a vinda do Reino de Deus. Atraiu as multidões, em especial os pobres,
injustiçados e excluídos. Em torno dele formou-se um grupo de discípulos. A atividade de Jesus
gerou conflitos com os poderes religiosos e políticos do seu tempo. Jesus foi condenado e
crucificado quando tinha cerca de 33 anos. A comunidade dos seguidores de Jesus proclama,
movida pelo Espírito de Deus, que Jesus foi ressuscitado e exaltado pelo Pai, como o Cristo.

A vida e os ensinamentos de Jesus foram recolhidos nos quatro evangelhos:

Mateus, Marcos, Lucas e João. Eles, com mais 23 livros, formam o Novo Testamento.

Os 2 bilhões de cristãos no mundo estão espalhados em diversas denominações: católicos


romanos, ortodoxos, luteranos, batistas, metodistas etc. São unidos pela fé em Jesus Cristo
como Filho de Deus, o Messias. Essa fé não se dissocia do seguimento de Jesus, no amor e no
serviço.

Os evangelhos e escritos do Novo Testamento, pela fé, sempre lembrarão aos cristãos,
através dos séculos, que o próprio Deus quis relacionar-se com a humanidade, gratuitamente e
por amor, ao ponto de fazer-se humano em Jesus Cristo, assumindo em tudo a humanidade
menos no pecado. Lembrarão que Jesus passou a vida fazendo o bem, amou até o fim em sua
morte de cruz e foi ressuscitado pelo Pai que, assim, confirmou o caminho de serviço de Jesus
Cristo, o Filho. A fé cristã mostra que esse Deus, através do Espírito Santo, que é o Espírito de
Jesus Cristo, permanece com todos e em todos, convidando, hoje, ao alegre caminho de amor
concreto e de solidariedade que Jesus pregou, com palavras e gestos, em sua vida terrena.
Essa fé e seguimento se dão na fundada esperança da ressurreição, plenitude de vida
integrada no amor de Deus, para toda a criação.

Islamismo

O islamismo é a mais recente das religiões proféticas. Remonta a Maomé, que nasceu em
Meca, na Arábia, por volta de 570 d.C. Maomé seria o último de uma linha de profetas que
Deus enviou à humanidade. Abraão, Moisés, Davi e Jesus também são profetas para o
islamismo. A religião islâmica conseguiu unificar os povos árabes e estabelecer imperativos de
mais humanidade e justiça.

Islã significa submissão. Já o nome é possível perceber algo essencial dessa religião: a pessoa
deve se entregar a Deus (= Alá, em árabe) e se submeter à sua vontade, em todas as esferas
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da vida. Essa é a mensagem que Maomé recebeu em revelação de Deus, por intermédio do
ano Gabriel, e que ele apresenta e recita aos seus seguidores.

A mensagem recitada por Maomé foi escrita por seus seguidores, formando o Quran, alcorão
ou Corão. Quran significa leitura ou recitação. Pelo ouvir, decorar e recitar, o mulçumano
professa e se apropria da revelação de Deus. O alcorão é, assim, um livro vivo e sagrado. Por
isso, o islamismo é a religião do livro por excelência. Para eles, a palavra de Deus se fez livro. O
centro do islamismo não é a pessoa de Maomé (como Jesus Cristo é para o cristianismo), mas
o ALCORÃO.

No Islamismo, encontram-se duas principais correntes, os sunitas e os xiitas, divisão que


remonta ao tempo da morte de Maomé. No entanto, cinco pilares do Islã unem essas
correntes. São Eles:

Profissão de fé- chachada(=testemunho): agrega o fiel à comunidade mulçulmana e a torna


unida. A fórmula é a seguinte: “Só há um Deus e Maomé é seu profeta”. A expressão
demonstra o monoteísmo rigoroso do Islã. DEUS É ÚNICO.

Oração ritual: deve ser feita cinco vezes ao dia, em direção a Meca. A sexta-feira, dia do
Senhor, é marcada por orações coletivas, no meio do dia, na mesquita.

O jejum do Ramadã: Ramadã é o nono mês do calendário lunar muçulmano e marca o início
das revelações a Maomé. Entre o nascer e o pôr do sol, durante esse mês sagrado, há
abstinência completa de alimento, bebida, tabaco e sexo. Deve ser realizado por todo
muçulmano púbere e de boa saúde. A explicação é a seguinte: sentindo fome durante um mês,
o crente poderá compreender melhor o sofrimento do indigente.

Esmola legal, zakat: é acrescentada aos impostos legais e às doações voluntárias de caridade e
subordinada à possibilidade do crente. É um costume antiqüíssimo, presente também no
judaísmo.

Peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, para todos os que podem.

A questão muçulmana é, hoje, bem complexa. Muitos no Ocidente, não por maldade, mas
por influência da forma como os acontecimentos são veiculados na mídia, associam islamismo,
fundamentalismo, terrorismo e opressão da mulher. No entanto, relacionar uma religião à
violência significa ignorar tanto o Islã quanto os livros e a história nem sempre pacíficos das
demais religiões da fé. Na avaliação do jornalista e sociólogo Ali Kamel, o mundo muçulmano
se vê, em muitos países, entre dois extremos: as ditaduras laicas e os totalitários do Islã.
Combater os totalitários do Islã de forma pacífica, encontrar formas de superar as dificuldades
e encontrar o caminho da liberdade seriam tarefas de todos, em especial dos muçulmanos
pacíficos do mundo inteiro, em todos os países.

Bibliografia

ARTZI-PELOSSOF, Noa Bem. Em nome da dor e da esperança: a neta de Yitzhak Rabin escreve
sobre seu avô, seu país e sua luta pela paz. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
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BINGEMER, Maria Clara (Org.). Violência e religião. Cristianismo, islamismo e judaísmo. Três
religiões em confronto e diálogo. Rio de janeiro/São Paulo: Editora PUC-Rio/ Loyola, 2001.

COOGAN, M. D. (Coord.). Religiões: história, tradições e fundamentos das principais crenças


religiosas. São Paulo: Publifolha, 2007.

DELUMEAU, Jean; MELCHIOR-BONNET, Sabine. De religiões e de homens. São Paulo: Loyola,


2001.

HELLERN, Vitor; NOTAKER, Henry. GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.

KAMEL, Ali. Sobre o Islã. A afinidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do
terrorismo. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2007.

KONINGS, Johan. Ser cristão: fé e prática. 4. Ed. Petrópolis: Vozes, 2007

KUNG, Hans. Religiões do mundo: em busco dos pontos comuns. Campinas: Verus, 2004.

KUNG, Hans. (Global Ethic Foundation). World religions – universal peace –global ethic.
Tubingen, 2000. Trad. Inglesa: 2005.

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2005.

Webliografia

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http://www.sbmrj.org.br/

Pesquisa e debate

Visite templos. Entreviste pessoas. Pesquise filmes. Pesquise sobre as causas do


fundamentalismo islâmico. Pesquise as razões para a unidade das três religiões.
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