Pintura em Pontes Metalicas
Pintura em Pontes Metalicas
Pintura em Pontes Metalicas
ORIENTADORES:
Engenheira Maria Manuela Sequeira Ribeiro de Lemos Salta
(Investigadora Coordenadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil)
Agradecimentos
Esta dissertação de mestrado foi elaborada no âmbito do Projecto nº 049/2009
DURATINET ‒ Durable Transport Infrastructures in the Atlantic Area Network, aprovado
no Programa Transnacional Espaço Atlântico, co-financiado pelo FEDER.
Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos a todos os que contribuíram
para a elaboração desta dissertação, particularmente:
À Eng.ª Manuela Salta, pela oportunidade única de integrar um projecto com a
relevância do Projecto DURATINET e de desenvolver este trabalho numa instituição de
eleição da engenharia civil, como é o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC),
assim como pelo seu apoio, disponibilidade e conhecimento transmitido, sem o qual
seria impossível a realização desta dissertação.
Ao Prof. Luiz Lopes, pela disponibilidade, incentivo e apoio concedidos, principalmente
na procura de condições adequadas à realização deste trabalho e na resolução de
todos os imprevistos que surgiram.
À Doutora Maria João Correia, pelo conhecimento transmitido na área da investigação
e pela paciência e disponibilidade para esclarecer muitas das minhas dúvidas.
Ao Doutor António Baptista, pela disponibilidade e indicações para o desenvolvimento
desta dissertação.
Ao Departamento de Materiais - Núcleo dos Materiais Metálicos do LNEC, pela
simpatia com que me receberam.
Ao Eng. Hugo Patrício, da REFER, pela documentação disponibilizada e transmissão da
sua experiência na área da reabilitação.
Aos amigos e colegas que me ajudaram ao longo do meu percurso na Universidade da
Madeira.
E, para finalizar, o meu muito obrigado aos meus pais, Luís Fernão e Maria do Céu, e ao
meu irmão Ricardo, pelo amor e apoio incondicional, bem como à minha companheira
e amiga Débora, pelo seu amor, força e confiança inabalável.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Resumo
O principal objectivo deste trabalho é fornecer um panorama geral sobre a
metodologia a adoptar na reabilitação de pontes metálicas, em particular no que toca
à avaliação de danos e reparação, e focar a importância destas obras de arte enquanto
legado histórico. Neste sentido, primeiro é apresentada a evolução histórica das
pontes metálicas, no mundo e em Portugal, particularmente ao nível de materiais e
soluções estruturais. Em seguida, é apresentada uma síntese sobre os principais
processos de deterioração e as metodologias a aplicar na reabilitação de pontes
metálicas, incluindo a avaliação do estado de conservação e a reparação e protecção
dos elementos metálicos. O capítulo da avaliação contém uma abordagem geral à
inspecção visual, assim como aos métodos de ensaio não destrutivos e destrutivos que
podem ser aplicados na avaliação do estado de conservação. O capítulo da reparação
descreve os vários métodos de reparação, aspectos críticos da sua aplicação e campo
de aplicação. No último capítulo, sintetizam-se os aspectos mais relevantes na
protecção de elementos metálicos, fornecendo informação sobre os sistemas mais
utilizados e indicações a ter em conta na sua selecção.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Abstract
The main objective of this work is to provide an overview of the methodology to be
adopted in the rehabilitation of metallic bridges, particularly regarding the damage
assessment and repair, and to focus the importance of these works of art as a
historical legacy. In this sense, it is first presented the historical development of
metallic bridges in the world and in Portugal, particularly in terms of materials and
structural solutions. Then, it is presented a synthesis of the main deterioration
processes and methodologies to be applied in the rehabilitation of metallic bridges,
including the assessment of the conservation condition, and the repair and protection
of metallic elements. The assessment chapter contains an overall approach to visual
inspection as well as to non-destructive and destructive testing methods that can be
applied in the assessment of the conservation condition. The repair chapter describes
the various methods of repair, critical aspects of their application and field of
application. The last chapter summarizes the most relevant aspects in the protection
of metallic elements, providing information on the most widely used systems and
directions to be taken into account in their selection.
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Índice
1. Introdução ....................................................................................................................... 11
2. Evolução da construção de pontes metálicas ................................................................. 13
2.1 Enquadramento histórico............................................................................................ 13
2.2 Materiais ..................................................................................................................... 14
2.3 Soluções estruturais .................................................................................................... 19
3. Processos de deterioração .............................................................................................. 33
3.1.1 Corrosão .............................................................................................................. 33
3.1.2 Fadiga .................................................................................................................. 37
4. Avaliação do estado de conservação de pontes metálicas ............................................. 40
4.1 Generalidades ............................................................................................................. 40
4.2 Defeitos ....................................................................................................................... 41
5. Métodos de reparação de pontes metálicas................................................................... 47
5.1 Esmerilamento ............................................................................................................ 47
5.2 Martelagem ................................................................................................................. 48
5.3 Refusão TIG ................................................................................................................. 49
5.4 Stop hole ...................................................................................................................... 50
5.5 Soldadura .................................................................................................................... 52
5.6 Aparafusamento .......................................................................................................... 54
5.7 Rebitagem ................................................................................................................... 57
5.8 Adição de componentes metálicos ............................................................................. 60
5.9 Substituição total ou parcial de elementos estruturais .............................................. 60
5.10 Desempenamento mecânico ...................................................................................... 61
5.11 Desempenamento por calor ....................................................................................... 62
5.12 Polímeros reforçados com fibras de elevada resistência (FRP) .................................. 64
6. Métodos de protecção dos elementos metálicos ........................................................... 66
6.1 Protecção catódica ...................................................................................................... 66
6.1.1 Generalidades ..................................................................................................... 66
6.1.2 Sistemas de protecção catódica .......................................................................... 69
6.1.3 Selecção do sistema de protecção catódica........................................................ 71
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Índice de figuras
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Figura 53 Tipos de solicitação nas ligações rebitadas: (a) rebites solicitados ao corte; (b) rebites
solicitados à tracção .................................................................................................................... 59
Figura 54 Ligação rebitada .......................................................................................................... 59
Figura 55 Exemplos de chapas de reforço: (a) Chapas soldadas; (b) Chapas sobreposta
aparafusadas; (c) Chapas gusset aparafusadas .......................................................................... 60
Figura 56 Substituição de elementos: (a) Substituição parcial; (b) Substituição total ............... 61
Figura 57 Categorias fundamentais de danos ............................................................................ 64
Figura 58 Diagrama de potencial pH: representação esquemática do conceito de protecção
catódica, com regiões activa, passiva e de imunidade .............................................................. 66
Figura 59 Representação dos sistemas de protecção catódica em água do mar: (a) galvânico;
(b) corrente imposta ................................................................................................................... 69
Figura 60 Aplicação de um revestimento por pintura: (a) por pincel; (b) por projecção . .......... 73
Figura 61 Preparação de superfície por esmerilamento mecânico ............................................ 89
Figura 62 Hidrodecapagem ......................................................................................................... 92
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Índice de Tabelas
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1. Introdução
A construção de pontes metálicas teve início no final do séc. XVII e, desde então, tem
vindo a evoluir com soluções estruturais optimizadas, acompanhando o
desenvolvimento da indústria metalúrgica. Muitas destas pontes têm uma idade
avançada e encontram-se desadequadas à sua função, seja devido à deterioração do
material ou à crescente solicitação das cargas circulantes. É neste quadro que a
actividade da reabilitação assume particular importância.
Por razões de sustentabilidade e também de economia, torna-se fundamental a
adopção de práticas vantajosas do ponto de vista económico, tais como a
reabilitação/reforço das pontes existentes, em detrimento da construção de novas
estruturas. O aumento da densidade urbana, que dificulta a construção de estruturas
novas, também é uma realidade actual. Outro factor relevante é o valor destas
estruturas enquanto património cultural. Considerando estes factores, torna-se
importante preservar as pontes metálicas existentes e procurar garantir uma
durabilidade idêntica ou superior para as estruturas mais recentes.
A maioria das estruturas metálicas expostas ao ambiente marítimo estão sujeitas a
diferentes tipos de patologias. Os principais processos de deterioração que ocorrem
neste tipo de estruturas podem ser classificados como físicos, químicos e biológicos e
compreendem todos os fenómenos que contribuem para a redução da resistência e
funcionalidade da estrutura. Além dos processos de deterioração acidentais, e.g.
incêndios ou sismos, os mecanismos mais recorrentes neste tipo de estruturas são a
corrosão e a fissuração por fadiga, sendo também necessário considerar a
deterioração dos sistemas de protecção contra a corrosão. Este tipo de deterioração,
para além da acção ambiental, pode também ter como causas erros de
pormenorização do projecto, de construção ou até mesmo de utilização e a sua
desconsideração pode ter consequências significativas no comportamento do metal à
corrosão e, assim, acelerar os efeitos deste fenómeno.
Devido à deterioração inerente das estruturas metálicas, é essencial que existam
planos de manutenção adequados, que permitam avaliar de forma periódica o estado
de conservação das obras de arte, através da identificação e quantificação de danos e
respectivas causas, assim como das respectivas consequências para a segurança da
estrutura. Sempre que o diagnóstico dos danos identificar problemas, é necessário
analisar as medidas de intervenção e escolher o método de reparação mais
apropriado, assim como o sistema de protecção contra a corrosão mais adequado face
às condições ambientais.
Com esta dissertação pretende-se, depois da apresentação da evolução histórica das
pontes metálicas, fazer uma análise das metodologias correntemente aplicadas na sua
reabilitação. Os principais processos de deterioração e consequentes danos serão
identificados, assim como os métodos adequados à sua avaliação e,
subsequentemente, os métodos de reparação e protecção que podem ser aplicados.
A elaboração desta dissertação surge do trabalho desenvolvido no âmbito do Projecto
DURATINET ‒ Durable Transport Infrastructures in the Atlantic Area Network
(http://www.duratinet.org/), onde um dos objectivos é “produzir recomendações
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2.2 Materiais
Estruturais
No início do séc. XVIII, Abraham Darby I desenvolve um método de produção de ferro
de alta qualidade, o ferro fundido. Passadas três gerações, no final do mesmo século,
Abraham Darby III constrói a primeira ponte metálica em Coalbrookdale (Figura 1), em
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
1777-79. Esta ponte foi projectada por T.M. Pritchard e ainda está em serviço, após ter
sido objecto de reabilitação.
Por volta de 1784, surge o ferro pudelado, também designado por wrought iron (ferro
forjado) na literatura inglesa, após o desenvolvimento do processo de pudelagem do
ferro por Henry Cort, e começa a ser utilizado em pontes por volta de 1800 [4].
Desde 1777, até por volta de 1840, o ferro fundido e pudelado foram os materiais mais
utilizados na construção de pontes metálicas, pois apresentavam uma boa resistência
à corrosão e propriedades mecânicas que, de algum modo, se complementavam nas
suas aplicações, i.e., o ferro fundido com uma boa resistência à compressão e o ferro
pudelado à tracção.
O aço começou a ser produzido no final do séc. XVIII e a sua utilização na construção
de pontes começou no início do séc. XIX. Nessa altura, o processo de produção do aço
não permitia a sua utilização em grande escala. Apenas com a invenção e
desenvolvimento do processo siderúrgico de Bessemer por volta de 1855 e, mais
tarde, dos processos de Thomas-Gilchrist e Siemens–Martin, é que foi possível
produzir aços mais limpos, em quantidade e com melhores características [4]. Estes
progressos foram ao encontro da grande necessidade de então, devido à expansão dos
caminhos-de-ferro por toda a Europa.
Por volta de 1870, surge o aço laminado e, em 1874, é concluída a primeira grande
ponte de aço no mundo, a ponte Eads, em Saint Louis, Missouri, com três vãos de
159m cada. De referir ainda outras duas referências mundiais das pontes em aço:
a ponte suspensa de Brooklyn, em Nova Iorque, construída em 1883, e a ponte tipo
cantilever Firth of Forth, na Escócia, em 1890.
Ainda em relação à construção de pontes em aço, é necessário tomar em consideração
que, durante algumas épocas, nomeadamente durante a grande recessão (1929-1939),
a 1ª (1914-18) e a 2ª Guerra Mundial (1939-45), o aço era produzido num ritmo muito
elevado. Este facto traduz-se na possibilidade de algumas das pontes construídas
nestas épocas poderem apresentar alguns problemas de durabilidade devido à fraca
qualidade do aço, principalmente com o aumento das cargas actuantes [4].
Ao longo do séc. XX, assistiu-se a outros progressos na siderurgia do aço, com o
desenvolvimento de novos tipos de aço com maior resistência e ductilidade. A partir
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Figura 5 Evolução das ligações nas estruturas metálicas (adapt ado de [4])
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Pontes em arco
Conforme previamente referido, a primeira ponte metálica foi a ponte Coalbrookdale
(Figura 1), projectada por T.M. Pritchard e construída por Abraham Darby III. Esta
ponte, com um vão de 30m, ainda está em funcionamento, após reabilitação, e o seu
sucesso é atribuído à adequação do sistema estrutural —ponte em arco — ao material
utilizado, ferro fundido.
Esta adequação do material à tipologia construtiva da ponte em arco foi desenvolvida
pelo engenheiro Reichenbach, que criou um método onde os tubos em ferro são
utilizados como elementos em compressão do arco. Um dos melhores exemplos deste
sistema é a ponte Carrousel, construída em 1839 por Polonceau, em Paris [5].
Um dos principais impulsionadores das pontes em arco foi Gustave Eiffel, que dirigiu e
fundou a Société Eiffel, em 1866, um gabinete dedicado ao estudo e construção de
estruturas metálicas. Uma dessas estruturas metálicas foi o viaduto de Garabit (Figura
7), construído em França no ano de 1884 e que foi uma das principais obras de Eiffel.
Uma outra ponte em arco importante, devido a ser a primeira ponte em aço e ter
batido o recorde de maior vão do mundo da época com 159m, foi a ponte Eads (Figura
8), em Saint Louis, Missouri. Esta ponte rodoviária e ferroviária, construída em 1874,
ainda é utilizada e foi baptizada em homenagem ao seu projectista, J.B. Eads [5].
Além das pontes em arco mencionadas, com tabuleiro superior, temos também um
outro tipo de sistema estrutural, as pontes em arco atirantadas, com tabuleiro inferior.
As primeiras pontes deste tipo foram construídas em Hamburgo, sobre rio Elba, por
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volta de 1899. Podemos encontrar um bom exemplo deste tipo de solução estrutural
na ponte Hohenzollern (Figura 9), em Colónia, construída em 1910.
Este tipo de sistema estrutural comporta-se da mesma forma que uma estrutura de
viga em treliça, que será apresentada mais à frente, onde o arco desempenha as
funções dos membros superiores da treliça e o tabuleiro as de membros inferiores. No
entanto, a utilização deste tipo de pontes em arco permite suportar cargas maiores e
vencer maiores vãos do que as vigas em treliça [5].
Posteriormente, tem sido utilizado outro tipo de ponte em arco, similar à solução
anterior, a solução tipo Bowstring. Esta solução estrutural consiste num tabuleiro
inferior suspenso por tirantes que transferem as cargas para o arco metálico. Um bom
exemplo da versatilidade deste tipo de pontes é a ponte do Observatório, em Liége
(Figura 10), construída em 2002 e projectada por Santiago Calatrava.
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Pontes suspensas
Por volta de 1819, Samuel Brown inventa um tipo de corrente em ferro e constrói a
primeira ponte pênsil em ferro pudelado na Europa, a ponte Union (Figura 11), no
Reino Unido. Pouco tempo mais tarde, em 1826, Thomas Telford construiu outra
ponte pênsil que bate o recorde de ponte com maior alcance da época, a ponte Menai
Straits (Figura 12), também no Reino Unido [5].
Dentro desta tipologia construtiva, temos que referir a Grande Ponte Suspensa,
construída por Joseph Chaley na Suíça, em 1834, e demolida em 1923. Esta ponte
pênsil foi construída em ferro pudelado, tinha um vão único de 273m e foi a maior
ponte do mundo até à construção da ponte Wheeling (Figura 13), nos Estados Unidos
da América (EUA). A ponte rodoviária Wheeling, projectada por Charles Ellet Jr., foi
construída em 1849 e destruída por uma tempestade em 1855. No entanto, foi
reconstruída e ainda está em funcionamento actualmente.
Ainda outra ponte pênsil digna de referência é a ponte Clifton (Figura 14), no Reino
Unido, da autoria de Brunel. Esta ponte rodoviária foi construída em ferro pudelado no
ano de 1864 e actualmente ainda exerce a sua função.
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Outras pontes de referência dentro deste sistema estrutural são a ponte de Brooklyn
(Figura 17), construída em 1883 e considerada uma obra-prima da engenharia, e a
ponte Golden Gate (Figura 18), construída por Joseph Strauss no ano de 1937, em São
Francisco, Califórnia. A ponte Golden Gate tem uma extensão de 1.281 m e é, sem
dúvida, a mais conhecida de todas as pontes suspensas.
O tipo de estrutura mais recente nas pontes metálicas é a ponte atirantada. Embora
este tipo de ponte seja usualmente enquadrado dentro das pontes suspensas devido
ao seu aspecto visual, na realidade o seu comportamento é muito mais similar a uma
ponte em viga contínua, sobre apoios relativamente elásticos. Estes apoios elásticos
são fornecidos pelos tirantes em vários pontos do tabuleiro e permitem a construção
de grandes vãos com vigas relativamente finas [5].
A primeira ponte atirantada foi construída na Alemanha, a ponte Theodor Heuss
(Figura 19), em 1957. Esta ponte em aço foi projectada por F. Tamms e F. Leonhardt
com vãos de 108+260+108 m.
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Pontes em viga
Em 1844, os caminhos-de-ferro britânicos decidiram construir uma linha ferroviária
entre Londres e a ilha Anglesey, no País de Gales. Para tal ser possível, foi necessário
construir uma ponte sobre o Estreito de Menai. Esta ponte foi encomendada a
Stephenson, que, após estudar as pontes em arco e as pontes suspensas por correntes
de ferro (ponte pênsil), decidiu construir uma ponte com a forma de dois tubos
rectangulares, nos quais poderiam passar as duas vias do caminho-de-ferro. Foi então
construída a ponte Britannia (Figura 20), sobre o estreito de Menai, em 1850. Esta
ponte em ferro pudelado demonstrou que vigas compostas, com reforços espaçados,
eram suficientemente resistentes para suportar um vão com mais de 142 m, em
recurso a diagonais de reforço. Assim surgiu a construção com vigas de alma cheia e foi
dado o primeiro passo rumo às pontes em vigas caixão [5].
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Não se sabe bem quando foi construída a primeira ponte em viga treliça, mas uma das
primeiras e maiores pontes da Europa com este sistema estrutural foi construída em
1857, a ponte Tczew (Figura 21), projectada por Carl Lentze. Esta ponte em ferro
pudelado foi fortemente influenciada pela ponte Britannia e tem seis vãos de cerca de
131m.
A ponte que serviu como modelo para as pontes de vigas em treliça dos caminhos-de-
ferro, foi a ponte Saint-Jean (Figura 22), construída em Bordéus no ano de 1860 [2].
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Pontes em consola
No séc. XIX, as pontes com vários vãos eram quase todas divididas, sobre os pilares,
em vãos únicos. Nessa época, já existia conhecimento dos benefícios, a nível de
comportamento estático, das vigas contínuas. No entanto, esta solução não era
utilizada devido aos problemas que acarretava no dimensionamento das fundações.
Este obstáculo foi resolvido por volta de 1868, quando German H. Gerber tem a ideia
de introduzir juntas em vigas contínuas. O princípio das “vigas de Gerber” é aplicado
na solução estrutural tipo cantilever [5].
A construção de pontes em consola ou tipo cantilever consiste, essencialmente, em
aumentar a altura da viga em treliça para o nível dos pilares, tornando possível a
construção das consolas a meio vão, sem ser necessário recorrer a qualquer tipo de
escoramento. Esta técnica construtiva é particularmente útil quando se pretende
atravessar águas profundas e/ou agitadas.
Uma das maiores e mais representativas pontes em consola é a ponte Firth of Forth,
na Escócia. Esta ponte em aço foi projectada por Sir Benjamin Barker e Sir John Fowler
e construída em 1883-1890, tornando-se na ponte com maior vão do mundo da época,
com 521m.
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Pontes em Portugal
A primeira estrutura metálica a ser construída em Portugal foi o Viaduto de Xabregas
(Figura 2), em ferro fundido, projectado por John Sutherland Valentine, e a construção
de grandes pontes metálicas em Portugal tem início com a construção da ponte
ferroviária da Praia do Ribatejo sobre o rio Tejo (Figura 26), em 1862, que entretanto
foi substituída pela actual Ponte da Praia [2]. Relativamente a pontes metálicas
projectadas por portugueses, a mais antiga foi a ponte da ribeira de Noemi, projectada
por Bento d`Eça, José Garção e José de Andrade e inaugurada em 1876 [6].
A partir de 1870, generaliza-se o modelo de ponte em viga treliça, com tramos rectos e
perfis cruzados de rótula simples ou múltipla. Pouco tempo depois, em 1872, também
começa a ser utilizado outro tipo de solução estrutural, as pontes em viga utilizando o
sistema Schwedler. Este sistema é uma variação das pontes em arco atirantadas,
consistindo em vigas com o banzo inferior recto e o superior parabólico [2]. Dois
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exemplos deste tipo de pontes são a ponte da Régua (Figura 27) e a da Portela (Figura
28), construídas em 1872 e 1873, respectivamente.
A ponte D. Maria Pia e a ponte Luís I, no Porto, são, sem dúvida, duas das mais
importantes pontes metálicas construídas em Portugal. Estas pontes contribuíram
significativamente para o desenvolvimento do país, ao encurtar a distância entre o
norte e o sul, e contribuíram para a evolução da tecnologia de construção,
principalmente a ponte D. Maria Pia. Esta ponte foi o primeiro grande sucesso de Eiffel
na implementação de uma das suas ideias, a preparação de obra na construção
metálica, desde a concepção até à mais pequena pormenorização [5].
A ponte D. Maria Pia (Figura 29), projectada por Gustave Eiffel e Théophile Seyrig, foi
construída em 1878 e desactivada em 1991. Esta ponte tem um vão principal de 160 m
e serviu de modelo para outras grandes obras de Eiffel, como o viaduto de Garabit
(Figura 7). O reconhecimento da importância da ponte D. Maria Pia é demonstrado na
atribuição do título de Civil Engineering Historical Landmark pela Ordem dos
Engenheiros portugueses e pela American Society of Civil Engineers. Felizmente, neste
momento está em curso um projecto que visa a sua reabilitação.
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Poucos anos após a construção da ponte D. Maria Pia, foi construída a ponte Luís I
(Figura 30) que visava a substituição da ponte pênsil do Porto. A ponte Luís I foi
construída em 1886 e é da autoria de Théophile Seyrig, um antigo colaborador de
Eiffel. Esta ponte foi inicialmente projectada para servir o tráfego rodoviário e pedonal,
mas recentemente foi alvo de obras de reforço, de modo a permitir a passagem do
Metro do Porto. Esta obra é um excelente exemplo da capacidade de adaptação das
pontes metálicas antigas às necessidades actuais, pois neste momento está a funcionar
com cargas muito superiores às previstas inicialmente, no séc. XIX.
Outra ponte construída na mesma altura das duas grandes pontes do Porto foi a ponte
D. Luís, sobre o rio Tejo (Figura 31), em Santarém. Esta ponte foi, de algum modo,
ofuscada pelas anteriores, mas também teve a sua importância no desenvolvimento
do país. A ponte D. Luís foi construída em 1881 e projectada com uma estrutura em
viga treliça por F. Moreaux [2]. Após ser sujeita a uma intervenção de reforço da autoria
do engenheiro Edgar Cardoso, esta ponte continua a servir o tráfego rodoviário.
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Além da ponte D. Maria Pia, Gustave Eiffel projectou mais de 20 pontes para os
caminhos-de-ferro portugueses, na sua maioria em ferro pudelado e com uma
estrutura de viga em treliça. Algumas das pontes referidas são as pontes do Milijoso,
Breda, Criz, Dão e Trezói, em 1879-1881, pertencentes à Linha ferroviária da Beira Alta,
a ponte do Fão, sobre o rio Cávado, em 1892, pertencente à Linha ferroviária do
Minho, e principalmente a ponte do Lima, em Viana do Castelo, que Eiffel sempre
considerou a sua obra-prima.
A ponte do Lima (Figura 32), em Viana do Castelo, construída em ferro pudelado, data
de 1886 e divide-se numa estrutura metálica contínua com 562 m, de vigas de rótula
múltipla, com dois tabuleiros sobrepostos apoiados em pilares de alvenaria. Os
viadutos de acesso também são constituídos por vigas contínuas, apoiadas
transversalmente em pórticos múltiplos [2]. Esta ponte foi sujeita a obras de reforço há
cerca de 20 anos e recentemente foi substituído o tabuleiro rodoviário.
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Pontes mistas
Uma das soluções estruturais mais aplicadas actualmente é a da ponte mista. Este tipo
de ponte utiliza o betão e o aço, tirando partido das melhores características de cada
um deles e, normalmente, temos um tabuleiro metálico com pilares e laje de betão.
A construção de pontes mistas oferece diversas vantagens, tais como leveza, facilidade
de construção, protecção atmosférica do aço pelo betão e bom comportamento
dinâmico [3].
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3. Processos de deterioração
A degradação das pontes metálicas normalmente ocorre por processos de
deterioração física ou por reacções químicas e biológicas, que consistem
essencialmente no fenómeno da corrosão.
Os processos de deterioração física referem-se a processos de fadiga e a impactos de
veículos, sobrecargas ou deformações acidentais, resultantes de assentamentos,
escavações e, ainda, de acções sísmicas ou do fogo. Normalmente, estes processos não
podem ser previstos, mas os danos consequentes são relativamente simples de
detectar, assim como a escolha da reparação ou reforço adequados.
Além dos danos acidentais, o tipo de defeitos mais recorrentes nas pontes metálicas
são resultantes de fenómenos de corrosão e fadiga.
3.1.1 Corrosão
33 | P á g i n a
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(a) (b)
Outro fenómeno que podem ocorrer, envolvendo a corrosão, é a corrosão sob tensão.
Este tipo de processo de deterioração consiste na acção conjunta da corrosão e de
tensões mecânicas, estáticas ou dinâmicas, que diminuem a vida à fadiga da estrutura,
resultando na redução do tempo de início da fissuração ou no aumento da sua
velocidade de propagação. Para evitar este tipo de problema, é aconselhável a
aplicação de métodos de tratamento da superfície, para reduzir as tensões, e a
selecção de aços menos susceptíveis a fenómenos de fragilização por hidrogénio.
A existência de fases e de inclusões, especialmente sulfuretos e escórias, e as
características metalográficas, que são determinadas pelas fronteiras de grão, são
alguns dos factores condicionantes do comportamento à corrosão de um metal. Estas
fronteiras de grão consistem em descontinuidades estruturais ou em diferenças
químicas, que resultam em zonas susceptíveis de fenómenos de corrosão localizada.
Além das características da liga, a resistência à corrosão das ligas ferrosas depende
significativamente da corrosividade do ambiente. O aço não ligado requer um sistema
de protecção adequado em qualquer ambiente, assim como os novos tipos de aço
ligado, pois, embora sejam mais resistentes à corrosão, continuam a precisar de um
sistema de protecção adequado. No entanto foi desenvolvido um tipo de aço, o aço
patinável (weathering steel), que através da exposição ambiental forma uma camada
protectora de produtos de corrosão na superfície do aço. O ferro fundido tem um
elevado conteúdo em carbono, que proporciona uma boa resistência à corrosão
uniforme. Esta situação ocorre porque os produtos de corrosão também têm um
elevado teor em carbono que dá estabilidade à camada de óxidos, mas no entanto
torna o material susceptível à corrosão localizada. Quanto ao ferro pudelado, este tem
uma boa resistência à corrosão, em decorrência do elevado conteúdo de escórias não
reactivas, devido à acção de frenagem proporcionada na progressão de processos de
corrosão.
É essencial um bom conhecimento das características de corrosividade do ambiente de
exposição, tanto no projecto de uma nova estrutura como na manutenção de
estruturas existentes. Deve ser feita uma avaliação das condições ambientais, tanto
macro como microambientais, de modo a proceder à identificação das causas da
deterioração e à selecção adequada de métodos de reparação, que resultem num
desempenho optimizado da estrutura.
34 | P á g i n a
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(a) (b)
A norma ISO 9223:1992 [8] especifica classes de corrosividade de acordo com algumas
informações ambientais, nomeadamente o tempo de “molhagem” e o nível de
poluição, ou baseadas na velocidade de corrosão de diferentes metais. A Tabela 1
35 | P á g i n a
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Categoria Ambiente
Im 1 Água doce
Im 2 Água do mar
Im 3 Solo
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3.1.2 Fadiga
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(a) (b)
Figura 36 Tipos de fissuras em ligações soldadas: (a) soldadura de topo; (b) soldadura de
ângulo.
1. fissura tipo cratera; 2. fissura na face da soldadura; 3. fissura lamelar; 4. fissura longitudinal;
5. fissura na raiz da soldadura; 6. fissura no bordo da soldadura; 7. fissura na concordância da
junta; 8. fissura transversal; 9. fissura sob cordão; 10 fissura na interface da soldadura.
De acordo com Khun et al. [10], as causas típicas da fissuração por fadiga em estruturas
soldadas são:
Soldadura pobre ou defeitos de soldadura;
Falta de fusão;
Restrição;
Vibração;
Descontinuidades (web gaps);
Deformação contínua por torção (web breathing).
Após o início da fissuração, a propagação subsequente pode desenvolver-se de duas
formas, nomeadamente num crescimento contínuo das fissuras, que propagam para
elementos estruturais principais e secundários, ou em fissuras derivadas do alívio de
restrições, que param em zonas com baixas tensões. Esta situação deve ser
identificada, porque o primeiro tipo de propagação pode resultar na fractura do
elemento estrutural, com as respectivas consequências na segurança da estrutura.
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Figura 37 Curvas de resistência à fadiga para medição directa do intervalo de tensões (adaptado de
[11])
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4.2 Defeitos
A classificação primária dos danos ou defeitos pode ser efectuada utilizando três tipos
de critérios, considerando a causa, a causa e o efeito, ou apenas o efeito. Na maior
parte das vezes, não é fácil identificar a(s) causa(s) do defeito, dando origem a
diferentes interpretações. Este facto levou à recomendação, por parte da União
Internacional dos Caminhos de Ferro (UIC) [12], da adopção do critério do efeito, de
modo a ser possível uma certa uniformidade na classificação dos defeitos. Então, os
tipos básicos de defeitos podem ser divididos da seguinte forma (Figura 38):
a) Contaminação – Presença de qualquer tipo de sujidade ou vegetação não
projectada.
b) Deformação – Alteração geométrica significante, prejudicial ao desempenho da
estrutura.
c) Deslocamento – Alteração da localização de um ou mais componentes
estruturais, prejudicial ao desempenho da estrutura, incluindo restrições a
elementos previstos.
d) Descontinuidade – Falta de continuidade no material estrutural não prevista no
projecto.
e) Deterioração – Alteração das características físicas e/ou químicas dos materiais
estruturais, prejudicial ao desempenho da estrutura.
f) Perda de material – Redução do material existente na estrutura, relativamente
ao projectado.
Figura 38 Tipos básicos de danos: (a) Contaminação; (b) Deformação; (c) Deslocamento; (d)
Descontinuidade; (e) Deterioração; (f) Perda de material (cedidas por REFER)
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Após a identificação, é necessário definir a extensão do defeito, pois este nem sempre
constitui uma avaria. Uma avaria implica um defeito suficientemente extenso, que põe
em causa o estado de conservação da estrutura e que, por isso, exige correcção.
A Tabela 3 ilustra o índice de avaria recomendado pela UIC [12].
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Muitas vezes, também é necessário recorrer a ensaios de carácter destrutivo (DT) para
conhecer as características e propriedades do material estrutural ou para verificar a
compatibilidade de esquemas de pintura novos com outros existentes. Este tipo de
ensaios ocorre principalmente em estruturas antigas e envolve procedimentos de
recolha de amostras, que devem ser sempre acompanhados por um engenheiro de
estruturas, de modo a garantir a estabilidade estrutural em todas as intervenções.
A Figura 40 exemplifica uma tabela de informações sobre ensaios DT, efectuados, ao
longo dos anos, a algumas das pontes da REFER.
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45 | P á g i n a
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(d) (e)
Figura 41 Defeitos por degradação das pinturas: (a) fissuração; (b) empolamento; (c)
pulverulência; (d) descamação; (e) corrosão.
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5.1 Esmerilamento
Esmerilamento é a designação comum dada a processos de desbaste que utilizam um
elemento abrasivo como meio de remoção mecânica de material. O elemento abrasivo
é composto por partículas abrasivas, com uma forma e número indefinido de pontos
de corte, ligadas entre si por um agente ligante macio. Cada grão abrasivo tem um
único ponto microscópico com um potencial bordo de corte. Esta técnica difere da
técnica de corte na medida em que as peças removidas pelos grãos abrasivos são
muito mais reduzidas.
Os processos de esmerilamento são normalmente aplicados em estruturas soldadas
para modificação do perfil do metal fundido da junta, como técnica de optimização da
resistência à fadiga. No entanto, o esmerilamento também é aplicado para reparar
pequenas fendas de fadiga, pequenos entalhes e goivas e para alisar o metal fundido
da junta, arestas, etc., antes do acabamento geral da preparação de superfície.
Relativamente à remoção de fendas de fadiga, o esmerilamento é mais adequado
quando as causas são defeitos da soldadura ou descontinuidades (web gaps), mas
também pode ser utilizada para causas como falta de fusão, zonas com defeitos de
fissuração a frio, restrição de forças, vibração ou alterações geométricas [10].
Enquanto técnica de melhoria da resistência à fadiga, os processos de esmerilamento
podem ser incluídos no grupo de métodos para aperfeiçoamento da geometria das
soldaduras. O objectivo destes métodos é remover os defeitos do metal de base, na
concordância da junta soldada, melhorando o perfil da ligação e facilitando a transição
entre o metal fundido da junta e o metal de base. Esta transição suave permite reduzir
a tensão geométrica e aumentar o tempo de início da fissuração.
Na reparação de estruturas metálicas, especialmente no aperfeiçoamento da
resistência à fadiga, os processos de esmerilamento mais aplicados (Figura 42) utilizam
rebarbador e discos de esmeril.
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(a) (b)
Figura 42 Métodos de esmerilamento: (a) com rebarbador; (b) com disco de esmeril (cedida por
REFER)
5.2 Martelagem
Martelagem é geralmente um processo de trabalho a frio que deforma plasticamente
um dado material através do impacto produzido por uma ferramenta ou partículas de
metal. Este processo produz tensões residuais compressivas, benéficas para a
superfície metálica, pelo processo de endurecimento.
Estas tensões compressivas pretendem substituir as tensões residuais de tracção,
inerentes aos elementos soldados, que são prejudiciais devido à sua predisposição à
fissuração. A substituição das tensões de tracção por compressivas vai promover um
melhoramento do comportamento da estrutura à fadiga.
A deformação induzida pela martelagem também optimiza a geometria da junta
soldada e facilita a transição entre o metal fundido da junta e o metal de base,
reduzindo a concentração localizada de tensões.
As formas mais comuns de martelagem são [22]:
Martelagem com martelo leve – Técnica manual que reduz a concentração
localizada de tensões na concordância das juntas soldadas através da produção
de uma grande quantidade de trabalho a frio e da alteração do ângulo e raio da
junta soldada.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
A eficácia desta técnica de reparação pode ser influenciada por diversos parâmetros,
tais como:
Dimensão, localização e acabamento da superfície do furo;
Tipo e dimensão da fenda;
Propriedades mecânicas do material;
Tipo e magnitude da carga solicitante;
Rácio de tensões.
De acordo com referências na literatura [24][26][27], este método pode ser optimizado
pela expansão a frio, por furos adicionais, ou por parafusos de alta resistência, rebites
ou pinos.
O método stop hole é uma técnica de reparação simples, que normalmente é
empregue para prolongar a vida à fadiga de elementos estruturais com fendas. Esta é
uma técnica temporária ou de emergência, utilizada tanto em estruturas soldadas
como aparafusadas ou rebitadas, que tem por objectivo atrasar a propagação de
fendas. É ideal para pequenas fendas sujeitas a uma variação de tensões baixa em
chapas ou componentes de chapas de elementos estruturais e para impedir a
propagação de fendas maiores, desde que o comprimento restante dessas fendas seja
reparado por chapas sobrepostas soldadas ou aparafusadas [25].
De acordo com Kühn et al. [10], nas estruturas soldadas, esta técnica tem bons
resultados quando a fissuração por fadiga tem como causas a falta de fusão, zonas
com defeitos de fissuração a frio, restrição de forças e deformação contínua por torção
(web breathing). No entanto, também pode ser aplicada para causas como vibração,
descontinuidades (web gaps) e alterações geométricas. Nas estruturas aparafusadas e
rebitadas, este método tem excelentes resultados quando a causa da fissuração por
fadiga é a deformação fora de plano, bons resultados em caso de tensões secundárias
e resultados satisfatórios para concentrações localizadas de tensões.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
5.5 Soldadura
A soldadura é um processo de junção de materiais que assegura a continuidade entre
elementos metálicos através da fusão. De acordo com a norma ISO/TR 581:2005 [28],
um material metálico é considerado soldável quando a continuidade metálica pode ser
obtida utilizando procedimentos adequados para que a junta cumpra com os
requisitos especificados relativamente às suas propriedades e respectiva influência na
estrutura da qual faz parte integrante.
Uma vasta gama de processos de soldadura está disponível, diferindo nos seguintes
parâmetros: temperatura, pressão e metal de enchimento. Com base na fonte de
energia, estes processos podem ser classificados por:
Gás;
Arco (Figura 45);
Resistência;
Estado-sólido;
Termoquímica;
Energia radiante.
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De acordo com Kühn et al. [10], a utilização da soldadura para reparação de danos
relacionados com a fadiga é quase exclusiva para estruturas soldadas, mas também
pode ser utilizada em estruturas rebitadas e/ou em ferro pudelado, após uma
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Figura 47 Defeitos típicos do metal fundido da junta: (a) undercut; (b) falta de fusão; (c) falta de
penetração; (d) porosidade; (e) inclusões de escórias; (f) fendas.
5.6 Aparafusamento
Entre os métodos de fixação, o aparafusamento é o mais utilizado. De acordo com a
norma EN 1090-2:2008 [30], as ligações aparafusadas consistem em parafusos, porcas e
anilhas correspondentes (Figura 48). No entanto, só são utilizadas anilhas se forem
necessárias para reduzir os danos locais nos revestimentos metálicos.
54 | P á g i n a
Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Fv,Ed ≤ Fv,Rd
Resistente ao
A Corte 4,6 a 10,9 Não
esmagamento
Fv,Ed ≤ Fb,Rd
Fv,Ed.ser ≤ Fs,Rd.ser
Resistente ao
escorregamento no
B Fv,Ed ≤ Fv,Rd Corte 8,8 ou 10,9 Sim
estado limite de
utilização
Fv,Ed ≤ Fb,Rd
Fv,Ed ≤ Fs,Rd
Resistente ao
C escorregamento no Fv,Ed ≤ Fb,Rd Corte 8,8 ou 10,9 Sim
estado limite último
Fv,Ed ≤ Nnet,Rd
Ft,Ed ≤ Ft,Rd
D Não pré-esforçada Tracção 4,6 a 10,9 Não
Ft,Ed ≤ Bp,Rd
Ft,Ed ≤ Ft,Rd
E Pré-esforçada Tracção 8,8 ou 10,9 Sim
Ft,Ed ≤ Bp,Rd
Símbolos: Esforço de corte no estado limite último - Fv,Ed | Resistência ao corte - Fv,Rd | Resistência ao esmagamento - Fb,Rd |
Resistência ao corte no estado limite de utilização - Fv,Ed.ser | Resistência ao escorregamento - Fs,Rd.ser | Resistência plástica
da secção transversal dos furos dos parafusos - Nnet,Rd | Esforço de tracção no estado limite último - Ft,Ed | Resistência à
tracção - Ft,Rd | Resistência ao punçoamento - Bp,Rd
1
Ver Tabela 6
55 | P á g i n a
Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Tabela 6 Valores nominais da resistência máxima fyb e do esforço de tracção no estado limite
último fub para parafusos (adaptado de [31])
Classe 4.6 4.8 5.6 6.8 8.8 10.9
2
fyb [N/mm ] 240 320 400 480 640 900
fub [N/mm2] 400 400 500 600 800 1000
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
5.7 Rebitagem
A rebitagem é um método utilizado para unir componentes metálicos de elementos
estruturais com rebites. Um rebite é composto por uma barra metálica cilíndrica,
designada por haste, com uma cabeça numa extremidade. Os rebites são conduzidos
por furos previamente executados nos elementos a unir e, na outra extremidade, uma
segunda cabeça é formada por ferramentas específicas (Figura 50).
1
3
2 4
A cabeça do rebite pode ter diferentes formas (Figura 51), mas a forma mais utilizada
no aço estrutural é a cabeça tipo snap. De acordo com a norma EN 1090-2:2008 [30], o
rebite deve ter comprimento suficiente para formar uma cabeça de dimensões
uniformes, preencher completamente o furo e evitar deformações superficiais nas
faces exteriores das chapas. As cabeças de rebite embutidas devem preencher
completamente o furo escareado após a rebitagem.
Figura 51 Tipos de rebites: (a) cabeça tipo “snap”; (b) cabeça tipo “pan”; (c) cabeça embutida
plana; (d) cabeça embutida redonda
Os rebites quentes devem cumprir com as normas de produto específicas que devem
estar indicadas nos anexos nacionais. As normas NP EN 1993-1-8:2010 [31] e EN 1090-
2:2008 [30] especificam, respectivamente, o dimensionamento e os requisitos técnicos
para a instalação de rebites.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
As ligações rebitadas podem ser classificadas de acordo com o arranjo das chapas e
rebites. As chapas podem estar sobrepostas (junta sobreposta) ou unida pelo topo
(junta a topo) (Figura 52). Nas juntas a topo, a ligação é feita com chapas de cobertura
num ou em ambos os lados do elemento estrutural. Ambos os tipos de junta podem
ter apenas uma fila, serem alternados ou rebitados em cadeia.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 52 Tipos de juntas rebitadas: (a) junta sobreposta, com solicitação ao corte único; (b)
com solicitação ao corte duplo; (c) junta a topo, com uma chapa de cobertura e rebitagem em
fileira única; (d) junta a topo, com uma chapa de cobertura e rebitagem em fileira dupla; (e)
junta a topo, com duas chapas de cobertura e rebitagem em fileira única; (f) junta a topo, com
duas chapas de cobertura e rebitagem em fileira dupla
Este tipo de ligação também pode ser classificado pelo modo de transmissão ou pelo
tipo de solicitação das cargas, que pode ser perpendicular (ao corte) ou paralelo (à
tracção) ao eixo do rebite ou, então, um combinação destes dois (Figura 53).
O carregamento é transmitido através do apoio entre as chapas e a haste ou cabeça do
rebite, com o rebite a ser solicitado ao corte ou à tracção. Além da resistência ao
esmagamento dos rebites nos elementos unidos, existe também uma força de fricção
causada pelo travamento da rebitagem a quente. Embora esta força seja ignorada na
análise ou dimensionamento de ligações, também contribui para a resistência ao
escorregamento da junta.
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(a) (b)
Figura 53 Tipos de solicitação nas ligações rebitadas: (a) rebites solicitados ao corte; (b) rebites
solicitados à tracção
As ligações rebitadas (Figura 54) foram amplamente utilizadas no séc. XIX e no início do
séc. XX. No entanto, este processo tornou-se obsoleto com o desenvolvimento da
soldadura e dos parafusos de alta resistência.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Figura 55 Exemplos de chapas de reforço: (a) Chapas soldadas; (b) Chapas sobreposta
aparafusadas; (c) Chapas gusset aparafusadas (cedidas por REFER)
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
(a) (b)
Figura 56 Substituição de elementos: (a) Substituição parcial; (b) Substituição total (cedida por REFER)
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S W T L
S – danos resultante de flexão sobre o eixo “forte” ou maior;
W – danos resultante de flexão sobre o eixo “fraco” ou menor;
T – danos resultante de torção sobre o eixo longitudinal;
L – danos de natureza localizada.
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Carbono de ultra
2,12 620‒935 3600‒3700 0,6 ‒
alto módulo
Carbono de alta
1,80 230 3400 1,48 ‒1,0 a +0,4
resistência
Carbono de alto
1,80 390 2900 0,74 ‒1,0 a +0,4
módulo
Aramida Kevlar®
45 130 3000 2,3 ‒5,2
49
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Tabela 9 Potenciais de protecção de materiais de aço não ligados ou de baixa liga, no solo, na
água doce e na água do mar (adaptado de [44])
Potencial de
Metal ou liga Meio
protecção
T < 40C ‒0,85 (a)
T > 60C ‒0,95 (a)(b)
Água e solo
Solo arenoso arejado
Materiais Fe não ‒0,75
100 < < 1000 m
ligados ou de baixa Condições aeróbicas
liga, com Solo arenoso arejado
‒0,65
YS ≤ 800 N.mm-2 > 1000 m
Água e solo
Condições ‒0,95
anaeróbicas
NOTA 1: Todos os potenciais referem-se a um eléctrodo de referência de sulfato de
cobre/cobre saturado, ECu = EH – 0,32 V.
(a) Para temperaturas entre 40 e 60C, a protecção do metal pode ser interpolada.
(b) Aumentando o risco de fissuração devido a tensões de corrosão induzidas por NaOH com o
aumento da temperatura.
67 | P á g i n a
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De acordo com a norma EN 14505:2005 [45], pelo menos um destes critérios deve ser
aplicado. No entanto, provavelmente é necessária a aplicação de mais do que um
critério para verificar a protecção adequada de estruturas complexas.
Uma distribuição adequada da corrente de protecção sobre a estrutura assegura a
uniformidade de potencial essencial à protecção catódica. A corrente exigida para
alcançar o critério de protecção depende do tipo e das características da estrutura e
das condições ambientais às quais a estrutura está exposta.
De acordo com a norma EN 12473:2000 [46], especialmente na água do mar, os
principais factores que afectam os requisitos da densidade da corrente são a
salinidade, o pH, a temperatura, a profundidade e o fluxo da água. Estes factores
afectam directamente o teor de oxigénio dissolvido, os depósitos de calcário e a
contaminação marinha, que influenciam a taxa de corrosão e, consequentemente, os
requisitos da protecção catódica. A corrente catódica é considerada como
proporcional à taxa de difusão de oxigénio dissolvido no substrato de aço. Então, os
requisitos de densidade de corrente aumentam com o aumento das correntes do mar,
e decrescem com o aumento da salinidade, dos depósitos de calcário e da
contaminação marinha. A temperatura, profundidade e pH têm efeitos complexos na
limitação dos requisitos de densidade de corrente para a protecção catódica.
Cada situação prática é abordada por diferentes normas, que fornecem
recomendações e orientações. Por exemplo, a norma EN 13174:2001 [47] fornece
orientação para a protecção catódica em instalações portuárias. A Tabela 10 fornece
os valores orientadores das densidades de corrente para a protecção do aço.
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
A protecção catódica pode ser alcançada tanto por ânodos com corrente imposta ou
por ânodos de sacrifício ou galvânicos (Figura 59). A protecção catódica por ânodos
com corrente imposta consiste no fornecimento da corrente de protecção por uma
fonte externa de energia, em conjunto com a utilização de ânodos relativamente
inertes. A protecção catódica por ânodos de sacrifício consiste na utilização de um
metal menos nobre, com um potencial de corrosão mais negativo que o do aço, e.g.
alumínio, zinco, ligas de magnésio. Uma outra forma de proporcionar protecção
catódica é através de sistemas híbridos, que incluem ânodos com corrente imposta e
galvânicos.
(a) (b)
Figura 59 Representação dos sistemas de protecção catódica em água do mar: (a) galvânico;
(b) corrente imposta (adaptado de [46])
Os ânodos com corrente imposta podem ter uma configuração distribuída ou contínua,
com os ânodos colocados, respectivamente, em pequenos intervalos ao longo da
estrutura ou num aterro com enchimento de grafite contínuo com intervalos
adequados. De acordo com a norma EN 14505:2005 [45], os ânodos com corrente
imposta contínuos proporcionam uma distribuição de corrente uniforme ao longo da
estrutura, com menos consumo de corrente e necessidade de produção de voltagem.
Este tipo de protecção catódica normalmente evita problemas de interferência na
distribuição da corrente de protecção.
Nos sistemas de ânodos de sacrifício, a produção de voltagem resulta da diferença de
potencial entre os dois metais, que produzem uma célula galvânica quando estão
ligados um ao outro num electrólito. Esta ligação induz a corrosão do metal mais activo
e protecção do mais nobre, onde o ânodo é o material menos nobre, que é consumido
na interacção galvânica, e o metal estrutural, com o potencial mais positivo, é o
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
70 | P á g i n a
Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Tabela 11 Vantagens e desvantagens dos sistemas de protecção catódica com ânodos com
corrente imposta e ânodos de sacríficio
Sistemas de protecção catódica
Ânodos com corrente imposta Ânodos de sacrifício
Variação alta de produção de energia e Não necessitam de fontes de energia
corrente. externas.
Fácil instalação.
Níveis de protecção controláveis.
Robustez.
Vantagens
Improvável interferência de
Áreas amplas de protecção.
estruturas alheias.
Baixa manutenção.
Necessidade de um número reduzido de Auto regulação.
ânodos, mesmo em ambientes com alta
Distribuição de potencial
resistência.
relativamente uniforme, sem risco de
sobreprotecção.
Risco maior de causar interferência em Produção de energia e corrente
estruturas alheias. limitada.
Mais requisitos de manutenção.
Aplicação inviável em ambientes com
Desvantagens
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(a) (b)
Figura 60 Aplicação de um revestimento por pintura: (a) por pincel; (b) por projecção (cedidas por
REFER)
.
Dentro do contexto dos revestimentos de tinta, convém definir bem os seguintes dois
termos, a tinta e o revestimento de tinta. A tinta é definida como o material líquido e o
revestimento de tinta é a película protectora que se forma após a secagem. As tintas
são normalmente constituídas por ligantes, pigmentos e solventes, enquanto a película
de protecção é formada através da evaporação do solvente e da conversão do ligante
numa película de tinta sólida. A tinta também pode ter outros constituintes, e.g.
diluentes e aditivos, dependendo das propriedades exigidas. De modo a preservar
estas propriedades, devem ser escolhidas técnicas de aplicação apropriadas.
Todos os revestimentos orgânicos devem proporcionar um bom desempenho após a
preparação da superfície com o critério de limpeza especificado. Em algumas casos, a
preparação da superfície é muito dispendiosa e/ou difícil de executar. Tal situação
levou ao desenvolvimento de um novo tipo de revestimento, tolerante à superfície.
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Esquemas de pintura
A protecção das estruturas em aço é geralmente assegurada pela aplicação de várias
camadas de tinta, que desempenham um papel específico e formam um esquema de
pintura: a primeira camada ou o primário, a(s) camada(s) intermédia(s) e o camada
final ou de acabamento.
O primário é aplicado ao substrato e tem como função “molhar” a superfície e
proporcionar uma boa adesão do esquema de pintura ao substrato de aço. A norma
EN ISO 12944-5:2007 [49] define dois tipos de primário:
Primários ricos em zinco – contêm pigmentos de pó de zinco, com uma
percentagem de voláteis igual ou superior a 80% em massa. O pigmento pó de
zinco deve estar em conformidade com a norma EN ISO 3549:2002 [50] e o seu
conteúdo pode ser determinado por um método descrito na ASTM D 2371 [51].
Outros primários – contêm pigmentos de zinco ou outros anticorrosivos, com
uma percentagem de voláteis inferior a 80% em massa. Devido a razões de
saúde e segurança, não devem ser utilizados cromato de zinco, chumbo
vermelho e plumbato de cálcio.
O anexo A da norma EN ISO 12944-5:2007 [49] pode ser consultado para mais
informações sobre a selecção adequada do tipo de primário. O anexo B da mesma
norma também fornece informação sobre um outro tipo de primário, o primário
aplicado em fábrica. As camadas intermédias de tinta são utilizadas para aumentar a
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tipo de revestimento pode ser aplicado em aço carbono e em aço de liga baixa de alta
resistência ou não.
Relativamente aos revestimentos de alumínio, só são apropriados para aplicação por
projecção térmica. De acordo com alguns ensaios, nomeadamente imersão
subaquática de revestimentos de zinco e de alumínio, apresentados em Bayliss et al.
[48]
, os revestimentos de alumínio oferecem uma vida livre de manutenção mais longa
do que os revestimentos de zinco. Após 19 anos, embora com alguma corrosão, os
revestimentos de alumínio ainda proporcionavam alguma protecção, ao contrário dos
de zinco.
A classificação dos revestimentos metálicos não é efectuada apenas pelo tipo de metal
mas também pelo método de aplicação. Os métodos utilizados na aplicação de
revestimentos metálicos são:
Galvanização por imersão a quente;
Metalização por projecção térmica;
Electrodeposição;
Sherardização.
Os revestimentos galvanizados por imersão a quente são adequados para alguns
elementos estruturais, dependendo da dimensão, sendo geralmente utilizado o zinco,
pois está normalizado e é menos dispendioso do que o alumínio, que proporciona uma
melhor protecção. A norma EN ISO 14713-2 [52] apresenta recomendações para a
aplicação de revestimentos com este tipo de método e, no seu anexo A, são descritos
vários tipos de pormenorização. A norma EN ISO 10684:2005 [53] também fornece
informação relativamente à galvanização por imersão a quente de elementos de
ligação.
Os revestimentos metalizados por projecção térmica são aplicados a elementos
estruturais e os metais utilizados são o zinco, o alumínio ou suas ligas. O processo de
projecção térmica consiste na formação do revestimento através da fundição de um
largo número de partículas de metal fornecidas por um fio metálico, que é fornecido
por ar ou gás e projectado por um bocal na superfície de aço. Neste processo, não são
formadas camadas de ligas, como na galvanização por imersão a quente. Este método
de aplicação de revestimentos metálicos é o único que pode ser aplicado in situ.
Os revestimentos metálicos aplicados por projecção térmica devem ser selados, de
modo a reduzir a sua porosidade. Pode-se utilizar selantes especialmente formulados
ou uma fina camada de pintura adequada. Uma outra forma é a selagem natural, que
pode ser obtida através da oxidação do revestimento metálico. Este processo ocorre
sob determinadas condições ambientais, assim como a selagem artificial, através de
conversão química. De acordo com Bayliss et al. [48], os tipos de selante mais comuns
são soluções de cloreto de vinil/copolímeros de acetato, de um componente, e
selantes epóxi de dois componentes ou de uretano.
A electrodeposição, também designada por galvanoplastia, é utilizada para
componentes e elementos de dimensão reduzida, tais como elementos de ligação.
O zinco é o metal de revestimento mais utilizado por este método, seguido pelo
alumínio, mas o cádmio também pode ser utilizado em alguns tipos de ambiente.
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Vantagens Desvantagens
Aplicação directa e facilmente
controlável. Difícil execução quando é exigido
Durabilidade fácil de prever e raramente pintura.
ocorrem falhas prematuras.
Maior resistência a danos e Difícil execução de soldadura com
Revestimentos metálicos
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A acessibilidade e os requisitos devem ser muito bem considerados para todos os tipos
de revestimentos. Deve ser dada preferência a revestimentos que não exigem
procedimentos complexos, tais como decapagem por projecção de abrasivos. O grau
de exigência do revestimento depende da importância da estrutura e, em algumas
situações, a aparência também pode ser importante. A manutenção geral pode ser
afectada pela necessidade de manter um certo tipo de aparência da estrutura.
Outro factor importante na selecção de um sistema de protecção é o custo. O custo
deste sistema compreende o custo inicial e o de manutenção, durante o tempo de vida
projectado para a estrutura. Durante a utilização da estrutura, o custo da manutenção
pode-se alterar devido a novos requisitos, e.g. reforço da estrutura. Neste caso, pode
ser necessária uma reavaliação completa da estrutura, de modo a aproveitar qualquer
novo desenvolvimento na tecnologia dos sistemas de protecção. Uma avaliação
económica é muito difícil de realizar, mas um especialista em revestimentos deve ter a
capacidade de levar a cabo uma avaliação razoável do custo total do sistema de
protecção ou, pelo menos, uma avaliação rigorosa do custo inicial. Os principais custos
a considerar são:
Preparação de superfície;
Material de revestimento;
Aplicação do revestimento;
Outras despesas.
No caso dos esquemas de pintura, o custo da preparação de superfície e do material
de revestimento é facilmente calculado. As outras despesas referem-se a custos de
ferramentas, equipamentos, supervisão, administração, escoramento, atrasos e
interrupções.
O custo da preparação de superfície depende da condição da superfície. A Tabela 13
mostra alguns exemplos da preparação de superfície exigida para atingir determinado
grau, de acordo com a condição inicial da superfície. Para superfícies com corrosão e
ferrugem, o custo aumenta, pois normalmente é necessário decapagem química.
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Espessura Aplicação em
Preparação de Custo
Sistema de protecção b estaleiro ou in
superfície a [µm] comparativo
situ
Fosfato de zinco/alquídica 35
LM PE Fosfato de zinco/alquídica 75 in situ χ
PE alquídica 60
Primário projectado 20 Estaleiro
PA Sa2½ PE Fosfato de zinco/alquídica 60 Estaleiro 1,25 χ
PE alquídica 60 in situ
Epóxi rico em zinco de dois
25 Estaleiro
componentes
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Borracha clorada
Adequação
Silicato de zinco
Poli (cloreto de
Combinação
Poliuretano,
Poliuretano,
aromático
Alquídicas
alifático
B Boa
Acrílica
epóxi
Epóxi
vinil)
etil
L Limitada
P Pobre
Não (PUR, (PUR,
Nr (PVC) (CR) (AY) (AK) (ESI) (EP) (EPC)
relevante aromático) alifático)
Retenção de lustro L L L L P B Nr P P
Retenção de cor L L B L P B Nr P P
Resistência aos
químicos:
Imersão aquática L B L P L P L B B
Chuva /
B B B L B L B B B
Condensação
Solventes P P P L B L B B L
Solventes
P P P B B B B B B
(salpicos)
Ácidos L B L L B L P L B
Ácidos (salpicos) B B L L B B P B B
Álcalis L L L L L L P B B
Álcalis (salpicos) B B L L B B P B B
Resistência ao
calor seco:
Até 70C P P L B B B B B B
70C a 120C Nr Nr L B B B B B L
120C a 150C Nr Nr L P L P B L L
150C a 400C Nr Nr Nr Nr Nr Nr B Nr Nr
Propriedades
físicas:
Resistência à
P P P L B L B B L
abrasão
Resistência ao
L L L L B L L B L
impacto
Flexibilidade B B B L L B P L L
Dureza L L L B B L B B B
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1º Revestimento de tinta
Borracha Combinação
Betume Vinil Alquídica Epóxi Poliuretano
clorada Epóxi
Betume Pb Nr Nr Nr Nr Nr Nr
Vinil Nr Pb Nr Nr Pb Pb e/ou As Pb
2º Revestimento de tinta
Borracha
Nr Pb Pb Rf Pb Pb e/ou As Pb
clorada
Alquídico Nr Nr Nr Pb Pb Pb e/ou As Pb
Epóxi Nr Nr Nr Nr Pb Pb e/ou As Nr
Combinação
Nr Nr Nr Nr Pb Pb Nr
Epóxi
Poliuretano Nr Nr Nr Nr Pb Pb e/ou As Pb
Pb – Provavelmente boa
Nr – Não recomendada
Rf – Resulta em fissuras
As – Adesão satisfatória, mas a aparência é afectada por bleeding
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Tabela 18 Procedimentos para remoção de camadas exteriores e matéria estranha (adaptado de [79])
Matéria a ser
Procedimento Notas 1)
removida
Água fresca com adição de detergentes.
Limpeza com água Pode ser utilizada pressão (< 70 MPa).
Lavagem final com água fresca.
Água fresca.
Limpeza com vapor
Se forem utilizados detergentes, lavagem final com
água fresca.
Gordura e óleo Limpeza por emulsão Lavagem final com água fresca.
Quando são utilizadas soluções alcalinas fortes, o
alumínio, zinco ou outros metais de revestimento
Limpeza alcalina podem ser susceptíveis à corrosão.
Lavagem final com água fresca.
Muitos solventes orgânicos são prejudiciais à saúde.
Limpeza com solventes
orgânicos Se forem utilizados panos, estes devem ser
substituídos frequentemente.
Água fresca com adição de detergentes.
Limpeza com água
Pode ser utilizada pressão (< 70 MPa).
Contaminantes Limpeza com vapor Lavagem com água fresca.
solúveis em água,
Quando são utilizadas soluções alcalinas fortes, o
e.g. sal alumínio, zinco ou outros metais de revestimento
Limpeza alcalina
podem ser susceptíveis à corrosão.
Lavagem final com água fresca.
Este processo normalmente não é realizado em obra.
Decapagem com ácidos
Lavagem final com água fresca.
Decapagem por
Devem ser removidos todas as poeiras e depósitos de
projecção seca de
resíduos soltos por jacto de ar seco ou por aspiração.
abrasivos
Óxidos Decapagem por
projecção húmida de Lavagem final com água fresca.
abrasivos
É necessária limpeza por ferramentas mecânicas para
Limpeza por chama remover resíduos de processos de combustão,
seguida da remoção de poeiras e depósitos de
resíduos soltos.
Mesmos procedimentos
que para os óxidos, mais:
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Tabela 18 Procedimentos para remoção de camadas exteriores e matéria estranha (adaptado de [79])
(continuação)
Matéria a ser
Procedimento Notas 1)
removida
Pastas à base de solventes para revestimentos
sensíveis a solventes orgânicos.
Decapagem
Os resíduos devem ser removidos por lavagem com
solventes.
Decapagem por Pastasser
alcalinas para todas
revestimentos
Devem removidos as poeirassaponificáveis.
e depósitos de
projecção seca de resíduos
abrasivos Lavagem final profunda com jacto de por
soltos por jacto de ar seco ou águaaspiração.
fresca.
Decapagem por A remoção total do revestimento não é permitida em
projecção húmida de Lavagem finalreduzidas.
áreas com água fresca.
Esquemas de pintura abrasivos
Para remoção de revestimentos orgânicos com uma
adesão pobre.
Hidrodecapagem
Para revestimentos com uma boa adesão, pode-se
utilizar limpeza com pressão ultra alta (> 170 MPa).
Decapagem por Para dar rugosidade a revestimentos ou remoção da
projecção dispersa de ar camada exterior.
Decapagem por
projecção localizada de Para remoção localizada de revestimentos.
ar
Decapagem por Quando aplicada em zinco, pode ser adicionado óxido
projecção dispersa de ar de alumínio, silicatos ou areia olivina.
Produtos de corrosão
Para corrosão localizada no zinco, pode ser utilizada
de zinco
uma solução de amónia de 5% (m/m) com abrasivos
Limpeza alcalina
embutidos.
Com um pH alto, o zinco é susceptível à corrosão.
1)
Quando é necessário lavar com jacto de água e secagem, as estruturas aparafusadas e rebitadas
devem ser tratadas com cuidado especial.
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A norma NP EN ISO 8504-1:2003 [58] contém os princípios gerais que devem ser
utilizados na selecção do método de preparação da superfície mais adequado. De
acordo com esta norma, a selecção do método de preparação de superfície depende
dos seguintes factores:
Condição da superfície;
Exequibilidade, e.g. condições de operação;
Preparação de superfície completa ou parcial;
Grau de preparação exigido ou especificado;
Sistema de revestimento a aplicar;
Custo;
Outros requisitos particulares, e.g. perfil da superfície.
Quando é especificada a decapagem por projecção de abrasivos, é necessário escolher
um tipo de abrasivo adequado. O tipo de abrasivo é muito importante para atingir a
condição de superfície especificada e devem ser realizados ensaios preliminares para
identificar o mais eficaz. A selecção do abrasivo deve considerar a influência da
dimensão da partícula no perfil da superfície e a utilização de uma mistura equilibrada
de tamanhos, de modo a produzir uma condição de superfície optimizada. A norma NP
EN ISO 8504-1:2003 [58] fornece os parâmetros a considerar na selecção de um
abrasivo, nomeadamente:
Subgrupo e tipo de composição química;
Variação da dimensão da partícula;
Dureza da partícula.
A norma NP EN ISO 12944-4:1999 [79] divide os vários tipos de superfície a preparar da
seguinte forma:
i. Superfícies sem revestimento – Aço nu, coberto ou não com óxidos, ferrugem ou
outros contaminantes;
ii. Superfícies com revestimentos metálicos:
Galvanizados por imersão a quente:
Superfícies sem alteração por acção atmosférica e biológica – Aplicação de
decapagem por projecção dispersa com jacto de ar (sweep blast-cleaning)
usando abrasivos não metálicos ou outro tratamento, de acordo com a
especificação. A superfície preparada deve estar livre de danos mecânicos
e contaminantes aderentes e inclusos. A rugosidade da superfície e a
espessura mínima do revestimento de zinco deve estar de acordo com a
especificação.
Superfícies com alteração por acção atmosférica e biológica – Neste tipo de
superfície, normalmente ocorre a formação de produtos de corrosão,
assim como a acumulação de contaminantes. A limpeza pode ser realizada
com água quente ou pressurizada, a vapor, por decapagem por projecção
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Pontes metálicas em ambiente marítimo: Metodologias de avaliação, reparação e protecção 2010
Condição da superfície
Camadas finais com mau aspecto devido a desbotamento, pulverulência,
1 possível fissuração reduzida, sem ferrugem visível ou deterioração do
substrato.
Similar à condição 1, mas com ferrugem visível em áreas vulneráveis, e.g.
2
áreas com retenção de água.
Com ferrugem localizada, normalmente causada por uma espessura
3
inadequada da pintura.
Com empolamento, fissuração ou descamação até ao substrato,
4
aparentemente aleatória.
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também é necessário assegurar que a pintura existente tem qualidade suficiente para
resistir ao tratamento exigido para a adesão da nova pintura à antiga. Na condição de
superfície 3, o esquema de pintura não é necessariamente prejudicado pela corrosão,
e lavagem ou escovagem com abrasão podem ser suficientes para preparar a
superfície. Finalmente, em relação à condição de superfície 4, normalmente é
necessário limpar até ao substrato, preferencialmente com jacto de água de pressão
ultra alta ou decapagem por projecção húmida de abrasivos.
A manutenção de revestimentos metálicos é normalmente realizada com pintura. Aço
galvanizado por imersão a quente pode ser utilizado sem pintura, mas é preferível a
sua aplicação antes da ocorrência de ferrugem na superfície. Em caso de presença
significante de ferrugem no aço galvanizado, deve ser utilizada a decapagem por
projecção de abrasivos. No entanto, se não tiver ferrugem, a remoção de toda a
pintura solta é suficiente. No caso de áreas reduzidas com degradação do
revestimento, o tratamento pode ser realizado com ferramentas mecânicas de
esmerilamento. Relativamente a aço protegido com revestimento metálico produzido
por sherardização, o tratamento deve ser o mesmo do aço galvanizado.
A Tabela 20 fornece informação importante a considerar antes da elaboração de uma
especificação para a preparação de superfície.
Tipo de
Informação
superfície
Tipo de aço e sua espessura
Sem Grau de ferrugem, avaliado de acordo com a norma EN ISO 8501-
revestimento 1:2007 [61], com detalhes relevantes
Detalhes suplementares
Tipo, espessura aproximada, condição e idade do revestimento ou
sistema de revestimento
Grau de ferrugem, avaliado de acordo com a norma NP EN ISO
4628-3:2005 [81], com detalhes relevantes sobre ferrugem sob
revestimento aparente
Com
revestimento Grau de fissuração, avaliado de acordo com a norma NP EN ISO
4628-4:2005 [82]
Grau de descamação, avaliado de acordo com a norma NP EN ISO
4628-5:2005 [83]
Detalhes suplementares
A Tabela 21 mostra os graus de ferrugem definidos pela norma EN ISO 8501-1:2007 [61].
A preparação de superfície deve ser realizada o mais breve possível para os graus de
ferrugem A e B e, em caso de tratamento manual, também para C. Em seguida, deve
ser aplicado um primário adequado.
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7. Conclusões e sugestões
7.1 Considerações finais e conclusões do estudo
Muitas pontes metálicas são um testemunho vivo de acontecimentos importantes, que
estão directamente relacionados com o desenvolvimento tecnológico e industrial e a
evolução da nossa história. Este facto, aliado às vantagens económicas da
reparação/reforço e às novas exigências de sustentabilidade ambiental e de
construção, torna recomendável continuar a preservar este legado histórico para
gerações futuras.
As pontes metálicas podem apresentar uma boa durabilidade, como é possível
verificar em pontes com mais de um século que continuam no activo. No entanto, é
essencial uma manutenção periódica, com a adopção de métodos adequados de
avaliação, reparação e protecção.
Uma das vantagens da construção metálica é o facto do material estrutural estar à
vista, tornando mais fácil a avaliação de possíveis danos através de métodos directos,
tais como a inspecção visual. O desenvolvimento avançado de métodos não
destrutivos também permite um diagnóstico mais correcto e consequente adopção
atempada de medidas de correcção adequadas.
A reparação de estruturas metálicas está muito dependente da experiência dos
engenheiros e técnicos de manutenção e da transmissão desse conhecimento. Esta
situação pode ser verificada através de alguma falta de informação sobre normas
europeias que têm vindo a ser desenvolvidas nesta área. Por esta razão, todos os
trabalhos de compilação da informação existente são muito importantes, de modo a
ser possível elaborar manuais que, eventualmente, sirvam de base a esta
normalização. Este é um dos objectivos do Projecto DURATINET ‒ Durable Transport
Infrastructures in the Atlantic Area Network (http://www.duratinet.org/), no âmbito
do qual foi desenvolvida esta dissertação.
O primeiro sistema de protecção contra corrosão a ser utilizado nas pontes metálicas
foi a pintura com tintas à base de chumbo, proporcionando uma protecção excelente
contra corrosão e garantindo uma longa durabilidade do material destas estruturas.
No entanto, este tipo de pintura tem consequências nefastas ao ambiente e à saúde
pública e foi gradualmente substituído por outros sistemas. Infelizmente, a maioria
destes sistemas apresenta menos vantagens, principalmente na relação de capacidade
protectora/custo.
Actualmente são utilizados aços designados como de elevado desempenho, com
características optimizadas ao nível da resistência, soldabilidade e de protecção contra
a corrosão atmosférica. Alguns destes materiais são muito interessantes, devido à não
exigência de sistemas de protecção, como, por exemplo, os aços patináveis
(weathering steel), que no entanto não são aconselhados para ambientes agressivos.
Relativamente à sustentabilidade da construção metálica, temos como principal
constituinte do aço o ferro, um elemento que existe em grande quantidade na crosta
terrestre e que é totalmente reciclável.
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8. Referênciasias
[1] http://en.structurae.de/index.cfm
[2] M. R. F. Martins, M. T. P. Torres, P. C. M. Freire. Pontes Metálicas Rodoviárias.
Europress, Editores e Distribuidores de Publicações, Lda. MEPAT. SEOP, Junta
Autónoma de Estradas. 1998.
[3] J. D. de Andrade Gil. Pontes Metálicas Ferroviárias. Artigo apresentado no
Encontro Nacional de Construção Metálica e Mista.
[4] H. Perneta, M.J. Correia, A.M. Baptista, M. Salta. Artigo apresentado no
REABILITAR 2010 – Encontro Nacional de Conservação e Reabilitação de
Estruturas.
[5] A. Baptista, B. Tersin. La rehabilitation des structures métalliques. Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, Lisboa. CUST. Université Blaise Pascal, Clermont-
Ferrand, France.
[6] Hélder Carita. Homem Cardoso. Pontes em Portugal. SECIL.
[7] EN 12500:2000. Protection of metallic materials against corrosion. Corrosion
likelihood in atmospheric environment. Classification, determination and
estimation of corrosivity of atmospheric environments.
[8] ISO 9223:1992. Corrosion of metals and alloys. Corrosivity of atmospheres.
Classification.
[9] NP EN ISO 12944-2:1999 . Tintas e vernizes. Protecção anticorrosiva de estruturas
de aço por esquemas de pintura. Parte 2: Classificação de ambientes (ISO 12944-
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[10] B. Kühn, M. Lukid, A. Nussbaumer, H.-P. Günther, R. Helmerich, S. Herion, M.H.
Kolstein, S. Walbridge, B. Androic, O. Dijkstra, Ö. Bucak. Assessment of Existing
Steel Structures: Recommendations for Estimation of Remaining Fatigue Life. JRC
Scientific and Technical Reports. Ed. by G. Sedlacek, F. Bijlaard, M. Géradin, A.
Pinto and S. Dimova. Joint Research Center, European Comission. First Edition,
February 2008.
[11] NP EN 1993-1-9:2010. Eurocódigo 3 - Projecto de estruturas de aço. Parte 1-9:
Fadiga.
[12] Defects in railway bridges and procedures for maintenance. UIC Code 778-4 R. 1st
Edition, 01.07.1989.
[13] NP EN ISO 4628-1:2005. Tintas e vernizes. Avaliação da degradação de
revestimentos. Designação da quantidade e dimensão de defeitos e da
intensidade das alterações uniformes de aspecto. Parte 1: Introdução geral e
sistema de designação (ISO 4628-1:2003).
[14] NP EN ISO 4628-2:2005. Tintas e vernizes. Avaliação da degradação de
revestimentos. Designação da quantidade e dimensão de defeitos e da
intensidade das alterações uniformes de aspecto. Parte 2: Avaliação do grau de
empolamento (ISO 4628-2:2003).
[15] NP EN ISO 4628-3:2005. Tintas e vernizes. Avaliação da degradação de
revestimentos. Designação da quantidade e dimensão de defeitos e da
intensidade das alterações uniformes de aspecto. Parte 3: Avaliação do grau de
enferrujamento (ISO 4628-3:2003).
[16] NP EN ISO 4628-4:2005. Tintas e vernizes. Avaliação da degradação de
revestimentos. Designação da quantidade e dimensão de defeitos e da
intensidade das alterações uniformes de aspecto. Parte 4: Avaliação do grau de
fissuração (ISO 4628-4:2003).
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metálicos para decapagem por projecção. Parte 8: Areia de olivina (ISO 11126-
8:1993).
[97] EN ISO 11126-9:2004. Preparation of steel substrates before application of paints
and related products. Specifications for non-metallic blast-cleaning abrasives. Part
9: Staurolite (ISO 11126-9:1999).
[98] NP ISO 11126-10:2003. Preparação de substratos de aço antes da aplicação de
tintas e produtos similares. Especificação de abrasivos não metálicos para
decapagem por projecção. Parte 10: Granada almandite (ISO 11126-10:2000).
[99] NP ISO 11126-10:2003/Errata Set:2004. Preparação de substratos de aço antes
da aplicação de tintas e produtos similares. Especificação de abrasivos não
metálicos para decapagem por projecção. Parte 10: Granada almandite (ISO
11126-10:2000).
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