Aula de Livros - Clara Dos Anjos, Lima Barreto
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EXERCÍCIOS
01. (UFPR) No romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, o narrador a) Clara dos Anjos é um romance memorialístico, no qual os
tece considerações generalizantes a respeito da sociedade de sua acontecimentos rememorados permitem compreender a origem da
época, ao mesmo tempo em que narra a vida da protagonista, de sua família da protagonista; Fogo Morto é um romance intimista que dá a
família e a malandragem de Cassi Jones. conhecer a vida de um núcleo familiar aristocrático ao longo da
A respeito de aspectos da construção de Clara ou de fatos de que ela década de 1930.
participa, assinale a alternativa correta. b) Os pontos de vista narrativos desses romances diferem um do
outro, porque, em Clara dos Anjos, o narrador participa da trama
a) A afirmação “é próprio do nosso pequeno povo fazer uma como personagem, narrando acontecimentos de que participou,
extravagante amálgama de religiões e crenças de toda a sorte, e enquanto, em Fogo Morto, o narrador é onisciente, dedicando-se a
socorrer-se desta ou daquela, conforme os transes e momentâneas investigar a alma dos personagens.
agruras de sua existência” (capítulo I) explica a frequência de Clara a c) Nos dois romances, as mulheres pobres não recebem educação
igrejas e templos de diferentes religiões. formal e são submetidas a uma rotina de violência familiar. Seu
b) A frase “A gente pobre é difícil de se suportar mutuamente; por destino é o enlouquecimento, como acontece com Marta e Neném em
qualquer ninharia, encontrando ponto de honra, brigando, Fogo Morto, ou a insubmissão, como acontece com Clara dos Anjos,
especialmente as mulheres” (capítulo VII) alude às provocações que que abandona a casa dos pais.
Clara desferia contra suas vizinhas. d) Nos dois romances, a cultura popular aparece representada pela
c) A ponderação “Cada um de nós, por mais humilde que seja, tem música, que agrada a diferentes personagens: em Clara dos Anjos, a
que meditar, durante a sua vida, sobre o angustioso mistério da Morte, modinha aproxima Cassi Jones da família de Clara; em Fogo Morto,
para poder responder cabalmente, se o tivermos que o fazer, sobre o as histórias cantadas por José Passarinho ecoam o sofrimento dos
emprego que demos a nossa existência” (capítulo VIII) refere-se à personagens.
cena da morte de Clara. e) Nos dois romances, observa-se a geografia suburbana, com favelas
d) O comentário “O seu ideal na vida não era adquirir uma construídas em torno da linha férrea, com aglomerados humanos
personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro miscigenados e também com o subemprego dos personagens, como o
marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, carteiro Joaquim dos Anjos e o seleiro José Amaro.
quando casada. Não imaginava as catástrofes imprevistas da vida”
(capítulo VIII) prenuncia as dificuldades que Clara enfrentou no seu 03. (UFU)
casamento com Cassi. A muito custo, devido às insistências de Dona Margarida, consentira
e) A análise “A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era em ajudá-la nos bordados, trabalhados para fora, com o que ia
errônea. Ela devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua ganhando algum dinheiro. Não que ela fosse vadia, ao contrário, mas
honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigos, mas isto tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos.
ao vivo, com exemplos, claramente...” (capítulo X) denuncia a frágil Parecia tolo a uma moça ou a uma mulher.
educação recebida por Clara como responsável pelo seu destino. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro,
s/d, p.72.
02. (UFPR) A respeito dos romances Clara dos Anjos, de Lima
Barreto, e Fogo Morto, de José Lins do Rego, assinale a alternativa Em relação às personagens D. Margarida e Clara, é correto afirmar
correta. que:
a) Dona Margarida é caracterizada, no romance, como alguém 06. (UFPR) Considere o seguinte trecho do romance Clara dos Anjos,
indiferente aos sofrimentos de Clara dos Anjos, tornando-se, a cada de Lima Barreto:
dia, uma triste senhora, muito apática e distante dos compromissos e
dos relacionamentos familiares. Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande
b) Dona Margarida, sogra de Clara dos Anjos, sempre se compadeceu parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os
da nora, menina simples e pobre, tratando, desde sempre, de ajudá-la olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras
financeiramente, ensinando-a ganhar seu próprio dinheiro com inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro.
pequenos trabalhos de agulha. (Clara dos Anjos, p. 38.)
c) Dona Margarida, personagem secundária do enredo de Lima
Barreto, tem enorme influência no desenvolvimento emocional e Com base no trecho selecionado e na leitura integral do romance
psíquico de Clara dos Anjos, incentivando-a, inclusive, a se casar com Clara dos Anjos, de Lima Barreto, assinale a alternativa correta.
o aventureiro Cassi Jones. a) O narrador é imparcial ao descrever os cenários do subúrbio e de
d) Dona Margarida pode ser considerada uma personagem oposta à outros pontos da cidade, demonstrando neutralidade na constatação
protagonista Clara dos Anjos, uma vez que é uma mulher mais das diferenças entre as regiões.
objetiva e pragmática frente à vida, menos sonhadora e mais realista b) O subúrbio é descrito ora de modo realista, ora de modo idealizado,
diante dos relacionamentos humanos. contribuindo para a construção de uma visão, por vezes, romantizada
da pobreza.
Leia o trecho a seguir: c) O narrador disseca com rigor quase sociológico os problemas
Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que políticos da época, citando fatos e personagens históricos reais que se
tinha presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção misturam à narrativa.
exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida d) O romance apresenta o ambiente do subúrbio aliando a descrição
irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos pormenorizada do espaço físico à caracterização dos personagens que
da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça o habitam.
como as outras; era muito menos no conceito de todos. Bem fazia e) Os vários bairros e personagens que estão nos arredores da linha
adivinhar isso, seu padrinho! Coitado!... férrea do trem urbano são descritos como um conjunto indiferenciado,
A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea. Ela como se cada bairro não tivesse sua característica própria.
devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de
moça e de mulher tinha todos por inimigos, mas isto ao vivo, com Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima
exemplos, claramente... O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles Barreto, e responda às questões de 07 a 10.
homens e mulheres... Não haveria um talvez, entre toda aquela gente
de ambos os sexos, que não fosse indiferente à sua desgraça... Ora, Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo
uma mulatinha, filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela de Sant’Ana, no meio da multidão que jorrava das portas da Catedral,
como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que
como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os
e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama
ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no
fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de
elas o admitiam... Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o
Chegaram em casa; Joaquim ainda não tinha vindo. Dona que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central,
Margarida relatou a entrevista, por entre o choro e os soluços da filha acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-
e da mãe. se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles “caras”
Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se todos, que nem o olhavam. [...]
sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de
acento de desespero: — Mamãe! Mamãe! inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes
— Que é minha filha? a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias;
— Nós não somos nada nesta vida. em face da sofreguidão com que liam os placards dos jornais, tratando
de assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não
04. Lima Barreto, autor pré-modernista, apresenta inovações estéticas suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses
ao lado de elementos conservados de movimentos anteriores. A pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o
leitura do trecho do romance Clara dos Anjos nos permite verificar nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que
que o autor apresenta como inovação temática: lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no
A) O protagonismo do excluído, representado por Clara, retratada, Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele
embora de forma determinista, com suas subjetividades. conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez
B) As descrições horrendas expressionistas presentes nas referências e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade
desrespeitosas dos passageiros do bonde. de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa
C) A personificação do ambiente, presente na imagem do bonde, alguma.
representação metonímica dos passageiros que a olhavam. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p. 130-
D) Os diálogos vazios de reflexão, típicos de uma abordagem 131.
dadaísta, preocupada em definir e não em criticar.
E) A idealização da raça, uma vez que está presente na obra uma ideia, 07. (UEL) Assinale a alternativa correta quanto à posição do narrador.
a defesa de uma tese sobre negras e mulatas. a) O narrador mostra-se compadecido da situação de Cassi Jones, que
é focalizado, tal qual Clara dos Anjos, como uma vítima indefesa das
05. Lima Barreto é amplamente reconhecido por suas duras críticas perversidades sociais que deixam de reconhecer os talentos dos
ao preconceito racial. Assinale a alternativa em que o trecho suburbanos.
destacado do texto retrata teor crítico de sua escritura em relação ao b) O narrador ressalta como Cassi Jones estava também sujeito às
olhar lançado pela sociedade às mulheres mulatas e negras: hostilidades sociais suficientemente fortes para submetê-lo a conflitos
A) “A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea”. íntimos, arrependimentos e remorsos tão próximos da infâmia sentida
B) “Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia por Clara ao final do romance.
com que elas o admitiam...”. c) O narrador antecipa, nessa passagem, o processo de redenção de
C) “Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que Cassi Jones, que, ao se aperceber do desdém que o rebaixava, inicia
tinha presenciado e no vexame que sofrera”. uma nova trajetória em busca do perdão de Clara dos Anjos e da
D) “O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles homens e mulheres...”. correção de seus deslizes morais.
E) “Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se d) O narrador demonstra-se solidário com o sentimento de Cassi
sentara e abraçou muito fortemente sua mãe”. Jones, por ser o violeiro objeto de exclusão naquela área mais
sofisticada da cidade, o que conduz à identificação de afinidades entre IV. Cassi, ao compreender a complexidade das injustiças sociais que
narrador e personagem seja no plano artístico seja no plano moral. se abatem contra ele e os demais suburbanos, acirra o espírito
e) O narrador flagra Cassi Jones no momento em que constata o combativo, assim como os heróis modernistas.
sentimento de se ver deslocado naquela região da cidade, tão
contrastante com o prestígio, com o reconhecimento e com as Assinale a alternativa correta.
vantagens usufruídas pela personagem no subúrbio. a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
08. (UEL) Sobre as referências aos termos “fama” e “personalidade”, c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
que aparecem duas vezes cada um no fragmento, assinale a alternativa d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
correta. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
a) O apego à fama evidencia que Cassi era inocente em sua vida
amorosa e que o conceito de si mesmo como um artista o eximia de 10. (UEL) Com base no trecho e no romance, considere as afirmativas
culpa nos relacionamentos com as moças virgens. a seguir.
b) As referências à personalidade de Cassi demonstram como a I. A frase “Não era nada” estabelece conexão entre Cassi e o desfecho
personagem era espontânea no subúrbio enquanto no centro da cidade vivido por Clara, embora os motivos dessas avaliações tenham
sobressaía sua artificialidade. graus de relevância e sentidos diferentes para cada personagem.
c) As alusões à fama correspondem à “rusticidade” atribuída pelo II. Clara e Cassi são superprotegidos por suas mães; contudo, Clara é
narrador aos modos com que a personagem circula pelos dois mantida em sua ingenuidade, sem exposição à realidade,
ambientes da cidade. enquanto Cassi é acobertado a cada maldade cometida.
d) A fama da personagem remete ao orgulho de seu desempenho III. O assassinato de Marramaque afeta Clara e Cassi sob perspectivas
social no subúrbio, o que lhe garantia, lá, imunidade à condição de diferentes: Clara sofre com a morte do padrinho, enquanto Cassi
“humilde” e “medíocre”. é o mentor daquele crime.
e) O termo “personalidade” significa que a determinação da IV. A ideia de “polidez” acentua diferenças entre Clara e Cassi:
personagem para preservar, longe do subúrbio, seus valores éticos era enquanto ele ostenta essa qualidade no subúrbio e no centro, ela,
a causa de seus infortúnios. como autêntica suburbana, é tosca, carente de lapidação.
09. (UEL) Com base no trecho e no romance, acerca das relações Assinale a alternativa correta.
entre personagens e os estilos de época, considere as afirmativas a a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
seguir. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
I. Clara, ao nutrir ilusões quanto às intenções amorosas de Cassi, c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
aproxima-se da condição sonhadora de personagens femininas d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
românticas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
II. Clara, ao entregar-se a Cassi e ao ceder às suas investidas sexuais,
exibe a dificuldade de resistir aos instintos, como ocorre com
personagens femininas naturalistas.
III. Cassi, ao recorrer a falsas promessas e fugir das responsabilidades
com Clara, destoa da caracterização afetiva e moral dos heróis
masculinos românticos.
GABARITO: 01. E. 02. D. 03. D. 04. A. 05. B. 06. D 07.E 08.D 09.D 10.D