2017 - Uapita, Afonso Francisco
2017 - Uapita, Afonso Francisco
2017 - Uapita, Afonso Francisco
Avaliação das práticas de uso racional da água potável no Bairro de Maxaquene “C” na
Cidade de Maputo
MONOGRAFIA
Avaliação das práticas de uso racional da água potável no Bairro de Maxaquene “C” na
Cidade de Maputo
Eu, Afonso Francisco Uapita, declaro por minha honra que esta monografia nunca foi
apresentada, na sua essência, para a obtenção de qualquer grau académico, e que a mesma
constitui o resultado da minha investigação pessoal, estando indicados ao longo do texto e
nas referências bibliográficas todas as fontes utilizadas.
_________________________________________
i
Afonso Francisco Uapita
Avaliação das práticas de uso racional da água potável no Bairro de Maxaquene “C” na
Cidade de Maputo
______________________________________________
ii
AGRADECIMENTOS
“Erkanka na Adonai...”
Te amo SENHOR.
Um agradecimento especial vai para a minha querida noiva Quina, verdadeira companheira
que em muito me apoiou para que o sonho se tornasse realidade, “Te amo Princesa”.
Agradeço à minha família em especial ao meu pai Zé Carlos pela responsabilidade; aos meus
irmãos Paulino, Eduardo, Sérgio e Minha irmãBeatriz e minha prima Renilde, pelo auxílio e
todo o tipo de apoio que forneceram em toda as etapas da minha vida.
Agradeço aos meus docentes, à Direcção do curso e em especial ao meu supervisor Prof.
Doutor Francisco Januário por ter aceite a tarefa de me supervisionar, pela dedicação de parte
do seu rico tempo na correcção, concertação e materialização desta monografia. Ao dr. Pedro
Notisso que me apoiou na formulação das ideias iniciais.
Agradeço aos meus irmãos em Cristo que partilharam, durante esses anos da minha
formação, um verdadeiro espírito de irmandade em especial ao Chaúma Conforme, o homem
que forneceu o primeiro valor monetário para minha primeira inscrição logo após a minha
admissão ao curso. Agradeço também à Natália Inácio por dispensar o seu computador na
hora que mais precisei; ao Hermenegildo Conforme, Inok Chiposse, Isaú Mourão, Salvador
Muchanga, Cleofas Viagem e a todos os membros do meu grupo musical FILHOS DO REI
ETERNO.
Aos meus colegas do curso, Ivan de Amaral, Laura Timene, Delmira Mapsangani, José Saize,
Marta Sambo, Mágda Raquel, Equivaldo Francisco, Maledje Conze, Germana Balate,
Domingas Guilherme, Flora Armando, Sérgio Chincua, Helga Mayu, Adriana Maembo,
Victória Djambo, Victoria Obede e Victória Sozinho, pelo espírito de abdicação e irmandade.
iii
DEDICATÓRIA
iv
ÍNDICE
ANEXO 5: Imagens……….……...…………………………………………………………………45
ÍNDICE DE TABELAS
BM Banco de Moçambique
1
RESUMO
Este estudo avalia as práticas de uso racional da água potável no Bairro de Maxaquene ʺCʺ
como forma de garantir a sua sustentabilidade, influencia acções voltadas à aquisição de
hábitos que contribuem para a promoção da consciência ambiental no uso da água potável
desde uma perspectiva de consumo inconsciente para uma perspectiva de consumo
consciente e responsável. O estudo foi realizado no Bairro de Maxaquele “C” localizado
numa região periférica da cidade de Maputo. A população e a amostra do estudo consistiu em
um total de 28 pessoas divididas em 3 principais grupos: 6 pessoas que vendem hortícolas e
outros produtos que implicam o uso da água potável em dois mercados do bairro, 17 pessoas
nas residências e 5 agentes que fazem serviços de Car Wash em certos estabelecimentos do
bairro de Maxaquene “C”. Esta pesquisa é essencialmente de natureza qualitativa e os
instrumentos usados para a recolha de dados foram as entrevistas semi-estruturadas e um
guião de observação. As entrevistas foram direccionadas aos residentes do bairro de
Maxaquene “C” e o guião serviu para orientar o processo de levantamento dos aspectos
relacionados com o uso racional da água potável como: placas de orientações às boas práticas
junto aos fontenários públicos, o estado das torneiras domiciliárias e públicas e outros
aspectos relacionados. A análise do conteúdo possibilitou a compressão de que as medidas de
racionalização tomadas pelos residentes do bairro consistem no controle das torneiras e
poucos casos de reutilização da água, porém, tais medidas não contribuem para a redução do
desperdício por causa de hábitos ligados a negligência em certos casos. A percepção
ambiental sobre a relação entre a conservação da água potável e o meio ambiente ainda é
desconhecida visto que se julga não haver nenhuma relação entre a conservação da água
potável e os benefícios ambientais, onde o meio ambiente está relacionado apenas às questões
de gestão de resíduos sólidos. O estudo concluiu que as práticas de uso racional da água
potável dos moradores do bairro de Maxaquene “C”, não são suficientemente eficientes ao
ponto de tornar a água sustentável visto que, não assumem um modelo de consumo
consciente, aquele que é baseado no conhecimento ambiental das relações entre a
racionalização ou conservação da água potável e seus benefícios para meio ambiente, assim
como, o desperdício e sua relação com o esgotamento das fontes de abastecimento. Os
moradores fazem o uso racional da água potável em casos em que esta é escassa para a
realização de certa actividade ou quando esta não está sendo abastecida.
Palavras-chave: Análise, água potável, práticas, uso racional.
2
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1. Introdução
3
1.2. Delimitação do tema
A pesquisa foi feita no Bairro de Maxaquene “C” em Maputo, fazendo a avaliação das
práticas do uso racional da água potável. Para efeitos desta pesquisa considera-se “uso
racional da água potável” a adopção de hábitos que garantam a redução possível dos níveis de
indisponibilidade da água potável em quantidades e qualidades desejáveis, ou seja, acções
que permitam evitar todo o tipo de desperdício de água canalizada, usada para satisfação das
necessidades básicas como, beber, cozinhar, lavar a roupa, loiça, e todo o tipo de higiene
individual.
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O CCFA (2010) refere, por exemplo que o problema da utilização irracional da água potável
tem como factores, a falta de atenção, conhecimento e ética da responsabilidade, chegando-se
a uma situação onde, segundo Nunes (2006), a água potável esteja indisponível em
quantidades e qualidades necessárias em relação à crescente demanda, tendo-se como
consequência o comprometimento do desenvolvimento humano, por conta de problemas
como a falta de saneamento básico, eclosão de doenças de origem hídrica no seio familiar,
culminando na baixa renda, entre outros problemas.
O bairro de Maxaquene “C” tem registado crescente falta de água. De acordo com a AdM
(2014) este facto deve ser discutido não apenas ao nível de abastecimento, mas sim, sobre
como a comunidade faz o uso da água potável e qual é o nível de consciência e valorização
da água potável. Assim se procedendo, serão abordadas as consequências causadas por
práticas irracionais no uso da água.
O uso racional da água potável possibilita a poupança consequentemente a garantia da
disponibilidade desta a um volume adequado para o consumo nas residências. Outro aspecto
positivo é o baixo custo de produção pelas empresas garantindo-se água a um custo
favorável. A importância de usar de forma racional a água potável, para o caso concreto dos
utentes do bairro de Maxaquene “C”, é o aumento da sua disponibilidade em quantidades e
qualidades necessárias, satisfazendo a demanda, mantendo a água conservada e cada vez mais
sustentável minimizando-se problemas associados à falta de água como, saneamento do meio,
doenças de origem hídrica ligadas ao consumo de água infectada, entre outros.
Até que ponto os utentes do Bairro de Maxaquene “C”, cidade de Maputo, usam de forma
racional a água potável, para garantir a sua sustentabilidade?
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Identificar as formas de uso da água potável pelos residentes do Bairro de Maxaquene
“C” nas diferentes actividades quotidianas;
b) Que medidas são tomadas pelos residentes do bairro de Maxaquene “C” para o uso
racional da água potável?
c) Qual é a percepção ambiental que os moradores têm em relação à conservação da
água potável?
1.5. Justificativa
Os factores que motivaram a realização desta pesquisa residem na necessidade de aprofundar
o conhecimento do autor desta monografia sobre o controle da qualidade de água nos
parâmetros de turvação e cloro em dois centros de distribuição dos bairros de Chamanculo e
Laulane. Os resultados desse estudo mostraram que o nível de turvação da água potável
aumentava em função do percurso que esta fazia ao longo das tubagens, atingindo o seu pico
de turvação em épocas chuvosas. Por seu turno, com o cloro o cenário era inverso, isto é,
registava diminuição. Contudo, verificou-se que isso contribuía grandemente para a
indisponibilidade da água potável em diferentes épocas do ano. Tais resultados suscitaram ao
autor uma série de questões ligadas particularmente às práticas adoptadas pelos beneficiários
dos serviços de abastecimentos de água potável com vista a torna-la cada vez mais
sustentável.
O interesse em pesquisar esta matéria aumentou ainda mais quando em Julho de 2015 o
bairro de Maxaquene “C”, bem como outras regiões da Cidade de Maputo, foram assoladas
pela falta de abastecimento de água potável num intervalo de 15 dias, sendo que os utentes
desta parcela de bairro da Cidade de Maputo em particular, buscavam água em zonas
distantes e por vezes a água adquirida era sem qualidade para o consumo. Outros pagavam
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um alto preço na aquisição da água mineral que, por vezes, era insuficiente para satisfação
das necessidades básicas. Parte desses problemas são verificados até hoje! Portanto, é este
cenário que constitui a motivação para a elaboração desta pesquisa, que procurará contribuir
para a abordagem da crise decorrente da falta de água potável no bairro de Maxaquene.
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CAPÍTULO II: REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo é feita a discussão dos temas que fundamentam a pesquisa, na perspectiva de
diferentes autores. Em primeiro lugar sãodiscutidos os conceitos básicos de água potável,
desperdício, conservação, práticas e uso racional. Em segundo lugar fala-se da
disponibilidade da água como recurso natural. Em terceiro lugar apresenta-se a distribuição
hídrica em Moçambique e sua relação com a disponibilidade de água potável. Em quarto
lugar discute-se a questão do uso racional água potável e sua importância. Em quinto lugar
fala-se sobreo consumo da água potável e sua relação com o desperdício, por último faz-se
uma sumarização das lições aprendidas.
a) Água potável
Água potável (do latim potus, bebida; potabilis, bebível; e potare, beber) é entendida como
aquela que pode ser consumida por pessoas e animais sem riscos de causar doenças. Neste
sentido refere-se à água cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioactivos
atendam ao padrão de potabilidade e que não ofereça riscos à saúde (Souza, sd). A mesma
análise é apresentada por Silva et al. (2006), segundo o qual, a água potável é aquela que é
distribuída ao consumidor para ser usada com segurança para beber, cozinhar e lavar, e que
satisfaz os parâmetros físicos, químicos, biológicos e radioactivas.
b) Conservação
É o aperfeiçoamento do consumo mediante o controle da demanda juntamente com a
ampliação da oferta, através de uso de fontes alternativas para realização de certas
actividades. A conservação é o fim desejado de uma prática racional (Dreher, 2008). De
acordo com Nunes (2006), a conservação da água refere-se ao uso controlado e eficiente do
recurso e contempla tanto as medidas de uso racional quanto a reutilização da água. Sob este
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enfoque, as práticas conservacionistas são uma maneira inteligente de se ampliar e
flexibilizar a demanda e a oferta de água para novas actividades e usuários, sem, contudo,
comprometer o suprimento dos corpos hídricos e preservação do ambiente natural.
c) Desperdício
O desperdício compreende basicamente às perdas evitáveis, ou seja, que corresponde
claramente à negligência do usuário que não tem consciência ambiental. Isso pode estar
vinculado ao uso propriamente dito ou ao funcionamento geral dos sistemas.
O desperdício de água está associado ao comportamento de consumo e, por isso, é mais
evidente nos sistemas individuais (casas). Em geral, o desperdício está associado ao
comportamento humano, empresas ou órgãos públicos que não têm consciência sobre o valor
da água, mas pode também se enquadrar no campo da negligência comportamental
consciente, baseado no conhecimento ambiental sobre a conservação da água potável
(Kiperstok et al., 2009).
d) Prática
De acordo com Aranha (2006) prática é a realização ou materialização de um conjunto
teórico de informação, onde ocorrem as demonstrações concretas do aprendizado, contudo,
no contexto de racionalização da água potável, este conceito e utilizado para descrever o
conjunto de medidas tomadas pelo usuário, baseando se no conhecimento adquirido a cerca
da articulação de um conjunto de medidas visando reduzir o uso desnecessário da água e
aumentar a eficiência e a eficácia.
Uso racional
Quando se fala do uso racional no contexto de água potável, Barbosa (2013) refere que
estamos perante o conjunto de acções que têm por objectivo a redução do consumo sem o
prejuízo ao desenvolvimento de actividades produtivas, aumentando sua eficiência pela
redução de desperdícios. Do ponto de vista de André et al. (2015), o uso racional da água
potável se relaciona às práticas, técnicas e tecnologias que proporcionam a melhoria e a
eficácia do seu uso garantindo assim a disponibilidade da mesma.
Agora que temos o conhecimento dos conceitos fundamentais, passaremos a discutir os temas
sobre disponibilidade de água potável como recurso natural, distribuição hídrica em
Moçambique e sua relação com a disponibilidade da água potável, uso racional da água
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potável e sua importância, consumo de água potável e sua relação com o desperdício, por
último as lições aprendidas da revisão da literatura.
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2.3. Distribuição hídrica em Moçambique e sua relação com a disponibilidade de água
potável
De acordo com Conceição et al., (2014), Moçambique possui quinze bacias hidrográficas. De
entre as quais, são destacadas como essenciais as seguintes:
A Bacia do rio Rovuma (Províncias do Niassa e de Cabo Delgado: esta bacia apresenta 650
km de extensão e nasce na Tanzânia. Uma pequena parte do rio é navegável e o seu principal
afluente, proveniente de Moçambique é o Rio Lugenda.
A Bacia do rio Lúrio (Províncias de Cabo Delgado e Nampula): com 605 km de extensão, na
sua maioria o rio não é navegável.
A Bacia do Rio Zambeze (Províncias de Tete, Manica, Sofala e Zambézia): apresenta 820 km
de extensão. É deste rio que é produzida a energia de origem hídrica pela central elétrica da
Barragem de Cahora Bassa, sendo navegável por embarcações médias ao longo de cerca de
420 Km e apresentando um delta de dimensões consideráveis.
A Bacia do rio Save (Províncias de Gaza, Inhambane, Manica e Sofala): com 330 km, este rio
atravessa uma zona de grande instabilidade climática ficando sujeito a frequentemente e
fortes variações no seu caudal. Não é navegável por embarcações de média dimensão.
A Bacia do rio Limpopo: com cerca de 1600 km de extensão, este rio atravessa largas
extensões da África do Sul, Botswana e Zimbabwe antes de entrar na Província de Gaza
(Pafúri) e desaguar perto da cidade do Xai-Xai. Geralmente é sujeito a grandes flutuações de
caudais e só é navegável por embarcações de dimensão média numa extensão de 50 km.
A Bacia do rio Incomati: sendo o maior rio da zona Sul do país, atravessa a África do Sul, a
Suazilândia e entra em território Moçambicano na localidade de Ressano Garcia para
desaguar na Baía de Maputo. É navegável por embarcações de média dimensão numa
pequena extensão e é largamente aproveitado em termos de construções de barragens e
diques quer para a produção de energia ou para irrigação agrícola.
De acordo com a ENARHM (2007), a existência dessa toda riqueza hídrica no território
nacional, não faz de Moçambique um país com alta disponibilidade hídrica, pelo contrário
possui alto índice de vulnerabilidade hídrica causando problemas de ligados à
indisponibilidade da água potável.
Essa vulnerabilidade hídrica e a consequente indisponibilidade da água potável, em grande
parte deve-se ao facto de mais da metade dos recursos hídricos do País serem de origem fora
do território nacional e os países que compartilham essas águas com Moçambique, possuem
alto índice de exploração hídrica reduzindo a disponibilidade da água. Constituem como
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outros factores associados o facto de Moçambique ser um país a jusante e os países a
montante em períodos de alta pluviosidade abrem a suas comportas e são arrastados
poluentes contaminando assim as águas do território nacional, contribuindo grandemente para
o aumentando da indisponibilidade da água potável.
De acordo com Conceição et al., (2014), outro factor e o baixo aproveitamento do potencial
hídrico por escassez de infra-estruturasde rede de abastecimento de água, o que se reflecte no
baixo acesso da água potável. Falando de rede de abastecimento de água, para o caso da
cidade de Maputo, tem registado melhorias na actualidade. Um relatório de estudo feito pelo
FIPAG e o CRA, financiado pelo BM, publicado em Junho de 2009, refere que na cidade de
Maputo, no inicio do ano de 2007, apenas 36% por cento da população metropolitana possuía
ligações domésticas, torneira de quintal e fontenários públicos.
Dados apurados pelo censo populacional de 2007, mostram que este número subiu para cerca
de 55%, dos quais 16% no interior da habitação e 39% fora da habitação. Um Inquérito
realizado pelo Grupo Integrado da Força do Trabalho (GIFT) em 2008, constatou que cerca
de 70% da população do Município de Maputo tinha água canalizada, 24% água de
fontanário, sendo a restante população abastecida por poços na escala de 2,5% poços não
protegidos, 1,8% poços protegidos, mas sem bomba, e 1,2% poços protegidos com bomba
manual (INE, 2012).
Os dados mostram que grande parte da população da cidade de Maputo tem acesso à água
potável e que a dinâmica deste acesso é cada vez mais crescente. Se de 2007 a 2008 o acesso
da água potável cresceu na ordem de 15%, atingindo 70%. Isto revela que nos nossos dias o
número de pessoas abrangidas pela rede de abastecimento de água potável deve estar acima
dos 70%, se for considerada esta dinâmica de crescimento.
Barbosa (2013), refere que a racionalização da água potável implica aplicação de certas
medidas económicas onde, tais medidas consistem na separação de actividades que precisam
do uso da água potável (uso nobre) daquelas que não precisam necessariamente do uso da
água potável, ou seja, todas aquelas actividades em que a água entra em contacto com o
indivíduo, pode-se optar pelo uso da água potável, recomendando-se a consciencialização do
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usuário. Para actividades que não requerem o contacto directo com o usuário, pode-se fazer o
uso da água proveniente de fontes alternativas como, a água da chuva e dos poços.
A explicação trazida por esses autores, tem a ver com o exercício que o usuário deve fazer
com vista a separar as actividades que requerem o uso de diferentes categorias de qualidade
da água em grupos bem definidos. Visto que, nem todas elas precisam necessariamente o uso
da água potável.
Esse processo, segundo Victorino (2007), chama-se delimitação criteriosa no processo de uso
racional da água potável, visando a sua conservação e eficiência no uso, tendo como
resultados positivos a maior disponibilidade da mesma.
Um aspecto a ser levado em conta no conjunto de acções a serem levadas a cabo, no contexto
de utilização racional com vista a sua conservação, de acordo com André et al. (2015), são os
pressupostos comportamentais, ou seja, é de fundamental importância que os indivíduos
sejam movidos de uma consciência conservacionista, baseando-se no reconhecimento do
quadro de escassez da água potável quer seja a nível global, regional ou local. É aqui onde
entra a necessidade de educação ambiental onde, os usuários são consciencializados para a
aquisição de uma mentalidade conservacionista com vista a redução de problemas de falta de
água pois, na ideia de Camargo (2012), é necessário ter em conta que muitas consequências
negativas (relacionados à falta de água) que estão sendo observadas poderão ser reduzidas se
ocorrerem mudanças comportamentais com base necessária para a adopção de novas formas
de uso da água potável.
Desta forma, a aquisição de práticas sustentáveis para conservar água potável, reforça Nunes
(2006) significa a mudança de mentalidade desde uma perspectiva de consumo inconsciente,
irresponsável para uma perspectiva de consumo consciente. O consumo consciente leva-nos à
aquisição de certos hábitos que economizam a água. De acordo com Matos (2006), Um
estudo feito na prefeitura nos Estados Unidos, pela Organização Mundial da Saúde,
promovido pelo departamento de Água e Saneamento em 2006, constatou que hábitos como,
escovar com torneira fechada poupava 80 litros de água em cada dois dias; lavar a loiça com
torneira fechada poupava 100 litros de água em dois dias; lavar carro com mangueira em
meia hora gastava 560 litros de água; lavar o chão com mangueira gastava 280 litros e banhos
longos de até 20 a 30 min no chuveiro gastavam 90 a 180 litros de água. Portanto, é possível
verificar que são pequenas acções, mas com impactos bastante significativos.
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Estudos feitos nos Estados Unidos e Gã-Bretanha mostraram que o uso dos equipamentos
sanitários tinha uma participação acentuada no consumo de água nas habitações. De acordo
com Dreher (2008), há bacias sanitárias que gastam de 12 a 25L de água por cada descarga.
Portanto, por causa desse consumo acentuado de água aconselha-se a selecção criteriosa dos
equipamentos sanitário com base nas informações contidas no catálogo relacionado ao gasto
de água por cada descarga.
Em países desenvolvidos como o China e Japão por exemplo, tem ocorrido campanhas de
substituição de pias que consomem acima de 8 litros/descarga para as que consomem abaixo
de 6 litros/descarga. No Brasil, as bacias sanitárias eram projectadas para consumir no
máximo 12 litros/descarga e os fabricantes bem como os compradores não se preocupavam
com a quantidade de água gasta, mas sim para questões estéticas, com o design do produto.
Por meio de campanhas feitas em diferentes regiões deste País, apontando o quadro actual de
escassez da água potável, o uso de tais bacias foi cada vez mais desincentivado passando-se
agora a se usar as que no máximo usam 6 litros/descarga. Em relação aos equipamentos
hidráulicos como torneiras, chuveiros e outros passou-se a verificar-se até que ponto têm a
garantia de qualidade para se evitar perdas de água por gotejamento, porque sai mais barato a
aquisição de um equipamento de qualidade para garantir a racionalização da água do que os
prejuízos que um equipamento sem qualidade possa trazer.
De acordo com Nunes (2006) o uso racional da água potável relaciona-se com a conservação
da mesma. Assim sendo, a conservação contribui para o desenvolvimento comunitário, a
promoção de qualidade de vida, redução de esgotos sanitários e a conservação dos
Ecossistemas Ambientais. Pois, de acordo com PETROBRAS (2006) quando bombeamos ou
desviamos água para atender demandas humanasexploram um sistema vivo do qual miríades
de outras espécies dependempara sua sobrevivência e que presta serviços valiosos para o
equilíbrio ambiental.
De acordo com Silva et al., (2006), um estudo realizado no Brasil, buscando fazer a análise da
conservação e uso racional da água potável baseando-se na adopção de novos hábitos para
evitar escassez, constatou que a importância de usar de forma racional a água potável é o
aumento da sua disponibilidade em quantidades e qualidades necessárias que satisfazem a
demanda, mantendo a água conservada e cada vez mais sustentável. Para tal, o estudo
apontou como soluções fundamentais a aplicação de medidas económicas por parte dos
usuários como, a reciclagem da água e a consciencialização destes para o uso consciente.
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Numa perspectiva económica, Gonçalves & Haspanhol (2004) refere que é de fundamental
importância usar de forma racional a água potável porque assim fazendo, haverá redução da
quantidade de água extraída nas fontes de suprimento, contribuindo para redução do
desperdício, evitando a poluição e aumentando a reutilização e a reciclagem. De acordo com
Ywashima (2005), cerca de 90% da produção de água nas cidades destinam-se aos sectores
residenciais. Assim, a redução de consumo da água assume um papel importante para a
conservação do meio ambiente. Para além de diminuir a pressão sobre os recursos hídricos,
preservando o recurso água, acarreta uma série de economias adicionais como, ao custo de
produção pelas empresas provedoras, baixo preço pago para o consumo da água e acima de
tudo a promoção do bem-estar.Contudo, é necessária a adopção de mecanismos de
reutilização de cada parcela de água potável usada para uma determinada actividade visto
que, é quase possível reutilizar-se a água residual proveniente das actividades quotidianas.
É nesse contexto que Victorino (2007), o acesso à água potável é um direito de todos, mas
também é um dever de todos mantê-la conservada. Portanto, esse direito e dever de gestão e
conservação da água potável pressupõem o exercício da cidadania individual e comunitária.
De acordo com Fevital et al., (2008), a gestão para melhoria da água potável precisa incluir,
em seu processo decisões e acções, não somente as autoridades governamentais ou entidade
provedoras dos serviços de abastecimento de água potável, mas também a iniciativas da
própria comunidade a qual é beneficiária.
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De acordo com o Programa de Água e Saneamento financiado pelo Banco Mundial (WSP,
2010) alguns países como Níger, Mauritânia, Uganda, Benin, Burkina, Rwanda e Níger, a
comunidade tem um papel fundamental na gestão e conservação da água potável. Com a
implementação do sistema delegado de gestão da água, as comunidades têm feito o controlo e
manutenção e garantir a continuidade de funcionamento de pequenos sistemas de
abastecimento de água. No entanto, para a garantia de continuidade do funcionamento desses
sistemas, há uma contínua comunicação entre a comunidade, operadores privados e o
governo, por meio de encontros onde são reportadas principais dificuldades e traçados
estratégias de resolução. O objectivo de atribuição de responsabilidade à comunidade da
gestão e conservação da água é o de empoleiramento comunitário e sua participação no
processo de gestão e conservação da água onde esta passa a ser não apenas consumidora, mas
também promotora de acções conservacionistas, desenvolvendo um sentimento de
responsabilidade no processo de gestão e conservação da água potável.
Ainda de acordo com Gonçalves (Op. cit), uma pesquisa feita no Brasil, avaliando-se o
consumo percapita em nove assentamentos da periferia urbana da capital baiana, verificando-
se uma variação de 32L/pessoa/dia a 87L/pessoa/dia, com um valor médio 48L/pessoa/dia,
numa situação que pode gerar impactos significativos sobre a saúde daquelas populações.
Gleick (1996) propõe que a quantidade mínima percapita seja de 50 litros/pessoa/dia,
suficientes para suprir as necessidades básicas de ingestão, higiene, serviços sanitários e
preparo dos alimentos, baseado nos consumos mínimos para diversos usos, conforme
Tabela1, recomendando que esta quantidade seja disponibilizada para toda a população,
como um direito, independentemente do status político, social ou económico.
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Tabela 1. Quantidade mínima de água necessária para os diversos usos.
A Agenda 21 Global, entre seus objectivos, propôs que fosse garantido, até o ano 2000, o
acesso a pelo menos 40 litros percapita por dia de água potável a toda população urbana e que
75 por cento desta disponha de serviços de saneamento próprios ou comunitários. O BM e a
OMS afirmam que o suprimento mínimo de água deve ser de 20 a 40 litros/pessoa/dia. A
definição de uma quantidade mínima de água suficiente para suprir a demanda residencial é
um assunto polémico e complexo, envolvendo aspectos sociais, culturais, regionais e
económicos, inclusive relacionados à sustentabilidade dos sistemas de abastecimento. Assim,
apesar de defendida por vários pesquisadores, entidades e organizações, até hoje não se
estabeleceu uma cota mínima a ser garantida a todos os cidadãos.
A universalização do fornecimento de água deve ser baseada no uso racional deste recurso,
pois ter direito não significa acesso a quantidades irrestritas e insustentáveis. Assim, deve
estar embaçada na caracterização do uso da água nos diversos pontos do domicílio, assim
como no padrão de consumo em diferentes regiões, o que está intimamente relacionado a
factores ambientais, sociais, económicos e culturais. (Cohim. 2009).
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A água utilizada é aquela que efectivamente é empregue na realização das actividades e a
desperdiçada pode ser decorrente do uso acima do necessário/excessivo e/ou de perdas
(quantidade de água prevista para ser usada, mas que não é utilizada devido à diferentes
factores associados). Logo, o autor assegura que matematicamente, o consumo de água é
dado pela seguinte fórmula:
Essa expressão pressupões que no processo de consumo da água, parte dela vai para o uso
destinado, e outra parte é desperdiçada. Portanto, quanto maior for o uso, eficiente é o
consumo por sua vez, quanto maior for o desperdício, ineficiente será o consumo. Nesse caso,
o favorável é que o consumo da água seja explicado pelo uso. Ou seja, que a quantidade de
água prevista para o consumo seja eficientemente usada, nesse caso para baixar ou anular o
desperdício. É nesse contexto em que o consumo da água se relaciona com o desperdício,
estabelecendo-se uma relação de proporcionalidade por meio do factor uso efectivo.
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2.6. Lições aprendidas da revisão de literatura
Com a revisão da literatura, foi possível constatar que a água como recurso constitui a maior
porção no planeta terra. Porém, menor percentagem dela serve para o consumo. Contudo, é
necessário a tomada de uma postura mais perfeccionista no uso da água potável (tópico 2.2).
Moçambique apresenta muitas bacias hídricas, distribuídas ao longo do seu território,apesar
desta toda quantidade de bacias hídricas, o país ainda regista questões de vulnerabilidade
hídrica, isto por ser um país a jusante onde em épocas de altapluviosidade são arrastados
poluentes dos países a montante, aliado ao facto de esses países explorarem excessivamente
as águas, contribuindo para a redução da disponibilidade da água potável. Contudo, apesar
desses desafios a cidade de Maputo em particular tem registado melhorias no que concerne ao
acesso da água potável nos últimos anos (tópico 2.3). O uso racional da água potável
desempenha um papel muito importante pois, possibilita o aumento da sua disponibilidade
em quantidades e qualidades necessárias que satisfazem a demanda, mantendo a água
conservada e cada vez mais sustentável. Por seu turno, a sustentabilidade possibilita o
desenvolvimento comunitário, a promoção de qualidade de vida, a redução de esgotos
sanitários e a conservação dos ecossistemas ambientais. Para tal é necessária a mudança de
comportamento desde uma perspectiva de consumo inconsciente para um consumo
consciente, o que leva à aquisição de certos hábitos para economizar a água (tópico 2.4).
Constatou-se também que o consumo da água potável tem a sua relação com desperdício
pois, no processo de consumo da água, parte dela vai para o uso destinado e outra parte é
desperdiçada. Portanto, quanto maior for o uso, eficiente é o consumo. Por seu turno,quanto
maior for o desperdício, ineficiente será o consumo. Nesse caso, o favorável é que o consumo
da água seja explicado pelo uso. Ou seja, que a quantidade de água prevista para o consumo
seja eficientemente usada, nesse caso para baixar ou mesmo anular o desperdício (tópico 2.5).
19
CAPÍTULO III: METODOLOGIA
O bairro de Maxaquene “C” constitui um dos quatro (4) bairros do distrito urbano nº 3-
KaMaxaquene. Este bairro situa-se no extremo norte da cidade de Maputo, é limitado pelo
bairro de Maxaquene “D”, a Sul pelo bairro de Malhangalene “B”, a Este pelo bairro da
Polana Caniço e a Oeste pelo bairro de Maxaquene “B”.
20
Este caracteriza-se por ser um dos bairros em melhorias no que tange ao índice de
urbanização. Um dos factores deste índice deve-se ao facto de ser limitado por avenidas
(Keneth Kaunda e Vladmir Lenine) que estabelecem ligação com principais pontos da
Cidade, como a Baixa da Cidade e zona da costa do sol. Portanto, este bairro constitui área
estratégica para habitação, facto que contribui para maior atracção habitacional,
conscequentimente maior demanda por água potável (CMM, 2013).
Pode-se verificar nesta figura que o bairro de Maxaquene “C” encontra-se na parte central em
relação aos demais bairros que estabelecem limites com este
21
De acordo com o PEMM (2008), o número de habitantes subiu para 55.689 distribuídos em
27.382homens e 28.307 mulheres.
De acordo com o IAF (2003), a proporção de casas com telhados de colmo reduziu para
metade enquanto os telhados de zinco registaram um aumento ao dobro. Do mesmo modo, a
proporção de habitações com paredes de blocos de cimento aumentou, verificando-se uma
acentuada redução no número de habitações feitas com palha. Em relação a educação e
emprego, verifica-se aumento em taxas de literacia de cerca de 20 pontos percentuais no
período 1997 – 2003, e a frequência escolar quase dobrou, durante o mesmo período, de 49%
em 1997, para 87%, (INE, 2003).
22
3.4. Instrumentos de recolha e análise dos dados
No processo de recolha de dados foram usadas como técnicas de recolha, a observação
directa e as entrevistas semi-estruturadas. De acordo com Marconi e Lakatos (2007), a
observação directa é uma técnica que consiste em conseguir informações utilizando os
sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. O método não consiste apenas
em ver e ouvir, mas também em examinar factos ou fenómenos que se deseja estudar. Assim
sendo, para o contexto desta pesquisa a observação consistiu em acompanhar o dia-a-dia dos
utentes no processo de uso da água potável usando um guião de observação (anexo 1). Isto
possibilitou uma leitura mais apurada de como é feito o uso da água. Em relação às
entrevistas, de acordo com Marconi e Lakatos (2007), estas representam uns dos instrumentos
básicos para a colecta dos dados. Trata-se de uma conversa face-a-face de maneira
metodológica e que pode proporcionar resultados satisfatórios e informações necessárias. Em
entrevistas semi-estruturadas, o entrevistador tem a liberdade de desenvolver cada situação
em qualquer direcção que considere adequada, explorando mais amplamente a questão em
estudo. Para o presente estudo, as entrevistas consistiram de um guião composto por
perguntas abertas e previamente elaboradas, proporcionando maior liberdade aos
entrevistados (anexo 2), nesse caso um total de 28 pessoas residentes do bairro de Maxaquene
“C”. Para a execução das entrevistas, foram usados como recursos um bloco de notas,
esferográficas, lápis, borracha e um guião de perguntas.
Na pré-análise e exploração do material: foi feita a organização do texto das respostas dadas
às perguntas das entrevistas, categorizando-se em função das perguntas de pesquisas. O
objectivo desse processo foi de tornar o material operacional visando sistematizar as ideias
23
principais para a exploração do material da melhor maneira possível. Ocorreu também o
processo de categorização da informação em função das perguntas, onde para um conjunto de
respostas que respondiam uma determinada pergunta de pesquisa, fez-se a seguinte
designação: RPP1 (respostas para pergunta de pesquisa 1), RPP2 (respostas para perguntas de
pesquisa 2) e RPP3 (respostas para pergunta de pesquisa 3).
Tratamento dos resultados e interpretação: esta etapa foi destinada ao tratamento dos
resultados; ocorreu nela a condensação e o destaque das informações para análise. Durante as
entrevistas outros tocavam assuntos pessoais dentro de uma determinada questão, portanto o
destaque das informações ajudou a separar as informações chaves daquelas que não estavam
ligadas à pesquisa. Esse processo possibilitou o tratamento interpretação dos resultados da
melhor maneira possível onde, deu-se sentido às respostas confrontando-se com a literatura.
24
3.7. Limitações do estudo
25
CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
26
No intervalo de tempo das 7h à 12h a água utilizada pelos moradores é a que sai directamente
das torneiras. Após esse período, é utilizada uma quantidade ínfima daquela que é conservada
em recipientes. Maior parte das actividades caseiras é feita no período da manhã, assim
sendo, por vezes a água armazenada fica durante muito tempo sem que seja utilizada e perde
a sua qualidade ao ponto de ser descartada. A lista das actividades que requer a utilização
daágua potável é essencialmente a mesma apresentada por Cohim (Op.cit), com excepção de
algumas actividades comerciais tais como, serviços de Car Wash e salões de cabeleireiro,
feitos nalgumas casas. Contudo, as que mais consomem água são:
a) Actividades caseiras
A lavagem de roupa:a lavagem de roupa foi apontada como uma das actividades que mais
consome água, como ilustra o seguinte depoimento de um dos entrevistados:
“ Somos 6 pessoas na minha casa e quando a minha mãe lava roupa chega a usar mais ou
menos 7 baldes de 20 a 25 litros.Ela lava 3 a 4 vezes por semana e eu acho que a água gasta-
se muito também porque aquela que é usada para lavar a roupa, costumamos despejar no
quintal ou na estrada para evitar poeira; fazemos isso quando a água sai normalmente; agora
quando não sai, não deitamos fora, usamos para outras coisas. Isso não acontece só aqui em
casa, mas também outros vizinhos fazem isso” (Rapariga do bairro de Maxaquene “C”).
Casas de banho: a utilização da água nas casas de banho foi indicada pelos moradores como
um dos sectores que se utiliza mais água mesmo sendo diversificada a forma como é
utilizada. As causas associadas a esta constatação é o facto de alguns membros da família
terem o hábito de fazerem banhos bastante longos, porque estes vêm o banho como um
mecanismo de relaxamento e não apenas como mecanismo de higiene. Por causa do regime
27
actual de fornecimento de água, que vai das 4 às 12 ou 13 horas, grande parte das casas de
banho não apresentam autoclismos nas pias e a descarga é feita mediante o uso de baldes de
10 a 15 litros de volume. Essa quantidade de água usada na descarga pode até certo ponto ser
razoável se comparado à quantidade de água gasta numa pia clássica com autoclismo onde,
acordo com Dreher (2008) há bacias sanitárias que gastam de 12 a 25L de água por cada
descarga. Este autor refere que esta quantidade ainda continua ser exacerbada, por conta
disto, em países desenvolvidos como o China e Japão por exemplo, tem ocorrido campanhas
de substituição de pias que consomem não acima de 8 litros/descarga. Portanto o uso de
baldes com 10 a 15 litros de volume, até certo ponto ajuda a poupar a água.
b) Actividades comerciais
Salões de cabeleireiro: alguns proprietários afirmaram que a lavagem de cabelo é uma
actividade que consome muita água e que a quantidade da água usada para este fim varia
em função do número de clientes. Em média, usam-se 150 a 180 litros diários para cerca
de 8 pessoas e essa água é descartada.
Serviços de Car wash (lavagem industrial de viaturas): à semelhança dos salões, algumas
pessoas e estabelecimentos usam água potável para a prestação de serviços de lavagem de
carros consumindo muita água e, por vezes, em quantidades imensuráveis e não possuem
nenhum mecanismo de reutilização da água residual. No período da manhã, enquanto a água
sai, utiliza-se directamente das torneiras sem se aplicarem medidas para reduzir o consumo;
porém armazena-se a água para o uso no período da tarde, onde esta é bastante economizada
por se temer acabar enquanto ainda existam clientes que precisem dos serviços.
De acordo com os trabalhadores tanto dos salões, quanto dos serviços de Car Wash, nenhuma
medida de reciclagem da água é aplicada. Porém, de acordo com (Silva et al., 2006), falando
do estudo feito no Brasil, que buscava fazer a análise da conservação e uso racional da água
potável baseando-se na adopção de novos hábitos para evitar escassez, onde foi constatado
que a importância de usar de forma racional a água potável é o aumento da sua
disponibilidade em quantidades e qualidades necessárias que satisfazem a demanda,
mantendo a água conservada e cada vez mais sustentável. Para tal, o estudo apontou como
soluções fundamentais a aplicação de medidas económicas por parte dos usuários como, a
reciclagem da água.
28
4.2. Medidas tomadas pelos residentes do bairro de Maxaquene “C” para o
uso racional da água potável
Esse subtítulo discute questões ligadas à seguinte pergunta de pesquisa: Que medidas são
tomadas pelos residentes do bairro de Maxaquene “C” para o uso racional da água potável?
as respostas a esta pergunta são nas questões 5,6,7 e 8 do anexo 2.
29
água dos residentes não é explicado pelo uso porque, a quantidade de água prevista para o
consumo não é eficientemente usada, de formas a baixar ou anular o desperdício.
Outro aspecto é que se se tomar em consideração mais uma vez ao que Matos (2006) refere
noestudo feito na prefeitura nos Estados Unidos, pela Organização Mundial da Saúde,
promovido pelo Departamento de Água e Saneamento em 2006, onde foi constatado que
hábitos como, lavar a loiça com torneira fechada, ou seja,que não com água corrente, se
poupavam 100 litros de água em dois dias. A prática da lavagem de utensílios com água
corrente, apontado como medida de racionalização da água potável pelos residentes é
ineficiente.
c) Reutilização da água:
A prática da reutilização da água não é comum entre os residentes. Apenas poucas pessoas é
que têm o hábito de reutilizar a água que resulta da lavagem da roupa. Aáguaque se mostre
minimamente limpa, pode ser comummente usada para a limpeza do soalho e nas casas de
banho para a descarga nas pias. Ywashima (2005) refere que cerca de 90% da produção de
água nas cidades destinam-se aos sectores residenciais, e que a redução de consumo da água
assume um papel importante para a conservação do meio ambiente. Para além de diminuir a
pressão sobre os recursos hídricos, preserva o recurso água, acarreta uma série de economias
adicionais como, ao custo de produção pelas empresas provedoras, baixo preço pago para o
consumo da água e acima de tudo a promoção do bem-estar. Contudo, de acordo com o
mesmo autor, é necessária a adopção de mecanismos de reutilização de cada parcela de água
usada para uma determinada actividade visto que, é quase possível reutilizar-se a água
residual proveniente das actividades quotidianas.
Uma das principais medidas da racionalização da água potável, apontada pela literatura é o
uso de fontes alternativas de água. E como Carli et al., (2013) referem, a utilização de fontes
de abastecimentos alternativos para fins menos nobres, como Barbosa (2013), enfatiza
30
dizendo que essa busca outras fontes são medidas económicas na utilização da água potável.
Esta medida não é aplicada no bairro de Maxaquene “C” visto que não foram encontrados
casos de uso alternativo da água, ou seja, uma fonte secundária. Todas as actividades são
feitas usando apenas a água potável. De acordo com Gonçalves & Haspanhol (2004) a busca
de uma fonte alternativa como uma medida de uso racional da água potável é importante
porque assim fazendo, haverá redução da quantidade de água extraída nas fontes de
suprimento, contribuindo para redução do desperdício, evitando a poluição e aumentando a
reutilização e a reciclagem. Nunes (2006) comentando o mesmo assunto, refere que o uso
alternativo de outras fontescontribui para o desenvolvimento comunitário, a promoção de
qualidade de vida, redução de esgotos sanitários e a conservação dos Ecossistemas
Ambientais contudo, a forte dependência de uso da água potável por todas as actividades, é
um dos factores que pressionaaceleramento da falta de água, econsequentemente a pressão
pelo recurso.
Este tema tem por finalidade responder à seguinte pergunta de pesquisa: Qual é o nível de
percepção ambiental que os moradores têm em relação à conservação da água potável?
Para esta pergunta de pesquisa, buscou-se perceber até que ponto os moradores do bairro
percebem ou dão importância a questão de conservar a água visando beneficiar o ambiente.
Para esta pergunta de pesquisa, foram identificados dois grupos de respondentes diferentes:
a) Os que não vêm nenhuma relação entre a conservação da água potável e o meio
ambiente
Este grupo de pessoas olha o meio ambiente como tendo a sua relação apenas com aspectos
que têm a ver com a gestão dos resíduos sólidos e controle de esgotos sanitários, visto que se
foremnegligenciados estes aspectos podemos ser afectados por doenças, e a conservação da
água potável não apresenta nenhuma relação com tudo isto.Como elucida o seguinte extracto
de um dos respondentes:
“Na minha opinião essa coisa de meio ambiente, é sobre lixo, cuidar de águas paradas porque
essas coisas nos provocam doenças ou afectam o ambiente que agente vive. Agora usar bem
água ou não, isso não afecta o meio ambiente apenas podemos sofrer da crise” (Dona de Casa
numa das residências no bairro de Maxaquene “C”).
31
b) Os que vêm a relação, mas que não está fortemente ligada às práticas caseiras
Este grupo de respondentes afirma que é necessário conservar a água porque é do ambiente
que ela vem e se não for conservada pode-se esgotar. Porém compete às grandes empresas e
entidades comerciais conservá-la. Para estes, o nível caseiro do consumo é bastante
insignificante para afectar o meio ambiente.O seguinte extracto descreve melhor o
pensamento desse grupo de pessoas a cerca dessa matéria:
“Todos sabemos que o ambiente é tudo o que nos rodeia e a água que usamos dia a dia vem
deste mesmo ambiente. É verdade que quando se usa mal a água potável pode acabar, mas só
é possível para as indústrias não nas casas. Porque as indústrias usam muita água dia a dia
para produção e esse devem poupar, agora nas casas não, não é possível acabar mos a água de
um rio inteiro porque usamos mal ou aumentar a existência da água porque poupamos porque
quantidade que usamos é muito pouca” (Rapaz residente no bairro de Maxaquene “C”).
32
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. Conclusões
Conclui-se no presente estudo que as práticas de uso racional da água potável constituem um
conjunto de formas eficazes e eficientes no uso da água com vista a sua sustentabilidade.
Assim sendo, foram verificadas no bairro de Maxaquene “C” algumas dessas práticas, porém,
ineficientes. O controlo das torneiras, e em certos casos a reutilização da água, apesar de ser
uma medida pouco praticada, constituem as principais medidas de uso racional da água
potável. Essas medidas são ineficientes devido à existência de certos hábitos como a
realização de outras actividades no momento em que se usam as torneiras onde, por factores
como o esquecimento enegligência, a água é desperdiçada. Estes factores fazem com que as
formas de uso da água potável pelos residentes do bairro de Maxaquene “C” sejam ineficiente
e contribuindo para o desperdício.
As práticas de uso racional da água potável dos moradores do bairro de Maxaquene “C”, não
assumem um modelo de consumo consciente, baseado no conhecimento ambiental das
relações entre a racionalização ou conservação da água potável e seus benefícios para meio
ambiente; assim como o desperdício e sua relação com o esgotamento das fontes de
abastecimento. Porém, os moradores assumem as práticas de uso racional num contexto em
que a água é escassa para a realização de certa actividade ou quando esta não está sendo
abastecida. Razão pela qual, há casos em que são abastecidos os recipientes de água e quando
33
passa muito tempo sem que esta seja utilizada, é descartada porém, num contexto em que o
abastecimento é interrompido por alguns dias, a água armazenada é utilizada. Isto mostra a
ausência da consciência ambiental visto que as práticas sustentáveis se relacionam com a
mudança de mentalidade desde uma perspectiva de consumo inconsciente para consumo
consciente.
Conclui-se também que, assim como a literatura apresenta o desperdício da água potável
como sendo perda evitável relacionado à negligência, de facto de acordo com os resultados
desta pesquisa a negligência é um dos factores que contribui para o desperdício da água
potável pelos residentes do bairro de Maxaquene “C”. Porém, este tipo de negligência não se
enquadra com aquele que Kiperstok et al., (2009) se referem como sendo uma negligência
comportamental consciente, baseado no conhecimento ambiental das implicações da má
utilização da água potável. Neste estudo, os residentes não estão conscientes dos problemas
relacionados com a má utilização da água potável e suas implicações para o meio ambiente.
A não existência de tais fontes de suprimento de água faz com que haja maior pressão sobre o
uso da água potável onde, medidas como a separação criteriosa de actividades que requerem
do uso da água potável daquelas que não necessitam o uso da água potável, como apresenta a
literatura, não são observadas.
34
5.2. Recomendações
a) Estimular iniciativas que visem o uso racional da água potável através da distribuição
de manuais que apresentem orientações claras das práticas de uso racional da água
potável;
35
aspectos, é necessário que faça uma reunião com os grupos de gestão,onde se possam
discutir as soluções dos problemas e novas estratégias de gestão tendo em vista os
problemas apresentados epara a mitigação dos impactos potenciais.
36
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39
ANEXO 1:
Guião de observação de aspectos relacionados às práticas de uso racional da água potável no
bairro de Maxaquene“C”.
b) Disponibilidade de torneiras no
quintal
d) Disponibilidade de fontenários no
bairro
a) Manutenção de equipamentos
hidráulicos dos fontenários e das
torneiras caseiras
40
b) Documentação e reporte às
autoridades competentes de
informações relacionadas ao mau uso
da água potável.
c) Documentação e suporte às
autoridades competentes de
informações relacionadas às boas
práticas de uso.
d) Outras actividades
41
ANEXO 2:
Roteiro de entrevista para os moradores do bairro de Maxaquene
1. Só para dar início à nossa entrevista, fale-me da qualidade de água que vocês
consomem aqui no bairro.
2. De que forma usam a água potável nas tarefas de cada dia na vossa casa?
3. Existem actividades que na sua opinião exigem maior uso de água potável em
comparação com outro tipo de actividades? Se sim, quais são essas actividades?
4. Para além da água potável, usam outro tipo de água? se sim, de que fonte provém essa
água?
5. O que vocês têm feito para que a água potável seja usada racionalmente?
6. Até que ponto isso tem contribuído para a redução do desperdício da água?
7. Que mecanismos usam para conservar a água potável?
8. Esses mecanismos têm dado resultados? Se não, porquê?
9. Para terminar, em sua opinião, que relação existe entre a água potável e a conservação
do meio ambiente?
10. O que mais gostaria de acrescentar que não tenhamos falado nessa entrevista?
Muito obrigado, mais uma vez, pelo tempo que me concedeu e pela sua contribuição
42
ANEXO 3:
Credencial para pedido de informação na AdM
43
ANEXO 4:
Credencial de pedido de informação na DNA
44
ANEXO 5: Imagens
Fig 1: Água despejando-se por falta do controlo da torneira num fontenário público, no bairro de
Maxaquene “C”
Figura 2: Torneira jorrando água por não ter sido bem fechada
45
Figura 3: Fontenário público sem nenhuma placa de indicação sobre boas práticas de uso da água
46