Fichamento de Pennycook - A Linguística Aplicada Nos Anos 90 - em Defesa de Uma Abordagem Crítica
Fichamento de Pennycook - A Linguística Aplicada Nos Anos 90 - em Defesa de Uma Abordagem Crítica
Fichamento de Pennycook - A Linguística Aplicada Nos Anos 90 - em Defesa de Uma Abordagem Crítica
PENNYCOOK, Alastair. A Linguística Aplicada nos anos 90: em defesa de uma abordagem crítica. IN:
SIGNORINI, I.; CAVALCANTI, M. C. (Org.) Linguística Aplicada e Transdisciplinaridade. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 1998, p. 23-50.
Introdução
Vivemos em um mundo marcado por desigualdades fundamentais...
... precisamos ir além da visão que postula que a política é domínio dos estados-nação ou dos “líderes
políticos” e nos perceber dentro de um conjunto de relações de poder que são globais em sua essência.
(p. 24)
... sugiro que consideremos, ... , as bases culturais e dieológicas do nosso trabalho e das nossas vidas, numa
tentativa de compreender como essas bases podem perpetuar essas grandes iniquidades (Ver PAULO
FREIRE E BAKHTIN).
Como linguistas aplicados, estamos envolvidos com linguagem e educação, uma confluência de dois dos
aspectos mais essencialmente políticos da vida (Ver PAULO FREIRE).
... estou convencido de que a aprendizagem de línguas está intimamente ligada tanto à manutenção dessas
iniquidades quanto às condições que possibilitam mudá-las. Assim, é dever da Linguística Aplicada
examinar a base ideológica do conhecimento que produzimos.
Para Phillipson e Skutnabb-Kangas (1986), “os linguistas aplicados colaboram na reprodução das condições
materiais que viabilizam a exploração ...” Os autores sugerem, também, que os linguistas aplicados
investiguem as vias pelas quais o nosso trabalho favorece as formas cada vez mais sofisticadas da coerção
física, social, e, acima de tudo, ideológica. Portanto, como educador e linguista aplicado, sinto que o meu
projeto pessoal deva ser, sempre e simultaneamente, pedagógico e político.
No presente artigo dou um passo consideravelmente presunçoso ao tentar explorar questões do tipo: Onde
estamos agora? Para onde vamos?
... adoto aqui uma posição muito mais crítica. Defendo a ideia de que a Linguística Aplicada poderia passar
por uma reformulação...
(p. 25)
... geral, sendo o nosso trabalho repensado em função do argumento que apresentei anteriormente.
... os paradigmas predominantes na Linguística Aplicada não oferecem o arcabouço teórico para explorar o
caráter político da educação de línguas. O que desejo fazer, neste breve artigo, é desconstruir alguns dos
dogmas da Linguística Aplicada para mostrar como eles estão localizados dentro de uma concepção de
mundo modernista muito específica. Considerando que também proponho o desenvolvimento dos meios que
conduzem às críticas transformadoras, tentarei mostrar como o que chamo de pós-modernismo com
princípios pode nos ajudar a percorrer, num primeiro momento, o caminho em direção à Linguística
Aplicada Crítica. ... defenderei uma linha de trabalho que procure sempre tanto criticar quanto transformar;
que busque envolver-se num projeto moral e político que possibilite a realização de mudanças.
Enquanto muitas outras áreas das Ciências Sociais estão questionando as suas bases epistemológicas, a
Linguística Aplicada parece continuar impassível no que se refere às suas sólidas crenças nos princípios
básicos do pensamento iluminista europeu e em dois dos seus produtos, o positivismo e o estruturalismo.
(p. 26)
Esse modo de pensar acarreta uma fé persistente em uma visão de linguagem apolítica e a-histórica; em uma
divisão clara entre o sujeito e o objeto e, portanto, na noção da objetividade; no pensamento e na experiência
como sendo anteriores à linguagem; no desenvolvimento de modelos e de métodos fiéis aos princípios do
cientista e na testagem subsequente da validade de tais modelos e métodos por meios estatísticos; na crença
do progresso cumulativo como um resultado do acréscimo gradual do conhecimento “novo”; na
aplicabilidade universal do princípio da racionalidade e da verdade e nas teorias que esse modo de pensar
produz.
Como observou Williams (1988), uma definição de linguagem é sempre, implícita ou explicitamente, uma
definição dos seres humanos no mundo.
... a noção de língua que se desenvolveu na Europa estava intimamente atrelada ao desenvolvimento da
questão do estado-nação.
... Este construto político tornou-se ainda mais importante no século XIX com o advento da industrialização
e do colonialismo. Essa era testemunhou as tentativas de criação de um conceito da língua padronizada
(Crowley 1989) e a do desenvolvimento da educação em massa como um meio poderoso de controle social.
(p. 27)
No final do século XIX e no século XX, a linguística adotou essa visão de linguagem, que aceita o conceito
da língua padronizada, e, solenemente, a abençoou como ciência.
A criação da versão padrão de uma língua é particularmente importante, uma vez que ela se coloca no centro
de um dos grandes mitos da linguística moderna: a crença de que houve uma mudança da linguística
prescritiva para a descritiva nos séculos XIX e XX.
Entretanto, como indica o estudo abrangente de Crowley (1989) sobre essas afirmações, não houve de fato
uma mudança da prescrição para a descrição: “a objetificação da língua (...) é uma construção elaborada pela
história do estudo da linguagem na Inglaterra, a qual não pode ser sustentada por evidência..., uma
construção discursiva que serve a objetivos sociais e retóricos específicos” (pp.. 13-14).
Morgan (1987) sugere que a concepção predominante de linguagem tem sido a da “teoria da
correspondência”, a qual pressupõe que os objetos, as palavras e os pensamentos tenham uma
correspondência una.
(p. 28)
A Linguística Aplicada também tem sido gravemente afetada pelos paradigmas estruturalistas que têm sido
mantido, desde Saussure, em movimento pendular.
O predomínio dessas distinções no modo de pensar a linguagem e a aquisição de língua, nos século XX,
resultou no desvinculamento desses estudos das questões históricas, sociais, culturais ou políticas.
Na próxima seção proporei uma concepção diferente de linguagem, mas, antes disso, apontarei algumas das
implicações que a concepção delineada acima acarreta para a Linguística Aplicada.
(p. 29)
... o legado de uma abordagem apolítica e a-histórica da linguagem, centrada na noção de um indivíduo
racional, perspectiva essa reforçada pelo uso da psicologia cognitiva... deu origem às concepções de
linguagem e de comunicação, nas quais não há espaço para se considerar questões sobre o poder e a
desigualdade. Uma concepção de linguagem apolítica e a-histórica, em última análise, não pode explicar as
disputas que ocorrem sobre o sigNIficado. (Conferir Bakhtin, Marxismo e filosofia da linguagem)
... as falácias do código fixo e telemental que subjaz a grande parte do trabalho produzido em Linguística
Aplicada levaram a uma ênfae limitadora no funcionalismo e na comunicação. Essa visão tende a reduzir a
linguagem a um sistema que existe para a transmissão de mensagem ou para fazer coisas com as palavras.
O que falta a essa concepção de linguagem é a compreensão de que a língua é um sistema de significação de
ideias que desempenha um papel central no modo como concebemos o mundo e a nós mesmos. (concepção
de língua de Pennycook como sistema !?)
O ensino de língua há muito tempo tem-se debatido com a questão do conteúdo, isto é, além da língua em si,
do que mais uma aula de língua deve tratar? Infelizmente, com a difusão do ensino comunicativo de línguas,
desenvolveu-se a crença de que, na medida qm que a mensagem fosse passada de A para B, a aprendizagem
poderia ocorrer. ... Embora isso tenha implicações pedagóficas e sociais importantes, as impli-
(p. 30)
-cações políticas também deveriam ser consideradas...
... a questão central da adequação social continuou desvinculada da questão da valia política das formas
linguísticas.
(p. 31)
Portanto, se ensinarmos, tendo por meta a competência comunicativa, e não explorarmos como o uso da
linguagem foi historicamente construído em torno das questões de poder e dominação, ou como, nos seus
usos cotidianos, a linguagem está sempre envolvida em questões de poder, estaremos, uma vez mais,
desenvolvendo uma prática de ensino que tem mais a ver com acomodação do que com acesso ao poder.
... O processo de fixar, de forma diagramática, uma visão de aprendizagem e então prosseguir buscando
testar sua validade de acordo com os métodos positivistas de experimentação quantitativa é, mais uma vez,
um movimento perigosamente reducionista. Embora seja razoável acatar-se o uso de modelos e de métodos
como categorias heurísticas e não-ontológicas, isto é, como versões temporárias de conhecimento, sua
canonização na literatura da Linguística Aplicada tem, ao contrário, conferido-lhes o estatuto de teorias
completas e adequadas, que podem ser aplicadas a diferentes situações (NAYAR, 1989).
... Em primeiro lutar, e acima de tudo, está o problema do predomínio das formas de pesquisa quantitativa...
(p. 32)
e positivista.
... Ocshsner (1979) defendeu a necessidade de uma abordagem equilibrada de pesquisa que reconhecesse
não apenas a tradução positivista legislante, mas também uma abordagem hermenêutica.
... o que de fato acontece é que a pesquisa qualitativa, ao contrário da quantitativa, é relegada a desempenhar
funções menores: ela parece ser tão útil quanto a quantitativa para definir categorias e variáveis, mas não
como um fim em si mesma. Essa desigualdade tem implicações sérias, pois a pesquisa qualitativa tem sido
ignorada, pouco desenvolvida e mal compreendida, e, frequentemente, igualada a uma concepção limitada
de etnografia ...
(p. 33)
... a maior parte da pesquisa em aquisição de segunda língua (ASL) ainda tem pouco a dizer sobre a
aprendizagem de língua em sala de aula (Van Lier, 1988). ... a maior parte das pesquisas tem sido do tipo
quase-experimentais, com estudantes em pequenos grupos desempenhando tarefas estabelecidas pelos
pesquisadores. Esses experimentos limitados e positivistas, que se desenvolvem fiéis à crença de que a
aprendizagem de língua pode ser explicada por medidas quantitativas de “insumo” ou “interação” (Aston,
1986), ignoram questões sociolingüísticas básicas ao comparar, por exemplo, padrões de perguntas entre
pares de indivíduos que não se conhecem, com padrões de perguntas entre professores e alunos na sala de
aula.
A pesquisa em ASL, por meio de medidas quantitativas das relações não substanciais de causa e de efeito,
em situações quase-experimentais, tem tratado a sala de aula como um lugar de meras trocas linguísticas, em
vez de buscar entendê-la como um local complexo de interação social. A produção científica exploradora
das dinâmicas sociais, culturais e políticas das salas de aula se segunda língua tem sido irrisória. Questões
fundamentais, como o papel do gênero nas interações em sala de aula e na aquisição de língua, têm,
consequentemente, recebido mínima atenção (no entanto, ver Holmes 1989, sobre trabalhos nessa área).
(p. 34)
... estou tentando ilustrar aqui as severas limitações sofridas pela maior parte do trabalho em Linguística
Aplicada desenvolvido até o presente momento.
Esses limites têm implicações não só para a Linguística Aplicada, mas também para os estudantes e os
professores de inglês como segunda língua do mundo inteiro.
Nesta seção, gostaria de delinear aqueles que considero ser os principais desafios ao pensamento modernista
e que formam uma constelação de ideias que aqui agrupo sob a rubrica de “pós-modernismo com
princípios”: “pós-moderno” porque essas visões envolvem uma profunda reavaliação de muitas das mais
cultivadas crenças da era moderna; “com princípios” porque meu interesse aqui é evitar incorrer no
relativismo ou nos jogos de linguagem característicos de uma certa produção...
(p. 35)
... escrita modernista e sustentar uma visão de pós-modernismo que leve em consideração noções de política
e de ética.
... rubrica do pós-modernismo, a qual, neste trabalho, adoto para incluir uma gama variada de posturas
críticas, dentre as quais são mais ressonantes as vozes do feminismo emergente e as do Terceiro Mundo.
Interessam-me, particularmente, as formas mais radicais e políticas do pós-modernismo presentes nos
escritos de Foucault e outros ...
A produção pós-modernista vem tentando mostrar como a academia ocidental está inserida no contexto da
modernidade, e diz respeito a uma maneira mais particular de ver o mundo, que pode estar em declínio. ...
... A crença de que a história é linear e ordenada tem sido questionada ...
... A noção de um sujeito uno, racional, cartesiano, capaz de conhecer a si mesmo e a outros...
(p. 36)
O foco da maior parte da crítica pós-moderna tem incidido sobre a ciência e a filosofia.
(p. 37)
As mulheres não estão apenas redefinindo essas áreas e mudando a nossa compreensão a respeito das noções
de sujeito ou de conhecimento, mas estão, também, alterando toda a base sobre a qual o trabalho acadêmico
é feito ao enfatizar o pessoal (como sendo sempre político), o desejo e a memória.
... a crítica feminista começou a nos ajudar a compreender como as questões de gênero marca a natureza
desse tipo de pensamento e a sugerir novos modos de pensar o mundo.
(p. 38)
... “A política da diversidade e da pluralidade,” afirma Kothari, “ao considerar irrelevante o monólito
dominante, torna-se a base para uma era pós-moderna alternativa de ação e conhecimento” (pp. 279-280).
(p. 39)
... a Linguística Aplicada parece ter mantido, de forma descompromissada, a sua fé na objetividade, nos
modelos e nos métodos, no positivismo e na concepção apolítica e a-histórica de linguagem, na divisão clara
entre sujeito e objeto, no pensamento e na experiência como sendo anteriores à linguagem, e na
aplicabilidade das suas teorias para o resto do mundo.
(p. 40)
A noção de linguagem também tem sido muito repensada fora da LA. Após delinear as noções
representacionalista e estruturalista do significado, Morgan (1987) oferece, em sequência, uma terceira
noção de linguagem a qual ele chama de “discurso dialógico”. Com base nos trabalhos de Bakhtin,
Volosinov e Foucault, essa concepção não é somente uma descrição de uma estrutura abstrata nem
meramente uma teoria de linguagem, mas constitui-se em uma política de representação, em uma
compreensão de como a linguagem é construída socialmente e de como ela produz mudança e é mudada na
vida humana. Essa concepção identifica a linguagem como uma cena de conflito, em que o mundo está
sempre/já na palavra. Essa noção pós-estruturalista de linguagem, cuja importância para uma melhor
conceitualização de ensino de línguas já foi claramente demonstrada por Peirce (1989), é centrada em uma
noção de discurso como um conjunto de sinais e de práticas que organiza a existência social e as práticas
geradoras de sentido.
... A noção de que as subjetividades são constituídas no discurso também é fundamental para essa
concepção. Ao invés do sujeito uno, racional, capaz de ideias e experiências anteriores à linguagem, bem
como fora dela, uma visão pós-estruturalista sugere que, uma vez que ...
(p. 41)
... as subjetividades são construídas e assumidas em discursos concorrentes e neles posicionam-se, elas
constituem, portanto, espaços múltiplos e contraditórios.
... Primeiro, o pensamento pós-moderno pode nos ajudar a ver como a natureza muito peculiar da
Linguística Aplicada se desenvolveu em seu contexto modernista.
Em segundo lugar ... Quando uma área de estudo acadêmico continua imperturbável enquanto são
levantadas algumas questões fundamentais sobre as bases epistemológicas nas quais ela se sustenta, essa
área pode estar insuficientemente embasada em face a alguma apreensão das formas de conhecimento que
ela mesma está produzindo. ... Se os antropólogos estão questionando o uso contínuo de uma determinada
concepção de cultura e a possibilidade de se representar o Outro; se os educadores estão fazendo perguntas
difíceis sobre a política cultural da escolarização e sobre os interesses e as políticas das diferentes formas de
conhecimento; se os psicólogos estão questionando a construção e o controle concomitante do sujeito dentro
dos discursos psicológicos; se os pós-estruturalistas estão enfatizando poder, conflito, e discurso na
linguagem ...
(p. 42)
O uso da palavra ‘crítica’ não pretende se referir a uma concepção de criticismo somente em termos dos
argumentos contra o cânone do pensamento reconhecido; ao invés disso, a palavra “crítica” é usada com a
intenção de incluir uma concepção de crítica transformadora. Isto significa dizer que nós, na qualidade de
intelectuais e professores, precisamos assumir posturas morais e críticas a fim de tentar melhorar e mudar
um mundo estruturado na desigualdade.
(p. 43)
... a minha proposta tem a ver com um trabalho que busque compreender as implicações políticas da sua
prática. Nesta seção final, lançarei um breve olhar à Linguística crítica, à Sociolinguística crítica, à
Etnografia crítica e à Pedagogia crítica, esperando que esses domínios possam nos dar algumas indicações
sobre os caminhos que nos possibilitem construir uma Linguística Aplicada crítica.
... Fairclough (1989) demosntra como o Estudo Crítico da Linguagem (ECL) pode revelar os processos pelos
quais a linguagem funciona para manter e mudar as relações de poder na sociedade. Ele esboça dois dos
principais objetivos de seu trabalho: corrigir “a difundida minimização da importância do significado da
linguagem na produção, manutenção e mudança das relações sociais de poder” e aumentar a
“conscientização do modo como a linguagem contribui para o domínio de algumas pessoas sobre as outras,
porque a conscientização é o primeiro passo em direção à emancipação (p.1) (ver PAULO FREIRE =
CONSCIENTIZAÇÃO)
... Baseado nos trabalhos de Foucault e Habermas, Fairclough argumenta que, analisando o modo como o
poder e a ideologia estão inscritos no discurso, podemos chegar à consciência crítica da maneira como a
língua reflete e constrói a desigualdade social.
(p. 44)
Também é possível, como afirmam Simon e Dippo (1986), fazer pesquisa crítica. Partindo da premissa de
que “fazer de fato etnografia significa engajar-se em um processo de produção de conhecimento” (p. 195),
os autores argumentam que todos os modos de saber e todas as formas particulares de conhecimento são
ideológicas (não se trata meramente de uma questão de “viés tendencioso”, mas de se considerar de quem
são os interesses que estão contemplados pelos trabalhos que produzimos). ... Segundo os autores, para que
o trabalho etnográfico seja crítico, ele demanda:
1) uma problemática que pretenda revelar práticas sociais como formas de ação e de significados
produzidas e reguladas;
(p. 45)
2) meios pelos quais ele possa ser levado para a esfera pública para promover a crítica e a
transformação da sociedade;
3) ter um elemento auto-reflexivo que permita abordar o caráter situado da pesquisa estando ela
localizada em determinadas formas históricas e institucionais particulares. Mais importante ainda, tal
projeto etnográfico não só vai além dos limites da pesquisa positivista, mas também busca ir além
das preocupações meramente hermenêuticas, em favor de um projeto emancipatório.
... a pedagogia crítica busca compreender e criticar o contexto histórico e sociopolítico da escolarização,
bem como desenvolver as práticas pedagógicas que buscam não só mudar a natureza da escolarização, mas
também da sociedade mais ampla. Considerando o conhecimento como sendo socialmente construído e
todas as reivindicações de conhecimento como sendo, portanto, “interessadas”, a pedagogia crítica busca
explorar e questionar os tipos de conhecimento produzidos e legitimados nas escolas.
(p. 46)
Como seria, então, a LA crítica? Com base na breve discussão que fiz sobre as outras abordagens críticas,
penso que ficam claras algumas direções que ela poderá tomar.
... Creio que temos que levar essas considerações realmente a sério e tentar ver as conexões entre o nosso
brabalho e as questões bem mais amplas de desigualdade social. Como linguistas aplicados, precisamos não
só nos percebermos como intelectuais situados em lugares sociais, culturais e históricos bem específicos,
mas também precisamos compreender que o conhecimento que produzimos é sempre vinculado a interesses.
Se estamos preocupados com as óbvias e múltiplas iniquidades da sociedade e com o mundo em que
vivemos, então creio que é hora de começarmos a assumir projetos políticos e morais para mudar estas
circunstâncias. Isso requer que rompamos com os modos de investigação que sejam associais, apolíticos e a-
históricos.
... Precisamos repensar o que queremos dizer quando nos referimos à linguagem, investigar as circunstâncias
específicas que nos levaram aos nossos conceitos atuais e ver como, ao adotar uma concepção de discurso
como um conjhunto de sinais e práticas que organizam a existência e a (re)produção sociais, podemos
conceber a linguagem como fundamental tanto para manter quanto para mudar a maneira como vivemos e
compreendemos o mundo e nós mesmos. Da mesma maneira, precisamos repensar a aquisição da linguagem
em seus contextos sociais, culturais e políticos, levando em consideração o gênero, a raça e outras relações
de poder, bem como a concepção de sujeito como sendo múltiplo e formado dentro de diferentes discursos.
A pesquisa se beneficiaria se abandonasse sua obsessão pela prova quantitativa e suas alegações de
objetividade. Não estou de forma alguma sugerindo que deveríamos rejeitar definitivamente a avaliação
quantitativa...
... Precisamos entender as escolas como arenas culturais complexas, onde formas diversas estão em conflito
permanente, e precisamos compreender, acima de tudo, a política cultural do ensino de línguas. Deveríamos,
também, ser mais humildes e prestar atenção às muitas concepções alternativas de linguagem e
aprendizagem ao invés de apregoarmos as nossas ideias como sendo as melhores e as mais atualizadas.