2020 - 04 GQ PT 2020 (Interactive) PDF
2020 - 04 GQ PT 2020 (Interactive) PDF
2020 - 04 GQ PT 2020 (Interactive) PDF
M A R K VA N D E R LO O
C U LT O | M O D A | E N T R E V I S TA S | C U R I O S I D A D E S | R E P O R TA G E M | G A D G E T S
52 CORPO
128 CABELO
Uma careca – o mal temido pela
96
Estilo esmagadora maioria dos homens.
Acessórios Saiba o que é mito e o que é
solução no universo da calvície.
MOTORES
142 CLÁSSICO
Conheça os cinco clássicos
desaparecidos que fizeram furor
Mark Vanderloo,
no European Car of the Year.
fotografado por Especiais
Frederico Martins. Musa
PAN(ICO)DEMIA
nada estivesse a acontecer, mas temos de
ser realistas e encontrar um meio termo,
porque, a cada dia que passa, os resultados
Estamos a viver uma pandemia ao mesmo da crise serão piores. Vivemos num país
tempo que vivemos em estado de pânico onde há uns meses o nosso primeiro-minis-
como há muitos anos o primeiro mundo tro disse “é financeiramente insustentável”
não vivia. Costuma-se dizer que a Guerra baixar a taxa do IVA da eletricidade.
do Golfo foi a primeira guerra a ser trans- Temos de realmente proteger os mais ve-
mitida em direto para o mundo inteiro; o lhos e as pessoas de risco, e, com todos os
covid-19 é o primeiro vírus a tornar-se viral cuidados, a vida tem de continuar. E pensar
na comunicação social e nas redes sociais e em economia não é ser um monstro capita-
é acompanhado em direto 24 horas por dia. lista, é estar preocupado com as pessoas.
Claro que há outros males que assolam Imaginemos um policial sobre a resolução
o mundo. Por exemplo, desde junho do ano de um crime, o crime de que toda a gente
passado a República Democrática do Con- José Santana fala, os jornalistas querem saber quem ma-
go vive uma epidemia de Ébola ainda não Diretor GQ Portugal tou, a pressão pública sobre a polícia aumen-
completamente controlada. Até ao momen- ta, metem-se mais efetivos no caso, outros
to, houve cerca de 3.400 casos e aproxima- crimes vão acontecendo na cidade, alguns
damente 2.200 mortes. A taxa de mortali- piores até, mas a opinião pública só quer sa-
dade é altíssima. A malária, por outro lado, financeiras são as mesmas. Vejo posts nas ber daquele e no fim todos os efetivos estão
ainda mata mais de 400.000 pessoas por redes a dizer que nos vamos tornar melho- nesse caso – mal comparado, é isto que está
ano, grande parte em Africa – as crianças res seres humanos depois desta crise. Eu a acontecer com a covid-19. Consultas, ope-
representam 67% destas mortes e o facto pergunto-me: com base em quê? Vi pessoas rações, tudo é cancelado, parece que uma
de a doença estar concentrada em áreas de a fecharem-se em casa sem se preocupa- morte pelo novo coronavírus é de lamentar,
menor peso económico não a tornou atra- rem se há vizinhos mais velhos no bairro a as outras mortes são estatística.
tiva para a indústria farmacêutica, o que precisar de ajuda. Vi pessoas a fecharem-se Se há expressão usada nos últimos dias
contribui para ainda não haver uma vacina. em casa e a continuarem a ter lá a empre- é que estamos em guerra. Não conheço
A gripe, segundo o relatório do Instituto gada doméstica todos os dias. Vi pessoas a nenhuma guerra que tenha sido ganha
Nacional de Saúde Ricardo Jorge, matou na falarem mal de pessoas a passarem na rua, só a pensar no número de baixas. E nesta
estação passada 3.331 pessoas em Portugal sem saberem nada da vida dessas pessoas. guerra podemos estar em várias trinchei-
(650 mil a nível mundial). Claro que quando Vi pessoas a criticarem turistas e a man- ras, fechados em casa, a trabalhar, como
alguém mistura a gripe numa conversa so- dá-los embora, sem pensarem que podiam voluntários a ajudar quem precisa. Todas
bre o novo coronavírus é logo “apedrejado”. ser eles a estar noutro país naquela altura, elas feitas com responsabilidade são ne-
Não estou a comparar os vírus, não tenho como o caso de um casal português no Peru cessárias. Cada um estará a ajudar os que
conhecimentos médicos para isso, mas não com quem a Vogue falou em direto, que nos estão noutras trincheiras, porque a guerra
preciso de os ter para saber que, se essas contou que tinham medo de andar na rua é a mesma, mas com várias frentes, juntos
650 mil mortes tivessem sido acompanha- porque eram vistos como monstros que es- vamos vencê-la. E espero que algo de bom
das em direto pelos meios de comunicação tavam a propagar o vírus e não conseguiam venha com isto tudo, que o nosso Estado
em Portugal e no mundo, o efeito de pânico voltar para Portugal. passe mesmo a respeitar os mais velhos,
teria sido muito parecido. E o pânico rara- Preocupamo-nos com os refugiados, coisa que não tenho visto até aqui; que uma
mente nos faz tomar as melhores decisões. preocupamo-nos com a fome no mundo classe social como a dos enfermeiros não
O que sinto enquanto escrevo estas linhas (morrem aproximadamente 8.500 crianças seja vista como bandidos quando reivin-
é que se extremam posições e não se tenta de fome por dia no mundo, segundo nú- dicam melhores condições; que passemos
o equilíbrio. Quem pode ficar em casa deve meros da UNICEF), os países do primeiro todos a dar mais valor ao que temos; e que
fazê-lo, mas não nos podemos esquecer que mundo têm a obrigação moral de não pa- tenhamos líderes com visão e coragem para
nem todos o podem fazer e é injusto fazer rar apesar da epidemia de covid-19, porque tomar decisões que ultrapassem o dia de
acreditar que todas as casas e situações a crise económica não são números, são hoje, porque amanhã será tarde de mais.l
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REDAÇÃO
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ARTE
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FOTOGRAFIA e VÍDEO
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CHRISTOFOLETTI olha, com atenção e rigor, para a evolução Nascido em Turim, sediou-se em Milão
Impressão: Lidergraf Sustainable printing
Rua do Galhano, 15, 4480-089 Vila do Conde.
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É fotógrafo, vive em São Paulo, mas, da crise pandémica da covid-19, com depois de ter frequentado a escola de
como manda a profissão, é pouco o os seus números, as suas datas e a sua artes. Estreou-se no mundo da moda Distribuição: VASP – Soc. de Transportes e Distribuição, Lda.
tempo que lá passa. O nome é conhecido progressão pelo globo. nos anos 90 e desde então a sua carreira MLP: Media Logistics Park – Quinta do Grajal
Venda Seca – 2739-511 Agualva-Cacém
internacionalmente e vem associado é feita de grandes nomes da fotografia Email: [email protected]
a revistas de moda como Vogue, GQ e de moda como Albert Watson, Thomas
Distribuição de Assinaturas: Lidergraf Sustainable printing
Harper’s Bazaar, e a marcas como Gucci, Schenk e Mario Sorrenti, e de publicações Email: [email protected]
JW Anderson e Vivienne Westwood. Tem como Vogue Espanha, Vogue Portugal, GQ
35 anos, já dedicou 15 à indústria da moda Italia e Harper's Bazaar China. Confessa LIGHT HOUSE – EDITORA, LDA.
e, na edição de abril da GQ Portugal, que o que mais gosta de fazer é consultar Administração: José Santana, Sofia Lucas
fotografou a musa Luana Piovani. marcas e designers para construir um Conselho Editorial: Branislav Simoncik, José Santana, Sofia Lucas
Detentores do Capital: Branislav Simoncik (12,5%), Jan Kralicek (12,5%),
desfile. Nesta edição assina o styling da José Santana (25%), Sofia Lucas (25%), Pure Lisbon Hospitality, Lda. (25%)
produção de capa com Mark Vanderloo.
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BACKSTAGE A GQ Portugal é publicada com o licensing agreement da
Vivemos um momento em que é frequente ouvir-se agradecimentos a pessoas Condé Nast Internacional/Advance Magazine Publisher Inc. por:
e instituições da sociedade tantas vezes esquecidas – agradecimentos mais Propriedade/Editora: Light House – Editora, Lda.
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que merecidos em todos os casos. Também nós gostaríamos de demonstrar C.R.C. 513 529 977
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mal-amadas ou em quem nem pensamos. Assim, agradecemos à pessoa que E.R.C. n.º: 126731
inventou o Whatsapp e aos deuses da Internet, aos criadores das redes sociais Em cumprimento do Art.º 16, n.º 3, da Lei de Imprensa, informamos: Tiragem média: 20.000 exemplares
e aos génios que desenvolveram os emails, às operadoras telefónicas e aos
técnicos de redes de telecomunicações. Provavelmente, estamos a esquecer-
nos de alguém e pedimos desculpa por isso. Foi graças a todas essas pessoas
que estas pessoas, do lado de cá e cada qual em sua casa, conseguiram
conceber e finalizar uma revista inteira mantendo um contingente reduzido
ao mínimo no local habitual de trabalho. ESTATUTO EDITORIAL: A GQ é uma revista mensal, independente e livre, direcionada para o público masculino. A GQ aborda temas de interesse transversal, como cultura, moda, desporto e lifestyle, manten-
do uma forte aposta no jornalismo de investigação. A GQ compromete-se a apoiar editorialmente a moda e a cultura portuguesas. A GQ nunca se deixará condicionar por interesses partidários e económicos
ou por qualquer lógica de grupo, assumindo responsabilidade apenas perante os seus leitores. A GQ coloca a liberdade no centro das suas preocupações e acredita que pode desempenhar um papel importan-
te ao nível da sensibilização social, promovendo uma sociedade mais informada e igualitária. A GQ privilegia um design atrativo, revelando um cuidado com a imagem e o grafismo que deverão contribuir para o
6 GQPORTUGAL.PT ABRIL 2020 equilíbrio da revista. A GQ dirige-se a um público de todos os meios sociais e de todas as profissões. A GQ estará sempre atenta à inovação, privilegiando as redes sociais e os formatos digitais, e promovendo
a interação com os seus leitores. A GQ assegura o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores.
C U LT O AGENDA
É PRECISO
MÚSICA • CINEMA • ARTE • EXPOSIÇÕES • LIVROS • PERSONALIDADES SONHAR
Não é tempo de viagens, mas isso não é
razão para não aproveitar o que Portugal
tem para oferecer. No site do Governo dos
Açores pode explorar alguns dos locais
mais emblemáticos do arquipélago. Visite,
por exemplo, o Museu da Graciosa ou o
HAPPY HOUR
Museu do Pico numa experiência 360º. Se Sabemos que a conversa sobre vinhos
já conhece os Açores como a palma da sua costuma vir mais para a frente, mas
mão, o site www.360portugal.com mostra- se só precisa de uma boa desculpa
lhe as mais belas maravilhas de Portugal para abrir uma garrafa, aqui está
com panoramas aéreos e visitas virtuais. ela: todas as quartas-feiras, às 18h,
a Wine Hour at Home está ao vivo
no Instagram. Um convidado por
sessão faz a seleção de vinhos para a
degustação – que pode encomendar
em www.vinha.pt com entrega em
24 horas – e o convívio virtual é
conduzido pelo wine advisor Cláudio
Martins e pelo sommelier Rodolfo
Tristão. Os participantes podem
colocar questões e, claro, juntar-se à
prova – porque um bom vinho sabe
melhor quando é partilhado.
S E N Ã O VA I
AO TEATRO…
O teatro vai a sua casa. O Teatro
Aberto vai apresentar online, no seu
site, o registo de arquivo de alguns
espetáculos. Todas as noites, às 21h e
até ao final de abril, poderá ver Vermelho
(de 2 a 8 de abril), Noite Viva (de 9 a 15 de
abril), O Preço (de 16 a 22 de abril) e Amor
e Informação (de 23 a 29 de abril). Vista-
-se a rigor e vá ao teatro. Desta vez nem
precisa de sair do sofá.
A Leiteira, de Johannes Vermeer. A pintura pode ser vista na visita virtual ao museu Rijksmuseum (Amesterdão).
CICLO
QUARENTENA
CINÉFILA
Em tempos de quarentena, a Medeia Filmes
(que explora o Espaço Nimas, em Lisboa, e
o cine-estúdio do Teatro Campo Alegre, no
Porto), leva o cinema até si. Todas as terças,
quintas e sábados, poderá ver um filme de
forma gratuita, que fica disponível no site
da Medeia a partir das 12h até à “estreia”
do filme seguinte (ou seja, durante dois
dias). Na terceira semana da iniciativa, será
exibida a Trilogia das Cores de Krzysztof
Kieslowski – Azul (31 de março), Branco (2 de
abril) e Vermelho (4 de abril). Depois, é a vez
do cinema francês contemporâneo: Frantz, de
François Ozon (7 de abril); Tempos de Verão,
de Olivier Assayas (9 de abril); e As Canções
de Amor, de Christophe Honoré (11 de abril).
Still do filme Frantz (2016), de François
Ozon, protagonizado por Pierre Niney
(à esquerda) e Paula Beer (à direita).
L I T E R AT U R A
FOTOGRAFIA: ©BENTLEY
Da guerra ao silêncio
RADAR FOTOGRAFIA
LUXO SOBRE
RODAS
CULTURAL The Impossible
Collection of
Bentley. Andrew
“Não só criar um carro bom e rápido, mas
criar o melhor da sua classe” – era este
o mote de Walter Owen Bentley em 1919,
Frankel. Assouline.
Já deixou de saber o que €1.450, em
quando fundou a empresa a que emprestou
fazer com tanto tempo em eu.assouline.com. o apelido em Londres, numa altura em que
ninguém desconfiava do impacto que a sua
casa? Faça da sua sala de visão teria na indústria automóvel. Desde
estar uma sala de cinema então, e porque o lema do criador nunca O OFICIAL E O ESPIÃO A FÁBULA O SILENCIEIRO CORPOS CELESTES
foi esquecido, a Bentley ganhou raízes ROBERT HARRIS WILLIAM FAULKNER ANTONIO DI BENEDETTO JOKHA ALHARTHI
ou navegue pela história no imaginário coletivo como uma grande Editorial Presença D. Quixote Cavalo de Ferro Relógio d’Água
de um dos mais icónicos marca britânica de automóveis de luxo. Para Foi a partir deste thriller histórico Passada nas trincheiras durante Publicado em 1964, este romance Um romance que atravessa a
carros de luxo britânico. celebrar o centenário, a Assouline lançou, que se fez J'accuse, filme de a Primeira Grande Guerra, esta (assinado por um escritor de culto história de Omã (da sociedade
no fim do ano passado, um livro em que Polanski que estreou no início do história alegórica parte de um argentino) acompanha um jovem tradicional e esclavagista até ao
Por Beatriz Silva Pinto.
compila os 100 modelos mais marcantes, ano. Neste livro, Harris narra, na motim num regimento francês. que vive nos subúrbios e que quer presente) através das vidas de três
com críticas e explicações detalhadas sobre primeira pessoa, pela voz de um Hoje é considerado um dos escrever um livro, mas que não irmãs: Mayya, que casa após um
cada automóvel – do primeiro Bentley a oficial de nome Picquart, um dos principais romances de Faulkner. suporta o ruído das máquinas, dos desgosto amoroso; Asma, casada
ganhar em Le Mans (o 1924 3-Litre) até ao mais famosos casos de corrupção Galardoado com o Prémio Pulitzer rádios, dos automóveis. Por isso, por obrigação; e Khawla, que
ostensivo 2018 Continental GT. judicial: o caso de Alfred Dreyfus. e com o National Book Award. busca um lugar inacessível ao som. espera pelo amado que emigrou.
MARIA DO MAR
Para que possa preencher os dias
longos de filmes curtos, a Agência
da Curta Metragem tornou livre o
visionamento de alguns dos filmes
do seu catálogo. A curta-metragem
Maria do Mar, realizada por João
D’A MONTRA
Rosas e vencedora da Competição
Nacional do Curtas Vila do Conde
2015, é uma delas. Para ver em
www.vimeo.com/showcase/short-
PARA A ESTRADA
films-for-long-days.
CINEMA EM STREAMING
S
melodia (ao invés dos riffs e qui a uns anos será mais fácil ver de que
progressões com que se ocupava ão o produto de anos na música, processo tem de ser muito eficiente porque maneira é que nós nos influenciámos uns
em Linda Martini), que André de desdobramentos entre proje- já ninguém tem tempo para estar 6 horas aos outros”, conta Pir.
Henriques começou a pensar tos, de uma vontade de criar que numa sala de ensaios a compor... Somos Os Cassete Pirata estão quase de malas
gravar a solo. De um par de não cessa. Em 2016, João Firmino artistas filhos da crise, por isso não conhe- feitas para a Tour N2, que tem o nome e a
canções que lhe sobraram das (Pir), Maria Campelo, Joana Espadinha, cemos outra realidade que não seja ter dois rota emprestados pela Estrada Nacional
encomendas, nasceu um álbum António Quintino e João Pinheiro lançaram ou três trabalhos e ter de organizar a agen- n.º 2. Quando questionados sobre a rota,
composto em dois meses e o cartão de visita: um EP Cassete Pirata com da de uma maneira muito pragmática”, con- brincam com o mito sobre a estrada ame-
gravado em seis ensaios. Pela quatro músicas. O longa-duração A Montra ta o músico. ricana, querendo fazer da EN2 uma Route
primeira vez em nome próprio. chegou o ano passado e foi a afinação de Mas a sabedoria de uma banda que se 66 à escala lusitana. E Pir explica porquê:
S E RGIO À PO RTA DA C HU VA É C A NTO R I A algumas músicas que não foram para o EP fez com músicos maduros sabe que a ram- “Somos uma banda que gosta muito de es-
Após a invasão do Iraque pelos ETERNI DADE NA A LD E I A D O S e um somatório de canções que nasceram pa de lançamento de um novo projeto é tar na estrada e que se dá muito bem na es-
Estados Unidos, Sérgio Vieira Desprezado pelos pares, mas M O RTO S da estrada. sempre longa: “isto de ser artista é mais trada – faz-nos sentido levar a música aos
de Mello, um diplomata da ONU crente de que pintar é a sua vida, Estreou nas salas de cinema há O conselho veio do produtor Benjamim, uma maratona que um sprint e tem muito sítios que são um bocadinho mais difíceis
que trabalha nas regiões mais Vincent parte de Paris, cidade um ano e agora pode vê-lo (ou conta o frontman Pir: “O facto de termos a ver com consistência e com amor àquilo de marcar. Nos sítios do interior nem sem-
instáveis do mundo, enfrenta cinzenta, rumo a sul (Arles), revê-lo) em casa. João Salaviza começado por um EP ajudou-nos a abrir o que fazemos... É um caminho longo, mas pre é fácil, porque não têm um bar ou os
a missão mais perigosa da sua onde o sol dita as paisagens. Uma e Renée Nader Messora viajam caminho para depois e quando o disco de preferimos esse caminho mais lento mas equipamentos para nos receber, ou não há
carreira, em Bagdade. Um filme viagem pelos últimos meses de entre o documentário e a ficção longa duração chegou já não caiu em saco mais consistente”, explica Joana. pessoas lá... Então fizemos o esforço para
biográfico protagonizado por vida (e pela derradeira espiral para contar a história de Ihjãc roto.” A gravação do disco fez-se com dis- Os dois músicos conheceram-se quando tentar inverter essa tendência. E estamos
Wagner Moura e realizado por de loucura) de Van Gogh – pelo e refletir sobre a realidade dos ciplina e contando com o processo criativo estudavam, hoje são professores e, para a tentar marcar mais datas e esperamos
Greg Barker. Estreia a 17 realizador Julian Schnabel. indígenas krahô do Norte do Brasil. de João Firmino, que escreve as canções, além do ofício, também estudam de perto o conseguir fazer o maior número possível
de abril, na Netflix. Já disponível no Filmin. Estreia a 10 de abril, no Filmin. monta os arranjos e adianta trabalho. “O que está a acontecer com a música e com os de pontinhos da N2.” l
D
izemo-lo sem hesitações: é a músicas de ouvido. Filmou-se a si mesmo
next big thing brasileira. Aliás, a tocar e a cantar, publicou o resultado no
talvez Vitão já não seja propria- YouTube – é que Vitão tinha uma estraté-
mente next, ele é uma big thing. gia. “Eu queria ir juntando material para
Se não, vejamos: cada vídeo que publica que, quando lançasse as músicas autorais,
no YouTube atinge os 30, os 40, às vezes os eu já tivesse uma fanbase, nem que fossem
50 milhões – com sublinhado em “milhões” A pesar de fazer parte de uma nova era, 100 pessoas ali para ouvir.” Nessa época
– de visualizações; em outubro atuou no Vitão não nega as suas influências na tra- dos vídeos no YouTube, começou a tocar
Rock in Rio ao lado de Projota diante de de- dição brasileira. “Hoje em dia, aquilo que em bares e deu aulas de música.
zenas de milhares de pessoas; e, last but not me influencia é até mais nacional do que já Os vídeos online ajudaram-no a chegar
at all least, gravou um teledisco com Anitta. foi”, diz. “De há uns anos para cá, tenho es- às pessoas de editoras e de agências, aos
O músico paulista de apenas 20 anos pas- cutado muita MPB, muito samba, muito pa- empresários que tem hoje. Em 2018, come-
sou por Lisboa numa operação de charme gode.” Quando era mais novo, ouvia outras çou a gravar em estúdio. Ao início, gravava
para antecipar os concertos que dará em coisas. “Escutava muito blues, sempre es- apenas singles, “numa estratégia de ir lan-
Portugal no próximo verão e nós aproveitá- cutei muita música negra americana, muito çando um por mês”, depois lançou um EP. O
mos para conversar um pouco com ele. soul, muito R‘n’B, sou o maior fã do mundo primeiro álbum de longa de duração só foi
Pedimos-lhe que se apresentasse aos de Michael Jackson, sou muito fã de Mar- lançado recentemente, no início deste ano,
leitores da GQ. “Acho que me apresentaria vin Gaye, de James Brown.” O músico tem e chama-se Ouro. Neste disco, Vitão conta
como artista de música popular brasileira vestida uma T-shirt dos Guns ‘n’ Roses, de com a colaboração de vários músicos, “to-
[MPB]”, começa por dizer, como quem ain- quem também assume gostar. “Quando era dos escolhidos a dedo, pessoas próximas,
da está a desbravar e vai acrescentar algo. mais novo ainda, eu era muito fã de rock”, pessoas que ajudaram muito”.
“Quando alguém fala MPB, as pessoas têm admite e depois confessa que Slash, o gui-
ainda uma ideia um pouco conservado- tarrista dos Guns, é um dos seus ídolos.
ra. Pensam no Caetano Veloso e no Chico “Até o meu cabelo lembra ele.” [Risos.] ANITTA
Buarque e somente isso.” Calma, Vitão ex- A lista de colaborações é longa e inclui, por
plica onde quer chegar. “Eles com certeza exemplo, o português Diogo Piçarra, mas
são MPB, a música deles com certeza é a DO AUTORRÁDIO há um nome que sobressai: o de Anitta. A
raiz da MPB, mas a MPB existe até hoje. AO MAINSTREAM megaestrela brasileira coprotagoniza o vi-
Na minha conceção, a MPB é simplesmente Vitão fala sobre os tempos em que ouvia deoclipe de Complicado com Vitão. Há um
uma música comunicativa e que conversa muito hard rock – AC/DC, Aerosmith, por antes e um depois de Anitta? “Há”, diz o
com as pessoas.” aí fora. Ouvia e tocava, a guitarra elétrica cantor sem hesitações. “Ela me ajudou mui-
A explicação de Vitão tem uma razão de era um elemento presente em ambas as to e, de repente, eu estava em todo o lado.”
ser. Aquilo que ele canta e que ele toca está vertentes. O músico revela que começou a O crescimento no Brasil foi tão óbvio quan-
bastante distante dos grandes clássicos da tocar guitarra muito cedo. “Tinha um vio- to imediato, mas não se ficou por aí. Vitão
MPB. Aceitando que podemos incluir as lão lá em casa e comecei por aí.” Mas não chegou a outros mercados na América do
criações do jovem músico nesse enorme começou de uma maneira habitual. “Quan- Sul e até nos Estados Unidos. O resto do
saco que é a música popular brasileira – até do a minha mãe me levava para a escola no mundo será uma questão de (pouco) tempo.
porque é música, é popular e é brasileira –, carro, ela costumava escutar Beethoven.” Nas gravações do vídeo, Vitão e Anitta
há que perceber que Vitão faz parte de uma Vitão conta que adorava a melodia da 9.ª protagonizaram cenas quentes com beijos
vaga de músicos distantes dessa sua raiz Sinfonia e que aquilo lhe foi ficando na ca- que muito deram que falar – a relação do
que misturava cantares tradicionais e rit- beça. Chegava a casa e tentava descobrir músico com a sua namorada da altura foi
AÍ E
ESTÁ
STÁ V I TÃO
mos antigos, que bebia da bossa nova e que como é que se tocava a música. Tirou-a de abalada e há quem diga que chegou ao fim
se inspirava no samba. Vitão é da era do bai- ouvido, tinha 8 anos. Quando o pai perce- por causa desta aproximação a Anitta, em-
le funk, do R‘n’B da favela, do hip-hop fundi- beu – “quem te ensinou isso?”, “ué, nin- bora Vitão e Thaylise Pivato, assim se cha-
do e diluído por tudo quanto é tendência dos guém” – o que o seu prodígio tinha feito, ma a ex-companheira, neguem essa versão.
anos 10 do século XXI. “Eu tenho-me apre- declarou o inevitável: tinha de aprender A pergunta que se impõe: Anitta beija bem?
sentado como MPB, por mais que eu cante violão, foi ter aulas de música. Vitão ri-se, “já me fizeram essa pergunta
um género pop englobado com um monte de O violão levou à guitarra elétrica e esta várias vezes”, e depois esclarece, sem sur-
coisa, com rap, com samba e com pagode, cresceu sozinha até aos blues e ao rock presas: “Beija muito bem.” “Ela também
com bossa nova, com soul e com blues.” de que se falou atrás. Entretanto, estudou treina muito, né?” Diz isto e ri-se de novo.
composição, harmonia e, de novo, violão, Sem-vergonha. l
O músico paulista de 20 anos está a fazer furor no Brasil e não só. A sua notoriedade numa vertente mais voltada para a música
tem crescido em flecha e o fenómeno em seu redor já não deixa margem para dúvidas. brasileira, “com acordes mais brasileiros e
harmonia brasileira”. A evolução enquanto
Vitão veio a Lisboa e apresentou-se à GQ. músico permitiu-lhe continuar a fazer aqui-
Por Diego Armés. Fotografia de Estelle Valente. lo que fez logo no primeiro momento: tirar
FAKE IT
Um perfume foi a razão perfeita para uma conversa
‘TIL YOU
Por Ana Saldanha. Fotografia de Gonzalo Machado.
MAKE IT
18 GQPORTUGAL.PT ABRIL 2020 ABRIL 2020 GQPORTUGAL.PT 19
A
CULTO PERFUME
meus dias… Por isso acho que o contraste Até se torna difícil acompanhar todos os
é a ideia mais realista que se poderia usar projetos diferentes que estão a sair e as
numa campanha. plataformas diferentes em que saem. Acho
que estamos num momento com um mer-
E qual é a tua parte favorita desse con- fazer o que ainda ninguém tinha visto. E cado muito abundante para pessoas que
traste no perfume? acho que foi isso que aconteceu, especial- querem contar histórias.
Eu adoro que seja um aroma muito impre- mente graças aos locais fantásticos em
visível. Não dá para identificar se é parti- que estivemos a gravar. Foi incrível viver E achas que o facto de serviços de strea-
cularmente doce ou particularmente mas- na Colômbia durante aqueles três anos de ming como a Netflix estarem a produzir
culino. É uma fragrância aberta a todas as gravações. conteúdos em língua não inglesa está a
A fórmula do sonho americano de Holly- interpretações. abrir portas para os atores?
wood parece simples: o jovem sonha e o Porque é que as pessoas gostam tanto de Sem dúvida. E acho que é incrível. Estão
papel que é a chave para a fama nasce. É habitual associarmos os homens das programas sobre barões da droga e, espe- constantemente a recomendar-me produ-
Mas nem sempre a história é esta linha campanhas de perfume a charme e clas- cialmente, sobre Pablo Escobar? ções originais do México, de Espanha, de
reta. Para Pedro Pascal houve uma vida se. Qual é o beauty secret de um homem Eu não acho que seja sobre droga… Acho Itália, de Israel… E todos na sua língua ma-
antes e depois de Game of Thrones. O ator, Loewe? que as pessoas se sentem fascinadas pelo terna. Acho que é uma coisa incrível que
que já tinha feito pequenos papéis em tele- Bem… Eu tenho sorte e não tenho muitos poder e pela guerra, que são coisas que antes simplesmente não tinha espaço para
visão e que se dedicava ao teatro em Nova segredos [risos]. Acho que o único ver- encontramos em todas as facetas da so- existir.
Iorque, conseguiu, aos 37 anos, o papel que dadeiro esforço que posso fazer é cheirar ciedade, de organizações criminosas a
lhe abriria as portas que achava que já es- bem. O resto ou é por acidente ou por en- políticas… E acho que a série [Narcos] foi E os EUA ainda têm um caminho longo a
tavam trancadas. gano. um grande reflexo das lutas de poder no percorrer até aceitarem conteúdos em
Depois de ser o príncipe Oberyn Martell, mundo. língua não inglesa?
em 2013, surge o papel que cristaliza a che- Muita gente te conhece por causa da série Eu acho que… Sim. Sim, temos um longo
gada à meta após uma maratona de audi- Narcos. Como foi fazer parte de um proje- Também fizeste parte de Game of Thro- caminho a percorrer em termos de alargar
ções e castings que nem sempre tinham fi- to que teve tanto sucesso? nes e, mais recentemente, da série The horizontes no entretenimento, para a lín-
nais felizes: Javier Peña, o agente da DEA Foi muito especial fazer parte de uma ex- Mandalorian. Como foi fazer parte de gua, para a representatividade inclusiva,
(Drug Enforcement Administration) envia- periência televisiva que definiu a fasquia projetos com uma grande base de fãs? para haver mais mulheres realizadoras e
do pelo FBI para capturar Pablo Escobar, para o que é possível fazer em storytelling Sentiste a pressão? argumentistas… Acho que estão a acon-
na série Narcos. televisivo. Eu lembro-me de ver o Tropa de Não, de todo. Como ator, sinto que sou ape- tecer muitos dos debates certos e, a lon-
Foram três anos de uma série em bom Elite antes de filmarmos o primeiro episó- nas o veículo para a visão de alguém e, es- go prazo, espero que a consciencialização
que retratou o mau e o vilão e Pascal não dio de Narcos e pensar que se conseguísse- pecialmente nos três programas que men- crie resultados.
parou mais. O ator chileno foi um mercená- mos alcançar a experiência visual daquele cionaste, havia um grupo de realizadores,
rio em The Great Wall, um agente secreto filme e transformá-lo numa série, iríamos argumentistas e criativos visionários atrás E depois de personagens tão memorá-
em Kingsman: The Golden Circle, o bad guy das câmaras. Se havia alguma pressão, veis, qual é o papel de sonho?
em The Equalizer 2 e, mais recentemente, eles acabaram por proteger-me dela. Não sei… Nem sei se tenho um papel de
o protagonista da série The Mandalorian, sonho… Acho que é mais uma experiência
a primeira série spin off do franchise Star Mas apesar de teres feito parte de pro- de sonho: divertir-me imenso num projeto
Wars em parceria com a Disney+. jetos tão bem-sucedidos, o teu caminho com amigos.
Mas não só de polícias e antagonistas “ TU AUMENTAS para o sucesso foi longo, certo? Fala-me
se fez Pascal. Em 2017 o ator foi convidado SEMPRE AS disso… E realizar ou escrever está nos planos?
para ser embaixador da campanha de Solo Eu queria ter sido bem-sucedido muito Secretamente eu gosto muito de escrever
da Loewe e, este ano, é o rosto de Mercurio, CHANCES SE mais cedo e partiu-me o coração quando e é algo que faço desde criança. Mas sou
a nova fragrância da marca de luxo espa- isso não aconteceu… Mas depois tornei-me mais recatado quanto à escrita porque é
nhola. FIZERES MAIS E pragmático e continuei a ser muito grato E achas que isso pode ser um exemplo um trabalho muito mais exposto e vulne-
DURANTE MAIS por todo o caminho que estava a fazer e
PARA LOEWE COM TOTAL LOOK DE LOEWE.
para que jovens atores que estão a ter rável e nem sei se sou bom a fazê-lo, pre-
Como foi voltar a ser um homem Loewe por qualquer dinheiro que ganhasse em dificuldades continuem à espera do seu cisamente porque é difícil partilhá-lo. Mas
com esta nova fragrância? TEMPO. ACABA qualquer trabalho que conseguia. Chegou Game of Thrones? talvez um dia... l
Bem… é muito especial representar uma a um ponto em que, mesmo sem estar a Exatamente. Eu acho que a única razão
marca com tanta qualidade. Toda a gente
POR SER UMA ganhar muito, estava rodeado de amigos pela qual isso me aconteceu foi porque eu
que eu conheço adora a Loewe e é muito FÓRMULA MUITO atores, guionistas e pessoas do teatro e continuei a tentar. Tu aumentas sempre
gratificante representar uma marca com era feliz. E foi aí que parei de tentar criar as chances se fizeres mais e durante mais
tanto bom gosto. SIMPLES E a ideia do que eu achava que era o suces- tempo. Acaba por ser uma fórmula muito
so... e foi precisamente quando eu menos simples e concreta para uma vida muito
E esta nova fragrância, Mercurio, é feita
C O N C R E TA PA R A estava à espera que apareceu o papel de
MERCURIO
abstrata. Cá está o contraste [risos].
Na mitologia romana é o mensageiro dos
de contrastes… Como é que te identificas UMA VIDA MUITO Game of Thrones… E a partir daí a minha deuses. Mas, para a Loewe, Mercurio é
com esses contrastes? vida mudou drasticamente. sinónimo de dualidade. As notas de lavanda E está mais difícil agora do que estava an-
Eu acho que o mundo inteiro é um contras- ABSTRATA . e de folhas de figueira contrastam com a tes?
frescura da flor-de-laranjeira e da tangerina
te, a realidade é um contraste de ideias e
de sentimentos. E eu estou sempre a iden-
CÁ ESTÁ O e o picante do cardamomo, alcaçuz, tabaco
Não sei se está mais difícil. Sei que há mais
oportunidades. Não me lembro de alguma
e mel opõem-se ao âmbar e ao almíscar.
tificar os contrastes que fazem parte dos CONTRASTE” Loewe Solo Mercurio 100 ml PVP €126 vez haver tantos programas de televisão…
D
ainda creem que as transmissões são feitas equipamentos.” Também neste caso a co- atenção e fama criada pela UVB-76. várias localidades da Rússia e da Crimeia, teligentes da City University, em Londres,
a partir de Naro-Fominsk, perto de Mosco- munidade não sabe o significado da frase, ois mil e dez foi de facto um ano referidas várias unidades militares russas. garante que o sinal não tem qualquer sig-
vo, desde 2015. mas é aceite por todos que foi um erro de al- bastante anormal e, poucos dias Foi também dito coisas como “O oficial nificado, é apenas ruído. Existem também
Atualmente, uma das teorias mais credí- guém que falou onde não devia. A segunda depois, a 10 de junho, os bipes O governo russo chegou, no operacional da brigada de plantão” segui- aqueles que defendem que The Buzzer
veis é que a transmissão é feita por várias vez que os bipes foram interrompidos foi a 9 pararam e foi transmitida uma passado e de forma oficial, a negar do de algo em código. Também foi dito pela serve apenas como ferramenta para os téc-
torres espalhadas pela Rússia de forma a de Dezembro de 2002, quando se ouviu uma mensagem em código morse durante quase qualquer ligação à UVB-76. voz feminina, em russo, “oficial de serviço nicos de áudio das forças russas usarem
ser mais difícil, ou mesmo impossível, trian- voz – mais uma vez em russo – transmitir 5 minutos. A 23 de Agosto, os bipes param no comando do nó de comunicação debut, para calibragem de equipamento.
O
gular o sinal. novamente, e a seguinte mensagem em rus- código Uspenskaya, recebi a ligação de
Uma coisa é certa: sempre que aconteceu so é transmitida: “UVB-76, UVB-76. 93 882 Quando são emitidas mensagens controlo de Nadezhda, ok?” Foram vários bviamente não nos podemos
uma mudança da torre e local de transmis- NAIMINA 74 14 35 74. 9 3 8 8 2 Nikolai, Anna, em russo, e se fizermos uma os ouvintes que estavam a gravar a emis- esquecer de mencionar aquela
são, ao mesmo tempo aconteceram reor- Ivan, Mikhail, Ivan, Nikolai, Anna. 7 4 1 4 3 5 estatística das palavras mais usadas, são da The Buzzer naquele momento e a fação que defende que a UVB-
ganizações de bases militares na Rússia. 7 4.” Um par de dias depois, a 25 de agosto, o resultado são duas palavras gravação da chamada telefónica foi posta 76 é usada pelos russos para
Será uma coincidência? São poucos os que a transmissão foi interrompida e durante russas que significam “bote” e na Internet. Em 2015, 2019 e já no início de comunicarem com extraterrestres – curio-
acreditam... Nota: Se quiser ver vídeos da breves momentos reinou o silêncio, mas do “especialista em agricultura”. 2020, os bipes voltaram a parar inúmeras samente são muitos os que acreditam nesta
base abandonada onde estava a primeira nada ouviu-se sons que lembravam alguém vezes para serem transmitidas mensagens possibilidade. Uma das últimas teorias diz
antena, faça um pesquisa no YouTube, o a bater à porta. De seguida ouviu-se sons es- – sempre em russo. que UVB-76 está ligada de alguma forma à
grupo de urban explorers fez alguns vídeos tranhos, como se alguém estivesse à luta ou rádio estatal russa Voz da Rússia. Enfim
da exploração do local. em movimentos estranhos dentro da sala de Já foram feitas algumas existem teorias para todos os gostos, de-
transmissão. A primeira semana de setem- angariações de fundos em sites masiadas para caberem numa só edição da
bro de 2010 também foi dada a acontecimen- como o Kickstarter para financiar GQ. Dificilmente se saberá o que está por
tos anormais. Logo no dia 1 a transmissão documentários sobre a UVB-76; trás desta rádio e qual o significado daque-
UM GRUPO DE URBAN EXPLORERS DECIDIU foi interrompida e, durante 40 segundos, foi conseguiram sempre todas atingir les estranhos barulhos. Até que isso acon-
o objectivo.
TENTAR CHEGAR E EXPLORAR A ANTIGA BASE transmitido o que parecia ser uma gravação teça, de uma coisa podemos ter certeza: a
de um trecho da Dança dos Cisnes Pequenos Internet vai continuar a encher-se de novas
NA ESPERANÇA DE DESCOBRIR A ANTENA de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. teorias da conspiração. l
LO U CO S D E F É
de informar o mundo. Este
movimento religioso defende
que é preciso aperfeiçoar a
clonagem humana porque os
aliens já o fazem e é dessa forma
que transferem as suas mentes
Há registos que apontam para a existência de mais de 10 mil cultos, seitas e religiões para novos corpos, quando se
espalhadas pelo mundo. E se a definição de fé é a adesão absoluta do espírito àquilo que se aproximam da morte (exemplo:
considera verdadeiro, não é estranho que brotem, por todo o lado, seitas, cultos e organizações
religiosas. Nada contra. Exceto quando passam a ser organizações criminosas.
Por Ana Saldanha.
A M E TA M O R F O S E
O
s irmãos de Antioquia Jorge
Luis, David e Fabio Ochoa co-
MEDELLÍN
meçaram, em 1977, a usar as
mesmas rotas do tráfico de ca- traduziu na demolição, o ano passado, do
nábis para enviar cocaína para os Estados famoso edifício Mónaco. Eram oito anda-
Unidos e responder à crescente procura res de uma mansão que serviu de base de
por narcóticos. No mesmo ano, Pablo Es- operações de narcotráfico e que também
cobar e o primo Gustavo Gaviria estavam era a casa de Pablo Escobar durante os
a cargo da recolha de pasta de cocaína no anos 80. Ao todo, eram 12 apartamentos
Equador, que chegava da Bolívia e do Peru (um deles da mulher e do filho do barão da
e que depois era processada na Colômbia. droga), duas piscinas, um campo de ténis,
No fim da década, os dois grupos uniram Foi também nessa altura, quando as suspei- uma sala de pânico e 34 lugares de estacio-
forças para aumentar a produção e, nessa tas sobre o Cartel de Medellín começavam namento com a coleção de carros e motas
altura, controlavam os laboratórios de pro- a deixar de ser apenas suspeitas, que o co- vintage do cartel. O edifício foi encerrado
dução, a distribuição e as vendas nos Es- ronel Jaime Ramírez conseguiu encerrar pelo governo em 1990 e ficou abandonado
tados Unidos, dominando por completo o a Tranquilandia, na altura a maior fábrica até se tornar uma atração turística (tal
mercado na Flórida, Nova Iorque, Chicago de cocaína do mundo, com 500 hectares, 19 como, aliás, o telhado em que Escobar foi
e Los Angeles, onde o lucro era seis vezes laboratórios e a produzir 3.500 quilos de morto numa operação dos EUA e da Co-
maior que na Colômbia. cocaína por semana. A vingança serviu-se lômbia em dezembro de 1993).
Quando chegámos a 1982, a cocaína já fria: o cartel mandou matar o ministro e o O atual presidente Iván Duque decretou
tinha ultrapassado o café como principal coronel. Na luta para denunciar e estancar que o edifício Mónaco, que apelidou de
exportação da Colômbia e as autoridades o narcotráfico, juízes, polícias, jornalistas, símbolo do mal, daria lugar a um parque e
americanas começam a investigar o que políticos e várias figuras públicas foram museu memorial para que “a história não
ficou conhecido como Cartel de Medellín. assassinadas por sicários do Cartel de seja dos vitimadores, mas um reconheci-
Medellín. Para entrar na lista de persona mento das vítimas”.
non grata, bastava que se tentasse tornar O passado negro de Medelim não deixou
CIDADE DE ESCOBAR públicos os membros do cartel ou as suas que a cidade se abatesse. O tráfico condu-
F
A violência na Colômbia rural fez com
que milhares de pessoas procurassem ro para quem vivia no aterro de Medelim. irmãos Ochoa, da morte de Gacha, um dos Gaviria investiu também na educação (em
oi o espanhol Francisco Herrera refúgio nas grandes cidades e por isso, Mas foi mesmo por gastar muito do dinhei- braços-direitos de Escobar, em 1989, e do 2007 ergueu-se a Biblioteca de Espanha) e
Há quase 30 anos era Campuzano que ergueu, no cen- entre 1950 e 1990, Medelim cresceu ro ilícito que o ministro da Justiça Rodrigo próprio Pablo Escobar em 1993. em programas sociais para beneficiar os
a cidade mais perigosa tro da Colômbia, uma pequena de 350 mil habitantes para 3 milhões.
Lara Bonilla denunciou a entrada de di- residentes mais desfavorecidos.
do mundo. Recuamos vila indígena chamada San Loren- nheiro obtido com narcotráfico em equipas Muitos dizem que o ambiente que lá se
ao passado da metrópole
zo de Aburrá – onde hoje fica a região de de futebol, empresas e partidos políticos. A MUDANÇA sente é uma falsa paz, uma pax criminale
El Poblado –, mas a primeira referência a Em 1991, o Washington Post fazia da cida- entre organizações criminosas rivais que
dominada pela cocaína. Medelim foi feita pela Rainha Maria Ana tal Federal do Estado de Antioquia, com a de manchete e dava conta de uma onda vão controlando o crime na cidade. Mas
Por Ana Saldanha. de Áustria, Rainha de Espanha que, em proclamação da Constituição da Colômbia recorde de homicídios. Mais de 6 mil pes- a cidade resiste e ganha pontos na cena
1675, fundou a Villa de Nuestra Señora de em 1886. soas foram mortas só nesse ano. Mas anos internacional, estando classificada como
la Candelaria de Medellín, que hoje corres- O grande desenvolvimento da cidade depois de desmantelado o Cartel de Medel- uma das 100 cidades resilientes apoiadas
ponde ao centro da cidade. deu-se durante o século XIX com a expor- lín, o número de homicídios diminuiu para pela fundação Rockefeller. Mas as pazes
Desde cedo que Medelim se destacou das tação de ouro, a grande produção e expor- menos de 500 por ano, o que se equipara com o passado não estão completamente
cidades vizinhas como centro de comércio tação de café. Mas a metrópole sul-ame- a muitas cidades norte-americanas – en- feitas. Vivem as cicatrizes de Escobar e do
e em 1826 foi nomeada capital do Depar- ricana foi posta nas bocas do mundo nos quanto a população cresceu para 2,5 mi- medo, mas também resiste a vontade de
tamento da Antioquia, que englobava a anos 80 e 90 do século XX, quase sempre lhões de habitantes, o que equivale a uma não voltar a esse passado. l
Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá. alavancada pelo nome de Pablo Escobar descida de 95% no número de homicídios.
Depois de a Colômbia se tornar indepen- e pela onda de criminalidade que durante Mas há vida depois de Escobar e uma
dente de Espanha, Medelim passou a Capi- muitos anos a caracterizou. vontade de apagar esse passado que se
The Must On
Show Go
Inspirada no filme Billy Elliot e com Londres como pano de fundo,
esta história em frames retrata a dicotomia entre a delicadeza da dança e a brutalidade
do crescimento aos olhos de um adolescente.
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4 2 7
3 8
O PULSO LIGADO
Um disco para ouvir qualquer dúvida, a Cabo Verde. Sinto
ainda aplicações disponíveis em conexão falta do cheiro daquele chão.
na quarentena.
com outros dispositivos, tanto para utiliza- Tenho dois discos,
AO MUNDO
dores de Android como de iOS. Da Linha, de PEDRO, e
Sendo um relógio desenvolvido a pensar Mais Antigo, de Bispo.
em quem faz desporto, este novo Connected
inclui uma série de artefactos indispensá- O hobby de eleição para
A
veis a um utilizador ativo: GPS incorpora- o momento que vivemos.
Estou completamente
A TAG Heuer voltou a inovar GQ Portugal teve oportunidade do – que permite pôr em prática diferentes viciado em séries Netflix Um perfume para
de ver, em exclusivo e em pri- métricas durante o treino –-, velocímetro, e ouvir muita música. usar durante a lide
no segmento dos smartwatches meira mão, o que a TAG Heuer bússola e giroscópio, além de um medidor doméstica.
Vanguard, do
com o seu novo modelo nos preparou para o pulso. A de frequência cardíaca (de grau não médi- parfumeur Lourenço
Connected, a que tivemos marca suíça apresentou, na sua sede em La co), permitem ao utilizador uma experiên- Lucena.
Chaux-de-Fonds, na Suíça, o TAG Heuer cia 100% ligada ao treino sem nunca se des-
acesso em primeira mão. 2020 Connected, que descreve como “o mais ligar do mundo em redor. ●
Aqui fica um resumo do que luxuoso dos smartwatches” – e nós não du-
vidamos que o seja.
pode esperar do novíssimo Começando pelo look: não é só um, são
TAG Heuer 2020 Connected. vários. A TAG Heuer decidiu, em boa hora,
que um smartwatch não deve ficar confina-
do a um só modelo e a uma só estética, pelo
que criou quatro bases bastante distintas
entre si e foi mais longe: é possível perso-
nalizar cada uma delas, conjugando as di-
versas possibilidades de caixa e mostrador Uma aventura para Três filmes para não pensares
concretizar logo que na pandemia. Amigos Improváveis Uma memória pacificadora do
com braceletes e lunetas. Mas as novida- possas sair de casa. (Olivier Nakache e Éric Toledano), tempo em que podias sair à rua.
des deste novo modelo em relação aos seus Conhecer Tóquio. Selma (Ava DuVernay) e Hidden Poder caminhar por Lisboa, perdido entre
antecessores não ficam por aqui. Figures (Theodore Melfi). os vários sotaques que dela fazem parte.
Casa:
responsabilidade de cada
um proteger-se e proteger
os outros. Se o bom senso
ou a necessidade obrigam
a uma quarentena, não
Guia
desespere. Aproveite.
Retire o melhor da
situação e faça aquilo
que nunca fez: umas
férias em casa.
para uma
Por Diego Armés.
quarentena
de sonho
Vamos esquecer os planos e as marcações, até as reservas e as passagens já compradas, se for o caso. A situação
é tão séria, tão grave, que qualquer deslize ou hesitação no comportamento em sociedade pode ter resultados
trágicos. A quarentena, voluntária ou forçada, é parte de uma solução que levará o seu tempo até surgir e deixar
para trás este tempo que ninguém poderia prever há dois ou três meses. Vamos ficar em casa. Vamos ser uns pelos
outros. Vamos proteger-nos e proteger o próximo. Melhor, vamos fazê-lo como se tudo isto fosse uma oportunidade
de fazermos o que nunca é possível, ora por falta de tempo, ora por excesso de distração e de oferta. Porque
ficar fechado em casa durante duas semanas é obviamente um desafio, vamos aceitá-lo com espírito positivo
e aventureiro, tentando desfrutar de todo o potencial que a situação tem, embora não esteja logo ali à vista.
FINALMENTE,
e nas gavetas. Faça uma triagem, guarde para homens. A primeira reação será tentar
apenas o que lhe interessa, aquilo que desviar o olhar, porém o bichinho vai ficar
5. SEXO
pela própria casa e seguindo um livro de para se desfazer deles. Temos a certeza criando-se assim um pano que, por suas
instruções não é assim tão genial como de que algumas das peças farão furor em características de textura e elasticidade, é
aquela sensação de “bolas, como eu sou certos círculos mais sofisticados da cidade chamado de malha de tricô ou simplesmente “Me and you and you and me / No matter how they toss the
incrível” pode levar a crer. Basta que façamos compostos por gente que só consome roupa tricô. Pode ser feito manualmente, com dice, it has to be”, cantavam os Turtles em Happy Together.
uma incursão breve pelo Aki ou pelo Maxmat vintage. Se tudo correr bem, chegará ao fim a duas agulhas que, além de propiciar o Já sabemos como funciona esta situação, não carece
para sentirmos alguma desorientação e nos parecer que já leu a Marie Kondo. entrelaçamento do fio (criando cada ponto), de mais explicações. Mantenha a porta trancada no caso
vir à cabeça a questão: “Mas para que é que abrigam a malha de tricô já tecida.” Agora que de haver crianças ou animais de estimação em casa.
tudo isto serve?” já sabe que as agulhas servem para entrelaçar
A nossa sugestão passa pelo seguinte: o fio de modo a produzir um pano, aproveite
aproveitemos este período de reclusão que tem a Internet aberta e procure tutoriais
para exercitar a bricolage. Pegue na caixa no YouTube. Quando desistir, passe ao
de ferramentas, abra-a e explore. Pegue no número seguinte.
berbequim e faça finalmente os furos na
parede para as estantes de livros que nunca
foram postas. Vá mais longe, arrisque nas
alturas: aquelas cortinas que nunca foram
penduradas porque o varão não estava 4. HORA DA GINÁSTICA
posto (porque os suportes não estavam Vá ao sótão e descubra onde para aquele velho leitor de VHS que nunca deitou fora porque
aparafusados à parede, porque os furos já se adivinhava que algum dia havia de voltar a dar jeito. Encontrou? Ótimo, então olhe para
nunca tinham sido feitos) poderão finalmente os restantes caixotes e pense: em qual deles estarão as cassetes da Jane Fonda em calças
cumprir o seu destino. No fim, contemple de licra? É disso que precisa. Disso, das suas próprias calças de licra, de uma fita para pôr
e desfrute da sensação de dever cumprido. na cabeça, de uma camisa de alças e de um tapete de ioga. Divirta-se, alongue e insista.
Parabéns. Agora, que já conhece o doce sabor Seja prático, rentabilize o seu tempo, queime as gorduras. Não permita que o sedentarismo
da obra feita, pegue nos rolos e nas trinchas forçado produza resultados semelhantes àqueles que pode obter com facilidade quando
e aproveite para pintar as paredes mais é voluntariamente sedentário.
carenciadas.
Moby Dick
Herman Melville
Os Miseráveis
Victor Hugo
Pois. Já para não falar de Os Lusíadas,
de Camões – não há português que não
saiba, pelo menos, os primeiros versos da
T
mais recentemente, Andrew Kudless – e
VOYAGE,
alvez associe o logo da marca ajudam a garantir que a sigla LV na arte
francesa aos hoodies e ao street- de viajar continua tão viva como nos seus
wear de luxo a que Virgil Abloh, primórdios. Até porque os 45 objetos expe-
diretor criativo de menswear da rimentais que compõem a coleção de Objets prazo, mas a Louis Vuitton aliviou-lhe os
maison, o tem habituado nas últimas esta-
VOYAGE
Nomades da Louis Vuitton prestam home- receios: “Não te preocupes”, garantiram-
ções. Talvez até vá mais além e reconhe- nagem às encomendas por medida do pas- -lhe. “Nós já sabemos como fazê-lo. Temos
ça o monograma como uma referência em sado da maison. uma maneira standard de assegurar que as
modelos de mochilas e bolsas a tiracolo O mais recente a juntar-se a este grupo tiras nas carteiras sejam fortes o suficiente
que aprendeu a cobiçar e a acrescentar ao de cool kids é o designer Andrew Kudless, para não rasgar.” O modelo foi apresenta-
vestuário. Se for verdadeiro conhecedor, de S. Francisco, cuja estreia na Objets No- do na Design Miami, em dezembro último,
vai recordar-se ainda que a génese da Vuit- mades se faz com a Swell Wave Shelf, uma e chegaria este ano a Milão, ao Salone Del
Sem sair do sítio. Nestas coleções de lifestyle da Louis Vuitton, o tema viagem ton passa pelos famosos trunks das viagens prateleira em madeira de formas orgâ- Mobile, cancelado pelo surto de coronaví-
transatlânticas, capazes de deslocar guar- nicas, sustentada por fitas de pele numa rus que assola a Europa. Apesar de não
está sempre presente – ainda que estes Objets Nomades da maison se queiram da-roupas e outros objetos de largo porte tensão perfeita que é uma “ode às forças ter conseguido ser apresentado na feira, o
de forma incólume – e sofisticada, acres- poderosas e à delicada harmonia do mundo objeto consegue chegar tanto a casa como
o mais sedentário possível. E se é para serem mobília, que o sejam lá em casa. centemos –, em viagens onde a elegância natural”, diz a Vuitton. Kudless, um arqui- às páginas de revista para que o design
Por Sara Andrade. sumptuosa era a ideia suprema e ter uma teto sediado agora em Houston, Texas, é da peça não se perca em 2019. Até porque,
dessas arcas monogramadas era um ponto o primeiro americano a entrar nesta gues- dentro do tema das viagens, estas pratelei-
final nessa mesma palavra. Mas indepen- tlist da Objets Nomades. Professor na Hines ras trazem um pouco da Califórnia para o
dentemente do seu grau de conhecimento College of Architecture Design da Univer- ambiente caseiro, patente logo no nome da
da Louis Vuitton, seguramente sabe que sidade de Houston e diretor do Advanced peça: Swell Wave. O arquiteto justifica: “Os
Paris é apenas uma sede e que a volta ao Media Technology Lab, fundou o ateliê meus alunos dizem ‘há uma tempestade na
mundo é o seu métier desde os primórdios Matsys, em 2004, para explorar as relações Indonésia, o que quer dizer que vamos ter
(e se não sabia, já valeu a pena ler este emergentes entre arquitetura, engenharia, ondas na Califórnia daqui a uns dias’”, con-
primeiro parágrafo). É por isso que uma biologia e computação. Sobre a parceria ta ao LA Times. “Mesmo quando não estás
coleção colaborativa centrada no tema das com a Louis Vuitton, disse, ao Los Angeles a viajar, tudo está a viajar à tua volta: as
viagens não é uma estratégia, é uma apos- Times, que foi “o cliente mais difícil que nuvens, as ondas. Eu queria que as prate-
ta natural para a casa. E a Objets Nomades tive, mas de uma forma positiva. Quando leiras captassem esse equilíbrio ou tensão
é isso: uma extensão do pronto a vestir da propunha algo, diziam: ‘Oh, não, isso não de não estar nem aqui nem ali, de ser pu-
marca para o pronto a vestir do lar. é Louis Vuitton.’ E tinha de engolir o meu xado em duas direções diferentes. Quando
O itinerário começa em 2012, quando a orgulho um pouco. Foi uma negociação en- estás em casa, queres ir de férias. Quando
Vuitton se empenhou em desenhar um ro- tre a visão da marca e a minha estética, por estás de férias, sentes o conforto de casa.”
teiro de linhas em parceria com designers isso passamos por muitas fases. Apresentei Uma citação pertinente num contexto
internacionais, compostas por objetos cerca de dez diferentes propostas – tape- atual que parece espelhar esta dualidade.
inspirados neste conceito de movimento tes e candeeiros e cadeiras e bancos – ao Numa altura em que somos obrigados a vi-
e exploração de países, cidades, lugares, longo de uns quantos meses até nos deci- ver mais a nossa casa, olhar com atenção
mas com íntima ligação à experiência de dirmos pela prateleira suspensa.” Ao iní- para esta linha de Objets Nomades reconfir-
savoir-faire da Louis Vuitton. Móveis e ob- cio, estava preocupado se as tiras em pele ma a importância de pôr lá elementos deco-
jetos têm sido imaginados sob a tutela Lou- sustentariam o peso da madeira a longo rativos que não são só funcionais, são uma
is Vuitton com criativos de renome, sendo espécie de paisagem entre quatro paredes.
que em 2018 a marca expandiu o seu leque Aquele #sunset quando o hashtag #stayho-
de Objets para Les Petits Nomades, uma linha me está em vigor. Aquela sensação de voya-
de objetos decorativos de menor dimen- ge, voyage e aventura que a Louis Vuitton
são. As personalidades que compõem a preconiza há 160 anos. Sem sair de casa. ●
colaboração dão cartas no lifestyle contem-
porâneo – Fernando & Humberto Campa-
na, Atelier Oï, Barber & Osgerby, Damien
FOTOGRAFIA: TOMMASO SARTORI.
Q
Bacalhau assado com grão
COMER PARA QUERER uando nos encontramos para Porque bacalhau salgado seco
é a nossa comida mais original e um caso
conversar sobre O Homem
de amor (particularmente estranho).
Que Comia de Tudo (Quetzal),
o autor, Ricardo Dias Felner, Cabidela de galinha
Um jornalista que gosta muito de comer resolveu lançar o livro dedicado aproveita para falar acerca da Os pratos de sangue enchem a alma
e o corpo. A cabidela de galinha caseira
a quem com ele partilha essa paixão. maneira como se escreve sobre comida em ciclopédia com estrelinhas gastronómicas,
bate toda a concorrência.
Portugal. O assunto tornou-se sério, pesa- afaste-se rapidamente deste objeto. Aqui
Sem tabus e sem limites, Ricardo Dias Felner apresenta do, às vezes maçador, frequentemente de- fala-se de comida e de comer, de experi- Alheira de Montalegre
O Homem Que Comia de Tudo. masiado técnico e no limiar do pretensio- mentar e de conhecer. Fala-se de se ser É o nosso enchido mais difícil e complexo,
sismo. Foi um encontro em Lisboa durante apaixonado pelo que se come e ainda mais o que, no caso, é delicioso.
Por Diego Armés. Sobretudo se levar vitela e galinha
o qual Felner aproveitou para mostrar as por se descobrir sabores, texturas e mistu-
caseira desfiada, como acontece com
iguarias de um singular tasco chinês perto ras, origens, tradições e invenções. as artesanais de Montalegre.
do Martim Moniz e demonstrar o seu espí- No livro, corre-se o mundo e as receitas,
rito aventureiro num recanto bengali cujas encontram-se desabafos e desejos. Comer Estupeta de atum
delícias não justificam o risco, ali ao lado, é tão depressa elevado a forma de arte Feita com atum em salmoura desfiado,
a que se acrescenta a salada montanhesa,
na Rua do Benformoso. como logo a seguir é rebaixado a impulso azeite e muito vinagre, é bem exemplo
É este o perfil de Felner, jornalista, es- primitivo. Mas nem tudo em comer é comi- dessa culinária marinha, fresca e cítrica
critor, blogger e foodie, que confirma tudo o da, que a vida não é só gastronomia. Há que é a algarvia, tantas vezes injustiçada.
que se possa esperar do autor de um livro aqui muito pensamento e várias declara-
Bitoque
intitulado O Homem Que Comia de Tudo – e ções e análises que, todas juntas, acabam
O mal-amado bitoque safa muitas
é uma impressão que fica sublinhada após por determinar, se não uma filosofia, uma ocasiões. Quando bem feito, com carne
a leitura do mesmo. Não se espere daqui forma de estar na vida. Das criações dos com nervo, ovo estrelado e molhanga
um guia prático nem um compêndio com grandes chefs à feijoada de chouriços, dan- alhada é imbatível.
curadoria de Felner – se procura uma en- do ênfase à pimenta de Sichuan e nunca
virando a cara ao que é exótico, Ricardo
Dias Felner agrupa textos diversos que nos
conduzem pelo maravilhoso mundo de gos-
tar de comer. l
O Homem Que
Comia de Tudo
(Quetzal),
Ricardo Dias
Felner.
Oceania
Pavlova (Austrália
UM PRATO PO R e Nova Zelândia)
CADA CO NTINENTE Eis um prato de que não Índia
(+1 PARA A ÍND IA): sou fã, mas que tem uma Caril de borrego
RICARD O
D IAS FELNER, história curiosa e a comida Por mais caris que
O HO MEM Q UE Europa também é história. Diz-se coma, nenhum bate o Ásia
CO MIA D E TUD O Mil-folhas caramelizado que a Pavlova foi inventada de borrego, cuja carne Barriga de porco
de foie gras, maçã depois da passagem é frequentemente mais cozinhada duas vezes
verde e enguia da bailarina russa Anna saborosa que os frangos (China)
América (Espanha) Pavlova pela Austrália e pela ou as vacas industriais. É um dos pratos
Tacos de camarão Foi a Europa que elevou Nova Zelândia, nos anos Felizmente temos muitos tradicionais da região
(México) a cozinha criativa, de 1920. Ainda hoje os dois restaurantes que o de Sichuan, na China,
A cozinha mexicana para autor, muito depurada e países se digladiam sobre fazem bem, a começar conhecida pelas suas
mim é a mais vibrante trabalhada, ao estatuto a verdadeira origem do no Caxemira, em Lisboa pimentas. Faz-se com
e diversa de todo o de fine dining. Este prato, criador. (numa versão-bomba!), entremeada, cortada
continente. E nada é mais aliás, podia ser de um ou então, numa versão muito fininha, depois de
divertido do que comer Michelin na Áustria ou África mais suave, mas muito ser cozida e refrigerada.
Confirma ou desmente: a gastronomia os tacos, com tortilhas de na Suíça ou em França. Doro wat (Etiópia) autêntica, no Bangla, É terminada no wok,
portuguesa é a melhor do mundo milho a sério, e acabar com Mas acontece ser de Estufado de frango etíope, na Rua do Benformoso, salteada com alho-francês
Desminto. É tão boa como a da Geórgia. os beiços a arder de molho Martín Berasategui, chef que pode ser também de onde os autóctones e pimento, tudo envolto
Ou seja, muito boa. de jalapeño ou de chipotle. com 12 estrelas Michelin bovino, feito com uma comem com a mão. em pasta de feijão preto
De entre os tacos clássicos, no currículo, uma delas mistura de uma dezena fermentado e, claro,
Momento Twitter: a diferença entre o meu favorito é o de residente em Lisboa, no de especiarias, entre elas muitos chiles e muita
foodie e gourmand em 140 caracteres camarão, bem fornecido Fifty Seconds, onde se algumas pouco conhecidas pimenta de Sichuan.
Foodie é um jovem esfomeado e oportunista
com Instagram; gourmand é um cinquentão
de lima e cebola-roxa. pode comer este seu entre nós, como a nigella.
que está sempre a sacar do Larousse prato de assinatura, Come-se com pão injera,
e do Brillat-Savarin. verdadeiramente mágico. de farinha teff.
DA PRIMAVERA
é possível. Em
Chickinho formato takeaway
“Há coisas que (e eventualmente Nómada
nunca mudam: este à distância de uma “Adoro sushi, por
pedido clássico em viagem de carro), isso nesta fase
A primavera está aí com as suas promessas de sol e de tempo jantares de fecho afogar quarentenas uma das coisas
ameno. Podemos abrir as janelas e deixar a nova estação da redação poderá em spring rolls é no que me imagino a
entrar, acompanhando o momento com um vinho branco continuar a fazer as Mr. Lee.” encomendar para
nossas delícias. O matar saudades,
de eleição. Eis algumas sugestões. Por Diego Armés. frango é bom, mas seria o sushi do
o arroz de feijão é Nómada.”
de nível superior.”
CÓDIGOS GASTRONÓMICOS
A questão é: faz sentido sugerir restaurantes em tempo de isolamento
MA RQUÊS e quando todos os estabelecimentos estão fechados ou condicionados?
DE B ORBA A resposta é: não, a não ser que se trate de sugestões para takeaway.
V I N H AS VELHAS
B RA N CO 2018 Aqui ficam.
Alentejo
C A S AL D E Neste vinho branco muito
VENTOZ EL A mineral e de aspeto
Vinhos Verdes cristalino, destaca-se
Um vinho verde que é o aroma cítrico bem
um excelente exemplo aconchegado pelo estágio
do que está a acontecer N A S CEN T E em barrica. A frescura
na região mais a norte de B RA N CO KOMPA S S U S é a nota dominante
Portugal onde cada vez JOÃO PORT U G A L Douro RES ERVA B RA N CO nesta combinação
mais encontramos vinhos RA M OS Produzido na Quinta da Bairrada algo atípica das castas Boi Cavalo Subenshi
secos e tranquilos, com A LVA R I NH O 2 0 1 9 Roga, provém de uma João Póvoa é um dos Arinto, Roupeiro e “Para um vislumbre “Um bom sushi torna
maior corpo e capacidade Vinhos Verdes vinha virada a nascente e produtores mais antigos Antão Vaz, na melhor de cozinha de qualquer quarentena
de envelhecimento. O 100% Alvarinho da protegida do calor mais da Bairrada, tendo tradição alentejana, com assinatura, nada mais feliz. E o melhor
Alvarinho é uma casta Sub-Região de Monção intenso que se pode começado a produzir os o forasteiro Alvarinho. como um takeaway restaurante da
com cada vez mais e Melgaço. Vinho de cor sentir à medida que o seus próprios vinhos em É o companheiro ideal de alta qualidade. Hamburgueria especialidade no Porto
importância não só nesta citrina, aroma intenso, sol foge para poente. As 1991. Este Kompassus para o bacalhau ou O Boi Cavalo Fidalgo tem takeaway. De 2.ª
região mas um pouco floral, com notas de frutos castas Viosinho (75%) Reserva é produzido a para peixes de sabores disponibiliza três “Na Margem Sul do a 6.ª, ao almoço, pode
por todo o País e a tropicais. Elegante e e Arinto (25%) são as partir das castas Arinto mais intensos. Sendo tipos de pho e ainda o Tejo as opções podem refastelar-se com dois
explicação é simples, há envolvente, termina com escolhidas para compor e Bical, típicas da região. um vinho estagiado em seu tradicional frango ser mais limitadas, minicrepes de salmão
poucas castas com esta notas minerais num longo este lote. Resulta num O vinho apresenta barrica, que adquiriu frito inteiro, ao mas a qualidade não + 11 peças de sushi,
capacidade para produzir final de boca. Acompanha vinho muito fresco e complexidade e vocação por isso alguma gordura, almoço e ao jantar.” fica aquém. Esta apenas por €14.”
vinhos de alta qualidade, na perfeição mariscos, vibrante, marcado pelo gastronómica, mas as deverá ser bebido a uma hamburgueria tem o
elegantes, com corpo e peixes grelhados, carnes clima mais atlântico que castas que o compõem temperatura ligeiramente melhor hambúrguer
estrutura, e uma frescura brancas e saladas. Serve ainda se sente nesta garantem a frescura e superior ao que é vegetariano de sempre:
que parece manter-se por também como um sub-região do Baixo a elegância típicas dos habitual num branco cogumelo portobello
muitos e bons anos. excelente aperitivo. Corgo. vinhos da Bairrada. mais leve. e queijo brie.”
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PARA A RUA
deixa felizes tanto miúdos como a resolução da imagem. Agora, a a sua rotina de grooming em dobrável de vidro já anda
graúdos. A partir da aplicação Canon resolveu quadruplicá- apenas 90 segundos. No modo nas ruas. A nova tecnologia
móvel da Prinker, pode escolher -la de novo numa câmara de termoterapia, o UFO aquece desenvolvida pela Samsung
entre 5 mil desenhos exclusivos consumidor: a EOS R5 tem gradualmente fazendo com que permite-lhe pousar o telemóvel e
Da beleza à realidade virtual – eis cinco das novidades para tatuar a preto. O difícil capacidade de gravar vídeo em os ingredientes ativos da máscara ajustar o ângulo para ver vídeos,
será mesmo escolher, porque, 8K. Para além disso, esta câmara penetrem na pele. Através do ter conversas com as mãos
tecnológicas que fazem o nosso coração bater mais rápido. após escolher ou fazer upload mirrorless full frame possui um modo crioterapia, diminui a livres e tirar selfies que, noutros
Por Beatriz Silva Pinto. do desenho que quer trazer no novo sistema de estabilização aparência dos poros e reduz tempos, seriam impossíveis.
corpo, basta encostar a máquina de imagem no corpo, garantindo o inchaço. E com o tratamento O ecrã tem 6,7 polegadas, a
à pele e a coisa fica feita em três imagens sem tremeliques mesmo de fototerapia indolor, que câmara é dupla (com uma
segundos. A tinta aguenta-se até sem utilização de tripé, e apresenta usa ondas de luz LED, pode ultragrande angular de 12 MP e
PANASO N IC UH D VR E YEGLAS S E S três dias e é à prova de água, mas um obturador eletrónico de 20 fps rejuvenescer a pele sem esforço. uma grande angular de 12 MP) e
O mundo viu-os pela primeira vez no CES 2020 – e ninguém ficou indiferente. São os primeiros óculos de realidade virtual com ultra-alta lavável com sabão. €237 (inclui ou mecânico de 12 fps. No site, €199, em www.foreo.com. No a câmara frontal tem 10 MP. No
definição (UHD) e com alta gama dinâmica (HDR) alguma vez feitos, garante a Panasonic. E, mais importante: são super cool. Segundo um cartucho, que dá para cerca pode registar-se para acompanhar site, também pode explorar a pequeno ecrã externo é possível
a marca, apesar de serem leves e compactos, proporcionam imagens “naturais e suaves” e, ao nível do som, têm a “capacidade de 1.000 tatuagens), em as novidades do lançamento, que linha de máscaras compatíveis ver notificações, a hora e a data
de reproduzir uma ampla faixa de frequências”. A novidade ainda não chegou ao mercado, mas aguardamos ansiosamente. www.prinker.us. está previsto para 2020. com o UFO. e o estado da bateria. €1.529.
Fotografia tirada
em Mumbai À esquerda, uma
(Índia), em 1993. fotografia tirada
no Rajastão
(Índia), em 1983.
Abaixo, um retrato
captado em Cabul
(Afeganistão),
em 1992.
#MUSTFOLLOW
VOZES
É o autor de Menina Afegã, a mais célebre foto publicada
pela National Geographic. Aos 70 anos, Steve McCurry
continua a retratar culturas e conflitos. Por Beatriz Silva Pinto.
e espreitou para dentro. Eu consegui pegar
da fotografia. Acho que todos nós somos na câmara e fazer duas exposições antes de
@stevemccurryofficial fascinados pelo outro; todos temos a mesma a luz mudar e o condutor arrancar. Ver aquela
2,9 milhões de seguidores cara, mas todos somos diferentes. E essa mulher com o filho sob o calor e sob a chuva
diferença é fascinante; muitas vezes há relembrou-me do meu conforto, naquele
O elemento humano é omnipresente no uma história incrível contada nos nossos táxi com ar condicionado. Ela estava naquela
seu trabalho. O que mais o fascina no rostos. Eu seria muito feliz se pudesse apenas esquina todos os dias e eu tenho uma vida
universo dos retratos? Eu procuro por um tirar retratos para o resto da vida. ambulante, que me permite atravessar fronteiras
momento de desproteção e tento transmitir e fusos horários. E isso fez-me parar e pensar.
uma parte do que é ser aquela pessoa ou, num Há alguma fotografia que detenha um
sentido mais amplo, relacionar aquela vida à lugar especial no seu coração? Uma das A que tema fotográfico tem dado mais
experiência humana como um todo. Nós, seres minhas fotografias favoritas é a de uma mãe e atenção? Sempre fui atraído pelo budismo,
LUÍS PEDRO NUNES • BRUNO VIEIRA AMARAL • TONY PARSONS
humanos, conectamo-nos através do contacto o filho, a olhar através da janela do meu táxi. por causa da filosofia de compaixão com todas
visual – há um poder real naquele momento Lembro-me de estar parado num semáforo as criaturas da Terra. Em tempos como este, MATILDE CAMPILHO • DIEGO ARMÉS • JOSÉ COUTO NOGUEIRA
compartilhado de atenção, quando vislumbras durante a estação das monções em Mumbai. é ainda mais importante concentrarmo-nos
o que é estar nos pés do outro. E eu acho Uma jovem mãe, a segurar o filho, apareceu na prática da não violência, da hospitalidade
que essa é uma das coisas mais poderosas do lado de fora da janela pontilhada pela chuva e da generosidade. l
H
realizador. Sim, há compilações de clipes Durante a década de 60, Blatty publicou
á coisas que nunca esperaríamos sentido, mas também até onde os atores se na Net de atrizes conhecidas a mostrar as romances humorísticos que lhe valeram Incorruptíveis, garantia-lhe que consegui- ao longo do filme com grande subtileza: o
escrever na nossa curta passa- sentiam confortáveis de ir e até tinham po- mamas ou nuas ou qualquer coisa – por comparações com S. J. Perelman e começou riam encontrar um equivalente visual – só- contraste entre a luz e as trevas, entre os
gem por este planeta. Uma delas deres de parar ao fim de “n” takes. terem aparecido uns segundos num filme a escrever guiões cinematográficos. No fim brio e convincente – daquilo que se limitara espaços exteriores e a prisão em que a casa
é: “O sexo está a desparecer dos ecrãs.” Há poucos anos, e sem ter sido consi- ou num episódio. O diretor de intimidade da década, depois de algumas colaborações a sugerir nas páginas do romance. É que se vai transformando, a comparação entre
Até porque numa primeira análise soa a derada com a seriedade que talvez me- serviu para intermediar os receios e levar com o realizador Blake Edwards, ficou sem escrever sobre levitações e vómitos verdes os procedimentos clínicos que levam a um
imbecilidade. Então, se o que não falta recesse, a atriz Maria Schneider revelou propostas. Acabou a usar um robe que a trabalho e resolveu voltar à ficção. Porém, é uma coisa – tudo acontece na imaginação beco sem saída e os efeitos dos igualmente
neste mundo de deus é porno, como é que detalhes perturbadores da famosa cena defendeu e os planos foram tão rápidos desta vez não seria para escrever roman- do leitor. Outra bem diferente é mostrar rigorosos rituais católicos, a paulatina me-
se diz algo tão ousadamente deslocado da da manteiga com Marlon Brando no filme que não serão colocados num meme, nem ces cómicos. O escritor lembrava-se de um tudo num grande ecrã sem descambar para tamorfose de Reagan, a impotência e o de-
realidade? Não há contradição. Enquanto o O Último Tango em Paris, de 1972, contan- a deixarão envergonhada para o resto da caso de alegada possessão demoníaca em o ridículo. sespero da mãe, num desempenho notável
porno ficou cada vez mais porno, o cinema do ter-se sentido “humilhada e um pouco vida – que era o que temia. Foi um ponto que dois padres tinham exorcizado um ra- Quando o filme ficou pronto, Friedkin, de Ellen Burstyn.
e as dezenas de milhares de séries que são violada”. Perante Brando e Bernardo Ber- de viragem. “Esta é uma indústria em que, pazinho de dez anos, em St. Louis. Foi esse contra os seus instintos egomaníacos, acei- Hoje, quando se vê O Exorcista, é mais fá-
anualmente produzidas para o cinema e tolucci, acabou por não fazer nada. Acon- se dizes que não, há centenas de pessoas o ponto de partida para O Exorcista, livro tou as sugestões de um dos executivos da cil perceber a opinião unânime de todos os
streamings de TV expurgaram o sexo, tout tece que mesmo agora, quase meio século para te substituir...” que se tornou um dos maiores sucessos de Warner para cortar algumas cenas. No que participaram no filme: não é um filme
court. Mas não é uma causa-efeito. Para já depois, ainda há atrizes que se queixam de Passada esta primeira vaga de espan- vendas em 1971. entanto, resistiu à pressão de Blatty para de terror. Basta lembrarmo-nos dos milhen-
é uma constatação. algumas cenas acabarem de forma pouco to – ahaha um coreógrafo para a fodenga, Os direitos para a adaptação cinemato- incluir outras que o escritor – e também tos filmes que exploraram os mesmos te-
Mas se calhar somos capazes de dizer “interessante” para o lado delas numa in- onde já se viu? –, os próprios realizadores gráfica foram vendidos à Warner Bros. e, argumentista – julgava essenciais e que o mas sobrenaturais sem alcançar o mesmo
isto: estamos em 2020; e o sexo é o elefan- dústria que permite uma larga capacidade começaram a constatar que o resultado fi- de forma a manter o controlo criativo sobre realizador via como supérfluas e redundan- efeito, de perturbar até o mais impassível e
te na sala; não sabemos o que fazer com de improvisação quando se trata de filmar nal era mais sexy. Porque em vez de terem uma história que lhe dizia muito, Blatty foi tes. Essas cenas foram incluídas na versão incrédulo dos espectadores, convencendo-o
ele. Que chatice. Numa série de TV, a cenas de sexo ou “amor tórrido”. dois seres a atuar e a querer despachar e um dos produtores. Afinal, tinha sido gra- lançada em 2000 porque Friedkin acha- da veracidade da história de uma rapari-
mera nudez pode tirar audiência e proibir As atrizes queixam-se dessa ambiguida- a seguirem linhas de realização mais ou ças ao livro que saíra da sua crise pessoal va que tinha essa dívida para com Blatty, ga possuída pelo demónio. Argumentista e
adolescentes de ver (segundo os padrões de, dado que nos guiões muitas vezes sur- menos improvisadas, estavam a fazer uma ao mesmo tempo que se livrara do rótulo que lhe oferecera o melhor material com realizador podiam não estar de acordo em
americanos). Estamos numa era em que te- ge apenas: “E vão para o sofá e fazem amor dança que tinha sido discutida e ensaiada de escritor humorístico. A produtora, junto que alguma vez trabalhou. Mas Friedkin muitas coisas, mas acreditavam na história
mos dificuldades em lidar com dois seres intensamente.” Ora, como é que se traduz previamente. Nomeadamente para provo- com Blatty, tentou entregar a realização do tinha razão. As cenas cortadas, como uma que tinham para contar e na maneira cer-
a fazer lá o que é que deviam estar a fa- isso para imagens? O realizador quer que car determinados efeitos. Ora, se a ideia de filme aos realizadores na crista da onda, conversa entre os padres Merrin e Kar- ta de a contar. Um deu as palavras, o outro
zer para as câmaras. Mas atentemos. Hoje, a atriz mostre mamas e a partir daí é só uma cena é ser erótica, um coordenador de como Mike Nichols e Peter Bogdanovich. ras, limitavam-se a reforçar, de uma forma contribuiu com a visão. Num documentário
meses depois de ter ouvido falar pela pri- dizer: “Ação!” O que pode levar a experiên- intimidade poderia discutir com os atores No entanto, o projeto foi parar às mãos um tanto tosca, aquilo que era sugerido sobre o filme, Blatty, o crente, disse que O
meira vez de “diretores de intimidade” (ou como a fazer mais sexy. E retirar dela um do combustível William Friedkin que anda- Exorcista era sobre a velha questão de sa-
coordenadores de intimidade), fico espan- efeito maior. va nas nuvens depois de ganhar o Óscar de ber porque é acontecem coisas más às boas
tado ao pensar que dantes era tudo mais Pode ser. Tudo isto é normal. Como se melhor realizador pelo filme Os Incorruptí- pessoas. Friedkin, o ateu, disse que era so-
ou menos feito em improvisação. Ou seja, o pode constatar, nada tenho contra os di- veis Contra a Droga. Não que Friedkin preci- bre o mistério da fé. Nunca mais fizeram
realizador dizia “ação” e os atores faziam retores de intimidade – nem contra as co- sasse de incentivos exteriores para insuflar nada tão significativo e com tão grande im-
furunfunfum, rebola aqui, apalpa ali, grita reografias. Acho até muito bem. Contudo, o ego. Ele já se julgava o maior realizador pacto. Ele há coisas do diabo. l
e corta! Estava mal. Até porque, como em algures neste texto escrevi que o sexo é o do mundo e o reconhecimento dos outros
muitas outras coisas, “o poder” residia do F I C O E S PA N TA D O elefante na sala. Ninguém fala. Qualquer servia apenas para o confirmar. De tempe-
lado dos homens. Vá lá, admitam. Estava. dia já não sabemos bem o que é de facto a ramentos e origens muito diferentes, Frie-
O #MeToo assustou muitas produtoras
AO PENSAR QUE coisa. E vamos precisar de um diretor de in- dkin, um ateu explosivo e irascível, Blatty,
de cinema que começaram a contratar “di- DANTES ERA timidade, in loco, no nosso quarto para nos um católico soturno e pausado, os dois ho- O E S C R I T O R L E M B R A VA - S E
retores de intimidade” para cenas de sexo. ajudar. E aí é que vai ser problemático. l mens tinham em comum as relações muito
As cenas não poderiam ser improvisadas. TUDO MAIS OU próximas com as mães. Para o filme, Blatty DE UM CASO DE ALEGADA
Teriam de ser pré-coreografadas. Essas MENOS FEITO EM tinha idealizado um registo o mais realista POSSESSÃO DEMONÍACA ,
pessoas conversavam, discutiam a cena, possível e a experiência de Friedkin como
nomeadamente sobre o que faria ou não IMPROVISAÇÃO documentarista, que já se fizera notar n’Os OCORRIDO NA DÉCADA DE 40
76 GQPORTUGAL.PT ABRIL 2020 ABRIL 2020 GQPORTUGAL.PT 77
MAN THINGS
A ESCOTILHA
Sul–País de Gales na meia-final, quando o inda sou do tempo dos jornais. As
asa galês George North sofreu uma lesão primeiras memórias que tenho de
TONY PARSONS repentina no tendão enquanto corria em infância envolvem não só um disco MATILDE CAMPILHO
direção a um gigante da equipa adversária do Elton John de capa azul, como também
que estava à espera que a bola caísse do ar. o som de umas páginas a preto e branco a
COMO EU Num ato de coragem inimaginável, North
continuou a correr, mancando na sua úni-
serem viradas a cada fim de tarde. Lá em
casa, porque o meu pai saía bem cedo para NAS PALAVRAS
APRENDI A ca perna saudável e conseguindo, apesar
das circunstâncias, fazer o tackle. “Se és
o trabalho, o jornal lia-se antes do jantar.
A essa hora já eu tinha tomado banho e já CRUZADAS
GOSTAR DE capaz de forçar coração, nervos e tendões
a dar seja o que for que neles ainda exis-
teria escutado pela enésima vez o tal dis-
co que, agora que penso nisso, não sei se NUNCA APARECEU
“BALLET PARA te...” Alguma vez o futebol me fez lembrar
com lágrimas nos olhos uma citação de Ru-
pertencia ao meu pai se à minha mãe. A
minha infância sempre me pareceu prodi- A PALAVRA MEDO
GRAÚDOS” dyard Kipling no seu poema Se? O tackle de
North, feito a uma perna, foi um momento
giosa por muitas razões, e uma delas tem
a ver com a questão de que os objetos não
para nos maravilharmos com o espírito hu- tinham dono e estavam ali para quem os
N
mano. E não tive escolha senão amar este quisesse usar.
a minha escola ensinaram-nos a Houve muitos momentos como aquele no desporto. Usei muito os discos dos meus pais em mais raro ainda é encontrar quem não sai- cresci para trabalhar naquilo que mais
odiar o rugby. Era uma escola se- Japão. O tufão Hagibis atingiu o país no A minha epifania em relação ao rugby criança, e esse foi só mais um ponto a favor ba da notícia ao minuto. As novidades bro- gosto. O disco do Elton John, as revistas, a
cundária onde o rugby era visto decorrer do torneio. Houve inundações, vem exatamente quando dou por mim a na minha educação. Outro ponto foi o som tam dos telefones a uma velocidade doida, notícia: tudo isso está presente no meu tra-
como um desporto socialmente móvel, uma deslizamentos de terra, 88 mortos e muitos afastar-me dos desportos que amei ao lon- do papel virado, o mesmo que na minha e já quase ninguém se dá o trabalho de ler balho agora. Eu só não sabia que cresceria
estrada lamacenta para nos tornarmos fi- desaparecidos. Aquele desastre nacional go da vida, o boxe e o futebol. O boxe? Este casa se ouve agora aos sábados de manhã. o jornal pela manhã. Eu confesso que tam- para viver o tempo da velocidade, onde
nos e bem-vistos, tão essencial à cultura poderia ter destruído outro campeonato devia ter sido o ano em que três pesos pe- Quando digo que sou do tempo dos jornais bém já praticamente só os compro ao fim uma canção como Tiny Dancer seria con-
aspiracional da escola quanto o lema latino desportivo, mas o rugby uniu-se e todos os sados lutavam uns contra os outros, porém quero dizer que cresci com a importância de semana. Um sábado bom é aquele que siderada demasiado longa para os padrões
no crachá do nosso blazer. jogos a seguir começaram com um minuto planearam evitar-se. E o futebol? Esse não de um jornal diário e em papel – primeiro começa com uns quantos jornais espalha- normais de concentração. Muito menos sa-
Era obviamente o futebol, a hora da brin- de silêncio. Chegada a altura de cantar os melhora com montanhas de dinheiro, joga- era o meu pai, depois eram quase todos os dos, nos quais vou sublinhando as notícias bia que a cobra do telefone nos havia de
cadeira e as paredes dos nossos quartos hinos nacionais, às equipas juntava-se uma dores que beijam o emblema do clube sem meus companheiros de comboio a folheá-lo menores. As grandes, já se sabe, entram- comer a mão, e que a maçã afinal éramos
que preenchiam os nossos sonhos. Mas a mascote pequenina local, que tinha clara- compreender o seu valor, ou a cultura de a caminho do trabalho. Nessa altura já eu -nos pelos olhos a semana inteira, aos gri- nós. No dia em que escrevo esta crónica
nossa escola – e o assustador professor de mente passado horas a aprender o hino de- fingir uma lesão. ia a caminho da universidade e, tal como tos, no telefone ou na TV. E arrasam logo os jornais gritam o alarme – há um vírus
desporto gaulês – acreditavam que o fute- les. Típico do omotenashi japonês, que pode Mas eu encontrei o meu talismã des- os meus companheiros, folheava o meu. É com a possibilidade de análise. Trazem a a espalhar-se veloz e a notícia só fala dos
bol trazia fedor de cervejas para a cidade. ser traduzido por hospitalidade consciente. portivo no rugby do Japão. Houve uma que embora eu ainda nem esteja perto dos euforia e o alarme, mas nem por isso uma números desse avanço. No jornal, na TV e
Por isso fomos ensinados a jogar rugby E típico deste campeonato. Houve ferocida- delicadeza violenta de que gostei. “Ballet 40, sou do tempo em que o telefone móvel, resolução. nos telefones, os números saltam sem pa-
e aprendemos a detestá-lo durante uma de, sangue e ossos partidos desde o primei- para graúdos”, alguém lhe chamou. Havia a existir, estava lá só para fazer e receber O tempo em que o meu pai lia o jornal rar. Como conselho, sugerem que evitemos
vida, sobretudo porque antes de cada aula ro jogo até à final. Mas também houve sem- nobreza: aplaudir a outra equipa, aceitar a chamadas. Quando muito para, em horas parece agora um tempo muito antigo. Era espaços fechados e que lavemos as mãos.
éramos obrigados a rebolar na lama. Não pre respeito, espírito desportivo e decência decisão do árbitro mesmo se ele estivesse aborrecidas, jogar ao jogo da cobrinha a o tempo do vagar. O tempo em que era pos- Dizem-nos também que o tal vírus fica la-
nos fazia senhores, mas fazia-nos detestar humana. E essa é a alma do rugby. errado, não deitar abaixo o hino nacional comer a maçã. E até isso não chegava a sível ler cada notícia e respirar depois, e tente nos objetos e que, então, mais vale
o rugby. Então o que é que mudou para mim O momento exato em que me apaixonei do adversário. Os treinadores não chora- ocupar no máximo uns 20 minutos. O resto tirar daí alguma conclusão. No fim, com tocar pouco nas coisas.
no mundial rugby de 2019 no Japão? Tudo. por este desporto foi durante o África do mingavam que tinham sido roubados. Os do tempo era usado para observar a pai- sorte, ainda era possível resolver as pa- Hoje não é sábado, mas ainda assim
A nação anfitriã fazia com que o des- jogadores não fingiam ter-se magoado. E, sagem no comboio, para folhear um jornal, lavras cruzadas de cabeça fresca e sem comprei o jornal. Sublinhei uma notícia
porto parecesse uma corrida onde ritmo, chocante para qualquer fã de futebol, os para ouvir as conversas de estranhos, até medo. Escrevo esta crónica praticamente musical, resolvi as palavras cruzadas e du-
talento e mãos inteligentes eram fatores jogadores não tinham os seus nomes es- mesmo para não fazer nada. Era importan- um mês antes da sua publicação, porque rante uns 20 minutos não olhei para o tele-
essenciais. O jogador de Inglaterra Owen tampados nas costas das T-shirts. Depois te o tempo de viagem em que não fazíamos fone. Uma vez ou outra levantei os olhos
Farrell tinha o carisma sereno e o sentido A MINHA de ver a primeira liga, há um espírito des- nada. e pude ver como a criança à minha frente
de destino de um Bobby Moore do século E P I FA N I A E M portivo old-school e uma falta de ego na Desde que os telefones contêm um mun- brincava com um lego sem lavar as mãos.
XXI. Farrell sorriu com o haka da Nova elite do rugby que eu considero irresistível. do que vai bem para lá da cobra e da maçã, Não me alheei, nem sequer deixei de estar
Zelândia para depois apoiar a equipa de RELAÇÃO AO Ninguém está a fingir no rugby. E, embora já é muito raro ver-se alguém de olhos pos- atenta aos conselhos que com certeza nos
forma gloriosa naquela que foi uma devas- esteja completamente fora de moda dizê- tos na janela, seja no comboio ou no café, levarão a superar mais um forte percalço
tadora vitória na meia-final contra os All
RUGBY VEM -lo nos tempos que correm, o rugby é um sem fazer mesmo nada. Para além disso, deste planeta que se move sem pedir licen-
Blacks. Sempre assumi que a Nova Zelân- EX ATA M E N T E desporto que reverencia as velhas virtudes ça. Mas durante 20 minutos, estou certa,
dia era o equivalente ao Brasil no futebol. masculinas de coragem e estoicismo. fui tranquila. Vivi, sem medo de contami-
Se eras capaz de os vencer, podias fazer Q UA N D O D O U Enquanto aluno de 11 anos de uma esco- nação, e tive a sorte de habitar o tempo do
o mesmo com todas as outras equipas. A la secundária, o rugby foi-me imposto e eu jornal. Pressenti que as coisas ainda eram
glória suprema de Inglaterra parecia inevi-
POR MIM A não podia fazer nada para além de o des- de todos e que estávamos à vontade para
tável até que perderam contra a África do A FA S TA R - M E D O S prezar. Mas no Japão tive de amá-lo. O ru- O T E M P O E M Q U E O M E U PA I L I A as afagar. Por 20 minutos deste dia, en-
Sul na final. Os Springboks foram a melhor gby falou comigo no Campeonato Mundial quanto sublinhava frases menores, esqueci
equipa naquele dia e, guiados por Siya Ko- DESPORTOS QUE de 2019 como nenhum outro desporto tinha O J O R N A L PA R E C E A G O R A U M que o maior vírus ainda era, e é, o vírus da
lisi – o primeiro capitão negro na história AMEI AO LONGO falado durante muito, muito tempo. Disse- TEMPO MUITO ANTIGO. ERA velocidade. E trauteei serena um Tiny Dan-
da equipa sul-africana –, a sua vitória pa- -me “Olha para aquilo que tens estado a cer, feliz por não ter perseguido nenhuma
receu mais do que mero desporto. DA VIDA perder.” l O T E M P O D O VA G A R cobra, nenhum isco, nenhum susto. l
M A K V I I N R G U SC U C L A T N U RB E E VC I O R O A L L
O U R R E A D E R S K E E P I N C R E A S I N G E V E R Y D A Y . T H A N K Y O U .
WE ARE WORLDWIDE
A PIECE OF ART
“Eu nunca fiz nada a mim mesmo, daí que me tenha tornado esta velha amêijoa enrugada.
É que eu gosto de um aspeto natural.”
Não perca esta e outras pérolas extraídas da conversa com o primeiro supermodelo
masculino da história, Mark Vanderloo, na página 108.
U M A O B R A D E A R T E T O D O S O S M E S E S P O R 4 E U R O S
YOU CAN BUY HERE. VOGUE.PT/ SHOP EDIÇÃO DE MARÇO COM TRÊS CAPAS. ESCOLHA A SUA, JÁ NAS BANCAS.
REPORTAGEM
Sikkim
Biológico
A d u pla d e re p órt e re s Matt e o Fagotto e Mat i lde Gatton i (fotog raf ia)
Poderão ser necessários anos para que se em casas de aldeia – quartos espartanos
crie uma cadeia logística em condições, mas em casa de famílias rurais – e ter um vis-
a situação está a melhorar aos poucos. Hoje lumbre da genuína vida rural. Os dias são
em dia, as deliciosas laranjas de Dzongu passados a colher arroz, explorar cascatas
são vendidas em locais tão distantes como escondidas ou em casamentos tradicionais.
Calcutá e Deli e investidores de vários À noite, as famílias reúnem-se em torno da
países do Médio Oriente, Europa, Sudeste lareira para partilhar histórias – e delicio-
A
Asiático e Extremo Oriente já exprimiram o sos jantares confecionados com ingredien-
decisão de tornar Sikkim 100% seu interesse nos produtos locais. tes biológicos – com os seus hóspedes.
biológico nasceu na mente de A revolução biológica também estimulou Entre os destinos obrigatórios de Sikkim
Pawan Kumar Chamling, o mi- um pico no turismo neste local inacessível. encontra-se a quinta-modelo de Azing Lep-
nistro que governou o estado Pertencente à Índia desde 1975, Sikkim é cha – um homem tímido e trabalhador de 57
durante 25 anos consecutivos, até maio de habitada por diferentes comunidades – anos, da aldeia de Hatidunga, cuja história
2019. A nova política era adequada à re- bhutias, lepchas, nepalesas e tibetanas – e é um bom exemplo das lutas e recompen-
gião: devido aos seus terrenos montanho- contém uma mistura fascinante de idio- sas da transição oferecidas pela agricultu-
sos, pequenos e dispersos – a propriedade mas, culturas, religiões e uma peculiar ra biológica. Em 2003, Azing herdou dois
média tem apenas um hectare e a maioria identidade cultural. Viajar até lá pode ser hectares de terreno agrícola do seu fale-
dos camponeses praticam a agricultura de difícil – a maioria das estradas são estrei- cido pai. Os terrenos em socalcos estavam
subsistência – Sikkim não reúne condições tas e em terra batida, abertas em encostas cobertos por monocultura de milho desde
ideais para a prática de agricultura indus- montanhosas e 100 km podem demorar um a década de 70 e a constante aplicação de
trial e mecanizada. A utilização de quími- dia inteiro a percorrer –, mas aqueles com ureia – um adubo comum e acessível à base
cos sempre foi significativamente mais bai- espírito aventureiro colherão recompensas de azoto – durante mais de 25 anos esgota-
xa aqui do que no resto do mundo. espetaculares. Picos altos, vales estreitos ra ainda mais o solo já de si pobre.
No entanto, a nova via não é imune a ris- sulcados por rios transparentes e florestas Azing começou a converter o terreno
cos. A agricultura biológica é mais comple- intactas intercaladas com templos hindus, numa exploração frutícola, plantando as
xa e exigente, em termos de mão de obra, mosteiros budistas isolados e lagos sagra- suas encostas íngremes com ananases,
e as colheitas são sazonais e de baixo ren- dos são apenas algumas das deslumbran- goiabas, bananas, mangas, papaias e jacas.
dimento. As autoridades locais identifica- tes atrações de Sikkim. O início não foi promissor. “Ninguém tinha
ram quatro culturas rentáveis – gengibre, Sair da vasta capital, Gangtok, e perder- conhecimento da minha nova atividade. A
trigo-sarraceno, curcuma e cardamomo – -se na natureza luxuriante e intocada é a única coisa que eu podia fazer era vender
que poderão impulsionar as exportações melhor forma de explorar esta terra hipno- a fruta no mercado mais próximo”, explica.
biológicas de Sikkim, mas o estado não tizante. Os visitantes podem hospedar-se “Durante quatro anos, tive dificuldades em
tem infraestruturas (armazenamento em sustentar a minha família.” No entanto,
cadeias de frio, unidades de processamen- ele não desistiu e decidiu diversificar as
to e um sistema de transporte fiável) para suas atividades, produzindo mel caseiro e
comercializar eficazmente os seus produ- utilizando os excedentes de fruta para fa-
tos agrícolas de alta qualidade. A maioria bricar deliciosos vinhos sem álcool. A ideia
dos agricultores são forçados a vender os funcionou, atraindo um fluxo constante de
seus produtos através dos mesmos meios, clientes. Azing abriu uma hospedaria para
pelo mesmo preço, que a fruta e os legumes os alojar, aliando a agricultura biológica ao
convencionais. turismo sustentável num círculo virtuoso.
Hoje em dia, recebe mais de 300 visitantes
indianos e internacionais por mês e os seus
frutos, legumes e ovos chegam aos melho-
res hotéis de cinco estrelas de Gangtok.
LUANA, A DESTEMIDA
Não se priva de dizer o que pensa ou sente – e isso já lhe deu fama de
desbocada e barraqueira. Mas, aos 43 anos, a atriz diz estar mais preocupada
com partilhar amor e experiência do que com dar resposta a críticas sem face.
Uma conversa sem guião nem complexos.
Por Beatriz Silva Pinto. Fotografia de Renam Christofoletti. Styling de Paulo Zelenka.
S
misola está suja, não tem problema, porque quatro anos, o pessoal de uma produtora lá
tem outras 15 na gaveta. E eu acho muito no Brasil me convidou para fazer o rema-
e estivéssemos do outro bom quando você tem a possibilidade de ke da série A Mulher Invisível. E a gente até
lado do Atlântico, as apre- viver com outras pessoas que têm outras chegou a ter algumas conversas e eu che-
sentações seriam dispensá- vidas e outras possibilidades ao seu redor. guei a ver alguns roteiros. Após uns três,
veis. Aqui, Luana Piovani é Quando você conhece os limites de outras quatro meses, eles me falaram que acha-
atriz e apresentadora. No pessoas, você aprende quais são os seus. E vam que eu estava muito velha para fazer a
Brasil, para lá disso, é ma- como respeitar os dos outros. Eu quero que personagem. E que a personagem também
téria noticiosa dia sim, dia não. (Mas como os meus filhos usem transportes públicos e ficaria muito vulnerável sem a personagem
acabaríamos por perceber ao longo desta acho muito interessante o facto de eles uti- do Selton. Ou seja, eles não só subestima-
entrevista, esse é um detalhe que já não lhe lizarem livros que já foram utilizados por ram uma personagem feminina forte como
tira o sono.) outras pessoas – para eles saberem o valor atrelaram a força dela à juventude.
Piovani tem 43 anos e há um que trocou daquilo. São valores que eu acho importan-
Rio de Janeiro por Cascais, onde vive com te ter, entendeu? Isso molda um cidadão.
os três filhos. Diz que do Rio só sente sau- O PRECONCEITO
dades “das pessoas, de palmito e de requei- A Luana tem um namorado mais novo.
jão” e que viver em Portugal “está sendo O CORPO Sente que ainda há preconceito de ver
muito melhor do que o sonho”. Este ano ou Em 2016, com 40 anos, Luana fez capa da uma mulher mais velha com um homem
no próximo, deverá estrear um espetáculo Playboy Brasil. O que a levou a querer fa- mais novo? Eu no dia a dia não vivo isso,
de teatro. E confessa que está louca para zer uma produção tão ousada? A proposta porque as pessoas que nos cercam nos
fazer novelas no País que escolheu. da Playboy me pareceu muito convidativa, querem bem, né? Mas atrás do computa-
Uma conversa à distância (por força das porque era o início de uma nova etapa da dor todo o mundo fica muito corajoso e aí
circunstâncias) sobre a mente e o corpo, revista. Você já não estaria comprando as pessoas escrevem e julgam. Mas eu já
a família e o trabalho da atriz que se ha- nudez: a nudez só existiria se a mulher conheço esse discurso, sabe? Eu tenho 43
bituou a ser observada por milhões aos 14 quisesse dar durante as fotos. E achei que, anos, eu comecei a trabalhar muito nova,
anos. se algum dia na vida eu ia fazer Playboy, então eu lido com opinião há muito tempo.
aquele era o momento – após ter filhos gé- E já não me atinge, não me dói, não me ma-
meos, expondo minhas cicatrizes, expon- goa.
A FAMÍLIA do o meu peito sem ainda ter passado por
Como é que a Luana e os filhos se estão a uma colocação de prótese... Quis fazer uma Tem medo de envelhecer? Eu não tenho
adaptar a Portugal? Eles estão muito feli- coisa mais real, sem retoques, para que a medo de envelhecer, até porque eu acho “NÃO TENHO A PRETENSÃO DE ME MANTER
zes. A escola é muito gostosa, as crianças gente pudesse humanizar mais as questões que seria burrice da minha parte, uma vez
são animadas como eles, as professoras co- do corpo. que eu quero morrer com 104 anos. Não tem PERFEITA . EU SEI O QUE É A NATUREZA ,
nhecem todas as crianças pelo nome, por- como eu querer viver muito e ter medo de
que só existe uma turma por classe... E a Sente que no Brasil ainda existe muito o envelhecer. Eu sou bastante lúcida com a
EU ACEITO ELA E EU ANDO JUNTO COM ELA.
gente mora numa vivenda confortável, eles culto do corpo jovem? Extremamente. minha maturidade e o meu envelhecimento. E L A N Ã O É M I N H A I N I M I G A”
têm praças e parques próximos, é um lugar E eu me cerco bem. Eu cuido da minha ca-
muito solar. Temos uma vida muito feliz, E na indústria da televisão: a mulher é jul- beça, para ela não me boicotar, e eu tenho
muito parecida com a que tínhamos no Bra- gada pela sua idade? Acho que sim. A ten- bons médicos. Então é assim: eu vou ter 65
sil. A diferença é que eu no Brasil passa- dência é sempre querer ver o belo. E belo é anos com cara de 65 anos, mas muito lin-
va o tempo todo tensa. E aqui não. Talvez sinónimo de juventude. Então, é uma coisa da, entendeu? Eu não pretendo ter 65 anos
para os meus três filhos não tenha mudado natural: jovens sempre chegarão para to- querendo aparentar a idade que eu tenho
nada, porque eles não sabem da realidade. mar o lugar dos mais velhos. Mas é preci- agora. Não tenho a pretensão de me man-
Quem vive o alívio de estar num lugar onde so valorizar a maturidade e a sabedoria. A ter perfeita. Eu sei o que é a natureza, eu
você pode viver em harmonia com o seu se- questão não é apagar uma luz e sim acen- aceito ela e eu ando junto com ela. Ela não
melhante sou eu. der luzes para todos. é minha inimiga.
LUANA EM 60 SEGUND O S
Um filme. O Estranho Caso de Benjamin Button.
Uma banda. The Strokes.
Uma referência. Irene Ravache.
Body em nylon, Victor
Um livro. Crime e Castigo.
Dzenck. Casaco em poliéster,
sapatos em pele, ambos Um hobby. Ouvir música.
Andressa Salomone. Um vício. Beber.
Cotoveleiras e luvas em nylon Um medo. Doença.
e borracha, Decathlon. Um sonho. Ficar em Cascais.
A ARTE
Começou a trabalhar muito cedo, aos 14.
Desde então, já foi modelo, apresentado-
ra, já fez novelas, séries, cinema e teatro.
Em qual destes meios se sente mais feliz?
Fazendo teatro, com certeza. Eu acho que,
num futuro muito próximo, a nossa matéria-
-prima mais rara vai ser o tempo individual.
Não vai ser a água potável, não. Então, eu
acho sagrado o público dedicar aquele tem-
Qual é a sua posição no que toca a cirur- po para aquela história, ao mesmo tempo
gias plásticas? Uma vez que elas chegam que acho sagrado o artista estar ali suando
para fazer bem, eu acho que é ótimo. Mas na frente do público para contá-la. Aquilo
é por isso que eu acho que é tão importan- que aconteceu ali jamais se repetirá. E isso
te as pessoas primeiro cuidarem das suas é muito especial... Eu amo fazer teatro. O ONLINE
cabeças. Porque a cabeça pode te boicotar. A Luana tem 3,6 milhões de seguidores
Você pode ser bonita, você pode estar bem Já disse que, no mundo da representação, no Instagram e as revistas cor-de-rosa
e, por conta da sua cabeça que está dese- o aplauso e a vaia estão especialmente fazem notícia com quase tudo o que pos-
quilibrada, você pode acabar fazendo pro- próximos. Como é que se protege disso? ta. Como se sente ao saber que está a ser
cedimentos. Porque nem todos os médicos Não dando nem tanto valor a um e nem observada por milhões? Olha... Eu não me
são éticos. E daí você pode perder a sua re- tanto valor ao outro. Eu acho muito impor- incomodo de ser observada por milhões,
ceita de natural e bela e ficar com uma cara tante o autoconhecimento. Quando você se porque assim se fez a minha vida desde os
comum e artificial. conhece, você sabe quais são as suas vul- 14 anos. Mas me incomoda saber que tem
nerabilidades e você pode trabalhar para gente que vive de notícias fúteis e notícias
Mas ainda há mulheres com medo de ad- fortalecê-las. Eu sou feliz pelos elogios que levianas a respeito da minha vida. Era pre-
mitir que fizeram cirurgias, que tentam eu recebo, eu pouco dou ouvidos às críticas ciso que se precisasse de mais um pouco
esconder... Ah, isso eu acho uma babaqui- que recebo e, acima de tudo, está o bem-es- para ganhar dinheiro, entendeu?
ce. Eu acho é que a gente tem mais de se tar dos meus filhos e as minhas escolhas de
EM QUA REN TENA dar a mão, para todo o mundo entender vida, que são trabalhar, multiplicar amor e Porque é que acha que tem fama de des-
“Eu estou com uma sensação de que a perfeição não existe. O peito de todo compartilhar experiência, contar histórias, bocada e barraqueira na Internet? Porque
que eu já estava em quarentena o mundo vai cair! E se o peito não caiu, com rir, emocionar. Eu acho que quando a gen- eu não tento, por ser uma pessoa pública,
antes”, confessa Luana, certeza que a bunda vai cair. E se não caiu te cuida do nosso, fica mais fácil o externo passar a imagem imaculada de uma artis-
referindo-se ao isolamento a bunda, vai ter varizes. Não adianta: todo ruim não nos desestabilizar. ta que não se indispõe com ninguém e que
social recomendado que tem o mundo tem os mesmos problemas. Al- acha tudo lindo e maravilhoso. Esse não é
cumprido na sua casa em Cascais, guns mais, alguns menos. E é isso que nos Que projetos tem planeados para o futu- a minha personagem dentro desse circo.
acompanhada pelos três filhos. humaniza: a falta da perfeição. Eu acho um ro? Estou com um projeto teatral bem inte- Então, eu me dou o direito de dar a minha
“Eu estou vivendo, pela primeira absurdo ficar fingindo que não se fez nada ressante, que eu chamo de stand-up music. opinião – e, normalmente, a minha opinião
vez, uma coisa muito distinta na para se manter bem. Tem mais é que falar Vai ser um espetáculo curto, onde eu conto é bastante plausível, porque eu sou uma
minha vida que é: eu estou sem e que dizer o que é bom e o que não é, fa- histórias da minha vida numa pegada de pessoa bastante inteligente e experiente.
trabalhar. Eu vim para cá tem um zer serviço social. Dividir, compartilhar a humor e, para costurá-las, eu canto algu- Mas isso mexe com os brios das pessoas.
ano, fiz o meu trabalho do Like Me experiência. mas canções. No que toca a novela, eu não
durante três meses e fiz trabalhos sei ainda. Na verdade, só tenho uma gran- Se pudesse viajar no tempo, que conse-
esporádicos no Brasil. Mas eu não Então, não tem qualquer receio de falar de vontade de fazer. Eu não sei como é feito lhos é que daria à Luana de 20 anos? Ah,
tenho uma rotina de trabalho. Eu disso. Claro que não. Até porque eu não aqui e eu estou curiosa. eu acho que eu ia dizer para eu já fazer
trabalho desde os meus 14 anos subestimo as pessoas, entendeu? Eu estou ioga desde lá [risos]. Porque o ioga ajuda
e, pela primeira vez em quase 30, a olhos vistos das pessoas desde os meus na sua conexão consigo, trabalha a muscu-
eu parei. Então, a sensação que eu 14 anos. Tive três filhos, o meu peito do dia latura e diminui a ansiedade. l
tenho é que o mundo inteiro está para a noite apareceu volumoso, vou dizer
vivendo agora o que eu já estava o quê? Que enchi com balão? Pô, não dá,
vivendo antes [risos].” ninguém é imbecil.
À P R O V A
D O
T E M P O
Foi o primeiro homem a ostentar o estatuto de supermodelo. Foi um ícone nos anos 90.
Casaco e camisa Foi capa de revista, rosto de marcas e sex symbol masculino. Hoje, aos 52 anos, ainda integra
em viscose, ambos
Jil Sander. Lenço
o top 10 dos modelos mundiais. Senhoras e senhores, Mark Vanderloo.
em algodão, Prada. Por Diego Armés. Fotografia de Frederico Martins. Styling de Paolo Turina.
“A M E L H O R M A N E I R A D E V I V E R E S A T UA V I D A
É I R A C E I T A N D O E AVA L I A N D O O S M O M E N T O S E A S
OPORTUNIDADES À MEDIDA QUE ELAS SURGEM”
Q
tou em mim, pela primeira vez, algum sen-
tido de estilo. Nessa altura, não me passava
pela cabeça vir a trabalhar na indústria da
moda, até porque vivia numa cidade indus-
trial, que é Eindhoven, distante e alheada
do mundo do glamour. Mais tarde, quando
fui estudar para Amesterdão, arranjei ma-
neira de entrar numa agência de modelos e
então comecei. Descreve-nos um pouco a tua rotina diá-
ria – exercício físico, dieta, hábitos de
Quais foram os momentos mais impor- sono, etc. Para mim, não há rotina diária,
tantes e decisivos na tua carreira de vivo o dia, essencialmente. Apesar de via-
modelo? Acredito que a melhor maneira jar, e eu gosto de viajar muito, o mais di-
de viveres a tua vida é ir aceitando e ava- fícil para mim é viver em diferentes fusos
liando os momentos e as oportunidades à horários. De maneira a conseguir conjugar
Quem viveu os anos 90, conhece o seu medida que elas surgem. Embora adorasse essa dificuldade e a necessidade de viajar,
nome e, muito provavelmente, reconhece o ver-me como alguém que faz muitos planos tento distribuir o peso, os excessos, diga-
seu rosto, apesar das rugas. Mark Vander- e que toma imensas decisões que acabam mos, de maneira equilibrada por diferentes
loo foi o modelo masculino por excelência, por dar certo, sempre tomei as decisões de conjuntos de 24 horas. Por exemplo, um al-
um dos homens mais cobiçados à face da acordo com as minhas possibilidades e no moço mais pesado em Nova Iorque equivale
Terra e protagonista de várias campanhas momento em que as oportunidades se apre- a um jantar mais pesado em Paris – num
marcantes. Foi rosto da Calvin Klein, de sentaram. Nunca fui de desistir e, no prin- conjunto de 24 horas, acabam por ocorrer à
Hugo Boss ou DKNY e fez a primeira capa cípio, foi graças ao trabalho duro e a muita mesma hora. Isto ajudou-me sempre com o
masculina da revista Marie Claire, em 1996, persistência que consegui superar estágios jet lag. Para além disso, tento correr sempre
numa época em que tinha o mundo da moda mais complicados. nas vésperas de um shooting, para, pelo me-
aos seus pés – no ano anterior, a VH1 tinha- nos, chegar ao set bem acordado.
-o considerado modelo mundial do ano. Qual é o segredo para permaneceres no
Nesta conversa, mantida à distância – afi- topo do mundo da moda ao longo de três E cuidados especiais, tens? Pele, mãos,
nal de contas, estamos em período de iso- décadas? Não há aqui segredo nenhum olhos, cabelo, rosto… Não uso cremes es-
lamento para evitar contaminações –, fala- que eu possa partilhar, tudo o que sempre peciais nem champôs. Eu acredito que so-
-nos um pouco da sua carreira e revela o tentei foi dar o meu melhor em cada traba- mos feitos de maneira a compensar a pele.
seu perfil de homem prático, concentrado lho, como se fosse o meu último. Por vezes, Mas uso protetor solar se for para as mon-
no momento, sem grandes planos, com os torna-se mais difícil quando a expectativa tanhas ou para a beira do mar.
pés bem assentes na terra. da equipa acerca de mim é muito alta e se
esquecem de que sou apenas um tipo nor- Considerarias recorrer a intervenções ci-
Como é que entraste no mundo da moda? mal a dar o seu melhor. Todos os melhores rúrgicas para melhorar algum aspeto físi-
O modo como entras no mundo da moda trabalhos resultam de um esforço de toda co? Eu nunca fiz nada a mim mesmo, daí
nunca é determinado por um só momento. a equipa – cabelo, maquilhagem, styling, que me tenha tornado esta velha amêijoa
Acho que o meu interesse na maneira como fotógrafo e clientes em conjunto produzem enrugada. É que eu gosto de um aspeto na-
usava a roupa ou o cabelo surgiu por volta uma melhor atmosfera e, logo, dão origem tural. Além disso, parece-me que com todas
dos 12 anos. Costumava ir com um amigo, às melhores histórias. estas possibilidades modernas de retocar
umas duas vezes por mês, à escola de ca- imagens, cabe muito mais ao fotógrafo, en-
Casaco em vison, camisa em algodão,
beleireiros da minha cidade natal. Aí, os quanto artista, fazer ou não fazer alguma
carteira em pele, ambos Fendi. estudantes experimentavam de tudo com o coisa para melhorar a sua visão da fotogra-
Calções em linho, Neil Barrett. meu cabelo – pintá-lo, fazer permanentes, fia… boa sorte!
A FAMÍLIA
E O FUTURO
És casado com a Robine [Tanya] desde
2011, mas vocês estavam juntos já há al-
guns anos. Como é que se conheceram?
Achas que é mais fácil amadurecer e en- A Robine e eu conhecemo-nos há muito,
velhecer para um top model masculino muito tempo, estava eu ainda a começar a
do que para um feminino? O envelheci- carreira de modelo. Na realidade, viajámos
mento para o masculino ou para o femini- juntos na primeira ocasião em que fui ao
no é igual… Em ambos os casos, ficamos estrangeiro para ver como era ser modelo.
sem fôlego mais depressa, supostamente Nessa altura, fomos para Atenas, na Gré- suficiente para virar o meu interesse para o
também ficamos mais sábios, por aí fora. cia. Escusado será dizer que Atenas não imobiliário, como as casas que construí em
Porém, acredito que nós, enquanto socie- é o centro do mundo da moda, de forma Ibiza, os chalés em Andorra, etc. Se quise-
dade, estamos apetrechados para uma de- alguma. No entanto, sobreviver com pou- res ser bem-sucedido em Hollywood, tens
terminada perceção do que é a beleza. As co dinheiro e na expectativa de trabalhos de te entregar pelo menos a 200%.
mulheres aplicam-na mais a elas próprias que não são grande coisa, num sítio onde
do que os homens poderiam estar à espera. ninguém fala inglês – na altura era assim
Quer dizer, eu prefiro a visão de uma mu- – e onde todos os sinais nas ruas estão em
lher mais velha e madura à de uma mais jo- grego antigo, é sempre uma boa ocasião PANDEMIA
vem. Talvez eu tenha envelhecido para ver para se conhecer bem a outra pessoa. Mais Temos de falar do novo coronavírus.
as coisas desta maneira. Bom, mas para tarde (1992), fomos para Milão e acabámos, Acreditas que haverá um “antes” e um
mim uma mulher que acha que precisa de para nos voltarmos a encontrar na Cidade “depois” desta pandemia? Diz-nos três
se modificar para parecer mais jovem vai do Cabo em 2003 e reatar tudo. Fomos feli- coisas que aches que não voltarão a ser
logo parecer-me muito mais velha. zes para sempre desde então. como eram depois da covid-19. Neste
tema, nunca se é demasiado cuidadoso
Se não fosses modelo, o que é que gosta- Ao longo do teu percurso, deixaste algum com aquilo que se diz. É dia 18 de março
vas de ter sido? Provavelmente, seria um grande sonho para trás? Não sou um so- quando escrevo e estamos no meio de uma
gangsta. nhador e não tenho uma bucket list, tendo a crise, todos os mercados financeiros estão
aceitar as coisas tal como elas se me apre- em baixo como se fosse o fim do mundo.
Foste modelo de rosto para o protagonis- sentam em cada momento. Lido com as Aquilo que eu acho é que isto pode ser
ta de um videojogo. Já jogaste Mass Ef- coisas, adapto-me e gosto de passar para uma chamada de atenção para o mundo
fect? outra. Neste momento, adoro estar em An- inteiro, para que tenhamos consciência da-
Ouvi dizer que o jogo se está a sair muitís- dorra. Adoramos a vida ao ar livre, a es- quilo que temos e para que saibamos cui-
simo bem e os meus primos, que costumam quiar no inverno, e os ótimos restaurantes. dar disso mesmo, que não tomemos tudo
jogar videojogos, garantem que gostam do por garantido, que cuidemos do clima, da
jogo. Não sou, de todo, um gamer, nunca fui, Alguns top models fizeram a travessia da nossa saúde. Que estejamos do lado dos
nem sei como se pega nos comandos. moda para a esfera do cinema. Gostavas mais velhos e dos mais fracos da nossa so-
de tentar, de ser uma estrela de Holly- ciedade e que os protejamos com o nosso
wood? Tenho de admitir que, em algum comportamento solidário mantendo uma
momento, há muito tempo, isso me pas- maior distância para aumentarmos as suas
sou pela cabeça, mas isso foi em meados probabilidades [de se saírem bem desta cri-
dos anos 90. Essa possibilidade nunca me se]. O vírus pode morrer quando o verão
surgiu no caminho e eu já estou bastan- começar, mas as coisas não voltarão a ser Blazer em seda, calças em algodão
te satisfeito com o que o meu trabalho o que eram. Pelo menos, deveríamos estar e seda, tudo Ermenegildo Zegna Couture.
me tem proporcionado. Tenho liberdade mais bem preparados para algo tão letal. l Top em seda, Neil Barrett.
1. Contágio
Não se sabe logo o que é, mas, pelo menos,
há a certeza do que não é: a 5 de janeiro, as
autoridades chinesas descartam a possibi-
lidade de estarem perante uma recorrência
do vírus da síndrome respiratória aguda Pela boca não morre o vírus… Uma sema-
grave (SARS), doença que teve origem na na depois, no mesmo dia em que começa
China e que matou mais de 770 pessoas em o isolamento da cidade de Wuhan, com as
todo o mundo em 2002 e 2003. Bastam ape- autoridades de saúde a cancelarem voos e
nas dois dias para a China anunciar que saída de comboios, Portugal, pelo sim pelo
identificou um novo vírus. A OMS dá-lhe não, aciona os dispositivos de saúde pú-
o nome de 2019-nCoV e, tal como o SARS, blica e coloca em alerta o Hospital de São
pertence à família dos coronavírus, que in- João, no Porto, e os hospitais Curry Cabral
2020
clui também a vulgar constipação. e da Estefânia, em Lisboa.
A 11 de janeiro, a China anuncia a primei- A cadência das notícias e o crescimento
ra vítima mortal do novo coronavírus, um do número de casos já não é diário, é horá-
homem de 61 anos que passou pelo merca- rio. No dia 23, a OMS reúne o seu comité de
do de Wuhan e que morreu de insuficiência emergência na Suíça para avaliar se o surto
cardíaca dois dias antes de ter sido feito o constitui uma emergência de saúde pública
anúncio. Oficialmente, é a primeira morte, internacional, mas acaba por decidir que é
A
quer o médico que o observa no hospital. segunda pessoa em Wuhan. O contágio é
Mas o homem de 55 anos que apresenta mais rápido do que as notícias e não tem
sintomas aparentemente gripais é, prova- tempo para a desinformação. Nos dias se-
velmente, o primeiro humano a contrair guintes, são confirmados casos na Austrá-
o novo coronavírus. Nos dias seguintes, lia, Coreia do Sul, Malásia, Nepal, Singa-
aparece mais gente. No fim do mês de no- pura, Taiwan, Vietname, Estados Unidos e
vembro, já são nove, quatro homens e cinco França, o primeiro país europeu.
mês, com a China quase nos 10 mil infe- A 22 de fevereiro, Itália regista as duas pri- nos de contingência para casos suspeitos E há um setor que já começa a ver as nu-
tados, Rússia, Espanha, Suécia e Reino meiras mortes, ao mesmo tempo que o Irão entre os trabalhadores e para portos e vens negras no horizonte: a aviação co-
Unido confirmam os seus primeiros casos. confirma a quinta. É uma antevisão do que viajantes por via marítima, que define que mercial. As perdas das companhias aéreas
Do outro lado do Atlântico, Donald Trump está para vir nas duas nações onde a tra- qualquer caso suspeito validado deve ser mundiais podem chegar aos 100 mil mi-
acorda, mas pouco: os Estados Unidos de- gédia está apenas a começar. Em Teerão, isolado e que apenas um elemento da tripu- lhões de euros, estima a associação inter-
cidem proibir a entrada de estrangeiros Porto de Yokohama, a resposta das autoridades começa por ser lação deve contactar com o passageiro. Ao nacional de transporte aéreo (IATA). Por
declarar uma emergência internacional, já que tenham estado na China nos últimos 14 12 de fevereiro de 2020 tragicómica: um visivelmente doente minis- mesmo tempo, o Governo reforça em 20% o cá, a TAP reduz mil voos em março e abril
que ainda “não há provas” de que o vírus dias e impor um período de quarentena a Atracado no porto japonês de Yokohama, tro da Saúde garante que a situação está stock de medicamentos em todos os hospi- devido a quebra nas reservas, suspende
esteja a espalhar-se fora da China – onde, viajantes de qualquer nacionalidade prove- o navio de cruzeiro Diamond Princess tem sob controlo. Em Itália, o perigo pressente- tais do País e prepara um eventual reforço investimentos e avança com licenças sem
a 24 de janeiro, já há 830 pessoas infetadas nientes da província de Hubei. a bordo 175 pessoas infetadas, número que -se: o Carnaval de Veneza acaba mais cedo de recursos humanos. vencimento.
e 26 mortos, segundo, é claro, os números Fevereiro chega e o número de mortos e aumentará nas semanas seguintes. Uma e, um pouco por todo o Norte do país, come- As infeções não param de aumentar em Por esta altura, ninguém pode acusar o
oficiais, com 13 cidades sob bloqueio, num infetados na China continua a crescer, com delas, saber-se-á depois, é o primeiro por- çam a ser cancelados eventos desportivos, Itália – mais 650 num único dia, com o nú- Governo português de falta de preparação.
total de 41 milhões de pessoas. novos casos confirmados na Austrália, Ca- tuguês oficialmente infetado com o novo futebol incluído. mero de mortos a chegar aos 17. Antes do António Costa anuncia uma linha de cré-
O coronavírus não quer, naturalmente, nadá, Alemanha, Japão, Singapura, EUA, coronavírus. Adriano Maranhão, mecânico A 24 de fevereiro, é a vez de Kuwait, Bah- mês bissexto de fevereiro chegar ao fim, o dito para apoio de tesouraria a empresas
saber de provas e continua a sua viagem Emirados Árabes Unidos e Vietname. No do navio, fechado numa cabina, será entre- rain, Iraque, Afeganistão e Omã revelarem coronavírus chegará a mais países, incluin- afetadas pelo impacto económico do surto
à volta do mundo, tendo as viagens aéreas dia 2, a primeira morte fora da China, de um vistado diariamente pelos jornais e televi- os seus primeiros casos. Na Coreia do Sul, do o primeiro caso na África subsaariana, do novo coronavírus, caso seja necessário,
como principal aliado. E, depois da Ásia, a chinês de Wuhan, é registada nas Filipinas, sões nacionais até ser finalmente transferi- o número de casos aumenta para 833, com na Nigéria, depois de terem sido identifi- no valor inicial de 100 milhões de euros. Ao
Europa é o destino seguinte. A 25 de janei- ao mesmo tempo que os 18 portugueses e do para um hospital local. sete mortes. A OMS avisa que o mundo tem cadas infeções no Norte do continente, no mesmo tempo, os trabalhadores em qua-
ro, Portugal sobressalta-se levemente com as duas brasileiras retirados da cidade de Não é preciso esperar muitos dias para de se preparar para uma “eventual pande- Egito e na Argélia. Os Estados Unidos so- rentena em Portugal por determinação de
o primeiro caso suspeito, mas as análises Wuhan chegam a Lisboa e ficam em isola- que o Japão confirme a primeira morte, as- mia”, considerando “muito preocupante” frem a primeira vítima mortal no dia 29. autoridade de saúde vão receber integral-
revelam que é negativo. mento voluntário por 14 dias. sim como a Coreia do Sul. Do outro lado do o “aumento repentino” de casos em Itália, A 1 de março, no dia em que Adriano Ma- mente o rendimento nos primeiros 14 dias,
A 27 de janeiro, o número de mortos na Mais uma semana passa e a OMS admi- Paralelo 38, Kim Jong-un impõe uma qua- Coreia do Sul e Irão, os novos focos da ranhão, o primeiro português infetado, tem segundo um despacho publicado em Diário
China aumenta para 106, com 100 na pro- te o que ninguém quer ouvir: “Não existe rentena de um mês a todos os visitantes doença. No dia 26, o número global de mor- alta hospitalar no Japão, ficamos a saber da República.
A
víncia de Hubei. Outras 4.515 pessoas são tratamento eficaz conhecido.” Entretanto, estrangeiros e o isolamento da nação dos tos chega a 2.800, com um total de cerca de que o primeiro caso de infeção na região
dadas como infetadas na China, 2.714 delas o número de mortos na China continental Kim oferece um pensamento: e se a Coreia 80.000 casos confirmados de infeção relata- espanhola das Astúrias tem uma ligação
na província de Hubei, contra 1.423 no dia chega aos 563, com mais de 28.000 casos do Norte for a única a escapar a isto? dos globalmente. Há vários novos países a direta a Portugal: o escritor chileno Luis
anterior. Há, na região, 17 portugueses que confirmados, enquanto o número de pes- África descobre o seu primeiro caso, detetar os seus primeiros casos. A Arábia Sepúlveda, acabado de regressar do festi-
pedem para sair rapidamente. soas infectadas na Europa atinge as três no Egito. A data é 14 de fevereiro, dia da Saudita suspende temporariamente a en- val literário Correntes d’Escrita, na Póvoa
Entretanto, um estudo genético confirma dezenas. E cai o primeiro herói: a 7 de feve- primeira morte na Europa, em França. Na trada de peregrinos que visitam a mesquita de Varzim.
que o novo coronavírus terá sido transmi- reiro, morre Li Wenliang, o médico que foi o China, num único dia – 15 de fevereiro – o do profeta Maomé e os lugares sagrados do Não temos de esperar muito pelo que,
tido aos humanos através de um animal primeiro a dar o alarme sobre o perigo do número de mortos aumenta mais de 1.500, islão em Meca e Medina. por esta altura, já sabemos que é inevitá-
selvagem, ainda desconhecido, que por sua coronavírus. Uma barreira é quebrada a 9 isto quando vem a público um discurso de O vírus ainda não chegou a Portugal – ou vel. Portugal não vai, obviamente, escapar
vez foi infetado por morcegos. de fevereiro, quando o número de mortos Xi Jinping, proferido duas semanas antes, assim parece – mas o país começa a pre- ao coronavírus e, a 2 de março, são confir-
na China ultrapassa o da epidemia de SARS que mostra que o Governo sabia da amea- parar-se para o embate. A Direção-Geral mados os dois primeiros casos, mais dois
em 2002/03, com 811 mortes registadas. ça do vírus muito antes de o alarme público da Saúde (DGS) divulga orientações às no dia seguinte e outros tantos no dia a
E, no dia em que uma equipa de inves- ter sido acionado. empresas, aconselhando-as a definir pla- seguir. Em São Bento, um despacho do Go- A 6 de março, os casos confirmados em Por-
tigação liderada por especialistas da OMS O isolamento forçado imposto por Pe- verno garante que os funcionários públicos tugal chegam a 13, enquanto o número de in-
chega à China, o presidente Xi Jinping apa- quim chegou tarde mas parece estar a re- em teletrabalho ou isolamento profilático fetados no mundo ultrapassa os 100 mil, dos
2. Fora
rece em público pela primeira vez desde o sultar: a 18 de fevereiro, os números diários não sofrerão perda de salário. A Comissão quais 3.456 morreram, em 92 países e terri-
início da epidemia, a visitar um hospital em de infeções na China caem para menos de Nacional de Proteção Civil passa a funcio- tórios. A China (sem as regiões administra-
Pequim e a pedir confiança na batalha con- 2.000 pela primeira vez desde janeiro. O nar em permanência e o Governo dá cinco tivas de Macau e Hong Kong), o país onde a
O
alerta é declarado em todo o País, com pro- diz Marcelo. “Entendi dever convocar o
teção civil e forças e serviços de segurança Conselho de Estado, ouvi o Governo e so-
em prontidão. A Região Autónoma da Ma- licitei autorização à Assembleia da Repú-
deira suspende a atracagem de navios de blica para decretar estado de emergência.
cruzeiro e impõe medição de temperatura Sei que os portugueses estão divididos, há
a passageiros nos aeroportos; o governo quem o reclame desde ontem e quem o ache
regional dos Açores fecha escolas e mu- prematuro.”
seus, interdita cinemas e ginásios. A vida “Tudo mais cedo do que mais tarde.
dos portugueses está prestes a ser posta Depende da contenção nas próximas se-
em suspenso. manas conseguirmos encurtar prazos e
P
Mas recomecemos pela definição: afinal,
o que é a calvície e o que a causa? A cal-
SHOPPING • GROOMING • SAÚDE vície, explica-nos Vila Nova, “é a redução
do número de fios de cabelo por centímetro
cúbico, normalmente permanentemente,
à medida que a idade vai avançando”. O
termo médico utilizado para o processo de
perda de cabelo é alopécia – e esta pode ter
várias causas. “Pode ser do foro hormonal,
pode ser por ação pós-parto, pode ser por
ação de medicação ou pode ser até mesmo
quando as pessoas têm o hábito de puxar logista. “O que faz efetivamente a minimi-
o seu próprio cabelo. Mas essas são alopé- zação do fio de cabelo por ação genética é
Pedro Rodrigues ainda era adolescente cias que têm regeneração, que não têm folí- cicatrização do folículo pelas fibroses de
quando se apercebeu que, provavelmente, culo danificado”, esclarece, “são alopécias dihidrotestosterona, que se vão acumulan-
a calvície também lhe iria tocar a ele – via que não têm definição de calvície. A alopé- do à medida da raiz.”
os sinais de alerta na cabeça do pai e nas cia androgenética, por sua vez, é o proces- E isto acontece quando? Logo a partir
dos avós, que tinham perdido o cabelo mui- so de queda do número de fios de cabelo dos 16 anos. “Mas o cabelo não cai do dia
to cedo. Aos 18 anos, começou a notar dife- sem que haja regeneração. Ou seja, a área para a noite”, esclarece o especialista, “ele
TUDO
renças nele, mas ainda demorou até que os começa a ficar vazia”. É o caso do Pedro – e vai caindo gradualmente, à medida que o
alarmes disparassem. “Nós olhamos para a o da maioria dos homens que detetam me- cabelo vai renovando, dentro do ciclo nor-
nossa cara todos os dias no espelho e não nos densidade capilar ao longo dos anos. mal, mas começa a haver uma percentagem
reparamos que estamos com menos cabelo de cabelo que não é reposta. Então, ao fim
do que no dia anterior. Vamos é reparan- de dois a quatro anos, o homem começa a
POR
do quando vemos uma fotografia tirada de sentir que a quantidade de couro cabeludo
cima ou quando vemos uma fotografia tira- exposto é maior.”
da há dois anos. E aí, sim, ficamos angus-
tiados”, explica o jovem de 36 anos.
A GENÉTICA Foi o que aconteceu com Tiago Filipe, de
20 anos. Conta-nos que começou a notar al-
Passar-se-iam quatro anos desde a toma- DECIDE guma falta de cabelo, na zona das entradas,
da de consciência e a decisão de ir a uma por volta dos 17 anos, quando o espelho e os
UM FIO
consulta de dermatologia para tentar re- Tal como Pedro deduzira observando os amigos o denunciaram. “Na altura, não fiz
solver – ou retardar – a queda de cabelo. seus ascendentes, é o ADN de cada pessoa nada relativamente à situação. No entanto,
“Foram-me receitados alguns tratamentos. (e não a alimentação, o estilo de vida, ou o de há seis meses para cá, tenho sido acom-
Só que como é uma ‘doença’ que não é gra- tipo de água que se bebe) que vai determi- panhado pela minha dermatologista.” Des-
ve, em termos de saúde, a nossa juventude nar se há predisposição para a calvície. de então, tem usado uma solução de minoxi-
e, talvez, alguns traços da nossa personali- Esta condição resulta da herança de um dil diariamente. “Pelo que me foi explicado,
dade levam a que, nos primeiros dias, faça- gene que determina o número de folículos é apenas uma solução que fortalece o cabe-
mos tudo direitinho e depois nos desleixe- capilares com recetores para dihidrotes- lo que ainda tenho, dando mais vitalidade
mos um bocado”, admite. “Mas a verdade é tosterona (DHT) – quanto mais folículos aos vasos capilares enfraquecidos. E, nas
que se desde essa idade eu tivesse seguido existiram capazes de assimilar a hormona visitas ao cabeleireiro, ao qual vou desde
à risca todas as recomendações do derma- derivada da testosterona, mais acentuada pequeno, foram-me dizendo que reparavam
tologista, a situação tinha evoluído muito será a calvície. “Normalmente, a partir da na diferença”, relata. Tiago ainda não tem
mais tarde.” E não é só Pedro que o diz. Ri- puberdade – quando as glândulas se tor- nenhuma zona totalmente sem cabelo. Por
cardo Vila Nova, tricologista de profissão – nam mais ativas –, há uma maior produção isso, está somente focado na prevenção e
o que significa que é especialista na ciência hormonal. E é nessa altura que o excesso no abrandamento da queda.
do ramo dermatológico que estuda o cabelo de produção de testosterona é convertido Este tipo de tratamento, o hormonal –
–, revela que raramente recebe clientes no em dihidrotestosterona”, confirma o trico- através de comprimidos ou aplicação tópica
início do processo da calvície: “Quem me de minoxidil, cortisona ou finasterida –, é o
De cabelo. Não temos dera que as pessoas fossem mais prudentes mais comum entre as pessoas que chegam
e aos 17, 18, 19 anos, quando sentem alguma às clínicas de Ricardo Vila Nova. “Estes tra-
dúvidas: a calvície foi e é tamentos inibem a futura redução, mas, se
um dos maiores tormentos o paciente já tem calvície, não vai conseguir
estéticos do homem. Mas, voltar a ganhar uma percentagem muito
afinal, o que a provoca? “O QUE EU DIGO AOS MEUS PACIENTES elevada. Inibe a redução futura, o que já não
é mau.” Isto se o tratamento for feito de uma
E que armas fiáveis temos É QUE TUDO DEPENDE DO QUANTO A PESSOA forma cuidada e regular. Aos 22 anos, Pedro
à nossa disposição para GOSTA DE TER O SEU CABELO. NÃO HÁ UM Rodrigues iniciou a toma de um comprimi-
a combater? TRATAMENTO QUE VÁ SOLUCIONAR TUDO” do diário e a aplicação de ampolas – mas
as interrupções frequentes deram aso a que
Por Beatriz Silva Pinto. RICARDO VILA NOVA, TRICOLOGISTA nunca chegasse a observar melhorias.
HÁ
O PERÍO D O D ECISIVO
“O período mais crítico de definição OS MITOS
TRATAMENTOS, da calvície androgenética situa-se
entre os 22 e os 30 anos. Porque o Apesar de ser cada vez mais comum ver
NÃO HÁ grau de redução, embora comece figuras públicas a dar o seu testemunho
acerca do transplante capilar, como Pêpê
MILAGRES a partir da puberdade, pode
estabilizar a partir dos 22 anos ou, Rapazote, Rui Unas ou Jorge Gabriel, ain-
SABE
como lavar o cabelo,
passo a passo
1.º
“Colocar a quantidade
de champô equivalente
a uma moeda de 2
euros na mão.”
CABELO O LEO SO ESFREG A, ESFREG A C H AM P Ô : AIN DA COM
(MESMO) 2.º
“Acionar os
E MAL LAVAD O,
ANYO NE?
“Com este método
E… A ESPUMA
PO D E DAR PISTAS
“Devemos massajar
UM A OU D UAS
V E ZE S, E IS
A QU E STÃO
D Ú V IDAS
QUAN TO A
C H AM P Ô S ÓLID O?
agentes de lavagem, de aplicação conseguimos vigorosamente o couro “Se lavarmos o cabelo Para os que ainda têm
friccionando uma ter o champô mais cabeludo com as nossas todos os dias basta lavar em dúvidas sobre utilizar
mão contra a outra, distribuído, o que resulta mãos e dedos,com [com champô] uma vez. um champô sem a
ou seja, espalhando numa melhor lavagem”, movimentos circulatórios Se lavarmos dia tradicional embalagem,
o champô nas mãos.” explica o hairstylist, que durante 1 a 2 minutos”, diz sim, dia não, ou com não há como enganar.
garante que ao lavar Cláudio Pacheco. Ou seja, menos frequência temos de Basta massajar a barra
L AVA R O 3.º o cabelo desta forma acaba não chega atirar produto lavar duas vezes seguidas”, de champô diretamente
“Em cabelo molhado, por estar a “usar menos para cima do cabelo. Cante explica o hairstylist. Ou no cabelo molhado ou
começar a aplicação champô, porque uma uma música, espaireça a seja: molha cabelo, aplica derretê-lo um pouco nas
pela parte de trás, moeda de 2 euros cabeça, só não apresse champô, enxagua, aplica mãos húmidas antes de
uma vez que a espuma é o suficiente”. Além o assunto. E atente na champô aplicar no cabelo. O único
cresce, isto é, sobe disso, “muitas das vezes espuma. “É normal se e enxagua de novo. cuidado especial a ter é:
e não desce.” já aconteceu usar champô o couro cabeludo tiver manter o produto num
e sentir ou que ficou mal muitos resíduos que não local preferencialmente
lavado ou com aquele faça espuma com a primeira seco, ou numa saboneteira
4.º
CABELO?
aspeto superoleoso passagem de champô. (de certeza que encontra
“Depois da nuca, e normalmente tem a ver Sobretudo se forem uma aí por casa) para
avançar para os lados com muita concentração champôs profissionais, que ele esteja sempre
e o meio da cabeça.” de champô”. dificilmente existe muita pronto a usar. ●
espuma. Se sentirmos
5.º que o champô fez pouca
Parece uma pergunta “Voltar a friccionar espuma, significa que
básica, mas lavar o cabelo as mãos uma na outra havia muitos resíduos,
e aplicar finalmente e isso significa que o cabelo
corretamente tem mais no topo da cabeça.” precisa de uma segunda
ciência do que aparenta. lavagem”, avisa.
Não vamos ser científicos, PRODUTOS
mas práticos. Isto é o que
está a fazer de errado.
Aprenda a fazer o certo.
Por Joana Moreira.
I
nicura masculina vai além de ter um corta-
maginemos o cenário: cabelo acaba- -unhas (agarre na shopping list e tome notas
do de cortar, barba impecável, cami- dos produtos abaixo) e hoje os espaços de
sa engomada (ou aquela sweatshirt beleza começam cada vez mais a perder o
incrivelmente cool) e uns jeans que ambiente puramente feminino, abraçando o
assentam na perfeição. O retrato elogioso público masculino que obviamente também Uma questão de saúde
do indivíduo acima descrito acaba quando precisa de cuidados. Aliás, são muitos os Marcar uma manicura, nem que seja de
olhamos para as mãos e nos deparamos salões de beleza que agora inauguram com forma ocasional, vai garantir que a manu-
com o pior: pele seca, unhas baças e cutícu- esta filosofia: uma estética mais neutra, me- tenção e o cuidado das unhas mesmo em
las tão secas que já se levantam em todas nos feminina e por vezes até direcionada casa seja bem mais fácil. Mas, além disso, a
as direções. assumidamente para o público masculino. visita regular a um profissional de manicu-
Pois é, é que este é um artigo sobre ma- Como o mais recente espaço do grupo Lú- ra pode também ser uma forma de garantir
nicura, mas não lhe vamos falar de unhas cia Piloto, o Lúcia Piloto Avenida – Luxury a sua saúde (e a das suas unhas). É que
de gel, nem necessariamente de verniz (no Concept Store, que, no centro de Lisboa, não raras vezes são estes profissionais que
entanto, já olhou para os dedos de David dedica uma grande parte do seu piso -1 aos alertam os clientes para problemas de saú-
Beckham ou Harry Styles? É tudo uma homens e aos serviços de estética. Com um de frequentemente vezes ignorados e que
questão de atitude). Aqui pretendemos fa- visual com tons mais escuros, o espaço que exigem a observação médica. Treinados
lar-lhe antes da importância de cuidar das oferece serviços de cabelo e barba continua para reconhecer problemas de saúde (e as
mãos, e das unhas, para conseguir um aspe- para uma zona dedicada exclusivamente a unhas podem revelar vários, de anemia até
to cuidado e saudável. Até porque, seja em manicura e pedicura. problemas de fígado, infeções fúngicas ou
que profissão for, a probabilidade de ter de até má circulação), é deles muitas vezes o
lidar com pessoas e de ter as mãos expostas primeiro alerta para algo problemático e
é grande. E, só por isso, porque não querer que pode ser resolvido precocemente.
Já sabe o que fazer? Exatamente: pegue
no telefone e marque na agenda. ●
MÃOS AO ALTO
CREME CREME D E MÃO S FO RTALECED O R ES FOLIAN T E M ÁS C ARA
D E CUTÍCULAS (Hemp Hand Protector, D E UNHAS D E M ÃOS D E M ÃOS
(Nail & Cuticle Cream, €13, The Body Shop) (SI-Nails, (Esfoliante (Hemp Hand
€2,49, Essence.) Para ter na pasta, €23,50, ISDIN) de mãos Suede, Protector, €13,
A pele que circunda a base no porta-luvas ou O stresse ou o regime €45, Byredo, The Body Shop)
Agora que já viu 123.934 vídeos de como lavar da unha também precisa na gaveta da secretária. alimentar são duas razões em byredo.com) Se durante o dia não
as mãos corretamente, hidrate-as. Avance sem preconceitos. de cuidados, e basta dar- O creme de mãos é um que podem ter impacto Para se livrar das é capaz de se
-lhe atenção para perceber. básico fácil de ter sempre na saúde das unhas. peles mortas, esfoliar lembrar do creme de
Este é um artigo sobre manicura. Aplique uma pequena consigo, pelo menos Se estão fragilizadas, é a resposta. Nas mãos mãos, aqui está outro
Por Joana Moreira. quantidade em cada dedo no local de trabalho e quebradiças ou a secas espalhe uma noz método. Trata-se de um
(o aplicador aqui facilita o para reaplicar ao longo escamar experimente de produto, fazendo bálsamo noturno, mais rico
processo) e massaje em do dia. Escolha um bem um fortalecedor. Tem uma massagem com que o creme, para massajar
toda a cutícula e unha. hidratante, como este, um pincel para colocar movimentos circulares. generosamente nas mãos
Adeus, cutículas secas, que hidrata até a pele produto em toda a unha Depois, retire o produto secas antes de ir dormir.
duras e estragadas, olá, muito seca, graças às 966 facilmente. O acabamento com água morna. O aroma a lavanda
mãos acabadas de sair sementes de cânhamo que é invisível e as unhas ficam A suavidade da pele ajuda até a promover o
da manicura. tem em cada tubo. suaves e sem brilhos. é imediata. relaxamento e o sono.
A PIECE OF ART
U M A O B R A D E A R T E T O D O S O S M E S E S P O R 4 E U R O S
EDIÇÃO DE ABRIL COM DUAS CAPAS. ESCOLHA A SUA, JÁ NAS BANCAS.
MOTORES
NOVIDADES • HISTÓRIA • DESIGN
MADE
BY SONY
Se quer saber quando é que pode
comprar o novo Vision-S da Sony, o
melhor é manter a calma e acionar
a paciência. A gigante japonesa
ainda não tem data marcada para
começar a produzir massivamente
e colocar no mercado este modelo
que, por enquanto, é um protótipo.
O modelo foi apresentado, para
surpresa de todos, na Consumer
Electronics Show – uma mostra de
tecnologia que junta todos os anos,
em janeiro, em Las Vegas (existe
a versão de verão em junho, em
Chicago), para dar a conhecer ao
mundo, e como o nome do certame
indica, inovações eletrónicas para
consumo. Daí que, quando a Sony
revelou o Vision-S, toda a gente
estivesse à espera de uma nova
PlayStation, ou algo do género.
O que não apresenta grandes
surpresas é a experiência proposta
pelo Vision-S. Vindo da Sony, é
natural que a conectividade e o
entretenimento sejam os pontos
fortes do automóvel. Todo o tabeliê
do veículo é ocupado por ecrãs,
cada qual com a sua função: das
informações sobre o motor aos
dados e estatísticas relativas ao
trânsito, passando, lá está, pelo
entretenimento, há de tudo e para
todos os gostos e necessidades.
Apesar de a demonstração com
o Vision-S ter por finalidade
apenas desbravar um terreno
ainda mantido com algum
conservadorismo – a relação entre
o entretenimento e viajar de carro,
numa era em que caminhamos para
uma cada vez maior automatização
e autonomia dos veículos –, a ideia
da marca é, num futuro próximo,
MIRAGENS DO FUTURO
conceber veículos elétricos com
todos estes features. Se hoje o
Vision-S é só um concept car
estático, amanhã pode ser um
Um automóvel ainda por existir, ou que cabe a cada um construir sonho sobre rodas.
ELÉTRICAS Russia: AD, Glamour, Glamour Style Book, GQ, GQ Style, Tatler, Vogue – consultar www.mariapavan.com. MARNI – consultar
www.marni.com. MASSIMO DUTTI – consultar www.mas-
PUBLISHED UNDER LICENSE OR COPYRIGHT COOPERATION simodutti.com. MONTBLANC – consultar www.torres.
A Jeep apresentou recentemente duas Australia: GQ, Vogue, Vogue Living pt. MORENA ROSA – consultar www.morenarosa.com.
versões de modelos seus que pretendem Bulgaria: Glamour br. MR PORTER – consultar www.mrporter.com. OMEGA
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4xe First Edition. O outro é o Compass. condenast.com YAMAMOTO – consultar www.yohjiyamamoto.co.jp.
F
apenas como etiqueta do grupo, até que
oram 57 os automóveis distingui- acabou por desaparecer, numa altura em já
dos até hoje com o prémio Euro- fazia parte da carteira do grupo BMW. Hoje
pean Car of the Year. Da lista de em dia, restam algumas criações originais
premiados constam marcas incon- da Rover, mas já não há Rover feitos pela Primeiro, o modelo. Era o RO 80 e, pela
tornáveis, construtores de várias gamas, marca – porque não há marca. altura em que ganhou o prémio, já era fa-
modelos caros, menos caros e económicos, bricado pela Audi – já lá vamos –, embo-
Rover 3500,
carros desportivos e familiares, a diesel, a ra mantivesse a marca da casa de origem.
galardoado em 1977.
gasolina ou elétricos. É uma lista eclética, Austin 1800 Estamos a falar de um automóvel que não
embora nos primeiros anos a tendência É um grande clássico, inundou a toda a Eu- foi muito visto em Portugal. Era, acima de
Austin 1800, o carro para eleger automóveis britânicos fosse ropa e Portugal não lhe foi imune – ainda tudo, um modelo desproporcional. Com
do ano em 1965. acentuada. Aqui encontramos o Fiat Punto, hoje é possível encontrar-se este modelo quase 5 metros de comprimento e mais de
Rover 2000, o Audi 80 ou o Renault 12. Esbarramos em nas estradas, nas mãos de donos mais cui- 1.250 kg, tinha apenas 995 cc de cilindrada.
a escolha de 1964. mais do que um Volkswagen Golf e em mais dadosos. Conquistou o galardão de carro Tudo isto puxado por um motor de 113 cv de
do que um Renault Clio. Vemos reconheci- europeu do ano em 1965, numa altura em três velocidades – era, no entanto, de um
do o arrojo da Citroën com os seus míticos que a casa-mãe, a Austin, já só existia en- motor rotativo Wankel.
GS e CX e redescobrimos a graça do Ford quanto marca, não enquanto fabricante. Apesar de parecer que nada bate certo,
Escort ou a singeleza do Fiat 127. E recor- O Austin 1800 era fabricado pela British o modelo manteve-se no mercado durante
damos também seis modelos de marcas Motor Company (BMC), outro consórcio 10 anos (1967-1977), oito dos quais já com
que já nem sequer existem. britânico de marcas que juntou a defunta fabrico Audi. A NSU, uma marca alemã que
Austin e a Morris. É por isso que o mode- começou por fabricar máquinas de costura
lo também pode ser conhecido por Morris no fim do século XIX e que depois passou a
Rover 2000 e Rover 3500 1800, Austin Morris 1800, Austin Balanza, fabricar bicicletas e motocicletas, foi com-
O Rover 2000 foi o automóvel premiado em Austin Freeway, Austin Windsorn, Morris prada pela Volkswagen e fundida com a
1964, mas a sua qualidade e influência no Monaco, ou ainda pelo nome de código do Auto Union em 1969.
mercado estenderam-se no tempo. Basta modelo propriamente dito, BMC ADO17 –
uma busca rápida online pelo modelo para todavia, o prémio distinguiu claramente o
se perceber, por exemplo, que um exemplar Austin 1800. Simca 1307-1308
de 1972 pode ascender aos 10 mil euros no O 1800 foi o que a BMC procurou conce- e Simca Chrysler Horizon
mercado dos automóveis clássicos. ber como sequência lógica dos muito bem- A Simca, uma marca criada pela Fiat que
O modelo 2000, cujo nome deriva da ci- -sucedidos Austin Mini e do intermédio inicialmente tinha como propósito fabricar
lindrada, era oficialmente designado por Austin 1100 – foi uma espécie de topo de em França de modo a evitar taxas de ex-
Rover P6. Foi o primeiro automóvel ven- cadeia. Foi também uma das últimas cria- portação para o mercado francês, acabou
C A R RO S D E S A PA R EC I D O S
cedor do European Car of the Year. As ções de grande relevo com a marca Austin, por encontrar – abrir caixa de lugares-co-
suas linhas são, como se pode facilmente que viria a desaparecer em 1987. Ficaram os muns – o período dourado mesmo antes do
constatar, inspiradas num outro clássico, o automóveis e o prémio de 1965. seu canto do cisne. Foi na segunda metade
Desde 1964 que se atribui o prémio de European Car of the Year. Alguns dos premiados Citroën DS19, embora o Rover assuma as da década de 70 que a marca franco-italia-
linhas retas em detrimento das curvas que na conquistou por duas vezes o prémio de
tornaram-se clássicos, outros desapareceram, como as próprias marcas – são estes caracterizam o ícone francês. NSU RO80 automóvel europeu do ano.
que tentamos resgatar. Por Diego Armés. O 2000 não seria o único Rover P6 a con- Em 1968 foi um modelo de uma marca Em 1976, o Simca 1307-1308 arrebatou o
quistar o galardão. Em 1977, no ano em que, que era estranha já na altura e que hoje mercado com as suas dimensões generosas.
precisamente, a Rover parou de fabricar o será desconhecida, em princípio, de todos Era um carro espaçoso, familiar e fiável. Na
P6, a versão 3500 foi também distinguida quantos nasceram depois de 1985. Trata-se altura, e desde 1970 em bom rigor, a marca
com o mesmo galardão. Em tudo seme- de um NSU. já estava sob o domínio da norte-americana
lhante ao 2000, exceto na cilindrada e na Chrysler, que se tinha instalado da Euro-
sofisticação tecnológica que necessaria- pa criando subsidiárias. Em 1979, sairia o
mente evoluiu nos 13 anos que separam os Simca Chrysler Horizon, um modelo muito
dois carros. popular que acabou por ganhar ainda mais
Quanto à Rover, foi uma marca que se di- popularidade já sob a chancela Talbot, ou-
luiu no tempo e no funcionamento do mer- tra subsidiária da Chrysler – é que a Simca
cado. Numa primeira fase, e logo a seguir à foi oficialmente extinta em 1980. l
distinção do Rover 2000, a Rover Company
foi adquirida pela Leyland Motors, que pas-
sou depois a designar-se British Leyland. E RECORDAMOS TAMBÉM SEIS
A casa que criou e desenvolveu o Land Ro- MODELOS DE MARCAS QUE JÁ
NSU RO 80, ver – um dos mais bem-sucedidos produtos
o eleito de 1968. da história da indústria automóvel – passa- NEM SEQUER EXISTEM
142 GQPORTUGAL.PT ABRIL 2020 ABRIL 2020 GQPORTUGAL.PT 143
ÚLTIMA
Existe, nos confins da Gália (e no imaginário de quem lia e lê as aventuras de Asterix), uma aldeia
de irredutíveis gauleses. Quem a desenhou foi Albert Uderzo, que criou, juntamente com René
Goscinny (1926-1977), não só a aldeia como os seus protagonistas.
Uderzo morreu a 24 de março, aos 92 anos, vítima de ataque cardíaco. Deixou-nos,
e aos seus gauleses, quando estamos cercados por um inimigo tão invisível quanto insidioso
e para o qual ainda não temos poção mágica que nos ajude a combatê-lo. Resta-nos seguir
o exemplo de Asterix, Obélix e demais aldeões e resistir. l