Concurso SEEDUC RJ - 2021
Concurso SEEDUC RJ - 2021
APOSTILA CONCURSO DA
CURSO PREPARATÓRIO
SEEDUC
RJ 2021
CARGOS DE PROFESSOR
Conhecimentos
Pedagógicos
Língua Portuguesa
Vídeo-aulas, apostilas e simulados
R$ 199,90
MATRÍCULAS INFORMAÇÕES
www.PROFDAVI.com.br 27. 99703.5236 | 99932.9815
LÍNGUA PORTUGUESA
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,
TEXTO: INFORMAÇÕES EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS; fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
SIGNIFICADO DE PALAVRAS E EXPRESSÕES; TEMA DO
TEXTO. SUPORTE, GÊNERO E ENUNCIADOR DO TEX-
TO: INTERPRETAÇÃO COM O AUXÍLIO DE MATERIAL
GRÁFICO DIVERSO; TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS.
RELAÇÃO ENTRE TEXTOS: DIFERENTES FORMAS DE
TRATAR UMA INFORMAÇÃO; POSIÇÕES DISTINTAS EN-
TRE DUAS OU MAIS OPINIÕES RELATIVAS AO MESMO
FATO OU TEMA; INTERTEXTUALIDADE. COERÊNCIA E
COESÃO TEXTUAIS: RELAÇÕES ENTRE AS PARTES DO
TEXTO; IDENTIFICAÇÃO DA TESE DO TEXTO; RELAÇÃO
ENTRE TESE E ARGUMENTOS; PARTES PRINCIPAIS E
SECUNDÁRIAS NO TEXTO; CONFLITO GERADOR DO
ENREDO E ELEMENTOS DA NARRATIVA; RELAÇÃO
CAUSA/CONSEQUÊNCIA ENTRE PARTES E ELEMENTOS
DO TEXTO; RELAÇÕES LÓGICO-DISCURSIVAS PRESEN-
TES NO TEXTO. RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRES- • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
SIVOS E EFEITOS DE SENTIDO: EFEITOS DE IRONIA OU lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
HUMOR EM TEXTOS VARIADOS com a não-verbal.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- estudos?
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
– Sublinhe as ideias mais importantes. reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto. CACHORROS
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
tável). seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
picos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de As informações que se relacionam com o tema chamamos de
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias capaz de identificar o tema do texto!
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
prova. -secundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can- IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum TEXTOS VARIADOS
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.
Exemplo:
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LÍNGUA PORTUGUESA
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não de destaque sobre algum assunto de interesse.
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. berdade para quem recebe a informação.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão,
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
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LÍNGUA PORTUGUESA
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mos expressando nosso julgamento. mais direto.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando NÍVEIS DE LINGUAGEM
analisamos um texto dissertativo.
Definição de linguagem
Exemplo: Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
com o sofrimento da filha. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e o do leitor.
e caem em desuso.
Parágrafo
Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
sentada na introdução. mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Linguagem popular e linguagem culta
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria o diálogo é usado para representar a língua falada.
prova.
Linguagem Popular ou Coloquial
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras
está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma
irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
expressão dos esta dos emocionais etc.
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- A Linguagem Culta ou Padrão
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí- truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
odo, e o tópico que o antecede. cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
para a clareza do texto. conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
sem coerência.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Gíria (Vinícius de Moraes)
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de comportamentos, nas leis jurídicas.
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode Características principais:
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
de pequenos grupos ou cair em desuso. bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
“mina”, “tipo assim”. • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Linguagem vulgar
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco Exemplo:
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
comida”. na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Linguagem regional que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- perior para formação de oficiais.
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Características principais: GÊNEROS TEXTUAIS
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
gestão/solução). síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e ais que neles predominam.
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Descritivo Diário
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Relatos (viagens, históricos, etc.)
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Biografia e autobiografia
Notícia
Exemplo: Currículo
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Lista de compras
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Cardápio
administração política (tese), porque a força governamental certa- Anúncios de classificados
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Injuntivo Receita culinária
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Bula de remédio
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Manual de instruções
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Regulamento
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Textos prescritivos
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Expositivo Seminários
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Palestras
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Conferências
cobrança efetiva (conclusão). Entrevistas
Trabalhos acadêmicos
Tipo textual narrativo Enciclopédia
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Verbetes de dicionários
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Carta de opinião
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Resenha
Artigo
Características principais: Ensaio
• O tempo verbal predominante é o passado. Monografia, dissertação de
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- mestrado e tese de doutorado
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
Narrativo Romance
onisciente).
Novela
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
Crônica
prosa, não em verso.
Contos de Fada
Fábula
Exemplo:
Lendas
Solidão
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- nitos e mudam de acordo com a demanda social.
rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
Nelson S. Oliveira INTERTEXTUALIDADE
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre- A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
ais/4835684 seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
ambos: forma e conteúdo.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
provérbios, charges, dentre outros. mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
Tipos de Intertextualidade domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- enunciador está propondo.
ticos. Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
significa a “repetição de uma sentença”. admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha mento de premissas e conclusões.
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) A é igual a B.
e “graphé” (escrita). A é igual a C.
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção Então: C é igual a A.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re- que C é igual a A.
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Outro exemplo:
“citação” (citare) significa convocar. Todo ruminante é um mamífero.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros A vaca é um ruminante.
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Logo, a vaca é um mamífero.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são o Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem. também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ARGUMENTAÇÃO a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
propõe. instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir outro fundado há dois ou três anos.
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
vista defendidos. pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas der bem como eles funcionam.
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
sos de linguagem. na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
escolher entre duas ou mais coisas”. não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
zado numa dada cultura.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de Argumento Argumento quase lógico
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
mento. Exemplo: chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
Argumento de Autoridade elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
dadeira. Exemplo: tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para indevidas.
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
cimento. Nunca o inverso. Argumento do Atributo
Alex José Periscinoto. É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- que é mais grosseiro, etc.
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
acreditar que é verdade. tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
de.
Argumento de Quantidade Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
largo uso do argumento de quantidade. dizer dá confiabilidade ao que se diz.
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
Argumento do Consenso de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não por bem determinar o internamento do governador pelo período
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- tal por três dias.
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
carentes de qualquer base científica. Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
Argumento de Existência ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas texto tem sempre uma orientação argumentativa.
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
do que dois voando”. homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa outras, etc. Veja:
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela vam abraços afetuosos.”
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
vios, etc., ganhava credibilidade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
injustiça, corrupção). zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ver as seguintes habilidades:
o argumento. - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e mente contrária;
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ria contra a argumentação proposta;
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
outros à sua dependência política e econômica”. ta.
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
o assunto, etc). não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
dades não se prometem, manifestam-se na ação. verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu da verdade:
comportamento. - evidência;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - divisão ou análise;
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- - ordem ou dedução;
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio - enumeração.
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
mica e até o choro. encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse caracteriza a universalidade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de lha dos elementos que farão parte do texto.
sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Lógico, concordo. racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Claro que não! por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro- sabiá, torradeira.
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
ados nos sentimentos não ditados pela razão.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de dida;d
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é diferenças).
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
(Garcia, 1973, p. 302304.) consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- vra e seus significados.
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
de vista sobre ele. mentação coerente e adequada.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- o termo a ser definido; cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
- o gênero ou espécie; raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- a diferença específica. cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
ma espécie. Exemplo: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
Elemento especiediferença causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
a ser definidoespecífica que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
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LÍNGUA PORTUGUESA
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
que, melhor que, pior que. to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade que gera o controle demográfico”.
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- elaboração de um Plano de Redação.
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
caráter confirmatório que comprobatório. tecnológica
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse ta, justificar, criando um argumento básico;
caso, incluem-se - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
mortal, aspira à imortalidade); que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- (rever tipos de argumentação);
dos e axiomas); - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se ência);
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
parece absurdo). argumento básico;
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
mento básico;
cretos, estatísticos ou documentais.
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
menos a seguinte:
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
Introdução
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
- função social da ciência e da tecnologia;
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex-
- definições de ciência e tecnologia;
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- Desenvolvimento
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
gumentação: vimento tecnológico;
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- condições de vida no mundo atual;
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- desenvolvidos;
dadeira; - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- sado; apontar semelhanças e diferenças;
dade da afirmação; - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- banos;
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
ridade que contrariam a afirmação apresentada; mais a sociedade.
Conclusão
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
ências maléficas;
13
LÍNGUA PORTUGUESA
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
apresentados. entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida-
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
ção: é um dos possíveis. tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de é inserida.
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili- Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada. cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
Coerência textos caracterizada por um citar o outro.
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
outra”). de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos mencionar um provérbio conhecido.
elementos formativos de um texto. Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
elementos textuais. má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante zá-lo ou ao compará-lo com outros.
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
imediato a coerência de um discurso. samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
A coerência: tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
tual;
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com Tipos de Intertextualidade
o aspecto global do texto; A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases. plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
Coesão Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, dade.
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um víncu- Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
lo ou conexão sequencial.Se o vínculo coesivo se faz via gramática, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
tem-se a coesão lexical. mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
nentes do texto. firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, outras palavras o que já foi dito.
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais. de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
A coesão: um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial; suas verdades incontestadas anteriormente, com esse processo há
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela
componentes do texto; verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica.
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
14
LÍNGUA PORTUGUESA
Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, fre-
quentemente os discursos de políticos são abordados de maneira EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE DO USO DA PON-
cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a res- TUAÇÃO E DE OUTRAS NOTAÇÕES, DA ESCOLHA DE
peito da demagogia praticada pela classe dominante. UMA DETERMINADA PALAVRA OU EXPRESSÃO
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LÍNGUA PORTUGUESA
Travessão ( — ) • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com ção.
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir serem observadas na redação oficial.
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- • Separa aposto.
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
um diálogo, com ou sem aspas. • Separa vocativo.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. Brasileiros, é chegada a hora de votar.
• Separa termos repetidos.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] Aquele aluno era esforçado, esforçado.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza- efeito, digo.
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
rem uma nova inserção. ou seja, de fácil compreensão.
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
vernador) • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
tos).
Aspas ( “ ” ) O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para • Separa orações coordenadas assindéticas.
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. ideias na cabeça...
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Isola o nome do lugar nas datas.
Vírgula Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
vírgula: conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- mações comprovam, etc.
mos” o momento certo de fazer uso dela. Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em nizar o problema.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal, A vírgula realmente tem uma quantidade maior de regras, mas
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?! nada impossível de saber, não é?!?! Bom, já vimos muita coisa até
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- aqui e não vamos parar agora.
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- EXPLORAÇÃO DE RECURSOS ORTOGRÁFICOS E
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > MORFOSSINTÁTICOS
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
Mariafoiàpadariaontem. ORTOGRAFIA OFICIAL
Sujeito VerboObjetoAdjunto • Mudanças no alfabeto:O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
troduzidas as letras k, w e y.
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
re por alguns motivos: PQRSTUVWXYZ
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do gui, que, qui.
verbo e o adjunto.
Regras de acentuação
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
é necessária: sílaba)
Ontem, Maria foi à padaria.
Maria, ontem, foi à padaria.
Como era Como fica
À padaria, Maria foi ontem.
alcatéia alcateia
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- apóia apoia
sário:
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LÍNGUA PORTUGUESA
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.
rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no
mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo.
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
Como era Como fica pontapé, paraquedas, paraquedista.
baiúca baiuca • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
bocaiúva bocaiuva recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. vamos passar para mais um ponto importante.
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
e ôo(s). com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Como era Como fica Vejamos um por um:
abençôo abençoo Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
crêem creem aberto.
Já cursei a Faculdade de História.
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. fechado.
Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
Atenção: Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. caso afundo mais à frente).
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Sou leal à mulher da minha vida.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, As palavras podem ser:
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as -já, ra-paz, u-ru-bu...)
palavras forma/fôrma. – Paroxítonas:quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, sa-
-bo-ne-te, ré-gua...)
Uso de hífen – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Regra básica: (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
mem. As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
Outros casos íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
1. Prefixo terminado em vogal: • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. R, X, I(S), US, UM, UNS, OS,ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
semicírculo. • São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
mo, antissocial, ultrassom. dói, coronéis...)
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- • São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
das. (aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
2. Prefixo terminado em consoante: Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei-
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub- nar e fixar as regras.
-bibliotecário.
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su- ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
persônico. As palavras são formadas por estruturas menores, com signifi-
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. cados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para
a formação das palavras.
Observações:
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Estrutura das palavras Processos de formação das palavras
As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas Composição: Formação de uma palavra nova por meio da jun-
menores - os morfemas, também chamados de elementos mórfi- ção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos:
cos:
– radical e raiz; Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na
– vogal temática; estrutura fonética das primitivas.
– tema; Exemplos
– desinências; passa + tempo = passatempo
– afixos; gira + sol = girassol
– vogais e consoantes de ligação.
Radical: Elemento que contém a base de significação do vocá- Aglutinação:Formação de palavra composta com alteração da
bulo. estrutura fonética das primitivas.
Exemplos Exemplos
VENDer, PARTir, ALUNo, MAR. em + boa + hora = embora
vossa + merce = você
Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.
Derivação:
Dividem-se em: Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. Te-
mos:
Nominais
Indicam flexões de gênero e número nos substantivos. Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de
Exemplos um prefixo ao radical da primitiva.
pequenO, pequenA, alunO, aluna. Exemplos
pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas. CONter, INapto, DESleal.
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LÍNGUA PORTUGUESA
bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário. hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole.
centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado. hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia.
circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante. homo – semelhança, identidade: homônimo.
cis – aquem de: cisalpino, cisgangético. meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase.
com, con, co – companhia, concomitância: combater, contem- míria – dez mil: miriâmetro.
porâneo. mono – um: monóculo, monoculista.
contra – oposição, posição inferior: contradizer. neo – novo, moderno: neologismo, neolatino.
de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento: de- para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo.
crescer, deportar. penta – cinco: pentágono.
des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar. peri – em volta de: perímetro.
dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária: dis- poli – muitos: polígono, polimorfo.
trair, dimanar. pro – antes de: prótese, prólogo, profeta.
entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha, en- Sufixos
trevista. Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial.
ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade, priva-
ção, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor. Nominais
extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordiná- Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama.
rio. Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -as-
im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar, tro, -az.
ingrato. Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista.
inter – no meio de: intervocálico, intercalado. Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório.
intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer. Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato.
justa – perto de: justapor. Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico.
multi – pluralidade: multiforme. Origem, procedência: -estre, -este, -esco.
ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo.
pene – quase: penúltimo, península. Verbais
per – movimento através de, acabamento de ação; ideia pejo- Comuns: -ar, -er, -ir.
rativa: percorrer. Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar.
post, pos – posteridade: postergar, pospor. Incoativos: -escer, -ejar, -itar.
pre – anterioridade: predizer, preclaro. Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar.
preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural.
pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir, Adverbial = há apenas um
procurador, pronome. MENTE: mecanicamente, felizmente etc.
re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repeti-
ção: regressar, revirar. CLASSES GRAMATICAIS
retro – movimento para trás: retroceder. As palavras costumam ser divididas em classes, segundo suas
satis – bastante: satisdar. funções e formas. Palavras que se apresentam sempre com a mes-
sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé. ma forma chamam-se invariáveis; são variáveis, obviamente, as
subter – por baixo: subterfúgio. que apresentam flexão ou variação de forma.
super, supra – posição superior, excesso: super-homem, super-
povoado. Artigo
trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor. É a palavra que antecede os substantivos, de forma determina-
tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro. da (o, a, os, as) ou indeterminada (um, uma, uns, umas).
ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo.
uni – um: unânime, unicelular. Classificação
Definidos: Determinam o substantivo de modo particular.
Grego: Os principais prefixos de origem grega são: Ex.: Liguei para o advogado.
a, an – privação, negação: ápode, anarquia.
ana – inversão, parecença: anagrama, analogia. Indefinidos: Determinam o substantivo de modo geral.
anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro. Ex.: Liguei para um advogado.
anti – oposição: antipatia, antagonista.
apo – afastamento: apólogo, apogeu. Substantivo
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo. É a palavra que nomeia o que existe, seja ele animado ou inani-
caco – mau: cacofonia. mado, real ou imaginário, concreto ou abstrato.
cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia.
deca – dez: decâmetro. Classificação
dia – através de, divisão: diáfano, diálogo. Concreto: Dá nome ao ser de natureza independente, real ou
dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia. imaginário.
en – sobre, dentro: encéfalo, energia. Abstrato: Nomeia ação, estado, qualidade, sensação ou senti-
endo – para dentro: endocarpo. mento e todos os seres que não tem existência independente de
epi – por cima: epiderme, epígrafe. outros.
eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia. Comum: Dá nome ao ser genericamente, como pertencente a
hecto – cem: hectômetro. uma determinada classe.
hemi – metade: hemistíquio, hemisfério. Ex.: cavalo, menino, rio, cidade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Próprio: Dá nome ao ser particularmente, dentro de uma espécie.
Ex.: Pedro, Terra, Pacífico, Belo Horizonte.
Primitivo: É o que deriva uma série de palavras de mesma família etimológica; não se origina de nenhum
outro nome.
Ex.: pedra, pobre.
Adjetivo
Palavra que modifica um substantivo, dando-lhe uma qualidade.
Exemplo:
Cadeira confortável
Locução adjetiva
Expressão formada de preposição mais substantivo com valor e emprego de adjetivo. A preposição faz com que um substantivo se
junte a outro para qualificá-lo:
menina (substantivo)de sorte (substantivo)
Menina de sorte
= sortuda (qualifica o substantivo)
Observações
Havendo a ideia de cor no adjetivo composto, far-se-á o plural mediante a análise morfológica dos elementos do composto:
– se o último elemento do adjetivo composto for adjetivo, haverá apenas a flexão desse último elemento.
20
LÍNGUA PORTUGUESA
Comparativo de superioridade Superlativo absoluto
Adjetivo
Analítico Sintético Analítico Sintético
Bom mais bom melhor muito bom ótimo
Mau mais mau pior muito mau péssimo
Grande mais grande maior muito grande máximo
Pequeno mais pequeno menor muito pequeno mínimo
Alto mais alto superior muito alto supremo
Baixo mais baixo inferior muito baixo ínfimo
Numeral
Palavra que exprime quantidade, ordem, fração e multiplicação, em relação ao substantivo.
Classificação
Numeral cardinal: indica quantidade.
Exemplos
duas casas
dez anos
Exemplos
segunda rua
quadragésimo lugar
Exemplos
um quinto da população
dois terços de água
Exemplos
o dobro da bebida
o triplo da dose
Ordinal Cardinal Ordinal Cardinal
Um Primeiro Vinte Vigésimo
Dois Segundo Trinta Trigésimo
Três Terceiro Cinquenta Quinquagésimo
Quatro Quarto Sessenta Sexagésimo
Cinco Quinto Oitenta Octogésimo
Seis Sexto Cem Centésimo
Sete Sétimo Quinhentos Quingentésimo
Oito Oitavo Setecentos Setingentésimo
Nove Nono Novecentos Noningentésimo
Dez Décimo Mil Milésimo
Pronome
Palavra que designa os seres ou a eles se refere, indicando-os apenas como pessoas do discurso, isto é:
– 1ª pessoa, o emissor da mensagem (eu, nós);
– 2ª pessoa, o receptor da mensagem (tu, você, vós, vocês);
– 3ª pessoa, o referente da mensagem, (ele, eles, ela, elas).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pessoais
Pronomes Pessoais
Pronomes do caso reto Pronomes do caso oblíquo
(função de sujeito) (função de complemento)
átonos (sem preposição) tônicos (com preposição)
eu me mim, comigo
singular tu te ti, contigo
ele/ela o, a, lhe, se si, ele, ela, consigo
nós nos nós, conosco
plural vós vos vós, convosco
eles/elas os, as, lhes, se si, eles, elas, consigo
Esses pronomes, embora usados no tratamento com o interlocutor (2ª pessoa), levam o verbo para a 3ª pessoa.
Quando se referem a 3ª pessoa, apresentam-se com a forma: Sua Senhoria (S. Sa.), Sua Excelência (S. Exa.), Sua Santidade (S. S.) etc.
Possessivos
Exprimem posse:
Demonstrativos
Indicam posição:
1.ª pessoa: este(s), esta(s), isto, estoutro(a)(s).
2.ª pessoa: esse(s), essa(s), isso, essoutro(a)(s).
3.ª pessoa: aquele(s), aquela(s), aquilo, aqueloutro(a)(s).
Relativos
Os pronomes relativos ligam orações, retomam uma palavra já expressa antes e exercem função sintática na oração que eles introdu-
zem.
São relativos os pronomes que, o qual (e suas variações), quem, cujo (e suas variações), onde (advérbio relativo com o sentido de em
que), quanto.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Indefinidos Mesóclise
Vagamente, referem-se à 3ª pessoa: Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
todo(s), toda(s), tudo
algum(ns), alguma(s), alguém, algo É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no
nenhum(ns), nenhuma(s), ninguém, nada futuro do pretérito que iniciam a oração.
outro(s), outra(s), outrem Dir-lhe-ei toda a verdade.
muito(s), muita(s), muito Far-me-ias um favor?
pouco(s), pouca(s), pouco
mais, menos, bastante(s) Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
certo(s), certa(s) qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
cada, qualquer, quaisquer Eu lhe direi toda a verdade.
tanto(s), tanta(s) Tu me farias um favor?
os demais, as demais
vários, várias Colocação do pronome átono nas locuções verbais
um, uma, uns, umas, que, quem Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
COLOCAÇÃO PRONOMINAL rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da Exemplos:
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono- Devo-lhe dizer a verdade.
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma Devo dizer-lhe a verdade.
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise. Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- do auxiliar ou depois do principal.
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- Exemplos:
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Não lhe devo dizer a verdade.
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele. Não devo dizer-lhe a verdade.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- o pronome átono ficará depois do auxiliar.
dique a eufonia da frase. Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo Classificação
O senhor ficou atrás de mim. Conjunções coordenativas: Ligam termos oracionais ou orações
de igual valor ou função no período.
Classificação
Essenciais: guardam, o valor de preposição. São seguidas de Aditivas (adição): e, nem, e as correlações entre não só, não
pronome obliquo: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, somente, não apenas, mas também, mas ainda, senão etc.
entre, para, perante, por, sem, sob, sobre. Adversativas (posição contrária): mas, porém, contudo, toda-
Acidentais: palavras essencialmente de outras classes gramati- via, entretanto, no entanto, não obstante etc.
cais que, acidentalmente, funcionam como preposição: como, con- Alternativas (alternância): ou… ou, ora… ora, quer… quer, já…
forme, durante, exceto, feito, mediante, segundo, etc. já etc.
Conclusivas (conclusão): logo, portanto, por conseguinte, pois
Combinação e contração (posposto ao verbo).
As preposições a, de, per, em podem juntar-se com outras pa- Explicativas (explicação): que, porque, por quanto, pois (ante-
lavras. Então, teremos: posto ao verbo).
Combinação: sem alteração fônica. Conjunções subordinativas: Ligam uma oração principal a uma
oração subordinada com o verbo flexionado.
Exemplos
ao (a + o), aonde (a + onde) Classificação
Integrantes (iniciam oração subordinada substantiva): que, se,
Contração: com alteração fônica. como (= que).
Temporais (tempo): quando, enquanto, logo que, mal, apenas,
Exemplos sempre que, assim que, desde que, antes que etc.
à (a + a), àquele (a + aquele), do (de + o), donde (de + onde), Finais (finalidade): para que, a fim de que, que (= para que),
no (em + o), naquele (em + aquele), pelo (per + o), coa (com + a). porque (= para que).
Proporcionais (proporcionalidade): à proporção que, à medida
Interjeição que, quanto mais ... mais, quanto menos ... menos.
Palavra que exprime nossos estados emotivos. Causais (causa): porque, como, porquanto, visto que, já que,
uma vez que etc.
Exemplos: Condicionais (condição): se, caso, contanto que, desde que, sal-
ah! (admiração) vo se, sem que (= se não) etc.
viva! (exaltação) Comparativas (comparação): como, que, do que, quanto, que
ufa! eh! (alivio) nem etc.
coragem! (animação) Conformativas (conformidade): como, conforme, segundo, con-
bravo! (aplauso) soante, etc.
ai! (dor) Consecutivas (consequência): que (precedido dos termos in-
bis! (repetição) tensivos: tal, tão, tanto, de tal forma etc.), de forma que etc.
psiu! (silencio) Concessivas (concessão): embora, conquanto, ainda que, mes-
cuidado! atenção! (advertência) mo que, posto que, por mais que, se bem que etc.
vai! (desapontamento)
oxalá! tomara! (desejo) Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos
perdão! (desculpa) estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
adeus! (saudação) da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita
arre! (desagrado, alivio) coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al-
claro! pudera! ótimo! (assentimento) gumas questões importantes:
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LÍNGUA PORTUGUESA
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.
Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).
Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.
Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações subordinadas
As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.
Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do jantar.
Exercem a função de sujeito
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a refeição
Exercem a função de predicativo no lugar.
Orações Subordinadas Substantivas
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se aborrecesse
Exercem a função de aposto com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de quinta,
Explicam um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.
Causais Estou vestida assim porque vou sair.
Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais tarde.
Assumem a função de advérbio de
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de tempo suas casas.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, – a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma-
conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassifica- relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem
ções das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las. oral coloquial.
Variações Sintáticas
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: MARCAS LINGUÍSTICAS QUE Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe,
EVIDENCIAM O LOCUTOR E O como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma va-
INTERLOCUTOR DO TEXTO riante e outra. Como exemplo, podemos citar:
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome
É possível encontrar no Brasil diversas variações linguísticas, “que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com
como na linguagem regional. Elas reúnem as variantes da língua o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família
que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia. dele (em vez de cuja família eu já conhecia).
Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó- – a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando
ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros. se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com
Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz
seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se me irrita.
que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes- – ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che-
mo significado dentro de um mesmo contexto. gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se-
As variações que distinguem uma variante de outra se mani- mana muitos alunos; Comentou-se os episódios.
festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico, – o uso de pronomes do caso reto com outra função que não
sintático e lexical. a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão
Variações Morfológicas sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti)
Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en- e ele.
tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas – o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de
não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.
– uso de substantivos masculinos como femininos ou vice- – a ausência da preposição adequada antes do pronome relati-
-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de:
champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal). de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que)
– a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad- eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.
jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro
indicado, as noite fria, os caso mais comum. Variações Léxicas
– o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri-
eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem-
ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu. plos possíveis de citar:
– o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o – as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às
superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a
jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo), lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil
uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan- chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por-
te (em vez de possantíssimo). tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno
– a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula- almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) suéter, malha, camiseta.
o recado, quando ele repor (repuser). – a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
– a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares: formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
vareia (varia), negoceia (negocia). gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
Esse amigo é um carinha maior esforçado.
Variações Fônicas
Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala- Designações das Variantes Lexicais:
vra. Entre esses casos, podemos citar: – Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um
– a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró- bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usa-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de va-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supim-
pessoas de baixa condição social. pa.
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria-
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. A
do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): na computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, prin-
quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol. tar.
– deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, – Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social. língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo.
hoje frequentes na fala caipira.
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LÍNGUA PORTUGUESA
As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida- 4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
básicas). (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
– Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como -vermelho.
a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no- (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma fra-assinado.
barriga. (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
– Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida- trarregra.
de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar). (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
– Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro: -mencionado.
procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista).
– Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de 5. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alternati-
saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal, va em que todas as palavras são acentuadas pela mesma
arruinou-se). razão.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
Tipos de Variação (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
As variações mais importantes, são as seguintes: (C) “sérios”, “potência”, “após”.
– Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
certa facilidade. (E) “solidária”, “área”, “após”.
– Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
características da pronúncia de uma determinada região dá-se o 6. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA-
nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex-
gaúcho etc. clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse
– De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns- objetivo é a seguinte:
tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de (A) pôr.
falar compatível com determinada situação é incompatível com (B) ilhéu.
outra (C) sábio.
– Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com (D) também.
o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti- (E) lâmpada.
do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas. 7. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003)
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em-
pregadas e grafadas.
EXERCÍCIOS (A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po-
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de qualquer
1. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – AUXILIAR JUDICIÁRIO – 2001) O item excesso e violência.
abaixo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é: (B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
(A) trans-o-ce-â-ni-co; mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
(B) cor-rup-te-la; suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
(C) sub-li-nhar; isso, num modo de intervenção específico.
(D) pneu-má-ti-co; (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento em
2. (FGV – SPTRANS – ESPECIALISTA EM TRANSPORTES – 2001) um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revolta que
Assinale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de ambos possam suscitar.
“exame”. (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo p der
(A) exceto. do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o corpo
(B) enxame. dos supliciados.
(C) óxido. (E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
(D) exequível. campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer controle e
aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua organização
3. (FUNDEC – TJ/MG – OFICIAL DE JUSTIÇA – 2002) Todas as em delinqüência.
palavras a seguir apresentam o mesmo número de sílabas e são pa-
roxítonas, EXCETO: 8. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR –
(A) gratuito; 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
(B) silencio; (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade
(C) insensível; extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(D) melodia. (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
mentos pessoais por meio de sua música.
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
composições do músico na cultura ocidental.
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
sitor termina em uma cena de reconciliação entre os personagens.
(E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
29
LÍNGUA PORTUGUESA
9. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode ser 13. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma pa- 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
drão na seguinte sentença: cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. palavra primitiva foi formada respectivamente é:
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe. (A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião. tica (en + trist + ecer);
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. (B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer);
10. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM (C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de tética (en + trist + ecer);
pontuação em: (D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
(A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi- xal (des + entristecer);
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião. (E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra- ca (des + entristecer).
teiramente pela porta?
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se 14. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo. 2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
(D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui- formada por derivação:
to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os irmãos (A) parassintética;
e o mundo mágico dos brinquedos. (B) prefixal;
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arrepen- (C) sufixal;
deria. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria cuidado (D) imprópria;
com as palavras, o que entretanto, não acontecia. (E) regressiva.
11. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira- 15. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
mente correta a pontuação do seguinte período: artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis (A) pronome;
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de pequenas (B) adjetivo;
providências que, tomadas por figurantes aparentemente sem im- (C) advérbio;
portância, ditam o rumo de toda a história. (D) substantivo;
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (E) preposição.
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas pro- 16. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
vidências que tomadas por figurantes, aparentemente sem impor- morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
tância, ditam o rumo de toda a história. (A) Pronome demonstrativo.
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis (B) Pronome relativo.
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas pro- (C) Pronome possessivo.
vidências, que, tomadas por figurantes aparentemente, sem impor- (D) Pronome pessoal.
tância, ditam o rumo de toda a história. (E) Pronome indefinido.
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas pro- 17. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
vidências, que tomadas por figurantes aparentemente sem impor- oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
tância, ditam o rumo de toda a história. lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, nhados classificam-se, respectivamente, em
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas pro- (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
vidências, que tomadas por figurantes, aparentemente, sem impor- (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
tância, ditam o rumo de toda a história. (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
12. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
mesmo processo de formação é: 18. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor-
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; reta.
(C) deslealdade, colunista, incrível; (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
35% deles fosse despejado em aterros.
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
de lixo.
30
LÍNGUA PORTUGUESA
19. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) 22. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
de concordância no texto abaixo. te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- (C) Pretendo viajar a Paraíba.
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- (D) Ele gosta de bife à cavalo.
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição 23. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, marcada com o acento, EXCETO em:
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
plural em “deflacionados”. eleitorado pelo resultado final.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
em “Elevaram-se”. (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as vel.
regras de concordância com “economia”. (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de tema.
singular em “fez aumentar”.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância 24. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração
com “relevantes”. e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
(a):
20. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a americanas, entre na fila.”
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
acima, na ordem dada, as expressões: subordinadas.
(A) a que – de que; (B) Período, composto por três orações.
(B) de que – com que; (C) Oração, pois possui sentido completo.
(C) a cujas – de cujos; (D) Período, pois é composto por frases e orações.
(D) à que – em que;
(E) em que – aos quais. 25. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
21. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor-
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de oração.
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fecha o (A) Oração coordenada assindética aditiva.
ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a maior taxa (B) Oração coordenada sindética aditiva.
registrada na última década. (C) Oração coordenada sindética adversativa.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que (D) Oração coordenada sindética explicativa.
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a conhe- (E) Oração coordenada sindética alternativa.
cida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento 26. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em que a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
se revela queda no desemprego e até se anuncia a ampliação de exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
nossas reservas monetárias, além da descoberta de novas fontes orações.
de petróleo. (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, sativa.
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuída a (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação menor (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
no conjunto dos bens produzidos pela América Latina. tiva.
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro da tiva.
América Latina, o organismo internacional está atribuindo um cres- (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
cimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do que o do bial consecutiva.
Brasil.
31
LÍNGUA PORTUGUESA
27. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana- 32. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
lise sintaticamente a oração em destaque: PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen- questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
sados” (Machado de Assis). sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal. tem como antônimo:
(B) oração subordinada adverbial causal. (A) fortuna;
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. (B) opulência;
(D) oração coordenada sindética conclusiva. (C) riqueza;
(E) oração coordenada sindética explicativa. (D) escassez;
(E) abundância.
28. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser 33. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase se fundamenta em intertextualidade é:
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. (A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: há muito tempo.”
(A) subordinada substantiva predicativa; (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
(B) subordinada adjetiva restritiva; mete onde não é chamada.”
(C) subordinada substantiva subjetiva; (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente
(D) subordinada substantiva objetiva direta; mesmo!”
(E) subordinada adjetiva explicativa. (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
tudo bem.”
29. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: Atenção: Leia o texto abaixo para responder as questões.
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, UM APÓLOGO
mas nunca à custa de nossos filhos...” Machado de Assis.
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin- Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
dética adversativa; — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex- da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
plicativa; — Deixe-me, senhora.
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
bial concessiva; com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada der na cabeça.
sindética adversativa; — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con-
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
cessiva.
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros.
30. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No perí-
— Mas você é orgulhosa.
odo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
— Decerto que sou.
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
— Mas por quê?
história.”, a oração sublinhada é classificada como:
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
(A) coordenada assindética;
ama, quem é que os cose, senão eu?
(B) subordinada substantiva completiva nominal;
(C) subordinada substantiva objetiva indireta; — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
(D) subordinada substantiva apositiva. que quem os cose sou eu, e muito eu?
31. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS – — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, daço ao outro, dou feição aos babados…
o seguinte par de palavras: — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
(A) estrondo – ruído; puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
(B) pescador – trabalhador; mando…
(C) pista – aeroporto; — Também os batedores vão adiante do imperador.
(D) piloto – comissário; — Você é imperador?
(E) aeronave – jatinho. — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
isto uma cor poética. E dizia a agulha:
32
LÍNGUA PORTUGUESA
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de cos-
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo tura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me
e acima… espetam, fico.” (L.40-41)
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe 35. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até (A) dimensão e pejoratividade;
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (B) afetividade e intensidade;
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (C) afetividade e dimensão;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (D) intensidade e dimensão;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (E) pejoratividade e afetividade.
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, 36. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
perguntou-lhe: mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
Vamos, diga lá. (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- Agulha não tem cabeça.” (L.06)
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, nária!” (L.43)
fico. (E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- (L.25)
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
muita linha ordinária! 37. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente
34. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre-
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- sente no texto:
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique (A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os equânime em ambientes coletivos de trabalho;
elementos dos textos: (B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente coletivo
de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.
33
LÍNGUA PORTUGUESA
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos 20 A
de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16 21 D
barragens de mineração em todo o País apresentam condições de 22 A
insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta 23 D
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do 24 B
senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
25 C
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori- 26 C
dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos 27 E
judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com 28 A
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. 29 D
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA
MA+QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL 30 B
31 E
38. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
32 D
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
fato. 33 E
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao 34 E
gênero textual editorial.
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já 35 D
que se trata de uma reportagem. 36 D
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
37 D
se trata de um editorial.
38 D
Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta.
(B) Somente a II é incorreta. ANOTAÇÕES
(C) Somente a III é correta
(D) A III e IV são corretas.
______________________________________________________
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________
1 A ______________________________________________________
2 D ______________________________________________________
3 A
______________________________________________________
4 D
5 A ______________________________________________________
6 A ______________________________________________________
7 B
______________________________________________________
8 C
______________________________________________________
9 B
10 E ______________________________________________________
11 A ______________________________________________________
12 A
______________________________________________________
13 A
14 D ______________________________________________________
15 A ______________________________________________________
16 E ______________________________________________________
17 B
______________________________________________________
18 E
19 A ______________________________________________________
34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
1. Aspectos Filosóficos da Educação – o pensamento pedagógico moderno: iluminista, positivista, socialista, escolanovista, fenomenoló-
gico-existencialista, antiautoritário, crítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Tendências atuais: liberais e progressistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3. O pensamento pedagógico brasileiro: correntes e tendências na prática escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4. Aspectos Sociológicos da Educação – as bases sociológicas da Educação, a Educação como processo social, as instituições sociais bá-
sicas, educação para o controle e para a transformação social, cultura e organização social, desigualdades sociais, a relação escola /
família / comunidade. Educação e Sociedade no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. Aspectos Psicológicos da Educação – a relação desenvolvimento / aprendizagem: diferentes abordagens, a relação pens amento / lin-
guagem – a formação de conceitos, crescimento e desenvolvimento: o biológico, o psicológico e o social. O desenvolvimento cognitivo
e afetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
6. Aspectos do Cotidiano Escolar – a formação do professor; a avaliação como processo, a relação professor / aluno; a função social do
ensino: os objetivos educacionais, os conteúdos de aprendizagem; as relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e
dos alunos; a organização social da classe; os direitos da criança e do adolescente; a sala de aula e sua pluralidade . . . . . . . . . . . 48
7. Diretrizes, Parâmetros, Medidas e Dispositivos Legais para a Educação – A LDB atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
8. O Estatuto da Criança e do Adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
9. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
10. As Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
11. RESOLUÇÃO Nº 1, de 30 de maio de 2012. Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Segundo Otaíza de O. Romanelli (1986, p. 23), a educação no
ASPECTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO – O PEN- Brasil é profundamente marcada por desníveis e, por isso, a ação
SAMENTO PEDAGÓGICO MODERNO: ILUMINISTA, educativa se processa de acordo com a compreensão que se tem
POSITIVISTA, SOCIALISTA, ESCOLANOVISTA, FENO- da realidade social em que se está submerso. Nesse processo, dois
MENOLÓGICO-EXISTENCIALISTA, ANTIAUTORITÁRIO, aspectos se distinguem: o gesto criador – que resulta do fato de o
CRÍTICO homem “estar-no-mundo e com ele relacionar-se” transformando-o
e transformando-se; e o gesto comunicador– que o homem executa
A Filosofia é um estudo relacionado à existência, ao e, assim, transmite a outros os resultados de sua experiência.
conhecimento, a verdade, aos valores morais e estéticos, a mente e a Como podemos ver a educação brasileira sofre muitos
linguagem. Seus métodos estão caracterizados pela argumentação. impactos, dentre eles o da política, onde quem quer entender a
Sua importância para a compreensão da sociedade e do mundo educação não poderá jamais ignorar tais questões, pois estão
é para quebrar barreiras para que o indivíduo através de seu esforço diretamente envolvidas no processo educativo, já que se apresenta
obtenha um estado pleno de satisfação, ocasionando um momento como um jogo que mostra uma realidade deturpada, colocando-
de felicidade. se assim acima de prioridades educativas, pois os interesses dos
Através da argumentação podemos quebrar as barreiras dos poderosos menosprezam o que realmente tem valor no contexto
nossos preconceitos, ideias erradas, de nossa realidade que não social em que o homem é inserido.
queremos mudar. Melhoramos nossas ideias, decisões e agimos Outro fator não menos importante e cada dia mais real no
melhor, já que nossas ações se baseiam naquilo que pensamos. meio educativo que deve ser levado em conta, mas ainda não é
Já os problemas que a filosofia apresenta ajudam-nos a reconhecido é a indústria Cultural que a cada dia que passa com a
compreender melhor o mundo, fazendo-nos ter uma atitude critica globalização vem sendo inserida em várias áreas sociais, invadindo
em relação às respostas e soluções apresentadas para os problemas também o contexto escolar e não percebemos tal influência por
da sociedade, com o objetivo de termos um mundo cada vez melhor que também já fomos dominados pela indústria cultural.
para todos.
Mas enfrentamos grandes dificuldades para implementar esta Indústria Cultural é um termo concebido pelos teóricos Adorno
disciplina no currículo escolar por diversos motivos. e Horkheimer
Por parecer ser uma disciplina de resultados substancias, por Segundo Adorno e Horkheimer o produto cultural perde seu
acreditar ser uma disciplina especulativa, que lida com problemas brilho, sua unicidade, sua especificidade de valor de uso quando se
que ninguém sabe resolver. Então o que ensinar? Como lidar com a transforma em valor de troca, assim dissolvendo a verdadeira arte
diversidade de teorias defendidas? Qual a competência e conteúdo ou cultura, portanto acaba por cegar os homens da modernidade
central? de massa, ocupando assim o espaço vazio que ficou deixado para
Temos também a cultura autoritária, onde encontramos o lazer, fazendo-nos ser irracionais e não percebermos a injustiça
dificuldade em questionar os grandes filósofos do passado, onde do sistema capitalista. Para que a população tenha fácil acesso
apenas poderemos estudar e expor as ideias de tal filosofo, sendo a Indústria Cultural tem-se a televisão, ela chega ás escolas quer
assim, estaremos estudando a historia da filosofia. através de programas do governo ou levada pelos próprios gestores,
Filosofar não é fazer relatórios sobre o que os filósofos pensam, professores, alunos e funcionários escolares.
e sim, fazer o que os filósofos fazem. Em fim a Indústria Cultural já esta inserida no cotidiano do ser
humano, e este não cosegue mais viver sem consumir tudo que lhe
O contexto da Educação no século XXI e as desigualdades é oferecido através da mídia.
sociais Com isso a própria escola acaba criando pequenos
A educação no século XXI tem como objetivo a transformação consumidores, fazendo-os querer cadernos, agendas de marcas
social, onde o educador provocará no educando o busca pela renomadas, Hello Kit, Xuxa, Justin Beaber entre outros, isso quando
descoberta, pela pesquisa, por solucionar problemas. a própria escola, no caso, as particulares adotam o uso obrigatório
Mas essa realidade ainda está longe do alcance de todos os de agendas.
alunos. Percebemos claramente a desigualdade na educação entre Com tudo isso esquecemo-nos de fazer uso da Filosofia da
os que têm um poder aquisitivo maior e os que dependem de uma Educação que aprendemos nos cursos de formação, esquecemo-nos
educação custeada pelo governo. de colocar em prática os ensinamentos aprendidos nos tornando
Já temos salas de aulas interativas, onde o aluno é um pessoas manipuláveis sem que saibamos dialogar com aquilo que
descobridor, um solucionador de problemas, um pesquisador e lemos e fazemos deixando de refletir e analisar profundamente
critico. nosso comportamento.
Enquanto em outros lugares, a realidade é que muitas escolas
nem tem carteiras e cadeiras escolares adequadas, salas de aula A teoria de Pierre Boudieu vem mostrar a realidade da
equipadas, livros didáticos, professores preparados. educação no Brasil
Essa desigualdade absurda é reflexo de um governo que não Até que ponto a teoria do autor se aplica à nossa realidade?
tem princípios com a educação. Vem de uma cultura onde o governo A desigualdade na educação cada vez mais vem se destacando
é favorecido com a ignorância de seu povo. Onde a educação acaba a olhos vistos, devido a vários motivos descritos por Pierre Boudieu,
por fazer o que a classe dominante lhes impõe. realmente sendo o papel da escola não transformar, e sim,
reproduzir e reforçar as desigualdades sociais.
A Indústria Cultural e sua interferência na realidade da Sem incentivo e investimento por parte do governo, as escolas
Educação contemporânea e educadores enfrentam a realidade de cada aluno e comunidade
A educação brasileira tem seus pontos altos e baixos, onde está localizada a escola, fazendo com que o conhecimento,
infelizmente a educação não é de qualidade para todo o indivíduo, postura e habilidades que o aluno traz da vida sejam reproduzidos
pois a realidade social em que cada individuo se insere é diferente, na sala de aula, ao invés da escola começar do zero e superar as
a desigualdade social faz com que uns tenham uma educação de deficiências de conhecimento de cada aluno.
nível e outros não, ou seja, educação de qualidade é para poucos.
1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Temos salas de aulas superlotadas, poucos professores e instrução dos artesãos e mercadores, da aprendizagem matemática
professores com muitas disciplinas, sem tempo ou condição de pelos livros de contabilidade, cuja prática pedagógica livre visava
investirem melhor em suas atuações em sala de aula. à formação escolástica e ainda a profissionalizante. Estaria nesse
Hoje em dia temos ONGs e movimentos de pessoas com poder período, sobretudo o espírito do humanismo moderno (Capítulo VI
aquisição melhor, para incentivar pequena parte de crianças a a VII), um humanismo que, segundo Manacorda, fazia
terem aulas de reforço e complementação curricular, para diminuir “autocrítica dos seus aspectos pedantescos e fossilizantes,
a desigualdade, lembrando que a parte atingida é muito pequena. ligados ao mero culto formal das letras e das palavras, ao novo
Vemos que a cada dia as famílias que tem condições financeiras conformismo gramatical e estilístico (...) amplia-se o próprio quadro
estáveis, transferirem seus filhos para escolas particulares, para de atenção das palavras às coisas, do mundo antigo à atualidade, ou
terem uma educação melhor. como diz Machiavelli, da ‘contínua lição dos antigos’ à “observação
Realmente o pessimismo de Bourdieu tem fundamentos da realidade efetiva’ e interferem autorizadamente junto ao poder
concretos de que a competição escolar tomou âmbito político para sugerir uma nova e diferente organização da cultura e
incontornável, sem perspectivas de superação, por motivos da instrução (p.185).
culturais e governamentais.1 Para Sacristán (1999) a educação é tida como ideal de progresso.
Como utopia de modernidade cultural e material, a educação ganha
Pensamento Pedagógico Moderno discussão central em meio intelectual, cuja defesa pela escolarização
O pensamento pedagógico moderno caracteriza-se pelo das massas em bases da ciência era o mote para as sociedades
realismo. modernas alcançarem a melhoria nas condições produtivas e de
A educação e a ciência eram consideradas um fim em si mesmo. existência. Portanto, tornou-se uma perspectiva da sociedade
O Pensamento Pedagógico Moderno foi sendo estruturado entre os séculos XVII a XIX alcançar o ideal de universalização
num contexto de transformações sob diferentes dimensões da vida da educação como pressuposto de avanços nos conhecimentos
social. Estariam lançadas as primeiras idéias culturais e científicas técnicocientíficos, mas também no desenvolvimento tanto material
que comporiam um conjunto de instituições de socialização e de quanto espiritual da humanidade. (p.151).
produção do conhecimento que nos acostumamos a compreender
como estruturas do mundo moderno. A Educação na Modernidade: algumas ideias
Do ponto de vista epistemológico, de uma filosofia do Objetivamos nesse trabalho demonstrar as raízes/relações
conhecimento, pode-se dizer que o primado da razão e da luz, históricosociais do pensamento pedagógico moderno. A história
naquele tempo/espaço estabeleceu-se a partir de idéias literárias das idéias pedagógicas associa-se à idéia de progresso pela
e científicas Renascentistas. Séculos após, o pensamento iluminista via da educação como fator de desenvolvimento social, que se
(humanista moderno) europeu está pautado em processos daria pela inclusão dos indivíduos, obviamente respeitando um
significantes de transformações no setor de produção, mas também sistema de hierarquização nos processos de produção capitalista,
dos estilos de consumo de grupos sociais burgueses. Entre os (industrialização). A racionalização das estruturas (instituições
séculos XVII e XIX as Revoluções Científicas, Burguesas conduziriam burocráticas) dependia da disseminação de idéias que consolidariam
o imaginário coletivo para a adoção de uma perspectiva racional um imaginário coletivo de progresso pelo avanço técnico-científico.
de progresso, cuja tônica dar-se-ia pelo desenvolvimento técnico Assim, a Educação Geral ou Profissionalizante passaram a ser uma
e burocrático, de produção e científico das sociedades européias “atividade instrucional e instrumental” universalizada para atender
modernas e da América do Norte no século XIX, ainda o pensamento os trabalhadores livres e filhos, mas não como prática social
racional. Para Narodowski: a revolução industrial necessita tornar formadora de homens partícipes do projeto societário moderno.
suas a física de Galileu, os princípios matemáticos newtonianos, a Gadotti (2001), em seu livro sobre as idéias pedagógicas,
química de Lavoisier e a astronomia de Kepler, pois são esses os ressalta que o período compreendido como predominante de uma
princípios teóricos que se encontram em condições de acudir para pedagogia moderna (Capítulo 6) representa um estágio em que a
resolver as questões de tecnologia aplicada que irão se suscitando educação se configuraria na perspectiva de caráter intencional ou
com base nos problemas gerados pela produção de mercadorias em instrucional. Um processo sociocultural de muitas mudanças nas
grande escala. Os fundamentos dessas ciências haviam preexistido instituições tradicionais, pois o que era ensinado em muitos locais
a seu uso tecnológico concreto durante dois séculos, mas foi fora considerado obsoleto ou tendencioso, uma vez que no início a
necessário que um sujeito social - nesse caso, a burguesia industrial educação intencional esteve a serviço da classe dominante, o clero
européia - pudesse absorvê-los e ressignificá-los de um modo e a monarquia.
particular e conforme suas necessidades históricas (p.2). Na visão de Moacir Gadotti a mudança deu-se por descobertas
O mundo Ocidental gradativamente passou a substituir a fé, as dos primeiros humanistas mais desapegados do humanismo
trocas simbólicas graciosamente vindas das dádivas da natureza, católico, tais como os ligados às ciências, dentre outros, René
ou vindas de dádivas da Igreja pela ordem política, cultural, Descartes e a sua grande obra o “Discurso do Método”, que remete
científica e de trabalho do projeto de modernidade fundamentado aos quatro grandes princípios, tais como: “jamais tomar alguma
no contrato social entre homens livres visando o bem comum. As decisão sem conhecê-la evidentemente como tal; dividir todas as
representações da pedagogia moderna estão nesse espaço/tempo dificuldades quantas vezes forem necessários antes de resolvê-las;
de idéias das primeiras descobertas de um humanismo europeu organizar os pensamentos começando pelas mais simples até as
que aos poucos romperia com o humanismo católico. Na verdade mais difíceis; e fazer uma revisão geral para não omitir nada”. Essas
desde os Trezentos e Quatrocentos, segundo Manacorda (1992), premissas de Descartes constituem hoje como uma visão científica
a sociedade ensaiava mudanças, pois já estavam instalados os que pode ser relativizada, porque estando fora do contexto natural
alicerces da modernidade, por exemplo, o progresso científico vindo ou social daquela época, na atualidade podemos flexibilizar com
das primeiras Escolas que originaram as primeiras Universidades, mais outros princípios metodológicos, o que nos leva a crer que de
em 1300, mesmo essas tendo sido orientada pelo catolicismo. acordo com os demais fundamentos científicos das diversas áreas
É esse o marco temporal que repousavam os primeiros mestres das ciências naturais, o paradigma cartesiano não serve como único
livres, localizados em cidades comunais que protagonizaram a modelo analítico.
1 Fonte: www.portaleducacao.com.br
2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Em Manacorda (1992) estão entre os séculos XVI e XVIII as Ainda, no dizer de Gadotti, de “humanista a educação tornou-
idéias que corroboraram para a organização de um pensamento se científica (...) o conhecimento só tinha valor quando preparava
moderno no âmbito da educação. Muitas dessas idéias surgiram para a vida e para a ação”. (p.154). O século XVII traria a luta
em meio a Reforma (Luterana) e a Contra-Reforma Católica, fato das camadas populares pelo acesso à escola, portanto, a classe
que acabou por consolidar alguns conhecimentos sobre ensino e trabalhadora que surgia como livre para vender a sua força de
aprendizagem. Não tardou para que os processos educacionais trabalho, podia e devia ter um papel na mudança social. Também
entre os séculos XVII e XVIII balizassem os ensinamentos por meio neste período, surgiram várias ordens religiosas católicas que se
da adoção de livros e textos literários de, por exemplo, Rabelais, dedicavam à educação popular. Muitas dessas escolas ofereciam
Diderot, Rousseau, Bacon e Locke3. Tal literatura contribuiu para ensino gratuito na forma de internato. Tratava-se de uma educação
a educação das crianças fora da visão disciplinador-moralista, filantrópica e assistencial.
o que propiciou a abertura para uma estrutura pedagógica tal Tangenciando o século XIX e início do século XX, por lá o
como pressupunha Rousseau em Emílio. Também contribuiu com positivismo comtiano (Conte) e spenceriano (Spencer) era focado
a propagação de propostas educacionais envolvendo aspectos na produção dos homens europeus e brasileiros de ciência, letras
formativos de natureza mais científica voltada para a instrução- e filosofia. A missão desses homens primava pela organização
trabalho, como foi o caso da profissionalização dos droguistas, das instituições sociais e políticoburocráticas de ensino-pesquisa.
herborístas, contadores e boticários, por exemplo. Após algumas buscas em autores e dicionários da área de ciências
Em Libâneo (1992), o protagonista do pensamento pedagógico humanas e sociais, percebemos que, embora muitos dos “Homens
moderno está representado por João Amos Comênio, do século XVII. de ciência e da política” tivessem se apoiado em Stuart Mill, H.
Como pastor protestante, ligado aos ensinamentos de seu rebanho, Spencer e C. Darwin, foi principalmente em August Comte onde
interessou-se pela teoria didática ao associar processos de ensino aos eles encontraram a matriz de suas formulações empírico-teóricas,
de aprendizagem. Ele ficou reconhecido pela obra Didacta Magna, que sustentaram a pesquisa e ensino das Escolas positivistas do
tida não apenas como um método pedagógico para ensinar com Brasil.
rapidez as letras e às ciências, mas, sobretudo, como uma obra de No Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas
princípios pedagógicos, psicológicos e filosóficos. Libâneo remete as (1986) encontra-se a explicação sobre a obra de Comte, segunda
idéias de Comênio tangenciando um período de avanços no campo a qual ele chegou à Lei da Classificação, especulando sobre uma
da Filosofia e das Ciências, como as grandes transformações nas visão paradigmática de ciências, ordenadamente compreendida
técnicas de produção, em contraposição às “idéias conservadoras em termos de uma crescente complexidade, indo da matemática,
da nobreza e do clero. O sistema capitalista, ainda insuficiente, já astronomia, física, química, biologia e sociologia à moral.
influenciava a organização da vida social, política e cultural (...) a Pode-se destacar como um aspecto interessante na lógica de
Didática de Amos Comênio se assentava nos seguintes princípios: 1) Comte o fato dele considerar que algumas ciências complexas,
a finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com Deus, como a biologia, possuíam laços estreitos com a matemática, a
pois é uma força poderosa de regeneração da vida humana. Todos química, a sociologia e a moral. No entanto, os laços que as uniam
os homens merecem a sabedoria (...) o homem deve ser educado só poderiam ser explicados cientificamente pela “superioridade”
de acordo com o seu desenvolvimento natural (...) a assimilação de alguns fenômenos em relação aos outros, considerados
de conhecimentos não se dá instantaneamente, como se o aluno inferiores. Segundo Comte, não se reduz a sociedade apenas
registrasse de forma mecânica (...) o método intuitivo consiste, pelo viés da economia política ou a elucubrações metafísicas;
assim, na observação direta, pelos órgãos dos sentidos, das coisas, metodologicamente a racionalidade positiva se instala no raciocínio
para o registro das impressões” (p. 58) dedutivo-indutivo, daí vimos germinar o experimentalismo. Para
Segundo Gadotti (2001) a idéia central de Comênio era a de que:
Comte, portanto, é necessário “induzir para deduzir a fim de
a escola ao invés de ensinar palavras, deveria ensinar o conhecimento
construir. A construção constitui a síntese total dos conhecimentos
das coisas. Na visão de Manacorda (1992) no plano do pensamento
humanos” (p.938).
pedagógico e da prática didática, o mérito de Comênio estivera na
A partir das informações do Dicionário, pudemos constatar que
pesquisa e na valorização de todas as metodologias de ensino que na
Comte acreditava no progresso científico como um fator distintivo
atualidade chamaríamos de método ativo e que desde os primeiros
da Modernidade e as suas instituições, pois pressupunha que
passos do humanismo começaram a ser experimentadas.
corroboraria, entre outras coisas, para o progresso da indústria e do
Neste contexto, é que John Loke é tido como um dos
importantes pensadores da política e da sociedade moderna, comércio com vistas à continuidade da vida humana. Naquela época
combatendo o inatismo, segundo Manacorda, ele disse que nada Comte entendia que “o espírito positivo e a noção de humanidade
existe em nossa mente que não tenha origem em nossa própria poderão criar uma comunhão intelectual que dê novas bases à
mente. Por isso valorizava a educação das crianças, na medida em condição humana. Cheio de otimismo, ele propõe a instituição de
que ele entendia ser essa prática educativa infantil uma forma de um comitê positivo, destinado a organizar a república ocidental, o
preparar os adultos, que poderiam ser profissionais ou dirigentes, que corresponde hoje à comunidade européia” (p.938).
o que para Locke remetia a presença do professor numa ação ativa Muitos teóricos, literatos e cientistas contribuíram para o
sobre a mente do educando. Para Manacorda “o espírito das novas pensamento pedagógico moderno nas sociedades Ocidentais,
classes dirigentes encontrava sua expressão no pensamento de contudo neste trabalho tratamos a nossa abordagem a partir de
Locke que se preocupava com a educação do gentleman (...) quanto uma breve história das idéias.
às classes populares, ele se preocupava em prover as crianças, que No Brasil e no mundo Ocidental como um todo, para Libâneo as
viviam dos subsídios paroquiais com base na lei de pobres, com idéias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Locke e outros formaram
escolas tradicionais que preparavam para as atividades relacionadas a base do pensamento pedagógico europeu moderno, difundido
com a indústria fundamental do país” (p.225). depois por todo o mundo, demarcando as concepções pedagógicas
Para Moacir Gadotti, o pensamento pedagógico moderno que hoje são conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia
caracterizava-se pelo realismo, o que pressupunha a universalização Renovada. Mas a pedagogia Renovada agrupa correntes que
da educação para manter o funcionamento das estruturas racionais. advogariam pela renovação da Pedagogia Tradicional. A pedagogia
Assim, as idéias de Francis Bacon dividem as ciências e ainda ocidental de meados e fins do século XIX resolveria os problemas
ressaltavam que saber é poder sobre tudo. colocados pelas discussões com as distintas alternativas e se
3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
encaminharia a configurar naquela época o futuro das disciplinas Destaques Iluministas- JEAN-JACQUES ROUSSEAU
e campos de estudo pedagógico da escolarização. Nesse processo (1712-1778)-Inaugurou uma nova era na história da educação,
de uma pedagogia que inicia na modernidade, as experiências e constituindo um marco entre a velha e nova escola, suas obras são
teorias precursoras originárias nos três séculos (XVI, XVII, XVIII) lidas até hoje: Sobre a desigualdade entre os homens, o Contrato
deram características típicas à consolidação da pedagogia moderna Social e Emílio.Cabe a Rosseau a relação entre a educação e a po-
instalada no século XIX e XX, mas que ainda têm representações em lítica. Centraliza pela primeira vez o tema da infância na educação.
pleno século XXI. A partir dele a criança não seria mais considerada um adulto em
A Escola Nova no Brasil (defendida por Anísio Teixeira) e na miniatura, considerando ainda que a criança nasce boa, o adulto
América do Norte teve muita influência de John Dewey (1859- com sua falsa concepção, é que perverte a criança.Coloca o autor
1952), que fora um educador e filósofo americano motivado pelo que o século XVIII é político-pedagógico por excelência, pois neste
movimento de renovação da educação. Ele teve inspirações nas momento as camadas populares reivindicam ostensivamente mais
idéias de Rousseau, por exemplo. No entendimento de Dewey a saber e educação pública. Pela primeira vez o estado instituiu a
escola não é uma preparação para a vida social e produtiva, é a obrigatoriedade escolar (Prússia 1717).
própria vida, é o resultado da interação entre a vida do indivíduo e a Na Alemanha cresce a intervenção do Estado na educação,
experiência de estar vivendo. Segundo Libâneo (1992) tal inspiração criam-seEscolas Normais, princípios e planos que desembocam na
deveu-se pela abordagem de ensino centrada numa concepção grande revolução pedagógica nacional francesa no final do século.
nova baseada nas necessidades e interesses imediatos das crianças. Foi durante os seis anos de Revolução Francesa que se discutiua
A luta de Rousseau se contrapunha as práticas escolares moralistas, formação do cidadão através de escolas.A escola pública é filha da
disciplinadoras e de memorização baseada na educação da Idade revolução francesa. Mesmo assim, com o intuito de ser para todos
Média, cuja objetividade era voltada para o poder da religião se ,ainda era elitista:Só os mais capazes podiam prosseguir até a uni-
infiltrando nas diversas esferas da vida social. versidade. O iluminismo procurou libertar o pensamento da repres-
Para Manacorda “a emancipação das classes populares e das são, acentuou o movimento pela liberdade individual buscando
mulheres e expansão da instrução seguem, pois, pari passu”. Nesse refúgio na natureza: O ideal da vida era o “bom selvagem”, livre de
contexto, os sujeitos exigiam mudanças nas condições sociais para todos os condicionamentos sociais. É evidente que essa liberdade
criação de sistemas de ensino e instrução gratuitos e laicos. A relação só podia ser praticada por uns poucos, aqueles que, de fato,, livres
educação-sociedade pressupunha dois aspectos fundamentais “na do trabalho material, tinham sua sobrevivência garantida por um
prática e na reflexão pedagógica moderna: o regime econômico de exploração do trabalho.
primeiro é a presença do trabalho no processo de instrução A idéia da volta ao estado natural do homem é demonstrada
técnicoprofissional, que tenderia para todos (...) o segundo foi pelo espaço que Rosseau dedica à descrição imaginária da socie-
à descoberta da psicologia infantil com as suas experiências dade existente entre os homens primitivos, usando como exemplo
‘ativas’“ (p.305). Então a “nova escola” moderna estaria no os índios que viviam nas Américas. A educação não deveria apenas
século XIX e XX centrada nas possibilidades de preparar homens instruir, mas permitir que a natureza desabrochasse na criança; não
para o desenvolvimento objetivo das capacidades produtivas da deveria reprimir ou modelar. Assim, Rosseau é o precursor da es-
Revolução Industrial, onde a idéia de investir na educação da criança
cola nova, que inicia no século XIX e teve grande êxito na primeira
exaltaria a natureza espontânea (Rousseau viu isso) para que a sua
metade do século XX, sendo ainda hoje muito viva, tendo influen-
psique ao longo da escolarização aderisse à perspectiva de uma
ciado educadores da época como Froebel.É de Rosseau a idéia de
valorização de instrução para a revolução democrática e científica.
dividir a educação em três momentos: o da infância(idade da natu-
A pedagogia moderna caminhou com a idéia de uma nova escola
reza - até 12 anos), o da adolescência(idade da força, da razão e das
que, por conseguinte, seria um laboratório da pedagogia ativa, uma
paixões-12 aos 20 anos) e o da maturidade(idade da sabedoria e do
contribuição do positivismo e do pragmatismo científico que tal
casamento dos 20 aos 25 anos). É através de Rosseau que a escola
dogma (corrente filosófica) preconizaria contra a doxa (popular).
passa do controle da Igreja para o Estado. Foi através do crescente
A “instrução pública” ou a “educação popular” se convertem nos
conceitos que farão referência a esta nova fase, já definitivamente poder da sociedade econômica que a burguesia estabeleceu o con-
consolidada, da escolaridade moderna. trole civil, não religioso da educação.
Todo o enfoque de caráter mais histórico e social aqui abordado Exigências populares fizeram parte da Revolução francesa, en-
caracteriza-se como uma tentativa de demonstrarmos algumas tre elas um sistema educacional, a Assembléia Constituinte de 1789
das influências de idéias que circulavam na sociedade Ocidental elaborou o projeto de CONDORCET (1743-1794) que propôs o ensi-
daqueles séculos para a organização do pensamento pedagógico no universal para eliminar a desigualdade. Porém a educação pro-
moderno. O estudo dos fundamentos da educação vale para que posta não era exatamente a mesma para todos, pois considerava
possamos compreender que mesmo na alta modernidade do a desigualdade natural entre os homens. Condorcet foi partidário
século XXI ainda se fazem presentes nos processos instrucionais do da autonomia do ensino: cada indivíduo deveria conduzir-se por
ensino superior algumas concepções e ações didáticopedagógicas si mesmo, era ardoroso defensor da educação feminina para que
cunhadas nas bases das Revoluções científicas e sociais.2 as mães pudessem educar seus filhos. Ele considerava as mulheres
Vejamos agora algumas correntes pedagógicas do pensamento mestras naturais. A educação impulsionada pela Revolução France-
moderno. sa, através da burguesia tinha clareza do que queria da educação:
trabalhadores com formação de cidadãos partícipes de uma nova
Pensamento Pedagógico Iluminista sociedade liberal e democrática. No final a própria revolução recu-
A Idade Moderna (453-1789), período no qual predominou o sou o programa de educação universal criada por ela mesma.
regime absolutista, que concentrava o poder no clero e na nobreza, O idealizador dos jardins de infância foi FROEBEL (1782-1852).
teve fim com a Revolução Francesa que já se encontrava no discurso Para ele o desenvolvimento da criança dependia de uma atividade
dos grandes pensadores e iluministas (ilustrados-enciclopedistas) espontânea (o jogo), uma atividade construtiva (o trabalho manual)
contra o obscurantismo da Igreja e a prepotência dos governantes. e um estudo da natureza. Através da expressão corporal, o dese-
nho, o brinquedo, o gesto, enfim a auto-atividade representava o
método e a base de toda a instrução. Froebel inspirou fabricantes
2 Fonte: www.ia.ufrrj.br
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
de brinquedos, bem como a expansão de jardins de infância fora da Embora constituída de grandes idéias, a nova classe mostrou
Europa. John Dewey, um dos fundadores do pensamento escalono- muito cedo, ao apagar das luzes das Revoluções de 1789, que não
vista, também foi por ele influenciado. estava de todo sem eu projeto a igualdade os homens na sociedade
Mas nesta escola européia, a burguesia percebeu a necessida- e na educação. Uns acabaram recebendo mais educação do que ou-
de de oferecer instrução mínima, para a massa trabalhadora, sendo tros. Aos trabalhadores diriam ADAM SMITH (1723-1790), econo-
que a educação se dirigiu para a formação do cidadão disciplinado. mista político burguês, será preciso ministrar educação apenas em
EMANUEL KANT, alemão, (1724-1804) outro grande teórico conta-gotas. A educação popular deveria fazer com que os pobres
que obteve nesse período reconhecimento, foi Descartes susten- aceitassem de bom grado a pobreza, como afirmara o PESTALOZZI.
tando que todo o conhecimento era inato e Locke que todo saber Assim, essa concepção dualista: à classe dirigente a instrução pra
era adquirido pela experiência. Kant supera essa contradição, mes- governar e à classe trabalhadora a educação para o trabalho, dando
mo negando a tória platônico-cartesiana das idéias inatas, mostrou origem no século XIX ao pensamento pedagógico positivista.3
que algumas coisas eram inatas, como a noção de tempo e espaço,
No Pensamento Pedagógico Iluminista Jean Jacques Rousseau
que não existem como realidade fora da mente, mas apenas como
(1712-1778) resgata a relação entre a educação e a política. Centra-
formas para pensar as coisas apresentadas pelos sentidos. Kant era
liza, pela primeira vez, o tema da infância na educação.
um admirador de Rousseau, acreditava que o homem é o que a
A partir dele, a criança não seria mais considerada um adulto
educação faz dele através da disciplina, da didática, da formação
em miniatura: ela vive em um mundo próprio que é preciso com-
moral e da cultura.
preender.
Kant (descobriu o que a ciência moderna considera como acul-
A criança nasce boa, o adulto, com sua falsa concepção da vida,
turação, socialização e personalização) não considerava espaço,
é que perverte a criança.
tempo, causalidade e outras relações como realidades exteriores.
Outros filósofos como HEGEL (1770-1831) acabaram negando a
No pensamento pedagógico Positivista Augusto Comte e Karl
existência de qualquer objeto fora da mente: é o idealismo subjeti-
Marx foram dois expoentes, a tendência cientificista ganhou força
vo e absoluto que mais tarde será rebatido por Karl Marx. Para Kant
na educação como desenvolvimento da sociologia em geral, e da
era o sujeito que devia cultivar-se, civilizar-se para assim responder
à natureza. Assim para atingir a perfeição o homem precisa de dis- sociologia da educação. Um dos principais teóricos da sociologia da
ciplina, que domina as tendências instintivas, da formação cultural, educação foi Emile Durkheim.
da moralização, que forma a consciência do dever e da civilização
como segurança social. Kant era menos otimista que Rosseau, sus- Pensamento Pedagógico Positivismo
tentava que o home não pode ser considerado inteiramente bom, Comte foi o pai do Positivismo, corrente filosófica que busca
mas é capaz de elevar-se mediante esforço intelectual contínuo e explicar as leis do mundo social com critérios das ciências exatas e
respeito às leis morais. biológicas. Foi também o grande sistematizador da sociologia, di-
PESTALOZZI (1746-1827) desejava a reforma da sociedade atra- vidindo a sociologia em duas áreas: a estática social e a dinâmica
vés da educação das classes populares, mas ele não foi apenas um social.
teórico, pois ele mesmo colocou-se aserviço de suas idéias criando “No entender de Comte, a sociedade apresenta duas leis fun-
um instituo para crianças órfãsdas camadas populares, onde mi- damentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a
nistrava uma educação em contato com o ambiente imediato, se- lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a socie-
guindo objetiva, progressivae gradualmente um método natural e dade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez
harmonioso .Mas ele fracassou em seu propósito, não obteve os organizada, porém ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste
resultados esperados, mas suas idéias são debatidas até hoje e al- a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema ‘ordem e
gumas foram incorporadas à pedagogia contemporânea. progresso’” (VASCONCELOS apud LAGAR et al., 2013, p. 18)
HERBART (1776-1841) foi professor universitário, mais teórico A defesa do Positivismo é de que somente o conhecimento
do que prático, é considerado um dos pioneiros da psicologia cientí- científico é verdadeiro, não se admitindo como verdades as afirma-
fica. Dividiu o processo de ensino em quatro passos formais: ções ligadas ao sobrenatural, à divindade. Relacionado ao último
1º) Clareza na apresentação do conteúdo(demonstração do caso, Comte chegou a criar uma nova ordem espiritual, onde a di-
objeto); vindade não seria venerada, somente a humanidade. A sua inspi-
2º) Associação de um conteúdo com outro assimilado anterior- ração para originar essa nova ordem espiritual veio da disciplina e
mente pelo aluno(etapa da comparação); da hierarquia católica, mas, ao mesmo tempo, a sua concepção era
3º) Ordenação e sistematização dos conteúdos(etapa da gene- totalmente dissociada de todas as religiões cristãs. Essa concepção
ralização); nasceu do fato de ele considerar a humanidade como sendo uma
4º) Aplicação a situações concretas dos conhecimentos adqui- entidade unitária, cuja por ele batizou-se de Grande Ser.
ridos(etapa da aplicação); As suas observações o levaram a definir três estágios pelos
E ainda os objetos deveriam ser apresentados segundo os in- quais a sociedade tende a passar: o teológico, o metafísico e o posi-
teresses dos alunos e segundo suas diferenças individuais, por isso tivo ou científico. Estágio teológico é aquele onde as explicações aos
seriam múltiplos e variados. fenômenos até então desconhecidos são atribuídas à divindade, ao
sobrenatural. Metafísico é o estágio onde o ser humano procura ex-
Embora a doutrina francesa tenha ascendido com idéias de li- plicar as coisas através de fenômenos naturais, ou seja, a natureza
berdade, para a burguesia nascente a liberdade servia para outro é autossuficiente para explicar as suas próprias manifestações. Já o
fim: a acumulação de riqueza. Se de um lado havia a idéia dos ilu- Positivo ou Científico, é o estágio onde as explicações, as verdades
ministas intelectuais que fundamentavam a noção de liberdade na absolutas, advêm exclusivamente da ciência.
própria essência do homem, de outro Aldo a burguesia entendia
como a liberdade em relação aos outros homens. Surge a idéia da
livre iniciativa sempre associada a idéia de liberdade.Para os libe-
rais os homens tem diferentes níveis de riqueza, pois são diferentes,
pois basta ter talento e aptidão, associados ao trabalho individual,
para adquirir propriedade e riqueza. 3 Fonte: www.webartigos.com
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Educação, Escola e Positivismo As idéias socialistas na educação não são recentes, pois não
Em relação à educação, a ciência positiva de Comte não atendia atendem aos interesses dominantes e muitas vezes são relegadas a
aos critérios hoje esperados pelos novos pensadores da educação, um plano inferior. Platão já relacionava educação com a política, mas
porém isso não a conduz ao pleno esquecimento, visto que muitos foi o inglês Thomas Morus (1478-1535) quem criticou a sociedade e
dos seus itens são necessários à concepção atual de sociedade, de propôs a abolição da propriedade, a redução da jornada de trabalho
indivíduo, de escola, de educação. para seis horas diárias, a educação laica e a co-educação.
Apesar da ciência positiva prever a construção do compor- Inspirado em Rousseau, Graco Babeuf (1760-1796) queria
tamento altruísta, tendo como fundamento a fraternidade entre uma escola pública do tipo único para todos, acusando a educação
todos os homens, a gestão e melhorias das suas instituições se dominante de se opor aos interesses do povo e de incutir-lhe a
dariam, exclusivamente, pela classe da elite científica, o que ca- sujeição a seu estado de miséria.
racterizava certo monopólio relativo ao poder de controlar o co- Os princípios de uma educação pública socialista foram
nhecimento que será transmitido através dessas instituições para enunciados por Marx e Engels, porém nunca realizaram uma análise
os seres sociais. sistemática da escola e da educação. Ambos, em seu Manifesto do
Na escola positivista a disciplina é reconhecida como funda- partido comunista, defendem a educação pública e gratuita para
mental obrigação da educação. Os positivistas afirmam que a infân- todas as crianças.
cia é uma fase marcada pelas soluções teológicas dos problemas e
que somente com as inferências do ensino científico é que a maturi- Vladimir Ilich Lênin (1870-1924) deu grande importância à
dade do indivíduo será alcançada. Para isso, na escola positivista os educação no processo de transformação social. Como primeiro
estudos científicos terão plena prioridade sobre os estudos literá- revolucionário a assumir o controle de um governo, pôs na prática
rios e a educação terá por objetivo principal promover o altruísmo a implantação das idéias socialistas na educação. Acreditava que a
e repreender o egoísmo. educação deveria desempenhar papel importante na construção de
Com as contribuições de Comte e do seu pensamento empi- uma sociedade e que mesmo a educação burguesa era melhor que
rista, que considerava apenas os fenômenos que podiam ser ob- a ignorância.
servados, batizando de anticientíficos aqueles que provinham dos
processos mentais do observador, a educação passou por aferições, Anatoli Vasilievith Lunatcharski
tanto dos métodos de ensino como do desempenho do aluno. (1875-1933) foi o verdadeiro responsável por toda a
Não há como negar as contribuições de Comte para a educa- transformação legislativa da escola russa e o criador dos sistemas
ção, inclusive a que é realizada em dias atuais. Se vivemos numa de ensino primário, superior e profissional socialistas. Instituiu
sociedade marcada pela individualidade, pelo egoísmo, um modelo o trabalho como princípio educativo, para ele o mais importante
de escola e de educação que priorizassem o despertar do altruís- na vida escolar deveria ser o trabalho produtivo, concebido
mo nos discentes, seria muito bem-vinda. Além do mais, apesar de como atividade produtiva socialmente necessária. O trabalho é
recebermos pessoas fortemente ligadas à espiritualidade no seu considerado meio pedagógico eficiente quando dentro da escola é
sentido cristão, temos que convir que o espaço escolar é, acima de planificado e organizado socialmente e levado à diante de forma
tudo, científico, o que também se encaixa nas acepções de Comte. criativa. Deve ser executado com interesse, sem exercer uma ação
A escola, positivista ou não, é o espaço ideal para questionamentos, violenta sobre a personalidade da criança.
reflexões, estudos profundos e, consequentemente, conclusões.4
Antonio Gramsci
Émile Durkhein (1858 – 1917, um dos principais expoentes (1891-1937) afirmou que a coação e a disciplina são necessárias
na sociologia da educação, considerava a educação como imagem na preparação de uma vida de trabalho, para uma liberdade
e reflexo da sociedade. A pedagogia seria uma teoria da prática
responsável. O princípio muscular-nervoso seria o fundamento de
social.
uma nova concepção de mundo.
Para os pensadores positivistas, a libertação social e política
A doutrina socialista fundada nas pesquisas de Marx, significa
passava pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, sob o
uma construção ética e antropológica, cuja direção é a liberdade.
controle das elites. O positivismo nasceu como filosofia, portanto
A classe trabalhadora necessita de uma consciência, uma teoria
interrogando-se sobre o real e a ordem existente, mas, ao dar uma
avançada para realizar essa missão histórica. A escola pode ser o
resposta ao social, afirmou-se como ideologia.
espaço indicado para essa elaboração.
Segundo o autor, a expressão do positivismo no Brasil inspirou
a Velha República e o golpe militar de 1964. Segundo essa ideologia
da ordem, o país não seria mais governado pelas “paixões políticas”, Anton Semionovich Marakenko
mas pela racionalidade dos cientistas desinteressados e eficientes: (1888-1939) propôs a escola única até os 10 anos. Acreditava
os tecnocratas. ainda que o incentivo econômico era importante na motivação dos
No Brasil, o positivismo influenciou o primeiro projeto de estudantes para o trabalho e, por isso, defendeu o pagamento de
formação do educador, no final do século passado. O valor dado salários pelo trabalho produzido na escola. Para ele, o verdadeiro
à ciência no processo pedagógico justificaria maior atenção ao processo educativo se faz pelo próprio coletivo e não pelo indivíduo
pensamento positivista.5 que se chama educador. Onde existe o coletivo o educador pode
desaparecer, pois o coletivo molda a convivência humana. De acordo
Pensamento Pedagógico Socialista com Marakenko, ser educador é uma questão de personalidade e
Foi formado no meio do movimento popular pela caráter e não de teoria, estudo e aprendizagem.
democratização do ensino. A concepção socialista da educação se
opõe à concepção burguesa, pois propõe uma educação igual para Lev Semanovich Vygotsky
todos. (1896-1934) trabalhou com crianças com defeitos congênitos,
lecionando numa escola de formação de professores. Deu grande
importância ao domínio da linguagem na educação, afirmando
4 Fonte: www.infoescola.com que a linguagem era o meio pelo qual a criança e os adultos
5 Fonte: www.intervox.nce.ufrj.br
6
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
sistematizavam suas percepções. É através da fala que o homem Dewey, filósofo norte americano influenciou a elite brasileira com
manifesta seus direitos, participa coletivamente da construção de o movimento da Escola Nova. Para John Dewey a Educação, é uma
outra sociedade e defende seus pontos de vista. necessidade social. Por causa dessa necessidade as pessoas devem
ser aperfeiçoadas para que se afirme o prosseguimento social, assim
Mao Tsé-Tung (1893-1976) conseguiu criar a República Popular sendo, possam dar prosseguimento às suas idéias e conhecimentos.
da China. A China realizou nos anos 60 uma notável revolução No século XX, vários educadores se evidenciaram,
Cultural, preservando valores socialistas, como o trabalho manual principalmente após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da
para todos, a coletivização, a eliminação da oposição cidade - Educação Nova, de 1932. Na década de 30, Getúlio Vargas assume o
campo e privilégios de classe. Em 1978, quando acabou a revolução governo provisório e afirma a um grupo de intelectuais o imperativo
os chineses descobriram a beleza da diferença, voltaram-se para pedagógico do qual a revolução reivindicava; esses intelectuais
conhecer a si mesmo e todo o mundo.6 envolvidos pelas idéias de Dewey e Durkheim se aliam e, em
No que se refere as ideias de Marx e Engels sobre educação, 1932 promulgam o Manifesto dos Pioneiros, tendo como principal
personagem Fernando de Azevedo. Grandes humanistas e figuras
Manacorda (1989) afirma Quanto ao desenvolvimento da teoria
respeitáveis de nossa história pedagógica, podem ser citadas, como
pedagógica, o socialismo de Marx e Engels (1848) assume
por exemplo Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-
criticamente todas as bandeiras burguesas: universalidade,
1971).
gratuidade, estatalidade, laicidade, renovação cultural – o que
A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino
o marxismo acrescenta de próprio além de uma dura crítica à que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na
burguesia pela incapacidade de realizar seus programas é a primeira metade do século XX . O escolanovismo desenvolveu-se
radicalidade dessas propostas e uma nova concepção da relação no Brasil sob importantes impactos de transformações econômicas,
instrução-trabalho. (MANACORDA, 1989, p. 296). políticas e sociais. O rápido processo de urbanização e a ampliação
Segundo o autor, Marx e Engels não rejeitaram conquistas da cultura cafeeira trouxeram o progresso industrial e econômico
teóricas e práticas da burguesia no campo da educação, tais como: para o país, porém, com eles surgiram graves desordens nos
universalidade, laicidade, estatalidade, gratuidade, renovação aspectos políticos e sociais, ocasionando uma mudança significativa
cultural. Pelo contrário, assumiram todas elas. Entretanto, ao no ponto de vista intelectual brasileiro.
defenderem as bandeiras burguesas, proferem duras críticas à Na essência da ampliação do pensamento liberal no Brasil,
burguesia pela incapacidade de realizar os seus programas sociais, propagou-se o ideário escolanovista. O escolanovismo acredita
e propõem a articulação entre ensino e trabalho como estratégia que a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz
que possibilitaria garantir o atendimento desses princípios. Quanto para a construção de uma sociedade democrática, que leva em
à defesa de uma articulação mais orgânica da união instrução- consideração as diversidades, respeitando a individualidade do
trabalho produtivo, esta se insere no bojo da proposta de formação sujeito, aptos a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa
humana omnilateral, na qual o trabalho constituirá um complexo
sociedade Então de acordo com alguns educadores, a educação
com o ensino para “[...] possibilitar o acesso aos conhecimentos
escolarizada deveria ser sustentada no indivíduo integrado à
historicamente produzidos pela humanidade, em seus aspectos
democracia, o cidadão atuante e democrático.
filosófico, científico, literário, intelectual, moral, físico, industrial e
cívico, na perspectiva de uma formação total de todos os homens”
Para John Dewey a escola não pode ser uma preparação para
(LOMBARDI, 2010, p. 330).
a vida, mas sim, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo
Verifica-se que a proposta socialista de educação se propõe
norteador a vida-experiência e aprendizagem, fazendo com que a
a contribuir para a formação de um novo homem – o homem
omnilateral em oposição à unilateralidade burguesa. Trata-se de função da escola seja a de propiciar uma reconstrução permanente
uma educação que deve propiciar aos homens um desenvolvimento da experiência e da aprendizagem dentro de sua vida. Então, para
integral de todas as suas potencialidades. Para tanto, essa ele, a educação teria uma função democratizadora de igualar as
educação deve fazer a combinação da educação intelectual com oportunidades. De acordo com o ideário da escola nova, quando
a produção material, da instrução com os exercícios físicos e falamos de direitos iguais perante a lei, devemos estar aludindo a
destes com o trabalho produtivo. A defesa e o encaminhamento direitos de oportunidades iguais perante a lei.8
de tal proposta objetiva, a eliminação da diferença entre trabalho
manual e intelectual entre “dois mundos”: o mundo dos que Pensamento Pedagógico Fenomenologia Existencialismo
formulam, concebem e por isso dominam, e o mundo dos que A existência precede a essência.
executam, mas não possuem uma compreensão do processo e
por isso são dominados. Tal medida objetiva assegurar a todos os Pedagogias da essência
homens uma compreensão integral do processo de produção e Propõe um programa para levar a criança a conhecer
consequentemente viabilizar a sua emancipação. Nessa linha de sistematicamente as etapas do desenvolvimento da humanidade.
análise, pode-se perceber que o fim da educação atribuído pelo
socialismo é diferente daquele atribuído pela sociedade em que Pedagogias existencialistas
vivemos – a capitalista – cuja preocupação atual está dirigida a um Propõe a organização e a satisfação das necessidades atuais da
processo educativo pautado no desenvolvimento das competências criança através do conhecimento e da ação.
e habilidades necessárias à inserção do indivíduo no mercado
consumidor ou, mais especificamente, que atenda às exigências Fenomenologia
inerentes ao processo produtivo na atual fase do capitalismo.7 Consiste basicamente na observação e descrição rigorosa de
um conjunto de fenômenos tais como se manifestam no tempo ou
Pensamento Pedagógico Escola Nova no espaço, isto é, como se manifestam,aparecem e se oferecem
No Brasil, as idéias da Escola Nova foram inseridas em 1882 aos sentidos ou à consciência, em oposição às leis abstratas e fixas
por Rui Barbosa (1849-1923). O grande nome do movimento na desses fenômenos.
América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). John
6 Fonte: www.licenciaturageografiauniube.blogspot.com
7 Fonte: www.periodicoseletronicos.ufma.br/ 8 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br
7
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Ação fenomenológica objetivos educacionais, perverte-a e a transforma em droga que,
- Preocupação antropológica; com a ausência de compromisso, gera a solidão. Principais obras: A
- Método de descrição e interpretação dos fenômenos, dos vida em diálogo; Eu e Tu.
processos e das coisas pelo que eles são, sem preconceitos.
- Atitude (ir à coisa mesma - Husserl) JANUSZ KORCZAK (1878-1942)
- Fenomenologia e práxis – paralaxe. O nome real era Henryk Goldszmit, era um judeu polonês,
nascido em Varsóvia em uma família patriota, apaixonada pela
Existencialismo língua e pela cultura polonesa. Ele foi pouco praticante da religião,
Tendência filosófica do século XX com uma visão dramática da mas não renegou o judaísmo. Consagrou sua vida à luta e pela
existência humana (condição específica do homem concreto como justiça e pelos direitos da criança. Dedicou-se de corpo e alma ao
ser no mundo). orfanato da Rua Krochmalna 92, em Varsóvia, da qual foi diretor,
Concepções básicas: o homem representa uma realidade médico e professor. O jornal popular “Nasz Przeglond” (“Nosso
aberta, inacabada, “lançada” no mundo. A vida humana não é Jornal”), em 1906, convidou-o para preparar uma edição infantil.
um caminho linear para o êxito. Frequentemente é marcada pelo Korczak criou então o jornalzinho “Maly Przeglond” (“Pequena
sofrimento, pela angústia, pelo desespero. Revista”), na qual só crianças escreviam para crianças. Ainda
estudante iniciou sua obra literária e continuou a escrever até
Filósofos inspiradores do existencialismo o trágico final de sua vida. Seus livros são para e sobre a criança.
- Sören Kierkegaard: considerado o “pai do existencialismo”; E sua práxis pedagógico-educacional deu início a uma revisão de
analisou os problemas da relação existencial do homem com o métodos, estrutura da escola, relação professor-aluno e pais-filhos.
mundo, consigo mesmo e com Deus; a relação com Deus superaria Janusz Korczak tornou-se mito, por sua dedicação às crianças.
a angústia. Em 1942, os nacistas ocupantes da Polônia, lhe ordenaram que
- Friedrich Nietzsche: o conjunto de sua obra tem como conduzisse seus pequenos para a morte, prometendo-lhe um salvo
preocupação básica desferir uma crítica profunda e impiedosa conduto após a “tarefa”. Ele recusou, amparado nos braços de
à civilização ocidental; desenvolveu um niilismo baseado na dois meninos, acompanhou seus duzentos “filhos” até as câmaras
afirmação da “morte de Deus” de gás do campo de extermínio Treblinka, onde todos morreram.
- Edmund Husserl: criador da fenomenologia (investigação Principais obras: Quando eu voltar a ser criança; Como amar uma
da consciência e seus objetivos); desenvolveu o conceito de criança e O direito da criança ao respeito.
intencionalidade da consciência
GEORGES GUSDORF (1912)
Principais Filósofos existencialistas Filósofo francês, nasceu em Bordeaux. De 1852 até 1977 foi
- Martin Heidegger (1889-1976): descreveu as características professor da Universidade de Estrasburgo. Combateu o regime
básicas da existência inautêntica, na qual o eu humano é destruído nazista e foi prisioneiro de guerra entre 1940-1945. no campo
e arruinado pelos outros. A angústia é o sentimento profundo que de concentração organizou uma universidade com um pequeno
faz o homem despertar da existência inautêntica. Tornando-se si grupo de intelectuais; nesse período também escreveu o livro A
mesmo, o homem pode transcender, atribuir um sentido à vida. descoberta de si mesmo. Foi ainda na prisão que elaborou sua tese,
Obra filosófica mais importante: Ser e tempo defendida em 1948, sobre a “experiência humana do sacrifício”. A
- Jean-Paul Sartre (1905-1980): na análise do ser distingue o principal educativa de Gusdorf, Professores, para quê?, foi escrita
ente em-si (compacto, rígido, imóvel) e o ente para-si (não-estático, em 1963. Nesse livro, ele se pergunta se ainda há lugar para o
nãocheio, acessível às possibilidades). O homem é um ente para-si, professor em plena era da televisão e dos meios modernos de
possuidor de consciência e liberdade. Defende que não devemos comunicação. Diante de uma instrução de massa, ele terminava por
falar na existência de uma natureza universal mas, sim, de uma reafirmar a relação cotidiana e bipolar de pessoa a pessoa entre
condição humana. A liberdade é o valor fundamental da condição mestres e discípulos. Para ele, todos os meios pedagógicos não
humana. O homem é absoluto, não havendo nada de espiritual produziram a comunicação, se entre professor e aluno não existir a
acima dele, não havendo nada superior a ele, sua marcha se depara igualdade de condições e reciprocidade que caracterizam o diálogo.
com o nada. Lutou pelo socialismo. Obra filosófica mais importante: Mestres e discípulos estão sempre em busca da verdade, e é desta
O ser e o nada. relação com a verdade que nasce a autoridade do mestre: denuncia
as universidades modernas porque se perdem na preocupação
Educadores existencialistas quantitativa da eficiência e especialização. De acordo com o filósofo,
a pedagogia fundamenta-se na antroplogia: o homem precisa da
MARTIN BUBER (1978-1966) educação porque ele é essencialmente inacabado. Gusdorf valoriza
Nascido em Viena e falecido em Jerusalém, é considerado o mais na antropologia o estudo do mito e da linguagem: o homem se
importante filósofo da religião do nosso tempo. Mediador entre o diferencia do animal porque fala. Principais obras: A palavra; A
judaísmo e o cristianismo, foi um dos mais notáveis representantes universidade em questão e Professores, para quê?.
contemporâneos do existencialismo. Pensador liberal, produziu
obras que representam uma extraordinária contribuição para a CLAUDE PANTILLON (1938-1980)
reconciliação entre religiões, povos e raças. Sobre sua concepção Nasceu na Suíça, em 1938. Depois de ter concluído seu
pedagógica destacam-se três pontos principais. O ponto de partida barachelado na Sorbonne (1956), prosseguiu seus estudos em
representa a encontro direto entre os homens, o relacionamento Paris, onde teve a chance de acompanhar os grandes mestres
entre eles, o diálogo entre ‘eu e tu’. Segundo ele, a educação é do momento: Piaget, Deleuze, Gaston e Suzanne Bachelard e
exclusivamente de Deus, apesar de seu discurso humanístico Ricouer. Licenciou-se em psicologia, filosofia e sociologia, sob a
sobre o educador como ‘formador’ ou sobre a ‘forças criativas das orientação de Paul Ricouer. Desde 1961, instalou-se em Genebra,
crianças’. Finalmente, para o pensador, a liberadade, no sentido de onde repatiu seu tempo entre o magistério na universidade e o
independência, é sem dúvida um bem valioso. Mas não é o mais centro de epistemologia genética. Em 1974, criou o Centro de
elevado. Quem a considera como valor supremo, sobretudo com Filosofia da Educação, com o seu assitente Moacir Gadotti, antes de
8
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
tudo, lugar de encontros, de abertura, de reflexões fundamentais convivência, ia se tornar espontaneamente um sujeito solidário e
sobre educação e novos questionamentos. Pantillon dirigiu com feliz. Neill acreditava, portanto, que a própria liberdade exercesse
seu entusiasmo e sua energia, o Centro até a sua morte em 7 de uma força construtiva, conduzindo por si só a criança a aprender e
fevereiro de 1980. Principais obras: Une philosophi de l’éducation. a viver de forma rica e significativa.
Pour que faire?; Changer l’éducation.9
O psicoterapeuta norte-americano Carl Rogers foi também um
Pensamento Pedagógico Antiautoritário educador e defendeu uma pedagogia não-diretiva . Todo processo
Na primeira metade do século XX, sob a influência do educativo, segundo ele, devia centrar-se na liberdade da criança e
pensamento pedagógico socialista e o da Escola Nova, surgem não nas exigências do educador, nem no conteúdo programático.
visões educacionais que Gadotti (2008) classifica como expressões
de um pensamento pedagógico antiautoritário , que incluiu tanto Considerava que o clima psicológico criado por um ambiente
educadores de inspiração liberal como marxistas. Essa corrente se livreestimulava o desenvolvimento cognitivo e psíquico pleno do
inspirou profundamente na psicanálise, um conjunto de concepções sujeito e que uma aprendizagem era significativa na medida em
sobre a psique humana e de métodos para abordá-la elaborado por que fosse importante para a totalidade do educando. Era preciso,
Sigmund Freud, especialmente em duas idéias: a da transferência, para Rogers, estimular esse tipo aprendizagem, posto que – em
que levou alguns pedagogos a refletirem sobre a importância da sua visão – não era possível ensinar algo a outra pessoa, apenas
relação interpessoal entre educador e educando, e a da repressão facilitar seu aprendizado criando um clima favorável a este último,
que – na visão de Freud – a sociedade e a escola exerciam sobre motivando-o. Por isso, as relações interpessoais, especialmente as
a sexualidade infantil , gerando desequilíbrios psíquicos que se afetivas, adquiriam um papel decisivo na pedagogia do educador. O mais
perpetuariam na vida adulta. destacado expoente da pedagogia antiautoritária foi o professor francês
Célestin Freinet, cujas idéias e propostas –inspiradas no pensamento
Em contraposição a esse modelo, Freud apontou a socialista -continuam influenciando experiências educativas em diversos
necessidade de se pensar em práticas educativas anti-repressivas países. Ele centrou a educação no trabalho manual , que concebia
e que respeitassem as tendências naturais das crianças. Um dos como uma “necessidade orgânica de utilizar o potencial de vida numa
educadores mais radicais da corrente pedagógica antiautoritária foi atividade ao mesmo tempo individual e social. Outros princípios caros à
o espanhol Francisco Ferrer Guardia, considerado o pai da escola sua pedagogia eram a expressão livre e o incentivo à pesquisa.
racional e libertária,que se destacou por ser o mais duro crítico
da educação tradicional. Ferrer acreditava na educação como Na visão de Freinet, era preciso abandonar a disciplina imposta
instrumento de emancipação do homem das injustiças sociais e de através dassançes e focar o processo educativo na organização
do trabalho, pois à medida que este motivasse, envolvesse e
construção de uma sociedade igualitária. Defendia a Coeducação
estimulasse a criatividade e a participação dos alunos favoreceria
, um modelo de escola igualitária que não distinguia entre sexos
espontaneamente tanto a disciplina, como a aprendizagem. Para
e classes sociais: em sua visão, essa convivência contribuiria para
isto, o educador necessitava mudar seu papel: o que lhe cabia, na
forjar nas novas gerações um sentimento de igualdade, quebrando
concepção do pedagogo francês, era tornar-se um colaborador no
os preconceitos de gênero e de classe.
aperfeiçoamento da organização do trabalho e da vida comunitária
da sua escola, junto com seus alunos e com os gestores, dentro
O educador sustentava a implantação de uma pedagogia
deum modelo não-dirigista e não-coercitivo de construção coletiva
racional e científica: em sua obra mais importante, La escuela de contextos de aprendizagem significativa por meio do trabalho.
moderna, afirmava que a ignorância e o erro representavam as Alguns métodos utilizados por Freinet, em suas práticas educativas
raízes das desigualdades e dos conflitos de classes. concretas, para favorecer a aprendizagem de seus alunos continuam
sendo usados em experiências educativas dos mais diversos
Para mudar essa realidade, era necessário – em sua visão – países: a redação livre, a imprensa na escola, o jornal da turma,
estimular a criança a desejar conhecer as origens das injustiças a correspondência entre os alunos e entre alunos e professores, o
sociais para que mais tarde, por meio do conhecimento adquirido, estudo do meio em que o processo educativo acontece, a biblioteca
pudesse combatê-las. A educação, para Ferrer, fazia parte de um cooperativa, entre outros.
processo revolucionário de transformação social e sua finalidade
era a formação de homens livres. Para atingir esse objetivo, os Para complementar o exposto, assista este vídeo – dividido em
processos educativos deviam abolir qualquer prática coercitiva e duas partes – que reconstrói a vida, as principais ideias pedagógicas
repressiva, de forma a estimular a disciplina natural , baseada não e as experiências educacionais do educador francês Célestin
na obediência cega, mas em uma tomada de consciência. Freinet.Parte
Segundo o pedagogo, os alunos que se rebelavam às injustiças Ele acreditava que a educação naquela época ocorria com o
do sistema educativo estavam exercendo uma reação legítima. objetivo de moldar as crianças de acordo com valores impostos.
Outro expoente de destaque da pedagogia antiautoritária, desta Assim, a educação obrigava a criança a renunciar os impulsos
vez em uma perspectiva liberal, foi o inglês Alexander Neill que, naturais, acomodando o desenvolvimento do seu ego às exigências
inspirando-se na psicanálise de Freud e em outras influências da morais e culturais do superego.
psicologia da primeira metade do século XX, colocava o princípio da
não-violência como pressuposto essencial do processo educativo. A principal crítica feita à escola tradicional foi o modelo
autoritário que tinha, impregnados de dogmas (que é uma crença
Segundo o educador, que experimentou suas concepções no ou uma doutrina imposta que não admite contestação) e regras.
célebre internato britânico Summerhill que fundou em 1921, se Sendo denominada de escola-quartel. Então os pedagogos da
a criança crescesse em plena liberdade, sem qualquer forma de época, querendo reverter à situação da “escola-quartel”, recusam-
coerção, de direção autoritária e de influência moral ou religiosa, se do exercício do poder, e volta-se para uma educação em liberdade
mas aprendendo a respeitar a liberdade do outro a partir da para a liberdade. Qual era a proposta? Que todo aluno, deveria ser
educado sem pressão para manter uma maturidade sadia.
9 Fonte: www.paginapessoal.utfpr.edu.br
9
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Principais nomes: é um consultor a serviço do grupo sob questões de método,
organização ou conteúdo: o professor renuncia ao exercício de sua
CÉLESTIN FREINET (1896-1966) autoridade, ao poder, à palavra, e se limita a oferecer seus serviços,
Nasceu na França e foi um dos educadores que mais marcou sua capacidade aos melhores do grupo. Sua intervenção se situa
a escola fundamental de seu país neste século. Atualmente, suas em três níveis:
idéias são estudadas em várias partes do mundo, da pré-escola à Como monitor do grupo de diagnóstico; ajuda ao grupo
universidade. Freinet lutou na Primeira Guerra Mundial e foi ferido a desenvolver-se como tal; auxilia o desenvolvimento de um
na altura do pulmão, o que lhe trouxe sérias consequências. Falava clima grupal em que seja possível aprender; auxilia a superar
baixo e cansava-se logo. Esse problema levou-o a buscar novos os obstáculos para aprender que estão enraizados no indivíduo
modos de se relacionar com os alunos e de conduzir o trabalho na e na situação grupal; ajuda o coletivo a descobrir e utilizar os
escola. Ele afirmava a existência de uma dependência da escola e o diferentes métodos de pesquisa, ação, observação e feedback;
meio social, de forma a concluir que não existe uma educação ideal, Como técnico de organização; Como pesquisador ou sábio que
só uma educação de classes. Daí sua opção pela classe trabalhadora possui conhecimento e tem a capacidade de comunicá-lo. A tarefa
e a necessidade de tentar uma experiência renovadora do ensino. do professor seria as forças instituintes do grupo; essa forças
Em seu livro Educação pelo trabalho, sua principal obra, Freinet construiriam novas instituições (ou contra-instituições, conforme
apresentou um confronto entre a escola tradicional e a escola Lapassade), que funcionaria como analisadores, revelando os
proposta por ele, onde o trabalho tinha posição central, como elementos ocultos do sistema institucional. Outros pedagogos
metologia. desenvolveram a pedagogia institucional. Entre eles, Fernand Oury
e Aida Vasquez, de orientação freudiana. Eles se apoiavam mas nas
CARL RANSOM ROGERS (1902-1987) técnicas de Freinet do que na não-diretividade rogeriana, preferida
Psicólogo norte-americano, formou-se na universidade por Lobrot. Principais obras: A Pedagogia Institucional e A favor ou
de Columbia (New York), onde especializou-se em problemas contra da autoridade?
infantis. De 1935 a 1940, Rogers lecionou na universidade de
Rochester; baseado em sua experiência escreveu O Tratamento BOURDIEU-PASSERON (1930)
Clínico da Criança Problema. Já então considerava desejável que Sociologo francês, lecionou na escola prática de altos estudos,
o próprio cliente dirigisse o processo terapêutico. Essa abordagem em Paris. Além de seus trabalhos sobre etnologia e de seuas
revolucionária e polêmica foi desenvolvidano livro Aconselhamento investigações teóricas sobre sociologia, Bourdieu dirigiu, com Jean-
e Psicoterapia (1942). Como professor de psicologia na universidade Claude Passeron, o Centro de Sociologia Européia, que pesquisa os
de Chicago, pôs em prática suas idéias, cujo resultados foram problemas da educação e da cultura na sociedade contemporânea.
avaliados no livro Psicoterapia e Alteração na personalidade (1945). O ponto de partida para a sua análise é a relação entre o sistema
Finalmente, em Terapia Centrada no Cliente (1951), Carl Rogers de ensino e o sistema social. Para Bourdieu, a origem social marca
fez uma exposição geral do seu método nãodiretivo, bem como de maneira inevitável e irreversível a carreira escolar e, depois,
suas publicações à educação e a outros campos. De 1962 até a sua profissional, dos indivíduos. Essa origem social produz primeiro
morte, atuou no Centro para Estudos da Pessoa, em La Jolla (EUA). o fenômeno de seleção: as simples estatísticas estatísticas de
Para Rogers o aconselhamento tem como finalidade e possibilidades de ascender ao ensino superior, segundo a categoria
eliminação da inconsciência entre o autoconceito e a experiência social de origem, mostra que o sistema escolar elimina de maneira
pessoal – raiz das dificuldades psicológicas do ser humano. Isso contínua uma forte proporção das crianças saídas das classes
facilita o amadurecimento emocional, a aquisição da autonomia e populares. No entanto, segundo os pesquisadores franceses, é um
as possibilidades de autorrealização. O desempenho do conselheiro erro explicar o sucesso e o fracasso escolar apenas pela origem
consistiria então na aceitação autêntica e na clarificação das social. Existem outras causas que eles designam pela expressão
vivências emocionais expressas pelo cliente. Logo, ele deve criar “herança cultural”. Entre as vantagens que os “herdeiros” possuem,
no curso da entrevista uma atmosfera propícia para que o próprio deve-se mencionar o maior ou o menor domínio da linguagem.
cliente escolha os seus objetivos. O uso dos testes psicológicos e A seleção intervem quando a linguagem escolar é insuficiente
a elaboração de diagnóstico se tornariam irrelevantes. Rogers para o “aproveitamento” do aluno. E este fenômeno atinge
também transporia para a educação a sua concepção terapêutica. prioritariamente as crianças de origem social mais baixa. As que
Principais obras: Tornar-se pessoa e De Pessoa a Pessoa. têm êxito são as que resistiram por diversas razões, à laminagem
progressiva da seleção. Mantendo-se no sistema de ensino, elas
MICHEL LOBROT provam ter adquirido um domínio da linguagem ao menos igual ao
Pedagogo francês, discípulo de Celestin Freinet, influenciado dos estudantes saídas das classes superiores.
pelas teorias psicanalíticas de Freud, lecionou em Vicennes e na Finalmente, para Bourdieu e Passeron, a cultura das classes
Universidade de Genebra. Lobrot propunha a “autogestão política”, superiores estaria tão próxima da cultura da escola que a criança
terapêutica social e, como diz o título de um de seus livros, uma originária de um meio social inferior não poderia adquirir senão a
“Pedagogia institucional” para modificar as instituições pedagógicas formação cultural que é dada aos filhos da classe culta. Portanto,
existentes. Esta atitude permitiria alterar as mentalidades, tornando- para uns, a aprendizagem da cultura escolar é uma conquista
as abertas e autônomas para, a seguir, modificar as instituições da duramente obtida; para outro, é uma herança “normal”, que inclui
sociedade. Assim, a pedagogia instituicional proposta por Lobrot tem a reprodução das normas. O caminho a percorrer é diferente,
um objetivo político claro, na medida em que entende autogestão conforme a classe de origem. Principais obras dos autores: Les
pedagógica como preparação para autogestão política. Ao colocar o Héritiers, les étudiants et la culture; A reprodução; elementos para
problema da autoridade na educação, as relações entre a liberdade uma teoria do sistema de ensino.10
e a coerção, Lobrot acredita que apenas a escola pode tornar as
pessoas menos dependentes. Seu objetivo é desencadear, a partir
de um grupo professor – aluno e no perímetro da sala de aula, um
processo de transformação da instituição escolar, e daí um processo
de transformação da própria sociedade. Michel Lobrot, o professor
10 Fonte: www.frantship.blogspot.com/Moacir Gadotti
10
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Pensamento Pedagógico Crítico TEORIAS DE BAUDELOT E ESTABLET
As idéias de Bourdieu e Passeron no que concerne ao A dualidade estrutural expressa uma fragmentação da escola
pensamento da escola é que é fato que os alunos de baixa renda a partir da qual se delineiam caminhos diferenciados segundo a
são educados apenas para fazê-los trabalhadores. Enquanto as classe social, repartindo-se os indivíduos por postos antagonistas na
crianças abastadas, são preparadas desde seu ingresso para o divisão social do trabalho, quer do lado dos explorados, quer do lado
mundo acadêmico, embora a situação é bem mais complexa do que da exploração. Baudelot e Establet (1971), entre outros teóricos do
parece. A escola está veladamente dividida, pois, vivemos numa crítico-reprodutivismo, desvendam a ilusão ideológica da unidade
sociedade de classe. Enquanto esta “aberração” não for corrigida da escola e da existência de um tipo único de escolaridade. Para
(tomando como base os autores franceses.) A estrutura social ficará essa teoria, a escola não é única, nem unificadora, mas constituída
praticamente inalterada e a escola que deveria ser um instrumento pela unidade contraditória de duas redes de escolarização: a rede
de transformação do espírito humano, por mais paradoxal que seja de formação dos trabalhadores manuais (rede primário-profissional
será o principal veiculo para o retrocesso. ou rede PP) e a rede de formação dos trabalhadores intelectuais
(rede secundário-superior ou rede SS). O dualismo da escola no
BOURDIEU PASSERON modo capitalista de produção se manifesta como resultado de
Pierre Bourdieu (1930) é um sociólogo francês e professor mecanismos internos, pedagógicos, de destinação de ‘uns e não
Universitário. É um pesquisador dos problemas da educação outros’ (Souza e Silva, 2003) para os estudos longos em suas fileiras
contemporânea. Faz uma dicotomia entre a educação e a estrutura nobres como mecanismo de reprodução das classes sociais. Nessa
social. Assim conseguiu detectar que há uma forma de seleção concepção, para apreender a dualidade estrutural característica
natural, pois, observou que grande parte dos alunos que conseguem da escola capitalista é necessário colocar-se do ponto de vista
sua graduação são oriundos das classes mais abastadas. Mas a daqueles que são dela excluídos. A repetência, o abandono, a
herança social não explica de forma concisa o sucesso ou fracasso produção do retardo escolar são mecanismos de funcionamento
de determinados educandos. da escola e que fazem parte de suas características. É sua função
Segundo Bourdieu a estrutura escolar contemporânea está de discriminar, e isto desde o início da escolarização, na própria escola
forma explicita voltada (ou mais próxima) da criança de classe social primária, que também não é única e que também divide. “Seus
superior (alta). ‘defeitos’ ou ‘fracassos’ são, em verdade, a realidade necessária de
seu funcionamento” (Baudelot & Establet, id., p. 269).
A Pedagogia Crítica segundo Bordieu No Brasil, essa diferenciação se concretizou pela oferta de
Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de escolas de formação profissional e escolas de formação acadêmica
conceitos, como habitus e capital cultural. Todos partem de para o atendimento de populações com diferentes origens e
uma tentativa de superação da dicotomia entre subjetivismo e destinação social. Durante muito tempo o atual ensino médio ficou
objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências, restrito àqueles que prosseguiriam seus estudos no nível superior,
tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou enquanto a educação profissional era destinada aos órfãos e
mesmo equivocada da realidade social”, explica Nogueira. A noção desvalidos, os ‘desfavorecidos da fortuna’.
de habitus procura evitar esse risco. Ela se refere à incorporação A análise do fluxo escolar, no Brasil, neste início de século
de uma determinada estrutura social pelos indivíduos, influindo XXI, aponta para a expulsão da escola de uma imensa parcela
em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que se inclinam da população: apesar da quase universalização do acesso a 1ª
a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre é de modo série do Ensino Fundamental, apenas 45% dos jovens brasileiros
consciente.Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo concluem o Ensino Médio. Percebe-se claramente a constituição
o sociólogo, se mantém não só pela preservação de mecanismos de dois grupos: aqueles que permanecem no interior da escola e
sociais mas pela absorção involuntária, por parte das mulheres, os que dela vão sendo excluídos. Entre os que permanecem, uma
de um discurso conciliador. Na formação do habitus, a produção
nova diferenciação se produz pela desigualdade das condições
simbólica – resultado das elaborações em áreas como arte, ciência,
de escolarização e pela precarização dos programas pedagógicos
religião e moral – constitui o vetor principal, porque recria as
que conduzem a uma certificação desqualificada, para ‘uns e não
desigualdades de modo indireto, escamoteando hierarquias e
outros’.
constrangimentos. Assim, estruturas sociais e agentes individuais
A dualidade estrutural confirma-se nos limites das classes
se alimentam continuamente numa engrenagem de caráter
sociais e da dicotomia histórica entre os estudos de natureza teórica
conservador. É o caso da maneira como cada um lida com a
e os estudos de natureza prática. A ‘escola do dizer’ e a ‘escola do
linguagem. Tudo que a envolve – correção gramatical, sotaque,
habilidade no uso de palavras e construções etc. – está fortemente fazer’ são, nas palavras de Nosella (1995), as divisões estruturais
relacionado à posição social de quem fala e à função de ratificar do sistema educativo no modo capitalista de produção. A escola de
a ordem estabelecida. Para Bourdieu, todas essas ferramentas de formação das elites e a escola de formação do proletariado. Nessa
poder são essencialmente arbitrárias, mas isso não costuma ser concepção está implícita a divisão entre aqueles que concebem
percebido. “É necessário que os dominados as percebam como e controlam o processo de trabalho e aqueles que o executam.
legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira. A educação profissional destinada àqueles que estão sendo
preparados para executar o processo de trabalho, e a educação
Baudelot e Establet científico-acadêmica destinada àqueles que vão conceber e
Cristian baudelot e Roger Establet são professores de sociologia controlar este processo. Essa visão que separa a educação geral,
da educação na França. A principal tese desses acadêmicos, é que propedêutica da educação específica e profissionalizante, reduz
não se pode ter uma “escola única” numa sociedade plural no que a educação profissional a treinamentos para preenchimento de
concernem as classes. Os fins da educação são subdivididos com postos de trabalho.
base no educando. Pois enquanto o sujeito (aluno) de classe alta é Nas análises sobre a dualidade da escola brasileira focaliza-se
preparado para o mundo acadêmico, o aluno pobre é preparado, principalmente o ensino médio:
de regra, para o mundo do proletariado (do trabalho). A escola, A literatura sobre o dualismo na educação brasileira é vasta
os professores e alunos são apenas vítimas do sistema capitalista e concordante quanto ao fato de ser o ensino médio sua maior
dominado pelas elites segundo esses autores. expressão. ... Neste nível de ensino se revela com mais evidência
11
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
a contradição entre o capital e o trabalho, expressa no falso dilema
de sua identidade: destina-se à formação propedêutica ou à
preparação para o trabalho? (Frigotto, Ciavatta e Ramos, 2005, p.
31).11
12
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
relevância se for possível seu uso prático. Enfoca a livre expressão, Mas, na verdade, esse enviesamento da tradição filosófica na
o contexto cultural, a educação estética. Os conteúdos, apesar de contempo-raneidade é ainda parcial, restando válido para as outras
disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido tendências igualmente significativas da filosofia atual que os esfor-
como um conselheiro à disposição do aluno. ços de reflexão filosófica estão profunda e intimamente envolvidos
2.3 “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” - com a tarefa educa-cional. E este envolvimento decorre de uma trí-
Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua a plice vinculação que delineia três frentes em que se faz presente a
prioridade de focar os conteúdos no seu confronto com as realidades contribuição da filosofia para a educação.
sociais, é necessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o
aluno para o mundo adulto, com participação organizada e ativa na A Educação como Projeto, a Reflexão e a Práxis
democratização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos A cultura contemporânea, fruto dessa longa trajetória do
e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos. O ensino/ espirito humano em busca de algum esclarecimento sobre o sentido
aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são do mundo, é particularmente sensível a sua significativa conquista
construídos pela experiência pessoal e subjetiva. que é a forma cientifica do conhecimento. Coroamento do projeto
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB iluminista da modernidade, a ciência dominou todos os setores da
9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram existência humana nos dias atuais. impondo-se não só pela sua
muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são fecundidade explicativa enquanto teoria, como também pela sua
interacionistas, isto é, acreditam que o conhecimento se dá pela operacionalidade técnica, possibilitando aos homens o domínio e
interação entre o sujeito e um objeto.12 a manipulação do próprio mundo. Assim, também no âmbito da
educação, seu impacto foi profundo.
Como qualquer outro setor da fenomenalidade humana,
O PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO: CORREN- também a educação pode ser reequacionada pelas ciências, par-
TES E TENDÊNCIAS NA PRÁTICA ESCOLAR ticularmente pelas ciências humanas que, graças a seus recursos
metodológicos, possibilitam uma nova aproximação do fenôme-
no educacional. O desenvolvimento das ciências da educação, no
No contexto da história da cultura ocidental, é fácil observar rastro das ciências humanas, demonstra o quanto foi profunda a
que educação e filosofia sempre estiveram juntas e próximas. Po- contribuição das mesmas para a elucidação desse fenômeno, bem
de-se constatar, com efeito, que desde seu surgimento na Grécia como para o planejamento da prática pedagógica. É por isso mesmo
clássica, a filosofia se constituiu unida a uma intenção pedagógica, que muitos se perguntam se além daquilo que nos informam a Bio-
formativa do humano. Para não citar senão o exemplo de Platão, logia, a Psicologia, a Economia, a Sociologia e a História, é cabível
em momento algum o esforço dialético de esclarecimento que pro- esperar contribuições de alguma outra fonte, de algum outro saber
põe ao candidato a filósofo deixa de ser simultaneamente um es- que se situe fora desse patamar científico, de um saber de natureza
forço pedagógico de aprendizagem. Praticamente todos os textos filosófica. Não estariam essas ciências, ao explicitar as leis que re-
fundamentais da filosofia clássica implicam, na explicitação de seus gem o fenômeno educacional, viabilizando técnicas bastantes para
conteúdos, uma preocupação com a educação. a condução mais eficaz da prática educacional? Já vimos a resposta
Além desse dado intrínseco do conteúdo de seu pensamento, a
que fica implícita nas tendências epistemológicas inspiradas numa
própria prática dos filósofos, de acordo com os registros históricos
perspectiva neopositivista!...
disponíveis, eslava intimamente vinculada a uma tarefa educativa,
No entanto, é preciso dar-se conta de que, por mais imprescin-
fossem eles sofistas ou não, a uma convivência escolar já com carac-
dível e valiosa que seja a contribuição da ciência para o entendimen-
terísticas de institucionalização.
to e para a condução da educação, ela não dispensa a contribuição
A verdade é que, em que pese o ainda restrito alcance social da
da filosofia. Alguns aspectos da problemática educacional exigem
educação. a filosofia surge intrinsecamente ligada a ela, autorizan-
uma abordagem especificamente filosófica que condiciona inclusi-
do-nos a considerar, sem nenhuma figuração, que o filósofo clássico
sempre foi um grande educador. ve o adequado aproveitamento da própria contribuição científica.
Desde então, no desenvolvimento histórico-cultural da filosofia Esses aspectos se relacionam com a própria condição da existência
ocidental, essa relação foi se estreitando cada vez mais. A filosofia dos sujeitos concernidos pela educação. com o caráter práxico do
escolástica na Idade Média foi lileralmene o suporte fundamental processo educacional e com a própria produção do conhecimento
de um método pedagógico responsável pela formação cultural e re- em sua relação com a educação. Daí as três frentes em que pode-
ligiosa das gerações europeias que estavam constituindo a nova ci- mos identificar a presença marcante da contribuição da filosofia.
vilização que nascia sobre os escombros do Império Romano. E que
falar então do Renascimento. com seu projeto humanista de cul- 1. O Sujeito da Educação
tura, e da Modernidade, com seu projeto iluminista de civilização? Assim, de um ponto de vista mais fundante, pode-se dizer que
Não foi senão nesta última metade do século vinte que essa cabe à filosofia da educação a construção de uma imagem do ho-
relação tendeu a se esmaecer! Parece ser a primeira vez que uma mem, enquanto sujeito fundamental da educação. Trata-se do es-
forte tendência da filosofia considera-se desvinculada de qualquer forço com vista ao delineamento do sentido mais concreto da exis-
preocupação de natureza pedagógica, vendo-se tão-somente como tência humana. Como tal, a filosofia da educação constitui-se como
um exercício puramente lógico Essa tendência desprendeu-se de antropologia filosófica, como tentativa de integração dos conteúdos
suas próprias raízes, que se encontravam no positivismo, transfor- das ciências humanas, na busca de uma visão integrada do homem.
mando-se numa concepção abrangente. Denominada neopositi- Nessa tarefa ela é, pois, reflexão eminentemente antropológica
vismo, que passa a considerar a filosofia como tarefa subsidiária e. como tal, põe-se como alicerce fundante de todas as demais tare-
da ciência, só podendo legitimar-se em situação de dependência fas que lhe cabem. Mas não basta enunciar as coisas desta maneira,
frente ao conhecimento cientifico, o único conhecimento capaz de reiteirando a fórmula universal de que não se pode tratar da educa-
verdade e o único plausível fundamento da ação. Desde então qual- ção a não ser a partir de uma imagem do homem e da sociedade. A
quer critério do agir humano só pode ser técnico, nunca mais ético dificuldade está justamente no modo de elaboração dessa imagem.
ou político. Fica assim rompida a unidade do saber. A tradição filosófica ocidental, tanto através de sua perspectiva es-
sencialista como através de sua perspectiva naturalista, não conse-
12 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br
13
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
guiu dar conta das especificidades das condições do existir humano ticulada da imagem do homem que se impõe construir. As ciências
e acabou por construir. de um lado, uma antropologia metafísica humanas investigam e buscam explicar mediante a aplicação de seu
fundamentalmente idealista. com uma imagem universal e abstrata categorial teórico, os diversos aspectos da fenomenalidade humana
da natureza humana, incapaz de dar conta da imergência do ho- e, graças a isso, tornam-se aptas a concretizar as coordenadas his-
mem no mundo natural e social: de outro lado, uma antropologia tórico-sociais da existência real dos homens. Mas em decorrência
de fundo cientificista que insere o homem no fluxo vital da nature- de sua própria metodologia, a visão teórica que elaboram é neces-
za orgânica, fazendo dele um simples prolongamento da mesma, e sariamente aspectual. Justamente em função de sua menor rigidez
que se revela incapaz de dar conta da especificidade humana nesse metodológica, é que a filosofia pode elaborar hipóteses mais abran-
universo de determinismos. gentes, capazes de alcançarem uma visão integrada do ser humano,
Nos dois casos, como retomaremos mais adiante, a filosofia envolvendo nessa compreensão o conjunto desses aspectos, consti-
da educação perde qualquer solidez de seus pontos de apoio Com tuindo uma totalidade que não se resume na mera soma das partes,
efeito, tanto na perspectiva essencialista quanto na perspectiva parles estas que se articulam então dialeticamente entre si e com
naturalista, não fica adequadamente sustentada a condição o todo, sem perderem sua especificidade, formando ao mesmo
básica da existencialidade humana. que é a sua profunda e radical tempo, uma unidade. A perspectiva filosófica integra ao totalizar,
historicidade, a ser entendida como a intersecção da espacialidade ao unir e ao relacionar. Não se trata, no entanto, de elaborar como
com a temporalidade do existir real dos seres humanos, ou seja, a que uma teoria geral das ciências humanas, pois. não se atendo aos
intersecção do social com o histórico. O que se quer dizer com isso requisitos da metodologia científica, a filosofia pode colocar hipó-
é que o ser dos homens só pode ser apreendido em suas mediações teses em íde maior alcance epistemológico. Assim, o que se pode
históricas e sociais concretas de existência. Só com base nessas concluir deste ponto de vista é que a filosofia da educação, em sua
condições reais de existência é que se pode legitimar o esforço tarefa antropológica, trabalha em intima colaboração com as ciên-
sistemático da filosofia em construir uma imagem consistente do cias humanas no campo da teoria educacional, incorporando subsí-
humano. dios produzidos mediante investigação histórico-antropológica por
Podemos usar a própria imagem do tempo e do espaço em nos- elas desenvolvida.
sa percep ção. para um melhor esclarecimento da questão. Assim
como, formal mente. o espaço e o tempo são as coordenadas da 2. O Agir, os Fins e os Valores
realidade do mundo natural, tal qual é dado em nossa percepção, De um segundo ponto de vista e considerando que a educação
pode-se dizer, por analogia. que o social e o histórico são as coorde- é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda
nadas da existência humana. Por sua vez. o educacional, como aliás contribuir significativamente para sua efetivação mediante uma
o politico, constitui uma tentativa de intencionalização do existir reflexão voltada para os fins que a norteiam. A reflexão filosófica
social no tempo histórico. A educação é. com efeito, instauração se faz então reflexão axiológica, perquirindo a dimensão valorativa
de um projeto, ou seja, prática concreta com vista a uma finalidade da consciência e a expressão do agir humano enquanto relacionado
que dá sentido ã existência cultural da sociedade histórica. ‘, com valores.
Os homens envolvidos na esfera do educacional — sujeitos A questão diretriz desta perspectiva axiológica é aquela dos fins
que se educam e que buscam educar — não podem ser reduzidos da educação, a questão do para quê educar. Não há dúvida, entre-
a modelos abstratamente concebidos de uma natureza humana”, tanto, que, também nesse sentido, a tradição filosófica no campo
modelo universal idealizado. como também não se reduzem a uma educacional, o mais das vezes, deixou-se levar pela tendência a es-
“máquina natural”, prolongamento orgânico da natureza biológica. tipular valores, fins e normas, fundando-os apressadamente numa
Seres de carências múltiplas, como que se desdobram num projeto, determinação arbitrária, quando não apriorística, de uma natureza
pré-definem-se como exigência de um devir em vista de um “ser- ideal do indivíduo ou da sociedade Foi o que ocorreu com a orien-
-mais”, de uma intencionalidade a ser realizada: não pela efetivação tação metafísica da filosofia ocidental que fazia decorrer, quase
mecânica de determinismos objetivos nem pela atuação energética que por um procedimento dedutivo, as normas do agir humano da
de finalidades impositivas. O projeto humano se dá nas coordena- essência do homem, concebida, como já vimos, como um modelo
das históricas, sendo obra dos sujeitos aluando socialmente, num ideal, delineado com base numa ontologia abstrata. Assim, os va-
processo em que sua encarnação se defronta, a cada instante, com lores do agir humano se fundariam na própria essência humana,
uma exigência de superação. É só nesse processo que se pode con- essência esta concebida de modo ideal, abstrato e universal. A ética
ceber uma ressignificação da “essência humana”, pois é nele tam- se tornava então uma ética essencialista, desvinculada de qualquer
bém, na frustração desse processo, que o homem perde sua essen- referência sócio-histórica. O agir deve assim, seguir critérios éticos
cialidade. A educação pode. pois. ser definida como esforço para que se refeririam tão-somente à essência ontológica dos homens.
se conferir ao social, no desdobramento do histórico, um sentido E a ética se transformava num sistema de critérios e normas pura-
intencionalizado, como esforço para a instauração de um projeto de mente deduzidos dessa essência.
efetiva humanização, feita através da consolidação das mediações Mas. por outro lado. ao tentar superar essa visão essencialista,
da existência real dos homens. a tradição cientifica ocidental vai ainda vincular o agir a valores
Assim, só uma antropologia filosófica pode lastrear a filosofia agora relacionados apenas com a determinação natural do existir
da educação. Mas uma antropologia filosófica capaz de apreender do homem O homem é um prolongamento da natureza física,
o homem existindo sob mediações histórico-sociais, sendo visto um organismo vivo, cuja perfeição maior não é. obviamente, a
então como ser eminentemente histórico e social. Tal antropologia realização de uma essência, mas sim o desenvolvimento pleno de
tem de se desenvolver, então, como uma reflexão sobre a história sua vida. O objetivo maior da vida, por sinal, é sempre viver mais
e sobre a sociedade, sobre o sentido da existência humana nessas e viver bem! E esta finalidade fundamental passa a ser o critério
coordenadas. Mas. caberia perguntar, a construção dessa imagem básico na delimitação de Iodos os valores que presidem o agir.
do homem não seria exatamente a tarefa das ciências humanas? Devem ser buscados aqueles objetivos que assegurem ao homem
Isto coloca a questão das relações da filosofia com as ciências hu- sua melhor vida natural Ora. como a ciência dá conta das condições
manas, cabendo esclarecer então que, embora indispensáveis, os naturais da existência humana, ao mesmo tempo que domina
resultados obtidos pelas diversas ciências humanas não são sufi- e manipula o mundo, ela tende a lazer o mesmo com relação ao
cientes para assegurar uma visão da totalidade dialeticamente ar- homem Tende não só a conhecê-lo mas ainda a manipulá-lo. a
14
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
controlá-lo e a dominá-lo, transpondo para seu âmbito a técnica No seu momento epistemológico, a filosofia da educação
decorrente desses conhecimentos. A “naturalização do homem investe, pois, no esclarecimento das relações entre a produção
acaba transformando-o num objeto facilmente manipulável e a do conhecimento e o processo da educação. É assim que muitas
prática humana considerada adequada, acaba sendo aquela dirigida questões vão se colocando à necessária consideração por parte
por critérios puramente técnicos, seja no plano individual, seja no dos que se envolvem com a educação, também nesse plano da
plano social essa ética naturalista apoiando-se apenas nos valores produção do saber, desde aquelas relacionadas com a natureza
de uma funcionalidade técnica. da própria subjetividade até aquelas que se encontram implicadas
Em consequência desses rumos que a reflexão filosófica. en- no mais modesto ato de ensino ou de aprendizagem, passando
quanto reflexão axiológica, tomou na tradição da cultura ocidental, pela questão da possibilidade e da efetividade das ciências da
a filosofia da educação não se afastou da mesma orientação. De um educação. Com efeito, aqui estão em pauta os esforços que vêm
lado, tendei a ver, como fim último da educação, a realização de sendo desenvolvidos com vista à criação de um sistema de saber no
uma perfeição dos indivíduos enquanto plena atualização de uma campo da educação, de tal modo que se possa dispor de um corpo
essência modelar; de outro, entendeu-se essa perfeição como ple- de conhecimentos fundados numa episteme, num saber verdadeiro
nitude de expansão e desenvolvimento de sua natureza biológica. e consistente. Trata-se, sem dúvida, de um projeto de cientificidade
Agora a filosofia da educação busca desenvolver sua reflexão levan- para a área educacional.
do em conta os fundamentos antropológicos da existência humana, No desenvolvimento desse projeto, logo se percebeu que o
tais como se manifestam em mediações histórico-sociais, dimensão campo educacional. do ponto de vista epistemológico, é extrema-
esta que qualifica e especifica a condição humana. Tal perspectiva mente complexo Não é possivel proceder com ele da mesma ma-
nega, retoma e supera aqueles aspectos enfatizados pelas aborda- neira que se procedeu no âmbito das demais ciências humanas.
gens essencialista e naturalista, buscando dar à filosofia da educa- Para se aproximar do fenômeno educacional foi preciso uma abor-
ção uma configuração mais assente às condições reais da existência dagem multidisciplinar, já que não se dispunha de um único acervo
dos sujeitos humanos. categorial para a construção apreensão desse objeto; além disso, a
abordagem exigia ainda uma perspectiva transdisciplinar, na medi-
3. A Força e a Fraqueza da Consciência da em que o conjunto categorial de cada disciplina lançava esse ob-
A filosofia da educação tem ainda uma terceira tarefa: a epis- jeto para além de seus próprios limites, enganchando-o em outros
temológica. cabendo-lhe instaurar uma discussão sobre questões conjuntos, indo além de uma mera soma de elementos: no final das
envolvidas pelo processo de produção, de sistematização e de contas, viu-se ainda que se trata de um trabalho necessariamen-
transmissão do conhecimento presente no processo especifico da te interdisciplinar, as categorias de todos os conjuntos entrando
educação. Também deste ponto de vista é significativa a contribui- numa relação recíproca para a constituição desse corpo epistêmico.
ção da filosofia para a educação. Esta situação peculiar tem a ver com o caráter predominantemen-
Fundamentalmente, esta questão se coloca porque a educação te praxio-lógico da educação: a educação é fundamentalmente de
também pressupõe mediações subjetivas, ou seja, ela pressupõe a natureza prática. uma totalidade de ação, não só se deixando redu-
intervenção da subjetividade de todos aqueles que se encontram zir e decompor como se fosse um simples objeto. Assim, quer seja
envolvidos por ela. Em cada um dos momentos da atividade edu- considerada sob um enfoque epistemológico, quer sob um enfoque
cativa está necessariamente presente uma ineludível dimensão de praxiológico, enquanto práxis concreta, a educação implica esta in-
subjetividade, que impregna assim o conjunto do processo como terdisciplinaridade, ou seja. o sentido essencial do processo da edu-
um todo. Desta forma, tanto no plano de suas expressões teóricas cação, a sua verdade completa. não decorre dos produtos de uma
como naquele de suas realizações práticas, a educação envolve a ciência isolada e nem dos produtos somados de várias ciências: ele
própria subjetividade e suas produções, impondo ao educador uma só se constitui mediante o esforço de uma concorrência solidária e
atenção especifica para tal situação. A atividade da consciência é qualitativa de várias disciplinas.
assim mediação necessária das atividades da educação. Esta malha de interdisciplinaridade na construção do sentido
É por isso que a reflexão sobre a existência histórica e social do educacional é tecida fundamentalmente pela reflexão filosófica.
dos homens enquanto elaboração de uma antropologia filosófica A filosofia da educação não substitui os conteúdos significadores
fundante, só se torna possível, na sua radicalidade, em decorrência elaborados pelas ciências: ela, por assim dizer, os articula, instau-
da própria condição de ser o homem capaz de experimentar a rando uma comunidade construtiva de sentido, gerando uma atitu-
vivência subjetiva da consciência. A questão do sentido de existir de de abertura e de predisposição à intersubjetividade.
do homem e do mundo só se coloca graças a essa experiência. A Esta visão interdisciplinar que se dá enquanto articulação
grande dificuldade que surge é que essa experiência da consciência integradora do sentido da educação no plano teórico, é igualmente
é também uma riquíssima experiência de ilusões. A consciência
expressão autêntica da prática totalizadora onde ocorre a educação.
é o lugar privilegiado das ilusões, dos erros e do falseamento da
Enquanto ação social, atravessada pela análise cientifica e pela
realidade, ameaçando constantemente comprometer sua própria
reflexão filosófica, a educação se torna uma práxis e, portanto,
atividade.
implica as exigências de eficácia do agir tanto quanto aquelas de
Diante de tal situação, cabe à filosofia da educação desenvolver
elucidação do pensar.
uma reflexão propriamente epistemológica sobre a natureza dessa
Portanto tanto no plano teórico como no plano prático, refe-
experiência na sua manisfestação na área do educacional. Cabe-lhe,
rindo-se seja aos processos de conhecimento, seja aos critérios da
tanto de uma perspectiva de totalidade como da perspectiva da
particularidade das várias ciências, descrever e debater a constru- ação, e seja ainda ao próprio modo de existir dos sujeitos envolvi-
ção, pelo sujeito humano, do objeto “educação”. É nesse momento dos na educação, a filosofia esta necessariamente presente, sendo
que a filosofia da educação, por assim dizer, tem de se justificar, ao mesmo indispensável. E neste primeiro momento, como contínua
mesmo tempo que rearticula os esforços da própria ciência, para gestora da interdisciplinaridade.
também se justificar, avaliando e legitimando a atividade do conhe- Mas não termina aqui a tarefa epistemológica da filosofia da
cimento enquanto processo tecido no texto/contexto da realidade educação. Com efeito, vimos há pouco que a experiência da subje-
histórico-social da humanidade. Com efeito e coerentemente com o tividade é também o lugar privilegiado da ilusão e do falseamento
que já se viu acima, a análise do conhecimento não pode ser sepa- da realidade. Sem dúvida, a consciência emergiu como equipamen-
rada da análise dos demais componentes dessa realiade. to mais refinado que instrumentalizou o homem para prover, com
15
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
maior flexibilidade, os meios de sua existência material Mas ao se (1987), o autor trata das teorias da educação e seus problemas,
voltar para a realidade no desempenho concreto dessa finalidade, explanando que a marginalização da criança pela escola se dá
ela pode projetar uma objetividade não-real. E o processo de alie- porque ela não tem acesso a esta, enquanto que a marginalidade
nação que a espreita a cada instante na sua relação com o mundo é a condição da criança excluída. Saviani avalia esses processos,
objetivo. Este é o outro lado da subjetividade, o reverso da meda- explicando que ambos são prejudiciais ao desenvolvimento
lha. Em sua atividade subjetiva, a consciência acaba criando uma da sociedade, trazendo inúmeros problemas, muitas vezes de
objetividade apenas projetada, imaginada, ideada e não-real. Ocor- difícil solução, e conclui que a harmonia e a integração entre os
re que a consciência humana é extremamente frágil e facilmente envolvidos na educação – esferas política, social e administração
dominável pelo poder que atravessa as relações sociais. Eis então o da escola podem evitar a marginalidade, intensificando os esforços
funcionamento ideológico da atividade subjetiva: o próprio conhe- educativos em prol da melhoria de vida no âmbito individual e
cimento passa a ser mais um instrumento de dominação que alguns coletivo.
homens exercem sobre outros. A consciência, alienada em relação à Através da interação do professor e da participação ativa
realidade objetiva, constrói conteúdos representativos e avaliativos do aluno a escola deve possibilitar a aquisição de conteúdos
que são apresentados como verdadeiros e válidos quando, de falo. – trabalhar a realidade do aluno em sala de aula, para que ele
são puramente ideológicos, ou seja, estão escamoteando as condi- tenha discernimento e poder de analisar sua realidade de uma
ções reais com vista a fazer passar por verdadeira uma concepção maneira crítica -, e a socialização do educando para que tenha
falsa, mas apta a sustentar determinadas relações de dominação uma participação organizada na democratização da sociedade,
presentes na sociedade. Com efeito, é para legitimar determinadas mas Saviani alerta para a responsabilidade do poder público,
relações de poder que a consciência elabora como objetivas, como representante da política na localidade, que é a responsável pela
universais e como necessárias, algumas representações que. na criação e avaliação de projetos no âmbito das escolas do estado e
realidade social efetiva, referem-se apenas a interesses particulares município, uma vez que este é o responsável pelas políticas públicas
de determinados grupos sociais. para melhoria do ensino, visando a integração entre o aluno e a
Ora. todas as atividades ligadas à educação, sejam elas teóricas escola. A escola é valorizada como instrumento de apropriação
ou praticas, podem se envolver, e historicamente se envolveram, do saber e pode contribuir para eliminar a seletividade e exclusão
nesse processo ideológico De um lado. enquanto derivadas da atua- social, e é este fator que deve ser levado em consideração, a fim
ção da consciência, podem estar incorporando suas representações
de erradicar as gritantes disparidades de níveis escolares, evasão
falseadas e falseadoras; de outro lado, enquanto vinculadas à prá-
escolar e marginalização.
tica social, podem estar ocultando relações de dominação e situa-
De fato, a escola é o local que prepara a criança, futuro cidadão,
ções de alienação. A educação não é mais vista hoje como o lugar
para a vida, e deve transmitir valores éticos e morais aos estudantes,
da neutralidade e da inocência: ao contrário, ela é um dos lugares
e para que cumpra com seu papel deve acolher os alunos com
mais privilegiados da ideologia e da inculcação ideológica, refletin-
empenho para, verdadeiramente transformar suas vidas.
do sua íntima vinculação ao processo social em suas relações de
dominação política e de exploração econômica.
Concepções de Educação
Assim, qualquer tentativa de intencionalização do social atra-
vés da educação. pressupõe necessariamente um trabalho conti-
nuo de denúncia, de crítica e de superação do “discurso” ideológico Concepção Tradicionalista da Educação
que se incorpora ao discurso” pedagógico. É então tarefa da filoso- l. ORIGEM HISTORICA - Desde o poder aristocrático antigo
fia da educação desvelar criticamente a “repercussão” ideológica e feudal. Buscou inspiração nas tradições pedagógicas antigas e
da educação: só assim a educação poderá se constituir em projeto cristãs. Predominou até fins do século XIX. Foi elitista, pois apenas o
que esteja em condições de contribuir para a transformação da so- clero e a nobreza tinham acesso aos estudos.
ciedade. 2. CONCEITO DE HOMEM - O homem é um ser originalmente
Deste ponto de vista, a consciência filosófica é a mediação para corrompido (pecado original). O homem deve submeter-se aos
uma continua e alenta vigilância contra as artimanhas do saber e do valores e aos dogmas universais e eternos. As regras de vida para
poder, montadas no íntimo do processo educacional . o homem já forma estabelecidas definitivamente(num mundo
“superior”, externo ao homem).
A contribuição que a filosofia dá à educação se traduz e se 3. IDEAL DE HOMEM - É o homem sábio (= instruído, que
concretiza nessas três frentes que. na realidade, se integram e se detém o saber, o conhecimento geral, apresenta correção no falar e
complementam Entendo que apesar dos desvios e tropeços pelos escrever, e fluência na oratória) e o homem virtuoso (= disciplinado).
quais passou na história da cultura ocidental, a filosofia, enquanto A Educação Tradicionalista supervaloriza a formação intelectual, a
filosofia da educação, sempre procurou efetivar essa contribuição, organização lógica do pensamento e a formação moral.
na medida em que sempre se propôs como esforço de exploração 4. EDUCAÇÃO - Tem como função: corrigir a natureza
e de busca dos fundamentos. Mesmo quando acreditou tê-los corrompida do homem, exigindo dele o esforço, disciplina rigorosa,
encontrados nas essências idealizadas ou nas regularidades da através de vigilância constante. A Educação deve ligar o homem ao
natureza! E ela poderá continuar contribuindo se entender que “mundo superior”que é o seu destino final, e destruir o que prende
esses fundamentos têm a ver com o sentido do existir do homem o homem à sua existência terrestre.
em sua totalidade trançada na realidade histórico-social.13 5. DISCIPLINA - Significa domínio de si mesmo, controle
emocional e corporal. Predominam os incentivos extrínsecos:
Concepções de escola prêmios e castigos. A Escola é um meio fechado que prepara o
Em suas obras, Dermeval Saviani apresenta a escola como o educando.
local que deve servir aos interesses populares garantindo a todos 6. EDUCADOR - É aquele que já se disciplinou, conseguiu
um bom ensino e saberes básicos que se reflitam na vida dos alunos corrigir sua natureza corrompida e já detém o saber. Tem seu saber
preparando-os para a vida adulta. Em sua obra Escola e Democracia reconhecido e sua autoridade garantida. Ele é o centro da decisão
do processo educativo.
13 Fonte: www.emaberto.inep.gov.br - Texto adaptado de Antônio Joaquim
Severino
16
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
7. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL. - A disposição na sala 10. ESCOLA - É um meio fechado, se possível especialmente
de aula, um atrás do outro, reduz ao mínimo as possibilidades de distanciado da vida social para proteger o educando. A escola
comunicação direta entre as pessoas. É cada um só com o mestre. torna-se uma mini-sociedade ideal onde o educando pode agir com
A relação professor-aluno é de obediência ao mestre. Incentiva a liberdade, espontaneidade, alegria.
competição. É preciso ser o melhor. O outro é um concorrente. 11. CONTEUDO - As crianças podem ordenar o conhecimento
8. O CONTEUDO - Ênfase no passado, ao já feito, aos conteúdos conforme os seus interesses. Evita-se mostrar o mundo “mau”aos
prontos, ao saber já instituido. O futuro é reprodução do passado. O educandos. O mundo é apresentado de modo idealizado, bonito,
saber é enciclopédico e é preciso conhecer e praticar as leis morais. “colorido”.
9. PROCEDIMENTOS PEDAGOGICOS - O conteúdo é apresentado 12. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO - Enfatiza a técnica de
de forma acabada, há ênfase na quantidade de informação dada descoberta, o método indutivo (do particular ao geral). Defende
e memorizada. O aluno ouve informações gerais nas situações técnicas globalizantes que garantam o sentido, a compreensão,
particulares. a inter-relação e sequenciação do conteúdo. Utiliza técnicas
variadas: música, dança, expressão corporal, dramatização,
Concepção Liberalista Da Educação pesquisa, solução de probleas, discussões grupais, dinâmica
1. ORIGEM HISTÓRICA - A concepção liberalista da Educação grupais, trabalho prático. Muito som, luz, cor e movimento, supõe
foi se constituindo ao longo da História em reação à concepção a aprendizagem como processo intrínseco que requer elaboração
Tradicionalista, seus primeiros indícios podem se reportar ao interna do aprendiz. Aprender a aprender é mais fundamental
Renascimento( séc. XV - XVI); prosseguindo com a instalação do do que acumular grandes quantidades de conteúdos, permite
poder burguês liberalista (séc. XVIII) e culminando com a emergência a variedade e manipulação efetiva de materiais didáticos pelos
da chamada Ëscola Nova”(início do séc. XX) e com a divulgação dos educandos. Ênfase no jogo, descontração, prazer. Enfatiza avaliação
pressupostos da Psicologia Humanista (1950). qualitativa, a auto-avaliação, a discussão de critérios e avaliação
2. PRESSUPOSTO BÁSICO . da concepção liberalista da com os educandos.
Educação. Referências para vida do homem não podem ser os 13. RELAÇÃO EDUCACÃO-SOCIEDADE - A concepção liberalista
valores pré-dados por fontes supra-humanas, exteriores ao homem. de Educação é coerente com o moderno capitalismo que propõe a
A Educação (como toda a vida social) deve se basear nos próprios livre iniciativa individual, adapação dos trabalhadores a situações
homens, como eles são concretamente. O homem pode buscar em mutáveis, concepção de Educação é conivente com o sistema
si próprio o sentido da sua vida e as normas para a sua vida. capitalista de sociedade porque:
3. CONCEPÇÃO DE HOMEM - O homem é naturalmente bom,
mas ele pode ser corrompido na vida social. O homem é um ser 1. Contribui com a manutenção da estrutura de classes sociais ,
livre, capaz de decidir, escolher com responsabilidade e buscar seu quando realiza a elitização do saber, de dois modos:
crescimento pessoal. a) organizando o ensino de modo a desfavorecer o
4. CONCEITO DE INFÂNCIA - A criança é inocente. A criança prosseguimento da escolarização dos mais pobres: o mundo da
está mais perto da verdadeira humanidade. É preciso protegê-la, escola é o mundo burguês no visual, na linguagem, nos meios, nos
isolá-la, do contato com a sociedade adulta e não ter pressa de fins. A escola vai selecionando os mais “capazes”. Os outros vão
transformar a criança em adulto. O importante não é preparar para sutilmente se mantendo nas baixas camadas de escolaridade. A
a vida futura apenas, mas vivenciar intensamente a infância. pirâmide escolar também contribui, portanto, com a reprodução
5. IDEAL DE HOMEM . É a pessoa livre, espontânea, de iniciativa, contínua da pirâmide social .
criativa, auto-determinada e responsável. Enfim, auto-realizada. b) 2. Inculca a concepção burguesa de mundo, de modo
6. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - A função da Educaçao é possibilitar predominante, divulgando sua ideologia através do discurso
condições para a atualização e uso pleno das potencialidades explícito e implícito (na fala das autoridades, nos textos de leitura,
pessoais em direção ao auto-conhecimento e auto-realização nas atitudes manifestas). Veicula conteúdos idealizadores da
pessoal. A Educação não deve destruir o homem concreto e sim realidade, omitindo questionamentos críticos desveladores do
apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir contra o homem para
social real.
formar o homem. A Educação deve realizar-se a partir da própria
3. Seu projeto de mudança social é reformista e acredita na
vida e experiência do educando, apoiar-se nas necessidades e
mudança social sem conflito, não levando em consideração as
interesses naturais, expectativas do educando, e contribuir para seu
contradições reais geradas pelo poder burguês. Quando fala em
desenvolvimento pessoal. Os três princípios básicos da Educação
mudança social, acredita que esta se processa das partes para o
liberalista: liberdade, subjetividade, atividade.
todo: mudam as pessoas - as instituições - a sociedade.
7. EDUCADOR - Deve abster-se de intervir no processo do
desenvolvimento do educando. Deve ser elemento facilitador
desse desenvolvimento. Essa concepção enfatiza as atividades do 14. CONTRADIÇÃO BÁSICA - da concepção liberalista de
mestre: compreensão , empatia (perceber o ponto de referência Educação: Ao contestar o autoritarismo, a opressão e ressaltar a
interno do outro), carinho, atenção, aceitação, permissividade, livre expressão e os direitos do ser humano, a Educação Liberalista
autenticidade, confiança no ser humano. abre espaço para que seja possível inclusive a ultrapassagem de si
8. DISCIPLINA - As regras disciplinares são discutidas por todos os própria em sua nova pedagogia que rejeita os seus pressupostos
educandos e assumidas por eles com liberdade e responsabilidade. ideológicos e construa outros pressupostos com nova concepção de
Essas regras são o limite real para o clima de permissividade. O mundo, de sociedade, de homem. O liberalismo pedagógico torna
trabalho ativo e interessado substitui a disciplina rígida. possível esta ultrapassagem, mas não a realiza.
9. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL - A relação privilegiada
é do grupo de educandos que cooperam, decidem, se expressam. Concepção Técnico-Burocrática Da Educação
Enfatiza as relações inter-pessoais, busca dar espaço para as 1. ORIGEM HISTORICA - Esta concepção é também conhecida
emoções, sentimentos, afetos, fatos imprevistos emergentes no como concepção TECNICISTA. . Penetrou nos meios educacionais
aqui-agora do encontro grupal. Permite o pensamento divergente, a partir dos meados do séc. XX (1950) com o avanço dos modelos
a pluralidade de opções, respostas mais personalizadas. É centrada de organização EMPRESARIAL .Representa a introdução do modelo
no estudante. capitalista empresarial na escola.
17
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser condicionado pelo meio antiga a dialética signficava “arte do diálogo”. Desde suas origens
físico-social. mais antigas a dialética estava relacionada com as discussões sobre
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem produtivo e adaptado à a questão do movimento, da transformação das coisas. A dialética
sociedade. percebe o mundo como uma realidade em contínua transformação.
4. FUNÇÃO DA EDUCACÃO - É modeladora, modificadora Em tudo o que existe há uma contradição interna. (Por exemplo,
do comportamento humano previsto. Educação é adaptação do numa sociedade há forças conservadoras interessadas em manter o
indivíduo à sociedade. sistema social vigente, e há forças emancipadoras). Essas forças são
5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa. Todo inter-dependentes e estão em luta. Essa luta força o movimento,
problema deve ser resolvido administrativamente. O administrativo a transformação de ambos os termos contrários em um terceiro
e o pedagógico são departamentos separados. termo. No terceiro termo ha superação do estar-sendo anterior.
6. EDUCADOR - É um especialista, já possui o saber. Quem possui 2. CONDICOES HISTORICAS. A dialética é muito antigo podendo
saber são os cientistas, os especialistas. Esses produzem a cultura. ser reportada a sete séculos antes de Cristo. Sócrates (469-399 A.C.)
Esses é que deverão comandar os demais homens. Eles produziram é considerado o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e Karl Marx
a teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os especialistas é que revivem a dialética e a partir deles novos autores têm retomado e
devem planejar, decidir e levar os demais a cumprirem as ordens, ampliado a questão da dialética. A dialética como fundamentação
e executar o fazer pedagógico. A equipe de comando técnico deve filosófica e metodológica da Educação existiu desde os tempos
fiscalizar o cumprimento das ordens. antigos, mas não como concepção dominante. Prevaleceu ao longo
7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia, ordem, da História uma concepção tradicionalista e metafísica de Educação.
a impessoalidade, as normas fixas e precisas, o pensamento (Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da realidade concreta,
convergente, a uniformidade, a harmonia. com uma visão estática de mundo). Essa concepção tradicional
8. CONTEUDO - Supervaloriza o conhecimento técnico- correspondia ao interesse das classes dominantes, clero e nobreza,
profissional, enfatiza o saber pronto provindo das fontes culturais de impedir transformações Como as transformações radicais da
estrangeiros, super desenvolvidas. sociedade só interessam às classes desprivilegiadas compete a essas
9. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO - Enfatiza a técnica, o saber- a retomada da dialética. Assim é que o projeto pedagógico da classe
fazer sem discutir a questão dos valores envolvidos. Privilegia trabalhadora foi elaborado por ocasião de revolta dos trabalhadores
o saber técnico, os métodos individualizantes na obtenção do na França (“Comuna de Paris”, 1871), assumida rapidamente pelo
conhecimento. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa dos poder burguês. O projeto pedagógico da classe trabalhadora é hoje
resultados, a eficiência dos meios para alcançar o resultado final revivido na luta dos trabalhadores em vários pontos do mundo. A
previsto. Tudo é previsto, organizado, controlado pela equipe de concepção dialética de Educação supõe, pois, a luta pelo direito
comando. da classe trabalhadora à Educação, e esige ainda, a participação
10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida utilizando na luta pela mudança radical das suas condições de existência. A
reforçamentos de preferência positivos (recompensas, prêmios, concepção dialética sempre foi reprimida pelo poder dominante,
promoções profissionais). mas resistindo aos obstáculos, ela vai conquistando espaço. Ainda
11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta concepção de não está estruturada, está se fazendo. A todo educador progresista-
Educação predomina a função reprodutiva do modelo social. As dialético uma tarefa se coloca: a de contribuir com essa construção:
relações capitalistas se manifestam no trabalho pedagógico de sistematizar a teoria e a prática dialética de educação.
modos diversos e complementares: 3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agente do
a) pela expropriação do saber do professor pelos “planejadores” processo histórico. “A História nos faz, refaz e é feito por nós
ou pelo programas e máquinas importadas. continuamente”. (Paulo Freire).
b) pela crescente proletarização do professor arrocho salarial 4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a construção
para manutenção dos lucros. do homem histórico, compromissado com as tarefas do seu tempo:
c) pela contenção de despesas e de investimento na qualidade participar do projeto de construção de uma nova realidade social.
de ensino e na formação do educador, buscando mínimos gastos e Busca a realização plena de todos os homens e acredita que isto
máximos lucros para os proprietários da instituição. não será possível dentro do modelo capitalista de sociedade. Sendo
d) pela preocupação exclusiva com a formação técnico- assim se coloca numa perspectiva transformadora da realidade. O
profissional necessária à preparação da mão-de-obra coerente homem dessa outra realidade não será mais o homem unilateral,
com as exigências do mercado de trabalho. excluido dos bens sociais, explorado no trabalho, mas será um
e) pelo uso da tecnologia à serviço do capital : redução da mão- homem bovo, o homem total”: “É o chegar histórico do homem a
de-obra remunerada. uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de possibilidade
de consumo e gozo, podendo usufruir bens espirituais e materiais”
12. CONTRADIÇÃO BÁSICA . Há bases materiais, concretas (Moacir Gadotti).
que sustentam a concepção tecnoburocrática de Educação. Mas 5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educação tem
a própria dominação gera o seu contrário: a resistência, a luta. A uma função política de criar as condições necessárias à hegemonia
proletarização do professor tem sido a base material que tem levado da classe trabalhadora. Hegemonia implica o direito de todos
a categoria dos docentes a sair de seus movimentos reivindicatórios participarem efetivamente da condução da sociedade, poder decidir
corporativistas para unir suas forças à dos proletários. A luta do sobre sua vida social; supõe direção cultural, política ideológica.
educador é mais ampla: do nível da luta interna na instituição As condições para hegemonia dos trabalhadores passam pela
escolar e junto à categoria profissional à luta social contra o sistema apropriação da capacidade de direção. A Educação é projeto e
que tem gerado esta Educação. processo. Seu projeto histórico é explícito: criação de uma nova
hegemonia, a da classe trabalhadora. O ato educativo, cotidiano
Concepção Dialética De Educação não é um ato isolado mas integrado num projeto social e global
1. CONCEITO DE DIALETICA. A dialética é uma Filosofia porque de luta da classe trabalhadora. A educação dialética é processo
implica uma concepção do homem, da sociedade e da relação de formação e capacitação: apropriação das capacidades de
homem-mundo. É também um método de conhecimento. Na Grécia organização e direção, fortalecimento da consciência de classe para
18
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
intervir de modo criativo, de modo organizado, na transformação educador se faz em sintonia com a expressividade e espontaneidade.
estrutural da sociedade.”Essa educação é libertadora na medida em A disciplina (regras de comportamento) é algo que se constrói
que tiver como objetivo a ação e reflexão consciente e criadora das coletivamente. Valoriza a afetividade no encontro inter-pessoal,
classes oprimidas sobre seu próprio processo de libertação.”(Paulo sem a chantagem ou exploração do afetivo. Mas não basta amar,
Freire). compreender e querer bem o educando. O amor deve aliar-se à
competência profissional, iluminada por um compromisso político
6. CONCEPÇÃO METODOLOGICA BÁSICA: Prática - Teoria - claro. 14
Prática
1o. Partir da prática concreta: Perguntar, problematizar Tendências pedagógicas e o pensamento pedagógico brasileiro
a prática. São as necessidades práticas que motivam a busca O ofício de professor deve consagrar temas como a prática
do conhecimento elaborado. Essas necessidades constituem o educativa, a profissionalização docente, o trabalho em equipe,
problema: aquilo que é necessário solucionar. É preciso, pois, projetos, autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias
identificar fatos e situações significativas da realidade imediata. diferenciadas, e propostas concretas. O autor toma como referencial
2o. Teorizar sobre a prática: ir além das aparências imediatas. de competência adotado em Genebra, 1996, para uma formação
Refletir, discutir, buscar conhecer melhor o tem problematizado, continua. O professor deve dominar saberes a ser ensinado, ser
estudar criativamente. capaz de dar aulas, de administrar uma turma e de avaliar. Ressalta
3o. Voltar à prática para transformá-la: voltar à prática a urgência de novas competências, devido às transformações sociais
com referenciais teóricos mais elaborados e agir de modo mais existentes. As tecnologias mudam o trabalho, a comunicação, a
competente. A prática é o critério de avaliação da teoria. Ao vida cotidiana e mesmo o pensamento. A prática docência tem
colocar em prática o conhecimento mais elaborado surgem novas que refletir sobre o mundo. Os professores são os intelectuais e
perguntas que requerem novo processo de teorização abrindo-nos mediadores, interpretes ativos da cultura, dos valores e do saber
ao movimento espiralado da busca contínua do conhecimento. em transformação. Se não se perceberem como depositários
da tradição ou percursos do futuro, não serão desempenhar
7. CONTEUDO E PROCEDIMENTO PEDAGOGICO : A educação esse papel por si mesmos. O currículo deve ser orientado para
dialética luta pela escola pública e gratuita. Uma escola de qualidade se designar competências, a capacidade de mobilizar diversos
para o povo. Para assumir a hegemonia, a classe trabalhadora recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para
enfrentar, solucionar uma serie de situações. Dez domínios de
precisa munir-se de instrumentais: apropriação de conhecimentos,
competências reconhecidas como prioritárias na formação contínua
métodos e técnicas, hoje restritos à classe dominante. Implica a
das professoras e dos professores do ensino fundamental.
apropriação crítica e sistemática de teorias, tecnicas profissionais,
o ler, escrever e contar com eficiência e mais ainda, apropriar-se de
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
métodos de aquisição, produção e divulgação do conhecimento:
- Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem
pesquisar, discutir, debater com argumentações precisas, utilizar
ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem: nos estágios
os mais variados meios de expressão, comunicação e arte. A
de planejamento didático, da analise posterior e da avaliação.
Educação dialética enfatiza técnicas que propriciem o fazer - Trabalhar a partir das representações dos alunos: considerando
coletivo, a capacidade de organização grupal, que permitem a o conhecimento do aluno, colocando-se no lugar do aprendiz,
reflexão crítica, que permitem ao educando posicionar-se como utilizando se de uma competência didática para dialogar com ele
sujeito do conhecimento. Busca partir da realidade dos educandos, e fazer com que suas concepções se aproxime dos conhecimentos
suas condições de “partida”e interferir para superar esse momento científicos;
inicial. Avalia continuamente a prática global, não apenas os - Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem:
conteúdos memorizados. O aluno é também sujeito da avaliação. usando de uma situação-problema ara transposição didática,
A avaliação serve para disgnosticar, evidenciar o que deve ser considerando o erro, como ferramenta para o ensino.
mudado. - Construir e planejar dispositivos e sequências didáticas;
8. A ESCOLA - É lugar de contradição numa sociedade de - Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de
classes. Há forças contrárias em luta. Para a educação dialética a conhecimento.
escola não deve ser uma sociedade ideal em miniatura. Ela não
esconde o conflito social. O conflito deve ser pedagogicamente 2. Administrar a progressão das aprendizagens.
codificado (não cair nas “leis da selva”), deve ser evidenciado para - Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao
ser enfrentado e superado. A escola deve preparar, ao mesmo nível e as possibilidades dos alunos: em torno da resolução de um
tempo, para a cooperação e para a luta. obstáculo pela classe, propiciando reflexões, desafios, intelectuais,
9. O EDUCADOR - O professor dialético assume a diretividade, conflitos sociocognitivos;
a intervenção. O professor deve ser mediador do diálogo do aluno - Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino:
com o conhecimento e não o seu obstáculo. O professor não se dominar a formação do ciclo de aprendizagem, as fases do
faz um igual ao aluno, assume a diferença, a assimetria inicial. O conhecimento e do desenvolvimento intelectual da criança e do
trabalho educativo caminha na direção da diminuição gradativa adolescente, além do sentimento de responsabilidade do professor
dessa diferença. Dirigir é ter uma proposta clara do trabalho pleno conjunto da formação do ensino fundamental;
pedagógico. É propor, não impor. - Estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de
10. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL E DISCIPLINA. A aprendizagens;
educação dialética valoriza a seriedade na busca do conhecimento, - Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagens;
a disciplina intelectual, o esforço. Questiona reduzir a aprendizagem - Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões
ao que é apenas “gostoso”, prazeiroso em si mesmo. Busca resgatar de progressão;
o lúdico: trabalho com prazer, momento de plenitude. Valoriza o
rigor científico que não é incompatível com os procedimentos 14 Fonte:www.letrasunifacsead.blogspot.com.br/www.p/dermeval-saviani-con-
democráticos. Um não exclui o outro. Nega o autoritarismo e cepcoes-de-escola.html/www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/T1SF/Akiko/04.doc./
espontaneismo. Reconhece que o uso legítimo da autoridade do Coordenação de Ação Cultural MOVA-SP (Prefeitura Municipal de São Paulo)
Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos
19
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos de alunos e Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud, que
dispositivos de ensino-aprendizagem. trabalhos nessa pesquisa, a Informática na Educação, nos fez
perceber que cada vez mais precisamos do computador, porque
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. estamos na era da informatização e por isso é primordial que
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma, nós profissionais da educação estejamos modernizados e
com o propósito de grupos de necessidades, de projetos e não de acompanhando essa tendência, visto que assim como um simples
homogeneidade; pagamento no banco, utilizamos o computador , para estarmos
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais atualizados necessitamos obter mais esta competência para se
vasto, organizar para facilitar a cooperação e a geração de grupos fazer uma docência de qualidade.
utilidades;
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
de grandes dificuldades, sem todavia, transforma-se num - Prevenir a violência na escola e fora dela;
psicoterapeuta; - Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais,
- Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas étnicas e sociais;
simples de ensino mútuo, provocando aprendizagens através de - Participar da criação de regras de vida comum referente á
ações coletivas, criando uma cultura de cooperação através de disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta;
atitudes e da reflexão sobre a experiência. - Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação
em aula;
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho. - Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o sentimento de justiça.
saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a
capacidade de auto avaliação. O professor deve ter em mente o 10. Administrar sua própria formação contínua.
que é ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o desejo - Saber explicitar as próprias práticas;
de saber, instituindo um conselho de alunos e negociar regras e - Estabelecer seu próprio balanço de competência e seu
contratos; programa pessoa de formação contínua;
- Oferecer atividades opcionais de formação, à la carte; - Negociar um projeto de formação comum com os colegas
- Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno, (equipe, escola, rede);
valorizando-os e reforçando-os a incitar o aluno a realizar projetos - Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou
pessoais, sem retornar isso um pré-requisito. do sistema educativo;
- Acolher a formação dos colegas e participar dela.
5. Trabalhar em equipe.
- Elaborar um projeto de equipe, representações comuns; Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua profissionalização,
- Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões; com responsabilidade numa formação continua.15
- Formar e renovar uma equipe pedagógica;
- Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de
práticas e problemas profissionais. ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de homem
- Administrar crises ou conflitos interpessoais. e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos
sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim,
6. Participar da administração da escola. justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os
- Elaborar, negociar um projeto da instituição; professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
- Administrar os recursos da escola; pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
- Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros
(serviços para escolares, bairro, associações de pais, professores de O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de
línguas e cultura de origem); aprendizagem empregados pelas diferentes tendências pedagógicas
- Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação na prática escolar brasileira, numa tentativa de contribuir,
dos alunos. teoricamente, para a formação continuada de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de
7. Informar e envolver os pais. ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de homem
- Dirigir reuniões de informação e de debate; e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos
- Fazer entrevistas; sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim,
- Envolver os pais na construção dos saberes. justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os
professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
8. Utilizar novas tecnologias. pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente.
As novas tecnologias da informação e da comunicação
transformam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de decidir Tendências Pedagógicas Liberais
e de pensar. O professor predica usar editores de textos, explorando Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta a
didáticas e programas com objetivos educacionais. ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para
- Discutir a questão da informática na escola; o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões
- Utilizar editores de texto; individuais. Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se
- Explorar as potencialidades didáticas dos programas em aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do
relação aos objetivos do ensino; desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa ênfase no
- Comunicar-se à distância por meio da telemática; aspecto cultural, as diferenças entre as classes sociais não são
- Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
15 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto
Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008
20
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a ideia de Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se
igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de aprende o que estiver significativamente relacionado com essas
condições. percepções. A retenção se dá pela relevância do aprendido em
relação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar sem sentido,
Tendência Liberal Tradicional privilegiando-se a auto-avaliação. Trata-se de um ensino centrado
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tradicional se no aluno, sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da
caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. De língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias
acordo com essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir da escola renovada não-diretiva, embora muito difundidas,
sua plena realização através de seu próprio esforço. Sendo assim, encontraram, também, uma barreira na prática da tendência liberal
as diferenças de classe social não são consideradas e toda a prática tradicional.
escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de que Tendência Liberal Tecnicista
o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem
da criança é acompanhada de outra: a de que a capacidade de social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente
assimilação da criança é idêntica à do adulto, sem levar em conta com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança
as características próprias de cada idade. A criança é vista, assim, de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu
como um adulto em miniatura, apenas menos desenvolvida. interesse principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes”
No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças
que considera a linguagem como expressão do pensamento. Os sociais.
seguidores dessa corrente linguística, em razão disso, preocupam- Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada na
se com a organização lógica do pensamento, o que presume a teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo
necessidade de regras do bem falar e do bem escrever. Segundo essa dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através
concepção de linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se de associações. Skinner foi o expoente principal dessa corrente
constitui no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa psicológica, também conhecida como behaviorista. Segundo
gramática uma perspectiva de normatização linguística, tomando
RICHTER (2000), a visão behaviorista acredita que adquirimos
como modelo de norma culta as obras dos nossos grandes escritores
uma língua por meio de imitação e formação de hábitos, por isso
clássicos. Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garantia
a ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, para que
de se chegar ao domínio da língua oral ou escrita.
o aluno forme “hábitos” do uso correto da linguagem.
Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino da
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que
gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios repetitivos
implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as influências
e de recapitulação da matéria, exigindo uma atitude receptiva e
do estruturalismo linguístico e a concepção de linguagem como
mecânica do aluno. Os conteúdos são organizados pelo professor,
instrumento de comunicação. A língua – como diz TRAVAGLIA
numa sequencia lógica, e a avaliação é realizada através de provas
escritas e exercícios de casa. (1998) – é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos
que se combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma
Tendência Liberal Renovada Progressivista mensagem, informações de um emissor a um receptor. Portanto,
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência para os estruturalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o
liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura código.
como desenvolvimento das aptidões individuais. No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa concepção de
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assumir linguagem, o trabalho com as estruturas linguísticas, separadas
seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao do homem no seu contexto social, é visto como possibilidade de
meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na tendência liberal desenvolver a expressão oral e escrita. A tendência tecnicista é, de
tradicional, a atividade pedagógica estava centrada no professor, certa forma, uma modernização da escola tradicional e, apesar das
na escola renovada progressivista, defende-se a ideia de “aprender contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu superar
fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando as tentativas os equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado na
experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural gramática normativa. Em parte, esses problemas ocorreram devido
e social, etc, levando em conta os interesses do aluno. às dificuldades de o professor assimilar as novas teorias sobre o
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna ensino da língua materna.
uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo
o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que Tendências Pedagógicas Progressistas
se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades
ser empregado em novas situações. É a tomada de consciência, sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da
segundo Piaget. educação.
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não trouxeram
maiores consequências, pois esbarraram na prática da tendência Tendência Progressista Libertadora
liberal tradicional. As tendências progressistas libertadoras e libertárias têm, em
comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo.
Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação Paulo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do
de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os oprimido. Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o
problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo papel informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas
o esforço deve visar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste,
uma adequação pessoal às solicitações do ambiente. não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimidos
21
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que lhes de leitura, portanto, não é centrado no texto, ascendente, bottom-
permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e up, como queriam os empiristas, nem no receptor, descendente,
apropriar-se de outros. top-down, segundo os inatistas, mas ascendente/descendente,
Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, ou seja, a partir de uma negociação de sentido entre enunciador
o saber mais importante para o oprimido é a descoberta da sua e receptor. Assim, nessa abordagem interacionista, o receptor é
situação de oprimido, a condição para se libertar da exploração retirado da sua condição de mero objeto do sentido do texto, de
política e econômica, através da elaboração da consciência crítica alguém que estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria,
passo a passo com sua organização de classe. Por isso, a pedagogia tradicionalmente, no ensino da leitura.
libertadora ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao encontro da
no campo da economia, da política e das ciências sociais, conforme concepção que considera a linguagem como forma de atuação sobre
Gadotti. o homem e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos do
Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora texto, como a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica
deve decorrer da codificação de uma situação-problema que será Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
analisada criticamente, envolvendo o exercício da abstração, pelo De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo,
qual se procura alcançar, por meio de representações da realidade deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a
concreta, a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, tradicional, a renovada e a tecnicista, por se declararem neutras,
aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, nunca assumiram compromisso com as transformações da
da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de sociedade, embora, na prática, procurassem legitimar a ordem
uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento econômica e social do sistema capitalista. No ensino da língua,
que o educando transfere representa uma resposta à situação de predominaram os métodos de base ora empirista, ora inatista,
opressão a que se chega pelo processo de compreensão, reflexão com ensino da gramática tradicional, ou sob algumas as influências
e crítica. teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71,
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sintetiza da Reforma do Ensino.
sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De modo Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às
geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e convido o autor, não liberais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista. De
importa qual, a travar um diálogo comigo”. base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e marxista
(com as ideias de Gramsci), essas tendências, no ensino da língua,
Tendência Progressista Libertária valorizam o texto produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento
A escola progressista libertária parte do pressuposto de que de mundo, assim como a possibilidade de negociação de sentido na
somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em leitura.
situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difusões
for possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem informal via das idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva sócio-
grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam a favorecer histórica, essas teorias buscam uma aproximação com modernas
correntes do ensino da língua que consideram a linguagem como
o desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua,
forma de atuação sobre o homem e o mundo, ou seja, como processo
procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da negociação
de interação verbal, que constitui a sua realidade fundamental.
de sentidos na leitura.
Tendências Pedagógicas Brasileiras
Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos
As tendências pedagógicas brasileiras foram muito influenciadas
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social dos
pelo momento cultural e político da sociedade, pois foram levadas
conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a
à luz graças aos movimentos sociais e filosóficos. Essas formaram a
primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. prática pedagógica do país.
A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem
adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mostrando que as
por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma principais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira se
participação organizada e ativa na democratização da sociedade. dividem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. Elas
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o princípio são: Tendências Liberais e Tendências Progressistas.
da aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. Os professores devem estudar e se apropriar dessas tendências,
A transferência da aprendizagem só se realiza no momento da que servem de apoio para a sua prática pedagógica. Não se deve
síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e usar uma delas de forma isolada em toda a sua docência. Mas,
adquire uma visão mais clara e unificadora. deve-se procurar analisar cada uma e ver a que melhor convém
ao seu desempenho acadêmico, com maior eficiência e qualidade
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 de atuação. De acordo com cada nova situação que surge, usa-
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n.º se a tendência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática
9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon. Um docente, há uma mistura dessas tendências.
dos pontos em comum entre esses psicólogos é o fato de serem Deste modo, seguem as explicações das características de cada
interacionistas, porque concebem o conhecimento como resultado uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá-las, deve-se ter em
da ação que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com mente que uma tendência não substitui totalmente a anterior, mas
Aranha (1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como ambas conviveram e convivem com a prática escolar.
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os empiristas, Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo aberto
mas resulta da interação entre ambos. ou democrático, mas com uma instigação da sociedade capitalista
ou sociedade de classes, que sustenta a ideia de que o aluno deve
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa ser preparado para papéis sociais de acordo com as suas aptidões,
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a aprendendo a viver em harmonia com as normas desse tipo de
possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O processo sociedade, tendo uma cultura individual.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
motivos históricos. Nesta tendência o professor é a figura central 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram
e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são
como verdades absolutas. Há repetição de exercícios com exigência interacionistas, isto é, acreditam que o conhecimento se dá pela
de memorização. interação entre o sujeito e um objeto.
Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição da Alguns dos principais expoentes da história educacional
hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a aparecer nacional e internacional debruçaram-se sobre a questão das
no cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por centralizar tendências pedagógicas. Autores como Paulo Freire, Luckesi,
no aluno, considerado como ser ativo e curioso. Dispõe da ideia Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros não menos importantes,
que ele “só irá aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas dedicaram grande parte de suas vidas a estudos que pudessem
experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural contribuir para o avanço da Educação, desenvolvendo teorias para
e social. Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma nortear as práticas pedagógicas, objetivando melhorar a qualidade
autoaprendizagem. O professor é um facilitador. do ensino que é aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências
Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira foi o pedagógicas no universo educacional. O que se pretende neste
grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um método centrado no trabalho é justamente trazer à tona essa questão, erguendo a
aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes, preocupando- bandeira das tendências pedagógicas contemporâneas, buscando,
se mais com a parte psicológica do que com a social ou pedagógica. assim, contribuir para uma melhor assimilação delas por parte de
E para aprender tem que estar significativamente ligado com suas alguns professores de escolas públicas.
percepções, modificando-as.
Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa corrente A relação entre as tendências pedagógicas e a prática docente
psicológica, também conhecida como behaviorista. Neste As tendências pedagógicas são de extrema relevância para a
método de ensino o aluno é visto como depositário passivo dos Educação, principalmente as mais recentes, pois contribuem para
conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de a condução de um trabalho docente mais consciente, baseado nas
associações. O professor é quem deposita os conhecimentos, pois demandas atuais da clientela em questão. O conhecimento dessas
ele é visto como um especialista na aplicação de manuais; sendo tendências e perspectivas de ensino por parte dos professores é
sua prática extremamente controlada. Articula-se diretamente com fundamental para a realização de uma prática docente realmente
o sistema produtivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois tais
vigente, que é o capitalismo, formando mão de obra especializada tendências objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o
para o mercado de trabalho. a responder a questões sobre as quais deve se estruturar todo o
Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como?
das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades Para quê? Por quê?
sociopolíticas da educação e é uma tendência que condiz com E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus
as ideias implantadas pelo capitalismo. O desenvolvimento e objetivos, o professor deve ter as respostas para essas questões,
popularização da análise marxista da sociedade possibilitou o pois, como defende Luckesi (1994), “a Pedagogia não pode ser bem
desenvolvimento da tendência progressista, que se ramifica em três entendida e praticada na escola sem que se tenha alguma clareza
correntes: do seu significado. Isso nada mais é do que buscar o sentido da
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de Paulo prática docente”.
Freire, essa tendência vincula a educação à luta e organização de Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo dos tempos
classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais importante é a por diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema, foram
de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consciência da realidade concebidas com base nas visões desses pensadores em relação ao
em que vive. Além da busca pela transformação social, a condição contexto histórico das sociedades em que estavam inseridos, além
de se libertar através da elaboração da consciência crítica passo a de suas concepções de homem e de mundo, tendo como principal
passo com sua organização de classe. Centraliza-se na discussão de objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a partir das
temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua necessidades de ensino observadas no âmbito social em que viviam.
juntamente com os alunos. Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas
Libertária – Procura a transformação da personalidade num por parte dos professores, principalmente as mais recentes, torna-
sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto de que se de extrema relevância, visto que possibilitam ao educador
somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em um aprofundamento maior sobre os pressupostos e variáveis
situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância do processo de ensino-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de
se for possível seu uso prático. Enfoca a livre expressão, o possibilidades de direcionamento do seu trabalho a partir de suas
contexto cultural, a educação estética. Os conteúdos, apesar de convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo
disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido para a produção de uma prática docente estruturada, significativa,
como um conselheiro à disposição do aluno. esclarecedora e, principalmente, interessante para os educandos.
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” - A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar motivos
Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua a para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação,
prioridade de focar os conteúdos no seu confronto com as realidades alegria. Existem escolas esperançosas, com gente animada, mas
sociais, é necessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que
aluno para o mundo adulto, com participação organizada e ativa na isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para dar
democratização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se
e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos. O ensino/ for aceito como fatalidade, ele torna a escola um peso morto na
aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e
construídos pela experiência pessoal e subjetiva. criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a revista Nova Escola,
edição de novembro/2000).
23
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Desse modo, creio que seja essencial que todos os professores Sociedade que se faz o tempo todo, que se modifica sem parar.
tenham um conhecimento mais aprofundado das tendências Também surgiu da necessidade de se explicar os problemas sociais,
pedagógicas, pois elas foram concebidas para nortear as práticas as culturas existentes e as “diferenças”.
pedagógicas. O educador deve conhecê-las, principalmente as Existem várias teorias que são utilizadas para tornar a sociedade
mais recentes, ainda que seja para negá-las, mas de forma crítica melhor. De que forma como educadores podemos contribuir para
e consciente, ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos educação, a educação está dentro da sociedade como um todo.
observados em cada uma delas para construir uma base pedagógica Para que as teorias vão servir? Como essas teorias nos ajudariam, os
própria, mas com coerência e propriedade. teóricos servirão para dar embasamento, para pensar na realidade
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pensar que atual, como responder certos problemas que estão acontecendo.
se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha fazer A proposta do curso da disciplina é a interação, a troca. A teoria
a síntese do tradicional e do moderno: síntese e não confusão”. não serve de nada sendo apenas teoria, ela vai deixar de ser teoria
O importante é que se busque tirar a venda dos olhos para quando nós implementar ela na nossa prática que é construída o
enxergar, literalmente, o alunado e assim poder dar um sentido tempo todo, no dia a dia, a partir da ação de cada um de nós, na
político e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, como prática pedagógica, No convívio social, tudo isso e construído e
afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade reconstruído o tempo todo.
concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem A proposta é trabalhar alguns problemas educacionais
sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o brasileiros e como será feita essa discussão em outra ótica como
que está em consonância com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia um novo olhar. Ex: A democratização das escolas brasileira, todos
Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, tem acesso da mesma maneira? Com a mesma qualidade? Não!
a compreensão do grau em que as contradições da sociedade Por quê? A gente para e pensa porque não é da mesma forma, se
marcam a educação e, consequentemente, como é preciso se questiona do porque é diferente?
posicionar diante dessas contradições e desenredar a educação Devemos ver esse problema luz, embasado em determinadas
das visões ambíguas para perceber claramente qual é a direção que teorias, mas além das teorias deve haver discussões sobre os textos,
cabe imprimir à questão educacional. as matérias que todos estão vendo.
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma - O papel da sociologia na realidade educacional brasileira.
posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da Educação, - A discussão da realidade dos problemas que afetam a
o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a educação.
Filosofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre
educação e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três Outro ponto importante é entender como a sociologia passa
tendências filosóficas responsáveis por interpretar a função a fazer parte da realidade da educação brasileira, do currículo, dos
da educação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação cursos, tendo em vista sempre a democratização do ensino e da
Reprodutora e a Educação Transformadora da sociedade. A sociedade. Durante as aulas será visto como se deu o processo de
primeira é otimista, acredita que a educação pode exercer domínio construção da sociologia como ciência fundamental para se pensar
sobre a sociedade (pedagogias liberais). A segunda é pessimista, em educação hoje, esse processo foi se construindo a partir de
percebe a educação como sendo apenas reprodutora de um alguns autores como:
modelo social vigente, enquanto a terceira tendência assume uma - Augusto Comte
postura crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro - Émile Durkheim
tanto ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobilizador” - Kall Max
(Pedagogias Progressivistas). - Ma Weber
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações
entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma Esses autores trazem alguns conceitos como: poder, status,
abordagem das tendências pedagógicas, organiza as diferentes mobilidade, interação e outros mais.
pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia
Progressivista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas A sociologia nasce enquanto ciência como uma tentativa de
Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não diretiva; e explicar as mudanças sociais, num momento de grandes mudanças
Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; sociais, marcado pela Revolução Industrial, Revolução Francesa e a
Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos.16 Formação dos Estados Nacionais, a chamada Modernidade.17
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO – AS BASES A Sociologia da educação é uma ciência produtora
SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO, A EDUCAÇÃO COMO de conhecimentos específicos que levam a discussão da
PROCESSO SOCIAL, AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS BÁSI- democratização e do papel do ensino, promovendo uma reflexão
CAS, EDUCAÇÃO PARA O CONTROLE E PARA A TRANS- sobre a sociedade e seus problemas relacionados à educação. Seu
FORMAÇÃO SOCIAL, CULTURA E ORGANIZAÇÃO SO- papel é investigar a escola enquanto instituição social, analisando
CIAL, DESIGUALDADES SOCIAIS, A RELAÇÃO ESCOLA os processos sociais envolvidos, todas as mudanças ocorridas em
/ FAMÍLIA / COMUNIDADE. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE nossa sociedade, trouxeram mudanças para a educação.
NO BRASIL As teorias sociológicas fornecem alguns conceitos que servirão
de embasamento teórico também para a sociologia da educação.
[...] sociologia é uma disciplina potencialmente humanista
A sociologia é uma ciência que tem como proposta pensar porquanto pode aumentar a área de escolha que os homens têm
sobre o homem e a sua interação, produzir conhecimento para sobre suas ações. Ela lhes permite localizar as fontes a que devem
pensar o processo social e como funciona esse processo social, Essa recorrer se quiserem mudar as coisas, e os meios necessários,
construção da sociedade.
17 Fonte: www.pedagogiaonlineead.blogspot.com.br – Texto adaptado de
16 Por Délcio Barros da Silva Carlos Adriano
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
dando ao homem, dessa forma, uma base científica potencial para como “coisa”. Distingue dois tipos de sociedades, pautadas no que
ação, reforçando-o, em vez de constrangê-lo numa camisa de força chamou de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica,
do determinismo. (COULSON; RIDDELL, 1979, p. 123). dependendo da intensidade dos laços que unem os indivíduos. Para
ele, [...] as sociedades antigas apresentavam a divisão do trabalho
Os primeiros grandes sociólogos: a educação como tema e fundamentada na solidariedade mecânica. Nesta, cada indivíduo
objeto de estudo conseguia realizar um conjunto de atividades [...] onde havia um
Entende-se educação como um caminho para propiciar o pequeno número de habitantes e certa semelhança de funções
pleno desenvolvimento da personalidade, das aptidões e das [...] permitindo a um indivíduo ou a outro executar tais ou quais
potencialidades, tendo como fim último o exercício pleno da tarefas devido à aproximação entre elas. (VIEIRA, 1996, p. 53). A
cidadania. De acordo com Tedesco (2004, p. 34), educação [...] é sociologia da educação para Durkheim, seria um esforço [...] no
mais do que apenas a transmissão de conhecimentos e a aquisição sentido de refletir sobre os processos da ação educativa no intento
de competências valorizadas no mercado. Envolve valores, forja de conhecê-los, explicá-los e exprimir a sua natureza, o que deve ser
o caráter, oferece orientações, cria um horizonte de sentidos acompanhado pela observação histórica do seu processo evolutivo
compartilhados, em suma, introduz as pessoas numa ordem moral. [...] e, tendo por base o conhecimento científico da sociedade e da
Por isso mesmo, também deve dar conta das transformações que educação, é possível encontrar caminhos para a tomada de decisões
experimenta o contexto cultural imediato em que se desenvolvem ou as reformas sociais. (TURA, 2002, p. 39)
as tarefas formativas, ou seja, o contexto de sentidos e significados Karl Marx (1818-1883) vê a sociedade como um todo
que permite que os sistemas educacionais funcionem como meio composto de várias partes, como a economia, a política e as
de transmissão e integração culturais. idéias (a cultura). Mas, para ele, a economia seria a base de toda
De acordo com Lakatos (1979, p. 23), a sociologia da educação a organização social e as explicações para os fenômenos sociais
“examina o campo, a estrutura e o funcionamento da escola como viriam do aprofundamento da análise econômica. Marx pensou
instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na de forma crítica sobre o Estado, que de alguma forma legitimaria
instituição educacional”. a apropriação por uma minoria dos meios de produção, com o
objetivo de explorar a força de trabalho do proletariado, classe
Auguste comte: que para Marx seria a classe revolucionária. Mas, para tanto, a
Foi Auguste Comte (1798-1857) quem deu o primeiro passo e classe operária deveria conhecer a si mesma em termos teóricos,
a quem é atribuído o uso, pela primeira vez, da palavra sociologia. ao mesmo tempo em que implementaria uma prática social que
É de Comte também a preocupação de dotar a sociologia de um seria reflexo dessas escolhas conscientes. Parte da premissa de que
método, preferencialmente alguma coisa bem parecida com os é em torno da produção que a sociedade se organiza, sendo o
métodos usados pelas ciências naturais, para que não restassem homem o sujeito de sua própria história, a partir do trabalho e das
dúvidas sobre o fato de ser ela uma ciência – a física social, como atividades criativas que desenvolve. É pelo trabalho, segundo Marx,
ele a definia inicialmente. Acreditava ser necessário que fossem que o homem se constrói e é em torno da produção que toda a
elaboradas leis do desenvolvimento social, isto é, leis que deveriam sociedade se organiza as condições de trabalho são determinantes.
ser seguidas para que a vida em sociedade fosse possível. Essa Entretanto, para que a transformação se realize, a partir da atuação
maneira de ver a sociedade (como alguma coisa passível de ser do proletariado, é preciso que a prática seja orientada pela teoria.
controlada apenas por normas, regras e leis) e a sociologia (como Daí a importância da sociologia para Marx.
a ciência que se encarregaria de fornecer os instrumentos para De acordo com Costa (2005, p. 125), [...] Para Marx, a sociedade
isso), se dá no contexto do Positivismo. Comte priorizou a noção é constituída de relações de conflito e é de sua dinâmica que surge
de consenso, que se apoiaria em idéias e crenças comuns, se não a a mudança social. Fenômenos como luta, contradição, revolução
todos, ao menos à maioria da sociedade, e na supremacia do todo e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos
sobre as partes. e não disfunções sociais. A noção de classe social é fundamental
na análise que Marx faz dos problemas oriundos, a seu ver, da
Èmile durkheim nova ordem instaurada pelo capitalismo, pautada, segundo ele, na
Durkheim analisou as estruturas e instituições sociais, bem exploração da força de trabalho (classe dominante – a burguesia
como as relações entre o indivíduo e a sociedade, analisando as novas – sobre classe dominada – o proletariado). Para ele, a mudança
relações de poder que se configuravam na Europa da sua época. Via social estaria relacionada com a luta de classes e os estudos
a educação como um processo contínuo e como um caminho em sociológicos deveriam ter como objetivo a transformação social,
direção à ordem e à estabilidade, conforme determinados valores que só aconteceria a partir da destruição do capitalismo e sua
éticos fossem passados. Dizia também que a sociedade é mais substituição pelo socialismo.
do que a soma de seus membros e que, portanto, deveriam ser O materialismo-dialético propõe exatamente que sempre
analisadas suas interações e o sistema que daí se originaria. Enfatiza se procure perceber que de um embate, de um conflito, sempre
em sua obra que o comportamento dos grupos sociais não pode surge alguma coisa nova e diferente daquelas que o originaram. A
ser reduzido ao comportamento dos indivíduos que fazem parte maneira como as forças produtivas e as relações de trabalho estão
desse grupo. Parte da noção de fato social, isto é, a maneira de organizadas é o que mostraria como a sociedade se estrutura,
pensar, agir e sentir de um grupo social, entendendo a sociedade uma vez que as forças produtivas compõem o que ele chamou
como um conjunto de fatos sociais que só poderiam ser estudados de condições materiais de existência, constituindo-se nas mais
se fossem tratados como coisas. Caracterizou o fato social como importantes formas de relações humanas.
sendo comum a todos os membros da sociedade ou à sua maioria Diante de tudo isso, não é difícil imaginar como Marx via o
(princípio da generalidade); externo ao indivíduo, isto é, que existe processo educativo. Não acreditava na idéia de que a educação
independentemente da sua vontade (princípio da exterioridade); poderia ser a atividade que seria capaz de promover por si mesma a
coercitivo, uma vez que acaba por pressionar os indivíduos para transformação que a sociedade necessitaria, segundo seu ponto de
que sigam o comportamento esperado, estabelecido como vista, [...] a atividade do educador era par te do sistema e, portanto,
sendo o padrão (princípio da coercitividade). Daí a possibilidade não podia encaminhar a superação efetiva do modo de produção
concreta que Durkheim percebeu de se poder tratar o fato social entendido como um todo. O educador não deveria nunca ser visto
25
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
como um sujeito capaz de se sobrepor à sua sociedade e capaz de social e com um saber (erudito e técnico-profissional). Acreditava
encaminhar a revolução e a criação de um novo sistema. A atividade que somente dessa maneira não se teria mais a separação entre
do educador tem seus limites, porém, é atividade humana, é práxis. trabalho intelectual e trabalho material, possibilitando que esse
É intervenção subjetiva na dinâmica pela qual a sociedade existe se intelectual fosse promotor da mobilização política que levaria à
transformando. Contribui, portanto, em certa medida, para o fazer- revolução cultural que, por sua vez, transformaria a sociedade.
se da história. Já Althusser identificava-se bastante com o marxismo, sendo,
(KONDER, 2002, p. 19-20) portanto, crítico do capitalismo e engajado com as questões do seu
Max Weber (1864-1920) irá analisar a sociedade de seu tempo, tempo e do seu país, especialmente o maio de 19684. Concorda,
quando o capitalismo se consolida como modo de produção, mas vai além de Marx ao discutir o conflito e fazer uma conexão
e travará um diálogo profundo com a obra de Marx, de quem entre a educação e o que chamou de aparelhos ideológicos de
discordará em muitos pontos. Partia do princípio de que, para Estado, certos dispositivos que quando acionados tendem a manter
entender a sociedade, era preciso entender a ação do homem, as classes dominantes no poder. As instituições escolares seriam um
tentando compreender, explicar e interpretar o social em análises desses aparelhos e funcionariam como aparelhos de reprodução e
não valorativas, sempre considerando seu caráter dinâmico. alienação, meios através dos quais o Estado exerceria o controle
Afasta-se de Marx ao explicar a sociedade a partir das relações da sociedade, sem utilizar a violência e/ou a repressão, gerando e
estabelecidas pelos homens no capitalismo, e não apenas a partir mantendo a reprodução social e submetendo o indivíduo à ideologia
da economia. Para ele, há vários grupos sociais em sociedades dessa classe dominante. A escola seria, então, o aparelho ideológico
diferentes, com culturas diferentes e que devem ser consideradas, mais expressivo, até em função do tempo em que permanece
inclusive na ação educativa. Não nega a luta de classes, mas não “exposto” à sua influência. Quando esse processo não atinge seu
enxerga aí todas as causas e/ou possibilidades de mudanças sociais. objetivo, isto é, controlar os indivíduos, “modelando-os” para a vida
Sua sociologia compreensiva tem como premissa básica que em sociedade, entraria em ação. Um dos aparelhos repressivos do
para entender a sociedade capitalista em seus sistemas sociais e Estado é a polícia, feita, entre outras coisas, para conter qualquer
intelectuais, seria necessário compreender a ação do homem em manifestação de descontentamento e/ou resistência ao sistema.
interação. Na sua disciplina ou na sua prática pedagógica, já notou ideias e/
Pautado no recurso metodológico do tipo ideal, preocupava-se ou atitudes preconceituosas? Como você lida com essas situações?
com o estudo da ação social e da interação, vista por ele como o Pense nisso!
processo básico de constituição do ser social, da cultura e da própria
sociedade, sempre partindo de uma base teórico-metodológica A sociologia da educação no Brasil
consistente. É o pioneiro nos estudos empíricos na sociologia. Base
da interação social, a comunicação é um aspecto fundamental “A educação não está deslocada de seu contexto social”
do pensamento weberiano e exigiria a compreensão das partes Vamos ver como se deu a institucionalização da disciplina (que
envolvidas. Na medida em que há uma aceitação das semelhanças foi dentro do processo do positivismo), como passou a fazer parte
e diferenças entre os indivíduos, e uma certa padronização na do currículo e por quê?
forma de pensar e de agir a partir de valores e padrões que foram Em primeiro lugar aparecem os problemas educacionais,
interiorizados, tem-se o equilíbrio social, objetivo maior a ser procurando soluções.
alcançado na vida social. No início do século xx se inicia a caminhada da disciplina dentro
Assim, o importante para Weber é entender como e por meio das instituições educacionais, mas alguns problemas continuam
de que tipo de relações sociais se mantém o modelo de sociedade até hoje, mas foram tratados desde o início, e de varias maneiras
e de que maneira os processos de dominação estruturariam a vida conforme o contexto histórico.
social. Considera que os valores cultivados pelo indivíduo dizem O positivismo encara todos os fatos como coisas, passíveis de
respeito ao seu lugar ideal na sociedade, à sua posição, e não serem analisados. A sociologia enquanto disciplina vai aparecer
apenas ao fato de ser ou não possuidor dos meios de produção. num contexto de inquietação social.
Mas, talvez, a maior contribuição de Weber esteja no fato de Dentro das transformações que a sociedade passa são
que ele, por meio de suas análises da escola, trouxe para a momentos de mudanças sociais que o mundo do trabalho vai
sociologia da educação novos temas para serem discutidos, muitos acontecer.
deles ainda bastante atuais, especialmente aqueles ligados com a A uma distancia entre sociólogo e educadores, porque não é
questão da dominação e reprodução social. objeto dos sociólogos a educação, não buscava esse tema como
E mesmo não produzindo uma teoria sociológica da objeto de estudo.
educação, em muito contribui para a percepção do papel e da Na década de 50 e 60 momentos de industrialização, as grandes
função da educação – os sistemas escolares e a ordem burocrática cidades sofrem transformações.
e das diferentes formas de acesso à educação; enfim o processo Nessa mesma década já se tem uma bagagem, mas nada
educativo, sua estrutura, funcionamento e ideologia. voltado para os problemas da educação, tudo dentro da idéia de
que o Brasil tinha de evoluir, se desenvolver.
As teorias sociológicas e a educação A formação dos primeiros sociólogos dos anos de 1950 e 1960
Para Gramsci, por exemplo, a cultura seria o espaço no qual vai ser muito importante, mas vai discutir muito pouco sobre temas
se travaria a luta de classes e, portanto, seria por meio de uma como; repetência, evasão escolar. Nesse período vão ser discutidas
revolução cultural que se poderia mudar a estrutura da sociedade. as diferenças regionais, o Brasil tinha muitas particularidades
Destaca, então, o papel fundamental que a escola e os intelectuais conforme as regiões, e isso tinha de ser resolvido. Com isso surgem
exerceriam nesse processo, estratégias para que o sucesso pudesse as superintendências regionais( Sudan, Sudene, Sudeco), que tinha
ser alcançado. Essa escola, que chamou de única (e unitária do a ideia de planejamento ( investigar regiões)
ponto de vista do conhecimento) seria freqüentada tanto por Educação e desenvolvimento caminham juntos principalmente
operários quanto por intelectuais, todos recebendo uma formação a partir de 1960.
profissional e a cultura clássica. Esse processo resultaria na A educação agora é vista como um tema e não mais como
formação do intelectual orgânico, comprometido com sua classe objeto
26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Os primeiros sociólogos dessa época vão pensar educação Exemplos de Instituições Sociais
como algo que seja acesso a toda educação, como facilitar o acesso As principais instituições sociais são:
a educação. • Instituições Familiares: primeira instituição da qual
O tema que não fugiu da educação era o analfabetismo, pois a fazemos parte e que possui como funções principais: reprodução,
preocupação principal ainda era muito pautado na economia. econômica e educacional. Segundo sua estrutura, ela pode ser
Surge o Mobral, momento em que os militares na década de monogâmica (formada por um cônjuge), poligâmica (formada por
64 tentam resolver esses problemas, mas o objetivo era apenas pra mais cônjuges), ou ainda com estrutura de poliandria (mulher
ensinar a ler e escrever, não tinha interesse de preparar o cidadão casada com mais de dois homens) e poliginia (homens casados com
era apenas para instrumento para trabalho. mais de uma mulher).
Uma nova preocupação do processo educativo só vai surgir • Instituições de Ensino: instituições empenhadas em
na década de 70, vão começar a fazer relação entre nível de renda disseminar o conhecimento, por exemplo, as escolas e as
e reprovação escolar, ou seja, alguma coisa esta errada e não é o universidades. Tal qual a família, trata-se de uma instituição social
aluno, isso é revolucionário dentro da sociologia da educação. que passamos grande parte da vida.
Assim o tema evasão escolar, etc., vão passar a ser um tema • Instituições Religiosas: criadas para preencher as lacunas
efetivo, e vai dentro dessa perspectiva, vai dar um novo tratamento metafísicas da vida social, sendo baseada em dogmas, crenças e
nesse questionamento. tradições, por exemplo, as igrejas, templos.
Sociólogos vão ter preocupação com a democratização do • Instituições Econômicas: regula a vida econômica dos
estudo. agentes sociais, por exemplo, os bancos e as casas de crédito.
Dois franceses Bourdieu e Althusse- idéia de que a educação é • Instituições Políticas: como principais instituições políticas
um espelho da sociedade, se a sociedade é uma forma de inclusão a temos o Estado (e os poderes legislativo, executivo e judiciário),
educação será também. Naquele momento era inquietante pensar a Nação (o que reúne as pessoas que compartilham costumes,
em educação dessa maneira. tradições, valores) e o Governo (monarquia e república).
É um contexto que vai se transformando devagar até chegar em • Instituições de Lazer: reúne uma variedade de instituições
1985- momento importante, período de abertura política, processo que possuem a função de entreter os seres sociais, por exemplo, os
de redemocratização do pais. casinos e as festas de carnaval.
A sociologia adquire corpo, não aceitar mais que a evasão
escolar não fosse tema que devessem ser tratados pelos A educação e as transformações na sociedade
governantes, etc.18
Diante das transformações econômicas, políticas, sociais
Instituições sociais básicas e culturais do mundo contemporâneo, a escola vem sendo
As Instituições Sociais são instrumentos reguladores e norma- questionada acerca do seu papel nesta sociedade, a qual exige um
tivos das ações humanas, as quais reúnem um conjunto de regras e novo tipo de trabalhador, mais flexível e polivalente, capaz de pensar
procedimentos reconhecidos pela sociedade. e aprender constantemente, que atenda as demandas dinâmicas
Elas possuem uma relação de interdependência, ou seja, não que se diversificam em quantidade e qualidade. A escola deve
atuam de maneira isolada, e surgem para suprir diversas necessi- também desenvolver conhecimentos, capacidades e qualidades
dades humanas. para o exercício autônomo, consciente e crítico da cidadania. Para
Desempenham um papel fundamental no funcionamento da isso ela deve articular o saber para o mundo do trabalho e o saber
sociedade e da democracia, o que decorre por meio de seu poder para o mundo das relações sociais.
normativo e coercitivo. A perspectiva política e a natureza pública da educação são
Assim, determinam as regras e procedimentos dos grupos de realçadas na Constituição Federal de 1988, não só pela expressa
acordo com padrões, papéis, valores, comportamentos e relações definição de seus objetivos, como também pela própria estruturação
entre membros da mesma cultura. de todo o sistema educacional. Ela enuncia o direito à educação
As instituições sociais fazem parte da estrutura social e desig- como um direito social no artigo 6º; especifica a competência
nam meios sociais duradouros e estáveis. Nelas são desenvolvidas legislativa, nos artigos 22, XXIV e 24, IX; dedica toda uma parte do
diversas relações em função da interação entre os grupos sociais. título da Ordem Social para responsabilizar o Estado e a família,
Além de participar da organização da sociedade, ela pode atuar tratar do acesso e da qualidade, organizar o sistema educacional,
como controlador social. vincular o financiamento e distribuir encargos e competências para
os entes da federação.
Tipos de Instituição No seu âmbito mais amplo, são questões que buscam
Segundo a função e o espaço social que se desenvolvem, as apreender a função social dos diversos processos educativos
instituições são classificadas em: na produção e reprodução das relações sociais. No plano mais
• Instituições Espontâneas: surgem espontaneamente a específico, tratam das relações entre a estrutura econômico-social,
partir das relações estabelecidas entre os agentes sociais, por o processo de produção, as mudanças tecnológicas, o processo e a
exemplo, a família. divisão do trabalho, a produção e a reprodução da força de trabalho
• Instituições Criadas: o nome já indica que foram e os processos educativos ou de formação humana. De acordo com
criadas para regular e organizar a sociedade e não surgiram Mészáros:
espontaneamente. São elas, os bancos, as igrejas, etc. Além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas
• Instituições Reguladoras: regula diversos aspectos da habilidades se nas quais a atividade produtiva não poderia ser
sociedade, por exemplo as instituições educativas e religiosas. realizada, o complexo sistema educacional da sociedade é também
• Instituições Operacionais: opera sobre diversos aspectos responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores
da sociedade, por exemplo, o departamento de finanças. dentro da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins
específicos. As relações sociais de produção capitalistas não se
perpetuam automaticamente. (MÉSZÁROS, 1981, p. 260)
18 Fonte: www.pedagogiaonlineead.blogspot.com.br/ - Texto adaptado de Eli-
zabeth
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nesta nova realidade mundial denominada por estudiosos Esta concepção, hoje em declínio, “não mais sustenta a
como sociedade do conhecimento não se aprende como antes, no necessidade de negar a possibilidade do novo e do diverso, em
modelo de pedagogia do trabalho taylorista / fordista fundadas na nome de uma lei universal e imutável”. (PLASTINO, 1994, p.33).
divisão entre o pensamento e ação, na fragmentação de conteúdos O conhecimento, nessa perspectiva do paradigma científico
e na memorização, em que o livro didático era responsável pela dominante, ganha em rigor, mas, sem dúvida, o modelo de
qualidade do trabalho escolar. Hoje se aprende na rua, na televisão, racionalidade científica atravessa uma profunda crise. Entretanto,
no computador em qualquer lugar. Ou seja, ampliaram-se os “os sinais nos permitem tão só especular acerca do paradigma que
espaços educativos, o que não significa o fim da escola, mas que emergirá desse período revolucionário”. (SANTOS, 1996, p. 123)
esta deve se reestruturar de forma a atender as demandas das Assim sendo, tanto a teoria quanto as práticas educacionais
transformações do mundo do trabalho e seus impactos sobre a vida desenvolvem-se, predominantemente, segundo os paradigmas
social. Conforme Frigotto. dominantes num dado momento histórico, o que leva a educação a
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a funcionar essencialmente como elemento reprodutor das condições
educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve científicas, políticas, econômicas e culturais de determinada
dar-se a fim de habilitá-los técnica, social e ideologicamente para sociedade.
o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação Tomando por referência o desenvolvimento e as rearticulações
de forma controlada para responder às demandas do capital. do capitalismo em períodos diversos, percebe-se que a educação tem
(FRIGOTTO, 1999, p.26). sido utilizada no sentido de dar suporte ideológico a esse sistema,
Segundo Álvaro Vieira Pinto (1989, p.29), “a educação é o constituindo-se ao mesmo tempo num elemento produtivo, pela
processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem qualificação de recursos humanos para o capital, embora algumas
e em função de seus interesses”. É dentro do contexto educacional, vezes essas funções sejam percebidas e provoquem reações.
que se encontram diferentes sujeitos, que pertencem a diferentes Conforme Capra:
contextos sociais, que trazem sua historicidade construída a partir O paradigma que está agora retrocedendo dominou a nossa
de diferentes vivências, assim é possível e faz-se necessário buscar cultura por várias centenas de anos, durante os quais modelou
saídas para uma democratização do ensino. nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente
o restante do mundo. Esse paradigma consiste em várias ideias e
As concepções paradigmáticas e a educação valores entrincheirados, entre os quais a visão de universo como um
A educação é, por suas origens, seus objetivos e funções sistema mecânico composto de blocos de construção elementares,
um fenômeno social, estando relacionada ao contexto político, a visão de corpo humano como uma máquina, a visão da vida em
econômico, científico e cultural de uma sociedade historicamente sociedade como uma luta competitiva pela existência, e a crença
determinada. no progresso material ilimitado, a ser obtido pelo intermédio do
crescimento econômico e tecnológico. (CAPRA, 1996, p.25).
De tal conceito, pode-se deduzir que, não obstante a educação
Essa crise parece prenunciar a chegada de um novo
é um processo constante na história de todas as sociedades, ela
conhecimento, edificado através de outra concepção de ciência,
não é a mesma em todos os tempos e todos os lugares, e se acha
expressão de uma racionalidade mais plural, de uma configuração
vinculada ao projeto de homem e de sociedade que se quer ver
cognitiva mais ampla, criativa e totalizante.
emergir através do processo educativo. Dermeval Saviani afirma
A ciência moderna, ao considerar apenas um único modelo
que:
cognitivo epistemológico como científico, isto é, digno de ser
O estudo das raízes históricas da educação contemporânea
considerado confiável, realiza uma simplificação mutiladora do
nos mostra a estreita relação entre a mesma e a consciência que o universo, afastando a possibilidade de consideração de outros
homem tem de si mesmo, consciência esta que se modifica de época conhecimentos sobre a realidade, tão ou mais úteis para o ser
para época, de lugar para lugar, de acordo com um modelo ideal de humano do que aqueles que ela enuncia.
homem e de sociedade. (SAVIANI, 1991, p.55)
A educação é, portanto, um processo social que se enquadra As transformações técnico-científicas, econômicas e políticas.
numa concepção determinada de mundo, a qual estabelece os As transformações técnico-científicas têm inicio a partir de
fins a serem atingidos pelo ato educativo em consonância com as inúmeros acontecimentos dentro da economia e da política.
ideias dominantes numa dada sociedade. O fenômeno educativo Fenômenos como a globalização mundial, ascensão dos meios
não pode ser, pois, entendido de maneira fragmentada, ou como de produção, a produção flexível, o desemprego causado pela
uma abstração válida para qualquer tempo e lugar, mas sim, como mecanização do trabalho, e o grande crescimento tecnológico
uma prática social, situada historicamente, numa realidade total, levam a escola a pensar na necessidade de qualificação do ser
que envolve aspectos valorativos, culturais, políticos e econômicos, humano, cabendo à mesma formar um cidadão flexível e adaptativo
que permeiam a vida total do homem concreto a que a educação como busca o mercado. Assim o ambiente escolar apresenta-se em
diz respeito. dois sentidos principais, de um lado sendo setor de reprodução e de
Então, nesse sentido, vivenciamos um tempo de crise outro agente de transformação.
paradigmática que, necessita, em nosso entender, ser estudada O uso das novas tecnologias cada vez mais intenso faz crescer
enquanto fenômeno cultural, embora relacionada com o modelo a produção, diminui o trabalho humano provocando o aumento do
de produção do conhecimento, mas que deve ser analisada em suas desemprego, já que há uma substituição do trabalho humano pela
dimensões históricas, políticas, econômicas e sociais. ciência e pela técnica, o que tem afetado principalmente a agricultura
Embora a quebra na confiança epistemológica do paradigma e a indústria, intensificando o processo de marginalização pelo
dominante seja produzida por uma pluralidade de fatores, o aviltamento dos salários e pelas precárias condições de trabalho
grande avanço que o conhecimento científico possibilitou é, e da vida urbana (o que tem produzido anormalidades no campo,
paradoxalmente, um fator significativo nessa ruptura. como furtos, suicídio, abandono de família, violência e outros) além
Toda construção da ciência moderna tem sido baseada na ideia dos intermináveis conflitos entre latifundiários e os sem-terra.
de que ela é o único modelo de conhecimento, e toda e qualquer A tendência mundial (nos países desenvolvidos ou em fase
produção só faz sentido se esse modelo for o da racionalidade de desenvolvimento) de crescimento no setor de serviços ou do
única, até por isso denominada científica. aumento da geração de riqueza, em detrimento da agricultura e da
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
indústria, que passam por um processo de enxugamento e retração No movimento de reconfiguração de trabalho e formação
e que apesar de haver um crescimento no setor de serviços os docente, outro aspecto parece constituir objeto de consenso a
postos de trabalho reorganizados ou criados neste setor não possibilidade da presença das chamadas “novas tecnologias”
superam o desemprego gerado pelos outros setores. ou, mais precisamente, das tecnologias da informação e da
Além das revoluções científicas e tecnológicas, destaca-se comunicação (TIC). Essa presença tem sido cada vez mais constante
também a revolução informacional. Esta tem por base o avanço no discurso pedagógico, compreendido tanto como o conjunto das
das telecomunicações, das mídias e das novas tecnologias práticas de linguagem desenvolvidas nas situações concretas de
da informação, destacando-se a internet. Uma característica ensino quanto as que visam a atingir um nível de explicação para
importante desta revolução é o papel central da informação essas mesmas situações.
na sociedade. As transformações ocorridas na sociedade atual Segundo Mattelart (2002, p. 9), a segunda metade do século
mediante a destruição das fronteiras nacionais e a procura pela XX foi marcada pela “formação de crenças no poder miraculoso
liberdade de trânsito para as pessoas, mercadorias e capitais em das tecnologias informacionais”. Mesmo que, em princípio, pareça
uma espécie de mercado universal, tornaram possível a globalização, ingênuo, este último movimento está inscrito em um modo de
uma tendência internacional do capitalismo, que, como projeto objetivação das TIC inextricavelmente ligado à concepção de
neoliberal impõe aos países periféricos a economia do mercado “sociedade da informação”.
global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Dessa forma, as TIC têm sido apontadas como elemento
Estado na área econômica e social. Segundo Oliveira: definidor dos atuais discursos do ensino e sobre o ensino, ainda
O efeito mais perverso destas transformações tem sido o que prevaleçam nos últimos. Atualmente, nos mais diferentes
desemprego e a exclusão social, já que os benefícios provenientes espaços, os mais diversos textos sobre educação têm, em comum,
dessas transformações são usufruídos por apenas uma pequena algum tipo de referência à presença das TIC no ensino. Entretanto,
parte da sociedade. Ao lado dos avanços científicos e tecnológicos a essa presença têm sido atribuídos sentidos tão diversos que
com o aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da difusão social, desautorizam leituras singulares. Assim, se aparentemente não há
há fome, desemprego, doença, falta de moradia, analfabetismo das dúvidas acerca de um lugar central atribuído às TIC, também não há
letras e das tecnologias. (OLIVEIRA, 2003, p. 115) consenso quanto à sua delimitação.
Apesar de o termo globalização sugerir inclusão, com o Estudos demonstram que a utilização das novas tecnologias
desenvolvimento capitalista a lógica é a de exclusão, pois esse de informação e comunicação (NTICs), como ferramenta , traz uma
capitalismo se caracteriza pela ideologia do mercado livre, e enorme contribuição para a prática escolar em qualquer nível de
dessa maneira o homem tende cada vez mais a se extinguir dando ensino. Essa utilização apresenta múltiplas possibilidades que
condenação também ao trabalho manual e assalariado. poderão ser realizadas segundo uma determinada concepção de
Esse homem “global” terá por obrigação estudar durante educação que perpassa qualquer atividade escolar.
toda a vida para se manter atualizado e membro da sociedade do As transformações nas formas de comunicação e de intercâmbio
conhecimento. de conhecimentos, desencadeadas pelo uso generalizado
Aprendendo a aprender “Educação básica significa das tecnologias digitais nos distintos âmbitos da sociedade
tradicionalmente, por exemplo, a capacidade de efetuar contemporânea, demandam uma reformulação das relações de
multiplicações ou algum conhecimento da história dos EUA. Mas ensino e aprendizagem, tanto no que diz respeito ao que é feito nas
a sociedade do conhecimento necessita também do conhecimento escolas, quanto a como é feito. Precisamos então começar a pensar
de processos, algo que as escolas raramente tentaram ensinar. Na no que realmente pode ser feito a partir da utilização dessas novas
sociedade do conhecimento, as pessoas precisam aprender como tecnologias, particularmente da Internet, no processo educativo.
aprender. Na verdade, na sociedade do conhecimento as matérias Para isso, é necessário compreender quais são suas especificidades
podem ser menos importantes que a capacidade dos estudantes técnicas e seu potencial pedagógico.
para continuar aprendendo e que a sua motivação para fazê-lo.
A sociedade pós-capitalista exige aprendizado vitalício. Para isso, A gestão democrática na escola como agente para a mudança
precisamos de disciplina. Mas o aprendizado vitalício exige também social.
que ele seja atraente, que traga em si uma satisfação.” (DRUCKER, Gestão democrática, gestão compartilhada e gestão
1995, p.156) participativa são termos que, embora não se restrinjam ao campo
Sendo assim, a Educação representa a consolidação de canais educacional, fazem parte da luta de educadores e movimentos
que sirvam como instrumentos de participação, de inserção da sociais organizados em defesa de um projeto de educação pública
família nos espaços escolares, de compartilhamento e acesso as de qualidade social e democrática.
informações e de valoração das realidades locais, as quais têm A Constituição Federal/88 estabeleceu princípios para a
sua significativa relevância, inclusive para a construção do Projeto
educação brasileira, dentre eles: obrigatoriedade, gratuidade,
Político Pedagógico da escola.
liberdade, igualdade e gestão democrática, sendo esses
“Globalização” e trabalho docente, no enredo das tecnologias
regulamentados através de leis complementares.
seja a globalização, objeto dos estudos de Torres (1998, p.28),
Enquanto lei complementar da educação, a Lei de Diretrizes
caracterizada como construção ideológica, seja, como quer alguns,
e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96) estabelece e
posta como conceito explicativo de uma nova ordem mundial,
regulamenta as diretrizes gerais para a educação e seus respectivos
um aspecto desta realidade não pode ser ignorado a educação
sistemas de ensino. Em cumprimento ao art. 214 da Constituição
como um todo e o trabalho docente, em especial, estão sendo
reconfigurados. Federal, ela dispõe sobre a elaboração do Plano Nacional de
Nesta perspectiva, a escola deve romper com a sua Educação – PNE (art. 9º), resguardando os princípios constitucionais
forma histórica presente para fazer frente a novos desafios. A e, inclusive, de gestão democrática.
pretensão, neste trabalho, é analisar as determinações (concretas A descentralização do ensino constitui um dos fatores essenciais
e pressupostas) e os sentidos (hegemônicos e em disputa por para o movimento de democratização das escolas brasileiras e
hegemonia) dessa reconfiguração, tomando por base os discursos da construção de autonomia da gestão escolar. Desde modo,
que introduzem e justificam as atuais políticas de formação de descentralização pressupõe participação, entendida por Luck como:
professores.
29
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma projetos pedagógicos, na administração dos recursos da escola,
força de atuação consciente pela qual os membros de uma unidade enfim, nos processos decisórios da escola. Portanto, tendo
social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na mostrado as semelhanças e diferenças da organização do trabalho
determinação da dinâmica dessa unidade, de sua cultura e de seus pedagógico em relação a outras instituições sociais, enfocamos os
resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade mecanismos pelos quais se pode construir e consolidar um projeto
de compreender, decidir e agir sobre questões que lhe são afetas, de gestão democrática na escola.
dando-lhe unidade, vigor e direcionamento firme (LUCK, 2009, p. A gestão democrática participativa exige uma “mudança
29). de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar”
De acordo ao afirmado, os autores Ferreira e Aguiar discorrem (GADOTTI, 1994, p.5).
sobre o processo de participação na realidade educacional: A democratização da gestão da escola constitui-se numa das
Tem-se falado muito em participação e compromisso, sem tendências atuais mais fortes do sistema educacional, apesar da
definir claramente seu sentido. E não raras vezes situa-se a resistência oferecida pelo corporativismo das organizações de
participação como mero processo de colaboração, de mão única, de educadores e pela burocracia instalada nos aparelhos de estado,
adesão, de obediência às decisões da direção. Subserviência jamais muitas vezes associados na luta contra a inovação educacional
será participação e nunca gerará compromisso. Em primeiro lugar, (GADOTTI,1994, p.6).
a participação sem troca, como dádiva, ocorre por decisão pessoal Neste sentido, queremos destacar o valor da participação
movida pela afetividade, pelo desejo de servir a uma causa que se coletiva e do exercício de construção democrática como prática
julgue nobre e relevante, seja religiosa, política ou social. No caso constante e condição maior de desenvolvimento, através da qual a
da escola e do município, a participação deve ocorrer por motivos escola se tornará, de fato, uma instituição promotora da cidadania
profissionais. E nesse caso, constitui um processo de troca, que gera e voltada aos interesses das camadas populares. Somente pelo
o compromisso (FERREIRA e AGUIAR, 2001, p.170). caminho da democracia é que a escola será apropriada pela
Dessa forma, entende-se que constitui um dos papeis da comunidade; somente pela práxis democrática os processos
escola, o de propiciar espaços para a participação da comunidade escolares poderão ser percebidos em sua dimensão eminentemente
escolar à dinâmica, atividades e decisões escolares. Pois, para político-pedagógica, e os seus resultados terão uma extensão social
integrar e possibilitar que os membros desta possam interagir incomparavelmente superior ao que temos hoje. E este caminho
com a mesma, tomando consciência do seu papel na gestão e no precisa ser uma construção coletiva, autônoma e permanente, de
envolvimento, é necessário à abertura de espaços democráticos e modo que as novas gerações apreendam o processo como um valor
de voz à comunidade. político e ético, balizador dos processos institucionais (escolares) e
Para que a participação seja realidade, são necessários meios e sociais, no sentido mais amplo.
condições favoráveis, ou seja, é preciso repensar a cultura escolar e Enfim, pode-se afirmar que um dos grandes desafios da
os processos, normalmente autoritários, de distribuição do poder no educação brasileira hoje é não somente garantir o acesso da
seu interior (...) Outro dado importante é entender a participação grande maioria das crianças e jovens à escola, mas permitir a sua
como processo a ser construído coletivamente. Nessa direção, é permanência numa escola feita para eles, que atenda às suas reais
fundamental ressaltar que a participação não se decreta, não se necessidades e aspirações; é lidar com segurança e opções políticas
impõe e, portanto, não pode ser entendida apenas como mecanismo claras diante do binômio quantidade versus qualidade
formal/legal (BRASIL,2005, e, p.15). Finalmente, uma educação de qualidade tem na escola
O planejamento participativo é de suma importância, pois um dos instrumentos mais eficazes de tornar-se um projeto
envolvem diferentes segmentos da comunidade local e escolar que real. A escola transforma-se quando todos os saberes se põem
têm representação no conselho escolar, que deve ser gerenciado a serviço do aluno que aprende, quando os sem vez se fazem
com ampla participação da comunidade, envolvendo a equipe ouvir, revertendo à hierarquia do sistema autoritário. Esta escola
torna-se, verdadeiramente popular e de qualidade e recupera
gestora da escola, o conselho escolar, o grêmio estudantil e outros.
a sua função social e política, capacitando os alunos das classes
Destacamos, especialmente, a importância do conselho escolar na
trabalhadoras para a participação plena na vida social, política,
otimização desses programas nas unidades escolares.
cultural e profissional na sociedade.
O espaço escola constituiu-se a partir de muitos conceitos, em
diferentes momentos históricos, em complexos contextos sociais
Cultura e organização social
e com inúmeras contribuições de pensadores e pedagogos. Muito
Uma organização social, que também é chamada de instituição
se (re)pensou e (re) organizou no espaço escolar, sendo que estas
social, se trata de qualquer estrutura ou organismo advindo de uma
mudanças atingiram: o currículo educacional, métodos de ensino/ ordem social, responsável por reger a esfera comportamental de
aprendizagem; relações entre os sujeitos que a constituem; mas um coletivo de cidadãos dentro de um certo grupo, podendo ser
nunca, apesar de serem tantas mais as mudanças, foi interferido humana ou de um animal específico. A organização social é um
no conceito básico da escola ela é um local de aprendências conceito sociológico definido como um padrão de relacionamentos
estabelecidas pelas relações entre sujeitos. entre indivíduos e grupos. As características da organização social
A razão e o sentido da escola é a aprendizagem. O processo de podem incluir qualidades tais como o tamanho, a composição de
(re) construção do conhecimento é o próprio objetivo do trabalho gênero, coesão espaço-temporal, liderança, estrutura, divisão do
educativo. Portanto, o centro e o eixo da escola é a aprendência, trabalho, sistemas de comunicação, etc.
única razão de ser. Todas as atividades dessa instituição só fazem Todas as instituições sociais são, obviamente, identificadas
sentido quando centradas na (re) construção do conhecimento, na por um propósito social, que ultrapassa o interesse singular de
aprendizagem e na busca. (WITTMANN e KLIPPEL, 2010, p.81) indivíduos, promovendo mediações através da criação de regras
Se a escola é habitada por diferentes sujeitos, e estes vêm de que governam o comportamento orgânico da comunidade. É o
diferentes locais e espaços sociais, é também na escola que todas conjunto de relações entre membros de um grupo, entre grupos ou
estas diferenças se encontram e precisam ser mediadas. A gestão entre pessoas e grupos.
democrática é entendida como a participação efetiva dos vários Uma sociedade não terá como encontrar meios e condições de
segmentos da comunidade escolar, pais, professores, estudantes sobreviver se não oferecer uma certa organização e relacionamento
e funcionários na organização, na construção e na avaliação dos entre seus membros. Para que a sociedade possa existir, são
30
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
imprescindíveis as interações constantes entre os sujeitos que resulta na visão de caridade, com o envergonhamento do
que a formam. Sem o mínimo de organização, o homem não sujeito, e de juventude pobre como sinônimo de criminalidade. A
conseguirá, em quantidade satisfatória, recursos básicos como pobreza não constitui uma identidade, mas uma condição, e não é
alimentação, vestimenta e moradia, não sendo capaz de dar vazão uma condição natural, mas fruto amargo de complexas dinâmicas
às suas potencialidades produtivas. Os grupos socias comumente da sociedade, devendo ser enfrentada e superada. Por isso, ao
se organizam e mantêm relações entre eles mesmos, como entre tratar a pobreza, é preciso também tratar a desigualdade.
famílias, empresas, entre instituições de ensino e de saúde. Nos currículos, a pobreza tem sido vista como carência, sendo
Um aspecto cultural marcante dos povos é a organização a carência material resultado das carências de conhecimento, de
social, que compreende os papéis exercidos pelos indivíduos na competências, carências de valores, hábitos e moralidades. E,
sociedade e as ações decorrentes do desempenho desses papéis. assim, a escola não tem assumido o seu papel de proporcionar o
Numa escola, por exemplo, o diretor orienta o trabalho de todos pleno conhecimento da realidade, inclusive, da condição social
os funcionários, solicita melhorias para o prédio e suas instalações, dos seus alunos, mostrando as condições históricas e sociais que
participa de reuniões na delegacia de ensino para acompanhar as resultaram na desigualdade social.
determinações da Secretaria de Educação; os inspetores cuidam Embora a pobreza seja um fator social que tensiona
da disciplina; os professores lecionam; os faxineiros cuidam da profundamente o paradigma da universalidade e da democratização
limpeza; os alunos participam das aulas, etc. real do ensino básico,questionando, com contundência, as
As organizações sociais conglomeram os mais diferentes possibilidades da escola formal e homogênea no contexto do
campos de atuação humana: econômico (atividades produtivas, capitalismo, a relação entre educação escolar e situação de pobreza
comércio, serviços; político; religioso). Nessas organizações, são constitui-se um campo de reflexão ainda não consolidado no Brasil e
importantes as relações de poder que devem ser estabelecidas entre em que se evidenciam diferentes tipos de articulação, destacando-
os indivíduos que a formam. Poder esse que devemos entender com se, sobretudo, as indicações que percebem a educação formal, por
o sentido social que a palavra tem, poder que dá capacidade a agir um lado, como condição indispensável para a ruptura do círculo da
e produzir resultados que foram predeterminados. Por exemplo, se pobreza, e, por outro lado, como mecanismo de manutenção da
tivermos os recursos para fazer um objeto, nós teremos o poder ordem instituída (ASSIS; FERREIRA; YANNOULAS, 2012).
de fazê-lo. As instituições produtivas dependem das instituições de Compartilho do pensamento de que a educação escolar tem
ensino para uma força de trabalho qualificada, as instituições de uma imensa responsabilidade no enfrentamento das condições que
ensino são dependentes do governo para o seu financiamento, e produzem e reproduzem a pobreza. Ela pode oferecer informações
instituições governamentais, por sua vez, dependem de instituições que motivam a reflexão, fortalecem valores de justiça e respeito
produtivas para criar riqueza para financiar os gastos do governo. pelos outros, aproximam vozes e experiências humanas e nos
Sociologicamente, essa condição é chamada de interdependência ajudam a conhecer e agir, promovendo e estimulando a ação de
institucional. pessoas e grupos em favor da justiça e de valores que representam
Essas instituições são ideias sobre como algo deve ser feito, o bem comum.
olhar ou ser constituído, a fim de ser visto como legítimo. As Nesse contexto, a educação precisa ir além das salas de aula,
instituições podem ser definidas como uma coleção estável de superando a visão do pobre como apenas um número nas escolas,
práticas sociais que consistem em papéis facilmente reconhecidos, buscando-se novas práticas que valorizem os alunos e que os
juntamente com as normas subjacentes e um conjunto de regras estimulem na aprendizagem e construção de novos conhecimentos,
ou convenções que define o comportamento adequado para, tendo a escola, por sua vez, o compromisso com a democratização
e que rege as relações entre, os ocupantes dessas funções.
do saber.A educação pode ser um importante elemento para
Elas são responsáveis por fornecer estruturas, diretrizes para o
compreensão e enfrentamento da pobreza, pode colaborar para
comportamento e interação humana. As organizações também são
que todos tenham iguais direitos de aprender, de conhecer e ser
caracterizadas por práticas sociais que ocorreram de novo ou se
conhecido, de valorizar e ser valorizado, pois traz consigo a utopia
repetem ao longo do tempo por membros do grupo, e podem ou
de um mundo mais justo, de saberes que dialogam, de heranças
não envolver outras organizações.
que se repartem, firma um compromisso, a luta e a esperança.
O caminho a ser trilhado no processo de efetivação do direito
Os impactos da pobreza na educação escolar
No Brasil, o direito à educação é algo recente e o acesso à escola à educação de qualidade para todos os cidadãos brasileiros,
pelas parcelas mais pobres e marginalizadas da população, incluindo independente da classe social a que pertencem, é longo e
os índios, os negros, os imigrantes e as mulheres, só começou a se árduo.Ainda que houvesse uma perspectiva promissora com a
concretizar nas últimas décadas do século XX. O tratamento dado à promulgação da Lei 13.005/14 (Plano Nacional de Educação), que
educação dos pobres deixou um legado que pode ser visto, nos dias amplia os investimentos em educação para 10% do PIB, até 2024, o
de hoje, nos baixos índices de aprendizagem escolar dos alunos em quadro geral que condiciona as políticas atuais, neste ano de 2017,
condição de pobreza (IOSIF, 2007). Nesse contexto,a desigualdade aponta para limitações sérias no presente e num futuro próximo.
social se traduz em desigualdade escolar. Em decorrência do processo de escolarização pública no Brasil,
Em uma sociedade onde a pobreza e desigualdade são o desafio de assegurar educação de qualidade para todos precisa
muito evidentes, preocupa não só a injustiça social, mas também estar articulado com o processo de enfrentamento à desigualdade
as consequências que essas desigualdades irão trazer aos social e a busca de uma sociedade mais justa. Contudo, reafirma-
indivíduos. Crianças nascidas nesse círculo de pobreza têm a maior se a necessidade de romper com a visão da pobreza somente pelo
probabilidade de se tornarem as unidades familiares pobres de viés educacional, que mascara toda a sua complexidade como
amanhã. A condição de pobre faz com que essas crianças e jovens questão social, política e econômica. Nessa perspectiva, questiona-
não frequentem adequadamente a escola, tenham necessidade de se a representação moralizante e reducionista sobre pobreza e
trabalhar e abandonem seus sonhos de um futuro melhor e mais desigualdade social, pois os pobres não são assim constituídos
humano. por escolha, e evita-se responsabilizar a escola pela solução do
O que causa maior preocupação em relação a essa situação problema produzido em contextos sociais, políticos e econômicos,
é a possibilidade dessas crianças, ao se tornarem adultos, não para além do ambiente escolar.
conseguirem romper com o circulo vicioso da pobreza e desigualdade,
31
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A relação escola, comunidade e família os valores recebidos em casa, além de transmitir conhecimentos.
Sendo a escola uma instituição organizada e integrada na Age também na formação humana, salientando a autonomia, o
comunidade, ela deve desempenhar uma função pró-ativa de equilíbrio e a liberdade - que está condicionada a limites e respeito
súbita importância na formação, transformação e desenvolvimento mútuo. Por que não, a escola trabalhar com a família e a sociedade
do capital social. em prol de um bem comum?
Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas vertentes A parceria entre família, sociedade e escola só tem a contribuir
social, económico e pessoal. para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola passa a ser
A relação escola, família e comunidade carece de melhoria, pois um espaço que se relaciona com a vida e não uma ilha, que se isola
constata-se quase que um divórcio entre elas. As escolas, muitas da sociedade. Com a participação da família no meio escolar, cria-se
vezes, não fomentam nem facilitam o intercâmbio de experiências espaços de escuta, voz e acesso às informações que dizem respeito
com outras escolas e com o meio em que estão inseridas, não a seus filhos, responsáveis tanto pela materialidade da escola, bem
promovem a procura de soluções inovadoras, nem proporcionam como pelo ambiente no qual seus filhos estão inseridos. É preciso
uma participação efetiva dos pais e encarregados de educação na que os pais se impliquem nos processos educativos de seus filhos no
gestão escolar. sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado
Escola é a principal instituição para a transmissão e aquisição formal ou a educação escolar, para ser bem sucedida não depende
de conhecimentos, valores e habilidades, por isso deve ser tida apenas de uma boa escola, de bons professores e bons programas,
como o bem mais importante de qualquer sociedade. mas principalmente de como o educando é tratado na sociedade e
Escola – instituição social que tem o encargo de educar, em casa e dos estímulos que recebe para aprender. É preciso entender
segundo planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades da que o aprender é um processo contínuo que não cessa quando ele
sua formação, casa ou estabelecimento onde se ministra o ensino. está em casa. Qualquer gesto, palavra ou ação positiva de qualquer
Escola é uma instituição educativa fundamental onde são membro da sociedade ou da família pode motivá-la, porém, qualquer
organizadas, sistematicamente, atividades práticas de carácter palavra ou ação que tenha uma conotação negativa pode gerar um
pedagógico. bloqueio no aprendizado. É claro que, como qualquer ser humano,
Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é ele precisa de limites, e que não pode fazer tudo que quiser, porém
verdadeiramente uma instituição de último recurso, após a família, os limites devem ser dados de maneira clara, sem o uso de palavras
comunidade e a igreja terem fracassado. rudes, que agridam ou desqualifiquem-no.
Comunidade é um conjunto de pessoas que vive num Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de aprender
determinado lugar e ligado por um ideal e objetivos comuns. a agredir, perde uma boa parte da motivação para aprender,
Participação – de acordo com a etimologia da palavra, pois seus sentimentos em relação a si mesma e aos outros ficam
participação origina-se do latim “participatio” (pars + in + actio) que confusos, tornando-a insegura com relação às suas capacidades, e
ignifica ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter consequentemente gerando uma baixa autoestima. Outro aspecto
acesso ao agir e às decisões que orientam o agir. “ que merece ser lembrado é o que se refere à comparação com
Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, outros irmãos que foram bem sucedidos; os pais ou responsáveis
responsabilidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem devem evitar a comparação, pois cada um é único e tem seu próprio
puder decidir sobre ela” ritmo de aprendizado e sua maneira singular de ver o mundo e a
A participação é «um modo de vida» que permite resolver sociedade em que esta inserido.
favoravelmente a tensão sempre existente entre o individual e o É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o aprendizado
coletivo, a pessoa e o grupo, na organização. não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas é construído
A participação deve ser vista como um processo permanente pelo contato com o social, dentro da família, e no mundo ao
de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a autoridade delegada seu redor. Fazer do aprendizado um prazer é tarefa não só dos
do poder central ou local na escola; as competências profissionais professores, mas também, de pais, da sociedade e de qualquer
dos professores (enquanto especialistas do ensino) e de outros profissional interessado no bem-estar de quem aprende.19
trabalhadores não docentes; os direitos dos alunos enquanto Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em mente
«autores» do seu próprio crescimento; e a responsabilidade dos que a família esteja presente na vida escolar de todos os alunos em
pais na educação dos seus filhos. todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação entre escola e
Considerando que toda criança faz parte de uma família e que família. Nesse sentido, escola e família possuem uma grande tare-
toda família, além de possuir características próprias, está inserida fa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma
em uma comunidade, hoje, ambas, família e comunidade, estão criança.
incumbidas, juntamente com a escola, da formação de um mesmo Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica
cidadão, portanto são peças fundamentais no processo educativo pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio no que
e, porque não, na elaboração do projeto pedagógico da escola e na diz respeito à disciplina de seus educandos. A sociedade moderna
gestão da mesma. vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é
Quando a escola recebe os educandos, de onde eles vêm? uma constatação que norteia os arredores dos setores educacio-
Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade, de uma família, nais, pois é na escola que essa crise pode aflorar mais, ficando em
e os pais e responsáveis realizam seu encaminhamento. maior evidência.
Não são os educandos seres viventes em um núcleo familiar Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
e social, onde recebem orientação moral, vivenciam experiências ( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e institui a gestão de-
e reforçam seus conhecimentos? Tudo isso é educação. Para mocrática nas escolas e vai além. Dentre algumas conquistas des-
estabelecer uma educação moral, crítica e comprometida com tacam-se:
o meio social, é primordial a integração entre escola, família e A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a
sociedade. Pois, o ser humano é um ser social por excelência. educação para além da educação escolar, ou seja, comprometimen-
Podemos pensar na responsabilidade da escola na vida de uma to com a formação do caráter do educando.
pessoa. E ainda, partindo desse princípio, é um equívoco desvincular
a família no processo da educação escolar. A escola vem reforçar 19 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes Anequim /
Valéria Cristina P.Alves Bino
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como trabalhando, sendo valorizado por ser um profissional diferenciado,
falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos que soube aproveitar as oportunidades a ele oferecidas,
alunos. Nunca se observou tantos professores cansados e muitas conquistando, por mérito próprio seu lugar perante a sociedade.
vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de im- No entanto, fala-se tanto dessa inclusão, mas infelizmente, a
potência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na escola está muito longe de ser um ambiente seguro e imparcial,
vida escolar. que impede que as diferenças que existem fora dos seus portões,
Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram adentrem o ceio escolar e massacrem vários discentes por serem
compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico, negros e/ou pobres e/ou homossexuais e/ou adolescentes grávidas
no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais fre- e/ou usuários de entorpecentes, enfim, eles acabam sendo
quentes. Professores debatem formas de tentar superar todas essas excluídos e humilhados, porque a escola não está preparada para
dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em evitar o Bulling, pois, cabe a escola como instituição de ensino, fazer
breve não se conseguirá mais ensinar e educar. um trabalho de conscientização de respeito, à homofobia, racismo,
Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões violência (de todas as formas), gravidez na adolescência, educação
vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basica- para o trânsito, ética profissional, além, dos conteúdos que fazem
mente envolvendo direções, coordenações e grupos de professo- parte de sua grade curricular.
res. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo “O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será
a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que para o século XXI mais do que a Revolução Industrial já foi para o
nela são observadas. século XX”. Jeffry Timmons, 1990.
Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, muitos Qual o papel da educação para a sociedade? Segundo
projetos são lançados e inúmeros recursos também lançados pelo diversos autores e estudiosos cabe a Educação iniciar um processo
governo no sentido de não deixar que o aluno deixe de estudar. de aprendizagem continuo que possibilite crianças, jovens e
Porém, observa-se que se não houver um comprometimento maior adultos, alcançarem a excelência em suas habilidades cognitivas
dos responsáveis e das instituições escolares isso pouco adiantará.20 e sociais, transformando-se em profissionais dedicados, críticos e
especializados em suas áreas de atuação. O papel da escolarização
O papel da educação na sociedade brasileira é dar condições para o processo de formação contínua e
Sempre estamos nos perguntando qual é a finalidade da continuada para todos aqueles que anseiam crescer como pessoas
educação? Escolarizamos nossos alunos para a vida ou para a e profissionais. O profissional que almeja destacar-se no mercado
sociedade? Ao longo dos anos, muitos estudiosos e autores, se de trabalho, ficará sempre antenado em inúmeras formas de
compeliram em compreender o real papel da escola, perante a manter-se atualizado, dando assim, continuidade a sua formação
sociedade. A instituição de ensino foi concebida com o principal profissional e com isso qualificando sua mão de obra. A ação de
objetivo de originar grandes transformações que causariam nos ensinar tem como princípio fundamental a formação integral do
indivíduos e na sociedade, a libertação da classe dominadora, onde indivíduo, bem como, o objetivo de prepará-lo para o espírito de
todos poderiam, a priori, ter as mesmas oportunidades e privilégios liderança, de consciência crítica, ética e moral, para que ele possa
que só à burguesia, até então, possuía. Ir a escolar, ocupar um lugar aprender a viver e conviver em sociedade, de forma consciente,
nas salas de aula, deixou de ser um lugar privilegiado, sacralizado ativa, participativa, discernindo o certo do errado, diferenciando
e de acesso restrito ao conhecimento e a informação, para ser bem de mal e assim, transformar-se em um cidadão integro e de
um recinto aberto, amplo, onde todos poderiam aprender e respeito.
desenvolver suas capacidades de inter-relacionar-se, construindo Ao encetar a leitura de um artigo escrito por Terezinha Saraiva,
assim, múltiplos saberes. Existem ainda, muitas ideias que estão onde ela fala que, competia a família a educação de seus filhos e à
enraizadas na nossa forma de pensar sobre a educação e seu escola o ensinar, percebeu que hoje, em pleno século XXI, muitos
papel junto à sociedade. Em inúmeras formas e diversos prismas, pais inverteram essa ação. Ela cita o seguinte:
conhecemos discursos que definem o papel da educação, da “A educação passou a ser exercida por vários agentes, meios
escola, como sendo, reconstrutores da sociedade, por meio da e espaços, que avultam o papel da escola. Agigantou-se sua
homogeneização das desigualdades, com a produção de indivíduos responsabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, abrangendo
críticos e conscientes, estimulados para o desenvolvimento a educação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que as famílias,
cognitivo e socioeconômico. muitas delas, declinaram do dever de educar seus filhos. Por esta
O Filósofo e Prof. Dr. Mario Sergio Cortella (1998), diz que, razão, a par de ser responsável pelo processo de ensino e de
discutir o papel da escola, é procurar uma compreensão política aprendizagem de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando
da própria finalidade do trabalho pedagógico. Diante disso, nos de crianças e adolescentes, a escola assumiu a atribuição de formar o
perguntamos mais uma vez, Qual o Papel da Educação para a cidadão, construindo com ele não só conhecimentos, competências
Sociedade? Formar indivíduos críticos ou especializar mão de e habilidades, mas a escala de valores, onde avultam a moral e a
obra? Em longo prazo, acredita-se que a escolarização, irá melhorar ética, que vai servir de farol, iluminando sua caminhada”. Terezinha
a sociedade brasileira e que o sistema educacional permitirá Saraiva
que todos, crianças, jovens e adultos, possam ter um ensino de Reforçando o que Terezinha Saraiva fala o Filósofo Professor
qualidade, que lhes garanta a possibilidade de ascensão social. Dr. Mário Sergio Cortella, em entrevista para a Revista Filosofia,
É estéril debater sobre o tema proposto, sem esquecer-se das cita que certo dia um pai de aluno lhe perguntou como ou o quê,
imensas mazelas que figuram nosso Brasil, as desigualdades sociais a família deveria fazer para colaborar com a educação dos filhos na
que persistem em existir, nos fazem pensar mais a fundo, sobre escola, e gentilmente, ele responde ao pai que existia um equívoco
o principal papel da escola para a sociedade, pois, a educação é na formulação da questão, pois, não cabia a escola educar os filhos,
vista como forma de nivelar essas desigualdades, uma vez que, o porque a escola colabora na educação, escolarizando e dando
indivíduo adentrando a instituição de ensino, teria oportunidades oportunidades de desenvolvimento das crianças e jovens, e que
iguais de conhecimento e aprendizagem, onde poderia assim, a função de educar era da família, e, salienta mais, dizendo que
desenvolver suas habilidades e conquistar seu lugar no mercado de a escola nos últimos 20 anos, principalmente a pública, assumiu
diversas tarefas, porque ela é a parte da rede de proteção social,
20 Fonte: www.portaldoconhecimento.gov.cv
33
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
e por isso desempenha tarefas do Estado, entre elas a proteção à É público e de ciência de todos, que a Educação, nem sempre
vida, segurança e liberdade dos indivíduos. De acordo com esses esteve relacionada ao desenvolvimento econômico, destarte,
fatos, a proeminência de que a família não cumpre com seu dever é através da educação que se qualificam e especializam-se
é notório, e por conta disso, a escola, teve sua responsabilidade profissionais, os quais são entregues a sociedade com senso crítico
aumentada, e a função de propiciar e mediar a construção do saber, apurado e mão de obra especializada. A título de exemplo, o SENAC
do conhecimento e do exercício da socialização, foi-lhe agregada a – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial que tem como
responsabilidade de educar e preparar crianças e jovens, para a vida, Missão: “Educar para o trabalho em atividades de Comércio de
e ainda, para enfrentarem as desigualdades, injustiças, Bulling e etc. Bens, Serviços e Turismo, no contexto nacional, concentra todos os
Sobre empreendedorismo e desenvolvimento seus esforços no sentido de incrementar ações educativas voltadas
socioeconômico, Ivan Luís Tonon (2011), em seu artigo: “O papel à formação de profissionais criativos, colaborando assim com
da Educação no desenvolvimento Econômico e no surgimento do as empresas que desejam permanecer operando num mercado
empreendedorismo”, defende que, através do desenvolvimento cada vez mais competitivo”. Sua Visão: “É consolidar-se, como
econômico e suas influências, a educação pode ser mediada referência brasileira em Educação para o trabalho, conciliando
contribuindo, assertivamente, com o desenvolvimento econômico ações mercadológicas e de promoção social”. Existem muitas
aliado ordenadamente ao desenvolvimento educacional, Instituições de Ensino como o SENAC, que qualificam e especializam
criando condições eficientes para acabar com a desigualdade inúmeros profissionais ao longo dos anos, com uma equipe de
social. Ao dar início a leitura de alguns artigos sobre educação e professores qualificados, que ao contratar, selecionam professores
empreendedorismo deparei-me, com o artigo de Marival Coanl especializados como Mestres e doutores, para que, o ensino e a
(2012): “Educação para o Empreendedor com Estratégia para qualidade do nome SENAC, seja elevada, mantendo-se como
formar um trabalhador de novo tipo”, cita que: referência em qualidade de ensino. A escolha de um profissional,
A necessidade de se formar um homem trabalhador para o qualificado e especializado conta muito, para a contratação de novos
empreendedorismo, por meio da educação, tornou-se evidente profissionais. Os mais qualificados, têm um lugar garantido ao sol,
nos últimos tempos como estratégia para combater o desemprego, aos que não procuraram ascender em sua formação, infelizmente,
constituindo-se dessa forma, uma ideologia que, enaltecendo o continuarão reclamando da desigualdade salarial e manter-se-ão
modo de produção capitalista, intenta moldar os indivíduos à ordem no obscurantismo da profissão, sendo deixados para trás, por não
social vigente com a promessa de que, com o desenvolvimento de oferecerem habilidades e qualificações necessárias para o cargo/
suas potencialidades empreendedoras, obterão sucesso na vida ocupação que o mercado de trabalho oferece/exige, e que tanto
profissional e pessoal. O discurso sobre o empreendedorismo, anseiam ocupar. O mercado de trabalho está muito exigente, e
embebido de valores liberais, prima por ocultar as causas dos procura por profissionais qualificados e críticos. Pois ao tornarem-se
problemas sociais, inclusive, apresentando-os como desafios a qualificados e especializados em sua área de formação, tornam-se
serem superados com iniciativa e proatividade individual. peça chave para o desenvolvimento socioeconômico. Acredito que
Percebe-se que a sociedade capitalista estimula a a desigualdade salarial, hoje existente entre diversos profissionais,
competitividade e o individualismo, de forma a sobressair-se a ocorre pela falta de desenvolvimento educacional. Não adianta
todos sem preocupar-se com as diferenças sociais. No entanto, querer abraçar o mundo sem ao menos, aprender como abraça-
com o surgimento do empreendedorismo, e inúmeros projetos lo! Os indivíduos precisam aprender que, singularmente falando,
que visam abrandar a pobreza, através da educação, estimula- somente a educação pode melhorar sua formação, somente o
se a competitividade e o individualismo como valor moral, como profissional qualificado tem uma vida financeira saudável, além,
também, a sociedade é chamada para a responsabilidade de forma é claro, são valorizados pelos seus gestores, que, sem sombra de
a contribuir para a solução das diferenças sociais. Mesmo que, o dúvida, procuram investir nesse profissional, propiciando a eles,
indivíduo seja estimulado a competitividade e individualismo, ele novos conhecimentos, através de capacitações e treinamentos,
torna-se solidário e preocupado com essas tais “diferenças”, e oferecidos pela empresa que labutam.
acaba por colaborar na diminuição da desventura humana. O Novo Nos dias atuais, a educação vem criando vários projetos para que
Trabalhador, como é chamado o Empreendedor do século XXI, o ensino do empreendedorismo seja consolidado na grade curricular,
utiliza-se de estratégias para difundir o empreendedorismo, mas das escolas de ensino fundamental e médio, baseados na pedagogia
é através da educação, que o ensino sobre empreendedorismo empresarial, como disciplina ou atividades extracurriculares.
torna-se significativo, dinâmico, atrativo. É pela educação, Projetos como a Empresa Júnior, dentro das escolas, tem o apoio
do SEBRAE, que participa ativamente destas atividades e apoia
através de cursos e/ou capacitações e/ou especializações que ele
o desenvolvimento das Micro e Pequenas empresas. Além desse
aprende a suprir as demandas num período que, novos modelos
apoio, o SEBRAE criou o “Desafio Universitário Empreendedor”,
de escolas e profissionais estão surgindo. A demanda atualmente,
projeto este, que se destina aos acadêmicos de instituições públicas
por profissionais proativos, que sabem agir, e tem bem definido
e/ou privadas de qualquer curso, que queiram estimular atitudes
as competências, habilidades e atitudes que todo profissional
empreendedoras, através de inúmeras atividades, jogos virtuais e
em excelência almeja ter, saberá ser um empreendedor capaz de
cursos de capacitação presenciais. Muitas pesquisas descrevem a
amenizar as diferenças e a superar as individualidades existentes
necessidade de se educar os alunos e jovens acadêmicos, para o
num mundo capitalista. A educação para o empreendedorismo desenvolvimento de habilidades empreendedoras, onde possam
faz parte de uma ideologia que faria a inclusão social por meio de formar uma mentalidade adequada para atender as mudanças do
atitudes inovadoras e criativas – empreendedoras. Sua origem, está mundo atual.
associada a crise do emprego formal. Para Souza (2009): A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e
O “aprender a empreender” reduz o trabalho educativo à quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo, sendo assim,
produção de mais-valia em contexto de crise estrutural, aproxima, Empreendedorismo é o estudo dedicado ao desenvolvimento de
dessa forma, a educação ao complexo da alienação, “pois pretende, competências e habilidades relacionadas à criação, que oportuniza
em vão, adaptar o indivíduo à sociedade capitalista de forma a o indivíduo a saber identificar oportunidades e transformá-las em
tentar inutilmente harmonizar os conflitos entre capital e trabalho, realidade. A importância do empreendedorismo está na geração de
ao desconsiderar o conteúdo desumano que existe durante a riquezas, que promove crescimento e desenvolvimento, gerando
produção de mais-valia” (SOUZA, 2009, p.15). mudança tanto econômica quanto social.
34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Diniz (2009), em seu artigo: “Empreendedorismo, uma nova
visão: enfoque no perfil empreendedor”, fala que: ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO – A RELA-
O empreendedor não é um ser mágico, é uma pessoa como ÇÃO DESENVOLVIMENTO / APRENDIZAGEM: DIFE-
qualquer outra, porém, apresenta algumas características que RENTES ABORDAGENS, A RELAÇÃO PENS AMENTO /
o deferem dos demais, por exemplo, o senso de oportunidade, a LINGUAGEM – A FORMAÇÃO DE CONCEITOS, CRESCI-
capacidade de lidar com as pessoas, a persistência e a criatividade. MENTO E DESENVOLVIMENTO: O BIOLÓGICO, O PSI-
Isso é muito bom, uma vez que todas estas características são COLÓGICO E O SOCIAL. O DESENVOLVIMENTO COGNI-
passivas de se adquirir com a vivência, busca de instituição de TIVO E AFETIVO
ensino e com a força de vontade. Diniz, 2009.
Temos que estimular uma valorização que nunca deveria ter A forma como a psicologia foi sendo chamada a responder
deixado de existir, teremos avanços e melhorias perceptíveis em os desafios relacionados ao humano em cada momento histórico,
todos os aspectos, do ensino básico ao superior, do presencial ao é o objetivo deste e do próximo encontro. Nesta e nas próximas
virtual, de dentro das nossas casas ao convívio social. Cuidar da aulas serão apresentados, em linhas gerais, o desenvolvimento
educação é uma das ações de maior valor para garantir uma vida da psicologia enquanto ciência e a inserção da psicologia no
melhor em nossas casas, em nossas famílias, em nossa comunidade, contexto educacional brasileiro, assim como introduziremos uma
em nosso município, enfim, em nosso Brasil e no mundo. Ante questão básica para a psicologia, quer seja, a determinação da
o exposto, notamos, que o papel da educação para a sociedade, hereditariedade e do ambiente na constituição do homem.
não é só formar e especializar, é preparar um cidadão blindado, Antes de iniciar essa incursão, vale salientar o contexto histórico
para que este possa transpor as barreiras que encontrará durante em que as teorias aqui apresentadas se desenvolveram. As teorias
sua jornada profissional. Nesse caso, a responsabilidade para o surgem, prioritariamente, na Alemanha e na América do Norte,
docente aumenta, quando este, terá de exercer sua função, não excetuando-se a Psicologia Histórico-Cultural e o Condicionamento
só de professor, mas de educador, pai e conselheiro, mantendo-se Clássico que têm origem na Rússia; e no final do século XIX e o início
atualizado, crítico, conhecedor de uma visão de mundo adequada e do século XX, ou seja, em pleno desenvolvimento do capitalismo
justa, tendo uma vida regrada, ética e digna, para servir de modelo industrial, excetuando-se a Teoria Humanista, que é fruto da
para seus alunos, pois, o professor será uma bússola, que apontará
segunda metade do século XX.
para qual caminho seguir e quais conhecimentos adquirir de valores
Isto não significa que essas teorias, ou concepções do mundo,
morais e éticos, além, dos cognitivos que deverá ensinar em sala
tenham sido amplamente divulgadas em todo o mundo ou que
de aula, enfim, caminhos desafiadores, que infelizmente, apenas
tenham influenciado com a mesma intensidade os diversos
poucos (determinados) seguiram. Não nos aprofundando muito
contextos para o qual foram transplantadas. Os escritos de Vigotski,
nesse assunto, mas diante desse fato, o docente terá de ser a pessoa
por exemplo, foram censurados por Stalin e proibidos de serem
mais correta, regrada e empreendedora que possa existir, onde,
divulgados durante décadas. De qualquer forma, a compreensão
então, ele poderá fazer os apontamentos adequados, sem correr o
acerca dessas teorias torna-se imprescindível para a formação do
risco de ser apontado como um infrator de regras e normas, pois sua
futuro educador, uma vez que têm influenciado, até hoje, em maior
conduta moral e ética será intocável. Destarte, o papel da educação
ou menor grau, as propostas pedagógicas de cada país.
é um caminho abstruso, mas de extrema importância para a vida de
A história da inserção da psicologia no Brasil é bastante curiosa,
um indivíduo, pois, através da escola que o futuro profissional fará
uma vez que deve-se a sua aplicação nos cursos de formação de
sua formação e dará continuidade a ela. A escola pode ser vista como
educadores, isto é, à Psicologia da Educação.
um realizador de sonhos, um tanto filosófico, mas sine qua non. A
Na década de 1920, os novos desafios trazidos à educação com
demanda por profissionais capacitados e especializados é grande, e
o início da industrialização trazem a necessidade de uma psicologia
somente e exclusivamente, só a Educação pode proporcionar isso.
que dê subsídios à formação dos educadores. Os estados mais
Não há nada mais valoroso e imprescindível para a transformação
desenvolvidos do país começam a implantar as reformas de ensino,
de realidades, de uma sociedade e de um País, do que a Educação!
movidos pelos ideais da Escola Nova, e a Psicologia da Educação
Diante disso, entendo que a educação não conseguirá
começa a assumir o seu papel na educação brasileira.
transformar a sociedade e a sociedade por sua vez, não conseguirá
O ideal liberal da Escola Nova chega ao Brasil com o término
mudar sem a educação. A pergunta é pertinente: Qual o Papel
da Primeira Guerra Mundial e o ingresso do Brasil na era urbano-
da Educação para a Sociedade: Formar um indivíduo critico ou
industrial. As ideias advindas dos Estados Unidos da América e da
especializar a mão de obra? O que queremos para uma sociedade
Europa são apropriadas e reunidas sob o título de Escola Nova.
que está desabrochando para o desenvolvimento econômico e
Os professores que foram estudar nos Estados Unidos trazem
que tanto se fala em empreendedorismo? Como definir o papel da
para o ideário educacional brasileiro a educação progressiva ou
educação, se não conseguimos mensurar a forma pela qual, ela pode
escola ativa em John Dewey. Por outro lado, os que vão estudar na
contribuir objetivamente e definitivamente no desenvolvimento
Europa trazem as ideias de Jean Piaget e sua teoria construtivista
econômico das famílias e das pessoas? Enquanto, a sociedade
é apropriada como o alicerce psicológico de sustentação da Escola
não compreender que deve investir colaborar e corroborar com
Nova. Com vista à divulgação dessas ideias é criada, no Rio de
a melhoria da educação, estará fadado a “criar” profissionais
Janeiro, a Associação Brasileira de Educação, em 1924.
frustrados, obsoletos, irresponsáveis, duvidosos e que não passam
Esse modelo de escola, necessariamente relacionado à
de meros expectadores da ruína humana, e mal querem saber de
construção de uma sociedade democrática, passa a influenciar
aniquilar as desigualdades humanas as quais fazem parte, pois,
o ideário educacional brasileiro até os dias atuais. Entretanto,
preferem continuar no lamaçal da ignorância a terem que “perder
vale salientar que as “novas ideias” já vinham sendo gestadas
tempo” adquirindo a fórmula do crescimento cognitivo, pessoal e
anteriormente ao referido período, tanto com a introdução das
social que se chama: Educação!21
ideias iluministas nas Reformas Pombalinas, no Brasil Colônia,
quanto na segunda metade do século XIX, com a introdução dos
ideais liberais no Manifesto Liberal e com as escolas para os filhos
de norte-americanos, que tinham como orientação pedagógica, a
21 Fonte: www.todamateria.com.br/www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/ educação ativa.
www.infoescola.com/www.blog.abmes.org.br/ www.pensaraeducacao.com.br
35
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O ensino liberal tradicional, que dominava até então, vai aos No final da década de 1940 e início da década de 1950,
poucos diminuindo a sua influência e dando lugar a um ensino intensificam-se as lutas ideológicas entre reformadores e
voltado à industrialização, com importação de tecnologia, e à conservadores e favorecem a criação de vários órgãos e de uma
necessidade de maior expansão do ensino. No discurso oficial, comissão, em 1948, para discussão e elaboração do ante-projeto
as ideias democráticas são reforçadas e incluem os ideais de das diretrizes e bases da educação nacional.
solidariedade e cooperação associados ao pensamento liberal. Vargas retorna ao poder em 1950, e, em 1954, suicida-se. Segue-
A chegada dos ideais da Escola Nova ao contexto brasileiro se um conturbado período político. Em 1956, Juscelino Kubitschek
favorece a crença, até hoje aceita, de que a educação é o fator assume a presidência e, em 1961 (treze anos após a constituição
determinante de mudança social e, para tanto, tornava-se da primeira comissão), é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da
necessário difundir e reestruturar a educação, tendo em vista o Educação Nacional (LDB) em que prevalecem as reivindicações dos
regime republicano e democrático em vigor. O entusiasmo pela donos de estabelecimentos particulares de ensino.
educação e o otimismo pedagógico caracterizam o movimento Romanelli (1986) aponta que esse percurso teve, como ponto
escolanovista. negativo, a defasagem entre o texto e a realidade concreta e, como
Como sinaliza Saviani (1985)1, a uma pedagogia da essência, ponto positivo, a grande mobilização e a luta nacional propiciadas
da escola tradicional, se contrapôs uma pedagogia da existência. pela conscientização dos problemas relacionados à realidade
O “otimismo pedagógico” ou a “ilusão liberal” que se anunciava educacional (ROMANELLI, 1986, p. 171-172). Freitag (1986) afirma
na escola tradicional liberal, surge de forma mais intensa na Escola que a LDB traduziu toda a seletividade do sistema educacional,
Nova. tanto verticalmente (do ensino primário ao universitário), quanto
O início da industrialização no Brasil, na década de 1920, em relação à origem de classe dos alunos. Nas décadas de 40 e
começa a produzir mudanças políticas, no aparelho de Estado e 50, a importação de livros e o aperfeiçoamento de professores nos
no poder político, e mudanças sociais com o aumento da exigência Estados Unidos da América, “através de acordos celebrados entre
por educação de forma a suprir os recursos humanos necessários os governos brasileiro e americano deram novo impulso à Psicologia
à economia. Antes da década de 1920, segundo Romanelli (1986, da Educação” (GOULART, 1987, p. 149).
p. 55), a educação escolar “carecia de função importante a Exemplos desse novo impulso dado à Psicologia da Educação,
desempenhar junto à economia”. são: o retorno da concepção democrática de educação de John
Essa mudança que se possibilitou à educação de enfrentar Dewey (bem propício nesse período após 15 anos de ditadura); a
os novos desafios advindos do desenvolvimento do capitalismo, chegada dos estudos do Comportamentalismo com John Watson,
também gerou inquietações e questionamentos acerca do fazer que trazem a segurança da fundamentação científica (mesmo que
docente. O viés individualista norteia a formação de educadores orientada para um experimentalismo positivista) e dão ênfase ao
nas 4ªs séries iniciais do ensino elementar (que equivale hoje à papel do ambiente na formação das pessoas; a chegada dos textos
primeira fase do ensino fundamental) e a Psicologia da Educação de Carl Rogers, ainda que de forma menos incisiva; assim como o
contribui com essa orientação. uso dos testes em Psicometria.
O aluno passa a ser o centro do processo educativo e o professor A Psicologia Experimental influencia os cursos de Filosofia e dão
deve ser capaz de orientar a aprendizagem a partir do conhecimento suporte à tecnologia educacional fundamentada principalmente
da personalidade do aluno. Os professores são chamados a atuar nos estudos de Burrhus Skinner. O uso de testes na Psicometria
visando a construção do novo homem, preparado para o novo, com reduz as diferenças sociais às diferenças individuais. Portanto, as
autonomia e visão crítica. diferenças se explicariam pelo nível de inteligência, pela aptidão,
No ano de 1932, alguns educadores como Anísio Teixeira, pelo interesse, adiando ou mesmo ignorando as discussões
Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Francisco Campos, lançam acerca do acesso e da permanência do aluno na escola. Os testes
o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, na defesa de uma são também amplamente utilizados na escola pela Orientação
educação e uma escola leiga e gratuita, e da abolição do dualismo educacional na orientação vocacional e em diagnósticos (GOULART,
escolar em todo território nacional. Esse documento é fruto dos op.cit., p. 151).
embates entre os educadores católicos defensores do ensino O país vive um momento de crescimento econômico e de
tradicional e os educadores defensores das “ideias novas” que participação política no governo liberal de Juscelino Kubitschek.
questionavam os princípios que deveriam nortear a educação Surgem os Movimentos de Educação Popular motivados tanto
nacional. pelos debates a favor da educação pública e de qualidade em toda
A Constituição de 1934, reflete a vitória do movimento a América Latina, como pelas ideias de Paulo Freire e de autores
renovador, e a educação passa a ser direito de todos e que, influenciados pelo pensamento social cristão, defendem a
responsabilidade da família e dos Poderes Públicos, inclusive com a participação ativa da população adulta na vida política do país.
obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário (RIBEIRO, 1986, Com o golpe de 1964, o Estado Militar imprime à educação o
p. 104). caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo.
Em novembro de 37, Vargas dá o Golpe de Estado (Estado A Constituição de 1967 elimina vários direitos constitucionais
Novo) e institui o regime totalitário. É promulgada a Constituição adquiridos anteriormente e a relação educação e desenvolvimento
essencialmente de tendência fascista e ditatorial. Em seu texto, fica é reforçada pelos acordos MEC-USAID que atingem todo o sistema
explícita a orientação político-educacional para o mundo capitalista de ensino. Desenvolve-se uma concepção tecnicista em educação
com a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para com ênfase nos métodos e técnicas e na formação profissional, mais
as novas atividades abertas pelo mercado. Em 1945, é deposto por adequada aos princípios da empresa capitalista: maior eficiência e
um golpe militar. produtividade.
A Constituição de 1946, de orientação ideológica liberal- A racionalização do processo produtivo reflete-se na
democrática, em essência, não difere da de 34. O retorno à racionalização educacional através das reformas de ensino como
normalidade democrática favorece o renascimento dos princípios a Lei 5.540/68 e a Lei 5.692/71 relativas, respectivamente, ao
liberais em educação e a retomada do preceito de que a educação ensino superior e ao ensino de 1º e 2º graus. No plano pedagógico,
é direito de todos, inspirada nos princípios da Escola Nova e do entre outros aspectos, a Filosofia é eliminada dos currículos e a
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. psicologia, destaca Goulart (op.cit., p. 155) “sobreviveu a esta crise
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
provavelmente porque lhe era possível desenvolver um discurso que buscam “descaracterizar a conotação fortemente crítica do
descompromissado com o social e o político e, ao mesmo tempo, texto de Vigotski em relação não só ao pensamento de Piaget
capaz de justificar as desigualdades sociais e até preservá-las”. como também ao idealismo presente em boa parte das teorias
Na década de1960, são criados cursos de Psicologia e de psicológicas” e tornar “o pensamento de Vigotski mais soft, menos
Orientação Educacional. marxista e mais facilmente adaptável ao pragmatismo norte-
Portanto, segundo Goulart (1987, p. 154), foi “entre os americano”. Apesar de estar se referindo às obras de Vigotski, as
especialistas (professores de) em Psicologia Educacional que se reflexões de Duarte bem poderiam ser atribuídas às traduções e
buscou inspiração para os dois novos cursos”. Esses cursos tinham interpretações de outros autores marxistas.
uma tendência fortemente experimental, aproximando a Psicologia No fim do Período Militar (1985), a responsabilidade do Estado
da Biologia, e com o emprego da Psicometria com vista à “seleção e burguês com a educação, ideal defendido pelos escolanovistas,
adaptação do pessoal nas empresas”. recebe fortes críticas de educadores, principalmente, de orientação
A tendência nos cursos de Psicologia da Educação foi, mais uma marxista. A discussão sobre as questões educacionais perde o
vez, o Comportamentalismo, fundamentada agora nos trabalhos de sentido pedagógico e adquire um viés político.
Skinner e o estudo da dinâmica de grupo e das relações humanas, Saviani (1986, p. 12; 20) afirma que a defesa da “tutela”
voltados para a análise das relações no interior das escolas, do Estado em relação à educação, como forma de “garantir o
deixando intocadas as questões relativas à estrutura econômica e atendimento das necessidades educacionais do conjunto da
social mais ampla. sociedade” (décadas de 1930 e 1950), constituía uma “ilusão
Ao assumir as reformas, o Estado isola o fenômeno educativo liberal”, uma vez que pressupunha “um Estado neutro que pairava
dos fenômenos econômicos, políticos e sociais e articula-se ao acima das diferenças de classe”. Assim como conclama a sociedade
grande capital, assim como assume, segundo Freitag (1986, p. 107), civil a “exercer o controle da educação em geral”.
a função de reprodução “da estrutura de classe, da estrutura de A Constituição de 1988, apesar de alguns avanços na área
poder e da ideologia”, e “da força de trabalho” 3, contribuindo para educacional como o caráter do direito público subjetivo ao ensino
a formação de “um exército industrial de reserva”. obrigatório4, acentuou o papel da sociedade e da família frente à
Historicamente, compreende-se que a psicologia deu um salto educação de seus filhos, minimizando o papel do Estado quanto à
qualitativo, ao passar de uma análise individualista de seu objeto de qualidade dos serviços prestados à população (“Estado mínimo”). A
estudo a uma análise social. Entretanto, ainda percebe-se que essa nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aprovada
análise, na maioria das vezes, “mascara” a análise histórica. Se, a em 1996, onze anos após de ter sido cogitada a sua efetivação na
análise individual negligencia o aspecto social, reduzindo diferenças V Conferência Brasileira de Educação em 1985, caracteriza-se pelo
sociais a diferenças individuais; a análise social parece reduzir as forte cunho liberal dos “primeiros tempos”, nos moldes de Dewey.
questões históricas ao meio social mais próximo ao sujeito, ou seja, A partir do final da década de 1990, a responsabilidade do
à família, à escola, ao bairro, ao que denomino “individualização do Estado com as políticas sociais, entre elas, a educação, retorna
social” (BAPTISTA, p. 35). à discussão nacional como enfrentamento ao Estado mínimo
No final da década de 1970 e início dos anos de 1980, a neoliberal (liberal). As reformas na educação investem na formação
população brasileira volta-se para a reconstrução nacional e o aligeirada e a distância, e na tecnologização da educação (um novo
enfrentamento dos problemas econômicos (dívida externa e transplante!), deixando à mostra o avanço da mercantilização da
crise fiscal), políticos (luta pela redemocratização da sociedade) e educação e a ineficiência do Estado em arcar com a educação
sociais (aumento do analfabetismo e do desemprego) agravados ou pública e de qualidade.
herdados com a ditadura. Finalmente, vale salientar que a Psicologia da Educação ao
Na década de 80, o processo de reabertura política favorece voltar-se para a compreensão do homem como um todo não pode
prescindir de uma micro e de uma macro-análise. Nesse sentido,
a reconquista das liberdades democráticas, possibilidade de
essa compreensão pressupõe uma análise, tanto do contexto em
participação para os movimentos sociais de base e o crescimento
que o indivíduo encontra-se inserido, quanto da determinação desse
dos movimentos sindicais. Os trabalhadores começam a se
contexto, a que o sujeito exterioriza em ação, em comportamento.
organizar incorporando a história do Partido Comunista Brasileiro
(PCB), da esquerda marxista e da Ação Popular (AP), que retorna à
A relação desenvolvimento e aprendizagem
cena política na década de 1980 com as pastorais e comunidades
O estudo sobre a psique humana tem constantemente
eclesiais de base. Há um retorno da teoria de Jean Piaget e do
enfrentado a seguinte questão: se este ou aquele traço de
Construtivismo ao ideário educacional brasileiro. personalidade deve-se à hereditariedade e à constituição, ou
Nesse período, começam a chegar, ao Brasil, as primeiras seja, à carga genética do indivíduo, ou ao ambiente, ou melhor, à
obras de Lev Vigotski, traduzidas, principalmente, do inglês. Essas experiência e à aprendizagem do indivíduo na interação com o seu
traduções favorecem uma apropriação da obra de Vigotski, ora meio social e cultural.
pela via da linguagem, aproximando-o dos linguistas, ora pelo viés Assim, as ações, o comportamento humano, enfim, as
interacionista, aproximando-o de Piaget, ora pelo viés marxista, diferenças individuais são atribuídos ora à hereditariedade, ora
afastando-o de Piaget. aos fatores externos. No primeiro caso, aparecem relacionados ao
Duarte (2000, p. 278) representa essa terceira apropriação e comportamento familiar. Portanto, se a criança é agitada ou calma,
afirma que, diferentemente de Piaget que “é sociointeracionista” (o esperta ou “desligada”, se gosta de estudar ou não, de comer ou
próprio construtivismo ou interacionismo é sociointeracionista), em não, se demora a dormir ou se acorda cedo, diz-se que se parece
Vigotski o social tem uma “conotação efetivamente historicizadora com o pai, o avô, a tia etc., quando tinham a mesma idade que a da
do ser humano, uma concepção marxista do homem como ser criança em questão.
social”. No segundo caso, esses comportamentos são atribuídos
Em seu livro intitulado Vigotski e o “Aprender a aprender”, a fatores, tais como, o excesso ou a falta de limites pelos pais
Duarte (2000, p. 171; 168) acusa a superficialidade com que os na criação da criança, desde quando pequena. Assim, aos
livros Pensamento e linguagem e A formação social da mente comportamentos acima descritos reage-se com observações como:
foram “traduzidos” para o português, denominando-os “versões “a mãe é boazinha demais” ou “o pai é muito severo”, ou ainda “a
resumidas, reescritas e censuradas dos textos originais de Vigotski”, escola não consegue controlar os seus alunos”, entre outras.
37
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Se, por um lado, atribuirmos à hereditariedade ou à constituição Portanto, se é verdade que é inútil ensinar a criança a andar
o determinante decisivo sobre o comportamento humano, estamos antes que a sua maturação orgânica tenha atingido um nível de
afirmando que o comportamento irá se manter através do tempo e desenvolvimento suficiente, também é verdade que é necessário
que a experiência do indivíduo em pouco ou nada pode contribuir fazê-lo quando a criança atinge esse nível ou estimulá-la para que
para modificar o comportamento, uma vez que os aspectos inatos chegue a esse nível.
já estão postos na vida de uma pessoa e irão predispô-la para esta A respeito dessa relação entre o dado e o adquirido, vale
ou aquela forma de agir. salientar o pensamento de Vigotski que iremos conhecer melhor
Por outro lado, aqueles que atribuem à experiência e à nas próximas aulas. O autor, em seu trabalho Manuscrito de
aprendizagem o fator determinante sobre o comportamento têm 1929, ao tratar da aprendizagem humana e da aprendizagem não-
como vantagem poder explicar como o comportamento se modifica humana, aponta que a relação filogênese e ontogênese apresenta-
com o passar do tempo. Essa perspectiva favorece o estudo se diferente quer se esteja tratando do desenvolvimento orgânico,
processual do desenvolvimento do comportamento de indivíduos quer do desenvolvimento cultural.
submetidos a essa ou àquela situação de aprendizagem, ou seja, Para Vigotski, na obra de Piaget (1978d, p. 30-32), há um
como um e outro comportamento pode vir a ser aprendido e como paralelismo entre a filogênese e a ontogênese. Vigotski, entretanto,
fazer para modificá-lo. diferencia o lugar da filogênese e da ontogênese no desenvolvimento
Entretanto, como explicar as diferenças individuais em sujeitos orgânico e no cultural. No desenvolvimento orgânico “a filogênese
submetidos às mesmas condições de aprendizado? está incluída em potencial e se repete na ontogênese”, mas no
Filloux (1978), em seu livro A personalidade, trata justamente desenvolvimento cultural há uma “inter-relação real entre filo e
dessa proporção do dado e do adquirido no comportamento, em ontogenia”: “para o embrião no útero da mãe desenvolver-se em
função do contato com o meio, apontando para a importância da filhote humano, o embrião não interage com o biótipo adulto. No
dialética “nature-nurture”. O autor define “nature” como do inato, desenvolvimento cultural esta inter-relação é a força motriz básica
da hereditariedade, e “nurture” como do adquirido, do meio, mas do desenvolvimento” (VIGOTSKI, 2000b, p. 27).
explica que esses termos têm a vantagem de não se limitarem, no A partir do exposto, pode-se afirmar apenas que tanto o dado
caso do primeiro conceito, a algo que já está dado, e no segundo, ao como o adquirido interferem de forma específica na personalidade.
meio, mas as resultantes desse meio. Assim, alguns aspectos estariam mais relacionados com a
Filloux (1978, p. 21) afirma que essa separação entre nature hereditariedade, como a cor dos olhos e a dos cabelos, a altura,
e nurture é algo aleatório e que na história individual a relação o temperamento (a extroversão, a emotividade et.), a inteligência
entre esses aspectos “assume a forma de uma incessante dialética”. (QI) etc., assim como outros estariam mais relacionados ao meio,
O autor aponta que o erro tem origem, primeiro, no significado como, a fala e o caminhar humanos, as respostas às situações do dia
atribuído ao conceito nature, como “elementos constitucionais a dia, os transtornos psicológicos etc. Entretanto, o predomínio de
dados”, em que o próprio conceito de maturação é desprezado; e um ou de outro não reduz a dialética entre ambos.
segundo, na interação funcional nature-nurture; enfatizando que “o Por fim, pode-se afirmar que a hereditariedade revela
tão somente tendências, possibilidades que necessitam ser
que é “dado” ao nascer já supera a herança genética”.
desenvolvidas, assim como o adquirido não pode vir a ocorrer a
Nesse sentido, afirma que a nurture contribui para constituir a
não ser que o inato demonstre sinais de maturação.
nature, uma vez que o feto tem uma vida fisiológica intra-ulterina,
A questão da relação nature-nurture no estudo da
mas também uma vida “psicológica intra-ulterina [que] é, em personalidade insere-se, portanto, na questão mais ampla acerca
parte, função do meio ‘maternal’”. Assim, a vida intra-ulterina sofre da relação desenvolvimento e a aprendizagem que irá atravessar o
os efeitos de um meio maternal traumatizante (tensões vividas nosso estudo acerca da Psicologia da Educação.22
pela mãe durante a gestação, exposição à radiação, ingestão de
substâncias químicas), assim como os acidentes de parto, as reações A relação pensamento / linguagem
psíquicas do recém-nascido fazem parte das estruturas congênitas. Um dos grandes saltos evolutivos do homem em relação aos
Daí a razão pela qual o dado constitucional ultrapassa aquilo outros animais se deu quando ele adquiriu a linguagem, ou seja,
que é puramente hereditário, podendo-se paradoxalmente quando aprendeu a verbalizar seus pensamentos (leia o trecho de
considerar que, os elementos adquiridos, justamente aqueles que livro na página seguinte). É por meio das palavras que o ser humano
são adquiridos in útero é que fazem parte da nature; o que equivale pensa. A generalização e a abstração só se dão pela linguagem e
a dizer que o nurture contribui para constituir a nature (FILLOUX, com base nelas melhor compreendemos e organizamos o mundo à
1978, p. 21). nossa volta. Um dos maiores estudiosos sobre essa habilidade hu-
Da mesma forma, Filloux (1978, p. 22) questiona a influência da mana foi o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934), que em
nature sobre a nurture, ao levantar o papel da maturação fisiológica meados dos anos 1920 criou o conceito de pensamento verbal (leia
no desenvolvimento do comportamento. A linguagem e as atitudes um resumo do conceito na última página).
da espécie humana, afirma o autor, dependem da “organização Vygotsky dedicou anos de estudo para compreender as rela-
muscular neurovegetativa”, ou seja, da maturação, entretanto, ções entre o pensamento e a linguagem - e esse foi um dos maiores
enfatiza que “a maturação traz apenas possibilidades de ação” e acertos de seu trabalho. Até então, os estudos sobre o tema busca-
que a sua “realização é função do ambiente”. Portanto, “o ficar de vam dissecar os dois conceitos isoladamente. De acordo com João
pé parece pertencer à nature do homem, entretanto, a criança não Batista Martins, professor da Universidade Estadual de Londrina
andaria se não se lhe ensinasse a andar”. (UEL), entender o desenvolvimento humano desmontando as par-
A maturação é ‘dada’, mas não tem influência, não existe como tes que o constituem é errado. “Vygotsky reconhecia a independên-
‘dado’, a não ser em função do meio. O processo de maturação não cia dos elementos, mas afirmava que o caminho era compreender
pode, portanto, ser considerado como fator direto da personalidade; como um se comporta em relação ao outro, como eles interagem
em suas fases iniciais”, explica.
ela age no seio de um movimento de interação complexo e é função
Para compreender essas relações, Vygotsky buscou analisar
tanto do desenvolvimento quanto do ambiente (FILLOUX, 1978, p.
o desenvolvimento da criança. De acordo com ele, mesmo antes
22).
de dominar a linguagem, ela demonstra capacidade de resolver
22 Texto adaptado de Maria das Graças de Almeida Baptista
38
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios para atingir Trecho de livro
objetivos. É o que o pesquisador chamou de fase pré-verbal do “A comunicação por meio de movimentos expressivos, observa-
pensamento. Ela é capaz, por exemplo, de dar a volta no sofá para da principalmente entre animais, é mais uma efusão afetiva do que
pegar um brinquedo que caiu atrás dele e que não está à vista. Esse comunicação.”
conhecimento prático independe da linguagem e é considerado Lev Vygotsky no livro A Construção do Pensamento e da Lin-
uma inteligência primária, também encontrada em primatas como guagem
o macaco-prego, que usa varetas para cutucar árvores à procura de
mel e larvas de insetos. Comentário
Embora não domine a linguagem como um sistema simbólico, O homem ganha o status de animal racional quando passa a
os pequenos também utilizam manifestações verbais. O choro e o dominar a linguagem. Animais se expressam por meio de gestos e
riso têm a função de alívio emocional, mas também servem como sons, o que, para Vygotsky, não é exatamente comunicação, já que
meio de contato social e de comunicação. É o que Vygotsky cha- não existe a intenção explícita de se comunicar. A linguagem surge
mou de fase pré-intelectual da linguagem. Essas fases podem ser pela necessidade do ser humano de se comunicar com o outro para
associadas ao período sensório-motor descrito pelo psicólogo suí- fortalecer o grupo e organizar o trabalho.
ço Jean Piaget (1896-1980), no qual a ação da criança no mundo
é feita por meio de sensações e movimentos, sem a mediação de Crescimento e Desenvolvimento: biológico, psicológico e so-
representações simbólicas. “É a fase na qual a criança depende de cial
sentidos como a visão para atuar no mundo e se manifesta exclusi- Da mesma forma que a tecnologia foi evoluindo com o passar
vamente por meio de sons e gestos, ligados à inteligência prática”, do tempo, a visão que temos da criança também foi se modificando
diz Martins. e ampliando com as novas tendências e teorias científicas a respeito
Por volta dos 2 anos de idade, o percurso do pensamento en- de seu desenvolvimento. Visão histórica da criança.
contra-se com o da linguagem e o cérebro começa a funcionar de
uma nova forma. A fala torna-se intelectual, com função simbólica, Crescimento: refere ao aspecto quantitativo das proporções do
generalizante, e o pensamento torna-se verbal, mediado por con- organismo, ou seja, trata-se das mudanças das dimensões corpó-
ceitos relacionados à linguagem. reas, como peso, altura, perímetro cefálico, etc.
Desenvolvimento: refere às mudanças qualitativas, tais como
O significado das palavras une pensamento e linguagem aquisição e o aperfeiçoamento de capacidades e funções, que per-
No livro Vygotsky - Aprendizado e Desenvolvimento, um Pro- mitem à criança realizar coisas novas, progressivamente mais com-
cesso Sócio-Histórico, Marta Kohl, professora da Universidade de plexas, com uma habilidade cada vez maior.
São Paulo (USP), afirma que o significado das palavras tem papel O crescimento termina em determinada idade, quando esta al-
central: é nele que pensamento e linguagem se unem. Para Vygot- cança sua maturidade biológica, enquanto que desenvolvimento é um
sky, os significados apresentam dois componentes: o primeiro diz processo que acompanha o homem através de toda a sua existência.
respeito à acepção propriamente dita, capaz de fornecer os concei- O desenvolvimento abrange processos fisiológicos, psicológicos
tos e as formas de organização básicas. Por exemplo, a palavra ca- e ambientais contínuos e ordenados, ou seja, segue determinados
chorro: ela denomina um tipo específico de animal do mundo real. padrões gerais. Tanto o crescimento como o desenvolvimento pro-
Mesmo que as experiências e a compreensão das pessoas sobre duzem mudanças nos componentes físicos, mental, emocional e so-
determinado elemento sejam distintos, de imediato o conceito de cial do indivíduo, independentemente de sua vontade. As mudan-
cachorro será adequadamente entendido por qualquer pessoa de ças ocorrem segundo uma ordem invariante. Por exemplo: antes
um grupo que fale o mesmo idioma. de falar a primeira palavra a criança balbucia. Antes de formar uma
O segundo componente é o sentido. Mais complexo, é o que sentença completa com sujeito, predicado e complemento, ela usa
a palavra representa para cada pessoa e é composto da vivência frases monossílabas. O mesmo acontece com a marcha. Antes de
individual. Vygotsky pretendeu ir além da dimensão cognitiva e ins- andar, a criança senta e engatinha. Essa sequência segue um pa-
creve a criança em seu universo social, relacionando afetividade ao drão de evolução e da mesma forma acontece em outras áreas do
processo de construção dos significados. Desse modo, concluiu que desenvolvimento.
uma pessoa traumatizada com algum episódio em que foi atacada É importante fazer a distinção entre crescimento e desenvolvimen-
por um cachorro, por exemplo, dará à palavra uma acepção dife- to, maturação e aprendizagem, para saber o que esperar da criança em
rente e absolutamente particular - agressão, medo, dor, raiva ou cada estágio e não exigir dela determinada atitude ou comportamento
violência, por exemplo. que não está de acordo com o seu grau de maturidade.
O sentido também está relacionado ao intercâmbio social (leia Maturação: é o processo através do qual ocorre a mudança e
a questão de concurso na próxima página). Quando vários mem- o crescimento progressivo, nas áreas física e psicológica do orga-
bros de um mesmo grupo se relacionam, eles atribuem, com base nismo infantil. Subjacentes a tais mudanças, existem fatores intrín-
nessas relações, interpretações diferentes às palavras. É isso o que secos transmitidos por hereditariedade, que constituem parte do
ocorre na escola. Ao começar a frequentá-la, a criança recebe a equipamento congênito do recém-nascido.
intervenção do educador, o que fará com que a transformação do A maturidade ocorre no momento em que o organismo está
significado se dê não mais apenas pela experiência vivida, mas por pronto para a execução de determinada atividade e não se limita
definições, ordenações e referências já consolidadas em sua cultu- ao estado adulto. Em qualquer fase da vida, podemos falar em ma-
ra. Assim, ela não vai só aprender que a Lua é diferente de uma turidade. Por exemplo, a criança que anda com um ano de idade,
lâmpada - em algum momento da vivência com qualquer indivíduo apresenta maturidade nesta função, porém não existe apenas ma-
mais velho -, como também acrescerá outros sentidos às palavras, turidade física, mas também maturidade mental, social, emocional,
entendendo que a Lua é um satélite, que gira em torno da Terra, sexual, enfim maturidade geral da personalidade.
que é diferente das estrelas e daí em diante. “Esse é um processo Aprendizagem: é a mudança sistemática do comportamento ou
que nunca acaba, que continua ocorrendo até deixarmos de exis- da conduta, que se realiza através da experiência e da repetição e
tir”, conclui Martins.23 depende de fatores internos e externos, ou seja, de condições neu-
23 Fonte: www.revistaescola.abril.com.br – Texto adaptado de Camila Monroe ropsicológicas e ambientais.
e Rodrigo Ratier
39
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
É oportuno lembrar que; se a criança não está madura para Estamos fartos de notícias catastróficas sobre as barbáries hu-
executar uma determinada atividade, não poderá aprendê-la, pois manas, falta de respeito mútuo, insensibilidade, corrupção, ganân-
não disporá de condições para a sua realização. cia, onde moral e valores não fazem parte da linguagem e não tem
Toda aprendizagem depende da maturação (condições orgâni- significado algum. Esse tipo de comportamento é resultado de uma
cas e psicológicas) e das condições ambientais (cultura, classe so- sociedade mal estruturada, com algumas lacunas. São essas falhas
cial, etc). É através da aprendizagem que o homem desenvolve os que motivam a pesquisa, a reflexão e a busca por um mundo melhor.
comportamentos que o possibilita viver, e atualmente, estudiosos São elas que desafiam os limites do nosso corpo e da nossa mente
afirmam que este processo se inicia do nascimento.24 em busca do melhor. É com elas que vamos ficar daqui por diante.
A fragilização da estrutura humana vem se agravando de ge-
Desenvolvimento cognitivo e afetivo ração em geração, deixando para trás uma época em que o ser hu-
É na psicologia que descobrimos algumas teorias que nos mano era reconhecido e valorizado pelas suas atitudes e não pelas
orientam em busca de soluções para a crise educacional brasileira. suas aquisições. O sentimento de frustração é diante da impossi-
O artigo tem por objetivo discutir a importância da afetividade no bilidade de adquirir algo para representar e incluir-se em um ideal
desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente, que vivem desejado. Esse sentimento transforma valores morais e éticos, de-
em um mundo globalizado. As dificuldades de aprendizagem, falta sestrutura famílias e indivíduos.
de motivação pela busca do conhecimento, repetências, abando- As grandes preocupações planetárias precisam de ações gover-
no escolar, violência, indisciplina, e muitos outros, são reflexos de namentais, mas teriam pouca eficiência se cada habitante do pla-
uma sociedade mal estruturada, com valores distorcidos. A escola neta não fizesse o que ele pode fazer. Para tanto, é preciso que a
tem como meta amenizar esses sintomas através de uma educação educação hoje seja um projeto racional cujo objetivo ultrapassa a
mais humana, em que valoriza também a subjetividade individual felicidade e a realização pessoal porque precisamos de toda uma
de cada educando. geração para recuperar a saúde da Terra – que foi tirada principal-
Pretende-se através destas pesquisas, estudos e reflexões bus- mente nas gerações dos nossos pais e avós. (TIBA, 2007, p. 29 a 30)
car novos rumos para alguns problemas educacionais da atualidade A escola tem papel fundamental na recuperação da saúde da
como violência escolar, indisciplina, falta de estímulo para aprendi- Terra e de seus habitantes, é ela que acolhe uma geração de crian-
zagem, qualificação profissional, evasão e fracasso escolar. ças órfãs, no seu sentido mais literal. As famílias têm delegado a
O tema escolhido para ser examinado, traz inúmeros questio- educação e o afeto de seus filhos à escola, que consequentemente
namentos que estão além das fronteiras da sala de aula, invade os não está preparada para assumir tantos compromissos.
lares e tem sua essência em cada indivíduo. Em outro momento pensaremos a criança como indivíduo,
Nas relações humanas existem trocas de experiências e senti- quais seus sentimentos, quais seus desejos, medos, anseios. Cita-
mentos. Assim é a escola, uma troca de experiências e de sentimen- remos alguns famosos teóricos do desenvolvimento da cognição e
tos entre aluno e família. da afetividade infantil: Piaget, Wallon e Vygotsky. Passaremos por
Num primeiro momento, para compreensões posteriores, todas as fases, tanto cognitivas, quanto afetivas para encontrarmos
analisaremos alguns fatores de uma sociedade com princípios pós- explicações e talvez soluções que possam auxiliar na aprendizagem
-modernos, ainda enraizada na modernidade, observa-se um novo e na estrutura humana através do afeto e consequentemente na
comportamento e uma nova tendência para a humanidade e para o autoestima que compreende a felicidade. “A autoestima é o que
planeta. Esta surgindo uma transformação social que não deixa para rege a qualidade de vida, resultado de escolhas comportamentais
trás o passado, mas sim o modifica em outra realidade. A sociedade mais satisfatórias, competentes e cidadãs.” (TIBA, 2007, p. 199).
deve estar aberta às novas mudanças e a escola é o referencial que
introduzirá os paradigmas dessa nova era social. Por isso, a edu- História do desenvolvimento infantil
cação na atualidade está em pauta de discursos de educadores e Para melhor compreender as relações humanas e o desenvolvi-
sujeitos preocupados com o futuro da humanidade. mento cognitivo e afetivo da criança, buscou-se informações sobre
O mundo está cada vez mais interligado e graças às novas tec- a evolução histórico, social e cultural da infância, sendo assim uma
nologias a distância não impede as relações humanas com as mais possível analise e compreensão de algumas problemáticas da atua-
distintas culturas. Para interagir nessa sociedade, não é necessário lidade.
apenas saberes práticos, como línguas, informática, ou capacidades A criança, ao longo dos séculos tem sido observada com mais
de se readaptar, reciclar e aprender, mas é preciso, acima de tudo, atenção, por parte de estudiosos, sociedade, família e escola. Tra-
perceber que não estamos sós, que o mundo é formado de pessoas çando sua história de evolução percebem-se grandes mudanças na
e cada pessoa tem suas particularidades num mundo de todos. É sociedade, voltadas para a infância. Até o século XIX as crianças não
preciso respeitar cada ser na sua individualidade, na sua diversida- tinham tanta importância para a família e a sociedade. Eram vistas
de, na sua cultura, na sua opção sexual e religiosa. O sujeito não é por estas, como adultos em miniatura.
mais uma parte de si mesmo, mas um conjunto do todo, pode ser Em 1741 Lord Chesterfield escrevia a seu filho: “Esta é a ulti-
ao mesmo tempo racional e irracional, subjetivo e objetivo, amar e ma carta que escreverei a você como um menino pequeno, pois
odiar. É complexo e simples, ambíguo, mas essa é a verdadeira face amanha será o dia de seu nono aniversário, de forma que a partir
do ser humano. (MORIN, 2002) de então eu o tratarei como um jovem. Você precisa começar uma
Em um breve histórico das possíveis visões porvindouras se- forma diferente de vida, uma forma diferente de estudos. Precisa
gue-se ousando em acreditar que a escola é a introdutora de outras abandonar a frivolidade. Os brinquedos e jogos infantis devem ser
visões, confiado na busca incessante por um mundo melhor. Esse é abandonados, e sua mente deve voltar-se para assuntos sérios”.
o verdadeiro sentido da educação, transformar a sociedade, adap- (LEITE, 1972, p. 33 a 34)
tar o sujeito a esta, buscar soluções para as crises tanto existenciais A criança não era percebida como um ser em desenvolvimento
quanto não existenciais.
e com características próprias de uma fase peculiar, mas sim como
Estamos diante do grande dilema da educação: como atingir
propriedade dos adultos, sem vontades próprias, sonhos, desejos,
os ideais da sociedade, da família e do sujeito, através da escola,
medos e qualquer outro tipo de sentimentos. Não havia um inte-
se quem faz a escola são os próprios sujeitos? Como saber se o que
resse por essa fase do desenvolvimento humano, tendo esta pouca
desejamos para o planeta é o que realmente este planeta precisa?
importância.
24 Fonte: www.indicedesaude.com
40
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Para fortalecer ainda mais a idéia de que a criança era um adul- tanto públicos, quanto privados, destinam interesse na garantia da
to em miniatura: qualidade, validade e eficiência dos serviços prestados aos peque-
As crianças foram tratadas como adultos em miniatura: na sua ninos. Conclui-se, portanto, que as crianças estão amparadas pela
maneira de vestir-se, na participação ativa em reuniões, festa e dan- sociedade, mas resta saber se cada membro desta sociedade, na
ças. Os adultos se relacionavam com as crianças sem discriminação, sua individualidade, apresenta uma consciência da preservação do
falavam vulgaridades, realizavam brincadeiras grosseiras, todos os bem estar das crianças. Se cada família, cada escola, demonstrar
tipos de assuntos eram discutidos na sua frente, inclusive a parti- através de seus atos, a dedicação, o respeito e a admiração pelo
cipação em jogos sexuais. Isto ocorria porque não acreditavam na princípio da estruturação humana, que seguirá carregando todas
possibilidade da existência de uma inocência pueril, ou na diferença as experiências adquiridas e transformando-as em ações que emi-
de características entre adultos e crianças. (ROCHA, 2008, p. 55) tem a sua personalidade. A sociedade saudável depende de sujeitos
As famílias eram numerosas, conviviam em uma mesma casa com ideias e ações saudáveis.
pais, filhos, primos, tios, avós. As crianças não recebiam carinho A grande preocupação hoje está na falta de cidadania e de éti-
e atenção individual, não tinham mimos ou privilégios diante dos ca. Na cidadania já deveria estar embutida a ética, mas tamanha é a
adultos. ausência da ética que é preciso reafirmar sua importância. Existem
A situação da criança até o século XIX, demonstra uma fase di- falhas na formação do cidadão que é egoísta, “metido a esperti-
fícil do desenvolvimento infantil. A história relata dramáticas situa- nho” que quer sempre tirar vantagens sobre os outros, é corrupto
ções de descuido nesta primeira fase da vida. Mortes, trabalho for- delinquente, usuário de drogas, sente-se superior a outros menos
çado e escravo, abandono, descuido, violência e outras como relata desenvolvidos ou de outra classe social. (TIBA, 2007, p. 268)
LEITE, 1972, p. 21: “[...] o trabalho infantil chegava a durar de doze Tais falhas serão evitadas se a escola formar um elo com a fa-
a dezesseis horas por dia”. Outro exemplo de falta de interesse, tan- mília. É claro que família e escola não assumem sozinhas todas as
to político, quanto social pela infância, é o abandono de crianças brechas sociais. Mas estas são as principais fontes de inspiração e
pelos próprios pais por falta de condições mínimas para educá-los indução para a mente humana.
ou fornecer condições básicas de sobrevivência. Sendo que muitas
crianças morriam em virtude das precárias condições sociais, como Afetividade
falta de higiene, excesso de trabalho e alimentação insuficiente ou A psicologia vem influenciando a educação através de algumas
sem valor nutritivo. Muitas trabalhavam em fábricas, com carga ho- teorias, especialmente as relacionadas ao desenvolvimento cogniti-
rária superior a 12 horas, apenas em troca de pão. vo e afetivo. É com base na psicologia que buscamos algumas com-
A contínua projeção de esperanças e temores do mundo adul- preensões e soluções para as problemáticas educativas.
to no da criança não se limitava a questões de roupa ou educação Quando há uma relação entre indivíduos, surgem vários senti-
formal, mas se exprimia também de muitas outras formas, - e uma mentos: amor, medo da perda, ciúmes, saudade, raiva, inveja; essa
delas era a ausência de livros escritos para divertir e distrair crian- mistura de sentimentos gera a afetividade. Um indivíduo saudável
ças [...]. Até o fim do século XVIII, a leitura de lazer para crianças mentalmente, sabe organizar e lidar com todos esses sentimentos
limitava-se à Bíblia e a tratados religiosos. (LEITE, 1972, p. 34) de forma tranquila e equilibrada. A qualidade de vida inclui a saúde
A infância, por muito tempo foi esquecida, desvalorizada como mental, cuidar-se e cuidar do próximo é como fonte de prazer, por
parte integrante da formação do ser humano. Esta era considerada isso que a afetividade tem grande importância no desenvolvimen-
apenas como passagem para a vida adulta. Essa fase não era vista to humano, pois é diretamente através dela que nos comunicamos
como uma etapa com características próprias do desenvolvimento. com as nossas emoções.
Os avanços na forma de olhar a infância surgem com a modernida- É na família que a criança aprende a lidar com os sentimentos,
de, após o século XVIII, e no Brasil mais tarde ainda, em torno do pois o grupo familiar está unido pelo amor e nele também acon-
século XIX. tecem discussões, momentos de raiva, de tristeza, de perdão de
A modernidade traz progressos na medicina, na tecnologia, entendimento. A criança vivencia o ódio e o amor e aprende a per-
ciência, que transformam a estrutura familiar e social e consequen- doar e amar, preparando-se para conviver adequadamente em uma
temente um novo olhar diante da infância e adolescência. sociedade, de forma sociável. Os adolescentes também necessitam
Em todas as sociedades e em todos os tempos a infância apare- de pessoas que lhes ensinem a conviver com esses sentimentos.
ce como fase de preparação para a vida adulta. Apesar desta apre- A afetividade já se inicia nos primeiros anos de vida, e os quatro
sentar características bem diferentes em cada sociedade, todas primeiros anos da criança são particularmente fundamentais para
buscam a superação da fragilização humana. a estruturação das funções cerebrais. Um bebê que passa deitado,
Assim, a história da infância aponta muitos questionamentos sem estimulação física e mental, certamente apresentará sérias
sobre como nos relacionamos atualmente com as crianças. Rela- anomalias em sua evolução. As aptidões emocionais devem ser
cionamentos que demonstram sentimentos de amor e afeto entre aprendidas e aprimoradas desde cedo, basta ensiná-las.
pais e filhos. Sentimentos que não existiam em séculos passados Num certo sentido, temos dois cérebros, duas mentes e dois ti-
em nossa sociedade Ocidental, explicitados através de infanticídios, pos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nosso desem-
abandonos e alto índice de mortalidade infantil, aceitos com natu- penho na vida é determinado pelas duas, não é apenas o quociente
ralidade. de inteligência, mas a inteligência emocional também conta. Na
Após alguns séculos de descaso com a infância, aos poucos vai verdade o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência
surgindo um novo olhar sobre esta fase da vida, que alicerça a es- emocional. (GOLEMAN, 1995, p. 42)
trutura humana. As autoridades governamentais, teóricos e pensa- Os pais são os primeiros e mais importantes professores do cé-
dores, trazem esperança para uma infância feliz, saudável e agradá- rebro. A carência emocional nos primeiros anos de vida da criança,
vel, onde ser criança é sinônimo de alegria e despreocupação. Não trás consequências desastrosas para o desenvolvimento cognitivo,
é por nada que a infância, hoje, dura mais tempo. Antigamente, aos apresentando déficits na aprendizagem, transtornos de comporta-
7 ou 8 anos, a criança assumia responsabilidades de adulto. Atual- mento, atitudes de violência, falta de atenção, desinteresse e fra-
mente, a infância estende-se até os 12 anos. cassos escolares.
A infância esta protegida por leis que asseguram uma melhor O índice de violência e indisciplina nas escolas tem aumentado
qualidade de vida e que impedem que este período deixe marcas constantemente nos últimos anos, fator que preocupa tanto autori-
desastrosas na estrutura humana. Os vários segmentos sociais, dades educacionais, quanto professores, diretores e familiares. Ob-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
serva-se certa insensibilidade, falta de humanidade e desrespeito A afetividade, do ponto de vista popular, é uma explosão de
nas atitudes e ações que muitas crianças e adolescentes apresen- sentimentos que dão força, vontade, interesse, ou que trazem o
tam, tanto na escola, quanto fora desta. A impressão que temos é desprazer, a apatia, a falta de interesse em buscar uma nova adap-
que a humanidade está doente, que o ser humano não consegue tação ou aceitação de nova mudança. Nesse sentido os sentimentos
controlar mais suas emoções. interferem diretamente na construção da inteligência e no desen-
Os céticos se perguntam por que é necessário ensinar as crian- volvimento da aprendizagem.
ças a lidar com as suas emoções. Perguntam: “As emoções não A concretização da afetividade na sala de aula acontece quan-
ocorrem naturalmente às crianças?” A resposta e “não”, não mais. do o professor olha o aluno como indivíduo único, com suas carac-
Muitos cientistas acreditam que as emoções humanas evo- terísticas próprias, reconhecendo suas capacidades e limitações. O
luíram principalmente como um mecanismo de sobrevivência. O professor deve considerar a história de vida de cada aluno, dando
medo nos protege do mal e nos diz para evitarmos o perigo. A raiva oportunidade para interagir e conviver conforme seus conceitos de
nos ajudar a superar barreiras para conseguirmos o que queremos. vida. Sendo assim, estará melhorando a vivência e as relações so-
Ficamos felizes na companhia dos outros. Ao buscarmos contato ciais.
com seres humanos encontramos proteção dentro de um grupo,
bem como oportunidade de nos associar com companheiros é asse- O desenvolvimento cognitivo
gurar a sobrevivência da espécie. (SHAPIRO, 1998, p. 19) “A afetividade e o desenvolvimento da inteligência estão indis-
Educar as emoções é tão importante quanto ir para a escola, sociadas e integradas, no desenvolvimento psicológico, não sendo
aprender a ler, escrever, calcular e conviver com outras pessoas de possível ter duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteli-
forma sociável. Mas como devemos educar nossos sentimentos? gência para explicar o comportamento.” (PIAGET, apud ARANTES,
Pergunta que explode em nossa mente toda vez que nos depara- 2003, p.56).
mos com situações que exigem muito mais do que teorias. Quantas O desenvolvimento cognitivo é interno e contínuo, acontece
vezes já nos encontramos em posições que determinam atitudes desde os primeiros dias até o fim de nossas vidas. O pensamento
rápidas, sem nos deixar consultar nossos conceitos e ideais. Apenas do bebê vai se desenvolvendo de acordo com suas estruturas, par-
uma palavra ou uma atitude mudam um cenário. É nessa fração de tindo do motor para o lógico e abstrato. Para que este desenvolvi-
segundos que demonstramos nosso grau de inteligência emocional. mento aconteça de forma natural e saudável é preciso que a crian-
Além da família, a escola também é responsável pela formação ça seja estimulada constantemente através de percepções táteis,
integral do aluno: auditivas, visuais, motoras e afetivas. “A qualidade do pensamento
Na área educacional o trajeto também não foi e não e muito ou das emoções, vai sendo elaborado à medida que o homem tem
diferente. É comum, ainda hoje, no âmbito escolar, o uso de uma controle sobre si mesmo, sendo capaz de controlar os impulsos e as
concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança emoções.” (VYGOTSKY apud ARANTES, 2003, p. 21).
em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse dualismo é um dos As fases de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget:
maiores mitos presentes na maioria das propostas educacionais da Sensório motor ou prático (0 – 2 anos): a criança conhece o
atualidade. A crença nessa oposição faz com se considere o pensa- mundo através das ações que ela exerce sobre determinados ob-
mento calculista, frio e desprovido de sentimentos, apropriado para jetos e observa a reação destes. As ações são reflexos ou manipu-
a instrução de matérias escolares clássicas. Acredita-se que apenas lações.
Pré-operatório ou intuitivo (2 – 6 anos): aparecimento da lin-
o pensamento leve o sujeito a atitudes racionais e inteligentes, cujo
guagem que representa imagens e objetos. O pensamento é intui-
expoente máximo é o pensamento cientifico e lógico-matemático.
tivo e egocêntrico.
Já os sentimentos, vistos como “coisas do coração”, não levam ao
Operatório-concreto (7 – 11 anos): ainda necessita do concreto
conhecimento e podem provocar atitudes irracionais. Produzem
para fazer a abstração de seu pensamento.
fragilidade de segundo plano, próprias da privacidade “inata” de
Operacional-formal ou abstrato (11 anos): A operação se reali-
cada um. Seguindo essa crença, as instituições educacionais cami-
za através da linguagem. O raciocínio acontece com o levantamento
nharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se relaciona
de hipóteses e possíveis soluções.
ao mérito intelectual. (VASCONCELOS, 2004, p. 617) Piaget defende que o desenvolvimento cognitivo acontece
A aprendizagem está intimamente ligada à afetividade, pois, através de estruturas pré-definidas e tem seu ponto máximo por
sem afetividade, não há motivação e sem motivação, não há co- volta dos 15 anos, sendo que, até então a criança ou adolescente já
nhecimento. definiu o seu grau de erudição.
“A afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, Segundo Piaget, o conhecimento está na interação do sujeito
mas engloba também as tendências e a vontade.” (PIAGET apud com o objeto. É na medida em que o sujeito interage que vai produ-
ARANTES, 2003, p.57) zindo sua capacidade de conhecer e vai produzindo também o pró-
Alguns pressupostos teóricos sobre a afetividade, segundo Pia- prio conhecimento. Mesmo que haja diferenças nas vivencias das
get: pessoas, ele sustentou o fato de que o caminho do desenvolvimen-
- inteligência e afetividade são diferentes em natureza, mas to é sempre o mesmo, é uma sequência necessária. O meio pode
indissociáveis na conduta concreta da criança, o que significa que acelerar, retardar, ou impedir a sequência do desenvolvimento e a
não há conduta unicamente afetiva, bem como não existe conduta aquisição do conhecimento. (apud FRANCO, 1993)
unicamente cognitiva; Segundo Vygotsky (1991), a aprendizagem e o desenvolvimen-
- a afetividade interfere constantemente no funcionamento da to estão inter-relacionados desde o nascimento. O indivíduo se
inteligência, estimulando-o perturbando-o, acelerando-o ou retar- apropria das formas culturais que já existem e, a partir de então,
dando-o; internaliza e elabora novos conceitos que haverão de dar-lhe pos-
- a afetividade não modifica as estruturas da inteligência, sendo sibilidades de um desenvolvimento cada vez mais complexo. É na
somente o elemento energético das condutas. (ARANTES, 2003, P. problematização que se estabelece uma facilitação a internalização,
57) isto sempre na interação com outros sujeitos e o meio.
Para que esta interação se efetive, criou o que ele chamou de
ZDP - (Zona de Desenvolvimento Proximal), ou seja: distância en-
tre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade
42
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento A importância da brincadeira
potencial, determinado através de resolução de um problema sob Atualmente, ser professor na Educação Infantil requer habili-
a orientação de um adulto ou em colaboração com outro compa- dades e competências que não são desenvolvidas somente na gra-
nheiro. Quer dizer, é através das informações adquiridas, que a pes- duação, pois têm como base o exercício da docência nessa etapa da
soa tem a potencialidade de aprender, mas ainda não completou o Educação Básica. Além disso, é necessário se identificar com a pro-
processo, conhecimentos fora de seu alcance atual, mas potencial- fissão e a infância, desenvolver um espírito cuidador, afetuoso e re-
mente atingíveis. flexivo na prática do dia-a-dia. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases
Vygotsky acredita que a possibilidade de desenvolvimento cog- da Educação Nacional, Lei 9.393/96, a Educação Infantil é primeira
nitivo perdura para o resto da vida. Tanto um adulto, quanto uma etapa da Educação Básica e, como tal, “[...] tem por finalidade o de-
criança tem as mesmas condições e possibilidades de aprendiza- senvolvimento integral da criança de até 05 anos, em seus aspectos
gem, e esta acontece através do meio social e cultural, na interação físico, psicológico, intelectual e social complementando a ação da
com outros sujeitos. família e da comunidade.” (BRASIL,1996). Cabe ao professor, por-
Tanto Piaget como Vygotsky, acreditam que a inteligência é a tanto, a responsabilidade de dar continuidade à educação familiar
capacidade de aprender sempre e renovar o conhecimento com garantindo, assim, o pleno desenvolvimento da criança. O professor
base em novos conceitos, superando as novas situações. de Educação Infantil é aquele que incita e aguça a curiosidade da
A gênese da inteligência para Wallon é genética e organica- criança em descobrir o mágico, a fantasia, desenvolvendo nela a
mente social.O desenvolvimento da criança é descontínuo, contra- potencialidade de interagir e conviver com os outros. Segundo Vy-
ditório e conflituoso, demarcado pela contextualização ambiental, gotsky (1991) o ser humano se constrói por meio da relação com
social e familiar que a criança está inserida. o outro. Sendo assim, é por meio da mediação professor-criança e
Fases do desenvolvimento humano: das interações estabelecidas com o meio sociocultural que a criança
- Impulsivo-emocional: ocorre no primeiro ano de vida, a afeti- vai se apropriando de novos conhecimentos
vidade orienta o bebê quanto as suas ações frente às pessoas. Sen- Para fortalecer essa ideia e levá-la à prática nas escolinhas
sório-motor e projetivo: vai até os três anos de idade, é a fase onde Brasil afora, a proposta da BNC para educação infantil vem
a criança aprende a manipular os objetos e a expressar usando a recebendo atenção especial. Etapa fundamental e diferenciada da
linguagem e gestos. Personalismo: dos três anos aos 6 anos, nesta educação básica, ela não é organizada, por exemplo, em áreas do
fase a criança desenvolve a consciência de si perante as mediações conhecimento, como o ensino fundamental e o médio.
sociais. Categorial: o progresso intelectual dirige a criança para a “Em primeiro lugar pela própria faixa etária das crianças.
aprendizagem do mundo que o cerca. Predominância funcional: Isso vai demandar uma forma muito diferente dessa criança se
nesta fase ocorre uma reorganização da personalidade devido às relacionar com o conhecimento, com o mundo. Na educação
alterações hormonais e transformações físicas, onde são trazidas á infantil, as experiências vividas na instituição são tratadas de forma
tona questões morais e existenciais. mais global”, explica Hilda Micarello, coordenadora da equipe de
Deve-se ter cuidado para que as etapas de desenvolvimento redação da Base.
cognitivo não rotulem as individualidades de cada criança, pois
cada ser tem suas próprias características e individualidades que Experiência – Por esse motivo, a educação infantil no
apresentam um ritmo único para o desenvolvimento. Cada fase de documento está dividida por campos de experiência, que têm como
desenvolvimento depende de múltiplos fatores, tanto sociais, emo- eixos centrais a ludicidade e as interações – dois aspectos que já
cionais, físicos, quantos outros que interferem na passagem de uma aparecem nas diretrizes curriculares nacionais e são especificadas
fase para outra. na Base. Essa perspectiva se diferencia do que é visto nas escolas
Existe um grande debate sobre até que ponto a inteligência é de hoje, diz Hilda.
herdada. Parece claro que não nascemos com um nível pré-definido Segundo ela, “há muitas vezes uma interpretação equivocada
de inteligência e que muitos fatores ambientais podem afetar o ní- de que a educação infantil é para fazer uma versão adaptada daquilo
vel da inteligência de uma criança durante o seu desenvolvimento. que se faz no ensino fundamental”. Ela explica que “muitas vezes as
Hoje, alguns psicólogos cognitivos acreditam que embora os limi- crianças ficas muitas horas sentadas, realizando tarefas repetitivas
tes externos da inteligência possam ser fixados no nascimento, o e confunde-se o incentivo à leitura e à escrita com passar exercícios
ambiente em que uma criança vive pode fazer uma diferença de de cópia, cobrir traçados. E são práticas muito equivocadas”, diz
até 40 pontos no seu QI (quociente de inteligência, o número que Hilda.
indica o nível da inteligência de uma pessoa e é avaliado em testes Um dos norteadores dos campos de experiência, a ideia de
especiais). Este valor é espantoso se considerarmos que é a mesma interação é inovadora ao considerar que o ato pedagógico acontece
distância entre o limite de retardamento mental (80 pontos de QI) não só do professor para a criança, mas da criança para o professor
e o valor médio de um formando da faculdade (120 pontos). Outros e, também, entre as crianças. “É um foco que coloca um outro olhar
psicólogos que conduziram estudos clássicos de gêmeos idênticos sobre o processo de aprendizagem”, defende Zilma. A ludicidade
separados no nascimento foram mais conservadores, dizendo que também ganha importância no texto sobre educação infantil,
o ambiente pode causar uma diferença de até 20 pontos. (ME- segundo a assessora, porque é de 0 a 5 anos que acontece a maior
YERHOFF, MICHAEL) e mais importante transformação no jeito da criança agir.
A entrada da criança na escola traz muitas mudanças emocio- “Quando pequenininha, a criança vai reconhecendo os objetos
nais, pois esta necessita se separar da família e fazer novas ami- pela sua função imediata. Um copo é um copo, para ter água.
zades, adaptando-se a outros ambientes. Neste momento, tanto a Mas em seguida ela pode pegar o mesmo copo vazio e usar como
família quanto a escola devem ter consciência da situação e esta- chapéu. Pode parecer uma bobagem, mas é uma total inversão da
rem preparadas para auxiliar a criança, amenizando os sintomas do maneira habitual de se tratar o copo”, diz Zilma. “E desse fazer de
afastamento familiar.25 conta que é um chapéu, e no fazer de conta de várias outras coisas,
vai aparecendo a capacidade de lidar com imagens. Se a gente não
dá bastante apoio para esse processo, nós não aproveitamos todo o
potencial de desenvolvimento da criança.”
25 Fonte: www.webartigos.com – Texto adaptado de Adriane Masiero
43
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
São propostos cinco campos de experiência na Base. Um deles Evidentemente que muitos desses objetos pertenceram
trabalha o eu, tu e nós, onde devem ser colocadas as noções de aos pequenos das classes mais abastadas da população, ou seja,
identidade. Outro trata da escuta e da fala, com estímulo das da nobreza ou da aristocracia, sendo poucos registros daqueles
linguagens oral e escrita, mas também do diálogo entre os pequenos. pertencentes às camadas populares ou aos filhos de escravos, até
Um terceiro aborda as cores, os sons e as imagens, incluindo mesmo porque viver a infância, do ponto de vista da importância
linguagens variadas como a musical, a visual, a cenográfica etc. dos pequenos em várias sociedades, pode ter sido um privilégio de
Há, ainda, o campo dos gestos e movimentos, que se refere poucos.
às habilidades do corpo, e por último há o que toca nas noções de De qualquer forma, as crianças, em diferentes momentos
quantidade, medida, tempo e espaço. “Dessa forma, o professor históricos e em diversos povos, deixaram-nos um legado importante,
tem cinco focos que ele pode selecionar pro seu trabalho. Em vez seus brinquedos e brincadeiras, dando pistas aos estudiosos da
de trabalhar com matemática, pode escolher a área de ‘eu e outro’, maneira como viviam.
porque as crianças precisam discutir sobre suas amizades, suas Sabe-se, portanto, que muitos jogos e brincadeiras não se
preferências. E essa discussão não tem área pra ele na educação originaram entre as crianças, mas entre os adultos que nem sempre
básica”, explica Zilma. os utilizavam enquanto divertimento, mas como ritos religiosos
carregados de conteúdos simbólicos.
Brincar – Grande preocupação dos pais, o aprender a ler e Dentre eles podemos lembrar, por exemplo, do jogo Real de
escrever também passa pelo brincar e o interagir na proposta de Ur encontrado na Mesopotâmia, com peças de madrepérola e lápis
educação infantil. Mas, diferente do que se vê hoje, preocupa-se lazuli e o Senet, muito comum entre os egípcios cujo tabuleiro era
em não atropelar o momento por que passa o aluno dessa fase. “A de ébano e as peças, os bailarinos, eram de ouro.
escrita não pode ocupar uma relevância e um protagonismo muito Este jogo tinha um significado religioso simbolizando a
diferente das demais linguagens”, lembra Mônica Correia Baptista, passagem do mundo terrestre para a outra vida.
professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Muitos jogos de percurso que existem ainda hoje tiveram sua
Minas Gerais (UFMG) e consultora da Base sobre leitura e escrita origem no Senet e foram se modificando.
na educação infantil. Além do Senet, que parece ter sido um jogo de adultos, sabe-
O trabalho segue a concepção de que a criança tem o direito se que na Antiguidade, também as crianças egípcias tinham vários
de se apropriar de todas as linguagens, não apenas a escrita, mas brinquedos. Era comum entre elas o uso de bolas coloridas de
também a oral e a corporal. Sempre partindo das brincadeiras e argila com pedras dentro para atrair a atenção. Possuíam, também,
das interações, essenciais para a comunicação na primeira infância. animais de madeira com a cabeça articulada e os olhos de vidro,
“A criança brinca que escreve, brinca que lê, lê imagens, levanta além de bonecas confeccionadas com diversos materiais, inclusive
hipóteses. Porque é um sujeito ativo, inteligente, competente, a ouro.
gente trabalha na ideia de que é um direito dela passar por um Embora a presença de bonecas entre diversos grupos humanos
processo de aprendizagem ativo com um mediador capaz”, observa parece estar mais ligada à religião, com o tempo elas acabaram por
a professora. representar a figura feminina, quer através da maternagem, quer
como mensageiras da moda.
A importância das brincadeiras na educação. Os gregos tiveram grandes contribuições no universo lúdico
Hoje, as questões referentes à infância têm sido objeto de infantil. Entre eles, as crianças comumente se divertiam com brin-
notícias e debates porém, entre nós, parece ainda não estar claro o quedos de cerâmica e com o aro, um arco que rolava pelo chão.
significado do termo. Em 400 a. C., Hipócrates, o “Pai da Medicina”, como era conhecido,
Apesar da dificuldade em conhecer as diferentes infâncias e já recomendava sua prática como um excelente exercício para as
como viviam as crianças nos distintos povos, o pouco que se sabe pessoas de fraca constituição física. Sua popularização, entretanto,
sobre elas deve-se aos objetos que utilizavam e às atividades que acabou ocorrendo somente no século XIX.
mais praticaram em suas vidas, ou seja, seus brinquedos e suas Dada a sua forma cúbica, os astrágalos dos carneiros (ossos do
brincadeiras. joelho), parecem ter sido os ancestrais dos dados. Na Grécia eram
Deve-se ressaltar, porém, que grande parte das brincadeiras usados como uma forma de consulta aos deuses, por essa razão,
teve origem nos costumes populares cujas práticas eram mais uma vez lançados ao ar e dependendo da posição em que caiam
realizadas pelos adultos do que pelas próprias crianças, mostrando tinham um significado.
assim o desconhecimento da infância. Naquele país os dados confeccionados com ossos, conchas
Com o Concílio de Trento, os jogos e brincadeiras foram e varetas parecem ter sido usados pelo herói Palamedes para
considerados pecaminosos pela Igreja Católica e banidos da distrair suas tropas durante a guerra de Tróia. Também na Odisséia
cultura popular, permanecendo sua realização entre os pequenos. de Homero há uma passagem em que os pretendentes da rainha
No entanto, dadas as transformações pelas quais vêm passando Penélope jogavam dados sobre peles de boi, diante do palácio real
a sociedade, eles tendem a desaparecer se nós educadores de Ítaca.
não fizermos um movimento de resgate das atividades lúdicas Mas não só os mesopotâmios, egípcios e gregos nos deixaram
ressaltando sua importância para o desenvolvimento da criança. algumas brincadeiras como herança, os romanos, os chineses, os
É importante salientar, que as brincadeiras infantis que ainda indígenas mesoamericanos e brasileiros também.
persistem em todo o mundo são quase sempre jogos muito Os romanos, graças a algumas ruínas encontradas em várias
simples e divertidos. Não demandam objetos, desenvolvem muitas partes da Europa, tiveram importantes contribuições na área lúdi-
habilidades e, historicamente, se originaram de práticas culturais e ca.As ruínas de Conímbriga, em Portugal, ou de Tarragona, na Es-
religiosas realizadas pelos adultos ao longo dos tempos. panha, guardam importantes testemunhos da infância de nossos
Quanto aos brinquedos, objetos feitos para brincar, muitos antepassados.
constituem o único registro da vida dos pequenos em algumas No que diz respeito a Conímbriga, segundo Namora (2000)
épocas, sabendo-se que, em sua grande maioria, chegaram até nós encontramos nas suas coleções até o presente momento, um
após terem sido encontrados junto aos túmulos das crianças ou de interessante e precioso conjunto de jogos e brinquedos que
seus mestres. chegaram até nós cuja origem remonta à antiguidade clássica.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Dentre eles está o Labirinto de Creta, conhecido também como tornaram-se interessantes brincadeiras. A observação da natureza e
Labirinto do Minotauro, usado para decorar os pisos dos quartos a utilização de folhas, troncos e sementes, acabam transformando-
das crianças. se em objetos-brinquedos dando asas à imaginação infantil.
Flautas e apitos de ossos, dados e objetos miniaturizados do Folhas e cascas de árvores servem como fôrma para os objetos
mundo adulto faziam parte da cultura infantil romana. de barro, utilizados durante as brincadeiras.
No Museu de Tarragona pode-se observar a existência de O barro, colhido pelas mães na beira dos rios, triturado,
uma boneca de marfim, com braços e pernas articulados, que modelado e seco, recebe inúmeros adornos de sementes ou penas,
testemunha o papel que tal objeto representou na vida das crianças dando origem às mais diferentes figuras.
romanas. Assim, mesmo que as bonecas indígenas não tenham sido
Historicamente é possível perceber que, entre os romanos, transmitidas à cultura brasileira pela cultura européia, elas surgem
não apenas as crianças possuíam atividades lúdicas, mas os jovens como a representação da maternagem e são geralmente de barro,
e adultos também. Assim, os labirintos, o jogo de damas, o jogo do apresentando seios fartos, nádegas grandes, tentando imitar
soldado e inúmeras outras atividades eram praticadas por aquele mulher grávida .
povo. Também é com o barro que as crianças xavantes, por exemplo,
Tais exemplos mostram que algumas atividades lúdicas eram ainda hoje constroem suas casas. Primeiro espetam os paus no chão
comuns a todas as pessoas, não sendo, portanto reservadas apenas e como essa atividade é mais difícil de fazer, costumam a reaproveitar
às crianças. casas construídas pelas maiores que já as abandonaram. Usam,
Conta-se que a amarelinha pode ter sido criada pelos soldados ainda para a decoração os materiais encontrados na natureza.
romanos como forma de entreter as crianças pelos locais por onde Além do barro, as crianças indígenas usam a madeira para
passavam. Como as estradas eram pavimentadas com pedras, a confeccionar seus brinquedos. É com os troncos de árvores que
superfície tornava-se ideal para a prática da atividade, difundindo- elas constroem o bodoque _ arma manejada por elas_ para abater
se, posteriormente, por toda a Europa. caças, aves e lagartixas.
Sabe-se, ainda, que as crianças romanas jogavam bolinhas É, ainda, com madeira e barro que os indígenas confeccionam
de gude, cuja origem não se pode precisar. Inicialmente, usavam piões que fazem girar eximiamente, num movimento ágil das mãos.
nozes, pedras e grãos de cereais. Das cabaças surgem os chocalhos utilizados para espantar os
É interessante notar, por exemplo, que no Líbano hoje, o maus espíritos, transformando-se, também, em instrumentos de
jogo de bolinhas de gude é realizado na época da Páscoa, quando festividades ou cerimônias religiosas. Com fios entrelaçados entre
são utilizados ovos no lugar das bolinhas sendo posteriormente os dedos das mãos, constroem inúmeras figuras dando asas à
ingeridos pelas crianças e adultos. imaginação, que é o caso da cama-de-gato.
É importante salientar que embora, à primeira vista os romanos Espetam penas no sabugo do milho, que atiram ao ar.
parecem ter criado muitas atividades lúdicas, a história mostrou que Confeccionam petecas com base de palha de milho ou de couro.
a maioria delas não passou de atividades já conhecidas e praticadas Divertem-se em atividades lúdicas coletivas imitando os animais.
pelos egípcios e gregos. Garantem sua cultura.
Além dos romanos, os chineses também tiveram importantes Muitas das brincadeiras realizadas pelas crianças, ainda hoje,
contribuições do ponto de vista lúdico. Da China parece ter são produtos de diferentes culturas e deveriam ser preservadas.
vindo o jogo de palitos ou de varetas de bambu, cuja prática era Em sua pesquisa, a estudiosa Renata Meirelles (2007)
comum especialmente entre os adultos. Através dele os oráculos investigou os brinquedos e brincadeiras que ainda persistem entre
consultavam as divindades. as crianças brasileiras. Estão entre elas as brincadeiras de roda,
As pipas ou papagaios, como são chamados entre nós, também o pião feito com diferentes materiais, inclusive com tampas dos
tiveram sua origem no Oriente o os registros de seu uso antecedem frascos de detergente, a amarelinha também chamada de macaca,
ao nascimento de Cristo, quando um general chinês utilizou-os para o caracol, as brincadeiras de mão, os currupios, os brinquedos que
enviar mensagens à tropas sitiadas. reproduzem o meio adulto feitos de materiais naturais ou de sucata,
Mas não foram só os antigos que deixaram suas heranças cul- as cinco marias, a cama de gato, as pernas de pau, o cavalo de pau,
turais mantidas através das práticas lúdicas infantis. Também os a casinha, a bolinha de gude e o elástico.
indígenas Mesoamericanos e brasileiros tiveram importantes con- No entanto, as transformações que vimos sofrendo produto
tribuições nessa área. de um mundo globalizado, caracterizado pelo crescimento da
Entre os indígenas mexicanos (olmecas, astecas e maias) o urbanização, da industrialização e aumento no consumo, têm
jogo era mais do que uma diversão. Tinha um caráter religioso. ameaçado a infância, sua cultura e seu direito à brincadeira. A infância
O mais conhecido e praticado era o jogo da pelota (bola) A bola está desaparecendo, porque as crianças estão se transformando em
feita de látex, pesava entre 3 e 4 quilos. A quadra em forma de I adultas antes do tempo. A cultura, porque uma vez distantes do
representava o universo, a bola o sol em sua viagem diária pelo céu repertório infantil, muitas brincadeiras desaparecerão carregando
e as regras do jogo indicavam a luta do bem contra o mal. consigo saberes milenares. Quanto ao direito à brincadeira, ele só
As crianças dessas civilizações aprendiam no convívio com os parece existir no papel, pois, na prática a realidade é bem outra.
Diante desse quadro surgem algumas questões que merecem
adultos, o que nos leva a deduzir que as atividades dos pequenos
ser analisadas Do que brincam, hoje, as crianças brasileiras? Como
confundiam-se com as dos mais velhos, uma vez que meninos e
e onde realizam suas brincadeiras, quais os seus parceiros? Até que
meninas tinham os tinham como modelos a serem seguidos.
ponto elas ainda possuem o direito à infância?
Apesar da violência de algumas práticas lúdicas, sabe-se que,
Uma investigação realizada por Dodge e Carneiro (2007)
entre aqueles indígenas, os pais tinham muito afeto e consideração
com pais, de crianças entre 6 e 12 anos, dos diversos segmentos
pelas suas crianças.
sociais, em 77 municípios brasileiros das diversas regiões do país
Os indígenas brasileiros também nos deixaram um importante
, observou-se que além de se modificarem, as atividades lúdicas
legado no plano dos brinquedos e brincadeiras .Ao tratar do
realizadas antigamente estão desaparecendo. As brincadeiras mais
assunto, Altmann (1999) mostrou que a princípio a criança é seu comuns, ou seja, realizadas por seus filhos pelo menos três vezes
próprio brinquedo. A exploração do seu corpo e do corpo materno na semana eram assistir TV, vídeos e DVDs, brincar com animal
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
de estimação, cantar e ouvir música, desenhar, andar de bicicleta, foi apontada como o lócus onde a brincadeira pode se realizar com
patins, patinetes, carrinhos de rolimã, jogar bola, brincar de pega- segurança e também onde os pequenos dispõem de parceiros para
pega, polícia-e-ladrão, esconde-esconde, brincar de boneca, isso.
brincar com coleções e ficar no computador. Falta a nós, professores, nos apropriarmos desse tipo de
A TV e os demais equipamentos tecnológicos, vídeo-games, conhecimento, aumentarmos nossos repertórios, observarmos e
jogos de internet, vêm crescendo assustadoramente entre os registrarmos os avanços proporcionados pelo brincar, utilizando-o
pequenos. Enquanto os últimos ainda, constituem o universo não apenas como uma metodologia de trabalho, mas como uma
de uma pequena camada da população, a primeira tem sido um forma de possibilitar à criança a descoberta do mundo que a cerca
movimento universal. Isso não significa negar a sua existência, mas e resgatar a cultura.
analisá-la de forma mais criteriosa de modo que não traga tantas Os países desenvolvidos estão atentos para isso. Por que o
conseqüências funestas às nossas crianças. Brasil não pode perseguir esta meta?
Quanto ao computador e os vídeos embora se constituam em Diante de todas as reflexões concordo com a educadora britâ-
equipamentos reservados, no Brasil, ainda, a uma classe social mais nica Catty Nutbrown para quem “ Parar para ouvir um avião no céu,
privilegiada, são aspirados pelas crianças e pais com condições agachar-se para observar uma joaninha numa folha, sentar numa
econômicas inferiores. E isso nos parece uma viagem sem volta. rocha para ver as ondas se espatifarem contra o cais _ as crianças
Tais alterações, contudo, não ocorreram somente no plano das têm sua própria agenda e noção de tempo. Conforme descobrem
escolhas das brincadeiras, mas puderam ser observadas também no mais sobre o mundo e seu ligar nele, esforçam-se para não ser
que tange aos companheiros, aos espaços e aos tempos de brincar. apressadas pelos adultos. Precisamos ouvir suas vozes”. (Relatório
A atividade lúdica para ser aprendida necessita de parceiros, Global:2007,p.1)26
pais, amigos, irmãos, professores... Eis a grande dificuldade.
Por um lado, a falta de disponibilidade de tempo dos pais e das Atualmente, nossa sociedade vive inserida num contexto de
gerações mais velhas de estarem com seus filhos, facilita o desco- diversidade de formas e meios de comunicação, no qual é essen-
nhecimento de repertórios de brincadeiras. O brincar se aprende cial ser competente na leitura e compreensão das diferentes lin-
num processo de imitação, portanto os pequenos só podem apren- guagens.
der com seus pares, sejam eles adultos ou crianças. Embora se reconheça facilmente essas diferentes modalidades
Por outro, como as famílias atualmente estão menores, de comunicação (expressões gestuais ou corporais; formas visuais;
há um grande número de crianças que brincam sozinhas e, por formas gráficas e verbais), o que se tem visto na realidade, de forma
vezes, apenas com um animal de estimação. Logo, a falta de geral, é somente o uso da leitura e escrita como representações
relacionamento com os outros tanto dificulta a construção de um convencionais nas atividades escolares. Compreendendo a inevitá-
repertório de brincadeiras quanto favorece ao empobrecimento vel incorporação das outras formas de comunicação nas instituições
cultural. escolares, o presente artigo pretende falar da inclusão do jogo nas
Outro obstáculo para o desenvolvimento do brincar e a diferentes modalidades de comunicação que permeiam nossa so-
preservação da cultura da infância é questão do espaço físico. ciedade.
Por todas as partes vive-se o problema da insegurança e isso tem o jogo como instrumento de aprendizagem é um recurso de ex-
afetado particularmente as crianças. tremo interesse aos educadores, uma vez que sua importância está
Embora a maior parte dos pais entrevistados tivesse colocado diretamente ligada ao desenvolvimento do ser humano em uma
que o local onde os pequenos mais brincam ainda é o quintal, perspectiva social, criativa, afetiva, histórica e cultural.
sobretudo em cidades do Norte, Nordeste e Centro Oeste, o espaço O jogo é uma oportunidade de desenvolvimento. Jogando a
comum, mencionado pelos pais das diferentes regiões brasileiras criança experimenta, inventa, descobre, aprende e confere habilida-
para a prática das atividades lúdicas é a escola . des. Sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvidas. A
Tal escolha não está associada à garantia da cultura, mas à exis- qualidade de oportunidades que são oferecidas à criança por meio de
tência de uma segurança maior, a grande preocupação da famílias jogos garante que suas potencialidades e sua afetividade se harmoni-
atualmente Outro entrave em relação à brincadeira é a falta de tem- zem. Dessa maneira, pode-se dizer que o jogo é importante, não so-
po das próprias crianças. O trabalho infantil e as atividades domés- mente para incentivar a imaginação nas crianças, mas também para
ticas por um lado e o excesso de atividades extra-curriculares, por auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas.
outro, têm se constituído em grandes impedimentos à realização A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino ludus, que sig-
do brincar. Especialmente as atividades extra-curriculares têm sido nifica diversão, brincadeira e que é tido como um recurso capaz de
impostas às crianças dada a grande ansiedade dos pais por conta de promover um ambiente planejado, motivador, agradável e enrique-
fornecer elementos para que os filhos entrem rapidamente no mer- cido, possibilitando a aprendizagem de várias habilidades. Dessa
cado de trabalho. Embora participar de atividades extra-curricula- maneira, alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem po-
res seja um privilégio das crianças de classes mais altas, os pais das dem aproveitar-se do jogo como recurso facilitador na compreen-
classes baixas têm as mesmas preocupações, mas como dependem são dos diferentes conteúdos pedagógicos.
muitas vezes da mão de obra infantil para aumentar o orçamento Piaget afirma: “O jogo é, portanto, sob as suas formas essen-
familiar, não têm condições de oferecer outras atividades aos filhos. ciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação
De qualquer forma as crianças estão privadas do brincar, da do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento neces-
cultura lúdica e de viver a sua infância. sário e transformando o real em função das necessidades múltiplas
Aí vem a última questão. Como ficam os profissionais da do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem
educação diante desta nova realidade? que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que,
Recentemente vem sendo manchete dos jornais o fato de que jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que,
as mazelas da educação são conseqüências do despreparo dos sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil”
seus profissionais. Evidentemente que não será possível esgotar o Hoje o jogo representa uma ferramenta ideal da aprendiza-
debate à questão. gem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno.
Penso que nós profissionais da educação temos que engrossar O jogo ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e
cada vez mais, a luta pelo direito ao brincar na infância, o direito enriquece sua personalidade.
de a criança viver essa etapa tão importante da sua vida e a escola
26 Por Maria Ângela Barbato Carneiro
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati- Isso acontece porque o pensamento da criança evolui a partir
vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que de suas ações. Assim, por meio do jogo o indivíduo pode brincar
o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade
que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo criativa. Os jogos não são apenas uma forma de divertimento: são
favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.
Como consequência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende Para manter seu equilíbrio com o mundo, a criança precisa brincar,
a pensar, estimulando sua inteligência. Nesse contexto, precisa- criar e inventar. Com jogos e brincadeiras, a criança desenvolve o
mos elucidar os pontos de contato com a realidade, a fim de que seu raciocínio e conduz o seu conhecimento de forma descontraída
o jogo seja significativo para a criança. Por meio da observação do e espontânea: no jogar, ela constrói um espaço de experimentação,
desempenho das crianças com seus jogos podemos avaliar o nível de transição entre o mundo interno e externo.27
de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-
-se suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos enriquecer Processo de alfabetização
sua aprendizagem, fornecendo por meio dos jogos os “nutrientes” A História da Alfabetização, em nosso país, foi centrada na
do seu desenvolvimento. Ou seja, brincando e jogando a criança História dos Métodos de Alfabetização. A disputa entre esses
terá oportunidade de desenvolver capacidades indispensáveis à sua métodos, que objetivavam efetivamente garantir aos educandos a
futura formação e atuação profissional, tais como: atenção, afetivi- inserção no mundo da cultura letrada, produziram uma gama de
dade, concentração e outras habilidades perceptuais psicomotoras. teorizações e tematizações acerca de estudos e de pesquisas a fim
Dinello indica que “pelo jogo, a psicomotricidade da criança se de investigar essa problemática.
desenvolve num processo prático de maturação e de descobrimento Desde o final do Século XIX, a dificuldade de nossas crianças
do mundo circundante.” para aprender a ler e escrever, principalmente na escola pública,
Dessa maneira, pode-se dizer que no jogo há uma importância incitou debates e reflexões buscando explicar e resolver esses
do desenvolvimento psicomotor para aquisições mais elaboradas, entraves. As práticas de leitura e de escrita ganharam mais forças
como as intelectuais. Oliveira valida esse entendimento, ao afirmar no final desse século, principalmente a partir da Proclamação da
que: Muitas das dificuldades apresentadas pelos alunos podem República.
ser facilmente sanadas no âmbito da sala de aula, bastando para
A educação nesse período ganhou destaque como uma das
isto que o professor esteja mais atento e mais consciente de
utopias da modernidade. Até então, nessa época, as práticas de
sua responsabilidade como educador e despenda mais esforço
leitura e escrita eram restritas a poucos indivíduos nos ambientes
e energia para ajudar a aumentar o potencial motor, cognitivo e
privados do lar ou nas “escolas” do império em suas “aulas régias”.
afetivo do aluno. Assim sendo, devemos estimular os jogos como
. Até o final do império, as “aulas régias” ofereciam condições
fonte de aprendizagem.
precárias de funcionamento e o ensino dependia muito do
Em educação, a utilização de um programa que estimule a
empenho dos professores e dos alunos. Para a iniciação do ensino
atividade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite
da leitura eram utilizadas as chamadas “cartas de ABC” e os
que o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance
métodos de marcha sintética, ou método sintético (da “parte” para
níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo
o “todo”); da soletração (silábico), partindo dos nomes das letras;
tempo, favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a
fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação
imaginação. Como consequência a criança fica mais calma, relaxada,
(emissão de sons), partindo das sílabas.
e aprende a pensar, estimulando sua inteligência.
Em 1876, em Portugal, foi publicada a Cartilha Maternal ou
Segundo Bettelhein; os jogos mudam à medida que as
Arte da Leitura, escrita por João de Deus, um poeta português. O
crianças crescem. Então, muda-se a compreensão em relação aos
conteúdo dessa cartilha ficou conhecido como “método João de deus”
problemas diversos que começam a ocupar suas mentes. É jogando
e foi bastante difundido principalmente a partir do início da década
que as crianças descobrem o que está a sua volta, começando a se
de 1880. O “método João de deus”, também chamado de “método da
relacionar com a vida, percebendo os objetos e o espaço que seu
palavração”, fundamentava-se nos princípios da lingüística moderna
corpo ocupa no mundo em que vivem. Por meio de brincadeiras,
da época e consistia em iniciar o ensino da leitura pela palavra, para
como o faz de conta, o jogo simbólico, a vivência de papeis, criando
depois analisá-la a partir dos valores fonéticos.
e recriando situações agradáveis ou não; a criança pode realizar
Na primeira década republicana foi instituído o método
atividades próprias do mundo adulto.
analítico que diferentemente dos métodos de marcha sintética,
Para Vygotsky, “... é na brincadeira que a criança se comporta
orientava que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo “todo”
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu
para depois se analisar as partes que constituem as palavras.
comportamento diário. A criança vivencia uma experiência no
Ainda nesse momento, já no final da década de 1920, o termo
brinquedo como se ela fosse maior do que é na realidade... o
“alfabetização” passou a ser usado para se referir ao ensino inicial
brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das necessidades
da leitura e da escrita.
e da consciência da criança”.
A partir da segunda metade da década de 1920, passa-se
Assim que as crianças vão crescendo e se desenvolvendo
a utilizar métodos mistos ou ecléticos, chamados de analítico
emocional e cognitivamente, elas começam a colocar outras
- sintético, ou vice-versa. Esses métodos se estendem até
pessoas em suas brincadeiras, e é percebendo a presença do outro
aproximadamente o final da década de 1970.
que começam a ser respeitadas as regras e os limites. Os jogos com
Já no início da década de 1980, foi introduzido no Brasil, o
regras exigem raciocínio e estratégia.
pensamento construtivista de alfabetização, fruto das pesquisas
Dessa maneira, quando uma criança se mostra capaz de seguir
de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
uma regra, nota-se que seu relacionamento com outras crianças
Escrita. O Construtivismo não se constitui como um método, mas
e até mesmo com adultos melhora, reforçando a ideia de que os
sim como uma desmetodização em que na verdade, propõe-se uma
jogos influenciam no processo de aprendizagem das crianças,
nova forma de ver a alfabetização, como um mecanismo processual
respeitando seu tempo e ritmo de assimilação e aprendizado.
e construtivo com etapas sucessivas e hipotéticas.
Jogando, as crianças podem colocar desafios e questões para
serem por elas mesmas resolvidas, dando margem para que criem 27 Fonte: www.pepsic.bvsalud.org/Texto adaptado de Maysa Alahmar Bianchin
hipóteses de soluções para os problemas colocados. e Luciana Alves/www.portal.mec.gov.br
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Nessa mesma época, foi constatado um número enorme o educando, a descrição e os objetivos, porém muitas vezes não
de pessoas “alfabetizadas”, mas consideradas como analfabetos havia explicações para várias respostas dadas pelos educandos e
funcionais, que são as pessoas que decodificam os signos os professores não podiam julgar e talvez nem soubessem. Se o
lingüísticos, mas não conseguem compreender o que leram. Surge professor não soubesse julgar o método, com certeza o julgamento
então o termo “letramento”. Estar letrado seria então, a capacidade seria errado, e prejudicaria o aluno, pois como diz Werneck
de ler, escrever e fazer uso desses conhecimentos em situações reais (2001, p. 68): “Chegou-se, no mundo à visão de que avaliar estava
do dia-a-dia. Alfabetizar letrando é de fundamental importância, intimamente ligado ao ato de avaliar”.
pois garante uma aprendizagem muito mais significativa, afinal Para os educadores o julgamento não poderia levar em conta
como afirma Soares (2004): os seus valores ou os da instituição que trabalhavam. Era necessário
Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela integração e ter padrões e critérios definidos para julgar sem prejudicar o
pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem educando porque só assim haveria uma desmistificação da idéia
inicial da língua escrita é sem dúvida o caminho para superação dos de que quando se avalia o aluno, ele é prejudicado. Mas para que
problemas que vimos enfrentando nessa etapa da escolarização; esse julgamento não fosse errôneo, houve a necessidade de alguns
descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela professores reavaliarem sua prática e mudar quando preciso.
faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando Ainda existem professores que consideram seu modo de avaliar,
no reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso o melhor e que não falham jamais e é esse o tipo de profissional
efetivo ao mundo da escrita. que fazem com que os professores adquiram “fama” de injustos,
Atualmente vivenciamos uma crise de paradigmas, os métodos carrascos e incompetentes. Não basta apenas observar e descrever
de abordagem tradicional e/ou tecnicista, já não dão conta do é necessário o julgamento, e para isso, o professor tem que ter uma
contexto atual e o Construtivismo, na maioria das vezes, continua visão mais humana e real dos alunos e da escola.
sendo mal interpretado, incompreendido e utilizado de forma Neste momento, Ristow (2008), diz que a avaliação dá o
equivocada, isso quando utilizado. Portanto, entendo que um terceiro passo, que vai da década de 1960 a década de 1980 e aqui
método ou uma perspectiva de desmetodização, enquanto teoria eles trabalhavam o juízo do valor. Neste momento do juízo do valor,
educacional funciona se há uma real fundamentação teórica e aparecem dois novos fatores que são: mérito e relevância. O mérito
prática e se, relacionado a tal método ou desmetodização, estiverem trata da qualificação, capacitação e merecimento a uma melhora
uma teoria do conhecimento, além de um projeto político e social.28 em tudo que acontecia ao redor da avaliação. Já a relevância, que
trata das modificações e transformações que acontece a partir do
merecido.
Segundo Ristow (2008), ela afirma que na década de 1990 o
ASPECTOS DO COTIDIANO ESCOLAR – A FORMAÇÃO quarto passo da avaliação, foi tido como o processo de negociação.
DO PROFESSOR; A AVALIAÇÃO COMO PROCESSO, A Assim, para isso se materializar era necessário o diálogo, negociar
RELAÇÃO PROFESSOR / ALUNO; A FUNÇÃO SOCIAL DO com os pais, professores, mercado trabalhista e principalmente
ENSINO: OS OBJETIVOS EDUCACIONAIS, OS CONTEÚ- com os alunos, afinal eles que serão capacitados, pois dialogando
DOS DE APRENDIZAGEM; AS RELAÇÕES INTERATIVAS com todos, é possível saber o que é necessário ensinar e o que é
EM SALA DE AULA: O PAPEL DOS PROFESSORES E DOS importante avaliar.
ALUNOS; A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA CLASSE; OS Esse momento oportunizou aos professores estarem sempre
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE; A SALA DE abertos a conversar, a saber a opinião dos alunos e poder mudar
AULA E SUA PLURALIDADE se fosse preciso. Percebeu-se que o professor não era o dono
da verdade e sempre terá o que aprender com o aluno, por isso
A história da avaliação é longa e tem uma trajetória de mais a negociação foi considerado um grande momento, o passo da
de 100 anos de muitos estudos, mudanças e transformações, tudo qualidade na avaliação, pois não segue um método determinado.
para que haja uma melhor maneira de avaliar sem que os avaliados Estamos no século XXI e ainda hoje, após tantas mudanças para
sejam prejudicados. melhorar a avaliação, tem professores que classificam seus alunos
O primeiro passo da avaliação segundo Ristow (2008) se dá apenas por números. Infelizmente nem a lei conseguiu mostrar aos
na década de 1920 e na década de 1930, e foi considerado, como professores que a qualidade é importante, pois muitos têm medo
um período de mensuração. Neste primeiro momento a avaliação da mudança e preferem só a quantidade e não deixam os alunos
baseava-se na quantidade e não na qualidade, era feita de forma questionarem.
a verificar apenas pontos de erros e acertos. Isso durou 10 anos, Pedro Demo deixa claro que é necessário:
pois trouxe muitas dúvidas e inquietações de como realmente Defender critérios transparentes e abertos nos processos
estava havendo a aprendizagem ou esse método era apenas avaliativos; a avaliação precisa ser conduzida de tal sorte que o
uma “decoreba” do conteúdo dado, que depois da avaliação era avaliado possa se manifestar e reagir; são inaceitáveis avaliações
esquecido. sigilosas ou feitas pelos chefes exclusivamente, bem como são
Então surge o segundo passo da avaliação, sendo que inaceitáveis meras auto-avaliações. (DEMO, 1997, p. 50)
recorrendo a Ristow (2008), vai da década de 1940 a 1950, e é É preciso que o professor deixe o aluno questionar, argumentar,
voltada para a verificação de objetivos e para isso acontecer era reagir a algo que o educador argumentou, assim como é de extrema
necessário uma investigação dos objetivos. Feito isso a avaliação importância que o professor tenha clareza acerca do modo de
poderia responder as dúvidas vistas anteriormente, para assim avaliar. Mostre o que quer de fato, sem «pegadinhas» somente
saber se existiram mudanças e crescimentos na aprendizagem, pois para deixar o educando confuso. Essas formas avaliativas devem
era descrito o que acontecia com o aluno. Neste período a avaliação ser elaboradas por professores e alunos para não haver surpresas
foi vista como descritiva. na hora das avaliações.
Houve, porém um grande problema, essa descrição não A legislação atual representou um grande salto qualitativo
era totalmente suficiente para sanar as dúvidas e para saber se para toda a comunidade escolar no que se refere ao processo de
estava cumprindo o papel que era proposto. Existia quase tudo, avaliação. Cabe a estes compreendê-la e desta forma usá-la a seu
favor.
28 Fonte: www.educandoeconversando.blogspot.com
48
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Vários educadores falam uma coisa, mas fazem outra, quer - Concepção Vygotskyana
dizer a teoria e a prática não caminham juntas. Há escolas que Para Vygotsky um dos pontos mais importantes são a linguagem
dizem adotar uma abordagem qualitativa ao processo avaliativo, e o pensamento. Rego (1986) aponta que quando a criança nasce
que não “somam” nem “medem” os alunos, porém isso só acontece ela modifica o ambiente e essas modificações vão refletir no
no papel, para tentar atender as exigências da lei. comportamento dela no futuro, acontece também a aquisição
Vive-se no século XXI, e cabe ao educador ser crítico, criativo e psíquicas decorrente do meio, existe a base biológica, que é o
saber que a avaliação é um meio de conseguir novas informações poder que o cérebro tem de assumir funções atingidas, mas para
sobre a aprendizagem e desta forma avaliar melhor o educando. isso tem que haver a influência do meio. Outro fator é a mediação
Quando se avalia, o educador deve aproveitar os resultados com o meio através dos instrumentos e os signos e a última tese fala
obtidos e mostrar para os alunos como a avaliação pode ser das funções psicológicas superiores, que depende da interação do
importante e que pode trazer para todos novas possibilidades, e se sujeito e não só do desenvolvimento.
bem trabalhada, novos conhecimentos. Outro ponto importante é a zona de desenvolvimento
proximal, que é aquilo que a criança sabe fazer sozinha e a zona do
O professor não deve buscar uma receita pronta, pois cada desenvolvimento potencial que é o que ela ainda não faz sozinha,
aluno tem seu tempo, seu desenvolvimento, então deve-se buscar mas pode fazer com a ajuda de alguém.
sua forma de avaliar. Vygotsky leva em conta a história do indivíduo por basear-se no
Hoffmann (1996, p. 186), diz algo muito significativo, ou seja, materialismo histórico e dialético.
para ela “estudar avaliação não significa estudar teorias de medidas
educacionais”. Com isso, pode-se dizer que não adianta só saber - Concepção Walloniana
todas as teorias, tem que haver uma junção de teoria, prática, Para Wallon o ser humano passa por vários momentos em sua
experiência, negociação etc. vida desde o afetivo até motores e intelectuais. E estes momentos
Wallon classificou como estágios:
Concepções de aprendizagem frente avaliação escolar O primeiro foi impulsivo emocional, que esta relacionada ao
Existem várias concepções de aprendizagem e é de extrema primeiro ano de vida da criança onde a afetividade é fortíssima.
importância conhecê-las, pois se deve deixar claro que o educador O segundo é o sensório-motor que vai dos 2 a 3 anos, aqui
segue o que determinará os mecanismos de avaliação utilizados em destacam-se a fase motora e mental, além da criança conseguir
sala de aula. manipular objetos, os pensamentos já estão mais fortes, a função
Vale lembrar que as concepções de aprendizagem dependem simbólica e a linguagem também.
muito do momento histórico que se está vivendo. Desta forma cabe No terceiro estágio que é o personalismo dos 3 aos 6 anos,
ao educador não apenas saber a teoria referente às concepções, acontece a formação da personalidade.
mas utilizá-las na prática do dia-a-dia. Assim sendo, faz-se necessário O quarto estágio é o categorial dos 6 aos 11 , a criança já
falar das principais correntes de aprendizagem, porém brevemente, consegue dividir, classificar em fim já tem mais autonomia pois já
pois este não é o enfoque principal deste conteúdo. categoriza o mundo.
No quinto e último é o da adolescência começando nos 11 ou
- Concepção Inatista 12 anos, há a construção do eu, neste estágio há muitos conflitos
Nesta concepção a pessoa tem dons e aptidões que se morais e existenciais, e volta o campo afetivo.
amadurecem com o passar do tempo (biológico). Segundo Chauí Estes estágios bem trabalhados a criança alcançará a
(1997) a criança trás em si todas suas potencialidades. É necessário aprendizagem facilmente. Enfim, estes breves comentários sobre as
apenas esperar, uma vez que as capacidades já estão no sujeito no concepções de aprendizagem têm um único propósito de esclarecer
ato do nascimento. a forte relação entre a avaliação e as concepções de aprendizagem
Cabe ao educador apenas ajudá-lo a despertar o que já para assim melhorar o entendimento diante da escolha dos
existe dentro dele. Se o educando não consegue chegar ao mecanismos de avaliação usados em sala de aula.
conhecimento que o educador passa, é porque este ainda não teve
o amadurecimento biológico ou não possui esta capacidade que é Mecanismos de avaliação
inata. Existem muitos instrumentos para avaliar o aluno, e várias
formas de todos se integrarem no processo de aprendizagem, basta
- Concepção Ambientalista. o professor conseguir detectar a necessidade de cada um. Sendo
A criança ou sujeito é visto como uma “folha em branco”. assim é fundamental que o professor utilize todos os métodos
É a partir dos contatos com o ambiente que ele construirá o necessários para o aluno alcançar o sucesso.
conhecimento que necessita. Assim sendo o educador transmite O educador deve tentar saber em que nível de conhecimento
o que sabe e o aluno apenas recebe. O educando não constrói o o estudante está, para assim dar a verdadeira oportunidade dele se
conhecimento, apenas adquire. aprofundar, uma vez que segundo Sarubbi:
Nesta concepção tudo é planejado segundo Parra (2002), não A avaliação educativa é um processo complexo que começa
há criatividade apenas acontece o que já foi previsto. com a formação de objetivos e requer a elaboração de meios para
obter evidências de resultados para saber em que medida foram os
- Concepção Piagetiana objetivos alcançados e formulação de um juízo de valor. (SARUBBI:
Para Piaget o principal ponto de sua teoria está ligado ao fato 1971, p. 34)
que o sujeito e o meio se interagem mutuamente, mas os fatores Sendo a avaliação um processo, cabe ao educador operacioná-
biológicos têm preponderância. Para Piaget o desenvolvimento la da melhor forma possível, mostrando ao aluno as funções
cognitivo do sujeito se dá através de estágios. Deixa claro que os da mesma e que ela serve para facilitar o diagnóstico, ajudar na
sujeitos passam durante toda a vida por situações desequilibrantes. aprendizagem, entre outras. Mostrar que a avaliação é um meio e
Para entrar na zona de conforto e superar algo que está o deixando não o fim do processo.
em conflito é possível acionar dois mecanismos que são a
assimilação e a acomodação.
49
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Vale lembrar que há várias formas de avaliar o educando, pois Todas essas formas de avaliar podem ser usadas no cotidiano
a mesma encontra-se no processo educativo, ou seja, faz parte escolar, segundo Demo (1997, p. 50), “nunca é suficiente apenas
do processo ensino-aprendizagem, onde todos os sujeitos estão um método avaliativo”.
envolvidos. Por isso o professor tem que tentar ser e fazer o melhor. Deve
Recorrendo as autoras Gentile e Andrade (2001), há diversas insistir em uma educação capaz de mudar os pensamentos de que
formas de avaliar, pois não existe um método mais eficaz que o a avaliação não serve para nada, ao contrário, deve-se apenas
outro, cabe ao professor usar os que forem melhores para o bom encontrar a forma mais adequada para que o aluno mostre o que
andamento da aprendizagem do aluno. Desta forma Gentile e aprendeu, assim com certeza alcançará o sucesso.
Andrade (2001), abordam nove formas avaliativas mais comuns nos É relevante lembrar Hoffmann apud Bochniak (1992, p.
ambientes escolares, que são: 74), quando afirma que «é através das pequenas iniciativas,
- Prova objetiva: É o método mais antigo e com certeza o mais dos pequenos passos, das pequenas descobertas que se chega à
usado. O aluno responde a uma série de perguntas diretas, com construção do conhecimento».
apenas uma resposta possível. Pode ser respondida pela “decoreba” Com isso fica claro a necessidade de fazer o melhor, por menor
não mostrando o que de fato o aluno aprendeu. que seja, não importando se o que foi feito é para a satisfação
- Prova dissertativa: Caracteriza-se por várias perguntas, que pessoal ou coletiva. Se cada professor fizer a sua parte tudo pode
exige do aluno a capacidade de resumir, analisar e julgar. Tem como mudar, mas é preciso não deixar de questionar o sistema atual de
função ver se o aluno tem a capacidade de interpretar o problema avaliação, pois é isto que faz os educadores se aperfeiçoar cada vez
central, abstrair acontecimentos, formular e redigir ideias. Não mais e conseqüentemente melhorar o seu fazer pedagógico.
mede o domínio dos conhecimentos e não permite amostragem.
- Exposição Oral ou Seminário: Destaca-se pela exposição Recuperação de nota ou de conhecimento
oral para os colegas, utilizando a fala e as matérias de apoio Quando o aluno for avaliado e o resultado não for satisfatório,
apropriado ao assunto. Tem como função transmitir verbalmente deve-se reavaliá-lo, porém, antes de tomar essa decisão é
as informações colhidas de forma eficaz. O aluno adquire mais necessário estar consciente de que essa avaliação é para recuperar
facilidade de se expor em público. Faz com que aprenda a ouvir e o conhecimento e jamais a nota. Existe grande diferença entre essas
falar. Oportuniza ao aluno mais responsabilidade e organização, o duas ações.
tornando mais crítico e criativo. O professor deve ter o cuidado de Quando o educador avalia com data marcada, apenas para
conhecer cada aluno para não comparar a explicação de um tímido justificar aos pais e professores e provar que fez recuperação, este
e um desinibido. educador está preocupado não com o aluno e sim na recuperação da
- Trabalhos em grupos: É muito usado atualmente por nota, ou seja, o professor avalia novamente apenas para satisfações
causa do tempo reduzido a cada professor em sala de aula. São externas e burocráticas. Ele está fugindo do seu verdadeiro papel
feitas atividades diversas, desenvolve o espírito colaborativo e a de educador. Porém, se ele avalia para o crescimento do aluno e
socialização. Tem a vantagem de o aluno escolher como vai expor o seu próprio crescimento de forma significativa, estará recuperando
trabalho para a classe e possibilita o trabalho organizado, porém o o conhecimento. Este não terá que dar satisfações a ninguém, pois
professor deve buscar informações para passar ao grupo e não deve o resultado aparecerá no aluno, no professor e no próprio cotidiano
substituir os momentos individuais. na sala de aula.
- Debates: Muito interessantes, pois o aluno expõe sua opinião Por isso é importante lembrar o que diz Nunes (2000, p. 14),
a respeito de temas polêmicos. Ensina o aluno a defender sua “É preciso modificar a avaliação na escola a nota somente, não
opinião com argumentos que convençam. Faz o educando aprender expressa nada em relação ao aluno. Ela classifica, mas não tem um
a escutar, pois tem um propósito, a saber, desenvolver a oralidade significado. As provas devem ser um momento de aprendizagem”.
e a argumentação. O professor deve dar oportunidade para todos Deve-se ter bem claro que nota não é conhecimento. Os
falar. alunos poderão obtê-las através de “decoreba” memorização, que
- Relatório individual: É observada a produção de texto feito na verdade é aprendizagem de curta duração. Eles devem saber
pelo aluno e ajuda a ver se há uma ligação no que se ensinou e no que somente o número, a nota, sem o conhecimento não é nada,
que está escrito. Pode-se avaliar o verdadeiro nível de compreensão. não terá utilidade nenhuma à vida. Cabe ao professor mostrar aos
Deve-se evitar o julgamento. educandos, que eles necessitam é adquirir conhecimento, pois só
- Auto-Avaliação: O aluno faz uma análise oral ou escrita do assim o processo de aprendizagem vai acontecer.
seu próprio processo de aprendizagem. Levando a refletir sobre os Os alunos precisam aprender e desta forma enxergar a
pontos fortes e fracos. Através da auto avaliação o aluno aprende a realidade e a verdadeira sociedade para conseguir inserir-se no
enfrentar e superar suas limitações. contexto global.
- Avaliação formativa ou Observação: O professor observa e
anota o desempenho do aluno. Tem como função, obter informações O professor também tem uma tarefa que é redimensionar a
acerca das capacidades afetivas e cognitivas etc... Descobrir como sua prática, pois só assim conseguiremos a formação de pessoas
cada educando constrói o conhecimento seguindo passo a passo. críticas, não só alunos, mas professores que são capazes de
O professor deve fazer as anotações sempre no momento do conseguir distinguir a diferença entre recuperar o conhecimento e
acontecimento e evitar generalizações. recuperar a nota.
- Conselho de classe: Reuniões organizadas por determinada Quando o professor entrega uma prova e dá explicações ou
equipe. Tem como objetivo compartilhar informações sobre a corrige apenas para fazer que está recuperando, sem dar significado
classe e aluno, para argumentar nas decisões. O ponto positivo é para aquilo, seu trabalho torna-se desnecessário. Se quiser
a integração entre os professores e a facilitação na compreensão recuperar, deve pegar a prova e explicar as questões levantadas,
dos fatos, com os vários pontos de vistas. O professor deve cuidar corrigir para todos verem onde erraram, mas esses conceitos
para não rotular os educandos. Fazer observações concretas não deverão ser cobrados novamente. Se isso não acontecer com
deixando a reunião se tornar uma confirmação de aprovação ou certeza o aluno não vai querer ver o que errou ou querer apropriar-
reprovação. se do que não aprendeu.
50
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Se o docente quer recuperar o conhecimento, que faça com Com essa postura, além do professor culpar o aluno, o próprio
qualidade e competência, para poder lançar o educando em um aluno começa a se auto punir. Culpar-se por não saber isso ou aquilo,
processo de aprendizagem contínua, onde a nota não seja para por erros que nem sabe se cometeu. Não há nada que mostre que o
medir, e sim para qualificar. castigo físico, psicológico ou moral auxilie ou facilite a aprendizagem
Outro ponto importante quando se fala em recuperação é escolar ou o desenvolvimento em sala de aula, na verdade alguma
saber quem deve ser recuperado. Muitos educadores recuperam coisa está acontecendo de forma errada. É chegada a hora de fazer
ou tentam recuperar aquele aluno que tem nota abaixo da média, algo de maneira justa, pois corrigir o erro não significa humilhar ou
porém, deve-se recuperar quem não alcançou o cem por cento, castigar o aluno. O educador deve verificar onde o aluno errou e
pois se o aluno tem sete, ainda estaria faltando trinta por cento reorientá-lo, não esquecendo de mostrar ao aluno a origem do seu
de sua aprendizagem. Talvez essa maneira de recuperar apenas erro, de seu insucesso.
quem precisa muito, esteja fazendo a educação ter tantas falhas e Recorrendo a Luckesi (1997), deve-se esclarecer que o erro
esteja contribuindo para professores e alunos se conformarem com só existe, pois, já foi construído um padrão, idéias de como agir,
metade do que tem direito, e não a totalidade. pensar e falar, preceitos já estabelecidos por uma sociedade. Se
Segundo Vasconcellos (1995, p. 86), “O compromisso do os professores se comportarem de forma arbitrária, sem escutar
professor é com a aprendizagem de todos. Sendo um especialista os educandos estará se direcionando para o passado, onde a única
no ensino, tem que saber lidar com os desafios da aprendizagem, solução para o erro ou para o insucesso eram os castigos, daí com
pois é um profissional da educação”. Quando todos lutarem pelo certeza a escola seria a única responsável pelo fracasso de uma
mesmo ideal dentro da educação é provável que contribuiremos criança.
para dar um novo rumo ao nosso País, no sentido de criar uma Muitas vezes, os docentes não querem enxergar o que está em
outra ordem social. sua frente, que o erro que a criança comete muitas vezes é culpa
dos professores e da escola e então enxergam a realidade não como
O erro construtivo e o castigo na escola ela é, mas como querem enxergá-la, de acordo com seus interesses
O erro na avaliação ou no dia-a-dia não deve ser levado pelos e conveniência.
professores como uma ofensa pessoal, como se quem não aprendeu Enfim, o professor deve estar consciente de suas obrigações e
é porque não prestou atenção na matéria ou na explicação. Na lembrar que segundo Luckesi (1997), a pedagogia de exames, testes
verdade alguma coisa deve ter acontecido, uma vez que essa ou avaliações em que vivemos pode causar muitas conseqüências
questão (avaliação e o erro) é muito complexa. Se o erro for bem na vida do aluno.
trabalhado será muito importante e servirá como fonte de virtude. Pedagogicamente, a escola centraliza a atenção nas avaliações
Luckesi (1994, p. 56), diz que tanto “o ?sucesso/insucesso? como o e não cumpre sua verdadeira função cognitiva. Luckesi (1997,
?acerto/erro? podem ser utilizados como fonte de virtude em geral p. 51) afirma que “nem sempre a escola é a responsável por
e como fonte de ?virtude? na aprendizagem”. todo processo culposo que cada um de nós carrega, mas reforça
O erro e o insucesso em qualquer momento da vida de uma (e muito) esse processo”. Sabe-se que com medo e angústia as
criança pode ser suporte para o crescimento e para o rendimento crianças adquirem fobias e ansiedades que com certeza prejudicam
escolar. Isso não significa que o erro e o insucesso são indispensáveis o seu desenvolvimento.
para o crescimento e que a criança só vai aprender se errar, se não Quando Luckesi (1997, p. 52) diz, “que nem sempre a escola
obter sucesso na aula ou na escola, ao contrário, é necessário deixar é a única responsável”, é porque muitas vezes, os próprios pais
bem claro que a criança não precisa passar por erro e o insucesso, ou responsáveis não aceitam os erros ou insucesso de seus filhos.
mais que se ela passar por essa etapa os educadores devem tornar Então a escola não é totalmente culpada, mas também se o pai,
esses erros os mais significativos benefícios. mãe ou responsável fazem os filhos se sentirem culpados, talvez,
É importante ressaltar que não se deve fazer do erro um fazem isso por falta de conhecimento.
caminho onde todos devem passar. O erro e o insucesso devem As escolas e professores, com certeza são os maiores
servir para levar o sujeito a crescer, para evoluir, sobretudo deve causadores desses sentimentos (culpa) principalmente com alunos
buscar este caminho como significado de sucesso. É necessário que das séries iniciais. Esse clima de medo, tensão, ansiedade, fobias e
o erro, principalmente na aprendizagem não seja fonte de castigo castigos quando o aluno fracassa é o maior responsável pela escola
jamais. O erro deve ser visto e compreendido como conseqüência não ser considerada por uma grande maioria, um lugar de alegrias,
do acerto. prazer e satisfação. Desta forma a escola não é eleita como um lugar
O castigo não é uma prática recente, ao contrário é muito para ser feliz.
antiga, onde os docentes castigavam fisicamente os seus alunos, nas Os professores devem se conscientizar que quando o aluno
mais variadas formas, fazendo os alunos se ajoelharem no feijão ou erra em uma avaliação ou em sala de aula, o educador deve auxiliar
milho, batendo com régua e palmatória, entre outras. Atualmente na construção do conhecimento.
quase não existe o castigo físico, mais isso não significa que a “era” Psicologicamente a avaliação é inútil, pois desenvolve a
dos castigos acabou, ao contrário, continua de forma sutil, uma vez personalidade da submissão, e os padrões internalizados em
que não deixam marcas no corpo, mas marcas profundas na alma. função dela têm sido quase todos negativos. É utilizada de modo
Nos tempos atuais, os castigos se tornaram psicológicos fetichizado, sendo útil ao desenvolvimento da autocensura.
e morais. As crianças são ridicularizadas, humilhadas pelos Sociologicamente, sendo utilizada de forma fetichizada é
educadores, com frases, palavras e até pelas notas que muitas vezes bastante útil para os processos de seletividade “social”. No caso está
os professores fazem questão de anunciar a todos em alto e bom muito mais articulada para a reprovação do que para a aprovação,
som. contribuindo para a seletividade social.
O professor cria em sala de aula um clima de tensão, medo e Para a avaliação se tornar algo significativo de verdade deve-se
ansiedade. Faz perguntas a um e vai passando por todos os outros, transformar os mecanismos de avaliação. Isso só acontecerá através
na verdade quer achar na sala aquele que não aprendeu para expor da ação e como somos parte deste processo de transformação,
o aluno e indiretamente avisar aos colegas que aprendam se não também somos responsáveis pelo processo de ressignificação da
serão os próximos a ser ridicularizados. Ele pode não falar mais avaliação utilizada no interior da sala de aula.
mostra isso ao aluno.
51
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A prática avaliativa na aprendizagem na escola II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cultura, o pensamento, arte e o saber;
A importância da avaliação escolar: retrocessos e avanços III- Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
No século XIX até a década de 1950 era unânime a forma de IV - Respeito à liberdade e apreço a tolerância;
ensinar e tinha como estratégia de ensino a repetição de atividades, V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
cópias de modelos e memorização. O professor adotava a postura VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
de transmissão do conhecimento, e o aluno só bastava absorver o VII - Valorização do profissional da educação escolar;
que era ensinado sem espaço para contestação. A turma era bem VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei
avaliada quando conseguia reproduzir com rigor os conteúdos e da legislação dos sistemas de ensino;
repassados pelo professor, essa metodologia foi contestada por IX - Garantia de padrão de qualidade;
Luckesi (2005, p. 37), da seguinte forma: X - Valorização da experiência extra-escolar;
(...) O papel disciplinador, com o uso do poder, via a avaliação XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas
classificatória, o professor representando o sistema, enquadra sociais; (LDB, 1996)
os alunos -educando-os dentro da normatividade socialmente
estabelecida. Daí decorre manifestações constantes de Este movimento nasceu por volta de 1960 sob a influência das
autoritarismo, chegando mesmo a sua exacerbação. idéias do movimento da Escola Nova que tinha como foco principal
Quem acha que o papel do professor é só “passar” a aprendizagem do aluno como um ser social, que dizia não se
conhecimentos talvez veja a aprendizagem ativa e interativa como importar com o resultado, mas com o processo e, principalmente
um capricho da imaginação teórica ou simplesmente como ilusões a experiência. Havia a valorização do desenvolvimento criador e da
de certas propostas pedagógicas. Isso, na prática, reduz o ensino iniciativa do aluno durante as atividades em classe, as estratégias
à instrução individual em massa, quando sabemos que ainda de ensino não apontavam o certo ou errado na maneira de fazer
existem educadores usando juízos de valores, para marcar seu lugar de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os
e mostrar aos alunos que eles têm de ocupar outra posição. Essa trabalhos nem mesmo utilizar outras produções culturais para
prática educativa perdurou por muitos anos, alunos chegavam a influenciar a turma. A idéia é que o estudante exponha suas
ser estigmatizados e sem confiança de si mesmo, eram avaliados inspirações internas.
por expressões que amedrontavam, utilizando-se das provas como O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
fator negativo de motivação. Culturais de 1992, assinado pelo Brasil, afirma que: “A Educação é
Quando um aluno vai mal numa prova, isso pode ter sido direito de toda pessoa. Ela deve visar o pleno desenvolvimento da
provocado por muitos motivos, inclusive uma falha na metodologia personalidade humana e capacitar todos a participar efetivamente
de ensino do professor em sala de aula. Mas é sempre mais cômodo de uma sociedade livre”.
culpar a criança do que se avaliar. No que diz respeito à LDB nº 9. 394, de 20 de novembro de
Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional 1996, no artigo 2 diz que:
emergiu e se cristalizou, porém é certo que aperfeiçoou seu A educação é um dever da família e do Estado, inspirada nos
mecanismo de controle, destacando a seletividade escolar e seus princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem
processos de formação das personalidades dos educandos. O medo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
e o fetiche são mecanismos imprescindíveis, assim aponta Luckesi para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
(2005, p. 23) que: Neste contexto, hoje a educação é uma obrigação do Estado e
Ao longo da história da educação moderna e de nossa das famílias. A escola pública teve e tem de se adaptar para receber
prática pedagógica, a avaliação da aprendizagem escolar, por a parcela da população antes excluída e com padrões culturais
meio de exames e provas, foi se tornando um fetiche. “Por fetiche diferentes daqueles aos quais ela estava acostumada.
entendemos uma entidade” criada pelo ser humano para atender a Podemos constatar que a educação no Brasil discutida hoje,
uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina, como um direito foi o resultado de muitas lutas anteriores, como
universalizando-se. (LUCKESI, 2005, p. 23) já vimos, essas garantias são anos de lutas, isso significa o marco
A reprodução desse modelo fez com que as crianças oriundas na trajetória democrático do Brasil. O Estatuto da Criança e do
de famílias carentes, quando matriculadas, simplesmente não Adolescente (ECA), que assegura a criança e adolescentes o direito à
aprendessem, elas não dispunham de repertório para acompanhar educação formal, como podemos ver em seu capítulo IV - Do Direito
o ensino que privilegiava a transmissão do conhecimento. à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, artigo 53, diz que:
A gestão, a organização do espaço e a expectativa em relação A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao
ao comportamento não levaram em consideração as diferenças, pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
esperava-se que todas estivessem educadas de acordo com os cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
padrões das classes privilegiadas. I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
O direito a educação passa a constar de fato na lei a partir escola;
da segunda constituição republicana, em 1934. Isso depois de II - direito de ser respeitado por seus educadores;
os intelectuais brasileiros, comandados pelo educador Anísio III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
Teixeira (1900-1971), terem produzido o manifesto dos pioneiros às instâncias escolares superiores;
da Educação Nova, primeiro movimento intelectual no país a lutar IV - direito de organização e participação em entidades
abertamente pelo acesso amplo à Educação como uma forma estudantis;
de reduzir as desigualdades culturais e econômicas. Desta forma V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
podemos acompanhar estas mudanças significativas na educação
brasileira através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9. 394 de As crianças e os adolescentes têm, pois, garantido, no Brasil,
1996 no título II do artigo 3, diz que o ensino será ministrado com o direito ao ensino, a educação. A constituição delega ao Estado
base nos seguintes princípios: o dever para com esses cidadãos, mais cabe a cada um reivindicar
I - Igualdade e condições para o acesso e permanência na a efetivação desse direito, que nem sempre é efetivado de forma
escola; eficiente.
52
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Portanto, como observamos os municípios tem o dever de Este é um momento recíproco, em que o aluno e o professor
priorizar a educação infantil e principalmente o ensino fundamental, de forma integrada reajustarão seus planos de ação, que poderá
para que haja uma melhor educação e, haja a aquisição e construção auxiliar o professor em outras avaliações. E tem como objetivo
do conhecimento do aluno e o mesmo possa contribuir com a determinar a forma para qual o educador deverá encaminhar,
sociedade. através do planejamento, sua ação educativa.
Pode ser considerado como o ponto de partida para todo
Modalidades e funções da avaliação escolar trabalho a ser desenvolvido pelo educador, em favor a esta
O ensino no Brasil que antecedeu o período republicano tinha educação Hoffmann (2008, p. 59), tece a idéia de que, “os alunos
como base a educação jesuítica em 1549, segundo Pinto (2002), não aprendem sem bons professores”, é estar presente em todos
os conteúdos tinham um papel de domesticação e adestramento, os momentos que favorece o diagnóstico do aluno. A avaliação só
com visões bíblicas somente para ensinar a ler e a escrever. A será eficiente e eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor
metodologia utilizada era a tradicional, que tinha como princípio e aluno, ambos caminhando em mesma direção, em busca dos
levar os alunos, a saber, dados e fatos na ponta da língua, o saber mesmos objetivos.
do professor deveria se manter neutro diante dos alunos e se ater
a passar os conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a Avaliação Formativa:
exposição cronológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas A avaliação formativa enfoca o papel do aluno, a aprendizagem
eram inspiradas no livro de catequese, com perguntas objetivas e e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá-lo,
respostas diretas. Essa postura em sala de aula só seria questionada cuja função controladora sendo realizada durante todo o ano letivo.
no início do século XX. Localiza deficiências na organização do ensino-aprendizagem, de
Novas fontes de aprendizagem como, visitas a museus e modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar o alcance
exposições, foram incorporadas com o objetivo de fazer o aluno aos objetivos.
pensar e não apenas decorar o conteúdo. Os conteúdos de Piaget Essa modalidade de avaliação é orientadora, porque orienta o
(1896 - 1980) e de Vygotsky (1896 - 1934), contudo começaram a estudo do aluno ao trabalho do professor, prevê que os estudantes
ser divulgadas, trazendo teorias que influenciaram mais e a idéia de possuem processos e ritmos de aprendizagem diferentes, sendo
que aprender é decorar, começou a mostrar sinais de fragilidade, que cada professor está comprometido com sua ação recíproca de
como ressalta Luckesi (2005, p. 28): conhecimento.
Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a Segundo Cool (1996), apud Silva (2004, p. 31) referencia que:
serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da A escola é a instituição escolhida pela população para
educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que desenvolver práticas educativas sistematizadas no intuito de
procuramos fazer, temos de necessariamente situá-Ia num outro possibilitar a construção das identidades pessoais e coletivas.
contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente. Colocar a Processo pelo qual nos encontramos e nos transformamos em
avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja cidadãos para vivemos na floresta de pedra, complexa e conflituosa
preocupada com a educação como mecanismo de transformação da sociedade. A passagem da condição natural do homem e da
social. mulher para a cultural toma como principal caminho a dinâmica
Neste contexto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, educativa, sendo a escola a principal instituição responsável por
a avaliação não existe e não opera por si mesma, está sempre a orientar a construção identitária dos sujeitos.
serviço de um projeto ou de um conceito teórico, ou seja, é Neste contexto, a avaliação considera que o aluno aprende ao
determinada pelas concepções que fundamentam a proposta de longo do processo, que vai reestruturando o seu conhecimento por
ensino. Numa época em que os modelos de avaliação contínua meios das atividades que executa, para isso, é preciso propor ações
ganham forças nas escolas e nos livros de formação, avaliar o aluno transformadoras por meios das quais sejam mobilizados novos
conforme as teorias da avaliação é incentivá-lo rumo ao processo saberes.
de ensino aprendizagem, neste sentido abordaremos as avaliações: A informação procurada na avaliação se refere às representações
diagnóstica, formativa e somativa, dentro de seus conceitos, como mentais do aluno e as estratégias utilizadas para chegar a um
seus avanços e a arma do aluno e do professor avançar em todas as determinado resultado. É através da avaliação formativa que o
etapas e, contudo para garantir a eficácia e eficiência do processo aluno toma conhecimento dos seus erros e acertos e encontra
avaliativo. estímulos para um estudo sistemático.
Ela permite ao professor detectar e identificar deficiências
Avaliação Diagnóstica: na forma de ensinar, orientando-o na formulação do seu trabalho
A avaliação diagnóstica é aquela que ao iniciar um curso ou didático, visando aperfeiçoá-lo. Desse modo o docente continuará
um período letivo, dado a diversidade de saberes, o professor seu trabalho ou irá direcioná-lo, de modo que a maioria dos alunos
deve verificar o conhecimento prévio dos alunos com a finalidade alcance. Desta maneira Freire (1989, p. 03) relaciona que:
de constatar os pré-requisitos necessários de conhecimentos ou A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado
habilidades imprescindíveis de que os educandos possuem para o do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É a
preparo de novas aprendizagens. partir da hipótese do momento de educação que o outro está para
O diagnóstico deverá ser feito diariamente durante as aulas com colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim
a retomada de objetivos não atingidos e a elaboração de diferentes e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu
estratégias de reforço (feedback), assim declara Sant?anna (2009, possa me ler.
p. 33): Essa observação vem informar ao professor e ao aluno sobre
O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e o rendimento da aprendizagem durante o desenvolvimento das
retrospecção da situação de desenvolvimento do aluno, dando-Ihe atividades escolares. A avaliação que procede à ação de informação
elementos para verificar o que aprendeu e como aprendeu. É uma e formação possui como objetivo ajustar o conteúdo programático
etapa do processo educacional que tem por objetivo verificar em com as reais aprendizagens, por ser uma avaliação informativa e
que medidas os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se faz reguladora, justifica-se pelo fato de que, ao oferecer informação
necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas. aos professores e alunos, permite que estes lêem suas ações. Assim
53
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
o professor faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das Avaliação como instrumento para analisar o processo
ações pedagógicas, e o aluno conscientiza-se de suas dificuldades e Nos dias atuais, muitos professores ainda medem a capacidade
busca novas estratégias de aprendizagens. do educando e não os qualificam, porém existe um problema que
Um dos pontos fundamentais para este processo é o diálogo, ele desencadeia muitas inquietações para quase todos os professores,
perpassa por uma proposta construtivista de ensino, garantindo um uma vez que avaliam os alunos, mas não permitem que sejam
processo de intervenção eficaz e uma relação de afetividade, que avaliados. Talvez isso aconteça porque muitos educadores se acham
passa contribuir para a construção do conhecimento. Perrenoud os “donos” da verdade, acham que não erram e por este motivo não
(2002, p. 143) esboçou o seguinte pensamento: precisam ser avaliados. Os professores precisam se conscientizar
A aprendizagem é um processo complexo e caprichoso. Por que a avaliação será ótimo para seu rendimento como profissional,
vezes, alimenta-se da interação, da comunicação, quando nada como pessoa e será muito importante para escola e alunos.
pode ocorrer na ausência de solicitações ou de feedback exteriores. Se o professor avalia terá que dar oportunidades para que seu
Em outros momentos, são do silêncio e da tranqüilidade que o aluno ou quem for necessário (colegas, diretores, coordenadores,
aluno necessita para reorganizar suas idéias e assimilar novos pais etc...) possam avaliá-lo, como diz Demo (1995, p. 34), “Se
conhecimentos. avalio não posso impedir que me avaliem, pois avaliar e ser avaliado
É preciso ressaltar que, numa avaliação formativa, professor e fazem parte da mesma lógica. Quem foge da avaliação perde a
aluno precisam ter uma participação ativa, ela torna-se um meio ou oportunidade de avaliar”.
um instrumento de controle da qualidade objetivando um ensino de São exatamente estas palavras de Demo (1994), que expressam
excelência em todos os níveis de todos os cursos e estará a serviço os verdadeiros significados de “dar” e “receber”, pois quando
da qualidade educativa, dentre outros, cumprirem o seu papel de o professor dá a nota, o aluno, também deve avaliar. Assim, todos
promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela receberão uma nota e isso poderá ser de grande importância para
precisa possuir o caráter de contribuição para a formação do aluno ambos, servindo para mudar seu método se necessário ou para ver onde
e, não apenas, classificar e medir a aprendizagem. é possível melhorar ou continuar, para alcançar os objetivos previstos.
Não se pode e nem se deve, ter uma prática que só é válida
Avaliação Somativa: para os alunos, isso não tem lógica. Os professores também devem
A avaliação somática tem por função básica a classificação dos ser avaliados. Quando isso não acontece, impede-se o aluno de dar
alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino, sua opinião, expressar o que sente sobre a prática do professor e
classificando o aluno de acordo com os níveis de aproveitamento ainda o reprime, pois ele tem opinião.
previamente estabelecidos: acesso como ingresso, por oferta de Muitos ousam falar que quando se avalia o aluno é para ver
vagas no ensino público; acesso a outras séries e graus de ensino, se ele aprendeu, se assimilou, se cresceu. Então o ideal é que se os
por permanência de aluno em sala de aula, através de um processo educadores forem avaliados também terão a chance de melhorar e
de aprendizagem contínuo e que lhe possibilite, de fato, o acesso serem capazes de distinguir o significado de ser avaliado e não levar
a outros níveis de saber ignorando a evasão escolar, portanto isso para o lado pessoal, pois muitas vezes o aluno não tem nada
contra seu modo de agir profissionalmente.
Hoffmann (1993, p. 13), enfatiza que:
Não se deve esquecer que às vezes é muito mais fácil avaliar,
É preciso saber que o acesso (a outros níveis) passa a ser
que ser avaliado, pois quando avaliamos vimos apenas o fracasso e
obstaculizado pela definição de critérios rígidos de aprovação ao
erros dos alunos e quando somos avaliados corremos o risco de ter
final dessas séries, estabelecidos à revelia de uma análise séria sobre
que enxergar como somos frágeis em alguns aspectos e como às
seu significado e com uma variabilidade enorme de parâmetros por
vezes, somos injustos e incoerentes com a própria prática.
parte dos educadores, entre eles os alfabetizadores. Pretendendo
Ensina-se sempre o que é ser bom e ruim, justo e injusto, então
alertar, pois, que os professores são muitas vezes coniventes com
se deve usar isso na prática, pois desta forma mostra-se aos alunos
uma política de elitização do ensino público e justificam-se através que todos têm os mesmos direitos e deveres, assim verão que não
de exigências necessárias à manutenção de um ensino de qualidade. há distinção entre educadores e educandos.
O que queremos enfatizar é que o professor não deixe de Pois segundo Vasconcellos (1995, p. 78) “a avaliação deve atingir
usar instrumentos de testagem como provas, exercícios escritos, todo o processo educacional e social, se quisermos efetivamente
produção textual, trabalhos individuais, mas que estes sejam superar os problemas”. Para assim podermos mudar a realidade
acompanhados pelo mediador com a intenção de observar e educacional de nosso país e quando se fala atingir todo o processo,
investigar sobre o momento de aprendizagem em que o aluno se deve valer de fato a todos os profissionais e não apenas alguns, para
encontra, ou seja, problematizar as situações de modo a fazer o dessa forma haver uma melhoria na educação.
aluno ele próprio, construir o conhecimento sobre o tema abordado
de acordo com o contexto histórico e social e político o qual A avaliação escolar como fator preponderante para uma
está inserido, buscando a igualdade entre educador - educando, educação de qualidade
onde ambos aprendem, trocam experiências e aprendizagens no Até o século XIX, o ensino ficava a cargo da família ou de
processo educativo. Conforme a idéia de Sant?anna (2009, p.36): pequenos grupos, sendo que cada ensino de seu jeito. Depois a
Nossa opinião é de que não apenas os objetivos individuais escola assumiu o papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los
deviam servir de base, mas também o rendimento apresentado sistematizá-los comuns a todos, conforme a constituição federal de
pelo grupo. Por exemplo, se em número x de questões a classe 1988, no capítulo III, do artigo 205, rege que:
toda ou uma porcentagem significativa de alunos não corresponde A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
aos resultados desejados, esta habilidade, atitude ou informação será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
deveria ser desconsiderada e retomada no novo planejamento, pois visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o
ficou constatado que a aprendizagem não ocorreu. exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Boa parte
Concluímos que, a avaliação somativa deva se processar da educação oferecida pela família foi deslegitimizada.
conforme os parâmetros individuais e grupais, pois este processo, Agora a situação é diferente, a família antes afastada, está
objetiva melhorar a aprendizagem. sendo convocada a participar da escola, com isso possibilitando a
família a participar do que acontece dentro da escola. Hoffmann
(2008, p.41 e 42) diz que:
54
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
[...] a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem
de sua “cobrança”, mas da atuação competente dos profissionais dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de
que ali atuam, somada à adequada infra-estrutura das instituições; instrumentos que variam desde a simples e ingênua observação
quaisquer reformulações pedagógicas devem ser decisões de até os sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios
profissionais da educação, embasadas em fundamentos teóricos técnicos de elaboração e padronização.
consistentes. Essa operação com resultados da aprendizagem é o processo
Outro fator observado na fala de alguns professores, em de medir, que muito ainda se vê em sala de aula, sabemos que se
reuniões de pais, é a questão de notas referenciando o aluno A, B torna um ato necessário por conta da sistematização do ensino
ou C, com baixo ou péssimo rendimento escolar focando o aluno brasileiro que descreve no seu artigo 21, do capítulo V, do parágrafo
como único culpado. É evidente que nós, educadores temos que 1 estabelece que; A unidade escolar deverá ainda, em seu regimento
comunicar aos pais as notas do seu aluno, mas será que é só estabelecer o conceito percentual ou nota mínima para a promoção
mostrar as notas? É claro que os pais precisam entender o que seus do aluno.
filhos sabem e o que não sabem (se aprenderam ou não, o que O que se alerta, de fato, é quanto à prática avaliativa de
foi ensinado na escola), e essa função está nas mãos do educador maneira ainda tradicional, que vem com a intenção exclusivamente
em explicar qual é a estratégia de ensino ou conteúdos atuais, a de “verificar” ou “registrar” se o aluno aprendeu ou não aprendeu
forma que ele (o aluno) foi avaliado e como foi desenvolvido o o que se pretendia. Luckesi (2005, p. 89), define está prática como
conteúdo. Hoffmann (2008, p. 42) interpreta a ação do professor ponto de partida:
diante da sociedade: “Nesse sentido, resgatar a credibilidade Importa-nos ter clareza que, no momento real da operação
da sociedade quanto à competência dos professores é uma das com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem
condições necessárias para qualquer avanço”. Sabemos que vários sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como ponto
fatores influenciam o aproveitamento do aluno, se a escola e a de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da
família buscam ações coordenadas, os problemas são enfrentados aprendizagem.
e resolvidos. Esses registros do passo a passo, servem para o professor
O comportamento do aluno vem sendo motivo para muitos pensar sobre as escolhas didáticas e perceber onde estão os nós do
professores, como fator principal do desrespeito com sua pessoa, próprio trabalho, tendo como base o diagnóstico sobre os pontos
embora não esteja ligado diretamente ao aprendizado, mas é visto em que os alunos têm dificuldades e o que os faz avançar e pode-se
e julgado como obstáculo da sala de aula por educadores, que pensar em modificações e intervenções necessárias.
chegam a dar nota ao comportamento de cada aluno, como forma
de punição. O planejamento diário é essencial para uma boa avaliação,
É neste contexto que o professor precisa conscientizar-se que pois sem ele torna-se impossível fazê-lo. Não há avaliação sem
a socialização também é um conteúdo escolar, especialmente nas planejamento e este deve ser anterior de toda ação e tão importante
séries iniciais do Ensino Fundamental, porém precisa ser trabalhada quanto o encadeamento da seqüência é observar a evolução da
sem estigmatizar o aluno, avaliando diariamente, oferecendo classe e atentar para as adaptações que podem ser necessárias
estratégias de ensino com o objetivo de chamar a atenção do aluno. no meio do processo. Todos os passos de uma sequência didática
Tendo como objetivo, observar mudanças tanto no devem ser complementares, e precisam propor um aumento
comportamento como no desenvolvimento aos objetivos propostos. gradual de dificuldade, quando Vasconcellos (2008, p. 68), debate
Neste sentido faz-se importante refletir o que Hoffmann (2008, p. este procedimentos usados por professores em sala de aula:
55) estabelece: Alguns professores cobram “criatividade” na hora da avaliação,
Não tenho a pretensão de dizer que se conhece quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na repetição,
verdadeiramente a pessoa do aluno apenas convivendo com ele na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos
algumas horas semanais. Por vezes, um educador, por mais que que devem ser seguidos de acordo com modelos apresentados.
tente, não consegue conhecer os estudantes em um mês, em um Ora a criatividade é fundamental na formação do educando e do
semestre, em um ano. O desenvolvimento, como processo de cidadão, mas ela precisa de uma base material: ensino significativo,
significação de mundo, é sempre dinâmico e, portanto, as reações oportunidade e condições para participação e expressão das idéias
individuais são inesperadas, inusitadas. Mas, conviver e sensibilizar e alternativas, compreensão crítica para o erro, pesquisa, diálogo.
é o compromisso do educador, por um lado, e, por outro, a grande (VASCONCELLOS 2008, p. 68)
magia da tarefa. Pressupõe manter-se permanentemente atento a Nesta direção, ensinar e garantir que os conhecimentos façam
cada aluno, olhando para traz e o agora, ou seja, procurando captar- um sentido amplo para todos os estudantes em sua vida e para além
lhe as experiências vividas para poder cuidar mais de quem precisa da sala de aula, ou seja, para que possam efetivamente, construir
mais. e promover uma educação de qualidade. Sabemos que, ninguém
É normal que se tenha essa situação como desafiadora para duvida que ensinar é o principal papel da escola, e o diálogo faz
a escola e em especial ao professor. Como mediador ele pode parte dessa conquista.29
recorrer ao serviço pedagógico para auxiliá-lo no que for possível (é
bom lembrar que ele precisa usar estratégias durante a aula como O fracasso na alfabetização
forma de chamar atenção, ou mesmo de envolver o educando As causas para o fracasso escolar são inúmeras e muitas delas
durante o processo). O serviço pedagógico é um recurso que ajuda já bastante conhecidas através de publicações de autores consagra-
o professor caso suas tentativas tenham se esgotado. dos que se dedicam ao assunto. Este estudo visa fazer um apanhado
Sabemos que os diferentes graus de desenvolvimento dentro dessas causas, mas também ir um pouco além, procurando avaliar
de uma turma não podem servir de desculpa para que só alguns as causas específicas do fracasso escolar de uma certa localidade.
alunos aprendam. Acompanhar estudante é prever intervenções A questão é que as razões para o fracasso escolar não são pou-
personalizadas e atividades diferenciadas para que cada um ou cas e não estão isoladas umas das outras. Pode ser pelo aspecto pe-
todos possam avançar. dagógico, apropriado ou não à criança, pelas políticas educacionais
Segundo Luckesi (2005, p. 88 a 89) relata a respeito da avaliação que nem sempre tem a educação como meta principal, ou ainda
escolar:
29 Fonte: www.webartigos.com
55
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
pela situação geral pela qual passa a economia do país, e como re- outra cidade e ainda na escola vizinha dessa escola – encontramos
sultado, o ambiente onde vivem milhares de crianças, inadequados inúmeras crianças que não estão tendo sucesso, que fracassam em
para o seu desenvolvimento e crescimento. seu aprendizado. Por vezes, essas crianças passam anos frequen-
A escola conta com uma equipe que poderá estar atenta a pro- tando a escola, até que um dia desistem “entendem” que não tem
blemas sociais dos alunos. O supervisor pedagógico tem a função “cabeça para o estudo”, é melhor fazer “um bico” e arranjar “um
de auxiliar o professor orientando-o em práticas pedagógicas que trocado” para ajudar em casa.
poderão superar o problema do fracasso escolar, e uma ação que
pode ser significativa é manter contato com a família do ‘aluno-pro- Assim como o problema de crianças que fracassam na escola
blema’ na busca de entender o porque do ‘não aprender’. É funda- não acontece apenas em sua escola, ele também não é problema
mental no processo aprendizagem conhecer o aluno e sua origem que surgiu somente agora, nos dias atuais. Pelo contrario um pro-
para escolher a melhor forma de trabalhar com ele, neste sentido, blema cuja história se inicia com a própria história da escolarização
o educador propiciará excelentes oportunidades para elevar o ren- pública. Com a institucionalização do ensino obrigatório, surgem,
dimento escolar dos educando, elevando também o autoconceito tanto histórias de sucesso de alguns, como história de fracasso de
deste, tornando a aprendizagem mais agradável. muitos outros.
Existem várias razões para o fracasso escolar, assim como exis- Segundo GRIFFO (1996):
tem várias razões para se desenvolver um trabalho neste sentido. Débil, deficiente mental educável, anti intelectual, criança com
E um dos motivos, é a preocupação dos educadores em geral em desvio de conduta, criança lenta, criança com repertorio comporta-
achar uma solução cabível para amenizar o problema do fracasso mental limitado, criança com distúrbios de aprendizagem, carente
escolar. linguístico, carente cultural, criança com pobreza vocabular, com
Sendo assim, foi desenvolvida essa pesquisa nas escolas da ci- atraso de maturação, com distúrbio psicomotor, com problemas de
dade de Alto Rio Doce no intuito de investigar o que faz a escola socialização, hiperatividade, disléxica, portadora de necessidades
no sentido de amenizar o problema do fracasso escolar. O trabalho especiais (p.23).
se justifica pela necessidade que se tem de entender quais são as Esses são alguns nomes criados ao longos dos anos, segundo
dificuldades encontradas pelos educadores em geral, em buscar a o autor acima, para identificar aqueles que fracassam na escola. É
inovação para auxiliá-los nas práticas pedagógicas, bem como pelo evidente que tais nomeações não surgem do acaso. Elas expressam
fato de ser um tema muito polemico. Acredita-se ainda, que esse diferentes perspectivas de entendimento das causas do fracasso es-
estudo contribuirá com outros professores que se interessam pelo colar ao longo da história.
tema em questão. Ao longo do século passado, várias hipóteses causais foram
Neste sentido, os estudos teóricos que se pretende realizar apresentadas como explicação para o fracasso escolar, dando ori-
possibilitarão reunir um maior número de concepções teóricas e gem à consolidação de cinco diferentes abordagens para a interpre-
práticas para uma melhor compreensão do fenômeno, na busca de tação desse fenômeno: organicista, instrumental cognitiva, afetiva,
entender as causas e possíveis intervenções para a solução do pro- questionamento da escola e handicap sociocultural (Fijalkow, 1989).
blema. Essas abordagens organizam-se em torno de questões, hipó-
teses explicativas, metodologias de pesquisa que orientam os pro-
Buscando explicações para o fracasso escolar. fissionais de diversas áreas – médicos, professores, supervisores,
Uma das explicações dadas para o fracasso escolar no Brasil psicólogos, etc. – em seu processo de estudo e intervenção junto a
é que a democratização do acesso à escola, ocorrida a partir dos crianças com problemas de aprendizagem. Apresentamos, a seguir,
anos 70 do século passado, levou a escola a lidar com crianças que uma breve caracterização de cada uma dessas abordagens.
teriam, em razão de suas condições de vida, sérias deficiências cul- A primeira teorização sobre as dificuldades de aprendizagem,
turais e linguísticas que acarretariam dificuldades de aprendizagem. surgiu na França, no final do século XIX, ficou conhecida como Abor-
Teriam problemas de indisciplina e não valorizariam a escola. Sua dagem Organicista (Fijalkow, 1989), por investigar as causas do fra-
linguagem oral seria muito distante da língua escrita. Em seu am- casso escolar levantando hipóteses sobre os possíveis distúrbios e
biente familiar, não vivenciaram usos da escrita nem um ambiente doenças neurológicas do aluno. As pesquisas realizadas nessa linha
que as valorizasse e motivasse seu aprendizado. de investigação promoveram uma verdadeira classificação médica
De fato, os dados estatísticos (SAEB) mostram que o fracasso dos problemas de aprendizagem.
tende a se concentrar nas crianças oriundas de meios menos favo- Nos dias de hoje, quando se encaminha um aluno para uma
recidos. No entanto, diferentes estudos mostram também que, ao avaliação neurológica, buscando apoio na contribuição da medicina
contrário do que em geral se afirma, essas crianças possuem um para a compreensão das dificuldades de aprendizagem, o resultado
adequado desenvolvimento cultural e linguístico e que á a escola do diagnostico aponta, geralmente, como causa do problema es-
que apresenta sérias dificuldades para lidar com a diversidade cul- colar o quadro de dislexia, disfunção cerebral mínima ou hiperati-
tural, linguística e mesmo étnica da população brasileira. vidade.
Esse trabalho tematiza justamente o fracasso escolar de crian- Várias críticas são apresentadas, atualmente, a essa abordagem
ças de meio menos favorecidos. Seus principais objetivos são: discu- do fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem. A aborda-
tir as diferentes explicações para esse fracasso; mostrar que, mes- gem organicista é sempre citada como a grande responsável pela
mo experimentando difíceis condições de existência, essas crianças medicalização generalizada do fracasso escolar, pois o tratamento
apresentam um adequado desenvolvimento cultural e linguístico. proposto para sanar as dificuldades de aprendizagem da criança é
o uso de remédios psiquiátricos. Uma das conseqüências mais in-
Reflexão sobre diferentes explicações para o fracasso escolar desejadas da utilização dessa abordagem é a identificação do aluno
Possivelmente, você já deparou em sua escola, em sala de aula como alguém que possui uma falha orgânica, ou seja, um déficit
com crianças que apresentas problemas de aprendizagem, parti- neurológico. Ao se empregar termos como dislexia, hiperatividade
cularmente na aquisição da leitura e da escrita. Com certeza essas e disfunção cerebral mínima, tende-se a ver o aluno como o único
crianças não são os únicos casos de “crianças problemas” existentes responsável pelo seu próprio fracasso.
por aí: as crianças que estão diante de nós – não estão sozinhas…
na minha escola, na sua escola, na escola vizinha, naquela escola da
56
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Segundo VIDAL (1990; CYPEL, 1993) A abordagem denominado Handicap sociocultural identifica
A facilidade com que esse diagnostico é utilizado nas escola cria no meio sociofamiliar a origem do fracasso das crianças na escola.
um quadro de encaminhamento para atendimento médico e pres- Adeptos dessa abordagem consideram a bagagem sociocultural dos
crição de medicamentos, levando à biologização de um fenômeno alunos e de seus familiares um fator decisivo, tendo em vista que a
da esfera escolar, produzindo gerações que acabam por se tornar maioria dos alunos que fracassam na escola é oriunda das camadas
conhecidas como “geração gardenal” (p.43). populares. Um argumento central na articulação dessa abordagem
Como consequência, limita-se, assim, o campo de investiga- é que essas crianças apresentam uma linguagem deficitária o que,
ções do fracasso escolar, uma vez que outros fatores intervenientes em consequência, implicaria em déficit cognitivo. Segundo Soares
na produção desse fenômeno são desconsiderados. (1987), teorias do déficit cultural, linguístico e cognitivo ocultam a
A segunda abordagem do fenômeno do fracasso escolar sur- verdadeira causa da discriminação das crianças das camadas popu-
giu do desenvolvimento de pesquisas no campo da psicologia cog- lares na escola – a desigual distribuição de riqueza numa sociedade
nitiva. Trata-se de uma abordagem instrumental cognitiva, assim capitalista – e terminam por responsabilizar as crianças e suas fa-
designada por buscar as causa das dificuldades de aprendizagem mílias por suas dificuldades e isentar de responsabilidade a escola
em possíveis disfunções relativas a um dos quatro processos psi- e a sociedade.
cológicos fundamentais: a percepção, a memória, a linguagem e o De acordo com SENA (1999),
pensamento. …apenas do número significativo de pesquisas comprovando
Segundo SENA (1999), o caráter ideológico do discurso que fundamenta essa abordagem,
…o diagnóstico realizado utiliza-se basicamente do processo de ainda hoje podemos constatar como seus pressupostos estão pre-
investigação diferencial (comparando um grupo considerado nor- sentes e influenciam fortemente a opinião dos profissionais da edu-
mal a outro considerado atrasado) e busca identificar os seguintes cação” sobre possíveis causas do fracasso escolar (p.64).
sintomas de lateralização, o desenvolvimento inadequado da lin-
guagem, os transtornos perceptivos visuais e auditivos, os déficits Elementos para o questionamento de teorias do déficit.
de atenção seletiva, os problemas de memória (p.62). A breve caracterização das diferentes abordagens do fracasso
Mas Fijalkow (1989), Nunes, Buarque e Bryant (1992) analisam escolar apresentada, permite constatar, que os fracassados são si-
um grande conjunto de pesquisas desenvolvidas a partir dessa pers- tuados em uma mera posição de objeto do conhecimento, marca-
pectiva e apontam alguns problemas que precisam ser considera- dos por um processo diagnóstico que, embora oscile entre ofere-
dos aos interpretar os resultados das mesmas. Um desses proble- cer como explicação causal do fracasso escolar ora uma disfunção
mas diz respeito, por exemplo, a não neutralidade e objetividade neurológica ora cognitiva, ora um transtorno afetivo, ora problemas
das situações de teste a que as crianças são submetidas, a dificul- linguísticos, não vacila em apontar esses sujeitos como deficitários.
dade de se isolar variáveis para que essas possam ser testadas in- Um mito se faz especialmente presente na escola em relação às
dependentemente uma das outras. Além disso, deve-se considerar crianças das camadas populares: o mito da existência de um déficit
que a abordagem cognitivista, como a organicista, procura causas linguístico e cultural por parte dessas crianças e de seus familiares.
do fracasso das crianças apenas em suas características individuais, SOARES (1987) explica que o mito da deficiência linguística e
desconsiderando possibilidades explicativas em outras esferas. cultural baseia-se na suposição de que:
A abordagem afetiva caracteriza-se por privilegiar como expli- …as crianças das camadas populares chegam à escola com
cação causal do fracasso escolar os transtornos afetivos da persona- uma linguagem deficiente, que as impede de obter sucesso nas
lidade. Partidários dessa abordagem defendem que a ideia de que atividades e aprendizagem: sua linguagem é pobre – não sabem
as causas das dificuldades de aprendizagem devem ser buscadas em o nome dos objetos comuns; usam frases incompletas, curtas, mo-
perturbações no estado socioafetivo da criança e não em supostos nossilábicas; sua sintaxe é confusa e inadequada à expressão do
problemas neurológicos ou cognitivos. Nessa perspectiva, o atraso pensamento lógico; cometem ‘erros’de concordância, de regência,
do aluno é uma manifestação de suas dificuldades originadas de de pronúncia; comunicam-se muito através de recursos não verbais
algum conflito emocional (consciente ou inconsciente), cuja origem do que de que recursos verbais. Em síntese são crianças deficitárias
encontra-se na dinâmica familiar. Por meio da utilização do méto- linguisticamente (p.20).
do clínico, propõe-se, primeiro investigar se a dificuldade é de fato Essa suposta deficiência linguística seria atribuída à ‘pobreza’
um problema de ordem pedagógica ou psicológica, para, posterior- do contexto linguístico familiar em que vive a criança. Adeptos des-
mente, buscar compreender porque uma determinada criança ele- sa abordagem associam a essa visão de um contexto familiar defi-
ge um determinado sintoma e não outro como expressão de suas ciente linguística e culturalmente a ideia de que os familiares dessas
dificuldades emocionais. Uma das críticas feitas a essa abordagem crianças (seus pais ou responsáveis) não demonstrariam interesse
decorre do fato de que essa acaba por dar subsídios para que se por seu desenvolvimento escolar e não se empenhariam em dar
responsabilize a criança e sua família por dificuldades que surgem suporte para que elas tenham condições de aprender na escola.
na esfera escolar, transferindo para fora da escola – para as famílias, Diversas pesquisas, desenvolvidas a partir dos anos 70 do sécu-
para as clinicas – a busca de soluções para os problemas da criança. lo passado, fornecem elementos para se refutar a hipótese do dé-
A abordagem denominada questionamento da escola reúne ficit como causal do fracasso escolar. O trabalho de Labov (Soares,
estudos que investigam diferentes fatores escolares como inter- 1987) por exemplo, forneceu elementos para que o questionamen-
venientes na produção do fracasso dos alunos. Entre esses desta- to das situações de teste a crianças negras, moradores de guetos
cam-se, por exemplo, a inadequação dos métodos pedagógicos, em grandes cidades americanas eram submetidas. Segundo ele, a
as dificuldades na relação professor-aluno, a precária formação do artificialidade, diferença de classes do entrevistador e dos entre-
professor, a falta de infraestrutura das escolas da rede pública de vistados comprometeria o desempenho dessas crianças, levando-
ensino. -as a se mostrarem desarticuladas e monossilábicas nas situações
Segundo Sena (1999: p. 35) “deslocando a questão do aluno de entrevista. A análise da produção linguística dessas crianças em
que não aprende para a escola que não ensina”., seguidores dessa interação com seus pares ou em entrevistas feitas por pessoas do
abordagem propõem modificações na estrutura e organização da seu próprio grupo social revelou que essas crianças possuíam uma
escola, afim de que essa instituição cumpra seu papel social. gramática sistemática, coerente e lógica. Segundo Soares, Labov
adotaria uma posição contrária às dos partidários da teoria do dé-
57
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
ficit linguístico. Para ele, crianças das camadas populares “narram, Quais são as crianças desnutridas que estão hoje frequentan-
raciocinam e discutem com muito mais eficiência que os falantes do nossas escolas? São aquelas portadoras de desnutrição leve, a
pertencentes às classes mais favorecidas, que contemporizam, qua- chamada pelos especialistas de desnutrição de primeiro grau. Não
lificam, perdem-se num excesso de detalhes irrelevantes” (Soares, estamos aqui afirmando que este tipo de desnutrição não tem im-
1987, p.47). portância, ela a tem tanto que constantemente é apontada como
Segundo estudos sobre a relação entre linguagem, cultura e forte indicador da situação de penúria e miséria em que vive grande
escolarização, alguns levam em conta a existência de diferenças lin- segmento de nossa população.
guísticas e cultural entre crianças das camadas populares, minorias Entretanto, o que estamos querendo enfatizar é que este grau
étnicas e crianças das camadas economicamente favorecidas da po- de desnutrição [leve] não afeta o desenvolvimento do sistema ner-
pulação, o fato da escola não estar preparada para lidar com essas voso central, não o lesa irreversivelmente e, portanto, não torna a
diferenças seria um dos principais fatores que contribuem para a criança deficiente mental, incapaz de aprender o que a escola tem
produção do fracasso escolar. a lhe ensinar.
Estudos de Fijalkow (1989) apresentam evidências contrárias à A criança portadora de desnutrição leve apenas sacrifica o seu
ideia de que existe desinteresse por parte dos familiares das crian- crescimento físico para manter o seu metabolismo. Exames clínico
ças das camadas populares em relação à sua carreira escolar, pois e laboratorial indicam que a criança é normal, com exceção de um
para essas famílias o sucesso na escola representaria a possibilida- déficit de peso e estatura em relação à sua idade.
de de um futuro melhor para seus filhos. É necessário que desmistifiquemos as ´famosas´ causas exter-
Estudos desenvolvidos por Griffo (1996) e Costa (1993) de- nas desse fracasso escolar, pela articulação àquelas existentes no
monstram o empenho dos familiares em contribuir para a reversão próprio âmbito escolar, e que tenhamos clareza dos fatores que as
da situação de fracasso em que seus filhos se encontravam. Cas- determinam e as articulam.
tanheira (1991) apresenta análise de como crianças das camadas
populares, moradores de um bairro da periferia de Belo Horizon- Analisando as causas do fracasso escolar na localidade pes-
te, eram preparados para o ingresso na 1ª série por seus pais ou quisada
por seus irmãos mais velhos. As interações dessas crianças com a O drama do insucesso escolar é relativamente recente. É a
escrita criavam oportunidades de um contato cotidiano com esse partir dos anos sessenta que encontramos as suas primeiras ma-
objeto de conhecimento, fosse em brincadeiras de ruas, aulinhas nifestações. Foi então que se começou a exigir que as escolas, por
com os amigos ou atividades orientadas por seus pais ou irmãos razões econômicas e igualitárias, encontrassem formas de garantir
mais velhos. Essas experiências com a escrita preparavam essas o sucesso escolar de todos os seus alunos. O que era atribuído até
crianças para o seu ingresso na escola em melhores condições para então ao foro individual, tornou-se subitamente um problema insu-
a aquisição da leitura e da escrita. Em muitos casos, ao preparo e portável sob o ponto de vista social. A preguiça, a falta de capacida-
envolvimento da criança com a escrita antes do ingresso na escola de ou interesse, deixou de ser aceitas como explicação para o aban-
de 1° grau não se seguiria uma continuidade do ensino de forma dono todos os anos de milhares e milhares de crianças e jovens do
adequada dentro da instituição. sistema educativo. A culpa do seu insucesso escolar passou a ser
Essas formas de suporte variam de família para família e in- assumida como um fracasso de toda a comunidade escolar. O sis-
cluem desde a preocupação em garantir que se tenham livros de re- tema não fora a capaz de os motivar, reter, fazer com que tivessem
ferência para consulta na hora dos estudos em casa, como atitudes êxito. O desafio tornou-se tremendo, já que todos os casos indivi-
persuasivas como conversas ou castigos. Os dados nos levam á con- duais se transformaram em problemas sociais. A escola secundária
clusão de que não existe uma relação causal direta entre o sucesso era a menos preparada para a mudança. Durante séculos assumi-
escolar e empenho das famílias em acompanhar os filhos em suas ra como sua vocação hierarquizar os alunos de acordo com o seu
atividades escolares. Observa-se que em alguns casos a intervenção rendimento escolar, selecionando os mais aptos e excluindo os que
familiar, embora positiva, tem efeito limitado sobre a aprendizagem não fossem capazes de acompanhar as exigências que ela mesma
do aluno, como, por exemplo, quando se garante a posse de livros impunha. A sua nova missão era agora igualizar todos no sucesso
de referência, mas esses não são efetivamente utilizados pelos
educativo, garantindo 0% de negativas. Este era o novo padrão que
adultos da família. Além disso, demonstrou-se que as diferentes ati-
permitia aferir o sucesso de cada escola.
tudes tomadas pelas famílias não são valorizadas da mesma forma
É em grande parte por esta razão que hoje principal problema
nas diversas escolas onde esses alunos são atendidos.
educativo é o de identificar as manifestações e as causas do insu-
cesso escolar. A listagem destas não pára de aumentar à medida
Analisando o fracasso escolar
que prosseguem os estudos.
Este trabalho busca fundamentação teórica que mostra e justi-
fica muitas razões para o fracasso escolar, mas fica ressalvado que,
muitas das constatações citadas foram feitas numa localidade, em- Manifestações
bora não sejam necessariamente demonstráveis através de núme- As manifestações de insucesso escolar são múltiplas, mas três
ros e dados estatísticos. delas são particularmente referidas pela possibilidade que ofere-
É nas tramas do fazer e do viver o pedagógico quotidianamente cem de se poder medir a própria eficácia do sistema educativo:
nas escolas, que se pode perceber as reais razões do fracasso es- -Abandono da escola antes do fim do ensino obrigatório;
colar das crianças advindas dos meios sócio culturais mais pobres. – As reprovações sucessivas que dão lugar a grandes desníveis
No desenrolar de nossa pesquisa de campo, o que temos ouvi- entre a idade cronológica do aluno e o nível escolar; Os níveis de
do e observado nas escolas visitadas reforça a afirmação (…) de que fracasso que podem ser totais (em todas as disciplinas ou quase) ou
se imputa o fracasso dessas crianças, oriundas das classes trabalha- parciais (numa ou duas disciplinas).
doras, à desnutrição, às verminoses, enfim, a uma condição adver- – A passagem dos alunos para tipos de ensino menos exigen-
sa de saúde. Ignora-se o fato de que estas estudam em escolas de tes, que conduzem a aprendizagens profissionais imediatas, mas os
periferia, onde se concentram todos os vícios e distorções do siste- afasta do ingresso no ensino superior.
ma social e, especificamente, do educacional, e tenta-se encontrar
nestas crianças, causas orgânicas, inerentes a elas, que justifique o
seu mau rendimento.
58
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Causas com a escola. Nesta linha de idéias, Holligshead, afirmou que os
É na listagem das causas onde aparecem naturalmente as mais desfavorecidos norteam-se por objetivos a curto prazo (o pre-
maiores controversas, o que se compreende já que a sua própria sente), o que estaria em contradição com os objetivos visados pela
realização pressupõe que se identifiquem também os seus respon- educação (a longo prazo). Esta diferença de objetivos (e valores)
sáveis. Neste ponto ninguém se acha inteiramente culpado, o que acaba por os conduzir a um menor investimento escolar.
em certo sentido é mesmo verdade. A grande dificuldade destas – A demissão dos pais da educação dos filhos, é hoje uma das
análises, como veremos, reside na impossibilidade de se isolar as causas mais referidas. Envolvidos por inúmeras solicitações quoti-
causas que são determinantes em todo o processo. dianos, muitas vezes nem tempo tem para si próprios, quanto mais
para dedicarem à educação dos filhos. Quando se dirigem às mes-
Alunos mas, raramente é para colaborarem, quase colocam-se na atitude
-Atrasos do desenvolvimento cognitivo. As escalas psicomé- de meros compradores de serviços, exigindo eficiência e poucos in-
tricas de inteligência tem sido apontadas como um bom indicador cômodos na sua prestação.
para identificar estas causas individuais de insucesso escolar. O pro-
blema é que a grande maioria dos alunos que falham nos resulta- Professores
dos escolares, tem um desenvolvimento normal. Há que não abusar – Métodos de ensino, recursos didáticos, técnicas de comuni-
desta explicação… cação inadequadas às características da turma ou de cada aluno,
-A instabilidade característica na adolescência, consta entre as fazem parte igualmente de um vasto leque de causas que podem
muitas causas individuais do insucesso. Ela conduz muitas vezes o conduzir a uma deficiente relação pedagógica e influência negativa-
aluno a rejeitar a escola, a desinvestir no estudo das matérias, e mente os resultados.
frequentemente à indisciplina. – A gestão da disciplina na sala de aula, é outro fator que con-
diciona bastante o rendimento escolar dos alunos. Mas estamos
Famílias longe de poder afirmar que uma aula completamente disciplinada,
– Pais autoritários, conflitos familiares, divórcios litigiosos, fa- seja aquela onde o insucesso escolar desapareça.
zem parte de um extenso rol de causas que podem levar a que o – Os professores no início do ano criam expectativas positivas
aluno se sinta rejeitado, e comece a desinteressar-se pelo seu per- ou negativas sobre os alunos que acabam por influenciar o seu de-
curso escolar, adaptando um comportamento indisciplinado. sempenho escolar. Embora não sejam os professores a inventar
-O ciúme e a vingança dos pais contribuem também para fa- os bons e os maus alunos, as investigações de Rosenthal e Jacob-
zer estragos nos resultados escolares dos alunos. Muitas vezes com son, demonstraram que os preconceitos destes são muitas vezes
medo que os filhos lhes deixem de manifestar afeto, trocando-os inconscientes, prejudicando muitas vezes os alunos sem que os
pela escola ou os professores, adotam atitudes que contribuem professores se apercebam. Uma coisa parece certa, os alunos de
para os afastar dos estudos. Outras vezes, fazem-no para se vinga- baixa expectativa são mais prejudicados do que são favorecidos,
rem de não lhes terem sido proporcionado também na infância as os altamente expectados. Ora, acontece que os alunos de estatuto
mesmas oportunidades. sócio-cultural mais baixo são os mais negativamente considerados,
-A origem social dos alunos tem sido a causa mais usada para tornando-se as principais vítimas das expectativas negativas ou bai-
justificar os piores resultados, sobretudo quando são obtidos por xas. Os alunos mais baixamente expectados são em geral mais mal
alunos originários de famílias de baixos recursos econômicos, onde, tratados pelos professores .
aliás, se encontra a maior percentagem de insucessos escolares. – Existe na cabeça da maioria dos professores, um padrão de
Os sociólogos construíram a partir desta relação causa-efeito uma avaliação que tende a coincidir com uma curva normal. Assim, na
verdadeira panóplia, determinantes sociais que permitem explicar avaliação que produzem, partem em geral do pressuposto que ape-
quase tudo: nas alguns são bons, a maioria são médios, e proporcionalmente ao
a) Nas famílias desfavorecidas, por exemplo, os pais tendem número dos primeiros, existem uns quantos que são mesmo maus
a ser mais autoritários, desenvolvendo nos filhos normas rígidas e tem que ser eliminados.
de obediência sem discussão. Ora, quando estes chegam á adoles- – A avaliação, conforme demonstram inúmeros estudos nunca
cência revelam-se pior preparados para enfrentarem as crises de é absoluta, pelo contrário varia em função de uma multiplicidade
identidade-identificação, na afirmação da sua independência. A sua de fatores. As modas pedagógicas, o contexto escolar, os métodos
instabilidade emocional torna-se mais profunda, traduzindo a au- de avaliação, as disciplinas, os professores, os critérios utilizados, o
sência de modelos e valores estáveis, levando-os a não investir na modo como estes são interpretados, etc. Em resumo: a avaliação dá
escola; também um forte contributo para o insucesso escolar.
b) Os alunos oriundos destas famílias raramente são motivados – A dificuldade dos professores em lidarem com fenômenos
pelos pais para prosseguirem os seus estudos; pelo contrário, ao de transferência, conduz por vezes a situações com graves reflexos
mais pequeno insucesso, estes colocam logo a questão da saída da no aproveitamento dos alunos. O docente ao ser identificado com
escola, o que explica as mais elevadas taxas de abandono por parte o pai (mãe) que o aluno se deseja afastar, torna-se alvo contra o
destes alunos; qual o aluno dirige toda a sua agressividade, gerando deste modo
c) A linguagem que estes alunos são obrigados a utilizar nos permanentes conflitos na sala de aula, conduzindo-o ao insucesso.
níveis mais elevados de ensino, sendo cada vez mais afastada da – À crescente feminização do ensino são igualmente atribuídas
que utilizavam no seu meio familiar, aumenta-lhes progressivamen- culpas pelo insucesso. As professoras, conforme apontam alguns
te as suas dificuldades de compreensão e integração, levando-os estudos, parecem ter uma maior preferência pelas raparigas, o que
a desinteressarem-se pela escola. Para prosseguirem nos estudos poderá explicar o melhor aproveitamento destas face ao consegui-
são obrigados a renunciarem à linguagem utilizada no seio familiar. do pelos rapazes, os mais penalizados.
d) Os valores culturais destas famílias são, segundo alguns so-
ciólogos, opostos aos que a escola propõe e supõe (mérito indivi- Escolas
dual, espírito de competição, etc). Perante este confronto de valo- A organização escolar pode contribuir de diferentes formas
res, os alunos que são oriundos destas famílias estão por isso pior para o insucesso dos alunos. Frequentemente esquece-se esta di-
preparados para os partilharem. O resultado é não se identificarem mensão do problema, vejamos alguns casos típicos.
59
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
– O estilo de liderança do diretor, presidente do conselho exe- ordens dimanadas do Estado. Nesta escola, os que podem ter êxito
cutivo, etc. A questão não é displicente, nem mesmo nas nossas são os mais obedientes, dóceis, ou seja, os que continuamente se
escolas burocratizadas e muito dependentes do Ministério. Todos anulam a si mesmos, na sua individualidade e nas suas aspirações.
conhecemos diretores ou presidentes que quase sempre convive- b) Na Escola Doméstica, o estatuto de cada um depende da
ram com excelentes resultados nas escolas por onde passaram, e sua posição numa hierarquia definida por uma rede de dependên-
outros que parecem atrair problemas ou maus resultados coletivos. cias pessoais. Os laços pessoais, a importância relativa do grupo de
– Expectativas baixas dos professores e dos alunos em relação pertença, a antiguidade no território, estes são os únicos dados que
à escola. Nas escolas onde isto acontece os resultados tenderão a contam para se ter êxito ou não.
confirmar o que todos afinal estão à espera. c) Na Escola Industrial e de Mercado levam-se a sério os gran-
– Clima de irresponsabilidade e de falta de trabalho. Os exem- des desafios da atual sociedade, privilegiando-se valores como
plos abundam para que esta afirmação careça de grandes justifica- “competência”, “especialização” e “capacidade de inovação”. Esta-
ções. mos perante uma escola tecnocrática, apostada em responder de
– Objetivos não partilhados. Se só alguns conhecem os objeti- forma adequada às crescentes exigências do mercado. Os menos
vos prosseguidos pela escola, ninguém se pode identificar com ela. aptos, ou os que possuem ritmos de aprendizagem mais lentos são
Não tarda que alguns se sintam como corpos estranhos, contribuin- naturalmente sacrificados em nome das exigências impostas pela
do para a sua desagregação enquanto organização, provocando a competitividade.
desmotivação generalizada. d) A Escola Narcísica está sobretudo interessada na imagem de
– Falta de Avaliação. Ninguém sabe o que anda a fazer, numa si a partir do reflexo que produz nos outros. Trata-se de uma escola
organização que sistematicamente não avaliam os seus resultados construída a partir da produção de uma imagem de marca (“facha-
em função dos objetivos que definiu, e muito menos se não procura da”), onde tudo é feito em função deste objetivo mobilizador. Os re-
identificar as causas dos seus problemas. O clima de irresponsabili- sultados concretos do ensino são claramente subalternizados, por
dade não tarda a instalar-se e com ele os maus resultados. um discurso retórico de autossatisfação.
– A deficiente orientação vocacional que muitos alunos reve- Em todas as culturas, uns são beneficiados, outros são condu-
lam no ensina pós-obrigatório, é agravada pela ausência nas esco- zidos para o fracasso.
las de serviços de informação e orientação adequados. Quem pode
negar a pertinência desta causa? Currículos
– O elevado número de alunos por escola e turma, tende igual- – Defasagem no currículo escolar dos alunos. Os alunos ingres-
mente não apenas a provocar o aumento dos conflitos, mas sobre- sam em novos ciclos, sem que possuam os pré-requisitos necessá-
tudo a diminuir o rendimento individual. rios. Não há documento sobre a avaliação curricular que não tenha
– A organização de turmas demasiado heterogêneas, não ape- uma referência crítica esta questão.
nas dificulta a gestão da aula pelo professor, mas também a sua – Currículos demasiado extensos que não permitem que os
coesão do grupo, traduzindo-se no incremento de conflitos inter- professores utilizem metodologias ativas, onde os alunos tenham o
nos. Tudo somado tem mais uma causa para o insucesso. lugar central. A necessidade de cumprir os programas inviabiliza a
– O clima escolar, isto é, a qualidade do meio interno que se adoção de estratégias mais ativas, mas sobretudo retira tempo ao
vive numa organização, é consensual que influência bastante o professor para ultrapassar as dificuldades individuais de aprendiza-
comportamento dos seus membros contribuindo para o seu suces- gem que constata nos alunos.
so ou fracasso. O problema é que o clima escolar resulta de uma – Desarticulação dos programas. Esta situação faz, por exem-
enorme variedade de fatores, sobretudo dos que são de natureza plo, com que os alunos repitam os mesmos conteúdos, de modo
imaterial como as atitudes, esperanças, valores, preconceitos dos diverso e incoerente ao longo dos anos e das disciplinas, levando-os
professores e alunos, o tipo de gestão etc, e não tanto do ambiente a desinteressarem-se pelas matérias, e a sentirem-se confusos. O
físico (instalações, localização da escola, etc). O problema é identi- rosário de queixas é conhecido.
ficar quais são as causas determinantes para um mau clima escolar. – As elevadas cargas horárias semanais ocupadas pelos alunos
Uma coisa é certa, os alunos que trabalham num bom clima tendem em atividades letivas, mais tradicionais, são desde há muito con-
a obter melhores resultados que os restantes. sideradas excessivas. Os alunos tem pouco tempo para outras ati-
– As culturas organizacionais, sucedâneas no plano teórico do vidades de afirmação da sua individualidade, desenvolvimento de
conceito de clima escolar, têm obviamente as suas cotas parte no
hábitos de convivência, participação em ações coletivas em prol da
insucesso escolar. O problema é que desde os anos 60 que não pa-
comunidade, etc.,etc. O resultado é sentirem-se num escola-prisão,
ram de se identificar novos tipos de culturas escolares.
sem qualquer relação com os seus interesses.
No início apenas se diferenciou a culturas das escolas urbanas
Sistema Educativo
(antigas) e das suburbanas (recentes). Concluiu-se então que nas
– Neste nível as causas apontadas são igualmente inúmeras, a
primeiras a questão da disciplina sobrepunha-se à preocupação
começar pela pouca diversidade das ofertas formativas nos níveis
com os resultados. As relações professor-aluno eram marcadas pela
dureza, formalismo, etc. Nas segundas, talvez porque as instalações terminais do sistema, em particular no secundário. Outras vezes,
são mais recentes, e o corpo docente mais novo, respirava-se um quando existem, estão desarticuladas, por exemplo, das necessi-
certo ar de descontração, o que conduzia a que os resultados es- dades do mercado de trabalho. O resultado final acaba por ser o
colares fossem postos em primeiro lugar face aos problemas disci- seguinte: ainda que o aluno tenha tido êxito no seu percurso es-
plinares. colar, por desajustamento de competências está depois voltado ao
A partir deste modelo, começaram a ser construído outro, en- fracasso, na sua transição para a vida ativa.
tendido como mais adequados para explicarem a diversidade das – A elevada centralização do sistema de educativo, não ape-
realidades escolares. Hoje temos modelos para todos as perspecti- nas torna a capacidade de resposta (adaptação) muito lenta, como
vas ideológicas:. fomenta a irresponsabilidade ou a burocracia, ao nível local (as es-
a) Na Escola Cívica, onde tudo está subordinado aos diplomas colas).
oficiais, não há lugar para as diferenças individuais, muito menos
para a inovação pedagógica, o que conta são os regulamentos, as
60
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Sociedade lemas seus que se misturam com o papel da profissão que ocupa.
Ninguém tem dúvidas em concordar que a atual sociedade as- Os professores assumem, além de ensinar, a disciplina e em tornar
senta num conjunto de valores que desencorajam o estudo e pro- uniforme o que é diferente, produzindo assim, via educação, os pri-
movem o insucesso escolar. Diversão, Individualismo e Consumis- vilégios e os sofrimentos.
mo, três valores essenciais na sociedade atual, são em tudo opostos Sempre que a escola falha na assistência e na formação do
ao que a escola significa: atitudes refletida, procura incessante do aluno quebra-se um elo no ritmo natural de um desenvolvimento
saber e de valores perenes, , etc. potencial de conquistas, estabelecendo a desordem. Desordem que
pode levar a vida do aluno ao caos e que se reflete na desestrutura-
Embora estejam todas relacionadas entre si, sendo causas e ção da sociedade. Sempre que a escola desvirtua seu papel primor-
efeitos uma das outras, as razões para o fracasso escolar podem, dial, desencadeia-se um mecanismo automático de ressonância,
para efeito didático, serem classificadas ou agrupadas entre aque- que passa a repercutir na ordem social de uma cidade, de um país,
las que estão relacionadas ao próprio indivíduo, ou aluno, como do mundo.
problemas físicos ou psicológicos; as causas que estão relacionadas Na criança problema nos dias de hoje não se faz igualdade so-
á escola, como a qualidade de ensino entre outras; causas que es- cial, se faz justiça social, pois não é todo mundo igual e devem-se
tão relacionadas à comunidade localizada, como o próprio ambien- reconhecer essas diferenças, mas a escola nivela todos como iguais
te comunitário no que diz respeito às condições de higiene e saúde, e não se adequa com a origem social de cada um. Dentro da escola
qualidade de vida e, ultimamente, ao elevado nível de violência; e, quem pode mais tem menos fracasso escolar. Mesmo uma crian-
finalmente, as caudas pertencentes ao ambiente maior, que são as ça oriunda de carências afetivas, herdadas por uma infância difícil
condições gerais econômicas e políticas do país. pode haver ainda a capacidade de recuperação ou adaptação às
Quase sempre se ‘condena’ o fracasso escolar, centrando-se más condições de vida, se observadas as necessidades e oportu-
imediatamente, e quase que exclusivamente no aluno, elegendo-o nizar mudanças para que ele mesmo alcance suas necessidades.30
como o principal responsável pelo seu próprio fracasso.
O primeiro a se culpar é o próprio aluno. Não é raro vermos A produção do fracasso escolar: estudos a partir do cotidiano
estudantes julgando-os incapazes, ou incompetentes para assimilar na escola
o que é ensinado na escola. De acordo com Patto (1988, p. 75), os professores apresentam
Depois, quem os culpam são os professores, seja através das expectativas negativas no que se refere à sua clientela. “A crença de
notas, seja através de comentários sobre a capacidade ou incapaci- que os integrantes das classes populares são lesados do ponto de
dade do aluno, que acaba negativando ainda mais o já abalado nível vista das habilidades perceptivas, motoras, cognitivas e intelectuais
de autoestima do estudante. está disseminada no pensamento educacional brasileiro [...]”. Acre-
E, na sequência, os pais colaboram com essa autodestruição ditam que as crianças mais empobrecidas economicamente não
do filho, através de críticas ou mesmo pela falta de incentivo ao aprendem ou, se aprenderem, não o fazem de maneira a atender
estudo. as exigências mínimas da instituição educacional. A ideia de que
Portanto sabemos que quando se busca algo mais sólido para as crianças pobres não têm habilidades para aprender, permeia o
se apoiar e para entender as causas de tanto fracasso escolar, o modo como o professor vê e se relaciona com essas crianças, diz
aluno começa a deixar de ser o ‘vilão’ da história, para se tornar Patto (p. 340). O mesmo pôde-se observar na pesquisa realizada
uma vítima. Quando se busca entender as razões do fracasso es- por Campos (1995, p. 98), onde por meio da fala das professoras
colar analisando as condições em que vive o aluno, e também as entrevistadas foi possível perceber o preconceito existente princi-
condições em que ele frequenta a escola (sem contar as próprias palmente no que se refere à clientela da escola. Segundo ela, para
condições da escola), realmente entendemos que precisamos mu- as professoras “o fracasso escolar tem como causa primeira a infe-
dar nossa opinião. rioridade cultural e econômica das crianças que não aprendem de-
Mas não só da escola depende essa carga. Houvesse uma esco- vido aos problemas familiares e intelectivos que enfrentam.” Assim,
la de padrão ideal, e ainda assim nos depararíamos com essa grave Estas concepções acerca da clientela de baixa renda que frequenta
situação de fracasso escolar, numa das fases mais importantes da as escolas pesquisadas parecem justificar na criança e em sua fa-
educação do individuo, sendo exatamente por isso denominada de mília as causas dos resultados insatisfatórios que estas professoras
ensino fundamental. E quando seriam as razões para esse fracasso? obtêm no plano pedagógico, isentando-as em grande medida, da
Se o aprendizado, como todos sabem, é de suma importância para responsabilidade sobre tais resultados. (Idem, p. 102)
o crescimento da pessoa, por que não é lavado a sério? Por que A escola, revestida do poder hierárquico que lhe é concedido
não se dá a ele a devida importância? Ou será que essa importância na sociedade capitalista, diante do fracasso escolar, direciona seu
é dada, mas existem motivos bem mais profundos, enraizados em
olhar às famílias, responsabilizando-as pelas dificuldades apresen-
nosso meio, que impedem de encarar e levar adiante uma forma-
tadas por seus filhos. As justificativas na maioria das vezes dizem
ção escolar digna de assim ser chamada?
respeito à constituição familiar e até mesmo à ausência dos pais
FALCÃO (1993) faz uma comparação:
que precisam trabalhar e por isso passam pouco tempo com os fi-
Já tentou ensinar um bebê a atender ao telefone? Ou ensinar
lhos.
datilografia a um analfabeto? Ou, quem sabe, em dia de jogo inten-
Ao analisar as entrevistas realizadas durante sua pesquisa,
cional do Brasil, com todo o país mobilizado, e na sala as pessoas
Campos (1995, p. 100) conclui:
coladas ao rádio ou à televisão, você experimentou chamar Juqui-
nha ao quarto para uma aula sobre Capitanias Hereditárias? (p.42). Preconceitos e estereótipos sobre o pobre e a pobreza são em
No dizer do autor, as perguntas acima são bastante simplórias, maior ou menos grau observados como justificadores das dificulda-
mas servem para chamar atenção para o fato de que nem todos des de aprendizagem escolar. Estes estereótipos giram em torno da
estão prontos para aprender qualquer coisa em todos os momen- inadequação da família, quer por uma suposta ausência dos pais no
tos. Segundo ele, há um determinado pré-requisito que precisa ser lar, quer pela forma como deduzem que estas famílias se organizam
preenchido, que é a maturação. ou por possíveis problemas morais ou psíquicos que lhes são cons-
Devemos sempre estar atentos a real condição do educador e tantemente atribuídos.
do educando. O professor, como representante do papel que lhe
é socialmente atribuído, ou seja, ensinar, depara-se com vários di- 30 Fonte: www.pedagogiaaopedaletra.com – Por Marlene Aparecida Viana
Abreu
61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As justificativas para o fracasso escolar que se ancoram na ideia No limite deste texto, o foco está em discutir a medicalização
de que ele advém das dificuldades financeiras por que passam os que se tem feito da educação, partindo das consequências de um
pobres, apesar de serem constantes na fala das professoras, não problema que é social. A deficiência nos processos de ensinar acaba
são justificativas pautadas na literatura educacional de acordo com sendo transferida às crianças como se elas mesmas tivessem difi-
Patto (1996). culdades em aprender e que, sem apresentar qualquer problema
Os estudos acima citados nos mostram que o fracasso escolar biológico ou necessidades educativas especiais acabam sendo me-
também está ligado aos grandes obstáculos que o sistema educa- dicadas diante da falta de condições da escola em cumprir seu pa-
cional cria e que impede que a escola atinja seus reais objetivos. pel: ensinar. Há de se considerar, entretanto, que existem crianças
Ao reproduzir as relações de produção da sociedade capitalista, a que apresentam problemas de ordem biológica e que necessitam
escola como instituição hierarquicamente privilegiada acaba por de cuidados da área da saúde, inclusive de uma intervenção me-
burocratizar o trabalho pedagógico. Essa burocratização a impede dicamentosa e, nesses casos, os fatores biológicos não podem ser
de pensar em mudanças e faz dela uma instituição manipuladora ignorados. Esta é uma discussão bastante importante, porém, não
a fim de atender sua própria demanda. Do alto de sua posição de será objeto de estudo neste texto.
poder e permeada por preconceitos e estereótipos, a escola acaba De acordo com Moysés e Collares (1986, p. 10):
por apresentar às famílias as dificuldades de seus filhos como algo A medicalização de uma questão consiste na busca de causas
inerente ao sujeito, direcionando-lhes toda a responsabilidade por e soluções médicas, a nível organicista e individual, para problemas
seu insucesso escolar. De acordo com Campos (1995, p. 96): de origem eminentemente social. Este processo ocorre na educação
Nas interrelações que ocorrem entre as instituições família/ quando, frente às altas taxas de fracasso escolar, tenta-se localizá-
escola circulam concepções e conhecimentos acerca do insucesso -lo na própria criança, explicando-o através de doenças. Isenta-se,
escolar das crianças. No entanto as concepções veiculadas pela ins- assim, de responsabilidades a instituição escolar e o sistema social.
tituição escolar, muitas vezes, fornecem a aparência de legitimidade Através da medicalização, os olhares se voltam para o indiví-
às desigualdades sociais uma vez que a institucionalização da esco- duo, ignorando-se um problema que é social, na medida em que
la lhe delega um lugar de poder junto a instituição família. o transforma em biológico, individual. Apresentar a criança como
O fracasso escolar tem sido naturalizado por todos os envolvi- portadora dos distúrbios de aprendizagem faz com que os olhares e
dos no processo educacional. De acordo com Patto (1996, p. 346), a responsabilidade pelo fracasso escolar se voltem para ela, inviabi-
a ação pedagógica ineficaz tem sido constantemente justificada por lizando assim um olhar mais cuidadoso para fatores intraescolares
se tratar de um trabalho realizado com famílias economicamente como produtores de tal fracasso. Moysés e Collares (1992, p. 32)
pobres que, por isso, já trazem consigo deficiências que natural- afirmam que:
mente impedem o sucesso de qualquer trabalho pedagógico de- A biologização – e consequente patologização – da
senvolvido com essas crianças, dispensando assim reflexões sobre aprendizagem escamoteia os determinantes políticos e pedagógicos
a prática pedagógica e quão agressiva ela pode ser sem que se faça do fracasso escolar, isentando de responsabilidades o sistema
essa reflexão. É o preconceito que parece permear a relação entre social vigente e a instituição escolar nele inserida. E os distúrbios
professor e aluno. de aprendizagem são uma das formas de expressão mais em
moda, na atualidade, dessa biologização da educação e, mais
Campos (1995) após entrevistar algumas famílias observou que especificamente, do fracasso escolar.
elas veem na escola a possibilidade dos filhos construírem uma his- O uso de medicamentos para resolver problemas como a difi-
tória diferente, longe das dificuldades que são constantes em seu
culdade em aprender - da forma como a escola ensina - tem sido
cotidiano. Evidencia-se que, para essas famílias, a escolarização dos
mais frequente a cada dia. De acordo com Werner (2001), o índi-
filhos lhes é importante, uma vez que entendem ser esse o cami-
ce de famílias que buscam na medicina a solução para os supostos
nho para construir uma vida com menos dificuldades que eles, pais,
problemas apresentados por seus filhos, só faz crescer, pois, muitas
construíram.
vezes “sequer existem problemas de saúde e a demanda aos ser-
No que se refere à evasão escolar identificada na década de
viços de saúde é para que se detecte algum problema que possa
1980, é importante considerar, segundo Patto (1988), o que se de-
ser responsabilizado pelo fracasso dessas crianças” (Idem, p. 46).
nomina evasão, na verdade se trata de exclusão, pois, a escola que
se dizia gratuita, exigia materiais escolares e uniformes, o que de- Compreender os determinantes sociais, políticos e econômicos é
mandava condições financeiras dos pais para manterem seus filhos da maior importância por sabermos que a escola não é autônoma
na escola. Porém, é curioso observar que apesar de todas as difi- frente a essas questões. No entanto, o olhar mais abrangente não
culdades financeiras, as famílias insistiam em manter seus filhos na exclui – e não pode excluir – a análise dos fatores intraescolares.
escola: acreditavam nela. Há um Projeto de Lei no Senado (nº 247 de 2012) que objetiva
Em sua pesquisa, Campos (1995, p. 116) observou também alterar a lei nº 8.069 de 1990 que dispões sobre o Estatuto da
que o trabalho aparece como atividade mais importante na vida Criança e do Adolescente visando prevenir o uso inadequado de
das famílias pesquisadas. Assim, alguns pais diante da dificuldade psicofármacos nesse público. De acordo com o Art. 2º, essa Lei
financeira, se conformam quando os filhos abandonam os estudos deverá vigorar cento e oitenta dias após sua publicação, que se
principalmente se for para trabalhar e ajudar a família. Apesar de deu em 12/07/2012. Na justificativa consta que o crescimento
se manter a crença de que a escola pode trazer condições de uma do uso de psicofármacos em crianças e adolescentes tem gerado
vida melhor, a necessidade imediata de sobrevivência acaba por questionamentos por parte de profissionais e especialistas de
falar mais alto. A aceitação das famílias diante do abandono dos diversas áreas. Há denúncias de que os interesses econômicos
estudos pelos filhos é ainda maior quando se trata daqueles que das indústrias farmacêuticas estariam favorecendo a tendência de
apresentam dificuldades escolares, pois, diante de tais dificuldades, profissionais da saúde e da educação no sentido de transformarem
as famílias parecem ter assumido o discurso da escola de que o pro- problemas sociais em problemas biológicos, inerentes ao indivíduo
blema está na incapacidade da criança em aprender. A tendência e, a solução para tal problema seria o uso de psicofármacos. Ainda
que a pesquisadora identificou foi a de que as famílias acabam por na justificativa para o Projeto de Lei, a Educação aparece como uma
incorporar a responsabilidade que a escola lhes delega diante das grande área em que se tem praticado tal uso indiscriminadamente.
dificuldades de Medicalização da educação: uma solução ou mais De acordo com o documento, “no Manifesto do Fórum sobre
um problema? Medicalização da Educação e da Sociedade, encontramos o
62
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
seguinte:” A aprendizagem e os modos de ser e agir - campos de Na pesquisa que realizou em escolas das redes estadual e
grande complexidade e diversidade - têm sido alvos preferenciais municipal sobre as representações sociais referentes à repetência e
da medicalização. Cabe destacar que, historicamente, é a partir de sua relação com o fracasso escolar, Silva (2008, p. 102), nos diz que:
insatisfações e questionamentos que se constituem possibilidades As queixas da culpabilidade da família pelo insucesso do aluno
de mudança nas formas de ordenação social e de superação de foi um dos itens que mais apareceu no relato dos professores de
preconceitos e desigualdades. (p. 2) ambas as redes de ensino. Queixam-se que os pais não compare-
De acordo com a nova Lei cem ao chamamento da escola, não cobram as atividades de casa
Art. 14-A. O uso de psicofármacos em crianças e adolescentes de seus filhos, não têm formação e nem comprometimento com a
obedecerá aos seguintes requisitos e às normas contidas nos regu- educação dos filhos.
lamentos aplicáveis: (...) Também relatam que os pais esperam que a escola eduque
I - comprovada necessidade do uso de psicofármacos, o qual seus filhos, forme valores, discipline e coloque limite para eles. Es-
deve ocorrer em conformidade com os protocolos clínico-terapêu- peram que a escola dê uma educação de qualidade e acompanhe a
ticos aprovados pelo Ministério da Saúde, ou por entidade por ele vida emocional dos seus filhos.
designada, com a explicitação das indicações terapêuticas e dos Novamente as pesquisas nos mostram que já na primeira
requisitos a serem cumpridos para comprovação diagnóstica, além década do século XXI, os olhares continuam se voltando para as
dos critérios de uso de cada psicofármaco, que devem incluir a faixa famílias quando se trata das dificuldades escolares dos filhos.
etária a que ele se destina e os riscos associados a esse uso;
II - proibição da medicalização psicofarmacológica indiscrimi- Fracasso escolar: ausência da família?
nada, inadequada, desnecessária ou excessiva. Na idade média, como nos diz Ariès (1986), por volta dos sete
Parágrafo único. Será promovida, em caráter permanente, anos de idade, quando já não precisavam mais de suas mães ou
campanha de esclarecimento para pais, educadores e alunos com amas, as crianças começavam a se misturar com os adultos partici-
vistas a prevenir a medicalização psicofarmacológica indiscriminada, pando inclusive das atividades diárias de trabalho. O papel da famí-
inadequada, desnecessária ou excessiva em crianças e adolescentes. lia era o de transmitir a vida, os bens e os nomes, porém, não havia
Cabe mais uma vez salientar que não se trata aqui de crianças espaço para laços afetivos entre seus membros.
com problemas orgânicos que demandam cuidados médicos e mes- Por volta do século XV iniciou-se uma preocupação maior com
mo nutricionais, mas, sim, de crianças que por deficiência ou insufi- a educação. É nesse contexto que a ordem religiosa começa a se
ciência nas práticas pedagógicas acabam sendo encaminhadas para dedicar mais ao ensino. Segundo o autor (Idem, p. 277): “[...] en-
o setor da saúde e medicadas, objetivando resolver um problema sinaram aos pais que eles eram guardiães espirituais, que eram
que é da ordem do social e da educação. responsáveis perante Deus pela alma, e até mesmo, no final, pelo
corpo de seus filhos”. Passou-se a acreditar que a criança não esta-
Os mitos sobre o fracasso escolar e suas causas: algo mudou va preparada para o convívio com o adulto, sendo necessária uma
nas últimas décadas? preparação antes de tal acontecimento.
No que concerne ao fracasso escolar, os estudos realizados na Essa preocupação com a educação começou a transformar a
primeira década do século XXI, nos permite identificar que quase sociedade e a relação entre pais e filhos. No final do século XVII, já
nada mudou no que se refere ao entendimento sobre suas causas. não havia mais a ideia de apenas colocar os filhos no mundo nem
De acordo com Cristofoleti (2004, p. 16), as professoras da es- a preocupação apenas em preparar o filho mais velho para a vida;
cola em que realizou sua pesquisa, diziam-se desejosas por ensinar, essa preocupação já se estendia a todos os filhos, inclusive às me-
contudo, seus esforços eram em vão, pois segundo elas os alunos ninas cuja preparação seria oferecida pela escola. Foi essa nova e
“Mostram-se desligados em sala de aula, resolvem os proble- grande preocupação dos pais com a educação que fez com que a
mas muito lentamente.”; “Nunca querem fazer nada, não ficam no escola se desenvolvesse. As famílias que tinham essa preocupação
lugar, estragam tudo o que têm, riscam as carteiras e a parede.”; eram vistas com mais respeito pela sociedade, uma vez que sua
“Passam por sérios problemas na família, não se interessam por ne- preocupação não se restringia apenas em dar à vida a seus filhos,
nhuma atividade.”; “Eles vêm sujos para a escola, passam fome, os mas também e principalmente a lhes proporcionar condições para
pais falam errado, o que pode se esperar dessas crianças?” que tivessem uma vida melhor.
Segundo a autora, foi possível observar também que as práti- Ainda de acordo com Ariès (Idem, p. 277) “A família e a escola
cas de ensino nunca eram avaliadas pelas professoras, pois segundo retiraram juntas a criança da sociedade dos adultos. A escola,
elas, não adiantava fazer planejamentos, pois os alunos não apren- porém confinou uma infância outrora livre num regime disciplinar
deriam de maneira nenhuma. Nas falas acima é possível perceber o cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVII e XIX resultou no
preconceito presente nas professoras com relação aos seus alunos. enclausuramento total do internato”.
Podemos nos reportar novamente a Patto (1996) no que se refe- No que se refere ao estudo da família, ao longo da história, a
re ao preconceito apresentado por alguns professores diante de alu- matriz conceitual mais utilizada também no Brasil, foi o modelo de
nos pertencentes à classe economicamente mais pobre. A eles e suas família patriarcal. Segundo Teruya (2000, p. 3):
famílias não cabe apenas a responsabilidade pelas dificuldades em O modelo de família patriarcal pode ser assim descrito: um ex-
aprender, mas também por destruírem tudo o que têm, por irem sujos tenso grupo composto pelo núcleo conjugal e sua prole legítima,
à escola, por passarem fome, por terem os pais dificuldades em falar ao qual se incorporavam parentes, afilhados, agregados, escravos
corretamente etc. Todo esse aparato de observações permite a alguns e até mesmo concubinas e bastardos; todos abrigados sob o mes-
profissionais da educação não se preocuparem com planejamentos de mo domínio, na casa-grande ou na senzala, sob a autoridade do
aulas, muito menos olharem para questões mais amplas como suas patriarca, dono das riquezas, da terra, dos escravos e do mando
práticas pedagógicas e para o próprio sistema educacional. político. Ainda se caracterizaria por traços tais como: baixa mobili-
De acordo com Abramowicz, Rodrigues e Cruz (2009, p. 112), dade social e geográfica, alta taxa de fertilidade e manutenção dos
O debate e a ênfase que se dá à relação entre desigualdade laços de parentesco com colaterais e ascendentes, tratando-se de
social e não aprendizagem continuam presentes como razão funda- um grupo multi-funcional.
mental e explicativa dos baixos desempenhos escolares de alunos O modelo de família patriarcal existente até o século XIX e que
das classes populares, discussão reatualizada também nos fóruns começou a se transformar apenas no início do século XX quando as
mundiais, segundo avaliações globais. famílias antes rurais começam a migrar para meio urbano, abrigava
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
em seu seio, não apenas pai, mãe e filhos, mas também todas as Quando nos referimos à responsabilidade da família no proces-
pessoas envolvidas no funcionamento do lar. Esse modelo de fa- so educacional da criança, entendemos sua responsabilidade não
mília remete-se a tempos onde os senhores mantinham em seus apenas na figura materna, mas também na figura paterna. Contudo,
lares empregados ou escravos, parentes, agregados entre outros. um projeto apresentado em 2001 durante o governo de Fernando
O detentor do poder era o pai, devendo ser respeitadas todas as Henrique Cardoso, denominado “Dia Nacional da Família na Esco-
suas ordens e vontades - todos estavam sujeitos à sua autoridade. la”, teve como objetivo incentivar a participação das famílias no am-
Ainda no início do século passado, esse modelo podia ser observa- biente escolar, principalmente das mães, por considerar essa rela-
do com clareza. A família era vista como um dos mais importantes ção muito importante para melhorar a qualidade do ensino no país.
pilares da sociedade. Neste contexto, a educação formal era ofere- Para a implementação desse projeto, as escolas receberam mate-
cida apenas aos homens. Às mulheres eram oferecidos ensinamen- riais explicativos, bem como um cronograma com os dias específi-
tos sobre como deveriam cuidar da casa e dos filhos. Objetivava-se cos em que tal encontro deveria ocorrer. É curioso observarmos que
prepará-las para as tarefas domésticas e simultaneamente impedir tal proposta enfatizava a importância principalmente da presença
que criassem problemas para seus maridos e para a sociedade caso materna no ambiente escolar e na ajuda oferecida às crianças em
tivessem algum tipo de conhecimento além do necessário para se- casa. Esse projeto, além de outros como o Programa Bolsa-Escola,
rem boas esposas e donas de casa. foi apresentado pautado na ideia de que o bom desempenho esco-
A visão da família como primeiro grupo socializador da criança lar está intimamente ligado à presença e a participação das famí-
pode ser observada com clareza nos trabalhos de Talcott Parsons cuja lias, principalmente das mães nas atividades escolares que os filhos
reflexão sociológica sobre a família influenciou, na década de 1950, precisam fazer em casa. De acordo com Klein (2005), um discurso
o pensamento norte-americano, com reflexos sobre a sociologia no do então ministro da Educação Paulo Renato de Souza, deixou bem
Brasil. Tal reflexão foi apresentada na teoria funcionalista. Buschini claro sua crença de que o bom desempenho escolar das crianças
(1989, p. 2) explica que: está intimamente relacionado à participação familiar na vida dos
Segundo essa corrente, cujo maior expoente foi Talcott Parsons, alunos: “Temos inúmeros estudos que comprovam a mesma coisa;
a família é, sobretudo uma agência socializadora, cujas funções a melhor escola é aquela onde os pais estão presentes, e a partici-
concentram-se na formação da personalidade dos indivíduos. Tendo pação da família se traduz imediatamente em melhor desempenho
perdido, ao longo da história, as funções de unidade de produção dos alunos” (Idem, p. 42).
econômica e de participação política, a família teria as funções Dias (2009), refletindo sobre as palavras do então ministro da
básicas de socialização primárias das crianças e de estabilização das educação, nos diz que ele apoiou-se em pesquisas realizadas na dé-
personalidades adultas da população. cada de 1980, que afirmavam a importância da participação familiar
No modelo proposto por Parsons para estudar a família, no processo de escolarização das crianças para que estas obtives-
os membros do grupo familiar deveriam desempenhar papéis sem êxito. Segundo a autora (Idem, p. 46), tais pesquisas afirmavam
diferentes e complementares, deixando claramente definidos os que:
papeis masculinos e femininos. Nesse movimento, o homem seria o [...] a importância da presença e participação da família na
líder instrumental da família e a mulher a responsável por assuntos escola incluíram: explicitação de objetivos comuns pela escola e
internos e domésticos. pela família, incentivo à criança e ao seu desenvolvimento, aumento
Com a inserção da mulher no mercado de trabalho por volta da das relações comunitárias, melhoria do desempenho da criança na
década de 1960, houve mudanças no modelo familiar antes patriar- aprendizagem, suporte às famílias, reconhecimento mútuo como
cal. A mulher passa a dividir com o homem a responsabilidade pelo agências educativas diferenciadas, melhora no comportamento
sustento do lar e a ser mais ativa nas decisões domésticas e, con- geral da criança, dentre outros.
sequentemente, algumas responsabilidades que antes eram con- Para Castro e Regattieri (2009) é fácil observar que quando o
sideradas predominantemente femininas, passam a ser também aluno tira boas notas, aprende e é considerado bem sucedido em
assumidas pelos homens. Essa transformação faz com que o mo- seus estudos, pais e professores se sentem corresponsáveis pelo
delo familiar nascente caminhe na direção da igualdade de poder, seu sucesso. Ao contrário, quando o aluno demonstra dificuldades
de direitos e de responsabilidades. Além disso, a atenção que antes em aprender, apresenta indisciplina ou baixo rendimento escolar,
era voltada exclusivamente para a relação marido/mulher, começa família e escola começam a buscar os responsáveis pela situação.
a destinar seus olhares para outras relações intrafamiliares, como a Contudo, para essas autoras,
relação entre irmãos e entre pais e filhos. O insucesso escolar deveria suscitar a análise de causas dos
Apesar das transformações nos modelos familiares, não se problemas que interferiram na aprendizagem, avaliando o peso
pode negar sua importância como primeiro núcleo social em que a das condições escolares, familiares e individuais do aluno. O que
criança vive. A família é a responsável pelo processo de socialização se constata é que, em vez disso, o comportamento mais comum
primária da criança. De acordo com Ribeiro (2011, p. 1): diante do fracasso escolar é a atribuição de culpas, que geralmente
A socialização primária diz respeito aos primeiros contatos so- provoca o afastamento mútuo. (Idem, p. 31)
ciais da criança e se dá com a presença dos outros significativos que As autoras lembram que na relação escola-família é importante
lhe apresentam a realidade em que vivem e como a percebem. É identificar o papel de cada um no processo de aprendizagem da
também neste contato que a criança começa a significar os elemen- criança. A escola tem a atribuição de ensinar, contudo, conta com a
tos culturais presentes na sociedade em que está inserida. Faz parte ajuda da família, por exemplo, quando manda atividades para que
desse processo a família e as pessoas mais próximas à criança. a criança faça em casa.
É na relação intrafamiliar que se vai conhecendo e (re) Podemos perceber, de acordo com as pesquisas apresentadas,
conhecendo os papeis sociais. Para Dessen e Polonia (2007, p. 24): que a escola tem sentido falta da participação da família no pro-
A família também é a responsável pela transmissão de valores cesso educacional das crianças, considerando o que chamam de
culturais de uma geração para outra. Essa transmissão de conheci- “ausência” da família como causa das dificuldades escolares dos
mentos e significados possibilita o compartilhar de regras, valores, alunos. O que parece ocorrer é que a escola tem esperado (e os
sonhos, perspectivas e padrões de relacionamentos, bem como a professores se preparado para) receber crianças idealizadas - há ex-
valorização do potencial dos seus membros e de suas habilidades pectativas que, na maioria das vezes, não se confirmam na prática.
em acumular, ampliar e diversificar as experiências. As crianças que chegam à escola são reais, filhos de famílias concre-
64
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
tas, com problemas e condicionantes sociais, econômicos, afetivos, muitos fatores não contribuam para essa compreensão, o professor
igualmente encarnados e nada parecidos com o que, muitas vezes, necessita assumir uma postura crítica em relação a sua atuação
está no imaginário dos professores. recuperando a essência do ser “educador”.
Após um breve levantamento histórico, percebemos que mui- E para o professor entender o real significado de seu trabalho,
tas das pesquisas revelaram que as justificativas para o fracasso es- é necessário que saiba um pouco mais sobre sua identidade e a
colar estavam, na maioria das vezes, na “incapacidade” de a família história de sua profissão.
educar seus filhos. A discussão sobre a relação entre a família e a Teríamos que conseguir que os outros acreditem no que somos.
escola permanece. 31 Um processo social complicado, lento, de desencontros entre o que
somos para nós e o que somos para fora [...] Somos a imagem social
Relação aluno / professor que foi construída sobre o ofício de mestre, sobre as formas diversas
Essa relação tem sido uma das principais preocupações do de exercer este ofício.
contexto escolar. Nas práticas educativas, o que se observa é que, Sabemos pouco sobre a nossa história (ARROIO, 2000, p.29).
por não se dar a devida atenção à temática em questão, muitas Fazendo uma correlação com esse ponto de vista, não se
ações desenvolvidas no ambiente escolar acabam por fracassar. pode deixar de destacar e valorizar os fenômenos histórico-sociais
Daí a importância de estabelecer uma reflexão aprofundada sobre presentes na atividade profissional do professor. Nessa perspectiva,
esse assunto, considerando a relevância de todos os aspectos que jamais poderá ser compreendido o trabalho individual do
caracterizam a escola. professor desvinculado do seu papel social, dessa forma estar-se-ia
Ao levar em consideração a escola como a única instituição descaracterizando o sentido e o significado do trabalho docente.
demarcada, com a possibilidade da construção sistematizada do Considerando a emergência de se trabalhar a identidade do
conhecimento pelo aluno, foi de fundamental importância a criação professor, percebe-se uma vasta bibliografia sobre a profissão
de algumas possibilidades e condições favoráveis, nas quais alunos docente, a qual tem apresentado muitas ideias e questionamentos,
e professores puderam refletir sobre sua prática e passaram a principalmente sobre a formação dos professores, e, mais
atuar num clima mais condizente com a realidade de uma escola. especificamente, sobre a formação reflexiva dos professores.
Isso se deu porque, quanto mais instrumentalizados se sentiam No entanto, percebe-se que ainda não existe um consenso
melhor acontecia o desenvolvimento das ações realizadas por esses quanto ao significado exato do que seja o professor reflexivo,
sujeitos. Assim, pôde-se perceber que é sempre imprescindível embora haja muitos estudos e pesquisas nessa linha teórica.
rever alguns aspectos da realidade atual da escola, no sentido de Segundo Pimenta (2002), faz-se necessário compreender com
propiciar condições favoráveis, que possibilitem o interesse de mais profundidade o conceito de professor reflexivo, pois o que
professores e alunos, para que constantemente pensem sobre essa parece estar ocorrendo é que o termo tornou-se mais uma expressão
realidade. Só dessa forma poderão conquistar o reconhecimento e a da moda, do que uma meta de transformação propriamente dita.
valorização de suas ações, por parte de toda a comunidade escolar. Para Libâneo, é fundamental perguntar: que tipo de reflexão o
Sabe-se que existe uma preocupação por parte de muitos professor precisa para alterar sua prática, pois para ele
estudiosos e pesquisadores em contribuir para um trabalho mais A reflexão sobre a prática não resolve tudo, a experiência
rico e significativo nas escolas. refletida não resolve tudo. São necessárias estratégias,
Mas, ao se fazer uma análise do atual contexto escolar, nota- procedimentos, modos de fazer, além de uma sólida cultura geral,
se que ainda são muito perceptíveis no cotidiano da escola, as que ajudam a melhor realizar o trabalho e melhorar a capacidade
reclamações e insatisfações por parte dos professores em relação reflexiva sobre o que e como mudar (LIBÂNEO, 2005, p. 76)
aos alunos e vice-versa. Ou seja, a relação professor-aluno parece Assim, se percebe que pensar sobre a formação de professores
ser permeada por animosidades ou conflitos. Diante de tantos é conceber que o professor nunca está acabado e que os estudos
desconfortos pedagógicos, houve alguns impasses: Entender ou teóricos e as pesquisas são fundamentais, no sentido de que é por
repreender? Orientar ou ignorar? intermédio desses instrumentos que os professores terão condições
A partir daí, tomou-se a decisão de olhar de frente o problema de analisar criticamente os contextos históricos, sociais, culturais
e o aproveitar para um tema de pesquisa a ser investigado: Como e organizacionais, nos quais ocorrem as atividades docentes,
a relação professor-aluno pode contribuir no processo ensino- podendo assim intervir nessa realidade e transformá-la.
aprendizagem?
O processo de interação e de mediação na relação professor-
O professor e sua prática aluno
Muitos professores que atuam nas escolas não se dão conta Em todo processo de aprendizagem humana, a interação social
da importante dimensão que tem o seu papel na vida dos alunos. e a mediação do outro tem fundamental importância. Na escola,
Nesse sentido, um dos aspectos que se quer ressaltar neste artigo é pode-se dizer que a interação professor-aluno é imprescindível
a importância da formação do professor e da compreensão que ele para que ocorra o sucesso no processo ensino aprendizagem. Por
deve ter em relação a esse assunto. Pois, não há como acontecer essa razão, justifica-se a existência de tantos trabalhos e pesquisas
na escola uma educação adequada às necessidades dos alunos sem na área da educação dentro dessa temática, os quais procuram
contar com o comprometimento ativo do professor no processo destacar a interação social e o papel do professor mediador, como
educativo. requisitos básicos para qualquer prática educativa eficiente.
Entretanto, ao aproximar-se da figura de alguns professores, De acordo com as abordagens de Paulo Freire, percebe-se uma
percebe-se que muitos, baseados no senso comum, acreditam que vasta demonstração sobre esse tema e uma forte valorização do
ser professor é apropriar-se de um conteúdo e apresentá-lo aos diálogo como importante instrumento na constituição dos sujeitos.
alunos em sala de aula. No entanto, esse mesmo autor defende a ideia de que só é possível
Mudar essa realidade é necessário para que uma nova relação uma prática educativa dialógica por parte dos educadores, se
entre professores e alunos comece a existir dentro das escolas. Para estes acreditarem no diálogo como um fenômeno humano capaz
tanto, é preciso compreender que a tarefa docente tem um papel de mobilizar o refletir e o agir dos homens e mulheres. E para
social e político insubstituível, e que no momento atual, embora compreender melhor essa prática dialógica, Freire acrescenta que
31 Fonte: www.unimep.br - Texto adaptado de Priscila Teixeira Ribeiro
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
[...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro Dessa forma, o comportamento diante do outro depende
em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados da natureza biológica, bem como da cultura que o constituiu
ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a enquanto sujeito. Nessa perspectiva, é de fundamental importância
um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco entender que a sala de aula é um espaço de convivências e relações
tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos heterogêneas em ideias, crenças e valores.
permutantes. (FREIRE, 2005, p. 91). Na teoria de Henri Wallon, encontramos subsídios importantes
Assim, quanto mais o professor compreender a dimensão do no que diz respeito à dimensão afetiva do ser humano e como ela é
diálogo como postura necessária em suas aulas, maiores avanços significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Para esse
estará conquistando em relação aos alunos, pois desse modo, sentir- teórico, a afetividade e a inteligência são inseparáveis, uma vez que
se-ão mais curiosos e mobilizados para transformarem a realidade. uma complementa a outra.
Quando o professor atua nessa perspectiva, ele não é visto como Os estudos de Wallon propõem algumas reflexões a respeito
um mero transmissor de conhecimentos, mas como um mediador, da constituição do adolescente. Tais reflexões fornecem pistas
alguém capaz de articular as experiências dos alunos com o mundo, fundamentais aos professores que atuam com essa faixa etária.
levando-os a refletir sobre seu entorno, assumindo um papel mais Segundo o autor, a juventude inicia-se com uma crise marcada
humanizador em sua prática docente. por mudanças na estruturação da personalidade. É um momento
Já para Vygotsky, a ideia de interação social e de mediação no qual o adolescente volta-se para questões que estão mais
é ponto central do processo educativo. Pois para o autor, esses diretamente ligadas ao seu lado pessoal, moral e existencial.
dois elementos estão intimamente relacionados ao processo de Nesse sentido, a afetividade torna-se um dos fatores
constituição e desenvolvimento dos sujeitos. A atuação do professor preponderantes no processo de relacionamento do adolescente
é de suma importância já que ele exerce o papel de mediador da consigo mesmo e com os outros, contudo, isso ocorre a partir de
aprendizagem do aluno. Certamente é muito importante para o um caráter cognitivo já estabelecido, ou seja, ele consegue gerir
aluno a qualidade de mediação exercida pelo professor, pois desse uma exigência racional nas relações afetivas.
processo dependerão os avanços e as conquistas do aluno em Normalmente é uma fase marcada por muitos questionamentos,
relação à aprendizagem na escola. fortes exigências, novas experiências e constantes preocupações.
Organizar uma prática escolar, considerando esses Diante de tantas alterações físicas e emocionais, muitas vezes
pressupostos, é sem dúvida, conceber o aluno um sujeito em não conseguindo conter ou canalizar tanta energia, iniciam-se os
constante construção e transformação que, a partir das interações, confrontos com pais, professores e até com colegas.
tornar-se-á capaz de agir e intervir no mundo, conferindo novos Considera-se esse período o mais marcado pelas
significados para a história dos homens. transformações, talvez seja essa uma das razões pelas quais exista
Quando se imagina uma escola baseada no processo de um enorme desejo de se romper com os modelos pré-estabelecidos.
Para Galvão (1995), o desenvolvimento do adolescente é
interação, não se está pensando em um lugar onde cada um faz o
marcado por muitos conflitos, que são próprios do ser humano,
que quer, mas num espaço de construção, de valorização e respeito,
alguns são importantes para o crescimento, outros provocam muito
no qual todos se sintam mobilizados a pensarem em conjunto.
desgaste e transtornos emocionais.
Na teoria de Vygotsky, é importante perceber que como o aluno Sendo assim, a escola precisa criar um ambiente mais
se constitui na relação com o outro, a escola é um local privilegiado estimulante e afetivo que possibilite a esse adolescente enxergar-
em reunir grupos bem diferenciados a serem trabalhados. Essa se nesse processo. Por esse motivo, a mediação do professor é uma
realidade acaba contribuindo para que, no conjunto de tantas contribuição que irá ajudar o aluno do segundo segmento do Ensino
vozes, as singularidades de cada aluno sejam respeitadas. Fundamental a dar sentido ao seu existir e ao seu pensar. É importante
Portanto, para Vygotsky, a sala de aula é, sem dúvida, um dos que se ressalte que, quando se fala em proporcionar uma relação
espaços mais oportunos para a construção de ações partilhadas professor-aluno baseada no afeto, de forma alguma, confunde-se aqui
entre os sujeitos. A mediação é, portanto, um elo que se realiza afeto com permissividade. Pelo contrário, a ação do professor deve impor
numa interação constante no processo ensino aprendizagem. limites e possibilidades aos alunos, fazendo com que estes percebam o
Pode-se dizer também que o ato de educar é nutrido pelas professor como alguém que, além de lhe transmitir conhecimentos e
relações estabelecidas entre professor-aluno. preocupar-se com a apropriação dos mesmos, compromete-se com a
ação que realiza, percebendo o aluno como um ser importante, dotado
A Afetividade de ideias, sentimentos, emoções e expressões.
A escola pode ser considerada como um dos espaços Assim, todo educador que deseja adequar sua prática
essencialmente propícios, e talvez único, capaz de desenvolver pedagógica à teoria Walloniana deve buscar desenvolver atividades
e elevar o indivíduo intelectual e culturalmente dentro de uma que envolvam os alunos de forma integrada, ou seja, deve orientar
sociedade. Entretanto, as relações estabelecidas no contexto sua prática para que desenvolva a expressividade, a emoção, a
escolar entre alunos e professores têm exigido bastante atenção personalidade e o pensamento criativo.
e preocupação por parte daqueles que encaram a escola como Para finalizar e contribuir com as reflexões acerca da afetividade
espaço de construção e reconstrução mútua de saberes. na escola, Freire salienta
Nesse sentido, acredita-se que uma das tarefas das equipes Como prática estritamente humana jamais pude entender a
pedagógicas de qualquer escola, é a criação de estratégias educação como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos
eficazes, no sentido de promover uma formação continuada, a qual e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por
possibilite uma relação pedagógica significativa e responsável entre uma espécie de ditadura racionalista.
Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como
professores e alunos, garantindo a todos a melhoria no processo
uma experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária
ensino aprendizagem.
disciplina intelectual (FREIRE, 1996, p. 146).
Entende-se que cada ser humano, ao longo de sua existência,
Isso vem reforçar a ideia de que os professores, quando buscam
constrói um modo de relacionar-se com o outro, baseado em suas aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da afetividade
vivências e experiências. na escola, estão, na verdade, procurando entender tanto de seres
humanos, quanto de conteúdos e técnicas educativas.
66
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Enfim, a teoria de Wallon considera as questões afetivas como Na escola, esse momento é muito impreciso e normalmente
molas propulsoras que promovem o avanço e o desenvolvimento vem acompanhado de sentimentos contraditórios como:
dos indivíduos. Assim, é necessário conceber a sala de aula como sensibilidade X indiferença, energia X fragilidade, entusiasmo X
um rico espaço de relações entre alunos e professores. desânimo, alegria X tristeza, firmeza X insegurança, delicadeza X
Levando em conta esse cenário de oposição e interação em irreverência entre outros.
que, muitas vezes, o convívio harmônico é quase impossível, faz-se Segundo Matos (2003), nessa fase, o jovem oscila em seu modo
necessário salientar mais uma vez o diálogo como um instrumento de ser, ora age como criança, ora como adulto. Essa ambiguidade
importante nessas relações. também ocorre por parte dos adultos, pois, em muitas situações,
eles permitem um “quase tudo”, em outras utilizam excesso de rigor,
Jovens alunos: Quem são? exigindo do jovem responsabilidade de adulto. Isso só confirma que
Analisar essa fase da vida, a adolescência, é, sem dúvida, uma a imprecisão não está apenas no jovem, mas também naqueles que
demonstração de cuidado, atenção e preocupação com os alunos com eles convivem.
que compõem o mundo estudantil das escolas. Para os professores, entender esse período de transformação
E para entender melhor algumas questões ligadas à da vida humana é fundamental para o bom relacionamento
adolescência, é preciso compreender esse fenômeno, considerado com os alunos, bem como para a organização de novas práticas
a partir do século XX, fase que acabou se expandindo de tal forma, pedagógicas. Essa percepção e compreensão do comportamento do
que hoje pode-se considerar que muitos jovens manifestam jovem auxiliarão os professores na criação de projetos inovadores
comportamento de adolescente. mais voltados para a cultura juvenil dos alunos.
Segundo Carvajal (1998), existem três fases distintas para esse Segundo Calligaris (2000), “Nossos adolescentes e jovens
momento da adolescência. Portanto esse período não é linear e há amam, estudam, brigam. Batalham com seus corpos, que se esticam
diversos aspectos a serem considerados. e se transformam.” Cabe à escola então, despertar o interesse e os
A primeira fase considerada por esse autor é a “puberal”, sonhos desses jovens, do contrário só poderá constatar que todo
marcada pelo aparecimento das modificações fisiológicas, as quais espaço é desinteressante para quem para de sonhar.
são acompanhadas das mudanças psíquicas. Nesse estágio, os Sabe-se que um dos objetivos da educação é promover o
adolescentes irritam-se facilmente, tornam-se arredios, explosivos desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno, então por que não
e preferem manter-se isolados. Já manifestam o desejo de que o concentrar esforços em projetos e ações educativas que incentivem
tratem como adulto. Para Carvajal (1998, p. 78) “O púbere começa a a participação desses adolescentes-jovens, preparando-os para
desempenhar o papel mais importante do adolescente: aquele que uma atuação crítica e criativa na sociedade?
busca uma identidade”. Infelizmente ainda prevalece, no senso comum, a ideia de que
A segunda fase é chamada de “adolescência nuclear” e é os jovens significam problemas para a sociedade. Na verdade, o que
denominada por Carvajal como o núcleo da adolescência. Marcada está sendo esquecido é que essa faixa etária faz parte de um contexto
como etapa de surgimento do grupo, o qual passa a ser foco de social bem maior, o qual está passando por várias transformações e
interesse do jovem. Nessa fase, tudo gira em torno dos interesses crises em vários setores. Essas transformações acabam provocando
do grupo, chegando ao ponto de o jovem curvar-se às leis ditadas mudanças no comportamento de todas as pessoas, gerando crises
pelos companheiros. Aqui, ao contrário da fase anterior, surge, no de valores e uma crescente desigualdade social.
adolescente, a necessidade de se compartilharem todas as coisas Na educação, observa-se por parte de muitos educadores uma
com os seus pares eleitos, pois ele tem necessidade de sentir-se preocupação com esses problemas, contudo é preciso acreditar que
aceito pelos colegas. a educação, muito além de promover o acúmulo de conhecimentos,
Aparecem novos códigos de comportamento, que, muitas vezes, possibilita aos adolescentes novas formas de se posicionarem
ditam as regras a serem seguidas. Momento marcado pela oposição ao diante da realidade.
mundo, desencadeando um jeito diferente de ser. Esse período oferece Nesse sentido, um dos maiores desafios que ora se impõe para
modelos identificatórios como: punks, darks, hippies, metaleiros e a escola, é propiciar um trabalho voltado para o desenvolvimento
outros. Isso mostra o quanto, essa fase é marcada por um momento da capacidade de pensar dos alunos, pois segundo Guillot (2008,
de rica expressão, originalidade e criatividade. p.165), “o mundo concreto é irrigado pelas novas tecnologias.” No
A terceira e última fase é denominada pelo autor, como entanto, esse mesmo autor nos chama a atenção para o seguinte
“adolescência juvenil”. fato: não é por meio de uma série apresentada na televisão 24h
Esse conceito já qualifica o início da vida adulta. Os adolescentes que os alunos irão compreender a cultura de que precisam para
começam a manifestar um comportamento mais independente se tornarem homens e mulheres livres e responsáveis. Para tanto,
e surgem as preocupações com os acontecimentos sociais. Eles mais uma vez se reconhece a importância e o papel fundamental
começam a se tornar mais ativos, envolvendo-se em trabalhos na do professor, enquanto elemento articulador capaz de organizar
comunidade e passam a respeitar as regras da sociedade. patamares de encontro entre aquilo por que o aluno demonstra ter
Calligaris (2000), um outro estudioso do tema, ajuda-nos a interesse e o que a escola realmente precisa trabalhar.
compreender algumas ideias. Segundo ele, a cultura atual impõe O que se deseja propor com essa reflexão é que, numa ação
aos adolescentes uma moratória. coletiva, professores repensem a organização de suas atividades
Isso significa que o adulto sempre está adiando o momento de o docentes, partindo em busca de práticas que sensibilizem os jovens
adolescente demonstrar que está apto e responsável, conseguindo a participarem ativamente da construção de seus conhecimentos e
mostrar o que já aprendeu. de suas vidas escolares.
Para muitos professores, é difícil, quase impossível, conviver Para que os alunos possam aprender de fato, buscando
nesse meio sem expressar um forte desejo em entender melhor desenvolver um espírito cada vez mais crítico e criativo, não se
essa fase tão importante da vida. Segundo a psicologia, no pode ignorar o mundo no qual esses jovens vivem. E para que
desenvolvimento humano, todo rompimento entre o que está essas proposições venham a se efetivar na prática, acredita-se que
estabelecido e o que é necessário ainda a ser definido é um processo é essencial começar ouvindo os alunos, conhecendo melhor suas
doloroso e, ao mesmo tempo, delicado. É assim que se apresentam opiniões, anseios e sonhos.
as mudanças que ocorrem nessa passagem.
67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Mobilizar a juventude estudantil, demonstrando-lhes a Nessa teoria, o professor, além de planejar os conteúdos,
importância e o valor de um envolvimento ativo no trabalho preocupa-se em trabalhá-los da melhor forma, adequando-os ao
educativo é, sem dúvida, redesenhar uma nova escola. desenvolvimento dos alunos. Aqui o professor é visto como um
coordenador e o aluno como um sujeito ativo em seu processo de
Ensino-aprendizagem: Como entender esse processo? aprendiz.
Muitos pesquisadores consideram o ensino e a aprendizagem Na abordagem “Sócio-Cultural”, a relação professor - aluno
termos indissociáveis na construção do conhecimento. Assim, não ocorre de forma horizontal e não impositivamente. Isso significa
se pode compreender a importância do primeiro, sem reconhecer o que as relações autoritárias são abolidas dessa teoria.
significado a que o segundo nos remete nessa construção. A ação pedagógica do professor e do aluno volta-se para
Sabe-se que esses conceitos sofreram várias transformações uma prática histórica real. Segundo Freire (1975), o educador e
no decorrer da história de produção de conhecimento pelo o educando são sujeitos do processo educativo, ambos crescem
homem. Nesse sentido, o processo ensino-aprendizagem tem sido juntos nessa perspectiva.
caracterizado de diferentes formas, ora procura dar ênfase à figura O professor e o aluno trabalham procurando desmistificar a
do professor como detentor do saber, responsável pela transmissão cultura dominante. Dessa forma, à medida que os alunos participam
do conhecimento, ora vem destacar o papel do aluno como sujeito do processo de construção do conhecimento, mais críticas se
aprendiz, construtor de seu conhecimento. tornarão suas consciências.
Por seguirem trajetórias paralelas, os estudos e as pesquisas Com essa rápida retomada das principais teorias que
sobre o como se ensina e o como se aprende demonstram que hoje contribuíram historicamente no processo ensino-aprendizagem, é
não existe uma forma única para compreender esse processo. possível perceber que sempre houve uma preocupação, por parte
Entretanto, nas últimas décadas, percebe-se uma crescente da sociedade, em adequar as teorias às realidades de cada período
contribuição por parte das investigações realizadas na área da psicologia, histórico.
as quais vêm propondo uma mudança significativa para as práticas Hoje, levando em consideração que a sociedade exige uma
escolares, visto que essas reflexões têm provocado um deslocamento no nova consciência humana, busca-se, com a pedagogia “Histórico-
eixo-pedagógico, mudando a valorização de como e quem ensina, para a Crítica” discutida e apresentada por Saviane, uma forma de superar
preocupação de quem aprende e de como se aprende. as dificuldades até então encontradas na construção efetiva do
No entanto, para o professor entender melhor o contexto atual conhecimento.
e refletir criticamente sobre suas ações, faz-se necessária uma breve Saviane sustenta, nessa concepção de ensino-aprendizagem,
retomada sobre as tendências pedagógicas que influenciaram e uma teoria dialética, na qual a construção se dá num movimento
vêm influenciando o ensino e a aprendizagem ao longo da história dinâmico entre o conhecimento empírico e o conhecimento
educacional. científico.
As tendências pedagógicas foram evoluindo e foram divididas Com base nos estudos desenvolvidos por Saviane dentro da
em cinco abordagens, dentre as quais algumas colocaram como seu Pedagogia Histórico-Crítica, Gasparin (2005) apresenta de forma
maior objetivo o refletir, o pensar e o fazer do professor. organizada uma proposta para o desenvolvimento eficaz de ensino
A primeira abordagem a ser retomada é a “Tradicional”. Nessa e aprendizagem. Trata-se de um método pedagógico totalmente
teoria, o processo ensino-aprendizagem era totalmente centrado voltado para a transformação social.
no professor. Tinha como objetivo principal formar o aluno ideal, Pois, por maior avanço que possa ter ocorrido no contexto
contudo não se levava em conta seus interesses. educacional, percebe-se ainda que os conteúdos escolhidos, a
Para Mizukami (1986, p.12), nessa abordagem, quanto mais metodologia utilizada e a postura profissional adotada por muitos
rígido o ambiente escolar, mais concentrado e voltado para a educadores revelam uma visão de mundo nem sempre condizente
aprendizagem o aluno se mantinha. O professor era visto como com as propostas pedagógicas vigentes.
mero repassador de conteúdo e o aluno como um ser passivo Na tentativa de romper com algumas práticas que ainda
no processo. As habilidades desenvolvidas no aluno eram a privilegiam o exercício da repetição e da memorização nas escolas,
memorização e a repetição. Gasparin (2005) busca fundamentar uma proposta, baseada
também na teoria Histórico-Cultural de Vigotsky, a qual considera
Em seguida, vem a abordagem “Comportamentalista”. Teoria e privilegia os conhecimentos que os alunos já trazem de casa, bem
baseada no empirismo que vê o aluno como produto do meio. E como estimula a aquisição daqueles que os discentes precisam
o experimento é a base do conhecimento, que, segundo Skinner, saber.
estudioso dessa abordagem, o comportamento resulta de um Dentro dessa metodologia, o autor apresenta cinco passos,
condicionamento operante. A resposta esperada do aluno ocorre tendo início com a Prática Social Inicial. Nesse primeiro passo, o
quando ela é estimulada por meio de reforços. aluno precisa sentir-se estimulado e respeitado, só assim sentirá
O professor é aquele que planeja, organiza e controla os meios segurança em expressar o que sabe e o que deseja aprender. É o
para atingir seus objetivos, os quais são estruturados em pequenos momento em que se iniciam as discussões sobre o conteúdo a ser
módulos, conhecidos como estudos programados. trabalhado e construído.
A abordagem “Humanista” apresenta seu enfoque no aluno. A partir das colocações que vão sendo apresentadas pelos
Segundo Mizukami (1986), a ênfase dessa teoria ocorre por meio alunos, dos questionamentos realizados e das informações que
das relações interpessoais e do crescimento que delas resulta. recebem sobre o conteúdo que será trabalhado pelo professor,
Nessa teoria, a preocupação maior do professor deve ser a de constrói-se o segundo passo, que é a Problematização.
dar assistência aos alunos, ele deve agir como um facilitador da Esse é um dos momentos mais importantes, pois, dependendo
aprendizagem. O conhecimento resulta das experiências do aluno, do encaminhamento desse passo, os alunos manifestarão interesse
o qual é capaz de buscar por si só os conhecimentos. ou não pelo que vai ser estudado. Na Problematização, escolher as
A quarta abordagem é a “Cognitivista”. Segundo Mizukami perguntas mais importantes é uma forma de garantir a participação
(1986, p.59), essa abordagem percebe a aprendizagem de forma ativa dos alunos no processo. É um momento de confronto entre
científica, como um produto do meio, resultante dos fatores os conhecimentos apresentados pelo professor e os trazidos pelos
externos. Preocupa-se com as relações sociais sem deixar de alunos. Quanto maiores e mais ricas as experiências apresentadas,
privilegiar a capacidade do aluno em assimilar as informações. melhores serão as análises entre teoria e prática.
68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A problematização é um dos momentos mais ricos do Diante do entendimento da complexidade na qual estamos in-
planejamento da aula, pois a partir desse passo se define o que seridos percebe-se a necessidade da implantação de um raciocínio
realmente precisa ser estudado e aprofundado. Nesse momento, o horizontalizado complementar para o estabelecimento do saber. O
aluno deve receber várias informações para que possa estabelecer estudo dos problemas através de uma comunicação horizontalizada
relações com a sua realidade. se faz necessário no intuito de maximizar o “produto social final”
Em seguida, para que o aluno crie, recrie e incorpore o conteúdo esperado das escolas, e mais do que isso, para a busca da democra-
que está sendo trabalhado em sua vida, é preciso sistematizá-lo, é o tização real do conhecimento através da libertação do pensamento,
momento da Instrumentalização. da visão e do raciocínio crítico na formação do saber individual seja
Na instrumentalização, o professor, por meio de uma ação ele de quem for.
bastante mediada, irá junto com os alunos identificar os princípios
práticos e teóricos do conteúdo estudado. Currículo e as disciplinas
Num quarto momento, ocorre a Catarse, compreende-se O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual na
que aqui o aluno é capaz de apresentar um posicionamento mais qual estão inseridas as escolas e centros de pensamento crítico-cria-
elaborado da Prática Social, integrando os conhecimentos que já tivo, os centros de ensino superior.Umas das primeiras barreiras en-
conhecia com os científicos. Considera-se que esse é o momento de contradas para a implantação de um pensamento horizontalizado
apropriação do conteúdo. na construção do conhecimento esta na estrutura do currículo.
Para Gasparin (2005, p. 130), no momento da Catarse social Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os posi-
feita com base em necessidades criadas pelo homem. Nesse cionamentos de autores como Apple e Weis sobre o currículo. Para
momento, esse conhecimento possui uma função explícita: a estes o foco central na estruturação do currículo esta na concre-
transformação social. tização do monopólio social sobre a sociedade através do campo
Assim, o aluno vai percebendo que ele também é autor da educacional. Apple prossegue afirmando que esta ferramenta será
história, visto que, de posse da compreensão do conhecimento, estruturada através de regras não formalizadas que constituirão o
passa a entender melhor a sua realidade. que ele mesmo denominou de “currículo oculto”.
Num último momento, conhecido como Prática Social Final, o Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva(Moreira e Silva,
aluno finalmente vai colocar seus conhecimentos em prática. Pode- 1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículoé um local
se dizer que o horizonte de expectativas dos alunos vai ser ampliado. de “jogos de poder”, de inclusões e exclusões, uma arena política.
A Prática Social Inicial vai ser agora alterada. E o aluno passa a Na busca da prática da horizontalização do pensamento e do
perceber a realidade de forma diferente, entendendo melhor seu estudo a presença do currículo como selecionador de conhecimen-
entorno, sendo capaz de reformulá-lo caso seja necessário. tos pré-definidos se constitui como uma ferramenta castratória que
Nessa teoria, professor e aluno modificam-se.
limita o docente a mero reprodutor de conhecimento. São verda-
Assim, o aluno vai percebendo que ele também é autor da
deiros instrumentos que tolem o processo crítico-criativo necessá-
história, visto que, de posse da compreensão do conhecimento,
rio ao entendimento contextualizado e multifacetado das proble-
passa a entender melhor a sua realidade.32
máticas presentes na vida real.
A presença do currículo formal como ferramenta norteado-
A contextualização dos currículos (interdisciplinaridade,
ra do processo de ensino-aprendizado institui a fragmentação do
transdisciplinaridade e multidisciplinaridade)
conhecimento trazendo ao discente uma visão completamente
O papel da escola, mais precisamente do ensino e da educa-
ção, sempre foi e sempre será questionado através dos tempos. esfacelada do item analisado e desta forma impossibilitando uma
Questionar-se-á não sobre a sua necessidade e importância na vida compreensão maior de mundo, de sociedade e de problemática es-
dos indivíduos, uma vez que estes temas já foram amplamente dis- tudada.
cutidos e esgotados por diversos grupos durante a história. Ques- Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o abando-
tionar-se-á sempre se esta, a escola, tem servido ao seu papel so- no do currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente, para a
ciológico, propósito central, de “cunhar” indivíduos preparando-os adoção do “currículo da sala de aula”. Este, construído no trabalho
para se posicionarem como seres sociais integrados e adaptados diário do docente e do seu relacionamento com o meio na busca
à convivência em grupo, à sociedade, agindo como participantes pela compreensão multifacetada da realidade vivenciada do aluno.
no desenvolvimento do todo. Ainda, não somente como membros Seria a instituição da relação dialógica real entre o professor e o
destes grupos capazes de se interrelacionarem com seus entes, mas aluno na construção do saber.
como membros qualitativos capazes de somar através de suas habi- Na construção deste currículo informal, mas real, extraído das
lidades e conhecimentos. páginas da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade da dis-
Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como algo solução das barreiras entre as disciplinas buscando uma visão inter-
focado na “formatação” de indivíduos para serem inseridos em disciplinar do saber “que respeite a verdade e a relatividade de cada
grupos sociais perceberemos, claramente, de que o desafio aqui disciplina, tendo-se em vista um conhecer melhor” (Fazenda,1992)
proposto para a escola é, indubitavelmente, complexo e dinâmico. Surge então a necessidade de reformular o modus operan-
Dinâmico pelo fato de se estruturar sobre um conjunto de regras diestabelecido através da re-análise das atuais temáticas e conse-
e padrões, os sociais, que se apresentam em constante mudança, qüentemente propondo uma visão horizontalizada para a analise e
reflexo do próprio processo evolutivo social de cada era na qual pesquisa dos temas apresentados no dia-a-dia do discente surgem
se viverá; Complexo pelo fato de exigir de si mesma a necessidade a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplina-
de capacitar o indivíduo a observar a sociedade, seus problemas, ridade.
relacionamentos e saberes de uma forma dinâmica, interligada,
completamente dependente de causas e efeitos nas mais diversas Multidisciplinaridade
áreas, do saber do conhecimento ao saber do relacionamento, per- A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de to-
mitindo assim, e somente assim, que estes possam ser formados das as 3 visões. Para este, um elemento pode ser estudado por dis-
com as habilidades necessários, acima descritas, para ocuparem ciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma
sua posição dentro desta sociedade. sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia mais correta
32 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br - Por Rita de Cássia Soares Lopes
69
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
para esta visão seria a da justaposição das disciplinas cada uma o processo pedagógico-histórico atualmente instituído nas escolas
cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em e centros de estudo acadêmico é somente comparável com a gera-
questão. Nesta, cada professor cooperará com o estudo dentro da ção de indivíduos, e consequentemente, de uma sociedade, intelec-
sua própria ótica; um estudo sob diversos ângulos, mas sem existir tualmente analfabeta e limitada.33
um rompimento entre as fronteiras das disciplinas.
Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento Conteúdos de aprendizagem
horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui Apesar de aparentemente tão diferentes, essas duas
o inicio do fim da especialização do conteúdo. Para Morin (Morin, tendências tem em comum uma visão dicotômica do que seja
2000) a grande dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na conhecimento escolar, acabando por fragmentar um processo que
difícil localização da “via de interarticulação” entre as diferentes não pode ser fragmentado. Não se pode separar, por exemplo, o
ciências.É importante lembrar que cada uma delas possui uma lin- processo de aprendizagem dos conteúdos disciplinares do processo
guagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzi- de participação dos alunos, nem separar as disciplinas da realidade
dos entre as linguagens. atual. Os conteúdos disciplinares não surgem do acaso. Deveriam
ser frutos de interação dos grupos sociais com sua realidade cultural.
Interdisciplinaridade Por outro lado, as novas gerações não podem prescindir do
A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é indis- conhecimento acumulado socialmente e organizado nas disciplinas,
pensável para a implantação de uma processo inteligente de cons- sob pena de estarmos sempre “redescobrindo a roda” ou fazendo
trução do currículo de sala de aula – informal, realístico e integrado. um “retrabalho”. Também não é possível deixar de lado a presença
Através da interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo se- dos alunos com seus interesses, suas concepções, sua cultura,
torizado para um conhecimento integrado onde as disciplinas cien- principal motivo da existência da escola. Na verdade, o que muitos
tíficas interagem entre si. professores têm visto como dois processos constitui um único
Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinaridade processo, global e complexo, com várias dimensões que se inter-
é a forma correta de se superar a fragmentação do saber instituída relacionam.
no currículo formal. Através desta visão ocorrem interações recípro- A Pedagogia de Projetos permite, aos alunos, analisar os
cas entre as disciplinas. Estas geram a troca de dados, resultados, problemas, as situações e os conhecimentos dentro de um contexto
informações e métodos.Esta perspectiva transcende a justaposição e em sua totalidade, utilizando, para isso, os conhecimentos
das disciplinas, é na verdade um “processo de co-participação, reci- presentes nas disciplinas e sua experiência sociocultural.
procidade, mutualidade, diálogo que caracterizam não somente as Acrescentamos a essa metodologia uma reflexão sobre a
disciplinas, mas todos os envolvidos no processo educativo”(idem). realidade social, orientando os Projetos de Trabalho para “ uma
reflexão sobre as condições de vida da comunidade que o grupo faz
Transdisciplinaridade parte, analisando-as em relação a um contexto sócio-político maior
A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por Piaget e elaborando propostas de intervenção que visem transformação
em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo, só recentemente social” (FREIRE, 1997).
é que esta proposta tem sido analisada e pontualmente estudada O que se coloca, portanto, não é a organização de projetos em
para implementação como processo de ensino/aprendizado. detrimento dos conteúdos das disciplinas, e, sim, a construção de
Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas são uma prática pedagógica centrada na formação global dos alunos. O
praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é impossí-
desenvolvimento de projetos, com o objetivo de resolver questões
vel identificar onde um começa e onde ela termina.
relevantes para o grupo, vai gerar necessidade de aprendizagem,
“a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e abor-
e, nesse processo, os alunos irão se defrontar com os conteúdos
dar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada ciência,
das diversas disciplinas, entendidos como “instrumentos culturais”
praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a diversidade
valiosos para a compreensão da realidade e a intervenção em sua
e a preservação da vida no planeta, construindo um texto contex-
dinâmica. “
tualizado e personalizado de leitura de fenôminos”. (Theofilo, 2000)
Segundo Hernandez ( 2000 ), com os projetos de trabalho,
A importância deste novo método de analise das problemáticas
sob a ótica da transdisciplinaridade pode ser constatada através da os alunos não entram em contato com os conteúdos disciplinares
recomendação instituída pela UNESCO em sua conferência mundial a partir de conceitos abstratos e de modo teórico, como, muitas
para o ensino Superior (UNESCO, 1998). vezes, tem acontecido nas práticas escolares. Nessa mudança de
Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: “A transdisciplina- perspectiva, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos
ridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas, através e passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua
das disciplinas e para além de toda a disciplina”. A esta ultima colo- interação com a realidade, de forma crítica e dinâmica.
cação entende-se “zona do espiritual e/ou sagrado”. Há, também, o rompimento com a concepção de “neutralidade”
O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas cada dos conteúdos disciplinares que passam a ganhar significados
vez mais complexos. Estes podem estar ligados a própria comple- diversos, a partir das experiências sociais dos alunos, envolvidos
xidade do inter-relacionamento dentro da sociedade humana ou nos projetos”.
através do grau de especialização atingido pelo conhecimento cien- Essa mudança de perspectiva traz consequência na forma
tífico da humanidade. de selecionar e sequenciar os conteúdos das disciplinas. Esta
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracterizado pela costumava ser construída em etapas, de modo cumulativo, em
era da informação, do avanço tecnológico diuturno, da capacidade que o conteúdo dever ser “vencido” para outro ser “apresentado”
de interconexão em rede e de outras propriedades que caracteri- ao aluno. Os projetos de trabalho trazem nova concepção de
zam os paradigmas que constituem essa nova era, precisa encontrar sequenciação, fundada na dinâmica, no processo de “ir e vir”, em
na escola, seu ente social para a formação, o aparato técnico-cientí- que os conteúdos vão sendo tratados de forma mais abrangente
fico-social capaz de o “cunhar” para a sua participação social. e flexível, dependendo do conhecimento prévio e da experiência
Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são vivencia- cultural dos alunos.
dos hoje pela humanidade, a necessidade de se repensar o proces-
so de ensino-aprendizagem atual se faz necessário. Continuar com
33 Fonte: www.webartigos.com
70
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Assim, um mesmo projeto pode ser desencadeado em turmas passo do processo de aprendizagem é a busca de compreensão
de séries diferentes, recebendo tratamento diferenciado, a partir daqueles novos elementos aos quais estamos tendo acesso e
do perfil dos grupos. essa compreensão é construída pelo relacionamento de nossos
A aprendizagem por projetos ocorre por meio da interação e conhecimentos anteriores com os novos saberes.
articulação entre conhecimentos de distintas áreas, conexões estas Conceitos e relações são assim desestabilizados e
que se estabelecem a partir dos conhecimentos cotidianos dos reconstruídos, mas apenas se acontecer esse diálogo entre os
alunos, cujas expectativas, desejos e interesses são mobilizados na conhecimentos prévios, também chamados de representações
construção de conhecimentos científicos. dos alunos, concepções alternativas ou culturas de referência e os
Os conhecimentos cotidianos emergem como um todo unitário novos saberes.
da própria situação em estudo, portanto sem fragmentação Os conhecimentos prévios são as estruturas de acolhimento dos
disciplinar, e são direcionados por uma motivação intrínseca. Cabe novos conceitos e por isso devem ser cuidadosamente investigados
ao professor provocar a tomada de consciência sobre os conceitos pelo professor e levados em conta no momento de se construir
implícitos nos projetos e sua respectiva formalização, mas é preciso propostas de atividades de aprendizagem. Para isso é necessário
empregar o bom-senso para fazer as intervenções no momento que cada educador domine e aplique em seus cursos diferentes
apropriado. estratégias de sondagem de conhecimentos: questionários,
O professor é o consultor, articulador, mediador, orientador, entrevistas, debates, júris-simulados, jogos e dinâmicas, dentre
especialista e facilitador do processo em desenvolvimento pelo outros.
aluno. A criação de um ambiente de confiança, respeito às Além da aprendizagem, o conteúdo também é um segmento
diferenças e reciprocidade, encoraja o aluno a reconhecer os seus muito importante do campo educacional que deve ser analisado
conflitos e a descobrir a potencialidade de aprender a partir dos com atenção. O conteúdo dever ser contextualizado; aplicado
próprios erros. Da mesma forma, o professor não terá inibições em à realidade dos alunos. Ou seja, os conteúdos de ensino devem
reconhecer seus próprios conflitos, erros e limitações e em buscar despertar nos alunos motivação para mudança de comportamento.
sua depuração, numa atitude de parceria e humildade diante do Nenhum educador deverá limitar-se ao conteúdo de uma
conhecimento que caracteriza a postura interdisciplinar como já matéria de ensino disposta em livro ou revista didática. Antes,
mensionado. deve ele em sua prática docente, considerar suas próprias
experiências de vida como singular fonte de material útil ao bom
êxito do ensino. Os livros que o professor lê, as pessoas com quem
Para garantir que os conhecimentos ou conteúdos trabalhados
tem contato diariamente e cada experiência pessoal poderão
tenham um significado real para o aluno, um outro cuidado é
constituir excelentes materiais para auxiliá-lo na tarefa de mediar a
necessário: lembrarmo-nos de que os conhecimentos não existem,
aprendizagem do aluno.
no mundo real, divididos em disciplinas.
Apesar de o material didático especializado ser de suma
Ao desempenhar qualquer atividade social ou profissional na
importância, nunca deverá o educador desperdiçar a oportunidade
vida, utilizamos concomitantemente saberes diversos: a enfermeira
de enriquecer suas aulas com sua prática de vida.
usa a linguagem matemática para calcular a porcentagem de um
As informações devem ser transformadas em conhecimento. O
desinfetante químico que será aplicado na desinfecção de um professor não deve valorizá-las excessivamente.
abscesso originado por uma mosca com determinado ciclo de vida Com o advento da globalização, a informação e o conhecimento
e que se prolifera em determinadas regiões geográficas. A história estão à disposição de todos. Hoje uma pessoa pode ter acesso num
dessa patologia orienta as políticas públicas de combate à doença, só dia a um número equivalente de informações que um sujeito
articuladas com as condições socioeconômicas da população. teria a vida inteira na Idade Média. A massa de conhecimento da
Na vida, os conteúdos são todos integrados. Separá-los em humanidade que hoje dobra a cada dois anos, dobrará a cada 80
disciplinas é uma operação humana que tem facilitado a aquisição dias nos próximos 10 a quinze anos.
desses conhecimentos, mas que tem, por outro lado, destituído É quase impossível para o professor competir com seus alunos,
muitas vezes esses conhecimentos de seu significado, só apreensível principalmente os jovens, em termos de quantidade de informação.
no interior da totalidade social onde eles ocorrem. Isto em função de os jovens passarem a maior parte do tempo
Daí a noção de globalização que tem sido muito valorizada no conectados à Internet. O que fazer?
campo da educação e que a Pedagogia de Projetos também tem Os professores deverão ajudá-los a selecionarem e priorizarem
levantado. A idéia de globalização remete a essa visão de que o as melhores informações para transformá-las em conhecimento útil
conhecimento é global, não segmentado e que sua fragmentação às suas vidas em todas as áreas. E nesse contexto entra com força,
em disciplinas faz parte de um momento de sua produção. a Pedagogia de Projetos que vem auxiliar o professor, como uma
Entretanto, é necessário alcançar uma nova etapa: aprofundar-se importante ferramenta, colaborando para o desenvolvimento da
nos conhecimentos, trabalhando com eles em sua especialização aprendizagem dentro desse ambiente globalizado em que o aluno
mas não parar aí: reconstruir seu caráter global a cada passo, está inserido.34
garantindo assim seu significado real na vida e no mundo.
Isso impõe novos desafios ao professor: romper os limites Formas de organização dos conteúdos
de nossa formação fragmentada e reconstruir as relações de Os conteúdos escolares podem assumir diferentes orientações,
nossa área específica de conhecimento com outras áreas de conforme as várias teorias da educação que foram construídas
saber correlatas. Mais uma vez os educadores da formação historicamente.
profissional têm vantagens: no mundo do trabalho os saberes A importância de organizar e selecionar os conteúdos é
são necessariamente integrados e a solução dos problemas está indiscutível. Alguns educadores acreditam que a organização do
cada vez mais evidentemente vinculada a uma visão mais global conteúdo se constitui numa só unidade, em que teoria e prática se
dos processos. Por isso a exigência de os educadores da Educação fundem. Ou seja, no fazer gera-se o saber. Outros procuram redefinir
Profissional trabalharem nesse sentido. os conteúdos a partir de um determinado ponto de vista da classe.
Aproveitar os conhecimentos prévios dos alunos cumprem E existem aqueles que colocam a sistematização do conhecimento
um papel fundamental nos processos de aprendizagem. E falando a partir de problemas postos pela prática social.
novamente da aprendizagem, vale lembrar que o primeiro
34 Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.pedagogiadidatica.blogspot.com
71
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Em suma, podemos nos balizar em teóricos que definem o a permanência na escola, tendo como horizonte a universalização
conceito de saber sistematizado ou fontes de conteúdos, levando do ensino para toda a população, bem como o debate sobre a
em conta a estrutura lógica da matéria, as condições psicológicas qualidade social3dessa educação universalizada, são questões
do aluno para a aprendizagem em questão e as necessidades que estão relacionadas a esse debate. Esses processos devem
socioeconômicas e culturais do contexto em que o aluno está garantir e mobilizar a presença dos diferentes atores envolvidos,
inserido. que participam no nível dos sistemas de ensino e no nível da escola
E, embora alguns educadores tenham seus próprios métodos (Medeiros, 2003).
para organizar os conteúdos sequencialmente, é recomendado Esta proposta está presente hoje em praticamente todos
observar alguns critérios, quais sejam, sequências coerentes com os discursos da reforma educacional no que se refere à gestão,
a estrutura e o objetivo da disciplina; gradualidade na distribuição constituindo um “novo senso comum”, seja pelo reconhecimento
adequada em pequenas etapas considerando a experiência anterior da importância da educação na democratização, regulação e
do aluno; continuidade que proporcione a articulação entre os “progresso” da sociedade, seja pela necessidade de valorizar e
conteúdos; integração entre as diversas disciplinas do conteúdo. considerar a diversidade do cenário social, ou ainda a necessidade
A apresentação dos conteúdos deve conter inter-relação entre de o Estado sobrecarregado (Barroso, 2000) “aliviar-se” de suas
as sequências, de forma orgânica e dinâmica. Além disso, é preciso responsabilidades, transferindo poderes e funções para o nível
distinguir os conteúdos essenciais dos desnecessários e definir o local.
necessário para preparar suficientemente o aluno para ler, escrever, Em nível prático, encontramos diferentes vivências dessa
interpretar e resolver problemas. proposta, como a introdução de modelos de administração
Em tempo, sabe-se que o conteúdo, o conhecimento, só empresariais, ou processos que respeitam a especificidade da
adquire significado se vinculado à necessidade real, capaz de educação enquanto política social, buscando a transformação da
fornecer instrumentais teóricos e práticos com propósito na vida sociedade e da escola, através da participação e construção da
social do aluno. E, nessa perspectiva, não basta ter o olhar apenas autonomia e da cidadania. Falar em gestão democrática nos remete,
científico sobre o conteúdo escolar, ainda que numa postura portanto, quase que imediatamente a pensar em autonomia e
crítica, é necessário vivenciar e trabalhar o processo de seleção participação. O que podemos dizer sobre esses dois conceitos, já
e organização, que são instrumentos de um fazer educativo que há diferentes possibilidades de compreendê-los?
politicamente definido.35 Pensar a autonomia é uma tarefa que se apresenta de
forma complexa, pois se pode crer na ideia de liberdade total ou
Democratização da escola: autonomia, autogestão, independência, quando temos de considerar os diferentes agentes
participação e cidadania sociais e as muitas interfaces e interdependências que fazem
As mudanças vividas na atualidade (décadas de 80 e 90) em parte da organização educacional. Por isso, deve ser muito bem
nível mundial, em termos econômicos, sociais e culturais, com a trabalhada, a fim de equacionar a possibilidade de direcionamento
transnacionalização da economia e o intercâmbio quase imediato camuflado das decisões, ou a desarticulação total entre as
de conhecimentos e padrões sociais e culturais, através das novas diferentes esferas, ou o domínio de um determinado grupo, ou,
tecnologias da comunicação, entre outros fatores, têm provocado ainda, a desconsideração das questões mais amplas que envolvem
uma nova atuação dos Estados nacionais na organização das políticas a escola.
públicas, por meio de um movimento de repasse de poderes e Outro conceito importante é o da participação, pois também
responsabilidades dos governos centrais para as comunidades pode ter muitos significados, além de poder ser exercida em
locais. Na educação, um efeito deste movimento são os processos diferentes níveis. Podemos pensar a participação em todos os
de descentralização da gestão escolar, hoje percebidos como momentos do planejamento da escola, de execução e de avaliação,
uma das mais importantes tendências das reformas educacionais ou pensar que participação pudesse ser apenas convidar a
em nível mundial (Abi-Duhou, 2002) e um tema importante na comunidade para eventos ou para contribuir na manutenção e
formação continuada dos docentes e nos debates educacionais conservação do espaço físico. Portanto, as conhecidas perguntas
com toda a sociedade. sobre “quem participa?”, “como participa?”, “no que participa?”,
Como essa tendência é vivida nas escolas e nos sistemas “qual a importância das decisões tomadas?” devem estar presentes
educacionais? Quais são as diferentes possibilidades de vivenciar nas agendas de discussão da gestão na escola e nos espaços de
processos de descentralização e autonomia nas escolas e nos definição da política educacional de um município, do estado ou
sistemas? Que desafios precisam ser enfrentados, considerando do país.
uma tradição autoritária e centralizadora, comum em tantos países, Quais são os instrumentos e práticas que organizam a vivência
dentre eles o Brasil? De que modo oportunizar a participação da da gestão escolar? Em geral, esses processos mesclam democracia
comunidade educativa, a partir da diversidade dos diferentes atores representativa - instrumentos e instâncias formais que pressupõem
sociais? Qual a relação entre democratização da escola e qualidade a eleição de representantes, com democracia participativa -
de ensino? O que se entende por gestão democrática na educação? estabelecimento de estratégias e fóruns de participação direta,
Essas são algumas das preocupações que surgem quando se busca articulados e dando fundamento a essas representações.
implementar processos de descentralização e autonomia no campo Vários autores, como Padilha (1998) e Dourado (2000),
da educação. defendem a eleição de diretores de escola e a constituição de
A gestão democrática da educação formal está associada conselhos escolares como formas mais democráticas de gestão.
ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à Outro elemento indispensável é a descentralização financeira,
organização de ações que desencadeiem a participação social: na na qual o governo, nas suas diferentes esferas, repassa para
formulação de políticas educacionais; no planejamento; na tomada as unidades de ensino recursos públicos a serem gerenciados
de decisões; na definição do uso de recursos e necessidades conforme as deliberações de cada comunidade escolar. Estes
de investimento; na execução das deliberações coletivas; nos aspectos estarão conformados na legislação local, nos regimentos
momentos de avaliação da escola e da política educacional. escolares e regimentos internos dos órgãos da própria escola, como
Também a democratização do acesso e estratégias que garantam o Conselho Escolar e a ampla Assembleia da Comunidade Escolar.
Para funcionar em uma perspectiva democrática, segundo
35 Formas: www.educador.brasilescola.uol.com.br
72
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Ciseki (1998), os Conselhos, de composição paritária, devem isto é, à visão de futuro. O gestor deve saber integrar objetivo, ação
respaldar-se em uma prática participativa de todos os segmentos e resultado, assim agrega à sua gestão colaboradores empreende-
escolares (pais, professores, alunos, funcionários). Para tal, é dores, que procuram o bem comum de uma coletividade.37
importante que todos tenham acesso às informações relevantes
para a tomada de decisões e que haja transparência nas negociações O que é Gestão Democrática?
entre os representantes dos interesses, muitas vezes legitimamente A Gestão Democrática é uma forma de gerir uma instituição de
conflitantes, dos diferentes segmentos da comunidade escolar. Os maneira que possibilite a participação, transparência e democracia.
conselhos e assembleias escolares devem ter funções deliberativas, Esse modelo de gestão, segundo Vieira (2005), representa um im-
consultivas e fiscalizadoras, de modo que possam dirigir e avaliar portante desafio na operacionalização das políticas de educação e
todo o processo de gestão escolar, e não apenas funcionar como no cotidiano da escola.
instância de consulta.
Em seu projeto político-pedagógico, construído através do Contextualização
planejamento participativo, desde os momentos de diagnóstico, No Brasil, com a reabertura político-democrática, pós Ditadura
passando pelo estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas, Militar (1964 - 1985), a Constituição Federal de 1988 chegou para
execução e avaliação, a escola pode desenvolver projetos definir a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei”
específicos de interesse da comunidade escolar, que devem ser como um de seus princípios (Art. 2006, Inciso VI). Alguns anos mais
sistematicamente avaliados e revitalizados. A gestão democrática da tarde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, vem
escola significa, portanto, a conjunção entre instrumentos formais - reforçar esse princípio, acrescentando apenas “e a legislação do sis-
eleição de direção, conselho escolar, descentralização financeira - e tema de ensino” (Art. 3º, Inc. VIII). A partir de então, o tema se
práticas efetivas de participação, que conferem a cada escola sua tornou um dos mais discutidos entre os estudiosos da área educa-
singularidade, articuladas em um sistema de ensino que igualmente cional.
promova a participação nas políticas educacionais mais amplas.36
Detalhamento na LDB
Na Gestão democrática deve haver compreensão da adminis- A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresentam as seguintes deter-
tração escolar como atividade meio e reunião de esforços coletivos minações, no tocante à gestão democrática:
para o implemento dos fins da educação, assim como a compreen- Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
são e aceitação do princípio de que a educação é um processo de democrática do ensino público na educação básica, de acordo com
emancipação humana; que o Plano Político pedagógico (PPP) deve as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
ser elaborado através de construção coletiva e que além da forma- I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do
ção deve haver o fortalecimento do Conselho Escolar. projeto pedagógico da escola;
A gestão democrática da educação está vinculada aos me- II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos
canismos legais e institucionais e à coordenação de atitudes que escolares ou equivalentes.
propõem a participação social: no planejamento e elaboração de Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola-
políticas educacionais; na tomada de decisões; na escolha do uso res públicas de educação básica que os integram progressivos graus
de recursos e prioridades de aquisição; na execução das resoluções de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
colegiadas; nos períodos de avaliação da escola e da política edu- observadas as normas de direito financeiro público.
cacional. Com a aplicação da política da universalização do ensino Estes artigos da LDB, acima citados, dispõem que a “gestão de-
deve-se estabelecer como prioridade educacional a democratiza- mocrática do ensino público na educação básica aos sistemas de
ção do ingresso e a permanência do aluno na escola, assim como a ensino, oferece ampla autonomia às unidades federadas para defi-
garantia da qualidade social da educação. nirem em sintonia com suas especificidades formas de operaciona-
As atitudes, os conhecimentos, o desenvolvimento de habilida- lização da gestão, com a participação dos profissionais da educação
des e competências na formação do gestor da educação são tão im- envolvidos e de toda a comunidade escolar e local” (VIEIRA, 2005).
portantes quanto a prática de ensino em sala de aula. No entanto,
de nada valem estes atributos se o gestor não se preocupar com o Elementos Básicos
processo de ensino/aprendizagem na sua escola. Os gestores de- Os elementos básicos da Gestão Democrática podem se apre-
vem também possuir habilidades para diagnosticar e propor solu- sentar de várias maneiras, na esfera escolar, as principais são: na
ções assertivas às causas geradoras de conflitos nas equipes de tra- constituição e atuação do Conselho escolar; na elaboração do Pro-
balho, ter habilidades e competências para a escolha de ferramen- jeto Político Pedagógico, de modo coletivo e participativo; na de-
tas e técnicas que possibilitem a melhor administração do tempo, finição e fiscalização da verba da escola pela comunidade escolar;
promovendo ganhos de qualidade e melhorando a produtividade na divulgação e transparência na prestação de contas; na avaliação
profissional. O Gestor deve estar ciente que a qualidade da escola é institucional da escola, professores, dirigentes, estudantes, equipe
global, devido à interação dos indivíduos e grupos que influenciam técnica; na eleição direta para diretor(a);38
o seu funcionamento. O gestor, que pratica a gestão com liderança
deve buscar combinar os vários estilos como, por exemplo: estilo Colegiados Escolares
participativo que é uma liderança relacional que se caracteriza por A função das instituições escolares vai muito além do ensino
uma dinâmica de relações recíprocas; estilo perceptivo/flexível que pedagógico. Formar cidadãos politizados, com poder de decisão e
é uma liderança situacional que se caracteriza por responder a si- capazes de agir e interagir no meio em que vivem deve ser a missão
tuações específicas;estilo participativo/negociador que é uma lide- das escolas comprometidas com a sociedade. Mas para que isso
rança consensual que se caracteriza por estar voltada a objetivos aconteça é necessária uma ação conjunta entre todas as partes
comuns, negociados; e estilo inovador: que é uma liderança pros- interessadas. Uma maneira de promover essa interação é por meio
pectiva que se caracteriza por estar direcionada à oportunidade, do Colegiado Escolar, um modelo de administração coletiva, em que
36 Fonte: www.portaleducacao.com.br – Texto adaptado de Maria Beatriz Luce 37 Fonte: www.educador.brasilescola.com – Texto adaptado de Amelia Hamzé
/ Isabel Letícia Pedroso de Medeiros 38 Fonte: www.infoescola.com – Texto adaptado de Ana Lídia Lopes do Carmo
73
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
todos participam dos processos decisórios e do acompanhamento, O Conselho tem sua definição assim esclarecida por Cury:
execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo Conselho vem do latim consilium. Por sua vez, consilium
as questões administrativas, financeiras e pedagógicas. provém do verbo consulo/consulere, significando tanto ouvir
A importância dos órgãos colegiados nas escolas é tema alguém quanto submeter algo a uma deliberação de alguém, após
recorrente quando se aborda a gestão democrática, pois esses uma ponderação refletida, prudente e de bom senso. Trata-se, pois,
garantem, na forma da lei, a prática da participação na escola, de um verbo cujos significados postulam a via de mão dupla: ouvir
na busca pela descentralização do poder e da consciência social e ser ouvido. Obviamente a recíproca audição se compõe com o
entorno da oferta de uma educação de qualidade. ver e ser visto e, assim sendo, quando um Conselho participa dos
Uma gestão considerada democrática investe na autonomia destinos de uma sociedade ou de partes destes, o próprio verbo
dos sujeitos para o compartilhamento das decisões, identificando consulere já contém um princípio de publicidade. (2000).
o potencial de colaboração de cada pessoa e segmento escolar A função do Conselho Escolar, então, está em garantir a
promovendo um trabalho coletivo na construção da cidadania e participação de todos os segmentos envolvidos no processo
efetivação do processo democrático. educacional, promover a democratização da gestão e a
descentralização do poder.
Conselhos Escolares A importância da consolidação dos Conselhos Escolares na
A função da educação escolar, pode-se concluir pelos escola pública tem seu reconhecimento pelo governo federal por
fundamentos aqui expostos, como uma dimensão da cidadania, meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) lançado
o que implica o direito de todos os sujeitos ao conhecimento em 24 de abril de 2007 e do Decreto n. 6.094/07 que dispõe sobre
sistemático, como acesso ao saber historicamente acumulado, o a implementação do “Plano de Metas Compromisso Todos pela
patrimônio universal da humanidade. Esse direito está explicitado Educação”, programa estratégico do PDE, que define 28 diretrizes
no inciso III, do art. 13 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação pautadas em resultados de avaliação de qualidade e de rendimento
Nacional (LDB): “zelar pela aprendizagem dos alunos”, isso significa dos alunos.
priorizar o processo de aprendizagem do aluno e possibilitar A Meta nº 25 do Plano, visa “Fomentar e apoiar os conselhos
condições para a prática cidadã. escolares, envolvendo as famílias dos educandos, com as
A Constituição Federal de 1988 dispõe no inciso VI, do atribuições, dentre outras, de zelar pela manutenção da escola
artigo 206, que a educação escolar será ministrada com base em e pelo monitoramento das ações e consecução das metas do
princípios, estando entre eles a “gestão democrática do ensino compromisso”.
público, na forma da lei”. Pode-se afirmar, então, que o Conselho Escolar é parte
Esta disposição constitucional é assumida na LDB/96, em seu constitutiva da estrutura da gestão da escola e deve ser concebido
artigo 3º, e complementada pelo artigo 14, que aponta os princípios como seu órgão máximo de deliberação. Como todo órgão
norteadores no âmbito dos sistemas de ensino e das escolas, da colegiado, o Conselho Escolar toma decisões coletivas, isso significa
seguinte forma: que ele só existe enquanto estiver reunido. Vale ressaltar que
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão nenhum membro do Conselho toma decisões fora do colegiado só
democrática do ensino público na educação básica de acordo com porque é membro integrante dele.
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: O Conselho Escolar tem como funções as ações deliberativas,
I. participação dos profissionais da educação na elaboração do consultivas, mobilizadoras e fiscalizadoras. Sua composição pode
projeto pedagógico da escola; assim ser definida: diretor da escola; representante dos alunos;
II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos representante dos pais ou responsáveis pelos alunos; representante
escolares ou equivalentes. dos professores; representante da equipe pedagógica; representante
dos trabalhadores da educação não docentes; representante da
O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/01, também comunidade local.
estabelecia, como objetivos e prioridades, a Os membros efetivos do Conselho Escolar são representantes
[...] democratização da gestão do ensino público nos de cada segmento, sendo que o diretor pode ou não ser “membro
estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da nato” do conselho, ou seja, o diretor no exercício da função tem
participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto a sua participação assegurada no Conselho Escolar; pode ser
pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e escolhido igual número de suplentes.
local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 2002). Os suplentes, por sua vez, podem estar presentes em todas
Como se pode verificar, a legislação educacional assinala a as reuniões, mas apenas com direito a voz, se o membro efetivo
gestão democrática como princípio da educação nacional, presença estiver ausente; os conselhos devem ser constituídos por um
indispensável em instituições escolares públicas e apregoa a número ímpar de integrantes, observando a proporcionalidade
existência de Conselhos Escolares como forma de participação e entre os segmentos.
promoção do diálogo da comunidade educacional. Para Vasconcellos A forma de escolha dos representantes é feita por eleição
(2007), “o Conselho deve ser um espaço de exercício autêntico do ou aclamação, quando há apenas uma chapa concorrendo. As
diálogo, do poder de decisão, portanto, de resgate da condição de atribuições do Conselho Escolar dependem das diretrizes e normas
sujeitos históricos de transformação, na busca do bem comum no gerais do sistema de ensino e das definições da comunidade escolar
âmbito da escola e de suas relações”. e local.
Os Conselhos Escolares, na medida em que reúnem diferentes Normalmente o que se tem visto nos regimentos dos Conselhos
segmentos da escola como diretores, professores, equipe são as seguintes atribuições: atuar como co-responsável pela gestão
pedagógica, funcionários administrativos, alunos, pais, entre da escola; participar das questões que envolvem a vida escolar dos
outros, têm um papel estratégico no processo de democratização e alunos; participar da discussão sobre questões específicas relativas à
de construção da cidadania. aprendizagem: projeto pedagógico, avaliação; elaborar o regimento
escolar; participar da elaboração do calendário escolar; participar
da elaboração do plano de aplicação de recursos financeiros (junto
a APM); participar dos conselhos de classe e de outros movimentos
74
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
de avaliação do processo educacional e participar das discussões O planejamento das atividades desenvolvidas pela APM é de
e das soluções de problemas cotidianos da escola e que sejam de suma importância para que os objetivos propostos pela escola
interesse coletivo. sejam atingidos.
O trabalho na escola exige organização, boa distribuição e
Concluindo, o Conselho Escolar tem papel estratégico no bom aproveitamento do tempo diante das tarefas e dos recursos
processo de democratização e de construção da cidadania. utilizados, visando ao sucesso dos resultados que se deseja obter.
Principalmente porque sua composição assim o permite. Sendo A formação continuada dos membros da APM é condição
assim, registra-se a necessidade de que seus conselheiros recebam primordial para que se tenha melhores condições para o exercício
e proponham formação continuada fundamentada em estudos da função na escola e fora dela, cuja finalidade principal de seu
que lhes possibilitem o entendimento da ação política desse órgão trabalho é o funcionamento da escola em prol do aluno.
dentro da escola.
Gremio Estudantil
Associação de Pais e Mestres (APM) O Grêmio Estudantil é outra forma de organização colegiada na
A Associação de Pais e Mestres (APM) é um órgão de escola. Esse colegiado, organizado e composto pelos alunos, pode
representação dos pais e profissionais da escola, que, em uma ação ser considerado como uma das primeiras oportunidades que os
conjunta, objetivam desenvolver medidas de interesse comum, com jovens têm em participar de maneira organizada das decisões de
espírito de liderança, responsabilidade, respeitando a coletividade uma instituição, agindo em uma perspectiva política em benefício,
educacional e a legislação vigente. no caso da escola, da qualidade de ensino e de aprendizagem.
Constitui-se pessoa jurídica de direito privado, não tem Assim, os alunos têm voz na administração da escola,
caráter político-partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos; apresentando suas ideias e opiniões, com uma participação
é representada, oficialmente, pelo presidente, e responde pelas responsável.
obrigações sociais da comunidade escolar. Efetua movimentação Os membros do Grêmio Estudantil devem ser estimulados a
financeira em bancos como recebimento e aplicação das verbas defender os interesses comuns de todos os alunos, em uma ação
públicas, de convênios da mantenedora (municipal, estadual ou formadora da construção da visão crítica do ato político.
federal), advindas do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), Deve firmar parcerias com a direção escolar, equipe pedagógica,
como Unidade Executora (UEx) de cunho social. professores, funcionários administrativos, Conselho Escolar e
A APM pode exercer várias finalidades como: colaborar com a Associação de Pais e Mestres, assim o Grêmio terá uma atuação em
direção da escola para atingir os objetivos educacionais propostos prol dos alunos, da escola e da comunidade.
no projeto pedagógico; representar as aspirações da comunidade e Um Grêmio que estabelece uma boa rede de relações com os
dos pais de alunos perante a escola; mobilizar os recursos humanos, sujeitos da comunidade escolar terá mais pessoas comprometidas
materiais e financeiros da comunidade para auxiliar a escola e com as ações que pretende realizar.39
prover condições que permitam esse fim, como, por exemplo, o
estabelecimento de parcerias; trabalhar para a melhoria do ensino Funções do Colegiado Escolar:
e da aprendizagem; desenvolver atividades de assistência ao
escolar nas áreas socioeconômica e de saúde; conservar e manter a Função Deliberativa:
infraestrutura escolar, os equipamentos e as instalações; promover - Participar da elaboração do Projeto Político Pedagógico, do
programação de atividades culturais e de lazer que envolva a Plano de Gestão e do Regimento Escolar;
participação conjunta de pais, professores, alunos e comunidade; - Deliberar, sempre que solicitado pela direção da escola, sobre
acompanhar a execução de pequenas obras de construção ou o cumprimento das ações disciplinares a que estiverem sujeitos os
reforma no prédio escolar, verificando os recursos aplicados estudantes, de acordo com o disposto no Regimento Escolar e no
para posterior prestação de contas, se for o caso; colaborar na Estatuto da Criança e do Adolescente;
programação do uso do prédio da escola pela comunidade, inclusive - Aprovar, no âmbito da escola, o Regimento Escolar e os proje-
nos períodos ociosos, ampliando-se o conceito de escola como tos de parceria entre a escola e a comunidade;
um centro de atividades comunitárias; favorecer o entrosamento - Decidir, em grau de recurso, sobre questões de interesse da
entre pais e professores possibilitando informações relativas aos comunidade escolar, no que diz respeito à vida dos estudantes;
objetivos educacionais e as condições financeiras da escola, dentre -Convocar e realizar semestralmente assembleias gerais para
outros fins que a escola assim entender necessários. avaliação do planejamento administrativo, financeiro e pedagógico
A APM possui uma organização administrativa, registrada em da unidade escolar e extraordinariamente quando a relevância da
Estatuto próprio, constituída de pessoas eleitas em assembleia matéria assim exigir, inclusive para decidir sobre a destituição de
geral, com mandato de dois anos, com o pleito realizado por voto membro do Colegiado, em virtude de fatos que o incompatibilizem
secreto, em caso de mais de uma chapa inscrita, ou direto, na para o exercício da função.
ocorrência de chapa única.
Função Consultiva:
Organiza-se da seguinte forma: - Opinar sobre os assuntos de natureza pedagógica, administra-
- Assembleia geral: órgão soberano constituído pela totalidade tiva e financeira que lhe forem submetidos à apreciação pela dire-
de seus associados, e deve reunir-se, ordinariamente, uma vez por ção da unidade escolar;
semestre e, extraordinariamente, sempre que necessário; - Participar do processo de avaliação de desempenho dos diri-
- Diretoria: órgão executivo e coordenador, com reuniões gentes, dos professores, dos coordenadores pedagógicos e demais
mensais; servidores da escola, ressalvada a competência da Secretaria da
- Conselho deliberativo: órgão que decide e coordena as ações Educação;
da APM, com reuniões semestrais; - Manifestar-se sobre a proposta curricular, bem como analisar
- Conselho fiscal: órgão de controle e fiscalização das ações, dados do desempenho da unidade escolar para propor o planeja-
deve reunir-se com o conselho deliberativo. mento das atividades pedagógicas;
39 Fonte: www.portaleducacao.com.br
75
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
- Recomendar providências para a melhor utilização do espaço 2. Participar da elaboração do calendário escolar e avaliar pe-
físico, do material didático-pedagógico e da formação do quadro de riodicamente o seu cumprimento;
pessoal da unidade escolar; 3. Participar da discussão e elaboração do cardápio da meren-
- Participar do processo de avaliação institucional da Escola e da escolar, levando em consideração os hábitos alimentares locais e
opinar sobre os processos que lhe forem encaminhados; o valor nutritivo dos alimentos; realizando o acompanhamento da
- Opinar sobre o planejamento global e orçamentário da Unida- sua execução e sugerindo adaptações quando necessário;
de Escolar e deliberar sobre suas prioridades, para fins de aplicação 4. Participar da elaboração do plano de aplicação dos recursos
de recursos a ela destinados; financeiros alocados na escola e analisar suas respectivas presta-
- Manifestar sobre a prestação de contas referentes aos pro- ções de contas, antes do encaminhamento à Secretaria da Educa-
gramas e projetos desenvolvidos pela direção da unidade escolar, ção;
antes de ser encaminhadas à Secretaria da Educação. 5. Buscar articulação com a equipe gestora, incentivando o de-
senvolvimento de ações voltadas para a integração entre a escola e
Função Avaliativa a comunidade.40
- Acompanhar e avaliar, periodicamente e ao final de cada
ano letivo, o desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico, bem Organização social da classe e sua pluralidade
como, o cumprimento do Plano de Gestão e do Regimento Escolar; Para uma melhor organização da escola e das aulas começou a
- Acompanhar os indicadores educacionais - evasão, aprova- surgir no início do século XX formas de agrupamento caracterizadas
ção, reprovação - e propor ações pedagógicas e sócio-educativas por grupos fixos e móveis, equipes de trabalho, grupos homogêneos
para a melhoria do processo educativo na unidade escolar; e heterogêneos, oficinas, cantos, estudos individualizados, etc.
- Acompanhar o cumprimento do calendário escolar estabele- A escola é identificada como um grande grupo, caracterizando
cido e participar da elaboração de calendário especial, quando ne- um valor democrático. Configuram relações interpessoais, com
cessário, conforme orientações da Secretaria da Educação; distribuição de funções, responsabilidades, organização de
- Acompanhar e avaliar a frequência do corpo docente e admi- atividades de caráter social, cultural, lúdico ou esportivo. Para
nistrativo, certificando-se da emissão da Comunicação de Ocorrên- tanto, o termo democrático, deve valorizar uma gestão realmente
cia de Frequência – COF para a DIREC/SEC; participativa no intuito de alcançar os objetivos educacionais.
- Avaliar o Plano de Formação Continuada da equipe docente, Também à escola cabe a tarefa da distribuição de grupos
administrativa e dos demais servidores em consonância com o Pro- fixos ou móveis, heterogêneos ou homogêneos, dependendo da
jeto Político Pedagógico da Escola; finalidade que se almeja no processo de ensino-aprendizagem.
- Acompanhar a realização do Censo da Unidade Escolar, assim Focando-se na organização de atividades em sala de aula,
como os processos administrativos e as inspeções instauradas na também existe um agrupamento que poderá ser dividido em:
Escola; grande grupo, equipes fixas, móveis ou em um trabalho individual.
- Acompanhar e analisar o plano de aplicação específico para O grande grupo é uma forma de organização apropriada quando os
cada recurso financeiro alocado à escola, zelando por sua correta conteúdos são factuais, nas equipes fixas o objetivo principal é de
aplicação, observados os dispositivos legais pertinentes. organização, garantindo o controle da classe, e também privilegia
a convivência, permitindo relações pessoais mais próximas. Por
Função Mobilizadora último, as equipes móveis que se caracterizam por possibilidades
- Criar mecanismos para estimular a participação da comuni- de aprendizagens com níveis variados de saber.
dade escolar e local na definição do Projeto Político-Pedagógico, do Entretanto, seja qual for o objetivo pedagógico diante dos
Plano de Gestão e do Regimento Escolar, promovendo a correspon- grupos, o trabalho individual tem seu valor no processo de
dente divulgação; ensino-aprendizagem, principalmente para memorização de fatos,
- Manter articulação com a equipe dirigente da unidade esco- conceitos e conteúdos, além da observação e avaliação do ritmo e
lar, colaborando para a realização das respectivas atividades com capacidade de cada aluno.
as famílias e com a comunidade, inclusive, apoiando as ações de Finalizando, portanto, os objetivos propostos de grupos ou
resgate e conservação do patrimônio escolar; equipes, seja numa esfera maior, a escola, ou delimitando, as
- Mobilizar a comunidade local a estabelecer parcerias com a classes, terão um melhor aproveitamento na observância de seu
escola, voltadas para o desenvolvimento do Projeto Político-Peda- espaço, tanto estrutura física, como na questão do tempo disponível
gógico;
para elaboração de uma boa proposta pedagógica, garantindo uma
- Promover a realização de eventos culturais, comunitários e
proveitosa formação educacional.
pedagógicos que favoreçam o respeito ao saber do estudante e va-
(ZABALA, Antoni. A prática educativa-como ensinar. Porto
lorizem a cultura local, bem como estimular a instalação de fóruns
Alegre: Artes Médicas, 1998).
de debates que elevem o nível intelectual, técnico e político dos
diversos segmentos da comunidade escolar;
Apesar do relativo desenvolvimento, e de ter ocorrido diversas
- Divulgar e fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adoles-
mudanças no que se refere às formas de agrupamentos das classes,
cente;
- Incentivar a criação de grêmios estudantis e apoiar o seu fun- partindo desse pressuposto Antoni Zabala (1996) em sua obra
cionamento; práticas educativas nós mostra principal da forma de organização
- Incentivar seus pares a participar de atividades de formação desses alunos em sala, que ainda permanecem até os dias atuais.
continuada, além de promover relações de cooperação e intercâm- A forma de preparar essas pessoas mais jovens de qualquer grupo
bio com outros Conselhos/Colegiados Escolares. social para coletividade na maioria das vezes acontecia através de
processos individualizados, sejam no campo, nas oficinas por parte
Quais as atividades prioritárias a serem desenvolvidas pelo dos mestres artesãos.
Colegiado Escolar? Sabemos que até o final do século XVIII, como vimos a
1. Participar das discussões para elaboração, revisão, imple- escola eram privilégios os nobres, do clero e dos burgueses ricos,
mentação e avaliação do Projeto Político Pedagógico, do Plano de lavradores, operários e pobres em geral não tinham acesso a
Gestão e do Regimento Escolar;
40 Fonte: www.cescalmeida.com.br - Texto adaptado de Rafael Almeida
76
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
educação escolar. Só na metade do século XVIII e com o advento Os diferentes segmentos da comunidade escolar são igualmente
da revolução industrial na Europa, é que se vê a vontade de levar básicos na formação dos alunos que devem desempenhar na
a educação a todos, ou seja, a grande massa. Pestalozzi, Herbart e definição das normas ou regras de convivências da escola. Os
Froebel foram os educadores que se destacaram durante o século inconvenientes dos grupos/classe fixas estão condicionados pela
XIX, pelas suas inovações que propuseram de modo especial no rigidez que é atribuída já que o corre o risco de fechar-se em si
campo da educação das crianças (PILETTI, 1999, p.127). mesmo buscando a heterogeneidade, se os alunos têm a mesma
Segundo Ghiraldelli (1987), educação geralmente era idade, ainda são muito iguais e isso envolve o perigo de que os
transmitida de forma oral, no campo os meninos aprendiam processos sejam analisados em relação a um grupo típico.
os ofícios dos pais, como cuidar do rebanho, trabalhar a terra De outro modo, a condição de aprendizagem merece ser
para o plantio, as meninas aprendiam os ofícios domésticos que observado, o contraste entre modelos diferentes de pensar e ativar
eram passados pelas suas mães, como por exemplo, trabalhar na o surgimento de conflitos cognitivos, a possibilidade de receber
confecção de roupas de algodão, fazer os serviços domésticos, ajuda de colegas. Mclaren (1992) denominou os estados interativos
cuidarem dos irmãos mais novos etc. Geralmente as famílias mais onde esses alunos possam trabalhar a coletividade, o diálogo
abastardam tinham acesso a outro tipo de aprendizagens como como o fortalecimento das suas relações com seus colegas, isso
leitura, escrita, música, teatro e outros saberes, mas todos se nos levam a considerar que os grupos classes fixa tenham que ser
tratavam de uma formação individualizada, todas essas atividades heterogêneos.
era resultado de atividades do dia a dia daquelas pessoas, ou seja, Nesse aspecto, aprendizagem deve-se priorizar o que seja mais
do cotidiano. Contudo a partir do século XVI, nasce à primeira forma obvio para aluno, na sua condição de aprendiz, e qual o conteúdo
de agrupamento que se dava em grupos de cinqüenta a sessenta que se deve ser mais importante nesse processo de criação e
alunos do mesmo sexo, mesma idade, em uma só sala de aula, um construção do conhecimento numa visão pedagógica moderna.
só professor ou de diversos professores. O pensamento pedagógico moderno se caracteriza pelo
Por volta do século XII e XIII, a escolarização tinha basicamente realismo, que serviria o latim para homens que vão trabalhar nas
uma estrutura frouxa que permitia, de um lado, formar pequenos fabricas, talvez fosse melhor ensinar mecânica, cálculo, mas as
grupos de alunos para cada professor e, de outro, facilmente classes dirigentes continuavam aprendendo o latim e grego, um
absorver um grande número de estudantes, por unidade de ensino. bom cidadão deveria recitar algum verso de Horácio ou Ovídio aos
Contudo, esses dois tipos de organização, a partir do século XIV, ouvidos apaixonados de sua namorada (LOCK, 2005, 78 p.).
estavam em vias de ser superados, pois suas notórias ineficiências
econômicas e pedagógicas cada vez mais ficavam evidentes (cf. Por outro lado, não podemos deixar de pensar as disciplinas
HAMILTON, 1992). e as metodologias aplicadas nas práticas educacionais atuais nos
Segundo Zabala (1996), Coll (2000), só no final do século XIX estabelecimentos de ensino, podemos assim fazer um paralelo
e início do século XX surgem outras formas de organização da entre a idéia de Lock (2005), sobre as práticas pedagógicas usadas
escola que rompe com esse único modelo, assim as estruturas nas escolas hoje é as idéias apresentadas por Zabala (1996).
das aulas passam ser de grupos homogêneos e heterogêneos. Nesse contexto, as reflexões se estendem também aos
Assim ao se considerar essas formas de agrupamento é que se conteúdos de aprendizagem. Assim Coll (2000), propõe a
propõem atividades organizativas, de convivências, de trabalho, classificação dos conteúdos em: conceituais – englobam: fatos,
onde se desenvolve atividades de dois ou mais alunos pautada nas conceitos, princípios (“O que se deve saber”); procedimentos:
investigações, diálogos, trabalhos experimentais, elaboração de dizem respeito a técnicas e métodos (“O que se deve saber fazer”);
dossiês. atitudinais: abrangem valores, atitudes, normas (“Como se deve
Assim, considerando as bibliografias de Zabala e Coll como ser”).
norte teórico, é que investigaremos as formas de agrupamentos Zabala (1996) nos mostram a maneira mais convencional de
que se produzem no espaço escolar. Ou seja, investigaremos como organizar grupos de alunos nas escolas, essa forma de agrupamento
ocorrem as formas de agrupar meninos e meninas em classe de ocorre com proporção de 20 a 40 alunos em sala de aula, o fato é
grande grupo, classe fixa, classe móvel e equipes fixas. que essa forma histórica tem criado uma barreira intransponível,
dificultando a aceitação de outras fórmulas diferentes, é preciso
A escola como grande grupo saber analisar as vantagens e os inconvenientes, assim se devem
Zabala (1996) apresenta a possibilidade de trabalhar a classe aproveitar os pontos positivos e resolver as deficiências que se tem
como um grande grupo ou ordenar equipes fixas ou móveis para a ocorrido nessa forma de agrupamentos, nesse caso as vantagens
realização de projetos ou atividades diferentes. O trabalho da classe estão relacionadas com o fato de que a forma de organização das
como grande grupo é o mais comum, mas, pela especificidade escolas de tal maneira adequada à estrutura espacial da escola,
da ordenação, é mais adequado para o ensino de fatos, difícil entendida pela família e o resto da coletividade.
para a aprendizagem de princípios e conceitos, impossível para a
aprendizagem de procedimentos e insuficiente para a aprendizagem Distribuição da escola em grupos classe fixos
de atitudes. Uma vez que o funcionamento do grande grupo implica Conforme Zabala (1996), a convivência do grupo classe fixa,
o estabelecimento de controles que, muitas vezes, são autoritários e o motivo primordial que o justifica é o fato de oferecer às meninas
desrespeitam as necessidades e interesses de alguns participantes. e meninos um grupo de colegas estável, favorecedor das relações
Nesse aspecto, é importante reconhecer que as características interpessoais e das outras vantagens estão relacionados com os
da organização grupal estão determinadas primeiro lugar, pela fatos de que são a formas em que usualmente se tem organizado as
organização e pela estrutura de gestão da escola e em segundo escolas através de materiais e recursos didáticos.
lugar pelas atividades que toda escola realiza de forma coletiva, Os inconvenientes dos grupos classe fixo estão condicionados
são instrumentos ou ferramentas de todo o grupo as atividades pela rigidez que lhes é atribuída, já que corre o risco de fechar-se
vinculadas à gestão, e também são as atividades gerais da escola, em si mesmo. Embora se tenha buscado a heterogeneidade, se os
de caráter cultural, social e esportiva em relação à função ou alunos têm a mesma idade, ainda são muitos iguais isso envolve
finalidade, encontraremos atividades para o prazer, a motivação, o perigo de que os processos sejam analisados em relação a um
a promoção externa a demonstração e o compromisso promovem grupo típico.
atitudes de compromissos responsabilidade para com os demais.
77
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Distribuição da escola em grupos classe móveis ou flexíveis das equipes. Oferecem oportunidades para trabalhar conteúdos
Entende-se por grupos classe móveis o agrupamento em atitudinais. Oferecem oportunidades de debates, de receber, e dar
que os componentes do grupo classe são diferentes conforme as ajuda (solidariedade e cooperação), aceitação da diversidade.
atividades, e matérias que podem ter professor diferente para cada
aluno. Neste caso meninos e meninas de diferentes idades fazem Organização da classe em equipes móveis ou flexíveis:
parte de oficinas que pertencem a diversos grupos, por outro lado, Para Rahme, no caso das equipes flexíveis, a definição dos
esta capacidade de ampliar respostas e diversidades de interesses critérios de enturmação pode variar em relação à necessidade de
e competência de alunos favorecendo cada grupo, existindo assim diversidade para o das equipes fixas. Podem-se usar critérios de
uma homogeneização que favorece as tarefas do professor. homogeneidade, pois o tempo das atividades será mais limitado.
Nesse aspecto deve-se ressaltar que o aluno pode participar Pode-se buscar a similaridade de sexos ou de níveis de interesse, ou
na construção do seu percurso escolar, garantindo uma melhor se orientar mesmo pela diversidade.
predisposição para aprendizagem, dando assim a chance para que Podem-se, portanto, ao formar equipes móveis baseadas em
eles assumam um conhecimento mais profundo no seu processo critérios mais homogêneos e outros mais heterogêneos.
educacional. Para Zabala (1996), as equipes flexíveis contribuiem para se
Dentro desse raciocínio podemos citar Freire, quando ele fala atender as características diferenciais dos alunos; Oportunidade de
da educação bancária onde o professor é o detector do saber e o atenção personalidade do professor ao grupo. Período de tempo
aluno e apenas um mero receptor, nessa visão o aluno tem que dos agrupamentos é limitado; eles poderão ser algumas vezes
participar no processo de construção desse conhecimento, sendo homogêneos e outras heterogêneas; São adequados aos conteúdos
um aluno crítico e que saiba pensar e questionar sobre processos e procedimentais (matemática, artes)
problemas desse sistema globalizado do qual fazem partem. Torna-se necessário entender como ocorreu o papel dos
agrupamentos e mostrar historicamente como foi acontecendo
Organização da classe em grande grupo isso ao longo dos séculos e até os nossos dias atuais, isso nós da
Ainda é necessário reconhecer que, essa passa ser a forma total liberdade de entender e analisar como ocorreram as formas
mais habitual de organizar as atividades em sala de aula, porém de agrupamentos nas escolas, e saber como se desenvolvem os
todos os grupos fazem tudo ao mesmo tempo, desde provas, conceitos os procedimentos e as atitudes. Isso nos leva a afirmar
debates, exercícios e outras coisas. Dessa forma, todos os alunos que não devemos ser inflexíveis em nossos atos como educadores.
se tornam iguais não existindo assim diferenças entre os alunos, Diante de tudo isso, foi possível fazer um paralelo entre o
partindo desse pressuposto o grande grupo é a forma apropriada passado e o presente com a finalidade de se entender como
para desenvolver as atividades, estimulando assim o aprendizado funcionou e, como funciona a forma de agrupar meninos e meninas
do aluno. Apropriado – ensino de conteúdos factuais, limitado o nas escolas, e como se desenvolvem os processos pedagógicos e
ensino de conteúdos conceituais, porque não permitem inter- metodológicos aplicados em sala de aula.
relações, poucas oportunidades de conhecer o processo de Pode-se entender também como essa educação acontecia no
elaboração mental que cada aluno segue. Dificuldade de prestar a passado. Geralmente acontecia de forma individualizada fechada
ajuda que o aluno precisa. Útil aos conteúdos procedimentos para para cada grupo de pessoas, ou seja, de forma isolada não existiam
dar a conhecer a utilidade do procedimento, técnica ou estratégia, um local específico tantos os pobres como os ricos, as formas
mais difícil poder propor atividades de aplicação e exercitação aprender era totalmente particular de cada grupo de pessoas,
necessárias para cada aluno. enquanto as massas aprendiam os ofícios do campo e doméstico,
Porém se o grande grupo não for bem organizado logo as elites tinham acesso a outro tipo de cultura como escrita, leitura,
começam surgir os problemas, mais ainda sim, se deve trabalhar música, teatro.
em grupo com os alunos, para que eles aprendam como lidar com Isso nos leva a entender que as formas de organização social
um maior número de pessoas. Embora a situação se apresente da classe só ocorreram apartir do XVI onde se vê a vontade de
complexa, é importante reconhecer que o comportamento afetivo organizar e levar a educação para todos. Só no final do século XIX
inicio do século XX surgem às outras formas de organização da
dos conteúdos atitudinais, possa colocar os alunos diante de
escola rompendo com único modelo existente. Assim dentro do
conflitos ou situações problemáticas, que dificilmente resolveria
grande grupo podemos encontrar atividades que nos dão prazer
em grandes grupos.
motivando a promoção externa às atitudes os compromissos para
Conteúdos atitudinais podem ser feitos em grandes grupos
com as outras pessoas. Podem-se também priorizar o que é mais
porque o componente cognitivo destes conteúdos exige trabalho
importante na construção desse conhecimento no processo de
de compreensão, mas os componentes afetivos e comportamentais
ensino aprendizagem numa visão mais contemporânea.
dos conteúdos atitudinais exigem atividades que coloquem os
O trabalho individual é visto de forma que estimule o
alunos em situações problemáticas ou de conflitos. Situações que
aprendizado e crescimento intelectual do aluno, más para que
dificilmente podem se realizar em grande grupo, com exceção da haja um verdadeiro sucesso no seu desenvolvimento é preciso
assembléia de alunos. A assembléia é adequada, mas é insuficiente. que o docente tenha objetivos determinados para alcançar, pelo
contrário seria desnecessário usar esse recurso se o professor não
Organização da classe em equipes fixas estiver disponível a ajudar esse aluno de forma que se oriente a
Conforme Zabala faz-se prioritário nesse momento identificar ele, (o quê?), (o porquê?), de se desenvolver um trabalho dessa
as funções necessárias das equipes fixas, a primeira é organizativa e natureza, se não corremos o risco de ser mais um trabalho rotineiro,
deve favorecer as funções de controle e gestão da classe, a segunda mecânico e sem atrativo.
é de convivência, já que proporciona os alunos um afetivamente O que incita, motiva o professor a realizar seu trabalho? Este
mais acessível. Sendo assim a função organizativa se resolve motivo não é totalmente subjetivo (interesse, vocação, amor pelas
atribuindo a cada equipe, e dentro desta cada aluno tem certas crianças etc.), mas relacionado à necessidade real instigadora da
tarefas determinadas que vá desde a distribuição de espaço e da ação do professor, captada por sua consciência e ligada às condições
administração dos recursos da aula até a responsabilidade pelo materiais ou objetivas em que a atividade se efetiva. Essas condições
controle e acompanhamento do trabalho de cada um dos membros referem-se aos recursos físicos das escolas, aos materiais didáticos,
78
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
à organização da escola em termos de planejamento, gestão e e escravistas, e das sociedades modernas e contemporâneas capi-
possibilidades de trocas de experiência, estudo coletivo, à duração talistas. As palavras trabalho, labor (inglês), travail (francês), arbeit
da jornada de trabalho, ao tipo de contrato de trabalho, ao salário (alemão), ponos (grego) têm a mesma raiz de fadiga, pena, sofri-
etc. mento, pobreza que ganham materialidade nas fábricas-conventos,
Quando essas condições objetivas de trabalho não permitem fábricas-prisões, fábricas sem salário. A transformação moderna
que o professor se realize como gênero humano, aprimorando-se do significado da palavra deu-lhe o sentido de positividade, como
e desenvolvendo novas capacidades, conduzindo com autonomia argumenta John Locke que descobre o trabalho como fonte de pro-
suas ações, criando necessidades de outro nível e possibilitando priedade; Adam Smith que o defende como fonte de toda a riqueza;
satisfazê-las, ou seja, “que, portanto, ele não se afirma, mas se e Karl Marx para quem o trabalho é fonte de toda a produtividade e
nega em seu trabalho, que não se sente bem, mas infeliz, que não expressão da humanidade do ser humano (De Decca, 1985).
desenvolve energia mental e física livre, mas mortifica a sua physis e Em termos cronológicos, essa ambivalência do termo ganha
arruína a sua mente” (Marx 1984, p. 153), este trabalho é realizado forma a partir do século XVI, se considerarmos o Renascimento e a
na situação de alienação. transformação do sentido da palavra trabalho como a mais elevada
Diante do exposto, ou seja, como ocorreram todos esses atividade humana e o nascimento das fábricas; ou a partir do sécu-
processos de agrupamentos, seja ele histórico ou contemporâneo lo XVIII, se considerarmos o industrialismo e a Revolução Industrial
nós dar uma esperança que o processo educacional em nosso nos seus primórdios na Inglaterra (De Decca, op. cit.; Iglesias, 1982).
País esta em constante transformação, saindo de longos anos de Marx (1980) vai realizar o mais completo estudo dos economistas
estagnação e amnésia intelectual e começando a enxergar uma que o precederam e a mais aguda crítica ao modo de produção ca-
luz no fim do túnel. Hoje apesar de todos os contra tempos que pitalista e às contradições implícitas nas relações entre o trabalho
a escola e a formação do corpo docente enfrentam sabemos que e o capital.
muitas coisas boas vêm acontecendo no que se referem à formação Desenvolve os conceitos de valor de uso e de valor de troca
e graduação do professor. presentes na mercadoria. Os valores de uso são os objetos produ-
Portanto tem muito a que se melhorar, mas se voltarmos a um zidos para a satisfação das necessidades humanas, como bens de
passado recente coisa de 20 anos atrás a coisa era muito pior, falta de subsistência e de consumo pessoal e familiar. Definem-se pela qua-
preparação dos professores, não exigia uma formação especifica em lidade, são as diversas formas de usar as coisas, de transformar os
suas disciplinas, hoje exigem uma formação específica do educador objetos da natureza, gerando cultura e sociabilidade.
para atuar em sala de aula. A maioria dos estados Brasileiros exige Mas os mesmos objetos, as mesmas mercadorias que têm uma
formação dos seus profissionais, exemplo disso podemos citar a existência histórica milenar, quando se tornam objeto de troca,
educação infantil a maioria dos docentes que atua nessa área são quantidades que se equivalem a outras, tempo de trabalho que tem
pós graduado. Porém em futuro bem próximo acreditamos que um equivalente em salário, inserem-se em relações sociais de outra
venceremos boa parte desses problemas que educação Brasileira natureza. Criam-se vínculos de submissão e exploração do produtor
enfrenta hoje, a estrada é longa, mas acreditamos que estamos no e de dominação por parte de quem se apropria do produto e do
caminho certo para criarmos um país mais igualitário para todos tempo de trabalho excedente. Esse gera uma certa quantidade de
onde à educação seja prioridade para todos os nossos governantes.41 valor que vai propiciar a acumulação e a reprodução do capital in-
vestido inicialmente pelo capitalista (Marx, op. cit., 1º. cap.).
Trabalho/educação O fetiche da mercadoria, o seu caráter misterioso, como diz
Marx, provém da própria forma de produzir valor. “A igualdade dos
Trabalho como Princípio Educativo trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos
Princípios são leis ou fundamentos gerais de uma determinada produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da dura-
racionalidade, dos quais derivam leis ou questões mais específicas. ção, do dispêndio da força humana do trabalho toma a forma de
No caso do trabalho como princípio educativo, a afirmação remete quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as re-
à relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma o caráter lações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social de
formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produ-
tos do trabalho” (ibid., p. 80).
meio do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser hu-
Essa separação do trabalhador de seu próprio fazer é o que
mano. Seu campo específico de discussão teórica é o materialismo
Marx (2004) chamou de alienação (ou estranhamento, dependen-
histórico em que se parte do trabalho como produtor dos meios
do da interpretação do tradutor do original alemão). O conceito
de vida, tanto nos aspectos materiais como culturais, ou seja, de
veio a ser desenvolvido posteriormente por autores marxistas (dos
conhecimento, de criação material e simbólica, e de formas de so-
quais citamos Meszáros, 1981; Antunes, 2004; Kohan, 2004; Lessa,
ciabilidade (Marx, 1979).
2002). O fenômeno da alienação do trabalho e do trabalhador da
Além dessa questão mais geral, há de se considerar o traba-
riqueza social que ele produz foi expresso e criticado de forma con-
lho na sociedade moderna e contemporânea onde a produção dos tundente por Marx ao analisar as condições de privação e sofrimen-
meios de existência se faz dentro do sistema capitalista. Esse se to dos trabalhadores e de seus filhos nos primórdios da Revolução
mantém e se reproduz pela apropriação privada de um tempo de Industrial. Ainda hoje, em todo o mundo, milhões de trabalhadores
trabalho do trabalhador que vende sua força de trabalho ao empre- são submetidos a salários de fome, insuficientes para uma vida dig-
sário ou empregador, o detentor dos meios de produção. O salário na para eles e suas famílias.
ou remuneração recebida pelo trabalhador não contempla o tempo No Brasil, diante da penúria e das más condições de vida e de
de trabalho excedente ao valor contratado que é apropriado pelo trabalho de operários e de trabalhadores do campo, ao final da Di-
dono do capital. tadura civil-militar, nos anos 1980, foram muito discutidas as pro-
Historicamente, o ser humano utiliza-se dos bens da nature- postas da educação na Constituinte de 1988 e os termos da nova
za por intermédio do trabalho e, assim, produz os meios de sobre- Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Os pesquisadores e
vivência e conhecimento. Posto a serviço de outrem, no entanto, educadores da área trabalho e educação tiveram de enfrentar uma
nas formas sociais de dominação, o trabalho ganha um sentido questão fundamental: se o trabalho pode ser alienante e embrute-
ambivalente. É o caso das sociedades antigas e suas formas servis cedor, como pode ser princípio educativo, humanizador, de forma-
41 Fonte: www.sites.google.com ção humana?
79
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No entanto, desde o início do século XX, com a criação das Es- gumas fontes básicas teórico-conceituais. Em um primeiro momen-
colas de Aprendizes e Artífices em 1909, havia a evidência histórica to, a vertente marxista e gramsciana (Marx, op. cit.; Gramsci, 1981;
da introdução do trabalho (das oficinas, do artesanato, dos traba- Manacorda, 1975 e 1990; Frigotto, 1985; Kuenzer, 1988; Machado,
lhos manuais) em instituições educacionais. E existia a experiência 1989; Saviani, 1989 e 1994; Nosella, 1992; Rodrigues, 1998), em
socialista do início do mesmo século, introduzindo a educação po- um segundo, sem abrir mão da vertente gramsciana, a ontologia
litécnica com o objetivo de formação humana em todos os seus as- do ser social desenvolvida por Lukács (1978 e 1979; Konder, 1980;
pectos, físico, mental, intelectual, prático, laboral, estético, político, Chasin,1982; Ciavatta Franco, 1990; Antunes, 2000; Lessa, 1996).
combinando estudo e trabalho. Gramsci (op.cit.) propõe a escola unitária que se expressaria
Vários autores se debruçaram sobre o tema porque tratava-se na unidade entre instrução e trabalho, na formação de homens ca-
de defender uma educação que não tivesse apenas fins assisten- pazes de produzir, mas também de serem dirigentes, governantes.
ciais, moralizantes, como aquelas primeiras escolas. Também que Para isso, seria necessário tanto o conhecimento das leis da natu-
não se limitasse a preparar para o trabalho nas fábricas, a exemplo reza como das humanidades e da ordem legal que regula a vida em
da iniciativa do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Se- sociedade.
nai), criado no governo de Getúlio Vargas, em 1943. Criticava-se, Opondo-se à concepção capitalista burguesa que tem por base
ainda, o tecnicismo voltado ao mercado de trabalho, a adoção do a fragmentação do trabalho em funções especializadas e autôno-
industrialismo pelo sistema das Escolas Técnicas Federais, criado no mas, Saviani (1989) defende a politecnia que “postula que o traba-
mesmo período Vargas. lho desenvolva, numa unidade indis solúvel, os aspectos manuais e
De outra parte, a idéia de educação politécnica sofria ataques intelectuais.... Todo trabalho humano envolve a concomitância do
por sua inspiração socialista, implantada pelo regime comunista da exercício dos membros, das mãos e do exercício mental, intelectual.
Revolução Russa de 1917 que, tendo por base a obra Marx, busca- Isso está na própria origem do entendimento da realidade humana,
va a combinação da instrução e do trabalho. Segundo Manacorda enquanto constituída pelo trabalho.” (p. 15).
(1989), o marxismo reconhece a “função civilizadora do capital”; Frigotto argumenta em dois sentidos. Primeiro, faz a crítica à
não rejeita, antes aceita “as conquistas ideais e práticas da burgue- ideologia cristã e positivista de que todo trabalho dignifica o ho-
sia no campo da instrução...: universalidade, laicidade, estatalida- mem: “Nas relações de trabalho onde o sujeito é o capital e o ho-
de, gratuidade, renovação cultural, assunção da temática do traba- mem é o objeto a ser consumido, usado, constrói-se uma relação
lho, como também a compreensão dos aspectos literário, intelec- educativa negativa, uma relação de submissão e alienação, isto é,
tual, moral, físico, industrial e cívico”. Mas Marx faz dura crítica à nega-se a possibilidade de um crescimento integral” (1989, p. 4).
burguesia por não assumir de forma radical e conseqüente a união Segundo, preocupa-se com a análise política das condições em que
instrução-trabalho (p.296). trabalho e educação se exercem na sociedade capitalista brasileira;
O Manifesto Comunista (Marx, 1998) é claro quando recomen- “como a escola articula os interesses de classe dos trabalhadores...
da: “educação pública e gratuita para todas as crianças. Abolição é preciso pensar a unidade entre o ensino e o trabalho produtivo,
do trabalho infantil nas fábricas na sua forma atual. Combinação o trabalho como princípio educativo e a escola politécnica” (1985,
da educação com a produção material etc.” (p.31). Em O Capital, p. 178).
Marx (1980), explicita a idéia de educação politécnica ou tecnoló- Em um segundo momento, a reflexão toma forma tendo por
gica: “Do sistema fabril, como expõe pormenorizadamente Robert base Lukács (op.cit.). Em sua reflexão sobre a ontologia do ser so-
Owen, brotou o germe da educação do futuro que combinará o cial, o autor examina o trabalho como atividade fundamental do ser
trabalho produtivo de todos os meninos além de uma certa idade humano, ontocriativa, que produz os meios de existência na rela-
com o ensino e a ginástica, constituindo-se em método de elevar a ção do homem com a natureza, a cultura e o aperfeiçoamento de
produção social e de único meio de produzir seres humanos plena- si mesmo. De outra parte, o trabalho humano assume formas his-
mente desenvolvidos” (p. 554). tóricas muitas das quais degradantes, penalizantes, nas diferentes
Assim sendo, a discussão sobre o trabalho como princípio edu- culturas, na estrutura capitalista e em suas diversas conjunturas.
cativo esteve associada à discussão sobre a politecnia e sua viabi- Desse conjunto de idéias e debates foi possível concluir que o
lidade social e política no país. Historicamente, como demonstra a trabalho não é necessariamente educativo, depende das condições
análise de Fonseca (1986), sempre predominou o conservadorismo de sua realização, dos fins a que se destina, de quem se apropria
das elites, reservando para si a formação literária e científica. Para do produto do trabalho e do conhecimento que se gera (Ciavatta
os trabalhadores prevaleceu a oferta de educação elementar e não Franco, op. cit.). Nas sociedades capitalistas, a transformação do
universalizada para toda a população. Além disso, o dualismo edu- produto do trabalho de valor de uso para valor de troca, apropriado
cacional se expressa na destinação dos filhos dos trabalhadores ao pelo dono dos meios de produção, conduziu à formação de uma
trabalho e ao preparo para as atividades manuais e profissionali- classe trabalhadora expropriada dos benefícios da riqueza social e
zantes. dos saberes que desenvolve. No campo da saúde, como na educa-
Essa discussão e sua expressão político-prática retornaram nos ção, o que é um direito torna-se uma mercadoria, uma atividade
anos neoliberais de 1990, com a exaração do Decreto n. 2.208/97. como outra qualquer sujeita ao mercado.
Contrariando a LDB (Lei n. 9.394/96) que “tem por finalidade o ple- Tendo por base as exigências do sistema capitalista, a educa-
no desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da ção profissional modelou-se por uma visão que reduz a formação
cidadania e qualificação para o trabalho” (art.2º.), implantou-se a ao treinamento para o trabalho simples ou especializado para os
separação entre o ensino médio geral e a educação profissional téc- trabalhadores e seus filhos. A introdução do trabalho como princí-
nica de nível médio. Nos anos 2000, em condições políticas polêmi- pio educativo na atividade escolar ou na formação de profissionais
cas, o Governo exarou o Decreto n. 5.154/04 que revogou o anterior para a área da saúde, supõe recuperar para todos a dimensão do
e abriu a alternativa da formação integrada entre a formação geral e conhecimento científico-tecnológico da escola unitária e politéc-
a educação profissional, técnica e tecnológica de nível médio. nica, introduzir nos currículos a crítica histórico-social do trabalho
Do ponto de vista político-pedagógico, tanto a conceituação do no sistema capitalista, os direitos do trabalho e o sentido das lutas
trabalho como princípio educativo quanto a defesa da educação po- históricas no trabalho, na saúde e na educação. 42
litécnica e da formação integrada, formulada por educadores brasi-
leiros, pesquisadores da área trabalho e educação, têm por base al-
42 Fonte: www.epsjv.fiocruz.br - Por Maria Ciavatta
80
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Novas tecnologias para questionarem a real necessidade de se preparar para o ensino
A mídia pode ser inserida em sala de aula através dos Recursos virtual. Hoje, há a percepção de algumas tendências relativas aos
de Ensino. Estes segundo Gagné (1971, p. 247) “são componentes novos modelos de ensino e aprendizagem de idiomas mediados por
do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para computador. Uma dessas tendências é a aprendizagem por meio de
o aluno”. Estes componentes são, além do professor, todos os tipos Redes Sociais ou Comunidades Virtuais de Aprendizagem.
de mídias que podem ser utilizadas em sala de aula, tais como, Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como
revistas, livros, mapas, fotografias, gravações, filmes etc. um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolítico e
A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abstração educacional a partir da interface Comunicação/Educação. Mais do
dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão aprendendo na que como uma metodologia, no âmbito da didática, o neologismo
escola, e podem relacionar a matéria aprendida com fatos reais tem sido visto como um parâmetro capaz de mobilizar consciências
do seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absolverem os em torno de metas a serem alcanças coletivamente nas diferentes
conteúdos escolares. esferas da leitura e da construção do mundo, como propunha Paulo
Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino que Freire.
é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiências”, que O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os
mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras sem experiência, que buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e
não deve mais ser usado pelo professor, pois os alunos aprendem descritas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às
mais quanto mais pratica experiências em torno do que está sendo “experiências escolares” inovadoras e multidisciplinares, previstas
ensinado. na reforma do ensino
Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da
ensino são: informação e o papel da mídia na geração de conteúdos, mensagens
• motivar e despertar o interesse dos alunos; e apelos comportamentais.
• favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação; Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, se,
• aproximar o aluno da realidade; de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos midiáticos
• visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem; é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus propósitos
• oferecer informações e dados; educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valores — presentes
• permitir a fixação da aprendizagem; muitas vezes de forma conflituosa no convívio social e assim
• ilustrar noções mais abstratas; reproduzidos pela mídia — sejam identificados e revisitados pela
• desenvolver a experimentação concreta. educação. É o caso, por exemplo, do consumismo e de uma pouco
disfarçada indiferença com relação aos desequilíbrios que ocorrem
Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar atento no mundo; indiferença essa que leva, com certa naturalidade, à
aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria ensinada. banalização dos acontecimentos por parte significativa dos meios
Todos esses objetivos podem ser alcançados através de recursos de informação.
de ensino, midiáticos, como, por exemplo, computador, internet, Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/
em que o aluno além de conhecer novas tecnologias, faz também CEB nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o ensino
interação com o mundo e novas informações. O aluno busca algo de nove anos, não permanece, contudo, apenas num denuncismo
novo, algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca. inócuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cumpridas.
Mas não basta apenas usar a tecnologia, no ambiente de ensino/ É necessário, por exemplo, que a escola contribua para
aprendizagem temos que rever o uso que fazemos de diferentes transformar os alunos em consumidores críticos dos produtos
tecnologias enquanto estratégias, tendo clareza quanto à função do midiáticos (meta número 1), ao mesmo tempo em que passem a
que estamos utilizando, não basta trocar o livro por um computador usar os recursos tecnológicos como instrumentos relevantes no
se na prática não promovemos a inclusão do aluno, no que se refere processo de aprendizagem (meta número 2). É dessa criticidade
aos processos de aprendizagem. do olhar e da criatividade no uso dos recursos midiáticos que pode
O computador é conhecido como uma tecnologia da surgir uma nova aliança entre o aluno e o professor (meta número
informação devido a sua grande capacidade na solução de 3), favorecida justamente pelo diálogo que a produção cultural na
problemas relacionados a armazenamento, organização e produção escola é capaz de propiciar.
de informação de várias áreas do conhecimento. A utilização dessa No caso do docente, o parecer que justificou o documento do
tecnologia pode ser usada de varias formas, como programas de CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na situação
exercício-e-prática, jogos educacionais, programas de simulação, de aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas para as
linguagem de programação entre outros, despertando assim um questões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4: reconhecer o
grande interesse do aluno. aluno como partícipe e corresponsável por sua própria educação,
Conforme observado por Valente (1993), o computador não sujeito que é de um direito muito especial: o de expressar-se numa
é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta sociedade plural.
com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no proces-
ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do so de ensino e aprendizagem também está em constante transfor-
computador. O processo de interação se torna mais agradável com mação. Por esse motivo, não é mais possível estar diante de uma
a presença da multimídia na aprendizagem, pois naquele momento sala de aula com a expectativa de captar a atenção de toda uma
o aluno está descobrindo o novo, o contemporâneo. turma de crianças e adolescentes e utilizando uma linguagem do
século passado. Hoje, não é mais possível falar sobre ecologia, sem
Educação, Mídia e Tecnologia falar sobre sustentabilidade e tecnologias limpas. Ou falar sobre
A aplicação de novas tecnologias na educação vem modificando linguagens, sem mencionar os memes e as fake news. E esses são
o panorama do sistema educacional e, por isso, pode-se falar de apenas alguns dos exemplos possíveis.
um tipo de aula antes e depois da difusão de mídias integradas e Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a realidade
tecnologias avançadas de comunicação digital. Os resultados das dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino e apren-
aplicações de tais tecnologias estão criando condições objetivas dizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e valer-se da
81
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia Educacional. Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia
Pensada especificamente para trazer inovação e facilitar o processo digital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus
de ensino e aprendizagem, ela aparece nas salas de aula de diversas alunos.
maneiras: em novos dispositivos ou gadgets, softwares e soluções
educacionais. 1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende a
É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alunos atenção dos alunos.
em sala de aula que ignore completamente as novas tecnologias. O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme-
Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipamentos de últi- mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. A
ma geração, com o professor mais tradicional, a interação é sempre mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é importante
permeada por ela. E não poderia deixar de ser: além dos avanços variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças no local e, es-
tecnológicos que conquistaram as gerações X e Y (você se lembra pecialmente, experimentar diferentes ferramentas e recursos tec-
como enviava mensagens e fazia planos com os amigos antes do nológicos. Quando se buscam novas formas de ensinar e aprender,
smartphone?), os estudantes das novas gerações são nativos digi- coloca-se uma aura de novidade sobre a rotina de estudos, tornan-
tais. Isso significa que a maioria deles nunca conheceu um mundo do-a mais interessante e prazerosa. Consequentemente, crescem a
sem internet, celular, Google ou redes sociais, dessa forma, o uso atenção e o interesse dos alunos pelo assunto em pauta.
de tecnologias educacionais se tornou fundamental para potencia-
lizar o ensino e principalmente, gerar maior interesse e interação 2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolução de
dos alunos. problemas reais.
A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à utili- Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da edu-
zação de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu objetivo cação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricu-
é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala de aula – prá- lar) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da realidade
ticas inovadoras, que facilitem e potencializem o processo de en- dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático à sua discipli-
sino e aprendizagem. O uso da TE tem sido amplamente discutido na, seja por meio da contextualização da informação (aplicação em
no meio acadêmico, na mídia e nos círculos sociais, espaços onde situações reais, apresentação de casos locais) ou dos meios utiliza-
nem sempre é bem recebido. As maiores críticas dizem respeito à dos para transmiti-la (tecnologias digitais, canais frequentemente
sua relação com o papel da escola e do professor e à dificuldade de utilizados pelas novas gerações). Isso auxilia não apenas na com-
acesso à tecnologia, especialmente nas escolas da rede pública e preensão do conteúdo, mas também na visualização e na resolução
entre estudantes com menor renda familiar. de problemas reais que se apresentam no dia a dia do estudante.
Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o foco
principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dispositivos 3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e con-
tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente, contar com tribui para a formação do senso crítico.
os equipamentos mais modernos para trabalhar a TE), e sim sobre Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia digital
as práticas que o seu uso possibilita. Em outras palavras: ter bem na educação é a possibilidade de acessar informações atualizadas,
definida a finalidade do uso da tecnologia em sala de aula é mais em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela atualização do
importante que os meios e recursos tecnológicos que serão empre- livro didático impresso para ter acesso a temas contemporâneos,
gados para tal prática. questões recentes de vestibulares, dados atualizados e debates so-
E é aí que entra o papel fundamental do professor e do profis- ciais relevantes. Trabalhar com informações hiperatualizadas con-
sional da educação no emprego da Tecnologia Educacional: definir tribui para inserir o estudante no debate social e desenvolver seu
quais são os recursos e ferramentas mais adequados para a realida- senso crítico e de argumentação, preparando-o simultaneamente
de de seus alunos, e também a forma mais relevante de os utilizar para os desafios da vida social e acadêmica.
em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, pode surgir a dúvida:
com que objetivo um profissional da educação deveria inserir a tec- 4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na utiliza-
nologia nas práticas pedagógicas e no dia a dia da sua instituição ção da internet e dos recursos digitais.
de ensino? A tecnologia digital está presente na vida das novas gerações
desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças em idade
Tecnologia Educacional: por que usar? pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por exemplo. A inser-
Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas da ção da tecnologia no ambiente escolar ajuda a estabelecer regras
sociedade têm experimentado uma grande evolução tecnológica. de convivência e segurança nos ambientes virtuais. Também é uma
Toda evolução compreende uma mudança na comunicação, nas re- boa oportunidade para trabalhar a responsabilidade no manuseio e
lações sociais e, é claro, no processo de ensino e aprendizagem. na conservação dos equipamentos digitais.
Mas, como dissemos no tópico acima, a utilização da Tecnologia
Educacional nem sempre é bem recebida – inclusive por educado- 5. A tecnologia digital contribui para democratizar o acesso
res. A raiz dessa resistência talvez esteja na desinformação sobre as ao ensino.
diferentes possibilidades que ela oferece à educação. Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desenvol-
Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia vidas com o objetivo de ajudar os profissionais da educação a pro-
Educacional em sua escola. mover a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar a favor
- Ampliar o acesso à informação. de uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia digital em
- Facilitar a comunicação escola – aluno – família. sala de aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de escrita, por
- Automatizar processos de gestão escolar. exemplo) pode dar mais autonomia aos estudantes portadores de
- Estimular a troca de experiências. deficiência, transtornos ou problemas de aprendizagem, ajudando-
- Aproximar o diálogo entre professor e aluno. -os a superar limitações e a desenvolver ao máximo seu potencial.
- Possibilitar novas formas de interação.
- Melhorar o desempenho dos estudantes.
82
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e constante diferem da sua proposta original – como na educação. A principal
a professores, alunos e responsáveis. vantagem apontada pelos profissionais da educação no uso da ga-
Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendizagem mificação é o aumento no interesse, na atenção e no engajamento
(AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital é uma dos alunos com o conteúdo e as práticas propostas.
maneira de gerar dados de desempenho imediatos para professo-
res, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno pode corrigir Personalização do ensino
equívocos enquanto o conteúdo continua “fresco” na memória, em A geração de dados educacionais é extremamente beneficiada
vez de descobrir dias depois (ou apenas no final do bimestre) que, pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempenho e dos re-
durante todo o tempo, seu desempenho esteve abaixo do espera- sultados de avaliações objetivas. A partir desses dados, é possível
do. Além disso, professores e responsáveis acompanham de perto a criar modelos de ensino personalizados, que estejam em sintonia
evolução de cada estudante, intervindo e direcionando os estudos com o momento real de aprendizagem de cada estudante. Assim, o
conforme necessário. professor tem uma noção mais clara do panorama da turma e pode
agir individualmente e de forma personalizada sobre os pontos po-
7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino ade- tenciais e de maior dificuldade de cada estudante.
quado a cada aluno.
A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade de Microlearning
dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos nos Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a enor-
quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificuldade de me quantidade de informações com as quais temos contato diaria-
compreensão, bem como verificar o desempenho da turma e de mente ocasionou uma transformação na forma como consumimos
cada aluno, individualmente. A análise desses dados dá autonomia conteúdo. Para que a atenção não seja desviada de pronto, este
para que professores, pais e alunos tracem um plano de ensino per- conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma muito mais frag-
sonalizado, mais adequado a cada turma e estudante. Também pos- mentada, em vídeos e mensagens breves. Daí surge a expressão
sibilita que o próprio aluno, nas etapas mais avançadas da educação microlearning, que consiste na fragmentação de conteúdo educa-
básica, direcione seu aprendizado para suas áreas de interesse e da cional para que este seja melhor assimilado pelos alunos. O meio
formação que pretende seguir. digital favorece este tipo de interação, por meio de vídeos, jogos,
animações, apresentações interativas etc.
Exemplos de usos da Tecnologia Educacional
A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação de Como inserir a tecnologia na minha escola?
diversas maneiras, algumas delas são: Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Educacio-
- em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets e as nal de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de ensino.
mesas educacionais; Elencamos algumas delas a seguir:
- em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros digitais;
- e em outras soluções educacionais, como a realidade Diagnóstico
aumentada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as plataformas Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e professores
de vídeo. da sua escola. Em que momentos eles estão conectados? A partir
de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que estão pre-
Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas tornaram-se sentes e os sites que acessam? Essa investigação é essencial caso
realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um pouco sobre sua instituição pretenda estabelecer uma conexão verdadeira com
as possibilidades do uso da Tecnologia Educacional e as diferentes os seus públicos e propor usos significativos para a Tecnologia Edu-
formas de como ela vem transformando a educação. cacional.
83
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Segurança conteúdo adicional ao corpo do texto, transformando a forma como
É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos digi- lemos e aprendemos. Quando se transforma a forma de ler, modifi-
tais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos estudantes. ca-se também a forma de produzir conteúdo.
O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear,
Atualização afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas entra-
A partir do momento em que o professor identifica uma prática das e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta o modo
ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnologia, tam- como escrevemos, proporcionando a distribuição da inteligência e
bém é importante pensar na atualização dos planos de aula que cognição. De um lado, diminui a fronteira entre leitor e escritor, tor-
irão nortear essas práticas. nando-os parte do mesmo processo; do outro, faz com que a escrita
seja uma tarefa menos individual para se tornar uma atividade mais
Plano de Aula X tecnologia coletiva e colaborativa. O poder e a autoridade ficam distribuídos
A partir da modernização de espaços, ferramentas e práticas pelas imensas redes digitais, facilitando a construção social do co-
educacionais, profissionais da educação em todo o mundo estão nhecimento.(MARCUSCHI, Luiz A. O hipertexto como um novo espa-
trabalhando por uma transformação cada vez mais profunda e efe- ço de escrita em sala de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande do
tiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa transformação Sul, 2001. v.4, n. 1, p. 79-111.)
é um processo nascido e desenvolvido dentro de cada espaço de
aprendizagem, baseado em uma mudança de hábitos e paradig- A BNCC e os gêneros digitais
mas estabelecidos nas relações diárias entre alunos e professores. A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da Base
Não basta esperar que a transformação chegue até a sala de aula, Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na leitura,
ela precisa ter um ponto de partida dentro do ambiente escolar. interpretação e produção dos novos gêneros digitais, como:
Que tal ser um agente dessa mudança na sua escola, começando - Blogs;
pelo plano de aula? - Tweets;
A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda - Mensagens instantâneas;
mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da - Memes;
realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem de- - GIFs;
senvolver ao longo da Educação Básica a competência para: - Vlogs;
Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e - Fanfics;
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas di- - Entre diversos outros.
versas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar
por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimen- Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais devem
tos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portuguesa. O tra-
(BNCC) balho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas
do conhecimento, valorizando também o trabalho interdisciplinar
A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de – como sugere, inclusive, a própria BNCC.
aula e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada ao
dia a dia da turma. 3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo
Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula
1. Interação em ambientes virtuais da sua disciplina é torná-los parte da construção do conhecimento.
Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z estão Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule a interação
navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com desen- por meio dos comentários; organize e deixe disponível para con-
voltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e professo- sulta um banco de textos e artigos com as produções dos alunos;
res. Incentivar e orientar a interação nesses espaços tem muito a desenvolva projetos interdisciplinares.
acrescentar à prática pedagógica. Procure identificar as tarefas que O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita, que
podem ser transpostas, facilitadas ou repensadas para o meio di- permite construir textos de maneira colaborativa, editando, adicio-
gital. nando comentários e enviando feedback em tempo real. No entan-
As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar gru- to, existem diversas outras ferramentas disponíveis. Procure pelas
pos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão com te- melhores soluções que conversem com a realidade e as necessida-
máticas específicas relacionadas ao conteúdo que está sendo estu- des da turma.
dado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de aprendizagem,
caso a sua escola ou sistema de ensino disponha de um. 4. Apresentações em formatos multimídia
É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano
2. Textos em formato digital de aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes formatos
O consumo de textos em formato digital é baseado na lingua- (como vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.) co-
gem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O texto em labora para o engajamento da turma. Além disso, pode servir para
formato digital permite ampliar o conhecimento acerca de uma te- enriquecer tanto a aula do professor quanto as apresentações dos
mática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar momentos his- próprios alunos.
tóricos, esclarecer vocabulários específicos, entre diversas outras Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalidades
possibilidades. A leitura deixa de ser apenas receptiva para tornar- são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o Google Sli-
-se um processo interativo. des e o Prezi (apresentação de slides e construção de mapas men-
Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital que tais), o PowToon (construção de vídeos e animações – em inglês),
pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em casa. entre outras. Busque também compartilhar experiências e conhe-
Explore também as funcionalidades oferecidas por portais de no- cer as ferramentas utilizadas por outros professores.
tícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto permite
adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de
84
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
5. Diferentes formatos de avaliação O ECA e a Educação
A tecnologia também pode convergir para o plano de aula no Segundo o ECA (artigo 53), “a criança e o adolescente têm di-
modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e caneta – com reito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue sendo o mé- preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o traba-
todo de avaliação mais comum, existem formas diferentes de verifi- lho”. Nesse sentido, a lei assegura:
car a aprendizagem dos estudantes. - Igualdade de condições para o acesso e permanência na
Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é veri- escola;
ficar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como ativi- - Direito de ser respeitado por seus educadores;
dades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também pode - Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às
desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questionários uti- instâncias escolares superiores;
lizando ferramentas gratuitas como o Google Forms. - Direito de organização e participação em entidades estudantis,
e
6. Aplicativos e softwares educacionais - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de Para que estes direitos sejam observados, o ECA também esti-
conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a realiza- pula os deveres do Estado (artigo 54). São eles:
ção de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é nenhu- - Garantir ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
ma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvimento para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa prática - Assegurar progressivamente a extensão da obrigatoriedade e
fosse transportada para o meio digital e amplamente difundida nas gratuidade ao ensino médio;
salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pautas mais re- - Oferecer atendimento educacional especializado aos
centes, esse fenômeno é conhecido como gamificação. portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educação”, ensino;
é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos deles - Oferecer atendimento em creche e pré-escola às crianças de
gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do contexto edu- zero a seis anos de idade;
cacional. - Garantir acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
O que inserir em seu plano de - Ofertar ensino noturno regular, adequado às condições do
… e como?
aula… adolescente trabalhador;
- Grupos e comunidades nas - Promover atendimento no ensino fundamental, através de
redes sociais; programas suplementares de material didático escolar, transporte,
1. Interação em ambientes - Fóruns de discussão; alimentação e assistência à saúde.
virtuais - Ambiente virtual de
aprendizagem; Por fim, é importante lembrar que o acesso ao ensino obrigató-
- Etc. rio e gratuito é um direito público subjetivo, ou seja, pode sempre
ser exigido do Estado por parte do cidadão. Assim, caso o Poder
- Portais de notícia; Público não garanta o acesso à educação ou caso não o faça de ma-
- E-books; neira regular, o cidadão tem a possibilidade de exigir judicialmente
2. Textos em formato digital
- PDFs interativos; que seu direito seja observado, obrigando o Estado a fazê-lo.
- Etc.
- Blog/vlog; O papel da família no fomento à Educação
3. Métodos colaborativos de
- Banco de textos e artigos; A família é um dos três eixos de promoção do direito à Educa-
produção de conteúdo
- Etc. ção. Os pais são responsáveis por matricular seus filhos nas institui-
- Vídeos; ções de ensino e garantir a permanência deles (artigo 55 do ECA).
4. Apresentações em formatos - Slides; Inclusive, alguns programas públicos de distribuição de renda con-
multimídia - Mapas mentais; dicionam o benefício à freqüência escolar dos jovens sob tutela dos
- Etc. pais, atestando a família como principal incentivadora dos estudos.
O Estatuto prevê, entre as medidas que são aplicáveis aos pais
- Avaliações online; ou responsáveis, a obrigação de matricular o filho em estabeleci-
5. Diferentes formatos de - Atividades de fixação e reforço; mento de ensino e acompanhar sua freqüência e aproveitamento
avaliação - Simulados; escolar (artigo 129, inciso V do ECA).
- Etc.
- Jogos Evidente, portanto, que, além de uma atribuição do Estado –
6. Aplicativos e softwares
- Aplicativos educacionais; que tem o dever de fazê-los zelar pela freqüência escolar (artigo 54,
educacionais
- Etc. parágrafo 3º, ECA) –, a responsabilização pela matrícula e acompa-
nhamento das crianças e jovens no ensino fundamental é compar-
Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da edu- tilhada com a família (pais e responsáveis).
cação é uma missão de todo profissional que atua hoje nessa área.
Procure manter-se atualizado sobre as tendências em tecnologia O direito à educação e as medidas protetivas e socioeduca-
educacional, acompanhando blogs, revistas e portais de notícia so- tivas
bre o assunto. Troque experiências com outros profissionais e des- O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a aplicação de
cubra novas práticas, soluções e ferramentas que estão surgindo a medidas protetivas sempre que os direitos nele previstos forem
cada dia.43 ameaçados ou violados, seja pelo Estado, pela sociedade ou pela
43 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administradores. com.br
85
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
própria família. Entre as medidas existentes, há previsão de matrí-
cula e freqüência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino DIRETRIZES, PARÂMETROS, MEDIDAS E DISPOSITIVOS
fundamental (artigo 101, inciso III do ECA). LEGAIS PARA A EDUCAÇÃO – A LDB ATUAL
As medidas de proteção podem ser aplicadas isolada ou cumu-
lativamente com as medidas socioeducativas; estas previstas exclu- Na estrutura educacional existe uma hierarquia na qual os ór-
sivamente aos adolescentes que tenham praticados atos infracio- gãos federais, que representam a União, estão acima de todos os
nais. outros. Os órgãos federais são o Ministério da Educação e o Con-
É importante ressaltar que independentemente da situação do selho Nacional de Educação. Estes órgãos definem diretrizes para a
adolescente, esteja ele cumprindo uma sanção pela prática de um educação a serem desenvolvidas em todo o país.
delito ou não, seu direito à educação formal, bem como outros di- Bem abaixo dos órgãos da União estão as Secretarias Estaduais
reitos fundamentais, em nada é afetado. de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação. Nessas instân-
A Liberdade Assistida inclui em sua execução o acompanha- cias de poder são tomadas decisões que orientarão a organização
mento da escolarização do adolescente; na Prestação de Serviços à da educação nos estados, não podendo ser contrariadas as delibe-
Comunidade, o período determinado para o cumprimento da medi- rações das instâncias federais, que constarão das diretrizes esta-
da não pode prejudicar o tempo de estudo; a medida de semiliber- duais para a educação.
dade comumente vem acompanhada de uma medida protetiva de Nos estados existem os municípios, onde se encontram as es-
matrícula e freqüência obrigatória em estabelecimento de ensino e, colas efetivamente. A rede municipal de ensino é organizada pelas
por fim, quanto à medida privativa de liberdade, os estabelecimen- Secretarias Municipais de Educação, que têm poderes para organi-
tos de internação devem necessariamente oferecer escolarização e zar e gerenciar a educação nas instâncias locais.
profissionalização aos adolescentes. A legislação da educação, por se caracterizar como o conjunto
de normas – leis, resoluções, portarias, decretos e atos – que dá for-
O direito à educação aos portadores de deficiências ma e regulamenta a estrutura hierárquica educacional, acaba por
Os jovens portadores de deficiência física e/ou psíquica tam- se hierarquizar, havendo, portanto, leis que estão acima de outras.
bém recebem atenção especial do Estado quando o assunto é ga- A Constituição Federal encontra-se no topo. Mais abaixo fica a Lei
rantia do direito à educação. de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Num nível posterior
O não oferecimento ou oferecimento irregular de atendimento encontra-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Estadual. E já no
educacional especializado aos portadores de deficiência pode gerar nível das escolas encontramos o regimento escolar.
uma ação de responsabilidade por ofensa aos direitos das crianças No entanto, a subordinação das leis no sistema educacional
e dos adolescentes (artigo 208, inciso II do ECA). não segue rigidez hierárquica (FAUSTINI, 2002). Pois a Constituição
A Constituição Federal também prevê a “criação de programas Federal de 1988 delega aos estados e municípios, no artigo 23, po-
de prevenção e atendimento especializado para os portadores de der de legislarem concorrentemente com a união sobre algumas
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração so- matérias, entre elas as educacionais. Ou seja, sobre a educação, as
cial do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamen- três instâncias da federação poderão definir leis, desde que uma
to para o trabalho e convivência, e a facilidade de acesso aos bens menor não descumpra uma instância de maior poder. Por exemplo,
e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos a Lei de Diretrizes e Bases permite à iniciativa privada atuar no en-
arquitetônicos” (artigo 227, parágrafo 1º, inciso II da CF/88). sino fundamental, o que impede a existência de leis estaduais ou
Outras legislações também garantem proteção especial à edu- municipais que proíbam a instalação em seu território de escolas
cação de jovens portadores de deficiência física e/ou psíquica. A particulares.
LDB, em seu artigo 4º, inciso III, prevê o atendimento educacional A legislação Educacional possui duas naturezas: uma regulado-
especializado e gratuito aos jovens com necessidades especiais. Por ra e uma regulamentadora. Ela é reguladora quando se manifesta
fim, complementa a matéria sobre educação especial o seu artigo através de leis, sejam federais, estaduais ou municipais. As normas
58: “entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a constitucionais que tratam da educação são as fontes primárias da
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na regulação e organização da educação nacional, pois, por elas, defi-
rede regular de ensino, para educandos portadores de necessida- nem-se as competências constitucionais e atribuições administra-
des especiais.” tivas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Tomando a legislação como ponto de partida, podemos dizer Abaixo das normas constitucionais, temos as leis federais, ordiná-
que a educação como um direito fundamental estrutura-se como rias ou complementares, que regulam o sistema nacional de edu-
um dever compartilhado entre Estado, família e sociedade. O Poder cação.
Público, como um dos responsáveis pelo fomento à educação, A legislação regulamentadora, ao contrário da legislação regu-
deve promover ações não só no âmbito de elaboração de políticas ladora não é descritiva, mas prescritiva, volta-se à própria práxis da
públicas (executivo), no âmbito de elaboração de leis (legislativo), educação. Os decretos presidenciais, as portarias ministeriais e in-
mas também exercendo o papel de protetor e fiscalizador desse terministeriais, as resoluções e pareceres dos órgãos do Ministério
direito (judiciário). da Educação, como o Conselho Nacional da Educação ou o Fundo
As diversas instituições do poder público relacionadas neste de Desenvolvimento da Educação como serão executadas as regras
texto cumprem papéis importantes na garantia dos direitos dos jurídicas ou das disposições legais contidas no processo de regula-
cidadãos. ção da educação nacional. A regulamentação não cria direito por-
Num país marcado por desigualdades como o Brasil, onde a que limita-se a instituir normas sobre a execução da lei, tomando
distribuição de direitos espelha essa desigualdade, garantir o direito as providências indispensáveis para o funcionamento dos serviços
à educação é, sem dúvida, uma prioridade e um passo fundamental educacionais.
na consolidação da cidadania.44 A legislação que regulamenta o Sistema Educacional Brasileiro
é composta pela Legislação Fundamental que engloba a LDB, CNE,
Fundef e o acesso às emendas, leis e medidas provisórias destina-
das aos níveis e modalidades de ensino.
44 Fonte: www.fundacaotelefonica.org.br
86
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação: instituída pela lei Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Bá-
n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, promove a descentralização sica, Resolução CNE/CEB 02/11;
e a autonomia para as escolas e universidades, além de estabelecer Parâmetros Curriculares Nacionais;
um processo regular de avaliação do ensino. Parâmetros Curriculares Nacionais 1ª a 4ª Séries;
CNE – Conselho Nacional de Educação: instituído nos termos Parâmetros Curriculares Nacionais 5ª a 9ª Séries;
da Lei 9.131, de 24 de novembro de 1995, o Conselho Nacional Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PC-
de Educação tem como objetivo, buscar democraticamente alter- NEM);
nativas e mecanismos institucionais que possibilitem, assegurar a Referência Curricular Nacional para a Educação Infantil;
participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil –
consolidação da educação nacional. Volume 1;
Fundef — Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil –
Fundamental e de Valorização do Magistério: instituído pela emen- Volume 2;
da constitucional n.º 14, de setembro de 1966, e regulamentado Legislação da Educação a Distância;
pela lei n.º 9.424, de 24 de dezembro de 1966, e pelo decreto n.º Legislação da Educação Profissional.45
2.264, de junho de 1997, o Fundef foi implantado nacionalmente
em 1.º de janeiro de 1988.
Ensino Médio: lei, pareceres e resoluções sobre a LDB e o DC-
NEM (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio), infor- O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
mações e regulamentações do curso.
Educação a Distância: decretos e portaria sobre a regulamenta- No Brasil, alguns normativos legais pela sua importância, são
ção e o credenciamento de instituições para a oferta de cursos de condensados em codificações que facilitam o tratamento das ques-
graduação e educação profissional tecnológica a distância. tões jurídicas no âmbito mais especifico e detalhado do assunto
Educação Profissional: Decreto e portaria sobre a regulamenta- selecionado pela sua prioridade social. Existem então o Código de
ção da educação profissional. Defesa do Consumidor, o Estatuto das Cidades, o Estatuto do Idoso
Educação Superior: estatutos e regimentos das instituições de e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que são exemplos de
Ensino Superior — IES, adaptação da LDB, decretos, editais e porta- consolidações legislativas, inclusive para melhor compreensão dos
rias que dispõem sobre formação em nível superior de professores, interessados.
regulamentação das IES, processo de avaliação dos cursos e insti- Este último, também denominado ECA, conforme o próprio
tuições de Ensino Superior, ofertas de disciplinas, credenciamento nome demonstra, é um estatuto ou codificação que trata do univer-
de universidades, centros universitários, faculdades, institutos ou so mais específico vinculado ao tratamento social e legal que deve
escolas superiores, requisitos de acessibilidade de pessoas porta- ser oferecido às crianças e adolescentes de nosso país, dentro de
doras de necessidades especiais e autorização e reconhecimento de um espírito de maior proteção e cidadania decorrentes da própria
cursos sequenciais de Ensino Superior. Constituição promulgada em 1988. O ECA dispõe sobre a proteção
integral à criança e ao adolescente, sendo fruto da lei 8.069 de 13
As principais Leis da Educação a nível federal são: de julho de 1990, que neste ano de 2008 completa “maioridade”
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; de existência.
Emenda Constitucional n° 53/2006 Consoante a própria Lei, é caracterizada na condição de criança
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n° 9.394/1996; àquele de idade até doze anos incompletos, e adolescente é àquele
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069/1990; que estiver entre doze e dezoito anos de idade, determinando que
Língua Brasileira de Sinais, Lei n° 10.436/2002; ambos devem usufruir de todos direitos fundamentais inerentes à
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de De- pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral o ECA. Também
ficiência, Lei n° 3.298/1999; estabelece que é dever da família, da comunidade, da sociedade
Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Lei n° em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade,
7.612/2011; a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei n° 13.146/2015. à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-
Além das leis citadas acima, em 2014 foi aprovado o Plano Na- munitária.
cional de Educação (PNE), Lei n° 13.005. A absoluta prioridade que trata a Lei compreende a primazia
de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, a pre-
Quanto ao currículo e Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN: cedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações pública, a preferência na formulação e na execução das políticas
Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e sociais públicas e a destinação privilegiada de recursos públicos nas
Africana, Resolução CNE/CP 01/04; áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Espe- Destaca que nenhuma criança ou adolescente será objeto de
cializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial, Reso- qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violên-
lução CNE/CEB 04/09; cia, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer aten-
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Re- tado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Acres-
solução CNE/CEB 05/09; cente-se que também no seu artigo 7o., disciplina que a criança e
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos, o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a
Resolução CNE/CEB 03/10; efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica; e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de existência.
9 (nove) anos, Resolução CNE/CEB 07/10;
45 Fonte: www.portal.mec.gov.br/www.educabrasil.com.br/www.educacional.
com.br
87
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
No que se refere à questão da saúde pública, além de esta- bição quando acompanhadas dos pais ou responsável. Ao mesmo
belecer a necessidade de tratamento prioritário, informa que o tempo as emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no ho-
adolescente com deficiência receberá atendimento especializado, rário recomendado para o público infanto-juvenil, programas com
definido na obrigação do poder público de fornecer gratuitamen- finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. Nenhum
te àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classi-
recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Da ficação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
mesma forma, determina que os estabelecimentos de atendimento É proibida a venda à criança ou ao adolescente de alguns pro-
à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em dutos prejudiciais a sua formação e sua educação, tais como ar-
tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de inter- mas, munições e explosivos, bebidas alcoólicas ou produtos cujos
nação de criança ou adolescente. componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda
Nos casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra que por utilização indevida. Nesse particular, importante a atenção
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao dos pais para não contribuírem neste tipo de infração quando, por
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras exemplo, inadvertidamente solicitam a menores ou adolescentes
providências legais. Adicionalmente, é dever de todos velar pela efetuarem compras ou aquisições indevidas a seu mando (cigarros/
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qual- bebidas).
quer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor, bem como toda criança ou adolescente tem direito Os dispositivos contidos no ECA também estipulam situações
a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, nas quais tanto o responsável quanto o menor devem ser instados a
em família substituta, assegurada a convivência familiar e comuni- modificarem atitudes, definindo sanções para os casos mais graves.
tária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, que é a conduta
substâncias entorpecentes. descrita como crime ou contravenção penal para os maiores de ida-
Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos fi- de, e justamente porque são penalmente inimputáveis, os menores
lhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de dezoito anos poderão sofrer sanções, tais como a de internação
de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Importante em estabelecimento apropriado para este fim.
destacar que a falta ou a carência de recursos materiais não consti- Neste aspecto as entidades que desenvolvem programas de in-
tui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder. ternação têm as seguintes obrigações, dentre outras: observar os
Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; não res-
qualquer deles e seus descendentes. A colocação em família subs- tringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na
tituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independente- decisão de internação, preservar a identidade e oferecer ambiente
mente da situação jurídica da criança ou adolescente, sendo que de respeito e dignidade ao adolescente, diligenciar no sentido do
sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previa- restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares, oferecer
mente ouvido e a sua opinião devidamente considerada. instalações físicas em condições adequadas, e toda infraestrutura e
Consoante a mesma Lei, a criança e o adolescente têm direi- cuidados médicos e educacionais, inclusive na área de lazer e ativi-
to à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, dades culturais e desportivas. Também tem a obrigação de reavaliar
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o traba- periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses,
lho, sendo dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o dando ciência dos resultados à autoridade competente.
ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a A medida de internação só poderá ser aplicada quando tratar-
ele não tiveram acesso na idade própria, progressiva extensão da -se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações gra-
obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio, além do atendimen-
ves. Sendo que em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
to educacional especializado às pessoas com deficiência, e atendi-
havendo outra medida adequada. A internação deverá ser cumpri-
mento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
da em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto da-
idade, dentre outros na esfera educacional, inclusive com eventuais
quele destinado ao abrigo, obedecendo à rigorosa separação por
programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
alimentação e assistência à saúde.
Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competen-
A lei estabelece que os pais ou responsável têm a obrigação de
te poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
matricular seus filhos na rede regular de ensino e os dirigentes de I. advertência;
estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho II. obrigação de reparar o dano;
Tutelar os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos, reiteração III. prestação de serviços à comunidade;
de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos IV. liberdade assistida;
escolares,bem como os elevados níveis de repetência. V. inserção em regime de semi-liberdade;
Em razão da extrema dificuldade do brasileiro médio em con- VI. internação em estabelecimento educacional.
tinuar a estudar, pela freqüente demanda da família na sua contri-
buição com ganhos salariais para ajuda no sustento, é importante Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais,
destacar que é proibido qualquer trabalho a menores de quator- a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente
ze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Considerando a restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra
aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo forma, compense o prejuízo da vítima.
as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor. Hoje exis- A prestação de serviços comunitários consiste na realização
te um mecanismo estatal denominado bolsa-escola que tem como de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não exceden-
objetivo manter a criança na escola, com pequena colaboração do te a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas
Estado. e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas
Noutro ponto, toda criança ou adolescente direito ao acesso às comunitários ou governamentais.
diversões e espetáculos públicos classificados como adequados à A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita
sua faixa etária, àquelas que forem menores de dez anos somente aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exi- peculiar de pessoa em desenvolvimento. Em nenhuma hipótese o
88
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
período máximo de internação excederá a três anos, observando desenvolver nos alunos conhecimentos que expliquem os processos
que atingido este limite o adolescente deverá ser liberado, colocado por meio dos quais eles possam construir sua própria identidade
em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. A liberação no convívio social, subentendendo-se o emergir da consciência e
será compulsória aos vinte e um anos de idade. a compreensão dos mecanismos subjacentes às diferentes formas
Os pais são ou responsáveis são, primordialmente, titulares da de conduta.
guarda e da tutela dos menores sob sua responsabilidade, e exata- Ao questionarem o senso comum, os alunos irão contribuir para
mente por isso devem sofrer sanções ou medidas corretivas no caso uma reflexão e melhor compreensão de sua inserção no mundo,
incapacidade ou deficiência no atendimento ao menor. Exemplos desconstruindo um certo determinismo em relação a papéis
de medidas corretivas podem ser o encaminhamento a programa sociais a serem desempenhados, frente à escola, ao trabalho, à
oficial ou comunitário de proteção à família, inclusão em programa sexualidade, à autoridade, à relação familiar e aos grupos com os
oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoó- quais interagem. O estudo das Ciências Humanas e suas Tecnologias
latras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psicológico pode contribuir para a constituição de personalidades, formação de
ou psiquiátrico, obrigação de encaminhar a criança ou adolescente valores estéticos, políticos e éticos, para que futuramente possam
a tratamento especializado, podendo sofre eventual advertência, atuar com segurança na vida adulta.
perda da guarda, destituição da tutela e até a suspensão ou desti- A aprendizagem na Área Humana deve aproximar os diferentes
tuição do pátrio poder. referenciais teóricos e metodológicos dos conhecimentos que a
De forma integrada, também devem funcionar as entidades compõem, tendo como foco uma visão integrada do fenômeno
que desenvolvem programas de abrigo, que devem nortear suas ati- humano. Com base nisso, as diversas culturas devem ser
vidades dentro dos princípios da preservação dos vínculos familia- compreendidas a partir das implicações de ordem histórica,
res, integração em família substituta, quando esgotados os recursos geográfica, sociológica, antropológica, política, econômica,
de manutenção na família de origem, atendimento personalizado psicológica e filosófica.
e em pequenos grupos, desenvolvimento de atividades em regime Para ver o documento na íntegra acesse o link a seguir:
de co-educação, não desmembramento de grupos de irmãos, evi- http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/195-
tar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12598-
crianças e adolescentes abrigados, participação na vida da comuni- publicacoes-sp-265002211
dade local, preparação gradativa para o desligamento, participação A base curricular do ensino brasileiro tem passado por diversas
de pessoas da comunidade no processo educativo. mudanças, dentre elas, temos a lei a seguir.
Nos municípios, deverá haver, no mínimo, um Conselho Tute-
lar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local, Lei nº 13.415/2017
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos - Altera a LDB
da criança e do adolescente. São atribuições do Conselho Tutelar - Altera o Fundeb
atender as crianças e adolescentes, nas hipóteses em que seus di- - Altera a CLT
reitos estejam sendo desrespeitados, inclusive com relação a seus - Revoga a Lei 11.161/2005
pais e responsáveis, bem como em outras questões vinculadas aos - Institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
direitos e deveres previstos na legislação do ECA e na Constituição. Ensino Médio em Tempo Integral.
Enfim, o conjunto normativo do ECA é relativamente explícito e
compreensível até aos mais leigos, não sendo possível aqui detalhar Quais as implicações?
e trazer todas as questões mais especificas, ressalta-se que é um Implicações curriculares, com flexibilização e aligeiramento da
diploma legal objetiva colaborar na melhor formação das crianças e formação
dos adolescentes, sem perder o foco da reeducação dos pais e dos - Altera o formato de financiamento público com privatização
responsáveis, no que se inclui o próprio Estado Brasileiro. 46 - Atinge a formação docente
O ECA completo está disponível em: - Impacta a docência da rede particular de ensino
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm - Não assegura novos recursos
89
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
A Lei dispõe que a integralização curricular poderá incluir, a
critério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os AS DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO FUN-
temas transversais. Portanto, não necessitará de ser tratado para o DAMENTAL
conjunto dos estudantes.
A inclusão de novos componentes curriculares de caráter Diretrizes Curriculares Nacionais
obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas obri-
aprovação do CNE e de homologação pelo Ministro de Estado da gatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento cur-
Educação. ricular das escolas e dos sistemas de ensino. Elas são discutidas,
A BNCC definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas Mesmo depois que o Brasil elaborou a Base Nacional Comum Cur-
seguintes áreas do conhecimento: ricular (BNCC), as Diretrizes continuam valendo porque os docu-
I - linguagens e suas tecnologias; mentos são complementares: as Diretrizes dão a estrutura; a Base o
II - matemática e suas tecnologias; detalhamento de conteúdos e competências.
III - ciências da natureza e suas tecnologias; Atualmente, existem diretrizes gerais para a Educação Básica.
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. Cada etapa e modalidade (Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio) também apresentam diretrizes curriculares próprias.
A parte diversificada dos currículos, definida em cada sistema A do Ensino Médio é a mais recente, mas já está sendo reformulada
de ensino, deverá estar harmonizada à BNCC e ser articulada a partir pelo CNE para atender às mudanças proposta pela lei 13.415, da
do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural. Reforma do Ensino Médio.
A BNCC referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente As diretrizes buscam promover a equidade de aprendizagem,
estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia. garantindo que conteúdos básicos sejam ensinados para todos os
Portanto, não haverá a obrigatoriedade de disciplinas. alunos, sem deixar de levar em consideração os diversos contextos
Obrigatoriedade apenas para o ensino da língua portuguesa nos quais eles estão inseridos.
e da matemática nos três anos do ensino médio, assegurada às
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas O que são e qual é a função das diretrizes curriculares?
línguas maternas, e de língua inglesa. As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto de defini-
Outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, ções doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos
preferencialmente o espanhol, poderão ser ofertadas de acordo na Educação Básica que orientam as escolas na organização, articu-
com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos lação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas.
sistemas de ensino. As DCNs têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A carga horária destinada ao cumprimento da BNCC não poderá (LDB), de 1996, que assinala ser incumbência da União “estabele-
ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga horária do cer, em colaboração com os estados, Distrito Federal e os municí-
ensino médio. Ou seja, próximo a 69% do total da carga horária. pios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino
Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e os
Itinerários Formativos seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica
O currículo do ensino médio será composto pela BNCC e por comum”.
itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da O processo de definição das diretrizes curriculares conta com a
oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância participação das mais diversas esferas da sociedade. Dentre elas, o
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed),
saber: a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime),
I - linguagens e suas tecnologias; a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
II - matemática e suas tecnologias; (ANPEd), além de docentes, dirigentes municipais e estaduais de
III - ciências da natureza e suas tecnologias; ensino, pesquisadores e representantes de escolas privadas.
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional. As diretrizes continuam valendo com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC)?
Poderá ser composto itinerário formativo integrado, que se Sim. A função da Base é especificar aquilo as habilidades que
traduz na composição de componentes curriculares da BNCC e dos se espera que os alunos aprendam ano a ano. A BNCC foi elaborada
itinerários formativos. à luz do que diz das DCN e, portanto, um documento não exclui o
Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas na outro. “Fazendo uma analogia, as DCNs dão a estrutura, e a Base re-
rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio cursar cheia essa forma, com o que é essencial de ser ensinado. Portanto,
mais um itinerário formativo de que trata o caput. elas se complementam”, afirma Eduardo Deschamps, presidente do
Acesse o link a seguir e tenha acesso ao documento na íntegra: CNE. Diretrizes e Base são obrigatórios e devem ser respeitados por
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei - todas as escolas, tanto da rede pública como particular.
-13415-16-fevereiro-2017-784336-publicacaooriginal-152003-pl.
html Por que só as Diretrizes do Ensino Médio estão sendo revis-
tas?
O Conselho Nacional de Educação viu a necessidade de adaptar
as DCNs depois que o governo promulgou a lei da reforma do Ensi-
no Médio. “A Lei impacta diretamente nas diretrizes para o Ensino
Médio. Nas DCNs, por exemplo, estão especificados os 13 compo-
nentes curriculares (disciplinas escolares) obrigatórios da etapa,
algo que a lei rejeita. Na Educação Infantil e no Ensino Fundamen-
tal, nada estrutural mudou”, explica Deschamps.
90
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
As diretrizes curriculares preservam a autonomia dos profes- RESOLVE:
sores? Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Nacionais
As diretrizes curriculares visam preservar a questão da auto- para a Educação em Direitos Humanos (EDH) a serem observadas
nomia da escola e da proposta pedagógica, incentivando as insti- pelos sistemas de ensino e suas instituições.
tuições a montar seu currículo, recortando, dentro das áreas de Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos funda-
conhecimento, os conteúdos que lhe convêm para a formação da- mentais do direito à educação, refere-se ao uso de concepções e
quelas competências explícitas nas DCNs. práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus pro-
cessos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana
Desse modo, as escolas devem trabalhar os conteúdos básicos e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais
nos contextos que lhe parecerem necessários, considerando o perfil e coletivas.
dos alunos que atendem, a região em que estão inseridas e outros § 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhecidos
aspectos locais relevantes. como um conjunto de direitos civis, políticos, sociais, econômicos,
culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, transindivi-
Quais são as diferenças entre as diretrizes curriculares e os duais ou difusos, referem-se à necessidade de igualdade e de defe-
parâmetros curriculares? sa da dignidade humana.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são diretrizes se- § 2º Aos sistemas de ensino e suas instituições cabe a efetiva-
paradas por disciplinas elaboradas pelo governo federal e não obri- ção da Educação em Direitos Humanos, implicando a adoção sis-
gatórias por lei. Elas visam subsidiar e orientar a elaboração ou re- temática dessas diretrizes por todos(as) os(as) envolvidos(as) nos
visão curricular; a formação inicial e continuada dos professores; as processos educacionais.
discussões pedagógicas internas às escolas; a produção de livros e Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a finalidade de
outros materiais didáticos e a avaliação do sistema de Educação. Os promover a educação para a mudança e a transformação social,
PCNs são mais antigos, foram criados em 1997 e funcionaram como fundamenta-se nos seguintes princípios:
referenciais para a renovação e reelaboração da proposta curricular I - dignidade humana;
da escola até a definição das diretrizes curriculares. II - igualdade de direitos;
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obrigatórias III - reconhecimento e valorização das diferenças e das diver-
para a Educação Básica que têm como objetivo orientar o planeja- sidades;
mento curricular das escolas e dos sistemas de ensino, norteando IV - laicidade do Estado;
seus currículos e conteúdos mínimos. Assim, as diretrizes assegu- V - democracia na educação;
ram a formação básica, com base na Lei de Diretrizes e Bases da VI - transversalidade, vivência e globalidade; e
Educação (LDB), definindo competências e diretrizes para a Educa- VII - sustentabilidade socioambiental.
ção Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.47 Art. 4º A Educação em Direitos Humanos como processo sis-
temático e multidimensional, orientador da formação integral dos
Para ver o documento na íntegra acesse o link a seguir: sujeitos de direitos, articula-se às seguintes dimensões:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/1998/pceb022_98. I - apreensão de conhecimentos historicamente construídos
pdf sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna-
cional, nacional e local;
II - afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres-
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 30 DE MAIO DE 2012. DIRETRIZES sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da socie-
NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMA- dade;
NOS III - formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre-
sente em níveis cognitivo, social, cultural e político;
IV - desenvolvimento de processos metodológicos participati-
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 30 DE MAIO DE 2012
vos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didá-
ticos contextualizados; e
Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
V - fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem
Humanos.
ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de-
fesa dos direitos humanos, bem como da reparação das diferentes
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de
formas de violação de direitos.
suas atribuições legais e tendo em vista o disposto nas Leis nos
9.131, de 24 de novembro de 1995, e 9.394, de 20 de dezembro de Art. 5º A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo
1996, com fundamento no Parecer CNE/CP nº 8/2012, homologado central a formação para a vida e para a convivência, no exercício co-
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publica- tidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização
do no DOU de 30 de maio de 2012, social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais
CONSIDERANDO o que dispõe a Declaração Universal dos e planetário.
Direitos Humanos de 1948; a Declaração das Nações Unidas so- § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas
bre a Educação e Formação em Direitos Humanos (Resolução instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimen-
A/66/137/2011); a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretri- to de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às neces-
zes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o Programa sidades, às características biopsicossociais e culturais dos diferentes
Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH 2005/2014), sujeitos e seus contextos.
o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de acom-
7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos panhamento das ações de Educação em Direitos Humanos.
(PNEDH/2006); e as diretrizes nacionais emanadas pelo Conselho Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal,
Nacional de Educação, bem como outros documentos nacionais e deverá ser considerada na construção dos Projetos Político-Peda-
internacionais que visem assegurar o direito à educação a todos(as), gógicos (PPP); dos Regimentos Escolares; dos Planos de Desenvol-
vimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso
47 Fonte: www.todospelaeducacao.org.br
91
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
(PPC) das Instituições de Educação Superior; dos materiais didáticos Neste processo foram de grande importância as sugestões da
e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de ges- Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas; Centro
tão, bem como dos diferentes processos de avaliação. de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Bascarán de
Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação Açailândia, Maranhão; Diretoria de Cidadania e Direitos Humanos
em Direitos Humanos na organização dos currículos da Educação (DCDH) da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Associação
Básica e da Educação Superior poderá ocorrer das seguintes formas: de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo, Grupo de
I - pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero (GEPSEX)
Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Ob-
II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já exis- servatório de Educação em Direitos Humanos dos campi da Univer-
tentes no currículo escolar; sidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Bauru e de Araraquara.
III - de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e
disciplinaridade. Introdução
Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educação em Os Direitos Humanos são frutos da luta pelo reconhecimento,
Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na organização cur- realização e universalização da dignidade humana. Histórica e so-
ricular das instituições educativas desde que observadas as especi- cialmente construídos, dizem respeito a um processo em constante
ficidades dos níveis e modalidades da Educação Nacional. elaboração, ampliando o reconhecimento de direitos face às trans-
Art. 8º A Educação em Direitos Humanos deverá orientar a formações ocorridas nos diferentes contextos sociais, históricos e
formação inicial e continuada de todos(as) os(as) profissionais da políticos.
educação, sendo componente curricular obrigatório nos cursos des- Nesse processo, a educação vem sendo entendida como uma
tinados a esses profissionais. das mediações fundamentais tanto para o acesso ao legado históri-
Art. 9º A Educação em Direitos Humanos deverá estar presente co dos Direitos Humanos, quanto para a compreensão de que a cul-
na formação inicial e continuada de todos(as) os(as) profissionais tura dos Direitos Humanos é um dos alicerces para a mudança so-
das diferentes áreas do conhecimento. cial. Assim sendo, a educação é reconhecida como um dos Direitos
Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa de- Humanos e a Educação em Direitos Humanos é parte fundamental
verão fomentar e divulgar estudos e experiências bem sucedidas do conjunto desses direitos, inclusive do próprio direito à educação.
realizados na área dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos As profundas contradições que marcam a sociedade brasi-
Humanos. leira indicam a existência de graves violações destes direitos em
Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produ- consequência da exclusão social, econômica, política e cultural
ção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios que promovem a pobreza, as desigualdades, as discriminações, os
orientadores os Direitos Humanos e, por extensão, a Educação em autoritarismos, enfim, as múltiplas formas de violências contra a
Direitos Humanos. pessoa humana. Estas contradições também se fazem presentes no
Art. 12. As Instituições de Educação Superior estimularão ações ambiente educacional (escolas, instituições de educação superior e
de extensão voltadas para a promoção de Direitos Humanos, em outros espaços educativos). Cabe aos sistemas de ensino, gestores/
diálogo com os segmentos sociais em situação de exclusão social as, professores/as e demais profissionais da educação, em todos os
e violação de direitos, assim como com os movimentos sociais e a níveis e modalidades, envidar esforços para reverter essa situação
gestão pública. construída historicamente. Em suma, estas contradições precisam
Art. 13. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publi- ser reconhecidas, exigindo o compromisso dos vários agentes públi-
cação. cos e da sociedade com a realização dos Direitos Humanos.
PARECER CNE/CP Nº: 8/2012 Neste contexto, a Educação em Direitos Humanos emerge
como uma forte necessidade capaz de reposicionar os compromis-
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos sos nacionais com a formação de sujeitos de direitos e de respon-
sabilidades. Ela poderá influenciar na construção e na consolidação
I – RELATÓRIO da democracia como um processo para o fortalecimento de comu-
nidades e grupos tradicionalmente excluídos dos seus direitos.
Apresentação Como a Educação em Direitos Humanos requer a construção de
Este parecer foi construído no âmbito dos trabalhos de uma concepções e práticas que compõem os Direitos Humanos e seus
comissão interinstitucional, coordenada pelo Conselho Nacional de processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida coti-
Educação (CNE) que trata do assunto em uma de suas comissões diana, ela se destina a formar crianças, jovens e adultos para parti-
bicamerais. Participaram da comissão interinstitucional a Secretaria cipar ativamente da vida democrática e exercitar seus direitos e res-
de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), Secreta- ponsabilidades na sociedade, também respeitando e promovendo
ria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão os direitos das demais pessoas. É uma educação integral que visa o
(SECADI), Secretaria de Educação Superior (SESU), Secretaria de Ar- respeito mútuo, pelo outro e pelas diferentes culturas e tradições.
ticulação com os Sistemas de Ensino (SASE), Secretaria de Educação Para a sua consolidação, a Educação em Direitos Humanos pre-
Básica (SEB) e o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos cisa da cooperação de uma ampla variedade de sujeitos e institui-
(CNEDH). ções que atuem na proposição de ações que a sustentam. Para isso
Durante o processo de elaboração das diretrizes foram re- todos os atores do ambiente educacional devem fazer parte do pro-
alizadas, além das reuniões de trabalho da comissão bicameral cesso de implementação da Educação em Direitos Humanos. Isso
do Conselho Pleno do CNE e da comissão interinstitucional, duas significa que todas as pessoas, independente do seu sexo; origem
reuniões técnicas com especialistas no assunto, ligados a diversas nacional, étnico-racial, de suas condições econômicas, sociais ou
instituições. No intuito de construir diretrizes que expressassem os culturais; de suas escolhas de credo; orientação sexual; identidade
interesses e desejos de todos/as os/as envolvidos/as com a edu- de gênero, faixa etária, pessoas com deficiência, altas habilidades/
cação nacional, ocorreram consultas por meio de duas audiências superdotação, transtornos globais e do desenvolvimento, têm a
públicas e da disponibilização do texto, com espaço para envio de possibilidade de usufruírem de uma educação não discriminatória
sugestões, nos sites do CNE, MEC e SDH. e democrática.
92
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Reconhecer e realizar a educação como direito humano e a do genocídio humano abalaram a consciência crítica internacional.
Educação em Direitos Humanos como um dos eixos fundamentais Logo também entram em curso vários processos descolonizadores
do direito à educação, exige posicionamentos claros quanto à pro- de países asiáticos e africanos (anos 1940-1970), que geraram guer-
moção de uma cultura de direitos. Essa concepção de Educação em ras localizadas. Além das guerras e demais conflitos, este momento
Direitos Humanos é refletida na própria noção de educação expres- trouxe para a agenda internacional a questão do desenvolvimento
sa na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da dos países do chamado Terceiro Mundo.
Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996). O impacto desses conflitos impulsionou a criação, em 1945, da
Apesar da existência de normativas que determinam o caráter Organização das Nações Unidas (ONU) como um organismo regu-
geral dessa educação, expressas em documentos nacionais e inter- lador da ordem internacional, bem como a elaboração, em 1948,
nacionais dos quais o País é signatário, é imprescindível, para a sua da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que firmou a con-
efetivação, a adoção de Diretrizes Nacionais para a Educação em cepção contemporânea de Direitos Humanos, ancorada no tripé
Direitos Humanos, contribuindo para a promoção de uma educação universalidade, mindivisibilidade e interdependência. Naquele mo-
voltada para a democracia mento, a Cultura de Direitos se ampliava para
Neste documento o sentido do termo diversidade está ligado a Antigo Regime pode ser definido como um sistema de gover-
todas as possibilidades humanas de ser, viver e expressar-se. Assim, no que vigorou na Europa principalmente, entre os seculos XVI e
em algumas partes desse documento será feito o uso desse termo XVIII. A Revolução Francesa, em 1789, iniciou o seu fim retirando do
visando contemplar a todas essas possibilidades. e a cidadania. poder a monarquia absolutista. uma Cultura de Direitos Humanos.
Uma educação que se comprometa com a superação do racismo, Afirmava-se a universalidade dos direitos, aplicável a todas as nações,
sexismo, homofobia e outras formas de discriminação correlatas e povos e seres humanos; integravam-se as várias dimensões de direitos
que promova a cultura da paz e se posicione contra toda e qualquer (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) e tema-
forma de violência. tizavam-se novos objetos de direitos, tais como: as problemáticas do
desenvolvimento e da autodeterminação dos povos, relacionadas ao
1 Contexto histórico dos Direitos Humanos e da Educação em contexto pós-guerra, bem como, à educação e à cultura.
Direitos Humanos Não obstante tal orientação universalizante de direitos, novos
A ideia de Direitos Humanos diz respeito a um conjunto de processos históricos apontaram para outras situações de violações
direitos internacionalmente reconhecidos, como os direitos civis, dos Direitos Humanos. Nos anos de 1960-1970, por exemplo, o
políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles amplo processo de implantação de ditaduras militares na América
individuais, coletivos, transindividuais ou difusos, que se referem à Latina, mediante fortíssima repressão, censura, prisões, desapareci-
necessidade de igualdade e de defesa da dignidade humana. Atu- mento e assassinatos de milhares de opositores/opositoras aos re-
ando como linguagem internacional que estabelece a sua conexão gimes ditatoriais, representou um retrocesso nas lutas por direitos
com os estados democráticos de direito, a política dos direitos hu- civis, sociais e políticos.
manos pretende fazer cumprir: a) os direitos humanos que estão Neste período, o Brasil, embora também vivenciando a expe-
preconizados e trabalhar pela sua universalização e b) os princípios riência da ditadura militar, torna-se signatário, em 1966, do pacto
da contemporaneidade: da solidariedade, da singularidade, da co- internacional dos direitos civis e políticos e do pacto internacional
letividade, da igualdade e da liberdade. dos direitos econômicos e sociais. Apesar da assinatura de tais do-
Constituindo os princípios fundadores de uma sociedade mo- cumentos o tema dos Direitos Humanos no Brasil ganhará maior
derna, os Direitos Humanos têm se convertido em formas de luta evidência em agendas públicas ou ações populares a partir das lutas
contra as situações de desigualdades de acesso aos bens materiais e movimentos de oposição ao regime ditatorial.
e imateriais, as discriminações praticadas sobre as diversidades so- Nos anos de 1980, as lutas da sociedade civil dos vários países
cioculturais, de identidade de gênero, de etnia, de raça, de orien- latino-americanos pela redemocratização reverberaram na temati-
tação sexual, de deficiências, dentre outras e, de modo geral, as zação de novos direitos e embates para sua institucionalização. Sen-
opressões vinculadas ao controle do poder por minorias sociais. do assim, tomando o exemplo da América Latina, pode-se observar
A conversão dessas lutas e de suas conquistas em normas re- que as transformações e as reivindicações advindas de processos
gulatórias mais sistematizadas, expressas numa Cultura de Direitos, sociais, históricos, culturais e políticos de resistência aos regimes
inicia-se ainda no bojo dos movimentos contrários ao Antigo Regi- ditatoriais desempenharam importante papel no movimento de de-
me.
fesa e promoção dos Direitos Humanos.
Desses movimentos surgiram marcos históricos que assinalam
Na contemporaneidade novos desafios e lutas continuam sen-
a institucionalização de direitos: o Bill of Rights das Revoluções In-
do postos na agenda de debates e ações dos grupos envolvidos com
glesas (1640 e 1688-89); a Declaração de Virgínia (1776) no proces-
a defesa e promoção dos Direitos Humanos. É importante lembrar,
so da independência das 13 colônias frente à sua metrópole ingle-
a este respeito, as implicações do fenômeno da globalização, tanto
sa, do qual surgiram os Estados Unidos como nação; a Declaração
no estabelecimento de um idioma universal de direitos humanos,
do Homem e do Cidadão (1791), no âmbito da Revolução Francesa.
buscando a sua promoção nos diversos países ou contextos nacio-
Nesses três documentos foram afirmados direitos civis e políticos,
sintetizados nos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. nais, quanto, paradoxalmente, nas violações de tais direitos.
Do século XIX até a primeira metade do século XX, a eclosão Neste processo, as reações que os grupos e países em situação
de novos conflitos no âmbito internacional favoreceu a expansão de maior desigualdade e pobreza no contexto capitalista apontam
da Cultura de Direitos para vários países tanto europeus quanto la- para as possibilidades de uma política emancipatória dos Direitos
tino-americanos, bem como para outros grupos sociais. A chamada Humanos, quando o caráter global dos direitos é legitimado em pro-
Cultura de Direitos incorporou dimensões econômicas e sociais por cessos culturais de tradução e negociação locais (SANTOS, 1997).
meio das quais se passou a combater as desigualdades e as opres- Em decorrência desse contexto vários organismos internacio-
sões, pondo em evidência as diversidades biopsicossociais e cultu- nais vêm, sistematicamente, alargando a pauta dos Direitos Huma-
rais da humanidade. nos bem como a sua regulamentação.
No século XX, com as atrocidades da 1ª Guerra Mundial e, pos- É diante de tal contexto internacional que a Educação em Direi-
teriormente, do Holocausto e das bombas atômicas de Hiroshima e tos Humanos emerge como um dos direitos básicos da Cultura de
Nagasaki, na 2ª grande guerra, os impactos e a grandiosa dimensão Direitos que se pretende universalizar.
93
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
1.1 Direitos Humanos e Educação em Direitos Humanos no Assim, o PNEDH define a Educação em Direitos Humanos como
Brasil um processo sistemático e multidimensional que orienta a forma-
Se em um primeiro momento foi afirmada a universalidade dos ção do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimensões:
Direitos Humanos, pautando-se numa concepção de igualdade de a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos
direitos universalizada, verificou-se, a posteriori, que esta ampla sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna-
declaração de igualdade não alcançava, na prática, todos os sujeitos cional, nacional e local;
humanos, como por exemplo: mulheres, crianças, negros, indíge- b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres-
nas, etc. Isso porque, nas diversas sociedades, foram construídas sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da socie-
histórica e culturalmente desigualdades estruturantes, inviabilizan- dade;
do a fruição de direitos humanos, de modo equânime, por todos c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre-
os indivíduos. Por conseguinte foi buscada a afirmação de direitos sente em níveis cognitivo, social, cultural e político;
humanos dos sujeitos excluídos da fruição das Cartas de Direitos, d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos
promovendo o processo denominado de especificação dos sujeitos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
de direitos, sobremaneira em decorrência das manifestações e lu- contextualizados;
tas pelo reconhecimento de suas existências políticas. É nesse pro- e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem
cesso que esses sujeitos passam a ter maior visibilidade, mediante ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de-
a discussão das questões identitárias, dentre elas a de gênero, etni- fesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações.
cidade, raça e orientação sexual.
Os principais documentos internacionais sobre Direitos Huma- Nas últimas décadas tem-se assistido a um crescente processo
nos e Educação em Direitos Humanos encontram-se no Apêndice 1. de fortalecimento da construção da Educação em Direitos Humanos
No Brasil, conforme anunciado, o tema dos Direitos Humanos no País, por meio do reconhecimento da relação indissociável entre
ganha força a partir do processo de redemocratização ocorrido nos educação e Direitos Humanos. Desde então, foi adotada uma série
anos de 1980, com a organização política dos movimentos sociais e de dispositivos que visam a proteção e a promoção de direitos de
de setores da sociedade civil. Estes se opuseram a um regime dita- crianças e adolescentes; a educação das relações étnico-raciais; a
torial (1964-1985), de tipo militar, que, por suas deliberadas práti- educação escolar quilombola; a educação escolar; indígena; a edu-
cas repressivas, se configurou como um dos períodos mais violado- cação ambiental10; a educação do campo; a educação para jovens
res dos Direitos Humanos. e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimen-
Em resposta a estas violações, as organizações em defesa tos penais, as temáticas de identidade de gênero e orientação sexu-
dos Direitos Humanos constituíram-se em movimentos organiza- al na educação; a inclusão educacional das pessoas com deficiência
dos contra a carestia, em defesa do meio-ambiente, na luta pela e a implementação dos direitos humanos de forma geral no sistema
moradia, por terra, pela união dos/das estudantes, pela educação de ensino brasileiro.
popular, em prol da democratização do sistema educacional, entre Evidenciando a importância que vem ocupando no cenário
outros. Nessa nova conjuntura os discursos e práticas em torno dos educacional brasileiro, a Educação em Direitos Humanos foi tema-
Direitos Humanos buscavam instaurar uma contra-hegemonia por tizada na Conferência Nacional de Educação (CONAE) em 2010, no
meio de suas lutas por emancipação. eixo VI - Justiça Social, Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade
A ampliação do escopo de suas ações levou as organizações em e Igualdade.
defesa dos Direitos Humanos a empreenderem incursões mais inci- Justiça social, igualdade e diversidade “não são antagônicas.
sivas no campo da Educação em Direitos Humanos. Assim, tal como [...] Em uma perspectiva democrática e, sobretudo, em sociedades
ocorrido em outros países da América Latina, essa proposta de edu- pluriétnicas, pluriculturais e multirraciais, [...] deverão ser eixos da
cação no Brasil se apresenta como prática recente, desenvolvendo- democracia e das políticas educacionais, desde a educação básica
-se, ainda no contexto da repressão ditatorial, a partir do encontro e educação superior que visem a superação das desigualdades em
entre educadores/as, populares e militantes dos Direitos Humanos.
uma perspectiva que articula a educação e os Direitos Humanos”
Sendo assim, com a retomada da democracia e a promulgação
(BRASIL, 2010). O documento final resultante dessa conferência
da Constituição Federal de 1988, cria-se um marco jurídico para a
apresenta importantes orientações para seu tratamento nos siste-
elaboração de propostas educacionais pautadas nos Direitos Huma-
mas de ensino. Destaque-se que tais orientações serão ratificadas
nos, surgidas a partir da década de 1990.
ao longo deste documento.
É nesse contexto que surgem as primeiras versões do Programa
O Conselho Nacional de Educação também tem se posicionado
Nacional de Direitos Humanos (PNDH), produzidos entre os anos de
a respeito da relação entre Educação e Direitos Humanos por meio
1996 e 2002. Dentre os documentos produzidos a respeito desse
de seus atos normativos. Como exemplo podem ser citadas as Dire-
programa, no que diz respeito ao tema da Educação em Direitos
Humanos, merece destaque o PNDH-3, de 2010, que apresenta um trizes Gerais para a Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Na-
eixo orientador destinado especificamente para a promoção e ga- cionais para a Educação Infantil, do Ensino Fundamental de 9 (nove)
rantia da Educação e Cultura em Direitos Humanos. anos e para o Ensino Médio.
É a partir de 2003 que a Educação em Direitos Humanos ga- Nas Diretrizes Gerais para a Educação Básica o direito à edu-
nhará um Plano Nacional (PNEDH), revisto em 2006, aprofundando cação é concebido como direito inalienável de todos/as os/as cida-
questões do Programa Nacional de Direitos Humanos e incorporan- dãos/ãs e condição primeira para o exercício pleno dos Direitos Hu-
do aspectos dos principais documentos internacionais de Direitos manos. Neste sentido, afirma que uma escola de qualidade social
Humanos dos quais o Brasil é signatário. Esse plano se configura deve considerar as diversidades, o respeito aos Direitos Humanos,
como uma política educacional do estado voltada para cinco áreas: individuais e coletivos, na sua tarefa de construir uma cultura de
educação básica, educação superior, educação não-formal, mídia e Direitos Humanos formando cidadãos/ãs plenos/as. O parecer do
formação de profissionais dos sistemas de segurança e justiça. Em CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos Humanos
linhas gerais, pode-se dizer que o PNEDH ressalta os valores de tole- deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componen-
rância, respeito, solidariedade, fraternidade, justiça social, inclusão, tes curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação
pluralidade e sustentabilidade. temática, em função de prescrição definida pelos órgãos do sistema
94
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
educativo ou pela comunidade educacional, respeitadas as caracte- Sobretudo em uma sociedade multifacetada como a brasileira,
rísticas próprias da etapa da Educação Básica que a justifica (BRA- esta herança cultural é um obstáculo à efetivação do Estado Demo-
SIL, 2010, p. 24) crático de Direito. Assim, considera-se que a mudança dessa situ-
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ação não se opera sem a contribuição da educação realizada nas
(Parecer CNE/CEB nº 20/2009 e Resolução CNE/CEB nº 5/2009), por instituições educativas, particularmente por meio da Educação em
sua vez, reconhece a criança como sujeito de direito, inserindo-a Direitos Humanos.
no mundo dos Direitos Humanos, no que diz respeito aos direitos
fundamentais à saúde, alimentação, lazer, educação, proteção con- 2 Fundamentos da Educação em Direitos Humanos
tra a violência, discriminação e negligência, bem como o direito à A busca pela universalização da Educação Básica e democrati-
participação na vida social e cultural. zação do acesso a Educação Superior trouxe novos desafios para o
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio campo das políticas educacionais. Novos contingentes de estudan-
(Parecer CNE/CEB nº 5/2011 e Resolução CNE/CEB nº 2/2012), ao tes, por exemplo, trouxeram à tona, para os ambientes educacio-
levarem em consideração as deliberações do Programa Nacional de nais, a questão das diversidades de grupos e sujeitos historicamen-
Direitos Humanos (PNDH 3) no que diz respeito à implementação te excluídos do direito à educação e, de um modo geral, dos demais
do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), co- direitos. Tal situação colocou como necessidade a adoção de novas
locam como pressupostos e fundamentos para o Ensino Médio de formas de organização educacional, de novas metodologias de en-
qualidade social o tema dos Direitos Humanos como um dos seus sino-aprendizagem, de atuação institucional, buscando superar pa-
princípios norteadores. radigmas homogeneizantes.
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011 que fundamenta essas diretrizes A Educação em Direitos Humanos, como um paradigma cons-
reconhece a educação como parte fundamental dos Direitos Hu- truído com base nas diversidades e na inclusão de todos/as os/as
manos. Nesse sentido, chama a atenção para a necessidade de se estudantes, deve perpassar, de modo transversal, currículos, rela-
implementar processos educacionais que promovam a cidadania, o ções cotidianas, gestos, “rituais pedagógicos”, modelos de gestão.
conhecimento dos direitos fundamentais, o reconhecimento e a va- Sendo assim, um dos meios de sua efetivação no ambiente educa-
lorização da diversidade étnica e cultural, de identidade de gênero, cional também poderá ocorrer por meio da (re)produção de conhe-
de orientação sexual, religiosa, dentre outras, enquanto formas de cimentos voltados para a defesa e promoção dos Direitos Humanos.
combate ao preconceito e à discriminação. A Educação em Direitos Humanos envolve também valores e
Além dessas diretrizes, o CNE ainda aborda a temática dos Di- práticas considerados como campos de atuação que dão sentido
reitos Humanos na Educação por meio de normativas específicas e materialidade aos conhecimentos e informações. Para o estabe-
voltadas para as modalidades da Educação Escolar Indígena, Edu- lecimento de uma cultura dos Direitos Humanos é necessário que
cação Para Jovens e Adultos em Situação de Privação de Liberdade os sujeitos os signifiquem, construam-nos como valores e atuem na
nos Estabelecimentos Penais, Educação Especial, Educação Escolar sua defesa e promoção.
Quilombola (em elaboração), Educação Ambiental (em elaboração), A Educação em Direitos Humanos tem por escopo principal
Educação de Jovens e Adultos, dentre outras. uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à for-
As escolas, nessa orientação, assumem importante papel na mação de atitudes orientadas por valores humanizadores, como a
garantia dos Direitos Humanos, sendo imprescindível, nos diver- dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz, a
sos níveis, etapas e modalidades de ensino, a criação de espaços e reciprocidade entre povos e culturas, servindo de parâmetro ético-
tempos promotores da cultura dos Direitos Humanos. No ambiente -político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo
escolar, portanto, as práticas que promovem os Direitos Humanos e institucional.
deverão estar presentes tanto na elaboração do projeto político- A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos
-pedagógico, na organização curricular, no modelo de gestão e ava- sobre as relações entre os contextos sociais, culturais, econômicos
liação, na produção de materiais didático-pedagógicos, quanto na e políticos, promovendo práticas institucionais coerentes com os
formação inicial e continuada dos/as profissionais da educação. Direitos Humanos.
Pelo exposto, pode-se afirmar que a relevância da Educação em A formação política deve estar pautada numa perspectiva
Direitos Humanos aparece explícita ou implicitamente nos princi- emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos. Sob esta
pais documentos que norteiam as políticas e práticas educacionais. perspectiva promover-se-á o empoderamento de grupos e indivídu-
No entanto, a efetivação da Educação em Direitos Humanos no sis- os, situados à margem de processos decisórios e de construção de
tema educacional brasileiro implica na adoção de um conjunto de direitos, favorecendo a sua organização e participação na sociedade
diretrizes norteadoras para que esse processo ocorra de forma inte- civil. Vale lembrar que estes aspectos tornam-se possíveis por meio
grada, com a participação de todos/as e, sobretudo, de maneira sis- do diálogo e aproximações entre sujeitos biopsicossociais, históri-
tematizada a fim de que as garantias exigidas para sua construção e cos e culturais diferentes, bem como destes em suas relações com
consolidação sejam observadas. o Estado.
Embora avanços possam ser verificados em relação ao reco- Uma formação ética, critica e política (in)forma os sentidos da
nhecimento de direitos nos marcos legais, ainda se está distante de EDH na sua aspiração de ser parte fundamental da formação de su-
assegurar na prática os fundamentos clássicos dos Direitos Huma- jeitos e grupos de direitos, requisito básico para a construção de uma
nos - a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Ainda hoje se pode sociedade que articule dialeticamente igualdade e diferença. Como
constatar a dificuldade de consolidação de uma cultura social de Di- afirma Candau (2010:400): “Hoje não se pode mais pensar na afirma-
reitos Humanos, em parte devido aos preconceitos presentes numa ção dos Direitos Humanos a partir de uma concepção de igualdade que
sociedade marcada por privilégios e pouco afeita aos compromissos não incorpore o tema do reconhecimento da s diferenças, o que supõe
assumidos nacional e internacionalmente. lutar contra todas as formas de preconceito e discriminação”.
Não se pode ignorar a persistência de uma cultura, construída
historicamente no Brasil, marcada por privilégios, desigualdades, 2.1 Princípios da Educação em Direitos Humanos
discriminações, preconceitos e desrespeitos. A Educação em Direitos Humanos, com finalidade de promover
a educação para a mudança e a transformação social, fundamenta-
-se nos seguintes princípios:
95
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
• Dignidade humana: Relacionada a uma concepção de exis- cação ao cuidado com o meio ambiente local, regional e global. A
tência humana fundada em direitos. A ideia de dignidade huma- EDH, então, deve estar comprometida com o incentivo e promoção
na assume diferentes conotações em contextos históricos, sociais, de um desenvolvimento sustentável que preserve a diversidade da
políticos e culturais diversos. É, portanto, um princípio em que se vida e das culturas, condição para a sobrevivência da humanidade
devem levar em consideração os diálogos interculturais na efetiva de hoje e das futuras gerações.
promoção de direitos que garantam às pessoas e grupos viverem de Ainda que as instituições de educação básica e superior não
acordo com os seus pressupostos de dignidade. sejam as únicas instâncias a educar os indivíduos em Direitos Hu-
• Igualdade de direitos: O respeito à dignidade humana, de- manos, elas têm como responsabilidade a promoção e legitimação
vendo existir em qualquer tempo e lugar, diz respeito à necessária dos seus princípios como norteadores dos laços sociais, éticos e
condição de igualdade na orientação das relações entre os seres hu- políticos. Isso se faz mediante a formação de sujeitos de direitos,
manos. O princípio da igualdade de direitos está ligado, portanto, à capazes de defender, promover e reivindicar novos direitos.
ampliação de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais
e ambientais a todos os cidadãos e cidadãs, com vistas a sua uni- 2.2 Objetivos da Educação em Direitos Humanos
versalidade, sem distinção de cor, credo, nacionalidade, orientação Um dos principais objetivos da defesa dos Direitos Humanos
sexual, biopsicossocial e local de moradia. é a construção de sociedades que valorizem e desenvolvam condi-
• Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversida- ções para a garantia da dignidade humana.
des: Esse princípio se refere ao enfrentamento dos preconceitos e Nesse marco, o objetivo da Educação em Direitos Humanos é
das discriminações, garantindo que diferenças não sejam transfor- que a pessoa e/ou grupo social se reconheça como sujeito de direi-
madas em desigualdades. O princípio jurídico-liberal de igualdade tos, assim como seja capaz de exercê-los e promovê-los ao mesmo
de direitos do indivíduo deve ser complementado, então, com os tempo em que reconheça e respeite os direitos do outro. A EDH
princípios dos direitos humanos da garantia da alteridade entre as busca também desenvolver a sensibilidade ética nas relações inter-
pessoas, grupos e coletivos. pessoais, em que cada indivíduo seja capaz de perceber o outro em
sua condição humana.
Dessa forma, igualdade e diferença são valores indissociáveis Nesse horizonte, a finalidade da Educação em Direitos Huma-
que podem impulsionar a equidade social. nos é a formação para a vida e para a convivência, no exercício co-
• Laicidade do Estado: Esse princípio se constitui em pré-condi- tidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização
ção para a liberdade de crença garantida pela Declaração Universal social, política, econômica e cultural (MALDONADO, 2004, p. 24).
dos Direitos Humanos, de 1948, e pela Esses objetivos orientam o planejamento e o desenvolvimento de
diversas ações da Educação em Direitos Humanos, adequando-os
Constituição Federal Brasileira de 1988. Respeitando todas as às necessidades, às características de seus sujeitos e ao contexto
crenças religiosas, assim como as não crenças, o Estado deve man- nos quais são efetivados.
ter-se imparcial diante dos conflitos e disputas do campo religioso,
desde que não atentem contra os direitos fundamentais da pessoa 3 O ambiente educacional como espaço e tempo dos DH e da
humana, fazendo valer a soberania popular em matéria de política EDH
e de cultura. Sabe-se que os processos formativos envolvem diferentes tem-
O Estado, portanto, deve assegurar o respeito à diversidade pos, lugares, ações e vivências em diversos contextos de socializa-
cultural religiosa do País, sem praticar qualquer forma de proseli- ção, como a comunidade, a família, grupos culturais, os meios de
tismo. comunicação, as instituições escolares, dentre outros. Os vários
• Democracia na educação: Direitos Humanos e democracia ali- ambientes de aprendizagem ou formação, nesse sentido, se relacio-
cerçam-se sobre a mesma base - liberdade, igualdade e solidarieda- nam em determinados momentos ou situações, caso dos ambien-
de - expressando-se no reconhecimento e na promoção dos direitos tes escolares em que se encontram diversos indivíduos oriundos
civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais. Não há de variados contextos sociais e culturais, com histórias e visões de
democracia sem respeito aos Direitos Humanos, da mesma forma mundo particulares. É chamando a atenção para estes aspectos que
que a democracia é a garantia de tais direitos. Ambos são processos a ideia de ambiente educacional pode ser entendida como tempo
que se desenvolvem continuamente por meio da participação. No e espaço potenciais para a vivência e promoção dos Direitos Huma-
ambiente educacional, a democracia implica na participação de to- nos e da prática da Educação em Direitos Humanos.
dos/as os/as envolvidos/as no processo educativo. Sendo assim, é importante ressaltar que o ambiente educacio-
• Transversalidade, vivência e globalidade: Os Direitos Huma- nal diz respeito não apenas ao meio físico, envolvendo também as
nos se caracterizam pelo seu caráter transversal e, por isso, devem diferentes interações que se realizam no interior e exterior de uma
ser trabalhados a partir do diálogo interdisciplinar. Como se trata instituição de educação. Compreende, então, os espaços e tempos
da construção de valores éticos, a Educação em Direitos Huma- dos processos educativos que se desenvolvem intra e extramuros
nos é também fundamentalmente vivencial, sendo-lhe necessária escolares e acadêmicos, exemplificados pelas aulas; pelas relações
a adoção de estratégias metodológicas que privilegiem a constru- interpessoais estabelecidas entre as diferentes pessoas e os seus
ção prática destes valores. Tendo uma perspectiva de globalidade, papéis sociais, bem como pelas formas de interação entre institui-
deve envolver toda a comunidade escolar: alunos/as, professores/ ções de educação, ambiente natural, comunidade local e sociedade
as, funcionários/as, direção, pais/mães e comunidade local. Além de um modo geral.
disso, no mundo de circulações e comunicações globais, a EDH deve Segundo Duarte (2003) o ambiente educacional está relaciona-
estimular e fortalecer os diálogos entre as perspectivas locais, re- do a todos os processos educativos que têm lugar nas instituições,
gionais, nacionais e mundiais das experiências dos/as estudantes. abrangendo:
• Sustentabilidade socioambiental: A EDH deve estimular o res- • ações, experiências, vivências de cada um dos/as participan-
peito ao espaço público como bem coletivo e de utilização demo- tes;
crática de todos/as. Nesse sentido, colabora para o entendimento • múltiplas relações com o entorno;
de que a convivência na esfera pública se constitui numa forma de • condições sócio-afetivas;
educação para a cidadania, estendendo a dimensão política da edu- • condições materiais;
96
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
• infraestrutura para a realização de propostas culturais edu- • pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos
cativas. Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;
• como um conteúdo específico de uma das disciplinas já exis-
Tendo esses aspectos em mente, a ideia de um ambiente edu- tentes no currículo escolar;
cacional promotor dos Direitos Humanos liga-se ao reconhecimen- • de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e
to da necessidade de respeito às diferenças, garantindo a realização disciplinaridade; Não é demasiado lembrar que os sistemas de en-
de práticas democráticas e inclusivas, livres de preconceitos, dis- sino e suas instituições têm autonomia para articular e adaptar es-
criminações, violências, assédios e abusos sexuais, dentre outras sas possibilidades de implementação da EDH em suas orientações
formas de violação à dignidade humana. teóricas e práticas no processo educativo, observando os princípios
Sob o ponto de vista da gestão, isso significa que todos os es- e objetivos gerais da Educação em Direitos Humanos. Há, todavia,
paços e relações que têm lugar no ambiente educacional devem especificidades da Educação Básica e da Educação Superior que
se guiar pelos princípios da EDH e se desenvolverem por meio de precisam ser explicitadas.
processos democráticos, participativos e transparentes.
Então, quando se fala em ambiente educacional promotor da 4.1 Na Educação Básica
Educação em Direitos Humanos deve-se considerar que esse tipo A escola de educação básica é um espaço privilegiado de for-
de educação se realiza na interação da experiência pessoal e coleti- mação pelas contribuições que possibilitam o desenvolvimento do
va. Sendo assim, não é estática ou circunscrita a textos, declarações ser humano. A socialização e a apreensão de determinados conhe-
e códigos. cimentos acumulados ao longo da história da humanidade podem
Trata-se de um processo que se recria e se reelabora na inter- ser efetivados na ambiência da educação básica por meio de suas
subjetividade, nas vivências e relações dos sujeitos, na relação com diferentes modalidades e múltiplas dimensionalidades, tais como
o meio ambiente, nas práticas pedagógicas e sociais do cotidiano e a educação de jovens e adultos, educação no campo, educação
nos conflitos sociais, constituindo-se, assim, num modo de orienta- indígena, educação quilombola, educação étnico-racial, educação
ção e condução da vida. em sexualidade, educação ambiental, educação especial, dentre
A esse respeito é importante lembrar que, inerentes à convi- outras.
vência humana, os conflitos também se fazem presentes nas ins- A vivência da Educação em Direitos Humanos, nesse nível de
tituições de educação. Estas são microcosmos sociais onde as di- ensino, deve ter o cotidiano como referência para analisá-lo, com-
versidades se encontram. Nelas estão presentes valores, visões de preendê-lo e modificá-lo. Isso requer o exercício da cidadania ativa
mundo, necessidades, culturas, crenças, preferências das mais dife- de todos/as os/as envolvidos/as com a educação básica. Sendo a
rentes ordens. O convívio com tal diversidade, como se sabe, pode cidadania ativa entendida como o exercício que possibilita a prática
suscitar conflitos. sistemática dos direitos conquistados, bem como a ampliação de
Assim sendo, tais instituições devem analisar a realidade criti- novos direitos. Nesse sentido, contribui para a defesa da garantia
camente, permitindo que as diferentes visões de mundo se encon- do direito à educação básica pública, gratuita e laica para todas as
trem e se confrontem por meio de processos democráticos e pro- pessoas, inclusive para os que a ela não tiveram acesso na idade
cedimentos éticos e dialógicos, visando sempre o enfrentamento própria. É possível afirmar que essa garantia é condição para pensar
das injustiças e das desigualdades. É dessa forma que o ambiente e estruturar a Educação em Direitos Humanos, considerando que a
educativo favorecerá o surgimento de indivíduos críticos capazes efetividade do acesso às informações possibilita a busca e a amplia-
de analisar e avaliar a realidade a partir do parâmetro dos Direitos ção dos direitos.
Humanos. Conforme estabelece o PNEDH (BRASIL, 2006, p. 23), “a uni-
Nesse sentido, o conflito no ambiente educacional é pedagó- versalização da educação básica, com indicadores precisos de qua-
gico uma vez que por meio dele podem ser discutidos diferentes lidade e de equidade, é condição essencial para a disseminação do
interesses, sendo possível, com isso, firmar acordos pautados pelo conhecimento socialmente produzido e acumulado e para a demo-
respeito e promoção aos Direitos Humanos. Além disso, a função cratização da sociedade”. Essa é a principal função social da escola
pedagógica da mediação permite que os sujeitos em conflito pos- de educação básica.
sam lidar com suas divergências de forma autônoma, pacífica e soli- A democratização da sociedade exige, necessariamente, infor-
dária, por intermédio de um diálogo capaz de empoderá-los para a mação e conhecimento para que a pessoa possa situar-se no mun-
do, argumentar, reivindicar e ampliar novos direitos.
participação ativa na vida em comum, orientada por valores basea-
A informação toma uma relevância maior quando se lida com
dos na solidariedade, justiça e igualdade.
os vários tipos de conhecimentos e saberes, sejam eles caracteriza-
dos como tecnológicos, instrumentais, populares, filosóficos, socio-
4 A Educação em Direitos Humanos nas instituições de educa-
lógicos, científicos, pedagógicos, entre outros (SILVA,2010).
ção básica e educação superior
Mesmo sabendo que a escola não é o único lugar onde esses
A Educação em Direitos Humanos também ocorre mediante a
conhecimentos são construídos, reconhece-se que é nela onde eles
aproximação entre instituições educacionais e comunidade, a in-
são apresentados de modo mais sistemático.
serção de conhecimentos, valores e práticas convergentes com os Ao desempenhar essa importante função social, a escola pode
Direitos Humanos nos currículos de cada etapa e modalidade da ser compreendida, de acordo com o PNEDH como:
educação básica, nos cursos de graduação e pós-graduação, nos Um espaço social privilegiado onde se definem a ação institu-
Projetos Políticos Pedagógicos das escolas (PPP), nos Planos de De- cional pedagógica e a prática e vivência dos direitos humanos. [...]
senvolvimento Institucionais (PDI) e nos Programas Pedagógicos de local de estruturação de concepções de mundo e de consciência
Curso (PPC) das instituições de educação superior. Em suma, nos social, de circulação e de consolidação de valores, de promoção da
diferentes espaços e tempos que instituem a vida escolar e acadê- diversidade cultural, da formação para a cidadania, de constituição
mica. de sujeitos sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas
A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação em Di- (BRASIL, 2006, p. 23).
reitos Humanos na organização dos currículos da Educação Básica Essa escola, Alain Touraine (1998) denomina de escola demo-
e Educação Superior poderá se dar de diferentes formas, como por cratizante, entendendo-a como aquela que assume o compromisso
exemplo: de formar os indivíduos para serem atores sociais, ensina a respei-
97
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
tar a liberdade do outro, os direitos individuais, a defesa dos inte- • construir normas de disciplinas e de organização da escola,
resses sociais e os valores culturais, objetivando o combate a todos com a participação direta dos/as estudantes;
os tipos de preconceitos e discriminações com qualquer segmento • discutir questões relacionadas à vida da comunidade, tais
da sociedade. como problemas de saúde, saneamento básico, educação, mora-
Nessa concepção, a Educação em Direitos Humanos não se li- dia, poluição dos rios e defesa do meio ambiente, transporte, entre
mita à contextualização e à explicação das variáveis sociais, econô- outros;
micas, políticas e culturais que interferem e orientam os processos • trazer para a sala de aula exemplos de discriminações e pre-
educativos, embora ela seja imprescindível para a compreensão da conceitos comuns na sociedade, a partir de situação-problema e
sua construção. Faz parte dessa educação a apreensão dos conteú- discutir formas de resolvê-las;
dos que dão corpo a essa área, • tratar as datas comemorativas que permeiam o calendário
como a história, os processos de evolução das conquistas e das escolar de forma articulada com os conteúdos dos Direitos Huma-
violações dos direitos, as legislações, os pactos e acordos que dão nos de forma transversal, interdisciplinar e disciplinar;
sustentabilidade e garantia aos direitos. • trabalhar os conteúdos curriculares integrando-os aos con-
Além disso, os conteúdos devem estar associados ao desenvol- teúdos da área de DH, através das diferentes linguagens; musical,
vimento de valores e de comportamentos éticos na perspectiva de corporal, teatral, literária, plástica, poética, entre outras, com me-
que o ser humano é parte da natureza e sempre incompleto em todologias ativa, participativa e problematizadora.
termos da sua formação. O ser humano por ter essa incompletude
tem necessidade permanente de conhecer, construir e reconstruir Para a efetivação da educação com esses fundamentos teóri-
regras de convivência em sociedade. co-metodológicos será necessário o enfrentamento de muitos de-
É importante destacar alguns princípios que norteiam a Educa- safios nos âmbitos legais e práticos das políticas educacionais bra-
ção em Direitos Humanos na Educação Básica, definidos no PNEDH sileiras. Um dos maiores desafios que obstaculizam a concretização
(BRASIL, 2006) e referendados no Programa Nacional de Direitos da EDH nos sistemas de ensino é a inexistência, na formação dos/as
Humanos - PNDH-3 (BRASIL, 2010), no sentido de contribuir com os profissionais nas diferentes áreas de conhecimento, de conteúdos e
sistemas de ensino e suas instituições de educação na elaboração metodologias fundados nos DH e na EDH.
das suas respectivas propostas pedagógicas: Com relação a essa preocupação há uma recomendação explí-
• a Educação em Direitos Humanos além de ser um dos eixos cita no Documento Final da Conferência Nacional de Educação 2010
fundamentais da educação básica, deve orientar a formação inicial (CONAE), na área específica da Educação em
e continuada dos/as profissionais da educação, a elaboração do Direitos Humanos, que se refere à ampliação da [...] formação
projeto político pedagógico, os materiais didáticopedagógicos, o continuada dos/as profissionais da educação em todos os níveis e
modelo de gestão e a avaliação das aprendizagens. modalidades de ensino, de acordo com o Plano Nacional de Educa-
• A prática escolar deve ser orientada para a Educação em Di- ção em Direitos Humanos e dos planos estaduais de Direitos Huma-
reitos Humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação nos, visando à difusão, em toda a comunidade escolar, de práticas
dialógica entre os diversos atores sociais. pedagógicas que reconheçam e valorizem a diversidade e a demo-
• Os/as estudantes devem ser estimulados/as para que sejam cracia participativa. (BRASIL, 2010, p. 162)
protagonistas da construção de sua educação, com o incentivo, por Ao lado do reconhecimento da existência de muitos desafios,
exemplo, do fortalecimento de sua organização estudantil em grê- há o entendimento de que eles precisam ser enfrentados coletiva-
mios escolares e em outros espaços de participação coletiva. mente para a garantia de uma educação de qualidade social que
• Participação da comunidade educativa na construção e efeti- possibilita a inclusão e permanência dos/as estudantes com resul-
vação das ações da Educação em Direitos Humanos. tados positivos no ambiente educacional e na sociedade quando
assentada na perspectiva da EDH.
Cabe chamar a atenção para a importância de alicerçar o Pro- Alguns desses desafios serão explicitados mais adiante.
jeto Político Pedagógico nos princípios, valores e objetivos da Edu-
cação em Direitos Humanos que deverão transversalizar o conjunto 4.2 Na Educação Superior
das ações em que o currículo se materializa. Propõe-se assim que, O Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PME-
no currículo escolar, sejam incluídos conteúdos sobre a realidade DH- 2, 2010) tratando da sua implementação na educação superior,
social, ambiental, política e cultural, dialogando com as problemáti- destaca a responsabilidade das IES com a formação de cidadãos/ãs
cas que estão próximas da realidade desses estudantes. éticos/as comprometidos/as com a construção da paz, da defesa
Com isso pretende-se possibilitar a incorporação de conheci- dos direitos humanos e dos valores da democracia, além da respon-
mentos e de vivências democráticas, incluindo o estímulo a parti- sabilidade de gerar conhecimento mundial visando atender os atu-
cipação dos/as estudantes na vida escolar, inclusive na organização ais desafios dos direitos humanos, como a erradicação da pobreza,
estudantil, para a busca e defesa dos direitos e responsabilidades do preconceito e da discriminação.
coletivas. Para que a instituição educativa se constitua em um am- Sendo assim, as responsabilidades das IES com a Educação em
biente educativo democrático, local de diferentes aprendizagens, é Direitos Humanos no ensino superior estão ligadas aos processos
necessário considerar também as diversas fases de desenvolvimen- de construção de uma sociedade mais justa, pautada no respeito e
to da criança, jovens e adultos respeitando as suas individualida- promoção dos Direitos Humanos, aspectos ratificados pelo PNEDH
des enquanto sujeitos de direitos. Assim, os jogos e as brincadeiras como forma de firmar o compromisso brasileiro com as orientações
devem ter por princípios o respeito integral aos direitos do outro, internacionais. Com base nessas, toda e qualquer ação de Educação
a convivência democrática, a sociabilidade socioambiental e a soli- em Direitos Humanos deve contribuir para a construção de valores
dariedade. que visam a práxis transformadora da sociedade, perpassando os
Sob a perspectiva da EDH as metodologias de ensino na educa- espaços e tempos da educação superior.
ção básica devem privilegiar a participação ativa dos /as estudantes Vê-se, com isso, que a inserção da Educação em Direitos Hu-
como construtores/as dos seus conhecimentos, de forma proble- manos na Educação Superior deve ser transversalizada em todas
matizadora, interativa, participativa e dialógica. São exemplos das as esferas institucionais, abrangendo o ensino, a pesquisa, a exten-
possibilidades que a vivência destas metodologias pode possibilitar: são e a gestão. No ensino, por exemplo, os Direitos Humanos, nos
98
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
projetos pedagógicos dos cursos e suas atividades curriculares, po- compromisso com a construção de uma cultura de direitos, contri-
dem ser incluídos como conteúdos complementares e flexíveis, por buindo para o bem estar de todos/as e afirmação das suas condi-
meio de seminários e atividades interdisciplinares, como disciplinas ções de sujeitos de direitos.
obrigatórias e/ou optativas ou ainda de maneira mista, combinando
mais de um modo de inserção por meio do diálogo com várias áreas 5 Desafios
de conhecimento. Como ação transversal e interdisciplinar, numa Ter leis que garantam direitos não significa que estes sejam (re)
perspectiva crítica de currículo, a EDH propõe a relação entre teoria conhecidos e vivenciados no ambiente educacional, bem como nas
e prática, entre as garantias formais e a efetivação dos direitos. demais instituições sociais. Diante disso, torna-se premente a efe-
No que se refere à pesquisa, vale lembrar que, semelhante a tivação de uma cultura dos Direitos Humanos, reafirmando a im-
qualquer área de conhecimento, o desenvolvimento de saberes e portância do papel da Educação em Direitos Humanos. No entanto,
ações no campo da Educação em Direitos Humanos se dá princi- para se alcançar tal objetivo é necessário enfrentar alguns desafios.
palmente com o apoio de investigações especializadas. “A pesqui- O primeiro deles é a formação, pautada nas questões pertinen-
sa científica nos mais variados campos do conhecimento e da vida tes aos Direitos Humanos, de todos/as os/as profissionais da educa-
associativa produz resultados passíveis de serem incorporados a ção nas diferentes áreas do conhecimento, uma vez que esses con-
programas e políticas de promoção da paz, do desenvolvimento, da teúdos não fizeram e, em geral, não fazem parte dos cursos de gra-
justiça, da igualdade e das liberdades” (ADORNO; CARDIA, 2008, duação e pós-graduação, nem mesmo da Educação Básica (SILVA,
p.196), assim como da fraternidade. FERREIRA, 2010, p. 89). Sendo assim, compreende-se que a forma-
As demandas por conhecimentos na área dos direitos huma- ção destes/as profissionais deverá contemplar o conhecimento e o
nos requerem uma política de incentivo que institua a realização de reconhecimento dos temas e questões dos Direitos Humanos com o
estudos e pesquisas. Faz-se necessário, nesse sentido, a criação de intuito de desenvolver a capacidade de análise critica a respeito do
núcleos de estudos e pesquisas com atuação em temáticas como papel desses direitos na sociedade, na comunidade, na instituição,
violência, direitos humanos, segurança pública, criança e adoles- fazendo com que tais profissionais se identifiquem e identifiquem
cente, relações de gênero, identidade de gênero, diversidade de sua instituição como protetores e promotores destes direitos.
orientação sexual, diversidade cultural, dentre outros. O segundo desafio diz respeito à valorização desses/as profis-
O Programa Nacional de Direitos Humanos III (2009) e o Plano sionais que deverão ser compreendidos/as e tratados/as como su-
Nacional de educação em Direitos Humanos (2006) reiteram a ne- jeitos de direitos, o que implica, por parte dos entes federados res-
cessidade destes estudos e pesquisas, bem como a criação, a lon- ponsáveis pelas políticas educacionais, garantir condições dignas de
go prazo, dos Direitos Humanos como área de conhecimento nos trabalho que atendam as necessidades básicas e do exercício pro-
órgãos de fomento a pesquisa. Enfatizam ainda a importância da fissional. Tal situação requer o efetivo cumprimento das políticas de
organização de acervos e da memória institucional como valor de- profissionalização, assegurando garantias instituídas nos diversos
mocrático e pedagógico. planos de carreira de todos/as os/as trabalhadores/as da educação.
Nas atividades de extensão, a inclusão dos Direitos Humanos O terceiro diz respeito à socialização dos estudos e experiên-
no Plano Nacional de Extensão Universitária enfatiza o compro- cias bem sucedidas desenvolvidos na área dos Direitos Humanos,
misso das universidades com a promoção e a defesa dos Direitos realizados em instituições de ensino e centros independentes,
Humanos. É oportuno lembrar, a este respeito, a necessidade das como institutos e organizações não governamentais. Torna-se ne-
Instituições de Ensino Superior atenderem demandas não só forma- cessário, então, o fomento às pesquisas em Educação em Direitos
tivas, mas também de intervenção por meio da aproximação com Humanos e nas temáticas que a integram no âmbito das instituições
os segmentos sociais em situação de exclusão social e violação de de educação superior que, por sua vez, poderão promover encon-
direitos, assim como os movimentos sociais e a gestão pública. À IES tros, seminários, colóquios e publicações de caráter interdisciplinar
cabe, portanto, o papel de assessorar governos, organizações so- a fim de divulgar os novos conhecimentos produzidos na área.
ciais e a sociedade na implementação dos Direitos Humanos como O quarto desafio a ser enfrentado pelas instituições de educa-
forma de contribuição para a consolidação da democracia. ção e de ensino está ligado à perspectiva do respeito às diversida-
Na gestão, os direitos humanos devem ser incorporados na cul- des como aspecto fundamental na reflexão sobre as diversas for-
tura e gestão organizacional, no modo de mediação de conflitos, mas de violência que ocasionam a negação dos Direitos Humanos.
na forma de lidar e reparar processos de violações através de ouvi- Nesse sentido, o reconhecimento político das diversidades, fruto da
dorias e comissões de direitos humanos, na representação institu- luta de vários movimentos sociais, ainda se apresenta como neces-
cional e intervenção social junto às esferas públicas de cidadania, a sidade urgente no ambiente educacional, dadas as recorrentes situ-
exemplo da participação das IES em conselhos, comitês e fóruns de ações de preconceitos e discriminações que nele ocorrem.
direitos e políticas públicas. O quinto desafio se refere à compreensão ampla da participa-
ção democrática requerida pela Educação em Direitos Humanos.
As Instituições de Ensino Superior não estão isentas de graves
Nesse sentido, é preciso lembrar da necessidade de representação
violações de direitos.
de todos os segmentos que integram a comunidade escolar e aca-
Muitas delas (re)produzem privilégios de classe e discrimina-
dêmica em seus diferentes tempos e espaços. É dessa forma que
ções étnicas, raciais, de orientação sexual, dentre outras. Mesmo
se construirá o sentido de participação política entre os diferen-
com tantas conquistas no campo jurídico-político, ainda persiste a
tes atores que compõem o ambiente escolar. No que diz respeito
falta de igualdade de oportunidades de acesso e permanência na
à participação na construção do conhecimento, é imprescindível
Educação Superior, sendo ainda necessária a implementação de po-
considerar o protagonismo discente e docente, favorecendo as suas
líticas públicas que, efetivamente, revertam as situações de exclu-
participações ativas.
são a que estão sujeitos muitos/as estudantes brasileiros/as. O sexto desafio refere-se à necessidade de criação de políticas
Espera-se de uma IES que contemple os Direitos Humanos de produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como
como seus princípios orientadores e a Educação em Direitos Huma- princípios orientadores o respeito à dignidade humana e a diver-
nos como parte do processo educativo. Sem o respeito aos Direitos sidade cultural e socioambiental, na perspectiva de educar para a
Humanos não será possível consolidar uma democracia substancial, consolidação de uma cultura de Direitos Humanos nos sistemas de
nem garantir uma vida de qualidade para todos/as. Será preciso o ensino.
99
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
O sétimo desafio está ligado ao reconhecimento da importân- cessos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana
cia da Educação em Direitos Humanos e sua relação com a mídia e e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais
as tecnologias da informação e comunicação. e coletivas.
O caráter crítico da informação e da comunicação deverá se § 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhecidos
pautar nos direitos humanos, favorecendo a democratização do como um conjunto de direitos civis, políticos, sociais, econômicos,
acesso e a reflexão dos conteúdos veiculados. A garantia do direito culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, transindivi-
humano deve considerar também a livre expressão de pensamento, duais ou difusos, se referem à necessidade de igualdade e de defesa
como forma de combate a toda forma de censura ou exclusão. da dignidade humana.
Por fim, posto que direitos humanos e educação em direitos § 2º Aos sistemas de ensino e suas instituições cabe a efeti-
humanos são indissociáveis, o oitavo desafio se refere à efetivação vação da Educação em Direitos Humanos, implicando na adoção
dos marcos teórico-práticos do diálogo intercultural ao nível local e sistemática dessas diretrizes por todos/as os/as envolvidos/as nos
global, de modo a garantir o reconhecimento e valorização das di- processos educacionais.
versidades socioculturais, o combate às múltiplas opressões, o exer- Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a finalidade de
cício da tolerância e da solidariedade, tendo em vista a construção promover a educação para a mudança e a transformação social,
de uma cultura em direitos humanos capaz de constituir cidadãos/ fundamenta-se nos seguintes princípios:
ãs comprometidos/as com a democracia, a justiça e a paz. I - dignidade humana;
II - igualdade de direitos;
II – VOTO DA COMISSÃO III - reconhecimento e valorização das diferenças e das diver-
Ao aprovar este Parecer e o Projeto de Resolução anexo, a co- sidades;
missão bicameral de Educação em Direitos Humanos submete-os IV - laicidade do Estado;
ao Conselho Pleno para decisão. V - democracia na educação;
Brasília (DF), 6 de março de 2012. VI - transversalidade, vivência e globalidade; e
Conselheiro Antonio Carlos Caruso Ronca – Presidente VII - sustentabilidade socioambiental.
Conselheira Rita Gomes do Nascimento – Relatora Art. 4º A Educação em Direitos Humanos como processo sis-
Conselheiro Raimundo Moacir Feitosa – membro temático e multidimensional, orientador da formação integral dos
Conselheiro Reynaldo Fernandes – membro sujeitos de direitos, articula-se às seguintes dimensões:
I - apreensão de conhecimentos historicamente construídos
III – DECISÃO DO CONSELHO PLENO sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna-
O Conselho Pleno aprova, por unanimidade, o voto da Comis- cional, nacional e local;
são. II - afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem
Plenário, 6 de março de 2012. a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade;
Conselheiro Antonio Carlos Caruso Ronca – Presidente III - formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre-
sente em níveis cognitivo, social, cultural e político;
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO IV - desenvolvimento de processos metodológicos participati-
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO vos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didá-
CONSELHO PLENO ticos contextualizados; e o
PROJETO DE RESOLUÇÃO V - fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem
ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de-
Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos fesa dos direitos humanos, bem como da reparação das diferentes
Humanos formas de violação de direitos.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de Art. 5º A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo
suas atribuições legais e tendo em vista o disposto nas Leis nos central a formação para a vida e para a convivência, no exercício co-
9.131, de 24 de novembro de 1995, e 9.394, de 20 de dezembro de tidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização
1996, com fundamento no Parecer CNE/CP nº /2012, homologado social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publica- e planetário.
do no DOU de de de 2012, § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas
CONSIDERANDO o que dispõe a Declaração Universal dos instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimen-
Direitos Humanos de 1948, a Declaração das Nações Unidas so- to de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às neces-
bre a Educação e Formação em Direitos Humanos (Resolução sidades, às características biopsicossociais e culturais dos diferentes
A/66/137/2011), a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretri- sujeitos e seus contextos.
zes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o Programa § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de acom-
Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH 2005/2014), panhamento das ações de Educação em Direitos Humanos.
Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal,
7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos deverá ser considerada na construção dos Projetos Políticos Peda-
(PNEDH/2006), as diretrizes nacionais emanadas pelo Conselho gógicos (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos de Desenvol-
Nacional de Educação, bem como outros documentos nacionais e vimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso
internacionais que visem assegurar o direito a educação a todos/as, (PPC) das Instituições de Ensino Superior; dos materiais didáticos e
RESOLVE: pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de gestão;
bem como dos diferentes processos de avaliação.
Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Nacionais Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes a Educação
para a Educação em Direitos Humanos (EDH) a serem observadas em Direitos Humanos na organização dos currículos da Educação
pelos sistemas de ensino e suas instituições. Básica e da Educação Superior poderá ocorrer das seguintes formas:
Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos funda- I - pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos
mentais do direito à educação, refere-se ao uso de concepções e Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;
práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus pro-
100
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já exis- 04. Alfabetização é um processo complexo que envolve não
tentes no currículo escolar; apenas habilidades de codificar e decodificar, mas se caracteri-
III - de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e za como um processo ativo por meio do qual a criança constrói
disciplinaridade. e reconstrói hipóteses. Dessa forma, assinale a opção CORRETA
Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educação em que expressa o conceito de alfabetização numa perspectiva mais
Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na organização cur- ampla.
ricular das instituições educativas desde que observadas as especi- a) Domínio da relação grafemas/ fonemas, ou seja, decodifica-
ficidades dos níveis e modalidades da Educação Nacional. ção e codificação.
Art. 8º A Educação em Direitos Humanos deverá orientar a for- b) Decodificação dos sinais gráficos, transformando as letras
mação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais da edu- em sons.
cação, sendo componente curricular obrigatório nos cursos destina- c) Desenvolvimento da capacidade de codificar os sons da fala
dos a esses profissionais. em sinais gráficos.
Art. 9º A Educação em Direitos Humanos deverá estar presente d) Aprendizado da leitura e escrita, natureza e funcionamento
na formação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais das do sistema de escrita.
diferentes áreas do conhecimento. e) Apropriação de hipóteses de codificar e decodificar os sons
Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa de- em sinais gráficos.
verão fomentar e divulgar estudos e experiências bem sucedidas
realizados na área dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos 05. (CONSULPLAN/2014) O currículo tem um papel tanto de
Humanos. conservação quanto de transformação e construção dos conheci-
Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produ- mentos historicamente acumulados. A perspectiva teórica que trata
ção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios o currículo como um campo de disputa e tensões, pois o vê implica-
orientadores os Direitos Humanos, e por extensão, a Educação em do com questões ideológicos e de poder, denomina-se
Direitos Humanos. (A) tecnicista.
Art. 12. As Instituições de Ensino Superior estimularão ações (B) crítica.
de extensão voltadas para a promoção de direitos humanos, em (C) tradicional.
diálogo com os segmentos sociais em situação de exclusão social e (D) pós-crítica.
violação de direitos, assim como os movimentos sociais e a gestão
pública. 06. (SEDUC-AM/2014) A respeito da formação de professores
Art. 13. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publi- para a Educação Especial, assinale a afirmativa incorreta.
cação (A) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos professores
tenham um perfil compatível com os princípios educacionais hu-
manistas.
(B) Os professores estão continuamente atualizando-se, para
EXERCÍCIOS conhecer cada vez mais de perto os seus alunos, promover a inte-
ração entre as disciplinas escolares, reunir os pais, a comunidade,
01. (MOURA MELO/2015) Com relação à Educação para a Cida- a escola em que exercem suas funções, em torno de um projeto
dania, podemos afirmar, exceto: educacional que estabeleceram juntos.
a) Estimula o desenvolvimento de competência. (C) A formação continuada dos professores é, antes de tudo,
b) Não se atém à abordagem de temas transversais. uma auto formação, pois acontece no interior das escolas e a partir
c) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico. do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas.
d) Preocupa-se com o apreço pelos valores democráticos. (D) As habilitações dos cursos de Pedagogia para formação de
professores de alunos com deficiência ainda existem em diversos
02. (MOURA MELO/2015) Para que o conhecimento seja perti- estados brasileiros.
nente, a educação deverá tornar certos fatores evidentes. São eles, (E) A inclusão diz respeito a uma escola cujos professores te-
exceto: nham uma formação que se esgota na graduação ou nos cursos de
a) O global. pós-graduação em que se diplomaram.
b) O complexo.
c) O contexto. 07. Sobre a avaliação da aprendizagem, marque V para as afir-
d) O unidimensional. mativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas.
( ) Podemos afirmar que prova escrita, portfólio, trabalhos, tes-
03. (MOURA MELO/2015) O acesso ao ensino fundamental é tes, pesquisas, e relatórios são exemplos de instrumentos de ava-
direito: liação.
a) Privado objetivo. ( ) A avaliação no contexto atual deve priorizar a nota em detri-
b) Privado subjetivo. mento da qualidade do processo de aprendizagem.
c) Público objetivo. ( ) A avaliação tem diversas funções. Algumas delas são: facili-
d) Público subjetivo. tar o diagnóstico, interpretar os resultados, promover e agrupar os
alunos.
( ) A avaliação é uma atividade que informa tanto durante o
desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem (avaliação for-
mativa) quanto no final do processo (avaliação somativa).
( ) A avaliação é um ritual a serviço da manutenção da ordem e
da disciplina em sala de aula.
101
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Assinale a alternativa correta: a) F - V - F - V - F
a) V, F, V, F, F; b) V - F - F - F - V
b) F, F, V, V, V; c) F - V - V - F - V
c) V, V, F, V, F; d) V - F - V - F - V
d) V, F, V, V, F;
e) F, F, V, V, F. 11. (SELECON/2018 Prefeitura de Cuiabá/MT) Segundo Barbo-
sa (2010), a Pedagogia da Infância “constitui-se de um conjunto
08. (IBFC/2015) A Educação Inclusiva não deve ser confundida de fundamentos e indicações de ação pedagógica que tem como
como Educação Especial, porém, a segunda esta inclusa na primei- referência as crianças e as múltiplas concepções de infância em
ra. Em outras palavras, a Educação Inclusiva é a forma de: diferentes espaços educacionais”. A partir dessa consideração, po-
(A) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de todos. de-se dizer que as propostas pedagógicas baseadas nesta perspec-
(B) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio. tiva devem considerar:
(C) Promover a aprendizagem de crianças somente na educa- a) a reprodução de uma pedagogia transmissiva, que prioriza
ção infantil. que todas crianças realizem a mesma tarefa e ao mesmo tempo,
(D) Inclusão de crianças no ensino fundamental. cabendo ao professor ser o transmissor dos saberes hierarquizados
e às crianças meras receptoras
09.(FEPESE/ Prefeitura de Brusque/SC) Assinale a alternativa b) a observação sistemática dos comportamentos da criança,
que completacorretamentea frase abaixo: ignorando os contextos dos quais fazem parte e a participação dos
“A Pedagogia da Infância admite como pressuposto básico a sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem e desenvolvimen-
criança como um (…)” to
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Pedagogia da Infância. c) a elaboração de experiências significativas e interativas, con-
a) vir a ser. siderando a criança como um sujeito social e com competências,
b) sujeito de direitos (à provisão, à proteção e à participação cabendo ao professor organizar os espaços e o tempo de modo a
social, com base na Convenção dos Direitos das Crianças (1989). favorecer a participação ativa e a interatividade dela no processo
c) adulto em miniatura, tendo todas as habilidades já prontas, educativo
faltando apenas o seu desabrochar, independentemente de classe d) a promoção de um clima de bem-estar na creche e pré-esco-
social, sexo ou cultura. la, no qual as crianças se sintam à vontade para, espontaneamente,
d) ser que ainda não é adulto. A infância neste caso é a incuba- desenvolver propostas interativas com os adultos e demais crianças
ção para que ela se torne alguém.
e) ser a-histórico, que depende do adulto para construir cul- 12. (VUNESP/2016) Para Vygotsky, o tema do pensamento e da
tura. linguagem situa-se entre as questões de psicologia, em que aparece
em primeiro plano, a relação entre as diversas funções psicológicas
10. ACAFE/2017 – SED/SC) Nos dias atuais, em que as socie- e as diferentes modalidades de atividade da consciência. O ponto
dades estão centradas cada vez mais na escrita, saber codificar central de toda essa questão é
e decodificar, por meio do código linguístico, tem-se constituído (A) a relação entre o pensamento e a palavra.
condição insuficiente para responder de forma adequada às exi- (B) a relação entre o desenvolvimento e a linguagem.
gências do mundo contemporâneo. É necessário ir além da sim- (C) a priorização das diversas funções psicológicas.
ples apropriação do código escrito; é preciso exercer as práticas
(D) os diversos modos de desenvolver a consciência.
sociais de leitura e escrita demandadas nas diferentes esferas da
(E) o pensamento e o desenvolvimento ampliado das relações
sociedade.
morais.
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos.
Florianópolis: IOESC, 2005, p. 23-25.
13. (Prefeitura de Fortaleza /CE – 2016) É necessário consi-
Em relação aos conceitos de alfabetização e letramento, mar-
derar que as linguagens se inter-relacionam. Quando se volta para
que com V as afirmações verdadeiras e com F as falsas, e assinale a
construir conhecimentos sobre diferentes aspectos do seu entorno,
alternativa com a sequência correta.
a criança elabora suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvi-
( ) Em sentido amplo, a alfabetização é entendida como pro- das na explicação, argumentação e outras capacidades.
cesso de apropriação do sistema de escrita, do domínio do sistema Indique a alternativa que traz um exemplo de atividade que
alfabético-ortográfico. contempla tal concepção de currículo para a Educação Infantil.
( ) A alfabetização é elemento essencial do letramento que a) A escrita de um texto coletivo proposto sobre um tema ou
orienta o indivíduo para que se aproprie do código escrito, aprenda assunto indicado pela professora ou professor para explicar o con-
a ler e escrever e ao mesmo tempo conviva e participe de práticas ceito de enchentes.
reais de leitura e escrita. b) A brincadeira cantada, em que a criança explora as possibi-
( ) O letramento refere-se ao processo de inclusão e participa- lidades expressivas de seus movimentos e brinca com as palavras e
ção na cultura escrita, envolvendo o uso da língua em situações imita certos personagens.
reais, ou seja, constitui um conjunto de conhecimentos, atitudes e c) A condução de um jogo de regras, no qual o professor ou
capacidades indispensáveis para o uso da língua em práticas sociais professora lê as regras para as crianças e cuida para que se obedeça
que requerem habilidades mais complexas. a essas regras.
( ) A difusão e o emprego do termo letramento passou a ter d) A comemoração de datas cívicas e feriados nacionais como
relevância no meio educacional, a partir da década de 1970. Tradu- forma de trabalhar a compreensão do tempo e do calendário.
z-se nas ações pedagógicas que priorizam a memorização dos dife-
rentes elementos que compõem a língua.
( ) “...letramento significa experienciar situações que envolvam
as diferentes linguagens de forma crítica e dialógica, sendo os pro-
fessores os mediadores.”
102
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
14. (VUNESP/2016) O sentido social que se atribui à profissão d) Orientação de atividades que vinculam escola e família – re-
docente está diretamente relacionado à compreensão política da fere-se às relações entre a escola e o ambiente interno: com os alu-
finalidade do trabalho pedagógico, ou seja, da concepção que se nos, professores e famílias.
tem sobre a relação entre sociedade e escola. Assim, a escola é o e) Organização de atividades que vinculam escola e comunida-
cenário onde alunos e professores, juntos, vão construindo uma de – refere-se às relações entre a escola e o ambiente externo: com
história que se modifica, amplia, transforma e interfere em diferen- os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, com as organiza-
tes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida e ções políticas e comunitárias.
o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. É correto afirmar
que a escola 17. (IFRO/ 2014) Para Vygotsky (1998), não basta delimitar o ní-
(A) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe social es- vel de desenvolvimento alcançado por um indivíduo. Dessa forma,
pecífica e serve, indistintamente, a todas. ele demarca dois níveis de desenvolvimento:
(B) não é capaz de funcionar como instrumento para mudan- a) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
ças, serve apenas para reproduzir as injustiças. tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desenvolvi-
(C) não tem, de forma alguma, autonomia, é determinada, de mento Pessoal) onde a criança consegue realizar tarefas com a aju-
maneira absoluta, pela classe dominante da sociedade. da de adultos ou colegas mais próximos.
(D) é o lugar especialmente estruturado para potencializar a b) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
aprendizagem dos alunos. tais da criança ainda já estão completadas e ZDP (Zona de Desenvol-
(E) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a de atuar vimento Processual) que define funções ainda não amadurecidas,
no âmbito global da sociedade. mas em processo de maturação.
c) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
15. (IFRO/ 2014) O Projeto Político pedagógico é por si a pró- tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desenvolvi-
pria organização do espaço escolar. Ele organiza as atividades admi- mento Proximal) onde a criança consegue realizar tarefas com a
nistrativas, pedagógicas, curriculares e os propósitos democráticos. ajuda de adultos ou colegas mais avançados.
Dizer que o Projeto Político pedagógico abrange a organização do d) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
espaço escolar significa dizer que o ambiente escolar é normatizado tais da criança ainda não estão completadas e NDP (Nível de De-
por ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto que o senvolvimento Processual) onde a criança não consegue realizar
Projeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos parti- tarefas com a ajuda de adultos ou colegas mais avançados.
cipativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação e) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
em que a organização do espaço escolar deve abranger. tais da criança ainda não estão completadas e ZDP (Zona de Desen-
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas pelo au- volvimento Proximal) que define funções ainda não amadurecidas,
tor? mas em processo de maturação.
a) A organização da vida escolar, relacionado à organização do
trabalho escolar em função de sua especificidade de seus objetivos. 18. (IFRO/ 2014) Dentro do processo de ensino e aprendiza-
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refe- gem, aponte qual o teórico que defende que a criança nasce inse-
re-se basicamente aos aspectos de organização do trabalho do pro- rida em um meio social, que é a família, e é nele que estabelece as
fessor e dos alunos na sala de aula. primeiras relações com a linguagem na interação com os outros.
c) Organização das atividades de apoio técnico administrativo – (Nas interações cotidianas, a mediação (necessária intervenção de
tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho docente. outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o
d) Orientação de atividades que vinculam escola e família – re- adulto acontecem espontaneamente no processo de utilização da
fere-se às relações entre a escola e o ambiente interno: com os alu- linguagem, no contexto das situações imediatas.)
nos, professores e famílias. a) Jean Piaget.
e) Organização de atividades que vinculam escola e comunida- b) Henry Wallon.
de – refere-se às relações entre a escola e o ambiente externo: com c) Paulo Freire.
os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, com as organiza- d) Louis Althusser.
ções políticas e comunitárias. e) Lev Vygotsky.
16. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si a própria 19. (SEE-AC- Professor de Ciências Humanas- FUNCAB/2014)
organização do espaço escolar. Ele organiza as atividades adminis- “Organizar os conteúdos é estruturar a sequência lógica em que
trativas, pedagógicas, curriculares e os propósitos democráticos. eles serão apresentados ao aluno.” (MALHEIROS, Bruno T. Didática
Dizer que o Projeto Políticopedagógico abrange a organização do Geral. Rio de Janeiro: LTC, 2012, p. 97)
espaço escolar significa dizer que o ambiente escolar é normatizado Dessa forma, os conteúdos devem ser organizados, consideran-
por ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto que o do-se três critérios. São eles:
Projeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos parti- (A) importância do conteúdo; grau de dificuldade; novidade.
cipativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação (B) continuidade; grau de dificuldade; importância do conte-
em que a organização do espaço escolar deve abranger. údo.
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas pelo au- (C) continuidade; sequência; integração.
tor? (D) sequência; importância do conteúdo; grau de dificuldade.
a) A organização da vida escolar, relacionado à organização do (E) integração; facilidade de ensino; importância do conteúdo.
trabalho escolar em função de sua especificidade de seus objetivos.
b) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refe-
re-se basicamente aos aspectos de organização do trabalho do pro-
fessor e dos alunos na sala de aula.
c) Organização das atividades de apoio técnico administrativo –
tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho docente.
103
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
20. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - BIO- Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de asso-
RIO/2016) O brincar fornece à criança a possibilidade de construir ciação, de cima para baixo.
uma identidade autônoma e criativa. A criança que brinca entra no a) 3, 2, 1, 1, 1, 3, 2
mundo do trabalho, da cultura e do afeto pela via da: b) 3, 1, 2, 3, 2, 1, 2
(A) família; c) 3,1, 2,1, 2,1, 3,1
(B) imaturidade; d) 1, 3, 2, 3, 1, 2, 2
(C) representação e da experimentação; e) 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3
(D) coerção.
24. A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu art. 3º
21. Quanto ao processo de avaliação na educação infantil, ana- enfatiza os princípios norteadores do ensino no Brasil. Analise-os:
lise as assertivas, e em seguida, assinale a alternativa que aponta I. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
a(s) correta(s). ra, o pensamento, a arte e o saber.
I. A expectativa em relação à aprendizagem da criança deve es- II. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
tar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância.
oferecidas a ela.
II. Deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, Está(ão) correto(s) apenas o(s) princípio(s):
mas sim as situações de aprendizagem que lhe foram oferecidas. a) I, II
III. Será necessária uma observação cuidadosa das crianças, b) II
buscando compreender as situações e planejar situações que con- c) III
tribuam para superação das dificuldades. d) I, II, III
(A) Apenas I.
(B) Apenas II e III. 25. (IMPARH/2015 - Prefeitura de Fortaleza – CE) A escola
(C) Apenas I e III. contemporânea, caracterizada por ser democrática, está sempre
(D) I, II e III. em defesa da humanização, baseada nos princípios de respeito e
solidariedade humana, busca assegurar uma aprendizagem sig-
22. Sobre a avaliação na Educação Infantil, podemos afirmar nificativa. Na perspectiva de atender aos desafios impostos pela
que ela: sociedade atual, a escola vem se organizando internamente reco-
(A) deve ser baseada em julgamentos. nhecendo e respeitando as(os):
(B) avalia-se para quantificar o que foi aprendido. a) políticas públicas, analfabetismos, fisiologias.
(C) faz parte do processo de aprendizagem e é essencial conhe- b) diferenças, gêneros, diferentes tipos de gestão.
cer cada criança. c) diversidades, diferenças sociais, potencialidades.
(D) considera o “erro” como parte do resultado final. d) intervenções governamentais, participações, articulações.
23. (IF-SC/2015 - IF-SC) A avaliação constitui tarefa complexa 26. ((IMA/2017 - Prefeitura de Penalva/MA) Para a criança ser
que não se resume à realização de provas e atribuição de notas. bem-sucedida na alfabetização necessita antes de tudo:
Nessa perspectiva autores como Haydt (2000), Sant’anna (2001), a) dominar a técnica de ler e escrever com muita cópia e treino;
Luckesi (2002) caracterizam três modalidades de avaliação: diag- b) entender a natureza e as funções do nosso sistema de es-
nóstica, formativa e somativa. Em relação às modalidades de ava- crita;
liação associe corretamente a coluna da direita com a coluna da c) entrar na escola já diferenciando a escrita do desenho;
esquerda. d) entrar para a escola aos quatro anos pois a escola já começa
(1) Diagnóstica a alfabetizar.
(2) Formativa
(3) Somativa 27. (ACAFE/2017 – SED/SC)“A igualdade de condições para o
acesso nem sempre é algo que esteja na esfera de abrangência da
( ) Provoca o distanciamento dos autores que participam do escola.” Entretanto, devemos lembrar que a escola pode canalizar
processo ensino e aprendizagem. as demandas e lutas sociais da comunidade em que está inserida.
( ) Identifica as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos Nesse sentido é correto afirmar,exceto:
estudantes com o objetivo de determinar os conteúdos e as estra- Fonte: Documento do CONSED - Como articular a função social da
tégias de ensino mais adequadas. escola com as especificidades e as demandas da comunidade? P.37
( ) Constitui uma importante fonte de informações para o aten- a) A escola deve atender seu limite de vagas, pois assim cumpre
dimento às diferenças culturais, sociais e psicológicas dos alunos. seu papel social. As famílias que ficaram sem atendimento devem
( ) Fundamenta-se na verificação do desempenho dos alunos, procurar seus direitos em outras esferas, não sendo responsabilida-
perante os objetivos de ensino previamente estabelecidos no pla- de da equipe gestora seus destinos.
nejamento. b) Quando se manifesta o problema da falta de vagas, sobretu-
( ) Realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, do no ensino fundamental, o poder público é responsável por ele,
com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por meio tanto no âmbito da rede municipal como da estadual. Nesse senti-
de um processo de regulação permanente. do, a vaga deve ser assegurada a todas as crianças e adolescentes.
( ) Subsidia o planejamento e permite estabelecer o nível de c) A luta para que todas as crianças tenham acesso à escola é
necessidades iniciais para a realização de um planejamento ade- legítima e deve ser assumida não apenas pelos dirigentes escolares
quado. e do sistema de ensino, como também pelos políticos.
( ) Possibilita localizar as dificuldades encontradas no processo d) A equipe gestora de uma escola tem responsabilidade sobre
de assimilação e produção do conhecimento. isso. Deve articular-se com a Secretaria de Educação para ver o que
pode ser feito a esse respeito.
104
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
28. (IDHTEC/2016 - Prefeitura de Itaquitinga/PE) Na organi-
zação do trabalho pedagógico, o conjunto de atividades ligadas GABARITO
entre si e planejadas para ensinar um conteúdo etapa por etapa,
de forma gradual, de acordo com objetivos de aprendizagem é de-
1 B
nominado:
a) Contrato pedagógico. 2 D
b) Projetos de intervenção. 3 D
c) Atividades interativas.
d) Sequência didática. 4 D
e) Transposição didática. 5 B
6 E
29. (ACAFE/2017 – SED/SC) A linguagem não é um meio neu-
tro através do qual uma mensagem é enviada. As palavras são car- 7 D
regadas de sentido para os falantes. A linguagem é ela própria, 8 A
criadora de significados e produtora de sentidos e como tal deve
ser estudada. Segundo Bakhtin (1990), ela é inseparável do fluxo 9 B
da interação verbal e, portanto, não é transmitida como um pro- 10 C
duto acabado, mas como algo que se constitui continuadamente
nessa corrente. 11 C
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. 12 A
Florianópolis: IOESC, 2005, p. 21-22.
13 B
Considere a “linguagem no processo de alfabetização”, analise 14 D
as afirmações a seguir e assinale a alternativa que contém todas 15 D
ascorretas.
16 E
l.Oralidade e escrita caminham juntas e, portanto, o estudo da 17 C
linguagem requer que sejam trabalhadas de forma a serem consi-
deradas as suas diferenças e, ao mesmo tempo, suas similaridades, 18 E
usos e funções. 19 C
ll.A oralidade é fundamental ao processo de alfabetização. Pela
20 C
fala as crianças constituem-se sujeitos capacitados para a apren-
dizagem, bem como para a apropriação de conhecimentos novos 21 D
ancorados nas suas experiências prévias. 22 C
lll.O aprendizado da fala e da escrita se dá de forma espontâ-
nea e independente, no contexto de convívio entre os pares. 23 B
lV.A fala da criança é tão importante quanto às ações dela de- 24 D
correntes para o alcance dos objetivos educacionais. Na perspectiva
25 C
histórico-cultural, à fala atribui-se importância tão vital que, se não
for permitido seu uso, muitos indivíduos não conseguirão resolver 26 B
seus intentos. 27 A
V.O sistema de escrita implica apenas em codificação de sím-
bolos. 28 D
29 B
a) II - III - V
b) I - II - IV 30 A
c) III - IV
d) IV - V
105
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES
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