Apostila 22 - Era Vargas
Apostila 22 - Era Vargas
Apostila 22 - Era Vargas
A ERA VARGAS
Movimento de 1930
Na década de 1920, o Brasil passou por uma crise generalizada decorrente do impacto da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Houve recessão econômica,
retração das exportações e diminuição da entrada de capitais estrangeiros no país.
Como desdobramento da crise, quando o Brasil se preparava para escolher o presidente que o governaria
entre 1930 e 1934, ocorreu uma ruptura política na República Oligárquica. Segundo o arranjo da “política do
café com leite”, as lideranças dos estados apoiavam ora um candidato a presidente de origem paulista, ora
um de origem mineira. De acordo com esse arranjo, em 1930, deveria ser escolhido um mineiro. Contudo, o
presidente em exercício Washington Luís, do Partido Republicano Paulista (PRP), decidiu apoiar o paulista
Júlio Prestes, descartando o candidato de Minas Gerais. Descontentes, as elites mineiras romperam com o
governo e articularam uma candidatura de oposição a Prestes, aliando-se a políticos do Rio Grande do Sul e
da Paraíba e a grupos de oposição de outros estados.
Formou-se, desse modo, a chamada Aliança Liberal, que indicou a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas
para a presidência e a do paraibano João Pessoa para a vice-presidência. Essa chapa contou com o apoio do
movimento tenentista, das camadas médias urbanas e dos trabalhadores, descontentes com o predomínio
político dos grandes fazendeiros. O programa da Aliança Liberal contemplava reivindicações dos setores
oligárquicos não cafeeiros, além da proteção aos trabalhadores, da moralização da vida pública e da
instituição do voto secreto.
A campanha ocorreu em clima de tensão, mas, como era previsível, Júlio Prestes venceu a eleição, pois teve
apoio do governo. Vargas e João Pessoa insistiram em denunciar fraudes eleitorais. Paralelamente, políticos
que compunham a Aliança Liberal buscavam apoio em outros estados para iniciar uma revolta armada,
defendida pelos tenentes. O levante da oposição acabou sendo desencadeado após o assassinato de João
Pessoa por um adversário político da Paraíba. Apesar de ter sido cometido por motivos pessoais,
e não políticos, o crime serviu de estopim para o início da rebelião.
No dia 3 de outubro de 1930, os tenentes tomaram as ruas de cidades de Minas Gerais e do Rio Grande do
Sul. Nos dias subsequentes, os choques entre as tropas do Governo Federal e os revoltosos espalharam-se
por todo o país, com exceção de São Paulo, que se manteve à margem do movimento. No dia 24 de outubro,
a vitória estava assegurada. Washington Luís foi deposto e, em 3 de novembro, Vargas assumiu o Governo
Federal em caráter provisório.
Uma das primeiras medidas do Governo Provisório foi baixar o Decreto no 19.398, que dissolveu o
Poder Legislativo nas instâncias federal, estadual e municipal até que fosse eleita a Assembleia
Constituinte. Dessa forma, Vargas acumulou os poderes Executivo e Legislativo. As leis, que antes
eram elaboradas e aprovadas pelo Congresso, passaram a ser criadas e aplicadas diretamente por
Vargas, que governava por meio de decretos-leis.
O chefe de governo também substituiu os antigos presidentes de estado por interventores federais,
muitos deles militares, indicados por ele. O aumento dessa influência de Vargas gerou muito
descontentamento nas oligarquias estaduais, principalmente de São Paulo.
No início de 1932, diante da crise, Vargas anunciou eleições para a Assembleia Constituinte, que seriam
realizadas no ano seguinte. O anúncio, porém, não deteve a conspiração paulista. Em 23 de maio, durante
um comício realizado pelos conspiradores pedindo autonomia regional, os confrontos com os governistas
resultaram na morte de quatro estudantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Suas iniciais, MMDC,
batizariam o movimento iniciado em 9 de julho.
A arrecadação de fundos e doações, o alistamento nas tropas e o trabalho pela chamada “revolução”
mobilizaram os paulistas contra o Governo Provisório, e a situação de guerra alterou profundamente o
cotidiano da população. Os integrantes do movimento esperavam apoio de mineiros e gaúchos, mas isso não
ocorreu. Após três meses de combates contra as forças federais, os paulistas renderam-se em outubro.
As eleições para a Assembleia Constituinte ocorreram em 1933, obedecendo aos dispositivos do Código
Eleitoral. Os deputados constituintes provinham de dois grupos distintos: os deputados eleitos pela
representação dos estados e os deputados classistas, eleitos pelos sindicatos profissionais.
Em julho de 1934, a nova Constituição foi promulgada mesclando características jurídicas liberais,
autoritárias e corporativas, com a inclusão de capítulos dedicados ao trabalho, à educação, à saúde pública e
à família. De acordo com essa Constituição, a primeira eleição presidencial seria feita de forma indireta,
pelos membros da Assembleia Constituinte. Desse modo, em 17 de julho de 1934, Getúlio Vargas foi eleito
com ampla maioria de votos e empossado como presidente quatro dias depois. Seu mandato iria até 1938 e
seu sucessor seria escolhido por eleição direta.
A nova Constituição estabeleceu, ainda, o ensino primário público, gratuito e de frequência obrigatória,
determinou o reconhecimento oficial e a fiscalização de instituições de ensino secundário e superior, além de
tornar o ensino religioso facultativo. Em relação à família brasileira, a Constituição de 1934 previu a
proteção ao casamento, a avaliação pelo Estado dos casos de desquite e o reconhecimento oficial das
cerimônias de casamento realizadas pela Igreja Católica. A principal novidade da nova Constituição,
entretanto, foi a incorporação de conquistas trabalhistas, por causa de preocupações do governo com a
manutenção da ordem econômica e social.
No campo econômico, o governo instituiu uma política de incentivo à indústria. Para tanto, abriu linhas de
crédito para a instalação de novos estabelecimentos e estimulou a criação de conselhos, companhias e
fundações para a industrialização do país. Com o objetivo de impulsionar e aperfeiçoar as técnicas de
produção e ampliar a variedade de produtos agrícolas exportados, foram criados organismos especializados,
como o Conselho Federal de Comércio Exterior (1934).
Na Itália, por exemplo, o governo fascista desenvolveu um modelo de corporativismo em que o Estado
mediava as relações entre patrões e empregados para evitar conflitos entre as classes. Esse modelo inspirou
o governo brasileiro. Uma das primeiras iniciativas de Vargas para atender a algumas reivindicações dos
trabalhadores (e ao mesmo tempo controlá-los) foi a criação do Ministério do Trabalho, em novembro de
1930.
Com isso, alguns direitos que o movimento operário reivindicava desde o início do século XX foram
regulados pelo Estado e se tornaram leis. Um decreto determinou a jornada diária de oito horas e um dia de
folga após seis dias de trabalho. Caso a jornada se estendesse, caberia o pagamento de hora extra ao
empregado. Também foram instituídos o salário mínimo e as férias anuais remuneradas.
Integralistas × comunistas
Assim como em outros países, a polarização entre nazifascismo e comunismo esteve presente no Brasil. A
ideologia fascista inspirou a fundação da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado,
que defendia um Estado nacionalista controlador. Já os ideais comunistas foram a base para a organização
da Aliança Nacional Libertadora (ANL), composta de comunistas e tenentes e liderada pelo Partido
Comunista do Brasil (PCB).
A AIB foi organizada logo após a Revolução Constitucionalista de 1932. Seus membros defendiam o
corporativismo e combatiam o socialismo, o comunismo, o liberalismo e o capitalismo financeiro. Com um
dos braços estendido, os integralistas gritavam a palavra indígena “anauê” como cumprimento, uma espécie
de versão brasileira da saudação nazista. O movimento recebeu adesão de setores conservadores, como as
oligarquias tradicionais, militares e parte das camadas médias e populares.
A ANL, dirigida pelo militante comunista Luís Carlos Prestes, condenava o imperialismo e o fascismo.
Defendia a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização das empresas estrangeiras, a
reforma agrária, a criação de um governo popular e um programa de reformas democráticas, contestando a
ordem social e econômica em vigor. Em poucos meses, a ANL ganhou enorme projeção e reuniu pessoas
dos mais diferentes segmentos sociais, especialmente militares, operários, profissionais liberais e integrantes
de outros setores das camadas médias.
No início de 1935, porém, o governo colocou a organização na ilegalidade, por meio da Lei de Segurança
Nacional. Essa lei, promulgada em abril, enquadrava movimentos políticos e sociais como crimes que
ameaçavam a segurança do Estado. Dessa forma, o governo aumentou o controle e a vigilância sobre a
imprensa, as organizações e os partidos. Além disso, estabeleceu processos diferentes da justiça comum para
julgar os crimes contra a “segurança nacional” e instituiu o Tribunal de Segurança Nacional, subordinado
à Justiça Militar.
Apesar desse avanço repressor do governo, a ANL planejou uma insurreição. O levante da ANL, conhecido
como Intentona Comunista, teve início em novembro de 1935, no Rio Grande do Norte. Os rebeldes
derrotaram as forças policiais e assumiram o controle da cidade de Natal por alguns dias. Ocorreram
levantes coordenados também em Recife e no Rio de Janeiro. O Governo Federal, no entanto, reprimiu o
movimento violentamente.
A perseguição alastrou-se e muitos dos considerados inimigos do regime foram presos sem acusação,
processo ou sentença. Entre eles, estava o escritor Graciliano Ramos, que relatou a experiência em suas
memórias e testemunhou a deportação das militantes alemãs Elisa Berger, conhecida como Sabo, e Olga
Benário Prestes, esposa de Luís Carlos Prestes.
“Uma noite chegaram-nos gritos medonhos do Pavilhão dos Primários, informações confusas de vozes
numerosas. [...] percebemos que Olga Prestes e Elisa Berger iam ser entregues à Gestapo [...]. As mulheres
resistiam, e perto os homens se desmandavam em terrível barulho [...].
Apesar da manifestação ruidosa inclinava-me a recusar a notícia: inadmissível. Sentado na cama pensei com
horror em campos de concentração [...]. Iriam a semelhante miséria?
[...] a polícia jurava que as duas vítimas não sairiam do Brasil. [...] seriam acompanhadas por amigos,
nenhum mal lhes fariam. [...] Olga Prestes e Elisa Berger nunca mais foram vistas. Soubemos depois que
tinham sido assassinadas num campo de concentração na Alemanha.”
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere: colônia correcional. Sintra: Europa-América, 1983. p. 200-204. v. 3.
Durante a campanha, Vargas agiu com aparente neutralidade, pois nada fez para promover o candidato
oficial nem se mostrou simpático às demais candidaturas. Na verdade, ele preparava o golpe de Estado que
asseguraria sua permanência no poder. O pretexto veio com o anúncio de um suposto plano de insurreição
comunista, em setembro de 1937, que ficou conhecido como Plano Cohen. Forjado pelos integralistas, o
plano foi divulgado nos principais jornais do país. Sobre o assunto, veja o texto a seguir.
“Apresentava o esboço de um plano de ‘trabalho específico a ser desenvolvido junto às classes
trabalhadoras’, dividido em três etapas [...]. Segundo o texto, os comunistas conduziriam o operariado a
‘fazer petições coletivas e por escrito por aumento de salários aos patrões’, como primeiro passo para ‘criar
na massa proletária brasileira os reflexos da solidariedade e disciplina e despertar nas mesmas a
combatividade que lhes falta’. Após esgotar esse recurso, seriam organizadas ‘marchas coletivas de todo o
operariado, que irá aos patrões em atitude absolutamente pacífica’. O passo final seria a greve geral [...].
Deflagrada a greve geral, um ‘comitê de incêndios’ deveria entrar em ação. A organização desse comitê
aparecia com grande destaque no texto. Paralelamente à greve e ao incêndio de prédios públicos, ocorreriam
manifestações populares no centro da cidade e nos bairros elegantes e plutocratas. A descrição dessas
manifestações era assombrosa: ‘as massas deverão ser conduzidas aos saques e às depredações, nada
poupando para aumentar cada vez mais a sua excitação [...]’.”
CACHAPUZ, Paulo Brandi de Barros. Plano Cohen. CPDOC/FGV. Disponível em <http://mod.lk/vMTBX>. Acesso em 22
mar. 2017.
Com a divulgação do falso plano comunista, o Congresso aprovou a decretação do estado de guerra. Dessa
forma, apoiado pela cúpula das Forças Armadas, por intelectuais e pelos integralistas, Vargas deu um golpe
de Estado em novembro de 1937.
Ao estabelecer o Estado Novo, o presidente suspendeu a Constituição e aboliu os partidos políticos,
iniciando uma era de autoritarismo que duraria até 1945. A AIB, que apoiou o golpe, foi colocada na
ilegalidade em dezembro, com os demais agrupamentos políticos. Alguns integralistas chegaram a tentar um
levante contra o governo, em maio de 1938, no Rio de Janeiro, mas foram rapidamente derrotados.
Desde 1924, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado no estado de São Paulo, atuava
com a finalidade de reprimir movimentos sociais e políticos e havia inspirado a fundação de delegacias da
mesma ordem em outros estados do Brasil.
Em 1933, durante o Governo Provisório, Getúlio Vargas criou a Delegacia Especial de Segurança Política
e Social (Desps). Essa delegacia, chefiada por Filinto Müller, estava centralizada na polícia do Distrito
Federal (na época, a cidade do Rio de Janeiro) e dispunha de autonomia em âmbito federal e de uma tropa
de elite: a polícia especial.
Com a instauração do Estado Novo, as prisões arbitrárias, a censura e a tortura de prisioneiros tornaram-se
práticas comuns. Além disso, a polícia política brasileira procurou trocar informações e métodos com
a Gestapo alemã. A aproximação incluiu uma viagem de representantes brasileiros à Alemanha nazista para
uma “troca de experiências”.
Vargas deu prosseguimento à construção do aparelho de Estado que caracterizou todo o período de
seu governo. Em 1938, criou o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) com o
objetivo de melhorar a eficiência dos serviços públicos, formando quadros somente com funcionários
concursados. Em 1939, criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que cuidava da
propaganda oficial do governo e da promoção das manifestações cívicas, e era importante instrumento de
promoção pessoal de Vargas. Como único porta-voz autorizado pelo regime, o DIP tornou-se órgão coercivo
da liberdade de expressão, censurando todas as produções artísticas, culturais e informativas que não
estivessem de acordo com o governo.
Deposição de Vargas
Diante da abertura política, a posição indefinida de Vargas em relação ao apoio a algum concorrente dava
margem a especulações sobre sua possível candidatura nas eleições. Nesse contexto, em 1945, emergiu
o queremismo – movimento popular apoiado até mesmo por dirigentes do PCB anistiados, como Luís
Carlos Prestes –, que defendia a convocação de uma Constituinte com Vargas no governo. Sobre a natureza
polêmica desse movimento, leia o texto a seguir, da historiadora Michelle Macedo.
“[...] o movimento queremista contou com a participação de grandes camadas populares da sociedade ao
reivindicar a permanência de Getúlio Vargas no poder. Episódio histórico que intrigava os grupos liberais:
como seria possível, em plena crise da ditadura, o crescimento do prestígio do ditador entre os mais pobres?
[...] Para as oposições, o queremismo não passava de uma estratégia de Vargas para continuar no poder e
dificultar a transição democrática. [...] Na grande imprensa liberal, o movimento era visto como resultado da
repressão e da manipulação da propaganda fascista do governo; e, por serem supostamente ingênuos, os
trabalhadores e populares teriam acreditado na falsa imagem bondosa do Estado.”
MACEDO, Michelle. Os trabalhadores exigem: o movimento queremista e a candidatura Vargas. XXIV Simpósio Nacional
de História, 2007. Disponível em <http://mod.lk/TnMqe>. Acesso em 23 mar. 2017.
O próprio presidente manifestou publicamente seu desejo de continuar no cargo, a ponto de ser alvo de uma
anedota que circulou em 1945: “Meu candidato é Eurico; mas, se houver oportunidade, eu mudo uma letra:
Eufico”.
A situação agravou-se quando Getúlio Vargas nomeou seu irmão, Benjamin Vargas, para o cargo de chefe
da polícia do Distrito Federal, tradicionalmente ocupado por militares. Pressionado pela oposição, em 30 de
outubro de 1945, Vargas foi intimado pelos militares a renunciar. A presidência da república passou
interinamente ao ministro do Supremo Tribunal Federal, José Linhares.
As eleições foram realizadas na data prevista, com a vitória do candidato da coligação PSD-PTB, Eurico
Gaspar Dutra. Beneficiado pela lei eleitoral, Vargas disputou, ao mesmo tempo, um cargo no Senado e outro
na Câmara. Eleito para ambos, escolheu ser senador pelo PSD gaúcho.
As emissoras passaram a transmitir conteúdos apreciados pelo público como músicas, esportes, humor,
utilidade pública e noticiários. O Repórter Esso e o programa oficial Hora do Brasil eram, para muitos, as
principais fontes de notícias sobre o país e o mundo. Os programas de rádio criados pelo governo eram
insistentemente usados para fazer propaganda e veicular as ideias do regime.
Nesse sentido, para assegurar a difusão dos valores do Estado e fortalecer uma pretendida identidade
nacional, por meio da ação do DIP, o governo censurava o que não estivesse de acordo com seus princípios
e incentivava produções que atendessem a seus interesses, compreendendo música, teatro, cinema, literatura
e até mesmo festas populares.
O samba, antes identificado como transgressor da ordem, passou a ser valorizado como a “música nacional”
e, ao mesmo tempo, censurado para que as letras exaltassem o trabalho e a ordem e substituíssem a figura do
malandro pela do trabalhador. Canções ufanistas como Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, eram bastante
difundidas no rádio e nos desfiles oficiais das escolas de samba, criados em 1932 com o intuito de ordenar e
disciplinar o carnaval de rua.
Mesmo com o forte controle e a repressão dos órgãos governamentais, houve uma intensa vida cultural no
Brasil nos anos 1930 e 1940. Muitos artistas e intelectuais buscavam apreender características ligadas a uma
identidade brasileira. Na literatura, importantes obras foram lançadas, como Vidas secas, de Graciliano
Ramos; A estrela sobe, de Marques Rebelo; Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector; e Terras do
sem fim, de Jorge Amado. Nas artes visuais, o pintor Candido Portinari foi reconhecido por privilegiar
em suas obras questões sociais, bem como os tipos nacionais (índios, mulatos, negros) e a classe
trabalhadora.
Apesar da valorização dos tipos nacionais nas produções artísticas e da postura nacionalista do Estado Novo,
o país experimentou forte influência cultural dos Estados Unidos. Em 1940, Franklin Delano Roosevelt
criou o Escritório para Assuntos Interamericanos com o objetivo de aumentar a influência estadunidense nos
demais países da América, valendo-se de uma estratégia que combinava propaganda, difusão cultural e
acordos econômicos e militares. O aumento das trocas econômicas e culturais entre os dois países favoreceu
a difusão de hábitos de consumo e do estilo de vida estadunidense como modelo.
Sob influência dessa “política de boa vizinhança”, o Brasil recebeu artistas, políticos e fotógrafos
estadunidenses. Entre eles, cineastas importantes como Orson Welles e Walt Disney. Em sua passagem pelo
país, Welles iniciou a produção do documentário É tudo verdade (It’s all true), contando a história real de
quatro homens que viajaram de Fortaleza ao Rio de Janeiro em uma jangada, com o intuito de pedir ao
presidente Vargas melhorias em suas condições de vida e de trabalho.