Depressão Tem Cura - Gui Oss

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INDÍCE

Prefácio Pág 4

PARTE 1 – Físico, Mental e Emocional

1. O que é depressão? Pág 6


2. Como nasce a depressão? Pág 9
3. Tratamento psiquiátrico Pág 12
4. A importância da terapia Pág 17
5. Etapas de tratamento:
Ajuda, Confronto, Ação Pág 20
6. Rede de apoio Pág 24
7. Doenças Derivadas: Ansiedade
e Síndrome do Pânico Pág 26
8. Estude a sua doença! Pág 32
9. Passado e Perdão Pág 36
10. A Vítima Pág 39
11. O lado bom da doença:
O sensor situacional Pág 42
12. Jogando o lixo fora Pág 45
13. A natureza como aliada Pág 48
14. Ocupe sua mente Pág 52

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15. A Importância do Trabalho Pág 57
16. A força para lutar Pág 60
17. Ajude para ser ajudado Pág 65
18. Reaprendendo a viver Pág 69

PARTE 2 – Espiritual e Complementar

Tratamentos Alternativos
e questões espirituais da doença Pág 72

19. Reiki: A limpeza da alma Pág 74


20. Ho’ponopono: A terapia
do perdão Pág 77
21. Oração e Meditação Pág 80
22. A essência da vida: o espírito Pág 85
23. Vida após a morte e
Reencarnação Pág 87
24. Mediunidade e efeito esponja Pág 89
25. Obsessão Espiritual Pág 94
26. O Suicídio e a Loucura Pág 100
27. Apometria Pág 107

Conclusão e Agradecimentos Pág 112

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PREFÁCIO

Me chamo Guilherme de Vargas Oss, sou um


jovem de 28 anos que trabalha com produção de
conteúdo digital e que convive com a doença
chamada Depressão há mais de dez anos. Não sou
médico, psicólogo ou especialista, sou apenas uma
pessoa que pôde aproveitar as dificuldades e os
sofrimentos causados por uma patologia para reunir
conhecimentos valiosos. Tive a felicidade de ter
acesso a tratamentos médicos e espirituais, que
acabaram me ajudando a compreender um
verdadeiro oceano de informações relacionadas a
“doença do milênio”. Estudar, refletir e experienciar;
sem qualquer uma destas três etapas, não podemos
entender de verdade nada do que acontece em
nossas vidas. Muito menos uma doença tão complexa
como essa.

Depressão é um tema cada vez mais comentado em


todos os círculos sociais. Doutores, professores,
empresários, trabalhadores do setor comercial,
advogados, engenheiros, artistas, publicitários,
agricultores, estudantes; quase não há uma única
pessoa que não tenha escutado o termo ou que não
tenha um conhecido afetado por ele. Cada um dos
veículos de mídia e comunicação que conhecemos
fala sobre depressão todos os dias: rádio, jornal, TV,
redes sociais, Youtube, grupos de Whatsapp,
conversas de bar, podcasts e etc. E, mesmo assim, a

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desinformação é geral. Frases como “hoje eu estou
depressivo” ou “depressão é frescura”, infelizmente,
ainda fazem parte do repertório popular.

Este livro possui três objetivos básicos: primeiro,


ajudar de alguma forma aqueles que sofrem por não
entenderem o que é a depressão e não saberem
como lidar com esse desequilíbrio emocional e
orgânico; segundo, conscientizar pais, educadores e
responsáveis sobre a gravidade e seriedade da
doença; e terceiro, exemplificar aspectos espirituais
desta patologia, estabelecendo sugestões de
tratamentos complementares a medicina tradicional.

Desde já, agradeço ao leitor por me dar a


oportunidade de repassar um pouco do que aprendi
nessa minha curta caminhada na vida. Eu acredito
que todos nós temos algo de positivo para
compartilhar com o próximo, independente do que
seja. Se você é carpinteiro ou contador, estudante ou
PHD, saiba que o seu potencial de ajudar e aprender
é infinito. E lembre-se: mesmo que a situação da sua
vida esteja complicada e você não veja saída, e até
que todos duvidem da sua cura, depressão tem
solução!

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1.O QUE É DEPRESSÃO?

Em primeiro lugar, para definir o termo,


precisamos deixar algo bem claro: depressão é
diferente de tristeza. Em nossas vidas, é comum que
as vezes nos sintamos desanimados,
desesperançosos, insatisfeitos, desmotivados e/ou
infelizes. Problemas no trabalho, términos de
relacionamentos, preconceito, bullying, fracassos
repentinos, complicações financeiras, situações sem
saída aparente, separação dos pais, cansaço
emocional, momentos de ansiedade, entes queridos
doentes, perda de um animal de estimação; os
acontecimentos do dia-a-dia constantemente nos
atingem e enfraquecem a nossa felicidade, como
parte normal do ciclo da vida. Podemos chorar, sentir
medo e perder a paciência com o mundo, mas nada
disso deve ser caracterizado como depressão. O ser
humano se adapta e se recupera facilmente diante
dos seus problemas, mudando de humor com
elevada velocidade. Pense na última vez que você
ficou triste; agora pense como se sentiu 1 mês após
o ocorrido; em 99% das vezes, você perceberá que
estava muito melhor, com mais produtividade e
alegria. O mesmo não acontece com quem tem
depressão.

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A depressão é uma doença de carácter físico-
psicológico que atinge pessoas de todas as idades e
estilos de vida; são mais de 2 milhões de novos casos
no Brasil todos os anos. Considerada uma patologia
psiquiátrica, provoca alterações no funcionamento do
sistema nervoso central, causando anomalias na
produção e na secreção de substâncias hormonais
responsáveis pelo humor e equilíbrio emocional. É
extremamente pessoal, manifestando-se em cada
paciente de maneira diferente, tanto com relação aos
sintomas quanto as modalidades necessárias para o
tratamento. É silenciosa, sorrateira e pode ser
confundida com uma infinidade de enfermidades
diferentes, chegando até a passar despercebida por
amigos e familiares do depressivo se não houver
diálogo constante e supervisão.
A pessoa portadora de um distúrbio depressivo
não tratado raramente tem consciência do que
exatamente está acontecendo consigo. Muitas vezes,
acredita ser pessimista, azarada, pouco valorizada e
até mesmo merecedora de sofrimento. Não vê saída,
não vislumbra opções e acha que está destinada a
viver de forma apagada e sem grandes esperanças
de aproveitar dias melhores no futuro. Sem o auxílio
adequado, pode chegar até mesmo ao suicídio.

As principais características da doença, em


termos gerais, são: tristeza constante e persistente;

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perda de interesse nas atividades que antes lhe
traziam alegria/prazer; sonolência/sensação de estar
anestesiado; isolamento/confinamento, geralmente
em seu quarto; perda de apetite; medo de convivência
em locais públicos; desânimo e negativismo
exacerbados; lado emocional fragilizado, afetando-se
mesmo pelas menores coisas; vitimização intensa;
baixíssima autoestima. Aqui está listada uma visão
geral dos sintomas, porém apenas profissionais
habilitados como psiquiatras e neurologistas podem
realizar um diagnóstico preciso. Por isso, se você
conseguiu detectar um conjunto destes sintomas em
si ou em alguém próximo, recomendo que busque a
ajuda de um profissional formado e preparado para
lidar com o seu quadro. Jamais realize a
automedicação ou subestime o potencial da
depressão; saúde mental é um assunto muito sério.

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2.COMO NASCE A DEPRESSÃO?

A depressão é uma doença complexa, que pode


ter diversas origens possíveis. Dezenas de
universidades ao redor do globo estudam o tema,
mas nós apenas identificamos a ponta desse iceberg.
O fator hereditário, apesar de não ser essencial para
o seu desenvolvimento, influencia de maneira
significativa no surgimento da patologia. Semelhante
a outras enfermidades como hipertensão, diabetes e
asma, ter pessoas na família afetadas pela depressão
aumenta a chance de você tê-la. Pense nisso como
cuidar de uma semente (neste caso, a “semente da
depressão”): ela só crescerá se você a regar e expô-
la ao sol; neste caso, a doença só se manifestará se
você impulsionar fatores de risco, gatilhos. Esses
gatilhos são: má alimentação, sedentarismo, baixa
autoestima, isolamento social, vitimização, mágoa
excessiva, sentimento de culpa prolongado, crises de
ansiedade não tratadas e etc.
Um dos fatores mais conhecidos para o
desenvolvimento da depressão é a vivência de
eventos traumáticos não compreendidos. A
separação dos pais, um episódio de abuso
físico/sexual, a perda do emprego e sequencial
falência financeira, o término de um relacionamento,
a morte de um ente querido, a fuga de um animal de
estimação, um acidente com sequelas físicas ou
neurológicas, o diagnóstico de uma doença grave

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como o câncer ou a esclerose múltipla; todos esses
acontecimentos, e muitos outros não citados, podem
representar o papel de evento traumático. Todos
passamos por ocorrências assim em nossas vidas,
mas quando não estamos preparados com uma boa
rede de apoio (amigos, familiares, colegas de
trabalho), é fácil cairmos no desespero e
desenvolvermos uma patologia
psicológica/psiquiátrica. O importante aqui não é o
que aconteceu, mas se/como você conseguiu
interpretar a situação e dar a volta por cima. Quando
o ser humano não entende algo, geralmente é tomado
pelo medo e pela falta de esperança no futuro. E é
nesse cenário de traumas e sequelas que a
depressão pode surgir.
Outro possível fator causador da doença está no
desgaste emocional prolongado. Pense no seu
cérebro como se fosse uma máquina: trabalhando
noite e dia, necessitando respeitar certos limites para
funcionar de maneira satisfatória. Mas se essa
mesma máquina é submetida a mais peso do que
pode carregar, se o stress é constante e o atrito das
suas peças passa a níveis extremos, o resultado é um
só: a máquina quebra. Da mesma forma, quando
passamos muito tempo enfrentando rotinas
estressantes, sem que aprendamos a lidar com isso,
quando alimentamos a tristeza, o medo e o
negativismo em nós, quando nos isolamos do
convívio com outras pessoas e passamos a focar
nossas vidas em apenas uma coisa, a nossa máquina
quebra. A vida foi desenhada para ter momentos de

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sofrimento e momentos de repouso; sem essa
alternância, acumulamos meses de dor e muitas
vezes ferimos o nosso cérebro, trazendo problemas e
alterações nesse centro de operações. Se antes
tínhamos dez funcionários trabalhando dentro da
nossa cabeça, agora temos apenas três, e a falta de
“potência” que isso provoca também pode dar origem
a depressão.

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3.TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO

A depressão é uma doença envolta em


componentes biológicos e hormonais, então é natural
que parte do seu tratamento se baseie no uso de
medicamentos. Um dos maiores desafios no suporte
a pacientes depressivos é a desinformação que
circunda o uso de substâncias desenvolvidas em
laboratório. Quando temos dor de cabeça, tomamos
uma aspirina; quando temos gripe, tomamos um
descongestionante; quando sentimos dores no corpo
tomamos um analgésico; então por que não é lógico
tomar antidepressivos se estamos com depressão?
Na cultura popular, tomar medicamentos para
causas psiquiátricas é “ser maluco”, afirmação que
gera medo e desconfiança nas pessoas. Uma
quantidade considerável de pacientes deixa de
buscar tratamento por conta desse preconceito
irresponsável e infundado. Quantas vidas já foram
perdidas por conta dessas crenças limitantes...
Gostaria de deixar uma informação valiosa para o
leitor: a doença psiquiátrica não é diferente de
nenhuma outra, e não devemos ter vergonha de
admitir que estamos com problemas. Vergonha é
permanecer em sofrimento por não aceitar ajuda;
vergonha é ser preconceituoso e afastar o tratamento
que equilibra e dignifica; vergonha é, enfim, recusar a
mão amiga que se estende para ti nesse momento de
necessidade.

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Outro ponto que gera discussão na comunicação
popular é o medo do efeito dos remédios na pessoa.
Todo mundo já escutou a história do parente distante
que começou a ser medicado e perdeu a sua
personalidade. O boca a boca é como o chat do
celular: aceita tudo, sem filtros. Por isso, somos
capazes de ouvir absurdos e aceitar como se fossem
verdades. Aqui vai a opinião de um paciente em
tratamento há mais de uma década: os remédios não
mudam quem você é; o papel deles é te ajudar a
manter seu equilíbrio e ser quem você é, apesar das
enfermidades que você possa estar enfrentando. Se
um conhecido seu realmente mudou depois de iniciar
um tratamento, é preciso que você entenda que
podem haver outros motivos totalmente separados
dos medicamentos para isso ter acontecido. É tudo
uma questão de respirar e pensar no que você quer:
você prefere, segundo a crença geral, permanecer
“normal”, porém em constante sofrimento, ou você
prefere “mudar” e suavizar a sua dor? Essa é uma
resposta que apenas você pode e tem o direito de dar.

O profissional responsável e habilitado para o


tratamento psiquiátrico é o psiquiatra. Esta categoria
de médico estuda cerca de oito anos para poder
atender seus pacientes. Seu currículo inclui seis anos
da faculdade de medicina e mais dois anos de
residência em psiquiatria, além de necessitar de
aprovação na prova específica da Associação

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Brasileira de Psiquiatria. O processo de auxílio
começa com o diagnóstico, fase que pode envolver
outras profissionais, com objetivo de definir se você
tem ou não alguma doença neurológica. No caso da
depressão, o profissional da saúde registra sintomas,
traços comportamentais, histórico familiar e relatos do
paciente para especificar o grau, estágio e espécie de
manifestação depressiva. Atualmente, não existe
nenhum exame laboratorial que consiga apontar com
precisão a presença da doença, então é preciso que
o paciente confie em seu psiquiatra e lhe relate com
sinceridade o que tem passado e sentido.

O papel do medicamento no processo de


tratamento da depressão é buscar estabelecer o
equilíbrio do sistema nervoso e dos aspectos
emocionais do paciente. Como cada pessoa é
diferente da outra, cada tratamento farmacológico
também é específico. Se o João e a Maria têm
depressão, isso não significa necessariamente que os
dois irão se adaptar aos mesmos medicamentos ou
as mesmas dosagens. Cada organismo é único,
pedindo atenção e cuidado na hora do tratamento. O
psiquiatra utilizará de todo o seu conhecimento para
adequar o tratamento a ti, mas você também
precisará participar ativamente do processo.
Registrar os efeitos e o nível de melhora que cada
remédio provoca em você, e então repassar essas
informações para o seu médico é essencial! O
psiquiatra que tratou há alguns anos atrás uma vez

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disse: “eu tenho aqui muitos livros que dizem quais
medicamentos eu devo receitar para cada situação,
mas se você me disser que eles não deram certo no
seu caso, descartaremos o livro e vamos focar no que
você sente”; eu jamais esquecerei essa frase, e
espero que ela também ajude ao leitor nesse
processo de equilíbrio.

O tratamento psiquiátrico é um processo


complexo e gradativo, que precisa de tempo,
paciência e confiança para realizar-se de maneira
suave. Hoje temos mais de vinte variações diferentes
de medicamentos adequados ao tratamento da
depressão no mercado. Eles possuem diversas
funções, e ,em termos leigos, podem operar como
moduladores de humor, ansiolíticos, ativadores,
calmantes, entre outros. Cada um tem um papel, um
nível de ação e, principalmente, um fator de
compatibilidade com o paciente. Por isso, o
tratamento da doença envolve análise,
comprometimento e também certo nível de
experimentação. O paciente deve, junto ao psiquiatra,
testar e verificar sintomas, graus de sucesso e efeitos
provocados pelos remédios. É um processo algumas
vezes demorado, outras vezes assertivo, mas sempre
muito recompensador e enriquecedor. Ao percorrer
essa etapa, você vai aprender muito: como você
funciona, o que você pensa, o que te faz bem, o que
te faz mal, dentre tantas outras coisas. Eu me sinto
muito feliz por ter passado pelo que passei, porque

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hoje eu me conheço e me respeito muito mais do que
no passado. As possibilidades são diversas, mas
você com certeza, tendo confiança no seu psiquiatra,
encontrará o equilíbrio de medicamentos que irá te
ajudar a se sentir como é normal: nem muito triste,
nem feliz de modo forçado; mas apenas, bem.

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4.A IMPORTÂNCIA DA TERAPIA

A maior parte dos pacientes em tratamento para


depressão se limitam a tomar remédios e esperar que
a melhora aconteça. Seja por falta de informação ou
por ausência de recursos, a prática é comum e
extremamente nociva. Imagine que você queira
emagrecer, e para isso vá a um médico buscar
medicamentos que inibam a fome. Porém, você não
tenta mudar a sua alimentação e não pratica qualquer
atividade física... sabe o que provavelmente irá
acontecer? Seu organismo vai entrar em
desequilíbrio, os comprimidos que você tomar vão
causar efeitos colaterais e você, consequentemente,
acabará com uma compulsão alimentar. A depressão
funciona da mesma forma: se tratarmos apenas com
remédios, sem acompanhamento
terapêutico/psicológico, o verdadeiro problema nunca
será resolvido.
O tratamento psiquiátrico é extremamente
necessário, porém ele não resolve a causa do
problema, apenas suaviza os sintomas. Não basta
tomar algo para “se sentir melhor”, é preciso buscar,
investigar, entender o que desencadeou a depressão
em você, os motivos primários da sua enfermidade.
Por que você está doente? O que te desagrada tanto
para te trazer sofrimento? Quais acontecimentos
deixaram marcas em você? Descobrir tudo isso
sozinho é quase impossível; por isso existem

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profissionais que estudaram durante anos justamente
para auxiliar e compreender como a nossa mente
funciona: os psicólogos.
O preconceito com psicólogos está enraizado no
âmbito social. É no mínimo irônico como uma
sociedade emocionalmente desequilibrada insiste em
se manter afastada dos meios de se buscar a cura.
Muitas pessoas consideram que “ir ao psicólogo” é
admitir que você está louco ou que é fraco. Rebato
esse pensamento com uma pergunta: se você vai ao
médico quando o seu corpo está doente, por que você
não pode ir ao psicólogo/psicoterapeuta quando a sua
saúde mental não está legal? Não se deve ter medo
ou receio; buscar mais qualidade de vida sempre será
positivo.
O psicólogo é o guia que irá lhe ajudar a perceber
aquilo que você não consegue ver no momento.
Traumas, medos, inseguranças, sonhos reprimidos,
manias, compulsões, distorções cognitivas, auto
sabotagem, apenas para citar alguns objetos de
compreensão. A nossa mente é viciada em pensar
apenas de um jeito, com um ponto de vista que
impede a percepção daquilo que não queremos
aceitar. É como se você sempre pegasse o mesmo
caminho para ir de casa para o trabalho, ignorando
outras rotas muito mais livres e agradáveis todos os
dias. Amigos e parentes podem sim nos ajudar no
processo, mas a visão e opinião deles sempre estará
condicionada ao tipo de relação que tem com o
paciente. Algumas coisas que precisarão ser ditas

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para despertar o enfermo podem ser complicadas
demais para quem nos ama e vive conosco. Apenas
um profissional preparado e neutro conseguirá
encontrar “caminhos diferentes” dos que temos usado
em nossos atos cotidianos. Como diz a famosa frase
de Albert Einstein “insanidade é fazer a mesma coisa
todos os dias e esperar atos diferentes”. Se estamos
agindo/pensando de uma forma X e isso só nos tem
trazido sofrimento, precisaremos encontrar uma
forma diferente para mudar nossas vidas.

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5.ETAPAS DE TRATAMENTO:
AJUDA, CONFRONTO, AÇÃO

A depressão é uma doença constituída por fases,


que podem se estagnar ou flutuar, dependendo do
paciente e dos recursos terapêuticos utilizados. Um
dos pontos mais interessantes que pude notar
durante o meu tratamento é a diversidade de
profissionais existentes no mercado. Cada médico,
psicólogo ou terapeuta possui seu próprio meio de
ação, seu modo particular de abordar as
possibilidades de intervenção dialética. Para fins
didáticos e de mais fácil compreensão do leitor,
dividirei em três as fases de tratamento
psicológico/terapêutico da depressão: ajuda,
confronto e ação.
O primeiro impacto causado pela enfermidade
depressiva, na maior parte dos casos, é o sofrimento
profundo. Nesta fase, o paciente está em busca de
socorro, enfrentando períodos de desespero e
confusão por não compreender o que está
acontecendo consigo. A presença de crises de choro,
fragilidade emocional/mental e o fato de os
medicamentos ainda não estarem em pleno
funcionamento em seu sistema nervoso requer uma
abordagem suave e compreensiva por parte do
profissional. A fase da “ajuda” é semelhante aos
primeiros socorros concedidos a um pedestre que
sofreu um grave acidente de trânsito. Nesse

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momento, não faz sentido aplicar terapias complexas
ou realizar procedimentos invasivos; deve-se apenas
limpar os ferimentos, enfaixar as áreas lesionadas e
estabilizar os sinais vitais. Nesta etapa, o psicólogo
irá escutar suas reclamações e seus dramas, lhe
fornecer palavras de incentivo e conforto e permitir
que você chore o quanto for necessário. Drenar a dor
emocional que aflige o seu peito e lavar seu rosto com
lágrimas redentoras te permitirão mudar o seu estado
mental. Logo, você perceberá que as coisas têm sim
solução, e então, finalmente, conseguirá parar de
sentir pena de si mesmo. Com o nível “ajuda”
concluída, é hora de seguir para o “confronto”.
Em nossas vidas, muitas vezes nos falta alguém
para dizer algumas “verdades” na nossa cara e
balançar o nosso mundo interior. Somos verdadeiros
especialistas em assumir uma opinião e permanecer
com ela até que a dor venha nos ensinar. Por isso, a
fase do “confronto” é infinitamente valiosa para o
tratamento da depressão. Nesta etapa, o bom
profissional não é aquele que nos diz o que
gostaríamos de ouvir, como uma cartomante na rua,
mas sim aquele que analisa o nosso jeito de pensar e
nos mostra onde estamos errando/misturando as
coisas. A verdade as vezes é dura, e ingeri-la pode
ser difícil, porém apenas assim podemos sair do
atoleiro da tristeza e da culpa. A sensação de ouvir
um profissional dizer “a culpa não é dos seus pais”,
“você não percebe, mas é egoísta” ou “você não é
uma vítima” é espetacular para o nosso processo de
cura! Gostaria de destacar aqui que em alguns casos

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outras pessoas podem sim ter deixado cicatrizes em
você e representarem um dos pontos do seu
sofrimento e do desenvolvimento da sua doença, mas
focar no vilão/culpado pela sua dor é cansativo e
improdutivo. Não se trata de aceitar tudo o que o
profissional fala ou se culpar por como você está hoje;
você só precisa utilizar a experiência desse
profissional para transformar a sua tendência de
pensamento em algo mais saudável. Uma vez eu
disse ao meu psiquiatra que os meus pais
descontavam toda raiva e insatisfação em mim, e
então ele me respondeu o seguinte: “Só poderemos
trabalhar isso se trouxermos os seus pais aqui. Como
estamos aqui só nós dois, vou lhe ajudar a entender
o motivo de isso estar acontecendo e te fortalecer
para que enfrente esse sofrimento”. Cabe a você
aceitar ou não aquilo que o seu terapeuta lhe fala,
todavia eu tenho certeza de que você sempre
conseguirá tirar algo de positivo das suas sessões de
tratamento. Os melhores profissionais que já conheci
foram aqueles que não jogaram a culpa dos meus
problemas nos meus pais, nos meus amigos ou no
chefe do trabalho; esse tipo de postura te atrasa, te
preenche de raiva e apenas serve para que você se
sinta um coitado que não tem culpa de nada. Assumir
responsabilidade pela sua vida te deixará pronto para
a próxima fase do tratamento: “ação”.
Agora que você já foi capaz de lavar a sua
tristeza e de ouvir palavras que provocaram reflexão
na sua mente, o que resta é a “ação”. Mudar a cabeça
é bom, mas agir de forma diferente significa mudar a

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sua realidade. Coisas simples como dar “Bom Dia”
para as pessoas no elevador/ônibus, começar a
prática de um exercício físico, estabelecer uma rotina
de trabalho/estudo, manter o seu quarto arrumado e
limpo, evitar telejornais de violência e tragédia,
valorizar mais o tempo que passa com a família,
prestar atenção nos pássaros e flores no caminho e
encontrar uma forma de se sentir útil para os outros
ou para a sociedade farão maravilhas por você. Você
não precisa ser perfeito, milionário ou acertar sempre;
você só precisa pensar naquilo que você pode fazer
de diferente para melhorar a sua vida. As vezes tudo
o que você necessita é tratar melhor os outros, porque
assim eles terão mais carinho e respeito por você. O
importante não é mudar o mundo; é se modificar.

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6.REDE DE APOIO

Rede de apoio é como chamamos o conjunto


formado por família, amigos e profissionais que
integram a vida de uma pessoa. Todos nós temos e
dependemos da nossa própria rede para
enfrentarmos os desafios do dia-a-dia e
solucionarmos problemas. Quem nunca pediu
conselhos a um amigo ou preciso da assistência de
um conhecido para ir ao hospital? Como seres
humanos, dependemos uns dos outros, já que
ninguém é capaz de suprir todas as suas
necessidades estando sozinho; é uma lei natural do
nosso desenvolvimento como sociedade.
No campo da depressão, a rede de apoio é um
dos fatores mais importantes para o sucesso do
tratamento. O paciente precisa se sentir seguro e
“importante” no cenário aonde está inserido, tudo
para poder criar forças e contra-atacar a doença. O
carinho da mãe, a coragem do pai, a preocupação da
vó, os cuidados do tio, o incentivo do irmão, a
convivência com os amigos; estes são elementos
essenciais para um ambiente propício a cura. É claro
que em muitos casos o ambiente familiar tóxico e o
isolamento do depressivo são fatores presentes e
bastante comuns, mas sempre haverá alguém com
quem você poderá contar e pedir ajuda. Ninguém vive
está sozinho nesse mundo, e mesmo que não pareça,
a sua família se importa com você, porém ainda não

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consegue entender o que você está enfrentando. A
ignorância se combate com o esclarecimento, então
recomendo que peça a quem não te compreender
que leia este livro. A sua rede de apoio será mais
poderosa conforme os envolvidos estiverem cientes
da gravidade da situação.
O papel da rede apoio deve ser ativo, e não
passivo; apenas estar lá e se importar com o
depressivo não é o suficiente. A depressão é uma
doença que traz alterações rápidas e severas no
campo emocional e cognitivo, mudanças essas nem
sempre percebidas pelo paciente. O estado mental da
pessoa em tratamento é tão fluido e fugaz que
alterações de tristeza, euforia e apatia se manifestam
em questão de minutos. Cabe aos amigos e
responsáveis pelo indivíduo perceberem e anotarem
essas flutuações emocionais, já que o próprio
depressivo é incapaz de as notar. Esse material
passado para o papel será de extrema importância
para novos diagnósticos e alterações dos remédios
receitados pelo psiquiatra ao paciente. Perdi as
contas de quantas vezes a minha mãe falou sobre
comportamentos que eu apresentava em casa ao
meu médico, sendo que eu não tinha a mínima ideia
que fazia essas coisas diariamente. A diferença na
prescrição de um tratamento está sempre nos
detalhes; sem eles, o profissional não tem
informações suficientes para ajustar as medicações.

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7.DOENÇAS ASSOCIADAS: ANSIEDADE
E SÍNDROME DO PÂNICO

Engana-se quem pensa que só existe um único


tipo de manifestação depressiva. A depressão possui
nuances e variações que a tornam uma doença
complexa e mutável. Da unipolaridade a bipolaridade
de suas características, podemos encontrar desde o
paciente que vive sempre isolado, sem energia e
triste o tempo todo até a pessoa aparentemente
alegre e produtiva, mas que no fundo enfrenta
severas flutuações de humor e estado emocional.
Como já afirmei neste livro, não existe fórmula mágica
para a composição e tratamento desta doença; é
precisa tratar cada caso de maneira única e tentar
compreender as particularidades de cada indivíduo. É
exatamente por isso que tentar tratar todos os
depressivos com o mesmo medicamento não
apresenta bons resultados.
Uma porcentagem considerável dos casos de
depressão coexiste junto a outras doenças
psiquiátricas/psicológicas. Casos de TOC (transtorno
obsessivo compulsivo) e TDA (transtorno do déficit de
atenção), por exemplo, são relativamente comuns em
pacientes depressivos. Porém, o que pude observar
nestes últimos dez anos, nos quais mantive contato
com dezenas de pessoas em tratamento, é que
quadros de ansiedade e síndrome do pânico
possuem uma forte relação com a sintomática

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depressiva. Em alguns casos, estas doenças são
agentes causadores da depressão; em outros, é a
depressão que favorece o surgimento destas
patologias.
A ansiedade é um transtorno que se torna um
problema dependendo da sua intensidade. Ficar
nervoso ou ansioso por conta de uma prova da
escola/faculdade, de uma entrevista de emprego ou
de um pedido de casamento é normal e faz parte da
vida. Mas quando esse nervosismo te causa
sofrimento, te provoca palpitações cardíacas
anormais e te impede de tomar atitudes, o seu caso
precisa ser avaliado e tratado por um profissional da
saúde.
A ansiedade está relacionada com
acontecimentos futuros, com a insegurança do que irá
acontecer e o medo irracional de que tudo dará
errado. Quando a patologia muda de estagio, o
paciente começa a experenciar as famosas “crises de
ansiedade”. Tremores, tontura, sensação de febre,
estômago “embrulhado”, desespero e falta de ar são
alguns dos sintomas destas crises. Se não tratada, o
paciente poderá começar a evitar o convívio social,
viagens, mudanças simples na rotina e até mesmo
isolar-se por medo de novos episódios. Falaremos
mais para frente de algumas técnicas/meios de
controlar os sintomas, mas recomendo fortemente
que você busque um psicólogo/psiquiatra para
receber um diagnóstico adequado.

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Outra doença de ordem mental que está
relacionada com a depressão é a síndrome do pânico.
Menos familiar ao grande público, trata-se de uma
síndrome que provoca muito sofrimento ao portador
se não compreendida e tratada. Já enfrentei
depressão e ansiedade, mas nada se compara, em
minha opinião, ao impacto que senti em crises de
pânico. É difícil para mim tentar explicar os seus
sintomas sem parecer que estou exagerando,
vitimizando ou mentindo, mas tentarei mesmo assim:
o pânico não se trata de ansiedade ou medo, como
pode-se imaginar. O termo mais comum que escutei
de enfermos e com o qual concordo plenamente é
“sensação de morte”; em minha primeira crise, fiquei
simplesmente paralisado em constante choro
sentindo uma dor intensa, que me fazia ter dificuldade
de respirar e até mesmo de pensar. Senti que meu
coração estava prestes a explodir, mas minhas
palpitações, quando medidas, estavam normais. Eu,
racionalmente falando, sabia que não iria morrer e
que não havia nenhum indício disso, mas o que
pensava e sentia, era exatamente como dizia a
canção do famoso artista Zé Ramalho “Me sinto até
batendo na porta do céu”. Não saí do quarto por dois
dias, e quando tomei coragem para me mover, ficava
horas olhando para um ponto fixo na parede, estando
em minha casa ou em outro lugar. Os dias
subsequentes foram difíceis, mas eu sabia que as
coisas iriam melhorar e que eu encontraria uma forma
de superar as crises. E foi com esse pensamento que

28
eu comecei a entender a doença e como eu poderia
me curar.
Para superar o pânico, eu precisei de quatro
coisas: conhecimento, ajustes finos na medicação,
compreensão e paciência. O psiquiatra que me tratou
passou a me explicar o que era essa doença. Lembro-
me como se fosse hoje, e transcreverei o que ele
disse aqui: “O nosso cérebro possui uma região que
nos avisa do perigo. O sinal que ela emite é muito útil
e garantiu a sobrevivência da raça humana inúmeras
vezes. O problema é que o seu sensor está
desajustado; ao invés de disparar quando vê um tigre
ou qualquer outra ameaça real, por exemplo, ele
dispara sem qualquer motivo. Por isso você fica
tenso, paralisado, com medo e tremendo. Precisamos
arrumar essa alteração”. A partir desse ponto, as
crises se enfraqueceram levemente, pois agora eu
sabia o que estava acontecendo comigo. Ele ajustou
a minha medicação aos poucos, e isso também
ajudou muito na minha melhora. Mas ainda faltavam
algumas etapas para controlar as crises.
Os sábios da antiguidade, durante toda a história
da humanidade, repetiram uma ilustre frase
“Conhece-te a ti mesmo”. Por muito tempo eu acho
que isso era uma besteira, só mais uma viagem da
filosofia. Foi então que eu descobri que a única forma
de dominar o pânico era entender como a minha
cabeça funcionava. O que eu penso normalmente?
Como eu penso? Eu exagero nas coisas? Que tipo de
coisas são sinais de que eu não estou bem ou de que

29
eu ficarei mal? Eu sei que o que estou escrevendo
parece uma loucura tremenda, mas pense comigo: se
as crises só estão na sua cabeça, você só precisa
“cortá-las” antes que elas cresçam. Se você perceber
que está pensando algo ruim que te fará mal e vai
originar novos episódios, tente escutar uma música
legal, pensar numa coisa engraçada, lembrar de um
momento feliz. Você só precisa quebrar o fluxo de
pensamentos negativos com outro tipo pensamento.
No meu caso, a razão foi a minha maior arma.
Sempre que eu percebia que estava pensando em
algo absurdo/irreal, em me dava conta que não fazia
sentido, e corrigia esse “exagero”. No começo foi
chato, pois eu precisava fazer isso como um fiscal
guardando a fronteira de um país. Porém, logo isso
se tornou um hábito, até ficar automático. É algo um
pouco confuso de se compreender apenas lendo,
mas um psicólogo poderá te ajudar a aplicar isso na
sua vida.
O último ponto que definiu a conquista do
controle sobre a síndrome do pânico é a virtude que
menos temos hoje em dia: a paciência. Entender que
não existe mágica capaz de me curar em um instante
e saber viver um dia de cada vez me ajudou muito.
Me adaptar a não levar as ofensas dos outros tão a
sério, não me preocupar demais com coisas que eu
não podia resolver e apreciar as pequenas coisas,
como tomar um pouco de sol no almoço ou beber uma
xícara de chá foram pontos essenciais para a minha
melhora. Eu prossegui cumprindo com as minhas
obrigações no trabalho e no estudo, enfrentando os

30
problemas do dia-a-dia e tropeçando algumas vezes,
mas sempre respirando fundo e tentando dar menos
peso às coisas. Lembre-se: além do seu corpo que
recebe o remédio do médico, a sua mente também
precisa de cuidados. É só mudando a sua cabeça e
como você enfrenta as situações que a cura se torna
possível.

31
8.ESTUDE A SUA DOENÇA!

A maior parte das pessoas, quando vai ao


médico, apenas segue o tratamento receitado, sem
nunca se perguntar de verdade sobre a doença que
está lhe afligindo. Em raras ocasiões, o paciente
pesquisa os sintomas na internet ou acompanha
alguma produção na televisão e chega ao consultório
cheio de receios e medos, pensando ter algo muito
mais grave do que realmente tem. Mas, quando
falamos de patologias mentais, apenas escutar o
vizinho ou assistir uma matéria de dez minutos no
telejornal não é suficiente. Talvez você não possa
fazer muita coisa se tiver esclerose múltipla, leucemia
ou osteoporose, mas se tiver depressão, ansiedade
ou síndrome do pânico, por exemplo, o seu
conhecimento se torna um importante fator de cura.
Toda doença de cunho mental possui lógica de
funcionamento, motivação e gatilhos. Entender esses
três elementos te permitirá conhecer o desequilíbrio
que está te afetando e combatê-lo, da mesma forma
que um general em uma guerra precisa tomar
conhecimento das características do exército inimigo
para vencer. Entendo plenamente que para algumas
pessoas o que estou dizendo possa ser chato ou
difícil de engolir, mas peço que você leia o que eu
tenho a dizer antes de pular este capítulo. Talvez você
não use no dia-a-dia tudo o que aprendeu na escola,
porém eu garanto que estudar e entender a doença

32
que você tem (como a depressão, por exemplo) te
ajudará a suavizar a dor e os sintomas que ela te
provoca.
Começaremos pelo entendimento da lógica de
funcionamento, que representa a parte mais técnica
do processo. Para dominá-la, você precisará estudar
textos, ver vídeos e/ou assistir palestras que
expliquem, no caso que estamos abordando, o que é
a depressão, quais são os seus sintomas, o que pode
piorar ou melhorar o seu quadro, como a doença
funciona dentro do seu corpo e o que ela altera, o que
os remédios que você toma fazem para “arrumar a
casa” na sua mente, quais os tratamentos que
existem para essa enfermidade, etc. Como afirmei no
capítulo anterior, compreender os mecanismos da
sua patologia te permite diminuir o peso que ela tem
e o medo que provoca. Se você compreende o que
está acontecendo com o seu corpo e porque você
está sentindo tristeza, solidão ou desânimo, evita-se
o pânico e o desespero, sendo substituídos pela
paciência e pela tolerância.
A motivação tem papel crucial no processo de
cura, já que se trata de encontrar os motivos, além
das questões biológicas, que te levaram a
desenvolver a doença. Ao estudarmos o passado,
podemos evitar que cometamos os mesmos erros no
futuro. Quando você começou a se sentir assim?
Como a tristeza chegou na sua vida? Aconteceu
alguma coisa que foi capaz de te tirar o equilíbrio
emocional? Quem esteve envolvido nesse processo

33
de adoecimento? A situação que te causou tanto
sofrimento ainda continua ou ela já ficou no passado?
Você pensa muito sobre as coisas que aconteceram
lá atrás? Todas essas perguntas precisam de
respostas, e cabe a você solucionar os enigmas que
fazem parte da sua história. Terapia, conversas com
amigos e família e pensar com honestidade e
coragem no que aconteceu te ajudarão muito no
processo. Tenho paciência e respeite o seu ritmo;
algumas vezes ainda não estamos preparados para
reviver situações difíceis e digerir acontecimentos
dolorosos. Uma boa rede de apoio e o
acompanhamento de um profissional serão as
muletas que te ajudarão a trilhar esse caminho de
descobrimento até que você se sinta forte o bastante
para caminhar sozinho. Jamais tenha vergonha das
suas limitações! Ame-se e respeite aquilo que você
consegue fazer no momento.
Por fim, gatilhos são estímulos que provocam
alguma coisa em você. Escutar uma música, assistir
um filme, pensar em um acontecimento passado,
visitar um lugar, encontrar uma pessoa na rua e ficar
sem dormir são exemplos de gatilhos. A sua
depressão ou ansiedade pode se agravar, se
intensificar ao entrar em contato com uma dessas
condições. Eu, por exemplo, fico emocionalmente
alterado ao escutar canções tristes e de pesar. Outra
pessoa pode se sentir ansiosa se visitar uma cidade
que a lembre de algo ruim. E outra pode se sentir
triste quando dorme na parte da tarde. O fato é cada
um possui os seus próprios gatilhos, independente de

34
quão estranhos ou superficiais pareçam para as
outras pessoas. Cabe a você descobrir o que te deixa
mal, triste e ansioso, e buscar evitar essas coisas
sempre que te for possível. Se a situação pedir que
você enfrente esses estímulos (como algo da escola,
trabalho ou família), o faça de cabeça erguida, mas
jamais fique se torturando com coisas que você sabe
que te farão sofrer depois. Só você conhece a dor que
sente e ninguém tem o direito de menosprezar as
suas limitações e te obrigar a nada que seja tóxico
para a sua personalidade. Hoje você já enfrenta
muitas dificuldades na sua vida por conta da doença
que você tem; não seja carrasco de si mesmo e
respeite-se sempre.

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9. PASSADO E PERDÃO

A depressão, no seu sentido mais profundo, é


uma doença ligada a coisas que aconteceram no
passado. Um acidente, uma briga, uma separação,
uma perda ou um grande sofrimento são elementos
diretamente conectados com o paciente que
desenvolveu a doença. Na grande maioria dos casos
clínicos que envolvem depressivos, podemos
encontrar conflitos emocionais e traumas que se
assemelham a grilhões de um presidiário, impedindo
que a pessoa siga com a sua vida.
A mágoa que grande parte da população mundial
carrega é considerada normal e inofensiva, porém
para um depressivo, seu efeito é tão cruel quanto um
veneno. Não aceitar que alguém te machucou ou te
fez mal significa paralisar toda a sua vida e vivenciar
o momento da dor todos os dias. Nos casos de
depressão, reviver esses traumas na sua cabeça só
serve para aumentar ainda mais a sua tristeza, dor e
angústia. É como viver se punindo por algo que já
passou, que ficou no passado, sem qualquer motivo
ou razão para isso. Pense bem: se uma pessoa te fez
mal no passado, o problema é dela, foi ela que fez
algo errado. Se esse é o caso, por que você permite
que ela continue te machucando ao ficar lembrando
do que ela fez e sentindo raiva por isso?
Recorda-se constantemente de algo que alguém
te fez com certeza é pesado; mas ficar “martelando”

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na sua cabeça alguma coisa que você mesmo fez no
passado é muito pior. Por que eu não consegui? Por
que eu fui fraco? Por que eu estraguei tudo? Por que
eu tive de medo de tentar? Por que eu não ajudei a
minha mãe? Por que eu não fui capaz de salvar o meu
casamento? Por que eu deixei que fizessem isso
comigo? As perguntas se acumulam, e o sofrimento
só aumenta. O mundo pode te odiar, mas o seu maior
carrasco, o seu maior torturador sempre será você
mesmo. Se você não aprender a respeitar os seus
limites e entender que você também pode errar, a sua
vida sempre parecerá um sofrimento infinito. Na luta
contra a depressão, esse tipo de pensamento só irá
te levar para o fundo poço, cada vez mais perto do fim
da linha.
A única maneira de se libertar de tudo de ruim
que já passou e caminhar de cabeça erguida é
perdoar. Não falo aqui de nada religioso ou místico,
mas de apenas tentar esquecer aquilo que te fez
sofrer. Pode ser que você não consiga apagar
completamente certas coisas da sua mente, mas
buscar se libertar da raiva e da culpa que você sente
por conta destas mesmas coisas já é um grande
progresso! O perdão é algo lento e gradativo, mas
somente você pode dar a partida nessa mudança.
Não tenha ódio de quem te fez mal, tenha pena, pois
aquela pessoa é tão pequena que nem merece a sua
raiva, ela precisa sim é de compaixão. Siga o seu
caminho e deixe que cada um siga o seu.

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A sua vida não é definida por aquilo que você fez
no pretérito, mas sim por o que você pode fazer no
futuro. O importante não é o erro, mas sim o que se
faz depois dele. Se você fez algo ruim no passado,
entenda que foi o melhor que conseguia fazer
naquele momento, afinal ninguém acorda de manhã
e pensa “hoje eu vou fazer o meu pior”. Respeite
quem você é, perdoe as suas ações e procure
crescer. Sentir culpa por alguma coisa não ajuda em
nada; se você quer realmente ficar em paz consigo
mesmo, trabalhe duro para fazer diferente, para
retribuir com o bem o que de ruim você já fez. Não
existe ponto sem volta, você sempre pode começar
de novo e fazer diferente. Perdoe a si mesmo, perdoe
os outros e perdoe tudo o que aconteceu de negativo
no passado; só assim você estará livre para voar e
enfrentar com coragem a depressão.

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10. A VÍTIMA

A depressão, além de provocar sintomas


dolorosos e complexos, também produz na cabeça do
enfermo uma personagem comum nos tempos atuais:
a vítima. Muitas pessoas interpretam esse papel no
âmbito social mesmo quando não possuem qualquer
doença ou patologia específica. Com certeza você
conhece alguém que só reclama da vida, vê erros em
todas as pessoas e acredita que faz tudo certo 100%
do tempo. Pode ser um familiar, um amigo, um colega
de trabalho, um professor, um prestador de serviço ou
até mesmo o seu chefe; o fato é que todos nós temos
alguém assim em nosso ciclo de convivência.
A vítima pode ser definida como a pessoa que
pensa frequentemente em como o mundo é injusto e
em quanto ela não fez nada para merecer isso.
Jamais assumindo responsabilidade pela posição em
que se encontra na vida, busca incessantemente
culpados, verdadeiros carrascos que, em sua mente
distorcida, a torturam e prejudicam sempre que
podem. A “culpa” nunca é sua, mesmo quando suas
ações provocaram o problema; a razão do seu
sofrimento é a namorada, o gerente do trabalho, o
amigo invejoso, o policial, o médico ou até mesmo o
presidente. O problema com esse tipo de pensamento
é que ele te coloca como um ser incapaz no dia-a-dia.
Como nada pode fazer, tudo o que resta é sofrer sem
qualquer possibilidade de melhora.

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Um dos segredos que descobri enquanto
enfrentava os primeiros estágios da depressão é que
pensar que você só está em sofrimento por conta dos
outros te deixa de mãos atadas. Pense calmamente
na sua trajetória até aqui: existe algo que você fez que
te trouxe esse sofrimento? Será que as decisões que
você tomou não te levaram até onde você está? Será
que você não tem o poder para se erguer e fazer
diferente dessa vez? Assumir a responsabilidade pela
sua existência significa tomar a direção do carro que
chamamos de vida. Quando você aceita que a sua
melhora e a conquista da sua cura dependem de
você, todos os problemas passam a parecer
menores. É exatamente dessa forma que você passa
do estágio de vítima para um ser humano livre para
melhorar e tomar as próprias decisões.
O mundo é complicado e muitas vezes nos
sentimos injustiçados. Pode ser sim que alguém
tenha te enganado no trabalho ou traído a sua
confiança, afinal isso faz parte da vida. Mas é nesse
momento que você tem duas escolhas: você pode
reclamar de tudo e aceitar que as outras pessoas
definem quem você é e até onde você pode chegar;
ou você pode estufar o peito, respirar fundo e dizer “a
vida quer me deixar mais forte”. Cada situação difícil
que você passa é como um treinamento para o seu
coração, da mesma forma que a corrida é um
treinamento para as suas pernas. Toda vez que você
escolhe enfrentar um obstáculo e superar a força que
você achava que tinha, o seu espírito se torna cada
vez mais capaz de crescer. Como um ferreiro que

40
bate no metal para melhorar a espada, os problemas
te acertam de frente para melhorar quem você é.
A depressão é uma batalha que precisa ser
encarada como uma oportunidade crescer. Se você
pensar nela com a mentalidade de “vítima”, cada
sofrimento que ela te provocar vai te afundar como
uma âncora. Você pode pensar: Por que eu? Por que
eu estou passando por isso? Por que a vida está
fazendo isso comigo? Será que eu mereço essa dor?
Algumas perguntas não têm respostas fáceis e só
servirão para te atrasar. Coloque o seguinte
pensamento na sua mente: “Eu sou mais forte que a
depressão, por isso vou a enfrentar e vencer, para
conquistar muitas coisas boas no futuro”. Torne-se o
cavaleiro da sua própria estória, afiando a sua lâmina
com esperança, conhecimento e com a ajuda das
pessoas que lhe são queridas. Não é sobre sofrer, é
sobre o quanto você pode e vai crescer. Não é sobre
cair, é sobre não desistir, mesmo quando ninguém
acredita, você pode e vai conseguir.

41
11 . O LADO BOM DA DOENÇA: O
SENSOR SITUACIONAL

A maior parte das pessoas que sofrem com


algum problema de saúde tem dificuldade em
encontrar pontos positivos na referida situação. O
enfermo está acostumado a focar nos sintomas
problemáticos, nos efeitos que causam dor, sem
nunca se perguntar a respeito das mudanças que a
doença provoca em sua vida. A depressão e diversos
níveis de ansiedade existentes costumam andar lado
a lado na maior parte dos quadros de desequilíbrio
emocional. Essa combinação complexa, se bem
compreendida e tratada, pode dar origem a uma
habilidade extremamente útil: o sensor situacional.
As doenças psiquiátricas costumam aumentar
consideravelmente a sensibilidade dos pacientes.
Uma pessoa em tratamento poderá se afetar
intensamente por estímulos simples, como a música,
a fome, a solidão e palavras específicas; essa reação
exagerada é capaz de treinar o cérebro do enfermo,
gravando tudo aquilo que lhe faz mal ou lhe causa
sofrimento em demasia. O resultado é o
desenvolvimento do sensor situacional, a capacidade
de determinar com bom grau de precisão situações,
lugares e acontecimentos que poderão prejudicar o
paciente em seu estado atual. É como se você
conseguisse simular na sua mente a possibilidade de
apreciar ou sofrer diante de alguma coisa. Exemplo:

42
se você pensar no ato de “ir à praia”, e isso não estiver
bem resolvido dentro de você, sentirá sensações
negativas, como medo e ansiedade, por exemplo. E
isso tudo sem que você efetivamente tenha que ir à
praia, sofrer e carregar um fardo ainda mais pesado
do que suportava antes.
O nosso sistema nervoso possui um mecanismo
bastante antigo que funciona como um alerta de
perigo, avisando-nos quando algo que está à nossa
frente pode levar a uma situação ruim ou perigosa. Ao
vermos um tigre, seremos alertados de que
precisamos correr e fugir do local para não sermos
atacados ou devorados. Da mesma forma, quando
alguma situação que já nos provocou muito
sofrimento emocional se apresentar diante de nós,
receberemos um estímulo para evitar que isso se
repita. Viajar de novo para um lugar onde tivemos
uma experiência traumática, por exemplo, pode não
ser uma boa ideia, e o sensor situacional nos
informará se já estamos emocionalmente preparados
para encarar o desafio; sem a sua presença,
provavelmente seguiríamos tomando decisões
tóxicas para nós mesmos e criaríamos situações
propositais de sofrimento.
O sensor situacional deve ser utilizado e
desenvolvido com o acompanhamento do psiquiatra
ou do psicólogo responsável pela sua terapia. Sem o
amparo de um profissional responsável, o paciente
pode distorcer a interpretação dos sintomas, evitando
tudo o que saia da sua zona de conforto por se sentir

43
um pouco mal ao pensar nisso. Devemos sempre
respeitar os nossos limites, sem fazer movimentos
“forçados”, para os quais ainda não estejamos
preparados. Porém, não podemos congelar no tempo,
fugindo de todos os desafios, sem nunca se arriscar.
O profissional da saúde mental poderá lhe ajudar a
seguir em frente, estabelecendo um ritmo de
crescimento saudável e seguro. Estude o que te faz
bem e o que te faz mal, e se fortaleça para o amanhã!

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12. JOGANDO O LIXO FORA

Vivendo em uma sociedade globalizada e cada


vez mais exigente, somos expostos a estímulos
negativos diversas vezes ao dia. Muitas vezes, esse
contato nos prejudica e contamina, elevando os níveis
de medo, stress, desespero, raiva, ansiedade,
melancolia e as chances de se desenvolver
depressão. E a pior parte desta estória é que, no
geral, achamos normal carregar essas bombas
emocionais, com o pretexto de que “a vida é assim
mesmo” ou que “faz parte”.
Um dos maiores culpados pelo agravamento de
quadros emocionais na população é o jornalismo
sensacionalista. Ao ligarmos a televisão, acessarmos
um site de notícias ou mesmo recebermos
reportagens por aplicativos no celular, a visualização
é sempre a mesma: acontecimentos terríveis, crises
insuperáveis, mortes violentas, acidentes sangrentos,
casos revoltantes e sofrimentos incapacitantes. Isso
nos leva a crer que o mundo é uma droga, que a vida
é uma desgraça, que a violência é algo inevitável, que
a economia não tem jeito, que só existem injustiças e
que apenas o sofrimento nos aguarda, entre outras.
Ansiedade, medo e tristeza se espalham como
pragas em uma plantação, enquanto acontecimentos
totalmente exagerados nos fornecem uma visão da
realidade que simplesmente não existe. Sim, a
violência e as dificuldades existem, assim como
várias pessoas sofrem em nosso planeta, porém as

45
coisas não são tão ruins assim! Essa forma de noticiar
é como dizer a uma criança que ela não deve brincar
no escorregador do parque porque senão ela com
certeza irá cair, bater a cabeça e morrer. O exagero
jamais nos será benéfico!
Há alguns anos atrás, uma grande, porém
simples mudança ocorreu em minha vida. Estava eu
em casa acompanhando o jornal do horário de
almoço, assistindo as últimas matérias como me era
de costume, quando o meu pai chegou até mim e
falou: “Filho, por que você fica assistindo essas
notícias que só mostram desgraça? Não acha que
seria melhor para o seu emocional se você ignorasse
esses programas? ”. Levemente contrariado,
retruquei: “Pai, se eu parar de acompanhar as
notícias, vou me desconectar totalmente do que
acontece no mundo. É mais fácil virar um ermitão e
viver no topo de uma montanha”. Mas, mesmo após
a resposta áspera, meu pai sugeriu o seguinte: “Por
que você não tenta ficar 1 semana sem acompanhar
programas de notícias e ler jornais para ver como
você se sente? Se não ajudar, é só voltar a sua rotina
comum”. Concordei com ele e realizei o teste na
semana seguinte, sem grandes expectativas. Mas,
para a minha surpresa, o resultado foi gigantesco! Me
senti mais leve e menos ansioso, além de estar
consideravelmente mais otimista. E o melhor de tudo
foi perceber que o mundo continuava girando, mesmo
sem ter a mim para fiscalizar os acontecimentos.

46
Creio que nesse momento, amigo leitor, você
esteja me achando um alienado, um louco e até
mesmo um egoísta. Você pode me achar insensível
por eu aparentemente não me importar com as
pessoas que estão perdendo a vida nas ruas ou com
os animais em extinção, mas eu lhe respondo com
algumas simples perguntas: saber de algo que está
acontecendo e não fazer nada a respeito ajuda em
alguma coisa? Ficar triste pelo ocorrido e não erguer
a bunda da cadeira para fazer a diferença é algo
positivo? Não seria melhor ajudar quem e quando
você pode ao invés de se deprimir e se alterar
emocionalmente por notícias longínquas? Faça a sua
parte na sua casa, no seu bairro e na sua
comunidade, e já estará auxiliando mais que a maior
parte das pessoas. Não estou dizendo aqui para você
cerrar os ouvidos e não se informar mais de nada;
apenas estou dizendo para você não absorver
emoções negativas em vão. É importante
compreender a situação do seu país e o panorama
geral do planeta em que vivemos, porém não
podemos ser reféns das desgraças e das tragédias.
Faça o mesmo teste que eu fiz no passado e verifique
por si mesmo a melhora que você sentirá no seu
humor e nos seus pensamentos. A mudança poderá
te surpreender.

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13. A NATUREZA COMO ALIADA

A geração atual enfrenta rotinas cada vez mais


corridas, com níveis de cobrança elevados e metas
improváveis. Morando em apartamentos cada vez
menores, passamos a conviver em verdadeiras
florestas de concreto, utilizando de aparelhos
eletrônicos para ajustar a temperatura, melhorar a
ventilação e até dar a sensação de convivência ao ar
livre. Até aí, não há problema algum. Mas e o contato
com a natureza, onde fica? Será que um dos motivos
do crescimento da depressão e da ansiedade em
nossa sociedade também não está ligado ao nosso
afastamento dos ambientes cheios de vida?
Um dos mais poderosos aliados no tratamento do
stress, da depressão, da ansiedade e de diversas
outras doenças chama-se natureza. Não falo aqui de
chás, garrafadas, ervas ou cristais, mas sim da
simples convivência em locais menos dominados
pelos carros e compromissos profissionais. Praias,
sítios, parques, reservas florestais, rios, cachoeiras,
campings e até mesmo o gramado do quintal da sua
casa são ótimos exemplos de localidades cheios de
vitalidade. O ar puro, o canto dos pássaros, o som da
água corrente, a brisa suave do vento, o sol que
aquece, as cores da paisagem e até mesmo o cheiro
das flores são recursos muito valiosos, que podem te
ajudar muito a aliviar um pouco o peso dos seus
problemas e da sua rotina.

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Antes de ser diagnosticado com depressão e
síndrome do pânico, jamais procurei lugares que não
tivessem uma televisão ou um computador disponível
para uso. Eu fazia graça das pessoas que assistiam
o pôr-do-sol ou andavam no meio do mato buscando
uma conexão com o verde. Mas a vida, meus amigos,
é uma professora competente, e não demorou para
que tudo aquilo que eu menosprezei se tornasse um
forte pilar que me sustentaria nos dias difíceis. O meu
primeiro companheiro foi o Sol; o calor dos raios da
tarde parecia recarregar as minhas baterias,
queimando as tristezas e os medos que eu sentia.
Quando meu quadro clínico me trazia dias de
desânimo, ler pegando um pouco de luz tranquilizava
minha esperança. O canto dos pássaros, que eu uma
vez achava desagradável e irritante, agora focava a
minha mente em algo mais positivo, permitindo que
essa música dos ares me desse forças para seguir
em frente. Observar o azul do céu, sentir a humidade
da chuva e sentir a brisa do vento foram poderosos
medicamentos para a ansiedade e melancolia que eu
jamais havia me permitido apreciar, mesmo tendo
tudo isso a disposição todos os dias. A vida passou a
me parecer mais bonita.
Nos dias sombrios, de tristeza profunda e
ataques de pânico, minha salvação era caminhar até
um dos parques da minha cidade no horário que tinha
livre e buscar naquele cenário verde a cura das
minhas mazelas. Com atenção, admirava as árvores
imponentes, os canteiros floridos, a paisagem cheia
de vida, o voo dos passarinhos e os cidadãos que,

49
exalando tranquilidade, aproveitavam aquele paraíso
para realizar as mais diversas atividades. Por ter
criado o hábito de meditar e escutar músicas
tranquilas para acalmar a tempestade da minha
mente, acabei por adotar um lugar fixo para os
exercícios de relaxamento. Escolhi um pequeno
espaço ao lado de uma bela e vibrante árvore, de
galho bifurcado e tronco espesso. Todas as vezes
que lá ia, tirava o tênis e deixava os meus pés
entrarem em contato com o chão de terra, sentindo
nitidamente as minhas amarguras serem sugadas
pouco a pouco pelo potencial da natureza. Com as
mãos, sentia a textura daquela grande árvore,
mentalizando mensagens de gratidão e pedidos de
ajuda para alcançar o equilíbrio emocional. Não foram
poucas as vezes em que pude receber intuições
certeiras, que me ajudaram a encontrar soluções
positivas para os problemas que eu estava
enfrentando. De alguma forma, toda a vibração de
paz que aquele ambiente exalava me transportava
para um estado de consciência menos sofrido. Tive
momentos como esse no topo de dunas de areia na
praia e também na beira de rios de leves correntezas.
Quando finalizava o contato, que durava apenas
alguns minutos, me sentia mais forte e mais
preparado para encarar as barreiras que a rotina
colocava em meu caminho.
Eu sei que o leitor possa estar pensando que o
que digo é besteira, efeito de alguma substância ou
crença alternativa, mas garanto que tudo o que disse
gera resultado, independe de qualquer tipo de credo

50
e não custa nada para testar. Jamais utilizei qualquer
droga ou segui qualquer corrente de pensamento
distorcida, pois sempre confiei no filtro da ciência e da
razão para tomar minhas decisões. Se você tem 10
minutos livres por semana, experimente ir até ao
parque da sua cidade, a uma praia vizinha, a um
jardim botânico ou a um lago/rio tranquilo e testar a
sua própria forma de se ligar a natureza. Seja para ler
um livro, escutar músicas tranquilas, se exercitar,
praticar yoga ou meditação, ou até mesmo para
fotografar o que achar bonita, garanto que tudo vai te
ajudar no seu processo de cura. Não deixe o seu
preconceito ou comodismo te impedir de buscar o que
pode ser bom para você. Se nós soubéssemos o
poder que a vida deste planeta tem, com certeza
encontraríamos fortes aliados para as batalhas do
dia-a-dia. Busque a sua melhora por meio da
natureza, do seu jeito, no seu tempo.

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14. OCUPE SUA MENTE

Um ditado popular repetido à exaustão pelos


brasileiros nas décadas de 60 a 90 é “cabeça vazia,
oficina do diabo”. Tirando a parte mística e
supersticiosa, a frase traz um ensinamento
extremante importante para as pessoas que lidam
com depressão, ansiedade e/ou síndrome do pânico.
A tendência natural do nosso pensamento, quando
estamos desocupados, é se direcionar para a coisa
mais importante/impactante da nossa vida naquele
momento. Os apaixonados pensam no seu amor, os
estudiosos mentalizam suas pesquisas, e os
emocionalmente enfermos focam a sua atenção em
coisas negativas que os torturam. Não acredita em
mim? Então pense naquilo que passa pela sua
cabeça quando você se deita para dormir; grande
parte das pessoas dirá que só pensa besteira, com
ideias de culpa e medo. Essa é uma armadilha mental
que os nossos avós já conheciam, e por isso estavam
sempre se ocupando com diferentes atividades.
A depressão e a ansiedade são oponentes
persistentes e sorrateiros, que aproveitarão da sua
invigilância para preencher a sua mente com
pensamentos de baixa autoestima e perigos
irracionais. Para combater esta característica, você
precisará ocupar a sua mente, ocupar o seu tempo.
Não dar chance para o silenciamento mental é a sua
maior arma contra o sofrimento emocional durante os
passos iniciais do seu tratamento. Conforme o seu

52
psiquiatra conseguir ajustar seus medicamentos, e
você, através da experiência, se fortalecer
adequadamente, a ocupação mental necessária para
o seu bem-estar diminuirá gradativamente.
A primeira e mais importante técnica que me
ajudou a lidar com as correntes negativas de
pensamento é a atenção plena. O nome parece
complicado, mas a prática é muito simples. Tudo o
que você precisa fazer é prestar atenção nas tarefas
simples do dia-a-dia e traduzir em palavras aquilo que
você está fazendo. Exemplo: você vai tomar banho;
busque perceber o toque da torneira/registro que
você precisa abrir para que a água comece a cair do
chuveiro. Sinta as gotas tocando a sua pele, a
temperatura do líquido, veja a transparência da água,
os reflexos de luz, o som que a torrente emite ao tocar
no chão. Pense naquilo que você está experenciando,
como se quisesse descrever a cena para outra
pessoa. Perceba a textura do sabonete, o movimento
que você faz para pegá-lo, a resposta sensorial da
sua pele, etc. Tudo isso vai focar a sua atenção 100%
no que está fazendo no momento, tornando quase
impossível a manifestação de pensamentos ruins na
sua mente. Você pode aplicar essa técnica ao lavar a
louça, pendurar a roupa no varal, arrumar o seu
quarto, varrer a casa, comer, fazer compras, andar de
bicicleta, treinar na academia, cozinhar e por aí vai;
as possibilidades são praticamente infinitas.
O trabalho manual e mental também pode ser um
valioso recurso para ocupar a sua mente. Nos dias

53
atuais, quando pensamos na palavra “trabalho”,
sentimos cansaço e associamos o termo com algo
que somos obrigados a fazer, sem qualquer vontade
ou escolha. Porém, existem tarefas que podemos
realizar e que nos trarão prazer, ao mesmo tempo que
produzem algo útil para as nossas vidas. No meu
caso, gravar, produzir e editar vídeos para o meu
canal no youtube não fornecia ganhos financeiros
inicialmente, mas focar meu pensamento nessa tarefa
relaxava o meu cérebro e permitia que eu me
desconectasse por alguns minutos dos problemas
cotidianos que insistiam em me torturar. Hoje,
trabalho profissionalmente com este mesmo canal e
sou muito grato pelo papel dele em minha vida. Um
dos meus primos também passou por épocas difíceis
e se focou em aprender produção musical,
transformando o momento de dor em conhecimento
para o seu convívio. Aprender artesanato, pintar,
carpintaria, dança, tocar um instrumento, escrever,
cuidar do jardim, estudar decoração, praticar um
esporte, e etc; todas são atividades que podem te
fazer se sentir mais útil e valoroso. É exatamente esse
“hobby” que vai te ajudar a ocupar o seu dia quando
você não tiver nada para fazer e a ansiedade começar
a te atormentar. As coisas podem estar complicadas
e o stress pode estar tentando te dominar, mas você
sempre terá aquele seu hobby especial que trará paz.
Outra técnica interessante para suavizar os
impulsos negativos é manter a sua audição ocupada
com informações que necessitem da sua atenção.
Muitos que estão lendo esse livro podem argumentar

54
que isso não funciona, pois escutam músicas
constantemente no fone do celular e continuam tristes
e preocupados. Eu concordo que as músicas,
independente do gênero e estilo, são estímulos
repetitivos que falham em prender o nosso fluxo
mental, podendo-se estar escutando uma canção
alegre e, mesmo assim, se sentir no fundo do poço.
Por isso, minha recomendação para você, ao menos
nos períodos mais complicados do seu tratamento, é
que não preencha o seu tempo com músicas, mas sim
com podcasts. Podcasts são programas de áudio com
diversos episódios que podem ser escutados por
aplicativos no celular e/ou nos computadores, que
lembram muito a interação e a diversão do rádio (para
os mais velhos) e do youtube (para os mais novos).
Um vídeo sem imagem, um arquivo mp3, um bate-
papo entre amigos; isso tudo é podcast. Existem
podcasts sobre futebol, cinema, comédia, ciência,
religião, história, culinária, música, economia, animais
de estimação, inglês, filosofia e qualquer outro
conteúdo que você possa imaginar. Encontrei o
assunto que você mais gosta e comece a
baixar/escutar os episódios através de apps como
Spotify, Google Podcasts e Apple Podcasts, e então
você verá como não faltarão bons estímulos para
afastar os seus pensamentos de ansiedade, tristeza
e medo. Não tenho como mensurar o número de
vezes em que escutar meus podcasts favoritos me
sustentou durante o dia, conseguindo dar risadas dos
temas engraçados mesmo no meio das tempestades.
Aproveite as ferramentas que a tecnologia que nos

55
deu e tenha o podcast como mais um dos seus
aliados na luta pela sua felicidade.

56
15. A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO

O ser humano, para se sentir bem, precisa de


mais do que diversão, abundância e afeto; ele precisa
se sentir útil de alguma forma. Fazer algo que não
impacte apenas o próprio ser é uma das principais
forças que movem o indivíduo na sociedade. Muitas
vezes menosprezado, o trabalho dignifica o homem e
a mulher, trazendo uma sensação de dever e valor.
Para o paciente depressivo em tratamento,
vencer a sensação de incapacidade perante a vida é
muito complexo. O trabalho, por dar significado ao dia
da pessoa, é uma grande ferramenta de apoio e
suporte. Para que não fiquemos nesse capítulo
somente na teoria, gostaria de compartilhar a minha
história com você leitor para demonstrar a
importância do ato de trabalhar: me chamo Guilherme
de Vargas Oss, tenho 28 anos e convivo com
depressão e transtorno de ansiedade/períodos de
síndrome do pânico desde a minha adolescência. Já
me consultei com diversos psiquiatras e psicólogos
nesse meio tempo, e pude aprender muito sobre
doenças mentais e sobre mim mesmo com a ajuda
desses profissionais. Mas a medicação e a
psicoterapia, por si só, não foram capazes de
estabilizar o meu quadro. Mesmo com o auxílio de
terapias complementares e espirituais, os meus dias
como aluno do terceiro ano do ensino médio pareciam

57
longos e difíceis de suportar. Tal qual um viajante no
deserto, eu não sabia para onde ir ou o que fazer.
Um dia, pelo que parecia um mero acaso, fui ao
computador para pesquisar sobre um jogo de
videogame que eu estava jogando na época. Essa
pesquisa me levou a um blog que continha vídeos de
games narrados por administradores e internautas. O
chamado “vídeo comentado” atraiu a minha atenção
como nada que eu tinha visto antes. Naquela quarta-
feira, peguei a filmadora da família e me pus a realizar
uma gravação. Com pouco conhecimento e muita
vontade, enviei o vídeo ao Youtube e compartilhei seu
endereço com o proprietário do blog. O feedback da
comunidade foi excelente, me trazendo alegria por ter
produzido algo que impactou outras pessoas de
forma positiva. Eu não sabia na época, mas aquele
pequeno acontecimento seria a brasa que acenderia
a minha vontade de viver.
Produzir vídeos para a internet, sem esperar
qualquer retorno, tornou-se parte essencial da minha
vida. A vontade de melhorar nesse campo de trabalho
me fez estudar inglês, edição de imagens, edição de
vídeo, captação de áudio, montagem e manutenção
de computadores, jornalismo, fotografia, iluminação e
marketing digital. Cada novo conhecimento me fez
seguir em frente, deixando para traz a imagem de
doente incapacitado que eu tinha de mim mesmo. O
desejo de crescer e evoluir é o antídoto para a
estagnação e o vitimismo, sempre que acompanhado
por um tratamento médico adequado.

58
Houve dias sombrios e pesados, mas a certeza
de que eu tinha um dever a cumprir me tirava da cama
sempre. Quando o ostracismo vinha preencher a
minha mente com pensamentos negativos, eu logo
partia para o trabalho digno que eu havia construído.
Durante as gravações, meu ser se elevava e não
havia tristeza no mundo que me impedisse de cumprir
o serviço que devia aos espectadores que me
acompanhavam. Por vezes maçante, trabalhar faz
parte de nós e representa um pilar na sobrevivência
da humanidade. Onde você estiver, por mais pesado
que lhe pareça, busque fazer o seu melhor para que
isso te dê a certeza de estar contribuindo com o
próximo. E para aqueles que estão lendo e pensando
“fácil para ele falar, o meu emprego é uma droga”,
recomendo que busquem se preparar para o futuro
que desejam, para o ofício que desejam exercer, mas
que também procurem, na medida do possível,
cumprir seu dever com amor. Aquele que se prepara
e encontra otimismo em meio ao caos já dá o primeiro
passo em direção a mudança.

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16. A FORÇA PARA LUTAR

Toda vez que nos deparamos com alguma


situação difícil na vida, sempre buscamos algo que
nos incentive a seguir em frente. Problemas como
trabalho, família, dinheiro e medos costumam ser
encarados de maneira dura, porém certeira em nossa
sociedade. Não significa que estes pontos sejam
fáceis de lidar, mas digamos que todos nós já somos
treinados pela convivência diária para vencer esses
obstáculos. Mas o que acontece quando o desafio
que surge não ataca o exterior, mas sim o nosso
interior? Como achar energia para enfrentar uma
doença que te arrasta para a tristeza e para o
sentimento de vazio? Como podemos combater a dor
que estamos sentindo nesse momento? A resposta
não é simples ou mágica, mas o fato é que uma
solução positiva existe.
O ser humano é mutável e transformador, por
isso nem sempre o que funciona para mim funcionará
para você, por exemplo. O que posso fazer é
compartilhar algumas coisas que me ajudaram e
ainda me ajudam muito no meu tratamento, aquilo
que apliquei para ir além da ajuda do meu psiquiatra
e dos terapeutas que já me auxiliaram. O primeiro
ponto que vou citar provavelmente é o que menos os
pacientes costumam exercitar: na depressão e no
pânico, tentamos desesperadamente mudar as
coisas ao nosso redor para que nos sintamos mais
seguros e tranquilos, tendo um melhor controle da

60
situação. Queremos mudar onde trabalhamos, o que
vestimos, o que estudamos, como nossos familiares
nos tratam, o que comemos, os programas e filmes
que assistimos, o esporte que praticamos e etc.
Apesar da mudança ser algo muito positivo para nós,
ela deve vir no seu tempo certo, sem desespero ou
pressa. Por isso, a principal mudança que devemos
realizar é dentro de nós mesmos. A forma como
enxergamos as coisas é muito mais importante do
que as coisas em si. Se você olha para uma maçã
vermelha e fica triste, e outra pessoa olha para a
mesma maçã e fica feliz, isso quer dizer que o
problema não está com a maçã, ele está com você. É
muito mais fácil eu tentar mudar a forma como vejo e
reajo a uma maçã do que tentar eliminar todas as
maçãs da minha vida. É um serviço de “formiga”, com
você pouco a pouco reduzindo a importância negativa
que você dá para alguma coisa, até que ela se torne
ao menos “neutra”, nem boa, nem ruim. Desejo
lembrar ao leitor que existem coisas na sua vida que
são sim tóxicas e negativas, portanto, precisam ser
modificadas. Mas nós não podemos achar que tudo
de que não gostamos é ruim, pesado ou que deve se
adaptar ao que queremos. O grande filósofo Buda
uma vez disse a seguinte frase “A dor existe, mas o
sofrimento é uma opção”; ou seja, os problemas,
tristezas e dificuldades fazem parte da vida, mas
depende de você o quanto de importância dá a eles e
o quanto deseja aumentar o seu sofrimento.
Esperança é uma palavra que todos nós
possuímos em nosso interior, em menor ou maior

61
intensidade. Quando estamos próximos de desistir de
tudo e “jogar a toalha”, essa voz nos diz que as coisas
irão melhorar, que ainda existe muito para se fazer de
bom. Uma forma de encontrar a energia para vencer
uma época sombria é se focar em sonhos, desejos,
metas que deseja atingir. Pode ser se tornar um
médico, engenheiro, professor ou eletricista; ou quem
sabe visitar uma país estrangeiro no futuro, como os
Estados Unidos, a Alemanha ou o Japão; ou até
mesmo coisas mais simples, como assistir à
temporada final da sua série favorita que só sairá no
ano que vem. Se você gosta de comer, pense nos
pratos incríveis que existem no mundo e que você
ainda não experimentou; se gosta de jogos, se
concentre nos games legais que foram anunciados e
sairão nos próximos anos; se gosta de esportes,
pense nos campeonatos, olímpiadas e oportunidades
que te aguardam no futuro. Reúna na sua mente um
conjunto de coisas que servirão como resposta
quando você se perguntar “para que continuar
vivendo? ”. A esperança pode ser um material que irá
fortalecer o seu porto seguro nessa tormenta que
tenta te puxar, basta que você a alimente e a deixe
crescer.
Emocionalmente falando, existem dois
sentimentos que se manifestam de forma mais
intensa no coração das pessoas: o medo e o amor. O
medo representa o sofrimento, a desistência, a dor, a
doença, a destruição da confiança; ou seja, se liga
diretamente a depressão e as doenças adjacentes.
Muitas pessoas tentam combater essa sensação

62
apostando no amor como ele é normalmente
creditado, um amor que depende de uma pessoa
específica para existir, e que é tão frágil quanto um
balão que um dia pode ir embora pelo ar. Muitos se
envolvem tanto nos relacionamentos, que após uma
leve melhora, acabam deixando a sua felicidade na
mão do outro e desabam quando a ligação termina.
Não, não é este o amor do qual quero falar. Falo de
um amor repleto de coragem, de esperança, de
superação, que não é egoísta nem deseja reclamar
da sua situação; falo da vontade de proteger e ajudar.
A capacidade de se importar com as outras pessoas
é uma fonte quase inesgotável de força que é gerada
pelo ser humano. Uma mãe faz o possível e o
impossível para cuidar do seu filho e não deixar que
lhe falte o necessário, tudo porque ela sabe que ama
aquela criança e que apenas dela depende o seu
desenvolvimento. Da mesma forma, nós também
podemos criar esse sentimento de proteção, nos
fortalecendo não apenas dos nossos desejos íntimos
ou da nossa visão de mundo em constante
transformação, mas também da vontade de cuidar e
prover. Quando eu estava nos momentos mais
obscuros da depressão e do sofrimento, um único
pensamento me alimentava: “Minha família precisa de
mim, minha mãe e minha irmã estão enfrentando
grandes provações. Se eu não estiver aqui, quem vai
ajuda-las? Se eu não me erguer e lutar contra essa
doença, quanta tristeza eu irei causar? Eu não posso
desistir, pois as pessoas que amo dependem de
mim!”. A luz que ganhamos ao desejar defender

63
outras pessoas e ajudar quem precisa é, na minha
opinião, uma das ferramentas mais poderosas
existentes para vencermos a dor.

64
17. AJUDE PARA SER AJUDADO

Em uma sociedade dotada de crenças e visões


de mundo diversas, um elemento se destaca como
algo positivo: a caridade. Por mais endurecida e
pouca esclarecida que seja a pessoa, dificilmente
alguém dirá que ajudar o próximo que se encontra em
necessidade é algo ruim, errado ou pouco
recomendado. Boa parte das maiores figuras da
nossa história dedicaram seus esforços à doação de
tempo e recursos para os necessitados. Pessoas
famosas como Madre Tereza de Calcutá, Mahatma
Gandhi, Nelson Mandela, Chico Xavier, Martin Luther
King Jr e Francisco de Assis foram capazes de
compreender que a única forma de melhoram suas
próprias vidas era ajudar outras pessoas.
Perceberem que se queriam alcançar a cura,
precisariam contribuir para a cura da humanidade.
Em diversos momentos, nos perguntamos
porque estamos sofrendo, se isso é justo, se faz
sentido, e com isso criamos a revolta. E é esse
sentimento que nos torna egoístas, sem jamais nos
preocuparmos com o que as pessoas ao nosso lado
estão passando no momento. Mas a resposta para
enfraquecer nossas dores muitas vezes está em
simplesmente esquecermos o nosso sofrimento e nos
forcarmos em aliviar o martírio de outrem. Quanto
menos eu foco em mim nesses momentos de
enfermidade, mais forte e capaz eu me torno. Ou,

65
como me disse uma vez um professor “quando eu
cuido do próximo, eu cuido também de mim”.
O voluntariado é um excelente caminho para
aqueles que querem ganhar ferramentas para
enfrentar a depressão e o pânico. Disponibilizar parte
do seu tempo e doar a sua presença para quem
precisa é uma forma quase mágica de terapia. Você
aprende com as experiências de vida e visões de
mundo das outras pessoas, te mostrando que o
mundo é muito maior do que você imagina. Desejos
simples para você, como comer bolo por exemplo,
para uma pessoa em vulnerabilidade social
representam motivo de alegria e gratidão. É
justamente nesses momentos que você percebe o
quanto você tem a agradecer, e o quanto você pode
ser útil na sociedade. Arrancar um sorriso de um rosto
antes triste e abatido faz tremer as fibras mais
internas do seu ser, gerando uma emoção capaz de
lavar todo o cansaço, dor e medo que você pudesse
estar sentindo. Não se trata de querer se provar uma
pessoa boa, se trata de contribuir com a vida de outro
ser vivo que está na mesma caminha que você.
Praticar a caridade é tratar os próprios sentimentos e
curar o seu coração.
As oportunidades que existem para aqueles que
querem dar o seu melhor por uma causa nobre são
quase infinitas: abrigos de animais, organizações
ambientais, creches públicas, projetos sociais para
jovens e adolescentes, asilos, banco de alimentos,
hospitais, sopões, campanhas de agasalho, mutirões

66
de limpeza, entre outros. Mesmo que você se ache
pequeno e limitado, sempre haverá alguém
precisando de você. Gosta de animais? Ajude ONGs
e canis municipais. Deseja amparar doentes? Faça
visitas solidárias a internados em hospitais. Quer
repassar algo que aprendeu? Busque projetos
educacionais. Pensa em contribuir para com os
idosos? Frequente asilos e doe seu tempo para
escutar as histórias que aquelas pessoas viveram. E
se mesmo depois de tudo o que falei você estiver
pensando que não tem tempo livre para isso, então
pratique a caridade no seu dia-a-dia. Ao dar bom-dia
para quem encontra, segurar a porta do elevador para
alguém entrar, ser gentil e compreensivo com seus
colegas de estudo ou trabalho, desejar o bem para
quem precisa e fazer preces sinceras, abordar
assuntos positivos e suavizar os negativos, elogiar as
pessoas que prestam serviços, tolerar os familiares e
conhecidos de certa forma irritantes, perguntar como
foi o dia da sua família, você já estará praticando a
caridade.
O mundo, por muito tempo, funcionou na base da
troca, com cada pessoa só fazendo algo pela outra se
recebesse alguma coisa em retorno. Mas a
depressão me ensinou que a gentileza, a caridade, a
doação e o respeito são caminhos muitos mais
vantajosos e recomendados. Nos momentos em que
ajudava os outros, não sentia a dor que carregava
comigo, pois o que me importava era a dor da outra
pessoa. Nessas horas, tinha o meu repouso, o tempo
que o meu corpo e a minha mente precisavam para

67
se refazer, prontos para a próxima etapa da batalha
em direção à recuperação. Eu não consigo expressar
em palavras o quanto buscar fazer o bem me ajudou
e me ajuda até hoje. Tenho sim os meus tropeços e
as minhas quedas, mas a certeza da presença da
caridade em minha vida é um pilar poderoso que me
sustenta. Como diz a famosa passagem religiosa
“ajuda-te que o céu te ajudará”.

68
18. REAPRENDENDO A VIVER

O tratamento psiquiátrico e psicológico de


qualquer doença, somado a vivência experenciada
pelo paciente através dos mecanismos da
enfermidade, provocam uma verdadeira revolução no
nosso mundo interno. O que modo como você
costumava viver e encarar a vida contribuiu para o
seu adoecimento, seja em relação ao que pensava,
como lidava com as outras pessoas ou o que
priorizava em seus pensamentos. Com o processo de
encaminhamento em direção a cura, todo esse
cenário que você construiu nos últimos anos de
existência não lhe servirá mais. Agora, é preciso se
reinventar, reaprender a viver.
A depressão e a síndrome pânico atingiram a
minha estrutural emocional gradativamente, tornando
muitas semanas um verdadeiro martírio para mim.
Alguns dias eram difíceis, eu simplesmente sobrevivia
a eles, sem grandes coisas que pudessem me dar
forças para seguir em frente. Mas um ser humano
sem qualquer prazer ou felicidade está fadado a se
tornar indiferente, vivendo tudo de modo automático,
quase como um robô. Por isso, eu precisei buscar
uma forma positiva de aliviar a dor e o sofrimento,
para manter acesa a esperança em meu peito. O
resultado desse processo me levou a uma prática que
representou um grande farol que iluminou a escuridão
da minha existência: a técnica do prazer semanal. O

69
conceito é muito simples: escolha algo que te faz feliz;
pode ser um alimento, um jogo, um esporte, um filme
ou até mesmo um lugar; defina um dia fixo da semana
para consumir, fazer ou visitar esse elemento. O
resultado é que você ficará ansioso, de uma maneira
positiva, ao aguardar pelo dia especial da sua
semana. Por mais que você esteja passando por
momentos difíceis e que a dor esteja drenando as
suas forças, a certeza que algo que você gosta estará
te esperando acenderá uma intensa chama no seu
coração. No meu caso, aguardar a quinta-feira para ir
realizar um trabalho voluntário me fortalecia
grandemente, mas você pode e deve escolher que te
faça feliz, algo que lhe é especial. Mas e quando nos
perdemos em meio a cobranças e cobranças
internas, como podemos proceder?
A vida moderna nos proporciona rotinas insanas,
gerando stress e ansiedade. Isso é intensificado pelo
nosso costume de imaginar a todo momento no que
vai acontecer no futuro. Cobrando-se
constantemente, não vivemos o momento presente,
sempre preocupados com o que temos programado
para amanhã ou depois: a reunião importante do
trabalho; a prova escolar de matemática; o resultado
do exame médico; o medo de ser demitido do
emprego; o objetivo que ainda não cumprimos; o
sonho que ainda não realizamos; e etc. A resposta
para isso é simples, porém difícil de executar: viver
um dia de cada vez. Que tal focar em acordar, tomar
café, trocar de roupa e começar o dia ao invés de
sofrer por tudo aquilo que é impossível de resolver no

70
momento? Que tal criar uma rotina para lhe dar mais
segurança e disciplina, mas sem se autocensurar por
querer tomar um sorvete ou ver um episódio de
alguma série online de vez em quando? Que tal
aceitar que você é um ser humano que está fazendo
tudo o que pode para ser responsável e crescer, mas
que também tem limites e não pode carregar o peso
do mundo nas costas? Que tal parar de se torturar por
coisas que você não tem controle? A filosofia de viver
um dia de cada vez, enfim, pode ser traduzida nas
seguintes palavras da benfeitora Joanna de Ângelis:
“A cada dia, já lhe basta o próprio mal”. Não tente
resolver todos os seus problemas neste exato
momento; concentre-se no que você pode fazer hoje
e aceite que essa é a semente plantada que
germinará nos resultados possíveis e compatíveis
com as suas capacidades atuais.

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TRATAMENTOS ALTERNATIVOS E
QUESTÃO ESPIRITUAIS DA DOENÇA

Até o momento, apenas assuntos físicos,


emocionais e psicológicos foram abordados nesse
livro. Um conteúdo neutro, baseado em conceitos do
senso comum, conhecimentos científicos e
experiências pessoais minhas como paciente em
tratamento. O objetivo dessa divisão entre parte um e
dois é permitir que você leitor escolha o(s) assunto(s)
que deseja estudar e absorver, sem que a sua visão
de mundo, a sua crença religiosa ou o seu ceticismo
impedissem que você pudesse aproveitar algo de
positivo através dessa publicação. Para aqueles que
investiram nessa leitura em busca de bases mais
convencionais e relativamente comuns, agradeço a
sua confiança e espero ter lhes ajudado em alguma
coisa. Mas para você que está lendo esse texto e tem
vontade de conhecer outros tipos de tratamentos e
conhecimentos que podem ser capazes de dar
suporte ao tratamento médico padrão, lhe convido a
ler a segunda parte deste livro.
Os conhecimentos, técnicas e tratamentos que
vou relatar aqui, em sua maioria, ainda não possuem
comprovação cientifica e devem ser encarados como
terapias complementares. Peço que você não
abandone o acompanhamento do psiquiatra, do
psicólogo ou do médico responsável pela sua
recuperação ao tomar conhecimento daquilo que irei

72
escrever aqui. A ciência e a medicina devem ser
respeitadas e tem papel fundamental no tratamento
da sua doença.
Gostaria também de informar que para lhe
apresentar outros recursos de recuperação, também
precisarei explicar termos que geralmente são
associados com os campos da espiritualidade e do
esoterismo. Palavras como espírito, chacra,
reencarnação e vibração serão essenciais para você
entenda outros fatores que influem no
desenvolvimento das doenças psiquiátricas, como a
depressão, a ansiedade, a síndrome do pânico e a
esquizofrenia. Essa parte do livro não tem o objetivo
de converter ou doutrinar ninguém, mas sim de
informar possibilidades alternativas de tratamento.
Seja você católico, evangélico, budista, umbandista,
judeu, ateu ou de qualquer outra religião, saiba que a
sua crença será respeitada e que buscarei escrever
da maneira mais direta que puder. Agradeço pela sua
confiança e espero que possamos aprender juntos
com as próximas páginas. Mãos à obra!

73
19. REIKI: A LIMPEZA DA ALMA

O Reiki é um tratamento que foi integrado como


terapia complementar ao Sistema Único de Saúde
(SUS) em 2017 e recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) a partir das “Orientações
Normativas sobre o Tratamento da Dor” de junho de
2007. Por ter caráter complementar e não alternativo,
não substitui em hipótese alguma os procedimentos
da medicina tradicional. Não possui contraindicações,
efeitos colaterais ou riscos para o paciente, agindo de
maneira suave e gradativa no desenvolvimento
positivo da pessoa em tratamento.
O Reiki, em termos gerais, pode ser definido
como uma técnica de toque e imposição de mãos
sobre o corpo da pessoa em atendimento que visa
estimular mecanismos naturais de recuperação da
saúde. Através da canalização da energia Reiki (uma
energia universal de equilíbrio e pureza), busca-se
aliviar tensões e suavizar acúmulos de stress e
emoções densas do campo físico-emocional.
O entendimento mais profundo da ação do Reiki
necessita do conceito dos chacras. Os chacras são
pontos de circulação de energia que conectam o
corpo físico e o corpo espiritual. Estão espalhados por
todo o corpo, mas apenas sete são normalmente
destacados em imagens exotéricas e doutrinas
espirituais. Com cores que vão do vermelho ao
violeta, representam os pontos de equilíbrio do ser,

74
por onde fluem emoções e funções como alegria,
tristeza, criatividade, intuição, expressão e
inteligência. Quando os chacras se encontram
bloqueados ou desalinhados, pensamentos, doenças
e até mesmo ações podem se encontrar
prejudicadas, como se uma peça muito importante do
organismo não estivesse funcionando direito. O que o
Reiki faz é desbloquear e alinhar pontos em
desequilíbrio enquanto limpa emoções pesadas e
pensamentos prejudiciais do paciente. Essa limpeza,
por sua vez, contribui para a melhor resposta do corpo
físico aos tratamentos da medicina tradicional,
facilitando o processo de cura.
Eu, como paciente em tratamento portador de
depressão e síndrome do pânico, já fui inúmeras
vezes beneficiado pelo Reiki. Quando sentia
necessidade, eu ia até um centro de tratamento da
minha cidade e deitava naquela maca com lençóis
azuis, fechava meus olhos e sentia o profissional
trabalhando as minhas energias. Muitas vezes chorei
durante as sessões de terapia, sentindo que cada
lágrima derramada era mais uma tristeza retirada do
meu coração para não mais voltar. As músicas
harmoniosas instrumentais de cunho oriental sempre
me levaram a viajar mentalmente para paisagens
distantes, cheias de natureza e paz, como se vivesse
preciosos momentos de um sonho restaurador. Para
aprender mais sobre esta técnica fabulosa, frequentei
cursos de formação profissional e realizei leituras
diversas sobre o tema, me dedicando a entender e
canalizar essa energia. Participei durante dois anos

75
de trabalhos voluntários de aplicação de Reiki, e até
hoje exercito essa atividade de doação em familiares,
amigos e animais. E foram nas noites mais pesadas
e desesperadoras que fui capaz de me acalmar e
estabilizar aplicando a energia em mim mesmo.
Existem inúmeros locais possíveis para o
recebimento do Reiki. Hospitais e postos de saúde
públicos, centros filantrópicos e diversos centros
espíritas oferecem o tratamento, sempre de maneira
totalmente gratuita. Se você prefere contratar um
profissional, existem diversos terapeutas autônomos
que estão habilidade a realizar o atendimento. Quanto
ao aprendizado, recomendo que busque informações
no youtube para acompanhar palestras e conteúdos
pertinentes ao assunto. O Reiki não irá sozinho curar
o que você tem, mas eu acredito de verdade que ele
possa te ajudar a enfrentar esse momento delicado
da sua vida.

76
20. HO'PONOPONO: A TERAPIA DO
PERDÃO

A mágoa e o ressentimento são marcas infelizes


presentes na psique humana. Esses sentimentos têm
ação enferma em nossa vida, provocando o
adiamento dos melhores planos e intenções positivas
do nosso ser. A capacidade de perdoar é inestimável
nesta época de confrontos familiares, discussões no
trabalho e polarização exacerbada de opiniões e
visões de mundo. Quando nos prendemos ao rancor
gerado por situações e acontecimentos do passado,
deixamos de seguir em frente, perdendo tempo,
energia e disposição na busca por vingança e no
desenvolvimento de pensamentos de injustiça e
vitimismo. Algo que já aconteceu, por pior que tenha
sido, não pode ser mudado, independente de quanto
tempo empreguemos para pensar nisso. Mesmo
sabendo de todos esses pontos, muitas vezes somos
incapazes de perdoar, revivendo constantemente em
nosso mundo interno as situações traumáticas de
outrora. Dentre as diversas técnicas terapêuticas
disponíveis para lidar com essa problemática, há uma
em particular que para mim apresentou resultados
expressivos e profundos: o ho’ponopono.
O Ho’ponopono é uma técnica proveniente dos
povos havaianos, que tem como premissa ajudar
pessoas a se libertarem da mágoa e do
ressentimento. A sua aplicação é simples e não

77
necessita de qualquer acessório a não ser a vontade
do próprio indivíduo. Não custa um centavo nem pede
a intervenção de qualquer tipo de profissional para ser
executada. Quatro frases simples são suficientes
para praticar o Ho’ponopono: “Sinto muito. Me
perdoe. Te amo. Sou grato”. Repetir esses termos
uma vez por dia durante três minutos antes de dormir,
por exemplo, iniciam uma verdadeira limpeza no
nosso campo mental. Diga com calma, prestando
atenção no sentido de cada frase, sentindo no
coração o efeito curador que o exercício te trás. Cada
palavra contida nessas sentenças carrega um
poderoso significado de libertação das amarras dos
acontecimentos passados. Tudo o que falamos é uma
declaração para nós mesmos do que desejamos fazer
e emanar, atuando em nível consciente e
subconsciente. A proposta dessa técnica é reescrever
os nossos sentimentos ligados a memórias pesadas,
buscando neutralizar a dor e o sofrimento que
experimentamos ao recordar lembranças infelizes.
Cada elemento deste grupo curativo tem um
sentido e um propósito: “Sinto muito” quer dizer
“lamento se não fui capaz de atender as expectativas
idealizadas, compreender a situação ou se te feri”;
“Me desculpe” pode ser transcrito como “perdão por
cobrar tanto, por exigir tanto, por ter errado com
relação ao modo de agir”; “Te amo” é também “tenho
muito apreço pelo que passou e por quem você é,
reconheço seu valor e sei que tudo isso foi válido para
o meu crescimento”; “Sou grato” é a expressão
resumida de “obrigado por me permitir viver ao seu

78
lado, aprender com você, crescer com o que a vida
me mostrou; estou pronto para seguir em frente e
viver novas experiências, pois nesse momento curo e
liberto tudo o que passou, para não mais prender isso
em meu peito”.
O Ho’ponopono não é apenas um mecanismo auxiliar
para perdoar outras pessoas. Todos nós já sentimos
raiva de nos mesmos por algo que fizemos ou
deixamos de fazer, carregando cobranças injustas ou
arrependimentos corrosivos por algo que não
podemos mais mudar. A técnica promove o auto
perdão e o fortalecimento do amor-próprio, dois
conceitos extremamente importantes para a vida
moderna, em especial nos casos de doenças ligadas
a ansiedade e a depressão. O que foi feito já passou
e não pode mais ser mudado; aceitar isso é essencial
para seguir em frente. Ao invés de lamentar-se pelas
decisões que tomou, você deve se concentrar no que
pode fazer de diferente a partir de agora. Prestar
atenção no presente e no futuro é dar uma nova
chance para o amanhã que você quer construir.
Perdoe e liberte tudo o que te prende, pois assim você
se tornará livre para voar para além do que achava
possível até agora.

79
21. ORAÇÃO E MEDITAÇÃO

A vida moderna nos oferece pressões sociais e


desafios muitas vezes exaustivos. Quer você more
em uma grande cidade, em um pequeno vilarejo ou
na zona rural, sempre haverá obrigações e metas que
você precisa cumprir. Problemas e dificuldades como
brigas com familiares, demissão do emprego,
doenças amoladoras, preocupações relacionadas ao
sustento, desilusões amorosas, stress físico-
emocional, encerramento de amizades e frustrações
de variadas categorias acabam por roubar a nossa
vontade de seguir em frente. Presos em rotinas
lotadas de atividades, não nos permitimos o descanso
ou a busca por ajuda para as complicações humanas.
Esse modo de operação exaustivo, conhecido
popularmente como “exército de um homem só” (do
inglês army of one), infelizmente torna tudo mais difícil
e pesado de carregar. Um dos cantores mais
importantes do legado cultural nacional, Raul Seixas,
cantava uma música que encaixa perfeitamente
nessa situação: “Nunca se vence uma guerra lutando
sozinho. Cê sabe que a gente precisa entrar em
contato. Com toda essa força contida e que vive
guardada”. A mensagem, para mim, sempre foi essa:
pare de tentar enfrentar tudo sozinho, nunca
pensando nas suas opções ou em como pode pedir
ajuda.

80
Nós temos duas ferramentas poderosíssimas
para nos fornecer ajuda nos momentos difíceis: a
meditação e a oração. Apesar de apresentarem
conceitos e técnicas diferentes, elas se
complementam e buscar atingir o mesmo objetivo:
clarear a mente e fortalecer aquele que as pratica.
Durante o meu tratamento para depressão e
síndrome do pânico, aprendi a valorizar essas duas
técnicas, utilizando-as nos momentos oportunos.
Cada pessoa tem crenças, pensamentos e
personalidades diferentes, por isso cada um será
capaz de determinar qual modo é melhor para si. Em
nenhum momento desse livro quero te dizer o que
deve ou não fazer; desejo que você leia as minhas
sugestões e escolham o que é bom para a sua vida.
A meditação apresenta um conceito
relativamente novo no mundo ocidental, em especial
na América: buscar dentro de si a paz, o equilíbrio e
as respostas para os nossos questionamentos que
necessitamos para nos sentirmos mais fortes. Entre
os inúmeros modos de se meditar, estão: sentar-se
confortavelmente e tentar não pensar em nada, no
silêncio completo; escutar uma música meditativa
com sons da natureza, mentalizando belas
paisagens; focar na própria respiração, inspirando e
espirando lentamente; meditar enquanto pratica yoga,
pilates ou tai chi; entre outros. Pode-se buscar a
sabedoria interior, apenas aliviar as tensões do corpo
e da mente ou até mesmo procurar estabelecer uma
ligação com o divino. Não existe forma correta de

81
realizar a meditação; cabe a você testar os métodos
possíveis e definir o que melhor funciona no seu caso.
Meditar é encontrar um tempo na sua rotina para
recarregar as baterias, limpar a mente das coisas
fúteis e buscar mais clareza. De vez em quando, eu
gosto muito de ir ao parque da cidade e meditar
escutando o som dos pássaros. Sempre acabo
encontrando a solução dos problemas mais
embaraçados, me sentindo mais leve ao fim do
processo. A meditação afasta o medo, a culpa
equivocada e a insegurança, te dando mais certeza
do que deve fazer. O ideal, quando ainda novato no
assunto, é buscar um lugar silencioso e tranquilo para
meditar. Mas a verdade é que a prática te permitirá o
fazer mesmo nos locais mais agitados e
movimentados. Recomendo que você teste para ver
se gosta do exercício, buscando mais informações
em canais do youtube e livros especializados em
meditação.
A oração é um ato de devoção ao divino que é
tão antigo quanto a origem da humanidade. Do
paganismo ao monoteísmo, os homens sempre
buscaram compreender e conversar com a divindade.
A ideia de uma força superior ao ser humano é quase
instintiva, formada sempre que observamos algo
grandioso que não conseguiríamos replicar ou
explicar. A prece foi a forma definida pelos religiosos
para que qualquer pessoa pudesse entrar em contato
com Deus. Esse ato de espiritualização é muito
pessoal, e representa a humildade em reconhecer

82
que se precisa de ajuda de algo superior as próprias
limitações.
A maior parte das religiões estabelece fórmulas e
estruturas fixas para o ato de orar. A oração mais
famosa entre nós brasileiros e entre os cristãos, o Pai
Nosso, muitas vezes é repetida sem parar para se
pensar no sentido e no impacto das suas palavras. Eu
gosto de pensar que quando oramos, precisamos
falar com o coração, e não apenas com a boca.
Palavras pronunciadas sem emoção ou vontade
produzem pouca coisa, independente se forem
provenientes de textos milenares ou do improviso.
Acima de tudo, orar deve ser uma alegria, um prazer,
algo que te faz bem, e não uma obrigação. Sempre
que rezo, procuro ser sincero e transparente, como se
conversasse com um amigo de infância ou com um
membro da família. Falar o que está pesando na sua
mente e no seu emocional durante o ato é uma terapia
maravilhosa, livrando o peito daquela pressão
desconfortável. Não foram poucas as vezes nas quais
pude chorar aliviado durante uma oração após ficar
muito tempo segurando a dor dentro de mim,
principalmente por conta da depressão e da síndrome
do pânico.
A oração, em sua estrutura clássica, tem três
objetivos principais: agradecer, louvar e pedir.
Agradecer pelas coisas boas que existem na nossa
vida faz bem para a alma e abre as portas da
prosperidade. Sempre que você demonstra gratidão,
você reconhece o valor do que tem e se prepara para

83
conquistar algo melhor. Louvar significa ver que ainda
se é pequeno e que nem sempre sabemos o que é
melhor para a nossa vida. Aceitar que coisas simples
como o sol, a chuva e o vento são obras divinas
trabalha a nossa humildade, fazendo que exijamos de
nós mesmos o que podemos fazer no momento, e não
as demandas absurdas que queremos cumprir. Quem
louva sempre faz o seu melhor nas batalhas do dia-a-
dia, mas deixa que a sabedoria divina também cuide
do nosso caminho. O ato de pedir é considerado por
muitos como a única parte importante da oração.
Porém, se não formos gratos pelo que temos nem
reconhecermos as maravilhas da criação, jamais
estaremos preparados para receber o bem. Na nossa
vida, se alguém pede que façamos algo e depois não
agradece a nossa gentileza, perde a nossa boa
vontade. Da mesma forma, se alguém pede algo ao
Criador e não agradece o que de graça recebeu,
perde o direito de pedir; é uma lógica simples, porém
que muitos ignoram. A recomendação que faço a
vocês é que não peçam a solução dos problemas,
mas a força e a coragem para enfrenta-los; não
demande a casa pronta, solicite a madeira para
construí-la. Intente por sabedoria, por paciência, por
tolerância, por vigor, por aconselhamento, e a
resposta sempre lhe será dada. É como disse o
profeta nazareno: “Pedi e obtereis. Buscai e achareis.
Batei e a porta lhe será aberta”.

84
22. A ESSÊNCIA DA VIDA: O ESPÍRITO

No estado atual do conhecimento geral humano,


o corpo físico é considerado como a totalidade do ser.
O conjunto de órgãos, tecidos, ossos e células forma
a nossa definição como seres vivos. Aprendemos
desde pequenos que o nosso cérebro é o centro da
nossa inteligência e que os nossos pensamentos são
resultantes de processos bioquímicos complexos,
como se fossemos máquinas que funcionam
sozinhas. Por esse motivo, procuramos tratar dessa
parte material, utilizando medicamentos,
intervenções cirúrgicas, dietas especiais e recursos
sofisticados de recuperação do nosso organismo.
Nos séculos recentes, passamos a nos preocupar
também de maneira mais adequada com o nosso lado
psicológico e emocional. Profissionais como o
psicólogo e o terapeuta tentam ajudar o paciente a
compreender seus traumas, limites e desequilíbrios.
Porém, mesmo com tanto esforço e tantos recursos,
milhões de casos ficam sem solução. Mesmo quando
as melhores intenções e possibilidades são utilizadas,
alguns quadros nos parecem misteriosos. Todas
estas observações levam a crer na existência de algo
além do corpo e da mente, que seria capaz de
influenciar diretamente a saúde e o bem-estar do ser
humano. Esta linha de raciocínio nos leva a crer na
concepção do espírito como algo real e de elevada
importância.

85
O termo espírito se refere ao eu verdadeiro de
alguém, a força vital que move o corpo físico.
Também chamado de alma, princípio inteligente ou
manifestação do sagrado, integra cada ser vivo
existente. A mente pode ser influenciada e moldada
pelo meio onde cada um vive; o corpo possui prazo
de validade e se deteriora com o passar do tempo;
mas o espírito é o motorista dessas duas máquinas,
a parte imortal que é dona da inteligência e da moral
do ser. Visões e termos do cristianismo já falavam
sobre isso há mais de dois mil anos, exemplificando a
morte de Jesus como a perda do seu corpo, da sua
parte material, para depois demonstrar através da sua
ressureição que a vida continua mesmo após
encerrados os batimentos do coração. Resumindo, o
quero dizer é: você não é o seu corpo, o seu cérebro
ou a sua mente; você é um espírito, um ser que está
utilizando essa “roupagem de carne e osso” para viver
uma experiência na Terra e evoluir. Devemos cuidar
da parte física utilizando a medicina, cuidar da parte
mental através da psicologia e cuidar do espírito por
meio dos tratamentos espirituais. Somos um
conjunto, e a melhora só é possível se prestarmos
atenção em cada parte do nosso ser.

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23. VIDA APÓS A MORTE E
REENCARNAÇÃO

A existência do elemento principal da vida chamado


espírito abre as portas para um dos maiores
questionamentos da história da humanidade: o que
acontece após a morte? Diversas culturas e religiões
buscaram fornecer uma resposta satisfatória, ainda
que subordinadas a dogmas e credos. A maior parte
ocidental delas crê em uma separação entre bons e
maus após o término da vida, envolvendo conceitos
como paraíso e inferno, por exemplo. Para a ciência
tradicional, a morte do ser humano encerra a sua
jornada, deixando para trás apenas o seu legado,
sem qualquer continuidade da existência. Em busca
de respostas, recorri ao estudo de religiões orientais
como budismo, hinduísmo e taoísmo, além de estudar
os livros e doutrinas ligadas ao espiritismo. O
resultado foi sólido e incisivo: sim, existe vida após a
morte. Enquanto o corpo físico é perecível, o espírito
segue a sua jornada no chamado pós vida.
Desde os meus tempos de adolescência, nunca
consegui compreender o conceito de “uma só vida”.
Para mim, o conceito de que temos apenas uma
chance de crescermos e evoluirmos sempre pareceu
incompleto e sem lógica. Por que tamanho esforço na
criação das almas pela natureza, pelo cosmos ou por
Deus (o que mais lhe agradar quanto a definição), se
a sua jornada pudesse se encerrar de uma hora para

87
outra? E qual seria o objetivo da vida se tudo o que
aprendemos, sofremos, fizemos e estudamos fosse
perdido com o fim da caminhada? Todos esses
questionamentos me levaram a acreditar na
existência de múltiplas vidas, conectadas por um
objetivo nobre: a evolução. E para que essas
existências pudessem coexistir foi criado o conceito
da reencarnação.
A reencarnação representa um conceito antigo,
porém extremamente atual: o retorno a um novo
corpo físico, em uma nova existência, por parte do
espírito. Segundo essa teoria, o ser passaria por
diversas experiências na Terra, colocando-se nos
mais diferentes papéis: um humilde agricultor, um
poderoso empresário, um valente soldado, um
trabalhador de parcas condições financeiras, um
médico salvador de vidas e etc. Cada uma dessas
“vidas” permitiria um aprendizado valioso, ao
enfrentar as provas da doença, da riqueza, da
pobreza, do ego, da beleza e do poder, entre outras.
E tudo isso seria necessário para a evolução, tanto da
inteligência quanto da moral, da bondade, da virtude
do espírito. Uma pessoa evoluída intelectualmente,
porém pobre em bondade é arrogante e egoísta. Já
uma pessoa evoluída moralmente, porém de baixo
avanço intelectual acaba sendo ingênua e
extremamente impulsiva, emotiva. Esse seria o
motivo de existirem tantas experiências de vida
diferentes e dificuldades tão diversas em nossas
jornadas.

88
24. MEDIUNIDADE E EFEITO ESPONJA

A relação entre o mundo físico (o nosso mundo


material “visível”) e o mundo espiritual (aquele
habitado pelos espíritos, os popularmente chamados
de “mortos” e melhor designados como
“desencarnados”) é intensa e constante. Para
compreender essa conexão, pense em um quadro,
uma fotografia: na parte da frente da imagem, há um
prédio; já na parte de trás, encontram-se montanhas.
Mesmo representando um mundo próprio e estando
separados, os dois elementos conversam entre si.
Um morador do prédio pode ir dar um passeio nas
montanhas, e a poluição gerada pela construção
pode afetar negativamente a parte montanhosa.
Assim como insetos e pequenos animais podem se
aproximar da estrutura urbana, entrando em contato
e interagindo com os moradores da residência. Porém
se os habitantes de cada um dos mundos apenas
olharem para onde vivem, não se darão conta da
existência dessa outra realidade. Para os que gostam
de definições científicas, estamos falando aqui do
conceito de dimensões, mundos paralelos que se
sobrepõem e se afetam mutualmente.
A maior parte das pessoas tem uma conexão
extremamente fraca com o mundo espiritual, tendo
apenas intuições, sensações estranhas e, algumas
vezes, sonhos que trazem algum tipo de resposta ou
interação com um ente querido já desencarnado.

89
Coisas como: “sonhei com a minha mãe que já
morreu e ela disse que estava bem” ou “nossa, esse
lugar está me dando uma sensação tão ruim”
representam momentos leves de interação espiritual.
Porém, algumas pessoas possuem uma ligação mais
intensa, uma capacidade maior no campo da
espiritualidade. Essas pessoas são chamadas de
médiuns, interpretes que representam uma ponte
entre o mundo físico e o mundo espiritual, detentores
de um nível mais aprofundado de mediunidade.
A mediunidade está presente em todas as
classes sociais, em todas as etnias e em todas as
crenças. Dos sacerdotes do antigo Egito, passando
pelos apóstolos da alvorada cristã e pelos monges
seguidores de buda até os ministros e padres das
diversas igrejas. E hoje, a mediunidade tem se
manifestado em pessoas simples como eu e você,
assumindo as mais variadas formas: ver e/ou escutar
espíritos, dar voz e permitir que desencarnados se
comuniquem, receber ideias e intuições do mundo
espiritual, captar sensações, vibrações e
sentimentos, entre outros. Cada grupo de fé encara e
se utiliza dessas capacidades segundo suas leis,
normas e preceitos, e isso deve sempre ser
respeitado.
A mediunidade é como uma ferramenta, que
pode ser utilizada quando e como quisermos, desde
que ajamos com responsabilidade e caráter. Porém,
se não soubermos controlar essa capacidade, ela
pode gerar efeitos problemáticos. O desequilibro do

90
médium, causado pela falta de conhecimento e de
disciplina, ativa um efeito cada vez mais comum nas
vidas de jovens e adultos: o efeito esponja. Nesse tipo
de evento, a pessoa acaba absorvendo as vibrações
e as energias emocionais do local onde se encontra.
Ao entrar em contato com alguém triste, o médium é
tomado pela tristeza; ao se deparar com um indivíduo
com raiva, você fica enraivecido; se encontra alguém
pessimista, sente-se pesado, carregado, cansado. Eu
lembro de épocas da minha vida nas quais tinham
medo de ir ao shopping center, por exemplo, porque
sabia que voltaria mal para casa.
O efeito esponja não deve ser considerado
apenas algo psicológico ou fruto da imaginação do
enfermo. Cada pensamento e emoção que sentimos
emite uma onda, uma vibração, que se espalha pelo
meio em que estamos e pode afetar outras pessoas
que cruzam o nosso caminho. Normalmente, nós
somos praticamente imunes a esse efeito, mesmo
quando adentramos localidades ocupadas por
multidões. Porém, o médium, quando não
devidamente instruído, é como um poderoso imã,
uma antena, uma porta totalmente aberta que atrai e
absorve as energias e emoções aonde quer que vá.
O resultado é uma sensação de mal-estar, um
afloramento da ansiedade e uma rápida mudança de
humor, a qual pode ser confundida pelos leigos com
um transtorno de bipolaridade.
Para suavizar e se proteger das energias
pesadas que muitas acabamos por absorver, são

91
necessários três elementos básicos: estudar sobre a
sua mediunidade, desenvolver disciplina e aprender a
vigiar os pensamentos. O estudo da mediunidade
pode ser realizado através da leitura de livros sobre o
assunto (como o Livro dos médiuns, de Alan Kardec),
mas o ideal é também buscar orientação em um
centro de fé da sua preferência. Locais como igrejas,
centros espíritas, terreiros, sinagogas e mesquitas,
entre outros, são normalmente preparados e
capacitados pelos seus líderes/coordenadores para
lhe ajudar nesse processo. O desenvolvimento da
disciplina é igualmente importante. Não se deixar
levar pelas emoções dos outros ou se contaminar por
pena excessiva são aprendizados essenciais para o
controle da mediunidade. Muitas vezes nos
envolvemos demais nos problemas e no sofrimento
das outras pessoas, deixando apenas de ajudar para
também sofrer e definhar junta a elas. O livro
Vampiros Emocionais, de Albert J. Bernstein, é uma
excelente opção para entender mais sobre o tema.
Por fim, é necessário aprendermos a vigiar os
nossos pensamentos, para não transformar
pequenas sensações negativas em monstros
caóticos da nossa cabeça. Se o dia foi ruim, não faça
com que vire um inferno em seus pensamentos; se
algo te provocou raiva, respire fundo e deixe a ideia
de ira desaparecer; se você está triste, não tente
cavar mais fundo, se torturando com pensamentos de
pena e vitimização. Lembre-se sempre de quem você
é, o que você normalmente pensa e o que você quer;
se você notar que anda pensando o oposto do que

92
geralmente fazia, que ideias estranhas tomaram
conta da sua mente, perceba que esses pensamentos
provavelmente não são seus. Foque em algo positivo,
respire um pouco de ar puro e sacuda a poeira,
porque você é dono de si mesmo, e nada nem
ninguém é mais forte do que a sua vontade e do que
o seu jeito de ser. Aprenda com essa nova
capacidade que a vida te deu e use essa mudança
como mais uma força que o enviará em direção à
cura.

93
25. OBSSESSÃO ESPIRITUAL

Em nossas vidas, todos nós convivemos com


pessoas que nos prejudicam pelo seu modo de ser ou
por algum tipo de raiva que guardem com relação à
nossa pessoa. O ser humano tem formas diferentes
de reagir aos acontecimentos cotidianos,
dependendo da forma como foi criado pelos pais, do
ambiente em que se encontra, das crenças que
carrega e dos defeitos que ainda não conseguiu
superar. Um equívoco comum entre os estudantes de
campos ligados a espiritualidade é pensar que só
porque alguém morreu (desencarnou), essa pessoa
agora é boa e não tem mais qualquer ligação com a
Terra. Apesar de respeitar todas as outras formas de
crença ou ceticismo com relação a esse assunto,
preciso explicar um ponto fundamental sobre o que
estudei: a morte não muda ninguém. Deixar o corpo
físico é só uma etapa, uma transição, que não
modifica o caráter e/ou as ideias contidas no espírito.
O chamado “desencarnado” é exatamente igual
a mim ou a você (os “vivos); ambos são espíritos, a
diferença é que enquanto um ainda está ligado a um
corpo biológico, o outro goza de um pouco mais de
liberdade. Se era egoísta, desonesto, caluniador,
triste, cruel, caridoso, feliz ou responsável durante a
vida terrestre, o continuará sendo da mesma forma ao
adentrar a vida espiritual. Por isso mesmo, a pessoa
continua ligada aos seus vícios, desejos,

94
preconceitos e ideias desenvolvidas durante a
encarnação. Após o desligamento deste plano, as
riquezas, os títulos de sociedade, as posses
materiais, a fama e o poder não valem mais nada,
pois cada um só carrega consigo o que estiver em seu
coração.
O maior problema com relação aos espíritos
desencarnados é que a maior parte deles não tem a
percepção de que já não habita mais um corpo físico.
Muitos seguem presos a suas atividades comuns,
tentando replicar tudo o que faziam “em vida”, cegos
a realidade que se abre diante de seus olhos. Somos
tão acostumados a não pensar em nada além do que
faz parte do nosso cotidiano, que jamais concebemos
ideias relacionadas a espiritualidade, ao que
acontece após a morte ou mesmo porque estamos
fazendo o que fazemos. E quando estes espíritos
acabam interferindo na vida das pessoas encarnadas,
nasce o fenômeno conhecido como obsessão
espiritual.
A obsessão é simplesmente a influência
provocada pelos desencarnados sobre os vivos. A
energia de um espírito quando desprovido da
armadura biológica e inserido em quadros de
desequilíbrio é penosa e causa sofrimento as
pessoas que habitam fisicamente o nosso planeta. A
presença constante de alguém que morreu doente
pode prejudicar a nossa saúde e gerar sintomas no
nosso organismo, por exemplo. Cada estado de
pensamento em que um desencarnado se encontra

95
produz um tipo de vibração. Dor, medo, tristeza e
raiva são exemplos de vibração baixa; alegria,
gratidão, paz e felicidade resultam na vibração alta.
Quanto mais baixa a vibração da entidade que nos
acompanha naquele momento, mais desagradáveis
serão as sensações e efeitos que iremos
experimentar; quanto mais elevada, melhor nos
sentiremos.
Nós temos a capacidade de modificar a nossa
própria vibração através dos nossos atos e
pensamentos. Uma entidade vibrando baixo não terá
efeito sobre nós se buscarmos, na medida do
possível, sermos positivos, gratos e caridosos. É
como se cada vibração fossem uma peça diferente de
lego: se a nossa não for compatível com a do
desencarnado, não haverá conexão nem
transferência de sensações. Esse princípio é
conhecido como “Lei da Sintonia”, e pode ser aplicado
por você no seu dia-a-dia para evitar ser afetado de
modo tão negativo pela atmosfera espiritual dos
locais que visitar.
Outro motivo que pode provocar a obsessão
espiritual é a presença de vícios e atitudes
desajustadas. Tudo depende da intensidade e da
frequência com que você faz as coisas na sua vida:
beber cerveja apenas no final de semanal, sem
exagerar, não irá te tornar uma presa dos espíritos
que desencarnaram com problemas de alcoolismo;
mas se você beber todos os dias, passar mal de tanta
ingerir drinks nas festas e eventos e passar boa parte

96
do seu dia pensando em beber, a conexão será
praticamente certa. As entidades que eram viciadas
em vida em substâncias como álcool, cigarro, drogas
e medicamentos prosseguem com estes mesmos
vícios após o desencarne. Porém, como não
possuem mais um corpo para experimentar as
sensações provocadas por esses componentes,
buscam incentivar o consumo e absorver esses
estímulos de pessoas ligadas aos mesmos produtos.
Ser mesquinho, orgulhoso, maledicente ou
preguiçoso, por exemplo, também geram
oportunidades para que ocorra a obsessão. Não
desejo de modo algum provocar medo ou receio
através desse texto, só gostaria de explicar os
mecanismos obsessivos que estudei para que o leitor
esteja melhor preparado para encarar determinadas
situações.
Estou escrevendo sobre esse assunto pois
trabalho como voluntário em um grupo de tratamento
de obsessão (grupo de desobsessão) há alguns anos,
e sei o quanto a falta de informação acaba
prejudicando pessoas que vem solicitar um
atendimento. Já vi diversos cenários diferentes: de
simples obsessões que levam a dores em partes
específicas no corpo até quadros de pacientes em
depressão profunda, que mesmo com o
acompanhamento sério de psicólogos e psiquiatras,
não apresentavam qualquer melhora em meses. Eu
mesmo fui muito beneficiado por essa técnica, em
especial quanto as minhas crises de ansiedade.
Apesar de tudo o que falei até aqui, saiba que a

97
desobsessão é um tratamento livre e 100%
complementar. Ele não substitui a medicina
tradicional e não exige que o paciente entre para
alguma religião ou tenha ligação com a casa que
oferece o auxílio. Já participei do atendimento de
testemunhas de jeová, budistas, católicos,
protestantes, evangélicos, ateus, agnósticos,
umbandistas, taoistas, hinduístas e de diversos
outros credos, e nós jamais perguntamos no que cada
um acreditava ou falamos mal de qualquer opção
pessoal. O único motivo para eu estar explicando toda
essa base teórica para você é porque eu gosto de
saber mais sobre os tratamentos antes de me
interessar em busca-los. Acredito que compreender
as coisas é a maneira mais fácil de escolher os
melhores caminhos para nós.
A desobsessão, em termos simples, transfere a
influência espiritual que está lhe acompanhando para
um médium, que é capaz de dar voz ao problema e
repassar para o grupo. O paciente, geralmente, não
presencia nenhuma etapa diferenciada do processo,
precisando apenas receber um passe (uma energia
de limpeza e cura que é transferida através da
imposição de mãos) e então aguardar o retorno, a
explicação sobre o resultado do seu atendimento.
Dentro da sala ocupada pelos integrantes do grupo, o
espírito em desequilíbrio que acompanhava a pessoa
é atendido e encaminhado para um centro espiritual
de atendimento, onde será conduzido para prosseguir
sua jornada da forma mais satisfatória possível. Esse
tipo de atendimento, via de regra, é oferecido dentro

98
dos chamados “Centros Espíritas”, casas de fé e
estudo com base cristã que não cobram pelos seus
atendimentos e funcionam de maneira totalmente
filantrópica. Espalhados por todos os cantos do Brasil,
cada centro possui o seu sistema de organização
interno, mas estão igualmente capacitados a ajudar
quem precisar. Para encerrar esse capítulo, um último
adendo: nenhum centro espírita jamais cobrará por
qualquer atendimento, seja por passe ou
desobsessão. Se você for a algum lugar e quiserem
lhe cobrar alguma coisa, vire-se e saia pela porta, pois
aquele não será um sério ou de respeito.

99
26. O SUICÍDIO E A LOUCURA

Os temas que abordaremos nesse capítulo são


geralmente evitados pela maior parte das pessoas,
seja pelas suas características polêmicas, seja pela
falta de compreensão. As informações contidas aqui
não devem ser levadas como verdades absolutas, e
são o fruto dos sintomas que senti na pele e nas
experiências que tive. Reforço que jamais devemos
ignorar o que diz a medicina, mas também acredito
que buscar novos caminhos em direção a cura torna-
se essencial quando as alternativas que trilhamos
falharam. Feita essa pequena introdução,
prossigamos para o assunto em si.
Doenças relacionadas ao nosso campo mental,
como a depressão e a ansiedade, costumam
provocar medo e sofrimento nos enfermos. Cada
momento é uma luta contra a dor, a tristeza e a
vontade de desistir. Eu lembro que chorava diversas
vezes não por um pensamento específico, mas sim
por estar cansado de enfrentar dia após dia as
sensações mais infelizes e incapacitantes. O
desespero se transformou com o tempo em falta de
esperança, uma descrença equivocada de que eu
jamais veria a luz no fim do túnel. Finalmente, eu
chegaria ao estágio mais profundo do sofrimento:
comecei a pensar em cometer suicídio.
Os motivos que levam alguém ao suicídio são tão
numerosos quanto a quantidade de pessoas que

100
existem no planeta. É impossível definir exatamente
porque alguém tira a própria vida, mas existem
fatores que contribuem para que a ideação suicida
ocorra: diagnóstico e/ou tratamento inadequado;
ignorância e pressão por parte da família e amigos;
ausência de sonhos, planos e desejos para o futuro;
culpa e remorso; medo de não conseguir enfrentar os
problemas que hoje tem; abuso de substâncias que
provoquem dependência; desilusões amorosas ou
profissionais; baixa autoestima e complexo de
inferioridade; crença distorcida de que a única
maneira de fazer o sofrimento parar é cometer
suicídio; entre outros. Todo e qualquer pensamento
ou tentativa suicida deve ser levado a sério, tanto pela
família quanto pelo paciente, buscando sempre a
ajuda profissional adequada, em especial nos
campos da psiquiatria e da psicologia.
Uma das coisas que mais me arrastaram para o
fundo do poço foi algo que muitos passam, mas
poucos conseguem admitir: na fase mais profunda e
complexa da minha doença, eu passei a ouvir vozes.
No começo, tudo o que eu escutava eram sussurros,
pouquíssimas vezes por semana. O volume e a
agressividade das palavras foram aumentando
gradativamente, até ao chegar ao seu ápice: tons de
escárnio e desprezo me falavam para encerrar o meu
tempo na Terra. No banho, eu chorava muito
enquanto escutava claramente frases como “por que
você não acaba com isso? ”, “ninguém vai sentir sua
falta” e “você faz tudo errado, não serve para nada”.
A razão mais poderosa que me levou a hoje estar

101
aqui, escrevendo esse livro, ao invés de ter encerrado
a minha caminhada foi: eu sabia que não era um caso
de esquizofrenia, sabia que as vozes não estavam
vindo da minha cabeça; eu sabia que se tratava de
uma obsessão espiritual.
A esquizofrenia e outras patologias com
características similares apresentam diagnósticos
tratáveis e comprovados, porém essa não é a
realidade de todos os casos existentes. A medicina
moderna reconhece as vozes que os pacientes
escutam de infinitas formas: como mecanismos
mentais de auto sabotagem; como personas
interdependentes da realidade cerebral; e até como
frutos de alucinações por desequilíbrios bioquímicos.
Todos os anos, milhares e milhares de enfermos são
internados em centros de reabilitação mental,
dividindo o seu tempo entre longos períodos de
sedação e sonolência, e momentos de recaída de
extremo sofrimento. Aprisionados aos rótulos da
loucura, não são mais senhores de si mesmos,
tornando-se doentes quase sempre pouco produtivos
para a sociedade. E, muitas vezes, a resposta que
necessitam não pode ser encontrada nos tratamentos
científicos da medicina tradicional, mas sim no ainda
pouco explorado método da desobsessão espiritual.
Já falamos neste livro sobre mediunidade, vida
após a morte e a existência de um mundo espiritual.
As vozes invisíveis que muitas vezes chegam aos
nossos ouvidos em momentos de vulnerabilidade
emocional não são mais do que a expressão

102
desequilibrada de espíritos errantes, pessoas que já
não habitam mais o corpo e que se encontram em
estado de confusão. Um indivíduo que desencarnou
em tristeza e sofrimento, por exemplo, naturalmente
buscará esse mesmo tipo de energia no pós-vida.
Atraído por uma pessoa com pensamentos negativos
e ideação suicida, passará a sussurrar palavras de
depreciação pessoa no ouvido do enfermo, com
objetivo de trazê-lo ao seu plano de existência,
acabando então com a própria solidão ao obter um
novo companheiro. Já o espírito de alguém que
deseja vingança para conosco tentará de todas as
maneiras elevar o nosso sofrimento e garantir que
tiremos a própria vida. Inúmeras outras variações são
possíveis, porém uma coisa é certa: não haverá,
nesse caso, cura completa da situação se ignorarmos
a importância dos recursos espirituais. O corpo se
trata a nível físico, a mente se trata a nível mental e o
espírito se trata a nível espiritual.
Eu escutei vozes por alguns meses, até tomar
coragem para conversar com a minha família e ir a
um centro espiritual em busca de tratamento. A
realização da desobsessão suavizou o meu
problema, que culminou, aliada a alguns
atendimentos na divisão de apometria (tema que
abordaremos no próximo capítulo) e com
acompanhamento espiritual adequado, na cura do
meu sintoma indesejado. Algo similar aconteceu com
uma amiga minha, que escutava uma voz masculina
a repreendendo sempre que ela estava junto a outras
pessoas. Por mais de 18 anos, a moça sofreu com a

103
dificuldade de estabelecer relações sociais, mesmo
tendo a ajuda de psiquiatras e psicólogos. Bastou que
um atendimento espiritual fosse realizado para que os
sintomas sumissem. A entidade encaminhada
demostrou-se primeiramente enfurecida e injustiçada,
crendo que a enferma havia lhe traído a confiança.
Quando a situação foi esclarecida, o espírito seguiu
em paz, pedindo perdão pelo que havia feito. Após o
processo, minha amiga afirma nunca mais ter
escutado a voz endurecida, melhorando os seus
aspectos mentais e emocionais a cada dia.
Antes de encerrarmos o capítulo, existe mais
uma questão relacionada ao assunto principal desse
capítulo que eu gostaria de abordar: o que acontece
após o suicídio? Muito se fala nos motivos, no método
e no ato de tirar a própria vida, porém raramente
debatemos as consequências e o impacto desta
realização infeliz. Eu poderia escrever linhas e mais
linhas falando sobre como a família da vítima é
destruída, as oportunidades que são perdidas e os
numerosos futuros que são arruinados por conta do
processo, mas acho que todos estamos cientes
dessas coisas, por conta das excelentes campanhas
de conscientização promovidas pelos órgãos
governamentais e pela mídia tradicional. Muito acima
dos preceitos tradicionais e condenatórios contidos
nas religiões, ignorando julgamentos e definições de
“certo ou errado”, irei explicar para você a minha
percepção sobre o assunto, adquirida através de
leituras, estados e experiências práticas nos
caminhos da espiritualidade.

104
O suicídio é um acontecimento dramático e
extremamente negativo para o nosso ser. Desligado
do corpo físico de maneira repentina, o espírito
experimenta um estado semelhante ao trauma,
desenvolvendo sequelas e extrema confusão mental.
Seguindo o pensamento oriental, todos nós
possuímos um fluído vital, um plasma, uma energia
que define o nosso tempo mínimo de vida. Quando
encerramos a existência por um ato voluntário,
ficamos presos a realidade do corpo físico, revivendo
o momento do suicídio em um ciclo que se estende
até que sejamos capazes de drenar os fluídos
necessários para a nossa libertação. Se você tira
própria vida com trinta anos, por exemplo, e tinha a
capacidade de viver até os quarenta, ficará dez anos
revivendo o momento traumático. O impacto
geralmente é tão profundo que aqueles que passam
por essa experiência precisam passar por uma
reabilitação nas colônias/planos/cidades espirituais
para vencer a loucura causada pelo sofrimento
prolongado. Gostaria de destacar aqui que isso não é
uma punição, um castigo ou a ordem de qualquer ser
ou entidade; trata-se apenas de uma lei natural, tal
como a gravidade ou a inércia.
Cada caso de suicídio é um mundo à parte, e não
podemos nem devemos generalizar esse tipo de
acontecimento trágico. A misericórdia e a compaixão
devem fazer parte das nossas vidas, assim como
fazem parte dos amigos da espiritualidade. Sempre
existe espaço para arrependimento e redenção,
portanto nada está perdido no pós vida. Cada qual

105
receberá a ajuda necessária dependendo do seu
merecimento, dos motivos que o levaram a cometer
tal ato e da sua necessidade evolutiva. A prece que
fazemos por aqueles que partiram em circunstâncias
trágicas representa a gota d’água que refresca a
aridez do desespero e da dor. O caminho de
recuperação é longo e árduo, mas não impossível.
Porém, mesmo que exista solução para o ato infeliz e
muitas vezes impensado, lhes deixo com a seguinte
recomendação: procure ajuda e não desista de viver.
A vida tem surpresas incríveis reservadas para o seu
amanhã, mas para apanhá-las você precisa seguir
em frente. A escuridão da nossa existência dura
apenas uma noite, porém o clarão eterno da alegria
logo chegará.

106
27. APOMETRIA

As recomendações espirituais que fiz até o


momento são relativamente comuns na cultura
popular e nas grandes religiões praticadas no Brasil.
O Reiki é uma terapia neutra, sem dogmas ou credos;
o passe é semelhante a benção do pastor ou do
padre; as questões da mediunidade costumam ser
trabalhadas dentro das congregações de fé, cada
uma à sua maneira; a desobsessão é de certa forma
próxima ao conceito de “exorcismo”, apesar de ser
mais suave e menos invasiva; todas encontram
espaço e aplicação comum, seja na medicina
alternativa/complementar, seja no seio das doutrinas
espirituais dominantes. Porém, a última peça desse
nosso quebra-cabeças, a qual pode facilitar em muito
o tratamento de doenças da mente e alma, ainda é
pouco conhecida pela grande parte da população;
vamos falar sobre a apometria.
A apometria, do prefixo grego apo (além) e do
radical metria (medida), é uma prática que consiste na
emancipação temporária do espírito para a realização
de curas. Desenvolvida nos anos sessenta pelo Dr.
José Lacerda de Azevedo, a técnica envolve o
conceito de “desdobramento”, a ideia de afastar
suavemente a alma do corpo físico para facilitar o
tratamento do enfermo. Tudo é feito com energias de
amor e compreensão, utilizando-se do estalar de
dedos (os chamados pulsos magnéticos) para

107
executar limpezas energéticas, mentais e espirituais,
e solicitar o auxílio de entidades iluminadas para
prestar socorro ao paciente. Não são utilizados
rituais, oferendas, símbolos, vestes espalhafatosas
ou materiais físicos; tudo é feito de maneira simples,
organizada e competente, utilizando-se apenas de
uma mesa e cadeiras para os terapeutas/pacientes
sentarem.
Em termos práticos, a apometria pode ser
definida por três funções específicas: limpeza de
energias indesejáveis no campo mental e espiritual do
enfermo; desobsessão múltipla e encaminhamento
das entidades sofredoras que possam estar
acompanhando o paciente; e varredura das vidas
passadas do consulente para efetuar os
desligamentos e as harmonizações necessárias.
Essa última função pode provocar um pouco de
confusão no leitor, mas tentarei explicar tudo de um
modo dinâmico. Imagine que a soma de todas as
vidas que você já teve, as suas reencarnações, pode
ser representada por um livro. Cada página desse
livro é uma das suas existências, com história e
personagens próprios apesar de fazer parte da
mesma publicação. Quando uma dessas vivências,
por você estar passando por algo similar ou por algum
desequilíbrio, se conecta a sua vida atual, começa a
influenciar o que você está vivendo hoje, sintomas e
patologias diversas podem se manifestar.
Para exemplificar melhor os casos que podem
ser tratados através da apometria, vou relatar o que

108
ocorreu comigo durante épocas de desequilíbrio
emocional: eu nunca fui uma pessoa que sente muito
frio, pois nasci em uma cidade do sul do país e
normalmente encaro climas gélidos de maneira muito
natural. De um dia para o outro, comecei a sentir
muito frio, sentindo a necessidade de vestir diversas
camadas de roupa e até mesmo ligar o aquecedor da
casa. Achei que tudo estivesse normal, por pensar
que todo mundo devia estar sentindo a mesma coisa.
Durante uma visita regular a uma terapeuta holística
que frequentava na época, recebi o que eu acreditava
que era uma energização por reiki e acabei
cochilando. Quando acordei, a terapeuta me disse
que fez uma apometria e identificou que em outra vida
eu havia morrido soterrado na neve, por conta de um
acidente. Acontece que essa vida estava
ocasionando interferência na minha existência atual,
provocando em mim sintomas de hipersensibilidade
térmica causados pelo fato ocorrido no passado. O
procedimento apométrico foi capaz de limpar a
conexão e curar a situação pendente.
A apometria é capaz de auxiliar em casos de
cunho espiritual nos quais o reiki e a desobsessão
não seriam capazes de alcançar qualquer sucesso. A
chamada “obsessão complexa” ocorre quando uma
entidade ou um grupo entidades de baixa vibração
decidem tomar um encarnado como alvo. Essas
entidades geralmente possuem grandes
conhecimentos técnicos e científicos, sem por isso
possuírem qualidades morais ou objetivos nobres,
semelhantes a grandes ditadores e magnatas

109
descontrolados que existem em nossa esfera
terrestre. Mecanismos como travas de movimento,
vendas de percepção, implantes de distorção oral e
chips geradores de confusão mental são colocados
no corpo espiritual da vítima, os quais repercutem no
corpo físico geralmente causando dor, desequilíbrios
emocionais e falhas de comunicação. Eu senti tudo
isso na pele, e posso afirmar sem medo que perdi
quase 40% do meu peso e atingi elevado estado de
desnutrição em questão de três meses por conta de
uma obsessão complexa. Nem meu clínico geral nem
meu psiquiatra conseguiram explicar o que estava
acontecendo comigo. Se não fosse pela presença de
pessoas que conheciam esse tipo de quadro de
enfermidade em minha vida, eu não teria tomado
conhecimento a respeito da apometria e
provavelmente teria sido internado no hospital. Nem
todas as questões clínicas podem ser beneficiadas
pelo uso deste recurso, mas casos como o meu foram
beneficiados pelo uso da técnica.
Atualmente, existem dois tipos de atendimento
apométrico: presencial e a distância. O presencial
pode ser realizado em centros espíritas que ofereçam
atendimentos via apometria, mediante a realização de
uma consulta para encaminhamento de tratamento.
Nesses casos, a pessoa será acompanhada durante
todo o seu tratamento espiritual na casa, recebendo
reforços terapêuticos através de passes e água
fluidificada. Em relação aos atendimentos à distância,
o interessado deve enviar um e-mail/entrar em
contato com algum centro que ofereça o

110
procedimento apométrico, fornecendo dados como
nome, idade e endereço de residência. Serão
enviados uma data e um horário para a realização do
procedimento, requisitando que o paciente reserve
um tempo para se harmonizar e relaxar, no intuito de
facilitar a conexão do atendimento à distância. Para
descobrir quais casas e grupos oferecem tratamentos
apométricos na sua região, é possível pesquisar por
“grupos de apometria” no Google e assim encontrar
listas contendo o nome dos locais e os meios de
contato.
Gostaria de reforçar o que comuniquei durante
toda a extensão desse livro: a medicina e a ciência
sempre deverão ser respeitadas e jamais descartas.
Não deixe de procurar um médico, um psiquiatra, um
psicólogo ou outro profissional formado e competente
para lhe ajudar no tratamento das suas doenças e
distúrbios. As ferramentas de auxílio espiritual são
complementares, e jamais devem substituir os
recursos convencionais. Você é o conjunto de corpo,
mente e espírito, por isso recomendo que procure
tratar os três aspectos do seu ser. Creio que será
somente através do aproveitamento de todos os
recursos convenientes disponíveis que você poderá
observar melhora mais expressiva na depressão, na
síndrome do pânico, na ansiedade e em qualquer
outro desequilíbrio físico e mental que você esteja
enfrentando.

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CONCLUSÃO E AGRADECIMENTOS

Não são poucas as pessoas que merecem a


minha gratidão pela produção desse livro. Agradeço
a minha família: meu pai Renato, minha mãe Magali,
minha irmã Tanise, minhas vós Lourdes e Virgínia,
minha tia Marilise, meu primo Gustavo, meu tio
Renato, entre tantos outros que sempre me apoiaram.
Sou grato aos animaizinhos que fizeram/fazem parte
da minha vida: Pink, Sofia, Edite, Nickita, Biba,
Chiquinha, que trouxeram amor e forças a minha vida.
Sou grato aos amigos: Will, Andrey, Ana, Luiz,
Alexandre, Douglas, galera do grupo Asgard, que me
ensinaram pelo exemplo, me inspiraram e sorriram ao
meu lado. Sou grato aos meus amigos e irmãos do
Jardelino Ramos, que são uma segunda família para
mim. Sou grato a todos os terapeutas, psiquiatras e
psicólogos que não apenas me trataram, mas
ensinaram sobre a minha patologia e sobre mim
mesmo. E, principalmente, sou grato a Deus e a todos
os meus mentores, guias, protetores e professoras,
que, pacientes e tolerantes, aceitam as minhas
limitações e me ajudam a crescer todos os dias.
A vida muitas vezes nos oferece provas amargas,
que facilmente nos desanimam e nos pressionam a
desistir. Toda vez que enfrentamos uma dificuldade,
temos dois caminhos: reclamar e parar de tentar; ou
crescer e superar, nos tornando mais fortes para o
futuro. A depressão faz parte da minha vida há quase

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dez anos, e eu posso dizer que hoje sou uma pessoa
melhor por causa dela. Esse livro sempre foi um
sonho meu, pois sempre quis passar o pouco que sei
sobre esse desafio, para talvez ajudar outras pessoas
a se fortalecerem. O medo provocado por não ter
formação profissional na área e até de ser mal
interpretado seguraram essa publicação literária por
alguns anos, mas a minha voz interior se elevou, e a
vontade de ser útil mostrou-se maior.
Durante a minha caminhada vi crianças,
adolescentes e adultos perdidos em meio a sintomas
complicados, tratamento inadequados e sofrimentos
intensos. A falta de informação e o preconceito em
relação aos tratamentos disponíveis para as doenças
mentais não parecia ser suavizado pelas matérias da
mídia ou pelas palestras acadêmicas. As pessoas
precisam de uma linguagem simples, de ser humano
para ser humano, sem o discurso frio e calculista de
um doutor ou mestre. Acredito que apenas um
depressivo consegue entender profundamente
alguém que sofre de depressão, assim como um
apenas um obeso consegue se conectar com alguém
que sofre de obesidade. Viver na pele sempre será
diferente de apenas estudar, por isso conclui que
esse livro precisava ser publicado.
Eu espero de verdade que essa humilde obra
tenha lhe amparado de algum modo, seja para
entender melhor algum conhecido em sofrimento,
seja para enfrentar a sua própria batalha. Nunca se
esqueça de que você tem tudo o que precisa para

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superar as dificuldades e ir atrás dos seus sonhos. As
suas experiências de vida sempre poderão ser úteis
para outras pessoas, basta você espalhar o seu
aprendizado pelo caminho. Não se preocupe com
aqueles que querem te mostrar as dores e
dificuldades das suas escolhas, fique perto de quem
te incentiva, te apoia e acredita em você. A escuridão
da noite é apenas um caminho para ver a luz do dia.

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