Determinantes Da Inflação em Angola: Luanda, 2012
Determinantes Da Inflação em Angola: Luanda, 2012
Determinantes Da Inflação em Angola: Luanda, 2012
Luanda, 2012
Os Trabalhos para Discussão (Working Papers) são trabalhos em evolução, cuja
publicação visa incentivar o debate e o aprofundamento dos temas tratados. Os pontos
de vista expressos são os dos seus autores e não reflectem, necessariamente, os do
Banco Nacional de Angola, nem vinculam de qualquer forma esta Instituição.
Ficha Técnica
Título: Determinantes da Inflação em Angola
Autores: José Luís Carvalho, Martine Emma Dias dos Santos, Leonardo Dia Kiesse Massala
Série: Working /Discussion Paper, n.º /2012
Editor: Departamento de Estudos Económico -Banco Nacional de Angola
Avenida 4 de Fevereiro- Luanda- Angola- Caixa Postal 1243
Índice
Resumo
Resumo
O objectivo do presente trabalho é o de identificar os principais determinantes da
inflação. A despeito da vasta literatura associada à compreensão de processos
inflacionários, opta-se por usar um modelo simples, conforme Harberger – Hanson pela
maior exigência, em termos de dados estatísticos que caracterizam modelos mais
sofisticados. Baseado na teoria quantitativa da moeda, Harberger (1963) conduziu um
trabalho sobre a inflação de preços no Chile, o qual se tornou referência para estudos
desse tipo. Hanson (1985) estendeu o modelo de Harberger de modo a incorporar o
custo das importações, um elemento importante e particularmente relevante no caso de
Angola. Como o modelo Harberger - Hanson é de longo prazo, tenta-se, por meio
empírico, pela introdução de desfasagens distribuídas, obter os efeitos sobre a inflação
provocados por mudanças nas variáveis explicativas ao longo do tempo.
1. Desde a década de noventa, a convivência com altas taxas de inflação de preços tem sido
uma das características da economia angolana. A inflação de preços, definida como sendo um
aumento contínuo, generalizado do nível geral de preços, ou seja uma perda progressiva do
poder de compra da moeda, atinge a todos mesmo que não seja de forma igual. A inflação gera
custos económicos bem como sociais, pelo que o Governo Angolano, como a maioria dos
Governos, tem-se preocupado com este fenómeno, tentando de várias formas lutar contra ele
através, fundamentalmente, da implementação de políticas monetária, cambial e fiscal. No
entanto, para lutar de forma eficaz contra qualquer fenómeno é preciso conhecer os factores que
o provocam. Nesta ordem de ideias, o presente trabalho pretende identificar os principais
determinantes da inflação em Angola através de modelos econométricos;
3. O Índice de Preços no Consumidor (IPC), mede níveis e mudanças de preços de uma cesta
padrão de bens e serviços comprados por uma família num dado período e local de referência. É
de realçar que o IPC não reflecte o custo de vida de determinado individuo em determinado
momento, já que cada um tem o seu padrão de consumo;
4. Em Angola, o IPC é calculado pelo Instituto Nacional de Estatística. Este índice representa
apenas a Cidade de Luanda, estando neste momento a ser desenvolvido o Índice de Preço no
Consumidor Alargado (IPCA);
5. O IPC de Luanda é calculado mediante a fórmula de Laspeyres, isto é, uma média ponderada
dos preços relativos multiplicados pela sua ponderação que corresponde ao período de base;
A fórmula de Laspeyres:
n
Pit Qi0
i 1
I t0 = n
Pi0 Qi0
i=1
Onde:
I t/0 = Índice no período "t", com respeito ao período base "0".
Pit = Preço da variedade "i" no período "t”.
P i0 = Preço da variedade "i" no período base "0”.
Q i0 = Quantidade consumida da variedade "i" no período base “0”
n = número total de variedades
6-Saúde 3,40
7-Transporte 7,93
8-Comunicações 3,33
10-Educação 2,45
7. Os altos níveis de inflação registados a partir dos anos noventa geraram uma situação crónica
e insustentável, visto o seu custo social e económico. Com objectivo de ultrapassar tal situação,
o Governo angolano, em Agosto de 2003, lança o programa de Estabilidade Macro-económico
baseado principalmente num maior rigor orçamental e no controlo da taxa de câmbio. Tais
medidas surtiram efeitos, tendo a inflação passado de 105,60% em 2002 para 76,57% em 2003,
reduzindo-se de mais de metade em 2004 (31,02%) e continuando o seu comportamento
decrescente em 2005 com uma taxa de 18,53% e desde então situando-se em taxas entre cerca
de 15% e 11%;
Gráfico 1: inflação 12 meses em Angola
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
1992M12
1993M12
1994M12
1995M12
1996M12
1997M12
1998M12
1999M12
2000M12
2001M12
2002M12
2003M12
2004M12
2005M12
2006M12
2007M12
2008M12
2009M12
2010M12
2011M12
8. No Gráfico 2 abaixo, olhando para os dados a partir de 2000, pode-se verificar que até
meados de 2004, a taxa de variação mensal do IPC era relativamente elevada e apresentava
significativa volatilidade. A partir de então, a sua variação relativa passa a ser quase metade da
observada naquele período;
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
2000…
2001…
2002…
2003…
2000…
2001…
2002…
2004…
2004…
2005…
2005…
2006…
2007…
2007…
2008…
2008…
2009…
2009…
2010…
2011…
2011…
9. As estatísticas apresentadas na Tabela 2 deixam claro que houve, de facto, uma mudança
significativa no processo inflacionista;
Tabela 2: Estatísticas Resumo: Variação Mensal do IPC de Luanda (2000 – 2011)
Períodos
2000m02 - 2011m12 2000m02 - 2004m05 2004m6 - 2011m12
Estatísticas
Média 0,0308 0,0651 0,0112
Mediana 0,0142 0,0535 0,0100
Máximo 0,2514 0,2514 0,0232
Mínimo 0,0063 0,0149 0,0063
Desvio Padrão 0,0358 0,0407 0,0041
Coef. De Variação 1,1609 0,6251 0,3638
Observações 143 52 91
10. Uma análise mais detalhada da série, para um período mais longo (1996 a 2011) pode
ser feita por meio de correlogramas e correlogramas parciais. Como a série não é estacionária, o
IPC foi transformado por primeira diferença, a qual tomada em logaritmo fornece a taxa de
variação percentual do índice, isto é, a taxa de inflação de preços;
11. A Figura 1 abaixo apresenta tanto o correlograma (a) quanto o correlograma parcial (b) das
variações mensais do IPC para o período amostral. O correlograma apresenta valores elevados e
que assim permanecem para desfasagens mais longas, a indicar a existência de um componente
de médias móveis de elevada ordem. O movimento ondular aparente no correlograma é uma
indicação da presença de um fenómeno sazonal. O correlograma parcial, com seu valor mais
elevado para a desfasagem de ordem um, sugere a presença de um processo AR (1),
possivelmente sobreposto pelo componente sazonal;
(a)
(b)
D. Fundamentação Teórica dos Determinantes da Inflação
12. Baseado na teoria quantitativa da moeda, Harberger (1963) conduziu um trabalho sobre a
inflação de preços no Chile, o qual se tornou referência para estudos desse tipo. Hanson (1985)
estendeu o modelo de Harberger de modo a incorporar o custo das importações, um elemento
importante e particularmente relevante no caso de Angola;
13. Com base na vasta literatura associada à compreensão de processos inflacionários, opta-se
por usar um modelo simples, conforme Harberger – Hanson pela maior exigência, em termos de
dados estatísticos que caracterizam modelos mais sofisticados. Um exemplo do pequeno ganho,
pelo uso de métodos mais sofisticados, para a compreensão do fenómeno a ser estudado pode
ser encontrado em Klein – Kiei (2009);
14. Pela teoria quantitativa da moeda, tem-se que:
(1) MV = PQ,
15. Onde M é stock de moeda; V é sua velocidade de circulação; P é o nível de preços e Q é o
produto real da economia. Na versão original da equação de trocas, V era considerada constante.
Entretanto, o que é necessário é que V seja estável. Na realidade, o inverso de V é a demanda
por moeda por unidade de produto:
16. Assim, a estabilidade de V, e não sua constância, representa a estabilidade da demanda por
moeda, isto é, a demanda por moeda resulta de um comportamento dos agentes económicos e,
portanto, V é uma função previsível de outras variáveis macroeconómicas que reflictam o custo
de reter moeda;
17. De modo a trabalhar com as variações percentuais e não os níveis das variáveis consideradas,
Harberger transforma (1) aplicando logaritmo e o operador de diferença D, tal que, Dxt = xt – xt-
1. Letras minúsculas representam as mesmas variáveis transformadas por logaritmo. Assim, (1)
pode ser escrita como:
(2) Dpt = Dmt – Dqt + Dvt.
18. Uma vez que (1/V) é a própria demanda por moeda, Harberger substitui vt por uma variável
que represente o custo de oportunidade de se reter moeda, por exemplo, taxa de juros ou a taxa
de inflação no período imediatamente anterior. Harberger adopta a taxa de inflação em
substituição a v. Essa aproximação é particularmente importante quando a taxa nominal de
remuneração da poupança é fixada por regulamentação, de modo que o principal custo de reter
moeda é a perda de seu poder de compra;
19. Numa economia na qual o mercado financeiro opere com flexibilidade e séries estatísticas de
taxas de juros estejam disponíveis, vt em (2) pode ser aproximada pela taxa de juros mais
relevante. No caso de Angola, pelas características das opções de poupança abertas aos agentes
económicos, a adopção da inflação passada representa melhor o custo de oportunidade de reter
moeda. Isso, entretanto, não exclui a possibilidade de uso de uma taxa de juros que reflicta o
custo de oportunidade de se reter moeda;
20. Desse modo, Harberger sugere, para a análise da inflação no Chile, a seguinte regressão:
(3) Dpt = a0 + a1Dmt + a2Dqt + a3 D(It-1) + µt,
onde, m e q já foram definidas, µt é a perturbação aleatória, It-1 é a taxa de inflação do período
anterior e, portanto, a variável escolhida para aproximar v.
21. Conforme a equação (1) os parâmetros a1 e a3 devem ser positivos enquanto a2 deve ser
negativo. Além disso, (1) estabelece que se as desfasagens em m e q que aparecem em (3) forem
contemporâneas, em valor absoluto, a1 e a3 devem ser iguais à unidade;
22. Nem sempre, séries de produto com periocidade inferior a um ano estão disponíveis. Assim,
introduziu-se uma função de produção agregada, homogénea de grau um, para então substituir
em (3) o produto (q) por essa função, desde que as variáveis que a caracterizam estejam
disponíveis na periodicidade desejada. Com a hipótese de homogeneidade de grau um para a
função de produção, a correspondente função custo será homogénea de grau zero nos preços dos
insumos e do produto;
23. Por ser adequada às condições de Angola, adopta-se a sugestão de Hanson (1985) de
considerar os insumos importados além dos recursos domésticos. Assim, se pode explicar, pela
correspondente função custo, as variações no produto real em termos de preços dos insumos,
importados (pi) e domésticos (w) assim como do preço do produto (p):
(4) Dqt = b0 + b1Dpt + b2Dpit + b3Dwt + ηt,
onde ηt, é a perturbação aleatória e as demais variáveis como definidas acima. Como por
hipótese, a função custo é homogénea de grau zero nos preços, devemos ter que b1 + b2 + b3 = 0.
Note que enquanto b1 > 0, os coeficientes dos insumos (b2 e b3) devem ser negativos.
E. Modelos e Resultados
27. O objectivo deste trabalho é estudar os determinantes da inflação de preços em Angola por
meio da especificação definida pela equação (6). Ao longo da análise, ajustamentos e
adaptações serão feitos e as suas razões explicadas. Nem todas as variáveis definidas no modelo
teórico estão disponíveis em Angola. Assim, nesses casos algumas aproximações foram usadas.
O período da amostra compreende Janeiro de 2000 a Dezembro de 2011, com periodicidade
mensal;
E.1 Modelos Básicos
b) A taxa de variação percentual dos agregados monetários medida pela diferença dos
logaritmos dos referidos agregados. Análises serão conduzidas para os dois
principais agregados monetários, M1 e M2. Definida em (6) como Dm1 e Dm2, e
identificados por DLOG(M1) e DLOG(M2). Os agregados monetários são dados
obtidos do Banco Nacional de Angola (BNA);
29. Todas as variáveis explicativas, com excepção dos preços externos, apresentam correlação
significativa com a inflação. Como esperado a correlação de longo prazo é maior.
Tabela 3: Correlação entre a inflação e as outras variáveis
30. Apesar de apresentar uma correlação baixa e ambígua em termos de sinal, os preços externos
foram mantidos nos modelos básicos, acreditando de forma intuitiva que sejam um factor da
inflação em Angola, pelo facto do país importar a maioria dos produtos consumidos;
31. Graficamente (ver anexo), pode-se observar que as variáveis que melhor reproduzem o
comportamento da inflação homóloga, durante o período em análise, são a taxa de câmbio e a
inflação desfasada de dois períodos;
32. A equação (6) foi estimada considerando, alternativamente os agregados monetários M1
e M2. As Tabelas 4 e 5 apresentam as estimativas para os parâmetros da equação (6) com M1 e
M2 alternativamente;
34. Os resultados obtidos quando o agregado monetário é M2 são similares aos descritos quando
o agregado M1 é utilizado. Nota-se que em ambos os casos, a estatística DW é superior a 2,
indicando que os resíduos apresentam pelo menos correlação de primeira ordem. Na realidade, o
correlograma e o correlograma parcial dos resíduos indicam claramente a presença de
componentes sistemáticos;
35. O estudo dos resíduos originários dessas regressões indicaram a existência de um claro
processo estocástico que poderia ser representado por:
εt = (1 – θ1B – θ8B8) (1 - ϴB12) ωt.
36. Introduzindo esse processo sazonal (ordem 12) de médias móveis (ordem 8) na especificação
do modelo foram obtidos os resultados reproduzidos nas Tabelas 6 e 7;
37. A aderência dos modelos assim especificados eleva-se para a marca dos noventa porcento.
Na regressão onde o agregado monetário é M1, o seu coeficiente apresenta-se estatisticamente
significante a nível de 10%, enquanto que quando se adopta M2, o seu coeficiente é
estatisticamente significante. O coeficiente da variável preço internacional permanece, nas duas
versões, sem significância estatística;
F. Modelos Alternativos
TBC_63 TBC_91
Média 42,81776 46,56507
Mediana 20,55375 21,39875
Máximo 127,0000 134,0000
Mínimo 2,460000 3,230000
Desvio Padrão. 42,59094 45,62575
CV 0,994703 0,979828
Skewness 0,981366 0,899381
Kurtosis 2,419915 2,212593
Observações 140 140
TBC_63 TBC_91
43. Como se constata na Tabela 8, as taxas de juros têm elevados coeficientes de correlação
total. Isso impede o uso de mais de uma taxa de juros em cada especificação do modelo. Outra
característica dessas taxas de juros é sua elevada volatilidade. A taxa de juros interbancária tem
uma série muito curta e por isso foi descartada no momento. Entretanto, com a acumulação de
mais informação, essa taxa pode promover uma valiosa contribuição para a compreensão da
inflação em Angola;
44. Com essas modificações, o modelo foi estimado adoptando uma desfasagem máxima de
cinco meses. Os resultados finais constam das Tabelas 9 e 10.
Tabela 9: Determinantes da Inflação de Preços em Angola:
45. Os resultados nas duas versões para o agregado monetário fornecem basicamente as mesmas
informações. As desfasagens para M1 e M2 são diferentes. No primeiro caso o valor
contemporâneo e o de uma desfasagem de cinco períodos, emergiram na explicação da inflação
de preços, sendo que o coeficiente de M1 desfasado de cinco períodos só é estatisticamente
significante a 15%. No caso do M2, além do seu valor contemporâneo, o seu valor desfasado de
um período entra na explicação da inflação, embora o seu coeficiente seja estatisticamente
significante a 15%. O coeficiente da inflação desfasada em dois períodos, nos dois casos, não é
estatisticamente diferente de zero. Os efeitos da taxa de câmbio, dos termos de troca e da taxa
de juros de 91 dias são praticamente iguais para as duas definições do agregado monetário. Uma
desvalorização cambial de 1% e ocorrida há dois meses provoca uma elevação na inflação
actual de 0,3%. O efeito dos termos de comércio sobre a inflação, para uma mesma variação
percentual, é dez vezes menor, isto é, aumentos nos preços dos produtos importados superiores
ao preço do petróleo, têm um impacto sobre a inflação muito pequeno relativamente ao efeito da
taxa de câmbio;
46. Nos dois casos, a taxa de juros tem um efeito positivo sobre a inflação, ainda que de pequena
monta. Um aumento de um ponto percentual na taxa de juros provoca de imediato uma alta nos
preços de 0,025 ponto percentual, esse coeficiente é estatisticamente significante. Todas as
tentativas feitas, para as mais diversas desfasagens, com essa taxa de juros apresentaram
efectivamente os mesmos resultados, com pequena melhoria nos coeficientes de determinação
com desfasagens de um ou de dois períodos. Entretanto, em todos os casos, o coeficiente desta
taxa de juros manteve o seu valor e a sua elevada significância estatística;
47. No entanto, era de se esperar que aumentos nas taxas de juros reduzissem a pressão
inflacionista, uma vez que estimularia a poupança e tornaria o consumo presente mais caro em
relação ao consumo futuro, o que não foi constatado. Entretanto, para que esse efeito se realize,
a ponto de afectar o índice de preços, é preciso que exista, na economia, um mercado bem
desenvolvido de activos financeiros, bem como um dinâmico mercado de crédito. Como o
mercado financeiro em Angola é incipiente, a taxa de juros parece exercer outro papel no que se
refere à inflação. Os resultados poderão ser interpretados da seguinte forma, os agentes
económicos consideram uma alta na taxa nominal de juros como uma indicação de que os
preços se elevarão no presente momento. Esse resultado, como já foi observado acima, repete-se
com as mais variadas desfasagens nessa taxa de juros;
48. As Tabelas 11 e 12, reproduzem o modelo apresentado nas duas tabelas anteriores, mas desta
vez com a taxa de juros de 63 dias (TBC_63). A aderência dos modelos aos dados é um pouco
menor, mas com o uso dessa taxa de juros a inflação desfasada tem o seu coeficiente
estatisticamente significante, mas sempre com o sinal não esperado;
Tabela 11: Determinantes da Inflação de Preços em Angola:
Coeficiente
Variável s Erro Padr. t-Estatística Prob.
Coeficiente
Variáveis s Erro Padr. t-Estatística Prob.
G. Resumo e Conclusões
53. Os resultados obtidos com o modelo básico estão reproduzidos na Tabela 17. Observa-se que
variações no agregado monetário têm, contemporaneamente, um pequeno impacto sobre a
variação no IPC. Entretanto, esse impacto é bastante diferente quando o agregado monetário
considerado é M1 ou M2. O agregado M2 provoca o dobro do impacto de M1 sobre a variação
do IPC. A inércia do processo inflacionário repousa, nesse modelo, no custo de reter moeda
aqui representado pela variação de preços desfasada de dois períodos. Os coeficientes estimados
implicam uma transferência de 45% dessa variação desfasada para a variação de preços
observada no período. Similarmente, desvalorizações cambiais são transferidas aos preços em
30% (se M1 é usado) ou 25% conforme o agregado monetário considerado. O coeficiente da
variável usada para captar as flutuações de custo dos recursos importados não apresentou
significância estatística;
Modelo básico
Sem correcção nos resíduos Com correcção nos resíduos
M1 M2 M1 M2
R2 0,5302 0,6065 0,8945 0,8982
C 0,0076 0,0060 0,0126 0,0129
DLOG(M1) 0,0632 0,0139
DLOG(M2) 0,1189 0,0282
DLOG(TXC) 0,2928 0,2439 0,1816 0,1665
DLOG(PI) -0,0630 -0,1374 0,0071 -0,0670
DLOG(IPC(-2)) 0,4580 0,4598 0,3938 0,3885
MA(1) 0,0226 0,0200
MA(8) 0,9778 0,9773
SMA(12) 0,2073 0,2092
Valores em vermelho não são estatisticamente significativos. Os valores em itálico são significativos a
10%.
54. As correcções nos resíduos reduzem substancialmente o impacto das variáveis explicativas,
levantando a questão sobre a estabilidade das estimativas dos correspondentes parâmetros. Por
meio da introdução, de forma empírica, do processo de ajustamento procura-se obter mais
informações sobre os valores dos coeficientes das variáveis adoptadas na explicação do
processo inflacionário;
55. A Tabela 18 apresenta os resultados da introdução empírica de um processo dinâmico. São
quatro resultados decorrentes do uso de dois conceitos de agregado monetário e de duas taxas de
juros. Observa-se a redução do impacto contemporâneo da expansão monetária. Um aumento
em um ponto percentual, quer seja em M1 ou em M2, produz contemporaneamente uma
variação na mesma direcção de aproximadamente 0,05 ponto percentual nos preços quando a
taxa de juros usada é a de 91 dias. Para a taxa de 63 dias, os impactos monetários sobre os
preços são bem menores. Quando o agregado monetário considerado é M1 o impacto de sua
variação no tempo é mais duradouro, uma vez que variações em M1 há cinco períodos tem
efeito sobre a actual variação de preços. Quando M2 é considerado, a desfasagem máxima
encontrada foi de um período;
Tabela 18: Resumo dos resultados obtidos com o modelo dinâmico
56. Ao considerar o preço dos insumos internacionais em relação ao preço do petróleo, essa
variável emerge significante, com uma desfasagem de dois períodos. O seu coeficiente é
razoavelmente estável e nas quatro estimativas varia de 0,0317 a 0,0398. O mesmo se observa
para a taxa de juros; nas quatro formulações que consideram duas diferentes taxas de juros, seu
impacto sobre os preços é o mesmo: para cada um ponto percentual de aumento na taxa de
juros, os preços aumentam em 0,02 pontos percentuais;
57. O impacto da taxa de câmbio desfasada em dois períodos é praticamente o mesmo quer se
utilize M1 ou M2. Entretanto, o seu coeficiente é cinquenta porcento maior quando a taxa de
juros é a 91 dias. Nesse caso, o seu coeficiente está em torno de 0,32, similar ao valor estimado
para o modelo básico;
58. Com a correcção nos resíduos, conforme apresentado na Tabela 18, os efeitos da expansão
monetária passam a ser maiores para a taxa de juros de 63 dias. O mesmo ocorre para a taxa de
câmbio. De um modo geral, a contribuição de todas as variáveis, avaliada pelos seus
coeficientes, é reduzida, excepto para o IPC desfasado de dois períodos, cujo coeficiente varia
de 0,28 a 0,47;
Tabela 16: Resumo dos resultados obtidos com o modelo dinâmico com ajuste nos resíduos
59. Os resultados evidenciam que as variáveis escolhidas conseguem explicar grande parte da
inflação angolana, destacando-se, os componentes, inercial, sazonal, cambial e monetário. A
inercia deve estar ligada ao facto das rendas, contratos e outros preços estarem indexados à
inflação e à taxa de câmbio que é um factor explicativo da inflação. A referida indexação formal
ou informal é explicada pelo longo período de inflação alta vivida em Angola. O factor sazonal
pode estar ligado a razões culturais, mas pode ser também outros factores como concentração de
pagamentos em certos meses do ano. O factor cambial pode ser explicado pelo alto nível de
dolarização da economia, a dependência do país das importações.
H. Anexos
350
300
250
200
TVHIPC
150
TVHM2
100
50
0
Taxa de variação homóloga HIPC vs TXC
300
250
200
150
TVHIPC
100
TVHTXC
50
-50
300
250
200
150
TVHIPC
100 TVHPI
50
-50
I. Referências Bibliográficas