2.drama Romântica e Tragédia Clássica
2.drama Romântica e Tragédia Clássica
2.drama Romântica e Tragédia Clássica
de género).
Esta obra é caracteristicamente romântica, pela temática, pela ideologia e pelos valores que veicula:
✓A valorização do “eu” por oposição à sociedade- o percurso das personagens nomeadamente, Madalena e Maria ilustra o poder
avassalador da sociedade face à liberdade individual;
✓O apelo à liberdade de decisão- presente sobretudo na figura de Manuel de Sousa Coutinho, que prefere sacrificar o bem-estar
individual e familiar que entregar-se ao domínio espanhol.
✓A obsessão da morte/destruição- Maria e Madalena ficam aterrorizadas diante da eventual destruição da família, embora não o
confessem uma à outra.
✓O nacionalismo/patriotismo- é revelado pela fé colocada no regresso de D.Sebastião para restaurar o país dos espanhóis e pela
atitude patriotista de Manuel quando incendeia a sua casa para não ser ocupada pelos invasores. Há uma necessidade em valorizar a
nacionalidade e o orgulho português. Os retratos de D.João e de D.Manuel transmitem um final trágicos (dois patriotas derrotados
pelo destino) e o retrato de Camões e de D.Sebastião simbolizam a pátria e o orgulho nela (1º simboliza orgulho nacional e o 2º
representa esperança).
✓A ligação amor/morte- a impossibilidade do amor, quer paternal, quer matrimonial, conduz à morte (física de Maria e espiritual
de Madalena e de Manuel).
▪ recorre à prosa em substituição do verso e utiliza uma linguagem mais próxima da realidade vivida pelas personagens.
o Unidade de ação- a intriga deve ser simples, sem ações secundárias, aumentando assim a tensão dramática;
o Exposição- apresentação das personagens; esboço do conflito que surge associado a um mistério na origem das
personagens, provocado pela força do destino.
o Progressão dramática- desenvolvimento do conflito, originado pelo desafio das personagens à sua resolução (HYBRIS).
O conflito encaminha-se progressivamente para um clímax, ponto culminante da ação trágica, em que se desvenda o
mistério ligado a uma relação oculta (ANAGNÓRISE); o sofrimento das personagens que intensifica-se (PATHOS).
A dimensão trágica
De acordo com a classificação de Frei Luís de Sousa pelo próprio autor, a peça apresenta características que a aproximam quer do
drama romântico quer da tragédia clássica.
-Principais características trágicas da obra:
◆ número reduzido de personagens;
◆ personagens de elevado estatuto social e moral;
◆ ação única e que converge para o desenlace trágico;
◆ concentração temporal (progressão temporal, até culminar na madrugada da morte ou separação da família);
◆ concentração espacial (progressão espacial, terminando na Igreja de S. Paulo dos Domínicos);
◆ vestígios do coro da tragédia clássica, nas personagens Telmo e frei Jorge;
◆ presença de momentos e indícios trágicos.
Os indícios trágicos são sinais da fatalidade que se avizinha. Os indícios ou presságios podem surgir sob a forma de acontecimentos,
comportamentos, comentários, alusões ou informações que nem sempre são entendidos pelas personagens como sinais trágicos. Ao
longo da ação de Frei Luís de Sousa, há várias situações e elementos que contribuem para a criação de um ambiente de medo e de
suspeita e que funcionam como uma espécie de preparação para o desenlace trágico.
A DIMENSÃO TRÁGICA
• No que diz respeito à intriga trágica, é interessante verificar que há uma concentração
de personagens, de espaço e de tempo, como vimos, de modo que
nada seja supérfluo e que tudo contribua para a intensificação da tensão dramática.
• De notar que, de acordo com os factos históricos, D. Madalena tivera três filhos
do primeiro casamento, que são aqui eliminados, para que a aniquilação de
Maria represente, de facto, o extermínio completo da família.
• Da mesma forma, todo o desenrolar da ação converge para o desenlace trágico.
Mesmo o momento em que D. Manuel parece revoltar-se contra o destino,
incendiando o seu palácio, acaba por servir a fatalidade que se abate sobre as
personagens, na medida em que as obriga a família a mudar-se para o palácio
de D. João, local aonde este regressará.
Catarse — efeito purificador que O terror e a piedade desencadeados nos espectadores são
a tragédia deve ter nos espectadores: adensados pelo facto de a catástrofe se abater sobre uma família
ao desencadear o terror e a piedade, (na qual se inclui Telmo) que se ama profundamente e de todas
permitir-lhes-ia purificarem as suas as personagens serem profundamente retas e dignas.
emoções.
2. O Romantismo valoriza a ação do Homem, por isso o herói já não é joguete do destino, mas das próprias paixões
humanas.
3. O drama romântico pretende fazer uma maior aproximação da realidade. Assim Victor Hugo propõe uma aproximação
entre o sublime e o grotesco, conforme a vida real. Tem também preferência por temas nacionais.
Ação
Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele parte D.
João de Portugal, personagem vital que desaparece também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos
estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar durante sete anos mas em vão. Casa então com D.
Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem tem uma filha de 14 anos. D. Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de
intranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal facto acarretaria para Madalena uma
situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua filha. Esta é tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu.
Efectivamente D. João de Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.
Telmo Pais Afeiçoa-se a Maria Conflito de Sofre pela dúvida Não poderá resistir
Deseja que D. João consciência (III,4) constante que o a tantos desgostos
de Portugal tivesse Conflito com outras assalta acerca da
morrido (II, 4 e 5) personagens: -com morte de D. João
D. Madalena (I,2) de Portugal Sofre
-com D. Manuel (I, hesitando entre a
2) -com Maria (I,2) fidelidade a D. João
-com D. João de e a D. Manuel Sofre
Portugal (III, 4 e 5) a situação de Maria
Ação
A verosimilhança é perfeita
Uma semana justifica-se pela necessidade de distanciamento do acontecimento do ato I e da passagem a primeiro
plano dos referentes ao regresso de D. João de Portugal
O simbolismo do tempo: a sexta-feira fatal: II,10 – o regresso de D. João de Portugal faz-se no 21º aniversário da
batalha de Alcácer-Quibir (sexta-feira); morte de D. Sebastião (sexta-feira); visão de D. Manuel pela 1ª vez (sexta-feira)
Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o Tejo – felicidade aparente
Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso da fatalidade, a desgraça
Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono dos bens deste mundo. A cruz: elemento
conotador de morte e de esperança.
Marcas clássicas na obra
- A nível formal divide-se em três atos conforme a tragédia clássica
- Apresenta um reduzido número de personagens e estas são nobres de condição social e de sentimentos
- A ação desenvolve-se de forma trágica, apresentando todos os passos da tragédia antiga (o desafio, o sofrimento, o combate, o
conflito, o destino, a peripécia, o reconhecimento, o clímax e a catástrofe)
- O coro da tragédia clássica não existe mas está representado, de forma esporádica, nas personagens Telmo e Frei Jorge 12
CARACTERÍSTICAS CLÁSSICAS
- O conteúdo é de tragédia; é Garrett que o afirma na «Memória ao Conservatório
Real»;
- Número reduzido de personagens e de origem nobre;
- Felicidade ilusória; Madalena vive uma felicidade aparente;
- Os sentimentos de remorso (Manuel);
- O fatalismo; tudo se conjuga para que as personagens se precipitem para um fim
trágico:
* Os medos/terrores de Madalena deixam prever uma tragédia;
* O sebastianismo de Maria faz Madalena viver amargurada com o regresso de
D. João;
* O 2º casamento de Madalena, sem que o corpo do 1º marido tenha
aparecido, lança Madalena para um fim necessariamente trágico. Madalena é, em parte,
responsável pelo seu destino;
*A carta escrita por D. João, na véspera da batalha de Alcácer Quibir,
prometendo que regressaria é uma ameaça que paira sobre a cabeça de Madalena;
* A constante reprovação de Telmo, os seus agoiros, o seu sebastianismo
perseguem igualmente Madalena;
* A referência a Inês de Castro deixa no ar uma ameaça de tragédia (Acto I,
Cena I – monólogo de Madalena);
* A mudança do palácio de Manuel para o de D. João parece prender/
empurrar Madalena;
* Manuel, ao incendiar o seu próprio palácio, empurra Madalena para os
«braços» de D João. Manuel é, em parte, responsável pelo seu próprio destino;
* É o próprio Manuel que, ao incendiar o seu palácio, lembra a morte
desastrosa de seu pai, adivinhando quase que ele próprio está a ajudar o destino a conduzi-los
para um fim trágico;
* O fechamento do espaço: o espaço mais reduzido (cela), sem janelas e
austero «prende» as personagens numa «teia» invisível;
* A concentração do tempo (21 anos, 14 anos, 7 anos, 8 dias, um dia, hoje,
sexta-feira) tem igual função. Associado à 6ª feira (dia considerado aziago por Madalena –
celebrava-se 21 anos da batalha de Alcácer Quibir), temos o fatalismo do número sete,
associado ao número três; mais uma vez deixa adivinhar que aquele será o dia fatal, o dia em
que a tragédia se abaterá sobre a família;
* A própria Maria, diante do retrato do pai quando moço, sente pena por o pai
ter deixado a ordem de Malta, considerando que o hábito lhe ficava muito bem, deixa
antecipar quase a «morte» psicológica de Manuel e a reentrada na vida religiosa;
* O exemplo de soror Joana (tia de Maria) e do marido (acto incompreensível
para Madalena), mais uma vez, é um indício do destino final das duas personagens – convento;
- A unidade de acção; a tragédia grega exigia unidade de acção e aqui temos uma
acção única envolvendo uma família nobre portuguesa;
- A Hybris – desafio: Manuel desafia as autoridades espanholas ao incendiar o seu
palácio;
- O Pathos – sofrimento (de Manuel, de Madalena, etc.;
- A Agnórise – reconhecimento: a revelação da verdadeira identidade do Romeiro;
- O terror, a compaixão e a piedade: a tragédia deveria provocar sentimentos de terror
e de piedade no público. Quem ficará indiferente ao conflito interior de Manuel, à morte de
Maria, Manuel e Madalena?;
- Sobrevivência do coro, através de Telmo e dos salmos encontrados no Acto III;
- As personalidades de Manuel (até certo ponto), de Frei Jorge e de D. João de
Portugal.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
- A forma: está escrito em prosa;
- A feição nacionalista/ o patriotismo;
- O amor à liberdade – liberalismo;
- O cenário – não é um mero espaço, mas está carregado de significado;
- Não há unidade de espaço – o incêndio do palácio de Manuel obrigou à mudança de
espaço. A tragédia grega obrigava a que a acção decorresse no mesmo espaço (regra das 3
unidades – acção, tempo e espaço);
- Situações melodramáticas – morte de Maria em cena;
- Cenas violentas – incêndio do palácio;
- Amor – predomínio do amor sobre a razão, o que irá levar à desgraça;
- Sebastianismo;
- Crenças, agouros, visões, sonhos, mistérios;
- A religiosidade;
- O individualismo: a afirmação da própria individualidade;
- O tema da morte;
- O tempo – a noite;
- A mulher-anjo (Maria);
- A personalidade amorosa de Madalena;
- O herói marginal – Manuel
O ROMANTISMO VS. TRAGÉDIA CLÁSSICA
Na obra Frei Luís de Sousa, segundo indicado pelo próprio
autor em Memória ao Conservatório Real, existem dois estilos
facilmente identificáveis que convergem, o romantismo, do que
são característicos os “dramas”, que se opõe ao realismo; e a
tragédia clássica, que é trazida deste o tempo dos gregos,
cuja principal característica se prende no facto de, sobre
alguém que não tem culpa (não fez nada) cair uma tragédia
(desgraça) de forma a que o público sinta o efeito de
catarse.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS NA OBRA
Escrito em prosa;
Dividido em três atos (I, II e III);
Presença (e exaltação) de sentimentos fortes nas
personagens;
Exaltação do patriotismo, presente principalmente em D.
Manuel e D. João;
Personagens “anjo”, especialmente em Maria (inteligente,
perfeição);
A morte de Maria em palco;
A religião como consolo.
CARACTERÍSTICAS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA NA OBRA
A família condenada apesar de não ter culpa;
O erro de D. Manuel e D. Madalena em casar (sem saber se
D. João estava morto), que se chama Hybris;
A catarse no fim, ou seja, a sensação da audiência que a
sua vida pessoal não é tão má assim;
Os ambientes que mudam o estado de espírito que uma
forma um tanto subtil;
Poucos espaços e personagens;
Os conflitos interiores de Madalena e Telmo, que se
chama agón;
O reconhecimento de D. João de Portugal no Romeiro, que
se chama anagnórisis;
O aparecimento de D. João e as suas consequências
(casamento e filha ilegítimos), a que se chama
peripécia;
O clímax, quando se reconhece o Romeiro (que também
corresponde à anagnórisis);
O sofrimento das personagens ou o pathos, muito evidente
em D. Madalena;
A catástrofe, que é a dissolução da família e a morte de
Maria.