Os Mistérios de Família - 1. A "Senhora Brasileira" Que Era Um Senhor Português

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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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______________________
Os Mistérios de Família – 1. A senhora brasileira que era um senhor português
Resumo
Tema: o folhetim "Os Mistérios de Família", publicado no periódico "A Nova
Minerva" (RJ), fundado e editado por João Vicente Martins.
Publicação da história: em março (números 13, 14, 15 e 16), abril (número 19) e
julho de 1846 (número 32).
Período não coberto pela pesquisa: do número 21 ao 31 de "A Nova Minerva"
(exemplares não disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).
Atribuição de autoria (no periódico): Uma Senhora Brasileira.
Primeira menção à história: José Ramos Tinhorão, em "A Música Popular no
Romance Brasileiro", Volume 3, página 21, nota de rodapé número 13 (Editora 34,
1992).
Associação da história a João Vicente Martins: Orlando da Costa Ferreira, em
"Imagem e letra: introdução à bibliologia brasileira: a imagem gravada", página 214
(EdUSP, 1994).
Número de edições da história: 6, duas como "Suzana" (no periódico "O Grátis" e
como folheto, ambas em dezembro de 1844), e quatro edições como "Os Mistérios de
Família" (no periódico "A Nova Minerva"; como livro impresso [provavelmente]; no
periódico "Horas Vagas"; e no livro "Horas Vagas", todas em 1846).
Primeira versão de "Os Mistérios de Família": "Suzana", história publicada no
jornal "O Grátis" (RJ), a partir de dezembro de 1844 (números 7 e 9); exemplares
seguintes não disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Importância histórica de João Vicente Martins:


. Pioneiro da Homeopatia no Brasil, como discípulo do doutor francês Benoît (Bento)
Mure.
. Pioneiro do Espiritismo no Brasil, por sua utilização do "fluido vital" em
tratamentos médicos (mesmerismo).
. Fundador do Gabinete Português de Leitura no Recife, em 1850.
. Autor de uma das primeiras novelas no período inicial do romance brasileiro (a
partir de 1843, com "O Filho do Pescador"), "Suzana" (1844, primeira versão) e "Os
Mistérios de Família" (1846, segunda versão).
. Autor de um romance-verdade, "Gabriela Envenenada, ou a Providência", em 1847,
sobre o falecimento de uma menina após tratamento homeopático.
. Autor de vários livros e artigos sobre a Homeopatia.
. Provável autor da letra do "Hino à Homeopatia".
. Fundador dos periódicos "A Nova Minerva" (1845-1847) e "Horas Vagas" (1846),
ambos no Rio de Janeiro, e "O Médico do Povo" (1850), na Bahia e em Pernambuco.

Outros dados importantes sobre o autor:


. Nascimento: 16 de setembro de 1810, em Lisboa (Portugal).
. Profissão: médico-cirurgião.
. Mudança para o Brasil: 1837.
. Naturalização como brasileiro: 11 julho de 1853.
. Falecimento: 7 de julho de 1854, no Rio de Janeiro.
Os textos atualizados de "Suzana" e "Os Mistérios de Família": são
apresentados pela primeira vez, em texto atualizado, no número 2 desta série, disponível
nesta pasta do OneDrive, subpasta "Histórias inéditas".

__________________________________________

Apresentação
Segundo a maioria dos estudiosos brasileiros, "O Filho do Pescador", de Antônio
Gonçalves Teixeira e Sousa, é o primeiro romance nacional. Publicado em folhetins no
periódico "O Brasil" (RJ), de 6 de julho a 22 agosto de 1843, precedeu em um ano o
lançamento do romance "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo.
Nesse mesmo ano (1844) foram lançadas as novelas "Maria, ou Vinte Anos Depois",
de Joaquim Norberto de Souza Silva, e "Amância", de Domingos José Gonçalves de
Magalhães.
"Jerônimo Barbalho Bezerra", do escritor Vicente Pereira de Carvalho Guimarães,
nascido em Portugal, é considerado por alguns estudiosos o primeiro romance histórico
brasileiro. A obra saiu em 1845, o mesmo ano de publicação de "A Guerra dos
Emboabas", "Os Jesuítas na América" e "A Cruz de Pedra", três outros romances
históricos do mesmo autor.
Também em 1845, Joaquim Manuel de Macedo publicaria o romance "O Moço
Loiro", e Ana Eurídice Eufrosina de Barandas se tornaria a primeira escritora brasileira
de ficção ao lançar o conto romântico "Eugênia ou a Filósofa Apaixonada" em seu livro
"O Ramalhete ou Flores Escolhidas no Jardim da Imaginação".
Três capítulos de "Memórias de Agapito", o romance "perdido" de Gonçalves Dias
(na verdade, queimado pelo próprio autor), foram publicados no periódico "Arquivo
Maranhense" a partir de fevereiro de 1846.
Nesse mesmo ano, em março, a revista "A Nova Minerva" começou a publicar "Os
Mysterios de Familia, romance composto por Uma Senhora Brasileira". Tratava-se,
portanto, da segunda obra de ficção lançada por uma escritora brasileira — quem sabe,
até mesmo o primeiro romance de nossa literatura feminina, já que "Úrsula", de Maria
Firmina dos Reis, seria publicado 14 anos depois, em 1860.
Quem era a misteriosa "Senhora Brasileira?"
Deve-se o conhecimento da existência de "Os Mysterios de Familia" ao jornalista,
escritor e crítico José Ramos Tinhorão, em seu livro "A Música Popular no Romance
Brasileiro", Volume 3, página 21, nota de rodapé número 13 (Editora 34, 1992):
*
De fato, sem considerar como romance o livro Aventuras de Diófanes, de Teresa
Margarida da Silva e Orta, no século XVIII, um primeiro levantamento indica a
presença das seguintes romancistas no Brasil, apenas no século XIX: Uma senhora
brasileira (pseudônimo de escritora não identificada), autora do romance Os mistérios
de família, publicado na revista A Nova Minerva, do Rio de Janeiro, em março de 1846;
Maria Firmina dos Reis (São Luís, MA, 10/10/1825 - ?), Úrsula (São Luís: Tipografia
Progresso, 1858) [...]

"A Música Popular no Romance Brasileiro", José Ramos Tinhorão, Volume 3,


página 21, nota de rodapé número 13, Editora 34, São Paulo, 1992.
https://books.google.com.br/books?id=OBwO1nWnQz8C&lpg=PA21&ots=-
Dg3E3GtH0&dq=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20brasileira&hl=p
t-
BR&pg=PA21#v=onepage&q=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20br
asileira&f=false
*****
A datação é inquestionável: "Os Mistérios de Família" precedeu "Úrsula" em 14
anos. Restavam dois pontos em questão: (1) um enigma: quem era a tal Senhora
Brasileira; e (2) uma avaliação técnica: "Os Mistérios da Família" era mesmo um
romance? Como se sabe, nos primórdios da ficção brasileira foram publicados vários
"romances" que não passariam, hoje, de contos ou, no máximo, noveletas.
Nesse segundo ponto, quanto a "Úrsula" não há dúvidas: a história se estende por
quase 200 páginas, e sua estrutura é semelhante à dos romances atuais.
A única instituição onde se pode consultar a revista "A Nova Minerva", atualmente, é
a Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro. Os exemplares da publicação estão
disponíveis para visualização na internet, em sua hemeroteca digital. Pesquisando-se nas
páginas, chegamos aos seguintes fatos:
1. O romance "Os Mistérios de Família" foi lançado em março de 1846, no número
13 (Tomo I) da revista, iniciando-se na página 9. Intitulava-se "Os Mysterios de
Familia. Romance composto por Uma Senhora Brasileira". Nesse número se
estabeleceu a formatação em duas colunas por página, mantida até o final da história.
Cada edição da revista apresentava 4 páginas, ou 8 colunas do romance, finalizadas com
o aviso (Continua). A primeira página era precedida de uma gravura mostrando dois
homens sentados à beira de uma sepultura.
Um ponto importante: todas as gravuras da história tinham por título "Mysterios de
Familia", mas o início da história trazia o título "Os Mysterios de Familia". Veremos
mais à frente por que essa diferença de títulos é uma pista para o verdadeiro autor da
obra.

Número 13

Página 8 (a gravura): http://memoria.bn.br/docreader/718610/234


"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 13, março de 1846, páginas 8, 9, 10, 11 e
12.
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/235
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/236
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/237
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/238
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00013.pdf
2. A publicação do romance se estendeu sem interrupção até o número 16. No
número 14, ainda em março de 1846, o autor finalizou o primeiro e depois o segundo
capítulo, e iniciou o terceiro capítulo da história. A exemplo do número 13, uma gravura
precedia a história; neste caso, uma cena de casamento:
Número 14
"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 14, março de 1846, páginas 8, 9, 10, 11 e
12.
Página 8 (a gravura): http://memoria.bn.br/docreader/718610/252
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/253
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/254
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/255
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/256
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00014.pdf
No número 15, também de março de 1846, o autor desenvolveu o terceiro capítulo. A
gravura inicial mostrava uma mulher ajoelhada a uma janela, e outra mulher de pé a seu
lado.

Número 15

"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 15, março de 1846, páginas 8, 9, 10, 11 e
12.
Página 8 (a gravura): http://memoria.bn.br/docreader/718610/270
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/271
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/272
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/273
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/274
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00015.pdf
No número 16, o autor terminou o terceiro capítulo, continuou a história com o
quarto e o quinto capítulos (bem curtos), e passou para o sexto capítulo. Na gravura
inicial, uma mulher junto a um leito exibia um bebê a uma mulher acamada.

Número 16

"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 16, março de 1846, páginas 8, 9, 10, 11 e
12.
Página 8 (a gravura): http://memoria.bn.br/docreader/718610/288
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/289
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/290
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/291
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/292
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00016.pdf
3. No número 17, já em abril de 1846, interrompeu-se a publicação da história. Na
página 9, o editor escreveu o seguinte recado aos leitores, no final da segunda coluna:

Número 17
No número seguinte continuaremos com os Mistérios de Família que por um
obstáculo não damos neste número.
"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 17, abril de 1846, página 9, segunda
coluna.
Página 9: http://memoria.bn.br/DocReader/718610/305
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf
4. No número 18, novamente um aviso no final da segunda coluna, à página 8:

Número 18
O não ter-se acabado na litografia a estampa correspondente à parte dos Mistérios de
Família que segue ao que tem-se já publicado, tem impedido a sua publicação, porém
desde o número seguinte continuará infalivelmente.

"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 18, abril de 1846, página 8, segunda
coluna.
Página 8: http://memoria.bn.br/DocReader/718610/318
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00018.pdf
5. No número 19 cumpriu-se a promessa do editor. A história retornou às páginas de
"A Nova Minerva", com o final do capítulo 6 e com os capítulos 7, 8 e 9 (este
provavelmente em parte). Dessa vez, a gravura não precedia a história.

Número 19
"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 19, abril de 1846, páginas 9, 10, 11 e 12.
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/332
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/333
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/334
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/335
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00019.pdf
6. O número 20, também em abril de 1846, provou que a promessa do editor estava
mais para desejo do que para capacidade. Além de não apresentar a continuidade da
história, faltou desta vez qualquer aviso aos leitores. E uma "Novella historica sobre
factos da recente historia de Portugal", intitulada "Jacintho e Manoel, ou A Familia de
Oliveira, Victima dos Partidos", ocupou o lugar de "Os Mysterios de Familia", da
página 9 à 12.

Número 20

"A Nova Minerva" (Rio), Tomo I, número 20, abril de 1846, página 9.
Página 9 (início da novela): http://memoria.bn.br/docreader/718610/348
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00020.pdf
7. O acervo digital da Biblioteca Nacional não possui as edições de números 21 a 31
da revista "A Nova Minerva".
8. A edição seguinte, de número 32 (julho de 1846), trouxe a segunda e última parte
de "Os Mysterios de Familia". Não há gravura antecedendo a história. Mas nota-se uma
novidade editorial: a revista passava de 16 páginas por número a 154 páginas.

Número 32

"A Nova Minerva" (Rio), Tomo II, número 32, julho de 1846, páginas 9, 10, 11 e 12.
Página 9: http://memoria.bn.br/docreader/718610/365
Página 10: http://memoria.bn.br/docreader/718610/366
Página 11: http://memoria.bn.br/docreader/718610/367
Página 12: http://memoria.bn.br/docreader/718610/368
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00032.pdf
***
Quantos números de "A Nova Minerva", das edições de 21 a 31, continham capítulos
da história? Esse conhecimento seria fundamental para avaliar se "Os Mysterios de
Familia" é ou não um romance.
Há uma descontinuidade evidente entre o parágrafo final do número 19 e o início da
segunda parte no número 32, indicando que a história teve um bom desenvolvimento
entre essas edições. Mas quanto?
A investigação sobre Os Mysterios de Familia e sua autora
O conhecimento dessa história misteriosa de uma autora misteriosa impôs uma
dúvida razoável de que "Os Mysterios de Familia" pudesse, na verdade, ser o primeiro
romance escrito por uma brasileira. Também levou à ideia de transcrição atualizada
dessa obra que introduzia uma nova e importante autora em nossa literatura, talvez
mesmo a primeira romancista nacional.
Finalizada a transcrição do texto, uma pesquisa realizada na Web, nos dias seguintes,
revelou novidades surpreendentes:
1. A pesquisa por "senhora brasileira" no acervo digital da Biblioteca Nacional (cerca
de 200 resultados), levou a uma história intitulada "Suzana ─ Novella composta por
uma Senhora Brasileira", publicada no periódico "O Grátis" em dezembro de 1844. A
leitura do texto provou ser esta a mesma história de "Os Mysterios de Familia", mas em
sua primeira versão, mais reduzida.
Repare que o autor denominou a história como "novela", e não como "romance".
A Biblioteca Nacional possui apenas os números 4, 6, 7, 8 e 9 da publicação. Os
números 7 e 9 contêm as duas primeiras partes da história.

"Suzana, Novella composta por uma Senhora Brasileira"


"O Gratis" (Rio), 3/12/1844, número 7, páginas 2 (segunda coluna) e 3 (primeira
coluna).
Página 2: http://memoria.bn.br/DocReader/719668/6
Página 3: http://memoria.bn.br/docreader/719668/7
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/719668/per719668_1844_00007.pdf
"O Gratis" (Rio), 7/12/1844, número 9, páginas 2 (primeira e segunda colunas) e 3
(primeira coluna).
Página 2: http://memoria.bn.br/docreader/719668/12
Página 3: http://memoria.bn.br/docreader/719668/13
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/719668/per719668_1844_00009.pdf
Nessa mesma publicação encontram-se dois anúncios de "Suzana": o primeiro em
5/12/1844, na página 2, no qual o título aparece como "Susana", e o segundo em
7/12/1844, na página 3, no qual esse título alternativo se repete.

"O Gratis" (Rio), 5/12/1844, número 8, página 2, primeira coluna.


http://memoria.bn.br/docreader/719668/10
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/719668/per719668_1844_00008.pdf

"O Gratis" (Rio), 7/12/1844, número 9, página 3 (segunda coluna).


http://memoria.bn.br/docreader/719668/13
O número em PDF: http://memoria.bn.br/pdf/719668/per719668_1844_00009.pdf
2. A pesquisa por "suzana, novela composta por uma senhora brasileira" levou a uma
tese de doutorado de César Agenor Fernandes da Silva (2010), na qual a listagem final
de revistas literárias publicadas no Rio de Janeiro entre 1808 e 1852 contém a única
referência a esta novela em toda a internet, nos números de 7 e 9 de dezembro:

"Ciência, técnica e periodismo no Rio de Janeiro (1808-1852)", página 285, César


Agenor Fernandes da Silva, tese de doutorado em História, Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Franca, 2010.
http://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/cesaragenor.pdf
http://livrozilla.com/doc/812905/c%C3%A9sar-agenor-fernandes-da-silva-franca-2010
3. A busca no Google Books por "mistérios de família" levou a um resultado
intrigante: uma história com esse título, publicada em livro lançado em 1846 ("Horas
Vagas") por um autor português residente no Brasil (João Vicente Martins). A
informação consta do "Diccionario bibliographico portuguez, Estudos de Innocêncio
Francisco Da Silva aplicáveis a Portugal e ao Brasil", Volume 4, página 49 (Imprensa
nacional, 1860).
*
1362) Horas vagas de João Vicente Martins, consagradas á Imperial Sociedade
Amante da Instrucção. Rio de Janeiro, Typ. de M. A da Silva Lima 1846. 8º gr. De 52
pag. Com um rosto e dedicatoria gravados a buril, e seis estampas lithographadas. ― A
primeira parte d'esta publicação intitula-se: Mysterios de familia. Não consta que o
auctor proseguisse na continuação.
"Diccionario bibliographico portuguez, Estudos de Innocêncio Francisco Da Silva
aplicáveis a Portugal e ao Brasil", Volume 4, página 49, Imprensa nacional, 1860.
https://books.google.com.br/books?id=HIHRyg50fbIC&dq=%22mysterios%20de%2
0familia%22&hl=pt-
BR&pg=PA49#v=onepage&q=%22mysterios%20de%20familia%22&f=false
*****
Repare que o título não continha o artigo Os da história publicada em "A Nova
Minerva". Mas o ano e a expressão do título constituíam uma coincidência mais do que
interessante.
4. A busca por "Horas Vagas", então, levou a um site de leilões que havia oferecido
esta obra (sem compradores) em 2015. Felizmente, as fotos do livro continuavam na
página. Clicar na única foto com texto revelou a primeira gravura do romance "Os
Mysterios de Familia", além de uma página com o mesmo texto daquela história
(imagem 3).
A ampliação que permitiu verificar a identidade entre os textos.
http://www.flaviasantosleiloes.com.br/peca.asp?ID=978162&ctd=108
"Uma senhora brasileira" era, portanto, o pseudônimo de um escritor português
radicado no Brasil, ou seja, um senhor português.
Imediatamente, redigi uma mensagem na página apropriada do site, expressando meu
interesse em comprar o exemplar não leiloado, caso ainda estivesse de posse daquela
casa. Dois dias depois, uma resposta me informou que o livro não mais pertencia mais à
empresa.
5. A continuidade da pesquisa revelou que um autor brasileiro, Orlando da Costa
Ferreira, já atribuía, em 1994 (dois anos depois da referência de José Ramos Tinhorão),
a história "Os Mysterios de Familia" a João Vicente Martins, associando-a também ao
periódico "A Nova Minerva".
*
Não é aqui o lugar próprio para relatar os incríveis constrangimentos por que passaria
o idealista português, frente às perenes campanhas movidas por seus colegas alopatas
[João Vicente foi o introdutor da homeopatia no Brasil], mas apenas as suas atividades
literárias. Entre elas está, por exemplo, a revista Nova Minerva (1845-1846), onde, sob
o pseudônimo de "Uma Senhora Brasileira", publicou o folhetim inacabado "Os
Mistérios de Família", ilustrado com litografias de Auguste Moreau. Encerrada a
publicação dessa revista, Martins tentou outro periódico com o título de Horas Vagas,
como querendo justificar o seu "violino de Ingres" [foco alternativo de dedicação
profissional], mas que não passou do "caderno I". Tinha uma capa alegórica de sua
autoria litografada por Paulo Ludwig e continha, apenas, sem contar as preliminares, o
mesmo folhetim inacabado.
https://books.google.com.br/books?id=BCz9BWaBRLQC&lpg=PA214&ots=wB7rg
ItzIQ&dq=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20brasileira&hl=pt-
BR&pg=PA214#v=onepage&q=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20b
rasileira&f=false
*****
A obra de Orlando intitula-se "Imagem e letra: introdução à bibliologia brasileira: a
imagem gravada" (EdUSP, 1994), e o trecho acima está na página 214.

http://www.edusp.com.br/detlivro.asp?id=32973
Ponto para o Google Books. Quem pesquisaria em um livro de bibliologia para
encontrar o verdadeiro autor de uma misteriosa história dos primórdios da ficção
brasileira?
6. Além desses resultados, encontrei outra menção a "Os Mysterios de Familia" na
obra "Frestas e arestas: a prosa de ficção do romantismo na Alemanha e no Brasil"
(Unesp, segunda edição, 1999), de autoria de Karin Volobuef. Na nota de rodapé 10 da
página 165, lê-se:
*
No âmbito do romance de folhetim, Tinhorão (1944, p.39-40, 53 e 59) enumera
também a autora de Os mistérios de família (1846) que, tendo assinado como "Uma
senhora brasileira", é de identidade desconhecida, [...]

"Frestas e arestas: a prosa de ficção do romantismo na Alemanha e no Brasil", página


165, nota de rodapé número 10, Karin Volobuef, Universidade Estadual de São Paulo
(Unesp) segunda edição, 1999.
https://books.google.com.br/books?id=lyRCZWGlo1AC&lpg=PA165&ots=QCpxkR
W64W&dq=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20brasileira&hl=pt-
BR&pg=PA165#v=onepage&q=%22misterios%20de%20familia%22%20senhora%20b
rasileira&f=false
*****
7. Outro resultado curioso foi a entrada na obra francesa "Nouvelle revue
encyclopédique", publicada em 1846. Na seção referente a publicações brasileiras à
venda, lê-se:
*
A Nova Minerva, revista dedicada às sciencias, artes, litteratura e costumes. ― 23º
numéro, grand in-8º. (1846).
Os mysterios de familia, romance por una senhora brasileira.

"Nouvelle revue encyclopédique", página 160, Librairie de Firmin-Didot Frères,


Paris, 1846.
https://books.google.com.br/books?id=iHwMJs8BBQ4C&lpg=PA160&ots=5Hs4rk5
yly&dq=%22mysterios%20de%20familia%22%20senhora%20brasileira&hl=pt-
BR&pg=PA160#v=onepage&q=%22mysterios%20de%20familia%22%20senhora%20
brasileira&f=false
*****
A entrada sobre a história, desconectada da entrada sobre a revista, parece sugerir
que o folhetim teria sido lançado em livro, com o mesmo título, naquele ano.
8. Por fim, uma surpresa dupla. O Google Books retornou um resultado para "Horas
Vagas' no "Catálogo dos livros do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro,
seguido de um supplemento das obras entradas no Gabinete depois de começada a
impressão", publicado em 1858 pelo Real Gabinete Português de Leitura (página 257).
*
4673 - 1 - Horas vagas de João Vicente Martins, consagradas à Imperial Sociedade
Amante da Instrucção: em 8º, Rio de Janeiro 1846.

"Catalogo dos livros do Gabinete Portuguez de Leitura no Rio de Janeiro, seguido de


um supplemento das obras entradas no Gabinete depois de começada a impressão",
página 257, editor Manuel de Mello, Real Gabinete Portuguez de Leitura, 1858.
https://books.google.com.br/books?id=eiE4AQAAMAAJ&lpg=PA257&ots=R5ugcb
dCYl&dq=%22horas%20vagas%22%20%22jo%C3%A3o%20vicente%20martins%22
&hl=pt-
BR&pg=PA257#v=onepage&q=%22horas%20vagas%22%20%22jo%C3%A3o%20vic
ente%20martins%22&f=false
*****
Ou seja, o livro se encontra disponível a historiadores e pesquisadores, no centro do
Rio de Janeiro, há 161 anos.
A consultar ao catálogo online do Real Gabinete, em
http://www.realgabinete.com.br/portalWeb/, permitiu encontrar não um, mas três
exemplares da obra.
O site da Biblioteca Nacional não registra nenhum exemplar.
Durante muitos anos, "Horas Vagas", assim como outros livros de João Vicente
Martins, foi divulgado no anúncio da Botica Central Homeopathica, a primeira farmácia
homeopática brasileira, mantida pela viúva do médico e escritor após a morte de
Martins em 1854.
"Correio Mercantil" (Rio), 1/8/1855, número 211, página 4, segunda e terceira
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/10707
Um anúncio do livro saiu mais de 30 anos depois, na "Gazeta de Notícias" (Rio).

"Gazeta de Noticias", 22/12/1884, número 357, página 4, terceira coluna (em "Livros
Baratissimos").
http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/7996
*****
Resumindo. Cabe a José Ramos Tinhorão a descoberta da história "Os Mysterios de
Familia", em 1992, e a Orlando da Costa Ferreira a primazia da informação sobre o seu
verdadeiro autor, em 1994. Ao escritor do presente artigo cabe somente a descoberta da
primeira versão da história, intitulada "Suzana", em 2017, e a primazia da atualização
do texto das duas versões, em 2019.
A pesquisa revelou que a história de José Vicente Martins saiu em três periódicos
diferentes no espaço de menos de dois anos: "O Grátis" (como "Suzana"), em dezembro
de 1844; "A Nova Minerva" (como "Os Mysterios de Familia'), de março a julho de
1846; e "Horas Vagas" (como "Mysterios de Familia").
Saiu também em folhetos, em 1844 (como "Suzana"); provavelmente em livro, em
1846 (como "Mysterios de Familia"); e novamente em livro, também em 1846, na
compilação do conteúdo do periódico "Horas Vagas".
Esta história, publicada seis vezes nos primórdios da ficção nacional, em curto
período de tempo, jamais entrou para o centro das discussões literárias, embora fosse
razoável a suspeita de que pudesse ser o primeiro romance escrito por uma mulher
brasileira. Seu verdadeiro autor, João Vicente Martins jamais foi citado em cronologias
da ficção nacional em relação a essa história.
"Suzana" (1844) é a quinta obra de ficção da nossa literatura, a partir de "O Filho do
Pescador", o primeiro romance nacional (1843). Mesmo se considerarmos apenas o
folhetim "Os Mysterios de Familia" lançado em março de 1846 na revista "A Nova
Minerva", João Vicente Martins teria escrito a décima primeira história da ficção
brasileira, usando-se o mesmo referencial de partida.
Não há mais dúvidas quanto à primazia de Maria Firmina dos Reis: "Úrsula" (1860)
é de fato o primeiro romance escrito por uma brasileira, já que a Senhora Brasileira de
"Os Mysterios de Familia" se tratava de um pseudônimo criado por um homem,
provavelmente para atrair o público leitor feminino aos seus periódicos. A Senhora
Brasileira era um Senhor Português (radicado no Brasil).
Falta, assim, o reconhecimento da importância histórica de João Vicente Martins nos
primórdios de nossa literatura de ficção, algo que lhe está sendo devido há 175 anos.
João Vicente Martins, o autor de "Os Mistérios de Família"
O cirurgião português João Vicente Martins (1810-1854) tornou-se conhecido como
um pioneiro da homeopatia e do espiritismo no Brasil.
Além da atividade nessas áreas, fundou e editou vários periódicos destinados a
divulgar a Ciência e, em especial, a Homeopatia. Em dois desses periódicos, "A Nova
Minerva" e "Horas Vagas", publicou uma história de ficção de sua autoria, "Os
Mistérios de Família", a qual era atribuída, nessas publicações, a "uma senhora
brasileira".
Esta gravura introduzia a seção sobre Homeopatia no periódico "A Nova Minerva":

"A Nova Minerva", Tomo I, número 1, página 17.


http://memoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00007.pdf

"A Nova Minerva", Tomo I, número 1, página 18.


http://memoria.bn.br/docreader/718610/18
.Alguns artigos eram assinados pelo médico e escritor.
"A Nova Minerva", Tomo I, número 2, página 18.
http://memoria.bn.br/docreader/718610/41
O Tomo Quarto do "Dicionário Bibliográfico Português", obra de Inocêncio
Francisco da Silva, oferece uma biografia bem detalhada sobre João Vicente Martins,
com destaque para suas várias obras de divulgação da Homeopatia.
"Diccionario Bibliographico Portuguez", Tomo Quarto, páginas 48 a 52, Inocêncio
Francisco da Silva, Imprensa Nacional, Lisboa, 1860.
https://books.google.com.br/books?id=3psoyvNvRs4C&lpg=PA49&ots=aAKHh2eq
q3&dq=%22jo%C3%A3o%20vicente%20martins%22&hl=pt-
PT&pg=PA49#v=onepage&q=%22jo%C3%A3o%20vicente%20martins%22&f=false
Download da obra:
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5421
No Tomo Décimo do mesmo dicionário, publicado em 1883, reproduziu-se o
necrológio redigido em 13 de julho de 1854 por Augusto Emílio Zaluar, o autor de "O
Doutor Benignus" (1874), o primeiro romance de ficção científica de escritor latino-
americano.
"Diccionario Bibliographico Portuguez", Tomo Décimo (terceiro do Supplemento),
J-H, Brito Aranha, Imprensa Nacional, Lisboa, 1883.
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5438
Na área da literatura, João Vicente Martins também se destacou pela fundação do
Gabinete Português de Leitura na cidade de Recife, em 3 de novembro de 1850. A
iniciativa é relatada no site do próprio instituto.

http://www.gplpe.com.br/site/home/historico
Uma medalha comemorativa do centenário de fundação do Gabinete Português de
Leitura em Pernambuco foi objeto de leilão em 2015. Nela, reproduzia-se o retrato mais
conhecido do autor.
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=158962
O retrato é este, publicado no livro "A Prática Elementar da Homeopatia pelo Doutor
Mure", edição de 1865.

http://www.harpyaleiloes.com.br/peca.asp?ID=347437
A divulgação da homeopatia levou João Vicente Martins a fundar, além dos
periódicos "A Nova Minerva" e "Horas Vagas", o jornal "O Médico do Povo", este na
Bahia, em parceria com o médico brasileiro Alexandre José de Moraes.
"Diario do Rio de Janeiro", 25/10/1850, número 8530, página 3, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/35211
O jornal também foi publicado em Pernambuco, a partir de outubro de 1850. Os 21
primeiros números do periódico estão disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional.
"O Médico do Povo", 2/10/1850, número 1, página 1.
http://memoria.bn.br/DocReader/822337/1

"O Médico do Povo", outubro de 1850, número 2, página 8, última coluna.


http://memoria.bn.br/DocReader/822337/8
Pouco mais de um ano antes do falecimento, João Vicente Martins conseguiu a
naturalização como brasileiro.
"Diario do Rio de Janeiro", 2/7/1853, número 178, página 1, terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/38635
Em 11 de julho de 1853, o médico prestou o juramento de obediência e fidelidade,
reconhecendo o Brasil como a sua pátria.

"Diario do Rio de Janeiro", 15/7/1853, número 191, página 1, penúltima coluna.


http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/38687
O necrológio redigido pelo escritor Augusto Emílio Zaluar (autor do romance "O
Doutor Benignus") saiu no "Diário do Rio de Janeiro" em 14 de julho de 1854. João
Vicente Martins havia falecido em 7 de julho.
"Diario do Rio de Janeiro", 14/7/1854, número 192, página 2, primeira e segunda
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/40138
Abaixo, o registro do falecimento do médico homeopata na publicação "Ilustração
Brasileira", no número de junho de 1854.
"Illustração Brasileira", junho de 1854, número 5, página 23, primeira e segunda
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/758370/684
As fontes na Web informam duas datas de falecimento: 7 e 8 de julho de 1854. A
publicação acima sugere que o médico falecera bem antes (o número é de junho de
1854). Mas a informação correta é esta:

"Correio Mercantil" (Rio), número 189, página 2, penúltima coluna (em "Tributo de
respeito ao humanitario João Vicente Martins", do Dr. Mello Moraes).
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/9176
O pioneiro da homeopatia e do espiritismo no Brasil faleceu em 7 de julho, de 1854,
sendo sepultado no dia seguinte.
Uma confirmação:

"Livro do 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia", página 56, Instituto


Hahnemanniano do Brasil, Rio de Janeiro, 1928.
https://pt.scribd.com/document/230157184/Livro-Do-1%C2%BA-Congresso-
Brasileiro-de-Homeopathia
Em 2 de agosto do mesmo ano, o escritor Augusto Emílio Zaluar publicou no "Jornal
do Commercio" um novo texto elogioso de despedida ao amigo, intitulado "A morte de
João Vicente Martins". Abaixo, os trechos inicial e final.

"Jornal do Commercio", 2/8/1854, número 218, página 2, segunda coluna.


http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/7299

No Brasil, além de pioneiro da homeopatia, João Vicente Martins é também


considerado pioneiro do espiritismo. A atividade dele e do médico francês Benoît
(Bento) Mure se desenvolveu antes mesmo da publicação da primeira obra de Allan
Kardec ("O Livro dos Espíritos", 1857), e era baseada nas teorias do médico alemão
Franz Mesmer 91734-1815) sobre o "magnetismo animal".
"Disputas simbólicas entre católicos e espíritas no primeiro centenário do
Espiritismo", Marilane Machado, "Oficina do Historiador", Volume 7, número 2, julho-
dezembro de 2014, página 75, Porto Alegre, Editora da Pontifícia Universidade do Rio
Grande do Sul (EDIPUCRS).
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/viewFile/
16380/12435
"Gabriela Envenenada", o romance-verdade de João Vicente Martins
A única obra de João Vicente Martins incluída atualmente na cronologia da ficção
brasileira é "Gabriela Envenenada, ou a Providência" (1847), um romance baseado em
caso famoso de ataque à homeopatia.
A menina Gabriella Narcisa Mendes de Araújo faleceu depois de ser tratada pelo Dr.
Thomas Cochrane, amigo do romancista José de Alencar. Instaurou-se, então um
inquérito policial no Rio de Janeiro por causa do atestado de óbito do médico alopata
que a atendeu logo antes do falecimento, o qual identificou como causa da morte da
menina o "envenenamento por homeopatia".
O caso se insere na polêmica acirrada entre os médicos alopatas e os primeiros
praticantes nacionais da homeopatia, introduzida no país pelo doutor francês Benoît
(Bento) Mure e seu discípulo João Vicente Martins. Essa polêmica se entendeu durante
anos nos periódicos nacionais, em especial os do Rio de Janeiro.
A ideia vigente no meio médico da época, de que os pacientes falecidos sob os
cuidados de homeopatas deveriam ter ido à óbito por causa desse novo tipo de
tratamento, foi aplicada no caso Gabriela, e o atestado de óbito justificou novos ataques
aos homeopatas. Os trechos abaixo, copiados do "Livro do 1º Congresso Brasileiro de
Homeopatia", resumem o caso.

"Livro do 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia", página 377, Instituto


Hahnemanniano do Brasil, Rio de Janeiro, 1928.
https://pt.scribd.com/document/230157184/Livro-Do-1%C2%BA-Congresso-
Brasileiro-de-Homeopathia
"Livro do 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia", páginas 379 e 380, Instituto
Hahnemanniano do Brasil, Rio de Janeiro, 1928.
https://pt.scribd.com/document/230157184/Livro-Do-1%C2%BA-Congresso-
Brasileiro-de-Homeopathia
Essa polêmica está amplamente descrita no livro indicado acima.
O próprio João Vicente Martins veio a publicar, no início de 1847, um anúncio pago
no "Diário do Rio de Janeiro", intitulado "Graças a Deus. Deus protege a Homeopatia",
relatando o verdadeiro motivo da morte de Gabriela.
"Diário do Rio de Janeiro", 4/1/1847, número 7396, página 2, última coluna.
http://memoria.bn.br/docreader/094170_01/30620
Em 14 de maio de 1847, um texto de João Vicente Martins ocupou todo o
suplemento do "Jornal do Commercio" (duas páginas), no qual se divulgavam a defesa
da homeopatia no caso Gabriela e o lançamento de seu romance-verdade, constituído de
uma história ficcionalizada da morte da menina e de três apêndices de defesa da
homeopatia.
"Jornal do Commercio", 14/5/1847, número 133, páginas 5 e 6.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/10878
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/10879
Eis o anúncio do livro, na última página do suplemento.

"Jornal do Commercio", 14/5/1847, número 133, página 6.


http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/10879
Abaixo, a informação sobre o conteúdo do livro registrada no "Livro do 1º
Congresso Brasileiro de Homeopatia".
"Livro do 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia", página 399, Instituto
Hahnemanniano do Brasil, Rio de Janeiro, 1928.
https://pt.scribd.com/document/230157184/Livro-Do-1%C2%BA-Congresso-
Brasileiro-de-Homeopathia
Esse livro reproduziu o "Hino à Homeopatia" constante das páginas de "Gabriela
Envenenada".
"Livro do 1º Congresso Brasileiro de Homeopatia", páginas 400 e 401, Instituto
Hahnemanniano do Brasil, Rio de Janeiro, 1928.
https://pt.scribd.com/document/230157184/Livro-Do-1%C2%BA-Congresso-
Brasileiro-de-Homeopathia
O terceiro apêndice do livro foi publicado no "Jornal do Commercio" de 15 de
agosto do mesmo ano.
"Jornal do Commercio", 15/8/1847, número 225, página 3, quarta e quinta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/11308
O site de leilões Levy Leiloeiro ofereceu um exemplar da obra (raríssima) em abril
de 2017, contendo somente os apêndices.
GABRIELLA ENVENENADA OU A PROVIDENCIA Obra de JOAO VICENTE
MARTINS, 1847. 15cm x 21cm.
Obra constituída da capa da narrativa Gabriella envenenada ou A providência,
editada em 1847, pelo médico português Dr. João Vicente Martins (1810-1854), 1o.
secretário do Instituto Homeopático do Brasil (1843), seguida de três partes,
denominadas Appendices, de defesa da Homeopatia, principalmente da acusação de
envenenamento e morte da menina Gabriella (1836 -1846) tratada até seu falecimento,
pelo médico homeopata Dr. Thomas Cochrane.
O primeiro, "Polemica sobre o supposto envenenamento de Gabriella", reúne cartas,
publicadas no Jornal do Commercio e Brasil em 1846 e 1847, envolvendo os Drs.
Bernardino José Rodrigues Torres e José Martins da Cruz Jobim, médicos alopatas, o
homeopata francês Dr. Benoit Jules Mure, o próprio Dr. João Vicente Martins, e outros.
O segundo, "Callumnia Allopathica ou Os Envenenamentos Imaginários", reúne
artigos publicados também no Jornal do Commercio de reflexões do autor em prol da
Homeopatia.
O terceiro, "Opiniões acerca do supposto envenenamento de D. Maria Henriqueta
dos Santos", alude a mais um episódio no embate entre as duas correntes da Medicina.
Por fim, há reprodução da capa da publicação Horas Vagas, também do Dr. João
Vicente Martins.
Encadernação conjunta em capa dura recente, em bom estado, com algumas páginas
restauradas. Alguns furinhos de inseto nas últimas páginas, sem prejudicar a leitura.
Pequeno desgaste na extremidade de algumas páginas. Na lombada há gravado como
título Gabriella envenenada ou A providência. Livro em bom estado de conservação.
Corte amarelado.
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=343526
Aparentemente, o único exemplar disponível pertence ao Real Gabinete Português de
Leitura.

http://www.realgabinete.com.br/
A instituição recebeu o exemplar das mãos do próprio João Vicente Martins, em
1847.
"Jornal do Commercio", 24/7/1847, número 203, página 3, primeira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/11208
João Vicente publicou vários anúncios do seu romance nos periódicos do Rio de
Janeiro.

"Jornal do Commercio", 22/5/1847, número 141, página 4, última coluna.


http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/10920
"Jornal do Commercio", 28/5/1847, número 146, página 4, segunda e terceira colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/10943

"Jornal do Commercio", 9/12/1847, número 339, página 4, quarta coluna.


http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/11779

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