Latim e A Língua Portuguesa
Latim e A Língua Portuguesa
Latim e A Língua Portuguesa
ESCOLA DE HUMANIDADES
LUCIANE SERRA
Porto Alegre
2020
Porto Alegre
2020
É impossível falar da origem de uma língua sem falar de sua história externa
e de como os fatos históricos colaboraram para seu surgimento e disseminação. A
língua portuguesa deriva do latim e, por isso, é necessário acompanhar o trajeto da
língua latina de sua origem a sua queda.
O latim nasceu na região do Lácio, na Itália, e o questionamento que passa
em nossa mente, ao lermos essa afirmativa, é: como o latim da Itália dá origem ao
português, primeiro europeu, e depois chega ao nosso português brasileiro? Assim
como o português surgiu de um processo de Reconquista, o latim também passou
por este território tão desejado na antiguidade: a Península Ibérica, uma região do
sudoeste europeu. Essa região foi invadida por diversos povos, de culturas, de
línguas e de religiões totalmente diferentes, formando uma mistura cultural. E um
dos povos que passaram por essa região foram os romanos. O celtas invadiram a
Península Ibérica no séc. VIII a.C e, juntando-se ao povos ibéricos, que já
pertenciam à região, tornaram-se os celtiberos. Os cartagineses também tiveram
sua tentativa de invasão da península, porém, os celtiberos chamaram os romanos
para que ajudassem no combate à invasão cartaginesa. No séc. III a. C., aconteceu
a invasão romana, dando início a Guerras Púnicas (romanos x cartagineses). Em
197 a.C, a Península Ibérica estava sob domínio romano e foi anexada como
província. Desse modo, o latim torna-se idioma oficial nas transações comerciais e
nos atos oficiais. No séc. V, a região da Península já estava totalmente romanizada.
Isto é, seu idioma, umas das marcas da conquista territorial, já estava sendo
utilizado por toda população. O latim vulgar era uma variante do latim clássico muito
utilizada pelos comerciantes e soldados romanos, que levaram-na pelas regiões
conquistadas, essa variante do latim clássico, segundo Maria Cristina de Assis, fez
desaparecer, na Península Ibérica, a língua nativa dos primitivos habitantes e
passou a sofrer influxo dos substratos céltico, ibéricos e ligúrico.
O séc. V d.C foi marcado também pela invasão “bárbara” na Península
Ibérica, e nessa época o latim já estava muito modificado. O povo “bárbaro”
contribuiu com a dissolução do Império Romano, o que implica diretamente na
diversificação do latim. Uma importante invasão aconteceu no séc. VIII: a invasão
árabe. Em 711 d. C., os árabes instituíram seu idioma como oficial na região
conquistada. O idioma é uma grande marca de conquista e, por isso, é tão
importante que ele seja oficializado e falado pela população como marca de
dominação.
Em 718 d.C, iniciou-se o processo de reconquista. Esse processo está ligado
à invasão árabe, pois a Reconquista é um movimento político-militar de retomada,
pelos cristãos, da parte setentrional da Península, que havia sido invadida pelos
árabes. Esse processo durou muito tempo e muitas reconquistas aconteceram,
mesmo as Cruzadas fazem parte desse movimento. As várias reconquistas que
ocorreram deram origem aos reinos de Portugal, Castela e Aragão. O latim
transformou-se e, com o processo de reconquista e a formação de novos reinos, o
povo do norte foi migrando para o sul da Península, formando, assim, Portugal.
Com todas as influências, principalmente dos moçárabes (cristãos que
aderiram a cultura e idioma dos árabes, exceto sua religião), o idioma foi se
modificando até chegar no galego-português. E o português brasileiro? Apenas no
séc. XV, com as Grandes Navegações, é que Portugal, já estabelecido como reino,
traz a sua língua aos território sul-americano.
3 LATIM VULGAR
4 LATIM ECLESIÁSTICO
5 LATIM CLÁSSICO
O latim clássico é uma das variantes do latim praticada pela elite, por
intelectuais e por grandes personalidades relacionadas à elite. Por esse motivo,
seus adeptos eram dotados de conservadorismo em relação à língua, com um
grande apego a correções gramaticais, e o latim praticado por essa porção da
sociedade constitui-se de uma grande estilística, ou seja, essa correção também era
feita na parte estilística da língua. Esse conservadorismo, adotado por seus
defensores, fazia com que se posicionassem contra qualquer tipo de inovação ou
transformação da língua.
Diferente do latim vulgar, o latim clássico dispunha do apoio da escrita, o que
permitiu que essa variante do latim pudesse ser estudada nas escolas e fosse a
língua de grandes obras de consagrados escritores, tais como Cícero, Virgílio,
César e Horácio. Os escritores dotados de conhecimento do latim clássico
possuíam em suas mãos um vocabulário elegante em seu estilo, pois essa variante
era muito polida e requintada. Outra diferença do latim vulgar para o clássico é sua
maneira de disseminação. O latim vulgar foi um vernáculo, uma forma totalmente
oposta da aprendida na escola; já o latim clássico foi resultado de um esforço
consciente de várias gerações de escritores para fim estilísticos. O latim literário e o
latim vulgar também possuem diferenças na fonética, na morfologia, no léxico e na
sintaxe.
Com a chegada do latim vulgar e o maior domínio deste na fala da população
da Península Ibérica, o latim clássico ou literário se restringiu somente à função
escolar e para fins estéticos na escrita. Alguns documentos ainda permaneciam no
latim clássico, e outros, que eram mais de cunho da população, como manifestos,
avisos e cartas, eram escritos sem as devidas correções gramaticais, aproximando-
se, assim, de uma possível escrita do latim vulgar.
A última flor do lácio, como se refere o poeta, faz alusão ao fato de a língua
portuguesa ser a última língua descendente direta da latina. Ao utilizar no segundo
verso, sobre esplendor e sepultura, Bilac aponta justamente o quanto a língua
portuguesa cresceu e o quanto o latim perdeu sua força até se tornar uma língua
morta. Nos demais versos, percebemos uma grande admiração pela beleza e
também por brutalidade, já que a língua ainda estava em processo de
desenvolvimento, e amor, como se a língua se personificasse, tornando-se alguém
de quem se pudesse sentir até mesmo o aroma e o viço. Por fim, o poeta termina
seu soneto citando Camões e seu tempo no exílio, que chorou a história portuguesa
em sua obra e foi o grande escritor da língua.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ASSIS, Maria Cristina de. A história da língua portuguesa. [S. l: s. n]: 201?. Disponível em:
http://biblioteca.virtual.ufpb.br/files/histaria_da_langua_portuguesa_1360184313.pdf. Acesso
em: 19 mar. 2020.
BILAC, Olavo. Antologia Poética. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1997. E-book.
CAMÕES, Luiz de. Os Lusíadas. 3. ed. revista e atualizada. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 2018. E-book.
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos, a língua
que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.
MELLO, Patricia Gomes de; ARAÚJO, Patrícia Silva R. de. Língua, religião e política: o
prestígio do latim na Igreja Católica. Miguilim, Crato, v. 3, n. 2, p. 19-31, maio/ago. 2014.
Disponível em: http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MigREN/article/download/735/678.
Acesso em: 26 mar. 2020.
XAVIER, Mayara Nogueira. O latim da Vulgata e outras traduções bíblicas da língua latina.
Língua, literatura e ensino, Campinas, v. 5, p. 219-227, 2010. Disponível em:
http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/lle/article/view/1172. Acesso em: 27 mar. 2020.