Diversidade Étnico Cultural Livro
Diversidade Étnico Cultural Livro
Diversidade Étnico Cultural Livro
SILVIA QUADROS
ORGS.
Missão: Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a
excelência no serviço a Deus e à humanidade.
Visão: Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços
prestados, pelos seus elevados padrões éticos e pela qualidade pessoal e
profissional de seus egressos.
ISBN: 978-85-8463-084-4
Praticando uma engenharia mais segura : ferramentas de gestão em segurança do trabalho / organi-
zadores Mário Barraza, Francisca Costa, Vandeni Kunz. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress -
1. Educação
Imprensa inclusiva
Universitária 2. Política
Adventista, 2016. educacional 3. Relações étnico-raciais 4. Socio-
logia educacional I. Motta, Romilda Costa. II. Quadros, Silvia Cristina de Oliveira.
ISBN: 978-85-8463-043-1
17-05074 CDD-306.430981
1. Engenharia civil 2. Segurança do trabalho I. Barraza, Mário. II. Costa, Francisca. III. Kunz, Vandeni.
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Relações étnico-raciais : Sociologia
16-04123 educacional 306.430981 CDD-624
042033 - 2017
Editora associada:
11 Prefácio
15 Introdução
165 Posfácio
Apresentação dos Autores
Daisy Fragoso
Mestra em Artes (com linha de pesquisa em Etnomusicologia) pela ECA/
USP e educadora musical formada em Licenciatura em Música também
na Universidade de São Paulo. É professora substituta no Departamen-
to de Artes e Comunicação da UFSCar. Trabalha com duas linhas de
pesquisa: as práticas musicais em escolas de pedagogias inovadoras, e as
músicas e brincadeiras dos Guarani Mbya.
E-mail: [email protected]
Prefácio
21
Repensando conceitos para
uma educação étnica
Silvia Cristina de Oliveira Quadros1
1
Pós-Doutora em Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Doutora em
Letras: Semiótica e Linguistica Geral pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Uni-
versidade de São Paulo. MBA em Gestão Estratégica na Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
◆◆ superstição, crendice;
◆◆ lesar, danificar;
◆◆ segregação racial: política que objetiva separar e/ou isolar no seio de uma
sociedade as minorias raciais, as sociais as religiosas, discriminação racial.
Autonomia Contenção
não-querer-não-ser não-querer-ser
não-dever-não-ser não-dever-ser
não-poder-não-ser não-poder-ser
exclusão
Marginalidade
O foco da legislação
Educação étnica 39
Considerações finais
Referências
44
BANDEIRA, L.; BATISTA, A. S. Preconceito e discriminação como expressões de
violência. Ensaios. Revista Estudos Feministas, ano 10, 1º. sem., 2002. Disponível
em: <http://bit.ly/2p9fJyR>.
46
Políticas afirmativas
para a educação das relações
étnico-raciais: definições,
reflexões e desafios
Romilda Costa Motta1
1
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Mestra em História Social pela
Universidade de São Paulo. Graduada em Licenciatura e Bacharelado em História pela Univer-
sidade de São Paulo.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
2
O IBGE utiliza a categoria “cor”: preta e parda, que reúne o grupo genérico de negros; ama-
rela, branca e indígena. Esta última foi incluída em 1991. O termo “pardo” foi utilizado
pela primeira vez no primeiro Censo, em 1872 e então, servia para distinguir negros forros
dos escravizados. A partir de 1950 passou a constar definitivamente como uma opção cen-
sitária para abarcar a todos aqueles que assumiam algum tipo de ascendência africana
3
A categoria “parda” significa que o indivíduo possui e reconhece — já que o critério foi a
auto declaração — algum nível de ascendência negra.
Políticas afirmativas para a educação das relações étnico-raciais: definições, reflexões e desafios
4
Ao usar a terminologia “negro (s) ” terei em conta todos (as) que se autodeclararam como
“pardos” e “pretos”, segundo as categorias do IBGE.
Políticas afirmativas para a educação das relações étnico-raciais: definições, reflexões e desafios
5
Diversos indicadores como alguns dos citados foram fartamente analisados em
Sant’ Anna (2003).
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
58
Políticas Afirmativas e Direitos Humanos
6
A concepção aqui presente sobre “minorias” ou “grupos minoritários” não se restringe à
quantidade numérica, mas contempla, muito mais, a questão das relações de poder.
Políticas afirmativas para a educação das relações étnico-raciais: definições, reflexões e desafios
7
“Inclusão Social. Um debate necessário? ” Disponível em: <http://bit.ly/2pe1r20>. Acesso:
03 mar. 2016.
Políticas afirmativas para a educação das relações étnico-raciais: definições, reflexões e desafios
em 2013, as notas dos cotistas chegam a ser até 50% superiores aos dos
não cotistas em alguns cursos. Em pesquisa realizada na UnB, não foi
encontrada diferença significativa entre os dois grupos.8
Quanto aos argumentos de índices de maior evasão, suposta-
mente causados pela falta de qualificação dos alunos, as pesquisas
mostram que os cotistas têm demonstrado mais perseverança e con-
cluem os cursos tanto ou mais que os demais universitários.
Sobre o argumento da suposta inconstitucionalidade, em 2012,
foi levada uma ação ao STF Supremo Tribunal Federal contra o pro-
grama de cotas raciais, na UnB. A análise realizada pelos membros
daquela corte levou ao entendimento unânime dos Ministros que as
ações afirmativas, longe de criarem qualquer discriminação, são fa-
tores de inclusão social e de correção de desigualdades históricas e
meio de oportunidades de acesso à educação e ao trabalho, o que 71
está previsto na Constituição. Neste mesmo documento, consta que
cabe ao Estado o dever da promoção da equidade.9 A partir dessa
compreensão, a tese foi rejeitada.
Um dos argumentos mais polêmicos, e que suscita debates can-
dentes, pela destituição de fundamentos sólidos sobre o que representa
e o que está por traz do racismo, segmentos argumentam que “as cotas,
sim, produziriam o racismo” ou acirrariam as tensões raciais.
O antropólogo Peter Fry, é um desses intelectuais que protagonizam
o debate que se encarrega de indagar se as políticas de identidades “raciais”,
8
“Diferença de desempenho entre cotistas e não cotistas é de apenas 0,25” Disponí-
vel em: http://bit.ly/2oEWk8a. Acesso em: 03 out. 2016.
9
Ver Políticas públicas de ação afirmativa e reserva de vagas em universidades públicas — 1.
Disponível em: <http://bit.ly/2ootEE3>.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
a ação afirmativa não veio somente para compensar negros pelo passado
de escravidão e pelo presente da discriminação. Veio desfazer a ‘mistura
racial’ para produzir só duas raças. Antes uma sociedade de classes que
recusa reconhecer as identidades raciais, o Brasil é agora imaginado como
uma sociedade de ‘raças’ e ‘etnias’ distintas. As políticas de ação afirma-
tiva racial terão a consequência de estimular os pertencimentos ‘raciais’,
assim fortalecendo a crença em raças.
Não vejo como, salvo numa imaginação criativa, a ação afirmativa possa des-
fazer a “mistura racial”, desafiando as leis da genética humana e a ação volun-
tarista dos homens e das mulheres, que continuarão a manter os intercursos
Políticas afirmativas para a educação das relações étnico-raciais: definições, reflexões e desafios
Considerações finais
Referências
Em 2008, após uma longa disputa pela presidência dos EUA, Ba-
rack Obama, até então senador estadual pelo estado de Illinois, foi
eleito. As eleições norte-americanas, geralmente, tratadas como uma
festa cívica para celebrar uma democracia estável, entretanto, trans-
formou-se em um evento mais que especial: pela primeira vez os EUA
elegiam um afro-americano. Logo após a confirmação do resulta-
do, com uma grande repercussão nos noticiários norte-americanos
e mundo afora, em uma festa preparada pelo Partido Democrata,
Barack Obama subiu ao palco diante de milhares de eleitores para
1
Doutor em História Social da Universidade de São Paulo. Mestre em História pela Universidade de
São Paulo. Graduado em História pela Universidade de São Paulo.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
2
Aqui o termo “diáspora” é utilizado como referência ao processo de dispersão de
povos africanos para outros continentes ao longo história, formando comunidades
negras fora da África.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
hoje fazem parte da paisagem da cidade. No caso dos negros não foi
diferente, com a formação de uma rede de clubes sociais e, poste-
riormente, a circulação de jornais que ilustravam as experiências da
população negra paulistana (DOMINGUES, 2004).
Em um primeiro momento, as publicações que circulavam
entre as associações negras retrataram as atividades recreati-
vas de uma pequena parcela de negros ascendentes. Esse grupo,
formado por lideranças empregadas no funcionalismo público,
procurava se colocar como uma referência para o resto da po-
pulação negra de São Paulo, considerada como alienada e não
preparada ainda para um longo período de transição entre a
escravidão e o capitalismo (BASTIDE, 1973; FERRARA, 1985).
A formação dos negros ascendentes deveria servir de modelo,
80 demonstrando um caminho árduo de trabalho duro, estudos e
renúncia ao lúdico, ainda que muitos clubes negros tenham se
caracterizado pelas festividades.
Essas entidades fomentaram a imprensa negra de São Paulo que,
com o passar dos anos, foi apresentando um conteúdo cada vez mais
combativo. O Alfinete (1915), um dos primeiros jornais a circular en-
tre a comunidade negra paulistana, caracterizou-se mais por suas co-
lunas sociais, alfinetando os negros que não seguiam as regras de eti-
queta que orientavam o grupo, como o cuidado com as vestimentas,
postura adequada no momento da dança ou controle no consumo de
álcool. Contudo, o mesmo periódico não deixou de publicar alguns
artigos que discutiam o problema do preconceito na sociedade brasi-
leira. Essa abordagem foi ganhando cada vez mais espaço ao longo da
Do nacional ao diaspórico: transformações nas identidades negras brasileiras no século 20
Considerações finais
Referências
100 . Uma história não contada: negro, racismo e branqueamento no São
Paulo pós-abolição. São Paulo: Senac, 2004.
JAMES, L. Pan-africanism, Cold War, and the end of empire: George Padmore
and decolonization from below. New York: Palgrave Macmillan, 2015.
PENIEL E. The Black Power Movement: rethinking the Civil Rights — Black
Power Era. Joseph (ed.). New York: Routledge, 2006.
RIOS, F. Elite política negra no Brasil: relação entre movimentos social, partidos
políticos e Estado. Tese. (Doutorado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação
em Sociologia, 2014.
102
História da África hoje:
ética e ciência1
Muryatan S. Barbosa2
1
Uma versão anterior deste ensaio foi publicada em Sankofa. Revista de História da África e
de Estudos da Diáspora Africana (2010).
2
Pós-Doutor e Doutor em História da África pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo. Mestre em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo. Graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
3
Ou seja, uma sociedade em que o racismo é elemento central de reprodução social. Em
nossa opinião, no caso brasileiro, por permitir a naturalização de cinco formas de explo-
ração/dominação: a) super-exploração do trabalho; b) invisibilidade da desigualdade so-
cial; c) violência como forma de controle social; d) obstrução da consciência de classe e
da solidariedade intergênero; e) formação de um ideal de nacionalidade de grande poder
ideológico, baseado em uma valorização acrítica e seletiva da miscigenação; f) ideologia da
brancura, congregando a eurodescendência.
História da África hoje: ética e ciência
Considerações finais
Referências
1
Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Geografia pela Uni-
versidade Federal de Santa Catarina. Graduada em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
indígenas. E, ainda, pela estereotipada ideia que se tem desses grupos so-
ciais que já habitavam as Américas antes dos europeus chegarem, bem
como pelo estranhamento, por muitos, em participar desse debate.
fluvial com animais ou pessoas mortas nas nascentes dos rios próxi-
mos às aldeias, para então contaminar a quem bebesse essas águas.
Diversas outras estratégias foram aplicadas nesse contexto de con-
quista a todo custo, e certas formas são descritas por Paraiso (2014)
ao relatar que os europeus doavam roupas contaminadas com ru-
béola para que muitos indígenas morressem doentes, e muito deles
morreram de fome por não possuírem reservas de alimentos.
Cabe ressaltar que mesmo após as Guerras Justas2, as políti-
cas de alianças com os povos indígenas, principalmente, na área da
zona do Tampão3, vai se caracterizar como mais uma estratégia de
dominação dos povos indígenas. Essas alianças se desdobravam em
construir aldeamentos que, por fim, não irão funcionar no sentido
de superação de conflitos. Novos atrativos estratégicos são utiliza-
124 dos para a inserção de indígenas como trabalhadores nos projetos
de colonização e desenvolvimento econômico das províncias. Nesse
contexto, por exemplo, o deslocamento dos Botocudo, dos Pojixá e
dos Jiporok desencadearam graves conflitos e mortes.
Em muitos episódios grupos indígenas são forçados a abando-
nar seus territórios por serem locais já com condições mínimas para
a sobrevivência dos europeus no intuito de se instalarem, pois essas
áreas estavam situadas, adequadamente levando em consideração a
proximidade de meios para a subsistência como: rio, área desmatada,
2
Os colonos viam as Guerras Justas como uma opção para adquirirem mão-de-obra e con-
seguirem assim, desenvolver suas atividades econômicas. Para os religiosos, o barbarismo
justificava a necessidade da catequese e transformava o religioso em um mártir a serviço de
Deus. Era preciso transformar “bestas humanas” e feras em cristãos (RAMINELLI, 1996).
3
Área que compreende parte do estado da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais na atualidade.
A invisibilidade dos povos indígenas no Brasil
dos gregos, dos romanos, mas não existe a contação das histórias
dos povos originários do Brasil. O que se tem é uma fala sobre esses
povos de forma generalizada e, portanto, uma anulação da diversida-
de cultural indígena nas Américas e no território brasileiro. Cunha,
(2014) assevera que por mais que haja semelhança entre as socieda-
des indígenas no Brasil, até mesmo aquelas situadas geograficamente
distantes e com linguísticas desconectadas, a homogeneidade é irreal.
O imaginário coletivo acerca do indígena no Brasil é também cons-
truído tendo como base o material didático utilizado nas instituições de
ensino. Nesse contexto, os livros didáticos são veículos de informação,
muitas vezes, o único meio de conhecimento que uma pessoa tem acesso.
Essas informações, quando distorcidas ideologicamente e, portanto, longe
da realidade, seja contida no passado ou na contemporaneidade, causam
impactos na formação de uma construção social que será levada adiante. 129
Silva (2005) ressalta que o livro didático omite ou apresenta de
uma forma bastante simplificada, e até mesmo falsa, o cotidiano real,
as experiências e o processo histórico-cultural de diversos segmentos
sociais, inclusive sobre os povos indígenas. A ausência desses grupos
sociais, em suas variadas realidades, nas ilustrações dos livros didá-
ticos é outro ponto importante que reafirma a invisibilidade e des-
respeito com a história que fala do Brasil. No lugar dessa ausência de
ilustrações têm-se figuras caricaturadas como se os povos indígenas
fossem eternas crianças, ingênuas, frágeis e incapazes, reafirmando o
imaginário social de representação negativa dos indígenas.
Outro material, no âmbito escolar, que participa da constru-
ção do imaginário coletivo acerca dos povos indígenas é a literatura
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
Considerações finais
Referências
. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
RIBEIRO, B. O índio na história do Brasil. 12ª edição. São Paulo: Global, 2009.
1
Mestre em Artes (Etnomusicologia) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo. Graduada em Música (Licenciatura) pela Universidade de São Paulo.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
educacionais, que abranjam esta lei são metas traçadas no Plano Na-
cional de Educação (PNE), aprovado em junho de 2014. Já os Parâme-
tros Curriculares Nacionais (PCNs), por sua vez, defendem o estímu-
lo de posturas que promovam a tolerância por meio de trabalhos que
valorizem a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro e que
tratem de sua diversidade etnocultural, como aponta o texto abaixo:
formações que nosso próprio sistema lhes inflige, quando ele não nos torna
incapazes de ver alguma coisa (LÉVI-STRAUSS, 2012, p. 85 e 86).
E mais:
Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre
as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança,
unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”, mas o rizoma tem como
tecido a conjunção “e...e...e...” Há nesta conjunção força suficiente para sacudir
e desenraizar o verbo ser (DELEUZE; GUATARI, 2011, p. 48).
Laplantine (1996, p. 21), por exemplo, diz que através do Outro, da-
quele que é diferente de nós mesmos, podemos enxergar o Eu, ou
melhor, através do Outro é que nos é revelado o Eu. A razão porque
isso acontece, de acordo com Boas (1940), consiste no fato de que é o
conhecimento de outros tipos de comportamento humano que nos
dá uma visão mais livre de nossas próprias vidas ou, ainda, de que
são “as lacunas entre mim e os que pensam diferente de mim — o
que equivale a dizer todos os outros, e não apenas os segregados por
diferenças de gerações, sexo, nacionalidade, seita e até raça — [que]
definem as verdadeiras fronteiras do self” (DANTO apud GEERTZ,
2001, p. 76); “e é por isso que vale a pena estudar outros povos, por-
que toda compreensão de uma outra cultura é um experimento com
nossa própria cultura” (WAGNER, 2012, p. 61).
152 Além disso, a compreensão de que as pessoas se organizam de
diferentes maneiras e de que veem o mundo também de jeitos dife-
rentes, significa, ao final, compreender que muitos (se não infinitos)
são os “Eus” possíveis, e isto é, justamente, uma das chaves para a des-
construção de preconceitos: quando o “Outro” deixa de ser “Outro” e
passa a ser outro “Eu”.
Findada essa digressão, seguem abaixo dois quadros con-
tendo assuntos que podem ser trabalhados com os estudantes
a partir de um conteúdo indígena. Vale lembrar que a intenção
neste quadro foi apresentar a possibilidade de fazer uso de di-
versos conteúdos que não tratam diretamente de questões indí-
genas, mas que delas partem e com elas dialogam. Além disso, é
relevante mencionar que tais quadros contêm apenas sugestões
As culturas indígenas na sala de aula: Tecendo redes para desatar preconceitos
Mandi’o nhemondoro
Cantigas de ninar dos índios (Brincadeira da colheita da mandioca dos Guarani Mbya) A cotia e outros animais roedores
Juruna (f) (FRAGOSO, 2015, p. 92 e 93)
Ĩpupmaa ãyĩpaxekaxex pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz bem grande
Ĩpupmaa ãyĩpanoxanox pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz comprida
Ĩpupmaa ãyĩpakũtaĩn pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz curta e grossa
155
Ĩpupmaa ãyĩpaxekaxex pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz muito grande
Ĩpupmaa ãyĩpanutanut pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz fina
Pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz bem escura
Ãyĩpahup pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz torta
Ĩpupmaa ãyĩpapeãpe pupmaa Debaixo do braço levando uma raiz achatada
Cantos de trabalho
Influenciado pelos trabalhos feitos a partir de canções indíge-
nas que tratem do plantio e cultivo de alimentos diversos, o educa-
dor pode conectar a este tema os cantos de trabalho. De acordo com
o Dicionário Musical Brasileiro, estes são cantos usados durante o
trabalho e destinados a diminuir o esforço e a aumentar a produção,
os movimentos seguindo os ritmos do canto” (ANDRADE, 1989,
p. 108) e são mais usados pelos trabalhadores rurais. Para pesqui-
sar mais sobre este assunto, consulte: Gianelli (2012), Cia Cabelo de
Maria (2007, CD) entre outros.
Tapixi nambikue’i togueru Que seu pai traga uma orelhi- Ta-pi-TCHI na-mbi-kuê-I
nha de [coelho [to-güe -RU
Nderuparã’i
Para que de sua pele seja feita Nde-ru-pa-rã-I.
uma
Avaxi para’i [caminha
Áu-va-tchi pa-rá-I
Deavaxirã’î Ele trará milho sagrado
Déau-va-tchi-rã-Ĩ
Para você plantar.
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
2
Para saber mais sobre o fabrico, pode-se consultar o trabalho de Araujo e Torres (2010) e
as informações disponibilizadas pelo ISA em: <http://bit.ly/2pmuS01>.
As culturas indígenas na sala de aula: Tecendo redes para desatar preconceitos
Mito da mandioca
Silva (1990, p. 32) conta-nos a seguinte história:
162 Referências
BOAS, F. Race, language and culture. New York: The Macmillan Company, 1940.
GEERTZ, C. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
164
Posfácio
167