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Zoologia
RESUMO
Este estudo avaliou o estado atual de conservação das serpentes nos biomas
brasileiros. As questões levantadas foram principalmente: quantas e quais são as
espécies de serpentes ameaçadas? Quais as principais ameaças e estratégias
adotadas para sua conservação? Entre as 392 espécies de serpentes conhecidas
no Brasil, 29 constam da “Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas
de Extinção”, das quais 11 são endêmicas da Mata Atlântica, o bioma mais
devastado; 6 espécies ocorrem na Caatinga, 5 no Cerrado, 1 na Amazônia e uma
no Pampa, também endêmicas desses biomas. A perda e a degradação de habitats
são as principais ameaças às serpentes em decorrência do desmatamento para
atividades agropecuárias, expansão urbana, extração de madeira e queimadas.
Cinco Planos de Ação Nacionais, voltados para conservação da herpetofauna
brasileira, incluem 44 espécies de serpentes como alvo, das quais apenas 9
constam da atual lista nacional de espécies ameaçadas. Para várias espécies de
serpentes, há deficiência de dados, evidenciando a necessidade de mais estudos
que permitam avaliar o status e implementar medidas de conservação.
Palavras-chave: Ofidiofauna. Plano de ação nacional. Serpentes ameaçadas.
ABSTRACT
This study assessed the current conservation status of snake species in the Brazilian
biomes. Our main questions were: how many and what are the endangered
species? What are the main threats and which conservation strategies are been
1
Universidade Metodista de Piracicaba, Faculdade de Ciências da Saúde, Curso de Ciências Biológicas. Rod. do Açúcar, Km 156, 13400-
911, Piracicaba, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M.E.C. Navega-Gonçalves. E-mail: <eliana.navega@gmail.com.br>.
2
Bióloga. Piracicaba, SP, Brasil.
adopted? Among the 392 species of snakes known to occur in Brazil, 29 of them
are included in the “Brazilian Red List of Endangered Species”, of which 11 are
endemic to the Atlantic Forest, the most devastated biome; 6 species occur in the
Caatinga, 5 in Cerrado, 1 in Amazon and 1 in Pampa, all endemic to these biomes.
Habitat loss and degradation is the main threat to snakes, as a result of
deforestation for agricultural and livestock activities, urban expansion, logging,
and fire. At least five National Action Plans for the Brazilian herpetofauna include
44 snake species, of which only 9 are included in the national red list. Several
snake species are Data Deficient, highlighting the need for more studies that
evaluate their conservation status and the implementation of conservation
measures.
Keywords: Snake fauna. National action plan. Threated species of snakes.
estudo teve como objetivo revisar o estado atual de distribuição restrita ou ameaçadas, espécies de
conservação das serpentes nos biomas brasileiros, importância econômica ou medicinal, habitat, áreas
tendo como base a “Lista Nacional Oficial de Espécies importantes para a manutenção de serviços
da Fauna Ameaçadas de Extinção” (Brasil, 2014a), ambientais entre outros (Brasil, 2007).
de forma a responder às seguintes questões: (1) Segundo Machado (2008), duas estratégias
Quantas e quais são as espécies de serpentes básicas podem ser utilizadas para a conservação da
ameaçadas? (2) Quais são as principais ameaças às biodiversidade, uma centrada nos ecossistemas e
serpentes brasileiras? (3) As estratégias de outra com foco nas espécies. Embora existam
conservação que vêm sendo adotadas nos biomas programas específicos para a conservação de espécies
brasileiros incluem serpentes como espécies-alvo? no Brasil, as estratégias frequentemente utilizadas
(4) Há medidas direcionadas especificamente à incluem ações voltadas para a conservação de
conservação das serpentes? (5) O conhecimento ecossistemas e biomas como um todo.
atual sobre a biologia das serpentes no Brasil é
Os biomas brasileiros, que abrigam uma
suficiente para avaliação de seu estado de
porção significativa da biodiversidade mundial, com
conservação e para a implementação de medidas
altos níveis de riqueza e endemismo, são
de conservação voltadas para esses animais?
considerados importantes centros de biodiversidade
(Aleixo et al., 2010). A herpetofauna do Brasil é uma
Biomas brasileiros, diversidade de ser- das mais ricas do mundo, sendo que a lista mais
pentes e espécies ameaçadas recente aponta para 773 espécies de répteis, das
quais 392 são serpentes (Costa & Bérnils, 2015).
O Brasil é considerado um país megadiverso As serpentes são encontradas em todo o Brasil,
que abriga 13,2% da biota mundial (Lewinsohn & em habitat e nichos variados (Bernarde, 2012). A
Prado, 2006). Seus ecossistemas naturais são Amazônia é o bioma com a maior diversidade, com
classificados, normalmente, em diferentes áreas de 138 espécies inventariadas, seguida pela Mata
domínio morfoclimático e fitogeográfico (Ab’Saber, Atlântica, com 134 (Rodrigues, 2005), o Cerrado,
2008) e seis biomas terrestres são considerados: com 129 (Couto et al., 2007), a Caatinga, com 117
Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, (Guedes et al., 2014a), o Pantanal, com 63 (Mar-
Pantanal e Pampa, segundo o Instituto Brasileiro de ques et al., 2005) e o Pampa, com 63 (Junk et al.,
Geografia e Estatística (2004). A Mata Atlântica e o 2006).
Cerrado estão incluídos na lista de hotspots de O número de espécies por bioma é estimado
biodiversidade, que são áreas do Planeta com alta com base nos inventários realizados, no entanto é
biodiversidade, endemismo e que estão sob extrema bem possível que esse número seja subestimado
ameaça, sendo, portanto, prioritárias para a devido a inventários insuficientes (Rodrigues, 2005),
conservação (Myers et al., 2000; Mittermeier et al., uma vez que a elaboração de uma lista de espécies
2005). Atualmente são 35 áreas ao redor do mundo para um determinado grupo taxonômico envolve a
qualificadas como hotspots, segundo a Conservation utilização de técnicas específicas e eficientes de
International (2014). amostragem, além de um conhecimento razoável
Deve-se salientar que todas as áreas naturais sobre sua sistemática, taxonomia, ecologia e história
são importantes para conservação da biodiversidade, natural (Silveira et al., 2010). No caso das serpentes,
no entanto o estabelecimento de prioridades visa a o grande número de espécies raras, fossoriais e
orientar as políticas públicas e os investimentos em semifossoriais, que normalmente são ignoradas ou
conservação, e as áreas prioritárias são definidas a subamostradas, é um agravante no estabelecimento
partir de alvos ou “objetos de conservação”, que confiável de padrões de distribuição e abundância
podem ser espécies endêmicas, espécies de (Couto et al., 2007).
Os inventários são o ponto de partida para o serpentes que estão enquadradas na categoria
conhecimento da biodiversidade, mas é necessário “Quase Ameaçada de Extinção” (NT) (Instituto Chico
avaliar o estado de conservação das espécies ou Mendes de Conservação da Biodiversidade 2014a).
subespécies, fundamental para priorizar ações de Outras 51 espécies de serpentes (Quadro 2) estão
conservação, além de apontar as espécies com maior ameaçadas estadualmente ou figuram na categoria
urgência de ações nesse sentido (Peres et al., 2011). “Deficiente em Dados” (DD) (ou “dados insufi-
Um dos recursos é a elaboração de listas de espécies cientes”), quando não há informações consistentes
ameaçadas de extinção, as chamadas “Listas sobre o táxon, principalmente sobre sua ecologia
Vermelhas” (“Red Lists”), que podem ser interna- populacional, de forma a saber se ele se encontra
cionais, nacionais, estaduais e municipais (Machado, ameaçado ou não, de acordo com os critérios
2008) e são estratégias importantes que indicam a estabelecidos pela IUCN.
necessidade de proteção legal às espécies
ameaçadas, por meio de ações voltadas para a
conservação de seus habitats, tornando-se um alerta Mata Atlântica
para a sociedade e principalmente para o governo,
que deve adotar políticas públicas voltadas para O Domínio Mata Atlântica é constituído por
conservação da biodiversidade (Bataus & Reis, 2011). um conjunto de formações florestais e ecossistemas
associados, com uma área original estimada de cerca
Martins & Molina (2008) e Sawaya et al.
de 1.300.000km², equivalente a 16% do território
(2008) apontam que até informações básicas sobre
nacional e presente, ao menos em parte, em 17
as serpentes são escassas e poucos estudos enfocam
estados brasileiros (Câmara, 2005). É reconhecida
taxocenoses, o que impossibilita avaliações seguras
pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para
sobre o estado de conservação de muitas das a Educação, a Ciência e a Cultura) como Reserva
espécies descritas. Publicações recentes nessa direção da Biosfera, pelo seu ambiente de exuberante
(Hartmann et al., 2009; Mesquita et al., 2013; megadiversidade e alto grau de endemismo, com
Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014) têm uma estimativa de 15.700 espécies vegetais, das
buscado atender a demanda por informações, quais cerca de 7 mil são de plantas vasculares
favorecendo, sem dúvida, as análises para a endêmicas, o que equivale a 45% do total (Pinto
elaboração de listas de espécies de serpentes et al., 2012).
ameaçadas de extinção, bem como a imple-
Segundo informações disponibilizadas pela
mentação de planos de ação para sua conservação.
Fundação SOS Mata Atlântica, o bioma abriga
De acordo com a recente “Lista Nacional aproximadamente 72,0% da população brasileira,
Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de calculada em cerca de 145 milhões de habitantes, e
Extinção”, publicada no Diário Oficial da União, é o mais descaracterizado bioma do país devido aos
através das Portarias n o 444 e 445, de 17 de primeiros e principais processos de colonização e
dezembro de 2014 (Brasil, 2014a), 29 espécies de ciclos de desenvolvimento. Hoje a Mata Atlântica
serpentes pertencentes a 5 famílias estão incluídas se apresenta altamente fragmentada, restando
como ameaçadas, segundo as categorias esta- apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de
belecidas pela União Internacional para Conservação 100 hectares; somando-se todos os fragmentos de
da Natureza (IUCN, International Union for floresta nativa acima de 3 hectares, restam 12,5%
Conservation of Nature and Natural Resources) e em do original (Fundação SOS Mata Atlântica, 2016). A
conformidade com a legislação nacional e nos termos Mata Atlântica é uma das áreas do Planeta
da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) identificadas pela Conservation International como
(Brasil, 2014b), cujas informações sumarizadas são um hotspot de biodiversidade e, portanto, com
apresentadas no Quadro 1. Além dessas, foram prioridades para a conservação (Mittermeier et al.,
incluídas no Quadro 1 outras três espécies de 2005).
Dezesseis espécies de serpentes que ocorrem hidrelétricas, que são responsáveis pela alteração
na Mata Atlântica estão na “Lista Nacional Oficial hidrológica, na maior parte do rios que corta o
de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção” Cerrado, com efeitos negativos para o bioma
(Instituto Chico Mendes de Conservação da (Cavalcanti et al., 2012).
Biodiversidade, 2014b) (Quadro 1), das quais 13 são No estudo realizado por Couto et al. (2007),
endêmicas do Brasil. Apostolepis quirogai e Atractus foram levantadas 129 espécies de serpentes no
thalesdelemai são encontradas, respectivamente, bioma, incluindo as espécies marginais, ou seja,
também na Argentina e no Paraguai, enquanto que comuns em outros biomas com pontos de ocorrência
Ditaxodon taeniatus não se pode afirmar que seja no Cerrado. Dessas, 15 espécies são endêmicas e
endêmica do Brasil. Atractus caete e Typhlops cinco estão na lista de espécies ameaçadas (Quadro
amoipira foram descritas em regiões que pertencem 1): Apostolepis serrana, A. striata, Hydrodynastes
à Mata Atlântica e também à Caatinga (Brito & Freire, melanogigas, Phalotris multipunctatus e Philodryas
2012; Guedes et al., 2014a, 2014b). As demais são lívida (Instituto Chico Mendes de Conservação da
endêmicas da Mata Atlântica no Brasil: Atractus Biodiversidade, 2014b).
serranus, Bothrops alcatraz, B. insularis, B. muriciensis, Bothrops itapetiningae, Phalotris lativittatus e
B. otavioi, B. pirajai, Calamodontophis ronaldoi, Liotyphlops schubarti estão na lista das espécies quase
Corallus cropanii, Echinanthera cephalomaculata, ameaçadas (Instituto Chico Mendes de Conservação
Typhlops paucisquamus e Tropidophis grapiuna. da Biodiversidade, 2014a) (Quadro 1).
Cerrado Caatinga
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, O Bioma Caatinga se estende pelos estados
com um espaço territorial de 2.036.448km 2 , de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o
ocupando aproximadamente 23% do território
Norte de Minas Gerais, ocupando uma área de
brasileiro e presente em 15 estados (Instituto
844.453km², que corresponde a 10% do território
Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004). As
nacional (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
estimativas demográficas indicam que 20 a 28
2004). Aproximadamente 27 milhões de pessoas
milhões de habitantes vivem no bioma (Cavalcanti
habitam essa região, segundo dados disponibilizados
et al., 2012). Segundo os mesmos autores, o Cerrado
pelo Instituto EcoDesenvolvimento (2011a), e a
abriga várias nascentes, como a do rio São Francisco,
degradação do bioma vem sendo acelerada por
e uma grande diversidade de espécies, com mais de práticas insustentáveis de uso da terra, como a
12 mil espécies de plantas, sendo 44% endêmicas agricultura de corte-e-queima, o uso indiscriminado
no bioma, motivo pelo qual é considerado um dos de madeira e lenha, a caça e a supressão continuada
hotspots de biodiversidade do mundo, que sofre com da vegetação nativa para a criação de caprinos e
o alto grau de degradação de seus habitats e, bovinos (Santos et al., 2012).
portanto, com prioridades para a conservação
A Caatinga é o único bioma exclusivamente
(Mittermeier et al., 2005).
brasileiro e ainda muito mal conhecido, o que induz
A destruição de seus ecossistemas é à crença de que é pouco diverso (Leal et al., 2003).
preocupante e já atingiu mais de 50% de sua área No entanto, constitui-se de um grande mosaico de
original, principalmente devido à expansão vegetação, incluindo florestas secas com estruturas
agropecuária, que vem promovendo a fragmentação variadas até tipos arbustivos sobre afloramentos
de habitats naturais e perdas de biodiversidade rochosos, sendo que alguns registros apontam para
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004; mais de 4 mil espécies de plantas nos domínios da
Machado et al., 2004), assim como às usinas Caatinga (Santos et al., 2012).
Segundo Rodrigues (2003), a herpetofauna da 2014b) (Quadro 1), das quais 6 são endêmicas da
Caatinga é a mais bem conhecida dos biomas Caatinga: Apostolepis arenaria, A. gaboi, Atractus
brasileiros; em estudo recente, foi registrada a ronnie, Rodriguesophis chui, R. scriptorcibatus e
ocorrência de 112 espécies de serpentes, sendo 22 Typhlops yonenagae. As outras 2 ocorrem também
delas endêmicas (Guedes et al., 2014b). Oito espécies na Mata Atlântica: Atractus caete e Typhlops
estão na lista de serpentes ameaçadas (Instituto amoipira (Brito & Freire, 2012; Guedes et al., 2014a,
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b).
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 1 de 6
Anomalopedidae
Liotyphlops schubarti CERRADO (endêmica) QUASE AMEAÇADA PAN Herpetofauna
(Vanzolini, 1948) Conhecida apenas a partir Perda e degradação de da Mata Atlântica do
Cobra-cega-de- de sua localidade tipo, habitat devido à expansão Sudeste
pirassununga Cachoeiras de Emas, urbana
Pirassununga, SP
Boidae
Corallus cropanii MATA ATLÂNTICA (endêmica) VULNERÁVEL PAN Herpetofauna
(Hoge, 1953) Ocorre no sul do estado Poucos indivíduos da Mata Atlântica
Jibóia-amarela de São Paulo, no Vale do encontrados na natureza do Sudeste /Parque do Mar
Ribeira indicando que a espécie
pode realmente ser
pequena. (Lista Nacional:
CR; Lista Estadual SP: EN)
Dipsadidae
Apostolepis arenaria CAATINGA (endêmica) EM PERIGO
(Rodrigues, 1992) Encontrada nas dunas do Desestabilização das
Cobra-rainha-do-são- médio rio São Francisco dunas causada pela
francisco na Bahia extração de areia e
madeira para a produção
de carvão
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 2 de 6
Dipsadidae
Apostolepis serrana CERRADO (endêmica) EM PERIGO
(De Lema & Renner, 2006) Conhecida apenas da Perda em decorrência da transformação
Cobra-rainha-da- localidade tipo, na Serra de áreas
serra-do-roncador do Roncador, Mato Grosso naturais em pastagens e
cultivo mecanizado
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 3 de 6
Dipsadidae
Atractus MATA ATLÂNTICA EM PERIGO
thalesdelemai No Brasil ocorre no estado do Perda de habitat
(Passos, Fernandes, Rio Grande do Sul, em locais devido à expansão
& Zanella, 2005) próximos da área urbana do agrícola
Cobra-da-terra-do- município de Passo Fundo.
sul Encontrada também no
Paraguai
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 4 de 6
Dipsadidae
Phalotris lattivitatus CERRADO (endêmica) QUASE AMEAÇADA PAN Herpetofauna
(Ferrarezzi, 1994) Distribuição no estado de São Perda de habitat devido ao da Mata Atlântica do
Paulo desmatamento, gramíneas Sudeste /ESEC de
invasoras e fogo Itirapina, SP
Typhlopidae
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 5 de 6
Typhlopidae
Typhlops yonenagae CAATINGA (endêmica) EM PERIGO
(Rodrigues, 1991) Apresenta distribuição restrita Perda do habitat por meio de
Cobra-cega-do-são- no município de Gentio de ações antrópicas, como extração
francisco Ouro - Bahia, região de de areia e produção de carvão
dunas na margem direita do
rio São Francisco
Tropidophiidae
Tropidophis grapiuna MATA ATLÂNTICA (endêmica) VULNERÁVEL
(Curcio, Nunes, Distribuição restrita às Expansão das
Argolo, Skuk, & florestas montanhas ao Sul atividades agropecuárias
Rodrigues, 2012) da Bahia
Viperidae
Bothrops alcatraz MATA ATLÂNTICA (endêmica) CRITICAMENTE AMEAÇADA PAN Herpetofauna
(Marques, Martins, & Restrita à Ilha de Alcatrazes, Perda de habitat ocasionada por Insular e PAN
Sazima, 2002) litoral norte do estado de São incêndios. (Lista Nacional e da Herpetofauna da
Jararaca-de- Paulo IUCN: CR; Lista Estadual de SP: Mata Atlântica do
alcatrazes VU) Sudeste/ESEC de
Tupinambás, SP
Quadro 1. Serpentes da “Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção” (Brasil, 2014a) e da “Lista das espécies de serpentes quase
ameaçadas” (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a), por ordem de família, com dados de distribuição; categoria de
ameaça (indicando também a categoria de ameaça, conforme o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, para algumas espécies);
presença em áreas protegidas entre outros; com base nos dados disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b) e em outras fontes consultadas (Martins & Molina, 2008; Sawaya et al.,
2008; Marques et al., 2009; Bataus & Reis, 2011; Guedes et al., 2014a, 2014b; Leão et al., 2014; Uetz & Hosek, 2014; International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources, 2015). 6 de 6
Viperidae
Bothrops pirajai MATA ATLÂNTICA (endêmica) EM PERIGO PAN Herpetofauna do
(Amaral, 1923) Matas ombrófilas densas no Descaracterização do ambiente natural Nordeste/RESEC
Jararacuçu-tapete sul da Bahia devido à produção de cacau tornando a Michelin e APA
população fragmentada, isolada Municipal Serra da
geográfica e geneticamente. Jibóia, BA
(Lista Nacional: EN; IUCN:VU)
Total: 32 espécies
Nota: CR: Criticamente ameaçada; EN: Em perigo; VU: Vulnerável; APA: Área de Proteção Ambiental; ARIE: Área de Relevante Interesse Ecológico; ESEC:
Estação Ecológica; IUCN: International Union for Conservation of Nature and Natural Resources; PAN: Plano de Ação Nacional; RESEC: Reserva Ecológica.
e abrigando cerca de dois milhões de pessoas (Silva, os campos, matas ciliares (de galeria), capões de
2012). mato e matas de encosta numa área de
É a maior área úmida do mundo e também aproximadamente 176.496km², o que corresponde
uma das mais importantes, tendo sido declarada pela a apenas 2,07% do território brasileiro (Suertegaray
Unesco como Patrimônio Natural Mundial e Reserva & Silva, 2009).
da Biosfera. Suas paisagens de transição entre os Os campos do Sul são ecossistemas naturais
ambientes aquáticos e terrestres, no Brasil, fazem que apresentam alta biodiversidade, com cerca de
fronteira com os biomas Mata Atlântica, Cerrado e 2.600 espécies de plantas vasculares (Pillar et al.,
Amazônia (Silva, 2012), de forma que sua fauna e 2012), muito embora não possam ser comparados
flora sofrem influência deles, sendo que o regime com ecossistemas ecologicamente mais complexos,
de inundações anuais característico do bioma é um como as florestas tropicais. Suas comunidades
fator ecológico fundamental que permite uma rápida biológicas são ricas e representam uma importante
ciclagem de nutrientes e propicia alta riqueza de contribuição à biodiversidade do planeta, apesar das
espécies aquáticas e terrestres (Signor et al., 2010). massivas alterações na paisagem provocadas pela
Com quase 3.500 espécies de plantas, a maior conversão dos habitats para agricultura e silvicultura
parte da planície pantaneira (cerca de 85%) apresenta (Behing et al., 2009).
sua vegetação nativa em bom estado de Apenas uma espécie de serpente da lista de
conservação, no entanto, quando se considera espécies ameaçadas (Instituto Chico Mendes de
apenas o planalto da bacia, constata-se que 60% Conservação da Biodiversidade, 2014b) (Quadro 1)
das áreas altas estão severamente descaracterizadas ocorre no bioma Pampa, Calamodontophis
(Silva, 2012). O desmatamento de áreas naturais paucidens, onde é endêmica.
para formação de pastagens, a caça, a introdução
de espécies exóticas, os grandes empreendimentos
- como as usinas hidrelétricas - e a poluição de rios Principais ameaças e estratégias para a
por pesticidas estão entre as principais ameaças ao conservação das serpentes
bioma (Harris et al., 2005).
Embora o Brasil seja detentor de exuberante
A despeito da abundância e da diversidade
biodiversidade e ocupe o primeiro lugar no ranking
de habitats aquáticos e de suas interfaces com
mundial em diversidade de répteis, o grande desafio
habitats terrestres, não há endemismo em relação à
tem sido a conservação e a gestão dessa rica
fauna herpetológica no Pantanal (Junk et al., 2006;
diversidade biológica, ameaçada pela intensificação
Strüssmann et al., 2007). Nenhuma das espécies de
das atividades antrópicas, que exercem pressão sobre
serpentes conhecidas no bioma consta da lista atual
o patrimônio biológico (Luz, 2011). No que diz
de serpentes ameaçadas.
respeito às serpentes, é possível afirmar que a perda
e a degradação de habitats são as principais ameaças
Pampa (Martins & Molina, 2008). De acordo com os dados
apontados pelos especialistas envolvidos na
O bioma Pampa (Instituto Brasileiro de elaboração da lista das espécies ameaçadas, a perda
Geografia e Estatística, 2004) abrange regiões pastoris de habitat tem ocorrido devido ao desmatamento
de planícies em três países da América do Sul - Brasil, para expansão de atividades agropecuárias,
Argentina e Uruguai - e, no Brasil, só existe no Rio expansão urbana, extração de madeira, queimadas
Grande do Sul, onde ocupa 63% do território do entre outras atividades (Quadro 1).
estado e possui uma população estimada de cerca Segundo Martins & Molina (2008), a maioria
de 6 milhões de habitantes (Instituto EcoDe- das serpentes das florestas tropicais brasileiras não
senvolvimento, 2011b). Suas principais formações são sobrevive em ambientes alterados, como pastos e
plantações, e nem em florestas de eucalipto ou objetivos e metas de conservação (Bataus & Reis,
pinheiro. No entanto, algumas espécies, como a 2011).
cascavel (Crotalus durissus), beneficiam-se de Nesse sentido, cinco Planos de Ação
habitats antropizados, invadindo áreas abertas em Nacionais, elaborados ou em processo de elaboração
função da derrubada de florestas tropicais (Marques ou de implementação, voltados para a conservação
et al., 2004). Como a cascavel é uma espécie da herpetofauna brasileira e coordenados pelo Centro
peçonhenta, acaba por tornar-se um problema, sendo Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e
morta inescrupulosamente pela população. Anfíbios, apontam medidas visando à recuperação
A maioria das espécies de serpentes de espécies de répteis e anfíbios ameaçados.
ameaçada é endêmica no bioma onde ocorre e/ ou São citadas 44 espécies de serpentes como
possui distribuição restrita, sinalizando urgência na alvos para conservação nesses planos (abaixo
implementação de medidas conservacionistas, como descritos), das quais 9 constam na “Lista Nacional
as previstas nos planos de ação, com foco em Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de
espécies ameaçadas de extinção. Os planos de ação Extinção” e 3 na lista das espécies quase ameaçadas
incluem, entre outras, informações sobre as espécies- (Instituto Chico Mendes de Conservação da
alvo, seu estado de conservação e de seus habitats, Biodiversidade, 2014a, 2014b). A maioria das espé-
principais ameaças a que estão sujeitas e ocorrência cies citadas nos planos de ação apresenta insufi-
em áreas protegidas para delimitação posterior dos ciência de dados ou algum tipo de risco (Quadro 2).
Quadro 2. Espécies de serpentes estadualmente ameaçadas ou deficiente em dados, por ordem de família, segundo os planos de ação citados, o Livro
vermelho da fauna ameaçada de extinção (Martins & Molina, 2008) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (2014a).
1 de 3
Família Espécie Risco/Categoria de ameaça Presença nos PAN
Anomalepididae
Liotyphlops trefauti (Freire, Caramaschi, Suzart Argôlo, 2007) DD
Colubridae
Coluber mentovarius (Duméril, Bibron, & Duméril, 1854) DD
Dendrophidion atlantica (Freire, Caramaschi, & Gonçalves, DD
2010)
Dipsadidae
Apostolepis cerradoensis (De Lema, 2003) DD
Apostolepis christineae (De Lema, 2002) DD
Apostolepis intermedia (Koslowsky, 1898) DD
Apostolepis lineata (Cope, 1887) DD
Atractus caxiuana (Prudente & Santos-Costa, 2006) DD
Atractus edioi (Da Silva, Rodrigues Silva, Ribeiro, Souza, & Do DD
Amaral Souza, 2005)
Atractus francoi (Passos, Fernandes, Bérnils, & Moura-Leite, DD PAN Herpetofauna da Mata
2010) Atlântica do Sudeste
Atractus maculatus (Günther, 1858) DD
Atractus potschi (Fernandes, 1995) DD
Caaeteboia amarali (Wettstein, 1930) Estadualmente ameaçada PAN Herpetofauna da Mata
Atlântica do Sudeste
Clelia hussami (Morato Franco & Sanches, 2003) DD (IUCN) PAN Herpetofauna do Sul
Dipsas albifrons cavalheiroi (Hoge, 1950) Estadualmente ameaçada PAN Herpetofauna Insular
Dipsas sazimai (Fernandes, Marques, & Argôlo, 2010) Estadualmente ameaçada PAN Herpetofauna da Mata
Atlântica do Sudeste
Drymoluber brazili (Gomes, 1918) Estadualmente ameaçada PAN Herpetofauna da Mata
Atlântica do Sudeste
Quadro 2. Espécies de serpentes estadualmente ameaçadas ou deficiente em dados, por ordem de família, segundo os planos de ação citados, o Livro
vermelho da fauna ameaçada de extinção (Martins & Molina, 2008) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (2014a).
2 de 3
Família Espécie Risco/Categoria de ameaça Presença nos PAN
Elapidae
Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820) DD PAN Herpetofauna da Mata
Atlântica do Sudeste
Leptotyphlopidae
Epictia clinorostris (Arredondo & Zaher, 2010) DD
Tropidophiidae
Tropidophis preciosus (Curcio, Nunes, Argolo, Skuk, & DD
Rodrigues, 2012)
Viperidae
Bothrops bilineatus (Wied, 1821) Estadualmente ameaçada PAN Herpetofauna da Mata
Atlântica do Sudeste
Bothrops cotiara (Gomes, 1913) Estadualmente ameaçada e PAN Herpetofauna da Mata
DD (IUCN) Atlântica do Sudeste e PAN
Herpetofauna do Sul
Quadro 2. Espécies de serpentes estadualmente ameaçadas ou deficiente em dados, por ordem de família, segundo os planos de ação citados, o Livro
vermelho da fauna ameaçada de extinção (Martins & Molina, 2008) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (2014a).
3 de 3
Família Espécie Risco/Categoria de ameaça Presença nos PAN
Total: 51 espécies
Nota: DD: Deficiente em dados; IUCN: International Union for Conservation of Nature and Natural Resources; PAN: Plano de Ação Nacional.
Plano de Ação Nacional Herpetofauna Integral. A principal ameaça a que a espécie está
Insular sujeita são os incêndios causados por exercícios de
tiro pela Marinha do Brasil, que têm provocado
O Plano de Ação Nacional para Conservação redução do habitat natural (Martins & Molina, 2008;
da Herpetofauna Insular, disposto pela Portaria nº Marques et al., 2009).
194, de 28 de maio de 2013 (Instituto Chico Mendes Bothrops insularis (jararaca-ilhoa) é endêmica
de Conservação da Biodiversidade, 2013a), abrange da Ilha da Queimada Grande, com 43 hectares,
áreas protegidas na forma de unidades de localizada no litoral Sul do Estado de São Paulo. A
conservação e estabelece ações que visam à ilha está inserida na Área de Relevante Interesse
proteção de espécies de anfíbios e répteis da Mata Ecológico (ARIE) Ilhas da Queimada Pequena e
Atlântica, incluindo as serpentes Dipsas albifrons Queimada Grande (SP), Unidade de Conservação
cavalheiroi, Bothrops alcatraz e B. insularis (Bataus Federal de Uso Sustentável. A principal ameaça é a
& Reis, 2011): as duas últimas figuram na lista oficial redução da população por atividades antrópicas, pois,
de espécies ameaçadas e estão categorizadas como segundo Martins & Molina (2008), algumas porções
Criticamente Ameaçadas (CR) (Instituto Chico da floresta original foram queimadas e substituídas
Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014b), por capim. Além dessa ameaça, que, segundo os
situação que se mantem, uma vez que, no Livro autores, parece sob controle, a captura ilegal dessa
Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção serpente por traficantes, para o mercado de espécies
(Machado et al., 2008), ambas espécies aparecem exóticas, ainda é preocupante.
na mesma categoria, na lista nacional e na lista da Dipsas albifrons cavalheiroi, embora não
IUCN (Quadro 1). esteja na lista nacional de 2014, aparece no Livro
Bothrops alcatraz (jararaca-de-Alcatrazes) tem Vermelho (Machado et al., 2008) como CR, em nível
sua população restrita à Ilha de Alcatrazes, associada nacional, e Vulnerável (VU) na lista estadual de São
à floresta ombrófila densa, no litoral norte do estado Paulo, devido ao fato de essa subespécie ser
de São Paulo. A ilha apresenta cerca de 135 hectares endêmica da ilha da Queimada Grande, no estado
de área, com parte pertencente à Marinha do Brasil de São Paulo (Martins & Molina, 2008) (Quadro 2).
e outra inserida na Estação Ecológica Tupinambás, Espécies encontradas em ilhas são parti-
uma Unidade de Conservação Federal de Proteção cularmente suscetíveis à extinção, porque muitas
delas são endêmicas e/ou possuem baixa densida- Ditaxodon taeniatus, com status VU, também
de populacional e pequena variação genética na lista estadual do Paraná (Machado et al., 2008),
(Vitousek, 1997). apresenta distribuição descontínua, com registros
isolados nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná,
Plano de Ação Nacional Herpetofauna do Mato Grosso do Sul e São Paulo. As localidades onde
Sul foram registradas têm sido exploradas para cultivo
de Pinus e Eucalyptus entre outras culturas e sofrem
O Plano de Ação Nacional para Conservação
com queimadas utilizadas para a limpeza de terrenos,
da Herpetofauna do Sul, elaborado em 2011 e
provocando descaracterização do habitat da espécie
aprovado pela Portaria nº 25, de 17 de fevereiro de
(Marques et al., 2009; Instituto Chico Mendes de
2012 (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade, 2012a), abrange ações voltadas às Conservação da Biodiversidade, 2014b).
espécies pertencentes aos biomas Pampa, Mata
Atlântica e Cerrado, e inclui as espécies de serpentes
Plano de Ação Nacional Herpetofauna do
ameaçadas: Calamodontophis paucidens, de
Nordeste
ocorrência no Pampa, e Calamodontophis ronaldoi
e Ditaxodon taeniatus, que ocorrem na Mata O Plano de Ação Nacional desenvolvido para
Atlântica. As serpentes Clelia hussami, Philodryas
a Herpetofauna do Nordeste, elaborado em 2012 e
arnaldoi, Xenodon histricus, Xenodon guentheri e
aprovado em 2013 pela Portaria nº 200, de 1º de
Rhinocerophis cotiara (= Bothrops cotiara) também
julho de 2013 (Instituto Chico Mendes de Conser-
são alvos desse plano de ação por estarem
vação da Biodiversidade, 2013b), abrange os
ameaçadas estadualmente ou apresentarem
remanescentes da Mata Atlântica Nordestina e inclui
deficiência de dados (Quadro 2).
como um dos alvos de conservação a serpente
Calamodontophis paucidens está categorizada Bothrops pirajai (Instituto Chico Mendes de Conser-
como Em Perigo (EN) na lista oficial vigente (Instituto vação da Biodiversidade, 2012b). A espécie,
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, categorizada como EN na lista atual, é endêmica do
2014b) e como VU na IUCN e na lista estadual do Brasil e da Mata Atlântica, com distribuição restrita
Rio Grande do Sul, conforme consta no Livro Vermelho à região sul do estado da Bahia, em áreas de floresta
(Machado et al., 2008). A espécie ocorre no bioma ombrófila densa. Nesses locais, as florestas en-
Pampa e, no Brasil, os registros estão restritos à contram-se muito fragmentadas devido à exploração
Depressão Periférica, no centro do estado do Rio
agrícola, o que leva a crer que suas populações es-
Grande do Sul, onde foram coletados até o momento
tejam fragmentadas e isoladas (Martins & Molina,
apenas 13 espécimes. A perda e degradação
2008; Instituto Chico Mendes de Conservação da
contínuas de habitat para expansão agrícola é a
Biodiversidade, 2014b). Segundo Martins & Molina
principal ameaça uma vez que a espécie foi registrada
(2008), exemplares foram registrados na Reserva
apenas em campos nativos em bom estado de
Ecológica Michelin e na Área de Proteção Ambien-
conservação (Instituto Chico Mendes de Conservação
tal Municipal Serra da Jiboia, áreas protegidas na
da Biodiversidade, 2014b).
Bahia. No Livro Vermelho (Machado et al., 2008),
Calamodontophis ronaldoi, também na aparece como EN na lista nacional e como VU na
categoria EN, é uma espécie endêmica do Brasil, IUCN.
com distribuição restrita no estado do Paraná, em
áreas de Floresta Ombrófila associada com campos. Plano de Ação Nacional Herpetofauna da
A perda de vegetação nativa e poluição, em decor- Mata Atlântica do Sudeste
rência da expansão de atividades agropecuárias,
provocam degradação do habitat (Franco et al., 2006; O Plano de Ação Nacional para a Conservação
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiver- da Herpetofauna da Mata Atlântica do Sudeste,
sidade, 2014b). aprovado pela Portaria nº 48, de 6 de outubro de
2015 (Brasil, 2015), inclui da lista de espécies de itapetiningae, Liotyphlops schubarti e Phalotris
serpentes ameaçadas: Corallus cropanii, Atractus lativittatus, e outras três espécies de serpentes com
serranus e Bothrops otavioi, além das serpentes “Dados Insuficientes” (DD): Atractus francoi, Micrurus
Bothrops alcatraz e Bothrops insularis, que constam ibiboboca e Philodryas laticeps (Instituto Chico
também no Plano de Ação Nacional Herpetofauna Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2014a).
Insular, e Ditaxodon taeniatus, espécie-alvo também B. itapetiningae consta no Livro Vermelho (Machado
do Plano de Ação Nacional Herpetofauna do Sul. et al., 2008) como VU e como EN nas listas estaduais
Corallus cropanii, categorizada como VU na de Minas Gerais e de São Paulo, respectivamente.
lista atual, tem distribuição restrita à Mata Atlântica Outras 23 espécies de serpentes ameaçadas
do vale do Ribeira, na planície litorânea sul do Estado estadualmente também são alvos desse plano (Brasil,
de São Paulo, com poucos registros para os 2015) (Quadro 2). Segundo a Portaria do Ministério
municípios vizinhos de Miracatu, Pedro de Toledo e do Meio Ambiente nº 43/2014, em seu Artigo 6º e §
Eldorado. Já esteve classificada como CR na lista 3º, as espécies enquadradas como NT e DD são
nacional, conforme Livro Vermelho (Machado et al., consideradas prioritárias na realização de pesquisa
2008). A maior ameaça, devido à distribuição restrita, sobre seu estado de conservação (Brasil, 2014b).
é a destruição de habitat, uma vez que a região do
vale do Ribeira vem sofrendo grande pressão
antrópica, convertendo a floresta original em culturas Plano de Ação Nacional para a Herpeto-
agrícolas e pastagens (Martins & Molina, 2008). fauna da Serra do Espinhaço
Segundo dados sobre a fauna ameaçada no estado
de São Paulo (Bressan et al., 2009), exemplares O Plano de Ação Nacional para a Herpe-
preservados em coleção foram encontrados na área tofauna da Serra do Espinhaço, elaborado em 2011
do Parque Estadual da Serra do Mar. e aprovado pela Portaria nº 24, de 17 de fevereiro
de 2012 (Instituto Chico Mendes de Conservação
Atractus serranus, com status VU, é também
da Biodiversidade, 2012c), que abrange os biomas
endêmica da Mata Atlântica, de ocorrência em
Cerrado e Mata Atlântica, possui ações previstas para
floresta ombrófila submontana, na Serra do Mar, no
as espécies de serpentes Philodryas laticeps,
estado de São Paulo. Devido à expansão urbana da
Philodryas agassizii e Liophis maryellenae (Instituto
cidade de São Paulo, a vegetação foi drasticamente
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,
reduzida, o que provocou a fragmentação e o
2011a), que não constam na “Lista Nacional Oficial
isolamento de sua população original (Passos et al.,
de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção” e
2010; Instituto Chico Mendes de Conservação da
nem na lista das espécies quase ameaçadas (Instituto
Biodiversidade/Ministério do Meio Ambiente, 2014b).
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Espécie que ocorre somente na Ilha de Vitória, 2014a, 2014b), mas são consideradas em risco ou
no litoral norte do estado de São Paulo, Bothrops com deficiência de dados (Instituto Chico Mendes
otavioi foi recém-descrita em 2012 e já se encontra de Conservação da Biodiversidade, 2012c).
categorizada como CR, devido ao desmatamento, Nos Planos de Ação Nacionais são indicadas
atividades agrícolas entre outras ações antrópicas, e priorizadas as principais ações que se fazem
que têm provocado a degradação do habitat e redu- necessárias para a conservação da biodiversidade
zido o número de indivíduos maduros (Barbo et al., do local de abrangência de cada plano, com foco
2012; Instituto Chico Mendes de Conservação da nas espécies já avaliadas e inseridas em categorias
Biodiversidade, 2014b). de risco (Bataus & Reis, 2011). Embora haja ações
Além destas, o Plano de Ação Nacional específicas para cada situação (que podem ser
Herpetofauna da Mata Atlântica do Sudeste consultadas em seus respectivos sumários executi-
beneficia, em suas ações previstas, as três espécies vos), de modo geral, os planos de ação preveem as
de serpentes “Quase-Ameaçadas” (NT): Bothrops seguintes estratégias para a conservação das
serpentes: a criação de Unidades de Conservação, na Mata Atlântica, que, além do alto grau de
bem como ações de fiscalização, recategorização e endemismo, é o bioma mais ameaçado, com
implementação das Unidades de Conservação acentuada devastação e fragmentação florestal, o
existentes; a realização de pesquisas científicas, com que reflete também em outros grupos taxonômicos
o intuito de aumentar o conhecimento sobre as com alta porcentagem de espécies ameaçadas
espécies (biologia, ecologia, distribuição geográfica (Paglia et al., 2008).
e sistemática), principalmente sobre aquelas cujos
Quando confrontada a lista atual das espécies
dados são insuficientes; a conservação in situ e ex
de serpentes ameaçadas com aquela constante no
situ das espécies ameaçadas; a proposição de
Livro Vermelho (Machado et al., 2008), verifica-se
medidas que reduzam o impacto e a perda de
que 21 espécies são novas inclusões, o que parece
habitats, que levam ao declínio populacional das
demonstrar avanço nas avaliações das espécies,
espécies-foco; além de ações que envolvam
embora o resultado seja preocupante, principalmente
educação ambiental, importantes para a
quando se constata que apenas nove das 29 espécies
sensibilização das comunidades diretamente
ameaçadas são contempladas nos planos de ação.
envolvidas e do público em geral e para a mediação
Para as outras 20 espécies da lista atual, ainda não
de conflitos (Bataus & Reis, 2011; Instituto Chico
há informações sobre medidas de conservação
Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2011a,
adotadas. Por outro lado, a inclusão de 44 espécies-
2011b, 2012b, 2015).
alvo nos planos de ação, a maioria de ocorrência na
É consenso entre os pesquisadores que a Mata Atlântica, é um avanço importante em relação
implantação de áreas protegidas é uma das à conservação de serpentes no Brasil, ainda que a
estratégias mais eficientes para a conservação da maioria não esteja na lista das espécies ameaçadas.
biodiversidade. Segundo Wiedmann (2008), a
É possível que essas espécies (ou parte delas)
conservação in situ nessas áreas protege os habitats
estejam em áreas protegidas. No entanto, a falta de
e preserva o patrimônio genético. Embora o Brasil
inventários para a ofiofauna tem dificultado a
tenha uma extensa rede de Unidades de
avaliação de seu estado de conservação. É necessário
Conservação, com áreas protegidas ocupando cerca
de 17% do território, além de 13% em áreas investimento em pesquisa científica, com vistas a
indígenas, é necessário que a gestão local dessas um melhor conhecimento sobre os hábitos das
áreas possa garantir a conservação da biodiversidade espécies de serpentes e informações mais precisas
e dos processos ecológicos naturais, através de um sobre sua distribuição geográfica para que possam
monitoramento eficiente ao longo do tempo (Pereira ser implementadas as medidas de proteção
et al., 2013). Além disso, é necessário estabelecer necessárias.
novas Unidades de Conservação, com intuito de Para finalizar, é importante destacar o que
conferir proteção para áreas ecologicamente foi enfatizado por Seigel & Mullin (2009): a falta de
representativas dos biomas, haja vista seu processo conservação das populações de serpentes tem
de degradação, conforme relatado. implicações evolucionárias significativas e a perda
Poucas são as espécies de serpentes de uma espécie pode ter consequências negativas
ameaçadas que se encontram em unidades de imprevistas não só em relação aos ecossistemas, mas
conservação, segundo os dados disponíveis, a sob os aspectos cultural, econômico e médico, para
exemplo do que ocorre para as espécies do gênero os seres humanos.
Bothrops (B. alcatraz, B. insularis, B. muriciensis, B.
pirajai) e para Corallus cropani, endêmicas da Mata
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