Lenita: Jorge Amado e A Vergonha Do Primeiro Livro (1931)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 35

INVESTIGAÇÕES DE AUTORIA E PUBLICAÇÃO

Pasta no OneDrive com mais de 100 artigos para baixar:

https://1drv.ms/u/s!Aj6kOBkyV630khcEvKdfnFl6K5aP?e=hcoacK

Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

Artigos no Medium | Blog literário | Scribd | Twitter | Livros na Amazon

______________________

"Lenita": Jorge Amado e a vergonha do primeiro livro

Resumo

Tema: o primeiro livro de ficção de Jorge Amado, "Lenita", história escrita em


colaboração com Édison Carneiro (1912-1972) e Oswaldo Dias da Costa (1907-1979).

Publicação original da história: folhetim "El-Rey", no periódico "O Jornal", de


Salvador, em 1930.

Publicação da história em livro: novela "Lenita" (1931), no Rio de Janeiro.

Avaliação da crítica da época: "ostentando uma capa que é verdadeiro desastre"


("Diário Nacional", SP); "quem não pretende agradar, o melhor que faz é não escrever"
("Fon Fon", RJ); "Todos [os personagens], sem exceção, formam uma bem cuidadosa
galeria de psicopatas" (Alves Ribeiro); "um livro que não recomenda o talento dos
autores " (Alves Ribeiro); "o romance 'Lenita' é uma pura abominação" (Medeiros e
Albuquerque);

Avaliação posterior do próprio Jorge Amado: "é uma coisa de criança"; "um
único subliterato não poderia tê-lo feito tão ruim, foi necessário que se juntasse três";
"uma miserável novela que eu, Édison Carneiro e Dias da Costa escrevemos"; "é um
dos piores livros que já foram publicados no Brasil"; "minha primeira experiência de
romancista foi um fracasso total"; "uma das grandes curiosidades da minha vida é saber
se alguém comprou este livro".

Equívoco frequente em textos sobre o autor: atribuir o título do livro ("Lenita") ao


folhetim que o originou ("El-Rey").

__________________________________________
Apresentação

Não é situação rara um autor confessar a sua vergonha pelo primeiro livro. Desta sina
nem Jorge Amado escapou.

O primeiro livro de ficção do famoso romancista baiano, lançado em 1931, jamais foi
reeditado desde então, por vontade própria.

Site Jorgeamado.com.br

http://www.jorgeamado.com.br/obra.php3?codigo=12615

A novela "Lenita" (1931) era um texto de autoria coletiva, dele e dos amigos Édison
Carneiro (1912-1972) e Oswaldo Dias da Costa (1907-1979), antes publicado como
folhetim no periódico "O Jornal", de Salvador, em 1930.

O livro, assim como o texto original de "Rui Barbosa Número 2" (disponível nesta
pasta, subpasta Investigações de Autoria e Publicação), foi excluído das Obras
Completas de Jorge Amado e se tornou uma curiosidade literária, mais valorizada por
estudiosos do que por leitores.

Também na crítica se convencionou, desde a década de 30, tratar o romance "O País
do Carnaval" como o verdadeiro início da carreira de Amado.

"Boletim de Ariel" (RJ), outubro de 1932, número 28, página, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/072702/95
"A Ordem" (RJ), junho de1932, número 42, pagina 28.

http://memoria.bn.br/DocReader/367729/2572
A história de "Lenita"

"Lenita" (1931) nasceu "El-Rey" (1930).

A maioria das páginas da Web que se referem a essa primeira experiência literária de
Jorge Amado, em conjunto com os amigos Edison Carneiro e Dias da Costa, transmite
uma informação errônea sobre a origem da novela "Lenita".

Repare, a seguir, nos destaques:

"Bis!: Clássicos de Jorge Amado adaptados para cinema, TV e teatro", Globo Teatro,
10/8/2012.

http://redeglobo.globo.com/globoteatro/bis/noticia/2013/09/jorge-amado-classicos-
adaptados-para-cinema-televisao-e-teatro.html

"Tributo a Jorge Amado", Camila Vieira, Brasil 247, 9/7/2018.

https://www.brasil247.com/cultura/tributo-a-jorge-amado
"A Literatura de Jorge Amado – Orientações para o trabalho em sala de aula", página
80, Caderno de Leituras, organização de Norma Seltzer Goldstein, Companhia das
Letras.

https://www.companhiadasletras.com.br/sala_professor/pdfs/CadernoLeiturasAliterat
uradeJorgeAmado.pdf

"Jorge Amado - A história do escritor brasileiro mais difundido no mundo", Luiz


Cláudio Canuto, Rádio Câmara, 13/09/2010.

https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-
ESPECIAL/388326--JORGE-AMADO---A-HISTORIA-DO-ESCRITOR-
BRASILEIRO-MAIS-DIFUNDIDO-NO-MUNDO-(0801).html

"Jorge Amado", Portal São Francisco, Biografias.

https://www.portalsaofrancisco.com.br/biografias/jorge-amado
"Jorge, Internacionalmente Amado", página 14, Sudha Swarnakar, em "Nova Leitura
Crítica de Jorge Amado", Eduepub, Universidade Estadual da Paraíba, Campina
Grande, Paraíba, 2014.

http://books.scielo.org/id/2yqzj/pdf/swarnakar-9788578793289.pdf

"Jorge Amado, Centenário", Joaci Góes, "Revista da Academia de Letras da Bahia",


página 95, número 51, julho de 2013.

https://academiadeletrasdabahia.files.wordpress.com/2013/04/revista_alb_51.pdf
Alguns exemplos, apenas.

Na verdade, os amigos Jorge Amado, Édison Carneiro e Dias da Costa publicaram


em "O Jornal", no ano de 1930, um folhetim intitulado "El-Rey". Este folhetim seria
lançado um ano depois (1931), em livro impresso, com o título "Lenita".

O próprio Jorge Amado contou a história de como os três amigos tiveram a ideia de
criar o folhetim, em um trecho da autobiografia escrita especialmente para o jornal
"Gazeta de Notícias" em 1934.

"É também a cerveja do Bar Brunsuiwk responsável por uma miserável novela que
eu, Édison Carneiro e Dias da Costa escrevemos; 'Lenita'. É um dos piores livros que já
foram publicados no Brasil. Mas nós tínhamos 17 anos e acreditávamos em muita coisa.
A novela saiu em folhetim no "O Jornal" da Bahia e depois em volume editado aqui no
Rio, por um editor que certamente nunca leu os originais. Foi numa noite de sábado que
combinamos escrever a tal novela. Não teve plano nem esqueleto, nada. Ficou
combinado que Dias escreveria o primeiro capítulo, passaria a Édison, que faria o
segundo e eu o terceiro. Assim por diante. À proporção que a novela era escrita, saía
publicada no jornal. Porém aconteceu que Édison no segundo capítulo criou uma
mulherzinha terrível de magra e de feia para heroína. Eu que naquele tempo vivia sobre
a influência de uma pequena lírica e sentimental, matei a prostituta no terceiro capítulo
para moralizar o livro. Edison se danou e então fez da alma da mulher a heroína do
livro. Cada qual queria atrapalhar o outro e acabou saindo uma novela horrorosa. Uma
das grandes curiosidades da minha vida é saber se alguém comprou este livro. De uma
mulherzinha eu sei que o maior desejo de sua vida é parecer com Lenita. Ela me disse
uma vez, numa noite de estrelas e cálices."
"Gazeta de Noticias" (RJ), 5/12/1934, número 63, página 3, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/3016

Repare que o próprio Jorge Amado incentiva a confusão mostrada antes do recorte,
ao denominar "Lenita" o folhetim escrito pelos três amigos para "O Jornal".

O parceiro Dias da Costa relatou deste modo a gênese da brincadeira literária:


"Academia dos Rebeldes: Modernismo à Moda Baiana", páginas 162 e 163, Angelo
Barroso Costa Soares, dissertação de mestrado em Literatura e Diversidade Cultural,
Universidade Estadual de Feira de Santana, 2005.
http://tede2.uefs.br:8080/bitstream/tede/11/1/Angelo%20Barroso%20Soares.pdf

Em "Jorge Amado: uma biografia", Joselia Aguiar também conta a história do


folhetim em "O Jornal" e da publicação da novela em livro impresso:
Digite "lenita" na caixa de busca

https://books.google.com.br/books?id=pSF0DwAAQBAJ&dq=%22glauter+duval%2
2&hl=pt-PT&source=gbs_navlinks_s
O folhetim "El-Rey"

O registro de "Lenita" no Catálogo de Acervo de Documentos" da própria Fundação


Casa de Jorge Amado é um bom exemplo de como toda fonte, por mais fidedigna que
ela pareça, necessita de uma avaliação crítica do pesquisador.

Repare:

"Catálogo de Acervo de Documentos, Volume 1, Jorge Amado - Produção Ativa",


Fundação Casa de Jorge Amado, páginas 47 e 48.

http://acervo.jorgeamado.org.br/assets/pdf/catalogo_Final.pdf

O leitor será tentado a atribuir o ano de 1928 à história de Amado, Carneiro e Édison,
publicada em "O Jornal". E sairá da leitura com a certeza de que essa história se
chamava "Lenita". Mas o ano foi 1930, e o título era "El-Rey". "Lenita" seria o título da
mesma história lançada em livro impresso, em 1931.

O equívoco relativo ao ano de publicação de "El Rey" também é comum:

"Jorge Amado, o realismo socialista e o romance proletário: historiografia e crítica


literária (1931-1937)", página 64, Geferson Santana, "Izquierdas", janeiro de 2019.

https://www.researchgate.net/publication/330618444_Jorge_Amado_o_realismo_soc
ialista_e_o_romance_proletario_historiografia_e_critica_literaria_1931-1937
"Academia dos Rebeldes: modernismo à moda baiana", páginas 161 e 162, Angelo
Barroso Costa Soares, Universidade Estadual de Feira de Santana, 2005.

http://tede2.uefs.br:8080/handle/tede/11

"O Jovem Romancista Jorge Amado", páginas 1 e 2, Matheus de Mesquita e Pontes,


"Anais do IV Congresso Internacional de História – Cultura, Sociedade e Poder", 23 a
25 de setembro de 2014, Jataí (GO).

http://www.congressohistoriajatai.org/anais2014/Link%20(190).pdf

Uma descrição mais precisa dos fatos consta do seguinte trabalho acadêmico, o único
totalmente centrado na novela: "Lenita: um livro não amado".
"Lenita: um livro não amado", Maria das Graças Nunes Cantalino e Ricardo
Henrique Resende de Andrade, em "Entrelaçando, Revista Eletrônica de Culturas e
Educação", número 1, outubro de 2010, página 112.

https://www2.ufrb.edu.br/revistaentrelacando/component/phocadownload/category/3
2%3Fdownload%3D166+&cd=1&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=br

No mesmo trabalho, os autores reconhecem, na nota 4 da mesma página, as


divergências quanto aos anos de publicação do folhetim e do livro impresso:

"Há algumas controvérsias em torno da data de publicação da novela no jornal e em


livro. Especula-se também que a data da publicação tenha sido entre 1929 e 1931. Cf.
COUTINHO, Afrânio; SOUZA, J. Galete de (Orgs.). Enciclopédia de literatura
brasileira. Rio de Janeiro: FAE, 1989. v.1 p. 472; Cf. RUBIM, Rosane; CARNEIRO,
Maried (Orgs.). Jorge Amado 80 anos de vida e obra: subsídios para pesquisa. Salvador:
FCJA, 1992. p. 33; Cf. TÁTI, Miécio. Jorge Amado: vida e obra. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1961. p. 20."

Curiosamente, o erro foi incentivado pelo próprio Jorge Amado, ao publicar este
trecho em "Navegação de Cabotagem (Apontamentos para um Livro de Memórias que
Jamais Escreverei" (Editora Record, 1992):
O pesquisador, jornalista e professor universitário Gilfrancisco foi um dos poucos
felizardos a manusear os originais de "O Jornal" com os episódios do folhetim "El-
Rey", na condição, segundo suas palavras, de "responsável pela localização e coleta de
todo material escrito por Jorge Amado ou sobre ele", quando trabalhava para a
Fundação Casa de Jorge Amado.

Em suas pesquisas encontrou, no acervo do Instituto Histórico e Geográfico da


Bahia, uma coleção incompleta do periódico "O Jornal", dos anos de 1929 e 1930, o que
lhe permitiu ler e depois copiar o texto integral do folhetim.

Posteriormente, a coleção se perdeu devido a um desabamento de parte do telhado do


prédio, durante um temporal.

Vale a pena ler o relato de Gilfrancisco, no qual são transmitidas informações


inéditas sobre o folhetim:

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html

Segundo Gilfrancisco, os episódios do folhetim escritos por Jorge Amado saíram em


7, 12, 24 e 28 de abril de 1930.

A revista "Etc." republicou em 15 de julho de 1930, no número 168, um episódio


escrito por Dias da Costa.

Eis os pseudônimos dos autores: Glauter Duval (Dias da Costa), Juan Pablo (Edison
Carneiro) e Y. Karl (Jorge Amado).

Como veremos adiante por meio de recortes de jornais da época, o livro impresso
saiu no segundo semestre de 1931.

Esta seria a primeira história colaborativa de Jorge Amado, das três de que participou
em sua carreira literária.

Na segunda, o romance "Brandão entre o Mar e o Amor", publicado em 1942, teria


como companheiros Aníbal Machado, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e Rachel
de Queiroz.

E na terceira e última, a história policial "O Mistério dos MMM", publicada em


1960-1961 pela revista "O Cruzeiro", seus parceiros seriam Antônio Callado, Dinah
Silveira de Queiroz, Herberto Sales, João Guimarães Rosa, José Condé, Lúcio Cardoso,
Orígenes Lessa, Rachel de Queiroz e Viriato Corrêa.
O livro "Lenita"

"Lenita", nome da protagonista do folhetim "El-Rey", foi o título escolhido para a


edição da história em livro impresso.

Em mais um exemplo de como fontes supostamente fidedignas podem disseminar


informações equivocadas, o site da Academia Brasileira de Letras, da qual Jorge Amado
foi membro, inverte a sequência cronológica dos fatos (o escritor participou do folhetim
antes de se mudar para o Rio, e não depois), além de sugerir que a novela teria sido
escrita na Cidade Maravilhosa, e não em Salvador. Além disso, "O País do Carnaval"
foi publicado em 1931.

1930. Muda-se para o Rio de Janeiro e escreve seu primeiro romance, “O país do
carnaval”. Escreve a novela “Lenita”, em colaboração com Dias da Costa e Édison
Carneiro.

"Cronologia de Vida", "Uma vida ardentemente vivida" ("O Globo", 7/8/2001).

http://academia.org.br/noticias/cronologia-de-vida

Na Wikipédia, a novela sequer aparece na bibliografia do autor.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado

Ao mudar-se para o Rio em junho de 1930, Amado adaptou o conteúdo da coluna


que escrevia para a revista baiana "Etc." ("Casos e Coisas"), passando a focar nas
notícias do Rio de Janeiro, como se pode constatar pela leitura dos recortes abaixo.
"Etc." (BA), 9/6/1930, número 129, página 2, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/165573/958

As primeiras impressões do escritor sobre o Rio foram fortes, embora bem pouco
literárias.
"Etc." (BA), 16/6/1930, número 130, página 2, última coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/165573/972

Também no periódico "Etc." Jorge Amado viria a publicar um trecho inédito do


romance "O País do Carnaval", em 1º de dezembro de 1930.
"Etc." (BA), 1/12/1930, número 152, páginas 7 e 8.

http://memoria.bn.br/docreader/165573/1273

http://memoria.bn.br/docreader/165573/1274

A capa de "Lenita"

Na Web estão disponíveis duas capas de "Lenita". A primeira combina com a


descrição feita por Dias da Costa no recorte mostrado na seção anterior: "A capa
apresentava a heroína no momento em que ia ser atropelada, vestida apenas com uma
transparente camisa de dormir. Diz Jorge que devido a essa capa o livro teve grande
vendagem entre os amantes da literatura fescenina".
"O Combate das Ideias: estratégias culturais dos intelectuais comunistas baianos na
produção de um novo conhecimento sobre o Brasil (1920-1937)", página 94, Geferson
Santana, dissertação de mestrado em História, Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), Guarulhos, São Paulo, 2017.

http://repositorio.unifesp.br/bitstream/handle/11600/41555/Geferson%20Santana%2
0-
%20O%20combate%20das%20ideias%20%28Vers%C3%A3o%20Final%29.pdf?seque
nce=3&isAllowed=y

Outra capa é mostrada no site já mencionado onde se encontra o artigo do


pesquisador Gilfrancisco.
http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html

O momento de publicação de "Lenita"

O livro, lançado provavelmente em outubro de 1931 (ainda estava no prelo em 19 de


setembro, e já havia sido lançado em outubro, conforme as informações da próxima
seção), precedeu em apenas dois meses o lançamento do romance "O País do Carnaval"
(este, em dezembro de 1931), o primeiro livro escrito exclusivamente por Jorge Amado.

"O Jornal" (RJ), 10/12/1931, número 4018, página 11, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_03/11356

Segundo o jornal baiano "Etc.", para o qual escrevia Jorge Amado, o lançamento do
livro estaria previsto para fevereiro de 1931.
"Etc." (BA), 15/12/1930, número 154, página 6.

http://memoria.bn.br/DocReader/165573/1296

A apresentação dos autores na obra

Este é o trecho inicial da apresentação dos autores de "Lenita":

"Escrever e publicar um livro, numa terra e numa época em que todos os


desocupados são escritores e todos os escritores se transformam milagrosamente em
autores, é tarefa tão comum e tão banal, que nem mesmo chega a amedrontar um
colegial pouco imaginoso que atingiu, precocemente, a idade crítica de versejar.
Sabemos que a tarefa é inglória e a empresa ridícula, mas, felizmente, temos duas
atenuantes ao publicarmos esta novela. Não pretendemos agradar e não fazemos versos.
Escrevêmo-la porque temos a doença terrível de escrever e pouco nos importa o que
digam de nós esses outros enfermos — os criticopatas —, em tudo mais doentes que
nós. O micróbio terrível da crítica os torna duplamente cegos, quer para os defeitos dos
amigos, quer para as virtudes dos adversários."

"Fon Fon" (RJ), 7/11/1931, número 45, página 9, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/259063/78067
Anúncios de "Lenita"

1. Em 31 de agosto de 1931, o jornal "Etc.", para o qual contribuía Jorge Amado,


publicou um anúncio do próximo lançamento de "Lenita".

"Etc." (BA), 31/8/1931, número 171, página 18, parte inferior.

http://memoria.bn.br/DocReader/165573/1526

2. Em 19 de setembro de 1931, a "Revista da Semana" (RJ) informava que a novela


"Lenita", de Jorge Amado, Édison Carneiro e Dias da Costa, já estava no prelo.

"Revista da Semana" (RJ), 19/9/1931, número 40, página 27, segunda coluna (em
"Livros Novos", "Livros no Prelo").

http://memoria.bn.br/DocReader/025909_03/3938

3. No primeiro número da revista "Boletim de Ariel" (RJ), em outubro do mesmo


ano, o editor da seção "Memento Bibliográfico" solicitava a vários autores o envio de
suas produções literárias, entre elas "Lenita". Portanto, pode-se concluir que a obra do
trio de amigos já se encontrava à venda.
"Boletim de Ariel" (RJ), outubro de 1931, número 1, página 20, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/072702/27

4. Em novembro, a Livraria Freitas Bastos oferecia "Lenita" entre os livros de título


iniciado pela letra L, em seu anúncio no "Diário de Notícias" (RJ).
"Diario de Noticias" (RJ), 20/11/1931, número 518, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_01/7866

5. Segundo Gilfrancisco, "Dias da Costa republicou um capítulo na revista Etc. nº


168, 15 de julho, 1931, provavelmente o mês do lançamento do livro, período em que
começa a aparecer publicidades de vendas na revista O Momento nº 1, julho, 1931".

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html

Essa informação sobre o mês provável do lançamento não combina com as imagens
mostradas acima.
A recepção de "Lenita" à época do lançamento

Abaixo, as críticas e resenhas conhecidas de "Lenita", à época do seu lançamento.

1. "O Momento" (BA), 15 de outubro de 1931, número 4: texto de Machado Lopes.

“Não enveredarei absolutamente, pelos caminhos da crítica para escrever sobre


'Lenita'. E isso não só porque sou despido de quaisquer pretensões a crítico, como
também porque os nomes que fizeram 'Lenita' surgir no teatro da literatura brasileira
não precisam dessa corriqueira adjetivação de elogio, tão comum entre nós. Quero
apenas congratular-me com a talentosa trindade criadora de 'Lenita'.

"Logo, ao ver 'Lenita', observei uma coisa interessante – fazia aparecer mais uma
trindade. Teriam sido os seus autores influenciados pelo instinto, tão baiano, do
tradicionalismo? – Não creio. E lembrei-me, então, de que os grandes acontecimentos
ou as grandes criações sempre vêm ao mundo tangidas pelas mãos das trindades. E
nelas há, sempre, o eterno mistério. A identificação do trio numa única pessoa ou num
mesmo espírito é o fim por que se desencadeia toda a luta da humanidade."

Fonte: pesquisador Gilfrancisco

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html

2. "Diário Nacional" (SP), 6 de novembro de 1931, número 1302, página 3,


antepenúltima coluna: texto anônimo.

"Ostentando uma capa que é verdadeiro desastre, 'Lenita', novela escrita por três
jovens elementos da imprensa de Salvador, da Bahia, e publicada anteriormente em
folhetim pelo 'O Jornal', daquela capital, é, entretanto, um livrozinho de ficção, cuja
leitura agrada pela singeleza de sua narrativa e pela despretensão dos autores.
Interessante, quer pela feitura episódica, que não gira, consoante os velhos cânones, em
torno de um tema central, preconcebido, à guisa de estaca ou de espinha dorsal do
enredo; interessante pela naturalidade com que os três autores trabalham o estilo e
fotografam o ambiente de Salvador de hoje, 'Lenita' é livro que, se não faz jus a
conceitos encomiásticos, merece, todavia, ser procurado pelos apreciadores da literatura
pura, espécie a que pertence deliberadamente.

"Modernos sem exageros de escolas literárias; expressivos, sem arroubos


descontrolados de gongoristas ou de condoreiros, a Jorge Amado, Dias da Costa e
Édison Carneiro que, no presente volume anunciam a próxima publicação de livros
próprios, autônomos, está, por certo, reservado carinhoso acolhimento por parte do
público."
"Diario Nacional" (SP), 6/11/1931, número 1302, página 3, antepenúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/213829/13870

3. "Fon Fon" (RJ), 7 outubro de 1931, número 45, página 9, segunda coluna: texto
anônimo.

"Jorge Amado, Dias da Costa e Édison Carneiro, três espíritos rebeldes, reuniram-se
para escrever uma novela. Pareceu-lhes, naturalmente, que a colaboração de três
indivíduos na fatura [feitura] de um livro, era coisa original. Porém, o resultado só podia
ser um, e este constatamo-lo: a falta de unidade da obra, o descosido das ideias, a
dispersão de energias aproveitáveis. Os três rapazes apresentam-se em público, com
estas palavras: "Escrever e publicar um livro, numa terra e numa época em que todos os
desocupados são escritores e todos os escritores se transformam milagrosamente em
autores, é tarefa tão comum e tão banal, que nem mesmo chega a amedrontar um
colegial pouco imaginoso que atingiu, precocemente, a idade crítica de versejar.
Sabemos que a tarefa é inglória e a empresa ridícula, mas, felizmente, temos duas
atenuantes ao publicarmos esta novela. Não pretendemos agradar e não fazemos versos.
Escrevêmo-la porque temos a doença terrível de escrever e pouco nos importa o que
digam de nós esses outros enfermos — os criticopatas —, em tudo mais doentes que
nós. O micróbio terrível da crítica os torna duplamente cegos, quer para os defeitos dos
amigos, quer para as virtudes dos adversários."

"Palavras...
"Nem todos os que publicam livros são escritores, embora o caso não se aplique aos
autores de 'Lenita'.

"E quem não pretende agradar, o melhor que faz é não escrever, pois nem todos os
críticos estão atacados da cegueira acima aludida.

"Nós, por exemplo, temos satisfação em reconhecer o talento dos autores de 'Lenita',
capazes de realizações de maior vulto no terreno da literatura.

"Nem isto é um prognóstico, diante da exibição feita, pelos mesmos, apesar de


irreverentes na apresentação ao respeitável publico."
"Fon Fon" (RJ), 7/11/1931, número 45, página 9, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/259063/78067

4. "O Momento" (BA), 15 de novembro de 1931, número 5: texto "A Literatura do


Sexo", de Alves Ribeiro.

"'Lenita' é a história de uma rameira de ínfima categoria que, tornada amante, de um


momento para outro, do milionário Alberto Neves, se dá ao luxo de atirar-se em baixo
de um automóvel ao ser possuída, em estado de sonolência, por um criado chinês (De
resto, a cena é um pouco artificial, e desmente um pouco a experiência sexual do autor
do capítulo).

"Nada mais banal, como se vê. O que torna a leitura interessante (para o público
acostumado às diabruras fesceninas de Pitigrilli [Dino Segre, escritor italiano] e
[Maurice] Dekobra [Maurice Tessier, escritor francês; dois autores tidos como
"subversivos"]) é a vida escandalosa e irresponsável das personagens da novela. Todos,
sem exceção, formam uma bem cuidadosa galeria de psicopatas."

Fonte: pesquisador Gilfrancisco

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html

5. "O Estado de Minas", dezembro de 1931: texto de Oscar Mendes.

Fonte: pesquisador Gilfrancisco

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2011/05/lenita-estreia-do-romancista-
jorge.html
6. "Vida Literária", janeiro de 1932, número 7, página 14, primeira coluna: texto de
Medeiros e Albuquerque.

"O autor e o editor deste livro parecem apostados em obter que ele não tenha leitores.
Não é que o volume não seja apresentado sob um aspecto muito simpático, Mas o autor
confessa que, em colaboração com dois outros cúmplices, perpetrou o romance 'Lenita'.
E o romance 'Lenita' é uma pura abominação. Por outro lado, o editor, que é aliás um
alto espírito de poeta, nos confia que o romance tem graves defeitos e que nele os
personagens estão animados de altas preocupações filosóficas.

"Quem, portanto, vê a folha de rosto do volume e percorre prefácio, que o editor


escreveu para ele, fica com vontade de não o ler.

"Faz, porém, mal, porque o livro é excelente. Bom, bem feito, vivo, tem, é certo, um
evidente excesso de diálogos sobre narrações e descrições, excesso que podia ser
evitado, mas que não lhe prejudica o encanto."

"Vida Literaria", janeiro de 1932, número 7, página 14, primeira coluna (em
"Impressão Crítica dos Novos Livros", "Impressões de Leitura", iniciada na página 13).

http://memoria.bn.br/DocReader/367923/110

7. "Diário da Manhã" (ES), 21/1/1932, número 2816, página 1, penúltima coluna:


texto anônimo.

"Uma interessante novela, contendo a narração entusiástica de três brilhantes


espíritos. Gênero Paul Bourget [autor francês de romances psicológicos], Pierre Benoit
[autor francês de romances de aventuras], 'Lenita' é um trabalho original moderno e
bem-feito."

"Diario da Manhã" (ES), 21/1/1932, número 2816, página 1, penúltima coluna (em
"Novidades Literárias no Rio de Janeiro").

http://memoria.bn.br/DocReader/572748/36987

Essa breve resenha foi reproduzida em "Vida Capixaba" (ES), 30/3/1932, número
313, página 3, primeira coluna.

"Vida Capichaba" (ES), 30/3/1932, número 313, página 3, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/156590/11108

8. "O Jornal" (RJ), 21/2/1932, número 4080, página 15, antepenúltima coluna: texto
de Agripino Grieco.

"Outra revelação para mim foi o romance ["O País do Carnaval"] do baiano Jorge
Amado. Vira-o eu chegar aqui ainda com uns ares de provinciano, meio atoleimado pelo
Rio, e não esperava grande coisa dele. Uma novela, 'Lenita', rabiscada de parceria com
outros, também não lhe trouxe, de pronto, maior prestígio."
"O Jornal" (RJ), 21/2/1932, número 4080, página 15, antepenúltima coluna (em
"Três Autores – Três Livros").

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_03/12488
Exemplares disponíveis

A Biblioteca Nacional possui um exemplar de "Lenita" em seu acervo. O registro


informa o número de páginas: 137 no total.

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=849458

Há outro exemplar da obra no acervo da Universidade Federal do Recôncavo da


Bahia:

http://acervo.ufrb.edu.br/pergamum/biblioteca/

Repare que nos dois casos o ano preciso do lançamento da obra (1931) não é
informado.

Você também pode gostar