Fany, de Nísia Floresta, A Segunda História de Ficção de Escritora Brasileira (1847)
Fany, de Nísia Floresta, A Segunda História de Ficção de Escritora Brasileira (1847)
Fany, de Nísia Floresta, A Segunda História de Ficção de Escritora Brasileira (1847)
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Resumo
Tema: o livreto Fany ou o Modelo das Donzelas, lançado pela potiguar Nísia
Floresta Brasileira Augusta (12/10/1810 - 24/4/1885) em 1847, mesmo ano do
lançamento de outro livreto da autora, Daciz ou a Jovem Completa.
História do livro Fany: publicado no Rio de Janeiro em 1847, não teve nenhum
anúncio em jornais, tornando-se inacessível até o seu manuscrito ser encontrado com o
político gaúcho Borges de Medeiros, que o cedeu ao escritor e político Fernando Luís
Osório Filho em dezembro de 1934.
. Tradução não assumida da obra inglesa Woman Not Inferior to Man (A Mulher Não
é Inferior ao Homem, 1739), de autoria de "Sophia, a Person of Quality'" (pseudônimo).
. Texto destinado à educação da filha Lívia Augusta, então com 12 anos de idade.
. Primeira obra autoral de Nísia e seu livro mais bem-sucedido, com tradução para o
idioma italiano e o francês.
. Texto lido por Nísia ante as suas alunas do Colégio Augusto no final do ano letivo,
em 18 de dezembro de 1847.
. Pseudônimo: N. F. B. Augusta.
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Dois anos antes, em 1845, a gaúcha Ana Eurídice Eufrosina de Barandas se tornava a
primeira brasileira a publicar uma obra de ficção, com Eugênia ou a Filósofa
Apaixonada, integrante de seu livro O Ramalhete ou Flores Escolhidas no Jardim da
Imaginação.
Imagem escaneada da segunda edição do livro "O Ramalhete" (1990).
Imagem copiada do Google Image.
Por mais de 150 anos tomou-se como verdade que essa obra de Nísia seria uma
tradução livre do clássico feminista A Vindication of the Rights of Woman (Uma Defesa
dos Direitos da Mulher, 1792), texto da escritora inglesa Mary Wollstonecraft (1759-
1797), mãe da também escritora Mary Shelley, autora de Frankenstein, ou o Prometeu
Moderno.
Imagem copiada da Wikipédia.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Uma_Reivindica%C3%A7%C3%A3o_pelos_Direitos_
da_Mulher#/media/File:Vindication1b.jpg
https://archive.org/details/vindicationofright00woll
Essa versão perdurou até que Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, historiadora e
professora da USP, veio a revelar em seu artigo Pela liberdade das mulheres, publicado
na Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 1995, que Nísia havia se inspirado em dois
outros livros para produzir o seu texto: a obra francesa De l'Égalité des Deux Sexes (Da
Igualdade dos Dois Sexos, 1673), do filósofo François Poullain de La Barre,...
Fonte da imagem
https://www.edition-originale.com/fr/livres-anciens-1455-1820/philosophie/poullain-
de-la-barre-de-legalite-des-deux-sexes-discours-1690-21198
http://blog.le-miklos.eu/wp-content/Poullain-EgaliteDesDeuxSexes.pdf
... e a obra inglesa Woman Not Inferior to Man (A Mulher Não é Inferior ao Homem,
1739), de Sophia, pseudônimo ora associado a Lady Mary Wortley Montagu, (1689-
1762), ora a Lady Sophia Fermor (1721-1745).
Imagem copiada da Digital Library LSE.
https://digital.library.lse.ac.uk/objects/lse:huc485foq
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/10/mais!/3.html
Folha de rosto e primeira página da segunda edição, lançada em Porto Alegre (1833).
Fonte
http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/2017/08/natal-fevereiro-de-
2013-apresentacao-ao.html
Nísia teria inventado uma autora do original inglês (Mistriss Godwin) e utilizado o
próprio pseudônimo integral (Nísia Floresta Brasileira Augusta) como tradutora. Em
outras obras da escritora haveria uma grande variação de nomes e abreviaturas baseados
nesse pseudônimo (N. F. B. A., N. F. B. Augusta, F. Augusta Brasileira etc.).
Essa obra seria a tradução francesa de Woman not Inferior to Man, intitulada La
Femme n'est pas Inférieure à l'Homme", publicada em 1750.
http://naogostodeplagio.blogspot.com/2020/08/de-sophia-person-of-quality-
nisia.html
https://books.google.com.br/books/about/Conselhos_a_%CC%81minha_filha.html?i
d=c_ZCAQAAMAAJ&redir_esc=y
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/2878
1847 foi o ano da estreia de Nísia Floresta na ficção, com duas histórias breves: Fany
ou o Modelo das Donzelas e Daciz ou a Jovem Completa. Historieta oferecida às suas
educandas.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002106.pdf
Download da edição
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasgerais/drg376981/drg3769
81.pdf
Portanto, Fany foi a primeira história de ficção criada por Nísia Floresta.
Não se encontrou ainda nenhum anúncio desse livro, nem se conhece nenhum
exemplar da obra. Devemos o acesso ao texto original a dois gaúchos: o advogado e
político Borges de Medeiros (1863-1961), feliz possuidor do manuscrito da história, e o
escritor e político Fernando Luís Osório Filho (1886-1939), a quem Borges de Medeiros
doou a essa preciosidade literária em 23 de dezembro de 1934 (a qual, supostamente,
desapareceu para sempre).
Quanto a Daciz, a segunda história de ficção de Nísia Floresta, além de não se ter
notícia de nenhum exemplar, também não se conhece o conteúdo. Sabe-se que foi
impressa na tipografia de Francisco de Paula Brito, no Rio de Janeiro, e que o texto não
passava de 15 páginas.
1849
5 de abril de 1849
Jornal do Comércio, ano XXIV, suplemento ao número 95, página 6, última coluna.
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22.9032726!4d-43.1768739
1850
3 de fevereiro
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4 de fevereiro
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http://memoria.bn.br/pdf/717649/per717649_1850_00004.pdf
5 de fevereiro
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12 de abril
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Rua do Ouvidor, 158, no Google Street View (setembro de 2017)
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22.9042236!4d-43.1792994
23 de maio
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29 de maio
18 de agosto
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/1026
19 de agosto
27 de agosto
28 de agosto
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29 de agosto
31 de agosto
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3 de setembro
19 de setembro
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23 de setembro
26 de setembro
http://memoria.bn.br/DocReader/719676/59
3 de outubro
http://memoria.bn.br/DocReader/719676/62
14 de novembro
Periódico dos Pobres, número 88, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/709697/350
3 de dezembro
http://memoria.bn.br/DocReader/709697/382
Fany ou o Modelo das Donzelas
Visando concretizar esse ideal, Nísia valeu-se da ficção, da não ficção e também de
esforços práticos, como a criação de um colégio para meninas em Porto Alegre (em sua
própria residência), na segunda metade da década de 1830, e outro no Rio de Janeiro (o
Colégio Augusto, fundado em 1838). Neste último, atuou como diretora e professora até
1849, quando deixou o país.
Lembrando: com esta história (Fany ou o Modelo das Donzelas), Nísia Floresta se
tornava a segunda autora de ficção da literatura brasileira. A trama tem como cenário a
Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul.
FANY OU O MODELO DAS DONZELAS
POR N. B. AUGUSTA
Em 8 de Abril de 1847
Colégio Augusto
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BORGES DE MEDEIROS.
O habitante de Porto Alegre goza do ponto de vista o mais encantador e que pode
despertar no homem a ideia sublime do seu Criador. De um lado, veem-se as águas
dormentes do vasto rio lambendo as fraldas da colina e trazendo ao porto embarcações
carregadas de diversas mercadorias de outras províncias do Império e de diferentes
nações do mundo; de outro, avistam-se férteis campinas, semeadas aqui e ali de uma
multidão prodigiosa de flores, cujas diferentes cores, formando o mais agradável
contraste, trazem à imaginação o quadro que se nos traça desse Éden feliz onde a
soberana bondade de Deus colocou o primeiro homem; quadro que é completado pela
simplicidade e lhaneza [afabilidade] dos excelentes habitantes desses campos que ora
descrevo. Chácaras, onde abundam saborosos frutos da Europa, se oferecem aos olhos
do contemplador, que se extasia à vista da simetria com que ali brotam as roseiras e os
cravos de todas as qualidades, sem exigirem difícil cultura. As frentes da maior parte
dessas chácaras, coroadas de rosas e como que situadas por entre o azul do céu e o verde
das montanhas, apresentam no delicioso outubro um panorama digno do pincel de
Rafael.
As vinhas pendentes com o peso de seus crescidos cachos esperam o outono para
oferecer o néctar sob a cor da pérola ou do roxo-violeta. O aveludado pêssego, o
saboroso damasco, a rubra maçã, a roxa cereja e a linda amora sucedem a estação das
flores e dão a Ceres [deusa da agricultura] um triunfo sobre Flora [deusa das flores].
Este delicioso país oferecia em seu seio, até 1835, tudo quanto o homem pode desejar
sobre a terra: a paz, abundância, simpleza e a doce influência de um clima sadio.
Gozava de todos estes bens na cidade de Porto Alegre uma família que se compunha
de seus chefes e nove filhos.
Fany, a primogênita deles, contava apenas treze anos, e as felizes propensões que ela
anunciava já, prometiam aos caros autores de seus dias [seus pais] uma ventura que
nada parecia disputar-lhes.
Ela estava certa de que a obediência filial e o desempenho exato dos deveres de uma
donzela era uma lei que Deus escrevera no coração desta, e estranhava que o simples
cumprimento desta Lei pudesse atrair-lhe tantos elogios. Demais, o monstro devorador
das qualidades das mulheres, a desprezível vaidade, não havia infeccionado sua alma
cândida com seu pestilento hálito; e quando nos salões ela ouvia o seu elogio passar de
boca em boca, o mais lindo rubor lhe assomava às faces e, procurando ocultar-se por
entre as outras, dir-se-ia que ela havia cometido alguma falta que desejava subtrair aos
olhos de todas.
Esta rigorosa modéstia era tanto mais apreciável quanto Fany possuía, já na idade de
quinze anos incompletos, qualidades que lhe atraíam por toda a parte repetidos
encômios [louvores]. Mas ela sabia que, se era bela, não era a si que devia esse fútil e
frágil atrativo que nenhum merecimento só de per si tem. Se mais progressos fazia nos
estudos do que suas companheiras, atribuía-os não à menor capacidade daquelas, mas
sim a um ato em seu favor da sábia Providência, que lhe tendo dado onze irmãos depois
dela, a destinava talvez para dirigir um dia a educação de alguns deles.
Vestida sempre com asseio e gosto, mas sem nenhuma afetação em seus atavios que
eram sempre os mais simples, Fany não aspirava a outra ventura que ser útil a seus pais,
a quem amava com a mais profunda dedicação.
Quando acabou a sua educação, era ela quem dirigia, sob as ordens de sua mãe, todo
o governo da casa: cosia a roupa de seus irmãos, tratava de sua mãe com uma devoção
angélica e, longe de assemelhar-se a essas jovens que, apenas deixam de ser colegiais,
folgam de haver recobrado uma coisa que chamam liberdade e que lhes permite
dormirem até alto dia, passarem a maior parte dele despenteadas ou à janela,
aborrecendo os [sentindo aversão pelos] livros, em que grande parte delas não pegam
mais ou leem sem fruto, Fany, no meio de tantas ocupações, achava tempo de empregar-
se em cultivar os estudos que havia aprendido e conservar uma correspondência diária
com aquela que havia cuidado de sua educação.
Enquanto tinha lugar esse grande movimento, e quando mesmo entre as mulheres,
algumas, esquecendo as virtudes pacíficas de seu sexo, elevavam o grito amotinador de
particulares vinganças, profanando o santo nome de liberdade em seu fatal entusiasmo,
Fany, no recinto de seu quarto, dirigia ardentes preces ao Divino Autor da Natureza para
que protegesse os dias de seu pai, que imprudente comandava uma das forças rebeldes;
seu pai que, surdo à voz do dever que o chamava junto a uma esposa virtuosa e doze
filhos, correra a empenhar-se em uma guerra civil, murchando destarte [desse modo] os
louros que havia colhido nas fileiras legais quando combatera outrora o estrangeiro em
defesa de sua pátria!
Entretanto, o primeiro sucesso dos rebeldes, tendo excedido a toda sua expectativa,
deu às famílias destes uma esperança de haverem de tocar a meta da felicidade, e
frequentes aplausos pareceram assegurar a sua causa.
A caridade era uma de suas primeiras virtudes, e da qual sua mãe lhe tinha em sua
infância dado o mais edificante exemplo, e nunca sua bondade se ostentava mais do que
quando ela tinha um pobre a consolar em sua miséria.
E assim ela recebia ao mesmo tempo as economias dos grandes e as bênçãos dos
indigentes para quem obtinha sempre de sua mãe algum socorro.
O sol veio esclarecer uma cena bem diversa daquela que há meses ali tinha sido
representada. Aqui começou a perseguição dos rebeldes, a que não escaparam mesmo as
famílias destes que outro crime não tinham senão o de terem seguido em silêncio,
muitas, as opiniões de seus esposos, irmãos ou pais.
Umas presas, outras deportadas, sofriam agora a pena que somente aqueles haviam
merecido, e aquelas que haviam ficado em suas casas na capital estavam expostas a toda
a sorte de insultos, que o povo nestas circunstâncias nunca deixa de dirigir ao oprimido.
Tão heroica coragem, tão sublime sentimento filial achou apoio no seio da
Divindade, porque Fany e sua família ficaram ilesas das balas que, em direção da
carreta em que elas iam, caíram a seus pés, deixando apenas espavoridos de susto os
seus mais jovens irmãos. Foi então que Fany desenvolveu grandemente todas as
virtudes de seu sexo: animava com as suas doces carícias a mãe abatida, cuidava [d]os
irmãos, prestava socorros aos que caíam feridos a seus pés, rompendo suas roupas para
estancar o sangue que corria de suas feridas e impondo um religioso respeito aos
soldados, que a contemplavam tão bela e tão jovem no meio deles!
Cessou o fogo, a vitória declarou-se pelo partido de seu pai que comandava naquele
ponto, mas ai de Fany! Alguns dias depois, esse pai que ela amava ternamente e que
tinha resistido ao furor dos combates, cai vítima de uma traição na passagem de um
bosque onde não cria [estar] o inimigo.
Ei-la, pois, órfã com uma numerosa família, no meio de uma campanha, onde bem
depressa novos combates ensanguentaram a terra, não lhe deixando quase os primeiros
recursos da vida. Mas aquele que protege a inocência e prepara a coroa à virtude podia
desamparar Fany em sua orfandade? Não, por certo, que é na adversidade onde os seus
filhos diletos experimentam mais os seus benéficos efeitos. Em sua desgraça,
desprovida daqueles meios que mais deslumbram os homens quando tratam de fazer
uma união, ela teve partidos [pretendentes], mas querendo viver somente para sua mãe e
seus irmãos, ao menos por alguns anos ainda, renunciou ao casamento e encarou
resignada com sua mãe a pobreza e o desdém de um povo, cuja causa seu pai não havia
seguido. Sempre boa, sempre dócil aos conselhos dessa mãe que ela adorava, sempre
modesta e atenciosa com toda a sorte de pessoas. Fany, em sua pobreza como no tempo
de sua prosperidade, atraía a admiração dos que a conheciam. E se ela gemia sob o peso
de seu infortúnio, era pela perda de um pai, de cuja morte nunca se consolou, ou porque
o seu bem-estar passado não vinha agora adoçar ao menos os dias de sua triste mãe e
irmãos, por quem ela somente sentia a privação de sua fortuna.
Oito anos volveram-se assim para Fany, durante os quais jamais uma queixa contra
os Decretos da Providência saiu de sua boca. Era verdadeira filha cristã que sofria em
consequência dos males que seu pai havia atraído sobre sua cabeça, sem murmurar, nem
levemente, da conduta desse pai cuja memória ela religiosamente respeitava!
Era tempo do [de o] Eterno enviar-lhe a coroa que lhe haviam preparado suas
virtudes.
Fany era de uma das principais famílias daquele país, e, por consequência, achou-se
de posse de todos os bens que pertencem agora à sua mãe, do meio soldo de seu pai e, o
que é mais, da estima geral de um povo, que apregoa as suas virtudes, e entre o qual ela
vive hoje no gozo dos mais puros prazeres domésticos, rodeada de sua família, ocupada
ela mesma na educação de seus irmãozinhos a quem ama com idolatria. Ao vê-la assim,
ou nos melhores círculos da capital, recebendo com a sua inalterável e encantadora
modéstia os respeitos de todos, crê-la-iam perfeitamente feliz, se uma lágrima não
traísse, às vezes, a saudade e a dolorosa lembrança de seu pai.
Possam todas as donzelas, e principalmente aquelas para quem escrevi estes ligeiros
traços da história de Fany, imitar suas virtudes e excitarem uma pena mais hábil do que
a minha para descrevê-las!
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Três observações.
1. Fany (1847), Daciz (1847) e Discurso que a suas Educandas Dirigiu Nísia
Floresta Brasileira Augusta (1847), são textos breves compostos por Nísia Floresta para
apresentação ante as alunas de seu colégio. Já o livro seguinte, o romance histórico
inacabado Dedicação de uma Amiga, lançado em 1850, era bem volumoso (mais de 400
páginas, apenas nos dois volumes dos quatro idealizados pela autora) e destinava-se às
leitoras em geral, mães e filhas.
No campo social, Nísia Floresta lutou também pela abolição da escravatura e pela
instituição da República, outros exemplos de ter sido ela uma mulher à frente do seu
tempo.
Texto escaneado de Fany, da página 54 à 71 do livro Mulheres Farroupilhas, de
Fernando Luís Osório Filho
Retrato de Nísia reproduzido no livro Mulheres Farroupilhas (1935).
Um texto inédito de Nísia Floresta
O texto a seguir não faz parte de nenhuma obra sobre a autora. Também não
encontrei referência ao texto na internet ou em teses acadêmicas.
Fluminenses! Brasileiras! Quando o grito de dor, arrancado pelo mais terrível dos
flagelos que têm oprimido tantas populações diversas, retumba do norte ao sul do nosso
caro Brasil, consenti que invoque os sentimentos generosos que Deus gravou em vossos
corações em prol da humanidade sofredora!
Nos tempos de calamidade, mais do que nos de bonança, a mulher deve satisfazer à
grande missão de caridade que lhe foi transmitida pela mãe de Deus.
Reassumamos enfim por uma primeira prática de caridade pública, nesta tremenda
quadra, o lugar a que mais direito temos na sociedade ― o de suavizar, quanto ao nosso
alcance estiver, os sofrimentos do nosso semelhante.
Brasileira Augusta.
23 de setembro de 1855.
http://memoria.bn.br/docreader/217280/10929