Gazeta Das Colónias

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N.º 3[
_6. \ht.\ cG'10 LISBOA, 10 DE OUTUBRO DE 1926 ANO II
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Ano 11
Gazeta das Colonias 25 • Setembro

j
Numero 38 1926

SUMÁRIO - 1- Problemas economicos . ..... . ... .. . A. Vasconcelcs


2 - A orientaçãc política do govêrno e a
descentralisação administrativa
3 - Timor: A educação profissional.. ... . Patrício M endes
4 - Macau: O novo porto e o comércio
mari timo
5 - Moçambique: Exército colonial • . . . . Augusto Gabral
6 - A colónia portuguesa do Lubango
7 - Fomento agrícola colonial . . • . . . • • . Melo Geraldes
8 - Função das missões religiosas. . .... A. Vasconcelos
9 - Resposta portuguesa ao protocolo R.
Cecil
10 - Campanhas militares coloniais.. . . .. V. de C astro

PROBLEMAS ECONOMICOS
O regime pautal nas colónias: administração geral
e regra da descentralisação administrativa
ÃO vários os factores ou com-

S
devido à circunstancia de a nossa guarda dos povos civilizados, impõe·
ponentes a que é preciso aten· administração~ geral e mencionada· se a fixação aum plano de política
der na organização dumas pau- mente a colonial se ter exercido e con· colonial, considerado o mais conve·
tas, quer se organizem apenas tinuar a exercer·se resolvendo os pro· niente aos interesses nacionais, e a
no sentido de defender o país contra blemas coloniais e solucionando as que devem: subordinar-se, inclusiva-
a invasão dos produtos est.rangeiros dificuldades que se deparam, apenas mente, a 1acç!lo do ministro das co·
e possivel absorção dos produtos como as circunstancias de momento 16nias, cuja:pasta, ,entendo, não deve
nacionais, quer se estudem nas re- o permitem, seguindo.se para isso a ser politica,le a dos~governadores co·
1.tções com as suas proprias colónias orientação do menor estorço, sem se· .,. loniais que'devem·ser escolhidos sem
em geral e com qualquer delas em quer se poder ajuizar, em muitos ca a: preocupaçãoIda~politica partidária
particular.
Para se proceder a esse trabalho
com verdadeiro conhecimento de cau-
sa e de f6rma a tirar dêle os maiores
proventos e resultados, é necessário
atender, em primeiro lugar, ao estado
de atraso ou de progresso do país
que se considera, às suas principais
produções, se é agrícola, comercial
ou industrial, o que pode importar
ou exportar com vantagem e proveito
para o país, em que uma ou mais
dessas características preponderam e
podem ser mais ou menos favoraveis
na permuta com o estrangeiro.
O desconhecimento dêsses facto·
res, alguns dêles quasi impondera-
veis, pode acarretar à economia do
p.iÍS prejuizos irreparaveis, que a todo
o custo é preciso evitar.
Seria um erro funesto das mais
terríveis consequencias tornar artifi·
ciahpeote um país industrial, quando
é essencialmente agrícola e vice-ver· 1-Panorama da vila tomado de Casal Novo
sa, sacrificando a quasi totalidade da
nação á ganancia e cobiça de um re- sos, se a fórmula adoptada para re· e sem procurar dar-se honras de ge-
duzido número de indivíduos, por solver uma dificuldade presente não neral a simples· subalternos, pelo
mais legitimos que fossem os seus determinará muitas e maiores dificul· facto de terem sido bons ajudantes,
interesses. dades em futuro proximo, agindo em mas, apenas, com a preocupação de
Foi isto precisamente que se fez administração colonial simplesmente encontrar para o desempenho dêsses
em grande parte com a promulgação com o criteri.o do oportunismo, sem lugares pessoas honestas e compe-
das pautas de 1892, filhas por a!>sim orientação, sem plano preconcebido tentes.
dizer das pautas francesas, e que tan- nem objectívos definidos, acumulan- Os lugares de governadores s6 de·
tos prejuízos têm causado à nossa do, emfim, complicações e criando vem ser confiados a pessoas com
economia, tanto metropolitana como dificuldades que acabarão por nos le- profundos conhecimentos da adminis·
colonial. var ao cáos. tração ultramarina e que já tenham
Foi, no meu entender, este facto Ora, para que caminhemos na van- demonstrado a sua competenda no
6 GAZETA DAS COLONTAS
mente, unica maneira de nos admi
nistrarmos como é preciso; faç.âmos
uma inteligente e activa propaganda
da nossa obra e capacidade coloniais
e daquilo que deve ser a nossa admi·
nistração colonial.
Com as colónias portuguesas está
a realizar-se a situação estranha
delas constituírem, em vez de um
valioso auxiliar do ressurgimento eco-
nómico e financeiro da nacionalida ·
de, em vez de serem um poderoso
elemento para a solução das dificul-
dades financei1as que a grande guerra
trouxe à metropole, serem, pelo con-
trário. um pesado ónus, que mais
• complica aquelas dificuldades.
A metropole, debatendo se para
chegar ao equilíbrio das suas finan-
ças e para se colocar em condições
de saldar os seus compromissos, vê·
se forçada a fazer pesar sobre a ri-
queza publica e tributavel da metró·
2- Edlflclo da Camara Municipal pole, já sobrecarregada de encargos,
a solução das dificuldades financeiras
exercido de funções coloniais impor- é preciso que nós, que temos uma das colónias.
tantes, a fim de que se evite a repe- obra colossal realizada oo nosso im- Os maus processos de administra·
tição de surgirem dum momento para pério ultramarino, nos compenetre- ção e a pouca orientação até hoje se-
o outro governadores que desconhe- mos bem do crime que sobre a nossa guida na nossa administração colo-
cem a situação do seu distrito e até geração ficaria pesando. se o não nial, produziram a situação actual e
da colónia para que fôram nomea- soubermos defender dos estrangeiros. muitos mais dissabores nos acarreta·
dos!! 1 E bem facil é essa defesa; basta, rão se não soubermos e não quiser-
E' necessario que o criterio para a apenas, que a Nação atente oa im- mos emendar·nos.
escolha dos governadores coloniais portaocia que as colónias têm para a Necessário é, pois, arrepiarmos ca-
seja aquele que o grande colonial sr. nacionalidade e que se reorganize, minho.
general Freire de Andrade preconi- em conjunto, como é indispensavel, Reorganize-se e o melhor possível
sou: «Escolher os homens para os todo o nosso sistema de administra- o nosso Ministerio das Colónias. de
lugares e não os lugares para os ho- ção colonial, nos ultimos anos com- modo que êle, sempre actualizado
mens)), provadamente insuficiente e até pre- com o decorrer da vida administra-
Não pode, oa minha modesta opi- judicial. tiva de cada uma das colónias, posséi'
nião, ser outro o caminho a seguir, Na maior parte das revistas estran- ser um indispensável orgão de infor-
quando nos achamos na presença de geiras, raras vezes nós sõmos falados mação do ministro, habilitando-o a
grandes problemas coloniais cuja sc- como nação colonizadora; e, se algu- poder exercer efica1mente e em tem-
lução é grave e urgente, quando es- ma vez o sômos, a maior parte das po oportuno a sua função de fiscal da
tamos cercados das mais desenfrea- vezes apenas de nós se fala para administração e de orientador da po·
das cobiças e quando de além fron- mostrar-se quão pouca rasão e~iste litica colonial de cada uma das coló-
teiras nos têm feito saber que a me para que tenhamos um tão grande nias, a fim de se poderem conjugar
lhor fórma de podermos continuar na império colonial, quando nações ha os esforços das colónias com os da
posse incontestavel das nossas coló como a ltalia e a Alemanha que metrópole, no interesse geral da na
nias seria ocupá-las de maneira a delas tanto precisam. ção, e teremos, com isto, dado um
jazê-las progredir. Toda a obra colonial do nosso país grande passo no caminho da solução
Assiru, enquanto na metropole nos deve inspirar-se no propósito de con· do nosso problema colonial.
entontecemos em interminaveis dis· servar bem vivo o sentimento da na- Em todos os países que se preocu-
cussões. as colónias vivem ma!: An- cionalidade, entre todos os portugue- pam de dar á sua administração co·
gola e Moçambique debatem-se numa ses dispersos pelo globo, evitando-se lonial um caracter ao mesmo tempo
horrível agonia, a lndia estaciona, por todos os meios a sua desnaciona- scientífico e pratico, a maneira de or-
Timor ameaça-nos com um já rasoa- lisação. Nestas circunstancias, deve ganizar na metrópole o orgão superior
vel deficit, S. Tomé vê-se a braços fazer-se tudo quanto fôr possível para dessa administração, bem como o
com a crise dos serviçais e com a que as nossas colónias não percam o cuidado em se legislar, tem merecido
depreciação do seu cacau, a Guiné seu carac:ter nacional e não se dissol· os mais atentos cuidados, larga dis·
tende a resvalar para o abismo em vam em civilizações com ideais dífe· cussão de dout rina e de pontos de
que se encontram Angola e Moçambi · rentes e até opostos aos nossos. vista, para se reconhecer, imediata
qut-, e Cabo Verde, vegetando, es- O problema português não se li- mente, que o problema não é fac1l
pera que lhe dêem o rendimento das mita geograficamente à metropole, é de resolver, nem as fórmulas adopta-
taxas telegráficas a que tem direito; mais qualquer coisa, é o problema das puderam, até hvje, reunir todos
entretanto o estraogeiro espreita com da raça portuguesa à superlicie da os aplausos. Entre nós, tambem o
cuidado o momento em que tranqui- terra. problema tem de ser p;i~ .... - .,,v"1i-
lamente possa dar o salte, ha muito O problema colonial é, numa pala· do, logo que a opinião pública comece
preparado. vra. o problema nacional. a interessar-se verdadeiramente pela
Para isto lhe bastaria que nós con· Para a resolução dêste problema é questão colonial, de tão primacial
tinuassemos com a orientação que nos licito esperar o concurso e a boa von- importancia para a nossa nacionali-
últimos tempos tínhamos sei!uido. Mas tade de todos. Organizemo-nos capaz- dade. Na or~anização da administra-
GAZETA DAS COLONIAS 1
ção central, na legislação para as co- nos encontramos e que não podemos Quem tenha seguido com atenção
lónias, nós. portugueses, como de facilmente modificar. as questões coloniais portuguesas nas
resto em todos os outros ramos de E é isto que desde ha muito de- últimas décadas, conhecendo·as só
administração colonial, não temos se- víamos vir fazendo, procurando, por pelas suas principais características,
guido uma orientação nítida e persis- meio de uma legislação constante- e tenha seguido o que se tem pas-
tente, derivada de um estudo anterior mente evolutiva. o nosso desidera- sado dur. nte o mesmo período na si-
em que entrasse o conhecimento do tum, que é: "Termos contribuído, tuação económica e financeira de cada
que a tal respeito nos diz a coloniza- como povo colonizador, para o bem uma das nossas oito colónias, pode
çdo comparada. Assim. o nosso J11i- da humanidade, pela transformação ser levado a concluir que se cometeu
nisterio das Colónias tem sido uma das nossas colónias e pela civilização um grave erro, promulgando, em 1914,
organização sem nexo, sem lógica e dos seus habitantesn. as leis de autonomia administrativa e
sem ordem Assim, a nossa legisla- Em sciencia colonial tomou fóros financeira das colónias, que leis pos·
ção ultramarina tem sido duma tal de axicma a afirmação de que a ad- teriores ligeiramente modificaram e
superabuodancia capaz de fazer des- ministração de uma colónia ba-de ser para algumas colónias ampliarnm.
animar o maior e mais paciente jurista feita na própria colónia, dando se ao E, com efeito, a partir da data em
que à sua interpretação se dedicasse. governador e aos corpos administrati- que a autonomia se foi tornando efec-
Temos um império colonial enorme vos locais competencia bastante para tiva, a situação económica e finan ·
e os assuntos -::ue lhe dizem respeito aquele poder administrar, e para um ceira de quasi todas as nossas coló-
eram tratados, regra geral. sob a di- e outros adoptarem ou propõrem as nias, em vez de melhorar peorou, en-
recção de um ministro que, na reali- normas de execução permanente que contrando-se actualmente al)!umas
dade, nada podia dirigir, porque nem fôrem mais úteis ao progresso da co· delas em situação devéras aflitiva,
tempo tinha para dar regularmente Jónia. que muitos que se interessam por
desracho aos seus directores gerais, Todos são desta opinião mas gran- assuntos coloniais explicam como
sempre assoberbado pela eterna ques· des e profundas são as divergencias uma lamentavel e fatal consequencia
tão política! quanto à fórma de '.i aplicarem. da autonomia concedida, que, por is·
Nestas circunstancias, cada um lmpossivel é estabelecer um plano so, ásperamente condenam.
trabalhava para seu lado, como se geral que sirva para todas as colónias E, na verdade, mesmo que se
lhe afigurava mais conveniente, sem sem distinção de tempos e de lu- atenda ao reflexo que as perturba-
me~ mo o correctivo de uma direcção gares. ções económicas determinadas pela
supt rior, unica, porque o miuistro, Nas condições de desenvolvimento grande guerra tiveram na vida eco-
sempre político, não tinha tempo para de cada colónia, nas características nómica e financeira das colóoias,
dirigir e muito menos para estudar da sua população, na distancia da me- nem assim se explica a gravidade da
os assuntos da sua pasta! trópole e até mesmo nas circunstan- situação de algumas delas.
Os directores gerais, de cada vez cias de momento, é que se hão-de E. por isso, rasão parece terem
que vão a despacho levam uma co· encontrar as direclríses da evolução aqueles que responsabilisam pela
!una de processos, que, por si só, fa- do seu govêrao. actual situação a descentralisação
ria desanimar um ministro enérgico. A íórma mais preconisada até hoje administrativa dada às colónias.
Os assuntos são tratados, a maior para as colónias do género das nos· As colónias portuguesas e! tão cons-
parte das vezes, sem especia!izaçãõ sas, tem sido a constituição de corpos tituindo para a metrópole um pesado
;:eográfica e até muitas vezes sem onde altos funcionários e habitantes ónus que mais complica as suas já
especialização técnica. da colónia colaborem na discussão grandes e complicadas dificuldades
Ora, o problema colonial. apesar das leis e problemas da administra- J\las serão, por..entura, os proces-
de conter modalidades diversas, pon- ção local. sos de adminis tração que estão ·pro-
tos de vista diferentes. questões con- Jllas é certo que depois da autono- duzindo a actual situação das nossas
cretas absolutamente distintas, é em mia que, ba anos, às colónias foi con- colónias?
todo o caso, uno. cedida, nós verificamos que elas não Tal situação seria, porventura, cria·
Mostra um certo número de linhas têm prosperado. da pelas leis que concederam a auto-
gerais que a todas as colónias abran · A que é devido semelhante facto ? nomia administrativa e financeira às
ge, precisando de ser apreendido,
em conjunto, por um único individuo
embora, abaixo dêle, depois, se des ·
dobre êsse problema em escadarias
necessárias.
Uma colónia é um mundo espe-
cial, diferente de todos os outros,
mais ou menos com os seus aspectos
e problemas privativos; é necessário,
portanto, tratá-los à parte dos outros
e, ao mesmo tempo, sem prejuízo da
sua natural ligação.
E isto, regra geral, tem esquecido.
E' preciso que a repartição por
onde estes serviços correm na metró-
pole séja lambem um pequeno mun-
do especial, onde se procure sempre
reproduzir o mais possível a atmos-
fera própria à colónia, pela colabora
ção de indivíduos que nela tenham tra-
balhado.
Carecemos, pois, de realizar uma
obra nossa e que se harmonise inti-
mamente com as condições em que 3 - Fabrlca de moagem em construcção
GAZETA bAS COLONIAS
colónias? Seria para estranhar que tal a necessidade nacional das colónias sas que tão profundamente prejudicou
facto tenha sucedido só com as coló- acatarem e seguirem, no exercício as colónias e a metrópole ?
nias portuguesas, porquanto tem sido das suéis liberdades administrativas, Fixe·se um plano de política colo·
a descentralisação administrativa, que a política C()/onial portuguesa, que, nial, que seja consíderado o mais
de ha muito os demais países colo· para os interesses gerais da nação, conveniente aos interesses nacionais.
niais têm dado ás suas colónias, que fôsse julgada mais conveniente, o que Subordinem-se a êsse plano a acção
tem permitido um notavel desenvol- tornaria indispensável e justificaria do ministro das colónias e a dos go ·
vimento económico de muitas delas. toda a assistencia da metrópole. vernadores coloniais.
Esta descentralisação e autonomia, Desta fórma , realizar-se-ia em po· Faça-se uma selecção rigorosa nos
por vezes, têm sido tão grandes que litica colonial uma plena comunhão altos cargos .-:oloniaes como, felizmen·
têm chegado quasi á autonomia abso· de esforços da metropole e das suas te, parece ter sido feita para Angola,
Juta, sem que daí resulte prejuízo colónias. Torna-se necessário, pois, neste momento.
para a metrópole, e antes continuan· que haja um organismo de caracter Definam-se duma fórma clara e
do esta a ser benelíciada largamente permanente e que, fóra das constan· precisa as mais importantes caracte-
pelas suas relações com tais colónias . tes substituições q~e a politica im- rísticas da política colonial que fôr
Assim sucede entre a Inglaterra e põe aos ministros das colónias e aos julgada a mais conveniente aos inte·
os dcmínios britanicos. Como expli- governadores coloniais, coligisse e ti- resses gerais da nação.
car então o aparente insucesso do re· vesse em dia todas as informações
gime de autonomia promulgado para do que nas colónias se vai passando, Feito isto, será a própria opinião
as nossas colónias? não só no respeitante á autonomia p.íblica que se imporá e exigirá que
As colónias portuguesas, sujeiias que lhes foi concedida, como tam- ministros e governadores a respeitem,
se, porventura, alguem disso se es·
quecer.
Se tal fizermos, teremos contribui·
do imenso para a reabilitação do
nosso passado colonial e para a pros·
peridade da metrópole e das coló-
nias.

Lisboa, setembro de 1926.

ALCINO DE VASCONCELOS
Tenente.

llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllilllllllllllllllllll
Problemas económicos
No campo dos estudos económicos
é o sistema pautal um problema dos
mais melindrosos e complexos. A
«Gazeta» não deve deixar de abrir a
sua discussão, agora que eslá reco·
nhecida a necessidade de modificar o
4 - Uma das casas comerciais regime fiscal que vigora para as co ·
lónias desde 1892, e que as próprias
colónias o podem modificar dentro dos
até ha pouco a uma rigorosa centra· bem em tudo que dissesse respeito limites da política protecionista que
lísação administrativa, viviam sobre ao seu progresso e bem estar. o govêrno marcou nas bases da orga·
a tutela direc.ta do Ministério das Desta fórma, os ministros que pela nização autónoma da administração
Colónias. De repente, foi-lhes dada pasta das colónias vão passando po- civil e financeira.
autonomia administrativa e financeira deriam rapidamente actualizar-se com Com aquêle fim recorremos á c<.m-
a que elas não estavam habituadas. a situação colonial. petencia tecnica de um novo - o sr.
Daí, o salto brusco e uma passa· Não é, pois, do regime da autono- tenente Alcino de Vasconcelos, diplo-
gem rápida de um para o outro pro· mia das colónias que provém a situa- mado da Faculdade de Letras e do
cesso de administração, de onde, fa. ção em que nos encontramos. curso de administração da Escola Mi-
cilmente, deveriam advir as presen Esta situação é devida unicamente litar, e que acaba, com invulgar bri-
tes dificuldades. à fórma como essa autorização foi lho, de concluir o seu curso da Es ·
A autonomia das nossas colónias exercida, sem se orientar por qual· cola Colonial, tendo nesta as suas
devia ter sido, desde o seu inicio, ca- quer plano de política colonial, pois principais teses versado exatamente
rinhosa e cuidadosamente acompa· tal plano não existe de facto, e sem ·os problemas do regime aduaneiro
nhada pela acção do govêrno e de que, ao menos, os ministros respecti· aplicado às colónias, com estudos es-
fórma que, selJl lhes serem cerciadas vos exercessem uma acção de coorde- peciais para cada uma delas.
as regalias concedidas, as colónias nação e de orientação na vida colonial, Atradecendo tão importante cola-
fôssem auxiliadas a usarem essas re- porque, sendo políticos, a política não boração fazemos votos para que este
galias com o maximo proveito, pro· lhes dava tempo para tal, nem lhes novo colonial, digno de um futuro
curando suprir-se, assim, a falta de permitia actualizarem-se com a inten- honroso que ha-de seguramente al-
experiencia das colónias, para usa· sa vida colonial durante a sua curta cançar, seja muito feliz em Angola,
rem da sua quasi emancipação. passagem pelo ministério. para cujo quadro administrativo acaba
Além destas rasões outras ha como Como remediar este estado de coi- de ser requisitado.
A orientação política do Govêrno e a descentralisação administrativa

o pensamento político do go-


verno acaba de ser definido
com precisão e nitidez pelo
sr. ministro da justiça que
let. a declaração dos princípios em
que ha de assentar toda a acção go-
no século passado á organização dos
estados saídos da Revolução france-
sa, está hoje perdendo terreno um
pouco por toda a parte : nem uma
quebra de unidade nacional é re·
ceiada já, nem os interesses regio
justiça atribui ás administrações au-
tónomas (e acusa-as com infinita ra-
zão) não são hoje mais do que a con·
sequencia dos males da administra·
ção central onde pontificaram dirigen·
tes politicos, muitos e muitos de
vernativa dêste período excepcional, nais, fundamento de toda a economia incontestavel valor, mas todos acor·
em que se recorreu ao Exercito para pública, podem ser tão despresados rentados ao interesse dos grupos de
apoiar no Poder uma situação que como têm sido pelas côteries que, de- vampiros que a propria conveniencia
poi:sa afastar da administração pública pendentes das organizações políticas dos partidos criou. Embora cada povo,
toda a influencia dele teria dos partidos dos partidos, têm disposto a seu bel· democratico ou não, tenha o govêmo
organizados, como era mister e reda· prazer das administrações centrais, que merece, uma acção moral reflexa
mado pela maioria da opinião. cada vez mais absorventes. exerce-se sempre de cima para baixo
Esses princípios são os seguintes : Os municípios têm tradições hon- e tem a mais poderosa influencia na
Republlt.a Unitária, repelindo a rosas: com a sua ajuda se realizou definição dos costumes e na marcha
ideia de uma federação de provín- entre nós a unidade nacional e se dos acontecimentos.
cias. combateu a independencia dos nobres; .Não vale a pena continuar : a po·
Oovemo Democratico, pertencendo com o povo, se combateu em França litica de baixo imperio que dominou
a direcção do país á nação, pela es· a Fronda e realizou definitivamente o nos ultimos anos a vida nacional, pa·
colha dos chefes dirigentes. estado unitário. Contudo, os munki- rece que tende a desaparecer. Os pro·
Ooverno RepubltcatW, visto como pios autonomos e as corporações con- prios políticos dirigentes, os que fo.
a Republica entrou definitivamente na tinuaram vivendo dentro dêsses esta ram afastados ou outros que venham
consciencia da Nação. dos fortes e contribuindo cada vez a suceder-lhes, estão já convencidos
São êstes os fundamentos da Cons- mais•para a sua expansão económica. que têm de mudar de rumo na orien·
tituição de 1910 e mantêm-se porque Sempre que os nossos soberanos tação dos negocios publícos.
não é ela a culpada das miserias a reuniram ás côrtes para realizarem Isto é o essencial. Se abordamos
que o país foi arrastado pelas lutas os grandes empreendimentos nado· hoje êste assunto melindroso, fazemo·
de classe e pelas intrigas e ambições nais colectivos, encontraram nos mu· lo apenas em razão do interesse que
dos partidos. nicipios e nas corporações o seu me- têm para as colónias as declarações
Contudo, dêsses princípios, o pri· lhor amparo. Pena é que as vozes do sr. ministro da justiça relativas á
meiro, que comtém em si o germe da dêstes fossem tantas vezes abafadas. descentralisação administrativa.
centralisação desaforada que presidiu As tropelias que o sr. ministro da •
As bases das cartas orgânicas para
a administração autónoma das coló·
nias já estão publicadas e talvez a
esta hora aprovadas ou mesmo de·
cretadas pelo govêrno.
Segundo uma nota das estações
oficiais, o sr. João Belo teve em vis-
ta : a unidade politica do territorio co·
lonial; continuação do regime de au-
tonomia administrativa e financeira'
com uma maior superintendencia e
fiscalisação da metrópole; definição,
tendente a evitar confusões, da com-
petencia da metrópole e dos govêmos
das colónias, em mater:a legislativa
e executiva; cessação do regime mu·
nicipal nas regiões onde êle, apesar
de um longo regime de assimilação,
ainda não conseguiu criar raíses; ex-
clusão nas bases organicas de dispo·
sições especiais ou regulamentares, a
fim de elas terem a elasticidade pre-
cisa, para, dentro dos seus preceitos
gerais, mas rígidos, se poderem for-
5 - Oficinas d& carros mular as cartas organicas e codigos
10 GAZETA DAS COLONlAS
administrativos de cada colónia; mo·
dificação do regime dos altos comis-
sários, no sentido da possibilidade da
sua adaptação ás circunstancias exce·
pcionais de diversa natureza que de-
terminam, em cada caso particular, a
necessidade de tal regime.
No acto da instalação do novo Con·
selho Superior das Colónias, a que
presidiu, o sr. ministro acrescentou
que foi com profnndo pesar que ado·
ptou algumas medidas de excepção,
como aquela que autoriza os governa-
dores a poderem expulsar dos respe·
ctivos territorios, nacionais a quem
pelos seus actos tal medida tenha de
ser aplicada. Declarou que, como com-
plemento das cartas organicas fará
uma completa reorganização dos ser·
viços de seu ministerio, adoptando o
criterio das repartições autónomas,
por e ;pecialidades, que irão substi·
tuir as actuais direcções gerais. Pela
reorganização será criado o sub-secre· 6 - Construção de um casal para colonos
tariado das colónias.
Já aqui dissemos que uma das onde aliás os interesses regionais têm propria, êles que nas suas regiões
principais modificações que o plano de ser considerados como condição es deveriam ser os mais competentes
de restrições adoptado nas novas ba· sendal do seu progresso. juízes para se assegurarem de um cri ·
ses trouxe ao regime de autonomia, Essa principio tem a sua afirmação teric de politica económica a adoptar,
foi a supressão dos conselhos legisla- na base primeira, que apenas admite embora subordinado á orientação do
tivos coloniais, cujas funções passam a divisão das colónias em distritos e govêrno geral, mas executado sob a
para um conselho de govêrno com- nas afirmações concordantes que re- sua acção directa.
posto de vogais natos (funcionarios produzimos acima dos srs. ministros Entretanto, em Angola, por exem-
publicos) e de vogais de nomeação das colónias e justiça. Ora êsses dis- plo, treze direcções de serviços e
do governador e vogais eleitos ; estas tritos já nós sabemos o que são: «cai- cinco repartições tecnicas funcionam
duas últimas categorias em numero xas do correio11 no dizer de muitos em Loanda sob a responsabilidade
equivalente de vogais. Além disto, as governadores, presos como estão á directa do governador geral, além de
cartas de cada colónia serão promul- administração central pelos laços de uma repartição central, dos quarteis
gadas pelo govêrno da metrópole, em- uma burocracia especiosa e sempre generais das fôrças do exército e ser-
bora as colónias fiquem com o direito morosa em função de distancias con- viços de marinha, do conselho de go-
de apresentarem modificações no sideraveis. verno e tribunais administrativo, fis-
praso de um ano. Além disto os governos de dis- cal e de contas. Concordemos que é
Todas estas medidas restritivas da trito, segundo a organizacão de servi- demasiado para um só homem, que
autonomia administrativa de que as ços que actualmente existe, não dis- além disso terá de visitar com fre-
colónias já dispunham, foram aqui põem dos principais meios de acção quencia os pontos afastados da coló ·
bem aceites nos meios coloniais, no campo económico, como são todos nia, se quizer certificar-se que a sua
onde críticas acerbas têm sido feitas os serviços tecnicos: geologicos e mi- orientação politica e administrativa é
aos desperdícios exagerados das pri- nas, agrícolas e florestais, pecuária, seguida, investigar pessoalmente so-
meiras administrações autónomas, agrimensura, geodesicos e geografi- bre as necessidades locais, e se qui-
atingindo o crédito administrativo, cos, concessões de terras, etc., e nê· zer imprimir á administração geral
não só nas principais colónias onde o les têm falta de direcção superior os aquele elari que a presença e o inte-
self governement chegou a ser exer- serviços de instrução pública e os resse do mais alto representante da
cido pelos altos comissários com po· dos negocios indígenas que são os Nação sempre despertam.
deres ilimitados, mas até o das pe- que mais devem actuar nos trabalhos Uma correcção dêste sistema admi ·
quenas colónias como Timôr, ~lacau de colonisação. l Que fica a êsses go- nistrativo peiado só se consegue em
e Guiné, que sempre acusaram uma vernos insignificantes, cuja acção li- Angola e Moçambique pt.la organiza-
situação financeira desafogada e a mitada está ainda assim constante- ção de poucos, mas fortes , governos
vêm agora comprometida sem razões mente subordinada aos despachos e subalternos, aos quai!. tossem atri-
de fomento económico que justifiquem ordens do govêrno central ? Cuidar do buídas todas as funções directivas
uma tal situação. pessoal: administração civil, peque- que agora estão concentradas nos go-
Em suma, embora com as restri nas obras públicas, correios e tele· vernos gerais - excepto as que inte-
ções que os proprios factos impuze- grafos ; nada mais. Porque os servi- ressam ao exercido da soberania :
ram e com a necessaria fiscalisação ços de finanças t; os de saude e hi- portos, caminhos de ferro, alfândegas,
efectiva do ministerio das colónias e giene, que têm direcção tecnica nos fiscalisação financeira e administra ·
respectivos tribunais de contas, a distritos, estão ainda assim subordi- tiva, concessões de vulto, orçamento
autonomia existe de facto e em con- nados tecnicamente ás direcções do geral, conselho do govêriio quarteis
dições de cada colónia poder regular govêmo central. generais do exército e serviços de
por si a sua administração interna. Não pode haver maior limitação de marinha Com um plano adequado de
Mas, subsiste o principio da cen- poderes para os governos subalternos, colonisação e política económica, esta ·
tralisação-como fórmula de uma uni- embora a lei lhes confira, aparente· dado e admitido de uma vez para
dade polilica, -- dentro das grandes mente, largas atribuições.Nada podem sempre, nada mais seria preciso para
colónias de Angola e Moçambique fazer êstes governos, sem iniciativa Continua na pagina 14.
A EDUCACAO
'
PROFISSIONAL
. ,.,
Na escola de artes e oficios da m1ssao de Lahane
(Do B. E. da d iocAze de Macau)
ESTA escola ensinam-se os qua- tiva perfeiçãoJ~todos os concêrtos e terras . pouco sabendo da sua arte.
N tro ofícios de carpinteiro, fer-
reiro, sapateiro e alfaiate.
9f Gjiclna de Cartinlarla - Satura-
alguns, mesmo, calçado novo de me-
nos responsabilidade, o que íá:ê mui-
to para os nove meses que têm de
Hálactualmente cinco aprendizes.
Ôjlclnas de 9llfaialtlria. E' de todas
as oficinas a que está piór, de mestre.
do de aturar as manias do antigo mes- aprendizagem. Ainda assim pena é O que estava para vir, com o Moisés,
tre, que era chinês e não ensinava que o mestre não seja europeu. de J\1acau arrependeu-se e em Díli
por assim dizer aos rapazes, consegui G{icinas de Serralharlo. Está desde não se encontra um só alfaiate, razoa-
um mestre português, e o aspecto des- o mês de abril de 1925 entregue á velmente sabendo o seu oficio, que
ta oficina mudou completamente sob direcçãa de um timorense,: que em queira vir ensinar á Missão. Com-
a direcção dêste. O sr. Alberto tem três anos teve habilidade de aprender preende-se que sendo porora, em
culto pela sua profissão e é muito me-
ticuloso ensinando-a. Os rapazes, acos -
tumados como estavam á indiferença
sistemática do mestre chinês, estra-
nharam a principio. achaodo talvez de-
masiadas tantas exigências. Não tive-
ram, porém, outro remédio senão
acostumarem se. E agora é um gôsto
vê-los trabalhar á europeia.em bancos
á europeia, e sob o olhar vigilante do
actual mestre. que nem lhes consente
pegarem numa ferramenta de modo
diverso do que a arte manda.
A diferença entre esta e as outras
oficinas é tal que eu não descansarei
sem ver todas elas dirigidas por mes-
tres portugueses.
Sendo o sr. Pinto sargento artífice .
e achando-se por isso sob as ordens
do quartel general, devemos á bene-
volencia do ex.m• sr. capitão Eduar-
do Areosa Feio digno Chefe do Esta-
do maior de Timor o grande favor de
permitir que êste seu subordinado
~reste á Missão tam relevante serviço.
7- Familia de colonos junto ao seu casal
Em nome, pois, da Missão aqui apre-
sento a s. ex.•. os mais sinceros agra-
decimentos. o suficiente para executar e ensinar a Timor, chineses todos os alfaiates,
Oficinas de Sapataria - Começou maioria dos trabalhos correntes desta êles se defendam, não querendo ensi-
em dois de março cotn quatro apren· profissão Satisfaz plenamente ás ne- nar mais ninguém. Conseguimos que
dizes, logo apoz a chegada de Macau cessidades actuais da missão. O an- viesse um mas está muito longe de
do mestre Moisés Lau, educado na tigo mestre china tornou se de tal ser um alfaiate. Os rapazes la vão
escola de artes e oficios dos padres modo desleixado e exigente que o aprendendo alguma rcoisa com êle,
Salesianos. Este revelou se logo de meu antecessor tinha-se visto na ne · e como as encomendas para fora são
comêço um hábil operár o e as enco- cessidade de o despedir. Como todos poucas, têm-se entretido a fazer a
mendas de calçado começaram logo os seus camaradas, nada ensinava. roupa da Missão e fardamentos para
a afluir. Apesar de chinês, sente-se Só o actual serralheiro aprendeu os alunos e para os soldados de 'ti·
nêle a educação recebida. e ensina com êle alguma coisa; dos outros mor, pedidos em grande quantidade
razoávelmente os alunos. Estes, atual- aprendizes, um está na capitania dós pelo ex. mo sr. Chefe da 2.3 Reparti-
mente sete, mostram bastante gei- portos como auxiliar de mecânico e ção Jl1iliiar, o capitão Morgado,
to e habilidade, fazendo já com rela· os restantes voltaram para as suas A continuarem com êste mestre,
12 GAZETA DAS COLONIAS

não conseguirão os aprendizes apren- peu e indígena de todos os comandos que ainda se encontram muito mal
der o suficiente para poderem ganhar desta colónia. instaladas no primitivo edifício pro·
a vida com a sua arte; o mais que O efeito foi óptimo e geral o apre- visório.
podem é irem-se acostumando a tra- ço e admiração causados pelos pro- Em Oe- Cusse falta só cerca de um
balhar, de modo que quando tenham gressos realizados pelos nossos rapa· metro ás paredes da igreja para atin·
um bom mestre depressa se possam zes em tão curto espaço de tempo. girem a altura devid'l-oito metros.
aperfeiçoar. Sua excelência o governador, man· Em Alas tem-se trabalhado na con-
A missão tem absoluta necessidade dou á Missão um oficio pela reparti- clussão da casa destinada a residên-
de ter á frente das suas oficinas pes- ção do gabinete, exprimindo a sua cia do missionário, sendo já habitada
soal seu, semelhante ao que tem satisfação e seu apreço pelo trabalho uma parte dela.
agora dirigindo a oficina de carpintei- realisado pela Missão e agradecendo As obras, além de consumirem
ro, mas que está cá por empréstimo o ter-se a nossa banda estreado na- muito dinheiro, consomem também
da re,,artição militar. Os mestres de quele dia de festa nacional. grande parte da actividade dos mis-
artes devem fazer parte da Missão Desde essa data, tem-se a banda sionários, por falta de membros auxi-
como seus membros auxiliares. apresentado várias vezes em público liares, que podessem encarregar-se
Como obtê-los ? Estou convencido em Dili, em Manatuto e em Laleia, delas e porventura com mais compe-
de que, por intermédio dos párocos obtendo sempre um verdadeiro suces- tência do que nós! Eis o que se me
ou de qualquér forma, se conseguiria so. Nem admira, pois é a primeira oferece relatar a v. ex.• rev.m• sôbre
encontrar em Portugal S ou 6 pes- que nestas terras se fez ouvir. Os os nossos trabalhos.
soas boas e de habilidade, que qui- progressos em música acentuam se
sessem vir prestar êste serviço ás día a dia havendo já alguns que to· Padre PATRIClO MENDES.
nossas missões. Há muita necessida· cam á primeira vista qualquér trecho, Superior das Missões
de de pessoal missionário mas, na que não seja difícil. Bem haja o rev.
miniha opinião, a necessidade de padre Silva, que não se tem poupado
membros auxiliares artífices não é a trabalhos para prestará Missão mais Fomento agrícola colonial
menór. êste relevante serviço.
Não tratei-nem tratarei sem a Obras nas NlislJes. As mais impor· Os problemas da agricultura nas
anuência de s. ex.ª rev.m• -oficial- tantes foram as de adaptação do edi- colónias hão de continuar a merecer
mente dêste assunto. Estou, porém, fício de Dare para servir de colégio, á «Gazeta• especial cuidado1 como
certo de que não obstante as precá- incluindo retretes, casas de banho, nllo poderia deixar de acontecer; con ·
rias circunstâncias do tesouro públi- lavatórios, além da pintura, reparações tamos para tanto com a cooperação
co, o actual governo de Timor não e alteração de divisões para arranjar desinteressada dos nossos antigos co-
teria dúvida em inscrever no orça- lugar para os dormitórios e sala de laboradores e daqueles que das coló-
mento a verba necessária para paga- estudo. nias nos queiram mandar as suas co-
mento das viagens e ordenado dêste Em Lahane está quási concluído o municações sobre assuntos de tanta
pessoal. pequeno edifício para refretes e casa magnitude.
No ano de 1925 as receitas da Mis- de banho dos alunos. faltando ainda A organização dos serviços agronó·
são provenientes das oficinas foram a fossa em que presentemente se tra· micos deve abrir esta secção e não
de $2:320,70. Este dinheiro foi so a balha. Em Soibada concluíram-se já encontramos para o fazer, com a de·
importância de obras feitas para o pú· as paredes do edificio destinado ao vida vénia do seu autor, melhor do
blico. Certamente as obras feitas pa- colégio e bem assim o madeiramento que a tese do sr. engenheiro Melo
ra a Missão importariam em mais do e quási todas as portas e jauehs. Creio Geraldes, que foi largamente discuti-
que isto, se tivesssem que ser pa- que em agosto ou setembro de 1926 da no ultimo Congresso Colonial que
gas. estará pronto a ser habitado. Só de- se reuniu na Sociedade de Geografia
91 .J'Janda :Kfusical. Desde o seu pois se poderá começar a destina! o de Lisboa, tendo sido aprovadas por
comêço e por determinação de v. a colégio e residência das religiosas, essa assembleia as suas conclusões.
ex.• rev.m•, na escola de professores
catequistas se ensinou · música. Para
a formação de uma banda faltava-nos
só o dinheiro necessário pora a com-
pra dos instrumentos e esta dificulda·
de foi logo removida por v. ex. rev.m•
pondo á disposição da Missão o ne·
cessário para os adquirir.
Chegaram os instrumentos no dia
12 de junho e logo no dia seguinte
foram distribuídos. Com muito traba-
lho do professor (o rev. padre Silva)
dos alunos que nunca tinham visto
nem ouvido uma banda e ainda com
a cooperação do mestre Moisés Lau
(sapateiro) que prestou bom auxilio
no ensino das escalas e primeiros exer-
cícios, a banda dos alunos da Missão
pôde apresentar-se em público três
meses e meio depois da distribui~o
dos instrumentos.
Estreiou-se em S de outubro, por
ocasião da Exposição anual de pro-
dutos regionais de Timor e festas do
aniversário do actual regime, perante 8 - Uma levada conduz a agua da serra a todos os campos
li quási totalidade do elemento euro-
O seu novo porto e a necessidade de desenvol-
vimento do comercio mar1t1mo
Oúzeta das Colóllias ainda

A
rio nêste importante assunto, pelo Macau, entre êste põrto e o de Seac-
ha pouco descreveu a histó· que ousamos observar o seguinte: Ki, podendo o governo adquirir pri·
ria e lei económica de Ma- O novo pôrto de Macau morrerá se meiramente dois barcos de rios com
cau, pugnando pelo engran não aparecer a navegação que o sus- destino a estas carreiras, afretando-os
decimento do seu pôrto comercial, tente e lhe dê uma razão de existir. a companhias com capitais mixtos.
que felizmente está em bom caminho O governo de Macau, com o auxi- Duas das suas lanchas, pelo menos,
de execução, com a aspiração maxima lio de todo o comércio local, deve devidamente -artilhadas, manteriam
de rirem a ser restabelecidas as suas trabalhar no sentido de organizar nos rios uma eficaz vigilância e pro·
antigas relações marítimas com a ln· duas companhias portuguesas de na- teção contra a pirataria evitando os
dia e daqui com a Africa e Lisboa vegação, uma das quais tenha carrei- impostos clandestinos lançados pelos
por meio de navegação nacional. ras regulares entre Macau e Timôr piratas e ainda pelos piquetes dos
Das medidas urgentes que nêsse com escala por varios portos, sendo grévistas. ·
estudo primoroso o sr. Leite de Ma· a outra destinada ás carreiras entre Os comerciantes vendo bem defen·
ga'hães aconselhou como indispensa- Macau e os portos de Congchao-wan, didas as suas mercadorias, haveres e
veis para sustentar a «obra do põrton Hai-Phong, Tourane, Saígon e vice- vidas, viriam a Macau frequentes ve-
e fazer regressar Macau ao seu an- versa. ves e fariam do nosso põrto um porto
tigo explendor, destacamos a ter· O governo de Macau subsidiaria distribuidor.
ceira: as duas companhias, e o de Timôr A confiança viria ; os navios com a
«Lil!á-lo comercialmente por mar e sómente a primeira. nossa bandeira percorreriam todos ês·
por terra, fazendo-o vivo, comunicante As mercadorias aqui importadas tes portos, o comercio afluiria a Ma-
e útil.» seriam então introduzidas no territo· cau, e assim se levantaria do sõno
Ora precisamente, a desenvolver rio chinês ; e, tendo em atenção que em que tem vivido esta linda colónia
êste têma, encontramos em •O Com- Seac Ki é um mercado de valor, que do nosso querido Portugal.
b1te~ de Macau, datado de 20 de se não deve desprezar, o governo de Poderia ainda o governo dar uma
agosto, o seguinte artigo contendo in· Macau, enquanto não houver um ca- iniciativa mais ampla ao tráfico local,
teressantes observaçães que recomen· minho de ferro de penetração, promo- nomeando uma comissão de comer-
damos á análise das pessoas interes- veria de pronto uma carreira fluvial ciantes e industriais, portugueses e
sada~ pelo resurgimento nacional nas portuguesa, tambem subsidiada por chineses, não funcionários do Estado,
colónias do Extremo Oriente.
•Observando o que se passa por
t sse mundo além, vemos que todas
as nações auxiliam a marinha mer-
cante do seu país e alratem a estran·
geira a visitar os seus portos, conce·
dendo lhe grandes subsídios.
Portugal tambem concede subsi·
dios, e as nossas colónias de Angola.
Moçambique, etc., vêem nos seus
portos navios que, sem o seu auxilio
recuniarío, não os visitariam.
O Japão, ainda ha bem poucos
dias, fez anunciar que uma das suas
c.ompanhias de navegação está cons
!ruindo três grandes barcos e de
grande velocidade, por ter obtido um
bom subsidio do Imj:>erio.

~1
Isto faz o Japão, apesar de ter já
hoje uma marinha mercante das
maiores, porque vê na navegação o
progresso e o desenTolvimento das
suas industrias.
Só Macau não pensou ainda a sé- 9 - Tipo da carroça dos colonos camponezes
14 . GAZET:. DAS CQT_;ONIAS

zado, onde tudo depende irritante-


mente das peias e até dos caprichos
das repartições centrais.
Concretisando; em Angola. as re·
giões que podem formar esses fortes
governos subalterno~ são cinco e- es-
tão naturalmente indicadas pelas
circunstancias de caracter geografico
e ordem economica que desde sem·
pre têm presidido áºvida interna de
cad<r uma delas; não~éf.êste• o Jogar
para desenvolver um tema que já está
discutido. Essas regiões, onde ha li ·
nhas de penetração especiais e liga-
ções económicas privativa são: Con-
go, Loanda, Benguela e Mossamedes
e os distritos do hinterland':com base
de comunicações em Machico.
Estas cinco regiões dispõem hoj'!
de recursos suficientes a uma admi-
nistração honesta, dentro daQueles
princípios de descentralisação. E' pre-
ciso pois ~gitar a vida dessas regiões
10 - Um que se entretem com a creação dentro dos seus interesses privativos
e do interesse da colonisação, com
que estudarict e proporia, entre outras dos navios ao largo fundeados, des· uma orientação que não seja diver-
coisas que entendesse convenientes, carregando para terra. gente de ponto para ponto, e cuja
a compra de dois ou três barcos de Tambem proporia a comissão que unificação nunca se encontrará nas
pequena tonelagem, que fariam a:car- uma estrada bem pavimentad.i e ilu- repartições de Loanda tendentes sem·
reira Macau - Saigon, unindo-nos a minada ligasse essas pontes e a ci- pre. a par de todos os embaraços, a
êsses portos exportadores de impor· dade pe1o lado da ponta de S::Fran preparar uma salada russa com alhos
taocia, e trazendo nos, entre outros cisco e da Praia Grande ou pela an- do norte e bugalhos do sul.
artigos, o arroz, que seria uma carga tiga praia de Cacilhas. Provindas? Distritos? A designa-
de segura colocação e bastaria para Assim vedamos dentro .:m pouco ção é indifer~nte; o essencial é que
lhe manter as carreiras, desde que a tempo algum-'.Jmovimento no novo cada uma dessas regiões tenha um
maioria dos comerciantes dêsse artigo pôrto, em que Macau põe a unica es govtrno proprio, descentralizaJo em
em Macau o adquirissem vindo nos perança do seu ressurgimento e do grau suficiente para que nelas a
nossos barcos, tanto mais que chega- prestigio do nomeJportuguês.• administração possa ser exercida sem
ria aqui muito mais barato do que o ad- embaraços dentro dos interesses eco·
quirido por intermedio de Hong-kong. Política do Govêrno nómicos regionaes e de uma esfera
O que sobejasse do arroz consu- Continuado da pa~ina /O. politica dando unidade a toda a colónia.
mido pelos habitantes de Macau se- garantirmos áquelas colónias a neces O govtroo vai ocupar se das cartas
ria introduzido no interior da China saria unidade política. organicas de Angola e Moçambique.
pelas comunicações já citadas e ainda Esta é a verdade, por mais que Cremos que não dei'<ará de cons1de·
em juncos que viajariam sem receio, nos martelem os ouvidos com um sis- raros problemas da sua divisão admi·
devido á nossa proteção nos rios. tema descentralizador por numerosos nistrativa e graduação de podere~
Então o governo afretaria os bar- distritos,' onde nada está descentrali- numa descentralisação insofismada.
cos adquiridos a uma ou mais com-
panhias que, mantendo sempre a na-
cionalização portuguesa dos barcos,
pagaria anualmente uma taxa calcu·
!ada, por exemplo, em 8 ° 0 do seu
custo, sendo 3 • 0 dessa taxa destinada
a compensar a depreciação do mate·
ria!, constituindo os restantes S 0 , um
bom juro do capital pelo governo em-
pregado.
A mesma comissão proporia lam-
bem ao governo de Macau a cons-
trução. no novo pôrto. de pontes cais
para a atracação dos vapores que fa-
zem as suas carreiras entre Macau,
Hongkong e Cantão, havendo já nessa
ocasião a carreira de Seac-Ki; uma
outra, forte e grande, que serviria
para de um dos seus lados atracarem
rebocadores, lanchas motores e esca
leres do trânsito de passageiros, etc.,
e do outro, equipado com dois guin-
dastes, podendo ser um dêles braçal
e o outro electrico, para a descarga
das mercadorias vindas em batelões 11-Campos de milho

EXERC IT O C O LONIAL
(Continuação)

As duas baterias de metralhadoras das as díficuldades nos casos infeli1- comandados por subalternos com re-
deviam ser incorporadas nas compa- mente vulgaríssimos de doenças pró· sidencia nos centros mais populosos
nhias indigenas e não constituírem prias dos climas tropicais. dos distritos, ficando apenas na séde
uma secção independente como pre- A actual distribuição das forças in- d~stes o comandante da companhia
sentemente sucede. dígenas em Moçambique deixa muito com a força julgada indispensavel.
As desvantagens que oferece a sua a desejar. Obter-se-ia assim a vantagem de
actual organização são as mesmas Em relação à área total de Moçam- se poqer desde logo sufocar qualquer
que a má distribuição das compa- bique, temos uma média de 20,5 hec- tentativa de rebelião de importancía;
nhias indígenas apresenta · e a que tares por habitante, estando ainda evitar-se·iam os inconvenientes re•
me referirei mais adiante. a população muito irregularmente dis· sultantes da aglomeração de homens
O actual projecto de reorganização tribuida no distrito de Inhambane; em meios pequenos,como sejam aquê-
do exército colonial oferece duas ca· por exemplo, temos a circunscrição les que foram escolhidos para os
racterísticas importantes merecedoras de Sovala com 112.000 habitantes e seus actuais aquartelamentos e por
de todos os aplausos: a primeira, que a circunscrição de Vilonculos, com ultimo dariamos aos indígenas uma
extingue os quadros privativos mili· uma área dez vezes superior, apenas demonstração de força que estes só
tares das colómas e a segunda. que com 24.317 habitantes; no distrito de agora conhecem através de centenas
preconisa sómente o emprego e recru- Quelimane a Maganja da Costa com de kilometros de distancia.
tamento de forças indígenas na pró- 126.990 e ll1ossingire com uma área
pria colónia onde elas devem prestar muito superior com 20.991 habitan- f Continli 1) .
servi~o. tes; no distrito de Tete a Angonia,
Não vale a pena falar aqui dos in- com 133.578, e o Zumbo com 27.757 A. AUGUSTO P. CABRAL.
convenientes e desagradaveis inci- e em Moçambique, Nampula com \Sec. Neg. lnd .)
dentes a que deu lugar a existencia 87.00J e ll1alema com 32.290. Rectifica çilo a o último artigo desta se·
de duas categorias de oficiais de Com excepção das companhias in- r ie, publicado' no niímero 38 da • Gazeta•:
iguais patentes mas apreciados dife- dígenas que se encontram no distrito Pá!:" 17, linha 18 e seguintes devem ser
rentemente sob o ponto de vista tec- de Tete e a que está em Nampula s ubehtuides por eeies :
nico-militar. A esta conclustJo s6 chegamos agora
no distrito de Moçambique, todas as na metrôpole, ao fim] de quat ro séculos
De resto, nunca o exército colonial outras permanecem perto do litoral, de ocupaçtJo, porque muitas vtzes as co·
dispensou a colaboração das forças afastadas dos maiores nucleos de po- lónias, pela distancia etc.
militares da metrópole, em acções de pulação. Na lpág. 18, ,linha~ 1 4, e mendar poucos
indígenas para forças ind1genas.
importancia, o que estava em contra· Seria, pois, de aconselhar uma me· Ka mesma pág., linha 19, emendar Sam-
dição com a única razão da sua elCÍS· lhor distribuição por destacamentos, be11 para Zambeze.
tenda.
Pode-se dizer abertamente que foi
a brilhante acção das forças dirigidas
por Von Letow que inspirou os prin·
cipios agora detendidos na recente
remodelação. A extraordinária mobi·
!idade das tropas do seu comando só
seria possível com soldados indíge-
nas, pela sua resistencia ao clima e
dispensa de abastecimento, sempre
extremamente dificultoso em opera-
ções militares no interior de Africa.
Em harmonia com estas conside
rações. nada ha, pois, que alterar em
relação aos efectivos de que se com·
põem as forças indígenas de Moçam·
bique, a não ser a eliminação dos 70
cabos europeus que acarretam con-
sigo a imediata mobili7.ação de 70 in·
digenas carregadores, isto na hipotese
ainda, aliás pouco provável, dos ca-
bos europeus não adoecerem e a cam-
panha militar durar apenas 20 dias,
de contrário o número de carregado·
res terá de ser aumentado e agrava- 12-Colheita de batatas

16 GAZETA DAS COLONIAS GAZETA DAS COLON!A9 17



são temporaria da escravatura que foi en-
LUBANGO ,_ ;~
..

viado aos membros da Sociedade das Na-
ções e,
Tendo lavrado acta das alusõe!I feitas
' neste reletorio á situação grave que po-
deria criar-se nos paízes onde as condi-
A colónia portuguesa • ções de trabalho dos indígenas não estio
em hormania com os princípios expendi-
da villa Sá da Bandeira dos no artigo 23. 0 , do Pacto;
Sendo de opinião de que esta questão é
no Sul de Angola extremamente urgente:
Chama a atenção da Organização Inh':r·
nacional do Trabalho sobre a necesRidad»
(Clicl1és de Veloso de Castro, de a estudar, com o fim duma acção ir.·
cedidos pela Secção ternacional•. ·
Fotografica do Exército O Governo Português dá todo o
seu apoio a esta. proposta: ela tradu z
As nossas gravuras dêste número as ideias que muitas vezes t êm sido
são inteiramente dedicadas a essa im- apresentadas e defendidas pelos d<··
portante colónia de portugueses de legados de Portugal á Sociedade dae
lei e coração : homenagem bem mere- ,. ·''" . Nações. Com efeito, a ,questão do tra-

cida. ;,;,-

balho indigena é das ma.is complexas


São conhecidos os esforços feitCJs . porque oferece aspetos variados,~ sr ­
Vista panoramica da Vila Sá da Bandeira (1800 metros de altitude). Nas. serranias fundo está situado, à esquerda, o planalto de Humpata (2000 metros da altitude)
desde 1840 para a colonização de gundo as condições economicas das
• Mossamedes, conde se reconhecera diversas colónias, a sua população e
que o clima era semelhante ao da situação dos indigenas. O que torna
Europa». Alguns pescadores do Al- lónia de Mossamedes, muitos e mui- de colonizàção pela sucessiva fixa· ne e do Cubango, ocupando riiuitos Resposta ao Protocolo dificil, senão impossivel, o estabele-
garve e duas importantes imigrações tos dêles deixando a vida nos sertões ção á terra de muitos dos seus mais colonos, sobretudo .no. decurso das
" '" . Continuação da pag. 25 cimento duma regulamenfação geral
desviadas de Pernambuco, fundaram hostís e desconhecidos. uteis elementos. suas ~ viagens comerc1a1s .
como se qtteria fazer pelo Protocolo,
ali essa hoje prospera e rica colónia Para reforçar a colónia de Mossa- Foi portanto essa companhia euro- O caminho de ferro já liga Mossa- Segunda proposta
é a falta de dados necessarios e so-
a que o ex.mo sr. coronel Alfredo Fel- medes e cuidar da sua defesa, toi en- peia do 3.º batalhão de caçadores de medes com Lubango, mas as comu- •Os Estados signatarios comprometem-
bretudo a ausencia duma investigação
ner ainda ha pouco se referiu nas tão organizado o 3.º batalhão de ca- Angola, instalada em 1859, o germe nicações com o sul (Cunene) e leste se a enviar em cada ano ao Secretariado
Geral da Sociedade das Nações um relato- que só um organismo como o ccBureau»
páginas desta «Gazeta», ao tratar da çadores de Angola, sendo a sua pri- da colonização do planalto. (Cubango) continuam a ser feitas em rio sobre os efeitos das medidas que to- Internacional do Trabalho estaria em
importante industria da pesca que meira companhia composta de euro- Em 1881 chegou a imigração boer carros de tipo boer pesados (12 jun- maram para alcançar o fim _Visado pelo ·condições de efetuar com o concur-
se exerce lá e na Baía dos Tigres, peus casados e preferidos os agricul- fugida á dominação inglesa que a pri- tas) ou ligeiros \ 6 juntas); embora Protocolo.
so dos orgãos competentes e das per-
sobretudo após o reforço de pescado- tores e operários pedreiros, carpin- meira guerra implantára nos territó- possam transitar e transitem muitos cO Secretario Geral submeterá, em cada
ano, á Assembleia da Sociedade das Na- sonalidades versadas no conhecimen-
res algarvios que a colónia recebeu teiros e serralheiros. Esta companhia rios de Orange e do Natal. Os boers camiões automoveis, que nos ultimos ções, um ·resumo dos relatorios que lhe to dos diferentes sistema.e de admi-
aí por 1860. de verdadeiros colonos, tinha como · foram instalados na Humpata e ' em períodos da guerra e após as opera- tenham sido enviados•. nistração colonial e 'na sua aplicaçãn.
A colónia do Lubango, no planalto principal missão militar dominar os contraposição criou-se em 1885 no • ções, foram os únicos veículos empre~ O Governo Português não pode de-
da Huila, é por assim dizer filha des- Gambos, o vale do Cunene e regiões Lubango a colónia Sá da Bandeira gados pelo exército. clar~r-se de acordo sobre esta. pro- •
ta, e com ela estão hoje ligadas, adjacentes. As tradições desta com- com uns 500 madeirenses que de ano São aspectos da vida desta presti- posta. que, com inteira. evidencia, ten- O Governo Portuguez dà, em prir:-
numa interdependencia económica panhia foram- ~mpre brilhantemente para ano se têm multiplicado por uma mosa colónia os representados nas de a. aplicar ás colónias portuguezas, cipio, todo o seu apoio ás 11ugestõrs
mu to intima, todas as demais coló- mantidas pelo «Esquadrão de Dra- elevada percentagem de nascimentos gravuras: construções, culturas, tra- no que respeita ao trabalho indigena, . da Santa Sé, relativamente á introdu-
nias do planalto -Chibia, Humpata, gões de Mossamedes», que lhe suce- e pelo reforço que a colónia tem re- balho do trigo, população das esco- o regime dos mandatos coloniaes, a ção, no Protocolo, das dieposições
Huila, etc. deu e até nossos dias, ao termo da cebido dos militares europeus, a ponto las, diversões citadinas, diversões no que são submetidos as antigas coló· que poderiam convir, determinadas
Os primeiros esforços de ocupação ocupação (1915), este:ve sempre na de hoje contar uns 10.000 colonos campo, paisagem, etc.; tudo está re- nias alemãs. pela Conferencia de Berlim, em 1885,
do planalto e exploração das suas ri- vanguarda dos movimentos afirmativos espalhados pelo planalto. presentado e dá em conjunto a ideia a Acta de Bruxelas de 1890 e' co n-
quesas agrícola e pecuárias, devem- da soberania nacional, não deixando Ainda ha dez anos vivia no Luban- do que é a vida no Lubango. Na capa gerceira proposta tidas em essencia no artigo 11.º àa
se com efeito aos iniciadores da co· tambem nunca de cooperar na obra go um dos primitivos casais, que fica registado o padrão militar que «A As sembleia : Convenção de Saint Germain do an o

reunia á sua mesa, em dias de festa, domina a vila Sá da Bandeira, home- Tendo examinado o relatorio da comis· de 1919.

nada menos de cincoenta descenden- nagem aos fundadores da colónia e a
tes e aderentes. As crianças, robus- tantos outros filhos do povo que por
,• tas e sádias, divertem-se e correm ali passaram e morreram ás centenas '~
ao ~ol, ' cabeças descobertas, como nos campos do sul ou tivera,m a dita !
'
nos países dos melhores climas das de voltar e engrandeceram a colónia .,'

,.,,
'
zonas temperadas. pelo seu trabalho. i

Não ha inverno naquela região,


' embora haja chuvas abundantes. La- li i
llllllllllllllllll lllllllllllllllll1111 1111 11111111111 111 11111 1111 11111 11111111111
titude geográfica 15°, corrigido o cli-
ma por 1.800 metros de altitude. Dr. A. Ornelas
Produção como nas regiões das zo-
nas temperadas; mas como na estação Este nosso ilustre amigo encontra-
seca a agoa escasseia, visto que esta 86 ha dias ausente de Lisboa, em
parte do planalto estende-se pelas ori- Seneide (Coimbra) em rasão de doen-
gens dos regatos insignificantes que ça de sua esposa, que felizmente já
formam o rio Caculobale, afluente do
Cunene . a colónia tende a dissemi- não inspira cuidados serios, pelo que
nar se em procura de terrenos irrigá- o felicitamos. Como sua Ex.ª tencio-
veis que são os melhores para a cul- na regressar no fim do mez, só então
tura do trigo. continuará a Gazeta a publicação do
Cria-se muito gado, mas o comér- importante estudo sobre o Problema
cio procura especialmente o bovídeo
nas regiões do sul, em troca de demografico colonial que apenas aque-
1
mantimentos e fazendas. A caça é la circunstancia: desesperada fez in-

13-Monda de Trigo abundantíssima nas margens do Cune- terromper. 26 - Saida da igreja paroquial
Companhia de Moçambique
Comunicações Ferro-Viarias-BEIRA
Porto dos territorios da Companhia de Moçambique e o principal da Rhodesia
do Norte e do Sul-Katanga Belga. -Protectorado da Niassalandia
e vale Jo Zambeze

. '

i
o o

Exportação de milho da Beira


Durante o ano de 1923 foram exportados pelo porto da Btira I .250 .000 sacas
de milho. Desse numero 797 .ooo sacos provinham da Rhodesia e 387 .ooo do
tenitorio da Companhia de Moçambique. Estes importantes embarques indi-
.:am que a Beira está mantendo a sua posição de segundo porto cerealífero da
Africa meridional e oriental
FOMENTO AGRICOLA COLONIAL
• A organisação dos serviços agronomicos,
segundo a tese do sr. engenheiro C. de Melo Geraldes,
discutida no ultimo congresso nacional

o desenvolvimento agrícola das


colónias, é, aem conteataç!l.o,
o problema mais complexo
qoe comporta a aJministra-
ção colonial, visto o grande numero
de factore11 que nele intervêm.
isso deixa da ser tambern assaz com·
plexo e delicado.
Dada a diversidade de factores que
intervêm no fomento agrícola colo·
oial, é claro qoe a resoloção dos pro-
blemas que o seo o estudo snscita,
mais factores do fomento agrícola co
lonial, foi, tão sómentP, com o fim
de tentar fazer realçar bem a grande
impwtancia e complexidade do prc-
blema do desenvolvimento agrícola
colonial, poia que, se bem que tal seja
E' qoe o fomento agrícola colo· reqoer a competencia de especialistas deveras extranho e paradoxal, este
oial, eatá intimamente relacionado, e, assim, impossível se torna veraa- magoo problema não tem sido, até
com os problemaa mais importantes
da 1tdmioistração colonial, os quais
são, sem dovida, a questão das l ias
de comunicação e os transportes, o
aomento da popnlação indigena, o re-
gime da mão d' obra, a higiene e as·
sistencia medica, a colonização, o cré-
dito, a aeeistencia tecnica e a propa·
ganda colonial.
Com efeito, não basta que as terras
sejam ferteis (e elas nem sempre o
são tanto, como por vezes se tem
apregoado) e de facil aquisição, para
que a soa coltnra r emoneradora seja
possível, porqoanto torna-se necessa·
rio (para evitar insocessos qoe geram
o descrédito e o desalento) saber pré·
viamentt1 com segorar.ça, qnaes as
cnlturas e gados que melhor se ada-
ptam áa diferentes regiões e são sus-
ceptiveis de economicamente serem ox-
ploradoP, bem como os processos cnl-
turais, tecnologicos e zooteo!oicos, a
adotar para a soa exploração rendo-
sa; contar com mão d'obra abundante
e qoe permaneça nas explorações la-
pso& do tempo suficientemente largos,
para assegurar a execução das prati-
cas agrícolas nas épocas proprias o
evitar conatantes e dispendiosas
aprendizagens; dispor de meios de
transporte faceis e baratos, para a co-
loca~ão dos prodotos; e de capital,
meamo avultados capitais, porque nas
colónias, por via de regra, a eiq:lora- 14 - Como o trigo é grado
çlo da terra implica logo, inicialmente,
o empate de grandes qnantiaa sem
rendimento imediáto; e fazer uma ju- los to<las oeste trabalho, tanto mais hoje, devidamente conaiderado entre
diciosa prop8ganda, feita com persis· qne, por~determinação da~ilnstre co- nós, apezar de constantemente se cla-
tencia e entosiasmo, mas absolnta- misslto organisadora deate congreaso, mar que o faturo das colónias, está
mente honesta e, assim, sem contra- tem que ser breve. no desen-.olvimeoto da soa agricol-
prodncentes exageros e enganosas mi- tu ·a.
ragens de rapida abastança e vida E, de facto, assim é, pois qne a
regalada, porqne só se vence naa co- *
"' * agricoltnra foi, e continuará a ser
lónias, á costa de mnito esforço e per· Proponho-me, poi•, tratar apenas, sempre, a base, o principal esteio, em
siatoncia. e nas suas linhas geraia, doa proble- qne assenta a economia das socieda-
Isto pelo qoe diz respeito, especial· mas da Assisteneza tecnica, do desen· des humanas.
mente, á agricultora exercida por co- •olvimenÚJ da agricultura exercida E' qne, como em frase lapidar disse
lónos. pelos indigenas e da propaganda w- um grande filosofo chioez, cA pros ·
Qnauto ao desenvolvimento da agri- lo1Zial, sob o ponÚJ de vista do fomento peridade pnblica aasemelba-se a uma
cultora indígena, se bem que proble- agricola. z.rvore : a agricultura é a sua raiz, a
ma de maia facil reaolnção, nem por E, se sumariamente indiqut>i os de- 1Ddustria e o comercio, os seus ramos
20 GAZETA DAS COLONIAS

pelo contrario, as na<;ôea mais avan·


çadas primam em desenvolver e aper -
feiçoar, cada vez mais, os sena servi.
ços de investigação e de assistencia
agronómica, resulta que aq uelas que
presistirem em niío acompanhar esse
movimento dq progre sso, ficarão fa.
talmente em condi~ões de manifesta
infarioridade e, assim, sujeitas a se·
rem vencidas no campo económico,
por incapazes de suportarem a con-
correncia.
Porqusn•o, deanecesaario s1>ria mes-
mo lembrai-o, o proteccioniamo tem,
evidentemente, um limite que impos·
sivel se torna transpor.
Porque este aspecto da questão,
tem, como 1e vô, capital importancia,
vale a pena citar, a este proposito,
alguns casos qoe plenamente confir-
mam o qoe fica exposto.
Ha poucos anoR ainda, o Brazil
qoasi monopolisava a exploração e o
15 - As malhadas
comercio da borracha, por que a ime~
ba e fertil bacia do Amazona~, em que
e as folhas; se a raiz adoece, as fo. Avec La Mcumentation el La métho- existem vasto:> povoamentos espon-
lhas caem, os ramos destacam-se e a de scie11tifique on ne va pas au ha- taneos da arvore produtora de bor-
arvore morre•. Tése esta desenvol· sard.» (••) racha por exceleucia,-a H evea brasi-
vida com grande elevação e acertado A sciencia agronomica tem poia de liensis-, era o principal centro p r o-
criterio, pelo notavel estadista e es- ser considerada como uma podero- dutor d'essa oliosa mataria prima.
critor francez J. Méline, num livro sa e indispensavel alavanca do pro- Escr itores houve que, por Íbso, não
celebro.(•) gresa oagricola colonial. duvidaram chamar aos e stados do Pa-
Como se explica, então, tal parado· Ma 80 problema carece de ser rá e do Amar.onas-Paiz d() ouro
xo? Polo quo respeita á assietencia tambem encarado aob outro aspecto. nezro-.
tecoica, ó que para a maior parte das Com efeito, se todas as nações, Ofu scado pelo brilho de tanta ri-
pessoas a agricultura é tida como pondo do parte os benefícios qoe ad- queza, o Brazil cometeu o grande
uma artecomesinba, accossivel a qual- vôm da intervenção da scieocia agro- erro de se !opor ao abrigo da con-
qu(lr e especialmente na8 colónias, nómica na producçiio yegetal e ani- correncia; e por is:io, despresando os
em qoo, para muito boa g1>nte, basta mal, adotassem como norma, em ma. principios da sciencia agro.nómic~,
lançar a somente á terra, para colher teria de agricultura, segoir a rotina não curou a tempo de organizar sc1-
abundantes prodoc<;õ~e, com som~oos e o empirismo, todas estariam, sob entificamente a sua producção da bor -
cancoira~ . este ponto de vista, maia oo menos, racha, substituindo OM seringaes e!'·
As ioumoras e tremendas deailo- em ego aidade de condições e, aaaim, pontaneos, por plantações metódica~
sõee, o os avoltadoe capitaes e eafor· a coqcorrencia seria muito menos pa- racionalmente 1>xplorada-;,
ços gastos em para perda qoe tal ilu- ra temer. Porém, entretan to, os inglez1>~ e
são tem acarretado, regista-os a h is- P orém como tal oito sucede, mas holandezP.s, iam 1>i-tnda11do -..cientifica-
toria da agricultora colonial; e a 11oa
compilação e comentario, daria farta
materia para um grosso volume.
E' que na r ealidade, as cofoas pas-
sam-se de forma bem diferente, como
aliaz não podia deixar de ser, tanto
mais tratando-se de oma agricultora
qoe não tem ao menos tradição em
qoe se apoie, porque está ainda, pa·
ra moitas cultoras, na soa infancia.
E, ó por isso, qoe nas colónia!\, a
sciencia agronómica ainda se toroa
maia necesaária, do que nos paizes
t>m qoe a agricultura tem pelo m1>00H,
a servir-lhe de guia, a tradição, base-
ada oa exporiencia (embora empírica
o tantas vezes eivada de erro~) de
longos sócnlos.
Porque, como judiciosamente ad-
verte o conceituado botanico e dis-
tinto colonial, dr. Augusto Chevalier:
«La mélhode scientifique a cet ava1z·
tage sur L'emplri,sme. qu'elle évite les
tâtonnements et les dépenses souve11t
éltvees qul e1z so11t la conséqrumu.
tlle permet de gaguer du temps. 16 - A limpeza do trigo
GAZETA DAS COLONIAS 21
mente a me!>ma planta, no" magnifi-
co• estabelecimentos de inve-.tigação
agronómica que possuem nas suas
colónia!> do Urionte.
Pas$ados alguns anos de intenso 11
rigoroso e:.tudo, em que intervieram
tecnicos de alto valor, começaram a
organisar·se poderosas emprezss pa-
ra a explorllçiio racional da serlttguet-
ra. Fizeram-se grandes plauta~õtJ~,
com o auxilio de tecnico ~ de reconhe-
cida competencia, e moitas d'essas
emprezas, antes da guerra, chegaram
a dbtriboir dividendos de mais do
100 o ••
E' tamanho desenvolvimento atin-
giram tae~ plantações qne de ha mui-
to o Ilrazil deixou de ser o prin-
cipal centro produtor de borracha,
porque o Oriente produz umas pou-
cas de vezes mais borracha do quo
ole o, o que para o Brazil é ainda
peor, muito mais barata e melhor
apresentada. 17 - Uma das antigas azenhas
E por isso, os estados do Pará e
do Amazonas, ontr'ora tão opulentos, os qaaes, até hoje, têm sido expio Pelo contrario, no Oriento, nas mes·
atraves~am ha anos uma gravo crise; rados qoasi que só pelos indigenas. mas colónias em que se preparou a
porque não se improvisam plantaçõe11 Apezar porem doe produtos d'.ista ruina do Parà o Amazonas, e2tá-se
metodicas, nem se introduzem, d' nm util palmeira, - o azeite de palma .i não só estudando. com todo o esme-
dia para o outro, noTas cultoras o coconote - represou tarem valiosos ro, a explorac:ão racional da palmei·
numa região. produtos de exportação, o Estado, ra do azeite (que foi importada d' A/ri-
A exploração das qoineirag, atin- por intermedio dos seus serviços de ca) mas desde 1911 qoo se começa-
gia nas lndias Neerlandezas tal per- a<>ricultora, nada tem feito no sen- ram a plantar extensos palmares rega-
feição, mercê do tal-mltodo scle11tt- tido de melborar aa coodic:õee, assaz lares; e mais modernamente têm sido
fico - a que alude Chevalier, que bo- primitivas, em que eles são explo1·a- in,staladas grandes fabricas para a
jo nem os proprios inglezes conse- doe; do que resulta quo o azeite de preparação dos seus produtos, de bar·
guem lotar com elas, na prodnoç&o palma exportado pela Guiné e Ango· monia com as indicações fornecidas
da preciosa casca. la, tem ama elevada acidez, o que peloe tecnicos, dos seus modelares
Na mesma ordem de idêas, vem a não sô lbe diminue o valor para qual· estabelecimentos de investigação agro-
propostto chamar tambem a atenção quer emprego industrial, mas o torna nómica.
para dois outros casos que altamente mesmo improprio para o fabrico da Moitas dessas plantações estão já
interessam o fatoro da Guiné, do S. margarina (actoalmente o aeo mais em plena produção ; e nas revistas
Tomé e Príncipe e de Angola e que, rendoso emprego) pois que, para t1l da especialidade, tôm n'estes oltimos
são da mais flagrante actoalidade. fim, não deve ter mais de 8' de aci- anos sido publicados artigos tenden-
Como é sabido, existem nll. Guiné dez; e o coconote apresenta-se, por tes a demonstrar não com palavras,
e om Angola extensos povoamentos via de regra, muito partido o inqui- mas com dados estatiscos, q11e den·
espontaneoe de palmeiras do azeite, nado por impurezas varias. tro de alguns anos os palmar!'s do
Oriente produzirão tattto azeite de
palma e coconote, como actualmente
toda a Africa 1
E forçoso é confossal-o, não se
exagera, porque niio só ae plantações
do Oriente aumentam de dia para
dia, mas faz-ao n'elas a cultora inten-
siva das melhores variedades, profi
cientemente ,,eleccionadas, ao passo
que em Africa implira ainda em lar-
ga escala a rotina o estão por expio
rar vast(I~ palmar<.'l>.
Mas ha mal~! Não "'ó a. quantidada
de azeite de palma produzido no Ori-
ente, nos deve fazer refletir e agir,
mas sobretudo o facto, muito mais
importante, de ele ser de muito me·
tlwr qualidade, mercê de um coida-
doso fabrico.
Ora, para prevenir a concorrencia
que é fatal, e evitar assim a crise
que presentemente ameaça a nossa
fertil Goiné e a prometedora Angola,
ha ,,ó, evidentemente, om caminho a
18 -A fornada• no campo "eguir, o qoal vem a ser, fazer em
22 GAZETA DAS COLONIAS

Africa o qoo se está pondo cm pra- etc.) são pr oduzidos por variedades fenómenos que constituem a chamada
tica no Oriente, isto ó, f UanfiJ antes, de cacaoeiros do gr opolconhecido pelo fermentação do cacau, pois a verd3de
fomentar o e~tabelecimento de platan- nome tecnico de « Cr ioUÚJ» , ao passo é q oe se devem fazer todos 0 11 esfor -
taçõea metódicas o de fabricas apetre- que em $. Tomé e Principe, aa varie- ços para evitar a nefasta fermentação
chada ~ com a melhor maqainaria, pro- dades deste gropo são moito pooco acetica, o qoe, seja dito de p:issagem.
mulgando por om lado as conveni- coltivadas, porqoe são mais aeneiveis com os actuai ~ processos de fermen·
ente~ medidas de caracter administra- :is doenças e produzem menoa do qoe tação uzados em S. Tomé, não é nada
tivo, entre as qoaes sobrelevam as as variedades do gropo •Forastero» facil.
condacentes a facilitar o recrutamen- com as quais são constitoidas espe- Torna-se pois absolutamente neces-
to da mão d'obrs, poi~ qoe a explo- cialmente as suas plantações. sário, para defender, tanto qoanto pos-
rrção dos palmares exige moitos bra- Não ha dovida qoe em S. Tomé se sivel, o cacau de S. Tomé da concor·
ços; o por outro lado, pondo os ser- coltiva, em larga escala, uma varie- rencia, melhorar-lhe a qoalidade e re·
viços de agrlcaltora da Gainé;e de dade conhecida pelo uome vulgar de dozir ao mínimo o seo casto de pro·
Angola, cm conditi e9 de poderem «CreoUÚJ» mas esta, não é mais do l ocçllo, para o q oe se torna indispen.
prestar oma eficaz ass1stencia tecni- qoe uma variedade do gropo «Foras- savel o auxilio permanente da scien·
ca ás emprezas qoe Re proponham tero». cia agronómica, bem como para a re-
explorar racionalmente a palmeira do Eis S:demonstração, digamos tecni- solução de ootros problemas de capi·
azeite. E' isto que urgentemente es- ca, do qoanto tal afirmação é erro· tal importancia, dentre os qoais ha a
tll.o fazendo as demais nações nas nea, (**H ) mas para aqueles que pelo des tacar o combate ás doe11ças qne
suas colónias de Africa, o que ó mais motivo de ser derivada da sciencia, a tantos prejoizos já tem cansado.
um motivo para nilo perdermos seqoer j ulgarem~méra (<teoria livresca» aqui Demoustrada, como fica, a benéfica-
om imitante. reprodozo as cotações, no mercado e indispensavel intervenção da scien·
O outro as:;onto~a qoe jolgo opor-
tuno referir-me, diz respeito a um
dos nohso ~ mais valiosos prodotos
coloniaea - o cacao.
Como é sabido, a prodacçilo do
cacau tem tomado um extraordinário
iDcremento na Costa do Oaro e na
Niiteria (a producção: em 1922 foi de
190:561 tonelada~ , quer dizer mais
de 6 vezes a de S. Tomé e Prvzcipe)
e, por ootr o lado, como já em 1921
o :<r. Hatherley, n'oma interessante
memoria ("*) apresent ada ao Congres-
so de agricultora tr opical, realizado
em Londres nesse ano, actualmente a
indoatria do chocolate, está evolocio-
nando no sentido dd dar a preferen-
cia ao fabrico dos produtos finos e
de laxo, para os qoaes lló se podem
empregar os melhores tipos decacaus.
Ora estes dois factos constituem
uma ameaça para S. Tomé e Príncipe
e tambem para a economia da metró·
polo, onde o:cacaoJaz entra(anual- 19 - Algumas familias no jardim publico
mente muito ouro, e, por isso, repre·
sentam um papel moito importante, do Havre, de alguns tipos de cacaus eia agronómica na producçilo ag rícola,
tanto mais que, como ó sabido, aqoe- relativos ao dia 10 de novembro do tor na-se agora necessário examicar
las ricas colónias vivem ainda quasi 1923 (por 50 K.) como essa mtervenção deve ser r eali-
qoe só em regime de monocultura. Venezuela .. ........ . 210 -'.HO fr. zada. Mas antes, é conveniente pr eci-
Com efeito, é certo qoe ultimamen- Gnadelope .....•••... 185-118 fr. sar bem, qual a natoroza das sciencias
te tem-se dito e escr ito moitas vezes S. Tomé (superior) .... 150-165 fr. agronómicas e medico veterinárias e
qàe o cacau de S. Tomé 11é o melhor Costa do Ooro (Acra) 130-138 fr. quais os seus métodos de trabalho.
do mundo,,. Porém esta afirmação é O cacau de $. Tomó não é pois o Continúa.
não só absoúitamente gratuita, mas melhor do mundo, mas o qoe pode é
póde mesmo acaretar moito fonestas ser consideravelmente melhorado e (•)Jules Méline-Le retour á la terre. p.
conseqoencias, visto que tem como obter assim mais altas cotações, visto 313.
( ..) Les grands êtablissements scientifi·
corolario logico que o cacao de S. que, por via de regra, deixa ainda ques du Moyen et de l'Extreme·Orienf et
Tomé alo tem a temer a concorren- bastante a desejar sob o ponto de la fondation de I' Jnqtitut de Saigon, in La
cia e qoe, por isso, não carece de ser vista da soa preparação e apresenta- Geographie Tome XXXlll n.0 4 - 1920 p.
melhorado. ção no mercado, notando-se lhe com 290.
(.. ") futurep rospects of raw cocos, as
r Ora a verdade ó qoe,Jnão só o ca- freqoencia nm cheiro vinoso on o aci- egard chocolate manufacture.
cau de S. Tomé não é o cc melhor do do acetico qoe moito lhe deprecia o ( ..•')Em abono da verdade, devo decla-
mondo•, mas não o poderá mesmo valor, o qoe não admira, visto qoe, rar que não me consta que tal afirmação te-
vir a ser, senão mediante a substitui- ao que parece, em S. Tomé ha muita nha Jámais sido feita, por proprietarios ou
empregados de roi,.as ou por tecnicos. Mas
ção das variedades !._de cacaueiros, gente qoe está convencida qoe não é em conferencies e artigos de jornais, já ela
actualmente mais largamente coltiva- possível fazer fermentar bem o cacao, tem sido feita por estadistas e diplomatas
das em$. Tomé e Princip), por outras. sem que se declare a fermentação quer dlier por altos representantes do Es·
acetica ! tado e é isso, que eu reputo perigoso, pois
E isto, porqoe os melhores cacaus jnstifica até certo ponto o abandono e que
hoje conhocidos (caca as da Venezoola, Trata se, evidentemente, de uma têm sido votados os serviços oficiais de
da Goadelope, de Java, do Ceylão, errónea illterpretação dos complexos aj?ricultura de S. Tomé.

EDUCAÇÃ O E EN SI NO
Funcção das Missóes religiosas nds colónias

E
STA S ligeiras considerações das missões católicas, nós vêmos que sua influencia tem de ser simultanea·
• não são o produto de quais- só á custa de muito patriotismo e de mente política e educativa.
J quer observações pessoaes, por inumeros sacrifícios de toda a ordem Quando, porventura, elas não con-
quanto, infelizmente, nunca fui dos ~eus missionários, é que elas têm sigam realisar este fim, terão falhado
ás colonias, mas são unicamente a conseguido estabelecer-se e progre- completamente naquilo que deve cons-
minha opinião pessoal scbre o assunto, dir alcançando, regra geral, os seus tituir o seu desideratum.
resultante das obras e documentos objectivos em pról da Patria. Con- A influencia jas missões entre os
que, respeitantes ás Missões em Afri- frontando o resultado do trabalho das povos selvagens não se deve limitar
ca, consultei. missões católicas com o das protes- a uma obra de catequese; deve, pelo
Sejam quais forem as minhas con- tantes ou ainda com o das laicas nós, contrario, procurar sêr ao mesmo tem-
vicções sobre este caso, eu confesso sem séctarismo, podemos, duma ma· po . templo, escola, oficina e hospital.
nada ter despresado daquelas obras neira geral, afirmar que todas as van- Alêm do fim evangelisador das mis-
que pude lêr sobre este assunto afim tagens têm pertencido, até hoje, ás sões, respeitavel e sempre util á mar
de poder formar uma opinião pessoal, missões católicas. cha geral da civilisação, elas devem
absolutamente independente, muito Duma forma geral, podemos dizer, ministrar, simultaneamente, aos indí-
minha sobre as afirmações de valor sem termo5 necessidade de saír dos genas uma preleminar, roas necessá·
dos nossos missionários e das nossas limites da mais inteira e imparcial ria, instrução profissional a par dos
missões religiosas, guiando·me para moderação, que os sucessos morais de conhecimentos de higiene que a cul-
isso, não pelo testemunho dos seus muitas missões protestantes e laicas tura dos indígenas permitir.
rivaes, protestantes, mas pelas infor- têm sido mais aparentes do que Posto de parte, ha muito já, o su
mações de toda a ordem e, muito reais. posto dogma da inferioridade relativa
principalmente, daqu<?les que, depois E da nossa opinião são homens co- da ra~ negra, e estando, pelo con·
de alguns anos de permanencia no mo Livingi.tone, Stanley, Lenz, Wiss· traria, já asserte e por uma fórma
continente africano, sobre este assun- man, sir Bartle Frêre, o coronel Jo iniludivel que não ha raças funda-
to têm escrito e deposto imparcial- hnston, etc. etc., que nos fornecem mentalmente superiores ou inferiores
mente. documentos preciosos e insuspeitos e ainda menos raças puras e impu
A sinceridade, o valor e a vantagem para estabelecerem e provarem a in ras, nós chegamos à conclus ·o de que
das missões católicas não têm ne· ferioridade, em conjunto, das missões há a completa equivalencia das raças
cessidade de serem defendidos ; o va- protestantes e laicas em presença da humanas, desde que elas se encon-
lor das suas realisações e dos seus admiravel eflorescencia do apostolado trem em identicas condições de e .u-
trabalhos scientificos é oniversalmen- romano no misterioso continente afri· cação, meio, etc., e que devemos ter
te considerado. cano. o maior cuidado e prudencia nos
Algumas paginas brilhan'es e imor- Evidentemente. c,ue as missões re· meios a empregar para conseguirmos
redoiras por elas têm sido escritas na ligiosas, como instrumentos colonisa- uma humana egualdade entre todos os
historia das nossas colónias. dores, não podem limitar o exercício homens, em beneficio da civilisação
Por toda a Africa, onde estudamos da sua actividade unicamente aõ en em geral e em proveito deles proprios
as condições de fundação e existencia sino religioso, mas, pelo contrario, a em particular.
O que actualmente existe nas nos-
sas co16nias sob o ponto de vista da
propaganda missionária, preciso é di·
ze lo no interesse de todos, salvo hon-
rosas excepções, é pouco e muito"de-
ficiente como meio educat.vo e civili-
sador. Porisso, muito há ainda a~ fa-
zer sob o ponto de vista da propagan-
da missionária.
Principiemos por educar os nossos
missionários em muito maior número
elevando-os em conhecimentos, e or-
ganisando-os devidamente, apoiados
nos seus chefes hierarchicos.
ft1ultipli:;uemos as missões e dote
mo-las convenientemente de forma
a po:lerem mmistrar, juntamente com
o ensino religioso o ensino primario
e profissional e a inculcarem os habi-
tos de trabalho aos indígenas, comba-
tendo a sua natural indolencia. Subsi-
die o Estado as missões com o sufi-
ciente para poder exigir delas aquilo
que é Justo e de forma a que elas
20 - Creanças Junto à escola oficial possam, pela competencia, vencer as
24 GAZE1'A DAS COL ONTt.S

missões estrangeiras e o islamismo,


cuja influencia carece de ser desrui-
da por muito nociva para os interes-
ses das colónia~ e para o futuro do
nosso domínio político, como nação
colonisadora.
Eduquemos e moralisemos o negro
e creemos·lhe necessidades económi-
cas que o levem, pouco a pouco, are-
generar·se.
Já Mousinho de Albuquerque, no
~eu livro 11 J\1oçambique11, dizia que o
melhor processo para educar e civili-
sar o indígena era desenvolver lhe
praticamente as suas aptidões para o
trabalho manual e fazê-lo passar len-
ramente do estado selvagem para uma
civilisação rudimentar.
Para tal se conseguir, dizia Mousi-
nho, nada havia como as missões re-
ligiosas, com missionários portuguê·
ses.
Hoje, é ocioso discutir a vantagem
21 Cortejo de regresso da festa da arvore
das missões entre os povos selvagens,
visto a experiencia largamente nos
ter confirmado a sua utilidade.
O Estado tem auferido delas os
maiores benefícios quer como elemen- A questão do Zaire
tos de educação e civilisação quer
propriamente como elementos da ocu-
pação efectiva que, muitas vezes, o Sabe-se quais foram as pretensões os mapas geograficos, se enhetêm a
direito internacional exige como uuica da Belgica de prolongar o seu ca1I1i- bordar comentários de sensação pa.
afirmação legitima de soberania. nho de ferro de Matadi pela nossa triotica.
Deve-se ter em vista que ao negro, margem do Zaire, até onde fosse pos- Temos por isso de tratar essa ques-
selvagem, é muito mais dificil com- sível construir um bom pôrto marí- tão no proximo numero. Entretanto
preender, de momento, a religião cris- timo proximo da foz . e sabe-se como podemos informar os leitores da «Ga-
tã do que o islamismo e, nestes casos, estas pretensões foram indignada- zeta• que os belgas esforçam·se por
a propaganda cristã tem de reduzir-se mente repelidas por ocasião das con- desistir da cooperação portuguesa
ao possível não perdendo de vista o versas que sôbre o caso se trocaram nêste negocio, tendo partido para o
11til, afim de praticamente, se poder durante os trabalhos da conferência Congo um engenheiro categorisado
combater o islamismo que, sempre. de Versailles. com a missão de procurar, entre Son-
tem tentado opôr-se á nossa ocupação Daí resultou para nós a necessi- gololo e Matadi, um desvio para a
politica, nas colónias onde já está in· dade de valorisarmos a margem es- sua linha ferrea, que não entre em
traduzido. querda do Zaire pela construção de
um pôrto marítimo aberto ao trafego
territorio português; seguido para In- e
Creio piamente que, bem depressa, glaterra uma missão 1 importante de
arrepiaremos o caminho nos ultimos internacional e de construirmos o nosso engenheiros com o fim de estudar o
anos seguido para cooi as missões caminho de ferro de penetração do material e os~processos mais moder-
religiosas e que procuraremos, por Congo. Estas obras foram concebidas nos empregados na exploração dos
meio da nova legislação contribuir e chegaram a ser estudadas durante portos ingleses, com o fim de os apli-
para que do missionário português se o govêrno do primeiro alto comissá- car aos portos fluviais de Boroa e
possa esperar uma obra que tenha rio ení Angola. Matadi.
por fim: A questão foi renovada, por parte Podem portanto socegar os patrio-
A política dos interesses nacionais. da Belgica, em princípios dêste ano, tas exaltados que nada conhecem do
O proselitismo religioso. entrando em discussão na imprensa Congo. nem do regime comercial a
A moralisação da famlia. um projeto de desvio da linha ferrea que está sujeita desde 1885 toda a
A formação e educação dos cara- belga, desde Songololo até um pôrto bacia do Zaire. Nós rejubilamos com
cteres. a construir no delta do Zaire, mar- a decisão belga ácerca dos portos e
A instrucção primaria e o ensino gem esquerda. continuamos a sustentar que só os es-
profissional dos indivíduos de ambos Repelida esta tentativa, cingiu-se a píritos tacanhos podem conceber uma
os sexos. colónia belga a estudar um simples recusa dos terrenos do vale do Pazo.
Se tal conseguirmos, teremos con- desvio no vale do rio Pôzo, longe do
tribuído para que a empresa miseri- Zaire, e abandonou a ideia de um
pôrto seu na margem esquerda do
1llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
cordiosa de salvar almas para Deus
se concilie com a de educar corpos Delta. Todos os que se inte-
para o trabalho. Esta solução, que seria de justiça ressam pelo desenvolvi-
ser atendida por todos os portugue-
~ ALCINO DE VASCONCELOS. ses de boa vontade, que encarem de mento e o lo n ial devem
alto um problema que não pode obe·
decer apenas ao interesse nacional, as s inar a «Gazeta das
tem sido combatida tambem, e publi- Colonias.>
camente, por indivíduos que, nada
conhecendo de Alrica, nem mesmo 11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111
Setima Assembleia da Sociedade das Nações
Resp:>sta de Portugal
ao protocolo de lord Robert Cecil sobre a mão de obra indigena
(CONCLUSÃO)

U
M paiz impõe aos seus indíge- imputar apenas provas de incapacida· porque oe ideas filantropicas e huma·
nas pesados Impostos, quer de administrativa, de !}oanto tale pai. nitarias qoe nóe aceitamos e difondi·
em es;,..eciee, qoer «en natu zes fiizeram pela civilisaçiio. mos têm, por vezes, na pratica, resul-
re». Para satisfazer estes im· Pelas razões acima expostas, o Go· tados e conseqoencias tllo prejodiciaes
postos, têm os indigenas de procurar verno Portogoez considera indispen- como os abosos qoe pretendem evitar.
trabalho em casa dos particulares. No savel qoe a definição do que se deve A elaboração de ama carta de traba·
caso de não ter sido efotu11do o pa- entender por trabalho forçado, remu- lho indígena conduziria a om exame
gamento, são os mesmos condenados a nerado oo não, executado para ser- pormenorizado da questão sob diver·
trabalhos forçados na prisllo. A obri· viços poblicos oo para particulares, sos aspetos e obter-se iam assim re·
gação de pagar esses impostos, pode- seja definido no protocolo da mesma soltados mais eficazes para qoem ade·
rá i.er considerada como ama forma maneira que o são as definições da risse simplesmente ao p~otocolo que,
de trabalho forçado não destinado a escravatura e o trafico dos escravos. após longo exame da questão feito
serviços publicos? pela sexta comissão da sexta assem-
f'ertas administrações adoptaram o O trabalho indigena bleia da Sociedade das Nações, rece·
sistema das prestações de trabalho e beo ama redaçllo tão vaga qoe por isso
vão mesmo até ao ponto de requisi· Esta definição não será facil de sofreu atnqoes de varios filantropos,
tar animaee, viataras, etc., por conta encontrar, se se qoer dar ama solu- os qoaes não fazem senão segoir as
da execução det 1e trabalho. As pres· ção a todas as QOA&tõee e admitir to- soas ideias, sem se preocuparem do
tações de trabalho podem ser, em das as hipotese8 qoe podem aprosen· qoe adviria se se pozessem em pratica
muitos paizes, resgatadas a dinheiro. tar·se. E' por isto qoe os delegados antes qoe se tivesse efetuado uma
Pode este trabalho obrigatorio eu portugoezes ás A.saemhleia da Socie· preparação conveniente.
considerado como trabalho forçado dade das Nações têm por moitas ve·
não remunera fo? zes proposto a elaboração de ama 9f luta contra o mal
Em caso de incendio, de inundação, carta que regale o trabalho doe indí-
doma praga de gafanhotos ou outros genas nas colonias. E' preciso, en· Não esqueçamos o qoe se passoo a
flagelos prejudiciaes á agricultora, os fim, qoe cada qual saiba qoais eão, proposito da escravatura. Ha um se·
habitantes do paiz ameaçado são obri· eegondo o joizo da Sociedade das Nt - colo que se lota contra o mal e, en-
gados a concorrer com o seo traba· ções, os meios mais eficazes e mais tretanto, hoje ainda, u!o acabaram os
lho para a salvaguarda e defeza dos humanos para a utilização do traba- escravos neste mondo. Nilo foi pos·
interesses da comunidade. Será isto lho dos indigenas, atendendo ao seu eivel, durante esae longo período,
trabalho forçado, executado a fav or bem-estar e sem impedir o seu desen· estirpar o flagelo da escravatura. Te·
de particulares? volvimentv . ria sido poesivel acaba-lo de ama vez
Uma tal carta seria de ama incon· para sempre? Talvez. Mas qoaes te-
$eflntçdo importaute. testavel utilidade para todo o mondo, riam sido as couseq uencias, uma vez
Estes exemplos e ootros moitas
ainda, que poderíamos citar, demons-
tram bem como seria vantajoso que o
projeto de protocolo definisse clara·
mente o qoe se deve entender por
trabalho fo;:-çado, executado ~m pro·
veito de particulares. E esta definição
é extraordinariamente importante, em
especial para os pequenos paizes qoe,
como Portugal, possuem vastas colo-
nias.
Com efeito, estes paizes atraem fa:.
cilmente a atenção e as criticas. Se
a soa administração atravessa om pe-
ríodo difícil ou agitado, convulsionado
por lotas politioas, estas ultimas silo
logo tendenciosamente comentadas e
por vezes exageradas, como se todos
os países, sem exceção, não tivessem
de atravesar epocas semelhantes ou
mesmo mais difíceis. E se se trata
doma administração colonial, as cri·
ticas redobram ainda, todos se esque-
cendo por vezes, no intuito de lhe - Os rapazes da escola em exerclclo de glnastica
26 GAZETA DAS COLONIAB

Neios a emprega1
A fim de realisar este ideal, poder·
se-iam adoptar diferentes meios e,
nat uralmente, procurar-se-ia empre-
gar aqueles qoe permitiriam alcançar
mais rapidamente o fim em vista e
que1 provocariam menos choques e
dificuldades. i\fas, na hipotese de
qoo om outro paizjolgue qoe os meios
adoptados não são aqueles qoo deve·
riam ter sido escolhidos em harmonia
com o artigo 6. 0 do Protocolo e de
que este leve a questão perante o
Tribanal Permanente de Justiça In-
ternacional, este, qoe nll.o conhece as
colónias, os seus habitos, os seos cos-
tumes, as soas tradições, dificulda-
des com que topa o palz colonisador
o tantos outros elementos indispen-
saveis ao ex.ame da questão, poderá
resolvel·a? Evidentemente ·qoe não;
23 - Pio-nlo no Senhor do Monte (festa tradicional dos madeirenses) a mo nos que se organise, nesse mes·
mo 'l'ribonal Permanente de Justiça
Iotornacion>1l uma secção encarrega-
qoe, hoje ainda, vemos a comissão que todaa as divergeucias que poderiam da do estudar os problemas da admi-
temporaria da escravatura assinalar suscitar-se entre elas. a respeito de inter· nistração colonial. E, mesmo crean-
pretação on da aplicação da presente con·
os perigos qoe poderiam fazer nas- veuçilo, serão, se não puderem ser regnla· do-a, quem dirá qoal é o sistema de
cer a proibição absoluta e sobita da des por negociações diretas,enviadas para 01ganisa<:ão colonial mais conforme
escravatura domestica e da servidão? decisão do Tribunal Permanente de Justiça ás disposições do Protocolo, quando
Mesmo nos paizea em que a civili- Internacional. Se os Estados entre os que· haja-e haverá sempre-divergenclas
es surgir a divergencia, ou um de entre
zação está mais avançada, ha meto- eles, não er<1m Partes no protocolo de 16 de opiuiiio entre aqueles qoe têm
dos de organização do trabalho qoe de dezembro de 1920. relati"º ao Tribunal aotorídade em ma teria colonial - mes·
se atsemelham maito singularmente Permanente de Justiça lnternec1onal, esta mo se estas divergencias se não pro-
à antiga eacravatcra, aobretodo para divergencia serà submetida de seu gredo e duzirem quanto ás medidas adminis-
conforme as regrasconstitucionees de ceda
as molhere11 empregadas em certas um dei~. quer ao Tribunal Permanente de trativas, mas sómente qoaudo á soa
fabricas e em cer tos estabelecimetos justiça Internacional, quer a um tribunal execução.
de comercio. de arbitragem constituído conforme a Con· O Tribunal Permanente de Justiça
As doras necessidades da existencia vençõo de. Haya de 18 de outubro de 1907, loternacional proncncia sobre ques-
quH a qualquer outro tribunal de arbitra·
impõem moitas vezes taea condições gem. tões de direito e de facto, mas não
de trabalho qoe se poderia, com van- sobre teor~11 oo sistemas de adminis-
tagem, comparar-lhes certas formas Esta proposição é extremameute tração. Querer atribuir-lhe este p11pel,
da escravatura domestica e isto ape- simpática ao Governo Portugoez, si. é conferir.lhe funções para as qoaes
sar de todas as lt>is de proteção ope· natario do protocolo, o qoal prev6 a ele nem sempre será competente, E'
raria. E' qae ha leis económicas de compatencia obrigatoria do Tribanal obriga-lo a sobstituir·se áqoeles a
qoe não podem facilmente evitar se as Permanente de Justiça Internacional. quem cabe o direito de administrar,
conaequencias. Entretanto o Governu Portugnez dt>- diroito aceite não importa em qoe tra-
Por estet< varios motêvos, a elabc- sejaria que os compromissos que assim tado ou convenção. Desde o momen-
ração de ama carta de trab11lho para toma fossem claramente especificados. to oro que se respeitem os compro-
o sindigenas,preparada pelo «Boroao» Como já declarou o delegado de Por- missos tomados, deve ter-se a liber-
Internacional do Trabalho, após con- tugal na ultima sessão da sexta Assem- dade de os cumprir recorrendo aos
sulta dos peritos em mataria de admi- bleia da Socidade das Naçõos, niio se meios julgados melhores e mais Ca-
nistração colonial, parece plenamen- trata unicamente, no caso rofer1do, da ceis para p Or em acção.
te justificada, com a condição de qoe interpretação joridica de um docu- De maneira que o Governo Porto·
se inspire em todos os elementos soa· mento, da especie do fotoro protoco- guez, dando aprovação á proposta
cativeis de contribuir para o bem-es- lo nem da eis:ecoção de proposiçõee do dr. Nauson, não o pode fazer sem
tar dos indígenas e nas soas leis eco- mal definidas nesse mesmo documen- rosorvas.
nomicas, as qoaea, aliás, nem sempre to. A aprovação da proposi~ão do dr. Continúa na pag, 17
podem ser polttas em pratica. Nansen poderia ser interpretada nom
sentido qoe conferiria ao Tribanal
9fs propostas de :Xansen Permanente de Justiça Internacional ~o mpanhia Nacional
o papel de arbitro nas q oestões de
O dr. Nansen, delegado da Norue- administração cohnial, pelo qoe res- DE
ga, apresentou trez propostas, mencio-
nadas no relatorio relativo ao proto-
peita á administração indígena.
Pelo artigo 6.•, as Altas Partes con-
PRO IlUT OS COL ONIAIS, L.DA
colo, sobre as qoaea o Governo Por-
togoez foi chamado a dar a soa opi- tratantes comprometer-se-iam, no ca-
so em qoe o trabalh'> forçado ainda Rua dos Fanque iros, 15-LISBOA
nião,
estivesse em uso nas soas possessões,
Primeira proposta: por conta de· particnlares, a pOr lhe ff10nsações sobre cacau,
om termo tão depresH quanto poasi-
«As Altas Partes cor.trantes convêm em vel. · café, cera, coconote e couros
CAMPANHAS COLO NIAIS
Memoria apresentada ao 2.° Congresso Colonial Nacional, pelo major Veloso de Castro
( CON'rINUAÇÃO)

III Eis o nosso grande interesse na dever prestar-lhes o culto da nossl!


sua conservação e na sua defeza. E' homenagem.
A parte cer.tral e interior da pro· preciso que todos os portugueses o Daquelas tribus, citarei apenas as
vincia de Anj?ola é constituída pelos saibam, como é preciso que todos nos que nos têm dado mais trabalho:
vastíssimos planaltos que coroam os habituemos a olhar as colonias, e em Libolo e Amboim, nas vertentes do
macissos mootanhsos do graode con· especial esta, nã:o como um paiz onde Cuanza ; visinha destas a do Seles ;
tinente, entre o equador e o tropico se vai contrariado por um dever que mais para o interior, já no planalto,
sul. pode ser penoso, ou arrastado por o Balundo e Bié ; para norte destes,
Dali saem os grandes rios Cunene uma cubiça que pode ser precaria, no distrito de ftlalaoge e contrafortes
e Cubango para sul ; para o oriente
partem dele os grandes iios que são
origem do Zambeze e do Zaire, assim
mas sim orientados por aquele espi·
to de grandeza e expanção da raça
qne foi um dos maiores apanagios
da bacia do Cuango, os Baogala, os
Bondo, os Angolas, hoje vulgarmente
chamados Jingas, do nome do seu so-

como pelo norte para ocidente corre que nos le~aram os nossos avós. Se berano da epoca das conquistas. Era
o grande Cuanza que lambem ali tem os nossos maiores 1á fundaram na este o povo que habitava as margens
origem. America uma nacionalidade que é do baixo Cuanza por ocasiã:o da des·
Planaltos de altitudes medias que
orçam por mil metros, cobertos de
feracíssimos terrenos araveis, aguas
abundantes e explendidas, ares puros
e lavados ; para todos os lados ver·
tentes montanhosas, cobertas de terras
exuberantes e Uorestas frondosas, mas
não já aquelas impenetraveis matas
da zona equatorial ; climas aptos á
fixação de raça europeia; recursos
pecuarios abundantes e de toda a
especie ; populações indigenas densas,
sadias e robustas : eis o oden que
muitos ternos sonhado para um Por
tugal maior, mas que tambem não
tem deixado de ser cubiçado por ex-
tranhos, quer sejam os boers emigra-
dos da Africa do Sul desde a epoca
das suas primeiras lutas com os in-
gleses; quer sejam os hebraicos que
já ali sonharam a sua reconstituiçã'> ;
quer fossem os alemães que desse
imenso paiz pensaram em se asse·
nhorear e com tal intenção manti-
nham por lá, nas vesperas da gran· 24 - Junto às nascentes do Senhor do Monte
de guerra, uma bem urdida teia de
agentes que só esperavam o exito da
empreza germanica, para lançarem grande e promete ser brilhante, lPOr· coberta de Angola e o primeiro sobre
as bases de uma administração sua. que não havemos nós de . cimentar que incidiram os nossos esforços de
Este paiz, eminentemente apto a para os nossos filhos outra, no gran· penetração. Sempre audazes e sem·
todas as culturas dos climas terope· de continente africano, que está sen· pre resistindo, internavam se á medida
rados, que já nos deu abundantes do hoje o eldorado cubiçado pelos que iam perdendo terreoo, até que se
recursos durante a grande guerra e maiores povos da Europa? fixaram no rio Cambo a nordeste de
nesse mesmo peri do socorreu farta- Os planaltos de Angola são habita- fllalange. Ha ainda, nesta zona terri.
mente o Congo belga, então isolado, dos por varias tribus indígenas com torial que estamos considerando, e
hade poder um dia dar á nossa me- quem incessantemente temos vindo formando a facha mais oriental de
trópole tudo quanto se exigir dele em lutando ha trinta ano~, desde que fin· Angola', povos que acabam de ser
gados, cereais e legumes, assim co· dou o ciclo dos vastos reconhecimen- submetidos, como Quiocos e Lundas
mo hade ser a riqueza futura dos tos politicos-geograficos em que fo. do Cassai, região da borracha e dos
nossos filhos, quando a sua expansão ram audaciosos pioneiros em Angola diamantes: povos eminentemente pa ·
para ali fôr uma necessidade e quan· Brito Capelo, Roberto Ivens, Serpa cificos como os de Nana Candundo,
do as sabias medidas de fomento Pinto, Henrique de Carvalho, Paiva regiã:o agrícola riquíssima, nas origens
economico, de que são principal ins- Couceiro e Silva Porto, cujos nomes do Zambeze ; e ao sul destes, no alto
trumento o caminho de ferro e o porto a Patria nunca deverá esquecer. Co- Cubango, povos que teem oferecido
do Lobito, tiverem o seu total desen· mo foram estes que nos apontaram o fraca resistencia como os Luchazes.
volvimento. caminho e indicaram os objectivos, é E para seguimento do meu breve
28 GAZETA DAS COLONIAB

estudo sobre campanhas coloniais, comerciais que percorriam o sertão, muralha é logo levantada a barricar
tomarei dentre todos os citados, como ou ao trabalho dos nossos colonos a passagem e nas cristas dos montes
prototipo, os do Libolo que são dos agricultores ou aos grandes trabalhos adjacentes longos entrincheiramen-
mais aguerridos, os que mais de per- do Estado como o caminho ae ferro tos, lambem de pedra, Uanqueiam a
to pude conhecer, e entre todos os de J\1alange ; mas preferindo sempre, posição. O que vale é que parte des
que melhor têm conseguido 1ealisar a tudo, trabalhar nas proprias cultu- ses entrincheiramentos ficam ás ve-
uma acção defensiva-ofensiva. ras. Diz se com verdade que o Libolo zes a tal distancia do caminho, que
O Libolo é um paiz montanhoso é o celeiro de Loanda. a metralha dificilmente poderá alcan-
(1400 a 1600 metros) dividido pelos Desde que a região fora ocupada, çar a quarta parta dela: mas eles
rios que convergem ao Cuanza e Lon- ha muitos anos, havia ali apenas re- conservam a doce ilusão de que as
ga, bem definidos e quasi paralelos, voltas parciais, dum ou outro sobado, balas, a descer seguem sempre ...
desde o Gaugo ao Nhia ; cumiadas que se dominavam, ás vezes a custo, As portelas são organisadas dum
importantes, verdadeiras serranias, como a de 1908. Jllas em 1917118 modo semelhante : e por ultimo as
definem as bacias desses rios. Cami- houve uma sangrenta coalisão desses povoações que eles sabem ser o obje
nhos francos correm ao longo dos va- povos que, juntos aos de Amboim e ctivo principal das forças do gover·
les, ligando as regiões limítrofes, ao Seles, deram enorme trabaiho a sub· no, são protegidas por entrincheira-
Libolo; caminhos transversais galgam meter, tanto pela ferocidade que en· mentos identicos feitos em logares
as serras em procura das portelas tão manifestaram, como pelas tenta- dominantes e ás vezes a distancia.
apertadas por onde alcançam o vale tivas que haviam sido feitas para ar- Organizadas as defezas poderá su-
visinho. rastar á rebelião as regiões visinhas por-se que eles vão guarnecer todas
A 1egião é dividida em distritos de Malange e Balundo. as suas linhas. Nada disso. Concen-
indígenas (sobados). Cada sobado, O armamento destes povos é ainda, tram-se á retaguarda em nucleos
ocupando geralmente um vale ou par- como ao norte, a espingarda de caça, importantes, em logares ás vezes dis ·
te dele, tem a sua organisação admi- de pistão : polvora em abundancia lantes, donde possam facilmente acu-
nistrativa propria, especie de comuna que nos anos precedentes a 1917 era dir ao ponto ameaçado, e estabele ·
muito semelhante ao sistema que hoje defeza ao nosso comercio, e metralha cem o seu sistema d~ segurança e
pregam na Europa os sociologos de que eles proprios preparam, porque descoberta. Para os pontos fortifica
criterio mais avançado. E como, se são tambem optimos ferreiros. Mas o dos vão pequenas patrulhas, verda
observarmos de perto o modo de ser que aumenta a seu valor defensivo deiros postos á cossaca, que capri-
moral e social destes povos africanos, são as optimas posições que o paiz cham em exercer uma vigilancta ri-
encontramos nele grande paridade lhes oferece e que eles têm o cuidado gorosa: e para a frente destes, a qui·
com o que dislrutavam os nossos an- de escolher bem e organisar melhor. lometros de distancia ás vezes, em
tepassados celtiberos, por ocasião das De facio, é nos apertados des!ila- contacto com as nossas forças, mas
guerras punicas, somos levados a me- deiros que fecham os grandes vales, sempre invisíveis para nós, mandam
ditar sobre se será na rea'idade um ou nas portelas de aceS!io duns vales observadores que teem por missão
avanço, ou um retrocesso de 25 se- para outros, que eles concentram lo- exclusiva conhecer a nossa direção
culos, o que pretendem alcançar es- dos os seus esforços, fortificando-os de marcha e portanto o ponto que
ses sociologos, com as consequencias logo que o estado de guerra é deda· devemos atacar.
da sua doutrina nova. rado. A pedra abunda na região e, E visto que estão habituados a
Os libolos são audazes, robustos e ou sejam as aluviões de granito nos verem-nos concentrar todos os esfor·
fortes; qualidades radicadas em ha- vales de alguns rios ou as rochas xis- ços num só ponto, logo que este es-
bitos de trabalho e ausencia de al- tosas no alto das montanhas, eles taja bem definido aqueles esclarece-
coolismo. Uns são principalmente têm o material sempre á mão, e tra- dores o indicarão ás forças rebeldes
agricultores, outros principalmente balham na faina da sua defeza 1or muito a tempo de o ocuparem antes
pastores, mas todos habituados a lon- milhares. da nossa chegada, E' um judicioso
gas viagens de mezes nas caravanas Nos desfiladeiros apertados, uma emprego de linhas interiores, com
todas as suas vantagens na defeza.
Em 1908 organisou se, para resta-
belecer o domonio em parte do Libo-
lo, um grupo de duas companhias de
infantaria, uma das quais europeia e
outra indígena, reforçado com uma
divisão de artilharia de montanha,
com material de bronze 7 c. sistema
Krupp. As tropas europeias de infan·
taria eram reclamadas, como as mais
aptas ao assalto, para acções ofensi ·
vai: em que se carecia de toda a de-
cisão e energia porque a revolta du
rava ha áois anos e varias pequenas
forças de infantaria indígena não ti-
nham, nesse período, logrado exito :
estacavam em frente das posições ini ·
migas mantendo longos ttroteios inu-
teis, de que apenas resultava o esgoto
das munições, a retirada com bastan-
tes baixas e as forças desmoralisadas.
Num desses recontros tinham sucum-
bido pouco antes dois oficias.
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