Sebenta Finanças Públicas Parte I
Sebenta Finanças Públicas Parte I
Sebenta Finanças Públicas Parte I
FINANCEIRO E FISCAL
Introdução
Nota: o verdadeiro nome da cadeira deveria ser
³Direito das Finanças Públicas´.
-Que tipo de Estado temos?
-Por que é que as políticas são feitas desta forma?
É importante contextualizar o Direito das
-Por que é que temos as normas que temos? Finanças Públicas ± como aparece,
porquê, qual a sua importância e de que é
que é feito.
Entender de finanças públicas ajuda o jurista a perceber
qual a ratio normativa. Estamos a misturar política com
normas. O elemento financeiro é, muitas vezes, Faremos um esquema como tentativa de
determinante para entender o porquê de uma opção sistematizar o conteúdo e o percurso da
política e de uma norma em concreto. nossa unidade curricular.
É importante perceber as condicionantes que as finanças
públicas trazem para o Estado. A partir daí é possível
determinar que tipo de Estado é o nosso e interpretar de
forma mais profunda e mais realista as normas jurídicas
existentes. Isto inclui a realização dos direitos sociais.
Bibliografia
Orçamento do Estado
1
Uma organização societária implica a existência de um Ora, como já vimos, só está legitimada a
Estado. Um Estado social de direito pretende concretizar receita pública na medida em que haja
direitos. Para agir, o Estado tem de gastar; logo, surge a despesa pública para fazer. Se não tiver
chamada despesa pública. E para gastar tem de despesa pública para fazer, não posso
arrecadar ± necessidade de receita pública. A forma arrecadar. Em economia pública há
como a receita e a despesa se organizam e interagem é sempre uma discussão relativamente à
construída a partir do orçamento do Estado, enquanto dimensão que a despesa e a receita
documento de previsão daquilo que se pretende vir a públicas devem ter.
fazer. O orçamento do Estado organiza aquilo que eu
(Estado) pretendo vir a gastar e aquilo que pretendo vir a
arrecadaU³FDVDQGR´ as duas coisas. Veja-se que o
orçamento do Estado precisa de vir a ser executado.
Despesa pública e receita pública A atividade financeira pública é, então, feita de um lado
positivo e de um lado negativo. Ao lado negativo
Um segundo ponto é o seguinte: quando corresponde a despesa pública; ao lado positivo
pensamos em finanças públicas / atividade corresponde receita pública.
financeira do Estado, devemos pensar em
dois braços - o braço do gasto / despesa
pública e o braço da receita pública. Estes
dois braços não são independentes um do 3) estas duas componentes da atividade financeira pública
outro; são profundamente não são independentes; não são autónomas.
interdependentes. Só posso gastar se tiver
algo para gastar; e só vou estar legitimado Se eu preciso de gastar, eu preciso de ter algo para
(enquanto Estado) a ter receita se tiver gastar. Logo, a despesa e o volume da despesa
despesa pública, e na medida da despesa dependem da existência e do volume da receita.
pública que estiver a fazer.
2
de gastar em nome do interesse público. Há, então, uma GL]³HX Estado, pretendo vir a gastar e
relação de dependência entre a receita e a despesa: a pretendo vir a
legitimidade da receita está diretamente ligada à DUUHFDGDU ;´ Significa isto que é
existência da despesa pública. Porquê? Porque é através necessário que esta pretensão se
da despesa pública que o Estado concretiza o interesse concretize. O Estado tem de passar de
pública (através da ação pública). uma lógica de previsão para uma lógica de
execução. Por isso se diz que, depois de
aprovado o OE, ele tem de ser, ao longo
do ano para o qual foi criado, executado /
aplicado / concretizado.
Orçamento do Estado (continuação)
Durante o ano, aquilo que foi projetado no
orçamento é colocado em prática
Apesar de já termos detetado a relação entre receita e (executado) e, quando termina o período
despesa públicas, esta inter-relação força a que elas orçamento para o qual o orçamento foi
sejam pensadas em conjunto. Temos de as aprovado (1 jan ± 31 dez ± período de
verdadeiramente integrar. Como é que o Estado faz isso? execução), fazem-se novamente as contas
Através do OE, sendo que o OE é um documento de e verifica-se o que efetivamente se gastou
previsão ± por ex., eu, Estado, digo que, para o ano de e o que efetivamente se arrecadou. Esse
2019, prevejo gastar 100 e arrecadar 100, dizendo em exercício pósexecução de saber
que é que vou gastar o dinheiro e como é que prevejo exatamente o que foi gasto e o que foi
arrecadá-lo de forma a haver equilíbrio orçamental (de arrecadado dá origem à conta geral do
forma a que aquilo que entra possa fazer face àquilo que Estado.
sai).
Necessidade de ajustamentos ao OE
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elementos económicos privados, para não
falar da UE e de outros elementos
O tipo de Estado social de direito que temos também
condicionadores internacionais, o que exerce
depende da disponibilidade financeira pública.
uma enorme pressão para a obtenção de
receita pública para que se possa gastar e
concretizar os direitos.
Em primeiro lugar, tem-se que um Estado social de direito
exige ação pública; em segundo lugar, temse que essa
ação pública é marcada por uma decisão política. Mas
Refletindo com calma, tenderemos a
essa decisão política não depende exclusivamente de
encaixar que o direito público, enquanto
uma orientação ideológica de quem tem o poder de
direito que parte de um Estado social de
decisão política. Depende também da disponibilidade
direito e de um texto fundamental que
financeira, ou seja, da capacidade que o Estado tem para
apresenta um conjunto vasto de direitos
arrecadar receita para concretizar a opção política.
que podem ser fantasticamente
construídos no papel, precisa de fazer um
juízo realista: ligar a concretização desses
Nós, juristas, temos de perceber que o direito é criado a direitos à capacidade financeira pública. E
partir de opções políticas, que têm uma influência essa capacidade de o Estado ter receita
também económica. Na organização económica da nossa não é ilimitada. Não o sendo, então
sociedade, há o setor público, o setor privado e o setor também vou ter limitações na realização
cooperativo e social. Na verdade, tem de haver um dos direitos. Por isso é que, na
equilíbrio entre os vários setores. Crescentemente a concretização das políticas públicas
intervenção do Estado é feita de forma indireta (falando- (sobretudo as sociais e económicas),
se no Estado regulador). Nessa lógica, o Estado prefere muitas vezes há a vontade política e a
não aparecer como agente, permitindo que outros defesa ideológica, mas não se consegue
agentes tenham espaço para intervir. chegar a essa concretização. Onde está a
necessidade de tornar isto operacional?
A decisão política que é feita está, também Na correta escolha política de
ela, condicionada. Em primeira linha, está hierarquização de despesa; de valorização
condicionada por aquilo que é daquilo que é mais importante. Devemos
efetivamente arrecadado. A opção política apostar na defesa ou na proteção dos
não está autonomizada do fator financeiro, desempregados? Devemos apostar na
GDtD³UHVHUYDGRSRVVtYHO´HR³Estado que habitação social ou no acesso efetivo ao
podemos ter´. SNS? Esta é uma escolha condicionada,
que tem de ser trabalhada.
4
Funções suplementares da atividade financeira do Pode, também, haver monopólios ou
Estado oligopólios. E há a questão dos bens
públicos ± i.e., bens que o mercado não
tem interesse em fornecer, mas que são
Contudo, ao contrário do que até ao momento temos bens essenciais para satisfazer o interesse
dado a entender, a captação de receita e a decisão de coletivo. Logo, o Estado pode ter de gastar
despesa não se limita apenas a uma lógica pura de para se substituir ao mercado. Dessa
satisfação e concretização de direitos fruto do Estado substituição pode resultar que certos bens
social de direito. Para além desta função, a atividade não são totalmente públicos, mas sim
financeira do Estado pode ter outras funções semipúblicos ou imperfeitos ± e isso
suplementares, o que dificulta ainda mais a equação feita provoca, se houver um afluxo em massa,
até agora. Na seleção da despesa e da receita, existem a que não se consiga usufruir do bem
mais fatores do que a mera concretização de direitos, público. Isto faz com que o Estado
pura e simplesmente. também possa ter de intervir para
assegurar o acesso e o usufruto do bem
público. Um bem público perfeito é, por
Assim, para além da primeira função de arrecadar receita ex., um poste de iluminação pública; um
para haver despesa pública capaz de assegurar direitos bem público imperfeito é, por ex., uma
fruto do estado social, existem mais justificações para o autoestrada ± e por isso é que existem
Estado arrecadar receitas e gastar. Mas não podemos portagens.
esquecer a visão central ± a de que, em primeira linha, a
atividade financeira do Estado aparece para concretizar
O Estado pode intervir também através da atividade
direitos fruto do Estado social de direito. Arrecada para
financeira. Uma questão crescentemente importante é a
gastar na concretização dos direitos. Significa isto, para
das assimetrias de informação.
Richard Musgrave (1910-2007), que estamos a falar de
uma primeira função: a afetação de recursos. O Estado
existe para garantir um estilo de sociedade em que a
primeira preocupação é arrecadar para afetar. O Estado
arranja recursos, e afeta esses recursos a determinados Tendo tudo isto em conta, será que os privados, por si só,
fins. se conseguem relacionar de forma límpida, integrada e
sistematizada quando é preciso agir de uma forma
macro? Uma intervenção macro é algo que cabe ao
Estado. O mercado, por si só, não consegue atingir um
pleno equilíbrio macroeconómico. Se tiver a necessidade
CLASSIFICAÇÃO DE MUSGRAVE de uma intervenção macroeconómica, não a vou
1. Correção da afetação de recursos; conseguir exclusivamente através dos privados. Cada
2. Redistribuição da riqueza e rendimento; agente é um representante microeconómico; os vários
3. Estabilização económica. interesses em concorrência, muitas vezes, não são
³casados´ nem ³casáveis´, necessitando de um ³zoom-
out´. Também as finanças públicas podem fazer isso.
Em que medida é que há mais funções na
Como? Uma das funções da dívida pública pode ser
atividade financeira do Estado? Há a
noção de que, mesmo o que o Estado dê retirar riqueza / capital do mercado privado, incentivando
a poupança e com isso retraindo o investimento, fazendo
espaço à economia privada, ela por si só
não se suporta, havendo situações em que hipoteticamente retrair a inflação. Veja-se que a inflação
surge quando há um desequilíbrio muito grande entre
não funciona. Por isso, também o Estado
deve procurar intervir nesses espaços oferta e procura. Significa isto que é expectável do
Estado que intervenha para controlar a inflação.
criados pelas falhas de mercado. Vejam-
se as externalidades positivas e negativas
(efeitos não esperados, positivos ou
negativos, da atividade económica). Uma À disposição do Estado existem muitos mecanismos e
forma de reequilibrar as posições passou, instrumentos, alguns deles instrumentos financeiros
na Expo 98, por exigir de quem teve públicos. Um deles é a emissão de dívida pública. O
aquela externalidade positiva na sua Estado pode criar instrumentos financeiros capazes de
esfera jurídica um contributo para o captar os capitais privados, colocando-os fora do
investimento efetuado. O Estado produziu mercado privado, numa lógica de poupança (já não são
uma intervenção como forma de aplicados no consumo, deixando de estimular o
reequilibrar os interesses em causa. A desequilíbrio entre oferta e procura e assim limitando a
resolução da externalidade foi feita através inflação).
da criação de um tributo: ³quando Além de servirem para a afetação de receita, as finanças
alienares o imóvel, vais fazer uma públicas servem também para distribuir recursos. Na
contribuição suplementar pelas maisvalias redistribuição há uma ideia de justiça social. Também as
que obténs´. Isto porque uma pessoa pode finanças públicas podem servir o valor da justiça pela
ter adquirido por 5 e vendido por 10. Se redistribuição, mas, simultaneamente, podem ter a função
tinha o imóvel que valia 10 e com o de estabilização macroeconómica (3ª função na ótica de
investimento público este passa a valer 50, Musgrave).
há uma mais-valia de 40. Para proceder a
um reequilíbrio numa lógica de justiça e
participação de gastos, o Estado exigia
que, no momento da alienação, houvesse
um contributo suplementar, tentando, com
isso, eliminar a externalidade.
5
Ideia 1: a decisão política que pretende concretizar a ação Este tipo de intervenção, que utiliza
pública e realizar os direitos de um Estado social de instrumentos financeiros públicos para
direito depende das finanças públicas. conseguir atingir resultados económicos,
gera a função da [3] estabilização
Ideia 2: as finanças públicas são necessárias, em primeira macroeconómica. Através da função
linha, para arrecadar receita que permita gastar e financeira do Estado, além de se
concretizar direitos; em segunda linha, para distribuir / arrecadar receita par aplicar na despesa,
redistribuir recursos e para garantir a estabilização também o Estado pode usar a receita e a
macroeconómica. despesa públicas para resolver problemas
macroeconómicos, visando a estabilização
macroeconómica.
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pública através da qual o Estado está a
redistribuir.
Pensar em finanças públicas é pensar no que o
Estado vai gastar e arrecadar, mas implica
também perceber que as opções políticas que
x Impostos ± um dos princípios estão por detrás da despesa escolhidas, das
norteadores dos impostos é o receitas escolhidas e da tipologia do OE também
princípio da capacidade podem ter outros juízos por detrás que a
contributiva. Eu vou estar sujeito a justificam, designadamente a redistribuição de
tributação na medida da minha rendimentos (visão social) e a estabilização
capacidade contributiva, o que macroeconómica (visão económica). Isto faz com
significa que, se e Estado tem que as opções políticas financeiras sejam
despesa e todos nós devemos extraordinariamente complexas. Por vezes, pode
contribuir para o financiamento da haver superavit (resultado positivo) na execução
despesa, não deve exigir o orçamental, embora o objetivo seja um equilíbrio.
mesmo valor a todos, pois nem Muitos dos Estados da UE têm, no quadro das
todos têm a mesma capacidade suas contas públicas, um problema de défice
de contribuir. Cada um contribui orçamental. Vamos ver que há regras da EU que
consoante as suas possibilidades. nos dizem que tem de haver um limite quanto ao
Alguns contribuem com mais, valor de défice orçamental permitido. Todavia, um
outros contribuem com menos (na dos casos paradigmáticos é o caso alemão, onde
medida da sua capacidade em vez de um défice orçamental tende a haver
contributiva). A lógica da superavit. Mas o superavit retira demasiados
redistribuição vai, assim, atuar meios à economia privada e, face a opções de
também do lado da receita. políticas públicas indevidas, pode suscitar
desequilíbrios que não são vantajosos do ponto
de vista dos direitos e deveres dos cidadãos. Por
isso é que a regra de ouro orçamental é uma
regra de equilíbrio: o que se gasta deve ser igual
ao que se arrecada.
7
desequilíbrios nos valores das políticas causa a efetividade da concretização dos
públicas direitos sociais.
H[LVWHQWHVSRVVRDSOLFDUR³PDLV
´DHOLPLQDU parte da minha dívida, e fico
com menos passivo (fico a dever menos, o
que é vantajoso, porque a ideia é não
devermos a ninguém). Se tenho um
sistema desequilibrado ou periclitante e
consigo fazer uma almofada de verbas, 27 SET 2018
melhor. Por um lado, é bom haver
superavit, mas não deve haver muito
superavit.
Conceitos-chave: Despesa pública.
8
autoexequíveis (como são os direitos, liberdades e questão de boa ou má gestão dos
garantias). dinheiros públicos.
9
redistribuição, porque está a ser promovido considerada despesa pública e não ser
um interesse público. Uma noção que não orçamentada? Qual será o interesse do
deve ser esquecida é uma noção de direito Estado em ter certas despesas que não
administrativo: a amplitude dos conceitos fazem parte do orçamento? Não entram
de Estado e Administração Públicos. Esses para as contas de limitação da despesa
conhecimentos devem ser chamados para face à receita. Há vantagens nisso. É
perceber qual o sujeito que faz a despesa muito importante quando estamos em
pública. Há uma ligação à organização do momentos de desequilíbrio orçamental,
Estado e às suas vertentes. O setor público onde receita e despesa não estão
deve ser considerado como um setor equilibradas. Tudo o que puder fazer para
abrangente e completo, e não apenas garantir esse equilíbrio será bom. Isto leva
ligado à administração direta ou indireta, a que, se olharmos para a história das
ou apenas ao poder central. finanças públicas, muitos Estados em
certas circunstâncias tenham optado por
formas de desorçamentação ± despesa
Tem havido uma tendência para expandir feita pelo Estado, mas não integrada na
o alcance do sujeito público ± ou seja, as lógica orçamental, não contribuindo para
formas como o Estado intervém e as desequilíbrios orçamentais. Com a troika,
formas que o Estado assume têm houve uma assunção de um compromisso
evoluído. Isso é importante para perceber para orçamentar o mais possível. Se tiro
quem é o sujeito que efetua a despesa de debaixo do tapete e levo para a
pública. Dependendo de quem é sujeito contabilidade, o défice cresce. No caso da
público para efeitos de finanças públicas e CGD, interessava ao Estado que não
para efeitos orçamentais, percebe-se qual fosse orçamentada, pois isso causaria um
a amplitude da despesa pública, o que desequilíbrio. Como é natural, existem
condiciona saber se há ou não dúvidas sobre o que é ou não
desequilíbrios orçamentais. Se disser que orçamentado. Em Portugal, na dúvida,
só o Estado central interessa para esses recorre-se por vezes à UE. Há decisões,
efeitos será diferente de incluir também a nomeadamente do Eurostat, que
administração local e o setor empresarial determinam o que é ou não orçamentado.
do Estado. Há um condicionamento europeu. A
intervenção europeia é feita por dois
prismas: 1) principalmente, regras da UE
Há que ter a ideia nuclear de que são sujeitos que estabelecem uma necessidade de
públicos: equilíbrio orçamental e 2) para haver
comparabilidade efetiva entre EM para
aferir níveis de crescimento e
x administração desenvolvimento que têm implicações ao
central; x nível do financiamento através de fundos
comunitários, tem de haver dados
administração regional;
comparáveis, pelo que a UE tem listagens
x administração local; x
sobre o que se inclui e não inclui.
fundos de segurança
social.
No projeto de integração europeu, há um conjunto de
valores e princípios que o norteiam. Um deles é uma
Mas veja-se que o orçamento da segurança
lógica de aproximação das economias dos EM, sendo
social, por exemplo, tem um conjunto de
que só haverá uma profunda integração caso os níveis de
regras próprias.
desenvolvimento sejam equiparados. Esse projeto tem
por detrás uma tentativa de criar um bloco económico e
social integrado. Ora, nem todas as economias são
A questão de saber o que está abrangido
igualmente desenvolvidas na UE ± daí a ideia da coesão.
pela despesa pública através da
A coesão significa que também compete à UE
identificação dos sujeitos públicos é muito
impulsionar e financiar atividades conducentes a essa
importante para apreendermos qual a
aproximação das economias e das sociedades. Por isso,
despesa pública que está orçamentada e
por períodos temporais, face ao orçamento que a UE
a despesa pública que não está
tem, uma parte desse orçamento do lado da despesa,
orçamentada.
encontra-se despesa em políticas de coesão,
investigação, educação. Esse conjunto de políticas,
sobretudo as que dão origem a financiamento para o
Exemplo: o Estado, num processo de desenvolvimento, são decididas por um exercício de
recapitalização da CGD, entrou com comparabilidade entre as economias dos EM. Aparece,
capital. A pergunta era se esta entrada de por isso, a figura dos fundos comunitários: cada país,
capital (despesa) entrava para a consoante as suas características, tem acesso a certas
contabilização da despesa pública. verbas. A atribuição das verbas é feita tendo em atenção
Segundo regras contabilísticas (e aqui vê- valores comparáveis. Isto tem implicações ao nível do
se a ligação com o direito), foi-se próprio financiamento do Estado. Para além das receitas
desenhando um mapa com limites internas, também as receitas que o Estado obtém da UE
territoriais sobre o que deveria ou não ser são fundamentais.
considerado despesa pública, implicando
que algumas das intervenções tidas pelo
Estado pudessem não ser consideradas
despesa pública. Qual é a vantagem de
2 ± ELEMENTO OBJETIVO
uma determinada despesa não ser
10
consciência, o passo seguinte é
percebermos que a despesa pública
Falamos do gasto; da aplicação do
precisa de ser classificada. Existem,
elemento monetário na prática. Uma
portanto, classificações da despesa
ressalva: se é verdade que a despesa vai
pública.
ser o gasto efetuado, não devemos deixar
de ter em consideração que nem todas as Qual a justificação da presença das classificações?
despesas são pecuniárias. Nem todas as
despesas implicam que tenha de haver
uma transferência de dinheiro físico do 1924 ±
Estado para alguém. Pensemos nos
impostos. Os impostos são receitas ³2SURSyVLWRPDLVLPSRUWDQWHTXHXPVólido sistema de
públicas. É que, nos impostos, se é classificação serve é o de assegurar a proporção e o
verdade que quando o cidadão / equilíbrio adequados entre os diferentes interesses e
contribuinte paga, o Estado pode utilizar os atividades sobre os quais o Estado assumiu
impostos para conceder benefícios fiscais ± responsabilidade financeiUD´
ou seja, o Estado diz: em vez de me
pagares 100, eu vou permitir que só me
pagues 50. Ou porque quer incentivar o O que estamos aqui a evidenciar é que as classificações
investimento, a natalidade, o controlo da da despesa pública são aquilo que vai
faturação, etc. Quando o Estado, através SHUPLWLUWRUQDUWUDQVSDUHQWHR³RQGH
de um benefício fiscal, faz reduzir o ´R(VWDGRJDVWD Ao fazê-lo, estamos a detetar que existe
montante do imposto que ele tem a uma via para controlar a despesa.
receber, está a abdicar de receita. A isso
se chama receita cessante. Mas para
efeitos contabilísticos, é um menos; é uma Quando analisámos o esquema inicial e percebemos o
despesa fiscal. Não é por acaso que no caminho que íamos tomar, entendemos que a ideia de
art.º 2º do estatuto dos benefícios fiscais se controlo é uma ideia nuclear no quadro das regras que
diz que o benefício fiscal é uma despesa norteiam as finanças dos Estado. Para controlar, é
fiscal. Isto revela que nem toda a despesa preciso saber o que controlar: sem dados, não posso
que o Estado efetua implica que ele tenha efetivar essa lógica de controlo. Através de um processo
de transferir automaticamente o dinheiro de classificação, tornaremos transparente qual é a
para alguém. Pode abdicar de receita, e despesa feita pelo Estado, o que permite aferir da
esse abdicar de receita constitui uma adequação ou não da despesa, e da sua legalidade ou
despesa. Quando identificamos o elemento não legalidade. A primeira justificação para as
objetivo, temos de ter em atenção esta classificações da despesa pública é a necessidade de
ideia de gasto que é efetuado, mas esse controlo dessa despesa pública. Ao classificar, efetiva-se
gasto não tem de ser obrigatoriamente a possibilidade de um controlo adequado.
pecuniário. Porém, a despesa também
pode ser não pecuniária. O que nos
interessa aqui em concreto são os De que classificações estamos a falar? Existem múltiplas
benefícios fiscais. classificações possíveis. Da ótica de análise dependerá o
critério. Seguiremos, em primeira linha, a classificação
contida na Lei de Enquadramento Orçamental (LEO).
3 ± ELEMENTO FINALÍSTICO
A atual LEO foi aprovada pela lei 151/2015 e já foi
alterada.
Aqui, está a dizer-se que a despesa pública
tem de estar necessariamente ligada à
utilidade pública. Já trabalhámos isto. A
despesa pública está legitimada pela
necessidade de intervenção pública. Só
porque há necessidade de intervenção
pública orientada por uma utilidade pública Lei de Enquadramento Orçamental (LEO)
e orientada por um interesse público é que
Anexo à Lei n.º 151/2015, de 11 de Setembro de 2015
se justifica a despesa. Por isso, além
(com alterações, incluindo em 2018 ± republicada pela Lei
GRHOHPHQWR³TXHP´VXEMHWLYRH³RTXr
n.º 37/2018, de 7 de Agosto)
´REMHWLYR
WDPEpPRHOHPHQWR³SRUTXr´WHPGHHVWDUSUHVHQWH
11
subsetores da administração central e da
segurança social são estruturadas em
programas, por fonte de financiamento, por
classificadores orgânico, funcional e económico.
1 ± CLASSIFICAÇÃO ORGÂNICA
2 ³ As receitas são especificadas por
classificador económico e fonte de
financiamento. Olhando para o DL 26/2002, vemos que, ao olhar para a
classificação orgânica, encontramos a despesa
organizada de acordo com quanto gasta cada órgão e
qual a análise comparativa possível entre os órgãos que
3 ³ São nulos os créditos orçamentais compõem o Estado. Encontrase precisamente isto no
que possibilitem a existência de dotações para art.º 5º deste DL.
utilização confidencial ou para fundos secretos,
sem prejuízo dos regimes especiais legalmente
previstos de utilização de verbas que
excecionalmente se justifiquem por razões de
segurança nacional, autorizados pela
Assembleia da República, sob proposta do DL 26/2002 | ARTIGO 5º
Governo. (Estrutura da classificação orgânica)
DL 26/2002, de 14 de fevereiro
da própria Administração ± nos ministérios, por
Aprova os códigos de classificação económica das exemplo. Mas falha em muitos casos.
receitas e das despesas públicas (alterada pelo
Decreto-Lei n.º 69-A/2009, de 24 de Março; pelo
Decreto-Lei n.º 29-A/2011, de 1 de Março, Nem todas as despesas do Estado são
DecretoLei n.º 52/2014, de 7 de Abril e Decreto-Lei financiadas por um único ministério. Há
n.º despesas financiadas por mais do que um.
Por exemplo, a rede de cuidados
33/2018, de 15 de Maio)
continuados ± quando alguém vai parar ao
hospital, isso pode acontecer durante um
período temporariamente concentrado ou
12
da integração no SNS pode perceber-se 1 - Os códigos de classificação económica das receitas
que o problema não é resolvido ao fim de e das despesas públicas procedem à distinção das mesmas entre
X tempo, e a solução seria a pessoa correntes e de capital.
continuar no hospital ad eternum. Todos
temos consciência de que o hospital
pretende dar, em primeira linha, uma
resposta em termos de 2 - O código de classificação económica das receitas
SROtWLFDGHVD~GHPDVKiRSUREOHPDGDV³FD públicas constante do anexo I procede à sua especificação por
PDV OLPLWDGDV capítulos, grupos e artigos.
´1DWXUDOPHQWHTXHRVLVWHPDQmRSRGHV
HU desumano ao ponto de mandar as
pessoas embora se o problema não estiver 3 - O código de classificação económica das despesas
resolvido ao fim de algum tempo. Criou-se públicas constante do anexo II procede à sua especificação por
a chamada rede nacional de cuidados agrupamentos, subagrupamentos e rubricas.
continuados, para que, quando se sai do
ambiente hospitalar, continuasse a haver
uma resposta de apoio e proteção à saúde
(em casa ou em instituições para-
hospitalares). Ora, isto custa dinheiro. Esta
4XDQGRROHJLVODGRUIDODHP³GHVSHVDFRUUHQWH´IDOD
resposta social não cumpre apenas ao
em despesas de funcionamento do Estado, que ocorrem
Ministério da Saúde, mas também ao
para custear bens e serviços necessários ao
Ministério da Segurança Social. O suporte
funcionamento da máquina administrativa ± com os
àquela ação pública que está a
salários, por exemplo. Estas despesas correntes tendem a
salvaguardar a ação em caso de doença
ser despesas nem produtivas, nem reprodutivas. Vão,
continuada é feito através de dois
naturalmente, potenciar o investimento e a riqueza, mas
ministérios. Se estiver perante uma
em si são apenas despesas de funcionamento
classificação orgânica, sei que um
(consumos intermédios).
ministério gastou 100 e o outro gastou 500,
mas não sei quanto é que foi gasto pelo
Estado no funcionamento na rede nacional
As despesas de capital servem para custear bens
de cuidados continuados ± logo, não posso
duradouros ou redução de passivo (ex.: reembolso de
aferir da eficácia daquela despesa na
empréstimos). Tradicionalmente, estas despesas de
obtenção dos objetivos imediatos. Para o
capital estão ligadas a uma lógica de produção ou
fazer, teria de procurar uma verba
reprodução de riqueza. Através delas, cria-se valor que
RUJkQLFD TXH HVWLYHVVH D GL]HU ³UHGH GH FXLGDGRV
gera riqueza.
FRQWLQXDGRVQR06´HRXWUDTXHGLVVHVVH³UHGHGH
FXLGDGRVFRQWLQXDGRVQR066 No anexo II do DL 26/2002, encontramos quadros que
´eXPDFODVVLILFDomR limitada, que não especificam o tipo de despesa de que se está a falar. Há
permite uma avaliação transparente da uma desagregação da despesa por tipologia ± despesas
despesa pública. produtivas e reprodutivas, geradoras de valor, que vão
para além das despesas de funcionamento. Fala-se em
transferências de capital, passivos financeiros, etc.
2 ± CLASSIFICAÇÃO ECONÓMICA
DL 26/2002 | ARTIGO 3º
(Estrutura da classificação orgânica)
14
consumo. A despesa pública pode Há, também, que ver a questão da qualidade da despesa
aumentar para fazer este ciclo voltar a pública vs. o controlo dessa despesa. Deve ou não deve
funcionar. Uma função da despesa pública haver um limite à despesa pública? Isto é algo que é
pode também ser reativar o fundamental pensar por estar interrelacionado com a
desenvolvimento económico. questão da reforma do Estado e do papel do Estado na
sociedade.
Assim se justifica uma tendência de crescimento da >>> existem forças / fatores instrumentais
despesa pública e a existência de uma elevada despesa que reforçam a intervenção pública (ex.:
pública. Razão 1: estado social de direito e o preço dos redução da natalidade, aumento da
direitos sociais, com extensão e densidade crescentes. esperança média de vida);
Razão 2: orçamentação e desorçamentação. Razão 3: a
questão das modificações demográficas e a sua relação
com a diminuição da receita e o aumento da despesa. >>> conforme as sociedades se tornam
mais proativas e tendencialmente mais
exigentes (com uma profundidade de
direitos sociais maior e uma maior
15
proteção social exigida ao Estado), a A terceira teoria é a da HVFRODGD³public choice´RX escola
despesa será maior de Chicago. Aqui assume-se que o crescimento da
despesa pública vai depender, em primeira linha, da
decisão política. ± mas assumindo-se essa decisão
>>> se há uma tentativa de promover política como tentativa de conciliar os interesses
crescimento e desenvolvimento através do presentes no mercado, e captar votos (lógica de jogo do
progresso tecnológico, então terá de haver poder). Aquilo que poderia justificar o aumento
programas públicos de incentivo a esse persistente da despesa pública seria fazer passar esse
modelo de desenvolvimento da sociedade aumento por uma decisão política marcada por uma
e da economia. tentativa de resolver conflitos entre os agentes
económicos presentes no mercado (satisfazer os
interesses presentes no mercado) e, simultaneamente,
O que estamos a dizer é que, nas tentar captar votos, aumentando a despesa e captando
sociedades que não querem ficar votos.
estagnadas e cristalizar o seu modelo de
organização, a tendência será para uma
intervenção do Estado, que custa dinheiro No fundo, esta teoria critica o aumento da despesa e
e exige uma receita crescente para fazer justifica-o com uma ligação muito grande à lógica da
face a uma despesa crescente. burocracia. Cada serviço da administração está
habituado a trabalhar com dado orçamento e não quer
reduzi-lo, justificando sempre a necessidade daqueles
valores. Por um lado, a public choice fala num aumento
da despesa para tentar equilibrar as posições dos
Nota: este crescimento é em percentagem do PIB. interesses no mercado, e simultaneamente fala em
captação de votos. Além disso, uma vez os serviços
estando habituados aquele orçamento, reduzi-lo jamais,
justificando sempre a necessidade de todos aqueles
valores. De acordo com esta teoria, são mais estes
fatores que estão em jogo.
Hipótese de Peacock-Wiseman
16
potencialidades de parceria, de utilização implicações na qualidade da despesa, existe ou não deve
partilhada de recursos. Há uma existir um limite à despesa pública?
reconfiguração na forma como a
intervenção pública é projetada, tentando
aproveitar o que há de bom em cada setor
para satisfazer as necessidades. Tem a ver
com um how to. O Estado pode assim
tentar um melhor aproveitamento dos
recursos públicos.
17
Procurámos perceber por que é que há um nível elevado
de despesa pública, e por que é que é essencial ponderar
Se compatibilizarmos a despesa e a
a qualidade da despesa pública, quer do ponto de vista
receita, verificamos a existência de limites
da decisão política, como quanto à forma como o dinheiro
legais que exigem que a receita esteja o
público é gasto. Tentámos apontar elementos que nos
mais equilibrada possível com a despesa
fazem concluir que talvez seja verdade dizer que a
e, simultaneamente, que a dívida pública
despesa pública tem limites.
tenha um limite. Esta limitação também é
importante para a credibilidade
internacional, a começar nas agências de
rating e no impacto que têm nas decisões
dos agentes económicos. Uma economia é Nota: em que medida é que as parcerias públicoprivadas
alavancada pelo investimento. Se o privado (PPP) podem ser usadas como ponto de reflexão no
acha que não vai receber nada, não vai quadro das finanças públicas? Isto tem a ver com
investir, e há um ³WUDYmR modelos de intervenção pública partilhada. O Estado
´QRLQYHVWLPHQWR(DtQmRVHJHUDULTXH]D tende a não assumir um modelo de intervenção unitária,
não se pode cobrar impostos, etc. associando-se a outros agentes numa lógica de parceria.
Esse pode ser um elemento a considerar quando falamos
em despesa pública. A despesa tende a diminuir se
Há uns anos atrás, quando isto acontecia, houver uma intervenção de privados.
podia utilizar-se o mecanismo da moeda:
se desvalorizar a minha moeda, poderia
ser uma solução. Mas desde que
aderimos ao euro, não há política de
desvalorização monetária que possa
compensar desequilíbrios e dívida pública
elevada para sustentar uma despesa Depois de abordarmos a questão da
crescente. qualidade/quantidade da despesa pública,
e a questão da limitação da quantidade de
receita e das implicações para a
quantidade de despesa, a questão
seguinte consiste em percorrer o quadro
normativo e perceber quais as regras
Ponto 1 - há uma relação direta entre a limitação da
legais que influenciam a nossa maneira de
despesa e a limitação da receita. A limitação da receita
pensar a despesa pública; que
vem de limites aos impostos e à dívida pública ± quer de
determinam, de uma forma genérica,
limites legais quanto ao défice orçamental e à dívida
como a despesa deve ser efetuada.
pública, quer da impossibilidade de o Estado retirar toda
a riqueza produzida na economia e que também tem de
ser partilhada pelo setor privado. Isto significa que há a
Nas normas que vamos invocar encontraremos
necessidade de controlar a despesa, quer face ao
um reflexo de muito daquilo que temos vindo a
imediato (para cumprimento das regras), quer igualmente
dizer.
para o futuro. Se houver um desequilíbrio futuro das
contas públicas, as gerações futuras estarão agrilhoadas
a opções anteriores e às suas efetivas necessidades.
Tudo isto piora porque o Estado não tem agora a Olhemos para o 15º, 3. da LEO: o que se
possibilidade de usar a desvalorização monetária como está a assumir é que tem de haver uma
instrumento económico-financeiro, o que força um rigor lógica de completa orçamentação da
no equilíbrio orçamental ± um maior cuidado com o valor despesa.
da despesa pública, que só pode ser suportada se houver
receita pública orçamentada (impostos) que a sustente,
uma vez que também essa visão de recurso aos
mercados através da dívida pública está condicionada
pelas limitações legais.
LEO | ARTIGO 15º
(Não compensação)
18
Como já vimos, o 17º, 1. da LEO, complementado com o
nº4, determina a necessidade das classificações da
3 ³ Todas as despesas são inscritas pela sua despesa.
importância integral, sem dedução de qualquer espécie,
ressalvadas as seguintes exceções:
19
20
1 ³ Os programas orçamentais incluem as
receitas e as despesas inscritas nos orçamentos dos
serviços e das entidades dos subsetores da
administração central e da segurança social.
2 ³
O nível mais agregado da especificação por
programas corresponde à missão de base
orgânica.
3 ³
Para o efeito da apresentação e especificação
dos programas orçamentais, a desagregação da
missão de base orgânica faz -se por programas
e ações.
4 ³
A missão de base orgânica inclui o conjunto de
despesas e respetivas fontes de financiamento
que concorrem para a
realização das diferentes políticas públicas
setoriais, de acordo com a lei orgânica do
Governo.
5 ³
Os programas orçamentais correspondem ao
conjunto de ações, de duração variável, a
executar pelas entidades previstas no n.º 1,
tendo em vista a realização de objetivos finais,
associados à implementação das políticas
públicas e permitem a aferição do custo total
dos mesmos.
6 ³
As ações correspondem a unidades básicas de
realização de um programa orçamental,
podendo traduzir -se em atividades e projetos.
7 ³
No início da legislatura, o membro do Governo
responsável por cada política pública setorial
definida na missão de base orgânica propõe, no
cumprimento do programa do Governo e no
respeito pelo disposto no artigo seguinte, a
criação de programas, a sua denominação, o
período de programação, os custos totais, as
fontes de financiamento e as metas a alcançar.
8 ³
Os programas são aprovados em reunião do
Conselho de Ministros.
9 ³
O membro do Governo responsável por cada
missão de base orgânica determina a entidade gestora do conjunto dos respetivos programas.
10
³ No caso da missão de base orgânica associada aos órgãos de soberania, a definição e gestão dos respetivos programas cabe à
entidade indicada pelo órgão de soberania.
21
11 ³ Dentro do Ministério das Finanças, é obrigatória a constituição de um programa destinado a fazer face a despesas
imprevisíveis e inadiáveis, bem como de um programa não vinculativo destinado a gerir e controlar a
O 15º, 2. (v. atrás), apesar de ser uma norma que apela
ao conceito de receita e não ao conceito de despesa, é
Não deve haver espaço para confidencialidade
uma chamada despesa fiscal. O que é que isto quer
na GHVSHVD QmR GHYH KDYHU XP ³VDFR D]XO´
dizer?
3RGH haver exceções, mas a regra é esta.
22
3, eficácia ± tem de haver uma racionalidade económica e de autorização da despesa e do respetivo pagamento, quanto
na decisão de despesa pública. às segundas.
a) Seja legal;
b) Tenha sido objeto de correta inscrição orçamental; Para que um determinado organismo gaste,
c) Esteja classificada. esse gasto tem de ser efetivamente,
especificamente e concretamente autorizado.
Essa lógica de autorização também revela
uma lógica de controlo da despesa em
2 ³ A liquidação e a cobrança de receita podem
concreto ± por isso, também, o 68º,
ser efetuadas para além dos valores previstos na
1.
respetiva inscrição orçamental.
23
um momento prévio ± quando eu, Estado,
assumo o compromisso de vir a pagar. Se eu,
2 ³ O controlo administrativo compreende os níveis Estado, não pago, fico com dívida,
operacional, setorial e estratégico, definidos em razão da aumentando o dinheiro que devo aos
natureza e âmbito de intervenção dos serviços que o integram. credores e desequilibrando o orçamento,
incumprindo regras. Quanto mais despesas
tenho em modo de espera, mais desequilibro
o meu orçamento, tendo menos possibilidade
3 ³ O controlo administrativo pressupõe a atuação
de cumprir os limites legais.
coordenada e a observância de critérios, metodologias e
referenciais de acordo com a natureza das intervenções a
realizar, sem prejuízo das competências da autoridade de O fundamental é ter noção de que esta regra
auditoria nos termos da lei. prevista na LEO está regulada em diploma
próprio ± lei 8/2012, que nasce do
memorando de entendimento com a troika.
4 ³ O controlo jurisdicional da execução do
Orçamento do Estado compete ao Tribunal de Contas e é
efetuado nos termos da respetiva legislação, sem prejuízo dos
atos que cabem aos demais tribunais, designadamente aos Em relação à assunção de compromissos,
tribunais administrativos e fiscais e aos tribunais judiciais, no como vimos, nenhuma despesa pode ser
âmbito das respetivas competências. autorizada ou paga sem que o compromisso
e a respetiva programação (veja-se o 52º, 4.)
5 ³ A Assembleia da República exerce o controlo sejam assegurados pelo orçamento.
político sobre a execução do Orçamento do Estado e efetiva as
correspondentes responsabilidades políticas, nos termos do
disposto na Constituição, no Regimento da Assembleia da
República, na presente lei e na demais legislação aplicável. A lógica é limitar a assunção de
compromissos para limitar o aumento da
despesa. Tenta-se resolver o problema indo
ao momento em que se decide efetuar a
despesa.
1º) Cabimento;
2º) Compromisso;
3º) Processamento; 4º)
Se olharmos para o 52º, 4. (v. atrás) da LEO, Pagamento.
verificamos que o legislador afirma o
seguinte: eu, entidade pública, não posso
assumir uma despesa se não tiver já dinheiro
para gastar. Se isso não estiver previsto no
orçamento da tesouraria da entidade, ela não
pode gastar. Esta medida força a que não
haja assunção de compromissos que depois
não podem ser cumpridos, dando espaço
para cumprir os chamados pagamentos em
atraso. Não deve ser apenas o momento Isto significa que a data da assunção de compromisso
exato do pagamento onde a nossa / da assunção de despesa é diferente do momento do
preocupação deve estar dirigida, mas também
24
vencimento da despesa. O que se está a querer dizer
com estas regras da LEO, reforçadas pela lei dos
compromissos e pagamentos em atraso, é que a ótica 1 ³ A atividade financeira do setor das
em análise não é a de favorecer o momento do administrações públicas está subordinada ao princípio
pagamento / data de vencimento, mas sim de da equidade na distribuição de benefícios e custos entre
concentrar a preocupação no compromisso / data de
gerações, de modo a não onerar excessivamente as
assunção da despesa. É necessário um juízo de
gerações futuras, salvaguardando as suas legítimas
cabimento: sabendo o meu orçamento de serviço,
tenho dinheiro disponível para, no momento em que expectativas através de uma distribuição equilibrada dos
tiver de pagar, pagar? custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual.
Estamos a justificar a ação com uma lógica de controlo do 2 ³ O relatório e os elementos informativos que
equilíbrio orçamental. O nosso objetivo é acompanham a proposta de lei do Orçamento do Estado,
ROKDU SDUD R ³KRMH´ H JDUDQWLU TXH Ki nos termos do artigo 37.º, devem conter informação
HVWDELOLGDGH orçamental. Mas também há a sobre os impactos futuros das despesas e receitas
questão intergeracional. Se pensarmos bem, esta públicas, sobre os compromissos do Estado e sobre
ideia de equilíbrio e controlo da despesa, para garantir responsabilidades contingentes.
que há pagamento e não se gera uma dívida que
passa para o futuro, estamos a tentar projetar um
exercício de assegurar o amanhã. Ora, isto tem a ver 3 ³ A verificação do cumprimento da equidade
com a lógica intergeracional. intergeracional implica a apreciação da incidência
orçamental das seguintes matérias:
25
Normalmente os juristas têm o hábito de encarar os
princípios jurídicos como parte integrante de um sistema.
É essencial que o jurista tenha a noção do que o princípio DL 155/92 | ARTIGO 22º
é revelado em normas, muitas vezes muito técnicas.
(Requisitos gerais [Autorização de despesas])
26
as entidades referidas no n.º 1 efectuam a consulta da
23 º - quem tem competência? Os dirigentes dos situação tributária e contributiva do interessado, quando
organismos que vão proceder a essa despesa. este a autorize nos termos legais, em substituição da
entrega das respectivas certidões comprovativas.
A autorização de despesas deve ser acompanhada da 4 - O disposto neste artigo não prejudica, na
verificação dos requisitos a que a despesa está parte nele não regulada, a aplicação do regime previsto
subordinada, a efectuar pelos serviços de contabilidade no artigo 198.º da Lei n.º 110/2009, de 16 de Setembro,
do respectivo serviço ou organismo. no que concerne à concessão de subsídios.
27
10 OUT 2018
28
Se tudo correr bem, é um valor que será devolvido. Nem
tudo o que entra nos cofres do Estado é receita pública.
29
não. Para garantir aquilo que contribuo
antecipadamente para fazer face a uma
eventualidade, o Estado diz que tudo aquilo
que entrar nos cofres da Segurança Social
por via das contribuições prévias fica no
sistema e serve para pagar as prestações a
que adquiri direito.
30
contributiva fosse feita da seguinte maneira: trabalho,
transfiro o meu dinheiro para a segurança social (que
seria como um banco) e, quando precisasse, ser-me-ia
passado o dinheiro que contribuí. Acontece que, hoje em Mais um aspeto: alternativas financeiras do
dia, os trabalhadores ativos fazem os seus descontos ponto de vista público têm aparecido
mensais e alimentam o sistema contributivo, mas a historicamente para tentar garantir uma maior
receita sai automaticamente para aqueles que estão a sustentabilidade do sistema de segurança
precisar daquela prestação, o que significa que, quando social. Um exemplo dos tempos da troika, que
for a vez de os atuais trabalhadores ativos envelhecerem, já acabou: a CES
terão de acreditar que as contribuições para o sistema (Contribuição Extraordinária Solidariedade).
lhes garantirão o pagamento das prestações a que têm Qual é a lógica do sistema contributivo? Um
direito. Um dos aspetos do contrato geracional é este. Isto trabalhador ativo recebe o seu salário, ao qual
faz com que haja a preocupação de desenvolver são retirados 11%, entregues à segurança
mecanismos de financiamento sustentável do sistema ± social, o que faz gerar o direito a uma
quer para aferir se há formas alternativas de prestação que me será paga no futuro. Em
financiamento da Segurança Social, quer por forma a criar primeira linha, sou contribuinte do sistema de
fundos de estabilização financeira, onde percentagens Segurança Social; e quando tenho acesso à
são retiradas do sistema contributivo para serem prestação, sou beneficiário do sistema (e aí já
aplicadas no fundo, que vai produzir investimentos que não sou contribuinte). Há uma ideia de que
sejam capazes (esperase) de aumentar o capital e, com contribuo. Quando precisar, o sistema paga e
isso, aumentar a receita do sistema. O Estado permite só tenho a receber. A CES provocou um corte
que, para além dos montantes expressos mínimos, se nesse paradigma. Os pensionistas (com
possa contribuir mais ± e isso sim, fica numa conta pensões mais elevadas), beneficiários do
capitalizada específica, individual e intransmissível. Mas é sistema, viram X descontado do valor da
um plus; é facultativo, não obrigatório. pensão, que ficou consignado ao sistema de
segurança social, contribuindo para a sua
sustentabilidade. No período em que a CES
O Estado também permite que esta proteção funcionou, houve uma alteração do
complementar facultativa possa ser feita de paradigma, permitindo-se que ainda sendo
modo particular, i.e., pelos privados. Um alguém beneficiário do sistema, possa
exemplo são os PPRs ± planos poupança contribuir para o sistema. O que se tentou foi o
reforma. equilíbrio do contrato intergeracional, havendo
pessoas com pensões muito elevadas.
31
contrato onde ficam estabelecidos os fins da
despesa a ser suportada pela receita
comunitária e os objetivos a atingir
(quantitativamente). Há um acordo-quadro
que é celebrado e condiciona a utilização da
LEO | ARTIGO 16º receita, vigorando durante o período de
execução. Por isso é que é necessário o que
(Não consignação) diz o 16º, 2., d). Isto não significa que
automaticamente se preveja a medida
concreta micro; o Estado tem uma certa
margem de manobra. Contudo, as linhas
1 ³ Não pode afetar -se o produto de quaisquer receitas à mestras estão previamente determinadas. Há
uma logica de contratualização específica que
cobertura de determinadas despesas.
implica uma consignação daquela receita
comunitária à despesa concreta.
32
Nota: o financiamento utiliza o método do É importante termos a noção de que há uma segunda
cofinanciamento. Implica uma lógica de classificação relevante:
responsabilização. A UE vai financiar,
normalmente, cerca de 80% das despesas
produzidas, sendo que os remanescentes (1) Receitas efetivas;
20% são para receitas próprias nacionais
portuguesas. (2) Receitas não efetivas.
1 ± RECEITAS EFETIVAS
Vamos passar em vista três Exemplo: um empréstimo pedido pelo Estado é uma
classificações importantes. receita não efetiva. Há que devolver e pagar a
remuneração.
2 ± RECEITAS DE CAPITAL
33
Nas receitas de economia privada, incluímos (1) Receitas de domínio eminente; (2)
as receitas patrimoniais, as receitas
Receitas derivadas da ação penal;
creditícias e as receitas graciosas.
(3) Receitas tributárias.
1 ± RECEITAS PATRIMONIAIS
2 ± RECEITAS CREDITÍCIAS
3 ± RECEITAS GRACIOSAS
34
a) As receitas obtidas em operações de derivados
financeiros são deduzidas das despesas correntes das mesmas
1 ³ Todas as receitas são previstas pela operações, sendo o respetivo saldo sempre inscrito como
importância integral em que foram avaliadas, sem receita;
dedução alguma para encargos de cobrança ou de
qualquer outra natureza.
35
(Domínio público)
DL 477/80 | ARTIGO 2º
(Definição de património do Estado)
36
em património bruto e líquido. Serão património bruto os
ativos. Já património líquido = ativo ± passivo. Até
podemos ter 1 000 património bruto e verificar que o
nosso património líquido é 50.
DL 477/80 | ARTIGO 4º
37
l) As linhas telegráficas e telefónicas, os cabos O património público refere-se a certos bens que, pela sua utilidade
submarinos e as obras, canalizações e redes de pública, são subtraídos à lógica do mercado. Não entram na esfera do
distribuição pública de energia eléctrica; mercado.
Imóveis e móveis
Veja-se que o património do domínio privado está introduzido numa lógica de mercado. Temos os (1) imóveis (rústicos e
urbanos) e os (2) móveis (participações financeiras além de equipamentos).
a) Os créditos;
b) Os débitos;
c) As participações;
d) Os direitos relativos ao estabelecimento dos
institutos públicos estaduais;
e) Os saldos de tesouraria.
38
Para efeitos do presente diploma, integram o inventário
geral os seguintes bens e direitos do domínio privado do
Estado:
Há que diferenciar:
>>> o património não duradouro pode ser mais curto do
que o próprio período orçamental. Pense-se em títulos
x Património financeiro bruto; x Património financeiro financeiros de curto prazo, de que o Estado se pode
líquido (ativos ± desfazer, por ex., em 2 meses.
passivos).
Dívida flutuante
>>> o património duradouro é aquele que permanece na >>> Dívida flutuante - se os ativos e os
esfera jurídica do Estado para lá do período orçamental. passivos não vão para além do período
Não é um património que se esgote de 1 de janeiro a 31 orçamental, eles serão flutuantes.
de dezembro. Normalmente, a este património duradouro
está associada uma lógica de amortização/depreciação.
>>> Dívida fundada ± se a dívida implica património
duradouro, estamos a falar de dívida fundada.
Exemplo: se um telemóvel vale 100 quando o compro, ele
vai perder esse valor. Para ter em conta essa perda de
valor, permite-se que se vá
amortizando/deduzindo/retirando o valor ao bem.
39
Outro aspeto fundamental é ter a ideia de Por outro lado, foi assumido nesta decisão política que
que património do Estado é diferente de seria mais vantajoso o Estado não ter uma continuidade
património da tesouraria. O Estado pode de participação no âmbito económico (enquanto agente
ter, na sua esfera jurídica, um valor de 1 económico) sustentando certas e determinadas
000 mas ter disponível apenas 100 em empresas, porque se verificava que o Estado
liquidez imediata. Com essa liquidez persistentemente tinha de fazer injeções, caso contrário
imediata estamos a referir-nos à questão da os resultados negativos das empresas prejudicariam a
tesouraria. Falamos de património de própria sanidade das contas públicas. A orçamentação
tesouraria: são as disponibilidades que o destas entidades produziu a necessidade de as eliminar
Estado tem no imediato para gastar. A da esfera pública.
gestão da tesouraria e autónoma, não está
sujeita à disciplina orçamental, ainda que
esteja a ela ligada (e está, efetivamente).
Se tiver escassa disponibilidade de
tesouraria e precisar, posso pedir uma
dívida pública flutuante, i.e., dívida de curto
prazo que será depois abatida.
40
agentes económicos cuja maioria não está indireta ou acessória; dívida pública em moeda nacional e
condicionada territorialmente. dívida pública em moeda estrangeira; dívida pública
flutuante e dívida pública fundada; regime da dívida
pública direta; mercado primário e mercado secundário.
41
Há um interesse do Estado em ter estes
mecanismos de cooperação porque
reduzem a sua despesa, contribuindo para o A organização económico-social assenta nos seguintes
equilíbrio orçamental. E do ponto de vista princípios:
político? Conferem legitimidade. Existe a
perceção do cidadão de que o poder político
não funciona como devia; há, portanto, um a) Subordinação do poder económico ao poder
exercício de relegitimação democrática. político democrático;
Estamos a pensar numa reponderação e
aproximação do poder público à sociedade, b) Coexistência do sector público, do sector
processo de legitimação esse que não é privado e do sector cooperativo e social de propriedade
conseguido apenas no momento da eleição, dos meios de produção;
mas também na adoção de comportamentos
c) Liberdade de iniciativa e de organização
durante os processos e procedimentos de
empresarial no âmbito de uma economia mista;
funcionamento do Estado ± i.e., a forma
como se governa e como se integram os d) Propriedade pública dos recursos naturais e de
cidadãos nessa governação. É que há muita meios de produção, de acordo com o interesse colectivo;
literatura que tenta explicar que os modelos
de intervenção pública tendencialmente não e) Planeamento democrático do desenvolvimento
são tão eficientes e eficazes e económico e social;
economicamente quanto os procedimentos e
f) Protecção do sector cooperativo e social de
processos que os privados podem ter. Neste
propriedade dos meios de produção;
entender, a gestão pública não seria tão
racional como a gestão privada. Aceitando g) Participação das organizações representativas
que isto é verdade, não significa que da dos trabalhadores e das organizações representativas das
entrega imediata aos privados resulte uma actividades económicas na definição das principais
maior racionalidade económica. Mesmo que medidas económicas e sociais.
a gestão seja privada, o interesse público
nunca pode deixar de estar salvaguardado.
Há uma lógica de equilíbrio (difícil de obter).
Apesar de se tentar a melhoria da gestão
dos serviços públicos, há que ter em conta a
igualdade, por exemplo.
42
modelos de intervenção pública assentes
numa partilha de espaço com os privados.
Isto altera o próprio formato das finanças
públicas.
O que é a RSE?
Receitas creditícias
43
a rentabilidade de certos investimentos, o Estado
endivida-se.
1 - O recurso ao endividamento público directo
deve conformar-se com as necessidades de financiamento
geradas pela execução das tarefas prioritárias do Estado, Há, ainda uma terceira justificação para o Estado recorrer
tal como definidas na Constituição da República à dívida pública: a (iii) estabilização macroeconómica.
Portuguesa, salvaguardar, no médio prazo, o equilíbrio Uma das formas que o Estado tem de atuar, sobretudo
tendencial das contas públicas. em conjunturas inflacionistas, para conseguir uma
estabilização retirando dinheiro aos privados é a emissão
de títulos de dívida pública como instrumento de
2 - A gestão da dívida pública directa deverá poupança privada.
orientar-se por princípios de rigor e eficiência,
assegurando a disponibilização do financiamento
requerido por cada exercício orçamental e prosseguindo
os seguintes objectivos:
44
outro lado, o princípio da não consignação
admite, entre as suas exceções (v. supra
Se pensarmos no Estado como devedor principal,
16.º, 2. da LEO), as receitas das
estamos a pensar na divida pública direta, que tem o
reprivatizações ± afetas à redução da dívida
regime da lei 7/1998. Se pensarmos no Estado enquanto
pública.
garante da dívida de terceiros, pensamos na dívida
indireta ou acessória, regulada pela lei 112/97.
Por outro lado, há que ter em atenção que as variações Regime jurídico da concessão de garantias pessoais pelo
cambiais também podem influenciar o montante da dívida Estado ou por outras pessoas colectivas de direito público
pública. Como veremos, apesar de a maioria da dívida (alterada pela Lei n.º 64/2012, de 20 de Dezembro e pela
pública ter de ser em euros, há uma possibilidade de o Lei n.º 82-B/2014, de 31 de Dezembro)
legislador ter dívida pública em moeda diferente do euro.
Ora, se é possível o Estado ter dívida em moeda
diferente do euro, e se varia a cotação cambial, variará o
montante da dívida.
Finalmente, se o Estado pretender usar a dívida pública Nota: o Estado pode ter interesse na
para intervir macroeconomicamente, fará o seu montante construção de uma infraestrutura, na
aumentar; se não usar, a dívida pública tenderá a manutenção e um sistema importante
estabilizar. financeiro ou não. Há interesse nacional em
sede dos tipos de investimento que
justificam que o Estado assuma a posição
de garante.
É a dívida principal; aquela em que o estado é o (1) Dívida publica em moeda nacional;
devedor de forma imediata. Se o Estado precisa
de dinheiro, desloca-se ele próprio ao mercado (2) Dívida publica em moeda estrangeira.
e pede dinheiro.
45
(1) Dívida publica flutuante: por exemplo, o Há que distinguir dois momentos com relevância
Estado emitir um título de divida pública a jurídica no âmbito da dívida:
3 de março de 2018 para ser vencido a
31 de dezembro de 2018.
(1) Emissão;
(2) Divida publica fundada: por exemplo, o
Estado emitir um título de dívida pública a (2) Gestão.
3 de março de 2018 para vencer a 2 de
março de 2050.
Uma coisa é o Estado emitir títulos de
dívida pública (regras para a emissão de
dívida existem); outra coisa é, uma vez feita
a emissão desses títulos, a forma como a
dívida é gerida.
Os princípios da presente lei aplicam-se à dívida pública d) Não exposição a riscos excessivos;
directa de todas as entidades do sector público
administrativo, sem prejuízo das disposições especiais da
Lei das Finanças Regionais e da Lei das Finanças e) Promoção de um equilibrado e eficiente
Locais. funcionamento dos mercados financeiros.
46
Art.º 2º, 2. da LQFP ± segundo momento: a gestão da e) Conferir às Assembleias Legislativas das regiões
divida pública direta deve orientar-se por princípios de autónomas as autorizações previstas na alínea b) do n.º 1
rigor e eficiência, assegurando a disponibilização do do artigo 227.º da Constituição;
financiamento requerido por cada exercício orçamental
numa perspetiva de longo prazo, plurianualidade e f) Conceder amnistias e perdões genéricos;
prevenção de excessiva concentração temporal de
amortizações (não é bom que a divida se vença toda ao g) Aprovar as leis das grandes opções dos planos nacionais
mesmo tempo), não exposição a riscos excessivos e o Orçamento do Estado, sob proposta do Governo;
(extraordinariamente importante, tem a ver com
h) Autorizar o Governo a contrair e a conceder empréstimos
auscultações dos mercados, a lógica do capital e a
e a realizar outras operações de crédito que não sejam de
disponibilidade dos juros que quem empresta está
disposto a receber), a promoção de um equilíbrio e o dívida flutuante, definindo as respectivas condições
eficiente financiamento dos mercado financeiros. gerais, e estabelecer o limite máximo dos avales a
conceder em cada ano pelo Governo;
Em relação à emissão de dívida pública, vamos olhar l) Autorizar e confirmar a declaração do estado de
para as suas regras fundamentais, estabelecidas nos sítio e do estado de emergência;
arts. 4º a 12º da lei 7/1998.
m) Autorizar o Presidente da República a declarar a
guerra e a fazer paz;
Para o Estado emitir dívida pública, tem um procedimento n) Pronunciar-se, nos termos da lei, sobre as
geral ou excecional a cumprir. A regra geral vem matérias pendentes de decisão em órgãos no âmbito da
estabelecida nos arts. 4º a 6º. Excecionalmente, existe o
União Europeia que incidam na esfera da sua competência
procedimento específico do 8º.
legislativa reservada;
a) Aprovar alterações à Constituição, nos termos dos artigos 2 - Na lei prevista no número anterior poderão ser
284.º a 289.º; estabelecidos o montante máximo a que poderão ser sujeitas
certas categorias de dívida pública, nomeadamente a dívida
b) Aprovar os estatutos político-administrativos e as leis denominada em moeda estrangeira, a dívida a taxa fixa e a
relativas à eleição dos deputados às Assembleias dívida a taxa variável.
Legislativas das regiões autónomas;
d) Conferir ao Governo autorizações legislativas; Art.º 4º - está a dizer-se que, ano a ano, orçamento a
orçamento, a AR tem de autorizar a emissão de dívida
pública pelo Governo, sendo que, nessa autorização, tem
47
de vir expresso o montante (a quantia) que é autorizada, Instituto de Gestão do Crédito Público
bem como o prazo. Quanto à quantia, veja-se que o (IGCP), com base no que diz o Governo
legislador refere o montante máximo do acréscimo de tendo em conta o que disse a AR. Ao fazer
endividamento líquido autorizado. Além de se dizer LQWURGX]LUD$5GL]HQGR³Governo, só
quanto pode ser acrescentado, diz-se até que prazo- podes emitir X neste ano a Y tempo´, está a
limite se pode acrescentar. tentar controlar-se a emissão da dívida,
numa lógica de checks and balances.
Retomando 5º, 1., existe a noção de que Quando olhamos para o art.º 6º, 1., vemos que, na
não será o executivo, em primeira linha tomada da decisão concreta de emissão do título A, B ou
(ministros), a fazer uma gestão micro da C, o IGCP, antes de tomar a decisão efetiva de ir ao
divida emitida. mercado e pedir 100, tem de ter em atenção forma como
os mercados financeiros estão a funcionar e como é
expectável que evoluam.
48
Estamos a trabalhar as receitas públicas.
Dentro das receitas públicas, estamos a
(1) Mercado primário;
analisar o quadro jurídico fundamental das
receitas creditícias. Delimitámos o conceito
(2) Mercado secundário. e vimos as principais funções que a dívida
pública pode realizar, olhámos para os tipos
de dívida pública existente e concentrámo-
A emissão de dívida pública é feita em mercado primário. nos na dívida pública direta.
Mas, depois de ser emitida, pode ir parar (e
tendencialmente vai parar) a mercado secundário.
O regime da lei 7/1998 (LQFP) assenta
numa diferenciação entre emissão da dívida
Aquilo que se determina como (1) mercado primário é o e gestão da dívida como dois momentos-
chamado mercado de colocação da dívida pública. chave com regras diferenciadas.
Significa isto que, do ponto de vista jurídico, vamos
encontrar algo em que nem todos os agentes económicos
podem aceder a todos os títulos de dívida pública ± e,
portanto, precisamos de regras jurídicas a estabelecer
que apenas certos agentes económicos é que podem
emprestar dinheiro ao Estado. Por isso, só esses agentes
autorizados podem aceder a este mercado primário.
Emissão da dívida pública
Como tal, o Estado não se relaciona com todos os
investidores, mas apenas alguns.
No quadro da emissão, num primeiro momento, o
legislador exige que seja a AR a autorizar a emissão
Porém, estes investidores, uma vez adquirido o título de anual do valor em que o Governo está legitimado a
dívida, podem transacioná-lo com outros agentes que aumentar a dívida pública.
não têm a possibilidade de ir ao mercado primário. Nesse
caso, a dívida pública entra no chamado (2) mercado
secundário ± o mercado generalizado, em que todos os Depois, o executivo dá orientações e regras na gestão
agentes financeiros anual, e a gestão propriamente dita é feita pelo IGCP.
VHHQFRQWUDP4XDQGRpGLWR³FRQGLo}HVFRUUHQWHV
dos mercados financeiros, bem como quando se fala na
³H[SHWDWLYDUD]RiYHOGDVXDHYROXomR´WHPGHVH ter
muito cuidado com a forma como os mercados
funcionam, mas igualmente com a disponibilidade dos
investidores-chave - isto porque o Estado, em primeira
linha, vai ao mercado primário.
Lei 7/1998 | ARTIGO 6º
(Condições específicas)
Esta diferenciação também é muito
importante no caso de amortização de
dívida pública. Uma das formas pelas quais
o Estado pode retirar dívida do mercado é
1 - As condições específicas dos empréstimos e
cumprir com as suas obrigações e não pedir
empréstimos suplementares. Mas o Estado das operações financeiras de gestão da dívida pública
pode, também, dirigir-se ao mercado directa serão estabelecidas pelo Instituto de Gestão do
secundário e adquirir a sua própria dívida, Crédito Público, em obediência às condições
recomprando-a ao terceiro que a adquiriu determinadas nos termos dos precedentes artigos 4.º e 5.º
ou ao investidor primeiro. Dessa forma, o
Estado pode conseguir amortizar dívida
antecipadamente. 2 - Na fixação das condições específicas
previstas no número anterior, o Instituto de Gestão do
Crédito Público deverá ainda atender às condições
correntes nos mercados financeiros, bem como à
expectativa razoável da sua evolução.
23 OUT 2018
No art.º 6º, 2., determina-se a obrigatoriedade de o IGCP
atender à expetativa de evolução dos mercados
Conceitos-chave: Emissão da dívida pública; gestão da financeiros. É preciso ter a noção de que, quando há
dívida pública. emissão de dívida pública, a regra é essa emissão ser
feita em mercado primário. Mas pode haver espaço para
emissão em mercado secundário - se quando o investidor
original se dirige aos outros investidores a posteriori para
vender os seus títulos de dívida ou quando o Estado, face
v. Dicionário de Finanças Públicas ± Albano Santos às adequadas condições do mercado, sente que deve
proceder a uma recompra dos seus títulos de dívida (no
fundo, amortizando antecipadamente essa mesma
dívida).
49
dar uma carta branca para se gastar o que
se quiser.
Há um conceito dual de mercado de dívida pública ±
mercado primário e secundário. Quer isto dizer que,
analisando os vários instrumentos de dívida pública,
Se tivéssemos um verdadeiro parlamento
encontramos instrumentos que só podem ser emitidos se
transformacionista, o Parlamento poderia
estivermos a falar de instituições financeiras (são elas
querer fazer uma política de verdadeira
que atuam no âmbito do mercado primário).
contração. Mas o nosso Parlamento é um
parlamento-arena, em que não há muito
espaço para afastamento da proposta do
Governo.
50
Lei 7/1998 | ARTIGO 11º Olhando para o nº 3, percebemos que, para cada tipo de
dívida pública há uma legislação específica. Há que
(Formas da dívida pública) complementar o art.º 11º com outros diplomas avulsos.
51
República a realizar as seguintes operações de gestão da
dívida pública:
52
Nota: o que são derivados financeiros?
Sobre a atividade económica de produção
de valor/riqueza desenvolve-se uma
atividade financeira, no plano do capital. Há
um risco associado. Mas sobre estes
instrumentos financeiros primários ou
diretos ainda foram criados instrumentos
financeiros derivados. Os instrumentos
financeiros derivados trabalham sobre os
primários, e dependem da rentabilidade dos
instrumentos primários. Aqui funciona uma
espécie de especulação; como que se
presume que os instrumentos primários
geram valor independentemente da
atividade económica de
produção/transformação. Por que é que isto
acontece? Ganância/empreendedorismo,
no entender de RCP.
24 OUT 2018
53
obrigações assumidas (através do IGCP, mas, em certas 3 - Nas atividades previstas no número anterior
circunstâncias, a AR tem de autorizar certas operações). compreendese a função de leiloeiro no contexto do
mercado regulamentado europeu de leilões de licenças de
emissão de gases com efeito de estufa, estabelecido em
execução da Diretiva do Comércio Europeu de Licenças
Gestão da dívida pública (continuação) de Emissões, em articulação com os serviços e
organismos competentes do Ministério da Agricultura, do
Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
DL 200/2012 | ARTIGO 6º
(Atribuições principais)
Art.º 5º - gerir de forma integrada a tesouraria, o
financiamento e a divida publica direta do Estado é a função do
IGCP.
54
f) P r a t i c a r t qual
o são dexplicitados,
o designadamente,
s oos poderes
s de gestãoado t o s
mercado europeu dos leilões de licenças de IGCP, E. P. E., e a remuneração devida pelo desempenho do
emissão de gases com efeito de estufa, conforme mandato.
estabelecido na legislação e regulamentos
comunitários, em articulação com os serviços e
organismos competentes do Ministério da 3 - As funções e os atos a praticar pelo IGCP, E. P. E.,
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do no exercício da atribuição indicada na alínea f) do número
Ordenamento do Território; anterior constam de contrato a outorgar com a Agência
Portuguesa do Ambiente, I. P., e são remunerados.
l) G e r i r o F 7u n- As aquisições
d de
o bens e serviços
d que o eIGCP, E. P. R e g
termos da lei; E., tenha de realizar para efeito da atribuição indicada na
alínea d) do n.º 1 podem ser feitas por ajuste direto,
independentemente da natureza da entidade adjudicante,
m) Administrar o Fundo de Renda Vitalícia; quando os contratos tenham valor igual ou inferior ao previsto
na alínea b) do artigo 7.º da Diretiva n.º 2004/18/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de março de 2004.
n) Velar pela aplicação das leis e seu
cumprimento, em tudo o que se referir à
constituição da dívida pública direta e respetiva
gestão;
55
É, também, importante, a alínea j). Um dos instrumentos
de dívida que o Estado tem ao seu dispor são os
certificados especiais de dívida pública ± sendo que h) Definir e gerir o sistema contabilístico-
estes certificados são subscritos pelo próprio Estado / financeiro, a centralização e tratamento da
serviços públicos ± que, nas suas disponibilidades, em informação sobre registos contabilísticos e a
vez de irem aos bancos, depositam no IGCP com uma auditoria sobre as operações, os processos internos e
rentabilidade Y, dando ao IGCP mais margem de os registos;
manobra.
56
q) Elaborar relatórios periódicos sobre o financiamento
do Estado e a dívida pública e promover a publicação de, pelo
menos, um relatório anual; 1 - Os créditos correspondentes a juros e a
rendas perpétuas prescrevem no prazo de cinco anos
contados da data do respectivo vencimento.
2 - As operações referidas na alínea l) do número No âmbito do art.º 14º da lei 7/1998, é dito que,
anterior só podem ser realizadas se forem objeto de parecer regra geral (nº 1), 5 anos é o prazo para
favorável do IGCP, E. P. E. prescrição dos juros. Se estivermos a falar do
capital mutuado, já são 10 anos. Se se gerar
uma prescrição, esse montante tem de ser
alocado ao fundo de regularização da dívida
3 - Os documentos relativos ao exercício das pública, o que vem estabelecido no nº 2.
atribuições e competências do IGCP, E. P. E., designadamente
os respeitantes à emissão, subscrição, transmissão e reembolso
de valores de dívida pública colocada junto de particulares, são Isto é algo de que é importante dar nota. O
arquivados em obediência às regras de arquivo previstas na lei montante fica para o Estado, mas deve ser afeto
para as instituições de crédito, com as necessárias adaptações. ao fundo de regularização da dívida pública,
dando-nos a ideia de que existe este fundo.
DL 43453, de 30/12/1960 | 3.
Organicamente, o IGCP é a instituição por excelência na
gestão e emissão da divida publica. Tem o seu próprio
regime orgânico, que completa a lei 7/1998.
3 - Ao Fundo de regularização da dívida pública compete
Na gestão da dívida, há que ter em atenção, também, as não só amortizar a dívida pública, sempre que isso seja
regras para a prescrição da dívida pública. possível e
conveniente, mas também, e principalmente, regularizar a
dívida através de oportunas intervenções no mercado e de
Voltemos à lei 7/1998: outras operações que lhe sejam confiadas.
57
lógica de controlo continuado; por isso se diz (nº
1) que o Governo informa trimestralmente a AR
Esta função macroeconómica do fundo vem expressa no
± é uma obrigação de prestar informação.
art.º 2º, que tem por epígrafe ³IXQomR HVWDELOL]DGRUD´
( Ki DTXL UHIHUrQFLDV DR PHUFDGR secundário.
O controlo pode ser feito internamente ou
externamente. O controlo externo dependerá
sempre da informação disponibilizada. Por isso
é que é tão importante que o direito tente
assegurar ao máximo a simetria da informação
DL 453/88 | ARTIGO 2º disponibilizada. Quem avalia / controla deve ter
(Função estabilizadora) o máximo de informação, ou a informação o
mais igual possível àquele que está a ser
controlado. Se houver um assimetria de
informação, com muita divergência, certamente
haverá um problema na efetividade do controlo.
1 - No exercício das funções de estabilização É muito importante a informação ± dados,
previstas no artigo 7.º do Decreto 43453, e na sequência registos, etc.
das directrizes da política monetária e de gestão da
dívida pública, deve o Fundo procurar contribuir para
regular a procura e a oferta dos títulos da dívida pública
no mercado secundário.
Art.º 15º da lei 7/1998 ± o papel do controlo e da 1 - Visando uma eficiente gestão da dívida pública
transparência da dívida pública está a ser directa e a melhoria das condições finais dos
promovido na gestão em termos gerais. Há uma
58
financiamentos, poderá o Governo, através do Ministro pública. Vamos primeiro identificar os vários
das Finanças, ser autorizado pela Assembleia da tipos de dívida pública que existem hoje e quais
República a realizar as seguintes operações de gestão da as diferenças, que serão de dois tipos
dívida pública: fundamentais:
(Redação dada pela Lei nº 87-B/98, de 31-12) (6) Certificados especiais de dívida pública a médio e
longo prazo (CEDIM).
1 ± OBIRGAÇÕES DO TESOURO
59
possibilidade de amortizar antecipadamente, mas o IGCP
também pode proceder à recompra em mercado
secundário.
DL 280/1998 | ARTIGO 8º
(Prazo)
DL 280/1998 | ARTIGO 6º
(Reembolso e recompra)
DL 279/1998 | ARTIGO 2º
60
No art.º 6º fala-se no reembolso e nas respetivas
datas de vencimento. De X em X tempo, vence o
juro e amortiza-se o capital. Salvo se as condições
específicas do empréstimo admitirem o reembolso
total ou parcial. Pode estar contratualizada a
O art.º 2º do DL nº 279/98 diz-nos que os
bilhetes do tesouro são representativos de
empréstimos da República Portuguesa. DL 279/1998 | ARTIGO 6º
(Amortização)
Art.º 3º - o valor nominal unitário dos bilhetes do Os certificados de aforro servem para fomentar a
tesouro (BTs) corresponde à mais pequena poupança familiar. Só pessoas singulares podem adquirir
subunidade da moeda em curso legal em certificados de aforro.
Portugal.
DL 279/1998 | ARTIGO 4º
Regime jurídico dos Certificados de Aforro (alterado pelo
(Características e regras de emissão) Decreto-Lei n.º 47/2008, de 13 de Março)
3 - São fungíveis entre si os bilhetes do Tesouro 1 - Os certificados de aforro são valores escriturais
que apresentem a mesma data de vencimento. nominativos, reembolsáveis, representativos de dívida da
República Portuguesa, denominados em moeda com curso legal
em Portugal e destinados à captação da poupança familiar.
61
Art.º 2º, 1 ± os certificados de aforro são
destinados à captação da poupança familiar.
Claramente, há um objeto diferente daquele
doos OTs e das BTs.
25 OUT 2018
Uma das funções da emissão de dívida pública
passa pela ideia macroeconómica de intervir e
Conceitos-chave: Instrumentos de dívida pública
controlar a inflação. O Estado concede a
(continuação); regime da dívida pública indireta; regras
possibilidade de os privados individuais
gerais de dívida pública.
participarem no seu financiamento. Quando
lança OTs e BTs, o Estado lança para muitos
milhões; Para os certificados de aforro, lança a
um nível reduzido ou mínimo, havendo uma
diversificação dos meios de financiamento
através de títulos da dívida pública.
4 ± CERTIFICADOS DO TESOURO
Por que é que os certificados de aforro não entram 4.c ± CERTIFICADOS DO TESOURO POUPANÇA
no mercado secundário? CRESCIMENTO
Olhando ao art.º 2º, 3., os certificados de aforro Os certificados do tesouro poupança crescimento são
só são transmissíveis por morte do titular. Há destinados apenas a pessoas singulares e só se
uma intransmissibilidade uma vez adquirido o transmitem por morte (embaralham com os certificados
certificado de aforro. Este fica na esfera jurídica de aforro). Todavia, o prazo é de 7 anos. A grande
de quem adquire, não podendo ser particularidade destes certificados do tesouro poupança
transacionado. crescimento é que as taxas de juro fixadas para este
instrumento são variáveis e vão crescendo ao longo dos
anos.
DL 122/2002 | ARTIGO 5º
(Prazos e condições de juro)
Resolução do Conselho de Ministros n.º 157D/2017:
1 - As séries de certificados de aforro poderão ter prazos Cria os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento e
de reembolso até 20 anos. determina a suspensão de novas subscrições dos
Certificados do Tesouro Poupança Mais
Resolução CM nº 157-D/2017 | 5.
3 - A periodicidade de vencimento dos juros poderá ser
trimestral, semestral ou anual.
62
Resolução do Conselho de Ministros n.º 86/2015
5 - Determinar que as taxas de juro fixadas para os
CTPC, a serem subscritos a partir de 30 de outubro de
2017
(inclusive), são as seguintes:
Resolução CM nº 86/2015 | 3.
Resolução CM nº 157-D/2017 | 6.
Resolução CM nº 86/2015 | 6.
63
6 - Determinar que as OTRV podem ser colocadas junto
de investidores por instituições de crédito ou consórcios
de instituições de crédito a designar pelo IGCP, E. P. E..
Resolução do Conselho de Ministros n.º 111/2009, de
25 de Novembro:
Resolução CM nº 111/2009 | 7.
Nº 7 ± as OTRV são emitidas até 10 anos,
sendo o seu reembolso efetuado na data de
emissão respetiva e de uma só vez.
7 - Determinar que a taxa de juro a aplicar aos CEDIC é
determinada pelo IGCP com base na taxa do custo
marginal da dívida pública, tomando por referência as
taxas do mercado monetário interbancário para prazos
Desta forma se constrói um instrumento de equivalentes.
financiamento de dívida pública que permite a
oscilação as taxas de juro e a rentabilidade ao
longo dos anos.
64
oferece). Se a forma como o juro é calculado está
dependente das médias dos mercados privados e da
evolução da dívida pública, estamos a condicionar os
valores, o que pode provocar perdas para os serviços,
Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2011, de que não conseguem rentabilizar os seus recursos. Mas
21 de Fevereiro: foi opção do executivo, e tem-se mantido, fazer uma
gestão agregada e entrar em concorrência com o
mercado privado por meio dos CEDIC e dos CEDIM.
Resolução CM nº 14/2011 | 3.
65
Projetos que sejam de extrema importância para
Se após a maturação atingirmos as maturidades
o desenvolvimento económico de Portugal
diferenciadas, e mesmo assim houver sobreposição,
relevam para a necessidade de o Estado se
pode ser interessante o Estado recorrer aos CEDIM
assumir como garante desse crédito. É de notar
e CEDIC para criar maior liquidez no cumprimento que o nº 2 do artigo
de obrigações. 1º, além de exigir caráter excecional e
fundamentação em manifesto interesse para a
economia nacional, requer a salvaguarda do
princípio da igualdade e das regras da
(2ª aula ± Inês) concorrência nacionais e comunitárias. O que se
quer é que este ato de garantir não seja
assumido como um auxílio proibido da parte do
Regime da dívida pública indireta Estado.
O conceito de dívida pública indireta prende-se com o 1 - A Assembleia da República fixa, na Lei do
facto de o Estado, além de ser devedor primário, poder Orçamento ou em lei especial, o limite máximo das
ainda assumir-se como garante de uma relação de
garantias pessoais a conceder em cada ano pelo Estado e
crédito. Portanto, ele só será, à partida, chamado a
por outras pessoas colectivas de direito público, o qual
intervir no caso de o seu primeiro devedor não cumprir.
não pode ser excedido.
De acordo com a lei 112/97, esta concessão de garantias
pessoais pelo Estado tem caráter excecional (art.º 1º) e é
fundamentada no manifesto interesse da economia 2 - A Direcção-Geral do Tesouro informará
nacional. previamente sobre o cabimento de cada operação de
garantias pessoais no limite máximo fixado para cada
ano, incorrendo em responsabilidade financeira pelo
montante em excesso, se for efectivado, a entidade
responsável pela informação, se esta for omissa ou
errada, ou o autor do acto ou o membro do Governo
Lei 112/97 | ARTIGO 1º
competente, se decidir contra a informação prestada.
(Âmbito de aplicação e princípios gerais)
66
Este art.º 5º, 1. da lei 112/97 deve ser conciliado com o Artigo 7º: há versão fiança e versão aval.
161º h) da CRP, que prevê também esta necessidade de
intervenção da AR.
h) Autorizar o Governo a contrair e a conceder As garantias pessoais serão prestadas quando se trate de
empréstimos e a realizar outras operações de crédito que operações de crédito ou financeiras relativas a
não sejam de dívida flutuante, definindo as respectivas empreendimentos ou projectos de manifesto interesse
condições gerais, e estabelecer o limite máximo dos para a economia nacional.
avales a conceder em cada ano pelo Governo;
«)
67
Lei 112/97 | ARTIGO 9º
(Condições para a autorização)
d) A concessão de garantia se mostre Alínea d): diz-se imprescindível e não necessário ± o Estado deve ser a
imprescindível para a realização da operação de crédito última forma de acesso.
ou financeira, designadamente por inexistência ou
insuficiência de outras garantias.
Atendendo ao o nº 2 do artigo 9º, o legislador procura ainda densificar o tipo de projetos que são de manifesto interesse. As
várias alíneas indicam que o grau de risco pode ser variado. Podemos ter:
Situações com pouca rentabilidade, e por isso com muito risco associado;
Situações de rentabilidade adequada, mas em que a entidade está numa situação transitória e
o risco aumenta por isso.
De acordo com o nº 4 do art.º 9º, se for dada autorização Lei 112/97 | ARTIGO 12º para o
Estado se assumir como garante e o prazo estabelecido não for
(Prazos de utilização e de reembolso)
respeitado, e se o fim for diferente para aquele a que for autorizado,
a garantia caduca.
69
Os créditos garantidos têm um prazo de utilização. De acordo com o artigo 12º, esse prazo não pode ser superior a 7 anos e
deverão ser totalmente reembolsados no prazo máximo de 50 anos.
Os artigos 13º a 18º estabelecem qual é o procedimento a adotar: pedido do investimento, instrução das justificações,
pareceres, despacho de autorização do ministro das finanças com fundamentação clara dos motivos de facto e de direito.
Para que o Estado salvaguarde a sua posição, ele pode dizer que
1 - As entidades a quem tiver sido concedida
vai ser garante do empréstimo para o projeto de interesse nacional,
garantia do Estado enviarão à Direcção-Geral do
mas pedindo uma contragarantia ± artigo 11º.
Tesouro, no prazo de cinco dias a contar dos respectivos
factos, cópia dos documentos comprovativos das
amortizações do capital e do pagamento de juros,
indicando sempre as correspondentes importâncias que
deixam de constituir objecto de garantia do Estado.
70
e da despesa) que, para o caso da dívida pública direta, 4 ³ A inscrição orçamental dos fluxos financeiros decorrentes de
há algumas exceções quanto à compensação orçamental. operações associadas à gestão da carteira de ativos dos fundos
sob administração do Instituto de Gestão dos Fundos de
Capitalização da Segurança Social, I. P., é efetuada de acordo
com as seguintes regras:
71
Se olharmos para o nº 3 alíneas a) a h), sobretudo as
alíneas c), a d) a e) e a f), verificamos que há
1 ³ A atividade financeira do setor das preocupação, e que o Estado dever ter em atenção o
administrações públicas está subordinada ao princípio facto de que a sua assunção de compromissos
(endividamento) deve ter impacto não apenas no
da equidade na distribuição de benefícios e custos entre
imediato, no curto prazo, mas igualmente deve levar em
gerações, de modo a não onerar excessivamente as
atenção uma projeção para o futuro - isto em nome do
gerações futuras, salvaguardando as suas legítimas
contrato intergeracional, que salvaguarda que as
expectativas através de uma distribuição equilibrada dos gerações vindouras também tenham liberdade para
custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual. decidir o financiamento publico.
f) Dos encargos explícitos e implícitos em 5 ³ Sempre que a relação entre a dívida pública
parcerias públicoprivadas, concessões e demais e o PIB a preços de mercado for significativamente
compromissos financeiros de caráter plurianual; inferior a 60 % e os riscos para a sustentabilidade a
longo prazo das finanças públicas forem reduzidos, o
limite para o objetivo de médio prazo pode atingir um
g) Das pensões de velhice, aposentação, invalidez défice estrutural de, no máximo, 1 % do PIB.
ou outras com características similares;
h) Da receita e da despesa fiscal, nomeadamente
aquela que resulte da concessão de benefícios tributários. 6 ³ Enquanto não for atingido o objetivo de
médio prazo, o ajustamento anual do saldo estrutural não
pode ser inferior a 0,5 % do PIB, e a taxa de crescimento
da despesa pública, líquida de medidas extraordinárias,
temporárias ou discricionárias do lado da receita, não
pode ser superior à taxa de referência de médio prazo de
crescimento do PIB potencial, conforme definido no
LEO | ARTIGO 11º Pacto de Estabilidade e Crescimento.
9 ³ Para efeitos do disposto nos números anteriores, o O que resulta destas duas normas? O artigo 25º 1
excedente do crescimento da despesa em relação à referência de estabelece que a dívida publica portuguesa não pode ser
médio prazo não é considerado um incumprimento do valor de superior a 60% do PIB. Tem de ter um valor igual ou
referência na medida em que seja totalmente compensado por inferior a 60% - isto é a regra. Se a dívida for superior a
aumentos de receita impostos por lei. 60% do PIB, o Governo está obrigado a reduzir o
montante da dívida (ativar um procedimento de redução
de dívida). Atendendo ao princípio da sustentabilidade e
sendo que há uma relação entre a sustentabilidade das
10 ³ A intensidade do ajustamento referido nos números finanças e da dívida, o legislador estabelece no artigo 25º
anteriores tem em conta a posição cíclica da economia. um limite quantitativo ao montante da dívida pública.
O défice:
73
Vamos ver as normas da LEO especificamente sobre
dívida pública. Ficámos na análise do 20º, 5. e o do 25º, 1
da LEO (v. supra). CRP | ARTIGO 63º
(Segurança social e solidariedade [Direitos e deveres
O que interessa da leitura cruzada destes artigos é retirar sociais])
regras claras e inequívocas ± há que perceber o que é
dito. Existem:
74
Esta questão da estabilidade e sustentabilidade das
finanças públicas, e da garantia de direitos sociais, é
extraordinariamente difícil de equilibrar. 1 ³ Os excedentes da execução orçamental são usados
preferencialmente na:
75
que o relatório do OE deve conter dados sobre a l) Informação global e individualizada sobre despesas anuais
sustentabilidade da dívida pública. e plurianuais com parcerias público -privadas e sobre a
situação de endividamento global respetiva;
76
o) Demonstração do desempenho orçamental consolidada, preparada de acordo com o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais,
onde se evidenciam os diferentes subsetores do setor das administrações públicas, e se demonstra o cálculo das necessidades ou da
capacidade líquida de financiamento;
3 ³ O relatório a que se refere o número anterior é ainda acompanhado, pelo menos, dos seguintes elementos informativos:
a) Desenvolvimentos orçamentais que individualizem cada um dos programas, desagregados por serviços e entidades,
evidenciando os respetivos custos e fontes de financiamento;
b) Estimativa para o ano em curso e previsão da execução orçamental consolidada do setor das administrações públicas e por
subsetor, na ótica da contabilidade pública e da contabilidade nacional; Diário da República, 1.ª série ³ N.º 178 ³ 11 de
setembro de 2015 7575
c) Memória descritiva das razões que justificam as diferenças entre valores apurados, na ótica da contabilidade pública e da
contabilidade nacional;
e) Situação financeira e patrimonial das entidades que compõem o subsetor da administração central e o subsetor da segurança
social;
77
78
LEO
i) | ARTIGO 41º
Transferências orçamentais para entidades g) A determinação do limite máximo das
não integradas no setor da administração central;
(Conteúdo do articulado) garantias pessoais a conceder pelo Estado e pelos
serviços e entidades do subsetor da administração
central, durante o ano económico;
j)
LEO Benefícios
| ARTIGO 44º tributários, estimativas de receitas LEO | ARTIGO 54º
cessantes,
1(Vinculações sua justificação
³ O articulado da económica
lei edodespesas
Orçamento do Estado e, bem 41º,
e socialcontém, 1. ±
externas obrigatórias) (Unidade
h) deA tesouraria)
determinação do limite máximo dos atenção
assim, a identificação
nomeadamente: de medidas destinadas à cobertura
empréstimos a conceder e de outras operações de crédito montantes
da receita cessante que resulte da criação ou aos
ativas, cujo prazo de reembolso exceda o final do ano máximos
alargamento de quaisquer benefícios fiscais. de económico, a realizar pelo Estado e pelos serviços e
1a)³ A inscrição
As normas necessárias
das despesas para orientar
e das receitas nos mapasa 1
entidades ³ A
do gestãodadaadministração
subsetor tesouraria do Estado e das
central;
execução orçamental,
contabilísticos incluindo as relativas ao destino a
tem em consideração: entidades que integram o subsetor da administração
dar aos fundos resultantes excedentes dos orçamentos i) A determinação
central obedece do unidade
ao princípio da limite de
máximo das
tesouraria,
das entidades do subsetor da administração central e as antecipações
que consiste anaefetuar, nos termos
centralização da legislação
e manutenção dos
respeitantes a eventuais reservas; aplicável;
dinheiros públicos na Tesouraria Central do Estado.
a) As opções de política orçamental contidas no
Programa
de
b) Estabilidade a que se
A aprovação dosrefere
mapaso contabilísticos;
artigo 33.º, tendo em j) A determinação do limite máximo de eventuais
2 ³ Para os efeitos do disposto no número
vista, nomeadamente, assegurar o cumprimento do compromissos a assumir com contratos de prestação de
anterior, o conceito de dinheiros públicos compreende as
objetivo de médio prazo; serviços em regime de financiamento privado ou outra
disponibilidades de caixa ou equivalentes de caixa que
c) A determinação do montante máximo do forma de parceria dos setores público e privado;
estejam à guarda dos referidos serviços e entidades.
acréscimo de endividamento líquido e as demais
b) Os limites
condições gerais de se
a que despesas e as projeções
deve subordinar de
a emissão de
receitas, previstos
dívida pública na Lei pelo
fundada das Grandes
Estado eOpções, a que se e
pelos serviços k) A determinação dos limites máximos do
3 ³ O princípio da unidade de tesouraria
refere o artigo
entidades 34.º; da administração central;
do subsetor endividamento das regiões autónomas, nos termos
concretiza -se através da gestão integrada da Tesouraria
previstos na respetiva lei de financiamento;
Central do Estado e da dívida pública direta do Estado.
c)
d) As obrigações das
A indicação decorrentes
verbas do Tratadoem
inscritas da cada
União
missãoEuropeia.
de base orgânica a título de reserva e as l) A eventual atualização dos valores abaixo dos
4 ³ Entende -se por dívida pública direta do
respetivas regras de gestão; quais os atos, contratos e outros instrumentos geradores
Estado a resultante da contração dede responsabilidades
empréstimos pelo
de despesa ou representativos
Estado, atuando através da Agência de isentos
Gestão da
financeiras diretas ou indiretas ficam de
Tesouraria eprévia da Dívida Pública, de
IGCP, E. P. E. (IGCP,
e) A determinação dos montantes suplementares fiscalização pelo Tribunal Contas;
2 ³ Os mapas contabilísticos devem ainda prever as E. P. E.), bem como a dívida resultante do financiamento
ao acréscimo de endividamento líquido autorizado, nos
dotações necessárias para a realização das seguintes das entidades indicadas no n.º 4 do artigo 2.º que estejam
casos em que se preveja o recurso ao crédito para
despesas obrigatórias: incluídas na administração central.
financiar as despesas com as operações a que se refere a m) O montante global máximo de autorização
alínea c) ou os programas de ação conjuntural; financeira ao Governo para satisfação de encargos com
as prestações a liquidar referentes a contratos de
a) As despesas que resultem de lei ou de contrato; 5
investimento ³ Opúblico
membronodoâmbito
Governoda responsável pela área
Lei de Programação
das finanças pode autorizar,
Militar, sob a forma de locação; a título excecional e
f) A determinação das condições gerais a que se
fundamentadamente, que determinadas entidades, a sua
devem subordinar as operações de gestão da dívida
b) As despesas associadas ao pagamento de encargos solicitação, sejam dispensadas do cumprimento do
pública legalmente previstas;
resultantes de sentenças de quaisquer tribunais; princípio da unidade de tesouraria.
n) As demais medidas que se revelem
indispensáveis à correta gestão financeira dos serviços e
entidades dos subsetores da administração central e da
c) Outras que, como tal, sejam qualificadas pela lei. 6
segurança As entidades
³social no ano dispensadas
económico adoque cumprimento do
respeita a lei
princípio
do Orçamento da unidade de tesouraria ficam obrigadas a
do Estado.
cumprir as normas de gestão de risco de intermediação
aprovadas pelo membro do Governo responsável pela
endividamento que devem ser respeitados. área das finanças, mediante parecer do IGCP, E. P. E.
2 ³ As disposições constantes do articulado da lei do
Orçamento do Estado limitam -se ao estritamente
necessário para a execução da política orçamental e
7
financeira. ³ O incumprimento do princípio da unidade de
tesouraria, bem como das normas de gestão de risco
referidas no número anterior faz incorrer os titulares do
órgão de direção das entidades em causa em
No art.º 44º, 1., c), ao dizer-se que as obrigações responsabilidade financeira. decorrentes
do TUE devem ser consideradas nas despesas e nas receitas, no
fundo, vemos que a decisão da receita e da despesa tem de estar de
acordo com o tal limite quantitativo. 8 ³ Os casos de dispensa previstos no n.º 5 são
objeto de renovação anual expressa, precedida de
parecer do IGCP, E.
Estas últimas normas são mais procedimentais do que de conteúdo.
P. E..
79
1 ³ Competem à Assembleia da República as revisões
LEO | ARTIGO 56º orçamentais que envolvam:
(Execução do orçamento da segurança social)
a) O aumento da despesa total do subsetor da
administração central;
80
1 ³ O Governo disponibiliza à Assembleia da República do Estado, para além das previstas no n.º 1, devendo essas
todos os elementos informativos necessários para a informações ser prestadas em prazo não superior a 60 dias.
habilitar a acompanhar e controlar, de modo efetivo, a
execução do Orçamento do Estado, designadamente
relatórios sobre: 5 ³ A Assembleia da República pode solicitar ao Tribunal de
Contas:
h) Os fluxos financeiros entre Portugal e a União Europeia. Pergunta: temos um conjunto de regras atuais que
procuram promover o controlo / a limitação da dívida
pública, mas o facto é que, apesar deste conjunto de
regras jurídicas que tentam limitar, o verdadeiro impacto é
2 ³ Os elementos informativos a que se referem as complicado, sobretudo porque os níveis de endividamento
público são elevados. Vamos para lá dos 120% do PIB ±
alíneas a) e b) do número anterior são disponibilizados pelo
mais do dobro do limite legal. Face a este valor elevado e
Governo à Assembleia da República mensalmente, e os
à pressão que coloca sobre o OE e sobre a estabilidade
elementos referidos nas restantes alíneas do mesmo número são financeira do Estado, o que fazer?
disponibilizados trimestralmente, devendo, em qualquer caso, o
respetivo envio efetuar -se nos 60 dias seguintes ao período a
que respeitam. Poderíamos adotar uma visão financeirista pura e
GL]HU³QmRTXHURVDEHUGHPDLVQDGDYRXROKDUSDUa R
2( H FRUWDU´ ,VVR VHULD UHGX]LU RV QtYHLV GH proteção
3 ³ O Tribunal de Contas envia à Assembleia da República os social exigidos pelo Estado social de direito e, em 2º
relatórios finais referentes ao exercício das suas competências aspeto, nem conseguir cumprir a amortização completa
de controlo orçamental. do nível de dívida que temos ± mais de 120%. O que
fazer então? $YLDGR³YDPRV aumentar RVLPSRVWRV
´QmRpJDUDQWLGDDWpSRUTXH temos um nível de
fiscalidade muito elevado face aos salários e aos preços
4 ³ A Assembleia da República pode solicitar ao Governo, nos existentes.
termos previstos na Constituição e no Regimento da
Assembleia da República, a prestação de quaisquer
informações suplementares sobre a execução do Orçamento
81
A percentagem de dívida reduz sem haver o
cumprimento associado. Se temos 120%, podemos
passar a dever 100%, se 20% foram perdoados.
7 NOV 2018
Reestruturação da dívida
Há a questão do tipo de credores: do ponto de vista
Conceitos-chave:
do projeto da UE, poderão produzir-se diferentes
pública.
abordagens?
Moeda única
82
Quando se fala em risco sistémico, o que se está a depende apenas da credibilidade. Esta credibilidade
dizer é que não se olha só para o que há dentro, mas é evidenciada por múltiplos indicadores económicos
também para a forma como o bloco da moeda única se e financeiros. Quais são os dois indicadores que,
relaciona com o que está de fora. Há que ter em mente em termos de qualidade e sustentabilidade de
que o valor da moeda e a credibilidade para o bom finanças, assumimos como os mais relevantes?
funcionamento das finanças públicas assentam em dois Dívida e défice. Se tivermos valores elevados de
indicadores-chave: (i) dívida pública e (ii) défice divida e défice, as finanças públicas não são
orçamental. saudáveis ± e, portanto, haverá um desequilíbrio
efetivo no funcionamento do Estado. E quando o
Estado não funciona bem e tem dívida, há
Se a dívida pública coloca em causa obrigações do perturbação. Se o Estado precisa de fazer face a
Estado, então poderá, em cadeia, prejudicar o défice orçamental, precisa de ir buscar um aumento
funcionamento das outras economias. Não foi por de receita através dos impostos. E note-se que os
acaso que a Alemanha começou a desenvolver impostos vêm da economia privada. Com uma
uma rede comercial sem precedentes com a China retirada de verbas à economia privada, há
e que deixou preocupado o próprio projeto europeu; tendencial redução da disponibilidade para o
os alemães visaram separar-se do risco sistémico. investimento e para o consumo. Ora, isto, na lógica
Note-se que o risco sistémico é real, quer em da produção e do mercado de trabalho, provoca
finanças públicas, quer no âmbito dos privados. O uma redução dos níveis de crescimento económico.
próprio mercado de dívida pública não diz
necessariamente respeito a um investidor nacional;
muitas vezes é internacional. A credibilidade tem Assim, precisamos de entender que as finanças publicas
aqui, efetivamente, muito peso. têm de ser saudáveis, não apenas porque sim, mas
porque o facto de uma economia pública não funcionar
corretamente afeta o funcionamento da economia privada
Como é que a parte financeira privada influencia a e afeta os agentes económicos, a competitividade e as
parte financeira pública? Acontece que os bancos, relações laborais. Isto tem consequências em termos de
quando quebraram, tiveram que ser resgatados internacionalização e captação de investimento.
para que os seus clientes ficassem protegidos. Ora,
aqueles bancos que foram resgatados foram-no
com dinheiro do Estado, ou seja, dinheiro público. O Por outro lado, para além do elemento financeiro, há
Estado, se estava em défice orçamenta e não tinha repercussões nas despesas sociais que o estado tem de
receitas a entrar para suprir as despesas, precisava cumprir. Além dos impactos internos, também há
de crédito. O crédito implica aumento da divida impactos externos, designadamente no espaço da UE, e,
pública; e, quando o estado é chamado a intervir especificamente dentro da união económica e monetária,
nos mercados para sustentar quebras/falhas desse no espaço da moeda única. Se toda esta economia falha,
próprio mercado, isso provoca um aumento da as economias com que se partilha a moeda vão sofrer
divida pública. Se os bancos continuarem a ter influencias negativas. A consequência de um transmite-se
necessidade de injeções de capital publico, a dívida ao outro. Se uma das pontes é quebrada, o sistema é
pública aumenta. afetado. Não significa que todas as economias caiam,
mas o nível de desenvolvimento e funcionamento ficam
afetados
Precisamente por causa desta primeira versão, foi
criado um fundo em que participam o Estado e
todos os outros bancos, para que, quando haja O que é que aconteceria se, de repente, Portugal não
necessidade de resgate, o dinheiro não saia apenas cumprisse a divida e quebrasse? Ficaria afetada a
do Estado. Os outros bancos aparecem competitividade do bloco europeu.
solidariamente nas intervenções no setor.
83
isso obter mais lucro, temos que, nesse processo garantir
a credibilidade. Num ponto de vista mundial as economias
competem entre si, e há vários indicadores de
competitividade (se a justiça funciona bem, se há muita
burocracia, se há infraestruturas que deem suporte aos
negócios, qual o nível dos impostos pagos, a qualificação
dos trabalhadores, etc.). Uma forma que de tentar fazer
confronto direto com uma economia da dimensão dos
EUA foi criar um mercado europeu robusto o suficiente.
Temos de perceber quais os elementos que vão ajudar a
que o nosso mercado europeu seja robusto e tido como
credível, de fora e por dentro.
8 NOV 2018
84
OS MAIAS É identificada a importância das receitas ± já lá atrás era
assim. As receitas não são sustentáveis e aumenta; a questão
(Eça de Queirós)
de que o risco sistémico para RXWUDVHFRQRPLDV³QmR
LQWHUHVVDDQLQJXpP´+RMH continuamos com as mesmas
temáticas em cima da mesa. Por assim se vê a complexidade
da questão e o facto de, ao longo dos tempos, não ter a
solução pretendida, o que demonstra o quão difícil é resolvêla.
O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e
Não há um caminho único: pode haver vários, consoante as
respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se
opiniões. E tudo isto tem por detrás uma decisão política que
realizar absolutamente. Os emprestamos em Portugal
orienta a opção por um ou outro caminho.
constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular,
tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única
ocupação mesmo dos ministérios era esta - cobrar o
imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de Estas matérias têm um lado técnico, mas também uma
continuar... Carlos não entendia de finanças: mas dinâmica de cidadania. Não são apenas um conjunto de
parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e regras que ordenam um determinado caminho, mas
lindamente para a banca-rota. Num galopesinho muito igualmente a projeção que isso tem no quotidiano da
seguro e muito a direito, disse o Cohen, sorrindo. Ah, sociedade e na forma como ela reage e as absorve.
sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem
os próprios ministros da fazenda!... A banca-rota é
inevitável: é como quem faz uma soma...
85
Gera-se aqui uma relação jurídica fiscal.
± Girardin
³1HQKXPJRYHUQRSRGHH[LVWLUVHPWULEXWDomR(VWH
dinheiro tem de necessariamente incidir sobre as pessoas.
E a grande arte consiste em fazê-lo incidir
VHPTXHDVRSULPD´
86
³Os impostos, apesar de tudo, são deveres que se têm de E aqui gera-se um problema importante de cidadania
pagar pelos privilégios de pertencer a uma sociedade fiscal: se todos os contribuintes cumprirem o seu dever de
organizada.´ pagar imposto na medida efetiva da sua capacidade
contributiva, o esforço fiscal individual tenderá a diminuir.
Se forem só alguns a cumprir o dever de pagamento do
± Franklin D. Roosevelt imposto, ou se todos cumprirem mas nem todos o fizerem
efetivamente na medida das suas possibilidades, o
Estado continua a precisar da receita e não a obteve na
medida necessária. Terá de sobrecarregar quem cumpre,
gerando um espaço de desigualdade na partilha dos
gastos da sociedade.
Qual a relação entre os impostos e a felicidade humana? Normalmente, o cidadão só faz isto no momento do voto.
Deste cumprimento do dever e do resultado que dele Mas uma verdadeira cidadania leva ao controlo da ação
pode advir há impactos na felicidade das pessoas. pública, não apenas na lógica da discussão do
orçamento, mas também na lógica da conta geral do
Estado. Isto significa maior literacia orçamental por parte
do cidadão, maior consciencialização e maior papel ativo
junto dos poderes públicos. Para RCP, só podemos ter
um verdadeiro direito a intervir e a exigir se cumprirmos
com todas as nossas obrigações contributivas. Se o não
fizermos na medida efetiva da nossa capacidade, não
Os impostos são deveres que se têm de pagar pelo dever
temos qualquer legitimidade para tal. Quem não paga os
de pertencer a uma sociedade organizada.
impostos ou paga menos do que devia pagar, para RCP,
não pode exigir; já quem paga pode e deve exigir.
Se, por um lado, o Estado tem necessidade de cobrar
impostos, também é importante a necessidade que o
contribuinte tem de pagar os seus impostos. É preciso ³$ &RQVWLWXLomR Gi-QRV GLUHLWRV´ WHQGH D VHU D
que haja cumprimento; e a ideia é que, em primeira linha, narrativa; mas, muitas vezes, não se associam os direitos
esse cumprimento seja voluntário. Para isso, o elemento aos deveres. A ida às urnas é vista como um direito;
psicológico deve ser tido em consideração. Além disso, é quem não vota perde o direito de reclamar. Podemos
importante que haja cidadania fiscal ± ou seja, que o resmungar daquilo que o Estado faz, mas devemos
contribuinte tenha a consciência do seu dever de pagar cumprir na medida da nossa capacidade contributiva. Esta
impostos, não apenas porque é uma obrigação legal, mas é a lógica da cidadania fiscal.
igualmente porque para obter a sociedade organizada
como é desejável esses impostos são fundamentais.
Aquilo que os contribuintes podem exigir tem de ser
observado de forma micro. São várias as ferramentas a
ser dinamizadas; isto implica cidadania ativa, que implica
conhecimento. Tem de haver agentes transformadores
que sejam capazes de provocar melhorias no sistema.
87
± Albert Einstein
³You dRQ¶WSD\WD[HV± they take taxes.´ O cidadão que queira compreender a legislação esbarra
neste universo complexo. Isto leva a um desapego do
contribuinteTXHGL]³HXVyTXHURTXH
± Chris Rock DVILQDQoDVPHGLJDPTXDQWRWHQKRGHSDJDU´
88
publicas, e também por necessidades de arrecadação e Também é correto assumir que a relação fiscal será
maior ou menor receita para fazer face à despesa pública, sempre uma relação de / em permanente tensão.
simultaneamente, dotar o sistema fiscal de uma
competitividade internacional. E, por fim, muito
importante, garantir que o cumprimento fiscal ocorra,
tentando combater fenómenos de fraude, evasão e
planeamento fiscal evasivo (fuga aos impostos).
± Richard M. Nixon
± Jean-Baptiste Colbert
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