As Transformações Do Direito de Família Brasileiro À Luz Da CF. Fabíola Lobo
As Transformações Do Direito de Família Brasileiro À Luz Da CF. Fabíola Lobo
As Transformações Do Direito de Família Brasileiro À Luz Da CF. Fabíola Lobo
2019 || 1
TITLE: The Transformations of Brazilian Family Law in the Light of the Federal
Constitution of 1988
1. Introdução
Da simples leitura, do capítulo destinado à família (art. 226 ao 230 da CF/88) resta
evidente sua importância, para o alvorecer deste Direito de Família oxigenado, a
exemplo do reconhecimento da família como base da sociedade, dotada de especial
proteção do Estado, da pluralidade das entidades familiares e da igualdade de direitos
na sociedade conjugal e na filiação.
1KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70,
1997, p.77.
2 FACHIN, Luiz Edson. Parecer do Projeto de Código Civil, 2000, p. 03.
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3 FREITAS, Juarez. O intérprete e o poder de dar vida à constituição. Direito Constitucional. Estudos em
homenagem a Paulo Bonavides, Eros Roberto Grau e Willis Santiago Guerra Filho (orgs.). São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 242
4 LOBO, Paulo. Princípio da solidariedade familiar. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões.
Porto Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM, a. IX, out-nov., 2007, p. 145.
5 LOBO, Paulo. Direito Civil-Famílias. São Paulo: Ed. Saraiva, 2008, p.40.
6 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional. 3 ed. Coimbra: Almedina, 1998, p.1099.
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7MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional, Coimbra: Ed. Coimbra, 1988, p. 170, T. IV.
8 HABERLE, Peter. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constituição:
contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da constituição. Trad. Gilmar Ferreira
Mendes. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1997, p.13-14.
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Como externado alhures, o foco é a análise dos impactos promovidos pela Constituição,
no direito de família, portanto o desenvolvimento das ideias concentrar-se-á na
identificação e na demonstração da aplicação direta e imediata dos princípios
constitucionais às relações existenciais.
ago. 2002.
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Enquanto a segunda exprime a ideia de que a família na atualidade tem uma função
prestante de garantir a realização existencial e o desenvolvimento de cada um dos
integrantes do grupo familiar.
Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM a VI, nº 24, jun-jul, 2004. p. 153.
14 LOBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das famílias. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto
Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM a VI, nº 24, jun-jul, 2004, p. 152.
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Paulo Lobo afirma que, o princípio da liberdade familiar encontra-se presente “na
Constituição brasileira e nas leis atuais em duas vertentes essenciais: liberdade da
entidade familiar, diante do Estado e da sociedade, e liberdade de cada membro diante
dos outros membros e da própria entidade familiar”.17
15 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil -Direito de Família. Tânia da Silva Pereira
(atualizadora). Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2009, p.50.
16 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil -Direito de Família. Tânia da Silva Pereira
A segunda dimensão apontada, pelo autor acima referido, diz respeito à liberdade de
cada membro diante dos outros membros e da própria entidade familiar. E derivados
desta dimensão ressaltamos as seguintes possibilidades:
18 STF (Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4277 ADI. Relator: Ministro Ayres Brito, DJ, 05 maio.
2011.
19 LOBO, Paulo. Entidades familiares contitucionalizadas: para além do numerus clausus. Revista
Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM a.III, nº 12, jan-fev-
mar, 2003. p. 42.
20 STJ (Jurisprudência em Teses - fev., 2016) consolidou a tese da não possibilidade do reconhecimento de
uniões estáveis simultâneas (Jurisprudência em), mas a temática continua em aberto, pois o STF,
reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 529), mas ainda
não houve julgamento pelo plenário.
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d) Em relação aos filhos, o artigo 227 da CF/1988, serviu de base para o Estatuto
da Criança e do Adolescente (art. 4º), cujo conteúdo perpassa pelo reconhecimento da
liberdade de opinião e expressão e da liberdade de participar da vida familiar e
comunitária, sem qualquer tipo de discriminação. Patente que a liberdade proclamada,
oriunda das relações de afeto, entre pais e filhos, é em função da idade e maturidade da
criança, em consonância com a evolução de sua capacidade, pois são pessoas em
desenvolvimento. Neste sentido a liberdade do filho encontra limites nos direitos dos
pais, bem como a liberdade dos pais encontra limites nos direitos dos filhos. É uma
situação relacional, uma via de mão dupla.
21 LOBO, Paulo. Entidades familiares contitucionalizadas: para além do numerus clausus. Revista
Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM a.III, nº 12, jan-fev-
mar, 2003. p. 42.
22 CF/88 art. 226 § 5º
23 STF. Leading Case n° 646721 RE, Relator: Ministro Celso de Mello e Leading Case n° 878694 RE,
Bem se vê que as espécies de filiação referidas, não guardam nenhuma relação com a
consanguinidade, mas todas são tuteladas igualmente pela Constituição. Logo, filhos
são filhos, em igualdade de direitos, independente da origem, se biológica ou
socioafetiva e, também independente de serem provenientes ou não, de entidade
familiar legalmente chancelada pelo Estado.
Tema como abandono afetivo dos filhos, resvalando em responsabilidade civil dos pais,
por ilicitude era inimaginável no direito de família, até pouco tempo atrás. Entretanto,
tal apreensão espraiou-se na doutrina e jurisprudência brasileiras, com o
reconhecimento que o abandono afetivo constitui uma lesão ao direito de
personalidade, por conseguinte ao princípio da dignidade da pessoa humana.
A primeira, ação que chegou ao STJ, sobre a temática do abandono afetivo foi julgada
improcedente. Segundo o relator, não restou configurada a ilicitude no comportamento
do genitor e, ainda que houvesse, não seria matéria afeita à responsabilidade civil, e,
sim às sanções próprias do direito de família, a exemplo da perda do poder familiar, se
fosse o caso.29
[...]
Essa percepção do cuidado como tendo valor jurídico já foi, inclusive,
incorporada em nosso ordenamento jurídico, não com essa expressão,
mas com locuções e termos que manifestam suas diversas
desinências, como se observa do art. 227 da CF⁄88.
Vê-se hoje nas normas constitucionais a máxima amplitude possível
e, em paralelo, a cristalização do entendimento, no âmbito científico,
do que já era empiricamente percebido: o cuidado é fundamental
para a formação do menor e do adolescente; ganha o debate
28 STF Leading Case n° 898060 RE, Relator: Ministro Luiz Fux, DJ, 22 set. 2016.
29 STJ. Recurso Especial n° 757411 / MG, Relator: Ministro Fernando Gonçalves, DJ, 29 nov. 2005.
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30 STJ. Recurso Especial n° 1159242 / SP, Relator: Ministra Nancy Andrighi, DJ, 24 abril. 2012.
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dignidade da pessoa humana, da solidariedade e da autonomia: uma abordagem pela doutrina da proteção
integral. A reconstrução do direito privado. Judith Martins-Costa (Org.) São Paulo: Ed. RT, 2002, p.518.
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37 LOBO, Paulo. Direito Civil-Famílias. São Paulo: Ed. Saraiva ,2008, p. 52.
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38 STF. Tese de Repercussão Geral n° 363889 RE, Relator Ministro Dias Toffoli DJ, 02 jun. 2011.
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39 STF. Leading Case n° 898060 RE, Relator: Ministro Luiz Fux, DJ, 22 set. 2016.
40 STF. Leading Case n° 778889 RE, Relator: Ministro Roberto Barroso, DJ, 10 mar. 2016.
41 STF. Leading Case n° 646721 RE, Relator: Ministro Celso de Mello e Leading Case n° 878694 RE,
6. Conclusão
O modelo de família do século XXI é de uma família real, concreta que enfrenta os
dramas da realidade, os nós e as tensões diuturnas, mas sem perder de vista a ternura,
o cuidado, a afetividade, a dignidade, a ética e a responsabilidade solidária de todos que
compõem o grupo familiar.
7. Referências bibliográficas
civilistica.com
Recebido em: 3.8.2018
Aprovado em:
18.11.2019 (1º parecer)
25.11.2019 (2º parecer)
Como citar: LOBO, Fabíola Albuquerque. As transformações do direito de família brasileiro à luz da
Constituição Federal de 1988. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 8, n. 3, 2019. Disponível em:
<http://civilistica.com/as-transformacoes-do-direito-de-familia/>. Data de acesso.