Riscos Poeiras 2010

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 104

Índice

1. Introdução 5

2. A Atmosfera do Local de Trabalho 8

3. Exposição do Trabalhador 11

4. Perigo, Risco e Danos provocados pelas Poeiras 12

5. Requisitos Legais para Avaliação dos Riscos e Protecção


dos Trabalhadores 16

6. Poeiras 18
6.1 Chumbo 18
6.2 Amianto 22
6.3 Sílica 26
6.4 Carvão 30
6.5 Óxido de Ferro, Sulfato de Bário e Óxido de Estanho 34

7. Medidas Gerais de Prevenção 36

8. Medidas Específicas de Prevenção e Protecção 39

9. Medição da Concentração dos Agentes Químicos no


Local de Trabalho 47

10. Valores Limite de Exposição 49

11. Protecção da Segurança e da Saúde dos Trabalhadores 52


11.1 Boas Práticas 52
11.2 Vigilância da Saúde dos Trabalhadores 52
11.3 Comunicações e Notificações Obrigatórias 55
11.4 Plano de Emergência Interno 57
11.5 Cessação da Actividade da Empresa 57
11.6 Informação e Formação dos Trabalhadores 58

Anexo A: Decreto-Lei nº 274 / 89 de 21 de Agosto 61

Anexo B: Decreto-Lei nº 266 / 07 de 24 de Julho 79

Anexo C: Boas Práticas para a Minimização do Risco


Associado à Exposição a Poeiras no Local de
Trabalho 99

Anexo D: Alerta - Explosões Provocadas por Poeiras


Combustíveis 103

Risco de exposição às poeiras 


1. Introdução

Nos locais de trabalho, os riscos profissionais são inerentes ao ambien-


te ou ao processo operacional das diferentes actividades. Estes reflec-
tem as condições inseguras do trabalho, capazes de afectar a saúde, a
segurança e o bem-estar do trabalhador.

As condições inseguras relativas ao pro-


cesso operacional (por exemplo, pisos
molhados ou escorregadios, degradação
do equipamento, utilização de material /
equipamento frágil, etc.) são designadas
por riscos de operação.

As condições inseguras relativas ao ambiente de trabalho (por exem-


plo: presença de substância / preparação perigosa / restrita, presença
de ambiente térmico inadequado, presença de ruído, etc.) são chama-
das riscos de ambiente.

Os agentes agressivos do ambiente que


podem afectar a saúde dos trabalhadores
são de 4 tipos: químicos (poeiras, fibras,
fumos, neblinas, aerossóis, gases e vapo-
res), físicos (ruído, vibrações, ambiente
térmico, radiações ionizantes e não ioni-
zantes, pressões anormais), biológicos
(vírus, bactérias, fungos, etc.) e ergonó-
micos (relacionados com factores fisioló-
gicos e psicológicos inerentes à execução
das actividades profissionais).

Risco de exposição às poeiras 


No âmbito do tema, dar-se-á especial atenção ao risco associado à
presença de poeiras no ambiente dos locais de trabalho.

Todos os anos aparecem na indústria novos produtos e processos, sen-


do que alguns deles levam ao aparecimento de doenças de carácter
respiratório provocadas pela libertação de poeiras, fibras ou fumos nos
locais de trabalho. É por isso muito importante que os trabalhadores
estejam atentos aos tipos de produtos que manuseiam.

O manuseamento simultâneo de vários produtos, leva a que por vezes


seja difícil fazer uma correcta caracterização do ambiente do local de
trabalho e consequentemente determinar o tipo de medidas a imple-
mentar, de forma a fazer uma prevenção eficaz. Note-se que a presen-
ça de vários poluentes atmosféricos poderá potenciar o aparecimento
dos sintomas associados às várias patologias.

Só a implementação de medidas de prevenção adequadas e a vigilân-


cia da saúde dos trabalhadores poderá contribuir para o decréscimo
das doenças associadas à inalação de partículas.


Pretende-se com este trabalho:

• P
 roporcionar aos trabalhadores, nomeadamente aos seus re-
presentantes eleitos para a área da segurança, higiene e saúde
no trabalho, um conjunto de informação técnica tendo como
objectivo a minimização do risco ligado à presença de poeiras
nos locais de trabalho;

• D
 ar a conhecer o quadro legal que visa a protecção dos traba-
lhadores expostos a este tipo de risco, e nesse sentido a forma
e os meios necessários para o cumprimento das obrigações le-
gais por parte da entidade patronal;

• I nserir informação e orientações direccionadas a procedimentos


adequados, que visem a forma activa de participação dos traba-
lhadores e dos seus representantes nas medidas de prevenção
nesta matéria.

Importa ainda referir que, de acordo com a legislação em vigor, todas


as empresas do sector estão obrigadas a:

• I dentificar, avaliar e controlar o risco de exposição às poeiras,


recorrendo a técnicos de higiene e segurança qualificados para
esse efeito;

• R
 econhecer os problemas para a saúde dos trabalhadores re-
sultantes da exposição às poeiras e em conformidade, criar as
condições necessárias para que os serviços médicos do trabalho
prestem a adequada vigilância e protecção aos trabalhadores
expostos;

• P
 restar aos trabalhadores e seus representantes as informa-
ções necessárias relativas ao risco de exposição às poeiras,
bem como respeitar o seu direito de proposta e participação
nas medidas de prevenção.

Risco de exposição às poeiras 


No que respeita a deveres, aos trabalhadores que estão expostos às
poeiras cabe-lhes:

• T
 omar conhecimento da informação prestada pela entidade pa-
tronal relativa às medidas de prevenção, bem como receber
formação adequada;

• P
 articipar nas medidas de prevenção, utilizando adequadamen-
te os equipamentos e materiais de segurança, incluindo o uso
correcto do equipamento de protecção individual;

• C
 omparecer às consultas e exames médicos realizados pela
medicina do trabalho.

2. A Atmosfera do Local de Trabalho

A composição volumétrica do ar puro é a seguinte:

- Azoto (78,08 %);


- Oxigénio (20,94 %);
- Árgon (0,93 %);
- Dióxido de carbono (0,03 %);
- Hidrogénio (0,00005 %);
- Gases raros, excepto árgon (vestígios).


Composição volumétrica do ar.

O vapor de água é também um constituinte do ar, sendo variável a sua


proporção. A atmosfera de alguns locais de trabalho contém outras
substâncias susceptíveis de modificar, mais ou menos profundamente,
as suas propriedades. A poluição pode também resultar de uma altera-
ção quantitativa na composição do ar. Diz-se, portanto, que o ar está
poluído ou contaminado quando contém substâncias estranhas à sua
composição normal, ou mesmo quando normal no aspecto qualitativo
mas possuindo alterações quantitativas, pela presença de uma ou vá-
rias substâncias em concentrações superiores às habituais.

No local de trabalho, os agentes químicos podem existir em suspensão


na atmosfera:

a) No estado sólido, sob a forma de:

• P
 oeiras – suspensão no ar de partículas esferoidais de peque-
no tamanho, formadas durante o manuseamento de certos ma-
teriais e por processos mecânicos de desintegração;

• Fibras – partículas aciculares provenientes de degradação me-


cânica, cujo comprimento excede em mais de 3 vezes o seu
diâmetro;

Risco de exposição às poeiras 


• F
 umos – suspensão no ar de partículas esféricas provenientes
de uma combustão incompleta (smoke) ou resultante da subli-
mação de vapores, geralmente depois da volatilização a eleva-
das temperaturas de metais fundidos (fumes).

b) No estado líquido, sob a forma de:

• A
 erossóis (mist) – suspensão no ar de
gotículas cujo tamanho não é visível à vis-
ta desarmada e provenientes da dispersão
mecânica de líquidos;

• Neblinas (fog) – suspensão no ar de go-


tículas líquidas visíveis e produzidas por
condensação de vapor.

c) No estado gasoso, sob a forma de:

• Gases – estado físico de certas substâncias a 25 ºC e 760 mm


Hg;

• V
 apores – fase gasosa de substâncias que nas condições – pa-
drão (25 ºC e 760 mm Hg) se encontram no estado sólido ou
líquido.

Ao longo do texto recorre-se à utilização do termo poeira para designar


qualquer partícula sólida em suspensão, independentemente da sua
forma ou processo do qual é resultante.

Apesar da diferenciação apresentada anteriormente, é frequente dar o


nome genérico de pó a todas as partículas sólidas em suspensão.

10
3. Exposição do Trabalhador

São várias as vias pelas quais o trabalhador pode ser contaminado pe-
las poeiras, isto é, a entrada no organismo pode ocorrer:

• P or inalação (via respiratória);


• Por ingestão (via digestiva);
• Em contacto com a pele (via cutânea).

A maioria das poeiras penetra no organismo humano através das vias


respiratórias. A inalação é de longe a forma mais importante de in-
teracção com o funcionamento do organismo humano. Nos locais de
trabalho, as 3 formas de contaminação estão intimamente associadas
e na maioria dos casos ocorrem simultaneamente, embora com graus
de extensão diferentes, consoante a natureza da poeira e da actividade
desenvolvida.

Algumas das variáveis que condicionam a forma como um trabalhador


está exposto às poeiras são:

• Vias de penetração;

Risco de exposição às poeiras 11


• L
 ocal de exposição (uma exposição a poeiras num local arejado
pode ser inofensiva, mas grave num local fechado);

• F
 requência (respirar durante um ou dois dias pó de cimento
provoca dificuldades respiratórias; mês após mês, ano após
ano, pode levar ao aparecimento de edema pulmonar ainda que
as concentrações no ar sejam muito baixas);

• Quantidade de poeira em contacto com o organismo;

• Toxicidade da poeira.

Note-se que a susceptibilidade individual é um factor crucial para a


menor ou maior probabilidade de se virem a desenvolver certas doen-
ças ocupacionais.

4. Perigo, Risco e Danos provocados pelas Poeiras

Quase todos os agentes químicos são nefastos e por isso é essencial


que os trabalhadores adoptem métodos de trabalho seguros durante
a sua manipulação, em especial se existir a possibilidade de libertação
de poeiras.

12
O ponto de partida para a redução dos riscos para a saúde nos locais de
trabalho é efectuar o diagnóstico das condições reais de trabalho.

Cabe à entidade patronal a reali-


zação de avaliações de riscos. É
imprescindível a sua realização
pois só assim será possível fazer
uma gestão adequada dos mes-
mos.

O trabalhador que identifique o


risco a que está exposto duran-
te a sua actividade profissional
poderá adquirir práticas de tra-
balho seguras. Assim está apto
a aplicar as regras, trabalha de
forma mais eficaz e promove um
ambiente de trabalho saudável e
seguro.

O perigo define-se como a fonte ou situação com potencial para o


dano, em termos de lesões ou ferimentos, danos para a saúde, danos
para o património, danos para o ambiente do local de trabalho, ou uma
combinação destes.

Num local de trabalho cuja atmosfera se apresente poluída, o perigo


deve-se precisamente à presença de poeiras em suspensão no ar.

Como risco entende-se a combinação da probabilidade e da(s)


consequência(s) da ocorrência de um determinado acontecimento pe-
rigoso.

O trabalhador está perante o risco, se no decurso da sua actividade


laboral se encontra exposto a essas poeiras, as quais apresentam por
vezes algum grau de nocividade.

Risco de exposição às poeiras 13


Algumas das doenças de origem ocupacional devem-se à inalação de
partículas no estado sólido, existentes em suspensão na atmosfera dos
locais de trabalho. O local exacto das vias aéreas ou dos pulmões aon-
de chega a substância inalada e o tipo de doença pulmonar que de-
sencadeia dependem do tamanho e do tipo das partículas. As maiores
podem ficar retidas no nariz ou nas vias aéreas superiores, mas as
mais pequenas atingem os pulmões. Uma vez ali, algumas partículas
dissolvem-se e podem passar para a corrente sanguínea; as defesas do
corpo eliminam as que não se dissolvem.

O organismo tem vários mecanis-


mos para eliminar as partículas
aspiradas. Nas vias respiratórias,
o muco cobre as partículas de
modo que seja fácil expulsá-las
através da tosse. Nos pulmões,
existem células purificadoras es-
peciais que “engolem” a maioria
das partículas e as tornam inofen-
sivas.

A asma profissional é um espasmo reversível das vias aéreas pulmona-


res, causado pela aspiração, no local de trabalho, de partículas ou de
vapores que actuam como irritantes ou causam uma reacção alérgica.

Muitas substâncias podem provocar espasmos das vias aéreas, o que


dificulta a respiração. Alguns indivíduos são particularmente sensíveis
aos agentes irritantes que se encontram no ar.

A asma profissional pode causar dispneia, opressão no peito, respira-


ção sibilante, tosse, rinorreia e lacrimejo. Nalguns casos, a respiração
sibilante é o único sintoma. Os sintomas podem-se verificar durante a
jornada de trabalho, mas, muitas vezes, começam algumas horas de-
pois de ela ter terminado. Além disso, os sintomas podem aparecer e
desaparecer durante uma semana ou mais depois da exposição.

14
Deste modo é difícil estabelecer a relação entre o local de trabalho e
os sintomas.

A situação agrava-se com a exposição repetida aos agentes irritantes.

Para estabelecer o diagnóstico, o médico pode solicitar ao trabalhador


que lhe descreva os sintomas e o tipo de exposição à substância que
causa a asma. Às vezes, a reacção alérgica pode ser detectada por
uma prova cutânea ou por um teste de provocação por inalação.

Deverão existir medidas de controlo de poeiras e de vapores, nas in-


dústrias que utilizam substâncias que podem causar asma; no entanto,
pode ser impossível eliminá-las totalmente.

Segundo o tipo de dano que ocasionam, podem-se distinguir:

a) Poeiras inertes

• N
 ão produzem alterações fisiológicas significativas, embora
possam ficar retidas nos pulmões; somente apresentam pro-
blemas em concentrações muito elevadas; ex.: celulose, alguns
carbonatos.

b) Poeiras fibrogénicas ou pneumoconióticas

• S
 ão poeiras susceptíveis de provocar reacções químicas ao ní-
vel dos alvéolos pulmonares, dando origem a doenças graves
(pneumoconioses); ex.: sílica (silicose), amianto (asbestose).

c) Poeiras sensibilizantes

• P
 odem actuar sobre a pele (sensibilizantes por penetração cutâ-
nea) ou sobre o aparelho respiratório (sensibilizantes por inala-
ção); ex.: madeiras tropicais, resinas.

d) Poeiras tóxicas (sistémicas)

• P
 odem causar lesões em um ou mais órgãos viscerais, de uma
forma rápida e em concentrações elevadas (intoxicações agu-
das) ou lentamente e em concentrações relativamente baixas
(intoxicações crónicas); a maioria das poeiras metálicas é tóxi-
ca; ex.: poeiras de chumbo, cádmio, manganês, berílio, crómio,
etc.; podem ainda originar cancro e alterações no sistema ner-
voso central.

Risco de exposição às poeiras 15


5. Requisitos Legais para Avaliação dos Riscos e Protecção dos
Trabalhadores

O Decreto-Lei nº 290 / 2001 de 16 de Novembro tem como objecto a


protecção da segurança e da saúde dos trabalhadores contra os riscos
ligados à exposição a agentes químicos no local de trabalho e apresen-
ta os valores limite de exposição profissional a algumas substâncias
químicas.

A entidade patronal deve verificar a existência de agentes químicos


perigosos nos locais de trabalho. Se a verificação revelar a presença
desses agentes, a entidade patronal deve avaliar os riscos para a se-
gurança e saúde dos trabalhadores. Se os resultados da avaliação de
risco revelarem risco, a entidade patronal terá que:

• Implementar medidas específicas de prevenção e protecção;

• P
 roceder à medição da concentração dos agentes químicos no
local de trabalho;

• D
 ispor de um plano de acção a aplicar em situação de incidente,
acidente ou emergência;

• A
 ssegurar a informação
e a formação dos traba-
lhadores e dos seus re-
presentantes para a se-
gurança, higiene e saúde
no trabalho, sobre as
precauções e medidas
adequadas para se pro-
tegerem;

• A
 ssegurar a vigilância da
saúde dos trabalhado-
res.

16
Neste âmbito faz-se também referência ao Decreto-Lei nº 479 / 85 de
13 de Novembro, que fixa as substâncias, os agentes e os processos
industriais que comportam risco cancerígeno, efectivo ou potencial,
para os trabalhadores profissionalmente expostos e ao Decreto-Lei nº
301 / 2000 de 18 de Novembro, relativo à protecção dos trabalhadores
contra os riscos ligados à exposição a agentes cancerígenos ou muta-
génicos.

As doenças profissionais estão devidamente caracterizadas no Decreto


Regulamentar nº 76 / 2007 de 17 de Julho, no qual é republicado o
Decreto Regulamentar nº 6 / 2001 de 5 de Maio, com a sua redacção
actual e do qual faz parte integrante. Nele apresenta-se a actual lista
das doenças profissionais e o respectivo índice codificado.

No que se refere aos valores limite de exposição dos trabalhadores,


poderão ser consultados:

• O
 Decreto-Lei nº 305 / 2007 de 24 de Agosto, que estabelece
a segunda lista de valores limite de exposição profissional indi-
cativos, que altera o anexo do Decreto-Lei nº 290 / 2001 de 16
de Novembro;

Risco de exposição às poeiras 17


• A
 Norma Portuguesa NP 1796: Segurança e Saúde do Trabalho
– Valores limite de exposição profissional a agentes químicos,
que se destina a fixar os valores limite de exposição a agentes
químicos, aplicando-se a todos os locais de trabalho onde se
verifique essa exposição.

6. Poeiras

Como se constatou, diferentes tipos de partículas produzem diferentes


acções no organismo. As partículas como o pó de carvão, o carvão e
o óxido de estanho não produzem demasiada reacção nos pulmões.
Outras, como o pó de quartzo e de amianto podem causar cicatrizes
permanentes no tecido pulmonar. Em quantidades significativas, certas
partículas como o amianto, podem causar cancro nos fumadores.

Atendendo a que no sector existem muitas actividades em que o tra-


balhador pode estar exposto a partículas no estado sólido (poeiras,
fibras e fumos), será importante caracterizar algumas delas, indicando
a legislação aplicável e as boas práticas a seguir para minimizar as
consequências daí decorrentes.

6.1 Chumbo

O chumbo existe na crosta terrestre em pequenas quantidades; os


minérios de chumbo mais importantes são a galena (PbS), a anglesite
(PbSO4) e a cerussite (PbCO3), com 86 %, 68 % e 77 % de chumbo,
respectivamente.

É um dos metais mais utilizados na indústria: a principal aplicação do


chumbo e do seu óxido (PbO) é no fabrico de baterias eléctricas para
veículos automóveis.

As ligas de chumbo são muito diversas e muito usadas na indústria:


a adição de uma pequena percentagem de arsénio ou antimónio ao
chumbo, aumenta a sua dureza e resistência mecânica, protegendo-o
do desgaste; as ligas de estanho-chumbo são utilizadas no revesti-
mento de certos cabos eléctricos.

18
A solda é uma liga de chumbo com estanho, em proporções variáveis
de acordo com o ponto de fusão pretendido (a adição de bismuto, cád-
mio ou mercúrio, também pode alterar o ponto de fusão da solda).

As doenças profissionais decorrentes da exposição ao chumbo estão


devidamente caracterizadas no Decreto Regulamentar nº 76 / 2007 de
17 de Julho.

(a) Só se consideram abrangidas as doenças que se manifestam em


trabalhadores que se encontrem expostos aos riscos.

Excerto do DR nº 76 / 2007 - Chumbo.

A exposição ao chumbo ocorre principalmente por inalação (de poeiras


e fumos), nos trabalhadores ocupacionalmente expostos.

A deposição, retenção e absorção de partículas de chumbo no trato


respiratório depende de factores tais como:

•  amanho da partícula;
T
• Densidade;
• Solubilidade;
• Ritmo respiratório;
• Duração da exposição;
• Concentração na atmosfera;
• Susceptibilidade do trabalhador.

Risco de exposição às poeiras 19


É pela via respiratória que o risco se torna maior, dado que possibilita
a absorção para o sangue de 35 a 50 % do chumbo inalado. Pela via
digestiva, apenas 10 % de chumbo ingerido passa para o sangue, o
que pode facilmente acontecer se se fumar, beber ou comer no local
de trabalho.

Como sintomas de intoxicação pelo chumbo pode-se referir:

• F
 adiga e diminuição da capa-
cidade física;

• Alterações do sono;

• Dores nos músculos;

• “ Cólica saturnina” com dores


abdominais, náuseas e vómi-
tos.

Segundo a IARC, International Agency for Research on Cancer, os com-


postos inorgânicos de chumbo são provavelmente carcinogénicos para
o Homem; os compostos orgânicos de chumbo não são classificados
como carcinogénicos para o Homem.

Na Norma Portuguesa 1796, apresentam-se os valores limite de expo-


sição adoptados para as substâncias:

• Arsenato de chumbo, expresso em Pb3(AsO4)2;

• C
 humbo elementar e compostos inorgânicos, expressos em
Pb;

• Cromato de chumbo, expresso em Pb e expresso em Cr;

• Tetraetil de chumbo, expresso em Pb;

• Tetrametil de chumbo, expresso em Pb.

20
A utilização de chumbo está abrangida por legislação nacional especí-
fica, nomeadamente:

• D
 ecreto-Lei nº 274 / 89 de 21 de Agosto, relativo à protecção
dos trabalhadores contra os riscos resultantes da exposição ao
chumbo e aos seus compostos iónicos nos locais de trabalho,
com as alterações introduzidas no Artº 22º, pela Lei nº 113
/ 99 de 3 de Agosto (Desenvolve e concretiza o regime geral
das contra-ordenações laborais, através da tipificação e classi-
ficação das contra-ordenações correspondentes à violação da
legislação específica de segurança e saúde no trabalho em cer-
tos sectores de actividades ou a determinados riscos profissio-
nais);

• L
 ei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, que regulamenta a Lei
nº 7 / 2009 de 12 de Fevereiro, que aprovou o novo Código do
Trabalho.

No Anexo A apresenta-se o Decreto-Lei nº 274 / 89, que poderá ser


consultado pelos trabalhadores, uma vez que nele é disponibilizada
informação relativa às medidas gerais de prevenção, à avaliação das
exposições, à determinação da concentração de chumbo no ar, às ul-
trapassagens do nível de acção, do valor limite de concentração e do
valor limite biológico, à vigilância médica, às medidas de higiene, à
protecção individual e à informação dos trabalhadores, entre outras.

Risco de exposição às poeiras 21


6.2 Amianto

O amianto é a forma fibrosa de diversos


minerais naturais. As principais formas de
amianto são:

• C risótilo (amianto branco);


• Crocidolite (amianto azul);
• Amianto grunerite (amosite, amianto
castanho).

Embora sejam conhecidas pela cor, não é


possível identificá-las com segurança exclu-
sivamente com base na cor, pelo que são ne-
cessárias análises laboratoriais.

Todas as variedades de amianto são agentes cancerígenos: sabe-se que


provocam cancro no Homem. A exposição a qualquer tipo de amianto
deve ser reduzida ao mínimo e, em qualquer dos casos, para valores
inferiores aos valores limite.

O amianto foi incorporado numa vasta gama de produtos.

Agora que a produção de produtos ou materiais que contêm amianto


cessou na União Europeia, subsiste o risco de exposição ao amianto
proveniente de materiais e produtos que ainda se encontram em edifí-
cios, instalações fabris e equipamentos.

22
O amianto é perigoso ao dispersar-se no ar sob a forma de fibras mui-
to pequenas que são invisíveis a olho nu. A inalação dessas fibras de
amianto pode provocar doenças.

As doenças profissionais decorrentes da exposição ao amianto estão


devidamente caracterizadas no Decreto Regulamentar nº 76 / 2007 de
17 de Julho.

Excerto do DR nº 76 / 2007 - Amianto.

A asbestose é uma formação extensa de tecido cicatricial nos pulmões,


causada pela aspiração do pó de amianto.

Quando se inala, as fibras de


amianto fixam-se profundamente
nos pulmões, causando cicatrizes.

A inalação de amianto pode tam-


bém produzir o espessamento dos
dois folhetos da membrana que re-
veste os pulmões (a pleura).

Risco de exposição às poeiras 23


Os indivíduos que trabalham com o amianto correm o risco de so-
frer doenças pulmonares. Os operários que trabalham na demolição de
construções com isolamento de amianto também correm risco, embora
menor. Quanto mais tempo um indivíduo estiver exposto às fibras de
amianto, maior é o risco de contrair uma doença com ele relacionada.

Os sintomas da asbestose aparecem gradualmente só depois da for-


mação de muitas cicatrizes e quando os pulmões perdem a sua elasti-
cidade. Os primeiros sintomas são a dispneia ligeira e a diminuição da
capacidade para o exercício.

Por vezes a inalação de fibras de amianto pode fazer com que se acu-
mule líquido no espaço que se encontra entre as camadas pleurais
(cavidade pleural).

Os mesoteliomas causados pelo amianto são um tipo de cancro que


não se consegue curar. Desenvolvem-se, de modo geral, ao fim de 30
ou 40 anos de exposição ao amianto.

O cancro do pulmão está relacionado, em parte, com o grau de expo-


sição às fibras de amianto; no entanto, entre os indivíduos que sofrem
de asbestose, o cancro do pulmão desenvolve-se quase exclusivamen-
te naqueles que também fumam.

Ao inalar fibras de amianto não se tem consciência imediata do seu


efeito nocivo.

Nos indivíduos com antecedentes de exposição ao amianto, o médico


poderá diagnosticar asbestose com uma radiografia ao tórax que mos-
tre alterações características. Para determinar se um tumor pleural é
canceroso, o médico poderá efectuar uma biopsia.

As doenças causadas pela inalação de amianto podem prevenir-se, di-


minuindo ao máximo o pó e as fibras de amianto no local de trabalho.

24
Actualmente o número de indivíduos que sofrem de asbestose é me-
nor, mas os mesoteliomas continuam a aparecer em indivíduos que
estiveram expostos até há 40 anos. Os fumadores que estiveram em
contacto com o amianto podem reduzir o risco de cancro deixando de
fumar.

A maioria dos tratamentos para a asbestose alivia os sintomas. Drenar


o líquido à volta dos pulmões também pode facilitar a respiração. Os
mesoteliomas são invariavelmente mortais.

Na Norma Portuguesa 1796, apresentam-se os valores limite de expo-


sição adoptados para a substância:

• Amianto, todas as formas.

A utilização desta substância está abrangida por legislação nacional


específica, nomeadamente:

• D
 ecreto-Lei nº 479 / 85 de 13 de Novembro, que fixa as subs-
tâncias, os agentes e os processos industriais que comportam
risco cancerígeno, efectivo ou potencial, para os trabalhadores
profissionalmente expostos;

• D
 ecreto-Lei nº 301 / 2000 de 18 de Novembro, relativo à pro-
tecção dos trabalhadores contra os riscos ligados à exposição a
agentes cancerígenos ou mutagénicos;

• L
 ei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, que regulamenta a Lei
nº 7 / 2009 de 12 de Fevereiro, que aprovou o novo Código do
Trabalho.

• D
 ecreto-Lei nº 266 / 2007 de 24 de Julho, relativo à protecção
sanitária dos trabalhadores contra os riscos de exposição ao
amianto durante o trabalho.

Risco de exposição às poeiras 25


O “Guia de boas práticas para pre-
venir ou minimizar os riscos decor-
rentes do amianto em trabalhos
que envolvam (ou possam envol-
ver) amianto, destinado a entida-
des patronais, trabalhadores e ins-
pectores do trabalho” (Guia de boas
práticas não vinculativo), elaborado no
âmbito da campanha contra o amianto
lançada em 2006 em toda a Europa,
publicado pelo Comité de Altos Res-
ponsáveis da Inspecção do Trabalho
(CARIT), fornece muita informação,
nomeadamente os aspectos práticos da
prevenção, cobrindo uma ampla gama
de trabalhos que envolvem ou são sus-
ceptíveis de envolver o amianto.

No Anexo B apresenta-se o Decreto-Lei nº 266 / 2007, que poderá ser


consultado pelos trabalhadores, uma vez que nele é disponibilizada
informação relativa às medidas a tomar para a redução da exposição,
à avaliação dos riscos, à determinação da concentração de amianto
no ar, à ultrapassagem do valor limite de exposição, à vigilância da
saúde, às medidas gerais de higiene, aos equipamentos de protecção
individual e à formação, informação e consulta dos trabalhadores, en-
tre outras.

6.3 Sílica

Sílica é o nome comum dado ao com-


posto químico dióxido de sílicio (SiO2), o
qual pode ocorrer na forma cristalina ou
amorfa (não cristalina). A sílica cristali-
na pode-se encontrar em mais do que
uma forma: por exemplo, a-quartzo, tri-
dimite e cristobalite.

26
Na natureza, o a-quartzo é o mais comum; é componente de solos e
rochas; consequentemente os trabalhadores poderão estar expostos
a poeiras de quartzo em muitas actividades e indústrias. A tridimite
e a cristobalite encontram-se em rochas e solos e são produzidas em
algumas operações industriais, quando se aquece a-quartzo ou sílica
amorfa (por exemplo, em processos de fundição e produção de tijolos
e cerâmica). A queima de resíduos agrícolas também poderá levar à
transformação de sílica amorfa em cristobalite.

As 3 formas de sílica cristalina apresentadas (a-quartzo, tridimite


e cristobalite) são as que poderão apresentar tamanho de partícula
respirável quando os trabalhadores manuseiam ou desintegram me-
canicamente objectos que as contenham. É frequente denominá-las
de sílica livre (ou sílica não combinada) para as distinguir das formas
combinadas (silicatos).

As doenças profissionais decorrentes da exposição à sílica estão devi-


damente caracterizadas no Decreto Regulamentar nº 76 / 2007 de 17
de Julho.

Excerto do DR nº 76 / 2007 - Sílica.

A silicose é a formação permanente de tecido cicatricial nos pulmões,


causada pela inalação de pó de sílica.

Risco de exposição às poeiras 27


É a doença profissional mais antiga que se conhece, desenvolve-se em
indivíduos que inalaram pó de sílica durante muitos anos.
O pó de sílica (a-quartzo) é o elemento principal que constitui a areia,
sendo por isso frequente a exposição entre os mineiros do metal, os
cortadores de arenito e de granito, os operários das fundições e os
oleiros.

Os sintomas aparecem geralmente, após 20 ou 30 anos de exposição


às poeiras. No entanto, nos trabalhos em que se utilizam jactos de
areia, na construção de túneis e no fabrico de sabões abrasivos que
requerem quantidades elevadas de pó de sílica, os sintomas podem
surgir em menos de 10 anos.

Quando se inalam, as poeiras de sílica entram nos pulmões e as cé-


lulas purificadoras, como os macrófagos, “engolem-nas”. Os enzimas
libertados pelas células purificadoras causam a formação de tecido ci-
catricial nos pulmões. No princípio, as zonas cicatrizadas são pequenas
protuberâncias redondas, mas ao fim de algum tempo, reúnem-se em
grandes massas. Estas áreas cicatrizadas não permitem a passagem
do oxigénio para o sangue como habitualmente. Assim, os pulmões
perdem elasticidade e é necessário mais esforço para respirar. O pul-
mão lesado submete o coração a um esforço excessivo e pode causar
insuficiência cardíaca, a qual por sua vez, pode evoluir para a morte.

28
Além disso, os indivíduos com silicose expostos ao microrganismo cau-
sador da tuberculose são mais propensos a desenvolvê-la do que aque-
les que não estão afectados pela silicose.

A silicose diagnostica-se com uma radiografia ao tórax que mostra o


padrão típico de cicatrizes e nódulos. O controlo da produção do pó no
local de trabalho pode ajudar a prevenir a silicose.

Os factores que determinam a maior ou menor probabilidade de um


trabalhador desenvolver silicose são, entre outros:

• A
 concentração atmosférica da fracção respirável de poeira e o
seu teor em sílica;

• A duração da exposição;

• A susceptibilidade individual.

Os trabalhadores expostos ao pó da sílica devem fazer radiografias ao


tórax com regularidade, de modo a que seja possível detectar qualquer
anomalia o mais cedo possível. Se a radiografia revelar silicose, o mé-
dico poderá aconselhar o trabalhador a evitar a exposição permanente
à sílica.

A silicose é incurável. No entanto, pode


deter-se a evolução da doença, inter-
rompendo a exposição à sílica desde os
primeiros sintomas. Um indivíduo com
dificuldade em respirar pode sentir alí-
vio com o tratamento utilizado para a
doença pulmonar crónica obstrutiva,
como são os medicamentos que dilatam
os brônquios e expelem as secreções
das vias aéreas.

Risco de exposição às poeiras 29


Dado que os indivíduos que sofrem de silicose têm um elevado risco
de contrair tuberculose, devem submeter-se periodicamente a exames
médicos.

Na Norma Portuguesa 1796, apresentam-se os valores limite de expo-


sição adoptados para as substâncias:

 ílica, cristalina - a-quartzo;


• S
• Sílica, cristalina - cristobalite.

A utilização de sílica está abrangida por legislação nacional específica,


nomeadamente:

• D
 ecreto-Lei nº 162 / 90 de 22 de Maio (Regulamento Geral de
Segurança e Higiene no Trabalho nas Minas e Pedreiras);

• L
 ei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, que regulamenta a Lei
nº 7 / 2009 de 12 de Fevereiro, que aprovou o novo Código do
Trabalho.

6.4 Carvão

Designa-se por carvão, o sedimento


fóssil, orgânico, sólido, combustível,
negro, formado de restos de vege-
tais (geralmente ao abrigo do ar e
sob a acção da pressão e da tem-
peratura) e solidificado por baixo de
camadas geológicas.

Designação Características

Segundo a classificação internacio-


nal: conjunto dos carvões com ele-
Carvão de pedra (hard vado teor de carbono (antracites) e
coal) com médio teor de carbono (betumi-
nosos), com poder calorífico superior
> a 24 MJ/kg.

30
Carvão com um poder calorífico su-
perior > a 24 MJ/kg. Alcatrão de hu-
Carvão betuminoso lha: obtido por destilação da hulha.
(hulha) Breu de hulha: derivado do alcatrão
de hulha.Óleos de hulha: obtido por
destilação do alcatrão de hulha.

Derivado do carvão betuminoso (hu-


Carvão de coque
lha).Carvão utilizado nas coquerias,
(carvão metalúrgico)
para a produção de coque.

Produto da combustão lenta e in-


completa da madeira. A instalação
de transformação de madeira em
Carvão de madeira carvão de madeira, independente-
mente da sua forma, dos materiais
utilizados e do seu rendimento de-
signa-se por carvoeira.
Carvão preparado contendo quanti-
Carvão seleccionado
dades mínimas de impurezas (cin-
(purificado)
zas, enxofre).

Designações do carvão.

As doenças profissionais decorrentes da exposição ao carvão estão de-


vidamente caracterizadas no Decreto Regulamentar nº 76 / 2007 de
17 de Julho.

Excerto do DR nº 76 / 2007 - Carvão.

Risco de exposição às poeiras 31


Excerto do DR nº 76 / 2007 - Derivados do carvão.

O pulmão negro (pneumoconiose dos carvoeiros) é uma doença pul-


monar causada pela acumulação de pó de carvão nos pulmões. É con-
sequência da aspiração do pó de carvão durante muito tempo.

Brônquio
Normal

Brônquio
Inflamado

No pulmão negro simples, o pó do carvão acumula-se à volta das vias


respiratórias inferiores (bronquíolos). Apesar de o pó de carvão ser
relativamente inerte e não provocar demasiadas reacções, estende-
se por todo o pulmão e numa radiografia observa-se sob a forma de
pequenas manchas. O pó de carvão não obstrui as vias respiratórias.
Todos os anos, 1 % a 2 % dos indivíduos com pulmão negro simples
desenvolvem uma forma mais grave da doença, denominada fibrose
maciça progressiva, na qual se formam cicatrizes em áreas extensas
do pulmão (com um mínimo de 1,5 cm de diâmetro). A fibrose maciça
progressiva piora mesmo que o indivíduo já não esteja exposto ao pó

32
de carvão. O tecido pulmonar e os vasos sanguíneos dos pulmões po-
dem ficar destruídos pelas cicatrizes.

O pulmão negro simples, geralmente, não produz sintomas.

Contudo, a tosse e a falta de ar aparecem, com facilidade, em muitos


dos afectados com fibrose maciça progressiva, uma vez que também
têm enfisema (causado pelo fumo dos cigarros) ou bronquite (causada
pelo fumo dos cigarros ou pela exposição a outros poluentes indus-
triais). Por outro lado, na fase de maior gravidade há tosse e, às vezes,
uma dispneia incapacitante.

O médico deve estabelecer o diag-


nóstico, quando detecta as manchas
características na radiografia ao tó-
rax do indivíduo que esteve exposto
ao pó do carvão durante muito tem-
po, em regra alguém que trabalhou
nas minas, no subsolo, pelo menos
10 anos.

Pode-se prevenir o pulmão negro eliminando o pó do carvão no local


de trabalho.

Os trabalhadores do carvão deverão fazer radiografias ao tórax, de


modo que a doença possa ser detectada na fase inicial. Quando esta
se detecta, o trabalhador deve ser transferido para uma zona com
baixas concentrações de pó de carvão para prevenir a fibrose maciça
progressiva.

A prevenção é fundamental pois não há cura para o pulmão negro. O


indivíduo que não pode respirar livremente pode beneficiar dos trata-
mentos utilizados para a doença pulmonar crónica obstrutiva, como
os fármacos que permitem manter as vias aéreas abertas e livres de
secreções.

Risco de exposição às poeiras 33


Na síndroma de Caplan (uma perturbação pouco frequente que pode
afectar os mineiros do carvão que sofrem de artrite reumatóide) de-
senvolvem-se rapidamente grandes nódulos redondos no pulmão. Tais
nódulos podem formar-se nos indivíduos que sofreram uma exposição
significativa ao pó do carvão, inclusive sem ter pulmão negro.

Na Norma Portuguesa 1796, apresentam-se os valores limite de expo-


sição adoptados para as substâncias:

• A
 lcatrão de hulha - fracção volátil (aerossóis solúveis em ben-
zeno);
• Carvão, poeiras - Antracite;
• Carvão, poeiras - Betuminoso.

A utilização do alcatrão de hulha e da hulha está abrangida por legisla-


ção nacional específica, respectivamente:

• P
 elo Decreto-Lei nº 301 / 2000 de 18 de Novembro, relativo à
protecção dos trabalhadores contra os riscos ligados à exposi-
ção a agentes cancerígenos ou mutagénicos;

• L
 ei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, que regulamenta a Lei
nº 7 / 2009 de 12 de Fevereiro, que aprovou o novo Código do
Trabalho.

6.5 Óxido de Ferro, Sulfato de Bário e Óxido de Estanho

A siderose resulta da inalação do óxido de ferro; a baritose, da inalação


de sulfato de bário e a estanose, da inalação de partículas de óxido
de estanho. Embora estas poeiras sejam evidentes numa radiografia
ao tórax, não causam grandes reacções no pulmão, de modo que os
indivíduos expostos a eles não manifestam sintomas nem deterioração
funcional do sistema respiratório.

34
As doenças profissionais decorrentes da exposição a estas substâncias
estão devidamente caracterizadas no Decreto Regulamentar nº 76 /
2007 de 17 de Julho.

Excerto do DR nº 76 / 2007 - Sulfato de bário, Óxido de estanho e


Óxido de ferro.

A siderose é uma pneumoconiose causada pela inalação de poeiras e


fumos contendo óxidos de ferro.

Pode ocorrer em trabalhadores


expostos a actividades extracti-
vas de minério de ferro, produção
de pigmentos naturais, metalur-
gia de aço, ferro e ligas, soldadu-
ra a arco eléctrico, polimento de
metais com óxidos de ferro em
cutelaria de aço e prata e activi-
dades afins.

Dependendo da actividade profissional, existe exposição a outros


agentes potencialmente prejudiciais, quando inalados juntamente com
o ferro. Na mineração de ferro, os óxidos de ferro podem estar asso-
ciados à sílica em concentrações variáveis, causando lesão pulmonar
mista chamada siderossilicose.

Risco de exposição às poeiras 35


Na Norma Portuguesa 1796, apresentam-se os valores limite de expo-
sição adoptados para as substâncias:

• Ó xido de ferro;
• Sulfato de bário;
• Estanho, expresso em Sn - óxido e compostos inorgânicos, ex-
cepto hidrato de estanho.

A utilização do óxido de ferro e do óxido de estanho está abrangida por


legislação nacional específica, respectivamente:

• L
 ei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, que regulamenta a Lei
nº 7 / 2009 de 12 de Fevereiro, que aprovou o novo Código do
Trabalho;

• P
 elo Decreto-Lei nº 305 / 2007 de 24 de Agosto, que estabelece
a segunda lista de valores limite de exposição profissional indi-
cativos, que altera o anexo do Decreto-Lei nº 290 / 2001 de 16
de Novembro.

7. Medidas Gerais de Prevenção

A manipulação de agentes químicos perigosos apresenta sempre riscos


para os trabalhadores que a eles estão expostos.

Na presença de agentes químicos perigosos no local de trabalho, a


entidade patronal deve assegurar que os riscos são eliminados ou re-
duzidos ao mínimo.

Devem ser aplicadas as medidas gerais de prevenção, as quais,


na maioria das vezes, apenas requerem a aplicação da lógica e do
bom-senso às actividades nas quais o trabalhador possa estar exposto
a agentes químicos perigosos.

Enumeram-se de seguida as medidas gerais de prevenção:

• Concepção e organização dos métodos de trabalho


Em fase de projecto, aquando da concepção dos processos produtivos,
deve-se optar pelos que apresentem menos riscos para o trabalhador
(por vezes os progressos tecnológicos são uma boa ajuda!). Para pro-
cessos já instalados, pode-se sempre recorrer à organização das acti-
vidades nesse mesmo sentido.

36
• U
 tilização de equipamento adequado para trabalhar com agen-
tes químicos
Os equipamentos deverão ser seleccionados e instalados tendo em
conta as características do agente a manipular, bem como a área en-
volvente do local onde vai ser instalado.

• U
 tilização de processos de
manutenção que garantam a
saúde e a segurança dos tra-
balhadores
Os equipamentos e instalações afec-
tos ao processo produtivo devem ser
alvo de revisão e manutenção siste-
mática, com registo documental da
respectiva execução.

• R
 edução ao mínimo do número de trabalhadores expostos ou
susceptíveis de estar expostos
Para a minimização do risco de exposição, as actividades devem ser
organizadas de forma a serem executadas pelo número de trabalha-
dores estritamente necessário, em zonas condicionadas e com acesso
limitado.

• Redução ao mínimo da duração e do grau de exposição


Para a minimização da duração da exposição, as actividades devem
ser organizadas de forma a serem executadas durante o tempo estri-
tamente necessário.

Para a minimização da concentração do agente químico no local de


trabalho deve-se, por exemplo, dispor de ventilação adequada e evitar
superfícies abertas (recipientes, …).

• A
 dopção de medidas de higiene ade-
quadas
Hábitos contrários às medidas de higiene pes-
soal mais elementares, favorecem a ingestão
involuntária e sistemática dos agentes quími-
cos perigosos existentes no local de trabalho.

Risco de exposição às poeiras 37


Devem ser tomadas medidas para que seja proibido comer, beber ou
fumar nos locais onde estejam presentes esses agentes.

Ao trabalhador que manipule agentes químicos, deve ser facultada


roupa de trabalho, promovendo-se a sua utilização durante o horário
de trabalho; devem existir instalações para higiene pessoal, que pos-
sam ser usadas antes das refeições e no final de cada dia de trabalho;
deverão ser disponibilizados locais para guardar, em separado, a roupa
de trabalho e a roupa pessoal.

Roupas de trabalho contaminadas acidentalmente deverão ser removi-


das de imediato, pois serão elas próprias um meio de contaminação.

Os locais de trabalho e as instalações deverão também ser alvo de me-


didas de higiene adequadas.

38
A limpeza do local de trabalho / instalação não deverá constituir um
risco adicional para o trabalhador que a execute.

Deverão ser promovidas boas práticas de trabalho que incluam tarefas


de arrumação e limpeza (“housekeeping”).

• R
 edução da quantidade de agentes químicos presentes ao míni-
mo necessário
No local de trabalho, deverá existir a quantidade de agente químico
estritamente necessária à execução do trabalho. Esta prática reduz
não só o risco de exposição ao agente químico, bem como as con-
sequências de um acidente que possa vir a acontecer durante a sua
manipulação. Pode-se recorrer, por exemplo, ao uso de recipientes de
pequena capacidade.

• Utilização de procedimentos de trabalho adequados


A existência de procedimentos de trabalho adequados é imprescindível
para a minimização dos riscos a que estão expostos os trabalhadores.

8. Medidas Específicas de Prevenção e Protecção

A entidade patronal deve garantir que os riscos para a segurança e


a saúde dos trabalhadores, resultantes da exposição a agentes quí-
micos perigosos sejam eliminados ou reduzidos ao mínimo, pela sua
substituição por outro agente ou processo químico cujas condições de
utilização não apresentem perigo ou tenham menor perigo ou, se a
substituição não for possível, através de outra medida preventiva de
eficácia equivalente.

Risco de exposição às poeiras 39


A substituição (total ou parcial) do agente químico apresenta dois en-
traves à sua aplicação:

• N
 ão é fácil encontrar agentes químicos que substituam outros
que estejam a ser usados;

• O
 s agentes substitutos tecnicamente viáveis apresentam eles
próprios alguma nocividade, a qual deve ser considerada.

Nas actividades em que não é possível a eliminação dos riscos através


da substituição do agente, a entidade patronal deve aplicar medidas de
protecção adequadas com a seguinte ordem de prioridades:

• C
 oncepção de processos de trabalho e de controlos técnicos
apropriados e a utilização de equipamentos e materiais adequa-
dos que permitam evitar ou reduzir ao mínimo a libertação de
agentes químicos perigosos;

• A
 plicação de medidas de
protecção colectiva na
fonte do risco, designada-
mente de ventilação ade-
quada, e de medidas or-
ganizativas apropriadas;

• A
 dopção de medidas de
protecção individual, in-
cluindo a utilização de
equipamentos de protec-
ção individual, se não for
possível evitar a exposi-
ção por outros meios.

Relativamente à primeira medida, apresentam-se alguns exemplos de


aplicação:

• Mudança de forma ou estado físico


Quando são utilizados agentes químicos em pó, é possível reduzir
significativamente a sua dispersão no ambiente de trabalho e conse-
quente risco associado à sua utilização, recorrendo a outra forma de
apresentação. Por exemplo, poderá ser usado um reagente químico
que se apresente em pellets ou em solução em vez do habitual estado
pulverulento.

40
• Separação de zonas “sujas”
Em determinadas operações / pro-
cessos (polimento de metais, rebar-
bagem de peças metálicas, a moagem
de substâncias sólidas, a brocagem de
metais, etc.) é necessário exercer uma
intensa acção mecânica sobre os ma-
teriais, levando a que se possa gerar
grande quantidade de matéria frag-
mentada (o recurso a métodos de tra-
balho “húmidos” poderá reduzir o risco
de exposição a poeiras).

Nestes casos é prático afastar e confinar este tipo de operações em lo-


cais separados do resto da produção. Evita-se deste modo a dispersão
do ar contaminado e da sujidade por outras zonas e concentram-se os
meios de ventilação e limpeza em espaços mais reduzidos, aumentan-
do assim a sua eficácia e diminuindo o custo das acções implementa-
das.

Separação de zonas “sujas”


(processo “húmido”)

Risco de exposição às poeiras 41


• Processo fechado ou encapsulamento
Consiste em fechar certas operações particularmente contaminantes,
recorrendo à utilização de um invólucro físico estanque ou quase es-
tanque, no interior do qual se desenrolam essas operações sem a par-
ticipação directa do trabalhador.

Refira-se como exemplo, a descarga de sacos como alimentação a um


processo “limpo”. É frequente que durante esta etapa se libertem gran-
des quantidades de poeiras, mas o recurso a esta medida permite re-
duzir substancialmente o risco de exposição a elas.

Processo fechado ou encapsulamento

• Automatização
Consiste em substituir, num processo produtivo, o operador por dis-
positivos mecânicos ou electrónicos. Consequentemente, os trabalha-
dores deixam de estar expostos aos agentes químicos, ficam menos
tempo expostos a eles ou ficam afastados deles.

Por exemplo, a utilização de sistemas robotizados nas operações de


pintura por projecção, permitem a eliminação da exposição do traba-
lhador a um ambiente de trabalho habitualmente muito contaminado,
tanto pelos solventes orgânicos da tinta como pelos óxidos de metais
que constituem os pigmentos.

42
Automatização

Relativamente à segunda medida, apresentam-se alguns exemplos de


aplicação:

• Extracção localizada
Consiste na aspiração dos agentes químicos perigosos o mais próximo
possível do local onde são gerados. Desta forma, impede-se que o
contaminante se disperse no ambiente de trabalho. Campânulas para
soldadura são um bom exemplo de aplicação. É importante que este
sistema seja dimensionado pelo fabricante do equipamento ou por es-
pecialistas, seja alvo de revisão / manutenção sistemática e que o
trabalhador não modifique o sistema instalado.

A extracção localizada constitui o méto-


do mais adequado para o controlo das
concentrações atmosféricas de subs-
tâncias em suspensão no ar e que apre-
sentam um risco potencial para a saúde
ocupacional.

Extracção localizada

Risco de exposição às poeiras 43


• Ventilação geral por diluição
Consiste em diluir rapidamente o agente químico em ar não contami-
nado, geralmente por colocação de ventiladores localizados em janelas
ou sobre as cabeças nos locais de trabalho. Os ventiladores podem
operar trazendo ar não contaminado a um ambiente, desta maneira
forçando o agente químico a sair através das saídas naturais, tais como
portas e janelas, ou através da sucção do ar ambiente gerando um
vácuo parcial, que é preenchido pela entrada de ar não contaminado.
Indicado para locais em que possam existir agentes químicos de redu-
zida toxicidade, por exemplo em oficinas de transformação de metais,
salas de bombas ou compressores, etc.. A instalação do sistema deve
ser efectuada por especialistas e deve ser alvo de revisão / manuten-
ção sistemática.

Ventilação geral por diluição.

A ventilação geral por diluição poderá não ser eficaz para o controlo de
poeiras e fumos dado que:

• Alguns deles apresentam elevada toxicidade;

• A
 velocidade de geração e o grau de evolução destes contami-
nantes são geralmente elevados;

• É
 muito difícil obter dados sobre a quantidade de poeiras e fu-
mos produzidos.

44
No âmbito da adopção de medidas de protecção individual, é impor-
tante ter presente que os equipamentos de protecção individual (EPI’s)
constituem a última barreira entre o agente químico perigoso e o tra-
balhador. Num local de trabalho em que exista o risco de exposição a
poeiras é importante a protecção respiratória, ocular e cutânea.

No mercado existe disponível uma vasta gama de EPI’s, os quais de-


verão ser escolhidos tendo em conta o tipo de poeiras existentes no
ambiente do local de trabalho.

Para protecção das vias respiratórias, pode-se re-


correr a máscara autofiltrante, semi-máscara + fil-
tro e máscara + filtro, as quais só deverão ser usa-
das quando a concentração de oxigénio no local de
trabalho seja superior a 18,5 % em volume.

Existem também equipamentos autónomos que deverão ser usados


em situações que assim o exijam. Os filtros deverão ser escolhidos
tendo em conta os agentes químicos manipulados.

Para evitar o contacto das po-


eiras com os olhos, deverão
ser escolhidos óculos apropria-
dos.

Para protecção cutânea, podem-se usar luvas


de protecção e fatos. As luvas deverão ser es-
colhidas tendo em conta o agente químico a
manipular e possuem tempo máximo de efec-
tividade.

Risco de exposição às poeiras 45


Os chuveiros de segurança e os lava-olhos
constituem o sistema de emergência mais
habitual para os trabalhadores que manipu-
lem agentes químicos perigosos.
O chuveiro deverá ser usado em situações
de queimaduras químicas no corpo ou mes-
mo quando a roupa incendeia. Os lava-olhos
permitem a descontaminação rápida e eficaz
dos olhos. Estes sistemas poderão ser accio-
nados com os pés ou com as mãos.

No âmbito da prevenção de incêndios, é importante identificar os agen-


tes que se possam inflamar facilmente e os focos de ignição capazes
de produzir energia necessária para iniciar a reacção. Deverão ser to-
madas medidas para controlar os agentes que se possam inflamar e
medidas para controlar os focos de ignição.

Embora as medidas de prevenção referidas anteriormente sejam de


extrema importância, são insuficientes uma vez que não permitem o
total controlo do risco, pelo que deverão ser tomadas medidas com-
plementares destinadas a minimizar as consequências de um acidente.
Importa referir que deverão ser tomadas medidas de protecção pas-
siva (por exemplo, ao nível dos materiais de construção dos edifícios)
e medidas de combate a incêndio propriamente ditas (por exemplo, a
disponibilização de equipamentos de combate a incêndio fixos ou por-
táteis adequados).

46
9. Medição da Concentração dos Agentes Químicos no Local de
Trabalho

A caracterização da atmosfera do local de trabalho poderá ser feita de


forma qualitativa e quantitativa isto é, identificando e quantificando os
contaminantes aí presentes.

A medição da concentração dos agentes químicos consiste em determi-


ná-los quantitativamente através de métodos normalizados.

Os métodos analíticos devem permitir obter resultados que expressem


efectivamente as condições avaliadas, representando o mais fielmente
possível a exposição do trabalhador.

Na maioria das vezes, o ambiente do local de trabalho apresenta-se


modificado não apenas por um contaminante mas por vários em si-
multâneo. Nesse caso, dever-se-á considerar o seu efeito combinado
e não o efeito isolado de cada um deles. Na ausência de indicação em
contrário pode-se considerar que os efeitos dos vários contaminantes
da mistura são aditivos.

Para se proceder à recolha das amostras do ar do local de trabalho é


importante ter em conta factores como:

• A localização da recolha;

• O tipo e a duração das recolhas;

• A altura em que se deve proceder à recolha;

• O número de recolhas a fazer.

Quando os trabalhadores estão maioritariamente posicionados num


único local, poderá ser usado um equipamento de recolha estacionário
com o captador na zona de respiração dos mesmos. Se se verificar
uma razoável mobilidade dos trabalhadores com consequente variação
da concentração do contaminante a que estão expostos, é necessário
utilizar equipamentos de recolha pessoais ou individuais. Deverá neste
último caso proceder-se à avaliação das condições de exposição mais
desfavoráveis.

Risco de exposição às poeiras 47


Para se estabelecer o período durante o qual se deve recolher uma
amostra, dever-se-ão considerar os seguintes factores:

• Volume de amostra necessário;

• Acção do agente químico;

• F
 lutuações apreciáveis na concentração, tendo em conta a
situação de máximo atingido.

A duração da recolha obtém-se pelo produto do volume necessário


pelo inverso do caudal de amostra a recolher.

Os sistemas de captação mais usados, sobretudo para os aerossóis


sólidos (poeiras, fibras e fumos), são os filtros.
Estes têm um suporte físico e estão instalados no porta-filtros ou cas-
sete.

Os filtros podem ser constituídos por diferentes substâncias (papel,


microfibras minerais e orgânicas, membrana). Os porta-filtros são ge-
ralmente de poliestireno, podendo ser constituídos por dois ou três
corpos ou secções.

Se se pretender medir a concentração de poeiras respiráveis, isto é,


poeiras susceptíveis de deposição nos alvéolos pulmonares, dever-se-á
intercalar um dispositivo separador, equivalente ao sistema respirató-
rio: ciclone (aplicável em dispositivos pessoais) ou elutriador horizontal
(aplicável sobretudo em aparelhos estacionários).

Os métodos instrumentais de análise surgem a jusante das técnicas


de recolha de amostras anteriormente descritas, após tratamento ade-
quado. De entre os métodos analíticos mais utilizados destacam-se,
para aerossóis, a gravimetria (poeiras inertes), a espectrometria de
absorção atómica (metais pesados) e a microscopia com contraste de
fase (amianto).

48
Note-se que as metodologias de recolha de amostras e análise são di-
ferentes consoante o tipo de contaminante em causa. A ACGIH (Ame-
rican Conference of Governmental Industrial Hygienists) e a NIOSH
(National Institute for Occupational Safety and Health) desenvolveram
grande parte delas, as quais permitem proceder à medição da concen-
tração dos vários agentes químicos presentes no local de trabalho.

10. Valores Limite de Exposição

A Norma Portuguesa NP 1796: Segurança e Saúde do Trabalho - Va-


lores limite de exposição profissional a agentes químicos, destina-se a
fixar os valores limite de exposição a agentes químicos, aplicando-se a
todos os locais de trabalho onde se verifique essa exposição.

Esta norma é actualizada frequentemente e pode ser adquirida junto


do Instituto Português da Qualidade.

Nela são disponibilizados os valores limite de exposição (VLE’s) válidos


para cada agente químico, sendo estes os valores de referência a con-
siderar, para comparação com os valores resultantes das medições das
concentrações desses agentes nos locais de trabalho.

O valor limite de exposição (VLE) (ou TLV (Threshold Limit Value, em


inglês) é a concentração de agente químico à qual se considera que
praticamente todos os trabalhadores podem estar expostos, dia após
dia, sem efeitos adversos para a saúde.

Para a correcta interpretação dos resultados das medições das concen-


trações de agentes químicos no local de trabalho e dos valores referen-
ciados na norma, é importante distinguir:

a) Valor limite de exposição - média ponderada (VLE - MP) ou (TLV -


TWA - Threshold Limit Values - Time Weighted Average)

• c
 oncentração média ponderada para um dia de trabalho de 8
horas e uma semana de 40 horas, à qual se considera que pra-
ticamente todos os trabalhadores podem estar expostos, dia
após dia, sem efeitos adversos para a saúde;

Risco de exposição às poeiras 49


b) Valor limite de exposição - curta duração (VLE - CD) ou (TLV - STEL
- Threshold Limit Values - Short Term Exposure Limit)

• c
 oncentração à qual se considera que praticamente todos os
trabalhadores podem estar repetidamente expostos, por curtos
períodos de tempo, desde que não seja excedido o VLE-MP e
sem que ocorram efeitos adversos;

c) Valor limite de exposição - concentração máxima (VLE - CM) ou (TLV


- C - Threshold Limit Values - Ceiling)

• c
 oncentração que nunca deve ser excedida durante qualquer
período de exposição.

De referir que os VLE’s constituem apenas linhas orientadoras e não


devem ser utilizados como linha divisória entre situações perigosas e
não perigosas.

Para agentes químicos presentes no ar inalado como partículas sólidas


ou líquidas em suspensão, o risco potencial depende do tamanho das
partículas e da concentração mássica, devido:

• a
 os efeitos do tamanho da partícula no local de deposição no
aparelho respiratório;

• à
 tendência de grande parte das doenças profissionais estarem
associadas à deposição do(s) agente(s) em determinadas áreas
do aparelho respiratório.

Os valores limite de exposição selectivos por tamanho de partícula são


expressos de três formas:

a) Valor limite de exposição para partículas inaláveis (VLE-PI), para os


agentes que são potencialmente perigosos quando se depositam em
qualquer região do aparelho respiratório;

50
b) Valor limite de exposição para partículas torácicas (VLE-PT), para
os agentes que são potencialmente perigosos quando se depositam na
região dos canais pulmonares e na zona de trocas gasosas;

c) Valor limite de exposição para partículas respiráveis (VLE-PR), para


aqueles agentes potencialmente perigosos quando se depositam na
região de trocas gasosas.

Partículas inaláveis (menores que 100 mm), partículas torácicas


(menores que 25 mm) e partículas respiráveis (menores que 10 mm)

Aparelho respiratório

Os índices biológicos de exposição (IBE’s) são um indicador comple-


mentar aos VLE’s, constituindo um novo parâmetro de caracterização
da exposição a agentes químicos perigosos no local de trabalho. Os
IBE’s representam as quantidades limite de substâncias ou os seus
metabolitos, medidos no sangue, na urina e no ar expirado, a que um
trabalhador pode estar exposto sem perigo para a sua saúde.

Risco de exposição às poeiras 51


11. Protecção da Segurança e da Saúde dos Trabalhadores

Em linhas gerais, a entidade patronal deve assegurar que os riscos


para a segurança e saúde dos trabalhadores resultantes da presença
de agentes químicos perigosos nos locais de trabalho sejam eliminados
ou reduzidos ao mínimo, adoptando práticas que consistam na apli-
cação de medidas de prevenção e medidas específicas de protecção,
entre elas a rigorosa vigilância da saúde dos trabalhadores.

11.1 Boas Práticas

Considerando crucial a adopção de boas práticas como principal meio


de promover uma prevenção eficaz, e apesar destas não possuírem
carácter obrigatório, apresenta-se:

• N
 o Anexo C, um conjunto de informação que visa a minimização
do risco associado à exposição a poeiras no local de trabalho;

• N
 o Anexo D, o resumo de um documento emitido pela OSHA
(Occupational Safety and Health Administration), que preten-
de alertar para as explosões provocadas por poeiras combustí-
veis.

11.2 Vigilância da Saúde dos Trabalhadores

De acordo com Decreto-Lei nº 290 / 2001 de 16 de Novembro, a enti-


dade patronal deve assegurar a vigilância da saúde dos trabalhadores
em relação aos quais o resultado da avaliação revele a existência de
riscos.

A vigilância da saúde deve permitir detectar precocemente a relação


entre a exposição do trabalhador à substância química perigosa (efeito
nocivo para a saúde) e as condições de trabalho, de modo a que se
possa determinar a eventual causa da doença contraída pelo trabalha-
dor.

52
A vigilância da saúde dos trabalhadores expostos, cabe ao médico da
medicina do trabalho, o qual no exercício dessas funções tem que cum-
prir as disposições estabelecidas no Decreto-Lei nº 290 / 2001 de 16
de Novembro e na Lei nº 102 / 2009 de 10 de Setembro, as quais in-
cluem os seguintes procedimentos:

• P
 rovidenciar a realização de
exames médicos;

• R
 egisto de saúde e exposição
contendo a história clínica e
profissional de cada trabalha-
dor;

• A
 valiação individual do seu es-
tado de saúde;

• V
 igilância biológica, sempre
que necessária;

• R
 astreio de efeitos precoces e
reversíveis.

A entidade patronal deve tomar, em relação a cada trabalhador, as me-


didas preventivas ou de protecção propostas pelo médico de trabalho
ou pela entidade pública competente no domínio da vigilância da saúde
dos trabalhadores.

Se um trabalhador contrair uma doença identificável com a exposição


a substâncias químicas perigosas no local de trabalho, o médico do tra-
balho em primeiro lugar ou outro médico tem competências para pre-
encher a participação obrigatória de doença profissional e enviá-la para
o CNPCRP (Centro Nacional de Protecção Contra Riscos Profissionais).

Risco de exposição às poeiras 53


Participação Obrigatória de Doença Profissional.

54
O CNPCRP faz o diagnóstico médico definitivo, e no caso de se tratar
de doença profissional, o trabalhador tem direito à reparação do dano,
tanto em espécie (prestações de natureza médica, hospitalar, medi-
camentosa, etc.) como em dinheiro (indemnização por incapacidade
temporária para o trabalho ou pensão de invalidez por incapacidade
definitiva para o trabalho).

Nos casos em que o trabalhador regresse à empresa, após a alta dada


pelos médicos do CNPCRP, tem o direito a outro posto de trabalho em
que não haja risco de exposição a substâncias químicas perigosas.

11.3 Comunicações e Notificações Obrigatórias

De acordo com o Decreto-Lei nº 254 / 2007 de 12 de Julho, que trans-


põe a Directiva nº 2003/105/CE de 16 de Dezembro, a entidade patro-
nal no âmbito das comunicações e notificações obrigatórias deve:

• A
 presentar à APA (Agência Portuguesa do Ambiente) uma noti-
ficação que inclui informação relativa às actividades desenvolvi-
das e o inventário das substâncias químicas perigosas utilizadas,
com informação adicional do grau de perigosidade bem como as
alterações que se verifiquem posteriormente. Esta informação
deverá ser acompanhada de uma listagem das fichas de dados
de segurança das substâncias perigosas;

• I nformar as entidades que tenham intervenção em caso de


emergência ou acidente. As informações devem incluir a avalia-
ção prévia dos perigos da actividade exercida e as formas de os
identificar e dos procedimentos pertinentes para que os servi-
ços de emergência possam preparar os planos de intervenção.

No âmbito das actividades de segurança e saúde no trabalho, a entida-


de patronal tem que enviar o relatório anual (segundo o modelo apro-
vado pela Portaria nº 288 / 2009 de 20 de Março) devidamente preen-
chido à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) e à DGS.

Risco de exposição às poeiras 55


No referido relatório é necessário fazer referência aos agentes quími-
cos manipulados e indicar quais as frases de risco associadas ao agen-
te, o número de trabalhadores expostos e quais as medidas adoptadas
para fazer face ao risco, bem como se a medida tomada foi ou não
adequada.

Excerto do Relatório Anual da Actividade dos Serviços SHST - Agentes Químicos


(Modelo nº 1940, aprovado pela Portaria nº 288 / 2009)

O preenchimento do relatório é obrigatório para todas as empresas do


sector e deverá ser entregue no 1º trimestre do ano seguinte aquele
a que respeita.

56
11.4 Plano de Emergência Interno

De acordo com o Decreto-Lei nº 254 / 2007 de 12 de Julho, os planos


de emergência internos têm por objectivo circunscrever e controlar
os incidentes graves que envolvam substâncias químicas perigosas e,
necessariamente, incluem a aplicação das medidas necessárias para
proteger os trabalhadores e o meio ambiente.

Os planos são elaborados pela entidade patronal de acordo com as


orientações fornecidas pela APA, os quais serão apresentados a essa
entidade bem como à ANPC (Autoridade Nacional de Protecção Civil).

Aquando da elaboração e da actualização do plano de emergência in-


terno, a entidade patronal tem o dever de consultar os trabalhadores.

11.5 Cessação da Actividade da Empresa

Se a empresa cessar a actividade, os registos de saúde relativos a


efeitos nocivos provocados pela exposição a substâncias químicas pe-
rigosas devem ser transferidos para o CNPCRP que assegurará a sua
confidencialidade.

Risco de exposição às poeiras 57


11.6 Informação e Formação dos Trabalhadores

A entidade patronal deve assegurar a informação aos trabalhadores e


aos seus representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho
sobre:

• O
 s dados obtidos pela avaliação de risco e outras informações
sempre que se verifique uma modificação importante no local
de trabalho susceptível de alterar os resultados da avaliação;

• O
 s valores limite de exposição profissional e os efeitos observa-
dos;

• A
 s fichas de dados de segurança disponibilizadas pelo fornece-
dor, de acordo com a legislação aplicável (Portaria nº 732-A / 96
de 11 de Dezembro, na sua redacção actual).

A entidade patronal deve assegurar a formação dos trabalhadores e


dos seus representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho
sobre as precauções e medidas adequadas para se protegerem e aos
outros trabalhadores no local de trabalho.

58
ANEXOS
Anexo A

Decreto-Lei nº 274 / 89 de 21 de Agosto

O presente diploma visa consagrar no direito interno a Directiva do


Conselho n.º 82/605/CEE, de 28 de Julho de 1982, relativa à protecção
dos trabalhadores contra os riscos resultantes da exposição ao chumbo
e aos seus compostos iónicos nos locais de trabalho.

Contemplando as disposições contidas na citada directiva e atendendo


ao objectivo e âmbito do presente diploma, foram incluídas algumas
prescrições complementares necessárias.

No que se refere ao tratamento de resíduos que contenham chumbo


ou compostos de chumbo e dada a existência de regulamentação já
publicada sobre esta matéria, foi integrada apenas uma disposição de
carácter geral, em ordem a evitar que os mesmos possam constituir
fonte de contaminação dos locais de trabalho e, consequentemente,
não ponham em perigo a saúde pública nem causem perigo ao am-
biente.

Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas


dos Açores e da Madeira.

Assim:
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo n.º 201.º da Constituição, o
Governo decreta o seguinte:

Artigo 1.º
Objectivo e âmbito

1 - O presente diploma tem por objectivo a protecção da saúde dos


trabalhadores contra os riscos que possam decorrer da exposição ao
chumbo metálico e aos seus compostos iónicos nos locais de trabalho.

2 - As medidas previstas no presente diploma aplicam-se às empresas


e estabelecimentos que desenvolvam actividades cujo exercício seja
susceptível de originar a exposição dos trabalhadores ao chumbo me-
tálico e aos seus compostos iónicos.

3 - Excluem-se do âmbito de aplicação do presente diploma as exposi-


ções a derivados alquílicos de chumbo.

Risco de exposição às poeiras 61


4 - Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 4.º, considera-se que
pode existir um risco de absorção de chumbo nas actividades indicadas
no anexo I ao presente diploma, do qual faz parte integrante.

Artigo 2.º
Conceitos gerais e definições

1 - Para efeitos do presente diploma, entende-se por:


a) «Chumbo» - chumbo metálico e todos os componentes iónicos de
chumbo;

b) «Trabalhador exposto» – qualquer trabalhador que desenvolva uma


actividade susceptível de apresentar risco de exposição ao chumbo;

c) «Concentração de chumbo no ar» – grandeza que exprime a quan-


tidade de chumbo existente no ar dos locais de trabalho, expressa em
microgramas por metro cúbico ((mi)g/m3) e obtida por medição da
concentração do chumbo no ar, ponderada em função do tempo, de
acordo com as especificações técnicas contidas no artigo 7.º do pre-
sente diploma;

d) «Nível de acção» – valor da concentração de chumbo no ar dos lo-


cais de trabalho fixado em 75 (mi)g/m3, referido a oito horas diárias e
a 40 horas por semana;

e) «Valores limite»:

1) «Valor limite de concentração» – valor da concentração de chumbo


no ar dos locais de trabalho que não deve ser ultrapassado, fixado em
150 (mi)g/m3, referido a oito horas diárias e 40 horas por semana;

2) «Valor limite biológico» – taxa individual de plumbémia ou concen-


tração de chumbo no sangue que não deve ser ultrapassado, fixado
em 70 (mi)g de chumbo por 100 ml de sangue, sem prejuízo de serem
aceites taxas de plumbémia compreendidas entre 70 (mi)g e 80 (mi)g
de chumbo por 100 ml de sangue, sempre que se verifique uma das
seguintes condições:

O nível de ácido delta-aminolevulínico na urina (ALAU) ser inferior a 20


mg/g de creatinina;

O nível de protoporfirina de zinco no sangue (PPZ) ser inferior a 20


mg/g de creatinina;

62
O nível de desidratase do ácido delta-aminolevulínico no sangue (ALAD)
ser superior a seis unidades europeias (UE).

2 - Sempre que a vigilância biológica seja baseada exclusivamente na


determinação do nível de ácido delta-aminolevulínico na urina (ALAU)
de acordo com o n.º 8 do artigo 11.º, deve ser considerado valor limite
do ALAU o de 20 mg/g de creatinina.

Artigo 3.º
Medidas gerais de prevenção

1 - Devem ser adoptadas medidas de prevenção e desenvolvidos pro-


cessos de trabalho que mantenham os valores de concentração de
chumbo no ar dos locais de trabalho ao nível mais baixo possível e
sempre inferior ao valor limite da concentração.

2 - Devem ser tomadas medidas de organização do trabalho que redu-


zam o mais possível o número de trabalhadores expostos ou susceptí-
veis de exposição.

3 - Para diminuir e manter baixo o nível das exposições ao chumbo


deve reduzir-se ao mínimo possível a emissão de poeiras e fumos con-
tendo chumbo, sendo de utilizar para o efeito, designadamente:

a) O encerramento em aparelhos ou recipientes fechados das opera-


ções que provoquem a emissão de poeiras;

b) O funcionamento em depressão dos dispositivos referidos na alínea


anterior;

c) A aspiração das emissões nos pontos onde se verifique a sua produ-


ção ou outro processo eficaz de renovação de ar.

4 - Quando a exposição ao chumbo nos locais de trabalho for contro-


lada por meios mecânicos de aspiração ou de renovação de ar, a eficá-
cia desses sistemas deve ser comprovada por medição da velocidade
de captação, velocidade nas condutas e pressões estáticas ou outros
parâmetros adequados, não devendo igualmente constituir fonte de
contaminação do ambiente exterior.

5 - Sempre que for tecnicamente possível, os locais onde seja suscep-


tível a exposição de trabalhadores ao chumbo devem manter-se isola-
dos, de forma a evitar a contaminação de outras zonas de trabalho.

Risco de exposição às poeiras 63


6 - Os pavimentos e os revestimentos interiores dos locais a que se
refere o número anterior devem ser de molde a facilitar as operações
de limpeza.

7 - Nas operações de limpeza deve utilizar-se a aspiração ou a via hú-


mida, sendo proibidos os processos que provoquem a dispersão das
poeiras de chumbo no ambiente de trabalho.

Artigo 4.º
Avaliação das exposições

1 - As entidades empregadoras devem proceder a avaliações do risco


das exposições ao chumbo, determinando a natureza e o nível de ex-
posição a que estão sujeitos os trabalhadores.

2 - As avaliações dos níveis de concentração de chumbo no ar devem


ser representativas da exposição individual dos trabalhadores.

3 - As avaliações previstas no n.º 1 devem ser repetidas ou revistas


nos seguintes casos:

a) Verificação de motivos que justifiquem considerá-las incorrectamen-


te efectuadas;

b) Modificação nas condições existentes nos locais de trabalho que


possa provocar qualquer alteração na exposição dos trabalhadores.

4 - Os trabalhadores expostos e os seus representantes na empresa ou


estabelecimento devem ser consultados sobre as avaliações previstas
no presente artigo.

5 - As entidades empregadoras devem proceder à avaliação do nível


de concentração de chumbo no ar nos seis meses posteriores à data
da entrada em vigor do presente diploma, podendo ser requerida a sua
prorrogação à Inspecção-Geral do Trabalho por um período máximo
de 90 dias, quando se torne impossível realizar a avaliação naquele
prazo.

6 - Ocorrendo o início da actividade da empresa ou estabelecimento


depois da entrada em vigor do presente diploma, a avaliação inicial do
nível de concentração de chumbo no ar deve efectuar-se nos seis me-
ses seguintes ao do início da sua laboração.

64
Artigo 5.º
Determinação da concentração de chumbo no ar

1 - As colheitas de amostras para determinação da concentração de


chumbo no ar devem ser do tipo individual, de modo a permitir a ava-
liação da exposição máxima provável do trabalhador, tendo em conta
o trabalho efectuado, as condições de trabalho e a duração da exposi-
ção.

2 - A duração da colheita deve abranger um período de tempo corres-


pondente a pelo menos 80% do dia de trabalho normal.

3 - A exactidão dos métodos de colheita de amostras e de análises


deve tender para os 100%, tolerando-se uma variação, para mais ou
para menos, de 20%.

4 - O método de análise utilizado deve ter um grau de confiança de


95% para concentrações de 30 (mi)g/m3 de ar.

5 - Quando existam grupos de trabalhadores que realizem tarefas


idênticas com um risco de exposição análogo, as colheitas individuais
podem ser reduzidas a um número de postos de trabalho representa-
tivo desse grupo ou grupos, com o mínimo de uma colheita individual
por cada dez trabalhadores e turno de trabalho.

6 - As características do equipamento de colheita de amostras e o mé-


todo de determinação da concentração de chumbo no ar devem obser-
var as especificações técnicas constantes do anexo II a este diploma,
do qual faz parte integrante.

Artigo 6.º
Ultrapassagem do nível de acção

1 - Quando as avaliações do nível de concentração de chumbo no ar


previstas no artigo 4.º revelarem a existência de qualquer trabalhador
sujeito a uma exposição igual ou superior ao nível de acção, as enti-
dades empregadoras devem aplicar as medidas previstas nos números
seguintes.

2 - Sempre que se verifique a situação prevista no número anterior, o


controlo de concentração de chumbo no ar deve efectuar-se pelo me-
nos de três em três meses.

Risco de exposição às poeiras 65


3 - A frequência do controlo referido no número anterior pode ser re-
duzida até uma vez por ano, quando não ocorra nenhuma modificação
importante nos processos de trabalho ou nas condições dos locais de
trabalho e desde que se verifique ainda uma das seguintes situações:

a) As medições obtidas nos dois controlos consecutivos precedentes,


efectuados individualmente ou por grupo, indiquem valores de concen-
tração inferiores a 100 (mi)g/m3;

b) A taxa individual de plumbémia não ultrapasse em qualquer traba-


lhador exposto o valor de 60 (mi)g/100 ml de sangue.

4 - As zonas de trabalho em que se verifique a situação prevista no n.º


1 devem ser sinalizadas com o sinal de perigo «Substâncias tóxicas»,
constante do anexo II à Portaria n.º 434/83, de 15 de Abril*, acompa-
nhado do aviso «Área de trabalho com chumbo».

Artigo 7.º
Ultrapassagem do valor limite de concentração

1 - Quando as avaliações do nível de concentração de chumbo no ar


previstas no artigo 4.º revelarem a existência de concentrações su-
periores ao valor limite de concentração, as entidades empregadoras
devem, além das medidas previstas no artigo 9.º, adoptar os seguintes
procedimentos:

a) Identificar as causas da situação e tomar rapidamente as medidas


correctivas apropriadas;

b) Proceder a nova avaliação da concentração de chumbo no ar, a fim


de verificar a eficácia das medidas correctivas adoptadas.

2 - Sempre que as medidas correctivas referidas na alínea a) do nú-


mero anterior não possam ser, em virtude da sua natureza ou impor-
tância, tomadas no prazo de um mês, ou quando uma nova avaliação
da concentração de chumbo no ar indique que persiste a situação de
ultrapassagem do valor limite de concentração, o trabalho na zona
afectada só poderá prosseguir desde que sejam tomadas medidas para
protecção dos trabalhadores expostos, ouvido o médico responsável
pela vigilância médica.

* Foi revogada pela Portaria n.º 1456 - A/95, de 11 de Dezembro

66
3 - O médico responsável pela vigilância médica dos trabalhadores, de
acordo com o disposto no artigo 11.º, decidirá se deve ser efectuada
uma determinação imediata dos parâmetros biológicos dos trabalha-
dores expostos.

4 - Para efeitos do disposto neste artigo, a verificação de ultrapassa-


gem do valor limite de concentração obtém-se por comparação directa
entre a concentração obtida e o valor limite de concentração, no caso
de duração total da colheita das amostras igual a 40 horas numa mes-
ma semana, ou nos termos das alíneas seguintes, no caso de aquela
duração ser inferior a 40 horas numa mesma semana:

a) O valor limite de concentração não se considera ultrapassado quan-


do a concentração obtida nos termos do artigo 5.º for inferior ao valor
limite;

b) Se a concentração referida na alínea anterior ultrapassar o valor


limite, devem ser colhidas pelo menos três novas amostras represen-
tativas da exposição média ao chumbo, cada qual com uma duração de
colheita não inferior a quatro horas, considerando-se como não tendo
sido ultrapassado o valor limite quando se verifiquem três valores de
concentração inferiores ao valor limite em quatro amostras colhidas
durante uma semana.

Artigo 8.º
Ultrapassagem do valor limite biológico

1 - Sempre que, através da vigilância biológica dos trabalhadores ex-


postos prevista no artigo 11.º, seja detectada a ultrapassagem do va-
lor limite biológico, as entidades empregadoras devem identificar ime-
diatamente as causas e tomar as medidas de correcção necessárias.

2 - A determinação dos valores dos diferentes indicadores biológicos


far-se-á segundo os métodos indicados no anexo III a este diploma, do
qual faz parte integrante.

3 - Os trabalhadores que se encontrem na situação prevista no n.º 1


devem ser submetidos, no prazo de três meses, a nova determinação
da taxa de plumbémia, não podendo regressar ao seu posto de traba-
lho inicial ou a outro que envolva risco igual ou superior de exposição
se esta nova determinação indicar uma taxa de plumbémia superior ao
valor limite biológico.

Risco de exposição às poeiras 67


4 - As medidas a que se refere o n.º 1 podem incluir o afastamento
dos trabalhadores afectados dos postos de trabalho com exposição ao
chumbo e a sua colocação provisória noutros postos de trabalho isen-
tos desse risco.

5 - A colocação dos trabalhadores referidos no número anterior nou-


tros postos de trabalho que apresentem um risco menor de exposição
só pode efectivar-se após parecer favorável do médico responsável,
devendo, neste caso, ser submetidos a uma vigilância médica mais
frequente.

6 - Os trabalhadores que se encontrem nas situações previstas nos


números anteriores bem como a respectiva entidade empregadora po-
dem solicitar a qualquer momento a revisão das determinações das
taxas de plumbémia.

Artigo 9.º
Incidentes e casos de excepção

1 - Em caso de ocorrência de um incidente susceptível de provocar um


aumento sensível da exposição, os trabalhadores expostos deverão ser
imediatamente evacuados da zona afectada.

2 - Nas situações a que se refere o número anterior, apenas podem ser


autorizados a penetrar nas zonas afectadas os trabalhadores indicados
para efectuar as reparações, equipados obrigatoriamente com protec-
ção individual, nos termos do artigo 13.º

3 - Na execução de trabalhos em que seja previsível a ultrapassagem


do valor limite de concentração e em que não seja razoavelmente pra-
ticável a aplicação de medidas técnicas destinadas a limitar a concen-
tração de chumbo no ar, as entidades empregadoras devem indicar as
medidas de protecção a adoptar.

4 - Para efeitos do disposto no número anterior, a entidade empre-


gadora deve consultar os trabalhadores e os seus representantes na
empresa ou no estabelecimento sobre as medidas de protecção antes
de se iniciarem os referidos trabalhos.

68
Artigo 10.º
Resíduos

Os resíduos da laboração que contenham chumbo devem ser recolhi-


dos, acondicionados e retirados para fora dos locais de trabalho em
condições de não constituírem fonte de contaminação desses locais
e trabalhadores, devendo ser ainda observadas as disposições legais
sobre resíduos e protecção do ambiente.

Artigo 11.º
Vigilância médica

1 - As entidades empregadoras devem garantir a prevenção médica


adequada a todos os seus trabalhadores expostos, compreendendo os
exames médicos de pré-colocação e periódicos, bem como a avaliação
de indicadores biológicos.

2 - Sem prejuízo da obrigatoriedade de exames complementares pres-


critos pelo médico responsável, os exames médicos devem, no míni-
mo, conter:

a) A história clínica detalhada e os antecedentes profissionais relacio-


nados com o risco;

b) O estudo hematológico e das funções renal e hepática, assim como


do sistema nervoso central e periférico.

3 - A vigilância biológica deve compreender a determinação de chumbo


no sangue (plumbémia) e, sempre que o médico responsável o pres-
creva, a determinação da protoporfirina de zinco no sangue (PPZ), do
ácido delta-aminolevulínico na urina (ALAU) e da desidratase do ácido
delta-aminolevulínico no sangue (ALAD).

4 - Sem prejuízo do disposto no n.º 6, os exames médicos períodicos


devem ser realizados anualmente.

5 - A vigilância biológica deve ser realizada de seis em seis meses,


salvo nos casos referidos nos n.os 6 e 7.

6 - A periodicidade dos exames médicos e da vigilância biológica deve


ser trimestral, quando a taxa individual de plumbémia for superior a
60 (mi)g/100 ml de sangue ou a concentração de chumbo no ar for
superior a 100 (mi)g/m3 e sempre que sejam ultrapassados os valores
limite referidos na alínea e) do n.º 1 do artigo 2.º

Risco de exposição às poeiras 69


7 - A periodicidade da vigilância biológica pode ser anual, desde que se
verifiquem simultaneamente as seguintes condições:

a) A concentração de chumbo no ar não ultrapasse o nível de acção;

b) A taxa individual de plumbémia não seja superior a 40 (mi)g/100


ml.

8 - Sempre que os trabalhadores tenham estado sujeitos a exposição


elevada num período de tempo inferior a um mês, a determinação da
plumbémia pode ser substituída pela do nível de ácido delta-aminole-
vulínico na urina (ALAU).

9 - Os exames médicos ocasionais devem ser realizados sempre que se


verifique uma das seguintes situações:

a) O trabalhador exposto os solicite;

b) O médico os considere convenientes;

c) Tenham decorrido três meses após a colocação do trabalhador em


posto de trabalho exposto ao risco.

10 - Os exames médicos previstos no presente artigo serão efectuados


dentro do horário de trabalho, sem perda de retribuição e sem quais-
quer encargos para o trabalhador.

11 - O médico responsável pela vigilância médica dos trabalhadores


deve ter acesso a todos os dados informativos que se tornem neces-
sários para a avaliação da exposição dos trabalhadores ao chumbo,
incluindo os resultados do controlo da concentração.

12 - É proibida a utilização de quelantes com fins preventivos.

Artigo 12.º
Medidas de higiene

1 - Sem prejuízo do disposto no n.º 4, é proibida a introdução de ali-


mentos ou bebidas nos locais de trabalho onde se desenvolvam activi-
dades susceptíveis de originar exposições ao chumbo.

2 - Nos locais a que se refere o número anterior é proibido fumar.

70
3 - Os trabalhadores devem comer e beber em locais adequados para
o efeito e sem risco de contaminação pelo chumbo.

4 - Quando os trabalhadores tenham necessidade frequente de ingerir


água ou outras bebidas devido às elevadas temperaturas verificadas
nos locais de trabalho, aquelas devem ser fornecidas de modo a não
serem contaminadas pelo chumbo.

5 - As entidades empregadoras devem assegurar as condições neces-


sárias para que os trabalhadores expostos possam lavar-se antes de
comer, beber ou fumar.

Artigo 13.º
Protecção individual

1 - As entidades empregadoras devem pôr gratuitamente à disposi-


ção dos trabalhadores expostos o equipamento de protecção individual
adequado às características e riscos dos respectivos postos de traba-
lho.

2 - Sempre que a aplicação de medidas de protecção colectiva se re-


vele ineficaz para manter o valor de exposição ao chumbo inferior ao
valor limite de concentração, torna-se obrigatória a utilização de equi-
pamento de protecção individual das vias respiratórias nas seguintes
situações:

a) Enquanto as medidas correctivas aplicadas sobre as instalações e os


métodos de trabalho não reduzirem as exposições a níveis inferiores
aos valores limite estabelecidos;

b) Na realização de tarefas breves e bem determinadas de reparação


e de conservação;

c) Noutras situações excepcionais ou de emergência.

3 - Na utilização do equipamento de protecção a que se refere o nú-


mero anterior deve optar-se por máscaras ou semimáscaras com filtro
físico, em função do trabalho a executar, excepto quando os valores da
concentração de chumbo no ar, por serem muito elevados, aconselhem
a utilização de aparelhos de protecção respiratória isolantes com pres-
são positiva.

Risco de exposição às poeiras 71


4 - A utilização de equipamento de protecção individual respiratório
deve obedecer aos seguintes critérios:

a) Não utilização, em qualquer caso, com carácter habitual e perma-


nente;

b) Limitação ao mínimo necessário do tempo de utilização, não poden-


do ultrapassar quatro horas diárias;

c) A utilização de aparelhos de protecção respiratória isolantes com


pressão positiva só poderá ocorrer com carácter excepcional, por tem-
po não superior a quatro horas diárias, as quais, sendo seguidas, de-
vem ser intercaladas por uma pausa de, pelo menos, meia hora.

5 - As entidades empregadoras devem conservar o equipamento de


protecção individual em bom estado de utilização e elaborar para o
efeito normas de procedimento que, para cada tipo de equipamento,
indiquem, designadamente, a frequência das operações de revisão,
conservação, limpeza e substituição.

6 - O equipamento de protecção individual a utilizar deve obedecer às


normas portuguesas existentes nessa matéria.

Artigo 14.º
Vestuário de trabalho

1 - Os trabalhadores são obrigados a usar vestuário de trabalho apro-


priado durante todo o tempo de permanência nas zonas em que se
verifique exposição ao chumbo.

2 - As entidades empregadoras devem fornecer gratuitamente aos tra-


balhadores o vestuário de trabalho, em número suficiente de peças
para substituição, e assegurar a sua lavagem e reparação.

3 - O vestuário de trabalho deve ser lavado pelo menos uma vez por
semana, em instalações destinadas a esse fim na própria empresa ou
em lavandarias equipadas para este tipo de lavagem, devendo, neste
caso, o seu transporte ser efectuado em recipientes fechados e rotula-
dos, de forma legível, com o seguinte aviso: «Atenção. Roupa conta-
minada com chumbo. Não sacudir.»

4 - A reparação do vestuário de trabalho deteriorado só é permitida


após lavagem do mesmo.

72
5 - O vestuário de trabalho contaminado não pode sair para o exterior
da empresa ou do estabelecimento, salvo na situação e nas condições
previstas no n.º 3.

Artigo 15.º
Instalações sanitárias e de vestiário

1 - As entidades empregadoras devem assegurar aos trabalhadores a


utilização de instalações sanitárias adequadas que obedeçam ao esta-
belecido no artigo 139.º do Regulamento Geral de Segurança e Higiene
do Trabalho nos Estabelecimentos Industriais, aprovado pela Portaria
n.º 53/71, de 3 de Fevereiro, e alterado pela Portaria n.º 702/80, de
22 de Setembro.

2 - Cada trabalhador exposto deve dispor de um armário destinado à


roupa de uso pessoal e de outro destinado à roupa de trabalho, sem-
pre independentes e separados, se possível, pela zona das cabinas de
banho.

Artigo 16.º
Informação dos trabalhadores

1 - As entidades empregadoras devem facultar aos trabalhadores ex-


postos, assim como aos seus representantes na empresa ou no esta-
belecimento, informação sobre:

a) Os riscos potenciais para a saúde derivados da exposição ao chum-


bo, incluindo para o feto e para os recém-nascidos amamentados com
leite materno;

b) Os valores limite regulamentares e a necessidade de serem efectu-


adas vigilâncias médicas biológica e atmosférica;

c) Os riscos agravados que correm os trabalhadores potencialmente


expostos pelo facto de fumarem, comerem ou beberem nos locais de
trabalho e sobre a respectiva proibição;

d) A correcta utilização do vestuário e do equipamento de protecção;

e) As precauções a tomar destinadas a minimizar o risco de exposição


ao chumbo.

2 - As entidades empregadoras devem ainda informar os trabalhadores


e os seus representantes na empresa ou no estabelecimento sobre os
seguintes elementos:

Risco de exposição às poeiras 73


a) Resultados das avaliações do nível de concentração de chumbo no
ar;

b) Resultados estatísticos, não nominativos, da vigilância biológica.

3 - Sempre que as concentrações de chumbo no ar ultrapassem o valor


limite de concentração, as entidades empregadoras devem informar
imediatamente desse facto os trabalhadores expostos e os seus re-
presentantes na empresa ou no estabelecimento, bem como das suas
causas e das medidas a adoptar ou, no caso de urgência, das medidas
entretanto tomadas.

4 - Sempre que, para avaliar a exposição ao chumbo, forem efectuadas


determinações de plumbémia, do ALAU ou de qualquer outro indicador
biológico, os trabalhadores a que essas determinações respeitam de-
vem ser informados dos respectivos resultados e sua interpretação.

Artigo 17.º
Registo e arquivo de documentos

1 - As entidades empregadoras devem organizar registos de dados e


manter arquivos actualizados sobre:

a) Avaliação e controlo das concentrações de chumbo no ar;

b) Vigilância médica dos trabalhadores.

2 - O registo e o arquivo de dados a que se refere a alínea a) do núme-


ro anterior devem conter:

a) Identificação de cada trabalhador exposto, com a indicação dos pos-


tos de trabalho ocupados, natureza e duração da actividade;

b) Datas, número, duração, localização e resultados de cada uma das


colheitas obtidas para determinar o nível de exposição de cada traba-
lhador identificado;

c) Métodos de colheita e análise utilizados, com justificação da respec-


tiva fiabilidade.

3 - O registo e o arquivo de dados a que se refere a alínea b) do n.º 1


devem constar de dossiers médicos individuais, colocados sob a tutela
do médico responsável, e conter:

74
a) Identificação do trabalhador, com indicação do posto de trabalho;

b) Resultados dos exames médicos e das determinações biológicas


efectuadas, com indicação da metodologia utilizada;

c) Indicação da data de afastamento do posto de trabalho sujeito a


exposição ao chumbo e da reafectação, se for caso disso;

d) Outros elementos que o médico responsável considere úteis.

Artigo 18.º
Conservação dos arquivos

1 - Os registos referidos no artigo anterior devem ser conservados en-


quanto durar a relação contratual com trabalhadores expostos.

2 - No caso de a empresa cessar a actividade, os arquivos devem ser


transferidos para a Direcção-Geral de Higiene e Segurança do Traba-
lho.

3 - Em caso de cessação do contrato individual de trabalho, a empresa


deve entregar ao trabalhador uma cópia do seu dossier médico, con-
servando o original.

4 - A transferência dos dossiers prevista no n.º 2 deve ser efectuada


em condições que garantam a confidencialidade dos dados neles con-
tidos.

Artigo 19.º
Consulta dos arquivos

1 - As entidades empregadoras devem facultar à Direcção-Geral de


Higiene e Segurança do Trabalho, à Inspecção-Geral do Trabalho e às
autoridades de saúde o acesso aos arquivos de documentação a que
se refere o artigo 17.º

2 - Aos trabalhadores é garantido o direito de acesso às informações


contidas nos registos de avaliação e controlo das concentrações e da
vigilância médica que lhes digam directamente respeito.

3 - Aos trabalhadores e seus representantes na empresa ou estabele-


cimento é igualmente garantido o direito de acesso às informações de
interesse colectivo, não individualizadas, contidas no registo.

Risco de exposição às poeiras 75


Artigo 20.º
Organismo de referência

A qualidade das avaliações da concentração de chumbo no ar e dos


indicadores biológicos previstos no presente diploma será assegurada
pelo Instituto Nacional de Saúde, que para o efeito estabelecerá um
programa de controlo adequado.

Artigo 21.º
Fiscalização

A fiscalização do cumprimento das disposições contidas no presente


diploma compete, consoante os casos, à Inspecção-Geral do Traba-
lho, à Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários e às demais
entidades com competência na matéria, nomeadamente os órgãos de
governo e serviços próprios das Regiões Autónomas dos Açores e da
Madeira, de harmonia com a legislação aplicável.

Artigo 22.º
Contra-ordenações

1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, às contra-or-


denações laborais previstas no presente diploma é aplicável o regime
estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 491/85, de 26 de Novembro.

2 - Constitui contra-ordenação punível com coima de:

a) 5000$00 a 30000$00, por cada trabalhador abrangido, a violação do


disposto nos n.os 3 e 4 do artigo 16.º;

b) 10000$00 a 50000$00, por cada trabalhador abrangido, a violação


do disposto nos n.os 3 e 5 do artigo 8.º, 2 do artigo 9.º, 1, 2, 3, 4, 5, 6,
9, alínea c), e 12 do artigo 11.º, bem como nos n.os 1, 2 e 3 do artigo
13.º, 2 do artigo 14.º, 2 do artigo 15.º e 1 e 3 do artigo 18.º;

c) 10000$00 a 200000$00, a violação do disposto nos n.os 7 do artigo


3.º, 4 do artigo 6.º, 1 e 2 do artigo 7.º, 1 do artigo 8.º,1 e 3 do artigo
9.º, 5 do artigo 12.º, 5 do artigo 13.º e 3, 4 e 5 do artigo 14.º, bem
como nos n.os 1 do artigo 15.º, 2 do artigo 16.º e 2 do artigo 18.º;

d) 100000$00 a 500000$00, a violação do disposto nos n.os 5 e 6 do


artigo 4.º e 2 do artigo 6.º, bem como no artigo 17.º

76
3 - No caso da alínea d) do número anterior, o limite máximo da coima
é reduzido a 200000$00 se o responsável for pessoa singular.

4 - Do produto das coimas aplicadas nos termos deste artigo, 50%


revertem para o Fundo de Garantia e Actualização de Pensões, desti-
nando-se os restantes 50% à Inspecção-Geral do Trabalho a título de
compensação dos custos de funcionamento e despesas processuais.

5 - A Inspecção-Geral do Trabalho transferirá trimestralmente para o


Fundo de Garantia e Actualização de Pensões a parte de 50% da recei-
ta efectivamente arrecadada a que tem direito nos termos do número
anterior.

ANEXO I

Lista indicativa das actividades

1 - Manutenção de concentração de chumbo.


2 - Fundição de chumbo e de zinco (primária e secundária).
3 - Fabrico e manipulação de arseniato de chumbo para pulverização.
4 - Fabrico de óxidos de chumbo.
5 - Produção de outros compostos de chumbo (compreendendo a parte da pro-
dução de compostos de chumbo, se comportar uma exposição ao chumbo
metálico e aos seus compostos).
6 - Fabrico de tintas, esmaltes, betumes e cores com chumbo.
7 - Fabrico e reciclagem de acumuladores.
8 - Artesanato de estanho e de chumbo.
9 - Fabrico de chumbo para soldar.
10 - Fabrico de munições contendo chumbo.
11 - Fabrico de objectos à base de chumbo ou de ligas contendo chumbo.
12 - Utilização de tintas, esmaltes, betumes e cores com chumbo.
13 - Indústrias de cerâmica e olaria artesanal.
14 - Cristalaria.
15 - Indústrias de plástico utilizando aditivos à base de chumbo.
16 - Utilização frequente de chumbo para soldar em espaços fechados.
17 - Trabalhos de impressão que comportem a utilização de chumbo.
18 - Trabalhos de demolição, nomeadamente raspagem, queima e recorte com
maçarico de materiais cobertos com pinturas contendo chumbo, bem como
demolição de instalações (por exemplo, fornos de fundições).
19 - Utilização de munições contendo chumbo em espaços fechados.
20 - Construção e reparação automóvel.
21 - Fabrico de aço com chumbo.
22 - Têmpera de aço com chumbo.
23 - Revestimento com chumbo.
24 - Recuperação do chumbo de resíduos metálicos contendo chumbo.

Risco de exposição às poeiras 77


ANEXO II

Características do equipamento de colheita de amostras de ar e de


determinação da concentração de chumbo no ar

1 - O equipamento de colheita deve obedecer às seguintes especifica-


ções técnicas:

a) Velocidade de entrada do ar no orifício - 1,25 m por segundo, mais


ou menos 10%;

b) Caudal de colheita - pelo menos 1 l por minuto;

c) Características do porta-filtros - é conveniente usar um porta-filtros


fechado a fim de evitar contaminações;

d) Diâmetros do orifício de entrada - pelo menos 4 mm, para evitar o


efeito de parede;

e) Posição do filtro ou do orifício de entrada do ar - na medida do


possível a orientação deve manter-se paralela ao rosto do trabalhador
durante todo o período de colheita da amostra;

f) Eficácia do filtro - uma eficácia de pelo menos 95% para a retenção


de partículas com um diâmetro aerodinâmico igual ou superior a 0,3
micrómetros;
g) Homogeneidade do filtro - homogeneidade máxima em relação ao
conteúdo em chumbo do filtro para permitir uma comparação entre as
duas metades do mesmo filtro.

2 - Chumbo contido na amostra, colhida segundo o especificado no n.º


1, deve ser analisado por espectroscopia de absorção atómica ou por
outro método equivalente.

ANEXO III

Métodos de determinação dos indicadores biológicos

PbB - espectroscopia de absorção atómica.


ALAU - método Davis ou método equivalente.
PPZ - hematofluorimetria ou método equivalente.
ALAD - método padrão europeu ou método equivalente.

78
Anexo B

Decreto-Lei nº 266 / 2007 de 24 de Julho

A Directiva n.º 2003/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de


27 de Março, alterou a Directiva n.º 83/477/CEE, do Conselho, de 19
de Setembro, relativa à protecção sanitária dos trabalhadores contra
os riscos de exposição ao amianto durante o trabalho.

O amianto é uma fibra mineral cujas propriedades de isolamento térmi-


co, incombustibilidade, resistência e facilidade em ser tecida bem como
o seu baixo custo justificaram a sua utilização nos diversos sectores
de actividade, nomeadamente na construção e protecção dos edifícios,
em sistemas de aquecimento, na protecção dos navios contra o fogo
ou o calor, em placas, telhas e ladrilhos, no reforço do revestimento de
estradas e materiais plásticos, em juntas, calços de travões e vestuário
de protecção contra o calor.

O amianto constitui um importante factor de mortalidade relacionada


com o trabalho e um dos principais desafios para a saúde pública ao
nível mundial, cujos efeitos surgem na maioria dos casos vários anos
depois das situações de exposição.

A partir de 1960 foram divulgados estudos que estabeleceram a rela-


ção causal entre a exposição ao amianto e o cancro do pulmão, de-
monstrando que a sua frequência é 10 vezes superior em trabalhado-
res expostos ao amianto durante 20 anos ou mais do que na população
em geral. Atribuíram-se características cancerígenas a apenas algumas
variedades de amianto, designadamente a crocidolite e a amosite, res-
ponsáveis pelo aparecimento de mesotelioma da pleura, deixando de
fora o crisótilo ou amianto branco. Admitia-se que os efeitos do cri-
sótilo eram rapidamente eliminados pelo organismo, não provocando
doenças com períodos de latência elevados como o cancro do pulmão
ou mesotelioma, o que justificou durante alguns anos o uso controlado
do amianto.

A Directiva n.º 83/477/CEE, sobre a protecção sanitária dos trabalha-


dores contra os riscos ligados à exposição ao amianto no trabalho, e a
Convenção n.º 162 da Organização Internacional do Trabalho, sobre a
segurança na utilização do amianto, adoptadas nessa época, contribu-
íram para reduzir a exposição de trabalhadores ao amianto.

Risco de exposição às poeiras 79


Investigações posteriores concluíram que todas as fibras de amianto
são cancerígenas, qualquer que seja o seu tipo ou origem geológica. O
Programa sobre Segurança das Substâncias Químicas, da Organização
Mundial de Saúde, concluiu que a exposição ao crisótilo envolve riscos
acrescidos de asbestose, de cancro do pulmão e de mesotelioma, bem
como que não se conhecem valores limite de exposição abaixo dos
quais não haja riscos cancerígenos.

A Directiva n.º 2003/18/CE tem em consideração a proibição da colo-


cação no mercado e da utilização de produtos de amianto ou de produ-
tos que contenham amianto adicionado intencionalmente. As principais
alterações respeitam ao âmbito de aplicação, que passa a abranger os
transportes marítimo e aéreo, à definição mais precisa do conceito de
amianto com referência à classificação mineralógica e ao registo do
Chemical Abstract Service (CAS), à limitação e proibição das activi-
dades que implicam exposição ao amianto, designadamente a extrac-
ção do mesmo, o fabrico e a transformação de produtos de amianto
ou que contenham amianto deliberadamente acrescentado, ao reforço
das medidas de prevenção e protecção, à redução do valor limite de
exposição, à metodologia da recolha de amostras e da contagem das
fibras para a medição do teor do amianto no ar, à formação específica
dos trabalhadores expostos ao amianto e ao reconhecimento de com-
petências das empresas que intervenham nos trabalhos de remoção e
demolição.

A avaliação dos riscos, a adopção de medidas destinadas a prevenir ou


controlar os riscos, a informação, formação e consulta dos trabalhado-
res, o acompanhamento regular dos riscos e das medidas de controlo
e a vigilância adequada da saúde, com obrigatoriedade de o exame de
admissão ser sempre realizado antes do início da exposição, são muito
importantes na prevenção dos riscos de exposição ao amianto. Todos
estes factores são regulados no presente decreto-lei.

A transposição da Directiva n.º 2003/18/CE implica a alteração subs-


tancial dos diplomas que regulam a exposição ao amianto durante o
trabalho, o que justifica a revogação dos mesmos e a sua substituição
pelo presente decreto-lei.

O projecto correspondente ao presente decreto-lei foi publicado, para


apreciação pública, na separata do Boletim do Trabalho e Emprego, n.º
7, de 5 de Setembro de 2006, com alterações. Os pareceres emitidos
por organizações representativas de trabalhadores e de empregado-
res, bem como por especialistas, foram devidamente ponderados, ten-
do sido alteradas algumas disposições do projecto.

80
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas.
Foi ainda ouvida a Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Assim:

Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o


Governo decreta o seguinte:

Artigo 1.º
Objecto e âmbito

1 - O presente decreto-lei transpõe para a ordem jurídica interna a Di-


rectiva n.º 2003/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27
de Março, que altera a Directiva n.º 83/477/CEE, do Conselho, de 19
de Setembro, relativa à protecção sanitária dos trabalhadores contra
os riscos de exposição ao amianto durante o trabalho.

2 - O presente decreto-lei é aplicável em todas as actividades em que


os trabalhadores estão ou podem estar expostos a poeiras do amianto
ou de materiais que contenham amianto, nomeadamente:

a) Demolição de construções em que existe amianto ou materiais que


contenham amianto;

b) Desmontagem de máquinas ou ferramentas em que existe amianto


ou materiais que contenham amianto;

c) Remoção do amianto ou de materiais que contenham amianto de


instalações, estruturas, edifícios ou equipamentos, bem como aerona-
ves, material circulante ferroviário, navios ou veículos;

d) Manutenção e reparação de materiais que contenham amianto exis-


tentes em instalações, estruturas, edifícios ou equipamentos, bem
como em aeronaves, carruagens de comboios, navios ou veículos;

e) Transporte, tratamento e eliminação de resíduos que contenham


amianto;

f) Aterros autorizados para resíduos de amianto.

3 - O presente decreto-lei é aplicável nos sectores privado, cooperativo


e social, na administração pública central, regional e local, institutos
públicos e demais pessoas colectivas de direito público, bem como a
trabalhadores independentes que desenvolvam actividades referidas
no número anterior.

Risco de exposição às poeiras 81


Artigo 2.º
Definições

Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por:

a) «Amianto» os seguintes silicatos fibrosos, referenciados de acordo


com o número de registo admitido internacionalmente do Chemical
Abstract Service (CAS):

i) Amianto actinolite, n.º 77536-66-4 do CAS;


ii) Amianto grunerite, também designado por amosite, n.º 12172-73-5
do CAS;
iii) Amianto antofilite, n.º 77536-67-5 do CAS;
iv) Crisótilo, n.º 12001-29-5 do CAS;
v) Crocidolite, n.º 12001-28-4 do CAS;
vi) Amianto tremolite, n.º 77536-68-6 do CAS;

b) «Fibras respiráveis de amianto» as fibras com comprimento superior


a 5 µm e diâmetro inferior a 3 µm, cuja relação entre o comprimento e
o diâmetro seja superior a 3:1;

c) «Poeiras de amianto» as partículas de amianto em suspensão no ar


ou depositadas mas susceptíveis de ficarem em suspensão no ar;

d) «Trabalhador exposto» qualquer trabalhador que desenvolva uma


actividade susceptível de apresentar risco de exposição a poeiras de
amianto ou de materiais que contenham amianto;

e) «Valor limite de exposição» o valor de concentração de fibras res-


piráveis de amianto, medido ou calculado relativamente a uma média
ponderada no tempo para um período diário de oito horas.

Artigo 3.º
Notificação

1 - As actividades no exercício das quais os trabalhadores estão ou


podem estar expostos a poeiras de amianto ou de materiais que conte-
nham amianto são objecto de notificação obrigatória à Autoridade para
as Condições de Trabalho.

2 - A notificação referida no número anterior é feita pelo menos 30


dias antes do início dos trabalhos ou actividades e contém os seguintes
elementos:

82
a) Identificação do local de trabalho onde se vai desenvolver a activi-
dade;

b) Tipo e quantidade de amianto utilizado ou manipulado;

c) Identificação da actividade e dos processos aplicados;

d) Número de trabalhadores envolvidos;

e) Data do início dos trabalhos e sua duração;

f) Medidas preventivas a aplicar para limitar a exposição dos trabalha-


dores às poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto;

g) Identificação da empresa responsável pelas actividades, no caso de


ser contratada para o efeito.

3 - A notificação referida nos números anteriores é renovada sempre


que haja modificação das condições de trabalho que implique aumento
significativo da exposição a poeiras de amianto ou de materiais que
contenham amianto.

4 - Os trabalhadores bem como os seus representantes para a segu-


rança, higiene e saúde no trabalho têm acesso aos documentos respei-
tantes às notificações.

5 - A Autoridade para as Condições do Trabalho mantém um registo


actualizado das notificações referidas no n.º 1.

Artigo 4.º
Valor limite de exposição

O valor limite de exposição é fixado em 0,1 fibra por centímetro cúbi-


co.

Artigo 5.º
Actividades proibidas

1 - Sem prejuízo do disposto na legislação relativa à comercialização e


utilização do amianto, são proibidas as actividades que exponham os
trabalhadores a fibras de amianto aquando da extracção de amianto,
do fabrico e da transformação de produtos de amianto ou de produtos
que contenham amianto deliberadamente acrescentado.

Risco de exposição às poeiras 83


2 - O disposto no número anterior não é aplicável ao tratamento e
deposição em aterros dos produtos resultantes da demolição e da re-
moção do amianto.

Artigo 6.º
Avaliação dos riscos

Nas actividades susceptíveis de apresentar risco de exposição a poei-


ras de amianto ou de materiais que contenham amianto, o empregador
avalia o risco para a segurança e saúde dos trabalhadores, determi-
nando a natureza, o grau e o tempo de exposição.

Artigo 7.º
Redução da exposição

1 - O empregador utiliza todos os meios disponíveis para que, no local


de trabalho, a exposição dos trabalhadores a poeiras de amianto ou
de materiais que contenham amianto seja reduzida ao mínimo e, em
qualquer caso, não seja superior ao valor limite de exposição.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, o empregador utiliza


nomeadamente as seguintes medidas de prevenção:

a) Redução ao mínimo possível do número de trabalhadores expostos


ou susceptíveis de estarem expostos a poeiras de amianto ou de ma-
teriais que contenham amianto;

b) Processos de trabalho que não produzam poeiras de amianto ou, se


isso for impossível, que evitem a libertação de poeiras de amianto na
atmosfera, nomeadamente por confinamento, exaustão localizada ou
via húmida;

c) Limpeza e manutenção regulares e eficazes das instalações e equi-


pamentos que sirvam para o tratamento do amianto;

d) Transporte e armazenagem do amianto, dos materiais que libertem


poeiras de amianto ou que contenham amianto em embalagens fecha-
das e apropriadas.

3 - O empregador assegura que os resíduos, com excepção dos resul-


tantes da actividade mineira, sejam recolhidos e removidos do local
de trabalho com a maior brevidade possível, em embalagens fechadas
apropriadas, rotuladas com a menção «Contém amianto», de acordo
com a legislação aplicável sobre classificação, embalagem e rotulagem
de substâncias e preparações perigosas.

84
4 - Os resíduos referidos no número anterior são tratados de acordo
com a legislação aplicável aos resíduos perigosos.

Artigo 8.º
Determinação da concentração de amianto no ar

1 - O empregador, tendo em conta os resultados da avaliação inicial


dos riscos, procede regularmente à medição da concentração das fibras
de amianto nos locais de trabalho a fim de assegurar o cumprimento do
valor limite de exposição.

2 - A medição da concentração das fibras de amianto na atmosfera


dos locais de trabalho tem apenas em conta as fibras respiráveis de
amianto.

3 - A amostra deve ser representativa da exposição pessoal do traba-


lhador às poeiras de amianto ou de materiais que contenham amian-
to.

4 - A colheita da amostra deve ser realizada por pessoal com a qualifi-


cação adequada, por período cuja duração seja de modo que, por cada
medição ou cálculo ponderado no tempo, seja possível determinar uma
exposição representativa relativamente a um período de referência de
oito horas.

5 - A contagem de fibras é efectuada, preferencialmente, pelo método


da microscopia de contraste de fase (método de filtro de membrana),
recomendado pela Organização Mundial de Saúde, ou por outro méto-
do que garanta resultados equivalentes, em laboratórios qualificados.

Artigo 9.º
Ultrapassagem do valor limite de exposição

1 - Nas situações em que seja ultrapassado o valor limite de exposição,


o empregador:

a) Identifica as causas da ultrapassagem do valor limite;

b) Adopta as medidas de correcção adequadas o mais rapidamente


possível;

c) Corrige as medidas de prevenção e protecção de modo a evitar a


ocorrência de situações idênticas.

2 - O trabalho na zona afectada só pode prosseguir após a adopção das


medidas adequadas à protecção dos trabalhadores.

Risco de exposição às poeiras 85


3 - O empregador procede a nova determinação da concentração de
amianto na atmosfera do local de trabalho de modo a verificar a eficá-
cia das medidas de correcção referidas no n.º 1.

4 - Nas situações em que não seja possível tecnicamente reduzir a ex-


posição para valor inferior ao valor limite de exposição é obrigatória a
utilização pelos trabalhadores de equipamento de protecção individual
das vias respiratórias.

5 - A utilização de equipamento de protecção individual das vias respi-


ratórias é limitada ao tempo estritamente necessário.

6 - Os períodos de trabalho em que seja utilizado equipamento de


protecção individual das vias respiratórias compreendem pausas cuja
duração tenha em conta o esforço físico e as condições climatéricas,
determinadas mediante consulta dos representantes dos trabalhadores
para a segurança, higiene e saúde no trabalho.

Artigo 10.º
Trabalhos de manutenção, reparação, remoção ou demolição

1 - Antes do início dos trabalhos referidos no n.º 2 do artigo 1.º, o em-


pregador identifica os materiais que presumivelmente contêm amianto,
nomeadamente pelo recurso a informação prestada pelo proprietário
do imóvel ou, no caso de equipamento ou outra coisa móvel, disponi-
bilizada pelo fabricante.

2 - Nas situações em que existe dúvida sobre a presença de amianto


são aplicáveis as disposições do presente decreto-lei.

3 - Nas situações em que se preveja a ultrapassagem do valor limite


de exposição, o empregador, além das medidas técnicas preventivas
destinadas a limitar as poeiras de amianto, adopta medidas que refor-
cem a protecção dos trabalhadores durante essas actividades, nome-
adamente:

a) Fornecimento de equipamentos de protecção individual das vias res-


piratórias e outros equipamentos de protecção individual, cuja utiliza-
ção é obrigatória;

b) Colocação de painéis de sinalização com a advertência de que é pre-


visível a ultrapassagem do valor limite de exposição;

c) Não dispersão de poeiras de amianto ou de materiais que conte-


nham amianto para fora das instalações ou do local da acção.

86
Artigo 11.º
Elaboração e execução do plano de trabalhos

1 - O empregador, antes de iniciar qualquer trabalho em edifícios, es-


truturas, aparelhos, instalações, bem como em aeronaves, material
circulante ferroviário, navios ou veículos, que envolva demolição ou
remoção de amianto ou de materiais que o contenham, elabora um
plano de trabalhos.

2 - O plano de trabalhos inclui as medidas indispensáveis à segurança


e saúde dos trabalhadores, bem como à protecção de pessoas e bens
e do ambiente, designadamente respeitantes a:

a) Remoção do amianto ou dos materiais que contenham amianto an-


tes da aplicação das técnicas de demolição, salvo se a remoção repre-
sentar para os trabalhadores um risco superior do que a manutenção
no local do amianto ou dos materiais que contenham amianto;

b) Utilização de equipamentos de protecção individual pelos trabalha-


dores, sempre que necessário;

c) Logo que os trabalhos de demolição ou de remoção do amianto


sejam concluídos, verificação da ausência de riscos de exposição ao
amianto nesse local.

3 - O plano de trabalhos contém, ainda, as seguintes especificações:

a) Natureza dos trabalhos a realizar com indicação do tipo de activida-


de a que corresponde;

b) Duração provável dos trabalhos;

c) Métodos de trabalho a utilizar tendo em conta o tipo de material


em que a intervenção é feita, se é ou não friável, com indicação da
quantidade de amianto ou de materiais que contenham amianto a ser
manipulado;

d) Indicação do local onde se efectuam os trabalhos;

e) Características dos equipamentos utilizados para a protecção e des-


contaminação dos trabalhadores;

f) Medidas que evitem a exposição de pessoas que se encontrem no


local ou na sua proximidade;

Risco de exposição às poeiras 87


g) Lista nominal dos trabalhadores implicados nos trabalhos ou em
contacto com o material que contenha amianto e indicação da respec-
tiva categoria profissional, formação e experiência na realização dos
trabalhos;

h) Identificação da empresa e do técnico responsável pela aplicação


dos procedimentos de trabalho e pelas medidas preventivas previs-
tas;

i) Indicação da empresa encarregue da eliminação dos resíduos, nos


termos da legislação aplicável.

4 - A realização dos trabalhos referidos no n.º 1 depende de autoriza-


ção prévia da Autoridade para as Condições de Trabalho, que envolve a
aprovação do plano de trabalhos e o reconhecimento de competências
da empresa que os executa, nos termos do artigo 24.º

5 - O empregador que contrate a realização de trabalhos a que se re-


fere o presente artigo deve assegurar-se de que a empresa contratada
lhe remeteu cópia do respectivo plano de trabalhos, depois de aprova-
do, e obteve o reconhecimento das suas competências para o desen-
volvimento dos trabalhos.

6 - O plano de trabalhos deve estar acessível, no local de realização


dos trabalhos, a todos os trabalhadores e aos representantes dos tra-
balhadores para a segurança, higiene e saúde no trabalho que nele
trabalhem.

Artigo 12.º
Medidas gerais de higiene

1 - As áreas de trabalho onde os trabalhadores estão ou podem estar


expostos a poeiras de amianto ou de materiais que contenham amian-
to são claramente delimitadas e identificadas por painéis.

2 - Às áreas de trabalho referidas no número anterior só podem ter


acesso os trabalhadores que nelas prestem actividade ou que a elas
necessitem de se deslocar em virtude das suas funções.

3 - É proibido fumar nas áreas de trabalho onde haja riscos de exposi-


ção a poeiras de amianto.

4 - Nas áreas de trabalho referidas nos números anteriores ou na sua


proximidade deve existir um local adequado onde os trabalhadores

88
possam comer e beber sem risco de contaminação por poeiras de
amianto.

Artigo 13.º
Equipamentos de protecção individual

1 - O empregador fornece aos trabalhadores equipamentos de protec-


ção individual adequados aos riscos existentes no local de trabalho e
que obedeça à legislação aplicável.

2 - Os equipamentos de protecção individual são:

a) Colocados em locais apropriados;

b) Verificados e limpos após cada utilização;

c) Reparados e substituídos antes de nova utilização caso se encon-


trem deteriorados ou com defeitos.

Artigo 14.º
Vestuário de trabalho ou protecção

1 - O empregador fornece aos trabalhadores vestuário de trabalho ou


de protecção adequados, nomeadamente impermeáveis a poeiras de
amianto.

2 - O vestuário de trabalho ou de protecção utilizado pelos trabalha-


dores e que seja reutilizável permanece na empresa e é lavado em
instalação apropriada e equipada para essas operações.

3 - Se o vestuário de trabalho ou de protecção referido no número an-


terior for lavado em instalação exterior à empresa, é transportado em
recipiente fechado e devidamente rotulado.

Artigo 15.º
Instalações sanitárias e vestiário

1 - O empregador põe à disposição dos trabalhadores instalações sani-


tárias e vestiário adequados, nos termos da legislação aplicável.

2 - As instalações sanitárias dispõem de cabinas de banho com chuvei-


ro situadas junto das áreas de trabalho, quando as operações envol-
vem exposição a poeiras de amianto.

Risco de exposição às poeiras 89


3 - O vestiário inclui espaços independentes para o vestuário de traba-
lho ou de protecção e para o de uso pessoal, separados pelas cabinas
de banho.

Artigo 16.º
Formação específica dos trabalhadores

1 - O empregador assegura regularmente a formação específica ade-


quada dos trabalhadores expostos ou susceptíveis de estarem expos-
tos a poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto, sem
encargos para os mesmos.

2 - A formação referida no número anterior deve ser facilmente com-


preensível e permitir a aquisição dos conhecimentos e competências
necessários em matéria de prevenção e de segurança, nomeadamente
no respeitante a:

a) Propriedades do amianto e seus efeitos sobre a saúde, incluindo o


efeito sinérgico do tabagismo;

b) Tipos de produtos ou materiais susceptíveis de conterem amianto;

c) Operações que podem provocar exposição a poeiras de amianto ou


de materiais que contenham amianto e a importância das medidas de
prevenção na minimização da exposição;

d) Práticas profissionais seguras, controlos e equipamentos de protec-


ção;

e) Função do equipamento de protecção das vias respiratórias, esco-


lha, utilização correcta e limitações do mesmo;

f) Procedimentos de emergência;

g) Eliminação dos resíduos;

h) Requisitos em matéria de vigilância médica.

3 - A formação prevista no presente artigo está abrangida pelo regime


do Código do Trabalho para a formação contínua de activos, devendo
ser emitido e entregue a cada trabalhador documento comprovativo da
frequência da respectiva acção formativa, duração, data da conclusão
e aproveitamento obtido.

90
Artigo 17.º
Informação específica dos trabalhadores

1 - Sem prejuízo do disposto na legislação geral em matéria de infor-


mação e consulta, o empregador assegura aos trabalhadores expostos,
assim como aos respectivos representantes para a segurança, higiene
e saúde no trabalho, informação adequada sobre:

a) Os riscos para a saúde resultantes de exposição a poeiras de amian-


to ou de materiais que contenham amianto;

b) O valor limite de exposição;

c) A obrigatoriedade da medição da concentração do amianto na at-


mosfera do local de trabalho;

d) As medidas de higiene, incluindo a necessidade de não fumar;

e) As precauções a tomar no transporte e utilização de equipamentos


e de vestuário de trabalho ou de protecção;

f) As medidas especiais adoptadas para minimizar o risco de exposição


a poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto;

g) Os resultados das medições sobre a concentração de amianto na


atmosfera, acompanhados sempre que necessário de explicações ade-
quadas à compreensão dos mesmos.

2 - O empregador assegura, ainda, que os trabalhadores e os seus


representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho sejam
informados, com a maior brevidade possível, sobre situações de ultra-
passagem do valor limite de exposição e as suas causas.

3 - A informação deve ser prestada na forma e suporte adequados e


ser periodicamente actualizada, de modo a incluir qualquer alteração
verificada.

Artigo 18.º
Informação e consulta dos trabalhadores

O empregador assegura a informação e consulta dos trabalhadores e


dos seus representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho
sobre a aplicação das disposições do presente decreto-lei, nos termos
previstos na legislação geral, designadamente sobre:

Risco de exposição às poeiras 91


a) A avaliação dos riscos e as medidas a tomar;

b) A colheita de amostras para a determinação da concentração de


poeiras de amianto na atmosfera do local de trabalho;

c) As medidas a tomar em caso de ultrapassagem do valor limite de


exposição.

Artigo 19.º
Vigilância da saúde

1 - Sem prejuízo das obrigações gerais em matéria de saúde no tra-


balho, o empregador assegura a vigilância adequada da saúde dos
trabalhadores em relação aos quais o resultado da avaliação revela a
existência de riscos, através de exames de saúde, devendo em qual-
quer caso o exame de admissão ser realizado antes da exposição aos
riscos.

2 - A vigilância da saúde referida no número anterior deve permitir a


aplicação dos princípios e práticas da medicina do trabalho de acordo
com os conhecimentos mais recentes, ser baseada no conhecimento
das condições ou circunstâncias em que cada trabalhador foi ou possa
ser sujeito à exposição ao risco e incluir no mínimo os seguintes pro-
cedimentos:

a) Registo da história clínica e profissional de cada trabalhador;

b) Entrevista pessoal com o trabalhador;

c) Avaliação individual do seu estado de saúde, que inclui um exame


específico ao tórax;

d) Exames da função respiratória, nomeadamente a espirometria e a


curva de débito-volume.

3 - O médico responsável pela vigilância da saúde do trabalhador re-


quer, se necessário, a realização de exames complementares específi-
cos, designadamente análise citológica da saliva, radiografia do tórax,
tomografia computorizada ou outro exame pertinente em face dos co-
nhecimentos mais recentes da medicina do trabalho.

4 - Os exames de saúde referidos nos números anteriores são realiza-


dos com base no conhecimento de que a exposição às fibras de amian-
to pode provocar as seguintes afecções:

92
a) Asbestose;
b) Mesotelioma;
c) Cancro do pulmão;
d) Cancro gastrointestinal.

Artigo 20.º
Resultado da vigilância da saúde

1 - Em resultado da vigilância da saúde, o médico do trabalho:

a) Informa o trabalhador em causa do resultado;

b) Dá indicações sobre a eventual necessidade de continuar a vigilância


de saúde depois de terminada a exposição;

c) Comunica ao empregador o resultado da vigilância da saúde com in-


teresse para a prevenção de riscos, sem prejuízo do sigilo profissional
a que se encontra vinculado.

2 - O empregador, tendo em conta o referido na alínea c) do número


anterior:

a) Repete a avaliação dos riscos, a realizar nos termos do artigo 6.º;

b) Com base no parecer do médico do trabalho, adopta eventuais me-


didas individuais de protecção ou de prevenção e atribui, se necessá-
rio, ao trabalhador em causa outra tarefa compatível em que não haja
risco de exposição;

c) Promove a vigilância contínua da saúde do trabalhador;

d) Assegura a qualquer trabalhador que tenha estado exposto a poei-


ras de amianto um exame de saúde, incluindo a realização de exames
especiais.

3 - O trabalhador tem acesso, a seu pedido, ao registo de saúde que


lhe diga respeito.

Artigo 21.º
Registo e arquivo de documentos

1 - Sem prejuízo das obrigações gerais dos serviços de segurança,


higiene e saúde no trabalho, em matéria de registos de dados e con-
servação de documentos, o empregador organiza registos de dados e
mantém arquivos actualizados sobre:

Risco de exposição às poeiras 93


a) Os resultados da avaliação dos riscos bem como os critérios e pro-
cedimentos da avaliação utilizados;

b) Os métodos de colheita, as datas, o número, a duração, a localiza-


ção, os resultados e a análise de cada uma das colheitas de amostras
realizadas para determinar o nível de exposição geral e o de cada tra-
balhador;

c) A identificação dos trabalhadores expostos, com indicação, para


cada um, do posto de trabalho ocupado, da natureza e duração da ac-
tividade e do grau de exposição a que esteve sujeito;

d) Os resultados da vigilância da saúde de cada trabalhador, com refe-


rência ao respectivo posto de trabalho;

e) A identificação do médico responsável pela vigilância da saúde.

2 - O médico responsável pela vigilância da saúde de cada trabalhador


deve organizar registos de dados e conservar arquivo actualizado, com
referência ao respectivo posto de trabalho, sobre os exames de saúde
e exames complementares realizados e outros elementos que conside-
re úteis.

3 - Os representantes dos trabalhadores para a segurança, higiene e


saúde no trabalho têm acesso a informação genérica sobre os resulta-
dos da vigilância da saúde que não permita identificar os trabalhadores
a quem respeita.

Artigo 22.º
Conservação de registos e arquivos

1 - Os registos e arquivos referidos no artigo anterior são conservados


durante pelo menos 40 anos após ter terminado a exposição dos tra-
balhadores a que digam respeito.

2 - Se a empresa cessar a actividade, os registos e arquivos são trans-


feridos para a Autoridade para as Condições de Trabalho, que assegura
a sua confidencialidade.

Artigo 23.º
Exposições esporádicas e de fraca intensidade

Nas situações em que os trabalhadores estejam sujeitos a exposições


esporádicas e de fraca intensidade e o resultado da avaliação de riscos
demonstre claramente que o valor limite de exposição não será exce-

94
dido na área de trabalho, o disposto nos artigos 3.º, 11.º, 19.º, 20.º,
21.º e 22.º pode não ser aplicado se os trabalhos a efectuar implica-
rem:

a) Actividades de manutenção descontínuas e de curta duração em que


o trabalho incida apenas sobre materiais não friáveis;

b) Remoção sem deterioração de materiais não degradados em que as


fibras de amianto estão firmemente aglomeradas;

c) Encapsulamento e revestimento de materiais que contenham amian-


to, que se encontrem em bom estado;

d) Vigilância e controlo da qualidade do ar e recolha de amostras para


detectar a presença de amianto num dado material.

Artigo 24.º
Autorização de trabalhos

1 - A aprovação do plano de trabalhos e o reconhecimento das compe-


tências para os realizar a que se refere o artigo 11.º é efectuada por
meio de autorização mediante requerimento entregue na Autoridade
para as Condições de Trabalho, pelo menos, 30 dias antes do início da
actividade.

2 - O requerimento referido no número anterior deve ser devidamente


fundamentado e instruído com os seguintes elementos:

a) Identificação completa do requerente;

b) Local, natureza, início e termo previsível dos trabalhos;

c) Tipo e quantidade de amianto manipulado;

d) Comprovação da formação específica dos técnicos responsáveis e


demais trabalhadores envolvidos, designadamente quanto aos respec-
tivos conteúdos programáticos e duração;

e) Descrição do dispositivo relativo à gestão, à organização e ao funcio-


namento das actividades de segurança, higiene e saúde no trabalho;

f) Indicação do laboratório responsável pela medição da concentração


de fibras de amianto no ambiente de trabalho;

g) Exemplar do plano de trabalhos e da planta do local da realização


dos trabalhos;

Risco de exposição às poeiras 95


h) Lista dos equipamentos a usar, considerados adequados às especifi-
cidades dos trabalhos a executar, que obedeçam à legislação aplicável
sobre concepção, fabrico e comercialização de equipamentos, tendo
por referencial o elenco exemplificativo que consta em anexo ao pre-
sente decreto-lei, do qual faz parte integrante.

3 - Os títulos ou certificados emitidos no âmbito da União Europeia são


válidos para a instrução do processo de autorização.

4 - A Autoridade para as Condições de Trabalho emite documento de


autorização contendo a identificação do requerente e dos trabalhos a
realizar, as eventuais condicionantes da sua atribuição, bem como a
delimitação temporal da sua validade.

5 - A Autoridade para as Condições de Trabalho pode revogar as auto-


rizações sempre que haja alteração dos pressupostos da sua atribui-
ção.

6 - O titular da autorização está obrigado à devolução do respectivo


documento à Autoridade para as Condições de Trabalho sempre que
haja lugar a alteração do seus termos ou a mesma seja revogada.

7 - O titular da autorização deve afixar cópia do documento de autori-


zação no local da realização dos trabalhos, de forma bem visível.

Artigo 25.º
Contra-ordenações

1 - Constitui contra-ordenação laboral muito grave a violação do dis-


posto no n.º 1 do artigo 5.º, nos artigos 6.º a 10.º, nos n.os 1 a 4 do
artigo 11.º e nos artigos 17.º e 18.º

2 - Constitui contra-ordenação laboral grave a violação do disposto nos


n.os 2 e 4 do artigo 3.º e 5 e 6 do artigo 11.º, nos artigos 12.º a 16.º
e 19.º a 22.º e no n.º 6 do artigo 24.º

3 - Constitui contra-ordenação laboral leve a violação do disposto nos


n.os 3 do artigo 3.º e 7 do artigo 24.º

4 - O regime geral previsto nos artigos 614.º a 640.º do Código do Tra-


balho aplica-se às infracções por violação do presente decreto-lei, sem
prejuízo das competências legais atribuídas nas Regiões Autónomas
aos respectivos órgãos e serviços regionais.

96
Artigo 26.º
Disposição final

A Autoridade para as Condições de Trabalho, após consulta aos repre-


sentantes dos parceiros sociais, pode elaborar guias técnicos contendo
orientações práticas, tendo em vista a boa execução do presente de-
creto-lei, designadamente quanto à definição do conceito de exposição
esporádica de fraca intensidade.

Artigo 27.º
Norma revogatória

São revogados o Decreto-Lei n.º 284/89, de 24 de Agosto, a Portaria


n.º 1057/89, de 7 de Dezembro, e o Decreto-Lei n.º 389/93, de 20 de
Novembro.

Artigo 28.º
Norma transitória

Até à entrada em vigor do diploma orgânico da Autoridade para as


Condições de Trabalho, as referências que lhe são feitas no presente
decreto-lei reportam-se à Inspecção-Geral do Trabalho.

Artigo 29.º
Entrada em vigor

O presente decreto-lei entra em vigor 30 dias após a sua publicação.


Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 10 de Maio de 2007.

ANEXO
[a que se refere a alínea h) do n.º 2 do artigo 24.º]

Lista de equipamentos adequados ao exercício de trabalhos em edifí-


cios, estruturas, aparelhos, instalações, bem como em aeronaves, ma-
terial circulante ferroviário, navios ou veículos, que envolva demolição
ou remoção de amianto ou de materiais que o contenham.

1 - Materiais para vedação e limitação das zonas de trabalho, designa-


damente fitas, barreiras, rótulos e material de sinalização.

2 - Materiais de protecção contra a propagação da contaminação.

3 - Equipamento apropriado para visualização clara e supervisão do


trabalho e dos trabalhadores na zona confinada, quando necessário.

Risco de exposição às poeiras 97


4 - Gerador de fumo para ensaios e verificação da estanquidade das
zonas confinadas.

5 - Equipamento de protecção individual, designadamente fatos des-


cartáveis ou reutilizáveis, botas e luvas laváveis.

6 - Aparelhos de protecção respiratória individual dotados de filtros de


alta eficiência ou aparelhos respiratórios com fornecimento de artigo.

7 - Unidade de descontaminação inteiramente lavável, com o número


de compartimentos separados entre si por portas automáticas, deter-
minados em função da actividade desenvolvida e dos equipamentos de
protecção utilizados, com chuveiro de água quente adaptável e áreas
separadas para o vestuário limpo e o vestuário de trabalho contami-
nado, equipado com uma unidade de pressão negativa para manter a
ventilação no interior da unidade de descontaminação.

8 - Unidade de pressão negativa para manter a ventilação no interior


das zonas confinadas, dotado de exaustor com filtro de partículas de
alta eficiência (HEPA).

9 - Aparelho para medir a pressão negativa com pelo menos dois ca-
nais.

10 - Aspirador de partículas de alta eficiência, com filtros HEPA fabri-


cados segundo as especificações internacionais relativas à utilização
com amianto.

11 - Equipamento de supressão de poeiras.

12 - Pulverizador para aplicação de aglutinantes de fibras de amianto.

13 - Gerador de emergência para os casos de avaria ou de interrupção


da rede eléctrica.

14 - Equipamento para filtração das águas residuais contaminadas com


amianto.

15 - Equipamento de limpeza e produtos descartáveis.

16 - Máquina de lavar destinada ao tratamento do vestuário utilizado


antes do ingresso na zona confinada e durante as pausas do trabalho.

98
Anexo C

Boas Práticas para a Minimização do


Risco Associado à Exposição a
Poeiras no Local de Trabalho

Como se verificou anteriormente, o Decreto-Lei nº 274 / 89 de 21 de


Agosto, relativo à protecção dos trabalhadores contra os riscos resul-
tantes da exposição ao chumbo e aos seus compostos iónicos nos lo-
cais de trabalho e o Decreto-Lei nº 266 / 2007 de 24 de Julho, relativo
à protecção sanitária dos trabalhadores contra os riscos de exposição
ao amianto durante o trabalho, apresentam todos os procedimentos
a seguir para a utilização segura do chumbo e do amianto respectiva-
mente.

Apresentam-se de seguida algumas boas práticas para a minimização


do risco associado à exposição a poeiras no local de trabalho, as quais
serão mais ou menos aplicáveis, tendo em conta a natureza daquelas
que aí existam.

Recorde-se que se considerou, no âmbito do tema, que as poeiras po-


derão existir no local de trabalho:

• Devido ao manuseamento de certos materiais;

• Como consequência de processos mecânicos de desintegração;

• C
 omo consequência da degradação mecânica de certos mate-
riais;

• Devido a combustões incompletas;

• C
 omo consequência da sublimação de vapores, depois da vola-
tilização a elevadas temperaturas de metais fundidos.

As partículas respiráveis são frequentemente invisíveis a olho nu e são


tão leves que podem permanecer no ar por longos períodos de tempo.
Essas poeiras podem também atravessar grandes distâncias, em sus-
pensão no ar, e afectar trabalhadores que aparentemente não correm
riscos.

Risco de exposição às poeiras 99


A prevenção do risco associado à exposição a poeiras no local de tra-
balho deve ser equacionada desde a fase de projecto do processo pro-
dutivo. Deve-se garantir que se utilizam métodos alternativos àqueles
que recorrem à utilização de agentes químicos perigosos, mas, caso
se tenha que recorrer efectivamente ao seu uso, eles sejam usados
somente quando necessário. Deve-se também reduzir ao mínimo as
quantidades manipuladas e minimizar as suas emissões dentro e fora
do local de trabalho, bem como a produção dos seus resíduos. O local
de trabalho e as actividades desenvolvidas devem ser planeadas de
modo a que a exposição seja evitada ou mantida a um mínimo acei-
tável.

Deverão ser usados métodos húmidos para reduzir a exposição a poei-


ras em vez dos tradicionais métodos secos. Por exemplo, nos proces-
sos de perfuração e quebra é mais eficiente manter a poeira húmida no
local em que ela é gerada, do que tentar capturá-la depois de libertada
no ar ambiente. Quando se recorre à utilização de métodos húmidos
deverão ser considerados outros riscos decorrentes da sua aplicação
(por exemplo, risco de queda devido a superfícies molhadas e exposi-
ção a ambiente térmico inadequado). Também será necessário planear
o tratamento e o descarte do efluente líquido contaminado resultante
do processo de humedecimento.

O encapsulamento poderá ser usado para minimizar a exposição a po-


eiras. Consiste na colocação de uma barreira física entre a poeira e
o trabalhador, como que isolando o processo dentro de uma caixa.
Será aconselhável possuir um sistema de ventilação que mantenha o
processo em depressão, de modo a que não haja nenhuma fuga (por
aberturas ou nos locais de movimentação de poeiras dentro e fora do
encapsulamento). Nas operações de manutenção e limpeza, os tra-
balhadores deverão usar EPI adequado. Paragens não planeadas, que
obriguem os trabalhadores a abrirem o encapsulamento, devem ser
evitadas.

O risco de inalação também será menor caso se recorra a extracção lo-


calizada. Consiste na remoção do contaminante do ambiente, próximo
do local onde é gerado, antes que se propague na atmosfera e atinja
o aparelho respiratório do trabalhador. Deve-se garantir que o fluxo de
ar seja suficiente e no sentido apropriado, em especial onde o processo
produz movimentação de ar.

Nos locais de trabalho, é importante que haja ventilação para que seja
possível fazer um controlo da temperatura e da humidade ambiente.
Um sistema projectado correctamente pode promover a diluição contí-
nua de qualquer emissão acidental.

100
Para o correcto dimensionamento do sistema de ventilação deverá ser
considerada a movimentação de pessoas e veículos, além da abertura
de portas e janelas, de modo a não colocar em risco a sua eficiência.
Os sistemas de ventilação deverão ser alvo de revisão / manutenção
sistemática por pessoal especializado.

Se não houver outro método de controlar a exposição às poeiras, e


sempre em último caso, depois de exploradas todas as situações apre-
sentadas anteriormente, deverá ser fornecido ao trabalhador equipa-
mento de protecção respiratória adequado. Será importante ter pre-
sente que não é fácil usá-lo por longos períodos, especialmente em
condições de ambiente térmico inadequado. O EPI deverá ser limpo e
mantido em boas condições pois só assim será eficiente. É importante
que os utilizadores sejam informados e formados para a sua correcta
utilização, bem como os cuidados a ter durante o seu uso e limpeza.

Os trabalhadores deverão ser informados sobre o risco de exposição às


poeiras, as medidas de controlo e os resultados da medição da concen-
tração nos locais de trabalho.

Deverão ser adoptadas pelo trabalhador práticas de trabalho seguras:


cautela na transferência de materiais em pó, velocidade de trabalho
diminuta, postura corporal adequada, não recorrer à utilização de vas-
soura ou ar comprimido para limpeza, …

As refeições deverão ser realizadas em local destinado a essa fina-


lidade. Lavar as mãos e o rosto antes de comer e no final do dia de
trabalho são medidas importantes sempre que há contaminação por
poeiras.

As roupas de trabalho não deverão permitir que se acumulem poeiras


(bolsos e recortes devem ser evitados). A lavagem das roupas conta-
minadas com poeiras deverá ser feita de forma adequada.

A vigilância do estado de saúde do trabalhador também é de extrema


importância, para que se possa detectar precocemente doenças profis-
sionais decorrentes da exposição às poeiras.

Os trabalhadores são quem melhor conhecem as actividades que de-


sempenham. A sua opinião deverá ser ponderada quando se pretende
identificar a localização dos locais de exposição à poeira, bem como na
avaliação da eficácia do controlo.

Risco de exposição às poeiras 101


Anexo D:

Alerta - Explosões Provocadas por Poeiras Combustíveis

As poeiras combustíveis são finas partículas sólidas que apresentam


risco de explosão, quando suspensas no ar sob determinadas condi-
ções. Uma explosão provocada por poeiras pode ser catastrófica e cau-
sar a morte de trabalhadores, danos e a destruição de edifícios intei-
ros. Em muitos dos acidentes provocados por poeiras combustíveis,
empregadores e empregados não estariam alertados para a existência
deste risco. É importante que se estime se existe ou não este perigo
no local de trabalho e se for o caso se tomem as devidas medidas de
prevenção para evitar trágicas consequências.

Como ocorrem as explosões provocadas por poeiras

Adicionalmente ao já conhecido “Triângulo do Fogo” (oxigénio, calor e


combustível (poeiras)), a dispersão de partículas de pó em quantidade
e concentração suficiente pode causar uma combustão rápida deno-
minada deflagração. Se este fenómeno ocorrer num espaço fechado
(confinado), tal como num edifício, sala, recipiente ou equipamento
processual, o aumento de pressão resultante pode causar uma explo-
são. Os 5 factores (oxigénio, calor, combustível, dispersão e confina-
mento) são conhecidos como o “Pentágono da Explosão provocada por
Poeiras”. Se faltar um destes elementos do pentágono a explosão não
ocorrerá.

Triângulo do Fogo e Pentágono da


Explosão provocada por Poeiras.

Risco de exposição às poeiras 103


Explosões secundárias catastróficas

Uma explosão inicial (primária) num equipamento processual ou numa


área onde existam partículas sólidas acumuladas pode expulsar mais
partículas de pó que se acumularão no ar, ou danificar o sistema que
as contém (tal como colectores, recipientes ou condutas). Como resul-
tado, se ocorrer ignição, as poeiras dispersas no ar podem causar uma
ou mais explosões secundárias. Estas poderão ser bem mais destruti-
vas que a explosão inicial devido ao aumento da quantidade e concen-
tração das poeiras combustíveis dispersas no ar. Muitas das mortes que
ocorreram em acidentes, bem como outros prejuízos, foram provoca-
das por explosões secundárias.

Indústrias de risco

O risco de explosão provocada por poeiras combustíveis existe numa


variedade de indústrias, nomeadamente: química, alimentar, tabaco,
papel, carvão, farmacêutica, fertilizantes, pesticidas, plásticos, tintas,
produção de borrachas e pneus e processamento de metal (alumínio,
crómio, ferro, magnésio e zinco).

Prevenção de explosões provocadas por poeiras

Para identificar os factores que podem contribuir para uma explosão,


a OSHA recomenda um levantamento completo de informação relativa
a:

o Todos os materiais manuseados;

o T
 odas as operações que ocorram (incluindo aquelas que levam
à obtenção de sub-produtos);

o Todos os espaços (incluindo os ocultos);

o Todas as potenciais fontes de ignição.

Recomendações para o controlo de poeiras

o I mplementar um programa de inspecção e controlo de poeiras


(incluindo “housekeeping”).

o Usar filtros e sistemas apropriados para recolha de poeiras.

o M
 inimizar a fuga de poeiras de equipamento processual ou sis-
temas de ventilação.

104
o U
 sar superfícies que minimizem a acumulação de poeiras e que
sejam de fácil limpeza.

o P
 rovidenciar o acesso a todos os locais ocultos, de forma a per-
mitir a sua inspecção.

o E
 m intervalos de tempo regulares, inspeccionar os locais, in-
cluindo os mais escondidos, procurando identificar “resíduos
poeirentos”.

o S
 e existirem fontes de ignição, usar métodos de limpeza que
não provoquem a formação de nuvens de poeiras.´

o U
 sar apenas sistemas de aspiração por vácuo aprovados para a
recolha de poeiras.

o I nstalar válvulas de sobrepressão nos depósitos onde estejam


armazenadas finas partículas sólidas.

Recomendações para o controlo de ignição

o Usar equipamento eléctrico e métodos de ligação apropriados.

o C
 ontrolar a electricidade estática, incluindo a ligação dos equi-
pamentos à terra.

o Controlar faíscas, fogos nus e evitar fumar.

o Controlar fricção e faíscas mecânicas.

o U
 sar separadores para afastar materiais que apresentam risco
de se inflamarem daqueles que não o apresentam.

o S
 eparar poeiras e superfícies aquecidas / sistemas de aqueci-
mento.

o Seleccionar e usar adequadamente transportes industriais.

o Usar programa de manutenção preventiva de equipamento.

Risco de exposição às poeiras 105


Métodos de controlo de danos e prejuízos

o S eparar o perigo (isolar por distância).


o Segregar o perigo (isolar com barreira).

o Isolar / ventilar a deflagração.

o Usar válvulas de sobrepressão para os equipamentos.

o Direccionar a ventilação para longe das áreas de trabalho.

o Usar sistemas de supressão de fogo.

o Usar sistemas de protecção contra explosões.

o Desenvolver plano de emergência interno.

o Manter desimpedidas as saídas de emergência.

106

Você também pode gostar