Módulo 1 - Fundamentos Gerais Da Psicopedagogia Clínica Institucional
Módulo 1 - Fundamentos Gerais Da Psicopedagogia Clínica Institucional
Módulo 1 - Fundamentos Gerais Da Psicopedagogia Clínica Institucional
AUTORIA:
HIRAN PINEL
1
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Módulo De: Fundamentos Gerais da Psicopedagogia Clínica-Institucional
Autoria: Hiran Pinel
2
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
A presentação
Muitas vezes, o leitor encontrará palavras que contém em si, outro termo. Para "brincar" com
as muitas possibilidades de construir textos, muitas vezes quis, ao meu bel prazer, dar
destaque por meio de um ou dois hífens, o lúdico e a reutilização dos sentidos da linguagem.
Quando eu digo uma palavra, não quero dizê-la apenas, mas desejo que ela se nos
multiplique muitos significados-sentidos que possa ter ou vir a ter. Eu só não fiz esse jogo
quando as palavras eram citações na íntegra de outros autores.
3
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
O bjetivo
E menta
S obre o Autor
4
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Já foi: psicólogo educacional-comunitário; psicólogo de instituições públicas (FEBEM-ES;
Juizado da Infância e da Juventude; hospital público); psicopedagogo clínico-institucional;
psicopedagogo de jovens e adultos; psicopedagogo dos Recursos Humanos em
organizações etc. Foi professor do ensino médio (rede pública) e de ensino superior (escola
privada e pública). Foi orientador educacional em escola pública e particular.
5
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
S UMÁRIO
UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9
O QUE É PSICOPEDAGOGIA .......................................................................... 9
UNIDADE 2 ......................................................................................................... 13
FUNDAMENTOS SÓCIOCULTURAIS ............................................................ 13
UNIDADE 3 ......................................................................................................... 16
FUNDAMENTOS BIOLÓGICO-ORGANICISTAS ........................................... 16
UNIDADE 4 ......................................................................................................... 18
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS .................................................................... 18
UNIDADE 5 ......................................................................................................... 24
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS................................................................. 24
UNIDADE 6 ......................................................................................................... 26
CAMPOS NORTEADORES DA AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ...................... 26
UNIDADE 7 ......................................................................................................... 30
UNIDADE 8 ......................................................................................................... 32
A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO EM VYGOTSKY ........................ 32
UNIDADE 9 ......................................................................................................... 36
A PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM EM VYGOTSKY ................................ 36
UNIDADE 10 ....................................................................................................... 42
FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS .............................................................. 42
UNIDADE 11 ....................................................................................................... 46
A ABORDAGEM PSICANALÍTICA NA PSICOPEDAGOGIA .......................... 46
UNIDADE 12 ....................................................................................................... 48
CONCEITOS-CHAVES NA PSICANÁLISE ..................................................... 48
UNIDADE 13 ....................................................................................................... 51
6
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
VISÃO DA NATUREZA HUMANA ................................................................... 51
UNIDADE 14 ....................................................................................................... 52
CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA ............................................................... 52
UNIDADE 15 ....................................................................................................... 54
ANSIEDADE ..................................................................................................... 54
UNIDADE 16 ....................................................................................................... 55
MECANISMOS DE DEFESA DO EGO ........................................................... 55
UNIDADE 17 ....................................................................................................... 58
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ............................................... 58
UNIDADE 18 ....................................................................................................... 60
O PRIMEIRO ANO DE VIDA: A FASE ORAL ................................................. 60
UNIDADE 19 ....................................................................................................... 62
DO PRIMEIRO AO TERCEIRO ANO: A FASE ANAL ..................................... 62
UNIDADE 20 ....................................................................................................... 64
DO TERCEIRO AO QUINTO ANO: A FASE FÁLICA ..................................... 64
UNIDADE 21 ....................................................................................................... 66
O PROFISSIONAL QUE SE PROPÕE SENTIR-PENSAR-AGIR
PSICOPEDAGOGIA ........................................................................................ 66
UNIDADE 22 ....................................................................................................... 70
A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO ............................................. 70
UNIDADE 23 ....................................................................................................... 72
A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL ................................... 72
UNIDADE 24 ....................................................................................................... 77
PSICOPEDAGOGIA, CIÊNCIA, ARTE E PESQUISA ..................................... 77
UNIDADE 25 ....................................................................................................... 84
UNIDADE 26 ....................................................................................................... 87
ARTIGOS ESCOLHIDOS ................................................................................ 87
UNIDADE 27 ....................................................................................................... 93
7
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Uma parte do cotidiano do projeto ................................................................... 93
UNIDADE 28 ....................................................................................................... 97
Conclusão ........................................................................................................ 97
UNIDADE 29 ....................................................................................................... 99
DESEMPENHO ESCOLAR, AUTOCONCEITO E .......................................... 99
UNIDADE 30 ..................................................................................................... 103
"- OLHA O PASSARINHO! Diga "XIS"! : ....................................................... 103
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 112
8
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 1
Objetivo: Permitir aos alunos uma compreensão geral do campo da Psicopedagogiga e suas
principais características, bem como do papel da atuação do Psicopedagogo.
O QUE É PSICOPEDAGOGIA
O fato é que, segundo Visca (1987), a psicopedagogia nasceu com uma ocupação empírica
pela necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram
estudadas pela medicina e psicologia. Para ter-se uma idéia, no Brasil, a profissão de
psicólogo, registrada em 1962, diz em uma de suas leis que é direito privativo deste
profissional o uso de métodos e técnicas psicológicas objetivando orientação
psicopedagógica.
Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, foi
se perfilando como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto
de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores/tratamento e
preventivos próprios.
Geralmente o especialista em psicopedagogia obtém este "título" em algum curso oficial e/ou
livre/aberto. Ele deve intitular-se usando sua graduação. Em um cartão profissional de
apresentação, o correto, por exemplo: "PEDAGOGO COM ESPECIALIZAÇÃO EM
PSICOPEDAGOGIA" OU "PROFESSOR DE PSICOLOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO..."
OU...
O especialista em Psicopedagogia pode atuar tanto em nível clínico quanto institucional, pois
ele se propõe a compreender e atuar nos vínculos presentes entre o ato de ensinar e a ação
de aprender, assim como nas possíveis barreiras que impedem seu fluir harmonioso. Para
10
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Fagali (1987) a proposta da Psicopedagogia é trabalhar basicamente com as relações
afetivas ocorridas durante a aprendizagem, de modo a garantir que o sujeito seja criativo,
espontâneo, perseverante e transforma-dor ao trabalhar seu próprio pensamento.
Para tornar-se especialista nessa área, todo e qualquer profissional de nível superior,
preferencialmente, deve fazer um curso de Psicopedagogia. Normalmente, o caráter
multidisciplinar da Psicopedagogia se revela pelo número de graduações diferenciadas que
freqüentemente comparecem a tal curso: pedagogos, psicológicos, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, licenciados, médicos (pediatras, psiquiatras,
neurologistas etc.).
Para Alicia Fernandez (1990) esse saber, o da Psicopedagogia, só é possível com uma
formação que se oriente sobre três pilares:
b) Construção Teórica: Permeada pela prática de forma que, a partir desta, a teoria
psicopedagógica possa ser tecida;
Em um sentido mais amplo, concordamos com Bossa (1994) que a Psicopedagogia se ocupa
da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda - o problema de aprendizagem,
colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria
Pedagogia - e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para atender
esta demanda, constituindo-se, assim, numa prática. O trabalho psicopedagógico ilumina-se
11
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
curativo (clínico) ou preventivo. Para os psicopedagogos existencialistas ele se ilumina
CUIDADOR: CUIDAR DO OUTRO SER EM SER.
12
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 2
Objetivo: Permitir aos alunos visualizar as bases sócio-culturais para o processo de produção
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas
tendências.
FUNDAMENTOS SÓCIOCULTURAIS
A psicopedagogia, tal qual proposta por este movimento é ainda ensinada no Brasil por
muitos argentinos, além disso, autores argentinos escreveram os primeiros artigos,
resultando dos primeiros esforços no sentido de sistematizar um corpo teórico próprio da
psicopedagogia. Vale citar: Sara Paín, Jorge Visca, Alicia Fernández etc.
A Psicopedagogia Argentina é bem marcada por autores franceses como Jacques Lacan,
Maud Mannoni, Fraçoise Dolto, Júlian de Ajuriaguerra, Janine Mery, Michel Lobrot, Pierre
Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco, Pichón-Riviére etc. O famoso
psicopedagogo argentino Jorge Visca, recentemente falecido (2000/2001), ao criar a
Epistemologia Convergente na clínica psicopedagógica (Visca, 1987) fez convergir a
Psicanálise, a Epistemologia Genética de Piaget e a Psicologia Social de Enrique Pichon-
Riviere, cujas teorias tem fortes tendências marxistas.
13
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Rivière: nasceu em 1907; faleceu em 1977. Ele é considerado por
Roudinesco e Plon (1998) como o verdadeiro pai fundador do freudismo
argentino. Ele exerceu o poder mais pelo seu magistério oral (conferências,
cursos, etc) do que por seus escritos. Ao lado de Marie Langer constitui a
figura mais eminente da escola psicanalítica latino-americana.
Com 19 anos, o jovem (dizem: o belo) Enrique começou estudar medicina na Faculdade de
Buenos Aires. Sempre melancólico e bebendo para "tratar" de suas depressões, interessou-
se pela medicina, política e poesia. No hospital, onde já formado trabalhou, organizou uma
equipe de futebol. Vejam os senhores leitores: sintam o ser lúdico e expressivo de Enrique.
Também atuou como cronista literário. Seu melhor amigo foi o psiquiatra Frederico
Aberastury, cuja irmã, a já famosa e finérrima Lady Arminda Aberastury, desposou em 1936.
No mesmo ano, engajou-se com entusiasmo no comitê de apoio aos republicanos espanhóis,
com o escritor Robert Arlt (1900-1942).
Esse renomado autor vem contribuir sobre o aspecto social do aprender. A importância do
trabalho em grupo vem ampliar o projeto psicopedagógico no sentido de não se prender a
um psicologismo e uma redução da individualidade no "ensinar". O conceito aprender implica
uma relação dinâmica e dialética do homem no contexto social. Ele considera o homem
como um ser de necessidades que só se satisfaz socialmente. Nas relações de produção o
homem emerge como sujeito, com uma forma de pensamento, sentimento e ação. Sua teoria
afirma que temos de agir, refletir, incorporando teorias que expliquem nossas ações, e ai
podemos transformar. A proposta de modificação é sempre no "aqui-e-agora", pois nele está
o presente, o passado e futuro. Refletir significa apreender o significado "daquilo-mesmo".
14
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Neste sentido, o grupo é o espaço onde se aprende a pensar com novas matrizes,
explicitando os padrões passados já interiorizados e que muitas vezes geram resistências às
mudanças. O grupo é o real contexto do aprender.
O "grupo operativo" (GO) é o grupo que se propõe, através de tarefas, a aprender a pensar,
operar uma dada realidade, fazer crítica e autocrítica, explicitando os medos para as
mudanças, integrando teoria e prática. Mas para aprender é necessário tornar explícito o que
está implícito - medos, vínculos internos - tomando consciência das resistências para poder
superá-las. Esse processo se desenvolve através da dinâmica do grupo, no jogo de papéis,
lidando com as projeções, diferenças, limitações e reais possibilidades (FAGALI e VALE,
1993; p. 19-20).
A ligação dos argentinos com os brasileiros ocorre em uma Argentina sob efeito dos
governos déspotas tal qual no Brasil com sua ditadura militar apoiada pelo empresariado.
Entretanto os psicólogos argentinos foram alvo do ódio dos militares já que como se vê, pelo
trabalho desenvolvido por Pichón-Riviére, a proposta não é de submissão, não é de uma
psicoterapia e/ou psicanálise fechada em um mundo chamado consultório... O trabalho
proposto é desalienante. Desalienar era algo que o despotismo não esperava dos
psicólogos. Até hoje se espera que o psicólogo "doure pílula". Como diz a canção de
Caetano Veloso, na voz de Roberto Carlos: "Sou o que soa/sua, eu não douro pílula {por
isso} nenhuma força virá me fazer calar".
15
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 3
Objetivos:Permitir aos alunos visualizar as bases biológico-organicistas para o processo de
produção histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências
fundamentais e suas tendências.
FUNDAMENTOS BIOLÓGICO-ORGANICISTAS
Mery (1985) fez uma lista de personalidades da área psicopedagógica. No final do século
XIX, educadores como Itart, Pereire, Pestalozzi e Leguin começaram a se dedicar às
crianças que apresentavam problemas de aprendizagem devido a múltiplos fatores. Segundo
Bossa (1994), Mery aponta esses educadores como pioneiros no tratamento dos problemas
de aprendizagem, observando, porém, que eles se preparavam mais pelas deficiências
sensoriais e pela debilidade mental do que propriamente pela desadaptação infantil.
Ainda nos fins do século XIX surgiu Seguin e Esquirol. Então a neuropsiquiatria infantil
passou a se ocupar dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem. Nessa época a
psiquiatra italiana Maria Montessori criou um método de aprendizagem destinado
inicialmente às crianças com algum retardo. Sua principal preocupação está na educação de
vontade e na alfabetização, via estimulação dos órgãos dos sentidos - sendo por isso
classificado como sensorial.
Declory criou os famosos Centros de Interesse, que perduram até hoje. Já na segunda
metade do século XX surgem os primeiros centros de reeducação para delinqüentes infantis
16
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
e juvenis. Nos Estados Unidos cresce o número de escolas particulares e de ensino
individualizado para crianças de aprendizagem lenta.
Novos brasileiros famosos são: Helena Antipoff, Maria Helena Novaes, Dinah Martins de
Souza Campos, Odette Lourenço Van Kolk, Genny G. de Moraes, Maria Alice Vassimon,
Madre Cristina Sodré Dória... O psicólogo Helvécio de Siqueira e Silva, professor da UFES2,
criou a Comunidade Agrícola Gritizza para atender jovens delinqüentes (SILVA, 1989).
Constata-se nos trabalhos psicopedagógicos teorias atuais de Jean Piaget, Vygotsky, Emilia
Ferreiro... Além deles há o resgate de Freud, Jung, Lacan, Rogers, Skinner...
17
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 4
Objetivos: Permitir aos alunos visualizar as bases filosóficas para o processo de produção
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas
tendências.
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
As sociedades têm, ao longo da história, utilizado de recursos punitivos para pessoas que
"ousam" ou são diferentes, bem como agridem simbólica ou concretamente pessoa com
necessidades (de saúde; educação; de afeto; de alimentação etc.) especiais e o aluno com
necessidades educativas (Adaptação Curricular: individual e/ou grupal)
especiais (n.e.e.).
Ser portador de deficiência nunca foi fácil. Não se aceita o diferente e suas
diferenças. Pode-se esconder essa diferença, tanto melhor, pois a saciedade é
hipócrita e finge que não vê a dor do outro que não pode dizer a que veio!
Com base nos padrões de normalidade estabelecidos pelo contexto sociocultural, legitima-se
a ideologia do domina-dor. Assim, desde a Antiguidade até os nossos dias, as sociedades
demonstram dificuldade em lidar com o diferente, as diferenças, aquilo que é novo. Todos
resistem ao que é ameaça-dor à nossa estrutura de personalidade, ao nosso pretenso e
harmonioso ser.
18
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
A humanidade tem toda uma história para comprovar como os caminhos das pessoas com
deficiência têm sido repletos de obstáculos, riscos e limitações. O que observamos é o
quanto tem sido difícil a sobrevivência do ser, seu desenvolvimento e sua convivência
(consigo mesmo e para com a sociedade). Pessoas nascem com deficiências em todas as
culturas, etnias e níveis sócio-econômicos e sociais, e de "perto são pessoas" (gente como a
gente: o que é humano não nos pode ser estranho) e se olharmos bem, também portamos
temporária ou definitivamente nossos déficits. Todos somos diferentes e temos o direito de
expressá-la.
A forma de conceber a deficiência e de lidar com seus portadores tem variado ao longo dos
séculos.
19
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Na visão da caridade, os ajuda-dor-es não reconhecem o impacto do social e político no ser.
Tais caridosos devem ser cuidadosamente cuidados, pois podem ser perigosos, pois sua
atuação tende a "calar" a voz do oprimido, gerando nele culpa e subserviência a quem doa
alimentos, roupas etc. Obviamente é que em um país em crise como o Brasil, é essencial
assistir, mas ao fazê-lo é vital que se faça com dignidade, reconhecendo no outro seu direito
de cidadão de receber o que lhe é concreta ou simbolicamente tirado, usurpado!
c) a diferença está sempre tão presente e enfatizada para o seu portador (porta a dor?) e
para os que o cercam, que justifica os seus sucessos e fracassos, os seus atos e
realizações.
Para se chegar à filosofia inclusiva e a luta atual para a sua efetivação prática, a sociedade
passou pela exclusão, segregação, institucionalização,..., integração e inclusão. A integração
20
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
propunha (na prática) a colocação do aluno diferente ou com necessidades educativas
especiais em sala comum, sem reconhecer-lhe as diferenças, sem propor modificações que
na instituição, na organização, quer no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
Hoje, no Brasil, a inclusão é garantida pela Constituição Federal. Entretanto, desde 1986, no
mundo, esse tema é discutido, pelo menos quando utilizamos o termo inclusão.
Madeleine Will, Secretária de Estado para a Educação Especial dos Estados Unidos da
América, fez um discurso que apelava para uma mudança radical no que dizia respeito ao
atendimento das crianças com n.e.e. e em "risco educacional" (de rua; sob domínio de
Ganges, drogadas e prostituídas etc). Dizia ela que, dos 39 milhões de alunos matriculados
em escolas públicas, cerca de 10% eram alunos com n.e.e. e que outros 10 a 20% embora
fossem considerados com n.e.e., demonstravam problemas de aprendizagem e
comportamento que interferiam com a sua realização escolar.
A solução para Will passava por uma cooperação entre professores - do ensino regular e de
educação especial - que permitisse a análise das necessidades educativas dos alunos com
problemas de aprendizagem e o desenvolvimento de estratégias que respondessem a essas
mesmas necessidades.
Essa proposta consagrou-se como princípio da filosofia de inclusão. Nesse sentido é cada
vez maior o número de pais e educadores que defendem a integração (no sentido mesmo da
inclusão) da criança deficiente na classe regular, incluindo as deficientes mentais severas ou
profundos. Afirma-se que as necessidades educativas dos alunos não devem requerer um
sistema dual, pois ele pode fomentar atitudes injustas e desapropriadas em relação à sua
educação.
21
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
diferenças, apóiem a aprendizagem e respondam as necessidades educativas especiais
individuais e em pequenos grupos.
Segundo a maioria dos especialistas, a inclusão significa atender o aluno com n.e.e.,
incluindo aquele com n.e.e. severas, na classe regular com o apoio de serviços especiais
pertencentes à educação especial (sala de apoio, de recursos e/ou consultórios ou sala de
psicopedagogia, por exemplo, dentro ou fora da escola).
Entretanto para efetivar a inclusão é necessária a participação total do Estado, bem como da
comunidade, da escola, da família e finalmente do aluno.
Todo o sentir-pensar-agir a inclusão na escola, junto ao aluno com n.e.e., tende estimular o
seu desenvolvimento nos planos acadêmicos, sócio-emocional e pessoal. Nem sempre esta
tarefa é fácil, mas existem relatos técnico-científicos onde se desenvolveram os sucessos
como os encontrados em André et al. (1999)
22
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
de "é proibido proibir" (grito de Caetano Veloso e dos jovens estudantes franceses nas suas
trincheiras urbanas), um cantor de rock (Elvis Presley) que ao cantar revelava portar em si os
cantores de blues do Harlém (negros), oposição dos brasileiros à ditadura militar, os atuais
movimentos dos gays etc. Os pais de crianças portadoras de necessidades especiais foram
planejando, executando e avaliando associações, Organizações Não Governamentais,
grupos de auto-ajuda etc. A sociedade civil, diante a pandemia da AIDS mostrou sua força
em contraposição a um Estado perverso e inoperante. Os gays começaram amostrar suas
caras, a não Ter vergonha do amor que sentem. As mulheres passaram a exigir mais
dignidade e a participar das situações de mando: Pinel (2001) diz que o homem no poder
revelou seu fracasso, pois seu símbolo, a JUSTIÇA, não conseguiu dar conta de si-do-outro;
já a mulher, e aquilo que a melhor representa, no plano mitológico, a MISERICÓRDIA,
mostra-se disponível a sê-lo... Como se observa, o movimento inclusivista aconteceu na
sociedade como o todo e contaminou a escola com seus princípios de cidadania, justiça e
respeito/permissão à DIVERSIDADE.
23
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 5
Objetivos: Permitir aos alunos visualizar as bases psicológicas para o processo de produção
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas
tendências.
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS
24
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
políticos, foi rechaçado na ex-União Soviética, sua terra: alguns comentam que os
camaradas bolchevistas achavam sua teoria por demais elaborada, a ponto de confundir e
não esclarecer à classe operária. É adequado pontuar que a Psicologia soviética tinha,
naquele tempo de "alimentar-se" nos trabalhos do fisiologista e prêmio Nobel I. Pavlov!
Porém, atualmente, seu trabalho vem sendo estudado e valorizado em todo mundo. Bruner o
estuda nos Estados unidos da América; Khol e outros o estudam no Brasil.
25
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 6
Objetivos: Apresentar reflexões acerca dos campos norteadores da ação psicopedagógica
a) Abordagem psiconeurológica
26
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Os distúrbios biológicos do crescimento e do desenvolvimento que for capaz de interferir
prolongadamente no METABOLISMO refletem de modo negativo no crescimento e
desenvolvimento. Os principais fatores podem ser agrupados em:
5. Além desses fatores, reafirmamos que problemas emocionais (conflitos e violências no lar;
o modo de ser da criança diante do alcoolismo paterno, por exemplo, e o sentimento da
criança diante dos jogos psicopatológicos da família; abuso sexual etc.) e infecções
freqüentes (verminoses e intoxicações etc.) também prejudicam o desenvolvimento-
aprendizagem.
27
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
se sente), como se aceita. Tais subjetividades e comportamentos explícitos foram e são
construído por meio dessas intersubjetividades patologizadas, desrespeita-dor - as do
desenvolvimento e aprendizagem do ser. Pode ser que toda essa vivência dolorida faça a
criança/adolescente ou quaisquer pessoas sentir-se (ou de fato) segregada ou ridicularizada.
Evidentemente, essas situações, de alguma forma interferem na aprendizagem e afetam
todo o conjunto da vida humana. Pinel (2002) estudou os efeito de uma guerra (nazismo X
crianças judaicas) na produção artística da criança, revela-dor-a de tristeza, sentimentos de
ser pior e culpada pelo que aí se colocou, apesar de ter também detectado o "otimismo
trágico" (Frankl, 1981), isto é, apesar das adversidades, o ser enfrenta e resiste, mas porque
há uma guerra? Interesse de quem se mantém uma guerra? Etc.
Moura (1993) pontua que "muitas crianças crescem precocemente, apresentando peso e
altura que sugerem uma idade maior que a real. Quem convive com essas crianças, inclusive
os professores, tende a esperar demais delas e a julgá-las unicamente por seu físico,
esquecendo (?) (grifo e interrogação nossos) que uma criança cuja maturação física é
precoce enfrenta exigências para as quais não está psicologicamente
pronta, e isso é uma causa geradora de ansiedade" (p. 55).
Assim, a vida escolar da criança, sob cruéis pressões, por parte de outras
crianças e por parte dos adultos (professores, diretores, merendeiras,
outros adultos presentes na escola etc.) podem produzir no ser
desprezado, ansiedade e sentimento de inadequação, aponto desses
sentimentos de menos-valia acompanhá-la e, mais tarde, perturbar sua vida. É que a
imagem negativa de si mesma elaborada na construção EU+TU+NÓS pode ficar
profundamente arraigada e, quando adolescente, adulta e idosa, embora tenha crescido e
mudado, ela ainda se sentirá inadequada, desagradável e indesejável.
28
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Essas questões psico-afetivas são vitais quando pensamos, sentimos e principalmente
agimos para efetivação da FILOSOFIA DA INCLUSÃO: Como criar alternativas de incluir o
outro se não me incluo no mundo dos diferentes? Como dar passos maiores de inclusão, se
nem respeitar o ser de mim eu consigo?
29
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 7
Objetivo: Apresentar de forma sintética os cinco campos norteadores para a ação
Psicopedagógica. Abordagens: Psiconeurológica, Neuropsiquiátrica, Comportamental,
Epistemologia Convergente, Fenomenologia
a) Abordagem neuropsiquiátrica
b) Abordagem comportamental
Criada por JORGE VISCA, essa abordagem trabalha com a Psicanálise (transferência e
contra-transferência; resistência etc.); a Epistemologia Genética de Jean Piaget (exame
30
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
clínico de Piaget; raciocínio clínico; etapas universais de idade etc.) e a Psicologia Social de
E. Pichón-Rivière (aprendizagem centrada na tarefa). É uma das abordagens mais modernas
da psicopedagogia, e que fornece muita identidade no ofício de quem atua.
d) Abordagem Fenomenológica
31
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 8
Objetivo: Possibilitar aos alunos a compreensão dos conceitos principais da teoria acerca do
desenvolvimento infantil desenvolvida por Vygotsky, Luria e Leontiev.
32
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
O aspecto cultural da teoria envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a
sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os
tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe
para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela humanidade
é a linguagem. Vygotsky então passou a dar ênfase, em toda sua obra, à linguagem e
sua relação com o pensamento.
O aspecto histórico funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa,
para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, ,foram criados e
modificados ao longo da história social da civilização. Os instrumentos culturais
expandiram os poderes do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira que,
se não tivéssemos desenvolvimento, a linguagem escrita e a aritmética, por exemplo,
não possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos.
33
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
É através desta interiorização dos meios de operação das informações, meios estes
historicamente determinados e culturalmente organizados, que a natureza social das
pessoas tornou-se igualmente sua natureza psicológica.
O desenvolvimento está, pois, alicerçado sobre o plano das interações. O sujeito faz sua,
uma ação que tem, dando-lhe um significado partilhado. Assim, a criança que deseja um
objeto inacessível apresenta movimentos de alcançá-lo, e esses movimentos
são interpretados pelo adulto como "desejo de obtê-lo", e então lhe dá o objeto.
Os movimentos da criança afetam o adulto e não o objeto diretamente; e a
interpretação do movimento pelo adulto permite que a criança transforme o
movimento de agarrar em gesto de apontar. O gesto é criado na interação, e a
criança passa a ter controle de uma forma de sinal, a partir das relações sociais.
34
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
com fala. A fala egocêntrica (conversar "comigo-mesmo" ou com um imaginário), é
vigotsnianamente como uma forma de transição entre a fala exterior e a interior. A fala inicial
da criança tem, portanto, um papel fundamental no desenvolvimento de suas funções
psicológicas.
35
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 9
Objetivo: Apresentar a teoria da Aprendizagem segundo Vygotsky
Após 60 anos depois da morte de Vygotsky, o autor volta à tona com o merecido
reconhecimento pela sua contribuição à Educação Especial, a Psicopedagogia e
à Psicologia.
36
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
A história dos fenômenos é caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas.
Assim, o fenômeno psicológico transforma-se no decorrer da história da humanidade,
e processos elementares tornam-se complexos.
Vygotsky tem parte de sua obra dedicada às questões escolares.Por isso vamos reunir
algumas considerações importantes feitas por esse renomado pedagogo e psicólogo bielo-
russo (judeu, portanto!) e que podem contribuir para olharmos os chamados "problemas de
aprendizagem" sob uma nova perspectiva: a das relações sociais que caracterizam o
processo de ensino-aprendizagem.
37
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
como alguém fundamental, pois este outro é quem nos orienta no processo de apropriação
da cultura.
A aprendizagem da criança inicia-se muito antes de sua entrada na escola, isto porque
desde o primeiro dia de vida, ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do
outro, que se torna o mediador entre ela e a cultura. A criança vai aprendendo a falar e a
gesticular, a nomear objetos, a adquirir informações a respeito do mundo que a rodeia, a
manusear objetos da cultura; ela vai se comportando de acordo com as necessidades e as
possibilidades. Em todas essas atividades está o "outro". Parceiro de todas as horas é ele
que lhe diz o nome das coisas, a forma certa de se comportar; é ele que lhe explica o mundo,
que lhe responde aos "porquês", enfim, é o seu grande intérprete do mundo. São esses
elementos apropriados do mundo exterior que possibilitam o desenvolvimento do organismo
e a aquisição das capacidades superiores que caracterizam o psiquismo humano.
A escola surgirá, então, como lugar privilegiado para este desenvolvimento, pois é o espaço
em que o contato com a cultura é feito de forma sistemática, intencional e planejada. O
desenvolvimento - que só ocorre quando situações de aprendizagem o provocam - tem seu
ritmo acelerado no ambiente escolar. O professor e os colegas formam um conjunto de
mediadores da cultura que possibilita um grande avanço no desenvolvimento da criança.
38
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
O aprendizado, continuam Bock et al (1999), quando adequadamente organizado, resulta em
desenvolvimento mental, pondo em movimento processos que seriam impossíveis de
acontecer. Esses princípios diferenciam-se de visões que pensam o desenvolvimento como
um processo que antecede à aprendizagem, ou como um processo já completo, que a
viabiliza.
Este conceito de zonas (proximal; real; potencial) é importante porque nos possibilita delinear
o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento. Além disso, permite
ao professor olhar seu educando de outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre
colegas. Aliás, Vygotsky acreditava que a noção de zona de desenvolvimento proximal já
estava presente no bom senso do professor, quando este planejava seu trabalho.
39
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Sintetizando, poderíamos dizer que, para Vygotsky, as relações entre aprendizagem e
desenvolvimento são indissociáveis. O indivíduo, imerso em um contexto cultural, tem seu
desenvolvimento movido por mecanismo de aprendizagem acionados externamente. A
matéria-prima deste desenvolvimento encontra-se, fundamentalmente, no mundo externo,
nos instrumentos culturais construídos pela humanidade. Assim, o homem, ao buscar
respostas para as necessidades de seu tempo histórico, cria, junto com outros homens,
instrumentos que consolidam o desenvolvimento psicológico e fisiológico obtido até então.
Os homens de outra geração, ao manusearem estes instrumentos, apropriam-se do
desenvolvimento ali consolidado. Eles aprendem e se desenvolvem ao mesmo tempo,
adquirindo possibilidades de responder a novas necessidades com a construção de novos
instrumentos. E assim caminha a humanidade...
A partir destas concepções de Vygotsky, a escola torna-se um novo lugar - um espaço que
deve privilegiar o contato social entre seus membros e torná-los mediadores da cultura.
Alunos e professores devem ser considerados parceiros nesta tarefa social. O aluno jamais
poderá ser visto como alguém que não aprende, possuidor de algo interno que lhe dificulta a
aprendizagem. O desafio está colocado. Todos são responsáveis no processo. Não há
aprendizagem que não gere desenvolvimento; não há desenvolvimento que prescinda da
aprendizagem. Aprender é estar com o outro, que é mediador da cultura. Qualquer
dificuldade neste processo deverá ser analisada como uma responsabilidade de todos os
envolvidos. O professor torna-se figura fundamental; o colega de classe, um parceiro
importante; o planejamento das atividades torna-se tarefa essencial e a escola, o lugar de
construção humana. (p.123-126)
1. Zona do Desenvolvimento Real (ZDRe) - Trata-se de considerar aquilo que a criança traz
consigo; sua história. A criança é então avaliada. A partir deste diagnóstico dialógico e sócio-
cultural, o professor começa a trabalhá-la, tendo em vista uma Zona do Desenvolvimento
Potencial (ZDPot). O que planejamos (para o futuro) em relação ã criança.
40
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
2. Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDProx) - O professor, nessa Zona extremamente
abstrata, através da linguagem e outros signos e por meio de instrumentos (giz; lousa; livros;
Vídeo; CDs etc.), vai aproximando a ZDRe para a ZDProx.
41
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 10
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão dos principais conceitos da teoria Psicanalítica
desenvolvida por Freud.
FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS
Vamos abordar neste tópico a questão da "transferência", aspecto este que nos reporta à
relação psicopedagogo (a) e cliente/orientando/aluno. Para o desenvolvimento deste assunto
recorreremos a Mery (1985) e Raudinesco e Plon (1998).
Com a descoberta do complexo de Édipo, Freud compreende que "é a relação do indivíduo
com suas figuras parentais que é revivida na transferência, acompanhada, notadamente, da
ambivalência pulsional que a caracteriza" (Laplanche e Pontalis, in Mery, 1985; p. 37)
Todo indivíduo cuja necessidade de amor não é satisfeita inteiramente pela realidade volta-
se inevitavelmente, com certa expectativa libidinal, para todo e qualquer personagem novo
que entrar em sua vida (S. Freud). Ele espera encontrar, junto a esse novo objeto,
possibilidades de satisfações instintivas, libidinais ou agressivas, em conformidade com a
relação infantil da qual o sujeito não se desligou (Bouvet), a disposição para a transferência
implicando, com efeito, a persistência de um conflito infantil não resolvido (Legache). Cada
um viverá essa experiência nova de maneira pessoal, uma vez que todo indivíduo, pela ação
concomitante de uma predisposição natural e dos ocorridos em sua infância, possui uma
43
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
maneira pessoal, determinada, de viver sua vida amorosa (S. Freud), que forma uma espécie
de clichê que ele repete durante sua vida, mas que pode, numa certa medida, ser modificado
por impressões ulteriores (id). No processo de estabelecimento desse clichê, as tendências
libidinais satisfeitas desenvolveram-se e orientaram-se para a realidade; a outra parte,
frustrada, encontrou "um expediente na imaginação ou ficou confinada no inconsciente, à
espera, (são essas) tendências libidinais à espera (que) são inevitavelmente despertadas
quando o sujeito entra em contato com um novo objeto" (Legache); o novo objeto "é
assimilado aos protótipos preexistentes" (id.). "Em razão da predisposição para a
transferência, o paciente reprojeta suas imagos" (Schlumberger).
Mas, "segundo a teoria dualista", o meio psicanalítico exerce uma ação positiva na produção
da transferência (Lagache). O conceito de transferência é ampliado; os objetos passíveis de
serem alvos de transferência incluem não apenas a pessoa do analista, mas o ambiente, a
técnica analítica e a vida cotidiana.
A ênfase colocada por Lagache e outros psicanalistas, como Ida Mc Alpine, na importância
do meio na produção da transferência permite ao psicopedagogo diferenciar-se do
psicoterapeuta. Com efeito, sua área de ação é diferente do campo analítico. A relação
educativa é vivida, num meio particular, cujas particularidades, portanto, devem ser
precisadas.
A criança vem em presença do reeducador com suas predisposições naturais e sua história
pessoal. O psicopedagogo também comparece com suas predisposições e sua história
pessoal. O psicopedagogo tem um conhecimento desta história, o que lhe permitirá situar a
maneira de ser da criança em seu contexto, ou seja, em seu passado; isso o ajudará a tomar
uma distância suficiente em relação à criança para evitar entrar no jogo dela e reproduzir
com ela um comportamento parental.
45
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 11
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia.
46
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
4) Esta teoria produziu um sistema de referência significativo para a compreensão dos
meios através dos quais um indivíduo tenta enfrentar a ansiedade, postulando
mecanismos que servem, ao mesmo indivíduo, para evitar vir a ser dominado pela
ansiedade.
47
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 12
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação dos conceitos-
chave da teoria psicanalítica.
CONCEITOS-CHAVES NA PSICANÁLISE
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
O Id (isso)
48
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
modo metafórico como uma criança mimada da personalidade do ser: não pensa; apenas
deseja ou age. O id é inconsciente.
O Ego (eu)
O superego (supereu)
49
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
sentimentos de orgulho e auto-estima; as punições são sentimentos de culpa e de
inferioridade.
O delinqüente juvenil teria tanto SUPEREGO que não suportando tamanha culpa, para
aliviar-se, cometeria delitos, para assim justificar tanta culpabilidade introjetada?
50
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 13
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca da Natureza Humana.
Freud dava também ênfase ao papel dos instintos. Todos os instintos são inatos e biológicos.
Freud destacava os instintos sexuais e agressivos. Via todo o comportamento humano como
determinado pelo desejo de obter prazer e evitar a dor. O homem possui tanto instintos de
vida quanto instintos de morte; a vida não é mais do que uma via indireta para a morte.
51
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 14
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca dos estados de Consciência e de Inconsciência.
CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA
3) a sugestão pós-hipnótica;
52
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
5) material derivado pela aplicação de técnicas projetivas (testes psicológicos de
personalidade que obedecem uma "lei": diante de estímulos confusos e ambíguos o
cliente "projeta", "joga para fora" etc. muito de si mesmo, do seu mais profundo ser, do
seu inconsciente etc. Assim, o cliente fala, por exemplo, o que vê nas lâminas de
Rorschach, Zulliger, TAT etc., e o que ele vê, mas não sabe e nem sente, é que vê a
si mesmo. Se o cliente é coincida a desenhar e inventar histórias como o THP, o
Machover, o Teste Projetivo de Avaliação do Auto-Conceito de Pinel (1989) etc., o
cliente desenha a si mesmo etc.).
A consciência, para Freud, é uma fina camada de mente como um todo. À semelhança da
porção maior de um iceberg, que jaz abaixo da superfície da água, a maior parte da mente
existe sob a superfície da consciência. O inconsciente, residindo fora da consciência,
armazena todas as experiências, recordações e material reprimido. Necessidades e
motivações inacessíveis - isto é, fora da consciência - estão também fora da esfera de
controle. Freud acreditava que a maior área de funcionamento psíquico existe no domínio
fora-da-consciência. Em função disso, a intenção da terapia psicanalítica é tornar consciente
os motivos inconscientes, pois somente quando alguém se torna consciente de suas
motivações será capaz de escolha. É da maior importância compreender o papel do
inconsciente para aprender a essência do modelo psicanalítico do comportamento. Embora
fora da possibilidade de consciência, o inconsciente influencia o comportamento. Os
processos inconscientes são as raízes de todas as formas de sintomas e comportamentos
neuróticos. Dentro desta perspectiva, a "cura" está baseada no desvelamento do sentido dos
sintomas, das causas do comportamento e do material reprimido que interfere no
funcionamento saudável.
53
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 15
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca da Ansiedade.
ANSIEDADE
Há três espécies de ansiedade: com base na realidade, neurótica e moral. A ansiedade com
base na realidade é o medo do perigo proveniente do mundo exterior, sendo o nível de
ansiedade proporcional ao grau de ameaça real. A ansiedade é o medo de que os instintos
escapem ao controle e levem a pessoa a realizar algo que possa merecer punição. A
ansiedade moral é o medo da própria consciência. Um indivíduo cuja consciência seja bem
desenvolvida tende a sentir-se culpado, quando faz algo contrário ao seu código moral.
54
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 16
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca dos mecanismos de defesa do Ego.
55
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Projeção: atribuir a outra pessoa aqueles traços que são inaceitáveis para o próprio ego. O
indivíduo nos visualiza outros as coisas que lhe desagradam e que não pode aceitar em si
mesmo. Assim, pode-se condenar os outros por seus "procedimentos pecaminosos" e negar
que se possua tais impulsos para o mal. Para evitar a dor decorrente do reconhecimento, em
si mesmo, de tendências julgadas imorais, a pessoa divorcia-se de tal realidade.
Regressão: retirar-se para uma fase inicial do desenvolvimento, onde as exigências não
sejam tão grandes. Por exemplo, uma criança, que é amedrontada na escola, pode permitir-
se um comportamento infantil tal como chorar, chupar o dedo, esconder-se e agarrar-se a
uma professora. Ou a criança pode reverter a formas menos maduras de comportamento,
quando um novo bebê aparece em sua casa.
Racionalização: munir-se de "boas" razões para justificar o ego ferido; auto-engano, de forma
a que a realidade de algum desapontamento não seja tão penosa. Assim, quando as
pessoas não conseguem as posições que pretendiam em seu trabalho, muitas vezes
descobrem as mais variadas razões para se sentirem realmente contentes por não terem
alcançado aqueles postos. Ou, ainda, um rapaz, sendo abandonado pela namorada, talvez
acalme seu ego atingido persuadindo-se de que ela não valia tanto, afinal, e de que estava já
a ponto de descartar-se dela.
Sublimação: usar formas superiores e mais socialmente aceitáveis, para dar vazão aos
impulsos básicos. Por exemplo, os impulsos agressivos podem ser canalizados para
esportes competitivos, objeto de aprovação social, de modo que a pessoa encontre um meio
de expressar sentimentos agressivos e, como benefício adicional, seja freqüentemente
recompensada pelo sucesso alcançado nas competições.
56
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Deslocamento: dirigir a energia para outro objeto ou pessoa, quando o objeto ou pessoa
original se encontra fora do alcance. O jovem que, cheio de ressentimento, gostaria de atacar
seus pais, atinge um alvo mais seguro: sua irmã menor (ou o gato, se ela não estiver perto).
57
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 17
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca de como ocorre o desenvolvimento da personalidade.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
58
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
a incapacidade de aceitar plenamente a própria sexualidade e os sentimentos sexuais,
dificuldade de aceitar-se como homem ou mulher e medo da sexualidade.
De acordo com a visão psicanalítica freudiana, estas três áreas do desenvolvimento pessoal
e social (amar e confiar, lidar com sentimentos negativos e desenvolvimento de uma
aceitação positiva da sexualidade) são todas fundadas nos cinco primeiros anos de vida.
Este período do desenvolvimento constitui as fundações sobre as quais é construído o
desenvolvimento posterior da personalidade.
59
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 18
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca das fases pelas quais o indivíduo passa, desde a infância, para que haja o
desenvolvimento de sua personalidade.
Do nascimento ao final do primeiro ano, o bebê experimenta a fase oral. Sugar o seio
materno satisfaz a necessidade de alimentação e de prazer. Sendo a boca e os lábios zonas
erógenas sensíveis durante este período, o bebê obtém prazer erótico ao mamar.
61
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 19
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca das fases pelas quais o indivíduo passa, desde a infância, para que haja o
desenvolvimento de sua personalidade.
Assim como na fase oral é necessário que a pessoa tenha a vivência de uma dependência
sadia, confiança no mundo e aceitação do amor, também a fase anal é outro marco no
desenvolvimento individual. As tarefas a serem dominadas durante este estágio são a
aprendizagem da independência, do poder pessoal e da autonomia, assim como aprender a
reconhecer e lidar com os sentimentos negativos.
Começando no segundo e estendendo-se ao terceiro ano, a zona anal passa a ter uma
grande significação para a formação da personalidade. Neste período, as crianças deparam
continuamente com exigência dos pais, experimentam frustrações ao manipularem objetos e
explorarem seu ambiente, e são exigidas a terem controle sobre seus esfíncteres. Iniciando-
se o treinamento da higiene no decorrer do segundo ano, passam as crianças por uma
primeira experiência de disciplina. O método adotado nesse treinamento e os sentimentos,
atitudes e reações dos pais em relação à criança têm efeitos de longo alcance sobre a
formação de traços de personalidade. Muitas das atitudes que as crianças aprendem acerca
das funções de seu próprio corpo são resultados diretos das atitudes de seus pais.
Problemas posteriores, tais como a compulsão, tem raízes na maneira dos pais criarem seus
filhos durante esta fase.
É ainda importante para a criança, neste estágio, a aquisição do sentido do seu próprio
poder, de sua independência e autonomia. Se os pais fazem coisas demais por seus filhos,
realmente lhes ensinam que são incapazes de agirem por conta própria. A mensagem
transmitida é: "olha, deixe-me fazer isso e aquilo para você, porque você é fraco demais e
incompetente para fazer essas coisas sozinho". Nesse momento, as crianças precisam
experimentar, cometer erros, sentir que ainda estão bem apesar dos erros e reconhecer um
pouco de seu poder como indivíduos separados e distintos. Muitos clientes estão sendo
atendidos justamente porque perderam contato com sua capacidade para o poder, estando
em luta por uma definição de quem são e do que são capazes de fazer.
63
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 20
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação da visão de Freud
acerca das fases pelas quais o indivíduo passa, desde a infância, para que haja o
desenvolvimento de sua personalidade.
Vimos que, entre um e três anos, a criança abandona a posição infantil e caminha
ativamente no sentido de inscrever-se num lugar dentro do mundo. É um período em que se
desenvolvem rapidamente as capacidades para andar, falar, pensar e controlar os
esfíncteres. Enquanto começam a se desenvolver capacidades motoras e perceptuais cada
vez maiores, o mesmo se dá quanto às habilidades interpessoais. Progredindo a criança de
um período onde dominam relações passivo-receptivas até um período de domínio ativo,
monta-se o palco para o período de desenvolvimento psicossexual seguinte: a fase fálica.
Durante este período, a atividade sexual torna-se mais intensa, estando o foco de atenção
nos genitais - o pênis do menino e o clitóris da menina.
Durante esta fase, as crianças precisam aprender a aceitar seus sentimentos sexuais como
naturais e desenvolver um respeito sadio por seus corpos. Precisam de modelos adequados
para identificação do papel sexual. Nesta época, estão formando atitudes em relação ao
prazer físico, ao que é "certo" e "errado", ao que é "masculino" e "feminino". Estão
alcançando uma perspectiva sobre o modo pelo qual mulheres e homens se relacionam
entre si. E decidindo a respeito de como se sentem nos seus papéis de meninos e meninas.
O período fálico tem implicações significativas para o terapeuta que trabalha com adultos.
Muitos clientes nunca chegaram a uma conclusão quanto a seus sentimentos em relação à
sua própria sexualidade. Sentem-se, provavelmente, muito confusos no que se refere à sua
identificação sexual e lutam por aceitar seus sentimentos e comportamento sexual. Julgo ser
importante que os terapeutas dêem o devido reconhecimento às experiências primitivas
quando trabalham com clientes adultos. Não estou sugerindo que aceitem o ponto de vista
determinista segundo o qual as pessoas estão condenadas à impotência ou à frigidez, se
não tiverem dominado com sucesso as exigências de desenvolvimento próprias à fase fálica.
O que vejo como importante, porém, é a tomada de consciência, pelos clientes, acerca de
suas experiências infantis nessa área, talvez até o revivê-las e reexperimentá-las em
fantasia. Ao reviver acontecimentos e sentir de novo muitos dos sentimentos enterrados,
tornam-se cada vez mais conscientes de que são capazes de inventar novos desenlaces
para os dramas vivenciados quando eram crianças. Assim, passam a conceber que, embora
suas atitudes e seu comportamento atuais sejam certamente modelados pelo passado, não
estão fadados a permanecer como vítimas desse tempo.
65
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 21
Objetivo: Realizar uma reflexão crítica acerca dos principais aspectos relacionados à
regulamentação profissional do Psicopedagogo, bem como as implicações para a prática
desse profissional.
66
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
e) A psicopedagogia é um saber e não um ofício, estando, portanto aberta a todo sujeito,
que no seu ofício, dela necessite (médicos, psicólogos, assistentes sociais,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais etc. Além de outros
profissionais graduados, por mais ofícios que gerem: Musicoterapia, Psicomotricidade,
Psicanálise, Filosofia etc.
f) A psicopedagogia é um saber que pode ser exercido (ofício) por qualquer pessoa que
assim o desejar, e se o fizer de modo inadequado, que nele seja "jogado" a justiça,
pois os clientes devem ser estimulados a denunciar.
67
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Este quadro presente no micro-sistema escolar, leva a desejar uma urgente revisão do
projeto educacional brasileiro, de modo a melhorar a atuação na qualidade do que se ensina
e de como se ensina; do que se aprende e de como se aprende. Tal desafio só poderá ser
enfrentado se o processo de aprendizagem for analisado sob uma perspectiva que considere
não só o contexto social em que esta prática se dá, mas simultaneamente com a visão global
da pessoa que aprende.
Uma das muitas respostas de "esperança" (Paulo Freire) para atender a este desafio intra-
institucional no micro-espaço sala de aula e sala de apoio/recursos e gabinetes de
Orientação Educacional, é a prática psicopedagógica, exercida por um profissional
especializado. A atuação de um educador (psicólogo, Orientador
Educacional, professor, Outro Pedagogo que não o Orientador,
Médico, Psicopedagogo etc.) visa não apenas diagnosticar, ou avaliar,
ou cuidar, ou tratar, ou sanar problemas de aprendizagem e micro-
deficiência do aparelho escolar, mas, principalmente, considerar as características
multidisciplinares do sujeito que aprende, buscando melhorar seu desempenho e aumentar
suas potencialidades de aprendizagem.
É sabido que em uma sociedade como a atual, em que a educação é considerada fator de
mobilidade social, o fracasso escolar de um indivíduo promove sua marginalização na própria
escola, na família, na sociedade. Por isso, é especialmente preocupante o fato de o principal
problema enfrentado pelos sistemas educacionais referir-se às dificuldades de aprendizagem
de crianças e adolescentes, como ocorre especialmente nos países subdesenvolvidos. Há
todo um processo ideológico por detrás, um interesse, também pré-ocupante de manipular as
68
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
classes oprimidas. Entretanto, pensadores como Paulo Freire, um pensador sócio-histórico,
que se opõe à apatia crítico-reprodutivista de Althusser, e advoga que é necessário que o
educador seja esperança, e que com isso desenvolva micro-ações criativas para com o seu
aluno.
Nesse sentido micro-contextual, deve-se considerar que, na maioria das vezes, as crianças
que enfrentam tais problemas de aprendizagem não apresentam deficiências intelectuais ou
comprometimento ou dano/lesão neurológicos e poderiam ser cuidadas e quem sabe, até
receberem "alta clínica" do tratamento psicopedagógico (recuperação), sendo pois, no
contexto macro, uma vitória individual/pequena, se beneficiadas por processos e
procedimentos psicopedagógicos desenvolvidos para com o apoio de profissionais dedicados
à psicopedagogia.
69
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 22
Objetivo: Apresentar a definição do atendimento clínico em Psicopedagogia, seus objetivos e
suas especificidades.
No ensino público, uma das opções para a realização da atuação clínica seria o serviço
público de atendimento, onde os profissionais da psicopedagogia poderiam contribuir com
70
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
uma visão mais integrada de aprendizagem e, conseqüentemente, com a aprendizagem
reconduzindo e integrando o aprendizado do processo normal de construção de
conhecimento, contando com melhores condições para detectar com clareza os problemas
de aprendizagem dos alunos, atendendo-os em suas necessidades e contribuindo para sua
permanência no ensino regular.
71
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 23
Objetivo: Realizar uma apresentação de questões relacionadas à atuação do Psicopedagogo
nas diversas instituições em que a sua intervenção se faz necessária, bem como de
aspectos relacionados à postura que esse profissional deverá adotar.
1) Trabalhando a escolaridade "in loco" escolar, tal como sugere Fagali e vale (1999);
72
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Esse primeiro modo engloba a tarefa clínica. Clinicar significa cuidar do outro que, explícita
ou implicitamente, sofre. Nesse sentido o profissional da psicopedagogia cuida dos seus
modos de cuidar do ser em estado sofrimento. O clínico, na instituição, contribui com o
diagnóstico e intervenção frente às dificuldades do aluno em relação à aprendizagem. Aqui
cabe uma observação, pois compreendemos o diagnóstico, se bem efetuado, como um
processo de intervenção que gera mudanças no próprio ser do aluno/cliente!
No segundo modo, encontramos respaldo em Guirado (1987) que trabalha com a psicologia
institucional de José Bleger, Georges Lapassade, René Lourou e Guilhon de Albuquerque. A
análise institucional, modo de atuar do psicólogo institucional, pode ser compreendida de três
modos:
73
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
2. uma política de intervenção psicosociopedagógica em instituições, organizações,
grupos etc;
74
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
com o redimensionamento do processo de aquisição e incorporação do conhecimento dentro
do espaço escolar, seja, por exemplo, reconhecendo seus limites e então, encaminhando
alunos para outros profissionais.
Esse trabalho pode ser desenvolvido em diferentes níveis, propiciando aos educadores
conhecimentos para:
75
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
5. As intervenções para a melhoria da qualidade do ambiente escolar;
76
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 24
Objetivo: Apresentar o vasto campo de investigação dos fenômenos envolvidos no processo
de aprendizagem humana e a relação da Psicopedagogia com diversas áreas do
conhecimento.
77
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Maria Colli de Souza e Suely Grimaldi Moreira (São Paulo), professor Hiran Pinel do Centro
Pedagógico da UFES, professores Ortega e Sávio do Departamento De Psicologia Social e
do Desenvolvimento da Universidade Federal do Espírito Santo (Vitória, ES) etc. Seus
trabalhos foram produzidos nas Universidades Estaduais e Federais desses Estados e na
Pontifícia Universidade Católica. Podemos citar ainda investigações desenvolvidas por
grupos de pesquisa na UNICAMP, USP, UERJ, UFRJ, UFRGS, PUC/SP, RJ, RS,
CAMPINAS e Instituto Sedes Sapientiae, UFES.
Alguns pesquisadores, como Alicia Fernandez, Ana Maria Lacombe, Clarissa Golbert,
Cristina Dias Allessandrini, Jorge Visca, Lisete Annes Henriques, Margarida Azevedo Dupas,
Marisa Fernandes Bianco e Sara Pain contribuíram com a elaboração de novas técnicas e
instrumentos para a atuação psicopedagógica.
78
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
nesse último oficio, de modo oficial, pois todo ajudador profissional deve fazer do seu
"setting" espaço-pesquisa, o investiga-dor deve organizar os dados, pesquisar
bibliográficamente, e fazer a produção científica, isto, apresentar seu trabalho escrito e para
julgamento da comunidade leiga e de colegas cientistas.
Rey, in Novaes (1982), adaptador Pinel (2001/2002) recomenda como plano ideal o estudo
de casos:
5. aluno/cliente;
7. Síntese;
79
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
9. "Follow-Up" do caso: acompanhamento (encontrar com o cliente eventualmente e
constatando se os efeitos do tratamento foram duradouros; telefonar ou visitar o
cliente etc.)
As biografias oficiais, não oficiais, não autorizadas podem ser ricos instrumentos de
pesquisa, e como aqui estamos falando: psicobiografias. Muito mais ricas são as histórias de
vida ou mesmo as histórias temáticas, coletadas segundo os preceitos da História Oral
(Meihy, 1991, por exemplo): pessoas “comuns" revelam a beleza do ser em ser; muito mais
belo, intrigante, curiosa, instigante, perversa, sincera, picante, escandalosa, honesta,
simpática etc., do que muitas histórias de pessoas famosas.
O psicobiógrafo desfaz enganos. Para isso ele deve entrar em um mundo turbulento dos
dramas da existência humana, das dores, do ser humanamente "pequeno", comum, simples,
arrogante, antipático etc. Revela, pois condição humana de ser do ser... É um mundo, que ao
ser estudado, ilumina a presença nele das marcas dos insultos, dos desprezos, das mágoas,
dos abandonos, das lágrimas, dos risos, dos prazeres controlados ou exacerbados... Ao
revelar o "psicológico" do briografado, o que há nessa ciência do ser
cognitivo+afetivo+psicomotor, acaba por ser um investiga-dor e pesquisa-dor odiado ou
amado. Comprado?
80
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
O psicobiografo está aí para revelar o em "off", os bastidores... Às vezes corre o risco de
inferir, e poderá fazê-lo na sensibilidade empática. Entretanto, como cientista, deve
preocupar-se com os fatos, o jurídico, aquilo que legitima a qualidade-chofre de seu ofício.
Deve pré-ocupar-se com o que será dito-des-dito-velado-des-velado... Jogo de esconde-
esconde?
Janet (1995), Angelo (1995), Pinel (1990), Tomazzi (1993), Goldenberg (2000) e Hisgail et al.
(1996) reafirmam, cada um a seu modo, a metáfora que acompanha o psicobiográfo: este
pesquisa-dor é um arromba-dor! Como é está metáfora? Como comparar um psicobiografo
com um “bandido"? Um arrombador?
Na metáfora arromba-dor, o psicobriografo revista tudo o que pode tocar suas mãos, escutar
ou o que chega a seus ouvidos, ver, sentir e... sai em fuga. Exibido e “estrela" que é, o
psicobriografo mostra frontalmente seu triunfo, suas provas, isto é, os produtos da sua
ladroagem, de sua pilhagem. A psicobiografia tem pois uma natureza transgressora, que
instiga alguns cientistas da psicologia psicopedagógica, e talvez, por isso é que essa trans-
gres-ação atraí tanto o público em geral.
Pinel (1990) estudou a vida da médica, pedagoga, psicopedagoga e psicóloga italiana Maria
Montessori procurando compreender os motivos da renomada cria-dor-a das "Casas Dei
Bambini", em esconder por 39 anos, o seu filho, apresentando-o como sobrinho até para ele-
mesmo, e não apenas para imprensa. A partir daí, Pinel tentou compreender a produção
intelectual da renomada psicopedagoga: Por que uma educa-dor-a valorizava tanto o
silêncio, a ordem, a organização? Por que ela se opunha ao nazismo de Mussolini? Por que
fugiu para a Índia? Por que se interessou pelos meninos órfãos e abandonados de rua, da
época da guerra? O que foi ser Maria Montessori? Que preço pagou por ser mulher? etc.
81
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Para ler os dados, todos oficiais, o autor (Pinel, 1990) utilizou-se de teorias da Psicologia e
Pesquisa Fenomenológica (Forguieri) e da Psicologia Existencial (Frankl) associado a uma
"pitada" de inspiração psicanalitíca.
O método e a técnica psicobiográfica é objeto de críticas, e muitas delas são de teor mais
persecutórios do que vindo de alguém dis-posto a dialogar "em cima" ou fundamentado em
um fato: "Eu ou alguém faz psicobiografia! O que posso fazer para engrandecer o método? O
que você pode fazer para ajudar-me?” etc; Esse autor, por exemplo, se utilizou da Psicologia
Fenomenológica e Psicologia Existencial, e com alguma inspiração, da Psicanálise e alguns
dos seus mais importantes conceitos como mecanismos de defesa e inconsciente.
82
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Saussure (in Russ, 1991; p. 269) diz que: "O signo lingüístico une não uma coisa e um nome,
mas um conceito e uma imagem lingüística. Esta última não é o som material, coisa
puramente física, mas a marca psíquica deste nome, a representação que o testemunho dos
sentidos nos dá dele. (...) O signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces".
Martinet pontua: "(...) Todo signo lingüístico
comporta um significado, que é seu sentido ou seu valor (...), e um significante graças ao
qual o signo se manifesta" (in Russ, 1991; p.269).
Já SENTIDO tem dois duplos "sentidos" cuja origem esta no latim: sentimentum: ação de
perceber pelos sentidos, sentimentos, maneiras de conceber; sensus: faculdade de apreciar,
entendimento. Compreendo o sentido como significação: O que querem dizer as palavras
que se empregam? O que significa (contém) o signo ou aquilo de que a palavra é signo?
SENTIDO é o norte, o rumo, a direção ou a orientação de um movimento dado pelo ser.
Sentido da vida (Frankl, 1981): o trabalho, a amor e o sofrimento inevitável são os sentidos
da vida. Destaca Pinel (2000) que de um FUNDO (TODO) emerge, à minha percepção
psicofisiológica e sócio-historicamente construída, uma FIGURA (DETALHE que desejo ver
ou só posso ver/escutar/sentir daquele FUNDO). Para fins de pesquisa, esse é o sentido-
sentido (Pinel, 2000) daquilo que se procura interpretar.
83
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 25
Objetivo: Consolidar a relação da Psicopedagogia com diversas áreas do conhecimento por
meio da apresentação das principais leis da Hermenêutica com o intuito de ampliar a
capacidade de análise das situações do profissional do campo da Psicopedagogia.
LEI DO CONTEXTO:
Refere-se a parte que vem antes ou depois do texto. Não se deve e, em nossa opinião, não
se pode, interpretar um texto sem auxílio do contexto de "tempo" daqueles textos, desenhos
etc. Também o cientista não pode negar a influência desse atual contexto na interpretação
daquele outro: o presente no passado e vice-versa.
Um texto deve ser auxiliado na sua interpretação utilizando o mesmo assunto que ocorre em
outras partes de um mesmo documento ou outros documentos que comprovadamente se
relacionam com ele.
84
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
LEI DA AUTORIA DO TEXTO:
A interpretação do texto é aquilo que o texto/desenho quer dizer no tempo, no espaço e nas
circunstâncias que foram escritas. O literalismo busca o que o texto quer dizer. O simbolismo
busca o que a figura quer dizer. Entretanto, há na Lei da Interpretação do Texto,
investigadores que se utilizam da psicanálise, e pelo conceito-chave de "inconsciente" (Pinel,
2001/2002; Pinel, 2002/200, desse livro-didático). Essa entretanto, não é uma regra, não
tendo um valor definitivo, mas apenas facilita-dor para se fazer uma hermenêutica associada
à Psicanálise.
O pesquisador que se utiliza da hermenêutica deve lembrar que um mesmo texto pode ser
aplicado a pessoas, a grupos específicos, a famílias, a situações diferentes etc. Deve-se
compreender o texto e sua motivação e impacto na época ou mesmo no aqui-agora (tempo-
presente: hoje).
85
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
LEI DA IMPLICAÇÃO DO TEXTO:
Num certo sentido psico-filosófico, talvez se possa dizer que uma pessoa "geme de dor",
porque está doente. Aí está a lei da implicação: a manifestação patente do latente. Se uma
pessoa tem ser rosto calmo é porque provavelmente sua alma/psique esteja talvez alegre ou
tranqüila.
86
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 26
Objetivo: Esse capítulo apresenta um artigo complementar com o intuito do possibilitar ao
aluno a ampliação de seus conhecimentos acerca dos temas estudados ao longo do módulo
por meio de experiências ocorridas no cotidiano.
ARTIGOS ESCOLHIDOS
Hiran PINEL
I. Introdução
87
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Há funções exclusivas de família e há outras que ela recorre às instituições sociais, com as
quais divide interesses e responsabilidades recíprocas. A tarefa de socializar as crianças, por
exemplo, é dividida entre a família e a escola.
A família até agora descrita é a forma mais popularmente conhecida, ou seja, a família
"comum" e até ideal (pai, mãe, filhos, lar, higiene, "roupinhas bonitas", "tudo no seu lugar"
etc.). Entretanto, como se dá a dinâmica do núcleo familiar com o nascimento de um filho
deficiente?
Esclarece-nos DIAS (1990) que a pessoa portadora de algum déficit, por menos acentuado
que seja, é um "paciente identificado". Isto significa que a criança será inconscientemente
considerada um "bode expiatório", aquele que é alvo de "acusações". Imaginariamente esse
filho vem modificar as relações afetivas sobre a qual a família deposita todas as suas
energias negativas, desenvolvendo a crença de que à medida que o filho especial "melhora",
ela também o faz. Ela mantém a "ilusão" de que livrar-se do deficiente corresponde ao
sentimento de abandonar os conteúdos indesejáveis "trazidos" (projetadas) no "rebento". A
criança-problema está presente de forma sutil nos gestos e falas parentais, até o momento
em que a rede de significados da trama seja esclarecido e/ou des-velada. Depois que os pais
"compreendem"8, uma criança real e verdadeira dará lugar aquela outra que,
simbolicamente, servia de espelho para os pais nela se enxergassem.
Angustiados com situações familiares que podem gerar problemas emocionais, que
interferirão no desenvolvimento intelectivo do aluno/filho, é que os educadores especiais ou
psicopedagogos da família tornam-se preocupados e/ou exigentes com os pais. Os
programas psicopedagógicos que visam apoiar aos pais do aluno especial defendem uma
prática cujo objetivo é priorizar as relações familiares e parentais, que se deterioradas só
viriam a prejudicar a escolaridade da criança. Apesar disso não podemos afirmar que os
psicopedagogos pensam e atuam dessa forma. SANTOS (1995), estudou 14 (catorze)
instituições psicopedagógicas que atendiam pessoas portadoras de necessidades educativas
especiais, constatando que apenas sete delas desenvolviam programas específicos na área
da psicopedagogia familiar. Quando o autor foi entrevistar os educadores, constatou que a
88
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
maioria reconhecia a importância da existência e criação de programas de ajuda aos pais do
aluno especial. Essa percepção, entretanto, não eliminou a consciência dos educadores a
respeito dos diversos problemas que enfrentam, desde os baixos salários até a oposição dos
dirigentes institucionais em facilitar ou viabilizar esse tipo de serviço, para com a família do
aluno.
8 Compreender significa enfatizar: estar para com; como se fosse o outro; sentir o que o
outro sente.
9 Paciente relutante é aquele que resiste ou recusa ser atendido apesar de implícita ou
explicitamente necessitar
89
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
(...) a falta de sistematização desses contatos interferindo na rotina diária de trabalho (da
professora) e prejudicando as atividades pedagógicas, principalmente porque a carga horária
em sala de aula, já pequena, mal dá conta do dia-a-dia de trabalho (SCOZ, 1994: p. 115).
Com muitas tarefas pedagógicas, acostumada com a ingênua armadilha de "causa e efeito",
onde a família é a única responsável pelo fracasso da criança, a professora se vê perdida
nessa rede de tramas. Mesmo que ela tenha "boas intenções" em criar alternativas, suas
estratégias são frágeis. Assim, o "feitiço vira contra o feiticeiro"; a família "escolhe" o "bode
expiatório" (seu filho) para amenizar suas mazelas e intolerâncias quanto ao que é diferente.
Já a professora "escolhe" a família como "bode expiatório", camuflando suas dificuldades
profissionais e emocionais, reproduzindo essa insatisfação naquele que foi o "escolhido" para
ser o perdedor (o aluno).
A professora poderia sim, cuidar10 mais de si, isto é, do seu desenvolvimento profissional.
Deveria ter e criar tempo para elaborar e desenvolver alternativas que objetivassem o
crescimento acadêmico e global do aluno. Dessa forma ela evitaria simplesmente
estabelecer a relação linear de que o aluno não aprende porque tem problemas em casa, e
por ter problemas ele não aprende. Esse pensamento simplista que se reflete na ação
pedagógica acaba ocultando as complexas redes perversamente tracejadas que de fato tem
alguma relação com o fracasso do aluno e com a insatisfação da professora.
Foi a partir dessas reflexões teoricamente fundamentadas, é que elaboramos este projeto de
pesquisa denominado "Psicopedagogia da Família do aluno Especial". Eis os seus objetivos:
90
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
c) Ensino-Aprendizagem cuja meta é a formação e desenvolvimento dos pais e/ou
outro adulto significativo, tornando-os educadores do filho.
10 Quem cuida do outro, cuida de si, ainda dos objetos, cuida do mundo. Cuidar é "ternurar",
é "carinhar" etc. Toda pessoa é ser-de-cuidado.
91
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Metodologia
Tendo em vista esse contexto, o presente artigo pretende relatar parte do cotidiano de
implantação desse projeto. Trata-se portanto de um estudo metodológico objetivando
elaborar alternativas criativas de ações psicopedagógica junto à família do aluno especial, a
partir da vivência. Descreveremos o modo como foi surgindo o sentir-pensar-agir, e
conseqüentemente a busca teórica para a construção de uma psicopedagogia da família do
aluno especial, bem como seus efeitos. A interpretação terá como base um "outro olhar" (o
empático) privilegiando a solidariedade e ajuda mútua, já que o mais comumente encontrado
nesses estudos é segundo DAMATA (1994), a priorização dos conflitos doentios, dos
desvios, das doenças etc.
92
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 27
Objetivo: Esse capítulo apresenta um artigo complementar com o intuito do possibilitar ao
aluno a ampliação de seus conhecimentos acerca dos temas estudados ao longo do módulo
por meio de experiências ocorridas no cotidiano.
Como parte do Grupo Emergente em Educação Especial iniciamos nosso trabalho em 1994,
utilizando de sóbria observação e escuta empática11 para e com as doze famílias dos
treze12 alunos especiais. Nossa meta era a de diagnosticar demandas compatíveis com
nossa formação acadêmica e profissional. As famílias de nossos alunos vinham de um
trabalho psicológico de "Grupos Operativos" fornecidos pelo Núcleo de Psicologia da UFES.
Entretanto, de acordo com pesquisa de SANTOS (1995), é comum naquele tipo de serviço, a
freqüência ser só materna e ainda assim a tendência é diminuir a participação presencial.
Diante desse fato, era necessário que sentíssemos, pensássemos e agíssemos uma
psicologia na educação que fosse diferenciada. Isso significa respeitar e conviver com as
diferenças, pois todos somos diferentes. O diferente e suas diferenças tem que ter sua
demanda psicopedagógica e de liberdade de expressão respondida. Então, optamos pela
psicopedagogia fundamentada no aconselhamento ou relacionamento de ajuda, pois esses
pais necessitavam falar os motivos e sentidos, os problemas, as alternativas que possuíam
para superação às pressões sócio-históricas e políticas que recebiam da escola e dos filhos,
dos maridos, dos amores, do Estado mantenedor da ordem burguesa estabelecida etc.
93
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
exploração e mudança no educando. A empatia nesse projeto foi facilitada pelos sentimentos
de semelhança das estagiárias pelas mães: eram mulheres de lutas, com vitórias e algumas
derrotas pessoais; duas delas eram mães com aproximadamente três filhos, todas com
parentes próximos portadores de déficit mental acompanhado de organicidades, uma era
portadora de resquícios de afasia já curada etc. Podemos mesmo sugerir que essas
semelhanças aproximaram as mulheres, facilitando por exemplo, a uma estagiária bolsista,
emitir respostas de ajuda que posteriormente encontramos em CARKHUFF classificadas
como auto-revelativas ou transparentes (PINEL, 1995), tendo inclusive gerado uma pesquisa
apresentada no SIPUFES (Seminário Interno de Pesquisa da UFES (PINEL et al, 1995).
12 Uma família atendida tinha dois filhos (gêmeos) atendidos pelo Grupo Emergente de
Educação Especial.
Nessa rede de complexidade, presente nas relações interpessoais, é que foi importante o
apoio individual sistematizado às estagiárias. Cabia-lhes a difícil tarefa de apropriar e
introjetar os conhecimentos ensinados. Ao facilitador cabia apreender dali.
Que conhecimentos eram esses? Eles aprendiam a "escutar", empaticamente tendo como
referência àquele que as "escutava" (facilitador). Ensinavam as mães "escutando", e estas,
iam substituindo a fala ansiosa, pela "escuta" empática. O facilitador ocupou aí um lugar não-
egoísta, onde o "saber" e o "saber fazer" foi prazerosamente socializado, pois sentido.
A estagiária, de modo gradual, tendem a superar o mestre, já que nosso propósito não era
"escravizar" o outro, e sim liberta-lo através do conhecimento. Esse conhecimento
"escutando" por isso, sentido e naturalmente devolvido pelo "espelho", é o conteúdo que
cada mãe carrega entro de si, mas que lhe impediam que soubesse. Quem? O sensível é
que o outro proporcionou esta descoberta-sentida.
95
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
14 Coordenador do Projeto
17 Ele, esse professor egocêntrico, acredita que a sala de aula é um "palco" onde deve
"roubar" as cenas dos outros, aqui considerados, meros coadjuvantes.
96
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 28
Objetivo: Esse capítulo apresenta um artigo complementar com o intuito do possibilitar ao
aluno a ampliação de seus conhecimentos acerca dos temas estudados ao longo do módulo
por meio de experiências ocorridas no cotidiano.
Conclusão
A "escuta" empática do educador especial, para e com as figuras parentais dos alunos com
necessidades educativas especiais, abre um fato inédito na vida e dinâmica familiar. Isso
significa que ao proferirem as palavras, ao emitirem expressões advindas dos corpos, os pais
vêem-se um outro no espelho de "si próprios". As palavras e os gestos corporais "batem
forte" no facilita-dor, que silencioso, facilita com que as falas e expressões retornem, naquilo
que for possível, aos ouvidos e olhares parentais. Dar-se aí um dos efeitos positivos da
psicopedagogia da "escuta", tornando assim o centro de seus pilares teóricos: dentro da
condição humana, a pessoa 'escuta' a sua própria voz - sente o próprio sentimento para com,
e isso é o ser alteridade (PINEL, 1995).
97
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Finalmente, explicitamos que a psicopedagogia da "escuta" aqui proposta e efetivada, é
também um ato político, pois tem implicações não apenas em uma autodescoberta
psicológica, mas de impacto no desvelamento das realidades injustas e o estímulo à
alteridade de ser. É por isso, que, à medida que a família foi sendo atendida pela "escuta"
esta passou também a "escutar" o que é dito e não apenas aquilo que é ditado como regra
pela sociedade como um todo, especialmente pelas instituições escolares públicas. Por outro
lado, á medida que os pais se envolviam e participavam da vida escolar dos filhos, eles
foram elaborando as memórias desagradáveis do seu tempo, agora relembrado através do
filho e a descoberta de que a "idealização" da escola é sócio-historicamente determinada.
Podemos, baseados em PATTO (1992) concluir que a qualidade do ensino público passa por
espaços externos à escola, isto é, por meio das práticas educativas extra-escolares, onde as
mães e os pais devem apropriar-se da cidadania. Esse dado, o de ser cidadão, tem forte
impacto no funcionamento qualitativo dos serviços públicos em geral, especialmente da
escola e nos projetos que desenvolvem práticas educativas extra-escolares.
98
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 29
Objetivo: Esse capítulo apresenta um artigo complementar com o intuito do possibilitar ao
aluno a ampliação de seus conhecimentos acerca dos temas estudados ao longo do módulo
por meio de experiências ocorridas no cotidiano.
Recentes estudos vêm tentando clarificar a relação entre o nível econômico e desempenho
escolar, numa linha que vá além do simples determinismo social.
(...)
Nessa tentativa, alguns autores vêm procurando entender como variáveis psicológicas, tais
como: autoconceito e atitude do aluno em relação à escolarização, associam-se ao
desempenho escolar do aluno (Alencar, 1985; Taliuli, 1982; Jesus, 1983; Nunes, 1988).
O autoconceito refere-se à forma como o indivíduo se vê. Nenhum adulto ou criança se sente
neutro com relação às suas características. A avaliação que é feita dos seus atributos
pessoais contribuem para o sentimento de auto-estima que está intimamente associado ao
autoconceito (Feshback, Weiner, 1982). A experiência de se sentir aceito por pessoas
importantes na vida do indivíduo também está relacionada à auto-estima. No caso do aluno,
poder-se-ia dizer que o professor se constitui em uma pessoa importante.
A literatura é consistente ao demonstrar que os alunos que acreditam que podem sair-se
bem são os que alcançam o mais alto desempenho acadêmico.
99
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Taliuli (1982) investigou a relação entre rendimento acadêmico e autoconceito de alunos de
sucesso e de alunos que estavam fracassando. Os resultados de seu estudo demonstraram,
sistematicamente, que os alunos com desempenho satisfatório obtiveram escores de
autoconceito significativamente mais altos do que os alunos com desempenho insatisfatório.
Bums (1982) chama atenção para o fato de que a relação entre autoconceito e rendimento é
recíproca, uma vez que os resultados de pesquisa mostram que o desempenho pode
influenciar o autoconceito e que a modificação deste modifica o nível de desempenho.
Além dos aspectos apresentados, vários estudos vêm demonstrando que a atitude do aluno
com relação à experiência escolar tem um efeito considerável sobre o seu desempenho. Em
geral, aqueles alunos que valorizam a experiência escolar e que a percebem como tendo
utilidade futura, tendem a apresentar um desempenho positivo (Jesus, 1983).
Natalício (1967, apud Costa) estudou a relação entre atitude para com a educação e
rendimento escolar. Os resultados de sua pesquisa indicaram que a atitude diante da
educação prediz rendimento em matemática tão bom, ou melhor, que aptidão.
Alencar (1985) estudou atitudes do aluno para com a escola, para consigo mesmo e colegas.
Seus resultados evidenciaram que alunos de nível sócio-econômico médio apresentaram
resultados superiores aos de baixo nível sócio-econômico, somente no que tange à atitude
para com a escola.
100
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Taliuli, Gama (1986) sugerem que a experiência escolar de sucesso ou fracasso parece estar
associada às expectativas de sucesso futuro bem como ao esforço despendido em tarefas
futuras e, por conseqüência, ao desempenho futuro.
Parece evidente, portanto, que a criança que experimenta o fracasso em sua trajetória
escolar diminui suas expectativas de sucesso e autopercepção de competência. A evidência
sugere, ao mesmo tempo, que a escola tanto pode propiciar experiências que favorecem a
autoconfiança e senso de competência pessoal, quanto pode atuar no sentido oposto,
especificamente em crianças com histórico de fracasso escolar.
Feshdack, Weimer (1962) ressaltam, no entanto, que as pessoas variam no grau em que seu
autoconceito e auto-estima são afetados pelas experiências imediatas. Algumas pessoas são
altamente vulneráveis, enquanto outras mantêm um senso de auto-aceitação positiva frente
a situações extremas ou repetidas de fracassos. Na realidade, precisa-se saber mais sobre
os antecedentes dessa vulnerabilidade. Conforme sugerido por Nunes (1988), essas
pessoas podem ser capazes de elaborar suas experiências negativas, uma vez que é
possível que tenham uma história de relações interpessoais gratificantes, o que contribui
para fortalecer suas percepções sobre si mesmas. A autora também sugere que este tipo de
pessoa elabora suas experiências de fracasso como função da realidade social, percebendo-
as mais como resultados de eventos externos, do que como incapacidades pessoais
(eventos internos).
(...)
Este estudo apresenta evidências que confirmam a literatura. Fica claro que há uma íntima
ligação entre o desempenho escolar do aluno e a forma como ele percebe a si e a escola.
Embora os dados não apresentem para uma direção definida, as autoras gostariam de
sugerir que é a partir das experiências escolares, tanto em nível de desempenho quanto em
nível de vivências, que o aluno começa a formar essa percepção.
Parecem ser as sucessivas experi6encias de fracasso que contribuem para que o aluno
comece a se perceber como menos capaz de desenvolver as atividades escolares e,
101
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
conseqüentemente, a perceber a escola como um local pouco agradável, e o que nela
acontece, como desinteressante.
(...)
Esses dados sugerem a necessidade imediata de mudanças que facilitem a reversão deste
quadro de atitude negativa quanto à experiência escolar e com relação a si próprio. Para tal,
urge que professores e especialistas reavaliem criticamente o impacto da experiência de
fracasso sobre alunos cujas condições de vida já são por si só não facilitadoras. E, ainda,
que assumam um compromisso de trabalhar numa ação conjunta para que o sucesso
escolar seja possível para todos.
Conforme sugerido por Gama (1990), eles devem começar por entender que a escola tem
alguma autonomia com relação aos determinantes sócio-econômicos e que pode funcionar
na direção da transformação e não na reprodução e legitimação da origem social.
1. O título original é: "Desempenho escolar: sua influência no autoconceito e atitude em relação à escola" p. 56-
57, e p.61-62. Esse artigo, ora disponível ao leitor desse livro, trata-se de fato, da transcrição da introdução
(revisão da literatura) e da discussão dos resultados). O leitor interessado em todo artigo deve procurar e
consultar a bibliografia citada no final do artigo.
Este artigo é o relatório de uma pesquisa que objetiva analisar a relação entre as experiências de sucesso ou
fracasso escolar e as varáveis das atitudes dos alunos em relação à escola e o autoconceito.
102
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
U NIDADE 30
Objetivo: Esse capítulo apresenta um artigo complementar com o intuito do possibilitar ao
aluno a ampliação de seus conhecimentos acerca dos temas estudados ao longo do módulo
por meio de experiências ocorridas no cotidiano.
Hiran PINEL
Estou atualmente na banca de dissertação de mestrado de uma aluna. Ela está estudando o
processo ensino-aprendizagem pré-sente nas vivências onde a morte se cristaliza entre
crianças. Maria do Rosário, nome da minha aluna, traz interrogações interessantes e instiga-
dor-as! Na sua tranqüilidade de ser, ela sentiu-se estimulada na idéia de "tirar fotos" desse
espaço de dor física e de novos sentidos-sentidos de apreender a ser. Por suas questões
éticas, ela não deseja resgatar rostos e gestos, mas objetos, coisas do mundo, desse mundo
inóspito.
103
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
"(...) Ouve minha'alma que chora e te pede, por favor! Deixa ficar teu retrato comigo. Quero
ter a ilusão que, ainda vivo contigo" (Nelson Gonçalves - Benjamin Baptista : 1947, ano da
gravação original).
104
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
O filme francês, um clássico "noir", "Blow-Up: depois daquele beijo", dirigido por M.
Antonioni, pode ser um bom exercício acadêmico para a compreensão da utilização de uma
fotografia com o objetivo de elucidar fatos e significados-sentidos.
A fotografia é executada e revelada pelo fotógrafo. Ele está cansado daquela mesmice.
Aquilo, de legitimar o consumismo, o deixa sem gosto e sem vontade de sentido. Ali mesmo,
na película fotográfica está a manequim com um traje reto, limpo, asséptico...
Mas o cientista começa a penetrar na alma do fotógrafo (ele também um cientista, é claro!).
Ele observa a fotografia muito além das aparências. Numa França marcada por Jean Paul
Sartre e Simone de Bevouir, entre outros grandes intelectuais, a existência passa ser a
permeadora naquela imagem. Ele, de modo intencional, resgata da "figura" um "fundo"! Pura
"Gestalt": FIGURA-FUNDO! O que está ele vendo ou se propõe a ver? O que há debaixo do
banco, situado naquele jardim público escolhido para emoldurar a manequim e sua roupa,
estilo 1966? O quê? O quê? Etc.
105
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
(2000) ao estudar fotografias realizadas por educadores de rua constatou que seus
educandos, rapazes que se prostituíam, estavam, na maioria das vezes, debaixo das
marquises das ruas escuras da grande São Paulo. Luzes refletiam no concreto e formavam
sombras nos corpos dos jovens, maquiando-os, dando novos e alternativos contornos! Uma
vez um prostituo me disse: "-Quando eu transo com um cliente, eu sou um ator! Eu
represento um papel". O interessante, nesse jogo interpretativo, é que esse papel
representado é dirigido pelo cliente-consumidor voraz. E então, ali na rua (no setting), as
sombras são artifícios para legitimar o ser que tem que ser um outro que não si.
De modo compulsivo, o fotógrafo vai ampliando aquele detalhe que lhe interessa. Aquela
pequena parte vai sendo aumentada para que o desapercebido apareça, pois ele mesmo, o
detalhe, pede para ser iluminado. Debaixo daquele banco de praça há uma pessoa morta.
Assim, o fotógrafo vai enxergando, escutando, compondo o todo, a partir daquele detalhe.
Isso significa que ele não fica fascinado apenas com o detalhe, mas de "cabeça fria", começa
a iluminar o todo. Essa fotografia é então conduzida pelo fio da estória (drama de ser), pela
História e a necessária contextualização. Faz sentido, não faz?
106
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
ser mais profundo do cientista/fotógrafo, pontuando a impossibilidade de uma neutralidade
total, mas a neutralidade possível.
O fotógrafo de "Blow-Up" foi quem quis fotografar assim, e então captar mais sentidos na
aparência do ser que é de sentido. Ali está um morto, e para desvelar, ele vai fundo,
compondo todo o painel na situação do não-ser heideggeriano. Não ser é morte concreta!
Há uma fotografia que "tirei" (Pinel, 1983): tirar a dinâmica das imagens e congela-las para
mim! Tirar daquele mundo-vida, outra vida! Fazer tiras, pequenas tiras dos dados contidos
nas fotografias.
A fotografia que "tirei" naquela escola foi realizada para registrar uma mostra de objetos que
se associavam com ofícios, dentro de uma perspectiva do que se chamava na época de
Orientação Vocacional. Tratava-se de uma bobagem do tipo: testes psicológicos, para o
ofício ser psicólogo; lousa, para professor; enxada, agricultor etc.
Anos depois, estava eu revendo as fotografias, deparei-me com essa foto. Os meus olhos
quiseram enxergá-la. Eu a fotografei do segundo andar da escola, de modo que as imagens
abarcavam, de cima para baixo, a movimenta-ação. O que enxergava nessa fotografia? No
pátio as pessoas estão dispersas, e ninguém está muito interessado na exposição
"vocacional". Mas o que me chamou atenção, estava fora da escola! Lá na rua, paralela ao
aparelho institucional eu via seis jovens, nossos alunos, com o uniforme da nossa escola.
Todos estavam a rir e muito! Dois desses nossos alunos, emitiam um estranho
comportamento. Um rapaz da ponta extrema apontava, com o braço estirado, para a escola,
e o outro olhava para seu relógio de pulso.
107
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Dessa foto, irrompeu-me de imediato a canção popular de Nelson Mota e Lulu Santos:
"A escola não permite o riso, a gargalhada e os sorrisos espontâneos. É necessário que os
jovens saem para rua, corrompendo a regra de não "fugir", e lá de fora "sorrirem" sem serem
condenados por isso. O que a escola faz para afastar seus pupilos da escola? Por que o riso
ameaça suas rígidas estruturas? O que significa apontar para a escola? Estarão rindo dela
ou para ela? Por que o tempo, pré-sente no objeto relógio, é olhado justamente no momento
de alegria e descontração? Etc.
Uma fotografia, para um olhar e uma escuta apurados do cientista, pode ser um riquíssimo
instrumento de pesquisa, desde que suas mãos, seu coração e sua mente estejam (no plano
de ser: estejam) abertas e hábeis na disposição de desvelar o ser de sentido, sentido de ser.
Penso cá comigo: "Ainda bem que esses jovens aí, ainda conseguem opor ao estabelecido...
Ainda bem que dois deles ainda se recordam da existência da escola... Lamento apenas,
pois, a escola não se fazer pré-sente para eles!"
Para interpretar, analisar ou então fazer uma hermenêutica de uma fotografia é essencial que
o pesquisador se envolva existencialmente para com a fotografia, pró-curando suspender
preconceitos e teorias: mas reconhecendo a impossibilidade total dessa isenção! E dentro de
uma atitude dialética e interdinâmica, deve o pesquisador passar a distanciar-se
reflexivamente, criando uma oportunidade de apreender possíveis significados daquelas
imagens, tendo por fundamento as interrogações ou hipóteses de pesquisa, e só então
efetuar um analítica de sentido ou, mais classicamente uma análise de conteúdo.
Heidegger no seu ensaio "Sobre a Origem da Obra de Arte", escrita entre 1935-1936, analisa
a fotografia do quadro de pintura de V. van Gogh cujo título é: "Um Par de Sapatos de
Madeira", onde só se vê, de modo explícito, apenas o dito par de sapatos encostados na
entrada de uma porta. Significou, de chofre, para min algo como: "-Seja bem-vindo, mas
limpe os pés!". Esta obra artística é datada de 1888. Pois é: o filósofo existencialista Martin
Heidegger, ao interpretar a foto do quadro, destacou de modo magistral, que nessa obra
108
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
explicitasse como as coisas com as quais nos envolvemos e nas quais confiamos fazem com
que possamos sentir em casa no mundo: o mundo é a morada do ser, e a linguagem é sua
viabiliza-dor-a!
Já a renomada educadora Nilda Alves (s/d) quando propõe analisar as redes cotidianas de
conhecimentos e valores nas relações com a tecnologia, se utiliza de imagens (fotografia e
fotografias de pinturas) para defender suas teses. Diante de fotografia de uma escola
africana, Alves diz que: "Sem nenhuma carteira para usar, tendo o chão para escrever e se
sentar, as crianças fotografadas em um país no qual, provavelmente, em outros contextos se
sentam em círculo, estão sentadas em fila, cada uma perfeitamente atrás da outra e com um
grande espaço entre elas para que não se comuniquem, trazendo a marca de uma outra
escola - local que se fez modelo universal, (...) a escola ocidental européia moderna. Corpos
buliçosos que se quer fazer dóceis, mesmo que todas as condições materiais não tenham
sido realizadas e mesmo que as fábricas e os serviços sejam cada vez mais raros ou mesmo
inexistentes. (...)” (p.4).
Isso tudo, e mais ainda, não significa descontextualizar a fotografia. É vital entender que uma
fotografia foi "tirada" e revelada (no laboratório, e agora pelo cientista) com uma motivação,
em um tempo-espaço determinados, num contexto social, histórico, político, econômico etc.
Ir atrás de dados concretos, comprovados por documentações e depoimentos, entre outros,
é indispensável, pois o objetivo do investiga-dor é o de legitimar juridicamente seu estudo.
Outras questões necessitam de ser respondidas: Quem fotografou? Como foi fotografado?
Quando e onde? Que acontecimentos macros (internacional; nacional, estadual; municipal
etc.), micros (bairro; rua; quarteirão; casa etc.) e de singularidade (EU+TU+NÓS) aconteciam
na pluralidade de ser do ser?
A película cinematográfica do espanhol Pedro Almodóvar, cujo título é "Tudo Sobre Minha
Mãe", foi objeto de análise (Pinel, 1999). Os movimentos e expressões dos intérpretes e suas
falas, facilitaram ao investiga-dor estudar o impacto da figura materna na escolha vocacional
(ser escritor) do filho. Nesse caso, aconteceu a utilização das imagens e discursos diante da
interrogação: Qual o impacto dessa mãe almodóvariana na orientação vocacional do filho?
109
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Como compreender? A metodologia utilizada foi fenomenológica existencial, e uma
inspiração psicanalítica irrompeu com naturalidade. O que se construiu de vocação, foi a
partir de um grande e guardado segredo: "Nada sobre o Pai". O filho pró-cura, com cuidado,
saber algo sobre ele (o Pai-de-si). Numa noite, na porta de um teatro, à espera de um
autógrafo de uma Grande Mãe (a atriz Huma Hojo, cujo pseudônimo de deve ao hábito de
Bette Davis, atriz norte-americana, em fumar despudoradamente), o filho escuta de sua mãe
que nesta noite ela lhe dirá quem é seu pai (de fato, uma outra-mulher, um travesti).
Desejando continuar ser escritor, o filho corre atrás daquela que sabe guardar segredos, o
mito de estrela, da Grande Mãe, e por que essa Grande é boa, dá-lhe o destino pedido: a
morte! A mãe corre e impede a saída do sangue filial, ao cobri-lo com ser casaco "Dior", do
mais puro vermelho-sangue! As imagens, pois revelam metáforas, a partir das interrogações
de pesquisa.
Tanto na intervenção como na investigação, os personagens das fotos poderão (deverão) ser
investigados sobre suas suposições. Escutar os atores sociais é pois, outro modo de
legitimar o trabalho científico, e não raro, o investigador poderá obter interpretações até mais
criativas, alternativas às suas, que poderão estar impregnadas de uma teoria da qual
transformamos em determinista.
110
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Entretanto, se o leitor for assistir ao belíssimo "Blow-Up", ou conseguir, de mim, a fotografia
da escola em dia de Orientação Vocacional, verá que as interpretações têm muito de jurídico,
muito de mim e, sem dúvida, o leitor poderá fornecer-lhes mais e outras leituras! Citando
Gombrich, 1983, Alves (2001; p. 9-10) reafirma que "(...) a significação de uma imagem
permanece em grande parte tributária da experiência e do saber que a pessoa que a
contempla adquiriu anteriormente. Neste tocante, a imagem visual não é uma simples
representação da "realidade" e sim um sistema simbólico".
111
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
B IBLIOGRAFIA
ANTONIONI, Michelangelo. Blow-Up. França: ING/ITA, 1966. 111 min. Vídeo Arte.
MOTTA, Nelson; SANTOS, Lulu. Como uma onda. CD com músicas cantadas por Lulu
Santos Sem mais dados.
CABRAL, A.; NICK, E. Dicionário Técnico de Psicologia. São Paulo: Cultrix, 2006.
112
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
G LOSSÁRIO
Acondroplasia: Distúrbio evolutivo das cartilagens epifisárias, que acarreta nanismo por
deficiência de crescimento dos ossos longos (FERREIRA, 1999).
Benemérito: Que merece o bem. Digno de honras, recompensas e aplausos por serviços
importantes ou por procedimento notável (FERREIRA, 1999).
Estigma: Cicatriz, marca, sinal. Fig. Marca infamante, vergonhosa (FERREIRA, 1999).
113
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil